EDIÇÃO HISTÓRICA
Diário da Cuesta
SEMANA SANTA:
Sermão das Sete Palavras



FAMOSO SERMÃO DAS SETE PALAVRAS!

O resgate feito do inteiro teor do famoso “Sermão das Sete Palavras”, proferido pelo Bispo-Orador, Dom Luiz Maria de Sant’Anna, é uma grande vitória. Cantado em prosa e verso por sucessivas gerações de botucatuenses, coroa nosso trabalho jornalístico e justifica a nossa caminhada peabiruana. Principalmente, agora, pela esperança trazida pelo novo Papa Francisco à Igreja Católica e pelo período da Semana Santa que estamos vivendo, o que torna mais oportuna ainda a lembrança do sacrifício do Calvário... Dom Frei Luiz Maria de Sant’Anna foi Frade Capuchinho, Bispo de Uberaba (MG), Orador Sacro Consagrado e nosso 3° Bispo Diocesano , de
29/06/38 a 05/05/46. Graças à revista botucatuense de cultura – PEABIRU, este sermão foi recuperado e divulgado. A Revista Peabiru com apublicação desta obra sacra, absolutamente inédita, teve o prazer de apresentar os seus mais sinceros agradecimentos à Prof.a Zélia Meira Coelho Delmanto que teve a feliz visão de taquigrafar – há mais 70 anos atrás! - as palavras de nosso então Bispo Dom Frei Luiz Maria de Sant’Anna, consagrado orador sacro. Este Sermão das Sete Palavras, foi proferido no dia 30/03/1945 - Sexta-feira Santa – com a Catedral de Sant’Ana lotada e a praça tomada por verdadeira multidão.
O SERMÃO DAS SETE PALAVRAS!

FAMOSO SERMÃO DAS SETE PALAVRAS!

O resgate que este Blog conseguiu do inteiro teor do famoso “Sermão das Sete Palavras”, proferido pelo Bispo-Orador, Dom Luiz Maria de Sant’Anna, é uma grande vitória. Cantado em prosa e verso por sucessivas gerações de botucatuenses, coroa nosso trabalho jornalístico e justifica a nossa caminhada peabiruana. Principalmente, agora, pela esperança trazida pelo novo Papa Francisco à Igreja Católica e pelo período da Semana Santa que estamos vivendo, o que torna mais oportuna ainda a lembrança do sacrifício do Calvário... Dom Frei Luiz Maria de Sant’Anna foi Frade Capuchinho, Bispo de Uberaba (MG), Orador Sacro Consagrado e nosso 3° Bispo Diocesano , de 29/06/38 a 05/05/46. Graças à revista botucatuense de cultura – PEABIRU, este sermão foi recuperado e divulgado. A Revista Peabiru com a publicação desta obra sacra, absolutamente inédita, teve o prazer de apresentar os seus mais sinceros agradecimentos à Prof.a Zélia Meira Coelho Delmanto que teve a feliz visão de taquigrafar -há praticamente 70 anos atrás! - as palavras de nosso então Bispo Dom Frei Luiz Maria de Sant’Anna, consagrado orador sacro. Este Sermão das Sete Palavras, foi proferido no dia 30/03/1945 - Sexta-feira Santa – com a Catedral de Sant’Ana lotada e a praça tomada por verdadeira multidão.
Fica a nossa sugestão para que sejam divulgados, no futuro, outros discursos proferidos por nosso Bispo-Orador. Juntamente com a Prof.a Maria Inês Galvão, a Prof.a Zélia taquigrafou outros sermões proferidos na Catedral ou na Igreja de Nossa Senhora de Lourdes em louvor à Festa de Sant›Ana, à família, à caridade , à fraternidade, etc.
Lúcio, nosso primeiro Pastor. Novamente como convidado, agora para a inauguração do Santuário de Nossa Senhora de Lourdes e sua Gruta, em08/09/1918. Nas duas ocasiões, as presenças do Dr. José (Jucá) Cardoso de Almeida - Benemérito do Santuário e seu Provedor - e do Monsenhor Paschoal Ferrari.
Dom Frei Luiz

Maria de Sant’Anna era frade capuchinho, tendo nascido na Itália, na cidade de Sant’Ana, da província de Pádua, em 21/03/1886. Dois anos depois já estava no Brasil, para onde seus pais imigraram.



na seu tempo, uma das maiores e mais consagradas dor brilhante, era sempre convidado para fazer a religiosas. Coincidentemente, por esteve em Botucatu, vidado.

Algumas opiniões sobre o nosso Bispo-Orador:

Nosso 3º Bispo Diocesano (de 29/06/1938 a 05/05/1946) estava a merecer as homenagens e a divulgação de sua palavra. Foi um grande Pastor. Nos jornais da época, fomos buscar as palavras que melhor traçam o perfil de Dom Frei Luiz Maria de Sant’Anna:
1) “...Um caráter sólido que a todos servia como exemplo. Estudioso e culto, ele conhecia o grande livro da dura experiência. De uma elevação espiritual que empolgava, ele conhecia as grandes e pequenas fraquezas humanas. Sem perder o senso da sua grande responsabilidade moral sabia aconselhar e orientar nas pequenas e grandes causas da vida...”
(trecho do editorial escrito por Pedro Chiaradia, no jornal “Folha de Botucatu”, de 11/05/1946).

2) “O Bispo-Capuchinho foi grande na Ordem, maior no trono Episcopal e sobre-humano no mundo espiritual em que se encerrou sob os olhares únicos da Divindade Suprema!
“Omnes et in omnia Christus”... As mesmas pegadas de Francisco de Assis, o mesmo profundo espírito de meditação: a mesma imensa sabedoria. Reservado e bom. Imensamente bom e manso. Zeloso ao extremo pelos seus e severo consigo mesmo. Batalhador aguerrido encerrado numa cela – pela força da Oração. Apóstolo impertérrito, num gabinete modesto – pelo vigor convincente de sua pena invulgar.
- “Vai Francisco e repara minha Casa...”
Seus dons oratórios arrebataram-no muitas vezes da cela humilde do Palácio para que a palavra divina fosse ouvida lá longe, na Metrópole ou nos confins da Pátria pela intelectualidade patrícia sempre ávida e expectante dos seus sermões memoráveis.
A palavra do Bispo-Orador era transbordante de Fé e Religiosidade Conhecia a natureza humana como um verdadeiro dissecador de almas.“O que afugenta os homens do seio da Igreja Católica são seus próprios erros e defeitos que ela anatematiza. Por isso, guerreiam-na sem tréguas”, disse ele um dia. Seu olhar de psicólogo vasculhava num relance as insondáveis profundezas do coração humano e de lá desentranhava os erros, com a palavra cristalina da compreensão, da persuasão, da caridade cristã.
No trato dos problemas sua análise severa escandescia os mais rijos obstáculos para depois, com o mesmo arroubado transporte do“Poverello” em êxtases místicos, indicar à sociedade o caminho a seguir sob a luz única do Farol da Igreja.

Como Vieira em seus “Sermões de ouro” é mais conhecido do que através dos valiosos e múltiplos serviços prestados à causa dos Jesuítas e à Pátria, assim também o Bispo-Capuchinho, se lhe faltassem à memória veneranda os méritos concretizados pelas inúmeras obras realizadas, bastaria tão somente a arma que manejou reerguendo a moral de uma Diocese: a Oração.
O Grande-Orador deixou indelével no coração dos que tiveram a ventura de ouvi-lo, o sêlo da verdadeira Apostolicidade.”
(in “Perfil de um Capuchinho”, de Elda Moscogliato, revistaPeabiru nº 14 – março/abril/1999);
3) “...Não o veremos mais no púlpito, qual vulcão de eloquência, a pregar as palavras de Cristo, entre a admiração de todos - católicos ou não -mas que sabe avaliar, na palavra, a expressão potente da cultura; não o veremos mais...”
(trecho do artigo de José Pedretti Neto, no jornal “Folha de Botucatu”, de 11/05/46);


4) “...Dom Luiz morreu Nessa lutuosa tarde de maio, quando os restos mortais do grande D. Luiz postaramse ao lado da cinza do grande Dom Lúcio, ao último dobrado dos sinos dessa Catedral - que ele encontrou ao rés do chão e deixou na linha do céu -fechou-se esse brilhante capítulo da história evangélica de Botucatu - D. Frei Luiz Maria de Sant’Ana.
Em Sant’Ana dei Boschi, branca aldeiola do coração de Pádua, nasceu; Luiz de Sant’Ana chamou-se, claro desígnio da intenção divina; Sant’Ana de Botucatu, salvou - para sua glória e nossa redenção...”
(trecho do artigo de Hernâni Donato, no jornal “Folha de Botucatu”, de 11/05/46);

** * 5) “...Luiz, o Bispo-Orador! Vós que em vida pregastes as Sagradas Escrituras, que servistes com devoção à causa do Senhor, ensinando aos homens o verdadeiro caminho da felicidade espiritual, hoje, na mansão em que descansam os justos no seu derradeiro sono, recebei as homenagens sinceras do POVO DE BOTUCATU !”
(trecho do editorial do jornal” Correio de Botucatu”, de 09/05/46, de autoria de Adolpho Pinheiro Machado);
6)”...Orador primoroso, missionário, pastor tolerante e clarividente, era considerado um dos expoentes da Província Eclesiástica...”
(trecho do artigo de Sebastião de Almeida Pinto, publicado na “Folha de Botucatu”, de 15/05/ 46);

7)”...Na véspera cálida de outono, um tepor estivo de primavera em flor... Um grupo de populares, modestos espectadores do fúnebre cortejo, enaltecia as virtudes e a grande obra realizada pelo Extinto.
Um pobre homem, maltrapilho e grisalho, alheio à conversa, talvez aquele mesmo anônimo de rua, que fora visto velar, durante a madrugada inteira, cabisbaixo e insone, o esquife do seu Bispo na Catedral silenciosa - sentenciou comovido: - “E nunca mais ouviremos um Sermão das
Sete Palavras !”
No erro de expressão, a interpretação de uma grande verdade!
Sim, nunca mais, meu nobre e pobre Amigo! Ouviremos sons, verbos, piedosas orações...vozes altissonantes, evocadoras do Sacrifício e Ressurreição; conceitos nobres e pensamentos de brilho invulgar... E braços erguidos para o céu em gesto teatral, na tentativa vã de captar uma estrela...
Nunca mais, porém - quiseste justamente frisar - um “Sermão da Semana Santa” comparável aos inesquecíveis do grande “Bispo-Orador”, do teu “Bispo dos Pobres”!
É na Semana Santa, que a nossa alma plangente evocará a sagrada figura do Pastor , sua bondade, seu Verso
Na Semana da Paixão, tu, infortunado mortal, símbolo da pobreza, que lutas para não morrer, procurarás no púlpito saudoso o vulto miguelangelesco do teu “Bispo-Orador”.
Seus gestos fraternais e amigos são a ti bem notos!
As modulações de sua voz patriarcal, no silêncio do Templo , ecoam na profundeza de tua alma singela, amenizando a dor, em um acorde misterioso de instrumentos divinos.
A fisionomia severa, ora triste e abrumada, elevada para o céu num lampejo de extrema devoção, na dádiva sobrenatural de todoo seu ser, encerra uma expressão vigorosa de louvor religioso, um sentimento puríssimo de piedade cristã.
Seus dedos fidalgos e nervosos, quando os braços se dirigem para o Altar numa imploração elevada de Amor , numa demonstração impressionante de vitalidade espiritual, parecem empunhar, volteante e irrequieta, a batuta imaterial do maior dos diretores de orquestra E então?
...Às vezes, no início, um prelúdio sentimental de música schubertiana, pairando, como um cântico de nostalgia, na penumbra mesta do templo silente.
As místicas notas, num ritmo fluente de clássica harmonia, vibram, estumecem as íntimas fibras do coração mais incrédulo, como se partícipe da já prodigiosa orquestra evangélica.
E depois, num “crescendo” impetuoso de música rossiniana, as pupilas atentas, fixas na batuta do Mestre , entreabrem-se numa expressão incontida de admiração sobre-humana.
Num ritmo vertiginoso, enfim, de sinfonia wagneriana, os corações palpitam frementes com o latejar violento do pulso; a respiração ofegante arqueja uníssona com o acelerado ritmo orquestral, e, como se eletrizadas pela batuta mágica do Mestre , as almas trêmulas sofrem, estáticas, a Paixão do Senhor ! E no fim? Catadupas de sons angélicos, gorgeio harmonioso de pássaros, coro verdiano de argentinas vozes itálicas e êxtase sublime perante o Sacrifício do Amor ! Foi esse extenuante esforço físico e mental de tantos anos, de milhares de preces, de memoráveis sermões, que sacrificaram o modesto, grande, bondoso Servo de Deus, um Sublime holocausto ao Mártir do Calvário.
Na Semana Santa vindoura, memore e sincero, procurarás novamente abeberar-te no cálice da sagrada amargura e olharás mais uma vez para o púlpito amigo.
E verás o teu “Bispo-Orador”, altivo e sereno, pronunciar em silêncio o celebre “Sermão das Sete Palavras” e abençoar em seguida, no largo gesto fraternal, os fiéis admiradores da Paróquia brasílica de Sant’Ana...”

( trecho do discurso em homenagem a D. Frei Luiz Maria de Sant’Anna, proferido pelo Dr. Aleixo Delmanto, no Centro Cultural de Botucatu, publicado na “Folha de Botucatu”, de 25/05/46).
Os artigos em homenagem ao seu passamento e o vibrante discurso perante a intelectualidade exprimem bem como repercutiu em nossa comunidade a sua perda...
Dom Frei Luiz Maria de Sant’Anna...Saudades! (AMD)
a r t i g o PERFIL DE UM CAPUCHINHO
Elda Moscogliato
Os três Capítulos já encerrados da crônica religiosa da minha terra natal constituem uma das parcelas mais valiosas e significativas do patrimônio histórico da cidade dos bons ares Anunciam-se eles por três títulos diferentes sob os quais se identificam três personalidades distintas, animando intensamente três épocas definidas: Instauração, Destruição, Restauração Forjados por sacerdotes dignificados com púrpura episcopal, esses períodos são a concretização do Trabalho que enobrece, da Apostasia que aniquila e da Oração que santifica No primeiro Capítulo, um Bispo-Camponês, ocultando modestamente as riquezas espirituais de um sábio, segurou nas mãos calosas a enxada do lavrador e, como os varões da antiga Roma, construiu palmo a palmo, regando a terra com suor do próprio rosto, uma das maiores Dioceses do Brasil no começo do século XX, rica de bens e de apostolicidade. Limitada extremo a extremo pelo litoral Atlântico às barrancas do Paraná, dentro dessa Diocese nascente formou-se um patrimônio espiritual elevadíssimo culminando pela grandiosa Congregação Marcelina e alimentado pelo zelo apostólico dos mestres da Ordem Lazarista, cuja sabedoria humanística universalmente conhecida medeia sua intensidade com a suprema apostalicidade desses defensores da Cruz.

tra Diocese distante e querida, talhada pelas suas próprias mãos, para a terra dos bons ares viu-se transportado e nela encontrou, aumentando-lhe o travo amargo dos dissabores, uma cidade-sede livre porque abastada; displicente porque moderna e culta; fria, porque faltou calor apostólico
Cumpria-lhe tudo recomeçar. Não hesitou.
Dos erros e dúvidas remanescentes, tudo derrubou. Na ordem material como na espiritual.
Quando os alicerces da Catedral se enrijeceram esborcinados da Matriz Velha, a seiva religiosa em múltiplas vergônteas vicejava esplêndida no coração de todos os seus diocesanos.
Então, moído pelos acúleos que lhe sangraram o coração em seus últimos anos, e arquejante pelas fadigas de ciclope - após haver celebrado na humilde igrejinha de S. Benedito sua última missa na terra- adormeceu mansamente
E descansou.

Ao cerrar o Bispo-Operário as pálpebras mortais, devem tê-lo guiado para a Eternidade feliz suas obras entesouradas pelo lema radioso que lhe traçara a vida de sacerdote:
«Non ministrare sed ministrari».
No segundo período
“Respice im me, et miserere mei, Domine”...
A iconoclastia humana, rompendo os diques da espiritualidade de um voto solene e eterno, crestou os brilhos argentados de um brasão e de um dístico recentes. Depois disso, o descrédito, o caos, o ceticismo!
Abre o terceiro Capítulo o vulto macilento e hierático de um Bispo-Capuchinho cujo perfil estas páginas canhestras, mais pela veneração respeitosa que por outros poderes, tentam ressaltar
Figura medianamente alta; andar compassado, não era ele fisicamente destacável mas o segredo da sua grande atração era o rosto pálido e macerado; boca de traço severo cerrada fortemente quando os ouvidos atilados se aplicavam ao meio-ambiente; os olhos...ah! os olhos!...de magnéticas pupilas escuras, desferiam brilho metálico a sujeitar num relance, inteira, a consciência dos que se lhe submetiam!
Vê-lo, os ombros ligeiramente arcados, menos pelo peso dos anos que pelo dos arquejantes deveres da Ordem e do Título, era deparar com uma dessas figuras redivivas que ergueram na Idade Média a impressionante estrutura da Igreja reformada pela grandeza da Ordem do burel e do cingulo em nó dos franciscanos.
Que de chamas espirituais deveria ter desferido aquela boca monástica! Quantas consciências escusas haveria de ter crestado ao leve bafejar de suas práticas! A quantos esconsos refolhos asfixiantes deveria ter levado pelos conselhos, os clarões da aurora da regeneração!
O Bispo-Capuchinho foi grande na Ordem, maior no trono Episcopal e sobre-humano no mundo espiritual em que se encerrou sob os olhares únicos da Divindade Suprema!
«Omnes etin omnia Christus» As mesmas pegadas de Francisco de Assis, o mesmo profundo espírito de meditação; a mesma imensa sabedoria. Fé intensa e firmeza de ação. Silencioso e humilde. Reservado e bom. Imensamente bom e manso. Zeloso ao extremo pelos seus e severo para consigo mesmo. Batalhador aguerrido encerrado numa cela - pela força da Oração. Apóstolo impertérrito, num gabinete modesto - pelo vigor convincente de sua pena invulgar.
- «Vai Francisco e repara a minha Casa...»
O Bispo-Capuchinho ouviu também uma súplica!
Herdeiro de uma Diocese falida; Bispo de um povo desiludido, habitante de um palácio comprometido, o Bispo-Capuchinho que arrancado fora de uma ou-
Na cripta da Catedral de minha terra, duas lages de mármore sustentam dois medalhões de bronze. Ali repousam, como cariátides simbólicas sobre as quais se eleva o Templo, os dois grandes Bispos que vindos da longínqua Minas Gerais, pelo nascimento um, e pelos méritos outro, na cidade dos ventos constantes arquitetaram com sacrifício da própria vida, os mais belos capítulos até hoje registrados na crônica religiosa botucatuense: o primeiro, Bispo-Construtor. O terceiro, o Capuchinho-Construtor.
* * *
A imagem que a trama do tempo amortaIhou, há dez anos faz, na nuvem sutil da veneração profunda, no culto saudoso que o coração aninha com respeito, refluge aos olhos de seus diocesanos como um raríssimo brilhante: sob qualquer faceta que lhe incida um raio de luz, espadana ele fulgurações magníficas.
Por isso, será sempre invocado como o Bispo-Capuchinho; o Grande Restaurador, o Bispo-Contemplativo, o Bispo-Orador
Merece-los-á, a todos esses honrosos cognomes. Sua personalidade inconfundível integrava-se de nobres atributos, capaz, cada um deles, de definir, pela sua intensidade, um caráter ímpar.
Talento excepcional associado a um espírito cristão exaltado na estamenha parda, ocultava sob a discrição severa dos atos uma atividade invulgar e surpreendente.
Administrador raro, dotado de uma visão econômica inexprobrabel à crítica mais exigente, restaurou num tempo fugaz, o crédito irremediavelmente comprometido da grande Diocese em ruínas.
Restabelecido o equilíbrio material em cuja queda arrastara-se o espiritual, voltou-se ele incontinenti, de coração e alma, para o vigoramento religioso perdido em sua grande Diocese.
Trabalho afanoso, ininterrupto, extenuante.
Desentranhou com ânimo firme, os alicerces soterrados de uma Catedral até então utópica. E porque tudo em seus labores exaustivos se velava na modéstia do vulto do eremita, ela surgiu, num toque de milagre, da noite para o dia, aos olhos admirados da gente botucuda. Um bloco arquitetônico majestoso que credencia mesmo incompleto (já completo hoje) ainda, como um dos primeiros templos católicos do interior do Estado. Seu zimborio resplandescente ao sol, na alvura imaculada das vestes do Redentor que sustem; as arcadas góticas; os vitrais primorosos a sugerir a poesia das cenas evangélicas; a nave longa e solene no fundo da qual se destacava a ábside suntuosa com seu baldaquino belo, impressionante, todo ornamentado; sob ele, o Altar-Mor de puríssimo mármore; os lustres feéricos; a Capela-Mor onde a brisa perpassa um cântico sutil às grandezas do Sacrário; depois, a Sacristia espaçosa, cheia de luz, com seu arcaz de pau-marfim rendilhado, tudo, tudo, nesse templo belíssimo transpira ainda - tal como foi deixado há dez anos - os últimos toques de artista do Bispo-Capuchinho.
Assentada a cátedra, ele pontificou. Nas abóbadas ogivais, ressoaram os seus sermões inesquecíveis. O Bom Pastor chamava as ovelhas tresmalhadas. Foi-se intensificando ao seu brado de Fé, o rebustecimento espiritual de um povo deserdado e confundido. Como à oração de Francisco floriu a neve, brotou de novo, ao apelo vibrante desse Apóstolo do Século XX, a seiva religiosa no coração crestado de toda uma Diocese.
Foi mais longe ainda. A própria Igreja de Cristo não quer só espiritualidade. Há de caminhar a par com ela, a apostolicidade, quer dizer, caridade social, ação ininterrupta. Arregimentação de sodalícios, de classes, de entidade, tudo em obediência a um programa de elevação, de aperfeiçoamento da moral individual e coletiva, sob diretrizes como só as tem
assim a Igreja Católica
Na celebração do cinquentenário da Rerum Novarum, as fábricas e oficinas da minha terra natal tinham entronizada já, a imagem de Cristo crucificado A Ação Católica estava também esboçada no seio do operariado, da juventude, da sociedade
Síntese de um governo espiritual restaurador, sólido, perfeito, a realização do Congresso Eucarístico Diocesano o maior acontecimento registrado na história da cidade até então, foi a exaltação máxima do trabalho extenuante desse Capuchinho inolvidável, cujo nome em todas as esferas sociais e culturais do País era e prevalece ainda, como um motivo de ufania para os foros civis e religiosos da minha terra. Seus dons oratórios arrebataram-no muitas vezes da cela humilde do Palácio para que a palavra divina fosse ouvida lá longe, na Metrópole ou nos confins da Pátria pela intelectualidade patrícia sempre ávida e expectante dos seus sermões memoráveis.
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O Bispo-Capuchinho honrou o Clero Nacional nele ocupando o lugar de um dos maiores oradores sacros da contemporaneidade
Seus dotes de eloquência não eram tão somente a revelação de uma cultura humanístico-religiosa profunda acentuada por uma natural propensão oratória. Era algo mais, que ascendia às esferas transcendentais da sublimada espiritualidade que empolga os discípulos de Cristo e que rareia no mais erudito pensador profano.
Marco Aurélio foi o mais perfeito filósofo do paganismo. Todavia seus Pensamentos célebres que atravessam os séculos, são faltos da chama imperecível da inspiração divina que transparece nas mais breves frases de Cristo. Aqueles seduzem a mente enquanto que estas varam o coração e alentam a alma.
A palavra do era Bispo-Orador era transbordante de Fé e Religiosidade. Conhecia a natureza humana como um verdadeiro dissecador de almas. “O que afugenta os homens do seio da Igreja Católica são os seus próprios erros e defeitos que ela anatematiza. Por isso, guerreiam-na sem tréguas”, disse ele um dia. Seu olhar de psicólogo vasculhava num relance as insondáveis profundezas do coração humano e de lá desentranhava os erros, com a palavra cristalina da compreensão, da persuasão, da caridade cristã.
No trato dos problemas sua análise severa escandescia os mais rijos obstáculos para depois, com o mesmo arroubado transporte do “Poverello” em êxtases místicos, indicar às sociedades o caminho a seguir sob a luz única do Farol da Igreja.
Seu brado jamais esmoreceu. Sua voz tão brilhante nas cátedras quanto a pena nas Pastorais ou na Imprensa católica que ele animou, foi sempre um cântico elevado às grandezas de Deus, apregoadas aos homens de boa vontade.
Como Vieira em seus “Sermões de Ouro” é mais conhecido do que através dos valiosos e múltiplos serviços prestados à causa dos Jesuítas e à Pátria, assim também o Bispo-Capuchinho, se lhe faltassem à memória veneranda os méritos concretizados pelas inúmeras obras realizadas, bastaria tão somente a arma que manejou reerguendo a moral de uma Diocese: a Oração.
Oração humilde e fervorosa balbuciada a sós, nas vigílias intermináveis da Capela solitária do Palácio. Oração flamante e apostólica derramada do púlpito e das tribunas!
O Grande-Orador deixou indelével no coração dos que tiveram a ventura de ouvi-lo, o sêlo da verdadeira Apostolicidade
Aportando à terra dos bons ares num dia bem vivo ainda na memória dos que o aguardavam, ele subiu ao púlpito claudicante da Velha Matriz em ruínas e de lá saudou pela vez primeira os seus diocesanos aturdidos e confusos até então, com a mais profunda e significativa frase evangélica:
- «A paz esteja convosco»
Quem não sente ainda na evocação daquela sua predica memorável, a carinhosa piedade, o vislumbre da esperança, o penhor da felicidade que ele haveria de devolver ao desiludido rebanho?

Ele partiu há dez anos já. Mas a paz espiritual, essa paz verdadeira e sem sombras que acalenta a comunidade católica da terra dos bons ares, essa, ele a vivificou no coração dos diocesanos, com os suores dos seus sacrifícios, com a eloquência dos seus exemplos, com a grandeza de seu vulto extraordinário.

“Semana Santa”
Maria De Lourdes Camilo Souza
Minha mãe era uma mulher muito piedosa. Veio de uma família de italianos, e nos passou essa devoção.
Fequentávamos a Igreja de São Benedito, pois moramos muito tempo ali perto.
Quando chegava a Semana Santa, obedeciamos ao jejum, e frequentávamos os ritos. Lembro bem daquela salada de bacalhau com batatas cozidas, ovos cozidos, cebola, azeitonas pretas, tomates picados. Acompanhada de arroz branco.
Era a comida de “jejum” do almoço da sexta-feira santa.
Íamos á procissão e lembro-me de uma mulher que ia descalça, com um longo vestido branco, os cabelos longos soltos e cantava com sua voz forte e grave: o “ Canto da Verônica” , era muito emocionante, muito triste “O vos omnes”. Via algumas pessoas que enxugavam uma lágrima que escorria sorrateira.
Todos muito circunspectos, seguindo a procissão, homens carregavam o andor de Jesus, com a coroa de espinhos. Nestes dias, buscando entre meus guardados, encontrei um singelo quadro da primeira comunhão da minha mãe, querida Yoyô.
Junto dele estava um livrinho antigo, que achei uma preciosidade, presente da sua professora, D. Maximina. “Os Nove Officios” com dedicatória escrita a bico de pena, que se molhavam nos vidrinhos com tinta nanquim. Trata-se de devoção ao SS. Sagrado Coração de Jesus.
Irmandade que quando adulta fez parte, e em algum cantinho, ainda devo ter guardada, intacta a fita vermelha com um bordado do Sagrado Coração de Jesus.

EXPEDIENTE
Nas fotos, entre suas alunas podem ver D. Maximina, que também era amiga da família.
Elas se visitavam com carinho respeitoso que se reservavam aos mestres.
Semana Santa que hoje poucos sabem o verdadeiro significado.
Tínhamos o sábado da Aleluia, quando se malhava o Judas. Pegavam um boneco amarravam a um poste e os homens malhavam o boneco a porretadas.
Alguns políticos corruptos da época representavam o “ Judas “ .
Preparam-se para a Páscoa da ressurreição de Cristo com a compra de ovos de chocolate, que tradicionalmente são trazidos pelo Coelho.
Outro presente costuma ser a “Colomba de Páscoa”: um pão italiano doce com frutas cristalizadas no formato de uma pomba, recoberto de açúcar e amêndoas laminadas. Os ovos de Páscoa ficaram tão sofisticados, que muitos vem trufados com vários recheios saborosos.
Uma grande atração são aqueles de se comer com colher. São em geral metade de um ovo, com um recheio elaborado com cremes, Nutella.
Todos deliciosos e também caros.
As atrações gastronomicas são muitas.
As donas de casa ficam semanas elaborando o cardápio para o almoço de Páscoa.
O verdadeiro significado fica muitas vezes esquecido pelo clamor das propagandas do comércio.
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes
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Viagens # Fé

Gesiel Júnior
Na Basílica de Santa Cruz, em Roma, as relíquias da Paixão de Cristo
Na Cidade Eterna podemos visitar –também na Semana Santa – uma igreja que guarda fragmentos da Cruz de Cristo. Trata-se da Basílica de Santa Cruz de Jerusalém, que fica bem perto da Basílica Pontifícia de São João de Latrão, nos arredores do bairro Esquilino. Aliás, essa é uma das sete igrejas que os peregrinos que vão a Roma devem conhecer. Foi o que Regina Célia e eu fizemos com profunda veneração.
O lugar em que se encontra o templo hoje era, originalmente, o Palácio Sessoriano, da época do imperador Augusto, uma construção que incluía um circo e um anfiteatro militar, que então ficava numa área residencial e periférica.
Contudo, três séculos depois, quando decidiu mudar a capital imperial para Constantinopla, o imperador Constantino entregou a propriedade para sua mãe, Helena, passando o prédio a ser chamado também de Basílica Heleniana
Considerada a primeira peregrina, Santa Helena, muito venerada na tradição cristã, ali construiu uma capela para a conservação das relíquias da Cruz, encontradas por ela no decorrer da viagem arqueológica que fez à Terra Santa entre os anos 327 e 328.

Essa igreja, como se vê, foi concebida para preservar os preciosos testemunhos da Paixão de Jesus. Tanto que é chamada “de Jerusalém” precisamente porque dentro, entre outras coisas, há terra consagrada do Monte Calvário na base das fundações. Nela também se acham lascas da madeira preciosa da cruz guardada num relicário do século XVI.
Já na cripta há outra peça tida como parte da relíquia da placa com a inscrição INRI em latim, grego e hebraico, que significa Jesus Nazareno, Rei dos Judeus, mandada colocar pelo governador Pôncio Pilatos no topo da cruz.
No século XVII a Basílica de Santa Cruz ganhou sua aparência atual, barroca, quando foram instaladas suas duas capelas: a das relíquias de Santa Helena e a do lenho da Cruz. Nelas ficam um fragmento do patíbulo do Bom Ladrão (Dimas), e outro do dedo de São Tomé, com o qual o apóstolo tocou a chaga de Cristo para se certificar de que havia ressuscitado, além de uma reprodução moderna do Santo Sudário.
Cronista e pesquisador, membro da Academia Botucatuense de Letras, é autor de 54 livros sobre a história regional.