Revista Eletrónica Internacional de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación Volumen X, Numero II, Mayo a Agosto de 2008 www.eptic.com.br AUTORES
Ana Segovia Andreu Casero Ripollés Arakin Queiroz Monteiro Carlos Llorens Maluquer Ernani Coelho Neto Fernando Augusto Mansor de Mattos Fernando Tucho Isabel Sarabia Andúgar José Maria Garcia de Mariaga Karina Janz Woitowicz Manuel Martínez-Nicolás Maria Luiza Humanes Nuria Almirón Pablo López Rabadán Sayonara Leal Vitor Souza Lima Blotta Wanderley Florêncio Garcia
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1. Expediente 2. Presentación Artículos 3. Dissimulação como estratégia promocional na internet Ernani Coelho Neto
4. Orkut, subjetividade coletiva e valor: considerações preliminares à luz da Economia Política da Comunicação Arakin Queiroz Monteiro
5. Mídia e cidadania: contribuições de leituras habermasianas da comunicação de massa para a retomada da esfera pública em sociedades complexas Vitor Souza Lima Blotta
Entrevista 6. Economía política y compromiso intelectual. Entrevista con Dan Schiller: “La cuestión fundamental no es tanto la concentración, sino el poder de clase sobre el discurso ideológico” Ana I. Segovia y Nuria Almirón
Especial Realidade midiática-cultural espanhola 7. Las políticas de internet de RTVE y la BBC: la redefinición y implementación del servicio público en los nuevos medios Carlos Llorens Maluquer
8. La financiarización de los grupos de comunicación en España: el caso del grupo PRISA Nuria Almirón
9. Pensamiento crítico y procesos de construcción de agenda-framing: Le Monde Diplomatique (edición española) (1995-2006) Pablo López Rabadan
10. Efectos de las políticas de implantación de la TDT sobre los modelos de televisión de proximidad en España: el caso de la Región de Murcia Isabel Sarabia Andúgar
11. Condicionantes socio-laborales de los periodistas online en España José Mª Gª de Mariaga; Fernando Tucho; Mª Luiza Humanes; Manuel Martínez-Nicolás
12. La oferta de contenidos y servicios de la TDT: análisis de la situación en el mercado español Andreu Casero Ripollés
Investigación 13. Organização da informação no Centro de Documentação da RAC: o Orçamento Participativo no Correio Popular Wanderley Florêncio Garcia; Fernando Augusto Mansor de Mattos
14. A imprensa feminista na luta contra o silenciamento e a impunidade: páginas do movimento de mulheres brasileiras pelo fim da violência sexual e doméstica entre os anos 1970/80 Karina Janz Woitowicz
Reseña/Nota de Lectura 15. La version “participativ” de la construction de connaissance pour l’action: la pertinence du dialogue entre praticiens et techniciens Sayonara Leal
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EXPEDIENTE Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación Volume X, Numero 2, May a Ago. de 2008 http://www.eptic.com.br ISSN 1518-2487
Revista avaliada como “Nacional A” pelo Qualis/Capes Director César Bolaño (UFS - Brasil) Editor Valério Cruz Brittos (UNISINOS – Brasil) Co- editores Alain Herscovicci (UFES – Brasil) Francisco Sierra ( US – España) Apoio Técnico Baruch Blumberg Carvalho de Matos (UFS Brasil) Danielle Azevedo Souza (UFS – Brasil) Elizabeth Azevêdo Souza (UFS - Brasil) Rafael Silva Bispo (UFS - Brasil) Consejo Editorial Abraham Sicsu (Fund. Joaquim Nabuco – Brasil) Alain Rallet (Univ. Paris - Dalphine-França) Anita Simis (UNESP - Brasil) Cesare G. Galvan (UFPb - Brasil) Delia Crovi (UNAM - México) Dênis de Moraes (UFF - Brasil) Diego Portales (Univ. del Chile) Dominique Leroy (Un. Picardie – França) Edgar Rebouças (UFPE - Brasil) Enrique Bustamante (UCM – Espanha) Enrique Sánchez Ruiz (UG – México) Francisco Rui Cádima (UNL – Portugal) Gaëtan Tremblay (Un. de Québec - Canadá) Gilson Schwartz (USP - Brasil) Giovandro Marcus Ferreira (UFES - Brasil)
Graham Murdock (Loughbrough Univ. - UK) Guillermo Mastrini (UBA – Argentina) Hans - Jürgen Michalski (Univ. Bremen Alemanha) Helenice Carvalho (UNISINOS – Brasil) Isabel Urioste (Un. Compiègne – França) Jean-Guy Lacroix (Un. de Québec - Canadá) Jorge Rubem Bitton Tapia (UNICAMP - Brasil) Joseph Straubhaar (Univ. Texas - EUA) Juan Carlos de Miguel (Un. Pais Vasco - Espanha) Luis Alfonso Albornoz (Un. Carlos III de Madrid Espanha) Luiz Guilherme Duarte (UOPHX - EUA) Manuel Jose Lopez da Silva (UNL - Portugal) Márcia Regina Tosta Dias (FESPSP - Brasil) Marcial Murciano Martinez (UAB – Espanha) Marcio Wohlers de Almeida (UNICAMP - Brasil) Murilo César Ramos (UnB – Brasil) Nicholas Garham (Westminster Unv. - UK) Othon Jambeiro (UFBa - Brasil) Pedro Jorge Braumann (UNL – Portugal) Peter Golding (Loughborough Univ. - UK) Philip R. Schlesinger (Stirling Univ. - UK) Pierre Fayard (Un. Poitiers – França) Ramón Zallo (Un. Pais Vasco – Espanha) Reynaldo R. Ferreira Jr. (UFAL – Brasil) Roque Faraone (Um. de la República - Uruguai) Sérgio Augusto Soares Mattos (UFBA - Brasil) Sergio Caparelli (UFRGS - Brasil) William Dias Braga (UFRJ - Brasil)
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Presentación O segundo número de 2008 da Revista Eptic On Line traz um dossiê especial sobre a realidade midiática-cultural espanhola, organizado a partir da seleção de seis textos apresentados no I Congresso Nacional da Ulepicc-Espanha. O artigo “Las políticas de internet de RTVE y la BBC: la redefinición y implementación del servicio público en los nuevos medios”, de Carlos Llorens Maluquer, traça uma comparação entre as experiências das duas emissoras, analisando as causas do fracasso no caso espanhol e do êxito no britânico no ambiente virtual. O estudo mostra que enquanto a BBC avança no mundo digital com um conteúdo de qualidade, partindo do pressuposto de que a Internet não é apenas um meio de promover seus canais de televisão, mas sim parte integrante do serviço público, a RTVE não tem aproveitado o ambiente virtual e não elaborou estratégias específicas de produção e disseminação de conteúdo. Nuria Almirón parte para a análise do financiamento enquanto marco decisivo da evolução recente dos setores midiáticos nos sistemas capitalistas avançados. Com o texto “La financiarización de los grupos de comunicación en España”, a pesquisadora faz um estudo de caso do grupo PRISA e destaca algumas mudanças de estratégias e estruturas produtivas que ameaçam a responsabilidade social das empresas jornalísticas. Já Pablo López Rabadán, em seu artigo “Pensamiento crítico y procesos de construcción de agenda-framing”, mostra a trajetória profissional da edição espanhola do Le Monde Diplomatique ao longo de uma década e mostra como o jornal construiu uma sólida representação do pensamento crítico no panorama comunicativo a partir de uma agenda temática diferenciada. A seção especial traz ainda contribuição de José Garcia de Mariaga; Fernando Tucho; Maria Luiza Humanes e Manuel Martínez-Nicolás, que apresentaram, através do artigo “Condicionantes socio-laborales de los periodistas online en España”, o resultado de investigações a respeito da situação salarial, formação e motivação dos jornalistas que trabalham nos veículos online, trazendo à tona uma série de questões relacionadas à função social do jornalismo. A pesquisadora Isabel Sarabia Andúgar, no texto “Efectos de las políticas de implantación de la TDT sobre los modelos de televisión de proximidad en España: el caso de la Región de Murcia”, diz que a conversão digital não mudou a estrutura descentralizada do Centro regional da TVE e que ocorrem mudanças no conceito de televisão local. Ela trata também dos desequilíbrios territoriais, da área de cobertura e da flexibilidade das políticas de implantação da televisão digital terrestre na região.
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O objeto de estudo de Isabel é o mesmo de Andreu Casero Ripollés, cujo texto, “La oferta de contenidos y servicios de la TDT: análisis de la situación en el mercado español”, encerra o dossiê exclusivo do panorama dos serviços midiáticos na Espanha. Dada a complexidade do tema, o autor se limita a apresentar quatro aspectos: o caráter transformador da TDT em relação ao mercado televisivo, a falta de um marco normativo específico, o processo de implantação da TDT na Espanha e o parque de receptores. Ripollés constata que não há relação direta entre o aumento da oferta de canais televisivos e o incremento da diversidade da oferta de conteúdos e defende a articulação de políticas comunicativas para acabar com a homogeneização da programação. Na seção de artigos da nova edição do periódico, o ambiente da rede mundial de computadores volta com “Dissimulação como estratégia promocional na Internet”, de autoria de Ernani Coelho Neto, e “Orkut, subjetividade coletiva e valor: considerações preliminares à luz da Economia Política da Comunicação”, de Arakin Queiroz Monteiro. Enquanto o primeiro discute o papel da Internet na circulação de informações sobre produtos e serviços, analisando a estrutura da comunicação entre consumidores na rede e as implicações do uso de tais relacionamentos para a divulgação anônima de produtos promocionais, o segundo discorre sobre algumas peculiaridades próprias aos processos produtivos ligados à interatividade entre produção e consumo no âmbito das empresas de Internet, tendo como estudo de caso o serviço de relacionamentos Orkut, pertencente à empresa Google Inc. Reflexões acerca do Orkut também foram feitas por Vitor Souza Blotta, para avaliar as novas formas de interação na rede e suas potencialidades de produção de discursividade na comunicação
midiática.
Intitulado
“Mídia
e cidadania:
contribuições
de leituras
habermasianas da comunicação de massa para a retomada da esfera pública em sociedades complexas”, o pesquisador procura fazer uma releitura das teorias críticas da Indústria Cultural e da Comunicação de Massa no século XX e das transformações provocadas pelas novas TIC na esfera pública atual. Uma entrevista com Dan Schiller sobre economia política e compromisso intelectual é parte integrante do presente número da Revista Eptic. Elaborado e editado por Ana Segovia e Nuria Almirón, o resultado da conversa com o professor da Universidade de Illinois revela discussões a respeito da produção cultural no sistema capitalista, do poder de classe sobre o sistema midiático e do papel da teoria crítica na sociedade.
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O periódico traz ainda dois resultados de investigação. Um deles, de Wanderley Florêncio Garcia e Fernando Mattos, intitulado “Organização da informação no Centro de Documentação da RAC: o Orçamento Participativo no Correio Popular”, descreve os mecanismos de busca do referido centro e analisa se este pode ser um instrumento para perpetuar as características de manipulação e de persuasão da empresa jornalística. O outro artigo é “A imprensa feminista na luta contra o silenciamento e a impunidade”, escrito por Karina Janz Woitowicz. A autora reflete sobre as relações entre a mídia e o movimento de mulheres, a partir da tematização da violência nos anos 70 e 80 no Brasil, chegando a discutir a importância da imprensa alternativa na inserção do debate feminista na agenda pública e na própria organização do movimento. O novo número da Revista Eptic encerra-se com uma resenha do livro “La production de connaissance pour l'action: arguments contre le racisme de l'intelligence”, de autoria de Jean-Pierre Darré. De acordo com a análise da obra, feita por Sayonara Leal, o autor escolhe uma metodologia polêmica em relação aos saberes científicos no campo da agricultura e apresenta bases teóricas de um estudo das formas de conhecimento nas atividades práticas. Para Sayonara, o livro ultrapassa as barreiras da sociologia e da antropologia e é voltado a todos aqueles interessados no campo das ciências humanas e sociais, sendo válido para discutir o impacto da introdução das novas tecnologias e novas ferramentas técnicas no cotidiano da vida social e produtiva. César Bolaño Director Eptic On Line
Valério Brittos Editor Eptic On Line
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Dissimulação como Estratégia Promocional na Internet Ernani Coelho Neto1
Resumo O artigo discute o papel da internet na circulação de informações sobre produtos e serviços e apresenta a noção de comunicação promocional dissimulada. O trabalho analisa a estrutura da comunicação entre consumidores na internet e discute a possibilidade e implicações do uso de tais relacionamentos para a divulgação anônima de produtos e serviços.
Abstract The article argues the role of the Internet in the dissemination of information about products and services and reveals the notion of deceptive promotional communication. The work analyses the structure of the communications between consumers on internet and discuss the possibility and implications about de uses of these relationships for the anonymous divulgation of products and services.
Palavras-chave Comunicação; consumo; internet; interação entre consumidores, dissimulação.
Keywords Communication; consumption; internet; consumer interactions, deception.
1
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da
Bahia, Diretor de Economia da Festa da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, Professor de Capacitação Profissional Avançada do NPGA-UFBA, ex-Professor Titular da Faculdade de Tecnologia Empresarial. Tel (71) 3374-5956, ernanicn@gmail.com, R. Passargada, 866/100, CEP 41.620-430
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Dissimulação como Estratégia Promocional na Internet A internet, entre outras coisas, amplia as oportunidades de contato entre consumidores. Sites de relacionamento e comunidades virtuais são pontos de convergência especialmente úteis para a troca de opiniões e experiências sobre produtos e serviços. O uso da internet como instrumento de relacionamento entre consumidores cresce apesar de um sério obstáculo: a carência de um conjunto maduro de convenções e códigos de relacionamento. Assim, é pouco prudente ariscar as reais intenções por trás de um comentário elogioso ou de uma reclamação contundente. A confiança, nessas condições, pode ser algo tão frágil quanto o cristal. O papel da informação e da comunicação em mercados de consumo é bastante estudado. O acesso, a eficiência e confiabilidade das fontes alteram a probabilidade de sucesso (seja qual for o parâmetro adotado) das decisões de compra. Como, em última análise, a informação necessita de dispositivos para sua propagação, as características da infraestrutura de distribuição condicionam a conduta dos agentes. Os efeitos de surtos de boatos e rumores, por exemplo, induzem mudanças de conduta dos compradores (OZCAN, 2001). O desenvolvimento recente dos dispositivos online de interação – comunidades virtuais, fóruns online, sites de opiniões, sites comerciais, sites de proteção ao consumidor, sites institucionais, blogs, entre outros – confere a velhas questões um ar de novidade. Uma das mais relevantes está relacionada à confiabilidade das informações obtidas através da internet. O problema é especialmente importante para o futuro dos negócios virtuais e do comércio eletrônico. Os meios de validação da informação na web – processos sociais e tecnológicos para garantir a adequação, precisão, utilidade e, principalmente, a boa fé das fontes – são, na melhor da hipóteses, questionáveis. Como é sabido, a validação da informação não é um problema restrito à comunicação online. Outros sistemas de comunicação esbarraram em dilemas semelhantes (BRIGGS & BURKE, 2004). Em alguns casos, soluções técnicas surgiram para garantir níveis satisfatórios de integridade da informação. Mas, de maneira geral, o desenvolvimento das tecnologias de comunicação sempre se fez acompanhar de arranjos institucionais e de convenções para a validação de conteúdos. A indústria jornalística, por exemplo, aceitou uma noção de “objetividade” aplicada à atividade e tratou de difundir “boas” práticas para a publicação de notícias (BOCZKOWSKI, 2001; WIMMER, 2000). O setor publicitário, em geral reagindo a pressões da sociedade civil e com variações de país a país, vêm consolidando um conjunto de
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parâmetros éticos e operacionais. Os meios de comunicação de massa foram e são objetos da ação do estado com o objetivo de evitar o predomínio de interesses específicos na programação (BERTRAND, 1999). Até bem pouco tempo, os meios de comunicação de massa eram os veículos preferenciais para a divulgação de informação sobre produtos e serviços. É claro que a mídia e a propaganda nunca foram as únicas fontes disponíveis. Mas, por outro lado, sempre exerceram um peso enorme sobre as decisões de consumo. A internet representa uma organização das fontes de informação baseada na fragmentação temporal e espacial (OZCAN, 2004). A publicidade também está lá, é claro. Mas o jogo aparenta ter regras diferentes. A estrutura da comunicação na web não torna fácil a validação da informação. Marett (2004), em seu trabalho de doutorado, discutiu esse problema a partir de duas abordagens teóricas: a Teoria da Riqueza da Mídia e a Teoria da Presença Social. A idéia essencial da primeira é que as pistas e elementos sociais que podem ser comunicados através de uma mensagem variam de acordo com o meio de comunicação utilizado. A interação face-a-face é, nesse sentido, a experiência mais rica. Contatos presenciais contêm mais elementos contextuais, visuais e verbais. No outro extremo, as mensagens textuais suportam menor volume de elementos contextuais. Quanto menor a riqueza do meio, maiores são as chances de que o processo seja prejudicado por ambigüidades e equívocos. A Teoria da Presença Social trata da influência de terceiros sobre o comportamento dos indivíduos. A idéia fundamental é simples e intuitiva: nós nos comportamos de maneira diferente quando sabemos que estamos sendo observados e, portanto, a percepção da presença de outros influencia eventos comunicativos. Os dispositivos de comunicação alteram a nossa capacidade de perceber o outro. Segundo Marett (2004), a probabilidade de um indivíduo levar em conta a presença social está relacionada à capacidade do meio de fornecer elementos informativos. Quanto mais estreita a capacidade do dispositivo, menores são as chances de detecção. Tanto a Teoria da Presença social como a Teoria da Riqueza das Mídias não fazem justiça à capacidade humana de apreender e se adaptar. Mesmo assim, elas lançam luz sobre as limitações das tecnologias de comunicação disponíveis. A aplicação desses conceitos no caso da internet exige cuidados. Afinal, a web comporta uma grande diversidade de formatos. Como tendência, o avanço da tecnologia no sentido da
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banda larga deve “enriquecer” as interações virtuais. Contudo, grande parte dos relacionamentos através da internet ainda se dá a partir de mensagens escritas. O ciberespaço é um mundo com regras, convenções e controles instáveis. Tal característica não é inteiramente indesejável. Reside nisso uma possibilidade sem paralelo de liberdade e emancipação do pensamento. A fragmentação favorece a diversidade ao dar voz a grupos com pouco acesso aos meios de comunicação de massa. Mas, seja como for, estamos descobrindo que os instrumentos que servem a “boas” causas podem também ser empregados em empreendimentos menos nobres. Um claro sintoma disso é a notória crônica dos crimes online. O crime, bem sabemos, está por toda parte. Mas seu dinamismo no ciberespaço é notável. A velocidade com que surgem novos tipos de golpes e de fraudes e o nível de inovação associado dão uma dimensão do problema. Já que o volume do comércio eletrônico, independente da fonte consultada, não para de crescer, seria exagero afirmar que o avanço dos negócios na web está em risco. Entretanto, o ritmo e intensidade desse avanço dependem, em parte, da contenção do problema em níveis razoáveis. A percepção de risco associada às transações eletrônicas pode sim arrefecer a marcha ao afugentar os consumidores menos entusiasmados. Grazioli & Jarvenpaa (2000) definiram as tentativas de ludibriar os consumidores na internet, incluindo nesse conceito tanto as formas mais amenas de divulgação de conteúdos tendenciosos até a noção legal de fraudes de consumo, como ações dissimuladas contra consumidores2. De acordo com os autores, esse tipo de ação consiste na difusão através dos recursos de comunicação online de informação manipulada maliciosamente com o objetivo de beneficiar deslealmente ou injustamente o patrocinador da mensagem. O aspecto essencial dessa abordagem é a deslealdade. Primeiro, e mais importante, porque deixa claro que os consumidores estão sujeitos a danos ou prejuízos. Segundo, podemos concluir, porque isso implica que tais vantagens dificilmente seriam obtidas de outra maneira. Grazioli & Jarvenpaa (2000) desenvolveram, a partir de dados empíricos, um esquema geral que descreve como os usuários de lojas virtuais se comportam ante a esse tipo de problema. Indícios de dissimulação aumentam a percepção de risco da transação. O nível de confiança do consumidor se reduz, diminuindo com isso a sua disposição para realizar a compra. O aumento da 2
A expressão original é internet consumer deception. Como não encontramos uma tradução que melhor representasse o sentido conotado no texto, adaptamos a expressão para a forma que aparece nesse trabalho.
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dissimulação percebida tende, também, a enfraquecer os efeitos de símbolos de credibilidade. Selos de entidades certificadoras ou termos de garantias deixam de agir na redução do risco percebido. A percepção risco afeta inclusive o valor de testemunhos de outros consumidores. A comunicação entre consumidores através da internet pode, potencialmente, ser empregadas para fins promocionais. A internet é com freqüência usada por empresas para estimular a discussão sobre produtos e serviços. Iniciativas desse tipo, quando realizadas de maneira transparente e às claras, são normalmente consideradas inconvenientes. Apesar disso, a visibilidade das ações torna mais fácil uma avaliação crítica dos conteúdos comunicados. Mas, salas de bate-papo, fóruns de discussão, blogs são também objetos para esforços promocionais dissimulados. Os estudos sobre o fenômeno da dissimulação raramente abordam o problema a partir do ângulo da comunicação promocional. Assim, não podendo encontrar uma nomenclatura consensual denominamos esse tipo de prática de Comunicação Promocional Dissimulada na Internet (CPDI). Sua forma mais simples envolve disseminação discreta de conteúdo promocional em comunidades virtuais ou blogs. O objetivo é influenciar positivamente a percepção dos consumidores de uma marca ou produto dos patrocinadores da ação. A distribuição dissimulada de informação é uma prática conhecida e sua ocorrência supera os limites do ciberespaço. Boatos, rumores e contra-informação não são ocorrências incomuns nas atividades empresariais, em disputas políticas (NEVES, 2003) ou, ainda, em operações de inteligência (MARCIAL et al., 2002). No entanto, as condições de ocorrência da CPDI a diferenciam sob muitos sentidos de tais práticas. O que mais se aproxima à noção que estamos tratando aqui é o controverso conceito do marketing furtivo. Em iniciativas dessa natureza, atores são empregados para fazer a divulgação de um produto ou serviço (geralmente em fase de lançamento ou de teste) em lugares públicos (PINTO, 2004). Atores representado o “papel” de um consumidor se aproveitam das oportunidades de socialização para fazer a divulgação ou pesquisar as reações do público-alvo. Em momento nenhum é revelado que se trata de uma ação mercadológica. Naturalmente, essa prática tem causado muita polêmica, especialmente nos Estados Unidos, onde está mais difundida. Os seus críticos alegam que a abordagem limita a capacidade de avaliação da informação. Quando submetidos aos estímulos convencionais de convencimento publicitário, estamos cientes de que
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eles foram desenvolvidos com o objetivo de produzir uma venda ou construir uma imagem. Logo, nos preparamos para lidar com isso. Se é verdade que a comunicação promocional dissimulada não consiste um problema inteiramente novo, também o é o fato de que a internet acrescenta dimensões interessantes a ele. O ato de consumir cada vez mais se confunde com a fruição de uma experiência. Para os muitos consumidores que freqüentam fóruns de discussão e recursos semelhantes, tal experiência é crescentemente influenciada por informações, conhecimento e interpretações produzidos nesses ambientes coletivos. Entretanto, o conhecimento é gerado num contexto em que os dispositivos comunicacionais permitem que indivíduos protejam suas identidades sob a cortina do anonimato ou de um personagem. Nessas circunstâncias, temos uma conjunção de fatores que torna relativamente simples e menos arriscado interferir no fluxo das mensagens. Dellarocas (2004), analisado o caso dos fóruns online, colocou o problema da seguinte forma:
Entretanto, aquelas mesmas propriedades (arquitetura descentralizada, relativa autonomia das fontes de informação) que fazem da internet um meio difícil de ser controlado diretamente, tornam relativamente fácil manipular indiretamente a provável distribuição da informação propagada nos fóruns online através da adição de mensagens estrategicamente tendenciosas no conjunto total de opiniões colocadas (p.02).
De todos os aspectos que colaboram para fazer da internet um campo aberto para a dissimulação é o problema do anonimato que mais limita o uso de medidas de contenção. Como afirma Donath (1998), a identidade é um fator fundamental de estabilização das relações humanas. A capacidade de “ler” as pistas de identidade das pessoas com a qual travamos contato, nos ajuda a elaborar um juízo sobre elas e sobre suas intenções. Sabemos por nossa própria experiência que esses artifícios não são perfeitos e que os julgamentos que fazemos podem ser enganosos. Mas, se é assim num contexto que estamos familiarizados, o que dizer do universo dos relacionamentos virtuais? A identidade é uma questão fundamental quando a comunicação humana é mediada por dispositivos de comunicação. Alguém pode se passar por um funcionário de uma empresa e tentar enganar um consumidor através do telefone, por exemplo. O consumidor contará com um volume muito menor de indícios para decidir ou não se deve confiar no seu interlocutor do que se pudesse examinar suas reações corporais. A diferença, mais uma vez, é que já convivemos com o telefone
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tempo bastante para desenvolvermos uma noção mais precisa, embora naturalmente sujeita a falhas, de quais são os riscos associados a ele. Isso não impede que pessoas sejam enganadas em situações semelhantes. Mas reforça a impressão de que o problema pode ser mais agudo em relacionamentos virtuais baseados preponderantemente em mensagens textuais. Em última análise, a veracidade sempre pode ser questionada em qualquer mídia. Nos relacionamentos virtuais, a despeito de inúmeros avanços, de uma forma geral a questão da identidade permanece não resolvida. Os indícios que costumamos usar para avaliar a personalidade das pessoas com as quais lidamos ou os papéis sociais associados são ambíguos. A faceta que nos é mostrada por um amigo virtual através das redes digitais não passa de informação. E, regularmente, não dispomos dos mecanismos necessários para validar o que está sendo apresentado como verdade. Há sempre uma possibilidade de que as pessoas que realmente estejam por trás do computador não correspondam ao que elas dizem que são. Alguém pode pensar que está conversando com uma mulher de meia idade quando, na verdade, se trata de um adolescente em busca de diversão. Podemos levar em consideração as recomendações de um especialista num determinado tipo de doença para só depois descobrir que o autor da mensagem não conhece o assunto tanto quanto imaginávamos (DONATH, 1999). É fácil intuir a que tipo de inconveniente as dificuldades em estabelecer uma autenticação de identidade pode nos levar. Nas palavras de Currien et al. (2004):
Como construir confiança entre os membros de uma comunidade quando reina o anonimato? Existe um sistema de reputação que permita estimular a confiança? A questão do anonimato em comunidades de consumidores online refere-se à questão mais ampla da cooperação entre os indivíduos. Axelrod (1984) identificou três condições que são necessárias para nivelar a possibilidade de cooperação: (i) deve ser provável que dois indivíduos se encontrem no futuro; (ii) indivíduos devem ser capazes de identificar uns aos outros; (iii) indivíduos devem estar informados de como os outros se comportaram no passado. Com destacado por Kollock (1998), “tem-se dito que uma das características atraentes da interação online é a fluidez da identidade. Mas, os trabalhos sobre os dilemas sociais argumentam que a persistência da identidade é um traço necessário para relações cooperativas” (p. 08)
A identidade permite que se faça uma ligação entre as conseqüências de uma linha de ação e o responsável por ela. Se alguém se comporta de maneira questionável de alguma forma
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ou afronta os padrões morais do grupo que freqüenta, é razoável esperar algum tipo de represália. Mas, se as chances de que um indivíduo seja identificado são remotas, são igualmente maiores as probabilidades de desvio de conduta. Assim, mesmo assumindo uma postura absolutamente otimista, a conjuntura favorável pode estimular agentes sociais diversos a tentar interferir sobre os fluxos de comunicação online entre consumidores. Um ambiente de comunicação no qual se pode recorrer ao subterfúgio do anonimato sem maiores restrições. Se pensarmos bem, é um contexto especialmente favorável para as estratégias de comunicação promocional dissimulada. Devemos então supor que isso acontece com freqüência? Quais são as provas nessa direção? Dellarocas (2004) sustenta que essa hipótese é razoável e cita alguns casos como sinais convincentes do uso dessa prática. O mais conhecido envolve a o site americano Amazon.com. No início de 2004, uma falha de software revelou que parte das resenhas de leitores disponíveis era na verdade obra dos departamentos de marketing dos próprios editores dos livros resenhados. A empresa agiu rápido, reconheceu o problema e prometeu mudar seus procedimentos para garantir a lisura das informações. Outro exemplo vem de Mayzlin (2003) que relatou o caso de um bulletin board freqüentado por admiradores de uma estrela da música americana que passou a receber mensagens recomendando uma nova cantora. As mensagens imitavam o estilo dos membros da comunidade. Por isso, poucos desconfiaram da fonte das recomendações. Contudo, elas faziam parte de um esforço de comunicação destinado a popularizar a imagem da nova artista entre o seu público potencial. A empresa por traz da ação (Electric Artists) não fez questão de esconder o episódio. Ainda segundo a mesma autora, atividades promocionais desse tipo estão sendo crescentemente empregadas na indústria do entretenimento. Os relatos a esse respeito associam a técnica ao conceito do buzz marketing3, empregado em campanhas de divulgação de filmes, livros e, até, seriados de TV. A comunicação promocional dissimulada na internet, além de servir como meio discreto de promoção de produtos e reforço da imagem corporativa, pode envolver práticas questionáveis de manipulação da informação. Dellarocas (2004) usa a expressão manipulação “estratégica” para definir esse expediente. Sem muito esforço, é possível imaginar alguns cenários nos quais iniciativas dessa natureza sejam prováveis. Um ex-empregado magoado em busca de vingança aproveitando o acesso simultâneo a vários membros de uma comunidade virtual para simular ser 3
Buzz Marketing envolve a criação e uso de surtos de comunicação boca-a-boca como ferramenta de marketing.
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um cliente insatisfeito e prejudicar a imagem do seu antigo patrão (CHEN et al., 2003). Empresas em desvantagem no jogo competitivo divulgando informações falsas visando atingir a credibilidade dos seus concorrentes mais fortes. Consumidores engajados em atos de sabotagem ou desrespeito contra empresas, espalhando via internet depoimentos exagerados ou distorcidos (DENIGRI-KNOTT, 2003). Ou, ainda, firmas desvirtuando informações sobre a qualidade real de seus produtos para obter vantagens de curto prazo. Seguindo esse raciocínio, a estratégias de CPDI podem ser classificadas em dois tipos, a depender da integridade da informação propagada. No primeiro caso ocorre o que denominamos de interação promocional. Utiliza-se o recurso do anonimato para fazer a divulgação de produtos ou serviços ou reforçar positivamente a imagem corporativa empregando para tanto informações válidas, ou seja, que correspondem em boa medida à opinião média. Os operadores da campanha monitoram e interagem anonimamente para divulgar as vantagens de um produto ou a importância das iniciativas da empresa, por exemplo. O patrocinador da ação deseja comunicar informações comerciais e institucionais através de canais pessoais e evitar os inconvenientes dos formatos publicitários. O esforço de dissimulação recai preponderantemente em não permitir que os membros da comunidade descubram a identidade dos patrocinadores da ação nem as reais intenções da ação. O segundo tipo, a manipulação estratégica, envolve a difusão de informações parcialmente ou completamente distorcidas, “fabricadas” com o objetivo de construir uma imagem “artificial” do patrocinador da ação ou de seus rivais. O consumidor corre risco de experimentar algum nível de prejuízo ou dano real caso tome as mensagens como verdadeiras e as leve em conta no momento de tomar uma decisão de consumo. Os casos mais graves podem representar uma ameaça séria aos direitos do cidadão. A maior parte da energia empregada na campanha destina-se a convencer os membros da comunidade acerca da validade das informações difundidas. O ambiente de competição acirrada, a relativa camuflagem proporcionada pela natureza das interações na internet e o vácuo institucional na comunicação online são estímulos suficientes para encorajar uma minoria de companhias (pelo menos por enquanto) ao uso das duas formas de CPDI. Os sinais nesse sentido começam a aparecer. Aos poucos, o marketing invisível está passando a figurar na lista de serviços das empresas especializadas na organização de campanhas
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promocionais no ciberespaço. No Brasil, como relata Fernandes (2005) em matéria de uma revista de circulação nacional, pelo menos uma agência oferece algo nessa linha. A Espalhe4, uma empresa que trabalha com base no conceito de comunicação não convencional, entre outras coisas desenvolve e implementa estratégias de intervenção com foco em salas de bate-papo e comunidades virtuais. A intervenção típica envolve a organização de blog’s em torno de um tema de interesse do público-alvo da campanha. Quando a comunidade atinge certa densidade, os profissionais da empresa passam a agir sobre o fluxo de mensagens. As marcas dos contratantes da campanha são gradativamente inseridas na rotina de comunicação através de prepostos que simulam fazer parte do universo da comunidade e de outros recursos dessa natureza. A julgar pelo que está escrito na reportagem, grandes empresas estão investindo nessa prática. A impressão que fica é de que as experiências de CPDI estão se intensificando e sofisticando. O relato de Dellarocas (2004) sobre as técnicas mais comumente empregadas em episódios de manipulação estratégica reforça essa percepção. Além das formas de intervenção direta (através de prepostos ou de agências especializadas), o autor acrescenta ao repertório de medidas o recrutamento de indivíduos para iniciar e conduzir conversações nas quais seus objetivos comerciais são priorizados. Em algumas situações, os fluxos de comunicação de determinados fóruns são observados em busca dos participantes mais influentes que são, posteriormente, contatados e convidados, mediante algum tipo de contrapartida, a colaborar com a campanha. O atual estágio de desenvolvimento das práticas de CPDI não permite que se faça um julgamento criterioso sobre a viabilidade estratégica ou sobre as vantagens comerciais e competitivas de estratégias desse tipo. Dada a natureza encoberta do fenômeno não é possível apresentar provas conclusivas em nenhuma direção. Entretanto, o assunto merece a atenção de estudiosos e profissionais. Afinal, o uso de tais procedimentos encerra uma série de questões éticas que não estão sendo suficientemente debatidas. Seria ingenuidade pensar que o interesse no seu emprego é escasso. Conhecer o fenômeno é tarefa essencial para que o interesse dos consumidores seja preservado e para que as necessárias contramedidas sejam encontradas.
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Orkut, Subjetividade Coletiva e Valor: considerações preliminares à luz da economia política da comunicação1 Arakin Queiroz Monteiro2
Resumo: Este ensaio tem por objetivo discorrer sobre novas formas de acumulação de capital que, paralela e intrinsecamente, foram constituídas junto ao surgimento da rede mundial de computadores - a Internet. Com sua constituição e expansão a diversos setores da sociedade, surgiram empresas, serviços e produtos especificamente voltados aos segmentos ligados às tecnologias da informação, resultando no desenvolvimento de novos processos de trabalho e um mercado consumidor tanto de bens materiais como de bens simbólicos (ditos imateriais). O que caracterizou a apropriação capitalista no ciberespaço, nesse sentido, foi o surgimento de empresas que, ao invés de produzir bens materiais utilizando a Internet como uma ferramenta midiática, funcionam exclusivamente através da Internet, tendo a informação (sua produção e distribuição) como um produto. Discutiremos aqui sobre algumas peculiaridades próprias aos processos produtivos ligados à interatividade entre produção e consumo no âmbito das empresas de Internet, tendo como estudo de caso o serviço de relacionamentos Orkut, pertencente à empresa Google Inc.
Palavras-chave: Internet – ciberespaço – trabalho - Orkut - tecnologia - informação.
1 – Introdução O desenvolvimento da informática e da telemática, no bojo da crise do capitalismo e da terceira revolução científico-tecnológica ocorrida nas três últimas décadas do século XX, propiciou o surgimento da rede mundial de computadores, a Internet. Mediante o crescimento dos investimentos em infra-estrutura de comunicação, o desenvolvimento da capacidade de processamento de dados e o declínio relativo do preço aquisitivo dos instrumentos
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Trabalho entregue à disciplina “Economia da Inovação e Desenvolvimento” sob docência do Profº Dr. César Bolaño, no Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Sergipe. 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UNESP- FFC/Marília) e membro do Grupo de Pesquisa Estudos da Globalização na UNESP de Marília, atuando em parceria com OBSCOM na Universidade Federal de Sergipe. Email: arakinmonteiro@yahoo.com.br
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tecnológicos, evidenciou-se uma crescente popularização daquilo que veio a ser chamado ciberespaço3. Com sua formação de rede global, além de suas características de hipermídia, de interatividade, de comunicação e de virtualização, a Internet passou a configurar uma extensão do espaço social propriamente dito e, com efeito, um novo espaço de fluxos de trocas de mercadorias e investimentos de capitais. Com a expansão da Internet a diversos setores da sociedade, surgiram empresas, serviços e produtos, intrínseca e especificamente, voltados aos segmentos ligados às tecnologias da informação, resultando no desenvolvimento de novos processos de trabalho e um mercado consumidor tanto de bens materiais como de bens simbólicos (ditos imateriais). Mais que isto, o advento da Internet trouxe consigo formas peculiares de acumulação de capital. Muito além de se transformar em um grande “shoping center”, o que caracterizou a apropriação capitalista do ciberespaço foi o surgimento de empresas que ao invés de produzir bens materiais utilizando a Internet como uma ferramenta midiática, funcionam exclusivamente através desta, tendo a informação4 (sua produção e distribuição) como produto. Trata-se, portanto, de um novo tipo de empresa: a empresa
informacional -
caracterizada pela prestação de serviços especificamente voltados às necessidades de acessibilidade, comunicação e informação (provedores de acesso à rede, hospedagem de conteúdo, correio eletrônico, grupos de interesse, salas de bate-papo, mecanismos de busca, comércio eletrônico, dentre outros). Ou seja, empresas que funcionam e obtém lucro com a manipulação (produção/processamento/distribuição) de informações - como é o caso do portal UOL (Universo Online) ou de mecanismos de busca como o Google -, hoje comuns, mas que representam nova fase de acumulação capitalista no âmbito da produção capitalista de informações.
3 Para Alves, “um campo de integração difusa e flexível dos fluxos de informações e de comunicação entre máquinas computadorizadas, um complexo mediador entre homens baseado totalmente em dispositivos técnicos, um novo espaço de interação (e de controle) sócio-humano criado pelas novas máquinas e seus protocolos de comunicação e que tende a ser a extensão virtual do espaço social propriamente dito” (ALVES, 2003, p.127); Para Lévy, “um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”, incluindo “o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos, na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização” (LÉVY, 2002, p.92). 4 “A informação apresenta-se-nos em estruturas, formas, modelos, figuras e configurações, em idéias, ideais, e ídolos; em índices, imagens e ícones; no comércio e na mercadoria; na continuidade e na descontinuidade; em sinais, signos, significantes e símbolos; em gestos, posições e conteúdos; em freqüências, entonações, ritmos e inflexões; em presenças e ausências; em palavras, em ações e em silêncios; em visões e em silogismos. É a organização da própria variedade” (ROBREDO, 2003, p.4).
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Muitas vezes, estas empresas são exclusivamente virtuais, trabalhando em redes desterritorializadas com alcance global, intermediando ou interagindo com relações humanas. Do ponto de vista técnico, a “organização virtual” é aquela capaz de transmitir e receber informações entre locais distantes, tornando dispensável, para qualquer finalidade, a presença física dos clientes e funcionários. Ou seja, trata-se daquele tipo de empresa que “não precisa estar em lugar algum”, mas “está em todos os lugares”. Atuando em rede descentralizada, a empresa de Internet Google Inc5 - fundada em 1998, com sede na Califórnia (EUA), empregando em torno de 3.400 trabalhadores - é a empresa desenvolvedora e proprietária do maior mecanismo de busca na Internet do mundo em 100 línguas diferentes, a cada pesquisa, seu mecanismo é capaz de consultar 8 bilhões de páginas em menos de 1 segundo, atendendo em torno de 65 a 85 milhões de usuários. Ela possui subsidiárias e filiais em vários países, prestando serviços através de seu próprio site público (www.google.com) ou em associação com provedores de conteúdo (DÁVILA, 2005; GOOGLE, 2007B). Em janeiro de 2004 a Google lançou o serviço de relacionamentos Orkut6 (www.orkut.com), que ganhou popularidade entre os brasileiros rapidamente7. Seu objetivo principal, segundo o próprio site, é criar um “espaço” de encontro on-line em que as pessoas possam ampliar seu círculo de relacionamentos e conhecer pessoas que compartilhem dos mesmos interesses. Mediante um perfil pré-estabelecido seus usuários estabelecem relacionamentos pessoais por meio de grupos de interesse, constituindo e alimentando um amplo e diversificado banco de dados, capaz de reter e fornecer informações precisas e segmentadas. Em nível internacional, um de seus principais concorrentes é o serviço MySpace (myspace.com) pertencente à empresa Intermix Media8. Similar ao Orkut, o serviço configura uma rede social que utiliza a Internet para comunicação online através de uma rede interativa 5
Google é um trocadilho com a palavra 'googol', que foi inventada por Milton Sirotta, sobrinho do matemático americano Edward Kasner, para designar o número representado por 1 seguido de 100 zeros. 6 Seu nome é uma homenagem a Orkut Buyukkokten, funcionário do Google responsável pelo desenvolvimento do sistema. 7 Em agosto do mesmo ano, mais de 50% dos usuários do serviço se identificavam como brasileiros, o que incentivou que o português fosse o primeiro idioma a ser traduzido pelo serviço. No início, para tornar-se um membro do Orkut, era necessário ser convidado por outro membro o que, além de potencializar sua difusão, gerou situações inusitadas no Brasil, a exemplo da venda de convites em sites de leilão como o eBay (www.ebay.com), Mercado Livre (www.mercadolivre.com.br) e Arremate (www.arremate.com.br). A Google afirma não poder fornecer uma análise ou uma explicação sobre a popularidade do Orkut no Brasil. Atualmente, essa porcentagem é de 53,24%. 8 Em julho de 2005 a Intermix Media foi comprada por US$ 580 milhões, pela News Corporation (dona da Fox, DirecTV etc.), conglomerado de mídia de Rupert Murdoch.
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de fotos, blogs e perfis de usuários, incluindo um sistema interno de e-mail, fóruns e grupos. Seu principal diferencial com relação a serviços congêneres reside na possibilidade de hospedar MP3’s o que, por sua vez, incentivou bandas e músicos a se registrarem no serviço, fazendo de suas páginas de perfil o seu site oficial. Levando-se em consideração que o serviço de relacionamento Orkut é, até então, oferecido de forma gratuita e sem veiculação de propagandas, poderíamos questionar: qual a finalidade ou importância deste produto para sua proprietária Google Inc? Em que medida a utilização deste banco de dados, alimentado por meio da subjetividade de seus usuários, configuraria formas de acumulação que ultrapassariam as relações tradicionais entre capital e trabalho? Em outras palavras, seria o Orkut um mecanismo de captação da subjetividade coletiva com vistas à rentabilizar o banco de dados da Google Inc? Mediante o implemento tecnológico informacional e sua constituição como ciberespaço, em que medida e de que maneira, os interesses dos usuários poderiam ser usados como insumos e instrumentos de controle capitalista? Este ensaio preliminar tem por objetivo discutir estas questões correlacionando aspectos do processo produtivo (processo de trabalho e processo de valorização) ligados à interatividade entre produção e consumo no âmbito das empresas de Internet, tendo como estudo de caso o serviço de relacionamentos Orkut, pertencente à empresa Google Inc. Para situar melhor a discussão, discorreremos de forma breve sobre algumas mutações do trabalho mediante o implemento tecnológico informacional, bem como das determinações colocadas pela crescente relevância que a informação adquire no âmbito da mundialização do capital, para em seguida, retornar ao objeto discutindo suas determinações técnicas, funcionais e econômicas.
2 – Subsunção intelectual do trabalho no capital Para além da Internet, o desenvolvimento da informática e da telemática contribuiu para uma significativa expansão do trabalho dotado de maior dimensão intelectual, quer nas atividades industriais mais informatizadas, quer nas esferas compreendidas pelo setor de serviços ou comunicações. É claro, nesse sentido, que o impacto das novas tecnologias tem gerado transformações no processo produtivo: na indústria, as transformações foram profundas tanto pela racionalização da produção, como pela mecanização desta, contribuindo para o
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crescimento de uma força de trabalho excedente de enorme proporção. Estas transformações, entretanto, não se restringiram somente à indústria, sendo também (e principalmente), estendidas às atividades de caráter gerencial (prestação de serviços) devido à quantidade de “atividades eletrônicas” em ambientes que são, gradativamente, cada vez mais informatizados. Se, por um lado, o sistema automático para processamento de dados assemelha-se aos sistemas automáticos da maquinaria de produção naquilo em que reunificam o processo de trabalho eliminando os muitos passos que eram, anteriormente, atribuição de trabalhadores parcelados, por outro lado, houve uma mudança na relação homem/instrumento-de-trabalho em que, diferentemente da relação ocorrida com a máquina da grande indústria, o homem tende a não ser meramente meio, mas pólo ativo de um processo de subjetivação. Uma das determinações efetivas deste processo é que as famílias das técnicas emergentes com o fim do século XX, requisitam do trabalhador o dispêndio de energias e capacidades cognitivas para além das suas energias físicas e capacidades criativas manuais. Esta “intelectualização crescente do trabalho do operariado tradicional” mediante a introdução da informática nos processos de trabalho convencionais,
nada tem a ver com uma superação da alienação do trabalho, mas com a mudança do sentido da alienação e com o aprofundamento do enquadramento do trabalhador, com o avanço da exploração das suas energias e capacidades mentais, para além das suas energias físicas e capacidades criativas manuais. Isto muda essencialmente a estrutura social e a forma da relação social capitalista básica (BOLAÑO,2007).
Ou seja, sob este prisma, não se pode desconsiderar que a dimensão de subjetividade presente nesse processo de trabalho está tolhida e voltada para a valorização e autoreprodução do capital, para a “qualidade”, para o “atendimento ao consumidor”, entre outras formas de representação ideológica, valorativa e simbólica que o capital introduz no interior do processo produtivo. Mesmo diante de um trabalho dotado de maior significação intelectual, imaterial, o exercício da atividade subjetiva está constrangido em última instância pela lógica da forma mercadoria e sua realização (ANTUNES, 2001) e, nesse sentido, a direção da transformação de determinados dados brutos em mercadoria-informação, também portador de uma utilidade, não é dada pelo próprio trabalhador, essa direção é atributo exclusivo do capital ali aplicado para este determinado fim.
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Mas quais seriam as implicações diretas nos processos de trabalho e, conseqüentemente, em seu processo de valorização, quando surge a possibilidade de se transferir, gradativamente, faculdades intelectuais para o aparato tecnológico informacional? Para Bolaño,
o fato marcante deste final de século é o surgimento, em decorrência do desenvolvimento das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) e das redes telemáticas, de uma tendência ao apagamento de fronteiras entre o trabalho manual e intelectual, manifesta tanto naquilo que venho chamando de subsunção do trabalho intelectual, quanto na intelectualização geral dos processos de trabalho na indústria e no setor de serviços (BOLAÑO, 2002, p.62 – grifo meu).
Esta subsunção intelectual do trabalho a que se refere Bolaño, seria fruto de uma tendência à intelectualização geral dos processos de trabalho num momento em que o trabalho braçal pode ser amplamente substituído pela máquina, exigindo-se do conjunto da classe trabalhadora a mobilização prioritariamente das suas energias mentais. Para o autor, este processo de subsunção do trabalho conceitual, intelectual, burocrático no capital é historicamente específico e adquire um novo impulso, atingindo um patamar qualitativa e quantitativamente superior com o desenvolvimento da informática, da telemática e da robótica (BOLAÑO, 2007). Diferentemente do ocorrido com a invenção da escrita e da imprensa - que marcam, à sua maneira, no decurso de longos períodos históricos, a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual – com a conversão do trabalho vivo em trabalho morto a partir do desenvolvimento dos softwares, a máquina informacional passa a desempenhar atividades próprias da inteligência humana e, nesse sentido, presenciamos um processo de objetivação das atividades cerebrais junto à maquinaria, de transferência do saber intelectual e cognitivo da classe trabalhadora para a maquinaria informatizada. Com o implemento tecnológico-informacional as “máquinas inteligentes” passam a utilizar-se do trabalho intelectual do operário que, ao interagir com a máquina informatizada, acaba também por transferir parte dos seus novos atributos intelectuais à nova máquina que resulta desse processo. Estabelece-se, então, um complexo processo interativo entre trabalho e ciência, que não leva à extinção do trabalho, mas a um processo de retroalimentação que gera a necessidade de encontrar uma força de trabalho ainda mais complexa e multifuncional, que
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deve ser explorada de maneira mais intensa e sofisticada, ao menos nos ramos produtivos dotados de maior incremento tecnológico (ANTUNES, 2000; LOJKINE, 1999). A partir do momento em que não somente o trabalho estandardizado dos empregados, mas, ainda que parcialmente, alguns elementos do trabalho dos quadros intermediários são objetivados nas redes de computadores, toda a arquitetura organizacional das empresas (e dos serviços) é revolucionada9. A emergência de um novo paradigma tecnológico organizado em torno de novas tecnologias da informação constitui uma nova base sócio-técnica de produção de mercadorias, capaz de articular, cada vez mais, elementos do trabalho imaterial que, juntamente com outras determinações, contribui para uma desmedida do valor, tornando explícito o sentido ofensivo e persistente da lógica de mercado e da valorização do valor sobre as instâncias do ser social, próprios à globalização como mundialização do capital (ALVES, 2006; PRADO, 2005). Quando falamos em “trabalho imaterial” estamos nos referindo a aspectos qualitativos do estatuto categorial do trabalho concreto. Ou seja, o trabalho material não diz respeito ao conteúdo da atividade laboral (por exemplo, confundir trabalho material com trabalho manual). Alguns elementos do trabalho intelectual, por exemplo, podem ser considerados trabalho material, desde que sejam passíveis de formalização e de procedimentos homologados e, portanto, de redução em alguns de seus elementos compositivos, à atividade abstrata (e mecânica), convertendo-se assim, em capital fixo, separável de seu produtor (como um software, por exemplo). É claro que, por outro lado, alguns elementos compositivos do trabalho intelectual tendem a articular “novos saberes”, saber vivo e vivido, que conserva a marca da pessoa que a exerce e não é passível de formalização e alienação (ser separável de seu produtor cristalizando-se num software, por exemplo). Deste modo é o que podemos denominar “trabalho imaterial”. Como observa Alves, o trabalho imaterial pertence ao estatuto categorial do trabalho concreto e, apesar deste subsumir-se ao trabalho abstrato, não deixa de determinar, de certo modo, a dinâmica da valorização, pois o trabalho abstrato não suprime o trabalho concreto (assim como a valor de troca não abole o valor de uso) – pelo contrário, o incorpora (ou melhor, o subsume) de forma contraditória. “Isto significa, que sob determinadas condições, o 9
Como observa Chesnais (1996, p.28-29), os efeitos da teleinformática dizem respeito tanto à economia de mão-de-obra, bem como de capital. Tais efeitos incluem: (1) maior flexibilidade dos processos de produção (pode-se fabricar maior quantidade de produtos com o mesmo equipamento, aumentando a produtividade do trabalho sem investimento direto em capital fixo); (2) redução dos estoques de produtos intermediários, graças ao método de fabricação de fluxo intensivo (just-in-time); (3) redução dos estoques de produtos finais; (4) encurtamento dos prazos de entrega; (5) diminuição do capital de giro; (6) emprego de meios eletrônicos no setor de franquias e vendas a varejo.
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trabalho concreto tende a criar obstáculos (e impor limites) a própria lógica do trabalho abstrato”10 expressando, enquanto elemento compositivo imprescindível do trabalhador coletivo complexo, o pleno desenvolvimento da materialidade contraditória do trabalho abstrato (ALVES, 2006, p.70;74). Nesta etapa do capital em que o trabalho ganha uma maior dimensão intelectual, não apenas amplia-se notavelmente a produção de serviços sob o mando da reprodução do capital, mas também a própria fabricação de coisas é transformada gradativamente em algo próximo da prestação de serviços. Isto ocorre justamente porque a produção em massa é substituída, gradativamente, pela produção personalizada que apela aos gostos e desejos dos indivíduos. Isto se reflete no grande crescimento dos gastos de publicidade ao longo das últimas décadas, bem como a constituição, nesse setor, de grandes companhias. Se é verdade que Marx, em seu tempo, considerou a exploração capitalista dos serviços como algo insignificante se comparado ao “volume da produção capitalista” de sua época, devendo-se fazer “caso omisso desses trabalhos” (e tratá-los somente a propósito da “categoria de trabalho assalariado que não é ao mesmo tempo trabalho produtivo”), já no capitalismo contemporâneo, pelo contrário, seria omissão não levá-los em consideração. Historicamente os serviços são recalcitrantes à lógica de valorização por conta de seu valor de uso encerrar-se no ato de seu consumo. Entretanto, quando inserimos neste contexto a crescente relevância da esfera informacional da forma mercadoria, a crescente intelectualização dos processos produtivos e, sobretudo, a possibilidade de atuação em escala mundial e “tempo real”, temos novos elementos para análise.
3 – Informação, mundialização e crise estrutural do capital Paralelo ao desenvolvimento da informática e da telemática, evidencia-se uma crescente relevância do domínio da informação na efetiva realização e manutenção das atividades de cunho econômico-financeiro, servindo como um componente indispensável da reprodução econômica e dos ganhos de competitividade, uma vez que a emergência de um novo paradigma tecnológico organizado em torno de novas tecnologias da informação, mais
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A distinção entre obstáculo e limite é importante, pois enquanto o obstáculo é passível de superação, o limite é tão somente passível de reconhecimento (e incorporação) enquanto necessidade ineliminável, afinal, “o processo civilizatório não é negação/supressão da natureza pelo homem, mas sim superação dialética (aufhebung, superar/conservando), no sentido de sua incorporação social, através do reconhecimento das legalidades ontológicas do ser orgânico e ser inorgânico” (ALVES, 2006, p.59;63).
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flexíveis e poderosas, possibilitaria que a própria informação se tornasse um produto do processo produtivo. Esta crescente relevância da informação adquire um caráter de “variável chave” no tamanho e configuração da produção internacionalizada, afetando tanto sua dimensão como sua estrutura e gestão interna, pois o crescente peso da incerteza no ambiente econômico, fez com que o tamanho e os meios organizacionais - indispensáveis ao domínio das informações necessárias para atuar nestes mercados-, se tornassem elementos inerentes à própria existência desses mercados (CASTELLS, 2000; CHESNAIS, 1996). O próprio desenvolvimento da informática e da telemática, nesse sentido, poderia ser entendido como parte dos investimentos necessários aos processos globalizantes que passaram a constituir uma nova ordem mundial, na medida em que a integração internacional dos mercados financeiros, como resultado da liberalização e desregulamentação, levou à abertura dos mercados nacionais e permitiu sua interligação em tempo real. A teleinformática proporcionou às grandes empresas e aos bancos, o acesso a instrumentos qualitativa e quantitativamente mais eficientes e poderosos para controlarem e expandirem seus ativos em escala internacional, reforçando o âmbito mundial de suas operações. No âmbito da “globalização financeira” a informática e a telemática contribuíram para a acentuação dos aspectos financeiros dos grupos industriais, imprimindo uma lógica financeira ao capital investido nos setores de manufatura e serviços, o que se mostra no nível da realidade efetiva por meio da extensão das relações de terceirização: seja abrindo caminho para a fragmentação dos processos de trabalho e transferência das ocupações que estavam localizadas no interior da indústria para o setor de serviços, seja pela capacidade de deslocalização de tarefas rotineiras que se valem grandemente da informática. A partir do implemento tecnológico-informacional fluxos gigantescos de capital passaram a ser diariamente movimentados entre os mercados financeiros e, no mesmo movimento, a força de trabalho, em termos, tornou-se um recurso global na medida em que as empresas transnacionais passam a contratar força de trabalho de diferentes partes do mundo, segundo diferentes critérios (qualificação, estrutura salarial, etc.), para sua utilização em um mesmo processo produtivo ou em vários processos produtivos integrados, que se configuram em uma estrutura produtiva espalhada pelos continentes, sob o formato de uma rede cuja geometria é passível de mudanças rápidas, conexões e desconexões, sempre em busca de vantagens relativas (BRANDÃO, 2004; CHESNAIS, 1996).
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O papel que tem o controle da informação na vantagem competitiva das companhias de serviços, segundo Chesnais, explica que elas tenham procurado tirar proveito de novas oportunidades proporcionadas pelas redes mundializadas de telecomunicações e pela difusão da telemática, na medida em que à centralização e a gestão da informação, através da constituição de bancos de dados sobre as características da clientela e dos mercados, as incentivou a adotarem rapidamente essas novas tecnologias, assim como as companhias do setor financeiro. Para o autor, esse fato demonstra o papel que hoje cumprem as tecnologias da informação, em todos os níveis de atividade das companhias, qualquer que seja o seu setor (CHESNAIS, 1996, p.194-195). No capitalismo tardio, as informações necessárias para o funcionamento desse sistema complexo de produção, bem como as informações necessárias para a produção de mercadorias-informação, dependem diretamente da combinação de diversas forças de trabalho de diferentes formações. As informações (sejam insumos ou produtos), sendo elas próprias cada vez mais conjuntos complexos de diferentes saberes, exigem a cooperação de diferentes trabalhadores intelectuais “parciais”. Aflora aqui o sentido da divisão capitalista do trabalho enquanto condição de dominação, ou seja, é somente porque a divisão capitalista do trabalho atingiu um grau extremamente desenvolvido, fazendo com que o trabalhador intelectual coletivo só exista materialmente enquanto trabalhadores intelectuais parciais, que a informação pode ser transformada em capital e mercadoria (NETO, 2004). Estas determinações colocadas pela crescente relevância da informação contribuem centralmente para as mutações na lógica contemporânea de valorização e acumulação de capital: da busca do “superlucro” na esfera da produção passa-se à caça da renda financeira como forma por excelência da valorização. Ao invés de procurar comandar a produção para capturar lucros excedentes, o capital financeiro instala-se preferencialmente fora da produção, “imprime o selo da propriedade privada na inteligência coletiva, para assim melhor poder puncionar a mais-valia aí gerada” (PRADO, 2005). Continua havendo, nesse sentido, a subordinação do capital industrial ao capital financeiro. No entanto, a lógica de valorização que passa a predominar não é mais a do capital industrial, mas a própria lógica de valorização do capital financeiro. O que se denomina, portanto, “crise de valorização” pode ser considerada como uma “valorização problemática” por conta da necessidade de reprodução ampliada do capital a partir de um patamar superior (o do mercado global), ou seja, como conseqüência de uma “produção de valor tão expansiva quanto problemática”. Esta persistente instabilidade
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financeira, “caracteriza-se menos pela impossibilidade de expansão da produção do capital, que pela incapacidade da forma social do sistema sócio-metabólico do capital conter (e realizar) a novas possibilidades de desenvolvimento do ser genérico do homem” (ALVES, 2006, p.55-65).
Para Bolaño, mais do que invadir a cultura, o capital torna-se cultura, no sentido mais amplo do termo, e a forma mercadoria passa a monopolizar o conjunto das relações sociais, inclusive aquelas mais internas ao mundo da vida e, antes, mais resistentes à expansão da lógica capitalista. A primeira conseqüência desse movimento é que a cultura adquire uma importância crucial para o próprio modo de produção, em cujo âmago agora se situa, tornando fundamentais, por sua vez, os conflitos que se dão na esfera cultural, inclusive pela característica de mediador que tem o trabalho intelectual, o qual mantém, nesta nova situação, uma relação com o capital semelhante àquela que o trabalho da classe operária tradicional mantinha (segunda conseqüência), com a diferença (terceira) de que estamos ainda no início do processo de passagem da subsunção formal à real do trabalho intelectual no capital, o que dá ao primeiro um grau de autonomia que o trabalhador manual perdeu há muito tempo (BOLAÑO, 2002).
Paralelamente, o “saber vivo” (trabalho intelectual vivo) que está na base da inovação, da comunicação e da auto-organização (criativa e continuamente renovada), mostra sua crescente importância na medida em que a lógica do capital, da vida tornada capital, submete todas as atividades e espaços nos quais a produção de si era originalmente considerada como gasto gratuito de energia. A competitividade das companhias passa pela construção da “imagem da marca”. A publicidade, por sua vez, tenta fazer com que o consumidor esqueça o nome vernáculo do produto e passe a adotar a marca, criando o monopólio simbólico de uma empresa em relação a uma determinada mercadoria. Trata-se do auge que se pretende com o chamado “esforço de marketing”, que mostra sua natureza ao construir o produto e solicitar formas de subjetivação em relação “interativa” com o consumidor, voltando-se não só às suas necessidade, mas sobretudo aos seus desejos, servindo como um meio de produzir desejos e vontades de imagens de si e dos “estilos de vida” que, adotados e interiorizados pelos indivíduos, transformam-nos nesta nova espécie de consumidores “que não necessitam daquilo que desejam, e não desejam aquilo que necessitam”. Esse monopólio simbólico, entretanto, só
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pode persistir se a firma o reproduzir continuamente em suas campanhas publicitárias, e através das inovações que regeneram a exclusividade e reforçam a raridade do que ela oferece, tornando-se necessário, ajustar continuamente as qualidades simbólicas à “evolução dos gostos e da moda” e, inversamente, manter essa evolução de maneira a “renovar, estender e aumentar o valor dos produtos, as motivações dos consumidores e as perspectivas do mercado” (GORZ, 2005, p.25; 31; 48). A migração das grandes corporações de comércio, mídia e entretenimento para a internet, transformou a rede mundial de computadores em mais um veículo da indústria cultural e da mercantilização da sociedade, beneficiando-se inclusive da possibilidade do mapeamento do perfil e hábitos dos usuários (a partir do histórico de seus movimentos pela rede) exprimindo o lugar assumido pela concorrência oligopolista e pela diferenciação de produtos, em particular no mercado de bens de consumo final.
4 – Orkut e a captação da subjetividade coletiva O advento da Internet trouxe consigo um novo aspecto de consumo em que o consumidor vai em busca do anunciante, em vez do inverso, fornecendo uma ferramenta de grande valor para o marketing, pois as empresas passaram a obter uma vantagem nunca antes experimentada de capturar e reter informações sobre seus clientes, seus comportamentos, desejos e necessidades. E de forma bastante simples: cada manipulação na rede deixa uma marca pelo usuário que acaba por desenhar um auto-retrato em termos de centros de interesses (culturais, ideológicos, simbólicos, de consumo, etc.), cujas informações são utilizadas para vender (ou simplesmente atrair) novos consumidores sabendo, entretanto, o que eles gostam de ler, assistir, ouvir, consumir, etc. Paralelamente, a extrema competitividade da Internet comercial somada à exponencial capacidade de interatividade e velocidade na transmissão de informações, possibilitou às empresas a capacidade de atuação em “tempo real”, sendo necessário montar sistemas extremamente flexíveis. Para preservarem suas “marcas” e permanecerem no mercado, as empresas buscam constantemente diferenciar e comunicar seus produtos e serviços. Em vez de buscarem levar ao mercado produtos estandardizados, buscam descobrir o que o consumidor está disposto a adquirir, aperfeiçoando a organização produtiva com fins de identificar pessoas, suas necessidades e desejos para, em seguida, confeccionar produtos e serviços capazes de atender a uma demanda gradativamente mais segmentada. Elas
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aprimoram-se em “ouvir” seus clientes para traçar o perfil mais lucrativo, projetando produtos e serviços sob medida. Assim, o processo produtivo nas empresas de Internet tem início com as pesquisas para colher as informações dos clientes, desenvolver produtos e serviços baseados nestas informações e, mediante a utilização destes produtos/serviços, o consumidor realimenta o processo com novas informações, fechando o ciclo11. Em síntese, trata-se de realizar o processo de difusão das inovações criadas internamente pela empresa, buscando diferenciar produtos e serviços oferecidos especificamente sob as necessidades e desejos diretos dos consumidores. Este aspecto da produção informacional (que pode ser estendido às companhias de serviços em geral) direciona parte de seu processo produtivo para acumulação de informações sobre a clientela (real e potencial), a fim de selecionar melhor a demanda e estar em condições de oferecer serviços aparentemente personalizados. Como “peça-chave” deste processo, destaca-se o marketing voltado à identificação e satisfação das necessidades e desejos de clientes por meio da conclusão de processos de troca12. O marketing “deve ser capaz de conquistar e preservar clientes, em um processo ordenado e criativo de pensar e planejar os mercados” (FLEURY, 2001, p.42). Nesse sentido, adotam estratégias de marketing em consonância com as redes de indicadores econômicos utilizadas por suas empresas. Mas afinal, sob estas determinações, que imposições são colocadas, em nível de atuação efetiva, para uma empresa especializada em buscas como a Google? Nas condições competitivas do mercado de Internet, possuir milhões de usuários sem um perfil definido constitui um problema central para o modelo de empreendimento econômico em que se encontra o Google, restringindo-lhe diversas possibilidades de receita. É ai que entra o serviço Orkut, pois o serviço de busca Google, apesar de constituir uma base sólida de busca de perfis, é um sistema anônimo com uma base de dados incompleta. Já o Orkut, mantém um controle mais complexo das preferências individuais e gerais, tornando-se capaz de fornecer aos mais diversos nichos de negócios (sejam eles virtuais ou não) um conjunto de
11
Poderíamos sintetizar o processo produtivo das empresas de Internet da seguinte maneira: (1) Processo de Inovação; (1.1) identificação das necessidades dos clientes, (1.2) identificação do mercado; (1.3) idealização da oferta de produtos e serviços - (2) Processo de operações; (2.1) gerar produtos e serviços (2.2) entregar produtos ou prestar serviços; (3) Processo Serviço Pós-venda; (3.1) serviços aos clientes; (3.2) satisfação das necessidades dos clientes. 12 Nestas rotinas laborais observamos o surgimento de novas profissões, a exemplo do Coordenador de Soluções CRM, o Gerente de Webmarketing, o Gerente de E-commerce, o Analista de Data Warehouse e o Especialista em Streaming.
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informações extremamente relevantes sobre os respectivos mercados que se deseje atingir (sobretudo, para as atividades diretamente ligadas ao marketing). Seria o Orkut, nesse sentido, um mecanismo de captação da subjetividade coletiva com vistas à rentabilizar o banco de dados do Google? Em que medida e de que maneira, os interesses dos usuários estariam sendo usados como insumos e instrumentos de controle para este fim? Para responder esta questão é necessário compreender o funcionamento deste serviço específico e a lógica dos perfis computacionais alocados nos bancos de dados das empresas de Internet. Sob o aspecto de seu valor de uso, o Orkut é um software disponibilizado gratuitamente no ciberespaço que permite a seus usuários relacionarem-se por meio da alimentação de informações em um banco de dados amplo e dinâmico, passível de ser visitado, alterado, etc, em tempo real, independente da localização geográfica destes, criando uma situação em que o campo de comportamentos, ações e comunicações dos usuários, muitas vezes, coincida com os próprios sistemas de coleta, registro e distribuição de informações (BRUNO, 2006). Através deste mecanismo de comunicação seus usuários estabelecem relacionamentos pessoais por meio de grupos de interesse mediante um perfil pré-estabelecido. Ao ingressar na comunidade, cada usuário deve construir uma página pessoal e criar sua “lista de amigos” (também membros do serviço). Como o sistema coloca o usuário sob constante avaliação dos demais membros, o cadastramento é praticamente impelido a conter informações verídicas (ou, ao menos, parte delas) pois, do contrário, não conseguirá se fazer identificado pelos demais. Os dados coletados no preenchimento deste perfil formam um conjunto amplo de informações pessoais que vão desde dados objetivos (nome, idade, endereço, telefone, aniversário, sexo, descrições físicas, etc.) até dados subjetivos (opção sexual, posicionamento político, gosto musical, literário, cinematográfico, culinário, etc). As próprias comunidades de interesses nas quais os usuários podem afiliar-se (ou mesmo criá-las) já demonstram, por si mesmas, um conjunto bastante diversificado e bem definido de expressão informacional subjetiva segmentado, classificado e modificado conforme a afinidade e interesse direto dos usuários. Mais do que um mecanismo de comunicação o Orkut constitui um dispositivo de visibilidade e vigilância, “onde os desejos do ver e do ser visto, do voyeurismo e do exibicionismo se misturam”. Entretanto, na construção do perfil, muitas vezes, o indivíduo
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não se oferece à observação como uma totalidade ou unidade a ser interrogada, examinada, conhecida. Uma ação ou comunicação sua pode gerar uma informação que corresponde a uma especificidade ou fragmento de sua sociabilidade – seja como consumidor, profissional, estudante etc. – e que irá figurar em bancos de dados ordenados segundo certas categorias gerais. A informação é, ao mesmo tempo, pessoal, individualizada (posto que são ações e comunicações que as geram) e relativamente desvinculada do próprio indivíduo, seja porque ela pode constar nos sistemas de registro e coleta segundo uma classificação impessoal e não identificada a indivíduos particulares (gênero, raça, faixa etária, classe social, etc), seja porque ela pode interessar apenas na sua parcialidade, sem relação necessária com outras dimensões da sociabilidade destes indivíduos específicos (BRUNO, 2006, p.155-158). Com este mecanismo, basta à Google Inc ligar suas duas bases de dados (serviço de buscas Google e serviço de relacionamentos pessoais Orkut), passando a contar com uma base de dados extremamente variada e completa, pois o Orkut guarda os dados dos usuários (ID, última visita, etc...) no mesmo cookie13 do Google, que pode usá-los para consultar o perfil deste usuário, descobrindo seus gostos e personalizando os anúncios, tornando-os muito mais eficientes e abrindo novas possibilidades de receita à empresa, na medida em que, cada vez mais, as buscas sob encomenda crescem nos orçamentos dos clientes, possibilitando-lhes escolher exatamente os clientes que se deseja atingir. Na “Política de Privacidade do Google” lê-se:
“Cookies do Google - Quando você visita o Google, nós enviamos um ou mais cookies - um pequeno arquivo contendo uma seqüência de caracteres - para o seu computador que identifica de uma forma única o seu browser. Nós utilizamos os cookies para otimizar a qualidade de nosso serviço armazenando as preferências do usuário e rastrear as tendências do usuário, como as pessoas fazem busca. A maioria dos browsers está inicialmente estabelecida para aceitar os cookies, mas você pode reinicializar o seu browser para recusar todos os cookies ou para indicar quando um cookie está sendo enviado. Contudo, alguns recursos e serviços do Google podem não funcionar corretamente se os cookies estiverem desabilitados” (GOOGLE, 2005 – grifo meu)
13
Cookie - Mensagem enviada ao browser pelo servidor web. Normalmente, essa mensagem é gravada no micro do usuário como um arquivo de texto. Sempre que o usuário volta a acessar aquele site, a mensagem é reenviada ao servidor, que passa a ter informações sobre aquele usuário, por exemplo, dados do seu cadastro, as páginas que costuma visitar etc. O objetivo do cookie é identificar o usuário para, por exemplo, exibir páginas personalizadas.
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Mas afinal, essa prática não fere o “direito a privacidade” dos usuários do serviço? Não necessariamente, pois qualquer informação transmitida eletronicamente pode ser processada dentro de uma análise coletiva ou individual. Entretanto, a política de privacidade diz respeito ao sigilo de dados pessoais em particular, enquanto os bancos de dados, na maioria das vezes, exercem controle segmentando as peças de informações de forma agregada. Uma vez recolhidos os dados em formato digital, todas as peças de informação contidas nas bases de dados podem ser agregadas, desagregadas, combinadas e identificadas de acordo com o objeto e a capacidade legal. Ainda na “Política de Privacidade” a empresa explica que:
Podemos processar informações pessoais para fornecer nossos próprios serviços. Em alguns casos, nós podemos processar informações pessoais em nome de e de acordo com as instruções de terceiros, tais como nossos parceiros de propaganda (...) Nós podemos compartilhar com terceiros certas peças de informações agregadas, não pessoais, tais como o número de usuários que pesquisam por um termo em particular, por exemplo, ou quantos usuários clicam em certa propaganda (GOOGLE, 2005 – grifo meu).
Há, inclusive, uma cláusula nos termos de adesão ao serviço que garante aos proprietários do sistema, direitos sobre tudo o que for feito, escrito ou postado no sistema, independente de seu conteúdo. O trecho relevante está na cláusula 11.1 da seção "Termos e Condições dos Serviços da Google":
Retém direitos de reprodução e quaisquer outros direitos que já detenha no Conteúdo por si submetido, endereçado ou visualizado nos ou através dos Serviços. Ao submeter, endereçar ou visualizar o conteúdo dá à Google uma licença perpétua, irrevogável, mundial, isenta de direitos, e não exclusiva para reproduzir, adaptar, modificar, traduzir, publicar, utilizar publicamente, visualizar publicamente e distribuir qualquer Conteúdo por si submetido, endereçado ou visualizado nos ou através dos Serviços (GOOGLE, 2007C).
É preciso ter-se em mente que os banco de dados não dizem respeito, num primeiro momento, a indivíduos ou pessoas particulares, mas a grupos e populações organizados segundo categorias financeiras, biológicas, comportamentais, profissionais, educacionais, raciais, geográficas, etc. O cruzamento de dados organizados em categorias amplas irá projetar, simular e antecipar perfis que correspondam a indivíduos e corpos “reais” a serem
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pessoalmente monitorados, cuidados, tratados, informados, acessados por ofertas de consumo, incluídos ou excluídos em listas de mensagens publicitárias, marketing direto, etc. Em síntese, seu principal objetivo não é produzir um saber sobre um indivíduo especifico, mas usar um conjunto de informações pessoais para agir sobre outros indivíduos, que permanecem desconhecidos até se transformarem em perfis que despertem interesses de qualquer natureza (BRUNO, 2006, p.155-156). Inicialmente os bancos de dados se situam num nível infra-individual. Eles não têm apenas a função de arquivo, mas uma função conjugada de registro, classificação, predição e intervenção. Sua lógica, entretanto, é menos da exatidão no registro da informação do que na agilidade e eficiência na sua recuperação e utilização, que é sobretudo preditiva. Talvez, esta aleatoriedade na coleta das informações tenha contribuído de alguma maneira para uma certa “casualidade” na rápida popularização do Orkut no Brasil.
5 – Ciberespaço: produção, consumo e acumulação de capital Estas constatações em torno da crescente relevância da captação da subjetividade coletiva no processo interativo da rede, poderiam nos levar à tese defendida pelos entusiastas do trabalho imaterial, em que na “sociedade pós-industrial”, com “empresas pós-fordistas” de “produção pós-taylorista”; neste momento em que “encontramo-nos em tempo de vida global, na qual é quase impossível distinguir entre o tempo produtivo e o tempo de lazer”, estaríamos evidenciando uma “integração do consumo na produção” com a “construção do consumidor/comunicador” (LAZZARATO; NEGRI, 2001, p.45). Os autores chegam nestas otimistas constatações por meio do erro vulgar de confundir, na teoria marxiana do valortrabalho, as categorias “trabalho concreto” e “trabalho abstrato”14. Aqui, entretanto, trabalhamos com uma hipótese diametralmente oposta: de que a imbricação crescente entre produção e consumo, no âmbito das empresas de Internet, 14
Os teóricos do trabalho imaterial tratam de um trabalho que produz bens ou utilidades ditas “imateriais” (intangíveis), sobretudo, naquelas atividades ligadas aos setores da informação e do “conhecimento”, orientando sua análise a partir das características imanentes ao valor de uso específico destas mercadorias, o que nos remete a um nível fisiológico (o trabalho abstrato como gasto fisiológico de músculos, nervos, etc.) ou nos condena a uma subjetivação do conceito (o trabalho abstrato como representação abstrata do trabalho em geral). Marx, por sua vez, não restringe sua análise ao valor de uso das mercadorias, nem tampouco a um trabalho social em geral, mas a um trabalho que se efetiva no interior de uma formação sócio-histórica determinada, centralmente subordinado à lógica de acumulação do capital. Na perspectiva marxiana, o trabalho abstrato é trabalho socialmente necessário, cuja abstração corresponde à abstração do valor, na medida em que as mercadorias, enquanto valores, são trabalho objetivado (vergegenständliche Arbeit), trabalho cristalizado. Como observa Prado (2005, p.52-53), “o gasto de força humana é, para Marx, apenas a base natural do trabalho abstrato e não o seu conteúdo, que é social”. O trabalho abstrato, nesse sentido, “não diz respeito ao gênero de muitos trabalhos concretos, mas de trabalhos concretos reduzidos a trabalho abstrato”.
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configuram novas modalidades de organização social dos mesmos, as quais permitem a internalização de externalidades não diretamente mercantis, mas que se desenvolvem no seio de uma lógica de acumulação capitalista, adquirindo um duplo aspecto. O primeiro deles está ligado ao processo comunicativo tendo como pressuposto a relação capital/trabalho e a subsunção intelectual do trabalho no processo produtivo, configurando uma espécie de “acumulação primitiva do conhecimento” (BOLAÑO, 2002). O segundo aspecto, por sua vez, ultrapassa a relação salarial: ele está mais diretamente ligado ao consumo interativo da rede e pode ser explicado através do conceito de “acumulação via espoliação” formulado por Harvey (2004). Ambos aspectos podem ser relacionados à “acumulação primitiva” analisada por Marx, mas é preciso não confundi-los se quisermos compreender a imbricação crescente entre os mesmos. O que Bolaño chama de “acumulação primitiva do conhecimento” não se trata de um fenômeno necessariamente novo. Para este autor, desde a base formada pela apropriação do conhecimento dos artesãos, aliada ao desenvolvimento das ciências físicas e naturais, foram constituídas condições objetivas para a revolução permanente das forças produtivas capitalistas. Ela é a base do taylorismo e de toda a chamada ciência da administração. No capitalismo contemporâneo, entretanto, a informação expropriada do trabalhador no processo produtivo adquire uma nova característica: a de servir à concorrência capitalista transformando-se tanto uma mercadoria que pode ser intercambiada em um mercado específico, como em segredo, que determina posições de vantagem competitiva para determinadas empresas. A partir desse movimento histórico que se inicia com a acumulação primitiva do conhecimento ocorre uma bifurcação que constitui dois tipos básicos de informação:
uma ligada diretamente ao processo de produção de mercadorias e que, no entanto, não é ela própria mercadoria, mas comunicação direta, hierarquizada, cooperativa, objetiva e não mediatizada e outra que se agrega como mais um insumo ao processo produtivo e que, controlada pelo corpo técnico e burocrático da empresa capitalista, é
sempre,
efetiva
ou
potencialmente,
MERCADORIA-INFORMAÇÃO”
(BOLAÑO, 2002, p.46)
Já o conceito de “acumulação via espoliação”, de Harvey, trata de uma variedade de maneiras pelas quais o capital pode ser acumulado fora de uma relação propriamente capitalista, havendo em seu modus operandi muitos aspectos fortuitos e casuais. Sob o foco
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deste estudo específico, a espoliação está ligada à transformação em mercadorias de formas culturais, históricas e da criatividade intelectual, que podem ser espoliados de populações inteiras cujas práticas tiveram um papel vital no desenvolvimento desses materiais. Evidenciamos um recrudescimento da ênfase nos direitos de propriedade intelectual nas negociações da OMC (o chamado Acordo TROPS) que apontam para maneiras pelas quais o patenteamento e licenciamento de todo tipo de produto permite uma apropriação não diretamente capitalista dos mesmos. Para não qualificar de acumulação “primitiva” ou “original” um processo ainda em andamento, o autor optou por substituir os termos por “acumulação via espoliação”. Harvey relaciona a acumulação via espoliação ao problema da sobre-acumulação, condição em que excedentes de capital, por vezes acompanhados de excedentes de trabalho, estão ociosos sem ter em vista escoadouros lucrativos. O termo-chave aqui é, no entanto, “excedentes de capital”:
O que a acumulação por espoliação faz é liberar um conjunto de ativos (incluído força-de-trabalho) a custo muito baixo (e, em alguns casos, zero). O capital sobre acumulado pode apossar-se desses ativos e dar-lhes imediatamente um uso lucrativo. No caso da acumulação primitiva que Marx descreveu, isso significava tomar, digamos, a terra, cercá-la e expulsar a população residente para criar um proletariado sem terra para a corrente principal privatizada da acumulação do capital (HARVEY, 2004, p.124).
Independente da terminologia adotada pelos autores, o que nos interessa no presente ensaio é refletir sobre os aspectos deste fenômeno - internalização de externalidades não diretamente mercantis. Mais do que isso, como a sinergia destes fatores – subsunção intelectual do trabalho e espoliação de subjetividade – configuram formas peculiares de acumulação. É preciso, pois, articular produção, consumo e acumulação de capital no processo interativo da rede. Em primeiro lugar, é necessário enfatizar que esta “produção intelectual em geral”espoliada no processo interativo da Internet comercial - não é ela mesma produtora de valor, mas tão somente a matéria-prima para novos processos produtivos, pois o Conhecimento codificado, plasmado em máquina (software), é capital constante e não tem, portanto, a capacidade de gerar valor. O software, por sua vez,
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é a forma que o sistema encontra de enquadrar o trabalho mental, de padronizá-lo e de explorar as suas potencialidades pelo capital. É a forma em que se materializa, num elemento do capital constante, o conhecimento que antes era propriedade do trabalhador intelectual isolado, de forma semelhante ao que ocorreu com o trabalho manual a partir do surgimento da máquina-ferramenta. Há, portanto, uma convergência das tendências de desenvolvimento da subsunção do trabalho nos processos de produção cultural e produção intelectual em geral, que se estende inclusive, de forma importante, para amplas camadas da classe trabalhadora tradicional (BOLAÑO, 2007 – grifo meu).
Capturada pelos softwares, a subjetividade coletiva, enquanto substrato do processo interativo materializado em um elemento de capital constante, não configura um “consumo produtivo da força-de-trabalho”, ou seja, não há mais-valia. Como observa Bolaño,
(...) é preciso evitar, de pronto, o risco de pensar que trabalho e Conhecimento são coisas separadas e considerar este último como um “novo fator de produção”. O Conhecimento só pode ser entendido como atributo do próprio trabalho vivo. Assim, quando falamos em conhecimento codificado, acompanhando a literatura, nos referimos, na verdade, a dados organizados passíveis de transformar-se em informação por intermédio do trabalho e servir, assim, eventualmente, a um novo processo produtivo (BOLAÑO; HERSCOVICI, 2005).
Esclarecida esta diferença crucial entre produção e consumo, devemos ressaltar três fatores que merecem atenção nesta articulação entre acumulação capitalista e acumulação via espoliação no âmbito da Internet comercial: (1) excedentes de capital investidos no setor; (2) o caráter eminentemente interativo da rede; e (3) a recalcitrante lógica de valorização na produção de informação em decorrência das determinações impostas por seu valor de uso específico. Se analisarmos a constituição histórica da Internet comercial, veremos que no ano de 1999 houve uma intensificação nos investimentos voltados às empresas do ramo tecnológicoinformacional, impulsionado por um excesso de liquidez no setor financeiro especulativo americano, inflando um mercado de alto risco e de elevadas margens de lucro. A Nasdaq, bolsa de ações das empresas americanas voltadas para segmento de negócio on-line, recebeu grande fluxo de capital, sobre-valorizando empresas de infra-estrutura a exemplo da Cisco Sistems, IBM, Informix, Oracle, Microsoft, Sun Microsystems. Os investimentos foram voltados ao desenvolvimento de produtos de hardware, software, propagandas, telefonia
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celular, armazéns, empresas de logística etc. Nada mais conveniente para o setor financeiro que criou estruturas de investimento para esse capital e capitalizou um segmento da economia extremamente carente de recursos e, certamente, com grande potencial de crescimento. A economia Americana atraiu um enorme volume de investimentos para esse setor, refletindo e influenciando as economias do Brasil, da Europa e da Ásia. Outro elemento de análise é o caráter essencialmente interativo da rede. A interatividade é central, intrínseca e necessária à própria constituição e desenvolvimento da Internet. Em uma palavra, ela é imanente à sua existência. Por fim, deve-se levar em consideração a recalcitrante e paradoxal lógica de valorização no âmbito produção capitalista de informações. É que o valor de uso da informação traz consigo características essenciais (indivisibilidade, não rivalidade, bem público) não se destruindo no ato de seu consumo, tendendo, pelo contrário, alargar sua utilidade. Estas determinações, de certo modo, subvertem a “economia da escassez” tal como historicamente esta tem se efetivado na dinâmica de acumulação de capital. Sua valorização viria a depender de barreiras artificiais, ou seja, instrumentos jurídico-burocráticos que determinam, neste caso, “a estrutura concreta do mercado, no bojo de um processo complexo de construção da hegemonia, a um tempo nas esferas política e econômica” (BOLAÑO; HERSCOVICI, 2005). Esses direitos são as formas jurídicas encontradas para garantir a “internalização de externalidades”, tornando explícito o nível alcançado pelas contradições de um sistema no qual a produção está crescentemente socializada, enquanto a apropriação se mantém privada (BOLAÑO, 2005). O que presenciamos nesta crescente imbricação entre produção e consumo no âmbito da exploração capitalista na Internet constitui uma espécie de acumulação que explora as energias e capacidades cognitivas despendidas sob condições não mercantis. Mas trata-se de algo qualitativamente distinto do que ocorria no pré-capitalismo. O capital “suga”, diretamente da sociedade, um Conhecimento gratuito, não compulsório e, em certa medida, aleatório. A brevidade destas transformações, somada às limitações dos instrumentos e métodos de pesquisa contemporâneos (no que se refere à complexidade do trabalho e sua efetivação na dinâmica contemporânea de acumulação do capital), faz com que a análise relativa à produção capitalista de informações na Internet comercial esbarre em consideráveis problemas15 pela 15
Como observa Chenais (1996, p.188), “as atividades de serviços, quaisquer que sejam suas características ou o lugar que ocupam em relação à produção ou ao consumo doméstico, são agrupados numa categoria ‘tampão’. Todas elas são classificadas como pertencentes ao setor terciário, cujas fronteiras são simplesmente definidas por
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falta de um quadro teórico global que permita apreciar melhor o lugar ocupado pelos serviços no movimento do capitalismo contemporâneo e de seu modo de acumulação como um todo.
6 – Considerações finais
“Toda história foi trabalho” Karl Marx
As mesmas tecnologias que ampliaram notavelmente as possibilidades de emissão, acesso e distribuição da informação, além do anonimato nas trocas sociais e comerciais, tornaram-se eficientes instrumentos de vigilância, controle e identificação, confundindo-se com a própria “paisagem” do ciberespaço. Em um momento em que ganham ênfase os debates em torno da emergência de uma “sociedade da informação”, da "desaparição do trabalho", da substituição da “esfera do trabalho” pela "esfera comunicacional", da "perda da centralidade da categoria trabalho", ou ainda, do "fim do trabalho", evidenciamos, paralela e contraditoriamente, a promessa frustrada (e reprimida) do pós-máquina e da mediação plena de uma sociabilidade mais genericamente humana e auto-determinada. Nesta perspectiva, não se pode aceitar o desenvolvimento tecnológico como um caminho de sentido único e inexorável, tratando a organização da produção e a gestão da força de trabalho como resultado de uma necessidade tecnológica que não comporte alternativas e, conseqüentemente, tratando o uso da tecnologia simplesmente como uma racionalização do processo de trabalho, ou seja, excluindo seus aspectos contraditórios (e antagônicos) enquanto racionalização do processo de valorização. Além disso, é necessário tomar o conceito de materialidade em seu sentido amplo, ou seja, desconstruindo toda e qualquer falsa dicotomia existente entre material e imaterial, evidenciando que a imaterialidade - na qualidade de forma material do intangível - é expressão e produto da dialética do trabalho, não sendo possível compreendê-la, em seu exclusão. Toda atividade que não puder ser classificada, nem no setor manufatureiro ou de construção civil, nem na agricultura ou na extração mineral, fica pertencendo ao terciário”.
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desenvolvimento, sem vinculá-la ao desenvolvimento da atividade complexa do trabalho como protoforma de toda práxis social e, nesse sentido, que ela não transcende, se opõe ou se dissocia de sua base material concreta. Antes, é fruto de sua expansividade contraditória. Aqui não se trata, obviamente, de negar os avanços do processo humano-civilizatório como o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, ou o domínio da natureza, do tempo e do espaço -, mas de se observar que a lógica do mercado, do lucro e da propriedade privada impedem o pleno desenvolvimento das potencialidades humanas, na medida em que este avanço tende a ser determinado, limitado ou bloqueado por relações de produção (e de poder) capitalista, não encontrando condições histórico-concretas para efetivação de uma “nova sociabilidade”, tornando-se em-si e para-si, meros espectros antecipadores de uma futuridade travada pelo sistema do capital, sem perder, entretanto, uma efetividade real-objetiva.
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Mídia e Cidadania: contribuições de leituras habermasianas da comunicação de massa para a retomada da esfera pública em sociedades complexas* Vitor Souza Lima Blotta*
RESUMO
Em busca por novas possibilidades de estímulo para um aumento da participação política e da cidadania ativa em sociedades complexas, este estudo procura fazer uma releitura das teorias críticas da Indústria Cultural e da Comunicação de Massa no século XX à luz do pensamento de Jürgen Habermas e das transformações provocadas pelas novas Tecnologias de Informação e Comunicação na Esfera Pública atual. Evidenciando o poder da Imagem como linguagem preponderante nesse contexto, faz-se necessário um melhor entendimento de sua lógica psicológica e semiótica, para sua possível reapropriação e uso crítico-discursivo. Assim, a partir da sinalização de Habermas em relação aos potenciais de uma comunicação emancipatória da mídia de massa, e dessa nova abordagem do tema da imagem, são analisados alguns dos novos e crescentes espaços de comunicação interpessoal na mídia digital, na busca por descortinar seus limites e possibilidades de gerar novos movimentos de retomada da esfera pública e práticas de cidadania ativa em sociedades complexas.
Palavras-chave: Comunicação de Massa, Teoria Crítica, Imagem, Cidadania ativa.
ABSTRACT
In the search for new possibilities of stimulating an increase in political participation and active citizenship in complex societies, this paper intends to review the critical theories of Cultural Industry and Mass Communications in the 20th century in the light of Jürgen Habermas’ thought, and the transformations brought by the new Information and Communication Technologies in the present Public Sphere. Witnessing the power of Image as a predominant language in this context, a better understanding of its psychological and semiotic logics becomes urgent, for a possible reapropriation and critical-
*
Artigo apresentado na V Semana de Relações Internacionais da USP, intitulada “Mídia e Poder”, em 04/10/2007, na mesa redonda “Cultura Livre, Política e Midiativismo”. * Mestrando pelo Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (DFTGD-FDUSP), com bolsa-auxílio FAPESP (06/52812-5), e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV-USP, projeto “Democracia, Justiça e Direitos Humanos”), sob a orientação do Prof. Dr. e Livre Docente Eduardo C. B. Bittar.
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discoursive use of them. Thus, from Habermas’ theorization of emancipatory communication signs in mass media and this new approach on the concept of image, new and growing spaces of interpersonal communication in the digital media will be analyzed, aiming to discover its limits and possibilities in generating new public sphere recovery movements and active citizenship practices in complex societies.
Key words: Mass Communications, Critical Theory, Image, Active citizenship.
Introdução O presente artigo visa traçar os passos iniciais para a abordagem de uma questão específica: como provocar o ímpeto à prática da cidadania1 ativa necessária à realização da ação comunicativa teorizada por Jürgen Habermas? Em outras palavras, quais são os estímulos necessários para que as pessoas passem da simples consciência à ação orientada a uma autoconstrução coletiva da sociedade, tão cara à efetividade de um Estado Democrático de Direito? Apesar de apresentar um foco temático para trabalhar essa questão - a tentativa de uma abordagem inicial dos desdobramentos (sinalizados, mas não aprofundados por Habermas), do caráter ambivalente da comunicação de massa quando visto sob o prisma crítico da razão comunicativa (Habermas, 1987-II:551554) –, outras duas questões fundamentais ligadas ao pensamento habermasiano como um todo podem se desdobrar da mesma problemática a ser enfrentada: 1. Mesmo sentindo o peso da liberdade comunicativa2, será que os indivíduos de uma sociedade complexa têm as condições “psico-políticas” e lingüísticas para re-adentrar uma esfera pública dominada pela “mass media” e reivindicar de forma consistente suas pretensões de validade3? 2. Em quais elementos do atual estágio da industrialização da cultura estão latentes os potenciais emancipatórios da ação comunicativa, e como liberá-los? A literatura crítica de orientação marxiana elaborada a partir da segunda metade do século XX até os dias presentes, permite a constatação de que os bloqueios instituídos pelo sistema econômico-social sobre
1
A noção de cidadania ativa utilizada neste artigo converge com as concepções de Herbert de Souza, o Betinho, e Eduardo Bittar. Para o primeiro, cidadania ativa é participar das decisões que afetam a própria vida; é ser alguém que cobra, propõe e pressiona o tempo todo (Souza & Rodrigues, 1994:22); Já para Bittar, cidadania ativa não é aquela “reduzida à passividade eleitoral”, e sim uma pró-atividade transformadora, intersocial e co-responsável nas tomadas de decisão política e nos efeitos destas sobre a sociedade (Bittar, 2005:432-434). Para uma tentativa de analisar as razões da ausência da cidadania ativa sob o tema da apatia política no Brasil, cf. Blotta (2006). 2 “Liberdades de ação subjetivas justificam a saída do agir comunicativo e a recusa de obrigações ilocucionárias; elas fundamentam uma privacidade que libera do peso da liberdade comunicativa atribuída e imputada reciprocamente” (grifo nosso). (Habermas, 1997:156). 3 Na linguagem habermasiana, as pretensões de validade seriam exteriorizações lingüísticas normativas, ou tomadas de posicionamento e compromisso (sejam elas conscientes ou não) por parte dos indivíduos em relação à aceitação ou não de determinados juízos de verdade, sinceridade, correção etc., sobre temas que estejam em debate na esfera pública (Repolês, 2003:49).
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formas de vida autônomas e capazes de transformar a realidade presente elevaram-se à máxima potência com o processo de industrialização da cultura e a atual disseminação de seus modelos de alienação por todas as esferas de reprodução social. A sociedade do consumo, ou sociedade do espetáculo, representa a totalização da dominação dos imperativos sistêmicos sobre o mundo da vida, hoje prática e teoricamente incapaz de se emancipar de uma reprodução administrada.4 No entanto, uma leitura habermasiana, pautada principalmente pela percepção das ambivalências dos processos sociais, não se contentaria somente com tal descrição da realidade, mas procuraria identificar na força dos próprios bloqueios, potenciais latentes de emancipação e de gestão mais autônoma do mundo da vida. Nessa linha de declaradamente normativa de pensamento, as tentativas de resposta às questões enunciadas acima se dividirão em duas hipóteses: 1. Se a sociedade conseguisse compreender melhor as ambivalências do mecanismo de transmissão de conteúdo contido no bem mais importante da comunicação de massa atual - a imagem – seria possível a criação de estratégias de apreensão crítica delas e sua utilização de forma emancipatória, de modo que, a partir da incipiente interatividade comunicativa global proporcionada pelas novas tecnologias digitais (considerados, logicamente, seus déficits de acesso), estimule-se psíquico e politicamente a re-entrada da sociedade civil na esfera pública. 2. Esse dimensionamento dos potenciais manipulatórios e emancipatórios da comunicação de massa e de sua linguagem imagética 5, provocaria o estímulo inicial a um ímpeto mais estruturante de repolitização da sociedade civil, numa correlação mais equilibrada entre ela e o Estado, com o fomento de práticas culturais e jurídicas de construção e legitimação de normas e políticas públicas, o que se aproxima da noção habermasiana de um direito como mediador entre facticidade e validade.6 O caminho tomado para tatear todas essas questões seguirá os pressupostos da teoria crítica7, ou seja, traçará um diagnóstico do tempo presente do processo de industrialização da cultura e dissolução da esfera pública, identificando os bloqueios estruturais da razão e da práxis transformadora neste campo, para tentar, a partir deles, descortinar e recolocar na prática seus específicos potenciais emancipatórios.
4
Seguem nessa esteira, na Filosofia Política Hardt & Negri (2000); na Economia Política, César Bolaño (2000); na Sociologia, Guy Debord (1997); e na Filosofia a contribuição seminal de Horkheirmer e Adorno (1984). 5 Tornado possível a partir da diferenciação moderna dos contextos de validade entre as esferas da ciência, moral e estética. (Habermas, 2002:165). 6 Em sua obra Direito e Democracia (Tempo Brasileiro: 1997), Habermas passa a conceber uma função emancipatória no direito, como linguagem capaz de equalizar as tensões entre o poder administrativo do sistema social e o poder comunicativo das interações do mundo da vida (Bittar, 2005a:820). 7 Para um estudo curto mas completo dos pressupostos de análise social da teoria crítica, ligada à chamada “Escola de Frankfurt”, cf. Nobre (2004).
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1. A radicalização das ambivalências do modelo: perspectivas emancipatórias a partir da leitura habermasiana da comunicação de massa Este artigo não pretende expor em detalhes a teoria da ação comunicativa ou a crítica da racionalidade de Habermas como um todo, mas evidenciar alguns de seus elementos a partir das perspectivas do autor sobre a comunicação de massa e a sociedade de consumo, tomadas como possíveis alternativas àquelas que surgem das teorias de Horkheimer e Adorno em relação à criação de estímulos para uma cidadania ativa consistente. Ao final do segundo e último volume de sua Teoria da Ação Comunicativa (1981), Habermas decide apresentar o que denominou “notas ilustrativas”, relatos iniciais de temas variados da sociologia sob a perspectiva da ação comunicativa, para conferir respaldo à sua pretensão de ser uma teoria crítica da sociedade, segundo ele, só passível de “fecundidade” quando em contato com investigações ramificadas do tipo filosófico e sociológico (Habermas, 1987-II:542). É dentro dessas “ilustrações”, e em crítica às visões especialmente de Horkheimer e Adorno, que Habermas apresentará os sinais de ambivalência que identifica na comunicação de massa das sociedades pós-liberais. Em relação à crítica da cultura de massa de Horkheimer e Adorno, Habermas aduz que ambos seguem um foco que impede o acesso às ambivalências dos potenciais da contribuição dos meios de comunicação de massa (MCM) às práticas de controle social. Esse foco é justamente a priorização, dentre as causas da regressão da consciência e da capacidade para a prática de uma cidadania ativa, do modo pelo qual as leis do mercado penetram cada vez mais profundamente na produção cultural (Habermas, 1987II:432). Essa ligação entre a otimização do modo de produção capitalista e o controle e passividade sociais não permitiria uma valorização dos sinais emancipatórios que o advento dos MCM apresenta, devendo a questão ser analisada antes de tudo sob o ponto de vista de um outro bloqueio à emancipação: a capacidade (e dos limites) dos MCM em provocar o insulamento do ser humano em seu próprio individualismo (Habermas, 1987-II:432)8. Nesse novo foco, Habermas vislumbra num primeiro momento os MCM dentro do que denomina “formas generalizadas de comunicação”, as quais junto aos “meios de controle sistêmico” constituem instrumentos capazes de “(...) exonerar o arriscado e custoso mecanismo de coordenação que representa o entendimento”. Ou seja, apesar de não desgastar, neutralizar ou suprimir ações orientadas à formação de consensos ligados a problemas reais da sociedade civil, como o fazem os meios do dinheiro e do poder burocrático (Habermas, 1996:343), a comunicação de massa condensa, especializa e hierarquiza em seu 8
A crítica de Habermas à teoria da cultura de Horkheimer e Adorno remonta ao fecundo debate de Habermas com a filosofia da práxis (ou entre razão e ação instrumentais contra razão e ação comunicativas), porém não poderá ser devidamente detalhado neste artigo. Para maior aprofundamento na temática, cf. Habermas, (2006: 11-92); (1987-II: cap. IV); (2002:73-119 e 153186).
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interior a comunicação que consegue ampliar, podendo melhorar ainda mais a eficácia dos controles sociais (Habermas, 1987-II:552-553). Portanto, o esquematismo, a unilateralidade, o não-questionamento e a pretensa neutralidade valorativa difundida nos conteúdos e métodos dos MCM colaboram, sim, para a “colonização do mundo da vida pelo sistema”, pois eles ocupam o espaço da esfera pública política, onde a complexidade dos temas caros à sociedade era anteriormente problematizada e decodificada pelos próprios cidadãos interessados (apesar dos elitismos burgueses próprios do período do capitalismo concorrencial), valorizando a participação política e equilibrando o destacamento entre sociedade civil e Estado (Habermas, 1996:343). Enquanto somente reproduzem de maneira acrítica os comandos especializados dos subsistemas sociais e informam a sociedade civil das “generosas” políticas simbólicas do Estado, os MCM prejudicam ainda mais a formação de práticas de cidadania ativa e tornam-se no mínimo coniventes com o processo de naturalização de uma sociedade de controle solidamente hierarquizada.9 No entanto, Habermas não deixa de identificar que esses novos potenciais de controle social advêm de uma ligação inexorável da comunicação de massa com contextos do mundo da vida, pois não se pode ampliar e generalizar espaços de comunicação e consumo cultural (ainda que unilaterais) sem fazer uso de um grau mínimo de contato com a interação lingüística entre indivíduos. Portanto, se as mídias de massa são estruturas de comunicação, embora hierarquizantes e especializadoras de processos de entendimento e consenso, seu caráter amplificador da comunicação representa ao mesmo tempo a possibilidade de uma amplificação também das interações lingüísticas do mundo da vida, residindo aí sua ambivalência (Habermas, 1987-II:552-553). Não haveria, então, como negar as formidáveis possibilidades de ampliação da capacidade comunicativa proporcionadas pelos MCM, como por exemplo, a eliminação de barreiras físicas e temporais da comunicação, sendo os meios, no mínimo, seus “reforçadores técnicos”. Portanto, a ligação permanente dos MCM a contextos de ação comunicativa permite a Habermas constatar seu caráter ambivalente, que estaria, no entanto, obstado pela construção e manutenção de sua manifesta unilateralidade informacional (Habermas, 1987-II:473). Para Habermas, toda estrutura de comunicação carrega dentro de si potenciais emancipatórios, uma vez que é impossível impedir em todos os níveis de interação alguma forma de debate crítico de idéias e
9
Não tratando especificamente dos meios de comunicação de massa, mas sim da autopoiese dos subsistemas sociais identificados pela teoria dos sistemas de Luhmann, Habermas afirma: “Não há mais nenhum lugar onde problemas relevantes à reprodução da sociedade como um todo poderiam ser percebidos e lidados com (...) Sob essas condições, a esfera pública política não pode prover tal espaço de ressonância, pois junto aos cidadãos, ela é expropriada pelo código do poder e aplacada com políticas simbólicas” (Tradução livre do inglês. Grifos originais) (Habermas, 1996:343).
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pretensões de validade, especialmente por “atores capazes de responder autonomamente por seus próprios atos” (Habermas, 1987-II:553). Esses potenciais emancipatórios presentes no modelo hierarquizante e unilateral da comunicação de massa seriam evidenciados em estudos mais empíricos, cujas contradições dos potenciais de controle social a partir dos meios teriam passado ao largo das observações “supercontundentes” de Adorno e Horkheimer, focadas principalmente em investigações sobre audiência e outros programas da indústria cultural. Habermas cita seis exemplos dessas contradições e seus respectivos estudos, o que torna possível constatar a atualidade de sua análise (Habermas, 1987-II:553). Para reforçar a verificação sua pertinência nos dias de hoje até mesmo em países da América Latina - apesar de uma literatura considerável contradizê-lo10, serão relatados fatos pontuais ocorridos no continente nos últimos anos relacionados a algumas das contradições. 1. Citando artigo de D. Kellner (1987:31 e ss.), diz que os centros emissores estão expostos a interesses rivais e de modo algum podem integrar sem quaisquer descontinuidades os pontos de vista econômicos político-ideológicos, profissionais e aqueles referentes à estética dos meios (Habermas, 1987II:553). Quanto a essa contradição, cabe ressaltar o importantíssimo papel do trabalho de fiscalização de cumprimento de exigências constitucionais pelos MCM feito pela Comissão de Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal, o qual, junto a associações da sociedade civil organizada em prol da democratização da comunicação, como o Coletivo Intervozes, conseguiram, em uma de suas diversas investidas, suspender por medida judicial o programa de “pegadinhas” do apresentador João Kleber, e veicular em seu lugar por um mês o programa “Direito de Resposta”, que veiculou matérias e entrevistas sobre direitos humanos e cidadania.11 2. Também com D. Kellner, Habermas traz a análise de que os MCM normalmente não podem realizar sem quaisquer conflitos suas obrigações periodísticas (Habermas, 1987-II:553). Outro fato inédito na história da comunicação de massa ocorreu este ano na Venezuela, quando o Presidente Hugo Chávez decidiu não renovar a concessão da emissora RCTV, o mais antigo e detentor da maior audiência do país, para colocar em seu lugar uma emissora estatal. Apesar de todas as controvérsias sobre o caso, o fato por si só já indica que a América Latina não só corrobora a existência da “contradição 2”, como também reforça o exemplo do continente como foco de possíveis rumos alternativos ao modelo hegemônico dos MCM.12 10
Essa literatura crítica será apresentada no tópico 3 deste artigo. Para um vídeo que relata em detalhes a conquista inédita do movimento brasileiro para a democratização das comunicações, acesse: http://www.youtube. com/watch? v=hTPddDInpvw 12 Para aprofundamento na decisão do governo Chávez e todas as suas controvérsias, cf. a edição n. 223, ano 20, de maio de 2007 da revista “Imprensa”. 11
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3. Com base em obra de A. Singlewood (1977), aponta que os conteúdos das emissões dos meios não reproduzem somente “standards” da cultura de massa, e até mesmo em programas de entretenimento popular pode haver mensagens críticas, o que Kellner denomina “popular culture as popular revenge” (Kelner, 1979:13 e ss). 4. Novamente com Kellner, Habermas diz que as mensagens ideológicas não se dão “no branco de seus destinatários”, pois em cada contexto de recepção há um “pano de fundo subcultural” que às vezes acaba transformando a mensagem em seu contrário (Kelner, 1982). 5. Citando trabalhos de Lazarfeld, Berelson, Gaudet e Katz sobre embate entre a comunicação de massa e a comunicação cotidiana, Habermas informa as constatações de que em última análise, é nas conversas pessoais do dia-a-dia, e não quando se ouve ou lê os meios de comunicação de massa, que as opiniões realmente são modificadas. Enfim, as práticas comunicativas cotidianas se põem “conscientemente na defensiva” contra as “intervenções diretamente manipuladoras” da comunicação de massa (Habermas, 1987-II:554). No caso específico brasileiro, dois fenômenos podem, numa análise fática, corroborar essa tese. São eles: a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em 2006, apesar dos inúmeros escândalos e a forte oposição da grande mídia; e a eleição do apresentador de televisão Clodovil ao cargo de Deputado Federal, logo após a emissora em que trabalhava tê-lo demitido por baixa audiência em seus programas. 6. Habermas constata, por último – corroborando as análises que ainda haveria de fazer sobre as ambivalências da internet13 – que a evolução técnica dos meios pode não ocorrer necessariamente para sua concentração e unilateralização, mesmo que as idéias de “pluralismo do vídeo”, ou uma “democracia televisiva” (e aqui, apesar das claras e problemáticas “novas exclusões”, podem ser citadas a internet e a vindoura televisão digital), ainda sejam pouco mais do que “visões anarquistas” (Habermas, 1987-II:554). Assim, de forma sintética, pode-se dizer que os potenciais emancipatórios da comunicação de massa identificados por Habermas são:
1. A variabilidade de fatores que influenciam a produção de informação e a evolução técnica dos meios; 2. A existência de produções que não somente reafirmam os conteúdos pasteurizados e repetitivos da indústria cultural; 3. A capacidade de crítica e requalificação das informações pelos contextos culturais de recepção; 13
Cf. o artigo de Habermas intitulado “O Caos da Esfera Pública”, publicado no caderno “Mais!” da Folha de S. Paulo, em 13/08/2006. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1308200605.htm (último acesso: 06/10/07 - note-se, permitido acesso somente a usuários do provedor “UOL”).
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4. O poder da comunicação oral e cotidiana em se contrapor à influência político-ideológica dos meios. Enfim, Habermas demonstra ter plena consciência da lógica capitalista e dos novos ciclos de exclusão que perpassam o advento dos MCM. Porém, ao fazer essa análise de suas ambivalências, parece dizer que olhar o fenômeno somente por aquela ótica, desvalorizando os potenciais de ampliação da comunicação intersubjetiva crítica que ele sinaliza, não contribui para que esses potenciais sejam ressaltados e estimulados a ponto de deixarem de ser meras exceções conjunturais do controle social exercido pelos media.
2.1 Novos bloqueios Apesar da análise das ambivalências e dos sinais emancipatórios dos MCM feitas em sua Teoria da Ação Comunicativa, no início dos anos oitenta, num de seus recentes artigos publicados no caderno “Mais!” da Folha de S. Paulo intitulado “O Caos da Esfera Pública” (F.S.P. 13/08/2006), Habermas identifica novos bloqueios para a liberação desses sinais emancipatórios, tecendo comentários essenciais para o desenvolvimento das hipóteses deste trabalho:
“Por um lado, a reorientação da comunicação, da imprensa e do jornalismo escrito para a televisão e a internet conduziu a uma ampliação insuspeitada da esfera pública midiática e a uma condensação ímpar das redes de comunicação”. “A esfera pública, na qual os intelectuais se moviam como os peixes na água, tornou-se mais includente, o intercâmbio é mais intenso do que em qualquer época anterior.” (grifos nossos) (Habermas, “O Caos da Esfera Pública”, F.S.P. 13/08/2006).
Mas as ressalvas são muitas:
“(...) Por outro lado, os intelectuais parecem morrer sufocados diante do transbordamento desse elemento vivificador, como se ele lhes fosse administrado em overdose. A bênção parece transformar-se em maldição” (Habermas, “O Caos da Esfera Pública”, F.S.P. 13/08/2006, grifos nossos).
Além de apontar que os grandes potenciais de horizontalidade e interatividade comunicativa da internet têm de conviver com uma fragmentação que impede a formação de um “foco” de peso político das opiniões dos intelectuais, Habermas demonstra grande preocupação com um fenômeno específico provocado pela televisão: “(a televisão) Deve mostrar em imagens o que quer dizer, e acelerou o "iconic turn", a virada da palavra para a imagem” (Id. ibid., grifos nossos).
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Esse iconic turn14, relaciona-se claramente com um dos aforismos de Debord, pelo qual antigamente o importante era “ser” (reconhecimento da individualidade e da cidadania das revoluções constitucionalistas); em seguida tornou-se importante “ter” (com a industrialização e a massificação do consumo); mas hoje, o que importa é “parecer ter” (Debord, 1997:18).15 Ou seja, só tem credibilidade aquilo que “aparece”, como complementa Habermas: “Como a televisão é um meio que torna algo visível, confere celebridade no sentido de notoriedade aos que aparecem em público” (Habermas, “O Caos da Esfera Pública”, F.S.P. 13/08/2006, grifos nossos). Além disso, a fugacidade da participação do intelectual e sua espetacularização nos MCM contribuem para a unilateralização dos potenciais comunicativos destes, pois nos programas televisivos
“Mesmo se o conteúdo remete a um evento discursivo, a televisão convida os participantes à representação de si mesmos, como podemos observar em muitos "talk shows". O momento da auto-representação dos atores transforma inevitavelmente o público judicante -que, diante da tela, participa do debate sobre temas de interesse geral- também em um público assistente” (grifos nossos) (Habermas, “O Caos da Esfera Pública”, F.S.P. 13/08/2006).
Com essa constatação, torna-se possível vislumbrar uma dupla problemática: de um lado a incapacidade dos atores que intervém nos MCM de trabalhar conteúdos discursivos e estimular criticamente os receptores; e de outro a não maior capacidade dos próprios receptores de desviarem-se de um apego à visibilidade dos atores e focarem na problematização dos temas colocados em pauta nos programas. A identificação dessa dupla problemática auto-implicativa nas análises de Habermas permite, enfim, o levantamento da hipótese central desse trabalho: com o citado “iconic turn”, não há como negar que a razão central do atual bloqueio das ambivalências dos MCM, em especial na televisão, seu carro-chefe, está no desconhecimento da dinâmica de funcionamento semiótico e psicológico das Imagens pela sociedade. Com isso, torna-se imprescindível um aprofundamento de seu estudo, primeiramente pelo tratamento da lógica de recepção das imagens (para se desviar do apego à visibilidade e ao que “aparece”), e em seguida pela forma com a qual as imagens devem ser trabalhadas e veiculadas (e logicamente exigidas pelos receptores, gerando estímulos críticos e discursivos na comunicação).
14
Em claro trocadilho com a “virada lingüística” (linguistic turn) da filosofia, momento em que, sob influência principalmente da obra de Wittgenstein, a linguagem é re-valorada como médium inexorável da relação sujeito-objeto, colocando em cheque todas as pretensões de verdade da filosofia da consciência. Para mais sobre o tema, cf. (Oliveira, 2001). 15 Para uma análise mais aprofundada e psicanalítica, porém não menos crítica desse fenômeno de passagem do modo de vida “ser” para o modo “ter”, cf. (Fromm, 1987).
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Talvez seja essa uma saída para que os potenciais emancipatórios dos MCM não se tornem somente objetos de publicidade para o mercado, mas ganhem sua esperada estruturalidade, re-qualificando discursivamente a esfera pública.
2. A Dialética da Imagem
2.1 Imagem e recepção Primeiramente, deve-se notar que essa prevalência desse aspecto imagético, no sentido de simbólico, sem correspondente concreto, na determinação da lógica dos MCM, da esfera pública e dos modos de vida social revela-se também incrustada na própria dinâmica estrutural do sistema capitalista contemporâneo, como demonstram recentes estudos do que se convenciona denominar Iconomia, economia dos ícones, ou economia dos signos. Trata-se dos reflexos do fenômeno de financeirização do capital e seu descolamento em relação aos suportes materiais, como um retorno da influência da esfera política na econômica, identificada por Habermas em Técnica e Ciência como “Ideologia” (2006:55 e ss.), porém ampliada exponencialmente com o advento das novas tecnologias da informação e da comunicação a partir dos anos setenta16 (Schwartz, 2006:4). Desde então, a “imagem social” que se tem de uma empresa (ou que se consegue “criar” sobre seus rendimentos, por exemplo), torna-se fator mais importante para reprodução global do capital do que sua produtividade material, especialmente porque as companhias atualmente mais bem sucedidas não trabalham com bens duráveis, como é o caso da Google.17 Feita essa breve contextualização do problema, pode-se destacar duas obras publicadas no Brasil como importantes para o entendimento da lógica simbólica da imagem na mídia. São elas os ensaios que compõem o livro Videologias (Boitempo, 2005), organizado por Eugênio Bucci e Maria Rita Kehl, e a obra Muito Além do Espetáculo (Senac, 2005), organizada por Adauto Novaes. Primeiramente, para que se entenda a razão pela qual a imagem tende a provocar um certo imobilismo discursivo e conseqüentemente político nos receptores dos conteúdos – especialmente televisivos -, deve-se lançar mão da análise que Maria Rita Kehl elabora no ensaio “Televisão e Violência do Imaginário”, publicado em Videologias.
16
Para mais sobre a transformação estruturante do fenômeno das TICs no capitalismo tardio, cf. Bolaño (2005; 2007), além de Blotta e Mattos (2008). 17 Para maior aprofundamento no tema da “Iconomia”, que permeia embora não seja central aos objetivos deste artigo, cf. Schwartz (2006).
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Utilizando-se de paradigmas teóricos como Freud e Hannah Arendt, Kehl aponta que dificilmente a imagem provoca a reflexão ou até mesmo o próprio pensamento, pois os MCM, e especialmente a televisão, manipulam o Imaginário social, conjunto de imagens, arquétipos e representações simbólicas que opera sob a “lógica da representação dos desejos” (Kehl, 2005:89). Com isso, os programas televisivos tendem a oferecer conteúdos ligados ao inconsciente humano, porém de maneira explícita, levando o espectador à identificação com seus objetos de desejo (de impulsos mais primitivos e irracionais, como o sexo e a violência, até outros mais “esclarecidos”, como o poder, o reconhecimento perante os pares, a conquista amorosa, etc.), sem qualquer esforço mental de desvelamento ou de conexão simbólica, característicos do ato de pensar. Isso porque quando se dá o momento da identificação entre o objeto de desejo e a representação (oferecida pela imagem), há o gozo, e quando há o gozo, cessa-se momentaneamente o pensamento, pois este, enquanto inquietação e busca constante por representações do mundo, é substituído pela satisfação momentânea dessa busca.18 Assim, assistir à televisão torna-se um permanente estado de gozo, de fruição, o que explica o fato de pessoas quererem assistir à TV para “relaxar”, esquecer dos problemas pessoais, ou se entreter, e não para pensar. Além disso, essa vontade também está ligada à questão de que “pensar é trabalhoso”, requer esforço e gasto de energia, e ninguém consegue pensar o tempo todo, o que parece ser uma assertiva incontestável. Porém, a relação estabelecida com a televisão ou outros MCM visando unicamente o entretenimento, como momento de gozo e ausência de pensamento, apresenta dois perigos à sociedade: o primeiro é que se torna possível uma confusão perigosa entre a representação e o objeto de desejo, levando o espectador a crer que, ao assistir à TV, está vendo a realidade em si. 19 Nesse momento, o meio de comunicação deixa de ser apreendido como meio, fazendo com que os conteúdos sejam absorvidos como verdades incontestáveis, especialmente na questão das transmissões em tempo real.20 O segundo perigo é analisado sob a noção de mal absoluto em Hannah Arendt, quando escreve sobre a banalidade do mal em sua obra “Origens do Totalitarismo” (Companhia das Letras, 1998). Para Arendt, o mal absoluto não seria uma violência visível, ou “conscientemente maligna”, mas aquele que ocorre a partir da banalização da condição humana, dada justamente pelo impedimento ou a ausência de 18
“Sabemos, desde A Interpretação dos Sonhos de Freud, que o desejo não tem que se realizar necessariamente em ato. Pode bastar-lhe a linguagem. Por que um sonho, por exemplo, realiza um desejo? Porque um desejo se realiza quando ele encontra a sua representação. Dizendo de outra maneira: o deslizamento do significante, a cadeia dos significantes que remetem sempre, cada um, a outro significante, estanca temporariamente quando se produz um significado” (grifos nossos) (Kehl, 2005:90). 19 Para demonstrar o poder de representação da imagem, Kehl a diferencia da palavra: “(...) significação e imagem se confundem: a imagem detém o trabalho psíquico ao produzir algo que se parece com uma significação (...) uma palavra pode nomear alguma coisa, mas não é aquela coisa (...) porque uma palavra não é o corpo da coisa, é por tudo isso que as palavras são sempre insuficientes e nós temos sempre que produzir novas palavras, novas metáforas, para mover o pensamento e a nossa relação com o real.” (grifos nossos) (Idem:98-99). 20 Para mais sobre a questão da relação da sociedade com as transmissões em tempo real, cf. Blotta, “11 de Setembro: Mídia, Política e Exceção”, disponível em http://www.direst.net/pub_eventosIcoloquiodireitoestado.php. (Último acesso em 13/07/07).
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pensamento ou reflexão. Quando o ser humano pára ou é impedido de pensar, haveria as condições de possibilidade da produção de algo como o mal absoluto.21 É por isso que, apesar de mais trabalhosas, a reflexão ou a crítica exercitadas em face das imagens produzidas pelos MCM, especialmente a televisão, poderiam levar primeiramente a uma fruição mais autêntica delas, pois seria possível um “distanciamento mais consciente” entre a imagem e o objeto de desejo, permitindo que essa relação de significação passasse a ser envolvida por elementos outros que não somente os contidos na própria imagem, como questões pessoais e memoriais do espectador (Novaes, 2005:11). Em segundo lugar, o espectador torna-se, com isso, capaz de interagir com a imagem, de resignificála, além de contestar a veracidade ou a validade ou dos conteúdos normativos que ela sustenta, iniciando uma espécie de bilateralização discursiva na circulação de conteúdos (tornaria-se, como diz Habermas, “público judicante”), mesmo que inicialmente na relação entre imagem e receptor. Segundo Adauto Novaes, seria essa uma relação verdadeiramente frutífera com a imagem, pois se está lidando com ela de forma dialética, ou seja, sabendo que a imagem compõe-se daquilo que ela também não mostra, ou daquilo que ela não é, como o passado e o futuro do espectador. A própria definição etimológica da palavra imagem oferece essa pista dialética, pois dela derivam palavras como “imaginação”, e “faos”, que remete à fantasia, fantasma. A imagem remete, portanto, a um universo de luz e sombra, da mesma forma que a palavra grega para “verdade”, alethéia, é composta de seu contrário, pois lethé significa obscuro, o oculto, o esquecido (Idem: 11-13). Pode-se com isso retomar a idéia de que sem o pensamento, sem um exercício de relação entre o visto e o não-visto (entre a imagem e a memória ou as idéias do espectador), num processo de “reeducação da visão“ que permitisse um maior diálogo com as imagens, não há como decifrá-las e desvelar o que elas “encobrem” ao serem mostradas. Sem esse processo, a indústria cultural e sua unilateralidade expandida para o todo social tornam-se definitivamente instrumentos de ingerência totalitária no controle social que bloqueia a cidadania ativa (Idem:11-13).
2.2 Imagem e emissão Uma das constatações mais consensuais dos estudos críticos de mídia e política da atualidade é o fato de que o aumento do número de informações a que estão expostas as pessoas não necessariamente conduz a um aumento – especialmente qualitativo – da produção de conhecimento, cidadania e participação política. Em contrário, a enxurrada de informações que a mídia de massa, seja eletrônica ou impressa, 21
Apesar de tratar de situação historicamente diversa, como o holocausto e os campos de concentração nazistas, Arendt, trata da superfluidade do ser humano também na sociedade de massa do pós-guerra, cuja bestialidade se dá pela eliminação dos elementos que o diferencia do animal, como a ação política e o pensamento. (Arendt, 1998:507-508).
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veicula todos os dias, visa a reprodução uma lógica de mercado e inibe a atividade ativa, criativa e crítica dos receptores.22 A inclusão do receptor no discurso midiático se dá por meras opiniões de pessoas abordadas nas ruas sobre determinados eventos, enquanto que as raras análises e raciocínios a respeito dos fatos são feitos por poucos especialistas, tanto nas áreas da cultura, jornalismo ou política (Chauí, 2006:13). Porém, ingenuidade seria pensar que essa interatividade mínima do receptor é simplesmente um capricho da vontade própria dos donos de empresas de radiodifusão. Após o advento das novas tecnologias de informação e comunicação, a velocidade cada vez maior da produção de informações torna-se um imperativo de sobrevivência econômica dos MCM.23 No entanto, os efeitos dessa enxurrada de informações veiculadas e à disposição dos receptores reforçam diretamente os bloqueios estruturais aos ímpetos emancipatórios da comunicação de massa.24 A busca incessante pelo furo jornalístico e pelas notícias “em tempo real” gera nos mais incautos uma apreensão acrítica das informações, enquanto que aos mais críticos uma desconfiança nos critérios de verdade das informações. Porém, essa desconfiança é ainda muito mais produto de uma sensação de vertigem e de um receio constante de se estar “desatualizado” em relação aos acontecimentos do que de apreensão criteriosa dos conteúdos veiculados.25 Ao citar Paul Virilio em sua obra O Espaço Crítico (1993), Chauí aponta com mais detalhes como a comunicação de massa atual impede estruturalmente a relação entre revelado e não-revelado, entre memória, passado e futuro que se deve ter com as imagens, como já detalhado acima:
“Volátil e efêmera, hoje nossa experiência desconhece qualquer sentido de continuidade e se esgota em um presente sentido como instante fugaz. Ao perdermos a diferenciação temporal, não só rumamos para o que Virilio chama de “memória imediata”, ou ausência da profundidade do passado, mas também perdemos a profundidade do futuro como possibilidade inscrita na ação humana enquanto poder para determinar o indeterminado e
22
Citando Horkheimer e Adorno em sua Crítica à Indústria Cultural, Marilena Chauí atesta que “...a obra de arte, atualmente, não transcende o mundo dado, é “arte sem sonho”, é sono em que adormecem a criatividade, a consciência, a sensibilidade, a imaginação, o pensamento e a crítica tanto do artista como do público”. (Chauí, 2006:28). Para mais, v. a segunda transcrição do artigo “Caos na Esfera Pública”, de Habermas. na página 8 deste artigo. 23 Sobre os imperativos econômicos estruturais e estruturantes no jornalismo atual, que levam à necessidade de aumento da velocidade da produção de informações e, conseqüentemente, à diminuição da capacidade de se comprovar a veracidade de dados e fatos veiculados, cf. Barros Filho (2003:111); Blotta e Quirino (2008). 24 Como foi possível apreender das análises de Habermas, os sinais emancipatórios dos MCM são: 1. variações nas determinâncias conteudísticas e técnicas dos meios; 2. produções que desviam dos “chavões” da indústria cultural; 3. reconfigurações das informações em função dos contextos culturais de recepção; 4. comunicação oral e cotidiana fazendo frente à ideologia propagada nos meios. 25 “Antes da imprensa, um leitor era alguém que discernia e sondava enigmas. Após a imprensa, passou a significar alguém que corria os olhos, que escapulia ao longo das superfícies do texto impresso. Hoje em dia, no final de tal processo, chegamos a aliar a habilidade de ler velozmente com a distração, em vez de com a sabedoria.” (grifos nossos) (McLuhan, 1978:145).
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para ultrapassar situações dadas, compreendendo e transformando o sentido delas.” (grifos nossos) (Chauí, 2006:33).
Com isso, uma primeira proposta para que os conteúdos da indústria cultural e da comunicação de massa ganhem a capacidade de gerar uma maior discursividade na esfera pública deve partir de exigências dos próprios receptores como consumidores de imagens. Afinal, que tipo de imagens e informações devem ser veiculadas para que a comunicação de massa reforce seus potenciais emancipatórios? Ciente, portanto, de ser uma atitude contra-hegemônica, porém não impossível ou inexistente, como confirmou Habermas nas contradições (e, portanto, nos sinais de emancipação) dos meios, fazer valer a opinião de Adauto Novaes de que a condição para uma relação frutífera com as imagens seria aquela em que o receptor pudesse, a partir da imagem, relacioná-la com outros elementos de sua vida e memória, resimbolizando-a e apropriando-se dela ao interpretá-la, há de se exigir, como o é feito no movimento mundial contra a alimentação fast-food - o “Slow-Food”26 -, uma espécie de movimento análogo denominado “Slow-Image”. Da mesma forma que o movimento “Slow-Food” apregoa uma valorização da alimentação saudável, bio-sustentável e a manutenção de diversas tradições culinárias mundiais em oposição à atual massificação e desqualificação tanto dos alimentos como da qualidade do tempo que se gasta comendo, um movimento Slow-Image faria o mesmo em relação às imagens da indústria cultural. Passaria a se valorizar, especialmente em termos de exigência de consumo - tanto em obras de “entretenimento” quanto “jornalísticas”-, uma preocupação com o excesso, a qualidade, e especialmente o tempo de exposição de imagens. Isso faria com que o público receptor se tornasse - como diz o próprio teorizador do movimento “Slow-Food”-, não só consumidor, mas co-produtor27 de imagens, na medida em que a demanda influenciasse uma re-qualificação do produto veiculado. Há exemplos desse tipo de produção cultural tanto na indústria do cinema quanto na produção jornalística. Primeiramente, o aumento exponencial e global do número de documentários produzidos nos últimos anos28 revela uma aposta nesse tipo de simbiose entre jornalismo e cinema, a qual requer, antes de tudo, uma maior preocupação estética com a exposição dos relatos e, ao mesmo tempo, uma necessidade
26
Para mais sobre o movimento “Slow Food”, cf. site seu oficial http://www.slowfood.com/ (último acesso: 23/09/07). E novamente aqui, pode-se relacionar com a idéia de “público judicante”, de Habermas. Cf. artigo de Carlo Petrini, fundador do movimento “Slow Food” no LeMonde Brasil, em http://diplo.uol.com.br/2006-08,a1374 (último acesso: 23/09/07). 28 Para um estudo aprofundado da história dos documentários no Brasil e do aumento de sua produção após convênios entre órgãos governamentais e entidades de sociedade civil, cf. Gonçalves (disponível em http://doc.ubi.pt/01/artigo_gustavo_soranz_brasil.pdf . Último acesso: 25/09/07). 27
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de conferir maior discursividade - até certo ponto um ideal jornalístico – à própria linguagem estética do filme.29 Outros dois exemplos claros de valorização dos aspectos temporal e “oculto” das imagens dentro da indústria cinematográfica são os filmes da “Trilogia Qatsi”30 e “Baraka”.31 Diferentemente dos documentários comuns, não há falas ou diálogos, somente música e diversas imagens do mundo todo, das “periferias” aos “centros” financeiros da globalização. Com um especial uso do efeito “câmera lenta”, ambos geram fortes contrastes estéticos e sócio-culturais, além da velocidade reduzida na troca da maioria das imagens proporcionar “espaços temporais” para reflexões que transcendem os “elementos aparentes” das próprias imagens. Nesses filmes, quando as imagens passam de forma rápida, percebe-se justamente uma intenção de demonstrar as excessivas velocidade e atemporalidade da vida contemporânea. Em interessante entrevista, o criador e diretor da Trilogia Qatsi, Godfrey Reggio, em face da pergunta do porque dele ter escolhido o cinema - “uma das partes envolvidas na aceleração tecnológica na existência moderna” - para seus filmes, teve uma resposta significativa a este trabalho:
“Bem, são vários motivos. Tragicamente nossa linguagem não consegue descrever o mundo no qual vivemos. No início do século 20, nós tínhamos 30.000 línguas e dialetos principais. Hoje nós temos menos do que 4.000 línguas e dialetos principais. Então a língua está sendo homogeneizada. A linguagem do momento ou de como ela era, a linguagem da ordem que vivemos, é a imagem. Senti que se queria me comunicar com o público, eu deveria mesmo fazê-lo através de uma linguagem de imagens. Isso é um abraço consciente da contradição”.32
29
Segundo o professor Olivier Voirol, do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt (ALE), em seminário apresentado no Simpósio Internacional de Comemoração aos 60 anos da obra Dialética do Esclarecimento, de Adorno e Horkheimer, realizado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP nos dias 28 e 29 de agosto de 2007, os documentários são expressão de uma forma de “mediação intersubjetiva” que ocorre na comunicação de massa (relação que possibilita um enriquecimento pessoal, por apresentar perspectivas de mundo diferenciadas das pasteurizadas e uniformizantes da indústria cultural), em oposição ao que chama de “mediação reificante” (impossibilidade de produção de novas idéias pela unificação e uniformização lingüística dos produtos da indústria cultural). Para um resumo desse seu trabalho, entre outros do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, cf. Voirol (2007). 30 Dos diretores Godfrey Reggio (direção e imagens) e Philip Glass (música). A trilogia se inicia com “Koyaanisqatsi” (1983. Segundo Reggio, “lida com aspectos da indústria tecnológica hipercinética do Hemisfério Norte”), "Powaaqatsi" (1988, “lida com culturas de moralidade, de tradição e da existência artesanal - culturas da simplicidade no Hemisfério Sul”) e "Naqoyqatsi" (2002, “lida com o momento globalizante que vivemos”) para uma experiência com esses filmes, acesse: http://movies.yahoo.com/shop?d=hv&cf=trailer&id=1808408020 (último acesso: 26/09/07). 31 Filme de 1992, do Diretor Ron Fricke. Para mais informações, acesse: http://www.imdb.com/title/tt0103767/ (último acesso: 26/09/07). 32 (Grifos nossos). Cf. a íntegra da entrevista, que embasa também as definições da nota 79, no sítio eletrônico: http://www.zetafilmes.com.br/interview/reggio.asp?pag=reggio (último acesso: 26/09/07).
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Outros dois exemplos de filmes que contém cenas mais duradouras que permitem certas “simbolizações para além das imagens” podendo ser enquadrados nesse “movimento Slow-Image”, são “Reencarnação” (“Birth”, de Jonathan Glazer, 2005)33 e “Caché” (de Michel Haneke, 2005).34 Já na área do jornalismo, tanto o fotográfico como nas transmissões ao vivo de eventos, a análise torna-se correlata, pois se identifica hoje buscas por uma revalorização do aspecto político da imagem, o que de certa forma relaciona-se com o próprio caráter político do movimento “Slow-Food”, pois atos pela sustentabilidade do meio-ambiente e da saúde pessoal não deixam de ter uma conotação de cuidado para com o bem-estar e o patrimônio público mundiais (Galard, 2005:197-216). Esse tipo de crítica também se direciona contra a enxurrada de imagens e a busca constante pelas transmissões em “tempo real” que pretendem gerar no espectador a sensação de testemunho direto e instantâneo da realidade, pois a valorização dessas características no jornalismo enfraquece necessariamente a força estética e política das imagens. Reitera-se novamente a premissa falsa de que o olhar através da câmera é um olhar i-mediato e deixa-se de valorizar as múltiplas possibilidades semânticas da fotografia e da filmagem quando vistas como representações não isentas, ou atos interpretativos (Galard, 2005:214). Tratando mais especificamente de imagens de guerras, notoriamente importantes nos próprios desdobramentos das mesmas em termos de mobilização da opinião pública - como a foto feita por Nick Ut de uma menina correndo nua numa estrada após um bombardeio em Nepalm (1972)35, as fotos dos caixões de soldados americanos vindos da última intervenção no Iraque36 ou mesmo as filmagens das torturas a presos em Abu Ghraid37 -, o professor de estética na França e ex-diretor do Serviço Cultural do museu do Louvre, Jean Galard, citando Susan Sontag (2003), ainda chama a atenção para a atual diminuição da capacidade da mídia de gerar movimentos de repúdio e ativismo político na sociedade civil: 33
Deste filme, apesar de suas diversas críticas negativas, há cenas esteticamente interessantes aos argumentos deste trabalho, especialmente a inicial, com um homem correndo na neve, que dura alguns minutos, e numa cena em que a personagem interpretada por Nicole Kidman entra num concerto e a câmera focaliza seu rosto por diversos minutos, revelando sua angústia, porém permitindo um “espaço temporal” em que o espectador naturalmente relacione-se com “elementos não aparentes” da imagem. Para um trailer do filme, que justamente “encurta” essas duas cenas, acesse: http://tvuol.uol.com.br/cinema/trailers/2004/11/08/ult2489u148.jhtm (último acesso: 26/09/07). 34 Este filme, com diversas críticas positivas, traz um estilo minimalista e trabalha com imagens mais lentas, aumentando a tensão da narrativa e questionamentos dos espectadores. Além disso, tem um desfecho incerto, abrindo espaço para um maior “diálogo” com o espectador. Para uma crítica deste interessante filme, que trata também tematicamente de um mundo “imagético”, no qual o muito que se mostra é o pouco que se deixa transparecer do que é escondido e obscurecido, acesse: http://www.zetafilmes.com.br/criticas/cache.asp?pag=cache (último acesso: 26/09/07). 35 Veja uma cópia da foto em http://openlearn.open.ac.uk/file.php/1297/DD100_6005i.jpg (último acesso: 29/09/07). 36 Para ver foto e artigo da revista ISTOÉ a respeito do tema, acesse http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.terra.com.br/istoedinheiro/349/fotos/artigo_02.jpg&imgrefurl=http://www.terra.com.br/istoedinheiro/3 49/economia/349_mortos_midia.htm&h=200&w=130&sz=11&hl=ptBR&start=40&um=1&tbnid=Py4L2uBZLRz4sM:&tbnh=104&tbnw=68&prev=/images%3Fq%3Dcaixoes%2Bsoldados%2Bamericanos%2Bretornando%2Bdo %2Biraque%26start%3D20%26ndsp%3D20%26svnum%3D10%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26client%3Dfirefox-a%26rls%3Dorg.mozilla:enUS:official%26sa%3DN (último acesso: 29/09/07). 37
Uma das fotos divulgadas do evento pode ser acessada em http://www.informationclearinghouse.info/images_us/DOG2L.gif (último acesso: 29/09/07).
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“(...) o número de fotos que chocam cresceu consideravelmente, seu efeito pôde se amainar com o tempo, o fluxo das imagens televisivas anestesiou nossos sentimentos. Sobretudo, e esse é o argumento de Susan Sontag, a foto de uma cena de horror corre o risco de não significar nada além de um horror generalizado da guerra, o que equivale a descartar a história singular do país em que ocorreu, a levar ao desinteresse por ele, a não se ver ali senão a guerra genérica, o escândalo eterno, ou seja, na verdade, a não se ver nada.” (Galard, 2005:206-207).
Como efeitos desse fenômeno de desconsideração do caráter artístico da obra jornalística, tanto pelo jornalista como pelo leitor ou espectador, há a diminuição da capacidade da imagem provocar e gerar memorização, reflexão e mobilização do público, deixando de ser uma arma política para pretensamente se tornar mero testemunho neutro da realidade. Portanto, uma revitalização de aspecto artístico, autoral e provocativo da imagem exigiria justamente atitudes opostas à velocidade e à imediaticidade. Nas palavras de Galard:
“Com uma concepção tão deliberadamente artística e estética da fotografia, encontramo-nos no oposto do ideal de uma transmissão direta, “ao vivo”, da realidade. Estamos no regime do retransmitido, da demora. Esta, finalmente, não seria a função mais honesta da fotografia? As imagens não testemunham. Valem pela emoção que provocam, como obras. Não valem como provas.” (grifos nossos) (Galard, 2005:214-215).
Logicamente, não há como negar a importância das transmissões ao vivo, especialmente de conflitos, pois passam cada vez mais a incorporá-los, a ponto de Paul Virilio dizer em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo (FSP, 06/04/03, caderno Mundo) que hoje em dia importa tanto quanto ou mais que o conflito real, a “percepção” que se tem dele. Não importa mais quem está vencendo a batalha “real”, mas quem pode “fazer parecer” que está vencendo, e por isso também os primeiros alvos militares em conflitos são as redes de televisão e comunicação inimigas. Com isso, percebe-se que há, sim, uma preocupação com a mobilização da opinião pública mundial, e que, portanto, ela revela um potencial considerável de transformação da realidade pela participação política e o ativismo. Mas ao mesmo tempo, sua susceptibilidade à manipulação pela incapacidade de estruturação de focos de crítica, avaliação e tomadas de posição, especialmente em função da enxurrada de imagens e de suas possibilidades de falseamento (como reveladas na encenação da derrubada da estátua de Saddam Hussein no dia 09 de abril de 2003 e do resgate do soldado Jéssica Lynch, no dia 1º de abril [!]
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também de 2003), tornam-na ainda muito mais um instrumento de manobra do que um corpo político crítico e consciente das limitações e das parcialidades da comunicação de massa atual. Com isso, essas formas de exigência dos receptores para influenciar uma revalorização do aspecto estético e, portanto, plurisemântico e discursivo das imagens - o que requer, sim, uma certa diminuição da velocidade de sua circulação nos MCM -, levaria o espectador a se atrair, primeiramente, pela beleza da imagem, seja ela de guerra ou de paz, pois como diz Sebastião Salgado quando recebe críticas por um suposto “embelezamento” e conseqüente “banalização” da miséria com suas fotos: quer-se imprimir certa beleza ao sofrimento não pela compaixão que ela gera, mas para “forçar” o olhar, para tornar o momento inesquecível (Galard, 2005:214). Mas além de treinar esteticamente o olhar, tendo a consciência do fato da imagem ser não só uma representação, também composta do que ela “não mostra”, o receptor poderia estimular uma espécie de “reflexão natural” sobre a imagem, aliviando o esforço mental que se exige quando se quer desfrutar uma obra não somente como um entretenimento fugaz, mas também sem que o uso do pensamento não fosse excessivamente trabalhoso. A maior aproximação desse tipo de “reflexão natural” talvez tenha sido feita por Leonardo DaVinci, quando em seu Tratado de Pintura elege a visão como saber privilegiado; mas não a visão orgânica, e sim o que denomina “olhos do espírito”. Por isso diz que “a pintura é coisa mental”, e que as linhas visíveis de uma figura levam em direção a um centro virtual, que obriga o olho a pensar (Novaes, 2005:12).
3. Novos espaços digitais de comunicação emancipatória Para tratar não só das formas e conteúdos imagéticos que os emissores devem trabalhar e os receptores exigir para estimular possibilidades das imagens gerarem, ao invés de mais dispersão, comodismo e alienação, um aumento do debate e da participação discursiva na comunicação de massa, as novas experiências de interatividade e inclusão no discurso da comunicação de massa por meio da internet merecem destaque. Mas antes de adentrar propriamente na discussão dessas novas formas de interatividade, deve-se questionar se a comunicação via internet já pode ser considerada “comunicação de massa”, visto que os índices quantitativos e qualitativos da chamada “inclusão digital”, apesar de crescentes no mundo todo até mesmo nos países da dita “periferia” da economia global -, ainda representam um fator de instabilidade dessa premissa. 38 38
Se em dezembro de 1998, 3,67% da população mundial (150 milhões) tinha acesso à internet, em maio de 2002 esse número subiu para 9,5% (580,78 milhões). No Brasil, também em 2002, 7,74% (13,62 milhões de pessoas) tinham acesso à internet. Dados disponíveis no site www.nua.com.
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Se tomada a definição apresentada por Marilena Chauí, influenciada por Mcluhan (A Galáxia de Gutemberg, 1977) e Walter Benjamin (A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica, 1978), a expressão “comunicação de massa” designa “objetos tecnológicos capazes e transmitir a mesma informação para um vasto público ou para a massa”. Para tanto, seriam necessárias formas de comunicação além da imprensa, como o rádio, o cinema e, posteriormente a fotografia e a televisão, bem como a capacidade de reprodução dos conteúdos em larga escala (Chauí, 2006:35-36). Ora, a internet não deixa de ter esse potencial, posto que sua expansão tem sido comparada com o impacto da televisão nas comunicações (Bolaño, 2007), especialmente em termos de aumento da lucratividade de cada vez mais concentradas empresas de telecomunicação aliadas à empresas de produção de conteúdo audiovisual e de entretenimento. Aliadas a esse poder da disseminação de conteúdos audiovisuais para a fidelização dos internautas, e utilizando-se da difícil distinção entre conteúdos de conhecimento e aqueles voltados para induzir o consumo (Bolaño, 2007), se as empresas internet (de provedores, empresas digitais, às de economia “material” que estendem suas possibilidades de crescimento pela rede) ainda não atingem de forma quase totalizante as massas, pelo menos seu modelo de desenvolvimento segue na esteira liberal monopolista e comercial, o que torna possível considerá-la um meio de comunicação massificante. Como contraponto no interior dessa tendência - e razão pela qual se justifica uma análise das novas experiências de interatividade -, em termos de “economia política da comunicação”, deve-se ressaltar a importância de alternativas como o software livre para a inclusão digital, os crescentes “telecentros” e sua ampliação e qualificação como questões de serviço público estatal. Esses sinais emergentes dentro do modelo hegemônico permitem ainda a possibilidade de uma vazão de formas emancipatórias de comunicação pela internet.39 Dadas essas cruciais questões sobre a importância fundamental das políticas de inclusão digital, da popularização do software livre e de formas de financiamento público para democratizar um uso qualitativo (educativo-discursivo) da internet, alguns aspectos das formas de interação comunicativa proporcionadas no interior da rede - especialmente pelos “Blogs”, os sites de relacionamento (“Orkut”, “My Space” entre outros), e os sites de veiculação de vídeos (como o popular e já controvertido “Youtube”) -, devem ser analisados para reforçar a via dos novos emissores de conteúdo massificantes no debate da qualificação discursiva das imagens na esfera pública.
39
“A possibilidade de um modelo de financiamento capaz de garantir a universalização do acesso segundo uma perspectiva de serviço público é fundamental para uma verdadeira democratização das TIC, que até o momento efetivamente não ocorreu. Nesse sentido, a luta pelo software livre é importante, desde que não se perca de vista que a prioridade é construir um sistema massivo (e ainda mais massivo que aquele surgido da privatização da rede após 1995), promotor de uma inclusão digital entendida como parte e forma da inclusão social em sentido mais amplo”. (Bolaño e Mattos, 2004. grifos nossos).
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3.1 Blogs Quanto aos blogs, corre um debate se podem ou não ser considerados jornalismo “propriamente dito”. Porém, já que a própria definição de jornalismo é controvertida, este estudo limita-se a indicar que se estrutura atualmente um consenso gradativo de que, pelo menos, os blogs representam uma redistribuição da produção de informações por sujeitos independentes, pelo que, de certa forma, pode-se considerá-los, por não estarem diretamente vinculados a interesses econômicos e não emanarem dos centros tradicionais da mídia de massa, como sinais de práticas contra-hegemônicas de disseminação de informações e, conseqüentemente, mais um estímulo à reentrada num espaço comunicativo comum.40 Um exemplo brasileiro do sucesso dos blogs como forma alternativa de recepção e emissão de informações com influência no debate público é o blog do jornalista Ricardo Noblat41, celebrizado por denunciar antes de qualquer outro meio de comunicação os escândalos do Governo Lula em 2005. No entanto, devido ao grande número de acessos após o fato, o blog começou a ser “subsidiado” pelo grupo Globo de mídia - o que revela também a importância dada tanto por agentes econômicos quanto políticos ao novo espaço -, mantendo ainda, porém, características de interatividade com leitores, hipertextualidade pela variedade de links que oferece e ainda assim uma maior independência ao jornalista.42 Outro exemplo da importância política que os blogs têm adquirido nos últimos tempos é o atualíssimo relato da colunista Cecília Giannetti, da Folha de S.Paulo (Caderno Ilustrada, p. E2, 02/10/07), sobre as atividades do jornalista e “blogueiro” iraniano Hossein Derakhshan que, apesar de inúmeras perseguições do Estado iraniano, iniciou, já radicado no Canadá, uma espécie de “levante reformista na web”, estimulando diversos jovens conterrâneos a produzir conteúdos sobre suas insatisfações com o regime de seu país, fazendo inclusive com que internautas brasileiros conhecessem visões alternativas às produzidas pela mídia estadunidense sobre o Irã.43 Uma outra questão importante, e que faz a ligação da discussão sobre os blogs com os “sites de relacionamento” (tratados em seguida), é a variação do impacto político, econômico e cultural dos blogs em função da credibilidade e da confiabilidade que as pessoas detêm em relação aos blogueiros, já que normalmente os mais acessados e influentes na mobilização discursiva desse novo espaço entreaberto na
40
Cf. Pereira, “Os blogs e o jornalismo: algumas reflexões”, in. Mídia e Política. Disponível em http://www.midiaepolitica.unb.br/visualizar.php?id=236&autor=F%C3%A1bio%20Henrique%20Pereira (último acesso: 02/10/07). 41 Este pode ser acessado em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/ 42 Para mais sobre o histórico por trás da popularização do blog do jornalista Ricardo Noblat, e questões referentes à capacidade de produção contra-hegemônica dos blogs, cf. (Escobar, 2006). 43 Para acessar o blog de Derakhshan (aka Hoder), que segundo Cecília Giannetti estava fora do ar – o que a faz temer pela segurança do próprio blogueiro, já que o anonimato nesses sites é relativo – visite: http://hoder.com/weblog. (último acesso: 03/10/07).
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comunicação midiática são blogs de jornalistas, estes já notórios antes de se tornarem também blogueiros.44 Mas apesar dessa ligação entre impacto do blog e notoriedade “externa” do blogueiro ser lógica e verificável, ela não deixa de ser influenciada também pelo conteúdo das informações postadas pelos blogueiros, já que a credibilidade da suas opiniões não é uma conquista parada no tempo, mas se põe à prova a cada nova “postagem”. Com isso, vem à tona uma pergunta fundamental para o entendimento dessas novas formas de interação na rede e suas potencialidades de produção de discursividade na comunicação midiática: que tipo de informações têm sido veiculadas pelos internautas não necessariamente jornalistas? Algumas breves reflexões sobre os sites de relacionamento e de compartilhamento de conhecimento podem ensaiar algumas respostas a essa questão.
3.2 Sites de relacionamento: o caso “Orkut” O site de relacionamento mais popular do Brasil é o “Orkut”, criado por Orkut Büyükkokten, engenheiro turco da Google, em janeiro de 2004. As intenções para interagir nele variam de busca por encontro de amigos distantes, paqueras, participação em fóruns de discussão e até oportunidades profissionais. Atualmente com 55% dos 68.182.265 usuários no mundo todo que se declaram brasileiros45, as razões pelas quais esse número espantoso de usuários advêm do Brasil são incertas, visto os índices de exclusão digital já citados no país. Porém, em função dessas condições, torna-se pelo menos possível presumir que há uma inclinação do brasileiro à comunicação inter-pessoal. As proporções que o site tomou no país justificaram até mesmo um estudo do professor Arthur Matuck, da Escola de Comunicação e Artes da USP sobre o Orkut, sendo que este representaria o nascimento de uma espécie de “extensão digital da identidade pessoal” dos usuários, denominada por ele como “cíbrido”, um conceito elaborado a partir da fusão dos termos “cibernético” com “híbrido”.46 Segundo o professor Matuck, em função da utilização do Orkut como ferramenta de comunicação inter-pessoal que oferece não só importância profissional e econômica ao usuário, mas também a possibilidade de uma “extensão de sua personalidade” - além de representar a tomada de um espaço coletivo e gratuito para o exercício da liberdade de expressão e comunicação –, no caso de um possível
44
Essa é uma das conclusões do já citado trabalho de Escobar (2006) (v. nota n. 100). Dados retirados do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Orkut (último acesso: 04/10/07) 46 Para mais sobre os estudos de quebra de unilateralidades e interatividade nas mídias digitais do prof. Matuck, cf. (Matuck, 2000). 45
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fechamento ou até mesmo tentativa de cobrança pelo uso do site (como ocorreu momentaneamente entre os dias 28 e 29 de dezembro de 2006, causando receio nos usuários), seria possível uma grande mobilização pública para a exigência da manutenção do veículo e de sua gratuidade, em função dos mesmos direitos de comunicação mencionados. No entanto, essa mobilização exigiria um grau de coordenação e interação entre os usuários capaz de gerar não só a formação de um foco político no interior da rede, como também fora dela, o que não parece acontecer, já que diversos são os casos de violações de direitos da personalidade, crimes de racismo, pedofilia47, e até mesmo assassinato48 que passam direta ou indiretamente pelo site. Além disso, muitos usuários deixam de utilizar o site em função dessas trocas de ofensas, problemas de invasão de privacidade entre outros conflitos inter-pessoais. Com esses dados e fatos sobre o site, identifica-se que, apesar de seu caráter público, seus usuários ainda mantêm uma comunicação de características privadas, exteriorizando questões pessoais e até mesmo pulsões ou traumas psicológicos que, num ambiente público real (e não virtual), dificilmente fariam. Assim, o que se identifica no caso do orkut, mas que pode ser possivelmente estendido a outros sites de relacionamento, é que, talvez em virtude de uma falta de experiência dos usuários com comunicações em espaços públicos digitais, e uma espécie de “desconhecimento inconsciente de seu caráter público”, ocorre um fenômeno de “publicização do privado” nesse espaço, impedindo seu uso de forma a gerar debates sobre problemas comuns a todos, sendo esta talvez uma das causas da dificuldade de formação de um foco às opiniões públicas convergentes a ponto de constituírem pontos de discursividade influentes na esfera pública, sugeridos por Habermas no início do estudo. Diante desse quadro, as más experiências geradas a partir dessa publicização do privado na rede podem provocar um resultado totalmente indesejável aos interesses maiores deste trabalho: um esvaziamento das formas de interação comunicativa nesses novos espaços digitais, legitimando, por um lado, a tomada desses espaços para o aumento de anúncios publicitários, sendo a rede mais um lócus de estímulo ao consumismo; e por outro, o apoio a medidas rígidas de repressão e controle de conteúdos por políticas legislativas censórias e policialescas. O que se torna necessário para reverter essa tendência é, portanto, uma atitude de conscientização da publicidade do espaço e da necessidade de se tratar de temas comuns a todos, deixando as comunicações interpessoais para seus próprios meios. E essa atitude há de promover outra, extremamente saudável para o próprio reforço à formação desse foco de discusividade esperado: o exercício da liberdade de expressão e
47
Para mais informações sobre esse tipo de violação visite: http://pt.wikipedia.org/wiki/Orkut (último acesso: 04/10/07). Sobre caso de mulher assassinada por jovem que conheceu no orkut, http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u132408.shtml (último acesso: 04/10/07).
48
cf.
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comunicação num ambiente auto-regulado pelos próprios usuários do espaço, algo de forma alguma impossível, como ficará demonstrado abaixo na questão dos sites de veiculação de vídeos.
3.3 O fenômeno YouTube Para finalizar essa análise dos novos espaços de possibilidades de comunicação emancipatória digitais, e ciente da impossibilidade de contemplar a maioria deles espalhados pela rede mundial neste estudo, algumas reflexões sobre o site de veiculação de vídeos YouTube podem tornar claras as reais possibilidades de liberação estrutural de uma comunicação de massa emancipatória quando esses espaços são utilizados de forma discursiva e autoregulada. O YouTube foi criado em fevereiro de 2005 e tem cerca de 35 milhões de visitantes por mês, tendo sido comprado pela Google por 1,65 bilhões de dólares, apesar de dois anos antes ser cotado por no máximo dois milhões de dólares. Diariamente publica-se nele em torno de 65 mil novos vídeos sem censura prévia. Segundo sua página na Wikipedia - outro site interessante aos objetivos deste trabalho, visto que opera como uma enciclopédia compartilhada e diariamente realimentada por seus usuários, mas cujas especificidades não serão aqui abordadas -, o YouTube conta com um grupo de vinte empregados, sendo quatro deles estagiários da Universidade de Stanford (Califórnia, EUA), trabalhando como censores de material que é denunciado como “questionável” por seus próprios usuários.49 Essa forma de censura à posteriori pode ser vista como um exemplo de auto-regulação de um espaço público digital, como já dito, prática saudável para a estruturação de um foco discursivo capaz de liberar potenciais de comunicação emancipatória na rede. De fato, o YouTube tem sido visto como provocador de “mudanças radicais nos padrões de vídeo jornalístico na imprensa mundial”, por abrir um espaço à possibilidade de uma comunicação visual massificante por amadores, capazes até mesmo de denunciar e incomodar governantes e governos ao postarem desvios político-morais em escala global. Até mesmo especialistas da ONU já citam o YouTube como um freio a práticas de violações de direitos humanos em diversos países, revelando uma tendência a uma postura vigilante da sociedade civil que inicia uma retomada crítica do espaço público comunicacional por meios digitais.50 Segundo afirmou em 22/06/07 o jornalista Carlos Castilho em artigo no site do “Observatório da Imprensa”, o YouTube foi comparado pelo jornal Los Angeles Times à revolução televisiva provocada pelo 49
Para mais informações sobre o YouTube, visite: http://pt.wikipedia.org/wiki/YouTube (último acesso: 04/10/07). Esta afirmação foi feita pelo cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, Conselheiro Independente da ONU, na condição de Assistente do secretário-geral das Nações Unidas para o estudo da violência contra crianças e reeleito em 05 de junho deste ano para integrar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com mandato de 2008-2011, em seminário realizado em 16/08/07 no Núcleo de Estudos da Violência da USP, do qual é um dos co-fundadores e coordenadores.
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surgimento da CNN no anos 90, primeiro canal de televisão baseado somente em informações e notícias. A revista Time (edição de novembro de 2006) o considerou a invenção do ano, por entre outros motivos “criar uma nova forma para milhões de pessoas se entreterem, se educarem e se chocarem de uma maneira como nunca foi vista”.51 Ainda segundo Castilho, além de gerar uma receita publicitária crescente à Google, o YouTube tem até mesmo quebrado o monopólio das TVs no que diz respeito à cobertura de eventos mundiais e aos controles governamentais e multinacionais sobre os conteúdos e os formatos das comunicações públicas atuais. De vídeos dos problemas das intervenções no Iraque, divulgação não controlada de conteúdos protegidos por direitos autorais, a exposições da privacidade de celebridades, o Youtube tem gerado diversos debates também na área da propriedade intelectual e dos direitos da personalidade, os quais parecem ter de ser revisados tanto na questão do controle e fiscalização, como até mesmo em termos de sua garantia e eficácia no plano jurídico. Mas tratando do específico tema proposto neste trabalho, pode-se dizer que o YouTube representa a mais evidente fissura nas unilateralidades da comunicação de massa para a liberação de seus potenciais emancipatórios, identificados por Habermas ainda nos anos oitenta, e provando que suas idealizações de uma “democracia televisiva”, no plano da linguagem atual – esta que, como já demonstrado, é a imagem -, podem realmente ser mais do que meras “utopias anarquistas”. O peso político do YouTube pode claramente ser avaliado pelo impacto de um vídeo-manifesto contra a candidatura de Hillary Clinton52 à presidência dos EUA, cujo conteúdo que aludia à obra “1984”, de George Orwell, teve, até o dia 04/10/07, o número de 3,755,500 acessos. A mídia estadunidense divulgou o fato por receio de ficar atrás na corrida pelo furo jornalístico, mas também se preocupou por dar ainda maior exposição ao vídeo. Com isso, até mesmo as candidaturas das próximas eleições no Brasil tendem a utilizar o YouTube como forma de propaganda, o que ainda há de gerar um intenso debate, mas este agora terá a própria capacidade de auto-regulação de seus usuários como possível crivo crítico a interferir de forma deliberativa na questão do uso político-partidário da mídia, algo impensado há poucos anos atrás. Em função dessas novas práticas de uma espécie jornalismo cidadão, cada vez mais vigilante do espaço comum de comunicação, até mesmo os meios tradicionais de comunicação de massa têm aberto maior espaço para seus receptores produzirem conteúdo, numa abertura, ainda que controlada, para maior dialogicidade nos MCM.
51
Informação obtida no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/YouTube (acesso: 04/10/2007). Acesse o vídeo, de autoria de “BarackObama.com”, em http://www.youtube.com/watch?v=6h3G-lMZxjo (último acesso: 04/10/07).
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No entanto, outro fato inusitado pode ainda trazer à tona a questão de se o YouTube ou outros sites de “produção visual democrática” podem realmente representar a formação de um foco discursivo de peso nos debates públicos, o que nos outros novos espaços analisados ainda demonstrou-se difícil, pelo próprio formato dos sites, mas também pela tendência de publicização do privado já tratada no tópico sobre os sites de relacionamento. O fato é que, um outro vídeo com Hillary Clinton discursando, ou seja, discutindo, quer queira quer não, temas públicos, quando veiculado, teve 15 mil acessos num período, enquanto que outro vídeo que a captou por acaso cantando de forma desafinada o hino nacional dos EUA num evento publico53 foi acessado no mesmo período 1,1 milhão de vezes. Ou seja, não deixa de haver uma espécie de predileção pelo cômico, o inusitado e o entretenimento em oposição ao público, ao comum, à problematização, o que traz ainda uma pergunta de fundo que permeou todas essas análises das novas possibilidades de comunicação discursiva pública digital: mesmo com novas aberturas para uma reentrada ao debate público, será que os cidadãos, ao adentrarem-na, o farão de forma a requalificar o debate público, ou essa tendência será mais uma forma de reforçar o fenômeno de publicização do privado, como tem sido demonstrado nessas primeiras experiências? Sem meios para reverter esse quadro, que se revela cada vez mais de ordem não só econômica, mas também psico-política, especialmente em função do enraizamento de dois séculos de uma cultura liberal, individualista e tecnicista, somada a um modo de produção cada vez mais exigente e excludente que esvazia os cidadãos do espaço político e da própria prática política (Habermas, 2006:70-71), a retomada desse espaço público não trará uma radicalização qualitativa da democracia e a conseqüente diminuição das desigualdades sócio-econômicas e políticas esperadas pelos crentes na comunicação pública participativa como meio de transformação social.
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Para ver o vídeo citado, cf. http://www.youtube.com/watch?v=bfZ_gXCHaMw&mode=related&search= (último acesso: 04/10/07).
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Economía política y compromiso intelectual
Entrevista con Dan Schiller: “La cuestión fundamental no es tanto la concentración, sino el poder de clase sobre el discurso ideológico”1 Por Ana I. Segovia y Nuria Almirón
Dan Schiller es uno de los historiadores y teóricos de la comunicación actuales más críticos con el papel que a la producción cultural se le ha otorgado en el desarrollo
socio-económico
de
los
sistemas
capitalistas.
Experto
en
telecomunicaciones y profesor en la Graduate School of Library and Information Science de la University of Illinois at Urbana-Champaign, es autor de diversos libros. Del último de ellos, How to think about information (University of Illinois Press, 2007), nos habla en esta entrevista, así como de la situación de la investigación en economía política de la comunicación, el papel de la teoría crítica en la sociedad y la realidad cambiante en el capitalismo actual.
1. ¿How to think about information es una continuación lógica de tu anterior libro, Digital Capitalism? Lo concebí como un complemento. Me di cuenta de que había escrito un gran número de artículos, muchos de los cuales no habían sido publicados en inglés (la mayoría en Le Monde Diplomatique, entre otros), y pensé en reunirlos en un solo volumen. Así que la idea inicial era muy modesta: juntar esos artículos y publicar con ellos un libro, punto final. Sin embargo las personas que revisaron el texto me hicieron un gran número de sugerencias muy importantes, así que terminé reescribiendo una gran parte del mismo y dejó de ser una compilación para convertirse en un producto mucho más vivo. El único ensayo que no cambió significativamente fue el primero, titulado también “How to Think about Information”, mientras que todos los demás cambiaron en mayor o menor grado, e incluso dos eran textos inéditos, publicados por primera vez. Pienso que el libro establece una especie de agenda de cuestiones que deben desarrollarse y sistematizarse, porque hay mucho trabajo por hacer. Por eso pienso que el mayor logro del 1
Esta entrevista fue elaborada y editada por ambas autoras, y realizada en diciembre de 2007 por Ana I. Segovia durante su estancia de investigación en la University of Illinois at Urbana-Champaign financiada por la Universidad Complutense de Madrid dentro de su Programa “Profesores de la UCM en el extranjero”. Esta entrevista complementa otra similar, publicada en el anterior número de EPTIC, realizada a Robert W. McChesney, también profesor de la University of Illinois at Urbana-Champaign e investigador destacado en el campo de la Economía Política de la Comunicación.
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libro es el capítulo que trata del proceso acelerado de mercantilización. Espero de esta manera poner de relieve toda una serie de cambios de los que mucha gente ha hablado pero que no habían sido considerados bajo el contexto común de una crisis del capitalismo. El argumento que sostengo iría desde la debilidad del proceso de reproducción capitalista en una determinada coyuntura (la década de los 60 y los 70), que conlleva una crisis en la rentabilidad —y en este punto me apoyo en Robert Brenner—, hasta la idea de que la respuesta a esa crisis es intentar desarrollar un programa para la mercantilización de la información que restablezca la rentabilidad. Esa es la tesis central del libro. A partir de aquí queda mucho trabajo adicional por hacer, y no solo por mi parte espero (me estoy haciendo viejo e incapaz de llevar a cabo toda esta labor). Hay que considerar la importancia de la información en las fases culminantes del desarrollo capitalista hasta llegar a ese marco de trabajo más amplio del capitalismo informacionalizado, tal y como yo lo denomino. A todo esto no se le está dando la atención que precisa porque existe la tendencia, incluso dentro de la perspectiva de la economía política, de realizar enfoques más centrados en el presente. Lo que quiero decir es que no pensamos mucho en la historia anterior a 1970, o anterior a la Segunda Guerra Mundial, y no hay gran información de periodos anteriores. ¿Por qué sólo a partir de la Segunda Guerra Mundial tenemos una dimensión más informacional del desarrollo capitalista? ¿Cómo llegó a convertirse en tema de discusión entonces si para los historiadores el capitalismo comenzó en torno a 1500 en Europa Occidental (principalmente Inglaterra)? ¿Por qué tarda 400 años en convertirse socialmente relevante en el aspecto informacional? Esa es la cuestión fundamental. 2. De entre las variadas denominaciones relacionadas con el capitalismo actual, ¿por qué quedarse con “informacional” y no “digital” o “financiarizado”, por ejemplo? Primero consideremos “digital” versus “informacional”. En inglés las connotaciones serían las siguientes: con “informacional” haces hincapié en algo que no es sólo tecnología, es un término que implica un patrón de interacción o significado. Siempre he intentado mantenerme al margen de lo que considero determinismo tecnológico (muy presente en los estudios de comunicación estadounidenses y hasta cierto punto también entre los estudios críticos). No es que la tecnología no sea importante, sino que muchas veces se la dota de atributos que no tiene. Pienso que la cuestión de las relaciones sociales es fundamental, mientras que la tecnología es incierta. En Digital Capitalism utilicé el término, lo cual significa que durante un breve espacio de tiempo me sentí cómodo con él, pero en ese libro me centraba en los aspectos institucionales del cambio tecnológico en lo relativo a la computarización. En How
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to think about information intento ampliar el ángulo de visión: hablo de procesos que tienen la computarización como uno de sus elementos actuales o como vector de desarrollo. El tercero de los términos mencionados, “financiarización”, es muy distinto. Actualmente existe la tendencia en Estados Unidos (entre gente que no se dedica tanto a la comunicación) a afirmar que esta era se define por la financiarización del capital por encima de otras características, así que utilizan el término “economía real” frente a “economía financiera”. No se puede negar que la tendencia hacia la especulación y los impulsos especulativos generados por el capitalismo han sido rasgos destacados de nuestro sistema a lo largo de cientos de años de historia, por lo que es fundamental llamar la atención sobre ello cuando se producen de nuevo estos procesos de financiarización. Sin embargo, señalar que el término “financiarización” es una etiqueta comprehensiva de todo lo que está pasando en el capitalismo hoy en día no es correcto en mi opinión (llevo 25 años discutiendo este asunto, aunque ha sido un debate unilateral, ya que la gente con la que discuto ni siquiera es consciente de ello). Paul Sweezy, el distinguido economista marxista, lo argumentaba en las páginas de Monthly Review junto a Paul Baran y Harry Magdoff, en las que explicó durante décadas la tendencia del capitalismo a adquirir un componente financiero cada vez más significativo como consecuencia de su propensión hacia la sobreproducción, hacia la sobrecapacidad. El capital no puede producir lo que considera un beneficio adecuado simplemente introduciéndose en los sectores del acero, petróleo, caucho… porque, después de un determinado punto de absorción por parte del mercado, la acumulación sigue creciendo y, ante la imposibilidad de encontrar inversiones productivas, el capital empieza a invertirse cada vez más en instrumentos especulativos. Esto es indudablemente cierto, y debe ser tenido en cuenta, pero utilizar esta verdad como base para desechar la computarización, los atributos informacionales del capitalismo y la mercantilización de la información como epifenómenos, para considerar estos elementos como algo insignificante o marginal, no me parece acertado. Pienso que es objetivamente incorrecto considerar los ordenadores como parte de la circulación del capital y no como parte del proceso de producción, y que por tanto pueden descartarse como significativos en lo que respecta a su contribución más allá de su papel en las finanzas. Por eso he pasado parte de los últimos años tratando de demostrar quién ha invertido exactamente en tecnologías de la información y la comunicación dentro del sector de los negocios, y una de las cosas que encuentras es que por supuesto el sector financiero es uno de ellos. Los productos derivados y todos estos instrumentos especulativos tan de moda hoy, y que nadie sabe cómo funcionan
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realmente, son extremadamente complicados y todos dependen de los ordenadores. Además, unido a ello, ha habido un gran aumento de confianza por parte de la base productiva de la economía capitalista en las tecnologías de la información y la comunicación. Se puede comprobar con ejemplos en cada uno de los sectores. Yo presté atención a algunos de ellos en mis primeros libros. Un texto que tiene esto en cuenta desde la perspectiva dominante es el libro de James Cortada The Digital Hand. Cortada va industria por industria comprobando cómo los ordenadores las han reorganizado. Por eso creo que la financiarización (por muy precisa que sea su visión como diagnóstico parcial de lo que ocurre a nuestro alrededor) no captura en su totalidad, especialmente en lo que respecta a algunos aspectos claves, la naturaleza del cambio en el proceso capitalista contemporáneo. Para mí las comunicaciones y la información están en el corazón de ese proceso. Lo que sugiero es que el capitalismo industrializado es un capitalismo basado en la información, y que la naturaleza concreta de los cambios que se avecinan hace que realmente necesitemos un término que vaya más allá del antiguo capitalismo industrializado (incluso puede que este término se revele como inadecuado). El capitalismo continúa su proceso de industrialización en otras partes del mundo (China, Brasil, Taiwan) en tanto en cuanto se extiende con el capital transnacional; pero también basado en la informacionalización, ya que hay redes subyacentes que son las que permiten esa coordinación y control capitalista transnacional. 3. Por tanto el problema del capitalismo es su capacidad de sobreproducción imparable, y las desigualdades que genera. La sobreproducción o sobrecapacidad no significa que todo el mundo tenga suficiente comida, cobijo, educación, sanidad e incluso comunicaciones. Sólo significa que los proveedores existentes no son capaces de obtener lo que ellos consideran un beneficio adecuado. La desigualdad viene implícita en un sistema de producción capitalista: el objetivo no es preocuparse por el bien social, sino por la rentabilidad; de tal manera que la decisión de si hay suficiente de algo determinado se plantea en términos de rentabilidad más que de bienestar social. Esto se hace patente de forma muy interesante en el campo de la información y la comunicación. Durante la pasada generación hemos asistido a un crecimiento sin precedentes de las infraestructuras de redes de las comunicaciones, hasta cotas sin parangón histórico. Desde la posguerra hasta los años 80, la izquierda argumentaba que el gran fracaso del capitalismo en el campo de la comunicación era que no repartía las mercancías (un número insuficiente de teléfonos en Nigeria, de televisiones en la India…). Hoy es cierto que no todo
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el mundo tiene acceso a la comunicación electrónica, pero el capitalismo ha repartido más mercancías entre la gente de lo que nunca antes había hecho (se calcula que algo así como la mitad de la población mundial, unos 3.000 millones de personas, tendrán teléfono móvil el año que viene). Es un cambio increíble. Desde luego no del tipo que supone una transformación de la vida social. La historia ya nos ha enseñado que cada una de las revoluciones comunicativas no ha alterado las relaciones de desigualdad y dominación más elementales, sino que tan solo ha cambiado sus formas. Así que no soy optimista al respecto. Pero sí que creo que es necesario explicar este cambio, porque tras décadas y décadas de escasez de comunicaciones de repente éstas son más abundantes que nunca (sin olvidar la brecha digital y que no todos disfrutan de ese acceso), y los investigadores críticos han de darse cuenta de que existe un conjunto de factores implicados, no uno solo, y esto nos lleva de vuelta a la cuestión de la sobrecapacidad. Debido en parte a la saturación de los distintos sectores en el capitalismo, una vez alcanzadas las cotas de rentabilidad, lo que sucede a continuación, si mi argumento es correcto, es una explotación más intensiva de las comunicaciones y la información. ¿Por qué este sector y no otro? Mi conjetura, tal y como desarrollo en el libro, es que existía ya una demanda esencial por parte de los grandes usuarios de negocios, con una enorme necesidad de sistemas de comunicaciones avanzadas debido a su proceso de expansión transnacional (tomemos por ejemplo los casos de Citicorp, Exxon o Siemens, necesitan coordinar sus operaciones en gran cantidad de lugares por todo el mundo, y lo están intentando hacer a través de sistemas avanzados de comunicaciones, bien sean redes de ordenador, de teléfonos móviles u otros dispositivos). Así que una vez que existe esta demanda básica de sistemas de información y comunicación, como buen capitalista, te planteas expandirla al mercado de consumo. Por ejemplo, se esperan ventas de cientos de miles de iPhone en Francia durante el primer año. Si ello sucede, será un nuevo juguete que divertirá a las clases medias de la era Sarkozy, a las que tan bien les ha ido en los últimos 20 o 30 años en Francia gracias a la redistribución económica. ¿Tiene eso algo que ver con cubrir necesidades sociales? No. 4. Estás trabajando ya en un nuevo libro. ¿A qué se debe esta fiebre productiva? El ritmo de producción es imprevisible. He tenido la suerte de disfrutar de un semestre sabático y he estado trabajando intensivamente en un libro sobre la historia de las telecomunicaciones en Estados Unidos. Es un tema que llevo trabajando de manera intermitente durante los últimos 25 años. Está desarrollado a partir de una intensa búsqueda documental (en archivos, bibliotecas) y abarca desde 1870 a la década de los 60 ó 70 del siglo
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XX. Voy a parar ahí porque he escrito tanto que prefiero dejarlo en esa fecha. He encontrado un material fantástico que demuestra una y otra vez (en distintos contextos: el telégrafo, el teléfono, el sistema postal) que la clase trabajadora no sólo se preocupó por estos sistemas de comunicaciones, sino que luchó para instituir reformas para que esos sistemas pudieran hacer más de lo que ellos creían era socialmente deseable y menos de lo que creían perjudicial. Voy a llamar al libro “La historia secreta de las telecomunicaciones en Estados Unidos”, porque lo que he descubierto es que existe de verdad todo un proceso subterráneo de desarrollo y lucha para instituir un sistema más beneficioso socialmente tanto en el establecimiento del telégrafo y del teléfono como del sistema postal, aparentemente mucho más normalizados y menos polémicos que los ideologizados sistemas de prensa y radiodifusión. El objetivo es demostrar que el proceso de cambio histórico que ha venido alterando continuamente el sistema de telecomunicaciones que tenemos ha sido influenciado una y otra vez por la gente corriente. 5. Querría también plantearte algunas cuestiones teóricas relacionadas con la Economía Política de la Comunicación para conocer más a fondo tu posición. ¿Cuál es tu visión tomando el libro de Vincent Mosco The Political Economy of Communication como referencia? En general, estoy de acuerdo con él, aunque sería justo decir que existen algunas áreas sobre las que tenemos un fructífero desacuerdo. No sobre los puntos fundamentales (la dimensión crítica, la participación en los procesos sociales), con los que estoy básicamente de acuerdo. Pero mi orientación es más histórica que la de Vinnie, de hecho yo me defino como un historiador de las comunicaciones que usa frecuentemente una perspectiva de economía política. Para mí, la historia está siempre en el centro y ninguna historia es igual que otra, cada historia tiene su perspectiva particular; mientras que Vinnie es más sintético, más capaz de buscar principios organizativos que atraviesan diversos periodos o procesos sociales. Es una cuestión de matiz, y nos sentimos cómodos con las diferencias. De hecho, es uno de mis colegas más cercanos. 6. ¿Crees que la economía política de la comunicación se ha visto perjudicada por la falta de un centro de referencia, o de fondos suficientes? Somos investigadores críticos, y en este contexto sería quizá negativo que nos trataran demasiado bien, o que fuéramos institucionalizados en exceso. Es una condición: somos críticos estudiando la realidad, así que hemos de aceptar las consecuencias de esa decisión, lo que supone una cierta marginalidad; en cierto modo hay una virtud en la marginalidad: permaneces honesto (o al menos deberías intentarlo). Pero es cierto que, al igual que antes,
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hay algunos centros que parecen desarrollarse de manera significativa por un periodo de tiempo y luego pierden fuerza. Eso ha pasado en la economía política. Por ejemplo en los 80 tanto Vincent Mosco como yo, como Janet Wasko, incluso Dallas Smythe, coincidimos un par de años en la Temple University. Eso fue al principio de mi carrera. Sin embargo fue duro en muchos sentidos: estábamos saturados de trabajo y no teníamos mucho apoyo por parte de la institución, así que tomamos caminos distintos. Y entonces aparecieron otros centros, es una especie de patrón habitual. La University of Illinois ha sido un buen sitio en los últimos años. Pienso que nuestro mayor logro ha sido facilitar un gran número de investigaciones por parte de estudiantes de doctorado, que han hecho o están haciendo un trabajo muy útil. 7. Mucho trabajo con muy poca ayuda. Sí, gente con una tremenda energía y dedicación. Pienso que en Norteamérica hemos contribuido con una buena cuota de investigadores reflexivos, imaginativos y meticulosos. Y volviendo al libro de Mosco, con lo que coincido totalmente es con la cuestión —subrayada desde el Centre for Mass Communication Studies de Leicester— de que para dar la adecuada atención a la comunicación es necesario no primar los medios de comunicación por encima de las relaciones sociales. El centro no son los medios, sino la clase, las relaciones sociales, el poder del estado. Los medios se relacionan con esas cuestiones, pero no son ellos mismos lo central. Ese es un punto crucial que aún hoy sigue siendo minusvalorado. Por ejemplo, el tema de la concentración de la propiedad de medios de comunicación es hoy un gran asunto en Estados Unidos (tanto como pueda serlo en este país). Ayer salió en la televisión. La FCC (Comisión Federal de Comunicaciones) está intentando relajar de nuevo las restricciones sobre la propiedad de los medios. El esfuerzo para evitar más cambios en este sentido puede decirse que ha sido liderado por la organización de McChesney, Free Press, que intenta evitar que se sigan eliminando las restricciones existentes. Sin embargo, para mí la cuestión fundamental no es tanto la cantidad (cuántos periódicos, medios de radiodifusión, sistemas de cable, puede poseer un determinado capitalista), sino el poder de clase sobre el discurso ideológico. En ese contexto, el asunto de cuántos medios puede tener un capitalista es menos importante que el hecho de que exista un abrumador poder de clase sobre todos los medios, o sobre la mayoría de medios, de forma que si hay diez propietarios y todos están de acuerdo en que los trabajadores deben reducir su nivel de vida, qué más da que sean diez o sólo uno. El contrapunto a este argumento es que si son diez, quizá puede haber grietas en los márgenes, ya que pueden existir conflictos, incluso a nivel personal (Rupert Murdoch y Ted Turner no se llevan bien), así que pueden crearse grietas porque hay más de uno. Esto es cierto hasta cierto
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punto, pero no sirve para contrarrestar en lo fundamental mi tesis: existe poder de clase sobre el sistema de medios, y eso es más importante que el simple hecho económico de la concentración de la propiedad. Esto lo planteé en uno de mis libros anteriores, en el que escribí acerca de cómo en 1880 la clase trabajadora se quejaba en Estados Unidos del poder de clase existente sobre la prensa, de cómo sus voces no se dejaban oír, y aún hoy hay quien argumenta que tenemos que volver a las décadas finales del siglo XIX, cuando había mucha más diversidad de opinión porque había muchísimos más pequeños propietarios. Siempre ha existido ese poder de clase, independientemente de cuántos medios son propiedad de la misma persona. Por otra parte, respecto a este punto, puede existir un tremendo valor estratégico en oponerse a una mayor concentración para afirmar un contrapoder y en ese sentido creo que existe la necesidad de un movimiento político (que Free Press intenta liderar) que se oponga a la concentración, para implicar a la gente y convertirlo en tema de discusión. 8. ¿Sigue siendo necesaria la diferenciación entre economía política, estudios culturales, y estudios de políticas? Depende de la perspectiva que quieras adoptar. No queremos una economía política que se aferre a los mismos formalismos académicos que invaden el ambiente intelectual universitario en todas partes. Queremos una economía política más radical, más abierta, así que me opondría a cualquier fórmula mecanicista en ese sentido (del tipo esto está en el lado correcto y esto en el incorrecto). Necesitamos ser más abiertos que los demás ante los estudios de políticas, la sociología, incluso la comunicación. Dicho esto, hay algunas cuestiones clave que no podemos dejar fuera en ningún caso (el poder, la relación entre comunicación y el proceso social más amplio). De ahí a decir mecánicamente que cualquiera que se preocupe por cuestiones de representación o consciencia no debe ser incluido… No me siento cómodo con algo así —siempre y cuando las cuestiones clave que acabo de mencionar estén en el primer plano—. Así que debe darse cierta apertura pero también el propósito de intentar llevar a primer plano la economía política de manera creativa y comprometida. El marco propuesto por el libro de Mosco es útil porque sugiere algunos límites. La economía política está conectada con los estudios de políticas y los estudios culturales pero no es lo mismo. Llegamos así a un campo en el que mi perspectiva es distinta de la de la mayoría: en lo que respecta a los estudios culturales, creo que necesitamos trabajar en algo que suponga una síntesis mejor. Aunque estoy harto de leer el mismo tipo de artículos, una y otra vez, producidos desde el ámbito de los estudios culturales, no es menos cierto que necesitamos
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reintegrar de mejor manera estos ámbitos de estudio separados. Para mí este sigue siendo un reto interesante e importante. Y en lo que respecta a los estudios de políticas, dicho de manera similar con el objetivo de llegar al mismo sitio, me gustaría ver que los investigadores críticos también estén abiertos a trabajos no críticos porque muchas veces puedes aprender de ellos. Si consideras que no están dentro del marco ideológico correcto puedes estar cerrando los ojos a partes fundamentales de la realidad. En definitiva, las fronteras de la economía política deberían ser porosas, abiertas, siempre que exista el propósito de destacar las cuestiones específicas que antes he señalado. 9. ¿Se puede seguir hablando de diferencias entre los economistas políticos europeos y norteamericanos, de una perspectiva más teórica por parte de los europeos y otra más pragmática por parte de los norteamericanos? Es cierto que en mis comienzos, si querías bases teóricas, ibas a Europa o Latinoamérica. Ahora ya no es así: creo que se ha llevado a cabo un rico proceso de teorización en Norteamérica dentro y en torno a la economía política. Esto no responde realmente a tu pregunta sobre las diferencias… por supuesto que existen diferencias, y variaciones nacionales distintas. Por ejemplo en España por lo que sé ha habido una gran explosión de estudios sobre comunicación en las últimas generaciones. Estoy seguro de que hay variaciones nacionales, quizá incluso regionales o continentales. Creo que en Europa un gran logro ha sido la gran cantidad de documentación generada por la Unión Europea que antes no estaba disponible, y algunos de esos estudios son realizados con la participación de economistas políticos. Eso es importante. En Estados Unidos la economía política crítica sigue completamente marginada del discurso dominante, sea desde el punto de vista teórico o práctico. 10. Hay quien reprocha a la economía política de la comunicación ofrecer una visión crítica de la situación sin aportar soluciones. ¿Cómo enfrentarse a esta perversa tendencia? En primer lugar me pone triste que la gente nos acuse de criticar sin dar soluciones. La tarea es intentar diagnosticar cuáles son los problemas (y no es nada fácil). Algunas cosas son obvias, como la pobreza o el sufrimiento, basta con mirar para verlos. Lo que no es tan obvio son las causas y la historia, sus rasgos y evolución. Los intelectuales tenemos una responsabilidad: hacer uso de nuestro talento para entender estas cosas. Obviamente otro asunto es cómo mejorarlas, pero desde mi punto de vista la clave es entender la naturaleza del proceso en desarrollo y en qué puntos no es correcto o no es adecuado. No creo que esto sea
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un rasgo secundario: no puedes plantear un programa de reforma serio a menos que sepas cuál es la naturaleza del problema. Volvamos de nuevo al asunto de la concentración de medios: si mi diagnóstico es que demasiadas propiedades están en manos de muy pocos, la solución sería simplemente diseñar algún tipo de legislación y poner todas nuestras energías en descubrir el número adecuado de medios que se pueden tener. Si tu diagnóstico sugiere que el problema es el poder de clase, esa medida no es suficiente, hay que tener una propuesta legislativa que intente asegurar que los intereses sociales particulares estén representados en el campo discursivo de tal forma que los trabajadores, las mujeres, las minorías –incluidas las lingüísticas, homosexuales y heterosexuales, etc.– estén representados de alguna manera significativa. Y no es sólo que estén representados para que los distintos grupos puedan escucharse, sino para que todo el mundo escuche sus perspectivas. Pongamos otro ejemplo: si tu análisis de la realidad predominante en el campo de la información y las comunicaciones revela que las estructuras de poder están basadas de manera significativa sobre estrechas interconexiones entre los intereses militares y corporativos, entonces has de sugerir algo que refleje no solo restricciones en la propiedad sino también alguna medida que prohíba la injerencia militar en el sistema comunicativo. Es necesaria una desmilitarización de las comunicaciones, y no me refiero al discurso (en EE.UU. asistimos a la militarización de las películas, los videojuegos, las noticias) sino a algo más profundo. ¿Cuál es el papel de las autoridades militares en las políticas de distribución del espectro? Quizá es ahora menos significativo que hace treinta años, pero sigue siendo tema de debate. ¿Cuál es el papel de los militares en Internet? Me refiero a día de hoy (todos sabemos que Arpanet era una red militar). Necesitamos de un proceso de desintoxicación social mucho más profunda de lo que quizá imaginemos… necesitamos ser más radicales, no menos. Por ello hemos de aprovechar toda nuestra capacidad intelectual al mismo tiempo que necesitamos sentir que somos parte de un movimiento, por supuesto. En segundo lugar, más allá de esto, en términos de eficacia política todo lo que puedo decir es “Sigue intentándolo”. Hay pruebas de que existe resistencia por todos lados, sólo hay que querer verlas. 11. En uno de tus ensayos de hace unos años terminabas preguntándote si las condiciones existentes en el corazón del capitalismo corporativo llevarían a un renacimiento de la democracia o si por el contrario engendrarían su antítesis autoritaria. ¿Eres optimista respecto al futuro?
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Pienso que ésa es una cuestión abierta, y creo que debe permanecer así. Lo que necesitamos hacer es tratar de especificar cuál es el equilibrio de fuerzas sociales que pueden inclinar la balanza hacia una u otra alternativa. No es simplemente una cuestión especulativa, ya que se puede intuir el programa ideológico actual, o la tendencia de las diferentes fuerzas sociales principales. En Estados Unidos nos encontramos hoy ante una nueva posición diferente a cualquiera de las que hemos vivido, porque, a mi modo de ver, EE.UU. ineludiblemente va a dejar de ser el poder hegemónico global. No es una cuestión de si ocurrirá, sino de cuándo y cómo. Por otro lado esto puede dar lugar a situaciones dolorosas e incluso peligrosas en el país. Necesitamos seguir analizando las pistas que la realidad nos va adelantando. 12. ¿Podríamos comparar la situación actual con la década de los 70 y su lucha por un nuevo orden informativo? Es una situación muy distinta, ya que esa lucha se planteó enmarcada en dos circunstancias que han desaparecido. Primero, el contexto de la Guerra Fría y la existencia de un adversario definido enfrentado a EE.UU. Y en segundo lugar el llamado Tercer Mundo estaba enfrentándose a la descolonización y a su proceso de autodeterminación, aún acompañados por algún tiempo de una sensación de optimismo (las cosas podían cambiar si se tomaban direcciones sociales distintas). Todo esto desapareció hace mucho tiempo, y ahora existen otras dinámicas. La más importante de las que yo percibo es la aparición evidente de rivalidades intercapitalistas, es decir, un crecimiento enorme de la competitividad y los conflictos entre los distintos poderes capitalistas. No se ha prestado la suficiente atención a esta dinámica debido a una variedad de razones importantes e interesantes, pero ahora mismo la depreciación continuada del dólar y el posible conflicto con Europa que esto producirá nos proporcionará probablemente algunos ejemplos más interesantes. Estos días los titulares hablaban de un portaaviones estadounidense al que las autoridades chinas no han permitido atracar en Hong Kong. La respuesta de EE.UU. fue enviar el portaaviones a Taiwan (lo que no sentó muy bien a los chinos). En un nivel más profundo de análisis esto hemos de interpretarlo como una cuestión de rivalidad intercapitalista. Vamos a asistir a tiempos preocupantes y peligrosos. Todavía es pronto para saber qué ocurrirá pero las señales no son muy halagüeñas… Se desea con el corazón, no con la cabeza. 13. No puedo resistirme a terminar preguntándote por el legado de tu padre, Herbert Schiller, en tu pensamiento y carrera académica. Yo comencé en el campo de las comunicaciones trabajando para mi padre. Hice el trabajo empírico de uno de los capítulos de su segundo libro, The Mind Managers. Pensé que era mi
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oportunidad para unificar académicamente economía política y crítica literaria. Era mi ambición en 1973. Resultó no ser tan sencillo, ya que en ese momento las dos perspectivas se estaban distanciando, y no fue fácil de plantear cuando fui a cursar el Doctorado en la University of Pennsylvania. Así que siempre fue agradable poder conversar con mi padre, y seguir trabajando para él durante mediados de los 70. En cierta manera esas conversaciones continúan. No hay duda de que su influencia está muy presente en mí, y de que me he beneficiado de ella.
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Las Políticas de Internet de RTVE y la BBC: la redefinición y implementación del servicio público en los nuevos medios Carlos Llorens Maluquer1
Introducción Sir Huw Wheldon, uno de los legendarios directivos de la BBC, es autor de una conocida frase que intentaba condensar los objetivos de televisión pública británica en los difíciles años setenta, cuando las ideas paternalistas de Lord Reith de “informar, educar y entretener” ya no tenían cabida en una sociedad individualista y alérgica a toda sombra de autoridad; Sir Huw Wheldon afirmaba que el objetivo de la BBC era “to make good popular and to make popular good”; menos conocida, pero más adecuada para este artículo es su máxima de que “the aim is not to avoid failure, but to attempt success”, refiriéndose a la BBC. Este artículo trata de analizar cómo la BBC ha conseguido un éxito en la presencia en internet, a través de un proceso de reflexión y acción, que le ha llevado a definir un servicio público amplio en el que internet juega un papel capital y todo ello en medio de un proceso de consultas públicas, libros blancos y verdes debido a la renovación de su Carta Real. La cruz la ofrece la no-estrategia en internet durante muchos años de Radio Televisión Español (RTVE), que dominada por sus problemas de manipulación política y financiación, le han impedido desarrollar un proceso similar al de la BBC. El resultado ha sido el ostracismo y la irrelevancia de RTVE en el mapa de los recursos de internet en castellano hasta hace apenas dos años en que la situación ha empezado a mejorar. De la comparación de ambas experiencias, se extraerán consecuencias que puedan servir en la definición de las políticas de comunicación en el entorno de internet. Además, se pretende analizar las causas del fracaso en el caso español y el éxito en el británico. Se trata de averiguar si en un territorio virgen como las políticas de internet de los medios públicos, se ha impuesto de manera inapelable la estructura del sistema de medios, –liberal en la BBC o mediterráneo en RTVE, según la terminología de Hallin y Mancini (2004),– o podría haber existido en el caso de RTVE una posibilidad de superar la historia y los condicionantes legales y políticos que anunciaban el futuro fracaso de RTVE en el mundo de internet.
1
Universidad Autónoma de Barcelona (Departamento de Comunicación Audiovisual y Publicidad).
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Antes de proseguir, cabe señalar que el estudio se ha planteado a partir de fuentes documentales escritas y en este sentido no ha de extrañar la disparidad entre la enorme información disponible sobre internet y la BBC, y la escasa que ofrece RTVE, y que se refleja a menudo en el texto y en la diferencia de datos ofrecidos.
La BBC e internet: contexto La BBC no se puede entender sin mencionar el contexto europeo y británico en la que desarrolla su actividad. En primer lugar, la especificidad del contexto europeo se define por unos mercados de radiotelevisión pequeños, la amenaza industrial y cultural de Hollywood, un sistema mixto público-privado y una creciente competencia entre actores, que se ha acelerado en los últimos años con el aumento de canales de distribución y las posibilidades de la tecnología digital. El contexto británico añade además sus propias peculiaridades que lo separan del sistema europeo. En primer lugar, el monopolio del servicio público de televisión fue de corta duración, pues en 1955 se inicia la actividad privada con las televisiones regionales, las ITV, que nacen con fuertes obligaciones de servicio público. Por tanto, el mercado de la televisión británica está habituado a la competencia desde hace más de 50 años, pero a diferencia de otros países, la concurrencia se reducía al ámbito de la calidad de la programación, pues cada actor tenía su propio sistema de financiación independiente: canon para la BBC y publicidad para las ITV. Como consecuencia, en el mercado británico dominó durante muchos años la oferta sobre la demanda. La situación empezó a cambiar a principios de los noventa, con la aparición de canal público financiado con publicidad, ‘Channel 4’, la aparición del canal privado, ‘Channel 5’, y sobre todo con la consolidación de la plataforma multicanal de televisión por satélite, SKY. La arcadia televisiva británica había desaparecido y a mediados de los noventa, la BBC tenía un sombrío futuro que algunos juzgaban como irrelevante como consecuencia de la multiplicación de canales y de los sistemas de distribución. El declinante ‘share’ de la BBC sería su epitafio final. Una década después la situación ha cambiado radicalmente. La BBC se ha reinventado a sí misma a través de un proceso de reflexión, consulta y presión política que le ha permitido liderar las audiencias en la transición digital en el sector de la televisión (Freeview), la radio e internet. Sin considerar sus canales internacionales, la BBC dispone actualmente de 8 canales de televisión nacionales y 10 cadenas de radio nacionales. Según datos de la BBC, el 87% de la población del Reino Unido ve semanalmente algún canal de la BBC, y alrededor del 35% de la audiencia total de televisión ve canales de la BBC. Respecto a la radio, la situación es
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similar. La escucha semanal de alguna cadena de radio de la BBC es inferior a la televisión, con un 67%, mientras que la audiencia de la BBC en el mercado radiofónico alcanza el 55%. En internet, la situación de liderazgo es aún más pronunciada: un poco más de la mitad de los internautas del Reino Unido visita la web de la BBC al menos una vez por semana. En conjunto, los servicios de la BBC tienen una audiencia semanal del 95% de la población total del Reino Unido. En la actualidad, los gestores de la BBC están pidiendo al gobierno de Tony Blair un aumento en el canon de un 2,4% por encima de la inflación en los próximos años para ser capaces de desarrollar las potencialidades que ofrece la multidistribución digital de contenidos, además de crear un nuevo centro de producción en Manchester. El debate político no reside en cuestionar la subida sino en evaluar la cantidad exacta que necesita la BBC para su expansión. Al mismo tiempo, la BBC está inmersa en un proceso interno de reforma que forma parte de una tendencia más general en Europa y que ha afectado también a France Télévision y RTVE, y que se ha visto impulsada por las decisiones sobre ayudas públicas de la Comisión Europea (Llorens, 2006). El proceso de reforma de la BBC se produce como consecuencia de la necesidad de renovar cada 10 años la Carta Real o Royal Charter que regula el funcionamiento y los objetivos de la BBC. Esta año corresponde renovarla y es por ello que se lanzó desde 2003 un complejo proceso de consultas y reflexiones que de manera simplificada mostramos en la Figura 1.
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Figura 1: Proceso de reforma de la BBC
Fuente: BBC, 2006
Más que centrarnos en el proceso, de por sí bastante complejo, conviene fijarse en los conceptos desarrollados por la BBC para abordar el futuro de un servicio público de televisión. El concepto clave es “Building Public value”, una idea desarrollada por Moore (1997), aplicable a todos los servicios públicos: sanidad, educación y televisión. ¿En qué consiste el concepto? Básicamente consiste en que cualquier servicio público más que ser una respuesta ante las carencias del mercado o a la necesidad de un monopolio natural, debe ofrecer un valor añadido público que puede y deber ser medido y evaluado. En el campo del servicio público de televisión, el concepto de ‘public value’ es opuesto al objetivo de los operadores comerciales de televisión, que consiste en obtener valor para sus accionistas o propietarios. La finalidad de la BBC es la de crear valor público, es decir, tratar a las audiencias no sólo como consumidores, sino también como miembros de una sociedad más amplia, con programas y servicios, que, mientras buscan informar, educar y entretener a las audiencias, también coadyuven a objetivos públicos más amplios. Pero la clave del concepto es su aplicación práctica:
“We believe that public value is the best yardstick for evaluating the BBC’s future contribution. It can be defined in much greater detail than it has been in the past. Moreover, although no single numerical calculation is either possible or desirable, we believe that a number of objective methods of measurement and assessment are
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feasible. Public value should not be seen as a broad justification for what the BBC does but as a practical test that can be applied by the BBC itself, by its Governors and by the public, to decide what it should do – and how well it does it.” (BBC, 2004b:8).
El proceso, que ya está en funcionamiento, consiste en un conjunto de evaluaciones cualitativas y cuantitativas para demostrar que cualquier nuevo servicio de la BBC aporta más beneficios que perjuicios a la sociedad, incluidos los impactos negativos económicos en el mercado de medios. El máximo órgano de decisión de la BBC, el ‘Board of Governors’, realiza un test de valor público o ‘public value test’, a cada nuevo servicio, o ampliación substancial de uno ya existente antes de aprobar su lanzamiento. En este test, se sopesan dos evaluaciones: la primera, el impacto sobre el mercado del nuevo servicio, que será realizada por el órgano de regulación, OFCOM; la segunda a partir de un análisis, denominado ‘public value assesment’, de sus aportaciones a la sociedad, es decir, si aporta ‘public value’. Para realizar este ‘public value assesment’, se utilizan 4 conceptos vinculados a un conjunto de indicadores cualitativos y cuantitativos: audiencia, calidad, impacto y valor por dinero. El más importante es el de audiencia total (‘reach’), el alcance. Es decir, la proporción de personas que utilizan los servicios de la BBC en un determinado periodo2. En un entorno de multiconsumo de medios y fragmentación de audiencias, el ‘share’ en un operador multiplataforma como la BBC no tiene sentido, de ahí la preferencia de este indicador sobre el de ‘share’, o el de ‘páginas vistas’ en internet (BBC, 2004b, 15). El ‘public value assesment’ junto con la evaluación del impacto en el mercado, serán sopesados por el ‘Board of Governors’ en el ‘public value test’, que decidirá la idoneidad del lanzamiento del nuevo servicio. Si es aceptado, se otorgará una licencia del servicio en el que se especificará su misión, las condiciones y los objetivos. Cada cinco años como máximo, se encargará una encuesta independiente a 10.000 ciudadanos para determinar el valor público aportado por cada servicio. Con el nuevo sistema se pretende que el ciudadano que paga el canon reciba unos servicios que le aportan valor público. Además, como se definen y limitan los objetivos y el alcance de los nuevos servicios, los operadores privados podrán prever la situación futura de sus mercados. En la actualidad, octubre de 2006, se esta realizando un ‘public value test’ sobre el servicio de contenidos audiovisuales bajo demanda de la BBC, 2 Según la principal agencia británica de audimetría, BARB, ‘reach’ es el número neto o porcentaje de personas que han visto un fragmento de producción audiovisual sea de un programa, canal o campaña de publicidad en televisión en un período de tiempo fijo. En los dos primeros casos, es necesario un mínimo de tres minutos consecutivos.
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iMPlayer, que permitirá el acceso para los ciudadanos del Reino
Unido de cualquier
contenido audiovisual emitido por los canales de distribución tradicionales de la BBC de los últimos siete días. El concepto de ‘building public value’ ha implicado un cambio en la operatividad de la BBC. Se produce un cambio de orientación múltiple: de dirigirse a la audiencia, a los consumidores, se pasa a intentar ofrecer un ‘valor público’ a los ciudadanos y a la sociedad; de estar pendientes de los gastos e ingresos, a medir los impactos y resultados; de estar pendientes de nuevos canales de distribución, a favorecer la comodidad de acceso; de obsesionarse en la cuota de audiencia, a pensar en el alcance respecto a la población en general. ¿Cómo afecta todo este desarrollo en la estrategia de internet de la BBC? Le afecta de manera fundamental, pues en un entorno multicanal, internet se convierte en la herramienta complementaria, pero necesaria para alcanzar una alta audiencia global, además de contribuir con ‘valor público’ tangible como el uso ilimitado de archivos y contenido. Como lo definía un informe interno de la BBC,
“Now an economist might conclude […] that the BBC has an important role in preventing various kinds of market failure in the new digital world. Well, yes - but our vision is far bolder than that suggests. We look forward to a future where the public have access to a treasure-house of content, a store of value which spans media and platforms, develops and grows over time, which the public own and can use freely in perpetuity” (BBC, 2004b:5).
Es decir, la BBC no pretende ampliar su portafolio de cadenas, sino que pretende ofrecer de manera innovadora el contenido ya existente a través de los nuevos sistemas de distribución. El acceso es clave. Y en este sentido se explica el interés en el BBC iMP o BBC internet Media Player, que supondría la posibilidad para los ciudadanos del Reino Unido, que son los que pagan el canon, de recuperar el contenido emitido en los 7 últimos días en algún canal de la BBC. En la misma línea de dar acceso, la BBC pretende que a través de internet la sociedad, comunidades y las personas individuales sean protagonistas en la elaboración de contenidos a partir de la interactuación con los contenidos de la BBC. El proyecto se denomina ‘Creative Archive Licence Group’, un esquema de licencias de contenidos diseñado para dar al público un acceso al material sonoro y audiovisual disponible en los archivos de la BBC y Channel 4
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con el objetivo de que usuario pueda expresar su creatividad creando contenido sin ánimo de lucro y poder compartir conocimiento de manera gratuita. En una primera prueba se ha puesto a disposición del público 500 archivos, programas, imágenes y archivos sonoros.
La BBC e internet: desarrollo histórico de un éxito La historia de la página web de la BBC empieza titubeante en 1994, pues la legitimidad de la BBC y la autorización para realizar dicho servicio no estaban claros. La primera web de la BBC ofrecía básicamente información en programación y algunas noticias. En 1997 se lanza un proyecto global, con una nueva marca, BBC Online, en la que se incluye información. Simultáneamente se tramita una autorización oficial del servicio on line de la BBC, tras realizar una amplia consulta pública que encuentra un fuerte respaldo popular al servicio web de la BBC. En 1999 ya se incluye información deportiva, un apartado específico de educación y se amplía la información sobre los programas. Se consiguen audiencias de 2 millones de usuarios únicos cada mes. En el 2002 se crea un buscador propio que permite una búsqueda sin publicidad y de contenidos seguros para los menores. Ese mismo año se lanza el servicio Radio Player que permite escuchar en directo los mejores programas de radio. En el 2003, después de cinco años de actividad, el “Department for Culture Media and Sport” (DCMS) encarga un estudio sobre los servicios web de la BBC y la consecución de objetivos de servicio público, que es realizado por el periodista y ahora director ejecutivo del organismo de regulación OFCOM, Philip Graf. Además de evaluar los objetivos de servicio público conseguidos se trataba de orientar los pasos futuros en la BBC. En el 2003, los usuarios únicos mensuales llegan a los 8,1 millones. En el 2004 se cambia el nombre del servicio y se adapta el de ‘bbc.co.uk’, al detectar un estudio que la marca BBCi se asociaba más con televisión interactiva. Este mismo año se publica el informe Graf. Sus conclusiones son que la división de internet de la BBC es un servicio creativo, innovador y de alta calidad, que se adecua a las condiciones impuestas por el DCMS en 1998, pero matiza que algunas páginas web de la corporación, dedicadas a juegos o a páginas de moda, no se corresponden con los objetivos de servicio público, además de no distinguirse de servicios privados similares. El informe también recomienda que por lo menos el 25% del contenido online debería ser suministrado por suministradores independientes o externos. El informe también señalaba no encontró pruebas que verificasen la teoría de que los servicios web de la BBC tenían un impacto adverso en el mercado de
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internet del Reino Unido, tal como defendían los operadores privados, aunque reconocía que existen indicios de que la potencia de la web de la BBC puede tener un efecto disuasorio en las inversiones futuras de los operadores comerciales. También en el 2004 empiezan las pruebas con el Integrated Media Player (iMP), que permite la consulta de material audiovisual de los últimos siete días y que utiliza la tecnología P2P para reducir costes y ancho de banda. Los usuarios mensuales ya son 10 millones. En el 2005 se introducen las subscripciones RSS, y se facilitan un conjunto de normas que capacitan a otros páginas web a utilizar los RSS de la BBC de manera gratuita y sin negociación offline contractual. El sitio web es visitado mensualmente por 13,2 millones de usuarios únicos3.
La BBC e internet: la medida de un éxito La magnitud de las operaciones en internet de la BBC se corresponde en primer lugar por la propia potencia financiera de la entidad. Los ingresos de la BBC se elevan a más de medio billón de euros como se muestra en la Tabla 1. La relación es de casi 5 a 1 con los ingresos de RTVE, que se acercan a los 1200 millones de euros, cuando la población y el PIB no superan la relación 2,5 a 1.
Tabla 1: Ingresos de la BBC en 2005/2006 en millones de euros Canon
4.400
Actividades comerciales 933 World Service
370
Ventas internacionales
35
Otros
8
TOTAL
5.746
Fuente: BBC (2006:61)
Esta fortaleza financiera se ve reforzada por la estabilidad que genera el hecho de que es la propia BBC la que gestiona la recaudación del canon. Con esta capacidad de generar recursos, la distribución del gasto es también muy generosa como puede observarse en la tabla 2. 3 “Key facts. bbc.co.uk”. Datos actualizados a noviembre 2005. http://www.bbc.co.uk/pressoffice/keyfacts/stories/website.shtml Consulta: octubre 2006.
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Tabla 2: Gastos de la BBC en 2005/2006 en millones de euros TV nacional
2.158
Radio nacional
326
bbc.co.uk
107
BBC jam (portal educativo) 54 BBCi (TV interactiva)
27
TV y radio local y regional
553
Compra de programación
506
Gastos fijos y digitalización 471 Costes de restructuración
160
Transmisión
478
Total
4.840
Fuente: BBC, 2006:18
La capacidad de inversión de la BBC es enorme, y sólo el gasto en internet a través del portal ‘bbc.co.uk’ y del portal educativo ‘BBC jam’ representa un poco más de la mitad del presupuesto de 305 millones de la CCRTV, el grupo de comunicación público catalán que incluye TV3, K33 y 4 cadenas de radio. Es un esfuerzo importante, comparable a las infraestructuras. Para dar otro punto de referencia, los 107 millones de euros invertidos en el sitio web de la BBC en el 2005 se pueden comparar con el gasto de 538 millones de euros anuales que supone la digitalización de la red de transmisores y repetidores en el Reino Unido4. La tendencia de la inversión en internet es además al alza, como muestra la tabla 3.
4 “BBC seals £1.8bn digital deal”. 18 sept 2006. Mediaguardian.co.uk http://media.guardian.co.uk/bbc/story/0,,1875108,00.html. Consulta: octubre 2006.
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Tabla 3: Gastos de la BBC en internet (bbc.co.uk+ BBCjam) en millones de euros 2003
2004
2005
106
116
161
Fuente: BBC, 2004, 2005, 2006.
Para tener una idea más clara de la inversión real que representa el portal de internet en la creación global de contenidos, la BBC proporciona también la distribución de inversión por áreas.
Gráfico 1. Distribución de inversión de la BBC por unidades de contenido 2005/06
BBC Jam 1%
Costes de Transmisión 10%
BBC.CO.UK BBCi 1% 3%
Radio estatal (10 cadenas) 11% Televisión y radio regional y local 16%
Televisión estatal (8 cadenas) 58%
Fuente: BBC, 2006: 63
Otro aspecto importante de la presencia de la BBC en internet es el consumo de productos audiovisuales. La BBC permite la escucha en streaming de casi todos los programas de radio en una ventana de siete días posteriores a la fecha de emisión, y desde
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hace relativamente poco tiempo permite la descarga de algunos programas de radio con el sistema de podcasting asociado a una suscripción sindicada o RSS. El consumo de contenidos audiovisuales de la web de la BBC se calcula en un total de 4,6 millones de horas semanales divididas en 2,6 millones de horas en streaming directo de radio, 1,3 millones de horas en descargas de programas por podcast y otro 1 millón de horas en otro tipo de contenidos, mayoritariamente pequeños clips de videos con noticias (Cfr. Gráfico 2). Para hacerse una idea de las magnitudes, citar que el servicio de descargas de TV3, “TV3 a la carta”, suele descargar 2.500 horas a la semana.
Gráfico 2. Distribución del consumo audiovisual de la web bbc.co.uk 2005/06
Otros 20% Podcasts y descargas 27%
Streaming directo de radio 53%
Fuente: BBC, 2006: 148.
La inversión realizada en el desarrollo del portal de la BBC, que permite la presencia de 2 millones de páginas disponibles en bbc.co.uk y la calidad asociada a la marca, han convertido a la BBC en líder por lo que hace a las webs de contenido como muestra la tabla 4 (Microsoft lidera el ránking gracias al Messenger, Google por las búsquedas, Yahoo por su cliente de mensajería instántánea y eBay por el comercio electrónico).
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Tabla 4: Usuarios, audiencia y tiempo medio de visita de los 10 principales sitios web en los hogares británicos en septiembre de 2006 Empresa
Usuarios únicos
Audiencia
Tiempo medio por visita
1. Microsoft
18,085
74.47
02:13:16
2. Google
17,280
71.15
00:26:43
3. Yahoo!
11,883
48.93
01:05:42
4. eBay
11,639
47.93
01:41:58
5. BBC
10,285
42.35
00:40:29
6. Time Warner
7,153
29.45
02:49:59
7. NewsCorp.Online 6,628
27.29
00:39:57
8. Amazon
6,185
25.47
00:16:48
9. InterActiveCorp
5,350
22.03
00:07:29
10. Apple Computer
5,225
21.51
00:47:46
Fuente: Nielsen /NetRatings, 2006
Esto 10 millones de usuarios únicos, se duplican si se incluyen los internautas internacionales hasta los 24,3 millones (BBC, 2006: 147). En este sentido, el valor de lo que BBC podría ingresar por publicidad en las versiones internacionales de su portal está evaluado en un máximo de 105 millones de libras5. Respecto al futuro, las pruebas iniciales del iMPlayer, realizadas entre noviembre 2005 y febrero de 2006, muestran que los usuarios solicitan una media de dos programas por semana, con una hora de contenido de media, equivalente a un 6% del consumo semanal normal en un hogar. La principal razón para utilizar el iMPlayer es para recuperar programas ya emitidos, pero significativamente un tercio de los usuarios lo utilizan el sistema para consumir al menos un programa nuevo, lo que abre la posibilidad de que el video bajo demanda iMPlayer permita añadir nuevas audiencias a nichos de programación ya existentes (BBC, 2006: 41).
5 “BBC could make £100m from online ads”. Mediaguardian.co.uk. http://www.guardian.co.uk/uk_news/story/0,,1935143,00.html Consulta: octubre 2006.
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RTVE e internet: contexto El modelo de servicio público de televisión en España es más parecido al modelo latinoamericano que al europeo, como señala Bustamante (2006: 357). La razón principal es que desde su fundación ha sufrido una instrumentalización crónica por parte del poder político que ha impedido afrontar con garantías un debate sosegado sobre su misión, objetivos y financiación; plantear este debate implicaba de entrada desautorizar la manipulación pública de la televisión pública, una posibilidad que los partidos políticos de cualquier signo han preferido no platear. La financiación se ha alejado también del modelo europeo, donde la publicidad de los operadores públicos es inexistente, tiene algún tipo de limitaciones o es reducida. En RTVE, la publicidad es desde sus inicios la principal fuente de financiación, y durante muchos años la única, pues la subvención del estado era inexistente o irrelevante. La aparición de las televisiones privadas en la década de los noventa acentúan los problemas económicos por el alza de precios en los contenidos y el descenso de ingresos publicitarios. Al mismo tiempo, se produce una mala gestión y ineficacia económica, derivadas de un modelo de empresa excesivamente anclado en el funcionariado y de una excesiva rotación de directivos (14 directores generales en 25 años). Ante la falta de ingresos y la negativa del estado a aportar más subvención, la única salida fue el recurrir al endeudamiento, con el aval del Estado. El resultado es que la deuda de RTVE ha crecido hasta niveles desproporcionados: 7.800 millones a finales de este año (RTVE, 2006b). Ante tales magnitudes conviene establecer puntos de referencia: a finales de 2005 la deuda de RTVE — 7.561 millones de euros—, era ya superior al saldo positivo financiero que recibe España ese mismo año de la UE; el ‘cheque europeo’ se cuantificaba en 7.431 millones de euros para 2005, según el ministerio de Hacienda6. La situación empezó a cambiar por dos factores. Uno externo, la presión de la Comisión Europea por eliminar el aval ilimitado del estado (Comisión Europea, 2001), y otro interno, la propia convicción del nuevo gobierno socialista de 2004 para solucionar con un enfoque global el problema de la televisión pública. Una de las primeras medidas del gobierno es el encargo a un grupo de personalidades un informe para la reforma de los medios de comunicación
de titularidad del estado
(VV.AA., 2005). Se entrega en febrero de 2005, y en sus páginas se definen los contenidos de servicio público, se recomienda una reorganización de la estructura para constituir una
6
Proyecto de presupuestos del Estado 2006. Ministerio de Hacienda. Anexo de los flujos financieros EspañaUnión Europea, p. 54.
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entidad de gestión independiente y eficaz, y sobre todo se recomienda establecer un modelo financiero transparente y sostenible con incluso una reducción de la publicidad y aumento de la subvención pública de acuerdo con los costes netos del servicio público definido por el estado. Simultáneamente desde el ministerio de Economía y de la SEPI se diseña un plan financiero para asumir la deuda acumulada de RTVE y aumentar la subvención estatal hasta cubrir los costes de servicio público. El presupuesto para el año 2006 de RTVE preveía un déficit de explotación de 572 millones de euros. Mientras que los gastos ascendían a 1.304 millones de euros, los ingresos operativos previstos eran de 732,8 millones de euros. El estado aportó 575 millones de euros para paliar este déficit, —una cifra que multiplica por 7 los 78 millones de euros de subvención del 2005. La subvención de 2005 estaba condicionada a la elaboración y ejecución de un plan de viabilidad y restructuración que contara como objetivos la reorganización de la gestión para racionalizar costes, la mejora de la productividad, la consecución de ciertos objetivos en política comercial y de personal, así como limitar a una cifra máxima las pérdidas antes de subvenciones7. El plan ha sido debatido durante todo el año 2006. Finalmente, la principal medida es la creación de una nueva sociedad anónima, la Corporación RTVE, que nacerá libre de cargas financieras y con la reducción de alrededor 4200 puestos de trabajo. Las finanzas públicas en España, más boyantes que nunca, permiten realizar la reestructuración. Se prevé que 3180 millones de deuda más 282 de intereses sean asumidos por el tesoro en 2007 y el resto unos 4700 millones serán amortizados en el 2008, 2009 y 20108. Además, la aportación del Estado para cubrir los costes de servicio público para el año 2007 es de 433 Millones de euros, un porcentaje que cubre el 35,8% del presupuesto de la nueva corporación, y se destinan 140 Millones de euros para la liquidación del ente de RTVE9. Además de la negociación económica, la reforma de RTVE se consolidó legalmente con la aprobación de la Ley 17/2006, de 5 de junio, de la radio y la televisión de titularidad estatal que pone por escrito muchas de las sugerencias del Comité como la necesidad de un consejo de administración más independiente del poder político y con mayor calificación, y la creación de la corporación RTVE. 7
Disposición adicional n. 34 del Proyecto de Ley de los Presupuestos del Estado. Boletín Oficial de las Cortes Generales, Congreso de los Diputados, VIII legislatura, Serie A: Proyectos de Ley, 29 de setiembre de 2005, n. 53-1, Proyecto de Ley, 121/000053. Presupuestos Generales del Estado para el año 2006. Página 96. 8 Diaro de Sesiones del Congreso de los diputados. Año 2006. VII legislatura. Número 660, 10/10/2006, p. 40. Disponible en: http://www.congreso.es/public_oficiales/L8/CONG/DS/CO/CO_660.PDF 9 El Presupuesto del Estado. Presentación del Proyecto de Presupuestos Generales del Estado. Página, 169-170.
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RTVE e internet: una relación fallida Los últimos diez años son los años del desarrollo de internet, pero son también los años críticos de televisión española: la crisis financiera se agrava, el intervencionismo político es cada vez más acusado y la programación desciende de calidad, por lo que se pierden credibilidad y legitimidad. En este contexto, la estrategia de internet de RTVE puede decirse que ha sido casi inexistente, especialmente durante los primeros 8 años, que coinciden con la gestión del partido popular (1996-2004). En febrero de 2000, se anuncia por Pío Cabanillas, entonces director del ente, el lanzamiento del portal de RTVE, con la intención de convertirlo en el mayor del mundo en lengua española en un plazo de dos años a través de una oferta de contenidos basada en ofrecer la información que genera el grupo de RTVE y contenidos adicionales específicos. La realidad fue muy distinta. El portal de internet de RTVE sufrió un cambio meramente cosmético; los contenidos informativos prometidos no aparecieron, y las mínimas funciones que ofrecía, como la información de la programación, estaban mal diseñadas y eran poco prácticas. La presencia en internet de RTVE está al nivel de una televisión local, porque los recursos que se dedican son insignificantes: tres personas atendían la web en horario de mañana. Los contenidos no se renovaban en semanas. La desatención a internet por parte de RTVE revela la magnitud de la crisis del operador público español. Con la nueva Directora General, Carmen Caffarel, la situación empezó a cambiar a finales de 2004, el portal, pasó a depender directamente de la dirección de Comunicación y Relaciones Institucionales, y se aumentó la plantilla a 12 profesionales, todos ellos de la plantilla de RTVE10. La información sobre la empresa y los programas se multiplicó, las actualizaciones eran más frecuentes, pero el atractivo del portal como fuente de información o entretenimiento era todavía mínimo. A mediados de 2005, se empiezan a ofrecer contenidos de Radio Nacional de España a través de streaming, y a finales de 2005 se ofrece a través de una tecnología de P2P, el canal de 24 horas de noticias, y el canal temático de documentales de TVE. La mejora fue evidente y las páginas vistas pasaron de 1,7 millones mensuales a 16 millones en marzo de 200611. Se empieza a definir además una estrategia, la de crear un canal nuevo y propio, diferente de los tradicionales, en el que quepan no sólo los contenidos de las emisiones 10
Declaraciones de Carmen Caffarel. Diario de Sesiones del Congreso de los diputados. Año 2004. VII legislatura. Número 172, 23/12/2004, p. 22. 11 Declaraciones de Carmen Caffarel. Diario de Sesiones del Congreso de los diputados. Año 2006. VII legislatura. Número 555, 26/4/2006, p. 53.
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tradicionales, sino informaciones y entretenimientos propios de internet. En este sentido, Carmen Caffarel, informó al Congreso a finales de abril de 2006, que la estrategia de futuro de RTVE en internet se basa en desarrollar nuevos contenidos: información meteorológica, bursátil, de tráfico, una guía electrónica de programación con posibilidad de suscripción por móvil, un buscador de contenidos multimedia, digitalización del fondo musical del sello de RTVE Música para poderlos vender en línea, asegurar la presencia de todos los programas de producción propia en la web, fomentar la accesibilidad, la renovación de la página comercial y la comercialización del archivo de Televisión y de Radio Nacional una vez esté digitalizado. Por último, RTVE ha decidido recientemente someterse a la auditoría de OJD para ofrecer de manera pública e independiente los datos de audiencia de internet. De cara al futuro y con la puesta en marcha de la nueva Corporación, el “Acuerdo para la constitución de la Corporación RTVE” (RTVE, 2006: 8-9), firmado entre sindicatos, dirección y SEPI, se recoge un apartado específico sobre multimedia e interactividad, en la que se estipula la creación de un área de Multimedia e Interactividad para gestionar la plataforma de internet de RTVE, así como para el desarrollo de nuevos proyectos de servicios multimedia e interactividad, “que permitan a la Corporación RTVE estar al mismo nivel que otros operadores públicos de televisión”. La idea es desarrollar nuevos servicios dirigidos a plataformas específicas, en coordinación con las áreas operativas de TVE y RNE para el suministro de contenidos. Los datos disponibles respecto a RTVE y su presencia en internet son mucho más limitados que los ofrecidos por la BBC. En la tabla 5 se puede comprobar como los principales puestos del ranking están dominados por los mismos actores que en el Reino Unido: Microsoft, con el Messenger, Google con su buscador, Yahoo! con su mensajería instantánea y el uso de las redes P2P con eMule. La situación de RTVE es bastante residual, y no es extraño que la Directora General, Carmen Caffarel, declarase en la comparecencia ante el Congreso del pasado abril, que RTVE lleva una década de retraso en internet. Para establecer un punto de comparación, el conjunto de webs de la Corporación Catalana de Ràdio i Televisió, registran unos valores superiores tanto en usuarios únicos, audiencia y tiempo medio por visita con una población 5 veces menor que la disponible para RTVE.
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Tabla 5: Usuarios, audiencia y tiempo medio de visita de los 10 principales sitios de web en los hogares españoles en septiembre de 2006 Empresa
Usuarios
Audiencia
únicos
Tiempo medio por visita
1. Microsoft
10,642
83.06
04:28:42
2. Google
10,452
81.58
00:46:55
3. Yahoo!
5,508
42.99
00:33:48
4. Emule-Project.net
4,911
38.33
01:19:30
5. Terra Networks
4,624
36.09
00:30:12
6. Prisacom
3,465
27.05
00:34:17
7. T-Online
3,437
26.82
00:09:33
8. Time Warner
3,317
25.89
01:19:54
9. eBay
3,002
23.43
00:47:38
10. Grupo Intercom
2,924
22.83
00:14:32
CCRTV
480
3.75
00:13:26
RTVE
269
2.10
00:03:58
Fuente: Nielsen /NetRatings, 2006
Aunque cada vez más, el dato de las páginas vistas está más discutido por los expertos en audiencias de internet, la muestra que se detalla en la tabla 6 permite señalar como la situación de RTVE en internet es muy inferior al potencial de un portal de información en castellano, lugar ocupado por la web del periódico “El Mundo”. Precisamente, según el histórico de OJD, el dato de RTVE del mes de setiembre de 2006 equivale al de octubre de 1999 de El Mundo”. Por tanto, RTVE no lleva una década de retraso, pero sí cinco años ante el líder de la información en castellano en internet.
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Tabla 6: Páginas vistas en millones septiembre 2006 BBC
2871
El Mundo
297
YouTUBE*
71
A3
40
Los40
27
CCRTV
23
RTVE
16
Microsiervos 2 * Páginas vistas sólo en España Fuentes: Nielsen/Net Ratings/OJD interactiva/BBC, 2006
Conclusiones La BBC posee una estrategia en la que reflexión constante de su propia misión le permite avanzar y liderar el futuro. Su inmensa potencia económica, le ha permitido liderar los movimientos en internet, con un replanteamiento del servicio público en la que la televisión deja de ser la organización central. Se trata, en palabras de su Director General, de ofrecer contenido de calidad “anywhere, anyplace, anytime” para ejercer una ciudadanía responsable (Thompson, 2006). Quizá esta oferta global esté todavía alejada de la realidad diaria, pero internet está ayudando a cubrir buena parte del consumo de información que se da en el puesto de trabajo. Además, el caso de la BBC también muestra que en el mundo digital el contenido necesita ser captado, editado y presentado por una marca de confianza, como bien señalan Ariño y Ahlert (2004: 401). Una situación que hasta ahora RTVE no ha sabido aprovechar. Un punto central para la BBC es el considerar internet no como un nuevo canal para promocionar sus canales de televisión o establecer una relación más estrecha con su audiencia, como hacen la mayoría de websites de las televisiones comerciales, ni tampoco como un mero suplemento de información o entretenimiento, sino como parte integral de su servicio público que demanda un pensamiento reflexivo y crítico acerca de nuevas formas de producir y diseminar el contenido. En este sentido innovador, cabe citar el proyecto de ‘Creative Archive’, que pone a disposición de los ciudadanos británicos el archivo de la BBC para usos no comerciales y que, según Graham Murdock es de capital importancia:
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“Es la innovación más importante en el servicio público desde su fundación al permitir a los televidentes no sólo ver programas sino re-editarlos e introducir segmentos propios lo que ofrece un estímulo enorme a la creatividad popular” (Murdock, 2005).
Esta iniciativa de la BBC sería la primera pieza de lo que denomina, Digital Commons, un espacio común en la red formado por instituciones públicas y la sociedad civil, donde los operadores públicos de televisión se erigen en nodo central del espacio. El caso de RTVE muestra que reformular los objetivos del servicio público de televisión es mucho más importante que meramente decidir cuánto dinero debe invertir en servicios de internet (Moragas y Prado, 2000). En este sentido, la rígida definición de operador de televisión —una institución que proporciona contenido audiovisual a un audiencia amplia— parece cada vez más carente de sentido, como señalan Ariño y Ahlert (2004). Por último, ¿el ínfimo desarrollo de la web de RTVE se explica y corresponde con el modelo con el modelo de sistema de medios partidista propio de la Europa mediterránea como plantean Hallin y Manzini (2004)? La respuesta es afirmativa. ¿Era inevitable? La respuesta es negativa. Como describen Prado y Fernández (2006), la estrategia multimedia de la CCRTV, el operador público catalán, muestra un comportamiento mucho más homologable al de la BBC. La presencia en internet es importante como hemos subrayado, superior a la propia RTVE, y ha conseguido posicionarse como referencia en el mercado de internet en lengua catalana. Al mismo tiempo, su grado de innovación se ve acrecentado por haber sabido desligar en una nueva empresa, “CCRTV interactiva”, con 60 empleados todas las operaciones de internet del grupo.
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La financiarización de los grupos de comunicación en España: el caso del grupo PRISA Dra. Nuria Almirón1
Abstract La presente comunicación tiene por objeto describir la creciente financiarización de los grupos de comunicación en España a través del caso del grupo PRISA, financiarización que se constituye en rasgo definitorio de la evolución reciente de los sistemas de medios en los sistemas capitalistas avanzados.
1. Breves notas sobre economía: ¿qué es la financiarización? El austriaco Rudolf Hilferding escribió hace ahora casi un siglo que la concentración económica estaba conduciendo al dominio de las finanzas en la economía. El estadio del capitalismo que describía Hilferding, autor de El capital financiero (1910), sigue vigente y, vista su evolución, su análisis se revela hoy tan agudo como certero. El inicio de la actual interconexión entre economía productiva y economía financiera queda ya perfectamente de manifiesto en este texto centenario.2 En El capital financiero Hilferding habla de las modernas sociedades anónimas, del imperialismo, del papel de los sindicatos y, muy especialmente, del rol de los bancos y de la concentración financiera. Para Hilferding, el desarrollo de las grandes sociedades anónimas es clave para entender la relación cada vez más estrecha entre banca e industria pues su principal rasgo, la separación entre propiedad y dirección, tiene efectos importantes en dos sentidos: por un lado incrementa la importancia en el sistema capitalista de los bancos como promotores de dichas sociedades a través del mercado de valores y, por otro, separa el capital industrial del financiero permitiendo que sea éste último el que ejerza el papel fundamental. «La expansión de la industria capitalista desarrolla la concentración de la Banca. El sistema bancario concentrado es también un motor importante para la consecución del grado superior de la concentración capitalista en los cartels y trusts», afirma Hilferding (1985: 245). El crecimiento de la industria no puede hacerse sin la banca quien, al fijar en la industria una 1
2
Universidad Autònoma de Barcelona (Departamento de periodismo, Facultad de Ciencias de la Información).
Éste no sería, obviamente, el primer análisis del capital financiero pero sí el primero desde Marx (en el libro tercero de El Capital Marx describe una teoría de la autonomía de las finanzas) que lo hacía en profundidad en el marco de una teoría de la interpenetración capital industrial/capital financiero.
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parte cada vez mayor de sus capitales, se convierte así en propietaria de buena parte de la industria. Así nace el capital financiero: «Llamo capital financiero al capital bancario, esto es, capital en forma de dinero, que de este modo se transforma realmente en capital industrial» (1985: 247-248, las cursivas en el original). El capital industrial, por su lado, es el capital productivo (medios de producción, fuerza de trabajo, beneficios), de modo que un capital que en realidad es virtual, el financiero (también llamado capital «ficticio»),3 se convierte en real. Como explica Pollin, una necesidad primaria de cualquier orden capitalista es la creación de flexibilidad —o liquidez—, que permite a «los capitalistas» maximizar sus oportunidades de beneficio sin tener que comprometerse con una línea de negocios particular. Los mercados e instituciones financieras satisfacen precisamente esa necesidad pero, como explicó Keynes, los mercados financieros también propician el comportamiento especulativo a corto plazo de los inversores, porque rompen el vínculo entre la propiedad de una empresa y la gestión de sus actividades productivas de forma que se obtengan beneficios (Pollin, 2000: 133). Con la expansión de la industria crece el poder de la banca y nace una ideología conservadora «enteramente opuesta a la del liberalismo» y cuya descripción, en palabras de Hilferding, parece hoy casi un calco exacto de la hegemonía mundial actualmente ejercida por el capitalismo estadounidense. La cita es larga pero entendemos que ilustradora:
El capital financiero no quiere libertad, sino dominio; no le gusta la independencia del capitalista individual, sino exige más bien su sujeción; detesta la anarquía de la competencia y aspira a la organización, ciertamente sólo para poder reanudar la competencia en un nivel más alto. A fin de lograrlo, y, al mismo tiempo, para conservar y acrecentar su poder, necesita que el Estado garantice el mercado nacional mediante la protección y facilite, de esa forma, la conquista de los mercados exteriores. Necesita un Estado políticamente poderoso que no tenga necesidad de guardar consideraciones a los intereses opuestos de otros Estados al formular su política comercial. Necesita un Estado fuerte que reconozca los intereses del capital financiero en el exterior y use del poder político para arrancar tratados ventajosos a los Estados más pequeños; un Estado que pueda ejercer su 3
Según Harvey (1982: 296), Marx afirma frecuentemente que, en el curso de una crisis, el capitalismo se ve obligado a abandonar las «ficciones financieras» y regresar al mundo del dinero en efectivo, a las eternas verdades de la base monetaria. Pero serán autores posteriores a Marx, como Hilferding, quienes utilicen la expresión capital ficticio «como un concepto más concreto e institucional, con el objeto de describir el hecho histórico de la unificación del capital productivo con el bancario, bajo la hegemonía de este último» (Carcanholo y Nakatani 2000: 151-170).
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influencia en todo el mundo a fin de poder convertir el mundo entero en zona de inversión. El capital financiero, por último, necesita un Estado que sea bastante fuerte para realizar una política de expansión y para adquirir nuevas colonias. Mientras que el liberalismo era contrario a la política de intervención del Estado y quería asegurarse su propia dominación contra el poder más antiguo de la aristocracia y de la burocracia (…), el capital financiero exige una ilimitada política de fuerza; […]» (Hilferding, 1985: 372).
Al final del proceso de expansión industrial y de concentración de la banca, unas pocas entidades financieras tienen en sus manos la mayor parte de la producción social, constituyéndose en oligarquía (más tarde, durante el período de entreguerras, Keynes hablaría del Parlamento de los Bancos para referirse a ella). Las consecuencias de esto son manifiestas: «el poder económico significa, al mismo tiempo, poder político», afirma Hilferding, y cuanto más fuerte sea la concentración en la esfera económica, tanto más ilimitada será la dominación que esta ejercerá sobre el Estado (Ibid.,1985: 413). Por ello, para Hilferding el capital financiero en su perfección significa el grado más elevado de poder económico y político en manos de la «oligarquía capitalista». Y la prueba del triunfo del capital financiero es el triunfo de sus impulsores (el «dominio imperialista»), que no fueron otros que los angloamericanos (Tabb, 1999: 3). El retroceso hasta Hilferding merece la pena en la medida que permite comprender la procedencia de las actuales relaciones entre economía productiva y economía financiera —o financiarizada, como la define André Orlean, cuando explica que una parte cada vez mayor de la actividad del sistema bancario está concentrada en los mercados financieros (Orléan, 1999: 9). Diversos son los autores, especialmente en la segunda mitad del siglo XX, que reconocen que lo que ocurrió hace 100 años allanó el camino para llegar hasta hoy. Por ejemplo, Paul M. Sweezy (1994) habla también del incremento de la primacía financiera producido en las dos últimas décadas del siglo XX y, en concreto, del desarrollo de una superestructura financiera relativamente independiente, y asentada por encima de la economía mundial, formada por bancos e intermediarios completamente interconectados entre sí. El resultado de ello es que «the real economy, the one that produces goods and services that enable people to live and reproduce, is owned by a tiny minority of oligopolists» (Sweezy,1994: 8). Para este autor, la relación invertida que se produce entre la economía real y la financiera es la clave para entender las actuales tendencias mundiales. Como Hilferding, Sweezy reconoce el poder político último del poder económico: el poder real de corporaciones y gobiernos, afirma, está en manos del sistema financiero.
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Hoy en día, prácticamente todos los autores aceptan que una de las características básicas que define el capitalismo contemporáneo es su financiarización —aunque sólo la perspectiva crítica acepta que este tipo de capitalismo cause miseria e injusticia—. François Chesnais (2001) habla de un «régimen de acumulación dominado por lo financiero» o de «régimen de acumulación financiarizado». Michel Aglietta (1998) se refiere al «régimen de crecimiento patrimonial» mientras André Orléan (1999) es uno de los primeros, si no el primero, en utilizar el término financiarización. La mayoría de estos autores reconoce que la idea de que pueda existir una situación dominada por el capital-dinero está tomada de Marx pero, debido a que éste emprendió el desarrollo de esta problemática en una fase todavía muy germinal de la acumulación financiera, es preciso remitirse al análisis del capitalismo financiero que hace Hilferding. Desde el análisis de Hilferding hasta hoy el mundo ha experimentado un periodo de keynesianismo socialdemócrata, instaurado a raíz de la grave crisis de 1929, que supuso un relativo receso en la imposición de la ortodoxia financiera y los intereses que ésta representaba y que llevan a François Chesnais a hablar de «lapso de sesenta años» del capital financiero concentrado (2001). Hoy, sin embargo, la hegemonía de las finanzas es tal que algunos vuelven a hablar de «autonomización» del sistema financiero (Duménil y Lévy, 2001). La creciente importancia de los mercados de capitales, el aumento de los costes del crédito o los cambios en el patrón del gasto público se interpretan como expresiones del triunfo de la esfera financiera sobre los sectores productivos del capital y del trabajo. Así pues, el rol actual de la economía financiera dentro de la economía global es de dominio en la medida en que se confirma que el capital que se valoriza bajo la forma de inversión financiera y que comparte intereses con el beneficio empresarial aparece como la fracción dominante del capital, la que se muestra capaz de marcar la pauta de las formas y el ritmo de acumulación. Los efectos de este dominio son claros para la economía productiva no financiera: la configuración del régimen financiarizado hace que los mercados financieros hayan tomado el relevo de las políticas económicas y de la negociación colectiva propia del fordismo. Y ello está sucediendo paulatinamente en todos los sectores industriales, también en las industrias culturales. Esta realidad supone una inversión de los supuestos a los que debe servir el sistema financiero. Esta alteración, o fracaso de los objetivos del sistema financiero, se refleja con claridad en el creciente desfase entre los indicadores de la actividad económica y de la actividad financiera. Las empresas se financiarizan (tomando la cotización bursátil como
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principal referente de resultados) y la desregulación del sistema financiero permite que el crédito financie actividades no productivas y que, incluso, muchas empresas destinen parte de sus réditos no a inversiones productivas sino a la especulación financiera. De forma que se llega a «la pretensión ilusoria que asigna al dinero la propiedad de ser, por si mismo, generador de valor en el ámbito de la producción» (Hallary, 2003: 85). A pesar de que el sector industrial, representado por los grandes grupos transnacionales, sigue ocupando un lugar muy destacado en el sistema económico, «ya no es el capital industrial el que marca la pauta del proceso general» (Chesnais y Plihon, 2003: 47 y 49). La investigación realizada por la autora de esta comunicación4 pone en evidencia que ello está sucediendo también en el sistema de medios en España.
2. La financiarización de los grupos de comunicación en España desde 1976 El sistema mediático español ha experimentado un proceso de concentración notable — entendiendo por tal su definición clásica de aumento de presencia de una empresa o un reducido grupo de empresas en un mercado dado—, especialmente desde la Transición, con empresas crecientemente integradas pero poco internacionalizadas y con una presencia también en aumento, cada vez más importante, de capital y sociedades no españolas. En 2006, apenas una decena de grupos aglutinan casi la totalidad del negocio haciendo que sea posible hablar de un fenómeno de oligopolización del mercado desde la transición democrática y de duopolio desde la década de los noventa. Ni los procesos de liberalización ni las nuevas posibilidades abiertas por las tecnologías de la información y la comunicación han alterado el proceso de acumulación, por parte de cada vez menos agentes, de los ingresos y beneficios del sector, tal y como muestra el análisis de la evolución del sistema de medios entre 1976 y 2004 (Almiron, 2006: 167-218). El fenómeno de concentración que ha experimentado el sector de los medios de comunicación en España no responde, sin embargo, a ningún rasgo coyuntural propio sino que se enmarca en una tendencia general que también afecta aquí a pesar del desfase y déficit económico, político y social que experimenta el país hasta muy recientemente. En España, como en el resto de Europa, diversas son las razones que conducen a los procesos de concentración pero dos son las causas principales que ulteriormente se observan como 4
Investigación correspondiente al trabajo de tesis doctoral defendido por la autora bajo el título: «Poder financiero y poder mediático: banca y grupos de comunicación. Los casos del SCH y PRISA (1976-2004)» el 14 de julio de 2006 en la facultad de Ciencias de la Comunicación de la Universidad Autónoma de Barcelona y del que se deriva esta comunicación.
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determinantes para ésta última y de las que, en buena parte, derivan las restantes: nos referimos a los procesos de desregulación y de cambio tecnológico (Bustamante, 2003; De Miguel, 2003), ambos fenómenos intrínsecamente interconectados. Esta concentración ha supuesto, desde la Transición, la creación de conglomerados o grupos de comunicación en España de cuyo desarrollo han derivado un conjunto de intereses y necesidades en el ámbito financiero que se convierten en crecientemente dominantes para la estructura y funcionamiento de los mismos. Los objetivos de los grupos de comunicación españoles se reducen en esta era de desintermediación y globalización a una única razón: ser competitivos. Pero la persecución de objetivos de competitividad menoscaba el valor cultural de los productos del sistema de medios y lo aleja de la responsabilidad social del ejercicio del periodismo —labor principal de los grupos de comunicación—, aproximándolo a lo que Kovach y Rosenstiel denominan un «periodismo de mercado» que supone la sumisión de la empresa periodística a criterios mercantilistas y amenaza con disolver al periodismo independiente en la lógica empresarial movida exclusivamente por criterios comerciales (Kovach y Rosenstiel, 2003: 44). Esta lógica disasocia cada vez más a la principal labor de los medios de comunicación «de cualquier noción de responsabilidad cívica» (Kovach y Rosenstiel, 2003: 41). Y esta lógica también les lleva a perseguir unos objetivos que se convierten en subnecesidades básicas para todos ellos: el aumento de tamaño, el crecimiento, la concentración de activos y la diversificación de productos y actividades (Almiron, op. cit). Las necesidades financieras derivadas de lo anterior son múltiples y, partiendo de las conclusiones a las que llegan los diferentes autores citados —especialmente De Miguel (2003) y Bustamante (2003) para la convergencia experimentada por los grupos de comunicación a nivel global—, pueden sintetizarse en necesidades operativas y estrategias. Cada una de ellas con sus respectivos subgrupos de necesidades internas y externas. Necesidades financieras de los grupos de comunicación Operativas Internas Externas
Eficiencia corporativa Expansión
Estratégicas Modelos
de
autofinanciación Alianzas estratégicas
Fuente: Elaboración propia a partir Bustamante (2003), De Miguel (2003) y otros.
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Y de las anteriores necesidades se derivan los respectivos intereses de los grupos de comunicación en el sistema financiero, a saber, el sistema financiero como objeto informativo, como socio industrial y como cliente, anunciante y prestamista. El análisis de necesidades e intereses financieros del sistema de medios español desde la Transición hasta hoy pone en evidencia la relevancia de ambos aspectos en la actividad empresarial de los grupos de comunicación españoles y la creciente importancia que el sistema financiero, los indicadores financieros y el capital financiero han asumido en su operativa. El grado de financiarización —esto es, de predominio de los anteriores factores sobre la actividad propiamente productiva de la empresa de comunicación— obviamente varía en función del tamaño de los actores corporativos. Pero la tendencia en los grandes grupos es hacia la financiarización tal y como demuestra el estudio del caso del grupo PRISA5 entre 1976 y 2004 que se presenta aquí.
3. El caso del grupo PRISA El grupo PRISA ha experimentado desde 1976, año de lanzamiento de El País, un crecimiento notable que le ha convertido en el primer grupo de comunicación en España en ingresos, en volumen de endeudamiento y en plantilla. También en beneficios, aunque en 2004 fue superado puntualmente por Vocento. El liderazgo del grupo PRISA, seguido cada vez más de cerca por el grupo Vocento, se produce en un mercado crecientemente concentrado y tendente al duopolio. De los 15 grupos de comunicación existentes en 1998 (Reig, 1998) apenas 10 mantienen una envergadura relevante en 2006 y sólo dos grupos, PRISA y Vocento, aglutinan más de la mitad de los ingresos y casi tres cuartas partes de los beneficios. Desde 1976 hasta hoy, momento coincidente con el nacimiento y expansión del grupo de comunicación y con los procesos de liberalización, concentración y digitalización del sistema de medios, las necesidades e intereses del grupo PRISA en el ámbito financiero se han acrecentado notablemente. Necesidades financieras del grupo PRISA Tipo de necesidad Para la diaria
5
operativa
Costes más destacados Factura tecnológica, infraestructuras e instalaciones, propiedad industrial, concesiones administrativas, publicidad y marketing, etc.
En esta comunicación se utiliza la denominación grupo PRISA para referirse al grupo consolidado y PRISA para referirse a la sociedad matriz.
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Costes de captación y gestión de abonados Costes de transmisión Costes de personal Para competitividad
Para la expansión
la
Costes de programación audiovisuales (cine y deporte) disparados por las guerras del fútbol y digital: compromisos de pagos por más de 943, 5 millones de euros 1976-2004: un mínimo de 816 millones de euros en inversiones en participaciones
Fuente: Elaboración propia (Almiron, 2006).
De las tres principales necesidades financieras del grupo PRISA —operativas, para la competitividad y para la expansión— destacan los compromisos de pago alcanzados en momentos puntuales (943,5 millones de euros en 1997) así como la inversión en participaciones acumulada que se ha podido determinar (816 millones de euros)6 Cifras todas ellas que le han generado una enorme dependencia y endeudamiento financiero bien directamente, bien a través de sus sociedades filiales —especialmente Sogecable—. Estas necesidades permiten detectar cuáles han sido los intereses financieros del grupo PRISA y observar su creciente peso e influencia en la estrategia global del grupo. El elemento, sin duda, más importante es el endeudamiento del grupo, pero no es menos notable la presencia de inversores financieros en el accionariado de las empresas del grupo, la presencia de banqueros en sus consejos de administración, las alianzas corporativas con socios financieros y el uso de entidades financieras como intermediarios obligados en determinadas operaciones (Almiron, 2006: 455-496). El peso creciente que todos estos intereses relacionados con el ámbito financiero ha ostentado en la actividad del grupo PRISA en los últimos años permite afirmar que se trata de un grupo de comunicación crecientemente financiarizado. Ante la imposibilidad de detallar todos los vínculos aquí, mostramos a continuación una síntesis de aquellos elementos que más han contribuido a la financiarización de la actividad del primer grupo de comunicación español entre 1976 y 2004, periodo objeto de estudio de la investigación de la que se extraen estos datos. Rasgos de la financiarización del grupo PRISA Rasgo Característica Deuda financiera en aumento Endeudamiento
6
No son de dominio público todas las inversiones realizadas en participaciones, fusiones y adquisiciones (ver Almiron, 2006: 453).
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Instrumentos financieros Valor de la compañía
Proliferación uso
Distanciamiento del valor de la compañía en términos contables y en los mercados financieros Influencia de las entidades financieras a Consejo de través de representantes administración Entrada de actores de la financiarización Estructura de global propiedad Estatutos 1989 (f) Objeto social Fuente: Elaboración propia (Almiron, 2006) 3.1 Endeudamiento El primer y más evidente vínculo que mantiene el grupo PRISA con el sistema financiero y, más en concreto, con la banca, es en su calidad de receptor de los recursos de capital que las entidades de crédito puedan prestarle. Las entidades financieras son para el grupo PRISA, en primera instancia, prestamistas de recursos financieros. En la última etapa del periodo estudiado, la de mayor expansión, es cuando la deuda del grupo experimenta su mayor crecimiento: Deuda total del grupo PRISA 1999-2004 (Miles de euros) Deuda total con Crecimiento Deuda total con % Deuda acreedores a total anual entidades de EC Sobre corto y largo en % crédito deuda plazo total 1999 98.445 35.004 35,55 2000 409.943 316,42 304.157 74,19 2001 567.342 38,40 439.830 77,52 2002 538.491 (5,09) 459.446 85,32 2003 620.830 15,29 389.663 62,76 2004 652.526 5,11 400.423 61,37 Fuente: Elaboración propia a partir de informes anuales (Almiron, 2006).
Como puede observarse, entre 1999 y 2004 la deuda global agregada del grupo PRISA se multiplica casi por siete y la deuda sólo con las entidades de crédito por once. Si bien el peso relativo de la deuda con las entidades de crédito se reduce algo al final del periodo, ésta sigue significando más de la mitad de toda la deuda del grupo en 2004.
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Deuda con entidades de crédito del grupo PRISA 1999-2004 (Miles de euros) Largo plazo Corto Plazo Total Crecimiento (% Sobre total) (% Sobre total) anual en % 1999 28.280 (80,79) 6.724 (19,21) 35.004 2000 96.304 (31,66) 207.853 (68,34) 304.157 768,92 2001 305.313 (69,42) 134.517 (30,58) 439.830 74,97 2002 303.997 (66,16) 155.449 (33,84) 459.446 4,46 2003 282.676 (72,54) 106.987 (27,46) 389.663 (15,19) 2004 255.832 (63,89) 144.591 (36,11) 400.423 2,76 Fuente: Elaboración propia a partir de informes anuales (Almiron, 2006).. El desglose de la deuda del grupo PRISA con las entidades de crédito entre 1999 y 2004 muestra un incremento muy marcado entre 1999 y 2001 y un cierto estancamiento en los años posteriores. Sin embargo, las cifras consolidadas del grupo no reflejan el verdadero endeudamiento del mismo pues no incluyen la deuda de Sogecable, sociedad filial no consolidada todavía con el grupo en esas fechas. Deuda de Sogecable 1989-2004 (Miles de euros) Total Deuda Crecimie Deuda con Crecimie % Deuda (corto y nto anual entidades de nto anual con EC largo plazo) en % crédito en % sobre total deuda 1989 2.991 No se indica 1990 43.236 1.345,5 No se indica 4 1991 34.625 (19,92) No se indica 1992 N/d N/d 1993 35.977 No se indica 1994 54.620 51,82 No se indica 1995 55.387 1,40 No se indica 1996 275.638 397,66 36.201 13,13 1997 432.968 57,08 118.249 13,18 27,31 1998 441.167 1,89 138.479 17,11 31,38 1999 393.228 (10,87) 62.841 54,62 15,98 2000 473.861 20,51 110.200 75,36 23,25 2001 622.316 31,33 263.141 139,17 42,28 2002 735.526 18,19 269.564. 2,44 36,64
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2003 1.977.827 168,90 1.123.444 316,76 56,80 2004 1.778.058 10,10 1.154.992 2,81 64,95 Fuente: Elaboración propia a partir de informes anuales (Almiron, 2006). Entre paréntesis los crecimientos negativos. La anterior tabla muestra cómo se multiplica el endeudamiento general del grupo Sogecable a lo largo de su historia. Desde su nacimiento hasta 2004, la deuda general agregada aumenta más del 9.000% y, dentro de ella, la deuda con las entidades de crédito crece más del 3.000% entre 1996 y 2004. Y estas deudas declaradas no representan todo el riesgo financiero asumido por PRISA y Sogecable, pues ambas sociedades avalan y garantizan buena parte de las deudas contraídas por sus respectivas filiales.
3.2. Uso de instrumentos financieros La financiarización, esto es, el protagonismo de lo financiero sobre lo productivo, del grupo PRISA se manifiesta también especialmente a través del uso creciente de instrumentos financieros para alcanzar los objetivos empresariales del grupo. Obviamente, el primero de estos instrumentos es la cotización en bolsa de dos de sus principales empresas, la filial Sogecable —Oferta Pública de Venta en 1999— y la sociedad matriz, Promotora de Informaciones, S.A. —Oferta Pública de Venta en 2000—. Pero también, y más especialmente, se muestra en el uso de determinados instrumentos propios de la actividad financiarizada, en concreto: la implantación corporativa en paraísos fiscales para el desarrollo de determinadas actividades; la llamada titulización; las inversiones puramente financieras del grupo de comunicación; y la incentivación de la plantilla mediante opciones sobre acciones. El grupo PRISA hace todavía un uso limitado de todos ellos pero su presencia creciente en la operativa de sus empresas es un síntoma muy significativo de su grado de financiarización. a) Uso de los centros financieros extraterritoriales Cómo describe Hernández Vigueras en su obra Los paraísos fiscales (2005), el desarrollo de centros financieros extraterritoriales (comúnmente denominados paraísos fiscales)7 «va parejo con la integración de los mercados financieros de todo el mundo y con el predominio de las finanzas sobre la economía productiva y sobre la vida
7
Siguiendo a Hernández Vigueras, incluyen a todos aquellos enclaves que «mediante regímenes jurídicos opacos y reglamentaciones muy laxas, ofrecen exenciones y beneficios atractivos para las transacciones financieras de personas acaudaladas o de sociedades registradas que ni residen ni comercian en ese territorio» es decir, que «realizan una actividad offshore o extraterritorial, desligada de la economía local» (Hernández Vigueras, 2005: 67).
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social y política en general» y constituye un rasgo elemental de la financiarización de la economía actual (Hernández Vigueras, 2005: 69). Por esto mismo, el grado de financiarización de una determinada corporación también se hace evidente a través del uso que ésta hace de las facilidades extraterritoriales de la economía financiera global. En el caso del grupo PRISA los informes anuales de 1999 a 2004 señalan que el grupo, en su expansión internacional, ha empezado a ubicarse en plazas financieras que ofrecen, en mayor o menor medida, beneficios financieros en forma de rebajas fiscales, menor control y/o menor transparencia para los no residentes. En concreto algunas de las plazas indicadas —que constituyen paraísos fiscales o plazas catalogadas como IBF (International Banking Facilities)8— son República de Panamá, Delaware, Florida, Andorra La Vella, Holanda y Luxemburgo (Almiron, 2006: 486490). b) Inversiones financieras Otro rasgo de financiarización que comparten muchas sociedades no financieras es el desarrollo paralelo a su actividad productiva de una creciente actividad inversora financiera. Las grandes corporaciones se convierten en grandes inversores financieros, que, beneficiándose de la gran movilidad del capital, pueden lograr incluso una reducción de la carga impositiva utilizando la llamada ingeniería fiscal, como describe Hernández Vigueras (2005: 14), y se convierten así mismo en proveedoras de recursos de capital para sus filiales. Estas sociedades consideran efectivamente como parte de su objeto social la actividad en los mercados de capitales. Entre las inversiones financieras destacadas por los informes anuales del grupo PRISA están las participaciones en sociedades puestas en equivalencia, la cartera de valores a largo plazo y propiamente las inversiones financieras temporales. Entre 1999 y 2004, el saldo de las inversiones del grupo PRISA ha ido decreciendo a medida que aumentaba el inmovilizado financiero (especialmente con los préstamos y créditos a filiales).
Inversiones financieras temporales del grupo PRISA 1999-2004 (Millones de euros)
8
International Banking Facilities o IBF son enclaves que ofrecen facilidades bancarias internacionales para el asentamiento de bancos internacionales pero también para la atracción de inversiones corporativas (Chrystal, 1984).
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Tipo de inversión
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Saldo en sociedades puestas en 97,3 equivalencia
100,4
113,7
85,4
4,7
96,8
Saldo en cartera de 29,8 valores a largo plazo
56,7
62,5
49,0
12,5
9,1
Inversiones financieras temporales
132,2
98,3
66,0
32,9
N/i
N/i
Total
259,3
255,4
242,2
114,8
17,2
105,9
Fuente: Elaboración propia a partir de informes anuales (Almiron, 2006). N/i: No se indica.
A pesar de la disminución, puede observarse que el volumen de la inversión financiera es considerable, manteniéndose por encima de los 100 millones de euros en 2004. c) Titulización Otro rasgo característico de la financiarización de la economía global y, con ella, de los grandes grupos empresariales, es el uso creciente de los instrumentos financieros (así como la aparición de nuevos instrumentos). La titulización (securitization) —que puede ser definida como la actividad «mediante la cual una empresa puede movilizar activos no líquidos emitiendo bonos o títulos negociables en los mercados de capitales, consiguiendo así liquidez y, por tanto, financiación» (Hernández Vigueras, 2005: 27)— es uno de estos nuevos instrumentos financiarizadores (en la medida que permite convertir derechos de crédito que no son negociables por su propia naturaleza, en títulos o valores bursátiles que se negocian en los mercados financieros). En 2003, el grupo PRISA aumentaba su endeudamiento financiero acudiendo a la titulización. En concreto, el instrumento elegido era la emisión de bonos canjeables por acciones ordinarias que la compañía poseía en autocartera. Esta emisión de deuda se hacía mediante el lanzamiento de bonos garantizados convertibles en acciones de la propia firma por un importe de entre 165 y 175 millones de euros, de los que se colocaron finalmente 162,3. Estos bonos canjeables representaban en torno al 5% del capital social de PRISA y su vencimiento era el año 2008. La operación —dirigida por Goldman Sachs International y Morgan Stanley & Co. International Limited— se llevó a cabo desde una filial del grupo radicada en Holanda, PRISA Finance (Netherlands), B.V. La elección de esta filial, creada expresamente para esta emisión, perseguía la intención de realizar esta oferta pública fuera de España. El grupo solicitó
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la admisión a negociación en la Bolsa de Valores de Luxemburgo de los citados bonos. También en 2003 acudía a este instrumento financiero uno de los socios del grupo PRISA en Sogecable, Vivendi Universal, S.A., que en septiembre anunciaba la emisión de bonos convertibles en acciones ordinarias de Sogecable, S.A. por un importe aproximado de 615 millones de euros —en el marco de su salida del accionariado de Sogecable—. Aunque el emisor de esta deuda era Vivendi Universal, S.A., la incluimos aquí como muestra de la financiarización del grupo PRISA, en la medida que las acciones de una de sus sociedades no sólo permiten la refinanciación y endeudamiento propios sino también los ajenos. d) Opciones sobre acciones Finalmente, las opciones son un tipo de instrumento financiero derivado que, como su propio nombre indica, aquel que las posee tiene la oportunidad de hacer algo en el futuro con ellas. La opción está unida a un activo subyacente que puede ser de diferentes tipos pero, de entre los cuales, probablemente el más conocido sea sobre acciones. Las opciones sobre acciones (stock options) constituyen, entre otras cosas, una forma habitual de premio a los directivos de las corporaciones. Ofrecer opciones sobre acciones de una compañía supone ofrecer la posibilidad de comprar esas acciones a un precio previamente determinado y en una fecha determinada. Si el precio de las acciones ha subido en el mercado durante el periodo, los poseedores de opciones podrán ejercitar las mismas si así lo desean. Las opciones sobre acciones suponen la financiarización del trabajo, en la medida que financiarizan su retribución. La Junta General de Accionistas de PRISA celebrada el 18 de mayo de 2000 aprobó un programa de opciones para la adquisición de acciones de la Sociedad con el propósito de facilitar la presencia como socios de directivos de la misma y de su grupo de empresas y de profesionales de especial relevancia a él vinculados que llevaran a cabo actividades para las sociedades del Grupo de forma recurrente. El Consejo de Administración fijó los criterios para llevar a cabo su ejecución y procedió a determinar los destinatarios del plan. El número de opciones permitía adquirir, como máximo, un 1% del capital social de PRISA (2.188.125 acciones). Cada opción permitía adquirir una acción. El sistema se aplicó en varios tramos de conformidad con los criterios generales aprobados por el Consejo. El plazo de ejercicio del plan era de tres años desde el momento de concesión de cada tramo de opciones. Las opciones
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concedidas en el primer y segundo tramo de opciones, por las que se realizó el desembolso de la prima a 31 de diciembre de 2001 ascendieron a 895.000 y afectaron a 391 beneficiarios. Las acciones destinadas a este fin se tenía previsto que provinieran de la autocartera mantenida por la Sociedad. El 15 de julio de 2004, PRISA comunicó a la CNMV la aprobación de un Plan de Retribuciones consistente en otra entrega de opciones sobre acciones de la Sociedad a los consejeros ejecutivos y directivos del grupo PRISA, conforme a la autorización concedida por la Junta General Ordinaria de 15 de abril de 2004. Se acordó ofrecer un total de 185.000 a opciones a Consejeros ejecutivos de la Sociedad y 1.483.500 opciones a directivos del grupo PRISA. Cada opción daba derecho a comprar o suscribir una acción de la sociedad y podían ejercerse a partir del 31 de julio de 2007 hasta el 31 de enero de 2008.
3.3. Cotización en bolsa y valor de la compañía Como indicábamos antes, la cotización en bolsa de parte de la propiedad de una compañía aumenta su grado de inserción en el capitalismo financiero global, en la medida que incorpora a sus objetivos empresariales objetivos vinculados a expectativas puramente especulativas. En concreto, para el grupo PRISA, sus ofertas públicas de venta han tenido diversas consecuencias importantes. La primera consecuencia es la relativa a los efectos en la estrategia empresarial, aquí especialmente relevantes por tratarse de un grupo de comunicación con empresas dedicadas al periodismo y a la información. Que una parte importante de la propiedad de PRISA y Sogecable esté en manos de accionistas privados a través de los mercados bursátiles significa, para la compañía, una responsabilidad superior a la hora de atender a los resultados económicos del grupo. Si bien hasta antes de las ofertas publicas de venta el grupo también tenía responsabilidades ante sus accionistas, estos podían considerarse eminentemente industriales, esto es, implicados a largo plazo en la actividad de la compañía por intereses empresariales entre los que cabe incluir la vocación empresarial y el interés por la actividad periodística —siendo la rentabilidad un objetivo a largo plazo—. Con la venta de parte de la propiedad en el mercado bursátil, los intereses se invierten y la rentabilidad deja de ser un objetivo a largo plazo. Todo lo cual conduce a una modificación de las estrategias y de las estructuras productivas: tal y como describe Isabelle Hallary, la presión que ejercen sobre las empresas los mercados de capital y los accionistas, cuya inversión sólo busca la rentabilidad
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financiera, obliga a reorientar las estrategias para obtener beneficios a más corto plazo (Hallary, 2003: 88). La cotización bursátil de las dos empresas también significa, para el grupo PRISA, su incorporación a un entorno de mayor inestabilidad y competitividad. Mayor inestabilidad por los propios rasgos del capitalismo bursátil, impredecible y fluctuante frente al capitalismo puramente industrial, y mayor competitividad porque la empresa ya no tiene sólo ahora que competir en los terrenos que le son propios —comunicación e información—, sino también en los mercados de capitales, para conseguir recursos —en una economía crecientemente financiarizada obtener el apoyo del capital financiero requiere una considerable inversión en tiempo, dinero y esfuerzo si se quiere tener éxito—. De forma que buena parte de la dedicación y estrategias de esta nueva etapa de PRISA deben reorientarse hacia esta realidad, en detrimento de las estrategias que le son propias y afines. Esta reorientación queda perfectamente de manifiesto en el apartado f de los nuevos Estatutos de 1989, tal y como señalamos en el punto 3.6. En tercer lugar, la salida a bolsa también supone para el grupo PRISA lo que Hallary define como la «sobrevaloración de las empresas que cotizan en los mercados financieros» (2003: 84) y que diversos autores, entre ellos la citada autora francesa, han evaluado específicamente para algunos mercados.9 Esta patente sobrevaloración supone que los indicadores de la actividad económico-productiva y de la actividad financiera de las empresas han reflejado un creciente desfase en las dos últimas décadas, algo que, como veremos, le ha sucedido desde el primer momento al grupo de comunicación que nos ocupa, cuya situación financiera real —de gran endeudamiento— no se encuentra siempre reflejada en su valor bursátil. La disociación entre el valor de mercado de la compañía —aquel marcado por la cotización bursátil— y el valor efectivo de la misma —el mostrado por los indicadores de rentabilidad y beneficio— constituye así pues un elemento clave para valorar el grado de financiarización de una corporación. En el caso del grupo PRISA, un análisis de la capitalización bursátil entre 2000 y 2004 de sus dos sociedades cotizadas —Promotora de Informaciones y Sogecable— muestra gráficamente esta desunión entre indicadores.
9
Hallary por ejemplo detalla que la capitalización bursátil de Wall Street representaba el 40% del PIB de Estados Unidos en 1980, el 63% en 1994 y el 145% en 1997 (Hallary, 2003: 84).
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Beneficios, deuda y capitalización bursátil de Sogecable, S.A. y Promotora de Informaciones, S.A. (2000–2004)
2000%
1737%
1500%
1043% 1000%
352%
500% PRISA (2000-2004) Sogecable (1999-2004)
19%
59%
50%
0%
-34% -500%
Beneficios netos
Total deuda
Deuda con entidades de crˇdito
Capitalizaci—n bursatil
-1000%
-1500%
-1470%
-2000%
Fuente: Elaboración propia (Almiron, 2006) Entre 2000 y 2004, los beneficios netos de Promotora de Informaciones ascendieron un 19% mientras la deuda total lo hacía un 59%. Su capitalización bursátil al término de ese periodo había descendido un 34%. En el caso de Sogecable, no obstante, con una reducción del 1470% de los beneficios y un aumento del 352% de la deuda total, la acción se revalorizó un 50% entre 1999 y 2004.
3.4. Consejo de administración Las entidades financieras han participado accionarialmente en distintas sociedades del grupo PRISA a lo largo de la historia de éste, siendo sus vínculos corporativos más estrechos con la filial Sogecable, S.A. y los más personales y veteranos con la matriz. En el caso de la matriz, es posible localizar diversos accionistas (Oscar Alzaga, Gregorio Marañón, Alvaro Noguera, Alberto Oliart, Fernando Pérez, Isabel de Polanco) de Promotora de Informaciones, S.A. vinculados a la Banca (Bancos Urquijo, Valencia, Hispano Americano, Banif, Banesto y Occidental). Mientras que cuatro han sido las entidades bancarias que han participado en Sogecable desde sus inicios: el BBVA (a través de Corporación General Financiera, S.A.), el
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grupo March (a través de Inversiones Artá, S.A. y de la sociedad Deya, S.A.,10 pertenecientes ambas a Corporación Financiera Alba, S.A., el holding de inversiones de los March, y Alba Inmobiliaria, S.A.), Bankinter y Caja Madrid (a través de Corporación Financiera Caja de Madrid, S.A.). La presencia de representantes financieros, bien sea a título individual o corporativo, en los consejos de administración de los grupos de comunicación supone un estrechamiento de los lazos de estos últimos con el capital financiero que facilita las alianzas en proyectos conjuntos y la obtención de recursos de capital por parte de los grupos de comunicación. Pero, sobre todo, supone la máxima proximidad con aquellos actores más proclives a promover un uso creciente de instrumentos financieros, como los anteriormente citados, entre los grupos de comunicación, en la medida que son las entidades financieras los intermediarios necesarios para buena parte de ellos. En el caso de PRISA, sólo con las dos Ofertas Públicas de Venta realizadas por el grupo, las entidades financieras intermediarias se embolsaron más de 45 millones de euros en concepto de comisiones.
3.5. Estructura de propiedad A pesar del carácter familiar de la propiedad del grupo PRISA, en fechas más recientes, y desde la oferta pública de venta de las principales sociedades del grupo, éste ha experimentado una importante penetración de actores financieros clásicos del proceso de financiarización global. En efecto, la financiarización de una sociedad también puede medirse por el grado de interés que suscita entre los bancos dedicados a la gestión de fondos de pensión e inversión, los llamados bancos custodios —por su custodia de valores para terceros clientes—. Estas entidades, especializadas en la gestión de carteras para inversores institucionales, son, principalmente, estadounidenses, y buscan la mayor rentabilidad en bolsa para sus inversores. En concreto, y tras la salida a bolsa de PRISA, dos gestoras de fondos estadounidenses, State Street Bank and Trust CO. y Artisan Partners Limited Partnership se hicieron con más del 5% de participación respectivamente. Estos bancos —junto con otros como el citado Chase Nominees y EC Nominees Ltd— han penetrado en el tejido industrial español de forma muy importante en los últimos años y a principios de 2006 estaban presentes en las principales empresas españolas cotizadas (Repsol, Telefónica, SCH, BBVA, Cepsa, Iberdrola, etc.) con 10
La sociedad Deya, S.A. se convirtió en Inversiones Finalba, S.A. en 2005 y luego fue absorbida, junto con otras sociedades, en Alba Participaciones, S.A., siempre dentro de la Corporación Financiera Alba, S.A., del grupo March.
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paquetes accionariales en torno al 5 y el 10% (ver CNMV). Su presencia en PRISA constituye un rasgo más de la financiarización del principal grupo de comunicación multimedia español.
3.6. Objeto social Por último, pero no menos ilustrador, el grupo PRISA forma parte del grupo de sociedades antes mencionadas que consideran, efectivamente, como parte de su objeto social la actividad en los mercados de capitales. Ello queda de manifiesto en epígrafe f del artículo 2 de los Estatutos de Promotora de Informaciones, S.A., en el que el grupo de comunicación declara también como objeto social de la compañía «la actuación en el mercado de capitales y monetario mediante la gestión de los mismos, la compra y venta de títulos de renta fija o variable o de cualquier otra índole, por cuenta propia». (PRISA, 1989: 1).
4. Las etapas de la financiación del sistema de medios Cees Hamelink (Hamelink, 1984: 96-97) establece cuatro grandes etapas del desarrollo histórico de los medios masivos de comunicación con diferentes modos de financiación en correspondencia con cada una de las fases históricas. Una primera etapa, la del nacimiento de los medios de comunicación, es aquella en la que la propiedad y la administración se combinan en la figura del empresario privado (invariablemente, un financista, un banquero o un comerciante), que funda y financia el medio. Una segunda etapa es aquella en la que el rol de administrador sigue ejerciéndolo el propietario pero ya se diferencian los procesos de producción, distribución y financiación. Es la etapa relativa a las primeras décadas del siglo XX, hasta la Segunda Guerra Mundial. Una tercera etapa es la de expansión con recursos internos, después de la Segunda Guerra Mundial y hasta la década de 1960. Y una cuarta etapa es la de expansión con recursos externos, a partir de 1960. A estas cuatro etapas podemos añadir actualmente una quinta etapa de creciente financiarización del sistema de medios en las sociedades capitalistas avanzadas. A partir especialmente de los años 80 y 90 del pasado siglo, la anterior cuarta etapa de Hamelink vendrá caracterizada progresivamente por una evolución digital que será inseparable del análisis de la misma y que, como afirma Enrique Bustamante, no supone «una revolución, una ruptura brusca con la historia anterior, sino una línea de continuidad» (Bustamante, 2003: 333). En realidad, es imposible entender las estrategias desarrolladas en el
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campo digital sin partir de procesos históricos tan esenciales a la globalización como son la desregulación, la concentración y la financiarización —su creciente dependencia del mercado de valores, por ejemplo— del sistema de medios de comunicación. Y ello es así porque, en último término, las nuevas tecnologías no pueden borrar la naturaleza central de los medios de comunicación en la sociedad capitalista actual (Lacroix y Tremblay, 1997 y Garnham, 2000). De modo que la cuarta etapa esbozada por Hamelink en 1984 adoptará después, hasta hoy, matices propios en su integración formal en el capitalismo financiero global.
5. Conclusiones Es posible a partir de lo anterior afirmar que las industrias culturales y, en particular, el sistema de medios de comunicación en España, ha empezado a experimentar un proceso de predominio de lo financiero sobre lo productivo similar al experimentado en el resto de ámbitos económicos. Las consecuencias de esta creciente financiarización son diversas y entre ellas destacan: 1) La modificación de las estrategias y las estructuras productivas en aras de convertir la rentabilidad en un objetivo a corto plazo; 2) y la incorporación a un entorno de mayor inestabilidad y desfase entre los indicadores de la actividad productiva y la financiera de la compañía que llevan a su sobrevaloración. Ambas consecuencias suponen en todos los casos un considerable aumento del riesgo en la iniciativa empresarial y una amenaza para los principios de responsabilidad social de las empresas periodísticas.
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Pensamiento crítico y procesos de construcción de agendaframing le monde diplomatique (edición española) (1995-2006)1 Pablo López Rabadan2
RESUMEN En esta comunicación se expone el planteamiento y los resultados de un estudio monográfico sobre Le Monde Diplomatique (edición española) que toma como referencia teórica las perspectivas de agenda-setting y framing, y como punto de partida la hipótesis de que a lo largo de una década de trayectoria profesional este periódico ha construido una sólida representación del pensamiento crítico en nuestro panorama comunicativo a partir de una agenda temática diferenciada y un framing específico.
A través del desarrollo y aplicación de una metodología de análisis de contenido propia, que incorpora categorías cualitativas en la revisión de una muestra exhaustiva de la publicación (120 ejemplares), esta investigación presenta dos objetivos principales: - Realizar un estudio sistematizado e introductorio sobre el mapa temático general desarrollado por la publicación durante 10 años completos. - Analizar en profundidad una parte representativa, significativa y transversal de su agenda temática, “El sistema comunicativo y cultural contemporáneo”.
Tras completar la investigación, los resultados descriptivos obtenidos acerca del formato y el tratamiento especializado de este medio de comunicación han permitido formular conclusiones interpretativas respecto a la definición, las características y el proceso de construcción de su propuesta comunicativa crítica.
INTRODUCCIÓN Este investigación esta planteada como un intento de analizar la representación mediática del pensamiento crítico contemporáneo desde una perspectiva comunicativa
1
Esta comunicación tiene relación directa con parte de los contenidos de un trabajo de investigación de doctorado (del mismo título y autor) realizado durante el curso 2005-06, dentro del programa de doctorado Investigar y desarrollar la Sociedad de la Información, del departamento Ciencias de la Comunicación 2 de la Universidad Rey Juan Carlos (URJC). 2 Beca pre doctoral del Ministerio de Educación y Ciencia unida al proyecto de investigación SEJ 2004-04920 (“Política, información y ciudadanía en campaña electoral”), del grupo de Estudios Avanzados em Comunicación (GEAC) de la URJC.
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relevante, el campo teórico de la agenda-setting y el framing. Estas técnicas interpretativas de análisis surgen en los años 70 y 80, y todavía se encuentran en fase de discusión-evolución teórica, presentando una gran actividad investigadora y posibilidades de desarrollo En concreto, esta investigación se va a centrar en la revisión de los procesos de construcción a largo plazo de una agenda temática diferenciada y un enfoque comunicativo propio. Para desarrollar esta línea de trabajo se ha optado por realizar un estudio sistemático y monográfico sobre un periódico o una revista de referencia crítica internacional. Se trata de una línea de trabajo que cuenta con una tradición consolidada en la investigación comunicativa europea, sin embargo, tanto este planteamiento en profundidad como el caso concreto de un medio de comunicación vinculado al pensamiento crítico, resultan relativamente novedosos en el ámbito académico español. Como objeto de estudio se ha seleccionado el periódico mensual Le Monde Diplomatique. Se trata de una publicación de prestigio a nivel internacional, cuya edición española, tras alcanzar recientemente su décimo aniversario (1995-2006), bien puede ser considerada como el ejemplo más destacado de pensamiento crítico dentro del panorama mediático nacional: presencia consolidada y significativa en el mercado, reconocimiento e influencia en el debate social, y una estructura empresarial solvente. Además de estos argumentos, es posible establecer una gran vinculación entre los contenidos y el discurso de este medio de comunicación, y muchas cuestiones centrales de la perspectiva de investigación seleccionada (función de los medios de comunicación, construcción social de la realidad, luchas ideológicas por el control de la representación de fenómenos, análisis de la cobertura de acontecimientos, estructura sistema comunicativo…). Por otra parte, a nivel mundial, Le Monde Diplomatique presenta una serie de rasgos identitarios específicos que singularizan y determinan la investigación: - Naturaleza mixta. Es un publicación que combina características propias de periódico de referencia clásico (formato, diseño, planteamiento temático generalista, distribución nacional en kioscos, función debate social), y de revista especializada de opinión (concepto mensual de actualidad, y planteamiento informativo basado en artículos interpretativos en profundidad). - Dimensión mundial. Constituye un caso singular en el panorama mediático mundial, ya que, a partir de los contenidos (80% comunes), importante tirada (330.000 ejemplares) y tradición (desde 1954) de la edición francesa, en la última década ha desarrollado una expansión internacional muy importante por América Latina, Europa y el mundo musulmán. Actualmente tiene 55 ediciones internacionales (30 en papel y 25 electrónicas), en 24 lenguas
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diferentes, y una tirada aproximada total de 1,9 millones de ejemplares. En el caso concreto de la edición española, tiene una tirada regular de 25.000 ejemplares y una distribución estable que ronda los 4.500 suscriptores. - Estructura empresarial independiente y equilibrada. A comienzos de los años 70, el entonces nuevo director, Claude Julien, inicia un largo proceso de independencia de la estructura del diario Le Monde, que finalmente (a partir de 1994) convierte a Le Monde Diplomatique en un periódico-empresa totalmente autónomo a todos los efectos (periodístico, empresarial, accionarial). Actualmente, la estructura de propiedad esta planteada como un mecanismo que garantiza de la independencia del periódico, y equilibra el poder entre los diferentes grupos del accionariado: Le Monde S.A. (51%), asociación de lectores (25,4%), y asociación de trabajadores (23,6%). - Línea editorial crítica. Ideológicamente el periódico se sitúa próximo la izquierda no tradicional contemporánea. En los últimos 15 años, Le Monde Diplomatique se ha convertido en la fuente teórica de referencia y el altavoz mediático de los movimientos sociales que plantean una resistencia y una alternativa teórica-práctica a la globalización neoliberal. En sus páginas encontramos un seguimiento y desarrollo de estas ideas políticas que normalmente no tienen presencia en los medios de comunicación convencionales. - Perfil muy concreto de lector. Este periódico se dirige a un público de nivel cultural y profesional alto, de edad inferior a 45 años, informado previamente y gran consumidor de productos culturales, que busca en sus páginas otra perspectiva de interpretación de la actualidad. A partir de estos datos, plantea una estrategia donde trata de llegar a dos tipos de lectores, como sujeto individual (ciudadanos, directivos públicos o privados), y como grupo social con influencia (movimientos sociales, instituciones, otros medios de comunicación). ¿Qué temas trata Le Monde Diplomatique? ¿Y desde qué perspectiva? ¿Cómo se representa el pensamiento crítico en los contenidos y el formato de este periódico? Aprovechando la oportunidad y la perspectiva que ofrece el décimo aniversario de la publicación, se pretende profundizar en esta serie de cuestiones, partiendo de la hipótesis de que a partir de la descripción de los procesos y los criterios de selección y jerarquización de contenidos es posible demostrar que Le Monde Diplomatique (edición española) representa una propuesta comunicativa alternativa y de prestigio en nuestro contexto social y comunicativo. Y en este sentido, esta investigación tiene dos objetivos específicos: 1) realizar un estudio introductorio y descriptivo del mapa temático general del periódico; y 2) analizar
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en profundidad una parte representativa y significativa de la agenda temática de la publicación.
METODOLOGÍA En este caso, se ha escogido un método cuantitativo, el análisis de contenido a partir de la aplicación de una parrilla sobre una muestra relevante del objeto de estudio. El dilatado periodo a revisar (10 años), y la enorme colección de textos (120 ejemplares, 3824 páginas) justifican el recurso de esta técnica para poder realizar una revisión exhaustiva. Además, esta metodología resulta idónea para agrupar grandes volúmenes de datos a través de categorías cuantitativas y cualitativas, y verificar hipótesis sobre la evolución de la agenda temática. Ante la imposibilidad material de realizar un análisis detallado sobre todo lo publicado por Le Monde Diplomatique (edición española) durante una década, esta metodología esta planteada como un proceso que permita, en primer lugar estructurar y clasificar de forma introductoria la agenda de la publicación, para posteriormente poder seleccionar una parte y analizarla en profundidad. Para ello, se ha dividido la investigación en cuatro fases:
- Primera fase. Desarrollo de un trabajo previo que delimite el marco general de la investigación. 1) Por una parte definir una estructura global de análisis de contenido dividida en 5 niveles jerárquicos y con una terminología específica. 2) Y por otro lado, realizar una propuesta sobre el mapa temático general de la publicación que incluya el 100% de sus contenidos, y que más tarde, mediante unos criterios estables y definidos, 3) permita seleccionar una muestra representativa (al menos 20-25%), significativa (de contenido relevante), y con una estructura interna desarrollada sobre la que aplicar la técnica de la parrilla de análisis de contenido.
- Segunda fase. Diseño de una ficha de trabajo para la parrilla adaptada a las características del objeto de estudio y a los objetivos de la investigación: por una parte, debe incluir las categorías cuantitativas habituales de esta técnica, y por otra parte se van a introducir algunas categorías cualitativas (ver TABLA I) que permitirán un estudio más detallado y alcanzar resultados novedosos sobre la agenda temática del medio. TABLA I. Ficha de la parrilla de análisis de contenido I. IDENTIFICACIÓN Y FORMATO 1. Nº ejemplar 2. Año
3. Mes
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4. Autor 5. Título 6. Antetítulo 7. Situación 8. Página 9. Género periodístico 10. Edición 11. Dossier 12. Extensión 13. Elementos titulación, despieces, ilustraciones II. TRATAMIENTO DE LA ORGANIZACIÓN TEMÁTICA 1. Tema 2. Unidad temática III. PALABRAS CLAVE IV. ACTORES. Agentes principales V. LOCALIZACION GEOGRÁFICA. Situación del poder 1. Estados Unidos 5. Rusia y área de influencia 2. Unión Europea 6. Oriente próximo y Magreb 3. Otros países OCDE 7. África 4. Potencias 4.1 Asia 8. Zonas periféricas emergentes 4.2 América latina 9. Otras zonas VI. TIEMPO. Concepto de actualidad 1. Mensual 2. Trimestral 3. Semestral 4. Anual 5. Intemporal 6. Efemérides 7. Previsión 8. Otros - Tercera fase. Aplicación de la parrilla de análisis de contenido, sobre todas las unidades de registro (en este caso el artículo periodístico) de la muestra finalmente seleccionada.
- Cuarta fase. Explotación de los datos, a través de la aplicación de un sistema de doble cuadro de análisis cruzado: uno de análisis del formato (ver detalle categorías en TABLA II) y otro de análisis del tratamiento (ver detalle categorías en TABLA III). TABLA II. Análisis formato. Planteamiento Cuadro I de explotación de la parrilla de análisis de contenido
PRINCIPALE
NÚMERO UNIDADES SELECCIONAD AS Editorial 2º Tema Sumario Portada Página 3 Página 2 Contraportada
AUTORÍA %
GÉNERO
TEMA
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SECUNDA
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Dossier Edición española Publicidad
TABLA III. Análisis tratamiento. Planteamiento Cuadro II de explotación de la parrilla de análisis de contenido
ORGANIZACIÓN TEMATICA
TEMA
ACTORES
LOCALIZACIÓN GEOGRÁFICA
TIEMPO ACTUALIDAD
1 2 3 4 5.1 5.2 6 7
RESULTADOS Siguiendo los pasos del proceso marcado en la metodología, en la primera fase de la investigación se han alcanzado los siguientes resultados que permiten obtener una perspectiva temática global de la publicación (primer objetivo) y seleccionar una muestra representativa y significativa del objeto de estudio:
I. Diseño de un sistema de organización temática general dividido en 5 niveles y con una terminología específica a emplear en el análisis de contenido (ver detalles y aplicación en TABLA IV). Los diferentes niveles de análisis de contenido pueden definirse como: 1) Sistema temático (conjunto general que incluye la totalidad de elementos), 2) Organización temática (grandes estructuras temáticas que comparten un mismo eje general), 3) Tema (agrupaciones temáticas intermedias que se configura a partir de la subdivisión de una organización temática, presentan una importante cohesión interna y unos límites temáticos más evidentes), 4) Unidad temática (agrupación temática más reducida del sistema, se configura a partir de la subdivisión del tema en sus líneas de contenido principales), y 5) Unidad de registro (unidad informativa sobre la que se construye todo el esquema del sistema temático y de producción periodística, en este caso, es el artículo de opinión).
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TABLA IV. Sistema de organización temática general aplicado al análisis de contenido de Le Monde Diplomatique (edición española) NOMBRE Nivel 1 Nivel 2 Nivel 3 Nivel 4 Nivel 5
Sistema temático Organización temática Tema Unidad temática Unidad de registro
NUMERO DE UNIDADES (aplicado a este estudio) 1 1 (seleccionada ) / 6 (total) 8 28 514
II. A partir del estudio sistemático de la colección completa de los editoriales (1995-2006), se plantea la siguiente propuesta de mapa temático de Le Monde Diplomatique (edición española). De esta forma, la publicación se divide en cinco grandes organizaciones temáticas y presenta un esquema jerarquizado en tres niveles (ver datos en TABLA V): - Primer nivel. Organizaciones temáticas principales. Están formadas por temas transversales muy cohesionados, con un eje temático compartido y un actor principal común. Reciben la máxima relevancia, y además de su importancia cuantitativa, pueden ser consideradas de forma global: 1) EEUU como potencia hegemónica del nuevo orden internacional, 2) Europa, como contrapoder en construcción, y 3) El sistema comunicativo y cultural contemporáneo. - Segundo Nivel. Organizaciones temáticas secundarias. Están formadas por temas más concretos y autónomos entre si que carecen de lazos importantes compartidos entre ellos (eje central claro, actor principal común), y funcionan como grandes contenedores que agrupan asuntos similares y les confieren una cierta coherencia dentro del sistema temático. Estas características les impiden mantener una continuidad temporal y desarrollar una gran cohesión interna, y les asigna una relevancia menor dentro del conjunto: 4) Los conflictos geopolíticos de primer orden, y 5) Los conflictos socio-económicos globales contemporáneos. - Tercer nivel. El caso especial de la dialéctica Globalización / Alterglobalización. Es un tema transversal y latente. De forma estricta no puede considerarse una organización temática, pero sin embargo su presencia es casi constante en todos los contenidos. Su integración en este sistema temático principal viene motivada por el deseo de dejar constancia de su importancia cualitativa y plantear una vía de estudio para futuras investigaciones. Se presenta como hipótesis de framing y como tema (“El debate teórico en torno a la globalización”) integrado en la tercera organización temática.
TABLA V. Propuesta de sistema temático de Le Monde Diplomatique (edición española)
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ORGANIZACIONES TEMÁTICAS PRINCIPALES 58,33% 1ª EEUU
2ª Europa
29 17 editorial editoriale es s
24,16%
14,16%
3ª Comunicaci ón y cultura
24 editoriales
20%
DIALÉCTICA ORGANIZACIONES TEMÁTICAS GLOBALIZACIÓN / SECUNDARIAS ALTERGLOBALIZAC IÓN 41,66% 4ª 5ª Conflictos Conflictos a. Hipótesis framing Geopolítica Socioeconómic general de la os publicación 29 21 editoriales editoriales b. Tema autónomo integrado dentro de la tercera organización temática 24,16% 17,50%
Entre las diferentes posibilidades existentes en este sistema temático, se ha seleccionado una organización temática, El sistema comunicativo y cultural contemporáneo, que cumple una serie de criterios que la hacen idónea para el análisis de contenido: esta encuadrada en el grupo de organizaciones temáticas principales y de mayor relevancia, tiene una presencia representativa en el conjunto de editoriales (20%), y por otra parte, es un tema de largo recorrido durante todo el siglo XX, y que en las últimas décadas se ha configurado como una cuestión central del debate social contemporáneo.
III. Demostración de la representatividad global de la organización temática seleccionada. Tras la revisión exhaustiva de la muestra completa de Le Monde Diplomatique, se han encontrado 2269 unidades de registro totales (de media 18,90 por ejemplar), y en este punto de la investigación, para poder ser exhaustivos, funcionales y rigurosos en la cuantificación, se hace imprescindible establecer un criterio general de pertenencia / exclusión a la organización temática seleccionada: - En primer lugar, sintetizar al máximo el contenido de cada unidad de registro, hasta establecer en cada caso cual es el eje temático principal. - Y en segundo lugar aplicar a toda la muestra el siguiente criterio general de selección (cada tema y unidad temática tiene definido el suyo de forma más específica): solo han de ser seleccionadas aquellas unidades de registro cuyo eje temático principal este centrado de forma inequívoca en el ámbito de la comunicación y la cultura. De esta forma, se han seleccionado 514 unidades de registro, lo que representa el 22,65% de los contenidos (de
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media 4,28 por ejemplar). Esta es la muestra definitiva y cerrada sobre la que aplicar el análisis de contenido que pretende la investigación.
IV. A partir del estudio de los listados temáticos de elaborados por Le Monde Diplomatique en 2001 y 2006 para la búsqueda de contenidos, se ha definido la estructura la organización temática seleccionada, “El sistema comunicativo y cultural contemporáneo”. Se trata de un conjunto de ocho temas, que abarcan de forma comprensiva la totalidad de los casos presentados, y que cada uno de ellos está planteado como una entidad autónoma con unos criterios de pertenencia claros, excluyentes y objetivos. Este resultado permite profundizar notablemente en la definición y clasificación exhaustiva de la muestra (ver datos y desarrollo en TABLA VI).
TABLA VI. Propuesta de estructura de la organización temática seleccionada
SISTEMA COMUNICATIVO Y CULTURAL CONTEMPORÁNEO
1
TEMA Medios de comunicación
CRITERIO SELECCIÓN (eje central artículo) La actividad de los medios de comunicación convencionales (televisión, prensa, radio).
2
Nuevas tecnologías
Las nuevas tecnologías de la comunicación. Especialmente todo lo que tiene que ver con Internet, informática, redes, y las integraciones tecnológicas de la última década.
3
Sistema de comunicación, La actividad de los medios de comunicación como empresas dentro de un sistema comunicativo global. empresa y Estado
4
Arte y cultura
El arte (en todas sus expresiones) y la reflexión sobre el arte.
5.1 Pensamiento. Debate globalización
El debate teórico en torno a la globalización y sus efectos.
5 5.2 Pensamiento. Otros contemporáneos 6
El análisis de conceptos clave del pensamiento temas contemporáneo, presentados en formato de artículo de fondo.
Opinión pública, Los conflictos culturales-identitarios y los procesos de construcción de la opinión pública. identidad y cultura
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7
Cultura de masas
Análisis cultural y reflexión sobre los efectos de la globalización en la cultura de masas.
En la última fase de la investigación se ha aplicado y explotado la parrilla de análisis de contenido sobre esta muestra concreta, siguiendo el método propuesto anteriormente, con los siguientes resultados descriptivos sobre la agenda temática (segundo objetivo):
I. Análisis del formato (Explotación de la parrilla. Cuadro I). A partir de desarrollar al máximo el estudio de la representatividad de la organización temática seleccionada en toda la publicación, se ha conseguido dejar al descubierto la estructura profunda y latente del periódico desde muy diversas perspectivas, y llegar a una serie de conclusiones descriptivas:
- La estructura y el formato de la publicación se pueden describir a partir del análisis de la relevancia periodística que se le asigna a los temas en determinados espacios. Estos espacios agrupados en categorías, se dividen (sintetizando al máximo) en: principales que marcan la orientación general de los contenidos del medio (editorial, segundo tema portada, sumario portada, contraportada, Pagina 2 y Pagina 3); y secundarias que sirven de complemento (agrupación en dossiers, elaboración edición española, y análisis de la publicidad). - La organización temática seleccionada, El sistema comunicativo y cultural contemporáneo tiene una presencia destacada en todas las categorías de análisis principales y secundarias. Además esta presencia es relevante y constante a lo largo de todo el periodo analizado. En muchas ocasiones, es tan continua la presencia de temas comunicativos y culturales que se llega a crear una vinculación (casi identificación) entre espacio informativo y contenido.
- Respecto a la autoría de los contenidos, en Le Monde Diplomatique hay que resaltar que los autores de los textos y su orientación profesional, como norma de estilo, está siempre bien identificados. En orden jerárquico, los principales grupos profesionales que elaboran textos para el periódico son: 1) Miembros del cuadro de dirección de Le Monde Diplomatique. 2) Intelectuales, escritores, ensayistas. 3) Profesorado universitario. 4) Periodistas.
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5) Otros profesionales (asociaciones y colectivos, profesionales y artistas reconocidos, directivos de instituciones, investigadores, activistas, movimientos sociales y políticos, músicos).
- Respecto a los géneros periodísticos utilizados, se puede concluir que Le Monde Diplomatique emplea una colección de géneros bastante personalizada en la que destacada:
1) El artículo de opinión, como forma periodística que generalmente encontramos en las páginas de este medio. Se trata de artículos de opinión sustentados por datos y con una estructura argumentativa sólida, lo que le convierte en ocasiones en un híbrido con el artículo de análisis. También se da el caso de híbridos en donde se mezcla el artículo de opinión con textos literarios, o críticas literarias, con breves o ensayos.
2) En mucha menor media encontramos otro tipo de géneros como el editorial, el artículo análisis, el obituario-necrológica, la nota informativa, y otros (relatos literarios y poesía, diálogos, debates, discursos, manifiestos, fragmentos de ensayos, antologías, crítica literarias y de cine, crónicas, listados de términos con forma de diccionario).
En la siguiente tabla se recogen de forma sistematiza y global los datos completos de esta parte del estudio (ver TABLA VII). Entre paréntesis se indica el número de unidades de registro en cada caso: TABLA VII. Análisis formato (Cuadro I). Resumen resultados
PRINCIPALES
CATEGORÍAS CUALITATIVAS
NÚMERO UNIDADES
Editoriales
24 / 120
Segundo tema portada
37 / 120
AUTORÍA
GÉNERO
TEMA
% Ignacio Ramonet (23) Excepciones (1)
Editorial (24) Equilibri 20 o T5.1 (6) T1 (5) T3 (5) T2 (4) Dirección LMD (9) A. Opinión T5.2 (10) 30,83 Escritor-Ensayista (31) T2 (9) (12) Otros (6) T4 (6) Prof. Universitario (8) Periodista (4)
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Sumario portada
SECUNDARIAS
Contraportad a
172 / 539
71 / 120
Página 3
28 / 120
Página 2
54 / 120
Dossiers
Escritor-Ensayista 31,91 (42) Prof. Universitario (39) Periodista (32) Dirección LMD (29) Escritor-Ensayista 59,16 (25) Dirección LMD (14) Prof. Universitario (12) Escritor-Ensayista 23,33 (7) Dirección LMD (6) Prof. Universitario (6) Periodista (4)
45
Dossiers (38) Unidades de registro (66)
30
34,86 12,71
T4 (41) T2 (29) T5.2 (29) T1 (27) T5.1 (22)
A. Opinión (57) Relato (4) Otros (10)
T4 (28) T5.2 (16) T7 (9)
Equilibri o T5.2 (5) T7 (5) T1 (5) T4 (4) T5.1 (4) Dirección LMD A. Opinión T1 (15) (27) (31) T5.1 (14) Escritor-Ensayista Nota (12) T3 (7) (8) Obituario (6) T5.2 (7) Prof. Universitario Otros (5) (8)
Dirección LMD Números con dossiers 68,33 (20) Periodista (17) Tota (82) Prof. Universitario l Dossiers (12) (109) Escritor-Ensayista (8) UR (519) Números con dossiers OTS (36)
A. Opinión (146) Relato (9) Otros (17)
A. Opinión (27) Otros (1)
A. Opinión (57) A. Análisis (4) Otros (5)
T1 (22) T2 (10) T4 (10) T5.1 (9) T5.2 (7)
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Identificación edición española
101 / 514
Publicidad
416 / 619
Escritor-Ensayista A. Opinión T4 (37) 19,64 (33) (65) T5.2 (20) Prof. Universitario Nota (14) T1 (19) (22) A. Análisis T5.1 (13) Dirección LMD (4) (18) Otros (18 Periodistas (17) De media, 67,20 5,15 anuncios por ejemplar, de los cuales 3,46 pertenecen a la organización temática seleccionada
En este gráfico (ver GRÁFICO I) se sintetizan desde otra perspectiva los resultados de esta primera parte del análisis de contenido, el análisis del formato. Se ha tratado de comparar la relevancia de cada una de las diferentes categorías analizadas dentro de unos mismos parámetros compartidos y tomando como referencia la media de presencia general de la organización temática (22,65%). También se ha destacado la presencia en los editoriales (20%) como criterio de relevancia más destacado. Este es el resultado de este estudio comparativo. GRAFICO I. Análisis formato (Cuadro I). Síntesis resultados COMPARATIVA CATEGORIAS DE ANÁLISIS 12,71
DOSSIERS (U. Registro)
19,64
EDICIÓN ESPAÑOLA
20
EDITORIALES MEDIA GENERAL
22,65
PÁGINA 3
23,33
2º TEMA
30,83 31,91
SUMARIO PORTADA
34,86
Nº DOSSIERS
45
PÁGINA 2 CONTRAPORTADA
59,16
PUBLICIDAD
67,2 0
10
20
30
40
50
60
70
80
%
II. Análisis tratamiento de la organización temática seleccionada (Explotación de la parrilla. Cuadro II). El estudio llevado a cabo en esta segunda parte del análisis de contenido permite
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adentrarse al máximo en el núcleo temático del “Sistema comunicativo y cultural contemporáneo”, y a partir de la exposición de una estructura dividida en 8 temas y 28 unidades temáticas (ver datos cuantificación en TABLA VIII), extraer una serie de conclusiones descriptivas acerca de la agenda temática general de esta publicación.
TABLA VIII. Estructura de la organización temática seleccionada. Resumen cuantificación
TEMA
1
2
CANTIDAD
24 32
5.1.2 Definición y efectos globalización
35
5.2.1 Análisis crítico general 5.2.3 Análisis critico conceptos clave 5.2.3 Papel del intelectual
37 24 17
6.1 Identidad y conflictos culturales
22
29 (5,64%)
6.2 Opinión pública
7
37
7.1 Publicidad 7.2 Deporte masivo
11 13
89 (17,31 %)
57 (11,08 %)
42 (8,17%)
4
128 (24,90%)
5.2
6
7
CANTIDAD
1.1 Análisis cobertura 1.2 Reflexión sobre medios de comunicación 1.3 Le Monde Diplomatique 1.4 Libertad de prensa 1.5 Manipulación 2.1 Informática y redes 2.2 Nuevas tecnologías y control social 2.3 Nuevas tecnologías y política 2.4 Otros 3.1 Medios de comunicación y empresa 3.2 Comunicación y Estado 3.3 Telecomunicaciones 3.4 Le Monde Diplomatique como empresa 4.1 Literatura y mundo editorial 4.2 Cine y fotografía 4.3 Música 4.4 Pintura y cómic 4.5 Otros 5.1.1 Propuesta movimiento alterglobalizador
3
5.1
UNIDADES TEMÁTICAS
54 (10,50%)
78 (15,17%)
13 13 7 25 14 16 2 25 9 3 5 63 32 10 5 18 19
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(7,19%)
7.3 Otros
13
- Es posible determinar una estrategia general que clasifica y estructura todos los contenidos de la organización temática seleccionada en una agenda consolidada través del tiempo y dividida en 3 niveles jerárquicos: 1) Primer nivel. Está compuesto por los temas principales de la agenda (67,88%), con una representación cuantitativa y cualitativa muy superior a la media: Tema 4 (Arte y cultura), Tema 1 (Medios de comunicación), Tema 5.1 (Debate globalización), y Tema 5.2. (Otros temas pensamiento contemporáneo). 2) Segundo nivel. Está compuesto por un tema que tiene una presencia intermedia (11,08%) en la agenda temática, cercana a la media: Tema 2 (Nuevas tecnologías). 3) Tercer nivel. Se trata de temas secundarios dentro de la agenda temática, que están por debajo (21%) de la media de representatividad: Tema 3 (Sistema, empresa y Estado), Tema 7 (Cultura de masas), y Tema 6 (Opinión pública, identidad y cultura).
- Dentro del conjunto de 28 unidades temáticas, hay algunas que destacan especialmente en la agenda temática de la publicación por su cantidad y relevancia. Siguiendo un orden jerárquico los ejemplos más representativos son: Literatura y mundo editorial, Análisis crítico general, Definición y efectos globalización, Cine y fotografía, Reflexión sobre los medios de comunicación, Informática y redes, Análisis crítico conceptos clave contemporáneos, Análisis cobertura, Identidad y conflictos culturales, y Propuesta del movimiento alterglobalizador.
En el siguiente gráfico comparativo (ver GRAFICO II), se sintetizan los resultados descriptivos de esta segunda parte del análisis de contenido, y se muestra de forma directa que cuestiones son centrales en la agenda temática propuesta por el medio.
GRAFICO II. Análisis tratamiento de la organización temática seleccionada (Cuadro II). Síntesis resultados
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COMPARATIVA TEMAS DE LA ORGANIZACIÓN TEMÁTICA
17,31
1. MEDIOS COMUNICACIÓN
11,08
2. NUEVAS TECNOLOGÍAS
8,17
3. EMPRESA Y ESTADO
24,9
4. ARTE Y CULTURA
10,5
5.1 DEBATE GLOBALIZACIÓN
15,17
5.2 PENSAMIENTO ACTUAL
5,64
6. OP, IDENTIDAD Y CULTURA
7,19
7. CULTURA DE MASAS
0
5
10
15
20
25
30
%
Y tras revisar en detalle que temas son importantes para Le Monde Diplomatique (edición española), este segunda parte del análisis de contenido, a través de una aproximación interpretativa a los datos obtenidos, también permite extraer una serie de conclusiones descriptivas acerca del tratamiento y encuadre de estos temas: resultados en detalle a cerca de cómo, quién, cuándo y dónde se representan estos temas.
- Actores. Es posible elaborar un esquema que ordena y clasifica en cuatro niveles jerárquicos a los actores principales que intervienen regularmente en la organización temática: 1) Primer nivel. Presencia destacada y muy frecuente. Agentes sector de medios de comunicación, Nuevas tecnologías e Internet (periodistas, agencias, prensa especializada, prensa de referencia, televisión, colaboradores, líderes e institutos de opinión, redes, organizaciones profesionales, audiencia, publicidad, fotógrafos). Destaca especialmente la presencia de Le Monde Diplomatique como institución, o como colaboradores individuales.
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2) Segundo Nivel. Presencia frecuente, y en ocasiones contextualizadora. Agentes políticos (estados, instituciones de todo tipo y nivel, ONU, UE, gobiernos, países, candidatos, gestores, instituciones reguladoras, partidos, oposición, poder como concepto interrelacionado, sistema legal), y Agentes empresariales (instituciones globales, BM, FMI, OCDE, OMC, empresas transnacionales, mercado, sistema, inversores, accionistas, propietarios, clientes, bolsas, bancos, magnates, grupos globales de comunicación, instituciones reguladoras). 3) Tercer Nivel. Presencia poco frecuente. Agentes culturales (intelectuales, editoriales, librerías, fotógrafos, personajes, obras, UNESCO, lectores, urbanistas, espectadores, escritores, ensayistas, músicos, artistas, industria cultural, mecenas, historiadores, eventos culturales de todo tipo, museos), Agentes sociales (ciudadanos, familia,
infancia,
trabajadores,
sindicatos,
opinión
pública,
movimiento
alterglobalizador, pueblos, colectivos, sociedad civil, inmigrantes, ONG, activistas, EZLN, ATTAC, excluidos), y Agentes bélicos y de seguridad (ejércitos, policías, terroristas, guerrilleros, agencias e seguridad, mafias, OTAN). 4) Cuarto nivel. Presencia puntual. Otros agentes (contexto neoliberal como concepto, lobbies, think tanks, ideólogos, gurús ideológicos, ideologías, corrientes de pensamiento, universidad, sistema educativo, religión, sistema judicial, instituciones científicas).
- Localización geográfica. Es posible trazar un mapa jerarquizado de zonas de relevancia informativa según su frecuencia de aparición como marco espacial de los contenidos del periódico. De esta forma, para Le Monde Diplomatique (edición española), las zonas informativamente más relevantes son:
1) Primer nivel. Estas tres zonas tienen una presencia casi constante y muy destacada: escala mundial, Francia, y EEUU. 2) Segundo Nivel. Estas zonas tiene una presencia muy importante: España, Europa (en general, los 25 países miembros UE, la Europa del Este, Rusia, el área mediterránea), el mundo musulmán (Palestina / Israel, Irak, Magreb, Irán, Turquía), América Latina (en general, Brasil, México, Argentina, Venezuela, Chile, Perú).
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3) Tercer Nivel. Estas zonas tienen una presencia irregular: Asia (China, India, Japón, Pakistán, Afganistán, Vietnam), otras zonas (primer mundo / tercer mundo, periferia geográfica del sistema, países OCDE, Québec, África), y zonas indeterminadas.
- Tiempo de actualidad. Es posible determinar desde que perspectiva de la actualidad (y que concepto de información propone) se dirige Le Monde Diplomatique (edición española) a sus lectores. De esta forma, para este periódico, el concepto de información viene unido a los siguientes marcos temporales:
1) Primer Nivel. De forma general, la información está planteada desde una perspectiva mensual, pero tomando en muchos casos la última década (o más) como contexto, como tendencia histórica que determina la actualidad del presente. 2) Segundo Nivel. Los ciclos temporales anuales, semestrales y trimestrales tienen una presencia mucha más irregular en la definición de actualidad. 3) Tercer Nivel. Hay otro tipo de frecuencias temporales que aparecen de forma puntual, son las efemérides, lo intemporal, y la previsión de acontecimientos.
En la siguiente tabla se agrupan, sistematizan y se presentan de forma global los datos completos (ver TABLA IX) extraídos en esta parte del estudio que ha analizado el tratamiento que recibe la organización temática seleccionada. Entre paréntesis se indica el número de unidades de registro en cada caso.
TABLA IX. Análisis tratamiento de la organización temática seleccionada (Cuadro II). Resumen resultados
TEM PRESENCI A A %
1
17,31%
ACTORES
1. MMCC 2. A. Políticos 3. A. Seguridad
ESPACIO
1. Mundial 2. EEUU y Francia 3. España
TIEMPO ACTUALIDAD 1. Mensual 2. Anual 3. Tendencia
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(89)
2
3
4
5.1
5.2
11,08% (57)
8,17% (42)
24,90% (128)
10,50% (54)
15,17% (78)
4. Agentes Económicos 5. Otros (ciudadanos, Le Monde Diplomatique, intelectuales)
4. Otros (UE, mundo musulmán, periferia, países OCDE)
5-10 años 4. Trimestral
1. A. Políticos 2. Agentes Económicos 3. MMCC y periodistas 4. Otros (intelectuales, ciudadanos y usuarios) 1. MMCC 2. A. Políticos 3. Agentes Económicos 1. Escritores y artistas 2. Cineastas 3. A. Políticos 4. Otros (músicos, intelectuales, Agentes Económicos, contexto neoliberal) 1. MMCC 2. A. Políticos 3. Movimientos Sociales 4. Intelectuales 5. Agentes Económicos 6. Sistema neoliberal 7. Instituciones económicas y políticas globales 1. Intelectuales 2. A. Políticos 3. Instituciones internacionales 4. MMCC 5. Ideas, conceptos 6. Sistema neoliberal 7. Ciudadanos 1. A. Políticos 2. Sociedad
1. Mundial 2. EEUU
1. Tendencia 5-10 años
1. Mundial 2. Francia 3. EEUU
1. Mensual 2. Anual
1. Mundial 2. UE y Europa 3. Francia 4. Otros (España, América Latina, África, EEUU)
1. Mensual 2. Intemporal 3. Siglo XX
1. Mundial 2. EEUU 3. UE 4. Francia y España
1. Mensual y tendencia 5-10 años (en proporción similar)
1. Mundial 2. Francia, EEUU, Indefinida
1. Mensual, intemporal (en proporción similar)
1. Mundial 2. EEUU, UE y
Bastante variado y repartido (10 años,
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6
7
5,64% (29)
7,19% (37)
3. MMCC 4. Intelectuales 5. Ciudadanos, Opinión pública 6. Instituciones económicas globales 1. MMCC 2. Espectador ciudadano 3. Agentes Económicos 4. A. Publicidad 5. Cineastas 6. A. Deporte
Francia
intemporal, mensual anual)
1. Mundial
Bastante variado y repartido (trimestral, mensual, 10 años, intemporal)
CONCLUSIONES A partir de la descripción en profundidad de la agenda temática de Le Monde Diplomatique (edición española), realizada en el capítulo anterior desde diferentes perspectivas, es posible plantear una serie de conclusiones interpretativas, una aproximación acerca de la definición, las características y el proceso de construcción de su propuesta comunicativa. Son estas: a. Periódico diferente. En su forma y contenido encontramos una propuesta comunicativa muy diferenciada que tiene su base en la independencia y tradición de su proyecto comunicativo y su estructura empresarial. Estos dos rasgos anteriores le permiten plantear una agenda informativa alternativa: desde sus páginas se abordan temas conflictivos al margen de la agenda mediática convencional o se revisan los grandes temas de actualidad (mensual) desde otra perspectiva que busca la explicación profunda de los acontecimientos y plantea estrategias de cara al futuro. Su selección de temas puede calificarse de intermedia, entre el mainstream informativo (televisión, radio y prensa generalista) y la hiperespecialización de otros medios más minoritarios, ya que combina un planteamiento temático panorámico en el que caben cuestiones de cualquier ámbito, y un framing muy específico que encuadra la información según unos parámetros profesionales definidos y una ideología concreta. b. Periódico coherente. Desde un planteamiento explícitamente ideológico vinculado a la izquierda altermundializadora, asume de forma consciente su función comunicativa en el nuevo panorama político-mediático, y ha elaborado una estrategia a través de la cual es posible encontrar una correspondencia directa entre 1) planteamiento editorial, 2) contenidos periodísticos (basados en una selección, jerarquización, tratamiento), 3) y todas las
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características del formato, del “continente” de la publicación (diseño, organización empresarial, estilo profesional,…). c. Periódico constante. La revisión de su discurso periodístico permite encontrar numerosas regularidades en todos sus componentes. Desde un perspectiva intelectual, es una publicación muy pensada, elaborada y argumentada que tiende a mantener una gran estabilidad y jerarquización en sus contenidos, generando en el lector la sensación de que “todo encaja” en un sistema previamente definido. d. Periódico de calidad. Con el paso del tiempo ha adquirido un posicionamiento en el mercado y una imagen socialmente reconocible como medio de comunicación de calidad, que se basa en una serie de criterios y rasgos profesionales (tratamiento de fuentes, estilo redacción, tipo de colaboradores, ritmo y rutinas productivas, diseño, objetivos, ilustraciones y fotografías, sección libros y revistas, un punto de vista respetuoso con el lector). e. Periódico influyente. Como consecuencia de las cuatro características anteriores, en la última década en España este medio de comunicación se ha convertido en una referencia consolidada y de prestigio en el ámbito del pensamiento crítico y la contrainformación. Se trata de un periódico clave que pretende ir más allá del discurso oficial dominante, y de esta forma amplía la pluralidad de nuestro sistema de medios, e influye de forma cualitativa en la opinión pública. f. Evolución. Se trata de un medio de comunicación integrado en una tradición política, cultural y mediática francesa muy concreta que se basa en los valores republicanos clásicos (libertad, igualdad y fraternidad). Tras una larga trayectoria profesional de más de 50 años, donde ha sabido adaptarse a los cambios estructurales manteniendo su identidad y profundizando en su independencia profesional, finalmente en los años noventa reinterpreta estos valores a través de una línea editorial muy específica que se opone en lo socioeconómico al modelo de la globalización neoliberal, y en lo político a la hegemonía imperial de EEUU en las relaciones internacionales. Le Monde Diplomatique (edición española) constituye un buen ejemplo de publicación clásica de referencia que ha logrado situarse con buenos resultados en el nuevo contexto comunicativo, articulando un perfil de calidad y una propuesta comunicativa diferenciada en nuestro mercado: se trata de uno de los pocos intentos serios y solventes de convertir el pensamiento crítico en periodismo, en comunicación social directa, compartida y generalizada. Es especialmente remarcable cómo ha conseguido traducir su complejo planteamiento ideológico en una propuesta empresarial y periodística coherente,
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y de éxito (económico, social y de imagen), que ha logrado una presencia significativa a nivel nacional, y una expansión internacional muy importante.
DESARROLLO LINEA DE INVESTIGACIÓN
En este estudio introductorio solo se ha explotado una parte de la gran cantidad de datos obtenidos, la descripción del mapa temático y la agenda. Sin embargo, el análisis de la categoría palabras clave deja abiertas enormes posibilidades de profundizar y continuar en esta línea de investigación. A través del estudio interpretativo de estas palabras clave (y asociaciones significativas) que se repiten de forma sistemática en los contenidos informativos del periódico, se platea la hipótesis de que es posible encontrar y definir un framing general compartido que determine la perspectiva, el modo regular y estable de estructurar la realidad en sentido amplio (política, sociedad, economía, comunicación, cultura) desde la línea editorial de esta publicación.
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Efectos de las políticas de implantación de la TDT sobre los modelos de televisión de proximidad en España: el caso de la Región de Murcia Dra. Isabel Sarabia Andúgar1
Introducción El concepto de televisión de proximidad2, propuesto en España3 por Miquel de Moragas, Carmelo Garitaonandía y Bernat López en el estudio Televisión de proximidad en Europa4, remite a todas aquellas experiencias de emisión a “pequeña y mediana escala” en las que “...entre la emisora y sus receptores existe un escenario de experiencias compartidas” 5. Esta modalidad de televisión se define por dos cualidades. La primera apunta al ámbito de cobertura del canal, que se ciñe ”fundamentalmente a una comunidad humana de tamaño mediano o pequeño, delimitada territorialmente”6. La segunda se asocia a sus contenidos, producidos en el espacio para el que se emiten, y referidos a la comunidad a la que se dirigen, “... a su experiencia cotidiana, a sus preocupaciones y problemas, su patrimonio lingüístico, artístico y cultural y su memoria histórica” 7. En este sentido, se atribuye a la televisión de proximidad dos misiones que condicionan su oferta de programación. Una de ellas “es reflejar, de una manera representacional (no poética ni metafórica), la sociedad y el territorio a que se dirigen....”8. Esto explica que el noticiario sea el formato más generalizado en las parrillas de programación de la televisión de proximidad ya que en él se materializa “La principal concreción de este pacto de proximidad, o complicidad entre la audiencia y la emisora”9. Otra misión “es facilitar el acceso de los ciudadanos a la televisión, fomentar la
1
Profa. Estructura del Sistema Audiovisual - UCAM (Universidad Católica de Murcia) e-mail: isarabia@pdi.ucam.edu 2 El concepto de “televisión de proximidad” surge en Estados Unidos y Francia en un momento en el que se cuestiona a la televisión como forma de comunicación de masas, a la que se critica por haberse convertido en un medio excesivamente global y alejado del espectador. Cfr. PINEAU, Guy, La télévision de proximité, Dossiers de l’audiovisuel , nº57 INA 1994, p.6. 3 En España localizamos las primeras referencias a la “televisión de proximidad” en el estudio La televisión en las regiones de la Comunidad Europea, llevado a cabo por el grupo de investigación EURORETV en 1992 dirigido por Miquel de Moragas y Carmelo Garitaonandía. 4 MORAGAS SPÁ, Miquel de et al. (Eds), Televisión de proximidad en Europa. Experiencias de descentralización en la era digital. Edit. Universidad Autónoma de Barcelona. Barcelona, 1999. 5 Ibídem, p. 19. 6 LÓPEZ, Bernat, “Programación y contenidos de las televisiones de proximidad en Europa”. En VACAS DE AGUILAR (Editor): Televisiones y regiones en desarrollo. Edit. Junta de Extremadura. Cáceres, 2000, p.172. 7 Cfr. Ídem 8 LÓPEZ, Bernat, (2000), op.cit., p.173. 9 MORAGAS, Miquel de et al. (Eds), ( 1999), op cit., p. 19.
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participación en los procesos de discusión previos a la toma colectiva de decisiones”10, es decir, dar protagonismo al receptor y hacerle partícipe de la actividad de la vida pública de su entorno. Al tener un carácter genérico, la denominación “televisión de proximidad” da cabida a una variedad de formas televisivas de ámbito inferior al ámbito nacional, que tienen en común su voluntad de aproximarse a los intereses de los espectadores. La televisión de proximidad en analógico en España está representada por varios modelos de televisión por ondas que están experimentando determinadas transformaciones como consecuencia de la aplicación de las políticas públicas de implantación de la televisión digital terrestre. A continuación nos proponemos analizar los cambios que la conversión tecnológica está ocasionando sobre la televisión de proximidad y describir su nueva configuración en el escenario digital. Para ilustrar esta reflexión nos detenemos en el estudio de caso de la Región de Murcia, una comunidad autónoma en la que los efectos del proceso de implantación de la TDT ya se están manifestando en el sector de la televisión de proximidad .
1.- Modelos de televisión de proximidad en España en el escenario analógico. Las formas de televisión de proximidad activadas en España en el escenario analógico son básicamente: el centro regional de TVE; la delegación territorial de televisión privada de ámbito estatal; la televisión autonómica pública; y la televisión local pública y privada. Estas expresiones de televisión de proximidad son resultado, en unos casos, del desarrollo de políticas públicas en materia de televisión, y en alguno otro, como el de la televisión local por ondas, consecuencia de la ausencia de regulación por parte de la Administración central. El proceso de descentralización de la televisión, que genera varias de las manifestaciones televisivas de proximidad, tiene su punto de partida en la Constitución Española11, primer texto legislativo, que, de forma indirecta, induce al impulso de esta modalidad de canales. 1.1.- El centro regional de la televisión pública nacional ( TVE) En enero de 1980 la Carta Magna da paso a la Ley 4/1980 reguladora del Estatuto de Radio y Televisión12, la primera norma española en la que se afronta la descentralización de la televisión. En este texto, en el que se alude a los contenidos de proximidad y a su difusión en 10
LÓPEZ, Bernat, (2000), op.cit., p.175. Así lo señala Justo Villafañe quien sostiene que con la promulgación de la Constitución de 1978 “comenzó un proceso de descentralización administrativa que iba a tener manifestaciones en todos los órdenes de la vida social. Uno de ellos era la comunicación” en VILLAFAÑE, Justo y GARCÍA SERRANO, Federico. “La televisión pública en las Comunidades Autónomas”. ALFOZ. Madrid. Territorio. Economía y Sociedad.” Monografía. Madrid. Centro de Investigación y Documentación urbana y rural. Madrid, 1985, p.9. 12 Ley 4/1980 de 10 de enero reguladora del Estatuto de Radio y Televisión [BOE.12-01-1980] 11
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un ámbito cercano, se sientan las bases de la estructura de TVE. En su artículo 13 se indica que “RTVE, a través de su organización territorial, deberá elaborar una propuesta de programación específica de radio y televisión que será emitida en el ámbito territorial de la nacionalidad o región que corresponda....13”. En 1989 la estructura descentralizada de TVE ya es una realidad. La totalidad de las comunidades autónomas, cuentan con un centro territorial de TVE con capacidad para la producción de contenidos, generalmente informativos, y su emisión para el circuito regional, a modo de desconexión.
1.2.- La televisión autonómica pública El Estatuto de Radio y Televisión, aludido anteriormente, es también el marco en el que se inaugura el concepto de tercer canal regional. En él se establece que “El gobierno podrá conceder a las Comunidades autónomas, [.....], la gestión directa de un canal de televisión de titularidad estatal que se cree específicamente para el ámbito territorial de cada Comunidad Autónoma”14 . Se apunta, de este modo, a la posibilidad de que una Comunidad Autónoma gestione su propio canal regional, cuya frecuencia, como establece el artículo cuarto, le será atribuida por el Gobierno. La regulación de esta nueva modalidad de televisión se plasma tres años más tarde en forma de Ley 46/1983, de 26 de diciembre reguladora del Tercer canal15, que permite de manera efectiva el “desarrollo de los canales autonómicos de televisión en nuestro país”16. Entre diciembre de 1982 y septiembre de 2006 son trece los gobiernos regionales que, en aplicación de la Ley, han activado su tercer canal analógico poniendo en marcha uno o más canales de televisión autonómica.
1.3.-La delegación territorial de un canal nacional privado. La televisión privada nacional se planifica, en principio, como medio descentralizado. En el preámbulo de la Ley 10/1988 de 3 de mayo, de Televisión privada17, por la que se da cabida a la gestión indirecta en el sector televisivo, se indica que el modelo de televisión a
13
Art.13 Ley 4/1980 de 10 de enero reguladora del Estatuto de Radio y Televisión [BOE.12-01-1980] Art. 2. 4/1980 de 10 de enero reguladora del Estatuto de Radio y Televisión [BOE.12-01-1980] 15 Ley 46/1983, de 26 de diciembre, reguladora del Tercer Canal de Televisión. [BOE 5-01-1984] 16 GARCÍA CASTILLEJO, Angel et al, Curso Derecho de las Telecomunicaciones y del Audiovisual. Marco Jurídico del sector audiovisual en España (2002), Grupo Corporación Multmedia, p.66. 17 Ley 10/1988, de 3 de mayo, de televisión privada [BOE 05-07-1988] 14
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desarrollar es de carácter mixto respecto a su cobertura. Si bien se establece que el objeto de la licencia para la prestación del servicio es la emisión de programas de televisión con una cobertura nacional, “… se requiere, asimismo, que las concesiones prevean la emisión de programas,..con una cobertura limitada a zonas territoriales …”18. Por este motivo, se divide el territorio nacional en diez zonas dotadas de infraestructura para realizar desconexiones19. En cinco de ellas el ámbito de cobertura coincide con una comunidad autónoma. En los demás casos, el área abarca más de una región. Al actuar sobre las infraestructuras técnicas de difusión, que dependen del Estado, la Administración Central dota a la televisión nacional privada de las herramientas para desarrollar una estructura televisiva descentralizada. Así, según se desprende de la Ley 19/1988, la red nacional de distribución de la señal analógica de televisión por ondas hertzianas, se ha diseñado y preparado, para permitir a la empresa concesionaria establecer dos centros principales de producción - un centro de producción principal en Madrid y otro en Barcelona-; crear centros de producción territoriales con cobertura en su zona de influencia; y facilitar el intercambio de producciones entre los centros zonales y los centros principales del canal nacional. A pesar de este planteamiento, los concesionarios de televisión privada nacional no han sido muy activos en materia de territorialización de la emisión. Antena 3 es el único operador que, respondiendo a sus obligaciones legales, emprende una
descentralización
territorial de su canal. En 2003 cuenta con una red de nueve delegaciones con capacidad de producción de programas informativos regionales y emisión territorial situadas en Andalucía, Aragón, Cataluña, Valencia, Baleares, Canarias, Tenerife, País Vasco, Castilla y León y Galicia. En lo que se refiere a Tele cinco, la estrategia ha sido diferente. Aunque despliega un importante número de corresponsalías, en 2003, sólo los centros de Cataluña, País Vasco y Madrid tienen capacidad para la emisión territorial20. Por su parte, Canal + ha hecho caso omiso a las indicaciones de la Ley, y no ha realizado ningún esfuerzo en desarrollar una estructura territorial.
18
Artículo 4, Ley 10/1988, de 3 de mayo, de televisión privada [BOE 05-07-1988] Zonas territoriales según el Plan Técnico nacional de televisiones privadas: zona primera: Aragón-La RiojaNavarra; zona segunda: Asturias-Cantabria; zona tercera: Galicia; zona cuarta: Castilla y León; zona quinta: País Vasco: zona sexta: Cataluña-Baleares; zona séptima: Valencia; Zona octava: Castilla-La Mancha-MadridExtremadura-Murcia; zona novena: Andalucía-Ceuta y Melilla; zona décima: Canarias. 20 Se trataba de una desconexión de 10 minutos entre las 15:15 y 15:25, cuyo contenido era estrictamente informativo. Otra de las iniciativas era, en el caso del centro de Cataluña, la programación “de películas dobladas al catalán mediante el sistema dual (técnica que también ha utilizado Canal Plus)” en LÓPEZ, Bernat et al., (1999), op.cit., p. 153 19
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Pero la limitada territorialización llevada a cabo en Antena 3 y Telecinco recibe un fuerte revés en los últimos años. En diciembre de 2005, el primero desactiva siete de los diez centros que integraban la red de 2003, y, en cuanto a Telecinco, las tres únicas delegaciones que mantenía la cadena dejan de estar operativas a finales de 2005.
1.4.- La televisión local La televisión local por ondas terrestres es una de las modalidades de televisión de proximidad que se implanta en España a principios de los 80. Quince años más tarde, se produce el primer intento por parte de la Administración central de regular un fenómeno que se había extendido por todo el país. Al final de la V legislatura socialista, se dicta la Ley 41/1995 de 22 de diciembre sobre Televisión Local por Ondas Terrestres, en la que se establece que el ámbito de cobertura de la televisión local se limita, en principio, al municipio; que la gestión del servicio puede ser directa, por parte de los municipios -que tienen preferencia-, o indirecta, por parte de personas naturales o jurídicas con o sin ánimo de lucro; y que el número de títulos habilitantes se fija en uno por localidad aunque se puede ampliar a dos en el caso de que la disponibilidad del espectro radioeléctrico lo permita. Pero la regulación de la televisión local analógica por ondas terrestres, emprendida con la aprobación de esta Ley, no se completa. El Plan Técnico Nacional que debía haber seguido a la promulgación de esta norma no se ejecuta. De modo que, el desarrollo de esta forma de televisión de proximidad se produce en un contexto de irregularidad jurídica, una circunstancia que ha marcado profundamente la fisonomía de este tipo de canales surgidos tanto antes como después de la Ley 41/1995. A pesar de la incertidumbre que envuelve el despliegue de la televisión local, este escenario no frena la puesta en marcha de nuevas iniciativas empresariales públicas y privadas. Este hecho ha contribuido a la configuración de un sector sobre el que la Administración no ha tenido ningún control. Los únicos censos de televisiones locales existentes en España son los elaborados por parte de la Asociación de Investigadores de Medios de Comunicación en los años 1996,1999 y 2002. El número de televisiones locales, en el que se incluyen los canales emitidos por ondas hertzianas, los difundidos por cable y los que utilizan los dos sistemas, apenas evoluciona en esos años. En el último estudio, de 2002, la cifra se acerca a 900 canales. De ellos, 725, lo que representa un 81% del conjunto de las televisiones, se distribuyen por ondas terrestres.
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En lo que se refiere a la titularidad de las televisiones locales por ondas, se observa que estos canales, surgidos inicialmente como medios comunitarios y municipales, se han desarrollado mayoritariamente como medios de titularidad y gestión privada
21
. En este
sentido, cabe señalar que en los últimos años esta tendencia se acentúa como consecuencia de la implantación del sistema de redes nacionales de televisiones locales. Desde el año 2000 en España se viene registrando la constitución de cadenas de televisiones locales por ondas, auspicias, bien por grupos de comunicación multimedia – Grupo Prisa, Grupo Vocento, Grupo COPE –, o bien por empresarios independientes que se agrupan en asociaciones para optimizar sus recursos.
2.- Proceso de implantación de la tecnología digital en el entorno de la televisión de proximidad. La primera referencia a la televisión digital terrestre en la legislación española se localiza en la Ley 66/199722, de 30 de diciembre de medidas fiscales, administrativas y de orden social. En su Disposición adicional cuadragésimo cuarta se traza el marco del régimen jurídico de la televisión digital terrenal en España. Este texto representa el punto de partida en la regulación de la TDT en nuestro país. Le suceden el Plan técnico Nacional de Televisión digital Terrestre de 1998 y su posterior modificación; el Plan Técnico Nacional de televisión Digital terrestre local de 2004 y sus revisiones; y la Ley 10/2005 de medidas de impulso a la TDT. Como se constata a continuación, todas estas disposiciones contribuyen a conformar una nueva estructura de la televisión de proximidad en el sistema digital: se modifican determinadas formas de canal cercano; se propicia la aparición de nuevas modalidades; y se suprimen algunas de las manifestaciones que estaban implantadas en el sistema analógico.
2.1.- La migración digital de las televisiones de ámbito nacional y sus repercusiones sobre la estructura territorial de los canales. En la conversión digital experimentada por la televisión nacional pública y privada en España se distinguen, hasta la fecha, dos etapas claramente diferenciadas que tienen sus efectos sobre la modalidad de televisión de proximidad basada en la desconexión territorial. 21
Cfr. PÉREZ, Francisco “ Las televisiones locales en el umbral de la era digital” en ANUARIO 2003 de GECA, Madrid, 2003, p. 132. 22 Ley 66/1997 de 30 de diciembre, de Medidas Fiscales, Administrativas y del Orden social [BOE 31-12- 1997]
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Primera etapa de la implantación de la TDT de ámbito nacional. La primera fase de transición se inicia con la aprobación, mediante RD 2169/199823, del primer Plan técnico Nacional de Televisión digital Terrestre, en el que se habilitan cinco canales múltiples de cobertura nacional. Cuatro de ellos - el 66, 67, 68 y 69 -constituyen redes de frecuencia única, mientras que el quinto está integrado por nueve canales radioeléctricos 57, 58, 59, 60,61,62,63,64 y 65- que forman un canal múltiple con posibilidad de efectuar desconexiones territoriales. Éste último es el que se pone a disposición de los operadores nacionales. En octubre de 1998, con el fin de que las cadenas comenzaran la emisión en simulcast, el Estado reserva al ente público Radiotelevisión española dos canales digitales para la explotación en régimen de gestión directa del servicio público de televisión. Asimismo, asigna a cada una de las tres concesionarias de televisión privada24, de forma provisional en tanto no renovaran la licencia, un programa para su uso bajo la modalidad de gestión indirecta. Se brinda, de este modo, a la totalidad de los operadores nacionales, tanto público como privados, la posibilidad de incorporarse a la migración digital de la televisión a partir del 31 de octubre de 199925. Todos ellos comparten el único canal múltiple digital de multifrecuencia, que, aunque debería albergar sólo cuatro programas, queda provisionalmente integrado por La primera de TVE, La 2, Antena 3, Tele5 y Canal+26. Al tratarse de un canal de frecuencia múltiple todas las cadenas tienen, en esta primera fase, la posibilidad de realizar desconexiones regionales.
23
Real Decreto 2169/1998 , por el que se aprueba el Plan Técnico Nacional de la Televisión Digital Terrenal. [BOE 16-10-1998] 24 Cfr. Disposición adicional primera. Real Decreto 2169/1998, por el que se aprueba el Plan Técnico Nacional de la Televisión Digital Terrenal. [BOE 16-10-1998] 25 Esta es la fecha en la que se activa el canal múltiplex, según Resolución 21 de junio de 1999, de la Secretaría General de Comunicaciones, por la que se hace público el Acuerdo del consejo de Ministros de 11 de junio de 1999, por el que se habilita a las entidades gestoras del servicio público esencial de televisión para que presten el servicio de televisión digital terrenal en los términos establecidos en la disposición transitoria primera del Real Decreto 2169/1998 , de 9 de octubre, por el que se aprueba el Plan Técnico Nacional de la Televisión Digital terrenal [BOE 16-10-1998] 26 Art. 4.- Orden del 4 de diciembre de 1998 por la que se establece el plazo para que las entidades gestoras del servicio público esencial de televisión ejerzan el derecho que les confiere la disposición trasitoria primera del Real Decreto 2169/1998, de 9 de octubre, por el que se aprueba el Plan Técnico Nacional de la Televisión Digital Terrenal, y se fija el número de programas del canal múltiple definido en el anexo I del citado Plan Técnico, en aplicación de la disposición adicional primera de dicho Real Decreto. [BOE 16-10-1998]
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En marzo de 200027, el Estado renueva las concesiones para la explotación del servicio de televisión privada a Gestevisión-Telecinco S.A, Antena 3 Televisión S.A, y Sogecable, S.A. Como ya se había advertido en el Plan Técnico Nacional, el nuevo contrato reconoce, de un lado, el derecho de cada concesionario a explotar un programa de televisión digital terrestre y, de otro, incluye el compromiso, por parte del operador, de iniciar la emisión en simulcast antes de abril de 2002. De modo que, el programa de frecuencia múltiple asignado con carácter temporal a cada uno de los concesionarios, es finalmente otorgado. La distribución de los programas digitales, en esta primera fase de transición de la televisión nacional a la nueva tecnología, ha permitido mantener a TVE la estructura descentralizada de la cadena en su versión digital. En lo que se refiere a los concesionarios de televisión privada, el acceso de estas empresas a un programa de multifrecuencia incluso potencia, en un primer momento, sus posibilidades de descentralización, en la medida en la que el programa otorgado permite la desconexión por región y no por zona territorial, como sucede en el escenario analógico. En esta etapa de la migración tecnológica hay que aludir también a los nuevos actores que aparecen en la escena de la televisión digital nacional. En enero de 199928 el Estado convoca el concurso público para el otorgamiento de catorce programas digitales para su explotación en gestión indirecta y en régimen de acceso condicional – tres canales múltiplex de frecuencia única completos (sin capacidad para realizar desconexiones territoriales) y dos programas de un cuarto múltiplex de frecuencia única también –. La licencia se adjudica al único candidato presentado al concurso, Onda Digital S.A29, que inicia su actividad bajo la marca Quiero TV en mayo de 2000. Los dos últimos programas digitales de frecuencia única que quedaban libres se elevan a concurso en marzo de 200030para su licitación en régimen de
27
Resolución de 10 de marzo de 2000, de la Secretaría General de Comunicaciones, por la que se hace público el acuerdo del Consejo de Ministros de 10 de marzo de 2000, sobre renovación a las sociedades “Antena 3 de Televisión, Sociedad Anónima”, “Gestevisión Telecinco, Sociedad Anónima” y “Sogecable, Sociedad Anónima”, de las concesiones para la prestación, en régimen de gestión indirecta, del servicio público de televisión. [11-03-2000] 28 Resolución de 11 de enero de 1999, de la Secretaría General de Comunicaciones, por la que se hace público el Acuerdo del Consejo de Ministros de 8 de enero de 1999, por el que se aprueba el pliego de bases y de prescripciones técnicas por el que ha de regirse el concurso público para la adjudicación de una concesión para la explotación del servicio público de la televisión digital terrenal y por el que se convoca el correspondiente concurso. [BOE 13-01-1999] 29 Resolución de 2 de septiembre de 1999, de la Secretaría General de Comunicaciones, por la que se hace público el Acuerdo del Consejo de Ministros de 18 de junio de 1999 por el que se resuelve el concurso público convocado para la adjudicación de una concesión habilitante para la explotación del servicio de televisión digital terrenal. [BOE 28-09-1999] 30 Resolución de 10 de marzo de 2000 de la Secretaría General de Comunicaciones, por la que se hace público el Acuerdo del Consejo de Ministros de 10 de marzo, por el que se aprueba el pliego de bases administrativas particulares y de prescripciones técnicas por el que ha de regirse el concurso público para la adjudicación de dos
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gestión indirecta en la modalidad de emisión en abierto. Los canales digitales son otorgados a Net Tv y Veo Televisión31. Dado que se trata de programas de frecuencia única sin opción a desconexiones territoriales, ninguno de estos dieciséis nuevos canales -en abierto o en acceso condicionaltiene la posibilidad de desarrollar la televisión de proximidad bajo la modalidad de centro regional.
Segunda fase de la implantación de la TDT de ámbito nacional. A lo largo del primer semestre de 2005 se revisa la estrategia de implantación de la TDT en España. Como consecuencia de esta reflexión, en julio se efectúa un importante giro en la política de distribución de programas digitales de ámbito nacional. Se aprueba un nuevo Plan técnico nacional de televisión digital terrestre, que deja sin efecto al anterior, y en el que se incluyen los catorce programas digitales de frecuencia única que la Administración del Estado había recuperado de Onda Digital, S.A, al perder su licencia, y que estaba dispuesta a reasignar. En el Plan Técnico de 2005 se establecen tres escenarios en la implantación de la TDT: el de transición de la tecnología analógica a la tecnología digital; el de impulso a la TDT; y el del cese de las emisiones de televisión terrestre con tecnología analógica. En el primer entorno –el de transición de la tecnología analógica a la digital-, la Administración reserva al Ente público Radiotelevisión Española la totalidad de los programas del único múltiple digital de cobertura estatal con capacidad para efectuar desconexiones territoriales de ámbito autonómico. Además, se le adjudica otro programa de un múltiple sin posibilidad de desconexión regional. De manera que RTVE amplía a cinco el número de programas digitales - cuatro con opción a emitir para un circuito regional y uno sin ella -. En cuanto a las televisiones privadas nacionales, el canal digital con capacidad de efectuar desconexión, que se les había concedido inicialmente, es sustituido por un programa de frecuencia única32. Este cambio en la asignación de programa tiene una repercusión
concesiones para la explotación, en régimen de emisión en abierto, del servicio público de la televisión digital terrenal y se convoca el correspondiente concurso. [BOE11-03-2000] 31 Resolución de 13 de diciembre de 2000 del Secretario de Estado de Telecomunicaciones y para la Sociedad de la Información, por la que se hace público el acuerdo del Consejo de Ministros de 24 de noviembre de 2000, por el que se resuelve el concurso público convocado para la adjudicación de dos concesiones para la explotación en régimen de emisión en abierto del servicio público de la televisión digital terrenal. [BOE 9-01-2001] 32 Cfr. Disposición adicional segunda Real Decreto 944/2005 Real Decreto 944/2005, de 29 de julio, por el que se aprueba el Plan técnico nacional de la televisión digital terrestre. [BOE 30-07-2005]
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inmediata sobre la configuración de la televisión de proximidad en tanto que, en este nuevo escenario de transición, se extingue una de las formas de canal cercano, la que, en el ámbito analógico, se corresponde con la delegación territorial de televisión privada nacional. Esta situación no varía en el escenario de impulso a la TDT33 en el que se ofrece a las concesionarias la posibilidad de solicitar uno o hasta dos programas adicionales incluidos también en los canales de frecuencia única que habían quedado libres. Tampoco cambia en el escenario del cese de emisiones, ya que, si bien se prevé que estas sociedades puedan acceder a un múltiple digital completo de cobertura estatal, la Administración puntualiza que el canal que se conceda no dispondrá de derecho a efectuar desconexiones territoriales34. Tanto la concesión en noviembre de 2005 de dos programas digitales de frecuencia única35 a la Sociedad Gestora de Inversiones Audiovisuales, como el otorgamiento de los canales adicionales a los operadores de televisión privada36 -Gestevisión-Telecinco, Antena 3, Sogecable, Net TV y Veo Televisión-, sólo confirman la estructura descrita anteriormente. El paisaje de la televisión digital terrestre de ámbito nacional queda constituido por una televisión pública nacional a la que se le permite mantener su estructura descentralizada, con cuatro canales de televisión pública nacional dotados de capacidad de desconexión autonómica, y una oferta de 20 televisiones nacionales, una pública y el resto privadas, en las que el centro territorial de producción y emisión de ámbito regional ya no tiene cabida, dado que no pueden realizar desconexiones territoriales.
Sólo se mantiene, por lo tanto la
modalidad de centro territorial de TVE, mientras que desaparece el modelo de delegación territorial de televisión privada nacional.
2.2.- La transición digital de la televisión de cobertura específicamente regional.
33
Cfr. Disposición adicional cuarta Real Decreto 944/, de 29 de julio, por el que se aprueba el Plan técnico nacional de la televisión digital terrestre. [BOE 30-07-2005]
34
Cfr. Disposición adicional tercera Real Decreto 944/2005, de 29 de julio, por el que se aprueba el Plan técnico nacional de la televisión digital terrestre. [BOE 30-07-2005] 35 Resolución de 29 de noviembre de 2005, de la Secretaría de Estado de Telecomunicaciones y para la Sociedad de la Información, por la que se dispone la publicación del Acuerdo de Consejo de Ministros , de 25 de noviembre de 2005, por el que se amplía con canales digitales adicionales el contenidos de las concesiones de las sociedades que gestionan el servicio público de televisión terrestre de ámbito estatal y por el que se asignan los canales que forman parte de los múltiples digitales en redes de frecuencia única. [BOE nº 290, 5 diciembre 2005] 36 Resolución de 29 de noviembre de 2005, de la Secretaría de Estado de Telecomunicaciones y para la Sociedadde la Información, por la que se dispone la publicación del Acuerdo de Consejo de Ministros , de 25 de noviembre de 2005, por el que se amplía con canales digitales adicionales el contenidos de las concesiones de las sociedades que gestionan el servicio público de televisión terrestre de ámbito estatal y por el que se asignan los canales que forman parte de los múltiples digitales en redes de frecuencia única. [BOE nº 290, 5 diciembre 2005]
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El Plan técnico Nacional de televisión digital terrestre de 1998 prevé la reserva de un canal múltiple de frecuencia única de ámbito regional para cada una de las comunidades autónomas. De los cuatro programas que integran un múltiplex, dos de ellos se destinan a la transición digital de las televisiones autonómicas públicas. De modo que, aquellas comunidades que dispusieran, en ese momento, de un tercer canal podían contar con dos programas digitales para iniciar su difusión en tecnología digital a partir del 31 de octubre de 1999. En cuanto a los otros dos canales digitales del múltiplex de cobertura regional, según se indica en el plan técnico, la Administración Regional es la responsable de convocar los concursos públicos para el otorgamiento de la explotación del servicio en régimen de gestión indirecta. Se inaugura así un nuevo modelo de televisión de proximidad inédito hasta ese momento. Se trata de la televisión autonómica de gestión privada, una nueva forma de televisión cuyo desarrollo sólo ha sido viable como consecuencia del avance tecnológico del medio. La transición digital, por lo tanto, aporta una nueva modalidad de televisión de proximidad pero, además, propicia que se multiplique por dos, y en ocasiones por cuatro37, la oferta de canales de ámbito autonómico. Sin embargo, aunque el número de canales aumenta sustancialmente, se reduce, al menos para las televisiones autonómicas públicas, la posibilidad de estrechar el anillo de proximidad a la provincia, ya que el canal múltiple asignado a las comunidades no tiene, en un principio, capacidad para efectuar desconexiones provinciales o comarcales.
Esta
limitación técnica en el escenario digital se plantea como un problema para las televisiones públicas de las comunidades pluriprovinciales, que han desarrollado una red de centros de producción con capacidad para emitir en un circuito provincial. Esta cuestión, que afecta a varios entes públicos autonómicos, se aborda en la Ley de medidas urgentes para el impulso de la TDT, aprobada en junio de 2005, en la que se insta al gobierno para que “planifique el espectro de manera que las televisiones autonómicas puedan realizar desconexiones provinciales o insulares” 38. El segundo plan técnico de televisión digital terrestre, que se aprueba en el mes de julio siguiente, y que deja sin efecto al anterior, ya contempla la posibilidad de la desconexión territorial para las televisiones digitales de ámbito regional. En el anexo II se asigna a las comunidades pluriprovinciales nuevos canales destinados a establecer redes de cobertura 37
Es el caso de las comunidades que no disponen de televisión autonómica pública y que han sacado a concurso la totalidad del múltiplex regional como Navarra o La Rioja. 38 Disposición adicional cuarta. Ley 10/2005, de 14 de junio, de Medidas Urgentes para el impulso de la Televisión Digital Terrestre, de Liberalización de la Televisión por cable y de Fomento del Pluralismo.[ BOE 506-2005]
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territorial autonómica con capacidad para efectuar desconexiones territoriales de ámbito provincial. Diez comunidades autónomas se ven beneficiadas de esta modificación, que, de un lado, permite a las televisiones autonómicas públicas mantener su estructura descentralizada y, de otro, da la opción a las nuevas cadenas privadas regionales de activar circuitos provinciales. En este escenario de transición de la tecnología analógica a la digital del plan modificado, también se expone la posibilidad de anticipar, para aquellas comunidades que lo soliciten, la planificación de un segundo múltiple digital de ámbito autonómico con capacidad de desconexión insular, comarcal o de entidades territoriales legalmente reconocidas. El cese de las emisiones de televisión terrestre con tecnología analógica, prevista para el año 2010, dará paso a la asignación de un segundo múltiplex a las comunidades autónomas que sólo dispongan de uno. La capacidad de este canal adicional estará supeditada a la disponibilidad del espectro radioeléctrico.
2.3.- La regulación de la televisión local en el escenario digital. Descartada la planificación técnica de la televisión local por ondas terrestres en analógico, la Administración central procede en diciembre de 2002 a la adaptación de la Ley 41/1995 al contexto digital. La modificación de la norma39, que afecta a determinados aspectos de estos canales, va a alterar sustancialmente el modelo de televisión local diseñado en 1995. Uno de ellos, quizá el que tiene mayor repercusión sobre la estructura de la televisión de proximidad de dimensión local, es el de la cobertura de los canales. Según se desprende del artículo 3 del nuevo texto de la Ley de televisión local por ondas terrestres40, el ámbito de emisión de la televisión local deja de ser el municipio y se amplía a la demarcación. Esta unidad territorial puede estar constituida en torno al municipio que ostente la capitalidad de la provincia o a un municipio de más de 100.000 habitantes, o bien, puede estar integrada por localidades de población inferior a los 100.000 habitantes, siempre que se trate de “…municipios colindantes cuya población de derecho total sea superior a 25.000 habitantes o cuya cobertura incluya a todos los municipios en un radio de, al menos 25 Kms…”41 . A la
39
Se efectúa por medio del artículo 109 de la Ley 53/2002, de 30 de diciembre, de acompañamiento a los presupuestos [BOE 31-12-2002] 40 Artículo 3 del Artículo 109 de Modificación de la Ley 41/1995, de 22 de diciembre, de Televisión Local por Ondas Terrestres. Ley 53/2002, de 30 de diciembre, de acompañamiento a los presupuestos [BOE 31-12-2002] 41
Texto modificado del Apartado 3 del artículo 3. Artículo 109 de Modificación de la Ley 41/1995, de 22 de diciembre, de Televisión Local por Ondas Terrestres. Ley 53/2002, de 30 de diciembre, de acompañamiento a los presupuestos [BOE 31-12-2002]
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vista de esta nueva redacción de la Ley, se entiende que, no sólo se niega a los municipios de menos de cien mil habitantes la posibilidad de disponer de un canal de televisión propio, sino que, además, se desvirtúa el concepto de televisión local, en tanto que su cobertura ya no se ciñe a un municipio sino a un territorio conformado por varias poblaciones. La gestión de los canales digitales es otra de las cuestiones que se aborda en la modificación de la Ley 41/1995. El nuevo texto establece que, de los cuatro programas que integran un canal múltiple para una demarcación, uno de ellos podrá reservarse a la gestión directa del servicio por parte del municipio o agrupación de municipios. Los tres restantes serán otorgados por concurso público para su gestión indirecta. A diferencia de la primera versión de la Ley del 95, que prioriza la iniciativa municipal sobre la privada, en la adaptación de la norma al escenario digital se aprecia una apuesta contundente por la iniciativa privada, ya que se reserva a la gestión pública un único canal incluso en las demarcaciones que acogen a varios municipios. Si se limita a uno el número de canales digitales de gestión pública, y se amplía el ámbito de cobertura a una demarcación integrada por una agrupación de municipios, nos encontramos con la siguiente situación: en el escenario digital, se extingue el modelo de televisión municipal pública, mientras que se potencia una modalidad de televisión de proximidad inédita, la televisión comarcal o supramunicipal pública. Se trata de una fórmula de canal en la que las corporaciones municipales se asocian para constituir una entidad consorcio, mancomunidad, empresa pública- que gestione la televisión para los municipios implicados. Casi una década después de la promulgación de la primera Ley 41/1995 de televisión local por ondas, en marzo de 2004, se aprueba el Plan Técnico Nacional de Televisión digital Terrestre de ámbito local42. En él se trazan 266 demarcaciones a las que se asigna un canal múltiplex. Aunque en el plan técnico se realiza una distribución de zonas de cobertura y frecuencias atendiendo a las necesidades expresadas por las comunidades autónomas, la Administración central no logra cubrir la demanda de todos los gobiernos autonómicos. Algunos no quedan satisfechos con la asignación y solicitan una revisión del Plan Técnico. La modificación se produce en diciembre de 200443. Se amplía tanto el número de demarcaciones (275) como el de canales múltiplex (281), y se reestructura el alcance de algunas de estas zonas de cobertura. De las demarcaciones trazadas, aunque el 29.2% de ellas 42
Real Decreto 439/2004, de 12 de marzo, por el que se aprueba el Plan Técnico nacional de la televisión digital local. [BOE 08-04-2004]
43
Real Decreto 2268/2004, de 3 e diciembre, por el que se modifica el Real Decreto 439/2004, de 12 de marzo , por el que se aprueba el Plan técnico nacional de la televisión digital local. [BOE 04-12-2004]
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cubre entre dos y cuatro municipios, el 47.7% de las zonas de cobertura abarca entre cinco y ocho poblaciones y el 23.1% supera las nueve. Siete de estas últimas demarcaciones reúnen incluso más de veinte localidades. Estas condiciones territoriales plasmadas en el plan técnico evidencian una deslocalización de la televisión a favor de la comarcalización o, incluso de una cobertura de carácter supracomarcal. Se ensancha, sustancialmente el anillo de proximidad, hasta ahora limitado al núcleo urbano, desnaturalizándose, de este modo, la esencia de la televisión local. En la Ley 10/2005 de medidas urgentes para el impulso de la Televisión Digital Terrestre, se corrige una de las limitaciones que hemos observado, relativa al número de canales digitales reservados para la gestión directa. Se flexibiliza la norma dictada en marzo de 2004 y se deriva a la Comunidad Autónoma la responsabilidad de decidir el número de programas –hasta dos- destinados a la gestión por parte de entidades locales. Por otra parte, la Administración central aprovecha la aprobación del Plan Técnico Nacional de Televisión Digital Terrestre de julio de 2005 para introducir una modificación al Plan Técnico Nacional de televisión digital local ampliando el número de múltiples digitales destinados a las organizaciones territoriales insulares de las comunidades de Islas Baleares y Canarias.
3.- Los efectos de la implantación de la tecnología digital sobre la televisión de proximidad en la Región de Murcia. La primera manifestación de televisión de proximidad en la Región de Murcia se registra en 1980 con la emisión del espacio informativo “Telemurcia”, producido y difundido desde el centro territorial de TVE en Valencia. Dos años más tarde se pone en marcha el centro territorial de TVE en Murcia. Durante cerca de 25 años, la delegación regional del canal público nacional es la única televisión de ámbito autonómico de la comunidad, debido, de un lado, a que las televisiones privadas nacionales no muestran ningún interés en establecer un centro de producción en esta región, y de otro, a que el proyecto de televisión autonómica que se intenta ejecutar en 1990 no prospera y ese revés frustra intentos posteriores. En lo que respecta a la televisión de proximidad de dimensión local, la Región de Murcia se ha distinguido por el desarrollo de la televisión local por cable, que representa hasta 2003, el 70% de las manifestaciones de televisión local. En los dos últimos años, el número de televisiones locales por ondas se ve incrementado. Entre 2003 y diciembre de 2005 pasa de trece a diecisiete televisiones. -. La mayoría de estos canales responden a la iniciativa de empresarios locales aunque tres de las cuatro nuevas emisoras aparecidas en esta última etapa
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están vinculadas a grupos de comunicación multimedia – Grupo Vocento, Grupo COPE y Prensa Ibérica-. La implantación de la TDT en la Región de Murcia está suponiendo una importante transformación del paisaje de la televisión de proximidad trazado hasta el 30 de diciembre de 2005, fecha que, como vamos aconstar en este apartado, supone un punto de inflexión sin precedente en la evolución del sector de la televisión en la comunidad murciana. •
Centros territoriales de televisiones estatales. La televisión de proximidad bajo la modalidad de delegación territorial de un canal
nacional es quizá la forma que menos se ha visto afectada por la transición digital del medio en la comunidad murciana. El proceso de conversión tecnológica de la televisión de cobertura nacional, que no ha aportado a la región nuevas formas de televisión de proximidad, tampoco ha ocasionado la reducción de la oferta de esta modalidad de canal, puesto que, en analógico, no contaba con ninguna delegación de emisoras nacionales privadas. Se mantiene el servicio que TVE viene prestando, a modo de desconexión regional, desde su centro territorial en Murcia. Aunque de momento no se ha iniciado la emisión en simulcast para el circuito regional, esta modalidad de difusión está también prevista para los centros territoriales. •
La Televisión de proximidad de ámbito autonómico En el marco del I Plan Técnico Nacional de la Televisión Digital Terrenal de octubre de
1998, se asigna a la Región de Murcia el Canal múltiplex 60 de frecuencia única de cobertura autonómica con capacidad para albergar cuatro programas de televisión digital terrestre. Aunque la intención de desarrollar una televisión pública regional parecía haberse desvanecido después del intento frustrado de activar en 1990 el proyecto de tercer canal44, a mediados de 2004, y después de haber barajado otras opciones45, el ejecutivo murciano anuncia su propósito de estudiar la viabilidad de una televisión autonómica pública46. En julio de 2005, se constituye la empresa pública, Televisión Autonómica de Murcia cuya puesta en marcha se vincula al desarrollo de la TDT en la Región. Así se expone en el texto por el que 44
SARABIA Isabel, La Televisión de proximidad en la Región de Murcia, Tesis doctoral inédita, 2004. Esas opciones pasaban por la concesión del canal múltiplex regional de TDT en régimen de gestión indirecta a una única empresa que debía comprometerse a producir y difundir espacios de interés público financiados por la Administración regional. Cfr. SARABIA I, “La televisión autonómica pública en la Región de Murcia: un modelo de tercer canal propio en el escenario digital”, XIII Jornadas Internacionales de Jóvenes investigadores en Comunicación Zaragoza, 26 y 27 de octubre de 2006. 46 En diciembre de 2004, se aprueba, de nuevo, la Ley autonómica de creación del tercer canal, que había sido derogada en 1994, cuando se había renunciado a activar Teletres. 45
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se crea la sociedad mercantil regional TAM, S.A, en el que se argumenta que la creación del tercer canal responde “…a una razón de oportunidad de singular importancia para el futuro en nuestra Región de la comunicación audiovisual, como es la implantación de la tecnología digital en este medio, por medio del cual se integrará la difusión tradicional de contenidos audiovisuales con nuevos servicios multimedia”47. La concesión de la gestión directa del tercer canal de televisión a la Comunidad autónoma de la Región de Murcia por parte del Estado se formaliza el 8 de julio de 200548 . En ella la Administración pone de manifiesto que la continuidad del tercer canal está supeditada al esfuerzo de la Comunidad Autónoma por impulsar la TDT, en tanto que, dicha concesión “está subordinada al desarrollo de la televisión digital terrenal”49. En lo que se refiere a la distribución de los programas digitales del múltiplex de cobertura autonómica asignado a la Región de Murcia, siguiendo las indicaciones del Plan Técnico de Televisión digital terrestre, el ejecutivo regional reserva inicialmente dos programas al tercer canal, y los otros dos los destina a la iniciativa privada. Así pues, el 26 de julio de 2005, la Administración autonómica convoca el concurso público para el otorgamiento en régimen de gestión indirecta de dos programas de televisión digital terrestre de ámbito regional50. Una semana más tarde, el 5 de agosto de 2005, el ente público Radiotelevisión de la Región de Murcia, formaliza ante la Administración central la solicitud de reserva de los dos canales digitales para su explotación en régimen de gestión directa. En octubre de 2005, a la vista del número de candidaturas recibidas por la mesa de contratación, el gobierno regional decide reducir la reserva inicial de programas de gestión pública a uno51. El propósito era sacar a concurso un tercer canal digital52. De manera que,
47
Decreto nº 82/2005, de 8 de julio, de creación de la sociedad mercantil regional “Televisión Autonómica de Murcia, S.A” [BORM. nº 19, julio 2005] 48 La concesión de la gestión directa del tercer canal de televisión por parte del Estado a la Comunidad autónoma de la Región de Murcia se formaliza el 8 de julio de 2005 mediante Real Decreto 823/2005, de 8 de julio, por el que se concede a la Comunidad Autónoma de la Región de Murcia la gestión directa del tercer canal de televisión. [BOE nº176, 25/JULIO/2005] 49 Idem 50 Anuncio de licitación del contrato de gestión de servicios públicos relativo a la concesión de dos programas para la explotación del servicio público d televisión digital terrestre de ámbito autonómico en la Comunidad Autónoma de la Región de Murcia. [BORM. nº. 170, 26/07/2005] 51 Resolución de 6 de octubre de 2005 del Secretario de Comunicación audiovisual y de los servicios de la Presidencia, por la que se dispone la publicación en el BORM del acuerdo de Consejo de Gobierno de 30 de septiembre de 2005, por el que se modifica el de 8 de julio de 2005, reservando uno de los canales digitales del múltiple digital de cobertura autonómica a la entidad pública Radiotelevisión de la Región de urcia [BORM.nº 236, 13/10/2005] 52 El motivo, según se informa mediante Nota de Prensa de la Comunidad Autónoma de Murcia con fecha 14/10/2005 es que “…Así, a la vista de la demanda existente para la prestación del servicio público por gestión
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RTRM modifica su solicitud de reserva y, pocos días después, la Administración convoca, el 15 de octubre de 2005, un segundo concurso para el otorgamiento de un nuevo programa53. La adjudicación de los tres canales digitales de cobertura autonómica se hace pública el 30 de diciembre de 2005. Los concesionarios de los dos concursos públicos convocados en julio y octubre, al que se presentaron seis ofertas54, son Televisión Murciana, S.A; La Verdad Radio y Televisión, S.A; y Televisión Popular de la Región de Murcia. La Región de Murcia, que hasta 2005 había prescindido de la televisión autonómica pública, asiste a una situación sin precedentes con la puesta en marcha, de forma simultánea, de una oferta de cuatro nuevos canales de ámbito regional, una pública y tres privadas. •
La televisión digital terrestre local. En marzo de 2004, la comunidad murciana recibe ocho canales múltiples de televisión
digital de ámbito local, contemplados en el Plan Técnico Nacional de Televisión digital local55– uno por demarcación-.
Cada zona de cobertura, que agrupa entre dos y doce
municipios, alcanza un territorio que oscila entre los quinientos y tres mil kilómetros cuadrados56. A diferencia de lo que sucede en otras comunidades autónomas como la andaluza o catalana, en la Región de Murcia la totalidad de los municipios tiene cobertura de la señal de televisión digital terrestre local. La planificación de los múltiplex asignados a la Región de Murcia se inicia a finales de 2004. El 30 de diciembre se dicta una orden por la que se regula el procedimiento de concesión de programas de televisión digital local a los municipios de la Comunidad autónoma de Murcia57. Tras este trámite, la Administración regional procede a realizar la consulta preceptiva a la totalidad de los ayuntamientos de la región, a efectos de reservar, como se indica en el PTN de Televisión digital local, un programa por demarcación para la
indirecta, y con la finalidad de promover la competencia y un mayor pluralismo en los medios de comunicación regionales, el Gobierno ha decidido reservar un canal del múltiple digital de cobertura autonómica a la Entidad Pública Radiotelevisión de la Región de Murcia…” 53 Anuncio de licitación del contrato de gestión de servicios públicos relativo a la concesión de un canal digital para la explotación del servicio público de televisión digital terrestre de cobertura autonómica en la Comunidad Autónoma de la Región de Murcia [BORM. nº 238 15/10/2005] 54 Al concurso se presentaron también La Opinión de Murcia, Promotora de Emisoras de Televisión y Kiss Media. 55 Real Decreto 439/2004, de 12 de marzo, po rle que se aprueba el Plan técnico nacional de la televisión digital local. [BOE 08-04-2004] 56 TL01MU: 5 munic./ TL02MU: 3/ TL03MU: 5/TL04MU:7/ TL05MU:12/ TL06MU:6 / TL07MU:4 /TL08MU:2 57 Orden de 30 de diciembre de 2004, de la Consejería de Economía, Industria e Innovación, por la que se regula el procedimiento de concesión de programas de televisión digital local a los municipios de la Comunidad Autónoma de Murcia. [BORM. nº 7, 11/01/2005]
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prestación del servicio de televisión de gestión directa. A mediados de julio de 2005, cuarenta y dos ayuntamientos murcianos habían presentado el certificado de solicitud de programa de Televisión Digital local, por lo que la Administración autonómica reserva un canal digital por demarcación para su gestión por los municipios interesados58. La convocatoria del concurso público para el otorgamiento en régimen de gestión indirecta de los tres programas restantes en las ocho demarcaciones se formaliza el 22 de julio de 200559. El proceso de organización de la televisión digital terrestre de ámbito local en la Región de Murcia culmina también el 30 de diciembre de 2005 con el otorgamiento de
las
concesiones de los veinticuatro programas locales. De las veintiuna empresas interesadas en explotar el servicio, sólo cuatro de ellas obtienen concesión. Ocho licencias - una por demarcación - se destinan a La Opinión de Murcia, S.A.U y al Grupo Empresarial de Televisión de Murcia, S.A. Libertad Digital de Televisión, S.A consigue una concesión en las demarcaciones de Murcia, Cartagena y Lorca, y la empresa, Canal 21 Murcia S.L.U, una en las cinco restantes. De la distribución de programas digitales quedan fuera candidatos como Kiss Tv Digital, Unedisa Telecomunicaciones, entre otros, pero también empresas locales. Son varios los operadores de televisión local que han aspirado a una licencia de televisión digital terrestre al considerar la convocatoria del concurso público como la ocasión de regular su situación. Algunos de estos canales, activos desde antes de enero de 1995, están incluso acogidos a la Disposición transitoria única de la Ley 41/199560, por lo que cuentan con la autorización provisional de la Comunidad Autónoma. Pero su trayectoria no ha tenido el peso suficiente y finalmente no han podido, en la mayoría de los casos, acceder a una licencia. Otros operadores locales no han intentado siquiera presentarse a la convocatoria. Es el caso de algunas televisiones de iniciativa comunitaria o el de pequeñas empresas, que han renunciado al concurso público al no poder hacer frente a las exigencias de sus bases. Si bien algunas demarcaciones, en las que no existía televisión local por ondas se ven beneficiadas con la puesta en marcha de cuatro nuevos canales -es el caso del Altiplano o el Noroeste, comarcas en las que tradicionalmente se ha impuesto la televisión local por cable-, no es así en otras zonas de cobertura como la de Lorca, en la que ya existía una importante 58
Resolución de 15 de julio de 2005 del Secretario de Comunicación Audiovisual y de los servicios de la Presidencia, por la que se dispone la publicación en el Boletín Oficial de la Región de Murcia del acuerdo de Consejo de Gobierno de 8 de julio de 2005 sobre reserva de gestión directa de programas de televisión digital terrestre de ámbito autonómico y local. [BORM, nº 173, 29/07/2005] 59 Anuncio de licitación del contrato de gestión de servicios públicos relativo a concesiones de programas para la explotación del servicio público de Televisión digital terrestre de ámbito local en la Comunidad Autónoma de la Región de Murcia. [BORM. nº170, 26/07/2005] 60 Disposición transitoria única. Le 41/1995, de 22 de diciembre, de televisión local por ondas terrestres. [BOE 27-12-1995]
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oferta de televisiones locales hertzianas en analógico. En esa demarcación, municipios como Águilas, Totana, Alhama de Murcia o Mazarrón, poblaciones que han contado hasta ahora con uno o incluso tres canales de televisión de ámbito municipal, no sólo ven extinguirse las empresas que operaban en sus municipios al no haber obtenido licencia de TDT para continuar su actividad, sino que también asisten a una sustancial ampliación del anillo de proximidad de la televisión que se activará en la demarcación a la que pertenecen. En apenas unos meses, y como consecuencia de la adaptación tecnológica de la televisión en la Región de Murcia, se crea un tejido televisivo integrado por 32 televisiones – veinticuatro canales privados y ocho públicos-. Se multiplica por dos la oferta de televisiones locales en la región. La mayoría de estos canales son de nueva creación.
A modo de conclusiones Tras lo expuesto, cabe afirmar que la televisión digital terrestre ha afectado a la estructura de la televisión de proximidad desarrollada en el escenario analógico. Se aprecia la aportación de nuevos modelos pero también la supresión de determinadas expresiones de televisión. -
Las políticas de implantación de la televisión digital terrestre son flexibles, no responden a una directriz definida. Se van reorientando en función de las consideraciones que se formulan desde las Comunidades autónomas, con el fin de satisfacer las demandas y corregir algunos desaciertos en la planificación de la TDT.
-
La estructura descentralizada de TVE no experimenta ninguna variación en su conversión digital. Se mantiene, por lo tanto, la modalidad de televisión de proximidad que corresponde al Centro Regional de TVE.
-
La delegación territorial de televisión nacional privada es una expresión de televisión de proximidad que queda extinguida en la transición digital de los canales de ámbito nacional. Se trata de una pérdida menor en la estructura de la televisión de proximidad en tanto que una comunidad autónoma se ve suficientemente atendida por la aparición de nuevas formas de canales regionales.
-
En el ámbito autonómico, la conversión tecnológica aporta una forma de televisión inédita en el escenario analógico, la televisión autonómica de gestión indirecta.
-
El número de televisiones regionales en cada Comunidad autónoma se multiplica por dos, en las regiones en las que ya existe tercer canal, y por cuatro, en las que no disponen de televisión autonómica pública.
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-
La TDT ha sido la vía para que las comunidades que han renunciado al tercer canal puedan contar con el servicio de televisión regional.
-
La necesidad técnica de delimitar áreas de cobertura, demarcaciones - que en una proporción muy elevada abarcan más de un municipio-, conduce inevitablemente a la creación de canales supramunicipales en detrimento de la televisión de ámbito exclusivamente municipal.
-
Se desvirtúa el concepto de televisión local en tanto que el anillo de proximidad se abre a la demarcación, que puede incluir varios municipios.
-
La ampliación del ámbito de cobertura, que puede incluir varias poblaciones, así como la limitación a uno o dos canales
por demarcación para la gestión pública limita las
posibilidades de las corporaciones para desarrollar una televisión municipal pública. -
Se tiende a la extinción de la televisión municipal pública, mientras que se da paso a una nueva modalidad de televisión de proximidad, la televisión pública supramunicipal o comarcal.
-
Se producen importantes desequilibrios territoriales en la medida en la que existen demarcaciones que cubren un reducido número de poblaciones mientras que otras, de la misma comunidad autónoma, reúnen un elevado número de municipios.
Bibliografía LÓPEZ, Bernat, “Programación y contenidos de las televisiones de proximidad en Europa”. En VACAS DE AGUILAR (Editor): Televisiones y regiones en desarrollo. Edit. Junta de Extremadura. Cáceres, 2000. MORAGAS SPÁ, Miquel de et al. (Eds), Televisión de proximidad en Europa. Experiencias de descentralización en la era digital. Edit. Universidad Autónoma de Barcelona. Barcelona, 1999. PÉREZ, Francisco “ Las televisiones locales en el umbral de la era digital” en ANUARIO 2003 de GECA, Madrid, 2003. PINEAU, Guy, La télévision de proximité, Dossiers de l’audiovisuel , nº57 INA 1994. VILLAFAÑE, Justo y GARCÍA SERRANO, Federico. “La televisión pública en las Comunidades Autónomas”. ALFOZ. Madrid. Territorio. Economía y Sociedad.” Monografía. Madrid. Centro de Invest. y Documentación urbana y rural. Madrid, 1985. GARCÍA CASTILLEJO, Angel et al, Curso Derecho de las Telecomunicaciones y del Audiovisual. Marco Jurídico del sector audiovisual en España (2002), Grupo Corporación Multmedia.
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SARABIA Isabel, La Televisión de proximidad en la Región de Murcia, Tesis doctoral inédita, 2004. SARABIA I, “La televisión autonómica pública en la Región de Murcia: un modelo de tercer canal propio en el escenario digital”, XIII Jornadas Internacionales de Jóvenes investigadores en Comunicación Zaragoza, 26 y 27 de octubre de 2006.
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Condicionantes socio-laborales de los periodistas online en España José Mª Gª de Mariaga Fernando Tucho Mª Luiza Humanes Manuel Martínez-Nicolás1
La tradición académica en el estudio sociológico de las redacciones periodísticas (Johnstone et al, 1976; Tuchman, 1983; Fishman, 1983; Reese y Shoemaker, 1996) y de los perfiles de los periodistas (Weaver, 1998; Canel y Sádaba, 1999; Ortega y Humanes, 2000; García de Cortázar y García de León, 2000) ha incorporado en los últimos años el estudio de dos de los factores que condicionan, entre otros, la configuración de los escenarios donde los profesionales desarrollan su trabajo informativo: la evolución de la estructura empresarial, cada vez más global y concentrada, y el avance de la tecnologías de la Información y la Comunicación (TIC) –tanto fuera como dentro de las redacciones– (Reese, 1996; Weaver, 1999; Boczkowski, 2002; Domingo, 2004; García de Madariaga, 2004; Martínez-Nicolás et al, 2006), dotadas de nuevas capacidades informativas gracias a la digitalización: interactividad, hipertextualidad y multimedialidad, principalmente. Ambos elementos han sido claves a la hora de identificar y analizar los indicadores que permiten cartografiar la fisonomía de una actividad especialmente difusa y desregulada. Desde la formación de sus miembros hasta el establecimiento de valores y rutinas de trabajo, sin olvidar los mecanismos de acceso al oficio, el recorrido por los condicionantes del trabajo periodístico hace difícil considerarlo como una profesión consolidada (Ortega y Humanes, 2000; García de Cortázar y García de León, 2000). Durante décadas el periodista y su equipo de trabajo pasaron por constituir una nueva profesión impulsada por el desarrollo industrial de la empresa periodística y el asentamiento de la comunicación de masas, que hacía de su principal agente una figura exclusiva y excluyente frente a la sociedad a la que servía. El periodista surgido de la revolución industrial hacía gala de sus atributos profesionales, encabezados por el de la objetividad informativa y la vigilancia del poder, en virtud de la diversidad del panorama informativo propio de las democracias. La ausencia de normas claras que rigieran el funcionamiento de su actividad no suponía ningún problema 1
El desarrollo de la investigación en la que se basa este trabajo ha contado con la colaboración de Carles Marín Lladó y Jaume Soriano.
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para que ésta se constituyera como una profesión liberal más. Sin embargo, su endeblez normativa no pudo evitar que este barniz pseudo-profesional se empezara a disolver como un azucarillo ante los primeros embates de la globalización. La desregulación de los mercados y la creciente concentración empresarial han ido debilitando el sostén de la profesionalidad del periodista: tanto la objetividad como la vigilancia del poder de los medios de comunicación pierden valor en un escenario cada vez más sometido a los dictados de la racionalidad comercial y que convierte a la mayoría de los informadores en meros difusores de contenidos –confeccionados cada vez más desde fuera de las redacciones– que “copia”, “pega” y apenas retoca (Canel y Sánchez-Aranda, 1999; Ramonet, 2000). Por otro lado, los mismos recursos técnicos de “procesado” informativo que asisten a ese periodista transmisor y acrítico son también los que dotan a otras instancias –como los partidos políticos o los gabinetes de prensa, sin olvidar a la propia audiencia– de una potencialidad comunicativa inimaginable hace apenas unos años. Frente al periodista de la cadena de montaje hoy se presentan cada vez más ciudadanos interconectados que pueden acceder a más fuentes de información, y que en muchos casos son activos informadores públicos, capaces incluso de cuestionar su trabajo e incluso de competir con él (García de Madariaga, 2006; Sandoval, 2005). Por consiguiente, tanto la convergencia empresarial como la tecnológica estarían suponiendo dos serios obstáculos –casi simultáneos– para que el periodismo alcance la categoría profesional que merece una sociedad democrática. Ello explica, entre otros motivos, la creciente precariedad laboral que acompaña a la actividad periodística desde hace algunos años (Ramonet, 2000; Randall, 2000). Diversos trabajos apuntan a este contexto de crisis para el periodista y las redacciones (Wolf, 1996; Halperin, 1997; Martínez Albertos, 1997; Pablos Coello, 2001; Piscitelli, 2002), y señalan la necesidad de reconvertir sus capacidades y valores profesionales (Randall, 1999; García de Madariaga, 2004) para adaptarse a un escenario donde ya no tienen la exclusividad de antaño, un escenario que demanda a los supuestos profesionales del periodismo una serie de funciones que garanticen el flujo comunicativo en un proceso mucho más complejo que el precedente. Sin embargo, la ampliación de las formas de difusión periodística, especialmente a través de Internet, lejos de iniciar un cambio en la cultura profesional, parece conservar los mismos códigos y actitudes profesionales imperantes durante el siglo XX (Martínez-Nicolás et al, 2006; Boczkowski, 2002 y 2004). Y aunque el problema de la precariedad laboral ofrece signos de continuidad (Grup de Periodistes Digitals, 2003), está por ver si la consolidación de las redacciones online presenta alguna novedad en las condiciones profesionales y socio-
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laborales que pueda hacer viable la necesaria adaptación de los periodistas y de las redacciones a un mundo digitalizado caracterizado por la actualización continuada, la interactividad creciente, la hipertextualidad y la multimedialidad (Domingo, 2004; Deuze, 1999). Con la idea de detectar tales síntomas de adaptación –o de desmentirlos–, el Grupo de Estudios Avanzados de Comunicación de la Universidad Rey Juan Carlos (GEAC-URJC) ha desarrollado una investigación exploratoria estrechamente ligada a las circunstancias de los periodistas online. La dimensión socio-laboral de esta investigación implica analizar las transformaciones que Internet está introduciendo en los perfiles profesionales de los periodistas que trabajan en medios que se difunden por internet, así como las diferencias que les caracterizan respecto a los periodistas que trabajan para medios tradicionales y las relaciones profesionales que hay entre unos y otros, especialmente cuando pertenecen al mismo grupo de comunicación. Buena parte del proyecto trata de analizar las estructuras jerárquicas que se establecen en los medios donde trabajan y los condicionantes que estas pueden plantear en la toma de decisiones y en la autonomía profesional de los llamados ciberperiodistas, así como en la configuración de los contenidos periodísticos de los medios digitales. En última instancia, los objetivos anteriores conducen al estudio de la conformación de nuevas funciones del periodista y del periodismo. Metodológicamente, se han realizado dos estudios. En primer lugar se diseñaron entrevistas semi-estructuradas a 23 directores, subdirectores y redactores-jefe de algunas de las publicaciones y proveedores de contenido online más representativos de nuestro país (el trabajo de campo se llevó a cabo entre abril y junio de 2005): El Mundo, ABC, La Vanguardia, 20 minutos, Cadena Ser, Cadena Cope, Antena 3, Telecinco, Europapress, Agencia Efe, Libertad Digital, Diario Directo, Estrella Digital, Madrid Diario, Periodista Digital, Radiocable, Telenotícies, Informativos, El Confidencial, Ya, Tiscali, Prisacom y Vocento Mediatrader. A continuación se procedió a elaborar un cuestionario que se envió entre los meses de octubre de 2005 a enero de 2006 a los redactores de las publicaciones online censadas hasta ese momento, lo que ha permitido reunir información comparativa y de primera mano de 83 periodistas online en una muestra autoseleccionada muy equilibrada en términos de género –una mitad para cada sexo–, de categoría de medios –repartidos a partes iguales entre medios estrictamente digitales y redacciones vinculadas estructuralmente a otros medios convencionales (que a partir de ahora llamaremos mixtos para diferenciarlos de los
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anteriores)–, y de categorías profesionales –un 12,2% de cargos directivos, un 26,8% de redactores-jefes y un 61% de redactores, infógrafos y documentalistas–. Esta comunicación ofrece los primeros resultados del análisis socio-laboral de esta investigación, realizada dentro del proyecto titulado “Periodismo e Internet: rutinas de producción y valores profesionales”, que recibió una subvención del Programa propio de fomento de la investigación de la Universidad Rey Juan Carlos (Referencia: PPR 2004-51)2.
Jóvenes pero experimentados La encuesta realizada permite proyectar una imagen bastante nítida de los perfiles socio-laborales que se encuentran en las redacciones digitales. Uno de los rasgos indiscutiblemente comunes es su extremada juventud: más de la mitad de los encuestados no ha llegado a la treintena y el 70% tiene menos de 35 años. En el caso de las mujeres este porcentaje llega al 80% (Tabla 1) y al 75% en el de los trabajadores de medios mixtos. La juventud se hace especialmente relevante si consideramos que hay un directivo y 8 redactoresjefes menores de 30 años, uno de ellos menor de 25 (Tabla 2). Un dato que matiza esta precoz responsabilidad es que, a pesar de la juventud, las plantillas online cuentan con una considerable experiencia laboral: únicamente el 11,1% se encuentra en su primer puesto de trabajo y sólo un 4,8% lleva menos de un año trabajando en medios online, mientras que la media supera los 4 años y la moda llega a 5.
2
Este proyecto se complementa con uno posterior co-financiado por la URJC y la Comunidad de Madrid (URJC-OTR-102-3), centrado en el estudio de los contenidos y formatos de las publicaciones online, así como en el análisis de la recepción de las mismas por parte de la audiencia y en la reflexión sobre los aspectos metodológicos de este campo de investigación.
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Tabla 1: Edad de la distribución por sexo sexo edad
menos de 25
Recuento % de sexo
26-30
Recuento % de sexo
31-35
Recuento % de sexo
36-40
Recuento % de sexo
41-45
Recuento % de sexo
más de 50
Recuento % de sexo
Total
Recuento % de sexo
hombre 5 12,2%
mujer 8
Total 13
20,0%
16,0%
15
16
31
36,6%
40,0%
38,3%
7
8
15
17,1%
20,0%
18,5%
1
4
5
2,4%
10,0%
6,2%
10
2
12
24,4%
5,0%
14,8%
3
2
5
7,3%
5,0%
6,2%
41
40
100%
100%
81 100%
Formación También es destacable que el 92,6% sean licenciados, de los que el 89,2% han estudiado alguna de las carreras de ciencias de la comunicación. Ambos datos elevan y consolidan claramente el perfil universitario de los informadores reflejado en estudios anteriores, si bien, como asegura uno de los entrevistados, “últimamente yo creo que salen peor, y además se están enseñando cosas que son necesarias, pero se están olvidando de otras que son básicas” (Madrid Diario). Además, muy pocos han recibido formación específica en periodismo online: sólo un 27,3% ha recibido algún curso, cuya iniciativa y financiación ha partido de la empresa en la que trabajan en menos de la mitad de los casos. Será porque, como apuntan bastantes entrevistados, no hace falta, dado que no hay diferencia con el periodismo tradicional: Yo creo que la formación de los periodistas, generalmente hablando, no es una formación técnica, porque la técnica del periodismo, ya sea en el papel, cómo funcionan los ordenadores, cómo funcionan los sistemas de edición y todo esto, se puede aprender en dos meses, y luego esto tiene un carácter mecánico muy automático. (La Vanguardia)
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Tabla 2: Edad de la distribución por categoría profesional
edad
menos de 25
26-30
31-35
36-40
41-45
más de 50
Total
Recuento % de Categoría profesional Recuento % de Categoría profesional Recuento % de Categoría profesional Recuento % de Categoría profesional Recuento % de Categoría profesional Recuento % de Categoría profesional Recuento % de Categoría profesional
redactor 12
Categoría profesional redactor-jefe directivo 1 0
Total 13
24,5%
4,5%
,0%
16,3%
23
7
1
31
46,9%
31,8%
11,1%
38,8%
9
5
1
15
18,4%
22,7%
11,1%
18,8%
3
2
0
5
6,1%
9,1%
,0%
6,3%
2
4
6
12
4,1%
18,2%
66,7%
15,0%
0
3
1
4
,0%
13,6%
11,1%
5,0%
49
22
9
80
100%
100%
100%
100%
También encontramos opiniones que señalan todo lo contrario y que reclaman una formación especial para los periodistas de la web:
Seguramente se le pide un nivel de formación más amplio que a un periodismo habitual. Internet es tanta información y tan sencilla, que uno tiene un nivel de formación y de capacidad profesional mucho más alto o es más fácil que fracase en este ámbito. Un periodista de local de una radio con que sepa cuatro fuentes de información puede mantenerse. En internet hay que tener mucha más capacidad de seleccionar, de elegir, porque aquí todo es mucho más amplio, te peleas al final con muchos más papeles. Por otra parte, es muy autodidacta. El periodismo digital es una asignatura residual en los estudios; entonces los periodistas son mucho más autodidactas, lo cual es una gran virtud, porque se recupera esa autoformación que ha hecho escuela con muchos periodistas de este país. (COPE)
De un modo u otro, un 79% considera que el trabajo que hacen se adecua mucho o bastante a su formación. En cambio, las mujeres encuestadas se sienten tanto es adecuación; lo mismo les ocurre a los periodistas de medios mixtos (Tabla 3).
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Tabla 3: El trabajo que hago se adecua a la formación que tengo Sexo
Categoría de medio
Total
Hombres
Mujeres
Mixto
Digital
28,4
24,4%
32,5%
27,5%
31,6%
Bastante
50,6
63,4%
37,5%
42,5%
57,9%
Poco
11,1
9,8%
12,5%
12,5%
7,9%
Nada
9,9
2,4%
17,5%
17,5%
2,6%
1,90
2,15
2,2
1,81
Muy de acuerdo
Medias
2,02 (D. T: ,894)
Consideración profesional Si bien muchos entrevistados aseguran que su perfil profesional es idéntico al de los periodistas que trabajan en medios convencionales, la encuesta señala que la percepción sobre su reconocimiento en su propio medio, siendo negativa, es más favorable (2,41 sobre 4) que en la profesión en general (2,61) (Tablas 12 y 13. Parece que este dato encaja con muchos comentarios sobre la autoestima profesional de bastantes entrevistados:
Pero es verdad que, hablando con otros compañeros que también se dedican al periodismo en internet, sí que a veces se les han cerrado las puertas. Esa es una desventaja. (Madrid Diario)
Te das cuenta de que hacemos la misma labor, los mismos enfoques, las mismas contrastaciones de las noticias, las tres fuentes y todo, pero realmente el periodista online tiene unas connotaciones peyorativas que no tiene el de la prensa escrita […] Cuando las grandes compañías organizan viajes o grandes ruedas de prensa o eventos, siempre llaman a medios escritos, pero nunca llaman a prensa online. Hasta hace poco, a la prensa online no les dejaban acceder a La Moncloa a las ruedas de prensa que hay después de los Consejos de Ministros. ¿Por qué? Te das cuenta de que es un menor reconocimiento, cuando a lo mejor dejan pasar al periodista de Expansión, que a lo mejor lo leen 50.000 personas (y estoy tirando muy por lo alto), y no nos dejan entrar a nosotros que nos leen 100.000. Esa es la falta de reconocimiento a la que me refiero (El Confidencial)
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Creo que hay una mirada bastante peyorativa en los medios tradicionales hacia los medios digitales. Pero eso tiene que ver con una situación política general del país, y la monopolización de los medios (Periodista Digital)
Creo que como todos los ámbitos que empiezan, el periodismo digital no tiene un marco de definición claro. Por una parte, creo que los medios que no tienen una vinculación con un gran medio son todavía muy pobres, eso es una realidad evidente. Es decir, si elmundo no tiene El Mundo en papel sería un portal ridículo; si la cope no tuviese detrás a la COPE sería una portal ridículo. Es un sector que tiene todavía mucho que madurar. En realidad yo creo que el gran problema es que los medios no vinculados a un medio importante no tienen el rigor, o esa presunción de rigor, que tiene un medio importante (Cope)
La percepción de que el periodista digital tiene la misma consideración profesional3 que los que trabajan en otros medios sólo es compartida por el 24% de los encuestados, con una media de valoración de 2,80 sobre 4, dato que apenas varía entre periodistas de medios mixtos y sólo digitales (Tablas 4 y 5). Son los que están desempeñando su primer trabajo en el periodismo los que manifiestan una consideración menor en este sentido: 3,13 de media. Sin embargo, son muchos más, casi un 68%, los que piensan que el periodista digital debe tener cualidades diferentes a los periodistas que trabajan en medios tradicionales; en este caso sí destacan ligeramente a favor los periodistas de medios mixtos, y vuelven a ser los más inexpertos los más partidarios con una media de 2. Más acusada es esta diferencia cuando se les pregunta si creen que los medios digitales son complementarios de los medios tradicionales, donde un 76% muestra su acuerdo; también los más jóvenes destacan por su acuerdo con esta cuestión. Las respuestas se invierten levemente al preguntarles si son alternativos: los periodistas de medios digitales se muestran más partidarios, igual que los más veteranos. Por último, se reduce el acuerdo respecto a si son subsidiarios o secundarios de los medios tradicionales, siendo los de medios mixtos los más disconformes, lo que parece lógico y queda reflejado en testimonios como éstos: ¿Elmundo.es en qué se diferencia de El Mundo periódico impreso? Pues es evidente que no saca los temas con la misma profundidad, no da los mismos temas porque no se puede hacer competencia a sí mismo, tiene que darlo a posteriori, si quiere entrar en el periódico de la calle tiene que pagar... (Diario Crítico)
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Es residual porque es de una empresa que lo que hace es radio, y por tanto no tiene intención de integrarse al negocio en sí mismo, sino que es un modo de repercutir los contenidos de radio. (Cope)
Si aplicamos el análisis factorial de estas cinco variables, descubrimos que se perfilan dos grupos claramente diferenciados: el de los que consideran que el periodista digital debe tener cualidades diferentes a los periodistas de medios tradicionales y que, por tanto, los medios digitales son alternativos a los medios tradicionales; y el de los que creen que ambos tienen la misma consideración y que, en consecuencia, los medios digitales son complementarios de los medios tradicionales (Tabla 6).
Situación salarial y contractual A pesar de la baja autoestima generalizada frente a los periodistas tradicionales, los datos extraídos indican una situación salarial algo mejor que la que refleja el Grup de Periodistes de Catalunya (2003). El 30,8% cobra entre 901 y 1200 €, el 20% recibe entre 1201 y 1800, y un 26,9% supera los 1800; un 2,6% no recibe salario, un 5,1% cobra entre 300 y 600 € y un 14,1%, entre 601 y 900 (Tabla 10). Un 41,3% se considera bastante bien bagado; un 58,8 mal o muy mal pagado (Tabla 11). Tabla 4: Consideración de periodistas y medios digitales por experiencia en la profesión si
el periodista digital tiene la misma consideración que otros
el periodista digital dbe tener cualidades diferente
los medios digitales son complementarios de los tradicionales
los medios digitales son alternativos a los medios tradicionales
los medios digitales son subsidiarios de los medios tradicionales
muy de acuerdo bastante poco nada de acuerdo Total muy de acuerdo bastante poco nada de acuerdo Total muy de acuerdo bastante poco nada de acuerdo Total muy de acuerdo bastante poco nada de acuerdo Total muy de acuerdo bastante poco nada de acuerdo Total
% del N de la columna ,0% ,0% 87,5% 12,5% 100,0% 37,5% 37,5% 12,5% 12,5% 100,0% 62,5% 25,0% 12,5% ,0% 100,0% 37,5% ,0% 62,5% ,0% 100,0% 12,5% 25,0% 50,0% 12,5% 100,0%
Media
N=3,13
N=2,00
N=1,50
N=2,25
N=2,63
Primer trabajo en el periodismo no Total % del N de % del N de la columna la columna Media Media 14,3% 12,8% 12,9% 11,5% 55,7% 59,0% 17,1% 16,7% 100,0% N=2,76 100,0% N=2,79 18,6% 20,5% 48,6% 47,4% 21,4% 20,5% 11,4% 11,5% 100,0% N=2,26 100,0% N=2,23 27,1% 30,8% 48,6% 46,2% 15,7% 15,4% 8,6% 7,7% 100,0% N=2,06 100,0% N=2,00 11,6% 14,3% 42,0% 37,7% 37,7% 40,3% 8,7% 7,8% 100,0% N=2,43 100,0% N=2,42 17,1% 16,7% 18,6% 19,2% 31,4% 33,3% 32,9% 30,8% 100,0% N=2,80 100,0% N=2,78
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Tabla 5: Consideración de periodistas y medios digitales por categoría de medio
el periodista digital tiene la misma consideración que otros
el periodista digital dbe tener cualidades diferente
los medios digitales son complementarios de los tradicionales
los medios digitales son alternativos a los medios tradicionales
los medios digitales son subsidiarios de los medios tradicionales
muy de acuerdo bastante poco nada de acuerdo Total muy de acuerdo bastante poco nada de acuerdo Total muy de acuerdo bastante poco nada de acuerdo Total muy de acuerdo bastante poco nada de acuerdo Total muy de acuerdo bastante poco nada de acuerdo Total
Mixto % del N de Media la columna 17,9% 7,7% 56,4% 17,9% 100,0% N=2,74 20,5% 48,7% 20,5% 10,3% 100,0% N=2,21 33,3% 51,3% 15,4% ,0% 100,0% N=1,82 12,8% 30,8% 51,3% 5,1% 100,0% N=2,49 17,9% 28,2% 33,3% 20,5% 100,0% N=2,56
Categoría de medio Digital (sólo) % del N de Media la columna 7,9% 15,8% 60,5% 15,8% 100,0% N=2,84 18,4% 47,4% 23,7% 10,5% 100,0% N=2,26 26,3% 39,5% 18,4% 15,8% 100,0% N=2,24 16,2% 43,2% 29,7% 10,8% 100,0% N=2,35 15,8% 10,5% 34,2% 39,5% 100,0% N=2,97
Total % del N de Media la columna 13,0% 11,7% 58,4% 16,9% 100,0% N=2,79 19,5% 48,1% 22,1% 10,4% 100,0% N=2,23 29,9% 45,5% 16,9% 7,8% 100,0% N=2,03 14,5% 36,8% 40,8% 7,9% 100,0% N=2,42 16,9% 19,5% 33,8% 29,9% 100,0% N=2,77
Tabla 6: Análisis factorial sobre consideración profesional Matriz de componentes rotados
a
Componente 1 2 los medios digitales son alternativos a los medios tradicionales el periodista digital dbe tener cualidades diferente los medios digitales son subsidiarios de los medios tradicionales el periodista digital tiene la misma consideración que otros los medios digitales son complementarios de los tradicionales
,769
-,036
,617
,088
-,570
,117
,223
,830
-,352
,771
Método de extracción: Análisis de componentes principales. Método de rotación: Normalización Varimax con Kaiser. a. La rotación ha convergido en 3 iteraciones.
Por otra parte, según los datos recogidos, los consultados también se encuentran en un nivel de contratación mucho más favorable que el expuesto por el estudio del Grup de Periodistes: un 75,9% de ellos está contratado a jornada completa, 7,6% a tiempo parcial, 5,1% son colaboradores y 1,3% de becarios. Sólo un 2,5% señala otras opciones, entre las que
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pueden encontrarse la contratación mercantil, ser autónomo o no tener contrato. En lo que se refiere a horas de trabajo, los datos recogidos superan el estricto cumplimiento del tipo de contrato, con una media total de 8,41 horas diarias (Tabla 7).
Tabla 7: Horas de trabajo por tipo de contrato tipo de contrato
Horas de trabajo diarias
tiempo parcial Media 6.80
jornada completa Media 8.72
colaborador Media 7.00
prácticas Media 7.75
becario Media 7.00
otros Media 8.00
Total Media 8.41
Motivación tradicional Al preguntarles por las razones que les llevaron a dedicarse al periodismo se reedita mayoritariamente la respuesta de “porque me gusta escribir” (59,3%) (Ortega y Humanes, 2000; García de Cortázar y García de León, 2000), seguida de “la posibilidad de intervenir en los cambios sociales” (34,6%), “el estilo de vida de los periodistas” (19,8%), “las influencias que genera sobre la opinión pública” (18,3%) y “el prestigio de la profesión” (13,4%), entre otras muchas razones minoritarias o particulares. En cuanto a lo que les motivó acceder al periodismo online se presentan dos razones de peso: un 52,4% expone su propia iniciativa porque le “atraían las nuevas tecnologías y la posibilidad de realizar un nuevo tipo de periodismo”, mientras que un 15,9% accedió a su puesto porque “la empresa para la que trabajo me trasladó a la publicación online”, lo que representa un 26% de los medios vinculados a un medio convencional. También hay un 23% que estaba sin trabajo y no encontró nada mejor, casos que se ven reflejados en lo que dicen algunos entrevistados, en relación, una vez más, con la baja consideración profesional de este sector por parte de los que trabajan en él:
Entonces, a un joven licenciado, ¿qué le puede atraer de este medio? Para empezar que es un medio donde va a haber más trabajo, porque en la prensa está cerradísimo el mercado. (Diario Crítico)
Creo que los que ocupan los puestos de internet, a priori son gente que es lo que les queda. De eso estoy bastante convencido, excepto gente más idealista que monta sus propios medios y apuesta por el medio. Otra cosa que sí pasa es que es un profesional que viene aquí por despiste, descubre esto y se enamora de esto, porque las posibilidades que tiene son mucho mayores que en cualquier otro sistema. Y por
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tanto, cuando está dice, pues hombre... Yo lo veo por los que viene al departamento de internet, que hay una plaza y la ocupan. Pero luego el que está no quiere irse, porque descubre que hay un potencial de cosas curioso. A nivel de medio, pues lo lógico. No es lo mismo ser director de El País que director de elpais.es; no es lo mismo serlo de COPE que de COPE en internet. Pero es algo lógico, porque internet hace 20 años no existía, hace 10 tal, y por lo tanto no se puede esperar una progresión rápido. Por eso creo que la consideración profesional que se tiene no es mala, pero que es un periodismo de segunda todavía para mucha gente. Ahora, el que lo prueba le cuesta renunciar a esto porque es un periodismo de segunda con un potencial muchísimo más grande que cualquiera de los periodismos de primera, y mucho más libre y con mucho más margen. (Cope)
Por lo demás, no parece que el acceso de los periodistas a las redacciones online pueda vincularse a un ascenso, ni a un incremento de sueldo, ni al incentivo a la especialización en campos concretos. Ante este panorama, el 63% asegura estar bastante o muy satisfecho con su trabajo en general frente a un 29,6% que está poco satisfecho y un 7,4% nada satisfecho (Tabla 8). Además, un 32,5% no cambiaría de puesto y un 20% sólo cambiaría algunas tareas (Tabla 9). Frente a ellos, un 31,3% preferiría trabajar en un medio tradicional, y un 16,3% dice querer dedicarse a otra profesión que no fuera el periodismo, dato que concuerda con la paradójica desafección profesional entre los más jóvenes y el tradicional abandonismo de esta actividad que ya han reflejado estudios previos (García de Cortázar y García de León, 2000: cap.5), y que destaca especialmente en un sector tan marcadamente joven.
La cuestión del género Como ocurre en la mayoría de los sectores profesionales, encontramos numerosos y significativos rasgos de discriminación para la mujer. Muestra de ello es que las mujeres de éste se muestran menos reticentes a cambiar de trabajo (27,5%) que los hombres (37,5%), dato que se matiza con una ligera preferencia masculina por dedicarse a otra profesión (Tabla 9). Quizás lo explique la menor satisfacción frente a los varones (Tabla 8) y las peores condiciones de sueldo en los tramos más bajos y en los más altos (Tabla 10), lo que se corresponde con una menor satisfacción con el sueldo (Tabla 11) y una peor auto-percepción en su medio (Tabla 12) y la profesión que sus compañeros (Tabla 13). No en vano, existe una sensible diferencia en redactores-jefes a favor de los hombres (22,5% frente a 32,5%) y muy notoria en cargos directivos (2,5% frente a 20%) (Tabla 14).
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Tabla 8: Satisfacción general con el trabajo por sexo y categoría de medio Sexo
Categoría de medio
Total
Hombres
Mujeres
Mixto
Digital
7,4%
7,3%
7,5%
12,5%
2,6%
Bastante
55,6%
68,3%
42,5%
45%
65,8%
Poco
29,6%
19,5%
40%
30%
28,9%
Nada
7,4%
4,9%
10%
12,5%
2,6%
Medias
2,37
2,21
2,52
2,42
2,31
Muy satisfecho
Tabla 9: Disposición a cambiar de trabajo por sexo y categoría de medio Sexo
Categoría de medio
Total
Hombres
Mujeres
Mixto
Digital
16,3%
17,5%
15%
7,5%
24,3%
31,3%
22,5%
40%
40%
24,3%
20%
22,5%
17,5%
20%
18,9%
Dedicarme a otra profesión que no fuera el periodismo Trabajar en un medio tradicional Seguir trabajando en un medio online realizando otras tareas
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No cambiaría
32,5%
37,5%
27,5%
32,5%
32,4%
de trabajo
Tabla 10: Salario de la distribución por sexo y categoría de medio Sexo
Categoría de medio
Total
Hombres
Mujeres
Mixto
Digital
2,6%
0%
5%
2,6%
2,7%
300-600
5,1%
2,6%
7,5%
5,1%
2,7%
601-900
14,1%
10,5%
17,5%
17,9%
8,1%
901-1200
30,8%
36,8%
25%
33,3%
29,7%
1201-1500
11,5%
2,6%
20%
5,1%
18,9%
1501-1800
9%
13,2%
5%
10,3%
8,1%
26,9
34,2
20
25,6
29,7
No recibo salario
Más de 1800
Tabla 11: Considero que mi trabajo está bien pagado (por sexo y categoría de medio) Sexo
Categoría de medio
Total
Hombres
Mujeres
Mixto
Digital
Bastante
41,3%
42,5%
40%
42,5%
37,8%
Poco
35%
45%
25%
32,5%
40,5%
Nada
23,8%
12,5%
35%
25%
21,6%
2,7
2,95
2,82
2,83
Medias
2,82 (D.T.: ,792)
Tabla 12: Estoy bien reconocido en mi medio (por sexo y categoría de medio) Sexo
Muy de acuerdo
Categoría de medio
Total
Hombres
Mujeres
Mixto
Digital
11,3%
15%
7,5%
15%
8,1%
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Bastante
47,5%
60%
35%
35%
59,5%
Poco
30%
17,5%
42,5%
32,5%
27%
Nada
11,3%
7,5%
15%
17,5%
5,4%
Medias
2,41
2,17
2,65
2,52
2,29
Tabla 13: Estoy bien reconocido en la profesión (por sexo y categoría de medio) Sexo
Categoría de medio
Total
Hombres
Mujeres
Mixto
Digital
7,5%
7,5%
7,5%
7,5%
8,1%
Bastante
36,3%
47,5%
25%
25%
48,6%
Poco
43,8%
32,5%
55%
47,5%
37,8%
Nada
12,5%
12,5%
12,5%
20%
5,4%
Medias
2,61
2,5
2,72
2,8
2,4
Muy de acuerdo
Medios online vs versiones online de medios Si en vez de aplicar el género como variable independiente aplicamos la categoría del medio, podemos observar que la satisfacción profesional es ligeramente menor entre los profesionales de los medio mixtos (Tabla 8). No resulta extraño si tenemos en cuenta que en estos medios son más frecuentes los sueldos bajos y menos los sueldos medios (Tabla 10), y que sus redactores se sienten peor reconocidos en la profesión (Tabla 13) y en su propio medio (si bien en menor medida) (Tabla 12) que los de los medios exclusivamente digitales. Sorprendentemente, ambos se sienten bien pagados en la misma proporción (Tabla 11), alrededor de un 40%, quizás un poco más los mixtos. Del mismo modo, se sienten mal pagados en similar medida: 62,1% y 57,5%. También es llamativo que, a pesar de lo descrito, sean los periodistas de medios sólo digitales lo que más dispuestos están a dedicarse a otra profesión (24,3% frente a 7,5%) (Tabla 9), si bien ambos grupos tienen el mismo nivel de reticencia a cambiar (32,5%). Más explicación tiene el hecho de que al 40% de los periodistas de medios mixtos le gustaría trabajar en un medio tradicional, cuando esa aspiración se queda en el 24,3% en el caso de los periodistas de medios únicamente online. Encontramos, sin embargo, opiniones que no encajan con este perfil:
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En estos momentos no volvería al papel ni loco. Que puede sonar raro, porque todavía hay gente que tiene ese mentalidad de que internet, periodísticamente, es algo de segunda categoría. Y yo pienso lo contrario, que esto va para arriba, para arriba, y los periódicos están planos, planos. Y son ellos los que se tienen que redefinir.[…] En el fondo, el periodismo en internet está recuperando la esencia del periodismo clásico de dar información pura (El Mundo)
Yo creo que la versión online ha de ser online exclusivamente y tener en la web la versión en PDF del periódico. Pero lo importante de la edición online es que tiene que tener vida propia, y tiene que tener sus propios contenidos y tiene que estar en el mercado no tanto como soporte del papel, sino como una creación nueva y genuina que es la versión digital. (La Vanguardia)
Tabla 14: Categoría profesional por sexo sexo Categoría profesional
redactor
Recuento % de sexo
redactor-jefe
Recuento % de sexo
directivo
Recuento % de sexo
Total
Recuento % de sexo
hombre 19
mujer 30
Total 49
47,5%
75,0%
61,3%
13
9
22
32,5%
22,5%
27,5%
8
1
9
20,0%
2,5%
11,3%
40
40
80
100,0%
100,0%
100,0%
Otro dato interesante es que del 22% de encuestados que compagina su puesto habitual con el trabajo en otros medios, la gran mayoría, el 83%, trabaja en medios sólo digitales (Tabla 15), que además sólo en un tercio de los casos pertenecen a la empresa que les emplea (Tabla 16). Este hecho, lejos de ser un rasgo de precarización tan habitual en el periodismo tradicional (freelances, periodistas a la pieza, etc.), no se asocia con una mayor propensión a cambiar de profesión, sino todo lo contrario (Tabla 17). Con un panorama aparentemente más satisfactorio para los periodistas de medios estrictamente digitales, resulta llamativo que sean éstos los más dados a vincularse con organizaciones profesionales (asociaciones de la prensa, colegios profesionales y sindicatos), una de las maneras más tradicionales de defender los derechos e intereses colectivos (Tabla
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18). Quizás sea éste un síntoma de que precisamente estas plataformas son las más eficaces para tales cometidos, y que este sector de periodistas digitales deben en parte a ello su relativamente mayor bienestar. Esta tendencia se hace especialmente acusada en el caso de los sindicatos y los partidos políticos. El único ámbito donde los periodistas de medios mixtos son más numerosos es en organizaciones sociales. Algo parecido ocurre al cruzar la pertenencia a organizaciones con el sexo: salvo en partidos políticos y otras instituciones que no se mencionan, las mujeres son notoriamente más asociativas que los hombres, dato muy coherente con la multitud de causas pendientes relacionadas con la desigualdad antes señaladas. Menos coherente es la baja participación de los más jóvenes en este tipo de colectivos, con la excepción de las asociaciones de prensa y de las organizaciones sociales, dato que, no obstante, ofrece un claro rasgo de continuidad respecto a lo que muestran estudios previos (García de Cortázar y García de León, 2000. Cap. 6), lo que no ocurre con tanta claridad en el caso de las mujeres. El desarrollo del sindicalismo en el periodismo durante los últimos cinco años, durante los que se ha constituido la Federación de Sindicatos de Periodistas (FeSP) y muchos de los sindicatos regionales que lo forman, se ve claramente reflejado entre los trabajadores de este sector. Tabla 15: Trabaja en otro medio (por categoría de medio) Categoría de medio Mixto Trabaja en otro medio
si
Recuento % de Categoría de medio
no
Recuento % de Categoría de medio
Total
Recuento % de Categoría de medio
3
Digital (sólo) 15
7,3%
39,5%
38
23
92,7%
60,5%
41
38
100,0%
100,0%
99 0
Total 18
,0%
22,0%
3
64
100,0%
78,0%
3
82
100,0%
100,0%
Tabla 16: Trabajo secundario en la misma empresa (por categoría de medio) Categoría de medio Mixto Empresa de la publicación online
si
Recuento % de Categoría de medio
no
Recuento % de Categoría de medio
Total
Recuento % de Categoría de medio
2
Digital (sólo) 5
66,7%
33,3%
38,9%
1
10
11
33,3%
66,7%
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3
15
18
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100,0%
100,0%
Total 7
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Tabla 17: Disposición a cambiar de trabajo de los que trabaja en otro medio Trabaja en otro medio si cambiar de trabajo
otra profesión que no fuera el periodismo trabajar en un medio tradicional realizar otras tareas en un medio online no cambiaría
2
no 11
Total 13
11,8%
17,7%
16,5%
3
22
25
17,6%
35,5%
31,6%
5
11
16
29,4%
17,7%
20,3%
7
18
25
41,2%
29,0%
31,6%
17
62
79
100,0%
100,0%
100,0%
Recuento % de Trabaja en otro medio Recuento % de Trabaja en otro medio Recuento % de Trabaja en otro medio Recuento % de Trabaja en otro medio
Total
Recuento % de Trabaja en otro medio
Tabla 18: Pertenencia a organizaciones profesionales, sociales y políticas: Re %
Tota
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26- 31- 36- 41-
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35
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40
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40
20
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0
0
0
20
0
0
e As. Prensa Col. Prof. Org. Soc. Sindica to Part. Pol. Otras
47,
52,2
50
54,5
14,4
12,5
22,7
30,4
29,2
31,8
23,9
20,8
27,3
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0
0
6,5
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4,5
4,8
6 14, 3 33, 3 14, 3
42,
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9
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7
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20
20
20
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0
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5
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37,
1
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7,7 15, 4
12, 5 0
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Hasta aquí llega la descripción que de momento podemos ofrecer sobre el perfil sociolaboral de los periodistas que trabajan en las redacciones de los medios online. Detrás de este perfil hay todavía una larga lista de cuestiones relacionadas con la función social que cumple el periodismo y la manera en que la desarrollan los periodistas que trabajan en la Red. Cuestiones sobre las que, sin duda, habrá que seguir investigando.
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La oferta de contenidos y servicios de la TDT Análisis de la situación en el mercado español Andreu Casero Ripollés1
1. Introducción: La importancia de los contenidos televisivos en el marco de la digitalización televisiva La digitalización televisiva coloca en primer plano a los contenidos y servicios, que pasan a asumir una renovada importancia. Se convierten, así, en un valor estratégico clave (Bustamante, 1999b) dentro del mercado televisivo y aparecen como uno de los motores fundamentales para la extensión social de la televisión digital terrestre (TDT). Más si cabe si tenemos en cuenta que la tecnología por si misma resulta insuficiente para generar e impulsar la demanda televisiva de manera autónoma (Comisión Europea, 2003). Esta nueva trascendencia adquirida por contenidos televisivos, los convierte en un objeto de estudio preferente en el marco de la implantación de la TDT. La llegada de esta nueva tecnología digital supone mucho más que un mero cambio de tipo técnico o de infraestructura de transmisión de la señal televisiva. Su introducción aparece como uno de las principales dinámicas que se incluyen dentro de la migración digital (Vilches, 2001), un proceso que constituye una auténtica revolución para el sistema audiovisual. En este sentido, pone en juego numerosos factores y aspectos entre los que sobresalen la producción y realización de contenidos, su transmisión, su consumo, la incorporación a la oferta de nuevos servicios interactivos e, incluso, a la convergencia multimedia. El desplazamiento hacia los contenidos que entraña la digitalización televisiva (Bustamante y Álvarez Monzoncillo, 1999), convierte a los productos audiovisuales en un elemento básico dotado de altas posibilidades de negocio. De hecho, entre el 2002 y el 2005, los contenidos de la televisión digital han incrementado su volumen de negocio en 418 millones de euros, llegando a los 1.493 en ese último año (GAPTEL, 2006). Se configuran, así, como el segmento más potente dentro del mercado español del ocio audiovisual digital, acaparando el 47,65% del total y situándose por delante de la música o los videojuegos. Pese a estas buenas cifras, existen, actualmente, numerosas dudas sobre los modelos de oferta de contenidos televisivos que tendrán éxito y serán sostenibles en el tiempo. 1
Universidad Jaume I (Castellón) e-mail: casero@fis.uji.es
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En este contexto, resulta fundamental plantear y observar los escenarios de presente y futuro en los cuáles se hallan, y se hallarán, inmersos los contenidos televisivos, entendidos como un elemento esencial para el impulso de la digitalización en el medio televisivo y para garantizar el éxito de este proceso. Por ello, el objetivo de este trabajo reside en el análisis de la situación actual de la oferta de contenidos y servicios en el entorno de la TDT, tomando como referencia el mercado español, y de su posible evolución a corto y medio plazo.
2. Contexto: La implantación de la TDT en España Un análisis como el que aquí se propone debe partir, necesariamente, de la consideración del contexto que lo enmarca, ya que se trata de un fenómeno que se encuentra en pleno desarrollo. Consecuentemente, resulta indispensable realizar una sintética aproximación al proceso de implantación de la TDT en el Estado español. Teniendo en cuenta su elevada complejidad, se opta por presentar aquellos puntos básicos que inciden en la cuestión de los contenidos televisivos, que constituye nuestro objeto de estudio. En este sentido, cuatro son los aspectos a tener en cuenta. El primero tiene que ver con el carácter transformador que posee la TDT en relación con el mercado televisivo. Esta nueva tecnología aparece como un proceso sustitutivo que entraña, imperiosamente, el reemplazo del sistema de transmisión establecido por otro basado en la codificación digital (CAC-CMT, 2002). Para su completa implementación, resulta, pues, obligatorio extinguir
de las emisiones analógicas vigentes anteriormente mediante el
denominado “apagón analógico” o switch-off. Por ello, el despliegue de la TDT se contigua como una auténtica reordenación global del sistema audiovisual español a todos los niveles. Las posibilidades técnicas que aporta la digitalización permitirán, una vez concluya su introducción, ampliar el número de canales estatales en abierto, incorporar, por primera vez en la historia de la televisión en España, a la iniciativa privada en el ámbito autonómico, donde aún subsistía el monopolio público, y, finalmente, poner fin a la situación de alegalidad vivida por la televisión local hasta ahora (Badillo, 2005). Consecuentemente, la estructura del sistema televisivo español sufrirá una alteración y una reconfiguración sin precedentes. En segundo lugar, conviene resaltar, que este complejo y decisivo proceso se está llevando a cabo sin contar con un marco normativo específico. Lejos de generar un aparato jurídico propio y adaptado a sus características, el despliegue de la TDT en el España se está efectuando sin un cuerpo normativo particularizado y diferenciado. Ello se debe a la consideración, por parte del legislador, de esta modalidad de televisión digital como un nuevo
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sistema de transmisión de la señal audiovisual y, por lo tanto, como un nueva forma de prestación de un mismo servicio de radiodifusión ya existente. Al rechazar la singularidad de las transformaciones que impone sobre la estructura del sistema televisivo, se considera que el aparato legal establecido resulta apropiado para canalizar su implantación y se renuncia a impulsar una nueva norma general, adaptada específicamente a los cambios introducidos por la TDT. Como consecuencia de ello, la regulación de la TDT se apoya en leyes dictadas a finales de los 80 y principios de los 90, coincidiendo con la desregulación del mercado televisivo español. Al asentarse sobre un marco normativo previo al desarrollo tecnológico propiciado por la digitalización, se trata de leyes que ignoran las características, potencialidades y consecuencias de la transición digital. Esta circunstancia unida a la carencia reguladora específica sobre TDT que registra el ordenamiento jurídico español, conlleva la existencia de lagunas legislativas relacionadas con múltiples aspectos derivados de este nuevo sistema televisivo. El aparato legislativo relativo a la TDT se encuentra, actualmente, incompleto y, por lo tanto, sujeto a modificaciones y ajustes futuros. Una situación que afecta, notablemente, al ámbito de los contenidos y los servicios. El tercer elemento contextual tiene que ver con el proceso de introducción de la TDT en España (Peñafiel, López y Fernández de Arroyabe, 2005). En 1999, el Gobierno, siguiendo la doctrina europea basada en el protagonismo del mercado en el despliegue de la digitalización televisiva (García Leiva, 2006), confió a la plataforma digital de pago Quiero TV la responsabilidad de liderar la implantación de la TDT a nivel estatal. Pero, pese a realizar una inversión inicial de más de 1.800 millones de euros, en dos años sólo alcanzó una cuota del 0,4% del mercado español de la pay TV, llegando a los 113.000 abonados, circunstancia que le llevó a perder más de 240,4 millones de euros (Bustamante, 2002). Ante este panorama, la sociedad adjudicataria decidió retornar la concesión al Estado por considerar “inviable” la explotación del servicio. El fracaso de Quiero TV sumió el despliegue de la TDT en España en un período de parálisis e incertidumbre marcado por la inercia (Soto y Ribes, 2003). El Gobierno, lejos de reconducir la situación, optó por perpetuar el letargo y la indefinición dejando sin reasignar los 14 programas devueltos por Quiero TV hasta julio de 2005. Es entonces, cuando el nuevo Ejecutivo socialista aprueba un nuevo Plan Técnico Nacional que instaura una nueva distribución de los multiplex y, consecuentemente, supone un rediseño el mapa de la TDT a nivel estatal (Bustamante, 2006). Esta reasignación de las frecuencias disponibles constituye
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la ratificación de un cambio de modelo en lo referente a la implantación de esta modalidad de televisión digital. La principal transformación afecta a RTVE, que recibe 2 multiplex completos (8 programas) a partir de 2010, mientras el resto de operadores privados estatales reciben uno. Se pasa, así, de una concepción basada en la televisión de pago y los operadores privados como impulsores de la TDT a una basada en la televisión en abierto y el liderazgo de la televisión pública estatal, siguiendo el ejemplo de Reino Unido. Finalmente, el cuarto elemento contextual tiene que ver con el parque de receptores. Para recibir las emisiones de la TDT, resulta necesario, como condición previa e ineludible, contar con un descodificador, o set-top box, si desea seguir utilizando el televisor analógico existente o bien sustituirlo por un televisor digital con módulo de recepción integrado (iDTV). La ausencia de aparatos capaces de procesar la señal digital aparece, pues, como uno de los principales obstáculos para la implantación de la TDT en el Estado español. Más si tenemos en cuenta que a finales de 2004, únicamente 130.000 hogares poseían los equipos adecuados (GAPTEL, 2005). Pese a que la cifra ha aumentado hasta llegar a los 1.750.000 descodificadores vendidos y los 3,8 millones de hogares con acceso a la TDT en mayo de 2006, según datos del Ministerio de Industria, Turismo y Comercio, se encuentra lejos todavía de alcanzar una penetración óptima para garantizar el éxito de la transición digital. Un dato que revela la escasa madurez adquirida por el mercado español de TDT a finales de 2006, respecto a la alcanzada por otros países europeos como Reino Unido o Italia (Richeri, 2004).
3. La oferta de contenidos de la TDT en el mercado español Una de las principales ventajas que entraña la TDT tiene que ver con su capacidad para mejorar el aprovechamiento del espacio radioeléctrico, optimizando el espacio a través de una mayor comprensión de la señal televisiva. En el continente europeo, a diferencia del escenario norteamericano (Prado y Franquet, 1998), se ha puesto el acento en utilizar la digitalización televisiva como una vía para incrementar el número de canales disponibles en lugar de apostar por mejorar su calidad avanzando hacia la televisión de alta definición (HDTV) (Larrègola, 1998). Como consecuencia de ello, la migración digital en el medio televisivo se traduce en un aumento de la oferta de canales, que experimentan una auténtica multiplicación. Se asiste, así, a un escenario dotado de una extraordinaria abundancia comunicativa que entraña numerosas consecuencias. Efectos que tienen que ver con el fin del modelo televisivo hegemónico y la introducción de numerosas transformaciones en la concepción de la programación (Palacio, 1999).
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En primer lugar, esta proliferación de canales comporta la aparición de nuevas ventanas audiovisuales que resulta necesario llenar y alimentar de contenidos televisivos. Este hecho acarrea diversas repercusiones para el mercado televisivo. A priori, todos los indicios sugieren que la industria productora y creadora de contenidos puede experimentar una fuerte potenciación al verse impulsada por las peticiones de los operadores televisivos, necesitados de materiales audiovisuales para abastecer a sus canales. No obstante, resulta aún difícil de calibrar la incidencia real de este posible incremento exponencial de la demanda de contenidos, alentado por el discurso oficial de la Unión Europea basado en una concepción entusiasta de las tecnologías digitales. No obstante, resulta plausible sostener que la implantación de la TDT conlleva un cambio de óptica en el mercado televisivo. Consecuentemente, se asiste a un desplazamiento del énfasis que pasa del campo de la difusión, marcado por el predominio de los radiodifusores tradicionales, al de la producción. Las productoras de contenidos están llamadas a convertirse, así, en agentes dotados de un nuevo protagonismo y de una centralidad creciente en el seno del sistema audiovisual. No obstante, para consolidar esta transformación resulta necesaria la articulación de políticas comunicativas que estimulen el sector y generen suficiente competencia creativa. Medidas específicas que apenas se han dejado notar en el contexto español, caracterizado por la falta de impulso político por parte del Estado respecto del despliegue de la TDT. Ante el reto de la digitalización televisiva y el aumento de las dificultades para regular la entrada de productos audiovisuales foráneos, este tipo de disposiciones son esenciales e indispensables para fortalecer las estructuras y el tejido de la industria audiovisual. En este sentido, conviene destacar el caso del Reino Unido, donde el 90% de los programas incluidos dentro de la plataforma Freeview debe ser de producción británica (Delgado y Larrègola, 2003). Igualmente, en este sentido, la portabilidad que permite la TDT (Prado, 2003), que puede captarse con antenas domésticas desde cualquier lugar sin necesidad de estar ligado a un punto de conexión de antena fijo, también introduce otro reto de gran magnitud para la industria productora de contenidos. La necesidad de elaborar productos específicamente adaptados a esta alta versatilidad (Moragas y Prado, 2000) y a unas condiciones de recepción radicalmente diferentes de las tradicionales se alza como un auténtico desafío. La búsqueda de nuevos lenguajes audiovisuales y la apuesta por la experimentación aparecen como componentes fundamentales para el futuro a corto plazo de este tipo de empresas.
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Por otra parte, no hay que olvidar que el incremento del numero de canales que genera la TDT es probable que lleve aparejada una creciente fragmentación del público televisivo, que algunos califican incluso de “balcanización” (Bustamante, 2002) en atención a sus profundas dimensiones. La época de las audiencias millonarias, que comenzó a resquebrajarse seriamente con la introducción de la televisión privada en la década de los 90, está tocando a su fin. Al existir más opciones en el mercado, aumentan las posibilidades y la capacidad de elección de manera notable con la consiguiente dispersión de los espectadores entre el marasmo de la oferta disponible. Este escenario, conllevará un aumento de la competencia fruto de la mayor concurrencia de actores y una disminución de los ingresos publicitarios, que puede poner en peligro la rentabilidad de algunos operadores a corto y medio plazo. Igualmente, la digitalización entraña profundas transformaciones en las modalidades de consumo televisivo (Álvarez Monzoncillo, 2004), desde la pay TV al video on demand (VOD) pasando por el pay-per-view (PPV), que, aunque no trataremos aquí, también ejercen una potente influencia sobre la oferta de contenidos y servicios.
4. El bloqueo del mercado español de contenidos de la TDT La ineficiente implantación de la TDT en España comporta una articulación de la oferta de contenidos escasamente atractiva, circunstancia que no contribuye a generar una alta demanda
de
equipos
receptores,
necesarios
para
descodificar
la
señal
digital.
Consecuentemente, las emisiones televisivas que emplean este sistema de transmisión se dirigen, actualmente, a una audiencia numéricamente escasa. Lógicamente, en este contexto, las inversiones publicitarias, que constituyen el principal recurso financiero de los operadores televisivos, generadas autónomamente por los programas de TDT brillan por su ausencia. Se origina, así, una situación de bloqueo del mercado (gráfico 1), puesto que la falta de una masa crítica de consumidores conlleva una oferta de contenidos insustancial y viceversa. Esta parálisis supone un obstáculo de tal calibre que su gravedad ha sido incluso reconocida por el Gobierno español en la legislación promulgada recientemente (RD 944/2005).
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Gráfico 1. Situación de bloqueo en el mercado de contenidos de la TDT en España
Oferta de contenidos POCO atractiva
Demanda BAJA de receptores
Audiencia ESCASA
Ausencia de inversión publicitaria autónoma
Este círculo vicioso tiene efectos devastadores sobre el mercado televisivo español. Al hecho que la TDT constituya, hoy en día, un negocio ruinoso en términos económicos, se une la pérdida de la oportunidad de ensayar nuevos formatos y contenidos coincidiendo con el período de transición actual. Sin potenciales clientes o públicos resulta estéril probar y testar fórmulas novedosas tanto en la programación televisiva como en el terreno de los servicios interactivos. Como resultado de ello, la TDT en España, más que un laboratorio de pruebas, se asemeja a un invernadero donde la innovación cotiza a la baja y todo se encuentra en suspenso a la espera del switch-off, previsto para el abril de 2010. En este entorno de stand-by, los operados analógicos siguen volcados en la gestión de sus emisiones convencionales sin prestar apenas atención, más allá de los aspectos legales, a sus programas digitales. Se limitan a aplicar un simulcast, para no perder sus programas de TDT, basado en la repetición mimética de los contenidos analógicos. Esta ausencia de una programación innovadora y diferenciada se traduce en una duplicidad de la oferta, que no alienta a los espectadores a adoptar la tecnología digital. Por su parte, los concesionarios de la TDT en abierto de ámbito estatal (Veo TV y Net TV) contribuyen a esta parálisis construyendo una oferta provisional centrada exclusivamente en la reemisión de canales temáticos, ya disponibles en la televisión digital por satélite, y en la difusión de videos musicales. Consecuentemente, ni unos ni otros han incentivado el mercado. Pese a la puesta en marcha, a finales de 2005, de los programas de TDT de los principales operadores de televisión generalista en España la situación de bloqueo del
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mercado no experimentado cambios significativos. Los nuevos canales se han estructurado, en su práctica totalidad, a partir de la primacía de los dos modelos típicos de la televisión multicanal (Cebrián Herreros, 2004): el modelo temático y el de target. En el primer caso, los diversos radiodifusores han apostado por los 3 géneros clásicos de la televisión temática para articular su oferta de contenidos: la ficción (Tele5-Estrellas, Antena3-Nova), los deportes (Teledeporte-TVE, Tele5-Sport) y la información (CNN+, Canal 24H). Por su parte, los canales de target se dirigen, actualmente, al público juvenil (Antena3-Neox) y a la audiencia infantil (ClanTV-TVE). La aplicación de estos modelos ha permitido a las empresas televisivas españolas poner en práctica los parámetros propios de las industrias culturales (Bustamante, 2003). Atendiendo al contexto de mercantilización característico del medio televisivo en España (Giordano y Zeller, 1999), los diferentes operadores han optado por primar los criterios de racionalización y búsqueda de la rentabilidad económica en su gestión de los nuevos programas de TDT. Así, ante la dificultad de amortizar productos audiovisuales de nueva creación en canales dotados de bajas audiencias y, por lo tanto, de escaso atractivo y potencial para el sector publicitario, se ha apostado mayoritariamente por recurrir al fondo de contenidos ya disponibles para alimentar esas nuevas ventanas. La consecuencia directa de ello se ha traducido en el predominio del reciclaje de contenidos ya emitidos anteriormente en formato analógico para configurar la oferta de la TDT en el mercado español. Una solución que concuerda a la perfección con la necesaria optimización al máximo de los costes de producción y el auge de la política de contención de gastos que impera en el sector televisivo actualmente. En esta situación, los nuevos programas de TDT de la televisión generalista española aparecen como meros empaquetadores de productos ya difundidos con anterioridad. Esta dinámica de reaprovechamiento convierte a la oferta de contenidos en redundante, circunstancia que afecta tanto a su diversidad como a su especificidad. Dos aspectos que inciden directamente en la captación de audiencias, que se encuentran poco motivadas a incorporarse masivamente al reconsumo de contenidos ya vistos. Esta situación influye particularmente a los canales temáticos basados en la ficción, pero también extiende sus efectos sobre otros tipos de programas. La canales españoles siguen, en este punto, la tendencia extendida mayoritariamente en el continente europeo que registra un bajo porcentaje de contenidos y programaciones creadas exclusivamente para su emisión a través de la TDT (Delgado y Larrègola, 2003).
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En este contexto, el mercado español de TDT confirma la máxima que insiste en que la abundancia de canales no entraña un aumento de la diversidad de la oferta de contenidos (Prado y Franquet, 1998). El peso del reciclaje unido a la duplicidad que comporta la situación de simulcast entre la emisión analógica y la digital constituye una demostración palpable de la vigencia de esta afirmación. Con todo, en el caso español, la oferta de contenidos en el marco de la TDT se caracteriza por su alta homogeneidad y por pivotar en tres grandes macro-géneros (la información, la ficción y el info-show), siguiendo las grandes tendencias detectadas en la mayor parte de países del continente europeo (Prado, 2005). Aunque, a diferencia de otros lugares, en España la TDT no ha logrado generar, por el momento, una oferta específica y distintiva con suficiente atractivo y singularidad como para imponerse a la oferta analógica de la televisión generalista.
5. La situación de los servicios interactivos de la TDT en España Una de las principales novedades que entraña la digitalización televisiva tiene que ver con la posibilidad de incorporar a la oferta del medio un amplio conjunto de servicios de carácter interactivo. Éstos aparecen como un interesante instrumento que permite, entre otros aspectos, introducir un valor añadido a la programación y el consumo televisivos. La interactividad se erige como “la condición que implica la ejecución de acciones entre los diferentes polos que participan en el proceso comunicativo” (GRISS, 2006: 9-10). En este sentido, exige reciprocidad y conlleva un aumento de la cuota de participación de la audiencia en el medio televisivo (Contreras y Palacio, 2001). Así, gracias a posibilidad de contar con una vía de retorno, telefónica en el caso de la TDT, el público podrá mantener un estrecho contacto con los emisores, rompiendo, con ello, la tradicional relación unidireccional que ha dominado la historia de la televisión desde sus orígenes. No obstante, es necesario apuntar que, de entre las diferentes modalidades de televisión digital, la TDT es una de las que ofrece mayores limitaciones para alcanzar niveles elevados de interactividad al no contar con un canal de retorno intrínseco. Una de las potencialidades esenciales de los servicios interactivos es el gran número de aplicaciones que pueden soportar en su introducción en el medio televisivo. Pese a la vaguedad existente, aún en la actualidad, sobre el contenido de estos servicios, un estudio reciente sugiere 11 ámbitos de implementación (GRISS, 2006: 61-62): servicios de información, participación televisiva, guías electrónicas de programas (EPG), administración electrónica, educación, comercio electrónico, telebanca, juegos, apuestas, publicidad
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interactiva y aplicaciones diversas (horóscopos, citas, esoterismo,…). Dentro de esta clasificación, se encuentran servicios de marcado interés general, entre los que sobresale el TGobierno, que tienen en las instituciones públicas, como la Unión Europea, a sus principales defensores y aquellos de carácter más comercial, vinculados al comercio y los juegos electrónicos, impulsados por agentes privados. Asimismo, los diversos servicios interactivos pueden clasificarse en dos grandes modalidades: los autónomos, que poseen un carácter independiente de la oferta propia de la programación televisiva, y los asociados a programas concretos, a los cuáles se encuentran vinculados y conectados (GRISS, 2006). El carácter innovador de los servicios interactivos ha determinado su configuración como un ámbito inédito dentro del escenario televisivo. Esta circunstancia se ha traducido en la existencia de escasas experiencias que den cuenta de su implementación en el medio televisivo. En el contexto europeo, el mercado más consolidado es el británico, gracias a la apuesta del operador de televisión por satélite BSkyB para su desarrollo a partir de 1999. Por su parte, el mercado televisivo español apenas empieza a registrar las primeras experiencias piloto de implementación. Al igual que los contenidos programáticos, los servicios interactivos se ven afectados por la situación de bloqueo que anteriormente describíamos y por el círculo vicioso de la innovación: no se logra generar demanda sin servicios atractivos, ni oferta sin una demanda potente (Bustamante, 1999a). Por ello, su aplicación se encuentra en situación de stand-by, circunstancia que retrasa su puesta en marcha efectiva y posterga su impacto sobre el medio televisivo. En el escenario español, los servicios interactivos aparecen como una categoría subdesarrollada, pendiente de explotar a la espera de tiempos mejores. Por ello, son escasas las experiencias de implementación de este tipo de servicios en nuestro mercado televisivo. Entre los operadores pioneros que han contribuido en su despliegue cabe destacar a Televisión de Catalunya (TVC) y RTVE. En el primer caso, a través de la creación de una empresa específicamente destinada a esta cuestión (TVC Multimedia, primero, Activa Multimedia, posteriormente), la televisión pública catalana a ofrecido a través de sus programas de TDT aplicaciones como una guía de programas, noticias o información metereológica. Igualmente, TVC, junto a la Generalitat y los ayuntamientos implicados, en octubre de 2006 ha iniciado una prueba piloto destinada a implantar y perfeccionar un servicio de T-Gobierno. La experiencia, que se desarrollará en las localidades de Mataró y Vilanova i la Geltrú hasta 2008, permitirá acceder a información sobre la agenda de actividades y a la realización de trámites administrativos, entre otras posibilidades. En una línea similar, han lanzado
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proyectos para implantar servicios interactivos basados en la administración electrónica tanto el Ayuntamiento de Segovia como la Diputación de Huesca. Por su parte, en el caso de RTVE cabe subrayar la puesta en marcha la iniciativa Emplea-T. Se trata de una aplicación interactiva asociada al programa “Aquí hay trabajo”, emitido de lunes a viernes a las 9.30h por La2. Este servicio facilita la consulta de las ofertas de empleo contenidas en las bases de datos del INEM y los diversos organismos públicos autonómicos con competencias en esta cuestión. Así, a través del canal de retorno, el usuario que lo desee puede obtener información adicional de aquellas ofertas de trabajo de su interés, desde el salario hasta la persona y la vía de contacto con la empresa demandante. Pese a estas contadas excepciones, la indefinición es la moneda común en el desarrollo de la oferta de servicios interactivos en el mercado español. Este contexto, que atenaza a los servicios afecta tanto a sus contenidos como a su regulación legal. La normativa española sobre TDT no determina que servicios podrán ser prestados ni bajo qué condiciones, sino únicamente que la capacidad de transmisión empleada para ofertarlos no podrá superar el 20% de cada múltiplex (RD 944/2005). No obstante, al ser considerados servicios de telecomunicaciones, su prestación requerirá, según la Ley General de Telecomunicaciones (Ley 11/1998), la obtención de un título habilitante otorgado por la Administración pública (CAC-CMT, 2002). No obstante, los diferentes agentes del sistema audiovisual ponen sus esperanzas en las bondades que el desarrollo de los servicios interactivos lleva, a priori, aparejadas. Así, algunos indican sus enormes potencialidades para lograr una rentabilidad económica elevada (CMT, 2004). Se considera que por su carácter novedoso atraerán a numerosos segmentos de consumidores. Según la industria audiovisual, los tres pilares esenciales a partir de los cuáles se articulará la oferta de servicios en el marco de la TDT, desde el punto de vista de su rentabilidad, serán los juegos, el e-mail y los servicios informativos. Sin embargo, los productores de contenidos alteran esta clasificación situando a los juegos, en primer lugar, el video on demand (VOD), en el segundo, y la telebanca, en el tercero (Delgado y Larrègola, 2003). Desde esta óptica, los servicios interactivos aparecen como una nueva fuente de financiación para las empresas televisivas, preocupadas por las consecuencias económicas, en términos publicitarios, de la fragmentación de la audiencia que introducirá la TDT. En este sentido, la identidad del prestador de estos servicios se erige como un elemento estratégico de primer orden para el sistema audiovisual desde una perspectiva económica. La confluencia
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que instaura la convergencia tecnológica, de la cuál la interactividad constituye una de sus más eminentes manifestaciones, entre los sectores del audiovisual, la informática y las telecomunicaciones posibilita que cualquiera de ellos asuma ese papel. Consecuentemente, será necesario seguir detalladamente la evolución del mercado para conocer quién o quiénes logran hacerse con el control de este nuevo activo, que esta llamado a convertirse en una unidad de negocio fundamental del futuro sistema televisivo.
Finalmente, la implantación de los servicios interactivos se alza como un ingrediente básico para avanzar en la reducción de la brecha digital o digital divide en España. La alta penetración social del medio televisivo lo convierte en un instrumento clave para la extensión de la Sociedad de la Información (SI). Su capacidad para desarrollar servicios de utilidad que resulten atractivos y conecten con los intereses del público, es decir que aporten un valor añadido, resulta fundamental para estimular la demanda de nuevos servicios, que se encuentra en la base del despliegue de la SI (Prado, 2005). Con ello, se pueden superar los problemas de acceso a las nuevas tecnologías de la información y la comunicación que genera el ordenador e Internet. Además, este escenario podría comportar una consolidación del televisor como protagonista principal del proceso de convergencia multimedia impulsado por la digitalización. No obstante, la situación en el Estado español dista mucho, actualmente, de posibilitar la superación de la brecha digital gracias a la aplicación y generalización de los servicios interactivos. La introducción en el mercado televisivo de descodificadores o set-top box de bajo nivel y carentes de capacidad técnica para permitir la interactividad pone seriamente en peligro no sólo la extensión de la SI, sino la misma implantación de los servicios interactivos. En el contexto español, los descodificadores dotados del estándar MHP (Multimedia Home Plataform), que permiten un acceso adecuado a estos servicios, apenas tienen presencia. Se está configurando, así, un parque de receptores obsoleto prácticamente antes de nacer que puede dificultar enormemente el desarrollo de servicios interactivos. Por ello, este desfase tecnológico está llamado a traer numerosos problemas en un futuro próximo.
6. Conclusiones Pese a que se trata de una cuestión en constante evolución, resulta esencial establecer las características esenciales de la situación actual de la oferta de contenidos y servicios de la TDT. El análisis efectuado permite sostener que en el caso español se detecta la ausencia de
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relación directa entre el aumento de la oferta de canales televisivos y el incremento de la diversidad de la oferta de contenidos. Se reafirma, así, un criterio que tiene como consecuencia la instauración de un elevado grado de homogeneización en la programación de los diferentes operadores estatales de TDT. Igualmente, este escenario se agrava con la constatación de la situación de bloqueo que vive el mercado español de contenidos y servicios en el marco de la TDT. El círculo vicioso de la innovación impone su ley determinando la pasividad de la oferta ante la inactividad de la demanda y viceversa. Se pierde, con ello, una oportunidad histórica para desarrollar y experimentar nuevos contenidos y formatos adaptados a las posibilidades aportadas por la digitalización televisiva. Este período previo al switch-off se caracteriza, por lo tanto, por la inercia y la espera, que han sumido al mercado español de TDT en una situación de stand-by. Fruto de ello, se impone, debido además al peso de las políticas de ahorro y contención de gastos por parte de los operadores televisivos, el predominio del reciclaje y la repetición de contenidos ya emitidos con anterioridad por vía analógica. Consecuentemente, en el caso español, la presencia de contenidos específicamente producidos para su difusión exclusiva a través de los programas de la TDT es mínima. Pese a las enormes posibilidades que entrañan los contenidos como activo estratégico dentro del nuevo sistema audiovisual, este escenario pone en peligro algunas de las promesas de futuro derivadas de la digitalización televisiva. El contexto actual se encuentra lejos de entrañar un fortalecimiento de las industrias productoras y creadoras de contenidos que les permita hacer frente, con garantías, al reto de la migración digital y configurarse como verdaderos ejes del nuevo sistema audiovisual. Por ello, el momento actual exige, más que nunca, la articulación de políticas comunicativas capaces de reactivar la situación y potenciar el papel de los productores españoles de contenidos y de crear un tejido industrial nacional entorno al mercado de los contenidos digitales. Políticas y medidas que, pese a su carácter estratégico a corto y medio plazo, hasta ahora, se han dejado notar poco o nada.
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Organização da informação no Centro de Documentação da RAC: O Orçamento Participativo no Correio Popular1 Wanderley Florêncio Garcia2 Fernando Augusto Mansor de Mattos3 Resumo Este artigo descreve a organização da informação e os mecanismos de busca do Centro de Documentação Jornalística (Cedoc) da Rede Anhangüera de Comunicação (RAC) em Campinas. Analisa ainda se o Cedoc pode ser um instrumento para perpetuar as características de manipulação e de persuasão da empresa jornalística. Por meio de observação indireta, a pesquisa analisou o funcionamento do Cedoc da RAC, grupo empresarial que publica o jornal Correio Popular, em Campinas, interior de São Paulo. Também foram analisados os textos recuperados no Centro de Documentação publicados no Correio Popular entre 2001 e 2004 sobre o programa Orçamento Participativo, implantado pela Prefeitura de Campinas. O trabalho demonstra que o Cedoc reforça a atuação da imprensa enquanto “aparelho privado de hegemonia”, conforme apontado por Gramsci.
Palavras-chave: Ciência da Informação, Comunicação, Centro de Documentação, Orçamento Participativo.
Introdução Os Centros de Documentação Jornalística (Cedocs) são locais onde são armazenados, tratados e recuperados documentos jornalísticos. Mais que arquivos, são também um espaço onde se dá um processo de comunicação uma vez que a informação não fica estanque, pois é acessada por pesquisadores e jornalistas que desejam buscar informações para compor novos textos. Por ser um espaço onde se faz comunicação, o Cedoc reforça o papel atribuído à imprensa por Gramsci, que é o colaborar com a hegemonia de uma classe dirigente na sociedade.
1
Este artigo é um resumo da dissertação de mesmo título defendida junto ao Programa de Mestrado em Ciência da Informação da Puc-Campinas em 17 de dezembro de 2007. 2 Mestre em Ciência da Informação pela Puc-Campinas com bolsa da Capes (Prosup II), professor dos cursos de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP), integrante do Grupo de Pesquisa Economia Política da Informação. 3 Doutor e mestre em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), professor do Programa de Ciência da Informação e do Centro de Economia e Administração da Puc-Campinas, coordenador do Grupo de Pesquisa Economia Política da Informação.
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Este trabalho reúne aspectos principais de dissertação de mestrado, defendida em realizado em 2007, sobre a descrição do funcionamento do Cedoc da Rede Anhangüera de Comunicação (RAC), em Campinas, e sobre uma análise de documentos do Orçamento Participativo publicados pelo jornal Correio Popular4, entre 2001 e 2004. O Orçamento Participativo, programa implantado pela administração petista de Campinas em 2001, permitia à população decidir onde seriam feitos os investimentos da Prefeitura no ano seguinte. Sua proposta era de transformação social por meio do orçamento público, portanto, um projeto de quebra de hegemonia. A partir dos documentos encontrados no Cedoc, no entanto, não é possível identificar este caráter modificador do programa, como será visto neste trabalho. Centros de Documentação Jornalística As empresas de comunicação guardam cópias das edições dos veículos que publicam como forma de preservação de sua própria história e da localidade onde estão inseridas. Porém, apenas a guarda sem a preocupação com o correto armazenamento e a posterior recuperação das informações, faz com que essas informações sejam inúteis. Este era um problema recorrente nas empresas jornalísticas brasileiras e Machado (2001, p. 1) comenta que “ao longo de mais de duzentos anos a história dos arquivos das empresas jornalísticas tem se confundido com a acumulação centralizada de recortes de edições antigas de periódicos e revistas”. O desenvolvimento das empresas jornalísticas, em especial na segunda metade do século XX, e a necessidade de maior adequação no trato com as informações produzidas cotidianamente por um jornal diário fizeram com que os arquivos se transformassem em Centros de Documentação, ou Cedocs. Para Chacón Gutiérrez (1994), as fontes de documentação podem ser próprias (publicações da própria empresa) e alheias, que se dividem em: a) livros de referência (dicionários, enciclopédias, atlas); b) índices de publicações periódicas; c) seleção de diários e revistas de interesse geral; d) outros materiais. Segundo Pérez e Sebástian (2000, p. 38), o Cedoc jornalístico tem quatro funções: a) aquisição e seleção da informação; b) análise, síntese e representação; c) armazenamento; e d) busca, recuperação e difusão da informação. O Centro de Documentação deve ser visto como um elemento integrante de um processo comunicativo, que é o Processo Documental. García Gutiérrez (1998) aponta para a necessidade de compreender a documentação como uma disciplina social e que tem uma dimensão midiática por possuir os meios para difusão massiva de informações. Para o autor, a 4
Principal jornal publicado pela RAC em Campinas
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documentação dispõe de mecanismos para fazer chegar informações ao usuário, assim como os meios de comunicação de massa, seja rádio, TV ou veículos impressos. Para Chacón Gutiérrez (1994) o caráter de transmissão da informação, ou seja, o caráter comunicativo também deve ser analisado, pois dá aos Centros de Documentação um caráter de “fonte” de informação. O Processo Documental tem uma característica fundamental nos Cedocs que é a retroalimentação. A informação produzida pelo veículo de comunicação é selecionada e armazenada e pode ser recuperada por um jornalista e reprocessada em uma nova reportagem (PÉREZ; SEBÁSTIAN, 2000, p. 41-2). Essa capacidade de retroalimentação faz com que uma informação possa ser reutilizada e transmitida ao público mais de uma vez e modifica uma importante característica dos jornais: a perecibilidade. Com a utilização da Internet e redes internas dos Cedocs para a realização de pesquisas em acervos jornalísticos, a Documentação Jornalística ganha importância ao mesmo tempo em que a perecibilidade das notícias diminui. García Gutiérrez y Lucas Fernandez (1987, p. 36, apud CHACÓN GUTIÉRREZ, 1994, p. 202) afirmam que a informação publicada cotidianamente nos jornais “podem dar margem a dúvidas, mas a documentação assenta cátedra sobre os dados consultados” (tradução nossa). Desta forma, o Cedoc é capaz de perpetuar, até com maior credibilidade, a manipulação e a persuasão presentes nos textos jornalísticos, que passam a ser tidos como verdadeiros. Para Chacón Gutiérrez (1995), se o processo jornalístico manipula as informações que produz, os Centros de Documentação são reprodutores desta manipulação e refletem os mesmos interesses que têm os veículos jornalísticos. A autora afirma que o discurso jornalístico usa estratégias para fazer com que os leitores saibam dos acontecimentos recentes e para isso é necessário fazer com que os leitores acreditem na notícia. Reboul (1998, p. XV) argumenta que todo discurso é persuasivo, mesmo aqueles que se declaram objetivos, como o jornalístico.
Hegemonia e imprensa A difusão da informação por meio da imprensa e dos Cedocs jornalísticos geram novos conhecimentos que não são neutros nem desinteressados. Gramsci (2000, 1978, 1995) apontou, já nos anos 1930, que a imprensa é uma das instituições da sociedade civil que trabalha para a construção e consolidação da hegemonia de uma classe dirigente sobre as demais. Gramsci coloca como principal função da sociedade civil a construção da hegemonia, direção e busca do consenso e do consentimento. O conceito de Estado, que não seria
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composto simplesmente pela máquina estatal dirigida pela sociedade política, é ampliado por Gramsci. A sociedade civil também integra o Estado, no sentido amplo, e suas organizações são, portanto, “aparelhos privados de hegemonia” (COUTINHO, 1985, p. 62). Para Gramsci não seria razoável conceber que o controle da sociedade por uma classe dirigente se daria apenas no âmbito da coerção e da força estatais. É o convencimento das massas por parte da classe dirigente que chama a atenção de Gramsci. Este convencimento dava-se pelos “aparelhos privados de hegemonia” que movimentavam “o mundo ideológico”: escola, igreja – para ele, as duas maiores –, jornais, revistas, atividade editorial, instituições escolares privadas (GRAMSCI, 1989, p. 29). Para explicar o que é “mundo ideológico”, Gramsci (1989, p. 16) define ideologia como “o significado mais alto de uma concepção do mundo, que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade econômica, em todas as manifestações de vida individuais e coletivas”. A concepção, ou visão de mundo, é a maneira como todas as atividades da vida são vistas, é a reunião de conceitos que orientam a percepção dos acontecimentos e que se manifestam em ações e palavras do indivíduo, da coletividade, ou das instituições do Estado e da sociedade civil. Portelli (1977, p. 28) salienta que Gramsci vislumbrou três organismos como “instituições máximas da sociedade civil” e, portanto, as mais importantes na divulgação e propagação da ideologia: a igreja, a escola e “as organizações de imprensa”, esta última compreendida como imprensa e edição, que abrangem “totalmente o domínio da ideologia (livros e revistas científicas, políticas, literárias...) e seus degraus (livros e diários para a ‘elite’, para vulgarização popular...).” Ainda neste grupo, o autor lembra que Gramsci reúne também as bibliotecas, os círculos e clubes. Em outra passagem, Portelli (1977, p. 35) cita ainda museus, teatros e “até os jardins zoológicos” como aparelhos de hegemonia e divulgação de ideologia. O mesmo vale para estas mesmas instituições, como museus, arquivos, centros de documentação e bibliotecas da iniciativa privada direta ou por meio de fundações sem fins lucrativos. Para Gramsci (1980), o exercício da hegemonia tem como objetivo “manter o poder ‘econômico-corporativo’ num sistema internacional de equilíbrio passivo.” Mais de meio século depois, Chomsky (1992, p. 24) tratou da “ideologia estatal-empresarial”, ao analisar o predomínio dos interesses econômicos sobre o Estado, no caso, o norte-americano. Para o autor, esta ideologia está enraizada na mídia dos Estados Unidos e o Estado dedica-se a servir o poder econômico e os grandes grupos empresariais. Para manter a política de defesa dos
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grandes interesses privados, o Estado lança mão da “fabricação do consentimento”, ou seja, obtém o consentimento por parte da população em geral a partir de mecanismos artificiais de convencimento. E para isso a mídia, com as características próprias daquele país (privada e altamente concentrada em oligopólios, como pressupõe o pensamento neoliberal), cumpre papel determinante na “fabricação” e na conquista do consentimento. As afirmações de Chomsky, feitas em 1988, já destacavam a alta concentração da mídia norte-americana, antes de duas mudanças legais de grande impacto. A primeira foi a aprovação,
em
1996,
pela
Federal
Communications
Commission
(FCC),
do
Telecommunications Act, que revogou em grande parte Communications Act, de 1934. Em 2003, a FCC aprovou alterações no Telecommunications Act. As mudanças permitiram maior concentração da propriedade dos veículos de comunicação nas mãos de poucos conglomerados. A concentração da propriedade da mídia nas mãos de grandes grupos privados, que também estão presentes em outros ramos de atividade, fortalece a ideologia “estatalempresarial” norte-americana. O conglomerado que defende esta visão ideológica é o mesmo que fornece informações diariamente ao público, num papel constante de fabricação do consentimento. Ramonet (2004) argumenta que a nova configuração dos conglomerados de mídia leva ao tratamento da informação como mercadoria e não mais como condição necessária para o debate democrático. Chomsky e Herman (1988, apud CHOMSKY, 1992, p. 20) afirmam que nos meios de comunicação norte-americanos há um “modelo de propaganda” que estabelece o comportamento da imprensa mediante os poderes estatal e empresarial “estreitamente interrelacionados”, que apóia os privilégios estabelecidos e limita o debate e a discussão nos temas em que há conflitos com estes mesmos poderes. Omissão de fatos, tratamento diferenciado para situações semelhantes, ausência de criticidade são apontados como mecanismos utilizados para a “fabricação do consentimento”. De Lima (2001, p. 19) identifica na imprensa brasileira no final do século XX o papel de orientar a política e substituir os partidos políticos na função de mediar as relações entre candidatos e eleitores nas campanhas eleitorais. Para o autor, esta substituição dos partidos pela mídia é agravada pela fragilidade partidária brasileira. Na década de 1980, Abramo (2003, p. 44-5) já alertava para a atuação partidária dos veículos de comunicação e traçava uma série de características comuns entre partidos políticos e imprensa, das quais pode-se
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destacar a tentativa de conduzir a sociedade para a conservação de algumas instituições e transformações de outras.
Cedoc e História A atuação da imprensa como instrumento de hegemonia não se dá apenas nas edições diárias, mas também no armazenamento da documentação jornalística para uso futuro. García Gutiérrez e Lucas Fernandez (1987, p. 26, apud CHACÓN GUTIÉRREZ, 1994, p. 3) dizem que os arquivos dos jornais “constituem as memórias vivas da história recente”. Chacón Gutiérrez (1994, p. 4-8) afirma que a documentação jornalística “constrói o passado”, pois “acumula” as informações publicadas pelos meios de comunicação, que são os responsáveis pela construção do presente e que as informações presentes no Cedoc “tendem a ser consideradas como ‘fatos verídicos’”. Enquanto os meios de documentação “constroem a realidade”, os Centros de Documentação Jornalística “constroem o passado” (CHACÓN GUTIÉRREZ, 1994, p. 64). Dos trabalhos apresentados no I Encontro Nacional de Pós-graduandos em História, na Universidade Federal Fluminense, 181 tinham como recorte o século XX e 72% deles (131) tinham como fonte primária os meios de comunicação, em especial os jornais (RIBEIRO, 1995, p. 36-7). Há muitos pontos de convergência entre História e imprensa. É na conceituação entre presente e passado que ambas se encontram, pois a diferença entre o que passou e o que é atual não se dá apenas pela noção temporal. A imprensa é o registro cotidiano e será, no futuro, uma das matérias-primas do historiador. Ribeiro (1995, p. 11) afirma que são dois os tempos da imprensa: o presente, que faz a leitura dos fatos cotidianos imediatos; e o futuro, que faz a leitura do passado. O historiador busca nos arquivos dos jornais a matéria-prima de que precisa. Faz da documentação jornalística a história, faz do registro do presente, uma versão do passado. A construção histórica é parte fundamental para a construção de memória social. Para Le Goff (1982, p1), memória é a capacidade de conservar determinadas informações e atualizar impressões e informações, que o indivíduo compreende como passado. É na memória coletiva que uma comunidade se forma e se mantém. Se nas sociedades anteriores ao século XX, a memória era construída por meio da tradição oral, a partir do estabelecimento dos meios de comunicação de massa, o principal “lugar” da memória passou a ser a mídia e são os meios de comunicação de massa que “detêm o poder de elevar os acontecimentos à condição de históricos” (RIBEIRO, 1999, p. 26-7). O acontecimento necessário à História
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deve passar pela mídia para existir na sociedade. São os meios de comunicação de massa que diferenciam o acontecimento do acontecimento histórico. O histórico torna-se conhecido pela sociedade quase que no mesmo tempo em que acontece e perpetua-se na memória. BRAUDEL (1992) diz que nem toda a produção jornalística se tornará fato histórico, mas para Nora (1995), desde o século XX, todo fato histórico deve passar pela imprensa. Se a mídia não comunicou, o fato não é conhecido e não se torna histórico.
Orçamento Participativo em Campinas O recorte escolhido para fazer a análise na pesquisa foi do conjunto de matérias jornalísticas publicadas no Correio Popular, de 2001 a 2004 sobre o Orçamento Participativo (OP), um programa que tem por objetivo democratizar a distribuição dos recursos públicos e propor a participação popular na tomada de decisões. Em 2001, foi implantado no município de Campinas5, interior de São Paulo, e teve caráter deliberativo até 2004. Giacomoni (2002 p. 226) considera o Orçamento Participativo como um “aperfeiçoamento” na elaboração do orçamento público, uma lei anual que prevê as receitas e despesas durante um exercício. Embora a elaboração e a aplicação do orçamento tenham exigências legais e técnicas complexas, é um tema que não deve ser tratado apenas à luz das finanças e do direito. Antes de tudo, prever e realizar um orçamento são atividades políticas, pois envolvem a tomada de decisões no que diz respeito ao que deve e quanto deve receber de recursos. O Orçamento Participativo é uma forma de disputa hegemônica na sociedade capitalista. Genro (1997, p. 14-6) afirma que o OP deve ser entendido como um “caminho” para reformar o Estado “radicalmente”. Souza (1997, p. 46) afirma que a grande riqueza do Orçamento Participativo é a mudança do papel do indivíduo na definição de políticas públicas, deixando de ser “coadjuvante” e passa a ser “protagonista” na gestão pública. Na concepção de Souza, o OP é um instrumento para a criação de uma nova hegemonia, com uma classe dirigente formada pelas camadas populares e não mais pelas instituições como imprensa, igreja, sindicatos (patronais ou de trabalhadores). O Orçamento Participativo foi implantado em Campinas em 2001, quando o PT assumiu a prefeitura sob o comando do prefeito Antonio da Costa Santos, o Toninho, que criou a Coordenadoria Especial de Participação Popular e Orçamento Participativo (CEPPOP)
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O município de Campinas é um importante pólo regional do interior do estado de São Paulo, um dos municípios mais ricos do país e tem população em torno de 1 milhão de habitantes. É sede da Região Metropolitana de Campinas e da Região Administrativa de Campinas.
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e nomeou a vice-prefeita Izalene Tiene, também do PT, para comandá-la. Com o assassinato de Toninho em 10 de setembro de 2001, Izalene Tiene tomou posse como prefeita e manteve o Orçamento Participativo até o final de seu mandato, em 31 de dezembro de 2004. A CEPPOP dividiu as discussões do OP de duas maneiras diferentes. Uma delas é a divisão geográfica, obedecendo as 18 regiões administrativas do município (14 administrações regionais e quatro distritos: Sousas, Joaquim Egídio, Nova Aparecida e Barão Geraldo). A outra forma de divisão se baseou em assembléias temáticas que aumentaram gradativamente de quatro em 2001 (Educação, Saúde, Assistência Social e Cidadania) para oito em 2004 (somaram-se àquelas as assembléias da Cultura, Esporte e Turismo, do Desenvolvimento Econômico, da Gestão e da Habitação). Durante os quatro anos da administração petista (2001-2004) o OP reuniu 90 mil pessoas em assembléias e reuniões e deliberou sobre mais de R$ 301 milhões para investimentos. Parte dos recursos, no entanto correspondia a investimentos que já haviam sido incluídos no Orçamento do ano anterior, mas que não haviam sido executados. Em investimentos novos, que não repetiam os do ano anterior, o OP decidiu pela aplicação de R$ 186,7 milhões. (BRAGA, 2005) Em 2005, o prefeito recém-empossado Hélio de Oliveira Santos anunciou que o OP deixaria de ter caráter deliberativo para ser apenas consultivo (LIMA, 2005), reduzindo o poder da participação popular e voltando à centralidade na decisão das aplicações dos recursos.
A RAC em Campinas A Rede Anhangüera de Comunicação (RAC) foi criada em Campinas em 1997, um ano após o jornal Correio Popular comprar seu concorrente Diário do Povo, até então de propriedade do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia. Atualmente a RAC reúne Correio Popular, Diário do Povo, Gazeta do Cambuí, Gazeta de Piracicaba, Gazeta de Ribeirão, revista Metrópole, Agência Anhangüera de Notícias (AAN), Cosmo On Line e a gráfica e bureau GrafCorp (COMUNICAÇÃO..., 2007). O grupo lançou um terceiro diário, o Notícias Já em 2007. A RAC é um grupo de mídia familiar, pertencente à família Godoy e presidida por pelo sócio, Sylvino de Godoy Neto (GUIMARÃES, 2006). O Correio Popular foi fundado em 1927 por Álvaro Ribeiro, o mesmo fundador do Diário do Povo, que começou a circular em 1912. O Correio é o 9º jornal do país em faturamento e tem 2,5 mil clientes anunciantes por mês, segundo entrevista do diretor comercial da RAC, Eduardo Porto Filho, publicado no caderno comemorativo dos 80 anos do
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jornal (DINAMISMO..., 2007). A equipe jornalística da RAC é formada por 150 profissionais que atuam como repórteres, editores, diagramadores, colunistas e fotógrafos. A maior parte, cerca de 100, trabalha diretamente na produção do Correio Popular (CORRIDA..., 2007). O Cedoc da RAC O Cedoc da RAC reúne documentos dos veículos de comunicação impressos do grupo empresarial. Também são armazenadas, em arquivo digital, as produções do Cosmo On Line (portal de notícias na internet) e Agência Anhangüera de Notícias (AAN). O Cedoc armazena ainda as fotos produzidas pelos fotógrafos que trabalham na RAC, fotos enviadas para divulgação e compradas de agências. A multiplicidade de publicações da RAC e as mudanças que o Cedoc sofreu ao longo do tempo fizeram com que o Centro de Documentação se caracterizasse pela diversidade de métodos e tecnologias de tratamento das informações. A compra do Diário do Povo pelo Correio Popular em 1996 resultou na reunião dos acervos dos dois jornais em um mesmo espaço físico, porém, cada um lidava com as informações de maneira diferente. O Cedoc da RAC reúne 25 mil pastas com notícias e fotos de personalidades. Com reportagens e resenhas de filmes, são outras 6 mil. O acervo de fotos digitais reúne 140 mil imagens, além de um acervo “incalculável” de negativos. A equipe do Cedoc é formada por dez profissionais que atendem, além dos jornalistas da RAC, em média 50 pessoas que procuram o Centro mensalmente para pesquisas (CENTRO..., 2007). O Cedoc da RAC utiliza diferentes tecnologias e métodos e isto gera sistemas diversos e independentes e que não estão, necessariamente, conectados uns aos outros. As tecnologias e os métodos empregados para o tratamento de textos são os seguintes: a) exemplares impressos – São encadernados e armazenados em ambiente climatizado; b) microfilmagem – todos exemplares dos veículos impressos são microfilmados integralmente, organizados por data; c) hemeroteca – textos selecionados pelos documentalistas são recortados e armazenados em pastas, separadas por assunto e por personalidade; d) páginas em PDF6 – Os arquivos digitais enviados para a impressão eram armazenados pelo Cedoc em formato CD-ROM e, a partir de 2007, em DVD-ROM; e) texto integral – versão eletrônica dos textos, armazenada em banco de dados e com acesso pela internet para assinantes e pela intranet. 6
Portable Document Format, tipo de arquivo de computador desenvolvido pela empresa Adobe Systems e que reproduz em formato digital a imagem da página da mesma forma que ela foi publicada em meio impresso.
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As edições integrais das publicações são utilizadas apenas para pesquisas de jornais antigos, quando é necessário reproduzir a imagem da página. O acesso para leitura é feito por meio dos microfilmes. Para preservar os jornais, o acesso é restrito e feito somente quando estritamente necessário. A localização por meio de jornais microfilmados depende da apresentação de uma data possível para o assunto. As buscas nas pastas são restritas aos documentalistas que trabalham no Centro de Documentação. Quando a busca é feita nos microfilmes com períodos curtos de tempo, é possível que seja mais refinada, observando-se com maior atenção o conteúdo das páginas e também com uma leitura mais atenta dos títulos e dos textos. Mas buscas em períodos mais longos podem prejudicar a recuperação da informação. Textos em que o assunto pesquisado não é o principal podem ser facilmente perdidos. A busca pelo título é a única forma de acesso que o assinante tem para pesquisar os textos pela internet. A busca traz inúmeras limitações, pois o título pode representar apenas a idéia principal do texto e não todas as idéias. A busca no site do Correio Popular7 não permite ao usuário determinar uma expressão exata com mais de uma palavra, ou a busca por uma ou outra palavra e nem a opção de escolher por palavra completa ou parte das palavras. Desta forma, a busca por “OP” (sigla para Orçamento Participativo) foi bastante dificultada, uma vez que “op” aparecia em várias palavras presentes nos títulos, como “opção” e “Viracopos”. Foram necessárias estratégias para “driblar” as dificuldades impostas pelo sistema. A busca pela internet só pode ser feita para textos publicados a partir de 2001, apesar de o sistema só funcionar de maneira plena, com a íntegra dos textos, a partir de 2002. Para ter acesso é necessário fazer login na página inicial do site, informando nome de usuário e senha, fornecidos apenas para os assinantes do jornal. O acervo de fotos, ilustrações, charges, e outros documentos gráficos não estão disponíveis pela internet. O acesso ao texto completo ou ao lead está disponível no interior da RAC, por meio da Intranet, aberta aos funcionários do grupo. Esta forma de acesso traz inúmeras vantagens diante dos demais sistemas, pois informações secundárias ou terciárias podem ser localizadas. No entanto, a grande quantidade de informações produzidas diariamente cria dificuldades que só podem ser superadas com um bom motor de busca, que permita o refinamento. O Orçamento Participativo no Cedoc da RAC
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Em nossa pesquisa, buscamos informações sobre o Orçamento Participativo em Campinas publicadas entre 1º de janeiro de 2001 a 31 de dezembro de 2004. Para recuperar os textos produzidos em 2001, foi feita a pesquisa mediante solicitação à equipe do Cedoc, que entregou uma pasta contendo 12 documentos. Sete eram fotocópias do jornal que haviam sido selecionadas previamente e estavam armazenadas em uma pasta correspondente ao Orçamento Participativo. Outros cinco documentos eram impressões feitas a partir do microfilme. A seleção do microfilme foi feita a partir da consulta a uma lista de matérias publicadas pelo jornal, o que deu mais agilidade à busca. A partir de 2002 a busca foi feita pela internet. Houve muita dificuldade em conseguir os textos desejados devido à utilização do título como único critério de busca possível. Foram feitos vários procedimentos para conseguir o maior número de textos sobre o Orçamento Participativo, pois um só critério de pesquisa apresentava resultados insatisfatórios ou muito extensos que mereceriam maior refinamento. Neste trabalho é considerado resultado pertinente a recuperação de documento que se refere ao que se procurava. Já o ruído é o documento recuperado, mas que não tem relação com o que se buscava. A pesquisa com a sigla “OP” foi feita três vezes para cada ano, começando em 2001. Na primeira busca foi acrescentado um “espaço” antes de OP; na segunda, um espaço após; e na terceira, um espaço antes e um depois. Utilizando a palavra “orçamento” a pesquisa resultou em respostas mais confiáveis. Em todas as buscas foram definidas as editorias de Cidades e de Opinião. A busca em 20018 retornou sete documentos, sendo que apenas dois (28,6%) tratavam do assunto desejado e cinco (71,4%) eram ruídos. O pleno funcionamento do sistema digital durante todo o ano de 2002 permitiu resultados melhores que em 2001. Foram encontrados 92 textos com “op” ou “orçamento” no título, mas desses, apenas 36 se referiam ao Orçamento Participativo. Como foram feitas quatro buscas diferentes, metade dos textos se repetia em uma segunda busca, o que reduz o número de documentos recuperados para 18, equivalente a 19,6% do total, com 80,4% de ruído. A busca feita em documentos do ano de 2003 apresentou um quadro semelhante ao de 2002, com a diferença de que o ruído foi menor. Nas quatro buscas foram encontrados 102 documentos, sendo 71 pertinentes à pesquisa (69,6%) e 31 não desejados (30,4% de ruído). Com a exclusão dos documentos repetidos, restaram 35 textos interessantes à pesquisa (34,3%) com ruído de 65,7% (67 documentos). 8
Apenas com documentos com data a partir de novembro
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O volume de documentos pertinentes encontrados nas publicações de 2004 foi sensivelmente menor que em 2003. Levando em consideração todos os documentos, a queda foi quase que pela metade: 53, ante 102 do ano anterior. A pertinência foi de 49,1% (26 textos) e, com a exclusão de textos duplicados, o índice caiu para 35,9% e a busca apresentou ruído de 74,1%. Mostra-se sensível a diminuição da cobertura dispensada ao OP, embora o programa continuasse com as mesmas características. Fica evidente, a partir da análise dos resultados obtidos com a pesquisa que a busca feita apenas pelo título dificulta a recuperação de documentos desejados. Considerando-se todas as buscas, foram encontrados 254 documentos, sendo 135 pertinentes. Com a exclusão dos textos duplicados, foram localizados 74 textos publicados durante quatro anos. O índice de ruído nas buscas foi de 70,9%. A pesquisa não permitiu identificar, mas é possível afirmar a partir da leitura dos documentos, que textos pertinentes não foram localizados por não constarem em seus títulos nenhum dos critérios utilizados na busca. Somando-se os 74 documentos encontrados na pesquisa pela internet como assinante do jornal, mais outros 12 conseguidos mediante solicitação no Cedoc, foram localizados 86 textos publicados sobre o Orçamento Participativo durante quatro anos. Dos documentos recuperados pela internet, três são artigos opinativos publicados na editoria de Opinião. O restante são textos informativos publicados na editoria de cidades.
Análise do OP no Correio Popular A partir dos textos recuperados foi possível analisar padrões de manipulação e o caráter persuasivo de seus conteúdos e identificar que o Cedoc disponibiliza informações que buscam o convencimento de uma visão de mundo sobre o tema. Foram selecionados para análise 17 textos - equivalentes a 20% do total de matérias encontradas. As reportagens selecionadas foram as que tiveram maior destaque no jornal nas editorias de Cidades e Política. Desta forma, textos menores foram eliminados, para dar lugar a reportagens mais amplas, com espaço no alto da página e com a ocorrência de retrancas, ou matérias secundárias. Foram excluídos também os artigos de opinião e entrevistas no formato pinguepongue9 e eliminados textos que não eram de autoria da reportagem do Correio Popular ou da Agência Anhangüera. Outro critério foi a utilização de apenas um documento que tratasse de determinado tema específico ligado ao OP.
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Perguntas e respostas.
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Para fazer a análise das reportagens, foi utilizada a classificação de Abramo (2003) que considera que a mídia trabalha com cinco padrões de manipulação, sendo quatro aplicáveis ao jornalismo impresso: a) ocultação: a imprensa escolhe o que é o que não é fato jornalístico. A decisão não está no fato, mas no jornalista, ou na empresa jornalística que o observa; b) fragmentação: o fato definido como jornalístico é retirado de seu contexto, é fragmentado, “estilhaçado”; c) inversão: depois de fragmentado, o fato é reordenado, alterando-se a importância de seus elementos; d) indução: a imprensa reconstrói os fatos, ligando-os artificialmente a outros, criando uma realidade “artificial”, “inventada”. Em seguida foi feita a análise retórica. Para Reboul (1998, p. XIV), “retórica é a arte de persuadir pelo discurso”. O ato de persuadir por meio da retórica pode ser reconhecido por meio de três tipos de argumentos, elencados por Aristóteles (REBOUL, 1998, p. 47-9): O ethos diz respeito à credibilidade de quem fala. O pathos diz respeito ao “auditório” ao público receptor ou usuário da informação. “[...] É o conjunto de emoções, paixões e sentimentos que o orador deve suscitar no auditório com seu discurso.” Já o logos é composto pelos argumentos racionais do discurso, em que se busca o convencimento pelo uso da razão. A partir da análise dos 17 textos, observou-se que quando o Orçamento Participativo era uma novidade, em 2001, foi recuperado o menor número (14) de documentos dos quatro anos. Quando os problemas do Orçamento Participativo se agravaram, em 2003, o número de textos recuperados foi maior (35). Por ser um programa que busca a democratização do orçamento municipal e a participação popular, é sensível a distância que o jornal mantém da população, ao reproduzir fundamentalmente declarações e opiniões de “autoridades”, como a prefeita, secretários, vereadores. A presença de cidadãos ditos “comuns” torna-se mais intensa em 2003, quando o OP apresenta problemas e algumas lideranças populares passam a criticá-lo. Enquanto programa que propõe uma nova cultura política, a cobertura por parte do Correio Popular manteve-se tradicional e não refletiu a proposta inovadora. O Correio Popular utilizou-se dos três argumentos de retórica para demonstrar que o Orçamento Participativo fracassou em Campinas. Usou argumentos lógicos, emocionais e de credibilidade, que muitas vezes se confundem no mesmo texto. Utilizou também de mecanismos de manipulação descritos por Abramo (2003), para levar ao leitor uma realidade
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distorcida, uma versão recriada da realidade. E esta versão, analisada em conjunto no Cedoc se reproduz nas páginas recuperadas. Outra característica é a utilização de argumentos emotivos (pathos) para convencer o leitor da hipótese do jornal. Por mais que o raciocínio lógico já indicasse possíveis conclusões, o jornal reforçava a idéia com o uso de palavras e expressões. O advérbio apenas foi utilizado 15 vezes neste sentido em 17 textos analisados. Nos títulos, as ocorrências de apelos emocionais eram mais evidentes e constantes que nos textos. Apesar do uso de elementos emotivos, não se percebeu um padrão. Para cada matéria publicada, uma construção diferente foi percebida. Foram identificados quatro padrões de manipulação apontados por Abramo (2003) nos textos: ocultação, fragmentação, inversão e indução. Cada texto lança mão de um ou mais padrões de manipulação diferentes. Outra observação importante é que não foram identificadas reportagens que destacassem o processo de atuação popular dentro do Orçamento Participativo. O programa era visto por fora, à distância. O jornal não se dedicou a fazer uma cobertura a partir da visão dos moradores que participaram do programa. O afastamento tornou o conteúdo das matérias com o viés de convencer o leitor de que o OP foi um fracasso. Não há informações da quantidade de pessoas envolvidas, nem da forma com que as assembléias e reuniões ocorriam. As referências a isso eram muito superficiais, característicos de uma cobertura que não se prontificou a analisar o programa. A avaliação das reportagens publicadas mostra que a preocupação do Correio Popular não era informar a população sobre o que era o OP, como funcionava e para que servia, mas era de criticá-lo e a tentativa de provar que não daria certo. Nesse caso, o jornal se utiliza de ferramentas de persuasão para manter o status quo na cidade, inviabilizar um projeto de participação popular, num claro esforço de manter a hegemonia existente.
Considerações finais Há uma série de problemas no Cedoc da RAC para uma recuperação eficaz e eficiente da informação desejada. A multiplicidade de métodos de armazenamento e de recuperação é um dos problemas encontrados. Inexiste também um método de busca e recuperação para uma pesquisa mais abrangente. As dificuldades em levantar o material começam com as restrições impostas pelo Cedoc aos usuários. Os conteúdos anteriores a 2002 só podem ser consultados no local e quem não é funcionário da RAC deve pagar para ter acesso à pesquisa. Os conteúdos a partir de 2002, apesar de digitalizados, ainda necessitam de ferramentas de busca
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mais eficazes e mais amplas. Apenas os assinantes do jornal – além, é claro, de funcionários da RAC – têm acesso ao conteúdo digital. Devido à limitação do sistema, pela internet a busca só pode ser feita pelos títulos dos textos, característica que além de limitar a pesquisa, filtra as informações a partir de importante mecanismo ideológico do jornal. No título, a linha editorial da empresa torna-se mais expressa e a busca por esta ferramenta é passível de maior manipulação (CHACÓN GUTIÉRREZ, 1994). As dificuldades para a recuperação de documentos no Cedoc tornam os resultados das pesquisas parciais e impossibilitam o acesso a informações importantes para a compreensão do objeto estudado. A taxa de ruído de 71% encontrada no caso do Orçamento Participativo prejudica a recuperação de informações sobre o programa. A presença do ruído e a incapacidade de encontrar textos desejados podem levar a uma leitura distorcida do fato ou ampliar a distorção. O Centro de Documentação Jornalística da RAC torna disponíveis informações que reforçam, de maneira perene, a visão de mundo presente nas páginas dos veículos publicados pelo grupo empresarial. Neste estudo, tomando por base uma pesquisa sobre textos do Correio Popular, publicado pela RAC, sobre o Orçamento Participativo, foi possível fazer uma leitura a partir do ponto de vista do jornal, mas não se chega à dimensão do que foi o programa. REFERÊNCIAS ABRAMO, P. Padrões de manipulação na grande imprensa. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003. 63p. BRAGA, J. R. OP e exclusão social. Correio Popular, Campinas, 21 abr. 2005 Opinião, p. 3. Disponível em: <http://www.cpopular.com.br/mostra_noticia.asp?noticia=1360975&area=2190&authent=666 208D809FEE25EF0304A316CDACC>. Acesso em 19 mai. 2007. Acesso exclusivo aos assinantes do Correio Popular. BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. 2ªed. São Paulo: Perspectiva, 1992. 296p. CENTRO de Documentação guarda tesouro de notícias. Correio Popular. Caderno Correio, 80 anos. Campinas, 04 set. 2007. Disponível em: <http://www.cpopular.com.br/mostra_noticia.asp?noticia=1531184&area=2091&authent=800 14C932A8FE3A9826510030CCA2A>. Acesso em: 29 set. 2007. Acesso exclusivo para assinantes. CHACÓN GUTIÉRREZ, I. La fiabilidad del proceso documental del discurso periodístico, como fuente de información: análisis, método y valoración. 1994. 412 f. Tese
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A imprensa feminista na luta contra o silenciamento e a impunidade: páginas do movimento de mulheres brasileiras pelo fim da violência sexual e doméstica entre os anos 1970/80 1
Karina Janz Woitowicz
Resumo: O presente texto busca refletir sobre as relações entre a mídia e o movimento de mulheres, a partir da tematização da violência – uma bandeira que permanece atual nas lutas feministas – nos anos 1970/80 no Brasil. Fragmentos de alguns jornais feministas permitem perceber um embate ideológico que se dá, ao mesmo tempo, nas ações do movimento de mulheres e nas páginas dos jornais, que passam a pautar e debater as lutas contra a violência, o silêncio e a impunidade. Neste percurso, discute-se a importância da imprensa alternativa na inserção do debate feminista na agenda pública e na própria organização do movimento, criando espaços de resistência em defesa das mulheres.
Considerações Iniciais: O feminismo e a questão da violência O presente texto pretende discutir, a partir de uma abordagem interdisciplinar, algumas relações entre a mídia e o movimento de mulheres, revelando a importância das organizações de mulheres a partir dos anos 1970/80 na luta contra as desigualdades de gênero. Ao delimitar como recorte temático os textos que discutem a violência2 contra a mulher na imprensa feminista, busca-se observar alguns aspectos do contexto social da época, de modo a perceber que as lutas feministas em torno deste tema têm longa data e permanecem atuais e necessárias como bandeiras do movimento de mulheres no Brasil. Em meio ao processo de luta pela cidadania, é inegável reconhecer a ação do movimento feminista, que marcou importantes conquistas das mulheres em diferentes países. Entre as 1
Professora Ms. do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR e doutoranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (karinajw@hotmail.com) 2 A noção de violência aqui adotada está relacionada com os mecanismos de opressão que legitimam as desigualdades de gênero por meio de relações de poder. Hannah Arendt, em suas abordagens sobre as formas de poder e o uso da violência em sistemas totalitários, diferencia poder, força, autoridade e violência e observa que a violência distingue-se do poder pelo seu caráter instrumental. Contudo, Arendt reconhece que poder e violência aparecem combinados.
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diversas bandeiras levantadas pelo movimento feminista3, que se organiza no Brasil a partir da ação de grupos de diferentes vertentes, nos anos 1970, a questão da violência contra a mulher passa a ocupar um importante destaque, rompendo com décadas de silenciamento em torno da exploração sexual e da violência doméstica. Segundo as teorias de orientação feminista marxista, na base da relação entre capitalismo e patriarcado está o uso da violência como forma de garantir a dominação masculina.4 Nesta abordagem, a opressão e a subordinação das mulheres seria conseqüência de um sistema social e político que estabelece a relação entre dominantes e dominados/as a partir das categorias de classe e sexo. A violência contra a mulher é uma temática do movimento feminista dos anos 1980, quando surgem delegacias de mulheres e atendimento diferenciado para vítimas de agressões físicas e violência psicológica. Campanhas como “quem ama não mata”, diante do assassinato de mulheres, trouxeram o tema para o debate público. Segundo Miriam Pillar Grossi, A categoria “violência contra a mulher”, hoje de grande acepção em todo o Brasil, passa a fazer parte do senso comum a partir de mobilizações feministas contra o assassinato de mulheres “por amor” e “em defesa da honra” no final dos anos 70. Lutas que se ampliarão, no início dos anos 80, para a denúncia do espancamento e dos maus tratos conjugais, impulsionando a criação dos serviços de atendimento a mulheres “vítimas de violência”, os grupos SOS Mulher e, posteriormente, pela criação, por parte do Estado, de Delegacias Especiais de Atendimento às Mulheres. (1998, p. 296)
A partir destas ações, que começaram a dar visibilidade às agressões que aconteciam nos espaços público e privado, o tema da violência contra a mulher virou praticamente sinônimo de violência doméstica. De acordo com Heleieth Saffioti, “a implantação das Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs), por mais precárias que sejam estas, desmistificou o caráter sagrado da família, a ela atribuído pela sociedade, tornando visível a violência contra mulheres, sobretudo a doméstica.” (2004, p. 46) No entanto, apesar das inúmeras campanhas sobre a violência, as estatísticas continuam a aumentar, revelando um cenário que soma cada vez mais vítimas, a grande maioria formada por mulheres. Com isso, reforça-se uma representação de gênero que costuma tomar como símbolo de virilidade a agressividade masculina, ao mesmo tempo em que preserva a condição de vítima atribuída às mulheres. Daí a importância de conhecer a trajetória da imprensa feminista e o modo 3
Ao longo do texto serão encontradas as expressões ‘movimento de mulheres’ e ‘movimento feminista’, em função das diversas formas de identificação assumidas pelos grupos e entidades ao longo do período considerado. 4 Pierre Bourdieu aborda a história das mulheres a partir da dominação masculina, reconhecendo a existência de dominantes e dominados.
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como a mídia alternativa participa da luta contra a opressão das mulheres, contribuindo para inserir o debate na agenda pública. A imprensa feminista denuncia a opressão O movimento feminista desde cedo reconheceu na mídia uma lógica impulsionadora da cultura do consumo e de imagens estereotipadas da mulher – ligadas ao ideal de beleza e aos papéis de esposa e mãe – que se cristalizam no imaginário social de diferentes épocas. Ao reconhecer o papel da mídia na produção de representações de gênero, os grupos de mulheres passam a lançar críticas ao tratamento de determinadas questões e à propagação de valores de uma ideologia hegemônica que reforça a desigualdade entre homens e mulheres.5 Desse modo, para criar uma forma de expressão voltada aos interesses das mulheres, o movimento feminista passa a contar com suas próprias publicações (jornais, cartilhas, panfletos, cartazes, revistas, etc) como instrumentos para o fortalecimento de suas lutas. O que se pretende observar nos textos a seguir são algumas marcas ideológicas lançadas na defesa dos direitos das mulheres, através dos principais jornais feministas6 que circularam entre os anos 1970/80 no Brasil.7 Busca-se, portanto, investigar a chamada mídia alternativa8, produzida por grupos feministas, em uma abordagem que parte da premissa de que, mesmo diante de uma ideologia hegemônica, projetada por forças políticas, econômicas e culturais e propagada pela mídia, há um processo de construção de identidades de resistência e luta.
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O jornal Brasil Mulher publica um interessante texto analisando o tratamento das mulheres nos jornais. Durante um mês, jornalistas de Brasília analisaram quando a mulher era notícia nos principais jornais do país e identificaram a exploração do corpo, ter cometido ou ter sido vítima de violência, ou ser mulher de um homem importante. Por exemplo, na análise do jornal carioca O Dia, feita por Zenaide Azeredo, ela observa que quando se trata de explorar o sangue, o da mulher tem maior valor comercial para a venda de jornais. “Na maioria das vezes, a mulher aparecia como vítima de agressão física: surra do marido, assalto, atropelamento ou assassinato. Além de mostrar a mulher como vítima, “O Dia” é o que mais explora a imagem da mulher como objeto.” (Brasil Mulher, n. 9, outubro de 1977, p. 10) 6 Os jornais pesquisados foram disponibilizados pelo Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 7 A opção metodológica adotada neste trabalho para a observação dos jornais feministas no período considerado parte de um recorte temático sobre a violência e passa a verificar as relações entre o texto e o contexto em que os discursos circulam. Assim, a partir de um percurso interdisciplinar entre a comunicação e a história, busca-se identificar a produção de discursos de resistência, reunindo elementos para perceber a história das relações de gênero através das lutas feministas travadas nos jornais. 8 Para fins de delimitação temática, entende-se por mídia alternativa a produção de veículos voltados a demandas e interesses sociais, que não atuam nos limites do mercado tradicional (de produção, circulação e consumo) da informação, servindo como porta-voz de grupos e movimentos sociais.
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Para situar o contexto em que tais discursos se inscrevem, é importante lembrar que a ditadura militar (1964-1985) representou o início de um período de autoritarismo político que permaneceu por duas décadas, entrando para a história do País como os chamados “anos de chumbo”: censura, repressão armada, perseguições, manobras políticas, entre outras práticas características deste regime, marcaram o período. Em meio a este sistema de castração de direitos e controle à liberdade de expressão surgem centenas de publicações, conhecidas como imprensa alternativa, que ousavam denunciar situações de opressão.9 Defendendo interesses de diversos movimentos sociais, a imprensa alternativa irá proporcionar o debate de idéias, fazendo circular informações que, de outro modo, seriam silenciadas, criando espaços de disputa de hegemonia.10. É neste cenário que o movimento feminista, na medida em que se constitui como um espaço de resistência e luta em defesa das mulheres, incorpora em suas ações diversas práticas relacionadas aos processos midiáticos, com o objetivo de dar visibilidade a certas reivindicações. A imprensa feminista surge, então, a partir dos anos 1970, quando o movimento de mulheres se organiza de forma mais sistemática, levantando bandeiras específicas e se somando à resistência à ditadura militar. É na luta pelo reconhecimento dos direitos das mulheres que o movimento feminista no Brasil, acompanhando o debate de idéias que marcaram o feminismo em outros países, buscava formas de garantir a sua legitimidade. De acordo com Teles, este é o momento em que as mulheres deixam de apenas marcar presença nos movimentos sociais ao lado dos homens (só para se ter uma idéia, o Comitê Brasileiro de Anistia calcula que cerca de 12% de integrantes dos movimentos sociais eram mulheres), e começam a surgir lutas mais dirigidas. Só mais recentemente, a partir de 1975, com a instauração do Ano Internacional da Mulher, as brasileiras retomaram o movimento feminista, atuando em grupos de estudos e programando jornadas de luta e campanhas de mobilização. Integradas com os movimentos democráticos, as feministas brasileiras engrossaram fileiras nos movimentos pela anistia, por liberdades políticas e por uma constituinte livre e soberana. (1999, p.14)
Surgem vários clubes de mães, que começam a levantar discussões sobre custo de vida, baixos salários, creches para mães trabalhadoras, sexualidade, violência sexual e doméstica. São realizados congressos de mulheres, marchas, cartas às autoridades exigindo mudanças, etc. Outro fator importante situa-se no ano de 1975, quando a ONU institui o Ano Internacional da Mulher, 9
Segundo Rivaldo Chinem, entre 1964 e 1980 nasceram e morreram cerca de 300 periódicos. A perspectiva de disputa de hegemonia é aqui mencionada a partir da abordagem de Antonio Gramsci, que compreende os campos da cultura, da sociedade e da política como terrenos de disputa entre vários grupos e classes sociais, na busca pela expressão de outras ideologias como parte do processo de disputa de hegemonia.
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e o dia 8 de março (embora já fosse habitualmente comemorado há décadas) passa a simbolizar as lutas das mulheres. É elaborado, também nesta data, o “Manifesto da Mulher Brasileira”, em favor da Anistia. Dez anos depois, é criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Segundo Paola Giulani, Muitas queixas e relatos sobre a discriminação e a segregação sexual conseguem sair das paredes domésticas em que até então estavam enclausuradas e tornam-se fontes de denúncias e de demandas de novos direitos. Tais atitudes conseguem atingir os alicerces das relações sociais questionando os principais espaços coletivos: o local de trabalho, a prática sindical e a própria família. (2004, p.645)
No contexto dos anos 1970, surgem publicações do movimento feminista com o objetivo de discutir os rumos do movimento e levantar as principais bandeiras das mulheres. Entre elas, vale destacar os jornais Brasil Mulher11 (1975-1979), Nós Mulheres12 (1976-1978) e Mulherio13 (1981-1987), que tiveram uma inegável contribuição para o debate em torno da necessidade de enfrentar novos desafios em uma sociedade marcada pela diferença entre os sexos, fortalecendo diversas reivindicações baseadas no ‘novo feminismo’. Os referidos jornais, a partir de orientações distintas (que circulam entre o enfoque político, a luta de classes e questões ligadas à desigualdade entre homens e mulheres), promovem a defesa dos direitos das mulheres a partir da publicização de determinados assuntos na esfera pública. Lamentavelmente, a maioria dos jornais feministas consultados para a elaboração deste artigo não oferece informações no expediente sobre a tiragem, a circulação e até mesmo a periodicidade das publicações, dados esses que poderiam apresentar mais elementos para 11
O editorial do Brasil Mulher esclarece o comprometimento do jornal com as lutas feministas e as causas democráticas: “Não é o jornal da mulher. Seu objetivo é ser mais uma voz na busca e na tomada da igualdade perdida. Trabalho que se destina a homens e mulheres. Não desejamos nos amparar nas diferenças biológicas para desfrutar de pequenos favores masculinos, ao mesmo tempo que o Estado, constituído de forma masculina, deixa-nos um lugar só comparado ao que é destinado por incapacidade de participação do débil mental. Queremos falar dos problemas que são comuns a todas as mulheres do mundo. Queremos falar também das soluções encontradas aqui e em lugares distantes: no entanto, queremos discuti-las em função de nossa realidade brasileira e latino-americana. (...) Finalmente, Brasil Mulher deseja incorporar-se à imprensa democrática que, em meio à batalhas, o Brasil vê surgir. Teremos um número mensal e a sustentação desta proposta de comunicação depende unicamente da participação daqueles que com ela se identificarem.” (Brasil Mulher, ano 1, n. 0, 9 de outubro de 1975, p. 2) 12 A proposta do jornal é apresentada no editorial da primeira edição: “Desde que nascemos, NÓS MULHERES ouvimos em casa, na escola, no trabalho, na rua, em todos os lugares, que nossa função na vida é casar e ter filhos. Que NÓS MULHERES não precisamos estudar nem trabalhar, pois isto é coisa pra homem. (...) NÓS MULHERES decidimos fazer este jornal feminista para que possamos ter um espaço nosso, para discutir nossa situação e nossos problemas. E, também, para pensarmos juntas nas soluções.” (Nós Mulheres, ano 1, n. 1, junho de 1976, p. 2) 13 Em um texto assinado por Adélia Borges, o jornal anuncia diversas apoiadoras em todo país: “Era apenas um folheto, despretensioso, anunciando o lançamento de um jornal. Mas a repercussão que o número zero de Mulherio alcançou surpreendeu-nos, como a demonstrar que a mulher brasileira precisa realmente de um veículo de comunicação que divulgue suas coisas de uma forma nova, nossa.” (Mulherio, ano 1, n. 1, maio/junho de 1981)
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caracterizar a sua abrangência no período considerado. Contudo, é possível encontrar algumas pistas nos textos dos jornais, que indicam as conquistas e as dificuldades encontradas para manter as publicações. Neste sentido, o Brasil Mulher informa uma tiragem inicial de 5.000 exemplares e, em março de 1979, anuncia a publicação de 10.000 exemplares. Além disso, em sua quinta edição, conta aos leitores e leitoras que está sendo feito com o dinheiro da sua venda, comemorando assim o sucesso do jornal na conquista de assinaturas em diversos estados brasileiros, de colaboradores/as e de uma sede em São Paulo. É o que mostra o seguinte editorial: “A 9 de outubro de 1975 surgia, em Londrina – Paraná, o número 0 do jornal Brasil Mulher com a proposta de ser uma voz na busca e na tomada da igualdade perdida, trabalho destinado a homens e mulheres. Em um ano de existência, com muito trabalho e sacrifício, o BM já está se firmando como jornal. Da equipe inicial de cinco mulheres contamos, hoje, com a participação de cerca de 50 pessoas, entre homens e mulheres, em vários estados e também no exterior”. (Brasil Mulher, ano 1, n. 5, 1976, p. 2)
O jornal Nós Mulheres, por sua vez, mantendo a periodicidade bimestral, não informa sua tiragem. Porém, sabe-se que sua circulação era voltada para as comunidades de base em São Paulo, atingindo diversos grupos de mulheres. O jornal enfrentou diversas dificuldades para se manter, como revela o texto abaixo, sob o título “Nós Mulheres agradece”: “A gente estava mesmo sem dinheiro. Devendo e sem saber como fazer este número. Nisso, veio a idéia de dar uma festa, não só para comemorar um ano de jornal, o que já é um heroísmo, como também para nos tirar do “buraco”. Nos preparamos durante um mês e no dia 23 de julho, uma festa estava montada na Fundação Getúlio Vargas. Exposição de gravuras, quadros, desenhos, fotos. Venda de livros, discos. Música ao vivo, com conjuntos de chorinho e samba rasgado. Um filme para os mais intelectuais e, para animar, salgadinhos e vinho. Era uma quinta-feira e o dia coincidia com o jogo do Brasil – ficamos com medo de não aparecer ninguém, afinal, futebol é futebol. Mas no fim, vieram umas 500 pessoas e apesar do trabalho foi uma noite animada e de muita solidariedade com o Nós Mulheres. (...) O resultado foi que conseguimos liquidar nossas dívidas e ainda nos sobrou dinheiro para lançar este e o próximo número. Verdade que não resolvemos de vez nosso problema financeiro, mas a solidariedade nos fez avançar mais um pouquinho.” (Nós Mulheres, ano 2, n. 6, agosto/setembro de 1977)
O Mulherio, que também mantinha uma periodicidade bimestral, foi o jornal feminista de maior duração, sendo publicado por seis anos. Embora a tiragem do jornal não conste na maioria das edições, em uma das últimas edições encontra-se a referência de 12 mil exemplares. Ao longo de sua existência, o jornal ficou por sete meses fora de circulação, quando a Fundação Carlos Chagas (SP) retirou o apoio financeiro. O Mulherio retornou em função da necessidade de servir
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como um espaço de debate sobre o feminismo. Neste momento, o jornal explica a alternativa encontrada para se manter em circulação. “(...) Ele volta agora porque, ao anunciarmos nos dois últimos números o fim próximo, recebemos uma calorosa manifestação de solidariedade de centenas de leitores de todo o País, de cidades grandes e de cidades pequenas, de gente “importante” e de gente anônima, de mulheres e de homens também. Foi isso que nos motivou a continuar tentando. Sem recursos próprios, buscando apoio em agências internacionais que financiam projetos ligados à promoção da mulher. E recebemos esse apoio – pequeno em dinheiro, mas suficiente para dar a arrancada inicial nesta nova fase do Mulherio.” (Mulherio, ano 4, n. 16, maio/junho de 1984)
É a partir da necessidade de instaurar o diálogo e provocar mudanças que o movimento feminista vai buscar seu fortalecimento e representatividade, na tentativa de aprofundar as relações democráticas. Neste espaço, a imprensa alternativa atua como uma importante aliada para a conscientização de diferentes setores da sociedade, em torno de temáticas como trabalho feminino, participação política, liberdade sexual, igualdade de direitos, aborto, políticas públicas para as mulheres, condições de trabalho, violência, entre outras. Em meio a estas demandas e lutas, a questão da violência contra as mulheres figura como uma importante bandeira do movimento feminista, que passa a ser debatida nas páginas dos jornais14. Diante deste tema, que se revelava como um tabu15, são amplamente divulgadas as manifestações contra o direito dos homens de matar em defesa da honra – uma das primeiras grandes campanhas públicas das feministas no Brasil, que irá cobrar outro tratamento em relação aos crimes contra a mulher. É o caso dos textos “Quando a vítima passa a ser culpada” e “Por que morrem as mulheres brasileiras?”, publicados nos jornais Brasil Mulher e Brasília Mulher: 14
É importante considerar que, neste período (anos 1970/80) cria-se uma verdadeira rede de contra-informação através da imprensa alternativa. São comuns as reproduções de textos de um ou outro jornal, assim como campanhas coletivas de assinantes, envolvendo os jornais Movimento, Pasquim, Bagaço, Versus, Beijo, Coojornal, Repórter, Em Tempo, entre outros. Assim, o tema da violência também é abordado em outros tipos de veículos alternativos, que abrem espaço para a discussão das causas das feministas. O jornal Movimento (n. 228, 12 a 18 nov. 1979) publica o texto “Estupro – tolerância a impunidade”, sobre o pretenso ‘consentimento’ da vítima e a impunidade aos criminosos, e traz uma série de reportagens sobre o assassinato de Ângela Diniz, que acabou se tornando um marco para as lutas contra a violência. Sob o título “Em defesa do homem e dos mais fortes”, o texto de Raimundo Pereira critica a sentença de Doca Street, marido e assassino de Diniz: “O assassinato de Ângela Diniz – um crime brutal e estúpido – foi perdoado pelas leis da moral e dos interesses dominantes da sociedade. (...) Foi uma sentença de homens que, inegavelmente, acobertou o preconceito arraigado que trata de forma desigual homens e mulheres que têm relações amorosas fora de seus parceiros constantes. (...) Mas quem seria Doca, o santo, cuja honra merecia ser resgatada de uma mulher indefesa através de quatro tiros na cara? 15 Em uma reportagem do jornal Nós Mulheres, constam vários elementos que conferem o caráter violento aos homens, através de canções populares: “A superioridade do homem, exaltada por surras e tijoladas, está presente nas canções dos maiores músicos da década de 30, onde encontramos os exemplos mais clássicos de exaltação do machismo e da violência.” (n. 2, setembro/outubro de 1976, p.13)
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Se a gente for ver os últimos casos que ocuparam lugar nas manchetes dos jornais como o assassinato de Ângela Diniz, o da menina Aracelli e, o mais recente, de Cláudia Lessing Rodrigues, vê-se que as vítimas estão sendo culpadas de sua própria morte. Como? Ora, as vítimas, quando são mulheres, acabam sendo acusadas de sua própria morte. Por que isso? Nesses casos, começa-se por discutir o comportamento da vítima para “justificar” e desculpar suas mortes violentas. (...) O que acontece é que mesmo sendo a lei igual para todos, no crime em sociedade a lei e a prática ficam diferentes se o acusado é homem ou pessoa importante. (Brasil Mulher, n. 9, outubro de 1977) Por que os homens brasileiros continuam matando suas companheiras? Essa é uma pergunta que dificilmente poderá obter uma resposta pronta e acabada pois, apesar das denúncias feitas por grupos feministas e das inúmeras campanhas realizadas contra a violência que, quotidianamente, é perpetrada sobre as mulheres, poucos são os assassinatos de mulheres, por maridos ou companheiros, devidamente punidos pela justiça brasileira. (...) Não pretendemos aqui abordar outras tantas formas de violência contra mulheres – estupros e espancamentos – que, como os assassinatos, abarrotam as prateleiras de arquivos mortos dos tribunais. O que pretendemos é que essa violência não continue sendo vista apenas como mais um problema de classe como habitualmente o julga nossa parcial justiça. Pretendemos que esses homicídios não sejam transformados em sensacionais manchetes policiais e até em temas de novelas de televisão onde, incrivelmente, o assassinato da esposa é justificado como forma de salvar a honra do marido, incentivando, sem sombra de dúvida, a prática de tais crimes. (Brasília Mulher, ano 1, n. 4, setembro de 1982)
Os jornais feministas, além de ampliarem o debate sobre a violência, assumem também um importante papel ao denunciarem o silenciamento da sociedade sobre casos de violência e a impunidade dos criminosos16, trazendo relatos e depoimentos de mulheres vítimas de violência doméstica e sexual. O jornal Brasília Mulher denuncia em suas páginas o assassinato de Maria José, jornalista do Correio Braziliense, morta pelo marido, e Edite, arrumadeira que foi atacada na rua, após ser expulsa do seu estabelecimento de trabalho de madrugada. Já o jornal da União das Mulheres de Maceió relata as manifestações contra a violência sexual. O Brasília Mulher vem a público para denunciar mais dois atos de violência praticados contra a mulher por sua condição de sexo: o assassinato de Maria José de Oliveira e o estupro sofrido por Edite Corte da Silva. (...) Nós do Brasília Mulher e demais integrantes do Movimento Feminista Nacional evidenciamos a necessidade de denúncia da violência sofrida pela mulher por sua condição de sexo, solidarizamo-nos com Edite e exigimos que casos como o dela e o de Maria José não fiquem impunes. (Brasília Mulher, ano 1, n. 4, setembro de 1982)
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O Brasil Mulher é um dos veículos que mais incorpora a luta pelas liberdades democráticas, pelos direitos humanos e pela Anistia, valorizando as questões políticas do período. Na edição do ano 4, n. 16, setembro de 1979, o jornal traz a matéria “Agarra, agarra ela, Capitão Ubirajara”, com o seguinte conteúdo: “Essas mulheres foram presas e torturadas por lutarem pelos interesses do povo brasileiro. E elas continuam...”. São apresentados depoimentos de diversas mulheres (Elza Lobo, Diva Maria de Fátima Burnier, Maria Nilde Macelani, Maria da Conceição Coelho da Paz, Rosalina Santa Cruz e Nair Benedito), que contam as torturas sofridas enquanto presas políticas e dizem que ser mulher foi um agravante para a sua situação na prisão.
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Toda a população acompanhou e parcela significativa da sociedade e participou ativamente das manifestações contra a onda de violência sexual que se abateu sobre Maceió. (...) o crime de violência sexual já não pode ser visto como mero atentado ao pudor ou à moral pública, mas por se constituir num atentado à integridade física, é crime que merece punição. (...) A vigilância e a luta continuam. Porque na defesa e pelo respeito à mulher, a União das Mulheres de Maceió entrará em combate sempre que necessário, com a certeza de contar com mesmo e importante apoio que recebeu de toda população nessa investida contra a violência sexual. (União Mulheres Maceió, ano 2, n. 1, agosto de 1983, p. 3)
O jornal Mulherio também oferece amplo espaço para discutir a questão, abordando a atuação do SOS Mulher, um trabalho voluntário de mulheres que se mobilizam no combate à violência, fundado em outubro de 1980 por integrantes de grupos feministas de São Paulo. Desde que o SOS começou a funcionar, o telefone 813-9520 não parou de tocar e de trazer para dentro da modesta sala alugada em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, as várias formas de violência contra as mulheres. Violências que acabam dando tons dramáticos aos plantões noturnos (de segunda a sexta, entre 19 e 22 horas) e diurnos (às terças e quintas à tarde) muito procurados pelas mulheres que vão até lá enquanto seus maridos espancadores estão no trabalho. A ampla divulgação dos trabalhos da entidade pelos jornais, rádios e tevê tem levado grande número de mulheres a procurar o SOS. Mas é claro que ele não tem um esquadrão de “mulheres-maravilha” para ir correndo atender uma mulher que está sendo surrada. O que se pode fazer, sem cair numa atitude assistencialista, é convidar as mulheres a debater e discutir seus problemas, fazendo-as ver que podem sair da situação de dominação em que se encontram. (...) Mas a tarefa mais abrangente do SOS consiste em denunciar sistematicamente, incansavelmente, a violência também sistemática e incansável que se abate sobre as mulheres. E buscar caminhos que reduzam essa violência, seja conscientizando mulheres e homens da gravidade da questão, seja lutando para que cesse a impunidade que premia assassinos, estupradores e espancadores de mulheres. (Mulherio, ano 1, n. 1, maio/junho de 1981)
A importância do SOS Mulher é destacada no movimento feminista como um importante marco no reconhecimento de mulheres vítimas e na mudança no tratamento de crimes “em defesa da honra”. Em sua abordagem histórica sobre o feminismo brasileiro, Céli Regina Pinto destaca: O objetivo do SOS Mulher era constituir um espaço de atendimento de mulheres vítimas de violência e também um espaço de reflexão e de mudanças das condições de vida dessas mulheres. No entanto, logo nos primeiros anos, as feministas entraram em crise, pois seus esforços não resultavam em mudança de atitude das mulheres atendidas, que, passado o primeiro momento de acolhimento, voltavam a viver com seus maridos e companheiros violentos, não retornando aos grupos de reflexão promovidos pelo SOS Mulher. (...) O SOS Mulher protegia a mulher do agressor e ao mesmo tempo o assustava. Essa mulher mudava sua posição na relação com o agressor, pois tinha uma nova arma de negociação com o parceiro. Não estava mais sozinha. As mulheres das camadas populares eram, na maioria das vezes, mães de muitos filhos, trabalhavam em casa ou ganhavam salários irrisórios, viviam em regiões distantes e perigosas onde a ausência de um homem em casa muitas vezes representava não só a fome, mas constituía realmente um risco para a sobrevivência física das mulheres e dos filhos. (2003, p. 8081)
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Outras matérias também evidenciam o comprometimento do Mulherio com a luta contra a violência e a opressão17. Por este caráter combativo das feministas, o próprio jornal conta que recebeu ameaças durante a marcha da campanha “Quem ama não mata”. Através da imprensa, é possível perceber alguns indícios da mobilização das mulheres em defesa de seus direitos. Quem ama não mata! Esse foi o grito das mulheres mineiras que explodiu pelos muros de Belo Horizonte em 1980, depois do assassinato de duas mulheres por seus maridos, inconformados com a idéia da separação. Em março deste ano, dois bárbaros assassinatos mobilizaram as mulheres do Rio e de São Paulo para uma ampla denúncia pública da violência cotidianamente dirigida contra as mulheres. (Mulherio, ano 1, n. 1, maio/junho de 1981) A partir da constatação de que não há justiça para as vítimas fatais, fica ainda mais evidente o tratamento de tolerância dispensado aos outros tipos de violência contra a mulher, como o estupro. Apesar de as estatísticas comprovarem que, na maioria dos casos, os estupradores são reincidentes, eles continuam a ser detidos apenas quando presos em flagrante. Tanto que na 1ª Delegacia da Defesa da Mulher de São Paulo, a maior do gênero no País, que indiciou em quase dois anos de existência trezentos homens por estupro, possui apenas três detidos. (Mulherio, ano 7, n. 28, março/abril de 1987)
Neste percurso de batalhas e discriminações, é importante destacar que, embora a violência contra as mulheres permaneça como uma grave questão que envolve as desigualdades de gênero, algumas conquistas anunciadas pelas feministas representaram contribuições fundamentais para o debate em torno da violência contra as mulheres. Segundo Céli Pinto, A partir de 1985, a questão da violência contra a mulher toma outros rumos com a criação da primeira delegacia especializada. Essas delegacias se popularizaram por todo o país e, em 1992, já somavam 141, nas mais diversas regiões. Essa foi uma política pública bem sucedida que, em primeiro lugar, atendia a uma demanda das feministas, ou seja, a criação de um espaço na polícia no qual o ambiente não fosse hostil à mulher agredida. (2003, p. 82)
Através destes recortes da imprensa feminista, é possível perceber um embate ideológico que se dá, ao mesmo tempo, nas ações do movimento de mulheres e nas páginas dos jornais, que passam a canalizar as reivindicações das feministas. Ao assumirem um viés ideológico que evidencia o envolvimento com as lutas das mulheres, tomarem como características os textos de denúncia e a explicitação de opiniões, por meio de uma abordagem crítica, os jornais aqui
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A edição do ano 1, n. 2, julho/agosto de 1981 do Mulherio traz na capa a manchete “A violência contra a mulher, que começa na infância e permeia o cotidiano”, assunto que é discutido nas matérias “A estuprada, de vítima a ré” (p. 15), sobre as incoerências e abusos da lei em relação aos casos de estupro, e “Marli, um símbolo da resistência” (p. 16), sobre uma empregada doméstica ameaçada de morte por aqueles que mataram seu irmão (no caso, as polícias civil e militar) que denunciou o assassinato e passou a ser reconhecida internacionalmente por suas lutas.
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observados passam a ‘escrever’ a história do feminismo e das lutas políticas travadas cotidianamente em defesa dos direitos das mulheres. Considerações Finais: Mulheres vítimas da violência, uma luta ainda atual Folhear um jornal, assim como acompanhar notícias de rádio, TV e internet, são oportunidades para constatar a presença da violência no cotidiano das mulheres. Na grande maioria das matérias, a mulher aparece como vítima da violência, em suas mais diversas expressões, o que remete a antigas lutas feministas. Segundo Saffioti, A violência contra mulheres sempre existiu no Brasil. Aliás, é um fenômeno mundial, que independe da riqueza e do grau de desenvolvimento da nação, do nível de escolaridade dos envolvidos, do tipo de cultura – ocidental ou oriental -, da religião dominante, etc. Até 1995, todos os crimes, mesmo os apenados com até um ano de detenção, eram julgados, no Brasil, segundo os dispositivos do Código Penal. A Lei 9.099/95 trouxe alterações do rito de julgamento, passando o réu a ser chamado de acusado, sendo as penas de privação de liberdade substituídas por penas alternativas etc para os crimes considerados “de menor potencial ofensivo” e cuja pena não ultrapassasse um ano. (2004, p. 54)18
Dados recentes sobre a violência contra a mulher, obtidos através da pesquisa de opinião pública sobre a mulher brasileira nos espaços público e privado, realizada pela Fundação Perseu Abramo em 200119, oferecem importantes elementos para contextualizar este problema e entender em que universo os discursos da mídia se inserem. Segundo a pesquisa, “a maioria das mulheres brasileiras convive bem com sua condição feminina, tem consciência das conquistas obtidas (direito ao trabalho e à autonomia social), mas reclama do peso da dupla jornada e reivindica o fim das discriminações, seja no mercado de trabalho, seja sob a forma da violência”. Outro dado importante observado pela pesquisa é que em quase todos os casos de violência, mais da metade das mulheres não pede ajuda. Os casos de denúncia pública são bem mais raros, ocorrendo principalmente diante da ameaça à integridade física por arma de fogo 18
Sobre as punições legais para a violência contra a mulher, vigentes no período de publicação do seu texto, Saffioti critica: “Anteriormente à Lei 9.099/95, as condenações eram poucas e menor ainda o cumprimento da pena. Em nome do congestionamento da justiça com milhares de processos, da celeridade do processo, do espírito de conciliação, foi promulgada a Lei 9.099/95. Em si mesma, já não apresenta boas qualidades para lidar com a violência doméstica, sendo sua implementação ainda pior. Muitas audiências são feitas no corredor, por mesárias que, além de não deter os conhecimentos jurídicos necessários, são tão ou mais machistas que juízes e promotores. As penas praticamente não variam: pagamento de uma pequena multa, entrega de uma cesta básica uma instituição de caridade e, raramente, a prestação de serviços à comunidade.” (2002, p. 54) 19 Para a pesquisa, foram realizadas 2.502 entrevistas, distribuídas geograficamente nas 5 macrorregiões do País em 2001. Os dados foram divulgados no livro “A mulher brasileira nos espaços público e privado” (2004).
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(31%), espancamento com marcas, fraturas ou cortes (21%) e ameaças de espancamento à própria mulher ou aos filhos (19%). O órgão público mais utilizado para denúncias é a delegacia de polícia. A Delegacia da Mulher é a mais utilizada nos casos de espancamento com marcas, fraturas ou cortes, mas ainda assim por um pequeno índice de mulheres (apenas 5%). Também alarmante é a projeção realizada para a população, que indica que... 6,8 milhões de mulheres (11%), dentre as brasileiras vivas, já sofreram, no mínimo, um espancamento. Destas, 31% mencionaram que a última vez que um espancamento havia ocorrido tinha sido no período dos 12 meses anteriores à coleta de dados. Se o ano de 2001 for semelhante aos demais, anteriores ou posteriores, têm-se 2,1 milhões de mulheres espancadas por ano no Brasil. Isso significa 175 mil por mês; 5,8 mil por dia; 240 por hora ou 4 por minuto. Disto resulta uma mulher espancada a cada 15 segundos. (2004, p. 55-56)
Neste contexto, as ocorrências de violência contra a mulher não desmentem esta realidade opressora. Assuntos como assassinatos de mulheres, abuso sexual, estupro e outros crimes aparecem nas páginas dos jornais, algumas vezes sob um tratamento emotivo, oscilando entre o sensacionalismo e a banalização da violência de gênero. Ao revelaram algumas faces destas expressões da violência, os discursos da mídia demonstram a pertinência do tema para o debate público, ao mesmo tempo em que apresentam traços de um discurso essencialmente masculinizado, em que os sujeitos da opressão são principalmente os homens. E é com o objetivo de transformar esta realidade que o movimento de mulheres, ao agregar diversos grupos, organizações e entidades, se organiza em torno de lutas como a violência contra as mulheres. Em pesquisa realizada em 1995, Miriam Grossi e Sônia Malheiros Miguel constatam a existência de 162 entidades feministas, de mulheres e de gênero, que se organizam a partir de lutas específicas. Destas, parte representativa é formada por entidades que tematizam a violência: 74 grupos dizem trabalhar no campo da violência, uma das lutas mais visíveis do movimento feminista dos anos 70/80 que culminou com a criação de delegacias da mulher em várias cidades do Brasil a partir de 1985. (1995, p. 23)
Atualmente, não existe um registro preciso sobre o número de grupos e entidades que compõem o Movimento de Mulheres no Brasil. De acordo com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, do Governo Federal, existem 548 organizações de mulheres no País, que
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envolvem órgãos governamentais e não governamentais, instituições e conselhos diversos.20 Este número evidencia a representatividade das ações das mulheres, que se organizam através de diversas formas na reivindicação por seus direitos. Neste processo de lutas que demarca a atuação do movimento feminista brasileiro, um recente marco sobre a violência contra as mulheres foi registrado: a implementação da Lei Maria da Penha (n. 11.340), sancionada pelo presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, em 7 de agosto de 2006. Fruto de um longo processo de elaboração, a Lei Maria da Penha leva este nome em homenagem a uma vítima da violência doméstica e da impunidade do seu agressor, que é hoje líder do movimento em de defesa dos direitos da mulher: Maria da Penha Maia. Carolina Toneloto21 apresenta os seguintes avanços que esta lei representa: Além de endurecer o tratamento e a pena imposta aos agressores, a lei reconhece, de forma inédita, que a violência contra a mulher pode ocorrer entre pessoas do mesmo sexo, em relacionamentos homossexuais, e em quaisquer casos onde haja vínculos afetivos entre a vítima e o agressor, não importado se moram juntos. Os agressores deixarão de receber penas consideradas brandas em relação aos danos causados, como o pagamento de multas e cestas básicas. Agora o processo, o julgamento e a execução das causas criminais e cíveis, decorrentes da violência contra a mulher, seguirão as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil, e também do Estatuto da Criança e do Adolescente, e do Estatuto do Idoso, quando convier. É a primeira vez que o país conta com uma Lei específica sobre a violência contra a mulher que estabelece quais são estas formas de violência (físicas, psicológicas, sexuais, patrimoniais e morais).
Sabe-se que as lutas das mulheres em torno desta e de outras bandeiras mantêm sua atualidade e pertinência em uma sociedade fortemente marcada pela desigualdade de gênero. Embora muitas conquistas figurem na história do feminismo brasileiro, há um processo constante de atualização de demandas das mulheres, que passam a ser discutidas nos grupos que defendem os direitos das mulheres e também através da produção de uma mídia alternativa que, à semelhança dos jornais feministas que marcaram o movimento a partir dos anos 1970/80, revela que as disputas sociais em torno das questões de gênero permanecem absolutamente atuais. Percebe-se, assim, que as experiências dos grupos feministas e de mulheres apontam cada vez mais para a necessidade de criar um discurso próprio, capaz de fazer questionamentos e promover mudanças. Afinal, para consolidar o processo de resistência política e cultural 20
Este número corresponde às informações disponibilizadas pela referida Secretaria, através do site
https://sistema.planalto.gov.br/spmulheres/organizacoes.cfm. 21
TONELOTO, Carolina. “A lei Maria http://www.ciranda.net/spip/article460.html
da
Penha,
finalmente”.
04/09/2006.
Disponível
em:
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promovido pelo movimento feminista, os grupos percebem a necessidade de produzir sua própria mídia, entendendo que as diferentes formas de apropriação dos espaços de comunicação representam lugares estratégicos de um dizer – e de um fazer – feminista, que irá demarcar o seu campo de atuação e militância em defesa da cidadania das mulheres.
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La version “participativ” de la construction de connaissance pour l’action: la pertinence du dialogue entre praticiens et techniciens Sayonara Leal∗
DARRÉ, Jean-Pierre. La production de connaissance pour l'action : arguments contre le racisme de l'intelligence, Paris: Maison des sciences de l'homme, Institut national de la recherche agronomique, 1999, 244 p.
Sans s’effondrer dans le relativisme culturel, Jean-Pierre Darré dans La production de connaissance pour l'action : arguments contre le racisme de l'intelligence, signale l’existence du scientisme, de la justification des formes de connaissance des praticiens en établissant les possibilités d’une réelle coopération entre pensée savante et pensée de la pratique. L’auteur remarque le processus de production de la connaissance à partir de l’action, de l’expérience vécue pendant la praxis du quotidien des agriculteurs. L’insertion de nouvelles technologies et de nouveaux outils techniques comme aussi bien de connaissances scientifiques dans l’univers de pratiques traditionnels de paysans met en lumière une problématique sociologique concernant à la pertinence du dialogue entre technicien, experts et praticiens autant qu’actantes dans le monde productif et social. Il s’agit d’une problématique présente dans le monde social où se mélangent pratiques ordinaires du quotidien et connaissances savantes en donnant lieu à un univers hybride d’actions sociales et productives. Darré privilégie comme champ et sujet de recherche, l’agriculture, en dégageant de ce milieu l’épanouissement des savoirs issus de l’univers des paysans. Cela signifie qu’il évoque une société où les productions et la diffusion de la connaissance sont faites à partir de la pratique dans une époque où le savoir scientifique est plus valorisé que celui produit dans le domaine de l’agriculture. Néanmoins, l’auteur fait référence à l’utopie d’une société des intellectuelles où seules des minorités auraient l’apanage de l’intelligence. En faisant la critique de la suprématie de la connaissance scientifique, Darré construit une riche étude de la production de savoirs pour l’action. L’illusion de la supériorité d’un métier de savants légitimés pour le champ scientifique s’alimente du racisme d’intelligence, lequel est envisagé comme un principe qui fonde une ∗
Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília. Pesquisadora do Laboratório de Pesquisa de Políticas de Comunicação da Universidade de Brasília, LapCom-UnB. Leciona na Faculdade de Comunicação da UnB a disciplina Políticas de Comunicação.
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organisation sociale. Il s’agit, selon l’approche bourdieusienne, d’un type de racisme méconnu, mais subtil, dont la sagacité parfois le rend plus agressif que toutes les autres manières de racisme, une sorte de violence contre les gens qui ne sont pas considérés comme des intellectuels. Docteur en ethnologie, Jean-Pierre Darré a conduit des expériences dans le champ agricole lorsqu’il était consultant auprès d’industriels, fournisseurs de l’agriculture. L’auteur a effectué de nombreuses recherches sur les processus de changement technique sur le terrain agricole, depuis les années 1970. Ses travaux ont comme thème central l’arrivée de la vulgarisation du monde du travail et des techniques des agriculteurs et la relation entre praticiens et théoriciens dans l’univers de la production, ayant comme préoccupation l’impact du labeur agricole vers son environnement. Il a dirigé des études associées à des activités d’enseignement, surtout auprès d’agents de développement, en France et dans des pays d’Amérique du Sud, comme le Brésil. Préoccupé par des questions de connaissance du travail et de l’action pertinente dans le milieu rural, Darré a créé au début des années 1980 le Groupe d’Expérimentation et de Recherche : Développement et Actions Localisés (GERDAL). Selon Darré1, l’agriculture et les agriculteurs ont une place modeste dans la littérature des sciences sociales sur l’environnement, il y a plus de travaux qui se partagent entre l’étude des pressions environnementalistes et des milieux qui les exercent. Donc, le chercheur a proposé dans ce livre, en utilisant une méthodologie originale qui mélange de façon équilibrée théorie et pratique du terrain, la confrontation entre savoirs populaires et savoirs intellectuels. Cependant, l’étude des relations entre prescripteurs et praticiens dans l’univers de l’agriculture est une forme spécifiée, située dans la société, des « relations entre savoirs ». « Portant l’agriculture, les formes techniques du travail agricole constituent un terrain privilégié pour une anthropologie de l’intelligence, de la connaissance, et des activités techniques»2. Chez Jean-Pierre Darré, il est nécessaire de souligner à propos du rapport entre savants et praticiens que les considérations à ce sujet ne peuvent pas reposer sur le sens commun. Pour lui, il faut envisager différentes façons de concevoir le processus de production et de validation de la connaissance dans le champ savant et dans le domaine du paysan. D’un côté, nous avons la bonne manière de conduire l’exploitation de l’univers agricole. D’un autre côté, ce qu’on appelle traditionnel peut être seulement l’état des pratiques au moment où l’observateur arrive sur le terrain. Alors, il est important de considérer que les savoirs 1 2
Darré (1998). Darré, 1999. p. 14.
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scientifiques et les savoirs populaires sont toujours en mouvement et ils sont susceptibles de changer. La validation de l’un et de l’autre est rattachée à la réussite du résultat issu des pratiques scientifiques ou traditionnelles. En remontant à la période de la division sociale du travail nous trouvons des origines de la séparation entre savants et praticiens dans le processus productif du Capitalisme. Celuici est déterminant pour comprendre le rapport entre ceux qui sont capables de faire et ceux qui sont condamnés à faire. A ce propos, Darré nous rappelle qu’être paysan n’est pas toujours un choix, mais parfois une détermination du parcours de vie de celui qui est né dans le milieu rural. Cet ouvrage présente tout d’abord les bases théoriques d’une étude des formes de connaissance dans les activités pratiques. A partir de l’ethnométhodologie, Jean-Pierre Darré arrive à différencier raison scientifique et raison pratique. Celle-ci relève de l’argumentation toute décision qui engage l’action. La raison théorique relève donc de la démonstration. Pour faire ce genre de distinction, l’auteur constate l’insuffisance de la logique du raisonnement théorique pour l’analyse du raisonnement pratique. Donc, la méthodologie que l’auteur a choisi d’aborder rend polémique la relation entre savoirs scientifiques et populaires dans le champ de l’agriculture qui vise à dégager du milieu du savoir- faire des paysans les usages de leur connaissance dans le système de production agricole à partir de l’action du quotidien. En utilisant la sociologie de la connaissance, l’auteur tout d’abord est mis en face d’un premier obstacle théorique. La sociologie ne reconnaît pas comme connaissance légitime ce qui en dehors de la sphère scientifique, c'est-à-dire que celui que n’est pas approuvé par les normes de la société des savants ne peut pas être considéré comme connaissance. Mais, d’un autre côté, la sociologie de l’action, historiquement appuyée dans les axes de l’action historique maîtrisée pour les travailleurs, tend à valoriser la situation matérielle et immatérielle des processus productifs. Elle met en valeur l’action pratique dans le champ du travail, en considérant les systèmes d’insertion et les expressions symboliques qui sont attachées à celle-ci. Selon Alain Touraine3, à partir du système de l’action, il est possible d’envisager les orientations normatives qui conduisent un certain processus productif et son univers de l’interaction social. Touraine met en évidence qu'une Sociologie de l’action n’est pas une sociologie des valeurs, mais une étude de la création des valeurs, considérées comme des orientations de l’action et dont la raison d’être ne doit pas être cherchée ailleurs que dans l’action elle-même, 3
Tourraine (1965).
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c'est-à-dire dans le double mouvement par lequel le sujet pose hors de lui un objet et affirme son autorité sur cet objet, manifestant ainsi sa capacité d’action. Alors, l’expérience productive, à partir du savoir accumulé, rend toute sa valeur au résultat du travail, soit un travail pratique, soit un travail intellectuel. Il faut reconnaître qu’il y a des différences structurelles et super structurelles entre les deux univers productifs. Ici nous mettons en relief que les deux modes de production à partir de la connaissance (scientifique et populaire) ne sont pas nécessairement exclusives, mais peuvent être complémentaires. « Activité naturelle, plutôt manuelle ou intellectuelle, peu importe, il impose à la fois la recherche d’un accord entre le travailleur et son oeuvre et la conscience de la contradiction qui les sépare. ».4
L’organisation de l’ouvrage L’ouvrage est organisé en deux sections thématiques. Darré discute dans un premier temps de la genèse des formes des inégalités de la distribution de la connaissance et des niveaux différents de valorisation de savoirs, selon des degrés distincts de scolarisation de ceux qui les produisent. Dans la deuxième partie, il présente les étapes de la production sociale de la connaissance pour l’action. Dans cette section, l’auteur présente la progression des étages de sa pratique de terrain dans le milieu agricole. Il part des deux importantes références théoriques : la sociologie de la connaissance et la sociologie de l’action. Dans le cadre de plusieurs informations intéressantes traitées par l’ouvrage, nous l’avons divisé en trois axes thématiques : 1) le processus de production et légitimation de la connaissance; 2) les règles scientifiques des activités de la vie quotidienne des praticiens (le racisme de l’intelligence) et 3) l’impact de l’introduction de nouvelles technologies dans la routine du travail des agriculteurs. Le partage de l’intelligence et de la production de connaissance dans la société est exposée dans le livre à partir de deux perspectives : 1) des obstacles à sa reconnaissance dans la société, ce qui amène à la méconnaissance. L’auteur aborde certains changements relatifs au «racisme d’intelligence» et les évolutions dans certains domaines des sciences sociales, qui permettent d’avancer dans la voie d’une anthropologie de l’intelligence et ensuite 2) Darré développe un ensemble de moyens de description qui peut nous amener à penser le rapport
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Tourraine, 1965, p.59.
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entre les formes des relations sociales et les formes de la connaissance pour l’action de l’autre, c’est à dire aussi, les processus de production de la connaissance pour l’action. Dans la première partie de l’ouvrage, Darré sépare ceux qui savent et ceux qui font. « Le capital social d’un individu, par exemple, c’est son réseau de relations et d’influences, sa position dans ce réseau, et le niveau de son habileté à se servir de ce réseau et de cette position, dont il a plus au moins hérité ».5 L’auteur reprend l’affirmation althussérienne sur la rupture épistémologique qui établit un fossé entre ceux qui disposent du savoir scientifique et ceux qui sont misérablement conduits par l’idéologie et la pratique sans véritable pensée. À partir de cela, Darré oppose les valeurs que s’accordent les propriétaires du savoir en les couvrant du voile doré de la valeur épistémologique, seules les hiérarchies sociales se trouvent sous le voile. Darré dit que l’équivalence entre connaissance scientifique et connaissance dans la vie quotidienne reste dans l’ombre, parce qu’il y a des parcours différents et très complexes par rapport aux démarches scientifiques. Dans l’ouvrage, l’auteur pose toujours la question sur la façon dont s’opèrent et peuvent s’opérer les activités de connaissance dans les relations entre pairs ou dans les relations de coopération entre praticiens et chercheurs ou experts. « La question du savoir pour les classes dominées, n’est pas de ne pas savoir. La question du partage du savoir n’est pas celle du partage du savoir. Elle est celle de ne pas se laisser intimider.6 Cela remet à jour la discussion du racisme d’intelligence, dans le sens donné par P. Bourdieu (1984), concept central dans l’ouvrage de Darré pour parler du partage de la connaissance entre différents niveaux de classements sociaux dans la société. Chez Bourdieu,
… le racisme de l’intelligence est un racisme de classe dominante qui se distingue par une foule de propriétés de ce que l’on désigne habituellement comme racisme, c’est à dire le racisme petit-bourgeois qui est l’objectif central de la plupart des critiques classiques du racisme, à commencer par les plus vigoureuses, comme celle de Sartre.7
Bourdieu remarque que ce type de racisme est rarement dénoncé car étant propre à une classe dominante de « savants » qui produit une certaine justification de l’ordre social qu’eux-mêmes dirigent, en exerçant aussi le contrôle de la transmission du capital culturel. Dans ce sens, Darré fait référence justement à ce mode d’euphémisme de la condition d’être 5 6 7
Darré, 1999, p.29. Idem : Ibidem, p. 38.
Bourdieu, 1984, p 264.
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intellectuel. Il part de la critique bourdieusienne sur la scientificité apparente du discours, qui rend à cette rhétorique un pouvoir de légitimer le savoir scientifique comme le savoir le plus reconnu. Alors on parle d’un rapport de pouvoir qui justifie la place et la valeur de chacun dans l’espace social. Bourdieu nous rappelle que cette légitimité vient des classements scolaires8. En parlant du processus de reproduction de la distribution du capital culturel dans l’espace social, Bourdieu (1994) met en question la réflexion sur le rôle joué par la famille et pour l’institution scolaire comme des espaces de monopolisation de la distribution du capital culturel. Cette structure de diffusion et production des savoirs tend à maintenir les différences sociales pré-existentes dans une société. La réussite scolaire et sociale se rattache à l’origine sociale.
Les exclus se trouvent au nom d’un critère collectivement reconnu et approuvé, donc psychologiquement indiscutable et indiscuté, celui de l’intelligence : aussi n’ont-ils souvent pas d’autre secours, pour restaurer une identité menacée, que les ruptures brutales avec l’ordre scolaire et l’ordre social.9
D’un côté, on trouve les savants, soutenus par la technocratie du monde scientifique et de l’autre coté se trouvent les praticiens qui ont le « privilège » d’exécuter ce que la classe savante a planifié. L’essor de la critique que Darré nous présente sur le racisme de l’intelligence comme une forme subtile de préjugé place au centre la discussion de la distribution inégale d’intelligence comme un résultat d’une construction sociale. Ce débat nous amène à penser que ce racisme est issu d’autres acteurs sociaux, au-delà des intellectuels. Pour l’auteur le plus grave est de considérer le racisme de l’intelligence comme un phénomène social naturel qui arrive à toutes les sociétés depuis toujours. D’ailleurs il ne faut pas perdre de vue que ce dernier se reproduit dans le champ social depuis les toutes premières étapes du processus de socialisation de l’individu. À ce propos, Darré montre comment dans certaines situations liées au travail et aux métiers, l’inégalité, l’intelligence, l’infériorité des facultés intellectuels, associées aux diplômes et aux situations sociales, ne sont pas seulement relevées, mais sont constamment 8
Selon lui, « L’apparition de tests d’intelligence comme le test de Binet-Simon est lié à l’arrivée dans le système d’enseignement, avec la scolarisation obligatoire, d’élèves dont le système scolaire ne savait pas quoi faire, parce qu’ils n’étaient pas ‘prédisposés’, ‘doués’, c’est à dire doté par leur milieu familial des prédispositions que présuppose le fonctionnement ordinaire du système scolaire : un capital culturel et une bonne volonté à l’égard des sanctions scolaires ». (BOURDIEU, 1994, p. 266) 9
Idem: Ibidem, p. 49.
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entretenues, affirmées et confirmées, au point de faire partie des évidences communes de la vie quotidienne. Si des conditions de prise de la parole des agriculteurs sont minimes et cela s’ajoute au fait que les savants se jugent supérieurs, nous avons une situation où il n'y a pas de possibilité d’ échanges de savoirs entre ces deux derniers. Dans ce scénario on peut dire, dans le sens de Habermas (1989), que les échanges linguistiques sont fondamentaux pour avoir une négociation entre des parties qui se disputent dans l’espace de débats. Mais si les conditions d'égalité de prise de parole n'existent pas dans un espace social, il n'est pas possible d'avoir de dialogue ou même des échanges de savoirs et connaissances entre les deux sujets. En face de ces différences il semble impossible d’avoir des activités réflexives, qui pourraient être rendues possible par l’amoindrissement de cette distance entre savants et praticiens et la transmission du savoir entre eux. Cela dit, nous pouvons ajouter à ce rapport la discussion apportée par Darré sur l’impact de l’introduction de nouvelles technologies dans la routine de travail des agriculteurs. Dans cette partie nous voulons faire référence à des conditions de refus et de désir d’accès à la modernité, aux nouvelles techniques de production dans le domaine agricole. Cette contradiction rend problématique la relation entre agriculteurs, adaptés à l'univers de pratiques traditionnels et les innovations
technologiques, issues de recherches du monde des
intellectuels. D'un côté on a des agriculteurs qui maîtrisent les outils modernes de travail et d'autre, on a ceux qui sont méfiants par rapport à l'insertion massive des nouvelles technologies aux procédures productives dans leur champ. L'auteur observe que l'application des règles scientifiques aux activités de la vie quotidienne sert surtout à montrer que les nonscientifiques sont irrationnels, en tout cas déraisonnables, et qu'au lieu de se satisfaire d'explications par l'irrationnel et déraison il vaut mieux chercher comment rendre compte des raisons des acteurs dans les affaires de la vie quotidienne. Darré dit que nous pourrions synthétiser ces thèses en considérant qu'il n'y a pas de comportements irrationnels, il y a seulement des comportements que, pour le moment, nous ne comprenons pas. Cela serait une façon raisonnable d'envisager les connaissances qui ne sont pas produits dans les laboratoires, mais qui sont issues de pratiques traditionnelles que nous ne pouvons pas qualifier d’irrationnelles. Dans cet ouvrage, Jean-Pierre Darré nous invite à réfléchir à des choses qui nous arrivent au quotidien et parfois nous semblent inaperçue, comme le racisme de l’intelligence 7
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qui est toujours attaché aux inégalités et classements sociaux. Les espaces sociaux sont maîtrises pour ceux qui ont le contrôle d’accès aux connaissances, aux moyens de production, aux nouvelles techniques. Mais, Darré nous rappelle que le capital social accumulé par ceux que sont à la pointe du processus productif est aussi source de savoirs importants issue de l’action. C’est pour cela que l’auteur a mis en ouvre une méthodologie qui lui a permit d’observer les actes matériels des paysans en pleine activité dans leur champ de travail, en construisant des analyses fines des commentaires ou récits, des systèmes de pensée ou formes de connaissance à partir de l’action. Selon Darré : « … les rationalités de la vie quotidienne se construisent dans l’interaction, dans des groupes sociaux et que c’est dans ces groupes que se vérifie, pour les sujets, la validité des choix ».10 Même si cet ouvrage a été écrit dans la décennie 1990, il s’agit d’un travail de terrain et d’analyse dans le champ de la production de connaissance pour l’action très actuel car il met en place une discussion classique dans le domaine de la épistémologie celui de la légitimité scientifique de méthodes de produire et de diffuser des connaissances. Ce livre dépasse les frontières de la sociologie et de l’anthropologie. Il s’adresse à tous ceux qui sont engagés dans le domaine des sciences humaines et sociales et veulent discuter l’impact de l’introduction de nouvelles technologies et de nouveaux outils techniques dans le quotidien de pratiques ordinaires dans l’espace de la vie social et productive. La richesse thématique de ce livre produit un ouvrage réunissant pratique de terrain et corpus théorique ce qui lui donne un ensemble conceptuel et méthodologique originel.
Repères bibliographiques :
BOURDIEU, Pierre. Questions de sociologie, Paris : Les éditions Minuit, 1984. ______. Raisons pratiques : sur la théorie de l’action, Paris : Éditions du Seuil, 1994. DARRÉ, Jean-Pierre. Les Dossiers de l’environnement de l’INRA, no. 17, 1998. ______. La production de connaissance pour l'action : arguments contre le racisme de l'intelligence, Paris: Maison des sciences de l'homme, Institut national de la recherche agronomique1999. HABERMAS, Jürgen. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. TOURAINE, Alain. Sociologie de l’action, Paris : Seuil, 1965.
10
Darré, 1999, p.149.
8