CONTOS DE FLORES & FRUTOS

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F825 Franco, Carlos (Organizador)

Contos de flores & frutos, Editora Olympia, Uberlândia, Minas Gerais, 2024

Pág.188

ISBN 978-65-86241-27-3

1.1 Literatura brasileira – Contos I Título

(81)

Dedicatória

A todos os pequenos produtores rurais e urbanos de flores e frutos, em especial os dos assentamentos do Movimento Sem Terra (MST), que têm mantido viva a produção de alimentos que chegam à mesa do brasileiro e a beleza de nossa flora, lutando também pela preservação também da fauna, em contraposição ao agronegócio da destruição, focado no mercado externo e que devasta recursos naturais sem o menor compromisso com o amanhã.

Sumário

Apresentação/Carlos Franco/Pág. 9

Encanto da terra/Ana Lins/Pág. 13

Nem sempre a vida é um mar de rosas/Ana Marta Nascimento Oliveira/Pág. 14

Pelos seus frutos os conhecereis/Ana Marta

Nascimento Oliveira/Pág. 20

Terra Devastada/Antonio Mangas/Pág. 24

O meu quintal/Auricélia Melo Feijão/Pág. 30

A sociedade das flores/Daniela Trindade/ Pág. 32

O menino e o jacarandá/Daniela Trindade/Pág.38

O pomar dos aromas e sabores/Denise Lancia/Pág. 43

Girassol/Estela Simone/Pág. 46

Flor e ser/Ester Cabral/Pág. 48

O jardim da esperança: Florescendo o amor em meio às reviravoltas/Jean Javarini/Pág. 50

O legado do cacau: Histórias e sabores do Espírito Santo/Jean Javarini/Pág. 56

Na sombra das jabuticabeiras/José Leandro de Souza Lima/Pág. 62

Do começo ao fim/José Leandro de Souza Lima/Pág. 65

Aroma de conexões: Histórias de vida e café/Katia Aparecida Chagas/Pág. 67

O cafezinho da camaradagem: Laços de amizade na sala dos professores/Katia Aparecida Chagas/Pág. 74

Viagem Mágica por entre páginas/Liah Pego /Pág. 81

Sete vidas/Lírio Reluzente/Pág. 87

Renan e Juliete, um amor Highteck/Marcelo Pires/Pág. 90

Exóticas, mas tão nossas/Massanori Takaki/Pág. 96

O Jardim das Memórias/Matile Facó/Pág. 101 Campos Gerais/Michele Maria/Pág. 105

O doce olhar dum curumim/Myron Alberto Ávila/Pág. 109

O corpo frutífero/Nico Franco/Pág. 115

A goiaba que queria ser eterna/Nilton Silveira/Pág. 118

O jardim da Dona Paula/Olivaldo Júnior/ Pág. 130

O homem que cuidava das flores/Rafael SG

Santos/Pág. 139

Índica/Renata Caju/Pág. 141

A deusa da Gabiroba/Rui Ferrer

Trindade/Pág. 149

Cupuaçu, o fruto mágico/Rui Ferrer

Trindade/Pág. 156

Éden Cor de Aço/Sávyo Fernandes/Pág. 161

Rosa da Amazônia/Silvane Silveira

Fernandes/Pág. 164

O quintal/Thais Castilho/Pág. 171

A florzinha e o frutinho/Thais Faustino

Bezerra/Pág. 174

Sabores e saberes: será que isso é apenas sonho?/William R.F. Ramires/Pág. 177

Aromas, cores e sabores/William

Zacariotto/Pág. 183

Apresentação

O Brasil, reconhecido como um dos países de maior biodiversidade do planeta, abriga cerca de 20% de todas as espécies vegetais conhecidas pela ciência, com mais de 50 mil espécies catalogadas. Segundo o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, esse número cresce a cada ano com novas descobertas, muitas delas endêmicas, ou seja, exclusivas de território brasileiro.

Essa imensa variedade botânica não apenas sustenta ecossistemas complexos, como também influencia diretamente a economia, a cultura e o bem-estar humano. São fonte de inspiração da arte em todas as suas dimensões. Melhor: são essenciais para a alimentação, a medicina, a indústria e a produção cultural, embalam sonhos, desejos, ideias e confortam aquilo que chamamos de alma.

Neste contexto, esta antologia proposta pela Editora Olympia buscou capturar a essência desses elementos naturais por meio da literatura.

As flores, por exemplo, são centrais para a reprodução das plantas, atraindo polinizadores como abelhas, borboletas, morcegos e beija-flores. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de 75% das culturas agrícolas mundiais dependem, em algum grau, da polinização animal. Sem flores, espécies

como o café, o cacau e a maçã teriam sua produção drasticamente reduzida.

No Brasil, a Amazônia e a Mata Atlântica são exemplos de biomas onde a interdependência entre flora e fauna é evidente. O pesquisador João Vasconcellos Neto, em seu estudo sobre mutualismo ecológico, demonstra como frutos da região como os do palmito-juçara (Euterpe edulis) são vitais para a alimentação de aves como o tucano, que, por sua vez, dispersa suas sementes.

Além de sustentar a vida selvagem, flores e frutos ajudam na regeneração de solos e na manutenção de microclimas.

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) destaca que espécies nativas como o pequi (Caryocar brasiliense) possuem raízes profundas que evitam a erosão no Cerrado, enquanto suas flores fornecem néctar para insetos polinizadores mesmo em períodos de seca.

O Brasil também é um dos maiores exportadores de frutas tropicais do mundo. Segundo dados do Ministério da Agricultura, em 2023, o país faturou mais de US$ 1 bilhão com as exportações de manga, uva e melão, sendo a Europa e os Estados Unidos os nossos principais compradores. Já o açaí, antes restrito à região Norte do país, hoje movimenta uma indústria de mais de R$ 5 bilhões anuais segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Além da alimentação, flores são matéria-prima para medicamentos e cosméticos. A violeta (Viola odorata), por exemplo, é usada em xaropes expectorantes, enquanto o óleo de rosa-mosqueta (Rosa rubiginosa) é valorizado na dermatologia por suas propriedades regenerativas. A empresa Natura, líder em cosméticos sustentáveis, utiliza

ativos da Amazônia, como o urucum e o murumuru, em seus produtos, gerando renda para comunidades extrativistas. Importante não esquecer que é o pau rosa da Amazônia que tornou único o famoso perfume Chanel número 5.

O drama maior é que o agronegócio brasileiro, voltado para commodities de exportação como a carne, a soja e o milho, está destruindo de forma acelerada os biomas brasileiros, comprometendo a produção de flores e frutos. Por sorte do país, hoje os assentamentos do Movimento Sem Terra (MST), tão combatido por aves de rapina travestidas de congressistas, produzem aquilo que chega à mesa dos brasileiros e que preserva os biomas e deles tira o essencial para manter o meio ambiente vivo.

O Brasil infelizmente e durante o governo de extrema direita do medíocre e nefasto Jair Messias Bolsonaro tornou-se o principal destino de agrotóxicos inclusive alguns banidos pelo rastro de destruição que deixam na terra, comprometendo inclusive a vida.

Desde a antiguidade, flores como a rosa e o lírio aparecem em mitologias e obras literárias. O poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, em seu poema "A Flor e a Náusea", usa a imagem de uma flor brotando no asfalto como metáfora de resistência. Já Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas", descreve o cerrado e seus frutos como parte da identidade do sertanejo. O Novo Testamento, que inaugura o cristianismo, também fala de flores e frutos, muitas delas, mas especialmente dos lírios a qual Jesus Cristo, o pregador palestino das montanhas, faz menção e um convite aos seus seguidores, segundo Lucas 12:27 : “olhai os lírios do campo, que não trabalham nem

tecem! E, contudo, nem Salomão em toda a sua glória se vestiu tão bem como eles”.

A proposta da Editora Olympia de reunir contos inspirados em flores e frutos visa resgatar essa conexão entre natureza e narrativa. Um conto pode explorar a memória afetiva de um avô cultivando jabuticabas no quintal, enquanto outro poderia fantasiar sobre orquídeas que guardam segredos mágicos. Como disse Clarice Lispector: "Não preciso ter esperança para agir, nem sucesso para perseverar" – assim como as flores, que desabrocham mesmo em condições adversas.

Flores e frutos, é importante salientar, são muito mais que elementos da natureza; são pilares da vida na Terra. Sua preservação é urgente diante de ameaças como o desmatamento e as mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, celebrá-los por meio da literatura, como faz esta antologia, é uma forma de perpetuar seu valor e inspirar novas gerações a cuidarem desse patrimônio inestimável da natureza, a nossa casa comum.

Encanto da terra

Era apenas mais uma menina pobre brasileira, com pés descalços tocando a terra fértil do seu país. Seus olhos, embora cansados da dureza da vida, brilhavam ao contemplar as verdadeiras riquezas que o Brasil escondia. Enquanto as pessoas corriam, sem perceber a magia ao seu redor, ela ficava ali, parada, absorvendo cada detalhe. Ouvia os cânticos dos pássaros, como uma sinfonia da natureza, e sentia o ar fresco que acariciava sua pele. No chão, pequenas flores sorriam para ela, como se soubessem que ali estava alguém que entendia sua beleza e simplicidade. E ela sorria de volta, sabendo que nessas pequenas coisas estava a verdadeira essência da vida. Era uma menina que sabia que a verdadeira riqueza não se encontrava em ouro ou prata, mas sim na capacidade de se maravilhar com as maravilhas da natureza, de se sentir parte de algo maior e mais belo. E assim, enquanto o mundo seguia seu curso frenético, ela permanecia ali, com o coração cheio de gratidão pelo presente de viver em um país tão rico em beleza e diversidade. Pois, para ela, o verdadeiro tesouro estava nas pequenas coisas, nos momentos simples que tornavam a vida extraordinária.

Nem sempre a vida é um mar de rosas

Ela era uma moça meiga, e aparentava uma doçura inigualável, e parecia que era tão calma com as águas tranquilas de um rio cristalino. Mas, ninguém imaginava que ela era bipolar, e nem que suas garras eram como uma leoa na selva ao caçar.

E quando estava em público escondia as unhas e se tornava com um gatinho indefeso. Mas, quando saía da frente dos holofotes se tornava como uma onça brava que protegia seus filhotes. Suas palavras se tornavam ásperas, azedas e amargas, e até má resposta aos pais ela dava,

Em casa era só espinhos, mas na vizinhança e na sociedade era uma flor cheirosa e delicada, e ninguém imaginava o que naquela casa se passava.

Mas, um dia inesperadamente lhe fizeram uma surpresa, onde os pais lhe prepararam uma festa para quando ela saísse do trabalho, e todos os amigos estavam escondidos em sua casa no quarto. E, quando chegou, suas palavras já azedaram o clima, que nenhum bolo doce poderia tirar o azedume, de tanto que maltratou os familiares ao chegar cansada do emprego.

De repente, em meio a tantas agressões verbais, os amigos saíram um a um do quarto, e ao passarem pela moça a olhavam, balançando a cabeça reprovando a sua atitude de ingrata por aqueles que lhe deram a vida e receberam a ingratidão de uma pessoa mimada.

E, sem saber de nada, a jovem entrou em casa, e só então percebeu do que se tratava. E sua cara foi ao chão de tanta vergonha, e maior ainda fora a tristeza de sua ingratidão por quem mais lhe amavam. Mas, agora era tarde, e todos os amigos foram embora, decepcionados com aquele triste fato, e de que quem vê cara não vê coração.

Ao ler este conto, podemos analisar uma das flores mais populares, que é a rosa, que são lindas por sua beleza e aroma, onde se homenageia seus amores, seja de filho para mãe, de namorado para namorada, ou qualquer outro sentimento e emoção.

Porém, é difícil se perceber seus espinhos, pois, se extrai dela somente o que é mais conveniente, e isso, é como mostrar somente o seu lado bom pra tanta gente. Mas, o lado espinhoso é encoberto diante de todos.

Dessa forma, precisamos ser como as rosas, mas, não deixar de lado os nossos espinhos, pois, eles também fazem parte do nosso caminho, pois, nem sempre a vida será um mar de rosas:

Um dia a gente se levanta, mas, em outro dia a gente se prostra. Um dia é de vitória, mas, o outro já é de derrota.

Outro dia estamos bem, mas, no outro não queremos ninguém batendo à nossa porta. Um dia somos amigos, mas, em outro dia estamos deprimidos.

Em certo dia estamos felizes demais, mas, em outros dias a tristeza nos tira a paz.

Às vezes conhecemos pessoas e as julgamos pela aparência. Algumas achamos orgulhosas e não percebemos que são pessoas maravilhosas.

Outras achamos que são legais, e não percebemos que são falsas e que nos desejam todo mal.

As pessoas são como flores, que às vezes exalam um bom perfume, e às vezes nos furam com espinhos profundos.

Com certeza cada de um de nós temos um pouco das rosas também, onde amanhecemos felizes, e no outro dia desferimos palavras agressivas.

Ás vezes falamos bem do próximo, e às vezes só enxergamos nele defeitos e derrotas.

São muitas as atitudes e emoções que temos na vida, seja na chegada de algo ou mesmo na despedida.

Entre elas percebemos que as flores ocupam diversos lugares no tempo, onde sua beleza e aroma envolvem o ambiente porta à dentro.

A família corre, e arruma tudo, constrói, pinta cômodos, pois, alguém especial no seio familiar está chegando

Estende lençóis, colocam cortinas, e num vaso da casa se preenche com flores fresquinhas.

Seja em qualquer ocasião familiar, as flores enfeitam a casa para comemorar uma vitória ou para mostrar que há alguém especial.

Mas, de repente o cenário muda, e as flores não mais são reluzentes, pois, são ornamentos de ocasiões fúnebres. E, agora, ao invés de receber alguém com alegria, as flores despedem pessoas em tumbas escuras e frias.

Não mais exalam seu cheiro de alguém que está para chegar, mas, exalam um aroma desagradável de alguém que parte para nunca mais voltar.

Com certeza a vida nem sempre é um mar de rosas, mas nunca maltrate alguém por causa dos problemas que você passa. Não atire nos outros os espinhos que estão em sua carne, pois, ninguém tem culpa de suas derrotas e decepções. Ofereça sempre ao outro o que é bom, e isso voltará para você em melhores ações.

Ofereça o cheiro e o aroma mais agradável, e não viva no meio dos outros ferindo e agredindo com seus espinhos afiados, pois, as palavras agradáveis e temperadas com sal são os melhores conselhos que aprendemos do nosso Pai Celestial (Colossenses 4: 6).

Que não podemos viver em um mar de rosas, que não possamos impedir a alegria daqueles que estão felizes ao nosso redor.

Que possamos viver felizes com essas maravilhosas promessas, irradiando luz e alegria aos que nos cercam e a beleza e aroma das mais belas flores, para que o mundo seja mais fácil de viver e mais leve na vida das pessoas.

Sendo assim, a beleza irá prevalecer aos espinhos e a vida será mais feliz a cada dia, pois, se Jesus caminhar conosco, iremos tratar aos outros com mais bondade, e faremos á

eles aquilo que gostaríamos que eles fizessem a nós (Mateus 7: 12).

Quando desavenças e até morte evitaríamos se não feríssemos os outros com espinhos tão fortes.

Quantas guerras e conflitos seriam evitados se cada um amasse ao próximo como a si mesmo e se colocasse no lugar dele.

Como seria bem melhor o mundo se nossas atitudes fossem de amor e respeito pelo outro. E como Deus ficaria tão feliz em ver seus filhos em paz e união o tempo todo. Por mais que sejamos maus, sabe o que Deus ainda assim pensa de nós? Jeremias 29: 11 diz que Deus não pensa mal de nós, mal Ele tem pensamento de paz a nosso respeito. Sabe o que quer dizer isso? que por mais que tenhamos espinhos afiados, Deus pensa que um dia iremos ser flores cheirosas que exalam um aroma agradável aos que estão ao nosso redor, pois, tudo o que fazemos aos outros é como se tivéssemos fazendo para Deus, assim como lemos em Mateus 25: 40.

Além de tudo que somos e fazemos, e entre tantas emoções, seja em momentos tristes ou bons, podemos ter a certeza, de que um dia as flores nunca mais não irão nos trazer tristezas, pois, Jesus nos promete nos levar para morar em um lugar onde as flores serão perfeitas, e onde suas pétalas não murcham, e pela eternidade viveremos pra sempre, por todos os nossos dias, onde nem morte, dor ou sofrimento irão existir (Apocalipse 21: 4).

Que possamos ser flores no mundo que exalem o bom perfume de Cristo aos outros. E esse é o cheiro mais

maravilhoso, pois é o cheiro de vida eterna a todos que veem e ouvem (2 Coríntios 2: 15).

Pelos seus frutos os conhecereis

Ele era um moço que ninguém conseguia entender. Um dia estava de um jeito, e no outro dia agia de maneira totalmente contrária, e cada dia que se passava era uma maneira de se viver. Quando todos o aguardavam para comemorar e se alegrar, ele estava rancoroso e seu olhar fechado dava até medo no povo. E no dia em que os amigos estavam deprimidos, ele chegava alegre e os convidava para se divertirem. Assim, ele era o sol e os amigos a lua, e nunca se encontravam em sentimentos e emoções mútuos.

Às vezes a amizade estremecia e às vezes se fortalecia.

No fundo mesmo, todos somos bipolares, pois, em cada estação sentimos algo:

Seja no verão, quanto aquecemos nosso corpo ao sol, ou quando nos refrescamos com sucos saborosos. Mas, acabamos ás vezes reclamando do sol quente nas nossas costas.

Seja no inverno, quando nos aquecemos em uma roda de conversa, ao tomar um chá ou até ver algo interessante na tela. E acabamos reclamamos do frio e nem agradecemos a Deus pela nossa coberta.

Ou quem sabe no outono, quando os ventos sopram e as folhas secas se espalham nos ares em cada ano. E acabamos reclamando porque as folhas caem e precisamos limpar o chão. E ainda não agradecemos a brisa fresca, reclamando ainda que o vento está bagunçando os cabelos em nossa cabeça

Mas, de todas as estações, a primavera nos traz mais sentimentos, pois, nela, a beleza e perfume das flores nos trazem lembranças de bons momentos. Mas, ás vezes ainda reclamamos que as flores murcham e secam e enfeiam o nosso jardim.

Às vezes somos como árvores, onde produzimos frutos bons e em outra estação frutos ruins.

Mateus 7: 16 aos 20 faz comparação do homem com as árvores, onde a árvore boa produz bons frutos, mas a árvore ruim produz frutos podres, que podem arruinar a vida dos outros. E se conhece uma árvore pelo fruto que ela dá

Geralmente quando plantamos algo que produza o que é bom, e quando vemos que seu fruto não é agradável buscamos cortar a árvore o mais rápido, para plantar outra em seu lugar.

E hoje, que tipo de árvores estamos sendo aos outros?

Árvores que produz frutos bons para alimentar os outros e lhes oferecer sombra e descanso ou frutos podres que prejudiquem a vida do próximo.

Nós somos as árvores, e nossas ações são os frutos que produzimos.

Se a árvore secar para que serve a não ser para ser lançado ao fogo como lenha?

Nós somos árvores, e quando nos afastamos de Deus secamos e não servimos mais para nada. mas, se permanecermos perto de Deus, seremos como árvores com folhagens verdes que produz muitos frutos bons (Salmos 1: 3), caso contrário seremos como a palha que o vento leva a todos os lugares sem produzir nada (Salmos 1: 4).

João 15: 5 diz que se permanecermos em Cristo daremos muito fruto. Que privilégio é ouvir isso, pois Jesus nos faz produzir boas coisas aos outros.

Sabemos que realmente às vezes as estações não são boas, mas que em cada estação do ano, além dos sentimentos, podemos aprender a lidar com vários tipos de momentos, sejam bons ou ruins.

Mas, o que importa, é que todas as estações fazem parte da vida, e temos que aprender a lidar com elas todos os dias, com a certeza de que Deus se faz presente em cada um desses momentos, segurando a nossa mão e andando conosco pelo caminho, seja nos dias alegres quanto nos doloridos.

Seja qual for a estação, que nossos sentimentos sejam controlados por Aquele que criou tudo, e por Ele estaremos seguros, pois, Ele tem o controle do mundo. E que possamos estar sempre perto de Cristo para sermos árvores que produzam bons frutos e matem a fome de muitos. E pelos nossos frutos, que são as nossas ações, irão perceber que pertencemos a Cristo e brilhamos por Ele no mundo, para honrar e glorificar o Seu Santo Nome (Mateus 5: 14 aos 16).

E o melhor de tudo, é que se formos boas árvores neste mundo, em breve iremos estar embaixo da árvore da vida

se alimentando do seu fruto na cidade santa, por toda a eternidade ao lado de Jesus (Apocalipse 2: 7; 22: 2, 19).

Que todos possam nos conhecer pelos nossos frutos, e que nossas árvores estejam com as raízes firmadas em Cristo Jesus.

Terra Devastada

Prova só este creme, Edna. É de Bacuri, sente só que delícia de cheiro. Disse a dona da lanchonete, colocando o pote branco aberto em cima do balcão.

Sabes que eu não gosto de Bacuri, acho enjoativo.

Foi a primeira vez que ouvi alguém dizer que não gostava de Bacuri. O pessoal de casa adora, eu também saboreio quando não encontro graviola. Ao sentir o aroma, de imediato me vieram as lembranças do Maguari. Vi-me em passos lentos pelo estreito caminho que dava na casa de nossos avós, local de felizes encontros de todos, aos domingos, ou em qualquer dia, especialmente quando algum tio vinha de fora, rever os velhos.

Eu vinha próximo a uma das casas do trajeto, cujas janelas estavam sempre cheias de vasos, e com coqueiros meninos ainda no vasto gramado ao redor e com algumas roseiras aqui e ali com rosas vermelhas, avizinhadas por touceiras de capim santo. Vi que alguém quis chamar minha atenção. Olhando mais atentamente percebi que uma senhora de idade em frente a casa me chamava.

Bom dia! Roberto, é Roberto o seu nome, não é? O neto do seu Domingos! Eu me chamo Carmita. disse a senhora assim que cruzei o extenso gramado.

Sim, é. Bom dia!

Desculpe interromper seu caminho, Roberto, gostaria de lhe pedir um pequeno favor. De dizer ao seu avô que eu gostaria de pedir umas informações a ele. É que, pelo que andei sabendo, uma empresa, não sei se do governo, ou particular, estaria interessada em comprar nossos terrenos aqui da redondeza. Uma coisa que já está me deixando bem preocupada. Sabe? Pra gente como nós que sempre viveu aqui, não é coisa de não ligar, não é?

Pode deixar que digo sim Dona Matilde. Nesse momento vieram do interior da casa duas meninas; uma, alta, de longos cabelos, aparentando ter seus 25 anos de idade; e outra bem mais nova e mais baixa, de belas feições e que deveria ter no máximo 16 anos. Dona Carmita me disse que as duas eram suas netas.

São como se fossem minhas filhas. Moram comigo desde que os pais, dois desmiolados, estão separados. Eles vivem na cada qual no seu canto.

Saí do local não sem antes dar uma boa olhada nas espécies de roseiras do sítio e respirando fundo para sentir bem o aroma das goiabas pra lá de maduras próximas ao barraco de dona Carmita.

Muitos podem não acreditar na existência de forças ocultas, as que se referem à alma, mas eu, de certa forma, já acreditava, e, a partir daquele contato com o sítio e o pessoal de Dona Matilde passei a ter certeza dessa existência, pois logo que saí, comecei a sentir meu corpo mais leve e uma sensação inexplicável de prazer que só pode ter vindo daquele encontro. Teria aquela senhora, ou aquele lugar, algum poder sobrenatural de emanar poderes do bem sobre as pessoas? Somou-se a isso o fato de estar caminhando por entre uma imensidão de pássaros e uma

bela vegetação colorida com predominância do verde, como era a mata das cercanias da casa de meu avô.

Chegando a casa fui logo transmitindo o recado para meu avô Domingos. Ele, pelo jeito sabia já do que se tratava e comentou em voz baixa que deveria ser sobre a turma de especuladores que andava por lá querendo comprar a preço vil as propriedades. E mais, a coisa parecia estar na casa do sem jeito, porque se tratava de projetos do governo, de criação de moradias populares, para suprir a demanda da população da cidade; coisa de país subdesenvolvido, onde a falta de planejamento causa o inchaço populacional nas capitais e o subsequente correcorre atrás de alojar as pessoas que não têm um chão para por os pés e descansar o corpo. A solução é derrubar as matas em redor das cidades e provocar a morte da flora, da fauna e o sumiço dos rios. Infelizmente.

Naquele dia só fui para cama lá pelas 22:00. Depois do jantar passamos horas na escuridão em frente a casa; contando anedotas e tentando descobrir a trajetória de satélites artificiais em meio aos milhões de estrelas, naquele céu maravilhoso que só é possível de ser avistado onde não há luz elétrica, em locais distantes da cidade. Juro que ali a televisão não fazia falta.

Lembro muito bem que acordei com o cantarolar de pássaros, que me saudavam o nascer de um novo dia. Alguns vinham mesmo pousar em um jasmimzeiro próximo à janela de meu quarto. Cenas de nossa infância como essas a gente nunca esquece.

Naquela mesma manhã fomos surpreendidos com a visita de dona Carmita e suas netas, que vieram saber pessoalmente das últimas notícias e principalmente sobre o perigo que rondava as propriedades. Meu avô, como um

bom anfitrião que era, foi logo convidando a senhora para tomar acento na sala, e começaram a conversar demonstrando já se conhecerem muito bem. As duas moças permaneceram do lado de fora e pouco a pouco começaram a trocar palavras comigo e com meus primos.

A mais nova, Júlia, era mais extrovertida que sua irmã Joana. Ela parecia não querer perder tempo com apresentações e foi logo nos convidando para que lhes mostrássemos o que havia de curioso na propriedade de meu avô. Isso foi um prato cheio para o Paulo, meu irmão, que era o mais sapeca de toda a turma. Com ele no comando, o dia seria pequeno para brincar em todos os lugares que eu mentalmente contava como certos de que ele nos levaria. Somente o banho de igarapé tomou quase toda a manhã.

Pelo meio dia, lá estava mamãe acenado para irmos almoçar, e haja paciência para esperar que todos dessem o que chamávamos de o “último mergulho”.

Depois do almoço, meu avô e dona Carmita retornaram para conversar na sala, e Paulo tratou de nos reunir para continuarmos com nossas incursões pelas capoeiras, sempre alternando com um mergulho no igarapé, não sem antes escutarmos os conselhos de prudência vindos de nossa mãe. À tarde passou como um relâmpago e quando menos esperávamos vimos que o sol já começava a sumir por detrás das matas. Hora de nos despedirmos das netas de Dona Carmita e esperar o grosso canto da Guariba ao longe, anunciando a hora de dormir.

O tempo passou, e por conta de afazeres na cidade, os encontros de família no sítio de meu avô foram rareando.

O sítio de meus pais foi vendido e mais tarde também o de meu avô. De dona Carmita e netas não mais soubemos.

Adeus tempo relâmpago de brincadeiras entre as matas e banhos de igarapés.

Não faz muito tempo, eu, que gosto de boa leitura e de garimpar curiosidades em sebos, encontrei numa capa de livro a foto que me remeteu de imediato a alguém que eu conhecia; Acima se lia o nome JULIA DO NASCIMENTO BARBOSA. Sim, era a mesma Júlia, a neta de dona Carmita.

Tratava-se de uma biografia, que fora em sua maior parte retirada dos diários de Júlia. Chegando em casa eu quis logo matar a curiosidade e comecei a procurar naquelas páginas escritos que me levassem às lembranças de nossa convivência naquelas matas, daqueles bons tempos de infância que nunca mais voltariam. E para meu grande prazer e surpresa, Julia dedicou-se num capítulo uma boa parte das lembranças ligadas à vida no sítio da avó; alguns trechos, que julguei não serem tão pessoais, traduzem tão bem as boas sensações, dos momentos vividos ali, que resolvi colocalos aqui. Claro, com o consentimento de Júlia através de um contato que foi possível pelo telefone da autora, presente na obra.

"Hoje aprendi a andar de bicicleta, e eu não imaginava que a sensação de andar em duas rodas fosse tão maravilhosa; provando que coisas pequenas e simples podem fornecer grande prazer".

"Ontem, por causa de minha mania de subir em árvores, acabei caindo da goiabeira aqui defronte de casa. Senti uma dor horrível e falta de ar. Pensei que ia morrer, mas tudo ficou bem, graças aos cuidados que recebi do Sr. Apolinário, nosso vizinho, que enrolou no meu tórax um pano embebido em

Andiroba. Foi um remédio de santo. Hoje já estou bem melhor”.

"Hoje passou o dia todo chovendo e a vovó nos levou na casa de uma senhora perto do rio maguari, onde eu não saberia ir novamente se fosse sozinha. Comemos muitos caramujos cozidos, tirados do casulo espetando-lhes um espinho de laranjeira."

"Hoje aprendemos a andar no cavalo de minha avó. Foi muito legal, tirando o detalhe de termos caído eu e minha irmã na areia, escorregando junto com o saco de trigo vazio que servia de sela".

Naquele lugar hoje não existe mais florestas nem rios, nem se pode apreciar com calma o andar do caranguejo vermelho que cruzava os caminhos quando chovia; Tampouco de noite se pode ouvir o apito da Matinta Pereira. Outrora acordávamos ouvindo pássaros, o cheiro de flores e frutos e as crianças como nós meditavam a ouvir o reclamar das galinhas. Hoje há somente um aglomerado de casas, ruído de carros e motos nas ruas, onde vivem pessoas apressadas que lutam no dia-a-dia por uma vida futura melhor, que nem sabem direito como será.

Auricélia Melo Feijão

O meu quintal

Quando era pequena, a gente morava em uma casa enorme. Meu quintal tinha poucas plantas e estava muito sujo, pois os moradores antigos não apreciavam e não gostavam tanto de limpeza. Meus pais disseram: "Vamos dar um jeito nesse quintal. Uma boa limpeza e vamos conseguir algumas mudas de plantas, como frutíferas, roseiras, hortaliças e plantas medicinais.

Então, todos os dias ao acordar, a gente ia ver como estava o nosso quintal. Plantamos de tudo e, aos poucos, as plantas cresceram tão belas. De tudo um pouco. Eu lembro que o mamão era tão docinho e grande. As malvas serviam para fazer remédio para curar as necessidades das gripes, e as rosas, essas eram perfeitas; serviam para decorar a nossa casa com perfeição.

E toda a minha infância foi assim, valorizando, cultivando e cuidando daquele quintal repleto de flores e frutos. A gente comia fruta-do-conde enorme, bananas, acerolas, além das graviolas e amoras. Já as flores como jasmim, copo-de-leite, girassol e nove-horas davam vida àquele lugar, reverberando tudo de lindo daquele lugar.

O tempo foi passando. Tivemos que nos mudar de cidade. Tudo ficou lá. Tomara que os novos donos daquela residência tenham dado continuidade a toda aquela riqueza, pois sobrevivemos da natureza. Por isso temos que cuidar e preservar com toda delicadeza.

Hoje, lembro-me com amor no coração de todo aquele quintal encantador que minha família preservou. Eles nos ensinaram que devemos sempre fazer as coisas com amor, e que tudo irá crescer e dar bons frutos de qualidade. Além de adoçar o nosso paladar, também matava a fome que existia naquele lugar.

A sociedade das flores

Num belo jardim, longe de tudo e do olhar de todos, parecia um mundo aparte, colocado para além do mundo dos céus, existia uma sociedade de flores, que falavam entre si.

Cada flor possuía a sua personalidade única e especial, o que tornava o ambiente ainda mais encantador e muito mais maravilhoso.

Entre todas as flores, estavam a Begónia, a Camélia, a Alamanda, a Caliandra e a mais requintada de todas, a rainha daquele reino paradisíaco, a flor Bromélia-imperial, que deslumbrava pela sua cor anilada e ao centro, o amarelo muito semelhante à cor do sol.

A rainha flor Bromélia-imperial, era uma flor radiante, imponente e poderosa, proeminente no seu reino, governava com sabedoria e compaixão, deslumbrava com a sua grande paixão, por aquele universo de beleza, que a rodeava.

O seu reino era um verdadeiro paraíso, onde as flores viviam em completa harmonia, paz e uma serenidade sem par. Era admirada por todos, e era respeitada por toda a sociedade floral.

Ao lado da rainha, estava um vizir, ambicioso, o Amaranto. Ele era conhecido pela sua astúcia e inteligência, mas

também pela sua infinita ambição, que se tornava cada vez mais, completamente desenfreada.

Enquanto a rainha governava com o coração, o Amaranto procurava sempre aumentar o seu poder e influência, dentro do reino das flores.

Num certo dia, quando a rainha Bromélia-imperial, realizou uma reunião com o concelho floral, anunciou que estava a planear fazer uma grande festa, para poder celebrar a chegada da primavera, que se avizinhava, faltavam poucos dias para que resplandecesse.

Todas as flores, ficaram empolgadas e satisfeitas, com a notícia dada pela sua bela rainha, e começaram a prepararse para o grande dia, que sempre exige grandes preparativos.

Enquanto isso acontecia, o Amaranto, sempre com estratagemas, via naquela festa, uma boa oportunidade, para se manifestar, revoltar e destituir a rainha, aumentar o seu poder.

Ele começou a sua conspiração, tramando os próprios planos da organização, para que o evento desabasse, chegou a boicotar os ornamentos e arranjos, e em conversa com os organizadores e intervenientes, influenciá-los com as suas falsas calúnias sobre a sua rainha, ofuscando também a sua imagem, para que assim se venha a tornar o líder supremo do reino floral.

Uma sociedade que tem bastantes incentivos, para que possa realizar os seus intentos malévolos.

O Amaranto, sabia que para alcançar os seus objetivos, precisava do apoio de outras flores importantes, fáceis de manobrar, como a Begónia e a Alamanda, porque sozinho

nada podia fazer e tinha que contar com um exército de flores leais, à soberana rainha.

Juntando um exército de flores do seu lado, podia defrontar as defesas da rainha e conquistar o trono tão desejado.

A Begónia era uma flor delicada e gentil, que sempre irradiava bondade, por onde passava e que tinha uma certa paixão escondida, pelo Amaranto, algo que ele de certa forma se apercebia, sem contudo ter absoluta certeza.

Era muito próxima da rainha Bromélia-imperial, a sua principal conselheira, pois sempre a aconselhava nas suas decisões.

O Amaranto sabia que, se conseguisse conquistar a confiança da Begónia, teria mais chances de alcançar o seu objetivo.

A Alamanda, por outro lado, era uma flor exuberante e espampanante, até um pouco egoísta, que adorava chamar a atenção para si mesma, perante todas as flores. Ela com a sua vaidade, pavoneava-se muitas das vezes, em frente a outras flores, estava sempre à procura de elogios e de um exagerado reconhecimento.

Amaranto sabia que, poderia manipulá-la facilmente a seu favor, era algo que prevalecia a sua oportunidade para a poder convencer facilmente.

Durante os preparativos para a festa, o Amaranto começou a aproximar-se mais da Begónia e da Alamanda, semeando as sementes da dúvida e ainda falsas promessas nas suas mentes influenciáveis.

Ele convenceu-as de que juntas, poderiam alcançar um lugar de destaque no reino floral, e que a rainha Bromélia-

imperial, estava cada vez mais fraca e decadente, que não tinha sequer capacidades para manter o reino, ou dar quaisquer tipos de ordens a outras flores.

As flores, seduzidas pelas suas palavras, começaram a traçar planos para derrubar a rainha e assumir o controle total do reino. Enquanto isso, a rainha Bromélia-imperial, continuava a acreditar na bondade dos seus súbditos, sem sequer desconfiar, das maquinações, que estavam a ser tramadas contra si, da parte de Amaranto.

Finalmente, o dia da festa chegou. O jardim estava repleto de flores de todas as cores, tamanhos e feitios, celebravam a chegada da primavera, com alegria e entusiasmo.

A rainha estava radiante, extasiante, recebia os convidados, que se juntavam de rompante, com sorrisos e abraços calorosos, vivia-se a primavera no seu maior esplendor.

No entanto, durante a festa, a Begónia e a Alamanda, aproximaram-se da rainha, e num momento de traição, revelaram os seus planos para tomar o poder.

A rainha ficou chocada e magoada, com a traição das suas amigas, em quem tanto confiava e admirava.

O Amaranto, tomou a iniciativa e aproveitou o caos para se posicionar, como o novo líder do reino floral. O seu pequeno exército de flores rebeldes, dominava o recinto, mas apesar de estranho que pudesse parecer, as flores que faziam parte do exército da rainha, mantinham-se paradas, sem nada fazerem, nem criavam nenhuma oposição.

Ele se autoproclamou, como o eleito, o novo governante, prometendo sérias mudanças e melhorias para todas as flores.

A sua sede de poder e ambição desmedida, logo se revelaram, transformando aquele paraíso das flores, num lugar sombrio e opressivo, após ter destituído a rainha, que desfalecida não resistia e o seu exército não se debatia, enfraquecido com a falta da sua líder.

A Begónia e a Alamanda, arrependidas, após observarem os objetivos de Amaranto, e como se tinha tornado aquele paraíso, e tendo verificado que as suas promessas vãs, nada as convenciam, apesar da sua traição, uniram-se de novo à rainha e ao restante corpo de flores leais, formando uma resistência contra o Amaranto.

Juntaram-se, e lutaram com bravura, para poder restaurar a paz e a harmonia no reino, enfrentaram o Amaranto e os seus aliados, com coragem e determinação.

Atingiram a vitória, ao lado da sua rainha, que retomou o seu trono e continuou o seu reinado. No final, a bondade e a união, prevaleceram sobre a ambição e o poder do rebelde.

O Amaranto foi deposto e exilado do reino floral, e a rainha Bromélia-imperial, voltou a reinar com sabedoria e compaixão, guiando as suas flores, para um futuro melhor, de amor e paz.

E assim, o jardim voltou a florescer, com as suas cores bem vivas e aromas, perfumes doces e mesclados, refletindo a beleza e a força da união de uma comunidade, que continuou a existir, uma sociedade de flores.

A rainha, continuou a ser adorada por todos, liderou o seu reino com dignidade, bondade e justeza, ensinando uma importante lição sobre a lealdade, a honra, amizade e a dignidade.

FLORES &

Amaranto nunca mais foi visto, ou notado perto daquela região, nada mais se soube de tão infame flor.

O menino e o jacarandá

Numa pequena aldeia, de nome Maringá, no meio da imensidão da Amazónia, onde vivia um menino de oito anos, de nome Rudá, que tinha um amigo muito especial, um grande Jacarandá, que crescia no belo jardim da casa da sua querida avó.

O menino não conseguia explicar a ninguém, como ele e o Jacarandá se comunicavam tão bem, como se entendiam.

Mas a cada dia que passava, a ligação que existia entre os dois, parecia ser ainda mais forte.

Enquanto as outras crianças, pulavam e brincavam no pequeno recinto da aldeia, o Rudá, passava horas e horas, a conversar com o seu amigo Jacarandá, contava-lhe os seus segredos, os seus medos e as suas maiores alegrias. E para sua surpresa, o Jacarandá parecia compreendê-lo e dar-lhe os melhores conselhos, talvez até os mais sábios, num mundo em que ainda não é compreensível.

Numa tarde de verão, o Rudá estava a sentir-se triste e confuso, então decidiu sentar-se ao pé do seu amigo leal, o Jacarandá, e começou a desabafar sobre os seus mais diversos problemas.

O Jacarandá balançava suavemente as suas folhas verdes e, em seguida, começou a falar com uma voz suave e melodiosa:

- Meu pequeno amigo, a vida é cheia de surpresas e de esafios, mas o que é importante, é que nunca percas a esperança;

- Lembra-te sempre, de que as tempestades mais fortes, sempre passam e que o sol voltará a brilhar na sua vida;

O Rudá olhou para o Jacarandá, com admiração e respondeu:

- Amigo, as tuas palavras, dão-me a esperança, e com o teu afeto, a inteligência para procurar soluções, para os problemas, que passam a ser menores;

Ele nunca imaginou, que uma árvore lhe pudesse dar bons conselhos, tão sábios. E a partir daquele momento, ele passou a consultá-lo, sempre que precisava de orientação.

À medida que os anos passavam, aquele que foi menino, cresceu e se tornou um jovem cheio de sonhos e aspirações. Mas, apesar de todas as mudanças, que se realizaram na sua vida, jamais deixaria de confiar nas palavras do Jacarandá. E em cada momento de indecisão, ou dificuldade, ele sabia que podia contar com a sabedoria daquele amigo especial.

Certo dia, quando o jovem já estava prestes a completar dezoito anos, uma terrível tempestade abateu-se sobre a cidade, num completo turbilhão de caos, devastadora, que parecia indestrutível, quase destruindo tudo à sua passagem.

O vento soprava forte, avassalador, toda a população se escondia, no interior das suas cabanas, as Ocas, protegendo-se o mais possível, para que não fosse arrastada.

As árvores balançavam, ficavam em perigo, de poderem ser derrubadas e arrastadas.

O Rudá, correu até ao jardim da sua avó, preocupado com o destino do seu amigo, pois no caminho daquele terreiro, tinha visto muitas das árvores arrancadas do chão, temendo que algo lhe tivesse acontecido.

Ao chegar ao jardim, atropelado pelo vento, encontrou o Jacarandá derrubado, deitado no chão, com algumas das suas raízes expostas, parecendo estar a esbracejar na tentativa de sobreviver aquele tormento.

O coração do Rudá, encheu-se de tristeza, porque ao olhar para o seu amigo, naquele estado tão lamentável, via-se impossibilitado de o erguer.

Ajoelhou-se ao seu lado e segurou num dos seus maiores ramos, que mais parecia uma mão estendida, esperando que ele ainda estivesse vivo e reagisse.

Para sua surpresa, o Jacarandá abriu os seus olhos, que sobressaiam aguçados do seu tronco e sorriu para o jovem, embora com dificuldade, porque as forças já lhe faltavam para que se pudesse erguer, e voltar a levantar-se.

A sua voz era fraca, mas as suas palavras eram bastante reconfortantes e bem expressivas:

- Meu amigo, chegou a hora de partir, não chores. Nem te preocupes, porque estarei sempre ao teu lado, protegendote e guiando-te na tua longa jornada;

- Lembra-te de que, as raízes e os galhos de uma árvore, são como os laços que nos ligam, aos nossos entes mais queridos, mesmo quando estamos distantes;

Com lágrimas nos olhos, Rudá abraçou-o numa última vez, sentindo uma gratidão imensa, por estar naquele momento

a seu lado e que se recordava de tudo o que tinha feito por ele, ao longo de todos estes anos.

Chegou o momento em que disse:

- Meu caro amigo, vou sentir a tua falta, mas estarás sempre a meu lado, no meu coração;

- Não penso neste momento, como uma despedida, mas como uma ligação duradoura e eterna;

E enquanto, o Jacarandá lentamente fechava os olhos e silenciava a sua voz, o jovem sabia que o seu amigo, nunca o abandonaria.

Desde aquele dia, o jovem seguiu o conselho do jacarandá, e tornou-se um homem sábio e compassivo.

Ele plantou uma muda de jacarandá, no mesmo jardim onde o seu amigo tinha crescido, para que a sabedoria e o amor que ele tinha recebido, pudessem ser passados para as gerações futuras.

E assim, a estória do menino, que falava e se aconselhava com o Jacarandá, tornou-se uma lenda, naquela pequena aldeia, em que os seus habitantes protegiam as suas árvores, e seria sempre lembrado por todos, que o verdadeiro amor e a verdadeira amizade, podem transcender até mesmo as barreiras da vida e da morte.

O menino e o Jacarandá seguiram juntos, eternamente ligados num vínculo de amor e confiança, que jamais poderia ser quebrado. Pois apesar de não ter prolongado a sua existência, este permanecia na lembrança e no coração puro de Rudá.

Cada vez que olhava para o local onde habitou a árvore, recordava os momentos felizes que passaram juntos, das brincadeiras e dos segredos compartilhados. E, ao sentir a

brisa suave que esvoaçava, sobre a sua cabeça, Rudá sabia que o espírito do seu amigo continuava ali presente.

Com o passar do tempo, a muda de jacarandá, que tinha plantado, estava a crescer forte e majestosa, agora já espalhava a sua beleza, tornando-se um refúgio para os pássaros e animais que ali habitavam. E Rudá, continuava a visitar esta pequena árvore regularmente, renovando assim a sua conexão com o seu querido amigo.

A sua estória demonstrou um exemplo de amizade verdadeira e eterna. Rudá, sabia que, apesar da ausência física do seu amigo, ele estava sempre presente no seu coração.

O pomar dos aromas e sabores

Era uma manhã de primavera, e Clara passeava pelo velho pomar de sua avó, agora abandonado, mas repleto de lembranças de sua infância. O ar estava impregnado com o perfume das flores e frutas que outrora enchiam seus dias de alegria e descobertas.

Ao atravessar o arco de roseiras, o cheiro doce e ligeiramente apimentado das rosas despertou em Clara a memória dos verões passados em meio aos canteiros floridos. Ela se lembrou de como, quando menina, colhia pétalas para fazer perfumes imaginários, misturando-as com água em pequenos frascos de vidro. A fragrância das rosas a envolvia como um abraço, trazendo consigo a lembrança da risada de sua avó, que sempre a observava com ternura.

Mais adiante, Clara se deparou com a fileira de pessegueiros. O aroma adocicado e suculento dos pêssegos maduros a transportou instantaneamente para os dias ensolarados em que ela subia nas árvores para apanhar as frutas mais altas. Ela podia quase sentir a textura aveludada dos pêssegos em suas mãos, a suculência que escorria pelos dedos quando davam a primeira mordida, e o sabor incomparável que explodia em suas bocas. Esse gosto único trazia uma sensação de felicidade pura e simples, um sabor que parecia encapsular toda a essência da infância.

Ao se aproximar do antigo pé de limoeiro, Clara sentiu o aroma cítrico e fresco que lhe trouxe a memória das tardes

de limonada caseira. Sua avó sempre dizia que os melhores limões eram aqueles colhidos diretamente do quintal. Clara recordou o ritual de colher os limões, cortar cada um com cuidado e espremê-los até extrair cada gota de suco. O cheiro ácido misturado ao doce do açúcar formava uma combinação inconfundível, capaz de refrescar até o mais quente dos dias de verão.

Caminhando mais um pouco, Clara chegou ao campo de lavanda, cujas flores roxas ainda exalavam um aroma calmante e familiar. Era ali que ela costumava passar as tardes, deitada entre as plantas, olhando para o céu e deixando o perfume suave da lavanda relaxar sua mente. A lavanda trazia de volta a tranquilidade das noites de verão, quando sua avó fazia pequenos sachês com as flores para colocar nas gavetas de roupas, perfumando tudo com aquele cheiro reconfortante.

Por fim, Clara encontrou-se diante das macieiras, cujas flores brancas e delicadas exalavam um perfume sutil, mas inebriante. Ela lembrou das tortas de maçã que sua avó assava, o cheiro de canela e maçã que tomava conta da cozinha, e a primeira mordida na massa crocante recheada com maçãs caramelizadas, que fazia seu coração se aquecer de alegria e satisfação.

Clara fechou os olhos e respirou profundamente, absorvendo todos os aromas ao seu redor. Cada cheiro trazia uma memória, uma emoção, um fragmento de sua história. Naquele velho pomar, as flores e frutos eram mais do que apenas plantas; eram guardiões das suas memórias olfativas e saborosas, tesouros de uma infância feliz.

Clara então abriu os olhos bem devagar, sentindo-se envolta por um manto invisível de aromas e lembranças. O pomar, com suas flores e frutos, parecia sussurrar

segredos antigos, segredos de tempos. Clara então abriu os olhos bem devagar, sentindo-se envolta por um manto invisível de aromas e lembranças. O pomar, com suas flores e frutos, parecia sussurrar segredos antigos, segredos de tempos onde o simples ato de colher uma fruta ou inalar o perfume de uma flor trazia uma felicidade genuína e imediata.

Ela se abaixou e pegou um punhado de terra, sentindo o cheiro terroso e reconfortante que completava a sinfonia de fragrâncias ao seu redor. Naquele momento, Clara percebeu que cada aroma e sabor guardava um pedaço de sua essência, uma parte de quem ela era e de onde vinha.

Enquanto caminhava de volta para casa, levando consigo um ramo de lavanda, um pêssego maduro e algumas pétalas de rosa, Clara sentiu que, de alguma forma, sua avó ainda estava ali, presente em cada fragrância, em cada sabor, em cada memória. E, com um sorriso nos lábios, ela prometeu manter vivo o legado perfumado e saboroso do pomar, para que as futuras gerações também pudessem sentir e saborear a magia daquele lugar.

Assim, o velho pomar não era apenas um pedaço de terra abandonado, mas um jardim encantado, onde flores e frutos eram guardiões de memórias inesgotáveis de alegria. Era um lugar onde Clara sempre poderia voltar para se reconectar com a saborosa pureza de sua infância e o amor eterno de sua avó, envolta em um abraço perfumado que nunca a abandonaria.

Girassol

Estela Simone

À primeira vista, um girassol em preto e branco parece tão desolador.

Ora, estamos falando de uma flor tão brilhante, por que não trazer um pouco de cor?

Gosto de pensar além da aparência.

Um girassol será sempre um girassol, nada é capaz de mudar sua essência.

No entanto, o girassol parece um tanto desbotado.

A vida o maltratou, está um pouco desanimado.

Não consegue enxergar a luz. No próprio reflexo, vê apenas espanto.

Quer de volta o seu brilho, quer ter o poder de causar encanto.

Gostaria de ser vermelho como as rosas e despertar paixões.

Às vezes, queria ser marcante como as orquídeas e enfeitar inesquecíveis canções.

Noutros momentos, deseja a fragilidade das margaridas, tão cercadas de atenções.

Sempre, quase sempre, almeja a eternidade das tulipas; gravadas eternamente nos corações.

O que o doce girassol não consegue perceber; às cores estão por toda parte.

No verde da esperança, no amarelo da felicidade, no marrom da perseverança.

E para os sensíveis observadores, no alaranjado da poesia; ao pôr do sol, uma linda dança.

Mas o girassol está em preto e branco, afinal.

Sim, e isso faz dele um girassol sem igual.

Quando der um pequeno sorriso, as cores retornarão vibrantes, tal qual luzes de Natal.

Compreende, lindo girassol, o quanto é especial o simples ato de colher uma fruta ou inalar o perfume de uma flor trazia uma felicidade genuína e imediata.

Flor e ser

Ester Cabral

No cieiro, eu nasci. Como e de onde vim, não sei dizer. Apenas existo. Não me perco em questionamentos, não procuro entender o que não compreendo, apenas existo. A simplicidade do ato de ser supre qualquer dúvida que possa ter.

Minhas irmãs chacoalham com a brisa e eu sigo, apenas sendo. A melodia do vento, o cantar dos pássaros que nos sobrevoam me faz querer dançar, e apenas danço, porque sinto que deve ser assim.

A noite cai e as estrelas decoram o céu, existindo em sua existência finita a anos-luz de distância. Apenas sendo estrelas em um lugar que nunca chegarei.

A noite lentamente vai embora e o orvalho me aljofrar e me alimenta. A chuva me sacia e me mantém viva, faz-me continuar sendo uma flor no cieiro.

Porém, um dia, eu deixo de ser uma flor do cieiro. Dedos me capturam e me puxam de minha morada. Assim como minhas irmãs.

Existimos numa escuridão que se move e, quando a noção de tempo some, vemos o sol outra vez.

O que aconteceu, não sei dizer. E desisto de explicar quando vejo outras de mim. Diferentes de mim, mas todas apenas existindo naquele ambiente artificial.

Em outro tempo, forçam-me junto de minhas irmãs e nos envolvem em um objeto feito por mãos humanas.

Questiono, mas não compreendo. E apenas existo.

A mão, talvez não a mesma, nos captura e nos leva para longe, mais uma vez.

Vejo o céu tingido de cinza pelas nuvens, que havia se tornado apenas uma lembrança em um tempo perdido.

A mão nos passa para outra mão. Balançamos com força e nos apertamos contra nós mesmas.

Logo, atingimos o chão artificial, duro e áspero. Tendo minhas pétalas amassadas e minha beleza destruída, apenas existo, enquanto a chuva tenta me manter viva mais um pouco.

O jardim da esperança: Florescendo o amor em meio às reviravoltas

Havia um jardim no coração capixaba do Espírito Santo, onde as flores eram a expressão viva do amor entre um casal. Entre as pétalas coloridas de rosas, tulipas, girassóis e margaridas, eles cultivavam um vínculo caloroso, mais forte que qualquer vento ou tempestade. O casal, composto por um marido e uma esposa, encontrou no jardim um refúgio para seus sentimentos mais profundos.

Ali, entre orquídeas e lírios, eles nutriam o amor que florescia em seus corações como uma dália desabrochando sob o sol. Certa vez, enquanto admiravam a beleza das violetas à luz da lua, o marido anunciou uma notícia que fez o coração da esposa preencher-se de alegria: eles seriam pais. Um sorriso caloroso iluminou seus rostos enquanto abraçavam a nova vida que estava por vir. Naquela noite, embalados pela serenidade do jardim e o canto suave dos pássaros em seus ninhos, eles compartilharam suas histórias, canções e esperanças para o futuro. Sob o céu estrelado, prometeram-se amor eterno, como as flores que desabrochavam sob os primeiros raios de sol da manhã. Com o passar dos meses, o jardim testemunhou o crescimento do amor daquele casal, assim como o crescimento da barriga da esposa. Entre momentos de

felicidade e ternura, eles cuidavam do ninho que preparavam para receber seu pequeno milagre. E quando o dia finalmente chegou, e o sol brilhava sobre o lago tranquilo próximo ao jardim, nasceu uma linda menina, trazendo consigo uma nova fragrância de vida e esperança. No caloroso abraço do marido e da esposa, envoltos pelo aroma das flores e o cheiro fresco da natureza, eles souberam que aquele era o momento mais feliz de suas vidas. E ali, naquele jardim que testemunhou sua jornada de amor, eles encontraram o conforto e a presença um do outro, celebrando a vida com alegria e gratidão.

Com o passar dos anos, a pequena menina cresceu entre as pétalas do jardim, tornando-se uma jovem cheia de alegria e energia. Seus risos ecoavam pelos campos floridos, enchendo o coração dos pais de orgulho e amor. Em uma tarde ensolarada, enquanto colhia algumas violetas para enfeitar a casa, a jovem conheceu um rapaz cujo sorriso era tão radiante quanto o sol. Ele era um músico itinerante, cujas canções eram tão suaves quanto o perfume das flores. Entre o jasmim e o cravo, nasceu uma amizade que logo floresceu em um belo romance. O jovem casal passeava pelo jardim de mãos dadas, perdendo-se nos olhos um do outro como se fossem lírios à deriva em um riacho calmo. Com a bênção dos pais, o amor entre a jovem e o músico cresceu como uma orquídea em flor, enchendo o jardim com uma nova harmonia. Eles compartilhavam momentos de serenidade à beira da lagoa, onde os lírios dançavam na brisa suave e os pássaros cantavam canções de felicidade. Em uma noite de lua cheia, o músico pediu a mão da jovem em casamento, sob um arco de violetas e pétalas de rosas. Com lágrimas de alegria nos olhos, ela aceitou, sabendo que aquele era o começo de uma nova história de amor. E assim, o jardim testemunhou mais uma vez o poder do amor verdadeiro, enquanto o casal trocava votos de amor

eterno sob o caloroso abraço do luar. O perfume das flores impregnava o ar, anunciando um novo capítulo de felicidade e plenitude naquela terra abençoada pelo sol e pelas flores.

No jardim onde as flores eram guardiãs do amor e da felicidade, surgiu um novo capítulo repleto de surpresas e encantos. Desta vez, era um casal de idosos, cuja história era tão profunda quanto as raízes das árvores que circundavam o jardim. O marido, com os cabelos já prateados pelo tempo, dedicava-se ao cultivo das flores com a mesma paixão de sua juventude. Sua esposa, de mãos gentis e olhos brilhantes, preenchia o jardim com seu amor e sabedoria. Apesar dos anos que haviam passado, o caloroso vínculo entre os dois permanecia tão forte quanto o sol que banhava o jardim todas as manhãs. Eles caminhavam de mãos dadas entre os canteiros de flores, compartilhando sorrisos e histórias de uma vida vivida com amor e gratidão. Certa tarde, enquanto admiravam as margaridas que dançavam ao vento, o marido surpreendeu sua esposa com uma notícia emocionante: eles seriam bisavós. O brilho de alegria nos olhos dela era como o reflexo do sol nas águas calmas de um lago sereno. O casal preparou o ninho com todo carinho, ansiosos para receber o novo membro da família. Entre as pétalas das flores e o aroma do jasmim, eles encontravam conforto na presença um do outro, compartilhando o calor de uma vida bem vivida. Quando o dia do nascimento finalmente chegou, o jardim foi tomado por uma nova onda de felicidade e emoção. O choro do bebê ecoou pelos campos floridos, enchendo o coração das bisavós de alegria e esperança. E ali, naquele jardim que testemunhou tantos momentos de amor e harmonia, o casal abraçou o novo capítulo de suas vidas com serenidade e gratidão. Pois sabiam que, assim como as flores que desabrochavam sob os raios do sol, o

amor e a vida continuariam a florescer, alimentados pela força inabalável do coração.

Em meio ao jardim, onde as flores exalavam seus mais doces aromas e as cores vibrantes encantavam os olhos, surgiu um novo casal, jovem e cheio de sonhos. Eles eram como duas pétalas que dançavam ao vento, unidas pela promessa de um amor eterno. O rapaz, com sua paixão pela natureza, encontrou naquele jardim um refúgio para sua alma inquieta. Enquanto a jovem, com seus sorrisos radiantes, preenchia o ar com uma alegria contagiante. Entre os canteiros de violetas e cravos, o amor entre os dois florescia como uma linda dália em plena primavera. Eles passeavam de mãos dadas à beira do lago, onde as águas tranquilas refletiam a serenidade de seus corações. Certa tarde, enquanto colhiam algumas tulipas para decorar sua casa, o rapaz surpreendeu sua amada com uma notícia que encheu seus olhos de felicidade: eles seriam pais. O caloroso abraço que se seguiu era como o sol que aquecia o jardim em um dia de verão. Juntos, eles prepararam o ninho para receber seu pequeno milagre, cercando-o com todo amor e cuidado. E, quando finalmente o bebê chegou, o jardim foi inundado por uma nova onda de alegria e vida. Entre risos e lágrimas de felicidade, o jovem casal segurou seu filho nos braços, prometendo protegê-lo e amá-lo para sempre. E ali, naquele jardim abençoado pelo sol e pelas flores, eles celebraram o presente da vida com o coração transbordando de gratidão e amor.

No jardim encantado, onde as flores eram guardiãs de segredos e histórias, surgiu um novo casal, diferente de todos os outros. Eles eram como duas almas que se encontraram para colorir o mundo com sua presença. A mulher, uma botânica apaixonada pela beleza das plantas,

encontrou no jardim um santuário para sua alma inquieta. Seus olhos brilhavam de admiração ao contemplar cada flor, como se cada uma fosse uma obra de arte única. Já o homem, um poeta sonhador, descobriu no jardim a inspiração para suas mais belas palavras. Entre as pétalas de lírios e jasmins, ele encontrava a serenidade necessária para dar vida às suas poesias. No caloroso abraço do jardim, o amor entre eles cresceu como um girassol em busca da luz do sol. Eles compartilhavam momentos de felicidade e cumplicidade, rodeados pelo perfume das flores e pela música suave do vento. Certa tarde, enquanto exploravam os recantos secretos do jardim, o homem surpreendeu sua amada com uma notícia que fez seu coração transbordar de alegria: eles se tornariam pais. O sorriso radiante dela era como o sol que iluminava o jardim em um dia de primavera. Juntos, eles prepararam o ninho para receber seu pequeno tesouro, ansiosos para compartilhar com ele o amor que transbordava de seus corações. E quando finalmente o bebê chegou, o jardim foi tomado por uma nova onda de vida e esperança. Entre risos e lágrimas de emoção, o casal segurou seu filho nos braços, prometendo protegê-lo e cuidar dele para sempre. E ali, naquele jardim mágico onde as flores dançavam ao som da brisa, eles celebraram o presente da vida com gratidão e amor.

À medida que os anos passavam, o jardim continuava a ser o cenário de novas reviravoltas e surpresas. Novas gerações de flores floresciam, enquanto o ciclo da vida seguia seu curso. Um dia, uma estranha notícia chegou ao jardim: uma tempestade feroz estava se aproximando, ameaçando destruir tudo em seu caminho. O casal, agora mais velho, olhou para o jardim com preocupação, temendo pelos tesouros que tanto amavam. Mas em meio ao caos iminente, algo inesperado aconteceu. As flores,

unidas pela força do amor e da esperança, decidiram enfrentar a tempestade juntas. Como um exército de cores e aromas, elas resistiram bravamente aos ventos furiosos e à chuva torrencial. E quando a tempestade finalmente passou, o jardim emergiu mais forte do que nunca, com suas flores erguendo-se orgulhosamente em direção ao sol. O casal, maravilhado com a resiliência da natureza, sorriu ao ver seu jardim renovado e repleto de vida. Entre os canteiros de pétalas, novos personagens surgiram, trazendo consigo novas histórias e aventuras. O jardim tornou-se um refúgio para aqueles que buscavam conforto e inspiração, um lugar onde o amor e a beleza floresciam em meio às adversidades. E assim, o jardim no coração capixaba do Espírito Santo continuou a ser um símbolo de esperança e renovação, lembrando a todos que, mesmo nos momentos mais sombrios, há sempre luz e beleza esperando para florescer. E sob o caloroso abraço do sol, o jardim continuou a ser um lugar onde os corações encontravam paz, onde os sonhos ganhavam vida e onde o amor florescia para sempre.

E assim, com o jardim como testemunha e guardião de tantas histórias e emoções, o ciclo da vida continuou a se desenrolar. Cada flor, cada pétala, cada perfume exalado, contava uma parte da jornada daqueles que passaram por ali, deixando uma marca indelével no coração do jardim e na alma daqueles que o visitavam. Pois, no final das contas, o verdadeiro significado da vida estava ali, entre as cores e fragrâncias, onde o amor, a esperança e a beleza floresciam eternamente.

O legado do cacau: Histórias e sabores do Espírito Santo

No coração do Espírito Santo, a fazenda dos avós de Ana era um refúgio de tranquilidade e emoções intensas. Dona da propriedade, Dona Helena, tinha uma paixão pelo cacau que era contagiante. Os sorrisos calorosos dos trabalhadores e os ventos suaves que traziam o aroma das árvores de cacau preenchiam o ar com um sentimento de paz e realização. Em tardes chuvosas, as crianças corriam sob os olhares atentos dos pássaros que faziam seus ninhos nas copas das árvores. As histórias de vida contadas por Dona Helena, entremeadas por canções antigas, encheram o coração de Ana com uma admiração profunda e uma conexão com suas raízes. Os momentos felizes passados na fazenda deixavam uma memória viva de alegrias, reencontros e satisfações. A dedicação dos trabalhadores, a paciência no cultivo e o orgulho nos olhos de quem colhia os frutos eram uma constante lembrança das forças invisíveis que moviam aquelas vidas. Os rios que serpenteavam pela propriedade, como o Rio Doce, traziam notícias de lugares distantes e enchiam de esperança os horizontes daquelas terras. As tardes eram marcadas pela presença reconfortante dos avós e amigas, cuja cumplicidade e confiança traziam conforto e serenidade. A gratidão pelos pequenos confortos e pelas grandes

realizações era palpável. A cada nova safra, havia uma sensação de surpresa e gratificação, uma harmonia perfeita entre a natureza e o trabalho humano. Ana observava tudo com olhos cheios de esperança e responsabilidade. Os sabores do cacau, tão diversos quanto as emoções que preenchiam seu coração, eram um lembrete constante da riqueza e do respeito pela terra que seus avós cuidavam com tanto amor. As tristezas e alegrias se misturavam nas canções e histórias compartilhadas, criando uma tapeçaria de memórias que ela levaria para sempre. Em uma tarde especialmente chuvosa, Ana sentou-se à beira do rio e deixou-se levar pelas canções dos pássaros e pelo som da água. Sentiu uma profunda gratidão por fazer parte daquela história, por viver momentos tão intensos e felizes, por sentir a força do cacau e a conexão com suas raízes capixabas. Ela sabia que a serenidade e a paz que sentia ali eram o legado de seus avós, um presente que ela levaria consigo para sempre, preenchendo sua vida com as mais doces emoções. Os campos de cacau na fazenda dos avós de Ana eram um espetáculo para os olhos e uma dádiva para o coração. As árvores, com seus troncos robustos e folhas verde-escuras, sustentavam vagens que iam do verde ao marrom intenso. Durante as colheitas, a tranquilidade da fazenda se misturava com a agitação alegre dos trabalhadores. Cada vagem de cacau era cuidadosamente cortada e aberta, revelando as sementes cobertas por uma polpa doce e aromática. O sabor dessa polpa era um deleite único, um sabor que carregava a essência da terra capixaba. Ana adorava participar desse processo, sentindo-se parte de algo maior, algo que conectava gerações e culturas. O cacau passava por várias etapas até se transformar em chocolate. A fermentação das sementes, realizada em caixas de madeira cobertas por folhas de bananeira, era uma fase crucial. A temperatura elevada e a presença de micro-organismos naturais davam

início à transformação bioquímica que realçava os sabores. Durante esse processo, os ventos carregavam o aroma rico e encorpado, que preenchia a fazenda com uma fragrância inconfundível. Após a fermentação, as sementes eram secas ao sol em grandes terreiros. Os trabalhadores viravam as sementes manualmente, garantindo uma secagem uniforme. Ana observava com admiração e respeito a paciência e dedicação necessárias para cada etapa. O calor do sol, combinado com a brisa suave, acelerava o processo, trazendo uma sensação de gratificação a todos. Nas tardes mais tranquilas, quando o sol se punha e os ventos traziam uma brisa refrescante, Ana e seus avós caminhavam pelos campos, compartilhando histórias e canções antigas. Esses momentos de conexão e harmonia eram preciosos, preenchendo suas vidas com alegria e serenidade. A fazenda não era apenas um local de trabalho, mas um espaço de memória e esperança, onde cada árvore de cacau simbolizava a continuidade da vida e da tradição. Os rios que cortavam a fazenda, especialmente o majestoso Rio Doce, eram fontes de vida e inspiração. Suas águas traziam a promessa de novas colheitas e renovavam as esperanças de todos. Ana sabia que, assim como os rios, a força do cacau corria nas veias de cada capixaba, trazendo consigo a promessa de um futuro doce e promissor. Assim, entre as alegrias do presente e as esperanças do futuro, a fazenda de cacau dos avós de Ana se tornava um símbolo de força e resiliência, um lugar onde a dedicação e o amor pela terra transformavam vidas e deixavam um legado de felicidade e orgulho. As sementes de cacau, uma vez secas, eram levadas para o beneficiamento. No pequeno galpão da fazenda, máquinas rústicas, mas eficientes, removiam as cascas e trituravam as amêndoas, transformando-as. Esse processo era acompanhado de perto por Dona Helena, cuja experiência garantiu que cada etapa fosse executada

com perfeição. Ana adorava o cheiro que permeava o galpão durante a torra, um aroma quente e reconfortante que preenchia o ar. As tardes chuvosas, em contraste, traziam uma sensação de serenidade e introspecção, enquanto os trabalhadores aproveitavam para compartilhar histórias e canções. Um dia, enquanto observava o processo de torrefação, Ana sentiu uma onda de gratificação e orgulho. A transformação em uma pasta suave e rica, o licor de cacau, era mágica. Misturado com açúcar e leite, esse licor se tornava o chocolate, um alimento que levava consigo as forças da terra e o trabalho dedicado de tantas vidas. A fabricação do chocolate na fazenda não era apenas um trabalho, mas uma celebração.

Cada barra produzida carregava os sabores e sentimentos da fazenda. As emoções de quem trabalhava ali, desde a gratidão até a satisfação, estavam presentes em cada mordida, tornando o chocolate algo mais do que um simples alimento. O orgulho de Dona Helena era evidente quando falava dos produtos da fazenda. Ela compartilhava as histórias de cada colheita, os momentos de dificuldade e as conquistas, enchendo os olhos de Ana de esperança e confiança. A fazenda era um símbolo de responsabilidade e respeito pelo meio ambiente e pela comunidade capixaba. Nos dias de festa, as barras de chocolate eram distribuídas entre amigos e familiares. Os sorrisos calorosos e os reencontros preenchiam o coração de Ana com uma profunda sensação de conexão e harmonia. A alegria de ver as pessoas apreciando o cacau cultivado com tanto carinho era indescritível. Ana sabia que seu futuro estava ligado àquele lugar. A memória dos avós, a dedicação e a paciência de todos, a presença reconfortante dos rios e a beleza das tardes chuvosas compunham um cenário de paz e felicidade. A fazenda era mais do que terra e plantas; era uma parte viva da cultura capixaba, uma fonte de inspiração e serenidade. Assim, a força do cacau no

Espírito Santo não estava apenas nos frutos, mas nas vidas que ele tocava e transformava, enchendo cada coração com os mais variados sentimentos e deixando um legado de alegria e esperança. A fazenda de cacau dos avós de Ana estava agora em plena produção, e cada etapa do processo era uma dança de técnicas tradicionais e amor pela terra. O licor de cacau, transformado em chocolate, era o resultado de anos de dedicação e paciência. Os chocolates eram embalados com esmero, cada embalagem contando uma história de tradição e orgulho capixaba. Em um dia particularmente ensolarado, a fazenda recebeu visitantes importantes: chefs de renomados restaurantes locais e jornalistas interessados na história e nos produtos de Dona Helena. Eles queriam saber mais sobre a origem dos sabores que encantavam paladares ao redor do mundo. Ana, ao lado de seus avós, mostrou com orgulho cada etapa do processo, desde a colheita até a produção final. Os visitantes ficaram impressionados com a qualidade e a dedicação que envolviam cada barra de chocolate. A fazenda se tornou um centro de aprendizado, onde novas técnicas de cultivo sustentável eram compartilhadas com outros produtores locais. Os avós de Ana eram vistos como pioneiros e mentores, suas histórias inspirando muitos outros a valorizar e preservar o cacau capixaba.

À medida que os anos passavam, Ana assumiu mais responsabilidades na fazenda. A presença constante dos avós e o legado de amor e respeito pela terra guiavam suas ações. Ela introduziu novas práticas, sempre mantendo a essência do trabalho de seus avós. O impacto da fazenda crescia, trazendo mais notícias de reconhecimento e prêmios por seus produtos excepcionais. Em uma tarde serena, Ana refletiu sobre a jornada que a fazenda havia percorrido. As forças invisíveis do cacau, as alegrias e tristezas compartilhadas, as emoções que preencheram

cada momento – tudo isso estava impresso na terra e no coração das pessoas que ali viviam. Os rios continuavam a fluir, as árvores de cacau continuavam a florescer, e a memória dos avós continuava a inspirar. Ana sentiu uma profunda gratidão e uma alegria imensa ao ver o legado de seus avós vivo e florescente. O cacau não era apenas um fruto, mas uma força que conectava gerações, que trazia esperança e felicidade, e que enchia cada coração com o sabor da vida. A fazenda, com seus sabores e histórias, era uma parte inseparável do Espírito Santo e das vidas capixabas. E assim, a fazenda de cacau continuou a prosperar, um símbolo de dedicação, amor e esperança. As canções dos pássaros, o murmúrio dos rios e os ventos suaves compunham uma sinfonia de emoções, eternamente gravadas no coração de Ana e na terra que ela chamava de lar.

Na sombra das jabuticabeiras

O despertador já indicava que batia às cinco da manhã. Ao levantar, quase que no automático, espreguiçar-se, pois o caminho seria longo. Quantos conhecidos iriam nos cumprimentar durante aqueles trinta minutos de caminhada até o sítio de vovó Ziziu?

Mãe já visitava os quartos pela segunda vez, e nenhum moleque se atreveria a esperar a terceira chamada, pois sabia com quem lidava. Respeito e ordem eram levados a sério.

Uma pequena fila se formava para usar o banheiro, enquanto isso, a mesa do café já estava posta: pãozinho francês quente, com manteiga, e um delicioso cuscuz, comidas bem rotineiras.

A carroça com as trouxas de roupas a serem lavadas na cacimba do Sítio Titara já estava pronta, sinais de que a estiagem já havia chegado à nossa região. Ao recordar, também veio à mente as vezes que acordávamos cedo para colocar os baldes em fileira, para pegar água na cisterna próxima à creche.

Com menos de dez minutos de passadas lentas e curtas, já éramos sufocados pela poeira levantada por alguns mal-

educados que, em seus veículos, ignoravam as regras de convivência. Nas curvas, quase levavam para longe o balde com mantimentos, apoiado e equilibrado na cabeça, sustentado por um rudia. Quem não conhece esse palavreado, em breve, um dicionário será posto em suas mãos.

O pessoal que vinha em direção contrária usava diversos transportes: carrinhos de mão, carroças de boi, motos, e carros, que eram para poucos. Ou seja, carona, só se fosse a cara fechada de alguém que não dormira direito ou tivesse encasquetado com algum assunto.

Chegamos ao destino final. Uma multidão de cachorros de diversas raças veio nos recepcionar, cheirando e lambendo as franzinas canelas. Com certeza, o suor escorria pelo corpo, e o medo dos mesmos era nítido. Subimos os quatro batentes e pedimos a bênção a vó, que se encontrava com um vestido de estampas floridas, um casaco de lã, e em sua face, um óculo de grau. Porém, seu sorriso era largo.

Foi oferecido um banquete para o café. As meninas da família se encantavam com as peças de crochê e tricô que tia fizera na semana anterior. Em seus pensamentos, só imaginavam seus futuros enxovais, e por um instante até notara-se um rubor nas faces; um ser que tivesse muita imaginação até veria borboletas ao redor da cabeça, adolescentes apaixonadas e com fogo na alma.

A colheita da jabuticaba foi iniciada, alguns frutos mais maduros que outros. E na sombra das jabuticabeiras, sacolas eram distribuídas entre os presentes, e os mais baixinhos, com a ajuda de outrem, subiam nos ombros para alcançar os galhos mais altos.

Vovó se preparava para começar a fazer o almoço e depois faria o tão famoso licor de jabuticaba, para ser comercializado ou até mesmo degustado em ocasiões especiais. Pena que eu não tinha idade para provar, porém, em minha memória, aquele aroma advindo da preparação do licor nunca saiu de mim.

Dez anos se passaram. Sempre quis ser certinho, querer não é poder, mas, o tão esperado primeiro de abril chegou, a maioridade chegara, e eu lembrava daquela cena. No entanto, nossa vozinha já havia partido para o plano espiritual.

Fui presenteado com uma caneca de licor de jabuticaba, e vários gatilhos e memórias foram restaurados.

Do começo ao fim

José Leandro de Souza Lima

Elas nos acompanham desde antes do nosso nascimento, seja no primeiro encontro dos casais de enamorados, levados pelo fogo da paixão, confidenciando promessas e palavras de afeto ao pé do ouvido, seguidos por pequenas carícias e beijos, muitas vezes demorados, então é ofertada uma linda e perfumada flor.

Na maternidade, nas primeiras horas, recebemos visitas de familiares com presentes, e risos diversos, porém se nossa lembrança voltasse, poderíamos enxergar nas mãos de nossos avós, tios e ou irmãos: um ramalhete de flores.

Durante nossa vida escolar, se formos católicos e devotos a Nossa Senhora, com seus múltiplos codinomes, com certeza, já participamos de alguma novena em sua homenagem, onde os alunos sempre apresentavam alguma canção, e ou participava das preces e leituras do evangelho, e a presença de flores é indispensável na celebração.

O mês de maio também, celebra o mês das mães, e no segundo domingo de maio, várias toneladas de flores, são comercializadas e em cada lar, os filhos e maridos presenteiam as matriarcas com afeto.

Na valsa dos quinzes anos, de toda donzela, onde várias cifras são gastas com vestuário, decoração, banda de música, comes e bebes, de todo modo, nem que seja uma florzinha estará presente no ambiente.

Nos casamentos, a igreja matriz se torna um belo jardim, onde o aroma e beleza das rosas, enchem os convidados de alegria, menos para uma pessoa, um EX e ou AMANTE que esteja infiltrado nesse espaço, vendo tudo e se corroendo por dentro.

Nas bodas diversas, ainda elas persistem, são testemunhas dos anos vivenciados, por quantos percalços e perrengues, já passaram nessa trajetória.

E no dia menos esperado, um ser humano completa sua caminhada aqui na terra, e vai para outro plano espiritual, e lá no velório, onde lágrimas, dor e remorso se encontram e dividem espaços, lá estão as flores, findando e selando a existência.

Aroma de conexões: Histórias de vida e café

O sol iluminava a mesa da cozinha, espalhando calor e serenidade pelo ambiente. Dona Maria acordava cedo todos os dias, antes mesmo que os pássaros começassem a cantar. Adorava o processo de fazer café, um ritual sagrado que trazia alegria e paz ao seu coração. Ela pegava a lata de pó de café, cuidadosamente torrado, e usava a colher para medir a quantidade exata que iria para o coador. Em seguida, aquecia a água no fogão, sentindo o aroma forte e reconfortante que começava a preencher o ar. O cheiro era uma mistura de memórias e sonhos, de histórias contadas à beira da mesa. Enquanto o líquido enchia a cafeteira, Dona Maria se lembrava das manhãs na casa de seus avós. Seu avô tinha uma paixão pelo café, e sua avó sempre preparava a bebida com tanto carinho. O café ali não era apenas uma bebida, mas uma conexão com o passado, uma fonte de conforto e inspiração. Cada gole levava Dona Maria de volta àquelas conversas matinais, cheias de risos e histórias, aquecendo seu coração como o sol que agora iluminava sua cozinha. Finalmente, com o bule de café pronto, ela enchia a xícara, sentindo o calor através da porcelana fina. O sabor forte e marcante do café a fazia sorrir, cada gole um momento de pura felicidade. Ela

pegava a xícara e se dirigia à varanda, onde o vento suave da manhã acariciava seu rosto. Sentava-se e observava os pássaros construindo seus ninhos, seus cantos alegrando o início do dia. Naquela manhã, uma amiga trouxe uma notícia: seu avô, mesmo longe, mandara uma lata especial de café, cultivado com amor e cuidado em sua fazenda. O coração de Dona Maria se encheu de gratidão e felicidade. Aquela lata representava mais que grãos torrados; era um pedaço de sua história, uma ligação contínua com aqueles que amava. Com o coração cheio de emoções e a mente inundada por memórias, Dona Maria preparou mais uma xícara de café. Cada detalhe do ritual, desde medir o pó até sentir o aroma enquanto o líquido enchia a cafeteira, a confortava e inspirava. A xícara em suas mãos era uma viagem no tempo, uma pausa na rotina para recordar os momentos felizes ao lado dos avós, para sentir a força da vida pulsando em cada gole. E assim, cada manhã, Dona Maria encontrava no café não apenas sabores intensos, mas também uma forma de alegrar seu dia e encher seu coração de serenidade. Era a sua ocupação favorita, um ritual que mantinha viva a chama da paixão pelos momentos simples e verdadeiros, aqueles que realmente fazem a vida valer a pena.

Com o tempo, a fama do café de Dona Maria se espalhou pela vizinhança. Não era apenas o sabor forte e autêntico que atraía as pessoas, mas também a hospitalidade calorosa que ela oferecia a todos que cruzavam sua porta. As manhãs na casa de Dona Maria se tornaram um ponto de encontro, um lugar onde amigos e vizinhos se reuniam para compartilhar histórias, risadas e, claro, uma boa xícara de café. Um dia, enquanto preparava o café, Dona Maria recebeu a visita de Dona Isabel, uma amiga de longa data. Dona Isabel trazia consigo uma notícia emocionante: seu

neto, que estava estudando agronomia, havia decidido iniciar um pequeno cultivo de café orgânico. Inspirado pelas histórias de café que ouviu da avó, ele queria seguir a tradição e produzir grãos de alta qualidade. Dona Maria, ao ouvir a notícia, sentiu o coração se encher de orgulho e alegria. Era como se a paixão pelo café estivesse sendo passada para uma nova geração. Ao servir o café para Dona Isabel, Dona Maria começou a contar histórias da infância na fazenda dos avós. Lembrava-se das tardes ensolaradas, quando ajudava o avô a colher os grãos maduros e a preparar a torra. O avô ensinara a ela que o segredo de um bom café estava no cuidado com cada etapa do processo, desde o plantio até a xícara. Essas memórias a confortavam e traziam um sorriso ao seu rosto. Enquanto conversavam, o aroma do café preenchia a cozinha e se espalhava pela varanda. Outros vizinhos começaram a chegar, atraídos pelo cheiro irresistível e pela promessa de boas histórias. Havia Dona Clara, que sempre trazia um bolo caseiro para acompanhar o café, e Seu João, que adorava contar causos engraçados de sua juventude. Naquela manhã, a conversa se voltou para os tempos difíceis que a comunidade enfrentara, quando a seca atingiu a região e muitos perderam suas colheitas. Dona Maria, com sua força e resiliência, liderou esforços para ajudar os vizinhos a se reerguerem. Organizou mutirões, dividiu suas provisões e, claro, manteve o espírito da comunidade forte com seu café revigorante. Para ela, o café era mais do que uma bebida; era uma maneira de unir as pessoas e fortalecer os laços comunitários. O tempo passava, e o sol já estava alto no céu quando os vizinhos começaram a se despedir. Cada um carregava consigo não só o sabor do café, mas também o calor das histórias compartilhadas e o conforto da amizade. Dona Maria ficou na varanda, observando o movimento dos pássaros e sentindo o vento suave. Sabia que, assim como os pássaros

que construíam seus ninhos, ela também estava construindo algo duradouro com cada xícara de café e cada momento vivido com carinho. No fim da tarde, sua neta Ana chegou da escola, trazendo uma energia nova para a casa. Ana adorava ajudar a avó na cozinha, especialmente quando o assunto era café. Com os olhos brilhando de curiosidade, ela pegou a colher e começou a medir o pó, imitando os movimentos precisos de Dona Maria. As duas riam e conversavam, enquanto o aroma do café recém passado envolvia a casa em um abraço acolhedor. Dona Maria sabia que estava plantando as sementes da paixão pelo café no coração de Ana, assim como seus avós haviam feito com ela. E, assim, a tradição continuava, rica em histórias, sabores e momentos que alegravam a vida. Cada xícara de café era uma celebração da força e da beleza das conexões humanas, um lembrete de que, mesmo nas rotinas mais simples, encontramos a essência da felicidade. Enquanto o sol se punha, Dona Maria sentou-se na varanda com Ana ao seu lado, ambas segurando suas xícaras de café. O vento suave da noite trazia uma sensação de paz, e o canto dos pássaros ao longe era como uma canção de ninar. Era um momento perfeito, uma pausa na rotina para sentir o coração pulsar de alegria e gratidão. E, com cada gole de café, Dona Maria sabia que estava criando memórias que Ana levaria consigo para sempre, mantendo viva a chama da tradição e do amor pelo café.

Os dias se seguiam com a mesma harmonia, e a casa de Dona Maria se tornava um refúgio para todos que buscavam um pouco de paz e uma boa conversa. A cada manhã, o ritual do café continuava enchendo o ar com o aroma inconfundível dos grãos torrados e moídos com amor. A varanda era sempre o cenário de risos, histórias e, ocasionalmente, até de pequenas celebrações. Certa vez,

um jovem chamado Pedro, que havia se mudado recentemente para a cidade, apareceu na casa de Dona Maria. Trazia no rosto um olhar cansado, mas nos olhos, uma faísca de esperança. Pedro estava em busca de trabalho e havia ouvido falar sobre a generosidade de Dona Maria. Ela o recebeu com um sorriso caloroso e, claro, uma xícara de café. Sentaram-se na varanda, e Pedro começou a contar sua história. Ele viera de uma cidade grande, buscando um recomeço em um lugar mais tranquilo. Dona Maria, com sua sabedoria e compaixão, ouviu atentamente, oferecendo palavras de encorajamento. Naquela tarde, enquanto bebiam café e conversavam, Dona Maria teve uma ideia. Pedro poderia ajudar no cultivo de um pequeno lote de café orgânico que ela havia começado a plantar nos fundos de sua casa, inspirado pelo projeto do neto de Dona Isabel. Pedro aceitou a proposta com entusiasmo, e assim começou uma nova fase para ele e para Dona Maria. Juntos, eles cuidavam das mudas, aprendendo e compartilhando conhecimentos sobre o cultivo do café. Pedro encontrou não apenas um trabalho, mas também um propósito e uma nova família. Os dias de trabalho no pequeno cafezal trouxeram ainda mais vida à casa de Dona Maria. Pedro se mostrava dedicado e apaixonado pelo que fazia, e sua presença renovava as energias de todos ao seu redor. Com o tempo, o cafezal começou a prosperar, e os grãos colhidos ali eram de uma qualidade excepcional. O café orgânico de Dona Maria e Pedro logo ganhou fama, e as pessoas vinham de longe para provar aquele sabor único e cheio de histórias. Em uma manhã especial, Dona Maria organizou uma grande celebração para inaugurar a primeira safra de café. Amigos, vizinhos e familiares se reuniram na varanda, cada um trazendo algo para compartilhar. Havia bolos, pães e até uma pequena feira de artesanato local. Ana, agora um pouco mais velha, ajudava a avó a servir o café, e sua felicidade era contagiante.

Durante a celebração, Pedro, emocionado, levantou-se para falar. Agradeceu a todos pelo acolhimento e, especialmente, a Dona Maria, que havia transformado sua vida com uma simples xícara de café. Contou como aquele café não era apenas uma bebida, mas uma prova de que os sonhos podem se tornar realidade quando encontramos apoio e amor. As palavras de Pedro emocionaram a todos, e Dona Maria, com lágrimas de alegria nos olhos, sentiu seu coração aquecer ainda mais. Ao fim do dia, quando o sol começou a se pôr e as pessoas se despediam, Dona Maria ficou mais uma vez na varanda, agora com Pedro e Ana ao seu lado. Observavam o horizonte, sentindo o vento suave e o aroma do café ainda presente no ar. Naquele momento, Dona Maria sabia que havia construído algo muito maior do que imaginara. O café não era apenas um ritual diário, mas uma ponte que unia corações e fortalecia laços. Era a essência de sua vida, uma paixão que ela havia compartilhado e que continuaria a florescer através das gerações. Com o coração cheio de gratidão, Dona Maria olhou para Ana e Pedro, vendo neles a continuação de seu legado. Cada xícara de café que preparavam juntos era uma celebração da vida, do amor e da força que encontravam uns nos outros. E assim, naquele final de tarde, a casa de Dona Maria se encheu de uma paz profunda, uma serenidade que só o verdadeiro amor e a verdadeira amizade podem proporcionar. A noite caiu suavemente, trazendo consigo a promessa de novos dias, novas histórias e novos momentos felizes. E, enquanto a lua iluminava a varanda, Dona Maria sentiu que, através do café, havia realmente confortado e inspirado muitas vidas, incluindo a sua própria. Era um final perfeito para um conto que começara com um simples ritual matinal e que se transformara em uma bela saga de conexões humanas e amor eterno.

Enquanto a lua cheia iluminava suavemente a noite, Dona Maria, com Pedro e Ana ao seu lado, observou a última brisa do dia agitar as folhas do cafezal. Sentiu-se imensamente feliz e satisfeita, sabendo que havia plantado mais do que grãos de café; havia plantado sementes de amizade, amor e esperança. Naquele momento de serenidade, ela percebeu que cada xícara compartilhada, cada história contada, havia fortalecido o tecido da comunidade ao seu redor. E assim, com um olhar cheio de gratidão e um coração repleto de memórias preciosas, Dona Maria brindou à vida com mais um gole de seu café, agora sabendo que seu legado de paixão e conexão perduraria para sempre, transcendendo gerações e enraizando-se profundamente na terra e nas almas que tocou.

Com um sorriso sereno no rosto, Dona Maria murmurou para si mesma que o verdadeiro sabor da vida estava nas conexões que construímos e nos momentos simples que compartilhamos, especialmente aqueles aquecidos pelo aroma inconfundível de um bom café.

O cafezinho da camaradagem: Laços de amizade na sala dos professores

No coração da escola, entre as paredes cheias de histórias e os corredores ecoando risos de crianças, havia um lugar especial, uma espécie de oásis para as professoras. Era a Sala dos Professores, onde não só se compartilhavam ideias pedagógicas, mas também segredos, risadas e, é claro, o cafezinho sagrado. Toda tarde, no horário de trabalho, as professoras se reuniam na Sala dos Professores para recarregar as energias. Era ali que a mágica acontecia. O aroma do café fresco pairava no ar, misturando-se com o cheiro dos livros didáticos e das canetas esferográficas. Enquanto algumas professoras folheavam os cadernos de planejamento, outras desfrutavam de momentos de descontração, jogando conversa fora ou compartilhando histórias engraçadas do dia a dia na sala de aula. Mas havia algo de especial naquelas tardes na Sala dos Professores. Era o cafezinho preparado com carinho pela professora Helena, conhecida por suas habilidades culinárias e seu coração generoso.

Enquanto os quadros-negros esperavam pacientemente por mais uma aula, as professoras se reuniam em volta da pequena mesa, onde a lancheira de Helena revelava verdadeiros tesouros: bolos caseiros, biscoitos recémassados e, é claro, o café mais saboroso da escola. Enquanto o giz aguardava seu próximo uso e os livros didáticos repousavam em suas estantes, as professoras saboreavam aquele momento de paz e camaradagem, trocando sorrisos e palavras de apoio. Era ali, naquele ambiente acolhedor e familiar, que se fortaleciam os laços entre colegas e se cultivava o verdadeiro espírito de equipe. Não importava se o dia tinha sido desafiador ou tranquilo; o cafezinho sagrado na Sala dos Professores sempre trazia conforto e alegria, renovando as energias para enfrentar os desafios do dia seguinte. E assim, entre risos e conversas animadas, as professoras compartilhavam não apenas o café, mas também a amizade e a cumplicidade que tornavam aquele lugar tão especial. Pois na Sala dos Professores, o verdadeiro ingrediente secreto era o carinho e a união que uniam aquelas mulheres tão dedicadas à nobre missão de educar e inspirar as mentes do futuro.

À medida que o aroma do café preenchia a Sala dos Professores, um sentimento de conforto e aconchego envolvia cada uma das professoras ali presentes. Era como se aquele pequeno momento de pausa no meio da agitação do dia trouxesse consigo uma onda de calma e tranquilidade. Enquanto saboreavam cada gole da bebida quente, os olhares das professoras se encontravam, revelando um entendimento mútuo que ia além das palavras. Eram olhares repletos de gratidão pela companhia umas das outras, pela troca de experiências e pelo apoio incondicional que encontravam ali. Ao redor da mesa, as conversas fluíam naturalmente, passando de

assuntos triviais a confidências mais profundas. Era ali, naquela pequena bolha de camaradagem, que as professoras se sentiam verdadeiramente compreendidas e valorizadas. Cada sorriso trocado, cada gesto de carinho, fortalecia os laços que as uniam, transformando a Sala dos Professores em um refúgio seguro em meio às demandas da vida escolar.

E enquanto o tempo parecia desacelerar dentro daquelas quatro paredes, o sentimento de pertencimento e solidariedade crescia, alimentando a alma de cada professora e renovando suas forças para enfrentar os desafios que ainda estavam por vir. Naquele momento, não importava se eram jovens professoras iniciando suas carreiras ou veteranas com anos de experiência; todas compartilhavam um mesmo sentimento de gratidão por fazerem parte daquela comunidade escolar tão especial. E quando chegava a hora de retornar às salas de aula, as professoras se levantavam com o coração mais leve e a mente revigorada, prontas para continuar a sua missão de educar e inspirar, sabendo que sempre poderiam contar umas com as outras, dentro e fora da Sala dos Professores.

À medida que o café deslizava pelas gargantas das professoras, uma sensação de aconchego e pertencimento tomava conta da Sala dos Professores. Cada aroma de café fresco trazia consigo lembranças de momentos compartilhados, de desafios superados e de sucessos celebrados juntas. Enquanto os dedos envolviam as canecas quentes, os corações das professoras se aqueciam com a proximidade umas das outras. Era como se aquele cantinho da escola se transformasse em um verdadeiro lar, onde sorrisos e abraços eram tão essenciais quanto as lições ministradas em sala de aula. Nos olhares que se

cruzavam, havia um brilho de cumplicidade e amizade. Era como se as professoras se entendessem sem precisar de palavras, compartilhando a jornada desafiadora e gratificante que era educar mentes jovens e curiosas. À medida que as conversas se desenrolavam, os sentimentos se entrelaçavam, formando laços de confiança e apoio mútuo.

Ali, naquele espaço de partilha e acolhimento, as professoras encontravam não apenas colegas de trabalho, mas verdadeiras amigas, prontas para oferecerem o ombro amigo nos momentos difíceis e compartilharem as alegrias das conquistas alcançadas. Cada risada ecoando pelas paredes da Sala dos Professores era como uma nota de esperança em meio ao turbilhão do dia a dia escolar. E mesmo nos momentos de silêncio, a presença umas das outras era reconfortante, lembrando-as de que não estavam sozinhas na missão de educar e inspirar. Quando o último gole de café era sorvido e o tempo os chamava de volta às suas obrigações, as professoras se despediam da Sala dos Professores com os corações cheios de gratidão e a certeza de que aquele momento de união e conexão era o verdadeiro combustível que as impulsionava a seguirem em frente, sempre juntas, sempre fortalecidas pelo vínculo único que compartilhavam.

À medida que o café perfumava o ar da Sala dos Professores, um clima de camaradagem e cumplicidade se instalava entre as mestras da escola. Cada xícara era mais do que uma simples bebida; era um convite para compartilhar não apenas os momentos felizes, mas também as preocupações e desafios que permeavam o dia a dia na sala de aula. Enquanto os lápis e as canetas repousavam sobre a mesa, as professoras se recostavam

em suas cadeiras, prontas para um merecido momento de pausa. Ali, entre as risadas e os suspiros, desenrolavam-se conversas que iam além das atividades escolares, revelando sonhos, medos e aspirações. Cada gesto, cada olhar, carregava consigo uma história, um pedaço da jornada de cada uma. Era como se ali, naquele espaço de encontro, pudessem depositar suas vulnerabilidades sem medo de julgamento, encontrando conforto e apoio nos braços umas das outras.

Enquanto os minutos se desenrolavam lentamente, as professoras mergulhavam em memórias compartilhadas, relembrando momentos marcantes das aulas, das conquistas dos alunos e das dificuldades superadas em conjunto. E quando o último gole de café era sorvido, as professoras se levantavam da mesa com o coração leve e a alma renovada. Ali, na Sala dos Professores, haviam encontrado mais do que colegas de trabalho; haviam encontrado verdadeiras companheiras de jornada, prontas para caminhar lado a lado, enfrentando os desafios e celebrando as vitórias, uma xícara de café de cada vez.

À medida que o café se esgotava nas xícaras, uma sensação de gratidão e união se espalhava pela Sala dos Professores. Ali, entre risadas e confidências, as professoras compartilhavam não apenas suas experiências profissionais, mas também suas vidas, suas esperanças e seus sonhos. Nos olhares que se encontravam, havia um brilho de admiração e respeito mútuo. Cada professora era uma peça essencial daquele quebra-cabeça chamado educação, e juntas formavam uma equipe forte e unida, capaz de superar qualquer desafio que a vida escolar lhes apresentasse. Enquanto o último grão de café era consumido, as professoras se levantavam da mesa com um

sentimento de renovação e determinação. Ali, naquela Sala dos Professores, haviam encontrado mais do que um espaço para descanso; haviam encontrado um lar longe de casa, onde o apoio mútuo e o companheirismo eram os verdadeiros protagonistas.

E assim, com o coração cheio de gratidão e os laços de amizade fortalecidos, as professoras retornavam às suas salas de aula, prontas para continuar a desempenhar o papel fundamental de educadoras, sabendo que, mesmo nos momentos mais desafiadores, sempre poderiam contar umas com as outras, dentro e fora da Sala dos Professores. Pois ali, naquele pequeno refúgio no coração da escola, o cafezinho sagrado não era apenas uma bebida quente para aquecer o corpo, mas sim um símbolo poderoso de união, solidariedade e amor pelo ofício de educar. E enquanto as portas se fechavam atrás delas, o espírito daquela Sala dos Professores continuava a brilhar, iluminando o caminho de cada professora em sua jornada de ensinar e inspirar.

Na memória daquelas professoras, aquele momento de comunhão na Sala dos Professores perduraria como uma lembrança preciosa, um tesouro guardado no cofre da alma. Pois ali, entre o aroma do café e as risadas compartilhadas, haviam encontrado não apenas colegas de profissão, mas sim amigas para toda a vida. E enquanto seguiam seus caminhos, cada uma sabia que carregava consigo não apenas o conhecimento compartilhado, mas também o caloroso abraço da irmandade que haviam formado, um elo indissolúvel que transcendia o tempo e o espaço.

Na essência daquela sala, o café não era apenas uma bebida; era o elixir que alimentava a alma daquelas

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professoras, fortalecendo-as para os desafios que aguardavam do lado de fora, onde a jornada de educar continuava, embalada pela doçura da camaradagem e pela firmeza dos laços fraternos.

Viagem Mágica por entre páginas

Liah Pego

Ao Norte do Reino da Esperança, na pequena e encantadora cidade Jardim das Maravilhas, situada em um recanto do Brasil exuberante, onde flores e frutos prosperam nos canteiros das ruas e avenidas, vivia Luca com seus pais. A família Flores, cujo sobrenome refletia a abundância que os cercava, era feliz e harmoniosa. Cada um, desempenhava um papel crucial na sociedade. O patriarca, um renomado médico, e a matriarca, uma conselheira exemplar, eram figuras de proeminente respeito e admiração. Luca, o primogênito entre três irmãos, destacava-se não apenas por sua beleza singular e sem precedentes, mas também pelo seu charme irresistível, que cativava a todos ao seu redor. Seus irmãos, Líria, uma garotinha de rara inteligência e Lion, irmão do meio, de notável vigor, completavam a prole que, unida, formava um núcleo familiar de inquestionável influência e estima na comunidade. Admirado por todos devido à sua delicadeza e educação, Luca, o mais lindo cravo da região encantava as donzelas flores que suspiravam toda vez que o adolescente cavalheiro passava exuberante destilando seu charme e presença imponente além de compartilhar das brincadeiras no espaço livre das ruas. No entanto, sob a aparência de um galante cavalheiro, ele nutria uma paixão singular por livros, especialmente por contos de fadas, onde encontrava um refúgio encantado e inesgotável para

sua imaginação fértil e sonhadora na iminência de conhecer outros reinos.

À noite, nas ruas pacatas da cidade, o cenário se transforma em um intenso e vibrante playground ao ar livre. Crianças flores e crianças frutos, correm e brincam despreocupadas, suas risadas e gritos de alegria ecoando entre as casas misturando com o barulho dos uivos de lobos em noites de lua cheia e sons furtivo de grilos e corujas que passeiam pelos telhados, criando uma sinfonia noturna completada pelo zumbido e o cantar dos insetos escondidos nas sombras enquanto seus pais, sentados nos bancos em frente suas casas, repartem ideias e esperanças. A vivacidade juvenil e a serenidade do ambiente se embaralham, conferindo uma atmosfera mágica e pacífica, onde a inocência e a natureza se mesclam em perfeita harmonia, evocando a essência de um mundo real.

Luca passava longas horas imerso nas páginas amareladas dos livros, imaginando-se em terras distantes, povoadas por príncipes, princesas e criaturas mágicas, cujos jardins e pomares eram tão exuberantes quanto os de sua própria cidade. Sua imaginação o transportava para lugares longínquos. Nas noites de primavera, deitava-se no banco da praça, contemplava as estrelas sentindo o aroma das flores que perfumavam a rua tranquila, declamava para o tempo, o vento;

Seu peito já não se jazia vazio, enquanto a lua une sentimentos e desejos.

No germinar, a semente na escuridão do infinito,

na amplidão do universo,

cresce no ciclo da natureza,

o segredo da terra, na semente que se renova.

Numa tarde, sentado sob uma árvore carregada de frutos, enquanto lia sobre um reino encantado governado por uma rainha sábia e benevolente, Luca desejou fazer parte daquele mundo. Seu coração ansiava por aventuras mágicas, mas a ideia de abandonar sua "vida real," onde era imensamente feliz com seus pais, o enchia de tristeza e preocupação.

Em busca de uma solução, Luca compartilhou seu desejo com sua melhor amiga, Clara, uma garota, esperta e cheia de ideias, revestida de pétalas tão branca feito um algodão desabrochando. Ela ouvia atentamente enquanto Luca falava sobre sua vontade de viver entre as páginas dos livros e seu dilema em abandonar sua família.

Clara, sempre pronta para ajudar, sugeriu que fossem à biblioteca da cidade, conhecida por sua vasta coleção de livros raros e misteriosos. "Talvez lá encontremos uma resposta", disse ela com um brilho de esperança nos olhos, acendendo as chamas da esperança de Luca. Vibrando, ele agarrou a amiga pelos braços, arriscando uma valsa improvisada.

Na biblioteca, entre corredores de prateleiras antigas, encontraram um livro velho e empoeirado intitulado "Os Segredos dos Mundos Encantados". Luca folheou as

páginas com cuidado, até encontrar um feitiço chamado "A Ponte dos desejos". Segundo o livro, esse feitiço permitia que alguém viajasse para o mundo dos contos de fadas, mas com uma condição especial: a pessoa manteria um vínculo mágico com seu mundo real, podendo voltar sempre que desejasse. Animados, Luca e Clara decidiram tentar o feitiço. Com ingredientes simples, como pétalas de rosa, sementes, ajuda da mãe e as palavras mágicas pronunciadas com fervor, um portal brilhante se abriu diante deles. O coração de Luca batia acelerado enquanto ele se despedia de Clara e da mãe, prometendo voltar para contar todas as suas aventuras.

Atravessando o portal, Luca se viu em um deslumbrante reino de contos de fadas. Castelos imponentes se erguiam contra o céu azul, e criaturas mágicas passeavam pelos jardins floridos e pelo imenso pomar. E qual não foi sua surpresa: a rainha do reino era a "Dama Abacaxi", sentada no trono fabricado com meticulosas sementes e flores campestres. Ao saber da chegada de Luca, ela o acolheu com carinho, e ele rapidamente se tornou amigo dos príncipes e princesas, vivendo momentos inesquecíveis.

Luca descobria novas paixões a cada dia vivido no "Reino da Frutolândia", onde príncipes, princesas, fadas e outros seres mágicos viviam livremente entre as criaturinhas representadas por flores e frutos. De tempos em tempos, a rainha anunciava um novo desafio, onde os habitantes poderiam apresentar suas habilidades, competências, utilidades e poderes. Os desafios tinham como propósito escolher membros para auxiliar, acompanhar e servir a rainha e o palácio. A cada evento de desafio, os participantes esforçavam-se ao máximo para serem os mais convincentes possíveis, trajando suas melhores vestes com

o intuito de impressionar a rainha e os convidados. Demonstravam suas qualidades e competências para serem merecedores do cargo. A competição entre frutas, verduras e legumes deixava a rainha Abacaxi com a coroa ereta, ao mesmo tempo em que ela considerava tudo muito engraçado, o que tornava o ambiente alegre, divertido e festivo.

Foi em uma das conversas de Luca com uma flor que soube que a escolha da "Dama Abacaxi" para rainha se deu por meio de uma votação unânime entre o grupo da Frutolândia. Assim que se tornou rainha, ela decretou os dias de desafios.

Além das novas paixões, Luca desenvolveu um fabuloso encanto por uma das flores mais cobiçadas do reino. Podia conversar com ela, contando seus segredos e paixões deixados para trás, entretanto, todas as noites, quando o céu se revestia do brilho cintilante das estrelas, ele mergulhava em uma saudade avassaladora de seus pais, de Clara e dos inigualáveis aromas das flores que adornavam sua encantadora cidade. Cada fragrância trazia à memória a beleza efêmera dos jardins que tanto amava, e os fins de semana se tornavam uma doce lembrança das feiras, onde os frutos frescos e suculentos eram comercializados com uma vivacidade que parecia pintar de cores vivas as paisagens de sua infância. As lembranças se entrelaçavam, tecendo um manto de nostalgia que aquecia seu coração nas noites mais solitárias. Foi então que ele lembrou o verdadeiro poder do feitiço: podia voltar a sua cidade sempre que desejasse viver entre os dois mundos, aproveitando o melhor de ambos, voando no tapete mágico trançado de folhas, flores e frutos, uma obra de arte realizada pelas encantadoras aves que habitavam no

reino, alegrando o ambiente com seus cantos todas as manhãs. Em um piscar de olhos, ele estava de volta ao seu quarto, onde seus pais o aguardavam com abraços calorosos e Clara com perguntas curiosas.

Assim, ele continuou a explorar os reinos mágicos, retornando para casa todas as noites, onde compartilhava suas histórias com aqueles que amava, navegando entre sua realidade e a fantasia, mostrando que com um pouco de magia e muito amor, é possível realizar até os desejos mais excêntricos.

Sete vidas

No interior de Altos, em meio às colinas que se estendiam até onde a vista alcançava, ficava o Sítio Mirador, lar dos sete irmãos: Flora, Floriano, Florina, Florizeu, Frutáceo e Frutina. Cada um deles tinha uma ligação especial com a terra e com as plantas que floresciam generosamente naquelas terras férteis.

Era ao pé de um antigo pé de manga, cuja sombra se estendia como um manto acolhedor nas tardes quentes de verão, que os irmãos se reuniam para compartilhar histórias e memórias olfativas e saborosas que permeavam suas vidas.

Flora, a mais velha e sábia dos irmãos, possuía um dom único para cultivar as mais belas flores do sítio. Seu jardim era um verdadeiro paraíso perfumado, onde rosas vermelhas exalavam um aroma doce e envolvente, e lírios brancos brilhavam como estrelas na escuridão da noite.

Floriano, o segundo irmão, era o guardião dos pomares de frutas que se estendiam além do horizonte. Sob sua orientação, laranjeiras carregadas de frutos suculentos e mangueiras repletas de mangas maduras prosperavam,

alimentando não apenas os corpos, mas também as almas dos que ali habitavam.

Florina, a terceira irmã, era conhecida por suas habilidades culinárias e pela capacidade de transformar simples ingredientes em verdadeiras iguarias. Seu aroma favorito era o das maçãs recém-colhidas, cujo perfume adocicado impregnava a cozinha e despertava memórias de tempos mais simples e felizes.

Florizeu, o quarto irmão, era um poeta por natureza, cujas palavras fluíam como o rio que serpenteava pelo sítio. Ele encontrava inspiração nas flores silvestres que pontilhavam os campos e nos frutos selvagens que cresciam à sombra das árvores centenárias.

Frutáceo e Frutina, os irmãos gêmeos, compartilhavam uma conexão profunda com a terra e com os ciclos da natureza. Enquanto Frutáceo se dedicava ao cultivo das hortaliças e verduras que sustentavam a família, Frutina colhia ervas medicinais e plantas aromáticas para criar remédios e unguentos que curavam os males do corpo e da alma.

Em uma tarde de verão, sob a copa generosa do pé de manga, os sete irmãos se reuniram para celebrar a colheita abundante e compartilhar as lembranças que os ligavam àquelas terras ancestrais. O aroma adocicado das mangas maduras pairava no ar, misturando-se com o perfume das flores e o cheiro reconfortante da terra molhada pela chuva.

Enquanto o sol se punha no horizonte, tingindo o céu de tons dourados e rubros, os irmãos se abraçaram em silêncio, sabendo que a verdadeira riqueza não estava nos frutos que colhiam ou nas flores que cultivavam, mas na união e no amor que os mantinham juntos, como os ramos de uma árvore frondosa e resistente.

E assim, no Sítio Mirador, onde as memórias olfativas e saborosas se entrelaçavam como os fios de uma tapeçaria tecida com carinho e cuidado, os sete irmãos encontraram a essência da vida e a beleza efêmera que reside nas pequenas coisas, nas flores e frutos que são protagonistas de uma história simples e profunda, como a própria natureza que os envolvia.

Renan e Juliete, um amor Highteck

Os storys de uma princesa são curtidos quase ao infinito.

Juliete confere com atenção todos os emojis de paixão.

Ela recebe muitas reações, são milhares de corações.

Os comentários de amor são uma motivação, mas o tédio, a impede de ler as juras de admiração.

Os seguidores compartilham suas publicações, esperando de Juliete um pouco de atenção.

Em sua casa, com o wifi potente, o tédio não sai da sua mente.

Mas algo está diferente, observa vários emojis zangados de repente.

Juliete logo se adiantou, bloqueou um menino insolente.

Revoltou-se com o Smartphone, pois estava acostumada a somente ser amada.

Inconformada, pesquisou na internet a imagem de uma rosa, e desolada, uma gota de lágrima se adiantou, caiu de seus olhos, e escorreu pela imagem da flor, brilhando em hightech, com luzes de led.

A gota parecia guiada, deslizou até o fim da tela.

Em pouco tempo ela iria saltar pelas bordas do celular, mas antes que caísse, chamou a atenção de Juliete. A gota escorreu por uma notificação recebida de surpresa.

Juliete se adiantou a ler, era uma solicitação de amizade, daquele mesmo seguidor bloqueado por sua maldade.

O nome do garoto é Renan, menino ousado.

Feriu o coração de Juliete, com seu emoji zangado.

Renan almejava acabar com a paciência de Juliete, mas causou a ela, uma curiosidade incontrolável, pois não sabia o porque do emoji desagrádavel, já que, Juliete somente recebia milhares de curtidas amigáveis.

Renan não tinha noção do tamanho da confusão.

Estava interagindo com Juliete Ferrão, mas em sua página era perigosamente e somente Juliete.

Renan não sabia, mas em meio a milhares de seguidores, chamou a atenção da princesa de uma família com ódio sem razão.

Renan é da família nobre Aragão, família inimiga dos Ferrão.

Ambos estão prestes a entrarem em uma armadilha da paixão.

Juliete contrariada pelo comportamento de Renan, decide enviar em off, uma mensagem para o bon vivant, dizendo, como pôde enviar emojis zangados, e depois pedir amizade.

Juliete estava acostumada a ser paparicada, e não a ser humilhada.

Renan respondeu, que havia se irritado com a futilidade das postagens,

e que Juliete era linda, mas precisava controlar suas amigas, que inundavam seu perfil de comentários sem profundidade.

Juliete ficou atraída por aquele rapaz que era o único corajoso, a falar a verdade sobre sua vaidade e do povo invejoso.

Juliete sentiu um frio no coração, enfim um garoto conseguiu, quebrar o gelo de suas emoções.

Ele agora, não era somente mais um seguidor. Renan marcou um encontro com Juliete, após ter enviado uma foto.

A imagem de uma flor, que selou o trato do encontro. Primeiro do casal, mas faltava a família dar o aval.

A Princesa decidiu conhecer o rapaz, antes de contar sobre o sentimento.

A família da moça era ciumenta, ela temia não receber o consentimento.

Juliete confirmou com Renan, o encontro no jardim dos enamorados.

O momento chegou, Juliete sentou no banco, e esperou por Renan.

Estava escuro, mas ela tinha o led de seu celular aceso, mas não via a imagem de Renan, até que de repente, muito próximo da moça, furtivamente apareceu uma sombra.

Para tranquilizar Juliete, Renan acendeu seu led. Juliete viu a cena mais bela, Renan em meio aos arbustos de flores, iluminados pela luz do led, nas cores das flores, azul, e o rosa dos amores.

Renan, sem falar, se aproximou de Juliete. Iluminados pela luz, acariciou o rosto da princesa, e a beijou.

Era o início de uma amor, e também de um problema, após o encontro, Juliete estalqueou Renan, e encontrou em seu perfil algumas fotos.

Descobriu que Renan é um príncipe, com uma família de nobre votos.

Para sua decepção percebeu que no passado, deu unfollow com razão, pois seu pai é da família Aragão, que odeia a sua família Ferrão.

A princesa soube de tudo, mas as publicações não resolveram, o frio no coração continuou, era amor, a emoção dominou. Contou para seu pai, esperava a benção, mas ele proibiu o celular de Juliete.

Renan enviou dezenas de mensagens, mas Ferrão foi além, deu

unfollow em Renan, usando o perfil de Juliete.

Renan pensou em desistir, mas o amor era incontrolável. Ao fim daquele dia, foi ao mesmo jardim, acendeu a luz de seu celular.

Muitas horas depois, com a bateria acabando, desligou o led.

Desistiu deste amor impossível, mas não estava sozinho na escuridão, Sua felicidade ocupava seu coração, era um amor além da imensidão.

Atrás de arbustos, viu outra luz de um led, era Juliete.

Ela fugiu de sua casa sem autorização.

Apaixonados, tiveram uma noite de amor, enquanto a luz do led acabou.

Antes de voltar para casa, juraram amor, mas os pais de Juliete instalaram um aplicativo espião, e ficaram sabendo da combinação.

A família Ferrão montou uma armadilha para Renan, a intenção era atraí-lo, e dar um susto no menino.

Enviaram uma mensagem a Renan, pela conta hackeada de Juliete.

No zap, uma Juliete Fake desesperada, pedindo ajuda de Renan.

O rapaz não exitou, pegou a moto e partiu em alta velocidade.

Com a câmera do celular ligada, Juliete percebeu a trama armada.

Renan estava em uma live, em alta velocidade.

Não conseguia entender, o que estava a acontecer, mas ficou feliz, pois viu na tela, Juliete lhe enviando um beijo, que o desconcentrou.

Na tela, Juliete assistiu, o inacreditável, Renan desequilibrando, e ceifando sua vida, em alta velocidade, em uma curva da cidade.

Juliete não aceitou a perda de Renan, foi ao jardim onde haviam se entregado, e engoliu uma planta envenenada, correu até o corpo de Renan, e deitou-se em cima de seu peito, e com ele deixou a vida para sempre.

Mas Juliete se enganou, Renan acordou, e pegou na mão

fria de Juliete,

Renan percebeu que havia uma planta, a mais venenosa, em suas mãos, e que seu amor Juliete já não estava mais com pulsação.

Renan chorou descontroladamente, e decidiu daquela planta provar, para seu amor Juliete, reencontrar.

Juliete e Renan terminaram juntos em uma cena triste, como dois apaixonados.

Tiveram o fim de influencers, com seus storys de amor viralizados.

Exóticas, mas tão nossas

Nasci em uma cidade pequena do interior do estado de São Paulo, chamada Mirandópolis, na época com 4.500 habitantes na área urbana. A nossa casa era construída de tábuas com mata-juntas de ripa, na cor natural da madeira já envelhecida. Uma casa bastante simples com dois quartos, uma sala e cozinha, e o banheiro ficava no fundo do quintal.

O quintal era grande, talvez porque eu era criança ainda, com um poço e, no fundo, havia uma caramboleira enorme, que dava muitos frutos doces.

Achava a fruta incrivelmente linda, que muitas vezes a minha mãe cortava em fatias, naquele formato típico de estrela, e colocava em um prato. Algumas vezes, junto com a minha mãe, eu comia a fruta retirada diretamente do pé.

Ia sempre ao fundo do quintal e ficava procurando uma carambola amarela no meio da maioria verde.

Encontrando-a, corria chamar a minha mãe para que ela apanhasse para mim.

Saímos de lá e fomos morar em Guarulhos, uma cidade grande em uma casa de alvenaria, com a vista completamente diferente, tanto aos meus olhos, bem como na realidade. Me lembrava da caramboleira, que tinha ficado para trás, pois morando na parte de cima do sobrado, não tínhamos terra, somente algumas plantas em vasos.

Depois mudamos para uma casa térrea e plantamos uma muda de caramboleira, que a minha irmã ganhou de um amigo, e com mais de quarenta anos, ela está enorme com cerca de dez metros de altura, e produz muitas carambolas, mas nada doce como aquelas da minha infância.

Como conheci a caramboleira quando criança, sempre achei que ela era nativa do Brasil, e descobri que muitas das plantas que conhecemos foram trazidas pelos portugueses. A caramboleira é nativa do leste asiático, talvez da Indonésia ou Malásia e foi trazida ao Brasil no início do século XIX, e há quem diga que foi levada inicialmente para Pernambuco e de lá a planta foi levada para todo o Brasil.

Quando morei no Recife e ia ao Mercado São José, passava por uma área aberta com várias jacas no chão à venda, e esse mesmo chão era forrado de sementes que as pessoas jogavam depois de comerem a polpa. E quem não gosta de jaca? A mole ou a dura, com o sabor e aroma marcantes. Adivinhem de onde é a jaqueira? Da Índia, poxa vida. A jaca é tão brasileira… mas não é.

A imagem que temos da Carmen Miranda é ela com uma touca na cabeça, cheia de frutas tropicais. Imagina a

banana? Banana nanica, comprida, maçã, da terra… mas não da nossa terra, ela é também do outro lado do planeta, do leste asiático. Poxa vida, a nossa banana…

No inverno, morando em Gramado, no Rio Grande do Sul, vejo o hábito do povo gaúcho, de chupar laranja bergamota sob o sol de inverno, sentado em um banco na rua, como dizem por aqui. Os amigos dizem que se faz isso desde sempre, mas descobri que todos os tipos de laranja também são originários da Ásia.

Mas será que todas as árvores frutíferas vieram de fora?

Quando eu era criança, existia uma manga enorme chamada coração de boi, que aliás nunca mais vi daquele tamanho, tinha um pé no sítio do meu avô. Quem nunca ouviu falar que chupar manga e tomar leite faz mal, é um dito popular brasileiro tão antigo e aí me falaram que a manga também é originária da Ásia.

Afinal, qual fruta que faz parte da nossa memória afetiva de criança é nativa do Brasil?

Quando mudamos para a casa térrea, no quintal havia três abacateiros enormes, imagina uma criança, que havia morado sete anos em um sobrado, vivia subindo nas árvores. Quando frutificava, era abacate de manhã, à tarde e à noite. Infelizmente, tivemos que cortar os abacateiros, que estavam muito grandes e próximos do muro da casa do vizinho. Eu prefiro comer o abacate sem açúcar e sem nada, mas quando era criança, a minha mãe cortava o abacate e colocava um pouco de açúcar e de limão espremido, comíamos sempre dessa maneira. Outro dia,

me falaram que o abacate é da América Central e não é do Brasil, que trouxeram para cá no início do século XIX.

Fruta do conde, ah que delícia de fruta, comíamos com uma colherzinha, e eu raspava a casca para não perder nada, mas se raspasse demais, a polpa ficava com textura arenosa. Essa é outra fruta da minha infância, que a minha mãe partia uma para nós, que somos quatro irmãos. Dizem que é originária da América Central e foi trazido pelo Conde Miranda da Bahia no século XV, por isso o nome da fruta.

Me falaram que o abacaxi é brasileiro, finalmente uma fruta nossa, abacaxi pérola, Havaí, e da praia. Incrível foi encontrar um abacaxi de quinze quilos, isso mesmo, no Acre existe um abacaxi do tamanho de um balde, que pesa até quinze quilos. Eu vi com os meus próprios olhos, quando participei do Projeto Rondon, na cidade de Cruzeiro do Sul. Tenho fotografias para provar o que estou dizendo. A fruta é tão pesada que para o cabo sustentar o seu peso, é escorada com ramas de mandioca. Mas o abacaxi é nosso, que orgulho.

Falando em abacaxi, banana e laranja me fez lembrar da salada de frutas que o meu pai preparava, que sem o mamão, não tinha graça. O mamão só pode ser brasileiro, lembro-me da minha avó contar como diferenciar o mamão macho do mamão fêmea, quando a plantinha é pequena ainda. Ela dizia que os primeiros que nascerem, serão mamão macho. Com a sabedoria que ela carregava, eu acredito muito que seja verdade. Mas aí me falaram que o mamoeiro é nativo da América Central e que foi trazido para o Brasil.

Ah, a goiaba é brasileira, além dela, temos o araçá e a guabiroba, esses menos conhecidos e dificilmente encontrados em mercados. Mas a goiaba, na minha infância era de tamanho menor, agora inventaram umas goiabas enormes. Tem outra fruta que é nossa também, a jabuticaba, essa é tão nossa como o abacaxi. Mas a jabuticaba é de época e a melhor forma de comê-la é pegando no pé, porque as que vendem nos mercados, não têm o mesmo sabor.

Agora estou pensando, como teria sido a nossa infância sem essas frutas trazidas pelos colonizadores portugueses. Afinal, elas são exóticas, mas são tão nossas, da nossa infância inocente, das lembranças dos momentos que passamos com os nossos pais e avós. Mas também o Brasil é um país de coração aberto, miscigenado de etnias, de plantas floridas e frutíferas.

O Jardim das Memórias

Matile Facó

No coração de uma cidade sem nome, existia um jardim escondido entre becos e vielas esquecidas. Poucos conheciam a existência daquele espaço, e menos ainda se aventuravam a adentrar os seus portões de ferro enferrujados. Os que ousavam atravessar o limiar desse refúgio mágico, porém, encontravam-se em um mundo onde flores e frutos contavam histórias que iam além do tempo.

Luísa era uma dessas poucas almas corajosas. Desde criança, ela sentia um estranho magnetismo pelo jardim, como se algo em seu âmago a puxasse para lá. Seu primeiro encontro com o lugar aconteceu numa tarde de outono, quando ela, então com sete anos, se perdeu ao seguir um gato preto de olhos amarelos. Naquela tarde, Luísa descobriu que o jardim não era apenas um refúgio de paz e beleza, mas também um santuário de memórias vivas.

Cada flor e fruto naquele jardim era um fragmento de lembrança encapsulado. Ao se aproximar de uma roseira de pétalas douradas, Luísa foi inundada pelo cheiro doce e nostálgico do perfume de sua avó, uma mulher que ela nunca conhecera, mas cujas histórias sua mãe contava com carinho. As rosas exalavam uma fragrância que a envolvia em um abraço acolhedor, trazendo à tona memórias de

risos suaves e tardes ensolaradas em uma casa no campo que ela jamais visitara.

Com o passar dos anos, Luísa voltou ao jardim inúmeras vezes. Era seu refúgio nos dias de tristeza e seu santuário nos momentos de dúvida. Cada visita revelava novas histórias, escondidas entre as flores e frutos. Havia a magnólia prateada que, ao ser tocada, sussurrava canções de ninar em línguas antigas, e os lírios roxos que libertavam memórias de amores perdidos e reencontrados.

Um dia, ao explorar uma área que nunca antes notara, Luísa encontrou um pomar oculto. Entre as árvores frutíferas, uma macieira de frutos dourados chamou sua atenção. As maçãs pareciam pulsar com uma luz interna, e ao morder a fruta, ela foi transportada para um banquete medieval, onde reis e rainhas celebravam vitórias e choravam derrotas. Sentiu o gosto do vinho, ouviu o som dos alaúdes e viu o brilho das armaduras. Cada mordida trazia uma nova cena, uma nova história.

Mas foi sob a sombra de uma figueira ancestral que Luísa encontrou o fruto mais surpreendente. Os figos, de uma tonalidade azul profunda, estavam carregados de um aroma misterioso, como uma mistura de maresia e terra molhada. Ao provar o primeiro, ela foi transportada para uma praia deserta, onde um homem solitário construía castelos de areia enquanto sussurrava o nome de um amor perdido para o vento. Luísa podia sentir a solidão e a esperança daquele homem, e quando mordeu outro figo, ela estava em uma floresta densa, assistindo a uma mulher dançar sob a luz da lua, celebrando sua liberdade recémconquistada.

O jardim, com o tempo, tornou-se para Luísa mais do que um refúgio; tornou-se uma parte essencial de sua vida. Ela começou a compreender que cada flor e fruto ali presentes não eram apenas lembranças de outros, mas também pedaços de sua própria história, vivida e por viver. Os jasmins brancos lembravam-na dos dias felizes de sua infância, os girassóis enormes representavam as escolhas corajosas de sua juventude, e os frutos exóticos de cores vibrantes prometiam futuros ainda desconhecidos.

Uma tarde, já adulta, Luísa encontrou um caminho que a levou ao centro do jardim, onde uma fonte de águas cristalinas jorrava sem cessar. Sentada à beira da fonte, ela viu seu reflexo na água, mas também vislumbrou rostos familiares: seus pais, seus amigos, amores passados e futuros. Compreendeu então que o jardim era uma teia de memórias compartilhadas, um espaço onde todas as vidas se entrelaçavam em um mosaico de cores, aromas e sabores.

Decidiu, naquele momento, plantar sua própria árvore. Uma cerejeira de flores rosadas, símbolo de renovação e esperança. Enterrou ao lado da muda um pequeno medalhão que pertencia à sua mãe, como uma oferenda ao jardim e ao tempo. As flores da cerejeira desabrocharam com uma intensidade surpreendente, exalando um perfume que trazia à mente todos os momentos de alegria e tristeza, de amor e perda, de vida e morte.

Luísa sabia que, assim como todos que vieram antes dela, sua história agora fazia parte do Jardim das Memórias. E enquanto houvesse alguém para descobrir e nutrir aquele espaço mágico, suas lembranças jamais se perderiam. Assim, o jardim continuava a crescer e a florescer, um

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eterno testemunho da beleza efêmera e eterna das vidas que o tocaram.

Campos gerais

Quando a tarde caía e sol declinava no horizonte, o dourado se espraiava pelos campos das gerais. E lá ia o mutirão de aceiro, porque a época da queimada chegava ao sertão. Corta campo aqui, acera ali e iam os vizinhos circundantes preparando para a queimação. Curiosa e aventureira, eu ia acompanhar os trabalhos. No meu olhar de criança, o pesar pela vassourinha roxa. E passava a recolher o maior número de florzinhas possíveis para salvá-las da extinção. Para fascínio e beleza, depois do fogo e das águas, elas ressurgiam mais vívidas e mimosas a cada temporada. Eita, florinhas teimosas!

E o dourado dos campos transforma-se num tapete verdinho a perder-se de vista. Os campos verdejantes agora são pastagens para as vaquinhas leiteiras do vovô. Todos os dias, depois de ordenhar e apartar os bezerros, ele ia tocando suas vaquinhas para a queimada. Numa linda manhã de sol, retorna ele todo faceiro:

Achei! Achei! A flor mais cheirosa do campo! Cheira procê vê!

E a minha inocência de criança logo vai sentir o tal perfume.

Oh, ventura! Oh, embuste! Era espinho e nem cheirinho tinha o tal do para-tudo!

É tão rara quanto bela essa rosa de minha terra. Ela é mista de vermelha, laranja e amarela e o espinho é a sua própria pétala. Não tem cheiro, só espinhos, mas, nos campos, a mais bela.

Outra que também encanta é o lírio do sertão que até para os poetas serve de inspiração. São lindos e imponentes rosa ou branco deixam sua impressão. Muito frágil; leve odor; solta leite e não deve ser apanhado, senão cola sua mão.

Dos meus idos de criança guardo também na lembrança, as idas para escola. Material na sacola e pelos caminhos e estradas de terra batida, serpenteados por campos e grotas, ia agregando novos amigos a cada encruzilhada. Criançada reunida a aventurar-se em descobertas mil: cheirar a raiz do gelol do campo, plantinha rasteira encontrada em áreas arenosas à beira das estradas; chupar “azedinha” amarela, conhecida pelo povo por murici do cerrado; outra que dava também disputa era o araçá do mato, mas esse necessitava de cuidado porque tinha o bom e o bravo que precisava ser logo identificado, caso contrário, o sujeito estava complicado. Mas o que nos deixava mais felizes era encontrar um pé de gabiroba carregado.

Nas férias escolares, o passatempo em família era andar pelos campos verdes. Eu e meu irmão íamos sempre de olhos atentos a cada vegetação e, quando avistávamos de longe um pé de cerejeira, já disparávamos em correria. O que chegasse primeiro, como prêmio, as mais maduras e vermelhas comeria. Eram tardes lindas e fagueiras que para sempre na memória ficaria.

Nas bordas das capoeiras que protegiam as nascentes de águas cristalinas sempre encontrava ora um pé de araticum ora um pé de veludo preto. Os araticuns e os veludos eram docinhos e saborosos. Um verdadeiro banquete para o

paladar de crianças não acostumadas aos doces industrializados.

Quando menina moça sonhava passeava de mãos dadas com o namorado pelas gramíneas verdes a admirar as belas flores do cerrado ou então passear pelos campos dourados, sentindo o vento frio de o inverno açoitar nossos corpos. Sempre admirei as flores do campo. Elas têm um quê de rústico, um certo ar primitivo, talvez pelas intempéries que enfrentam, mas nem por isso, são menos belas. Ah! A velha máxima “éramos felizes e não sabíamos”... Agora tudo isso não passa de doces quimeras.

Hoje aqui neste apartamento de vidraças embaçadas, cercada por arranha-céus, só me restam a lembrança e a saudade dos meus campos gerais. Enquanto estou aqui divagando, o meu cerrado é atacado por uma praga devastadora: a cobiça humana. Ele resiste, não mais às queimadas de outrora, mas às plantações de eucaliptos, braquiárias e monoculturas. Resta-nos o aterrorizante questionamento: até quando?

GLOSSÁRIO

Araçá = Psidium guineense Sw.

Araticum = Annona crassiflora

Azedinha = Byrsonima crassifólia

Cereja = Eugenia punicifolia

Gabiroba = Ampomanesia xanthocarpa

Gelol = Polygala paniculata

EDITORA OLYMPIA

Lírio branco = Mandevilla antennacea

Lírio rosa = Mandevilla illustris

Para-tudo = Gomphrena arborescens

Vassourinha roxa = Chaetostoma glaziovii

Veludo = Guettarda uruguensis

O doce olhar dum curumim

Myron Alberto Ávila Le véritable voyage de découverte

ne consiste pas à chercher de nouveaux paysages, mais à avoir de nouveaux yeux.1

Marcel Proust

Guardi il mondo con occhi innocenti e tutto è divino.2

Federico Fellini

No tempo tempo em que não havia a Sombra Branca sobre nós e Jurupari, Deus dos Sonhos, ainda não virava Deus dos Pesadelos… No tempo quando entre todas as línguas do mato, todas inteligíveis, a nossa virou a língua

1 A verdadeira jornada de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos.

2 Olha o mundo com olhos inocentes e tudo é divino.

Sateré-Mawé… No tempo em que a Samaúma crescia enorme conectando até o infinito a Terra e o Céu… Nesse tempo foi que aconteceu tudo…

A minha avó falava olhando prá floresta, seus olhos tão verdes como o mato nesse momento. Eu escutava absorto, encantado, imaginando tudo.

Lá, nas terras dos Sateré-Mawé que eram todas uma legítima bênção de Tupã, o Senhor do Trovão, criador do Céu, da Terra e das Águas. Além dos saltos e as voltas do Mã-nd-yêrê, quase chegando à imensidade liquida e prodigiosa do Parà-nà-guaçú. Lá onde tudo é verdeiro e corrente e as vezes até o Céu virava vegetal, lá foi onde nasceu o belo e corajoso Sehahún, o curumim-isaig.

Ele apenas havia passado pelo ritual das tucandeiras, aquelas formigas de fogo que transformaram seus membros em chamas, que feriram até sua alma durante um dia e uma noite inteiros. Sehahún tinha feito seus pais encher como sapos de orgulho, por ter sido além de corajoso, invencível. Ele tinha olhado aquelas luvas recheadas de formigas injetando nele uma dor lancinante mas sem emitir um som, sem sequer piscar. Seus enormes olhos negros nunca revelaram mais do que serenidade, e sua pele perolada de um ocre perfeito não brilhou com a vergonha dum suor angustiado. E isso significou para a sua tribo que ele não era mais um kurum hín, mas sim um isaig quase um homem. Ainda assim, porque sua coragem era a de um isaig, e sua alma, do jeito que todos podiam ver fluindo docemente de seus olhos, ainda era a de um kurum hín; era por isso que nos meus olhos inocentes de criança, ele virou um curumim-isaig.

Sim, contava a minha avó, o rapaz era lindo. Sua pele era de um tom ocre dourado e doce como a tucumã. Seus

olhos, pretos como a manta abençoada da noite. Seus cabelos também pretos e cintilantes como penas de jacamim. Sehahún era tudo o que sua ny e seu ywót, seus pais idosos, pediram para Tupã que seu único filho fosse. E não só era bonito e valente, não, também era de bom coração e de inteligência extraordinária. Era o tesouro mais querido de seus pais, e como sua tribo sabia bem que aquele curumim-isaig era um presente de Tupã, todos o estimavam com a certeza de que ele traria só bênçãos e alegrias ao seu povo.

Um dia, Sehahún saiu para apanhar frutas no mato. Seus pais gostavam muito de todas as frutas que haviam naquelas terras. Seguindo os passos serpenteantes das águas do Andirá com seu paneiro às costas, o rapaz sabia onde pegar os frutos mais bondosos dos murizeiros, os ingazeiros, os abieiros, as palmeiras de bacaba e as árvores de camapú; e como sempre, todos lhe ofereceriam as suas doçuras meigas que os pais dele adoravam. O curumimisaig caminhava e colhia tudo aquilo enquanto conversava com os pohit, os esmeraldados gafanhotos, e cumprimentava os hyt’i, os tornasolados beija-flores, falando com eles e com todos os outros bichinhos na língua comum do mato, a tagarelice dos pirikítu.

Desde as alturas do Céu, Tupã observava o curumim-isaig sorrindo orgulhoso; certamente, não havia na Terra que Ele tinha criado uma criatura mais magnifica, nesse instante, que o pequeno Sehahún. Não, nem mesmo Jurupari conseguiria criar jamais um sonho mais atraente, Tupã diz para os outros deuses.

Ao ouvir isso, Jurupari ficou ressentido e até odioso contra Sehahún, decidindo que ele logo morreria. Tornando-se abominável, Jurupari conjurou todo o poder maligno e construiu para si o corpo de uma surucucu gigante, tão

grande que, rastejando no chão da selva, até parecia uma tatajuba caída. Mas essa surucucu também era letal demais porque Jurupari tinha construido seu perverso disfarce de serpente com os corpos de milhões de tucandeiras; logo a besta reptiliana possuia uma mordida de fogo igualmente letal.

O curumim-isaig poderia ter provado ser imune ao fogo de umas poucas tucandeiras, pensou Jurupari, enrolado em sua nova pele de surucucu, branca, ocre e preta, mas o relâmpago da mordida de milhões delas sem dúvida aniquilaria o rapaz detestável. Numa clareira da floresta onde Sehahún havia encontrado tantas árvores frutíferas que ele estava quase por encher sua cesta até a borda, a cobra o emboscou, enrolando-se e contraindo-se nele, atingindo a face dele antes de atirar com seu pico de jaca a picada venenosa no seu alvo, o peito do pequeno.

Porém, nos olhos limpos, cheios de noites estrelhadas do curumim-isaig, não houve surpressa nem medo. Não.

Tudo ao contrário, Jurupari só descubriu ali calma e orgulho de milenios, de tempos que precediam todo mal, todo ódio e toda destruição. Era o olhar de trovão cegante de Tupã, um olhar fulminante, mas também sereno e preto como tinta jenipapo; era sobretudo um olhar doce, tão doce assim que só conseguiu enraivar mais a surucucu. Cheia de ira e rancor e amaldiçoando o nome de Tupã, a mostruosa cobra enterrou seus colmilhos no peito valente do rapaz. Mas o curumim-iseig nem sequer piscou. Ele continuou olhando para a serpente, a mão esquerda dele ainda segurando a cesta cheia de frutas méleas. Foi assim que aquela cobra gigantesca chegou a sentir verdadeiro medo dele e, largando-o, fugiu.

A chuva e os trovões que se seguiram, juntamente com o facto de Sehahún ter estado ausente durante muito tempo,

alertaram os pais do rapaz que, reunindo os mais fortes guerreiros da sua tribo, partiram à procura dele. A fúria de Tupã assim manifestada na chuva e nos trovões que soltou, foi agourenta para todos, e logo depois toda a tribo estava seguindo os pais de Sehahún e os guerreiros. Não demoraram muito para encontrar o pequeno herói; Tupã tinha levado a chuva e enchido de luz um amplo caminho para eles.

Eles encontraram Sehahún deitado sobre uma cama colossal de verde folhagem e frutas da floresta, com seu panheiro derrubado ao lado. O curumim-isaig já estava morto mas, no entanto, também não estava! Seu corpinho parecia uma estátua perfeita de argila ocre, seus cabelos arrumados como penas de jacamim, e seus olhos... seus olhos estavam bem abertos, brilhantes, ainda cheios de vida e doçura, ainda fitando o rancor e a maldade de Jurupari.

Sua ny e seu ywót choraram inconsolavelmente, acariciando o rosto e os cabelos do filho caro, lamentando, gritando sua dor e sua confusão, suplicando a Tupã que os levasse, sim, que os matasse, para que eles pudessem ficar por sempre aí, com o filho. E testemunhando tal cena, a crueldade e o tamanho da tragédia, logo levou o resto da tribo às lágrimas também. Quando Tupã finalmente teve compaixão de todos eles, contemplando os olhos abertos de Sehahún, retirou-os do corpo do rapaz, que instantaneamente desapareceu no canteiro de verdes vibrantes e frutas saudáveis sobre o qual estava deitado.

Seus olhos serão sementes disse Tupã à multidão enlutada , seu corpo e todos os frutinhos que colheu formarão seu terreno acolhedor… e as lágrimas de vocês serão o amor fecundante que fará crescer uma árvore alta, orgulhosa e gentil que perpetuará o olhar de vosso

Sehahún para todos vocês, alimentando-os com sua coragem e sua bondade.

E assim foi.

Minha avó já tinha me contado a história antes, mas como eu não me cansava de ouvi-la contar, mais uma vez ela tinha cedido, e foi assim que o guaraná germinou novamente diante dos meus maravilhados olhos de criança e cresceu alto, tão alto que seus galhos soletraram todo o nome de Tupã no céu amplo e benevolente; e de repente a doçura abundante de Sehahún, o esplendoroso e corajoso curumim-isaig Sateré-Mawé, virou na minha direção com as Plêiades magnificas e sempiternas de seus olhos.

O corpo frutífero

Imagine um lugar, um lugar que pode ser em qualquer lugar, mas um lugar em uma floresta úmida e quente com a terra fofinha e nutritiva.

As frutas caem das árvores e apodrecem no chão, os animais defecam as sementes das suas plantas favoritas, um pequeno mamífero, um esquilo ou um musaranho talvez, sofreu um mal súbito e agora a sua carne apodrece na terra, comida para quem estiver disposto.

No solo desse lugar maravilhoso, se alimentando de todas essas delícias que acabei de descrever, um amontoado de pequenos fiozinhos brancos, hifas, formam um fungo. Se alimentando e crescendo, esperando a chuva chegar para poder produzir o seu maior fenômeno, a continuidade de sua existência, o corpo frutífero.

Assim como as plantas ao seu redor o fungo faz crescer seu corpo frutífero que protegerá suas sementes, os esporos, e garantirá os futuros funguinhos.

Então a rã quachou, o beija-flor se escondeu, as toupeiras foram para os seus buracos, e a primeira gota de chuva caiu.

A gota se transformou em garoa, a garoa se transformou em tempestade, as poças d’água se transformaram em lagos

e o fungo absorveu as finas gotas que lhe deram foças para inflar as suas hifas e esticá-las para fora da terra, e em uma harmonia cruzada o fungo criou o seu corpo frutífero, cumprido, torto e acinzentado. Um cogumelo.

Ele durou longos dias naquele solo, o vento soprou sobre ele jogando seus esporos por aí, um caracol enxerido o quis comer mas logo foi afugentado por um terrível odor estratégico que o convidou a se retirar com não muita educação, borboletas pousaram sobre ele para tirar um descanso e um gato passou para investigar esse ser estranho, rodou em volta, cheirou e se esfregou no pequeno cogumelo.

O gato não ficou muito tempo por lá, foi andando tranquilamente sob a garoa de fim de tarde até sua casa, uma linda construção de pedra iluminada por lindos lustres brilhosos que eram polidos todos os dias por um humano, um tal de fulano. Esse fulano tinha muita afinidade com o gatinho e sempre o recebia com alegria e muitos carinhos, mas hoje o gato não estava para conversa, todo molhado ele se balançou todo para se secar e foi embora.

O fulano, coitado, foi atingido por milhões de gotinhas de água da chuva, o ar foi presenteado com milhões de esporos do cogumelo de algumas horas antes, que agora estão livres para viajar por aí sem direção até encontrar um cantinho para nascer e virar um novo fungo.

Por sorte essa viagem não foi longa, logo os esporos encontraram um cantinho escuro, úmido e bem quentinho para viver.

Era um lugar um tanto esquisito, é verdade. Aumentava e diminuía toda hora, como um balão que se enche de ar,

isso porque ainda não mencionei os barulhos esquisitos, mas os fungos não ligam muito para isso, eles não ouvem. Mas por mais esquisito que seja o lugar, não é nada que não dê para se acostumar, afinal, onde mais eles encontrariam recursos tão vastos e infinitos?

E lá os esporos ficaram e se tornaram fungos, suas hifas se espalhando para todos os lados decompondo tudo que toca, e as hifas se expandiam cada vez mais.

Depois de alguns dias já estava na hora de criar um corpo frutífero, novos fungos e novas gerações seriam frutos dessa nova etapa. Já estava na hora.

Mas e o gatinho e o fulano?

O gato está na casa de pedra, deitado sobre um dos lustres, esperando preocupado que o fulano volte do hospital, faz dias que fulano sofre das piores dores e piores loucuras que só uma pneumonia fúngica é capaz de causar.

A goiaba que queria ser eterna

Quando Goiabinha nasceu, era verde, e todas as pessoas que a olhavam diziam: “Como é robusta e bela esta goiaba! Ela é, sem dúvida, o destaque deste pomar!”

Depois, Goiabinha tornou-se amarela e todos comentavam: “Ela é linda como o romper da aurora!”

Mais tarde, quando Goiabinha amadureceu completamente, todo mundo lamentava: “Que pena! Esta goiaba faz de tudo para que nos afastemos dela!”

Sem saber o porquê da própria existência, Goiabinha se isolava cada vez mais. Mas sua beleza era tanta que, mesmo a se esconder, ela brilhava e, além de chamar atenção, deixava a todos com água na boca. Era avistarem Goiabinha dependurada, e as pessoas se lambiam ao imaginarem o seu sabor. Mesmo assim, não havia jeito de fazê-la mudar o modo de agir. Inclusive, sua mãe, a dona Goiabeira, não se cansava de lhe dar conselhos.

― Goiabinha, a vida não é bem o que você imagina, minha filha! Procure prestar atenção nos exemplos dados por suas irmãs, que, sempre alegres e dispostas, preparam-se para a colheita e se dispõem a cumprir a missão de fazer felizes os que apreciam uma boa goiaba madura. E elas não só se deixarão ser transformadas em compotas e goiabadas,

como também estão prontas a se entregarem à ação de um liquidificador, porque sabem que a dor as transformará em saboroso suco. Assim é a vida, minha querida Goiabinha, e cada um deve fazer a sua parte, para que o convívio com os que nos rodeiam se torne mais agradável e nos livre das dificuldades que impomos a nós mesmos. Desse modo, que tal você seguir os bons exemplos de suas irmãs? E creia, minha filha, quem desempenha suas tarefas com amor, sejam elas quais forem, certamente está evitando as mágoas que resultam da preguiça e da rebeldia sem causa.

Dona Goiabeira falava, falava, falava, mas tudo parecia ser em vão: era só se aproximar alguém de Goiabinha, e ela logo reagia: “Saia para lá com essas suas mãos sujas! Não vê que pode me contaminar?”

Naturalmente, as pessoas nada ouviam, pois supunham que goiaba não falasse. Aliás, foi o caso de um colono que avistou Goiabinha.

― Eta goiaba bem linda, sô! Ela deve tê um gosto muito especiar de bão!

Crente de que iria ser devorada pelo homem, Goiabinha mostrou-se ainda mais indignada.

― Não se atreva a me devorar, seu matuto nojento! Se você fizer isso, eu juro que provocarei em você uma dor de barriga tão grande, mas tão grande, que não haverá matinho suficiente para resolver as suas necessidades.

Sem ao menos imaginar que estava sendo ameaçado por Goiabinha, o feliz e sorridente trabalhador do campo disse:

Mais num se preocupe, eu num vô apanhá ocê agora. Vô lhe dexá reservada e, bem mais tarde, vô prantá suas semente.

Naquele mesmo dia, armou-se um violento temporal. Resultado: o estrago foi grande, pois, não resistindo à força do vento, Goiabinha acabou caindo do galho. Mas muito mais triste ainda foi como isso aconteceu: arrastada pela água da chuva, ela rolou e rolou, sem saber o que fazer.

Muitos outros componentes do pomar também despencaram. Entretanto, todas as irmãs de Goiabinha foram imediatamente salvas pelos filhos dos peões, que, em algazarra festiva, corriam de um lado para outro e gritavam: “Oba! Peguei mais uma! Peguei mais uma!”

Para Goiabinha, porém, esse fato representou um triste golpe do destino: “Puxa vida! Logo eu, que pretendia permanecer eternamente jovem e bela, tinha que passar por uma experiência tão desagradável!”

Cessada a chuva, Goiabinha viu-se em cima de um tronco. Sentia-se só e não sabia como conseguir ajuda. “E agora, o que faço?... Ei, tem alguém aí?” ― dizia, tentando mostrarse forte.

Então, para alívio da fruta solitária, alguém respondeu:

― Sim, eu estou aqui. Em que posso ajudá-la, linda goiaba?

― Mas, afinal, quem é você? Onde está? Não consigo enxergá-lo!

Sou eu! ― disse, aproximando-se, um simpático e rastejante vermezinho.

― Cruzes! Quem é você?

― Não se assuste, minha cara goiaba, eu não vou lhe causar mal algum.

― Ah, é? Eu não sei, não! ― disse Goiabinha, desconfiada.

― Ué! Você tem certeza de que nunca ouviu falar sobre mim?

Bom, pelo seu aspecto horroroso, eu até creio que já ouvi!

― Pois sou, exatamente, quem você está imaginando que seja. Muito prazer em conhecê-la! O meu nome é Bichinho. E saiba: estou à procura de uma fruta onde eu possa morar. Mas, espere, eu conheço você! Hum, deixeme ver...

― Ufa! Até que enfim! Eu estava achando muito estranho você não ter me reconhecido logo! Afinal, sou Goiabinha, a mais bela entre as belas do pomar. Mas sem essa de querer morar em mim, seu vermezinho insignificante! E não fique me olhando deste jeito!

― Oh! Que pena, Goiabinha. Eu adoraria morar em você. Já imaginou que legal seria poder me apresentar dizendo: sou o bichinho da goiaba mais bonita do pomar?

― Credo! Nem pense nisso! Eu, que não gosto nem que os humanos me toquem, vou permitir agora que uma minhoquinha nojenta se encoste em mim? Ora, faça-me o favor!

― Então está bem. Se você não me quer como inquilino, eu vou embora!

― Não, Bichinho, eu lhe imploro, não vá! Não me deixe aqui sozinha!

― Tudo bem. Já que você insiste, eu fico. Mas só se você deixar eu morar em você!

Apavorada com a proposta de Bichinho, Goiabinha suplicou:

― Não, por favor, não me toque!

Calma, sua tolinha, eu só estou brincando com você!

Está bem, eu lhe faço companhia por um tempo e depois sigo adiante, em busca de uma fruta de boa vontade que me dê abrigo.

― Escute aqui, seu bicho feioso: por acaso você está insinuando que sou uma goiaba de má vontade? Como você se atreve?

― O que você acha? ― diz o bichinho, em tom de provocação.

― Não estou pensando nada. Só espero que você não esteja achando que sou uma goiaba qualquer.

― Sem essa, Goiabinha. Como eu já lhe disse, você é linda. Então, trate de se acalmar e, sem perda de tempo, conversemos. Bom, nesse caso, sobre o que falaremos? Você escolhe.

― Ah, eu quero mais é saber: onde estamos, Bichinho? Por acaso, você sabe?

― Sim! É claro que sei! Esta é a mais fértil de todas as áreas desta região.

― Certo. E daí, o que isso tem de importante?

― Bem, eu não sei se você sabe, mas todo solo fértil produz com facilidade e é capaz de se tornar favorável à germinação das sementes que dão continuidade a todas as espécies, resultando daí o que podemos chamar de descendentes.

― Descendentes?

― Sim! Não me diga que você não sabe o que são descendentes.

― Pois não sei mesmo! E você, sabe?

― Sim, Goiabinha. E é muito fácil definir: descendente é quem descende, entendeu?

A fim de disfarçar a total ignorância sobre o assunto, Goiabinha fez apenas ares de interrogação.

― Como é, entendeu ou não entendeu? ― ironizou Bichinho, percebendo que havia algo estranho.

― Bem... Eu até sei... Só não sei explicar! ― disse Goiabinha, em seu habitual exibicionismo.

Engraçado, comigo ocorre o mesmo ― aduziu Bichinho

―, eu sei o que significa, porém, também não consigo explicar. Mas penso que uma boa definição é: descendente é aquele que nasce de alguém. Você não acha, Goiabinha?

Normalmente, os filhos são exemplos de descendência dos pais e...

― Pois também é assim que eu entendo! Ah, que tal mudarmos de assunto, Bichinho, esse tipo de conversa me deixa muito chateada!

Antes, porém, que surgisse outro tema, Goiabinha pôs-se a lamentar.

― Ah! Bem que minha mãe sempre me avisava: “Filha, pense bem. Mais dia menos dia, você acabará amadurecendo demais e só um fim a aguarda: a queda e o apodrecimento. E, dependendo da forma como esses fatos ocorrem, você acabará concluindo que viveu em vão.” Ai, Bichinho, eu estou quase me convencendo de que minha mãe tinha razão. Oh! Pobre de mim: eu, que sempre fui tão linda, tão viçosa, tão cheirosa, agora estou aqui, atirada neste tronco, longe dela e de minhas irmãs!... Menos mal que a tempestade já passou!

― É, Goiabinha. E o sol está forte demais! Veja, estou todo suado!

― Ai, nem me fale, Bichinho! Eu também estou suando tanto! Acho até que começo a cheirar mal!

― Ora, Goiabinha, não se preocupe com isso. Quem, afinal, não passou por situações semelhantes nesta vida?

― Ah, então você concorda que estou fedendo, não é mesmo?

― De forma alguma, amiga! O que está vindo de você é só um cheirinho forte de goiaba!

― Grande conclusão essa sua. Se sou uma goiaba, você queria que eu cheirasse a quê?

― Pois é o que estou tentando lhe dizer! Você é uma goiaba e está cheirando a goiaba, ora! Por essa razão, não há por que se preocupar!

― Mas você acha que o meu cheiro está muito forte mesmo, Bichinho?

― É... Digamos que está cheirando um pouquinho! Mas acho que é devido ao calor; não esquente a cabeça!

― Diga-me a verdade, Bichinho: você tem certeza de que não estou cheirando a goiaba passada?

― Bem, Goiabinha, pode até ser. Mas o que importa, amiga? Você não acha que devemos aceitar as transformações pelas quais todos nós temos de passar? Se pensarmos de modo contrário, o sofrimento se torna inevitável e as consequências poderão ser lastimáveis!

Assim sendo, que tal você passar a prestar mais atenção nas coisas que a rodeiam, e também repensar os seus próprios valores? Será que os bens que você pensa possuir têm realmente o valor que você atribui a eles?

― Ai, Bichinho, você está aí, falando, falando, e vou lhe ser sincera: não sei o significado da maioria das palavras que você acabou de dizer.

― Tudo bem, Goiabinha. Mas nada a impede de interessarse em aprender, não é mesmo?

― Como assim, Bichinho?

― É muito simples: você já ouviu falar no Dicionário?

― Mas é claro que sim, né, Bichinho?

― Pois saiba, Goiabinha, que ele é muito meu amigo e passa por aqui todos os dias. E o que é melhor: como todo bom dicionário, ele está sempre disposto a colaborar com todos que, na busca do significado das palavras, o

procuram e se tornam cada vez mais bem-informados sobre a nossa querida Língua Portuguesa.

― Ah, Bichinho, eu sinto muito, mas devo lhe informar que continuo sem entender a metade das coisas que você diz e, sinceramente, não me interessa saber. O que desejo, mesmo, é continuar sendo a melhor de todos e de todas!

Você entendeu?

― Claro, Goiabinha! E respeito seus desejos, minha amiguinha. Mas, por acaso, você já parou para pensar que só são verdadeiramente grandes aqueles que sabem valorizar as pequeninas coisas?

― Ora, Bichinho, eu nunca perdi meu tempo pensando nessas besteiras!

― Então, tudo bem. Mas raciocine comigo: o que seria da população, se não houvesse quem transportasse o lixo de suas moradas? Como podemos desprezar quem faz comida, varre as ruas, limpa banheiros e lava o chão?

Diariamente, nós nos deparamos com trabalhadores que executam essas importantes tarefas... Só que, infelizmente, são raros os que, mesmo sendo beneficiados, sabem ser gratos diante de tamanho esforço. Goiabinha, Goiabinha: não queira fazer parte da lista dos ignorantes que pensam bastar-se a si e desprezam aqueles a quem julgam inferiores, porque estes exercem funções que não levam à fama. Convença-se, minha amiga: todos nós, queiramos ou não, dependemos uns dos outros para viver. Então, o que você acha de tudo isso?

― Olhe, Bichinho, honestamente, eu não sei porque você está me dizendo essas coisas. Então, responda-me: afinal, o que eu tenho a ver com tudo isso?

― Puxa, Goiabinha, não se faça de tonta! Você não acha que a nossa felicidade é do tamanho da felicidade que proporcionamos aos outros?

― Ah, Bichinho, sabe de uma coisa? Estou tão confusa que não sei mais nada. Penso até que o meu fim está próximo.

― Não diga uma coisa dessas, Goiabinha. Afinal de contas, tudo acaba se transformando! O que significa que não existe fim para nada e ninguém!

― Como não, Bichinho? Olhe só o estado em que estou? Não sou nem a sombra do que fui! Raras são as partes que se conservam amarelas em mim! Oh! Estou ficando coberta de manchas escuras!

― Ora, Goiabinha, procure manter-se calma. Esteja certa de que tudo se resolverá da melhor forma e, quando você menos esperar, eis que surgirão novas oportunidades. E, para compensar o tempo em que viveu separada dos outros, o milagre da natureza se manifestará, e de você nascerão goiabeiras que, por sua vez, darão outras tantas goiabas, todas com muitas sementes. Desse modo, querida Goiabinha, em evolução constante, a vida continuará.

Naquele instante, um vento leve acariciou Goiabinha e fez ecoar o canto de Bichinho:

― Fruta que não é saboreada/ está destinada ao apodrecimento/ Semente que apodrece/ está destinada ao não renascimento/ Ser que não renasce/ está destinado ao

não crescimento/ Tudo que não cresce/ está destinado ao não desenvolvimento/ Mente que não se desenvolve/ está destinada ao não entendimento/ Todos os que não entendem/ estão destinados ao não encantamento/ Vida que não encanta/ está destinada ao esquecimento.

Essas foram as últimas palavras ouvidas por Goiabinha, pois ela adormeceu e não mais acordou. Mas, de repente, um mágico e cristalino tilintar se fez ouvir. Foi quando sua primeira semente se deslocou e caiu no solo fértil. Era o prenúncio de que algo novo e melhor estava por vir: davase a continuidade da vida em tempo de nova semeadura. E logo, entre as cores que do sol se refletiam, mais e mais sementes de Goiabinha foram se espalhando pela terra.

O pequenino verme, que sonhava em ser um bichinho de goiaba, estava convencido de que tudo o que acabara de presenciar representava apenas o fim de um estágio e o começo de uma vida mais feliz. Em vista disso, ele pensou em prestar uma homenagem à amiga e, entre as suas sementes, tomou as mais fortes. Então, a rastejar cuidadosamente, conduziu-as ao centro de um lugar encantador chamado Jardim de Delícias, onde as plantou e desejou que Goiabinha, quando ressurgisse transformada, pudesse perceber que a vida é uma linda caixa, cheia de presentes, na qual cada um escolhe, livremente, o que mais deseja.

* * *

Agora, contando com sua solidariedade no sentido de tornar nosso mundo cada vez melhor , uma sugestão: ao abrir a “caixa de vida” que lhe pertence, e nela encontrando uma convidativa agenda, que tal passar a

registrar o que deseja tornar realidade a fim de ser feliz e também poder proporcionar momentos de felicidade a tantas quantas criaturas você puder?

Assim, anotando anseios e, principalmente, pondo-os em prática, boa sorte!

O jardim da Dona Paula

Parte I: Primavera

Bem no dia de Natal de 1953, a cegonha trouxe ao mundo a minha mãe, que nasceu sendo a sétima de uma penca de irmãos, quatro homens e três mulheres. Foi em Minas, mais precisamente em Poços de Caldas, cidade que fica ao sul desse estado, tão perto de onde moramos hoje, mas ao qual, ironicamente, nunca estive. Eu, segundo filho dessa menina que, morena, cabelos lisos como os das espigas de milho, lembrando inclusive a cor deles, eu, quando adolescente, tornei-me, ou me reconheci como poeta e, desde então, poetizo a vida como posso.

Assim, minha mãe cresceu em parte na roça, pois seus pais, meus avós, Seu Dito e Dona Nica, eram colonos e, como é sabido, mudaram de quando em quando para onde lhes eram oferecidas melhores condições de trabalho. Ainda mais meu avô sendo esquentado como dizem que era. Convivi com esse avô, mas não tanto quanto poderia. A mãe da minha mãe morreu cedo, aos cinquenta e cinco anos, em 1981. Eu tinha quatro anos de idade, mas era muito apegado a ela. A ela, Dona Nica, que passou para minha mãe esse costume de, onde quer que morasse, fazer um jardim, uma forma de demarcar território, mostrando a quem passasse que ali, naquela casa, havia alguém que

acreditava nas flores, no passar do tempo e no poder da sua renovação.

Não, talvez a vó Nica nem tivesse consciência disso. E, talvez, a filha dela, minha mãe, também não tivesse, mas minha avó, mesmo sem ser explícita, encantava minha mãe com seus canteiros de beijinhos (marias-sem-vergonha) e de cosmos (ou estrelinhas, uma espécie de flor do campo, bem colorida, com variações de cores, sempre alegres e vivazes), que, mais do que dar flores, um jardim vivifica. Pena que saímos do Éden, ludibriados pelo Mal, enfim, culpa do desejo.

Desejo. Quais seriam os reais desejos da minha mãe se não tivesse se casado com meu pai? Que outras flores haveriam em seus canteiros? Sim, pois somos todos jardineiros de nossas vidas, todos homens e mulheres que, lá longe, nos primórdios, recebem da Vida as sementinhas do que virão a ser, ou a fazer, escolhendo quais plantar e quais jogar ao vento, talvez, para que outros, que já perderam as suas, também possam plantar. Pelo menos, o mundo seria melhor se todos não pensássemos tanto em nós, mas um pouco mais no próximo também. Afinal, há gente até mesmo sem canteiros onde plantar, muito menos com flores para colher. Não é o caso da minha mãe, que, além de ter tido uma vida completa, pois se casou, teve filhos, amou e foi amada, também teve a chance de fazer um jardim.

Bem, quando ainda era menina, mas já ficando mocinha, minha mãe foi morar na casa de um médico lá em São Sebastião da Grama, o qual queria até mesmo adotá-la, mas minha avó não deixou, afinal, para ela, filho não se descartava. Nunca. E, uma vez em Aguaí, minha mãe, adolescente, começou a trabalhar em casa de família como empregada, o que até bem pouco tempo, ela fez, fosse

fazendo faxina, fosse como diarista, termo que se usa hoje, uma perfeita “empreguete”, sempre ganhando o pão de cada dia.

O tempo passou, ela engravidou, perdeu o bebê, se casou com meu pai, um homem branco, filho de comerciantes na pequena cidade de Aguaí, no Estado de São Paulo, e, em 1977, mesmo ano em que Clarice Lispector se foi, eu cheguei. A cegonha teve trabalho para me trazer, pois nasci com quase cinco quilos! Em 1983, alguns anos depois, foi a vez do meu irmão, que nasceu mais mirrado, meio doentinho, mas vigorou. Depois, mudamo-nos logo para Mogi Guaçu.

Apaixonada por flores, aonde quer que fosse, reparava nas espécies, mas ainda sem muito conhecimento de seus nomes, nem formas de plantio e consequente cultivo, algo que lhe veio com o tempo e, mais recentemente, com a Internet, em que, pelo YouTube, ela assiste aos mais renomados biólogos e especialistas em plantas e flores dando dicas e verdadeiras aulas do que se quer e se precisa saber sobre isso. Experts.

Lembro-me das casas em que moramos até chegarmos a esta, em que ela, três gatos, Alzira, Peludo e Pretinha, moramos hoje. Houve o estaleiro de maracujá nos fundos da casa do Jardim Ypê II, o quintal da casa do Jardim Novo II, em que tinha uma mangueira (ou seria um abacateiro?) nos fundos do quintal, em que também havia escorpiões, sem falar no quintal da casa do Parque Residencial Zaniboni II, em que até mesmo pés de milho se formaram, dando lugar ao galo de estimação do meu irmão, ave que fora comida por um vizinho durante uma viagem da gente à Aguaí. Meu irmão chorou muito.

Lutando, como sempre, por um lugar melhor para nós, a mãe conseguiu se inscrever num programa de habitação da cidade de Mogi Guaçu, casa para a qual viemos conquistando um terreno no Jardim Igaçaba, nome indígena que quer dizer urna funerária, mas que, para a mãe, queria dizer mesmo é jardim. O lugar em que, segundo ela, faria um jardim de pedras, que foram buscadas pelo pai e por ela num lugar um pouco distante de casa, com ladeira, morro, pois, para a mãe, era preciso plantar, forjar a nossa primavera.

Parte II: Verão

A casa em que moramos, assim como outras daqui, ficam num elevado da rua, haja vista que o bairro todo é em desnível, “de caída”, começando no alto e, conforme se adentra nele, vamos descendo, descendo, até chegarmos à pista que dá para vários lugares distantes. Perto, o jardim da minha mãe também parece querer nos levar para vários lugares distantes. Foi pensado, imaginado e comporta desde um pé de uva japonesa, na calçada, até uma minúscula margaridinha, ou um cipó do tipo “barba-develho” num velho toco, encontrado para isso. Para isso, o jardim da Dona Paula, numa casa que viu meu irmão e eu adolescermos, eu adoecer com uma profunda depressão na juventude e, um pouco mais para a frente, meu irmão sair de casa para morar com aquela que viria a ser sua mulher e mãe de seus dois filhos, assim como a também saída de meu pai, devido à separação do casal.

Um jardim, assim como um pomar, não é feito só de vitórias. Há muitos revezes até que as flores e os frutos possam surgir e se firmarem como fortes e realmente

saudáveis. Afinal, se assim não fosse, não precisaríamos de podas, nem de nada.

Uma vez separada, minha mãe trabalhou de diarista, empregada doméstica, fez bolos e, em casa, com meu irmão mais novo, fez sorvetes e geladinhos, nunca se deixou abater, sendo que, depois de um bom tempo, eu melhorei, me firmei e, hoje, mesmo ganhando pouco, posso dar a ela o conforto possível, pois, como meu irmão se casou, teve filhos e, de uns anos para cá, foi morar longe, ficamos a mãe, os gatos, mais o jardim em casa. Uma casa, como lhe disse, que parece ver tudo, está no alto, com seu telhado que parece um chapéu, um chapéu de telhinhas.

Verão, o verão de minha mãe e do jardim da minha mãe custou-lhe o suor de seu rosto, as mãos calejadas e uma ânsia de ver o que o jardim ia dar. Deu-lhe, assim como tem-lhe dado, muitas flores, respeitando-se ainda a época das estações do ano, a época em que minha mãe tem que fazer os cortes tão temidos pelas suas caras hóspedes, folhagens, flores mesmo, manacá e primaveras, lanterninhas-japonesas, tudo circundado pelas pedras, por lembranças, memórias.

Dizem que uma andorinha só não faz verão, mas, no caso de minha mãe, não acredito.

Parte III: Outono

Assim como as estações do ano se revezam, mesmo que com toda a agressão sofrida, Deus, ou a Vida, como queira chamar, sempre dá um jeito de fazer as flores voltarem. Como bem disse o grande Tom em uma de suas canções, embaixo da neve, também mora um coração. O mesmo que palpita mesmo ao pé do outono, quando a estação de

nossa vida começa a ficar mais fria, pelo menos, aparentemente, e a gente ganha um tom amarelado, a pele fica mais fina, rompe-se à toa, como se necessitasse um pouco mais de água e cuidado, para não se rasgar.

Rasgando-se toda, minha mãe, depois que meu irmão se foi para longe com a família, foi ficando um pouco mais em casa. Teve algumas perdas significativas, amigas queridas, com quem ia ao baile, fizeram a passagem, deixando-a mais solitária. Sou seu filho, moro com ela, mas sinto que a gente também precisa de gente mais ou menos da nossa idade com quem dividir as coisas, com quem estreitar os laços, com quem enroscar os ramos, com flores ou sem, que nós temos.

Assim, entre os dias de outono, minha mãe se equilibra entre os cuidados com os gatos, a casa e o jardim, que continua florindo, embora ela sempre ache que esteja malcuidado. O perfeccionismo dela em relação às flores é grande. Um dia, quando ela tiver fechado suas pétalas para esse mundo, acho que não saberei cuidar do jardim.

Eu, que me encontro quase no outono também, formeime radialista e professor de língua portuguesa, mas trabalho mesmo como funcionário público municipal numa secretaria escolar. Sou, por força da arte, poeta, tento ser músico e vivo fotografando o jardim, poetizando-o todo.

A vida, mesmo antes da pandemia, já não vinha fácil, com a gente muito na defensiva, pulando as etapas, nada parecido com nenhum jardim. “Por que que a gente é assim?”, diria o mestre Cazuza, caso pudesse. Encantado, o poeta vive.

No jardim, a minha mãe, entre os gatos, dois mestiços de siamês e uma vira-lata, a Pretinha, ela vive. Faz os serviços

da casa, mas sem muita preocupação. Não que a vida já esteja ganha, ela nem se aposentou ainda, mas o outono reina.

Agora mesmo, me perguntou se deveria ou não varrer a calçada de casa. E já é inverno.

Parte IV: Inverno

O tempo é como um fôlego que a gente perde de repente. Sopra-se muito em vão quando se é jovem, mas, com o tempo, nosso fole vai ficando gasto, muitas vezes, mais triste, e, como se fôssemos uma árvore, vamos ficando nus. Tal e qual como viemos ao mundo, com poucas folhas.

Estamos no futuro, não sei precisar ao certo quando, mas sei que as folhas da minha mãe e até mesmo as minhas caíram um pouco mais do que da última vez que você e eu conversamos. Estávamos no outono, lembra? Ah, uma época em que não se está nem no verão, nem no inverno, uma época em que o clima oscila entre uma e outra, incerto, como se estivesse afinando as cordas de seu instrumento, até tocar a música certa!...

Foi quando vi minha mãe. Os cabelos ainda mais brancos, a pele ainda mais delicada, fina, rugosa, como a de um caule qualquer, de uma árvore que já viu muitas crianças em volta, teve seu tronco marcado por um amor que secou, mas deu a sombra de que alguém precisava.

Olhei para mim, também estava com as folhas mais murchas, já meio sem flores, o tempo.

Passado um tempo, a mãe e eu sozinhos em casa, os gatos já tinham ido para o céu que lhes pertence, fui procurá-la.

Chamei-a: Mãe! Mãe! Mãe!. Ah, mas é claro, o jardim! Fui

para a frente da casa, onde ainda havia o jardim. O jardim dela.

O vento cortava um pouco mais as folhagens, e os vizinhos de outrora tinham se mudado. Tudo estava distinto por lá, tudo. Cheguei ao jardim, olhei, olhei, mas não vi minha mãe. Não vi…

Voltei pelo mesmo caminho e, quando menos espero, um pé de flor diferente, com caules meio esquisitos, que eu nunca tinha visto por lá, se esbarraram em mim, ou eu me esbarrei neles. Parei, curioso pela nova planta e, para minha surpresa, ao olhar o conjunto, vi a forma de alguém que eu conhecia de há muito, desde quando meus olhos viram a luz e eu à luz fora dado. Uma flor que ficava bem no meio das outras, um pé de flor, um arbusto, com uma forma que eu jamais poderia supor. O nome da flor, daquele arbusto incomum, bem no meio dos outros, não poderia ser senão o daquela que tinha feito com as mãos seu próprio lugar. Minha mãe tinha virado flor.

Entre os meses, navegamos

Flores, gente, passarinhos

Frutos novos de uma essência

Que nos impele os caminhos

Fazendo que a gente cresça

Mesmo em pequenos raminhos.

Este conto é dedicado à minha mãe, Maria Paula, que ainda não virou flor. Mas floresce. Dela, herdei o gosto do conto,

da história, que ela também gosta muito de contar, e em pormenores, suas histórias. Talvez, nem sempre eu tenha tempo, nem paciência para ouvi-la. Talvez, não tanta como quando eu era apenas um raminho, e ela era para mim o jardim inteiro. Para ela, para minha mãe, estas palavras frias, mas que, como folhas ao vento, juntei e lhe dou.

O homem que cuidava das flores

Um homem solitário, em uma busca por desfazer-se de sua solidão, certo dia, decidiu comprar uma flor de sombra para ornamento. Comprou uma, pôs-a em um vaso bastante arranjado, demasiado bonito e espaçoso. Dedicando-se arduamente, nos primeiros dias, atentava-se com tamanho cuidado as necessidades que a pequena flor requeria receber: regava as delicadas pétalas ornamentadas, podava cuidadosamente e minuciosamente as folhas, cuidava com os componentes nutritivos do solo, bem como atentava-se com a quantidade de água e sol que a flor deveria de ser exposta diariamente.

_É flor de sombra. Muito sol deve matá-la, todavia, com tão pouco sol ela não vinga. – pensou o homem.

Assim, deixava a flor em sol indireto por alguns poucos minutos, depois a recolhia para a sombra e ali a deixava até o outro dia. Os dias foram se passando, enquanto a flor desenvolvia-se. A flor vingava cada vez, vezes mais, tornava-se majestosa e merecida de se admirar.

No entanto, talvez sem justificativa, um certo dia, a flor murchara, perdera o vigor, deixando o homem em desgosto e em frustração. Talvez o homem solitário não estivesse ainda pronto para cuidar de flores. Impreterivelmente, numa tentativa de superar a sua perda,

o homem decidiu seguir uma solução, de comprar novamente uma outra flor, estritamente idêntica aquela outra primeira. Assim, novamente demonstrou um terno cuidado, regou os ramos, podou as folhas que dali saiam, exatamente como antes fora feito. No fim, a flor acabou por vingar por mais tempo, no entanto, decorreu-se o mesmo destino da anterior, acabando por vir a murchar. Ainda hoje, o homem continua a procurar por uma flor, idêntica à aquela outra primeira, que vingue de fato. Talvez o homem solitário só não saiba cuidar de flores.

Índica

No vasto e reluzente reino de Svarga, situado no topo do Monte Meru, existia um jardim esplendoroso conhecido como o “Jardim dos deuses”. Este lugar era um paraíso de flores exóticas e árvores frutíferas, onde cada planta tinha um propósito divino. Entre as muitas árvores, a mais admirada era a mangueira, cujas frutas eram tão suculentas e doces que diziam ser uma dádiva dos deuses. No centro do jardim, Kama Deva, o deus do amor e do desejo, frequentemente passeava, encantado com a beleza ao seu redor. Com um sorriso nos lábios, ele observava as flores desabrochando e os frutos crescendo.

Cores e fragrâncias de amor murmurou Kama Deva, tocando levemente uma flor de manga. Vocês são a essência da minha existência.

Kama Deva, um jovem e belo deus com seu arco feito de cana-de-açúcar e cordas feitas de abelhas, decidiu que as flores de manga seriam um acréscimo perfeito às suas flechas. Ele pegou uma das flores, inalando profundamente a fragrância inebriante.

Que poder surpreendente disse ele a si mesmo. Estas flores transformarão minhas flechas em instrumentos irresistíveis de amor.

Com um gesto gracioso, ele enfeitou suas flechas com as flores de manga. Ao fazer isso, uma onda de energia

amorosa percorreu seu corpo, quase o fazendo cair de joelhos. As flores de manga intensificaram o poder de suas flechas, tornando-as ainda mais mágicas e irresistíveis.

Os deuses estavam profundamente preocupados com o desequilíbrio que se instalara no cosmos devido à ausência de Shiva. Após a trágica morte de sua amada Sati, Shiva mergulhou em uma meditação profunda e imperturbável, retirando-se do mundo e negligenciando suas responsabilidades cósmicas. Sem a presença ativa de Shiva, o deus da destruição e transformação, o universo começou a experimentar uma estagnação perigosa. As forças do caos e da ordem ficaram desequilibradas, causando desordem entre os mortais e imortais.

Os Devas, reconhecendo a gravidade da situação, convocaram um grande conselho no celestial Monte Meru. Lá, reuniram-se as divindades mais poderosas e sábias, incluindo Brahma, o criador, e Vishnu, o preservador. Em meio a preocupações e debates, a atmosfera estava carregada de tensão.

Não podemos continuar assim disse Brahma, sua voz grave ecoando pelo salão divino. "O universo necessita do equilíbrio que apenas Shiva pode fornecer."

Mas como poderemos despertá-lo? questionou Vishnu, seus olhos brilhando com preocupação. Sua dor pela perda de Sati é imensa, e sua meditação é inabalável."

Foi então que Indra, o rei dos deuses, levantou-se e propôs uma solução audaciosa.

Precisamos de um poder que transcenda a dor e o sofrimento, algo que toque o coração de Shiva diretamente. Precisamos do poder do amor. E para isso, só há um que pode nos ajudar: Kama Deva.

Kama Deva, que até então observava em silêncio, sentiu um misto de honra e apreensão. Ele sabia do perigo que isso implicava, mas também reconhecia a importância de sua tarefa. Com um aceno resoluto, ele se aproximou dos deuses.

Eu aceito o desafio disse Kama Deva com determinação em sua voz. Despertarei Shiva com minhas flechas de flores de manga, pois só o amor tem o poder de alcançar até mesmo os corações mais endurecidos, os corações dos deuses.

Os deuses assentiram, confiando no poder de Kama Deva para trazer Shiva de volta ao seu papel vital no cosmos. Com isso, o jovem deus do amor preparou-se para sua perigosa missão, carregando em seu arco a esperança de todo o universo.

Kama Deva viajou até o Himalaia, onde Shiva estava em meditação profunda. Com cuidado, ele preparou uma de suas flechas mais poderosas, adornada com as flores de manga. Ele mirou e disparou. A flecha atingiu Shiva, e por um breve momento, o deus da destruição sentiu uma onda de amor e desejo. Seus olhos se abriram, e ele percebeu a interrupção.

Quem ousa me perturbar? rugiu Shiva, abrindo seu terceiro olho. Em um instante, Kama Deva foi reduzido a cinzas.

As flores de manga murcharam, suas vibrantes cores desaparecendo, enquanto uma tristeza profunda envolveu o Jardim dos Deuses. O ar, que antes estava repleto da fragrância inebriante das flores, agora carregava um peso de luto, refletindo a perda de Kama Deva. Os pássaros celestiais cessaram seus cantos, e até mesmo as Apsaras, ninfas celestiais, dançavam com menos alegria.

Parvati, a reencarnação de Sati, observava a dor que permeava o jardim e o reino dos deuses. Seu coração estava cheio de amor e compaixão, tanto por Shiva quanto por Kama Deva, que havia sacrificado sua forma física pelo bem do cosmos. Determinada a restaurar o equilíbrio e trazer alegria de volta ao universo, Parvati começou sua austera e devota meditação para conquistar o coração de Shiva.

Por anos, Parvati praticou tapasya (penitência e meditação) nas montanhas do Himalaia, suportando o calor abrasador, o frio cortante e a fome, tudo para provar sua devoção e amor a Shiva. Sua determinação e pureza finalmente tocaram o coração do grande deus. Shiva, saindo de sua profunda meditação, reconheceu a verdadeira essência de Parvati e a aceitou como sua consorte.

O casamento de Shiva e Parvati foi uma celebração celestial, trazendo alegria e alívio não apenas aos deuses, mas a todas as criaturas do universo. Com a união deles, o equilíbrio foi restaurado, e o cosmos voltou a funcionar harmoniosamente.

No entanto, apesar do restabelecimento do equilíbrio, a ausência de Kama Deva ainda deixava uma sombra de tristeza. Os deuses, gratos pelo sacrifício de Kama Deva e reconhecendo sua importância no equilíbrio das emoções e desejos dos seres, imploraram a Shiva para restaurar o deus do amor.

Shiva, tocado pelo apelo sincero dos deuses, concordou em trazer Kama Deva de volta, mas com uma condição: Kama Deva retornaria como Ananga, que significa "sem corpo". Ele existiria como uma essência incorpórea, uma força invisível que permeia os corações e mentes, mas sem a forma física que poderia ser novamente destruída.

Com a decisão tomada, Shiva usou seu poder divino para chamar de volta a essência de Kama Deva. Um brilho suave emanou do terceiro olho de Shiva, espalhando-se pelo jardim e revivendo as flores de manga. As pétalas, antes murchas, recuperaram sua cor vibrante e sua fragrância doce.

Kama Deva renasceu como Ananga, uma presença sentida nas brisas suaves que carregavam o perfume das flores de

manga. Embora invisível, seu poder era inconfundível. As flechas de amor continuavam a tocar os corações dos deuses e mortais, incitando desejos e paixões.

Os deuses celebraram o retorno de Kama Deva, e o Jardim dos Deuses floresceu com nova vitalidade. As flores de manga, agora imbuídas da essência de Ananga, tornaramse símbolos poderosos do amor eterno e do sacrifício.

Para celebrar o retorno de Kama Deva, os deuses organizaram o Holi, um festival de cores e amor. Durante Holi, as flores de manga eram usadas para decorar os templos e as casas, simbolizando a vitória do amor sobre a tristeza. Nas ruas, as pessoas jogavam pós coloridos e cantavam em celebração. As flores de manga eram abundantes, seu perfume enchendo o ar.

Que o espírito de Kama Deva nos abençoe diziam os devotos, oferecendo mangas nos altares. Que nosso amor seja tão doce quanto estas frutas.

A história de Kama Deva e a manga se espalhou pela Índia, inspirando poetas e bardos. Em muitas aldeias, as pessoas contavam a lenda de Ananga, o deus invisível do amor, que se manifestava através das fragrâncias das mangas. Diziam que quem comesse uma manga oferecida com devoção a Kama Deva teria seu desejo amoroso realizado.

Na pequena aldeia de Malihabad, as crianças se reuniam ao redor dos anciãos para ouvir as lendas.

Ananga vive nas flores de manga explicava um ancião. Quando você sentir seu perfume, saiba que o amor está por perto. Um jovem príncipe chamado Arjun estava profundamente apaixonado por uma princesa chamada Mira. No entanto, suas famílias eram rivais, e seu amor parecia impossível. Em uma noite de lua cheia, Arjun

foi ao templo de Kama Deva e ofereceu uma manga como presente, pedindo ajuda ao deus do amor.

Ó Kama Deva, Ananga, implorou Arjun. Ajudeme a conquistar o coração de Mira. Que nosso amor floresça como as mangas deste jardim.

Inspirado por um sonho onde Kama Deva, em sua forma incorpórea de Ananga, apareceu a ele, o jovem príncipe Arjun decidiu fazer um gesto grandioso para demonstrar seu amor eterno pela princesa Mira. No sonho, Kama Deva sussurrou-lhe: “o verdadeiro amor floresce e cresce, assim como uma árvore plantada com cuidado e dedicação”. Determinando-se a seguir o conselho divino, Arjun selecionou o local perfeito no jardim do palácio de Mira. Era um lugar tranquilo e sereno, onde os raios do sol dançavam entre as folhas, criando uma atmosfera mágica. Ele plantou uma jovem mangueira com suas próprias mãos, cuidando dela com atenção e carinho.

Que esta árvore simbolize nosso amor murmurou Arjun enquanto cobria as raízes com terra rica. Que cresça forte e bela, assim como nossos corações unidos."

À medida que a árvore crescia, algo extraordinário aconteceu. As flores da mangueira eram especialmente vibrantes e exalavam uma fragrância incrivelmente doce, que se espalhava pelo jardim e além. As frutas, quando amadureciam, eram de uma doçura e suculência inigualáveis, tornando-se a delícia de todos no reino. As pessoas falavam sobre a árvore como se fosse mágica, e logo se espalhou a lenda de que ela tinha sido plantada com o poder do amor verdadeiro.

Uma tarde ensolarada, enquanto caminhava pelo jardim, Mira foi atraída pela fragrância intoxicante das flores de manga. Ela parou diante da árvore, admirando sua beleza e sentindo uma conexão profunda e inexplicável com ela. A presença da árvore parecia falar diretamente ao seu coração, enchendo-a de uma sensação de calor e segurança. Curiosa, Mira chamou um servo que estava por perto.

Quem plantou esta árvore? perguntou ela, sua voz cheia de curiosidade e encantamento.

Foi o príncipe Arjun, minha princesa respondeu o servo, com um sorriso conhecedor. Ele a plantou em seu nome."

Mira sentiu seu coração acelerar ao ouvir o nome de Arjun. Ela se aproximou da árvore e tocou uma das folhas de manga suavemente, como se estivesse tocando o próprio coração do príncipe.

Arjun murmurou ela, com os olhos brilhando de emoção. Seu amor por mim é tão profundo quanto as raízes desta árvore."

Ela fechou os olhos e respirou fundo, deixando a fragrância doce preencher seus sentidos. Naquele momento, Mira sentiu uma certeza avassaladora de que o amor de Arjun era verdadeiro e eterno. A conexão entre eles era tão forte quanto as raízes da mangueira, firmemente entrelaçadas com o solo fértil do jardim, nutridas pelo cuidado e devoção do príncipe.

Nos dias que se seguiram, Mira passava cada vez mais tempo perto da mangueira, contemplando seu crescimento e sentindo-se cada vez mais atraída por Arjun. A história da árvore e do amor de Arjun por Mira tornou-se conhecida por todos no reino, servindo de inspiração para canções e poemas que celebravam a pureza e a força do amor verdadeiro. O gesto grandioso de Arjun não só conquistou o coração de Mira, mas também uniu suas famílias, que começaram a ver além de suas rivalidades e reconheceram o poder transformador do amor. A árvore de manga tornou-se um símbolo de união e prosperidade, e o casamento de Arjun e Mira foi celebrado com grande alegria e festividade por todo o reino.

A mangueira continuou a florescer, suas frutas sendo distribuídas como um símbolo de amor e bênção nos casamentos e celebrações futuras. E assim, a lenda de Arjun e Mira, e a árvore de manga que simbolizava seu amor eterno, foi passada de geração em geração, lembrando a todos que o verdadeiro amor é profundo, resiliente e capaz de transformar o mundo ao seu redor.

A deusa da Gabiroba

Era uma vez, numa pequena aldeia no meio da floresta, chamada Abaeté, onde uma fruta rara e mágica chamada Gabiroba era conhecida por trazer sorte e felicidade a quem a encontrasse. Diziam que apenas os mais puros de coração podiam localizá-la, pois ela se escondia em locais secretos e só revelava a sua presença, para aqueles que realmente a mereciam.

Um grupo de cinco jovens aventureiros, liderados por Kaluanã, um jovem determinado e corajoso, que decidiu embarcar numa insólita jornada, em busca da Gabiroba.

Estes tinham ouvido diversas estórias, sobre os benefícios daquela fruta e sobre a sua deusa guardiã, que a protegia com afinco, uma entidade que era cheia de mistérios e com grandes poderes divinos, que se manifestava somente, para aqueles que demonstrassem a sua verdadeira devoção.

Após dias seguidos, de caminhada, por montes e vales e até pela densa floresta, caminhos difíceis de atravessar, o grupo finalmente, por mais estranho que lhes pareceu, avistou um pequeno arbusto carregado de Gabirobas reluzentes, no meio de uma pequena clareira aberta ao céu, ladeada por imensas árvores, com um porte superior ao seu, que pareciam protegê-lo e defendê-lo de possíveis curiosos visitantes.

Todos, em conjunto, como se estivessem mecanizados, se aproximaram do arbusto, ficaram maravilhados com a sua

beleza, com a fruta pendendo dos seus ramos, ao mesmo tempo que exalava um aroma bem doce e também reconfortante.

Kaluanã com os olhos arregalados e a brilharem de emoção, enquanto os seus amigos se mantinham estáticos, devido ao espanto de um fruto de tanta realeza, se ajoelhou, diante do arbusto e proferiu em voz alta, como sendo uma prece:

- Ó grande deusa da Gabiroba, permita que este humilde grupo de viajantes, prove da sua fruta sagrada e receba a sua bênção;

Naquele momento, parecia que o espaço temporal, tinha realmente parado, surgia uma luz dourada, que começou a brilhar ao redor do arbusto, e daí saía uma figura etérea, que pairava diante deles.

Na realidade era a deusa da Gabiroba, que se apresentava com longos cabelos dourados e olhos cintilantes, mesmo muito brilhantes, que ofuscavam, e olhava para Kaluanã e para o grupo com a sua peculiar serenidade e bondade, dizendo numa voz suave, acolhedora e melodiosa:

- Quem são vocês, viajantes, que ousam caminhar por estas bandas e invocar a minha presença?

Kaluanã, levantou-se e sem delongas, sem receios ou medos respondeu em nome de todos, com a devida humildade:

- Somos viajantes, em busca da fruta Gabiroba, minha deusa. Viemos até aqui, guiados pela esperança de encontrar a sua fruta abençoada e receber a sua boa e divina orientação;

A deusa, por momentos, manteve-se na sua posição de destaque, estática, sem esboçar qualquer tipo de movimento, até que sorriu e estendeu a sua mão direita, na direção do grupo, fazendo com que um halo de luz os envolvesse na sua totalidade, como uma redoma transparente e bem iluminada.

Sem sequer lhe terem dito os seus nomes, esta com a sua predestinada visão divina, conseguia saber o nome de todos.

Então, a deusa, dirigiu-se a cada um dos aventureiros, compartilhando as suas palavras de sabedoria e até de encorajamento, devido ao seu envolvimento, na jornada que os havia levado aquele local, tão maravilhoso:

- Eirapuã, tu és uma alma boa, gentil, delicada e compassiva. Que a Gabiroba, te inspire para que possas espalhar o amor, o carinho e a compaixão, por onde quer que passes ou caminhes, sempre te acompanhará;

- Araci, a tua coragem e determinação são admiráveis, fazem de ti um autêntica guerreira, com a sua força imbatível e inegável. Que a Gabiroba, te fortaleça nas tuas jornadas e te guie pelos caminhos da aventura e determine o teu desejo de encontrar o teu grande tesouro que é o valor do teu amor pela natureza;

- Tupancy, és amorosa, dócil, ages com o coração e esboças ternura no teu olhar, continua a revelar as tuas emoções, pois despertas nos outros a esperança e o amor. Continua a defender os teus mais claros desejos de preservar todos os seres, que habitam a floresta. Que a Gabiroba, te impulsione e ajuda nessa difícil tarefa, de transformares as mentes, menos esclarecidas, para que se possam dedicar à conservação do ambiente;

- Guarani, também és um guerreiro, gostas de defrontar desafios, enfrentar perigos, por vezes não és compreendido. Que a Gabiroba, se envolva em ti com a sua magia, te proteja nas tuas aventuras, sempre te torne vitorioso e te dê glória, na tua preservação da natureza;

A deusa continuou a falar com cada um dos membros do grupo, revelando os seus maiores segredos e dando as bênçãos para cada um deles.

Os jovens aventureiros, estavam fascinados com a presença da deusa e com a magnitude daquele momento tão glorioso, que estavam a viver, não havia palavras que o pudessem explicar.

Os seus anseios, tinham-se concretizado, estavam perante uma deidade, que alguma vez, um dos habitantes da sua aldeia tinham experimentado.

Finalmente, a deusa voltou-se para Kaluanã e lhe entregou uma Gabiroba, especialmente brilhante e muito suculenta, brilhava no seu esplendor, como que se libertando em raios de sol e disse:

- Kaluanã, tu és o líder deste grupo, és o portador da chama da esperança, da lança da sabedoria, ao mesmo tempo do conhecimento pela mãe-natureza, que tanto pretendes preservar. Que a Gabiroba, te ilumine nas tuas sábias decisões e te guie pelo caminho da verdade, acompanhada pela certeza, na defesa da própria natureza; No entanto, a deusa, fez com que todos, fizessem um juramento, sobre as leis da natureza, de que nunca revelariam tal lugar ou que a tinham contatado, nem mesmo em sonhos, ou estórias contadas ao povo. Estes ajoelhados, perante si, juraram que tal nunca iria acontecer, guardariam o momento no seu coração.

Kaluanã, aceitou a fruta das mãos da deusa, com reverência e agradeceu-lhe, perante o olhar de todos, a sua generosidade, de os ter acolhido e dos seus bons conselhos. O grupo levantou-se, despediu-se daquela entidade divina, que se desvaneceu, sem deixar rasto, levando consigo a Gabiroba sagrada e as bênçãos que tinham recebido.

Ao voltarem para a aldeia, nada referiram quanto à deusa, mas mesmo assim, foram recebidos como autênticos heróis, por se terem aventurado para poderem recolher a fruta tão desejada, somente compartilharam a estória da sua jornada, com os seus desafios ou imprevistos, nada foi relatado quanto à deusa, ficou guardado na memória e no seu coração.

Apesar de tudo, a Gabiroba tornou-se um símbolo de esperança e renovação naquela pequena comunidade, e a deusa continuou a aparecer, mas somente em visões e sonhos, para todos eles, que procuravam a sua presença, um segredo bem guardado, nunca revelado.

E assim, a fruta Gabiroba e a sua deusa se tornaram lendas vivas, para os cinco jovens, que inspiraram gerações futuras a procurarem sua a sabedoria e a bondade, sem revelarem o seu paradeiro, mas impulsionando no desafio da procura, que só assim poderiam encontrar a fruta sagrada.

A pequena aldeia tornou-se um santuário de fé e devoção, onde a Gabiroba continuava a brilhar com a sua luz divina.

E todos os anos, os seus habitantes, celebravam a colheita da fruta sagrada, numa gratidão realçada pelo amor a uma deusa, que sentiam como sua protetora e que os guiava no seu verdadeiro caminho.

As estórias sobre a origem da Gabiroba e a sua deusa continuavam a ser contadas pelos mais antigos, embora os cinco jovens nunca terem revelado o avistamento ou o local sagrado.

A lenda mantinha-a viva, com a memória daqueles que trouxeram a sabedoria e bondade para aquele lugar.

Peregrinos vinham de longe, para testemunhar a beleza e a magia da fruta Gabiroba, procurando a sua sabedoria divina, que emanava da sua presença protetora.

As lendas da Gabiroba espalharam-se por toda a região. Naquele lugar especial, a presença da fruta Gabiroba, continuava a guiar e a proteger todos aqueles, que procuravam a verdadeira essência da vida.

As árvores frondosas, carregadas de frutas suculentas eram um verdadeiro tesouro para os habitantes da região, que valorizavam não só o sabor inigualável da Gabiroba, mas também a sua importância espiritual e medicinal.

A deusa da Gabiroba era venerada por todos, sendo considerada a guardiã da floresta e protetora dos frutos que ali cresciam.

Continuavam a acreditar, que a deusa omnisciente, concedia sabedoria e conhecimento, revelando os segredos e mistérios que só podiam ser desvendados por aqueles que estavam verdadeiramente conectados com a natureza.

Desde então, a conexão entre os habitantes da aldeia e a deusa Gabiroba tornou-se ainda mais forte, tornando-os guardiões zelosos da natureza e propagadores dos ensinamentos e valores transmitidos espiritualmente, pela venerada guardiã da floresta. A harmonia e a sabedoria

continuaram a prosperar naquela comunidade, sustentando a magia e o mistério da deusa da Gabiroba.

A floresta ao redor da aldeia tornou-se ainda mais exuberante e abundante, uma conexão profunda entre os habitantes e a natureza.

As gerações que vieram depois aprenderam com os seus antepassados a importância de cuidar e proteger a mãeterra, respeitando todas as formas de vida que habitavam a floresta. Os jovens da aldeia eram educados desde cedo sobre os valores de respeito, gratidão e harmonia, perpetuando assim a sabedoria e os ensinamentos da deusa Gabiroba. Os visitantes eram sempre bem recebidos pelos habitantes, que compartilhavam com eles a beleza e a magia da floresta, ensinando-lhes a importância de viver em equilíbrio com o ambiente ao seu redor. Continuou a prosperar, tornando-se um exemplo de como a harmonia e a sabedoria podem transformar não apenas um lugar, mas também as vidas de todos que ali habitam.

Cupuaçu, o fruto mágico

Havia uma pequena aldeia, na floresta amazónica, chamada “Cupualândia”, uma pequena comunidade, um povo nativo, de puros pensamentos e de uma espiritualidade onde as árvores de Cupuaçu cresciam em abundância.

Onde os seus habitantes viviam em liberdade, unidos pela paz e harmonia, uma comunidade que compartilhava tudo o que colhia, caçava ou pescava.

O fruto do Cupuaçu era conhecido pelos seus poderes mágicos, capazes de curar doenças, enfermidades ou pequenas maleitas, trazer prosperidade e felicidade para todos aqueles que o consumiam.

A lenda da aldeia contava que o Cupuaçu, era um presente dos deuses, que o plantaram na floresta para abençoar os habitantes da região. Todos na aldeia, cultivavam e colhiam o fruto com muito cuidado, seguindo os antigos ensinamentos e rituais de gratidão e respeito à natureza, que passaram de geração em geração.

Nesta aldeia, vivia uma jovem chamada Potira, conhecida pela sua beleza e por esbanjar imensa bondade. Ajudava os que tinham mais idade, na colheita do fruto Cupuaçu, com a sua vagem redonda, oblongada, coberta pela sua penugem castanha.

Cuidava das crianças e estava sempre disponível, para poder ajudar os seus vizinhos, em momentos de dificuldade.

Numa certa noite de lua cheia, Potira teve um sonho estranho. Ela estava a caminhar pela floresta e encontrou uma árvore de Cupuaçu diferente de todas as outras. Os seus frutos, brilhavam com uma luz que parecia mágica e emitiam um perfume inebriante, que parecia perfurar as próprias narinas, pairando no ar ao seu redor.

Curiosa como sempre, o que lhe era muito peculiar, aproximou-se da árvore e colheu um dos seus frutos dourados. Ao mordê-lo, sentiu um calor reconfortante, que percorreu todo o seu corpo, subiu pela sua espinha e fez arregalar os seus olhos, que se encheram de lágrimas de alegria. No sonho, um sábio ancião, aproximou-se dela e disse:

-“Este é o fruto mágico do Cupuaçu, dado apenas àqueles que possuem um coração puro e desejam o bem de todos.

Deves cuidar dele com sabedoria e generosidade, e ele te dará seus grandes poderes."

Ao acordar, Potira ficou intrigada com o sonho, e decidiu ir à procura da árvore mágica do cupuaçu.

Ela percorreu a floresta por dias, com o seu único objetivo de a encontrar, o que a levou a enfrentar desafios e perigos, até que finalmente encontrou a árvore iluminada, no meio de uma clareira, que mais parecia ter uma aura à sua volta, e era rodeada por uma vegetação exuberante.

Sem hesitar, aproximou-se da árvore e colheu um fruto dourado, ele brilhava na sua mão, levou-o de volta para a sua aldeia, esperançada em poder ter acesso aos seus poderes.

Ao mostrar o fruto aos habitantes, todos se maravilharam com a sua beleza e o seu aroma encantador.

O ancião da aldeia, Raoni, reconheceu o fruto como o lendário Cupuaçu mágico e pediu a Pitora, que o guardasse com cuidado e o utilizasse com sabedoria, pois os seus poderes podiam ser devastadores, na mão de alguém que tivesse más intenções.

Com o passar dos dias, descobriu que o fruto mágico do Cupuaçu, tinha o poder de curar doenças, trazer fartura às colheitas e garantir a felicidade de todos na aldeia.

Ela distribuía pequenos pedaços do fruto entre os doentes, os mais famintos e os tristes, e testemunhava milagres acontecerem diante de seus olhos.

A notícia sobre o fruto mágico do Cupuaçu, foi-se espalhando pela região, e logo pessoas de todas as partes da floresta, vinham em busca da cura e da felicidade, que ele tanto proporcionava.

Potira tornou-se uma espécie de curandeira, uma guardiã do fruto sagrado, que abençoava todos aqueles, que a procuravam. No entanto, nem todos na floresta viam com bons olhos o poder do Cupuaçu mágico.

Um feiticeiro malvado, conhecido como Anhanguera, ficou obcecado, porque queria possuir o fruto para si e usar os seus poderes, para conquistar o mundo. Então, como estava afim de se apropriar do fruto, tramou um plano para o roubar da Potira e se tornar muito poderoso.

Anhanguera, era temido na aldeia, devido aos seus feitiços malignos, e ele convocou os seus seguidores e marchou em direção à aldeia de Cupualândia, determinado, para poder tomar o fruto mágico do cupuaçu à força.

Potira e os habitantes da aldeia, ao saberem das suas intenções malévolas, prepararam-se para a batalha,

querendo defender com coragem e determinação, o tesouro que protegiam com tanto amor e dedicação.

A batalha foi épica, teve completas explosões de magia, com criaturas místicas, que através dos poderes desconhecidos do fruto, apareceram em defesa da população, com duelos emocionantes, que pareciam sair de um mundo fantástico.

Potira enfrentou Anhanguera, num duelo de vontades e uma mão cheia de poderes, onde o bem e o mal se confrontaram cara a cara, onde ainda não existiam vencedores ou vencidos.

Um confronto que iria determinar, qual dos dois seria o verdadeiro detentor do fruto mágico. No final, a coragem e a bondade de Potira tinham prevalecido, e Anhanguera, tinha sido derrotado e iria ser exilado para o lado mais obscuro da floresta.

Com a derrota de Anhanguera, a aldeia de Cupualândia, tinha por fim a sua paz e serenidade, tinha retomado a sua vida diária de pacatez.

Celebrou-se a vitória com festa e alegria, em que Potira foi aclamada como a heroína, que salvou os habitantes com o poder do Cupuaçu mágico, e o seu nome ficou gravado na memória de todos como um exemplo de bondade e coragem.

Apesar dos avisos do ancião, esta tinha cumprido bem o seu dever com o fruto e utilizado de forma justa os seus poderes, nada havia a temer.

O fruto mágico do Cupuaçu, permaneceu na aldeia, protegido e sempre ao cuidado de Potira e pela guarnição de habitantes da região.

O seu poder era infindável, continuou a trazer a cura, a prosperidade e a felicidade para todos que o procuravam, e a lenda da sua magia espalhou-se por toda a floresta amazónica, inspirando as gerações futuras, a cuidar e respeitar a sua natureza.

E assim, a pequena aldeia de Cupualândia tornou-se um símbolo de esperança e união, onde o fruto mágico do Cupuaçu, brilhava como uma estrela, no coração da floresta, e no coração dos seus habitantes, iluminando o caminho daqueles que procuravam a paz e a harmonia, no meio das árvores centenárias e dos segredos da sua natureza.

Com o passar dos anos, a aldeia cresceu e tornou-se uma grande comunidade próspera, onde todos viviam em harmonia com a natureza.

A fama da curandeira espalhou-se para além das fronteiras da floresta, e viajantes de todos os cantos do mundo amazónico, vinham em busca dos seus poderes milagrosos.

Tornou-se uma figura lendária, uma guardiã da sabedoria ancestral, que guiava as pessoas pelo caminho da cura e da felicidade.

A pequena aldeia de Cupualândia, tornou-se um verdadeiro oásis de serenidade, que se dignificava pela própria imensidão da floresta amazónica, um exemplo vivo de como o respeito e o cuidado com a natureza podem trazer prosperidade e felicidade, para todos que nela vivem. E o fruto curativo, continuou a espalhar a sua energia positiva, para sempre.

Sávyo Fernandes

Éden Cor de Aço

A serpente de Adonias percorria as casas de taipa da comunidade de São Domingos, à procura de animais desavisados e homens nas lavouras em procura de redenção pela terra. Pois era época de colheita e a estranheza de se depararem com estiagem apresentava ao sertanejo um motivo desesperado de orações ao divino gracioso. Era tarde de sol à pique, onde somente um réptil asqueroso e seu dono teriam de serpentear. Se a seca sem precedentes beirava o castigo, a figueira crescida no entardecido Dia de Reis chamava a atenção dos moradores. Faltavam-lhe figos, mas a coloração metálica da árvore a fazia uma espécie de mau agouro.

Enquanto voltava do rio aquele cesto de roupas à cabeça, Lillian via mais e mais pessoas passando em direção do vilarejo. Tamanha arrumação que só podia significar o prefeito deposto ou alguém tendo batido as botas. Os caracóis morenos da moça não se moviam pela ventania seguida até a centralidade daquele alvoroço de gente. Seus cabelos não seguiam este trajeto de curiosa ida de tantos estrangeiros de sua própria casa. Não queria a mulher direcionar as pernas para o que nem sabia o propósito, nem contavam qual seria este tão comovente milagre.

Intrigado pelo sumiço do verme de estimação, seu Adonias acariciava os pelos do bigode esmaecido e andava de um lado para o outro em sua varanda. Da ribalta podia observar toda a balbúrdia junto da sonora louvação a

figueira santa. Aquele espaço no que tinham de chamar de praça seguia-se de velas aromáticas e promessas para as chuvas começarem sem cessar. Mesmo tendo anunciado mais cedo o desaparecimento de sua doce praga vivente, o envelhecido fazendeiro considerava um risco aos fiéis ter de venerar a ausência de figos às custas de um bote fatal.

Lillian tinha guardado as vestes enxutas no quarto, quando ouviu a sibila apavorante de uma coisa que se arrastava pelo chão batido. Buscava a mocinha saber de onde vinha o temor daquele barulho, esse som peçonhento revirando o barro seco. Olhava por debaixo da cama, por detrás do armário, até mesmo se viesse do alto. Gelava a espinha e estremecia os poros ao ver aquela monstruosidade serpentária à altura de seu ouvido esquerdo. Aço por teu sangue, sangue vira aço – esganiçada sussurrava gentilmente a serpente. A mulher revirava os olhos por aquele mantra, abrindo as portas da residência e indo para aquela árvore misteriosa.

Na temporada de sua chegada com a serpente, Lillian encontra Adonias investigando a dureza da figueira. Os frutos seriam impossíveis de se ter, quanto improváveis de comer. Nem sequer teriam o direito do nascimento. Mas ao tocá-la, a mulher recobrava o que devia de ser frutífero. De aleluias em aleluias, os pingos de chuva molhavam São Domingos de cabo a rabo. Era um milagre não-bíblico, por uma jovem lavadeira e a companheira rastejadora. Porque as pessoas, apesar de estarem ansiosas pela água, não estranhavam aquela diabólica dupla, só Deus sabe.

A tempestade trazida por aquela estranha ligação não havia de parar. E um figo daquele monumento de aço nascera. Os indivíduos tinham virado chapas enferrujadas, crentes da acidez que teria os salvado. Adonias estaria atônito ao ver o figo abocanhado por Lillian, agora feito um fruto

ensanguentado. Um fruto permitido, onde a maior proibição dela se não fosse de não a consumir e encostar os lábios nela. Sobretudo mulher, homem e serpente, sem hierarquia, o pecado seria de quem pedia antes do tempo. De quem orou por sua salvação e só teve o aço gélido recostado em suas vistas.

Rosa da Amazônia

Na primeira manhã de primavera acontecia anualmente na cidade de Peônia, uma disputa que elegia a mais bela e perfumada flor da cidade. Conhecida como a cidade das flores, os produtores rurais em sua maioria escolhiam seu cultivo, a floricultura como atividade principal, muitas espécies e muita dedicação em cores e perfumes.

Neste dia os fazendeiros, floristas e seus representantes chegavam no amanhecer com seus veículos lotados das mais variadas flores, e iam acomodando no seu espaço nominado, cada produtor tinha seu estande e nome gravado com a espécie de flor que iria expor.

Todas as cidades ao redor prestigiavam o evento, que se tornara internacional há um tempo, vinham visitantes de outros lugares para acompanhar a batalha das flores, eram: rosas, tulipas, orquídeas, violetas, girassol, margaridas, begônias, camélia, mil-folhas, azaleia, dália, entre outras, por vezes surgia uma nova espécie híbrida, estudada e cultivada por alguns floristas, que tinham na floricultura a alternativa de renda para a agricultura familiar. A exposição contava com a participação da comunidade e acolhia a

todos num ambiente bem iluminado e decorado, parecia um conto de fadas repleto de cores e flores.

Eram corredores de flores coloridas, de azul a rosa, tons Champagne, pérola, fúcsia, roxa, lilás, vermelha, amarelo, branca, coloridas e com bordas multicores; os olhos tinham ao seu alcance a paleta dos sonhos. Um dia mágico com um prêmio fantástico. Naquele ano o prêmio seria: troféu, certificado e uma variedade nova de flor na cor dourada, razão pela qual o prêmio se chamava “Flor de Ouro”.

Os fazendeiros e pequenos produtores tinham chances iguais, com solo rico em nutrientes, clima ideal para as espécies cultivadas na região, a diferença poderia estar na escolha e no cuidado das flores na hora do plantio. A cidade se transformava em um grande jardim, com várias categorias para premiação, começava com o concurso de orquídeas, rosas e flores, na sequência seria escolhido o melhor jardim da cidade, através de uma comissão julgadora formada por orquidófilos, especialistas e colecionadores. Além de oficinas de cultivo que ofereciam dicas e técnicas de plantio de flores. A festa movimentava a cidade o ano todo em razão do concurso de jardins, que premiava os mais belos espaços, os jardins eram cuidados e preparados durante o ano inteiro e podiam ser contemplados em muitos locais da cidade.

O dia da competição era a festa mais importante, a festa das flores tinha um ambiente amistoso e perfumado, com muitos bancos de praça ornamentados com flores, cada canto do pavilhão e dos bosques eram palco de beleza e admiração.

Para os idealizadores, flor representava: delicadeza, vida, paixão, beleza e encanto; capaz de tornar tudo mais especial, como um aniversário, namoro, dia das mães, das avós, professora, um romance, ocasiões importantes para pessoas queridas. Na cidade de Peônia tudo era motivo para presentear com flores.

Na votação a análise das candidatas aos prêmios era feita por profissionais da área, pesquisadores e especialistas que analisavam diversos aspectos quanto a coloração, uso medicinal, cosméticos, alimentício, perfume e outros aspectos, para chegar ao vencedor da flor de ouro.

A flor que seria o prêmio para o ganhador era de cor amarela dourada recém-crescida, Marigold - flores da família do girassol, resplandecia a beleza da flor dourada da natureza, muito colorida e comestível, com propriedades medicinais, principalmente para a pele, de origem Inglesa era novidade na cidade de Peônia; com folhas e pétalas comestíveis a “flor de ouro” floresce o ano inteiro, também conhecida como margarida ou calêndula.

Na festa deste ano a participação estava aberta a todos, de qualquer idade, e reunia aficionados por flores, turistas, além do grande público da região, que se surpreendiam com a beleza e diversidade desse lindo evento, feito para pessoas de todos os estilos.

Sabendo disso, novos participantes surgiram, dentre eles uma menina chamada Emília se inscreveu, com uma flor pouco conhecida na região, a rosa da Amazônia.

Tudo começou quando Emília ganhou do seu avô um vaso com a rosa da Amazônia plantada, na época tinham dois botões de rosas, a menina foi acompanhando a planta, que

ficou perto da cabeceira da sua cama, onde entrava um sol e ar fresco, viu as pétalas se abrirem, ela florescer lindamente e viu as pétalas caírem; e decidiu levar essa muda de rosa lá no jardim da sua casa, ela resolver plantar a rosa num local ao ar livre. E a partir dali ela não parou de crescer e se reproduzir, desabrochou e ficou feliz quando foi morar no jardim. Emília conseguiu lotar sua casa de rosas para todo lado, até que pensou em participar do concurso mais famoso da cidade. O avô de Emília era muito amigo e amoroso com a neta e seus sonhos caminhavam juntos.

A rosa da Amazônia apresentada por Emília, continha uma descrição bem grande, escrita pela própria menina depois de muito estudo, pois desde cedo era uma ávida leitora, com a descrição da espécie vinha escrito suas características, no topo da descrição informava: “ A rosa da Amazônia é uma espécie rara de rosa, um tesouro nacional, uma joia incomparável da biodiversidade brasileira, encontrada principalmente nas áreas de floresta tropical e nas margens de rios”.

A rosas que Emília trouxe para a competição eram lindas, nostálgicas, sua aparência era de uma rosa clássica de antigamente, com tons de rosa claro.

Emília comentou que o segredo era o amor no cuidado com a planta, rega regular e sol moderado. A rosa da amazônia apresentada por Emília media cerca de quinze centímetros de diâmetro, uma flor grande e exuberante, sua coloração variava entre o rosaa claro e escuro, suas pétalas de textura aveludada conquistaram a bancada.

O objetivo de Emília era tornar essa planta rara símbolo da cidade e ajudar na sua preservação.

Na votação o especialista comentou sobre a importância da espécie apresentada por Emília, dizendo a todos que sua história remonta às civilizações indígenas que usavam suas flores para fins medicinais e rituais, a flor desta roseira se chamava rosa da Amazônia. Originariamente cresce em áreas úmidas da região amazônica brasileira, muito resistente, aguenta altas temperaturas e solo pouco férteis.

O avô de Emília fez a apresentação da rosa da neta na competição e destacou diante dos presentes suas propriedades, dizendo que suas pétalas podem ser usadas na culinária e para fazer chás.

Essa planta encantou os jurados com sua aparência cativante.

A rosa é uma das flores mais cultivadas do mundo, e sem dúvida coloca-se no primeiro degrau do pódio das flores mais vendidas; roseiras botânicas, também chamadas roseiras selvagens, a exemplo da rosa mosqueta também faziam sucesso na feira. Várias espécies de rosa participaram do concurso como a rosa francesa, considerada a ancestral de todas as rosas europeias; rosas de Damasco, a Rosa damascena, que teriam vindo do Oriente Médio; a rosa alba ou “rosa branca”, descobertas pelos gregos e romanos, vindas da Ásia Menor ou Central e rosas chinesas, as rosas de chá, com suas pétalas semelhantes à seda, de cores muito delicadas.

A rosa da Amazônia venceu a competição e levou o prêmio em grande parte pela sua fragrância peculiar, com notas amadeiradas e cítricas, suas pétalas eram mais finas que

outras variedades de rosas possuem propriedades medicinais e cosméticas únicas. Nunca antes na disputa, quando entrou venceu. Emília ficou muito feliz e comemorou em família, agradecendo seu avô e com o troféu nas mãos, ofereceu a todos um chá de pétalas de rosa da Amazônia, após a comemoração, moradores e turistas pediram para Emília e seu avô mudas desta planta que além de exuberante oferece benefícios para saúde e beleza.

Emília tinha feito um poema para sua rosa e declamou ao público do evento quando foi receber o prêmio, começou seu poema com todos admirados com sua perseverança e sensibilidade, e pôs-se a falar:

“De dentro do vaso, vida

Expectativa de liberdade

Num ato de bondade

Um portal para uma nova jornada

De flor em flor, um jardim

Lindas rosas a sorrir”.

Ganhou a rosa, a rainha das flores, aos jardinistas inúmeras formas, cores e perfumes para nossa felicidade. As flores encantam os nossos jardins com a sua incrível diversidade, e podemos oferecer um buquê para declarar os nossos sentimentos mais nobres.

E nos anos seguintes o desejo dos organizadores era incorporar a flor vencedora na culinária, decorando

EDITORA OLYMPIA

sobremesas e pratos salgados como, saladas e risotos. Assim como na venda de cosméticos, com extrato da rosa da Amazônia em sabonetes, loções e cremes.

O evento terminou em festa com cores vibrantes em todo o salão e uma alegria contagiante. Venceu a riqueza natural do Brasil, através da dedicação de uma criança apoiada por seu avô.

O quintal

Eles se mudaram para a casa nova.

Havia anos que moravam em apartamento e a casa, ainda que não fosse a dos sonhos, era o bastante para fazê-la feliz de novo.

Queria plantar flores e frutas no quintal. O quintal era todo revestido por pedra ardósia e o marido não deixava que as pedras fossem retiradas para que ela pudesse plantar diretamente no chão.

O jeito foi improvisar a plantação em caixas d'água.

Vieram mudas das casas das irmãs, mudas das floras e mudas que até hoje ela se esqueceu de pedir aos seus donos.

Não havia ordem alguma no quintal. Na mesma caixa d'água, lado a lado, pé de jabuticabeira entre rosas e camélias, pé de mamoeiro e figueira entre jasmins e margaridas. E foi assim, que cada uma das mudas cresceu e fez a felicidade de quem as plantou.

A cada nova flor que desabrochava, a cada nova fruta que despontava no pé, pedia ao marido que comprasse filme para a máquina fotográfica. Posicionava as filhas ao lado das flores e frutas e clique. Tudo era retratado como uma lembrança.

Tinha sombra e sol no quintal na medida certa e passarinhos faziam ninhos nos galhos dos arbustos que ela plantou.

Ao fim da tarde, deitava-se sob a ardósia do quintal ainda quente e ficava olhando para as copas dos arbustos que contrastava com o azul do céu.

E o tempo foi assim passando, as plantas e os arbustos cresciam com a família. As meninas se formaram, casaram e tiveram seus filhos. Os netos viviam pelo quintal vendo a vovó colher as frutas e flores e podar os galhos dos arbustos que insistiam em crescer para além dos limites das caixas d'águas.

Muitas primaveras se passaram no quintal e foi em uma delas que se despediu do seu marido.

Agora era apenas ela, em uma casa que julgava ser enorme para uma única pessoa.

Pouco a pouco foi se desgostando de seu quintal. Já não ia ao quintal com a mesma frequência.

Parecia que com a partida do marido a casa tinha perdido seu significado.

A casa então passou a entristecê-la e decidiu que seria o momento de se mudar. Depois de quase 30 anos ali, voltaria a morar em apartamento.

E foi assim que fez. Pôs a casa a venda e deixou de aguar as plantas e os arbustos de seu quintal. Sabia que as plantas e os arbustos só tinham importância para ela, pois a casa, quando vendida, seria demolida. O quintal, de qualquer forma, estaria fadado a desaparecer.

Quando finalmente vendeu a casa, no quintal só havia galhos secos e retorcidos e os passarinhos já não cantavam por lá.

Se despediu de seu quintal pela última vez, deixando nele guardadas as lembranças dos anos felizes que passou ali.

A florzinha e o frutinho

Em uma linda floresta encantada, existiam belíssimas flores e frutos. Essa união era linda de se ver. Todas as flores e frutos eram amigas. Eles brincavam, passeavam e ajudavam uns aos outros.

Em especial, nesta floresta, existia uma pequena florzinha chamada Tulipa e um pequeno fruto chamado Morango.

A flor e o fruto eram amigos inseparáveis. Com o passar do tempo, eles observaram que a floresta encantada estava perdendo sua beleza. Tudo estava ficando tristonho, e as flores e os frutos não brincavam e não se ajudavam como antes.

Esses dois amigos ficaram preocupados. O que estava acontecendo com a floresta encantada, onde todos eram amigos e se ajudavam? Então, a florzinha e o frutinho resolveram se juntar e investigar o que estava acontecendo.

Eles foram até a árvore rainha e perguntaram a ela o que estava acontecendo.

A árvore rainha explicou que uma bruxa muito perversa tinha jogado um feitiço de desunião, inimizade, intriga e inveja entre as flores e os frutos. Por isso, eles não eram mais tão próximos. As intrigas, as fofocas e as desuniões estavam fazendo morada naquele lugar.

Então, a árvore rainha pediu que a florzinha e o frutinho ajudassem a trazer união, amor, carinho e empatia de volta à floresta encantada. A florzinha e o frutinho aceitaram o pedido e resolveram ajudar. A rainha pediu que a florzinha, junto com o frutinho, começasse a escrever cartas e mensagens de amor e de amizade. Além disso, deveriam mostrar com gestos concretos que as flores e os frutos podiam viver em união e paz na floresta.

Eles começaram a escrever várias cartas de amizade e amor e as entregavam às portas das casas das flores e dos frutos. De início, aquilo não estava dando muito certo. Mas a florzinha e o frutinho começaram a se ajudar e a mostrar para todos que precisavam se unir para realizar as coisas. Os gestos concretos de amizade e empatia foram amolecendo os corações das frutas e das flores.

Quem não gostou nada disso foi à bruxa malvada. Ela apareceu de repente na floresta e disse:

Não quero saber desta amizade entre as flores e os frutos. Todos devem ser inimigos, pois nenhuma flor pode ajudar nenhum fruto. Vocês devem ser inimigos.

Ela deu uma risada muito perversa. Mas a florzinha e o frutinho pegaram nas mãos um do outro e começaram a dizer:

Somos irmãos, não podemos nos abandonar. Somos uma família e devemos nos ajudar.

A bruxa começou a perder sua força e ficou com raiva. Como não tinha mais o que fazer, ela partiu dali. A partir daquele dia, todos na floresta não se deixaram mais levar pela intriga, inveja ou discórdia. Começaram a ser amigos.

O amor, a união e a amizade se tornaram um vínculo eterno que uniu as flores e os frutos da floresta encantada. E sempre, a florzinha e o frutinho estavam ali para lembrar a todos da floresta encantada que a amizade e o amor devem prevalecer sempre. A desunião não traz felicidade a ninguém nesta vida.

Sabores e saberes: será que isso é apenas sonho?

Veja, leitor, quais seriam os possíveis sonhos que um aluno deveria seguir para ser um bom administrador. Pelo menos, no meu ponto de vista. Vamos lá?

Moro em um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Mas que beleza! como diria o grande músico

Jorge Ben Jor. Nasci herdando o preto de jabuticaba de meu pai e o branco do interior de uma lichia de minha mãe, semelhante à grande maioria do nosso povo, uma mistura maravilhosa de raças e cores.

Recebi uma empresa que transforma frutas em polpas, para ganhar dinheiro e mostrar o bom e belo gosto de uma fruta brasileira para todo o mundo. Contrariamente ao que pensavam os meus pais, cursei administração. Sendo eles proprietários de sítios, eu deveria ter trabalhado nas plantações e lavouras, mas, na verdade, resolvi estudar administração e, com ela, aprendi conceitos inacreditáveis que me permitiram ser responsável pela transformação.

Ao estudar, aprendi que, para gerenciar uma empresa, é preciso ter um planejamento alinhado a propósitos claros, oferecer o melhor produto e o melhor serviço, ter atendimento diferenciado, compreender o que é necessário e, por fim, inovar sempre.

Há muitas pessoas que precisam aprender as diferenças de atuar na empresa como líder e como mero empregado, para, por fim, acreditarem que ser altamente sustentável e envolver-se com o aspecto social pode criar impactos positivos.

Grandes profissionais do Brasil nos incentivaram a desenvolver projetos sustentáveis, que se iniciam na arquitetura das empresas. Assim, nosso projeto de escritório mediado por um arquiteto adotou janelas enormes, recebendo a iluminação do Deus Sol, sempre forte em nossa região.

Com o sol sempre presente, foi possível trabalhar a harmonia com a natureza, instalando um jardim vertical com plantas nativas, vibrantes e exóticas, como barba-deserpente, jiboia, colar-de-pérolas, lambari-roxo e florbatom. Aproveitamos e penduramos alguns lírios na empresa, assim como orquídeas, que sempre perfumam nosso rico ambiente.

Para regar tudo, criamos calhas e telhas para coletar e guardar a água da Deusa Chuva, que enche nossos depósitos, vasos sanitários e plantas. Nossos móveis reciclados podem ser molhados e receber os pássaros da natureza, que motivam ainda mais as pessoas a acreditarem que é dela que conseguimos obter a nossa felicidade.

Relembrando o assunto, preciso lhe contar o que realmente aconteceu. Vamos lá?

Nessa semana, recebemos a visita de um empresário visionário com a proposta de industrializar três frutas amazônicas: bacaba, aguaje e o camu-camu. Para ele, são

frutas de muito potencial para o mercado de alimentos, sorvetes e vitaminas.

Ele então agendou uma visita e nos apresentou cada uma delas. Serviu-nos uma bacaba que já se encontrava manufaturada, estava no formato de um creme de cor parda, muito próxima à cor do nosso açaí, mas, ao experimentá-la, notamos que sua doçura era maior. Então, ele nos contou que a mesma fruta é rica em vitaminas C, do complexo B, ferro e cálcio.

Na sequência, serviu-nos um sorvete de aguaje, bem diferente, porém envolvente. Sua textura era bem grossa, rica em vitaminas e sais minerais. Ele disse que a fruta auxilia no emagrecimento e é uma ótima opção aos alimentos dietéticos, explicando-nos ainda que, se pegarmos uma polpa, basta adicionarmos a ela alguns ingredientes, gelarmos a mistura e pronto.

Por fim, mais um sorvete, dessa vez, da fruta camucamu. A fruta é avermelhada, escura e pequena, também rica em vitamina C, porém é bem ácida. O produtor destacou que alguns estudos dizem que ela ajuda na prevenção do envelhecimento, e seu gosto é muito parecido com a acerola, mas de cor da jabuticaba.

Ficamos impressionados com as frutas apresentadas, a quantidade disponível e seu preço para comercialização. Conversamos e pedimos a ele que aguardasse o próximo dia, para que pudéssemos apresentálas na reunião de diretoria, que ocorreria na manhã seguinte.

Então, cuidadosamente, alertei o Sr. Clébson para que as guardasse na geladeira, pois, dessa forma, poderíamos apresentá-las no dia seguinte.

No entanto, logo cedo, mesmo antes de entrar na empresa, o Sr. Clébson estava à minha espera, desesperado, e me disse: “Sumiu, desapareceu, escafedeu! E agora?”.

Simplesmente, lhe perguntei: “Como assim?”, e o orientei que chamasse todos os colaboradores da área para conversarmos.

Na mesa, iniciamos a reunião perguntando a todos do setor se tinham visto os sorvetes e as frutas. Perplexas, Shirley e Ana disseram que nem abriram a geladeira no dia anterior. O senhor Antônio disse que não mexe em nada e nem come na empresa. Realmente, ninguém havia mexido, pelo visto, mas como foi que elas desapareceram? Observaram então que a cachorrinha que sempre fica deitada ao lado da mesa tinha a boca toda preta.

Nossa, será que os cachorros comeram? No meio da reunião, Betinho, o guarda-mirim, entrou no meio da reunião e disse chorando:

Sei quem foi!

Fala logo, Juquinha! Quem foi?

Foram, na verdade, Jujuba e Kaká, e, olha lá, eles estão desanimados.

Como assim, Juquinha?

Bem, não foram somente eles que comeram, eu comi também. Explico. A dona Shirley e a Ana sempre deixam comidas, doces e guloseimas na geladeira para mim, e elas mesmas dizem que posso comer quando quiser. Daí, eu

abri a geladeira e tinha três pacotões. Lógico que eu não iria deixar perder tudo aquilo, e fui experimentando cada um deles. Juro que até tentei, mas era muito, então, decidi dar um toquinho para a Jujuba, o Kaká e a Kalu, que estavam lá comigo essa semana. A Kalu, metida como sempre, não quis comer, os dois estão estufados até agora, olha lá, nem conseguem se levantar de tanto que comeram.

A tensão se desfez em risos e uma sensação compartilhada de alívio. Afinal, era difícil culpar o menino, ou mesmo a Jujuba, por sucumbirem à curiosidade diante de frutas tão exóticas e tentadoras.

Então, como um bom líder, em vez de culpar alguém precipitadamente, reuni a equipe, investiguei e considerei com bom humor, propondo uma nova solução coerente e prática, uma vez que o produto jamais iria aparecer. Um bom líder não apenas resolve problemas, mas, também, mantém a equipe unida e motivada.

Com um novo plano em mente para garantir a segurança das próximas amostras, a reunião terminou em um clima muito mais leve do que começou e, por fim, resolveram mudar a reunião para um novo dia, com novas apresentações. Líder é o que cuida, líder é o que resolve, líder é o que inspira.

O projeto com as três novas frutas foi enfim apresentado, dando novos frutos para a empresa, que passou a investir pesado no mercado de alimentos a partir da bacaba, do aguaje e do camu-camu, provando que, se a gente acreditar em novidades, em plantar novas ideias, novas sementes poderão brotar. Sabores e saberes andam juntos, não só na etimologia, mas, também e sobretudo, na vida e (por que

EDITORA OLYMPIA

não?) numa empresa como a nossa. E isso, veja bem, não é apenas sonho, mas uma deliciosa e duradoura realidade.

Aromas, cores e sabores

Quando vi pela primeira vez uma mamangaba fiquei com bastante medo. Aquele inseto imenso voava fazendo um ruidoso barulho. Achei que era uma grande vespa e fosse muito perigosa, algumas pessoas que presenciaram aquilo comigo, me disseram que aquele terrível inseto se chamava mata-cavalo e ainda confirmaram que sua ferroada doía muito.

Depois acabei descobrindo que aquilo não era uma vespa, e sim uma abelha de hábitos solitários, que nem era tão perigosa assim.

Falando daquele jeito até fiquei assustado. As pessoas temiam aquele inseto com sinceridade, mas no mesmo dia em que descobri a mamangava, outro incrível fato ocorreu. Senti o perfume mais delicioso que jamais havia sentido. Uma coisa doce com fragrâncias enigmáticas, acabei seguindo aquele cheiro encantador e me deparei com um carregado e florido pé de maracujá.

As lindas flores com certeza são as mais bonitas que já vi, e o cheiro então, nossa que perfume agradável.

Suas pétalas são delicadas e muito coloridas, com tendões chamados de estigma carregados de polens, tem um formato impressionante e único.

Eu me encontrava paralisado e fascinado com aquelas flores; por suas cores, seu aroma, sua singular aparência.

Foi quando vi uma enorme mamangaba se aproximando.

Esse grande inseto é praticamente impossível de passar despercebido. Surgiu no céu e seu barulho era escutado de longe. Comecei a ficar preocupado, mas permaneci imóvel, sem provocar a temível criatura.

A mamangaba voava devagar, fiquei imaginando como aquilo conseguia se manter no ar, parecia muito pesada e tinha asas pequenas. No entanto, planava no ar, indiferente a minha presença, e se encaminhou diretamente para a exuberante flor do maracujá, pousando sobre as pétalas.

Naquele momento notei que os estigmas das flores eram exatamente adaptados ao inseto, aquilo foi uma das cenas mais incríveis que presenciei.

O inseto pousou e cutucava o meio da flor, buscando néctar, seu dorso ficou exatamente abaixo dos estigmas, onde continha uma infinidade de polens.

O movimento da abelha, inquieto em busca do néctar, agitava aqueles estigmas e enchia de polens as costas da mamangaba.

Quando notei a abelha, ela estava cheia de polens amarelos grudados entre suas asas, ficando com uma aparência engraçada, toda salpicada de minúsculos grãos amarelos, e

assim pousou em outras flores, cruzando os polens, levando os grãos de uma para outra. Logo entendi que aquilo era o processo de polinização dos frutos.

Fiquei quieto ali entorpecido pelo cheiro, vislumbrado pelas cores e maravilhado pelo trabalho daquelas abelhas.

Percebi haver dezenas de mamangabas, pousando de flor em flor, se esfregando nos estigmas, levando os polens, fecundando os frutos.

Depois, pesquisando sobre aquilo, descobri que os maiores polinizadores dos maracujás são as mamangabas, estas abelhas grandes e curiosas são fundamentais para podermos apreciar os saborosos frutos.

Aquelas abelhas de hábitos solitários isso quer dizer, que não vivem em colmeias ou comunitariamente são grandes e barulhentas, mas praticamente inofensivas, nunca soube de ninguém ferroado por abelhas desta espécie.

Porém, se por acaso, acabar ferroando alguém, é muito dolorido, porque diferente das abelhas Apis mellifera as abelhas mais comuns na produção de mel, que quando ferroam deixam seu abdome , as mamangabas podem ferroar diversas vezes.

Mas os casos são raros e os frutos desse lento e laborioso processo são os deliciosos maracujás.

Uma fruta endêmica do Brasil e região amazônica, uma perfeição da natureza de aromas, cores e sabores.

Virei um amante das abelhas.

Certa vez acampei embaixo de uma árvore, sem prestar muita atenção na espécie, apenas buscando uma sombra agradável. Bem próximo havia pés de maracujás, eu estava de olho no processo das abelhas e como já dito: encantado e fascinado.

Passei a manhã toda observando in loco o labor das mamangabas. Quando voltei para minha barraca tive uma enorme surpresa.

Um gigante jaca havia caído bem em cima da minha barraca, desmontando-a toda. As duas estavam em frangalhos: a barraca no chão esmagada e a jaca aberta soltando sua fragrância inebriante, sobre a lona.

Mas para minha sorte, acabei com mais uma fruta de sabores incríveis para degustar. Outra maravilha, trazida de fora, que se adaptou muito bem ao nosso clima tropical, a jaqueira, e que ajudou a encher, ainda mais, de riquezas e prazeres nossa terra fértil. Alegrando os paladares daqueles que ousam provar suas peculiaridades.

Somos um país rico em diversidade e cheio de aromas, cores e sabores.

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