CORREIO RIOGRANDENSE • Caxias do Sul, 07 de setembro de 2016
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# EMBRAPA
Piolho-de-cobra produz húmus Pequenos animais, exímios trituradores de resíduos, produzem adubo orgânico de qualidade Fotos Divulgação/CR
O
s gongolos, pequenos animais que fazem parte da fauna do solo e são conhecidos como piolho-de-cobra, maria-café ou embuá, são exímios trituradores de resíduos e produzem adubos orgânicos de excelente qualidade, o gongocomposto – como está sendo chamado o produto. A descoberta é da Embrapa Agrobiologia, no RJ. Os pesquisadores testaram o produto no cultivo de mudas de hortaliças. “O gongocomposto não perde em nada para os melhores substratos comerciais”, observa a pesquisadora Maria Elizabeth Correia. Ao contrário das minhocas, famosas pela capacidade de produção de húmus, os gongolos são pouco conhecidos e não há registro de qualquer estudo na produção científica brasileira sobre o tema. O estudo mostrou que o substrato produzido pelos gongolos tem a mesma qualidade dos materiais gerados pelas minhocas. A diferença é que o vermi-
Inédito: não há registro de qualquer estudo na produção científica brasileira sobre adubo de gongolo composto (das minhocas) ainda precisa ser misturado com pó de carvão e torta de mamona para melhorar sua textura e seu nível de nitrogênio, enquanto o gongocomposto já está pronto para
Substrato é indicado para mudas Em três meses, o gongocomposto está em condições de uso. Mas após testes para ver o tempo ideal de compostagem, os pesquisadores perceberam que quanto mais o material é triturado pelos gongolos, melhor será a sua qualidade. “Quando comparamos os materiais de diferentes tempos de processamento, vimos que em termos de teor de nutrientes não há muita diferenciação, mas nas mudas o efeito é significativo”, relata Maria Elizabeth. Para a produção de mudas, o substrato que apresentou melhor desempenho foi aquele produzido em seis meses. Quanto maior o tempo de compostagem, mais o composto é processado. A pesquisadora conta que isso é resultado do trabalho do gongolo e dos microrganismos presentes no composto. E o resultado é um
uso na produção de mudas em três meses. Esses animais vivem escondidos embaixo de folhas, pedras ou troncos de árvores e algumas vezes são confundidos com pragas.
“Produzir o gongocomposto não requer muita mão de obra e pode ser uma boa alternativa para o agricultor aproveitar resíduos orgânicos na propriedade e ainda reduzir custos com o uso do
substrato obtido”, defende a pesquisadora Maria Elizabeth. Papelão – Conforme a pesquisa, o animal processa até papelão. Resíduos comuns na propriedade agrícola, como bagaço de cana, sabugo de milho e aparas de grama também podem ser utilizados. Basta adicionar sempre um material rico em nitrogênio, como, por exemplo, uma leguminosa. Uma particularidade do processo é que a ação dos gongolos reduz o volume de materiais em 70%. “Se o produtor colocar dez litros de resíduos, no final terá três litros de composto. O processo pode levar de três a seis meses, sem a exigência de revirar o material”, explica. “O que fazemos é juntar os resíduos secos e o gongolo, e colocar em uma área confinada para que ele não saia dali e processe tudo. Uma vez por semana é preciso checar a umidade e, se estiver muito seco, é necessário molhar o composto”, detalha a pesquisadora.
Espécie ocorre em diferentes regiões do Brasil
substrato que possibilita mudas A técnica de produção de gonvigorosas e com estabilidade gocomposto pode ser feita por do torrão, o que evita perdas na qualquer espécie desse pequeno hora do plantio. habitante da fauna do solo. Segundo a pesquisadora da EmbraBandeja - Após testes com o pa, a maioria das espécies tem gongocomposto em alface, rú- capacidade de triturar resíduos cula, tomate e beterraba, o agrô- brutos, mas algumas são mais efinomo Luiz Fernando de Sousa cientes. O que ocorre é que alguAntunes, mestrando na Univer- mas consomem mais e são mais sidade Federal Rural do Rio de abundantes. Janeiro, ressalta que, além de “Utilizamos a espécie Trigonão precisar fazer misturas para niulus corallinus, que ocorre em produzir as mudas, o substrato diferentes regiões do Brasil, sempossibilita a uniformidade da pre associada a ambientes com bandeja. ocupação humana e grande quan“É comum nos substratos co- tidade de resíduos vegetais, como merciais uma concentração de nas áreas de agricultura familiar. nutrientes em alguns pontos da Essa espécie é originária do Subandeja, o que não acontece deste Asiático, mas provavelcom o gongocomposto. O resul- mente veio até com as primeiras tado são bandejas homogêneas, navegações porque está estabesem fazer reboleiras (parte mais lecida no país há muito tempo”, densa), com mudas de diferentes esclarece. tamanhos”, garante Antunes. Nos anéis de concreto de cer-
Húmus: gongocomposto é igual ao material gerado pela minhoca ca de 500 litros utilizados como composteira para a pesquisa, são utilizados cerca de 3.800 gongolos. “O momento ideal para coletar é a época da chuva, porque é quando eles estão mais ativos e acasalando. Apesar de ser um parente distante das lacraias, o gongolo não
oferece riscos, não tem ferrão, não morde, não é agressivo e pode ser coletado facilmente. “Uma ou outra espécie de floresta fechada pode apresentar substância que causa queimadura, mas esses que vivem em ambientes abertos não oferecem qualquer risco”, revela a pesquisadora.
# FLORES DA CUNHA
Dia de campo exibe novidades para a produção de frutas e de hortaliças Roçadeira para terreno em declive e máquina de recolher pedras estão entre as atrações técnicas do dia de campo, a ser realizado dia 15 de setembro, em Flores da Cunha. A atividade deve envolver 1.200 famílias de oito municípios da região assistidas pela Emater/RS-Ascar, na
Chamada Pública da Sustentabilidade. Com o tema “Semeando Ideias para Colher Alimentos”, o evento objetiva promover a divulgação de tecnologias adequadas para a produção de frutas e hortaliças, a conservação dos recursos naturais e a segu-
rança e saúde do trabalhador. O evento, promovido pela Emater e prefeitura de Flores da Cunha, com apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, acontece nas propriedades das famílias Pagno e Bolsan, na capela Nossa Senhora do Carmo, a partir das 9 horas.
Em três estações, extensionistas da Emater irão tratar de pulverização eletrostática, manejo do solo e da água na fruticultura e alternativa de controle das doenças de solo em hortaliças. Haverá, ainda, demonstrações técnicas sobre saúde e segurança do trabalhador rural (EPI’s e pro-
tetor solar), energia fotovoltaica, cadastro ambiental rural e plano de recuperação ambiental,. Além disso, haverá demonstração de inventos de agricultores da região: máquina de colher uva, roçadeira para terreno em declive, suqueira e máquina de recolher pedras.