dissertacao_godoi

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Neste fragmento, o enunciador faz uma inferência a respeito de seu coenunciador: “para quem está pensando que...”. E logo em seguida dá uma resposta a está posição: “esteticistas e médicos apontam... a custo quase zero”. Utiliza um indicador de esclarecimento: “ou seja”, para dizer que “não há mais desculpas para a falta de dinheiro”. Essas “dicas” a custo quase zero são receitas caseiras com produtos mais fáceis de serem encontrados e comprados. Ela está localizada no box “conselhos úteis para o dia-a-dia”. Em seguida, o enunciador, num tom irônico, desqualifica alguns coenunciadores: “Tudo bem que, para alguns, vai ser preciso... estragos causados pelo descuido com si mesmo”. O “descuido com si mesmo”, cria um efeito de sentido de que cada um de nós é responsável pelo controle de si, pelo governo do eu, e devemos nos responsabilizar por isso. Soma-se ainda o uso das expressões: “gostar mais de si mesmo”, “aumentar a auto-estima”. Esse tipo de discurso faz parte da formação discursiva e ideológica do narcisismo e individualismo tão comuns na sociedade contemporânea, que são apregoados pelo ideário da pós-modernidade e do neoliberalismo. Em “se for esse seu caso”, o enunciador usa o dêitico pessoal “seu” para estabelecer uma ligação mais direta com o co-enunciador. Em “quando começar a perceber o sucesso perante a concorrência”, o enunciador usa um tom de ameaça, “a concorrência” seria os “inimigos” no “mercado da sedução”. Conforme destacam Goldenberg e Ramos (In. Goldenberg, 2002: 31-2): Num contexto em que a beleza e a forma física não são mais percebidas e valorizadas como “obra da Natureza Divina” e passam a ser concebidas como resultado de um trabalho sobre si mesmo, faz-se pesar sobre os indivíduos a absoluta responsabilidade por sua aparência física.

De acordo com Lasch (apud. Goldenberg e Ramos): Nesse processo de responsabilização do indivíduo pelo seu corpo, a partir do princípio da autoconstrução, a mídia e, especialmente, a publicidade têm um papel fundamental. O corpo virou “o mais belo objeto de consumo” e a publicidade, que antes só chamava atenção para um produto exaltando suas vantagens, hoje em dia serve, principalmente, para produzir o consumo como estilo de vida, procriando um produto próprio: o consumidor, perpetuamente intranqüilo e insatisfeito com a sua aparência. Com isso, saem

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