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A prática da tolerância
Cultura de paz A tolerância, do latim tolerare (sustentar, suportar), é um termo que defi ne o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física. Do ponto de vista da sociedade, a tolerância é a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma atitude diferente das que são a norma no seu próprio grupo. Numa concepção moderna é também a atitude pessoal e comunitária de aceitar valores diferentes daqueles adotados pelo grupo de pertença original. O conceito de tolerância se aplica em diversos domínios: • Tolerância social: atitude de uma pessoa ou de um grupo social diante daquilo que é diferente de seus valores morais ou de suas normas. Tolerância civil: discrepância entre a legislação, a sua aplicação e a impunidade. Tolerância segundo Locke : «parar de combater o que não se pode mudar». Tolerância religiosa: atitude respeitosa e convivial diante das confi ssões de fé diferentes da sua. Tolerância farmacológica ou medicamentosa: diminuição da responsabilidade a um fármaco, ou seja, a diminuição do efeito farmacológico com a administração repetida da substância. Tolerância técnica: margem de erro aceitável (ver Tolerância (engenharia)), ou capacidade de resistência a uma força externa. Tolerância: em gestão de riscos constitui o nível de risco aceitável normalmente defi nido por critérios pré-estabelecidos.
Tolerância é uma das tantas virtudes , necessá rias para elevar o ser humano à condição de civilidade. Ela faz parte do processo de desenvolvimento ético de indivíduos e grupos, cuja meta é levá-los a manter a "disposição fi rme e constante para praticar o bem". Implica em dois sentidos. “Ser virtuoso”, tanto pode ser um sujeito com disposição de praticar o bem, como também pode ser "toda pessoa que domina em alto grau a técnica de uma arte" (Dic. Aurélio: p.1465), por exemplo, ser um "virtuose na arte de tocar violino".
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Na tradição da fi losofi a moral, a tolerância não é exatamente considerada uma "grande virtude" ou "virtude cardinal", tal como é a justiça, a coragem, a prudência e a temperança ou moderação. Contudo, ela não deve ser posta do lado das chamadas "pequenas virtudes", como é o caso da polidez. A tolerância deve ser vista numa posição especial, de entremeio das virtudes, sendo mais que respeito, polidez ou piedade. S.P. Rouanet, a vê "como passagem para um estágio mais civilizado e menos mecânico de convívio das diferenças". Sinaliza, no entanto, que "as diferenças não devem ser apenas toleradas, porque do contrário elas se reduziriam a um sistema de guetos estanques, que se comunicariam no espaço público; deve ser uma virtude que cause interpenetração entre os diferentes" (FSP, 9/2/03). Ou seja, a tolerância deve ser um ato constante de prevenção e educação. Alain, pensador sempre citado nos estudos sobre as virtud es, diz que a tolerância "é uma espécie de sabedoria que supera o fanatismo, esse terrível amor à verdade". No fundo, sinalizamos acima, ela é uma espécie de prevenção contra o dogmatismo, para que este não vire fanatismo (na dimensão pessoal), fundamentalismo (na dimensão religiosa) e totalitarismo (na dimensão de Estado ou de Governo). Localizada como virtude de entremeio, a tolerância é exercício necessário para se conquistar a Sabedoria. Na consideração de André Comte-Sponville, é uma virtude necessária para o e xercício das coisas pequenas do cotidiano. Nela, existe uma espécie de prontidão e atividade; "prontidão" a favor de idéias e atos de tolerância e "atividade" contra tudo que se cerceia, reprime, oprime, discrimina, que não respeita as diferenças humanas, sejam étnicas, culturais, religiosas, etc. A democracia é um bom exemplo de exercício, ao mesmo tempo, de "prontidão" e "atividade" de tolerância, ou seja, "democracia não é fraqueza. Tolerância, não é passividade", assinala Comte-Sponville. Olgaria Matos lembra que “tolerare” quer dizer “levar”, “suportar” e também “combater”. Quem se pretende possuir "a verdade", ou melhor, "a certeza", termina sendo intolerante em aceitar outros posicionamentos, se fechando a escuta de tudo que apresente diferente ou incompreensível ao seu esquema conceitual de fala e ação. O moralista, por exemplo, é in-tolerante com os que possuem valores diferentes do seu; em verdade, sabemos se tratar de um moralista quanto sofremos a imposição de seus valores, baseado em sua “certeza moral”. O moralista carrega a ambição de impor a todos, universalizando seus valores como certos. Enfi m, "toda intolerância tende ao totalitarismo" ("integrismo", em matéria religiosa). Ser intolerante é manter uma "atitude de ódio sistemático e de agressividade irracional com relação a indivíduos e grupos específi cos, à sua maneira de ser, a seu estilo de vida e às suas crenças e convicções". Na medicina, a palavra "tolerância" é utilizada para signifi car a aptidão do organismo para suportar a ação de um medicamento, um agente químico ou físico. Desta forma, as diferentes espécies toleram de diferentes modos os microrganismos: alguns adoecem e morrem, a outros nada ocorre. Os níveis de tolerância à radiação têm tal limite. Tecnicamente, a tolerância é o limite do desvio admitido dentro das características exatas de um objeto fabricado ou de um produto e as características previstas. Não são todos que suportam os medicamentos, e algo que está fora das normas algumas vezes pode ser tolerado. E assim pode se falar também de suportar fi sicamente ou mentalmente algo pesado; em tolerar erros gramaticais; assim, podemos descer um degrau, recebendo o conhecimento neste nível, o qual é mais tolerável; algo pode ser tolerável, inclusive indiferente, aceitável: "o almoço foi bastante tolerável". Até mesmo dentro da ecologia Odum (1953) no seu livro Fundamentos de Ecologia coloca exemplos de limites de tolerância dentro da natureza. Dentro das leis físicas, o universo tende a se desorganizar. Por outro lado, tudo que está vivo, tende a se organizar. Mas o homem, sendo livre, pode "ajudar" a desorganizar o mundo. Como num processo de tentativa e erro, as pessoas buscam soluções para viver consigo mesmo e com as demais. Às vezes parece que temos na mão um saco cheio de bolas, que tentamos arremessar e colocá-las dentro de
Cultura de paz um buraco distante. De modo simplista, dizemos que podemos acertar ou não, mas na prática, as coisas não ocorrem bem assim. O acerto aparece como uma vitória. Foram centenas de arremessos, e um acerto! Tolerar é aceitar os limites, é na realidade ser paciente. A paciência é justamente aceitar o desagradável, com bom humor. Quanto à tolerância, costumamos atuar, como diz o provérbio, "com dois pesos e duas medidas": tendemos a ser muito complacentes com os desvios de nossa conduta (e isto quando os reconhecemos...) e implacáveis com os outros: não lhes damos o tempo necessário para mudar. De fato, abandonar um mau costume e atuar de modo completamente oposto é uma tarefa que exige esforço e pode durar meses ou anos... E, quanto aos outros, exigimos que tudo ocorra no mesmo instante, esquecendo que as coisas têm seu ritmo natural. Um feijão demora para germinar, crescer, fl orir, dar a vagem... e nós às vezes somos semelhantes às crianças, que deixam o feijão no algodão do pires com água, e no dia seguinte se decepcionam com a ausência de vagens. Para viver, deixar viver. O que leva duas pessoas a entrarem em discórdia? A invasão do direito alheio, o ultrapassar o limite de tolerância, a incapacidade de compreensão mútua ou própria, a falta de empatia, a nossa própria natureza, o nosso temperamento. Somos limitados, e isto se manifesta também no modo tosco com que nos relacionamos muitas vezes com as pessoas. A distância que existe entre as pessoas, em parte é criada por cada um. Às vezes percebemos que com alguns, já num primeiro momento, se consegue chegar perto, e falar sem gritar ou mandar mensageiros, mas nem sempre é assim. É preciso usar a inteligência, para encontrar o caminho da comunicação entre as pessoas. Inteligência e vontade de querer se comunicar... ou não.
Proposta de atividade

Trocando segredos • Escreva no pedaço de papel uma difi culdade que você sente ao se relacionar com as outras pessoas, mas que não se sente à vontade de expor oralmente. • Dobre o papel ao meio e misture com os papéis escritos dos outros colegas. • Com todos os papeis misturados, cada um deve sortear um novo papel, ler o que está escrito em voz alta e tomar o problema para si. Cada qual, por sua vez, lerá em voz alta o problema que estiver no papel, usando a 1ª pessoa “eu”. Em seguida, a pessoa com o papel deve sugerir uma solução para o problema. Quando todos os papéis forem lidos, conversem sobre a importância de levarmos as cargas uns dos outros e ajudarmos o nosso próximo. 66 Possíveis questionamentos: Como você se sentiu ao descrever o problema? Como se sentiu ao explicar o problema de outra pessoa? Como se sentiu quando o seu problema foi relatado por outra pessoa?

