dedos são enormes, ao passo que o restante do corpo é pequeno (Berne e cols., 2000a; Haggard e cols., 2003).
Sistema protopático Em relação ao sistema protopático, responsável pela transmissão da qualidade sensorial de dor, termossensibi lidade e tato grosseiro, pode-se afirmar que suas vias neu rais apresentam algumas diferenças quando comparadas com as do sistema epicrítico (Bear e cols., 2002b). A sensação de dor depende primeiramente da ati vação de terminações nervosas livres das fibras Aδ e C (nociceptores). Os nociceptores são ativados por algum estímulo agressivo de natureza térmica, mecânica ou química. Quando o estímulo provoca dano ao tecido, as células lesadas liberam substâncias como trifosfato de adenosina (ATP) e íons potássio, que despolarizam as membranas dos nociceptores, permitindo a deflagração de potenciais de ação. Além disso, bradicinina, prosta glandina da série 2 (PGE-2), histamina, óxido nítrico, serotonina, substância P e acúmulo de ácido láctico também podem ativar nociceptores, gerando um poten cial de ação (Arbaiza, 2005; Campbell & Meyer, 2006; Rocha e cols.; 2007; Teixeira, 2006; Zhuo, 2007). A termossensibilidade, por sua vez, é percebida após alterações de taxas metabólicas dos termorreceptores ca pazes de estimular a geração e a propagação de poten ciais de ação que serão conduzidos, assim como nos no ciceptores, por fibras do tipo Aδ e C (Guyton & Hall, 2006e; Lent, 2005b). Os potenciais de ação são transmitidos por meio de axônios aferentes primários (fibras Aδ e fibras C) com destino ao SNC. As fibras Aδ são mielinizadas e condu zem o impulso em alta velocidade (cerca de 120m/s), ao passo que as fibras C são amielinizadas e mais lentas (em torno de 0,5m/s); desse modo, os impulsos conduzidos por essas fibras têm velocidades diferentes. A dor rápida, aguda é gerada após a ativação de fibras Aδ. Já a dor lenta, também conhecida como crônica, acontece após a sensibilização de fibras C. Esse tipo de dor geralmente encontra-se associado à destruição tecidual (Campbell & Meyer, 2006; Ploner e cols., 2002; Xie e cols., 2005). Essas fibras nociceptivas penetram a coluna dorsal da medula espinal, bifurcam-se e estabelecem sinapses com neurônios de segunda ordem encontrados nessa região. Os axônios desses neurônios cruzam imediata mente o plano mediano pela comissura branca, ganham o funículo lateral e ascendem cranialmente pela coluna anterolateral para formar o feixe espinotalâmico lateral
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(Figura 6.5). Como o próprio nome lembra, as fibras es pinotalâmicas sobem até o tálamo (local onde os impul sos sensitivos tornam-se conscientes) sem fazer sinap ses. Contudo, nesse percurso, elas se reúnem às fibras provenientes do núcleo espinal do trigêmeo situado no tronco encefálico para formar o lemnisco espinal. Par te dos axônios do lemnisco espinal converge ao núcleo ventral posterior, enquanto outros seguem para os nú cleos intralaminares do tálamo. A partir desses núcleos, o estímulo sensorial de dor e temperatura é projetado para o córtice cerebral somestésico (S1 e S2) (Arbaiza, 2005; Brooks & Tracey, 2005; Zhuo, 2007; Campbell & Meyer, 2006; Da Silva e cols., 2002; Rocha e cols., 2007; Teixeira, 2006). A neurociência pode esclarecer os circuitos neurais que veiculam as informações somestésicas, contribuindo para o entendimento das experiências sensoriais pelas quais passamos diariamente. Desse modo, o estudo do sistema sensorial somático tem fundamental importân cia na compreensão da interação do homem com o am biente em que vivemos.
Órgãos dos Sentidos: o Homem e sua Relação com o Mundo
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QQVisão A visão é responsável pela maior parte das informações que recebemos do meio externo. Desde o nascimento, a capacidade visual se desenvolve e atinge a maturação em torno dos 6 a 7 anos de idade (Crossman e cols., 2002; Netto e cols.; 2006b). Um dos principais órgãos relacionados à visão, o olho humano, representa um sentido notável para a vida no que se refere à relação do ser humano com o ambiente. A partir de um complexo sistema, detecta e interpreta estímulos luminosos, sendo, portanto, uma estrutura fotossensível com alto grau de evolução, que possibi lita a análise detalhada da forma e da cor dos objetos, além da intensidade da luz refletida. O olho compreende uma estrutura anatômica de forma esférica, com movi mentos realizados a partir de um conjunto de músculos extrínsecos inervados pelos nervos cranianos oculomotor comum, troclear e abducente, respectivamente, o III, IV e VI pares cranianos; situa-se na órbita, uma cavidade aproximadamente esférica formada por sete ossos crania nos (Bicas, 2003; Crossman e cols., 2002; Garcia e cols., 2005; Junqueira & Carneiro, 2004; Lent, 2005d). Para o entendimento básico dessa modalidade senso rial, faz-se necessário o conhecimento dos mecanismos e estruturas envolvidos na interpretação dos estímulos
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