Edição 1099

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da Cuesta

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Botucatu recebeu a CAIO em 1978 e a IRIZAR em 1997

REGISTRO HISTÓRICO: Dante Trevisani, o pioneiro empreendedor da primeira indústria de carrocerias para ônibus em Botucatu

Em Botucatu, o papamóvel (fabricado pela CAIO) utilizado por João Paulo II, em 1980, já passou por reformas, ganhou nova pintura e permanece no acervo da empresa.

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em Botucatu
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO IV Nº 1098 QUINTA-FEIRA , 16 DE MAIO DE 2024
Os
nascem
Diário

A INDUSTRIALIZAÇÃO

EM BOTUCATU

Para poder abranger todo o desenvolvimento industrial de Botucatu, além da pesquisa entre nossos historiadores (“Achegas para a História de Botucatu”, de Hernâni Donato e “No Velho Botucatu”, de Sebastião de Almeida Pinto), buscamos os depoimentos de botucatuenses que vivenciaram e até mesmo participaram do processo de industrialização da cidade e fizemos pormenorizada pesquisa nos jornais antigos (Folha de Botucatu e Correio de Botucatu) a que tivemos acesso e, especialmente, nos dois ALMANAQUES DE BOTUCATU: o primeiro, “Almanack de Botucatu”, de 1920 e, o outro, o “Almanaque Cultural de Botucatu”, de 2000, fontes de referência da história de Botucatu.

Na 2ª. edição do livro “Memórias de Botucatu I”, de 1995, no capítulo “Ciclos Industriais” e na revista Peabiru, nº 09, de maio/junho/1998, no artigo “Os Pioneiros da Industrialização em Botucatu: Os Imigrantes Italianos”, já preparávamos a estrutura desta matéria

Do trabalho publicado no livro “Memórias de Botucatu” sobre os CICLOS INDUSTRIAIS, fizemos a divisão do desenvolvimento industrial do município em três ciclos: o 1º Ciclo Industrial, indo de 1890 a 1930; o 2º Ciclo Industrial, após o período depressivo da economia com a crise de 1930 que arruinou muitas industrias locais e perdurou de meados dos anos 50 até quase o final dos anos 60; e o 3º Ciclo Industrial, que estamos vivendo em toda a sua intensidade, iniciou-se praticamente nos anos 70, sendo que começou a ter maior e melhor desempenho de meados dos anos 80 até os dias atuais

1º CICLO INDUSTRIAL

Os pioneiros da industrialização em Botucatu foram os imigrantes. O nosso 1º Ciclo Industrial começou com o início das atividades dos valorosos imigrantes no último decênio do século passado (1890) e veio até a crise econômica de 1929 (arrastando-se até meados dos anos 30) que sacudiu o Brasil e arruinou muitas industrias e estagnou muitas cidades. O escritor botucatuense Hernâni Donato, em seu livro “ACHEGAS”, registra pormenorizadamente a atuação dos imigrantes no início da industrialização e, ao depois, na consolidação e ampliação de nosso parque industrial No “Achegas”, os nomes dos pioneiros imigrantes que se encarregaram de abrir com ousadia o caminho: Petrarca Bacchi, Virgínio Lunardi, Aleixo Varoli, Atílio Losi, Pedro Delmanto, Pedro Stefanini, Antônio Michelucci, Adeodato Faconti, João Pescatori, Felipe di Sanctis, Serafim Blasi, Eugênio Monteferrante, Ângelo Milanesi, João Spencieri e Palleóge Guimarães.

A importância do 1º Ciclo Industrial de Botucatu é medido pela grandiosidade do Grupo Industrial de Petrarcha Bacchi e pela diversificada Industrias Lunardi. Em outra realidade sócio-econômica a nível nacional e de uma Botucatu ainda provinciana, as Indústrias Bacchi abrangiam: cerveja, fábrica de gelo, sabão, serraria, máquina de beneficiar café e cereais, massas alimentícias, fiação e fábrica de chapéus Para completar a visão do quadro de então e da «visão» daquele dinâmico e ousado imigrante, basta dizer que construiu uma Usina Hidrelétrica para «tocar» as suas industrias, chegando a fornecer energia elétrica à cidade de Botucatu em bem sucedida concorrência à Companhia Paulista de Força e Luz. Se isso não bastasse, abriu Escolas e contratou Professores para alfabetizar seus funcionários e educar os filhos dos trabalhadores de todas as suas indústrias PETRARCA BACCHI traduz bem o espírito dos pioneiros da industrialização em Botucatu E para ilustrar a grandiosidade desse período industrial é importante mostrar a efetiva liderança política de Botucatu em toda a região. No ano de 1926, a cidade de Botucatu possuía 33.393 habitantes, sendo que a cidade de Bauru possuía 24.369 habitantes! (recenseamento geral de 1920). Hoje, é claro, a realidade é outra: Botucatu possui, em 2010, cerca de 140 mil habitantes, enquanto Bauru já possui mais de 350 mil habitantes

2º CICLO INDUSTRIAL

De meados dos anos 50 até os últimos anos da década de 60 tivemos o nosso 2º Ciclo Industrial. Na verdade, em que pese ter sido um período de expressão modesta em termos econômicos, deixou plantadas algumas sementes que vieram a crescer neste nosso atual 3º Ciclo Industrial: a nossa indústria aeronáutica, a de auto-peças e a de roupas.

No setor alimentício, tivemos já no final dos anos 60, a inauguração festiva da CATU - Produtos Alimentícios, do Grupo Martin. Esse grande empreendimento foi uma iniciativa arrojada de Ângelo Martin e seus irmãos que construíram a fábrica ao lado da Rod. Marechal Rondon, local escolhido para a implantação, anos depois, da CAIO, montadora de ônibus urbanos.

Com a OMAREAL tivemos plantada a semente de nossa Indústria Aeronáutica: o Engº Antônio Azevedo instalou, em hangar adaptado, oficina de manutenção de aviões, chegando a projetar e a construir um protótipo que obteve sucesso No entanto, a OMAREAL não vingou

Coube a José Carlos Neiva, fabricante de planadores no Rio de Janeiro, atraído à cidade por Azevedo, a incumbência de instalar uma fábrica de aviões: a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda., posteriormente Neiva-Embraer. Em 1956, a Neiva passou a fabricar o PAULISTINHA P-56.

3º CICLO INDUSTRIAL

Uma nova realidade sócio-econômica a nível nacional e uma outra cidade de Botucatu, progressista e universitária, representam o cenário do novo ciclo industrial que vivemos.

Com início praticamente nos anos 70, somente agora podemos sentir, em toda a sua plenitude, a grandiosidade deste novo período industrial.

(“Memórias de Botucatu”, 1995) Alicerçado na presença de grandes complexos industriais, a cidade de Botucatu vive período de grande progresso. As grandes indústrias, de porte internacional, asseguram a estabilidade de nosso 3º Ciclo Industrial. A CAIO - Companhia Americana Industrial de Ônibus é uma das maiores empresas fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo, perdendo somente para uma fábrica estatal da Hungria. Dedicada aos mercados interno e externo, a CAIO exporta 15% de sua produção (produção média de 16 ônibus diários) A fábrica da DURATEX, pertence ao poderoso conglomerado do Banco Itaú, praticamente é voltada para a exportação, tendo conquistado e dominado o mercado europeu pela alta qualidade de seus produtos (hoje, a EUCATEX assumiu o setor industrial da Duratex). A STAROUP, fábrica de jeans, após conquistar o mercado interno, chegou a ganhar o mercado externo, partindo para produção nos EUA, Portugal e URSS. A HIDROPLÁS E BRAS-HIDRO, atuando no ramo de fibra de vidro, gozaram de grande prestígio a nível nacional e internacional. A NEIVA-EMBRAER dispensa comentários, sendo certo que a qualidade de suas aeronaves engrandecem o Brasil. E a MOLD-MIX garante segura posição no mercado, com a alta tecnologia de seus produtos Na verdade, as grandes industrias garantem às pequenas e médias indústrias a necessária estabilidade para o desenvolvimento de suas potencialidades, através de uma entidade representativa forte e prestigiada a nível estadual e nacional.

Cidade universitária, com boa estrutura de serviços, abrigou muitas indústrias, todas de especial importância para o município e região, mas com destaque para as grandes industrias, com ramificações e mercados a nível nacional e internacional.

Daí o destaque dado à CAIO, IRZAR, DURATEX, EUCATEX, NEIVA-EMBRAER, STAROUP, HlDROPLÁS, BRAS-HIDRO e MOLD-MIX.

Mais de 10 mil trabalhadores na indústria botucatuense Déficit habitacional Um desafio

Um desafio que encontra perspectivas no futuro.

Um desafio que encontra uma classe patronal consciente, dinâmica e moderna.

O CONJUNTO EDUCACIONAL, ASSISTENCIAL E ESPORTIVO DO SESI e a sede regional da Delegacia do CIESP são prova disso

A nova classe dirigente patronal de Botucatu está credenciada a enfrentar e vencer esses desafios.

No entanto, como bem mostrou matéria publicada na revista Peabiru, nº 26, de setembro/ outubro/2008, é preciso ousadia e a participação positiva do Poder Público para que possamos vencer o alto déficit habitacional:

“...Com a construção da COHAB 1- Conjunto Habitacional “Humberto Popolo”, o Prefeito Lico Silveira conseguia o grande feito de trazer para Botucatu um conjunto residencial popular MAIOR que muitos municípios vizinhos ( Bofete, Conchas, Itatinga, Pardinho). É de justiça destacar a colaboração efetiva da Câmara Municipal para o sucesso desse empreendimento. Na atualidade, o Poder Público em parceria com a iniciativa privada tem dotado Botucatu de conjuntos habitacionais que estão reduzindo o déficit habitacional do município.

“A Industrialização em Botucatu” objetiva a que a nossa cidade encontre o seu lugar de destaque no mais desenvolvido Estado brasileiro e que os jovens empresários que comandam o seu presente possam lhe trazer o progresso, a justiça social e o prestígio que no passado, em seu 1º Ciclo Industrial, lhes foram assegurados pelos imigrantes pioneiros (AMD).

Obs.: Como todo este trabalho está baseado em matérias publicadas em 1995, destacamos que, atualmente, mais duas grandes industrias estão instaladas no município: a EUCATEX e a IRIZAR.

Destaque: Para o Século XXI , a Industrialização de Botucatu assume perspectiva histórica com o projeto grandioso da DEXCO para Botucatu: a maior fábrica de revestimentos cerâmicos do Brasil, num investimento de 600 milhões!

A DEXCO é a nova denominação da Duratex. E a DEXCO é composta pelas empresas: DECA, PORTINARI, HYDRA, DURATEX, CEUSA E DURAFLOOR

VOCAÇÃO E DESTINO DE BOTUCATU

Agostinho Minicucci

“As últimas notícias dão conta de que a orientação dos industriais paulistanos é de transferir as fábricas para o interior, valendo-se dos incentivos fiscais, facilidade de condução, ambiente de trabalho, mão de obra mais fácil, etc.

Primeiro, através da SUDENE, a seguir Manaus, e agora o interior de São Paulo, tem sido a meta de transferência industrial.

É comum ver-se na Capital, a placa de aluga-se ou vende-se à porta de grandes prédios ou barracões

Isso nos leva a pensar em Botucatu. A infância de nossa cidade foi marcada por um surto industrial, em primeiro lugar pelo pioneirismo da colônia italiana, ávida de grandes realizações e da conquista da nova pátria Os oriundi, como os Bacchi, os Blasis, os Lunardis, os Milanesis e tantos outros, verdadeiros capitães de indústrias, trouxeram o know how da Itália e deixaram marcas em prédios que ainda hoje são símbolos de uma época áurea na efervescência da convivência de imigrantes e brasileiros

Petrarca Bacchi marcou um ciclo na indústria botucatuense levando-a a competir com a poderosa Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL e a instalar uma usina hidroelétrica e outra termoelétrica, chegando à ousadia de fornecer energia à cidade. Produziu cerveja apreciada em todo o país. Introduziu o primeiro elevador em indústria, em São Paulo distribuía de brinde um sifão fabricado na Alemanha.

O berço da Votorantim foi Botucatu e tivemos o início de um ciclo de calçados, com o dinâmico Delmanto. E nisso precedemos a cidade de Franca e a lembrança são os nossos curtumes

A Antártica andou por Botucatu, criando uma vila com seu nome e chegou a comprar uma fazenda para cultivar cevada Outras tentativas houve Por pouco a Industria Vidigal não adquire o espólio Bacchi para transferir o seu complexo industrial para Botucatu

Em segundo lugar, a nossa privilegiada posição geográfica tornou-nos um entreposto ímpar no Estado, o que nos deu repartições centralizadas importantes

Então...”

(“A Gazeta de Botucatu”, de 27/09/1985)

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Os Pioneiros

José Antônio Sartori*

Dante Trevisani foi um dos muitos italianos que pontificaram pela tenacidade no trabalho e pela inteligência na realização de suas atividades.

Filho de Aniceta Garbelini e Secondo Trevisani, nasceu em Treviso, na Itália, no ano de 1903.

Em 1911, a família Trevisani veio para o Brasil e fixou residência em São Paulo Dante frequentou a escola primária e depois o curso de aprendizagem de mecânica de automóveis. Mais tarde, como empregado, tornando-se um expert na profissão, passou a ocupar um cargo de responsabilidade na Grande Oficina Geral, em São Paulo.

Aos 18 anos, senhor absoluto da técnica mecânica de motores, deixou a empresa de sua formação e veio para Botucatu.

Aqui abriu modesta oficina mecânica na descida do Moinho do Salgueiro (começo da Rua Amando de Barros). De início, sozinho, soube progredir e ocupar lugar de destaque entre os proprietários de oficinas; seja pela fineza no trato ou pela competência inerente ao ofício, a Automecânica Trevisani ganhou preferência indiscutível num raio de ação que ultrapassou a região de Botucatu.

Em 1927, contraiu núpcias com Dona Palmira Sartori. Desse consórcio teve os seguintes filhos: José (Zelão), casado com Áurea Aparecida Bartuilhe; Dante, casado com Marlene Inês Firmino; Sílvio, casado

com Vera Moreira; Antônio, casado com Maria Helena Blasi; Lúcia Aparecida, casada com Domingos Kron.

Com o aumento progressivo da clientela e colaboração de familiares, construiu a Oficina Auto Sport Dante Trevisani, à Rua Áurea n° 30, atual Rua Cardoso de Almeida, 710, em 1930

No ano de 1932, adquiriu uma casa com extenso quintal na esquina da rua Áurea com a Monsenhor Ferrari. Aí instalou nova oficina em três amplos barracões e, posteriormente, edificou o sobrado que passou a ser sua residência.

Observando as condições e a viabilidade dos transportes naquela época, teve a percepção de largos horizontes para o transporte rodoviário, instalando a 1ª linha de Auto Ônibus Circular em Botucatu, da Cidade ao Bairro da Estação (1933).

A Pioneira “Empresa Auto Ônibus Botucatu” de Dante Trevisani, abriu linhas de ônibus intermunicipais ligando Botucatu a São Manoel, Bauru, Itatinga, Avaré, Piracicaba, Pirambóia, Espírito Santo do Rio Pardo (Pardinho) e Vitória (Vitoriana).

A oficina de veículos para a manutenção dos serviços de transporte coletivo de passageiros, elevou Dante ao cargo de empresário de fábrica de carrocerias para ônibus. Num dos barracões da oficina montou secções de carpintaria, funilaria, tapeçaria, pintura a Duco e outras, com operários especializados em cada departamento.

Podemos afirmar seguramente que a primeira indústria de carrocerias para ônibus em Botucatu foi uma iniciativa de Dante Trevisani.

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Fabricou carrocerias para montar 13 ônibus Alguns foram feitos sob encomenda para empresas de outras cidades (Cambará, Bandeirantes, São José dos Campos)

Em 1937, a Empresa fez um acordo com a Agência Ford de Botucatu que cedeu quatro carros zero quilômetro com os quais Dante abriu uma linha de Botucatu a São Paulo

Embora novos, os carros não suportaram a longa distância, a estrada e a serra de Botucatu. Como os carros quebravam, o empreendimento durou apenas 90 dias.

Sua firma possuía também caminhões de transporte de cargas: açúcar de Porto Feliz e lenha para a Sorocabana.

Desportista do automobilismo, construiu, certa vez, em cima de um chassis Ford, um carro de corridas para participar desses eventos em nossa cidade (1930).

Quando ia a São Paulo, na volta guiava sempre um novo carro: Bugati, Nash, Chevrolet. Certa vez, trouxe um enorme Buick de oito lugares com o qual inaugurou a linha de transporte coletivo de Botucatu a Piracicaba

Era um espírito aberto às inovações relacionadas as suas atividades sempre ligadas ao automóvel que foi e é, até os dias atuais, a “fúria” do século XX.

Entusiasta do motociclismo. Portanto, amigo da velocidade. Sua moto marca DKW, de 500 cilindradas, com partida elétrica, podia desenvolver até 120 Km/hora. Exímio motociclista capaz de fazer acrobacias.

Foi representante da firma Cassio Muniz na venda de motos Harley Davidson.

A presença de Dante Trevisani na história de Botucatu representa o pioneirismo no transporte coletivo de passageiros e na indústria de construção dos meios de transporte.

Prematuramente falecido em 1939, em acidente na estrada para São Paulo, deixou seu nome gravado no coração dos botucatuenses, legando a seus filhos um exemplo de tenacidade, de luta invulgar e de trabalho que é a dignidade e sua esperança mais preciosa.

Após o falecimento de Dante Trevisani, a Empresa de Ônibus Botucatu continuou em franco desenvolvimento, graças à administração de sua espôsa e filhos por mais de meio século.

Registro Histórico - A Revista Peabiru mais uma vez tem a satisfação de apresentar matéria de grande importância para a memória de Botucatu. O trabalho de pesquisa do Prof. Sartori, com certeza, terá a maior repercussão dos últimos tempos.

A saga da Família Trevisani estava a merecer a devida atenção por parte de nossa imprensa escrita. Faz parte integrante da história de Botucatu.

Primeiramente com o pioneiro e sonhador Dante Trevisani, capaz de antever o futuro e com ousadia necessária para rasgar os grandes horizontes e lançar positivos empreendimentos.

Basta dizer de seu pioneirismo na fabricação de ônibus em Botucatu

Antes de ser um “capitis diminutio” para a Caio é, a nosso ver, a prova provada de que essa grande empresa acertou ao vir para Botucatu onde já estava plantada por um imigrante sonhador essa semente industrial!

Com sua morte prematura em acidente de moto, assumiu o comando dos negócios sua esposa Dona Palmira Sartori Trevisani

Como era natural, com filhos pequenos, Dona Palmira socorreu-se do apoio de sua família, tendo à frente seu pai José Sartori (Cocada), com a participação mais direta de seu irmão Thomaz. Com o passar dos anos, essa verdadeira Matriarca soube levar a bom termo os negócios familiares até que seus filhos assumissem, com grande e destacada dedicação, o comando dos negócios. Nessa época, o Tio Thomaz já estava estabelecido com negócio próprio em sociedade com o Nico Aversa, com prestigiosa oficina de mecânica completa e funilaria.

De 1934 a 1985, portanto por mais de 50 anos, a Família Trevisani prestou inestimáveis serviços ao progresso e desenvolvimento da cidade de Botucatu. Além do pioneirismo na fabricação de ônibus, também foram pioneiros no transporte coletivo de passageiros e na implantação de linhas de ônibus intermunicipais, especialmente para Bauru e São Paulo!

Dante Trevisani - seu patriarca! - ficará na lembrança de todos como alguém que acreditou em Botucatu.

Para aqui veio, viu e venceu...

Seu legado precisa sempre ser lembrado como forma de orientação positiva para as novas gerações. (AMD)

*Professor José Antônio Sartori -Professor de Ciências do Estado, Autor de livros didáticos, foi Membro da ABL – Academia Botucatuense de Letras, tendo ocupado a sua Vice-Presidência.

( Acervo revista PEABIRU, nº 14, de março/abril de 1999)
da Cuesta 5 Foto Histórica da Revista Peabiru, setembro/outubro de 2008 – edição nº 26
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Uma brasileira que foi Rainha de Portugal

A filha mais velha do Imperador do Brasil, Dom Pedro I e da sua primeira esposa, a arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria, nasceu no Rio de Janeiro em 4 de abril de 1819, pouco antes da proclamação da Independência do Brasil. Era a então Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga, que ficou conhecida em Portugal como Rainha Maria II. No Brasil recebeu os títulos de Princesa da Beira, Princesa Imperial do Brasil, título que manteve até o nascimento do seu irmão Dom Pedro II e também foi Princesa do Grão Pará (Estado do Pará).

Foi por dois períodos foi aclamada Rainha de Portugal, de 1826 a 1828, quando foi deposta pelo seu tio D. Miguel e depois, em 1834 até à sua morte, em 1853. Foi a única monarca de Portugal a nascer fora de terras europeiais.

Quando seu pai Dom Pedro I, abdicou ao trono de Imperador do Brasil e assumiu o trono português em março de 1826, alterou seu nome como monarca para Pedro IV, mas em pouco tempo declinou em favor da sua filha mais velha, que se tornou Rainha de Portugal e dos Algarves, aos sete anos de idade, como Maria II, que assim deixou o Rio de Janeiro a 5 de julho de 1828.

a maioridade de Maria II que passou a reinar sem a figura do regente.

Com isso, o casamento que aconteceria com seu tio, o infante D. Miguel de Bragança (1802-66), foi dissolvido e declarado nulo em 1 de dezembro de 1834.

Com a anulação, Maria II, casou em Munique, na Alemanha, por procuração, no dia 1 de Dezembro de 1834 e posteriormente na cidade de Lisboa, em Portugal, a 26 de janeiro de 1835 com o príncipe Augusto de Beauharnais, que morreu dois meses depois, com doença de difteria. Havia necessidade de outro marido. Apareceram candidatos de França, Nápoles, Alemanha e Sardenha e foi escolhido o sobrinho do rei Leopoldo I dos belgas.

Em Portugal, Dom Miguel, também lutava pelo trono, era o irmão mais novo de Pedro I e aceitou as condições impostas pelo irmão, isto é, tornar-se noivo da sua sobrinha, D. Maria da Glória e, para poder ser nomeado regente do reino na menoridade desta, jurou perante a corte austríaca, a Carta Constitucional de 1826 com "reserva de todos os seus direitos" e a expressa determinação de esta ser previamente aceite pelos três estados do reino. Os brasileiros não aceitaram que o imperador Dom Miguel fosse aclamado Rei de Portugal, o que resultaria na unidade da antiga monarquia, da qual se haviam libertado em 1822.

Dom Miguel, contudo, não respeitou o acordo, chegara a Lisboa em 22 de fevereiro de 1828, recebendo das mãos da sua irmã mais velha, a infanta Isabel Maria, a regência de Portugal. Miguel convocou o conselho dos três Estados para decidir a quem pertencia a coroa, segundo a antiga forma das cortes do país, quando se tratava de graves pontos de direito. O partido miguelista contrapunha que D. Pedro I do Brasil perdera o direito à Coroa Portuguesa e, por isso, a designar um seu sucessor (no caso, sua filha, D. Maria da Glória) desde o momento em que erguera armas contra Portugal, declarara a independência do Brasil e se tornara imperador desse novo País. Com efeito, de acordo com as Leis Fundamentais do Reino, um príncipe herdeiro que levantasse armas contra Portugal ou ascendesse ao trono de um estado estrangeiro, perderia o direito ao trono português. De acordo com esta interpretação, D. Miguel seria assim o legítimo sucessor de D. João VI, vindo a ser legitimado pelas Cortes após a morte de D. João, em 10 de março de 1826, em conformidade com as leis tradicionais vigentes antes e após a revolta liberal de 1820.

O reinado de maria II, foi interrompido pelo levantamento absolutista liderado pelo seu tio, noivo e regente D. Miguel, que foi proclamado Rei pelas Cortes a 7 de julho de 1828. Começaram então as Guerras Liberais que se prolongam até 1834, ano em que Maria foi reposta no trono e Miguel exilado para a Alemanha.

Em 18 de setembro de 1834, o legislativo de Portugal, aprovou

Em 1836 casou com o príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Koháry, nascido em Viena. Meses depois, chegou o marido. Haviam casado em Coburgo por procuração em 1 de janeiro de 1836 e, em Lisboa, na Sé patriarcal em 9 de abril de 1836. O príncipe alemão passou a Rei Consorte de Portugal, como D. Fernando II, em 16 de setembro de 1837.

D. Maria II engravidou 12 vezes e teve 11 partos. Desde a sua primeira gravidez, aos dezoito anos de idade, Maria II enfrentou problemas para dar à luz, com trabalhos de parto prolongados e extremamente difíceis. A perigosa rotina de gestações sucessivas, somada à obesidade (que terminou por causar-lhe problemas cardíacos) levaram os médicos a alertarem a rainha sobre os sérios riscos que corria. Indiferente aos avisos, Dona Maria II limitava-se a retrucar: "Se morrer, morro no meu posto".

Em 15 de novembro de 1853, treze horas após o início do trabalho de parto do natimorto infante Dom Eugénio, o seu 11º filho, Dona Maria II morreu, aos 34 anos de idade.

Foi no reinado de Maria II, em 1853, que começou a circulação do primeiro selo em Portugal, com a sua efígie, pago pelo remetente e não pelo destinatário, como era habitual antes da criação do selo, foi por isso que as cartas antes da época da criação normalmente não eram recebidas pelo destinatário. Também teve moedas cunhadas em seu nome.

Foi a única rainha brasileira em terras portuguesas.

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