Diário do Comércio - fevereiro 2003

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Jornal Diário do Comércio - CAD Empresas - 3/2/2003 (21:24) - página 10 - Cor: BlackCyanMagentaYellow

DIÁRIO DO COMÉRCIO

10 -.EMPRESAS.

Não adianta mudar a temperatura das vitrines antes da hora. No caso da coleção outono/inverno, as liquidações começam muito cedo, o que também não é bom para o varejo. Desafio agora é chegar a um acordo sobre as datas de lançamento das coleções.

Indústria quer mudar calendário de lançamentos da moda em 2003 Tsuli Narimatsu Está em curso um movimento que pretende alterar e estabelecer novas datas de produção e lançamento de moda no Brasil. O objetivo é promover um melhor entrosamento entre indústria e comércio, racionalizar a chegada das coleções nas lojas e incentivar o consumidor a comprar mais. O ponto principal a ser discutido é o momento mais acertado para a chegada das novas coleções às lojas. "As mercadorias da coleção outono/inverno são colocadas muito cedo nas vitrines, geralmente em fevereiro e março", afirma o presidente da Abit, Paulo Skaf. Segundo o raciocínio de Skaf, se o lojista expõe cedo a roupa de inverno, em períodos de clima quente, não consegue vender, comprometendo a moda verão e começando a liquidar em junho, exatamente quando está frio. "As pessoas deixam de comprar as peças de verão porque concluem que já estão na moda inverno", diz ele. Como já não há mais aquele frio de rachar, a sugestão da Abit é entrar com a moda inverno mais tarde e prolongar a coleção verão. Calendário doido- Há comerciantes que já estão desde janeiro com as peças de outono/inverno nas lojas, caso da grife de moda feminina Viva Vida. Enquanto outras, como a Fucsia, estão liquidando a moda primavera/verão até fevereiro, mas já se programam para lançar a coleção de inverno em março e abril.

Paulo Pampolin/Digna Imagem

ESPECIAL

sábado, domingo e segunda-feira, 1, 2 e 3 de fevereiro de 2003

Karla, da Fucsia e Paulo Skaf, da Abit: tendência é definir melhor os períodos de venda por estação. Roupas de verão saem muito cedo das prateleiras.

A divergência de datas para o lançamento das coleções vêm comprometendo o planejamento das vendas e da produção da indústria. "Há uma grave distorção no calendário brasileiro em função das décadas anteriores de inflação. As datas foram se sobrepondo. Mas temos que nos reprogramar", diz Skaf. Ele lembra que são necessários seis meses para processar as vendas dos lojistas, comprar matérias-primas , produ-

zir e distribuir os produtos. "O risco de se pré-produzir antes dos pedidos dos lojistas está insuportável", afirma Skaf. Modelo atual-O negócio da moda no Brasil é vultuoso, envolvendo US$ 36,4 bilhões no varejo e US$ 16,4 bilhões na indústria, segundo dados do Instituto de Marketing Industrial (IEMI). De uma forma ou de outra, as desvantagens do atual esquema, que não têm respeitadas as datas de lançamentos,

comporta liquidações sistemáticas para garantir o giro das mercadorias, produção limitada e pressionada para a entrega em poucos dias, favorecem esse movimento de reorganização do setor. Para isso a Abit já enviou mais de 10 mil cartas a fornecedores, confecções e indústrias com o intuito de conseguir adesões e estabelecer novos prazos para o calendário da moda. Liquidações- Lojistas e in-

dústrias estão perdendo dinheiro ao antecipar a moda inverno, uma vez que têm que fazer as liquidações mais cedo. O diretor do IEMI, Marcelo Prado, lembra que em abril as lojas lançam outono/inverno. As grades estão cheias, com todos os tamanhos e cores. "O estoque é alto e ninguém compra. Em junho, quando está começando o inverno, as lojas começam a liquidar. Isso estácriando um círculo vicioso". Proposta alternativa- Há 15 anos à frente do Relatório Setorial da Indústria Têxtil Brasileira, Prado acredita que o setor ganharia mais se organizasse melhor a entrada das coleções no varejo. A sugestão dele é dividir os lançamentos entre as quatro estações do ano. "Em março seria lançada a coleção de outono. Mudam cores e modelos. O preço médio seria o das peças de verão, com preços leves. A medida teria apelo suficiente para fazer as pessoas olharem as vitrines. No fim de maio e junho é que se lançaria a moda inverno", sugere. Fucsia-Na prática algumas confecções, saíram à frente e estão desenvolvendo esse tipo de modelo. A diretora da Fucsia, Karla Montenegro, conta que normalmente acaba dividindo as novidades da coleção outono e inverno para atrair os clientes às 8 lojas próprias que possui na cidade. "Eu não lanço a coleção inteira de verão nem de inverno. Temos novidades de dois em dois meses", diz a empresária, satisfeita com os resultados da estratégia.

informa datas de Tendências apresentadas mais vezes no ano Abit lançamento das coleções As datas que mais atraem o consumidor brasileiro a gastar dinheiro com vestuário, além das festas de fim de ano, são as liquidações, seguidas pelas mudanças de estação. O varejo se vale dessa oportunidade e acaba lançando a coleção outono/inverno logo depois da liquidação de janeiro e fevereiro, para fazer caixa. Mas a estratégia que aparentemente parece estimular as vendas no segundo semestre acaba prejudicando toda a cadeia têxtil mais adiante. Quando faz frio, geralmente em maio e junho, a coleção inverno já está sendo liquidada. Resultado: margem de ganho menor, consumidor insatisfeito por não levar a peça na cor e no tamanho desejados. Su ges tão - A proposta do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI) para otimizar as vendas do setor e fortalecer todos os agentes envolvidos diretamente com a moda brasileira seria o lançamento de quatro coleções por ano, ao invés de apenas duas. O diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI), Marcelo Prado, sugere que num primeiro momento as grandes marcas e confecções estabeleçam quatro coleções por ano. "O erro seria menor e a moda ficaria mais convidativa ao consumidor". Segundo ele, apenas 30% delas realmente criam novas coleções e arriscam o lançamento de novas tendências. São estas que inicialmente têm cacife para bancar um número maior de lançamentos por ano. Marcas de peso-As grandes marcas ditam as tendências de moda no País. São os seus cortes e modelos que inspiram as demais confecções. Como elas servem de espelho para todo o setor, a disciplina do varejo

Um dos principais desafios da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) para este ano é acertar o calendário de lançamentos das coleções de moda no Brasil. A tarefa exige a união de todos os elos da cadeia têxtil, desde os fornecedores de fios até as tecelagens, confecções e comerciantes. A Abit acaba de enviar 10 mil cartas aos principais agentes do setor informando as datas de pré-lançamentos das coleções outono/inverno e primavera/verão. Nela, o presidente da Abit, Paulo Skaf , explica que, após diversos debates, a entidade está iniciando uma

campanha para disciplinar o planejamento do processo de produção e distribuição. "As principais marcas do mundo lançam seus produtos com uma antecedência de seis meses antes de estarem disponíveis ao consumidor. Esse tempo é necessário para processar as vendas, comprar as matérias-primas, produzir e distribuir", diz Skaf na carta. SPFW-A última semana foi marcada pelo lançamento das coleções inverno 2003 na São Paulo Fashion Week. Ações do tipo são estrategicamente programadas para organizar o setor têxtil.

Prado, do IEMI: marcas não podem simplesmente se curvar diante das liquidações

Evento surgiu para organizar setor com relação às datas de lançamentos poderia acontecer mais rápido caso elas aderissem à proposta. "As grandes marcas não podem cair no erro de se curvar às liquidações", defende Prado. Risco menor- O diretor do IEMI acredita que com um número maior de coleções, o risco para os confeccionistas e comerciantes seria menor. "Se não conseguir vender, liquida antes e o resultado é o empate".

Ocorre que, atualmente, as coleções de seis meses não giram duas vezes. "Se vender bem não dá tempo de comprar de novo", diz ele. Para a diretora da grife de moda jovem Vício, Fernanda Barrozo Dittmers, há um impasse. A mudança de calendário exige mais investimentos em divulgação, capital de giro, crédito. A idéia é boa mas não há qualquer garantia de que o esforço seria compensado.

A São Paulo Fashion Week (SPFW) foi criada com o objetivo de unir todos os elos da cadeia têxtil em torno de um calendário único para otimizar o consumo do vestuário no País. Até então, os lançamentos das coleções eram feitos de forma individual e espalhada, com resultado pulverizado. Cada grife escolhia uma data de sua conveniência, desfavorecendo todo o setor têxtil. Fortalecer e profissionalizar a indústria da moda foi a meta a que se propôs o diretor da

SPFW, Paulo Borges. O resultado disso é que, atualmente, os lançamentos já estão nas lojas 45 dias após o evento. Nome-É por isso que a maior vitrine de moda da América Latina chama-se São Paulo Fashion Week Calendário Oficial da Moda Brasileira. O evento ganhou tanta força que acabou sendo mais associado à projeção da moda brasileira no Exterior. No entanto, a intenção primordial foi disciplinar o mercado interno. Dat as-O estabelecimento

prévio das datas do evento obrigou o setor a se organizar profissionalmente, segundo Borges. "A indústria se entrosou para atender os lançamentos das marcas, os estilistas se disciplinaram, os compradores se programaram, a imprensa se preparou e os consumidores estão mais estimulados a ir às lojas", afirma Borges. Segundo o diretor da SPFW, os setores que ainda precisam evoluir nesses eventos são os de moda praia e moda masculina em geral.


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