Diário do Comércio - 100 anos

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Prontos para mais um centenário

São 100 anos noticiando o cotidiano das empresas de São Paulo e do Brasil. Nascemos em 1924, em meio à Revolução Tenentista, o maior confl ito urbano do país. Atravessamos guerras, recessões, crises internas e externas, procurando sempre ser a mão amiga que ajuda o empresário a enfrentar as turbulências.

Temos orgulho dessa história, que ficará registrada no tempo por meio desta edição comemorativa do Diário do Comércio, de um livro que exibe capas clássicas do jornal, de medalhas cunhadas em bronze pela Casa da Moeda, que também imprimiu cartelas de selos em nossa homenagem.

O centenário incute na atual equipe do DC a responsabilidade de manter vivo o legado do jornal. Sabemos o tamanho do desafio: informar, na era da desinformação massificada, não é fácil. Mas nesse ponto temos uma vantagem. Estamos intimamente ligados à Associação Comercial de São Paulo (ACSP), entidade que em 130 anos sempre transmitiu credibilidade.

empresas. Juntos, apresentamos alternativas para contornar esses problemas, apontando tendências de investimentos, tecnologias para reduzir custos operacionais, caminhos para diversificar mercados.

Da nossa parte, renovamos o compromisso de manter o Diário do Comércio atualizado com informações relevantes e de qualidade, pavimentando o terreno para que por mais 100 anos o jornal possa auxiliar os empreendedores leitores e, quem sabe, até transformar leitores em empreendedores.

A celebração de aniversário de um órgão de imprensa é sempre a reafirmação da liberdade e do direito de todos ao acesso a informações sérias e confiáveis. Ao longo de 100 anos, este veículo testemunhou as importantes transformações pelas quais o país passou, contribuindo com o debate para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Parabéns, Diário do Comércio, pelo centenário e pelos bons serviços prestados no desafio diário de informar e apoiar a classe empresarial em suas decisões. Vida longa!” Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República

Enalteço o centenário do Diário do Comércio, da Associação Comercial de São Paulo, por sua trajetória marcada pela produção de informações relevantes sobre o comércio, a indústria brasileira e o empreendedorismo. Parabenizo os seus colaboradores e sua direção por tornarem o jornal uma referência a setores tão importantes para o crescimento do país.”

Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso

De braços dados, DC e ACSP amplificam a voz dos empresários. Juntos, lutamos contra a carga tributária elevada, a falta de crédito aos pequenos negócios, a burocracia que amarra as

Datas especiais precisam ser comemoradas. O que dizer então de uma marca centenária? São cem anos de uma história super bonita, de um jornal que nasceu como um informativo restrito para o uso de comerciantes, atravessou diversos momentos econômicos, soube se adaptar, se transformou em portal e segue auxiliando o empreendedor. Cem anos depois, o Diário segue sendo referência, segue fazendo a diferença. Parabéns pelo centenário, Diário do Comércio! E que venham mais 100 anos de história.” Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo

A ACSP é uma importante parceira da Prefeitura na transformação de vidas através do trabalho. Está na geração de emprego e renda a oportunidade de tornar nossa metrópole menos desigual e ainda mais crescente. O centenário do Diário do Comércio é a manchete perfeita de que empreender nessa cidade é um bom negócio. Estamos fazendo a nossa parte com segurança jurídica, redução de impostos e incentivos que façam a economia girar. Desejo boas notícias ao jornal de excelência na prestação de serviço ao setor. Rumo aos próximos 100 anos!” Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo

Publicação da Associação Comercial de São Paulo

Jornalista responsável: Vinícius Prado de Morais (MTB: 28.681) (vprado@dcomercio.com.br)

Edição e Projeto Gráfico: Renato Carbonari Ibelli (ribelli.ext@dcomercio.com.br)

Textos: Karina Lignelli (lignelli@dcomercio.com.br)

Mariana Missiaggia (mserrain@dcomercio.com.br)

Silvia Pimentel (spimentel.ext@dcomercio.com.br)

Renato Carbonari Ibelli (ribelli.ext@dcomercio.com.br)

Rebeca Ribeiro (rebeca.ferreira@acsp.com.br)

Capa e Artes: William Chaussê (wchausse.ext@dcomercio.com.br) Gabriela Soares (gabinatacha.soares@gmail.com)

Diagramação: Suelen Mendes (suelensimone@gmail.com)

Acervo histórico: Biblioteca ACSP – responsável: Gisele Luchi (CRB-8/9495)

Publicidade legal/comercial:

Yuri Matos (publicidade@dcomercio.com.br) – (11) 3180-3794

Impressão: Gráfica OESP

Tiragem: 15.000 exemplares

Periodicidade: projeto especial

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Rua Boa Vista, 51, 8º andar – Centro – CEP 01014-911 – São Paulo – SP facebook.com/DComercio br.linkedin.com/company/diário-do-comércio youtube.com/DiariodoComercio1 x.com/dcomercio1 instagram.com/dcomerciobr

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Equipe DC

o jornal digital do empreendedor Muito prazer, DC:

Somos um site de notícias voltadas ao empreendedor. Tendo esse público como alvo, buscamos produzir um conteúdo que aponte tendências que emergem no mercado - como a inteligência artificial e o live commerce - para ajudar o empresário no seu dia a dia.

Dicas sobre uso das redes sociais e de tecnologias como os chatbots para capturar informações dos consumidores estão sempre presentes em nossas pautas. Estamos na era dos dados, saber como usá-los garante uma enorme vantagem comercial.

O mercado de consumo atual é dinâmico, cheio de novidades que precisam ser maturadas e fenômenos complexos que surgem da noite para o dia, como os virais do TikTok e seus impactos nos estoques do varejo. Para ajudar a interpretar esse momento, recorremos a especialistas e instituições de ponta, que fundamentam nossas reportagens. Mas nunca deixamos de ouvir o empresário, quem de fato vivencia os problemas e encontra soluções práticas para lidar com o novo consumidor.

Além das tendências, nossa preocupação é também com a realidade do dia a dia dos negócios, que envolve temas ainda mais complicados de se discutir, como carga tributária e uma infinidade de legislações. Há 15 milhões de microempre -

endedores individuais (Mei) que não dispõem de contadores e equipe jurídica para auxiliá-los com esses assuntos, mas que podem recorrer ao conteúdo que produzimos.

Temos grande intimidade com as leis que regem o Simples Nacional e com os idealizadores desse regime tributário que abriga mais de 90% das empresas do país. Isso porque o embrião desse sistema, a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, foi gestado na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), entidade que mantém e abriga o Diário do Comércio.

Outro tema do nosso noticiário é o xadrez do mercado varejista. Fusões, falências, entrada de novos players são matérias-primas para muitas de nossas reportagens. Nesses casos, nosso compromisso é ir além da notícia, buscando analisar as consequências desses movimentos, especialmente para os pequenos negócios.

Quando Petz e Cobasi anunciaram a intenção de unir suas operações, nosso foco foi buscar a reação da modesta Petland diante da concorrente gigante em formatação; frente ao avanço das plataformas chinesas no país, nossa preocupação é entender os impactos no comércio do Brás, Bresser, Santa Ifigênia e outros polos tradicionais do varejo; quando o fenômeno Busca Busca surgiu, fomos ouvir o empresário por trás do negócio para que compartilhasse o segredo do seu sucesso meteórico.

A essa altura o leitor pode se perguntar: por que um jornal centenário precisa gastar tantas linhas para se apresentar? É que o tamanho da nos-

sa história inevitavelmente faz sombra em nosso presente.

Por mais de 90 anos fomos um impresso. Aliás, o único diário do mundo distribuído por uma entidade de classe. Em 2014, por uma decisão estratégia, a ACSP encerrou a versão física do jornal e concentrou os esforços no digital. Nesse processo, deixamos muitos órfãos do DC em papel, que até hoje, dez anos depois, nos perguntam por que o jornal deixou de ser entregue em suas casas.

Os custos de se produzir uma edição diária impressa são altos, ao mesmo tempo em que as barreiras físicas limitam a distribuição do conteúdo. Por outro lado, a internet não tem fronteiras. O Diário do Comércio em papel era entregue aos associados da ACSP, o DC digital é aberto para um mundo de empreendedores que, ao acessarem o site, indiretamente têm contato com as bandeiras e serviços da ACSP. Quanto mais leitores, mais associados em potencial para a entidade.

110 mil

leitores mensalmente

65 mil

inscritos no YouTube

30 mil

seguidores no Facebook

Hoje o DC é acessado por mais de 110 mil leitores mensalmente, temos 65 mil inscritos no nosso canal do YouTube, somos seguidos por 30

mil pessoas no Facebook... No final, a transição para o digital se mostrou acertada. É o que têm feito as grandes publicações no mundo todo, com versões físicas desidratando e a on-line ganhando corpo, em sintonia com o leitor contemporâneo.

Temos muito ainda o que crescer na internet para de fato nos tornarmos o jornal do empreendedor. O universo digital tem seus desafios e a imprensa mundial tenta entender como desbravá-lo. Os algoritmos das redes sociais, as trends do Google, a monetização e novos formatos de distribuição do conteúdo são questões que exigem um trabalho que vai além do esforço editorial. Mas estamos no caminho certo.

A ACSP tem direcionado investimentos para tornar o jornal maior. O próximo passo será estruturar uma agência de notícias, que atuará de maneira coordenada com o portal do DC. Nesse processo, está prevista a criação de um estúdio, onde poderemos gravar podcasts e fazer entrevistas em vídeo, movimentando ainda mais nossos diferentes canais de contato com os leitores.

Diante disso, não é exagero afirmar que o Diário do Comércio chega aos cem anos rejuvenescido e disposto a encarar mais um centenário. É claro que contamos com a sua ajuda para essa nova etapa. Nos encontramos em www.dcomercio. com.br.

Cem anos num virar de página

ODiário do Comércio nasceu em 1º de julho de 1924 como um serviço de utilidade aos empresários.

Naquele início, eram apenas algumas folhas datilografadas que listavam os nomes de pessoas que deviam na praça. A Associação Comercial de São Paulo, que mantém o jornal até hoje, distribuía esse material sob o título de Boletim Confidencial.

Nessa simplicidade havia algo visionário. O comércio, que começava a fervilhar no que hoje chamamos de triângulo histórico de São Paulo, tinha como única garantia o fio do bigode. Ao fazer circular todas as manhãs uma lista de títulos protestados, o Boletim Confidencial garantia mais segurança ao mercado creditício paulistano. Era um protótipo do que seria o serviço de proteção ao crédito.

Tratava-se de um informativo restrito, como o próprio nome sugeria, e com informações estratégicas que deveriam ser tratadas de maneira responsável, segundo alertava o rodapé do boletim: “Os assinantes se obrigam a fazer uso absolutamente reservado das informações contidas neste boletim, sendo-lhes vedado mostrá-lo a qualquer pessoa e divulgar ou consentir que seja divulgado de qualquer forma, total ou parcialmente, o seu conteúdo”.

Em pouco tempo, o conteúdo do informativo ganhou corpo, com a incorporação de estatísticas das mercadorias que entravam na cidade de São Paulo, a movimentação dos navios que atracavam no porto de Santos, manifestos de importação e exportação. Não havia mais motivo para a publicação ser “confidencial”, e em 1929 ela muda de nome para Boletim Diário. Nessa época, a publicação ainda era feita de manei-

ra artesanal, com cópias rodadas em mimeógrafo. Mas à medida que ela ganhava corpo e leitores, foi necessário modernizar o processo. Em 1947, com mais de 3 mil assinantes, o boletim passa a ter impressão tipográfica e muda para o formato de tabloide.

A essa altura, a ACSP já havia percebido a importância de dialogar com a classe empresarial por meio da imprensa. Dois importantes exemplos desse posicionamento remetem a 1948, durante a gestão de Décio Ferraz Novaes, quando foram criados o Departamento de Divulgações e o Departamento de Publicações dentro da associação.

O primeiro, atuava como uma assessoria de imprensa, muito antes desse tipo de agência aparecer no país, o que só ocorreria na década de 1970. O Departamento de Divulgações, comandado pelo jornalista Rui Nogueira Martins, se encarregava de fazer com que as ações da ACSP, e os assuntos de interesse debatidos pela entidade, fossem difundidos pelos meios de comunicação do estado de São Paulo e do país.

Já o Departamento de Publicações, chefiado por Antonio Gontijo de Carvalho, cuidaria dos impressos da ACSP, que à época eram três: o Boletim Diário, a revista Digesto Econômico e a Carta Semanal.

O nome Diário do Comércio batizaria a publicação em 1949. Pouco depois, em 1954, ao completar 30 anos, o jornal passa a ser impresso em gráfica própria.

A partir de então a publicação entra em um processo contínuo de transformação. Mudanças editoriais são implantadas nos anos de 1970, definindo seções fixas para debater política, economia - que passa a ter análises da equipe do Instituto de Economia Gastão Vidigal da ACSP -, ganha a seção “Empresas e Produtos”, entre outras. Nesse período, a publicação contava com uma média de 22 páginas e, segundo atas da ACSP, tinha mais de 20 mil assinantes.

Na década de 1980, o DC muda de endereço. A publicação, que já havia saído da rua Boa Vista, no centro histórico da capital, para o Brás, agora instala suas oficinas na Rua Galvão Bueno, na Liberdade, local da antiga gráfica do Diário Oficial de São Paulo. Nessa transição, o jornal ganha um departamento de marketing próprio para cuidar das assinaturas e comercialização de espaços publicitários.

Nesse período, o jornal inicia seu processo de informatização, que é realizado em etapas. O departamento comercial recebe computadores em 1984, necessários para agilizar a publicação de anúncios e balanços de empresas. Ao longo da década de 1990 foi a vez da redação.

O DC também passa a contar com gerador e servidor de internet próprios, separados da estrutura da ACSP. O investimento é necessário por causa do enorme volume de informações digitais gerado diariamente.

As cores chegam às suas páginas em 1998, acompanhando o movimento das principais publicações do país. Ao entrar nos anos 2000, o jornal é completamente repaginado. Ele ganha uma diagramação mais moderna e tem a equipe ampliada. Nesse período, a redação recebe um novo software de editoração, o GoodNews (GN), usado à época pelo The New York Times, entre outros veículos tradicionais. A aquisição deixa o jornal mais bonito, passando a mostrar gráficos, fotos e ilustrações com mais qualidade em suas páginas.

A partir de 2003, o DC começa a desenvolver uma série de cadernos especializados (veículos, cultura, viagem, informática, esportes e imóveis) e rompe a fronteira de São Paulo, passando a ser distribuído também em Brasília. Foi um período profícuo da publicação, que ganha prêmios, entre eles o Prêmio Esso de “Melhor Contribuição à Imprensa”, com o projeto do “Museu da Corrupção” (mais na pág. 14) Nesse processo de melhoria contínua, em 2004 o jornal se apresenta à web com o site dcomercio.com.br. A partir daquele momento, a publicação, que chegava diariamente para 20 mil assinantes, estaria disponível a qualquer pessoa conectada.

O passo seguinte seria o mais difícil da história do DC. Em 2014, a edição impressa do Diário do Comércio foi encerrada. A partir de então, toda a atenção seria direcionada para o conteúdo digital.

Renato Carbonari Ibelli

O nome Diário do Comércio

Nascemos em 1924 como Boletim Confidencial, rebatizado como Boletim Diário em 1929, nome usado até 1º de julho de 1949, a partir de quando a publicação ganhou a identidade atual. Mas essa não foi uma transição simples.

A escolha do nome Diário do Comércio envolveu debates que se estenderam por meses entre os superintendentes do jornal Izidro Pedro e Alexandre Hornstein, que defendiam a mudança de nome, e a maioria dos dirigentes da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que se mostravam mais cautelosos.

Por pelo menos sete meses a diretoria da associação comercial colocou em votação sugestões de nomes para substituir Boletim Diário, entre eles, segundo ata de reunião realizada em novembro de 1948, dois tiveram boa aceitação: “Diário de Informações da Associação Comercial e da Federação do Comércio” e “Diário de Informações Comerciais da Associação Comercial e da Federação do Comércio”. Mas não foram unanimidades.

Até que em 31 de maio de 1949, em novo encontro da diretoria, chegou-se ao nome que batizaria este jornal até os dias de hoje. A ata daquela reunião eternizou esse momento:

“Depois de relatar os motivos que aconselhavam aquela alteração, e de apresentar diversas sugestões para a nova denominação desse órgão informativo, propôs o sr. Izidro Pedro que, no dia seguinte ao da comemoração do 25º aniversário de sua fundação,

o Boletim já passasse a circular com novo nome. Debatido longamente o assunto, foi por fim aprovada, por unanimidade, a escolha do título Diário do Comércio...”.

Alguns dos motivos que justificaram a escolha de um novo nome aparecem em relatório das ações da ACSP no biênio 1948 – 1949, divulgado em 15 de fevereiro de 1950. O relatório descreve o crescimento da publicação, que à época era enviado a mais de 3 mil assinantes. Em 1948 o jornal também obteve receita superior às despesas, o que foi considerado um incentivo para as mudanças.

Havia então a necessidade de se conectar melhor a um público mais amplo. Tanto que, juntamente com o novo nome, a publicação foi completamente reformulada, ganhando mais artigos originais, a seção Orientação Legal, divulgação de balanços, entre outras melhorias.

O novo e rebatizado jornal da ACSP foi apresentado aos leitores em 2 de julho de 1949, dia seguinte ao aniversário de 25 anos da publicação, conforme havia recomendado Izidro Pedro.

Na capa daquela edição histórica, um editorial com o título “O roteiro a seguir” trazia alguns compromissos assumidos pela direção do diário: “A orientação do Diário do Comércio será impessoal, educativa, doutrinária. Veiculará e propagará ideias. Estará a serviço, é óbvio, dos interesses das classes produtoras...”. (RCI)

Celebramos esta edição de 100 anos anunciando a parceria entre a CDR e a MAG Seguros

Liguem as máquinas!

A edição do Diário do Comércio de 3 de julho de 1954 anunciava, com entusiasmo, que a partir daquela data o jornal seria impresso em gráfica própria, instalada à rua General Carneiro, 79, subsolo da sede da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). A publicação completava então seus 30 anos. Era um passo ousado, mas coerente com a postura independente que o DC assumia.

Em editorial publicado na capa daquela edição de 3 de julho, João Di Pietro, então presidente da ACSP, lembrava do início modesto do Diário do Comércio, que nasceu distribuído em cópias mimeografadas, mas que “pela seriedade e pelo critério de seus serviços, trocou o estêncil pelas Mergenthaler [referência a Ottmar Mergenthaler, inventor do linotipo].”

Nesse mesmo editorial, Di Pietro resume a função principal do jornal, que norteia a publicação até hoje, que é deixar os empresários “... a par de tudo o que se passa nos meios econômicos e financeiros do país e do mundo”, além de ser o “espelho onde as realizações da ACSP se refletem.”

A inauguração da modesta gráfica foi oficializada em evento na sede da ACSP, às 11 horas. A edição de 3 de julho de 1954, já rodada de forma experimental em oficina própria, lembrava que a cerimônia de inauguração seria seguida de almoço no Jardim de Inverno Fasano.

Unimos a tradição e a inovação da seguradora mais longeva do país à Central de Rede, promotora de vendas para atender todo o sistema associativista do Brasil, proporcionando um modelo de negócio dedicado aos associados. Apresentamos soluções completas e flexíveis, dedicada a empresários comprometidos com o bem-estar de seus colaboradores.

Se já somos fortes, seremos ainda mais em rede.

Anos depois, em dezembro de 1957, o parque gráfico do DC é transferido para a rua Barão de Ladário, 125, no bairro do Brás. Além da mudança de endereço, o formato do jornal também é atualizado, ganhando o padrão standard, acompanhando as principais publicações da época.

Uma nova empreitada gráfica se passa em 1982, quando o jornal instala suas oficinas na Rua Galvão Bueno, 83, na Liberdade, local onde funcionava a antiga gráfica do Diário Oficial de São Paulo. Com os equipamentos herdados, foi possível melhorar a publicação, que ganha um novo projeto editorial. A troca de endereço também abre espaço para a implantação de um departamento de marketing próprio.

No início dos anos de 1990 foi a vez da redação do jornal receber melhorias, com as máquinas de escrever substituídas por computadores. Em contraste à informatização da redação, a gráfica do DC estava obsoleta, ainda operando com linotipo.

Investimentos foram feitos nesse período para implantar a impressão em fotolito, mas modernizar completamente as oficinas exigiria gastos elevados. Então, em 1998 a diretoria da ACSP decide terceirizar a impressão, que passa a ser feita na OESP. Naquele ano, pela primeira vez o DC recebe cores variadas em suas páginas. (RCI)

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nas páginas do DC Histórias do Brasil

ODiário do Comércio registra o cotidiano de empresários e consumidores nos últimos cem anos, compondo um valioso acervo da história da economia paulista e do país. Crises, guerra fiscal, racionamentos, planos econômicos, urbanização, inovações tributárias são elementos de transformações econômico-sociais que sempre estiveram em nossas pautas.

Folhear as páginas de edições do DC dos anos de 1950 nos transporta para uma São Paulo em processo de industrialização acelerado. Montadoras começavam a chegar, abrindo oportunidades de emprego que atraíam pessoas do interior para a capital. Nessa época, segundo matéria do DC publicada em 20 de dezembro de 1955, havia mais obras na capital paulista que nas cidades europeias que estavam sendo reerguidas no pós-guerra.

Em 1954, informa a reportagem, mais de 3 milhões de metros quadrados foram construídos em São Paulo. Diferentemente de hoje, os investimentos imobiliários eram basicamente direcionados ao Centro da cidade. Praticamente dois terços dos 3 milhões de habitantes da capital estavam concentrados em 15 bairros centrais, o que era tido como um problema à época.

“... São Paulo está crescendo desordenadamente, ao sabor das conveniências e das possibilidades econômicas dos vários grupos sociais da sua população”, traz a matéria de dezembro de 1955. “... Tanto os que têm capacidade monetária, como os que

não têm, manifestam a cada ano que passa um empenho cada vez maior em se localizar nos arredores do centro da cidade, ou pelo menos, nos bairros circunvizinhos. É a consequência maior do tormento do transporte, insuficiente e difícil, que empurra volumosas massas da população para o centro”.

Os ambulantes – Com o adensamento da região central, fenômenos sociais típicos de metrópoles começam a chamar atenção. Os camelôs não eram exatamente uma novidade na década de 1950, mas sua proliferação começava a incomodar o comércio regular. Atendendo a pedidos do setor, em 1953 o então prefeito Jânio Quadros baixou o Decreto 2.201, que especificava os locais onde os ambulantes poderiam trabalhar: longe do perímetro central e pelo menos 100 metros distantes de comércios que vendiam artigos similares. Não adiantou.

Como as regras não foram cumpridas, os comerciantes iniciaram uma “enérgica campanha contra os camelôs no Centro”, segundo título de editorial do Diário do Comércio de 12 de maio de 1955. A Secretaria de Segurança Pública apoiava a medida, e segundo o texto do DC, no dia anterior foram presos em flagrante mais de uma dezena de ambulantes, que seriam processados por desobediência e a eles era recomendado que mudassem de profissão.

“Podemos ainda antecipar aos nossos leitores que a campanha prosseguirá com o máximo rigor, esperando-se que sejam afastados totalmente, do centro da cidade, todos os camelôs e ambulantes nas próximas 24 horas”, enfatizava o editorial. Voltando aos dias atuais, sabemos que a pressão também não adiantou.

Anos 60 e os homenzinhos verdes –Na década de 1960, além das notícias de economia, o DC trazia com frequência fotolegendas que mostravam a preparação norte-americana para a exploração do espaço. A guerra fria estava em seu auge, dando impulso à corrida espacial. Nas páginas do jornal eram destacados o Projeto Gemini, a

mens de verde-oliva. O ano de 1964 começou tenso por aqui. Uma parte da sociedade, apoiada pelos militares, estava insatisfeita com os rumos do governo de João Goulart. O então presidente da República havia anunciado ações como a estatização de refinarias de petróleo, tabelamento do preço dos aluguéis e a desapropriações de terras para o início de uma reforma agrária. Em 17 de março de 1964, a capa do DC estampa a manchete “São Paulo repudia medidas de JG”, seguida de apuração da reportagem que antecipava uma forte mobilização pelas ruas da capital paulista prevista para 19 de março. De fato, na data ocorreu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que levou 500 mil pessoas às ruas, apontando que havia sustentação civil para a deposição do presidente. Um pouco mais abaixo naquela página, o jornal ilustrou como o país se assemelhava a um barril de pólvora. Sob o título “Estudantes expulsaram Pinheiro Neto: comunista aqui não fala”, a reportagem narra a reação de parte dos alunos da Faculdade de Di-

preparação dos astronautas da missão Apollo para pousar na lua, as sondas enviadas para buscar vida em marte. No Brasil, os problemas eram mais terrenos. Nada de homenzinhos verdes, quem dava as cartas eram os ho-

ACERVO HISTÓRICO ACSP
Renato Carbonari Ibelli
Movimento na rua São Bento, no Centro da capital paulista, na década de 1950. A cidade crescia de forma acelerada à época e dois terços da população estavam concentrados na região central.
Em 1º de abril de 1964 o DC noticiava que Jango não estava mais no poder. O general Castelo Branco, centralizado na imagem ao lado, assumia o país. Os militares ficariam no poder pelos próximos 21 anos.
ARQUIVO AGÊNCIA ESTADO

reito do Largo São Francisco à chegada do advogado João Pinheiro Neto, ministro de Jango, para uma palestra. Munidos de cassetetes e fogos de artifício, os estudantes impediram o ministro de descer do carro. Em oposição, descreve a reportagem, alunos de perfil progressista, ladeados por dirigentes sindicais adeptos do palestrante, partiram para o confronto. “O distúrbio prolongou-se por várias horas, com luta pessoal entre estudantes, de um lado, e a polícia fortemente armada, de outro, disparando rajadas de metralhadoras para o ar.”

Foi nesse clima de animosidade que o país chegou ao dia 31 de março de 64, quando o general Olímpio Mourão Filho mobilizou suas tropas de Minas em direção ao Rio de Janeiro com a intenção de depor João Goulart da presidência. Em 1º de abril, o DC noticiava que Jango já não governava mais o país. Os militares ficariam no poder pelos 21 anos seguintes. Progresso e poluição nos 70’s – Pontualmente às 9h30 do dia 14 de setembro de 1974, um sábado, o Metrô paulistano se movimentou pela primeira vez. Sem passageiros, a composição percorreu o trajeto Jabaquara – Vila Mariana. Estava inaugurado o primeiro transporte do tipo no Brasil.

Matéria publicada na capa do Diário do Comércio naquela data lembrava que o início das operações do Metrô de São Paulo acontecia “após 47 anos de debates entre engenheiros, prefeitos e políticos”. Enquanto pensávamos, outros países aceleravam seus projetos. “Em 1927, o primeiro plano foi apresentado pela Light. Naquela época já existiam 14 metrôs funcionando no mundo. Hoje, existem 31”, trazia a reportagem da época.

Alternativas de transportes eram bem-vindas. O país vivia o milagre econômico, investimentos em infraestrutura eram realizados, mas os congestionamentos nos grandes centros só cresciam com o aumento da frota de veículos. Nas ruas, os gases dos escapamentos, no alto das fábricas, a fumaça das chaminés.

A qualidade do ar na São Paulo dos anos 1970 era crítica, segundo relato assustador publicado em editorial do DC de 5 de julho de 1975: “Os índices de poluição atmosférica superaram, nos últimos dias, os limites humanamente toleráveis. Em Santo André chegaram a provocar o pânico da população, que não podia respirar, cujos olhos lacrimejavam, gerando a

angústia em quem vê se aproximar, irremediavelmente, a morte”.

O texto cobrava mais ação do Estado e medidas mais enérgicas para obrigar as indústrias a adotarem “aparelhos antipoluidores”.

Anos 80 e a hiperinflação – Personagem principal das edições oitentistas do DC, a inflação estava minando o poder de compra da população, que tinha dificuldade para encontrar emprego em um país que vivia períodos intermitentes de recessão.

No início de 1986 a situação era crítica. A capa do DC de 28 de janeiro daquele ano traz a manchete “Inflação marca 16,2% [em janeiro] e exaspera o Governo”. Um quadro que ilustra a matéria oferece um retrato mais completo da situação: No ano, a inflação era de 238,27%, e o reajuste previsto para os salários no mês de fevereiro era de apenas 101,45%.

O então presidente José Sarney, reunido com Dilson Funaro, seu ministro da Fazenda, buscava um acordo com os supermercados para que os preços de produtos básicos ficassem congelados. Ao final da reunião, segundo o texto do DC daquele 28 de janeiro, Sarney apela à sua equipe: “Por favor, não vamos ficar em pânico”.

No mês seguinte, em 28 de fevereiro, o governo anuncia o Plano Cruzado, o primeiro de seu governo para tentar zerar a inflação mediante congelamento de preços e salários. Sem sucesso, o pânico parece ter se instalado no governo. “Funaro pede à população que gaste menos”, traz a manchete do DC de 1º de maio de 1986.

No ano seguinte, Sarney tenta o Plano Bresser, também sem sucesso, e em 1989, o Plano Verão, com resultado idêntico. A inflação estava vencendo. Nos 90’s, a realidade do Real – A sequência de planos econômicos fra-

cassados do governo Sarney, nos anos 80, e Collor, em 1991, deixou o brasileiro na defensiva quando o Plano Real foi anunciado. Um mergulho nas edições do Diário do Comércio que circularam à época permite compreender como estava o clima nas ruas nos dias que antecederam a troca do cruzeiro real pelo real, e nos que se seguiram à implantação da nova moeda.

“Só saiu às compras ontem quem realmente precisava. O fraco movimento no comércio indicou que o consumidor tinha pouco interesse em fazer negócios com o velho cruzeiro. Os poucos supermercados que abriram ficaram praticamente às moscas. Nas lojas, vendedores aproveitaram para limpar vitrines e preparar tabelas de conversão”, descrevia matéria publicada no DC em 1º de julho de 1994, retratando o clima no comércio da cidade de São Paulo em 30 de junho, dia que antecedeu a adoção do real.

Em 1º de julho, com a nova moeda já valendo, era comum ver pessoas paradas em frente às vitrines de lojas fazendo contas. Alguns consumidores denunciavam que os preços tinham subido da noite para o dia. “Um cafezinho expresso, que custava CR$ 900,00 quinta-feira, já estava valendo R$ 0,50. Assim não há plano econômico que dê certo”, reclamou para a reportagem do DC a advogada Helenice Alexandre Nunes. Pela tabela de conversão divulgada à época no jornal, o cafezinho deveria custar cerca de R$ 0,30.

Na hora do troco, outro problema. O cruzeiro real conviveria com o real até o dia 15 de julho daquele ano, mas logo de início os consumidores começaram a rejeitar a moeda antiga. “Desconfiados, os consumidores acompanhavam de perto o cálculo da conta com a nova moeda e, num primeiro momento, chegaram a rejeitar, quando portavam reais, o troco em cruzeiros reais”, descreve matéria do DC publicada em 2 de julho.

Nesta mesma reportagem, representantes dos lojistas de São Paulo relataram quedas nas vendas que, a depender da região da cidade, variaram de 20% a 40% no dia em que o real entrou em cena.

Em meio a esse ambiente de desconfiança, a Associação Comercial

de São Paulo (ACSP) pedia cautela aos atores econômicos e distribuía, via Diário do Comércio, uma cartilha para responder às dúvidas dos empresários sobre a nova moeda, como a necessidade de alteração nas impressoras fiscais, que teriam de substituir o CR$ pelo R$, ou o cálculo dos salários dos funcionários. Consumidor cidadão – Nos anos de 1990 o DC também noticiou com destaque uma nova legislação que mudaria as relações comerciais. Em 11 de março de 1991 passou a vigorar o Código de Defesa do Consumidor (CDC). Havia um certo receio entre os empresários. A indústria de alimentos pedia mais tempo para se adaptar. Agora as embalagens teriam de revelar a data de fabricação, prazo de validade e ingredientes usados na produção. Falava-se em risco de desabastecimento. Para a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), o risco maior era o de aparecerem oportunistas: “... além da figura do advogado de porta de cadeia, poderá surgir o de porta de loja, que induzirá o consumidor a denunciar determinados produtos e empresas em benefício de outras”, trazia notícia publicada pelo DC naquele 11 de março de 1991.

E, de fato, alguns exageros aconteceram. Agora respaldados por uma legislação específica, consumidores passaram a buscar as autoridades para fazer reclamações consideradas “exóticas”, segundo reportagem do DC publicada em 14 de março de 1991. “Estimulada pelo novo Código de Defesa do Consumidor, uma consumidora do Rio de Janeiro procurou o Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro), carregando um isopor, onde estava um frango, que ela suspeitava estar estragado, e exigia que fosse submetido a exame laboratorial…”

Um pouco abaixo, a mesma matéria descrevia um telefonema inusitado de outra consumidora para o mesmo instituto. “... queria que o Inmetro informasse qual a distância mínima que deve ser mantida entre a primeira fileira de poltronas de um cinema e a tela, para que pudesse checar…”

Novo milênio – O comportamento do consumidor ganhou ainda mais importância nas pautas do DC nos anos 2000. Em 2007, o jornal começa a publicar a coluna “Os 2 lados do balcão”, escrita pela jornalista Angela Crespo, que aborda temas que buscam melhorar a relação entre empresa e cliente. Mas os temas que dominam as páginas do impresso nesse período, até 2014, quando o DC passa a ser digital, são política e tributação. Em 2005, o jornal foi fundamental para difundir o Movimento De Olho no Imposto, que culminou com a aprovação da Lei do Imposto na Nota, em 2012.

As tentativas de controlar a hiperinflação nos anos de 1980 foram frustradas. A taxa crescia dois dígitos ao mês, conforme capa do DC de 1986, e a corrida aos mercados antes da próxima remarcação de preços deixava prateleiras vazias.

Viagem-teste do Metrô de São Paulo realizada em 1972. O serviço seria inaugurado oficialmente dois anos mais tarde, exatamente às 9h30 de 14 de setembro de 1974, conforme noticiou o DC à época.
NORMA ALBANO/AE

Ahistória da cidade de São Paulo passa pelo comércio, setor que ajudou a moldar a metrópole de 12 milhões de habitantes. Quem circula hoje em dia por regiões como a da 25 de Março se impressiona com a pujança dos negócios, mas nem sempre foi assim.

Por mais de três séculos depois de sua fundação, em 1554, a representação de São Paulo era a de uma pequena vila de barro, pouco movimentada, de no máximo 20 mil habitantes que dormiam cedo e se distribuíam pouco além dos limites do Anhangabaú.

O historiador José Roberto Walker relembra que até o final do século XIX a cidade não oferecia grandes atrativos. Era mal iluminada, sem saneamento e serviços urbanos, não tinha teatros. Mas era a partir do comércio que alguns avanços podiam ser notados. Um deles, a Confeitaria do Leão, na esquina da rua da Quitanda com a rua do Comércio, inaugurada em 1862, sempre relatada como extremamente requintada.

Outro exemplo de memória viva desse período, a Loja Doural, de produtos variados, fundada em 1895 pelo imigrante sírio Assad Abdalla, segue de portas abertas na rua 25 de Março, pertencente à mesma família. Assim como ela, a Casa Godinho, aberta em 1888 pelo imigrante português José Maria Godinho, mantém até hoje sua vitrine repleta de doces e salgados diariamente no mesmo endereço da rua Libero Badaró, para onde foi transferida em 1924. É a mercearia mais antiga de São Paulo ainda em funcionamento.

Habituado a percorrer as ruas do Centro desde 1969, quando seu pai inaugurou uma Casa Lotérica (que existe até hoje) no número 35 da rua Dr. Miguel Couto, o empresário Miguel Romano, atual proprietário da Casa Godinho, construiu uma relação afetuosa com a região. Entre as suas lembranças estão o empório Argenzio, onde costumava comprar queijos aos domingos a pedido de sua mãe, e as lojas Arapuã e Bruno Blois, na Florêncio de Abreu.

Se lembra também de ter a rua São Bento como referência para buscar calçados de qualidade, e da ladeira Porto Geral, onde padrinhos e noivas buscavam cortes de tecido para fazer os ternos e vestidos. Dono de vários negócios na região central, como restaurante, lotérica e locadora de vídeos, Romano se considera uma espécie de “testemunha viva” da história do comércio paulistano, e sonha ver o Centro da capital voltar a sua glória. Progresso sobre trilhos - Walker diz que a inauguração da ferrovia São Paulo Railway, em 1867, mudaria a vida dos comerciantes de São Paulo. Até então, eles eram poucos, e por conta do isolamento da cidade, a diversidade de produtos era pequena. Com a ferrovia, foi possível a entrada de mercadorias importadas da Europa e dos Estados Unidos, estimulando quem ali vivia a montar seus negócios. O centro comercial de São Paulo começou a se moldar ao final do Século XIX no chamado Triângulo Histórico, formado pelas ruas São Bento, Direita e Quinze de Novembro. A atmosfera de vila deu lugar a uma região marcada pelo desenvolvimento e urbanização.

Além de produtos, uma nova paisagem também começava a se mostrareram vitrines que surgiam graças à chegada de placas maiores de vidro. Assim como os primeiros indícios de uma futura verticalização, com prédios de três andares levantados em meio a um movimento na melhoria da infraestrutura urbana e expansão da energia elétrica. Tudo isso foi aos poucos elevando o padrão estético do comércio, e as lojas se tornaram mais iluminadas e atraentes. A clientela cresceu em ritmo acelerado, estimulando a circulação de dinheiro.

Walker diz que as mudanças nos hábitos de consumo e no comércio entre o final do século XIX e início do século XX foram enormes. Em 1890 havia pouco mais de 60 mil habitantes na cidade. Em apenas três anos, a população saltou para mais de 130 mil habitantes, num intenso processo migratório.

Ao longo do século XX, São Paulo foi se moldando aos novos tempos. Ruas repletas de butiques de luxo faziam o caminho do Centro até a Paulista, e os primeiros carros começavam a circular em maior volume.

Nascemos aqui - Foi nesse contexto de progresso acelerado do comércio paulistano que em 1924 nasceu o Diário do Comércio, ainda com o nome

Boletim Confidencial, para informar sobre quem estava devendo na praça. As informações dos devedores eram coletadas no boca-a-boca com os próprios comerciantes. “Eles conversavam sobre quem pagava e quem não pagava. Essa troca de informações mais à frente virou o Departamento de Informações Comerciais, o DIC”, conta Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), entidade que criou e mantém o DC. Nesse período, São Paulo já tinha seus 500 mil habitantes e era o principal centro econômico e financeiro do país. O boletim cresce junto com a economia da capital paulista, ganhando mais páginas e assuntos mais variados. Em 1949, o jornal recebe um nome mais coerente com a sua proposta de ser a voz dos empresários, e passa a se chamar Diário do Comércio. “Era só entrar em uma loja e lá no balcão sempre tinha um Diário do Comércio, pois ele era uma fonte de informação importante nos períodos de transformações que o Brasil viveu, ao mesmo tempo em que era porta-voz das reivindicações das associações comerciais”, relata Solimeo, que atua na ACSP há mais de 60 anos.

O economista lembra de um fato curioso, mas que mostra a relevância do DC: para evitar o protesto - e a exposição negativa -, empresas mandavam pessoas de madrugada buscar o jornal na gráfica para consultar os apontamentos. “Na manhã seguinte, corriam ao cartório, de jornal na mão, para pagar antes de o título ser protestado para continuar vendendo.”

Desde então, o Diário do Comércio registra em suas páginas as transformações da capital paulista. Na década de 1950, a compra de alimentos em ar-

mazéns foi dando espaço aos primeiros supermercados. As redes Sirva-se e Peg-Pag foram as pioneiras. Na década seguinte, surge o primeiro shopping da cidade, o Iguatemi, um modelo de negócio que acabou se multiplicando pelo país.

Coincidência ou não, a chegada desses empreendimentos acompanhou o deslocamento do centro financeiro da cidade para a região da Avenida Paulista. A partir dessa movimentação, é iniciado um processo de degradação da região central.

Walker relembra que na década de 1970 surge o primeiro plano diretor da cidade de São Paulo, com normas de recuo e passeio que afetaram os comerciantes. Outro agravante desta década, na opinião do historiador, veio com a gestão de Olavo Setúbal, responsável pela construção do calçadão do Centro e Praça da Sé. Na época, vinte tradicionais ruas da região central foram fechadas ao tráfego de veículos, sendo exclusivamente destinadas aos pedestres. Desde então, os comerciantes locais passaram a reclamar de queda no movimento de clientes.

Com menos moradores e o esvaziamento gradual do comércio, a sensação de insegurança virou objeto de preocupação no centro histórico. A atual gestão municipal, respaldada por ações da ACSP, que iniciou o movimento #vemprocentro, tenta mudar esse quadro, investindo na infraestrutura e segurança da região.

Alguns resultados positivos começam a aparecer, a exemplo da Casa de Francisca, instalada no Palacete Tereza Toledo, patrimônio histórico do Centro, que recentemente inaugurou dois novos espaços com programação musical gratuita aos finais de tarde, atraindo um enorme público para a região.

Redação DC
RENATO IBELLI
Largo da Misericórdia, 1907
Largo da Misericórdia, 2024: rua Direita com Quintino Bocaiuva. Em destaque, o palacete Tereza Toledo, construído em 1910, onde hoje funciona a Casa de Francisca.

Parceiros de ontem e de hoje

Não chegaríamos tão longe sozinhos. Em nossa caminhada centenária, tivemos o apoio de parceiros comerciais que acreditaram na proposta editorial do Diário do Comércio e nos ajudaram a levar informações ininterruptamente para um enorme público de empreendedores. Esses companheiros de jornada são empresas, instituições financeiras, órgãos públicos e entidades que publicam seus anúncios e balancetes no jornal desde as nossas edições mais antigas. Nesta oportunidade, agradecemos especialmente aos anunciantes que viabilizaram esta edição impressa comemorativa – Grupo São Cristóvão Saúde, Sicredi, Equifax/ Boa Vista, Bradesco e MAG Seguros -, além da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a mantenedora do DC ao longo destes 100 anos.

do jornalismo, do jornalista. Porque eles são um extrato da nossa sociedade. Não há nenhum outro negócio, nenhum outro CNPJ que represente a sociedade como o jornalismo.

A MAG Seguros (antiga Mongeral, hoje Grupo Mongeral + Grupo Aegon) é a primeira seguradora do Brasil. Criada em 1835, agora no último dia 10 de janeiro completou 190 anos, 60 a mais que a Associação Comercial de São Paulo.

Há 10 anos, só existiam no Brasil três empresas que passaram dos 100 anos fazendo a mesma coisa: a Mongeral, o Jornal do Commercio, com 189 (extinto em 2016), do Rio de Janeiro, e o Diário de Pernambuco, que hoje tem 199. E agora estamos comemorando 100 anos do nosso Diário do Comércio.

É muito importante entender por que há empresas jornalísticas que chegam a essa idade: porque longevidade é um atributo do jornalismo. Não um atributo de uma loja, de um comércio de peças de automóvel, mas

Essa é a razão pela qual o jornalismo é mais longevo: porque representa um extrato, no aspecto geral, do que nos atinge como cidadãos. O DC ainda não tem 190 anos, mas chegou aos 100, e não é difícil imaginar o que era o Brasil, a cidade de São Paulo, em 1924. Uma cidade que hoje tem 12 milhões de habitantes, mas não devia ter nem 1 milhão. E nós, como DC, estamos presentes ainda.

E por que chegamos aos 100 anos? Porque somos sérios, porque fazemos um jornalismo colaborativo, atendendo às demandas, lutando pelo progresso para prestar serviços à sociedade e, particularmente, pelo bem-estar das empresas. E, mais particularmente ainda, pelo crescimento das pequenas e médias empresas do Brasil.”

Nilton Molina, presidente do conselho de administração da MAG Seguros e VP e membro do Conselho Superior da ACSP

O Diário do Comércio cumpre um papel de alto valor na manutenção das estruturas democráticas do país ao manter-se atuante, disseminando conteúdo relevante sobre o empresariado brasileiro, em meio a todas as transformações da sociedade ao longo dos seus 100 anos de existência. A sua contribuição é louvável, e merece todo reconhecimento e homenagens.

Nós, da Equifax | BoaVista, nos sentimos honrados por fazer parte desta história, já que muitas vezes fomos notícia, ou por meio de nossos indicadores econômicos, ou ao compartilharmos nossos feitos junto à Associação Comercial de São Paulo, ou quando contamos a nossa evolução como empresa atuante no mercado

de crédito até chegarmos ao que orgulhosamente somos hoje: uma subsidiária da Equifax no Brasil.

Desejamos que o Diário do Comércio se mantenha firme para relatar as mudanças que impactam a vida de empresas e consumidores. Sabemos que o jornalismo de credibilidade exerce função primordial no acesso a informações verídicas, ainda mais diante dos avanços das fake news, e como veículo respeitado tem papel essencial neste combate.

Nós da Equifax | BoaVista aproveitamos a ocasião para reafirmar a importância da parceria com a ACSP e com o Diário do Comércio. Como uma empresa de essência local com potencial global, que detém dados, tecnologia e inteligência analítica de ponta, ajudamos pessoas e empresas a viverem sua melhor vida financeira, e estamos certos que juntos teremos muitas histórias inspiradoras e de sucesso para contar.”

Das primeiras laudas datilografadas em 1924 ao mundo digital do século 21, o Diário do Comércio cumpre com êxito, nesta trajetória de 100 anos, a missão de levar notícias, análises e opiniões sobre economia e negócios para seus leitores. O tempo avançou, o mundo mudou e o jornal soube aliar tradição e modernidade para se fortalecer como veículo de credibilidade. Antes, sempre disponível nos balcões das lojas do centro histórico paulistano, entre o seu público fiel de comerciantes, e agora aberto nos computadores e nos celulares, o Diário do Comércio é uma iniciativa longeva e vitoriosa da qual o Bradesco se orgulha de fazer parte como parceiro. Nesta edição comemorativa impressa, que remete aos primórdios desta publicação, transmito nossas congratulações e votos de continuado sucesso.” Nathalia Garcia, diretora de Marketing do Bradesco

Como uma instituição com trajetória centenária, o Grupo São Cristóvão Saúde parabeniza o Diário do Comércio pelos seus 100 anos. Além de reconhecermos a longevidade deste veículo de comunicação, gostaríamos também de destacar o compromisso, a excelência e a dedicação demonstradas ao longo destes anos ao servir à comunidade. O Diário do Comércio tem desempenhado um papel essencial no varejo, especialmente para micro e pequenos empresários, fornecendo informações valiosas e orientações estratégicas. Sua contribuição é fundamental para o crescimento do mercado de saúde, capacitando decisões mais robustas e inovadoras. Estamos honrados em apoiar esta edição especial e em celebrar a contínua importância do Diário do Comércio no desenvolvimento econômico.”

Valdir Pereira Ventura, presidente/CEO do Grupo São Cristóvão Saúde

Luiz Rufino, vice-presidente Comercial PME da Equifax | BoaVista

A informação de qualidade é essencial para a tomada de decisões, especialmente em um período que encontramos tantas notícias falsas em circulação. Por isso, ver um veículo de imprensa sério chegar aos 100 anos, mesmo tento passado por tantas transformações que aconteceram nesse período, tem uma relevância ainda maior. Enquanto muitos tiveram que fechar as portas, o Diário do Comércio se manteve vivo e atual, sempre levando conhecimento e acreditando no poder do empreendedorismo brasileiro, que enfrenta tantos desafios diariamente

e precisa de crédito consciente para desenvolver as suas atividades. Esse interesse em proporcionar crescimento econômico tem uma grande relação com o que acreditamos no Sicredi. São os empresários os maiores responsáveis por movimentarem a economia local, que geram emprego e fazem o dinheiro circular na região. Ao promover o crescimento das empresas, contribuímos com o desenvolvimento da sociedade. Enquanto instituição financeira cooperativa, acreditamos nos sonhos dos empresários, independentemente do porte, e oferecemos soluções para o desenvolvimento de seus negócios. Esperamos que os empresários continuem contando com esse apoio de qualidade na tomada de decisões, proporcionado pela atuação do Diário do Comércio, por muitos e muitos anos.” Jaime Basso, presidente do Sicredi Vale do Piquiri ABCD PR/SP

Em exposição, a

corrupção brasileira

Os escândalos de corrupção se sucedem no Brasil. Mensalões e rachadinhas, vampiros e anões, grandes ou pequenos, pouco importa, é recurso público - nosso dinheiro - que jorra de algum Petrolão ou atola na cueca de excelentíssimos parlamentares. O curioso, para não dizer patético, é que os corruptos de ontem são protagonistas políticos de hoje.

É claro que falta memória ao brasileiro, algo compreensível diante da avalanche de malfeitos, com escândalos novos soterrando os antigos. Por isso, rememorar os casos de corrupção no país sempre será importante, e o Diário do Comércio se orgulha de ter desenvolvido uma das iniciativas mais emblemáticas nesse sentido.

Em 22 de abril de 2009, sob a direção do jornalista Moisés Rabinovici, o DC abriu ao público o Muco, o Museu da Corrupção on-line. Um tour pelas instalações virtuais remetia a episódios ocorridos desde a década de 1970, como a Operação Satiagraha, Máfia das Sanguessugas, juiz Lalau e o TRT, chegando aos desvios na Petrobras.

Cada caso era acompanhado de seu inquérito, processo e sentença judicial, além das notícias relacionadas a

ele, compondo um vasto material organizado pela equipe do jornal com o objetivo de expor a corrupção e os corruptos, para que não fossem esquecidos. As instalações – Desenvolvido pelo web designer William Chaussê com os recursos disponíveis 15 anos atrás, o Muco permitia que os visitantes navegassem por suas instalações virtuais, entre elas o “hall de casos”, a “sala dos escândalos”, os “cartões postais da corrupção”. O prédio e suas galerias renderizadas em Flash chegaram a receber um milhão de visitantes por mês. Como qualquer museu que se preze, o Muco tinha a sua lojinha que oferecia algemas, cueca com estampa de dólar e mala de dinheiro, entre outros souvenirs digitais. Tinha também área de alimentação, com um cardápio recheado de pizzas com nomes de escândalos que acabaram abafados, e uma agência de viagens que mostrava os destinos prediletos dos parlamentares, um turismo pago com dinheiro público. Prêmio – A iniciativa do Diário do Comércio ganhou destaque internacional, e o museu passou a receber contribuições do exterior, como estudos sobre o combate à corrupção. Além disso, com apenas nove meses aberto ao público, o Muco ganhou o Prêmio Esso de Melhor

A capa do DC que deu voz ao empreendedor

Silvia Pimentel

Era uma segunda-feira, no dia 12 de maio de 2003, quando a capa do Diário do Comércio publicava a íntegra de uma carta anônima enviada à redação por um empresário e a foto de uma capivara às margens do sujo Rio Tietê. O animal fazia alusão a todas as adversidades enfrentadas pelos pequenos empreendedores em um ambiente nocivo, marcado pela buro-

cracia, alta carga de impostos, concorrência desleal com grandes empresas, assédio e achaque da fiscalização. Com 16 páginas, essa edição histórica marcava uma nova fase do DC, de aproximação com o seu principal público: os pequenos empreendedores. Por medo de represálias, o empresário usava o pseudônimo de “guerrilheiro tributário” para um desabafo a respeito do que ele classificava como “política perversa”, que minava a possibilidade de sobrevivência de um pequeno negócio no Brasil.

“Pior que os milhões de marreteiros, que montam suas barracas em frente às lojas e vendem toda a sorte de mercadorias sem recolher qualquer tributo (a não ser para a máfia dos fiscais) é ter qualquer atividade comercial num raio de 1 km de distância de uma megaloja, uma potência estrangeira como WalMart, Carrefour, Sam’s Club e outras. Esta regra dizima todo o comércio ao seu redor, desempregando não só o trabalhador como também o pequeno empresário”, escreveu o guerrilheiro tributário.

A publicação desse desabafo mudou

Em agosto de 2009, o Museu da Corrupção realizou uma exposição física temporária na USP. Banners e instalações artísticas mostravam escândalos emblemáticos, enquanto pizzas eram distribuídas. A favorita era a sabor Sarney, com aliche desenhando o bigode do político.

Contribuição à Imprensa, a mais relevante premiação do jornalismo brasileiro. No mundo real – Em 18 de agosto de 2009, o Muco ganhou instalações físicas, com uma exposição temporária na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Banners e obras artísticas expunham casos emblemáticos de corrupção, enquanto palestrantes tratavam de temas como a Reforma Política.

No local também foram distribuídas pizzas, assadas por um pizzaiolo do Bixiga, nos sabores Renan, Collor e, disparada a preferida dos visitantes, a Sarney, com aliche desenhando o característico bigodinho do político.

Em 2014, porém, com o fim da versão impressa do DC e a reestruturação

a rotina do DC, que passou a receber uma enxurrada de e-mails de empresários solidários a ele, editados e publicados nas edições seguintes do jornal. A partir da carta, a mobilização foi intensa e precedeu a várias campanhas promovidas pela ACSP na defesa da livre iniciativa e da transparência tributária, todas com ampla cobertura do jornal.

Campanhas como a De Olho no Imposto, o lançamento do Impostômetro, a derrubada da MP nº 232, são exemplos de iniciativas que tomaram as capas do DC nos anos seguintes ao desabafo do “guerrilheiro tributário”.

Mais de duas décadas depois, pode-se dizer que houve melhoras no ambiente de negócios para os pequenos empreendedores, segundo o economista da ACSP, Marcel Solimeo. Em 2006, por exemplo, foi publicada a Lei Complementar nº 123, conhecida como Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. Dois anos depois, a LC 128 criava a figura jurídica do microempreendedor individual, que hoje somam 15 milhões.

A concorrência, entretanto, mudou de roupagem e ainda é um desafio a ser enfrentado. “Hoje, o varejo concorre com as plataformas digitais, que vendem produtos importados mais baratos, pois em seus países de origem a carga tributária é menor que a praticada no Brasil”, explica Solimeo. Reforma tributária – Discutida no Brasil há mais de 30 anos, a reforma tributária também incomodava o

da equipe do jornal, o Museu da Corrupção parou de ser atualizado. Diferentemente de um museu tradicional, a atualidade tinha grande importância para o Muco. Para conseguir acompanhar os escândalos que passaram a brotar na imprensa quase que semanalmente, seria necessário um grande número de colaboradores.

O museu fechou no ápice do Petrolão, documentando o que foi possível. Nesse lapso de 10 anos, quanta propina, dinheiro lavado e contratos superfaturados fizeram os bolsos dos corruptos estufarem? Assim, de memória, lembro da Lava Jato, operação Greenfield, operação Zelotes, pedaladas, superfaturamento das vacinas... Mas, com certeza, me falta memória.

guerrilheiro tributário, em 2003. “A palavra reforma tributária deveria ser substituída pela proposta de estratégia tributária e ser entregue, em vez de a tributaristas, economistas e políticos, a empreendedores. Estes certamente saberão melhor como montar uma forma de arrecadação de tributos infinitamente maior, em que ninguém tenha mais necessidade de sonegar e que permita a todas as empresas, por menores que sejam, publicar seu faturamento, participando do ranking setorial, dando exemplos de competitividade, como se faz em quase todo o mundo”, escrevia o pequeno empresário.

Irreverente, ele foi além: “convido o ex-ministro e outros inteligentes economistas a passarem 30 dias administrando uma pequena ou média empresa brasileira, recebendo toda sorte de achaques, de fiscais do Trabalho, da Prefeitura, do ICMS, da Receita Federal, do policial da região vendendo proteção através de anúncios disfarçados em seus jornais, das empresas de segurança do quarteirão, entre outros”. Para Marcel Solimeo, a reforma tributária em debate atualmente exige atenção redobrada do guerrilheiro tributário. “A carga tributária sobre o consumo já é alta e a regulamentação da reforma sinaliza que pode aumentar ainda mais, assim como a burocracia para os contribuintes, que serão obrigados a conviver com dois sistemas no período da transição”, prevê o economista.

Renato Carbonari Ibelli
CESAR
DINIZ/DC

www.boavistaservicos.com.br /boavista /boavista_sa

Entusiasta confesso do Diário do Comércio, Roberto Mateus Ordine, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), traça uma linha do tempo da trajetória do jornal nos últimos 40 anos, quando o dirigente ingressou na instituição, destacando importantes assuntos tratados em suas páginas, ainda na versão impressa. E reforça a sua principal vocação, agora em formato digital e centenário, que é ser a voz dos empreendedores.

DC - Qual a importância do Diário do Comércio para a ACSP e os empreendedores ao longo desses 100 anos?

Roberto Mateus Ordine - Sou fã número um do Diário do Comércio desde que ingressei na ACSP, há mais de 40 anos. Sempre foi minha leitura diária. Evidentemente, a publicação teve momentos melhores e outros, nem tanto. Houve um momento em que foi desativada a versão impressa, mas lutamos muito para que o veículo continuasse em formato eletrônico, como é comum nos dias de hoje.

O jornal está ajustado ao tempo. É um veículo do empreendedor. Sempre foi assim. No passado, o DC tinha a função de dar mais segurança ao mercado de crédito, e também fornecia informações valiosas sobre falências e concordatas. É preciso lembrar que naquela época a informação era muito diferente do que é hoje. Não havia internet, nem qualquer informação no mundo virtual. Então, o DC representava um grande instrumento para os empresários.

O senhor recorda de alguma matéria ou reportagem marcante publicada no DC?

Foram várias as reportagens marcantes. Na década de 1990, por exemplo, o jornal publicou uma série de reportagens por conta do Código de Defesa do Consumidor, assunto de extrema importância para o comércio, além de artigos sobre o tema.

Vale destacar também reportagens que abordavam as principais reformas legislativas, com ênfase nas questões tributárias e seus impactos na vida dos empreendedores. Uma das que marcaram muito envolvia um trabalho desenvolvido pela ACSP para recupe-

Sou fã número um do Diário do Comércio” “

rar o Centro de São Paulo, isso no ano de 1981. O DC publicou uma série de entrevistas e reportagens sobre esse tema, tão recorrente e ainda atual, que é a revitalização da região central.

O jornal passou por um processo de modernização para se ajustar aos novos tempos. Suas páginas ganharam cores, novas editorias e também uma cobertura mais voltada às inúmeras iniciativas da ACSP, como o Museu da Corrupção, campanha De Olho no Imposto, Impostômetro etc.

O senhor sempre foi um entusiasta do Diário do Comércio. O que espera do jornal daqui para frente?

Eu espero que o jornal seja um porta-voz daquilo que sempre defendemos, que é a liberdade de expressão, a livre iniciativa do empreendedorismo, a liberdade econômica, cuja legislação completa cinco anos e recebeu apoio da ACSP por seu papel na defesa do pequeno e médio empresário, além do MEI.

O DC é um jornal do empreendedor, é a voz do empreendedor. Precisamos lutar para que esses ideais não morram e que tenhamos sempre uma voz forte, não só do comércio, mas do empreendedor de uma maneira geral.

O que o senhor tem a dizer sobre a nova agência de notícias da ACSP? Haverá sinergia com o DC?

Com certeza. Todas as agências de notícias, de uma forma geral, abordam política, economia, entre outros assuntos. Mas é preciso uma agência com foco na força do empreendedor, que é um ator muito importante.

As pessoas não entendem, às vezes, a diferença entre uma empresa estatal e uma empresa particular, não entendem as dificuldades enfrentadas pelo empresário brasileiro, seja com burocracia, com o sistema tributário e tantos outros desafios. Então, precisamos oferecer essas informações.

A sinergia com o DC será natural. Mas é preciso lembrar que o jornal é um avião em pleno voo e a agência está nascendo. Haverá um momento em que vão se encontrar. Hoje, por exemplo, a agência já está produzindo matérias que serão publicadas no Diário do Comércio, como as que en-

volvem a campanha #VemProCentro. O DC tem que ter o seu dia a dia, com os seus repórteres, suas editorias. Mas é preciso que haja uma substância de informações que venham de fora e sejam específicas para os empresários.

Com a criação da agência, também são realizados investimentos em infraestrutura de comunicação, como em estúdio...

O entrosamento com a agência, então, será direto. Vamos aproveitar toda a experiência do jornal. A ACSP traz palestrantes importantes, que pode ser um governador, ministro, deputado, enfim, uma infinidade de personalidades do mundo da política, economia e negócios. Após a palestra, ele poderia gravar no estúdio da agência um podcast. Então, além do registro no DC, a ideia é produzir um material que possa ser espalhado para outros veículos de comunicação, divulgando as iniciativas da ACSP.

A ACSP planeja inaugurar um museu do Comércio com recursos da Lei Rouanet. Que contribuição o DC poderia dar para essa iniciativa?

Com relação a essa iniciativa, já temos promessa de investidores. A ideia é inaugurar o museu no térreo do prédio ao lado da ACSP, onde hoje funciona a Junta Comercial, que será transferida para o outro lado da rua.

O museu vai mostrar tudo o que já foi feito pela Associação Comercial. Afinal, são quase 130 anos de história. E os arquivos do DC serão aproveitados na composição do museu, que será inspirado no museu da Bolsa de Valores, que é interativo, tudo para contar a história do comércio, da ACSP e, evidentemente, a história dos 100 anos do Diário do Comércio.

A revitalização da região central da cidade. Esse é o maior trabalho externo da ACSP, que é trazer para o berço da cidade o valor que ele merece. É inadmissível o Centro ter ruas como a Direita, a São Bento, aquelas do Triângulo Histórico, desvalorizadas. É preciso mostrar que a região tem infraestrutura, além de beleza, patrimônio representado pelos seus prédios. São três os fatores importantes para o resgate do Centro da cidade: segurança, iluminação e limpeza. E todos estão sendo atacados. Mas não basta ser seguro e limpo, o Centro precisa ser habitado, visitado.

O DC é um jornal do empreendedor, é a voz do empreendedor. Precisamos lutar para que esses ideais não morram e que tenhamos sempre uma voz forte.

Poderia fazer um balanço parcial da sua gestão, que vai até março de 2026? O que o senhor destacaria como iniciativas importantes?

Muitos não sabem, mas nos finais de semana a região recebe entre 10 a 15 mil jovens em busca de entretenimento, passeios gastronômicos. Muitos paulistanos ainda não perceberam esse movimento. São cerca de 600 mil pessoas que passam diariamente pelo Centro, segundo dados do Metrô. Não são mais os 2 milhões das décadas de 1960, 1970 e 1980, mas é um número bem expressivo de pessoas transitando. É preciso, então, investir em iniciativas que tragam moradia para a região, comércio e uma amplitude de negócios, alterando o estigma equivocado conferido à região. Como toda grande cidade, o Centro de São Paulo enfrentou um momento de queda, que é natural e aconteceu com as principais capitais do mundo. Então, precisamos ocupar os prédios, ter moradias e, acima de tudo, um comércio que possa abastecer as pessoas. O segundo foco da minha gestão é valorizar os comércios de bairro. Estamos dando ênfase a isso nas distritais e valorizando o que elas representam para a comunidade. Hoje, nós temos 15 distritais. Na zona leste, por exemplo, poderíamos ter bairros desdobrados. Então, por que não ter uma subdistrital, levando a ACSP até esses bairros e trazendo comerciantes para dentro da instituição? Temos feito esse trabalho por meio de parcerias com regiões de comércio de bairro, via distritais.

Silvia Pimentel

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