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Shh, apague a luz, por favor por Raffaela Porcote

Shhh, apague a luz, por favor

Era noite. Talvez dia. Não importava. O casal cochichava intimidades e trocava olhares insinuantes, clichê dos que tramam o proibido. Por debaixo das roupas virtuosas da moça, peças abundantes em atrevimento. Nem 20 Ave-marias os absolveriam. Mas esse crime que se projetava tinha sua legitimidade. Tamara Silva e Rodrigo Alencar passaram um ano juntos, aguentando-se. E isso exigia comemoração.

Suava frio. Enquanto as máquinas de escrever terminavam de enlouquecer os colegas no fechamento do dia, V.M., novata na redação, repousava o telefone no gancho com calma, simulando inocência. Ninguém havia percebido. A jornalista combinou de encontrar o colega bonitão, que a azarava, no dia do jantar de confraternização da firma. Precisamente cinco horas antes do evento. O que aconteceria não precisava de fonte para confirmar o delito.

Para desvendar o fim dessas histórias, não é necessária muita imaginação. Começam assim, com uma intenção e um lugar comum para o desfecho: o motel. São ambientes elaborados, que brincam com as fantasias dos clientes e garantem a privacidade dos encontros amorosos. “Quando não podemos dormir na casa do meu namorado, vamos a um motel. Além de mudarmos a nossa rotina, mantemos nossa intimidade em segredo”, afirma Priscila Lopes, que namora há seis anos.

Os serviços oferecidos pelos motéis, em Curitiba, são bastante diversificados, algumas empresas incluem temáticas nas suítes para proporcionar aos clientes um lugar incomum para os encontros, como o Motel Ta-Yo, em que as locações imitam quartos estilizados na cultura japonesa. Para o gerente de TI Oscar Valliatti, o que o motiva a procurar motéis é a fuga do cotidiano. “Sempre peço suítes divertidas, que transportem a mim e minha parceira a outro lugar. Já que estamos fora de casa, queremos algo inusitado, que não faça parte do nosso dia a dia.” Mas não é todo mundo que gosta de pagar para ter privacidade. Antonio

Soares, militar, acredita que os ambientes proporcionados pelos motéis são desconfortáveis, pois tiram a espontaneidade do momento a dois, deixando tudo muito óbvio. “É antihigiênico e acho que convidar alguém a ir a um motel força a barra. É algo que deve ser natural, não programado.

Como sempre morei sozinho, nunca tive que frequentar. Mas compreendo a necessidade de quem não tem a mesma possibilidade que eu”, conclui. também prezam pelo conforto e privacidade. Em Curitiba, leitos mais simples custam entre R$ 49,90 a R$ 75, como é o caso da suíte Acácia, do Motel My Garden. Muitas empresas já oferecem nos sites cupons de desconto, entre 10% a 30%, além de fazer promoções aos que desejam ir

durante a semana. Para os mais chegados em extravagâncias, é possível gastar R$ 500 com facilidade na suíte Mirage, do Motel Celebrity, que une dois quartos em um só com sistema de espelhos e três pisos, além de possuir cascata na piscina. Encontros assim, que geram despesas, causam dúvidas nos casais quando chega a hora de pagar. Para o advogado Tairo Oliveira, a obrigação é sempre do homem, que deve garantir o romantismo sem permitir que a parceira se preocupe com o valor da diversão. “Acho deselegante e insisto em pagar”, afirma. Mas, segundo uma pesquisa feita pelo Motel Atenas, de Porto Alegre, essa visão, que reflete valores machistas está mudando. Cerca de 35% dos gaúchos acreditam que quem faz o convite deve se responsabilizar pelos gastos, 26% não se incomodam quando é a mulher que se oferece para pagar e 13% acreditam que a conta deve ser sempre dividida. Mas Tamara e Rodrigo não se importam com essas formalidades. Para eles, paga quem estiver com dinheiro no momento. Depois da comemoração de um ano de namoro, no Motel Solemio, em Pinhais, decidiram que era hora de ir embora. Recompuseram-se e entraram no carro, um Voyage 2012, emprestado pelo irmão dele para dar mais elegância ao encontro. “Onde está a minha carteira, amor?”, perguntou Rodrigo, um pouco sonolento. Não está. Ficou em casa. E agora? O jeito foi deixar o carro como garantia de pagamento e andar os 3 km de volta a pé. Na saúde e na doença. “Amanhã a gente resolve”, riu Tamara.

E na estrada, já na BR 277, V.M. estava dentro da Parati cor branca do colega de redação. Ambos estavam excitados pela clandestinidade do encontro. Assim que entrou no carro, um beijo. Ele acelerou. Quase chegando. Há 300 metros de entrar no motel, o automóvel parou. O colega ficou tão empolgado que esqueceu de abastecê-lo. Foi até o telefone público mais perto e ligou para o tio, implorando por socorro. Aqueles 300 metros tinham de ser vencidos. Meia hora de espera, na escuridão da estrada, e chegou o amparo. Depois de ouvir o sermão do tio, que condenou a falta de precaução do sobrinho – e o embaraço da situação, o problema estava solucionado. A noite chegou. E demorou para acabar.

Raffaela Porcote

Quem dera ser um peixe“ Para em teu límpido Aquário mergulhar Fazer borbulhas de amor Pra te encantar Passar a noite em claro ”...Dentro de ti ”Borbulhas de Amor“

Fagner

Para quem quer gastar pouco, há suítes mais econômicas, que oferecem serviços menos sofisticados, mas que

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