DIGESTO ECONÔMICO, número 387, novembro e dezembro 1997
como exemplos e estudos de ca sos específicos.
Em seus muitos estudos sobre a criação de empregos e empresas, David Birch compara as popula ções das empresas a camundongos, gazelas e elefantes. Existe umagrandequantidade decamundongos na natureza, assim como existem pequenas e médias em presas. À medida que vão aumen tando, com o passar do tempo, algumas gazelas se dispersam, o que representa as pequenas em presas que passam por um avan ço. Por fim, existem os elefantes. Em número limitado, essas em-
realizar seu sonho. Para tanto, é importante identificar rapidamen te esses indivíduos, homens e mulheres, que possuam caracte rísticas empresariais.
Eu gostaria de fazer uma digres são e comentar sobre duas categori as de empreendedores que se dis tinguem, hoje: as mulheres e os trabalhadores autônomos. Atual mente, em Quebec, quatro entre dez empresas são iniciadas por mulheresesuaporcentagemdeêxito é maior do que a dos homens. Exis tem várias razões para isso. Ao ini ciar um negócio, as mulheres são mais cautelosas, são mais relutan-
O empregador transforma uma oportunidade em negócio viável
presas em grande escala tendem a transformar-se em gazelas tomar-se menos importantes.
0 empresário cria o negócio
O desenvolvimento econômi co envolve indivíduos, especial mente aqueles que possuem o taento necessário para iniciar um negócio. Nesse ponto, dou-lhes a minha definição do que é um empreendedor: “O empreendedor LT qne tem a habili- de transformar um sonho, ^problema ou uma opoitunidaorganização viavel. E pelo fato de ele — gerar nquezae empregos, produzir uma mudança na sociedade e recriar o mundo, o empreendedor é uma verdadeira dádiva e, como tal, deve ser reconhecido, respeitado e tomado como exemplo. Se a finalidade é garantir um futuro próspero, a sociedade é responsá vel por ajudar esses indivíduos a
tes em fazer dívidas, buscam mais informações e não hesitam em fa zer cursos de treinamento. Por fim, atuam com mais cuidado no gerenciamento da expansão e do crescimento de suas empresas.
Com relação aos trabalhadores autônomos, a quantidade tem au mentado espantosamente. Anti gamente, o trabalho por conta pró pria era associado às profissões artesanais. Hoje, envolve todos os setores de atividade. Que espécie de características possui esse tipo de empreendedor? Trabalhando por conta própria, o empreende dor tem uma atividade que exige competência, habilidade e expe riência pessoal. Ele providencia o equipamento necessário e esco lhe o local de trabalho. Decide onde quer investir, assumindo lu cros e prejuízos. Assim, a despesa de previdência social é de sua responsabilidade. Com isso, che gamos ao fim da digressão.
Com o auxflio das nossas pes quisas e também de outros estudio sos, podemos reconhecer futuros empreendedores desde o início.
● Enquanto estudantes, diferen temente dos executivos de gran des empresas, os empreende dores raramente são os primei ros da classe. Não perseguem responsabilidades de liderança nem se juntam a grupos ou co mitês.
● Freqüentemente, o futuro em preendedor se sente contente em estar sozinho e evita a roti na. Um tanto quanto obstinado, ele prefere resolver os proble mas à sua maneira, o que não e atitude incentivada pelo uma sistema escolar.
● Embora não seja necessaria mente um indivíduo impruden te, o potencial empreendedor mostra-se disposto a correr ris cos. Ele não desanima frente a um fracasso e não se preocupa com o que os outros possam
pensar, e Ele está preparado para inves tir seus ativos, sua reputação e sua energia com o propósito de resolver problemas. Ademais, ele se dedica à prática de admi nistrar pequenos serviços: dis tribuição de jornais, uma banca de refirescos, tarefas como as de cortador de grama e de baby sitter, etc.
● Em nível intelectual, em vez de concentrar-se nos problemas ele se concentra nas oportuni dades. Sua postura analítica tem limites e deve dar lugar a ações e resultados.
● O empreendedor de amanhã não sente necessidade de con trolar os outros e não busca o poder: acima de tudo, sente-se motivado por uma necessidade de realização pessoal e, como tal, compete consigo mesmo mais do que com os outros.
● O dinheiro e o lucro são impor tantes para ele, mas vistos mais como um meio do que como
instrumentos de prestígio ou a busca de um ideal.
Além disso, num estudo da OCED, publicado em 1992, Bruce A. Kirchoff mostra que a sobrevi vência de uma empresa não de pende da sua localização. Ele acre dita que os empresários são os responsáveis por essa sobrevivên cia e nos lembra que, se metade das pequenas empresas desapare cem, quatro entre cinco empresá rios se recuperam depois de cinco anos. Para aumentar o índice de sobrevivência, os empreendedo res devem ser treinados dentro do espírito empresarial. Do mesmo modo, está na hora de as faculda des e universidades oferecerem cursos obrigatórios dessa disci plina e prepararem os jovens para enfrentar o desafio de criar seus próprios empregos e os empregos de terceiros.
Nossas comunidades possuem o potencial empreendedor para criar todas as empresas e empregos de que necessitamos
McLelland divide os indivíduos de acordo com três tipos de neces sidade: a necessidade de poder, a necessidade de associação e a ne cessidade de realização. Essa es trutura foi testada com vários ti pos de clientela, provenientes de diversos países e confirma o que havíamos pensado. Os empreen dedores pertencem ao grupo de pessoas que têm uma substancial necessidade de realização. Toda sociedade produz sua parcela de indivíduos que sentem essa ne cessidade e a Colúmbia não cons titui exceção.
Repito: o sistema educacional pode exercer um papel de apoio na criação da mentalidade empre sarial. Diversos estudos têm de monstrado que, ao longo do tem po, o espírito empresarial é supri mido por formas doutrinárias de educação. Quando um indivíduo aprende a se amoldar durante lon go período de tempo, o desejo de
criar, dar início a algo e inovar é esmagado. As escolas não têm o hábito de recompensar a “delinqüência”. Ao contrário, o estudante-modelo é aquele que se adapta em vez de discordar. O sistema educacional deve enfren-
Jogos de Quebec e os Jogos do Canadá. Incentivamos a cultura do
da cultura empresarial.
Como expliquei acima, em Quebec, assim como em Columbia, o potencial empresarial para
esporte. Em suma, a população de Quebec proporcionou a si própria os meios para transformar o poten cial atlético numa realidade. Qual foi o resultado? Com um potencial tar o desafio da inovação toraan- comparável àquele dos anos 60, os do-se o recipiente no qual se foija resultados obtidos nos Jogos Olímuma verdadeira cultura empresa- picos do Inverno e do Verão contirial. Essa transformação requer nuam a nos surpreender, que os professores aprimorem o seu conhecimento dos assuntos e Não procure em outro lugar os empreendedores de que você pre cisa. Ao contrário, tente definir o que você pode fazer para desco brir, aqui, os homens e mulheres que possuem o potencial para se
Em Quebec o potencial para criar empregos existe
criar as empresas e os empregos necessários existe. De fato, os es tudos demonstram que aproxima damente 10% da população pos sui as características do empreen dedor, sem distinção de sexo, raça ou origem étnica. Se essa estatís tica não se reflete numa socieda de, pode ser que não se esteja fazendo o investimento necessá rio ou que o recurso empresarial não esteja sendo explorado.
Em meu país, temos um exem plo que explica esse fenômeno. Comparemos o espírito empresa rial com o esporte. Nos anos 60, o potencial atlético comparava-se ao que é hoje. Contudo, esse po tencial não havia sido desenvol vido. Assim, nossa performance nos Jogos Olímpicos foi medío cre. Em 1976, os Jogos Olímpicos de Montreal trouxeram esse fato à luz. Ocupamo-nos em construir estádios, ginásios e piscinas. For mamos treinadores. Criamos os ECONÔMICO 9
tomarem empreendedores. Tome as medidas necessárias para trei nar adequadamente essas pessoas! O potencial é importante, mas sozinho não basta. Se não for de senvolvido toma-se inútil.
Façamos a nós mesmos a se guinte pergunta: “O que é que está impedindo os empreendedores potenciais de avançar? “Não exis te uma única resposta para essa questão. Pelo que tenho visto em Quebec, sou levado a dividir os empreendedores latentes em três categorias. Na primeira categoria estão aqueles que não estão, ain da, conscientes do seu talento. Nunca se manifestou neles a idéia de que, um dia, poderiam abrir um negócio. Nunca os incentivaram a que o fizessem, seja a família, os amigos ou a sociedade. A segun da categoria compreende aqueles que reconhecem sua habilidade como inovadores, mas que prevêem encontrar problemas e corn¬
plicações. No terceiro grupo en contramos aqueles que se reco nheceram como empreendedores e que transformaram seus temo res em ação concreta. Entretanto, exploram apenas uma pequena porcentagem do seu potencial. Estes admitem de forma franca: “Não quero que minha empresa cresça demais.”
Com o propósito de explorar toda essa riqueza empreendedo ra, a Fondation de rEntrepreneur- ship concebeu testes de avaliação para determinar o potencial preendedor. Esses testes nos per mitem identificar aqueles que têm
maior probabilidade de abrir um negócio numa determinada popu lação. Esse instrumento não é, ainda, utilizado suficientemente nas faculdades e universidades. A Fondation desenvolveu, também, um programa de computador que possibilita a criação de um plano de negócio e lançou a coleção “Entreprendre”, composta de mais de 35 volumes que explicam vários passos envolvidos no pro cesso de aberturae gerenciamento de pequenas e médias empresas.
A matéria-prima da mentaiidade empresariaiéainteiigência
Antes dos anos 60, nossa noção de matéria-prima limitava recursos naturais, como nossas minas, florestas, agricultura e pes ca. Estávamos numa era em que predomnava o setor primário. Essa situação foi evoluindo pou co a pouco. Por volta dos anos 80, as matérias-primas eram vistas
como “aquilo que tínhamos na carteira”. O dinheiro nos possibi lita “comprar” capacidade mental e know-how. Depois, nos anos 90, nossos empresários percebe ram que sua matéria-prima era o que tinham “na cabeça e no cora ção”. A essa altura, compreende mos que era essa inteligência o que atraía capital e garantia a pros peridade das empresas e do país, e não o contrário.
Daqui em diante, o desenvolvi mento econômico estará à procu ra de indivíduos, principalmente aqueles que possuam um talento especial para criar. Sua contribui-
sentimento de solidariedade. Trata-se de excelente notícia para várias áreas e países do mundo. Não obstante, quero lembrar o seguinte: não é porque a inteli gência se tomou um elemento importante dentro do espírito empreendedor que podemos tor cer o nariz para aquelas empresas que não estejam voltadas para a tecnologia ou para o conhecimen to técnico.
ção é tão importante quanto a quantidade é linútada. Ademais, com a percepção de que a inteli gência é o elemento essencial e primordial para a criação de em presas, a localização geográfica e a existência de matérias-primas tomam-se fatores secundários. Quanto à inteligência, esta não deve ser tomada como certa. Te mos de recomeçar a cada geração. Daqui para a frente, dar-se-á ênfa se ao intelecto e é preciso fazer tudo o que estiver ao nosso alcan ce para permanecermos preenúnentes.
sas
Ao contrário, como diz Peter Drucker, o espúito empreende dor pode comparar-se a uma mon tanha. Quanto mais larga sua base, maiores altitudes ela atingirá. Dentro dessa analogia, as ernprevoltadas para a tecnologia e o conhecimento técnico represen tam o pico da montanha. Entte- tanto, se não houver montanha e impossível existir um pico. Em suma, devemos defender o espin- empreendedor em larga escala. O empresário e seu treinamento
Em face da rápida mudança e da competição e complexidade crescentes, o treinamento cons i- tui a base da cultura empresanal. Todos devem ser adequadamente treinados: tanto empregados como empregador. Até agora, o treina mento acadêmico tem-se estrutu rado dentro da idéia de empregabilidade. O sistema educacional, e aqui incluo a universidade, prepa ra os estudantes para serem bons trabalhadores. Atualmente, seu papel é, também, preparar futu ros empreendedores para se de frontarem com suas difíceis ponsabilidades. Não podemos mais simplesmente nos preocu par com a empregabilidade dos indivíduos mas, sim, devemos também considerar sua “empreendedorabilidade.”
Não se precisa andar de lá para cá no mundo dos negócios por muito tempo para perceber que as empresas nunca são mais fortes do que os indivíduos que gerenciam. Seria interessante fa zer uma lista das razões que le-
Estamos assistindo, atualmen te, à globalização do mercado, desmaterialização dos produtos, democratização do espírito em preendedor, descontanúnação do meio ambiente, individualização do conhecimento e do crescimen to e desenvolvimento de uma cul tura em que o aprimoramento pes soal anda de mãos dadas com o os res-se aos as
O material de estudo deve ir
além dos tradicionais lápis e pa pel, o que significa incluir progra mas de computação, vídeos.
vam a dispensas de trabalhadores e quebras de empresas. Pode-se apostar que práticas de geren ciamento inadequadas têm muito mais peso do que os problemas de áudio- cassetes, etc. Além do conprodução. Quando um estaleiro teúdo curricular do curso, que se- encerra as atividades, essa deci- ira constantemente atualizado, a são raramente é resultado da in- melhoria e a difusão das informacompetência de soldadores, ele- ções de cunho empresarial impli- tricistas ou mecânicos. O proble- caria o uso de diversos métodos ma geralmente reside no geren ciamento da empresa. Pergunte mos a nós mesmos: “Se os adnünistradores de uma empresa são incompetentes, em que medida o know-how dos trabalhadores con¬
de ensino e treinamento não-tradicionais. Esses métodos devem ser usados nas escolas, mas tam bém fora do ambiente de classe para que os estudantes possam conhecer empresários ou ter a oportunidade de abrir seu próprio seguiria mantê-la lucrativa? Por outro lado, quando esses adminis tradores são competentes, sua pri oridade é desenvolver a compe tência na força de trabalho.
Para criar empregos no curto prazo, temos de entender o pro cesso que levaria em considera ção o aparecimento de grande número de empresários. Na Amé rica do Norte grandes empresas produzem mais com menos e go vernos altamente endividados en contram-se num estado de cons tante racionalização. Nesse con texto, o desenvolvimento endógeno é o melhor, se não a única opção. A pergimta, a essa altura, é “Como, no curto prazo, podemos produzir empres^os num deter minado ambiente?” Essa questão toma-se ainda mais pertinente
as
Com exceção das característi cas de personalidade, todas habilidades necessárias para se abrir um negócio podem ser apren didas: seja a aquisição de conhe cimento prático sobre negócios, compreensão do perfil de uma empresa, análise do seu cresci mento, consciência de ética ou capacidade de reconhecer e dimensionar as oportunidades de negócios, só para citar algumas. Esse tipo de instrução, adaptada para o caso de abertura de uma pequena empresa, deve fazer par te dos programas de treinamento.
a
Os empregadores são
fonte mais segura para novos negócios
negócio e poder contar com uma assistência ao longo do canúnho. 0 empresário, produto do seu ambiente
Muitas vezes, a urgência de se criarem empregos toma ne cessária a introdução de medi das de curto prazo. Tendo isso em mente, descreverei cinco gmpos de empreendedores poten ciais. Se, por outro lado, quiser mos encontrar uma solução mais permanente, temos de optar pela criação de um ambiente favorá vel ao espírito empresarial. Essa
A essa altura, eu gostaria de fazer algumas sugestões com rela ção aos programas de treinamento destinados a futuros empreende dores. O conteúdo do curso deve ser complementado com estudos de casos, pesquisas de campo e projetos em grupo; devem-se in centivar discussões; palestrantes convidados poderiam ter o papel solução de médio prazo poderia de mentores ou patrocinadores dos se dar em poucos anos. Finaljovens empreendedores; projetos ' mente, como uma sociedade que na comunidade lhes possibUitari- deseja preparar futuras gerações, am entrar em contato com o seu temos de escolher uma solução meio; dever-se-iaproporcionaraos de mais longo prazo, o que sigjovens experiência de trabalho e nifica instituir uma forte e dinâdiscussões com pessoas da área mica cultura empresarial. Perou, até mesmo, jogos e esportes nútam-me desenvolver esses três competitivos, etc.
quando levamos em conta que as universidades, pelo menos no meu país, retiram os empresários de seu ambiente e, muitas vezes, não os preparam para retomar a ele. Dentro do contexto de umareunião de cúpula que abordou o tema do emprego, realizada em outu bro último, em Quebec, a Fondation de TEntrepreneurship tentou responder a essa questão. Temos aqui cinco grupos de po tenciais empreendedores que po dem ser usados no curto prazo e que, provavelmente, lhes serão úteis.
Empresário em ação
Os empreendedores que já es tão trabalhando na comunidade constituem a fonte mais rápida e mais segura de novos negócios. Aqui, como em qualquer outro lugar, não existem empresários operacionais que não tenham na cabeça idéias para novos negóci- pontos.
os. Se uma sociedade consegue reconhecer seus empreendedores pelo que já realizaram e os incita a pôr em andamento outros proje tos, seja por conta própria ou com um sócio, o número de empresas deve crescer rapidamente. Em preendedores com prática possu em vários ativos para garantir o sucesso: têm familiaridade com o mercado, sabem detectar oportu nidades de negócios, conhecem a fundo as complexidades das fi nanças e o funcionamento de uma empresa. Se decidirem abrir um novo negócio, serão bem-sucedi dos em 95% das vezes.
gados e que ajudem a fazê-lo des pontar. Um exemplo desse proce dimento:
Programa de ação voltado para o espírito “intrapreendedor” e “essaimage
Nossa organização tem gran de necessidade de empreendedo res para explorarem a riqueza de idéias e a criatividade que aqui existe. É óbvio que nenhuma or ganização, não importa o tama nho, pode alegar ter desenvolvi do todo o potencial latente que existe intemamente. Na verdade, opções estratégicas, comfreqüên-
Os ipvens não fazem parte dô inundo dos negócios
Pessoas com 35 anos de idade ou mais
Freqüentemente menospreza do, o segundo grupo é composto por pessoas com 35 anos de idade ou mais. Por exemplo, mulheres que retomam à força de trabalho depois de alguns anos de afasta mento para criar os filhos. Consi deremos, também, os emprega dos cuja capacidade empresarial é mal-utilizada: são competentes, têm muitos contatos e, muitas vezes, um pouco de capital acu mulado. Graças ao espírito “intra preendedor” e “cisões”, podem vir a ser empresários bem-sucedi dos. Tendo em mente as empresas existentes, aFondation de l’Entrepreneurship preparou um plano de ação voltado para o espírito “intrapreendedor” e “cisões”. Dessa forma, esperamos que eles reconheçam o potencial empresa rial não-utilizado de seus empre-
cia, exigem sejam alocados re cursos para algumas prioridades somente. Assim, somos, às ve zes, levados a criticar projetos que, certamente, seriam viáveis dentro de uma estrutura mais adequada.
Neste momento, estamos insti tuindo um plano de ação cujo ob jetivo é identificar o potencial empreendedor de nossos empre gados e desenvolver esse potenci al por meio de informação e reco mendações, seguidas de treina mento e incentivo. Esperamos, também, que todas as outras ativi dades nos sirvam de inspiração, o que nos permitiría descobrir e promover a criatividade. Uma vez empreendedor, se nosso empregado desenvolver um produto ou serviço que seja de interesse para nós, ele pode criar uma subsidiária que ele ad ministra como quiser e da qual permanecemos como principais
acionistas. Por outro lado, ele pode abrir um negócio do qual nós participaríamos como minoritários, de maneira que ele mantivesse o acesso ao nosso know-how. Por fim, ele pode ter a possibilidade de assumir algu ma atividade nossa por conta pró pria e contar com o nosso supor-
te. os nscos e as
Se um de nossos empregados decidir abrir um negócio em outra área que não a nossa, nós o ajuda remos, não obstante, a identificar responsabilidades envolvidos, bem como a dar o passo decisivo. Tornar-se um empreendedor é uma espécie de realização pessoal que pretende mos incentivar.
"^formação de enxames Jovens treinados para uma profissão
Jovens treinados para uma pro fissão, seja no colegial, na facul dade ou universidade, constituem nosso terceiro grupo de empreen dedores. Em Quebec, mais de 25% das empresas foram abertas por pessoas que receberam o aprendi zado de uma profissão no ginásio. A maior parte abre um negócio depois de participar, por alguns anos, da força de trabalho; muitos realizam o seu sonho bem antes dos 35 anos.
Contudo, os jovens enfrentam obstáculos que lhes são específi cos: são, muitas vezes, inexpe rientes, têm pouco dinheiro e empréstimos a pagar e não fa zem parte do mundo dos negó cios. Não tiveram tempo de se familiarizar com o mercado de trabalho, freqüentemente desco nhecem sua própria capacidade de tocar um negócio e obter êxito em algum nicho em particular. Entretanto, o fato de ser difícil não significa que seja impossível! Há centenas de casos no Canadá, nos Estados Unidos e no seu país, de pessoas que começaram sem um tostão e foram bem-sucedi das, embora jovens.
1. A existência de um sentimen to de pertencer a um grupo. A participação de todos os inte grantes da população é essen cial para qualquer iniciativa de desenvolvimento endógeno. Essa participação se tomará mais fácil se já existir um sen timento de apego no local.
2. Líderes. Em todas as histórias de sucesso citadas na literatu ra, existiram líderes dinâmicos, escolhidos ou não, que, como luzes cintilantes, reuniram apopulação, criaram parcerias, fi zeram nascer novos projetos, garantiram sua execução e
desenvolvimento local aconte ce como resultado da ação com binada (contribuição de recur sos, criação de agências de de senvolvimento, eventos espe ciais, etc.), da criação de novas empresas e do desenvolvimen to de empresas locais. Estas não são a única fonte de criação de empregos, nem a única ma neira pela qual se pode criar um ambiente local favorável. Na maioria das vezes, constituem o único meio pelo qual uma comunidade pode atuar direta mente. Uma vez que, estatisti camente, elas têm uma impor-
desenvolvimento é nm processo histórico qiie ieva tempo
acompanharam o ritmo do tra balho. Eles atuaram como ele mentos catalisadores. Sua pre sença foi particularmente im portante nas fases iniciais de desenvolvimento. Uma vez que o desenvolvimento leva tem po, um dos desafios enfrenta dos pela liderança local é en contrar seus próprios substitu tos. Portanto, a participação dos jovens toma-se essencial.
3. Um espírito empreendedor. Um espírito empreendedor é outro critério essencial para o êxito de experiências de desen volvimento local. Esse espírito deve inspirar não apenas os pró prios empreendedores, mas também as instituições locais e a população. Estas demonstra rão entusiasmo pelo desenvol vimento e disposição para as sumir riscos.
4. A empresa e a iniciativa lo cal. O resultado final é que o
tância significativa na criação de empregos em Quebec, tor naram-se métodos de escolha. 5. Esforço subsidiado. O desen volvimento é um processo his tórico que leva tempo. Ade mais, o desenvolvimento endó geno requer uma mudança na cultura e nos costumes de uma comunidade.
É necessário, portanto, ter paci ência e contar com um esforço sub sidiado que deve perdurar além do mandato poKtico e que deve exigir uma sucessão de líderes locais. Sabemos, por experiência pró pria, que para conseguir resulta dos duradouros, os esforços que visam a atingir o desenvolvimen to devem-se manter ao longo de um período de 10, 15, 25 ou até mesmo 30 anos.
6. Uma estratégia baseada tanto nos avanços pouco ímportan-
tes como nos significatívos. Quando se definem objetivos, é importante ter em mente o fato de que o desenvolvimento é um processo de longo prazo. Não obstante, para que a comunida de sustente o esforço no longo prazo, mantenha o interesse, o entusiasmo e a participação ati va da população, de suas insti tuições e das empresas, é igual mente importante concretizar objetivos de curto prazo. Pe quenos projetos, executados com rapidez e regularmente, muitas vezes proporcionam uma fonte de orgulho e contribuem para o desenvolvimento de um sentimento de pertencer a um grupo e da confiança nos pró prios recursos.
Nos dois métodos que acaba mos de descrever os líderes locais têm um papel determinante. A meu ver, estes podem intervir de quatro maneiras nas questões dos empreendedores e empreendedo res potenciais:
1. Para identificar empreendedo res potenciais, eles devem pedir a cooperação dos seus cidadãos. Representantes eleitos, empre gados, professores e pais devem observar aqueles que têm capa cidade empreendedora, dar-lhes problemas para resolver, fazerlhes perguntas acerca de seus sonhos e ambições e ajudá-los a se descobrirem.
2. Uma vez identificado o empre endedor potencial, devemos acolher suas idéias e seus pla nos com consideração, ainda que. pareçam, de início, força dos e irreais.
Toda idéia merece considera ção e análise. Depois de examina da e reexanünada, uma idéia evo lui gradativamente e por fim assu me uma forma. Muito freqüentemente, nós percebemos que valeu a pena tentar. Se sentirem com preensão e consideração por parte
daqueles que os rodeiam, os cria dores de projetos tomar-se-ão uma fonte inesgotável de idéias.
3. A sociedade deve dar todo o apoio aos empreendedores que chegam àfirente. Devemos apos tar neles, oferecendo-lhes trei namento adequado, assistência técnica, algumas formas de pa trocínio e até mesmo alguma ajuda financeira. Futuros con sumidores e clientes devem ex pressar-se ativamente. A com preensão sentida no início deve abrir cziminho para um incenti vo concreto da comunidade.
4. Os empreendedores que con seguiram criar empregos e ri queza devem merecer o reco nhecimento da sociedade. Suas ações devem ser reconhecidas. Eles devem ser tomados como exemplo para que outros abram negócios e experimentem a aventura por si mesmos. Além disso, empreendedores bemsucedidos, que têm a sensação de serem valorizados por seus concidadãos, redobrarão os es forços para criar mais riqueza para sua comunidade.
Um ambiente favorável ao es pírito empreendedor é aquele que proporciona aos seus empreende dores várias formas de apoio fi nanceiro e técnico. Deve, tam bém, possibilitar o acesso a uma rede de contatos empresariais. Os empreendedores precisam de três tipos de redes, dependendo do estágio em que se encontra o seu negócio: uma rede de suporte emocional, uma rede de compe tência e uma rede de desempenho. Quando o negócio se inicia, o futuro empresário necessita de um sistema de suporte emocional, parentes próximos que dão incen tivo. Às vezes, esses parentes con tribuem com o capital inicial. De qualquer forma, os primeiros pe-' didos virão dos parentes próxi mos. Estes também colaboram com uma crítica construtiva no
Cultura empresarial que diz respeito a novos produtos e serviços.
A empresa que começa a cres cer num determinado meio logo requer suporte profissional de toda natureza: um consultor legal, um contador, especialistas em treina mento, etc. Referimo-nos, aqui, ao suporte profissional. Todos os ambientes favoráveis ao espírito empresarial devem proporcionar ao empreendedor esse itpo de rede.
Finalmente, uma vez que o em preendedor tem certeza de que a empresa sobreviverá, ele pode op tar pelo seu crescimento. É nesse ponto que começa o papel da rede
Neste ponto, gostaria de apresentar-lhes o método duradouro de se conseguir o máximo de em pregos. Para descrever núnhaidéia de uma sociedade em que uma cultura empresarial esteja firme mente estabelecida, quero contarlhes sobre uma visita que fiz a uma terra fantástica:
Descobri um país distante onde reinava a prosperidade. Vindo de um país descrito como desenvol vido, mas no qual a taxa de de semprego é ainda alta demais, eu
Quando o negócio se ihicla
o futuro empresário necessita de suporte emocionai
de desempenho. Essa rede deve consistir de empresas que enfren taram esse itpo de desafio com sucesso e devem proporcionar o know-how disponível na área. Um ambiente que favorece o espírito empresarial se desenvolve ao longo das linhas de uma espiral ascendente. Seu desenvolvimento exige a participação ativa de líde res locais, consultores de toda es pécie, mas, acima de tudo, a signi ficativa colaboração de instituições e pessoas desse meio. Ao ^al, esse ambientefavorável leva auma cultura empresarial.
Concluindo este item, devo es perar que os economistas e pro fessores das faculdades de adnúnistração de seu país tomem inte resse pelo desenvolvimento lo cal. Essa é uma condição essenci al se se espera que as universida des se tomem ambientes favorá veis ao espírito empresarial e ins pirem aqueles ao seu redor.
quis conhecer o segredo desse sucesso fenomenal
O esporte nacional da popula ção dessa terra extraordinária não era o futebol, nem o beisebol, nem o hóquei (como é no Canadá). Para minha grande surpresa, no tei que o espírito empresarial era praticado em escala nacional: nas reuniões, no trabalho, nas ruas, nos lares, na escola e até mesmo nojardim-de-infância. Perguntei a uma garotinha de apenas cinco anos o que ela queria ser quando crescesse. Com muita confiança, ela respondeu: '‘Vou ser fabri cante de bonecas. ”
Fiquei sabendo que nas insti tuições educacionais programas de todos os níveis incluíam dois cursos obrigatórios de gerencia mento de empresas. Ofereciamse aos jovens atividades extracur riculares que envolviam o espíri to empresarial. Formavam-se equipes de empreendedores no-
votos e organizavam-se competi ções entre as escolas. Todos os campi universitários possuíam um edifício empresarial completo, com uma sala de diretoria, bibli oteca e laboratórios adequados para pesquisa sobre empresas. Continuando minha investiga ção, encontrei-me bem no meio de uma reunião do conselho mu nicipal. A pauta do dia compreen dia os seguintes itens: o orçamen to distribuído para a promoçõío do espírito empresarial, um pedi do do Departamento Empresari al para a contratação de monitores e a compra de equipa-
Entretanto, a importância do espírito empresarial para esse lugarfantástico era percebida, aci ma de tudo, na telinha. Em cola boração com universidades e fa culdades, todas as redes transmi tiam cursos de treinamento que levam à carreira de empresário. A escolha era extremamente varia da e disponível a todos. Aofinal de cada semestre, os bacharéis eram convidados a descrever seus pro jetos empresariais em público. Produziam-se programas espe ciais nos quais, um ou dois anos depois de ter aberto um negócio, os empresários eram convidados
Para muitas pessoas a crise social e econômica requer uma mudança
mento adicional. Não pude evitar de compará-lo ao todo-poderoso Departamento de Esportes e Re creação da minha cidade. O pre feito anunciou que havia convi dado a imprensa para a abertura oficial de três novas empresas pertencentes a jovens cidadãos. Eu quis saber mais sobre o pa pel que a mídia pudesse ter tido no estabelecimento de uma cultura empresarial tão avançada quanto aquela. O jornal diário de cada área tinha uma equipe de articu listas financeiros. Várias páginas de toda publicação eram reserva das para notícias de negócios. No rádio, transmitiam-se programas especiais para empresários, com segmentos em linha aberta e entre vistas com proprietários-operadores de empresas. Um quarto de cada transmissão de notícias era reservado para informações so bre competições, histórias de su cesso e negócios em geral.
a descrever passo a passo o seu caminho para o sucesso. Seguin do o exemplo do rádio, as redes de televisão apresentavam boletins de notícias específicos sobre eventos em curso, no campo em presarial. Era costume, também, entre os técnicos e repórteres das redes, viajar ao local em que esti vesse sendo inaugurada uma fá brica. Todo o campo empresarial tinha algum destaque na progra mação normal. Era até mesmo aceitável que se remanejasse o horário dos seriados para que pudesse ir ao ar os Jogos de Espí rito Empresarial, que eram cha mados ‘'Sessão de Cultura do Espírito Empresarial."
Todos os anos, durante os Jo gos, os participantes punham à prova seu conhecimento nas áre as de inovação, gerenciamento e resolução de problemasfinancei ros. Os campeonatos serviampara avaliar e recompensar a capad¬ os
dade de cada participante de re solver, por exemplo, um proble ma específico da indústria ou de trazer a melhor solução para um caso simulado de falência. A cada quatro anos, as empresas que ope ravam em setores designados com antecedência por um comitê de seleção enviavam seus candida tos aos Jogos, para competições internacionais.
Ao final da minha viagem, conheci um empresário aposentado. Depois de explicar como ele havia organizado uma rede nacional de patrocínio para novos empresári os, ele contou-me que, no passado, uma modesta organização havia tido um papel determinante na evo lução da cultura do espírito em presarial. Então, um dia, ao de frontar-se com o bem-estar e a prosperidade geral que substitui ra o desemprego, o endividamento e o mau humor, os cidadãos enca raram o fato de que daí em diante o país não precisava mais da Fondation de VEntrepreneurship.
Essa visão de futuro não está fora de nosso alcance. Para mui tas pessoas, a crise social e econô mica pela qual estamos passando requer uma mudança como essa nos planos de ação se quisermos redescobrir a nossa liberdade. Por que não tentar efetuar uma ruptu ra nas nossas universidades com a esperança de que essa iniciativa seja aprendida por meio da imita ção ou transferência?
Os valores associados à cultura do espírito empresarial
Nos últimos anos, a Fondation de TEntrepreneurship identificou quatro qualidades básicas subja centes à cultura do espírito em presarial: autonomia, responsabi lidade, criatividade e solidarieda de. Essas quatro qualidades de vem ser aceitas e entendidas por todos. Devem ser sentidas pelo sistema educacional e devem aca lentar grupos de pessoas em nos sas cidades e vilarejos.
Segundo Jean-Marie Toulouse, diretor da École des Hautes Études Commerciales de Montreal, uma cultura empresarial fortalecida por essas quatro qualidades é uma cul tura que valoriza a atividade em presarial, a iniciativa individual e coletiva, a perseverança e a deter minação; que aceita um equilíbrio razoável entre segurança e risco e, fínalmente, que reduz a tensão en tre estabilidade e mudança. Consi deremos cada elemento, um a um, para ver a sua conseqüência nas atividades empresariais.
1. Uma cultura que valoriza o es pírito empresarial dá muita im portância à atividade empresa rial, ao dinheiro e à criação de negócios. O comportamento no mundo empresarial é conside rado um modelo aceitável e desejável. Essa definição deve aplicar-se às pequenas, médias e grandes empresas.
2. As sociedades empresariais le vam em grande consideração a iniciativa individual e coletiva. Não é a natureza, a sorte ou o destino que resolverão os pro blemas que a sociedade e os indivíduos tiverem pela frente. Ao contrário, os problemas são uma fonte de inspiração para os de uma sociedade
integrantes . ^ empresarial. Essa mspiraçao incita os indivíduos a agir e a tentar enfrentar todos os desa fios que se lhes apresentam ou a explorar as oportunidades de negócios existentes.
3 Nos últimos anos, na sociedade norte-americana, começamos a dar valor à “gratificação ime diata.” Na verdade, queremos ser bem-sucedidos, mas quere mos o sucesso imediato. Essa forma de pensar está em con tradição com uma cultura em presarial caracterizada pela perseverança e determinação. De fato, é impensável esperar que um projeto empresarial pro duza frutos imediatamente. Na realidade, a satisfação que um
indivíduo experimenta no iní cio é a de estar levando a cabo um projeto, de estar fazendo o que ele quer e de ser autônomo. E somente no longo prazo que o empresário colhe os bene fícios do projeto que ele ideali zou. A conseqüência de dar valor à perseverança e à deter minação é que o próprio esfor ço e experiência adquirem im portância e, como resultado, também o apoio que recebe mos, se formos malsucedidos, se toma importante. Perguntemo-nos o que significa ser malsucedido. Uma cultura que
dedor deve estabelecer um equi líbrio entre risco e segurança. Um desequilíbrio em favor da segurança levará a uma passivi dade cada vez maior por parte dos cidadãos e dará um peso desproporcional ao resultado fi nal. Um desequilíbrio em favor do risco levará a uma grande instabilidade e fará com que fu turos empreendedores tenham dificuldade em lidar com o stress do risco, que sempre os acomete ao abrirem um negócio.
5. A atividade empresarial gera projetos cuja repercussão é mu-
Para se desenvolver uma sociedade empresarial tem de contrabalançar estabilidade è mudança
tenta eliminar o fracasso, evi tar a falência e excluir toda possibilidade de erros é uma cultura hostil aos empreende dores. Em ambientes como esse, os empreendedores têm de vencer a todo custo ou serão menosprezados, denegridos, alvos de zombaria, rejeição e até de hostilidade. Esse tipo de atitude desencoraja empreen dedores potenciais, pois não é fácil viver com a impressão de ter feito algo que a sociedade desaprova ou de não ter obtido o êxito que a sociedade esperava. 4.0 ato de abrir um negócio acar reta risco. Não podemos negar que um projeto empresarial não se desenrola em um clima de certeza, mas em um clima no qual a probabilidade de sucesso é determinada usando-se as in formações disponíveis. A ver, uma sociedade que quiser incentivar o espírito empreen-
dar, modificar uma situação e oferecer à comumdade um pro duto ou um serviço que resulta rá em mudanças comportamen- tais. Isso sigiiifica que a ativi dade empresarial cria uma ten são entre estabilidade e dança. Em um empresa onde se dá ênfase demais à estabilida de, os produtos se tomam ultra passados rapidamente e aque les mais criativos que integram o corpo de funcionários encon trarão trabalho em outro lugar. A empresa acabará por se dis solver. Para se desenvolver, uma sociedade empresarial tem de contrabalançar a tensão ine rente, mas essencial, entre tabilidade e mudança.
Obstáculos ao espírito empreendedor
A Fondation de 1’ Entrepreneur- ship identificou os três principais obstáculos ao espírito empreen-
dedor. Apresento-os em ordem decrescente de importância: falta de competência, falta de suporte e falta de capital.
Falta de competência
A nosso ver, a falta de compe tência constitui o maior impedi mento ao espírito empreendedor. Não nos referimos, aqui, apenas ao conhecimento como algo aprendido, mas também ao knowhow (savoir-faire), à educação {savoir-êtré)j e, como diz o pro fessor Yvon Gasse da Universi dade de Lavai, na cidade de Quebec, jogo de cintura (savoir-
presença não deve significar o fim do apoio da sociedade. Se uma comunidade demonstra aberta mente o seu apreço pelo trabalho realizado por seus empreendedo res, mais trabalho será produzido e de melhor qualidade. Se, por outro lado, uma comunidade não confia em seus empreendedores, ela só colherá o que plantou.
Em todas as etapas do seu de senvolvimento, o empreendedor necessita de uma rede local de apoio. Cabe ao meio tratar seus empreendedores de maneira afá vel, acolhê-los e proporcionar uma garantia de apoio emocional em
Temos confíaiiça de que o espirito empreendedor eVita a pobreza
vivré). Com relação a essas três formas de conhecimento, Roger Boivin, professor da Universida de de Quebec, em Trois-Rivières, faz a seguinte classificação: co nhecimento (5%); savoir-faire (know-how) (20%); savoir-être e savoir-vivre (educação e jogo de cintura) (75%). Este é um bom exemplo de que a competência é essencial para que um empreen dedor obtenha sucesso. Na verda de, quando um empreendedor é competente, não lhe é difícil con seguir apoio financeiro, os custos e riscos são minimizados e ele necessita de menos suporte.
Falta de suporte
O segundo obstáculo é a falta de suporte técnico e cultural. Den tro desse contexto, podemos vol tar à analogia do “aquário”, apre sentada anteriormente. No caso de serem necessários conselhei ros e consultores competentes, sua
rede quando o negócio for inicia do, uma rede de competência para assegurar a sobrevivência da em presa, bem como uma rede de desempenho que permita o seu crescimento enquanto progride até o patamar de excelência.
Falta de capitai
O terceiro e último obstáculo, muitas vezes considerado o mais importante, é o capital. A meu ver, este não é o mais importante! Quando se conta com a compe tência e o suporte, o financiamen to raramente é o fator limitador. Ao contrário, um financiamento adequado não pode, geralmente, compensar pela insuficiência dos dois primeiros fatores. É claro que se houver um capital ilimitado, a empresa pode ganhar tempo ou, melhor ainda, adquirir, por meio do processo de tentativa e erro, a competência necessária ou até mesmo pagar pelo suporte de fon-
tes externas. Mas o financiamen to que não precisa ser restituído é raro. A falta de capital deve, por tanto, ser compensada pela com petência e pelo suporte. Espírito empresarial, o caminho do futuro
Em Quebec, somos forçados a reconhecer o fato de que o espírito empresarial, muitas vezes, desen volve-se fora do cenário da uni versidade. Se é assim que aconte ce no seu país, o objetivo deste apelo é estimulá-los a efetuar mudanças e introduzir a filosofia e a cultura empresarial em sua universidade.
Se existirem outros meios de produzir riqueza e empregos, além da criação e expansão de empresas, este é o momento de pô-los em funcionamento! Se um país é capaz de conquistar um lugar para si próprio no mundo de hoje sem depender do desem penho de suas empresas, que isso nos seja informado!
Temos plena confiança de que o espírito empreendedor é o me lhor meio de evitar a pobreza. A pobreza não é um defeito. Perma necer pobre, propositadamente, o é. Nunca se é pobre demais para abrir um negócio; apenas leva-se um pouco mais de tempo. Ao op tarmos por esse método colhe mos muitos benefícios.
O primeiro negócio que alguém micia raramente vem a ser um esforço para a vida toda. O pri meiro projeto deve ser escolhido conforme os recursos disponíveis se não quisermos sofrer uma der rota imediata. O novo empreen dedor deve entender que uma empresa pode sofrer prejuízo sem ir à falência, da mesma maneira que pode falir embora obtendo lucro. O que é importante é o grau de liquidez da empresa! Uma vez estabelecida a credibilidade de corrente do sucesso de um peque no projeto, a empresa está pronta para aventurar-se de forma mais ousada. Para tanto, deve ser mais
fácil encontrar financiamento, porque com credibilidade os re cursos necessários aparecem.
Nem tudo já foi inventado I Não há limites para as necessidades dos indivíduos, assim como não há limites para a criatividade de homens e mulheres. Nunca che gará o dia em que não haverá mais nada a ser criado, nenhum novo projeto a ser empreendido. Em suma, não é verdade que tudo o que existe para ser inventado já foi inventado, que a batalha da economia terminou. É errado pen-
sar que a tecnologia e as empresas norte-americanas, japonesas e ale mãs são invencíveis. Ao contrá rio, nunca houve tanta oportuni dade para a inovação e o aperfei çoamento. Tudo tem de ser refei to, renovado, reinventado. Lembrem-se de que quanto mais intenso for o espírito empre sarial de um meio, mais empreen dedores serão capazes de superar suas dificuldades e maiores serão as suas chances de êxito. Um ambiente em que esse espírito está bem estabelecido se desenvolve¬
OBRAS DE
rá e prosperará, apesar das condi ções precárias que possam afetálo de tempos em tempos. Optar pelo espírito empresarial é optar por remodelar o mundo e transformá-lo. É optar pela vida! Para o empreendedor, optar pelo espírito empreendedor é optar pela melhor maneira de integrar-se numa sociedade e contribuir para a sua prosperidade e o seu cresci mento. ●
JOÃO DE SCANTIMBUR0O
da Academia Brasileira de Letras
EÇA DE QUEIROZ E A TRADIÇAO
Estudo sobre o fidelidade do grande romancista ao Portugal heróico
Livraria Siciliano
Rua Raymundo Pereira deMagalhões, 3305 05145-200 São Paulo - SP Telefone; 831-7266 Fax: 832-8616
HISTÓRIA DO LIBERALISMO NO BRASIL
Estudo histórico sobre o iiberaiismo de D. Pedro I a Fernando Henrique Cardoso
Paulo A. Fortin é membro da Fundação do Empresariado, de Quebec, Canadá
Para Bobbio a morte é o fim da vida no nada e na escuridão
JUSTIÇA
Da AcademiaBrasileira de Letras
um dos meus mais atentos lei tores me fez uma pergunta intrigante sobre o fato de só recentemente, em Nova Fase do Direito Moderno, publicado em 1990, ao completar 80 anos, ter externado minha opinião pessoal sobre a idéia de justiça, asseve rando que é mister abandonar tan to 0 propósito de alcançar uma idéia universal do justo quanto o de oferecer um quadro completo de seus requisitos e perspectivas, dada a sua essencial correlação com a experiência histórica mutável e imprevisível.
Não creio, porém, que se possa afirmar que, no mencionado li vro, tenha apresentado um con ceito de justiça, após lembrar vá rias teorias antigas e modernas, limitando-me, ao contrário, a de clarar que não podemos senão conjecturar que “a justiça assina la a perene correção entre liberda de e igualdade no processo dialógico da história, visando a realizar a plenitude da pessoa hu mana em sincronia com uma co munidade cada vez mais formal mente e materialmente democrá tica” (pág. 42).
Já em minha Filosoifa do Di reito, cuja primeira edição é de 1953, tratei longamente do tema da justiça, desenvolvendo ques-
tões anteriormente expostas Fundamentos do Direito, a tese apresentada, em 1940, para o con curso à cátedra de Filosofia do Direito nas Arcadas do Largo de São Francisco. Desde então já considerava a justiça “o valor franciscano”, por servir de inspi ração ou de base aos demais valores jurídicos, como resultado ime diato da idéia de pessoa, conside rada 0 valorfonte de todos valores.
Com tal colocação do proble ma não podia senão preferir, como ainda o faço, a estupenda idéia de justiça que nos foi dada povDz.viXQ.viQDeMonarchia, qua lificando-a como “proporção real e pessoal de homem para ho mem, que, preservada (servata), preserva a sociedade e, corrupta, corrompe-a”.
Minha preocupação foi, pois, apresentar, numa obra de nature za didática, de preferência o sen tido e os elos dajustiça, por exem plo, com 0 “bem comum”, com o qual até certo ponto ela se confun de. Daí dizer que o justo poderia ser visto como “o bem comum in feri, como constante exigência histórica de uma convivência so cial ordenada segundo os valores da liberdade e da igualdade”, ou, por outras palavras, “o bem sob os
prismas individual e social, em correlação essencial”.
De uma deifnição da justiça não creio ter cuidado, nem a creio possível, fiel à fundamental dis tinção de Kant entre conceito e idéia, esta própria do conheci mento insuscetível de verificação, enquanto aquele assinala uma de limitação certa do real, poi ser experienciável, ou de per si dente. Não é à toa que definir significa determinar, delimitar, demarcar, ou seja, fixar os ele mentos específicos e essenciais a um conceito, ao passo que a idéia tem uma natureza perspectivista e expansiva. É o que se dá com a idéia de justiça, como se terá per cebido com as diversas formas modalidades dos enunciados acabo de lembrar.
evios ou que Pois bem, o que, a meu ver, ocorre é que, na velhice, se toma mais sensível e amorável o nosso senso de justiça, abrindo-seàcompreensão e à tolerância, mesmo que não se tenha sido sempre um “moderado”, tal como Norberto Bobbio pretende ter sido. É essas e outras razões que não vejo a velhice com tanta melancolia e amargura como as confessadas, em seu recente e breve livro de memórias, por esse prezado cole ga da Universidade de Turim. por
Setenta anos é o limite da terceira idade
Somos coetaneos (ele de 1909, és. “Talvez a diferença entre nos sas concepções da velhice resulte do fato de que, para Bobbio, ela é “o tempo da memória”, enquanto, para mim, é “a memória do tem po”. eu de 1910) e tivemos, até certo ponto, vidas paralelas: ele pas sando da esquerda marxista para a semi-esquerda do socialismo li beral, após decisivo convívio com afilosofiafenomenológicadoprinieiro Husserl, o da lógica das essências, e eu, de uma posição da direita para o centro correspon-social-liberalismo já delivro Pluralismo e Li-
veis, lisonjeando-se quando um de seus li vros figura entre os best sellers, e já anuncia a próxima publicação de outro, é sinal de que a esperança não morreu de todo. Nem cabe o desprezo pela esperan ça, apresentada como “virtude teologal”, in vocando o apoio de Kant, o qual, ao que me conste, jamais pensou assim.
As três célebres per guntas que Kant formu la na Crítica da Razão Pura (“que posso co nhecer?”, “que devo fazer?”e que posso es perar?”) são todas de puro cunho existenci al, sendo a esperança, para ele, uma das ra zões de viver, o que equivale à lição de nos so Jackson de Figueire do de que a vida é a única oportu nidade que temos para nos aper feiçoarmos.
a
Penso que a existência humana não é senão a constante e sempre imprevisível contabilização de momentos positivos adquiridos e de momentos negativamente per didos, lembrando-me de que o meu saudoso confrade Cyro dos Anj os considerava este o mais belo de meus versos: “Remorso do não visto ou percebido. ” Assim sen do, envelhecer não significa en cerrar o balanço das lembranças, mas a continuidade, na medida do possível, do que se pode esperar, com base nas gratas recordações que constituem a melhor parte do nosso ser espiritual.
Ora, se Bobbio reconhece que a sua curiosidade é a de sempre, embora seja reduzida a sua capa cidade de satisfazê-la; e se ele continua a produzir obras notápara par dente ao lineado noberdade, de 1963, em vmculação com a experiência fenomenológica, mas com a do terceiro Husserl, o da reflexão crítico-his- do Lebenswelt, o mundo da vida comum. Isso não impediu ue, conforme carta que me es creveu, coincidíssemos em tantos sobre o direito e a justiça. em tórica e pontos _
É que a compreensão da velhi ce não depende só das idéias que se possui, assistindo razão a Gil berto de Melo Kujawski quando, comentando a comovente confis são de Bobbio, escreve; “Dize-me envelheces, dir-te-ei quem como
O que importa, pois, ao velho é memória do tempo, mesmo por que dos arcanos da memória re pentinamente emerge uma intui ção criadora ou renovadora compensar as naturais debilidades da velhice, reabrindo de par a porta da esperança. De mais a mais, é-se justo para consigo mesmo, para o próprio po der vital (para a “razão vital”, como diria Ortega) quando se atinge, res mungando, os 70 anos, o limite da terceira idade, com suas naturais limitações (aos 35 anos começa, hoje em dia, a segunda idade), mas a injustiça maior é para com Deus, ou, ÊntãoparacomoDestino, quan do se é agnóstico, como é o caso de Bobbio, para quem a morte é o fim da vida no nada e na escuridão. Não se pode ser justo paracom os outros quando se é demasiada mente severo para consigo mes mo. m
a oferta global que a demanda global. Sua refutação dessa visão pessimista é convincente. O cres cimento da produção mundial, mesmo se incluídas as mais dinâmicas economias da Asia, é de cerca de 4% ao ano, irtmo superi or aos 3% das décadas dos 70 e 80, porém inferior ao das décadas 50 e 60. Nas economias avançadas, a demanda de consumo se tem re velado surpreendentemente elás tica e o envelhecimento da popu lação contribuirá para aumentar mais 0 consumo que a produção. Quanto aos países emergentes, estão longe de contribuírem para a saturação global.
Das nove maiores economias — Argentina, Brasil, China, índia. Indonésia, México, Polônia, Áfri ca do Sul e Turquia - nada menos que oito estão apresentando no
momento déficits comerciais. Isso significa que a produção interna é inferior à procura. A única exce ção é a China, que tem um saldo comercial grande e um pequeno saldo na conta corrente no balanço de pagamentos. Quanto ao capita lismo brasileiro, infelizmente não pode ser acusado nem de excessi va produtividade, nem de superá vit de poupança, pois somos defi citários quer nas trocas comerci ais, quer no balanço de serviços. O socialismo entrou em colap so pela insuficiência de capacida de produtiva. Seria bizarro se capitalismo estivesse ameaçado de morte pelo oposto — a satura ção global. A verdade entretanto é que nem o progresso tecnológico nem o excesso de capacidade pi odutiva condenam o mundo a um alto desemprego permanente. Os
desajustes que hoje ocorrem, so bretudo na Europa, são desajustes de transição, pela superposição de três fenômenos distintos: os efeitos de uma recessão cíclica, que só agora começam a ser supe rados; o desafio tecnológico, que exigirá retreinamento da força de trabalho; e a rigidez do protecio nismo trabalhista, que diminui a mobilidade da mão-de-obra e sua flexibilidade de ajuste. A globali zação é um falso inimigo, que não pode ser combatido sem perda de eficiência. Se alguma coisa a ex periência econômica nos ensina é que os países de economia fecha da crescem menos e são mais vul neráveis que os de economia aber ta. Cada vez mais o mundo será dos “rápidos” em perceber as mudanças e dos “flexíveis” para realizá-las... ®
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alto, o já agora desempregado e portanto também desassistido sa pateiro do Brasil.
'Nisso, estamos, nestes últimos anos do século, vivenciando re formas sociais de Bismarck no rumo de um Estado fortemente atuante na área social tendo por alvo o bem-estar geral. A centúria chega ao seu final aprendendo a lição de que tal sistenia funcionou mais ou menos bem enquanto as fronteiras políticas condicionaram as economias de mercado. Agora, passamos à fase, ainda para nós um mistério e um desafio, da globalização. Nela, segurança so-
nos aparelhando para esse cho que, para absorvê-lo e mesmo para revertê-lo.
É verdade que a Melhoramen tos está servida por uma experiên cia de resistir e superar crises de todos os tipos que vai além de 107 anos. Tudo o que se imagine de problemas já acometeu a Melho ramentos. Imagine-se que em 1886, quando ela precisou cons truir em Caieiras uma usina elétri ca, a barragem foi atacada a tiros pelos escravos comandados por fazendeiros vizinhos que afirma vam que uma tal usina provocaria chuvas de raios sobre a região.
A Companhia atua hoje has áreas de floresta, madeira serrada e outras
ciai e salário, fórmulas cultuadas pelos sindicatos e as massas tra balhadoras durante quase todo o centênio, passam a ser considera das simples fatores de custo. Como registrou com atroz realismo o analista Strawe “a principal tarefa da economia, a de satisfazer as necessidades de todos os seres humanos, transforma-se gradati vamente numa questão secundá ria”. Isso, no geral, em linhas mais amplas no contorno da problemá tica que nos desafia hoje e nos agredirá no futuro próximo se não nos aparelharmos devidamente para enfrentá-la e vencê-la. No referido encontro com os participantes do Fórum de Jovens Empresários, fui solicitado a dar um depoimento pessoal de prepa ro empresarial para enfrentar a onda da globalização. Nesse sen tido a minha experiência é a da Companhia Melhoramentos de São Paulo. Estivemos e estamos
Ela enfrentou mudanças políticas, econômicas, guerras, revoluções, controle aviltante de preços, in cêndios, inundações, greves.
Antes de mais nada, estamos constantemente atuando no que chamamos cata-vento: de onde vem o vento, para onde vai? Ou seja, o que há de novo pelo mun do? Quais as novidades? Como elas afetarão os nossos mercados e à empresa? Essa postura garantiu a ela muitos dos pioneirismos que são a sua marca registrada.
A Companhia atua, hoje, nas áreas de floresta, da madeira ser rada, de papéis tissues, gráfica, editora, livrarias, produtos lignosulfonados, urbanização.
Tem fábricas nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Atende a dezenas de milhares de clientes espalha dos pelo país e em muitos outros países. Houve ano em que todos os cadernos escolares da Arábia
Saudita foram impressos pela Companhia. Em livrarias de 38 nações, livros, cadernos, material de escritório estiveram presentes com a marca Melhoramentos. Ouvimos dizer e gostamos de ou vir que neste país, todos os dias, três entre cinco pessoas, beneficiam-se com o uso de um produto Melhoramentos.
Nosso preparo, ao longo dos anos recentes, por mais difíceis que estes anos tenham sido para o país e para a empresa, teve três áreas distintas: o técnico, buscan do sempre a maior produtividade com a melhor qualidade; o marquetológico, lutando brava mente mas idoneamente para manter e aumentar a faixa de par ticipação em todos os mercados em que atuamos; no setor huma no. Decidimos que todas as três áreas eram importantes, mas sobrelevou o interesse pelo territó rio do humano, sem o qual, as outras duas se tomam mero deser to de tecnologia.
A Companhia investiu forte na manutenção de uma clara e atualizada visão
estratégica setorial, no manter-se informada e de transmitir essas informações aos responsáveis de todas as suas unidades; na troca de experiên cia e de informações entre unidades e setores produtivos de tal modo que todos soubessem tudo a respeito de para onde va mos depois de considerar de onde viemos e como viemos até aqui.
A Visão e a Missão da empresa foram objetos, em anos segui dos, de esforço de transmissão e de aceitação por todo o pessoal. Consideramos que somente um time disposto a suar a camisa sabendo porque está suando e não apenas que vista a tal camisa, pode chegar ao campeonato. E hoje em dia, a cada minuto as empresas estão disputando um campeonato longo, duro, difícil. Isso, também, é globalização.
As considerações imediata mente anteriores levam ao valor
essas
atribuído ao lado humano da em presa. Partimos de que uma das consequências mais completas da globalização é a de que ela fez implodir, de forma radical, o an tigo relacionamento entre empre gador e empregado, arquivou em definitivo o antiquado conceito anarco-sindicalista-marxista de que os dois braços do processo produtivo - patrão e empregado -devam, necessariamente, ser ini migos. E esse é um lado bom da globalização. Lembramos o quanto de luta, de mortes, de des truição de bens, de ódios, mesmo de guerras civis, essa dicotomia provocou. Por aí, já podemos olhar com mais serenidade e fun dadas esperanças o nosso próxi mo amanhã.
Pois, então, na Melhoramen tos, visando a permanecer prepa rados para o que está vindo por aí, entrando de roldão pelas frontei ras abertas e as alfândegas com placentes um pouco em demasia, pois é crescente o número de em presários brasileiros, particular mente os médios e pequenos que estão fechando portas e desem pregando gente em razão da avalanche de produtos invasores, partimos, há já alguns anos para obter o máximo em produtivida de, qualidade, pontualidade, soli dariedade. Desde o lenhador que corta árvores nas montanhas de Minas até o mais requintadamente técnico entre os nossos muitos técnicos.
Obtido esse estágio que mante ve em sua posição vanguardeira aquela que é a gráfica do país melhor aparelhada para a impres são de livros e o ter inovado em papéis especiais como por exem plo lençóis hospitalares e essas saboneteiras encontradas em ci nemas, clubes, restaurantes, par timos para fazer do corpo de cola boradores uma família de inte grantes solidários.
Ao fim de um processo de pre paro técnico e particularmente psicológico que exigiu anos, ter-
minamos por tomar todos os cola boradores, parceiros da empresa. Treinados, desenvolvidos, moti vados.
No segundo ano de gestão participativa, o colaborador, an tes chamado de empregado, sente-se participante, é ouvido, é in centivado a tomar iniciativas. Te mos tido casos exemplares. Se o impressor, treinado e experiente, ouve um mído esquisito na má quina impressora, já não espera, antigamente, o chefe do setor ao qual comunica o fato. O chefe iria à manutenção, a manu tenção viria quando tivesse quem
Demos outro passo além, cri ando a cooperativa de crédito. Em 9 meses de atividade, 40% dos colaboradores, livremente, procu raram tomar-se cooperados. Se gundo a CECRESP ou seja, a Central de Cooperativas de Cré dito do Estado, essa é a cooperati va de maior pujança entre as da sua categoria. Mais do que o di nheiro ali recolhido, festejamos a confiança do pessoal, assim tão claramente indicada, aos objeti vos, à Missão, à Visão da nossa empresa. Embora desde o seu pri meiro dia a firma Weiszflog Ir mãos, que é nossa vertente mais
Partimos já hâ alguns anos para o máximo de produtividade
direta, haja sido quase fraternal no trato com o seu pessoal, hoje, de fato acabou a distância entre
antigos dirigidos e diretores. O empregado fala, é ouvido. E po-
tos que é o melhor para o país, para todos. E talvez seja essa a melhor das armas com que nos municiamos para enfrentar e ven cer a globalização, evitando tanto quanto possível entrar nessa ci randa suicida do “to have lunch or to be lunched”, mas batalhando, com eficiência, humanidade e decisão, pelos nossos ideais. ●
Alfiied Karl Ploger é
e por aí afora. Agora, não. O un- pressor sabe que é p^ do pro cesso, da responsabilidade, da operação, do lucro. Ele vai, rápi do diretoàmanutenção.Ecomasbênçãos do chefe que também é dem acreditar que ele só tem fala- por sua vez parte do negócio. do em benefício do objetivo co- ^ Esse novo espírito levou à ins- mum: o melhor da Melhoramentituição do que chamamos Banco de Horas. Com a anuência entusi asta dos sindicatos, o acordo feito com o pessoal da gráfica diz que a empresa não desconta os dias pa rados por qualquer razão que não seja a vontade do colaborador. E esse não recebe as horas extras que for chamado a dar em caso de encomendas ou circunstâncias especiais. A satisfação tem sido plena, de lado a lado. É, acredito, passo largo e importante para a verdadeira Paz Social no mundo do trabalho. De certo, também a meu ver, algo que se deve escre ver na página de créditos do fenô meno da globalização.
do
presidente
Conselho de Administração da Cia. Melhora mentos de São Paulo, presidente da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas), vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo.
e quase a etrceira (que desapare ceu na Argentina), cabendo ao Estado restaurar a credibilidade da unidade monetária.
Na fase de inflação aguda, a correção monetária foi a solução para permitir manter contratos a longo prazo. Antes dela, os con tratos hipotecários e de longo pra zo desapareceram. Basta lembrar que nos anos 60, qualquer finan ciamento da Caixa Econômica dependia de autorização pessoal do presidente da República.
A utilização da moeda se faz por meio dos bancos, que devem receber e pagar os créditos e débi tos na mesma moeda de conta e de pagamento, sob pena de colapso do sistema. Os bancos são, pois, criadores e multiplicadores da moeda e agentes e vítimas da po lítica monetária.
Se os planos monetários de vem ser neutros em geral, neces sariamente devem ser neutros em relação aos bancos, que transfor mam a poupança estéril em inves timento produtivo.
O crédito permite que as pesso as físicas e jurídicas e o próprio país possam realizar, hoje, os seus planos e sonhos de amanhã, razão pela qual já se disse que a moeda é o sangue que circula na socieda de moderna, funcionando os ban cos como coração do sistema.
O escritor russo Fedor Dostoievski chegou a afirmar que a moe da é a liberdade cunhada. Donde se pode concluir que o sistema bancário é um catalisador que traz o oxigênio, pennitindo a circula ção da liberdade econômica.
Os depósitos bancários são uma forma de moeda, considerada pe los economistas “Ml”, sendo os respectivos certificados caracte rizados como quase-moeda. Neste sentido se reconhece que os bancos têm uma verdadeira função ou missão pública, consti tuindo um serviço público ou para público.
A função do banco depende de sua credibilidade, afirmando-se
que “ao banqueiro cabe inspirar confiança e não ser amado”. As qualidades básicas do banqueiro são, pois: confiança, caráter e re putação (J.P. Morgan).
Há necessidade de equilíbrio das suas contas, recebendo a mes ma moeda que paga, com Uberdade de ação para que possa ser responsável, a fim de manter a credibilidade do sistema. É preciso compreender que o banco não pode ser instituição de caridade ou de previdência soci al, nem segurador de riscos. Ele tem a responsabilidade comerci al, mas não pode responder pelos riscos monetários ou políticos, que constituem força maior ou caso fortuito.
Consequentemente, não pode haver duas correções monetárias, nem duas moedas distintas de pa gamento ou de conta, uma para os débitos e a outra para os créditos, É, aliás, o que tem sido reconhe cido pela jurisprudência do STJ em vários julgados.’ Trata-se de noção jurídicamas também debom senso. Tanto mais que a responsa bilidade pelo bom funcionamento do sistema bancário é do Estado e da sociedade, seja via Banco Cen tral, reserva monetária, PROER ou Fundo Garantidor de Créditos.
Como o uso do banco deixou de ser o privilégio de uma elite e todos, hoje, necessitam ter conta bancária e não há como evitar a “bancarização” do dinheiro, em todos os países, a sociedade, sob uma forma ou outra, se responsa biliza pelas eventuais insolvências do sistema financeiro, numa forma de solidariedade, com ação regressiva contra os culpados.
A sociedade deve, pois, evitar que o Poder Público, pelos seus atos, ou o Poder Judiciário, pelas suas decisões, possam romper o equilíbrio que deve existir na moeda de pagamento e de recebi mento dos bancos.
Como os planos econômicos já ocorreram, produziram os seus efeitos e não há como voltar atrás,
trata-se agora de conciliar o direi to e a economia para garantir os direitos individuais tanto do depositante, como do mutuário, mas também os direitos da insti tuição financeira, dos seus acio nistas, empregados e, de novo, dos próprios depositantes, em caso de insolvência dos bancos.
Conciliar significa que:
a) o Estado deve fixar a sua polí tica monetária, mas não pode praticar abusos, nem se apro priar de bens alheios ou prati car discriminações, ferindo os direitos de depositantes ou mutuários (Brossard);
b) não há direito adquirido de depositantes ou mutuários à in flação, nem ao índice de corre ção, mas tão-somente ao equi líbrio econômico-financeiro, cabendo ao autor da ação a pro va do prejuízo próprio e do enriquecimento alheio;
c) se a correção monetária deve ser plena e integral nas dívidas de valor, ao contrário, nas dí vidas de dinheiro é preciso atender aos irscos aceitos pe las partes e ao equilíbrio eco nômico dos contratos;
d) consequentemente, a correção monetária paga e recebida pe los bancos deve ser sempre a mesma, sem enriquecimento, nem empobrecimento do inter mediário financeiro, que não assume os irscos da política monetária.
A mesma situação de equilí brio deve ocorrer em relação a outros intermediários, como é o caso do sistema de seguros e pre vidência privada. Neste sentido, manifestou-se a jurisprudência do STF, no caso dos fundos de pen são, quando a lei afastou o salário mínimo ou, no caso da APLUB, os vencimentos de oficial do exér cito como índice de reajustamento, fazendo prevalecer a OTN e considerando constitucional novo texto legal por se tratar de o
direito monetário de aplicação imediata.
Na ocasião, concluindo deci são da r Turma, o ministro Sydney Sanches salientou que: “... De resto, houve de parte do
ocupação de política monetária (de ordem pública), que pratica mente generalizou, através das variações das ORTO’s, a corre ção monetária a ser observada, no cumprimento das leis vigentes e dos contratos.
tidade de correção monetária na captação e na aplicação dos re cursos”, sob pena de inviabüização do sistema.
Se, todavia, houve ato üícito por parte do Poder Público, cabe-lhe legislador, a partir da Lei n° 6.205, responder pelos prejuízos causade 29-04-1975, passando pela Lei dos, como assinalado pelo ministro n°6.423,de 17-06-1977, uma pre- CelsodeMeUo^epelajuiispradência da 3® e da 4“ Turmas do STJ/ Se houve violação do princípio da igualdade dos encargos, se se determinou um confisco inconsti tucional, se houve aplicação de ín dices distintos de correção monetá ria por determinação da autoridade pública, beneficiando-se a Urúão o Banco Central, é situação que
E com a Lei n° 6.435 estendeu o tratamento aos contratos da pre- j j t? vidência privada, que, pelo cres- justifica a responsabihdade do - tado pelos atos ilícitos por ele prati cados ou pelos atos lícitos lesivos ao patrimônio de particulares e que beneficiaram a União Federal.
cimento da área, começou a en volver interesse público. Inspiração de ordem pública repita-se, de conteúdo políticoadministrativo-econômico-financeiro-previdenciário, voltado para o interesse do país, que precisou impor sacrifícios a muitos, a tan tos e a quase todos, e não apenas às compreensíveis e respeitabilíssimas aspirações de contribuintes e beneficiários da previdência pri vada.” (RE n° 110.930-RS, in R.T.J., 121/795)
Pode justificar-se, eventual mente, entre particulares, a complementação da correção mo netária quando há ato ilícito ou quando se trata de contrato de longo prazo, no qual o equilíbrio contratual foi rompido, como tam bém tem entendido o STF.^
Já b mesmo princípio não se pode aplicar sem prova de preju ízo por parte do credor ou do mutuário, autor da ação, e enri quecimento sem causa do réu, quando se discute com banco que pagou a mesma correção nas suas operações ativas e passivas, o que presumidamente exclui a hipóte se de enriquecimento.
Assim, como salientado recen temente em parecer do doutor Procurador-Geral da Fazenda Na cional, Dr. Luiz Carlos Sturzenegger, “impõe-se a iden-
brada em bases descabidas; d) em matéria de limite de idade e de exame psicotécnico para in gressar no serviço público, etc.
A questão etm sido objeto de estudos etóricos por San Hago Dantas,LúdoBíftencourteBilac Pinto, no passado, e, mais recente mente, por Gilmar Mendes, Caio Tácito e Suzana Toledo.
Ora, os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade impõem que seja neutra a corre ção monetária em geral, mas, em particular e a fortiori, em relação às instituições financeiras, que são meras intermediárias de recursos.
Não me considero parcial nem suspeito na matéria, pois defendo a correção monetária como remé dio amargo mas necessário, há mais de quarenta anos.®
Não tendo sido cometido ato ilícito pelo sistema financeiro, impõe-se que o mesmo não seja penalizado com uma diferencia ção do percentual de correção entre aquela que recebe e a que paga, por ser a correção necessa riamente una. Correção não é plus, não é um minus, como tem salientado a jurisprudência e a doutrina. A dívida corrigida é o mesmo débito atualizado e, assim sendo, só pode haver uma úmca correção monetária.
O princípio da razoabihdade da lei e da proporcionalidade, ins pirado no devido processo legal, foram consagrados no direito es trangeiro e especialmente nos Estados Unidos pela Corte Supre ma e já agora foram aceitos pelo Supremo Tribunal Federal em sucessivos julgamentos.^ ou
^ Foi O que ocorreu:
Sempre entendi que ela se impunhaedevia ser corretae exata, como medida de justiça comutativa, para permitir investimentos e contratos a longo prazo e garantir ajustaindenização das dívidas de valor.
Mas, desde 1956, comparei a correção aos antibióticos, cuja aplicação não deve ser generali zada, nem excessiva. O uso indiscriminado da penicilina ou da cortizona, além dos seus efei tos secundários perversos, podè significar a morte do paciente em vez do restabelecimento da sua saúde. É o risco que estamos cor rendo ao exacerbar a utilização da correção monetária, transpondo para o presente os efeitos da infla ção passada, sem respeitar a neu tralidade dos seus efeitos. ●
Notas
1 REsp. 20.203-0-SP, 21.101-7 SP e 32.66615-5-SP.
a) em matéria fiscal; b)em relação ao direito de exer cer a profissão, tanto por con denados por crimes contra a segurança nacional, como por magistrados e membros do M.P. aposentados; c) no caso de taxa judiciária co- 1956.
2 RE n“ 85.714-1 e RE n“ 71.443.
3 RE n“ 152.615-7
4 REsp 955 e REsp 3.683.
5 REn° 18.331 inRF 145/163,Rp. 1077 in RTJ112/34 e Rp. 1054 in RTJ110/937.
6 Amoldo Wald, A aáusula de Esca¬ la Móvel, São Paulo, Max Limonad,