REVISTA: Prêmio Angeolina Rossi

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Embora exista um componente hereditário que pode influenciar a composição da microbiota intestinal, razões secundárias relacionadas ao padrão alimentar, drogas e medidas antropométricas são reconhecidos como fatores preponderantes na constituição e diversidade do perfil bacteriano intestinal. Dessa maneira, as bactérias do intestino são essenciais para diversos aspectos de saúde, incluindo a imunidade, reações metabólicas e neurocomportamentais. Logo, existem evidências que apoiam o papel da microbiota intestinal na saúde humana (VALDES, 2018; ZMORA et al, 2018). Componentes dietéticos são metabolizados pela microbiota intestinal para produzir metabólitos. Pensando nisso, sabe-se que a dieta modifica a composição da microbiota e isso implica em diversas consequências sistemáticas. Por exemplo, em um estado de disbiose, há grande concentrações de bactérias gram-negativas que por sua vez, liberam endotoxina denominada Lipopolissacarídeo (LPS). Um dos efeitos negativos sistemáticos provenientes da liberação de LPS é a resistência à insulina. (ZMORA et al, 2018). Além disso, o padrão alimentar hiperlipídico, pode ocasionar em um desbalanço no equilíbrio bacteriano e comprometer a permeabilidade intestinal através da liberação de citocinas inflamatórias, tais como o fator de necrose tumoral (TNF), IL1?, IL-4 e IL-13, assim como a via PAR-2 (receptor ativado por protease-2), que potencializa translocação de LPS para circulação (RICE et al, 2019; MORAES et al, 2014). Alguns mecanismos possibilitaram a compreensão de reconhecimento e ação do LPS, um deles foi a descoberta dos Toll-Like Receptors (TLR). Esses receptores interagem com os LPS e os reconhecem como antígeno, dando origem a reações pró inflamatórias. Vários TRLs (TRL 1, 3, 5, 6, 7, 9 e 10) têm sido descritos como mecanismos para gerar inflamação e resistência à insulina, destacando-se especialmente as descobertas relativas ao TRL2, TRL4 e TLR5 (MORAES et al, 2014). Estudos demonstram que há ação de neurotransmissores intestinais ou precursores que circundam o ambiente cerebral. Assim, há síntese considerável de neurotransmissores, como Serotonina e Dopamina no intestino, neurotransmissores vinculados com bem estar e prazer, que em sua grande maioria não ultrapassam a barreira hematoencefálica. Porém, há indícios de que, além do nervo vago e as células/citocinas imunes conseguirem realizar a sinalização IntestinoCérebro, bactérias ditas benéficas podem produzir precursores e compostos ativos, como ácidos graxos de cadeia curta, que por sua vez conseguem ter ação cerebral (JOHNSON e FOSTER, 2018). Ou seja, determinados padrões dietéticos têm capacidade de produzir psicobióticos, tais substâncias supracitadas produzidas pelas bactérias probióticas a partir do conteúdo de fibras prebióticas que comunicam com o SNC, capazes de modular distúrbios afetivos por meio do sistema neuroimune (BERMÚDEZ-HUMARÁN et al, 2019) e fortalecimento da junção da barreira hematoencefálica (SAMPSON e MAZMANIAN, 2015).

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