Depois da Tempestade

Depois da tempestade uma coleção de depoimentos sobre as vidas e a pandemia

ISABELLY SILVA

Índice Apresentação........................................................3 Depoimentos..........................................................4 Agradecimentos..............................................35

Apresentação O livro Depois da tempestade: uma coleção de contos sobre a pandemia foi concebido num momento em que a tempestade sequer havia passado; pelo menos, não a pior parte dela. A ideia surgiu como uma forma de relembrar um ano tortuoso, em que vidas foram transformadas e outras vidas foram perdidas. Mal sabia eu que mais surpresas ainda viriam, e que 2021 acabaria por ter relatos ainda mais tristes que 2020.

No entanto, as marcas do ano que passou ainda permanecem em cada pessoa que escreveu neste livro. Cada relato, cada palavra contada revelam uma história independente, uma forma de mostrar ao mundo que até mesmo a pior tempestade não foi capaz de derrubar as pessoas por trás dessas histórias.

Aqui, 25 pessoas de lugares diferentes e vidas diferentes confidenciaram uma pequena parte de seus mundos para quem agora abre este livro, e por isso sou extremamente grata.

Espero que cada página seja suficiente não apenas para sabermos o quão diferente foi a vida do outro nesse mesmo caos, mas que também funcione como uma forma de conscientização para quem ainda não percebeu o que realmente aconteceu.

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Depoimentos Uma tempestade sobre a Tower Bridge Gabrielle Fields Para alguém acostumado a um estilo de vida diferente do meu, Londres deve ser um lugar miserável. É ao mesmo tempo muito quente e muito frio - um calor desagradável poluindo o ar, brilhos gelados dos olhos indecentes de seus passageiros sempre em trânsito. Mas Londres Londres como lugar de infância - muda a narrativa, a temperatura, completamente.

Pode-se não ser capaz de olhar além do movimento dos pés, reduzindo gradualmente as pedras para a completa suavidade com seu desgaste. Mas, com o tempo, esse mundo metropolitano se desvenda, e parece que eu, e somente eu, posso compartilhar seus segredos. Apenas sabendo para onde olhar e quando chegar é algo averiguado pela exposição persistente de uma vida inteira. É a cura de todas as ansiedades caminhar pelo trecho de aterro de Westminster para o leste até a Tower Bridge. Para sentir a pulsação de Londres do alto, dentro de seus arranha-céus, ou das profundezas da terra, arrancada da luz do sol por túneis vitorianos e o mundo antigo de Londinium, expressando-se em alguns monumentos silenciosos.

Sem saber disso, eu dei um longo - embora temporário - adeus à minha querida Londres algum tempo nos últimos dias de fevereiro.

Quando toda a cidade parecia imperturbada, como eu sempre soube que estava. O tempo particularmente instável significava que, enquanto eu estava na Tower Bridge sob um céu azul, eu podia ver ao longe uma nuvem escura sendo soprada em minha direção, carregando com ela os ingredientes para tornar a ponte um pouco mais vazia.

Enquanto ela se esvaziava, eu ainda estava na ponte, observando a nuvem avançar lentamente pelo céu, pairar acima, fugazmente, e se mover para Greenwich. Naquela hora, aproveitei o que só pode ser desfrutado pessoalmente, algo ainda não capturado pela fotografia, música ou arte apenas por sua modernidade; embora haja muito a ser realçado por Vaughan Williams em sua "London Symphony" e por Pownall em suas pinturas. Há muito admiro a maneira como os edifícios de vidro - desconhecidos para qualquer um dos londrinos mencionados - ao longo do rio brincam e dançam com a luz salpicada de cima.

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Uma Aurora Borealis para o morador urbano que não se desculpa. E a chuva que afligia o Tâmisa abaixo de meus pés correu ao longo do rio em gotas na superfície e passou tão rapidamente quanto apareceu.

Então confinada a uma casa, em um subúrbio, como estou, revivo a tempestade sobre a Tower Bridge e meus dias lânguidos em Londres. Como estudante, na minha adolescência, como criança. Aproveitando os reflexos cintilantes da água sob a Knightsbridge, pedalando ao redor do Serpentine em um dia quente. Arremessando-se pelas fontes da Leicester Square. Navegando sem esforço pelos museus, como quem cresceu neles pode fazer. Contemplando a grandeza da arquitetura arcaica em completa santidade. Encontrando um Steinway ou um Edelweiss escondido em algum canto sossegado.

Quando poderei passar os dedos pelos fragmentos de cerâmica do mural em Queenshithe? Quem agora pode avistar pequenas bugigangas nas margens do Tâmisa enquanto a maré deposita tubos de argila e cerâmicas de uma época à qual a cidade ainda se apega como se fosse contemporânea?

Londres, só posso imaginar neste caso, está vazia. Sua força vital foi drenada - sua motivação para prosperar. Mas Londres - seu povo - se instalou aqui desde a pré-história. Uma ideia que considero muito reconfortante e humilde. Este lugar, quer se manifeste como uma fazenda, vilarejo, vila ou cidade, sobreviveu a todas as censuras possíveis do mundo. Invasão, abandono, guerra, fogo e um grande número de pragas. E ainda vai sobreviver, prendendo a respiração.

Espera. Cura. Ela retornará em toda a sua glória, tendo perdido sua alma, dando boas-vindas ao seu reaparecimento. Onde mais haverá um dia como este do que sonhar entre as margaridas no Regent's Park? Em nenhum lugar mais calmo para os olhos pousarem do que no rio. Em nenhum lugar mais harmonioso do que a sinfonia de sons individualmente tendo precedência sobre o barulho geral que diz: este é o seu lar.

Por mais que a tempestade que expulsou as pessoas da Tower Bridge tenha cessado, a névoa logo se tornará clara e seu povo voltará mais uma vez.

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Depoimentos Neta e Neta Stefanie Calado Meu nome é Stefanie — e o da minha avó, Dona Neta.

Foi uma década atrás quando ela começou a apresentar os primeiros sinais de Alzheimer. Cuido dela há 6. Foram anos e anos com médicos que relutavam em diagnosticar, prescrevendo remédios que não funcionavam, que causavam efeitos colaterais cada vez mais danosos.

Veja bem: quando se observa esses pacientes de perto diariamente, é visível a forma como a doença avança. Num mês, ela para de tomar banho sozinha; no outro, ela não come mais; no outro, ela acredita que os remédios depois do jantar são veneno e que você é um espião russo que está a perseguindo em sua casinha em Candeias, Jaboatão dos Guararapes. Portas fechadas, chaves escondidas, olhos alertas, e a completa disposição de doar tudo que você tem para tomar conta 24h/7. Não há pausa nem descanso. O fogo só esquenta.

No fim de 2019, a doença avançava de um jeito tão absurdo que a gente acreditava que ela estaria internada em pouco tempo — ela ou a gente, cada um entrando em surto psicótico por um motivo diferente. Ser cuidador não é fácil.

Em janeiro de 2020, vem a melhor notícia do mundo: conseguimos prescrição médica para fazer o uso do óleo de canabidiol, santo remédio milagroso que era um absurdo de caro e só se via gringo usar. Pela associação de acolhimento em PE, ainda conseguimos comprar por um preço bem menor, mesmo que continuasse caro.

O tratamento começa em fevereiro. Já no primeiro dia, eu quase acreditava que existia cura. Pela primeira vez em anos, eu vi vó sentindo fome e comendo com gosto. Calma. Cantando o dia todo. Ria com tudo. Não reclamava dos banhos. A gente conversava — ainda que besteira, já que a doença não lhe permitia ser coerente. Mas em fevereiro, a gente conversava.

— E aí, vó, tudo bem?

— Tudo bem sim. Que horas sai o ônibus?

— Pra onde, vó?

— Pra casa.

— Já vai pra casa uma hora dessa? Tá muito cedo. Fique um pouquinho mais.

Eu botava música. Ela cantava. Desistia de "ir pra casa". Pedia um lanche. Às vezes, eu conseguia até esquecer que Alzheimer é uma doença degenerativa.

Dava pra fingir que ela era só uma senhorinha normal como qualquer outra, sentadinha em paz, ou cantando na janela.

Em março, começa a pandemia. Ficam proibidas as caminhadas diárias na praia (a gente ia toda manhã e toda tarde). Pararam as visitas diárias que os parentes faziam. Nossa família é grande: ela teve nove filhos, e tem mais de quinze netos. Acabaram os passeios no shopping, na casa de uma antiga prima, para a casa da filha mais velha no interior. Portas e janelas trancadas, nada de sentar na calçada e olhar a rua.

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Depoimentos

Em fevereiro nós vimos a cura. Em março, ainda há esperança. Em abril, descemos de volta na espiral. Não tinha mais fome. Não queria abraço nem toque. Em maio, mês do meu aniversário, ela já tinha esquecido de mim. De novo.

Toda pequena coisinha que nós conquistamos com aquele tratamento de fevereiro foi desaparecendo. Mês por mês. A falta da vida; da família, da rua, da praia, fez com que ela adoecesse mais rápido do que era possível.

Agora, em 2021, é de semana em semana. Em uma, ela mastiga. Na outra, precisa de comida triturada. Na outra, não se lembra mais como engolir a comida.

E daqui pra frente?

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Depoimentos Alex A pandemia na minha cabeça era algo que nunca tinha passado pela minha cabeça, quando eu vi que o negócio era sério foi vê as notícias em que muitas pessoas estavam morrendo na Itália, com toda aquela crise e dias depois aquilo chegou ao Brasil e fomos obrigados a ficar em casa, nas duas primeiras semanas foi tranquilo, mas a ficha caiu e tive um forte crise de ansiedade, passou pela minha cabeça que estava com a covid, mas depois de uma semana mal fui ao médico e lá constatei a minha pressão alterada, depois que tive esse atendimento passei a acompanhar a minha pressão e descobri uma hipertensão e passei a ter seções de terapia, algo que me ajudou muito a superar a ansiedade, algo que hoje consigo lidar melhor, agora que sei o que tenho é muito mais fácil lidar.

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Depoimentos Rayssa Quando tudo parou, estava na segunda semana de aula e confesso que achei que seriam só 15 dias. Depois quando as coisas foram se mostrando diferentes, eu comecei a ficar louca e até hoje é o que eu faço das 7h da manhã até as 22h: Ficar louca. Tentei Cinema na federal por 3 anos e quando consegui, fiz um período e a pandemia iniciou logo no meu segundo período. E eu que já me sentia atrasada mais do que todas as pessoas que concluíram o ensino médio comigo, me senti ainda pior passando mais um ano parada. No início eu tentei relutar, pensar positivo, mas o tempo só fazia as coisas piorarem. Vi meus amigos trancando a faculdade, voltando pros estados deles e ficava cada vez mais preocupada. Várias vezes por dia penso com que idade vou conseguir terminar. Filha de pais separados, nem meu pai nem a família dele entendem que não posso visitá-los, pois além de terem comorbidades, vários se aglomeram em confraternizações. Alguns amigos julgam eu não querer sair. Meu namoro antes da pandemia tenta resistir a era digital do namoro.

Não consigo dar jeito numa gastrite desde o início do ano entre uma teleconsulta e outra. É óbvio, o estômago sente. E pra complementar, tenho medo de ir fazer as minhas fotografias e estou sem ganhar meu dinheirinho que já era difícil ganhar. Tenho feito terapia e tentando lidar com tudo isso. Eu só penso o como eu quero sair viva dessa... Mesmo surtando 50 vezes por dia, afinal quem tá pleno nessa situação tem o mesmo potencial psicopata de quem mistura macarrão e arroz.

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Depoimentos Marina A Pandemia veio como uma faca de dois gumes aonde muito se aprendeu e muito se perdeu, "perdi" um ano de curso universitário, de trabalho, de conquistas e ganhei um ano de aproximação com minha família, um ano de aproximação com Deus e um ano de aproximação comigo. Aprendi a olhar para dentro, para me permitir sentir os sentimentos que apareciam porquê eles faziam parte de mim e agora faziam parte da minha história nesse período.

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Depoimentos Brenda Tudo começou quando passei alguns meses em "cativeiro", por assim dizer. Logo após as primeiras mortes, eu e meus pais decidimos nos resguardar em um chalé isolado no interior. Foram tempos difíceis, principalmente o início. A adaptação aos modelos online, inscrições em inúmeras palestras e cursos para manter o ritmo da "produtividade", pois todos acreditávamos que a faculdade iria retornar em breve. Depois de um mês, eu percebi que mal via meus pais. Percebi que a quantidade de mortos só aumentava, e o que eu mais estava preocupada era adiantar certas matérias para não perder tempo.

A partir dessa epifania sobre a vida e morte, deixei tudo que estava fazendo. Comecei a pintar e descobri um potencial de talento, um lugar que não cobrava nada de mim, e ainda por cima me proporcionava madrugadas de puro ócio. Voltei a ter 8 anos de idade. Foram momentos de reflexão, de compaixão com minha alma e corpo, de perdão para com todas as pessoas que me magoaram, e também para comigo. Todo pensamento acerca de como a vida nos carrega sem tempo de descanso resultou em uma decisão precipitada de mudança de Estado, no intuito de ficar mais perto da família, um bem extremamente precioso que só pude enxergar melhor dentro da convivência intensa dentro do chalezinho. Em agosto, com o início do semestre suplementar, retornei para Recife e para o ambiente pandêmico. Recebi uma mensagem inesperada, de alguém que eu guardei muitas mágoas, mas que assim como eu, pensou bastante na nossa história e suponho que a pandemia também o afetou nesse lado mais reflexivo que temos em nós. Na época foi um reencontro de paz e amor dentro de um cenário caótico.

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Depoimentos Mas a realidade da mudança de Recife para Natal bateu. Deixei para trás, arrasada, alguém que nunca vou esquecer. O cenário pandêmico que causou o reencontro também foi o mesmo que o destruiu. A dúvida de um possível lockdown, as mortes subindo novamente, a faculdade sobrecarregando, o medo de nunca mais voltar e deixar um amor inacabado na cidade das Pontes e Overdrivers. Admito que enlouqueci; machuquei quem eu mais amei com palavras que não refletiam a realidade, mas apenas feridas de ansiedade; comecei a achar que a solidão era meu destino mais próximo. Como em um ano tanta coisa aconteceu sem sair de casa? Como, agora no tempo presente vivendo em outra cidade, eu vou ser capaz de me adaptar a novas amizades, novas histórias, se os dias estão presos num eterno repeat?. O passado me distrai do presente enquanto espero um futuro.

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Depoimentos Eduarda Quando a pandemia do novo coronavírus iniciou no Brasil, mais especificamente aqui no estado de Pernambuco eu tinha acabado de conseguir meu primeiro emprego, ironicamente num jornal, que mais na frente foi o grande aliado da população para este período conturbado.

Lembro muito bem quando recebi uma notificação no meu celular de quando a OMS havia determinado pandemia, que até então era epidemia. A redação recebeu a notícia num impacto só, com todos correndo para que pudessem alertar aqueles que ainda menosprezavam o vírus.

Foi estranha a sensação de ver os dois lados da moeda. Mas muito fortalecedora pra mim. Obviamente que perdi fases importantes da vida que foram adiadas ou canceladas por causa do coronavírus, como não conseguir terminar meu último ano da faculdade presencialmente, não ter direito a um TCC digno. Eu também não pude vivenciar ativamente o que era trabalhar no jornalismo, porque muitas das vezes estávamos trabalhando de casa por causa do alto risco de contaminação.

Eu tive problemas como qualquer outra pessoa. O uso das máscaras, cuidado redobrado ao chegar em casa na higienização, o que era bem chato. Álcool em gel em tudo que era lugar. O que me manteve mais tranquila foi poder tranquilizar também a população. Eu ainda não consigo tirar uma lição deste período, mas sei que pelo menos histórias para contar eu terei.

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Depoimentos Polyana A pandemia em si, destruiu a minha vida e foi tudo muito assustador.

Bem, no início de 2020 meu pai foi diagnosticado com câncer, em março de 2020 começou a ser socorrido e no dia 13 de março fez uma cirurgia de urgência e desde então ficou na UTI em estado grave, por causa da pandemia eu e minha família (mãe e irmã) ficamos impossibilitados de ir visitar meu pai, só tínhamos notícias através de telefone e isso foi muito difícil pois meu pai estava nos seus últimos dias de vida e a pandemia não permitiu passar esse tempo com ele.

Em 26 de abril de 2020 os profissionais suspeitaram que ele estava com covid e levaram ele para o isolamento e no dia 27 ele faleceu. Foi tudo muito triste pois não tivemos direito de nos despedir, não tivemos como fazer um velório com família e amigos, ver ele dentro de um saco preto foi uma das piores cenas da minha vida.

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Depoimentos Ana No início, entrei numa paranóia infernal, e até desenvolvi psoríase. Meu corpo reagiu de uma maneira que foi muito difícil, porque não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, e tinha medo de ir ao médico.

Meu trabalho é autônomo e parou totalmente. Entrei um pouco em desespero porque meu filho tem asma, então minha cabeça contribuiu muito para minha pele explodir dessa forma. Essa foi a pior coisa que me afetou na pandemia porque tive que me virar para conhecer e entender o que estava acontecendo comigo. Sou manicure, já fazem 33 anos. Sou casada já fazem 24 anos, mãe de um casal, e avó de um menino de 6 anos que está conosco e uma menina de 1 ano e meio que está no céu. Agora vou ser avó novamente, pois minha filha está grávida. Estamos esperando que Deus faça tudo dar certo para nossa alegria. Sou muito católica e acredito na minha Fé. Só assim consigo superar tudo que me acontece.

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Depoimentos Williane No início eu não soube muito o que fazer além de ficar atenta às informações e ao progresso da contaminação. Com o tempo, muita informação me deixou paranóica. Demorei para entender que não tinha controle sobre o comportamento das outras pessoas. Foi devastador perceber que a vida de outros seres estava nas mãos de uma sociedade que não costuma se importar muito com o outro. Como as aulas estavam suspensas, procurei atividades novas para me ocupar. Alguns meses passaram rápido, alguns pareciam nunca terminar. Cortei o cabelo, testei maquiagem, comecei a pintar - e descobri que sou ótima nisso. Gravei vídeos de momentos bons e áudios do que se passava na minha cabeça.

2020 foi um momento de perceber com bastante intensidade tudo que existe ao meu redor. Eu já sou uma pessoa caseira, mas ser proibida de ter contato humano me quebrou mais do que eu esperava. Rotinas que antes eram cansativas começaram a fazer falta. A correria que antes me deixava ativa e energética havia se dissipado. Logo tive que me adaptar ao ensino remoto e tentar tirar algo de bom disso também. Eu e minha família nos contaminamos em maio; felizmente, todos os casos foram leves.

Meus sintomas foram os mais fracos no início, nas duas semanas seguintes fiquei sem olfato e paladar. Eu estava grata por não ter piorado, porém o desespero de pensar que aquilo nunca passaria surgia de vez em quando.

Alguns meses depois cheguei ao ponto mais baixo da minha depressão, esse também foi um tópico em que precisei trabalhar com paciência para me recuperar e seguir em frente. Atualmente não estou tão paranóica.

Parei de ver os noticiários com frequência, parei de ler as estatísticas. Os cuidados se tornaram parte da minha rotina, mas não são obsessivos como há um ano. A gratidão pela saúde da minha família agora se uniu à esperança pela vacina. Depois do que pareceu uma eternidade, finalmente sinto o gosto da expectativa de voltar à faculdade, ver meus amigos de perto e retornar à correria que me fazia sentir viva. Mesmo que para isso sejam necessárias algumas restrições.

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Depoimentos Henrique Primeiramente o emocional e psicológico foram muito abalados, para alguém que como eu gosta de estar sempre fora de casa e em contato com o público, ficar em casa 24 horas é um verdadeiro terror. A única atividade que cabia era o trabalho, e o trabalho, neste momento, era uma gigantesca fonte de estresse. Vi o meu único refúgio de calma e conforto (minha própria casa) se tornar o local onde eu só tinha problemas. Eu não tinha pra onde ir, as paredes da minha própria casa refletiam os problemas irresolvíveis dos meus clientes. Além disso, o financeiro também ruiu. Em um setor onde em média 30% da renda provém da comissão de vendas, não vender nada significa falência. Não ter recursos para manter os planos de vida, muitos já em andamento, é terrível e nos faz passar por situações extremamente desconfortáveis.

Na sequência os decretos governamentais ordenaram o fechamento de nossas lojas, mas precisávamos manter os atendimentos. Com tantas incertezas e a parte financeira das empresas ruindo, o quadro de funcionários reduziu drasticamente. Passamos de vendedores para resolutores de problemas. Em home office, no conforto das nossas casas éramos obrigados a ouvir gritos e desabafos de clientes impacientes, confusos e inconformados. As medidas provisórias lançadas pelos governos não previam reembolsos imediatos, claro, para não acabar de vez com o setor que já estava tão abalado, mas e o lado dos consumidores que na maioria também estavam financeiramente abalados? Nosso setor estava no meio disso tudo e quem absorveu todo impacto fomos nós que estávamos à frente no atendimento, uma demanda gigantesca de problemas que não tinham soluções imediatas.

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Depoimentos Particularmente eu sempre consegui lidar muito bem com os problemas dos clientes, lidei com muita clareza para resolver tudo da melhor forma, mas neste momento foi inevitável não absorver cada dor, cada choro.

Tínhamos clientes "presos" em países que sequer falavam a língua, estavam ficando sem dinheiro para se alimentar, os hotéis não queriam estender as diárias, não haviam voos de repatriação. Passageiros obrigados a realizar quarentenas isoladas em locais que não conheciam longe de qualquer parente. Clientes com parentes internados em estado grave sem poder sequer pegar um voo para se despedir. Em diversos momentos realizamos ligações para informar clientes da situação de sua viagem ou créditos de viagens e tivemos que ouvir: "Fulano faleceu, meu querido". Em diversos momentos tivemos nosso trabalho colocado em cheque por clientes que, confusos, acreditavam que era nossa competência manter os serviços turísticos funcionando. Eles mal sabiam que o que mais queríamos era que tudo estivesse realmente funcionando e o sonho de cada cliente estivesse sendo realizado da forma mais perfeita possível.

Como o passar do tempo e as informações sendo mais claras sobre tudo, as pessoas passaram a entender melhor nosso trabalho, começamos a ter um pouco mais de estabilidade emocional tanto do nosso lado quanto do nosso público, mas infelizmente a parte financeira para quem trabalha com vendas e turismo ainda está um pouco distante de se normalizar, porém, mantemos as esperanças em nosso setor e desejo de coração que em breve o mundo todo possa voar e voltar a sonhar novamente.

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Matheus

Depoimentos

A pandemia me ensinou o quanto o sistema capitalista é frágil e a mão de obra dos trabalhadores é tudo o que sustenta esse sistema. E infelizmente, somos bastantes vulneráveis como seres humanos individualistas que não se unem nem diante de uma tragédia. Individualmente, aprendi a não surtar vendo tudo isso, organizando minhas tarefas como forma de manter a mente ativa, e a construir um projeto de vida a longo prazo, onde eu contribuo um pouquinho a cada dia, sem esperar resultados imediatos. E isso funcionou.

Me chamo Matheus, sou agente de viagens, e estava nos meus primeiros meses em uma grande agência quando as vendas começaram a diminuir, e as reclamações começaram a aumentar. Por ser um vendedor, acalmava meus clientes dizendo que o vírus era algo distante, como o Ebola, e que não afetaria suas viagens. No dia 4 de março, um cruzeiro de travessia transatlântica entre Recife e Lisboa partiu com vários clientes da nossa agência, que passariam 15 dias isolados do mundo, sem internet, e sem ter noção do que aquela pandemia havia se tornado. Durante essas duas semanas, nossos dias se tornaram um verdadeiro inferno, com todas as pessoas vindo cancelar os pacotes, fazendo confusão, gritando, querendo descontar na gente toda a frustração e o medo do que estava por vir.

Trabalhar naquele momento era como estar em uma guerra, e por ser o mais inexperiente, parecia que eu estava desarmado.

Um dia, enquanto almoçava nas pressas no nosso escritório no segundo andar, ouvi no rádio um plantão que dizia que o coronavírus estava classificado como pandemia pela OMS. Eu parei tudo que estava fazendo, engoli seco e olhei pra minha colega do lado, que sabia exatamente o que aquilo significava.

Todas as regras contratuais estavam "nulas", ninguém havia previsto uma pandemia antes de escrever os contratos de viagens.

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Depoimentos Não demorou muito e os telefones começaram a tocar absurdamente, as pessoas fizeram filas enormes na frente da agência e a gente não sabia ao certo o que fazer. Os dias eram absurdamente exaustivos e pareciam um looping infinito, e pioraria mil vezes mais quando os passageiros do cruzeiro de travessia para Lisboa desembarcaram na Espanha, por que o navio foi proibido de atracar em Portugal. Nossos clientes estavam em pânico e não paravam de telefonar querendo entender o que estava acontecendo.

Eles tiveram que embarcar em comboios de ônibus direto para o Aeroporto para retornar o mais rápido possível. Muitos não acreditavam na gravidade da pandemia e não quiseram voltar. As fronteiras fecharam, e de repente éramos responsáveis por todas aquelas pessoas que estavam presas na europa, sem ouvir nossas orientações, e sem entender que a situação era urgente. Após uma imensa luta, conseguimos dia a dia repatriar os brasileiros que estavam presos em diferentes países do mundo, e tentar resolver os casos de cancelamentos de viagens de pessoas que estavam prestes a embarcar, até que no dia 30 de março, recebemos a notícia de que a cidade entraria em um lockdown e o shopping em que trabalhávamos fecharia por tempo indeterminado. 10 dias depois, eu estava sendo demitido.

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Geórgia

Depoimentos

[Lidei] de maneira muito mais radical. Confesso que mesmo dando a real dimensão ao problema, desde a primeira notícia, sofri muito mais do que imaginava com a tensão de observar o rápido crescimento do número de pessoas atingidas e que, infelizmente, tão tragicamente morreram. Este problema afetou não apenas a rotina de vida, mas o convívio com as pessoas que amo. O trabalho sofreu inúmeras alterações. Sofri e ainda.sofro em saber quantas famílias foram atingidas e, pior, quantas vidas poderiam ter sido poupadas se não houvesse descaso das autoridades brasileiras. A dor e a revolta permanecem. Perdi minha irmã e grandes amigos. Mesmo que sofressem por outras comorbidades, tenho certeza que acelerou a partida. Fiquei em quarentena severa de março a junho. Voltei a sair porque meu trabalho exigiu. Com todos os cuidados necessários passamos a viver uma espécie de cenário de filme de ficção.

Houve ganho no caso da escola pública que foi a implantação do ensino remotoalunos em sala. E parece que a Pandemia vai exigir um número mais efetivo de políticas públicas que diminuam disparidades de acesso a equipamentos. Outro ganho foi o tempo suficiente para escrever um livro que traz a temática de certa forma.

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Depoimentos Ana Beatriz Nos primeiros dias que foi decretado o lockdown no Brasil, fielmente acreditei que seriam poucos dias, que logo logo tudo estaria resolvido.

Tinha uma noção da gravidade, mas com as expectativas passadas pelos meios de comunicação, me apeguei ao fato de que seria um momento rápido da nossa história. Quando os dias foram se prolongando, as coisas fechando, os casos aumentando exponencialmente, as festividades sendo canceladas, a quarentena chegou de fato a me assustar. Sempre fui uma pessoa muito de contato, como a maioria dos brasileiros, sempre gostei de sorrir, de abraçar, de estar junto, de rotina sociável, e de repente me deparo com algo que me priva de tudo isso. Entrei em conflito com as minhas questões e com o medo eminente que esse vírus nos deixou.

Em contrapartida dos conflitos, tive tempo de olhar para mim, viver projetos adormecidos, compreender minha capacidade de ser resiliente em situações que pensei ser o fim, me dediquei a lugares que sempre estive superficialmente e por conseguinte me abri a possibilidades antes não exploradas. Toda essa situação me trouxe pontos antagônicos do tipo: aprendizados indispensáveis e profundas angústias, e com isso eu me refaço e me reconstruo a cada dia. Coisas que jamais pensaria fui capaz de acessar. Posso pensar que foram momentos fundamentais em minha construção enquanto ser, logicamente olhando do ponto de vista de quem já passou pelos momentos mais difíceis.

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Depoimentos Tiago Como professor minha rotina mudou bastante, aulas presenciais e interação com alunos deram lugar a sala virtual com poucos alunos interagindo. Além disso, houve uma necessidade de adaptação ao ambiente virtual com ferramentas novas e alunos pouco motivados a trocar a cama pela rotina de estudos. Talvez a maior dificuldade tenha sido lidar com tantas incertezas e medo que trouxeram uma ansiedade quase semanal.

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Depoimentos Bruna Durante esses dias em casa, vivi pontos negativos, bem como positivos.

Procurei descansar a mente ao máximo, enquanto busquei a prática de exercícios em casa com o auxílio dos vídeos no YouTube e foi exatamente o que eu precisava. Com isso, comecei a me alimentar melhor, dormir melhor e criar ânimo para conseguir estudar em meio ao caos que estava/está ocorrendo no mundo.

No entanto, os efeitos colaterais da pandemia foram o isolamento e alguns conflitos familiares, tendo em vista que não era possível sair de casa, devido ao medo da doença. Ademais, a preocupação junto a saudade da normalidade, me fez pensar o quanto a vida era boa e eu não percebia.

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Depoimentos Adrienne Além de escritora sou trabalhadora do SUS, a pandemia nos trouxe estresse adicional ao trabalho pela demanda extra e urgente, morte de amigos, companheiros de função, além de ficarmos com férias e feriados suspensos por vários meses em 2020.

Em outro âmbito, tem sido triste acompanhar a maneira irresponsável como boa parte da sociedade encara a pandemia. Acredito que para nós, que fomos obrigados a manter o trabalho e sair diariamente a decepção com os rumos da humanidade seja inevitável. Esse é o aspecto que afeta de forma direta meu trabalho na escrita.

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Depoimentos Malva Depende muito do ponto de vista; por um lado me aproximei mais da minha família, passei mais tempo dedicado ao meu relacionamento familiar, coisa que antes da pandemia eu não valorizava tanto, tive mais tempo pra entender que tô ficando adulto (por mais que não pareça de rosto). e também por outro lado tive mais crises de ansiedade, passei mais tento nas redes sociais olhando a vida “perfeita” dos outros e depreciando a minha. me cobrava mais afinal o tempo estava passando eu eu não evoluía nada! na verdade eu sempre pensei isso só que nesses dias eu fiquei sem oportunidade de ocupar minha mente com outras coisas então esse ponto veio com uma intensidade e até hoje eu sinto isso muito! fora o fato de ter perdido pessoas conhecidas devido a isso! viver um ato historio, que mudou TODO MUNDO e que durante meses quiçá anos pode custar pra tudo voltar ao “normal” mudou a vida de muitas pessoas, direta ou indiretamente! fico feliz pelo aprendizado e lamento as cicatrizes!

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Depoimentos Milena Antes de iniciar a pandemia eu já estava organizando meu casamento. Precisei adiar um pouco para não abrir mão de pessoas importantes nesse dia especial. Mesmo realizando o casamento em outra data, várias medidas precisarão ser tomadas, diferente do que ocorria antes da pandemia, exemplo: mesas separadas por grupos familiares, maior distanciamento entre mesas e cadeiras, contato limitado com os convidados, etc.

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Depoimentos Natália O impacto da pandemia na minha vida foi sentido em vários âmbitos.

Iniciei o ano de 2020 com muitos projetos, visto que, esse seria o ano em que eu iria concluir minha graduação e adquirir novas experiências no estágio. Porém com o distanciamento social necessário, muitas coisas foram para segundo plano e as experiências ficaram limitadas e eu tive que me adaptar a essa nova realidade.

As relações interpessoais também foram fortemente afetadas. Estou a mais de um ano sem contato com as pessoas que fazem parte do meu círculo de amizade, todas as interações acontecem online e eu sinto falta da minha antiga vivência, porém compreendo a gravidade da pandemia que estamos passando e acho o distanciamento social extremamente necessário. Além disso, afetou também a minha saúde mental e na esperança de suprir algumas faltas, desenvolvi hábitos que antes não possuía, como consumir mais bebidas alcoólicas, que antes era um hábito limitado a eventos sociais.

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Depoimentos Rodrigo Afetou radicalmente e em muitos aspectos. Minhas três filhas passaram um ano inteiro em regime de estudo remoto. Passei a fazer compras por aplicativos. Não fiz um check-up anual O que é uma rotina há mais de duas décadas. Abandonei completamente bares e restaurantes. Cinema, nem pensar. Toda a ideia de diversão mudou, e os formatos de trabalho também mudaram. Tenho uma empregada e passei a pagar Uber para ela se locomover.

Sou professor universitário da UFPE. Tenho 48 anos, dando aulas e pesquisando ha pelo menos 18 deles. Sou jornalista por formação, tendo atuado como repórter e crítico de cinema durante 15 anos. Tenho três filhas.

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Depoimentos Laryssa Bem, logo no início não senti tanto impacto com a mudança de vida. O fato de ter que ficar em casa parecia até mesmo atrativo (mal sabia eu o que me aguardava). Ao longo da quarentena, permaneci bem, mediante ao avanço da situação. Comecei a experimentar aulas EaD, o que achei que seria muito melhor do que estudar presencialmente, porém, não foi bem assim na realidade.

Em relação ao meu psicológico, acredito que consegui resistir bem, tive alguns momentos de saudade da minha rotina, onde dizia "Quero minha vida de volta", mas nada muito extremista. A convivência familiar é o fator mais incômodo para mim, pois não é fácil ficar trancafiada em casa com mais três pessoas, mesmo estas sendo sua família. Ademais, minha vida segue bem, procuro focar em novas coisas todos os dias, distrair, e ter muita paciência.

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Depoimentos Victor De maneira direta, posso dizer com certeza que ela agravou minha ansiedade. Já vinha sofrendo com ela e estava piorando antes mesmo da pandemia começar, mas com o tempo passando isolado de volta à casa de minha mãe, sem privacidade alguma pelo espaço pequeno, não conseguia ter um canto só para mim e ficar totalmente à vontade. Fora que a situação do país piorou muito com o passar dos meses e com mais de um ano de pandemia, a situação está bem séria pelo lado da saúde e economia, uma vez que o governo é totalmente precário, com isso fiquei bem mais preocupado com tudo ao redor.

Além disso, com a pandemia, meus estudos atrasaram, bem como o planejamento que tinha para me formar e arrumar trabalho, o que me deixou bem chateado e me senti perdido, por não saber quando essa pandemia irá terminar. E também passei um bom tempo sem me exercitar, por respeitar a quarentena e não sair de maneira alguma de casa.

Infelizmente, de maneira geral, a pandemia afetou bem negativamente minha vida, mas ainda consegui uma e outra coisa boa, como ter mais tempo para estudar softwares e até passar mais tempo com minha sobrinha que ficou comigo por 3 meses.

Sou um estudante de Cinema e Audiovisual da UFPE que saiu de Alagoas para tentar uma nova vida. Sou um aspirante a artista de foley, pessoa que é responsável em reproduzir certos ruídos sonoros, como sons de passos, água da chuva, talheres e por aí vai. Gosto também de jogos eletrônicos no geral, pensando até mesmo em trabalhar nessa área aqui no Brasil com som. Quem sabe um dia até mesmo vire professor da área de som.

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Depoimentos Maria Eduarda No início eu tava em uma vibe bem negativa, sem imaginar como seria os próximos dias, meses... me encontrei, inclusive, em uma encruzilhada sobre o curso que eu estava fazendo. Dentro de um processo de autoconhecimento, escolhi trancar o curso anterior e fazer o que meu coração, mente e alma estavam desejando. A pandemia está sendo bem complexa e conturbada, com muitos altos e baixos. Hoje, consigo enxergar muitas coisas que não tinha clareza antes, como também o que me deixa aflita e mal. Para mim está sendo um período de grande autoconhecimento, de mergulhar em si mesmo, de dar uma chance em viajarmos para dentro de si. Tá sendo intenso, desafiador e MUITO intrigante.

Existem pessoas que se definem e se apresentam pelo que faz, com o que trabalha, o que já fez ou o próximo passo. Costumo dizer que todos nós viemos ao mundo e seremos lembrados, alguns mais e outros menos.

Eu serei a pessoa que impactarei muita gente nesse mundo, com o que vivo, o que aprendo dia a dia com as pessoas mais diversas, o tanto de laços que construo dia após dia. Isso tudo por acreditar que pessoas são o início e o fim de tudo. Nascemos precisando de alguém e morremos da mesma forma. No último suspiro, o que mais queremos é alguém ali, ao nosso lado. Sou Eduarda França, a pessoa que está fazendo psicologia, que já vivenciou muitas batalhas, assim como cada ser humano existente na atualidade, e que vai levar conhecimento, consciência, transformação para muitos lares, mediante auditórios. Até breve.

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Depoimentos Gabriela A pandemia me fez refletir e evoluir muito quanto ser humano. A loucura da nossa rotina às vezes não permite que façamos análises desse tipo, quanto a questões pessoais e até mesmo sociais. Sendo esse, o lado positivo da pandemia, ter me permitido evoluir nessa esfera.

Contudo, a pandemia também me afetou muito economicamente e psicologicamente. Podendo afirmar que, de longe, os problemas psicológicos vieram a me prejudicar muito mais, inclusive tornando-se permanentes. De qualquer forma, a pandemia para mim teve um lado positivo, onde pude crescer e amadurecer, e um negativo, onde tive que lidar com problemas que me afligem até os dias de hoje.

Meu nome é Gabriela Maia, tenho 20 anos, trabalho como estagiária, faço curso pré-vestibular, curso profissionalizante e estou na metade do curso de ciências biológicas - licenciatura na Universidade Federal de Pernambuco, gosto de animais (alguns), sou libriana e por isso faço tantos cursos (kkk).

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Depoimentos Pamella A pandemia se instalou em um momento muito importante da minha vida. Segundo período da faculdade de Psicologia, meu tão sonhado curso, tinha conseguido passar em Inglês e Libras, agenda cheia, batalhando hoje para num futuro descansar. Pois bem, um vírus novo chega, obriga a Universidade a manter aulas remotas, inglês e libras? AH, aí já era, paralisação total, mas, em contrapartida, houve um afrouxamento das relações familiares. Convivência, diálogo, às vezes cansaço mas, ainda assim, pudemos aprender muita coisa juntos.

Em outubro de 2020 minha querida mãe veio a falecer, não por covid, mas por insuficiência cardio respiratória. Confesso que se a minha rotina estivesse tão corrida quanto antes do início da pandemia, teria poucas lembranças e registros dela, mas, devido a isso, pude passar muito mais tempo com ela, cuidar, brincar, celebrar em casa mesmo e, de todo modo, deixá-la partir. O difícil foi passar o luto tão confinada quanto mas, recebi afeto dos mais diversos lados e energias que são imensuráveis, só quem crê, entenderá. Por fim, ainda nesse cenário atípico continuo a minha jornada, tentando dia após dia, levando os ensinamentos, continuando a afrouxar os laços com os que ficaram e me deixando sentir quando a saudade bate mais forte.

Me chamo Pamella Hewelyn, carinhosamente apelidada por Pam. Sou estudante de Psicologia, mãe de pet, sonhadora. Curso inglês por não pretender parar na graduação e libras porque me pergunto como está a saúde mental das pessoas surdas? Quem cuida delas? Por que libras não é uma disciplina base? Sou uma defensora das causas sociais, como mulher preta, é evidente que o racismo me atravessa em diversas questões e estou aqui para não deixar em vão o que os meus ancestrais sangraram.

Amo me exercitar, dançar e curtir os momentos singulares da vida, e por fim mas, não menos importante, carrego comigo o mantra de que: vai dar certo!

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Agradecimentos Este livro só foi possível graças à Universidade Federal de Pernambuco, que me instigou a pensar os impactos da pandemia na vida da sociedade como um todo. Agradeço aos meus orientadores Cristina Teixeira e Talles Colatino, que acompanharam o longo processo de criação deste livro.

Agradeço ainda mais a Mariene Souza, minha parceira de todas as horas quando começamos a desenvolver as ilustrações, que sempre se dispunha a dar o seu melhor independente da situação.

Mare fez um lindo trabalho, cada desenho mostrou exatamente o que eu imaginava.

Por último e não menos importante, agradeço a todas as pessoas que compartilharam um pouco de suas vivências. Cada depoimento foi incrivelmente importante para mim e para quem leu este livro, e cada história me tocou de forma profunda.

Muito obrigada!

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