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A primeira Faculdade de Medicina do Brasil foi a Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB), fundada em 18 de fevereiro de 1808. A escola foi criada por Dom João IV, pouco após a chegada da corte portuguesa ao Brasil. Página 3

O DR. COSTA LEITE FOI O PRIMEIRO MÉDICO DE BOTUCATU E REGIÃO, VINDO DA BAHIA ONDE SE FORMOU PELA PRIMEIRA FACULDADE DE MEDICINA DO BRASIL. PÁGINA 2

DR.COSTA LEITE: 1º MÉDICO DE BOTUCATU E BENEMÉRITO FUNDADOR DA MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE!

DIA DO MÉDICO - 18 DE OUTUBRO

Em homenagem ao DIA DO MÉDICO, nada mais justo que homenagearmos o 1º Médico de Botucatu e Fundador de nosso primeiro hospital: a MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE! A Misericórdia Botucatuense, fundada em 1893, completou em 1993 - para júbilo geral! -, seu 1º Centenário Um século. Uma vida de bons e inestimáveis serviços prestados a Botucatu. Entre os botucatuenses que colaboraram desde o início, destacamos a presença e liderança do médico Antônio José da Costa Leite. Baiano de nascimento, formouse médico em Salvador e veio ajudar na construção do Estado do Bandeirantismo, tornando-se botucatuense de coração. A influência do Dr. Costa Leite na cidade de Botucatu foi marcante. Como único médico da cidade e de toda uma grande região, Costa Leite gozava de efetivo prestígio. Botucatu era considerada “Boca do Sertão” e a rota dos tropeiros que rasgavam o solo paulista em direção a Mato Grosso e ao norte do Paraná. Àquela época, o médico diplomado exercia verdadeiro fascínio e admiração junto à população Tratado com especial deferência, era tido como alguém possuidor de poderes especiais, quase como um representante dos deuses, dos quais receberia poderes mágicos...

Antes da entrada do novo século, a pequena Botucatu já possuía o seu primeiro médico E haveria de ser ele a liderar amplo movimento para a construção de nosso primeiro hospital: a Misericórdia Botucatuense.

Na história das instituições filantrópicas, ao menos em suas origens e primeiros tempos, duas características são sentidas: a presença constante de crises financeiras e a obtenção de melhorias tecnológicas graças ao prestígio e relacionamento desses profissionais da medicina, verdadeiros sacerdotes da saúde, junto às suas comunidades

Assim ocorreu com a nossa Misericórdia. O Dr. Costa Leite obtém junto à matriarca Dona Isabel Franco de Arruda, rica proprietária que para aqui veio, nascida na Vila da Constituição (Piracicaba), a expressiva doação de dez contos de réis

Dez contos de réis!

Com esse primeiro capital, o Dr. Costa Leite lançou-se à luta. Antônio Ferreira da Silva Veiga Russo e Domingos Soares de Barros doaram ao novo empreendimento parte de suas propriedades, para a localização e construção das obras. Domingos Soares de Barros além dessas terras, doou propriedades na cidade como primeira fonte de renda da Misericórdia.

O prestígio do Dr. Costa Leite estava viabilizando o hospital. Na galeria dos colaboradores iniciais, vemos os nomes de Antônio Joaquim Cardoso de Almeida (fundador do clã que tantos benefícios trouxe para Botucatu) português de nascimento e que chegou a exercer a vereança em nossa cidade, Floriano Simões, Monsenhor Paschoal Ferrari (idealizador de nossa Diocese), Raphael de Moura Campos, Antônio Cardoso do Amaral (ou Antônio Cardoso Almeida), José Cardoso de Almeida (Jucá), Armindo Cardoso de Almeida, Amando do Amaral Barros, João Morato Conceição, Brazil Gomes Pinheiro Machado, José Paes de Almeida, João Rodrigo de Souza Aranha, Antônio Amaral César, Luiz Ayres de Almeida Freitas, Raphael Nigro, Henrique Reis, João Morethzorn, Joaquim Benedito da Costa, Alberto Pereira, Luiz Augusto Tavares, Cândido Cyríaco Martins, Caetano Caldeira, Napoleão de Barros, Samuel Levy, Joaquim Francisco de Paula Eduardo, José A. Camargo, Manoel Pinto Costa, José Moraes Costa, Francisco da Rocha Campos Bicudo, Manoel Theodoro de Aguiar, Fernando José Teixeira Guimarães, José Elias Marins, Francisco Antunes de Almeida, José Cláudio Pereira, Júlio C. Oliveira e José Pires de Almeida Moura.

A primeira Ata de Fundação e Constituição do novo e benemérito empreendimento é datada de 02 de janeiro de 1893. A primeira Diretoria constituída é composta, além do comando do Dr. Costa Leite, dos Senhores Antônio César, Amando do Amaral Barros, João Rodrigo e Floriano Simões. O Juiz de Direito, Dr. Luiz Ayres de Almeida Freitas, que por 20 anos dignificou a justiça em Botucatu, foi o primeiro Provedor da Misericórdia Botucatuense, tendo na administração o Sr. Antônio Ignácio de Oliveira.

A oito de dezembro de 1901, a Misericórdia foi oficialmente inaugurada. Seu benemérito, Dr. Costa Leite, assim relatou: “...no dia da inauguração enfeitei muito bem o prédio, iluminei-o com gás acetileno, deixei tudo pronto e fugi. Fui para o Lageado e só voltei à noite, quando tudo estava terminado. No início tivemos que vencer grandes dificuldades. Quase tudo parou. Mas, o sempre caridoso povo de Botucatu veio em meu auxílio.” (Folha de Botucatu, 14/12/1941).

presença estatal na assistência médica, a Misericórdia passou a atuar como um hospital conveniado com os Institutos Federais de Previdência. No entanto, NUNCA deixou de existir o espírito que norteou a sua fundação: amparar a todos que necessitem de apoio médico, notadamente aos mais carentes.

O primeiro médico a colaborar com o Dr. Costa Leite foi o Dr. Miguel Zacharias de Alvarenga. Ao depois, os Drs. Carvalho Barros, Vital Brasil, José Procópio Teixeira Guimarães, Aristides Franco Meireles, Vicente Vianna Júnior, Francisco Rodrigues do Lago, Jorge Vianna Bittencourt, Paschoal e Paulo Rugna, Miguel Losso, José Maria de Freitas, Moacir Corte Brilho, Jacinto Gomes, Marco Túlio de Carvalho, Antônio Gióia, Francisco Figueira de Mello, Horácio Figueiredo, Nestor Seabra, Edmundo de Oliveira e Darwin do Amaral Viegas.

Segundo relato do Dr. Olívio Stersa (Memórias da Misericórdia Botucatuense - 1988), temos a presença de médicos italianos atuando na Misericórdia: “...Entre os italianos que também freqüentavam o nosocômio, podemos citar os doutores Maggiore, Thadei, Antônio Gioia, os irmãos Paschoal e Paulo Rugna e Miguel Losso.”

Em 1948, com a chegada do novo Bispo Diocesano, Dom Henrique Golland Trindade, aconteceu o “encontro histórico” entre o grande chefe maçon e o chefe da Igreja Católica:

O FAMOSO TEATRO ESPÉRIA

O Sr. Luiz Baptistão, que foi Provedor da Misericórdia, realizou importante pesquisa relativa à história desse hospital beneficente. Recentemente, através da “GAZETA DE BOTUCATU”, de 12/03/93, trouxe ao conhecimento da comunidade botucatuense que “...os valorosos homens públicos, no correr dos tempos, antes já haviam pensado com que recursos financeiros contaria a Misericórdia para se manter em funcionamento, com as despesas de funcionários, cozinha, medicamentos, rouparia, limpeza, tudo enfim. Ocorreu-lhes, pois, a idéia, de ao mesmo tempo em que construiriam o hospital, erigiriam um teatro destinado a proporcionar alegrias e divertimento ao povo em geral, mediante pagamento de uma taxa por sessão de espetáculo, com função permanente, em proveito das finanças do hospital.”

Essa é a origem do Teatro Santa Cruz , em terreno de propriedade do hospital, ao depois Cine Espéria e sede da Sociedade Italiana de Beneficência, que o comprou da Misericórdia. A sua construção teve também projeto do Arquiteto Francisco B. Soler e a Comissão que administrou a construção do teatro era constituída do Dr. Antônio José da Costa Leite (Presidência), Armindo Cardoso de Almeida e Amando de Barros. No ano de 1954, um incêndio destruiu o teatro. Não foi reconstruído. A bela arquitetura de sua fachada ficou registrada nas fotos da época... Mas nessa pesquisa, o Sr. Luiz Baptistão nos dá, também, uma sinalização da situação e mando político da época, visto a reunião da Diretoria da Misericórdia ter ocorrido, sob a presidência do “...incansável Dr. Antônio José da Costa Leite, no Salão de Leitura do “Gabinete Literário e Recreativo de Botucatu”(o mesmo prédio que sedia a Rádio Emissora de Botucatu S.A., na Rua Marechal Deodoro, 320 - antiga e linda sede do Partido Cardosista).”

Realmente, a personalidade do Dr. Costa Leite era marcante. A par de seu desempenho como médico, era ele verdadeira locomotiva de nossa sociedade. Amante do teatro, além do empreendimento acima, participava ativamente de grupos teatrais amadores da cidade e patrocinava a vinda de companhias de fora No esporte, foi responsável pela introdução da prática do tênis de campo em Botucatu. Liderando destacadas personalidades de nossa sociedade, Costa Leite introduziu a prática desse esporte entre nós. As quadras então existentes situavam-se próximas das atuais quadras do BTC, ao lado do Centro Cultural e da Prefeitura Municipal.

INTRODUZIU O TÊNIS DE CAMPO

Pioneiros do Tênis em Botucatu: Da esquerda: DeoclesianoPontes, Ester Portela Pontes, (?), Antônio José da Costa Leite, Augusto Viana Junior, Virgínia Neves Costa Leite, (?), Aníbal Costa Leite. (“Achegas”, Hernâni Donato, 1985)

Na inauguração do Hospital, a eficiente pesquisa do Sr. Luiz Baptistão (Gazeta de Botucatu/ edição No. 1.699), nos dá a exata dimensão dessa solenidade: “Enfim, no dia 8 de dezembro de 1901, no edifício do Hospital, reunidas a Diretoria, Exmas. famílias, Associações, autoridades e grande massa popular... Houve discurso do Agente Consular Italiano, do Representante da Sociedade Italiana “Pró-Pátria”, do “Círculo Filo-Dramático Paulo Ferrari”, do representante da Sociedade “Casa de Savoia”, do representante da Loja Maçônica “Guia do Futuro” e “Sociedade de Caridade Maria Pia”. O Dr. Costa Leite foi maçon e venerável. No artigo “CENTENÁRIO DA MAÇONARIA EM BOTUCATU” (http://blogdodelmanto.blogspot.com. br/2011/06/centenario-da-misericordia-botucatuense.html), publicado pela revista botucatuense de cultura PEABIRU, de setembro/outubro de 1998, numa iniciativa da LOJA GUIA REGENERADORA, foi cedido para publicação e divulgação a ficha cadastral do Dr. Costa Leite: O Hospital sempre enfrentou dificuldades financeiras. Para efeito didático, dividimos em 2 fases a história da Misericórdia Botucatuense: a 1a. Fase desde a sua fundação, em 1893, até o ano de 1937, quando houve a gravíssima ruptura entre o Corpo Clínico e a Diretoria Administrativa (com a demissão do Corpo Clínico) e, a 2a. Fase, a partir de 1937 até os nossos dias.

Mesmo local das atuais quadras do BTC. Os primeiros tenistas. Aníbal Costa Leite é o quarto a partir da esquerda. (“Achegas”, Hernâni Donato, 1985)

1ª. FASE: Na principal fase, a da consolidação do empreendimento, além dos beneméritos já citados, é preciso citar a presença dos médicos que vieram prestar a sua colaboração à Misericórdia. É preciso que se destaque que durante a primeira fase e até meados da segunda fase a colaboração médica era SEM REMUNERAÇÃO, era o verdadeiro sacerdócio médico. Afinal, a Misericórdia era e é uma Instituição de Benemerência À partir de meados da 2a. Fase, com as modificações do setor de saúde, com a crescente socialização da medicina e maior

Mas o pacificador e benemérito da Misericórdia Botucatuense teria que comparecer mais uma vez para garantir a estabilidade do Hospital. O risco de uma paralização era eminente. Pela “FOLHA DE BOTUCATU”, de 17/03/37, a notícia de que o Dr. Costa Leite, mesmo com idade e já afastado do exercício da profissão, assumia a direção clínica do Hospital: “MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE” Acaba de assumir a direção da Misericórdia Botucatuense o Dr. Costa Leite, o venerando facultativo a quem se deve a existência desse modelar estabelecimento de caridade em nossa cidade. Tendo agora como operador o Dr. Cyro de Oliveira Guimarães de quem fazemos referências em outra parte, está a Misericórdia Botucatuense perfeitamente aparelhada para continuar a sua rota sem tropeços, fazendo o bem e minorando os sofrimentos daqueles que necessitarem dos recursos médicos”. No final de sua 1a. Fase, a Misericórdia conseguia atravessar esse sério obstáculo pelas mãos seguras do Dr. Costa Leite. A 2a. Fase começou em 1937, com Emílio Peduti no comando administrativo da entidade e com a convocação do Dr. Antônio Delmanto para o corpo clínico. Emílio Peduti, bem sucedido capitalista, teve por incumbência a gestão administrativa e a grave crise financeira que abalou a instituição. A Antônio Delmanto, com a colaboração inicial de pouquíssimos colegas (com especial destaque para a presença sempre firme do Dr. Antônio Pires de Campos), coube a função de reestruturar o Corpo Clínico, diante do afastamento ocorrido de toda a equipe médica que atuava no hospital.

Dom João VI “redescobriu” o Brasil em 1808!

“Foi o único que me enganou!”

Napoleão Bonaparte, nas suas memórias escritas pouco antes de morrer no exílio da Ilha de Santa Helena, referindo-se a D. João VI, rei do Brasil e de Portugal.

A citação é destaque no livro “1808”, de Laurentino Gomes, edição Planeta, 2007. Ao procurarmos trazer o perfil definitivo de Dom João VI, esse desabafo de Napoleão Bonaparte é marcante Hoje, praticamente integrada, a colônia portuguesa foi muito importante na formação da Nação Brasileira

A revista PEABIRU trouxe o histórico da vinda da Família Real para o Brasil

Ao fazermos uma interpretação sociológica da vinda da família real e da corte portuguesa para o Brasil Colônia, partindo de Lisboa em 27 de novembro de 1807 e chegando ao Brasil em 22 de janeiro de 1808, não poderíamos cair na análise fácil e caricata dos apressados que estudaram esse evento sem a seriedade e sem a profundidade que ele merece Sem graçolas e sem arroubos da análise festiva...

Aspectos individualizados, posturas ocasionais e desmembradas do contexto histórico levam qualquer interpretação a erro. O que interessa, historicamente falando, é a realidade no contexto final. É a análise imparcial dos fatos e seus resultados. A família real, sob o comando do então príncipe regente, acertou ou errou ao transferir-se para a sua principal e mais rica colônia? Foi uma decisão intempestiva e medrosa ou foi uma decisão idealizada e planejada? Foi uma fuga ou foi um recuo estratégico perante um inimigo momentaneamente mais poderoso?

Quando a corte real portuguesa chegou ao Brasil, em 1808, tudo estava por ser feito. Com uma população quase analfabeta, muito pobre e rústica, o país não era atrativo para nada.

Dom João VI iniciou a transformação!

Já em sua chegada, em Salvador, criou a primeira escola de ensino superior do Brasil: a Faculdade de Medicina, na Bahia. Em 1811, foi criada a primeira fábrica de ferro, em Minas Gerais Em 1814, era criada a Real Fábrica de São João de Ipanema (siderúrgica), em Iperó/Sorocaba/ SP. Dom João criou outras escolas de “... técnicas agrícolas, um laboratório de estudos e análises químicas e a Academia Real Militar, cujas funções incluíam o ensino de Engenharia Civil e Mineração. Estabeleceu ainda o Supremo Conselho Militar e de Justiça, a Intendência Geral de Polícia da Corte (mistura de Prefeitura com secretaria de segurança pública), o Erário Régio, o Conselho da Fazenda e o Corpo da Guarda Real. Mais tarde, seriam criadas a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional, o Jardim Botânico e o Real Teatro São João...” “...As transformações teriam seu ponto culminante em 16 de dezembro de 1815.    Nesse dia, véspera da comemoração do aniversário de 81 anos da rainha Maria I, D. João elevou o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves e promoveu o Rio de Janeiro a  sede oficial da Coroa.” (da obra citada).

Com certeza, hoje, podemos afirmar que a família real acertou ao optar, em 1807, pela vinda para o Brasil Colônia, em uma decisão madura e estratégica.

Já em 1580, quando surgiram as primeiras ameaças ao reino é que começou a crescer a hipótese da transferência da sede do reino para a América. Assim, em 1736, 1762, 1801 e 1803 a viabilidade de planos tão ousados quanto antigos foi num crescente na corte portuguesa. No livro “1808”, já citado, temos a afirmação de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, então Chefe do Tesouro: “Vossa Alteza Real tem um grande império no Brasil...Portugal não é a melhor parte da monarquia, nem a mais essencial..” Dom João VI, de personalidade tímida e insegura, soube sempre cercar-se de bons conselheiros que o levaram a um perfil de um soberano bem-sucedido, especialmente quando se analisa as outras casas reais com seus titulares destronados, perseguidos ou mortos pela implacável força napoleônica A exemplificar esse perfil definitivo de Dom João VI, basta lembrarmos que na vizinha Espanha, cuja casa real aceitou todas as imposições de Napoleão, a desgraça aconteceu: o rei Carlos IV que entregara seu reino sem luta e de forma subserviente viu, em pouco tempo, a traição de Napoleão invadindo a Espanha Desesperado, ainda tentou preparar os navios para transferir-se para as colônias espanholas na América. A destempo. Tarde demais. Napoleão obrigou a ele e a seu filho e herdeiro, Fernando, que abdicassem a favor de seu irmão, José Bonaparte. A estratégia portuguesa não pode ser imitada pela Espanha. Há 200 anos atrás, o Brasil praticamente não existia como país. As capitanias eram estanques e isoladas: nem comércio comum tinham. Era estratégico: o isolamento das regiões era vital para o colonialismo. No livro citado, esse quadro fica claro: “...Cada capitania tinha o seu governante, sua pequena milícia e seu pequeno tesouro; a comunicação entre elas era precária, sendo  que geralmente uma ignorava a existência da outra...” E mais: “... Mantida por três séculos isolada no atraso e na ignorância, a colônia era composta por verdadeiras ilhas escassamente habitadas, distantes e estranhas entre si.”

Faculdade de Medicina da Bahia

A verdade é que o plano de mudança da sede do Império de Portugal não se limitava à formação de um país, mas, também, a afirmar essa soberania portuguesa no mundo, especialmente perante os adversários europeus, procurando punir e conquistar seus territórios na América: ainda em 1808, forças portuguesas invadiram a Guiana Francesa, que se rendeu sem resistência. Era uma espécie de “troco” à invasão francesa de Portugal... O mesmo ocorreria com a chamada Banda Oriental do Rio da Prata (Uruguai), que foi invadida em represália à postura da Espanha. É Registro Histórico!

O historiador português Antônio Ventura, professor da Universidade de Lisboa, definiu com maestria a importância da vinda da família real para o Brasil: “A transferência da corte, afinal, terminou sendo mais importante para o Brasil do que para Portugal. É o seu momento fundador. De 1808 a 1822, o Brasil é o centro da monarquia. E são assim criadas as condições para a independência do país. Costumo dizer aos meus alunos que, em 1822, fazer a independência do Brasil era colher um fruto maduro.” (caderno +mais-nº817/Folha de São Paulo, de 25/11/2007). O historiador mineiro José Murilo de Carvalho (autor do livro “Dom Pedro 2º - Ser ou Não Ser”, Cia das Letras), professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destaca que a unidade territorial é a responsável pelo Brasil de hoje Carvalho afirma que “...O príncipe dom João podia ter decidido ficar em Portugal. Nesse caso, o Brasil com certeza não existiria. A colônia se fragmentaria. Como se fragmentou a parte espanhola da América. Teríamos, em vez do Brasil de hoje, cinco ou seis países distintos. É positiva a recuperação das imagens de dom João 6º e de Carlota Joaquina e seu resgate em relação às abordagens caricatas do tipo exibido no filme de Carla Camurati ( “Carlota Joaquina – Princesa do Brazil”, 1995). Sobre a Independência, o importante é discutir como ela se deu. A grande diferença em relação à América Espanhola foi a manutenção da unidade da colônia portuguesa e a monarquia. Daí veio o Brasil de hoje. Se para o bem ou para o mal, é Guimarães Rosa quem decide: “Pãos ou pães, questão de opiniães.” (caderno +mais - nº 817/Folha de São Paulo).

Brasil, com sua unidade territorial é a grande herança da vinda da família real portuguesa para a América. Descoberto em 1500 - com certeza -, o Brasil foi REDESCOBERTO em 1808 ! (AMD) (Blog do Delmanto – 20/01/2014)

Momentos Felizes

SERÁ VERDADE?

Inegavelmente o século XX trouxe uma grande transformação na antiga família patriarcal. O ponto mais visível se dá quando o pai deixa de ser o chefe do lar passando a receber o apoio recíproco da mãe na educação e sustentação dos filhos. O avô torna-se cúmplice das crianças passando por cima dos pais, que, inversamente, encontram nele um companheiro divertido e indulgente, havendo entre eles uma afeição interligada de amor e de bela aceitação. Muitas crianças amam seus avós, e são ensinadas a respeitar os mais velhos.

Compulsando livros, ele ficou sabendo que Sidarta, posteriormente Buda, várias vezes saia de seu palácio para passear de carruagem pelas ruas da cidade. Num desses passeios avistou um homem enfermo, desdentado, enrugado, encanecido, curvado e apoiado em uma bengala, titubeante e trêmulo. Pedindo explicações ao cocheiro ficou convencido de que aquele ser humano era um velho. Ao saber, raciocinou, eu sou a morada da futura velhice, reconhecendo naque-

le homem o seu próprio destino.

No século XXI as coisas mudaram. Moderna lei civil não faz qualquer distinção entre um centenário e um quadragenário. Alguns iluminados entendem que fora dos casos patológicos, a responsabilidade penal dos idosos é igualitária a dos mais jovens. Existem livros, publicações, espetáculos, programas de TV e de rádio destinado às crianças e aos adolescentes, pouco se encontrando na mídia escrita, falada ou televisiva um programa à favor dos idosos, parecendo, inclusive, que os idosos pertencem a uma espécie estranha, e para algumas entidades assistenciais, suas reivindicações e atendimentos se escoram nos eventuais benefícios da aposentadoria oficial do assistido.

Em um jornal de grande circulação e penetração social/econômica, foi encontrado um artigo em que o articulista mencionava a inexistência de Sindicatos que lutassem pelas reivindicações dos idosos. Registrava o renomado pensador que os idosos, por não constituírem qualquer força econômica, não tem meios de fazer valer os seus direitos, greves são inócuas, são improdutivos e quase sempre dependem de ajuda, inclusive do Estado para serem defendidos e que, por serem minoritários, seus destinos vão depender, sempre, dos interesses da maioria ativa e produtiva. Um Estatuto já existente de amparo aos idosos é muito pouco divulgado e assim, não sendo, eles aguardam, em silêncio, que os mesmos iluminados joguem claridade ao assunto, ajustando-o a modernidade do século atual.

Este texto começa com uma interrogação. A sugestão que faço para o encontro de uma resposta adequada, é uma serena leitura da obra de Simone De Beauvoir (1908-1986) intitulada ”A Velhice”, 3a ed. Ed. Nova FronteiraRJ.1990.(só 711 páginas!)

“Passagem de rito”

Fomos na tarde de ontem ver uma exposição na Pinacoteca de Botucatu, eu e alguns membros da ABL e uma amiga que nos acompanhou na visita.

Belissima exposição: “Origens” da prezada confreira Cláudia Bassetto, e contamos com a sua presença e a sua entusiasmada apresentação de cada uma das suas telas e as técnicas, cores e texturas utilizadas. Recomendo a visita. As suas obras são deleite para os olhos, aprendizado das suas técnicas, uma verdadeira viagem ás aldeias indígenas do nosso Brasil.

E foi assim que deliciadas pelo imponente e lindo prédio da Pinacoteca, cuja arquitetura foi assinado pela equipe de Ramos Azevedo e situada entre a Avenida Dom Lúcio e Rua General Telles.

Apos a visita, e inspiradas pela arte da confreira Claudia, saímos de lá alegremente para degustar um café no Duna’s Lounge Café.

Fiquei tão impressionada que durante a noite tive um sonho estranho.

Senti que mergulhava no túnel do tempo como quem desce uma íngreme descida de olhos fechados sentindo aquela sensação do imersão no desconhecido, o frio no estômago, calafrio na espinha.

Abri meus olhos para uma selva de um verde inebriante, a cada passo ouvia o canto dos pássaros e fui vendo tucanos, onças, micos leão dourado pulando de galho em galho das árvores gigantescas, passando na beira de um rio de águas cristalinas.

Os grandes olhos dourados de um imenso jacaré me seguiam. Nas águas do rio, lindos indiozinhos nus, inocentes e felizes em sua inocente brincadeira riam e riam..

Seguidos de perto pelos olhos atentos de uma bela onça pintada, escondida em meio às ramagens de um verde vibrante, flores rubras pendentes dos galhos banhavam suas pétalas suaves, e peixes coloridos se deixavam vislumbrar nadando nas límpidas águas.

Passeava por entre suas ocas, sentia o cheiro da mandioca ralada pela velha Índia sentada numa pedra, e entendia cada palavra do seu idioma.

Usava na pele as suas primitivas pinturas e tecia mantos.

Seguia pela sua aldeia por entre os indios, como se fosse um deles, ou fosse um ser invisível.

Via tudo com um olhar deles, em cores tão vividas, nítidas e lindas, como se tivesse renascido no Mundo Novo

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