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Eptic On Line, v. XII, n. 2, mayo-ago. 2010 1. Expediente 2. Presentación Artículos 3. Capital, informação e economia digital: as múltiplas faces constitutivas da globalização corporativa do capitalismo Bruno Lima Rocha; Márcia Turchiello Andres; Ana Maria Oliveira Rosa

4. Comunicação, cultura e sociedade digital no Brasil Doris Fagundes Haussen

5. La deconstrucción de la mediación informativa Ignacio Muro Benayas

6. “Création et Internet”: as leis na França e no Brasil contra a pirataria e a mobilização interativa Dario de Azevedo Nogueira Júnior

Entrevista 7. “Nunca foi tão difícil como agora defender a democratização dos meios”: entrevista com Luís Ramiro Beltrão Gislene Moreira

Especial Educação e tecnologia 8. Educação superior a distância, tecnologias de informação e comunicação e inclusão social no Brasil Jose Matias-Pereira

9. Estratégias para implantação de um sistema de educação à distância: um estudo de caso no âmbito de uma empresa de energia no Estado do Paraná Nivaldo Pereira da Silva; Mayara Cristina Ghedini da Silva

10. Ambientes virtuais de aprendizagem: uma análise das disciplinas on-line do NEAD/UNIT (2003/1) Silvânia Santana Costa

Investigación 11. Economia política das cartografias profissionais: a formação específica para o


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jornalismo Sandra Korman Dib; Leonel Azevedo de Aguiar; Ivana Barreto 12. The neoliberal networking drive in Latin America Hans-Jürgen Michalski

13. La radio española: un negocio analógico en la era digital Luis Arboledas

14. As influências do grau de maturidade da equipe nos processos de inovação tecnológica e construção do conhecimento organizacional Robson Luiz Montanari; Luiz Alberto Pilatti

Reseña/Nota de Lectura 15. Para problematizar as questões de uma sociedade em rede Mariana Martins


PRESENTACIÓN Nos seus dez anos de existência, a Revista Eptic On Line sempre prezou por manter o diálogo com as demais áreas e campos de pesquisa, construindo assim uma rede acadêmica

de

pesquisadores

epistemologicamente

comprometidos

com

a

interdisciplinaridade e procurando agregar novas análises e interpretações que possuem interfase e atingem o campo comunicacional. Desse modo, a nova edição da Eptic contempla nossos leitores com um Dossiê Especial sobre Educação e Tecnologia. Inaugurando sessão especial, o professor José Matias Pereira, em seu artigo “Educação Superior a Distância, Tecnologias de Informação e Comunicação e Inclusão Social no Brasil”, discute as limitações e as possibilidades da educação superior a distância e faz uma avaliação crítica de como esta modalidade educacional está contribuindo para elevar o nível de inclusão social no Brasil. Em seguida, no texto “Estratégias para implantação de um sistema de educação à distância: um estudo de caso no âmbito de uma empresa de energia no Estado do Paraná”, Nivaldo Pereira da Silva e Mayara Cristina Ghedini da Silva fazem uma análise da implementação da Educação a Distância (EaD) como metodologia de educação continuada em uma empresa do ramo de energia no Estado do Paraná. Complementando o caderno especial, Silvânia Santana Costa, no texto “Ambientes virtuais de aprendizagem: uma análise das disciplinas on-line do NEAD/UNIT (2003/1)” revela os resultados de uma pesquisa que realizou com estudantes dos cursos presenciais da Universidade Tiradentes (Unit) após eles terem cursado algumas disciplinas online (como a própria autora destaca, a legislação brasileira permite que os cursos presenciais ofertem até 20% da sua grande na modalidade à distância). Além dos artigos que compõem o Dossiê, a Revista Eptic conta com a participação de diversos outros professores e pesquisadores brasileiros e internacionais. No texto “Capital,

informação

e

economia

digital:

as

múltiplas

faces

constitutivas

da

globalização corporativa do capitalismo”, Bruno Lima Rocha; Márcia Turchiello Andres e Ana Maria Oliveira Rosa apontam as diversas etapas do capitalismo, argumentando que as mudanças tecnológicas e suas consequências sócio-políticas não representam uma ruptura do sistema em si, mas fazem parte de um processo de reacomodação deste, de modo que a força de trabalho permanece especializada e individualizada. Em seguida, a professora Doris Fagundes Haussen, em artigo intitulado “Comunicação, cultura e sociedade digital no Brasil”, brinda-nos com um estudo sobre o impacto dos referentes virtuais nas fronteiras geográficas, com foco na


comunicação e na cultura e buscando identificar como o Brasil se insere nesse processo. Em “La deconstrucción de la mediación informativa”, Ignacio Muro Benayas discute a crise de mediação que emerge com a crescente autonomia dos atores que participam nos processos informativos. Encerrando a sessão de artigos, o professor Dario de Azevedo Nogueira Júnior, no trabalho “Création et Internet: as leis na França e no Brasil contra a pirataria e a mobilização interativa”, faz uma reflexão sobre o experimento, a partir da aprovação de leis específicas contra a pirataria, de restringir a troca de arquivos na rede entre os usuários. A atual edição da Eptic On Line conta a participação de um entrevistado especial. Trata-se do reconhecido professor Luís Ramiro Beltrão, um dos pioneiros a denunciar os perigos da concentração mediática na América Latina nos anos 70 e ativo participante das discussões acerca de uma Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação (Nomic), que culminaram com a publicação do Relatório McBride. Em entrevista exclusiva, realizada por Gislene Moreira, Beltrão falou sobre os desafios contemporâneos das políticas das novas esquerdas, e convocou à renovação do pensamento e da luta pela democratização da comunicação. Já a sessão de Pesquisa (Investigación) conta quatro interessantes trabalhos. O primeiro,” Economia política das cartografias profissionais: a formação específica para o jornalismo”, de autoria dos professores Sandra Korman Dib, Leonel Azevedo de Aguiar e Ivana Barreto, discutem como as transformações nas estruturas produtivas do capitalismo contemporâneo repercutem de maneira contundente nas estruturas organizacionais do mundo do trabalho e sobre a formação dos futuros profissionais de comunicação. Em seguida, o professor Hans Michalski, na pesquisa intitulada “The neoliberal networking drive in Latin America”, faz um levantamento sobre as consequências do processo de privatização das telecomunicações na América Latina, destacando o domínio do mercado latino-americano por apenas duas empresas (Telefônica e Telmex) e a consequência disto sobre as metas de universalização. Já terceira pesquisa, “La radio española: un negocio analógico en la era digital”, é de autoria do professor Luis Arboledas, que propõe umdebate sobre o impacto da tecnologia digital no modelo de desenvolvimento do rádio e da televisão na Espanha. Em “As influências do grau de maturidade da equipe nos processos de inovação tecnológica e construção do conhecimento organizacional”, que encerra o caderno de Pesquisa, Robson Luiz Montanari e Luiz Alberto Pilatti divulgam os resultados e as


análises de um estudo de caso que objetivou identificar influências do grau de maturidade da equipe nos processos de inovação tecnológica (IT) e construção do conhecimento organizacional (CO), tomando como objeto empírico sete equipes de uma empresa de médio porte, prestadora de serviços. Na sessão de Resenha, Mariana Martins aponta as contribuições do livro “Mutações do Visível: da comunicação de massas à comunicação em rede”, organizado pelo professor Dênis de Moraes e lançado recentemente pela editora Pão e Rosas. Com estas contribuições, a Revista Eptic On Line espera subsidiar e fomentar a pesquisa e o debate no campo das ciências da comunicação e áreas afins, cumprindo, da melhor maneira possível, o trabalho a que se propõe. Apresentada a presente edição, desejamos a você, caro leitor, um bom aproveitamento dos textos aqui disponibilizados. Não esqueça de enviar novas colaborações para as próximas edições da Revista Eptic. Até Breve, César Bolaño Diretor Eptic On Line

Valério Brittos Editor Eptic On Line


Capital, informação e economia digital: as múltiplas faces constitutivas da globalização corporativa do capitalismo Bruno Lima Rocha Márcia Turchiello Andres Ana Maria Oliveira Rosa*** Resumo: O artigo descreve diversas etapas do capitalismo, buscando compreender que as atuais mudanças tecnológicas e suas conseqüências sócio-políticas não se tratam de uma ruptura do sistema em si, mas sim estariam apenas fazendo parte de mais uma re-acomodação deste, como modelo de civilização sistema. Além disso, o artigo também demonstra que a força de trabalho, ressaltadamente a especializada, em seus diversos engendramentos, continua submissa e, além disso, apresenta-se individualizada e, dentro destes parâmetros, sem perspectivas de tornar-se efetiva resistência. Palavras-chave: capitalismo, inovação, periodização, digitalização.

Resumen: El artículo describe diversas etapas del capitalismo, buscando comprender que los actuales cambios tecnológicos y sus consecuencias socio-políticas no se tratan de una ruptura del sistema en si, pero sí estarían sólo formando parte de más una reacomodo de este, como modelo de civilización y sistema. Además de eso, el artículo también demuestra que la fuerza de trabajo, en especial la especializada, en sus diversos engendros, continúa sometida y, además de eso, se presenta individualizada y, dentro de estos parámetros, sin perspectivas de hacerse efectiva resistencia. Palabras-clave: capitalismo, innovación, periodización, digitalización.

Summary: The article describes several stages of the capitalism, looking for to understand that the current technological changes and their consequences partner-politics are not treated as a rupture of the system itself, but they would be just being part of one more reverse-accommodation of this, as model of civilization system. Besides, the article also demonstrates that the workforce, with a special focus in the specialized professions, in their several skills and roles, continues submissive and, besides, as it comes individualized and, inside of these parameters, without perspectives of being an effective resistance. Key-words: capitalism, innovation, historical periods, digitization.

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Professor de graduação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), onde também exerce a atividade de pesquisador I no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPG-COM), doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e editor-autor do portal Estratégia & Análise. E-mail: <blimarocha@gmail.com>. ** Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). E-mail: <marciaturchiello@hotmail.com>. *** Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: <anamariaoliveirarosa@yahoo.com.br>.


Introdução O sistema capitalista vem sendo marcado por grandes transformações no decorrer dos últimos dois séculos; no entanto, estas alterações não o fazem perder sua coerência interna de busca permanente por expansão, acumulação, concentração e modelização societária. No intuito de evitar uma periodização forçada, é preciso reforçar que o esgotamento do ciclo de desenvolvimento anterior, dando início à outra fase do próprio sistema, não significa – ou melhor, nunca significa - a superação total do período precedente. As mudanças ocorridas nos modos de produção não apagam as características essenciais do modelo, havendo sim, a incorporação de novas práticas ou até mesmo a “ruptura” de determinados princípios a favor de outros. Entende-se que a “ruptura” com o sistema capitalista é completamente diferente e infinitamente mais complexa do que as características dessas transformações que são comentadas e propagadas nos últimos anos. Tratando-se de um marco civilizatório, compondo um sistema de dominação, o capitalismo se re-funcionaliza a todo o momento, tornando-se cognitivo e informacional1. Dentro desse contexto é possível entender de forma específica o funcionamento do sistema diante das recentes mudanças tecnológicas. Adaptando-se aos distintos momentos da propagação da tecnologia dentro do sistema produtivo, o capitalismo permite não apenas que as mudanças possam fazer parte das habituais mutações às quais está exposto, mas também que o impacto dessas mudanças em áreas como a comunicação social reforcem códigos de conduta e comportamento incluídos na propagação ideológica que mantém o próprio capitalismo como hegemônico. Um exemplo atual desta conjunção da cultura como norma representada na individuação se materializa no tipo de conduta que faz referência à estética universalizada dos trabalhadores de nível superior: esse grupo vende (ou pretende vender) sua força de trabalho para empresas transnacionais, de capitais mistos ou estatais, e sequer se vê enquanto classe. Essa normatização social através do comportamento individual atomizado, também se verifica na cultura da carreira profissional, onde se supõe que a mesma se baseia em risco e oportunidade, popularizando assim uma versão vulgar do individualismo metodológico, baseado em cálculos tipificados como de escolha “racional”. Como contraponto, gerar outra base normativa de

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LIMA ROCHA, Bruno. A Interdependência Estrutural das Esferas: ancestralidade e atualidade da construção e

origem desta teoria Capítulo 3 de A Interdependência Estrutural das Três Esferas: uma análise libertária da Organização Política para o processo de radicalização democrática (tese de doutoramento em ciência política); Porto Alegre, UFRGS/PPGPol, março 2009


comportamento é complementar e essencial para dar apoio societário a outros formatos midiáticos que operam nas margens das indústrias culturais, embora muitas vezes de forma complementar aos agentes econômicos líderes de oligopólio nos mercados de comunicação e de telecomunicações. Diante desse contexto, e de acordo com os preceitos da Economia Política da Comunicação, é importante observar os processos atuais no intuito tanto de desmistificar uma possível ruptura do sistema com base na evolução técnica como de promover práticas sociais alavancadoras de mudanças que possam construir, ao longo do tempo e na velocidade que lhes é determinada pelas idas e vindas da conjuntura sócio-política e dos agentes aí imbricados, caminhos possíveis como alternativas às propostas já naturalizadas.

Apontando uma periodização complexa e não determinista A decadência do sistema feudal no século XVI, concomitante a formação das praças bancárias (coexistindo com os primeiros parques gráficos através de impressoras de tipos móveis), deu início à formação do que viria a ser o embrião da globalização capitalista, aprofundada nos dois séculos posteriores pela constituição de empresas de capital misto (as Companhias das Índias) e o aumento de circulação de moeda proveniente da cunhagem oriunda dos saques de metais preciosos então ainda abundantes no Novo Mundo. Sendo uma economia de mercado, o capitalismo é fruto da formação e expansão de um mercado em escala mundial, resultante das operações de inteligência de Estado e empreendedorismo misto, conhecidas como as Grandes Navegações.2 O capitalismo manufatureiro, resultado da penetração do capital na produção e da circulação de títulos como representação de valor e compromissos públicos (cujo fiador era o sistema bancários estatal em gestação), vai se desenvolver até o século XVIII. O aumento da produtividade devido à produção em grande escala, através de uma divisão técnica do trabalho, vai ser uma das novas características do sistema: O capitalismo manufatureiro foi capaz de explorar, em certa medida, a possibilidade de aumentar a produtividade mediante a produção em grande escala. Reunindo numerosos trabalhadores sob o mesmo teto, o capitalista manufatureiro pôde criar uma divisão técnica de trabalho dentro da manufatura, o que lhe permitiu alcançar maior produtividade do trabalho. Em lugar de cada trabalhador realizar todas as operações, cada operação passava a ser tarefa de um grupo específico de trabalhadores.3

O desenvolvimento do capitalismo industrial em sua primeira fase concorrencial tem por base a Revolução Industrial, cujo início remete ao final do século XVIII. O trabalho braçal foi acelerado e parcialmente substituído pela máquina, reduzindo os custos da produção e, 2 3

SINGER, Paul. O capitalismo: sua evolução, sua lógica e sua dinâmica. São Paulo: Moderna, 1987. p. 14. SINGER, Paul, op. cit., p. 16.


conseqüentemente, aumentando as vantagens do dono do capital. De acordo com Singer, o capitalismo industrial vai diferir do manufatureiro, na medida em que este último ancorava suas estratégias de expansão na unificação de um mercado nacional, necessitando da intervenção do Estado ainda sob o regime absolutista. Já o capitalismo industrial, com o surgimento de uma nova e vitoriosa fração de classe dominante sem direitos de nobiliarquia, vai inspirar-se no liberalismo, requerendo a unificação de todos os mercados, tanto locais, quanto nacionais, rejeitando a intervenção do Estado nos mercados internos (regulando as tensões políticas mediante o voto censitário e uma democracia entre os igualmente dominantes) e dando direito à livre competição4. Eis que surge o mito da concorrência perfeita e do equilíbrio de mercado como balanço de desenvolvimento de uma sociedade. No último quarto do século XIX inicia-se a transição da última parcela de fase concorrencial, entrando o centro do sistema através de seus agentes econômicos e seus poderes consolidados nas instituições estatais, para a etapa monopolista (posteriormente fordista) do capitalismo nos países desenvolvidos. Esse processo foi conseqüência da crise de 1873 a 1896 (a primeira Grande Depressão), e atinge seu apogeu em meados do século XX, principalmente no período posterior à Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Conforme Beaud, esse momento vai ser marcado pelo desenvolvimento de uma nova geração de indústrias e técnicas industriais, pela afirmação do movimento operário (com suas conseqüentes expectativas de emancipação mediante a violência de classe) e concentração do capital, assim como o surgimento de uma nova etapa de expansão do capital financeiro e, por último, pela nova onda de colonização e de expansão em escala mundial.5 Entre as características da etapa monopolista está o surgimento de grandes corporações, bem como a presença do Estado na vida social (até como contrabalanço da pressão por direitos sociais através da ação coletiva), interferindo nos contratos empresariais e passando a controlar um maior número de empresas. No que diz respeito das produções estéticas em larga escala, a cultura de massas, em escala industrial, passou a ser transformada em mercadoria e as indústrias culturais desempenham um papel mais relevante na sociedade, na medida em que serviram de alicerce para solidificar o sistema. Durante o Pós-2ª Guerra até o advento do computador pessoal e da telefonia móvel, pode-se afirmar que a radiodifusão audiovisual baliza parte das formas de sociabilidade e de agendamento destas gerações, materializando o conceito de cultura de massa e, ao final da década de 80, apontando, via multiculturalismo, a cultura segmentada que estaria por vir. A partir da década de 70 do século XX, desencadeia-se o processo de transformação que

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Ibid., p. 18-19. BEAUD, Michel. História do capitalismo: de 1500 aos nossos dias. 4ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 195.


levou a reconfiguração capitalista (pós-fordismo). Essa fase marca o início de uma nova expansão transnacional de companhias, abre o caminho para o rearranjo da atuação do Estado, assim como as privatizações e desregulamentações, levando à aceleração das tecnologias da informação e da comunicação, que também impulsionaram esse processo de reestruturação. Podemos destacar como marcos desta nova fase na década, a implantação do Sistema Swift de compensação interbancária transnacional, as vitórias políticas do neoliberalismo no Chile (1973) e depois da Inglaterra (1974), e a fundamental quebra do padrão dólar-ouro de forma unilateral por parte dos Estados Unidos. Pode-se dizer que entre os fatores causadores da transição de uma etapa a outra do capitalismo está o esgotamento do ciclo de desenvolvimento anterior, oriundo também de rombo fiscal, sendo este derivado da queda da correlação de forças no pacto de Pós-guerra – com a subseqüente derrota das forças representantes do mundo do trabalho no centro do capitalismo. A mudança da etapa, contudo, não significa que características vigentes na fase precedente sejam completamente substituídas por outras. Há que se destacar que a ruptura de um sistema de dominação é diferente da idéia de “superação”. Não há lógica intrínseca de autodestruição de uma dominação sistematizada. Não é porque o modelo analítico e o pacto social que garantiram a expansão da etapa do capitalismo fordista no Pós-Guerra mudaram que o capitalismo em sua essência mudara. Não é pela mudança no modo de produção (de fordista para pós-fordista) que o sistema capitalista “se supera”. O modo de produção é um dos pilares de um marco civilizatório chamado capitalismo e tem suas variáveis, como no regime político, mas seus teoremas fundamentais permanecem. Existe uma relação entre inclusão e exclusão; mão-de-obra ocupada e exército de reserva; relações assimétricas entre os agentes coletivos e o Estado capitalista; Estados-líderes e Estados subalternos; relações internacionais igualmente assimétricas e pautadas pelo interesse mercadológico e transnacionalização dos agentes econômicos mais fortes. Além do mais, nenhum modelo de “desenvolvimento” capitalista se globaliza de maneira uniforme. No período do Pós-Guerra, o pacto do Estado de Bem Estar Social da Europa beneficiada pelo Plano Marshall é reinventado na América Latina com

os Estados Nacional-

Desenvolvimentistas. A mesma reinvenção e re-acomodação ocorrem na etapa atual. Desse modo, apesar da prática neoliberal ser corriqueira no mundo contemporâneo, se diferencia entre os diversos países, como na América Latina em que atualmente (a partir dos dois primeiros anos do século XXI) se disseminam novas forças políticas de orientação de esquerda. Conforme Tremblay6, assim como o fordismo assumiu formas diversificadas entre os países, o gatecismo (termo cunhado 6

TREMBLAY, Gaëtan. La sociedad de la información y la nueva economía: promesas, realidades y faltas de un modelo ideológico. In: MARQUES DE MELO, J.; SATHLER, L. Direitos à Comunicação na Sociedade da Informação. São Bernardo do Campo: Umesp, 2005.


para referenciar o capitalismo do desenvolvimento da informática) também não se trata de um modelo homogêneo, uma vez que condições históricas e estruturais levam a características nacionais, regionais ou locais implicando em mais de um tipo de gatecismo.7 Mesmo havendo a mudança na forma de acumulação, não foi alterada a lógica da acumulação do sistema capitalista, tampouco o Estado capitalista deixa de ser Estado – e não uma associação de livres produtores de bens simbólicos – e trasnacionalizado. A vinculação em postoschave entre Estados e companhias, está no embrião deste sistema ainda em sua etapa mercantil, como foi o caso da Inglaterra com a Companhia Britânica das Índias Ocidentais e a Holanda com a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais; isto na fase do nascimento do sistema especulativo, dos Bancos Centrais e dos títulos e na forma de acumulação de tipo selvagem nos domínios ultramarinos. O problema atual do capitalismo e a razão da bolha do mercado imobiliário dos EUA – antes atingido pela fraude generalizada dos balanços públicos das maiores empresas do país, como a Enron8, e antes ainda atacado pela bolha das empresas Pontocom9 – é a falta de lastro. A apropriação do valor social através da lógica rentista (como um grande locatário jogando com as expectativas coletivas, a tal “confiança”) implica em ter, ainda que de proporção ínfima, uma remuneração básica em dinheiro circulante, e a partir daí, criar papéis derivados (derivativos) onde são criadas carteiras e especulação. Na ausência de lastro, não há sobre o que especular. O capital financeiro é fictício, mas é capital, portanto, precisa da apropriação privada do saber e do trabalho coletivos. Se há alguma essencialidade do capitalismo, esta é a apropriação do saber coletivo pelo capital e a fusão de interesses e projeções ideológicas nas formas institucionais de controle.

Capital, inovação e informação O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação foi essencial para as sociedades capitalistas, uma vez que foram responsáveis pelo aumento dos fluxos de informação, tornando-se fundamentais para a disseminação de produtos e serviços, através da publicidade. Da mesma forma, os meios de comunicação se beneficiaram dos investimentos trazidos pelo mercado, se desenvolvendo em termos técnicos e de serviços. De acordo com Tremblay, os profetas da Sociedade da Informação (SI) afirmam que “se debe concebir a la sociedad o a economía esencialmente en términos de producción y de circulación de la información. La información se 7

Ibid., p. 58. A Enron, companhia americana de serviços públicos de energia, considerada líder mundial em distribuição de energia, foi protagonista em dezembro de 2001 da maior concordata da história dos Estados Unidos, envolvendo denúncias de fraudes fiscais e contábeis. 9 Empresas que comercializam produtos ou serviços pela internet. Em maio de 2001, a bolha da internet, isto é, a supervalorização de ações de empresas virtuais estourou, levando a falência de muitas pequenas empresas virtuais. 8


habría convertido en el factor de producción y el producto más importante de la vida económica”.10 A informação seria a ferramenta principal para o desenvolvimento das sociedades, levando a crer, inicialmente, que a Sociedade da Informação foi um mecanismo de superação da Sociedade Industrial: A pesar que los logros de productividad no pueden medirse con precisión matemática, es un hecho innegable que las TIC introducen cambios en el proceso de producción. Pero, ¿estos cambios conducen a un nuevo modo de desarrollo? ¿Se trata de una ruptura o de una continuidad con el modelo de desarrollo industrial fundado en la innovación científica y tecnológica que caracteriza al capitalismo de los países desarrollados desde finales del siglo XIX? La respuesta positiva no es evidente y remite por el momento más a los a priori teóricos, que al análisis de datos concretos.11

Na etapa atual, do capital fictício (imaterial e financeiro), a informação é uma das matériasprimas para acumulação, tanto de lucro como de poder nas relações assimétricas. O controle social é um ativo tão relevante na Sociedade da Informação como o controle das rotinas produtivas: Mi punto de vista personal es que la SI es sobre todo una ideología que, como cualquier otra, proporciona una lectura selectiva, deformada, de la realidad, del cambio y del desarrollo social. Y esta ideología está fundada en el determinismo tecnológico. Mi análisis llega a la conclusión que la SI no constituye una ruptura radical con el sistema capitalista, sino que debe entenderse como otra etapa en la evolución del mismo. La nueva economía, o mejor dicho la economía digital o la digitalización de la economía, a pesar de sus dificultades recientes, parece una realidad más concreta que las promesas salvadoras de la SI.12

Herscovici13 se refere à lógica rentista, a qual tem relação com o modo de funcionamento do mercado de capitais como na exploração dos direitos de propriedade intelectual. Herscovici contesta o arcabouço e a base moral do sistema de autor-obra, ao que ele define como rentista - exploração privada de algo que é ou pode ser coletivizado: cultura, conhecimento e técnicas são processos intrinsecamente cumulativos, cuja dinâmica está ligada ao fato de diversas civilizações colocarem em comum suas contribuições respectivas. Qualquer restrição no que concerne às modalidades de apropriação deste patrimônio comum tende a prejudicar a dinâmica do sistema. Por outro lado, este tipo de dinâmica cultural, científica e tecnológica, permite questionar a legitimidade do conceito de autoria: à medida que a criação provém da herança do passado e das contribuições dos outros criadores, em função da história cultural e da antropologia, é praticamente impossível determinar qual é a contribuição específica de cada cultura e de cada criador.14

O mesmo se dá com as patentes científicas, cuja base de exploração é o licenciamento sobre 10

TREMBLAY, Gaëtan, op. cit., p. 51-52. Ibid., p. 55. 12 Ibid., p. 51. 13 HERSCOVICI, Alain. Conhecimento, capitalismo imaterial e trabalho: alguns elementos de análise. UNIrevista, São Leopoldo, v. 3, n. 1, jul. 2006. Disponível em: <http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Herscovici.PDF>. Acesso em: 6 mai. 2010. 14 Ibid. p. 10. 11


o sistema de inovação. A ação do capital se dá na apropriação privada (as patentes, os licenciamentos, a cobrança de royalties) do saber coletivo (a inovação construída de forma colaborativa). No capitalismo re-configurado um exemplo é a participação de empresas transnacionais nas rotinas produtivas da cadeia alimentar, onde são cobrados royalties sobre a semente transgênica no ato da compra da matéria-prima para a produção e no ato da venda, via exportação. Há elementos fundantes que não foram alterados pelo advento da Sociedade da Informação; um deles é a lógica rentista, aplicada pela taxação impositiva do Estado na moeda circulante, taxando consumo e salário, onerando o trabalho e desonerando o capital. Além disso, transferindo riqueza material para o formato digital e transnacionalizando esta riqueza através do Sistema Swift15 e pela compra e venda de papéis de dívidas públicas, ancorando a produção do mundo em carteiras de ações, muitas delas sem valor. Não se trata de uma ferramenta nova, pois o mecanismo de compensação satelital, Sistema Swift16, data de 1973, instituído pelas 10 maiores corporações bancárias. O termo capitalismo telemático é literal, pois se trata dos serviços de informática do sistema. A lógica rentista e de natureza especulativa está na raiz do sistema antes mesmo da sua fase mercantil, quando a expansão européia é financiada por corporações de banqueiros. O que pode ser visto como novo e em conflito com a lógica do capitalismo é saber que há uma multiplicidade de produtores de bens simbólicos e que o volume é tamanho que pode ultrapassar a moenda da indústria cultural, que segue vigente. A construção do conhecimento de forma colaborativa é uma das características da chamada nova economia, onde a busca pela inovação pode ser – através de digressão – comparada com a guerra de patentes do final do século XIX e início do XX. O sistema apresenta, aparentemente, uma falsa contradição. Em tese a inovação é sinônimo de livre fluxo, de informação circulante, intercâmbio entre cientistas e redes de colaboração globalizadas. Isso se a atividade-fim (a inovação científica) fosse acompanhada de uma atividade-meio (a pesquisa colaborativa) dotada de coerência discursiva. O conjunto das potencialidades tecnológicas, dentro do capitalismo, sempre está sujeito ao 15

Sistema de comunicação interbancária. Veja o que um especialista em circulação de dinheiro digital fala sobre o tema: “Em 1973, as dez maiores instituições bancárias do mundo criaram a Swift, um sistema de telemática [conjunto de serviços de informática fornecidos através de uma rede de telecomunicações] que cobre 99,9% das instituições bancárias existentes no mundo e é um prestador de serviços responsável por todas as compensações e movimentações bancárias. É a rede de sustentação dos bancos. Evidentemente, por ela circula parte dos referidos 500 bilhões de dólares. Não que isso aconteça com a conivência da Swift, mas não há nenhum mecanismo de controle, fiscalização.” MAIEROVITCH, Wálter Fanganiello. Negócio (I)lícito. In: Portal SESC SP. Disponível em: <http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?Edicao_Id=237&Artigo_ID=3726&IDCategoria=4093&refty pe=2>. Acesso em: 14 nov. 2009. 16


peso relativo dos agentes econômicos com as melhores posições em seus respectivos oligopólios e das relações assimétricas dentro das instâncias decisórias de um Estado. Pela lógica da “superação”, o avanço tecnológico seria absoluto; mas pelo modus operandi do controle dos processos criativos (com a apropriação privada do saber coletivo), o avanço tecnológico tem de se ajustar às margens de constrangimento estrutural das relações de força vigentes no processo de inovação. Processo tecnológico por si só não afeta nenhuma sociedade. É a diferença de técnica para tecnologia. Um exemplo digressivo pode ser a observação do uso do cavalo pelas tropas dos conquistadores nos antigos impérios Inca, Maia e Azteca e a domesticação do cavalo pelos povos originários charruas e guaicurus. Um exemplo destas possibilidades está na hipotética universalização ao acesso da internet de banda larga no Brasil entra como estrutura “produtiva”, e a superação da organização produtiva anterior, ao menos nas cadeias de produção de bens simbólicos e informacionais. O tema da autorização de internet por rede elétrica, cuja cobertura atinge a praticamente todo o solo urbano brasileiro, sem dúvida é um avanço no acesso e na inclusão. A diferenciação se dá na base cognitiva das pessoas, da maioria dos brasileiros, em compreender e assimilar conteúdos mais complexos, além de seu cotidiano e dos códigos que domina. O diferencial ainda assim reside aí. Mesmo ao se imaginar o acesso “universal” da internet de banda larga, tem-se ainda momentos de superação para o acesso universal no sentido da produção colaborativa. Isto é: não se pode pressupor que as pessoas conectadas serão autodidatas conceituais, que vão absorver informação e poder processá-la se não tiverem conceitos analíticos para isso. Um jornal de alguma complexidade, como a Folha de São Paulo e o O Globo já se tornam quase ininteligíveis, imagine a blogosfera alternativa. Ainda assim, entende-se que, para aumentar a velocidade de circulação do conhecimento no Brasil, é fundamental o Estado intervir, gerando a infra-estrutura básica para isso, como é a habilitação da internet por banda larga, e como seria a implantação da cobertura da banda larga sem fio pelas antenas de Wimax (sinal com alcance de até 50 quilômetros). Este é um caso típico de subordinação parcial do ente decisório, dentro de um Estado capitalista regido pelas relações assimétricas dos agentes econômicos nos mecanismos de regulação dos mercados. Pela base tecnológica, já há desenvolvimento suficiente para aumentar a velocidade da banda, universalizar o acesso (e não o uso, aí entramos no problema do déficit cognitivo) e possibilitar os uploads mais pesados. Isso não ocorre não por barreiras “técnicas”, mas por recursos de tecnicismos usados para garantir as posições de líderes de oligopólios em momentos de fragilidade (de mudança de padrão tecnológico e abertura para novas possibilidades e agentes). Se há uma essência no capitalismo e se ela permanece inalterada, então não é a circulação de informação que por si vai transformá-la. Nas duras regras dos sistemas de dominação, aprende-se


logo que sistema algum se autodestrói e nem mesmo um governo comete suicídio político. Uma das partes constitutivas do capitalismo é sua mediatização, e a necessidade de fabricar consentimento na forma de consensos de maiorias supostamente silenciosas. Talvez seja este o aspecto mais vantajoso da atual revolução tecnocientífica, da microeletrônica e dos semicondutores. Na sociedade em que se vive, aumentam as proporções de se produzir bens simbólicos, conteúdos midiáticos e o conjunto de narrativas estéticas que podem ganhar forma mercadoria. Mas isso por si só não altera a classe de mercado dos oligopólios (como na internet, com Google, Yahoo e MSN) e nem muda a natureza do capital (apropriação privada de bem coletivo; apropriação privada de saber social circulante; extração da capacidade criativa dos produtores/trabalhadores; controle fechado de rotinas produtivas, dentre outras) e muito menos do Estado capitalista e das relações assimétricas que o regem.

Economia do conhecimento e economia digital No século XXI as comunicações vão ser marcadas pela Fase da Multiplicidade da Oferta17, representada pela abertura de novos mercados e, consequentemente, maior número de canais ao público receptor. Nesse período, amplia-se o fluxo de informação, assim como as possibilidades de disseminar conhecimento pelas inúmeras ferramentas de comunicação oferecidas pela Web, impactando, inclusive, o processo de construção do conhecimento de forma colaborativa, que, nada mais é do que um espaço onde a circulação de informação se dá entre pares ou assemelhados. A possibilidade de trabalho criativo de forma colaborativa sempre houve, mas talvez não na escala atual: A delimitação de papéis do universo impresso encontra-se agora transfigurada pelo meio electrónico, o qual permite uma diluição de funções, cujas consequências são, ainda, imprevisíveis, mas que aceleram o processo de desadequação dos princípios convencionais aos novos princípios. Ao imbuir-se a tecnologia no processo de comunicação da ciência, transformam-se as formas convencionais (de comunicação, por exemplo), e criam-se novas formas (de colaboração, por exemplo), que usufruem do derrube de fronteiras e da ampliação do espaço-tempo que a tecnologia proporciona.18

No entanto, as barreiras permanecem semelhantes das existentes no período analógico. Conservam-se, talvez em proporções diferenciadas, as regras de controle e de mercado, como patentes, licenças e definições de que tal área é sensível e, portanto, implica em segurança nacional (como códigos fonte de super processadores ou tecnologias que barateiam o uso de energia):

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18

BRITTOS, Valério Cruz (Org.). Comunicação na Fase da Multiplicidade da Oferta. Porto Alegre: Nova Prova, 2006. BORGES, Maria Manuel. A Propriedade Intelectual: do Direito Privado ao Bem Público. Observatorio (OBS*) Journal, 5 (2008). p. 225-244. p. 234.


Uma característica que subjaz a todas as licenças é a do entendimento de que a criatividade humana não deve ser cerceada por utilização limitada dos trabalhos dos autores. A utilização de uma obra não a desgasta, como acontece com a propriedade convencional, antes a amplia e faz ecoar para todo um conjunto de utilizadores. As licenças Science Commons (SC), tal como as licenças CC onde são baseadas, procuram exprimir as intenções do autor: os autores académicos escrevem para que o seu trabalho seja reconhecido pelos pares, sem ter em mente qualquer contrapartida financeira directa, o que os distingue de todos aqueles que se encontram no circuito comercial. Procuram é maximizar o impacto, parcialmente reflectido pelo número de citações que recebem, o que significa que, ao existirem obstáculos ao acesso, tal impacto pode ser afectado.19

O Creative Commons (CC) é um pré-licenciamento, onde se desoneram as partes de conversarem mediante representantes legais. O problema do licenciamento fica mais complexo quando a inovação tem ambiente na internet, sabendo que o ciberespaço é globalizado por sua natureza. A barreira de idioma tampouco existe em nível científico, reconhecendo-se que o inglês é língua franca para os acadêmicos produtores de ciência: Uma licença CC define o modo como os utilizadores podem usar o trabalho sujeito a copyright, para além do chamado fair use. O fair use define um conjunto de regras que permite o uso de um trabalho procurando estabelecer um equilíbrio entre os direitos do autor e o interesse público (para fins de investigação, educação e uso privado. 20

O CC, além de diminuir custos, também vai ao encontro do ambiente que tende a ser mais colaborativo, até porque a base dos produtos digitais é serem reproduzidos através de cópias, e não de reprodução individual, como um produto analógico. A tensão está na legislação, pois nenhuma norma do direito internacional se sobrepõe aos códigos de direito de um Estado, implicando na necessidade de grandes acordos de patentes e licenças. A complexidade da engrenagem está no conhecimento sensível, que deve a todo custo ser protegido. Aí entram em cena escritórios jurídicos operando no cenário mundial, acordos de governo para governo e dentro de blocos políticocomerciais. Uma crítica dos ativistas de comunicação na Venezuela, por exemplo, é que o governo Chávez não criou bases digitais para tentar, ao menos dentro dos países de governos aliados (como Equador e Bolívia), oferecer alternativas para o conteúdo digital produzido em larga escala pelos comunicadores populares. Retomando o tema do licenciamento, existe uma oposição no funcionamento de Creative Commons (CC) e Science Commons (SC), ou melhor, uma diferença entre uma produção científica na forma de narrativa e na produção de conhecimento hoje considerado sensível como simulação de um fenômeno a ser controlado. Em pesquisas que envolvem temas como a quebra de uma cadeia de 19 20

BORGES, Maria Manuel, op. cit., 231. Ibid., p. 228.


DNA ou cadeia genética de interesse estratégico; ou mesmo um consórcio científico para fabricar a vacina contra o vírus HIV ou o câncer, há uma comunidade científica envolvida no tema, além do interesse material direto, das correlações entre ser uma autoridade científica e a ocupação de postoschave no meio acadêmico ou nas grandes fundações de financiamento. Nesse caso, por mais colaborativa que seja uma comunidade científica, se for pesquisa aplicada, a patente caberá aos patrocinadores diretos ou indiretos do projeto. Este seria um limite da criatividade dentro do capitalismo, incluindo desafios tecnológicos que, pelas regras de funcionamento atuais, ainda não foram superados, como o câncer. É dentro dessa lógica que os Direitos de Propriedade Intelectual (DPI) e as patentes operam. Os Estados mais fortes, onde se incluem os países do G7 e do G20, tendem a proteger seus interesses (que se sobrepõem aos dos agentes de oligopólios e os respectivos capitais cruzados), atraindo para suas “comunidades” uma abundância de mão-de-obra barata para desenvolvimento de novos produtos (como os engenheiros de sistemas e programadores indianos trabalhando nos EUA). O diferencial é a exigência da qualificação técnica da mão-de-obra, incluindo o 4º setor o da inovação científica (na verdade voltado para a inovação tecnológica e da pesquisa aplicada), onde o peso relativo das ditas ciências duras deforma o campo, impondo regras universais de “produtividade” para aqueles que produzem ciências “humanas”, “duras” ou biomédicas. Como a carga de informação é cada vez maior em qualquer processo produtivo e a corrida pela inovação condiciona a formação de mão-de-obra em larga escala, se pulveriza os processos de criação científica, se banalizam os diplomas e as pós-graduações, e se barateia o custo desta mesma mãode-obra, também precarizada. Vale observar que a construção de conhecimento é imaterial no que diz respeito ao seu trabalho essencialmente abstrato. Este conhecimento “se materializa” depois em distintas maneiras, desde uma nova mercadoria, outras formas de cadeia de valor (como o comércio B2B eletrônico) e mesmo no “mercado de idéias”, construindo, através da linguagem, conceitos operacionais que impedem as contestações sistêmicas do próprio capitalismo. A economia digital está baseada em algumas cadeias produtivas. É o caso da relação quartzo, microchip, somado com uma mão-de-obra especializada, fruto de mais de uma década de investimento. A analogia da matriz energética pode ser aplicada, já que hoje se vivencia não a “superação” do combustível fóssil, mas o seu auge e por consequência, o antecipar de sua superação. Isto vai extinguir o petróleo como matriz energética? Não, mas vai relativizar seu peso nos processos de funcionamento deste marco civilizatório que é a sociedade capitalista. Não há economia sem materialidade, por mais que a carga informacional sobre uma mercadoria seja enorme, por vezes sendo quase impossível de quantificar. Ao mesmo tempo em que


dificulta pensar categorias estanques – como trabalhador braçal e trabalhador intelectual – se torna possível e identificável o 4º setor. É a tecnificação do saber profissional criando uma nova classe de produtores: baseada na criatividade do trabalhador polivalente como forma de extrair a força de trabalho fazendo, por exemplo, quatro ou mais funções, além daquela para o qual formalmente foi contratado; e não controlando tanto os tempos e movimentos (base da linha fordista), mas dando “liberdade” de produzir em ambientes interativos e onde a criatividade pode ser exercitada “em qualquer das 24 horas de um dia corrente”. Sobre o papel do Estado no redimensionamento da indústria do audiovisual no Brasil defende-se que um parque cinematográfico é tanto um importante mercado, uma cadeia de valor relevante, como é portador de ideologia e elemento de difusão do país no mundo globalizado. Um Estado latino-americano deve ser um dos pilares do desenvolvimento de uma indústria cinematográfica autóctone, ou o mais nacionalizável possível. E, estas barreiras de custos caíram enormemente com o advento da tecnologia digital. Apesar da capacidade de realização e da postura estóica dos Cineclubes no Brasil, não se pode aceitar como “norma” (ou seja, como normal), que a exibição das realizações brasileiras circule de forma marginal dentro do próprio país. Algumas formas são simples de executar e muito difíceis de alcançar. Por exemplo, a cota de exibição nacional nas salas de cinema; os curtametragens brasileiros antes dos blockbusters transnacionais; a criação não de uma agência “reguladora”, mas sim uma agência de fomento, com linhas de financiamento e recursos diretos do Tesouro Nacional; e a regionalização da produção audiovisual. Hoje, para construir uma identidade, é tão relevante o audiovisual quanto é a literatura. As maiores editoras do mundo latino sobrevivem de compras de governo, e o mesmo poderia acontecer com a realização audiovisual de alto nível nos distintos gêneros de forma estadualizada. A Sociedade da Informação é análoga a atual Revolução Tecno-Científica, onde o individualismo metodológico fragmenta a identidade coletiva das forças de trabalho e onde a força motriz da inovação tem como base a tecnologia de microeletrônica e semicondutores. As bases tecno-científicas do capitalismo são cumulativas, seguindo a existir, de forma residual, as formas anteriores dentro da atual.

Conclusão A roda da indústria cultural continuará a girar, e ao mesmo tempo, amplia-se o circuito por fora dos agentes líderes dos respectivos oligopólios. Além disso, a globalização de capitais cruzados e a cultura unificada pelos códigos de comportamento de profissionais liberais operando como força de trabalho criativa dentro de transnacionais também tem na integração Sul-Sul, periferia-periferia e


por fora dos países centrais ou dos domínios de enclave no interior dos países líderes do G20 (Brasil inclusive), a dose do veneno contrário para gerar seu próprio antídoto. Ainda assim, reconfigurado ou não, as leis de funcionamento do capitalismo seguem válidas. Não é pela abundância de trabalho imaterial que deixa de existir trabalho e extração de maisvalia por parte do capital. Não é pela complexificação das classes sociais que deixa de existir classe e luta de classes. Não é pela multiplicidade de representações e interesses dos debaixo que deixa de existir a possibilidade de insurgência ou organização dos atingidos pela dinâmica do capitalismo. A complexidade do modelo não anula o teorema desse sistema de dominação. É interessante notar que as novas formas e novas mídias, em especial a tecnologia digital, permitem a multiplicidade da oferta e amplia os agentes da cadeia de valor do audiovisual. Por outro lado, mesmo de forma fragmentada, os líderes do oligopólio se posicionam bem nessa entrada. O caso de Spike Lee21, que já ocupou posição de “maldito” pelo mainstream dos Estados Unidos, se associar com a transnacional Nokia (cuja base de estrutura de telecomunicações forma joint venture com a Siemens e, assim, se posiciona em terceiro no mercado mundial de infraestrutura de telecomunicações) demonstra esses rearranjos. Assim, ao mesmo tempo em que as novas possibilidades multiplicam o fazer audiovisual, seus produtores se associam com líderes de oligopólios (de suporte, de exibição, de distribuição) para fomentar a produção que supostamente se subentende que deveria ser desconcentrada. É interessante notar que a base de funcionamento do capitalismo pode ser percebida nas políticas públicas ou na ausência delas. No caso brasileiro, e especificamente no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, os dados comprovam o conceito. Modestamente considera-se a gestão à frente do Ministério da Cultura como inovadora e notável, um diferencial dentro do padrão do Governo. Mas, ainda assim, a diferença de escala de investimentos é gritante: sabe-se que a capacidade cognitiva é tão importante hoje como a saúde física que habilite para a força de trabalho braçal. O que pode ser feito, dentro de um sistema de dominação capitalista, cuja hegemonia chega a impor um marco civilizatório, é como um ato de sabotagem numa linha fabril. Sem o ludismo, não haveria a quebra de máquinas e nem a tomada dos meios de produção. O processo atual ocorre de modo semelhante: quebrar a estética do oligopólio é fazer girar a roda da indústria cultural (inventando para ser absorvido), mas também criar para revirar os códigos que a hegemonia impõe de forma inclusive subliminar. Neste caso, o audiovisual pode ser impactante, e é necessário que o mesmo faça parte de uma alfabetização inclusiva a partir de plataformas digitais, de preferência de domínio e uso públicos.

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Cineasta estadunidense, considerado um diretor polêmico.


Referências BEAUD, Michel. História do capitalismo: de 1500 aos nossos dias. 4ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. BORGES, Maria Manuel. A Propriedade Intelectual: do Direito Privado ao Bem Público. Observatorio (OBS*) Journal, 5 (2008). p. 225-244. BRITTOS, Valério Cruz (Org.). Comunicação na Fase da Multiplicidade da Oferta. Porto Alegre: Nova Prova, 2006. HERSCOVICI, Alain. Conhecimento, capitalismo imaterial e trabalho: alguns elementos de análise. UNIrevista, São Leopoldo, v. 3, n. 1, jul. 2006. Disponível em: <http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Herscovici.PDF>. Acesso em: 6 mai. 2010. LIMA ROCHA, Bruno. A Interdependência Estrutural das Esferas: ancestralidade e atualidade da construção e origem desta teoria Capítulo 3 de A Interdependência Estrutural das Três Esferas: uma análise libertária da Organização Política para o processo de radicalização democrática (tese de doutoramento em ciência política); Porto Alegre, UFRGS/PPGPol, março 2009 MAIEROVITCH, Wálter Fanganiello. Negócio (I)lícito. In: Portal SESC SP. Disponível em: <http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?Edicao_Id=237&Artigo_ID=3726& IDCategoria=4093&reftype=2>. Acesso em: 14 nov. 2009. SINGER, Paul. O capitalismo: sua evolução, sua lógica e sua dinâmica. Moderna, 1987.

São Paulo:

TREMBLAY, Gaëtan. La sociedad de la información y la nueva economía: promesas, realidades y faltas de un modelo ideológico. In: MARQUES DE MELO, J.; SATHLER, L. Direitos à Comunicação na Sociedade da Informação. São Bernardo do Campo: Umesp, 2005.


Comunicação, cultura e sociedade digital no Brasil1 Doris Fagundes Haussen2

Resumo: A globalização da economia e a evolução tecnológica têm provocado significativas alterações na sociedade. As fronteiras geográficas são atravessadas por referentes virtuais que incidem diretamente sobre a comunicação e a cultura. Este artigo propõe-se, assim, a analisar o fenômeno, procurando identificar a sua influência sobre a sociedade brasileira, sua cultura e identidade. Estuda, também, a inserção do país na sociedade digital. Palavras-chave: comunicação; cultura; sociedade digital; Brasil. Abstract: Both the economic globalization and technological evolution have caused very profound changes in society. Geographical borders are being crossed by virtual content that impact directly communication and culture. This article has the purpose of analyzing this phenomenon, aiming to identify its influence on the Brazilian society, its culture and identity. It wishes as well to study the Brazilian insertion in the digital society. Keywords: communications; culture; digital society; Brazil. Resumen: La globalización de la economia y la evolución tecnológica han provocado profundas alteraciones en la sociedad. Las fronteras geográficas son atravesadas por referentes virtuales que inciden directamente sobre la comunicación y la cultura. El artículo se propone a analisar el fenômeno buscando identificar su influencia sobre la sociedad brasileña, su cultura e identidad. Reflete, también, sobre la inserción del país en la sociedad digital. Palabras-clave: comunicación; cultura, sociedad digital, Brasil. Ao se abordar a questão da sociedade digital no Brasil3, é interessante analisar, inicialmente, alguns dados para identificar de que tipo de sociedade está se falando. O relatório do Comitê Gestor da Internet com os resultados da 4ª Pesquisa sobre Uso da Tecnologia da Informação e da Comunicação no Brasil (a TIC Domicílios 2008)4, aponta que da população em geral (a pesquisa realizou entrevistas presenciais em 20.020 domicílios no país), 97% possuem televisão, 86% rádio, 72% telefone celular,

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Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Economia Política e Políticas da Comunicação” do XIX Encontro da Compós, na PUC do Rio de Janeiro. 2 Profª. Drª. do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Pesquisadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. E-mail: dorisfah@pucrs.br 3 Sobre o tema ver também o texto da autora “Fronteiras da Comunicação Regional”, Anais do III Colóquio Brasil-Estados Unidos de Comunicação, New Orleans, Tulane University, 2008. 4 Os dados do Comitê (www.cgi.br) foram divulgados pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto br – NIC.br (www.nic.br)


36% telefone fixo, 20% antena parabólica e 6% TV por assinatura. Sobre os computadores, 25% possuem em casa, sendo 28% na área urbana e 8% na rural, e a internet está presente em 18% das residências no país, sendo que na área urbana 20% têm acesso, e na rural, 4%5. Quando se analisam estes dados, ficam evidentes as diferenças, que não são apenas em relação a outros países, mas internamente também. Se por um lado, por exemplo, o brasileiro é o maior usuário em questão do tempo utilizado, este uso referese apenas àqueles que dispõem do acesso (e do conhecimento necessário) aos computadores e à internet. Por outro lado, tomando-se o Brasil por regiões, verificam-se as diferenças internas: no sul a proporção de lares com computador é de 33%, no sudeste, de 30%, e no centro-oeste de 30%. Já no norte é de 15% e, no nordeste, 11%6. Os dados apontam desta maneira, para a necessidade de se ter em conta que a “sociedade digital” ainda é uma realidade bastante distante para grande parte dos brasileiros, além de complexa em sua distribuição. Destaca-se, também que a informação ainda é consumida, prioritariamente, através da televisão e do rádio. De 5

Quanto ao tipo dominante de conexão nos domicílios, a pesquisa indica que é a banda larga, com 58%, seguida pela discagem por modem tradicional, com 31%. Analisando-se por regiões do país, verifica-se que o uso mais elevado de banda larga é na região centro-oeste, com 79%, seguida pela sul, com 69%, a nordeste, com 59% , a sudeste com 53% e a norte com 50%. A pesquisa constatou ainda que o acesso à banda larga está diretamente relacionado à faixa de renda, pois atinge 70% dos domicílios em áreas urbanas com renda superior a dez salários mínimos. Já nos domicílios com renda de até dois salários mínimos que possuem acesso à internet, a diferença entre banda larga e modem tradicional cai para 10%. Em relação ao uso individual, 53% dos entrevistados afirmaram já ter utilizado um computador e 41% já acessaram a internet pelo menos uma vez na vida, de qualquer lugar. Destaca-se, assim, que 47% da população brasileira nunca usaram um computador e 59% nunca navegaram na internet. Quanto ao local de acesso, a pesquisa mostrou que 48% dos internautas acessam a rede mundial em centros públicos pagos. O levantamento apontou, também, que 42% usam em casa, 21% se conectam no trabalho, 22% na casa de outra pessoa, 14% na escola e 3% em centro público de acesso gratuito. As lan house são o principal ponto de acesso dos usuários de baixa renda, mas mesmo os jovens que têm computador com banda larga em casa utilizam eventualmente esses locais pagos. De acordo com matéria publicada no jornal Zero Hora (2009,p.3, Caderno Digital), “sem poder pagar uma assinatura mensal de internet, o brasileiro utiliza cada vez mais as lan house, ou pontos públicos de acesso à web, onde encontra preços mais baixos pela conexão”. O relatório do Comitê Gestor da Internet no Brasil (2008, p.148)5 aponta, por sua vez, que, considerando-se as regiões geográficas do país, nota-se que os maiores percentuais de acesso à internet realizados em centros públicos de acesso pago “referem-se às regiões economicamente menos favorecidas, como as regiões Norte e Nordeste. Em contrapartida, verifica-se que o acesso à internet nos domicílios é maior nas regiões sul, sudeste e centro-oeste”. Por outro lado, os dados sobre o acesso à internet no mundo (IBOPE – Instituto Brasileiro de Opinião e Pesquisa) demonstram que, entre os usuários que possuem computador em casa com acesso à rede, nos diversos países, o Brasil encontra-se em 6º lugar, com 27,5 milhões de internautas. Na frente estão os Estados Unidos, com 221,4 milhões, seguido pelo Japão, Alemanha, Reino Unido, Itália, França. O que demonstra o interesse por parte da sociedade brasileira (que está conectada) por esta tecnologia. Sobre o tempo de uso, a pesquisa mensal Ibope/NetRatings 5 indicou que, em julho de 2009, entre os dez países em que é realizada a pesquisa, o Brasil é o que utiliza o maior tempo por usuário (71:30), tanto na navegação em páginas quanto no tempo total, incluindo programas online. Em segundo lugar vem os Estados Unidos (67:33), o Japão (66:55), o Reino Unido (59:56), a França (58:19), a Espanha (53:09), a Alemanha (55:35), a Itália (45:50), a Austrália (42:15) e a Suíça (32:27). 6 Fonte: www.cgi.br . Acesso em 10/08/2009.


qualquer forma, estas alterações vieram para ficar, ao longo do tempo. Assim, as reflexões feitas a este respeito, na atualidade, têm que levá-las em consideração, mesmo que seja num horizonte de expectativas (Haussen, 2007). Segundo Vilches (2003, p.223), “na internet, assume-se como garantida a forma de participação dos usuários. Coisa bem diferente é a maior ou menor liberdade para participar e, por isso, o discurso da migração digital não pode ser desvinculado do debate político sobre o acesso sócio-cultural”. Para o autor, nos encontramos frente a uma importante mudança na ênfase teórica sobre o assunto. E esta mudança tem duas faces, como uma moeda. De um lado, “trata-se de refletir sobre o verdadeiro alcance do conceito de democratização do acesso; por outro, trata-se de refletir sobre o verdadeiro alcance do significado tecnológico e discursivo do conceito de rede” (idem, p.218). A lógica dominante na rede, assim, provoca seus próprios desafios, e entre eles inclui, também, a questão do poder. Para Castells (1997), este já não se concentra apenas nas instituições (o Estado), nas organizações (empresas capitalistas), ou nos controladores simbólicos (empresas midiáticas, igrejas). “Ele se difunde em redes globais de riqueza, poder, informação e imagens que circulam e se transformam em um sistema de geometria variável e desmaterializada. Mas não desaparece. O poder segue regendo a sociedade; mas nos dá forma e nos domina” (CASTELLS, 1997, p.398). Sobre o tema, Moraes (2009, p.87) lembra ainda que, se ampliarmos a análise, verifica-se que “se de um lado há uma multiplicação da oferta da informação e diversão, de outro há um processo perverso de centralização das fontes emissoras dos conteúdos multimídias e de geração de valor mercantil ampliado”. Com isto, são alimentados “os padrões de acumulação e de rentabilidade das grandes empresas do setor”. Para o autor,

Os usufrutos de dados, sonhos e imagens dependem de acessos e capacidades cognitivas frequentemente desiguais, como também de escalas de valores, de princípios e de visões de mundo quase sempre disseminadas em sintonia com conveniências estratégicas dos grupos controladores das fontes midiáticas (MORAES, 2009, p. 87).

A questão, desta forma, passa inevitavelmente pela atuação do Estado e pelas políticas públicas de comunicação. Brittos e Miguel (in Moraes, 2009) lembram que “um consumidor não é o mesmo que um cidadão”, e, neste sentido, é necessária a compreensão de que “o incentivo a produção local, à participação política e ao respeito


pelas diversidades são imprescindíveis para identidades culturais efetivamente múltiplas” (BRITTOS e MIGUEL in MORAES, 2009, p. 57).

Comunicação e novas fronteiras

O fenômeno da globalização da economia e o acelerado desenvolvimento das tecnologias de comunicação têm influído, ainda, nas questões de espaço e tempo, ampliando fronteiras e incidindo diretamente sobre as culturas. Neste sentido, os conceitos de local, regional e global também se alteram inclusive no que se refere a estados nacionais7. Assim, a utilização destes conceitos conduz a “um ordenamento entre níveis espaciais diferentes, o que nos leva, necessariamente, a pensar as relações entre eles” (Ortiz, 2000, p.60). Relações, estas, certamente atravessadas por elementos das culturas locais, nacionais e, também, da mundial8. Dois processos, segundo Martín Barbero (2006, p.53), estão transformando radicalmente o lugar da cultura nas sociedades: a revitalização das identidades e a revolução das tecnicidades. O autor considera que os processos de globalização econômica e informacional estão reavivando a questão das identidades culturais étnicas, raciais, locais e regionais, “até o ponto de convertê-las em dimensão protagônica de muitos dos mais ferozes e complexos conflitos internacionais dos últimos anos”. Mas, ao mesmo tempo, essas identidades “estão reconfigurando a força e o sentido dos laços sociais, e as possibilidades de convivência no nacional e ainda no local”. Em relação à tecnologia, considera que:

O que a revolução tecnológica introduz em nossas sociedades não é tanto uma quantidade inusitada de novas máquinas, mas, sim, um novo modo de relação entre os processos simbólicos – que constituem o cultural – e as formas de produção e distribuição dos bens e serviços: um novo modo de produzir, confusamente associado a um novo modo de comunicar, transforma o conhecimento numa força produtiva direta (MARTIN BARBERO, 2006, p. 54).

7

Renato Ortiz (2000, p. 59) lembra que em relação ao global, o que interessa no nacional não é tanto a sua unidade, mas a distinção em relação aos demais países. “No concerto das nações, cada uma delas é marcada por suas especificidades, por suas diferenças. O nacional assume, desta forma, algumas qualidades do local”. 8 Ortiz (2000, p. 154) considera que o movimento da globalização das sociedades tem avançado principalmente em relação aos níveis econômico e cultural. “Trata-se, evidentemente, de domínios distintos (por isso prefiro falar em mundialização da cultura e não de sua globalização)”.


A comunicação, portanto, joga, na atualidade, um papel fundamental no que se refere à cultura, à política, à educação. Mas, esta centralidade se manifesta, também, em outros setores: nas finanças, na produção industrial, no trabalho, na ciência, etc. Este novo poder da comunicação é uma conseqüência de suas próprias e aceleradas mudanças, particularmente na confluência entre os meios de comunicação, as telecomunicações e a informática. Por outro lado, muito tem se discutido sobre a influência nas culturas locais de produtos e processos globais. Uma reflexão mais aprofundada destaca a preocupação com a crescente concentração da propriedade dos meios de comunicação, de suas estruturas e das redes de distribuição dos produtos entre poucas (e grandes) empresas. Mas, a possibilidade da transnacionalização da cultura e da comunicação aponta não apenas para uma “comunidade de produtos mundiais idênticos”, como salienta Bustamante (2003). Junto a estes produtos globais, impulsionados pelo caráter internacional das redes, e também da fragmentação dos mercados em segmentos internacionalizados de gostos, e das capacidades aquisitivas ou interesses, destaca-se a recomposição das relações globais-locais. Com esta nova feição, configuram-se “produtos e serviços criados, produzidos e agrupados segundo mercados de nicho que cruzam transversalmente as culturas e as fronteiras, mas adaptados aos gostos nacionais” Além disso, as próprias identidades culturais são utilizadas como “canteiros de renovação” desses produtos, que são domesticados para ser vendidos em mercados muito diversos, além de “orquestrados sob uma mesma estratégia global” (BUSTAMANTE, 2003, p.345). A cultura e a comunicação nacionais/locais, no entanto, apresentam especificidades e diferenças marcantes face à globalização digital e à internacionalização das redes, o que, segundo Bustamante, não elimina as diversas resistências de cada cultura e da própria língua materna. Assim, neste contexto de concentração e globalização, os Estados nacionais continuam tendo um papel relevante, seja por ação ou omissão. Uma destas ações de significativa importância relaciona-se ao ajuste do país à globalização e à digitalização ao apoiar determinados desenvolvimentos tecnológicos e redes, ao realizar inversões ou estabelecer prioridades em políticas industriais, sociais e educativas. Ou, também, ao apoiar grupos empresariais afinados com o governo, determinando sua implantação e poder de negociação.


Observa-se, desta forma, que na atualidade, comunicação, cultura, política e economia percorrem um caminho comum. Pode-se dizer que a globalização das novas tecnologias comunicacionais e dos públicos alterou o alcance e o sentido da comunicação cultural. Conforme Canclíni (in Escostegui, 2006), as culturas nacionais deixaram de operar como moderadoras predominantes da informação e do entretenimento cotidianos. Para o autor, “ao estabelecer redes de circulação mundial (satélites, computadores e outros dispositivos midiáticos), a ordem comunicacional mudou de escala”. Neste sentido, a noção de identidade “prossegue nos discursos políticos, humanistas e de gestores culturais, mas agora ela tem menos competência para organizar os debates sobre o desenvolvimento” (CANCLINI in ESCOSTEGUI, 2006, p.20). Desta maneira, as preocupações com as questões identitárias mantêm um papel significativo “na relação com o patrimônio histórico e com as práticas artísticas pouco industrializadas (artesanatos, artes plásticas e literatura9)”. No entanto, segundo Canclíni, “o desempenho do cinema, da televisão, do vídeo e da informática é visto como parte de crescimento econômico, do livre comércio, e de forma geral, do desenvolvimento social”. Isto significa que as noções mais utilizadas anteriormente na análise cultural, como identidade, patrimônio e nação, “seguem sendo empregadas, mas os discursos sobre a produção industrial de cultura a vinculam cada vez mais a públicos, mercados, investimento e comércio” (idem, p.20). Por outro lado, como salienta o autor, “as relações entre cultura e desenvolvimento não se reduzem aos balanços econômicos de produtores, distribuidores e exibidores”. O espaço audiovisual é formado “por públicos, não só por empresas de rádio, cinema, televisão e vídeo, por Estados e organismos internacionais” Neste sentido, é interessante lembrar que impulsionar a produção cultural “requer tanto quanto financiamentos, legislação atualizada e capacidade empresarial competitiva”, além do conhecimento da audiência e seus gostos, bem como “destinar dinheiro e pessoal à investigação dos consumos culturais” (CANCLINI in ESCOSTEGUI, p.32). O significado da cultura regional neste contexto, portanto, é fundamental, independente de sua apropriação por processos globalizantes. Na verdade, é preciso 9

Sobre os livros e o contexto digital, Gómez-Escalonilla (in Bustamante, 2000, p. 52) lembra que sem a intervenção das instâncias públicas só se desenvolverão potencialidades comerciais, sendo a tendência a mesma de toda a indústria cultural: “concentração, globalização, conteúdos generalizantes, triviais, importados,exploração da criação, novas vias de negócios e, definitivamente, uma comercialização extensiva do que supõe o livro, a expressão mais sólida da cultura”.


levar em conta o que está em jogo na comunicação. O ponto de vista “global” sobre a globalização da cultura isola os produtos culturais de seu contexto, agrega-os por categorias e quantifica sua produção e sua distribuição em escala planetária. Segundo Warnier (2000) “ele está mal equipado para compreender a maneira como os produtos culturais são recebidos, decodificados, domesticados e reapropriados”. Para o autor, “o ponto de vista global não tem acesso à atividade das instâncias intermediárias, que fazem a triagem e recontextualizam os produtos das culturas-indústrias” (WARNIER, 2000, p. 145). Os mediadores referidos são a comunidade local, a família, os líderes políticos e religiosos, as Igrejas, a escola, os clubes, etc. Assim, o impacto das misturas culturais é variável segundo a maneira de funcionamento destas instâncias mediadoras. Para Warnier, “somente um ponto de vista “local”, que recoloca o consumo cultural no contexto das atividades múltiplas e cotidianas de uma comunidade tem condições de avaliar o seu impacto” (WARNIER, 2000, p.146). Ou como lembra Vilches, por trás de cada conexão da comunidade virtual “há uma pessoa que pertence a uma família, a uma escola, que se informa e acessa outros meio de comunicação e que, como indivíduo, tem valores e juízos próprios” (VILCHES, 2003, p.219).

Identidades e conexões no Brasil

Há muitas discussões, na atualidade, sobre as prováveis alterações ocorridas nas identidades propiciadas pelas possibilidades tecnológicas de se cruzar fronteiras e viver inúmeras identificações. Neste sentido, Ortiz (2000, p. 79) citando Lévi-Strauss, lembra que “a identidade é uma espécie de lugar virtual, o qual nos é indispensável para nos referirmos e explicarmos um certo número de coisas, mas que não possui, na verdade, uma existência real”. Segundo o autor, a identidade é fruto de uma construção simbólica que possui inúmeros referentes, entre eles, a cultura, a nação, a etnia, a cor ou o gênero. Assim, “faz pouco sentido buscar a existência de uma identidade; seria mais correto pensá-la na sua interação com outras identidades, construídas segundo outros pontos de vista” (ORTIZ, 2000, p. 79). E a identidade brasileira, como fica numa era de diluição de fronteiras? Ou antes, quem são os brasileiros? Como se percebem? Para DaMatta (1986, p.119), o país não pode ser entendido de uma maneira unitária, “na base de uma só causa ou de um só


princípio social”. Segundo o autor, há uma espécie de lógica comum, relacional, e que na política aparece com o nome de negociação e de conciliação,

E que no mundo econômico surge na curiosa combinação de uma economia altamente estatizada com uma iniciativa privada vigorosa e ainda importante. Que na religião aparece com a intrigante mistura de catolicismo com religiões afro-populares. E que na cosmologia em geral – e aqui estou pensando na literatura popular e erudita do Brasil – aparece sob uma certa ânsia de criar personagens intermediários, gente que pode permitir a conciliação de tudo o que a sociedade mantém irremediavelmente dividido por um movimento inconsciente” (DAMATTA, 1986, P. 119).

Esta configuração indica, assim, conforme o autor, uma sociedade ao mesmo tempo moderna e tradicional, que combinou, “no seu curso histórico e social, o indivíduo e a pessoas, a família e a classe social, a religião e as formas econômicas mais modernas”. Assim, “somos uma pessoa em casa, outra na rua e ainda outra no mundo”. E, entre estas três esferas, “colocamos um mundo de relações e situações formais. São as nossas festas e a nossa moralidade, que se fundam na verdadeira obsessão pela ligação. E não poderia deixar de ser assim, numa sociedade tão tematizada pela divisão interna”. Para DaMatta a melhor integração entre as três esferas exigiria, portanto, que

à crítica prática que fala com o idioma da economia e da política pelo mundo da rua, seria preciso somar a linguagem da casa e da família e, com ela, o idioma dos valores religiosos que também operam e, por isso, determinam grande parte do comportamento profundo do nosso povo. Tudo isso, diria eu, no sentido de somar um pouco mais a casa, a rua e o outro mundo, aproximando mais essas esferas (DAMATTA, 1986, p. 121).

A sociedade brasileira, moderna e tradicional, portanto, é a que hoje se expande ainda mais através das redes tecnológicas e de novas sociabilidades, levando consigo as suas contradições e diferenças, e recebendo, em troca, as contradições e diferenças de outras culturas. Conforme Ortiz (2000, p. 89), na sociedade atual, “surge um leque de referentes que se atravessam, se chocam, se acomodam, organizando a vida dos homens”.


No entanto, esta nova organização não credencia que se fale em “cultura global” ou “identidade global”. Para o autor, é preciso entender que esta “modernidade-mundo”, ao impulsionar “o movimento de desterritorialização para fora das fronteiras nacionais, acelera as condições de mobilidade e desencaixe10”. Com isso, novos referentes identitários são engendrados, como a juventude e o consumo, os discursos ecológicos e étnicos, que são promovidos em escala global, gerando um imaginário coletivo. “Constrói-se, assim, um circuito, um conjunto de símbolos que unificam grupos e consciências separadas pela distância e pelas nacionalidades” (Ortiz, 2000, p.90). Mas, os novos (e antigos) referentes disponibilizados pela modernidade-mundo serão apropriados de maneira diferenciada por cada grupo social na elaboração de sua identidade coletiva. Para o autor,

A sociedade global, longe de incentivar a igualdade das identidades, é sulcada por uma hierarquia clara e impiedosa, não porque as diferenças se fundam em substratos ontológicos, raciológicos ou de caráter (...) Esse tipo de argumentação é descabido. Ele reafirma os preconceitos e a incapacidade de se pensar criticamente. As identidades são diferentes e desiguais, porque seus artífices, as instâncias que as constroem, desfrutam distintas posições de poder e de legitimidade. Concretamente elas se exprimem num campo de lutas e de conflitos, nele prevalecendo as linhas de força desenhadas pela lógica da máquina da sociedade (ORTIZ, 1986, p. 93).

Por seu turno, Mattelart (2005) retoma a perspectiva da UNESCO que substitui a noção de sociedade da informação por “sociedades do conhecimento”, admitindo com isso que “os modos de apropriação das novas tecnologias são plurais e se negociam a partir de realidades sociais, culturais e históricas incontornáveis”. Para o autor, pensar a construção da sociedade do conhecimento no que se refere a essas especificidades “em nada dispensa de fazer o desvio pelas lógicas globais que presidem a redefinição das condições de produção e circulação de saberes” (MATTELART, 2005, p. 149).

Considerações finais

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A noção de desencaixe é retirada pelo autor da contribuição de A. Giddens. As conseqüências da modernidade. São Paulo, Unesp, 1991. Desencaixe indicaria que a modernidade rompe continuidades e desloca as relações sociais para um território mais amplo.


Neste contexto de expansão de fronteiras digitais, portanto, a sociedade brasileira trata de ajustar-se a esta nova realidade, dentro de suas características próprias. E um dos fatores que chama a atenção, por exemplo, é o elevado número de horas de acesso à internet por aqueles que dela dispõem (e dominam), no âmbito do ranking mundial. Um dado que identifica uma das características desta sociedade apontado por DaMatta que é a da facilidade de transitar entre as diversas esferas (embora com atitudes diferenciadas): a da casa, a da rua e a do mundo e, de alguma maneira, realizar a síntese, fazendo novas amizades, estabelecendo novos grupos, comunicando-se. No entanto, estas características convivem com outras, como a da desigualdade econômica vigente no país, e as suas conseqüências, uma delas justamente a alta taxa exclusão da população como um todo das possibilidades digitais. Num sentido mais amplo, como salienta Canclíni (2004), a expansão planetária dos intercâmbios econômicos e culturais, as migrações disseminadas em todas as direções “e os enlaces informáticos globais retiram a eficácia ao relativismo respeitoso das especificidades culturais isoladas”. Para o autor, “quando as fronteiras entre os grupos, as etnias e as nações tornam-se tão apagadas e pouco estáveis, e as competições enfurecem, a tolerância humanista – como simples apelo ético – não é suficiente”11. Para o autor,

Abre-se então a pergunta de se seremos capazes de construir uma ordem intercultural globalizada em que as dimensões sociais, econômicas, políticas e culturais reorganizem-se a fim de que aprendamos a descobrir o valor do diferente, para reduzir a desigualdade que converte as diferenças em ameaças irritantes e para gerar conexões construtivas à distância (CANCLINI, 2004, p. 214).

Retomando a questão inicial, pode-se dizer, assim, que participar de uma sociedade digital significa estar “conectada” com ela, em todos os sentidos, tanto no aspecto técnico quanto no político, no econômico, no social e no cultural. O que inclui contar com a infra-estrutura tecnológica necessária, mas, também, com as decisões políticas adequadas. E esta participação plena apresenta inúmeros desafios. No caso brasileiro, a conexão da sociedade efetiva-se, ainda, primordialmente pela televisão e pelo rádio, como foi visto. E é interessante lembrar aqui, como salienta Steinberger (in Haussen e Brittos, 2009) que “diante do vácuo na comunicação pública sobre temas 11

Tradução da autora.


geopolíticos, a grande imprensa brasileira ainda desempenha papel estratégico”. Para a autora, “políticas de comunicação não se confundem com políticas de mídia . O controle e a gestão do poder midiático e de seus modos de distribuição não contemplam o tratamento de conteúdos e a diversificação dos meios sociais produtores de representações” (STEINBERGER in HAUSSEN e BRITTOS, 2009, p. 176). Assim, embora algumas ações públicas e privadas venham sendo tomadas, podese dizer que ainda há um largo caminho a percorrer para a efetiva concretização de uma “sociedade do conhecimento”. Caminho este que precisa levar em consideração o contexto mais amplo e que considere os inúmeros “brasis” que existem dentro do Brasil.

Referências BRITTOS, V. C. e MIGUEL, J. Políticas de Comunicação e sociedade civil: implicações conceituais e desafios práticos. In BRITTOS, V.C. (org.). Digitalização e práticas sociais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2009. BUSTAMANTE, E. (coord.). Hacia un nuevo sistema mundial de comunicación. Las industrias culturales en la era digital. Barcelona: Gedisa, 2003. CANCLÍNI, N.G. Diferentes, desiguales y desconectados. Barcelona: Gedisa, 2004. --------------------. Cultura e Comunicação no desenvolvimento latino-americano. In ESCOSTEGUY, A.C. (org.). Comunicação, cultura e mediações tecnológicas. Porto Alegre: Edipucrs, 2006. CASTELLS, M. La Era de la Información. Economia, sociedad y cultura. Madrid: Alianza Editorial, 1998, vol. 2. DAMATTA, R. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro, Rocco, 1986. GÓMEZ-ESCALONILLA, G. Libro y entorno digital: un encuentro de futuro. In BUSTAMANTE, E. (coord.) Hacia um nuevo sistema mundial de comunicación. Las industrias culturales en la era digital. Barcelona: Gedisa, 2003; p:39-56. HAUSSEN, D. F. Fronteiras da Comunicação Regional. Anais do III Colóquio Brasil-Estados Unidos de Comunicação. New Orleans: Tulane University, 2008. MARTÍN-BARBERO, J. Tecnicidades, Identidades, Alteridades: mudanças e opacidades da comunicação no novo século. In MORAES, D. (org.). Sociedade midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. MATTELART, A. Diversidade cultural e mundialização. São Paulo, Parábola, 2005. MORAES, D. A batalha da mídia. Governos progressistas e políticas de comunicação na América Latina e outros ensaios. Rio de Janeiro: Pão e Rosas, 2009. ORTIZ, R.Um outro território. Ensaios sobre a mundialização. São Paulo, Editora Olho D´Água, 2000, 2ª ed. STEINBERGER, M.B. Para uma Economia Política das representações culturais na América Latina in HAUSSEN, D.F. e BRITTOS, V.C. (orgs.). Economia Política, Comunicação e Cultura. Aportes teóricos e temas emergentes na agenda política brasileira. Porto Alegre: Edipucrs, 2009.


VILCHES, L. A migração digital. São Paulo: Edições Loyola, 2003. WARNIER, J.P. A mundialização da cultura. Bauru: Edusc, 2000.

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“Création et Internet”: as leis na França e no Brasil contra a pirataria e a mobilização interativa. Prof. Dr. Dario de Azevedo Nogueira Júnior1 Universidade Federal do Espírito Santo- UFES

Resumo Este artigo propõe a reflexão do experimento, a partir da aprovação de leis específicas contra a pirataria, de restringir a troca de arquivos na rede entre os usuários. Colocando em evidência que a comunicação está cada vez mais interativa e segmentada, e que, portanto o individuo constrói frequentemente na Internet as suas próprias conexões involuntariamente da supervisão estatal, ou do controle das empresas da mídia. Palavras-chave: Comunicação; mobilização interativa; pirataria. Résumé L‟article propose s'il est possible de l'adoption de lois restreignant l'échange de fichiers entre utilisateurs sur le réseau Web. Mettre en évidence que la communication est plus interactive et ciblée. Et que, par conséquent, l'individu construit souvent dans leur propre connexion Internet involontairement le contrôle l'état ou des sociétés dans les medias. Mot-clé: Communication; mobilisation interactif; piraterie.

Abstract This article proposes a reflection of the experiment, from the adoption of specific laws against piracy, to restrict the exchange of files between users on the network. Highlighting that communication is increasingly interactive targeted, and that therefore the individual constructs often in their own Internet connections involuntarily from state supervision or control of media companies.

Keywords: Communication; interactive mobilization; piracy

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Professor do Dep. de Ciências da Informação- UFES e Doutor em Ciências da Informação e comunicação pela Universidade Panthéon- Assas (Paris II) email: dazevedojr@yahoo.com.br

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Direitos autorais uma polêmica na realidade virtual O parlamento francês aprovou recentemente, uma lei que permitiria as autoridades rastrear downloads ilegais na internet e cortar a conexão de quem transgredisse as regras. Isto gerou manifestações contrárias e favoráveis à lei Création et Internet ou Hadopi2, colocando em evidência um dos grandes paradigmas enfrentados pela indústria da mídia atualmente, que é a velocidade da distribuição em rede dos seus produtos e a descentralização da informação. O que paradoxalmente, não traduz, aparentemente neste momento, aos anseios do mercado multinacional das empresas de mídia, uma vez que certamente o número de espectadores aumentou exponencialmente e, por conseguinte o que era um dos maiores objetivos do mercado da comunicação em ter o público consumidor ampliado, agora esbarra em um efeito inerente as novas tecnologias - “a pirataria”. Podemos constatar que, neste início de século XXI, a informação está cada vez mais globalizada, e com uma nova fórmula - interativa e segmentada. As corporações mudam suas estratégias de marketing, em conformidade com a rede mundial, propiciando uma interatividade on-line entre os consumidores forçando as empresas a se tornarem mais abertas. As agremiações políticas concorrem com indivíduos que lançam nas comunidades virtuais temas variados. O Estado também sofre transformações na sua conduta de controle social. Então, poderíamos indicar que mudamos de uma sociedade de massas para uma nova ordem de informação? A lei seria capaz de acabar com uma característica cultural do gratuito na rede? E os indivíduos estariam agindo, mesmo que desorganizadamente, ao contrário da lógica de massas buscando a informação descentralizada, ou seria uma nova forma de ação do mass media? Estes são alguns dos aspectos para esta proposta reflexiva. Evidenciando o conceito de comunicação de massas, Wolf (1987), indica que o surgimento das teorias da sociedade de massa representa um dos primeiros momentos do esforço da doutrina para compreender a influência dos meios de comunicações junto ao grande público. O interesse dos estudiosos, deste período, centrava-se no entendimento dos aspectos psicológicos das ações coletivas, sendo que um tema central se destacava – o da propaganda. Para estes autores, a comunicação da mídia atuaria 2

O texto da lei foi aprovado pelo Senado francês em 13 de maio de 2009, e em junho deste mesmo ano, o Conselho Constitucional Francês, órgão jurídico mais elevado da França, derrubou a proposição de desconexão para usuários que fossem pegos baixando conteúdos protegidos por direitos autorais.

2


como estímulo sobre os indivíduos receptores e que de uma forma passiva aceitariam as informações constituindo desta maneira uma massa de consumidores da propaganda comercial ou até mesmo política. Lasswell, um dos expoentes das teorias de massa nos anos de 1940, estudou os efeitos das mensagens da propaganda, o papel do comunicador e do receptor. Estes estudos corroboraram para que a noção de cultura de massas passasse a ter uma importância bastante apreciável na lógica do consumo industrial levando em consideração que, das prerrogativas do mercado, a “possibilidade” de cultura em direção a um grande público cruza uma dimensão de consumo até então sem distinção. Pelo menos, se é que podemos denominar assim, este foi o ideal concebido por alguns espíritos “generosos” que concebiam a lógica do mercado industrial dos anos 1930, seguido pelos neoliberais dos anos 1950. No entanto, esta mesma dinâmica de estrutura social, também criou um antagonismo em escala global - o poder de compra do consumidor, reforçando por sua vez, castas sociais e culturais. A partir dos anos 1990, como indica Gohn, “o debate sobre as teorias de massa tomou outros rumos devido às novas tecnologias de comunicação. Passa-se a falar mais em termos de cultura das mídias, cibercultura dentre outras. Há uma desocialização da cultura de massa e uma separação entre cultura e economia” (GONH, 2000, p. 45). Para Touraine, “a cultura de massa penetra no espaço privado, ocupa uma parte dele e, como reação, reforça a vontade política e social de defender uma identidade cultural, o que conduz ao recomunitarismo” (1997, p.12), ou seja, a globalização proporciona um movimento oposto levando os grupos minoritários, através das novas redes de comunicação interativa como o celular, a internet e outras ferramentas a afirmarem as suas identidades e a reduzir as suas relações com o resto da sociedade - transformando um sistema de sociedade de massas para uma sociedade segmentada. No entanto, isto não significa que estejamos em uma sociedade mais igualitária a partir das novas tecnologias, mesmo com toda a possibilidade de se criar um espaço de conflito, de informação e distribuição em rede, pois como Mafessoli evidencia: “É óbvio que, apesar de todas as precauções, (“igualdade proporcional”, por exemplo), estamos longe do igualitarismo (...) Não é menos verdade que encontramos neste travejamento cultural ao mesmo tempo uma solidariedade real, ainda que limitada ao grupo ou, pelo menos, ao que é proxêmico, e uma maneira de viver o antagonismo”. (MAFESSOLI, 1998, p.161).

3


O que gostaria de suscitar ao debate é que, neste início do século XXI, as expectativas da concepção de uma sociedade de massas, agora com as novas tecnologias de comunicação, opõem-se com o desmentido do fato de que não há um público, mas vários públicos. E que sobre tudo, o indivíduo/público tem a possibilidade de interação, formação e informação entre si independentemente da gerência do Estado ou de uma grande empresa de mídia. Ou seja, a informação não esta centralizada nem estandardizada estamos na era da cibercultura na qual a mídia não surge apenas como obra maquiavélica de controle sobre a sociedade, como nas teorias de comunicação de massa, mas um organismo cultural, social, econômico e político, intrínseco a sua característica tecnológica de ser um canal de comunicabilidade interativo que vai além do controle social. Suscitar a aprovação da lei “Hadopi” contra a pirataria na França, entre outros aspectos, reforça a tese de que já estamos na era da sociedade interativa, devendo levar em consideração, que agora, em muitos casos, não é mais o poder de compra que determina quem terá acesso ao produto em rede, mas sim quantos milhões de pessoas iram disponibilizar o produto multimídia sem pagá-lo. É o que reforça o quão é antagônica a determinação do parlamento francês, trazendo também como conseqüência a discussão, a obvia constatação de que a propriedade intelectual e as informações podem ser distribuídas por um indivíduo a vários grupos ao redor do planeta e reproduzidas infinitamente. Assim, uma lei seria suficiente para barrar esta “distribuição”? Ao que parece não. A este propósito, verificando que a pirataria seria algo inerente ao cibermercado, gostaria de citar dois autores em momentos distintos, mas que nos dão alguns indícios para provocar esta discussão. O primeiro, Pierre Levy, no capítulo originalmente sugestivo intitulado a “Informação e conhecimento: consumo não destrutivo e apropriação não exclusiva”; “Ora, os novos recursos chaves são regidos por duas leis que tomam pelo avesso os conceitos e os raciocínios econômicos clássicos: consumi-los não os destrói, e cedelos não faz com que sejam perdidos (...) Na verdade, vivemos já mais ou menos sob esse regime, mas continuamos a nos servir dos instrumentos doravante inadequados da economia da raridade” ( LEVY, 1997, p. 55- 56).

A partir desta premissa teórica de Levy, é possível sugerir que a aplicação de regulamento aliado aos interesses da economia de mercado não seria totalmente suficiente para controlar o compartilhamento e a redistribuição de informações na rede,

4


até o momento, haja vista que os indivíduos dessa nova sociedade já começam a perceber a possibilidade de desenhar um novo modelo de comunicação a partir da web, que substitua o modelo clássico. Neste sentindo, a segunda ponderação a que faço referência é o trabalho de Manson (2008) observando que a cultura da redistribuição em rede abre uma nova possibilidade social, não somente das informações que são produzidas no espaço virtual, mas a partilha da produção material estaria mais próxima dos cibernautas, sem necessariamente o conhecimento do autor-produtor. Alguns fatos e dados reforçam esta nova prática social no cotidiano dos usuários da Internet, como o ranking dos países com o maior número de arquivos ilegais. De acordo com o Blog especializado em tecnologia Infoescravo, em 2007, a Espanha ocupava o primeiro lugar dos países com o maior trafego de arquivos ilegais ou piratas, seguida por Itália e França. O Brasil ocupava a sexta posição, atrás do Reino Unido. Isto denota o que Castells observa como marca cultural que “as próprias mensagens carregam os atributos da rede, de penetrabilidade, descentralidade e flexibilidade” (CASTELLS,1999, p. 381). No entanto, Castells também acredita que “essa evolução para as formas de gerenciamento e produção em rede não implica o fim do capitalismo (...) Mas esse tipo de capitalismo é profundamente diferente de seus predecessores históricos” (1999, p.499). De uma maneira bastante incomum entre os defensores da distribuição de dados livres na Internet, Manson, também não considera que a pirataria seja o fim do capitalismo, ao contrário. Ele crê que a distribuição e compartilhamento livre de dados, legal ou ilegal, oferece novas possibilidades além do mercado tradicional. Para o autor, está emergindo um ótimo modelo de negócios, que irá despontar a uma nova linhagem de capitalismo, onde a produção em larga escala subsiste, mas de forma mais democrática, a que ele denomina de “capitalismo punk”. Este “efeito colateral” da comunicação interativa demonstra que os sujeitos, estão criando uma comunicação horizontal com o mercado e com grupos de interrese. Neste propósito Dertouzos (1997) argumenta que essa tendência não é percebida somente na mídia, mas a indústria começa a atender as necessidades do público de forma individualizada. Direitos autorais e o gratuito Dito isto, ainda há que se ressaltar alguns aspectos entre direitos autorais e a pirataria nos dias atuais. Um dos grandes problemas de mercado, enfrentado pela indústria cinematográfica e da música, é a velocidade da distribuição entre os 5


Internautas ou vendedores

ambulantes que

reproduzem

inúmeras

cópias e

comercializam a um preço simbólico se comparado aos das cópias originais, o que é muito comum nas ruas de qualquer cidade do Brasil. Um lançamento de filme chega aos “camelôs” quase que simultaneamente com o cinema, graças aos equipamentos que podem ser considerados hoje como domésticos. A tecnologia propicia aos usuários estabelecerem trocas de arquivos independentemente da autorização e do conhecimento do proprietário. Ao mesmo tempo, o número de pessoas que passam a ter contato com a obra é muito maior. Demonstrando desta maneira, que o cerne da questão, ao que parece para as companhias, é como fazer com que os produtores recebam os direitos autorais das cópias, e não que as pessoas estejam distribuindo as obras ao maior número de pessoas. Para tanto, Vianna argumenta:

“Historicamente, a preocupação com a tutela dos direitos de autores de obras intelectuais é bastante recente. Na Antiguidade e na maior parte da Idade Média as dificuldades inerentes aos processos de reprodução dos originais, por si só, já exerciam um poderoso controle da divulgação de idéias, pois o número de cópias de cada obra era naturalmente limitado pelo trabalho manual dos copistas. Com a invenção da imprensa, os soberanos sentiam-se ameaçados com a iminente democratização da informação e criaram um ardiloso instrumento de censura, consistente em conceder aos donos dos meios de produção dos livros o monopólio da comercialização dos títulos que editassem, a fim de que estes, em contrapartida,velassem para que o conteúdo não fosse desfavorável à ordem vigente. Esta perversa simbiose entre o poder dominante e os donos de meios de produção de livros não visava tutelar qualquer direito de autor, mas tão-somente garantir o monopólio de reprodução das obras, daí por que foram chamados de copyright (direito de cópia).“ (VIANNA, 2006, p. 934).

O autor, em seu artigo, orienta que o tema dos direitos autorais tem um cunho histórico uma vez que, “a propriedade intelectual remonta, às origens do sistema capitalista, quando, por pressão dos autores de obras intelectuais, toma-se por propriedade um ente incorpóreo que em rigor é “trabalho intelectual” (2006, p. 935). Vianna, ainda ilustra a essência da discussão na atualidade quando lança mão de dois exemplos: “Um proprietário de um apartamento, por exemplo, tem interesse no uso exclusivo do imóvel, pois é evidente que não se sentiria confortável com a

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presença de pessoas estranhas em sua sala, cozinha ou banheiro. Já o autor de um livro ou o compositor de uma música tem justamente o interesse oposto. (...) Por fim, somente ao proprietário cabe o direito de alienar (doar, permutar ou vender) a coisa, pelo óbvio motivo de que ao fazê-lo perderá os direitos de dela usar e fruir. O autor, porém, nada perde com a cópia da sua obra. Pelo contrário, quanto mais pessoas lerem seus textos, ouvirem sua música e apreciarem a sua arte, tanto mais reputação ganhará na sociedade. A obra intelectual, como seu próprio nome indica (lat. opèra,ae „trabalho manual‟), não é, pois, uma espécie de propriedade, mas simplesmente “trabalho intelectual”. ( VIANNA, 2006,

p.935) Este contexto demonstra o que as novas tecnologias vêm acendendo para as práticas sociais do agora. Pois, apesar de termos a possibilidade de compartilhamento de idéias, um texto etc., para alguns, o que vale é restringir a distribuição em “prol” dos direitos autorais. Mas, independente da norma, os usuários já praticam a troca de dados, legal ou ilegalmente. Neste sentindo, alguns estudiosos sugerem que impreterivelmente a informação na rede marcha para o gratuito. Esta polêmica é motivo de reflexão para Levy: “A solução que parece delinear-se para o problema da economia do virtual e do atual é a seguinte: o bem virtual seria contabilizado, traçado e representado, mas gratuito, inteiramente livre para circular sem obstáculos e para se misturar a outros bens virtuais. O preço da atualização seria indexado conforme o contexto corrente, dependendo do ambiente e do momento. Esse valor poderia ser fixado cooperativamente por grupos de usuários em mercados livres ou Bolsas da informação”. (LEVY, 1997, p. 67).

O autor destaca a prática do gratuito como algo a ser analisado, pois segundo ele, “As instituições e profissões fragilizadas pela desintermediação e o crescimento da transparência só poderão sobreviver e prosperar no ciberespaço efetuando sua migração de competências para organização da inteligência coletiva e do auxílio a navegação”(1997, p. 63). Cris Anderson, proponente da teoria da cauda longa, em artigo recente em uma revista brasileira, também indica que o futuro das informações na rede será livre. O autor exemplifica vários produtos que são ofertados na perspectiva do gratuito e que, segundo ele, existem dois modelos de “free”, os produtos que são palpáveis e outros que existem digitalmente. “Em sua forma física, os produtos gratuitos são basicamente um truque de marketing. Para os digitais, o free é um modelo econômico imbatível”. E conclui: “Se um produto pode ser concebido digitalmente, ele pode ser gratuito. E não

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se trata de truque” (ANDERSON, 2009, p. 91). Para tanto, Anderson considera que a Internet é uma fonte de armazenamento de dados inesgotável. E que graças a isso, no futuro, mais serviços serão gratuitos. Ele ainda avalia, que a crise econômica estaria mudando a fonte de renda do modelo “free” para o “freemium”, que seria a oferta de um produto básico gratuitamente e cobra-se pela versão mais atualizada ou com mais recurso. Algumas empresas já começaram a ser render ao “gratuito” e a ganhar muito dinheiro com isto. A grande representante desta prática é a Google. Entre os muitos serviços livres que a companhia oferece foi criado o “google docs” em 2007, o site disponibiliza livremente um pacote de programas de edição de texto, planilhas eletrônica, apresentação de slides entre outras tantas opções. Em contra partida a empresa passa a ter mais informações dos seus usuários podendo ter uma receita maior na venda de propagandas. O presidente da Microsoft, Steve Ballmer, em palestra na Universidade de Stanford em 2008, proferiu que o desenvolvimento de softwares para disponibilizar livremente na rede é muito importante. E indicou que em um futuro próximo as ferramentas como Word, Excell e PowerPoint circularam livremente na Web. O pagamento virá por conta da publicidade que flutuará no ambiente de trabalho. Então, como explicar que as empresas comecem a seguir a lógica do gratuito o que seria diametralmente oposto à luta destas grandes corporações a pirataria? Em face desta dicotomia lanço mão das observações do professor Francis Balle: “Avant toute autre chose, les médias recherchent le profit: ils voudraient que tout se vendre, que tout s`achète. Pour atteindre leur objectif, ils s`emploient repondre aux attentes de leurs “clients”, ils cherchent avant tout à plaire et séduire. Le marché, c`est ce qui marche; la concurrence quant à elle, ne permet que de laisser le dernier mot aux clients. Que le meilleur gagne! Tel est l`adage populaire” .( BALLE,2000, p. 113).

O brasileiro e a interatividade em rede. No caso específico do Brasil, com tantas disparidades sociais e culturais, algumas pesquisas de campo demonstram a evolução da comunicação on-line. De acordo com os dados da empresa de consultoria IDC, associando o uso de computadores a Internet, os brasileiros aparecem no topo da pesquisa com internautas residenciais de dez países que mais horas passam conectados a rede. O estudo realizado em maio de 2008 apresenta os usuários no Brasil com um total em média de vinte e três horas e

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quarenta e oito minutos à frente de alemães (vinte horas e onze minutos), americanos (dezenove horas e cinqüenta e dois minutos) e franceses (dezenove horas e cinqüenta minutos). Ainda a mesma pesquisa apresenta um crescimento em média de dez por cento na venda de computadores, em relação ao ano anterior ao estudo, dado que mostra a relevância da conexão interativa no país, pois a renda per capita da população em sua grande maioria ainda é muito baixa se comparada a outros países da pesquisa. Em um outro estudo realizado em setembro de 2008 em cinco países (Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Japão, e Brasil) pela Deloitte consultoria intitulada “O futuro da mídia: as conexões de um mundo cada vez mais complexo”, que apresentou dados que corroboram com outras pesquisas de campo como: o brasileiro está consumindo três vezes mais horas em atividades na Internet do que assistindo TV; Os downloads de softwares e principalmente músicas, vídeos e livros tem alta incidência na faixa de usuários dos vinte e seis anos a quarenta e dois anos; A televisão é a fonte de entretenimento predileta em todos os países participantes da pesquisa, exceto o Brasil, que aparece com o maior percentual na opção navegar na Internet. Com relação a serviços gratuitos a pesquisa Deloitte apresenta índices bastante reveladores no que concerne à receptividade do consumidor brasileiro as mensagens como informação ou conteúdo gratuito para setenta e três por cento dos entrevistados. O estudo ainda indica que noventa e dois por cento dos investigados no Brasil fazem downloads de música na rede e setenta e seis por cento assistem a filmes e vídeos em geral. Em estudo realizado com universitários da cidade de São Paulo, Gisela Castro, verifica que “apesar das campanhas movidas pela indústria fonográfica que visam criminalizar o download gratuito, esta continua sendo prática corriqueira entre esses jovens”. (CASTRO, 2007, p.73) A professora também informa no seu artigo que para os entrevistados o exercício de baixar arquivos não é considerado propriamente um crime, tendo se tornado uma prática normal na cultura atual. Outro componente de relevância da relação do internauta brasileiro ao acesso a rede é que em face da diversidade cultural, social e da extensão do país, existe uma parcela considerável dos usuários que não acessam a rede a partir de computadores residenciais. O Centro de Estudo sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação (CETIC), indica que o uso de lan-houses tem grande importância na relação do grande público com a Internet, em especial nas classes sócio-econômicas menos favorecidas dos grandes centros urbanos e na área rural do país. 9


É necessário ainda citar a Tecnologia Assistiva, área que engloba práticas e serviços para a atividade e a partição de pessoas com deficiência. De acordo com Áurea Lopes (2009) o estado mais avançado nesta metodologia é São Paulo, que através de trezentos e dez telecentros disponibiliza instalações adaptadas para receber os portadores de deficiência física, o que proporciona a inclusão digital somente na capital paulista, de pelo menos meio milhão de pessoas. Todos estes dados servem para ilustrar que mesmo um país com tantas diferenças a Internet é uma realidade da prática cotidiana em todas as classes sociais. Estas pesquisas também confirmam que o compartilhamento de arquivos em rede é uma realidade no Brasil.

As leis e a mobilização interativa. A proposição da lei “Création et Internet” já faz escola entre parlamentares brasileiros. O projeto de lei 5.361/09 de autoria de um deputado brasileiro é totalmente inspirando no projeto francês. Pela proposta do parlamentar brasileiro, o pilar da medida repressiva seria o de restringir o acesso aos usuários que fizerem downloads ou compartilhamento de arquivos de obras protegidas pelo direito autoral e a medida não seria nem mesmo precedida de ordem judicial, dando amplos poderes ao provedor que teria autonomia para desconectar o internauta. Um outro projeto, que já está em tramitação no parlamento brasileiro, conhecido pelos manifestantes contrários ao projeto de “AI-5 Digital”. Segundo o site “Cultura livre”, o texto da lei poderá transformar provedores de acesso em centros de espionagem e delação, além de favorecer interesses privados de bancos e outros. Em relação à lei “Hadopi ou Création et Interne”, o Conselho Constitucional da França julgou inconstitucional alguns dispositivos da lei francesa. Entre os argumentos do Conselho para vetar a lei: que a liberdade de comunicação e de expressão é direito fundamental protegido pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Atualmente, dada a importância da Internet para a aquisição de informação e para a plena democracia, deve-se garantir o livre acesso a rede; Outro aspecto é que a lei permitia ao órgão Hadopi a possibilidade de restringir o acesso dos usuários, sem apreciação judicial o que foi considerado inconstitucional; e por fim, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão concede a presunção de inocência a todo o individuo. No texto da lei, o ônus da prova caberia ao acusado, pois o usuário da Internet cujo IP

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fosse identificado deveria provar que a ação não foi executada por ele, o que daria margem a culpabilidade presumida, algo que fere a Declaração. Mas, o que essas três leis teriam em comum para o nosso estudo? A relevância é que todas as proposições causaram uma mobilização em rede. Neste sentindo, Rheingold (2003), introduz o conceito das “multidões inteligentes”, abalizado na idéia de que a evolução das tecnologias de comunicação está proporcionando as pessoas uma capacidade de mobilização coletiva. Para ele, estas mobilizações são constituídas por pessoas que mesmo sem se conhecerem agem em grupo, e isto se daria não somente pela Internet sob a forma de páginas virtuais, mas também o uso de softwares de compartilhamento de arquivos, fóruns e o uso de aparelhos sem fio, como celulares e computadores de mão. Tanto no Brasil quanto na França foi possível constatar esta mobilização. Os ativistas franceses, contrários à lei, fizeram várias manifestações na rede e indicavam que os internautas poderiam usar hotspots públicos e endereços de IP mascarados para driblar a vigilância. No Brasil, a mobilização também é “visível”: abaixo-assinado virtual contando com milhões de assinaturas que parte de uma crescente reação a estes projetos, troca de e-mails e discussões on-line e outras tantas manifestações organizadas desta maneira. O que demonstra uma nova maneira de se fazer política, pois possibilita ao individuo uma capacidade de organização comunicacional com vários grupos. Neste rumo, Dario Nogueira Junior (2003), considera que não somente as empresas de mídia teriam a capacidade de agendar os temas a serem debatidos pela opinião pública, mas os movimentos sociais notoriamente o teriam, e que, com o surgimento das novas tecnologias de comunicação coloca o individuo comum, independentemente de afiliação partidária ou sindical, também ao patamar de ser um agente propositivo de temas a serem discutidos pelas pessoas.

Considerações Finais As experiências dos usuários e os conteúdos gerados vêm tornando a comunicação mais reflexiva e aberta. Sendo inegável a construção de uma “inteligência coletiva” na rede. A informação continua com seu valor ideológico e cultural, mas o peso da opinião individual acende a cada dia a possibilidade da mobilização entre os conectados. O que se não é suficiente para derrubar uma lei é no mínimo objeto de estudo acadêmico.

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Um outro aspecto importante a ser considerado, se o gratuito estremece as bases da indústria cultural ou se já é uma característica eminente da pós-modernidade? Ao que parece, às redes de relacionamento, sites e outros continuaram a existir potencializando o compartilhamento das informações e esta é uma forma de interação que já está bastante arraigado nos valores da sociedade contemporânea.

REFERÊNCIAS ANDERSON, C. O futuro é grátis. Galileu, São Paulo, n.215, p. 9, jun. 2009. BALLE, F. Les Médias. Paris: Flamarion, 2000. CASTELLS, M. A sociedade em rede. Vol. 1 São Paulo: Paz e Terra, 1999. CASTRO, G. "Não é propriamente um crime": considerações sobre pirataria e consumo de música digital. Comunicação, Mídia e Consumo,São Paulo,v. 4, p. 73-88, 2007. CETIC. Disponível em <http//www.ctic.br> acesso em 10 jun. 2009. DERTOUZOS, M. O que será: como o novo mundo das mídias transformará nossas vidas. São Paulo: Cia das Letras, 1997. DELOITTE. Disponível em: <http://www.deloitte.com/dtt/cda/doc/content/Mundo%20Corporativo%2024%20%20final.pdf> acesso em 10 jun. 2009. GOHN, M. G. Mídia, Terceiro setor e MST: impacto sobre o futuro das cidades e do campo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. GOOGLE DOCS. Site de programas gratuitos.<http://www.google.com/docs> Acesso em 25/06/ 2009. IDC.Disponível em:<http://www.idclatin.com/news.asp?ctr=bra&year=2009&id_release=1507> acesso em 10 jun. 2009. LEVY, P. O que é o virtual? São Paulo: Ed. 34, 1997. LOPES, P. Sim, nos podemos. A Rede, São Paulo, ano 5 n. 48 p. 10-14, jun. 2009. MAFFESSOLI, M. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998. MARQUES, J. Paises com maior trafego de arquivos ilegais. Infoescravo, São Paulo, 15 maio 2009. Disponível em: <mhtml:file://C:\Users\dario\Desktop\Países com maior tráfego de arquivos ilegais ou piratas.mht!http://teteraconsultoria.com.br/blog/paises-com-maior-trafegode-arquivos-ilegais-ou-piratas/> Acesso em 10 jun. 2009. MASON, M. The Pirate’s Dilemma. New York: Free Press, 2008. NOGUEIRA JUNIOR, D. A. L`Interférence dês mouvements sociaux dans l`ordre du jour dês médias: le cãs du mouvement des sans terre au Brésil entre avril 1996 et avril 1997. Tese de doutorado defendida na Universidade Paris II, 2003. RHEINGOLD, H. Smart Mobs: the next social revolution. E.U.A; Basic Books,2003. TOURAINE, A. Podremos vivir juntos? Buenos Aires, Fondo de Cultura Econômica, 1997.

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VIANNA, T. L. A Ideologia da Propriedade Intelectual: a inconstitucionalidade da tutela penaldos direitos patrimoniais de autor. Anuario de Derecho Constitucional Latinoamericano, Uruguay, Tomo II, Mastergraf, 2006. WOLF, M. Teorias da Comunicação. Lisboa: Editorial Presença, 1987.

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LA DECONSTRUCCIÓN DE LA MEDIACIÓN INFORMATIVA. Ignacio Muro Benayas1

Resumen ejecutivo. La crisis de los medios tiene muchas caras y una de las más importantes es la creciente autonomía de los actores que participan en los procesos informativos. Por una lado, la creciente presencia de las fuentes como proveedores de información altera el espacio convencional de agencias de noticias y medios; por otra, Internet aumenta el peso de los ciudadanos como actores. Esta crisis de mediación tiene rasgos estructurales no es solo debida a una mala coyuntura económica o publicitaria. Comprender sus efectos exige revisar la cadena de valor en los procesos editoriales y denunciar la aparente oposición entre la lógica informativa y la lógica económica que afirma que solo perdiendo valores informativos (calidad, rigor, independencia) se puede ser rentable, solo depreciando el trabajo de los periodistas se pueden salvar los medios. Abstract The media crisis has many faces and one of the most important is the growing autonomy of the actors involved in information processes. First, the growing presence of the sources as information providers alter the conventional space news agencies and media, on the other, the Internet increases the weight of citizens as actors. That crisis has structural features is not only due to poor economic or advertising. Understand their effects requires reviewing the value chain of editorial processes and denounce the apparent opposition between the information logic and economic logic says that only information missing values (quality, rigor, independence) can be profitable, just depreciating work journalists can save the media.

Sumário Executivo Media crise tem muitas faces e uma das mais importantes é a crescente autonomia dos atores envolvidos nos processos de informação. Por um lado, a crescente presença de fontes como fornecedores de informação 1

Economista y profesor asociado de Periodismo en la Universidad Carlos III de Getafe (Madrid)


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alteram as espaciais convencionais, por outro lado, a Internet aumenta o peso dos cidadãos como atores. Esta crise tem características estruturais da mediação não é apenas devido à má situação económica ou de publicidade. Compreender seus efeitos requer revisão da cadeia de valor nos processos editoriais e relatório da aparente oposição entre a informação lógica e da lógica econômica diz que a informação só faltam valores (qualidade, rigor independência), pode ser rentável, apenas desvalorizando o trabalho dos os jornalistas podem salvar mídia.

Palabras clave: Crisis, fuentes, agencias, medios, procesos, cadena de valor, periodistas, credibilidad, reconversión, externalización, autonomía. Keywords: Crisis, sources, agencies, media, process, value chain, journalists, credibility, reconversion, outsourcing, autonomy. Palavras-chave: Crise, fontes, agências, mídia , processos, cadeia de valor, jornalistas, credibilidade, reconversão, terceirização, autonomia


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LA DECONSTRUCCIÓN DE LA MEDIACIÓN INFORMATIVA. 1. Crisis de medios y revolución en la cadena de valor noticioso Las tecnologías digitales y la industrialización de la comunicación han convertido los procesos informativos en algo cada vez más complejo, en permanente transición hacia nuevos modelos de mediación. Sin embargo, a pesar de esa creciente complejidad, su expresión conceptual ha seguido utilizando una forma de representación simple y lineal simbolizada en una cadena de valor compuesta por tres elementos esenciales: fuentes, medios y audiencias. En esta cadena simplificada, que las facultades de periodismo de todo el mundo siguen reproduciendo, la mediación del periodista se presenta y concibe como el elemento activo que media entre los otros dos elementos, las fuentes y las audiencias, de carácter pasivo. La cuestión es que las cosas ya no son así: lo que antes era real ahora es un puro relato ficcionado e ideológico de la realidad, que al mantenerlo vivo se convierte en un obstáculo, cada vez más importante, para comprender tanto el sentido de la mediación informativa en la sociedad actual como la naturaleza de su crisis. Internet ha revolucionado los procesos industriales de la información al incorporar nuevos intermediarios y, sobre todo, al cambiar el rol de cada uno de los elementos de la cadena y sus relaciones. Todos los actores, que antes se consideraban pasivos, ganan autonomía y se convierten en activos. Si antes las fuentes quedaban a la espera de un periodista que pudiera atenderlas y contara su historia, ahora actúan de emisores a través de sus gabinetes de comunicación y sus propias webs y, mientras lo hacen, toman conciencia de la importancia de la comunicación para sus actividades y negocios. En el extremo opuesto, internet permite a los usuarios sobreponerse a su rol de audiencia pasiva mientras toman conciencia, también, de su papel como emisores y fuentes de información y opinión. El resultado es que las agendas mediáticas quedan alteradas por la modificación de los roles de nuevos y viejos actores: fuentes, agencias, medios, agregadores, usuarios. En ese contexto, la simplicidad y linealidad unidireccional de la mediación tradicional, desaparece: agencias y medios, que antes se situaban al comienzo y al final del proceso informativo pasan a ocupar escalones intermedios. 2. Medios y periodistas: dos miradas sobre los procesos informativos Los procesos informativos pueden ser observados desde una perspectiva organizacional o desde una perspectiva personal, como el desarrollo e intercambio de flujos informativos entre organizaciones o como procesos internos de producción y edición en los que intervienen profesionales de diverso perfil, con los periodistas como activo esencial. Sin embargo,


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cuando descendemos a su representación de máximo detalle, lo que se observa es un conjunto de tareas tales como: servir o cubrir acontecimientos, describirlos con un lenguaje atractivo, contrastar su veracidad, agruparlos por temas, territorios y relevancia, jerarquizarlos, presentarlos de forma seductora, añadirles formatos y lenguajes, transportarlos allí donde despierten más interés, etc. Cada una de esas tareas debería añadir valor a la intermediación tanto desde la perspectiva informativa como económica. Su objeto debería ser hacer más comprensible al ciudadano una realidad crecientemente compleja y, con esa finalidad, gastar recursos informativos, agotar, en cada paso, el tiempo y las energías de redactores y editores, equipos y redes. Pero, como nos enseña la lógica de los procesos, el fin y los medios constituyen una unidad dialéctica que interactúan entre sí y se condicionan mutuamente. La dificultad de desarrollar los “valores noticia” en un entorno de creciente integración de los medios en los espacios del poder, interactúa con nuevas rutinas informativas asociadas a la lógica industrial en la que están implicados los medios, como las factorías de contenidos que son, de modo que los cambios en la mediación y los cambios en su objeto se retroalimentan. No es extraño que, en ese contexto, coincida su creciente falta de credibilidad con el ajuste de plantillas debido a la crisis, consecuencia de importar los modelos de gestión vigentes en otras industrias. No es extraño porque las causas que difuminan y devalúan los contornos de la función periodística en esta transición son las mismas que, en general, contribuyen a precarizar y depreciar el trabajo asalariado en otras industrias. El hecho es que la mutación permanente en los procesos evidencia nuevas contradicciones entre los actores intervinientes como consecuencia de los conflictos entre el desarrollo de la cadena de valor económico y la cadena de valor informativo. En primer lugar, se instala la sensación de que la creación de riqueza económica corre inexorablemente pareja a la de pobreza informativa, que el dominio de lo económico sobre lo informativo no solo se manifiesta en un desequilibrio en los ritmos y las prioridades sino en el puro empobrecimiento de la información. Esa lógica del gana-pierde, típica de la lógica capitalista más rancia, en la que los procesos de “desarrollo de valor” están indisolublemente asociado a los de su apropiación, en los que subyace la idea de que nadie gana si otro no pierde, se traslada también a las relaciones entre los diferentes actores. Como consecuencia se instala la sensación de que el renacer de unos, los intermediarios tipo Google, son la causa de la debilidad de los otros, los medios. O de que la solución para estos, como empresas, pasa inexorablemente por la debilidad de los periodistas en tanto que trabajadores. El análisis de esas contradicciones se convierte, entonces, en una tarea prioritaria para orientar convenientemente la salida de la múltiple crisis de mediación en la que nos encontramos.


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3. Reconstruyendo la mirada crítica Más que las cuentas de resultados o la mirada estática y sorprendida de los viejos actores, lo que interesa comprender es la nueva lógica de los flujos informativos y económicos y las contradicciones que generan en las respectivas cadena de valor. Esa posición es la que recomienda Vincent Moscoi (2006) cuando afirma que toda perspectiva crítica de la comunicación conduce hoy a enfatizar el cambio en los procesos y las relaciones sociales Pongamos allí el foco aunque, como en esta modesta contribución, sirva sólo para esbozar algunos de los elementos que permiten adentrarnos en el nuevo relato de los procesos comunicativos. Con una dificultad añadida y es que lo que hoy observamos no es el final de algo, sino una transición entre lo viejo que muere y lo nuevo que no acaba de nacer. En estas páginas, priorizamos la perspectiva organizacional, es decir los cambios que provocan en las fuentes, las agencias, los medios, los agregadores, antes que en las transformaciones del trabajo de los propios periodísticas. Pero eso no significa que no le demos importancia. Al contrario, es el conflicto entre la autonomía y dependencia del trabajo periodístico que provoca internet la que guía este trabajo y con un esbozo de lo que esto significa concluiremos el último punto. Porque sólo completando ese análisis podremos entender hasta qué punto la creciente separación entre la ejecución parcelada de tareas y la concentración del poder conceptual y manipulador se convierte en la fuente principal de alienación del sistema. La crisis actual va a dejar secuelas irreversibles que solo la comprensión de los nuevos flujos noticiosos y los procesos informativos van a permitir identificar y ayudar a sortear. Y con ese fin, se deben abordar los nuevos conflictos con los que se topan los actores que participan en la mediación informativa, esencial para la reconstrucción de una mirada crítica alejada de apriorismos. 4. De agencias y fuentes: el origen de los conflictos de credibilidad La ecuación "agencia = fuente", tan característico del esquema lineal tradicional, empieza a ser un estorbo porque oscurece y dificulta el análisis de la verdadera barrera que separa los comportamientos informativos que es, precisamente, el predominio de la mirada interesada o desinteresada sobre la realidad. Es esa separación la que sitúa a unos actores y otros en posiciones divergentes, a un lado u otro de la trinchera informativa. Aunque el pensamiento cínico equipara la “parcialidad de los medios” a la de las fuentes, la realidad es que los medios solo son parciales cuanto transgreden sus fines, como los jueces o los notarios, mientras que las fuentes son parciales porque son congruentes con sus fines, como los abogados, defensores “de parte”. Al resaltar en las agencias su carácter de “fuente”, solo válido en el sentido de mayorista de información, se silencia que participa de los


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mismos principios deontológicos y los mismos problemas que los diarios, las radios y las televisiones. Al colocarlas en ese “otro lado”, se difumina su rol como intermediario fundamental en el que sustenta la credibilidad de la información Pero aún hay más. La falsa igualdad "agencia = fuente" oculta que el desarrollo sistemático, casi industrial, de las fuentes institucionales y empresariales como emisores de información provoca ya las distorsiones más peligrosas sobre la agenda mediática. Los cientos de documentos preparados diariamente por los gabinetes de comunicación saturan a las redacciones mientras les ofrecen una "información precocinada" de acuerdo a sus intereses. Cualquier institución mínimamente relevante, sea administración pública, empresa u organización sin ánimo de lucro “aparente” -fundaciones, sindicatos, ONGs- dispone de profesionales de comunicación a su servicio (Berta G. Orosa, 2005)ii. Mas del 70% de las noticias publicadas corresponden ya a noticias programadas por las fuentes. Del resto, la mitad corresponde a los casos en los que la actualidad se impone al periodista, en forma de accidentes o atentados... mientras solo un 15% en los grandes diarios son noticias procedentes de la agenda del medio (Pilar Díazandino, 2006)iii.Los mismos resultados se obtienen del análisis de las principales cabeceras inglesas como ha puesto en evidencia Nick Davys (N. Davys, 1998)iv que ha probado que el 70% de las informaciones de los principales medios ingleses han sido escritas fuera de las redacciones, y copiadas por éstas, pero sólo en el 1% de los casos se ha reconocido abiertamente tal circunstancia. La masificación de notas altera en todas partes las rutinas productivas hasta el punto que la actualidad programada por las fuentes se acaba imponiendo en las redacciones como “la actualidad” a secas. En ese contexto, las agencias son, a la vez, elementos centrales de la credibilidad del sistema y también, la primera instancia por la que se vicia esa misma credibilidad. Es así porque son las más expuestas a asumir, como rutinas diarias, las agendas institucionales propuestas por los gabinetes de comunicación y a cubrir sus propuestas. La ausencia de límites físicos en sus hilos – pueden duplicar su oferta desde 300 a 600 noticias de un día para otro, en un mismo servicio- y su vocación de interés general las convierte en la puerta de entrada por la que se cuela y valida el exceso de "noticias" en un magma en el que la oferta de notas desborda sus redacciones, incapaces de contrastar suficientemente los contenidos. Es desde sus hilos donde se exportan la mayoría de las llamadas "distorsiones involuntarias de la información" v (Mauro Wolf, 1987) aquellas que se asumen e interiorizan sin violentar la conciencia de los periodistas. La incapacidad de las agencias –y de los medios en general- para frenar ese impacto es, sobre todo, un problema de desequilibrio estructural de recursos asociado al hecho de que cada vez más periodistas trabajan para el lado de las fuentes. Un dato puede servir de ejemplo: aunque 2/3 de la información publicada sobre contenidos económicos procede de las agencias, todas juntas (EFE, Europa Press, Reuters, AFX y Bloomberg) disponen de menos periodistas, casi un tercio menos, que


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las grandes empresas españolas representadas en las 35 que ponderan en el índice IBEX (I.Muro, 2005)vi En cualquier caso, el creciente peso de las fuentes las convierten no solo en parte esencial del abastecimiento de noticias sino también en el origen de los problemas de credibilidad de los medios. Es mediante ese predominio desde donde la industria de la comunicación se va convirtiendo en una parte esencial de un orden corporativo mayor (D. Smythe, 1983) vii 5. Alteraciones de la práctica periodística y del rol de las organizaciones. La actividad de las fuentes provoca y alimenta la pasividad de los periodistas y altera su práctica diaria. La cobertura directa de los acontecimientos se hace “innecesaria”. El correo electrónico, el fax o el teléfono son suficientes para conseguir las aclaraciones precisas. Las ruedas de prensa, cuando los comunicados de parte no los sustituyen, se convierten en salidas rutinarias y unidireccionales, limitadas además por el escaso número de preguntas que las fuentes permiten. Todos los actores implicados en la producción de noticias, empezando por las mismas agencias, se muestran incapaces de sustraerse a los efectos de las nuevas rutinas dominantes que acaban condicionando gravemente la asignación interna de recursos y su propia mirada ante los acontecimientos. La agencias ya no son las primeras en cubrir los hechos. Tanto el creciente peso de las fuentes como la capacidad de cualquier ciudadano con un teléfono de última generación de contribuir a los flujos informativos lo cambian todo. Eric Scherer, directivo de AFP describía recientemente2 con preocupación que en los asaltos fundamentalistas de Bombay de noviembre de 2008, la primera agencia en informar del suceso lo hizo en cuarto lugar, por detrás de medios electrónicos y de la cadena CNN, algo impensable hace unos años. No es un hecho aislado. La tensión entre la sobreabundancia de mensajes “originales” y la limitación de recursos las incapacita para garantizar la primicia de los acontecimientos. Esta situación se hace más evidente para las grandes agencias en el ámbito internacional donde la intensidad de recursos por territorio informativo es mucho menor. EFE, por ejemplo, despliega en Cataluña, que cuenta con 7,5 millones de personas, una red de 110 personas –de la que el 50% son corresponsales- mientras, en Chile, con el doble de población, emplea una plantilla de 10-12 periodistas, un 10% del utilizado en Cataluña. Lo mismo puede decirse de France Press fuera de Francia o de AP fuera de EEUU. Ninguna de ellas puede justificar su aportación a la cadena informativa en la ficción de la cobertura directa de los acontecimientos, imposible con los escasos recursos desplazados, 2

Eric Scherer, director de Estrategia y Relaciones Externas de AFP hacía estas declaraciones en la conferencia anual de la Alianza Europea de Agencias de Noticias (EANA) celebrada en Zagreb entre el 6 y 8 de mayo de 2009.


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sino en su capacidad para seleccionar y jerarquizar la información doméstica de cada país publicada en los medios locales. Más que incorporar más noticias a sus hilos su valor se justifica ahora en su capacidad para seleccionar aquellos acontecimientos que merecen formar parte de la agenda mediática desde una perspectiva de interés general. Lo que se les pide a las agencias es que acentúen su comportamiento como gattekeepers globales, encargados de llevar adelante el primer filtro para excluir los eventos que no merecen formar parte de la agenda social3. O de otra forma, lo que se les pide es que aseguren que cualquier tema que merezca estar presente en sus hilos haya superado los más estrictos controles de calidad, afianzando los contrastes que aseguran su veracidad. Por lo mismo, ya no tiene sentido limitarse al puro relato de los hechos y sus protagonistas, base de las hard news. Aunque el papel principal de las agencias sigue siendo garantizar un flujo suficiente de información en todos los formatos que represente de forma equilibrada el acontecer de los hechos noticiosos, es imprescindible incorporar elementos valorativos que enriquezcan la comprensión de la realidad. Y eso significa que la incorporación de análisis, crónicas, reportajes en sus servicios, en una proporción significativa que puede llegar al 30%, se convierte en indispensable para sacar el máximo partido a la red de delegaciones y corresponsalías: esa es la forma de hacer valer la mayor sensibilidad que se obtiene de la presencia permanente que le ofrece sus extensas redes en las periferias del mundo. El trabajo del mayorista de información no es ya abastecer de noticias a los medios, tarea asegurada por las fuentes, sino en añadir credibilidad en la cadena informativa. No es una aportación de cantidad, sino de calidad lo que se espera de ellas. 6. La externalización de operaciones y la reconversión de los medios La crisis va a acelerar la asunción en la cadena informativa de muchos fenómenos que están en el corazón de los procesos industriales, sobre todo, la externalización de operaciones. El hecho de que un canal español de televisión de reciente creación, como La Sexta, disponga de una plantilla inferior a 70 personas, con solo 5 personas en sus informativos, los encargados de editarlo y presentarlo, menos de un 10% que otros canales más maduros, avanza hasta qué punto el proceso supone una ruptura con todo lo conocido. La industria de la información se adentra en la multifragmentación de los procesos y en la

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La dificultad para ser neutrales en ese proceso global, o mejor dicho, el análisis de hasta qué punto es imposible, es otra cuestión diferente que he abordado en otro trabajo que forma parte de un libro colectivo, en preparación, coordinado por Oliver-Boyd Barret , titulado “Media in Crisis. A New Agency Perspective”. (2010).


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expulsión de sus estructuras –y de sus convenios colectivos- de aquellas operaciones que no aportan identidad y valor a la cadena o al producto editorial desde la perspectiva del empresario. Esa tarea se argumenta como imprencindible para la reducción de costes fijos en un momento de crisis pero eso no significa que sea solo una medida coyuntural de ajuste ante la pérdida de ingresos por publicidad: es o pasará a ser una decisión estructural de improbable retorno (I Muro, 2008)viii. Difícil imaginar que en los próximos años nazcan proyectos que concentren en sus redacciones a más de 100 periodistas, difícil incluso imaginar que los actuales que los superan no desciendan esa barrera. Al igual que se externalizó el diseño de cabeceras y se usan consultores para definir las estrategias en una forma de externalización de conocimientos de alto valor, también se externalizarán buena parte de los colaboradores y firmas o incluso la red de corresponsales, que pasará a estar cubierta desde grupos de periodistas externos, con nombres y experiencia reconocida, del tipo de los agrupados en www.globalpost.com. El apoyo sobre comunidades y redes del tipo wiki, especializadas en los más diversos temas o en la selección de videos informativos de periodismo ciudadano, o, por supuesto, el uso de robots inteligentes para rastrear fuentes y preseleccionar contenidos, completan el panorama del próximo futuro. Es la consecuencia de una nueva organización racional del trabajo, asociada a un “nuevo taylorismo” que se aprovecha de la capacidad de las nuevas tecnologías para fragmentar las operaciones intangibles que caracterizan la producción de bienes simbólicos, como es la información, y de la creciente autonomía y el desplazamiento de tareas a nuevo actores. Si las agencias fueron la primera experiencia de externalización, al delegar en ellas las redes de cobertura informativa, la provisión de contenidos que hoy realizan los gabinetes supone una nueva forma de externalización hacia las fuentes. Ocurre especialmente en los medios locales. El hecho de que lleven tiempo asumiendo dentro de sus rutinas diarias el llamar a los gabinetes de comunicación para preguntar qué tienen para ellos, es una práctica que los integra en la cadena informativa como si fuera un servicio externalizado. Esa rutina les convierten en proveedores esenciales de contenidos, que les permite llenar sus páginas con información "de interés" sin coste alguno medido en recursos redaccionales. Obviamente, el “precio pagado” existe pero está oculto: el que nace de no ser muy rigurosos por la credibilidad de sus aportaciones o, aun peor, asumir con naturalidad su cuota de parcialidad de la que acaban siendo cómplices por afinidad. Lo mismo puede decirse de los grandes medios aunque aquí la integración de las fuentes tiene un efecto cualitativo por estar adobadas en las crecientes interconexiones industriales de sus patronos o en las "sugerencias" de sus principales inversores publicitarios, privados o públicos. Esa integración de “amigos” como fuentes privilegiadas afecta


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a la esencia de su mediación porque no solo se acepta lo que sugieren decir sino lo que sugieren callar. Con ello, el editor consiente en compartir potestades esenciales que antes eran su monopolio exclusivo. Digamos que, con ello, no se externaliza lo accesorio, sino que se fragmenta y comparte la seña de identidad de la independencia editorial: el poder de decisión. En cualquier caso, la intensificación en la externalización de operaciones introduce un cambio en la lógica productiva de la información, con grandes empresas con estructuras livianas pero poseedoras de marcas reconocidas, rodeadas de pequeñas organizaciones que les ofrecen servicios. De lo que se trata es de calibrar si ese contexto de multifragmentación de operaciones lo es también de frustración profesional para la inmensa mayoría de los periodistas, incapacitados para contar historias a sus audiencias, obligados a contribuir al “producto final de otro” que en absoluto controla. O si, por el contrario, estas nuevas circunstancias facilitan una mayor autonomía para crearse una marca propia y para reconstruir nuevos medios profesionales de prestigio en el entorno digital. Para las cabeceras clásicas que pretendan una línea de independencia y de alto valor informativo el camino empieza a estar, también, trazado. Con el abastecimiento asegurado y buena parte de los procesos productivos externalizados el éxito de los medios se jugará más que nunca, en la selección de temas y en la profundización de su tratamiento. Objetivamente, deberían recuperan valor los analistas más prestigiosos, aquellos capaces de desbrozar la realidad interconectando datos recibidos en momentos dispersos, buceando bajo la espesa capa de intereses presentados bajo el marchamo de la "rabiosa actualidad". La recuperación de la propia agenda se convierte en esencial. 7. Google News: comoditización de los medios y apropiación de valor La fragmentación de operaciones que provoca la externalización no solo devalúa el trabajo periodístico sino que también trata “a la baja” las retribuciones que cada organización aporta al siguiente eslabón de la cadena: “si usted solo me aporta un producto idéntico al que aporta a otros similares a mí, una materia prima, no puedo pagarle más que esto. Yo tengo que mirar por mi cliente”, le dicen. La industrialización de los procesos periodísticos conduce a una carrera de “comoditizaciones” generalizadas que las agencias de noticias conocen muy bien pues llevan decenas de años sufriéndola. También sus noticias fueron tratadas, los son todavía, como commodities, como algo de gran valor pero de escaso precio, como algo capaz de sustentar los contenidos informativos de cada día pero a los que se les suele negar el crédito, sustituido por el genérico “agencias”. El resultado es que mientras los pequeños diarios se alimentan hasta en un 80% de noticias de agencia y los grandes las acreditan en un 10% (aunque las utilizan con intensidad en las rutinas productivas) solo entre un 0,2% y un 2%


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del presupuesto de los medios se destina al pago de los servicios de agencia. Con sus diferencias, también los nuevos mediadores, tipo Google News, situados hoy detrás de los medios en la cadena informativa, es decir más cerca del usuario final, están “comoditizando” a los medios. Desde la atalaya del último mediador es fácil identificar a “los diarios” como algo genérico mientras se somete a sus noticias a un proceso de selección en el que su procedencia, sea del New York Times o de El País, es solo un parámetro más en su algoritmo de búsqueda. Ese proceso al que Google somete a las noticias de los medios tradicionales, meras materias primas de su negocio, tiene una consecuencia económica directa: la apropiación de buena parte de los ingresos publicitarios generados en su intermediación on line. Es la consecuencia lógica de los mecanismos capitalistas de distribución. Se ampara en factores objetivos, como su capacidad –la de Google News- para derivar miles de millones de clics a los sitios webs de los medios o su aportación de valor para el usuario al incrementar sus sensaciones de cercanía, variedad o simplicidad. Pero nadie puede negar que, es también, una forma de justificar y apropiarse del valor creado por los anteriores eslabones de la cadena. Forma parte de la lógica de la externalización y del poder que la cadena de producción otorga a los eslabones más cercanos al usuario final. La misma lógica que los medios se sirven en la relación con las agencias. 8. La alteraciones en el discurso ideológico profundizan la sensación de crisis del sistema Se trata de un tema esencial aunque aparentemente tangencial a los nuevos procesos industriales. Pero en absoluto lo es porque afecta a la credibilidad del sistema y a su legitimación. Los medios son, objetivamente, unos intelectuales colectivos cuya filtrado de la realidad actúa como semáforos que alivian a los ciudadanos de las incertidumbres de un mundo crecientemente complejo. Cada selección de noticias cumple una doble función: de un lado, ofrece una lectura de la actualidad que alimenta los mapas ideológicos que orientan sus vidas; de otro, le permite condicionar las conciencias y “fabricar” consensos, los lugares comunes desde los que se articula la hegemonía ideológica y cultural del poder establecido (Walter Lippmann, 1922).ix Pero ello exige una articulación vertical del mensaje que se interrumpe cuando los medios dejan de ser “los dueños de las noticias”, algo que Google News y los agregadores del más diverso estilo, están interrumpiendo. Si antes los medios eran los pivotes exclusivos sobre los que se visualizaban las noticias, ahora, los nuevos intermediarios liberan al usuario de ese corsé y hace visibles las diferentes posiciones existentes alrededor de cada noticia. Hoy la gente navega por internet y se encuentra o busca "noticias" convertidas en un bien en sí, desconectadas de los medios que las concibieron, de la relevancia que ocuparon en sus noticieros o de la jerarquía en la que fueron publicadas.


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Si antes el medio actuaba de contenedor y "puerta de entrada exclusiva a las noticias" a las que había dado el espacio y el enfoque que las singularizaba, ahora la noticia aparece en primera instancia descontextualizada de su matriz ideológica. Es más, la noticia pasa a ser la puerta de entrada a todos los medios que la publican. Los usuarios leen las noticias con todas sus lecturas posibles y, al hacerlo, aumentan su autonomía y la distancia respecto a los medios que las concibieron lo que termina afectando a la credibilidad del discurso y a la legitimación de los medios como constructores de su realidad simbólica. Al hacer pivotar a los medios alrededor de las noticias, se interrumpe la continuidad del discurso ideológico y se favorece una toma de distancia del lector que acaba favoreciendo la sensación de manipulación y de crisis del sistema. Esta ruptura en la cadena de valor provoca una quiebra de la mediación que afecta a la esencia misma de los mecanismos de legitimación del poder y de cohesión social. 9. Conclusiones: la autonomía del periodismo y la transición hacia un nuevo sistema Todos estos elementos mezclados provocan en los agentes informativos una sensación de estupor, miedo y desconfianza en el futuro. ¿Es, como apuntan algunos, el fin de los medios y del periodismo como mediadores decisivos entre la realidad y las audiencias? ¿Existe un riesgo real de que la desestructuración de la mediación periodística nos conduzca a “millones de voces inconexas gritando al oído de millones de ciudadanos inconexos" como denunciara el periodista Enric Gonzalez al recibir el Premio Cedecero? 1. La sensación de aprensión y temor ante el porvenir está justificada. Pero queda por conocer el margen de autonomía que la realidad descrita concede al periodismo, cuya capacidad de sobrevivir y reorganizarse está imbricada con la de las nuevas generaciones de periodistas digitales. Al vislumbrar sus retos uno debe recordar la definición más ambiciosa de la Economía Política de la Comunicación que la identifica, según recuerda Vosco, con “el estudio del control y la supervivencia en la vida social”. Efectivamente, se trata de ver cómo los individuos –y en este caso, los periodistas- se las valen para sobrevivir económicamente en el futuro y cómo la forma en que se organizan para subsistir condiciona el desempeño del poder y los mecanismos de control ideológico. Es en su capacidad de reacción, donde las personas y los grupos se constituyen como tal, donde optan y aprenden a no someterse, a obstruir o a inhibirse. Y es en esa pugna donde se define el poder, que es, decía Foucault, una relación que vincula al que lo ejerce y al que lo soporta, “un par de fuerzas que es, al tiempo, una acción y una reacción” (M. Foucault, 1975)x. 2. Sin duda nada está escrito, pero está irremisiblemente condicionado por las tendencias del sistema. Solo conociéndolas es posible


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vislumbrar no solo los riesgos sino también las oportunidades existentes y la posibilidad de influir en la construcción del futuro. Lo que no tiene sentido es que domine la peor ideología productivista de la información que está tan asociada a la crisis actual. Si como señala Nick Davys “cada periodista escribe ahora tres veces más piezas que hace 20 años” cabe preguntarse cuál ha sido el destino de esa mayor productividad. Descartada la retribución del periodista o la calidad de la información en claro retroceso, destaca como destino más probable el desarrollo de medios masivos, también en volumen de contenidos, y el aumento del tamaño y del beneficio de las grandes empresas. Mal camino: el destino de la mayor conectividad y productividad que permiten las nuevas tecnologías debería ser priorizar la calidad y la credibilidad de los contenidos y retribuir a los que generadores del valor periodístico. 3. Es importante no olvidar que el sistema de medios que está en crisis es un sistema organizado en torno a grandes empresas con una credibilidad decreciente, como denuncia el informe anual del Estado de los Medios del Pew Research Centerxi. La razón es evidente: los medios, la industria de la transparencia, la que reclama a políticos, instituciones y empresas “luz y taquígrafos”, empieza a formar parte del entramado de poderes globales y a participar de las ventajas del callar y ocultar. En ese contexto, tienen sentido otra afirmación del galardonado Enric Gonzalez: "Ya no hay que fiarse de las grandes empresas, tienen otros intereses. Habrán de ser los periodistas los que se organicen, en cooperativas, en sociedades, como sea, para seguir haciendo información. Las empresas no son la prensa". 4. Ello es más posible que nunca. El vaciado de recursos redaccionales en las grandes empresas periodísticas, es, también, una consecuencia de la creciente autonomía que las tecnologías digitales e internet provocan en cada eslabón de la cadena. Si las múltiples y diversas tareas periodísticas pueden fragmentarse y descomponerse es porque pueden ser desarrolladas de forma independiente; si pueden externalizarse es también porque pueden interconectarse y crecer de forma autónoma, sin necesidad de estar sometidas a la misma jerarquía empresarial ni a la misma disciplina laboral. Al tiempo que fuentes y usuarios ganan autonomía, al tiempo que el papel de los mediadores tradicionales del sistema -medios y agencias- cambian sus roles, crece la posibilidad de que la mediación profesional de los periodistas se reestructure y organice de forma autónoma. 5. No se trata de blogs, se trata de proyectos informativos profesionales cada vez más fáciles de levantar. Porque otro elemento importante de la nueva realidad digital es la disminución de barreras de entrada en el negocio de los medios, síntoma y anuncio del aumento de la competencia informativa. Efectivamente, el baile de roles que afecta a todos, impensable hace unos años, viene acompañado por la aparición de nuevos entrantes que se han posicionado en el mercado digital.


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De forma silenciosa, ha ido cuajando en el entorno digital un sistema de medios cuyo perfil es ya muy diferente al tradicional. Una comparación puede ayudar a entender lo que se quiere decir. El canal digital de un gran diario como El Periódico de Cataluña, alcanza, según OJD, 2,3 millones de usuarios únicos al mes, una cifra respetable pero algo menor que la alcanzada por un medio digital de nueva creación, como El Confidencial.com, promovido por el periodista Jesús Cacho, en cuya confección deben participar no más del 10% de los recursos nominales del anterior. Para más confusión, la misma cifra la alcanza también el portal de Europa Press, una agencia que, como otras4, ha decidido simultanear su rol de mayorista de contenidos con el de medio finalista. Organizaciones con diferentes recursos e historia y diferentes orígenes obtienen los mismos resultados de audiencia. La perdida de barreras de entrada facilita también el que otros periodistas “cuajados”, no solo Jesús Cacho, hayan volcado su experiencia en la red. Incluye Alfonso Rojo, Pablo Sebastián, Luis María Anson, Jiménez Losantos o Enric Sopena a los que pueden sumarse otros nacidos en la cultura digital como Gumersindo García o Mario Tascón. Tampoco se trata solo de proyectos finalistas. A la experiencia del ya citado de GlobalPost, formada por firmas reconocidos que se ofrecen como corresponsales, se unen muchos otros. El hecho es que la red favorece la aparición de nuevos proyectos de mediación sobre segmentos muy profesionales, como puede serlo por ejemplo, www.arteinformado.com un centro de información sobre galeristas y pintores, imprescindible para conocer el mercado del arte. 6. La tarea es conseguir que en el ágora global que se ha convertido la Red se escuchen los quejíos del mundo. Asumido está que competirán con el creciente peso de las fuentes como generadores industriales de mensajes. Y también, con los chismes y bulos de lejanos vecinos, tan similares a los maliciosos rumores que antaño se escuchaban en las pequeñas aldeas. Pero, ello no debe impedir que surjan, también, voces de libertad que cuestionen los mensajes emitidos desde el poder y que muchos medios canalizarán. Ni que se puedan leer nuevas historias que conmuevan. El reto es que nuevos proyectos digitales cargados de credibilidad permitan subsistir a las próximas generaciones de periodistas. Ignacio Muro Benayas

Referencias bibliográficas

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La agencia Reuters tiene más visitas que el Washington Post y la agencia Associted Press tantos como The Economist.


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i

Vincent Mosco. “La economía política de la comunicación: una actualización 10 diez años después. CIC 2006. volumen 11. ii Berta Garcia Orosa Los altavoces de la actualidad. Netbiblo, 2005. iii Pilar Diazandino. “Periodismo en la era de internet”. Editorial Ariel, 2007. iv v vi

Nick Davys. “Flat earth News”, Arrow-Random 2008

Mauro Wolf. “La investigación de la Comunicación de masas”. Paidos, 1987. Ignacio Muro Benayas. “Globalización de la información y agencias de noticias”. Paidos 2006.

vii

D. Smythe, La televisión, entre servicio público y negocio, Gustavo Gili, Barcelona, 1983. Ignacio Muro. “Esta no es mi empresa. Ecobook, 2008. ix Walter Lippmann, 1922. “La opinión publica”. Ed Inactuales, Langre 2003. x Michael Foucault. “Vigilar y Castigar” Editorial Paidos 1975 xi Informe PEJ 2010 viii


“Nunca foi tão difícil como agora defender a democratização dos meios”: entrevista com Luís Ramiro Beltrão Por Gislene Moreira1 No último dia 21 de abril, o pioneiro a denunciar os perigos da concentração mediática na América Latina nos anos 70 protagonizou um novo momento histórico. Aos 80 anos, Luís Ramiro Beltrão doou sua biblioteca pessoal, seus documentos e medalhas à Universidade Católica Boliviana, mantendo viva a memória do pensamento crítico das políticas de comunicação no continente. Em entrevista exclusiva, ele fala dos desafios contemporâneos, das políticas das novas esquerdas, e convoca à renovação do pensamento e da luta pela democratização mediática. P: Neste momento, muitos países de América Latina estão reformulando suas legislações e políticas de comunicação, sinalizando uma maior regulação estatal no setor. Esse cenário aponta a uma retomada das discussões de democratização dos meios dos anos 70? Não conheço, até agora, nenhum país que tenha formulado uma política num exercício normativo integral, plural e cooperativo como eu o entendo. Os governos continuam tendo suas políticas de comunicação, como sempre tiveram, mas num sei se é muito diferente o que está passando. Posso falar de Bolívia, que tem um caso antinômico muito estranho, porque tem uma nova constituição avançada que até diz que os meios se autorregulem. Confesso que fiquei surpreso que estivesse escrito assim... Mas todo mundo comenta, e um alto funcionário já disse, que se deve pensar uma forma de controlar a imprensa para que ela não minta. Então, uma coisa é o que diz o papel, outra coisa é o que fazem as autoridades, e isso é o que eu não entendo. Até agora, pelo menos aqui em Bolívia, não soube de nenhuma reunião dos grêmios de jornalistas com as autoridades para poder regular isso. Existe a Lei de Imprensa, que é de 1925, mas os jornalistas cuidam dela como um totem, em parte porque preferem não ter regulação, e de outra porque existe uma tendência muito notável de que os governos tentam mudar a lei para fazer sanções e ameaças aos jornalistas. Por isso, a maioria prefere não mudar nada. Porque todos os governos que entram, sejam de direita, sejam de esquerda, dizem que vão mudar a lei, mas nunca a ideia é para dar mais direitos, para democratizar de forma plena. Faz pouco tempo eu participei de uma proposta em Santa Cruz para a construção do “cambio”, mas vá saber o que vão fazer com isso. Eu não vejo 1

Doutoranda em Ciência Política na FLACSO-México, membro do Grupo de Pesquisa CEPOS (apoiado pela Ford Foundation) e mestre em Cultura e Sociedade pela UFBA. E-mail: <gislene.moreira@flacso.edu.mx>.


até o momento uma estancia de diálogo entre as partes. Tá cada um por um lado, e se continua assim, o que cada um deles busca é impor sua vontade sobre o outro. Não temos um comitê público que discuta as mudanças da lei com todos os lados. O que eu espero é que se respeite à constituição que aprovaram. Inclusive os grêmios jornalísticos vão aceitar uma nova lei se dão as garantias que a constituição não vai ser modificada de modo algum. P: Neste modelo de construção participativa, existe espaço para outros atores sociais, além dos empresários e jornalistas?

A batalha mediática de hoje é muito mais romântica que nos anos 70. Parece inverossímil!

Eu sempre defendi a construção coletiva das políticas de comunicação e nunca disse que os governos nacionais deviam fazer elas sozinhos. Por que se é para fazer o que lhes vem na cabeça, isso eles sempre fizeram e não precisam que ninguém lhes dê esse tipo de recomendação. Acho que esses espaços mistos, com representação plural y comunitária, são o único caminho de evitar os desmandos e excessos governistas. Acredito que hoje existe mais abertura para incorporar também outros setores, como as agrupações cidadãs, os sindicatos de trabalhadores e agricultores... Também as associações de profissionais, as associações de moradores. Existem muitos atores. O desafio é justamente escolher as mais representativas para que elas participem na preparação e formulação dessas políticas. É preciso abrir o leque para que mais gente se aproprie disso. P: Muitos defendem que os governos da chamada “nova esquerda” são mais favoráveis a essa construção dialogada. Está de acordo com isso? Os governos dessa nova esquerda são muito amigos, mas são o mesmo. É preciso diferenciar. Por exemplo, Lula e Bachelet são sociais democratas, que negociam e escutam a direita, isso é diferente de uma postura mais radical como a que está passando em outros governos da região. Parece que Argentina encontrou um meio termo, se uniu com a sociedade civil e mudou a lei. A briga agora é com os monopólios que não querem se toque em nada. Para os grandes meios, a melhor política é não ter nenhuma política, porque assim podem seguir abusando, explorando e mentindo. Considero que dos 70 até agora houve um revés nas políticas de comunicação. Com a globalização, a dominação e a concentração tecnológica se acentuaram enormemente. Existe mais impunidade que nunca, e a batalha é hoje muito mais romântica que nos anos 70. Parece inverossímil! E não sei até onde chega o alcance dessas novas políticas.


Faz oito anos que estou propondo que se juntem Alaic, Felafacs e outras organizações que existem em América Latina de comunicação para que façam um comitê para continuar a luta pela democratização da comunicação e levar a ideia adiante, e atualizando o pensamento para entender essa estrutura tão imensamente poderosa, e hoje em dia mais que nunca. Se nos 70, a situação da concentração mediática era grave, hoje é muito pior. E se os estudantes, acadêmicos, todos, não se põem de acordo em estudar e denunciar isso, eles vão seguir abusando impunemente. P: Nos anos 70, parecia que esse cenário ia ser alterado a favor de políticas mais democráticas de comunicação. Que fatores explicam tamanho retrocesso?

Para os abusos não se repitam, eu não tenho a fórmula. (...) Mas no cenário atual não adianta pensar por país. Tem que se chegar em bloco, tem de se ter muita força.

Os que defendiam políticas de comunicação mais plurais não erámos muitos e fizeram das nossas vidas um inferno. A Associação Interamericana de Radiodifusão e a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) nos repudiaram publicamente dizendo que atentávamos à liberdade de imprensa, que estávamos dirigidos ao fascismo e ao marxismo. Como os primeiros que tocaram o tema, nos acusavam de terrorista e nunca nos permitiram ser convidados para os eventos como o Pacto de San José (Costa Rica, 1976). O Diretor Geral da Unesco, o africano Amadou M'Bow, teve que deixar o cargo. Estados Unidos e Inglaterra se retiraram da instituição. As pressões foram tão grandes que o órgão deixou de fora da reunião a todos os funcionários responsáveis pelo tema e só enviou uma bibliotecária... Nessa reunião de Ministros (em São José), Guido Grooscors (Ministro de Informação da Venezuela) fez foi uma negociação brilhante, assim como fez McBride, conseguindo estabelecer negociações e publicar os documentos. E todos os pesquisadores reconhecem que esses acordos e relatórios tem muita influencia do pensamento latino-americano. Mas nessa época, éramos poucos, a noção de direito a comunicação nunca chegou à discussão das políticas. Nessa reunião da Costa Rica, o presidente da Venezuela, Carlos Andrés Perez respaldou a Guido como responsável por conduzir as discussões e convenceu aos outros ministros a assinar os acordos, afirmando que o tema não representava ameaças. E o que acontece depois? Guido voltou à Venezuela e escreveu um documento para iniciar aí uma política coerente com todos os princípios que o presidente defendeu. A resposta de Pérez foi: “Guido, guarda teu papel que não é hora pra isso. Estamos perto das eleições!”. Aí a AIR fez da vida dele um inferno, o mandaram de embaixador a Colômbia e desapareceram com o tema. Isso no país que chegou mais forte. Imagine nos


países do Cone Sul, que estavam sofrendo ditaduras brutais. Depois veio o neoliberalismo e aí foi que morreu tudo. Para que abusos como esses não se repitam, eu não tenho a fórmula. Se tivesse, estaria encantado! (rs). Mas é exatamente por isso que proponho que se juntem os pares. Porque no cenário atual não adianta pensar algo por país. Tem de chegar em bloco e ter muita força.


Educação Superior a Distância, Tecnologias de Informação e Comunicação e Inclusão Social no Brasil Jose Matias-Pereira* Resumo: Observa-se que as mudanças de paradigmas no campo das tecnologias de informação e comunicação (TICs) estão impactando na atualidade de forma intensa na sociedade mundial, em particular na geração de novas possibilidades na definição de políticas públicas de educação a distância (EaD). Diante deste cenário temos como objetivo principal neste artigo analisar as limitações e as possibilidades da educação superior a distância, apoiada na utilização intensiva das tecnologias de informação e comunicação (TICs), com vista a avaliar se está contribuindo para elevar o nível de inclusão social no Brasil. Procuramos aprofundar a discussão sobre os aspectos mais sensíveis e a validade da utilização do ensino superior a distância, apoiado pelas TICs, num país de perfil continental e marcado pela diversidade, num contexto onde a aprendizagem continuada passou a fazer parte na vida das pessoas. Concluímos que a ampliação das ações do Estado brasileiro, em termos de estímulos governamentais e de desenvolvimento de pesquisas, exige medidas criativas e inovadoras no campo das políticas públicas de educação superior, com ênfase em recursos humanos, infra-estrutura e investimentos em novas tecnologias de informação e comunicação, para dessa forma, viabilizar uma crescente inclusão social no país. Palavras-chave: educação a distância; políticas públicas; tecnologias de informação e comunicação; inclusão social; Brasil. Distance Education, Information and Communication Technologies (ICTs) and Social Inclusion in Brazil Abstract: It is observed that the changes of paradigms in the field of information and communication technologies (ICTs) are impacting today so intense in the international community, particularly the generation of new possibilities in the definition of public policies for distance learning (DL). Against this background we have as main objective in this article examine the limits and possibilities of distance education, supported by intensive The use of ICTs in order to determine if it is helping raise the level of social inclusion Brazil. We seek to further discuss the most critical aspects and validity of the use of distance education supported by ICTs in a country of continental profile and marked by diversity in an environment where continuous learning has become part of people's lives. We conclude that further actions of the Brazilian state in terms of government encouragement and development of research, needs creative and innovative in the field of public higher education, with emphasis on human resources, infrastructure and investments in new information and communication technologies, to thereby enable an increasing social inclusion in the country. *

Professor-pesquisador associado do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade de Brasília. Doutor em Ciência Política pela Universidade Complutense de Madri – Espanha, e Pós-doutor em Administração pela Universidade de São Paulo (FEA/USP). E-mail: matias@unb.br


Keywords: distance education, public technologies, social inclusion, Brazil

policy,

information

and

communication

Educación a Distancia, Tecnología de la Información y Comunicación y Inclusión social en Brasil Resumen: Se observa que los cambios de paradigmas en el campo de las tecnologías de la información y comunicación están afectando hoy en día tan intenso en la comunidad internacional, especialmente la generación de nuevas posibilidades en la definición de políticas públicas para la enseñanza a distancia (DL). En este contexto, tenemos como principal objetivo en este artículo analizar los límites y posibilidades de educación a distancia, apoyado por el uso intensivo de las tecnologías de la información y comunicación (TICs) a fin de determinar si está ayudando a elevar el nivel de inclusión social Brasil. Buscamos para discutir a fondo los aspectos más críticos y la validez de la utilización de la educación a distancia apoyada por las TICs en un país de perfil continental, caracterizado por la diversidad en un entorno en parte en la que se ha convertido en el aprendizaje continuo de la vida de las personas. Concluimos que las nuevas medidas del Estado brasileño en términos de apoyo del Gobierno y el desarrollo de la investigación, las necesidades creativas e innovadoras en el ámbito de la educación superior pública, con énfasis en recursos humanos, infraestructura e inversiones en nuevas tecnologías la información y comunicación, para permitir así a la inclusión social cada vez mayor en el país. Palabras clave: educación a distancia; políticas públicas; tecnologías de la información y comunicación; inclusión social, Brasil

Introdução É perceptível que ao longo da história o surgimento de novas ferramentas de comunicação implica em turbulências, provocando concomitantemente modificações na estrutura do pensamento, nos modos de apreensão do conhecimento e nas interações sociais. A acelerada evolução das tecnologias de informação e comunicação (TIC) na atualidade é responsável pelo surgimento de novas linguagens e novos tipos de texto. Nesse novo cenário, conforme assinala Coscarelli (2003), o texto deixa de ser um todo contíguo, uma estrutura linear, predominantemente verbal, para constituir-se em estrutura fragmentada, da qual fazem parte ícones, imagens estáticas e/ou animadas e sons. Assim, deixa de ser monomídia para transformar-se em multimídia. Nesse sentido, Matias-Pereira (2008, p. 44-54) destaca que as transformações sociais aceleradas, provocadas pelo desenvolvimento das novas tecnologias de informação e


comunicação, e a necessidade da rápida circulação da informação, são as principais responsáveis pelas necessidades de alterar as perspectivas de formação dos indivíduos. Isso tem exigido um número cada vez maior de trabalhadores polivalentes, capazes de investir na sua própria formação, de modo a acompanhar o progresso. Em resposta a isso, o cidadão terá de ser capaz de se adaptar a novas realidades e, em especial, de aprender a desempenhar novas tarefas de uma forma rápida e eficiente (RYAN et al, 2000). Por sua vez, Rosenberg (2001) descreve estratégias de desenvolvimento de programas de elearning orientados principalmente para o mundo empresarial. Registre-se que a utilização de técnicas de educação a distância não é uma novidade no mundo. Os cursos à distância é um fenômeno relativamente novo na educação brasileira, considerando que apenas em 2005 os diplomas de alunos formados em graduações à distância tornaram-se equivalentes aos de cursos presenciais. Observa-se que o ensino a distância vem sendo uma alternativa concreta para milhares de jovens e adultos que não tiveram assegurado o direito de ingressar nos cursos presenciais de ensino superior. Assim, temos como propósito analisar, a seguir, os aspectos mais relevantes sobre essas ações no campo da educação à distância no Brasil. A educação a distância, na sua essência, é um sistema tecnológico de comunicação bidirecional (ARETIO, 1996, 2009). Trata-se, em geral, de uma educação disponibilizada para um grande número de pessoas. Essa forma de educação substitui a interação pessoal entre professor e aluno na sala de aula, como meio preferencial do ensino, pela ação sistemática e conjunta de diversos recursos didáticos e pelo apoio de uma organização e tutoria que propiciam a aprendizagem autônoma dos estudantes. Sustenta aquele autor, ao tratar do aspecto bidirecional da comunicação nos cursos de EaD, que essa relação dialógica, interativa entre o professor-tutor e seu aluno, se apresenta como um fator essencial para o sucesso dos cursos de graduação e pós-graduação na modalidade a distância. Peters (1998) define a educação/ensino à distância como um método racional de compartilhar conhecimentos, habilidades e atitudes, através da aplicação da divisão do trabalho e de princípios organizacionais, bem como pelo uso extensivo de meios de comunicação, especialmente para produzir materiais técnicos de alta qualidade, os quais tornam possível instruir um grande número de estudantes ao mesmo tempo, enquanto esses materiais durarem. É uma forma industrializada de ensinar e aprender. Por sua vez, Moore (1973, 1989), define EAD como a família de métodos instrucionais onde as ações dos professores são executadas à parte das ações dos alunos, incluindo situações continuadas que podem ser feitas na presença dos estudantes. A comunicação professor-aluno deve ser facilitada por meios impressos, eletrônicos, mecânicos ou outros. O debate sobre o papel da educação em uma sociedade de caráter acentuadamente multicultural é recente, tanto em nível nacional como internacional. A gênese dessa preocupação é motivada por distintas razões em termos: sociais, políticos, ideológicos e culturais, nos diferentes contextos onde está aflorando com maior intensidade, em especial na Europa, Estados Unidos e América Latina (BECKER, 1975). Nesse cenário de transformações, a concepção da escola, suas funções e relações com a sociedade, o


conhecimento e a construção de identidades pessoais, sociais e culturais se encontram em questionamento. Metodologia e Relevância do Estudo Observa-se que as mudanças de paradigmas no campo da informação e comunicação estão impactando na atualidade de forma intensa na sociedade mundial, em particular na geração de novas possibilidades na definição de políticas públicas de educação. Diante deste cenário temos

como objetivo principal neste artigo analisar as limitações e as possibilidades da educação superior a distância, apoiada na utilização intensiva das tecnologias de informação e comunicação (TICs), com vista a avaliar se está contribuindo para elevar o nível de inclusão social no Brasil. Procuramos aprofundar a discussão sobre os aspectos mais sensíveis e a validade da utilização do ensino superior a distância, apoiado pelas TICs, num país de perfil continental e marcado pela diversidade, num contexto onde a aprendizagem continuada passou a fazer parte na vida das pessoas. Temos como objetivos específicos: analisar as principais teorias de EaD, os paradigmas educacionais e o paradigma tecnológico de informação e comunicação; referenciar as experiências bem sucedidas em educação a distância no Brasil; e, uma avaliação das motivações da criação da Universidade aberta do Brasil, e de forma especial, o seu projeto piloto, o curso de graduação em administração a distância. Para diversos autores, como por exemplo, Baker (2004), Schwartzman (2006), dentre as políticas sociais, a educação ocupa posição especial. Esta posição de destaque não se restringe às teorias de capital humano - que atribuem à educação um papel fundamental para o desenvolvimento econômico -, mas também pela constatação mais recente de que as desigualdades educacionais são o principal correlato das desigualdades de renda, oportunidades e condições de vida. Sustenta Schwartzman (2006, p. 3), que apesar do consenso que existe a respeito da importância da educação, “há muitas dúvidas sobre o que fazer nesta área, tanto no que se refere à educação formal convencional, na escola fundamental e média, quanto, sobretudo, a outras modalidades, como a educação pré-escolar, a educação de jovens e adultos, a educação continuada, e o uso de novas tecnologias para a transmissão de conhecimentos; existe também muita controvérsia a respeito do que fazer em relação a educação superior.” Torna-se relevante destacar que a educação tem a finalidade em si mesma, razão pela qual deve preocupar-se com as questões mais relevantes para a sociedade, como: a construção da cidadania, a leitura do mundo, a habilidade do pensamento e rigor da ciência, o desenvolvimento do senso estético, a construção do senso crítico e da utopia. Na busca para atingir esses objetivos, o país necessita de contar com um sistema de ensino superior bem estruturado. As deficiências e fragilidades apontadas na literatura acadêmica e nas avaliações recentes do sistema superior brasileiro (INEP/MEC, 2007) mostram que o sistema de formação universitária não está conseguindo cumprir o seu papel da forma adequada. O tema objeto deste artigo inclui-se entre aqueles que têm merecido uma crescente atenção nos últimos anos de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. Observa-se que a


educação superior tem sido foco de debates em toda a sociedade e objeto de implementação de políticas públicas diversificadas, visando ampliar seu alcance e qualidade. Isso reforça o nosso entendimento da necessidade de que o debate integre análises e propostas vinculadas à educação superior e, ainda, que possa garantir maior participação dos diversos atores sociais. A partir destas reflexões e considerações iniciais, torna-se possível formular a seguinte pergunta de trabalho: A educação a distância, apoiada nas novas tecnologias de informação e comunicação, se apresenta como uma ferramenta relevante para apoiar a implantação de políticas públicas de educação inclusivas no Brasil? Partimos do pressuposto que, a utilização da educação a distância, sustentada pelas novas TICs permite incluir, por meio da oferta de oportunidade de educação da qualidade, um grande número de pessoas que estão distantes de centros de formação, e que estão impossibilitadas de freqüentar os ambientes presenciais. A educação a distância, nesse contexto, é aceita como a ferramenta mais adaptável para atender a demanda de um enorme contingente da população do país que já se encontra em idade adulta, em atividade profissional, ou impossibilitada de se locomover. São pessoas que não podem freqüentar o ensino presencial, pois não dispõem das condições adequadas para isso. Apesar de existir há mais de 150 anos no mundo, somente nas duas últimas décadas a educação a distância se tornou alvo de estudos e pesquisas acadêmicas, de forma sistematizada (MAIA; ABAL, 2001). Nesse sentido, temos como motivação neste estudo os seguintes aspectos: i) a educação a distância apresenta-se como um tema relativamente novo em termos de educação superior no país; e ii) a importância de se construir uma massa crítica no que se refere à EaD no Brasil. Assim, entendemos que esta pesquisa bibliográfica, documental e exploratória, apresenta-se como uma contribuição para elevar o nível de conhecimento na área de EaD, além de permitir o surgimento de novas idéias e descobertas. Observa-se que a internet, hipertexto eletrônico, hipermídia/multimídia, CD Rom, DVD estão cada vez mais presentes no cotidiano dos indivíduos e das escolas. As TIC, na medida em que vão se integrando à sociedade impõe um novo paradigma, em particular, a exigência da escola de estimular a inclusão digital dos seus alunos. A conexão da escola com a vida social mais ampla é destacada por Freire (1971, 1996, 1997, 2000), quando argumenta que cabe à educação expor o educando à experiência do debate e à análise de problemas, garantindo condições de verdadeira participação. Nesse sentido, destaca Peters (1998, 2001) que não estamos lidando com um processo de transição no campo da educação, mas com transformações rápidas e abruptas que envolvem mudanças de paradigma. Observa-se, assim, que o principal desafio da educação a distancia é o mesmo que enfrenta a educação presencial: elevar o nível de formação em distintos níveis, em especial no nível de formação universitária que está propiciando a população, bem como estimular a pesquisa com vista a avançar nessas melhorias. Metodologicamente iremos aprofundar a análise sobre o uso intensivo das novas tecnologias de comunicação e informação, caracterizadas pela interatividade e pela sua capacidade de uso individualizado, para permitir por meio da EaD a ampliação da oferta de


educação no Brasil; bem como os aspectos mais relevantes que envolvem a formulação e implementação de políticas públicas na área de educação no Brasil. É importante destacar que, a “educação deve ser entendida como parte integrante de um elenco de políticas públicas e sociais que estão sendo implantadas no Brasil (MATIAS-PEREIRA, 2008, p. 4454).” Analisar as políticas públicas, ações e atividades exercidas pela educação superior no Brasil, em particular a utilização da educação a distância é um assunto importante, levandose em consideração as suas possibilidades de atender demandas de conhecimento e formação oriundas do processo de desenvolvimento socioeconômico, ambiental e científico e tecnológico do país, com vista a contribuir para a redução das desigualdades e a promoção da inclusão social no Brasil. Assim, ao aprofundar a análise do tema do artigo buscamos contribuir para uma melhor compreensão sobre as limitações e possibilidades das políticas públicas de EaD, e como elas podem inserir-se para apoiar as mudanças sócioeconômicas do país, especialmente como mecanismo de inclusão social. Este estudo possui algumas limitações, em especial as que dizem com a amplitude e a complexidade do tema em análise, razão pela qual entendemos relevante destacar que não temos a pretensão de esgotar o assunto neste artigo. Referencial Teórico No debate sobre a educação a distância (EaD), torna-se essencial destacar a relevância da contribuição de inúmeros estudiosos do assunto, no esforço de construir uma teoria da educação a distância. Keegan (1991) classifica três grupos as contribuições dos estudiosos no campo teórico da EaD: Teoria da Autonomia e da Independência. Esta teoria, formulada por Michael G. Moore (1989) e Charles A. Wedemeyer (1981) possui quatro fatores básicos: autonomia, distância, estrutura e diálogo; Teoria da Industrialização. Proposta por Otto Peters (1998), que desenvolveu estudos que sinalizam para a assimilação de pressupostos da era industrial por parte da estrutura da educação à distância; Teoria da Interação e da Comunicação. Esta teoria tem como base os estudos de Holmberg, de forma especial, na Educação a distância: situação e perspectivas (1985), que enfoca os diferentes aspectos e possibilidades da EaD. Nos seus estudos Holmberg apresenta como eixo central de sua teoria a EaD como um método de conversação didática guiada, orientada para a aprendizagem. O artigo também está apoiado na Teoria Construtivista por entender que ela apresenta-se como a mais adequada para apoiar as discussões, e em especial, os argumentos utilizados ao longo deste estudo. Na busca de concretizar o objetivo deste artigo, visto que estamos diante de um tema amplo e complexo, julgamos mais adequado conduzir a investigação em uma perspectiva construtivista, tendo na abordagem qualitativa o instrumento de expressão dos dados coletados. Registre-se que a pesquisa qualitativa está preocupada com o processo, muito mais do que com os resultados e o produto (TRIVIÑOS, 1987). O construtivismo sustenta a idéia de que o conhecimento não seria fixo, mas construído por um indivíduo por meio de sua experiência com os objetos do mundo. As teorias construtivistas propostas por Piaget (1990), procuraram mostrar que em algum momento da


vida o indivíduo sai de seu mundo particular – que estaria baseado pelo egocentrismo - e insere-se num novo contexto marcado pelas relações sociais. Sustentam, nesse sentido, que as atividades cooperativistas se ajustariam nesta nova situação marcada pelas relações sociais, pela busca de soluções comuns e pelo crescimento cognitivo os quais seriam difíceis ou mesmo impossíveis de se alcançar sozinho. Assim, a história humana estaria intimamente e profundamente marcada por este tipo de relação. Registre-se nesse contexto, a relevância dos estudos desenvolvidos por Vygotsky (1987,1994). Aquele autor, na sua teoria sócio-histórico-cultural, sustenta que a origem das mudanças que ocorrem no homem, ao longo do seu desenvolvimento, está vinculada às interações que ocorrem entre o sujeito e a sociedade, a cultura e a sua história de vida, além das oportunidades e situações de aprendizagem, que promovem este desenvolvimento, ponderando acerca das várias representações de signo, instrumento, cultura e história, propiciando o desenvolvimento das funções mentais superiores. Para o citado autor o “aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer.” Por sua vez, argumenta Becker (1994) que, no construtivismo, o conhecimento é uma construção, contra os (neo) behavioristas, nos quais o conhecimento é reflexo do mundo exterior gravado na mente do sujeito por intermediação da linguagem, e os socio-biólogos, o conhecimento está em grande parte determinado pelos genes. Para aquele autor, ser construtivista é realizar uma teoria articulada dessa visão de mundo e produzir uma prática coerente com essa teoria em todos os níveis da vida. A construção do conhecimento, para Machado (2004, p. 89), seria como construir uma grande rede de significados, em que “os nós seriam os conceitos, as noções, as idéias, em outras palavras, os significados; e os fios que compõem os nós seriam as relações que estabelecemos entre algo em que concentramos nossa atenção e as demais idéias, noções ou conceitos; tais relações se condensam em feixes, que, por sua vez, se articulam em uma grande rede.” Bases das Teorias das Tecnologias de Informação e Conhecimento Distintos autores, como por exemplo, Bell (1973), Castells (1996), Kumar (1997), e Webster (1995), abordaram nas últimas décadas as implicações do advento de um novo tipo de sociedade, objetivando definir e caracterizar a sociedade da informação. Destacam-se, no rol desses autores os estudos seminais de Bell (1973), criador da teoria do pósindustrialismo. Registre-se que a expressão pós-industrialismo foi criado em substituição aos termos informação e conhecimento, que serviram para caracterizar o novo tipo de sociedade que surgia diante de uma onda de entusiasmo e do crescente desenvolvimento das tecnologias de computação e comunicação. Por sua vez, Kumar (1997, p. 21), na mesma linha de Bell (1973), entende que “a informação designa hoje a sociedade pósindustrial. É o que a gera e sustenta”. Para o citado autor, a sociedade pós-industrial poderia ser caracterizada por uma sociedade de serviços, oferece oportunidades de emprego para profissionais liberais e de nível técnico.


Deve-se ressaltar a relevância da concepção social de Webster (1995), que distingue analiticamente cinco definições para sociedade da informação, de acordo com os seguintes critérios: tecnológico, econômico, ocupacional, espacial e cultural. Webster (1995, p. 6), também trata da influência da variável tecnológica para a formação da sociedade pósindustrial, apontando analiticamente cinco definições para sociedade da informação, de acordo com os seguintes critérios: tecnológico, econômico, ocupacional, espacial e cultural. Castells (1996, p. 3), alinhado à visão de Webster, sustenta que, atualmente, as sociedades avançadas mundiais estão sofrendo uma transformação estrutural causada por uma “evolução tecnológica baseada em tecnologias de informação/comunicação, as formações de uma economia global e um processo de mudança cultural cujas principais manifestações são a transformação do papel das mulheres na sociedade e o aumento do desenvolvimento de uma consciência ecológica.”

Posteriormente Castells (1999), ao abordar o tema sociedade da informação apontou as seguintes características: inovação, velocidade e conexão. Para aquele autor a inovação é o resultado da interação de inúmeros órgãos públicos, agentes econômicos, atores sociais e instituições que produzem um fluxo permanente de troca de informações e de conhecimento; velocidade diz com uma era na qual até mesmo nanosegundos tornaram-se demasiado lentos, como medida de algumas operações de computador; e conexão na qual o mundo se transforma em uma aldeia global. A Internet aparece como possibilidade de conexão entre as diversas pessoas. É oportuno recordar que na primeira metade da década de 1980, utilizava-se o termo “computador” para designar todas as atividades relacionadas ao processamento de dados e informações. O acelerado desenvolvimento tecnológico e a massificação da informática consolidaram posteriormente a expressão “tecnologias de informação e conhecimento – TICs”. Para Keen (1996), as TICs tornaram-se a designação mais utilizada para um conjunto de equipamentos, aplicações e técnicas básicas utilizado para o processamento e a gestão. Assinalam Rosini e Palmisano (2003), que a definição da TIC abrange uma variedade de hardwares e softwares que proliferam rapidamente com a capacidade de coletar, processar, armazenar e acessar números e imagens para controle de equipamentos e processos de trabalho, bem como de conectar pessoas, funções e escritórios tanto dentro das organizações quanto entre elas. Observa-se, na segunda metade da última década do século XX, a questão das tecnologias ressurge com intensidade no cenário das atividades escolares, notadamente nos âmbitos da sala de aula, da gestão e da administração. Nesse contexto, Oliveira (1999, p. 155), ao tratar da hipótese da tecnologia educacional revisitada, refere-se ao [...] resgate da importância da tecnologia educacional, tal como defendida pelo tecnicismo pedagógico, mas tratada, agora, de forma diferente: – a partir de discussões relativas ao paradigma da empresa flexível e integrada; e (estreitamente ligado a isso) – em termos da consideração das tecnologias no trabalho escolar não apenas como método/recurso de ensino, (ou de gestão escolar), mas também como conteúdo/objeto de ensino. É relevante destacar as concepções de tecnologia e mediação. Na ótica técnico-científica, a tecnologia, conforme Oliveira (1999, 2000), refere-se a arranjos materiais e sociais que envolvem processos físicos e organizacionais, referidos ao conhecimento científico


aplicável. Nesse contexto, sustenta Oliveira (1999) que as “tecnologias são produtos da ação humana, historicamente construídos, expressando relações sociais das quais dependem, mas que também são influenciadas por eles. Assim, os produtos e processos tecnológicos são artefatos sociais e culturais que carregam consigo relações de poder, intenções e interesses diversos.” Por sua vez, o termo mediação tecnológica deve ser entendido como uma ponte estabelecida entre as práticas pedagógicas, bem como entre essas práticas e outras práticas sociais, que atuam de maneira independente umas das outras. Políticas Públicas de Educação no Brasil A política compreende um elenco de ações e procedimentos que visam à resolução pacífica de conflitos em torno da alocação de bens e recursos públicos. As políticas públicas - com destaque para as áreas de economia, trabalho, saúde, educação, segurança, sócio-ambiental, ciência e tecnologia e inovação -, são ações e medidas adotadas pelo Estado para atender as demandas da sociedade. As políticas públicas, no seu processo de estruturação, devem seguir um roteiro claro de prioridades, princípios, objetivos, normas e diretrizes delineadas nas normas constitucionais. Esses esforços buscam suprir as necessidades da sociedade em termos de distribuição de renda, dos bens e serviços sociais no âmbito federal, estadual e municipal. Deve-se ressaltar que, nas sociedades complexas, onde ocorrem conflitos e interesses de diferentes matizes, especialmente de classe, as políticas públicas decorrem do embate de poder determinado por leis, normas, métodos e conteúdos que são produzidas pela interação de distintos atores e grupos de pressão que disputam o Estado. Os principais atores, nesse cenário, são os políticos e os partidos políticos, os segmentos empresariais, os sindicatos, as organizações não governamentais, entre outras. A educação vem assumindo papel de relevo no elenco das políticas públicas no país, especialmente a partir da década de noventa, quando se tem início a intensificação do discurso e das propostas que visam garantir educação para todos. Verifica-se, nesse cenário, que o texto constitucional de 1988 reafirmou a educação como um direito de todos, definindo a quem cabe a responsabilidade por sua promoção e incentivo, e estabelecesse seus fins. As bases legais para a modalidade de educação a distância foram estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 -, que foi regulamentada pelo Decreto nº. 5.622, de 2005 (publicada em 20.12.05). Os avanços da educação a distância no Brasil podem ser constatados em algumas experiências bem sucedidas, como por exemplo, a experiência do Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro -Cederj, orientada para a interiorização e formação de professores; a experiência da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), em relação à formação de professores em exercício; a experiência da Universidade AnhembiMorumbi, no que diz respeito à incorporação dos 20% que pode ser a distância nos cursos presenciais; a experiência da FGV (Fundação Getúlio Vargas) on-line. A Unisul, de Santa Catarina, é uma experiência bem sucedida de universidade comunitária, além da Universidade Corporativa do Banco do Brasil.


Interação Entre Educação a Distância e Educação Presencial Os indicadores recentes da educação no Brasil revelam - em que pese mostrar que houve melhoras significativas nos últimos anos – que ainda está longe da situação ideal. Essa afirmação está evidenciada nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD/IBGE, 2007), revelam que 1,8 milhões de jovens entre 15 e 17 anos estão fora da escola. No esforço de melhorar esse cenário, novas políticas públicas de incentivo à educação e novas maneiras de aprendizado vem sendo implementadas no país. No conjunto dessas ações destaca-se a priorização da educação a distância (EaD), em nível de graduação. A possibilidade de ampliar a oferta de educação a distância nas instituições de ensino superior - públicas e privadas - no Brasil, em termos legais, foi concretizada por meio da Portaria do Ministério da Educação nº. 2253, de 2001. Essa norma legal – que definiu que até 20% das disciplinas do curso presencial poderiam ser ofertadas na modalidade a distância - permitiu que se legalizasse a utilização isolada de disciplinas a distância nas instituições de ensino superior. Observa-se que, as instituições de ensino superiores vêm optando por duas alternativas distintas: o voluntarismo ou o planejamento pontual, no que se refere a oferta dos vinte por cento a distância. Na alternativa voluntarista, a instituição não interfere no processo de adesão dos professores no que trata da utilização de atividades virtuais. Neste caso apenas o professores mais flexíveis e motivados passam a adotar a EaD. Este processo é perceptível nas universidades públicas, nas quais existe uma rigidez e enormes dificuldades para mudar um projeto pedagógico. Nessas instituições de ensino as iniciativas de mudança tendem a ser mais individuais do que institucionais. Por sua vez, inúmeras outras instituições passaram a disponibilizar disciplinas específicas no ambiente virtual, em especial aquelas em que os alunos tinham maiores dificuldades, como por exemplo, as dependências, recuperações, reprovações. Estatísticas da Educação Superior no Brasil A história da universidade brasileira não foi a mesma de suas congêneres da América Latina, visto ter sido implantada tardiamente. Verifica-se, entretanto, que nas últimas quatro décadas o Brasil passou por uma expansão pouco vista em outros países em desenvolvimento. Os elevados níveis de privatização da educação superior no Brasil, e pela concentração de matrículas nas ciências sociais, negócios e direito, se apresentam como os principais gargalos nas definições de políticas públicas para a educação superior brasileira. Os dados publicados sobre a distribuição de cursos superiores por áreas do conhecimento (MEC/INEP, 2007), indicam que as áreas de ciências sociais, negócios e direito concentram o maior percentual de cursos superiores: 31,2% (8.059). Das outras sete grandes áreas do conhecimento existentes na educação superior no Brasil, a de educação é a que tem a segunda maior participação, com 29,2% (7.539), em seguida vêm ciências, matemática e


computação com 11% (2.842 cursos), e saúde e bem-estar social com 10,5% (2.718). Constata-se, assim, que cerca de 70% desses cursos estão concentrados em direito, administração, educação e humanidades e artes, enquanto as engenharias de produção e construção detêm apenas 4,9% dos cursos. Esses dados indicam que existem sérias distorções na prioridade de investimento do setor privado, que é o responsável por 73% das matrículas no ensino superior no país. Os dados divulgados pelo Global Education Digest - 2006 (UNESCO, 2006), indicam que a participação do setor privado na educação superior é inferior a 25% nos Estados Unidos e menos de 10% no Canadá. Por sua vez, observa-se que o segmento privado vem concentrando suas ofertas de cursos em áreas do conhecimento com custos de implantação baixos. Isso é agravado, também, pelo baixo desempenho da economia nas últimas décadas, o que tende a contribuir para reduzir a demanda por cursos das áreas tecnológicas. Por sua vez, o poder público vem reduzindo a sua capacidade de investimento na área, apesar dos gastos elevados por aluno no ensino superior. Indicadores da Educação a Distância O Brasil, com base no Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância (ABED, 2006), contava em 2005 com 217 instituições credenciadas oficialmente para ministrar cursos a distância. Em termos absolutos, o número de estudantes passou de 309 mil em 2004 para 504 mil em 2005. Desse total, 59,7% estão em cursos de graduação, tecnológico ou de pós-graduação. Os outros 40,3% cursaram EJA (educação de jovens e adultos), Ensino Fundamental, médio ou técnico. O ritmo de abertura de cursos cresceu 473%: em 2004, foram criados 56; em 2005, 321. Entre as principais justificativas estariam a demanda, principalmente dos professores da educação básica sem formação superior; mudança na legislação, que deixou mais claro o processo de credenciamento; o crescimento da banda larga no país; e o fato de a União adotar projetos de longo prazo no setor, como a criação da Universidade Aberta do Brasil. Registre-se que o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância (AbraEAD) é elaborado pelo Instituto Monitor, com o apoio da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED). Os dados do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância de 2006 (AbraEAD, 2007), que se referem a cursos autorizados pelo Ministério da Educação e pelos conselhos estaduais de educação como graduações, pós-graduações, aulas de educação básica, técnica e Educação de Jovens e Adultos (EJA) indicam que o de alunos matriculados em cursos de educação à distância no país cresceu 54% de 2005 para 2006, passando de 504.204 para 778.458. Os dados do Anuário Estatístico de 2007 (AbraEAD, 2008) assinalam que em todo o país existem 972,8 mil os estudantes em todas as áreas de ensino a distância (crescimento de 24,9% comparado ao ano de 2006), desde o antigo supletivo até a pós-graduação, passando por cursos técnicos e de extensão, sendo 727 mil nos níveis de graduação e pós-graduação. Na graduação existem 430 mil alunos, o que representa 45% do montante total. Na graduação e na pós-graduação são 356% de crescimento em quatro anos. Não estão incluídos nesse total os cursos livres e de educação corporativa, que ultrapassa 2,5 milhões.


Isso representa um crescimento de 213% no número de alunos a distância no Brasil no período de 2004 a 2007. Deve-se ressaltar que os dados do Censo de Educação Superior do MEC/INEP (2009) revelam que existem 769 mil alunos nos níveis de graduação e pós-graduação. Os dados apurados pelo INEP/MEC são feitos num espaço temporal diferente. Os dados do INEP/MEC foram realizados no meio do ano de 2008, enquanto os dados do Anuário Estatístico da AbraEAD de 2008 foram realizados no final de 2007. Por sua vez, os dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (MEC/CAPES, 2009), indicam que a rede da UAB conta 74 instituições e 105 mil alunos inscritos no ensino público a distância. Os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2006, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE, 2007), por sua vez, mostram que o percentual dos jovens brasileiros, entre 18 e 24 anos, que conseguem ingressar no ensino superior é muito baixo, o que coloca o Brasil numa posição bastante desconfortável quando comparado com os demais países da América Latina em termos de acesso ao ensino superior. Criação da Universidade Aberta do Brasil A Universidade Aberta do Brasil (UAB), criada no âmbito do Ministério da Educação, em 2005, é parte integrante desse esforço no campo da estruturação de políticas públicas em educação a distância (EaD). Observa-se que o modelo da UAB tem como referência a experiência espanhola da Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), mas não está orientada para reproduzir os modelos da UNED. Tem a UAB, também, uma forte interação com a The Open University (Reino Unido). Assim, o modelo da UAB é um modelo em construção, com ligações com outras experiências internacionais. O programa tem como objetivo a democratização, expansão e interiorização da oferta de ensino público superior e gratuito no país, bem como o desenvolvimento de projetos de pesquisa e de metodologias inovadoras de ensino. Registre-se que, o programa não é uma nova universidade, mas uma nova experiência que congrega o conjunto das atividades das universidades e dos Cefets. A criação da UAB e os estímulos que estão sendo gerados para promover um crescente envolvimento das instituições públicas de educação superior federais, estaduais e municipais com a educação a distância (EaD) são medidas importantes no campo das políticas públicas no país. É a partir dessas políticas públicas de educação a distância que tem início um processo de democratização do acesso à educação continuada. Isso ocorre por meio da oferta de oportunidade de educação da qualidade para pessoas que estão distantes de centros de formação, impossibilitadas de freqüentar os ambientes presenciais e para os tem alguma dificuldade de locomoção. As instituições que participam da UAB são reconhecidas pelo MEC, que ofertam cursos a distância que atendem exclusivamente ao programa UAB. Estas instituições são caracterizadas por universidades (federais, estaduais ou municipais) e Institutos de


Educação Tecnológica - os IFETs. A responsabilidade de requerer as autorizações de funcionamento dos cursos a distância e reconhecimento destas autorizações é destas instituições. Mas é responsabilidade do MEC/CAPES/UAB a seleção dos cursos que farão parte do programa UAB. Esta seleção está associada ao que se chama de articulação, que é o curso a ser ofertado em um determinado pólo. A área de atuação de instituição está associada, em geral, ao seu estado (UF), ou estados próximos. Registre-se que a UAB é um programa ligado à Diretoria de Educação a Distância da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES/MEC). Veja a esse respeito o site: http://www.uab.capes.gov.br/. Projeto Piloto da Universidade Aberta do Brasil No conjunto das ações governamentais para realizar as políticas públicas de educação a distância deve-se ressaltar que o projeto piloto da Universidade Aberta do Brasil recaiu do curso de graduação em administração, em decorrência de suas características e peculiaridades. O curso-piloto teve início em junho de 2006 e deverá ser concluído em dezembro de 2010. Além de um currículo único no país, com duração de quatro anos e meio (nove semestres), observa-se no projeto político pedagógico do citado curso a transformação do binômio ensino/pesquisa em trinômio ensino/pesquisa/prática profissional (MATIAS-PEREIRA, 2008, p. 44-45). Essa inovação visa à integração do estudante no corpo social como elemento ativo, participante na criação do conhecimento. Dessa forma, o aluno deixa de ser um mero receptáculo deste conhecimento.Veja a esse respeito http://www.uab.capes.gov.br. O projeto-piloto do curso conta atualmente com mais de 13 mil alunos, ofertado numa rede de 24 universidades públicas de educação superior (federais e estaduais). Destacamos no quadro 01 as vinte principais instituições públicas de ensino superior que ofertam o curso piloto de Administração no país, as quais possuem mais de 10 mil alunos. O curso utiliza pólos em todo o território nacional para os encontros presenciais. Torna-se importante destacar que as aulas do curso de graduação em administração a distância, conforme definido no projeto político pedagógico do curso, em sua maioria são virtuais (80%) e as restantes são presenciais (20%). Isso vem exigido dos alunos uma forte dedicação ao cumprimento das exigências de aprendizagem dos conteúdos das matérias e tarefas, de forma disciplinada, todos os dias. Especial atenção está sendo dada às avaliações dos alunos e do curso – uma das etapas sensíveis do processo de educação a distância –. Esses esforços visam elevar a qualidade de sua formação acadêmica, o que tem exigido que eles passem por um processo rígido, tanto no ambiente virtual como no presencial (provas). Quadro 01: Principais Instituições Públicas de Ensino Superior Federal e Estaduais que ofertam o Curso Piloto de Administração no Brasil IPES ____________________ ______ UECE UEPB UFAL

Total de Alunos _________ ______ 232 482 500


UFC UFES UFG UFJF UFLA UFMS UFMT UFPA UFPR UFRN UFRS UFSC UFU UFV UnB – Campus UnB – Região Norte UNIVIMA UEMA

248 500 667 378 500 331 500 479 250 592 651 611 580 394 583 482 644

Total 10.200 Fonte: MEC, 2008.

Os resultados das avaliações do curso de graduação em administração feitas no conjunto das instituições públicas de ensino superior – federais e estaduais –, integrantes do consórcio do projeto-piloto da UAB/MEC, demonstram a validade das avaliações feitas para aprimorar o processo de gestão do curso (MATIAS-PEREIRA et al, 2006, MATIASPEREIRA; SANABIO, 2007). Registram-se, por sua vez, algumas limitações do método usado que precisam ser apontadas. Inicialmente, deve ser lembrado que as respostas a questionários possuem alto grau de subjetividade pelo diferente entendimento das pessoas em relação às escalas. Além disso, embora os coordenadores do curso de ADM-EaD tenham muito a contribuir em termos de críticas e sugestões, em muitos casos, eles não têm os conhecimentos e as experiências necessárias. Ficou evidenciado, também, com base nas avaliações do referido curso de graduação em administração a distância, que, a partir de um modelo de gestão adequado, é possível ministrar cursos de graduação de boa qualidade a distância, utilizando novas tecnologias para reduzir as diferenças e criar movimentos significativos de inclusão. Isso está configurando-se nessa rede de 25 universidades – apoiada pelo MEC/UAB e o Fórum das Estatais (Banco do Brasil) –. Esses esforços estão contribuindo de maneira efetiva para a criação de uma nova cultura de educação a distância no meio acadêmico e mostrando que a educação a distância é uma ferramenta essencial para apoiar o novo modelo de políticas públicas de inclusão social por meio da educação no país. Papel do Administrador na Sociedade A formação profissional é caracterizada como um sistema intencional para criar habilitações, tanto quanto possível, permanentes, para os papéis que a sociedade exige na


produção de bens e serviços. A formação profissional aqui assinalada é a que trata da formação escolar ou acadêmica: é o processo que envolve a maioria das profissões, tanto de nível médio como superior, e consiste em um „currículo‟ composto de „matérias‟ ou „disciplinas‟, carga horária com base em pressupostos educacionais, socioeconômicos e filosóficos, envolvendo no processo de aprendizagem/ formação, tanto assuntos teóricos como práticos. A escolha do curso de graduação em administração, como projeto-piloto da UAB/MEC, decorreu da existência de uma significativa demanda e pela relevância do papel do administrador na sociedade, revelou-se adequada. Na definição dessa escolha, não foram encontradas restrições pedagógicas no processo de aprendizagem do aluno e futuro profissional em administração, que poder ser feita por meio de conteúdos que lhes são ensinados em nível presencial ou na modalidade a distância. Nesse sentido, veja a Lei nº. 4.769, de 09 de setembro de 1965, que "Dispõe sobre o exercício da profissão de Administrador e dá outras providências", bem como a legislação complementar. Para cumprir o seu papel, no mundo contemporâneo, o administrador necessita ter uma formação acadêmica de boa qualidade, visto que possui um amplo campo de atuação. Destacam-se, entre essas áreas: a Administração Pública; Administração Financeira; Administração de Material; Administração Mercadológica/Marketing; Administração de Produção; Administração e Seleção de Pessoal/Recursos Humanos/Relações Industriais; Orçamento; Organização e Métodos e Programas de Trabalho e demais campos conexos. Avaliação de Cursos de EAD A relevância da EaD está evidenciada em diversas medidas institucionais que estão em curso na área. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais desenvolveu recentemente instrumentos de avaliação em EaD a partir do referencial de qualidade. Os referidos instrumentos de avaliação do INEP para educação superior a distância inserem-se no ordenamento legal vigente que permitirá operacionalizar o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). O SINAES foi criado pela Lei nº. 10.861, de 14 de abril de 2004 que instituiu a avaliação das instituições de educação superior, de cursos e do desempenho dos estudantes de forma integrada. Homologados pelas portarias do MEC nºs. 1047, 1050 e 1051, de 08 de novembro de 2007, os instrumentos de avaliação serão utilizados pelo INEP para o credenciamento de instituições para oferta de EaD, credenciamento de pólos de apoio presencial e autorização de cursos na modalidade a distância. Essas portarias tratam, respectivamente, da sistemática de credenciamento de instituições para a oferta da modalidade de EaD; credenciamento de pólos de apoio presencial para EaD; e, autorização de cursos para oferta na modalidade de EaD. Convergência Entre Educação Presencial e a Distância O debate sobre o “blended learning”, ou seja, o ensino e aprendizagem semi-presencial revela-se relevante no contexto atual, em termos práticos e acadêmicos. Inúmeros autores,


como por exemplo, Sangrà (2002), Aretio (2004), Matias-Pereira (2008), entre outros, mostram que o caminho da educação passa pela convergência entre o presencial e o virtual, na combinação integrada de tempos e espaços, tornando o currículo flexível. No Brasil temos o limite dos vinte por cento. Outros países estão implantando o ensino semipresencial ou blended learning sem limites legais. Apoiado na extensa literatura científica aqui citada é possível argumentar que a educação presencial e a virtual convergem para se complementarem na medida em que a educação pode apropriar-se das possibilidades de criatividade da educação virtual para melhorar e ampliar os seus processos e ações orientadas para o ensino-aprendizagem. Por sua vez, a educação virtual como sistema se beneficia da metodologia de trabalho educativo e de comunicação, torna-se indispensável para os casos em que a finalidade da relação na rede vai além da simples busca de informação. Observa-se, por sua vez, que inúmeras universidades públicas desenvolveram, nos últimos anos, projetos de ensino aberto com o objetivo de oferecer aos professores das disciplinas de graduação um ambiente virtual para ser usado livremente pelos docentes e alunos como apoio ao ensino presencial. É perceptível, nesses esforços, a crescente utilização do Moodle e do Sloodle como ferramentas para apoio ao ensino presencial, possibilitando dessa forma aumentar a “virtualização” do ensino presencial. Esses projetos representaram uma iniciativa significativa para a expansão do uso de ambientes virtuais. A adesão ao uso dessa tecnologia, entretanto, não ocorreu de forma uniforme entre as diferentes universidades e unidades de ensino. Destacam-se, entre essas instituições, as experiências positivas em curso da Unicamp, UFRJ, UnB, UFSC, UFMT, entre outras. Com base nessas transformações podemos argumentar que no médio prazo os conceitos entre curso presencial e a distância não serão mais os mesmo, visto que não teremos mais cursos presenciais puros (SANGRÀ, 2002a, ARETIO, 2009). Os modelos de gestão das universidades, também, terão que ser redefinidos, com vista a se ajustarem a essas mudanças na organização dos processos de ensino-aprendizagem. A crescente flexibilização que será exigida para os novos cursos, a forma de utilização dos tempos, espaços, gerenciamento, interação, metodologias, tecnologias, avaliação não serão mais as mesmas. Essa nova concepção de educação irá exigir profundas modificações institucionais e culturais na gestão e nos projetos político-pedagógicos dos cursos, na concepção das aulas, na utilização de técnicas, de comunicação e de pesquisa nas universidades. Nesse sentido, as áreas envolvidas com a educação a distância nas instituições de ensino superior têm um papel essencial nessas mudanças. Isso deve ser feito por meio da intensificação da atração e envolvimento das direções e grupos de professores das faculdades, institutos e departamentos no esforço de facilitar essa interação entre a educação presencial e o virtual. Considerações finais Observa-se, no mundo contemporâneo, que as mudanças de paradigmas no campo das tecnologias de informação e comunicação estão refletindo de forma intensa na sociedade mundial, em particular na geração de novas possibilidades na definição de políticas públicas de educação. Assim, a partir da nossa preocupação em analisar as limitações e as


possibilidades da educação superior a distância, apoiada na utilização intensiva das tecnologias de informação e comunicação (TICs), no contexto das novas políticas públicas de educação, como instrumento de inclusão social no Brasil, torna-se possível argumentar: Ficou razoavelmente evidenciado nesta análise que a EaD, em que pese o país ainda possuir diversas deficiências de recursos humanos, infra-estrutura e de tecnologias de informação e comunicação, se apresenta como uma ferramenta importante no processo de construção de políticas públicas de educação no país. A utilização da ferramenta de EaD tem se mostrado válida num país de perfil continental e marcado pela diversidade, em um contexto onde a aprendizagem continuada passou a fazer parte na vida das pessoas. Ficou razoavelmente evidenciado que a EaD, em que pese ainda possuir diversas deficiências de recursos humanos, infra-estrutura e tecnologias, se apresenta como uma ferramenta importante no processo de construção de políticas públicas de educação superior no país, e dessa forma, contribuindo para uma crescente inclusão social no país. Observa-se que o crescente aumento da importância da EaD tem contribuído para elevar a tensão entre os paradigmas presentes na educação brasileira. O uso das novas tecnologias de informação e comunicação está provocando uma metamorfose intensa nas relações humanas, em especial no campo da educação, reforçando a idéia de que as IES devem se adequar às necessidades das diversas camadas da população, entre elas o uso de mídias e de novas práticas docentes (LÈVY, 1993, p. 7). No contexto dessas transformações, que estão impactando em diferentes níveis da vida social, provocando assim profundas mudanças econômicas, sociais, políticas, culturais, ambientais, entre outras. Como não poderia deixar de acontecer, também estão afetando as escolas e o exercício profissional da docência. O avanço e utilização de novas tecnologias comunicativas, segmento onde o acesso tende a se tornar cada vez mais barato, aliado a uma crescente necessidade de formação e educação da cidadania, são fatores que contribuem para a viabilização da educação a distância no Brasil. O uso intensivo das novas tecnologias - caracterizadas pela interatividade e pela sua capacidade de uso individualizado -, permite-nos argumentar que o processo de aprendizagem continuada passou a fazer parte na vida das pessoas e cabe a escola repensar seus valores para capacitar o aluno a aprender qualquer assunto que lhe interessa. O ensino a distância apresenta-se como uma ferramenta importante no contexto desse novo paradigma, visto que pode atender um grande universo de pessoas dispersas geograficamente, além de permitir a atualização constante das informações, em especial, por meio da Internet. A utilização das tecnologias da informação e da comunicação, entretanto, exige do aluno habilidades específicas, como por exemplo, saber acessar e organizar informações. O mero acesso a informação não garante por si só a construção de conhecimentos. Dessa forma, pode-se argumentar que o caminho mais importante para a construção do conhecimento é a consciência do indivíduo sobre seu próprio processo como aprendiz. As evidências constatadas neste estudo revelam que, para viabilizar-se a EaD, apoiada nas novas TICs, necessita superar inúmeros obstáculos, entre os quais destacamos os seguintes: permitir ou ampliar o acesso; implementar um sistema educacional mais personalizado; elevar a flexibilidade dos sistemas de estudo; produção de materiais e contextos mais


interativos; equilibrar a personalização com a cooperação; e a busca permanente da qualidade do ensino-aprendizagem. Revelou também, que a educação a distância e a educação presencial não devem ser vistas como formas de educação antagônicas, mas entendidas como modalidades diferenciadas, com peculiaridades e características específicas, que não são excludentes. Concluímos que a ampliação das ações do Estado brasileiro, em termos de estímulos governamentais e de desenvolvimento de pesquisas, exige medidas criativas e inovadoras no campo das políticas públicas de educação superior, com ênfase em recursos humanos, infra-estrutura e investimentos em novas tecnologias de informação e comunicação, para dessa forma, viabilizar uma crescente inclusão social no país. Referências ARETIO, L.G. Educación a Distancia hoy. Madrid: Uned, 1996. ARETIO, L.G. Saberes en la Educación a Distancía. Cátedra Unesco de Educación a Distancia. Editorial del BENED. Boletín Electrónico de Noticias de Educación a Distancia – UNED - España. Nº. 210, 21 enero 2009, pp. 1-7. http://www.uned.es/catedraunesco-ead/editorial/p7-1-2009.pdf ABED. Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância. São Paulo: Monitor, 2006. ABED. Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância. São Paulo: Monitor, 2007. ABED. Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância. São Paulo: Monitor, 2008. BAKER, D. Inequality across societies: families, schools and persisting stratification. 1st ed. Amsterdam - London: JAI, 2004. BECKER, F. O que é Construtivismo? São Paulo: FDE; 1994, p. 87-92. BECKER, G. Human Capital: A Theoretical and Empirical Analysis with Special Reference to Education. New York: Columbia University Press, 1975.

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Estratégias para implantação de um sistema de educação à distância: um estudo de caso no âmbito de uma empresa de energia no Estado do Paraná Strategies for a long-distance learning system implantation: a case study in an energy company environment in the State of Paraná Estrategias para la implementación de un sistema de educación a distancia: un estudio de caso en el contexto de una empresa de energía en el Estado de Paraná Nivaldo Pereira da Silva1 Mayara Cristina Ghedini da Silva2 Kazuo Hatakeyama3 Antonio Carlos de Francisco4 RESUMO O presente artigo tem como objetivo avaliar a implantação da Educação a Distância (EaD) como metodologia de educação continuada em uma empresa do ramo de energia no Estado do Paraná. Na primeira parte do trabalho é apresentada uma revisão de literatura sobre Ensino e Educação a Distância, a partir das diversas definições de EaD ao longo do tempo de vários especialistas sobre o tema. Na segunda parte da pesquisa, o artigo busca demonstrar a viabilidade para a implantação de EaD em uma organização, apresentando as várias etapas do programa, incluindo disponibilidade física, recursos humanos, retorno do investimento, e os resultados obtidos com a implantação.

Palavras-chave: Educação à distância; Aprendizagem; Recursos humanos; Organização; Retorno do investimento.

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Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa - Mestrando em Engenharia de Produção - nivaldopsilva@ig.com.br 2 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa - Pós-graduanda em Gestão Industrial – Produção e Manutenção - mayara_ghedini@hotmail.com 3 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa - Pós-doutor em Engenharia Mecânica hatakeyama@utfpr.edu.br 4 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa - Doutor em Engenharia de Produção acfrancisco@utfpr.edu.br


ABSTRACT The present article has as its objective to evaluate the implantation of the Long-Distance Learning (LDL) as a continued education methodology in an energy company in the State of Paraná. In the first part of the work, a revision of literature about Long-Distance Learning and Education is presented, from diverse LDL definitions made though the years by many specialists on the subject. In the second part of the research, the article tries to demonstrate the viability of the LDL implantation in an organization, presenting the several program stages, including physical availability, human resources, investment return, and the results obtained with the implantation. Key Words: Long-distance learning; learning; e-learning implantation, organization and investment return. RESUMEN El artículo tiene como objetivo evaluar la aplicación de Educación a Distancia (EAD) como un método de educación continua en el negocio de la energía de una empresa en el Estado de Paraná. La primera parte del trabajo presenta una revisión de la literatura sobre la enseñanza y la educación a distancia, a partir de las diversas definiciones del EAD en el tiempo de diversos expertos sobre el tema. La segunda parte de la investigación, el artículo demuestra la viabilidad de la implantación del EAD en una organización, que muestra las diferentes etapas del programa, incluyendo la disponibilidad de recursos físicos, humanos, retorno de la inversión, y los resultados obtenidos con la aplicación. Palabras claves: Educación a Distancia, Aprendizaje, Recursos Humanos, Organización, Retorno de la inversión.

1. Introdução No panorama atual da economia mundial, a sociedade vivencia um ambiente de permanentes mudanças. Mudança em todos os setores seja no meio ecológico ao meio social, do mundo cultural ao mundo do trabalho, do mundo do lazer ao mundo empresarial. A sociedade da informação traz modelo de economia como produtividade, qualidade e cria novos caminhos para o desenvolvimento, exigindo uma postura diante das mudanças sociais. Gerar, obter e aplicar conhecimento passa a ser item básico para o enfrentamento dessas mudanças. Assim, observa-se a evolução constante em vários aspectos da sociedade do


conhecimento, principalmente amparados pela tecnologia de informação e comunicação (TIC). Hoje, o mercado exige dos trabalhadores uma qualificação constante, eficiência na utilização da tecnologia, para proporcionar o crescimento profissional, numa formação fundamental que lhe permita interagir com a tecnologia oferecida pelo mercado de trabalho. O computador é um instrumento para a otimização do trabalho e produtividade, o trabalhador contemporâneo tem basicamente a necessidade de acompanhar a evolução crescente das informações disponíveis. Esta evolução se revela por um constante avanço da melhoria tecnológica e, por conseqüência, um aumento da qualidade e dos resultados de produção. Nota-se que este aumento se dá em decorrência da transição tecnológica por que o mundo está passando. Outro fator primordial para o aumento da qualidade e da produção está diretamente ligado às necessidades de qualificação pessoal para acompanhar as exigências técnicas e mercadológicas da atualidade. A qualificação técnica torna-se também fundamental para a atuação do trabalhador. Este trabalho tem por objetivo central avaliar a implantação da Educação à Distância (EaD) como metodologia de educação continuada em uma empresa do ramo de energia no Estado do Paraná.

2. EaD ao longo do tempo Os cursos por correspondência do Instituto Universal Brasileiro e os Telecursos de 1º e 2º Graus da Fundação Roberto Marinho representaram sinônimos de Educação à Distância (EaD) no Brasil, até quase o final do século XX. Porém, essa percepção mudou em meados da década de 90, a partir da disseminação da Internet, pela rede mundial de computadores, que trouxe consigo um item fundamental para o processo de ensino aprendizagem à distância: a interatividade (CHEONG, 2002; DE LUCA, 2002). As várias literaturas abordam as conceituações de EaD, mas indicam a falta de um senso comum sobre o assunto. Porém, o conceito fundamental de EaD é bastante simples: estudante e professor encontram-se separados fisicamente e na maioria das vezes, também, temporalmente. Às vezes o significado de uma definição é efetuado pela negação, ou por tudo que educação à distância NÃO é. Outras vezes o sentido de uma definição se dá por meio de alguma característica própria. Enfim, os pontos de vista são claros e todos passíveis de questionamentos e análises. Essas definições e conceitos ao longo do tempo devem ser vistas


como um sinal de que ainda não há um consenso pré-estabelecido sobre o tema Educação à Distância. George Dohmen (1967) apud Keegan (1996, p.41): Educação à distância é uma forma sistematicamente organizada de auto-estudo, onde o aluno se instrui a partir do material que lhe é apresentado; onde o acompanhamento e a supervisão do sucesso do aluno são levados a cabo por um grupo de professores. Isto é possível graças à aplicação de meios de comunicação capazes de vencer essa distância. O oposto da educação à distância é a educação direta ou educação face-a-face: um tipo de educação que tem lugar com o contato direto entre professores e alunos. Michael Moore (1972): O ensino à distância é o tipo de método de instrução em que as condutas docentes acontecem à parte das discentes, de tal maneira que a comunicação entre o professor e o aluno possa ser realizada mediante textos impressos por meios eletrônicos, mecânicos ou por outras técnicas. Börge Holmberg (1977): A expressão EaD cobre as distintas formas de estudos em todos os níveis que não se encontram sob a contínua e imediata supervisão dos tutores presentes com seus alunos na sala de aula, mas, não obstante, beneficiam-se do planejamento, orientação e acompanhamento de uma organização tutorial. Charles A. Wedemeyer (1981) apud Landim (1997): É uma modalidade de educação onde o aluno está à distância do professor grande parte do tempo, durante o processo de ensino-aprendizagem. Para M. L. Ochoa (1981) apud Landim (1997, p. 29): Um sistema baseado no uso seletivo de meios instrucionais, tanto tradicionais quanto inovadores, que promovem o processo de auto-aprendizagem, para obter objetivos educacionais específicos, com um potencial de maior cobertura geográfica que a dos sistemas educativos tradicionais presenciais. Otto Peters (1983): O ensino/educação à distância é um método de transmitir conhecimentos habilidades e atitudes, racionalizando, mediante a aplicação da divisão do trabalho e de princípios organizacionais, assim como o uso extensivo de meios técnicos, especialmente para o objetivo de reproduzir material de ensino de alta qualidade, o que torna possível instruir um grande número de alunos ao mesmo tempo e onde quer que vivam. É uma forma industrial de ensinar e aprender. Para Guédez, (1984): Educação à Distância é uma modalidade mediante a qual se transferem informações cognitivas e mensagens formativas através de vias que não requerem uma relação de contigüidade presencial em recintos determinados.


France Henry (1985): A formação à distância é o produto da organização dos quais se serve o aluno de forma autônoma e seguindo seus próprios desejos, sem que lhe seja imposto submeter-se às limitações espaço-temporais, e nas relações de autoridade da formação tradicional. Ibañez (1986): o ensino à distância é um sistema multimídia de comunicação bidirecional com o aluno afastado do centro docente e ajudado por uma organização de apoio, para atender de modo flexível à aprendizagem de uma população massiva e dispersa. Este sistema somente se configura com recursos tecnológicos que permitam economia de escala. Dereck Rowntree (1986): Por educação à distância entendemos aquele sistema de ensino em que o aluno realiza a maior parte de sua aprendizagem por meio de materiais didáticos previamente preparados, com um escasso contato direto com os professores. Ainda assim, pode ter ou não um contato ocasional com outros alunos. Moore (1990): EaD é uma relação de diálogo, estrutura e autonomia que requer meios técnicos para mediatizar esta comunicação. Jaime Sarramona (1991) apud Nunes (1992): Educação à distância é uma metodologia de ensino em que as tarefas docentes acontecem em um contexto distinto das discentes, de modo que estas são, em relação às primeiras, diferentes no tempo, no espaço ou em ambas as dimensões ao mesmo tempo. Lorenzo Gracia Aretio (1994): O ensino à distância é um sistema tecnológico de comunicação bidirecional, que pode ser massivo e que substitui a interação pessoal, na sala de aula, de professor e aluno, como meio preferencial de ensino, pela ação sistemática e conjunta de diversos recursos didáticos e pelo apoio de uma organização e tutoria que propiciam a aprendizagem independente e flexível dos alunos. J. Perriault (1996): Educação à distância é um termo genérico que inclui o elenco de estratégias de ensino e aprendizagem referidas como educação por correspondência, ou estudo por correspondência em nível pós-escolar de educação, no Reino Unido; como estudo em casa, no nível pós-escolar, e estudo independente, em nível superior, nos Estados Unidos; como estudos externos na Austrália; e como ensino à distância ou ensino a uma distância, pela Open University. Na França é referido como tele-ensino ou ensino à distância; e como estudo à distância e ensino à distância, na Alemanha; educação à distância, em espanhol, e teleeducação, em português. Para Kreiner (2002) a EaD é vista como: Sistema de comunicação bidirecional; Recursos para proporcionar a instrução; Modalidade alternativa de ensino; Sistema tecnológico de comunicação maciça e bidirecional; Modelo pedagógico; Prática educativa


mediatizada; Forma pedagógica; Modalidade alternativa de educação; Meio para o ensino; Educação alternativa. Belloni (2001), com exceção de Peters, que invoca o aspecto econômico, as definições são descritivas e definem EaD pelo que ela não é, ou seja, a partir da perspectiva do ensino convencional da sala de aula. Portanto nota-se pelas definições apresentadas a complexidade da questão e a falta de unanimidade em torno do assunto. Alguns autores citam “qualificação à distância”, principalmente quando se referem a cursos voltados para o ambiente corporativo e empresarial, onde o foco é a melhoria do desempenho da produtividade do colaborador, utilizando-se dos meios eletrônicos e “virtuais”, agregando valor para empresa. Corroborando com o pensamento dos diversos autores, pode-se salientar que EaD representa um subconjunto de todos os programas educacionais caracterizados por uma grande estrutura com baixo diálogo e grande distância transacional, incluindo também a aprendizagem. A integração dos recursos tecnológicos deve ser disponível com os métodos a serem utilizados, este alinhamento deve ser um recurso mediador no processo de aprendizagem na utilização da Educação e Ensino à distância. Portanto, o participante precisará das tecnologias para ter um nivelamento que lhe possibilite a obtenção de resultados satisfatórios no processo de EaD.

3. A educação à distância no processo de aprendizagem Atualmente, devido ao avanço das tecnologias de comunicação tornou-se possível fornecer cursos à distância que reflitam as necessidades de aprendizagem permanente de uma organização, contribuindo na formação dos colaboradores nas diversas áreas. O ensino à distância ou educação à distância (EaD), está cada vez mais evidente, e sendo utilizado como ferramenta no ensino aprendizagem onde as ações do professor e do aluno estão separadas no espaço e/ou no tempo. Este tipo de ensino toma maior proporção entre a população, que busca educar-se ou atualizar-se profissionalmente devido às rápidas mudanças e transformações em todos os campos do saber. A grande vantagem do EaD segundo LAMPERT (2000, p.12) é democratizar a educação, propiciando sem distinção de idade, raça, ideologia ou classe social, a oportunidade de completar escolaridade, reciclar e/ou atualizar-se para enfrentar os desafios do cotidiano”.


Mas questiona se essa intenção realmente é cumprida na conjuntura atual, dizendo que a educação à distância tem muitas vantagens, mas também “severas limitações, que precisam ser avaliadas, analisadas e redimensionadas para o êxito dessa modalidade de ensino aprendizagem, para então ser capaz de aumentar as possibilidades de estudos da população brasileira. Para Gundry (2003) EaD é um sistema de organização dos processos de aprendizagem que leva em conta três aspectos no seu contexto. São eles: os meios a serem utilizados, considerando que o aluno ou aprendiz deva ter um retorno eficiente e eficaz às suas dúvidas e anseios; os materiais didáticos, considerando que eles farão parte da análise e produção do conhecimento nas áreas da formação que se proponha fazer; a necessidade de serem interativos e propiciarem o diálogo necessário no processo e; o sistema de acompanhamento e avaliação, compreendendo que o aluno deva ter uma assistência sistemática, não caracterizando seu processo de estudos como um processo na distância, por isso isolado e solitário, mas que ele venha a se sentir incluído e participante nos percursos de sua formação. Segundo Preti (1998), quando se fala de educação, refere-se a todos os aspectos da vida que ela abrange: as relações pessoais, sociais, políticas, com a natureza e com o ambiente. Esta compreende e dissolve em tudo. É parte do todo, é o todo. Por que, então, colocamos adjetivos de “educação ambiental, educação sexual, educação para o trânsito, educação para a paz ou educação à distância” ? Aposta-se um ou outro aspecto, porém correse o risco visar em demasia o secundário, portanto, quando se fala de Educação à Distância, não devemos centrar nosso foco na “distância”, e sim nos processos educativos, numa abordagem contextualizada e mais completa (MORIN, 1999). Para Cardoso e Pestana (2001), a definição de “educação à distância” também parte do princípio de que a informação ou fonte de conhecimento encontra-se separada do aluno ou do professor em tempo e/ou espaço. Neste contexto, os autores definem dois meios para a EaD: a) unidirecional, quando se dispõe de uma única via para a transmissão da informação para o aluno, por exemplo: livro, vídeo, televisão, multimídia, dentre outros; b) bidirecional, quando se dispõe de duas vias, uma destinada à transmissão da informação para o aluno, e outra à interação aluno-professor, devendo tal interação ser utilizada para o monitoramento do aprendizado do aluno, respondendo a dúvidas, desenvolvendo exercícios, trabalhos e atividades. Tem-se como exemplos, neste caso, correio, telefone, Internet, dentre outros.


O repasse de conhecimento e informações com resultados concretos quanto ao aprendizado esperado pode ser feito com eliminação do deslocamento do discente até a sala de aula, menor custo envolvido, aumento da conveniência e flexibilidade de horário.

4. Implantação do e-learning Muitas organizações restringem o fornecimento da educação aos colaboradores por meio de cursos presenciais, devido ao tempo despendido em sala de aula. Saliente-se que o principal indicador de análise do desempenho educacional nas organizações são os números de horas desenvolvidos nesta atividade, ou ainda, a quantidade de pessoas treinadas. Desenvolver uma visão estratégica para a qualificação dos colaboradores por meio do E-learning, é um caminho a ser adotado pela organização. Porém, para que isto aconteça fazse necessário uma quebra de paradigma na cultura organizacional, um formato novo de qualificação aos colaboradores, para uma sinergia de comportamento para o sucesso da empresa (JUNQUEIRA e VIANNA, 1999). Nesta linha de pensamento na organização, é necessário envolver a alta direção da empresa para consolidar as estratégias de implantação do e-learning, tendo como foco principal a preparação dos colaboradores para esta nova realidade (JUNQUEIRA e VIANNA, 1999). Eboli (2001) salienta que as novas tecnologias aplicadas à educação permitem que as pessoas aprendam mais, como melhor nível de aproveitamento, mais rapidamente e assim se tornem mais competentes para o desenvolvimento de suas funções. A autora oferece algumas questões importantes a serem verificadas no processo de implantação da EaD. Avaliar se a organização está preparada para os programas de treinamento, desenvolvimento e educação por meio do e-learning: a) A quantidade de pessoas a serem qualificadas é expressiva? b) As pessoas estão dispersas geograficamente? c) Existem gastos com estadia para as pessoas que efetuaram a qualificação? d) Existem equipamentos disponíveis para o desenvolvimento da qualificação dos colaboradores na organização, tais como: computadores e tecnologia? e) Os conteúdos a serem abordados estão diretamente ligados a habilidades comportamentais ou técnicas? f) A qualificação requer objetos físicos e equipamentos? g) Existem computadores disponíveis para os colaboradores nos seus locais de trabalho?


h) A alta direção da empresa vê a aprendizagem virtual como uma oportunidade de crescimento dos colaboradores? i) Como são as avaliações computerbased training – treinamento baseado no computador? j) Qual a percepção dos colaboradores sobre a tecnologia usada na qualificação? Corroborando com o pensamento acima, Hall (2001) afirma que é necessário um exame minucioso nos pacotes de cursos disponíveis no mercado, que busquem atender às estratégias organizacionais, e se existe um prazo para a introdução do curso, principalmente na fase de desenvolvimento do e-learning, que sempre é demorada. Durante a etapa de implantação do e-learning, se for detectado que a empresa não tem um preparo tecnológico, faz-se necessária uma estratégia para implantar algum curso que atenda a um número significativo de colaboradores, um grupo ou uma área específica. Para Rosenberg (2002, p. 29) uma verdadeira estratégia de e-learning certamente aborda questões de cultura, liderança, justificativa, organização, talento e mudança. O autor cita determinadas estratégias de e-learning o que vem a ser chamado de base estratégica para o e-learning: novas metodologias de e-learning: treinamento on-line (para instrução) e gerenciamento do conhecimento (para informação); arquiteturas do aprendizado; equilíbrio entre e-learning e outras metodologias, inclusive o treinamento presencial; infraestrutura: os recursos tecnológicos para fornecer e gerenciar o e-learning; cultura do aprendizado, propriedade do gerenciamento e gerenciamento da mudança: a criação de um ambiente organizacional que estimule o aprendizado e o apoio gerencial no processo; caso comercial sólido: uma justificativa comercial sólida que apóie o e-learning: reinvenção da empresa de treinamento: a adoção de um modelo organizacional e de negócio que apóie o crescimento do e-learning. Para Hall (2001) existem seis etapas importantes para a implantação do e-learning: 1) Preparação para o e-learning na organização: para se obter os benefícios com a implantação do e-learning é imprescindível uma análise e um planejamento criterioso. Assim, torna-se necessário definir as barreiras que a empresa precisa sobrepujar na implementação do e-learning. O autor faz referência a três questões importantes na preparação para o e-learning: a) Selecionar as dimensões a serem consideradas: dirigentes, stakeholders, conteúdo, tecnologia e aprendizes; b) Identificar os principais ativos e barreiras para cada dimensão; c) Considerar as estratégias de implantação: desenvolver uma estratégia para alinhar o elearning à visão de negócios e objetivos da empresa.


2) Desenvolvimento da estratégia: Nesta etapa o autor descreve três distintos caminhos para o desenvolvimento das estratégias, correlacionando-as com a experiência da organização. - Nível 1: organização com pouca ou sem nenhuma experiência com e-learning: deve buscar soluções que atendam os benefícios de acesso à informação, de forma hábil e flexível; - Nível 2: a organização já implantou dois ou mais cursos de e-learning: arquitetar iniciativas onde o conteúdo seja mais otimizado, e que possa trabalhar habilidades práticas através do uso de simulações; - Nível 3: a organização já implantou dois ou mais cursos de e-learning, onde o foco é sanar problemas e encontrar soluções baseadas em simulações: desta forma busca utilizar estratégias de colaboração por meio de grupos virtuais de trabalho, que gerem necessidades reais para os aprendizes. 3) Seleção da tecnologia e conteúdo: a organização deve buscar soluções que atendam o LMS (learning management systems – sistema de gestão do aprendizado), um instrumento voltado para o controle e gerenciamento das qualificações despendidas aos colaboradores. Este instrumento registra usuários, cursos, interações, etc e também fornece relatórios, avaliações on-line, personalização e outros recursos para gestão do ambiente virtual e presencial. O autor faz referência principalmente à etapa da escolha do conteúdo. Assim, a organização deve definir se almeja construir ou adquirir o conteúdo de uma empresa especialista. Importante considerar alguns aspectos tais como: custos, riscos e esforços envolvidos. 4) Venda do e-learning para todos na organização: é de vital importância a aceitação do programa de e-learning pela alta direção e principalmente pelos colaboradores. É necessário repassar as informações aos empregados sobre os programas a serem desenvolvidos pela organização como forma de familiarizar e estruturar a qualificação. Existem organizações que utilizam cursos semipresenciais para disseminar as informações e instituir paulatinamente o elearning como forma de aceitação. 5) Implementação plana na organização: necessária uma análise criteriosa dos futuros cursos on-line que serão oferecidos aos colaboradores. Determinar a estratégia de conexão entre elearning, sala de aula e outras possíveis metodologias é uma questão fundamental na etapa de desenvolvimento de um projeto de e-learning. 6) Mensuração dos benefícios do negócio. O autor salienta que se faz necessário um instrumento ou método para analisar e criar parâmetros de medidas para avaliar o impacto do e-learning no desempenho, na competência do capital intelectual e para amparar as iniciativas de e- learning na organização.


Estas medidas são necessárias na implantação, pois serão base para os futuros cursos de qualificação, e principalmente uma análise direta no impacto dos negócios.

5. Metodologia Esta pesquisa consiste em um estudo de caso da implantação da EaD na empresa de energia do Estado do Paraná. A execução da pesquisa ocorreu em duas etapas. Na primeira etapa, foi feita uma análise da literatura disponível. Na segunda etapa foram direcionadas para análise sobre a implantação da EaD na empresa, pelo seu testemunho histórico de fatos presenciados, considerados importantes para a reconstrução do processo investigado. Para a concretização da investigação, a revisão de literatura de caráter qualitativo buscou analisar os conceitos e informações de como uma empresa pode adotar a EaD como estratégia de seus negócios, para atender às necessidades de capacitação profissional dos colaboradores da empresa. Para Andaloussi (2004) a pesquisa ação busca diagnosticar uma situação, acompanhála, observá-la, conferir-lhe sentido, avaliando-a e incitando-a a desencadear novas ações. A pesquisa permite analisar uma situação importante, esclarecendo o significado do comportamento das diferentes ações, e também a participação direta do pesquisador. Segundo YIN (2001), o método qualitativo é utilizado pelo pesquisador para que este tenha a sua percepção e, conseqüentemente, entendimento sobre os contextos histórico, social e cultural. Desta forma o pesquisador torna-se um narrador inconteste da realidade, por meio de levantamento bibliográfico, observação e entrevista com pessoas que tiveram conhecimentos práticos com o tema pesquisado. O cruzamento das informações possibilita ao pesquisador um ajuste do tema. Neste contexto, destaca-se o papel do pesquisador que não se contenta em apenas produzir o conhecimento, mas passa a interagir com os atores para produzir os resultados esperados na pesquisa.

6. A empresa em estudo O estudo de caso é uma proposta de implantação de EaD em empresa de grande porte, que explora o ramo de energia no Estado do Paraná. Por questões de política interna, não foi permitida a divulgação de seu nome, então se optou por nomeá-la como Empresa Alfa. A empresa Alfa conta em seu quadro com 8270 funcionários distribuídos entre operacional, administrativo, técnicos e profissionais. A empresa em questão atende 393 municípios, com 3.455.775 consumidores.


Conforme Arbaugh (2001) a educação à distância é um recurso de incalculável importância como modo apropriado para atender a grandes contingentes de alunos, de forma mais efetiva que outras modalidades, e sem riscos de reduzir a qualidade dos serviços oferecidos, em decorrência da quantidade de treinandos. A empresa Alfa distribui a verba para a qualificação organizacional nos programas e projetos institucionais, levando-se em consideração: a) Diagnóstico de necessidades de desenvolvimento. b) Levantamento de necessidades de treinamento (obrigatório). c) Programas e projetos definidos pela Companhia. A organização tem o compromisso de aplicar os conteúdos de qualificação aos colaboradores para que os mesmos desenvolvam as suas habilidades e competências, e o compartilhamento do conhecimento adquirido. A demanda de qualificação e desenvolvimento é atendida prioritariamente, devido às estratégias da organização. A organização dá enfoque na utilização de instrutores e recursos próprios na qualificação dos colaboradores. Estrutura de Funcionamento do projeto EaD: ter uma estrutura dinâmica de qualificação e desenvolvimento do participante, alinhada às diretrizes e estratégias da organização, com vistas à formação, aperfeiçoamento e desenvolvimento profissional dos empregados, bem como a disseminação do conhecimento para retenção do capital intelectual. O diagnóstico das necessidades, a indicação para treinamentos e a criação de condições para aplicação das aprendizagens adquiridas são pressupostos inerentes às funções gerenciais. Administração do programa de EaD: as ações de qualificação e desenvolvimento são de caráter organizacional, onde a economicidade, a relação custo-benefício e o retorno em qualidade e produtividade são vetores principais da organização, ressalvado as exigências legais da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e as pedagógicas mínimas, cabíveis no processo aprendizagem. Ambiente de aprendizagem: No âmbito de aprendizagem virtual, a empresa Alfa disponibiliza os TIC’s para o desenvolvimento dos colaboradores. Este ambiente permite aos usuários uma interação satisfatória com auxílio dos meios de rede da organização. Custos e investimentos: o custo e o investimento para a implementação do projeto EaD é uma das estratégias da organização, e soluções tecnológicas escolhidas. O ambiente de aprendizagem e a modelagem da estrutura de ensino influenciarão neste custo. As verbas são definidas e destinadas para a qualificação e desenvolvimento dos empregados da organização, sendo gerenciado pela Superintendência de Recursos


Humanos/Departamento de Treinamento e Desenvolvimento de Recursos Humanos – SRH/DTRH. Após a disponibilização da verba, a organização realiza um estudo para definir o investimento necessário ao projeto de qualificação dos colaboradores. O custo da implementação poderá variar em função de vários itens, tais como: Verba institucional: verba para ações de qualificação e desenvolvimento, sendo de interesse geral da organização, identificando nas estratégias da organização as necessidades imediatas para qualificação e desenvolvimento dos colaboradores. Verba específica: verba destinada à participação de colaboradores em qualificação e desenvolvimento externos (cursos, aperfeiçoamentos, treinamentos especializados) vinculados às estratégias organizacionais, acompanhado pelo SRH/DTRH e disponibilizadas para as diretorias, superintendências e coordenações.

6.1 Gestão de pessoal no programa de EaD A EaD é um método relativamente de baixo custo, onde a tecnologia é apenas utilizada para repassar informações a um número ilimitado de pessoas. Importante salientar que o custo de implementação de um curso de EaD, que atenda aos requisitos de qualidade da organização, poderá ser 3 a 4 vezes mais caro do que o presencial. Note-se que apesar da qualidade ser um valor alto, existe a possibilidade de reutilização do curso de qualificação por diversas vezes, o que leva a uma economia para a organização. O custo inicial para a implantação do programa de EaD deverá ser definido em função total da organização. No contexto atual, existe a necessidade de valorizar a EaD como forma de disseminar e compartilhar o conhecimento tácito em todas as áreas da organização. Inicialmente EaD não se mostrou um processo de grande valia para os colaboradores, porém os participantes descobriram as diversas probabilidade de interação. Com a aprendizagem colaborativa após o fim do curso espera-se uma cultura ativa de liderança e capacidade de gerenciamento, com excelentes resultados para organização nas suas atividades fins.

6.2 Implantação (plano de ação) A estrutura física para a implementação do programa de EaD constitui importante elemento neste processo. Assim, no mês de maio de 2008, a Empresa Alfa, iniciou uma programação de 2 (dois) cursos adquiridos junto a uma Empresa de consultoria aqui denominada Empresa Beta.


Tendo por objetivo a atualização dos conhecimentos dos colaboradores, sobre Normas Regulamentadoras 10 (NR-10) com vistas à segurança em instalações e serviços em eletricidade, e Sistema Elétrico de Potência (SEP), na modalidade educação à distância via internet. A organização utilizou na abrangência da estrutura da tecnologia de informação para a implantação do projeto de EaD, o acesso à Internet e Intranet que já estavam disponíveis, bem como a estrutura da rede de computadores, e sistema de correio eletrônico existente na organização. Na etapa de implementação do curso adquirido junto à empresa Beta, observa-se que a plataforma oferece diversas ferramentas de administração e controle, tais como: a) Cadastro: a equipe da empresa Beta cadastrou os colaboradores (alunos) que efetuaram o curso, dividindo-os em turmas. O acesso é controlado por um login e uma senha. b) Controle do curso: o controle do andamento do curso é feito de forma que possibilita ao participante verificar o seu desenvolvimento, por meio de estatística. c) Tutoria: a plataforma permite a seleção de tutores/professores para todos os cursos disponíveis, pois a empresa Beta disponibiliza um tutor auxiliar. d) Relatórios: dispõe ainda de uma ampla variedade de relatórios para o acompanhamento do curso, da freqüência de acesso dos alunos à plataforma (Relatório de freqüência de alunos por turma) e) Controle de avaliações: a equipe pode avaliar uma turma e disponibilizar as notas dessa avaliação. f) Controle das ferramentas de colaboração: a equipe coordena a utilização dessas ferramentas para o bom aproveitamento delas no curso, fixando horários dos chats, colocando avisos no quadro, moderando os fóruns, etc. g) Controle das ferramentas de comunicação: da mesma forma a equipe mantém a agenda atualizada, assim como pode enviar mensagens aos profissionais do curso, bem como aos produtores do curso para solicitar o apoio necessário. h) Controle das ferramentas de apoio: a equipe tem como responsabilidade a manutenção e atualização das ferramentas de comunicação. O programa de qualificação dos colaboradores via EaD foi implantado de forma gradativa, com oferecimento de cursos pilotos semi presencial, onde foram avaliados os procedimentos de implantação. As ações de melhoria contínua se fizeram necessárias para efetivação e implantação do programa de Educação e ensino à Distância no âmbito da organização


a) Elaboração de um estudo de necessidade de qualificação/capacitação dos colaboradores em todas as áreas da organização. b) Identificar as qualificações necessárias aos colaboradores, e que estejam em consonância com as estratégias da organização. c) Estudo da capacidade dos TI’s para atender à demanda (Internet, e-mail entre outros). d) Analisar o quanto à área de informática poderá contribuir para o programa (Desenvolvimento, suporte e estrutura tecnológica). e) Definir o ambiente de aprendizagem a ser utilizado. f) Definir parcerias para o programa a ser utilizado.

7. Considerações finais Após a realização do primeiro curso de qualificação na modalidade educação à distância via internet foi possível observar os itens que foram executados, os que por motivos diversos não aconteceram e os que necessitam de melhoria de forma significativa na continuidade do curso de qualificação. Para atender à exigência legal do Ministério do Trabalho (sobre a Norma - NR-10), que visa proteger os trabalhadores que interagem com instalações elétricas, inclusive os que atuam em suas proximidades para fins de outros serviços, mas igualmente expostos aos riscos dessa proximidade, a exemplo dos funcionários das empresas, que, mesmo não executando serviços ligados a redes energizadas, estejam ou permaneçam próximos a elas. Busca-se qualificar o pessoal técnico para atividades de projetos, construções, montagem, operação e manutenção de instalações elétricas e serviços com eletricidade. Desenvolver atitudes profissionais que possam favorecer o desempenho individual e o trabalho em equipe, com preocupação na segurança e qualidade do serviço executado. A qualificação visa desenvolver conhecimento, atitudes profissionais que venham a favorecer o desempenho individual e o trabalho em equipe, com preocupação na segurança do trabalho e a qualidade do serviço executado. Vagas disponíveis para os cursos: 2500 alunos distribuídos em 50 cursos: 50 alunos que iniciaram a primeira turma; alunos concluintes: 50; carga horária do curso: 40 horas. A empresa Beta efetuou avaliações por módulos e uma avaliação ao final da qualificação. A certificação é emitida aos alunos que alcançaram um aproveitamento superior a 70% nas avaliações e 100% de freqüência nas aulas. O certificado fornecido pela empresa prestadora de serviço apresenta o registro de participação do treinamento no curso NR10 à distância. Observou-se que o programa de


capacitação em EaD implantado na empresa, adota as tendências atuais do desenvolvimento corporativo com vistas à qualidade dos serviços a serem oferecidos à sociedade. Importante salientar que na visão da organização, a capacitação e a qualificação dos colaboradores é um sólido investimento, para tanto utiliza-se a metodologia de ensino e educação à distância visando um maior alcance dentro da organização. O EaD/e-learning mostra-se uma tecnologia eficiente para desenvolver as qualificações e competências dos colaboradores em atividades de aprendizagem no local de trabalho, sendo que isto pode ocorrer a qualquer momento, com economia de tempo/dinheiro, com maior rentabilidade/flexibilidade e autonomia para o colaborador, uma vez que a empresa dispõe de intranet/internet para transferir as informações necessárias ao empregados. O programa de EaD/e-learning deverá ser implantado seguindo um cronograma e um planejamento, devendo buscar no parceiro a experiência para viabilizar a implantação do programa ao longo do tempo. Outra consideração importante é a mudança na cultura organizacional, implantando eventos que tenham parte presencial e parte em e-learning (blended learning) permitindo aos colaboradores o domínio da tecnologia para desenvolver o programa de EaD/e-learningt. Com a implantação da EaD, a organização busca diversificar e flexibilizar a estrutura de formação profissional dos colaboradores, desenhando um modelo de educação indutor de transformação e desenvolvimento contínuo do profissional. Conclui-se que a implantação EaD como um sistema de aprendizagem na empresa estudada proporcionou a otimização do processo de atendimento das necessidades específicas dos colaboradores. Referências ANDALOUSSI, K. EL. Pesquisas-Ações: Ciência, desenvolvimento, democracia. São Paulo: Edufscar, 2004. ARBAUGH, J. B. How Instructor immediacy behaviors affect student satisfaction and learning in web-based courses. Business Communication Quarterly, v. 64, n. 4, p. 42-54, 2001. ARETIO, L. G. Educacion a distancia hoy. Madri: Uned, 1994 BELLONI, M. L. Educação à Distância. 2ª ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. CARDOSO, F. C.; PESTANA, T. M. P. Treinamento online (e-learning). In: BOOG, Gustavo G. (Coord.). Manual de treinamento e desenvolvimento. São Paulo: Makron, 2001. p. 205-220. CHEONG, C. S. E-learning – a provider’s prospective. Internet and Higher Education, v. 4, 2002, p. 337-352.


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Ambientes virtuais de aprendizagem: uma análise das disciplinas on-line do NEAD/UNIT (2003/1) Silvânia Santana Costa1 silvaniasanc@yahoo.com.br

RESUMO

De acordo com a legislação, as IES podem ofertar em cursos presenciais até 20 por cento das disciplinas na modalidade a distância, assim, o Núcleo de Educação a Distância (NEAD) da Universidade Tiradentes (UNIT) oferecia em diversos cursos disciplinas on-line. O presente trabalho pretende analisar os questionários referentes ao ambiente virtual do NEAD/UNIT no período de 2003. A metodologia seguida pautou-se na ordenação dos questionários por disciplina visando levantar os dados sobre o conteúdo, o ambiente virtual, o suporte técnico, a tutoria, a auto-avaliação e a avaliação, montou-se um panorama geral do grau de satisfação dos alunos. Desta forma, podemos detectar as dificuldades, as melhorias e as continuidades compreendendo como o ensino a distância por meio do AVA se processava na instituição. Palavras-chave: Educação a Distância, NEAD, Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) ABSTRACT In accordance with the legislation, the IES can offer in actual courses up to 20 percent of in the distance discipline them in the modality, thus, the Nucleus of Education in the distance (NEAD) of Universidade Tiradentes (UNIT) offered in diverse courses discipline on-line. The present work intends to analyze the referring questionnaires to the virtual environment of the NEAD/UNIT in the period of 2003. The followed methodology was pautou in the ordinance of the questionnaires for disciplines aiming at to raise the data on the content, the virtual environment, the support technician, the guardianship, the auto-evaluation and the evaluation, mounted a general panorama of the degree of satisfaction of the pupils. In such a way, we can detect the difficulties, the improvements and the continuities understanding as education in the distance by means of the AVA if it processed in the institution. Key-word: Education in the distance, NEAD, Virtual Environment of Learning (AVA) RESUMEN De acuerdo con la legislación, el IES puede ofrecer en cursos reales hasta que 20 por ciento en de la distancia los disciplinan en la modalidad, así, el núcleo de la educación en la distancia (NEAD) de Universidade Tiradentes (UNIDAD) ofrecido en disciplina diversa de los cursos en línea. El actual trabajo se prepone analizar los cuestionarios que se refieren al ambiente virtual del NEAD/UNIT en el período de 2003. La metodología seguida era pautou en la ordenanza de los cuestionarios para las disciplinas que tenían como objetivo para levantar los datos sobre el contenido, el ambiente virtual, el técnico de la ayuda, la tutela, la automóvil-evaluación y la evaluación, montó un panorama general del grado de satisfacción de las pupilas. De tal manera, podemos detectar las dificultades, las mejoras y las continuidades entendiendo como la educación en la distancia por medio del AVA si procesó en la institución. Palabra-clave: Educación la distancia, NEAD, ambiente virtual de aprender (AVA)

1. BREVE INTRÓITO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


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A institucionalização da educação a distância ocorreu no século XIX por iniciativa de estabelecimentos nos Estados Unidos e na Europa oferecendo inicialmente cursos por correspondência. A partir do século XX até a Segunda Guerra Mundial, foram inseridas metodologias ao ensino por correspondências influenciadas pelos “novos meios de comunicação de massa, principalmente o rádio, dando origem a projetos muito importantes, principalmente no meio rural”. De acordo com Preti:

o século XX encontrou na Educação a Distância/EAD uma alternativa, uma opção às exigências sociais e pedagógicas, contando com o apoio dos avanços das novas tecnologias da informação e da comunicação. A EAD passou a ocupar uma posição instrumental estratégica para satisfazer as amplas e diversificadas necessidades de qualificação das pessoas adultas.

No Brasil a origem da Educação a Distância está vinculada a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923 por um grupo membros da Academia Brasileira de Ciências que foi doada em 1936 ao Ministério da Educação e Saúde. Em 1956 foi criado o Movimento de Educação de Base (MEB) considerado o maior sistema de educação a distância não formal criado no Brasil. Ele “distinguiu-se pela utilização do rádio e montagem de uma perspectiva de sistema articulado de ensino com as classes populares. Porém, a repressão política que se seguiu ao golpe de 1964 desmantelou o projeto inicial” (NUNES, s/d). Em 1965 funcionou uma Comissão para Estudos e Planejamento da Radiodifusão Educativa que criou em 1972, o Programa Nacional de Teleducação (PRONTEL). Neste ano o governo criou a Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa, que em 1981 passou a se chamar FUNTEVE que fortaleceu o Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa (SINREAD) em parcerias com diversas rádio educativas e canais de Televisão. Na década de 60 foram criados diversos cursos secundários e superiores na Europa que posteriormente difundiu-se para outros países do mundo. Com a transformação do dos programas percebe-se a eliminação do caráter depreciativo embutido nessa forma de conduzir o processo de ensino aprendizagem. É nesse mesmo período que se desenvolveram na América Latina os projetos de alfabetização destinados as populações camponesas e rurais utilizando o rádio como instrumento de mediação. A educação a distância tornou-se uma alternativa para democratizar


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o ensino, visando atender a carência educacional de áreas urbanas e rurais desprovidas do processo educativo. É na década de 70 que “se promove o uso de programas de televisão para a educação a distância, pelos quais a imagem reforça aquilo que se expressa nos textos impressos. Também se realizam produções em que um docente, diante da câmara, “explica” um tema à maneira de uma classe presencial tradicional” (LITWIN, 2001). Uma bancada de especialistas do MEC e Conselho Federal de Educação, coordenada por Arnaldo Niskier, em 1986 pelo documento Ensino a Distância uma opção – proposta do Conselho Federal de Educação, determinou que “a modalidade é tida como uma alternativa viável à democratização das oportunidades educacionais no país, compreendendo a democratização como acesso, permanência e qualidade de ensino” (ORESTE, 1996). Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em seu artigo 80 estabelece que:

Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada. § 1º. A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais, será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União. § 2º. A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e registro de diploma relativos a cursos de educação a distância. § 3º. As normas para produção, controle e avaliação de programas de educação à distância e a autorização para sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração entre os diferentes sistemas. § 4º. A educação à distância gozará de tratamento diferenciado, que incluirá: I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens; II - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas; III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos concessionários de canais comerciais.

Em 9 de dezembro de 2005 o Decreto n° 5.622 que regulamenta o art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, determina em seu artigo 1° e 3°: Art. 1o Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. Art. 3o A criação, organização, oferta e desenvolvimento de cursos e programas a distância deverão observar ao estabelecido na legislação e em


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regulamentações em vigor, para os respectivos níveis e modalidades da educação nacional (LDB/9.394/96).

Em Sergipe a Educação a Distância se institucionalizou na Universidade Tiradentes, localizada em Aracaju, que por meio do Núcleo de Educação a Distância – NEAD é a instituição de Ensino Superior pioneira em oferecer cursos e disciplinas na modalidade a distância no estado de Sergipe. Em 2002 foi credenciada pelo MEC para oferecer cursos de graduação e pós-graduação.

2. OS SERVIÇOS DO NEAD/UNIT: uma avaliação discente.

2.1. O NEAD E A AVALIAÇÃO DAS DISCIPLINAS ON-LINE

O MEC por meio da portaria n.º 650 de 16 de Março de 2004 credenciou a Universidade Tiradentes para oferecer o ensino na modalidade a distância em cursos de graduação e pós-graduação “Latu Sensu”. O órgão encarregado de gerenciar a Educação a Distância na instituição é o Núcleo de Educação a Distância – NEAD. O NEAD dispõe de uma estrutura administrativa, tecnológica e pedagógica encarregada de garantir a efetivação dos cursos e disciplinas a distância. É constituída pela coordenação geral, assessoria pedagógica, equipe técnica, secretária e estagiários. Desde o ano de 2002 o NEAD/UNIT oferece o ensino a distância, com o intuito de atender as exigências contemporânea de formação e democratização do Ensino Superior. As disciplinas ofertadas on-line são averiguadas a cada ano por meio de questionários aplicados aos alunos, eles têm por objetivo detectar os problemas e os acertos. Em 2003 as disciplinas ofertadas on-line foram: Estatística, Introdução à Informática, Língua Portuguesa I, Matemática I. Para averiguar o funcionamento efetivo dos cursos oferecidos na modalidade a Distância, o NEAD/UNIT promoveu uma avaliação técnica, pedagógica e metodológica por meio de questionários distribuídos aos alunos cursistas dessas disciplinas e que teve por intuito sanar os problemas buscando constantemente a adequação dos cursos a satisfação dos alunos.


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O questionário está estruturado por seções que abrangeram: o conteúdo, o ambiente virtual, o suporte técnico, a tutoria, uma auto-avaliação, a avaliação das disciplinas e sugestões de melhoria. Para cada item o aluno atribuiu um conceito. As respostas foram individuais e os educandos não precisavam identificar-se. Foi solicitado sinceridade, elemento fundamental para o aprimoramento dos métodos e técnicas utilizados no NEAD/UNIT. A presente análise pautou-se no quadro geral de conceitos atribuídos pelos alunos de cada disciplina. De acordo com Neder (1996):

é preciso ter presente o serviço de registro e acompanhamento do percurso dos alunos no curso. O armazenamento de dados relativos ao aluno e ao curso é imprescindível para avaliação da EAD. A organização administrativa pedagógica do Núcleo de Educação a Distância, também, avaliada no desenvolvimento das funções de coordenação geral, coordenação administrativa e coordenação pedagógica.

Assim, é evidente a importância da avaliação discente como guia para melhoria na condução do projeto em EAD. Partindo desse pressuposto a analise dos questionários aplicados em 2003 torna-se imprescindível para compreender o funcionamento do NEAD/UNIT.

2.2. ANÁLISE DAS DISCIPLINAS OFERTADAS EM 2003/1

Partindo de um panorama geral das opiniões dos alunos das disciplinas Estatística, Introdução à Informática, Língua Portuguesa I, Matemática I faremos a análise do conteúdo, do ambiente virtual, do suporte técnico, da tutoria, da auto-avaliação e da avaliação. Esses elementos são fundamentais para verificar o suporte técnico, pedagógico e o contato do discente com a disciplina.

2.2.1. O conteúdo do curso na unidade II

O gráfico abaixo expõe a opinião dos discentes sobre os conteúdos do curso na unidade II que cursaram em 2003 as disciplinas em questão.


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Quanto ao modo como o conteúdo está estruturado

1. O conteúdo do curso na unidade II 35

Quanto à clareza, objetividade e coerência da linguagem

30 25

Quanto ao alcance dos objetivos estabelecidos pelo curso

20

Quanto às estratégias de aprendizagem (filmes, exercícios, ficha mento, leitura complementar, etc) Quanto à bibliografia utilizada e sugerida

15 10 5 0 ruim

regula r

bom

muito bom

excelente

Gráfico 01. O conteúdo do curso na unidade II Fonte: NEAD/UNIT, 2003

Os conteúdos das disciplinas estavam estruturados seguindo os critérios de adequação a proposta do curso, apresentando coerência, clareza e objetividade. Conquanto é preciso apresentar inovações nas estratégias de aprendizagem a partir da utilização de filmes, exercícios, fichamentos, leitura complementar entre outras formas de condução do processo de ensino aprendizagem. De acordo com Litwin (2001, p. 40), uma das características marcantes da modalidade de ensino a distância é a “utilização de uma multiplicidade de recursos pedagógicos com o objetivo de facilitar a construção do conhecimento”. Para Bravo et al os conteúdos devem ser apresentados com menor estruturação e enfatizando os processos de indagações. Com relação a bibliografia, Soletic (2001, p. 77) atesta que os alunos devem ter acesso a diversos materiais bibliográficos atuais. As leituras selecionadas para um curso precisam respeitar certos critérios básicos: “sejam centrais em relação aos conteúdos da disciplina referida, acessíveis e legíveis em termos das possibilidades de compreensão dos alunos, que se articulem em uma proposta unitária, e não fragmentada”. Dessa forma, tomando por base a análise do item referente a bibliografia, pode-se constatar que ela estava dentro dos parâmetros recomendados pelos pressupostos teóricos da EAD.


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2.2.2. O Ambiente virtual

2. Ambiente virtual Quanto à facilidade de utilização do ambiente virtual (facilidade de acesso à Unit Virtual, movimentação entre as páginas, comunicação entre os participantes) Quanto à utilização das ferramentas de colaboração (bate-papo, lista de discussão e mensagens eletrônicas)

36 33 30 27 24 21 18 15 12 9 6 3 0

Quanto à eficiência da ajuda on-line ruim

regular

bom

muito bom

excelente

Gráfico 02. O Ambiente virtual Fonte: NEAD/UNIT, 2003

Visualizamos no gráfico 02, que o ambiente virtual mantido pelo NEAD/UNIT em 2003 desempenhava um papel fundamental na mediação do processo de ensino aprendizagem, visto que, segundo o índice total dos resultados, existiram facilidades no acesso a esse recurso, que disponibilizava para os discentes ferramentas como: bate-papo, lista de discursão e mensagens eletrônicas, etc. O NEAD/UNIT encontrava-se dentro das exigências legais, por promover instrumentos de interação entre os elementos envolvidos no processo, entretanto no ano de 2003 não apresentava em seu ambiente, recursos como: fórum, FAQ e chat. Como afirma Filho (2003, p. 56):

em termos de software, o ambiente deve compreender recursos tecnológicos para comunicação que permitem a interação aluno-tutor, aluno-professor e aluno-aluno, tais como correio eletrônico, fórum de discussão, FAQ e chat, integrados ou não numa plataforma mais geral de gerenciamento do conteúdo a ser veiculado.

E Bravo atesta que,

son las distribuidoras de plataformas, agencias independintes y universidades lãs que elaboram instrumentos de evaluación orientados a determinar la calidad de las mismas em función de uma serie de critérios entre los que consta su accesibilidad y usuabilidad para el estudiante, el profesor, el


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administrador, asi como la disponibilidad y potencialidad del hardware y software.

Constata-se que o ambiente virtual possibilita que o aluno entre em contato com o tutor, com a disciplina, mantenha um espaço de intercâmbio que proporciona o desenvolvimento ativo das atividades propostas pela modalidade de ensino a distância. Rumble (2003, p. 75) afirma que “todos os sistemas de ensino a distância devem oferecer possibilidades de relacionamento entre alunos e tutores e, se necessário, com os conselheiros, caso exista esta função”. Essa interação no ambiente virtual do NEAD/UNIT era realizada por meio de ferramentas de colaboração e de ajuda on-line que atendia as necessidades dos alunos. Assim, “não é a universidade virtual que define a educação, mas a modalidade a distância que encontra uma boa proposta de ensino em que a tecnologia contribui para facilitar o encontro entre colegas ou a relação com o tutor” (LITWIN, 2001, p. 2001).

2.2.3. O Suporte técnico

3. Suporte técnico 14 12 10 8 6 4 2 0

Quanto à qualidade do atendimento

Quanto à capacidade de solucionar problemas

ruim

regular

bom

muito bom

excelente

Quanto à eficiência dos meios de acesso ao suporte (DDG, fone/Fax e e-mail)

Gráfico 03. Suporte técnico Fonte: NEAD/UNIT, 2003

Como demonstra o gráfico o NEAD/UNIT também disponibilizava para os cursistas o suporte técnico com intuito de resolver problemas, este era acessado de diversas formas: DDG, fone/fax e e-mail. Para os alunos, a qualidade do atendimento e a eficiência dos meios de acesso ao suporte são excelentes. “Nada disso poderia ser materializado sem uma equipe técnica de suporte, manutenção e desenvolvimento afinada, competente e dimensionada para os objetivos propostos” (2003, p. 56).


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Partindo do pressuposto de que o conceito bom é indício para melhorias, embora se enquadre dentro da proposta de qualidade, é necessário aprimorar no suporte técnico a questão da capacidade de solucionar problemas.

2.2.4. A Tutoria

4. Tutoria 45 42 39 36 33 30 27 24 21 18 15 12 9 6 3

Quanto ao pronto atendimento

Quanto à qualidade do atendimento, aclarou suas dúvidas? Quanto ao domínio do conteúdo por parte do tutor, ampliando temas das unidades

ruim

regular

bom

muito bom

excelente

Quanto à capacidade de lhe estimular a superar dificuldades

Gráfico 04. Tutoria Fonte: NEAD/UNIT, 2003

Analisando os itens referentes a tutoria presenciamos o comprometimento dos tutores em esclarecer as dúvidas dos discentes, mantendo a qualidade do pronto atendimento com o intuito de sanar e estimular a superação das dificuldades. Para Rumble (2003, p. 55) “uma das funções principais do tutor consiste em orientar os alunos com respeito ao material e os procedimentos pedagógicos apropriados, além de motivá-los, uma vez matriculados no programa”. Neder (2000, p. 117) destaca que

na educação a distância, a interlocução aluno/orientador é exclusiva. Professor ou orientador, paradoxalmente ao sentido atribuído ao termo “distância”, devem estar permanentemente em contato com o aluno, através da manutenção de um processo dialógico, em que o entorno, o percurso, expectativas, realizações, dúvidas, dificuldades, etc, sejam elementos dinamizadores desse processo.

Diante disso, constatamos que os serviços de tutoria oferecidos pelo NEAD/UNIT estavam em sintonia com os pressupostos de um sistema em EAD, desenvolvendo propriedade que proporcionavam o adequado andamento do processo de aprendizagem. Pois, “a natureza ativa e interativa do processo de ensino-aprendizagem se dá a partir da construção


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conjunta do conhecimento realizada entre estudantes e tutores que têm a responsabilidade de guiar essa construção do conhecimento” (2000). Assim, “o tutor constitui um elemento dinâmico e essencial no processo ensinoaprendizagem,

oferecendo

aos

estudantes

os

suportes

cognitivos,

metacognitivo,

motivacional, afetivo e social para que estes apresentem um desempenho satisfatório ao longo do curso” (ORESTE, 1996, p. 45)

2.2.4. A Auto-avaliação Você conhece e domina a tecnologia necessária pa ra o desenvolvimento do curso?

5. Auto-avaliação 31

Você costuma cumprir “a risca”, ao pé da “letra” o proposto pelo curso (quanto a horário de estudos, leitura, atividades, prazos, etc) R espeita prazos? Você procura fazer perguntas ao tutor que demandam respostas além do simples SIM ou NÃO?

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21

Você dedicou tempo suficiente para o estudo da aula, e o desenvolvimento das atividades, leituras complementares e as tarefa s importantes? Nas suas relações c om o tutor e a disciplina, procura sempre superar as expectativas?,

16

11

6 Sentiu-se desa fiado pelo curso, não desistindo nas primeiras dificuldades?

1 ruim

bom

excelente

Gráfico 32. Auto-avaliação Fonte: NEAD/UNIT, 2003

Quanto a auto-avaliação, percebe-se que a maioria dos alunos detinham domínio sobre a tecnologia necessária para a execução do curso, sentiram-se desafiados não desistindo nas primeiras dificuldades e sempre procuravam superar as expectativas. Entretanto, era preciso que os discentes procurassem se engajar mais no cumprimento das atividades propostas pelo curso, dedicando tempo para o desenvolvimento de tarefas e para os estudos. Sabemos que eles influenciam os métodos presenciais e são pouco educados a estudar a partir de seu próprio esforço individual.


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A auto-aprendizagem é uma prática construída e consolidada na EAD, visto que os procedimentos adotados pelo sistema de ensino nessa modalidade visam o ato educativo e não a instrução (PRESTI, p. 117). “Um dos traços fortes, distintivos e centrais dessa modalidade de ensino é a capacidade de se organizar para melhor viabilizar ao aprendiz a construção de sua autoformação, de sua autonomia no processo de aprendizagem” (PRETI, 2000). Cabe, portanto, adotar outras estratégias que visem despertar os estudantes para a necessidade de estarem efetivando suas atividades, estruturando seu tempo de estudo, adotando competências de desenvolver sua independência e ação. Esses passos são fundamentais, visto que por não terem obrigação de estarem presentes em sala de aula, os alunos se prendem em outras atividades em detrimento das oferecidas pelas disciplinas on-line. Nota-se também que os discentes deveriam procurar mais o tutor para esclarecer as dúvidas com relação ao conteúdo.

3.2.5. A Avaliação

O gráfico da página seguinte demonstra a visão dos alunos com relação ao processo avaliativo. De acordo com o Decreto n° 5.622 de 19 de dezembro de 2005 que regulamenta o art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, em seu

Art. 4o A avaliação do desempenho do estudante para fins de promoção, conclusão de estudos e obtenção de diplomas ou certificados dar-se-á no processo, mediante: I - cumprimento das atividades programadas; e II - realização de exames presenciais. § 1o Os exames citados no inciso II serão elaborados pela própria instituição de ensino credenciada, segundo procedimentos e critérios definidos no projeto pedagógico do curso ou programa. § 2o Os resultados dos exames citados no inciso II deverão prevalecer sobre os demais resultados obtidos em quaisquer outras formas de avaliação a distância.


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Coerência com os objetivos da disciplina

6. Avaliação 25 22 19

Quanto às estratégias de avaliação utilizadas (atividades individuais, em grupo, provas, exercícios, etc.)

16 13 10 7 4

Coerência com o nível do curso

1 ruim

regular

bom

muito bom

excelente

Gráfico 33. Avaliação Fonte: NEAD/UNIT, 2003

Com relação a avaliação aplicada nas disciplinas, a maioria dos alunos demonstraram satisfação com as estratégias utilizadas para verificação da aprendizagem, que priorizaram atividades individuais, em grupo, provas e exercícios e também com a coerência em relação ao nível do curso. No entanto, os discentes atestaram que deveria haver mais coesão entre a avaliação e os objetivos da disciplina. De acordo com Neder (2000, p. 82) na modalidade de ensino a distância,

o que interessa, portanto, numa avaliação de aprendizagem é analisar a capacidade de reflexão crítica dos alunos frente a suas próprias experiências, a fim de que possam atuar, dentro de seus limites, sobre o que os impede de agir para transformar aquilo que julgam limitado em termos dos interesses da comunidade.

É preciso portanto, que a avaliação seja efetivada de forma continua de forma a detectar quais os pontos deficitários dos discentes, para assim poder atuar com maior eficácia para a condução do processo de aprendizagem na construção do próprio conhecimento. Assim, visualizamos como se processou a os serviços do NEAD/UNIT no ano de 2003, embora incipiente em EAD, a UNIT proporcionava uma educação de qualidade dentro dos padrões exigidos pelo MEC. É evidente a necessidade de mudar alguns pontos abordados visto que não atendeu de forma completa as exigências do alunado. É certo que a política e os objetivos da instituição permeiam toda a atividade, o que inclui “a estratégia de diagnóstico, o quanto os resultados do diagnóstico vão interferir no


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design dos cursos e como os resultados da avaliação final serão utilizados no planejamento de novos cursos” (2000, p. 164). Percebe-se a importância de avaliar as disciplinas e os cursos a distância todos os anos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na educação a distância o processo de ensino aprendizagem não segue os padrões da presencial, as propostas de instrução são mediadas por instrumentos facilitadores da aquisição e da construção do conhecimento. Desde seu surgimento foram acopladas as diferentes tecnologias ao ensino contribuindo para deliberar os apoios fundamentais da proposta. Essa proposta distinguiu-se por sua flexibilidade, pois os estudantes possuem liberdade de optar pelos espaços e tempos que melhor se enquadram em sua disponibilidade para o estudo. A educação a distância deve dispor de todos os recursos que facilitem a aquisição construtiva e crítica do conhecimento, a utilização das novas tecnologias é uma forma de mediatizar o processo de aquisição e construção do conhecimento. Diversos elementos são fundamentais para a efetivação da proposta em EAD: o suporte técnico, pedagógico, o material, a tutoria, a avaliação que deve estar condizente com o curso em nível de exigência. Eles devem ser avaliados a fim de possibilitar à instituição a adoção de melhorias nos pontos considerados relevantes pelos alunos. Diante do que foi exposto a partir da análise dos questionários, pode-se afirmar que o sistema de ensino proporcionado pelo NEAD/UNIT no ano de 2003 satisfez as expectativas dos alunos e estava dentro das diretrizes de um sistema de ensino a distância. Entretanto, é necessário destacar que alguns itens devem ser revistos, por isso, a importância de averiguar as opiniões dos discentes sobre todos os elementos constitutivos da EAD.

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Economia política das cartografias profissionais: a formação específica para o jornalismo. The political economy of professional cartographies: specific training for journalism. Economía política de cartografías profesionales: la formación específica para el periodismo Sandra Korman Dib1 Leonel Azevedo de Aguiar2 Ivana Barreto3

Resumo Transformações nas estruturas produtivas do capitalismo contemporâneo repercutem de maneira contundente nas estruturas organizacionais do mundo do trabalho e sobre a formação dos futuros profissionais. Na área da comunicação, principalmente no jornalismo, as tecnologias digitais modificam as estruturas produtivas e os fundamentos da formação profissional. A partir de uma pesquisa bibliográfica e com base na literatura especializada, este trabalho examina a economia política das cartografias profissionais em jornalismo e analisa o processo histórico de constituição dos cursos de Comunicação Social. Palavras-chave: economia política; formação profissional; jornalismo. Abstract The transformations in the productive structures of the contemporary capitalism resound in a convincingly way in the organizing structures of the world of work and on the training of future professionals. In communication studies, mainly in the journalism, the digital technologies modify the productive structures and the basement of the training. From a bibliographic research, and based on the specialized literature, this work examines the political economy of the professional cartographies in journalism and analyses the historical process of constitution of the Social Communication Courses. Key-words: political economy; training; journalism.

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Professora Doutora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da PUC-Rio. Email: korman@puc-rio.br 2 Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Comunicação da PUC-Rio. Email: laaguiar@uol.com.br. 3 Professora Doutora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da PUC-Rio. Email: ivanabarreto@superig.com.br


Resumen Transformaciones en las estructuras productivas del capitalismo contemporáneo repercuten de manera contundente en las estructuras organizacionales del mundo del trabajo y sobre la formación de futuros profesionales. En el área de la comunicación, principalmente en el periodismo, las tecnologías digitales modifican las estructuras productivas y los fundamentos de la formación profesional. A partir de una investigación bibliográfica y con base en literatura especializada, este trabajo examina la economía política de las cartografías profesionales en periodismo y analiza el proceso histórico de constitución de los cursos de Comunicación Social. Palabras-clave: economía política; formación profesional; periodismo.

Introdução Este artigo vincula-se ao amplo campo dos estudos de economia política da comunicação4 e visa aprofundar os conhecimentos sobre o trabalho e a produção no setor brasileiro de comunicação, a partir das inflexões induzidas pelos processos de globalização e flexibilização. Também pretende discutir as condições de construção das trajetórias profissionais e de integração dos sujeitos às suas estruturas produtivas. Os enfoques adotados aspiram contribuir para a adoção de instrumentos de políticas públicas que intervenham positivamente nos processos de inserção e desenvolvimento profissional dos sujeitos no campo da produção jornalística.

Contexto Contemporâneo Inicialmente, devemos trazer à cena, as mudanças mais significativas nas estruturas de produção e nas práticas de emprego, transformações que vem ocorrendo nas últimas décadas, além de analisar seus impactos na relação dos indivíduos com o trabalho e a formação profissional tradicional, com seus modelos dissociativos e fragmentadores. Contudo, é condição fundamental, para tanto, voltar as atenções para a tão propalada revolução digital, sob os processos de globalização e flexibilização. A citada revolução, que já modifica os modos de produção dos produtos comunicacionais, afeta os pressupostos da formação dos profissionais da área da Comunicação. A adequada qualificação profissional surge como um problema, levando pesquisadores e educadores a questionar os objetivos e o próprio sentido da formação em Comunicação, especialmente no jornalismo. Tudo a partir da percepção da inegável discrepância “entre 4

Nossa vinculação se dá ao seguirmos os debates teóricos sobre determinados problemas para a Economia Política da Comunicação, especialmente os relacionados ao trabalho e formação profissional. Ver Bolaño (2000); Braga (2007); Dantas (2007); Ramos e Santos (2007).


a formação institucionalizada, a prática profissional e os anseios de transformação da sociedade” (KORMAN DIB e DIAS, 2009). Em termos cronológicos, pode-se considerar que, nas últimas quatro décadas, as relações de produção e trabalho passaram por transformações significativas nas sociedades capitalistas. Essas modificações, vale ressaltar, integram um contexto mais amplo de reestruturação do capitalismo mundial integrado. Os objetivos são aqueles apontados por Castels (1999): aumento da produtividade, da competitividade e da rentabilidade visando o apoio do Estado para esse fim; a desregulamentação das economias, suspendendo ou atenuando as barreiras para a mobilidade de bens, serviços e capitais financeiros; e a privatização de setores ocupados pelo Estado. O objetivo final é permitir às empresas menores custos de produção e mercados mais lucrativos. Drucker (1986), Sennett (2006) e Castells (1999) apontam que a aplicação das tecnologias de informação e comunicação (TICs) nos processos produtivos e gerenciais, a desintegração vertical e a terceirização das operações produtivas associadas ao modelo japonês de produção com um número extremamente reduzido de trabalhadores levam a uma nova configuração organizacional e a uma reestruturação do emprego em múltiplas escalas. Outra mudança a ser mencionada refere-se à desregulamentação dos mercados de trabalho e à flexibilização das práticas de emprego (LARANGEIRA, 2004; JATOBÁ e ANDRADE, 1993). Essas transformações influenciaram de forma decisiva as dinâmicas culturais e as práticas sociais (PAIS et al, 2005). Nesse contexto, parece perder sentido uma série de crenças e garantias que, sem dúvida, sustentavam os pilares do mundo do trabalho. A consequência desse novo cenário são os impactos contundentes sobre as culturas profissionais e a relação do sujeito com o trabalho e o devir profissional (KORMAN DIB, 2007; SENNETT, 2006; BAUMAN, 1998). Remetendo às contribuições de Pais et al (2005), Campo (2005) e Bourdieu (1997), o panorama contemporâneo afetou o sistema educacional. A partir da realidade do fim do “pleno emprego”, as trajetórias educacionais não garantem mais a inserção profissional. Quanto aos sujeitos produtivos, não trabalham obrigatoriamente na mesma área de sua formação. Não se pode negar o desencanto, e mesmo desânimo, que ronda a formação para o mercado de trabalho. Fazendo uma breve digressão histórica, em outros tempos as trajetórias seguiam a direção das carreiras legitimadas nas empresas. Hoje, as carreiras passaram a ser de responsabilidade dos sujeitos, com a descontinuidade marcando as trajetórias profissionais. Em outros termos, existe o que podemos considerar de “fases de


emprego” e “fases de desemprego”. E, como mudou também o perfil dos profissionais, acabou surgindo uma série de desafios ao sistema educacional, especialmente ao ensino superior e o profissionalizante, voltados para a formação e qualificação5 da força de trabalho. No cenário atual, cada vez mais as empresas buscam trajetórias educacionais não garantem mais a inserção profissional, com visão estratégica do negócio e conhecimentos da realidade em que atuam. Também são alvos aqueles funcionários capazes de agregar valor ao produto e ao cliente, sempre a partir de soluções inovadoras. A conseqüência do surgimento desse novo perfil foi também o aparecimento em cena de novas exigências no que diz respeito à qualificação profissional, por um lado, e ao sistema de ensino, por outro. Agora, formar para o mercado vai além do ensino e da aprendizagem das tecnologias, técnicas e ferramentas. Hoje, a formação inclui a implicação subjetiva, análise de contexto, propostas de transformação do entorno, eliminando possíveis barreiras disciplinares no sentido de contextualizar e integrar saberes fragmentados e dispersos sejam eles tácitos ou explícitos (SENNETT, 2006; MORIN, 2002). Aproveitando a contribuição de BOTTINO, DIAS e KORMAN DIB (2006), visualizamos a saída do sujeito da esfera de ação individual para o trabalho coletivo e a criação de visões compartilhadas, com capacidade de tomar decisões e assumir responsabilidades (DUPAS, 1999). No Brasil, o desafio para as instituições de ensino é formar profissionais capazes de operar nas atuais estruturas produtivas com capacidade crítica. Este desafio pedagógico deve superar a simples incorporação de novos conhecimentos (teorias, métodos, técnicas, ferramentas) aos currículos e programas, ou seja, significa que para determinada instituição se apresenta o imperativo de acompanhar o contexto atual dos diversos campos e saberes. Caso contrário, na hipótese de não se atualizarem, podem se ver na posição, nada confortável, de ensinarem aquilo que já não mais se faz/usa ou que se deixará de fazer/usar em pouco tempo. Oferecer aos sujeitos o desenvolvimento daquela inteligência e daquele comportamento necessários para trabalhar e produzir no sistema capitalista, inserido no processo de globalização, traz à tona a necessidade de

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Tradicionalmente, a qualificação é definida como um conjunto de saberes e conhecimentos que o trabalhador precisa possuir como requisito para desempenhar determinado cargo ou função dentro de uma organização; esse conjunto de saberes e conhecimentos é classificado e certificado na forma de cursos, graduações, pós-graduações e etc.


reformas no modelo de ensino tradicional, que tem sido alvo de variadas críticas (KORMAN DIB e DIAS, 2009). Nesse momento, em que se trata do contexto das instituições de ensino diante das novas realidades que se apresentam, o presente texto se aproxima de um ponto fundamental na obra de Bachelard (2000), a partir da discussão que no contexto atual se coloca sobre o campo da comunicação e as diretrizes norteadores para o curso de jornalismo, ou seja, a ruptura proposta com o determinismo científico, com o método cartesiano e com o pensamento objetivo. Segundo o autor, a epistemologia cartesiana é uma epistemologia em crise. Na sua crítica, ele afirma que "o método cartesiano é redutivo, não é indutivo" (p. 121). Quanto aos métodos de pesquisa, em nenhuma fase do desenvolvimento do pensamento científico eles perdem a força. Para Bachelard, o pensamento complexo é aquele ávido de totalidade. Considera, também, que o fenômeno é um tecido de relações, portanto não há fenômenos simples, natureza simples, nem tampouco substância simples, porque a substância é uma contextura de atributos. Não existem obviamente idéias simples, porque, para serem compreendidas, necessitam ser inseridas num sistema (complexo) de pensamentos e experiências. Ao romper com as evidências, introduzindo o conceito de ruptura com a epistemologia cartesiana, a epistemologia de Bachelard propõe uma pedagogia do pensamento complexo. Mais do que isso, alerta para a necessidade de estarmos, na prática científico-docente, relendo o simples sob o múltiplo, através de uma visão de complexidade. A tarefa de investigar, lançar luz sobre qualquer objeto dentro do universo da Comunicação, com o advento da internet, a convergência de mídias, as tão acessadas notícias, informações em “tempo real”, não pode ser realizada por práticas científicas baseadas nos enfoques estritamente racionalistas-positivistas. É necessário promover um exercício com todas as dialéticas. Só assim, tanto o pensamento quanto os métodos poderão apreender o citado objeto. Como ressalta Fonseca (2008) sobre as formulações de Bachelard referentes às rupturas epistemológicas: ... o conhecimento se estrutura na fronteira do desconhecido e do conhecido, instaurando a permanente necessidade de rupturas e abertura a uma dialética da descontinuidade, de olhares múltiplos para um mesmo objeto. Ainda no campo da noção de rupturas epistemológicas, o autor afirma que a Ciência se opõe à opinião. Em ciência, a opinião está na esfera de outros campos, nada é dado, tudo se constrói. O senso comum e as outras formas de manifestação, o conhecimento vulgar, a sociologia espontânea, a experiência cotidiana são opiniões, formas de expressão, que não representam e não têm o valor de conhecimento científico (FONSECA, 2008, p. 361).


Na prática docente com os alunos, o exercício deve ser o de fazê-los refletir, observar, questionar, assumindo o papel de quem investiga. Com isso, as chances de começarem a caminhar com alguma convicção no sentido do entendimento dos processos complexos com os quais irão se defrontar tornam-se maiores. Voltando as atenções para o aspecto da discussão que envolve o campo da comunicação, percebe-se um problema referente ao próprio status deste campo, pois não existe unidade conceitual, conforme explicita Martino (2008), nas bibliografias que costumamos qualificar de „comunicação‟ e, em cada território geográfico-cultural, “os estudos de comunicação assumem feições diferentes” (FELINTO, 2007, p. 47). O objetivo do autor é tentar delinear o que se entende por “teoria da comunicação” a partir do conteúdo das publicações recentes intituladas desse modo. O interessante é que ele não se propõe a observar o campo de fora, mas como participante do jogo – e, consequentemente, partilhando dúvidas e questionamentos a respeito da prática teórica e docente. Denunciar a filosofia existente e fornecer à ciência a filosofia que merece. Podemos afirmar ser este um dos objetivos de Bachelard (2000) que, no seu projeto epistemológico, caminha no sentido de um pluralismo filosófico e assinala à filosofia o lugar entre a ciência e a poesia, como linha de demarcação que permite a liberdade e a eficácia. Para um espírito verdadeiramente científico todo conhecimento representa uma resposta a uma pergunta, sendo o resultado de um exaustivo trabalho de interrogação da realidade. Nesse sentido, o objeto da História das Ciências apresenta como característica fundamental o fato de que ele não nos é dado. Pelo contrário, deve ser por nós construído, num processo sem solução de continuidade. Por isso, exige do historiador o que Bachelard chama de "novo espírito científico". E, consequentemente, assim como na construção de um objeto de ciência, seja ela qual for, o objeto da História das Ciências exige uma determinada postura intelectual. Remetendo a Japiassu (1976) a partir das ideias de Gaston Bachelard, deve-se pensar uma história das ciências que não seja meramente descritiva, não se limitando a uma narrativa cronológica das produções do saber exige. Para o autor, de acordo com Bachelard, a história das ciências não é absolutamente empírica, mas sim a história do "progresso das ligações racionais do saber”. O ponto de partida do pensamento bachelardiano é a própria ciência já constituída. Porém, ele não se limita ao relato cronológico das idéias, muito menos a uma ordenação dos problemas científicos, segundo sua complexidade crescente. Contrariamente, ele propõe uma inversão epistemológica e, ao retificar seu ponto de partida, nos faz entender que a realidade estudada pela ciência não é, de modo algum, simples. Ela vem a tornar-se simples como resultado de um trabalho de simplificação. É "a solução encontrada que reflete sua clareza sobre os dados" (JAPIASSU, 1976, p.58).


Até aqui, no presente texto, as transformações nas relações de produção e trabalho foram analisadas em relação a todos os sujeitos produtivos e setores da produção. É pertinente, agora, questionar de que forma as transformações nas relações de produção e trabalho atingem a formação e a posterior integração dos profissionais ao campo da Comunicação, especialmente, do jornalismo? Conforme as análises empreendidas, torna-se nítida a constatação de que o campo da comunicação está no centro desse amplo processo de mudanças. Ele é, assim, força transformadora e objeto/campo em transformação. Os avanços da tecnologia – com destaque para a revolução digital e os artefatos dotados de larga capacidade de processamento de informação – multiplicaram os fluxos de objetos técnicos que atravessam a sociedade contemporânea e induziram “a constituição de um campo de mediação generalizada, em cujo centro está instalada a própria tecnologia. A generalização da mediação técnica acarreta transformações profundas nos modos de atuação das práticas produtivas” (AGUIAR, 2005, p.86). Aqui remetemos à contribuição de Wolf (1987, p.13) para quem as comunicações são um importante setor industrial, um objeto simbólico objeto de consumo em grande escala, um investimento tecnológico com expansão ininterrupta, uma experiência pessoal vivenciada no dia-adia, uma esfera de embates políticos, um modo do sujeito obter informações e de passar o tempo, além de um sistema de intervenção cultural e de agregação social. Cabe ressaltar as discussões já apreendidas por Martín-Barbero (2005, 2004, 2001), Canclini (2000), Ortiz (2003) e Sarlo (2000), ao destacarem que os meios de comunicação de massa e as indústrias culturais, especialmente no contexto latinoamericano, vem exercendo papel de fundamental importância no momento em que pensamos na formação de um espaço público. Como aponta Canclini (2001), o ingresso efetivo dos países na esfera do capitalismo globalizado acontece de diversas maneiras e em diferentes condições. Porém, na acentuada expansão tecnológica e econômica das indústrias culturais em escala global, os países latino-americanos ocupam, inegavelmente, uma posição periférica, o que pode ser observado na reduzida participação no que se refere à produção e ao faturamento global do setor (CANCLINI, 2001). O campo da Comunicação experimenta enorme diversificação de produtos e, ao mesmo tempo, a integração de suas estruturas de produção e distribuição. Ao tomar como exemplo a produção do jornalismo, Winck (2006) observa que, com a


convergência de mídias, o jornalismo impresso e o jornalismo audiovisual tendem a se fundir, oferecendo produtos informativos com som, texto e imagem. Nesse aspecto, as novas tecnologias promovem novas formas de linguagem, percepção, sensibilidade e sociabilidade, levando a um redirecionamento nas identidades dos meios de comunicação em sua dimensão social. O principal impacto acontece sobre os processos de constituição e exercício da cidadania e na configuração do espaço público (MARTÍN-BARBERO, 2004).

Especificidades no campo da comunicação As transformações descritas apontam desafios para a pesquisa e formação profissional na área da Comunicação, principalmente para a formação específica para o jornalismo. Mesmo com o aumento dos estudos sobre as TCIs, segundo Rebouças (2005) e Martin-Barbero (2004) há uma predominância tendência dos enfoques tecnicistas e gerenciais nas análises sobre a atualização tecnológica, bem como a preferência, quase que exclusiva, pelo estudo dos impactos das novas tecnologias na recepção dos produtos. Aparecem de forma incipiente as reflexões sobre os interesses políticos e econômicos que conformam e direcionam as mudanças tecnológicas, seus propósitos e lógicas produtivas. Entre os assuntos relegados a segundo plano, estão os impactos sobre a formação profissional e as possibilidades de inserção profissional no campo do jornalismo. As transformações impostas pela digitalização da comunicação e da informação nos modos de produção e consumo modificam as áreas de atuação do jornalista, aprofundando o fosso entre a realidade profissional e os pressupostos da formação do bacharel em jornalismo. Deve-se pontuar que a discrepância entre as premissas que orientam a formação e a complexidade da vida social representa uma questão mais profunda, com reflexo na formação dos profissionais de todos os setores produtivos e não apenas na área da Comunicação ou no ensino de jornalismo. Esse fato tem origem principalmente nos princípios de organização dos saberes e das experiências no processo de ensinoaprendizagem que constituem o modelo de ensino, que tendem à dissociação (MORIN, 2002). No caso da formação específica para o jornalismo, essa contradição é agravada ao ser concebido como habilitação do curso de Comunicação Social, levando ao enfraquecimento da sua especificidade teórica, epistemológica, profissional e ética. Historicamente, esse processo se vincula aos confrontos políticos decorrentes do


período pós-segunda guerra mundial e aos resultados da conferência da Unesco, realizada em Paris em 1948, e a criação do Centro Internacional de Estudos Superiores de Jornalismo para a América Latina (Ciespal) em 1960, com sede na Universidade Central de Quito, Equador. Como lembra Ianni (1976, p. 47), em 1961, a Conferência de Punta del Este conclui ser necessário um programa de “modernização” da educação latino-americana que inclui, entre outros pontos, despolitizar o processo de ensinoaprendizagem e implementar o controle centralizado do sistema educacional. No caso do ensino de jornalismo, esta "modernização conservadora", como a chamou Florestan Fernandes, ou "modernização reflexa", segundo Darcy Ribeiro, implicou numa ruptura da orientação teórica das escolas, que até então era centrada numa formação clássico-humanística, com ênfase nos estudos éticos, jurídicos, filosóficos e literários. Esta orientação, por influência do Ciespal, será rejeitada por "não-científica", e substituída pelas disciplinas valorizadas pelo funcionalismo norte-americano (MEDITSCH, 1999, p. 2).

Após o golpe militar de 1964, esse programa liderado pelo Ciespal é posto em prática6. A política de controle centralizado foi expressa através do currículo mínimo7, no qual se substituía o curso de Jornalismo e a formação específica do jornalista pelo curso de Comunicação Social e por um novo tipo de profissional polivalente: o comunicador8. O problema, conforme aponta Meditsch (1999, p. 4) é que os cursos de Comunicação Social – “introduzido como estratégia política na Guerra Fria” – surgiram e permaneceram quase sempre separados das atividades profissionais, nutrindo um desprezo pela prática jornalística e produzindo diversos efeitos perversos, dentre os quais, “a violentação das expectativas dos estudantes que ingressam na universidade em busca da carreira profissional a que se sentem vocacionados” (idem, p. 5)9. A profissionalização do jornalista – ou seja, a ideia da construção de uma carreira profissional – possui vínculos estreitos com o processo histórico de construção das sociedades democráticas. É possível entender a história do jornalismo na democracia a partir de duas polarizações: na vertente econômica, a imprensa se torna, 6

No decorrer de 1965, são realizados quatro seminários na América Latina, um dos quais, no Rio de Janeiro, sob a coordenação de Celso Kelly, dirigente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e professor com formação no Ciespal. 7 O Parecer 984/65, do Conselho Federal de Educação, foi elaborado por Celso Kelly a partir da necessidade de uma formação polivalente do jornalista, “de modo que se habilite ao exercício da profissão em qualquer dos ramos e, ainda, no campo das investigações específicas, no das relações públicas e no da publicidade” (KELLY, 1966, p. 76) 8 A Resolução 11/69, do MEC, de 06 de agosto de 1969, determinou a implantação do curso de Comunicação Social com cinco habilitações, entre as quais, o jornalismo. 9 A outra consequência dessa perversão é se tornarem “comunicadores sem mercado de trabalho e sem prática, só encontrando colocação na própria universidade como comunicólogo” (MEDITSCH, 1999, p.5).


no século XIX, com a instituição da informação enquanto mercadoria, em um negócio empresarial; e, simultaneamente, na perspectiva política, a profissionalização dos jornalistas – resultado da comercialização da imprensa –, que implicou na disputa pela definição das notícias em função de valores éticos e normas deontológicas, que ressaltam o papel político da informação nas democracias. Segundo Traquina, não só a expansão comercial dos jornais possibilitou a criação da carreira jornalística, como esse novo paradigma – fornecer informação – permitiu a emergência de valores que continuam sendo identificados com o jornalismo: “a notícia, a procura da verdade, a independência, a objetividade e uma noção de serviço público” (TRAQUINA, 2005, p. 34). Evidentemente, cada período histórico é capaz de definir jornalismo e uma resposta simplista não é suficiente na contemporaneidade, já que as TCIs permitem a qualquer um proclamar que “faz jornalismo”. Portanto, mais do que tentar responder a uma indagação formulada em termos do pensamento metafísico-platônico – “o que é jornalismo” interroga pela essência imutável do jornalismo –, uma pergunta na perspectiva do método genealógico visa compreender um regime de diferença no passado em relação àquilo que se apresenta no presente. É nesse sentido que a pergunta feita por Kovach e Rosenstiel (2004) – “para que serve o jornalismo?” – adquire uma dimensão ético-política para ultrapassar determinados impasses aqui discutidos. “A principal finalidade do jornalismo é fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e se autogovernar” (KOVACH e ROSENSTIEL, 2004, p. 31). Para esses autores, até mesmo os pioneiros da chamada imprensa sensacionalista, no final do século XIX, ou dos tablóides da década de 1920 enxergavam a promoção da democracia e a construção de um sentido de comunidade como valores fundamentais do jornalismo10. Pulitzer e outros barões da imprensa popular fizeram dos imigrantes seu público básico. O estilo de escrever era muito simples, de forma que os imigrantes pudessem entender tudo. As páginas editoriais os ensinavam a ser cidadãos. Os novos americanos se reuniam todas as noites, depois do trabalho, para conversar sobre o que haviam lido nos jornais, ou ler para outros amigos e discutir os fatos relevantes do dia (KOVACH e ROSENSTIEL, 2004, p. 252).

Nessa mesma linha de análise, Traquina (2005, p. 50) lembra que a criação de um “novo jornalismo” no século XIX – o jornalismo de informação – conseguiu não só 10

Para aprofundar essa discussão sobre a chamada imprensa sensacionalista, a lógica da sensação e o entretenimento como um critério de noticiabilidade, ver AGUIAR (2009; 2007).


aumentar a circulação dos jornais, mas, com preço acessível, também passou a incorporar um público mais amplo e generalizado, além de politicamente menos homogêneo. Esse modelo de produção jornalística destaca, principalmente, notícias sobre os fatos locais do cotidiano, os processos de justiça, os crimes e as catástrofes, sem qualquer artigo opinativo sobre política, contribuindo para consolidar o novo conceito de jornalismo, que separou e valorizou o fato em detrimento da opinião, e efetuou a passagem de um jornalismo de opinião para um jornalismo de informação11. É nesse contexto histórico e cultural que se dá o desenvolvimento da formação profissional e do ensino universitário em jornalismo, outros dois pontos fundamentais no processo de profissionalização e constituição da carreira de jornalista. Segundo Traquina (2005, p. 84), a formação profissional em jornalismo no ensino superior aparece nos Estados Unidos nos anos 1860, na atual Universidade de Washington e Lee12. No início do século XX, já estão difundidos dois padrões de funcionamento acadêmico dos cursos: de um lado, as escolas de jornalismo que funcionam de modo independente dentro das universidades, conforme estabelecido em Missouri (1908); de outro, os departamentos autônomos no interior das faculdades de ciências sociais e humanas, tal como na universidade de Wisconsin (1904). Foi o padrão da escola independente – especialmente a da Universidade de Missouri, que tinha em sua grade curricular, simultaneamente, disciplinas teóricas específicas e disciplinas da prática profissional, como a disciplina “Jornal-laboratório” – que serviu de base para a proposta de criação do curso superior de jornalismo apresentado pelo I Congresso Nacional de Jornalistas, realizado em 1918, no Rio de Janeiro, pela Associação Brasileira de Imprensa. Contudo, os primeiros cursos de jornalismo13 do país só começaram a funcionar em 1947, em São Paulo14, e, no ano seguinte, na Universidade do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Ao contrário da reivindicação original da categoria, os cursos de jornalismo foram implantados dentro de faculdades de Filosofia, acarretando uma

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A partir da discussão de Walter Benjamin, podemos também afirmar que a fase de produção industrial dos jornais também trouxe a “perda da aura” que envolvia a fase publicista da imprensa, com seus longos artigos opinativos voltados para a educação política de seus leitores, conforme os ideais iluministas. Ver AGUIAR, 2007, p. 19. 12 O ensino em jornalismo aparece logo em seguida em outras universidades: Missouri (1878) e Pennsylvania (1893). 13 Em 1946, o Ministério da Educação definiu as diretrizes pedagógicas para o ensino de jornalismo e fixou sua estrutura curricular. 14 Somente em 1958, com o Decreto 43.839, passou a ser permitido o ensino de jornalismo em instituição autônoma, surgindo a Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero. O curso de jornalismo dessa faculdade, criado em 1947 e, geralmente visto como o primeiro do país, funcionava junto a Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de São Bento (LOPES, 1989, p. 25).


grade curricular com a predominância de disciplinas de formação cultural geral, sem contemplar um equilíbrio com as disciplinas de formação profissional. Em uma perspectiva histórica complementar a de Traquina, Marques de Melo (2004) enxerga também em dois diferentes modelos acadêmicos das universidades norte-americanas mais uma outra polêmica que permanece no ensino de jornalismo no Brasil. Enquanto a Universidade de Missouri adotou o modelo da graduação, formando basicamente repórteres – visando, como mercado de trabalho, os jornais de médio e pequeno porte -, a Universidade de Columbia15 implementou, em 1912, o modelo da pós-graduação, objetivando preparar editores e analistas para a grande imprensa, com diplomados em outras áreas de conhecimento. A contextualização histórica aqui apresenta é fundamental para objetivo proposto nesse artigo: o jornalismo é um instrumento político imprescindível para o avanço da democracia no país, pois a informação jornalística é um dos dispositivos simbólicos que cria as condições de possibilidade para a sociedade ter capacidade de se autogovernar e atuar politicamente. É nesse sentido que a Comissão de Especialistas16 recebeu do Ministério da Educação a tarefa de discutir o ensino de jornalismo – polarizado entre a formação específica versus a formação como habilitação em comunicação – no contexto das transformações vividas pela sociedade brasileira e visando o fortalecimento da democracia. O relatório17 da comissão propõe ao MEC que as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo sejam desmembradas das Diretrizes Curriculares Nacionais para a área de Comunicação Social e suas habilitações18. Trata-se de um desafio para os cursos de graduação plena, cuja autonomia curricular constitui imperativo para a reciclagem dos seus projetos 15

Joseph Pulitzer, que em seu célebre ensaio de 1904, “A escola de Jornalismo”, defendia a formação superior em jornalismo realizou uma doação de dois milhões de dólares para a Universidade de Columbia. 16 A comissão foi instituída pela Portaria n. 203/2009 e composta pelos seguintes membros: José Marques de Melo (presidente, Universidade Metodista de São Paulo) , Alfredo Eurico Vizeu Pereira Junior (Universidade Federal de Pernambuco), Eduardo Barreto Vianna Meditsch (Universidade Federal de Santa Catarina), Lucia Maria Araújo (Canal Futura), Luiz Gonzaga Motta (Universidade de Brasília), Manuel Carlos da Conceição Chaparro (Universidade de São Paulo), Sergio Augusto Soares Mattos (Universidade Federal do Recôncavo Baiano), Sonia Virgínia Moreira (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). 17 A comissão foi instalada em fevereiro de 2009, realizou três audiências públicas no país – Rio, Recife e São Paulo – e entregou o relatório de 26 páginas no dia 18 de setembro de 2009. 18 As DCN para a área de Comunicação foram estabelecidas pela Resolução CNE/CES 16/2002. É o único caso de diretrizes formuladas para uma área, pois a Lei 9131/1995 estabelece em seu artigo 9 que as diretrizes devem ser formuladas para os cursos. O curso de Cinema e Audiovisual foi desmembrado das DCN da área de Comunicação pelo CNE através da Resolução n. 10/2006.


pedagógicos, restaurando a identidade do jornalismo sem abdicar de sua inserção histórica na área da comunicação e de sua natureza acadêmica como ciência social aplicada (COMISSÃO DE ESPECIALISTAS, 2009, p. 14)

O relatório destaca ainda que, no plano internacional, a Unesco reviu seu erro político e reconheceu a importância do jornalismo para o desenvolvimento social e a consolidação da democracia, passando a recomendar a formação específica de nível universitário e não mais uma habilitação atrelada à área de comunicação. Em 2007, essa nova proposta curricular da Unesco foi apresentada no I Congresso Mundial sobre o Ensino de Jornalismo. No Brasil, esse movimento de retomada do estudo específico do jornalismo foi marcado pela criação do Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo (FNPJ) e da Sociedade Brasileira de Pesquisadores de Jornalismo (SBPJor), assim como instituição do Programa de Qualidade do Ensino de Jornalismo, lançado pela Federação Nacional dos Jornalistas e assinado pela Associação Nacional de Programas de PósGraduação em Comunicação (COMPÓS), Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (ENECOS), Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM), SBPJor e FNPJ. Segundo a Comissão de Especialistas, estas iniciativas não representam um rompimento com a área acadêmica maior da Comunicação e sim “a sua revitalização, pelo fortalecimento de sua diversidade19 e dos vínculos com as práticas sociais e culturais que a originaram, justificando sua existência” (COMISSÃO DE ESPECIALISTAS, 2009, p. 14). Ao apresentar a fundamentação sobre as diretrizes propostas, o relatório da Comissão assume as perspectivas das multiplicidades teóricas sobre o jornalismo. Ou seja, entende que existe uma disputa teórica e política dentro do campo sobre o seu fazer e saber jornalísticos. Desse modo, a partir das teorias construcionistas, estruturalistas e interacionistas, entende o jornalismo com múltiplos e novos papéis: a) uma forma de conhecimento (p. 25); b) um dispositivo simbólico de construção da realidade social (p. 5); c) uma dimensão da cultura, engendrando mapas de significado e uma gramática cultural (p. 6-7); lugar de fala dos definidores primários e de negociação entre fontes de informação e jornalistas (p. 5).

19

A atual diretoria da Compós parece não compreender a importância política da diversidade para a área, visto que no documento “Posição final sobre proposta de diretrizes de Jornalismo” manifesta sua preocupação com a “atomização do campo comunicacional”. Com uma perspectiva conservadora e historicamente ultrapassada, entende que o contexto atual favorece “o comunicador polivalente”. (DIRETORIA da Compós, 2009, p.1).


Numa profissão em que a liberdade de informar constitui requisito essencial e numa atividade em que a independência editorial representa fundamento basilar e em que os valores do interesse público se tornam vetores determinantes das decisões cotidianas, as razões das escolhas têm de resultar evidentemente da consciência cívico-social. A ética que interessa à sociedade e ao jornalismo é aquela definida e sintetizada na Declaração Universal dos Direitos Humanos. É o ideário de um mundo a construir e o compromisso politicamente assumido de construí-lo. É, também, o referencial cultural mais avançado e sábio a que o jornalismo e os jornalistas se devem ater, na relação crítica com a realidade próxima a transformar (COMISSÃO DE ESPECIALISTAS, 2009, p. 7).

Considerações finais A formação específica de nível universitário para o exercício da profissão de jornalista é essencial para garantir o direito ao desenvolvimento de uma esfera pública democrática na sociedade brasileira contemporânea, caracterizada pela complexidade. As sociedades complexas requerem qualificações profissionais e formações acadêmicas específicas para diversas profissões; com o jornalismo, não pode ser diferente, pois o campo jornalístico configura-se como lugar de produção de um tipo de informação e de uma linguagem bem característica – a notícia e a reportagem – por ser amplamente acessível aos mais diferentes setores da sociedade. A formação acadêmica em jornalismo não é, como muitos pretendem fazer crer, um cerceamento à liberdade de expressão e de opinião, pois a qualificação específica é um instrumento político de garantia do interesse público por informações de melhor qualidade jornalística, produzidas com responsabilidade social e parâmetros éticos. O que impede a livre e irrestrita divulgação de pensamento dos diversos segmentos sociais são os interesses econômicos e/ou políticos das empresas jornalísticas e dos monopólios da indústria cultural. No cenário das práticas de democracia participativa, o jornalismo deve ser entendido como um lugar de produção de conhecimentos singulares sobre a dinâmica imediata da realidade social e um campo de mediação discursiva dos interesses, conflitos e opiniões que disputam o acesso à esfera pública nas sociedades democráticas. Para que tal cenário se efetive, a formação desses profissionais deve atentar para a emergência de novas cartografias, nas quais os projetos não se realizam apenas como inserção e desenvolvimento na carreira, mas principalmente com implicação e envolvimento nas questões que permeiam as políticas de comunicação. Em suma: o processo de fabricação da informação jornalística configura-se como um espaço público de lutas micropolíticas no qual diversas forças sociais, políticas e econômicas disputam, pela construção discursiva, a produção de sentido


sobre a realidade social. No âmbito da economia política das cartografias profissionais, é imprescindível uma política pública de comunicação que garanta a formação específica em jornalismo. Os setores organizados da sociedade brasileira, representados na Comissão de Especialistas do MEC, avançaram ao recomendar uma formação profissional centrada na ética, na capacidade crítica e na competência técnica. Certamente, quem mais vai desfrutar da produção de informação jornalística de qualidade é a democracia e a sociedade brasileira.

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The neoliberal networking drive in Latin America Dr. Hans-JĂźrgen Michalski current occupation: freelance scientific discipline: economy research fields: political economy of telecommunications, structural change of economy and society induced through informatization project: restructuring of the telecommunications industry

mailing: Neuer Graben 152 44137 Dortmund Germany e-mail: hans-juergen.michalski@unitybox.de

According to the ITU, privatization and competition were the two critical factors for the growth of the telecommunications industry. Until 2005, in Latin America 18 of the most important countries in the region had privatized or liberalized their telecommunications industries. Now the Latin American telecommunications market is dominated by two groups: the Spanish Telefónica and Mexico's Telmex. Obviously, the neoliberal networking drive has missed in Latin America the universalization goal of telecommunications. This gives not only Bolivia and Venezuela occasion to reconsider their previous universalization policies. Key words: Telecommunications, Latin America, neoliberal networking drive, universalization. At a historical point of view, since the Second World War, the telecommunications industry shows for most of the period network growth rates of between five to seven per cent per annum. But around the mid-1990s network growth rates began to increase more and more, reaching a peak value of 28 per cent in 2000. Therefore we have to record in 2007 1.279.357.800 fixed telephone lines and 3.285.304.200 mobile phones world wide. In the course of this development the gap between developed and developing countries - in 1984 called the missing link by the Maitland Commission of the International Telecommunication Union (ITU) of the United Nations – was supposed to have closed. In 1994 the fixed-line telephone density (telephones per 100 inhabitants) of the developed countries was 11 times greater than that of developing countries, in 2004, this factor was only 4. For mobile commu-


nications these factors are 27 and 4 respectively. As impressive this development is, in 2007 still more than four-fifths of the world's population lack access to own telephone (ITU. World Telecommunication/ICT Indicators Database, ITU 2002:18 a. ITU 2006: 1). According to the ITU, privatization and competition were the two critical factors for the growth of the telecommunications industry. The world-wide process of reform started in the United States. AT & T's - at that time the largest telecommunications company in the world - consent to its demerger in 1982 marked the lengthy transition to neoliberal policies of telecommunications development in the U.S.A. This initiated a world-wide wave of liberalizations - the neoliberal networking drive (Schiller 1999) –, which arrived in Britain and Japan first. Until 2005, in Latin America 18 of the most important countries in the region had privatized or liberalized their telecommunications industries. The largest country of Latin America, Brazil, reformed the sector fundamentally in 1998. In fact, the Latin American telecommunications market is dominated by two groups: the Spanish Telefónica and Mexico's Telmex (Mariscal/Rivera 2005). Even Cuba could not resist the neoliberal networking drive and opened the telecommunications sector to foreign capital. At the beginning of 1995 a joint venture between the Mexican Domos group (49% of the shares) and the Cuban Ministry of Communications (51% of the shares) was founded. Via a 25 percent stake in the Mexican telecommunications company, still in 1995 the Italian telecommunications group Telecom Italia got involved in the newly formed Cuban telephone company ETECSA (Empresa de Telecomunicaciones de Cuba, SA). Currently the Cuban government holds 51 and Telecom Italia 27 percent of the shares of the monopoly ETECSA. Furthermore, 4 other Cuban shareholders have shares in ETECSA. A shareholder agreement gives Telecom Italia International the right to appoint certain senior executive officers and a majority of the board of directors of ETECSA on alternate years. Moreover, there are agreements to provide certain technical assistance to ETECSA for which ETECSA pays annual fees in return. These technical agreements for fixed line and wireless services will expire at the end of 2009 (Hoffmann 2002b; Telecom Italia 2006a:103 a. Telecom Italia 2006: 66f.). In contrast to Cuba, Costa Rica and Uruguay have resisted the liberalization and privatization pressures for a long time. The government of Costa Rica withdrew its telecommunications "reform" law in April 2000, so that the energy and telecom company Instituto Costarricense de Electricidad (ICE) remained in 100% state ownership (Hoffmann 2002a). In Uru2


guay the intended partial privatization of the monopoly by the government has been rejected via a referendum in 1992. But at the beginning of the 21st Century the state monopoly for the provision of telecommunications services ended. While the telecommunications market in the sectors of mobile, long distance and value added services has been opened to competition, the fixed network remained in the hands of the state telephone company, ANTEL (Zapata 2008 a. Gómez/Mahan 2007: 7-9). Uruguay and Costa Rica, whose operators have not been taken over by foreign (European) telecommunications companies, remained exceptions in Latin America for a long time. But in 2007 the neoliberal (networking) drive ran into obstacles in some Latin American countries. So Telefónica dominating the Latin American telecommunications market warned in its annual report 2006 for the Securities and Exchange Commission (SEC) of growing political risks which are linked in the majority of cases to the discretional nature of the presidencies in power. In the case of Venezuela, Telefónica feared a substantial regulatory change with notable harmful implications for business development. Publicly announced proposals of the President of Ecuador as a possible default on external debts, a probable reconsideration of government participation in economic activities and a possible renegotiation of key contracts including the telecommunications sector - or a possible exit from the current exchange rate mechanism also unsettled Telefónica. Venezuela and Bolivia did not put in announcements and realized their respective nationalization program in the telecommunications sector. In January 2007 the government Chavez announced, as part of its nationalization policy, to buy back strategic corporations. This included the 1991 privatized Anónomia Compañía Nacional de Teléfonos de Venezuela (CANTV), which at the end of 2006 covered 79 % of the fixed line market, and (via Movilnet) 42 % of the mobile market. In February 2007, the Venezuelan government reached an agreement with the U.S. telecommunications company, Verizon1, the largest shareholder CANTVs, to sell its shares. In May 2007, the government finally took control of CANTV (Rodríguez/Cáceres 2008, World Bank 1994: 66 a. Telefónica 2007: 33 a. 351). In the same year the Bolivian government accused ENTEL Bolivia the former state telecommunications enterprise company and Euro Telecom International (ETI), also a subsidiary of Telecom Italia and dominating ENTEL since 1996, of a number of serious administrative and financial irregularities and established a Ministerial Commission to recover ENTEL Bolivia for the state. Because ETI appealed to the International Center for Settlement of Investment Disputes (ICSID), which Bolivia since May 2007 no longer belongs to, the ne1

At the end of 2006 Telefónica had 6.92% of CANTVs shares.

3


gotiations with the Bolivian government, initiated in 2006, stagnated so that the acquisition of ENTEL was announced with the Decree of May 1 2008. In April 2007, the government had already taken over 47% of the ENTEL shares administered by the two groups BBVA (Spain) and Zurich (Switzerland) (Calzada/DĂĄvalos 2005, Telecom Italia 2006b: 25 a. 60f; SĂźddeutsche Zeitung 3./4.5.2008: 25 a. 30.6.2008: 8).

Comparing the mentioned countries by the number of fixed lines per 100 inhabitants which was for a long time the crucial indicator it is striking that exactly the long time privatization-resistant countries have a higher network density than the now renationalizing countries. This does not mean that a simple causal relationship between the kind of ownership of telecommunications companies (state-owned or private) and the penetration rate of telephones exists, but that liberalization is no guarantee for success in the sense of universalization. In the observation period, Venezuela has made the most dynamic growth, but remains below the 19percent mark in 2007. Bolivia at an annual growth of 2.8% could just exceed the 7-percent mark. Also, the telephone density of Cuba lies at this level, despite rapid growth in recent times. Table I: Basic indicators of selected countries of Latin America Population Total Density (M) (per km2) Bolivia Brazil Costa Rica Ecuador Cuba Uruguay Venezuela Americas World

2007 9,52 191,79 4,47 13,34 11,27 3,34 27,66 909,85 6.691,53

2007 9 23 88 29 98 18 30 23 49

GDP (B US$)

Total Telephone Subscribers (000s) per 100 inhabitants

Per capita (US$)

2006 11,16 1.065,51 22,15 41,40 18,82 19,31 108,98 17.345,8 49.472,7

2006 1.193 5.641 5.034 3.085 1.674 5.538 4.164 19.364 7.696

2007 3.932,6 160.379,7 2.794,9 11.890,5 1.125,6 3.969,0 28.902,3 918.980,1 4.476.669,8

2007 41,29 83,62 63,54 89,13 9,97 118,84 104,50 101,75 67,53

Source: ITU World Telecommunication/ICT Indicators Database. Own compilation.

Table II: The development of fixed networks of selected countries of Latin America

Bolivia Brazil Costa Rica Ecuador

Main (fixed) telephone lines (000s) 2002 2007 590,6 678.2 38.810,7 39.399.6 1.038.0 1.436.7 1.426.2 1.804.8

CAGR (%) 2002-2007 2,8 0,3 6,7 4,8

4

Main (fixed) telephone lines per 100 2002 6,82 21,69 25,82 10,97

2007 7,12 20,54 32,16 13,53

CAGR (%) 2002-07 0,9 -1,1 4,5 4,3


Cuba Uruguay Venezuela Americas World

665.6 946.5 2.841.8 298.310,9 1.082.590,5

972.9 965.0 5.082.2 294.384,8 1.279.357,8

10,0 0,4 12,3 -0,3 3,4

5,94 29,38 11,27 34,95 17,45

8,61 28,89 18,38 32,59 19,23

9,7 -0,3 10,3 -1,4 2,0

Source: ITU World Telecommunication/ICT Indicators Database. Own compilation.

Obviously, the neoliberal networking drive has missed in Latin America the universalization goal of telecommunications. All Latin American area countries are under the American and many well below the world average. Despite the expansion of Latin American telecommunications networks, exists a large gap between the most populous countries of Latin America Brazil (20.54), Mexico (18.54), Colombia (17.19) and Argentina (24.03) on the one hand and the U.S. (57.15 ) and Canada (64.49) on the other hand, even though it may have reduced in the past decades. With the global success of mobile telephony in this decade, the telephone density of the so-called developed countries as well as of some developing countries in America decreased. In a few countries of America has, indeed, the absolute number of fixed lines diminished too. In contrast, mobile communications worldwide as well as in Latin America developed very dynamically, as the chart below shows. Statistically, almost every second citizen of the world had a mobile phone in 2007. Very high growth rates, above the world average, have led to that in Bolivia the absolute number of mobile subscribers from 2002 to 2007 has more than tripled. In Brazil, this increase was nearly three times and a half, in Costa Rica about three times, in Ecuador six times and a half and in Cuba eleven-fold. For Uruguay, this factor was 5.85 and for Venezuela 3.6. In these countries, except Cuba, the mobile density is higher than that of fixed lines. Especially if fixed and mobile lines are simply added, there seems to exist no telecommunications issue in relation to universalization for the here selected Latin American countries except Cuba.

Table III: The development of mobile communications in selected Latin American countries 2002 (000s)

Bolivia Brazil Costa Rica Ecuador Cuba Uruguay

2007 (000s)

1.023,3 34.881,0 502,5 1.560,9 17,9 513,5

Mobile cellular subscribers CAGR per 100 (%) inhabitants 2002-2007 3.254,4 120.980,1 1.443,7 10.085,7 198,2 3.004,0

26,0 28,2 30,2 45,2 61,8 42,4

5

% Digital 2007 34,17 63,08 32,82 75,60 1,76 89,95

100,0 ... 100,0 ... ... ...

As % of total telephone subscribers 2007 82.8 75.4 51.7 84.8 13.6 75.7


Venezuela Americas World

6.541,9 255.456,3 1.157.383,6

23.820,1 652.565,1 3.285.304,2

29,5 20,6 23,2

86,13 71,74 49.32

... 9,4 65,9

Source: ITU World Telecommunication/ICT Indicators Database. Own compilation.

As the mobile telephone system represents in many countries the largest telecommunications network, particularly in lower income countries, it seems justified for the ITU to include mobile phones in the determination of universalization. Furthermore, mobile communications would have the additional feature to measure the network accessibility easily. This could be defined as the percentage of the population within the reach of a terrestrial mobile cellular signal, irrespective of whether people are actually subscribers. This would be the first comparable measure to continue to pursue the Maitland Report recommendation to bring all of humanity into reach of a telephone (ITU 2002: 20). Apart from the fact that the penetration rates of fixed and mobile telephony are highly aggregated indicators for the measurement of universalization, which say nothing about the spatial and social distribution of telecommunications facilities and that these different telecommunications densities certainly should not be summarized to a single indicator, because this supposes different users, there exists no complete substitutability between fixed and mobile lines. Concerning voice communication the wireless line can substitute the fixed, but the broadband Internet access based on the fixed network, especially the world's dominant DSL technology, enjoys over its mobile alternative a big development lead (BMWi 2008). Thus, by a high cellular density it can not to be concluded that the technical and infrastructural conditions for the development of an information society are given, when, with the rapid spread of mobile telephony of course, the conditions for voice communications have improved considerably. By no means was the missing link found with mobile communications making fixed lines unnecessary, as the ITU concludes. Rather, these long-standing divisions are superimposed by the so-called digital divide. In general this refers to the differences in terms of Internet access, which is distributed more uneven than the telephone access. Old and new divisions still exist between countries with different levels of development, within a country, e.g. between urban and rural areas, between genders, between educated and untrained, or between young and old (ITU 2002). Even if the global divide with regard to Internet users has decreased, the corresponding penetration rates of the here selected Latin American countries lag on the one hand behind their own fixed and mobile densities already reached and on the other hand, there are still sig6

82.4 68.0 71,5


nificant disparities compared to the developed countries (see Table IV). For comparison, here are mentioned the relevant indicators (penetration rates for Internet subscribers or users), Canada (26.72 or 85.17) and USA (21, 32 or 71.94). For the advanced communication technologies these differences continue. For example, the share of all broadband subscribers of the selected Latin American countries, was 2007 under the 5 percent mark, while this indicator amounted 22.91 for Canada and 19.79 for the U.S. (Germany: 23.97).

Table IV: Internet and broadband in selected Latin American countries (2007) Country

Internet Subscribers (000s)

Bolivia Brazil Costa Rica Ecuador Cuba Uruguay Venezuela Americas World

198,4 16.525,0 236,0 206,0 16,0 242,0 1.005,8 102.734 521.771

Subscribers Users Users per per 100 in(000s) 100 inhabihabitants tants 2,08 198,4 2,08 8,87 50.000,0 26,07 5,28 1.500,0 33,57 1,54 1.549,0 11,54 0,14 240,0 2,13 7,25 968,0 28,98 3,64 5.719,7 20,68 11.80 375.085,0 41,23 8.34 1.467.040,1 22,04

Broadband Subscribers Total Per 100 (000s) Subscribers 34,0 8.100,0 147,6 319,0 165,0 858,0 88.408 335.747

0,36 4,22 3,30 2,39 4,94 3,10 9,74 5,18

Source: ITU World Telecommunication/ICT Indicators Database. Own compilation.

Venezuela and Bolivia want to overcome the many (digital) divisions in their own countries and have started with their nationalizations of the dominant telecommunications company a new telecommunications policy, which aims to transform telecommunications from a product of the market to a tool of development, oriented to the human and social needs. The overall objective is to socialize the use of all ICT and democratize the access to them. Through the unfolding of the (broadband) infrastructure at a national scale, they want to create a new territorial balance. Accordingly, the telecommunication networks, particularly in rural areas, should be expanded. In the two renationalizing countries Bolivia and Venezuela are again reinforced investments and the tariffs are lowered.

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Agreeing Periu (2005), who leads to the result that from the foreign direct investment by Spanish Telef贸nica, the largest investor in Latin American telecommunications sector, both investors and consumers in the concerned countries have benefited, it would not need such drastic measures in the other Latin American countries. But the neoliberal networking drive, which makes a public service, formerly provided by the state for the population, a commodity, has not really universalized the phone in Latin America, regardless of whether the agreed universalization objectives between the respective governments and telecommunications companies dominated by foreign capital have been met or not. Still applies: the less money the citizens of a country have, the more unlikely it is that the so-called information and communication technologies are used.

The balance of the telecommunications development in the Latin American countries, touched here, gives not only Bolivia and Venezuela occasion to reconsider their previous universalization policies (ITU undated). In particular, how can be created the infrastructure prerequisites for the information society and can this be done with foreign telecommunications companies? Can foreign direct investment serve sustainable (telecommunications) development, or necessary investment in the universalization of telecommunications and the fulfilment of foreign (or any) claims of shareholders exclude themselves ultimately from each other? Are these questions answered negatively other countries in Latin America have reasons to halt the neoliberal networking drive.

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References Bundesministerium für Wirtschaft und Technologie (BMWi) (Hg.) (2008): Innovationspolitik, Informationsgesellschaft, Telekommunikation. 11. Faktenbericht 2007. Eine Sekundärstudie der TNS Infratest Business Intelligence. Berlin. Calzada, Joan/ Dávalos, Arturo (2005): Cooperatives in Bolivia: Costumer ownership of the local loop, in: Telecommunications Policy Vol. 29, pp. 387-407. Gómez, Gustavo/ Mahan, Amy (2007): An Institutional and Practical Evaluation of URSEC – Uruguay’s Communication Regulator – and its Relationship with Citizens. WDR Dialogue Theme 4 th Cycle Discussion Paper WDR 0706. Montevideo. Hoffmann, Bert. (2002a): Internet und Politik in Lateinamerika: Costa Rica. Teilband II von: Herzog, Roman/ Hoffmann, Bert/ Schulz, Markus. Internet und Politik in Lateinamerika. Regulierung und Nutzung der Neuen Informations- und Kommunikationstechnologien im Kontext der politischen und wirtschaftlichen Transformationen. Frankfurt am Main: Vervuert Verlag. Hoffmann, Bert (2002b): Internet und Politik in Lateinamerika: Kuba. Teilband VI von: Herzog, Roman/ Hoffmann, Bert/ Schulz, Markus. Internet und Politik in Lateinamerika. Regulierung und Nutzung der Neuen Informations- und Kommunikationstechnologien im Kontext der politischen und wirtschaftlichen Transformationen. Frankfurt am Main: Vervuert Verlag. International Telecommunication Union (2006): World Telecommunication/ICT Development Report. Measuring ICT for Social and Economic Development. Geneva. International Telecommunication Union (2002): World Telecommunication Development Report 2002. Reinventing Telecom. Executive summary. Geneva. International Telecommunication Union (1994): World Telecommunication Development Report. Geneva. International Telecommunication Union (undated): Acceso Universal en Latinoamérica: Situación y desafíos. Mariscal, Judith/ Rivera, Eugenio (2005): New trends in the Latin American telecommunications market: Telefonica & Telmex, in: Telecommunications Policy Vol. 29, p. 757-777. Periu, Michael (2005): Stakeholder impact of Telefónicas Latin American Investments, in: Latin America´s quest for globalization. Aldershot: Ashgate, pp. 205-227.

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Rodríguez, Antonio Chinea/ Cáceres, María Gabriela. Venezuela. De los orígenes a 1992. AHCIET. Historia de las Telecomunicaciones, in: www.ahciet.net/historia/pais.aspx?id=10151&ids=10683 (19.5.2008). Schiller, Dan (1999): Digital Capitalism. Networking the Global Market System. Cambridge: MIT Press. Telecom Italia (2006a): Annual Report. Telecom Italia (2006b): Telecom Italia S.p.A. Annual Report pursuant to section 13 or 15(d) of the Securities Exchange Act of 1934 for the fiscal year ended: December 31, 2006. Telefónica (2007): Telefónica. S.A. Annual Report pursuant to section 13 or 15(d) of the Securities Exchange Act of 1934 for the fiscal year ended December 31, 2006. As filed with the Securities and Exchange Commission on May 18, 2007. Unidad Reguladora de Servicios de Comunicaciones (URSEC) (2007): Evolución del mercado de las telecomunicaciones en Uruguay. Montevideo. World Bank (1994): World Development Report 1994. Infrastructure for Development. Oxford University Express. Zapata, Pilar Gascón (2008): Uruguay. De 1993 a 2002. AHCIET. Historia de las Telecomunicaciones, in: <www.ahciet.net/historia/pais.aspx?id=10150&ids=10707> (19.5.2008).

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La radio española: un negocio analógico en la era digital

Luis Arboledas

Resumen En los años ochenta la radio y la televisión recorrieron un camino paralelo en el desarrollo del sistema comunicativo español y en la creación de los grupos multimedia. Esta tendencia se ha roto con la introducción de la tecnología digital pues la radio se aferra a su tradicional modelo de negocio analógico mientras que la televisión se transforma para adaptarse a los nuevos soportes. En un escenario donde los gobiernos muestran nulo interés en el desarrollo de la tecnología digital y donde los operadores carecen de un proyecto de futuro la radio española corre el peligro de quedar aislada y relegada a un papel meramente marginal.

Palabras clave: Radio, políticas de comunicación, concentración, radio digital, DAB.

Resumo Na década de oitenta do século passado, a rádio e a televisão percorreram um caminho paralelo no desenvolvimento do sistema de comunicação, em Espanha, na criação dos grupos multimedia. Esta tendência foi quebrada com a introdução do rádio digital, dado que esta se apega ao seu modelo analógico tradicional, enquanto a televisão é transformado para se adaptar aos novos media. Num cenário onde os governos não mostram nenhum interesse pelo desenvolvimento da tecnologia digital e em que os operadores não têm um projecto de futuro, a rádio espanhol corre o perigo de ficar isolada e relegada para um papel meramente marginal.

Palavras-chave: Rádio, políticas comunicação, concentração, rádio digital, DAB.

Abstract

In the 1980s, radio and television travelled a parallel path in the development of Spanish communications system and multimedia groups. This trend has been broken with the introduction of digital radio: whereas this clings to its traditional analogue business model, television changes in order to adapt to new media. In a scenario where governments show no

Profesor asociado en la Facultad de Comunicación y Documentación de la Universidad de Granada, doctor en Comunicación Audiovisual por la Universidad de Granada y periodista durante más de dos décadas en Radio Nacional de España. E-mail: larboledas@ugr.es.

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interest in the development of digital technology and operators do not offer a project of future, Spanish radio is in danger of being isolated from and relegated to a purely marginal role.

Keywords: Radio, communication policies, concentration, digital radio, DAB

1. Introducción

Mientras que la radio parece anclada al patrón analógico, la televisión se transforma de manera acelerada ante el reto digital. Así, en apenas un lustro (2004-2009) los gobiernos presididos por el socialista José L. Rodríguez Zapatero han concebido la televisión digital terrestre (TDT) como un instrumento estratégico para el desarrollo tecnológico-económico y han implementado una batería de medidas que están transformando la industria televisiva. Durante ese mismo período, en la radio se han limitado a introducir una moratoria en la cobertura de la radio digital y han habilitado 866 nuevas licencias en frecuencia modulada (FM), medidas que no han afectado al modelo de explotación existente desde hace décadas. El impulso a la TDT y la distribución de sus canales se ha realizado a través de un acuerdo con los operadores privados; la ampliación del mapa radiofónico, sin embargo, se ha aprobado con las críticas de la Asociación Española de Radiodifusión Comercial (AERC) porque, en su opinión, pone en peligro la viabilidad del sector. La patronal del sector ha criticado también que se preparen nuevas licencias y, al mismo tiempo, las Administraciones toleren el funcionamiento de más de 2.000 emisoras sin la preceptiva concesión. Por otro lado, las comunidades autónomas —encargadas de otorgar las nuevas frecuencias— han mostrado escaso interés en hacerlo, pues apenas se ha adjudicado el 27% del total de licencias asignadas. El presente trabajo se propone examinar la política radiofónica aplicada en España durante el lustro comprendido entre 2004 y 2009; una política que se podría caracterizar a partir de algunos rasgos como el desinterés mostrado por los gobiernos hacia la radio y la falta de consenso entre el ejecutivo y los operadores comerciales para abordar la migración hacia la tecnología digital, en claro contraste con el impulso otorgado a la televisión mediante un pacto con el sector privado. La consecuencia más visible es que la industria televisiva ha iniciado una transformación para adaptarse al entorno digital mientras que la radio sobrevive bajo el modelo de explotación desarrollado medio siglo atrás en consonancia con la tecnología analógica. El análisis aquí propuesto se enmarca dentro de la perspectiva de la economía política de la comunicación, concebida como la disciplina que examina las relaciones de poder y la regulación del mercado de la comunicación (Mosco, 2006).

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2. El binomio radio-televisión en los grupos mediáticos españoles

En la década de los ochenta las empresas periodísticas aprovecharon las nuevas licencias radiofónicas para ampliar su negocio e iniciar incipientes grupos multimedia que se consolidaron años después con la autorización de la televisión privada. Se fue configurando un arquetipo de grupo mediático con un canal de televisión como núcleo central y una o varias redes radiofónicas como complemento, más otros negocios en el sector editorial o en la producción audiovisual. La combinación de radio y televisión permitía ciertas sinergias —como la utilización de corresponsales comunes— y facilitaba un continuo trasvase de directivos y de estrellas. Este modelo se comenzó a romper a raíz de las reformas en el sector televisivo introducidas por los gobiernos socialistas entre 2005 y 2009. Primero se aceleró la introducción de la TDT, cuya fecha límite se fijó en abril de 2010 y, de forma paralela, se autorizó un nuevo canal de cobertura nacional y en soporte analógico y el paso de codificado a abierto de Canal + (BOE, 24-06-2005 y 30-07-2005). El anuncio de estos cambios en el mapa televisivo analógico suscitó una dura confrontación entre los grupos de comunicación y el gobierno y entre los propios grupos; un enfrentamiento económico por el dominio del mayor número de canales digitales pero teñido también de intereses políticos a propósito de la afinidad o de la hostilidad entre el ejecutivo socialista y las empresas afectadas (Bustamante, 2008). El conflicto llegó hasta tal punto que el presidente Rodríguez Zapatero se reunió con los directivos de las televisiones comerciales (El País, 30-062005). Apenas dos semanas después se alcanzó un acuerdo entre el gobierno y los grupos privados: cada emisora privada podría explotar 4 canales a través de la TDT y se reservaron otros 8 canales a RTVE (El Mundo, 13-07-2005). El acuerdo se interpretó como la “paz digital” entre el gobierno y los principales grupos de comunicación españoles: el ejecutivo sentó las bases para las demás reformas que tenía planeadas y los empresarios se garantizaron que serían los únicos operadores en la televisión digital. En poco tiempo, el gobierno socialista sacó adelante sus nuevas leyes: reforma de la radiotelevisión pública estatal (RTVE) (BOE, 06-06-2006); reforma de la televisión privada para facilitar la concentración de canales (BOE, 04-07-2009); introducción de los contenidos de pago en los canales de TDT (BOE, 15-08-2009) y contrarreforma de RTVE para eliminar la publicidad (BOE, 31-08-2009). Pocos días después de aprobarse las fusiones entre canales privados, el consejero delegado de La Sexta —la nueva cadena surgida a raíz de la ampliación de canales analógicos— José Miguel Contreras, anunció que la industria televisiva española se enfrentaba a un “cambio trascendental”: las cadenas desaparecerían en favor de las plataformas o grupos con ocho canales diversificados en primeras y segundas marcas y con televisión de pago; sería “una

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revolución completa en el sector” (Foro de la Nueva Comunicación, 26-03-2009). En este modelo la radio ni siquiera aparece como un negocio complementario, todo gira en torno a la televisión. Unos meses después, la firma de la fusión entre Telecinco —cuya propiedad encabeza Mediaset, el holding de Silvio Berlusconi— y Cuatro —el canal en abierto perteneciente al grupo PRISA— (El País, 19-12-2009) muestra que, en efecto, parece romperse el binomio radio-televisión sobre el que se habían asentado los primeros grandes grupos españoles de comunicación. Mediaset no tiene intereses en España ni en la prensa ni en la radio, mientras que PRISA ha desandado su camino en el sector televisivo: primero abandonó su red de emisoras locales de televisión —que emitían bajo la marca Localia—, luego vendió su canal generalista —Cuatro— y redujo de forma considerable su participación accionarial en Digital + —la plataforma de televisión satelital— dando entrada a Telefónica y a Mediaset.

3. Retrasos en la radio digital y ampliación de la FM

Tras llegar al poder, el gobierno socialista anunció que impulsaría la radio digital y otorgaría nuevas concesiones analógicas (El País, 03-09-2004). En lugar del prometido impulso a las emisiones digitales, aprobó el Real Decreto 776/2006 (BOE, 24-06-2006) mediante el cual se extendió hasta diciembre de 2011 la obligación de alcanzar una cobertura del 80% de la población “con la finalidad de armonizar el ámbito normativo con la realidad económica y comercial del sector”. Esta moratoria atendió los reclamos del sector empresarial pero soslayó el desarrollo de la radio digital basada en el Digital Audio Broadcasting (DAB), que los expertos situaron en estado de “coma técnico” (Martí y Monclús, 2008). De forma paralela, tres cadenas nacionales —RNE, COPE y SER— decidieron impulsar conjuntamente el uso de la onda media mediante su digitalización (El Mundo, 15-09-2008). En 2009, los operadores radiofónicos pidieron al gobierno que dejara “en suspenso la obligación de emitir en digital”; las grandes cadenas nacionales argumentaron que el uso del DAB les costaba 30 millones de euros al año y sólo servía para emitir a “las piedras” (El País, 02-032009). En respuesta a esta solicitud, el gobierno anunció una reforma con el objetivo de flexibilizar criterios y ampliar a los operadores las soluciones técnicas; además, se reduciría la obligación de cobertura del 50% al 20% de la población (www.moncloa.es, 17-06-2009). Estas decisiones confirman el fracaso de la radio digital en España a través del estándar elegido —el DAB—; un fracaso que se debe a causas tales como la ausencia de un modelo de negocio, la falta de sinergias con otras industrias, la falta de coordinación entre todos los agentes o la inadecuación del DAB a la estructura de la radio local española (Bonet et al., 2009).

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Por otro lado, el gobierno aprobó el Plan Técnico Nacional de Radiodifusión Sonora en Ondas Métricas con Modulación de Frecuencia (BOE, 18-09-2006). La vicepresidenta del gobierno, María T. Fernández de la Vega, dijo que se pretendía “incrementar la pluralidad” y poner fin a la situación irregular de unas 1.600 emisoras de FM sin concesión (Abc, 02-09-2006). El Partido Popular (PP) aseguró que el Plan era un fraude a los ciudadanos porque no mejoraría ni la calidad ni la pluralidad radiofónica (Abc, 02-09-2006). Por su parte, la Asociación Mundial de Radios Comunitarias (AMARC) exigió reservar un porcentaje de las frecuencias para las entidades sin afán de lucro, como condición indispensable para ampliar el pluralismo (prnoticias, 02-11-2006). La Asociación Española de Radiodifusión Comercial (AERC) recibió el nuevo Plan Técnico como un peligro para la viabilidad económica del sector pues suponía un incremento de emisoras del 83,4% en un contexto de fuerte competencia; además, la patronal radiofónica reclamó que se reconocieran oficialmente las cadenas y denunció que la ampliación se hacía sin cerrar las más de 2.000 emisoras que estaban funcionando sin concesión administrativa con el consiguiente perjuicio económico, máxime cuando la publicidad local suponía el 55% de los ingresos de la radio española (eldial.net, 20-07-2006). El presidente de la AERC, Rafael Pérez del Puerto, lamentó que el gobierno no hubiera demostrado empeño en cerrar las emisoras sin concesión que “era la verdadera prioridad y demanda del sector”, pues el plan no había sido solicitado por la asociación (Elconfidencial.com, 21-09-2006). La proliferación de emisoras sin licencia se relacionó con la saturación del espectro radioeléctrico, en especial en las grandes aglomeraciones urbanas. Según Martí y Bonet (2006), la saturación era consecuencia de las políticas aplicadas por los gobiernos a través de sus decisiones arbitrarias; el crecimiento del sector radiofónico se podía considerar como “mínimo de ilegal” y la pervivencia de emisoras sin concesión no se debía a la falta de regulación legal, sino que era el resultado de decisiones políticas. Por su parte, el presidente de la cadena propiedad de la Iglesia católica, la COPE, Alfonso Coronel de Palma, también criticó al gobierno recordándole que las grandes cadenas estaban en contra del plan y lamentó la diferencia de trato respecto a la televisión: “No me explico por qué todo el mundo tiene claro que hay que apoyar, hacer todo lo posible para que las grandes cadenas de televisión tengan la máxima cobertura, lleguen a todos los lugares y no se tenga la misma concepción respecto a las radios” (El Mundo, 28-09-2006). A pesar de las críticas y de la falta de consenso, el gobierno central aprobó su plan ampliando en 866 el número de licencias en el sector privado, que en aquel momento contaba con 1.038 concesiones. El gobierno justificó el alto número de licencias en la necesidad de atender las demandas de las comunidades autónomas (El País, 02-09-2006). Sin embargo, tres años después tan sólo siete gobiernos autónomos han adjudicado el cupo asignado: 234, lo cual

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representa apenas el 27% del total; de esta cantidad, un 40% —83— corresponde a un único territorio: Cataluña. En el caso de la comunidad catalana la rápida adjudicación se debe relacionar con el llamado Plan Piloto, una iniciativa que había permitido al gobierno catalán repartir desde 2002 un centenar de licencias sin previa asignación de la Administración central y a la espera de su definitiva adjudicación. Por otro lado, el ministro encargado de impulsar el Plan Técnico de 2006, José Montilla, abandonó este cargo justo unos días después de su aprobación para ser el candidato socialista a la presidencia del gobierno catalán (El Mundo, 28-09-2006); las licencias fueron adjudicadas ya con Montilla como presidente de la Generalitat catalana. En Andalucía, por ejemplo, los 91 particulares o empresas que han presentado sus solicitudes llevan desde abril de 2007 esperando a que la Junta adjudique las licencias. En otras comunidades autónomas, como el País Vasco —que otorgó sus últimas licencias en 1989—, ni siquiera se ha aprobado el decreto para abrir el proceso de adjudicación.

4. Licencias radiofónicas y clientelismo político

En el mismo acto en el que la patronal radiofónica criticó el Plan Técnico de 2006, su presidente, Rafael Pérez del Puerto, se mostró preocupado por la “politización” de las concesiones en algunas comunidades autónomas y lamentó la inexistencia de consejos audiovisuales que se encargaran de otorgar las licencias bajo criterios profesionales (Elconfidencial.com, 21-09-2006). Las denuncias sobre partidismo, favoritismo o clientelismo se repitieron tras conocerse las adjudicaciones realizadas al amparo del Plan Técnico de 2006. Según Martí y Bonet (2000), las polémicas sobre las adjudicaciones se han convertido en una suerte de “representación cíclica” aceptada por todas las partes con tal de no hacer frente al auténtico problema de base: el sistema mismo de concesiones. Las adjudicaciones realizadas al amparo del Plan Técnico de 2006 no han podido sustraerse a esta representación. Desde el punto de vista del signo político, en tres gobernaba el PP —Baleares, Madrid y La Rioja— y en las otras cuatro lo hacía el PSOE —en Aragón y en Cataluña en coalición con otros partidos y en Castilla-La Mancha y en Extremadura en solitario—.

Tabla 1. Adjudicatarios según cadenas y grupos nacionales

CC.AA ARA.

SER

OCR

COPE

12

2

2

P. RAD.

KISS

2

REC. ZETA 3

6

SAZ. 66

OTR.

AUT./ LOC.


BAL.

4

4 2

4

CLM.

7

5

CAT.

9

8

EXTRE.

9

4

3

3

7

1

1

3

4

3

2

MAD.

2

1

2

2

1

1

17

1

4 66

RIO.

1

1

3

3

TOT

38

25

17

14

14 4

2 11

10

2

2

1 5

6

5

103

FUENTE: elaboración propia a partir de los diarios oficiales de las CC.AA.

En términos generales, se comprueba la existencia de lazos de afinidad entre los gobiernos y los adjudicatarios; así, el grupo PRISA y sus socios son los más favorecidos donde gobierna el PSOE mientras que el PP se decanta por la COPE, Unidad Editorial/Recoletos, Intereconomía o Vocento. Un caso singular es el grupo Planeta —propietario de Onda Cero—, el único que ha obtenido licencias en las siete comunidades autónomas, algo que puede atribuirse al hecho de que en Madrid publica La Razón —diario que se identifica con las posiciones del PP— y en Barcelona participó entre 2004 y 2009 en la propiedad del diario Avui — identificado con las posiciones del nacionalismo catalán mantenidas por el gobierno de coalición—. Las concesiones en territorio catalán fueron otorgadas por primera vez por una autoridad distinta al gobierno de turno —el Consejo del Audiovisual de Cataluña (CAC)—, que tampoco pudo sustraerse a las críticas sobre partidismo o clientelismo. Desde los medios que se consideraron perjudicados —COPE, El Mundo o Abc—, la decisión del CAC se interpretó como un castigo a sus posiciones críticas frente al gobierno catalán (Abc, 08-11-2008; El Mundo, 09-11-2008). El presidente del CAC, Josep Maria Carbonell, aseguró que este organismo había actuado con “independencia y transparencia” a pesar de “las presiones, insultos y amenazas” que habían recibido algunos de los consejeros (EFE, 19-11-2008). Además, Carbonell confesó que los miembros del Consejo habían recibido presiones de los partidos políticos y de los grupos de comunicación. Apenas dos meses después de la adjudicación, el presidente del CAC renunció al cargo y se integró en una empresa privada (El Mundo, 21-11-2008). Compuesto por políticos y periodistas, el CAC repite uno de los rasgos comunes a todos los órganos de dirección y de control de los organismos públicos audiovisuales: las cuotas partidistas, que no sirven más que para reproducir las “representaciones cíclicas” alimentadas por los propios partidos y las empresas de comunicación. Las adjudicaciones realizadas por las comunidades autónomas al amparo del Plan Técnico de 2006 responden al mismo modelo implantado desde las primeras concesiones del régimen democrático en 1981: los gobiernos aprovechan las licencias para favorecer a empresas o a

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particulares afines; el favoritismo responde a las vinculaciones existentes entre los partidos en el gobierno y las empresas de comunicación, vinculaciones que se pueden definir como relaciones de tipo clientelar en las que las licencias radiofónicas se utilizan como instrumentos políticos para premiar a los grupos afines y castigar a los hostiles. Se trata de unas prácticas que se observan en todos los gobiernos con independencia de sus principios ideológicos (Arboledas, 2009a).

6. Cadenas y modelo de negocio analógico

El gobierno justificó la concesión de 866 nuevas licencias con el argumento de ampliar el pluralismo y acabar con las emisoras sin licencia (Abc, 02-09-2006). El análisis de las adjudicaciones realizadas en las siete comunidades autónomas que han concluido el proceso indica que algo más de la mitad de las concesiones ha correspondido de forma directa a las cadenas nacionales.

Tabla 2. Adjudicatarios. Grupos nacionales y autonómicos o locales

NAC.

Ara.

Bal.

CLM

Cat.

Extre.

Mad.

Rio.

Tot.

21

17

19

17

27

19

11

131

17

4

66

14

2

34

23

83

AUT./LOC. TOT.

21

21

103 11

234

FUENTE: elaboración propia a partir de los diarios oficiales de las CC.AA.

En la tabla 2 se comprueba que Baleares y Cataluña son las dos comunidades donde más licencias se han destinado a solicitantes de carácter local o autonómico. Un examen más detallado indica que estos beneficiarios ya estaban presentes en el negocio radiofónico —Godó, Radio Tele Taxi o Flaix en Cataluña; Muinmo en Baleares— o eran compañías con intereses en el mundo de la comunicación —los grupos Serra o Ferrús en Baleares; Segre en Cataluña—. La suma de las frecuencias otorgadas a las cadenas nacionales y de las concedidas a los grupos locales o autonómicos muestra que estas concesiones no sólo no han servido para la entrada de nuevas voces, sino que han acrecentado la concentración en las cadenas y grupos ya existentes; entre los escasos nuevos operadores figura la Unión General de Trabajadores (UGT) en CastillaLa Mancha (Arboledas, 2009b). En cuanto a la eliminación de las emisoras sin licencia, de los datos extraídos de las siete comunidades ya citadas se constatan unos exiguos resultados con ejemplos como Radio María en Madrid o Radio Almenara en Castilla-La Mancha (Arboledas, 2009b).

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A la vista de estos resultados y ante los insistentes reclamos de la patronal radiofónica, el gobierno parece dispuesto a intervenir contra el intrusismo. Así se desprende de los debates en el Congreso de los Diputados dedicados a la aprobación de la Ley General de Comunicación Audiovisual donde se contempla la creación de la Agencia Estatal de Radiocomunicaciones, que será la encargada de elaborar un mapa de la radio española para detectar las emisoras sin licencia y dejar en funcionamiento sólo las que tengan concesión (Diario de Sesiones, núm. 457, 07-01-2010). Esta Agencia ya se aprobó en la Ley General de Telecomunicaciones de 2003 (BOE, 04-11-2003), pero ni el PP ni el PSOE han mostrado ningún interés en su puesta en marcha a pesar de las constantes denuncias de la AERC contra las llamadas “emisoras piratas”. Por otro lado, la concentración de frecuencias en grandes cadenas es un fenómeno que los gobiernos han favorecido mediante la adjudicación de licencias y la ampliación de los escasos límites fijados en la legislación radiofónica. En este sentido, la tercera decisión del presidente Rodríguez Zapatero en el sector radiofónico fue precisamente facilitar la concentración a través de la llamada Ley de Medidas Urgentes para el Impulso de la Televisión Digital Terrestre, de Liberalización de la Televisión por Cable y de Fomento del Pluralismo (BOE, 15-06-2005). Paradójicamente, el fomento del pluralismo se refiere a la decisión de ampliar los límites a la propiedad de licencias radiofónicas pues se estableció que una persona física o jurídica podría controlar 5 concesiones como máximo en un mismo ámbito de cobertura; esta decisión permitió certificar la integración de la cadena SER y de Antena 3 Radio en el holding Unión Radio, una operación pactada por los grupos PRISA y Godó en los años noventa y que los tribunales habían rechazado por considerar que superaba los límites legales existentes entonces —un máximo de 2 concesiones por ámbito de cobertura—. El presidente Rodríguez Zapatero confesó que la reforma legal resolvió un problema que llevaba años pendiente por las dificultades que planteaba la sentencia del Tribunal Supremo (El País, 15-02-2005). La reforma de 2005 se interpretó como uno de los habituales tratos de favor de un gobierno socialista hacia su grupo afín: PRISA; el presidente de Onda Cero Radio (grupo Planeta), Javier González Ferrari, por ejemplo, reclamó que en los siguientes concursos no se concedieran licencias a quien ya tuviera 5 frecuencias en el mismo ámbito ni a presuntos grupos independientes que luego se asociaban a la SER (El Mundo, 22-06-2005). La reforma, sin embargo, se puede interpretar también como una reválida al modelo ya existente, basado en las cadenas nacionales con varias programaciones; de hecho el propio González Ferrari declaró que esperaban aprovechar las concesiones al amparo del Plan Técnico de 2006 para poner en marcha un “tercer producto” que se sumaría a Onda Cero Radio —programación generalista— y a Europa FM —radiofórmula musical—; además, reconoció que deseaban competir por el liderato y para ello mejorarían la cobertura “a través de alianzas y compras de otras emisoras” con el objetivo de tener una cobertura similar a la de la SER (El Mundo, 12-07-2007).

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El modelo basado en las cadenas nacionales surgió en la época franquista y se consolidó durante la transición democrática cuando los gobiernos de la Unión de Centro Democrático (UCD) decidieron priorizar la concesión de licencias a las empresas que se propusieran crear cadenas e impulsaron la aparición de grupos multimedia al adjudicar las frecuencias de forma mayoritaria a las empresas periodísticas. Como ya se ha indicado, en los años ochenta la radio fue para los grupos españoles un eslabón obligado en su camino hacia la televisión privada y, al mismo tiempo, se fueron descubriendo los estrechos límites del mercado publicitario nacional hasta el punto de que se instaló la idea de que en el sistema radiodifusor comercial sólo tenían cabida “tres voces” (Díaz Nosty, 1994). Esta misma idea se utilizó a la hora de introducir la televisión privada; el gobierno justificó la concesión de tres canales argumentando que los estudios económicos indicaban que no había mercado para más cadenas. La ampliación de canales analógicos en 2006 fue un breve espejismo, pues la ley se reformó en 2009 autorizando las fusiones de cadenas televisivas siempre y cuando no superaran un share conjunto del 27% del total de la audiencia (BOE, 0407-2009). El reparto del mercado entre tres grupos nacionales parece confirmase cuando se comprueba el fracaso de otras iniciativas que nacieron en los años noventa para configurar una cuarta cadena nacional —Cadena Ibérica y Radio Voz, por ejemplo; ambas acabaron integradas en Onda Cero Radio— y las dificultades encontradas años después por Punto Radio, impulsada desde 2004 por uno de los principales grupos mediáticos —Vocento— y con el atractivo de una de las figuras emblemáticas de la radio —Luis del Olmo—. A pesar de superar el centenar de frecuencias y de tener cobertura en todas las comunidades autónomas, Punto Radio tiene poca audiencia: 464.000 oyentes en 2009 (http://www.aimc.es/) y reduce sus ingresos publicitarios: de 23,9 millones de euros recaudados en 2007 ha pasado a 11,6 millones en los nueve primeros meses de 2009 (http://www.vocento.com/); además, la caída de sus ventas durante 2008 fue del 19% cuando la media de la radio española se situó en el 5% (elEconomista.es, 27-02-2009). El sector radiofónico privado se ha asentado durante décadas sobre las grandes cadenas nacionales aún cuando no estuvieran formalmente reconocidas; para cubrir esta laguna el gobierno ha aprovechado la nueva ley de comunicación audiovisual para reconocerlas de manera legal, aunque sin entrar en más detalles acerca de su propiedad o su funcionamiento (Diario de Sesiones, núm. 457, 07-01-2010).

7. Repliegue de la radio pública estatal

La política radiofónica se completa en este período con la reforma de la radio pública estatal, que se inició con un plan de viabilidad antes incluso de la aprobación de la nueva ley sobre RTVE. En síntesis, el plan estableció la prejubilación de 4.150 trabajadores mayores de 52 de

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años (el 44% de la plantilla) y la reducción de los centros territoriales. En Radio Nacional de España (RNE) se mantuvieron las emisoras en las capitales autonómicas y las provinciales desaparecieron como tales, en su lugar se crearon unidades informativas conjuntas para radio y televisión. El repliegue de RNE contradice el diseño que se fue realizando desde la Transición. Emili Prado (1994) lo expresó mejor que nadie cuando señaló que en la década de los noventa se estaba empezando a cumplir un principio básico de vertebración democrática esencial y a cada ámbito de participación política le correspondía un recurso público de radio, de manera que existía una sintonía entre la configuración del Estado y la del sistema radiofónico. Por otro lado, la reducción de la red territorial coloca a RNE en una posición similar a la que tenía al final del franquismo y a principios de la Transición cuando existía una emisora cabecera en cada región —luego comunidades autónomas— y delegaciones o corresponsalías en las capitales de provincia o en ciudades estratégicas como La Línea, Gijón o Marbella. Los trabajadores denunciaron que el gobierno se proponía desmantelar el servicio público y reducir RTVE a su mínima expresión para beneficiar al sector privado; por este motivo se aprobó el plan de viabilidad antes que la ley (Martín Medem, 2007). La reestructuración, incluso, fue tildada de inconstitucional por algunos informes jurídicos al entender que era incompatible el proyecto de reconversión planteado por el gobierno y la obligación que establece la Constitución de mantener una estructura territorial y descentralizada (El Mundo, 2004-2006).

Conclusiones

La radio española ignora la tecnología digital y se aferra a su tradicional modelo de negocio basado en el dominio de tres grandes cadenas nacionales y en la explotación intensiva de la frecuencia modulada. La pervivencia de esta estructura contrasta con el proceso que se registra en la televisión donde la tecnología digital se ha aprovechado para transformar el sistema en su conjunto, desde las normas sobre la propiedad hasta el acceso a los contenidos. La política aplicada por los gobiernos socialistas entre 2004 y 2009 ha mostrado nulo interés en impulsar la radio digital y, por el contrario, ha favorecido una nueva ampliación del mapa radiofónico en FM; además, el Plan Técnico se ha impuesto en contra del criterio de los operadores a diferencia de la televisión donde el reparto de canales de la TDT de ha pactado con las empresas; una diferencia de trato que los directivos de las compañías radiofónicas han lamentado públicamente. El reconocimiento legal de las cadenas y el anuncio de cerrar las emisoras sin licencias, aprovechando la nueva ley del audiovisual, se puede interpretar como el deseo del gobierno de atender los tradicionales reclamos planteados por la patronal radiofónica.

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La asignación de 866 nuevas frecuencias se ha justificado en la necesidad de ampliar el pluralismo y acabar con las emisoras sin licencia; las adjudicaciones realizadas muestran, sin embargo, que la mayoría de las concesiones se ha integrado en las grandes cadenas y que el número de emisoras que han regularizado su situación es meramente simbólico. Las concesiones se han otorgado siguiendo las habituales prácticas de favoritismo y afinidad ideológica como consecuencia de las relaciones clientelares existentes entre los gobiernos y los grupos de comunicación. El resultado es un aumento de la concentración en detrimento del pluralismo y una consolidación de las grandes cadenas nacionales. El repliegue de la radio pública estatal debe inscribirse en esta política del gobierno socialista de favorecer a los grupos privados. La falta de interés de los gobiernos por impulsar la radio digital coincide con la estrategia de las grandes cadenas, que carecen de un modelo de negocio para aprovechar la nueva tecnología; la consecuencia es el mantenimiento de unas fórmulas de explotación que pueden garantizar beneficios a corto plazo pero ser incapaces de aprovechar las nuevas posibilidades tecnológicas e integrarse en la era digital. En este contexto la radio podría ser relegada definitivamente a un papel marginal dentro del sistema mediático y, además, correría el peligro de que otros operadores se ocuparan de generar y distribuir los contenidos sonoros destinados a las plataformas digitales. Precisamente, los primeros cambios hacia la nueva estructura televisiva parecen dibujar un escenario donde la radio ni siquiera se contempla como un negocio complementario.

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As Influências do Grau de Maturidade da Equipe nos Processos de Inovação Tecnológica e Construção do Conhecimento Organizacional Robson Luiz Montanari1 Luiz Alberto Pilatti2

Resumo O presente estudo de caso objetivou, em sete equipes de uma empresa de médio porte, prestadora de serviços, identificar influências do grau de maturidade da equipe nos processos de inovação tecnológica (IT) e construção do conhecimento organizacional (CO). Os procedimentos metodológicos foram permeados por entrevistas, observações nãoparticipantes e a aplicação de um questionário e de um instrumento. O questionário foi elaborado tendo como base os elementos para IT da Fundação Cotec (1998) e as atividades fundamentais para criação do CO de Leonard (1995). O instrumento – Escala de Maturidade, proposto por Dyer (1995) – buscou apurar a maturidade das equipes e classificar segundo a nomenclatura de Katzenbach e Smith (1994). Os resultados permitiram identificar influencias da maturidade sob os processos de IT e construção do CO. A maturidade das equipes em estudo está relacionada a capacidade de IT e criação do CO de modo que se as equipes, dentro de uma seqüência evolutiva de funcionamento, aumentarem sua maturidade tende a influenciar positivamente os resultados encontrados. Palavras-Chave: Equipes, Maturidade da Equipe, Conhecimento Organizacional e Inovação Tecnológica.

The Incluence of the Degree of Maturity of the Team in the Process of Techonological Innovation and Developing Organizational Knowledge The objective of the case study, involving seven teams from a medium sized service provider company, was to identify the influence of the degree of maturity of the team in the process of technological innovation (TI) and developing organizational knowledge (OK). This was carried out using interviews, non-participant observations, a questionnaire, and a formula for

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Mestre em Engenharia da Produção pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus de Ponta Grossa – e-mail: prof_robson@terra.com.br; 2 Doutor pela UNICAMP e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa, onde atua no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – e-mail: lapilatti@utfpr.edu.br;


the purpose of collating the data. The questionnaire was developed using the elements of TI of the Cotec Foundation (1998) and fundamental activity base for the creation of KO by Leonard (1995). The formula used, the Maturity Scale proposed by Dyer (1995) – sought to accelerate the maturity of the teams and classify the nomenclature of Katzenbach and Smith (1994). The results identify the influence of maturity on the processes of TI and KO. The maturity of the teams in the study is relative to their capacity in creating TI and KO within a sequence of operations, which increases its maturity and tends to positively influence the results obtained. Key-words: Teams, Maturity of the Team, Organizational Knowledge and Technological Innovation.

Influencias del Grado de Madurez de los Procesos de equipo en Innovación Tecnológica y Construcción de Conocimiento Organizacional El objetivo del estudio de caso, que involucra a siete equipos de una empresa mediana proveedora de servicios, era determinar la influencia del grado de madurez del equipo en el proceso de innovación tecnológica (IT) y el desarrollo de conocimiento organizacional (CO). Esto se realizó mediante citas, observaciones no participantes, un cuestionario, y una fórmula para los efectos de cotejar los datos. El cuestionario fue desarrollado utilizando los elementos de IT de la Fundación Cotec (1998) y la base de la actividad fundamental para la creación de CO por Leonard (1995). La fórmula utilizada, la escala de madurez propuesto por Dyer (1995) - trató de acelerar el vencimiento de los equipos y clasificación de la nomenclatura de Katzenbach y Smith (1994). Los resultados de identificar la influencia de la madurez de los procesos de IT y CO. La madurez de los equipos en el estudio es relativa a su capacidad en la creación de IT y CO en una secuencia de operaciones, lo que aumenta su madurez y tiende a influir positivamente en los resultados obtenidos. Palabras clave: equipos, madurez del equipo, de organización del conocimiento y la Innovación Tecnológica.

1.Introdução O ambiente laboral moderno já não se assemelha com o de algumas décadas atrás. Forças inelutáveis como a globalização, a tecnologia, o crescimento e declínio em setores de trabalho


criaram uma nova Era, a Era do Conhecimento. Nesta Era, onde atender as necessidades de clientes inconstantes e exigentes tornou-se um desafio, as inovações tecnológicas passaram a ser uma constante no meio empresarial. O trabalho nesta Era, que é desenvolvido pelos trabalhadores do conhecimento, está fortemente ligado ao desempenho organizacional que, por sua vez, está intimamente associado ao conhecimento e ao poder inovativo empresarial. A percepção da importância do conhecimento e das inovações na Era do Conhecimento deve-se ao fato de que as atividades das organizações estão intimamente associadas ao capital humano, que representam um ativo estratégico responsável pela criação do conhecimento pessoal e organizacional. Para ClaverCortês et al. (2007), as empresas, cada vez mais, adotam projetos organizacionais flexíveis, estruturas com menos níveis hierárquicos a fim permitir o diálogo entre equipes e, assim, incentivando a aprendizagem coletiva para gerar novos conhecimentos. Em se tratando de equipes, um fator a considerar é a maturidade das mesmas. Hersey e Blanchard (1986) e Katzenbach e Smith (1994) abordam este fator. Para Hersey e Blanchard (1986), uma equipe ou uma pessoa passa por diferentes graus de maturidade. Assim, não se pode rotular de equipes ou pessoas maduras ou imaturas.

Katzenbach e Smith (1994)

sugerem uma seqüência evolutiva de funcionamento dos grupos até a configuração de equipes de alta performance. O objetivo do presente artigo é identificar influências do grau de maturidade nos processos de inovação tecnológica e construção do conhecimento organizacional. Para tanto, sete equipes de uma empresa, de médio porte, prestadora de serviços, que utiliza a gestão de equipes em seu setor operacional foram analisadas neste estudo de caso. 2. O Grau de Maturidade das Equipes A maturidade é perspectivada por Hersey e Blanchard (1986) e Katzenbach e Smith (1994) como um fator de graduação e classificação do desempenho das pessoas. Seguindo esta linha de pensamento, a presente seção faz uma abordagem sobre a maturidade no contexto do trabalho em equipe. Drucker (2001) distingue os três tipos, considerando que as equipes se diferem no comportamento que exigem, naquilo que fazem melhor e no que não podem fazer. Os tipos de equipes são: a) os membros têm posições fixas e atuam na equipe, mas não em equipe, como uma equipe de beisebol ou uma linha de montagem; b) os membros têm posições fixas, mas atuam em equipe como em uma equipe de futebol, e c) os membros têm posições principais


ao invés de fixas. Eles devem “cobrir” seus companheiros de equipe, ajustando-se quando necessário, como as duplas de tênis ou um conjunto de jazz. Visão diferente são compartilhadas por Fisher et al. (1997), Katzenbach (1999), Salomão (1999), Sacomano Neto e Escrivão Filho (2000) e Moscovici (2003) que relacionam o trabalho em equipe a objetivos comuns, ao compartilhamento de competências e de esforços. O fato de trabalharem em conjunto não dá aos grupos, independente das posições que seus membros ocupem (fixas ou não), o status de “equipe”, contrariando o idear de Drucker (2001). O raciocínio de Drucker (2001) proporciona o entendimento de uma situação que nem sempre é suficientemente clara, pois nem todos os grupos têm a mesma finalidade. Em linhas gerais, não existem justificativas para uma equipe de futebol “jogar” como uma dupla de tênis. Na primeira equipe existe a necessidade de trabalho interdependente, os “jogadores” dependem uns dos outros, enquanto na segunda, não. E também não existe justificativas para uma equipe de beisebol “jogar” como uma equipe de futebol, pois na primeira equipe o trabalho é na equipe e não em equipe. Independente da conformação laboral, adotar ou não o formato de equipes, o trabalho coletivo é, na visão de Bejanano et al., (2005), quase sempre involuntário e o comprometimento necessário pode estar ausente. Na visão de Montanari (2008), as pessoas trabalhando em equipes interagem a partir de relações interdependentes que atuam na mudança e no estabelecimento de novos comportamentos. Essa dinâmica auxilia na construção de configurações sociais entre os homens nas equipes as quais influenciam na sua performance e, por conseqüência, afetam a produtividade e desempenho organizacional. Robbins e Finley (1997, p. 57) compartilham deste idear e inferem que as pessoas em equipe são “como as pessoas em qualquer outro lugar”, ou seja, “têm seus altos e baixos”. Katzenbach (1999, p. 57) enfatiza que “a equipe de verdade segue uma disciplina simples, porém contínua, para alcançar bom desempenho. Os membros devem trabalhar juntos para criar produtos de alto valor, e isso requer que o comando seja revezado entre os membros [...]”. A Figura 1 ilustra a curva de desempenho proposta por Katzenbach e Smith (1994). Na proposta é evidenciada uma seqüência evolutiva dos grupos de trabalho até as equipes de alta performance.


Figura 1 – Curva de Desempenho Fonte: Katzenbach e Smith (1994, p. 85)

Katzenbach e Smith (1994) classificam grupos de acordo com seu modo de funcionamento e maturidade em uma das cinco posições abaixo: a) “Pseudo-equipe”: este tipo de grupo pode definir um trabalho a se fazer, mas não se preocupa com o desempenho coletivo, nem tenta consegui-lo. As interações dos membros inibem o desempenho individual, sem produzir nenhum ganho coletivo apreciável; b) “Grupo de trabalho”: os membros desse grupo não vêem nenhuma razão para se transformarem numa equipe. Podem partilhar informações entre si, porém responsabilidades, objetivos, por exemplo, pertencem a cada individuo; c) “Equipe potencial”: este grupo quer produzir um trabalho conjunto. No entanto, os membros precisam de esclarecimentos e orientações sobre sua finalidade e objetivos; d) “Equipe real”: uma equipe real compõe-se de poucas pessoas, mas com habilidades complementares e comprometidas umas com as outras através de missão e objetivos comuns. Os membros passam a confiar uns nos outros; e) “Equipe de alta performance”: este grupo atende a todos as condições de equipe real e tem um comprometimento profundo entre seus membros com o intuito de crescimento pessoal de cada um. Para obter a classificação dos grupos, pautado no modelo proposto por Katzenbach e Smith (1994), uma escala de maturidades das equipes foi desenvolvida por Dyer (1995). A utilização deste instrumento veio ao encontro com o modelo (escala de maturidades) desenvolvido por Hersey e Blanchard (1986), chamado de teoria de liderança do ciclo vital, ambos baseados na experiência de cada membro com sua equipe. Para Hersey e Blanchard (1986, p. 187), “a maturidade é a capacidade e a disposição das pessoas de assumir a responsabilidade de dirigir seu próprio comportamento, devendo estas


variáveis de maturidade ser consideradas somente em relação a uma tarefa específica a ser realizada”. Em linhas gerais, o indivíduo com maturidade alta tem disposição para assumir responsabilidades em função da sua capacidade de dirigir seu próprio comportamento. O que já não ocorre com as pessoas com maturidade baixa, que não mostram tal capacidade. No contexto em que qualquer grupo que trabalhe junto constitui uma equipe e que equipes verdadeiras estão associadas a valores como compartilhamento, cooperação e ajuda mútua a maturidade torna-se um fator decisivo no ambiente de equipes, pois a mesma pode determinar as ações das organizações e líderes para com suas equipes. 3.Os Processos Criação da Inovação Tecnológica e do Conhecimento Organizacional A inovação não é algo novo, pois vem sendo utilizada há muito tempo como forma de progredir e evoluir. A capacidade de inovar é considerada uma das mais importantes características das organizações competitivas. No entanto, quando se fala em inovação tecnológica pensa-se em tecnologia de ponta, computadores e máquinas modernas e outras soluções associadas as mais novas tecnologias. Inovações tecnológicas, segundo Reis (2004), incluem novos produtos, processos e serviços e, também, mudanças tecnológicas em produtos, processos e serviços já existentes na organização. Pequenas alterações em processos que são executados no ambiente de trabalho diariamente, por exemplo, podem ser consideradas inovações tecnologias. As inovações contemplam tanto produtos ou serviços novos como os tecnologicamente aperfeiçoados. Os produtos e serviços tecnologicamente novos têm suas próprias características fundamentais diferenciadas do que já existe; os tecnologicamente aperfeiçoados referem-se a um produto ou serviço já existente, mas que passou por melhoras e aperfeiçoamentos significativos (CITADIN, 2007). A Fundação COTEC (1998) apresenta, através do manual Temaguide, cinco elementos chaves para inovação tecnologia (IT) na organização. Citadin (2007), embasado no Temaguide, menciona que os elementos formam um ciclo de aprendizagem iterativo que contempla: a busca por mudanças que irão gerar inovações; o foco precisa ter como característica fundamental à tomada de decisões correta para possibilitar a vantagem competitiva a partir das estratégicas inovativas adotadas; os recursos envolvendo a combinação do conhecimento novo e o existente para oferecer solução as possíveis inovações; a implementação e desenvolvimento da inovação, e a aprendizagem que consiste na criação de um ambiente


propício a geração do conhecimento para que a empresa possa aprender e constantemente se aperfeiçoar a partir dos acertos e erros ocorridos nas fases anteriores. A utilização do ciclo de aprendizagem interativo, apresentado pela Fundação COTEC (1998), é fundamental para IT nas organizações. Contudo, segundo Mañas (2001), a necessidade de ser competitivo e de manter-se vivo e à frente dos concorrentes é a noção básica na busca de IT. Nesse contexto, a gestão do conhecimento pode representar, na visão de Silva et al. (2005, p. 4789), uma ferramenta importantíssima para auxiliar as organizações nos processos inovativos “e deve ser utilizada para facilitar tal geração, em todas as suas etapas, desde o compartilhamento do conhecimento tácito entre as pessoas, até a globalização deste conhecimento por toda a organização”. O conhecimento organizacional (CO), para Fleury e Oliveira (2001), é desenvolvido por meio de aprendizagem e significa o fundamento das competências essenciais da organização formadas por conhecimentos tácitos e coletivos. Para Senge (1998), as equipes representam a unidade de aprendizado fundamental dentro dos processos de IT e na criação do CO. Na visão de Terra (2000), as organizações vivem um período onde a integração dos conhecimentos tácitos em explícitos é fundamental para aumentar o potencial de criação do conhecimento nas empresas. Em termos práticos, o conhecimento individual e estanque não interessa à organização. Aprendizagem organizacional é aprendizagem compartilhada a serviço dos objetivos da organização. Leonard (1995) infere que os processos de construção do conhecimento na empresa estão relacionados a quatro atividades, as quais são decisivas para construção do CO. As atividades são: compartilhamento da tarefa de análise e solução de problemas; envolvimento do cliente; experimentação, e importar conhecimentos. Para Silva (2002), que também discutiu as atividades propostas por Leonard (1995), a chave para construção do CO está na inter-relação das atividades. Para que haja o interrelacionamento de uma atividade para com as demais, as mesmas precisam contemplar: a) O compartilhamento da tarefa de análise e solução de problemas. A preocupação está em reunir visões diferentes para análise e participação de pessoas para confrontação construtiva; b) O envolvimento do cliente, de um modo que os mesmos façam parte das decisões a partir de consultas periódicas; c) A existência de um clima que tolere a experimentação e a visualização de soluções por intermédio da prática é uma forma de assegurar que a organização apreenda, e


d) À absorção de conhecimentos do mercado (importar conhecimentos). Pode-se pensar desde a observação informal de alguma fonte, a realização de benchmarking, até a realização de alianças e joint-ventures. As atividades propostas por Leonard (1995) estão intimamente ligadas à reunião de pessoas com características diferentes buscando a confrontação construtiva (creative abrasion). O aprendizado em grupo é o processo de desenvolvimento da capacidade de um grupo criar os resultados que seus membros realmente desejam (SENGE, 1998). O aprendizado em grupo possui três dimensões essenciais: a) A necessidade de analisar com discriminação as questões complexas tornando a inteligência do grupo maior que a individual; b) A necessidade de ações inovadoras oriundas das contribuições de todos, e c) Há a ligação de um grupo com outros grupos para troca de conhecimentos (SENGE, 1998). O aprendizado coletivo vem ao encontro com as atividades expostas por Leonard (1995), pois os grupos ou equipes passam a aprender a partir do trabalho e da prática das atividades. Para Nonaka e Takeuchi (1997, p. 79), “a criação do conhecimento organizacional é uma interação contínua e dinâmica entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito”, ou seja, entre o conhecimento intangível que está dentro das pessoas e o tangível, formal e documentado. Com efeito, o desafio para as organizações está em mudar a cultura já existente de modo que se crie um clima propício à mudança e ao aprendizado de forma a proporcionar a interação dos conhecimentos tácitos e explícitos. Quando essa mudança ocorre na empresa gera o conhecimento nas organizações e dá origem a uma interação continua e dinâmica entre os conhecimentos, denominada de Espiral do Conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Figura 2 – Espiral do conhecimento Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997, p. 80)

Os padrões básicos para criação do CO, expostos na Figura 2, são descritos por Nonaka e Takeuchi (1997) como:


a) Socialização: tácito em tácito – criação de conhecimento a partir da observação, da prática, do compartilhamento de experiências; b) Externalização: tácito em explícito – criação de conhecimento pela articulação do conhecimento tácito e sua transformação em conhecimento explícito; c) Combinação: explícito em explícito – criação de conhecimento pela combinação de dados, informações e conhecimentos; d) Internalização: explícito em tácito – criação de conhecimento pela comunicação de conhecimentos explícitos que são absorvidos pelas pessoas, entendidos e traduzidos em conhecimento tácito. A seqüência completa das atividades de Nonaka e Takeuchi (1997) e Leonard (1995) propiciam, na visão de Silva et al. (2005, p. 4791), a construção do conhecimento e havendo “efetivamente um aproveitamento adequado e satisfatório do conhecimento gerado podendo este, vir a promover inovações a partir de sua aplicação”. A mesma idéia é vista na Figura 3 a partir dos elementos de IT da Fundação Cotec (1998), que sugere uma seqüência evolutiva que, como resultado, produzirá conhecimentos e inovações. Neste contexto, pode-se inferir que os processos de IT estão intimamente associados à capacidade de práticas que possam originar, disseminar, experimentar e ampliar o conhecimento na organização. 4.Metodologia Para obtenção de conhecimento científico se faz necessário conhecer as construções mentais que possibilitem alcançar os objetivos almejados. Na visão de Gil (1999, p. 27), isso significa a determinação do método que “é o caminho para se chegar a determinado fim”. O método de pesquisa utilizado é o estudo de caso. Segundo Yin (2001) trata-se de um método a ser utilizado quando uma investigação empírica de um fenômeno dentro de seu contexto da vida real explorando as condições entre o fenômeno e o contexto em que este está inserido. Os procedimentos prescritos por Yin (2001), adaptados ao caso em exame, foram seguidos. Em termos práticos, observou-se as seguintes etapas: a) revisão bibliográfica; b) definição da população; c) elaboração de entrevista semi-estruturada composta de questões abertas e com roteiro para condução da mesma; d) entrevista; e) observação não participante; f) elaboração de questionário para apurar a prática de processos de inovação tecnológica (IT) e construção do conhecimento organizacional (CO); g) aplicação do questionário; h) aplicação do instrumento de Dyer (1995) para apurar a maturidade das equipes, e i) análise dos dados.


A população foi composta de um universo de quatro gerentes e de 75 membros de equipes da empresa em estudo. Dois membros de equipe foram descartados, pois estavam participando da primeira reunião em suas equipes. Entendeu-se que os mesmos não tinham experiência prática para responder os questionários. A entrevista semi-estruturada foi aplicada a quatro gerentes da empresa. O objetivo da entrevista com o entrevistado 1 foi de caráter exploratório a fim de se conhecer o ambiente de trabalho das equipes; com os demais o objetivo foi verificar a existência de processos que levem a IT e construção do CO a partir das equipes, pois os mesmos estão em contato freqüente com o trabalho das mesmas. Os entrevistados receberam a sigla D (declarantes) e foram numerados com algarismos arábicos a fim de preservar a identidade dos mesmos. Buscando melhorar a interpretação das respostas e dos registros na entrevista, utilizou-se, com a autorização dos entrevistados, um gravador. As gravações foram transcritas ipsis literis com autorização dos entrevistados. O questionário foi composto de sete questões baseadas nos elementos para IT da Fundação Cotec (1998) e nas atividades essenciais para construção do CO propostas por Leonard (1995). O instrumento de Dyer (1995) é composto de 15 perguntas voltadas aos principais itens que influenciam o desempenho das equipes e determinam sua qualificação quanto à maturidade do grupo. O instrumento é composto de alternativas, baseados na experiência de cada membro com sua equipe, o participante escolhe a resposta que melhor reflete seu grau de concordância ou discordância escolhendo uma nota na escala de em uma escala social. Juntamente com a aplicação dos instrumentos foram feitas observações de caráter nãoparticipante. Os membros das equipes responderam ao questionário e ao instrumento identificando a equipe a que pertence por um algarismo arábico atribuído pelos pesquisadores. As equipes receberam a sigla E (equipe) e foram numerados com algarismos arábicos. Em seguida, depositaram os mesmos em urnas a fim de assegurar sigilo sobre suas opiniões e também estabelecer um clima de confiança e empatia (TRIVIÑOS, 1987). Para a análise dos dados utilizou-se a técnica de triangulação que, em linhas gerais, consiste no emprego de diferentes evidências para busca de uma resposta mais aprofundada (TRIVIÑOS, 1987). Segundo Yin (2001, p. 121), “várias fontes de evidências fornecem essencialmente várias avaliações do mesmo fenômeno”. Os procedimentos tiveram a intenção de aumentar a compreensão dos dados para análise e conclusões dos resultados.


Para análise das entrevistas foi utilizada a análise de conteúdo que, segundo Minayo (2004), busca encontrar respostas para confirmar as hipóteses. Para tanto, foram organizados as entrevistas por categorias de acordo com o referencial teórico para facilitar os processos de triangulação dos dados. O questionário recebeu análise estatística somando o número de respostas “sim” e “não” de cada respondente e agrupando as respostas por equipes a fim de evidenciar a percepção da equipe em relação ao que está sendo analisado, a prática de processos de IT e CO. Para o instrumento de Dyer (1995), a soma das notas individuais (Mi), dividida pelo número de membros da equipe (N), confere a pontuação à equipe, ou seja, o nível de maturidade do grupo (Mg). Após a apuração da maturidade do grupo foram verificados os parâmetros preconizados por Dyer (1995) para identificação do nível de maturidade da equipe. Após a análise dos dados individualmente os mesmos foram confrontados. Essa confrontação buscou, observando os preceitos de Yin (2001), formar generalizações no caso em exame. As generalizações estatísticas por meio da inferência sobre a população definida; e as analíticas pela comparação dos dados empíricos com a teoria. 5.Resultados As experiências pessoais e profissionais têm uma participação fundamental na maturidade das pessoas. As mesmas interagem ativamente na capacidade das pessoas assumirem responsabilidades e nas experiências vivenciadas. O grau de maturidade de grupos ou equipes de trabalho, em termos gerais, é fundamental para viabilizar inovações tecnológicas e construir o conhecimento nas empresas. É a partir das experiências vividas, da maturidade que a pessoa, grupo ou equipe tem para desempenhar uma determinada tarefa, que as inovações tecnológicas (IT) e a construção do conhecimento organizacional (CO) podem acontecer. A fim de identificar as influências da maturidade na IT e na construção do CO os grupos e equipes em estudo foram mapeados, a partir da aplicação do instrumento de Dyer (1995) e da classificação de Katzenbach e Smith (1994). A partir dos diferentes níveis de maturidade apurados observou-se a existência de uma provável pseudo-equipe ou grupo de trabalho, a equipe 3. As equipes 1, 2, 4 e 5 foram identificadas como prováveis equipes potenciais. Duas equipes, (6 e 7) foram identificadas como prováveis equipes real ou verdadeira. Com essa classificação pode-se, em relação às idéias expostas por Drucker (2001) e Katzenbach e Smith (1994), identificar matrizes distintas. A primeira, seguindo o idear de Drucker, com sete equipes, pois qualquer grupo de pessoas trabalhando juntas constitui uma


equipe; e a segunda na visão de Katzenbach e Smith (1994), com somente duas equipes que apresentam níveis de maturidade que as classificam como equipes verdadeiras. Tomando como base a nomenclatura de Katzenbach e Smith (1994) e a visão de Moscovici (2003), que relaciona o trabalho em equipe a objetivos comuns, ao compartilhamento de competências e de esforços, pode-se inferir que as equipes com maior grau de maturidade tendem a constituir um ambiente mais favorável para criação do conhecimento e ser mais inovadoras. Para Hersey e Blanchard (1986) a maturidade significa a capacidade e a disposição das pessoas em assumir responsabilidades e dirigir seu comportamento. Assim, um alto grau de maturidade significa pessoas capazes e dispostas que podem auxiliar na eficácia de grupos e equipes o que pode materializar, na visão de Katzenbach (1999), produtos e serviços com alto valor agregado, fruto do conhecimento e das inovações incorporadas pelos ativos humanos da organização. Os processos de inovações tecnológicas e construção do conhecimento acontecem por intermédio de ações comprometidas e voltadas a objetivos comuns. No idear da Fundação Cotec (1998) e na visão de Leonard (1995), a chave para IT e construção do CO, respectivamente, está na busca e foco na inovação, recursos, implementações e aprendizagem e na prática de atividades essenciais – soluções de problemas, experimentação, importação e combinação de conhecimentos – que em síntese estão intimamente associadas à visão de Katzenbach e Smith (1994) e Moscovici (2003). A Tabela abaixo sumariza as diferentes percepções das equipes em relação ao trabalho das

Equipe 7

Equipe 6

Equipe 5

Equipe 4

Equipe 3

Equipe 2

ATIVIDADES

Equipe 1

mesmas na criação de IT e construção do CO:

% RESPOSTAS POSITIVAS 1 – Análise e soluções dos problemas 90.91 72.73 66.67 81.82 81.82 81.82 90.91 2 – Envolvimento do cliente 72.73 81.82 55.56 72.73 90.91 90.91 81.82 3 – Experimentação 81.82 27.27 66.67 63.64 45.45 81.82 81.82 4 – Importar conhecimentos 90.91 63.64 55.56 72.73 72.73 90.91 90.91 5 – Combinação de conhecimentos 90.91 63.64 55.56 72.73 63.64 81.82 90.91 6 – Busca pela mudança e implementação 81.82 54.54 55.56 72.73 72.73 90.91 72.73 7 – Foco 81.82 63.64 44.44 72.73 81.82 90.91 90.91 MÉDIA POR EQUIPE 84.42 61.04 57.14 72.73 72.73 87.01 85.72 Tabela 1 – Processos de inovação tecnológica e construção do conhecimento organizacional nas equipes Fonte: os autores

Observa-se na Tabela 1 que, na prática dos elementos para IT – atividades 5, 6 e 7 – do Temaguide da Fundação Cotec (1998) e das atividades essenciais para criação do CO – atividades 1, 2, 3 e 4 – propostas por Leonard (1995), existem membros de equipes que


discordam da prática das mesmas no trabalho em equipe. Embora os resultados apontem a prática de atividades de IT e construção do CO pelas equipes, precisa-se considerar a presença de membros que acreditam não estar praticando as atividades. As respostas negativas podem estar associadas a inúmeros fatores, mas um fator relevante, segundo Terra (2000), é que as pessoas em seus processos criativos e de aprendizado dependem de grande motivação intrínseca e de interação com outros. O trabalho coletivo pode estimular comportamentos, resolução de tensões internas e de tentativas de erros pessoais o que, em síntese, são comportamentos favoráveis para IT e construção do CO. Contudo, apesar das potencialidades de grupos e equipes, o trabalho coletivo tem algumas limitações que nem sempre são superáveis. Entre as limitações estão a dificuldades de conciliar a inclinação individualista com a disposição para trabalhar por um objetivo comum e a dificuldade de compartilhar conhecimento entre os membros e com os membros de outras equipes dentro das empresas (BEJARANO et al., 2005). Um fator a considerar em relação ao número de respondentes que não acreditam estar praticando as atividades essenciais para IT e construção do CO está associado à maturidade. Segundo Hersey e Blanchard (1986), baixa ou moderada maturidade são comuns em pessoas que não tem capacidade e que pode ou não sentir vontade de assumir a responsabilidade de fazer algo. Neste sentido e com os resultados da equipe 3 pode-se inferir que o fator maturidade está atuando ativamente nas atividades de IT e construção do CO. A equipe 3 ainda não está prestando atenção na sua forma de trabalhar e resolver os problemas que afetam seu funcionamento para transformar-se em uma equipe como afirma Moscovici (2003) ao diferenciar grupos de equipes. Tomando como base as visões de Terra (2000), Bejarano et al. (2005) e Hersey e Blanchard (1986) pode-se aduzir que os grupos e as equipes no ambiente produtivo necessitam da interação e do compartilhamento dos conhecimentos tácitos e coletivos para que estas possam auxiliar as organizações nos processos IT e construção do CO. Os resultados na Tabela 1 evidenciam a participação das práticas de atividades de construção do CO na IT. As equipes que obtiveram as melhores médias nos itens que refletem as práticas de construção do CO (1, 2, 3 e 4), alcançaram as melhores médias nos item que mostraram as percepções dos membros das equipes quanto a IT (5, 6 e 7). Esses resultados comprovam o que Silva et al. (2005) menciona em relação a utilização da gestão do conhecimento como ferramenta para auxiliar os processos inovativos a partir do compartilhamento do conhecimento tácito entre as


pessoas e a disseminação dos mesmos na empresa. Nesse contexto, as equipes representam uma ferramenta que cria uma ambiente de aprendizagem favorável ao compartilhamento, disseminação e uso do conhecimento. Entretanto, Senge (1998) afirma que a aprendizagem em equipe é vital e se as mesmas não tiverem capacidade de aprender, a organização também não terá. Um ambiente favorável para que a aprendizagem coletiva se desenvolva é percebido nas reuniões das equipes. Durante as observações não-participantes se observou à prática das atividades para construção do CO. Essas atividades se assemelham às atividades propostas por Nonaka e Takeuchi (1997). É nas reuniões que acontece o compartilhamento de experiências (socialização), o registro dos conhecimentos e informações em atas (externalização) e a troca de conhecimentos (combinação). É a partir do trabalho diário que se efetiva a incorporação dos conhecimentos explícitos no conhecimento tácito (internalização). São nas reuniões que, também, observa-se a prática dos elementos para IT da Fundação Cotec (1998). As equipes buscam a inovação (busca), tem missões e objetivos definidos (foco), fazem o uso das experiências nos processos de decisão (recursos), mudam os processos de prestação de serviços (implementação) e proporcionam o aprendizado dos membros das equipes e da organização (aprendizagem) (D1). A prática dessas atividades foi, também, percebida durante a entrevista com os gerentes operacionais. O entrevistado D4, ao responder se os membros das equipes estavam aprendendo com o trabalho em equipe, mencionou: “Eu acredito que não só entre eles, mas também entre nós [...]”. O D3 acredita que os membros das equipes estão “[...] mudando a forma de pensar e [...] estão absorvendo novos conhecimentos em cima disso”. No entanto, pode-se observar novamente que existem membros de equipes que não praticam, não colaboram ou não sabem o que fazem em relação ao trabalho em equipe e as atividades para IT e criação do CO. Isso pode ser percebido em fragmentos das respostas à pergunta sobre as decisões tomadas em equipe e a prática das mesmas: a) “Estão, mas é „que nem eu tava‟ te falando agora, um pouco devagar, em alguns casos um se adianta, „um sobressai‟ sobre o outro [...]” (D2); b) “A maioria deles „tão‟ fazendo isso, mas tem pessoas ainda que não „tão‟ fazendo [...]” (D3). Mais uma vez, os resultados caracterizam a existência de um problema que pode ser decisivo para criação de IT e do CO na empresa. Sem a interação entre o conhecimento tácito e o


explícito não há condições para que ocorra o processo em espiral proposto por Nonaka e Takeuchi (1997). Para Nonaka e Takeuchi (1997, p. 83), as “atividades em grupo”, a “criação e o acúmulo de conhecimento em nível individual” estão associados à criação de um clima coletivo e colaborativo que desencadeará no CO. A partir dos diferentes níveis de maturidade e das diferentes percepções das equipes em relação ao trabalho das mesmas para IT e criação do CO nas equipes, observa-se que as médias, respectivamente expostas na linha de dispersão da Figura 3, evidenciam a tendência dos resultados em relação a maturidade das equipes e sua influência:

Dispersão Maturidade x práticas para IT e construção do CO

PRÁTICAS PARA IT E CONSTRUÇÃO DO CO

100 80

3,61; 84,42 3,31; 72,73

60 40

4,13; 85,72 4,21; 87,01 3,47; 72,73 3,12; 61,04

2,47; 57,143

20 Figura 3 – Dispersão maturidade x práticas para IT e construção do CO 0 Fonte: os autores

1 2 3 4 tendência 5 A linha de dispersão indica a0 linha de tendência dos resultados. Analisando essa MATURIDADE

pode-se inferir que os resultados estão relacionados de modo que aumentando o grau de maturidade da equipe a média relacionada à prática das atividades para IT e construção do CO (Tabela 1) também aumentará. O que caracteriza esta relação é mostrado pelas diferentes percepções dos membros das equipes quanto à prática dos elementos para IT e atividades essenciais para construção do CO e da relação dessas percepções com a maturidade das equipes. As equipes com maior grau de maturidade obtiveram melhores percepções quanto a prática das atividades de IT e construção do CO. 6.Conclusões Os resultados deste estudo de caso permitiram identificar a influência do grau de maturidade da equipe nos processos de inovação tecnológica (IT) e construção do conhecimento organizacional (CO) nas equipes. Pode-se considerar que a maturidade das equipes em estudo está relacionada a capacidade de IT e construção do CO, pois se as equipes, dentro de uma seqüência evolutiva de funcionamento, aumentarem sua maturidade tende a influenciar positivamente os resultados encontrados.


Indiferente da nomenclatura das equipes de Drucker (2001) ou Katzenbach e Smith (1994), de seus membros ocuparem posições fixas ou não, a maturidade nas equipes em estudo é determinante e trás influências nas percepções, comportamento e trabalho das equipes. As equipes com maior grau de maturidade apresentam resultados mais favoráveis para IT e criação do CO. Pode-se concluir que as equipes em estudo se diferem na sua estrutura e comportamento, como mencionado por Drucker (2001), e no seu funcionamento, como enfatiza Katzenbach e Smith (1994), em função da maturidade das mesmas. O idear de Drucker (2001), onde todo e qualquer grupo pode ser considerado equipe, é em termos práticos um fato no meio empresarial. Contudo o atual e moderno ambiente laboral necessita de uma abordagem mais profunda no que tange o comportamento das pessoas no ambiente produtivo em equipe. As equipes se diferem pelos diferentes graus de maturidade de seus membros, como cita Hersey e Blanchard (1986), e pelas características de funcionamento apresentadas por Katzenbach e Smith (1994). A maturidade das equipes é um fator determinante e incisivo no trabalho das mesmas, pois traz influencias na capacidade de inovar e construir o conhecimento na empresa que, por sua vez, trás conseqüência aos resultados da organização. Referências BEJARANO, V. C. Elementos Essenciais à Implementação de Equipes: um estudo de caso da indústria de papel. 2006. 115f. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UTFPR, Ponta Grossa. BEJARANO, V. C. et al. Equipes e Comunidades de Prática como Estruturas Complementares na Gestão do Conhecimento Organizacional. In: Encontro Nac de Eng de Produção, XXV, 2005, Porto Alegre. Anais ... Porto Alegre: ABEPRO, 2005. p. 4851-4856. CITADIN, G. J. Proposta de um Modelo de Maturidade em Gestão da Inovação. 2007. 123f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) – Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, UTFPR, Curitiba. CLAVER-CORTÉS, E. et al. Organizational Structure Features Supporting Knowledge Management Processes. Journal of Knowledge Management. v. 11. n. 4. p. 45-57. 2007. COTEC - TEMAGUIDE. A Guide to Technology Management and Innovation of Companies. European Comunities, 1998. DRUCKER, P. Administrando em Tempos de Grandes Mudanças. 5. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. DYER, W. Team Building. 3. ed. New York: Addison-Wesley Publishing Company Inc, 1995.


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Para problematizar as questões de uma sociedade em rede Mariana Martins1 MORAES, Dênis (org.). Mutações do Visível: da comunicação de massas à comunicação em rede. Rio de Janeiro: Pão e Rosa, 2010. Problematizar mudanças surgidas a partir das inovações tecnológicas e suas conseqüências nas novas formas de comunicação para além das aparências parece ser o desafio de Mutações do Visível: da Comunicação de Massa à Comunicação em rede, a mais nova coletânea organizada por Dênis de Morais (Pão e Rosas, 2010, 235 páginas). Nesta nova obra, Moraes abusa, no bom sentido, do seu senso de oportunidade e se propõe, a partir de diferentes vozes, a promover o diálogo sobre a possível mudança de uma comunicação de massa – paradigma de boa parte das Communications Research - para uma comunicação em rede. Esta nova forma de organização das comunicações que coexiste ainda com a anterior [de massa], mas que marca um novo período da dinâmica do capital – ela é caracterizada não só pelos acessos, mas também pela troca de informações, e é provocada tanto pelas novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), como também, e em igual medida, pelas diferentes formas de apropriação social dessas tecnologias. Nas palavras do próprio organizador, o livro tem o compromisso essencial de “analisar mutações de uma época de comunicação generalizada e em rede, na qual a sua vida social, as mentalidades, os valores e os processos culturais parecem definitivamente vinculados a telas, monitores e ambientes virtuais” (p.15). A importância de Mutações do Visível para os estudiosos – ou até mesmo para os curiosos – da área das comunicações está tanto na atualidade da temática abordada como na seleção da equipe que contribuiu com os artigos publicados. Prefaciado por Marco Aurélio Nogueira, o livro traz análises de Gustavo Cardoso, Valério Cruz Brittos, Dênis de Moraes, Antônio Fausto Neto, Matín Becerra, Bernard Miège, Manuel Castells, Lorenzo Vilches e Jesús Martin-Barbero. De certo, os nomes desses autores falam por si e testemunham a riqueza e a pluralidade da obra. 1

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Universidade de Brasília (UnB). Mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e tem graduação em jornalismo pela mesma instituição. É pesquisadora bolsista da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).


O livro é dividido em duas partes e tem início com um artigo de Gustavo Cardoso, professor do Instituto de Ciência do Trabalho e da Empresa de Portugal e que também é diretor do Observatório da Comunicação (Obercom) português. O texto Da comunicação em massa à comunicação em rede: modelos comunicacionais e a sociedade da informação trata especificamente do tema central do livro que é a mudança do paradigma de uma sociedade de massas para a uma sociedade em rede. Na opinião de Cardoso o “sistema de mídia atual parece estar organizado não em torno da ideia de convergência tornada possível pelas tecnologias digitais, mas em torno da articulação em rede”. (p.27) O artigo de Cardoso é seguido pelo de Valério Cruz Brittos, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos, que tem dedicado estudos à discussão da convergência digital no Brasil. No artigo Midiatização e produção tecno-simbólica no capitalismo contemporâneo Brittos problematiza as relações entre o capital, as tecnologias e a comunicação, que são as esferas constitutivas dessa nova sociedade em rede. O texto de Brittos é tributário da idéia de que as mutações e crises do sistema capitalista podem tanto gerar como conviver com algumas fissuras e contradições, como é o caso da organização da sociedade civil dentro da rede, mas não sustenta mudanças estruturais. O texto aponta para a necessidade de se discutir políticas de comunicação em um mundo que ao parecer ser o que não é – pela falsa idéia de igualdade de condições e de acesso - amplia as distâncias sociais. Para o autor, as transformações da comunicação atravessam o mundo e atingem o conjunto dos campos sociais, e “a partir das três décadas finais do século XX, tem havido uma intensificação desses processos, que, se [por um lado] diminuem distâncias substancialmente, [por outro] também ampliam os fosso, nos planos micro e macrossocial, reforçando exclusões em todos os níveis”. (p. 53) O terceiro texto é de Dênis de Moraes: Gramsci e as Mutações do Visível: comunicação e hegemonia nos tempos presente. Nele Moraes faz, sobretudo, uma tentativa de aplicar os conceito do teórico marxista italiano Antonio Gramsci à atualidade dos meios de comunicação modernos e da sociedade em rede. O texto de Moraes dialoga muito harmoniosamente com o texto anterior de Brittos. Moraes também atenta para o quão fundamental são as campanhas, mobilizações e pressão social por mudanças na legislação das comunicações, dada a urgência de se deter a forte concentração do setor nas mãos de um reduzido número de corporações multimídias.


Esta concentração, que Moraes chama de Assimetria Comunicacional, impõe, ainda segundo o autor, limitações e obstáculos à exploração de brechas dentro das próprias corporações do setor, mas “não impedem ações inventivas no interior das empresas” (p.105). A partir das análises feitas da sociedade moderna e embebido do otimismo das teorias gramscianas, mais especificamente das ações contra-hegemônicas, Moraes conclui que “Mais do que nunca, cada ação progressista para a conquista ou retomada de posições precisa ser bem organizada, preparada e alicerçada” e de forma sutil, faz um convite a adesão a esta guerra de posições dentro (e pelas brechas) das estruturas de comunicação postas. As práticas jornalísticas, ou mais precisamente, a transformação da autonomia do campo midiático-jornalístico são tratadas por Antônio Fausto Neto no texto Transformações do campo jornalístico na sociedade midiatizada: as estratégias de celebração e consagração. Fausto Neto, que é professor do Programa de PósGraduação em Ciências da Comunicação da Unisinos, fala de uma dinâmica de complexos processos que tem transformado o status do jornalismo e o seu “lugar de fala” no percurso da “sociedade dos meios” para a “sociedade midiatizada”. O autor diz que nessa sociedade em que “os indivíduos se contatam segundo esses regimes de rede e de suas operações enunciativas, os jornalistas são nomeados protagonistas de um peculiar „trabalho de contatos‟ e de produção de sentidos e que já não devem ser mantidos à distância”. Ainda mais, “as imagens dos jornalistas e aquelas do seu trabalho já não devem ficar limitadas apenas aos manuais que produzem sobre eles relatos impessoais e normativos”. (p.125) Como não poderia faltar em um livro organizado por Dênis de Morais, as singularidades do processo de formação e de apropriação das redes na América Latina têm espaço em vários artigos, mas, especificamente, pode-se dizer que em Mutações na superfície e mudanças estruturas: América Latina no Parnaso informacional, escrito pelo professor Martin Becerra, da Universidade de Quilmes, Argentina, este tema é central. Além de fazer uma conceituação da Sociedade da Informação e sua transformação em sociedades informacionais, Becerra fala sobre a apropriação das TICs na região, que ele identifica como sendo a mais desigual do planeta e onde “a diferença nas distribuições de recursos (econômicos, sociais e culturais) entre os setores da população são mais extensas” (p. 129). Para além das desigualdades, a concentração dos meios - que também é apontada como uma característica das sociedades


infocomunicacionais latino-americanas - é analisada como um problema pelo Argentino, que faz referências também a necessidade de se pensar políticas de comunicação democratizantes. Na segunda parte estão os artigos de Bernard Miège, Manuel Castells, Lorenzo Vilches e Jesus Martin-Barbero. O professor da Université Stendhal- Grenoble, na França, Bernard Miège, é quem inicia os artigos da segunda parte. Com o texto A questão das tecnologias de comunicação: novas perspectivas, Miège problematiza, de início, os conceitos até então dados como fato, como o da já existência da sociedade em rede ou da “era da rede”. “Se continuarmos a crer que essa conjunção das TICs e as diversas sociedades implica inovações que se desenvolvem a longo prazo – o que nos leva a discordar dos pensadores que estabelecem como postulado apriorístico a ideia de que já estamos numa „era das redes‟, ou de que as sociedades moderas merecem ser denominada antes de mais nada como „Sociedade da Informação‟ -, não podemos, evidentemente, deixar de constatar a importância das reformas e das mutações atuais, não só em toda uma série de fenômenos da vida social como, mais profundamente, nas estruturas econômicas e políticas”. (p.160) E neste artigo, ele se propõe justamente a mostrar um pouco das estruturas econômicas e políticas por trás das TIC tentando discernir, para além das “turbulências superficiais” mudanças sociais e mudanças técnicas, mutações das filiais industriais e dos novos aparelhos, inovações de ruptura e inovações de produto e conclui com mais questionamentos do que com afirmativas. O artigo que sucede é o do professor da Universitat Obreta de Catalunya, da Espanha, Manuel Castells. Criatividade, inovação e cultura digital: um mapa de suas interações é um texto que também foi apresentado no Colóquio “Claves del nuevo entorno digital”, em Sevilha no ano de 2008. Econômico nas palavras, Castells fala que vivemos numa cultura caracterizada pela globalização e pela digitalização e que novos modelos de negócio estão definindo os direitos autorais de acordo com a evolução tecnológica. Isso vai também acarretar, por sua vez, em uma falta de clareza na divisão tradicional entre a cultura popular e comercial. Castells aparenta otimismo quanto às mudanças postas e as possibilidades que deverão surgir e principalmente com relação ao modelo da criatividade, que ele parece adotar quase como estratégia para vários campos. “Essa enorme onda de criatividade, junto com a inovação, é o que deve ser adotado pelos negócios, os políticos, as instituições e as políticas. É possível fazer política


usando essa nova estrutura digital. (...) Agora são os próprios indivíduos que vigiam as instituições, enquanto antes era o contrário” (p. 190). É possível uma estética das tecnologias da comunicação? É o artigo de Lorenzo Vilches, professor da Universitat Autònoma de Barcelona, na Espanha. Vilches se propõe a analisar os universos de representação simbólica da Web 1.0, que para ele está associada à relação entre fragmentação e totalidade, e da Web 2.0, que por sua vez, busca menos a totalidade da representação dos meios e se mostra inclinada à negociação e à colaboração dentro do que “poderia se chamado de novo espaço público”. Contudo, Vilches tenta problematizar esta questão também a partir da forma mercadoria que todas as tecnologias e a comunicação acabam por adquirir. “O sistema da rede parece contar em si mesmo a forma de sua própria desconstrução; isto é, pela via da fragmentação ela atua no mesmo modo que a forma mercadoria (...) o negócio da Internet está na fragmentação de formas e conteúdos que , no fim das contas, pode ser reduzida à forma mercadoria” (p.197). O texto prossegue analisando com profundidade as relações importantes para se entender a forma mercadoria, a estética e a sociedade em rede. Por fim, o livro traz mais uma contribuição para se pensar o contexto das novas tecnologias na América Latina, dessa vez a partir do viés da diversidade cultural e pelas mãos do célebre Jesús Martin-Barbero. Convergência digital e diversidade cultural também foi um texto apresentado no Brasil por ocasião do Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural em 2007. Barbero fala de um novo sentido da diversidade na interculturalidade e que a sobrevivência dessa diversidade só pode ser tratada hoje numa “nova institucionalidade cultural mundial capaz de interpelar os organismos globais” (p.212). Essa sobrevivência também está, na visão de Barbero, dependente de uma reestitucionalização cidadã do Estado, que ainda não conseguiu traduzir em políticas internacionais a dita preocupação com a cultura e a diversidade. Barbero vê potencialidade até mesmo nas desigualdades criticadas por autores anteriores. Para ele “a revolução tecnológica das comunicações agrava a brecha das desigualdades entre os setores sociais, entre culturas e países também, mobiliza a imaginação social das coletividades potencializando suas capacidades de sobrevivência e associação, de protesto e participação democrática, de defesa dos seus direitos sociopolíticos e culturais e de ativação de sua criatividade expressiva.” (p.215). Barbero, na linha do texto de Castells acredita de forma mais “otimista” nessas novas redes culturais que estão se convertendo no novo espaço público e que “estamos diante


da possibilidade histórica, não só tecnológica como também cidadã, de renovar radicalmente a trama política da interculturalidade” (p.231). Os nove artigos são de muito fôlego e conseguem traçar um panorama muito importante de várias abordagens sobre as mais novas formas de comunicação e as tecnologias e aportes. Com mais essa contribuição, vale dizer que, para além das suas já conhecidas contribuições teóricas para o campo da comunicação, Dênis de Moraes parece ter um papel a mais a exercer na academia, que é o de ter a exata compreensão da pertinência temática e do momento histórico de fazer dialogar diferentes visões para abordar questões de relevância sociais imensuráveis e atuais. Foi assim com o já considerado clássico Por uma outra comunicação: mídia, mundialização, cultura e poder (Editora Record, 2003, 414 páginas) e agora mais uma vez com Mutações do Visível: da comunicação de massa à comunicação em rede.


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