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Taxista: profissão perigo por Aline Valkiu
by eba_pucpr
Taxista: profissão perigo
Todas as noites, pelo menos dois taxistas são assaltados em Curitiba e Região Metropolitana
Há 16 anos na profissão, o taxista Luis Giovane Ribeiro sofreu três assaltos. Em uma dessas ocasiões, um homem que aguardava o carro em frente a uma delegacia no bairro Boqueirão, estava desesperado. Dizia que sua mãe estava passando mal e precisava ir para casa. No caminho o passageiro pediu que Ribeiro entrasse em uma rua para buscá-la, mas tudo era parte de um golpe. A história foi apenas um artifício para que Ribeiro não desconfiasse de um assalto. Logo o ladrão mostrou a arma e pediu todo o dinheiro. Como era madrugada e a jornada de trabalho estava apenas começando, o trabalhador tinha apenas R$ 36, suficiente para ser levado pelo assaltante. Histórias como essa se repetem todas as noites. Pelo menos dois taxistas são assaltados durante cada madrugada na capital paranaense. Esse número parece pequeno comparado aos mais de 1.550 trabalhadores que rodam noite adentro. Multiplicadas pelo número de dias do mês, essas ocorrências chegam a 60. Em um ano, esses dados podem somar mais de 730 assaltos. De acordo com o Sindicato dos Taxistas do Paraná (Sinditaxi-PR), mais de 2.500 taxistas trabalham em Curitiba e região metropolitana. Desse número, 70% exercem a função no período noturno, horário quando há maior número de ocorrências.
Não há uma estimativa de quantos taxistas já foram assaltados, pois na maioria dos casos, os motoristas não chegam a ir às delegacias para fazer o boletim de ocorrência. Segundo o representante do Sinditaxi-PR, Heins Schade, os crimes normalmente acontecem à noite e são praticados na sua grande maioria por usuários de drogas. “Eles sabem que o taxista tem dinheiro, muitas vezes pouco, mas que é o suficiente para comprar droga”, diz. Schade explica ainda que a única segurança que esses trabalhadores tem são os próprios colegas. Ao sofrer um assalto, o motorista se comunica com os outros taxistas e também a central; os que estão próximos ao local começam a procurar o assaltante. “Eles não classificam os passageiros, mesmo com desconfiança aceitam a corrida, e quando chegam ao destino, são surpreendidos com voz de assalto”. Odney Gonçalves, de 79 anos, trabalha como taxista há 35. Ele conta que foi assaltado seis vezes, na maioria das vezes, por homens entre 18 e 30 anos, de boa aparência. Em uma das ocasiões em que Gonçalves passou por essa situação, o passageiro subiu no táxi no bairro Juvevê e pediu que o levasse até a região do Cabral. Chegando ao local, o rapaz o assaltou e fugiu. Em seguida o motorista comunicou a central pelo rádio, dando código de assalto, assim foi possível passar a informação para outros taxistas e também à polícia, que chegaram juntos ao local e conseguiram prender o assaltante. Naquela noite, Gonçalves teve sorte e conseguiu recuperar o dinheiro.
Mas nem sempre tudo acaba bem. Em outro episódio vivido por Gonçalves, um homem entrou no táxi puxou conversa e, chegando ao local, ameaçou o trabalhador com uma faca e arrancou o rádio para que o taxista não pedisse socorro. O motorista tentou reagir, prendendo uma das mãos do ladrão, mas não resolveu o problema. O criminoso pegou a carteira e outros objetos de valor e, não se dando por satisfeito, ameaçou o motorista de morte: o condutor do veículo pediu ao ladrão que não o matasse: “Não faça isso ra-
Revolta
Odney Gonçalves, se revolta com falta de segurança dos taxistas.

paz, você já pegou tudo que eu tinha, não precisa me matar”. O assaltante então fugiu, levando dinheiro e os documentos pessoais.
Ele ainda fala com tristeza sobre a morte de um amigo, cujo nome preferiu omitir, que ocorreu há pouco tempo. O assassino que estava no centro de Curitiba, pediu que o levasse até o Bairro Alto. Chegando ao destino, roubou do motorista R$ 40 e o matou com um tiro na cabeça. O trabalhador tinha cinco filhos. “Somos uma classe desfavorecida em relação à segurança, a única coisa que recebemos são cobranças por parte de políticas públicas como, por exemplo, a URBS e guardas de trânsito”, relata.
Arnaldo Lima Pinto tem 67 anos e 30 anos de profissão como taxista. Ele relata que, em uma das quatro vezes que foi assaltado, levou um tiro. Ao atender um chamado da central de taxistas, Lima Pinto não esperava passar pelos minutos mais tensos de sua vida. Um casal que aguardava o táxi estava planejando um assalto. Ele sem imaginar, no fim do percurso foi surpreendido com um revolver na cabeça. Sob ameaça, o trabalhador reagiu e levou um tiro no braço. Com o susto, o casal fugiu e não levou nada. “Reagi, pois teria sido pior, eles já estavam decididos a me matar”, explica a vítima. Lima Pinto ainda explica que muitos levam uma mulher para que não haja desconfiança. Mas, depois de ter passado por momentos difíceis, procura ter muito cuidado com passageiros, principalmente no período da noite. De madrugada, no ponto de táxi, procura ficar pelo lado de fora do carro, evitando levar pessoas que sejam suspeitas. “Infelizmente, não temos segurança. Ao sair de casa sempre peço a Deus que me proteja e também aos meus colegas”, revela.

Segundo o major Dorian Cavalheiro, da Polícia Militar, são feitas, periodicamente, operações em que se pede que os taxistas parem para que seja feita a revista. Porém, muitos reclamam que estão sendo prejudicados, pois os clientes acabam não gostando por atrasar o tempo da corrida. “Sempre paramos os táxis, porque muitas vezes quem está conduzindo o veículo é o ladrão”, explica o policial.
Cavalheiro comenta que a falta de boletins de ocorrências registrados pelos taxistas dificulta o trabalho da polícia, pois para que se tenha um mapa de crimes contra os trabalhadores, é preciso conhecer os principais locais de assalto e as situações mais frequentes, dados que podem ser armazenados no banco de dados da PM e que facilitariam a realização de operações nas regiões de maior incidência desse tipo de crime. “O boletim de ocorrência é uma ferramenta importante, pois a partir dela podemos chegar ao local certo, sem ter que trabalhar de maneira aleatória atrapalhando os taxistas e também os usuários de táxi”.



Medo
Arnaldo Lima Pinto, levou um tiro no braço em uma tentativa de assalto
Uma história esquecida
A lei 10.639, que obriga o estudo da História da África e da cultura afro-brasileira, completa dez anos. Mas não é cumprida.
Em 2003, foi sancionada a Lei n.º 10.639, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB - 9.394 / 1996), que institui a obrigatoriedade do estudo da História da África e da Cultura Afro-Brasileira. Apesar de muitas instituições de ensino não cumprirem a lei, existe exceções, como, por exemplo, o curso de História da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, com sede em Curitiba, o Colégio Sesi de Londrina e o Colégio Sion. Para o estudante do Colégio Sion Arthur Correia Zablonsky, que está no 6° ano do ensino fundamental, esse conteúdo é fundamental. “O estudo da cultura africana é muito importante pela enorme diversidade cultural que existe naquele continente. É um povo alegre, comunicativo e com grande amor à família e seus descendentes. No Colégio Sion, aprendemos a conviver com a diversidade, todos somos iguais.”
A norma consiste em tornar obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. O conteúdo programático inclui o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo afrodescendente nas áreas social, econômica e políticas pertinentes à História do Brasil. Estabeleceu também que o calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra.

Em janeiro de 2013, essa lei completou dez anos, porém ela ainda não é cumprida em diversos colégios. A professora de Sociologia da PUCPR Rosita Cordeiro de Loyola Hummell alerta que a preocupação com as minorias começou somente na última década. “A preocupação com as minorias, sejam culturais ou étnicas, passou a existir somente nas últimas décadas e, neste caso específico, não há professores preparados para esta tarefa.”
Com a lei aprovada, esperava-se que o preconceito contra negros fosse reduzido e que as crianças e adolescentes conhecessem a influência que o continente africano e seu povo tiveram na construção do Brasil.
Soluções
Para o professor Luiz Paixão Rocha, mestre em Educação, militante do movimento negro e dirigente da APP-Sindicato do Paraná, a lei era reivindicada já há muito tempo pelo movimento social negro e por estudiosos e especialistas da área da educação e relações étnicorraciais. “Um dos principais motivos é a necessidade de alterar a abordagem do negro no currículo escolar, fazendo com que através do conhecimento, a escola possa se configurar como um espaço importante para combater o racismo presente em nossa sociedade”, analisa o professor.
Segundo Rocha, essa normatização ainda não se consolidou, especialmente pelo fato de que ela atua contra construções ideológicas do passado. Desconstruir essas ideias que permaneceram por séculos não é uma tarefa fácil. A sociedade brasileira, apesar de toda a tentativa de negação, ainda é racista.
A jornalista Aline Katielle Reis Santos, formada na Universidade Positivo, nunca estudou esse conteúdo.