Revista 2016 / Dezembro

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TATUAGEM: ATLETAS CARREGAM NA PELE MENSAGENS DE FORÇA E PODER

UM TIGRE CONTRA OS LEÕES

ÚNICO NÃO QUENIANO ENTRE OS LÍDERES DO RANKING MUNDIAL DA MARATONA, O BRASILEIRO MARÍLSON GOMES DOS SANTOS CORRE PARA DOMAR AS FERAS AFRICANAS E ABOCANHAR O OURO EM LONDRES

ROSÂNGELA SANTOS

ELA QUERIA SER PASSISTA DE ESCOLA DE SAMBA, MAS VIROU A MAIOR REVELAÇÃO DO ATLETISMO NACIONAL

ENTREVISTA

O EMPRESÁRIO ABILIO DINIZ, DO GRUPO PÃO DE AÇÚCAR, REVELA POR QUE É O PRINCIPAL MECENAS DO ESPORTE BRASILEIRO

EXCLUSIVO: OS HOMENS GANHAM

MAIS MEDALHAS, MAS ELAS TÊM MELHOR DESEMPENHO. ANTECIPAMOS O MAIOR ESTUDO JÁ FEITO SOBRE A HISTÓRIA ESPORTIVA DO BRASIL Dezembro/2011 Edição 32 | Ano 2 7 8 9 8 2 6 4 5 8 0 8 1 8 0 0 0 3 2

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BARRADOS NOS JOGOS

POR QUE JUDÔ E TAE KWON DO SÃO OLÍMPICOS E CARATÊ E KUNG FU NÃO


eXPedieNte EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL DOMINGO ALZUGARAY EDITORA CÁTIA ALZUGARAY PRESIDENTE-EXECUTIVO CARLOS ALZUGARAY DIRETOR EDITORIAL CARLOS JOSÉ MARQUES DIRETOR EDITORIAL-ADJUNTO LUIZ FERNANDO SÁ EDITOR-EXECUTIVO AMAURI SEGALLA EDITOR EDSON FRANCO EDITOR DE ARTE PEDRO MATALLO EDITOR-EXECUTIVO DE FOTOGRAFIA CESAR ITIBERÊ EDITOR DE FOTOGRAFIA MAX GPINTO COLABORADORES

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Ana Beatriz Chacur, Celso Miranda, Flávia Ribeiro, Jorge Eduardo Mosquera, Lucas Bessel, Luiza Villaméa, Marisa Folgato, Nelson Cilo, Paola Bello, Paulo Lima, Ralphe Manzone Jr., Rodrigo Cardoso, Rodrigo Novaes e Sergio Quintanilha (texto); Calé, Christian Gaul, Claudia Jaguaribe, Kiko Ferrite, Marcio Scavone, Orestes Locatel, Orlando Azevendo e Paulo Pereira (fotos); João Faissal e Yoshi Kawasaki (ilustração); Cris Lopez/Abá, L. A. Braga Jr., Lucio da Fonseca, Marcela Moura, Gilberto Miranda e Sayuri Odo (produção) REPÓRTERES FOTOGRÁFICOS: João Castellano, Masao Goto Filho, Pedro Dias e Rafael Hupsel GERENTE: Maria Amélia Scarcello SECRETÁRIA: Terezinha Scarparo ASSISTENTE: Cláudio Monteiro AUXILIAR: Lucio Fasan

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6 dEZEMBro 2011 | ISTOÉ 2016

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editorial

O que esperar de 2012

Todo país-sede de uma competição olímpica carrega nos ombros o peso de brilhar em seu próprio território. Os ingleses, que vão organizar os Jogos de 2012, estabeleceram a meta de ficar entre os três primeiros no quadro de medalhas. Provavelmente alcançarão o objetivo. Na Olimpíada de Pequim, em 2008, a Grã-Bretanha terminou a competição em quarto lugar, um salto de seis posições ante a performance de 2004, em Atenas. A rápida evolução inglesa no período pré-Londres deveria servir de inspiração. Afinal, o Brasil fará o mesmo? Em Pequim, os atletas brasileiros foram apenas discretos e terminaram os Jogos na 23ª colocação. Qual será nosso lugar no dia 12 de agosto de 2012, quando Londres passará o bastão para o Rio? Essa resposta vai indicar se é possível sonhar alto com 2016. O balanço de 2011 foi positivo para o esporte brasileiro e projeta, para nós, uma Olimpíada melhor em 2012 do que a de Pequim, em 2008. A natação e o judô confirmaram a sua força. No basquete masculino, o Brasil renasceu pelas mãos do técnico argentino Rubén Magnano e não seria exagero colocar o País entre as potências capazes de subir ao pódio em Londres. Na ginástica, os brasileiros aparecem em todas as listas de candidatos a medalha, e até o boxe, pela primeira vez em décadas, tem lá suas chances. No atletismo, levaremos aos Jogos de Londres uma equipe equilibrada, com boas chances em muitas provas. Os experientes Marílson Gomes dos Santos, Maurren Maggi e Fabiana Murer terão a companhia de talentos da nova geração, como os velocistas Rosângela Santos e Bruno Lins. Claro, surpresas acontecem – para o bem e para o mal –, mas o time que se apresenta é o melhor em muitos anos. Que 2012 seja um ano fantástico para o esporte brasileiro!

AmAuri SegAllA, Editor-ExEcutivo

asegalla@istoe.com.br


orlando azevedo

As sobrancelhas grossas do técnico ucraniano Oleg Ostapenko ficam ainda mais significativas quando registradas pelo preto-e-branco de Orlando. Nascido em 1949 no arquipélago dos Açores, Portugal, mora no Brasil há 48 anos. Em 1980, formouse em direito, mas deixou o diploma de lado e passou a trabalhar como fotógrafo profissional. De lá para cá, teve seus cliques espalhados pelas mais importantes publicações nacionais. Para ajudar no culto à sua profissão, criou a 1ª Bienal Internacional de Fotografia Cidade de Curitiba (1996) e implantou o Museu de Fotografia da capital paranaense.

MárCio sCavone

Especialista em revelar a personalidade dos retratados através de seus mínimos gestos e olhares, esse paulistano começou a fotografar ainda criança com a Rolleiflex do pai. Aos 20 anos, já era fotógrafo de publicidade. É coautor de “Entre a Sombra e a Luz”, que traz imagens feitas por ele ao lado de textos do romancista italiano Antonio Tabucchi. Fez dobradinha similar em “Luz Invisível”, dessa vez com textos de Luís Fernando Verissimo. Nesta edição, ele fotografou a corredora Rosângela Santos, que agora se junta a Oscar Niemeyer, Pelé, Fernanda Montenegro, Roberto Burle Marx, Jô Soares, Caetano Veloso e Fernando Henrique Cardoso. Todos registrados pelas lentes de Scavone.

Yoshiharu KawasaKi

A passagem do Yoshi pela redação foi uma festa. Armado apenas com um lápis, ele desandou a fazer acupuntura nos colegas. Com as mesmas mãos – e lápis – que usa para relaxar pessoas, esse investigador da polícia de São Paulo faz retratos falados. Precisos e minuciosos, seus desenhos ajudaram, por exemplo, na captura do maníaco do parque. Descobriu esse talento ao ser convocado por uma vizinha que queria ajuda para identificar o estuprador de sua filha. Animado, prestou concurso no Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado), foi aprovado e vem ajudando a desentocar sequestradores, ladrões, assassinos e golpistas. Nesta edição, ele lida com seres mais qualificados, mas não menos procurados: os bichos que podem ser ameaçados pelas obras no Rio.

Celso Miranda

Há 20 anos, ele convive com tudo o que tem motor. Narrou ou comentou Fórmula 1, Indy, Nascar, MotoCross e Fórmula 3 inglesa. É criador do programa “Limite”, sobre esportes a motor, na ESPN Brasil. Morou cinco anos nos Estados Unidos, onde cobriu o assunto para a matriz da ESPN. Hoje, é repórter e narrador da F-Indy na Band e apresentador e editorchefe do programa “Super Motor” do canal Bandsports. No rádio, ele comanda desde abril de 2006 o programa “Pole Position”. De vez em quando, troca o ronco dos motores pelo som das guitarras na banda de rock e blues C14. Nesta edição, o Celso conta como o piloto Christian Fittipaldi se apaixonou pelas bicicletas.

ColaBoradores

Paulo liMa

É fundador e publisher da Trip Editora, que edita as revistas "Trip" e "TPM". Responde pela criação e edição de conteúdos e publicações para importantes marcas do mercado brasileiro, dirige e apresenta um programa de rádio e atuou como consultor de criação em programas de tevê como "Caldeirão do Huck", da Rede Globo. É formado em direito pela USP e foi colunista de jornais como "Folha de S.Paulo", "Jornal da Tarde" e "Meio & Mensagem". Atualmente assina coluna quinzenal na ISTOÉ. Mesmo tendo passado boa parte da vida na praia e ligado ao mundo dos esportes, não traz no corpo nenhuma tatuagem, tema sobre o qual escreve nesta edição.

GilBerto Miranda

Se um dia você tiver de entrar num estúdio fotográfico com um tigre ou leão, tenha a prudência de pedir a ajuda do Gilberto. Graças à familiaridade que ele tem com feras dos mais variados potenciais de destruição, nossa equipe pôde registrar calmamente a imagem do maratonista Marílson Gomes dos Santos que ilustra a capa desta edição. Com mais de 30 anos de experiência no treinamento de cães e bichos menos domesticáveis, Gilberto é dono da Animais, Cinema e Cia, empresa especializada em fornecer seres mais ou menos racionais que não se alteram diante de lentes. Seu conhecimento vem sendo usado em cursos para veterinários, biólogos e psicólogos.


CARTAS

NÚMERO 33 ISTOÉ 2016

NO TOPO DO MUNDO

Rodrigo Paes Ribeiro São Paulo – SP

Amor a toda prova

A matéria ficou linda. Amei a 2016!

VAI ENCARAR?

ÚNICO ESPORTE A LEVAR O PAÍS AO PÓDIO EM TODAS AS ÚLTIMAS SETE OLIMPÍADAS, O JUDÔ BATE RECORDE DE MEDALHAS NO MUNDIAL DE PARIS. DESCUBRA POR QUE OS RIVAIS TEMEM ESSA NOVA GERAÇÃO

fotográfico que fez com o marido, Murilo Endres, também estrela da seleção, para a 2016

É muito raro uma publicação com o nível de qualidade da 2016 abrir espaço para modalidades esportivas que não são badaladas. Por isso mesmo, fiquei muito feliz ao ler a reportagem sobre a força do judô brasileiro, que trouxe medalhas nas últimas sete olimpíadas, conforme a revista destacou. Tenho certeza que muitos pódios ainda virão por aí.

Sérgio Emmanuel Carneiro Santos – SP

Atletas naturalizados

Não consigo entender como a burocracia pode atrapalhar um atleta de alto nível a se naturalizar brasileiro. É impressionante o caso do americano Larry Taylor, que vive há três anos no Brasil e não consegue a liberação para defender a seleção nacional de basquete. Autoridades, acordem! Estamos perdendo tempo, enquanto nossos rivais se fortalecem. Muito útil a reportagem da 2016, que pode ajudar os burocratas a abrir os olhos.

Setembro/2011 Edição 33 | Ano 2

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MURILO E JAQUELINE, O CASAL MAIS VITORIOSO DO VÔLEI NACIONAL, SUPERAM A PERDA DO BEBÊ E VOLTAM A SONHAR COM 2012 O AUTOR DE KÁTIA FLÁVIA REVELA O RIO DAS CASAS DE SUINGUE E DAS BOATES DE STRIP-TEASE. SERÁ QUE A OLIMPÍADA PÕE TUDO ISSO EM RISCO?

SALTO ALTO

CONHEÇA XINDOCTRO, O MAIOR, MAIS PESADO E MAIS VELOZ ATLETA BRASILEIRO

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FAUSTO FAWCETT

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Oficina de medalhas

BOLA PRA FRENTE SETEMBRO 2011

Mila Souza no Facebook

Fabiana conquistou o primeiro ouro do Brasil na história dos Mundiais de atletismo

O MELHOR TÉCNICO DO PLANETA, UM NOVO JEITO DE SALTAR E AJUDA PSICOLÓGICA: A RECEITA QUE FEZ DE FABIANA MURER CAMPEÃ MUNDIAL DE SALTO COM VARA – E O QUE OUTROS ATLETAS PODEM APRENDER COM ELA

Jaqueline Endres, craque da seleção de vôlei, sobre o ensaio

Parabéns pela matéria com a Jaqueline e o Murilo. A revista está o máximo.

ESPECIAL PAN: OS DUELOS, AS ESTRELAS E AS FORÇAS BRASILEIRAS NOS JOGOS DE GUADALAJARA

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No topo do mundo

Comemorei muito o título mundial da Fabiana Murer no salto com vara. Ninguém merecia mais essa conquista do que ela. Muita gente fez piadas nos Jogos de Pequim, em 2008, quando disseram que a Fabiana “amarelou". Conheço o trabalho da Fabiana e sei o quanto ela é determinada. Parabéns pela reportagem de capa da 2016.

Acompanhe a 2016

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Conteúdo extra

Arnaldo Antonik Rio de Janeiro – RJ

Jogos Pan-Americanos

Não concordo com a avaliação que muitos fizeram sobre o desempenho do Brasil nos Jogos Pan-Americanos. Nossa participação poderia ter sido melhor. Ainda ficamos atrás de Cuba – um país bem mais pobre – no quadro de medalhas e não alcançamos marcas que fariam bonito na Olimpíada de Londres, em 2012. A continuar assim, jamais seremos uma potência olímpica.

Paulo Vicenza Juiz de Fora – MG 13 DEZEMBRO 2011 | ISTOÉ 2016

Assista ao making of da sessão de fotos do maratonista Marílson Gomes dos Santos, confira a galeria de fotos feitas para a reportagem sobre a velocista Rosângela Santos e acompanhe o vídeo do acidente na Fórmula Indy que levou o piloto Christian Fittipaldi a descobrir o mountain bike


ExpEdiEntE

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Editorial

ColaboradorEs Cartas

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CliquE olímpiCo

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Aquecimento Liderada por Daniel Dias, que ganhou 11 ouros, equipe brasileira no Parapan de Guadalajara protagoniza a primeira vitória do País, fora de casa, em competições poliesportivas

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RápiDA Ascensão Por que Rosângela Santos, que vem derrubando centésimos de segundo numa velocidade impressionante, é a maior revelação do atletismo brasileiro

32

RAio X O maior objeto de cobiça em 2012 são as medalhas de Londres. Saiba do que e como elas são feitas

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entRevistA: Abilio Diniz Aos 75 anos e ainda fazendo duas horas diárias de exercícios, o empresário explica por que o esporte pode ser bom para a saúde das companhias

pAssADo A limpo Estudo inédito da USP apresenta um retrato completo dos 1.667 atletas que defenderam o Brasil na história dos Jogos Olímpicos

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coRRiDA contRA os queniAnos Único atleta nascido fora do Quênia entre os líderes do ranking mundial da maratona, o brasileiro Marílson Gomes dos Santos tem o duro desafio de quebrar a hegemonia africana na prova

o jogo DA políticA Como as Olimpíadas da Era Moderna foram usadas para manifestações ideológicas, boicotes e atos de terrorismo

76

TurbulenTos Rio-2016 acelera obras nos aeroportos – mas elas serão suficientes para livrar os viajantes do caos aéreo?

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À fRente Do seu tempo O técnico ucraniano Oleg Ostapenko traz a sua linha-dura de volta ao Brasil para formar as medalhistas de 2020

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Fauna urbana Macaco muriqui, preguiça-de-trêsdedos, jacaré-do-papo-amarelo e boto-cinza querem continuar no Rio quando os Jogos acabarem


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pRovA De obstáculos Judô e tae kwon do venceram as barreiras das autoridades e se tornaram olímpicos. Caratê, wushu, quendô e sumô querem o mesmo privilégio

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sem motoR Um acidente fez o piloto Christian Fittipaldi incluir a bicicleta em suas atividades. Nasceu assim uma equipe olímpica de mountain bike

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tRAnsfoRmeR Conheça a arena nos Estados Unidos que, depois de abrigar uma partida de basquete, vira rinque para hóquei no gelo em menos de três horas

102 petecA com RAquete

Em um morro na zona oeste do Rio, pouca gente sabe o que é badminton, mas é ali que estão sendo forjadas as estrelas do esporte

106 À floR DA pele

Grafismos, mensagens, orações e desenhos ferozes. Em corpos atléticos, as tatuagens passam a ideia de força e poder

112 clube pRivé

Entre seus sócios endinheirados, o Paulistano esconde equipamentos de ponta, técnicos experientes e atletas promissores

116 pARA cAiR nA águA

Além da touca, dos óculos e dos maiôs, os praticantes de natação encontram alguns produtos inusitados nas lojas de esportes

122 concentRAção

Nas histórias em quadrinhos e mangás, autores narram sagas de para-atletas, do mais lendário pugilista e de clubes nacionais

125 pAinel

Demolidor de adversários nos octógonos do MMA, Júnior Cigano pode migrar para o boxe e cogita participar dos Jogos do Rio

130 páginA DouRADA

Morto em novembro, o americano Joe Frazier disputou a Olimpíada de Tóquio em 1964. E ganhou o ouro com uma mão só


CliqueOlĂ­mpicO imagens surpreendentes dO espOrte

Na peNdura


Ficar de cabeça para baixo é apenas uma brincadeira infantil em boa parte do planeta, mas não na China. Feita em novembro deste ano, a foto mostra que nessa escola primária, em Fuzhou, sudeste do país, o alongamento é sério e faz parte de uma estratégia para dominar pódios. O governo chinês subsidia completamente a formação de seus futuros campeões. Em compensação, fica com 30% de tudo o que o atleta faturar, em casa ou no Exterior. Para aumentar as chances de gerar mais medalhistas e, consequentemente, mais renda, o país faz com que suas crianças conheçam muito cedo a rotina árdua dos esportistas de ponta. Sem brincadeira.

Pawel Kopczynski/REUTERS


CliqueOlĂ­mpicO

Batalha Naval


Os caças que ocupavam o porta-aviões americano U.S.S. Carl Vinson foram retirados. Deram lugar às linhas de uma quadra de basquete e a uma arquibancada para oito mil pessoas. Nesse ambiente e com a presença do presidente Barack Obama, os times de basquete North Carolina Tar Heels e Michigan State Spartans protagonizaram a primeira partida oficial de basquete universitário em um navio de guerra. O evento, na cidade de Coronado, Califórnia, serviu para comemorar o Dia dos Veteranos, que nos Estados Unidos é celebrado em 11 de novembro. O palco da festa abriga uma curiosidade histórica: foi a bordo do Carl Vinson que o corpo de Osama Bin Laden deu seu último passeio antes de ser atirado ao mar.

Dylan Martinez /REUTERS


UM CAMPEÃO PARA A HISTÓRIA

foto (daniel dias): teco Barbero // foto (leornardo de deus): mark ralston/afp

virou barbada. toda vez que o nadador paulista Daniel Dias caía na piscina, era certeza de vitória para o Brasil. foram 11 ouros durante os Jogos parapan-americanos encerrados em novembro, em guadalajara, na melhor performance de um atleta brasileiro em competições no exterior. nascido com má formação congênita dos braços e da perna direita, dias se tornou o maior nome em um evento histórico para o Brasil. foi a primeira vez que o país encerrou uma competição internacional poliesportiva em primeiro lugar no quadro geral de medalhas. foram 81 ouros, 61 pratas e 55 bronzes, à frente de estados unidos e méxico.


oS outroS recordeS do PAn vitórias espetaculares como as do nadador mato-grossense Leonardo de Deus, que faturou o ouro nos 200 metros borboleta nos Jogos pan-americanos de guadalajara, não foram importantes apenas para ajudar o Brasil a alcançar o terceiro lugar no quadro geral de medalhas. os veículos que transmitiram o evento também têm motivos de sobra para comemorar. em uma demonstração de aumento do interesse dos brasileiros por esporte, a rede record e o terra, detentores dos direitos de transmissão do pan, quebraram seus próprios recordes. confira:

7 13

graÇas Às transmissões do pan, a record teve um crescimento de durante o pan, o portal de internet terra ofereceu

de audiÊncia no horário noBre canais com transmissão ao vivo das competiÇões e foi acessado por

51 MILHÕES DE PESSOAS NA AMÉRICA LATINA

coPA 2014 e rio 2016 VAlorizAm A mArcA BrASil a escolha do Brasil para sediar a copa do mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 ajudou o país a subir dez posições no ranking que avalia o valor da marca das nações. segundo o estudo country Brand index, da consultoria futureBrand, o Brasil ocupa agora o 31º lugar entre 113 países, ante o 41º posto do levantamento anterior, feito em 2009. entre outros fatores apontados como determinantes para o salto no ranking, estão a melhoria da percepção dos estrangeiros em relação à qualidade de vida e à facilidade para a realização de negócios.

um negÓcio de uS$ 1 trilhÃo

um estudo realizado pela fundação getulio vargas dimensionou a importância do esporte como negócio. em 2011, o setor vai movimentar r$ 40 bilhões no Brasil. em 2016, ano da olimpíada no rio, o montante deve chegar a r$ 80 bilhões. no mundo, o dinheiro gerado por atividades esportivas chega a us$ 1 trilhão por ano.

25 DEZEMBRO 2011 | ISTOÉ 2016


Aquecimento no topo o volante darren fletcher comemora um gol do manchester na copa dos campeões

A máquinA ingleSA de fAzer dinheiro nem Barcelona, o time do craque lionel messi, nem los angeles lakers, a equipe que nos últimos anos ganhou mais títulos na nBa. o título de marca esportiva mais valiosa do planeta pertence ao clube inglês de futebol Manchester United, recordista de conquistas em seu país. descubra por que o manchester é uma máquina de fazer dinheiro.

de dólares é quanto vale a marca manchester united

400 milhões de dólares será o total de suas receitas em 2011, alta de 27% soBre 2010

333 milhões 11 milhões de fãs no mundo

de torcedores cadastrados em seu Banco de dados

10 patrocinadores fixos, que desemBolsam mais de

uS$ 100 milhões

por ano

200 mil camisas

do time deverão ser vendidas para turistas durante os Jogos de londres 2012, segundo pesquisa encomendada pelo marketing do cluBe

foto: Jon super/ap

700 milhões


"O dOping é aceitável"

A menos de um ano dos Jogos de Londres, uma decisão do Conselho Arbitral do Esporte (CAS) revelou a ausência de consenso entre as autoridades sobre as punições a atletas flagrados no uso de substâncias proibidas. O CAS anulou a chamada “Regra de Osaka”, que determinava a exclusão da Olimpíada de esportistas condenados a uma pena superior a seis de meses de suspensão. Criticada pelo Comitê Olímpico Internacional, a sentença abriu espaço para uma corrente de estudiosos que defende uma ideia ousada: a extinção do controle antidoping. “Acho que os riscos de muitas formas de doping são aceitáveis, uma vez que esportes são atividades inerentemente arriscadas ”, disse à 2016 Andy Miah, professor de Ética da Universidade West Scotland, do Reino Unido. Autor do polêmico livro “Atletas Geneticamente Modificados”, Miah é uma das vozes mais ativas na defesa da melhoria da performance humana. Ele falou com o repórter Flavio Costa.

Para início de conversa, eu gostaria de me livrar do antidoping. Precisamos de uma política esportiva que reconheça que atletas usam uma variedade de tecnologias destinadas a melhorar as suas performances. Eu não proponho acabar com os testes de DNA ou de bioquímica. Acho que o correto é definir limites para o que é biologicamente aceitável para o indivíduo.

É verdade que o sr. defende o uso da informação genética para encontrar pessoas mais capacitadas para a prática de esportes de alto nível?

Eu defendo o direito de o indivíduo usar as informações para tomar decisões em sua vida. A realidade é que os testes atualmente disponíveis são muito limitados em relação ao que podem dizer a alguém sobre o seu potencial. Se os testes forem confiáveis, as pessoas devem ser livres para usá-los e saber mais sobre suas próprias biologias.

Em seu livro “Atletas Geneticamente Modificados”, o sr. afirma que danos são uma parte intrínseca das atividades esportivas. Neste contexto, doping é uma prática justificada?

Sim. Acho que os riscos de muitas formas de doping são aceitáveis, uma vez que esportes são atividades inerentemente arriscadas. É mais provável você sofrer uma lesão grave numa competição de equitação do que se submetendo às várias formas de doping.

Os atletas apanhados em testes de doping são muitas vezes comparados a criminosos. O que o sr. acha disso?

É triste ver alguém que tenha tomado algo tão leve como um descongestionante nasal ser taxado de criminoso por ter violado as regras antidopagem. Quando o Comitê Olímpico Internacional entender que as buscas pelo aumento de rendimento humano vão se tornar cada vez mais parte da sociedade, esses julgamentos terão menos significado.

Mas o doping não fere as regras do jogo? Não é uma forma artificial de produzir vencedores?

Os esportes de elite contam com atletas que buscam superar suas performances. Nós queremos ver atletas quebrarem recordes e fazerem coisas extraordinárias. Sem esse componente, esportes de elite perdem seu valor. Devemos garantir aos esportistas os meios para usar maneiras mais seguras de doping.

Foto: Divulgação

Por que o sr. defende a regulamentação do doping?


AQUECIMENTO

UM GIRO POR LONDRES Números, fatos e curiosidades dos Jogos Olímpicos de 2012

Infográfico: João Faissal



RAIO X: Tudo o que você precisa saber sobre AS SALTO MEDALHAS TRIPLO OLÍMPICAS

DIMENSÕES E PESOS Peso: entre 375 g e 400 g (as mais pesadas da história dos Jogos de Verão) Diâmetro: 85 milímetros Espessura: 7 milímetros

COMPOSIÇÃO Medalha de ouro: 92,5% de prata, 1,34% de ouro (mínimo de 6 gramas) e o restante de cobre Medalha de prata: 92,5% de prata e o restante de cobre Medalha de bronze: 97% de cobre, 2,5% de zinco e 0,5% de latão

Foto (em sentido horário): LOCOG // Michael Steele/Getty // George Konig/Keystone Features // Dan Kitwood/Getty

POUCO MAIS DE 2.100 MEDALHAS ESTÃO SENDO FEITAS para a Olimpíada de Londres 2012. O Royal Mint – espécie de Casa da Moeda da Rainha – é responsável por confeccionar os prêmios. Os cerca de 800 funcionários que trabalham na sede da empresa, no sul do País de Gales, levam 10 horas para forjar cada medalha. O design é obra do artista britânico David Watkins (abaixo), que também foi responsável pelos efeitos especiais do filme "2001: Uma Odisseia no Espaço".


CURIOSIDADES

O uniforme olímpico da equipe britânica teve que ser modificado de última hora porque os bolsos eram muito pequenos para acomodar as grandes e pesadas medalhas. A produção das medalhas é bancada pela gigante mineradora anglo-australiana Rio Tinto, uma das patrocinadoras da Olimpíada. O metal vem de minas dos Estados Unidos (cobre) e da Mongólia (ouro). A prata é retirada de outras fontes diversas. Nike, a deusa grega da vitória, sai do Parthenon em direção a Londres. Ao fundo, um antigo estádio lembra a primeira Olimpíada da Era Moderna.

Faixa roxa: cor simboliza a realeza e o protocolo.

O controverso logo da Olimpíada de Londres aparece sobre a “radiação de energia” dos atletas. O curso do Rio Tâmisa é representado na forma de uma faixa de vitória. Um quadrado ajuda a balancear o desenho.

Em pesquisa realizada pelo jornal "Daily Telegraph", 33% dos britânicos disseram não gostar das medalhas. Para o criador David Watkins, os objetos têm um design do tipo “ame ou odeie”. As medalhas olímpicas mais pesadas da história foram distribuídas nos Jogos de Inverno de Vancouver, em 2010. Cada uma delas pesava entre 500 e 576 gramas, dependendo da composição

CUSTO

Medalha de ouro: 712 dólares Medalha de prata: 370 dólares Medalha de bronze: 3 dólares

PROCESSO DE FABRICAÇÃO Cada medalha passa três vezes por uma fornalha a 750 graus Celsius para amolecer a liga de metal. Entre essas passagens, prensas hidráulicas aplicam toneladas de força para marcar os desenhos. Cada medalha é prensada 15 vezes, em um processo que leva cerca de dez horas.


EntrEvista | abilio diniz

"EsportE traz rEputação"


poucos empresários brasileiros têm uma trajetória tão ligada ao universo esportivo quanto abilio diniz, presidente do Grupo pão de açúcar. atleta

contumaz, aos 75 anos acorda todos os dias antes do amanhecer para encarar uma rotina de duas horas – às vezes mais – de exercícios. Na juventude, foi campeão brasileiro de polo a cavalo e de motonáutica, além de ter praticado com regularidade boxe, judô, tênis, capoeira e levantamento de peso. Amante do futebol, é sãopaulino fanático e até montou um time, o Audax, para disputar competições oficiais. Sua ligação com os esportes não se resume ao campo pessoal. O Pão de Açúcar é um dos maiores patrocinadores esportivos do Brasil. Fosse uma nação, a empresa seria dona de uma medalha de ouro olímpica (com Maurren Maggi no salto em distância em Pequim 2008) e uma de bronze (com Vanderlei Cordeiro de Lima na maratona de Atenas 2004). Mas Abilio quer mais. Em agosto, inaugurou o Núcleo de Alto Rendimento Esportivo, projeto que busca formar atletas para a Rio 2016. A seguir, ele explica por que o esporte é tão vital em sua vida. O sr. comanda uma empresa...

Por favor, me chame de você.

Você comanda uma empresa que tem uma forte ligação com o esporte, que está acostumada a patrocinar diferentes modalidades. O que o motiva a investir nessa área? O esporte está alinhado à filosofia que implantamos na companhia, aos princípios que carregamos. Somos uma empresa que tem alma e coração, que adota posturas vencedoras, que persegue a felicidade. Poucas atividades são capazes de proporcionar tudo isso quanto o esporte. Isso explica por que incentivamos diversas modalidades há mais de 20 anos. Já patrocinamos, por exemplo, a seleção brasileira de vôlei, o que foi uma

EntrEvista abilio diniz, PRESIDENTE DO GRUPO PÃO DE AÇÚCAR

por NELSON CILO fotos PEDRO DIAS

experiência muito positiva. Queremos participar, construir, nos envolver diretamente com o esporte brasileiro.

O Pão de Açúcar tem a ambição de formar atletas olímpicos?

Procuramos atuar em todos os níveis. Recentemente, inauguramos o Núcleo de Alto Rendimento Esportivo, um centro destinado a avaliar os atletas de todas as formas, em detectar suas deficiências e possibilidades. O objetivo é usar a tecnologia científica para aprimorar o máximo das potencialidades. Esse projeto é uma de nossas maiores apostas para o futuro esportivo do País. Ele será nossa mais importante contribuição para os Jogos Olímpicos de 2016.

Em termos financeiros, investir em esporte é um bom negócio? Que tipo de retorno a empresa obtém? É muito importante para a empresa investir em esporte. Dou como exemplo as maratonas. Apesar das enormes dificuldades e dos desafios impostos aos atletas, eles vão às ruas e demonstram alegria. É essa imagem de felicidade que nós buscamos. Se você patrocina competições desse tipo, o retorno para a empresa vem em forma de reputação. De certa forma, nós nos tornamos cúmplices dos atletas.


EntrEvista | abilio diniz

Você tem admiração especial por algum atleta?

O Marilson dos Santos (bicampeão da maratona de Nova York) e o Vanderlei Cordeiro de Lima (bronze na maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e hoje aposentado) são sensacionais. A Fabiana Murer (campeã mundial do salto com vara) é espetacular. Não me refiro só aos atletas, mas às figuras humanas. Tenho muito orgulho de patrociná-los.

Sua ligação com o esporte vai muito além dos patrocínios. Você também é um praticante contumaz de diversas modalidades esportivas. Com o passar dos anos, esse ímpeto não diminuiu?

Sempre pratiquei diversos esportes, sempre competi. Isso está no DNA da minha família. Já conquistei, por exemplo, títulos nacionais de polo e motonáutica. Hoje em dia, o esporte continua sendo uma parte importante da minha vida. Levanto às 5h30 da manhã e logo cedo vou à luta. Faço pelo menos duas horas de exercícios em minha casa ou na academia do Pão de Açúcar. Depois, me sinto mais preparado para trabalhar o dia inteiro.

Você usa seu exemplo como estímulo para os funcionários? Quando converso com as pessoas, não me refiro ao atleta que sou. Falo de uma forma geral, mais abrangente. Procuro expor os conceitos que podem ajudar qualquer um a buscar algo mais na vida. De quem vê a felicidade como alvo a ser alcançado. Aí estão os princípios básicos do Grupo Pão de Açúcar.

No esporte, as palestras motivacionais feitas por treinadores são muito valorizadas. Dentro de uma companhia como o Pão de Açúcar, o discurso motivacional funciona também? Não se trata de discurso motivacional o que fazemos no Pão de Açúcar. Estou falando de convicções, de nossas experiências de vida. É como se eu dissesse: "falo isso porque acredito nisso." No Pão de Açúcar, temos frases coladas nas paredes. A principal delas diz o seguinte: "Não sabendo que era impossível, foi lá e fez." Eu acredito profundamente nisso. Quando queremos realizar algo, não paramos para pensar se é possível ou impossível. Nós vamos lá e fazemos. Essa é a filosofia que procuro repassar aos 160 mil funcionários que estão conosco.

De que forma o esporte pode ajudar a disseminar uma cultura empresarial?

“Quando você patrocina um EsportE, o rEtorno para a EmprEsa vEm Em forma dE rEputação. De certa forma, nós nos tornamos cúmplices Dos atletas”

É verdade que executivos acima do peso não têm espaço no Grupo Pão de Açúcar, que são preteridos por pessoas que estão em boa forma?

Isso é pura ficção. Se você vier a uma de nossas plenárias, verá que há muitos gordos aqui. É apenas normal que eu dê conselhos, nada mais do que isso. Insisto: é pura ficção que no Grupo Pão de Açúcar não há espaço para os gordos. Realmente, não sei de onde tiraram isso.

Mas você pega no pé de quem está fora de forma ou pelo menos os incentiva a entrar na linha?

Aqui a gente não pega no pé de ninguém, apenas passa conceitos gerais. Depois, o que cada um vai fazer ou deixar de fazer é uma questão pessoal. Se perguntarem como é que mantenho a boa forma, eu explico. Digo que o emagrecimento é apenas uma consequência.

36 Dezembro 2011 | istoé 2016

No Pão de Açúcar, temos quatro valores que considero indispensáveis à conduta de cada um: humildade, determinação, disciplina e, principalmente, equilíbrio emocional. São as condições que definem o nosso DNA. É o que temos de mais importante. Por isso o esporte é tão valorizado por nós. O esporte ajuda a desenvolver todos esses valores.

Houve algum sonho na sua vida que você não conseguiu realizar? Como falo aos meus alunos da Fundação Getulio Vargas, não podemos viver de sonhos, mas de metas e planos. O sonho simboliza os devaneios. Aí você fica mais longe da realidade.

O fato de você ser um dos empresários mais bem-sucedidos da história do Brasil certamente não o privou de dificuldades. Qual foi o momento mais complicado de sua trajetória empresarial? Fui integrante do Conselho Monetário Nacional durante dez anos (de 1979 a 1989). Alguns amigos acham que fiz muita coisa. Não concordo. Praticamente larguei as minhas empresas. Quando me dei conta, elas estavam todas quebradas. É um tempo que perdi na minha vida.

Essa experiência trouxe alguma lição?

Aprendi que o mais importante de tudo é não repetir o erro. É como eu gosto de dizer aos meus alunos da GV: "Se vocês cometerem erros, que sejam erros novos, nunca erros antigos."

Já pensou alguma vez em desistir, em deixar as responsabilidades de lado?

Quem é que um dia não se sentiu mal na vida? Isso é normal. Mas eu reagi. Sou de luta e não de desistir.

No momento, muitos economistas fazem prognósticos pessimistas sobre o futuro da economia mundial. A crise o preocupa?


Nos momentos de crise, você só precisa encontrar o jeito de superá-la, de tirar proveito dela. É o que fazemos aqui. As crises são sempre uma circunstância. É necessário que a gente saiba como administrá-la. Acho que nada melhor do que o espírito de confiança para combater qualquer crise.

Você é um torcedor apaixonado do São Paulo. Já pensou em ser um gestor do futebol?

O futebol é a minha paixão, nem sei se entendo mais de empresas ou de futebol. Já temos o Audax (time que disputa a segunda divisão do Campeonato Paulista), que na verdade começou como um projeto social. Foi uma experiência incrível. Fizemos uma peneira e apareceram 70 mil garotos dos mais diferentes lugares. Selecionamos 150 para que fossem preparados adequadamente. Proporcionamos alimentação, escola, saúde, tudo. Hoje é um clube de futebol mais voltado para o marketing. Todo mundo sabe que pertence ao Pão de Açúcar. Ou seja, segue atrelado à nossa marca e, portanto, carrega nossa filosofia.

Já que você gosta tanto de futebol, que comparações faz entre a gestão de um time e uma empresa?

Há semelhanças, mas o futebol tem lá suas estratégias. Se fosse para fazer comparações, eu diria que, como no futebol, no mundo empresarial você arma o time para vencer os adversários, para ser melhor do que os concorrentes.

Para continuar no universo do futebol: que golaços você marcou na mesa de trabalho que decidiram partidas importantes? Nunca marquei gols sozinho, porque não recorro a estratégias isoladas. O que vale é a força do conjunto, o coletivo, o jogo solidário. É isso o que praticamos em nosso ambiente.

Dentro do Pão da Açúcar, você é o atacante que faz gols ou o craque que organiza o jogo? Acho que sou o técnico que orienta e aponta os caminhos.

Se tivesse que usar apenas uma palavra para se definir como uma pessoa, que palavra seria? Otimista. O otimismo está no DNA do Grupo Pão de Açúcar. É de nossa cultura.

Quem você mais admira no mundo empresarial?

Hummm.

E na política?

O ex-presidente Lula. É só olhar de onde veio e aonde chegou.

Que avaliação faz do governo Dilma Rousseff?

A presidente tem sido uma gestora de muita competência. Sou um dos integrantes da Câmara de Gestão. Trabalho para ela e me orgulho disso.

"não podEmos vivEr dE sonhos, mas dE mEtas E planos. o sonho simboliza os Devaneios. aí você fica mais longe Da realiDaDe“


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SOLITÁRIO E EM SILÊNCIO, O MAIOR FUNDISTA BRASILEIRO ENFRENTA UMA IMPRESSIONANTE SUPREMACIA NA MARATONA – É O MELHOR CORREDOR NÃO QUENIANO ENTRE OS LÍDERES DO RANKING MUNDIAL – E TEM O DESAFIO DE DETER OS HOMENS QUE ESTÃO QUEBRANDO TODOS OS PARADIGMAS NAS CORRIDAS DE LONGA DISTÂNCIA POR LUIZ FERNANDO SÁ FOTOS JOÃO CASTELLANO

Colaborou: Lucas Bessel Produção: L. A. Braga Júnior Imagemakers Tigre: Princesa, do treinador de animais Gilberto Miranda Agradecimentos: NetShoes, Centauro, Velocità, Nike Beauty: Sayuri Odo

39 DEZEMBRO 2011 | ISTOÉ 2016


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Para a maioria de nós, sentados com uma revista na mão, três minutos não são nada. É o tempo para ler uma página, se tanto, ou ir à cozinha durante os comerciais na televisão. Nesse intervalo, Marílson Gomes dos Santos é capaz de percorrer cerca de um quilômetro no ritmo de suas vitórias em maratonas ao redor do mundo. O que para um sujeito comum parece tão pouco, para ele é o desafio de uma vida. Três minutos é a diferença entre sua melhor marca nos 42 quilômetros (2h06m34, obtida em Londres, em abril) e o recorde mundial da distância (2h03m38), que o queniano Patrick Makau cravou na prova de Berlim, em maio. Entre ambos, porém, há bem mais que 180 segundos. Esse lapso temporal resume a maior hegemonia já vista no atletismo mundial em todos os tempos – e Marílson é o homem mais próximo de derrubá-la. No ranking da Federação Internacional de Atletismo (Iaaf), o brasileiro é o mais veloz maratonista do mundo depois dos quenianos. O problema é que, antes dele, estão Makau e outros 19 atletas vindos do Quênia, donos das 24 marcas mais rápidas de 2011. Na temporada que antecedeu o ano olímpico, os leões das corridas de fundo devoraram simplesmente tudo que estava em disputa. Foram nada menos que 70 vitórias em maratonas internacionais, incluindo

todo o circuito conhecido como Major, que reúne as mais concorridas provas do mundo (Nova York, Berlim, Londres, Chicago, Boston, Paris, Roterdã, Amsterdã e Frankfurt) e a do campeonato Mundial de Atletismo, em Daegu, na Coreia do Sul. É possível derrotá-los? Se os quenianos são os leões da maratona, uma analogia zoológica faria de Marílson uma espécie de tigre da modalidade. No mundo dos grandes felinos, o que diferencia os dois animais é, de certa forma, o que distancia o brasileiro de seus rivais africanos. Enquanto os leões vivem e caçam em grupos, o tigre é um ser solitário, um predador que age em silêncio e faz da estratégia seu trunfo para surpreender e conquistar seu objetivo. Foi essa a receita do brasileiro em seus maiores triunfos, as duas vitórias na monumental maratona de Nova York. Na primeira delas, em 2006, o rapaz de Brasília, radicado no ABC paulista, quase não foi notado entre os atletas de elite na largada. “Muitos disseram que nem sabiam quem eu era”, contou após a vitória. Vários foram saber apenas pelos jornais. Sofrendo com o frio daquele 5 de novembro, ele acelerou, deixando para trás os favoritos, como a estrela queniana e então recordista mundial Paul Tergat. Nenhum rival acompanhava seu ritmo quando cruzou a linha de chegada no Central Park.

Foi o primeiro sul-americano a conquistar a prova. Quando repetiu a dose, em 2008, não era mais possível ignorá-lo. A oito meses da maratona olímpica de Londres 2012, o tigre brasileiro tem apenas uma certeza: os impressionantes leões quenianos são os favoritos. Não é algo que o incomoda. “Uma maratona olímpica é diferente de todas as demais”, conta o rapaz de 34 anos, longilíneo em seu 1,76 metro de altura e 58 quilos. “A começar pelo fato de que são apenas três de cada país que poderão correr.” Assim, a disputa pela medalha de ouro ganha um novo cenário, uma selva menos infestada de leões. “Pensando assim, sou o quarto no ranking”, raciocina. Ou seja, a uma posição do pódio. Em teoria, é claro. Um dia bom para um e ruim para outro muda tudo em uma prova tão longa. O importante é estar alinhado na largada e estar física e mentalmente preparado para a batalha de pouco mais de duas horas que se seguirá. Até chegar lá, tanto Marílson quanto Makau e seus conterrâneos – a lista interminável tem astros como o campeão mundial Abel Kirui, o vencedor de Nova York, Geoffrey Mutai, e o de Londres, Emannuel Mutai, entre outros (confira os mais fortes quenianos na pág. 42) – terão de carimbar seus passaportes junto às autoridades do atletismo. Nesse ponto, a tarefa do


“NA LARGADA EM NOVA YORK (2006) MUITOS DISSERAM QUE NEM SABIAM QUEM EU ERA. HOJE NINGUÉM PODE ME IGNORAR”

brasileiro parece um pouco mais fácil. Pelas normas da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), caso não esteja entre os 30 melhores do ranking da Iaaf ele ainda precisaria completar mais uma prova com o tempo inferior ao índice olímpico de 2h15m. “É um ritmo confortável para o Marílson”, afirma Adauto Domingues, bicampeão pan-americano nos 3 mil metros com obstáculos (Indianápolis 1987 e Havana 1991) e técnico do tigre brasileiro há 19 anos. Haveria, assim, um complicador. Como as maratonas são muito desgastantes, Marílson teria apenas uma chance para atingir o índice. Sua programação prevê a maratona de Londres (a do calendário regular, não a olímpica) em abril. Um dia ruim (toc, toc, toc) poderia pôr tudo a perder. Aconteceu, em outubro, em Chicago (EUA). Marílson pretendia sair da prova, que em função da topografia é uma das mais rápidas do mundo, com o índice debaixo do braço, o que lhe pemitiria um período de preparação mais tranquilo para a Olimpíada. Um dia quente demais e uma indisposição, porém, minaram suas forças e o levaram a desistir antes do final. “Eu estava muito bem preparado, tinha tudo para fazer o melhor tempo da minha vida”, afirma o atleta. “Mas maratona depende de como você vai se sentir correndo naquele dia.” O risco, porém, é pequeno. Faltando poucas provas para encerrar o calendário de 2011, é pouco provável que Marílson, número 21 na lista da Iaaf no início de dezembro, seja superado por mais nove corredores. Tanto que a CBAt anunciou, no dia 1º, a pré-convocação do corredor para a Olimpíada, na qual deve ser uma das estrelas da delegação brasileira. Maior fundista do País, ele se dedica às maratonas desde 2004 e é dono dos recordes sul-americanos dos 5 mil metros, 10 mil metros e meia maratona. Em outubro, depois da frustração em Chicago, foi ao Pan de Guadalajara e, quase passeando, ganhou o ouro nos 10 mil metros, medalha que lhe faltava na imensa coleção. Já no Quênia,


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ABEL KIRUI

PATRICK MAKAU

GEOFFREY MUTAI

Duas vezes campeão mundial, com o último título obtido em Daegu, na Coreia, em agosto, tem o sexto melhor tempo da história (2h05m04)

Número 1 do ranking mundial, com o recorde de 2h03m38, obtido na maratona de Berlim, da qual é bicampeão. Ganhou três das últimas quatro provas que disputou

Ganhador das maratonas de Nova York (2h05m, recorde da prova) e de Boston, com 2h03m02, melhor tempo da história, só não homologado como recorde mundial por causa da topografia da prova

OS LEÕES QUENIANOS

o país africano tem cerca de 150 corredores em condições de superar o índice olímpico, mas apenas três vão a Londres. Confira quem são os favoritos a representar o Quênia:

WILSON CHEBET

WILSON KIPSANG

MOSES MOSOP

Campeão em Roterdã, com 2h05m27 em sua maratona de estreia

Bicampeão em Frankfurt, ficou a apenas 4 segundos do recorde mundial

Fez o segundo melhor tempo da história (2h03m06) em Boston e venceu em Chicago 2011 com o recorde da prova (2h05m37)


“TENHO UM DESAFIO PELA FRENTE, MAS PARA OS QUENIANOS A LUTA PELA CLASSIFICAÇÃO DEVE SER MUITO MAIS BRAVA” EMMANUEL MUTAI Campeão em Londres (2h04m40), com o recorde da prova, e segundo em Nova York

MARTIN LEL Duas vezes vencedor em Nova York e três em Londres, tem 2h05m15 como melhor tempo

os leões estão ouriçados com a dificuldade que é definir o trio que percorrerá as ruas de Londres no dia 12 de agosto do ano que vem. Enquanto no Brasil contam-se nos dedos os corredores capazes de fazer o índice olímpico, lá há uma centena. Assim, até que a federação queniana de atletismo defina um critério de escolha e, portanto, os seus eleitos, todos estarão vivendo sob pressão. O mundo espera essa decisão. Pelo menos 15 corredores com tempos inferiores a 2h06m serão barrados. No início de novembro, a federação chegou a anunciar que duas vagas estavam defi nidas: uma para o campeão mundial (Kirui), outra para o recordista (Makau). A chiadeira foi tanta que a entidade voltou atrás e manteve o suspense. Quando ele acabar, virá a cobrança. Com tantos craques de fora, quem for a Londres terá a obrigação de trazer medalha. É um fardo extra sobre os corpos esguios, quase frágeis, dos leões do atletismo. “Todo mundo tem um problema”, avalia Marílson. “Eu ainda tenho um desafio pela frente, mas para os quenianos a luta pela classificação deve ser muito mais brava.” Ninguém se espanta mais em ver as camisetas vermelhas dos quenianos liderando pelotões de fundistas nas competições entre nações mundo afora. O que assombra o mundo hoje é a incrível evolução dos seus resultados, a maneira como desafiam o relógio e despedaçam recordes. “Correr Nova York em 2h05m, como fez o Mutai, é absurdo”, diz Domingues, ressaltando as dificuldades do percurso dessa maratona, 43 DEZEMBRO 2011 | ISTOÉ 2016


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considerado um dos mais difíceis do mundo. “Mas o que impressiona é a melhora muito rápida de um ano para o outro.” Um dos casos mais expressivos desse salto de qualidade é o de Levy Omari, dono do quinto melhor tempo de 2011, com 2h05m16, quando foi vice-campeão em Frankfurt. Em 2010, sua melhor marca havia sido 2h12m06, sete minutos mais lento. Makau, o recordista mundial, reduziu três minutos em dois anos. Já Wilson Chebet fez sua estreia em maratonas este ano com uma vitória em Roterdã em fantásticos 2h05m27. Por que eles estão tão rápidos? Até onde podem chegar? “Se você souber, me conte”, suplica Domingues. São perguntas que correm o mundo e só recebem respostas parciais. Geografia, biologia e sociologia explicam a já conhecida aptidão dos africanos para as longas distâncias. “Do ponto de vista genético, eles possuem um percentual muito maior da chamada fibra de contração lenta em seus músculos do que os caucasianos. Essa fibra garante a eles maior capacidade de resistir a esforços físicos prolongados”, afirma Ricardo D’Angelo, doutor em biodinâmica, coordenador técnico da equipe BM&F Bovespa de atletismo e estudioso do desempenho dos atletas quenianos. “Eles possuem ligamentos muito fortes, passadas muito largas e, surpreendentemente, também uma quantidade de fibras rápidas características de corredores de velocidade”, disse à 2016 a americana Pamela Peeke, médica, corredora e comentarista dos canais Discovery Health, Fox e CNN. Além disso, a vida os empurra para a corrida. Como o futebol nos bairros de periferia brasileiros, o atletismo é para os quenianos um caminho para a ascensão social e financeira. “Correndo você consegue ganhar dinheiro, consegue se educar e consegue ajudar a sua família”, diz Nancy Kiprot, fundista queniana

que já venceu a Volta da Pampulha, em Belo Horizonte, e os 10K do Rio de Janeiro. Ela, como a maioria dos corredores de seu país, deu seus primeiros trotes por necessidade. “A escola ficava a sete quilômetros de distância e não havia transporte. Então eu caminhava ou corria, assim como quase todos os meus colegas”, relata à 2016. Esse tipo de condicionamento na infância gera, segundo Pamela Peeke, uma capacidade de transporte de oxigênio até 30% superior à dos demais atletas, principalmente porque a maior parte das cidades do Quênia fica em grandes altitudes. O que (ainda) não se explica é o incrível descolamento dos quenianos do resto do mundo. Mesmo outros países africanos com tradição, como Etiópia e Eritreia, ficaram para trás, embora tenham atletas com o mesmo biotipo e condições sociais e territoriais semelhantes. A ausência de respostas faz surgir teorias de todo tipo, inclusive infundadas suspeitas de um esquema sistemático de doping, como sugeriu Ian O’Riordan, jornalista irlandês especializado em atletismo. “Vivemos dias estranhos e confusos no mundo das corridas de longa distância”, escreveu. Adauto Domingues, mais realista, acredita que a rápida evolução no desempenho dos quenianos pode estar associada à antecipação de suas carreiras como fundistas. Até poucos anos atrás, a maratona era um reduto de atletas experientes, que já haviam construído uma carreira em distâncias não tão longas, como os 5 mil metros e os 10 mil metros. Então, próximos dos 30 anos, quando os músculos já não acompanhavam a velocidade dos mais novos naquelas provas, migravam e usavam sua maturidade para administrar o ritmo certo nos 42 quilômetros. “Hoje eles saltam etapas, entram cedo e atingem o seu auge físico na maratona”, analisa o treinador. “O problema é que não se sabe que efeito isso terá nos seus

BICAMPEÃO: Marílson arranca para a segunda vitória na Maratona de Nova York, em 2008. “Em algum momento, ele já derrotou vários desses quenianos”, diz o treinador Adauto Domingues


corpos e nas suas carreiras.” O marco dessa revolução foi a vitória de Samuel Wanjiru na maratona olímpica em Pequim 2008. O queniano de apenas 21 anos passeou na prova e estabeleceu um novo recorde olímpico (2h06m32, dois segundos mais rápido que o melhor tempo de Marílson). Transformou-se em herói nacional, mas morreu em junho de forma trágica, ao cair do terraço de sua casa na cidade de Nyahururu, num aparente caso de suicídio. Marílson fez a transição para a maratona à moda antiga, em 2004. “Quando corri a minha primeira, em Paris, senti que fui feito para isso”, conta ele. “Corria com tanta facilidade que desprezei a hidratação. Até o quilômetro 38, fazia uma prova para 2h06m. Então, senti os efeitos do erro que cometi e, ainda assim, completei em 2h12m”, conta. Experiente e confiante, o tigre sabe que, em Londres, será respeitado como um competidor importante até mesmo pelos leões. “Ele já participou de provas no mundo todo, e isso é muito importante para um corredor. Reúne resistência, técnica e experiência. Conhecendo circuitos e adversários, você sabe se posicionar dentro da corrida e sabe quando é a hora de fazer o quê”, diz a queniana Nancy Kiprot. “Marílson já venceu vários desses quenianos em algum momento e isso também pesa a seu favor”, afirma Domingues. Na psicologia, o planejamento olímpico do número 1 do Brasil está avançado. Na parte física e técnica, começa agora com um trabalho de base no Brasil e deve incluir duas fases de treinamento em altitude, primeiro na Colômbia e depois, mais perto da Olimpíada, na Europa, provavelmente na Espanha. Assim, espera reduzir parte da vantagem biológica dos africanos. Discreto e compenetrado, o tigre prepara sua estratégia para a maior caçada de sua vida.

“A MARATONA OLÍMPICA É DIFERENTE DE TODAS AS DEMAIS. A COMEÇAR PELO FATO DE QUE CORREM APENAS TRÊS ATLETAS DE CADA PAÍS”


perfil

oleg,


sem dó Oleg e Nadia exigem o máximo de suas jovens alunas, num esporte em que um litro de água pode fazer toda a diferença

o terrível Durão e com fama De mau, o técnico ucraniano e sua mulher, naDia, voltam ao País Para formar a geração De ginastas que Deve subir ao PóDio só em 2020 por jorge eduardo fotos orlando azevedo


perfil

Em 2008, Jade Barbosa chegou à Olimpíada de Pequim como a grande esperança de medalhas para o Brasil na ginástica artística. Seus desempenhos animadores eram fruto de talento, suor, lágrimas e uma rotina de treinamento dura, das 6h50 até as 22h. Naqueles Jogos, o máximo que ela conseguiu foi um frustrante sétimo lugar no salto sobre o cavalo. Depois do resultado discreto, ela passou a dizer que, mais do que duro, seu treinamento era permeado por crueldades como não permitir que as atletas tomassem água. Não foi a única atleta que se queixou: “Ele já me chamou de burra, ela me xingava de gorda”, diz Maíra dos Santos Silva, ex-ginasta que defendeu a seleção brasileira até 2006. “Isso acontecia sempre.” As duas atletas se referem aos métodos e posturas do casal de treinadores ucranianos Oleg e Nadia Ostapenko. Eles comandaram a equipe brasileira de ginástica feminina em Atenas-2004 e Pe-

iNflexível disciplinador e exigente, Oleg diz que, sem postura, vontade e caráter, nenhuma atleta chega à graça, à força e ao equilíbrio das campeãs. Assim, a medalha deixa de ser um detalhe e vira uma consequência

quim-2008. Após conquistar o oitavo lugar em equipes com as brasileiras na China, foram para a Rússia treinar as meninas da seleção juvenil do país, que conquistou o campeonato europeu no ano passado. Agora, o casal mais famoso da ginástica artística feminina está de volta ao Brasil. Sem compromisso com medalhas no curto prazo, a missão é iniciar a formação de meninas que ainda brincam de boneca para que representem bem o País na Olimpíada do Rio, em 2016, e subam no pódio em 2020. A história da relação dos ucranianos com a ginástica brasileira recomeça em Curitiba, no bairro Tarumã, onde voltou a funcionar o Centro de Excelência de Ginástica, o Cegin, o mesmo onde tudo começou em 2001. Apesar do tempo em que viveu no Brasil, Oleg não fala quase nada de português, mas compreende boa parte do que ouve, em especial se a expressão “fama de mau” fizer parte da pergunta. Quando


isso acontece, ele cochicha a resposta para Nadia, que traduz num português ainda bastante carregado, mas que ela não esqueceu: “Fala-se demais sobre isso, que o Oleg é muito durão, exigente, repetitivo, que não deixa as meninas nem tomarem água”, diz ela, com a firmeza de quem há 41 anos vem convivendo bem com o gênio do marido. “A briga dele é contra o excesso de peso, porque um quilo a mais faz diferença num corpo de adolescente e pode causar uma séria lesão.” Esse discurso é dirigido para a ex-pupila Jade Barbosa, que alegou ser proibida de tomar água durante os treinos e que, em consequência, teriam aparecido pedras em seus rins. “Água não é problema, a adolescência, sim”, diz Vicélia Florenzano, presidente da Federação Paranaense de Ginástica. Mesmo entre as atletas, há quem saia em defesa do técnico e de seus métodos. É o caso de Ethiene Franco, que hoje tem 19 anos e foi a mais jovem atleta brasileira em Pequim em 2008. “É evidente que, se eu tiver em sede, ele me dirá para tomar água”, diz Ethiene. “O resto é lenda.” Oleg se mantém olimpicamente alheio à polêmica. Prefere falar sobre o seu ofício e as razões que o levaram a preferir trabalhar com meninas. “O aprendizado é mais rápido, a técnica se sobressai”, diz o ucraniano. “A ginástica masculina é mais de força.” O casal Ostapenko parece à vontade na capital paranaense. A cidade tem uma colônia ucraniana significativa, com direito a consulado e festas típicas concorridas. Mas Oleg e Nadia não frequentam as atividades de seus conterrâneos e descendentes. Aumenta a solidão o fato de estarem longe do casal de filhos, Slava, 31 anos, e Yumina, 41, além do neto Artion, 18, filho de Yumina. Em casa, Oleg, 66 anos, e Nadia, 62, assistem a novelas e outros programas de tevê. Acompanham o noticiário e falam com os herdeiros pela internet. De manhã bem cedo, o treinador pode ser visto caminhando altaneiro e solitário pelas alamedas do Jardim Botânico, no bairro do mesmo nome, perto de casa. Também pratica alguns movimentos de ginástica, o que explica seu porte ainda atlético. “Eu não faço nada, sou preguiçosa”, diz Nadia.

Oleg é o pai da matéria. Nadia, a coreógrafa. Nos treinos, trabalham duro. Acompanham os auxiliares e orientam diretamente as meninas, postura por postura, detalhe por detalhe. Nada passa sem ser notado sob as sobrancelhas grossas de Oleg. Além do corpo, ele procura decifrar a alma da ginasta e, com isso, tirar o melhor da pupila. Com esse espírito, espera ditar o futuro da ginástica artística feminina do Brasil. Ele defende que é preciso formar atletas para o pódio olímpico e para a vida. “Precisa ter postura, vontade e caráter”, diz Oleg. Medalha, para ele, não é detalhe. É consequência. Oleg e Nadia foram trazidos de volta após um silencioso trabalho de Vicélia, ex-presidente da Confederação Brasileira de Ginástica e hoje à frente da Federação Paranaense, com o apoio da Secretaria do Esporte do Paraná. A madrinha é a LiveWright (leia quadro). instituição sem fins lucrativos criada por empresários de sobrenome tradicional e atletas como Guga Kuerten (tênis), Fernanda Keller (triatlo) e Lars Grael (vela). O Paraná pareceu uma escolha óbvia para a ginástica artística feminina. A verba da LiveWright para a modalidade é de R$ 3,5 milhões por ano. Outras nove modalidades estão sendo apoiadas em outros Estados. Vicélia é uma mulher magra e agitada, que gosta de fazer as coisas acontecer. “Quando cheguei à federação, coloquei na cabeça que deveríamos trazer Oleg de volta e contei com a ajuda do José Carlos Brunoro (ex-treinador da seleção masculina de vôlei e hoje empresário esportivo)”, diz ela. Vicélia articulou o entendimento entre a Federação Paranaense de Ginástica, a LiveWright e a Secretaria do Esporte do governo paranaense. O Estado entrou com o ginásio e três professores na escolinha, nesta primeira fase. A LiveWright banca Oleg, Nadia e mais três professores. A federação entra com mais professores e administra o conjunto. Prevê-se a compra de aparelhos novos e a construção de piscina de hidroginástica e salas de fisioterapia, além de melhorias no ginásio. O Centro de Excelência em Ginástica conta atualmente com 30 meninas na escolinha, a maioria


perfil

A forçA dA orgAnizAção Empresa trouxe ucraniano e sonha ainda mais alto A organização sem fins lucrativos que patrocina a vinda do ucraniano Oleg Ostapenko ao Brasil planeja saltos mais altos para os próximos anos. A liveWright quer tornar o País uma potência em modalidades pouco populares, mas que distribuem muitas medalhas. A fórmula envolve, claro, dinheiro. No primeiro ano, serão R$ 12 milhões distribuídos em esportes como ginástica artística, luta olímpica, tênis e ciclismo. Os recursos podem vir tanto de empresas privadas quanto de estatais. “Para nós, é mais importante que o dinheiro seja bem utilizado e aplicado em projetos que tenham pé e cabeça”, afirma luis Resende, CeO da organização. Para fazer a captação de recursos, é fundamental uma boa rede de contatos. É por isso que a liveWright também conta com o apoio de empresários como João Paulo diniz, presidente do conselho executivo do movimento, Carlos Jereissati e Roberto Klabin, entre outros. “O ideal é que, no futuro, a liveWright não precise mais existir”, afirma Resende. “Aí o esporte brasileiro caminhará com as próprias pernas.”

UNiãO O casal vive junto há 41 anos e tem dois filhos

com o que ganha, o casal consegue levar uma vida de classe média em curitiba. eles têm um fiesta 1.6 e moram em um apartamento a 15 minutos do trabalho crianças. Para participar, alunas de escolas públicas de Curitiba pagam R$ 17 por mês e as de escolas particulares, R$ 32. Quem não pode pagar ganha bolsa. Estão previstas mais de 100 bolsas para o projeto, que terá aos poucos 16 polos no interior do Paraná e, numa etapa seguinte, outros 16. O plano é contar com Oleg Ostapenko até 2020, mas Nadia relativiza as coisas. “Temos contrato por dois anos, até 2013”, diz ela. “Se vamos ficar até 2016 ou 2020, só saberemos mais adiante.” O casal recebe cerca de R$ 720 mil anuais. Isso permite que eles desfrutem uma vida de classe média em Curitiba. Moram num apartamento no bairro Cristo Rei, a cerca de 15 minutos de carro do Cegin. Carrão? “Que nada, temos um Fiesta 1.6”, revela Nadia, sorrindo. Oleg, sempre traduzido por Nadia, comenta que trabalhar na Rússia era mais fácil. “Lá a situação é muito melhor, há tudo o que se precisa”, diz ele. “Trabalhamos com meninas dos 5 aos 20 anos, em grande quantidade, e disso tiramos a qualidade.” Das centenas de meninas que aparecem nos treinos na Rússia, são extraídas as seis da equipe nacional, todas com potencial de conquistar medalhas. “Aqui, mesmo com toda a dificuldade, vamos encontrar a qualidade nas meninas brasileiras.” Oleg aposta vigorosamente

no projeto, mas recomenda que o Estado e a sociedade façam sua parte. “É preciso que se abram muitos clubes e centros esportivos, para que a ginástica seja massificada”, afirma o ucraniano. “O que temos hoje são poucas jovens praticando a ginástica com a abnegação exigida.” Assim como no caso da água, é preciso combater a escassez de atletas na ginástica nacional. E matar a nossa sede de medalhas.

50 dezembro 2011 | istoé 2016



atletismo

sa n g u e


veloz Nascida Nos Estados UNidos E prima dE Um corrEdor sUEco, a carioca por vocação rosâNgEla saNtos qUEria mEsmo Era sEr passista dE Escola dE samba. mas o talENto para as pistas dE atlEtismo fEz dEla Uma das maiorEs rEvElaçõEs do EsportE brasilEiro

por marisa folgato fotos marcio scavone


atletismo

ELA ERA BRIGONA DEMAIS. Para dar jeito nisso, a tia Maria das Graças Oliveira resolveu colocar a sobrinha para praticar esporte. Aos 9 anos, a garota preferia a natação, mas não havia vagas no Centro Esportivo Miéssimo da Silva, perto da comunidade de Padre Miguel, no Rio. Mesmo contrariada, a menina foi tentar o basquete. Bastaram algumas horas para uma treinadora perceber que a jovem, que corria feito louca, deveria tentar o atletismo. Ela até se esforçava nas pistas, mas queria mesmo era ser passista de escola de samba. Enquanto treinava, pensava no dia em que seria uma estrela entre repiques, pandeiros e tamborins. Aos poucos, começou a pegar gosto pelas corridas. Principalmente quando ganhava, o que passou a ser cada vez comum. Aos 15 anos, era óbvio que tinha enorme talento para a velocidade. O que fazer com o sonho de passista? A tia resolveu a questão. “O samba não combina com o esporte”, disse para a sobrinha. “Você vai ser atleta.” Sábia decisão. Aos 20 anos, Rosângela Cristina Oliveira Santos é a maior revelação do atletismo brasileiro e se prepara para quebrar uma barreira história – ser a primeira brasileira a correr os 100 metros rasos abaixo de 11 segundos. O que chama a atenção na trajetória de Rosângela é a velocidade com que seus tempos são baixados. Até o ano passado, suas melhores marcas estavam em torno de 11s40. Em agosto, no Troféu Brasil, cravou 11s36. No Pan de Guadalajara (México), em outubro, fez 11s22, o suficiente para assegurar o ouro. E mais: foi a primeira vitória de uma brasileira desde o Pan de Caracas (Venezuela), em 1983. “Até eu me surpreendi com essa marca”, diz Rosângela. E olha que ela quase não seguiu para o Pan. Semanas antes do embarque, pediu dispensa. Estava com fadiga muscular. O ano de 2011 foi sua temporada mais puxada, com uma série

de provas em sequência. Para uma atleta que, como ela, vinha de dois anos sem competir em decorrência de lesões, o ritmo intenso pesou. De novo, foi a influência da tia que a fez embarcar – e suas passadas firmes rumo à vitória comprovaram que Maria das Graças estava certa. “A Rosângela fez treinamentos espetaculares no México”, diz o técnico Paulo Servo. “Achei até que ela conseguiria um tempo melhor, mas o nervosismo típico de quem é muito jovem atrapalhou um pouco.” Agora, Rosângela está a apenas dois centésimos de segundo de uma vaga para representar o Brasil na Olimpíada de Londres, em 2012. Para a turma do atletismo, será moleza. “A Rosângela é um talento”, diz Robson Caetano, dono de duas medalhas de bronze olímpicas e até hoje recordista brasileiro dos 100 metros, com exatos 10 segundos. “Os resultados ainda não traduzem o potencial dela”, afirma o ex-velocista. Paulo Servo, técnico de Rosângela, vai ainda mais longe. “Ela deve ser a primeira brasileira a correr abaixo dos 11 segundos.” Se alcançar essa marca em 2012, Rosângela não só estará alinhada para a final dos 100 metros em Londres como terá chance de trazer medalha – o que seria a primeira de uma velocista brasileira na história das Olimpíadas. Em 2008, quase chegou lá. Ficou em quarto lugar no revezamento 4x100. Tinha só 17 anos. Robson Caetano diz que o tipo físico de Rosângela é perfeito para velocistas, com pernas compridas e músculos fortes. Ele, porém, faz algumas ressalvas. “Na saída de bloco, o tempo de reação dela é bom, mas a aceleração inicial precisa ser aprimorada”, afirma Caetano, que também vê problemas na passada com a perna esquerda. “Ela deveria se ver correndo mais vezes no vídeo e, assim, mentalizar o padrão ideal para encaixar uma corrida perfeita.”


"n達o acho que daria certo competir como americana. n達o faria sentido na minha vida"


atletismo

campeã com fadiga muscular, rosângela pensou em desistir do pan, mas viajou para o méxico por influência da tia. resultado: ganhou os 100 metros rasos (na foto, a comemoração da vitória) e quebrou um jejum de quase três décadas do Brasil sem títulos na prova


foto: João castellano/ag. istoé

Para uma atleta como Rosângela, corrigir pequenos defeitos não é problema. No esporte, isso se resolve com exaustiva repetição. Treinar bastante jamais foi um fardo. Ela enfrenta uma rotina de exercícios pesados de segunda a sexta-feira, das 8 às 11 horas. Às vezes, se o técnico pedir, vai para as pistas aos sábado também. “Tive de mudar da casa da minha tia, em Padre Miguel, para ficar perto da Vila Olímpica do Mato Alto, onde agora treino”, diz a atleta. “Antes, precisava sair de casa às 5 horas da manhã e andar um pedação para pegar duas conduções. Ia em pé numa van e chegava cansada no treino.” Depois de passar metade do dia nas pistas, voltava para casa, se aprontava e rumava para a Universidade Castelo Branco, onde atualmente cursa o terceiro período de Educação Física. Seu dia só terminava por volta da meia-noite, quando enfim conseguia ir para a cama. No dia seguinte, acordava antes de amanhecer para repetir a rotina. A solução para a pesada labuta veio do técnico. Paulo Servo alugou uma quitinete para Rosângela na comunidade de Curicica, nos arredores da Vila Olímpica. Ela mora sozinha e só reclama de ter de enfrentar o fogão. “Agora saio de casa, ando 200 metros e pego o micro-ônibus dos corredores”, diz Rosângela. “Muitos atletas moram na mesma comunidade. É muito bacana.” Oferecidas condições de treinameto mais decentes, Rosângela está pronta para deslanchar. “Nossa linha de trabalho investe no fortalecimento geral do atleta”, afirma Servo. “No atletismo, velocidade é potência e potência é força. Essas coisas têm de estar sempre evoluindo ou o corredor ficará estagnado”. Servo costuma preparar ciclos de treinamento que podem durar até oito semanas.“Numa semana típica, são três dias de musculação e dois de corrida na areia fofa da praia, enquanto na outra eu alterno”, explica o

técnico. “Aos sábados, boto as atletas para enfrentarem três quilômetros de subida brava. Velocista detesta correr mais de 400 metros, faz cara feia, mas é necessário.” Segundo ele, toda a preparação de Rosângela está sendo planejada para que ela atinja o auge nos Jogos de Londres, que começam em julho de 2012. “A Rosângela é uma atleta especial, diferente mesmo, e pode provocar muitas surpresas.” A história de vida de Rosângela é repleta de capítulos, digamos, inusitados. Filha de brasileiros, ela nasceu em Washington, nos Estados Unidos. “Duas irmãs minhas foram para lá com uma companhia de dança”, diz a tia Maria das Graças. “Bárbara, a mãe de Rosângela, conheceu um brasileiro e revolveu ficar.” A menina nasceu em 1990 e, um ano depois, a mãe a trouxe para o Brasil. Rosângela estava com pneumonia, os pais trabalhavam demais em solo americano, ainda não eram legalizados e acharam melhor deixar a garota com a família carioca. Depois, voltaram para Washington. “Era para a Rosângela ficar só um ano”, diz Maria das Graças. “Só que ficou tudo muito complicado. Primeiro entrou na escola, depois no esporte. Ela acabou optando por Padre Miguel mesmo.” No Brasil, Rosângela cresceu com o primo Nil de Oliveira, que é 5 anos mais velho. Ele também enveredou para o atletismo e sua vida tomou um rumo inesperado. Hoje, Oliveira tem 25 anos e coleciona medalhas nos 100, 200 e 400 metros rasos. Mas não pelo Brasil. Filho de uma brasileira que mora na Suécia, mudou-se para lá em 2006, naturalizou-se e faz parte da seleção daquele país. Na Olimpíada de Londres, os primos que cresceram na mesma casa e deram os primeiros passos juntos nas pistas deverão se reencontrar. Como cidadã americana, Rosângela poderia treinar no Exterior e ter todas as regalias oferecidas aos atletas

do País número 1 do atletismo mundial. “Não acho que daria certo”, diz ela. “Sou muito apegada à minha tia, estou com um técnico bacana, alcançando resultados, lutando para melhorar. Não faria sentido na minha vida.” Por aqui, as coisas melhoraram muito nos últimos tempos. Com os bons resultados obtidos em 2011, grandes empresas passaram a olhar com atenção para ela. Atualmente, Rosângela é patrocinada por gigantes como Brasil Foods, Oakley, Adidas e Unimed Rio O sucesso repentino – afinal, não é todo dia que um brasileiro quebra um tabu de quase 30 anos em competições internacionais, como ela fez no Pan de Guadalajara – deixou Rosângela um pouco assustada. Ela não é de falar muito e costuma ser monossilábica nas respostas. Não que seja avessa a badalações. Hoje em dia, mais do que samba, Rosângela gosta mesmo é de um ritmo conhecido como “charme”, uma espécie de black music misturada com hip-hop. “Temos uns passinhos coreografados”, diz a atleta. “Basta ir umas três semanas ao Madureira e logo você aprende.” Vaidosa, é difícil vê-la sem maquiagem. Mesmo nos treinos, usa os cabelos caprichosamente desalinhados e brincos chamativos. No Pan, esmaltou, ela mesma, uma unha com cada cor da bandeira brasileira. Seu visual se destaca mesmo em meio a atletas com corpos perfeitos. Com 62 quilos, olhos verdes (“são lentes”, apressa-se logo em dizer) e 1,66 metro de altura, é inevitável que desperte olhares cobiçosos. Daqui a alguns meses, em Londres, ela espera de novo atrair muita atenção – com uma histórica medalha pendurada no peito.

patrocínio: 57 dezembro 2011 | istoé 2016


atletismo

Mar c as qu e i Mpres s io naM os principais resultados da carreira de rosângela santos competição

resultado

curiosidade

Pan 2011

Ouro nos 100 metros rasos

As brasileiras não venciam a prova há 28 anos. A última havia sido Esmeralda de Jesus, no Pan de Caracas, em 1983

Olimpíada de Pequim, em 2008

4º lugar na final do 4 x 100

Rosângela é uma das atletas mais jovens da história a disputar uma final olímpica o atletismo. Tinha 17 anos.

Mundial de Menores de Ostrava, na República Tcheca, em 2007

2º lugar nos 100 metros rasos

Sua marca, de 11s46, é uma das melhores da história do atletismo juvenil

"eu

acordava às 5 horas treinar, pegava e chegava agora isso

produção: l. a. Braga Júnior imagemakers agradecimentos: netshoes, centauro, velocità, adidas, nike, olimpikus e atletismo & cia Beauty: cris lopes abá mgt


da manhã para duas conduções cansada no treino. mudou"


pesQuisA

O ALMANAQUE OLÍMPICO DO BRASIL ISTOÉ 2016 OBTÉM COM EXCLUSIVIDADE O MAIOR LEVANTAMENTO JÁ FEITO SOBRE A HISTÓRIA ESPORTIVA DO PAÍS. PRODUZIDO POR UMA EQUIPE DE 20 PESQUISADORES DA USP, O TRABALHO APRESENTA UM RETRATO COMPLETO DOS 1.667 ATLETAS QUE DEFENDERAM O PAÍS DESDE A PRIMEIRA EDIÇÃO DOS JOGOS POR RODRIGO CARDOSO INFOGRÁFICOS PEDRO MATALLO


A pAulistAnA mAriA lenk (AcimA) foi A primeirA sul-AmericAnA A disputAr umA olimpíAdA (los Angeles, 1932). a história dela e de todos os outros atletas que representaram o brasil nos jogos será publicada em uma meticulosa enciclopédia


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UM PAR DE BRINCOS VISTOSOS, BATOM COR-DE-ROSA, cabelos bem escovados, calça e camisa social. Apesar dos 84 anos e da doença de Alzheimer, Helena Cardoso Menezes fez questão de estar impecável para receber a visita de um grupo de estudiosos interessados em vasculhar uma das maiores relíquias dessa senhora: seu passado como atleta olímpica. Com a ajuda do marido, que espalhou fotos antigas sobre uma mesa, Helena destrinchou suas histórias vividas nas Olimpíadas de 1948, em Londres, e de 1952, em Helsinque. Aos 14 anos, ela começou a praticar esporte. Seu forte sempre foi o atletismo – principalmente as provas de velocidade. Aos 21, credenciou-se para representar o Brasil na Olimpíada de Londres, na Inglaterra, onde correu os 100 e 200 metros rasos. Quatro anos mais tarde, repetiria o feito nos Jogos de Helsinque, na Finlândia, competindo nos 100 metros e no salto em distância. Helena não conquistou medalhas e, por isso, seu nome não é citado como uma heroína olímpica. Como outros ex-atletas, porém, ela está prestes a deixar o anonimato para se tornar um verbete destacado da primeira enciclopédia olímpica do Brasil. O projeto é resultado de um trabalho meticuloso que vem sendo executado por uma equipe de 20 pesquisadores coordenados pela professora Katia Rubio, da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP). Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a enciclopédia irá escrever a história do esporte olímpico nacional pela ótica dos atletas, algo jamais feito no Brasil. Mesmo sem subir no pódio com uma coroa de ramos sobre a cabeça, a história de Helena vale ouro. "Dar voz a vencedores e não vencedores é olhar para o esporte olímpico com uma grande angular", diz Katia, que, como psicóloga do esporte, também coordena uma equipe multiprofissional responsável pelos times olímpico e paraolímpico da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa. Ela vem batendo à porta de todos os brasileiros que um dia

foram atletas olímpicos – o País iniciou sua participação nos Jogos em 1920, na Antuérpia, na Bélgica. Somente para o Rio de Janeiro já foram realizadas 12 viagens. Em uma dessas oportunidades, um grupo de cinco pessoas se instalou em um apartamento alugado e, durante uma semana, realizou 50 entrevistas. Um outro pesquisador da equipe, responsável por procurar todos os atletas do judô, já rodou 22 mil quilômetros de carro. "Aonde tem olímpico, a gente vai atrás", diz a professora da USP, que já esteve na Europa à procura de esportistas. Cada um dos 1.667 atletas que pisaram em solo olímpico será imortalizado pela enciclopédia, que deve ser finalizada e publicada em 2015, um ano antes dos Jogos do Rio de Janeiro. Para chegar a esse número, a equipe cruzou dados do Comitê Olímpico Internacional, de Museus Olímpicos, como os de Barcelona e Los Angeles, e de arquivos nacionais. A equipe da USP, por meio de entrevistas e pesquisas, já levantou 537 histórias, de atletas da ativa, ex-atletas e esportistas que já morreram. A 2016 teve acesso com exclusividade aos dados preliminares da enciclopédia (leia quadros). Foi possível observar, por exemplo, que a idade média em que os atletas brasileiros estreiam em Olimpíadas é de 21 anos, que o sobrenome Silva é o mais presente entre os olímpicos do País e que os paulistas são os que mais participaram de edições do evento. As descobertas mais profundas, entretanto, têm surgido nas entrevistas concedidas por aqueles que estiveram no front das competições. Katia, que tem vivido dias de espectadora privilegiada da vida dos atores principais do maior espetáculo esportivo do planeta, dá seu veredicto: "É um verdadeiro milagre o Brasil ter conquistado as medalhas olímpicas que possui." Segundo a pesquisadora, as 91 medalhas olímpicas obtidas por 273 atletas brasileiros se devem essencialmente a talentos individuais e à determinação de alguns esportistas iluminados. Não fosse a crônica falta de estrutura, esse passado seria muito diferente. Katia cita o caso da carioca Aida dos Santos, hoje com 74 anos. Em 1964,


ronAldo fenÔmeno estreou em umA olimpíAdA Aos 20 Anos (AtlAntA, 1996), a eXemplo do que FiZeram 8% dos atletas olÍmpicos brasileiros


pesQuisA

MODALIDADES DE CAUCASIANOS CICLISMO

GINÁSTICA ARTÍSTICA

CANOAGEM HIPISMO

GINÁSTICA RÍTMICA NADO SINCRONIZADO

NATAÇÃO

PENTATLO MODERNO

POLO AQUÁTICO

SALTOS ORNAMENTAIS

REMO

TÊNIS

TAE KWON DO

TRIATLO

TIRO COM ARCO TIRO ESPORTIVO

VÔLEI DE PRAIA

MODALIDADES COM UMA MESCLA EQUILIBRADA DE RAÇAS FUTEBOL (MASCULINO)

BASQUETE (MASCULINO) HANDEBOL

LEVANTAMENTO DE PESO

LUTAS

MODALIDADES COM FORTE INFLUÊNCIA DA IMIGRAÇÃO JAPONESA JUDÔ 64 deZembro 2011 | ISTOÉ 2016

TÊNIS DE MESA

VÔLEI


o nAdAdor cesAr cielo (ABAiXo) BrilHA em umA modAlidAde dominAdA por BrAncos. os negros sÃo maioria no atletismo, enquanto os Filhos de imigrantes japoneses FaZem sucesso no judÔ aos 27 anos, ela foi a única mulher presente na delegação brasileira nos Jogos de Tóquio, no Japão. Lá, competiu sozinha na prova de salto em altura, sem ser acompanhada por técnico, dirigente ou qualquer outro atleta. Quando, por motivo de contusão, precisou de suporte médico, teve de recorrer ao socorro da equipe de Cuba. Mesmo assim, Aida conquistou a quarta colocação no torneio. "Um pouquinho de estrutura e a história dessa mulher poderia ter sido outra", diz Katia. "Se não houver uma profissionalização verdadeira, a possibilidade de o Brasil ganhar medalhas será cada vez menor." Levantamentos históricos como o da enciclopédia poderão não apenas iluminar o passado, mas ajudar a construir um futuro olímpico vitorioso para os atletas brasileiros.

MODALIDADES DE NÃO CAUCASIANOS ATLETISMO

BASQUETE (FEMININO) BOXE

FUTEBOL (FEMININO)


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"os BrAsileiros nÃo estÃo prepArAdos pArA gAnHAr" Professora da USP responsável pela elaboração da enciclopédia e autora de 16 livros dedicados à área esportiva, Katia Rubio explica por que o Brasil está muito longe de ser uma potência olímpica Por que o Brasil não é uma potência olímpica?

Um problema grave é a falta de nacionalização do esporte no País. Há um inchaço da estrutura no eixo Rio-São Paulo. São quatro os centros de esporte no País, incluindo na lista Minas Gerais e Porto Alegre. Se o sujeito quer ser alguém na vida, tem de deixar a sua terra natal. No atletismo, por exemplo, a confederação fica em Manaus, mas os principais centros são em São Paulo e no Rio.

Qual é o prejuízo desse processo?

Esses deslocamentos feitos pelos atletas não provocam, na maioria dos casos, o retorno deles à terra natal. Eles têm o desgarramento das origens e, muitas vezes, passam a negá-las. Isso não contribui em nada para a mudança do cenário. O Vicente Lenílson, do atletismo, saiu de Natal para treinar no Rio e contou que passou um ano sendo tratado como um cachorro no centro de treinamento. Vejo histórias que lembram os 12 trabalhos de Hércules: os atletas têm de se provar a cada instante se o desejo deles é esse mesmo. No basquete feminino, o desenvolvimento ocorre basicamente no interior paulista. E as meninas vêm do Brasil inteiro para lá jogar. A Iziane veio do Maranhão. A Micaela, do interior do Rio. Como é que se pode pensar no desenvolvimento do esporte sem que haja de fato uma nacionalização do ponto de vista geográfico?

O esporte é o espelho da realidade social do País.

66 deZembro 2011 | ISTOÉ 2016

Não chega água, não chega comida, então o esporte também não vai chegar nessas regiões. Isso também é um denunciador das desigualdades regionais que o Brasil enfrenta. É a comprovação do que foi preconizado por Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro.

E aí a gente vê proliferar os chamados projetos sociais. Muitos não têm a função de formar para o alto rendimento. Eles cumprem um objetivo que, como diz o nome, visa apenas educar e promover cidadania. Mas o que fazemos com os mais habilidosos? Se não estimularmos o desenvolvimento deles, estaremos promovendo um tipo de exclusão às avessas. Oferecer apenas projetos sociais é como dar uma balinha para esses excluídos. Soa quase como um cala a boca. Muita gente diz que também falta preparo psicológico para os atletas brasileiros. É clássico no País alguém dizer para o atleta: "Você já ganhou tênis, calçado, ganha um lanche todo dia e ainda quer vencer o campeonato?" Quando comecei a entrevistar os olímpicos que não venceram, entendi a psicodinâmica do nosso esportista em relação à vitória. É comum o atleta brasileiro enfrentar estrangeiros que estão preparados para ganhar tanto do ponto de vista técnico quanto emocional. Sem saber que eles são treinados para isso, os brasileiros passam a se sentir mal diante de tanta superioridade. Grande parte de nossos atletas não é preparada para ganhar, mas para participar. O atleta vencedor é aquele que entra para ganhar. O Zé Marco (prata em 2000 no vôlei de praia) é natural da Paraíba, treinou a vida inteira em João Pessoa e fez dupla com o Ricardo. Ele fala: "Diante de tudo o que vivi, a prata foi mais do que ouro".

Hoje, porém, temos o Cesar Cielo, um supercampeão.

Nadadores australianos e americanos sempre olharam por cima dos adversários. Até que chegou o Cielo e olhou desse mesmo jeito. No Brasil, essa pretensão, fundamental para o atleta ser vitorioso, é vista como arrogância. Como o atleta não quer ser tratado como arrogante, é aí que ele não desenvolve


o personagem necessário para enfrentar esse tipo de situação. Esse discurso vencedor passa por uma apropriação da possibilidade da vitória. Se o brasileiro não fizer essa apropriação, provavelmente sucumbirá. Já passamos do patamar da falta de recursos e conhecimento no esporte. Temos a necessidade de apropriação de um discurso vencedor. O que eu ouço de atletas é o encantamento de ter ido aos Jogos. Dizem que era tudo o que eles queriam. Esse discurso está errado. Se o esporte competitivo quiser crescer, é preciso preparar os atletas para que eles digam e acreditem que desejam ir para ganhar medalha. Do contrário, a Vila Olímpica continuará a ser um grande hotel, com baladas e grandes festas, e a participação nos Jogos será o grande prêmio.

A falta de estrutura também não atrasa o desenvolvimento do esporte brasileiro?

Nas minhas conversas com atletas do boxe, por exemplo, não encontrei um ambiente saudável de treinamento. Há lugares insalubres, mofados, fedidos, escuros. É o porão! Ou seja, os atletas se sentem mal tratados, desprezados. Como, então, fazer um campeão? Essa questão da autoestima é uma construção individual, mas também social. Se não houver apoio, muitas modalidades vão continuar nos porões.

Como o homossexualismo, assunto tabu em qualquer esfera esportiva foi tratado em suas entrevistas?

Mulheres e homens entrevistados e reconhecidamente gays não tocam no assunto com a câmera ligada. O esporte é uma atividade que nasceu masculina e foi construída socialmente buscando provar a virilidade, força, coragem e determinação, atributos identificados como masculinos. Os atributos tidos como femininos são a fragilidade, beleza, docilidade, maternidade. Então, as mulheres atletas assumem a coragem, a combatividade, a força e muitas se maquiam para afirmar a sua condição feminina e o fazem mesmo que sejam gays. O enfrentamento do preconceito é mais difícil do que ganhar uma medalha olímpica.

A vida pós-sucesso costuma ser difícil para ex-atletas. Por que isso acontece?

É impressionante o que está acontecendo com aqueles que estão na casa dos 45, 50 anos e que não se prepararam para ser outra coisa na vida a não ser atleta. Fico pensando no que se tem de fazer de política pública

para dar apoio a essas pessoas, porque elas estão esquecidas. O atleta vive intensamente essa identidade porque começa muito cedo, quando criança. Na adolescência, ele breca a vida social para ser atleta. Dedica-se na fase adulta a fazer apenas e somente isso. Aos 30 e poucos tem de aposentar essa identidade, mas, na verdade, não vive uma aposentadoria, e sim uma espécie de morte. Ele precisa renascer, recriar uma nova identidade para seguir adiante. Se esse sujeito não exercitou outros papéis sociais, a morte que ele vive aos 30 anos, às vezes, se prolonga.

Como fazer essa transição?

O processo demanda diferentes tipos de esforços porque exige do atleta não apenas uma mudança de vida nas suas questões materiais, mas principalmente no que se refere a uma nova identidade. O atleta é uma pessoa publicamente reconhecida porque seus feitos o são. Ele passa a se acostumar com o assédio e a perda da sua privacidade, em muitos casos. Com o advento do profissionalismo, depois dos anos 80, a questão financeira passou a fazer parte desse quadro à medida que alguns atletas conseguiram acumular dinheiro e, em alguns casos, fortunas. Aqueles que conseguiram ter uma boa gestão da carreira terminam a vida produtiva no esporte e vão se dedicar a outros negócios, formando uma nova identidade. Viram a página. Entretanto, a grande maioria não se prepara para isso.

DEFICIÊNCIAS A professora Katia Rubio em sua sala de pesquisa na USP: carência de estrutura e baixa autoestima dos atletas são problemas crônicos do esporte brasileiro


HISTÓRIA

O JOGO SUJO DA POLÍTICA NAS OLIMPÍADAS COMO OS JOGOS MODERNOS, CRIADOS PARA UNIR OS POVOS, SERVIRAM DE CENÁRIO PARA MANIFESTAÇÕES IDEOLÓGICAS DE TODOS OS GÊNEROS – DO BOICOTE ÀS COMPETIÇÕES AO TERRORISMO EXPLÍCITO POR LUIZA VILLAMÉA

68 DEZEMBRO 2011 | ISTOÉ 2016


Fotos: // Bettmann/CORBIS

TRAGÉDIA A segurança desarmada, com uniforme pop (no alto, à esq.), não percebeu a entrada dos terroristas na Vila Olímpica de Munique, em 1972. Com o fracasso das negociações e a ação desastrada da polícia, 11 atletas israelenses acabaram mortos


HISTÓRIA

FALTAVA POUCO PARA AS 5 HORAS DA MANHÃ quando oito rapazes carregando mochilas esportivas se aproximaram da cerca da Vila Olímpica de Munique, na Alemanha. Ainda não havia amanhecido e a região parecia deserta, mas logo surgiria um outro grupo, ligeiramente alegre. Eram atletas americanos, que voltavam de uma noitada e precisavam entrar no alojamento sem serem vistos. Os dois grupos acabaram se ajudando a pular a cerca. Dentro da vila, os americanos foram sorrateiros para o alojamento que ocupavam. Os oito rapazes tomaram a direção do edifício que abrigava a delegação masculina de Israel. Eles não eram atletas. Eram integrantes do comando terrorista Setembro Negro, a mando de um movimento pela libertação da Palestina. Ainda naquela manhã, os oito rapazes deixaram o mundo estarrecido. Com as armas que traziam nas mochilas, transformaram em reféns 11 atletas israelenses. Queriam trocálos – até o meio-dia – por cerca de 200 presos palestinos em poder de Israel. A primeira-ministra, Golda Meir, se recusou

a negociar. À noite, os 11 atletas estavam mortos. O massacre de Munique, ocorrido em setembro de 1972, foi o episódio mais sangrento de uma série de manifestações políticas que alteraram os rumos das Olimpíadas modernas desde os primeiros Jogos, em 1896, em Atenas, na Grécia. Embora a ideia do Barão de Coubertin ao recriar os Jogos da antiguidade fosse unir os povos, a realidade se mostrou muito mais complexa. De lá para cá, as Olimpíadas foram usadas para propagar as mais diversas causas políticas – da tentativa de demonstrar a supremacia de um regime sobre outro ao protesto contra injustiças sociais. Por motivos ideológicos, a antiga União Soviética só começou a participar dos Jogos em 1953, em Helsinque, na Finlândia. Antes disso, para não aderir à festa esportiva “capitalista”, os líderes soviéticos preferiram organizar seu próprio evento – a Spartakiada. Vinte anos depois, Israel desencadeou uma caçada internacional a todos os que, de forma direta ou indireta, participaram do massacre de Munique. Os alvos principais foram os três terroristas que

sobreviveram ao atentado e haviam sido recebidos como heróis na Líbia, depois de trocados por passageiros de um avião sequestrado. Dois deles foram localizados e mortos. O terceiro, Jamal Al Gashey, conseguiu escapar da perseguição. Quando pulou a cerca da Vila Olímpica de Munique, Al Gashey tinha apenas 18 anos e havia sido recrutado para o movimento de libertação da Palestina no campo de refugiados em que vivia com a família. Destacado para atuar como segurança no ataque, Al Gashey soubera da missão poucas horas antes, durante encontro no restaurante da estação ferroviária de Munique. Quase três décadas depois, em aparição raríssima, ele declarou sentir-se “orgulhoso” de ter participado do ataque e repetiu quase as mesmas palavras usadas ao desembarcar na Líbia. “Antes de Munique, o mundo não tinha ideia da nossa luta, mas naquele dia o nome Palestina foi repetido em todo o mundo”, afirmou no documentário “Munique, 1972 – Um Dia em Setembro”.


Fotos: Bettmann/CORBIS // Keystone/France // Rolls Press/Getty

TOMMIE SMITH (NO ALTO DO PÓDIO) E JOHN CARLOS REPETIRAM O GESTO DOS PANTERAS NEGRAS AO PROTESTAR CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL E TERMINARAM EXPULSOS DOS JOGOS DO MÉXICO

MITO O velocista americano Jesse Owens derrubou a teoria da supremacia ariana na Olimpíada de Hitler, mas enfrentou preconceitos em seu próprio país

Não há dúvida de que o massacre de Munique foi uma ação terrorista, mas também refletiu o despreparo das autoridades alemãs. Além de atuar de forma amadora durante as negociações, a polícia acabou colaborando para o desfecho trágico. Como Israel se negava a negociar, os alemães simularam concordar que os terroristas voassem para fora do país com os atletas. No avião, colocaram policiais disfarçados de tripulação, enquanto cinco atiradores foram posicionados no aeroporto. Quando deveriam estar prestes a agir, os falsos tripulantes votaram por abandonar a missão, que classificaram como “suicida”. Os atiradores, por sua vez, estavam em número menor do que o necessário e sem comunicação entre si. “Duvido que fossem atiradores de verdade”, disse Zvi Zamir, o então chefe do Mossad, o serviço secreto de Israel. Quando começou o tiroteio, os atletas israelenses estavam amarrados, dentro dos dois helicópteros que os haviam trazido da Vila Olímpica. Um terrorista jogou uma granada


HISTÓRIA

num helicóptero. Outro descarregou a arma nos atletas do segundo helicóptero. As falhas da segurança refletiam um aspecto político que acompanhou cada detalhe dos preparativos da Olimpíada de Munique. Para a Alemanha do começo dos anos 1970, aquela era a oportunidade de apagar as lembranças negativas da Olimpíada de 1936, usada pelo ditador Adolf Hitler para tentar afirmar a superioridade da raça ariana e propagar o nazismo. Como reflexo da nova – e democrática – face do país, a segurança foi relaxada de propósito. A polícia nem sequer entrava na Vila Olímpica. Em seu lugar, foram destacados dois mil seguranças desarmados, usando uniformes em estilo pop, de cores suaves, desenhados especialmente para o evento. Tudo bem moderno, para eliminar da memória as bandeiras de fundo vermelho e suástica negra que tremulavam por todo lado na era Hitler. No cotidiano, os alemães já lidavam com uma verdade que não dava para esconder: Munique fora o berço do nazismo. Além disso, a menos de 20 quilômetros da cidade fica Dachau, o primeiro campo de concentração construído na Alemanha, hoje transformado em memorial. Hitler chegou ao poder em 1933, dois anos após a Alemanha ser escolhida para sediar a Olimpíada de 1936. Não demorou, no entanto, a sinalizar a política que culminaria na morte de pelo menos dez milhões de civis, seis milhões deles judeus. Um boicote aos Jogos de Berlim chegou a ser ensaiado nos Estados Unidos, mas o ditador conseguiu driblar o movimento. Para isso, não hesitou em convocar para a delegação da Alemanha atletas de origem judia, como a esgrimista Helene Mayer, medalha de ouro em 1928, que havia deixado o país. Nos meses que precederam a Olimpíada, o regime suspendeu as campa-

nhas antissemitas e ordenou uma espécie de faxina geral que eliminou dos espaços públicos cartazes e outras evidências da perseguição nazista. Para exibir o poderio do regime, foi feito um investimento colossal em infraestrutura, a começar pela construção de um novo estádio olímpico para Berlim. Os atletas foram tão bem

COM 94 ATLETAS, A DELEGAÇÃO DO BRASIL NAVEGOU 21 DIAS PARA CHEGAR À ALEMANHA EM 1936. “NENHUM ATLETA BRASILEIRO FEZ A SAUDAÇÃO NAZISTA”, RECORDA JOÃO HAVELANGE (NA FOTO ACIMA , COMO NADADOR OLÍMPICO) preparados que na delegação brasileira havia um militar infiltrado, com a missão de descobrir os segredos da metodologia alemã (leia mais na sequência). Durante as competições, instalado em uma tribuna especial, Hitler comemorava as vitórias alemãs de forma quase histérica, como retrata a cineasta Leni Riefenstahl no documentário “Olympia”. A alegria durou pouco. A tese hitlerista da supremacia ariana desmoronou diante do atleta americano Jesse Owens, o velocista negro que arrebanhou quatro

medalhas de ouro em 1936. Ovacionado em Berlim, Owens tornou-se um símbolo internacional da luta contra o racismo. Conviveu, no entanto, com a lenda de que Hitler se recusara a cumprimentá-lo pela vitória. Na verdade, Hitler já havia parado de parabenizar os atletas quando Owens começou sua saga vencedora. A mudança de comportamento de Hitler fora adotada pouco antes de outro atleta negro, o americano Cornelius Johnson, ganhar a medalha de ouro no salto em altura. Em outro momento dos Jogos, Hitler chegou a acenar para o velocista, como Owens conta em sua autobiografia, “A História de Jesse Owens”. Na obra, publicada em 1970, uma década antes de sua morte, o atleta também relata que o fato de ter se tornado um símbolo mundial não amenizou em nada seu cotidiano nos Estados Unidos. Para participar de uma recepção em sua própria homenagem no Waldorf Astoria Hotel, em Nova York, o atleta teve de subir pelo elevador de serviço. Naqueles tempos, negros não podiam usar os elevadores da recepção. “Quando eu voltei para o meu país, com todas aquelas histórias sobre Hitler, eu não podia andar na parte da frente do ônibus, tinha que ir para a parte de trás”, escreveu Owens. “Eu não fui convidado para trocar um aperto de mão com Hitler, mas eu também não fui convidado para cumprimentar o presidente na Casa Branca”, completou, referindo-se a Delano Franklin Roosevelt. No campo estritamente político, os americanos, assim como os britânicos, demonstraram estar bem orientados quanto às tentativas de manipulação da Olimpíada de 1936. A delegação dos dois países não fez a saudação nazista diante da tribuna de Hitler, ao contrário de muitas outras.


Fotos: Peter Read Miller /Sports Illustrated // CC/Sergey Guneev / RIA Novosti

GUERRA FRIA Homem voa em show de tecnologia na abertura da Olimpíada de Los Angeles e o ursinho Misha, mascote dos Jogos de Moscou: disputa entre americanos e soviéticos gerou boicotes

O Brasil, governado então por Getúlio Vargas, competiu em 1936 com 94 atletas, entre eles João Havelange, que tinha 21 anos e integrou a equipe de natação. Hoje com 95 anos, presidente honorário da Fifa, Havelange conta que a participação foi de grande sacrifício para os atletas, pois a travessia do Rio de Janeiro para a cidade alemã de Bremenhaven, feita a bordo do navio Capitão Ancona, demorou 21 dias. “Recordo-me do desfile da delegação do Brasil, na abertura dos Jogos Olímpicos, e posso lhe assegurar que nenhum atleta fez a saudação nazista”, afirmou Havelange à 2016. Ou seja, embora o governo Vargas tenha passado um longo período flertando com o nazismo, os atletas brasileiros mantiveram o espírito olímpico. Não trouxeram nenhuma medalha na bagagem, mas também não se macularam. Para Havelange, uma das lembranças mais marcantes da temporada, além das provas em si, foi a experiência de circular pelo país: “O governo ofereceu para a juventude esportiva lá presente a possibilidade de visitar um mínimo de 15 cidades alemãs, em trem de primeira classe, com um desconto de 15%, tornando essa oportunidade de um valor cultural muito importante.” Três anos depois, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha e o mundo mudaram completamente – e duas edições das Olimpíadas

foram suspensas. Quando o conflito terminou, o mundo estava dividido em dois blocos, um liderado pelos Estados Unidos, outro, pela antiga União Soviética. Começava a Guerra Fria, a disputa estratégica travada entre os dois blocos entre o fim do conflito mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991). O esporte transformou-se em extensão da competição política e o boicote uma forma de marcar posição. A mais significativa sabotagem aos Jogos aconteceu em 1980, quando os Estados Unidos e mais 61 países se recusaram a participar da Olimpíada de Moscou, em protesto contra a invasão soviética no Afeganistão. Apenas 80 países foram a Moscou, incluindo o Brasil, e a bandeira olímpica foi o estandarte usado por 16 delegações. Em contrapartida, o mascote adotado pela União Soviética, o ursinho Misha, conquistou o mundo. Na cerimônia de encerramento, lágrimas chegaram a correr por seu rosto. Quatro anos depois, foi a vez de os soviéticos, seguidos por 14 aliados, boicotarem a Olimpíada de Los Angeles, argumentando que faltava segurança a seus atletas, em referência a uma suposta campanha antissoviética em curso nos Estados Unidos. Outro boicote marcante já havia ocorrido em 1976, em Montreal, no Canadá, quando 28 países africanos se recusa-

ram a participar dos Jogos em represália à Nova Zelândia, cuja seleção de rúgbi havia excursionado pela África do Sul. Por causa do apartheid, o país estava à época banido das competições internacionais. Atitudes individuais também marcaram a história política da Olimpíada. Em 1968, dois americanos conhecidos como adversários nas disputas esportivas se uniram em um protesto inusitado nos Jogos do México. Tommie Smith, que havia estabelecido um novo recorde nos 200 metros rasos, e o terceiro colocado na modalidade, John Carlos, fizeram no pódio o gesto dos Panteras Negras, um grupo que não hesitava em recorrer à violência em sua luta contra a segregação racial nos Estados Unidos. Com luvas pretas nas mãos erguidas, os dois ainda dispensaram os tênis, calçando apenas meias, como forma de representar a pobreza dos negros americanos. O protesto provocou a ira dos dirigentes esportivos. Os dois atletas perderam as medalhas, foram expulsos da Olimpíada e não puderam mais competir. Tommie Smith, que chegou a trabalhar como lavador de carros, terminou o curso de sociologia e tornou-se um acadêmico respeitado. John Carlos, que trabalha em uma escola da Califórnia, acaba de lançar uma autobiografia. Nenhum dos dois jamais se arrependeu do gesto.


HISTÓRIA

EM AÇÃO O tenente Pessôa na primeira fila do desfile da delegação brasileira nos Jogos de 1936, ladeado pela juventude nazista

UM INFILTRADO BRASILEIRO NOS DOMÍNIOS DE HITLER Aos 26 anos, o tenente Roberto de Pessôa participou da Olimpíada de Berlim com a missão de descobrir os métodos de treinamento que colocavam os atletas da Alemanha entre os melhores do mundo POR LUIZA VILLAMÉA Um militar aficionado por esportes foi incorporado à comissão técnica da delegação brasileira na Olimpíada de Berlim, em 1936. Sua missão: observar a metodologia de treinamento dos atletas alemães, cuja performance assombrava o mundo e que culminou na conquista de 33 medalhas de ouro naqueles Jogos. Recém-formado em educação física pela Escola do Exército, o tenente Roberto de Pessôa tinha apenas 26 anos quando embarcou para a Alemanha como observador do governo Getúlio Vargas. “Ele voltou impressionado com a disciplina dos atletas alemães e da juventude nazista”, afirma um de seus filhos, o coronel Antônio Carlos de Pessôa. À época, o infiltrado brasileiro não imaginava os horrores que viriam junto com o nazismo, mas não teve dúvidas quanto à excelência na preparação dos atletas. Para cumprir a missão, o tenente Pessôa não se limitou a acompanhar a delegação brasileira. Além de participar de um congresso de educação física que acontecia de forma paralela à Olimpíada, ele usou uma credencial de jornalista para circular com maior liberdade pelas instalações olímpicas. “Por causa da credencial, ele chegou

a ficar na tribuna de Hitler", diz outro filho do tenente, o também coronel Pedro Aurélio de Pessôa, que comanda o Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil. “Seu objetivo era ser visto perto das mais altas autoridades e, com isso, facilitar o acesso às informações que lhe interessavam.” A estratégia deu tão certo que o tenente conseguiu fotografar Hitler, uma tremenda façanha para as condições em vigor. Interessados em passar a imagem de uma Alemanha poderosa – mas amante da paz e dos esportes –, os organizadores dos Jogos controlaram ao máximo a tomada de fotografias. Para a cobertura do evento, credenciaram apenas 125 fotógrafos, todos alemães, que chamavam de “correspondentes fotográficos oficiais”. Do material preparado por essa turma eram selecionadas as imagens a ser distribuídas aos 1.800 jornalistas de 59 países que trabalharam em Berlim. Nos bastidores das competições, três detalhes pouco convencionais na preparação dos atletas chamaram a atenção do tenente. Para estimular o destemor, esgrimistas eram estimulados a treinar sem a máscara protetora da cabeça. Com o mesmo objetivo, um esporte


Fotos: álbum de família, Orestes Locatel (irmãos) e Tenente Roberto de Pessôa (Hitler)

tradicional britânico – a caça à raposa – foi adaptado pelos treinadores de Hitler. Na versão nazista, o animal era solto em uma arena de areia para ser pego por atletas montados em motocicletas Harley-Davidson. O terceiro detalhe que intrigou o tenente foi ver um atleta ser tratado de uma contusão com agulhas. “Ele não entendeu o princípio da acupuntura, mas registrou a aplicação do procedimento, que não era conhecido no Ocidente”, diz o coronel Pedro Aurélio. Junto com a missão que recebera do governo brasileiro, o tenente Pessôa também se empenhou para realizar um desejo muito particular: fazer o curso de paraquedismo da Deutsche Luftwaffe, a Força Aérea alemã. Não conseguiu, mas sua insistência junto ao general Hans von Tschammer, o todo-poderoso dos esportes no regime nazista, acabou rendendo-lhe um convite para fazer o curso de planador, na ilha de Sylt, no norte da Alemanha. Durante a instrução, após a Olimpíada, Pessôa se deu conta da importância conferida pelo regime à formação dos pilotos pelas constantes visitas do comandante da Luftwaffe, Hermann Göering, ao centro de treinamento. De volta ao Brasil, além de abastecer o governo e o Exército com as informações obtidas em Berlim, o tenente Pessôa tratou de aplicar a experiência também na esfera civil. Foi professor de metodologia na Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil, o antigo nome da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O sonho de se jogar de um avião em pleno voo foi realizado a partir de 1944, ao fazer o curso de paraquedismo da academia militar de Fort Benning, nos Estados Unidos. Primeiro paraquedista militar brasileiro, o tenente Pessôa era general de brigada quando deixou o Exército, em 1966. Comandava à época o Batalhão de Infantaria Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Morreu em setembro de 2010, aos 100 anos.

OBSERVADOR ATENTO Filhos mostram retrato do tenente Pessôa (no alto, à esq.), que fotografou Hitler na tribuna do Estádio Olímpico (acima) e posou com militares alemães

PARA TER MAIS ACESSO ÀS INFORMAÇÕES QUE LHE INTERESSAVAM, O BRASILEIRO CIRCULOU COM UMA CREDENCIAL DE JORNALISTA E CHEGOU ATÉ A TRIBUNA DO LÍDER NAZISTA

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DEZEMBRO 2011 | ISTOÉ 2016


infraestrutura

Va i d e c o l a r ? A pouco mAis de dois Anos dA copA do mundo e A quAtro dA olimpíAdA, Aeroportos do rio AcelerAm obrAs – mAs AindA é incerto que o cAos que AtormentA turistAs e executivos fique pArA trás

por sergio quintanilha fotos claudia jaguaribe

REFORMA Pista do Galeão vai aumentar de tamanho para receber novos gigantes da aviação, como o Airbus A380



infraestrutura

em umA pesquisA recente reAlizAdA com estrangeiros que visitam o Brasil, um dos principais problemas apontados pelos visitantes internacionais dizia respeito aos aeroportos das grandes cidades brasileiras. Filas intermináveis para embarque e desembarque, voos atrasados, bagagens extraviadas, falta de informação, atendimento relapso dos funcionários das companhias aéreas, tudo isso constava da lista de reclamações. Para os brasileiros que estão acostumados a enfrentar esses aborrecimentos, não se trata de nenhuma novidade. Se já era incômodo voar nos ares do País, há o risco de muita coisa piorar. Nos próximos anos, o Brasil tem o compromisso de organizar dois eventos planetários (a Copa do Mundo de futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016) que, juntos, devem atrair mais de um milhão de turistas estrangeiros. É de se perguntar, portanto, se o caos dos grandes aeroportos será corrigido a tempo. No Rio de Janeiro, estrela maior das duas festas do esporte, as autoridades garantem que as obras que estão sendo executadas serão suficientes para atender o público crescente. Na zona norte da capital fluminense, 241 pessoas trabalham diariamente em uma obra vital para que a Rio 2016 seja um sucesso: a construção de um novo terminal no Aeroporto Internacional Tom Jobim, ou simplesmente Galeão. Para se ter uma ideia da importância do projeto, o Galeão (GIG, na abreviatura da aviação) mais do que dobrará sua capacidade. Dos atuais 19,5 milhões de passageiros, será capaz de receber 44 milhões de pessoas por ano. “A ampliação vai proporcionar muito mais conforto aos usuários”, diz Lucínio Baptista da Silva, superintendente regional da Infraero no Rio de Janeiro.

Pelas projeções da Infraero, o Terminal 2 deve ser completamente liberado em julho de 2013, a tempo de receber os turistas que virão ao Brasil para a Copa do Mundo de 2014 e muito antes dos Jogos de 2016. Atualmente, o Terminal 2 funciona só pela metade. A empresa estatal pretende terminar toda a parte civil, de construções brutas, nos próximos três meses. Ainda no primeiro semestre de 2012, será iniciada a instalação de sistemas elétricos e eletrônicos. “O cronograma está sendo cumprido à risca, sem atrasos”, garante o executivo Silva. As obras do Terminal 2 foram orçadas em R$ 316,5 milhões. No Terminal 1, as reformas começaram em 2008. Se as projeções forem cumpridas, serão encerradas antes de 2014. Já foram concluídas as obras nos setores A, B e C, além de melhorias como troca de elevadores e escadas


vElhO GAlEãO Terminal de passageiros, entrega de bagagens e controle policial (da esq. para a dir.). A Ideia é que o caos fique no passado

construção de noVo terminal Vai aumentar a capacidade do galeão de 19,5 milhões para 44 milhões de passageiros por ano. se tudo correr bem, as obras terminam em 2013 rolantes. “No momento, estamos executando o alargamento da pista de pouso, que tem 45 metros e vai ficar com 60 metros”, diz Silva. “Isso vai possibilitar o pouso de aviões maiores, como o Airbus A380, que carregam mais passageiros.” Nessa obra, prevista para terminar em 2013, foram investidos cerca de R$ 100 milhões. Segundo a Infraero, estão em andamento desde 2010 reformas consideradas indispensáveis para o bom atendimento dos usuários. “São melhorias em sanitários, limpeza de fachadas e o aprimoramento do sistema informativo de voos”, diz o superintendente da Infraero. O custo total das obras no Galeão é salgado: R$ 687,3 milhões até 2014. Como se sabe, o Rio de Janeiro possui três aeroportos. Além do Galeão (para voos internacionais e domésticos), servem a cidade o Santos Dumont (voos domésti-

cos, ponte aérea e aviação executiva) e Jacarepaguá (aviação geral e helicópteros). Este não foi considerado para a Rio2016 porque só recebe voos de aeronaves de pequeno porte. Já o Santos Dumont (SDU), que tem uma de suas cabeceiras na rota do Pão de Açúcar, será importante. Ele já passou por reformas em 2007, ganhando um terminal de embarque, e servirá de ligação entre o Rio de Janeiro e algumas capitais brasileiras que também receberão jogos da Copa do Mundo e delegações olímpicas. A reforma no Santos Dumont custou até agora R$ 380 milhões. O aeroporto tem capacidade para atender 16,4 milhões de passageiros por ano e sua pista conta com um localizador DME, equipamento que auxilia no procedimento de pouso de aeronaves. “Falta ainda fazermos

as reformas do terminal de desembarque”, diz o superintendente da Infraero. Essas obras estão paradas desde 2008 em decorrência de uma demanda judicial (o Tribunal de Contas da União questionou os valores envolvidos). Outro problema ainda não solucionado é a reforma do pátio de aeronaves, orçada em R$ 51 milhões. “Como ele é antigo, começaram a aparecer rachaduras no chão e desníveis no local de estacionamento das aeronaves”, diz Silva. Nesse caso, a dificuldade está em realizar os trabalhos sem comprometer o funcionamento do aeroporto. A obra está em fase de licitação e a previsão é de que seja iniciada no primeiro semestre de 2012. Se tudo correr bem, deverá ficar pronta em 2014, às vésperas da Copa. Se não correr, os turistas e profissionais que vão trabalhar no evento terão motivos de sobra para lamentar.


infraestrutura

no termimal 1, as reFormas começaram em 2008. atÉ agora, Foram concluÍdas melhorias como troca de eleVadores e escadas rolantes, alÉm do noVo sistema inFormatiVo de Voos vIsãO Aparelho de raio X checa bagagens no Galeão. Obras de melhoria vão aumentar a segurança – resta saber se elas ficarão prontas antes da copa

DemanDa em alta MOvIMEnTO dE PAssAGEIROs dE vOOs dOMésTIcOs E InTERnAcIOnAIs nOs AEROPORTOs bRAsIlEIROs Ano

Passageiros (em milhões) 185*

2011 155,3

2010 128,1

2009 113,2

2008 110,5

2007 102,1

2006 96

2005 2004

82,7

*Estimativa // Fonte: Anac



sustentabilidade

82 dezembro 2011 | istoĂŠ 2016


PROCURADOS OS PLANOS DOS GOVERNOS E DE ONGS PARA EVITAR QUE OS JOGOS DE 2016 FAÇAM DESAPARECER DA PAISAGEM CARIOCA ANIMAIS NATIVOS DA CIDADE

POR FLÁVIA RIBEIRO ILUSTRAÇÕES YOSHI

retrAto FALADo Uma preguiça-de-três-dedos (ao lado) interrompeu o recreio em um escola da zona sul carioca; o macaco muriqui (acima) ganhou até site e é um dos candidatos a virar mascote dos Jogos no rio


sustentabilidade

Era uma tardE dE vErão como outra qualquer no Colégio Pedro II do Humaitá, bairro da zona sul do Rio de Janeiro. Na hora do recreio, alunos do ensino fundamental corriam para lá e para cá, papeavam, tomavam lanche e brincavam. De repente, todo mundo parou e teve início um espetáculo que perpetuou aquela tarde na memória dos alunos. Uma preguiça-de-três-dedos desceu a encosta do Maciço da Tijuca e foi se hospedar temporariamente em uma árvore no pátio da escola. Não foi um fato isolado. No ano passado, um jacaré-do-papo-amarelo de cerca de 2 metros foi encontrado no condomínio Vila do Pan, na Barra da Tijuca – onde antes ficavam os alojamentos dos atletas nos Jogos Pan-Americanos do Rio. Na região de Barra e Recreio, os moradores já se acostumaram a caminhar ao lado dos jacarés que vivem nos canais. “Certa vez, uma senhora me disse que ficou muito assustada ao ver um jacaré no quintal dela”, conta o biólogo Mário Moscatelli. “Tive de explicar que o quintal dela é que estava na casa do animal.” Para que cenas como as descritas acima não se tornem corriqueiras, as grandes obras de infraestrutura da Rio 2016 exigem cuidados com a fauna carioca, o que inclui principalmente jacarés, preguiças, gambás e macacospregos. Nativos do Rio, eles têm convivido, por exemplo, com a construção das grandes vias Transoeste, Transcarioca e Transolímpica. Mas o que parece um problema pode até trazer benefícios ecológicos. Todas essas vias abrigarão BRTs

(Bus Rapid Transit, corredor expresso para ônibus). “Esse tipo de transporte tira carro da rua, o que diminui a poluição do ar”, diz Moscatelli, que trabalha na recuperação de manguezais e coordena o Projeto Olho Verde, de monitoramento da saúde ambiental da cidade. Primeira dessas obras a ficar pronta, a Transoeste ligará a Barra da Tijuca a Santa Cruz, na zona oeste. Passa ao lado do manguezal de Guaratiba, principal berçário de espécies que habitam a Baía de Sepetiba, como siris, caranguejos, camarões, garças, cotias e capivaras. Para evitar a degradação, serão instaladas cercas no entorno do manguezal e 200 militares do Centro Tecnológico do Exército ficarão encarregados de cuidar da área. “Com a melhoria dos acessos, aumenta a pressão imobiliária”, afirma Carlos Minc, secretário de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro. “Por isso, é preciso tomar medidas preventivas.” A Transcarioca, que ligará a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, passará sobre a lagoa do Camorim e diversas áreas de brejo. A Transoeste vai suprimir uma faixa de manguezal, viveiro de crustáceos. O impacto é inevitável, mas pode ser compensado com replantio, por exemplo. “Mas o processo tem de ser acompanhado para que as plantas não sejam destruídas por incêndios ou pragas”, avisa Moscatelli. “Sem isso, o replantio será em vão.” Menos vistosas, mas fundamentais para a proteção da fauna, são as obras para a construção de UTRs (Unidades de Tratamento de Resíduos) em rios


se sobreviverem aos transtornos provocados pelas obras viárias e de infraestrutura, os bichos podem ser beneficiados pela queda do número de veículos em circulação nas ruas do rio território o jacaré-do-papo-amarelo pode ser visto circulando pelas regiões da Barra e do recreio

85 dezembro 2011 | istoé 2016


sustentabilidade

sÍMBoLo AMEAÇADo Poluição da Baía de Guanabara, sede das provas de iatismo em 2016, coloca em risco o boto-cinza, que aparece até no brasão da cidade Sede das provas de iatismo, a Baía de Guanabara é o território de um animal que aparece até no brasão da cidade do rio: o boto-cinza. essa espécie tão carioca está seriamente ameaçada pela poluição, como revelam estudos do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores da Universidade do estado do rio de Janeiro (Uerj). “em 1998, quando iniciamos o mapeamento, detectamos a presença de 70 botos na baía”, diz o oceanógrafo Alexandre Azevedo, um dos coordenadores do laboratório. “Hoje, há apenas 40. Na década de 80, estimativas indicavam mais de 300 indivíduos da espécie.” Segundo ele, só a prometida despoluição – um dos compromissos olímpicos – pode salvar o boto-cinza. o oceanógrafo acrescenta que a diminuição da degradação do habitat leva ao aumento da quantidade de alimentos e a melhores condições de vida dos botos. o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) inclui, entre outras providências, a construção de estações de tratamento de esgoto, eliminação dos lixões em volta da baía e dragagem dos trechos mais críticos. “Depois de muitos anos travado, finalmente o programa está avançando”, afirma Carlos Minc, secretário estadual do Ambiente. ele diz que o trabalho de dragagem dos canais do Cunha e do Fundão – duas das áreas mais degradadas da baía – começam a render frutos: “Pássaros e peixes já começaram a retornar àquele trecho, onde ainda serão plantados 120 mil pés de vegetação de mangue.”

alGuns efeitos das medidas de proteÇÃo comeÇam a aparecer. sumidas hÁ tempos, capivaras voltaram a dar o ar da Graça na laGoa rodriGo de freitas


que desembocam na bacia de Jacarepaguá. Há também programas de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas e da Baía de Guanabara, além da inauguração de estações de tratamento de esgoto em vários pontos da cidade. O governo estadual já aplicou R$ 550 milhões no saneamento das lagoas da Barra de Tijuca e Jacarepaguá. Para concluir a obra antes dos Jogos – hoje apenas 15% do esgoto de Jacarepaguá é tratado –, há uma verba de R$ 1 bilhão aprovada com recursos do Estado e da União. Além disso, a prefeitura vai inaugurar, até 2015, quatro Unidades de Tratamento de Rio (UTRs) nos rios das Pedras, Arroio Pavuna, Anil e Pavuninha. A quinta unidade, de Arroio Fundo, já está funcionando. A expectativa é de reduzir em 90% os índices de poluição do sistema lagunar de Jacarepaguá. O efeito de algumas medidas já adotadas começa a aparecer. Na Lagoa Rodrigo de Freitas, que irá abrigar competições de remo e de canoagem, capivaras sumidas há tempos voltaram a aparecer em novembro. A qualidade da água também é outra. “A lagoa já está apta a receber os Jogos”, afirma Wagner Victer, presidente da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). Ele diz que a empresa reconstruiu as oito elevatórias de esgoto. Depois disso, o índice de coliformes fecais, que em 2006 era de 16 mil em 100 ml de água, caiu para 400 em 100 ml (a norma exige abaixo de mil em 100 ml). O resultado é uma maior procriação de peixes e camarões e a volta de aves como os biguás, que são exigentes quanto à limpeza da água. Gerente de biologia do Zoológico do Rio, Anderson Mendes Augusto afirma que ainda há muito trabalho pela frente. Ele vê dois problemas quando o assunto é a preservação da fauna carioca. O primeiro é o asfixiamento das áreas verdes da cidade. O segundo decorre do fato de os animais estarem cada vez mais acostumados com a presença humana. Graças a essa aproximação, hoje há famílias de capivaras atravessando estradas, jacarés-do-papo-

amarelo se deslocando por condomínios e macacos-pregos pedindo comida em varandas de apartamentos. “Já recebi aqui mais de uma preguiça-de-trêsdedos, típica dos maciços cariocas”, conta Augusto. “A pessoa vem com boa vontade e diz que salvou o animal. Nada disso, ela simplesmente o tirou do lugar tranquilo onde estava.” Esse é um sinal de que parte da verba destinada a proteger os animais da cidade deve ser gasta em campanhas que ensinem o carioca a lidar com a sua fauna. O governo do Estado deu um passo importante em outubro de 2011. Lançou uma campanha para que o macaco muriqui – primata ameaçado de extinção que vive na Mata Atlântica – seja o mascote dos Jogos em 2016. A campanha já tem site (www.muriqui2016.com.br) com depoimentos de personalidades como Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil e Jorge Mautner. Assim, além de saber que o bicho é simpático e sociável, você vai aprender quanto ele está ameaçado e descobrir maneiras de protegê-lo. É um começo.

CiDADe LiMPA o irerê será um dos maiores beneficiados pelo projeto de despoluição da Baía de Guanabara

Patrocínio:

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quero ser olĂ­mpico


A AtletA JeAnis ColzAni tem 26 anos e começou a praticar caratê em 1997 quando essa arte marcial estava prestes a se tornar um esporte olímpico. A modalidade já havia sido reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em 1992 e ganhava cada vez mais adeptos. A sensação na época era de que os responsáveis pela organização dos Jogos estavam mais abertos a esportes de luta vindos do Oriente, com seus movimentos ágeis e disciplina rígida. O tempo passou. Mais de uma década depois, o sonho olímpico, que parecia tão próximo, ainda não ultrapassou a condição de promessa. Lutadores como Jeanis ainda vão ter de esperar muito tempo para ganhar o direito de brigar pelas medalhas mais cobiçadas do planeta – assim como os praticantes de wushu, sumô, aiquidô e quendô, artes marciais que também esperam uma chance de brilhar nos tatames olímpicos.

m d o i o r s i t e é n r t i e o

Enquanto judô E taE kwon do brilham nos palcos olímpicos, artEs marciais como caratê, wushu, quEndô E sumô não consEguEm libEração para lutar pElas mEdalhas mais cobiçadas do planEta. o quE Explica Essa difErEnça?

por paola bello fotos pedro dias tratamento de imagens edi studio

estrAnGeiro Vitor Zen tachibana era um dos poucos não japoneses que praticavam quendô; se não for "internacional", o esporte não vira olímpico


quero ser olímpico

VAriedAde Para virar olímpico, o esporte tem de ser praticado por mulheres. isso abriu as portas do sumô para Ana Cláudia Gomes

Por que o judô e o tae kwon do são olímpicos e nós não? Essa é a pergunta feita por discípulos que os mestres de algumas artes marciais não conseguem responder. Entre as modalidades de luta oriental que ainda estão fora dos Jogos, o caratê é a que chegou mais perto. Na Olimpíada de Londres 2012, beisebol e softbol foram retirados do quadro olímpico, por não terem os votos suficientes do COI. Decidida há seis anos, a retirada reacendeu a esperança nos caratecas, que ansiavam por ocupar uma das 28 categorias olímpicas de verão (há outras 7 de inverno). Caratê e squash foram levados à votação, mas não atingiram os 2/3 de aprovação do COI. Assim, pela primeira vez em 70 anos, houve redução no número de modalidades nas Olimpíadas. Para os Jogos do Rio, em 2016, o caratê foi novamente apresentado como candidato e perdeu mais uma vez. A decisão foi tomada em Copenhage (Dinamarca), em 2009, quando o COI votou pela inclusão do golfe e do rúgbi. O novo capítulo da novela deve acontecer em 2013, quando serão votados os esportes do quadro olímpico para a edição de 2020. Assim como o caratê, o wushu – mais conhecido no Basil como kung fu – é uma modalidade reconhecida pelo COI. Mas isso de pouco adianta. Segun-

do o COI, para se tornar olímpico, o esporte deve atender a 33 critérios, relacionados à história e tradição, além de universalidade, popularidade, imagem, saúde dos atletas, desenvolvimento das federações internacionais e custos da prática, para citar apenas alguns exemplos. O curioso é que, se comparados ao golfe e ao rúgbi, caratê e wushu apresentam vantagens. No Brasil, há entre 30 mil e 50 mil lutadores de wushu e mais de 1,5 milhão de caratecas, segundo as confederações dos esportes. Enquanto o caratê é praticado em 183 países e o wushu em 144, golfe e rúgbi possuem equipes nacionais em 118 e 117 países, respectivamente.


tÔ nem AÍ Para os adeptos do aiquidô, como Fernando rosário, a participação em Jogos olímpicos não é prioridade

Quanto aos custos, a balança pende ainda mais em favor das artes marciais. Para começar a treinar caratê ou wushu, o atleta precisa das roupas e de um treinador. Os gastos anuais em São Paulo, por exemplo, com duas ou três aulas semanais, ficam em torno de R$ 2 mil. Para começar a praticar golfe, com equipamentos básicos e apenas uma aula por semana, o custo anual não fica por menos de R$ 9 mil. Quando comparados critérios de história e tradição, aí é covardia. O caratê é uma arte marcial japonesa milenar. Começou como técnica de autodefesa e, a partir de 1922, ganhou o status de esporte. O wushu aparece em registros do século XIV. As primeiras regras do golfe foram registradas em 1754, e o rúgbi foi inventado em 1823. Fica difícil para os dirigentes das confederações entender o que faz o COI não seguir seus próprios critérios. E isso abre espaço a uma explicação pouco louvável para a barreira que impede a inclusão dessas artes marciais no quadro olímpico:

a política. “Para entrar nos Jogos SulAmericanos, precisamos ser reconhecidos por nove comitês olímpicos nacionais, enquanto nos Pan-Americanos são 14”, diz Marcus Vinícius Alves, presidente da Confederação Brasileira de Wushu/Kung Fu. “O que falta para chegarmos à Olimpíada é nos envolvermos com política, termos contato para entrar como esporte de demonstração, ganhar visibilidade e nos tornarmos modalidades oficiais.” Algumas modalidades apostam na adaptação para seduzir os membros do COI. O exemplo mais significativo dessa estratégia vem do sumô. A arte é uma das mais antigas e tradicionais do Japão. Foi criada há mais de 2 mil anos. No século VII, passou a fazer parte das cerimônias imperiais e, a partir do século XV, virou competição. Desde 1927, quando foram realizados os primeiros campeonatos profissionais, o sumô recebe patrocínio do império japonês e seus atletas são obrigados a ter uma vida reclusa. Hoje, são 800

sumotoris bancados pelo imperador. Tudo perfeito, não fosse a exigência de, caso queria ser olímpico, o esporte ter sua versão feminina. Em 1996, o primeiro grande torneio de mulheres foi realizado no Japão. Já era uma tentativa de tornar o esporte olímpico. A decisão ainda está entalada na garganta dos sumotoris japoneses tradicionais. Até hoje, as atletas são proibidas de encostar nos tatames do país, considerados sagrados. Nos demais países, a modalidade vem crescendo. Hoje, já são 53 países filiados à Federação Internacional de Sumô, que estimula o desenvolvimento da modalidade feminina. A brasileira Ana Cláudia Gomes de Souza é uma praticante do esporte. Aos 23 anos, essa paulista de 1,80 m e 110 kg é uma das promessas do País. Ela treina desde 2001 e, em 2006, conquistou o bronze no Campeonato Mundial. Participar do evento não foi fácil. “A gente faz rifa, mobiliza empresários, realiza eventos para levantar fundos”, diz. Pelo bom desempenho no


quero ser olímpico

QUAndo Um nÃo QUer se dependesse de popularidade, a arte praticada por Jerônimo marana (acima) já seria olímpica. ele é lutador de wushu, mais conhecido como kung fu no Brasil.

Produção: L. A. Braga Júnior imagemakers • Agradecimentos: miniKimono Confecções, Himeya, Brechó minha Avó tinha e Centauro • Beauty: sayuri odo • Assistente de produção: marcela moura imagens de fundo: trey ratcliff


Mundial, Ana garantiu uma vaga no World Combat Games. Nessa espécie de olimpíada marcial realizada no ano passado, ela ficou em quinto lugar na categoria peso-pesado. O quendô é uma espécie de esgrima oriental, conhecido pela disciplina exigida de seus praticantes. Mas a rigidez tem ficado restrita aos palcos de competições. Fora deles, o esporte tem passado por mudanças, tudo para se encaixar no molde olímpico. O paulistano Vitor Zen Tachibana conhece de perto esse movimento, que começou pela internacionalização dos praticantes. Aos 28 anos, ele já contabiliza 20 dedicados a essa arte marcial. Quando começou, era um dos únicos mestiços da classe, predominantemente japonesa. Aos poucos, viu novos alunos, sem ligação com o Japão, começarem nos treinos. Quando integrou a seleção brasileira de quendô, em 2007, o esporte estava mais aberto. “Apesar das mudanças, buscamos sempre manter a cultura, a filosofia, a disciplina e os princípios básicos de respeito ao oponente, de não colocar a competição acima de tudo”, diz. Família Gracie

Enquanto o quadro olímpico permanece hostil, algumas iniciativas têm divulgado as artes marciais e os esportes de combate. Uma delas é o World Combat Games, realizado pela primeira vez no ano passado, em Pequim. O evento reuniu mais de 1,1 mil lutadores de 63 países e 13 artes marciais diferentes. Foram classificados apenas os primeiros colocados nos Mundiais de cada esporte. A competição uniu desde artes milenares, representadas por sumô, quendô e muay thai, até modalidades criadas a partir de releituras de outros esportes, como o kickboxe e o jiu-jítsu. Também estiveram representados os já olímpicos boxe, tae kwon do, judô e luta greco-romana. Completaram o quadro o sambô, o caratê, o wushu e o aiquidô, único não competitivo. O Brasil enviou 18 atletas, que lutaram em nove modalidades. “Artes marciais e esportes de combate têm uma longa história”, afirma Michal Buchel, gerente de Jogos Multiesportivos da SportAccord, promotora do World Combat Games. “Desde tempos mais remotos, eles são praticados em todo

o mundo, por razões diferentes. Alguns fazem parte de treino militar, outros até de rituais funerários.” Bem mais conhecida que a WCG é a sigla MMA (artes marciais mistas). Também conhecidas como vale-tudo, essas competições permitem o uso de diferentes técnicas e se tornaram famosas pela agressividade dos golpes e pelo derramamento de sangue nas lutas que acontecem em ringues octógonos. Por uma vitória, o lutador chega a ganhar US$ 1 milhão, além de grandes contratos de patrocínio e a possibilidade de ter o seu nome divulgado nos mais diversos produtos, de camisetas a equipamentos de proteção. É a chance de transformar o sonho de viver de luta. Uma das principais competições de MMA é o Ultimate Fighting Championship, ou UFC. Capaz de atrair milhões de espectadores, em especial nos Estados Unidos, o campeonato foi idealizado por brasileiros – os lutadores da família Gracie. Reconhecida mundo afora por ter criado o jiu-jítsu moderno, conhecido também como brazilian jiu-jitsu ou gracie jiu-jítsu, a família Gracie é hoje famosa por outra inovação: a de pintar de rosa o mundo das artes marciais. Kyra Gracie ganhou o mundo em 2004, quando conquistou o primeiro lugar no Mundial de Jiu-Jítsu. Desde então, seu quimono rosa não saiu mais dos pódios da competição, assim como sua determinação para a divulgação da arte marcial. A atleta coleciona cinco medalhas de ouro e uma de prata no maior campeonato da modalidade. Para ela, conseguir a profissionalização dos atletas e ver o jiu-jítsu entre as modalidades olímpicas ainda está longe da realidade: “Como é praticado atualmente, o esporte tem tudo pra ser olímpico”, diz Kyra. “Era o sonho dos meus avós e bisavós, e é o que eu espero.” Em vez de punhos e pés, a chegada das artes marciais à competição máxima do esporte mundial depende mais de cabeça e muita, muita lábia.


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RUMO a 2016 entre os jovens que treinam pela equipe Scott-Fittipaldi de mountain bike, o piloto christian (ao lado) aposta que Fred Mariano (à esq.) e Odair Pereira estarão prontos para brigar pelo pódio nos Jogos do Rio

MUDANÇA DE MARCHA DEPOIS DE UM ACIDENTE ESPETACULAR NA AUSTRÁLIA, O PILOTO CHRISTIAN FITTIPALDI USA BICICLETA PARA SE RECUPERAR, SE APAIXONA PELO VEÍCULO E MONTA EQUIPE COM CAMPEÕES DE MOUNTAIN BIKE


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genética Filho do ex-piloto Wilson Fittipaldi, christian leva adiante o Dna veloz da família, que ficou famoso mundialmente graças ao talento do tio emerson (à direita do sobrinho na foto ao lado)

CirCuito de SurferS ParadiSe, auStrália, tarde de 6 de abril de 1997. O piloto Christian Fittipaldi disputava o sexto lugar com o compatriota Gil de Ferran no GP australiano de Fórmula Indy. Era a segunda corrida da temporada. A bordo do carro da equipe Newman/Haas, Christian estava entre os favoritos. Ele havia sido o quinto colocado do campeonato no ano anterior, e a corrida da Austrália era o cenário ideal para estar entre os primeiros, depois de não pontuar na prova de abertura da temporada, em Miami. Gil de Ferran, também na lista de favoritos e tão jovem e entusiasmado quanto Christian, não deixaria escapar nenhuma chance de ultrapassagem. Aquela reta do circuito de rua lhe pareceu o momento ideal. E a disputa entre eles terminava ali.

Gil errou o cálculo e bateu forte no lado traseiro direito do carro de Christian em plena reta. A pancada foi forte, destruiu os carros, espalhando peças e estilhaços de fibra de carbono para todo lado. O carro vermelho de Christian acabou no final da pista sem as rodas esquerdas. Foram duas batidas nos muros que cercavam a pista. O piloto foi atendido rapidamente pela equipe de resgate, mas tinha dificuldade de sair do que restou do bólido. O tempo todo consciente, ele percebeu logo que se tratava de algo grave. Ao ser atendido pelo primeiro paramédico, reclamou das dores. Foram longos 15 minutos para serrar o cockpit e retirar o piloto brasileiro. Christian fraturou a perna direita e o pé esquerdo. No dia 20 de junho, 74 dias depois do acidente, já estava acelerando de novo seu carro nos treinos para o GP de Portland, nos Estados Unidos. A recuperação em tem-


Fotos: gregg newton ReUteRS

po recorde impressionou a todos. O resultado na corrida, dois dias depois, foi ainda mais inesperado: quarto lugar. Um feito para quem havia passado tantos dias – e seis corridas – fora das pistas. O segredo do “milagre” é uma decisão que se mostrou correta e que rende frutos para Christian até hoje. Depois de consolidar as fraturas, fazer preparação física com corridas a pé não era recomendado pelos médicos. “Me ofereceram duas opções: fazer natação ou pedalar”, lembra Christian, que optou pelos pedais como atalho para que pudesse voltar a acelerar o mais rápido possível. O que nasceu como terapia de recuperação física acabou, aos poucos, virando paixão. No início, era algo tranquilo, mas não demorou para que as bicicletas mostrassem seu lado desafiador. Pedalar mais tempo e mais forte e completar quilômetros na estrada passaram a ser um potente estimulante para seu espírito competitivo. Depois de recuperado com a ajuda terapêutica das bicicletas, Christian venceu duas corridas da Cart (órgão que comandava a Indy), foi o primeiro brasileiro a correr na Nascar, passou pelos protótipos e outras fórmulas de velocidade mundo afora, sempre com as bikes ao lado do macacão e do capacete. Antes, havia deixado uma mudança no cenário de Miami, onde morava: passou a ser comum ver bicicletas encimadas por pilotos/ciclistas brasileiros, entusiasmados com a nova forma de ganhar condicionamento físico. No início de 2010, Christian retornou de vez ao Brasil e as trilhas voltaram a se impor. Pedalando cada vez mais, reencontrou Bob Nogueira, um amigo já envolvido com mountain bike. Os dois começaram a esboçar o que viria a ser a equipe Scott-Fittipaldi. “Percebemos que poderíamos juntar nossas

experiências para tentar fazer algo mais profissional pelo esporte, procurando dar apoio a atletas que, por um motivo ou outro, não tiveram oportunidade”, conta. O próximo passo foi, segundo Christian, o mais natural: procurar Giancarlo Clini, da Scott, uma das maiores fabricantes mundiais de bicicletas de competição. “O Gian conhece muito bem o mercado e representa a marca no Brasil desde o início dos anos 90”, diz Christian. Fundada a equipe, ele e seus parceiros passaram a trabalhar para proporcionar a um grupo de atletas o suporte para que evoluam sobre os pedais. A meta final é ambiciosa: pódios olímpicos. “A gente sabe que leva tempo para criar uma situação ideal”, diz o piloto. “O prazo é bem apertado para Londres 2012, mas acho que já vamos conseguir dar uma condição melhor para os atletas.” Chance de pódio pra valer, só no Rio, em 2016. Até lá, Christian continua pilotando seus carros de corrida e curtindo uma pontinha de inveja dos seus ciclistas voadores: “Gostaria de parar com todas as outras atividades e me dedicar ao mountain bike por seis meses para saber qual seria o nível que eu poderia atingir nesse esporte”, diz ele, que hoje está com 40 anos. A maior estrela da Scott-Fittipaldi é Edivando Cruz. Vicecampeão brasileiro de 2011, conquistou vaga para o Pan-Americano de Guadalajara, em que ficou na sexta posição. Outros nomes nos quais a equipe aposta são o jovem da categoria sub-23 Fred Mariano, Odair Pereira (prata e bronze no Campeonato Pan-Americano de Mountain Bike) e Marcio Ravelli, 11 vezes campeão brasileiro de crosscountry. “Nossa filosofia é trabalhar o grupo de forma conjunta, sem destacar

um ou outro atleta individualmente.” Nessa estratégia, o piloto entra com várias funções, mas a mais nobre delas é usar a experiência de quem sabe a hora certa de falar com um atleta antes de uma competição. “Minha função é apoiar os que têm potencial de trazer medalhas para o País”, diz. “Chegou a hora de eu dar de volta ao esporte tudo que ele me proporcionou.” E olha que essa frase é dita por alguém que, por conta do esporte, viu alguns de seus ossos virar farelo em um muro australiano.

"Minha função é apoiar aqueles atletas que têM potencial de ganhar Medalhas", diz Christian. Para ele, isso seria uma retribuição a tudo o que Conquistou Por Conta do esPorte

97 dezeMbro 2011 | istoé 2016


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ISTO, SIM, É UMA ARENA MULTIUSO Como os americanos transformaram uma área decadente do centro de Los Angeles em um monumental complexo de esportes e entretenimento que gera lucros para as empresas e oferece conforto e segurança para o público

POR RALPHE MANZONI JR., DE LOS ANGELES (EUA)

Fotos: Divulgação / Shutterstock

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meTAmoRFoSe minutos após o fim de um jogo de basquete profissional nos eUA, 65 trabalhadores iniciam a transformação da quadra em um rinque de patinação para hóquei no gelo

99 DEZEMBRO 2011 | istoÉ 2016


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Complexo Ao redor do Staples Center, em los Angeles, um quarteirão inteiro dedicado à diversão e ao entretenimento. Já a arena se transforma a cada evento e pode receber desde jogos de basquete e hóquei a concertos musicais

O públicO ainda nãO havia abandonado o Staples Center, uma das principais arenas dos Estados Unidos, em Los Angeles, quando 65 trabalhadores invadiram o espaço do jogo. Alheios à movimentação da torcida, eles começaram, literalmente, a desmontar a quadra onde pouco antes o time profissional americano Clippers havia disputado uma partida de basquete. Cada um deles sabia exatamente o que fazer, como se fosse regido por um maestro. Um grupo começou a remover as placas de madeira de bordo de 1,2 metro por 2,5 metros do chão. Outro as empilhava em espaços delimitados, depois de ser cobertas, para efeito de proteção, por um tecido branco. Por fim, uma empilhadeira as levava para fora do ginásio. Abaixo da madeira, uma espuma de poliuretano preta começou a ser removida, seguindo o mesmo ritual

anterior. Em apenas duas horas e meia, a quadra de basquete que estava ali havia sumido para dar lugar a um rinque de patinação no gelo destinado a partidas de hóquei, em que os jogadores do Kings, clube local, enfrentaram os patinadores do Ducks, os rivais naquela noite. “Nosso recorde foi fazer essa transformação em duas horas e 12 minutos”, afirma Sam Kropp, vice-presidente de operações do Staples Center, estádio com capacidade para 20 mil pessoas. O Staples Center deveria ser um exemplo a ser observado na hora da construção dos novos estádios e arenas que vão ser o palco de dois grandes eventos internacionais nos próximos anos no Brasil: a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016, no Rio de Janeiro. Controlado pela empresa americana de esporte e entretenimento Anschutz Entertainment Group

(AEG), o ginásio de Los Angeles é a casa de dois times profissionais de basquete dos Estados Unidos. Além do Clippers, o Lakers, maior time da NBA, também joga no estádio, que recebe concertos musicais de artistas como o grupo irlandês U2 ou a polêmica americana Britney Spears. O espaço foi, inclusive, o local do funeral do ídolo pop Michael Jackson. O fato de dois rivais de basquete jogarem na mesma arena não é um problema para os administradores do local. Antes de cada jogo, o ginásio passa por uma transformação para recebê-los. Quando o Lakers, time do legendário Earvin “Magic” Johnson, está em quadra, suas cores, seus emblemas e até os patrocinadores são colocados no estádio. Um loja móvel vende artigos esportivos, camisas oficiais e toda espécie de bugiganga para o público. Se for uma partida do Clippers, nada


no Staples Center lembrará que o Lakers jogou lá. Essa modificação ocorre, muitas vezes, num espaço de 12 horas. “São mais de mil pessoas que trabalham no estádio durante e após um jogo para garantir que tudo saia perfeito”, afirma Kropp. Para garantir o sucesso de um empreendimento desse porte, não basta, contudo, ter um estádio projetado para se transformar em uma arena multiuso. É preciso mais, muito mais. E Los Angeles, de novo, tem muito a ensinar ao Brasil. O Staples Center é a principal atração de um complexo de entretenimento e de negócios que inclui bares, restaurantes, cinemas, casa de shows, teatros, dois hotéis de luxo e residências. Com investimento de US$ 2,5 bilhões, ele foi construído em pouco mais de dez anos em uma área degradada no centro de Los Angeles. Batizado de LA Live, recebe cerca de quatro milhões de pessoas que assistem a cerca de 250 eventos anualmente. Em uma noite agitada, cerca de 50 mil pessoas passam por lá em busca de diversão. O que impressiona – principalmente para os brasileiros – é que não há tumulto ou grandes aglomerações antes das partidas. Nem filas são vistas na entrada do Staples Center. Quem está hospedado em um dos hotéis do complexo não gastará mais de dez minutos para deixar o seu quarto e se sentar confortavelmente no lugar marcado no ingresso. Quem chega de carro acha facilmente vaga no estacionamento subterrâneo. Antes da partida, ou no final, os torcedores podem ir para um dos 30 restaurantes do complexo. Dentro do estádio, há também várias opções de alimentação, que vão do simples e tradicional cachorro- quente até lugares exclusivos, onde os VIPs podem saborear uma refeição com vinho e conforto, longe do barulho dos fãs mais afoitos. Em um dia normal, o lixo produzido pelos 20 mil espectadores é capaz de encher dois caminhões – isso após ser esmagado por uma compactadora.

A AEG, que é dona do Staples Center, é a maior proprietária de equipamentos esportivos no mundo e a segunda no ranking de shows e concertos. A empresa, cujo faturamento é estimado em US$ 2,5 bilhões, controla e administra 120 estádios, como o O2 Arena (antigo Millennium Dome), em Londres, que recebeu investimento de US$ 600 milhões, o O2 World, em Berlim, e o Mercedes-Benz Arena, em Xangai. A companhia comprou vários times, como o de futebol (soccer, para os americanos) LA Galaxy, em que joga o craque britânico David Beckham, contratado em 2007 por US$ 32,5 milhões, para atuar por um período de cinco anos. Além

três times grandes que já detêm estádios velhos e antiquados – o Náutico, o Santa Cruz e o Sport. Para não se transformar em um elefante branco, a construtora brasileira pretende usar o exemplo do LA Live para erguer a Cidade da Copa, um complexo semelhante ao de Los Angeles. “Precisamos trazer esse projeto para a realidade brasileira”, afirma Felipe Jens, presidente da Odebrecht Participações e Investimentos (OPI). Com um terreno de 240 hectares, a construtora brasileira quer criar uma cidade inteligente com um grande centro de entretenimento ao redor do estádio. Para 2014, está projetada a construção de uma arena

vwv

anualmente, quatro milhões de pessoas assistem a 250 eventos na arena la live. em uma noite agitada, mais de 50 mil americanos passam por lá em busca de diversão disso, a AEG detém uma participação de 30% no LA Lakers, principal franquia da NBA, e é dona de sete equipes de hóquei nos Estados Unidos e na Europa, como o Kings, que também joga suas partidas no Staples Center. Não bastasse isso, a empresa organiza alguns dos torneios e concertos mais importantes do mundo, como o Tour de France, principal prova de ciclismo do planeta, e a turnê do ex-beatle Paul McCartney. No Brasil, a AEG foi contratada pela Odebrecht para dar consultoria na construção da Arena Pernambuco, estádio de 46 mil lugares, que está sendo construído em São Lourenço da Mata, subúrbio pobre que fica a 19 quilômetros do centro do Recife. Com um custo estimado de R$ 530 milhões, essa arena, uma das 12 sedes da Copa do Mundo, será a quarta da capital pernambucana, que conta com

indoor para 20 mil pessoas, que pode ser usada para shows musicais, vôlei, basquete, tênis e outras modalidades esportivas. Um centro de convenções e um grande shopping a céu aberto, cercado por bares e restaurantes, também estão previstos. Depois da Copa, o plano é usar o terreno para construir prédios residenciais e comerciais, aproveitando a valorização que deve ocorrer no local após o evento. “Há mais de 150 arenas sendo adaptadas ao redor do mundo”, diz Marcos Lessa, presidente do consórcio da Arena Pernambuco. “A nossa está sendo construída do zero.” Faltando menos de três anos para a Copa do Mundo e cinco para a Olimpíada, é inegável que há muito trabalho a ser feito no Brasil. Por isso mesmo é hora de o País aprender as lições de quem sabe transformar grandes eventos esportivos em um negócio lucrativo.


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Bad o quê?

mais que esporte o badminton dá esperança, rende conquistas, possibilita viagens internacionais e ajuda a sustentar a família das irmãs Lohaynny Carolyne (à dir.) e Luana tamara


No meio de uma ComuNidade CareNte do rio, pouCa geNte saBe o que é BadmiNtoN, mas uma oNg LoCaL usa esse esporte para dar Novos horizoNtes às CriaNças – e, quem saBe?, formar medaLhistas oLímpiCos

São 19h de um dia útil em uma comunidade carente de Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro, conhecida como Chacrinha. Perdida no emaranhado de vielas do lugar, a reportagem da 2016 coleciona olhares de estranhamento toda vez que pergunta se alguém sabe onde há uma quadra de badminton por ali. Depois de muitas negativas, surge a ideia de mudar um pouco a maneira de perguntar: “Conhece um lugar onde as crianças jogam peteca com raquete?” Em segundos, somos conduzidos ao destino, um ginásio. Nele, 32 meninos e meninas formam um círculo e fazem uma prece cujo tema é superação. Depois, se aquecem dançando uma coreografia que reproduz movimentos parecidos com os do tênis. Por fim, iniciam as partidas de badminton, esse esporte que é praticamente desconhecido no Brasil. As irmãs Luana Tamara, 17 anos, e Lohaynny Carolyne, 15, fazem parte da turma. Elas começaram a praticar o esporte quando tinham, respectivamente, 9 e 7 anos. Em menos de uma década, se tornaram a única dupla feminina brasileira a figurar entre as 100 do ranking mundial – e já na categoria adulta. Individualmente, Lohaynny vai ainda mais longe. No Pan-Americano de Guadalajara, em outubro, chegou às quartas de final – sua irmã caiu uma fase antes, nas oitavas. Com isso, ficou com o 120º lugar no ranking individual e um pouco menos distante dos Jogos de Londres em 2012. “Até a 73ª colocada está garantida na Olimpíada”, diz Beto Santini, conselheiro da Confederação Brasileira de Badminton. “Pelos critérios de divisão por países e continentes, hoje a Lohaynny é a 13ª suplente. E ela tem até abril do ano que vem para ganhar mais posições.”


novos talentos

Até Luana completar 6 anos, a família não tinha paz. Vivia se mudando de um canto para o outro da cidade. Muitas vezes não passavam nem sequer um mês na mesma casa. Trocavam de escola várias vezes por ano e chegaram a ficar meses sem estudar. Sem ser muito explícita, Luana explica o porquê de tanta movimentação: “Meu pai deu trabalho, se envolveu com coisa errada”, diz a atleta. “A vida que ele levava tornou as nossas bem mais difíceis. Aí ele morreu, e foi muito triste. Mas, depois disso, nós viemos para a Chacrinha, com minha mãe, avó, dois tios e uma prima. E aqui conhecemos o badminton.” A caçula completa: “Eu seria muito diferente do que sou se não fosse esse esporte, não teria a cabeça que tenho nem teria conhecido tantas coisas, lugares e pessoas novas.” As duas treinam de domingo a domingo, muitas vezes em dois horários, na ONG Miratus. Criada em 1998 por Sebastião Oliveira, um morador da Chacrinha, a entidade usa o badminton para mostrar que a ascensão pessoal das crianças pode ir muito além dos limites da favela. Hoje, o Miratus é um centro de treinamento com quatro quadras oficiais de badminton, três não oficiais, uma sala de ginástica e biblioteca. Em 2003, quando as meninas começaram, não passava de um grande espaço a céu aberto. Naquele ano, Luana voltava da escola com um amigo que disse ter visto “um lugar com um esporte estranho” do lado da casa dele. “No dia seguinte, fui com ele e adorei”, conta Luana. “Aqui não tinha nada para a gente fazer antes do badminton, só futebol mesmo.” De lá para cá, as meninas passaram a

pareCe BriNCadeira antes de começar a jogar, as crianças participam de uma prece e fazem movimentos de aquecimento. depois, são incentivadas a dar tudo de si no centro de treinamento da oNg miratus, que tem quadras, sala de ginástica e biblioteca

treinar seriamente, ganhar títulos, conquistar vaga na seleção brasileira e rodar o mundo. Elas já estiveram em países como Áustria, Cuba, Dinamarca, Estados Unidos, França, Guatemala, Holanda, Marrocos, México, Peru, Porto Rico, Portugal e República Dominicana. Apesar de ter conhecido boa parte do planeta, continuam apaixonadas pela Chacrinha. “Não pretendo sair daqui nunca, nem se eu ganhar muito dinheiro”, diz Lohaynny. Além da rotina de treinos, as irmãs enfrentam uma exaustiva agenda de competições. Elas disputam campeonatos na categoria individual e em duplas femininas e duplas mistas, tanto entre

os adultos quanto na categoria sub-19. Lohaynny ainda participa de torneios sub-17. As duas colecionam, juntas e em simples, 17 títulos pan-americanos, cinco sul-americanos e um europeu. Como adultas, Luana é campeã brasileira em simples e Lohaynny, bicampeã – título também alcançado por elas em duplas. O sucesso melhorou a renda da família. Lohaynny recebe bolsa-atleta internacional (R$ 1.825) e Luana, a nacional (R$ 925). “Mas a gente quer mesmo é a bolsa olímpica, que é de R$ 3.100”, diz Lohaynny, que ainda não sabe o que vai fazer da vida, além de jogar badminton. Luana quer cursar direito e sonha ser delegada da Polícia Civil. “Gosto de dar


apesar de ainda adolescentes, as irmãs já disputam provas entre os adultos. luana foi campeã brasileira em 2010. lohaynny ficou com o título em 2009 e 2011

ordens”, diz, meio brincando, meio séria. Na quadra, elas não mandam uma na outra, não brigam nem discutem. Duas irmãs adolescentes convivendo intensamente poderia ser um barril de pólvora. “É muito difícil a gente brigar em casa”, diz Luana. “Em treino e jogo, é impossível.” Como na dança do aquecimento dos jovens do Miratus, os movimentos das duas se completam e dão ao País a esperança de subir ao pódio olímpico nesse esporte estranho aos olhos dos brasileiros. Se não for possível em Londres, as irmãs apostam que a medalha vem em 2016, quando elas disputam os Jogos em casa, na cidade que aprenderam a dominar pelas beiradas.

Luana Tamara de OLiveira vicenTe

LOhaynny carOLyne de OLiveira vicenTe

Nascimento: 30/1/1994, 17 anos peso: 66 kg altura: 1,66 m títulos: em duplas femininas, categoria principal, com Lohaynny: bicampeã brasileira (2009/2010), bicampeã regional (2009 e 2011) e campeã estadual (2010) em simples: campeã brasileira na categoria principal (2010)

Nascimento: 2/5/1996, 15 anos peso: 69 kg altura: 1,65m títulos: em duplas femininas, categoria principal, com Luana: bicampeã brasileira (2009/2010), bicampeã regional (2009 e 2011) e campeã estadual (2010) em duplas mistas, categoria sub-15, com Ygor Coelho de oliveira: copa denys, na dinamarca (2010) em simples: bicampeã brasileira na categoria principal (2009/2011)


ensaio retranca

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douglas Viegas, 32 anos (19 de junho de 1979)

esporte: basquete conquistas: campeão universitário americano NCAA da primeira divisão, em 2002, pelo Wagner College; tetracampeão catarinense (2005, 2007, 2008 e 2009) pelo Joinville; tricampeão sul-brasileiro (2007, 2008 e 2009); tricampeão dos Jogos Abertos de Santa Catarina (2007, 2008 e 2009); campeão dos Jogos Abertos Brasileiros (2007) por que resolveu tatuar? Sempre fui rock’n’roll e ficava fascinado com tatuagens desde muito cedo. Era rebeldia pura, uma forma de expressão. Quando os meninos da minha rua começaram a tatuar, era o incentivo que eu precisava. Tinha acabado de completar 17 anos. Precisei tomar emprestada a identidade de um vizinho. E é lógico que fiz escondido dos meus pais, que odiavam isso! Quantas tatuagens? Tenho cinco.

A frase "on a mission" (na missão) escrita nas costas, um tribal em forma de bracelete com uma bola de basquete no braço direito, a frase "brothers 4 life" (irmãos para sempre) dentro da bandeira do Brasil no ombro direito, um palhacinho com um machado ao lado de um bebê no braço direito (a imagem significa que todo mal precisa ser eliminado com alegria e desde cedo, quando ainda se encontra na sua forma mais inocente). A última é a minha preferida: traz o diabo, a morte, as trevas e a opressão, todos os medos do homem. Fazem parte da imagem a frase "sem medo" e aquele herói desconhecido na frente dos tanques na praça da Paz Celestial, na China. Qual será a próxima? Ainda não escolhi o desenho, mas vou terminar de fechar meus braços na parte superior e retocar minhas tatuagens atuais.


ensaio

fláVia delaroli cazziolato, 28 anos (6/2/1983) esporte: natação (50 m e 100 m livre) conquistas: três medalhas de prata e três de bronze em Jogos Pan-Americanos por que resolveu tatuar? Sempre gostei de tudo ligado a desenho e pintura. A arte da tatuagem sempre me atraiu, sempre admirei os tatuadores. É uma responsabilidade fazer trabalho permanente na pele de alguém. Não pode errar, e a pele não é uma superfície fácil de trabalhar, como o papel ou a tela Quantas? Tenho três: um coração no pé com o nome do meu marido [é casada com o ex-jogador de basquete Caio Cazziolato]; uma borboleta, de espécie grega, que fiz logo após a Olimpíada de Atenas (em 2004). Não quis o desenho dos aros, como os atletas normalmente fazem. E um ramo de orquídeas, nas costas, para lembrar a Olimpíada de Pequim (a orquídea é uma das flores-símbolo da China) a próxima? Virá em homenagem a algo significativo em minha vida. Uma classificação para os Jogos de Londres (em 2012), por exemplo. E, quando tiver filhos, também penso em escrever o nome deles. Depois, chega


as fotos destas páginas acionam um botão no cérebro de quem as vê. Imediatamente, a associação entre os corpos lindos, trabalhados por anos e anos de treinamento, esforços e metas batidas, e os desenhos que os decoram inspira a ideia de poder e de que uma coisa está diretamente ligada a outra. Diferentemente dos senhores e senhoras que hoje desfilam por parques e praias do Brasil (em especial) e do mundo ostentando orgulhosos seus traços tribais, águias, caracteres orientais, gaivotas e dragões sobre tríceps cansados, barrigas fora dos calções e panturrilhas vencidas, tatuagens em atletas sugerem força e poder. Há uma atleta que pode falar com propriedade sobre força e poder. Ela é campeã brasileira de halterofilismo em sua categoria. E não é só isso. Bióloga, Ph.D., professora e escritora, Marília Coutinho talvez seja uma das poucas pessoas que conhecem profundamente os dois lados da atividade física e suas implicações extracorpo: a teoria e a prática. “Até pouco tempo atrás a aptidão, o tal fitness, era medido por meio da capacidade cardiovascular. Depois, aptidão virou capacidade cardiovascular, força e flexibilidade. Depois, tudo isso mais coordenação, agilidade, propriocepção. Já está havendo uma visão mais ampla. Mas ainda falta saber a importância e o peso relativo de cada coisa. O cérebro deveria fazer parte desse entendimento, porque é óbvio que ele é parte fundamental disso. Mas o órgão foi expurgado do exercício do mesmo jeito que a gente expurga o corpo na hora de pensar nossa mente. Quando você vai cuidar do corpo, pendura o cérebro no vestiário. Esse problema se tornou ainda mais sério nas academias quando as máquinas de movimento guiado explodiram. E movimento guiado não precisa ser pensado. Isso é algo muito sério.” As palavras de Marília conduzem a um segundo raciocínio: o cérebro pode e deve ser treinado. Conhecendo e explorando as potencialidades que ele esconde e descobrindo ou inventando ferramen-

tas e emblemas que o ajudem a provocá las, um mesmo atleta pode ampliar muito suas capacidades, performances e seus resultados. Afinal, o que determina na prática o limite da performance de um levantador de pesos de elite como ela? “Além da técnica, tem a ver com o sistema nervoso. Você ser capaz de negociar com o cérebro, fazê-lo entender que pode levantar, mandar seu músculo levantar aquele peso, e tudo bem. E a força não está apenas no músculo, ela é produto de um sistema de alavancas que envolve esqueleto e articulações. E existe, nesse sistema, o potencial da força absoluta. Meu palpite é que ela está presente, mas é inibida neurologicamente.” Partindo desse princípio, de que há em nós uma força extra muito grande que pode ser liberada por meio do conhecimento e do uso da nossa mente e de símbolos em que acreditamos (o que, cá entre nós, faz todo o sentido), cabe perguntar: quantos ippons impingidos por Camila Minakawa a suas adversárias teriam nascido da força que ela retirou das garras da águia que carrega desenhada sobre as costas? Quanto da propulsão extra de um sprint final de Flávia Delaroli não teria vindo daquele coração marcado na epiderme do seu pé direito? E, indo um pouco além das raias e quadras, quantas noites maldormidas foram suportadas com mais disposição pela mamãe que empurra feliz o carrinho de bebê no parque, afagada em seu coração toda vez que vê o nome de seu rebento escrito para sempre em letras pequenas e rebuscadas em tinta azul sobre seu pulso? Nada como acreditar...


ensaio retranca

camila minakawa, 21 anos (7/3/1990) esporte: judô (categoria meio-médio) conquistas: medalha de bronze no Mundial júnior de Bangcoc (Tailândia), em 2008; medalhas em quatro etapas da Copa do Mundo, em 2010 por que resolveu tatuar? É uma arte. Acho bonito esteticamente. Gostava desde os 12, 13 anos. Mas só fiz a primeira quando completei 18, porque achei que precisava de maturidade, pois é uma imagem que vai ficar ali para o resto da vida Quantas? Tenho quatro: uma fênix e uma lança nas costas. No antebraço direito, tatuei uma frase de “O Pequeno Príncipe” (“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”). Também tenho uma estrela de Davi no tornozelo direito, já que sigo a religião judaica (é filha de japonês com judia) a próxima? Brinco que tem um espaço guardado para a Olimpíada. Todo atleta sonha com esse momento. Mas não vou fazer os anéis olímpicos. Quero algo que faça sentido, alguma coisa que marque, que tenha significado especial. Meu foco é disputar Londres 2012 e Rio 2016


davi pantarolli romeo, 24 anos (26/12/1986) esporte: ciclismo (pista) conquistas: bronze na prova contra o relógio dos Jogos Sul-Americanos de 2010 por que resolveu tatuar? Sempre gostei. Fiz a primeira tatuagem aos 15 anos. Pedi autorização para meus pais. A maioria dos amigos tira sarro. Tenho um número 2 na panturrilha direita para mostrar aos rivais a colocação em que eles vão ficar. E um V8 turbo na lateral da coxa esquerda, que é uma zoação, como se eu fosse um carro. É para mexer com os adversários Quantas? São 11. Além dessas duas, tenho uma bicicleta e meu nome no ombro direito; também tenho o nome da minha filha, Kaillany, que é uma deusa havaiana, e quer dizer ‘grande como o céu e bonita como o mar’; no pulso direito, duas bikes e o nome da minha mulher (Ana); uma estrela em cada ombro; a bandeira do Brasil na perna esquerda; um lagarto nas costas, onde também escrevi: "minha bike, minha vida" a próxima? Quero homenagear meus avós, que morreram. Vou tatuar os nomes deles nas estrelas que carrego nos ombros


CLUBE


TÍTULOS DE NOBREZA REDUTO DOS ABONADOS DE SÃO PAULO, O CLUB ATHLETICO PAULISTANO CONSIDERA MAIS IMPORTANTE FORMAR ATLETAS DO QUE COMPETIR. MESMO ASSIM, TEM UMA SALA CHEIA DE TROFÉUS E MEDALHAS

TEXTO ANA BEATRIZ CHACUR

FOTOS KIKO FERRITE

NO DIA 4 DE FEVEREIRO DE 2009, um interessado em ficar sócio do Club Athletico Paulistano resolveu conhecer melhor o lugar e almoçou por ali. Gostou do que viu, as instalações bem cuidadas, o ambiente de calmaria, o povo bonito e bem-vestido. Os R$ 180 mil cobrados pela taxa de transferência não representavam o menor problema. Resolveu ficar sócio na hora. Pensou que, como se estivesse comprando uma Ferrari, bastava fazer o cheque e colocar a sunga. Ignorava que, para entrar nessa casta, é preciso ser indicado por dois sócios e conseguir referências favoráveis de outros cinco. Como o interessado é, digamos, volúvel no que diz respeito a mulheres, teria ainda de apresentar a certidão do divórcio do casamento anterior e o contrato de união estável do atual. Até aí, tudo bem, mas um problema maior apareceu. O potencial novo sócio cometeu o pecado de almoçar trajando bermudas, fato inédito desde a fundação do clube, em 1900. Escandalizados, os frequentadores passaram a torcer o nariz para aquele sujeito. E, quando isso acontece, nem a palavra do presidente resolve. E pouco adianta o nome do interessado ser Ronaldo Luís Nazário de Lima, o Fenômeno, que não conseguiu seu título de sócio até hoje.

NO FORNO Com 14 anos, Roberto Ribeiro de Avila e Karina Zetterman Trois de Avila são as apostas do Paulistano para que o Brasil conquiste medalhas na esgrima em 2016


CLUBE

Assim é o Paulistano, reduto da classe média altíssima de São Paulo. Ali, pelo regulamento interno, babás e enfermeiros só podem entrar se estiverem uniformizados e de crachá fornecido pela diretoria. Não é o ambiente no qual se pode ver uma fila de garotos ansiosos à espera de uma “peneira”. Em vez disso, o clube divulga seus processos seletivos em federações e escolas. Uma parceria com a Fundação Bradesco faz com que só passem para o outro lado do muro crianças com bom potencial. E, para fazer com que elas rendam o máximo, o clube desenvolveu a sua maneira de descobrir e lapidar atletas. Os principais instrumentos do método são as escolinhas de esportes e as atividades lúdicas para crianças de 3 a 8 anos. A estratégia tem apenas dez anos de vida. Se tivesse sido implantada três décadas antes, teria ajudado a florescer mais cedo um dos maiores talentos do vôlei feminino nacional. Na época em que Ana Margarida Vieira Álvares, a Ida, se apaixonou pelo esporte, as escolinhas ainda não existiam. Apenas equipes com meninas pré-adolescentes tinham o privilégio de sacar, manchetar e cortar nas quadras do clube. “Ficava olhando as minhas três irmãs mais velhas jogando e não via a hora de completar 10 anos para poder me matricular”, diz a ex-meio-de-rede da seleção brasileira, tricampeã paulista e campeã brasileira pelo Paulistano. Charles Eide Junior, gerente de esportes do clube, conta que as atuais turmas de formação de atletas buscam trabalhar a parte lúdica e investigar aspectos psicológicos e motores das crianças. Depois disso, o esportista é encaminhado para a modalidade em que possa render mais. Ainda de modo bastante cauteloso, a diretoria calcula que a estratégia deve

render os primeiros frutos nas duas próximas Olimpíadas. O treinador da esgrima, Régis Tróis, destaca dois atletas, Roberto Ribeiro de Avila (no florete) e Karina Zettermann Trois de Avila (sabre), ambos na faixa dos 14 anos: “Em 2016, eles estarão em ótima idade”, diz Ávila. “Hoje, eles já são os campeões de suas categorias.” O basquete do clube apresenta talentos que podem brilhar mais cedo. Arthur José da Luz Casimiro, 19 anos, e José Roberto Nardi, 23, são apontados pelo treinador Gustavo De Conti como as grandes promessas do Paulistano. Para acelerar o processo de formação

guem bolsa para estudar e competir fora do Brasil. A diretoria não faz muita força para evitar essa evasão. A prioridade ali é a formação do atleta. A competitividade é consequência. Ganhar ou perder é secundário. Essa política não impede o clube de acumular glórias esportivas aqui e ali. Marcos José Aranha de Lima foi campeão paulista de atletismo em 1947 e representou o clube em três competições internacionais. O polo aquático masculino foi campeão sul-americano em 1954 e medalhista de bronze da segunda edição dos Jogos Pan-Americanos, no ano seguinte, no México. Em 2010, a equipe de tênis do Paulistano

PARA FAZER SEUS JOVENS RENDER O MÁXIMO, O PAULISTANO APOSTA NA EXPERIÊNCIA DE EX-ATLETAS CONVERTIDOS EM TREINADORES DE ESPORTES COMO ESGRIMA E JUDÔ

desses e de outros atletas do basquete, o time conta com o preparador físico da seleção brasileira masculina, Diego Jeleilate. Ele não é a única estrela que o clube mantém nos bastidores. O técnico de judô é Douglas Vieira, medalha de prata em Los Angeles-94. Régis Tróis, o técnico da esgrima, disputou em Seul-88 como atleta e foi escalado como árbitro em Pequim-08. Apesar da boa estrutura e dos técnicos renomados, o Paulistano não consegue segurar muitos dos talentos que forma. Eles vão embora atraídos por propostas de outros clubes ou conse-

sagrou-se tetracampeã interclubes. Conquistas como essas tornaram apertado o local destinado a medalhas e troféus, o Centro Pró-Memória, localizado no terceiro andar do prédio do clube. Apesar de já ter formado 30 atletas que defenderam o Brasil nos Jogos desde 1924, faltam mais glórias olímpicas naquela sala. O negócio é torcer para que um dia o Paulistano pense que competir é importante, mas vencer é uma delícia. Produção: L. A. Braga Junior (Imagemakers) Beaty: Sayuri Odo Assistente de producao: Marcela Moura Agradecimentos: Centauro, Adidas e Netshoes


O PAULISTANO TEM MAIS DE 25 MIL ASSOCIADOS E

4.100 DELES FREQUENTAM O CLUBE DIARIAMENTE, TÊM À DISPOSIÇÃO

718 VAGAS DE ESTACIONAMENTO,

CRONOLOGIA 1900 Com a missão de reunir paulistanos

em um local familiar e que incentive a prática de esportes, no dia 30 de novembro é criado o Club Athletico Paulistano

1915 Quase fechou as portas quando teve de mudar sua sede para o Jardim América, que na época era um pântano 1917 O clube sobrevive e “renasce”, em cerimônia

oficial com a presença do então prefeito e futuro presidente Washington Luís e do poeta Olavo Bilac, que hasteou a bandeira do clube

1923 Monta instalações esportivas que a imprensa da época considerava “sem similares na América do Sul” 1926 Inaugura sua primeira piscina 1961 Logo depois de inaugurado, seu ginásio vence o Grande Prêmio Presidência da República na Exposição Internacional de Arquitetura na VI Bienal de São Paulo 1972 Passa a ter uma piscina olímpica

ACELERACÃO Para que Arthur Casimiro (à esq.) e José Roberto Nardi brilhem o quanto antes, o Paulistano conta com o preparador físico da seleção brasileira

1 BRINQUEDOTECA, 3 QUADRAS DE TÊNIS, 4 PISCINAS E A POSSIBILIDADE DE PRATICAR 36 ESPORTES.


performance

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V E S T I D O S PA R A N A D A R GRAÇAS AO DESEMPENHO DE ATLETAS COMO CESAR CIELO, THIAGO PEREIRA E FELIPE FRANÇA, A NATAÇÃO BRASILEIRA HOJE É TEMIDA PELOS ADVERSÁRIOS E MOTIVA MUITA GENTE A PROCURAR AS ACADEMIAS DEDICADAS AO ESPORTE. SE ESSE É – OU SERÁ – O SEU CASO, DÊ UMA ATUALIZADA NA SUA MOCHILA E NO SEU GUARDA-ROUPA

FOTOS CHRISTIAN GAUL (MODA) E PAULO PEREIRA (PRODUTOS)

MoDa PraIa 1. O maiô CCM pode ajudar você a fazer bonito mesmo quando estiver fora da água R$ 97, na CCM, Shopping Rio Sul, tel. (21) 2541-4146 2. Não impressionou com o maiô? Então tente chegar ao treino com a jaqueta Couro extra Brilho. R$ 2.490, na NK Store, tel. (21) 2529-5400

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3. Quando não estiver com o pé-de-pato, uma sugestão é a sandália plataforma off White. R$ 398, na Auslander, tel. (21) 2512-8458 4. De volta à piscina, o dispositivo de treinamento da Speedo aumenta a resistência do movimento na água e otimiza os resultados dos exercícios. US$ 49, na Amazon.com SegunDa PeLe 5. Para quem se aventura por mares revoltos, a touca oxer promete não sumir com as ondas. Isso graças às protuberâncias em seu interior, que melhoram a fixação na cabeça. O silicone é a matéria-prima da peça. R$ 16,90, na Centauro do Shopping Bourbon, tel. (11) 3868-2983 Zona De Conforto 6. A oferta de mais possibilidades de ajuste é o diferencial desses óculos da Linha Speed. Suas duas tiras permitem que o nadador encontre os pontos de fixação mais confortáveis na nuca. Leveza e lente antiembaçante fazem parte do pacote. R$ 49,90, na loja Speedo, (11) 3063-5211

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performance

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Edição de moda: Lucio Fonseca Beleza: Edilson Ferreira com produtos L'Oréal e Lancôme Produção de Objetos: Sônia Firmo Modelo: Gabrielle Arcanjo (40 Graus Models) Assistente produção de moda: Shay Lira


concentração

cultura e esporte juntos

FINO TRAÇO HQs e mangás retratam a superação e a paixão gerada pelo esporte ao redor do mundo

sobre rodAs Vítimas do destino, três jovens que não têm aparentemente nada em comum são unidos pela tragédia e pelo esporte. Um acidente de moto, um câncer ósseo, um caminhão em alta velocidade que acerta um garoto em uma bicicleta roubada: os protagonistas dessas histórias formam um cenário maior, em que o basquete em cadeira de rodas representa o resgate da dignidade e do amor próprio. Tudo isso está em REAL (vol.1), obra do mestre do mangá Takehiko Inoue, responsável tanto pelo roteiro quanto pelas belíssimas ilustrações. A temática do esporte não é nova para o autor japonês, um obcecado por basquete que já tinha colocado a modalidade sob os holofontes em Slam Dunk. Com a série REAL, Inoue aprofunda sua narrativa dramática, sempre complementada pelo traço forte e detalhado que virou uma de suas marcas registradas. REAL (vol. 1) Takehiko Inoue (autor e ilustrador) 224 páginas // US$: 11,05 // amazon.com


concentração

cultura e esporte juntos

Músculos no cérebro

A origeM de tudo

século sofrido

Todo mundo conhece o roteiro: um garoto americano com cara de nerd apanha de todos os outros colegas na escola. Sem a condição física para revidar, ele fica cada vez mais deprimido. Até que, um dia, resolve que já apanhou o suficiente. Até aí, nada que já não tenha sido abordado nos roteiros de filmes como Karatê Kid. Pois é nesse ponto que Float and Sting!: One Round with Muhammad Ali fica interessante. Um dia, no ano de 1975, o protagonista Davis Miller tem a chance de ser o sparring do ultracampeão de boxe Muhammad Ali, que lhe mostra que força de vontade e confiança são mais importantes do que músculos. A história, ilustrada por Andres Esparza, tem maior apelo para adolescentes, mas não deixa de ser interessante para os adultos.

Na Antiguidade, a Grécia foi assolada por intensas batalhas travadas entre Atenas e Esparta. A primeira era a mais poderosa e rica cidade da região, e as outras, lideradas por Esparta, tentaram derrubá-la por anos a fio. Mesmo depois do fim da guerra, a competição entre elas se manteve — agora, na forma de Olimpíada. Tendo como pano de fundo essa rivalidade, Histórias da Antiguidade – Grécia Antiga conta, em quadrinhos, a vida de Cinésias, o mais importante atleta de Atenas, em quem toda a cidade confia para disputar a principal prova dos Jogos Olímpicos que vão se realizar em 416 a.C. Nesse contexto, o leitor também descobre como era a vida na Grécia daquela época, com seus deuses, costumes, roupas e comidas.

Os 100 anos do Sport Club Corinthians Paulista são o gancho para esta obra de Ziraldo. Comemorado em 2010, o ano do centenário do clube não foi pródigo em títulos, mas levou Ziraldo a produzir novos personagens, exclusivos para Todo-Poderoso Timão em Quadrinhos. O gibi conta os fatos marcantes da trajetória do Alvinegro, trazendo os principais acontecimentos, conquistas e até mesmo derrotas. Tudo, é claro, começando com a história dos cinco trabalhadores que, mais de 100 anos atrás, montaram um time de futebol e, quase sem saber, fundaram o que seria o futuro Corinthians. Na mesma tocada, Ziraldo criou obras sobre o Palmeiras (Verdão, o Campeão do Século), o Vasco (Vascão, o Gigante da Colina) e o Flamengo (O Mais Querido), todas publicadas pela Editora Globo.

Float and Sting!: One Round with Muhammad Ali Davis Miller (autor) e Andres Esparza (ilustrador) 49 páginas // US$ 19,24 // amazon.com

Histórias da Antiguidade – Grécia Antiga Stewart Ross (autor e ilustrador) 32 páginas // R$ 8,40 // walmart.com.br

Todo-Poderoso Timão em Quadrinhos Ziraldo (ilustrador) 112 páginas // R$ 16,89 // americanas.com.br

o priMeiro Antidoping As peripécias dos gauleses Astérix e Obélix ganham ares esportivos no décimo segundo livro da série criada por René Goscinny (texto) e Albert Uderzo (ilustrações). Sempre interessados em aplicar sonoras derrotas aos romanos – que tinham invadido a Gália –, Astérix e Obélix decidem se inscrever na Olimpíada como “cidadãos galo-romanos”. A ideia é mostrar, em plena Grécia, que os invasores não são de nada. Só tem um problema: nas competições olímpicas, Astérix

e Obélix são impedidos de usar a poção mágica preparada pelo druida Panoramix, a mesma que sempre os ajuda nas batalhas dentro de sua terra dominada. Portanto, nada de doping para os gauleses. Apesar de ser quase impossível encontrar edições novas de Astérix e Obélix nos Jogos Olímpicos, a obra é farta em sebos de todo o Brasil. Astérix e Obélix nos Jogos Olímpicos René Goscinny (autor) e Albert Uderzo (ilustrador) 60 páginas // R$ 10 a R$ 25 // estantevirtual.com.br



Mike Roach/Zuffa LLC / Getty Images

BOXE

CIGANO NA RIO 2016?

Nocauteador nato – como o mexicano Cain Velásquez pôde sentir na pele na edição 139 do UFC –, o brasileiro Júnior Cigano vislumbra um futuro longe do octógono e, talvez, dentro dos ringues de boxe. O catarinense já afirmou que não pretende ficar para sempre no MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas). De acordo com seu técnico, o premiado Luiz Dórea, Cigano poderia defender o Brasil na Olimpíada de 2016. Por enquanto, é apenas uma possibilidade. Mas não custa acreditar, certo?


Todos os esportes olímpicos

>ATLETISMO

Ucraniano dá clínica no Brasil

O treinador ucraniano Vitaly Petrov esteve no Brasil entre os dias 21 e 29 de novembro para ministrar uma clínica a atletas do salto com vara. Petrov, que foi técnico dos recordistas mundiais Sergei Bubka e Yelena Isinbayeva, é consultor da Confederação Brasileira de Atletismo para a prova. Entre os alunos que compareceram ao centro de treinamento do Ibirapuera, em São Paulo, estiveram a campeã mundial em Daegu-2011, Fabiana Murer, e o recordista sul-americano e finalista em Daegu, Fábio Gomes.

>BADMINTON

domínio carioca no sUl

A segunda etapa do torneio nacional de badminton, realizada em novembro, em Porto Alegre, foi dominada pelo Clube Miratus, do Rio de Janeiro. Nas 27 disputas em todas as categorias, o Miratus levou nada menos do que 13 primeiros lugares. Na prova principal, Aleksander Silva foi campeão vencendo o atleta do Sesi, Rodolfo Salles, por 2 x 0. Na simples feminino, o título ficou com Paula Beatriz, da Federação Gaúcha, que venceu a atleta do Miratus, Renata Faustino, por 2 x 0.

>BASQUETE

ProBlemas na Base

O drama vivido pelas categorias de base do basquete brasileiro, que teve importantes campeonatos cancelados em 2010, pode se repetir em 2011. A não ser que a Confederação Brasileira de Basquete corra muito, será impossível organizar, em apenas um mês, os torneios nacionais masculino e feminino sub-19 de segunda e terceira divisão. No site da CBB, essas competições constam com data e local “a definir”. Isso sem falar no sub-19 feminino da primeira divisão, que tem local definido (Palmas-PR), mas ainda sem data certa.

>CICLISMO

>HALTEROFILISMO

O paraciclismo brasileiro encerrou sua participação nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara com oito medalhas, três delas conquistadas na prova de resistência – a mais desgastante do ciclismo. Soelito Gohr voltou a subir no lugar mais alto do pódio, faturando seu segundo ouro, após completar o percurso de 73,9 km em 1h52min28s. A prata ficou com o dominicano Minier Rodny. Na terceira colocação, João Schwindt, também do Brasil, voltou a brilhar e exibiu com orgulho a medalha de bronze.

Viçosa, em Minas Gerais, pode ser considerada a nova casa do levantamento de peso nacional. Isso porque lá foram inauguradas as instalações do Centro de Treinamento de Levantamento de Peso da Universidade Federal de Viçosa, local que deve servir de concentração para os atletas brasileiros em fase de preparação para a Rio-2016. O novo local, que já é considerado o melhor do País para a prática do esporte, conta com oito plataformas de treinamento, vestiários, salas de recuperação e equipamentos de primeira linha.

Brilho no ParaPan

>ESGRIMA

cartola Brasileiro no toPo

>HANDEBOL

>FUTEBOL

A derrota para a Argentina na final dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara não resultou apenas em provocações feitas pelos vizinhos, mas também colocou em risco a classificação para Londres-2012. Agora, o Brasil precisará buscar a vaga olímpica em um torneio qualificatório que será disputado em abril, na Espanha. Além de jogar contra os donos da casa, o time brasileiro enfrentará a Islândia e outras duas seleções europeias (a ser definidas). Apenas os dois primeiros colocados carimbam o passaporte.

Três bronzes e um cartola na vicepresidência da Confederação Pan-Americana de Esgrima (CPE). Esse é o saldo da participação brasileira após os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. Durante a competição, o presidente da Confederação Brasileira de Esgrima, Gerli dos Santos, foi indicado como representante da América do Sul e acabou eleito para a vice-presidência da CPE, ao lado de mais dois vices, que representam América do Norte e América Central.

Uma seleção só de olímPicos

Um ano de altos e baixos não impediu o técnico Mano Menezes de adiantar o calendário do time olímpico de futebol do Brasil para 2012. A ideia, segundo o treinador, é fazer a preparação dos garotos paralelamente à equipe principal. Para isso, o Brasil deverá realizar amistosos só com jogadores que atuam no país, em março, abril e maio. Em junho, é a vez de juntar o time todo em quatro datas Fifa, quando os times estrangeiros também têm que liberar os atletas. À frente do time, Mano já convocou 26 jogadores com idade olímpica.

>CANOAGEM

>GINÁSTICA

A sexta etapa da Copa Brasil de Canoagem Descida, realizada em novembro em Tomazina (PR), foi decisiva para definição dos campeões brasileiros de modalidade nesta temporada. Na principal categoria, 4.5 sênior, modalidade oficial do Campeonato Mundial pela Federação Internacional de Canoagem, a disputa pelo título estava acirrada entre o campeão do ano passado, Abel Viegas Neto, e o estreante Dion Catarina, que desbancou o líder do campeonato e acabou se sagrando campeão, com 235 pontos.

Após fracassar na prova do trampolim individual durante o Mundial de ginástica disputado em Birmingham, na Inglaterra, o Brasil tem apenas mais uma chance de classificar atletas para a Olimpíada de Londres, em 2012. Em janeiro, Giovanna Venetiglio e Carlos Pala poderão disputar o último qualificatório olímpico, evento teste a ser realizado na capital britânica. Participam da competição 16 atletas de cada gênero, mas somente cinco homens e cinco mulheres garantirão vaga na Olimpíada.

estreante desBanca favorito

nova casa

Última chamada Para a olimPíada de londres

Pedreira Para ir a londres

>HIPISMO

encontro gloBal

O Brasil sediou pela primeira vez em sua história uma Assembleia-Geral da Federação Equestre Internacional (FEI). Depois de quatro dias de debates no Rio de Janeiro, integrantes de 130 federações Internacionais definiram novas diretrizes para o hipismo e fizeram adequações nas regras das modalidades equestres para 2012. Além disso, o secretário-geral da Confederação Brasileira de Hipismo, Luiz Rocco, foi nomeado membro do "Nomination Committee", grupo responsável por fazer as nomeações aos cargos da FEI.

>HÓQUEI SOBRE A GRAMA de olho no fUtUro

O Estado de Santa Catarina tem sido um dos grandes incentivadores do hóquei sobre a grama e indoor, possivelmente uma das modalidades esportivas menos conhecidas no Brasil. Prova disso foi o festival realizado em novembro no Colégio Catarinense, em Florianópolis, com atletas sub-13 e sub-17 de toda a região. O evento contou com a participação do técnico da seleção feminina, Eduardo Martins, que acompanhou os jogos e deu dicas aos pequenos jogadores. No total, cerca de 100 alunos participaram da competição.

Sergio Moraes/REUTERSv

painel


>LUTAS

>PENTATLO MODERNO

Última competição importante no calendário nacional de lutas, o Campeonato Brasileiro Máster de Luta Olímpica teve sua data modificada para o dia 11 de dezembro, em Porto Alegre. A mudança ocorreu para que a competição não acontecesse no mesmo fim de semana do Campeonato Brasileiro Escolar, que se deu no dia 3, em Curitiba.

O Brasil colocou pela primeira vez um atleta na final de um campeonato mundial de pentatlo moderno. A façanha aconteceu em novembro, na Argentina, onde William Muinhos marcou presença entre a elite do Campeonato Mundial Júnior. Na derradeira disputa em Buenos Aires, terminou em 22º e superou atletas das já tradicionais Hungria, República Tcheca, Ucrânia e França. Foi o segundo melhor do continente americano, vindo na cola do canadense Christopher Pietruczuk (20º), com uma diferença de apenas 44 pontos.

mUdança de Última hora

>NADO SINCRONIZADO QUase no fim

Depois de dois bronzes nos Jogos PanAmericanos de Guadalajara – duplas e equipe –, o nado sincronizado brasileiro encerra o ano com eventos no Rio de Janeiro e em São Paulo. O primeiro deles é o Encontro Técnico Nacional, que acontece entre os dias 15 e 18 de dezembro na capital fluminense. Entre 19 e 21 de dezembro, a capital paulista sedia a última Seletiva Nacional. E aí, férias.

>NATAÇÃO

marcas históricas

O 20º Campeonato Brasileiro Juvenil de Natação (Troféu Carlos Campos Sobrinho), disputado em novembro, viu cair um recorde que já durava 25 anos. Na piscina do Clube Álvares Cabral, em Vitória (ES), Thais Xavier, do Fluminense, marcou 1m03s12 nos 100m borboleta feminino juvenil 1 (atletas nascidos em 1996) e bateu a marca de Daniela Lavagnino, da Universidade Gama Filho, que fez 1m03s61 no longínquo 1986 – dez anos antes do nascimento de Thais. A vice-campeã Natalia Luccas também fez tempo melhor do que o antigo recorde, com 1m03s23.

>JUDÔ

2011 ainda não acaBoU

Depois de um desempenho apenas razoável nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara e de duas conquistas importantes no Grand Prix de Amsterdã – ouro para Tiago Camilo e Maria Suelen Altheman –, a equipe brasileira de judô continua na ativa em 2011.O primeiro desafio foi o Grand Slam de Tóquio, realizado entre os dias 9 e 10 de dezembro. O segundo será o GP de Qingdao, na China (de 16 a 18 de dezembro), que também conta pontos para o ranking mundial da modalidade.

a Primeira vez

>POLO AQUÁTICO Piscina marítima

Os times cariocas dominaram a primeira edição do Campeonato Brasileiro de Praia – Circuito Open Correios de Polo Aquático, disputado em novembro, no Farol da Barra, em Salvador (BA). Os jogos, realizados em uma “piscina” montada no mar, contaram com a participação de seis equipes masculinas e três femininas. Entre os homens, sagrou-se vencedor o time do Guanabara. Entre as mulheres, venceu o Botafogo. Sete Estados, além do Distrito Federal, foram representados na competição: Amazonas, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe.

>REMO

exemPlo de organização

Em um raro exemplo de organização no esporte nacional, a Confederação Brasileira de Remo já definiu em detalhes todo o seu calendário para o ano de 2012. Muitas das competições são preparatórias ou qualificatórias para a Olimpíada de Londres, o que torna o período especialmente importante. Além dos Jogos Olímpicos, em agosto, merecem destaque três etapas da Copa do Mundo, em maio e junho, e a Regata Final de Qualificação Olímpica, na Suíça, que ocorre pouco mais de dois meses antes do debute na capital britânica.

>RÚGBI

Big Brother

A vitória da equipe de São José dos Campos sobre o Bandeirantes por 20 a 15 na final do Campeonato Brasileiro de Rúgbi trouxe uma inovação. Foi a primeira vez que a tecnologia TMO (Television Match Official) foi utilizada no Brasil. Por meio de uma câmera exclusiva, um quinto árbitro, que fica na cabine de tevê, acompanha os lances e ajuda o juiz principal em caso de dúvidas.


PAINEL

Todos os esportes olímpicos

>SALTOS ORNAMENTAIS A VEZ DA NOVA GERAÇÃO

Diante do bom desempenho geral do Brasil nas modalidades aquáticas nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, a solitária medalha de bronze nos saltos ornamentais – conquistada por Cesar Castro – pode parecer pouco. Para a Confederação Brasileira, porém, a competição serviu para testar novos talentos, como Ian Matos, Ruy Marinho, Bruna Brunett, Natali Cruz e Andressa Mendes – que, com apenas 14 anos, já alcançou o quinto lugar na prova de plataforma.

>TAE KWON DO VAGA GARANTIDA

>TÊNIS

AVANÇO NO RANKING

Apesar de ter voltado dos Jogos ParapanAmericanos de Guadalajara sem medalhas, a atleta do tênis sobre cadeira de rodas Natália Mayara, de 17 anos, mantém o otimismo. De olho em uma vaga na Paraolimpíada de Londres 2012, a garota – que ainda nem terminou o terceiro ano do ensino médio – comemora a 36ª posição no ranking mundial adulto da modalidade, melhor marca de sua carreira. O feito é ainda mais impressionante considerando que Natália, moradora de Brasília, disputou apenas nove torneios no ano.

>TÊNIS DE MESA LIÇÕES PARA INICIANTES

Ouro nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, o veterano mesatenista Hugo Hoyama foi em novembro à cidade de Mirassol, no interior paulista, para inspirar jovens atletas a se dedicar à modalidade. Além de palestrar para a garotada, Hoyama deu dicas sobre o jogo e "disputou" partidas contra os jovens. O esportista, que começou a jogar tênis de mesa aos 7 anos de idade, diz que despertar o amor pelo esporte logo cedo é quase um requisito básico para formar atletas de ponta no futuro.

>TIRO

>VELA

A final do Campeonato Brasileiro de Tiro Esportivo, realizada entre os dias 25 e 27 de novembro, também serviu para aumentar o quadro de árbitros qualificados a participar de competições oficiais. Durante o torneio, a confederação da modalidade realizou um estágio com juízes que ainda contavam com a licença provisória. Com esses programas, a entidade espera suprir a carência de árbitros para campeonatos de tiro em todo o Brasil.

Os resultados da equipe brasileira de veja nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara superaram as expectativas dos treinadores. Com as medalhas de ouro conquistadas nas classes RS:X masculina (Ricardo "Bimba" Winicki), snipe (Alexandre Tinoco e Gabriel Borges) e J24 (Maurício Santa Cruz, Alexandre Saldanha, Daniel Santiago e Guilherme Hamelmann), o Brasil sagrou-se campeão em cinco das nove classes. O País também levou o primeiro lugar na RS:X feminina (Patrícia Freitas) e na sunsifh (Matheus Dellagnello).

ÁRBITROS QUALIFICADOS

>TIRO COM ARCO

PARA ATRAIR TURISTAS

DESEMPENHO HISTÓRICO

A cidade de Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, desenvolve um programa inusitado de incentivo ao turismo. Ao facilitar a prática do tiro com arco na região, a Prefeitura municipal quer atrair turistas apaixonados pela modalidade. Por enquanto, o apoio oficial se restringe à parceria com a Federação Paranaense de Tiro com Arco e à cessão do terreno para treino dos atletas. Segundo a administração local, porém, esse é apenas o embrião de um projeto que, no futuro, pode começar a formar esportistas de ponta.

>VÔLEI

>TRIATLO

>VÔLEI DE PRAIA

O Estado do Ceará foi o primeiro colocado no quadro de medalhas das competições nacionais de 2011. Os atletas filiados à Federação Cearense conquistaram nada menos do que 24 medalhas de ouro, 15 de prata e 14 de bronze, totalizando 53 medalhas. São Paulo ficou em segundo lugar, com 16 medalhas de ouro, dez de prata e nove de bronze, um total de 35. A Bahia ocupou a terceira posição, com 15 de ouro, 11 de prata e 11 de bronze, totalizando 37.

A capital fluminense deve voltar a sediar uma etapa do Circuito Mundial de Vôlei de Praia em 2012. Segundo a Federação Internacional, o Rio está na disputa com Brasília para definir quem abrirá o torneio em 2012. Nas últimas três edições, o debute da competição anual ocorreu na capital federal. O local pode não estar definido, mas a data já foi escolhida: entre 16 e 22 de abril. Em 2012, o Circuito Mundial será o mais importante qualificatório para a Olimpíada.

CEARÁ DE OURO

DEPOIS DO SUSTO

O primeiro jogo da ponteira Jaqueline após a fratura cervical sofrida no Pan de Guadalajara ocorreu sem alarde. A atleta, que se lesionou ao bater a cabeça com a líbero Fabi, voltou às quadras no dia 22 de novembro na partida de seu time, o Sollys/Nestlé, contra o Sesi, em Osasco. A equipe de Jaque venceu por 3 x 2 e a atleta teve boa atuação, principalmente nos dois sets finais, quando soltou o braço em potentes jogadas de ataque.

RIO É FAVORITO

Clive Mason/Getty Images

Natália Falavigna foi a vencedora da seletiva de Queretaro, no México, na categoria feminina acima de 67 kg, garantindo vaga para os Jogos Olímpicos de 2012. A atleta derrotou as lutadoras de Honduras e Cuba para, na final, bater a representante da casa, Maria Del Rosario Espinoza. O tae kwon do nacional conquistou assim a sua última vaga para a Olimpíada do ano que vem. Natália e Diogo Silva (-68Kg) serão os representantes brasileiros na competição mais importante de 2012.



PÁGINA DOURADA Conquistas que entraram para a história | por Edson Franco

Com uma mão só O polegar esquerdo fraturado não impediu que Joe Frazier ganhasse o único ouro do boxe americano na Olimpíada de Tóquio, em 1964 As medalhas do boxe em Tóquio-64

Total

União Soviética

3

4

2

9

Polônia

3

1

3

7

Itália

2

0

3

5

Estados Unidos

1

0

3

4

Japão

1

0

0

1

Alemanha

0

2

1

3

Coreia do Sul

0

1

0

1

Filipinas

0

1

0

1

O acaso deu sua forcinha para que os Estados Unidos ganhassem a sua única medalha de ouro no boxe da Olimpíada de Tóquio em 1964. Preciso, forte e um ano mais experiente, Buster Mathis derrotou o promissor Joe Frazier no qualificatório e ficou com a vaga dos pesos-pesados de seu país nos Jogos. Semanas antes de embarcar para o Japão, Mathis fraturou um dedo. Sem tempo de realizar uma nova “peneira”, os americanos enviaram o lutador derrotado no duelo classificatório. Com um estilo baseado em velocidade e força e um demolidor gancho de esquerda, Frazier foi a Tóquio disposto a mostrar que, na hora de colocar oponentes para dormir, os boxeadores são tão rápidos e eficientes quanto os ninjas. Em sua estreia olímpica, não precisou de mais de um assalto para nocautear o ungandense George Oywello. O australiano Athol McQueen deu mais trabalho na segunda luta: caiu apenas aos 40 segundos do terceiro assalto. Apesar disso, tudo indicava que o ouro olímpico viria sem dificuldades intransponíveis. Mas, na semifinal, havia um soviético no caminho. Vadim Yemelyanov adiantou o talento para suportar pancadas que Rocky Balboa aprimoraria uma década depois. Aguentou o primeiro assalto todo em pé. No segundo, foi levado à lona por duas vezes. Frazier bateu tanto que acabou fraturando o polegar esquerdo. Apesar da dor, que se estendeu por todo o braço, ele continuou o castigo e obrigou a equipe do soviético a jogar a tolha quando o segundo assalto chegava a 1min49s. Agora só faltava a final. No dia 23 de outubro de 1964, Frazier subiu ao ringue para enfrentar o alemão Hans Huber, que só disputou boxe em Tóquio por não ter conseguido vaga no time de luta greco-romana do seu país. Nem o técnico do americano sabia que seu pupilo estava com o polegar quebrado. Achou estranho que Frazier tenha usado a sua mão direita muito mais do que nas lutas anteriores e que o gancho de esquerda estava sem a potência de outrora. Graças a isso, o embate terminou com os dois boxeadores em pé. Dos cinco juízes escalados para definir o vencedor, três votaram no americano, que não precisou das duas mãos para ganhar o ouro e que, anos mais tarde, se tornaria o primeiro homem a derrotar Muhammad Ali. Em novembro passado, um câncer de fígado matou Frazier, que estava com 67 anos.

“Smoking” Joe Frazier Nascimento: 12/1/1944 • Morte: 7/11/2011 Altura: 1,82 m • Peso: de 86 kg a 104 kg Envergadura: 1,85 m Lutas: 37 • Vitórias: 32 • Por nocaute: 27 Derrotas: 4 • Empate: 1

PUNHOS DE AÇO No alto, Frazier castiga o alemão Hans Huber na final; ao lado, com o ouro da única Olimpíada que disputou


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