CARTAS PARA AS MÃES

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CARTAS PARA AS MÃES

EDITORA

OLYMPIA

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Capa Roberto Pereira com foto Canva Pro

F825 Carlos Franco (Organizador) Editora Olympia/Uberlândia – MG/2024.

Pág. 120

ISBN 978-65-86241-22-8

1.1 Literatura brasileira – Contos I. Título CDD B869.301 CDU 821.134.3 (81)

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Mãe...Sãotrêsletrasapenas

Asdessenomebendito;

Tambémocéutemtrêsletras

Enelascabeoinfinito.

Paralouvarnossamãe,

Todoobemquesedisser

Nuncahádesertãogrande

Comoobemqueelanosquer.

Palavratãopequenina,

Bemsabemoslábiosmeus

Queésdotamanhodocéu

EapenasmenorqueDeus!

MárioQuintana

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Mãe

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Sumário

Apresentação/Página 7

Ana Beatriz Rezende Prado/Página 12

Ana Nogueira/Página 16

Célio D’Ávila/Página 19

Cida Richetti/Página 27

Dulen Santos/Página 32

/Página 36

Erlania Francisca Teixeira/Página 42

Flávia Werneck/Página 46

Filipa P. Aguiar/Página 49

Gislene Trindade/Página 53

Graziela Leão/Página 56

Jean Javarini/Página 57

/Página 60

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Jeanne Pipa/Página 63

Jonas Matheus Sousa da Silva/Página 68

Josiane A. T. De Souza/Página 75

Karen Souza/Página 81

Laís Soler/Página 85

Luciene Balbino/Página 88 /Página 94

Marjorie de Sousa Morato/Página 101

Matile Facó/Página 106

NGRCosta/Página 108

Péricles/Página 111

Queli Rodrigues dos Santos/Página 114

W. Márcia Souza/Página 117

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Carlos Franco

Apresentação

“Deus é pai; mais ainda: é mãe”, proclamou o papa

João Paulo I no Angelus de 10 de setembro de 1978, a cerimônia anual de louvação à Virgem Maria realizada todos os anos na Basílica de São Pedro, em Roma, epicentro da propagação do cristianismo.

O “papa sorriso”, como ficou conhecido o italiano Albino Luciani, que governou o Vaticano pelo curto período de 33 dias (de 26 de agosto a 28 de setembro de 1978), está certíssimo. São as mães que dão origem à vida dos filhos, portanto ao mundo em que vivemos e no qual convivemos com filhos e filhas de outras mães, todas elas criadoras, geradoras de vida.

São elas que nos permitiram inclusive chegar até os dias que correm, pois nos defenderam de animais ferozes e intempéries nas cavernas do passado primitivo, nos amamentaram e alimentaram, nos vacinaram e nos preparam para a vida em grupo,

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nos protegendo dos inimigos, nos acalentando nas nossas angústias e derrotas, celebrando nossas conquistas e nos aceitando como somos.

Representantes da vida na arte e na cultura, as mães constituem a todos, mesmo quando ausentes, a sublime fonte de inspiração e ternura através dos tempos.

É às cartas, abandonadas por força da evolução das plataformas de comunicação, hoje digitais, que a Editora Olympia recorreu para que novos e premiados escritores expressem nesta obra o seu amor às mães.

Às ausentes e também às mães presentes fica registrada assim nossa homenagem porque “Deus é pai; mais ainda: é mãe”.

E, de Carlos para Carlos, recorro ao poeta mineiro de Itabira para declarar que mãe deveria viver para sempre e realmente vivem, mesmo hoje ausentes, como a minha, porque não morrem nunca, ficam encantadas como diria outro mineiro, o escritor João Guimarães Rosa.

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E ficam encantadas porque seguem encantando e acalentando os filhos cada vez que chove e estes se lembram das pergunta que as mães sempre fazem: “Pegou o guarda-chuva” ; e se esfria: “Pegou o agasalho?” ; e se faz sol: “Passou o protetor solar?” . Para as mães, todas as mães, os filhos não crescem nunca, serão sempre os seus meninos, as suas meninas. São estas mulheres as portadoras de um amor incondicional capaz de nós acompanhar aonde quer que vamos porque é para sempre.

Para Sempre

Carlos Drummond de Andrade

PorqueDeuspermite

queasmãesvão-seembora?

Mãenãotemlimite, étemposemhora,

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luzquenãoapaga quandosopraovento echuvadesaba, veludoescondido napeleenrugada, águapura,arpuro, puropensamento. Morreracontece comoqueébreveepassa semdeixarvestígio.

Mãe,nasuagraça, éeternidade.

PorqueDeusselembra —mistérioprofundo— detirá-laumdia?

FosseeuReidoMundo,

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baixavaumalei: Mãenãomorrenunca, mãeficarásempre juntodeseufilho eele,velhoembora, serápequenino feitogrãodemilho.

*Poemapublicadooriginalmenteem "Lição de Coisas: poesia". São Paulo: J. Olympio, 1965

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Ser divino, uma em oito bilhões e a melhor pipoca de cinema

Mamãe,

Escrevo-lhe como uma pequena forma de demonstrar minha gratidão. Sabe que me expresso melhor por palavras. Na verdade, você é a pessoa que mais me conhece neste mundo inteiro. São 8 bilhões de pessoas. Isso significa que 7.999.999.999 nunca me conhecerão tão profundamente quanto você. Isso me assusta, mas também me acalma. Porque saber que você é esse um que me enxerga; me ouve, me acolhe, me abraça, me aconselha, me motiva, me ama, me inspira e me sustenta; me dá forças para acordar todas as manhãs.

A primeira ação de um bebê é o choro. E você sabe por quê? É que a mãe e um filho, antes de nascer, são apenas um. O filho precisa dela para as suas atividades vitais. Sem ela, ele não respira. Sem ela, ele não come. Sem ela, ela não descansa. Sem ela,

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ele não está aquecido. Sem ela, ele não está seguro. Sem ela, ele está perdido.

Deus, na bíblia, é o pão, a luz, o guia, o protetor e a vida. Qual a minha conclusão? Mãe é um ser divino. Deus deu à mulher a capacidade de ser dois em apenas um.

Mamãe, você é sol em céu nublado, aconchego no desconhecido, meu porto-seguro. É a dona do melhor chocolate quente, das melhores músicas de ninar, do melhor sorriso, do melhor encanto. Seu encanto é de sabiá, não se cansa de cantar, até o caminho de volta para casa encontrar. Seus olhos são de coruja, que observam cada movimento ao redor para o filho seguro estar. Sua força é de leoa, você apenas não tem o tamanho dela, mas tem a garra de lutar por suas filhas até o fim.

Para mim a vida é que nem pipoca. Você estoura, nasce, cresce, pipoca, agita. Aí você quer sair da panela e ir para o mundo. E quando você é jogado na vasilha, vê que existe milhões de outras como você. Você quer se sentir especial, mas todas ao seu redor também. E você luta para sair do balde, mas ele te prende. E aí você é só mais uma em meio às demais. E aí quando provamos a primeira pipoca,

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nos apaixonamos. Ela pede bis. E vamos saboreando de pouquinho em pouquinho, até que o pote fica vazio. E a vida chega ao fim.

E você sabe por que a melhor pipoca é a de cinema? Porque ela tem tempero. Tem manteiga e sal. E sem manteiga e sal, ela fica sem graça. E, além do tempero, ela fica lá dentro da estufa esperando. Você é o meu sal e minha manteiga. Com você, minha vida se torna pipoca de cinema. Com você, me sinto a pipoca especial do balde porque o seu sal e a sua manteiga me tornaram diferenciada das demais para o mundo. Você me ensinou a sair da estufa e a lutar por um espaço lá fora.

E eu estou saindo. Estou saindo da estufa. E dá muito medo. Porque a estufa é convidativa, acolhedora e quentinha. E o mundo parece ser frio e sem compaixão.

O medo está comigo. Mas você também está. Então eu vou com medo, mas confiante, porque sei que o seu tempero: o amor de mãe, nos prepara para qualquer batalha. Porque tenho a certeza de que a qualquer momento, poderei correr para casa e lá estará você: me esperando.

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Mamãe, você é isso: um ser divino, uma em 8 bilhões e a melhor pipoca de cinema.

Te amo até a última pipoca do balde da vida,

Com amor,

Sua Triz

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Uma carta de gratidão para minha mãe

Mãe,

Quando olho para o passado consigo sentir somente gratidão, por tudo que a senhora tem feito por mim. Lembro da minha infância, de quando a senhora me levou para o meu primeiro dia de aula. Estava nervosa, mas me sentia tranquila por saber que a senhora estava do meu lado. Lembro que esperava ansiosamente pelo momento em que a senhora iria me buscar ao término de todo dia de aula. Com o tempo passei a gostar de ir para a escola, mas gostava ainda mais de voltar para casa com a senhora.

Tenho gratidão pela senhora por todas as vezes que me ajudou com meu dever de casa e meus trabalhos da escola. Lembro que a senhora sempre ia comprar cartolina ou os materiais necessários para os seminários, mesmo quando eu avisava em

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cima da hora, sempre pronta para me ajudar. Quando a tecnologia evoluiu e as cartolinas deram lugar a apresentações em slides, a senhora estava pronta para me ajudar a entender essa nova tecnologia. Até quando estava na faculdade a senhora sempre estava disposta a ajudar e a conversar sobre o curso.

Acho que de todos os trabalhos escolares em que a senhora me ajudou, o que mais se destacou na nossa memória foi o trabalho de biologia sobre o período Permiano, período pré-histórico em que viveram animais mais antigos que os próprios dinossauros. Lembro que esse trabalho nos marcou porque por muito tempo a gente achou que os seres mais antigos eram os dinossauros e esse trabalho mostrou que existia algo mais antigo que eles. E a gente substituiu a expressão: “Isso é dos tempos dos dinossauros” para a expressão: “Isso é do tempo dos Permianos”. Ficou como uma coisa interna nossa, pois só a gente entendia a referência ao trabalho de biologia.

Outra coisa que me marcou foram as histórias que a senhora contava para mim quando eu era criança, posso não lembrar dos personagens ou do enredo das narrativas, mas lembro de como a senhora

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sempre tinha uma história para contar para mim. Tudo a senhora fazia com amor e por amor, por isso que toda vez que lembro a primeiro sentimento que vem a minha mente é o amor.

Amava ouvir suas histórias, acho que por causa disso acabei gostando tanto de ler e escrever quando me tornei mais velha. Também gostava muito de ler os contos que a senhora escrevia. Com o passar dos anos nossa amizade só cresceu. Acho que nossa amizade é como um quebra-cabeça em que cada ano vivido junto, cada lembrança, cada experiência é uma importante pecinha.

Gosto de sair para passear com a senhora. A senhora é e sempre será minha melhor amiga. Amo cuidar da senhora. Sou muito feliz pela senhora ser minha mãe. Quando oro de noite agradeço a Deus pela senhora ser minha amada mãe. Quando penso na senhora sinto muita gratidão. Te amo muito mamãe e espero e oro para que Deus lhe conceda muitos anos de vida e saúde, para que assim possamos ficar muitos anos juntas, uma cuidando da outra. Para mim a senhora é especial todos os dias do ano. Feliz Dia das Mães para a senhora e para todas as mamães do Brasil.

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Fragmentos de diálogos que não tivemos

Célio D’Ávila

A ampulheta vê suas areias descer e continuamente a música faz mais sentido. Sim, o tempo é um dos deuses mais lindos e a história, sua mulher, é a prova de que não há como existir uma outra mais pronta, outra mais adequada à árdua tarefa de ser mãe de uma família tão cheia de maluquices como a nossa.

Minha memória pode me trair hoje, mas lembrome que não fui uma criança fácil em vários sentidos, ainda que talvez na escola eu desse menos trabalho do que outras crianças, sei que minha personalidade e variações de humor deviam ser, sem dúvida, um desafio. Do qual, hoje, arrisco-me a dizer, dos mais difíceis, ainda mais quando começava a dar histéricas birras ou quando teimava

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com algo que eu considerava injusto de algum modo.

É, talvez hoje eu veja com um olhar até muito crítico, mas consigo também entender mais o por que muitas das coisas que aconteciam eram assim, e sabe... não sei se deveriam ser diferentes, pois sinto que cada pedaço dos nós que variou ao longo destes anos são parte da perfeita simetria que hoje conseguimos alcançar, ainda que nos vejamos tão pouco se comparado a outras épocas.

Sei que você, até por toda pressão que recebia, tinha momentos em que perdia a paciência e juro, que se pudesse voltar lá hoje, com o conhecimento que tenho, tudo que iria fazer era te abraçar e dizer que estava ali e poderia te ajudar. E principalmente, me redimiria pelo meu maior pecado de infância que até hoje guardo e não me perdoo, por ter dito que devia me expulsar de casa em um dia de aniversário seu.

Eu fui uma criança difícil. Eu não entendia, na época, que todas as dores de cabeça que eu tinha eram sensibilidade ao som, eu não fazia ideia que quando eu me recusava a entender algo que parecia fora de lógica para mim era algo que hoje sei ser chamado de rigidez cognitiva, não tinha ideia que

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todas as vezes em que eu ficava horas com meus digimons era exercitando meu hiperfoco e, acima de tudo, eu não tinha opiniões muito legais, mas felizmente e em grande parte por nossas conversas, eu pude mudar.

Ainda que antigamente não conseguíssemos conversar sobre vários temas, sinto que uma das coisas mais carinhosas que você fez por mim, e talvez nem saiba o quanto isso foi carinhoso, foi dar uma serie de revistas que ensinavam sobre sexualidade. Lembro que fiquei fascinado por entender melhor coisas que até na escola as professoras ficavam com receio de dizer e pude iniciar uma puberdade com mais consciência das mudanças que aconteceriam em mim

E nesse meio tempo, não sei o quanto sabe que eu tinha talvez apenas o Laurindo como um amigo de verdade, sendo que na sexta série, eu escrevi uma carta tratando mal todos os meus colegas de sala, por que estava cansado das brincadeiras e apelidos como “corcunda de Notredame, pelo qual me chamavam e sempre diziam que era mentira, quando eu tentava me defender e revidar. Ainda assim, sempre foi fácil arrumar grupos para trabalhos escolares, por que o Laurindo fazia o

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contato social por mim até a oitava série, onde pessoas como a Bianca surgiram para crescer essa rede de apoio.

Talvez por isso mesmo, na oitava série eu tenha mudado muito do meu jeito e até desejado ir para o Museu, para onde a maioria das pessoas iam e você me apoiou tanto nessa decisão e ela mudou a minha vida completamente. Você faz ideia de como eu era no Museu? Meus avós já demandavam tanto tratamento que eu tentava ao máximo que você não tivesse que ter problemas comigo.

Foi lá que eu descobri de vez o que era me apaixonar, tive o meu hiperfoco em escrever poesias, e tomei inúmeros foras, mas aprendi a fazer amigos... os primeiros foram justamente por que eu tinha me apaixonado por uma moça da sala e chamava atenção dos colegas a forma como eu tentava me declarar e todos torceram muito por mim (mas claro, deu errado).

Ainda assim, com amigos, eu sentia que tinha algo errado em mim, nas roupas que eu usava, na dificuldade de olhar para as pessoas, no meu jeito de andar e quando a chance de fazer teatro apareceu, senti que era a chance de aprender a expressar meus sentimentos ou ao menos a mentir

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para conseguir ser mais próximo dos outros. E sei, o fazer teatro lhe trouxe muitos gastos e trabalhos, mas foi lá, nos palcos, que eu consegui aprender a me regular.... Foram os palcos que me ensinaram a lidar com o luto, quando perdemos meu pai e foi neles que eu aprendi que eu amava algo o suficiente para me jogar do risco de desistir de uma engenharia e fazer teatro.

Outro momento que imagino que não deve ter sido fácil para você... desde o momento do luto... ainda que eu tenha pensado que precisava ser forte por você por um tempo. Talvez poderíamos ter lhe dado mais o suporte a esse momento, já que você tinha ainda o meu avô para cuidar e todas as despesas pela frente. Mas mesmo com todas essas pancadas e todas essas coisas que vivemos, houve um momento em que parece que nossos ponteiros se ajustaram.

Houve um momento em que simplesmente toda aquela dificuldade de comunicação da infância foi passando e nos tornamos mais íntimos, não o suficiente para eu te falar sobre amor, mas o suficiente para falar dos meus sonhos e compartilhar com você na forma das peças teatrais. Ainda que a transição engenharia- teatro tenha sido

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difícil, foi ela que nos trouxe para mais perto e até hoje, me pergunto o quanto e como deve ter sido para você essa fase.

As crises continuaram acontecendo e ainda que as crises de dores de cabeça tenham reduzido, naquele momento você me via muito ter crises de ansiedade e meltdown (não que eu soubesse disso na época) onde ainda que eu te desestabilizasse completamente com meu estado impulsivo, acelerado e autodestruitivo às vezes, você nunca deixava de estar calma e me ajudar a achar objetos ou ainda me aconselhar sobre organização.

E veio a formatura, finalmente eu havia me tornado ator e poderia me tornar professor também, sei até hoje que você se preocupa com minha profissão e sei que não haverá nunca de deixar de se preocupar, afinal você é uma mãe, mas eu te garanto: eu não me vejo não sendo professor mais, da mesma forma como você me inspirou e educou meu olhos brilham a cada criança eadolescente que consigo inspirar e confesso que a cada vez que consigo dar a eles um bom conselho eu penso “Valeu, Sandrinha!”.

Sei também que a mudança não foi algo que foi fácil para você, em um cenário onde eu era a pessoa que

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mais conversava com você, mas acho que me mudar de casa, foi a melhor coisa que fiz por nós dois, pois eu cresci e vejo nas coisas que lembro de ouvir de você; que seus conselhos são eternos, vejo toda vez que me apaixono que meus olhos brilham pensando o quanto você vai gostar delas, vejo que finalmente você também voltou a se permitir o amor e torço para que em meio aos bailes você encontre alguém em seu ritmo e possa sentir novamente como é estar com alguém.

Por fim, sinto orgulho de termos conversas mais intimas e ainda que estejamos mais distantes e conversando menos isso torna nossos encontros mais intensos e faz com que a gente consiga chegar com mais assuntos e com mais facilidade em um momento das nossas vidas em que ambos estamos mais cientes que nunca de quem somos e o que sentimos.

Por isso mesmo, quero que saiba que desde o ano passado, quando me descobri autista sei que você num primeiro momento pode ter se preocupado e até se sentido culpada, mas isso foi o melhor presente que eu poderia receber na vida, pois consegui me perdoar sobre quase todas as coisas

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que fiz na infância e achava que eram coisas monstruosas e ser assim é, sem dúvida, a parte mais bela de mim, que me faz ver o mundo com olhos de contos de fada e que me faz um pouco inocente, mas também incrível em muitos sentidos.

Eu simplesmente mãe sei que amo você e essa carta é para dizer muitas das coisas que frequentemente não consigo dizer pessoalmente. Eu espero do fundo do meu coração que a gente possa sempre ter essa relação mágica que temos e se ainda posso desejar coisas para o futuro, é mais! Que a gente possa ficar mais próximo e que a gente consiga falar mais, principalmente sobre amor, pois sinto que ainda não consigo te explicar como eu amo, mas ao menos por você, sei que o quanto, apenas cresce a cada dia.

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Lá no céu tem uma flor, palmas pra ela!

Escrever uma carta selada e dirigida especialmente à ela não teria o alcance desejado, visto que em vida ela nunca aprendera ler e nem escrever. Confiante de que agora, livre de todos os limites, ela possa ler o que quiser com a alma, escrevo a minha mãe como foi que me senti quando ela disse adeus.

Por algum motivo, desses que insistimos em chamar de coincidência, tocou numa rádio a música “Saudades de Matão”, uma valsa composta por Jorge Galati em 1904. E foi essa valsa que me inspirou para escrever uma homenagem para minha mãe, 7 dias depois que ela me deixou. “...Sei que lá no céu surgiu uma peregrina flor...”

Sim, com certeza, assim como na letra daquela canção que a minha mãe cantava. Uma peregrina flor. Flor que durante toda sua existência não fez

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outra coisa a não ser cuidar, proteger e servir àqueles a quem tanto amou. Uma flor peregrina, sempre em busca de um carinho, de uma atenção, pois foi uma flor que muito cedo teve que enfrentar a solidão e o desafio de seguir em frente sem contar com um colo de mãe. Aos seis anos de idade já havia perdido aquela que lhe trouxe ao mundo.

Uma flor que foi resgatada e adotada por uma mão forte, porém controladora, seu marido, que a fez a flor rainha de um lar, que a tornou a mãe de 6 filhos, filhos gerados e criados com muita limitação, com muita dificuldade, mas com muito, muito amor e entrega, muito exemplo de fé e de honestidade. Tamanho era o seu amor e sua vocação à mãe, que para transformar 5 meninos em 5 homens fortes e corajosos e uma menina, em uma mulher não menos forte e corajosa, ela não precisou sequer dominar as letras do alfabeto. Bastava saber escrever o próprio nome e com ele assinar cada página das conquistas infinitas alcançadas por aqueles que eram sua razão de existir, a razão de estar plantada neste jardim da vida: seus filhos, sua família. Flor, que no desabrochar da sua existência conviveu com muitos espinhos, porém sem perder sequer por um

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minuto a esperança, a fé e o que é melhor, sem perder o SORRISO.

Flor, que aprendeu a dividir sua riqueza maior: os filhos, para que se multiplicassem em 14 netos e 8 bisnetos. E como adorou curtir cada um deles, esquecendo-se até das limitações do próprio corpo para brincar de esconde-esconde na cortina, entrar na cabaninha, sentar no chão......

Uma flor simples, singela e delicada, porém, uma flor nada frágil. Pelo contrário, uma flor revestida de resiliência, para saber com dignidade, reconhecer que a vida é passageira, e suportar 2 perdas irreparáveis: 2 de seus tesouros, 2 filhos amados.

Num determinado momento da trajetória desta flor, sentindo o peso da solidão, da casa cheia se esvaziando, talvez tenha se perguntado: O que fazer agora? A quem me dedicar? A quem servir?

Quem sabe por uma razão encoberta, quis a vida que uma doença silenciosa e carregada de sentido, o Alzheimer, lhe fosse tirando aos poucos a noção das coisas, fosse lhe arrancando aos poucos a lucidez. E ao mesmo tempo que a afastava da realidade, a mesma doença ia lhe proibindo de

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perder a ALEGRIA e o SORRISO. Costumam dizer que nada é por acaso e parece que não é mesmo. Teria minha flor conseguido manter o sorriso, a alegria, a vibração e a energia se não tivesse sido poupada da consciência da realidade?

Pra que terminar a vida amargurando-se pelas perdas e sofrimentos, chorando e se lamentando, quando ela ainda podia nos encantar e nos divertir com suas brincadeiras, suas bobagens, todas agora sem censura. A doença, o esquecimento, lhe davam este direito: sem censuras. Isto lhe dava maior liberdade ainda. E assim a minha peregrina flor virou mais uma página da vida. Parece ter encontrado uma nova chance, um novo recomeço pra sua vida, adaptou-se a uma nova convivência na casa de repouso. Alegrou e encantou a todos com quem conviveu, nos últimos 12 meses. Voltou a viver numa casa cheia, rodeada de amigos, os quais conquistou por mérito próprio.

Que flor é esta? Uma flor que não se contentava com a solidão de um vaso, ela queria um jardim inteiro, queria estar sempre rodeada de outras flores, queria cuidar e proteger, queria ser útil, queria ajudar, sempre ajudar. E assim foi, ajudou até o fim, inclusive ajudou-nos a entender e aceitar que há um momento em que as pessoas precisam

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descansar, elas merecem descansar. Depois de tanto lutar, de tanto ajudar, de tanto acreditar na vida, de tanto aceitar os sofrimentos com paciência e fé, de tanto sorrir e fazer sorrir, ela quis descansar.

E aí retorno à mais um trecho daquela canção, que nem mesmo a doença a fez esquecer: “...Lá no céu, junto a Deus em silêncio Minh ‘alma descansa....” Gravei, alguns meses antes de sua partida ela cantando essa canção preferida, e ela termina a música pedindo em brincadeira: Palmas pra mim!!!

Por tudo que esta flor representou nos seus quase 84 anos de vida, pelo perfume que ela deixou, pelos espinhos com os quais nos ensinou a conviver, pelo jardim que tornou mais belo com sua existência, pelas borboletas todas que ela conseguiu atrair e em nome de tantas outras flores como esta minha flor, que existem, fazem toda a diferença e moram na casa ou na memória de outras tantas famílias, eu peço a todos : Palmas pra ela!

A sua vida virou outras três – codinome: mãe

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A sua vida virou outras três –codinome: mãe

Dulen Santos

Ela sabia que a vida não seria fácil, já tinha em mente, por tudo que viveu até ali, que nada seria um mar de rosas. E mesmo assim, sempre sonhou com dias melhores. Sua infância singela e simples de uma família pobre mostrava o quão difícil seria sua trajetória.

Seus estudos foram interrompidos assim que se casou. Tinha onde morar? Não! Óbvio que não. Construíram um minúsculo cômodo improvisado com madeirites e ali formaram seu lar por alguns anos. Como era jovem, tudo parecia fabuloso e animador. Se divertia como podia - viagens para casa de parentes em outra cidade, pescarias e acampamentos à beira de rio - esses eram os melhores eventos que podia desfrutar. Maria, a filha única e muito amada por seus pais estava, enfim, se tornando uma mulher.

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A surpresa ao descobrir sua primeira gravidez a fez sentir a mulher mais feliz e mais perdida do mundo, afinal, Maria era muito jovem e completamente inexperiente. Mas são nessas horas que surge e aflora o espírito de guerreira. Juntou-se com as amigas/vizinhas e formaram uma espécie de clã das mães. Uma alcateia, capaz de defender a qualquer custo os seus protegidos, e assim Maria o fez.

Três anos se passaram e teve o seu segundo filho, nesse momento, as coisas já estavam melhores financeiramente e psicologicamente. Ela já era mais madura e mesmo assim, a vida continuava castigando, tinha os afazeres da casa, do lar, obrigações com a filha e tudo mais que uma mulher no fim da década de setenta carregava nas costas. O menino trouxe outro tipo de alegria para ela, tudo era diferente na criação, foi uma nova experiência, gratificante sim, mas com outra forma de dedicação.

O tempo passa e à essa altura a primeira filha já tinha cinco anos, o segundo filho tinha dois aninhos quando surge a terceira gravidez. O que esperar? Maria não tinha mais medo, angústia ou dúvida. Já ajudava as mães inexperientes de primeira viagem. O terceiro filho é outro menino, saudável como os

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demais, porém, é o mais peralta e mais travesso –como diziam os mais antigos.

A jovialidade de Maria foi ficando para trás, assim como seus sonhos de estudar, dirigir, se cuidar e ter vaidades. Tudo foi abdicado para dar carinho, cuidado, amor e educação aos três filhos que foram crescendo, passando pela infância, adolescência e fase adulta. Mesmo tendo deixado a sua própria vida de lado, ela estava feliz. Estava completa –tinha um lar, um esposo, três filhos crescidos e encaminhados na vida.

Mas uma tragédia horrível faria seu mundo se tornar um pesadelo inimaginável. O seu caçula, com apenas dezessete anos, faleceu vítima de afogamento em uma pescaria com seu pai e o irmão do meio. Maria teve que enfrentar essa dor repentina e incurável. Nenhuma mãe deveria passar pelo triste episódio de enterrar o próprio filho.

Ela, mesmo com seu primeiro neto recém-nascido e com os dois outros filhos já independentes, fazendo faculdade e tocando sua vida, não tinha mais brilho no olhar, não tinha chão, não tinha motivos para querer continuar a sua jornada na terra.

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Mas foi exatamente esse neto, com apenas onze dias de vida, que a fez voltar a ser aquela mãe de décadas atrás. Seu lar e seu coração tinham um vazio imenso, mas não havia tempo e espaço para lamentações, tinha uma vida nova que merecia toda a atenção e cuidado do mundo.

E assim os anos foram passando, Maria jamais voltou a ser aquela mulher de outrora, mas se orgulha porque viu seus dois filhos se formando, pós-graduando, casando-se, tendo filhos. Sua casa se enche de amor, alegria e diversão com os cinco netos, os dois filhos, genro e nora que sempre vão, como regra, aos almoços de domingo.

Ela batalhou, sofreu, renunciou sua vida e passou por diversas tribulações. Esse é o retrato de uma mãe, de uma Maria, dentre tantas outras existentes. Hoje, ela está com 70 anos e ainda é uma batalhadora em prol da família. E se perguntarem a ela sobre a vida, seguramente ela irá dizer que a vida é muito boa e que dias melhores virão.

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Não foi programado, mas foi desejado

Dulen Santos

Quando Marina era pré-adolescente já trazia consigo o instinto materno, talvez pelas circunstâncias da vida ou porque via a luta diária da sua mãe. E por falar na mãe da Marina, entenda que Dona Rosa é o reflexo de tudo que se pode imaginar de uma mulher guerreira e batalhadora. Mas vamos focar na nossa protagonista.

Marina, por volta de doze anos, ganhou um irmãozinho, fruto do segundo casamento de sua mãe. Eles moravam numa cidade pouco distante do trabalho e da escola, e foi aí que a luta e o instinto maternal da Marina desabrocham.

Em consequência de sua mãe trabalhar numa escola pública, automaticamente Marina era aluna dessa escola. Mas e o irmãozinho? O que fazer com ele? Onde deixá-lo? Enquanto Marina estava em sala de aula, Maurício ficava com os funcionários

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da secretaria escolar, quando Marina terminava os estudos, ela tinha a obrigação de assumir o papel de mãe do próprio irmão. O Almoço, o carinho, a troca de fraldas, colocar para dormir, brincar etc. Tudo isso era atribuição da jovem moça, que não teve nem a opção de negar esse fardo, nunca lhe foi perguntado se gostaria de assumir essa responsabilidade. Mas ela o fez com a firmeza e o amor que essa família tem e sempre mereceu possuir.

Porém, o mais difícil era voltar para casa de ônibus com ele. Assim que terminava o horário de aulas, ela tinha que sair da escola, Maurício não podia ficar com a mãe, pois ela tinha que cumprir expediente, restava apenas a opção de voltar para casa de transporte público. O trabalho era enorme, visto que Marina tinha que carregar a mochila escolar, a bolsa com os brinquedos, fraldas, roupinhas e alimento do seu irmãozinho e carregar o próprio Maurício. Por sorte, intervenção divina, milagre, ajuda dos anjos da guarda ou qualquer outra coisa que se possa imaginar ou se apegar, não houve nenhum problema nesse trajeto, que foi repetido dia após dia, durante anos.

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Algum tempo se passou e compraram uma casa mais perto da escola – bem próximo na verdade –Marina já era adulta e Maurício já era um rapazinho. Ela tinha se orgulhado de ter ajudado na criação do seu irmão. Tinha plena consciência que seria uma boa mãe, ela queria ter um filho, queria sentir esse prazer incondicional de gerar, carregar, dar à luz e criar um filho. Esse sentimento era inconsciente, apesar dos sinais, mas sua juventude precisava ser vivida.

Marina ingressou numa faculdade e decidiu morar só, mas como a união dessa família é algo único, não durou muito esse afastamento e retornou para o lar onde foi recebida por sua mãe e irmão com o amor lindo que possuem.

Repentinamente, Marina conhece um rapaz – dez anos mais velho que ela – e iniciam um namoro promissor. De imediato, os dois não se desgrudam, não fazem nada separados, estão sempre conversando por mensagens ou ligação, começam a ter projetos, planos para a vida e a união se consolida de forma intensa. Nitidamente ela estava feliz, seu namorado é o que ela sonhou e pediu para Deus. Com poucos meses de namoro, eles praticamente moravam juntos e não faziam nada separados.

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CARTAS PARA AS MÃES

O romance estava tão vívido que ela quase esqueceu que seria Madrinha de casamento de uma amiga que se mudou para bem longe. Depois de tudo pensado e conversado, Marina decidiu ir sozinha, pois o custo de passagem, hospedagem, transporte e demais gastos ficariam muito alto para o casal. Tudo ocorreu dentro do esperado no casamento da amiga. Foi maravilhoso, como tem de ser. Infelizmente na volta para o hotel, o carro que ela estava se envolveu num acidente, uma amiga teve um corte grave na cabeça e Marina teve os ligamentos do joelho rompidos. Foram prontamente atendidas e levadas ao hospital.

Pouco antes do dia amanhecer, ela ligou para o namorado e contou todo o fato. Ele entrou em desespero e queria ir imediatamente ao encontro dela, porém de forma cautelosa, Marina pediu para que ele a aguardasse voltar. O casal se desentendeu, ela teve que ficar mais alguns dias pois não era recomendado voar. Passou, inclusive, por sua cabeça que iria perder o namorado.

Quando ela regressou, ele a estava esperando no aeroporto, olhar preocupado, morrendo de saudade e ali mesmo a pediu em casamento. Não foi programado, não foi digno de filme de romance,

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EDITORA OLYMPIA

mas foi muito além do que ela esperava. Ela ficou radiante, a dor e a angústia cedeu lugar para a alegria e felicidade.

Assim que foi possível, fez o procedimento cirúrgico e, em seguida, iniciou a fisioterapia. Mesmo com as sessões constantes, perna imobilizada e mobilidade comprometida não atrapalharam o namoro do casal. Marina teve que interromper o uso de anticoncepcional por conta das outras medicações que estava tomando.

Algumas semanas depois, ela estava com sua melhor amiga do trabalho – futura madrinha – que desconfiou de certos desejos e do comportamento atípico da amiga e a fez comprar um teste de gravidez. Pronto, a gravidez era certa. Como ela iria contar para o namorado/marido? Preparou uma caixa personalizada com diversos itens, o teste de gravidez, algumas fotos e foi ao encontro dele. A emoção nesse dia foi inesquecível e inexplicável, choraram, sorriram e fizeram juras de amor. O pedacinho desse amor se chama Vitor e sua mamãe – Marina – já o tinha criado em seu coração e em sua mente desde muito nova. O destino e escolhas que ela fez durante seu trajeto até aquele momento foi concretizado com o nascimento dessa nova vida.

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CARTAS PARA AS MÃES

Hoje ela tem a certeza de que seu irmão é um homem próspero e honrado graças à sua batalha diária no auxílio da sua criação e mesmo com as dúvidas e insegurança que toda mãe possui, Marina sente, através do amor do seu esposo e do seu filho, que é a melhor mãe do mundo.

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Delci uma Guerreira

Erlania Francisca Teixeira

Querida mãe, tudo bem com a senhora? Mesmo em outro plano acredito que esteja bem. Venho por meio desta carta, lhe dizer que sua passagem pela terra não foi em vão.

Confesso que vê-la morrendo aos poucos, foi apavorante e desesperador, foi ver tudo que fui e seria ir junto com você, ainda hoje se passaram onze anos e ainda tento me erguer, foi a hora que pensei em toda a glória que foi tê-la como mãe.

Foi perceber que não sou nada, e se fui algo um dia, nunca mais será igual, me tornei apenas uma sombra de algo maior, a senhora.

A senhora foi nosso carro-chefe, sem freio ia pela frente derrubando as barreiras e obstáculos para que nos passássemos.

Suas orações na madrugada para nos proteger das trevas, nos dava força e nos faziam querer ser pessoas melhores e lutar pelos nossos interesses.

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CARTAS PARA AS MÃES

Deus com sua infinita sabedoria usou a senhora como pedra fundamental, nos guiando pelos caminhos estreitos, mas sua luz estava sempre lá. E a senhora tendo Deus como guia conseguiu, em meio ao caos, tormentos, dores, desprezos, angústia, violência, tapa na cara de estranha, conseguiu manter seus filhos juntos e unidos.

Entre os vários ensinamentos que mais gostava eram esses:

• “se uma pessoa espalhar pó em ouro no chão da casa, antes de sair limpe os sapatos, não queremos nada que não seja nosso.”

• Não é porque o pai de vocês fala palavrão que vocês têm que repetir.

• Negros, brancos, animais e plantas somos todos filhos de Deus e todos merecemos respeito.

Mãe sua partida deixou saudades, porém, tivemos que nos reerguer e seguir em frente e, mesmo com os corações machucados, cada filho seguiu com suas vidas.

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Olhar para uma azaléa ou qualquer planta com flores e não lembrar da senhora é impossível, passar em lugares como a praia que a senhora tanto amava ou reunir os irmãos para a ceia da sexta-feira da paixão e falar da senhora o tempo todo.

Quero por meio dessa te dizer:

• Parabéns por ter educado os seis filhos sem depender de um pai.

• Parabéns por nos amar de forma incondicional abrindo mão de liberdade, namoros e qualquer coisa que a deixava feliz.

• Obrigada por acreditar em cada filho e não nos deixar se contaminar com drogas e outros, sempre aconselhando e apoiando.

• Obrigada por falar que onde não cabia seus filhos também não cabia a senhora.

• Obrigada por carinho, amor, orientações e broncas quando foi necessário.

• Obrigada por abraço e beijo cheiroso, por nos mostrar a importância da limpeza tanto da casa quanto do corpo.

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CARTAS PARA AS MÃES

Hoje os filhos que criou com tantos sacrifícios, estão todos bem graças a Deus. Cada um segue com seus ensinamentos e lutando para ter um espaço ao sol, mas o que seria a vida se não uma eterna luta?!

A Larissa que a senhora não conheceu é linda, vai ficar alta, ama brincar e criada com educação e na igreja, o Vi e a Neia se tornaram excelentes pais. O Nícolas filho da Clau, é lindo um "pipoquinha", ama conversar, será um palestrante, no mínimo, muito inteligente. As demais continuam com os filhos que conheceu. Todos seus netos sentem sua falta e seguem com suas vidas.

Você pode não ter acertado na loteria, mas acertou em nossa educação. Parabéns por ser mãe e pai e criar seis filhos dando o seu melhor.

Obrigada por ter incentivado o Cláudio a ficar com a Nilza, ela o mantém noseixos, somos muito gratas a ela.

Para sempre te amarei.

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O que guardo no peito

Mãe,

Tenho tanto a te dizer e nem sei por onde começar…

Talvez devesse começar agradecendo pela vida, por ter me escolhido para nascer de você.

Tantos desafios surgiram desde o meu nascimento, não é mesmo?

Obrigada por me ensinar o significado do amor incondicional, desse que é um dos maiores amores que podem existir.

Cada dia de convívio representa uma nova oportunidade de aprender um pouco e também ser acalentada pela luz que transborda de você.

A sua alma é iluminada e, mesmo enfrentando tantos percalços, sempre tenta confortar e acolher as pessoas que passam pelo seu caminho e que têm

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CARTAS PARA AS MÃES

a oportunidade de viver algum momento (ou muitos) ao seu lado.

Eu sou sortuda, já estou aqui, te conhecendo um pouquinho mais a cada dia, por 33 anos.

Quem diria, né? Só eu e você sabemos o quanto alguns duvidaram desse tempo…

Mas, como bem compreendemos, existem muitas coisas além do que conseguimos ver e entender neste mundo.

Viver é uma oportunidade esplendorosa de sentir e estar com tantas pessoas especiais. Viver pode ser incrível, espetacular, inspirador e transformador.

Você sempre demonstra sensibilidade para oferecer carinho, afeto e serenidade. Realmente vivendo e sentindo a existência neste planeta.

Espero um dia ser uma mulher tão especial quanto você, que alegra o dia das pessoas com a sua graça e seu jeito. Que me inspira, incentiva e apoia sempre.

Mãe, você realmente sabe o quanto é extraordinária?

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EDITORA OLYMPIA

Se eu não te disse ultimamente, espero que esta carta demonstre um pouco do grande amor que tenho no coração.

Você é maravilhosa!

Obrigada por existir.

Obrigada por ser a minha mãe.

Te amo!

Com carinho, da filha que te admira demais, Flávia Werneck

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CARTAS PARA AS MÃES

Carta à Mãe Incansável

Mãe,

Acabo de virar a esquina da rua de nossa casa e as lágrimas teimam em não parar de cair. O meu rosto é um poço de amargura por estares tão longe, desde que te deixei. Deixar é uma palavra forte e acredita que não te deixei por não gostar mais de ti, mas sim porque precisei de voar para conquistar o que um dia terá de ser meu.

Sempre foste ordeira nas palavras e também na forma como nos educaste. Procurei fugir muitas vezes das tuas regras, mas acredito que as ditaste sempre para o nosso bem. Contigo, fui aprendendo as fases mais puras da vida e que hoje tanto sentido fazem.

Quando comecei a fase do “porquê?”, lembro-me de ser cansativa, de questionar até mínimo detalhe, mas para mim tudo precisava de uma explicação.

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EDITORA OLYMPIA

Percebo agora que nem sempre há uma razão para tudo, há coisas que acontecem só por que sim; por que tem de ser.

Quando te deixei para conquistar o mundo –aquele mundo que outrora te pedia e ao qual me respondias com clareza e amor que eu mesma teria de conquistá-lo, sem medos, mas também sem pressas –, senti que ao invés de conquistá-lo, eu estava a deixá-lo para trás.

Mãe, as minhas noites não foram mais as mesmas. A culpa de não estar por perto, abraçou-me nas madrugadas e assustou-me quando via o dia virar noite. Quando te deixei para conquistar o mundo, perdi o sorriso todas as vezes em que te imaginei a chorar. E todas as vezes em que me diziam que eu facilmente me habituaria a viver longe de ti, ria-me por saber que não era verdade. Mas, se realmente fosse, faria de tudo para fugir à regra. Faria de tudo para não me habituar. Como é possível cair no hábito de viver longe de quem nos deu tudo? Ainda não era tua por completo e já sentia o teu amor cada vez que colocavas as mãos à volta do teu ventre.

Lambeste-me as feridas sempre que tropecei e me magoei. Foste o meu melhor curativo para as mágoas da vida. Oh, mãe! Mas a minha vida és tu e

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CARTAS PARA AS MÃES

nunca me magoaste. És o meu sorriso genuíno, o cheiro a casa que se entranha e não se estranha. És colo, és manta. És a segurança de que nunca ficarei sozinha.

Acabo de virar a esquina da rua de nossa casa e o vazio de quem deixa a sua infância para trás sentase ao meu lado nesta viagem.

A melodia da tua voz é como uma canção que não quero que pare de tocar. Há coisas que gostava que fossem eternas e esta também é uma das fases da vida à qual tive de enfrentar de frente. Nada é eterno se não soubermos fazer de conta que sim. És eterna em todas as memórias que me deixas, porque as conquistámos juntas. És eterna na tua simples forma de ser: incansável.

Carregas ao colo todas as pedras que te foram deixadas pelo caminho e nem assim deixas de sorrir. Sabes como dar resposta a tudo, sem pagar na mesma moeda pois esse é um dos comportamentos que reprovas. Ensinaste-me que não podemos desistir das coisas só porque não são tão fáceis como gostaríamos, mas que, se realmente as queremos, devemos lutar sem baixar os braços.

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E se hoje sei como um sabor da vitória é tão mais gratificante do que um sabor amargo de não saber como lutar, é graças a ti. Ensinaste-me também a não ter medo de experimentar coisas novas, fosse um corte de cabelo, um estilo música diferente daquele a que estou habituada ou até uma cidade diferente.

Mãe, és a minha melhor amiga e tudo aquilo que sou hoje é por tanto te admirar! Continuo com sede de conquistar o mundo… e acredito que não tarda o tenha em mãos.

Com amor, A tua adorada filha.

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CARTAS PARA AS MÃES

Carta aberta a uma mãe escorpiana

Somente agora me ocorreu as inúmeras oportunidades que eu perdi de dizer: “Desculpe, sou filha de escorpiana”. Somente agora me ocorreu pensar no quanto isso significa. É preciso dizer e os entendedores me entenderão, não é fácil ser filha de uma escorpiana, mas poucas coisas são tão apaixonantes quanto o jeito vibrante dessa “espécie”. Ser filha de uma escorpiana é crescer alimentada com entranhas, às vezes literalmente. É desde cedo aprender, nem que seja na marra, a viver visceralmente com os extremos, a dançar neles, com eles, por eles, apesar deles.

A mim coube o privilégio de crescer com uma mulher do tipo que nunca passa despercebida, seja qual for o lugar. O magnetismo dela é irresistível, tem brilho e mistério nos olhos dela, não há quem não queira ser alvo. Tem simplicidade e

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extravagância no riso dela, não há quem não queira ser o motivo.

Ela hipnotiza, tem graça nos movimentos, é impossível não tentar acompanhar os malabares dela fazendo mil coisas ao mesmo tempo, sempre cantando. Ela faz tudo parecer simples, qualquer que seja a tarefa parece parte de uma dança que ela sabe de cor a coreografia. Ela é cantora, bailarina, domadora de leão, minha heroína. A vida com ela vibra nas notas mais altas e ela parece nunca estar fora do tom. Com e por ela aprendi a ser mais forte, mais valente e destemida. Com ela aprendi que é preciso olhar menos nos retrovisores para dirigir melhor.

Ela é do tipo de mulher que intimida e encanta na mesma proporção. É tempestade devastadora e calmaria reconfortante. Ela sabe ser leve sem perder a intensidade, sabe dizer não sem deixar de ser acolhedora. Não há palavra que alcance o sentimento de gratidão, de saudade, de amor que sinto por essa mulher. Poucos colos nesse mundo vão ser tão confortáveis.

Não tem olhar de reprovação mais doído, assim como não tem sorriso mais iluminado. Ouvir um “Boa sorte, filha” vai ser sempre equivalente a

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CARTAS PARA AS MÃES

encontrar um trevo de quatro folhas. Não somente agora me ocorreu a sorte que eu tenho de ser filha de uma escorpiana em especial.

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Carta à minha mãe

Graziela Leão

De todos os presentes que recebemos na vida, a mãe é o melhor deles. Penso na minha mãe, em quanto a amo. Mãe, quantas vezes você já teve que me ensinar a ser melhor, na minha teimosia foi bem difícil para você me mover das ideias fúteis.

Minha amada mãe, você é meu exemplo desde cedo, uma mulher trabalhadora que sempre teve amor pelo que fazia e faz. É curioso que não herdei seu gosto pela cozinha, já por comer seus docinhos, isso eu amo.

Muitas noites, sei que não dormiu cedo para me esperar chegar da faculdade, foram tempos difíceis para nós duas e você segurou minha mão todas as vezes em que cai.

Só tenho a agradecer por todo seu amor, eu te amo, mamãe.

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CARTAS PARA AS MÃES

Tributo à minha avó no céu neste

Dia das Mães

Querida Vovó no Céu, Hoje, neste dia especial das mães, escrevo esta carta com lágrimas nos olhos, mas com um sorriso no coração, lembrando de todos os momentos maravilhosos que compartilhamos juntos. Sei que agora você está em um lugar onde não há dor, apenas paz e felicidade, mas não consigo deixar de sentir sua falta aqui na Terra.

Sinto saudades do seu carinho, da maneira como cuidava de mim com tanto amor e dedicação. Você sempre foi a personificação do amor incondicional, e isso deixou uma marca indelével em minha vida.

Cada abraço seu era um bálsamo para a alma, e cada palavra sua era um conselho sábio que eu guardava no coração. Sua sabedoria era tão profunda quanto o oceano, e eu sempre me

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EDITORA OLYMPIA

maravilhava com a forma como você lidava com os desafios da vida com tanta graça e serenidade.

Seus conselhos eram como faróis em meio à escuridão, guiando-me sempre pelo caminho certo.

Lembro-me das suas histórias inspiradoras, dos tempos antigos que você compartilhava conosco ao redor da mesa. Sua cozinha era um santuário de aromas reconfortantes, onde o cheiro de queijo derretido, bolo recém-saído do forno e bolinho de chuva fresquinho enchia o ar, alimentando não apenas o corpo, mas também a alma.

Ah, como eu sinto falta dos nossos almoços de final de semana no seu apartamento, onde a mesa estava sempre repleta de comida deliciosa e a conversa fluía como um rio tranquilo.

Você nos acolhia sempre com um sorriso caloroso e uma xícara de chá quente, envolvendo-nos em seu abraço acolhedor. Sua generosidade era infinita, e você nunca hesitava em ajudar quem quer que precisasse, com sua empatia e compreensão sempre presentes. Sua presença constante em minha vida era um conforto inestimável, e sua força interior era uma inspiração para todos nós.

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CARTAS PARA AS MÃES

Hoje, no Dia das Mães, quero expressar minha gratidão por ter tido o privilégio de tê-la como minha avó. Você deixou um legado de amor e bondade que nunca será esquecido, e eu prometo honrar sua memória vivendo uma vida de bondade, compaixão e generosidade.

Que a luz que você trouxe para as nossas vidas continue a brilhar em nossos corações, iluminando o caminho daqueles que ficaram para trás. Mesmo que não possamos mais compartilhar momentos físicos juntos, sei que você está sempre conosco, guiando-nos de uma maneira ou de outra.

No Dia das Mães, presto homenagem não apenas à minha mãe, mas também a você, minha querida avó. Sei que você está olhando por nós lá de cima, envolvendo-nos em seu amor eterno. Que sua alma esteja em paz, sabendo que seu legado de amor e bondade continua vivo em cada um de nós.

Com todo o meu amor, gratidão e saudades.

Beijos!

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Carta de amor para a minha querida madrinha no Dia das Mães

Querida Madrinha,

Escrevo esta carta com o coração transbordando de gratidão e amor no Dia das Mães, para expressar o quão especial você é para mim. Você não é apenas minha madrinha, mas também uma figura materna que sempre esteve presente em minha vida, oferecendo apoio incondicional e orientação valiosa em cada passo do caminho.

Seu companheirismo tem sido uma luz constante em minha jornada, iluminando os momentos mais sombrios e compartilhando as alegrias mais radiantes. Sua presença constante em minha vida é um lembrete constante do poderoso vínculo que compartilhamos, um vínculo que transcende os laços de sangue e se torna uma conexão verdadeiramente única e preciosa.

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CARTAS PARA AS MÃES

Seu amor incondicional tem sido como um abraço caloroso que me envolve mesmo nos dias mais difíceis. Você sempre esteve lá para mim, sem hesitação, oferecendo seu ombro para chorar, seu sorriso para alegrar e sua mão para me guiar ao longo do caminho. Sua generosidade e empatia são testemunhos do coração compassivo que você tem, e sou infinitamente grato por tê-la em minha vida.

Sua sabedoria e firmeza são como um farol que me guia através das águas turbulentas da vida. Seus conselhos e orientações sempre foram sábios e perspicazes, ajudando-me a tomar decisões com confiança e clareza. Sua paciência infinita e compreensão inabalável são um bálsamo para minha alma, proporcionando conforto e apoio nos momentos de dúvida e incerteza.

Você é uma fonte constante de inspiração e incentivo, sempre me encorajando a seguir meus sonhos e perseguir meus objetivos com paixão e determinação. Sua criatividade e celebração das minhas conquistas são um lembrete constante de que o sucesso é algo a ser comemorado e compartilhado com aqueles que mais amamos.

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EDITORA OLYMPIA

Neste Dia das Mães, quero agradecer por tudo o que você é e por tudo o que faz por mim. Você é verdadeiramente uma bênção em minha vida, e não há palavras suficientes para expressar o quanto eu te amo e te valorizo. Que este dia seja uma celebração não apenas da maternidade, mas também do vínculo especial que compartilhamos como madrinha e afilhado.

Que este Dia das Mães seja repleto de alegria, amor e momentos preciosos compartilhados juntos. Saiba que você é amada além das palavras e que sua presença em minha vida é verdadeiramente um presente. Que possamos continuar a construir memórias preciosas juntos, celebrando cada momento e fortalecendo nosso vínculo especial.

Com todo o meu amor e gratidão,

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CARTAS PARA AS MÃES

Jeanne Pipa

Carta para minha mãe

Na UTI do hospital

Sabia que iria morrer

E fingindo não saber

Muitas dores eu sentia

Sem chorar ou reclamar

Em silêncio

Chamei por ti

Meu Deus

Meu único Socorro

Consola minha mãe

Quando eu partir daqui

Errei muito na vida

Querendo ser feliz

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EDITORA OLYMPIA

Agora estou aqui

E não posso mais agir

Irei contigo ó Deus

Sem lágrimas derramar

Irei por que tu querer

Pra não mais sofrer

Em teus braços me acalmou

E fechou meus olhos pra partir

Vou deixar minha mãe sofrer

Mas contigo então irei

Recebi sua bênção

Seu perdão

E tão salvo contigo fiquei

Como um herói

Da luta que perdi

Com a lição que aprendi

Em teus braços eu subi

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CARTAS PARA AS MÃES

Para glória

Pra ser salvo

Do pecado que vivia

Da tristeza e da dor

Que sem explicação

Me perseguiu

Neste mundo de ilusão

Onde deixei o Gui, mãe, irmã e Tia, com meus sobrinhos, que nem pude conhecer

Mas lá de cima eu mando minha alegria

E pra sempre ficarei

No coração dos que sempre me amaram

E junto com Jesus eu parti

Hoje não estou mais na terra

Para comemorar 33 anos

Mas eu breve estaremos todos nos braços do Pai

Vivendo sem pecados

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EDITORA OLYMPIA

Na terra do Senhor!

Saudade! Só saudade!

Jesus cuidando de mim

Pra eu viver esperando por vcs

Não terra abençoada

Na vida que ganhei

De paz e alegrias

Com o perdão que recebi

Do Deus

Que não me julga

que me ama sem sessar

E nunca me abandonara

Sou eu o filho que no céu agora estou

Nos braços do Pai

Que na terra me deixou

Aprender uma lição

Que tudo eu podia

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CARTAS PARA AS MÃES

Mas nem tudo me era permitido

Sem Dor e sem pecado

Eu vivo hoje

A espera ...... de

Um dia matar toda saudade que no peito carregamos.

Hoje eu comemoro no céu o dia que nasci.

Um beijo a todos que ainda sentem falta de mim.

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EDITORA OLYMPIA

Omnia vincit Amor

(Virgílio,Bucólicas.X,69)

Jonas Matheus Sousa da Silva Roma, 19 de março de 2014.

Salve, dona Antônia do Carmo! Quanto tempo não nos encontramos presencialmente!

Minha querida mãe, aqui por Roma já está chegando a primavera e, é com admiração que estou a constatar que, após a longa hibernação dos arvoredos e plantas no frio invernal, mesmo a ponto de se parecerem vergéis secos e mortos, reduzidos a troncos, raízes e galhos; agora, que se volta a escutar os cantares dos passarinhos, as primeiras coisas a brotarem dos galhos aparentemente secos, não são as folhas, mas as flores em todas as suas pujanças, cores, perfumes e belezas e, para elas, naturalmente, assomam as abelhas e as borboletas. Fenômeno semelhante ocorre no sertão do Ceará – de onde vieram nossos antepassados – dizia, certa vez, uma dedicada professora de Geografia, quando eu ainda cursava

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CARTAS PARA AS MÃES

o Ensino Médio na escola de nosso bairro: no período de estiagem os grãos remanescentes ou plantados dormem no solo seco, empoeirado e rachado; porém, quando chegam as primeiras chuvas – mas tardar hoje: dia de são José – o solo enverdece e as sementes despertam, germinando com vitalidade e velocidade inacreditáveis. Talvez seja por essa explosão de beleza, primeira verdade (prima veritas, primavera) e fecundidade da natureza, qual conveniência natural da vida, festejese o dia das mães e o mês das noivas, dentro dessa estação maravilhosa que aqui se faz notar.

Ainda em dezembro, o mano me enviou uma foto sua a preencher cartões de natal a ser enviados aos amigos e familiares. Vi seu semblante cansado da lida, do trabalho de casa e da prefeitura, quando te dedicavas a escrever com aquela bela grafia tua, as mensagens de boas festas, numa tradição que raras pessoas ainda conservam. Maravilho-me novamente que, mesmo cansada, após um dia de labor, prestavas-te a essa delicadeza que tece os laços sociais e de benquerença familiar. Recordome que vi nos teus antigos álbuns as fotos quando trabalhavas numa secretaria de uma empresa, talvez

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com a idade de dezenove ou vinte anos e eras solteira e no vigor da beleza da mocidade; mais tarde conheceste o papai, vocês namoraram e depois se casaram, constituindo um lar com as responsabilidades e obrigações inerentes; mormente, mediante nós, seus filhos. Certamente, mesmo na juventude, já tinhas muitas responsabilidades por seres de uma família de agricultores e por teres sido, de tantos irmãos a primeira a nascer; incumbindo-te, nisso, como que uma segunda responsabilidade materna no cuidados dos meus tios e tias... Recordo-me das narrativas do vovô e da vovó ao contarem da bravura que tiveram de ter para criar os filhos, pelos campos da região bragantina, até se estabelecerem em nossa cidade de Capanema. Querida mãe, sei que aprendestes a virtude da gratidão e da responsabilidade perante os tantos desafios da existência, que enfrentastes desde a infância... Vemme a memória, igualmente, aqueles domingos, quando caminhávamos sempre alguns quilômetros para estarmos na casa dos nossos avós maternos ou da avó paterna, encontra-los, também aos tios e tias, primos e primas, além de participar da missa na Igreja paroquial. E esse também era um pequeno

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CARTAS PARA AS MÃES

sacrifício que não se sentia tanto o peso, porque feito com amor... Vejo como se fosse hoje, as muitas vezes que, ainda crianças, acompanhávamos-te, a mana e eu, para apanhares água potável do poço da dona Iracema, uma das nossas boas vizinhas. Ainda me vem à memória, o esforço para nos levar e buscar-nos, você ou o papai, na escolinha das nossas tias; ou mesmo, da preocupação quando eu, frequentemente, pulava o muro da casa para ir à taberna do papai. Rememoro aquela grande prova, quando tivestes de fazer as doze seções de quimioterapia em Belém, nove anos atrás, e como enfrentaste com fé e determinação aqueles momentos, amparada por suas irmãs; contudo, sempre com serenidade e fé, passando firmeza e determinação a todos nós.

Hoje, encontro-lhe virtualmente pelo smartphone e a internet e vejo os vestígios do tempo no seu semblante suado do ardor do clima paraense e cabelos encanecidos; nisso, vejo que a razão da existência de uma mulher que se torna mãe e vive a ética que a maternidade lhe inspira é, sempre, fazerse dom, amor e cuidado como manifestações da

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sabedoria recebida na vida; um amor que diz algo de eterno e de essencial em nossa jornada nesse mundo.

Estava ponderando que, é no mínimo curioso que as tradições cristãs, acreditam que Deus é um só. Um só, porém como comunidade de amor: Pai, Filho e Espírito Santo (paternidade, filiação e vínculo de amor).

Onde estaria o feminino e a maternidade em Deus? Não seria também a mulher e a mulher mãe, especialmente, um reflexo do ser divino?

Assim, descobrimos que a maternidade é uma forma excelente de falar do amor e da misericórdia de Deus. De fato, Espírito de Deus é feminino: Ruah Jahveh, em hebraico. A primeira página da escritura afirma que, no princípio, a Ruah Jahveh pairava (mërachefet) sobre as águas primordiais; e isso, pairar, é o que uma ave faz chocando os seus ovos; também é esse o sentido dessa pessoa divina se manifestar no batismo de Jesus, como se fosse uma pomba, evocando o seu movimento inicial sobre as primeiras águas. Esse pensamento já estava presente em primitivos pensadores da fé cristã na

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região da Síria, como Diádoco de Fótice, Macário, Metódio de Olimpo e nas Odes de Salomão, porém, foi escondido pela tradição teológica porque bem cedo fora abusivamente utilizado pela ideologia heterodoxa do Gnosticismo.

Até mesmo, quando o Antigo Testamento fala da misericórdia de Deus, o termo hebraico utilizado é rahamin, que é o mesmo que significa o útero materno. Assim, o princípio da maternidade está em Deus; assim, deve ser sagrado e divino nas escrituras das tradições religiosas hebraica e cristã.

Tudo isso é interessante, ao menos para a cultura Ocidental que, querendo ou não, tem raízes históricas nas narrativas cristãs. E, agora, com o avanço dos métodos exegéticos e filológicos, podese retornar à verdade das tradições nas suas fontes e perceber que sempre foi justo e pertinente reconhecer a manifestação do sagrado na mulher e na maternidade; enaltecido pelas mais originais tradições religiosas que plasmaram a nossa cultura e correm até hoje nos genes e no sangue da identidade Ocidental, Minha mãe, como isso dá

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um novo sentido para nós, que somos de cultura cristã!

Que alegria ver e testemunhar em você, mamãe, um sacramento e um reflexo do Amor e da criatividade de Deus que a tudo sustenta, alimenta, cuida e eterniza.

No verão, novamente nos encontraremos pessoalmente.

Mas, registro nessa epístola, o quanto lhe amo e o quanto significas para mim e para a nossa família!

Feliz e abençoado dia das mães, que se prolonga –em verdade – em todos os dias do ano!

Com amor, seu primogênito.

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Carta de Amor e Gratidão: uma homenagem à Minha Mãe

Inabalável

Josiane Aparecida Timotheo de Souza

11 de fevereiro de 2024, São Bernardo do Campo – SP.

Minha querida Mamis,

Eu sei que não sou uma das filhas mais belas que a senhora poderia ter tido, sei também que não sou a mais criativa, trabalhadora e amável que poderia existir, mas sei que não importa quem eu seja, você ainda me dará todo o amor incondicional que sempre me deu. Sei ainda que mesmo que não pareça a senhora me amou com todas as suas forças, talvez não do mesmo jeito que amou meus

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irmãos, mas ainda assim, sei que a seu modo tudo o que fez foi me dar o seu melhor.

Aqui onde estou agora, sempre me pego pensando que quero ter pelo menos a metade do amor que a senhora tem por mim, pelos meus próprios filhos, e tento replicar a educação exemplar que me deu mesmo nos seus piores dias, seu carinho e tudo de bom, e mesmo o de ruim. Minha pequena criança ainda não chegou a esse mundo, mas já sei que tipo de mãe serei graças a você que esteve comigo todos esses anos de minha vida, mesmo agora com meus 24 anos de idade, ainda me vejo como uma criança olhando para a sua heroína, que me deu tudo que podia, não apenas emocionalmente, mas me deu todas as ferramentas para alcançar os meus sonhos e desejos, mesmo que para isso tivesse que deixar os seus próprios morrerem pelo caminho que percorreu.

Hoje, eu sonho mais que nunca, mas meus sonhos parecem que são apenas para a senhora. Queria poder ter todas as pedras mais belas do mundo para assim ladrilhar seu caminho, queria que ter as melhores habilidades de jardinagem do mundo para que seu caminho fosse rodeado com as mais

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belas flores, e mais que isso eu gostaria de ter o dom necessário para que nenhuma lágrima de tristeza jamais caísse de seus lindos olhos, porque mesmo agora, mesmo com a mais remota ideia da sua dor meus olhos se enchem de lágrimas em tristeza por você. Queria ter esse dom mais que tudo nesse mundo, a de secar suas lágrimas para sempre, porque você não merece nada de ruim, nada de mau, nada de terrível e nada de impuro em seu caminho, você é o meu céu minha querida mamãe.

Por isso venho aqui escrever essa carta para a senhora, porque quero que o mundo conheça a melhor pessoa do mundo, a que cuidou de todos, que tentou ajudar a todos e a que mais sofre com o mau do mundo pelos outros, mas que não é reconhecida por suas mãos misericordiosas. Eu sou uma testemunha do seu amor, da sua dedicação, do seu esforço em vencer o mundo, em cuidar do mal dos outros, do quanto seu coração se enche de pesar todos os dias pelo mau que assola os outros, do quanto a senhora se coloca na frente para que o mau não tocasse a nossa alma, nos protegendo do mundo enquanto nos dava tudo que ele tinha a nos

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oferecer de bom, mas eu vi seus olhos cheios de lágrimas, enquanto calada a senhora segurava todos os espinhos, enquanto firme sua alma se derretia em dor e angustias, eu te vi chorar por pessoas que nem conhecia, e te vi morrer um pouco quando aqueles que você mais queria bem te apunhalavam e tentavam quebrar seu coração.

Minha querida mãe, as pessoas não veem seu coração, mas eu vejo e queria ter o poder de tirar todas as enfermidades de sua alma, mesmo agora escrevendo essa simples carta meus olhos se encontrar cheios de lágrimas e meu coração pesa, quero que perdoe minha incapacidade de afastar o mal da senhora, quero que me desculpe de verdade por não ser capaz de salvá-la. Me desculpe por ser uma filha tão incapaz de curar a senhora.

Peço desculpas ainda por essas palavras terem me doido a alma, mas quando comecei a escreve-la tudo o que eu podia pensar é no quanto a senhora se doou para o mundo, mas em como ele apenas te devolveu ingratidão e mais sofrimentos, mas um dia tudo isso irá passar minha queria mãe, porque moverei o mundo para dar a você todo o amor que depositou em nós, sou incapaz e tola, mas ainda

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assim pretendo te dar o mundo assim que possível, agora irei te dar um pequeno presente, um netinho bem fofo para que a senhora possa amor, e um dia te darei tudo o que o dinheiro puder comprar, bons momentos, boas refeições, risadas e sorrisos bobos, e momentos de lazer que a senhora nunca pode ter, te darei sonhos em abundancia e quem sabe terei o suficiente para mostrar para a senhora o mundo que Deus criou com tanto esmero, por isso peço que aguente um pouco mais o mundo ruim que vivemos, porque no momento ainda não posso conserta-lo, mas eu lhe prometo uma coisa, no futuro te darei tudo o que merece, todas as alegrias, todos os sorrisos e todo o amor que a senhora merece.

Eu te amo mãezinha,

E que tudo se resolva com a melodia que toca em nossos corações,

Porque o mundo não ganhará de nossa força, Pois a senhora nos deu a virtude dos campeões.

Por isso batalharei todos os dias da minha vida,

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Para que no fim seus dias sejam maravilhosos, Mesmo que eu morra um pouco todos os dias,

Ainda serei afortunada por ver o amor incondicional que vive em vossos olhos.

De sua amada filha, Josiane Aparecida Timotheo de Souza.

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Dádivas das

Flores

Karen Souza

Exímias mães,

A vida costuma passar muito rapidamente. O tempo é uma pequena ampulheta, cuja areia escorre mais depressa do que deveria, do que gostaríamos. Isso quando a ampulheta não é tristemente quebrada. Aquilo que somos e o que não somos está dentro de nós, de nosso ser tão complexo e singelo, cujas emoções e experiências cedem mais uma peça desse terno quebra-cabeça que chamamos de coração.

E, em meio a esta vida, composta por bilhões de ampulhetas de diferentes tamanhos, mas todas consideravelmente pequenas em relação às dimensões de nossos sonhos, estão as pessoas que cultivam os nossos seres e fazem nossas ideias e sentimentos florescerem: vocês; mães. Cada qual com filhos diferentes, ideias divergentes e carinhos ascendentes, todas são as donas do nosso enredo.

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Risos, advertências, experiências compartilhadas, opiniões moldadas. Brincadeiras, lutas, glória, orgulho. Tristeza, preocupações, cuidados, apegos, momentos passados, presentes e futuros. Vocês nos ajudaram a não ser indivíduos vazios. E como poderíamos? Se preencheram nosso vazio com amor e nossa solidão humana com suas transcendentes presenças, capazes de amenizar as tempestades mais intensas que saem de nossos olhos? E, falando em olhos, devemos ser gratos a vocês primeiramente por possuí-los, e, em segundo lugar, pela capacidade de olhar o mundo da melhor maneira possível, com suas ilustres orientações.

Em meio ao caos, saímos vitoriosos, pois vocês mostraram que perder não traz derrota, mas desistir conduz diretamente a ela. Provaram que a persistência precisa estar em nosso sangue, espalhada por todas as partes de nosso eu. Cuidaram de nós bem antes de nosso nascimento até o momento de seus últimos suspiros. Estão conosco mesmo após atingirmos a vida adulta, se não presencialmente, por laços de pensamento e de

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emoções. Sacrificaram noites de sono para garantir as nossas e abriram mão de seus anseios para realizar os nossos.

Nos conduziram, surpreendentemente, ao caminho da liberdade. E, afinal, o que é liberdade, em um mundo no qual estamos tão aprisionados a normas, aos outros e presos em nossas próprias ideias? Um humano livre na Terra não seria o mesmo que um pássaro livre em uma gaiola? Vocês nos mostraram que não, desde que façamos as grades da gaiola cederem aos poucos, com pensamentos que são realmente nossos e nos levam a desvendar nossos próprios mistérios, sem relutar em admitir erros e em enxergar por um ângulo diferente.

Vocês são os diamantes que cortam os males e semeiam nossas primaveras. Obrigada por serem as flores que embelezam nosso universo interior. Obrigada por terem mostrado que o outono também pode ser primaveril, se mantivermos o encanto e as pétalas de nossos sonhos. As mães formam um magnífico buquê de esperança que é

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bem maior e mais poderoso do que as mais numerosas catástrofes.

O tempo continuará passando, vil maratonista de ponteiros tresloucados. Mas o impacto disso é bem menor do que já foi outrora, pois vocês, dádivas das flores, nos mostraram que, apesar da passagem da areia na ampulheta ser breve, os grãos de areia são abundantes. Basta aproveitarmos cada um deles da melhor forma possível: ao lado de vocês.

Carinhosamente, Karen Souza

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Carta de um anjo à sua mãe

Laís Soler

Ribeirão Preto, 23 de dezembro de 2019.

Mamãezinha,

Estou aqui hoje, nesse dia tão triste para você e para o meu papai, para dizer que não precisam chorar, não precisam pensar que foram castigados por qualquer motivo, que foram esquecidos por Deus porque tiveram uma felicidade enorme retirada de vocês de repente, sem a menor explicação, causando uma dor lancinante e sem precedentes nos seus corações.

Menos ainda que se sintam culpados por terem perdido algo tão precioso, que passou por suas vidas por pouquíssimo tempo e despertou tantos sentimentos bons, cuja partida deixa agora apenas

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um buraco em suas mentes e almas, um luto que a maioria dos amigos e parentes não entenderá.

Quase ninguém saberá acolhê-los, mas os poucos que souberem serão essenciais nessa longa caminhada que terão pela frente, na busca por compreensão sobre o que houve e como seguir a vida depois de uma tragédia como essa, a maior até hoje. Apeguem-se a eles, aproveitem seus conselhos, pois são os únicos que sabem exatamente como estão se sentindo e como ajudálos nessa hora de tristeza profunda, em que tudo parece não fazer mais sentido.

A única coisa que quero que pensem sobre mim é que agradeço pelo curto período que estivemos juntos, pelo amor incondicional que recebi de vocês e que receberei para sempre, onde eu estiver, pois sei que jamais serei esquecido. Esse amor fará toda diferença na vida de vocês, na trajetória da minha alma aqui do outro lado e na forma como receberão meu irmão, que não tardará a vir para os seus braços!

Mamãe, obrigado por me receber no seu ventre e cuidar de mim por algumas semanas! Que Deus

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ilumine seu espírito para conceber meu irmãozinho e que nunca falte amor no seu coração para enfrentar seu longo luto pela minha perda.

Sou grato por ter ensinado a você o significado do amor materno.

Com amor,

Seu primeiro filho.

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A parte sublime que há em mim

São Paulo, 5 de janeiro de 2024.

Oi mãe, meu amor,

Saiba que penso em você todos os dias, nem sempre no mesmo horário, varia de acordo com os meus sentimentos e com a minha perspectiva diante da vida. Outro dia ao cortar cebola, por exemplo, eu senti o seu cheiro passar por mim. Claro que fechei os olhos para não ardê-los sobejamente, porque as cebolas sempre me fizeram chorar um lamento ardido. Não se preocupe mãe, o seu cheiro não era de cebola mas de salsa picada, hortelã, orégano, maçã verde, mel e jasmim. Por um momento senti o perfume dos seus cabelos que eram lavados com shampoos de criança, lembra?

Você dizia que seus fios eram demasiadamente finos e sedosos, jamais podiam ser lavados com produtos de químicas desconhecidas e odores fora da realidade. Eu herdei tanto de você mãe, também adoro o cheiro de frutas, de babosa e de camomila nos cabelos. Como eu queria passar as mãos em

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seus cabelos de novo e dizer durante o abraço apertado que você é a parte sublime que há em mim.

Dói escrever-lhe esta carta, não é nada fácil dizer tanto sem conseguir dizer tudo. Agora mesmo enquanto escrevo, o meu coração se manifesta e sinto-o bater como um tambor de samba. Nunca observamos as batidas diárias do coração porque é um órgão interno e fica escondido, mas após a sua morte, o meu duplicou e foi então que o descobri de verdade. Hoje tenho um coração lancinante e outro que te acolhe em paz ao sonhar consigo e te trazer para a matéria, até que o acordar me desperta para a realidade das coisas. Como era confortante ouvir suas batidas num ritmo perfeito. Agora há apenas o seu silêncio. O seu coraçãozinho parou de bater exatamente no dia 23 de Julho de 2023 e de alguma forma modificou o meu, de forte e saudável, ficou frágil e dolorido. O pior dia da minha vida foi quando a Lívia me ligou e disse: “A mamãe faleceu, Lu”. Mãe, você me conhece, sabe que eu me encontro quase sempre na quimera, então perguntei à minha irmã: “Tem certeza? Você conferiu se ela não está respirando?”. Ela respondeu que sim, que o médico já havia atestado o óbito.

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Quando a vi dura, cansada, resignada e fria, senti um alívio porque parou de sofrer, mas também uma angústia dilacerante, a qual me entorpeceu de tristeza e me deu vontade de partir com você. Eu me questionava como iria viver sem a minha mãe, quem iria ouvir os meus lamentos, ouvir os meus textos e poesias e reprochar o meu feitio. No velório eu achava que você ia acordar e dizer que estava brincando enquanto tocava a sua música preferida “Tocando em Frente”. É mãe, não existe outra hipótese a não ser seguir em frente sem saber o que vamos encontrar. Todas as vezes que eu chorava ao vê-la se despedaçar, você brigava comigo: “Filha, a morte faz parte da vida. Você precisa ser forte, se não, vai ficar doente”. Mesmo sofrendo, você tinha forças para ser mãe. Com nosso afastamento irreversível, pude observar que as minhas atitudes são uma continuação das suas. Lembra como você tinha mania de limpeza e ao limpar um simples bife, ficava horas tirando os fiozinhos da carne porque achava nojento. E as hortaliças, meu Deus, você ficava eliminando as manchas indesejáveis uma por uma numa tarde inteira e depois colocava-as numa bacia com água filtrada. Água de torneira só servia para lavar a louça e a roupa. E as frutas? Estou rindo agora ao lembrar que descascava até as que podia comer com casca

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porque achava que tinha veneno dos produtores. Ah mãe, você era tão engraçada e quando brava era ainda mais. Não conta para ninguém, mas muitas das suas manias repito diariamente, principalmente dizer tudo o que penso e ficar irritada com facilidade quando meu marido faz coisas que não gosto. Você ria e afirmava: “É coisa de homem. Eles são assim…” A vida perdeu a graça sem você por aqui. Que estranho uma pessoa desaparecer para sempre. O papai se faz de forte, mas sofre muito com a sua ausência. Não disse isso para se preocupar, mas para perceber que ele te ama e sente sua falta. Ele te pediu perdão, mãe, por tudo de ruim que lhe fez? Ele me disse que sim, que pediu que o perdoasse por tantas coisas que a feriram profundamente. E você o perdoou? Não sei porque machucamos quem amamos para depois pedir perdão. Talvez por existir o indulto vamos aproveitando as nossas fraquezas para ver se algo dá certo independente se o outro vai gostar. É um ato egoísta, mas ser adulto é ser um pouco individualista, não é? Difícil viver, mãe. Você está livre das chatices mundanas, não precisa mais lamentar as crueldades humanas. Vale a pena morrer, mãe? Como é o céu? Encontrou a vovó, o vovô e os seus irmãos? É doloroso sucumbir, mãe?

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Me conta se a dor física que sentia desapareceu. E o padecimento da alma, aliviou-se? Aplacou a dor alheia? Você chorava quando via uma notícia desagradável e eu tinha que confortá-la. Tornou-se um ritual o seu choro misturado com as minhas palavras de consolação. Mãe, você consegue me ver de onde está? Consegue me fazer parar de chorar quando sinto muita saudade como agora?

No meu aniversário em novembro recebi o seu presente enquanto olhava o céu fazendo minha prece em silêncio a você. Estava chuvoso e frio em Portugal e de repente, um arco-íris resplandeceu no horizonte. Foi mágico, mãe. Foi você que me enviou o arco-íris para me encantar nos meus anos e depois repetiu o fenómeno atmosférico hoje, no seu aniversário? Foi lindo, olhar para o céu e ao lhe dar os parabéns, o horizonte se encheu de festa colorida. Muito obrigada. Quem atendeu ao seu pedido de me presentear com o arco-íris? Foi Deus que autorizou? Ou um anjo ou Nossa Senhora que permitiu tamanha ousadia? Me conta, mãe. Fala comigo apesar deste estado incomunicável. Tenho guardadas as fotos, nas quais, fiquei segurando as suas mãos manchadas da idade como se isso pudesse impedir que partisse. A morte é traiçoeira e perversa, pois leva quem amamos diante da

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súplica de não levar. Nada adiantou, mãe, nem as orações. Não consegui te curar através da minha fé e do meu amor. Você viveu para os seis filhos e abdicou de seus sonhos e de sua liberdade. Obrigada por me entender desde pequenininha. Quando me chamavam de burra por ser muito sensível e frágil, você enfrentava todos em minha defesa. Sou o que eu sou, graças a sua sabedoria em me ver e me ajudar a não ter medo de expressarme. Muito orgulho em ser filha de uma dama que soube partir com vigor e dignidade. Esta noite te espero nos sonhos para me contar as novidades. Logo nos veremos!

Até breve! Sua filhinha que te amará eternamente. Luzinha.

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O Desabafo no silêncio

Luciene Balbino

São Paulo, 15 de novembro de 2022.

Mãe, como você está?

Eu vou indo, ainda não sei para onde, mas quem sabe?

Faz muito tempo que não nos falamos e de repente entendo a causa. Às vezes pego o telefone para te ligar mas aí acontece alguma coisa e me dispersa. Por quê?

A Bíblia diz que devemos honrar pai e mãe, eu sei, só

que na prática é difícil. Algo me incomoda quando falo consigo, talvez seja a lembrança da sua voz subjugada na minha infância. Ao mesmo tempo que me conforta, me causa incômodo. Que estranho eu perceber isso quandovirei adulta. Quando eueracriançanãosaiados seus braços e a todo momento eu te procurava para aprovar tudo o que eu fazia. Lembra, mãe, que eu pegava os bichos na fazenda e ia correndo te mostrar.

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Você ficava apavorada, com medo de eu te levar uma cobra com a maior naturalidade. Eu era destemida completamente, a única pessoa que eu tinha temor era do papai. Eu preferia enfrentar os bichos ferozes, os animais selvagens a encará-lo. Desde pequena, ele não me compreendia, me olhava com raiva e com o chinelo nas mãos estava sempre pronto a me dar umas sopapadas. Lembra que eu corria dele como o diabo foge da cruz. Nossa, às vezes eu queria que ele morresse, mãe. Que horror querer algo tão cruel do próprio pai, mas este sentimento era mais forte do que eu. Quando ele viajava a negócios era um livramento. Nós ficávamos até tarde assistindo televisão, jogando dominóse contando piadas,as quais eununca entendia. Será que eu era burra? Até hoje quando contam piada, eu fico sem graça e não acho cômica nenhuma. Olha mãe, não fique triste de eu me afastar um tempo no estado em que se encontra, mas preciso me

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aprofundar em mim para perdoá-lo de tantas mazelas. Pode ser que a mágoa que tenho de você, seja porque não enfrentava o papai. Ele preparava o cinto como se fosse chicotear o cavalo e me deixava inerte no chão, com manchas na peleque demoravam a partir de minha alma. Por que você não pedia para ele parar? Por que você nãogritava com ele e ameaçava de seseparar caso ele não parasse de me machucar? Como uma mãe pode permitir que seu marido bata na filha, tão frágil, delicadaesensível.Osroxossumiram fisicamente,mas dentro de mim há hematomas que ainda estão sujos. Eu entendo que era submissa, que dependia dele para respirar, então, por isso, algumas vezes passa a raiva que sinto de você, afinal devia ser complicado lidar com essas situações. Você sempre me contou que a vovó não te ouvia, não te dava atenção e que além de tudo era machista. Infelizmente até hoje há mulheres machistas e que acham que os homens é que devem mandar em casa. Naquela época os vícios culturais eram mais acirrados e o gênero masculino se

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considerava superior. Sabe o que é estranho, mãe, não lembro de nada bom que o papai me fazia. Na minha memória do passado destaca a autoridade do genitor. Aquela vez que ele arrumou as malas e me disse que ia embora porque eu só causava problemas e que eu não devia ter nascido, foi cruciante ouvir tais palavras. Até hoje eu me pergunto se eu devia ter nascido. Olho para o horizonte da minha janela e questiono onde será o meu lugar no mundo. Ainda não encontrei o meu canto definitivo. Onde devo morar para me curar? Sempre quando conversávamos sobre essas coisas, você me dizia: “Todo ser humano tem problemas com os pais….outro dia vi uma entrevista de uma pessoa e ela…” Era sempre assim, você queria que eu enxergasse quetodasas pessoasdevem ter reclamações a fazer dos pais. Bom, isso é verdade, mãe. Você tem razão. Talvez esteja na hora de eu crescer e sobreviver aos meus demónios.

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Vou te contar uma novidade, estou fazendo terapia e está sendo bom. Você também deveria fazer, quem sabe tanta coisa dentro de si iria embora para sempre. Todo mundo deveria fazer terapia, mãe. É muito libertador falar o que nos machuca e o que ficou guardado por tanto tempo. O engraçado é que vemos claramente que nem tudo é o que parece ser. E muitas coisas que achamos que não doía, fez-nos mais mal do que parecia bem. Agora me lembrei que você tentou fazerterapiaenãogostou.Diziaquenãoaajudavanada falar e falar sem parar e que às vezes sentia vontade de dizer ao psicólogo que ele era um idiota por achar que a conhecia. Ninguém conhece ninguém profundamente, nem nós nos conhecemos. Passamos a vida a tentar perceber quem somos e o que estamos fazendo aqui. Eu sei disso, minha pequena.

Estou mais calma após escrever-lhe esta carta, mãezinha. Não sei como vai receber essas mensagens tão diretas, mas acho que vai gostar, pois você sempre

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foi sincera e honesta com os seus sentimentos e com o dos outros, então, provavelmente vai gostar da minha fidedignidade. Como posso gritar-lhe essas palavras se está em coma? Por isso que não te ligo, é óbvio. Penso em ler esta carta para você no hospital, mas será que meu desabafo vai deixá-la triste? O que levará na hora da sua morte, alegria ou infortúnio? Não fique soturna comigo,meuamor.Pormaisqueessediscursopodeser desnecessário no momento, eu precisei registrar.

Algo importantenão pode faltar neste monólogo, ofato de que você é uma excelente mãe. Apesar dos reveses da nossa vida em comum, nós sempre cuidamos uma da outra. Tenho muita gratidão porque o seu amor, dedicação e respeito a quem eu era e sou, me impulsionou a ser a mulher que tanto admira. No fundo mãe, fazemos que tem que ser feito e estamos sempre aprendendo. Você aprendeu a ser mãe sendo, como iria saber o roteiro para exercer a maternidade. O instinto

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em ser mãe nasce com o filho saindo do ventre. Isso é tão bonito e sagrado, não é? Obrigada por tudo. Com o papai é outra história, temos muito que resolver. Vou cuidar dele quando você não estiver mais entre nós. Pode deixar, nunca vou abandoná-lo. Sei que você queria assim, não é mesmo? Esta semana vou te visitar e segurar em suas mãos, quem sabe você acorda e poderemos rir juntas das bobagens que não levamos desta vida.

Te amo, mãe. Nunca se esqueça disso.

O seu amor está impregnado em mim como o meu coração está entrelaçado ao seu.

Para sempre, juntas. Logo nos vemos.

Com amor. Lu

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CARTAS PARA AS MÃES

Marjorie de Sousa Morato

Lagoa Santa, maio de 2024.

Mãe, como a senhora está?

Escrevo para falar de mim, das minhas descobertas e raciocínios, dos pensamentos e sentimentos, trazer o prazer das conversas e poesia que tanto nos emocionam.

Mãe estou aqui para sentir-te de forma intrínseca ou será intramolhada? Encharcada num mar de sentimentos de teus fluidos onde fui gerada e dos ancestrais. Sem tu nada sinto. Contigo existo. Além tenho êxito por ser uma pessoa que segue caminhos que não me levam a ti mas em busca de mim. Mãe me carregaste no colo, na alma e tenho teu exemplo e rosto gravado em mim.

Por ventura e desventura tantas chamadas mãe contrariam o que gostaríamos. Deixando de julgar, há espaço para nós. Largando as decepções e os pesos tornamos todos mais leves.

Falando de ti, mãe que me geraste tenho a gratidão da vida. Desconheço, mas pressinto a

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Mãe

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grandiosidade do ato de esperar que me formasse em teu ventre por meses, em teu desejo talvez anos. Meses de mudanças hormonais, físicas e emocionais e permitiu a minha transformação dentro de ti. Coabitando no teu espaço sagrado. Sentindo teu coração, tua música celeste e nadando no oceano particular de águas ora revolta ora mansa. Quando fora de tu, mãe, no torpor do nascimento, da mudança de estado não sei o que senti. E agradeço por ter permitido vir ao mundo.

Mãe, que me recebeu em teus braços e coração. Que se encantou com uma menina pequena repleta de necessidades e pedindo sua atenção. Que atentou aos primeiros cuidados, a preservação da vida e qualidade do viver tenho as lições simples e complexas do convívio com uma filha inserida em uma sociedade que junto a admiração traz também a inquietação. Com desvelo e velada preocupação viveu entremeando sorrisos onde cabia soluços, beijos em feridas da alma e pele que por vezes trazia também na sua. Numa cultura controversa onde não apenas o homem não pode chorar como também a mulher necessita jurar para ser creditadas, pois no dito popular dizem “que homem que chora e mulher que jura é mentira pura”, mesmo assim as juras impostas para as

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CARTAS PARA AS MÃES

mulheres, contratos pesados cobrando pactos de silêncio, de fidelidade e de submissão e o choro do homem deslegitimado e os afastando de seus sentimentos e pensamentos. Quantas histórias de lutas e vitórias trazidas das nossas mães, avós e tantos ancestrais. Quantas vezes nosso choro é calado para não incomodar quem está perto. Sendo que essas lágrimas que caem são pérolas que precisam debulhar e cair na saia e colo para acalmar a alma e fortalecer os sentimentos. O choro não é fraqueza é a expressão da nossa humanidade, do transbordamento das nossas emoções para que possamos limpar o caminho para os sentimentos. Sem essa limpeza, as lágrimas reprimidas nos inundam criando águas paradas, transformando boas águas em más águas, mágoas. E quantas vem reprimidas em gerações que chegam. Mãe precisamos tirar essa água represada de nossas histórias. Poder chorar as alegrias e tristezas, os lutos e nascimentos, poder ver outra mulher como amiga. Aliança com a vida. Dança bela da borboleta que pousa em flores e bate as asas com firmeza e quando isso acontece uma brisa toca corações secos e áridos. Ah, mãe! Como admiro a senhora.

Mãe deixe-me contar de você para mim. Trocar o tu e ti por você me aproximando mais de você.

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Lembro da sua feminilidade, da capacidade de reinvenção e superação. Sua sede de vida. Da mãe adulta e também menina que brincava, brigava, chorava e ria. Das viagens, dos acampamentos a beira do Rio São Francisco onde a senhora despia da alta moda para brincar nas areias e tomar sol a vontade (sem tirar o glamour nos chapéus de abas largas), o cheiro dos bronzeadores, entrar e dormir em barracas e divertir, uma transgressão! Do amor a natureza e aos animais que herdei. Do seu repertório de músicas, do gosto de comer farinha que buscava na farinheira de madeira redonda. Aa maquiagens, o cheiro dos cremes e perfumes que em toda casa exalavam após seus banhos. O prazer de buscar bijuterias ou joias para aumentar tua beleza e autocuidado. Assistir televisão com você deitada no colo da vó ou no meu. Todas nós com as pernas para cima no sofá, emaranhando pés. As toucas das meias finas e caras que furaram e tiveram outra utilidade, embelezar agora para o futuro, o dia seguinte já que dormíamos com elas. Nossas conversas tão reais e profundas. Minhas ainda imaturas contrastando com as suas mais vividas e realizadas que buscavam me orientar um bom caminho. Os livros e revistas de presente. A paciência e a alegria de cada conquista e admiração. Mãe quanto quis de você em mim! Quantas vezes

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me vestiu com a consciência da moda imperecível e imortal, ou seria atemporal? Sua percepção do momento que se eterniza não pela coisa e sim pelo ser, valor e calor. Hoje estou um tanto fria talvez escrevendo essa carta a senhora, mãe, meu coração volte a aquecer e volte a sentir sua presença. Presença sentida na falta. Talvez egoísmo. Uma percepção cafona que poderia ter visto os netos. Sendo que creio que viu. Eles admiravam a vó da foto e eu contava muitas histórias nossas para eles. A foto foi guardada, mãe, eles cresceram e sabem da linda vó. O que tenho são saudades, mãe. Uma desproporção que exponho no desejo de solta-la para que possa entrar em contato de novo com você. Exagero e amor não ocupam o mesmo espaço. Vai te embora tristeza e nostalgia. Quero a mãe em mim. Presente hoje e em todos os dias.

Feliz Dia das Mães para você, meu amor. Feliz Dia das Mães para mim. Feliz Dia das Mães de si mesmo. Feliz Dia das Mães.

Amo você, sua Estrelinha.

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Matile Facó

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Minha querida mãe,

Escrevo estas palavras com o coração transbordando de gratidão e amor por tudo o que você fez e continua fazendo por mim ao longo dos anos. Desde o momento em que vim ao mundo, você tem sido minha guia, minha luz e meu porto seguro.

Nunca poderei expressar adequadamente o quanto sou grata por sua presença constante em minha vida. Seus cuidados, seu apoio incondicional e seu amor infinito são como um bálsamo para minha alma, sempre me dando forças para enfrentar os desafios da vida.

Você é a personificação do amor incondicional, da dedicação e do sacrifício. Em cada gesto, em cada palavra, em cada olhar, vejo o reflexo do seu amor por mim e por toda a família. Sua bondade e generosidade são um exemplo a ser seguido, e sua força e coragem inspiram-me a ser uma pessoa melhor a cada dia.

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CARTAS PARA AS MÃES

Mesmo nos momentos mais difíceis, você nunca desistiu de mim. Seu apoio inabalável e sua fé incansável são como um farol que me guia através das tempestades da vida. Quando tropeço, você está lá para me levantar. Quando caio, você está lá para me amparar. E quando choro, você está lá para enxugar minhas lágrimas e me lembrar que tudo ficará bem.

Sua presença em minha vida é um presente precioso que nunca deixarei de valorizar. Cada momento que passamos juntas é um tesouro que guardarei para sempre em meu coração. Seu amor é o maior presente que já recebi, e por isso sou eternamente grata.

Mãe, você é meu exemplo, minha inspiração e minha maior bênção. Obrigada por ser a pessoa incrível que você é e por me amar incondicionalmente. Que Deus continue abençoando você com toda a felicidade e amor que você merece.

Com todo o meu amor e carinho, Matile Facó

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Carta de despedida

NGRCosta

Nesse momento da vida, do descompasso, onde eu fico e você vai, nessa descontinuidade de nossas histórias juntas, e nossa história construída por nós duas, ocupando a mesma época com nossas existências percebo que você só ficou o tempo necessário para me ajudar a aprender algumas coisas. Eu achei que tivesse teacompanhandonessasuajornadadequasedespedida ao te acompanhar desde do diagnóstico até a realização de sua cirurgia, mas descobri que era você que estava dedicando a mim seu, aparente, tempo final de vida para me lançar definitivamente à minha vida, à minha existência…

Nessa experiência vi Deus em você e em mim, e pude reconhecer em você tudo que é de mais sagrado…

Só eu e você sabemos intimamente o que vivemos e o quanto o Divino amor e a presença de Deus nos orientaram até que chegássemos aqui, nessa descontinuidade da caminhada juntas por esse planeta…

Para sempre te amarei, e terei boas lembranças suas, pois foi você que me ensinou a ser forte!

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CARTAS PARA AS MÃES

Para sempre, te amo! E te amarei incondicionalmente…

Printei a tela para compartilhar com você agora…

Mais uma tentativa de interação com você pelo “Whatsapp no dia 10/02:

Mensagem enviada às 17:03:

Hoje passei aí pra cortar o cabelo, tô aqui perto pra pegar o ônibus e ir embora… Pensei em passar aí pra te visitar…mas você não responde as minhas mensagens, não quero ser inconveniente…mas você sequer responde minhas mensagens, então desisti de passar aí da última vez que fui cortar o cabelo aí perto da sua casa …Mas se você também quiser posso ir agora te ver…É só me falar, tá?!

Mensagem enviada às 17:17:

Acabei pegando o ônibus, tava frio aqui no ponto de ônibus, e você não respondia…sinto muito, mas preciseiirembora…achoquenãoviuminhamensagem a tempo…mas se quiser me receber e puder é só me falar, porque quero muito te ver…Beijos, te amo!”

Whatsapp: mensagem visualizada às 19:32 do mesmo dia. Você leu no mesmo dia, mãe, mas mais uma vez não entrou em contato comigo...

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Dia 11/02/2024 às 21:26, ainda não consigo contato com você…

Tenho medo de ir até aí e você me tratar mal, tenho medo de me sentir humilhada de novo...

Acho que você também está tentando me fazer aprender alguma coisa, né, mãe? A ser capaz de seguir sem você, sem a busca constante de seu amor, carinho e atenção,é paraeucomeçar aolhar pramim ecomeçar a viver a minha vida, não é isso mãe?

Bom, certa vez li num texto judaico que Deus havia criado as mães para substituí-lo nos cuidados com as crianças. Acho que já estou bem crescidinha aos 40 anos de idade e já sei me cuidar sozinha...

Acho que entendi mãe…

Desejo-te uma ótima recuperação, mas, realmente, preciso ir embora…

Adeus mãe...

Dê sua filha que te ama, Nívea.

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Péricles

CARTAS PARA AS MÃES

Mãe Querida

Desde a gestação até o processo do meu crescimento,

O seu amor por mim é definido como incondicional.

Capaz até mesmo de se anular em prol do meu contentamento,

Você se entrega pra me fazer o bem de forma sem igual.

Entre tantos cuidados e também tantos conselhos, Tenho que entender que a minha vida é graças a sua vida.

Eu te amo sabendo que você me amou primeiro

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EDITORA OLYMPIA

E até agradeço pela preocupação exagerada que às vezes me irrita.

Sendo mãe você é inegavelmente o meu primeiro amor,

Pois fui gerado e criado nesse sentimento por mim manifestado.

O motivo de prazer também pode ser motivo de dor,

Por naturalmente estar nos bons e maus momentos ao meu lado.

Eu nunca quis a morte de quem me deu a vida,

Mas a vida é feita de começo, meio e fim.

Só sei que eu simplesmente te amo mãe querida,

Porque sendo a minha mãe você é o amor pra mim.

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CARTAS PARA AS MÃES

E sendo o meu amor você é o amor da minha vida,

Por ter me feito nascer, crescer e viver.

Só agora eu entendo o que nem a poesia explica,

Pois até sofrer ao seu lado seria hoje um prazer.

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Querida mamãe Lena

Queli Rodrigues dos Santos

Querida mamãe, incumbiram-me de escrever tudo o que está em meu coração, para que essas folhas fiquem cheias de sentimentos e emoções, então, peço logo mil desculpas, se caso encontrar borrões e marcas deixadas por minhas lágrimas.

Tudo começou há quase cinquenta anos, quase meio século! Seu desejo era ser mãe, era ter alguém que continuasse sua história, perpetuasse o nome do vô Veli e da vó Geralda.

Então, mesmo contrariando meu pai, que ainda não queria filhos, eu cheguei. Não sei como foi sua comemoração, se ficou alegre, emotiva, se teve medo, se pensou em desistir ou teve algum arrependimento ao longo dos anos.

Mas imagino que sentiu tudo isso. Sei porque eu mesma passei pela mesma experiência, pela mistura de sentimentos que a maternidade provoca, e, por isso mesmo, te admiro ainda mais.

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CARTAS PARA AS MÃES

Admiro porque sempre foi uma mãe maravilhosa, e eu percebo que não sou nem metade do que a senhora foi, é e continuará sendo.

Quando eu era criança e adolescente, achava que era muito exigente, muito dura, muito brava. Eu achava que os outros tinham uma mãe melhor, mas eu estava errada. Estava muito errada. Eu tinha a melhor mãe do mundo, e os outros, coitados, devem ter inveja de mim até hoje.

Conselheira, amiga, ouvinte, leal, presente, bondosa, caridosa, paciente, amorosa, preocupada, mas sem intromissões, sem julgamentos, sem acusações, sem dedo apontado, me deixando tomar minhas decisões, ter minhas experiências, e quebrar a cara, como deveria acontecer.

Em resumo, me deixou viver, ser livre, ser alguém. A sua vida foi de luta, de cerceamento, de dor, de submissão, de humilhação. Talvez, por saber o que não queria pra mim, tratou de me deixar livre para voar alto, aplaudiu todas as minhas vitórias, apoiou todos os meus planos, e sonhou comigo, os sonhos possíveis e impossíveis.

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Assim eu quero ser para os meus filhos também. Só peço a Deus que eu consiga deixá-los voar tão alto quanto a senhora me deixou ir. Mas que fique claro, voar não significa ir embora, abandonar. Significa liberdade para ir onde desejar e precisar, com a certeza de ter raízes, um lugar para onde sempre voltar: seu coração e seu abraço.

Abrir o coração é sempre muito difícil, mas às vezes nos faz bem. Essa oportunidade talvez não se repita, por isso, quero aproveitá-la para expressar meu amor e gratidão. Obrigada, mãezinha, por tudo, desde sempre. Se eu tivesse que voltar ao início, te escolheria, sem dúvida alguma, como minha mãe, sempre! Te amo!

Desejo um feliz dia das mães para todas as mamães, especialmente para a melhor!

Com todo meu amor,

Queli Rodrigues dos Santos

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CARTAS PARA AS MÃES

W. Márcia Souza

Pelo lado de dentro

Alguma coisa arrebatadora, ainda desconhecida de mim, estava acontecendo: tudo à minha volta se movimentava num alvoroço, água chacoalhando em todas as direções, a temperatura do ambiente apresentava instabilidade; apesar de tentar, não consegui decifrar a causa de tamanha revolução. Sentia, como numa montanha russa, arrepios de medo intercalados por uma embriagadora sensação de felicidade, assim o anseio por liberdade eclodiu na minha alma.

Apesar do pânico, concentrei meus esforços na tentativa de investigar tal mistério, captei vozes distintas do lado de fora, barulho de objetos de metal invadiam meus dutos auditivos, inexplicavelmente todo o ruído foi substituído por uma música familiar. Dessa forma, uma sonolência me envolveu, respirei profundamente, e assim adormeci interiorizando aquela voz angelical sussurrando docilidade e confiança.

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Quando o silêncio preenchia os espaços criados por minha necessidade de ver mais além, assusteime com mãos estranhas deslizando, insistentes, de um lado para o outro e um líquido gelado surpreendeu-me ao inundar minha corrente sanguínea, porém percebi que poderia confiar e me senti fortalecida, decidida como se tivesse tomado uma injeção de ânimo, porém o cheiro de remédio não passou despercebido.

De súbito, meu coração consternou-se dentro do peito, ao identificar que a voz do anjo agora externava gritos de desespero e lamúria. Eu ali sem poder ajudar, pois não tinha a menor ideia do que se passava. Nesse ínterim, passos fortes, palavras direcionaram outras que se submetiam às ordens dadas, cheiro de sangue e álcool. A morte ameaçava ao exibir, com ousadia, a sombra da sua temida foice, em seguida um lapso de quietude seguido por suspiros aliviados possibilitaram comemorações e agradecimentos a Deus.

Após, surgiu uma singela luz que aos poucos foi se intensificando e se expandindo numa indescritível visão, alguns raios coloridos cortaram o espaço

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CARTAS PARA AS MÃES

num vai e vem encantador, senti que mãos trêmulas, porém confiáveis, se aproximavam determinadas a me alcançar, meu coração saltou até a garganta, num misto de júbilo e sofrimento, após um duelo travado entre a vida e a morte, num parto arriscadíssimo, fiz ninho nos braços do grande amor da minha vida.

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EDITORA OLYMPIA 120 EDITORA OLYMPIA Avenida Rondon Pacheco, 2300/77 Uberlândia – MG – CEP 38408-404 E-mail: editoraolympia@editoraolympia.com

“Mãe... São três letras apenas

As desse nome bendito; Também o céu tem três letras

E nelas cabe o infinito.”

Ana Beatriz Rezende Prado, Ana Nogueira, Célio D’Ávila, Cida Richetti, Dulen Santos, Erlania Francisca Teixeira, Flávia Werneck, Filipa P. Aguiar, Gislene Trindade, Graziela

Leão, Jean Javarini, Jeanne Pipa, Jonas

Matheus Sousa da Silva, Josiane A. T. De Souza, Karen Souza, Laís Soler, Luciene Balbino, Marjorie de Sousa Morato, Matile Facó, NGRCosta, Péricles, Queli Rodrigues dos Santos e W. Márcia Souza são os autores destas lindas cartas .

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