SeLecT nº 4

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À ESquErda, Flávia Junqueira protagoniza aS própriaS fotoS, como nESta cEna EntrE alEgrE E mElancólica clicada durantE uma rESidência na cité dES artS, Em pariS, intitulada “ElE ainda não EStá aqui (2011)” À dirEita, doiS momEntoS da pErformancE “palhaço Ergométrico (2011)”, dE Felipe Bittencourt, Em quE o artiSta pEdala uma biciblEta Ergométrica até quE a maquiagEm SE dESfaça pEla ação do Suor

Florescentista há cinco anos, o Jardineiro vem se dedicando a cultivar a natureza da arte em lugar de superpovoar o mundo com mais obras de arte. Escritos florescentistas, festas florescentistas e conversas florescentistas perfazem sua obra hoje. Nas festas, por exemplo, o anfitrião serve apenas comidinhas em forma de câmera, que simbolicamente fotografam os convivas. “A minha entrada no circuito das artes começou de fato com a exposição Ecológica no MAM-SP. Depois dessa iniciativa, as pessoas dizem que entenderam mais o que eu tento falar há muitos anos. Entretanto, meu trabalho é um longo cultivo, mas a poética do meu trabalho não está pronta”, avalia. Em 2011, Jardineiro fez duas exposições em Nova York, na Bonni Benrubi Gallery e em um prêmio internacional de jovens artistas no Brooklyn, e tem prevista para março sua primeira individual na Galeria Zipper, em São Paulo.

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O que significa ser “jOvem artista”

conhecia outra possibilidade a não ser cursar uma faculdade de artes. Perdi um pouco a noção de realidade durante o curso e me aprofundei nas questões sobre a natureza da fotografia”, conta. No percurso de formação, o artista introjetou de tal maneira o pensamento sobre a fotografia e as experimentações intensas com o meio (técnica e simbolicamente) que voltou a se sentir, no último ano do curso, estático e com dificuldade de se comunicar. “Tornei-me o próprio contemporâneo. Só consegui sair do buraco com ajuda do meu orientador, que me ensinou a ler e escrever textos de modo claro e estruturado para, enfim, conseguir me comunicar.” Orientado por Felipe Chaimovich em seu trabalho de conclusão de curso, em 2006, o que o Jardineiro André Feliciano fez foi ousar reescrever a história da arte moderna a partir de uma perspectiva fotográfica e decretar o fim do contemporâneo e o surgimento de um novo ciclo histórico: o Florescimento.

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A artista e professora de artes visuais da Faap Dora Longo Bahia faz uma diferenciação entre “artista jovem” – “uma denominação retroativa que pressupõe a existência de uma obra feita por alguém que faz arte (o artista)”, como subentendido no título do romance de James Joyce – e “jovem artista”, designação que prescinde da obra. “O jovem artista é uma categoria que existe antes da arte; é uma promessa do mercado, é uma aposta que pode dar certo (valorizar) ou não”, defende. As escolas de arte, hoje, ainda segundo Bahia, ensinam os alunos a ser “jovens artistas”, a se inserir no mercado e até a usar dispositivos de “subversão”. Uma marca dos jovens artistas no contexto atual é a diversidade de meios que escolhem para se comunicar. Apesar de certo predomínio da pintura figurativa (basta visitar a exposição Os Primeiros 10 Anos, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake até 26 de fevereiro, para perceber que esse suporte é o cavalo de batalha da nova geração), os artistas também fazem farto uso do vídeo, da fotografia e do tridimensional. Mesmo na pintura há visadas marcadamente distintas, como no caso da obra de Rafael Carneiro. Ele se vale de um olhar mediado ou maquínico, capturado por câmeras de segurança ou stills de filmes de Alfred Hitchcock, como base para uma pintura que faz questão de figurar a própria artificialidade. “Tento resolver o mal-estar cultural em meu trabalho. Para mim, a obra de arte não tem nada a ver com sublimação, acho que o que existe é a tentativa de solucionar o jogo de necessidades psicológicas em um objeto”, afirma.

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