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Colangite Aguda e Verminoses
Edmar Tafner
Introdução A colangite aguda é uma síndrome caracterizada pela tríade clássica (febre, icterícia e dor abdominal). Tem como causa fator obstrutivo ou fator de estase na via biliar associada à infecção. Foi descrita por Charcot em 1877.1 As causas mais comuns são os cálculos e as estenoses benignas e malignas. Os agentes infecciosos ascendem à via biliar de forma direta do duodeno ou por mecanismos como a translocação do sistema porta. Com o aumento da pressão intracanalicular, aumenta também a permeabilidade, facilitando o fluxo de bactérias e toxinas do sistema porta. Isso se associa à migração de bactérias para o sistema circulatório e a infecção sistêmica. O aumento da pressão canalicular interfere também nos mecanismos de defesa das células de Kupffer, no fluxo biliar e na secreção da imunoglobulina A (IgA).2 A ascensão das bactérias duodenais para o sistema biliar acontece também quando as barreiras mecânicas são rompidas (p. ex., depois de esfincterotomia, colocação de próteses ou cirurgias de vias biliares).3 Contudo, as bactérias ou outros agentes, como os vermes, podem ascender espontaneamente. Os cálculos e as próteses atuam também como sítios para a colonização bacteriana. A bile de vias biliares intactas é praticamente estéril, diferentemente dos 70% dos pacientes com cálculos, nos quais existe evidência de bactérias.4 Tal probabilidade é maior ainda para os pacientes com coledocolitíase se comparados com aqueles com cálculos de vesícula ou cistos de colédoco. Os agentes associados normalmente são Escheria Coli, Klebsiella, Enterobacter, Bacteroides e Clostridium.5
Diagnóstico A manifestação clássica da colangite ocorre pela tríade conhecida por Charcot (febre, icterícia e dor abdominal). Quando associada à confusão mental e à hipotensão, há a síndrome de Reynolds. Pacientes idosos em uso de corticoides podem ter como manifestação inicial somente a hipotensão, o que retarda o diagnóstico. Os exames laboratoriais revelam leucocitose, aumento das enzimas canaliculares (fosfatase alcalina, gamaglutamil transferase) ou maior taxa de bilirrubinas, principalmente a direta. O aumento das transaminases revela lesão hepática aguda e formação de microabscessos. O diagnóstico deve obedecer aos critérios de Tóquio, diretriz desenvolvida em 2013 para o diagnóstico correto da colangite aguda.2 A suspeita deve existir sempre que o paciente apresentar febre, leucocitose, PCR elevado, alterações sugestivas de processo inflamatório associado à icterícia ou aumento de enzimas canaliculares. Os exames de imagem que revelam dilatação de vias biliares, estenoses, próteses e cálculos confirmam o diagnóstico (Figura 29.1).5
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