3 minute read

Caminho que restringe a liberdade

Uma das rampas, no centro da cidade, totalmente inacessível. Foto: Mônica Seolim.

Acessibilidade ainda é um problema enfrentado por cadeirantes na região central de Araucária.

Fernanda Bertonha e Mônica Seolim

Locomover-se pelos principais pontos do centro de uma cidade como Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, parece algo simples. Mas, infelizmente, essa não é a realidade de Geferson Santos Silva, um jovem de 25 anos que se tornou paraplégico há dois anos, após sofrer um acidente. Desde então, ele depende da cadeira de rodas.

Geferson é estudante do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja), que fica no centro de Araucária. Por morar em um bairro mais afastado, ele reclama das dificuldades para chegar ao local das aulas. “Parece que as ruas até tentam oferecer acessibilidade, mas não da forma correta. Praticamente não há calçadas, onde tem, estão cheias de buracos ou com postes e placas bem no meio do caminho”, conta.

O jovem faz questão de ressaltar que, além das rampas serem insuficientes no centro de Araucária, a maior parte das calçadas é de paralelepípedo, vários deles fora do lugar, o que dificulta ainda mais a locomoção. “Eu não tenho autonomia, porque para fazer qualquer coisa, ir a qualquer lugar, preciso de alguém comigo, nunca tenho total liberdade”, desabafa Geferson.

E por morar a cerca de quatro quilômetros do Ceebja, o jovem precisa que alguém o leve de carro ou o acompanhe de ônibus. “No trajeto que vai da minha casa ao ponto de ônibus, não tem calçada, eu preciso ir pela rua. Quando chego ao ponto, tem que ter alguém para

“Preciso de alguém comigo, nunca tenho total liberdade.“

me colocar dentro do ônibus, porque a maioria deles não tem o elevador de acesso, ou não está funcionando.” Geferson afirma que esses problemas de estrutura da cidade dificultam ainda mais o processo de adaptação dele a essa limitação imposta pela cadeira.

Uma das professoras de Geferson, Marlene Grendel, diz que ele é um bom aluno, mas que os problemas que enfrenta para se locomover podem prejudicar o seu rendimento. “Eu fico boquiaberta com essa situação. É inadmissível que algo assim aconteça, ele sempre depende de alguém para chegar até a escola e isso pode interferir negativamente no procedimento de aprendizagem”, explica Marlene.

O engenheiro civil e Secretário Municipal de Urbanismo de Araucária, Elias Kasecker, diz que a falta de acessibilidade não é um problema exclusivo do município e nem cabe apenas ao poder público. “De acordo com a legislação, cada um é responsável pela frente da sua propriedade, então, cada pessoa tem a obrigação de cuidar da calçada que corresponde ao seu imóvel”, esclarece.

Kasecker diz ainda que as regiões mais novas da cidade, que começaram a ser construídas a partir do ano 2000 (o que não é o caso do Centro), já foram estruturadas para atender às necessidades de locomoção de todos: cadeirantes, idosos e pessoas com carrinho de bebê. “Infelizmente, algumas ruas de Araucária são muito antigas e estão com problemas, principalmente na região central. Estamos estudando a possibilidade de executar um projeto de urbanização, para pavimentar as calçadas e trazer outras melhorias, mas os recursos estão escassos”, justifica o secretário.

A Rua Carlos Cavalcanti, que faz parte do trajeto diário de Geferson, é uma das que mais apresentam problemas e, ao mesmo tempo, é onde se concentra boa parte do comércio. Kasecker diz que a Secretaria de Urbanismo pretende dar prioridade a ela quando for possível iniciar uma espécie de revitalização. “Alargar as calçadas, mesmo que seja preciso deixar a rua mais estreita é algo que precisamos fazer. Não pensando apenas em quem tem necessidades especiais, mas em todos os cidadãos. A calçada é do pedestre”, conclui.

Embora existam projetos de urbanização, não há previsão de quando eles devam ser executados.

Geferson Santos, cadeirante

A dificuldade de locomoção é diária. Foto: Mônica Seolim.

This article is from: