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Reconstrução do passado

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Água

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Cultura de paz Consideramos que a memória familiar é um processo de interação constante entre as gerações- e envolve vivos e mortos, abrange o coletivo e o individual e entrelaça os membros familiares uns aos outros, mesmo aqueles que estejam separados por gerações - que tiveram muito pouco convívio ou que sequer se conheceram: um trisavô em relação a seu trisneto estão ligados por laços de afetividade! Se, por exemplo, nossos antepassados precisaram fugir de uma guerra levando consigo alguns poucos pertences, ignoramos o sofrimento que tiveram, as privações pelas quais precisaram passar, suas tristezas e angústias bem como a maneira como encontraram para subsistir; se havia crianças ou bebês de colo...291653849 Sabemos que durante toda a história da evolução os seres humanos conviveram de perto com centenas de cataclismos naturais. Estes acontecimentos provocaram milhares de mortes, marcando para sempre as vidas daqueles que sobreviveram, e, de alguma forma precisaram seguir, reconstruindo e superando as marcas deixadas pela dor da perca de seus entes queridos além das provações impostas pela fome, doenças, entre grupos, etc.. A grande questão é que muitos destes sobreviventes - mesmo aqueles mais distantes, de milênios atrás - são de fato nossos antepassados. Consequentemente, tudo aquilo que viveram encontra-se armazenado em nossa memória familiar, faz parte de nossa própria história, influencia nosso desenvolvimento, interfere nas escolhas e tomadas de decisões! A Arqueologia Familiar auxilia na reconstrução de nossa rede sociométrica, analisando a expansão de nossa família como um todo, caminhos que os mais diversos membros seguirambem como os destinos que alcançaram - funestos ou de prosperidade. Tal reconstrução permite alcançar um parâmetro de equilíbrio e conformidade relacionado àquelas memórias que muitas vezes afetam nosso bem viver e - como já o dissemos - nos dificultam alcançar objetivos relacionados ao bem estar e realização pessoal.

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Texto complementar

Memória e família: a construção afetiva do passado

Bisa Bia, Bisa Bel, demonstra que jovens como Carlinhos e Bel fazem da matéria do passado parte da seu dia-a-dia. Coincidentemente, a convivência de Carlinhos com o avô e de Bel com a bisavó constitui o elo de acesso ao passado por meio da história familiar. Quero convidar você para refletir mais sobre a memória familiar, tema central do livro Bisa Bia, Bisa Bel. Para isso estou escrevendo esse texto. Porém, o conteúdo não está pronto, pois vai ser construído com a sua participação. Para tanto, vou fazer muitas perguntas a respeito das suas experiências de construção afetiva do passado. Para Isabel, o passado se tornou parte de seu cotidiano por meio da relação profunda que estabeleceu com Bisa Bia. Seu comportamento, seus hábitos alimentares, os objetos que a cercavam eram temas das longas conversas com Bisa Bia e tornavam-se objeto de comparação entre presente e passado, entre as experiências atuais das meninas e as vivências das mulheres em outros períodos históricos. Quando você fez a entrevista para conhecer mais sobre as escolas no passado, o entrevistado falou alguma coisa parecida com “no meu tempo era assim ...”, “no meu tempo era diferente” ou “muita coisa mudou desde o meu tempo”? Quando eu li as entrevistas, percebi muitas dessas expressões. Vale a pena refletir sobre os significados dessa expressão “meu tempo”, tantas vezes utilizada por pessoas mais idosas.

Quando um senhor ou uma senhora se referem ao tempo, usando o pronome “meu”, isso significa que o passado faz parte de sua própria identidade. Ou seja, o passado foi vivido e experimentado, até constituir sua história de vida. Mais ainda, eles estão diferenciando a “tempo deles” do “nosso tempo”, estão comparando o passado onde viveram as principais experiências de vida com o presente no qual os jovens como vocês e os adultos como os pais de vocês estão construindo suas próprias histórias de vida. Geralmente os idosos estão afastados do trabalho, alguns já perderam o esposo ou a esposa e se encontram pouco com as pessoas de sua idade. Então, passam a viver uma nova fase da vida e a exercer funções diferentes na família. Muitos terminam indo morar com os filhos e passam a conviver mais com netos. E assim, tal como bisa Bia, passam a exercer o importante papel de transmitir a história familiar para as novas gerações. Na sua história de vida, há alguma pessoa idosa que sistematicamente converse com você sobre o passado? Conte para nós quem é essa pessoa.

Enquanto estou escrevendo, assim como ocorreu enquanto eu lia o livro Bisa Bia, Bisa Bel, fico lembrando da minha avó, ela chamava-se Leopoldina, ou melhor Vó Leopolda. Quando eu era criança, nós convivíamos muito e ela foi morar conosco quando eu era adolescente. Muitas vezes, ela contava sobre “o tempo dela”, ou seja, sobre o seu passado, sua infância e juventude, além de recuperar também muitas histórias de minha mãe quando tinha a mesma idade que eu. Como você deve ter percebido, Vó Leopolda exercia o mesmo papel que Bisa Bia. Claro que naquela época eu não conseguia interpretar, mas hoje percebo que ela foi o elo que me uniu às outras gerações da minha família. Hoje, eu guardo comigo histórias que são tecidas com a “memória emprestada”, quer dizer, narro histórias cuja trama são as lembranças que minha avó compartilhou comigo. Quando foi morar na minha casa, Vó Leopolda construiu um mundo próprio no seu quarto. Colocou muitas fotografias – entre elas a foto de uma irmã que ela tinha perdido quando ainda era adolescente – e objetos que haviam lhe acompanhado durante sua vida: uma santinha, uma caixinha de madeira, vidros de perfume com cheiros esquisitos, uma escova de cabelo e um pente com cabo de prata, um cisne de louça que servia como vaso, um pequeno castiçal. Ah, ela levou também os móveis do quarto, tinha até uma penteadeira. Hoje, na minha casa, a caixinha de madeira que ela deixou para mim ocupa um lugar especial (é muito parecida com aquela descrita no livro, na qual a mãe de Bia guardava as fotografias, vou levar para sala de aula para vocês verem!). Assim como minha vó, muitos idosos se cercam de objetos que lhes recordam pessoas ou momentos de suas vidas. São os chamados “objetos biográficos”, ou seja, aqueles que homens e mulheres usam ou guardam por muito tempo, com muito carinho, e que são suportes para suas lembranças. Ou sejam, são objetos que ajudam a perpetuar o passado e a construir narrativas a respeito da trajetória de vida daqueles que o preservam. No livro Bisa Bia, Bisa Bel, são muitos os móveis e objetos que servem para Bisa Bia contar para Bel como era o cotidiano no passado: geladeira de madeira, bufê, penteadeira, mosqueteiro, bibelô, urinol, entre tantos outros. Aquela pessoa que lhe conta sobre o passado, têm objetos biográficos? Ela usa esses objetos ou fotografias para lhe mostrar como era o passado? Conte sobre essas experiências para começar a escrever acerca dos objetos biográficos. Depois, revele quais são os seus próprios objetos especiais, que você guarda com zelo porque lhe recorda alguém ou algum momento de sua vida. Por último, converse com sua mãe, pai ou com a pessoa que toma conta da você e procurem listar os objetos que contam a história da família. Aliás, ia esquecendo de dizer uma coisa, você deve mostrar esse texto para seus pais e/ou para essa pessoa que lhe conta sobre o

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