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DIÁRIO DO COMÉRCIO

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

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INSPIRAÇÃO Mário de Andrade inspirou a criação da Biblioteca Circulante, em 1935.

setor

LEITURA Os livros podem ser lidos no ônibus ou levados para casa, como empréstimo.

Fotos: Sylvia Masini/Divulgação

Ônibus Biblioteca: projeto deu um salto de qualidade com veículos mais novos, bem equipados e com espaço para leitura

Biblioteca de porta em porta O projeto Ônibus Biblioteca, que na década de 30 funcionava num Ford 1929, ganhará o 12º veículo e pretende atender 72 bairros da periferia paulistana Kelly Ferreira

E

m vez de esperar em casa pelo seu público, vai em busca do seu público onde este estiver. A frase, do escritor Mário de Andrade, serviu como um impulso para a criação da Biblioteca Circulante, em 1935. À época, o escritor era o primeiro diretor do Departamento de Cultura de São Paulo. Hoje, o projeto, que teve duas interrupções, uma na Segunda Guerra Mundial e outra na década de 70, continua percorrendo os bairros da periferia da capital paulista, mas com um nome diferente: Ônibus Biblioteca. No próximo dia 13, um novo veículo começará a cumprir seis novos roteiros. Esse será o 12º Ônibus Biblioteca entregue para a cidade, fechando a frota que percorrerá 72 pontos de atendimento, incluindo os bairros de Brasilândia, Cidade Ademar, Jardim Ângela, Parelheiros, São Miguel Paulista, São Mateus e Rio Pequeno, entre outros da periferia paulistana.

Títulos – Com espaço bem maior do que um modelo Ford 1929 usado pelo projeto há muitos anos, em meados da década de 30, cada ônibus carrega atualmente quatro mil títulos, divididos em infantil, juvenil, literaturas clássica, contemporânea, nacional e internacional, pesquisa, jornais do dia e principais revistas, gibis e mangás. Todos os exemplares podem ser lidos no ônibus ou levados para casa, como empréstimo. Não há burocracia para conseguir um livro emprestado. Basta fazer a matrícula, tendo em mãos um documento de identificação e um comprovante de residência. Se, por algum motivo, o interessado não tiver o documento, não será impedido de fazer a inscrição e levar os livros para casa gratuitamente. Caso o título escolhido não esteja disponível, é possível solicitar a reserva e retirálo na semana seguinte. "Temos poucos problemas com as devoluções. Em torno de 10% a 15% dos títulos não são devolvidos, o que é considerado um volume baixo. Mui-

Vivi Andreani/Luz

O projeto tem capacidade para transformar a vida de um ser humano apenas com a leitura. MARTA NOSÉ, COORDENADORA DO

ÔNIBUS BIBLIOTECA "Nos últimos sete anos, os ônibus apresentaram defeitos e não foram repostos. Com isso, o atendimento diminuiu", diz Marta Nosé, bibliotecária e coordenadora do programa Ônibus Biblioteca, da Prefeitura de São Paulo. O último veículo, dos dez que existiam, quebrou em 2005. "Conseguimos repor quatro deles, mas que também viviam quebrando. Foi por meio de um pregão, no ano passado, que conseguimos 12 novos ônibus. Eles foram retirados de frotas, mas estão bem mais conservados. E a manutenção agora é por conta das empresas de ônibus. Demos um salto de qualidade", explica.

tas vezes, as pessoas não devolvem por força maior, como o fato de ter perdido tudo em enchente", diz a coordenadora. Roteiros – O projeto Ônibus Biblioteca tem seis roteiros semanais, sempre com destino às regiões mais distantes, como o Jardim Angela, na zona sul, e o Jardim Helena, na zona leste, bairros onde o investimento em cultura e educação está próximo de zero. Uma vez por semana, os ônibus ficam estacionados sempre no mesmo local. O serviço funciona de terça a domingo, inclusive feriados (exceto Carnaval, Páscoa e Natal), das 10h as 16h. O programa ainda conta com uma programação para

Livros nos terminais

U

estimular a socialização e o convívio da comunidade, com a participação de contadores de estórias, peças teatrais, rodas de poesias e palestras realizadas por oficineiros da rede colaborativa da Liga Brasileira de Editores (Libre). Há também uma programação mensal de encontro com autores. As atividades são destinadas a todas as faixas etárias, com foco nas crianças e adolescentes. "Tenho muito orgulho de integrar um projeto tão especial quanto o Ônibus Biblioteca. Ele rompe com uma série de ideias pré concebidas sobre a leitura. A verdade é que o brasileiro gosta de ler, mas quase não tem acesso à leitura. O projeto tem capacidade para transformar a vida de um ser humano apenas com a leitura", disse Marta. Os livros expostos são comprados, mas o projeto aceita doações, desde que em bom estado. Os títulos devem ser entregues direto nos ônibus. Modelo - As bibliotecas circulantes existem nos Estados Unidos desde 1929, com o nome de Bookmobiles. Na França, se chamavam Bibliobus. No Brasil, mas precisamente em São Paulo, o primeiro modelo foi construído e doado pela Ford (um tipo de caminhonete) e seu itinerário era largo da Concórdia, Jardim da Luz e praça da República. Em 1942, com a Segunda Guerra Mundial e o racionamento de combustível, o projeto foi interrompido.

Acima e à direita, os livros e revistas distribuídos dentro do ônibus. Cada um deles carrega quatro mil títulos. Abaixo, à direita, ônibus antigo, praticamente sem bancos e sem espaço para leitores.

Caio Guatelli/Folhapress

Em 1979, os livros eram levados em uma Kombi adaptada para tal fim. Estava criada assim a Kombi-Biblioteca, que alguns anos depois deu a origem aos Ônibus Bibliotecas,

que circularam entre 1990 a 2005, ano em que o último veículo da frota quebrou. Os roteiros estão disponíveis no w ww.p ref ei tu r a. sp . go v. br, link Secretaria de Cultura.

Vivi Andreani/Luz

Espaço no Biblioteca Affonso Taunay onde os livros são estocados

ma parceria entre a Prefeitura de São Paulo e a Fundação Editora Unesp está proporcionando mais chances de leitura aos moradores da capital. Com o objetivo de criar o hábito da leitura, o programa De Mão em Mão, lançado no ano passado, distribui gratuitamente livros em terminais de ônibus da Capital. Na primeira fase do programa, que aconteceu no final do ano passado, foram distribuídos 20 mil exemplares de Missa do Galo e outros Contos, de Machado de Assis, nos terminais de ônibus Mercado, na região central, e Lapa, na zona oeste. Na segunda fase, que começa em março – ainda sem dia definido –, serão lançados mais cinco livros, voltados a diferentes perfis e faixas etárias. Os títulos são selecionados por um conselho editorial composto por José de Souza Martins, sociólogo e colunista do jornal O Estado de S. Paulo, Luciana Veit, escritora, Sérgio Vaz, poeta e fundador do sarau da Cooperifa, Heloísa Jahn, editora e tradutora, e Samuel Titan Jr., professor de Teoria Literária na Universidade de São Paulo. Colôm bia – O programa paulistano De Mão em Mão é inspirado na iniciativa Libros al Viento, iniciada em 2004 em Bogotá, na Colômbia. A proposta destas ações é que os livros circulem de mão em mão, isto é, que as pessoas compartilhem os livros com outros leitores, criando assim uma rede informal de divulgação. Depois da leitura, as obras podem ser devolvidas nos próprios quiosques, a qualquer tempo, possibilitando o compartilhamento com outros leitores. Neste caso, funciona como um empréstimo, com a diferença de que não há controle formal de entrega e devolução. (KF)


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