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Pâncreas Divisum e Outras Alterações Biliopancreáticas Congênitas Erika Pereira Macedo Angelo P. Ferrari Jr.
Introdução As anomalias dos ductos biliares e pancreático costumam ser encontradas durante a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) e podem ter importância tanto clínica quanto cirúrgica. Este capítulo faz uma revisão sobre as anomalias mais comumente diagnosticadas.
Pâncreas divisum As anomalias congênitas e variações no ducto pancreático ocorrem em aproximadamente 10% da população. Portanto, não são achados incomuns durante a CPRE (Tabela 24.1). O pâncreas divisum é a mais comum delas, ocorrendo em cerca de 7% das séries de autópsia.1 Seu achado durante a CPRE depende do número de pacientes com doenças pancreáticas avaliadas e do cuidado no estudo radiográfico do ducto pancreático. O pâncreas é formado a partir da fusão dos brotos dorsal e ventral que se desenvolvem a partir da parte embrionária do intestino primitivo. A parte ventral também dá origem ao sistema hepatobiliar. Aproximadamente na oitava semana intrauterina o pâncreas ventral roda posteriormente no duodeno e une-se às partes posterior e inferior da porção cefálica do pâncreas dorsal. A fusão parenquimatosa ocorre quase sempre, embora a separação no tecido seja nítida histológica, cirúrgica e radiologicamente entre as porções dorsal e ventral.2 O parênquima dorsal representa aproximadamente 75% da massa pancreática (Figura 24.1). A fusão do sistema ductal ocorre em apenas 90% das pessoas, embora haja variações na patência do ducto secundário (ducto de Santorini). A falência completa da fusão dá origem ao pâncreas divisum, mas podem existir variações (Figura 24.2). O pâncreas divisum consiste em um pequeno ducto ventral, que drena o suco pancreático por meio da papila duodenal maior, e um ducto dorsal, maior, o qual drena por meio da papila menor (Figura 24.3). Em alguns casos, a drenagem de todo o suco pancreático pode ocorrer apenas pela papila menor. Em 15% dos casos, a apresentação é de pâncreas divisum incompleto, no qual existe tênue comunicação entre os ductos dorsal e ventral (Figuras 24.4 e 24.5). O pâncreas divisum está muitas vezes associado a outras anomalias biliopancreáticas. Aproximadamente 30% a 50% dos pacientes com pâncreas anular também tem pâncreas divisum. Até 50% dos pacientes com pâncreas divisum têm elevação da pressão basal do esfíncter de Oddi. Existem ainda alguns relatos de caso associando o pâncreas divisum a câncer de pâncreas, paniculite, mal rotação intestinal, cistos de colédoco, pancreatite hereditária e hamartoma hepático.3
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