

PEREGRINAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II

ELDA MOSCOGLIATO
Do Zaire, coração da África , para a França, capital do mundo. Da Catedral de Quinxassa, para Notre Dame de Paris e dali, para Lisieux. Agora, dentro de breves dias, da Catedral de mãos postas – obra- prima de Niemeyer – para o Santuário Nacional de Aparecida do Norte. Esses são os pontos altos da peregrinação apostólica de João Paulo II pelos caminhos do mundo no roteiro mais altamente significativo e apoteótico destes últimos tempos.
Ele se sobrepõe a quaisquer outros assuntos de natureza internacional. Esses, são obra dos homens. A supremacia balística dos possuidores da bomba H; a insaciável fagomania moscovita em demanda dos pontos-chave na bacia mediterrânea; a rigorosa e discutida inclusão das nações no Mercado Comum Europeu, entre as mais ricas e poderosas; a insofrida ganância árabe desequilibrando a economia mundial, tudo isso e mais as coisas corriqueiras e breves, tudo se desfaz de uma hora para outra consoante a maré interesseira das conversações terrenas.
Ele, porém, que apenas pede a “verdade pura e simples entre os homens”, ele se faz o arauto de uma mensagem que transcende a falácia humana. Ele traz um convite de paz que abraça todas as criaturas transpondo todas as barreiras preconceituosas de cor, religião, castas ou nações.
Ele é o homem sofrido da última guerra mundial. Ele testemunhou todos os horrores da intolerância , conheceu os imensos blocos cinzentos de Nowa Huta, cidade sem igreja, destinada ao Homem Novo concebido sem Deus pelo materialismo esquerdista.
Ele não é apenas um Chefe de Estado. Em cada ponto de sua peregrinação ele deixa impregnada com a irradiação envolvente de sua grandeza espiritual, a mensagem matafísica que desarma os espíritos e congrega os homens de boa vontade.
Guia os passos, para que os espaços possam ser um só”.
Foi necessário que de Roma nos chegasse à última hora quase, um telegrama papal pedindo se incluísse, no vasto programa elaborado para seus dez dias em terras brasileiras, um encontro com os intelectuais patrícios. E aqui consideramos como intelectuais, não só os profissionais da pena mas também, educadores e educandos em todos os níveis de escolaridade. Imperdoável omissão, não há o que negar. Mas a penetrante acuidade do Pontífice diplomaticamente preencheu a falha lamentável.
Organizou-se então, de imediato, um rol de pelo menos cerca de oitenta nomes, das várias Artes para, improvisadamente defrontarem a fala serena, incisiva, vivida e persuasiva de Sua Santidade que a tudo penetra com sua polimorfa cultura e incrível sabedoria.
Em todos os países que S. Santidade vem percorrendo, há com bastante ênfase , o seu encontro com a classe pensante nacional. Na África , ao defrontar-se com a diplomacia reunida para recepcioná-lo, João Paulo II, diplomata por excelência, ressaltou a importância do relacionamento internacional pondo em tais relações o grande dever de se preservar,pelo reto desempenho das negociações entre os povos, a solicitude pelo bem comum, pela paz mundial. Ainda no Continente Negro, perante milhares de professores e universitários reunidos no Palácio do Povo, ele os concita ao amor ardente da verdade encorajando-os à investigação cientifica sem que se percam os rumos da dignidade humana.

Anteriormente, na Polônia, sua terra natal, ele recitou o “De Profundis” ante os fornos crematórios nazistas. Em Auschwitz, na cela de Maximilian Kolbe ele se deteve em silencio ante a grandeza imensa daquela vida sacrificada em holocausto a família. Lá , ante a imagem preta da Virgem de Czestochowa,santuário nacional dos poloneses, ele reafirmou ao mundo que “o paradoxo maior de Auschwitz é o perdão e a reconciliação”.
No México, em peregrinação a N.Sra. de Guadalupe, ele lança ao mundo a caridade e a redistribuição equânime dos bens que sobejam para uns poucos e faltam para a maioria. E lembrou a distribuição dos pães para a multidão faminta do deserto. É o Evangelho que ele vem reviver para que ao mundo haja paz.
Agora, entre nós, ele vem conhecer desde as maravilhas singulares das águas do rio Negro às extensões oscilantes dos trigais do Sul. Vem constatar as potencialidades deste país-continente em que Deus pôs suas complacências. Vem reafirmar-nos que nosso povo não conheceu jamais os trilhos trágicos que levaram ao genocídio Que nosso asfalto se abre à amplidão sem fim na imensa vastidão territorial forjada em dia pelas botas dos Borba Gatos e pela sotaina civilizadora dos filhos de Loyola
Vem reafirmar-nos, em sua linguagem elegante e incisiva que a nossa densidade populacional – onze habitantes por quilometro quadrado – não necessita de limitação de natalidade e nem justifica as leis favoráveis ao aborto. Vem dizer-nos em poucas e significativas palavras que o solo rico e ubertoso precisa do trabalhador do campo e do incentivo oficial à produção. Vem dizer-nos que a educação é fundamental à ordem e ao progresso da sociedade. Vem dizer-nos ainda, que acima de tudo, está a harmonia social que só se ajusta verdadeiramente dentro da vivência evangélica.
E terminará por certo, pelo triunfo da Igreja através de seu próprio verso que diz :
“Pedro, você é o chão; e que outros possam caminhar sobre você .
EXPEDIENTE
Dias depois, na França, o mais jovem e jovial Papa deste século, de novo insiste em estar entre intelectuais que ele já conhecia nas sucessivas missões cardinalícias doutros tempos, assegurando-se agora, uma vez mais, pela transparência cristalina do pensamento francês, da fidelidade cristã daquele povo históricamente chamado “o filho predileto da Igreja”.
Reunidos no “Parc dês Princês”, mais de cinqüenta mil estudantes acorreram ao seu aceno e ali, mudada inteiramente a estrutura de seu discurso para o momento, João Paulo II deixou-se contaminar pela exuberante alegria, pela cálida ternura da recepção estudantil extravasando o carinho que sente pela mocidade, ele mesmo um jovial, estudioso e atlético eterno aluno.
Desse encontro, são tantos e tão enternecedores os seus pensamentos sobre a juventude, que uma antologia poderia enfeixá-los como sábias lições de humanidade. Sintetizamos aqui um só que abarca os amplos limites de seu amor aos jovens : “Desejo-vos verdadeiramente que corrijais o desafio deste tempo e que vos torneis todos os campeões do domínio cristão do corpo. O espírito éo dado original que distingue fundamentalmente o homem do mundo animal e que lhe dá um poder de domínio sobre o Universo”.
Nada mais certo, portanto, que em sua estada brasileira, queira S. Santidade falar aos intelectuais, achegar-se à classe universitária, aos estudantes em geral, penetrando-lhes, num resumo cultural brasileiro, o pensamento cristão.
Somos filhos e herdeiros da civilização latina. Nascemos historicamente de uma Nação inteiramente crista empenhada com a colonização, em difundir a doutrina cristã. As nossas primeiras escolas tiveram o carinhoso principio jesuítico de formação e de educação.
Isso tudo não pode ser relegado nos dias atuais, quando a influencia tecnocrata tende a transformar inteiramente os princípios formativos brasileiros.
De Roma herdamos a estrutura jurídica; da França, as lições multifacetadas do intelectualismo. De Portugal haurimos a ética formativa e a magnífica espiritualidade, vale dizer, cristandade, que nos faz, sem temermos, ser a maior nação católica do mundo. Como não integramos um programa com a intelectualidade patrícia? O Sumo Pontífice vem abraçar a todos e afirmar-nos uma vez mais, dentro do Evangelho, que somos todos um povo de Deus. E que para Ele caminhamos. ( A Gazeta de Botucatu – 27/06/1980 - 04/07/1980 )
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
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O ESTADISTA DE DEUS
ELDA MOSCOGLIATO
Quando este número da “Gazeta” estiver circulando entre seus leitores, estará rompendo os céus dos trópicos, a caminho da casa, o homem mais discutido deste fim de milênio . Karol Wojtyla retorna ao Vaticano. Fica-nos para sempre na memória sua imagem serena, a bracura imaculada de sua fala tranquila e o reflexo luminoso de sua inteligência invulgar, animados pela espiritualidade de uma Fé mosaica como tão bem retratou o povo cariosa fixando-o, como “João de Deus”, nas páginas do cancioneiro popular.
Caminhando por sobre as nuvens ou o asfalto, ancorou aqui e ali, assenhoreando-se em três latitudes distintas, das três culturas diferentes que caracterizam este imenso País.
Conheceu a região-centro por Brasília que é o paradoxo frisante do âmago brasileiro. Recebeu o carinhoso afeto de Minas, a exuberante alegria do Rio e a desordenada acolhida de São Paulo, misturada a “slogans” de massa incompatíveis com a ocasião. No cotejo das recepções não temos muito de que nos orgulhar.
No Sul, foi a calorosa acolhida de culturas européias transplantadas que, fixadas em terras brasileiras não perderam as características de origem. Bem se pode avaliar o esmero com que foram programadas as visitas sulinas.
Depois o Nordeste e o Norte, oferecendo-lhe na espontaneidade nativa de sua gente simples e sofrida, o painel espelhado e amargo do subdesenvolvimento e das discrepâncias sociais.
Dominou todos os editoriais e os mais emperdenidos e recalcitrantes espíritos estenderam-lhe as mãos, num belíssimo transbordamento ecumênico. Não falou sequer uma vez, do domínio computadoresco. Silenciou por dez dias de permanência, as tiradas demagógicas. Sua cálida voz, persuasiva, mansa e profunda arrefeceu os ardores violentos dos extremismos de esquerda e direita. No entanto, tudo isso se intuiu no enunciado sereno da timbrada e dominante tônica de seus sessenta e tantos discursos, lidos programadamente a todas as camadas sociais ressaltando num só e único pensamento, a revalorização do homem pela supremacia do espírito.
O mundo todo, convergirdos os olhares para o Oci-


dente ouviu e comentou a mensagem do Papa. Só não o entendeu, aqui, quem não se dispôs, voluntariamente, para tanto.
Suas programações tem a característica da universalidade pois que dimanam de dois milênios de Evangelho e se estendem a todas as latitudes.
A sedução envolvente desse homem carismático está, mais proximamente de nós, no domínio total de nosso idioma. As nuances dialetais, o próprio sotaque afrancesado denunciador das missões diplomáticas do passado, deram-lhe uma singularidade atrativa. Falou português como um mestre. O seu claro enunciado vasado com elegância, correção e estilo, conferiram-lhe o magistral conhecimento de nosso idioma.
Há um tom atrativo no seu “Brésil” tantas vezes repetido e ouvido com agrado. Ligando o final plural dos verbos à vogal inicial do cursivo discurso, mais denunciou a fluidez encantadora da linguagem diplomática.
Mais sedutora ainda a sua versatilidade. Karol Wojtyla não repete adjetivos Às figuras belíssimas do pensamento fluem sempre novas, sempre plenamente audíveis, sempre profundamente atraentes.
O mais critico dos jornais brasileiros, o querido “Estadão” chamou num rompante inusitado de comoção, o “Estadista de Deus”.
Saibamos receber-lhe a embaixada . Saibamos praticar-lhe as profundas admoestações. Saibamos aceitar-lhe as diretrizes.
( A Gazeta de Botucatu – 11/07/1980 )

LEITURA DINÂMICA
1
– Essa valiosa raridade histórica pertence à CAIO e poderá ser transformada em disputada atração turística em Botucatu em uma parceria CAIO/Prefeitura

2

– O Papa João Paulo II quando visitou o Brasil?Rio de Janeiro fez questão de ouvir e prestigiar o cantor Roberto Carlos


3
– O turco Mehmet Ali Agca que em 1981 atentou contra a vida do então papa, recebeu na prisão romana de Rebbibia o sumo pontífice que o perdou... E 31 anos depois dessa visita, o ex-terrorista foi ao túmulo do santo polonês levar flores...


4
– Da personalidade forte e positiva do Papa João Paulo II, ficou como registro de seu carisma a sua vitalidade e a sua dedicação à prática de esportes saudáveis, quer na escalação de montanhas até esquiar na neve... Verdadeiro peregrino a visitar e promover a evangelização pelo mundo marcou a imagem cristã e santa de SÃO JOÃO PAULO II
