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Centro Brasil-Itália de Botucatu

"O Centro Brasil-Itália, de Botucatu, fundado em 1º de setembro de 1974, sucedeu a "Societá italiana di Beneficenza - Casa D´Itália", a qual sucedeu as sociedades "Croce Di Savoia" e "Pró-Pátria", as quais, por sua vez, sucederam a primitiva "Societá Croce Di Savoia", esta fundada no ano de 1866."

O empreendedorismo dos imigrantes italianos

Com o destaque ao lado, procuramos mostrar a representatividade da Colônia Italiana para a cidade de Botucatu Leia Editorial à página2

Achegas para a História de Botucatu - Hernâni Donato

EDITORIAL Diário da Cuesta

Com o destaque da capa, procuramos mostrar a importância e a representatividade da colônia italiana para a cidade de Botucatu. Essa abertura da capa traz um texto, parte integrante do livro “As Boiadas Passam... As Lembranças Ficam”, de Agostinho Minicucci, com ilustrações de Benedito Vinicio Aloise, mostra bem a união, a alegria e os sonhos daqueles que estavam literalmente construindo uma cidade, uma comunidade, uma nova Pátria.

A publicação da revista Peabiru referente a imigração dos italianos para Botucatu foi muito importante, eis que a Peabiru após ter promovido a divulgação de como fora a presença dos Americanos, dos Belgas e dos Japoneses em nossa cidade, não poderia deixar de abordar, com detalhes e crônicas resgatadas de nossa imprensa, sobre a extraordinária presença dos Italianos na construção de Botucatu. Desde o nosso 1º Ciclo Industrial fruto dos pioneiros imigrantes, até as mais diversas formas de expressão de nossa comunidade, quer nas artes, na imprensa, na saúde

ou na área financeira.

Sem exagero, esperamos que a publicação da revista Peabiru nº 09 que estamos reproduzindo e destacando passe a integrar o rol das obras indispensáveis para a compreensão da história da cidade de Botucatu. Foi um trabalho de peso. Contamos com a colaboração de muitos. O precioso Acervo Histórico do Centro Cultural de Botucatu esteve à nossa disposição, além da colaboração de particulares que cederam fotos, dados e informações para que pudessemos reconstituir a saga dos pioneiros imigrantes em nosso município.

Particularmente, os nossos agradecimentos ao então presidente do Centro Brasil-Itália e saudoso representante consular da Itália em Botucatu, Dr. Domingos Scarpelini, pela valiosa colaboração prestada a essa edição histórica da revista Peabiru em homenagem à Colônia Italiana de Botucatu.

A DIREÇÃO

EXPEDIENTE

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

Contato@diariodacuesta com br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

Os Pioneiros da Industrialização em Botucatu: Os Imigrantes Italianos

3º CICLO INDUSTRIAL

Uma nova realidade sócio-econômica a nível nacional e uma outra cidade de Botucatu, progressista e universitária, representam o cenário do novo ciclo industrial que vivemos.

Para poder abranger todo o desenvolvimento industrial de Botucatu, além da pesquisa entre nossos historiadores (“Achegas para a História de Botucatu”, de Hernâni Donato e “No Velho Botucatu”, de Sebastião de Almeida Pinto), buscamos os depoimentos de botucatuenses que vivenciaram e até mesmo participaram do processo de industrialização da cidade e fizemos pormenorizada pesquisa nos jornais antigos (Folha de Botucatu e Correio de Botucatu) a que tivemos acesso e, especialmente, nos dois

Com início praticamente nos anos 70, somente agora podemos sentir, em toda a sua plenitude, a grandiosidade deste novo período industrial.

ALMANAQUES DE BOTUCATU: o primeiro, “Almanack de Botucatu”, de 1920 e, o outro, o “Almanaque Cultural de Botucatu”, de 2000, fontes de referência da história de Botucatu.

Na 2ª. edição do livro “Memórias de Botucatu I”, de 1995, no capítulo “Ciclos Industriais” e na revista Peabiru, nº 09, de maio/junho/1998, no artigo “Os Pioneiros da Industrialização em Botucatu: Os Imigrantes Italianos”, já preparávamos a estrutura desta matéria

Do trabalho publicado no livro “Memórias de Botucatu” sobre os CICLOS INDUSTRIAIS, fizemos a divisão do desenvolvimento industrial do município em três ciclos: o 1º Ciclo Industrial, indo de 1890 a 1930; o 2º Ciclo Industrial, após o período depressivo da economia com a crise de 1930 que arruinou muitas industrias locais e perdurou de meados dos anos 50 até quase o final dos anos 60; e o 3º Ciclo Industrial, que estamos vivendo em toda a sua intensidade, iniciou-se praticamente nos anos 70, sendo que começou a ter maior e melhor desempenho de meados dos anos 80 até os dias atuais

1º CICLO INDUSTRIAL

Os pioneiros da industrialização em Botucatu foram os imigrantes. O nosso 1º Ciclo Industrial começou com o início das atividades dos valorosos imigrantes no último decênio do século passado (1890) e veio até a crise econômica de 1929 (arrastando-se até meados dos anos 30) que sacudiu o Brasil e arruinou muitas industrias e estagnou muitas cidades. O escritor botucatuense Hernâni Donato, em seu livro “ACHEGAS”, registra pormenorizadamente a atuação dos imigrantes no início da industrialização e, ao depois, na consolidação e ampliação de nosso parque industrial No “Achegas”, os nomes dos pioneiros imigrantes que se encarregaram de abrir com ousadia o caminho: Petrarca Bacchi, Virgínio Lunardi, Aleixo Varoli, Atílio Losi, Pedro Delmanto, Pedro Stefanini, Antônio Michelucci, Adeodato Faconti, João Pescatori, Felipe di Sanctis, Serafim Blasi, Eugênio Monteferrante, Ângelo Milanesi, João Spencieri e Palleóge Guimarães.

A importância do 1º Ciclo Industrial de Botucatu é medido pela grandiosidade do Grupo Industrial de Petrarcha Bacchi e pela diversificada Industrias Lunardi. Em outra realidade sócio-econômica a nível nacional e de uma Botucatu ainda provinciana, as Indústrias Bacchi abrangiam: cerveja, fábrica de gelo, sabão, serraria, máquina de beneficiar café e cereais, massas alimentícias, fiação e fábrica de chapéus Para completar a visão do quadro de então e da «visão» daquele dinâmico e ousado imigrante, basta dizer que construiu uma Usina Hidrelétrica para «tocar» as suas industrias, chegando a fornecer energia elétrica à cidade de Botucatu em bem sucedida concorrência à Companhia Paulista de Força e Luz. Se isso não bastasse, abriu Escolas e contratou Professores para alfabetizar seus funcionários e educar os filhos dos trabalhadores de todas as suas indústrias PETRARCA BACCHI traduz bem o espírito dos pioneiros da industrialização em Botucatu

E para ilustrar a grandiosidade desse período industrial é importante mostrar a efetiva liderança política de Botucatu em toda a região. No ano de 1926, a cidade de Botucatu possuía 33.393 habitantes, sendo que a cidade de Bauru possuía 24.369 habitantes! (recenseamento geral de 1920). Hoje, é claro, a realidade é outra: Botucatu possui, em 2010, cerca de 140 mil habitantes, enquanto Bauru já possui mais de 350 mil habitantes

2º CICLO INDUSTRIAL

De meados dos anos 50 até os últimos anos da década de 60 tivemos o nosso 2º Ciclo Industrial. Na verdade, em que pese ter sido um período de expressão modesta em termos econômicos, deixou plantadas algumas sementes que vieram a crescer neste nosso atual 3º Ciclo Industrial: a nossa indústria aeronáutica, a de auto-peças e a de roupas. No setor alimentício, tivemos já no final dos anos 60, a inauguração festiva da CATU - Produtos Alimentícios, do Grupo Martin. Esse grande empreendimento foi uma iniciativa arrojada de Ângelo Martin e seus irmãos que construíram a fábrica ao lado da Rod. Marechal Rondon, local escolhido para a implantação, anos depois, da CAIO, montadora de ônibus urbanos.

Com a OMAREAL tivemos plantada a semente de nossa Indústria Aeronáutica: o Engº Antônio Azevedo instalou, em hangar adaptado, oficina de manutenção de aviões, chegando a projetar e a construir um protótipo que obteve sucesso No entanto, a OMAREAL não vingou Coube a José Carlos Neiva, fabricante de planadores no Rio de Janeiro, atraído à cidade por Azevedo, a incumbência de instalar uma fábrica de aviões: a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda., posteriormente Neiva-Embraer. Em 1956, a Neiva passou a fabricar o PAULISTINHA P-56.

(“Memórias de Botucatu”, 1995)

Alicerçado na presença de grandes complexos industriais, a cidade de Botucatu vive período de grande progresso. As grandes indústrias, de porte internacional, asseguram a estabilidade de nosso 3º Ciclo Industrial. A CAIO - Companhia Americana Industrial de Ônibus é uma das maiores empresas fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo, perdendo somente para uma fábrica estatal da Hungria. Dedicada aos mercados interno e externo, a CAIO exporta 15% de sua produção (produção média de 16 ônibus diários) A fábrica da DURATEX, pertence ao poderoso conglomerado do Banco Itaú, praticamente é voltada para a exportação, tendo conquistado e dominado o mercado europeu pela alta qualidade de seus produtos (hoje, a EUCATEX assumiu o setor industrial da Duratex). A STAROUP, fábrica de jeans, após conquistar o mercado interno, chegou a ganhar o mercado externo, partindo para produção nos EUA, Portugal e URSS. A HIDROPLÁS E BRAS-HIDRO, atuando no ramo de fibra de vidro, gozaram de grande prestígio a nível nacional e internacional. A NEIVA-EMBRAER dispensa comentários, sendo certo que a qualidade de suas aeronaves engrandecem o Brasil. E a MOLD-MIX garante segura posição no mercado, com a alta tecnologia de seus produtos

Na verdade, as grandes industrias garantem às pequenas e médias indústrias a necessária estabilidade para o desenvolvimento de suas potencialidades, através de uma entidade representativa forte e prestigiada a nível estadual e nacional.

Cidade universitária, com boa estrutura de serviços, abrigou muitas indústrias, todas de especial importância para o município e região, mas com destaque para as grandes industrias, com ramificações e mercados a nível nacional e internacional.

Daí o destaque dado à CAIO, IRZAR, DURATEX, EUCATEX, NEIVA-EMBRAER, STAROUP, HlDROPLÁS, BRAS-HIDRO e MOLD-MIX.

Mais de 10 mil trabalhadores na indústria botucatuense Déficit habitacional Um desafio

Um desafio que encontra perspectivas no futuro.

Um desafio que encontra uma classe patronal consciente, dinâmica e moderna.

O CONJUNTO EDUCACIONAL, ASSISTENCIAL E ESPORTIVO DO SESI e a sede regional da Delegacia do CIESP são prova disso

A nova classe dirigente patronal de Botucatu está credenciada a enfrentar e vencer esses desafios.

No entanto, como bem mostrou matéria publicada na revista Peabiru, nº 26, de setembro/ outubro/2008, é preciso ousadia e a participação positiva do Poder Público para que possamos vencer o alto déficit habitacional:

“...Com a construção da COHAB 1- Conjunto Habitacional “Humberto Popolo”, o Prefeito Lico Silveira conseguia o grande feito de trazer para Botucatu um conjunto residencial popular MAIOR que muitos municípios vizinhos ( Bofete, Conchas, Itatinga, Pardinho). É de justiça destacar a colaboração efetiva da Câmara Municipal para o sucesso desse empreendimento. Na atualidade, o Poder Público em parceria com a iniciativa privada tem dotado Botucatu de conjuntos habitacionais que estão reduzindo o déficit habitacional do município.

“A Industrialização em Botucatu” objetiva a que a nossa cidade encontre o seu lugar de destaque no mais desenvolvido Estado brasileiro e que os jovens empresários que comandam o seu presente possam lhe trazer o progresso, a justiça social e o prestígio que no passado, em seu 1º Ciclo Industrial, lhes foram assegurados pelos imigrantes pioneiros (AMD).

Obs.: Como todo este trabalho está baseado em matérias publicadas em 1995, destacamos que, atualmente, mais duas grandes industrias estão instaladas no município: a EUCATEX e a IRIZAR.

Destaque: Para o Século XXI , a Industrialização de Botucatu assume perspectiva histórica com o projeto grandioso da DEXCO para Botucatu: a maior fábrica de revestimentos cerâmicos do Brasil, num investimento de 600 milhões!

A DEXCO é a nova denominação da Duratex. E a DEXCO é composta pelas empresas: DECA, PORTINARI, HYDRA, DURATEX, CEUSA E DURAFLOOR

VOCAÇÃO E DESTINO DE BOTUCATU

Agostinho Minicucci

“As últimas notícias dão conta de que a orientação dos industriais paulistanos é de transferir as fábricas para o interior, valendo-se dos incentivos fiscais, facilidade de condução, ambiente de trabalho, mão de obra mais fácil, etc.

Primeiro, através da SUDENE, a seguir Manaus, e agora o interior de São Paulo, tem sido a meta de transferência industrial.

É comum ver-se na Capital, a placa de aluga-se ou vende-se à porta de grandes prédios ou barracões

Isso nos leva a pensar em Botucatu. A infância de nossa cidade foi marcada por um surto industrial, em primeiro lugar pelo pioneirismo da colônia italiana, ávida de grandes realizações e da conquista da nova pátria

Os oriundi, como os Bacchi, os Blasis, os Lunardis, os Milanesis e tantos outros, verdadeiros capitães de indústrias, trouxeram o know how da Itália e deixaram marcas em prédios que ainda hoje são símbolos de uma época áurea na efervescência da convivência de imigrantes e brasileiros

Petrarca Bacchi marcou um ciclo na indústria botucatuense levando-a a competir com a poderosa Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL e a instalar uma usina hidroelétrica e outra termoelétrica, chegando à ousadia de fornecer energia à cidade. Produziu cerveja apreciada em todo o país. Introduziu o primeiro elevador em indústria, em São Paulo distribuía de brinde um sifão fabricado na Alemanha.

O berço da Votorantim foi Botucatu e tivemos o início de um ciclo de calçados, com o dinâmico Delmanto. E nisso precedemos a cidade de Franca e a lembrança são os nossos curtumes

A Antártica andou por Botucatu, criando uma vila com seu nome e chegou a comprar uma fazenda para cultivar cevada

Outras tentativas houve Por pouco a Industria Vidigal não adquire o espólio Bacchi para transferir o seu complexo industrial para Botucatu

Em segundo lugar, a nossa privilegiada posição geográfica tornou-nos um entreposto ímpar no Estado, o que nos deu repartições centralizadas importantes

Então...”

(“A Gazeta de Botucatu”, de 27/09/1985)

A Colônia Italiana na Virada do Século

A Revista Peabiru procurando recriar recriar o cenário real da Botucatu de 1898 e 1900, com a presença forte e entusiástica da colônia italiana entre nós, buscou-o, com sucesso, nas crônicas escritas pelo prof. Pedretti, nos anos 50, no jornal “DEMOCRACIA”.

“A Tomada da Porta Pia em Botucatu”

A Itália, depois da queda do Império Romano, nunca formou uma nação, tanto assim que no Congresso de Viena, em 1815, mereceu de Meternich a desdenhosa expressão: “A Itália é apenas uma unidade geográfica”. O sonho da unidade nacional era, no entanto, uma preocupação, constante, dos italianos. Carlos Alberto viu fracassar seu intento e desterrou-se, voluntariamente, para o Porto. Mazzini funda a “Giovane Itália”. O ideal de independência flameja em todos os corações. Cavour, ardiloso político sabe manejar com destreza a nau do Estado, entre as águas francesas e austríacas. Os tratados, pouco a pouco vão dando à Itália a sua soberania, até que somente faltavam, para que se completasse a unidade pátria, a anexação da Veneza Julia (1919) e dos Estados Pontificios (1870).

Em 20 de setembro de 1870, quando de Roma Napoleão III retirara as tropas francesas, pela brecha de Porta Pia, aberta na muralha da Cidade Eterna, Garibaldi, à frente dos seus soldados, penetra nos domínios do Papa. Vitor Emanuel II declara Roma capital do reino e ali fixa sua residência. O Papa, por outro lado, chocado com aquela atitude, intitula-se prisioneiro do Vaticano e rompe as relações diplomáticas com o Estado, relações essas que só serão restabelecidas pelo Tra tado de Latrão.

A tomada da Porta Pia tinha, portanto, para os italianos a fulgurância de um esplendoroso acontecimento histórico. É por isso que seus ecos e sua comemoração se fazem sentir, também, em Botucatu.

Botucatu resolvera comemorar, pela sua numerosa colônia italiana, a data da tomada de Roma. Os preparativos iam animados e cada um fizera questão de entrar com sua parcela monetária. O Monsenhor Ferrari, inimigo acérrimo daquele dia, às escondidas, entrara com uma gorda parcela das despesas. Embora inimigo da data, era amigo dos italianos.

Mas, não era somente a colônia italiana que aderira às festividades. Os monarquistas peninsulares contavam com o apoio e a adesão de um inconsolável monarquista brasileiro, o Capitão Tito Corrêa de Melo. E, além deste, o juiz de direito, o delegado de polícia e outras autoridades tomavam parte nos festejos.

A Tomada da Porta Pia, a proclamação do Reino, a prisão voluntária do Papa, se fazia com a participação e com a vigilância das autoridades brasileiras...e disso não advinha nenhum atrito internacional. Ao contrário, cimentava-se, depois, a amizade, em torno dos copos de vinho importado e das copiosas travessas de macarrão e cabrito a cacciatora.

“XX de Setembro de 1898 ou 1899”. Não pude precisar com exatidão a data. Sei apenas que precede 1900. A rua Riachuelo (R. Amando de Barros) está em festas. Bandeiras italianas e brasileiras pendem das janelas das casas. Um intenso vai e vem de gente, torna a via pública intransitável. É um dia de sol, um dia claro e bonito. As moças se vestem com garidice, os rapazes envergam os melhores ternos. Os italianos idosos levam para as ruas os velhos costumes e muitos deles trazem no peito medalhas conquistadas nas lutas do Rissorgimento.

A praça onde vai se desenrolar o acontecimento histórico é o largo de São Benedito (praça Cel. Moura). Lá está a igreja de São Benedito (onde hoje é o posto Standard) que representa o Vaticano; nas casas além do Paratodos se situava o convento dos capuchinhos; mais para cá do cinema, a residência de um membro da família Pinheiro Machado; onde hoje é o Banco do Brasil, se localizava o armazém de Estevão Ferrari; o prédio da Pa-

daria Siciliana estava ocupado pela padaria do Lourenço Ferrari; onde hoje existem, uma casa de rádio e um açougue, está a casa do Roque Santini; dali até a esquina da Farmácia Central era a Casa Cardoso.

A festa promete. Os seus idealizadores, o velho Vignatti e • Felipe Del Santo, particularmente, rejubilam-se. O monsenhor Ferrari foi visto alegre e triunfante. A alegria é contagiosa. O vinho corre com facilidade e o motivo de todas as conversas é um só: o grande momento da tomada de Porta Pia. Os últimos retoques foram dados. Dois homens acabaram de prender um grande pano branco à entrada da praça. A peça tira a vista da Igreja e cinge-se do barranco (onde hoje é o jardim) ao muro (onde hoje é o “Tesourinho”).

De repente soa um clarim. Tambores em marcha batida fazem-se ouvir na rua apinhada de gente. Aparece o cortejo. À frente, retrato vivo de Garibaldi, Januário Cianciarullo, que residia na rua Rangel Pestana e tinha a funilaria onde hoje é a Casa São Paulo, com sua bela barba, berretto (boné) à cabeça, camisa vermelha, espada à cinta, representa o heróis dos dois mundos. Marcha garboso chefiando os garibaldinos. São muitos. Uns trazem espadas; outros espingardas de caça, fogos-central, pica-paus, winchesters, mosquetões. Os clarins continuam tocando. O povo freme e bate palmas. O delírio atinge o auge quando, numa bela carruagem, surge o rei Vitório Emanuel (Aleixo Varoli, sósia do Rei) uniformizado. As dragonas cintilam ao sol; as medalhas brilham; o rei agradece as homenagens; leva, continuamente, a mão em continência.

Sua filha, a princesa (dona Leonilda Varoli, hoje esposa do Sr. Adeodato Faconti), a princesa, veste-se com aprumo. Traz uma coroa e muitas jóias. Cumprimenta, também, o povo com leves acenos de cabeça. As autoridades brasileiras vêm atrás. O capitão Tito confessará, mais tarde, que a festa era digna de D. Pedro II. Os garibaldinos atingiram a oficina de Pedro Delmanto (onde hoje está o armazém do sr. José Bertoncini). Há uma ligeira parada. Os que vem a cavalo refreiam os animais. Vistoriam-se as armas. O clarim canglora uma marcha de ataque, e o tambor bate mais apressado, como se sofresse de taquicardia. Os garibaldinos marcham acelerados. Garibaldi (Cianciarullo) arranca a espada, volta-se para os seus comandados e, correndo em direção à praça, berra: “Avanti, Savóia!”.

Estão defronte ao pano que representa a muralha. Garibaldi enterra a espada na fazenda e abre uma larga passagem. Era a brecha da Porta Pia. Os garibaldinos disparam, para baixo ou para o ar, as suas armas. Um cheiro de pólvora se mistura ao pó e ao frenético clamor do povo. A carruagem de Vitório Emanuel, entre as alas dos soldados, penetra nos Estados Pontifícios. E, quando serenam os ânimos, levanta-se na carruagem e grita a plenos pulmões: “A Roma cisiamo, a Roma di resteremmo!”. (Em Roma estamos, em Roma ficaremos).

Roma foi tomada. Está quase completa a unidade nacional. O delírio é grande. Abrem-se os armazéns. O vinho corre com maior intensidade. Canta-se, por toda a parte, o Hino de Garibaldi e a Marcha Real. Os festejos continuam até altas horas. Alguém improvisou um baile que se anima logo. No dia seguinte, mais da metade da população sofria as conseqüências da festa: dor de cabeça e ressaca...

(jornal “DEMOCRACIA”, de 10/12/1950)

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Na busca para recriar o cenário real da Botucatu de 1898 e 1900, com a presença forte e entusiástica da colônia italiana entre nós, busco-o, com sucesso, nas crônicas escritas pelo Prof. Pedretti, nos anos 50, no jornal “DEMOCRACIA”.

Exéquias por Humberto I, em Botucatu

A colônia italiana em Botucatu sempre foi numerosa. Trabalhadores, afáveis no trato, falando logo um patuá que não era italiano nem português, mesclaram-se logo com a população local. Trouxeram eles, para a terra de adoção, seus costumes típicos, os seus pratos regionais, as suas músicas prediletas. Gregários por excelência, fundavam, logo após a chegada, as Sociedades de Beneficência ou de Socorro Mútuo e as Bandas de Música, obrigatoriamente chamadas Giuseppe Verdi, Giacomo Puccini, XX de Setembro. Nas festas cantavam-se trechos de ópera, “romanzas”, e as cançonetas das várias regiões. Declamava-se Carducci e Pascoli.

Comentava-se Dante Alighieri. Lia-se Edmondo D’Amicis, Fogazzaro. As páginas políticas de Mazzini mereciam especial carinho. Nunca puderam compreender a vida sem o trabalho, sem o vinho e sem a música. É bem verdade ( e isto foi uma realidade em Botucatu) que eles tinham as suas divergências político-religiosas. Havia os que defendiam o Papa e os que condenavam Sua Santidade; havia os monarquistas e os republicanos. Havia, enfim os clericais e os maçons. Em certa época, a coisa chegou a tal ponto nesse terreno, que a cidade quase foi teatro de uma luta entre dois grupos. Pela rua do Comércio desciam os papistas, em demanda do Largo São Benedito. Do outro lado da cidade, com idêntico destino, vinham os antipapistas. Os dois grupos estavam dispostos a tudo. Foi necessário que a fôrça policial interviesse com energia a fim de dispersar os manifestantes e evitar, dessa forma, um inútil choque.

Mas se essa divergência existia, nem por isso a colônia deixava de ser unida, principalmente nas solenidades que relembravam as datas pátrias. Esqueciam-se as querelas, baniam-se os ressentimentos, conjugavam-se os esforços para que a festa, fosse qual fosse, atingisse o máximo brilho.

Tudo se fazia à larga. A tomada de Porta Pia foi um dos episódios notáveis. O outro, os funerais do Rei Humberto I.

Humberto I, filho de Vitor Emanuel Il, fora assassinado em Monza, pelo anarquista Bresci, em 29 de julho de 1900.

Se o fato repercutiu tragicamente na Itália, não menos dolorosa foi a repercussão em Botucatu.

A infausta notícia chegou a esta cidade, por telegrama de São Paulo, no dia 30 de julho. Imediatamente fecharam-se as casas de comércio. Nos edifícios públicos, nas sedes das duas sociedades italianas, na Agência Consular da Itália e na Agência Consular da França, na redação do jornal “O Botucatuense” e em inúmeras residências particulares, ao lado do pavilhão brasileiro, o tricolor peninsular foi hasteado a meio-pau. A diretoria da Sociedade Pró-Pátria enviou ao Consul, em São Paulo, um telegrama. A outra Sociedade “Croce di Savoia”, convocou uma reunião da colônia para o dia seguinte, na qual se deliberou prestar excepcionais homenagens ao monarca assassinado. Encarregou-se das providências uma comissão composta dos srs. Orestes Taddei, presidente; Aleixo Varoli, vice-presidente; Salvador de Vivo, secretário; Garibaldi Bonetti, vice-secretário; Stefano Ferrari, tesoureiro; Pedro Delmanto, José Nigro, Alfredo Nardini, Francesco Perfetti, Guilherme Rossi, conselheiros. Como medida preliminar, deliberou-se enviar ao Consul um telegrama em nome de toda a colônia e iniciar uma subscrição para fazer face às despesas.

As cerimônias fúnebres realizaram-se, com toda a pompa e solenidade, no dia 4 de agosto. De todas as fazendas chegavam levas e levas de colonos italianos a fim de participar das homenagens. Os armazens cerraram as portas. As casas, na sua maio-

“A UNIFICAÇÃO DA ITÁLIA”

A unificação da Itália ocorreu sob o comando de três lideranças indiscutíveis: a primeira delas, o Rei Vittorio Emanuel II, da Casa de Savóia, que desde o Reino da Sardenha-Piemonte (1848), passou a lutar seriamente pela unificação italiana; a segunda liderança, a que representava a corrente monarquista, é a do Ministro de Vittorio Emanuel, o banqueiro e fazendeiro Camilo Benso - Conde de Cavour, que se revelou um excelente administrador e estrategista político, a nível interno e internacional viabilizando o apoio, num primeiro momento, de Napoleão III à causa da unificação; e a terceira liderança é a do herói de dois Continentes, a de Giuseppe Garibaldi, já com longa e bem sucedida experiência de luta, representando a corrente republicana, que à frente de seus camisas vermelhas mobilizou todos os italianos pela causa comum. Garibaldi representou a grande liderança militar e política do movimento, sabendo reconhecer, mesmo sendo republicano convicto, a liderança de Vittorio Emanuel II como Rei da Itália, para evitar a divisão da grande pátria com que sempre sonhara.

Vittorio Emanuel II, Conde de Cavour e Giuseppe Garibaldi - os heróis da unificação e os construtores da Grande Pátria. (AMD)

ria, apresentavam os pavilhões das duas pátrias

- Brasil e Itália - em funeral. Em muitas residências lia-se o dístico: “Lutto nazionale italiano”. A compunção era geral.

Às 9 horas e meia, saía da Sociedade “Croce di Savoia” (onde é hoje a sede do Tiro de Guerra 123, à rua General Teles) • cortejo que levava o busto, artisticamente trabalhado e de autoria de Alfredo de tal (não conseguimos saber o sobrenome; sabemos apenas que era cunhado e sócio do escultor Paris Bresciani, da Marmoraria Progresso) foi colocado sobre o coche preto de Caetano Tecchio, puxado por cavalos brancos adornados com mantas de veludo preto e onde se bordaram as insígnias da Casa de Savoia.

Às 10 horas iniciou-se, na Catedral, a cerimônia fúnebre. No centro do templo erguera-se um grande catafalco. Sobre este, o busto de gesso cercado de flores e de inscrições recordando episódios da vida do monarca. O “Libera me” foi cantado pela sra. Olímpia Spano, que possuia uma casa de jóias onde hoje é o “Snooker Ferrari”, com acompanhamento de órgão.

A assistência era numerosa, tanto assim que a velha Catedral ficou completamente cheia. Notavam-se, entre os presentes, o dr. Luiz Ayres de A Freitas, juiz de direito; o dr. Miguel de Zacarias Alvarenga, presidente da Câmara Municipal; o dr. Rafael Sampaio, intendente ; o dr. Carlos Ribeiro, promotor público; o sr. Eugênio Touras, agente consular francês; o sr. Aleixo Varoli, agente consular italiano interino; o dr. Antônio José da Costa Leite, pela Loja Maçônica “Guia do Futuro”, da qual era venerável; o sr. Avelino Carneiro, diretor do jornal “O Botucatuense”; o Venerável Alberto Araujo, pela Loja Maçônica “Regeneradora”; diretores, professores e alunos do Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”; e as sociedades “Croce di Savoia” e “Pró-Pátria”, com os respectivos estandartes. A Loja “Guia do Futuro” compareceu com seu estandarte conduzido por Julio Tognozzi. Por razões óbvias e em se tratando de uma cerimônia da Igreja Católica, o estandarte maçon ficou no adro.

Terminada a cerimônia religiosa, o cortejo desceu pela atual rua Monsenhor Ferrari, depois pela rua do Comércio e se dirigiu ao Largo São Benedito (hoje Praça Cel. Moura). À frente vinha o agente consular italiano, tendo à sua direita o juiz de Direito e à esquerda o presidente da Comissão de Comemorações; em seguida, incorporada, a Câmara Municipal, as outras autoridades da cidade e os componentes da comissão; depois a Banda “Giacomo Puccini”, as duas lojas maçônicas, as escolas, os colégios, as duas sociedades italianas com os respectivos estandartes e coroas e, finalmente, grande número de peninsulares e brasileiros.

Fechava o cortejo um piquete de soldados da polícia.

Da escadaria da Igreja de São Benedito (hoje demolida; ali se ergue, atualmente, o Posto “Standard”) foram pronunciados os elogios fúnebres.

Discursou primeiramente o sr. Aleixo Varoli; em seguida, o dr. Orestes Taddei; o dr. Tasso Ribeiro, pela Loja “Guia do Futuro”; 0 dr.Luiz Ayres de A Freitas, pela Câmara Municipal e pelo povo botucatuense; o sr. Alberto de Araujo, Pela Loja “Regeneradora”; o sr. Angelo Bellise e, por último,o sr. Salvador De Vivo.

Depois de um minuto de silêncio, o piquete de policiais prestou as honras militares, disparando um salva de fuzis.

Dispersou-se o cortejo. O coche fúnebre, cercado pelas autoridades e pelo povo, reconduziu para a Sociedade “Croce di Savoia” o grande busto de gesso de Humberto I. A marcha se realizou ao som de músicas fúnebres executadas pela Banda. Caso interessante: O autor do busto era tocador de baixo da “Giacomo Puccini”. Assim se realizaram, a 4 de agosto de 1900, vai para meio século, em Botucatu, as exéquias pelo “Re Bueno”.

(jornal “Democracia”, de 17/12/1950)

da Cuesta

CENTRO BRASIL ITÁLIA -suas origens

A entidade foi criada nos idos de 1886, constituída exclusivamente de italianos natos, sob a denominação de “Croce di Savoia”.

Integravam seu primeiro conselho: Stefano Ferrari - Presidente; Emílio Noschese - VicePresidente; Guglielmo Acquaroni - Secretário; Sisto Varoli - Vice-Secretário; Rafaele Batista e Vitório Arrigo - Procuradores; Alésio (Aleixo) Varoli, Michelli Tocci, Giovani Batista Vignatti, Eurico Scarpella, Vincenzo Danucci, Luige Mirabel, Emílio Varoli e Martino Proenza - Conselheiros. Em razão de divergências entre os sócios, fundou-se por volta de 1900 uma congênere denominada “Pró-Pátria”.

Posteriormente, num esforço dos sócios das duas entidades e representando o ideal de todos, era tentada a unificação das duas sociedades, empunhando-se o estandarte da unificação. Assim, é que, em 16 de março de 1902, na residência de Francisco Botti, presumivelmente na Rua Curuzu, reuniram-se os membros de ambas as entidades e o escopo foi alcançado, criando-se então a “SOCIEDADE ITALIANA DE BENEFICENZA - CASA D’ITALIA” que perdurou por mais de 70 anos, durante os quais proporcionou à Colônia Italiana de Botucatu, a paz, a concórdia e o sentimento da Patria “lontana” (distante). Por ocasião da referida unificação, fundiu-se em mármore a seguinte inscrição:

“In omaggio ala concórdia e fratelanza oggi, 16 de março de 1902, si sono reunite le due societá Croce Di Savoia e Pró-Pátria sotto il titolo de Sociedade Italiana di Beneficenza”.

A Diretoria desse Círculo eracomposta de: Presidente - J.B. Vittone; Vice-Presidente - Giuseppe Bolognini; Secretário- Cav. Ros. Zannoni; Vice-Secretario - Ferrari, Lorenzetto, Losi; Diretor de Sala: Rugna, Lorenzetto e Scripilliti; “Ispettori”-Ciardella, Magnini, Ricci; Turno: Leotta, Mori e Zavasque; Sócio “colaboratori”: Euclides Carneiro, Vigário (Padre Euclides) e Giuseppe Comparato; “Fundatori” - Avalone, Bacchi, Bolognini, Botti, Bresciani, Ciardella, Dromani, Faconti, Ferrari, Fialdini, Lombardi, Lorenzetto, Losi, Maffei (professor), Magnani, Mazzoni, Mori, Noschese, Raffanelli, Rugna (Dr.), Santi, Scripilliti, Vittori (Dr.), Zannoni (Cav.) e Zanotto.

Após vinha a relação de 29 sócios efetivos. Interessante que essa relação de 29 sócios efetivos, era encabeçada por Álvaro Guimarães, português, e o mais conceituado e eficiente construtor dos principais prédios de Botucatu na época, um dos poucos não italiano daquele “Circolo”. A seguir havia a relação de dois Sócios “Onorari”Luiggi Mercatelli e Cav. José Giorgi; Sócios “Benemeriti” eram seis.

Sócios Contribuintes, também seis.

O primeiro conselho administrativo da nova entidade ficou assim constituído:

Alésio (Aleixo) Varoli - Presidente; Giuseppe Zanni - Secretário; Angelo Rafanelli - Tesoureiro; Stefano Ferrari, Gianuário Cianciarullo e Adelmo Ponchirolli - Conselheiros. Por possíveis desentendimentos entre os membros da colônia, em 19 de outubro de 1921, foi fundado o “Circolo Italiani Uniti di Botucatu”, sociedade que apesar de formada, não se tem conhecimento de que tenha sido formalizada juridicamente.

Era Presidente Honorário Perpétuo, Signor Petrarca Bacchi, sem qualquer sombra de dúvida um dos maiores empresários do Estado de São Paulo. Com todo seu conglomerado industrial nesta cidade que, na época era considerado o quinto maior Centro Industrial do Estado de São Paulo.

Esse “Circolo” era formado pela elite italiana, nesta cidade e da qual não constava nenhum daqueles fundadores da Sociedade Italiana de Beneficenza já referida e que, juridicamente existe até os dias de hoje.

Infelizmente nunca mais se teve notícia do mencionado “Circolo”, dissolveu-se ou perdeu-se no tempo.

Mas, a Sociedade Italiana de Beneficência prosperou sempre e viveu seu maior esplendor na época de 1920, quando atingiu seu auge de prosperidade, e quando era tida como o 5º Maior Centro Industrial de São Paulo, e quando as maiores indústrias eram de propriedade dos italianos, como Bacchi, Lunardi, Milanesi, Blasi e muitos outros.

A Colônia possuía, por essa época, sua escola de música e de ensino da língua italiana, sua banda musical, orquestra, jornal, sede social constante de suntuoso prédio num terreno de meio quarteirão de frente por meio quarteirão de fundo, fazendo esquina e localizado na Rua General Teles (onde se acha instalada a Caixa Econômica Federal), famoso teatro, réplica dos mais famosos da Itália, estabelecimentos comerciais, industriais, fábricas, e, até Loja Maçônica (que na época era conhecida como Loja Maçônica dos Italianos e que era denominada Guia do Futuro). Em seu Teatro foram apresentadas muitas e muitas peças de Teatro, inclusive com famosos artistas vindos da capital do Estado e da Itália. O ensino da língua italiana era feito por professores vindos de São Paulo, sendo que ao final do curso era fornecido o competente certificado de aprendizado, além de jamais descuidar da parte assistencial e de beneficência.

Ademais, todas as festas cívicas, tanto bra-

sileiras como italianas eram comemoradas com grande esplendor, inclusive quando da comemoração do dia 20 de setembro de cada ano, quando Garibaldi e suas tropas invadindo o Vaticano, como última etapa, conseguiu a unificação da Itália. Na comemoração de um desses dias, só nesta cidade, foram proferidas mais de 20 palestras. Mas, o grande sonho da Colônia Italiana, em Botucatu, era ter seu hospital próprio. Em 1928, o bem sucedido imigrante Pedro Delmanto (Pietro Del Manto), quando já completará o ciclo produtivo de sua empresa, com produção de couros e fábrica de calçados, estava possuído de um grande sonho, fundar uma Casa de Saúde ou um hospital para que seu filho Aleixo Delmanto, recém formado médico na Itália, pudesse ali clinicar e também para que seus patrícios sentissem o orgulho de também possuir um Hospital.

Assim, é, que no ano de 1928, Pedro Delmanto construía um palacete na Av.

Santana para a instalação da tão sonhada e desejada Casa de Saúde, e que por ele foi denominada de “Casa de Saúde Sul Paulista”.

Estava consumado o último grande desejo da Colônia Italiana de Botucatu

CASA DE SAÚDE ”SUL PAULISTA”

Na edição do dia 21/11/1928, do jornal “O Correio de Botucatu”, era relatada a solenidade de inauguração:

“Com a data de hoje, o calendário botucatuense fica enriquecido, marcando um passo seguro na ascensão de cidade progressista e culta. Sabemos, que dentre os elementos que constituem o valor intrínseco de uma cidade, avultam seus recursos próprios para provar as urgentes necessidades de seus habitantes, em todas as emergências imagináveis”, continuando a notícia no mesmo diapasão, acabando por dizer da grandeza dessa obra que “entra para o nosso riquíssimo patrimônio de cidade culta e progressista”

Na edição do mesmo jornal, do dia 27/11/1928, era descrita a solenidade de inauguração, e que consignava: “Esteve brilhante o ato inaugural do suntuoso estabelecimento. Foi anteontem que se inaugurou a Casa de Saúde Sul Paulista. Foi uma bela festa, a que italianos e

Diário da Cuesta 7

brasileiros, numa confraternização amiga, compareceram representados por seus melhores elementos. Monsenhor Adauto Rocha, depois de espargir água benta em todos os cômodos, pronunciou eloquente oração saudando os dirigentes da Casa de Saúde. Em seguida, falou o Senhor Pedro Avelino. Falou depois o Cônsul da Itália

Agradeceu as saudações, em nome da diretoria, o Sr. Dante Delmanto, que estendeu os agradecimentos às autoridades e ao povo presentes ao ato inaugural. O Rei da Itália fez-se representar pelo Sr. Cônsul italiano em São Paulo”.

De notar-se que Dante Delmanto e Aleixo Delmanto eram filhos do fundador do Hospital (Pedro Delmanto), e que foram grandes expoentes em suas profissões, o primeiro como criminalista e o segundo como médico.

Essa inauguração era a última e maior conquista da Colônia Italiana em Botucatu.

Depois de desativada por alguns anos, essa casa hospitalar teve momentos de grande desenvoltura sob a direção do conceituado médico, Dr. Humberto Gianella, e onde, sob essa nova direção, nasceram centenas de botucatuenses.

Esse hospital acabou por ser vendido aos ferroviários e que continuou servindo até a conclusão do atual Hospital Sorocabano. Com o término deste hospital, as dependências do primitivo hospital passaram para o Governo do Estado, e, onde funciona hoje o Escritório Regional de Saúde (ERSA) e demais dependências médicas e Centro de Saúde Ambulatorial

De notar-se que o palacete onde se instalou referida Casa de Saúde, ainda existe com total imponência até os dias de hoje.

Mas o tempo foi passando com a antiga entidade italiana em grande atividade através de seus mais de 70 anos de existência.

A entidade que só permitia como membros apenas italianos natos, vedando até mesmo o ingresso em seu quadro social de seus próprios filhos, acabou por lentamente definhar-se até o ocaso, em virtude da idade avançada de seus membros e com o gravame, também, do término completo da corrente imigratória, em 1922, por determinação expressa do Governo de Benito Mussolini.

E golpe duro e letal viria ela então sofrer com o confronto militar Brasil e Itália, na segunda guerra mundial.

Seu patrimônio, que era altamente expressivo, acabou por ser confiscado e nomeando-se-lhes estranhos como depositários, foi ele quase completamente delapidado. Dos móveis, objetos e instrumentos musicais, desapareceram dois pianos de cauda, 200 mesas cobertas de mármore de “Carrara”, todo o instrumentário de uma banda de música, todo instrumentário de uma orquestra, dentre outros.

Prédio e seu Teatro, construído na antiga Praça Del Prete, hoje Emílio Peduti, obra que deveria ter sido tombada dada a sua grandiosidade, foi destruído por incêndio, por mãos

criminosas, inclusive enorme biblioteca, restando, apenas o terreno que foi desapropriado ou vendido para o município, para ali ser construída a atual “Fonte Luminosa”. Referida fonte, para sua construção teve, como doação, grande parte do dinheiro pago pela desapropriação, não constando até hoje uma simples placa dizendo que aquela obra foi feita com a ajuda da Colônia Italiana de Botucatu. De todo aquele patrimônio, restou apenas sua suntuosa Sede Social construída no terreno onde hoje se encontra um prédio ocupado pela Caixa Econômica Federal, na Rua General Teles, com documentação totalmente regular e um terreno na Av. Floriano Peixoto, com documentação irregular e constante apenas de uma escritura de cessão e transferência de direitos hereditários, e, cuja documentação nunca conseguiu se regularizar, o que só poderia ser feito por meio de ação de usucapião.

Posteriormente, esses dois imóveis foram alienados e com seu produto, adquirida a atual sede da entidade, na Rua João Passos, n° 568, hoje totalmente reformada e dotada de todos melhoramentos, instalações e mobiliários precisos e necessários. De notar-se que todas as instalações de seu escritório e da biblioteca foram doados por Pedro Losi e Luciana Fernandes Dinucci, aos quais, com justiça, foram outorgados diplomas de sócios beneméritos. De notar-se que, na antiga sede social da entidade, durante a última guerra mundial, foi instalado o Tiro de Guerra 123.

Em 1° de setembro de 1974, seus estatutos foram alterados para que novo nome fosse dado à entidade, vindo a nascer o “Centro Brasil-Itália”, com a inovação de se permitir também a participação de brasileiros, ao lado dos ítalos-brasileiros, principalmente. Foram todos seus fundadores, italianos natos, com exceção dos ítalos-brasileiros: Dr. Osmar Delmanto e Dr. Domingos Scarpelini. Foram seus fundadores: Valentino Mirto, Antonio Groteria, Genaro Ceraso, Genaro Giannini, Augusto Beloto, Paulo Ciacia, Francisco ludice, Vicente Spadaro, Leonello Turri, Antonio Nardoni, Michele D’Errico, Batista Calani, Fausto De Biasi, João De Biasi, Itália Daiuto, Angelo Daiuto, Ariela Segre, Felice Manzo, Carmello Passaro, Romeu Satalo, Maria Meluso Losso, Natale Alfredo Bos-sa, Romano Bossa, Angela Groteria, Maria Colassuono Vernini, Maria Benevenuto, todos italianos natos e mais Domingos Scarpelini e Osmar Delmanto, ítalos-brasi-leiros. Seu primeiro conselho: Fausto De Biasi, Antonio Nardoni, Enrico Ferri e Angelo Daiuto - italianos natos.

Primeira diretoria: Leonello Turri

- Presidente; Antonio Groteria - Secretário e Francisco ludice - Tesoureiro.

Enfim, a partir da nova etapa da entidade, muito se tem feito em prol da cultura, do social e da beneficência.

Em termos culturais, muitos eventos tem sido ali realizados, principalmente na época anterior à inauguração do Teatro Municipal “Engenheiro Camilo Fernandes Dinucci”, quando a entidade tendo, principalmente, como Diretor Cultural o Prof. Wesley Jorge Freire que, pelo seu trabalho à frente do setor cultural, promoveu inúmeros eventos com apresentações de famosos artistas encaminhados pela Secretaria de Cultura, com repercussão até na esfera federal, por intermédio do Ministério da Cultura e teve a honra de, também, recepcionar dois Cônsules Geral da Itália, primeiro S.Excia. Dr. Marcelo D’Alessandro, em 21 de abril de 1979 e Dr. Stefano Canavésio, em 10 de julho de 1996, inclusive pelos poderes públicos municipais, com todas as honras que lhes são devidas, tendo inclusive sido declarados Hóspedes Oficiais do Município. Com relação à beneficência, continua em sua nobre missão de fazer distribuição de rendas auferidas com

eventos ali realizados, como com festas de casamentos, bailes, jantares, etc.

Com relação ao social e para somente seus próprios sócios, grandes e primorosos eventos foram e vem sendo realizados. A sociedade, além de seus Diretores e Conselheiros, inclusive fiscal, tem ainda um correspondente consular da nação italiana, na pessoa do Dr Domingos Scarpelini; tem na pessoa do sócio Dr. Marcos Luiz Garita, nomeado por S.Excia. o Sr. Consul Geral da Itália, uma antena cultural entre o Centro Brasil-Itália, em Botucatu, seu correspondente consular, o próprio Consul Geral da Itália e o Governo Italiano, tudo o que se refere a Cultura Ítalo-Brasileira; tem na pessoa do Dr. José Massa Neto, também nomeado por S.Excia., o Sr. Consul, Delegado da Câmara de Comércio ítalo-brasileira, em Botucatu. Sua atual administração, neste biênio - 1998/1999, está assim composta: Conselho Deliberativo

Presidente - Dr. José Luiz Coelho Delmanto; Vice-Presidente - Genaro Ceraso; Secretário - Dr. Walter Luiz Chaguri; Conselheiros - Prof. Elio Fázio, Jarbas Simões, Dr. Marcos Luiz Garita, Idalgo Fabri, Dr. Antonio Tílio Júnior e Dr Domingos Scarpelini Suplentes - Lazaro Vila Gonzales, Dr Antonio José Figueira e Carlos Antonio de Rosa Conselho Fiscal

Fúlvio José Chiaradia, Jarbas Simões e Edson Baptistão.

Diretoria Executiva

Presidente - Dr. Domingos Scarpelini

Vice-presidente - Dr. Marcos Luiz Garita

1° Tesoureiro - Dr. João Luiz de Almeida 2° Tesoureiro - Dr. Osmar Delmanto Junior 1° Secretário - Dr. José Eduardo Rodrigues Torres 2° Secretário - Profa Vera Lucia De Biasi

Diretora Social - Profa Vincenzina Grotteria Denadai

Diretor Assistencial - Valentino Mirto

Diretor Cultural - Dr. Newton Dezotti. Sempre proporcionou a quem interessar possa, o ensino da língua italiana. Foi a Entidade há muitos anos declarada de Utilidade Pública.

Em conclusão, o Centro Brasil-Itália por si e seus antecessores aí está para enaltecer cada vez mais tudo o que se relaciona com as coisas do Brasil e da Itália, como aliás tem sido feito desde a 112 anos passados.

De notar-se que Botucatu sempre possuiu Agência Consular, tendo como seu último agente, nesta cidade, por diversas décadas seguidas, de saudosa memória, o ilustre médico Dr. Miguel Losso, que bem representou os interesses da Colônia Italiana, nesta cidade. Com a morte desse agente, Botucatu ficou por alguns anos meio acéfala, em termos dos interesses do Brasil e da Itália, até que S.Excia. o Sr. Consul Geral da Itália, houve por bem nomear o Sr. Dr. Domingos Scarpelini, correspondente consular, cargo que ainda exerce até os dias de hoje, o qual vem exercendo durante todo esse período o cargo de presidente do Centro Brasil-Itália.

Referida entidade, desde que continue contando com o apoio de italianos natos, ítalosbrasileiros e também de brasileiros descendentes de outras raças, como hoje lhe é permitido, continuará, como sempre fez, a espalhar por toda esta região seus grandes princípios, estabelecendo ambientes de estima, compreensão e amizade entre os brasileiros e italianos, e sob a luz do cristianismo, com portentoso facho, a iluminar todos os caminhos para a fraternidade entre os homens de boa vontade, sintetizando apostólico mandamento “amai-vos uns aos outros”.

(revista Peabiru, maio/junho/1998 – nº 09)

Aspectos da vida dos Imigrantes Italianos em Botucatu

REGISTRO HISTÓRICO 1

A revista Peabiru realizou pesquisa na famosa obra “Achegas para a História a História de Botucatu”, de Hernâni Donato, págs.161, 221, 255, 257 e 261, para que pudesse complementar a matéria de abertura, com dados e lembranças da presença dos pioneiros italianos em nossa cidade:

“Escola Italiana “Dante Alighieri”. Um dos itens estatutários da Societá Italiana de Beneficenza previa trabalhos e cursos visando à difusão da língua e da cultura italianas. Para cumprir o dispositivo, foi criada, em 1907, a escola que levou o nome do florentino. Ganhou edifício especial à Rua General Teles (demolido nos anos 70, depois de servir de sede ao Tiro de Guerra). Diretor, o agente consular Olivo Andolfato até setembro de 1917, quando a escola contava com 78 alunos. Disposição do governo brasileiro trancou escolas em língua estrangeira, passando esta a funcionar com aulas apenas em português, ministradas por Celestino Fazzio. Em 1935 estava já reaberta para cursos também em italiano, sendo professores Agostinho Revedello e Maria Violetta Terrugi. Encerrou atividades com a dissolução da Societá nos anos 40 Sebastião A Pinto,( “Folha de Botucatu”, “XX de Setembro, 6.10.1968) registra, ainda, sobre escolas italianas: “Ao lado do consulado funcionava a Escola Italiana, que era dirigida pelo professor Golfiero. Esta escola foi extinta com a nacionalização intensiva que se processou no Brasil depois da guerra”.

dos na harmonia germânica. Eles, porém, nunca organizaram propriamente uma banda.

Os italianos, sim. Antes mesmo de 1900 . À falta de um nome definitivo, foi chamada “banda Italiana” , nome que pegou. O animador e recrutador de talentos Alfredo Nardini , incentivou, em esforço quase isolado e desesperado, o teatro, a pintura, a música mas, sobretudo, a convivência.

Diretor musical da banda , por muito tempo, foi o maestro Andréa Frezza , que em sua Milão natal adquirira conhecimentos a nível de conservatório. Foi substituído por Francesco Galletti , o qual cedeu a batuta a Edmundo Caciacarro. Em dado momento a entidade necessitou de reestruturação geral passando a ser dirigida por Pietro Giusti e resultou batizada oficialmente: “ Banda Pietro Mascagni”.

Neste período houve encontros, em Botucatu ou em Avaré , das “bandas italianas”. Resultaram memoráveis, na crônica musical de ambas as cidades, as retretas, desfiles e concertos dessas corporações que ou tocavam vez a vez ou fundindo seus quadros. Quando a de Avaré demonstrou sinais de exaustão, seu maestro Primo Carnitti transferiu-se para Botucatu , instalou-se em casa entre as Praças Isabel de Arruda e Dom Luís , abriu as salas para aulas e ensaios. Conta-se que para ouvir melhor esses ensaios, tão maravilhosos resultavam, os enfermos da Santa Casa paravam de gemer, os presos da fronteira cadeia conformavam-se com suas penas pelo privilégio da vizinhança...

“ Teatro Santa Cruz-Espéria O Teatro Santa Cruz centralizava a vida artística local, no seu aspecto público. “Era um prédio feio, um casarão adaptado...” registra Sebastião A Pinto. Ao redor de 1904 foi reformado. “Ou melhor, foi reconstruído”corrige o cronista citado.

“Levantaram a parte da frente, bonita, com linhas arquitetônicas aprimoradas, como até há pouco podíamos ver na arruinada fachada do velho Espéria. Palco, platéia, frisas, camarotes, torrinhas (naquele tempo se chamava galinheiro), sala de espera constituíam uma confortável casa de espetáculos, de propriedade da Misericórdia Botucatuense. A reforma do Teatro foi projetada e executada por um arquiteto português, o mesmo que projetou o prédio da Caridade Portuguesa Maria Pia. A pintura do Teatro era discreta e bonita. O forro decorado pelo artista Crozza , um pintor italiano que por aqui andava, era notável. A iluminação, a gaz acetileno, era “à giorno”. De 1907 em diante, as gambiaras eram elétricas, porque já havia eletricidade na terra. “Mais tarde, a Misericórdia , em aperturas financeiras, vendeu o Teatro à Societá Italiana di Beneficenza por sessenta e cinco mil réis, para que ele continuasse a funcionar. Continuou. Deixou de ser Santa Cruz , tornou-se Espéria e um pouco mais tarde, além de Teatro , foi cinema - Cine Teatro Espéria . Conheceu dias gloriosos e noitadas dignas do esquecimento.

O Cine Teatro Espéria , sucessor do Santa Cruz , abdicou de ser teatro, tornou-se salão de danças, clube recreativo, sede de Partido Político (Partido Social Democrático) , do Aero Clube, do Centro Cultural , acomodou lojinha de material elétrico até setembro de 1951 , madrugada, quando foi praticamente consumido pelo fogo. Hoje, em seu lugar, a esplanada que compõe o conjunto da fonte luminosa...

Foi no velho Santa Cruz-Espéria que, nos últimos cinco anos do século dezenove, apresentaram-se companhias dramáticas, operísticas cantando em francês, italiano, alemão; companhias espanholas de zarzuelas, conferencistas de renome internacional ao tempo ( Belém Sarraga, Guilhermo Ferrero, Ernesto de Oliveira ), dramas e comédias pelos elencos renomadíssimos de Francisco Santos, Couto Rocha e a mais famosa - a Carrara . Os programas anunciavam as peças de maior apreço: “A morte civil”, “Amor de Perdição “, “Os Miseráveis”, “Os dois sargentos”, “A dama das camélias”, “o conde de Monte Cristo”, “Deus e a natureza”.

Durante anos a cidade falou, com a respiração suspensa, de uma companhia de anões, cantores da época. O soprano não teria mais do que oitenta centímeros de altura...”

Bandas Coloniais - As colônias italiana e alemã eram fundamentalmente musicais. Na cervejaria de Madame Gusler (Gieseller) , aos sábados e domingos ouviam-se conjuntos organizados por alemães e brasileiros depressa introduzi -

“Fanfarras. A primeira foi de italianos e queria ser garibaldina ou “carabineira”. Na festa de setembro, comemorativa da unificação da península , desfilava, a passo de carga, dos começos da Rua Amando até a Praça Coronel Moura onde a colônia encenava, com “muralha” de papelão a “brecha da Porta-Pia” , tomada a incorporação de Roma ao reino.

Luiz Baptistão dá notícia da existência de uma “Fanfarra Escolar Italiana” que teria atuado, inclusive, na inauguração do obelisco dedicado a Anita e José Garibaldi na Praça que leva (ou levava) seus nomes...

“Clubes Coloniais

Os peninsulares mantiveram também sociedades fechadas, respeitando as origens regionais ou provinciais, dialetais mesmo e inclinações artísticas. Além de loja maçônica “Silvanno Lemmi”, movimentaram por exemplo o I Trenta Tre Contenti, limitado a 33 membros. Reuniões quinzenais, no porão-cantina do prédio à esquina, ângulo superior direito de quem desce pela rua Cel. Fonseca para a praça Cel. Moura. Regabofes de varar noites, com vinho importado, música e declamações além de entreveros retóricos sobre os mais variados assuntos...

REGISTRO HISTÓRICO 2

Concluindo o trabalho de pesquisa, a revista Peabiru, foi buscar no livro “No Velho Botucatu”, de Sebastião de Almeida Pinto, 2ª edição de 1994, à pág. 139, o relato dos jogos da colônia italiana:

“Uma referência aqui deve ser feita ao jogo do queijo, praticado por elementos da colônia italiana. Arranjavam um queijo bem curado, desses de tipo comum. Enrolavam a sua volta uma cinta de correia.

E lançavam-no pela rua, para ver quem o atirava mais longe. Os praticantes dessa modalidade, usavam a avenida do Campo Santo, hoje

D. Lucio, para teatro de suas façanhas, que terminavam sempre em comedorias e bródios, no José Bolognini, o popular Geppo. Entre os jogadores de queijo, figuravam o banqueiro Francisco Botti, Julio, Rafanelli, Tognozzi, José Bolognini, Adolfo Dinucci e Adolfo Pardini, Nardini, Lovato, e outros bons italianos do passado. O desembargador Alcides de Almeida Ferrari, naquele tempo jovem advogado, era um dos competidores desse esporte, cujas partidas terminavam em suculentas macarronadas, cujo fromaggio era o que tinha estado em jogo.

Na casa de José Bolognini, onde se jogava tresetti e se bebia bom chianti, funcionava o Fanfulla Clube. Curiosa sociedade de gastronomos e amigos do vinho. Após as patuscadas, os comensáveis faziam uma coleta, para adquirir caixões de defuntos. Para enterrar indigentes, é bom esclarecer, e que nunca faltavam. José Bolognini, contou-me o Prof. Raymindo Cintra, para os amigos, era o Major. E fazia aniversários natalícios, quatro vezes ao ano...a pedido dos amigos, que não dispensavam os cabritos magistralmente preparados pela senhora Bolognini…” (AMD) (revista Peabiru, maio/junho/1998 – nº 09)

Momentos Felizes

RECO-RECO

O título é recorrente. Ele era menino e ouvia de seu pai muitas histórias. Algumas fantásticas, outras engraçadas outras de pura ficção inventadas em certas ocasiões. O pai tinha por hábito ler para ele e outros irmãos jornais e revistas e a que ele mais gostava de ouvir era sobre as travessura de três meninos: o Reco-Reco, Bolão e Azeitona figurinhas criadas por Luiz Sá e publicadas na revista “O Tico Tico”. O tempo foi passando... passando... o pai ficou velhinho... velhinho deixando para ele imensas saudades da feliz infância. Ele não ouvia mais as histórias, e com o tempo, passou a ser o autor da sua própria história. Tornou-se um jovem estudioso, trabalhador e muito cumpridor dos seus deveres. O sono daquela noite fora agitado!

Mário Anzol Jr. havia deixado sobre o criado-mudo um papel com o timbre do Ministério da Guerra e isso, provavelmente, era a causa da inquietação noturna. Ao som estridente do despertador levantou-se rápido, fez nova leitura daquela intimação/convocação, encheu-se de coragem e contou aos familiares como seria sua vida doravante. Ia interromper seu curso colegial, afastar-se do Banco e embarcar para uma cidade distante para incorporar-se à um Batalhão de infantaria e com certeza em uma Companhia de fuzileiros. Os irmãos ficaram orgulhosos e sua mãe correu ao oratório para acender uma vela pedindo a proteção Divina ao futuro recruta, afinal, em sua família jamais seria aceita a pecha de acobertar insubmisso ou desertor. No mês de janeiro um trem conhecido como “boliviano” transportou Anzol Jr. e outros tantos jovens para o desconhecido quartel. As boas vindas na gare central foram dadas pelo sub-comandante da unidade. Um sargento conduziu a turma, a pé, pelo centro da cidade até chegar ao destino. Um velho prédio, com enormes galpões utilizados como alojamento/dormitório, quadras de esportes, salão do rancho, banheiro coletivo e espaçoso, sempre abastecido com água fria. Recrutas desconfiados não escondiam suas curiosidades em saber como funcionava tudo aquilo. Era um mundo novo com experiências novas para transformar grupos heterogêneos numa unidade homogênea. Logo na entrada do quartel uma insinuante e assustadora placa:

“Se queres a paz prepara-te para a guerra!”. Anzol Jr. ao ler a placa sentiu um calafrio e imediatamente lembrou-se da mãe que, com certeza, já devia ter acendido no mínimo dois maços de velas ao santo da sua devoção.

Na primeira semana ficou sabendo que recrutas - no quartel eram chamados de recos e que seu nome agora era nome de guerra - Anzol Jr. n° 127. A voz tonitruante do sargento fez a chamada da Companhia entregando a cada um dos recrutas dois uniformes de campanha VO(*), dois pares de coturnos, um pijama tipo pega-louco, um bibico

de pala, duas camisetas de algodão e dois pares de meia - verão/inverno, um travesseiro de crina, colcha, lençol e um cobertor VO tipo corta-febre, atribuindo para eles um mosquetão mauzer, modelo 1934, de repetição, ponto 30 e que deveria ser recolhido ao armeiro ao final da instrução, sempre limpo e sem qualquer amassado. Lembrou a todos, com voz sonora e muito clara tratar- se de material pertencente à Fazenda Nacional, tinha altos custos e que qualquer dano causado seria debitado ao recruta, sem prejuízo de uma punição prevista no RDE(*). Comunicou também que no dia seguinte, logo após o café todos deveriam comparecer ao salão de barbeiro, onde seriam apresentados ao especialista no uso de máquina zero onde, além da limpeza capilar, os deixaria muito mais simpáticos.

As vinte e duas horas o corneteiro tocava as notas do silêncio e a temida PE(*) recolhia ao quartel os recrutas e veteranos andejos após aquele horário. Anzol Jr. sempre muito disciplinado, adaptou-se com serenidade aos rigores da caserna. Deixou de receber salários para receber o chamado soldo que, de tão pouco, se pagava o aluguel do quarto não pagava a roupa lavada. Para fazer economia resolveu pernoitar no quartel e lavar a sua própria roupa. Namorada para assunto sério ou tititi nem pensar. O alojamento era de uma simplicidade franciscana. Colchão e travesseiro de crina, colcha, lençol e cobertor, lâmpadas de 40 velas, sem rádio e televisão. Terminado o toque de silêncio o plantonista da hora apagava todas as luzes. Como lazer, sessões de cinema às segundas-feiras com filmes “Combat” evocativos da segunda guerra mundial, filmes do Tarzã, Casa de chá do luar de agosto, Sayonará e comédias do gordo e o magro. Anzol Jr. não perdeu tempo, além das marchas, acampamentos e muita ordem-unida estudava para ser promovido a cabo e posteriormente fez um curso avançado para sargento. Com as promoções o soldo também foi melhorando sendo, inclusive, superior ao que recebia quando bancário. Ao final do tempo obrigatório não teve dúvidas, pediu baixa em sua carteira profissional e engajou-se às fileiras do glorioso. Agora sim! muito jovem, soldo muito bom para a época, farda de vicunha VO, camisa bege com gravata, sapato preto de verniz, quepe muito alinhado, óculos ray-ban que em dia ensolarado dava-lhe a aparência de um general americano, daqueles retratados nos filmes que cansou de assistir nas segundas-feiras. Tanto foi o sucesso que arranjou uma namorada muito bonita, de sorriso encantador e com ela se casou sendo felizes para sempre. Tiveram uma menina e dois meninos que não quiseram seguir as trilhas do pai. Em compensação, não conheceram as maravilhosas histórias do Reco-Reco, Bolão e Azeitona.

(*) - VO - verde oliva

(*) - RDE - regulamento disciplinar do Exército

(*) - PE - polícia do Exército

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