Edição 54

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Revista Técnica da Suinocultura

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SUÍNOS



Editorial

Bem-estar animal na suinocultura

A

cada dia presenciamos o crescimento na suinocultura da adoção do sistema de produção com bem-estar animal, que, sem dúvida, cria novos horizontes e desafios para produtores e profissionais que lidam com a produção suína. O termo “bem-estar animal” teve sua origem por meio da própria sociedade para explicar e aplicar as preocupações éticas sobre o tratamento dado aos animais de produção. Este tipo de consciência social começou a se manifestar na década de 80 e cresceu de forma exponencial no início do século XXI. Ao longo dos últimos dez anos, na Europa, a compra de cosméticos não testados em animais aumentou 70%, e o consumo de produtos de origem animal orgânicos aumentou mais de 30% desde 2007. Cada vez mais exigente, o consumidor opta por produtos que respeitam o bem-estar dos animais. Pesquisas indicam que na sociedade europeia cerca de 90% das pessoas reconhecem a obrigação de proteger os animais de produção. Desde o início deste movimento social, muitas organizações têm definido quais seriam os fundamentos básicos para considerar que um animal esteja em estado de bem-estar. No entanto, o princípio mais adotado é o estipulado pelo Conselho de Bem-estar dos Animais de Produção (FAWC, na sigla em inglês), um órgão consultivo do governo britânico para questões relacionadas com o bem-estar dos animais, o qual propôs que o referido bem-estar estaria garantido quando fossem cumpridas cinco condições, os chamados “Direitos dos Animais”, que são: nutrição adequada, sanidade adequada, ausência de incômodo físico e térmico, ausência de medo, dor e estresse e capacidade de mostrar a maioria das condutas próprias da espécie. Por se tratar de um tema atual e tão interessante, a revista Suínos & Cia decidiu, em conjunto com o Dr. Carlos Piñeiro, levar ao nosso leitor, de forma muito didática e por meio de três edições, os importantes temas que se referem a “Bem-estar animal na suinocultura”. Nesta edição, Suínos & Cia abordará os diferentes tipos de comedouros utilizados no sistema, com suas vantagens e inconvenientes, para que se possa compreender e eleger qual o tipo que melhor pode ser adaptado na sua granja. Sem dúvida, devido a toda complexidade e valor agregado, o suinocultor deve ser apoiado por técnicos, veterinários e engenheiros especialistas no assunto na hora de tomar essa difícil decisão. Boa Leitura. As Editoras


Índice

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Entrevista

Juan Jose Maqueda Acosta

12 Manejo

Efeitos da administração de um regulador pró-metabólico sobre a mortalidade e o uso de fármacos em leitões durante a lactação

18 Bem-estar Animal

Manejo de porcas em grupo: sistema de alimentação Parte II

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Capa

Bem-estar Animal

Manejo de porcas em grupo: sistema de alimentação Parte II

Revista Técnica da Suinocultura

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SUÍNOS

A Revista Suínos&Cia é destinada a médicos-veterinários, zootecnistas, produtores e demais profissionais que atuam na área de suinocultura. Contém artigos técnicocientíficos e editorias instrutivas, apresentados por especialistas do Brasil e do mundo.


28 Biosseguridade

O risco respiratório ocupacional em suinocultura

34 Revisão Técnica

Allen D’ Leman Swine Conference Saint Paul - Minnesota/EUA “Soluções guiadas pela ciência”

56 Sumários de Pesquisa 60 Recursos Humanos

O Abacaxi: uma lição de gestão diferenciada

62 Dicas de Manejo 68 Divirta-se

Encontre as palavras Jogo dos 7 erros Teste seus conhecimentos Labirinto

Editora Técnica Maria Nazaré Lisboa CRMV-SP 03906 Consultoria Técnica Adriana Cássia Pereira CRMV - SP 18.577 Edison de Almeida CRMV - SP 3045 Mirela Caroline Zadra CRMV - SP 29.539

Ilustrações Roque de Ávila Júnior Departamento Comercial Mirela Caroline Zadra dtecnico@consuitec.com.br Jornalista Responsável Paulo Viarti MTB.: 26.493

Projeto Gráfico e Editoração Dsigns Comunicação dsigns@uol.com.br

Atendimento ao Cliente Mirela Caroline Zadra dtecnico@consuitec.com.br

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Assinaturas Anuais Brasil: R$ 160,00 Exterior: R$ 180,00 Mirela Caroline Zadra dtecnico@consuitec.com.br

Administração, Redação e Publicação Av. Fausto Pietrobom, 760 - Jd. Planalto Paulínia - SP - CEP 13.145-189 Tel: (19) 3844-0443 / (19) 3844-0580

Foto da capa cedida por Joan Sanmartín Suñer A reprodução parcial ou total de reportagens e artigos será permitida apenas com a autorização por escrito dos editores.


Entrevista

A importância do treinamento na suinocultura

Juan Jose Maqueda Acosta

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Formado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Nacional Autônoma do México, em 1969, José Maqueda Acosta dedica sua vida profissional à produção e à sanidade de suínos. É co-autor do livro Diagnóstico das enfermidades do suíno e foi o primeiro veterinário a observar clinicamente e a relatar a Síndrome do Olho Azul nas granjas de La Piedad Mich, no início de 1980. Colabora com apoio técnico direto e indireto a produtores, por meio de diversas universidades, empresas, associações e uniões de suinocultores no México, América Latina e parte da Europa, como Espanha e Itália. Também é conferencista e ministra diversos cursos sobre gestão de pessoas. Desde 1988 tem se dedicado ao trabalho com pessoal em granjas de suínos, principalmente nos temas de organização, capacitação, supervisão, liderança e motivação, no México e nas Américas Central e do Sul, principalmente no Brasil, onde já capacitou mais de 5.000 pessoas. Atualmente desenvolve assessoria em granjas e empresas suinícolas, utilizando seus cursos de capacitação como base para uma reengenharia de processos. Suínos&Cia | nº 54/2015

O médico-veterinário Juan Jose Maqueda Acosta dedica boa parte de seu tempo desenvolvendo cursos de capacitação para pessoas que trabalham com suínos. Afinal, são elas que fazem a diferença de resultados no sistema produtivo, principalmente nos setores de maternidade e gestação, que sem dúvida são a base da produção.

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esta entrevista, Maqueda aborda a importância do treinamento na produção de suínos, da evolução tecnológica dessa dinâmica atividade e da percepção errônea que ainda se tem sobre o que realmente é o trabalho na atual suinocultura. S&C - Profissional renomado, com experiência internacional em consultoria na área de produção de suínos, o que lhe chama mais atenção nesses anos quanto à evolução da suinocultura na última década? JMA - A evolução tecnológica da produção de suínos, nos últimos anos, tem sido impressionante. Os avanços da genética são os mais marcantes, resultando em uma busca pela maior produção de leitões, leite e principalmente, de carne magra, que é uma exigência do mercado consumidor. Paralelo a genética a nutrição também tem marcada evolução, permitindo que os animais adaptem-se a esses novos requerimentos e imprimindo uma velocidade de crescimento incrível, de quase um kg de peso por dia. O consumo de ração reduzido e muito bem aproveitado resulta em uma conversão alimentar extraordinária e em menor custo


Entrevista

de produção. O manejo, as instalações, os equipamentos, espaços e dimensões, materiais utilizados, funcionalidade, temperatura ambiental, todos esses detalhes devem ser aplicados e praticados em conformidade com o meio ambiente para evitar a contaminação da terra, da água e do ar. E como se isso não bastasse, deve-se direcionar realmente todos esses avanços ao bem-estar animal, ao conforto e à redução do estresse, adaptando esses conceitos ao conhecimento que temos, atualmente, sobre o comportamento animal ou etologia. E a sanidade que contempla em maior controle e erradicação de doenças garantindo animais saudáveis e bem estar. Se pode concluir que para se adotar e praticar tamanha evolução, se faz necessário ter mente aberta para aceitar essa forma de pensar e trabalhar começando pelo veterinário e demais profissionais envolvidos na produção. Sem duvida, devemos estar sempre atentos treinados e capacitados para atender às exigências do suíno no atual sistema de produção. A suinocultura tem tido uma evolução assombrosa e vertiginosa, como já mencionei, e também constante e continuará confirmando que Charles Darwin tinha razão. S&C - Analisando sua trajetória, houve momentos em que precisou se reinventar para permanecer na atividade e atender às exigências de seus clientes? JMA - Considero a produção de suínos como o animal em si colocado sobre uma mesa de quatro pernas. Estas pernas têm de ser fortes, sólidas e, acima de tudo, do mesmo tamanho, porque se uma for mais curta do que a outra, a mesa se inclina e o suíno cai. Estas quatro pernas são genética, nutrição, manejo e sanidade; e as quatro representam oportunidades de desenvolvimento profissional. Então, respondendo à sua pergunta, precisei me reinventar? Certamente que sim, muitas vezes; e pensei nessas quatro pernas. O principal desafio foi que, depois de trabalhar duro com suínos, concluí que eles são muito inteligentes e que os problemas não são tanto deles, mas sim das pessoas que trabalham com eles, sendo a maioria desses problemas causada pela ignorância e falta de formação adequada. Foi quando resolvi dedicar uma boa parte do meu tempo para desenvolver meus cursos de capacitação e trabalhar mais com as pessoas. Considero essa área como parte do assunto manejo, pois as pessoas são responsáveis ​​pela execução de suas ações, tais como a alimentação de acordo com a idade; o peso e as previsões de consumo; o fornecimento de água fresca; a detecção precoce de animais doentes e a aplicação dos tratamentos indicados; a manutenção de temperaturas adequadas às necessidades de cada faixa etária e em função dos equipamentos disponíveis; a determinação do tempo ideal para a prática da inseminação artificial. Como também conhecer anatomia do aparelho genital da fêmea para depositar a dose

de sêmen em local adequado; a assistência correta ao parto, tanto no que diz respeito à porca como aos leitões. Enfim animais confinados dependem das pessoas para viver e produzir. S&C - Qual o principal desafio que enfrenta um consultor que trabalha no sistema de produção suína? JMA - Como tenho mencionado, as pessoas, em todos os níveis, para que realmente implementem e executem as ações recomendadas corretamente, sem desvios e sempre. Como consultores necessitamos de muito envolvimento com as pessoas, seja o proprietário, o diretor ou o gerente até o pessoal operacional. Deixamos recomendações, produtos de nosso conhecimento e experiência; mas após a visita vamos embora. E quem vai dar sequência às recomendações? As pessoas, por isso é preciso muito conhecimento sobre o modo de se trabalhar com elas, convencê-las, motivá-las, e assim ter a certeza de que elas executarão corretamente as nossas recomendações.

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S&C - É impressionante e reconhecemos seu talento e habilidade de trabalhar com treinamentos direcionados às pessoas que trabalham com suínos. Como tudo isso aconteceu? JMA - Felizmente fui capaz de juntar minhas duas profissões: professor e veterinário, além da capacitação permanente nas áreas de pedagogia, didática, oratória e também em outra área que me fascina, a psicologia. S&C - É diferente treinar as pessoas de hoje quando comparamos com dez anos atrás? JMA - Sim, especialmente devido à comunicação por meio de computadores, internet, telefones celulares, acesso a muita informação instantaneamente. Tem um monte de coisas boas, mas também coisas nº 54/2015 | Suínos&Cia


Entrevista

ruins: distrações, comentários em demasia, informações sem fundamento. É muito importante treinar de um modo teórico e prático, estar muito próximo das pessoas com práticas repetitivas até a formação de hábitos e lutar contra a resistência à mudança. O suíno de hoje exige uma atenção distinta daquela dispensada há dez anos e o que virá, seguramente, necessitará de um manejo diferente.

“É muito importante treinar de um modo teórico e prático, estar muito próximo das pessoas com práticas repetitivas até a formação de hábitos e lutar contra a resistência à mudança”

S&C - O que passa em sua mente quando são tratados temas como alta rotatividade, redução de pessoas, automatização de sistemas e hora trabalhada por leitão produzido? JMA - Hoje, por causa do desenvolvimento industrial de muitos países, do Brasil inclusive, complexos industriais não agrícolas foram construídos na zona rural, onde ficam as granjas, resultando em oportunidades de trabalho distintas que atraem, principalmente, os jovens. Impulsionados pela facilidade de comunicação, na qual são especialistas e por quem são apaixonados, eles buscam novas oportunidades, muitas vezes mais bem remuneradas e de melhor “status” social, em função, especialmente, do crescimento e do desenvolvimento das pequenas cidades, que passam para a categoria de metrópoles; consequentemente, a disponibilidade de mão de obra para o trabalho nas granjas fica reduzida. Voltando à evolução, a tecnologia também avançou muito, com a tendência de se automatizar o máximo possível os processos de trabalho nas granjas, visando a acelerar o cumprimento das ta-

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refas, além de reduzir os custos e, em grande parte dos casos, reduzir também o erro humano. Mas nem todos os processos podem ser automatizados, e em muitos deles ainda dependemos das pessoas, como nos setores de reprodução e na maternidade: a detecção de cio, a inseminação, o atendimento ao parto, a aplicação de ferro, a reacomodação de leitões, a detecção precoce de animais doentes, a aplicação e a sequência de tratamentos. Nós ainda precisamos de pessoas para o nosso trabalho. Três são os fatores de maior impacto sobre o custo de produção: a alimentação, que corresponde de 70% a 80%; as doenças, que podem acabar com a granja; e a mão de obra, que, embora represente apenas de 8 a 12 % do custo, é um fator 100% dependente, especialmente, como já mencionado, em setores como a reprodução e a maternidade, a “fábrica de leitões”. S&C - Quais são os pontos importantes que os gestores de sistemas de produção suína devem permanecer atentos no que se refere a recursos humanos, nessa dinâmica atividade? JMA - Primeiro, desenvolver, revisar e atualizar junto ao pessoal ou ao departamento de Recursos Humanos os manuais de procedimentos de todo o processo de produção de suínos; aprimorar-se na produção de carne suína, que é o nosso verdadeiro objetivo; indicar os procedimentos que podem ser automatizados e aqueles que dependem da mão de obra. Em seguida, desenvolver o perfil da atividade e o perfil de quem irá exercê-la; fazer uma seleção adequada de pessoal, se houver disponibilidade, indução e capacitação, motivação, acompanhamento, avaliação; tudo o que for relacionado ao pessoal, o que naturalmente exige uma formação em gerenciamento de nível médio e em administração de pessoal, não somente de suínos. Tão importante quanto os demais conceitos, mas que eu gostaria de enfatizar em particular, é a motivação, que significa conhecer as necessidades gerais e individuais de nossa equipe e tentar satisfazê-las da maneira mais adequada, tanto para as pessoas quanto para a empresa. A teoria de Maslow pode nos ajudar nesta área. S&C - Tratando-se do organograma de um sistema de produção suína, como distribuiria as principais funções e atividades? JMA - Como mencionei, a elaboração e a atualização dos manuais de procedimentos são a base,

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Entrevista

descrevendo as funções e as tarefas dos gerentes de nível médio, organogramas, linhas de autoridade, nível de responsabilidade, recordando que existem três níveis de responsabilidade na granja: aquele que diz o que fazer, aquele que faz com que se faça e aquele que faz. Em muitas ocasiões, o gerenciamento de nível médio é o mais importante, considerando que o tipo de supervisão em granjas é distante. Temos de estimular na equipe os níveis de conscientização, ou seja, fazer as tarefas bem-feitas, esteja sendo observado ou não, fazê-las bem por convicção, sem a necessidade de um supervisor, chefe ou gerente. Nisso há também uma evolução. É um processo no qual devemos estar constantemente envolvidos: seleção, organização, capacitação, motivação, supervisão, avaliação, remuneração, incentivo e conscientização. S&C - O que faria de diferente hoje se tivesse de iniciar a formação de pessoas que desconhecem a suinocultura e estão sendo contratadas para iniciar na atividade de produção suína? JMA - A partir da seleção, que sejam pessoas às quais a atividade seja atraente, de modo que já durante o processo de indução, observadas por seu supervisor, sejam de fato assim, o que se consegue com um trabalho muito próximo, boa comunicação e atitude de abertura; novamente o treinamento em gestão de pessoas. Que seja colocado também, muito claramente, que o objetivo da empresa é a produção de carne saudável e de elevada qualidade para o consumo humano; que se estão produzindo alimentos para as pessoas e não suínos, tratandose de uma atividade nobre e da qual devemos nos orgulhar. Esta deve ser também uma grande motivação. E na fase de capacitação, ter sempre respostas às seguintes perguntas: o que fazer, por que fazer, para que fazer, como fazer, quando fazer e quem vai fazer. Isso facilita muito a aprendizagem,

pois há envolvimento, raciocínio, compreensão, clareza, objetivo, que são funções cerebrais de alto nível. S&C - Quais os grandes desafios relacionados à mão de obra na atual suinocultura? JMA - Infelizmente, em muitos casos, a percepção que as pessoas têm do trabalho em uma granja é negativa: trabalho sujo, principalmente em granjas de baixa tecnificação, além de localizadas na zona rural, baixo nível social, baixos salários, poucos benefícios, falta de estímulos e motivação, estilo gerencial autocrático e pouca ou nenhuma capacitação. Então é essencial mostrar que essas percepções não são verdadeiras, e uma vez demonstrado, apagar essa imagem de trabalho negativo. A seleção e a retenção de pessoas demandam muito trabalho, e não só com funcionários de granja, insisto, mas com todos os que trabalham com pessoas. Há muitos sistemas e programas voltados para essa atividade, muitas indústrias os têm desenvolvido, e a suinocultura também. Temos muitos exemplos positivos de empresas suinícolas que chegam a ter, inclusive, sistemas de melhoria contínua, crescimento pessoal, os cinco “S”, mas ainda existe muito espaço. Infelizmente não são todas as granjas que adotam ou adotaram esses sistemas de trabalho. Posso destacar “Que grande desafio e que grande oportunidade”.

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S&C - Qual sua maior realização quando prepara pessoas para trabalhar na suinocultura? JMA - Primeiro, o envolvimento, a participação, o número de perguntas que me fazem, a satisfação com que trabalham, a motivação obtida com suas realizações, como as relatam e as compartilham e o fato de assumirem que têm orgulho do que fazem; e, claro, o cuidado e a permanência no trabalho. E me refiro a todos os níveis, não somente ao operacional. nº 54/2015 | Suínos&Cia


Entrevista

a abordagem sobre tópicos de genética, nutrição, saúde, serviços, os quais são apresentados com a participação de cientistas nacionais e internacionais. Discutem-se muitas questões sobre suínos, espermatozoides e óvulos, bactérias e vírus, medicamentos e ingredientes de ração, algo sobre comportamento e bem-estar animal, meio ambiente; parabéns, mas muito pouco se fala sobre as pessoas que, no final, são os que tornam possíveis todos os temas anteriores. Felizmente, com a Dra. Nazaré Lisboa, temos trabalhado juntos há muitos anos e em vários países também, abordando diversos aspectos relativos aos suínos, inclusive, muito enfaticamente: pessoal. Compartilhamos essa preocupação tanto pela problemática que significa quanto pela resposta positiva que temos observado ao trabalhar esta questão, o que nos tem animado a continuar trabalhando nisso ainda mais.

S&C - Por que decidiu elaborar os “tips” do Dr. Maqueda? Houve resultados positivos, e o que mais lhe deu satisfação nesse projeto? JMA - Como uma ferramenta de treinamento. Dizem que, entre as missões que todos nós temos na vida, uma delas é escrever um livro, pois bem, neste caso, produzi vídeos por duas razões: primeiro, foi a forma atualizada e moderna em que resolvi escrever o livro, e segundo, particularmente no nível operacional, o hábito da leitura é pouco comum, mas muitos assistem a televisão, filmes, sendo o canal visual o mais desenvolvido em termos de percepção. Então achei melhor os vídeos, mais práticos e simples. Atualmente existem mais de 100 “tips” (dicas, em português), com mais de um milhão de visualizações pela internet, em diversos países. Além disso costumo receber, pela mesma via, muitos comentários sempre positivos com relação a eles. E a produção em forma de CDs também é muito grande, sendo comercializada em vários países.

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S&C - O que mudou ou evoluiu em consultoria quando comparado ao início de sua vida profissional? JMA - Essa reviravolta na minha atividade profissional, não só para trabalhar com suínos, mas também com as pessoas, desde a universidade como professor do último ano do curso de Medicina Veterinária por mais de 15 anos, participando de muitos congressos ao longo da minha carreira de 45 anos, incluindo o trabalho na formação de pessoal que atua diretamente em granjas, todos com grande satisfação pessoal e profissional. E há também, ainda, os meus “tips”.

“Aproveite a tremenda oportunidade que existe de ampliar seus conhecimentos, seu trabalho e sua satisfação profissional, preparando-se nesta importante área que é a gestão de pessoas”

S&C - O tema da 8ª Edição do SUINTER, “Evolução: Produção em Foco”, foi uma escolha baseada nos seus conceitos e atualidade. Qual a sua impressão e contribuição para com o evento? JMA - É muito comum em congressos e simpósios Suínos&Cia | nº 54/2015

S&C - O que recomendaria para um veterinário que deseja exercer a profissão em produção de suínos?

JMA - Que aproveite a tremenda oportunidade que existe de ampliar seus conhecimentos, seu trabalho e sua satisfação profissional, preparando-se nesta importante área que é a gestão de pessoas, capacitando-se na área de recursos humanos para desenvolver um trabalho muito mais completo e com grande valor ético, aumentando, assim, suas chances de sucesso, tanto em seu objetivo profissional quanto pessoal. Um bom veterinário, complementado com estudos adicionais em administração, seja de recursos humanos, gestão ou financeiros, torna-se um profissional muito útil no desenvolvimento da suinocultura, porque com o conhecimento de Medicina Veterinária e de Produção Animal tem a base técnica para orientar e tomar as adequadas decisões nessa dinâmica atividade.



Manejo

Efeitos da administração de um regulador pró-metabólico sobre a mortalidade e o uso de fármacos em leitões durante a lactação Claudio Mazzoni*, Annalisa Scollo*, Chiara Avanzini*, Paolo Mondin* *Médicos-veterinários autônomos summa@pointvet.it Introdução

E

m países com elevada produção suinícola, a mortalidade em lactação varia de 1% a 13%, com adicionais de 7% a 8% de leitões nascidos mortos (Pigchamp 2011). Todavia, tais dados variam enormemente de granja para granja, com percentuais que diminuem de 5% a 7% para mortalidade sobre os nascidos vivos (Lawlor e Lynch, 2005; Andersen et al 2007) e inferior a 5% em relação aos nascidos mortos (Muirhead e Alexander 1997). A diferença entre estes resultados é atribuída a manejos diversos entre as granjas, como descrito no detalhe da revisão de Kirkden et al. (2013). Na maternidade, a adoção de manejos mais eficazes possivelmente se tornam a chave para a economia da granja, principalmente nos últimos anos, nos quais houve aumento do número de nascidos como consequência do uso de matrizes cada vez com maior prolificidade (English, 1993). Os primeiros dias de vida do leitão são os mais críticos (Cronin et al.,2000; Marchant et al.2000), e os dias ao redor do parto são os dias em que as escolhas de manejos são indispensáveis para o retorno econômico da granja. Os fatores relacionados ao manejo de maternidade são muitos: da escolha da genética ao controle do microclima ambiental, da aplicação correta de princípios higiênicos-sanitários à uniformidade da leitegada, sem esquecer da alimentação da porca e da gestão de tratamentos (Kingston, 1989; Lay et al.2002). Todavia, às vezes, mesmo um manejo correto não é suficiente para reduzir a mortalidade neonatal; a assistência ao parto e a cura dos leitões de baixo peso podem representar uma fonte de melhoramento (Kirk et al. 2013). É frequente dar pouco valoràs perdas dos leitões devido à pouca vitalidade ou desidratação, que aparecem se a porca tiver pouco leite ou se o leitão não é suficientemente forte para conseguir ingerir suficiente colostro (Hughes, 1992). Nas primeiras horas de vida o risco para os leitões fracos ou de baixo peso de não serem competitivos ao alimentar-se é elevado: dar uma assistência nas primeiras mamadas ou proceder à alimentação suplementar com colos-

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Os primeiros dias de vida do leitão são os mais críticos, e são os dias ao redor do parto em que as escolhas de manejo são indispensáveis para obter retorno econômico da atividade tro ou suplementos podem ajudar (Kirkden et al, 2013). Não devemos esquecer a correlação entre o consumo de colostro e o estado sanitário do leitão durante toda a lactação. É muito frequente, de fato, a falta de eficiência imunitária devido a uma carência de colostro, traduzida com aumento de uso de fármacos, principalmente antibióticos. Isto representa despesas para a granja, mas também um risco sanitário que pode afetar o homem com o aumento da resistência antibiótica. O objetivo deste trabalho foi o de determinar a eficácia da administração de um regulador pró-metabólico, derivado da fermentação da batata, com especial atenção à mortalidade durante a lactação. Além disso, esperava-se uma diminuição do uso de fármacos nos leitões, como resultado de um melhoramento da eficiência do sistema imune como consequência de uma melhor ingestão de colostro, observada da Smulders e Kanora (2012) (foto 1a e 1b). Materiais e métodos 1. Animais e manejo O estudo foi conduzido em uma granja de reprodutores com ciclo aberto, incluindo 806 leitões de 71 porcas. Os partos foram sincronizados e assistidos


Manejo

Fotos 1a e 1b: Um bom encolostramento nas primeiras horas de vida é fundamental e deve ser aplicado manualmente nos leitões que não conseguem modo autônomo de ter acesso aos mamilos por parteiros especializados, e no final do dia foi feita a uniformização entre os leitões do mesmo grupo de tratamento por número e dimensão dos leitões. Todas as leitegadas foram alojadas em locais idênticos, fazendo parte do mesmo galpão, sobre gestão do mesmo tipo de manejo. Grupos tratados As 71 leitegadas foram divididas, ao acaso, em dois grupos. Pelo tratamento experimental (n= 393 leitões), eles receberam 2 doses via oral de um regulador pró-metabólico à base de proteína de batata fermentada (1ml de produto por dose). A primeira dose foi administrada logo após o nascimento, e a segunda, depois de 12 horas. Os demais 314 leitões foram destinados ao grupo-controle, sem nenhuma administração de produto após o nascimento. 2. Parâmetros observados Para cada uma das 71 porcas foram registrados o número de leitões, ordem de parto e mortalidade diária dos leitões até o desmame, anotando, também, a causa da mortalidade (esmagamento, diarreia, etc). Além disso foram registrados todos os tratamentos farmacológicos efetuados nos leitões durante toda a lactação, tipo, frequência e volume de medicação injetada.

3. Análise estatística A porcentagem de mortalidade foi calculada usando o PROC GENMOD com modelo de Poisson (SAS 9.2, SAS Institute Inc.,Cary, NC). Os dados relativos às medicações foram elaborados com o teste de T-Student, considerando a quantidade espremida em mg de substância ativa inoculada por leitão tratado. Resultados 13

Os dados de mortalidade podem ser observados na tabela 1. A falta de vitalidade foi a causa de morte que demonstrou diferença significativa entre os dois grupos experimentais (P<0.0001), com redução no grupo tratado com pró-metabólico. Além disso, o mesmo grupo mostrou uma drástica diminuição do uso de antibióticos e de antiinflamatórios (P= 0.041 e 0.012 respectivamente, figura 1). Discussão A administração de um suplemento alimentar com efeito de melhoramento do metabolismo no leitão, imediatamente após o nascimento, reduz a mortalidade dele durante a lactação de maneira significativa no que se refereàs perdas devido à pouca vitalidade do leitão.

Tabela 1. O risco relativo (RR) de mortalidade de leitões do nascimento ao desmame Causa da morte

Média (%) Prometabólico

Controle

RR (95% CI)

P valor

Esmagamento

3,33

3,62

1,09 (0,84 - 1,39)

0,512

Fraco

0,22

2,05

9,31 (4,43 - 19,6)

< 0001

Diarreia

1,41

1,39

0,98 (0,66 - 1,46)

0,930

Outro

3,02

3,33

1,10 (0,85 - 1,43)

0,457

CI: Intervalo de confiança nº 54/2015 | Suínos&Cia


Manejo

Figura 1. Mg de princípio ativo por leitão do nascimento ao desmame

A - antibiótico; B - anti-inflamatório O leitão frágil é uma das causas principais de mortalidade neonatal e já foi descrita por Hughes (1992) como resultado da impossibilidade do leitão de ingerir o colostro em quantidades adequadas. Durante as primeiras horas de vida, na verdade, o leitão deve competir vigorosamente para garantir o acesso ao mamilo. Leitões fracos e de baixo peso são as categorias com mais risco de morte. Os resultados deste estudo estão de acordo com Kirkden et al. em uma recente revisão (2013), na qual a administração de um suplemento alimentar é descrita como escolha de manejo útil para evitar perdas durante a lactação. Naturalmente,é muito importante evidenciar que nesta mesma revisão, os autores dão a mesma importância a uma correta uniformização dos leitões, e que estas duas práticas de manejo, juntas, dão os melhores resultados. No campo, a suplementação com alimentos nem sempre é realizada. Todavia, quando é aplicada, a escolha, na maior parte das vezes,recai no uso do colostro, recolhido manualmente das porcas durante o parto. O valor de um boa administração do colostro é tão importante que nos últimos anos a administração forçada de colostro está se tornando cada vez mais difundida (Herpin e Le Dividich, 1995). Infelizmente, o recolhimento do colostro necessita de um bom manejo e de tempo, às vezes menosprezados em granjas com menos disponibilidade de pessoal. O sucesso desta prática parece estar fortemente correlacionada à capacidade do encarregado responsável por este manejo (Cutler et al.2006; Hemsworth et al.1995). Neste contexto, a administração de um suplemento substitutivo do colostro, mas com a capacidade de produzir os mesmos efeitos, pode representar uma válida solução. A hipótese que a administração de um regulador pró-metabólico, derivado da fermentação da batata, aumente o consumo de colostro já foi proposta de Smulders e Kanora (2012), que for-

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mularam a hipótese que isto acontecia devido ao melhoramento da capacidade do leitão fraco ou de baixo peso de ter acesso rapidamente ao mamilo Além da redução de mortalidade, uma segunda vantagem do consumo de colostro é o aumento da transmissão de imunidade passiva da porca ao leitão. Os mesmos autores, de fato, demonstraram um aumento significativo dos níveis de IgG sanguíneo nos leitões neonatos após a utilização de reguladores pró-metabólicos. Esta poderia ser a base do benefício apresentado neste estudo com relação ao de fármacos no período de lactação. De fato, foi menor o uso de antibióticos nos leitões que receberam o pró-metabólico. O uso de antibióticos já nas primeiras fases de vida do leitão é uma prática largamente difundida com a finalidade de diminuir a presença de doenças em uma fase extremamente delicada. Como consequência da redução do consumo de colostro, de fato aumenta a frequência de infecções neonatais (Edwards, 2002). Porém, nos últimos anos, o tema da resistência aos antibióticos tem sido muito discutido, como o uso excessivo ou não correto de antibióticos, seja em veterinária ou em medicina humana. O excessivo uso de antibióticos é tido como a base da seleção de populações bacterianas resistentes, que resultam em infecções mais perigosas e difíceis de tratar. A resistência antibiótica encontra-se atualmente no centro de um debate que envolve fortemente a opinião pública e é reconhecida pelo Parlamento Europeu, que em 2011 desenvolveu o “Plano de Ação contra o Desafio Crescente da Resistência Antibiótica” (Comissão Europeia, 2011). Sob este ponto de vista, a escolha de um regulador pró-metabólico, seja para reduzir a mortalidade do leitão em lactação ou o uso de fármacos, parece ser uma solução adequada capaz de combinar o benefício econômico da granja com o a redução do uso de fármacos.



Manejo

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Bem-estar Animal

Manejo de porcas em grupo: sistema de alimentação Parte II Carlos Piñeiro - Médico-veterinário - Consultor Diretor PigCHAMP Pro Europa SL pigchamp@pigchamp-pro.com

• O número de animais da granja; • A quantidade de espaço disponível na granja. Se há necessidade de se realizar uma nova construção ou se há como remodelar as instalações existentes; • A disponibilidade de recursos para realizar investimentos; • O perfil do pessoal responsável pelo manejo dos animais.

Sistemas de alimentação para porcas em grupo

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omo vimos no artigo anterior, na Europa, a legislação do bem-estar animal está definida pelo Real Decreto 1135/2002, uma lei que determina a criação de porcas gestantes soltas em grupos: “as porcas e as marrãs deverão ser criadas em grupos durante o período compreendido entre as quatro semanas seguintes à cobertura e aos sete dias anteriores à data prevista para o parto”. O presente artigo tratará do sistema de alimentação quando adotado o manejo de bem-estar animal na reprodução e de como eleger o melhor sistema nas granjas, analisando as vantagens e os inconvenientes de cada um deles.

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Escolha do sistema de alimentação O objetivo, na hora de tomar a decisão sobre o sistema de alimentação, é fazer com que cada porca consuma a quantidade de ração adequada, de acordo com o seu peso vivo, o momento da gestação e sua reserva corporal. Na hora de decidir ou escolher o sistema de alimentação, há que se considerar muitos fatores. Entre eles, destacam-se:

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O fato de a decisão final depender de tantos fatores faz com que não exista um sistema de alojamento em grupo ideal para todos os casos. Existem muitos sistemas de alojamento em grupo, e cada um deles tem suas vantagens e inconvenientes. Os sistemas mais comuns, que já foram ou estão sendo implantados na Espanha, são o seguintes: I. II. III. IV. V. VI.

Minibox com dosificador individual; Box completo com dosificador individual; Alimentação no piso; Sistemas de caída lenta; Comedouro eletrônico; Gaiola de livre acesso (GLA ou JLA, da sigla em espanhol); VII. Sistema de comedouro eletrônico individual.


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I. Minibox com dosificador individual Trata-se de um dos sistemas com mais facilidade de implantação nas granjas já existentes. Consiste na manutenção da estrutura de linhas de ração e comedouros, retirando parte da baia antiga e deixando um minibox de comprimento variável para que as porcas se separem no momento da alimentação. Com este sistema aproveita-se grande parte das instalações originais da granja.

Sistema de minibox Construção nova, os separadores entre os animais são opacos para impedir que uma porca veja suas vizinhas

Sistema de minibox Nesta granja foram aproveitadas partes da gestação antiga

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Alternativa para a adaptação de porcas em grupos, recortando boxes a 1,20 m nº 54/2015 | Suínos&Cia


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Recomendações: − O comprimento do minibox tem sido muito debatido. Quando são muito curtos, ocorrem mais problemas de brigas e agressões, e as porcas ficam mais nervosas devido à competição pelo alimento. Se são muito longos, ocorrem problemas do tipo mordeduras de vulva, diminuindo o espaço por onde as porcas transitam; − Uma medida de minibox considerada ótima é o comprimento mínimo de 1,20 m. Com esta distância permite-se que cada porca tenha seu local diferenciado para comer e esteja suficientemente protegida até as costas, no mínimo, para poder defender seu posto; − A largura do minibox deve ser de 0,60 m, pois se o colocarmos a menos de 0,50 m, as porcas em gestação muito avançada não aproveitarão esse espaço para se deitar; − Está comprovado que os separadores opacos reduzem a competição pelo alimento ou o roubo dele, já que as porcas não enxergam a comida que tem as suas vizinhas, o que faz com que se mantenham em seu local por mais tempo. − Neste sistema é interessante avaliar a administração de ração umedecida para favorecer a ingestão dela. Desse modo, se a fêmea dominante tentar roubar a comida da vizinha - uma vez finalizada a sua é quase certo de que a porca dominada já tenha ingerido a maior parcela do seu alimento. − O tamanho do grupo ideal seria entre 10 e 25 porcas. É muito importante montar os grupos com porcas do mesmo tamanho, pois caso não seja possível controlar a ingestão individual, haverá pelo menos uma aproximação por grupo.

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Desenho de um esquema de adaptação, em uma granja já existente, de um minibox com dosificador individual para baias de 9 e 10 porcas

Vantagens:

Inconvenientes:

É fácil de implementar

Não se pode controlar o alimento individualmente

Econômico

Maior probabilidade de agressões e brigas por competição de alimento

A porca continua com o mesmo sistema de alimentação, porém em grupo

As porcas se desigualam mais do que nos outros sistemas Mais orientado para grupos pequenos.

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II. Box completo com dosificador individual É um sistema muito parecido com o anterior, no qual se mantém a estrutura das linhas de distribuição de ração e dos comedouros, retirando-se a porta traseira da gaiola e mantendo o seu comprimento original.

Sistema de box completo

Vantagens:

Inconvenientes:

É simples de implementar

Não se pode controlar a ração de modo individualizado

É econômico

Maior probabilidade de agressões e brigas por competição pelo alimento

A porca continua com o mesmo sistema de alimentação, porém em grupo

Maior índice de mordeduras de vulva que nos outros sistemas

A gaiola é utilizada também como área de descanso

As porcas se desigualam mais, em comparação com os outros sistemas

A porca sente-se mais protegida e, consequentemente, mais relaxada

Mais orientado para grupos pequenos

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É possível confinar a porca mais magra ou a porca gorda para que comam apenas a sua ração

Sistema de box completo A porca magra pode ser acomodada individualmente para assegurarmos que realmente coma a sua necessidade de alimento

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Recomendações: − As mesmas do sistema anterior, com a ressalva de que este, como resta mais espaço para trânsito, é recomendado para utilização em salas grandes; − Neste caso a porca utiliza a área de alimentação como zona de descanso, o que nos permite encontrar mais de 80% delas descansando no interior das gaiolas ou boxes; − Uma vez removida a parte traseira da estrutura original, que serve também como reforço, deve-se ter a certeza de que a gaiola vai aguentar caso uma porca apoie nela todo o seu peso. Possivelmente será preciso realizar algum reforço na parte traseira dela para aumentar a resistência da estrutura; − A largura do box deve ser mantida como a original da cela (0,60 m a 0,65 m) para permitir que a porca possa se deitar e alcançar a posição de decúbito lateral da forma mais confortável possível. III. Alimentação no piso A alimentação das porcas no piso pode ser realizada por meio de dosificadores ou de modo manual. O sistema consiste em administrar a ração às reprodutoras diretamente sobre o piso da baia. Neste caso não existe uma separação individualizada das porcas para comer.

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Sistema de alimentação no piso

Vantagens:

Inconvenientes:

Simples de ser implementado

Não se pode controlar a ração de modo individualizado

Econômico

As brigas são muito frequentes

É um sistema muito natural, pois simula como um animal comeria se não estivesse confinado

Elevado desperdício de ração Promove muita desigualdade entre as fêmeas do lote

Alimentação no piso Desigualdade entre as porcas e grande desperdício de ração Suínos&Cia | nº 54/2015


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Recomendações: − Os grupos devem ser de 10 a 20 animais e muito homogêneos, uma vez que haverá muita competição pelo alimento; − O desperdício de ração será menor se ela for granulada; − Deixando a saída da ração a uma altura de 1,75 m a 2 m, consegue-se uma distribuição mais homogênea dela na superfície do piso, evitando que se acumule em algum ponto do concreto. O problema desse procedimento é que a ração cai sobre as porcas; − Como as agressões são frequentes, recomenda-se apenas um trato por dia para se eliminar essa fonte de estresse e manter o volume da ração; − O recinto onde a ração será fornecida deve ter um diâmetro ótimo de 3 metros para permitir que duas porcas consigam se alimentar em posições opostas; − No caso de haver cama de palha, a porca come tanto a ração como a palha, o que diminui a agressividade e melhora o comportamento, pois a alimentação torna-se mais volumosa. IV. Sistema de caída lenta O sistema de alimentação de caída lenta está geralmente associado ao sistema minibox ou box, uma vez que também necessita de um dosificador. Além do dosificador tradicional, possui um sistema localizado entre o dosificador e a saída na direção do animal - que atua como um “freio” na descida da ração. O objetivo do sistema é proporcionar à porca a ração em uma velocidade mais lenta do que a sua própria velocidade de ingestão.

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Alimentação por caída lenta

Vantagens:

Inconvenientes:

É simples

Não permite um controle acurado sobre a alimentação

É econômico, ainda que menos do que a alimentação no piso/minibox

Somente para grupos pequenos

Não há desperdício de ração

Ainda que pouca, existe alguma competição pela ração

Menor desigualdade entre as porcas

Promove muita desigualdade entre as fêmeas do lote

Recomendações: − Os grupos devem ser homogêneos para evitar brigas; − Pode-se usar rações granulada ou farelada; − As mesmas recomendações para a alimentação pelo sistema minibox.

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V. Comedouro Eletrônico Neste sistema, de livre acesso para as porcas, existe uma tremonha que é regulada em função da quantidade de ração a ser consumida pelo grupo total de animais. O dispositivo regulador da referida tremonha é elétrico e programa a quantidade de quilos de ração que ficará à disposição do grupo de porcas gestantes.

24 Alimentação com comedouro eletrônico

Vantagens:

Inconvenientes:

É fácil de implementar

Não há um controle individual da ingestão por porca

As porcas aprendem com facilidade

A porca dominante pode “bloquear” o acesso à tremonha

O consumo do grupo é controlado

Não se impede as brigas

Não existe desperdício de ração Recomendações: − É um sistema no qual se pode regular a média do consumo de ração da sala, sendo, por isso, muito importante homogeneizar os grupos de porcas por estado corporal e pelo número de partos (se possível); − As salas devem ser o mais quadradas possível, e a tremonha deve estar situada em um canto. Desta forma, permite-se o acesso de todas as porcas ao alimento, evitando-se as brigas; − Os comedouros devem sempre conter ração, sendo importante não deixá-las vazias à noite, que é quando as porcas menos dominantes terão acesso ao alimento; − É necessário calibrar o comedouro de duas a três vezes por ano, principalmente no caso de mudança na composição da ração.

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VI. Gaiola de livre acesso (GLA = JLA em espanhol) − Neste sistema mantém-se a estrutura original da gaiola de gestação para alojar a porca, porém com a ressalva de que o animal possa entrar e sair à vontade; − A porca alimenta-se sozinha, sem nenhuma possibilidade de que outra companheira a moleste ou interfira. Apesar disso, não podemos controlar a ingestão individual, uma vez que não se sabe em qual gaiola cada uma das porcas irá entrar.

Granja de construção nova com gaiolas de livre acesso

Vantagens:

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Porcas em gaiolas de livre acesso

Inconvenientes:

Permite que todas as porcas comam uma quantidade média estipulada.

É um sistema cuja instalação é cara.

Elimina as brigas por alimento.

Requer mais espaço, principalmente na parte traseira da gaiola.

A porca pode descansar em sua gaiola de livre acesso sem que outra porca a moleste.

Não há controle de ingestão individual.

Não há desperdício de ração, sendo um sistema muito prático. O tratador adapta-se muito facilmente a este sistema. Facilita o manejo e a inspeção dos animais. Pode ser adotado em grandes grupos. Recomendações: − Pode-se aumentar a quantidade de ração fornecida, manualmente, àquelas porcas que necessitem, sem o receio de que outra porca consuma esse alimento; − Os grupos precisam ser homogêneos para o cálculo correto da quantidade de ração média por grupo. Na medida em que avança a gestação, os dosificadores vão sendo corrigidos; − Este sistema permite prender temporariamente as porcas, manobra útil no caso da prática de manejos, como vacinações, confirmação de gestação por ecografia e coleta de amostras de materiais para exames laboratoriais. VII. Sistema de comedouro eletrônico individual Trata-se de um sistema composto por máquinas eletrônicas de alimentação que identificam individualmente cada animal e fornecem a quantidade de ração previamente programada. Programa-se o sistema para estabelecer as curvas de alimentação em função do tamanho do animal, número de partos e momento da gestação. As porcas são identificadas com um microchip que, geSuínos&Cia | nº 54/2015


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ralmente, é implantado na orelha. Quando a porca aproxima-se da máquina, é detectada por meio do microchip, o que permite o seu acesso; e se ela ainda não comeu ou não consumiu a totalidade da ração diária, o alimento lhe será fornecido. No caso de já haver consumido sua ração diária, não lhe será fornecido mais alimento. Uma vez terminada sua ingestão individual, a porca sai da máquina, deixando a possibilidade de que outra a ocupe. Este sistema permite trabalhar com uma alimentação individualizada, permitindo também que se controle, de forma automática, a quantidade de alimento que cada animal consome, o que é muito útil para a detecção de animais doentes ou daqueles que não se adaptam ao sistema.

Identificação individual

Sistema de detecção de cio 27

A porca pode ser separada

Alimentação individual

Recomendações: − É preciso ensinar as porcas a comerem na máquina. Para as marrãs é importante dispor de uma máquina de treinamento; − O consumo de ração pode ser individualizado, mas, para tanto, deve haver um encarregado pela revisão diária de quais porcas não comeram e porque; ou se será necessário variar as curvas de alimentação; − A máquina necessita de manutenção e limpeza para que os sensores funcionem corretamente; − Podem ocorrer perdas de microchip, sendo, por isso, importante que se disponha de outro sistema de identificação; − É importante ajustar os pulsos de comida à velocidade das porcas mais lentas para que no momento em que decidam deixar de comer, o fornecimento seja interrompido e não sobre comida para a porca seguinte; − Os grupos devem ser grandes, de 60 a 70 animais por máquina. nº 54/2015 | Suínos&Cia


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O risco respiratório ocupacional em suinocultura Vittorio Sala* - Universidade de Milão, Departamento de Ciência Veterinária e Saúde Pública Eleonora De Faveri - Universidade de Milão, Escola de Especialização em Sanidade Animal, Pesquisa e Desenvolvimento em Produção e Zootecnia *vittorio.sala@unimi.it

O

impacto ambiental de grandes complexos zootécnicos intensivos, principalmente referente à poluição das águas e da atmosfera, é um tema de âmbito internacional. Um aspecto relevante do problema é representado pelas possíveis interferências sobre a saúde da população e ainda mais sobre a saúde dos trabalhadores das granjas. A concepção do problema que envolve os trabalhadores de granjas é duplo: o risco sanitário pessoal e a preocupação da imagem negativa que a opinião pública pode ter de um setor que, na verdade, oferece aos mesmos trabalhadores uma fonte de renda, indispensável à vida. Além disso, as normas vigentes cada vez mais complicam, principalmente no aspecto burocrático, as tarefas a serem realizadas no dia a dia. Por todos estes motivos, os operadores rurais, veterinários, produtores e técnicos de saúde deveriam ter uma percepção mais consciente do risco ambiental e dos potenciais efeitos sobre a saúde, adaptando-se ao que já foi modificado no processo urbano-industrial. Por isso, o objetivo desta introdução é enfocar os aspectos dos riscos ocupacionais na produção animal e, principalmente, na suinocultura, considerando os pontos salientes da prevenção, sem que eles se tornem um problema de sustentabilidade e economia da granja.

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Problemas relacionados a intensificação da produção animal Nos últimos 30 anos, a concentração de grandes números de suínos devido à especialização da produção consolidou um sistema no qual o problema sanitário amplifica-se: rações animais, dejetos (normalmente em forma semilíquida, carcaça de animais mortos, insetos, micróbios, biogás, pó e odores) são os elementos principais do risco sanitário, considerando-se as interações e potenciais limitados no tempo e no espaço, além dos impactos ambiental, territorial e social. A preocupação da opinião pública sobre as consequências negativas da produção zootécnica vem aumentando progressivamente desde o final dos anos 60, na Europa, dando origem, principalmente nos anos 90, a numerosas conferências e encontros sobre o assunto, a níveis regional, nacional e internacional. Um dos motivos desta preocupação é que a produção animal em larga escala foi se distanciando da agricultura tradicional, tornandose numerosa em vários aspectos: estruturas, tipos de gestão e economia de escala, como acontece na indústria moderna. Nos EUA, por exemplo, a massa volumétrica dos dejetos animais é 130 vezes maior do que os dejetos provenientes do homem e em parte é tratada antes de ser enviada ao ambiente. Tudo isso tem gerado uma compreensível preocupação em relação à poluição das águas (eutrofização). Neste artigo nos concentramos particularmente às possíveis consequências das emissões sobre a saúde do homem em âmbito social e ocupacional. Em 1972, a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou que a saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a inexistência de doenças ou enfermidades”. 1. Biogás

Na suinocultura, consideram-se os pontos salientes da prevenção, sem que eles se tornem um problema de sustentabilidade e economia da granja Suínos&Cia | nº 54/2015

A primeira avaliação dos gases emitidos dos dejetos foi realizada nos anos 70 e demonstrou a presença de quase 200 compostos químicos diferentes, sob a forma de mercaptanos, ácido sulfídrico, bissulfuros, aminas, ácidos orgânicos, fenóis, álcoois, corpos cetônicos, indol, scatol, carbonil, ésteres e nitratos em várias formas. Para a maior parte destas substâncias, desconhece-se os riscos para a saúde do homem nas concentrações normalmente encontradas nos dejetos suínos.


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Alguns destes têm um nível de odor muito baixo, até 1 ppb (parte por bilhão); amoníaco e ácido sulfídrico são os mais perigosos para a saúde humana, enquanto o metano e o anidrido carbônico são gases importantes para o efeito estufa. A fonte primária dos compostos gasosos é a degradação orgânica de fezes e urina estocadas em fases líquida ou sólida. Por exemplo, o amoníaco está presente em qualquer método de tratamento dos dejetos. Outros compostos provêm quase exclusivamente da decomposição anaeróbica durante a estocagem dos dejetos. 2. Poeira Além do biogás, é necessário considerar a importância das partículas orgânicas predominantemente geradas durante as operações de alimentação dos animais, as quais pouco dá-se importância. Além do pó da ração, ela também provém dos suínos (pelos, descamações da pele, fezes secas) e contém substâncias bioativas como endotoxinas e glucanos, de consistente atividade inflamatória. Um outro componente importante é o bioaerossol, no qual já foram identificadas muitas bactérias (gram + e gram -), leveduras e fungos. Alguns destes microrganismos estabilizam-se e se multiplicam no ambiente onde vivem os suínos, difundindo-se no ar externo dos galpões. Os organismos identificados no ar são, na maioria, agentes saprófitos, enquanto são poucos os patógenos associados ao pó que se tornam componentes de partículas em aerossol. A dimensão destas é bem pequena: aproximadamente 50% do pó, com menos de 10 microns, e são inaláveis e em grau de penetrar as vias respiratórias até os bronquíolos. 3.Odores e odorantes Grande parte da preocupação da opinião pública é com relação ao cheiro, uma sensação desconfortável, gerada a partir de substâncias odorosas ou odorizantes, que tenham ou não efeitos nocivos ou tóxicos. Amoníaco e ácido sulfídrico são gases odorosos, mas foram descritos fenômenos de amplificação do impacto deste odor quando estas substâncias interagem com outras substâncias químicas e com as partículas presentes no ar. A concentração das partículas e a presença de micróbios no ar são significativamente maiores em granjas de suínos em relação a outras espécies criadas intensivamente. Em relação ao ar externo, os valores medidos são de até 106 vezes maiores, enquanto são relativamente poucos os dados a respeito dos perigos das concentrações em proximidade de granjas. Do outro lado, é certo que o ácido sulfídrico, NH3 e o pó podem causar problemas aos fun-

cionários que tratam de suínos. É difícil, com base nos estudos de medicina do trabalho disponíveis, avaliar os riscos para a saúde dele fora da granja. Dados publicados indicam que as concentraçõesde H2S e NH3 no ar são 103 vezes maiores dentro do galpão em relação ao ambiente externo. Os odores que provem das granjas são considerados, na maioria das vezes, um desconforto, que frequentemente tem implicações legais e administrativas. São, todavia, um aumento às evidências dos possíveis efeitos sobre a saúde em forma de náuseas, vômito, dor de cabeça, distúrbios respiratórios e do sono, inapetência, irritação ocular, nasal e da garganta, distúrbios comportamentais (agitação, depressão e irritação). Os odores podem, então, provocar alterações emotivas e físicas, especialmente depois de exposições repetidas. Muitas publicações demostraram que pessoas que vivem próximas a granjas ficam irritadas com maior frequência, depressivas e cansadas; outros estudos indicam que os sintomas sob forma de bronquite e asma podem derivar de uma inflamação crônica devido à inalação de pó e gás. É importante considerar a diferença individual de cada um, e também é possível reagir a concentrações muito inferiores àquelas da exposição profissional, como, por exemplo, muitas leis estabeleceram limites de H2S de 20 a 50 ppb, três vezes inferior ao limite professional. Para o H2S foram demonstrados efeitos neurocomportamentais, como perda do equilíbrio, aumento do tempo de reação e alteração do campo visual e da audição.Trata-se, portanto, de uma toxina com vários efeitos, sendo o primeiro deles o comprometimento dos mecanismos de respiração celular, principalmente a nível cerebral. É objetivamente difícil obter dados sobre a interferência dos efeitos tóxicos ambientais produzidos pelas granjas intensivas sobre o estado de saúde da população nas cercanias; todavia, nem sempre isso é verdade porque, com frequência, as pessoas mostram sintomas objetivos e identificáveis, baseados na complexa interação entre o sistema nervoso central e o sistema somático. De fato, os odores podem, antes de tudo, causar reações somáticas, baseadas na solicitação do nervo trigêmeo, ou reativar, a nível límbico, respostas memorizadas de aversão a substâncias tóxicas. Estas podem ser tanto mais intensas quanto mais a pessoa for sensível e quanto mais frequentes forem os estímulos odorosos. Além disso, no caso de sensibilidade elevada, basta uma mínima exposição.Também podemos estar de frente a um caso de condicionamento psicológico, como a sensação de não saber como resolver o problema ou o medo da perda de valor econômico, como um imóvel. Resumindo, os efeitos físicos e psicológicos combinados podem gerar uma síndrome de estresse ambiental, mas se houver outros problemas de saúde, como asma, a situação pode se complicar.

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Fosso com dejetos abaixo do piso Risco sanitário ocupacional em suinocultura As primeiras análises sobre o estado sanitário e a segurança das pessoas que trabalham na produção suinícola foram realizadas no final dos anos 80 e tiveram como foco o pó e os gases. Outros problemas potenciais de natureza ocupacional são traumas agudos, barulho e infecções. Como já dito, o pó é uma mistura complexa de elementos gerados principalmente dos animais (pelos, descamação da pele, fezes secas) com resíduos de partículas de ração. O biogás (sobretudo o NH3 e H2S) deriva da decomposição de fezes e urina. H2S é o maior problema nas granjas onde existe estocagem de dejetos abaixo do piso (pavimento fissurado). Além disso, onde estão presentes sistemas de aquecimento dos locais, eles podem produzir óxido de carbono, principalmente se não são feitas manutenções adequadas. Em resumo, a respiração dos animais produze CO2. Pó e gás podem se acumular em concentrações causando danos agudos ou crônicos à saúde humana e animal. A composição e a concentração variam com relação ao manejo (protocolos de gestão, movimentação dos animais, fluxo dos animais), fatores estruturais (sistema de ventilação, sistema de alimentação, armazenamento dos dejetos) e aos animais (número, categoria). O pó contém aproximadamente 25% de proteínas, e as partículas têm o tamanho de 2 a 50 micron de diâmetro. Um terço é inalável (<10 microns) e, deriva, principalmente das fezes ressecadas, que contém também bactérias da flora intestinal. Este componente representa um risco importante para as vias respiratórias menores profundas. Estão presentes no pó, além das bactérias, endotoxinas, grãos de pólen, fragmentos de insetos, esporas e fungos. As partículas maiores são provenientes, principalmente, da ração (fragmentos de farinhas de cereais) e são captadas sobretudo nas vias respiratórias superiores. Nos últimos anos, foi dada

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especial atenção aos subprodutos de derivação microbiana presentes no pó, que são dotados de toxidade primária e atividade inflamatória. Entre estes podemos citar as endotoxinas e os glucanos, que provêm, respectivamente, da membrana celular das bactérias gram (-) e de algumas leveduras e fungos. O pó também pode absorver o amoníaco e outros gases tóxicos ou irritantes, aumentando de 2 a 4 vezes o risco potencial para a saúde, diminuindo a eficiência da troca de gases efetuada pelo pulmão. A digestão anaeróbica dos dejetos pode gerar até 160 tipos diferentes de gás, sendo os mais perigosos o H2S, NH3, CH4, CO2 e CO, que podem permanecer no ambiente de trabalho, principalmente na presença de dejetos abaixo da pavimentação em piso fissurado. Além disso, 40% do amoníaco provém da ação enzimática bacteriana sobre o nitrogênio contido na urina. O monóxido de carbono e o CO2 são, geralmente, produzidos pelos sistemas de aquecimento, que usam como fonte energética os combustíveis fósseis, e da respiração dos animais. Ao final, o metano não é um fator de risco respiratório, no máximo poderia ser inflamável a concentrações elevadas. O número de pessoas que atuam na produção zootécnica intensiva, entre produtores, funcionários, técnicos, veterinários, diretamente ou indiretamente envolvidos, cresceu nos últimos anos, muitas vezes de forma não controlada na Europa. A presença de trabalhadores estrangeiros também causa dificuldade linguística de compreensão das instruções. O risco respiratório agudo e crônico, que certamente é o mais frequente, depende, em parte, da sensibilidade genética individual a endotoxinas ou alérgenos, mas também do tempo de contato e do tempo que passou neste tipo de ocupação. Certamente, a presença de outras patologias respiratórias e o tabagismo são fatores de complicação. As manifestações se tornam sintomaticamente importantes depois de um período prolongado de cerca de cinco a seis anos, no qual as pessoas ficam mais de duas horas por dia em ambientes confinados e na presença de concentração de animais, mas os indivíduos particularmente sensíveis podem sofrer um efeito negativo sobre a saúde já nas primeiras semanas de trabalho. A concentração de pó e biogás aumenta no período de inverno, quando os ambientes são mais fechados e a troca de ar diminui com a finalidade de impedir a dispersão do calor. O pó aumenta também quando os animais são movimentados ou tratados durante a alimentação, principalmente se é de tipo farinha, ou quando parte do ambiente é lavado com máquinas de pressão elevada. É importante considerar que os sistemas de ventilação forçada são projetados para garantir temperatura e umidade idôneas aos animais e não para prover um ambiente saudável às pessoas. Durante o inverno, quando a troca de ar é menor por muitas horas, com as concentrações de CO2 produzidas



Biosseguridade

Aspecto externo de granja pela respiração dos animais, em combinação com a CO derivado do sistema de aquecimento, se presentes, podem atingir níveis potencialmente tóxicos. No verão, ao contrário, o risco tanto para os animais quanto aos homens é representado pelo estresse causado por temperatura e umidade elevadas. É óbvio que nestas situações as perdas são observadas nos animais, dado que as pessoas podem abandonar os locais. O H2S é uma outra substância de elevada toxicidade e produzida, principalmente, durante a agitação dos dejetos. Em poucos segundos são emitidas ao ambiente concentrações desde 5 ppm a 500 ppm. Quanto mais violenta for a agitação, mais H2S é liberado. Não são raros os casos de acidentes deste tipo que afetam animais e trabalhadores, e frequentemente com mortalidade. Igualmente perigosas são as intervenções de limpeza e o recolhimento dos dejetos das lagoas. As concentrações de pó nas granjas de suínos são, normalmente, contidas entre 2 e 6 mg/ m³, mas podem chegar a 15 mg/m³ no inverno ou quando se movimentam os animais. As concentrações limites recomendadas ao homem são de 2,5 mg/m3, muito inferiores àquelas observadas em muitas granjas e em certas produções industriais. A toxicidade do pó é, principalmente, devido à sua atividade inflamatória, que pode ser sinérgica com a do biogás. Numerosas publicações apontam que quase 60% dos funcionários que tenham trabalhado por seis anos ou mais em granjas de suínos mostram um ou mais sintomas respiratórios e que a prevalência é de 25%. Já a prevalência em funcionários que trabalham em local aberto é de 12%. A complexidade da resposta respiratória compreende a asma profissional não alérgica, irritação das mucosas, bronquites agudas ou crônicas e mais gravemente a síndrome tóxica de pó orgânico. Todos estes processos podem se verificar de maneira única ou em combinação, causando uma ou mais condições clínicas, simultaneamente.

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O fumo do cigarro, junto com outras variáveis de risco citadas, aumenta a gravidade dos sintomas, que geralmente são mais frequentes e graves entre os fumantes e naqueles que trabalham em estruturas mais poluídas. A funcionalidade pulmonar destas pessoas é frequentemente comprometida (quantidade de volume de ar trocado), e é comum a leucocitose nos fluidos bronquiais, junto com a persistência de células inflamatórias epiteliais. Pensando sempre no aparelho respiratório, podemos considerar outros riscos profissionais derivados da presença de patógenos transmissíveis do animal ao homem por via respiratória, incluindo o vírus da Influenza, Erysipelothrix rhusiopathiae, Streptococcus suis e Staphylococcus aureus meticilina-resistente. Finalmente, e para ser completo, devemos lembrar das lesões traumáticas, cortes e danos possíveis à audição devido ao elevado barulho. Prevenção Uma gestão adequada e eficaz do risco ocupacional pressupõe o planejamento e implementação de medidas de proteção ambiental que sejam eficazes tanto aos animais quanto ao homem. Listamos, abaixo, algumas informações úteis: • Diminuição da produção de pó e biogás por meio da aplicação de procedimentos de manejo que melhorem a produtividade; • Diluição dos contaminantes já liberados no ar por meio do manejo racional da ventilação e da redução desta, utilizando a micronebulização com água pura ou misturada a desinfetantes inócuos ao homem e aos animais; • Proteção respiratória individual dos operadoresF, por meio do uso de máscara durante os momentos de maior risco (distribuição do alimento e movimentação dos animais); • Formação de poeira proveniente da ração: a adição de gordura na formulação é eficaz; quando se usa alimentação líquida o problema é representado pela fermentação. Em ambos os casos, é útil o uso de máscara; • Limpeza e manutenção dos sistemas de aquecimento e de ventilação, com a finalidade de reduzir o risco de perdas de gás, com manutenção da qualidade do ar circulante; • A eficácia das soluções adotadas pode ser periodicamente monitorada pelo uso de medidores de gás e pó. O controle constante da qualidade do ar nos galpões é o único modo para manter a contaminação nos níveis aceitáveis. É impossível eliminar completamente a formação de pó e de gases, assumindo, então, uma importância crítica a remoção dos contaminantes, ou seja, o uso correto do ven-


Biosseguridade

tilador. O sistema de ventilação deve ser estudado de maneira precisa para satisfazer às necessidades dos locais de forma contínua e constante; ou seja, se os funcionários alteram as funções entre as estações do ano (inverno - verão), as concentrações de gases e pó serão modificadas.

Bibliografia

Aos funcionários ocupados nos galpões onde os suínos são confinados por mais de duas horas ao dia, deveria ser indicado o uso de máscara antipó, mesmo que a concentração dos poluentes seja inferior aos limites. Frequentemente, o uso de máscara não é apreciado pelos operadores porque estes sistemas de proteção são desconfortáveis. Infelizmente, quanto mais desconfortáveis, mais seguros.

2. Clark S., Rylander R., Larsson L. Airborn ebacteria,endotoxinandfungi in dust in poultryandswineconfinementbuildings. Am. Ind. Hyg. Assoc. J. 1983; vol.44: pp. 537-541.

Todavia, no ciclo de produção suína, existem setores e atividades nas quais a exposição é maior. Nesses casos, o uso da máscara é recomendado: tratamento dos leitões, movimentação dos animais, alimentação, carregamento, etc. Para os trabalhadores que já têm algum tipo de problema respiratório, será necessário usar dispositivos mais complexos de filtragem do ar. A prevenção da exposição ao H2S necessita de protocolos muito rigorosos e da disponibilidade de dispositivos de alarme. A estocagem de grandes quantidades de dejetos deve ser realizada longe dos galpões, e a gestão não deve prever operações ou atividades que sejam realizadas individualmente, ou seja, devem estar presentes ao menos duas pessoas. Quando a estocagem é feita abaixo do piso fissurado, o ambiente deve estar livre de animais quando feita a remoção dos dejetos. Se a entrada de pessoas nestes locais for necessária, elas devem ser treinadas para esta operação de remoção, e todos devem ser informados a respeito do perigo da concentração de H2S, que em baixas concentrações não têm odor, mas que ao superar 1.000 ppm podem causar a perda de consciência e parada respiratória imediata. Conclusão A sustentabilidade de qualquer escolha produtiva depende dos seguintes fatores: renda econômica, proteção do ambiente, do capital humano e correta relação entre o produtor e seus funcionários são a base de qualquer solução vantajosa para todas as partes envolvidas, garantindo a ocupação, segurança e benefício econômico. Em termos referenciais, a colaboração entre a profissão de veterinária e medicina do trabalho resulta em um recíproco aumento dos conhecimentos, úteis à segurança, à saúde e à produtividade da granja.

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Allen D’ Leman Swine Conference Saint Paul - Minnesota/EUA “Soluções guiadas pela ciência” Antonio Palomo Yagüe Diretor da Divisão de Suinocultura SETNA NUTRICION – INZO antoniopalomo@setna.com

Introdução

A

41ª edição do Allen D’Leman Swine Conference, realizada de 14 a 18 de setembro de 2014, em Sant Paul - Minnesota, teve como tema “Soluções guiadas pela ciência”. Nesta edição, Dr. Antonio Palomo Yagüe fez um resumo de forma direta e prática das principais conclusões da Conferência sobre Suinocultura, organizada pela Universidade de Minnesota, por meio de seu departamento de educação continuada, gerenciado hoje pela Dra. Montserrat Torremorell, o que nos enche de orgulho. O evento é uma homenagem ao médico-veterinário Dr. Allen D. Leman (1944 1992).

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Participaram desta 41ª edição 850 médicos-veterinários especilaistas em suínos, sendo a maioria dos Estados Unidos, e um número notável de parceiros asiáticos (China e Japão), além de representantes do Canadá, Brasil, México, Holanda e Alemanha. O programa foi composto de seis seminários pré-evento, realizados durante o final de

semana anterior, além de quatro palestras magistrais, dez intervenções específicas, 70 conferências e ainda uma grande sessão com 60 posters, dos quais uma comissão de três pessoas selecionou quatro para apresentação oral. A primeira palestra magistral foi sobre a diarreia epidêmica suína, devido ao interesse científico e às perdas econômicas acentuadas que ela vem causando nos EUA e na Ásia, o que foi, na verdade, o tema principal da reunião. Durante a reunião destacaram-se alguns profissionais pelo trabalho na suinocultura em nível mundial, entre eles o Dr. Joo’s Career, menção honrosa pelos seus 34 anos como virologista na Universidade de Minnesota, com 11 patentes e 133 publicações científicas de alto impacto; entrega do prêmio Leman Award 2014 ao Dr. LucDufresne; leitura da tese de doutorado sobre epidemiologia do Mycoplasma hyorhinis nos sistemas de produção norte-americanos, da Dra. María José Clavijo; e o prêmio com distinção à dissertação de mestrado sobre a epidemiologia e implicações econômicas dos sistemas de filtragem de ar na prevenção da síndrome respiratória e reprodutiva suína (PRRS, na sigla em inglês) em granjas de grande porte, da companheira veterinária espanhola Dra. Carmen Alonso. Como estrutura para esse resumo, Dr. Palomo organizou e agrupou o conteúdo em dez sessões, começando cada referência pelo primeiro autor de cada trabalho, no esquema seguinte: • Diarreia epidêmica • Sanidade geral • Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína (PRRS) • Gripe suína • PCV2 • Mycoplasmas spp • Manejo e bem estar • Nutrição • Reprodução

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• Miscelânea


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DIARREIA EPIDÊMICA SUÍNA (DEP, na sigla em espanhol, ou PED, na sigla em inglês • MARK ENGLE – O surgimento recente do coronavírus suíno na América do Norte. A perspectiva de um virologista. o As apresentações clínicas são agudas em leitões lactentes. o O vírus afeta somente os suínos, nenhuma outra espécie animal e nem humanos. Os alimentos derivados de suínos são seguros para consumo humano. o Os primeiros casos datam de 1971, na Europa. Nos EUA começaram em maio de 2013. Atualmente, nos EUA, também estão sendo diagnosticados casos de diarreia por outro coronavírus, o PDCv (delta coronavírus suíno). Este vírus não dá proteção cruzada contra o vírus da DEP (DEPv), diferenciando-se inicialmente por sua apresentação epidêmica. Em um estudo de prevalência realizado nos EUA, em vários Estados, ambos os vírus comportaram-se de modo muito semelhante. O DEPv cumpre os postulados de Koch e, quando da infecção de reprodutoras, elas apresentam fezes escuras aos dois dias pós-inoculação e diarreia depois do terceiro dia. Passados oito dias da inoculação, todas as porcas voltam à normalidade, do ponto de vista clínico. Em experiências de contaminação via aerossóis, as porcas desenvolvem fezes pastosas a partir do quinto dia do estudo, revertendo o quadro para fezes normais no oitavo dia após o contato por via aérea. Leitões inoculados com o PEDv apresentam fezes amolecidas a partir do segundo dia pós-infecção, com 100% de morbidade e mortalidade variável segundo a leitegada. A detecção do vírus em amostras de fezes é alta no 3o/4º dias pós-infecção e, na maioria dos casos, também aos 14 dias depois. o O período de incubação do DEPv é de menos de 36 horas, e ele é eliminado nas fezes por períodos de 42 dias, ou até mais longos. o A DEP é uma doença idade dependente, quanto ao seu grau de severidade, chegando a 100% a mortalidade em leitões com menos de 10 dias de idade. o Os principais tecidos para o diagnóstico por meio de PCR, em leitões mortos/sacrificados, são ceco, cólon e linfonodos mesentéricos, durante 2 a 5 semanas após a infecção (as lesões histopatológicas intestinais são extensas). A detecção do vírus pela técnica da imuno-histoquímica em fluidos orais é viável. Nesse substrato, o vírus pode ser encontrado até, no máximo, 21 dias após a infecção. Todas as porcas soroconvertem no 14º dia pós-infecção, bem como alguns dos leitões que sobrevivem à infecção, quando se analisam amostras coletadas deles, por meio de técnicas de imunofluorescência e soro-neutralização.

A PED é uma doença idade dependente, chegando a 100% a mortalidade em leitões com menos de 10 dias de idade o A viremia está correlacionada com o tempo de isolamento. o Nos EUA, os quadros clínicos mostraram sua maior incidência entre novembro de 2013 e agosto de 2014, havendo uma redução até o momento atual, com a expectativa sobre o que acontecerá de novo nos próximos meses de inverno. o Atualmente, nos EUA, existem duas vacinas aprovadas, as quais a agência de inspeção de alimentos do Canadá permite que sejam importadas nos casos de emergência. Trata-se de uma vacina inativada clássica, da Zoetis™, e uma vacina de subunidade RNA, da Harris vaccines™. Ambas têm a intenção de induzir uma imunidade mucosal-lactogênica. Ainda há dúvidas quanto ao momento exato da vacinação em porcas gestantes, a necessidade do efeito booster e a duração da imunidade, entre outros aspectos.

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• ANDRÉS PEREZ – Epidemiologia espacial da PED. o Foi feito um estudo na Universidade de Minnesota, utilizando como variáveis de sazonalidade as distâncias entre as granjas e a direção do vento e usando diferentes testes epidemiológicos, como Cuzick-Edward’s, Knox Mantel, Scanstatistic e o teste direcional. Concluiu-se que as áreas e as épocas de maior risco para a propagação da doença são específicas e caminham em direções concretas nos estudos da Carolina do Norte e de Iowa. o Na Carolina do Norte mais de 70% das granjas estão localizadas em quatro regiões, com uma clara disseminação noroeste 33’8º. Estima-se que as distâncias críticas são de dois quilômetros, com uma rápida disseminação no prazo de uma semana. nº 54/2015 | Suínos&Cia


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• AARON SINGREY – Ensaio sorológico para a detecção de anticorpos contra o PEDv e o PDCv. o As técnicas para detectar anticorpos monoclonais de células infectadas pelos referidos vírus são a imunofluorescência (IFA), a imuno-histoquímica e o ELISA de bloqueio. o A IFA detecta anticorpos já na primeira exposição, aos 7/14 dias posteriores. o Está em fase de validação um teste de ELISA indireto para a detecção de anticorpos. o A detecção de anticorpos por vírus-neutralização, em leitões, guarda correlação com o grau de proteção.

Vista da entrada do COMO ZOO e Conservatório Marjorie McNEELY o Em Iowa, a disseminação foi sudeste 32’2º, sendo linear em trechos de dois quilômetros. o Em todos os casos, a percepção foi de que áreas de elevada densidade facilitam a transmissão. • DOUGLAS MARTHALER – Evolução do coronavírus suíno entérico. o Há três tipos de coronavírus que afetam o aparelho digestivo dos suínos: o vírus da gastroenterite transmissível (TGEv), o vírus da diarreia epidêmica (DEPv) e o delta coronavírus (PDCv). Além deles há outros coronavírus descritos em suínos, como o coronavírus respiratório suíno e o vírus da encefalomielite hemaglutinante. o Acredita-se que haja diversas cepas do DEPv e que o seu nucleotídeo possa mudar com o tempo. Já a diversidade genética do PDCv é muito limitada.

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• MICHAEL MURTAUGH – PEDv: Anticorpos e resposta imune. o A proteção frente ao vírus da PED demanda uma resposta imune da mucosa. Para isso é necessário que a via de entrada seja oral, assim como para a geração de IgA no lúmen intestinal. A técnica do feedback pode induzir uma imunidade suficiente, mas não completa, não havendo, nesse caso, a certeza de que o vírus desapareça e que não haja sinais clínicos. Ela promove a soroconversão, embora os títulos de anticorpos diminuam com o tempo. o Os anticorpos maternais são do tipo IgA, baseados sobretudo nos fragmentos proteicos S1 e S2. A duração da imunidade frente ao vírus está estimada em cerca de quatro meses. o A técnica de imunofluorescência é mais sensível que a de ELISA para se fazer as determinações sorológicas de anticorpos. Suínos&Cia | nº 54/2015

• MIKE EISENMENGER – PED: fatores de risco em novos surtos e efeitos na fase de creche. o Nas experiências em diferentes áreas geográficas, os padrões de disseminação têm sido diversos. Na região Sudeste (EUA), a dispersão geográfica foi definida pelo ar. Já a partir do Sul e no Centro-Oeste, a dispersão geográfica e o envolvimento aparente da alimentação em alguns sistemas prevalecem. o Os primeiros focos da doença surgiram em áreas onde a concentração de granjas de engorda é elevada. Os quadros clínicos (“linha da doença”) transferiram-se do Sul ao Norte, do final de 2013 ao princípio de 2014. o Os principais fatores de risco descritos são o tráfego de pessoas entre granjas, os sistemas de limpeza, caminhões de transporte de animais, caminhões de ração, equipamentos de vacinação e serviços técnicos. o Muitas granjas com sistemas de filtragem de ar instalados têm sido positivas para o vírus da PED. o Atenção especial às empresas de transporte, no que diz respeito à limpeza, lavagem e desinfecção dos caminhões; às áreas limpas; ao fluxo de caminhões entre granjas e áreas de produção; à troca de roupa e calçados dos motoristas e de seus auxiliares e à movimentação de leitões para engordas contaminadas. Recomenda-se a desinfecção de caminhões com propileno glicol a 20%. • IAN LEVIS – Estratégias para aclimatação de marrãs: epidemiologia no caso da reincidência de um surto. o O primeiro caso confirmado na empresa Iowa Select Farm foi em 17 de maio de 2013. Na primeira semana de dezembro (semana 48) havia 25 granjas de matrizes infectadas e na semana 5 de 2014, mais nove outras granjas. Hoje há 36 granjas infectadas pelo vírus da PED. o 52% das nulíparas expuseram-se ao referido vírus, entre 4 e 25 semanas de idade.


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o O número de reincidência de surtos da doença é relativamente limitado. O risco potencial para a ocorrência deles está nos equipamentos da granja, no armazenamento de dejetos sólidos, no transporte, na entrada de animais, na ração e no transporte dela, nos sistemas de manutenção e na transmissão aérea lateral. • JOE CONNOR – Exposição ao vírus vivo da PED: acompanhamento da vacinação e de casos interessantes. o As diretrizes de ação frente a um surto da doença começam no dia zero, com o desmame de todos os leitões com mais de sete dias de idade, nascidos de porcas infectadas. O risco está nas porcas cujo parto está previsto para menos de seis semanas, sendo, nesses casos, prioritária a permissão da exposição delas ao vírus vivo (feedback). Do mesmo modo, as reprodutoras com seis a 30 semanas de idade devem ser expostas. o Na sequência fecha-se a granja para a introdução de novas fêmeas, durante 16 a 30 semanas. o Inseminar todas as porcas com lactações superiores a sete dias, e o restante, aguardar até que entrem no cio. o Como medida de segurança podemos inseminar 15% a mais de marrãs de reposição durante 6 semanas para evitar desvios de partos por bandas. o Para preparar o feedback deve-se usar apenas seções de intestino grosso de leitões com não mais de cinco dias de idade. Coletar esse material, acondicioná-lo em plástico selado e refrigerá-lo. Cada seção de intestino deve ser macerada e misturada a 500 ml de leite fresco ou água não clorada. A dosagem recomendada é de um conjunto de intestino assim preparado para cada 15 porcas. o As duas vacinas já aprovadas para uso nos EUA são a do laboratório Harris™ (16/06/2014) e a da Zoetis™ (03/09/2014). Há uma grande va-

riação, de porca para porca, com relação aos níveis de imunidade gerados com base na IgG, ainda que os níveis de IgA no leite aumentem frente ao PEDv. Os leitões nascidos de mães vacinadas apresentam altos títulos de anticorpos neutralizantes. • SCOT DEE – Desenvolvimento de um modelo para avaliar o desempenho de filtros comerciais, após a exposição ao PEDv por meio de aerossóis. o A transmissão aérea é reconhecida como sendo uma possível fonte de disseminação do PEDv entre granjas. Já foram detectados vírus vivos em amostras de ar coletadas em infecções experimentais. o Foram observadas também diferenças na eficácia de distintos sistemas de filtração de ar. o Nas condições do referido estudo, o vírus vivo foi detectado associado a partículas de pequeno tamanho, em suspensão no ar. • ERIC NEUMANN – Uma investigação epidemiológica da ocorrência da PED em granjas do meio-oeste norte-americano que utilizam ingredientes de origem suína na ração. o Em um estudo empírico realizado no Canadá, os primeiros quadros da referida doença foram associados com a presença de proteínas originárias de plasma suíno na ração. o Fontes de proteína de plasma positivas para o PEDv, detectadas por PCR, geraram quadros da doença em todas as granjas acompanhadas. A pergunta é: o vírus presente no plasma e, consequentemente, na ração, é ou não infectante? Um estudo realizado nos EUA determinou que há uma baixa associação entre essas matériasprimas e os quadros de PED.

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• JULIO ALVAREZ – Impacto da PED nos suínos em crescimento. o Quando os suínos de engorda infectam-se com

Centro de Convenções River Centre nº 54/2015 | Suínos&Cia


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a presença de diarreias, a mortalidade fica entre 1% e 3%. o Em estudo comparando diferentes engordas, positivas e negativas para a PED, os resultados de produção mostraram redução no ganho médio diário de 30 para 100 gramas/dia, um aumento da taxa de conversão de 0,3 para 0,8 e um aumento da mortalidade de 6% para 18% da base. Não foi observado nenhuma influência sobre a média de consumo diário de ração por suíno. • DANE GOEDE – Atualização sobre a incidência do PEDv na produção de suínos dos EUA e o seu impacto nesse momento de estabilidade. o Entre outubro de 2013 e junho de 2014 foi relatado um aumento na incidência de focos dessa doença, nos EUA. Os quadros clínicos ocorridos entre julho e setembro de 2014 foram muito semelhantes aos ocorridos no mesmo período, em 2013. o Estudo realizado em 127 granjas infectadas, em dez diferentes sistemas de produção, revelou que o impacto sobre a produção de leitões desmamados entre 6 e 21 semanas é variável e que a recuperação dos valores relativos a eles é demorada. O impacto estimado sobre a produção, de um quadro agudo da doença, é de 2,6 leitões por porca por ano.

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• DARWIN REICKS – Disseminação e contaminação potencial por PED a partir de cachaços infectados. o O PEDv foi encontrado no sêmen de cachaços experimentalmente infectados, embora a origem de tal presença seja desconhecida. 25% dos cachaços manifestaram letargia; 50% deles, vômitos; e os outros 25% diarreia aquosa, 36 horas após a infecção. Todos os machos estudados foram negativos com relação à presença

Templo de St. Paul Suínos&Cia | nº 54/2015

do agente no sêmen. É possível que o prepúcio seja a fonte de contaminação para o sêmen, no ambiente, por meio da poluição por fezes e fluidos orais. • BRIAN McCLUSKEY – Equipe de resposta rápida: investigações sobre o coronavírus entérico suíno em plantéis positivos. o Foi encomendada uma pesquisa com o objetivo de melhor compreender as relações geográficas com outras operações possíveis, simultaneamente aos sinais clínicos, em granjas de múltiplos sítios positivas para a coronavirose entérica, levando em conta também outras razões epidemiológicas. Para tanto, no Ministério da Agricultura norte-americano (USDA) foi formada uma equipe de veterinários privados, veterinários ligados à universidade e veterinários com vasta experiência na produção de suínos, além de especialistas em epidemiologia e saúde pública veterinária e especialistas locais. • SHAUN KENNEDY – Da melamina à Salmonella. Lições de biosseguridade da indústria de rações para animais de companhia. o A indústria de ração para animais de companhia, nos EUA, está muito concentrada: oito companhias produzem 85% do referido alimento. o Muitos dos ingredientes, nesse segmento, são commodities importados de outros países. o A crise da melamina: em 20 de fevereiro de 2007 foi relatada a morte de três gatos, com sintomas clínicos muito semelhantes a um problema já ocorrido há três anos. Em março seguinte, mais nove gatos morrem, e o Food & Drug Administration (FDA, da sigla em inglês) encontra melamina em uma amostra de glúten de trigo importado da China, pela companhia ChemNutra™. Em abril seguinte, o governo chinês relatou a morte de uma pessoa e o adoecimento de outras 202 após o consumo de cereais matinais. A proteína de arroz de origem chinesa também estava contaminada, chegando, inclusive, a ser usada na ração para suínos de vários Estados norte-americanos (Califórnia, Nova York, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Utah, Kansas, Oklahoma e Ohio), o que colocou em quarentena imediata 6.000 suínos e mais outros 56.000 em seguida. O FDA encontrou a prova em 9 de maio de 2007. Isso implica em estarmos expostos a um sistema global de alimentos vulnerável, dentro do qual os governos nem sempre prestam sua plena cooperação. o A crise da Salmonella: também em 2007 houve vários casos de contaminação de ração de cães por Salmonella schwarzengrund, em vários Estados. Em 12 de setembro as fábricas de ração afetadas foram fechadas permanentemente.


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Em seguida, a indústria de rações para animais de pequeno porte realizou uma conferência, tendo como ponto central a segurança dos seus produtos e as medidas de controle preventivas na produção deles: boas práticas de fabricação (GMP, da sigla em inglês), entre outras. A segurança não é uma vantagem competitiva nestes casos, e essas crises servem para mostrar uma maior motivação. • MARTY MESENER – Evidência da transmissão do PEDv por meio da ração - experiência canadense. o Equipe de consultores na área de sanidade suína de Ontario. o Primeiro caso em Ontario em outubro de 2013, com suspeita de que a ração possa ser a origem do problema. o Encontradas amostras de ração e proteínas de plasma suíno positivas para o vírus da PED. o 24% do mercado de rações para leitões, no Canadá, está nas mãos de uma só empresa. o Foram realizados diferentes ensaios experimentais contaminando leitões por via oral e por meio da ração, expondo-os a 1,8 g de proteína de plasma/cabeça, havendo reprodução dos sinais clínicos da doença. • PAUL YESKE – Evidência da transmissão do PEDv por meio da ração, em sistemas de integração. o Foram analisados os fatores de risco relativos à entrada do PEDv em granjas dos EUA, considerando mais de 100 variáveis. o Na China, o arroz e o milho são secos nas estradas. o Desde 12/02/2014, matérias-primas e rações para suínos estão sendo analisadas nos EUA USDA. o O primeiro caso da doença em Minnesota ocorreu em uma granja negativa para PRRS e Mycoplasma, com infecção e adoecimento apenas de leitões desmamados, sintomas clínicos digestivos e mortalidade de 2 a 3%. o Foram revisadas todas as medidas de biosseguridade em granjas e fábricas de ração e ficou determinada a possibilidade de que as contaminações cruzadas nelas possam ser a origem dos casos de PED. • SCOT DEE – Transmissão experimental do PEDv por meio da ração na Companhia Pipestone™. o A ração não é um fator de risco para o PRRSv. o Entre maio e dezembro de 2013, a Pipestone™ teve duas granjas infectadas pelo PEDv e, em janeiro de 2014, sete outras granjas de matrizes foram infectadas, em um intervalo de uma semana.

A transmissão do PEDv pode ser devida ao consumo de rações contaminadas o Foi realizado um estudo nessas últimas granjas infectadas, por meio da coleta de amostras do ambiente, de caminhões, silos, ração, entre outras. o Utilizando uma ração contaminada propositalmente com o vírus, foi possível reproduzir o quadro clínico e as lesões da doença. o A contaminação das paredes dos silos é possível, ainda que haja granjas positivas com silos negativos.

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o O risco de que a ração ou os veículos introduzam o PEDv dentro das granjas é factível (matérias-primas contaminadas, ambiente contaminado), sem esquecer outros fatores de risco. o Assim, demonstra-se que a transmissão do PEDv pode ser devida ao consumo de rações contaminadas (BMC Veterinary Research, v. 10, n.176, 2014). • SAGAR GOYAL – E quanto à sobrevivência do PEDv e de outros coronavírus? o A dose infectante do vírus é extremamente baixa. o O vírus sobrevive nas fezes durante duas semanas à temperatura ambiente. o Em dejetos sólidos a 4ºC ele dura 28 dias, e a 25ºC, somente 7 dias. o Na agua, ele pode permanecer ativo por duas semanas. o Na ração molhada, mais de quatro meses, e na ração seca, uma semana. o Em rações tratadas a 120ºC dura entre 20 e 25 minutos, e a 90ºC e 30% de umidade relativa, uns 15 minutos. o Foram realizados diferentes ensaios, com dinº 54/2015 | Suínos&Cia


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Conservatório Marjorie McNeely versas matérias-primas incluídas: subprodutos de destilaria (DDGS, na sigla em inglês), proteína plasmática, farinha de sangue e farinha de carne, entre outras. • JASON WOODWORTH – Opções práticas para atenuar o PEDv durante a produção da ração. o Rações compostas completas podem ser veículo para o PEDv. 40

o Foram realizados ensaios com diferentes concentrações virais na ração, em leitões com 10 dias de idade, havendo reprodução da doença em toda a sua extensão clínica e lesional. o Amostras de ração analisadas por meio de PCR indicam que o vírus pode ser detectado na dose de 5,6 x 10 TCID50/g. o São várias as alternativas para a sua desativação, embora com resultados ainda não totalmente referendados, como segue:  Irradiação (gama): sua eficácia depende do tamanho das partículas virais e do tamanho do genoma. Não há ainda evidência clara de que a dose de radiação seja eficaz para inativar o vírus. Também não se sabe o seu efeito sobre certos nutrientes da ração.  Temperatura/tempo: a 160ºF o vírus dura 10 minutos, e a 68ºF inativa-se aos sete dias, em diferentes ensaios.  Ácidos e formaldeído: não há ainda estudos confiáveis que demonstrem a variação no pH suficiente para inativar o PEDv na ração. Os melhores resultados foram obtidos com a adição de formaldeído nela.  Outros estudos foram realizados no sentido de diminuir a quantidade de vírus na ração, com óleos essenciais, bisulfito sódico, clorato sódico e ácidos orgânicos, mas sem conclusões palpáveis até o momento. Suínos&Cia | nº 54/2015

• PETER DAVIES – Vias de risco associadas aos ingredientes de origem suína. o Foi desenvolvido um modelo de riscos baseado na intersecção entre os riscos de procedimento (base científica), os de manejo (base política) e os de comunicação (base interativa). o Certas matérias-primas e produtos de origem animal estão enquadrados como fatores de risco (gorduras, produtos obtidos por secagem – plasma – e hidrolisados – peptonas). o Os riscos de contaminação pela ração são tanto verticais – por causa das matérias-primas, como horizontais – por contaminações cruzadas. o Nos EUA há cerca de 200 fábricas de gordura, de 36 empresas diferentes, e que produzem 22,7 milhões de toneladas por ano (85% destinado ao consumo animal). Há também um grande risco representado pelo uso de outros componentes como o teor de cinzas, os resíduos de proteínas e os microrganismos. Nesses casos, o tratamento térmico é prioritário, recomendando-se submeter o componente em questão a temperaturas superiores a 120°C, durante mais de 30 minutos, e a uma pressão variável em função do tipo de produto. o Os hidrolisados de proteína de origem suína, obtidos a partir de coprodutos enzimáticos da hidrólise da mucosa intestinal, para a extração de heparina devem ser submetidos a 60ºC a 65,6ºC, durante mais de 3 horas e a um pH de 7,8. o Os produtos obtidos do sangue, por meio de secagem e pulverização, já estão a meio caminho do tratamento térmico, e a metodologia empregada evita a alteração da qualidade nutricional, mantendo a ausência de vírus e bactérias. Há estudos que demonstram a segurança deles, e outros, o seu envolvimento no processo de contaminação. O risco da presença do PEDv em commodities é reconhecido. • TIMOTHY SNIDER – Biosseguridade na fábrica de ração: produção e distribuição do produto. o Desde junho de 2014, no Canadá, foi suprimido o uso de matérias-primas de origem animal na formulação das rações e tem sido observada uma redução na incidência da PED (que não se sabe ainda se é devida a isso ou a um fator estacional). Para tanto, teremos de esperar a passagem do outono e do inverno. o Os riscos de contaminação nos processos de fabricação estão tanto nos pré-manufaturados (matérias-primas contaminadas), manufaturados (contaminações cruzadas) e na pós-fabricação (derivados também dessas referidas contaminações cruzadas). o A contaminação cruzada entre caminhões e pessoas tem sido demonstrada.


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• CASSIE JONES – O lado da regulamentação sobre alimentação animal nos EUA. o As leis norte-americanas que regulamentam a fabricação de rações são definidas pela Association of American Feed Control Officials-Food and Drug Administration (AAFCO-FDA, na sigla em inglês). o As boas práticas de manejo são classificadas em diferentes categorias e, dentre elas, em diferentes tipos. o Desde 2009 está proibido o uso de proteínas de origem animal na alimentação de ruminantes. Primeiro foi proibido em 1997, voltando a ser regulamentado, e agora já faz cinco anos que foi proibido novamente. o Está em fase de organização um novo documento relativo à modernização da Lei de Segurança Alimentar, o qual responderá às demandas sociais e produtivas, com foco muito maior na prevenção das contaminações do que na sua detecção. A redação do regulamento final estará pronta em 30 de agosto de 2015, estando previsto a partir daí o prazo de um a três anos para a sua solidificação, com eventuais correções, complementações e normativas. o Nesse referido plano de segurança alimentar serão incluídas as análises de risco, assim como as bases preventivas para controle.

o Os fatores de risco potenciais dividem-se em físicos, químicos, radiológicos e biológicos (aqui há ainda alguma dúvida sobre a inclusão do PEDv). • MIKE TOKACH − No final do dia, nós ainda precisamos alimentar os suínos. o É importante pensar no que já sabemos e no que foi descrito anteriormente. o A evidência de que a ração pode transmitir o PEDv está clara (estudos realizados por Goyal e Dee e em Iowa, Kansas e Minnesota). o O efeito da concentração viral na manifestação da doença é previsível. o A dose infectante mínima e os intervalos de contaminação podem ser inferiores aos demonstrados em laboratório. o Uma ração ou matéria-prima positiva para o PEDv, por PCR, não demonstra que o vírus seja necessariamente infeccioso. o A infectividade do PEDv declina com o tempo. O calor ajuda a reduzir sua referida capacidade infectiva. o Muitas matérias-primas têm menor capacidade de serem contaminadas do que outras. o O tráfego de caminhões e pessoas contribui para a propagação do vírus (amostras ambien41

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efeito aditivo quando da infecção com ambos os vírus, o qual causa maiores perdas do que as esperadas quando há apenas um agente. SANIDADE GERAL • MARK ENGLE – O que mais está em nossas telas de radar? o Os vírus conhecidos como infecciosos para os suínos são classificados por Baltimore em grupos, de acordo com as suas características (DNA, RNA, cadeia simples, cadeia dupla). o Os oito vírus de maior impacto econômico nos mercados de exportação e os agentes de zoonoses são febre aftosa, peste suína africana, peste suína clássica, gripe, Aujeszky, doença vesicular, estomatite vesicular e PRRS. Museu de Ciências de Minnesota tais positivas para o PEDv). Assim, o fluxo de ambos deve ser auditado corretamente e não deixado ao acaso, como uma medida de redução de riscos. o A programação da distribuição da ração entre granjas e as fases de produção (maternidades, creches e engordas) é de extrema importância para a redução do risco de transmissão. o Um programa de auditoria ou controle laboratorial das principais matérias-primas de risco (proteínas, gorduras e hidrolisados de origem animal, aditivos vindos da Ásia) é extremamente eficaz na redução do risco de transmissão.

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o Em uma reunião realizada em Chicago, em 30 de julho de 2014, foi criado um grupo de trabalho para investigar as possíveis rotas de transmissão de patógenos da Ásia para a América do Norte, visando a determinar o papel das doenças emergentes. As principais conclusões foram as de criar um livro em branco para cada agente, identificando os conhecimentos básicos principais a respeito de cada um; estabelecer um plano de sobrevivência, em caso de alguma emergência envolvendo qualquer um desses agentes em nível internacional; definir os papéis do governo e da indústria, em um esquema de resposta rápida aos mesmos; identificar as técnicas de diagnóstico mais sensíveis e estudar as estratégias e planos de vacinação para um controle preciso.

• OUTROS o O coronavírus pode ser isolado de pessoas que trabalham em granjas positivas em 20% dos casos, particularmente de amostras colhidas das narinas e ouvidos. A presença do vírus em granjas brasileiras, detectado pelas técnicas de imunofluorescência, imuno-histoquímica e PCR em focos surgidos a partir de 2013 é evidente. o Protocolos simples de reinfecção por feedback induzem boa imunidade, a qual chega a proteger por cerca de quatro meses. O melhor é realizar de duas a três reinfecções, com um intervalo de três semanas entre elas em todas as reprodutoras, usando material de origem intestinal (leitões), bem coletado, conservado e titulado frente ao PEDv por meio de PCR. A soroconversão já costuma ser observada 3 a 5 semanas após o processo, voltando os anticorpos aos níveis basais às 9 semanas, na maioria das porcas. o As coinfecções com o vírus da PRRS em suínos de engorda provocam um atraso no crescimento e pioram a conversão alimentar, havendo um Suínos&Cia | nº 54/2015

• PAUL SUNDBERG – Trabalhando em nossa preparação. o É importante haver uma resposta coordenada entre os governos federal e estadual e a indústria, no caso de crises sanitárias. A indústria precisa ser a responsável por lidar com os problemas sanitários no nível da granja e estar preparada para o que vier. o Fazer uma introdução sobre o trabalho no nível da granja, focado em medidas de biosseguridade, no transporte e no tráfego de veículos, animais e alimentos. Para isso temos de dispor das técnicas de diagnóstico por PCR para detectar vírus em matérias-primas, aditivos e ração. • LIZ WAGSTROOM – Passos à frente: doenças emergentes. o Trabalhar, na associação de produtores (NPPC, na sigla em inglês), em uma matriz das principais doenças, com resposta às patologias emergentes e aos controles de fronteira. Esse plano de resposta inclui as responsabilidades


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dos governos e as organizações da indústria, responsável por coordenar as estratégias de controle entre ambos. Foi criada a Comissão de Coordenação da Saúde Suína, nos EUA, formada por líderes da produção de suínos locais, veterinários especialistas em suínos e o serviço oficial de veterinária do USDA (equivalente ao MAPA, aqui no Brasil). o As principais lições aprendidas com os surtos de PED nos EUA foram as seguintes: ausência de uma única entidade que centralizasse a evolução; que os canais de comunicação não identificassem previamente o desenvolvimento dela; que as autoridades não entendessem bem o escopo do problema e que os recursos humanos não o identificassem corretamente. • AL ROCK – O surgimento da peste suína africana (Universidade de Illinois). o ‘’O mais importante é o próximo’’

o Nos EUA, de acordo com o USDA, todas as granjas são livres de peste suína africana (ASF, na sigla em inglês). No entanto, consideram que grandes populações de suínos estão em risco em pequenas áreas. A estrutura, tamanho e sistema de integração do mercado norte-americano favorece a rápida propagação de uma doença. O exemplo é o de 8 milhões de suínos mortos nos EUA por PED, desde abril de 2013 (segundo o NPPC). Outros casos semelhantes têm sido estudados: a peste suína clássica na Holanda, entre fevereiro de 1997 e maio de 1998, com um milhão de suínos mortos; a febre aftosa de Taiwan, em 1997, com uma baixa de mais de 4 milhões de suínos, e esse mesmo problema no Reino Unido, em 2001, com mais de 6 milhões de suínos mortos/abatidos. o Diante da pergunta sobre a origem da catástrofe sanitária, um dos principais problemas é o período que decorre entre a introdução do vírus e a sua detecção (relação direta). Assim, a detecção precoce e a rápida intervenção são fundamentais para minimizar as perdas econômicas. O diagnóstico rápido, principalmente antes do aparecimento dos sinais clínicos, desempenham um papel essencial. Assim sendo, a interação entre os métodos de diagnóstico laboratorial com as modernas tecnologias de comunicação reduziriam o impacto de qualquer patologia. o Na Espanha e Portugal, a ASF foi diagnosticada em 1957, tendo sua fase endêmica manifestando-se entre 1960 e 1995. No Brasil, a doença se manifestou entre 1978 e 1981, e, atualmente, está presente na Rússia, Lituânia e Polônia. Na Rússia, em 2012, causou 19 milhões de baixas, além de perdas estimadas da ordem de 240 milhões de dólares.

o O vírus da ASF é do tipo DNA, longo e icosaédrico, que se replica no citoplasma celular, da família Asfarviridae e o único Arbovírus do tipo DNA. Ele infecta de forma persistente apenas carrapatos e membros da família Suidae, sendo altamente letal para os suídeos quando em infecções agudas (100% de mortalidade), ocorrendo também casos subclínicos. Todos os suínos domésticos são suscetíveis, sendo o curso da doença de dois a sete dias e não havendo ainda vacinas disponíveis, em nível mundial. o O vírus replica-se e se dissemina no sistema de fagocitose (células mononucleares), persistindo de forma latente durante longos períodos. o A transmissão ocorre por via oronasal, por contato direto e por meio de utensílios contaminados. o O vírus é estável no meio ambiente: 11 dias na fezes e de três a seis meses nas mãos. o Os principais problemas práticos relativos ao controle da doença, na Rússia, são a circulação viral nas populações de javalis, as pobres medidas de biossegurança, o movimento ilegal de suínos e seus produtos, a falta de coordenação entre os serviços veterinários e as lacunas nas políticas administrativas para a erradicação de doenças, com a ausência de um programa desse tipo em nível nacional.

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o As considerações sobre o ASFv concentram-se nas variações de cepas e em suas variabilidades desconhecidas. Na proteção cruzada, a qual revelou-se ineficaz, o papel dos anticorpos neutralizantes e dos monócitos é duvidoso, e o papel do antígeno viral, responsável pela proteção imunitária, é pouco conhecido. o Foi apresentado um estudo sobre o uso, em regiões não endêmicas, de uma vacina experimental viva e atenuada por engenharia genéti-

Ponte Itasca - St. Paul nº 54/2015 | Suínos&Cia


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ca, conhecida como Pr4 9GL, a partir da identificação e categorização dos fatores de virulência e dos genes do hospedeiro. SÍNDROME RESPIRATÓRIA E REPRODUTIVA SUÍNA ou PRRS • CARMEN ALONSO – Efeito da técnica de ionização eletrostática de partículas (EPI) na atenuação das viroses causadas por PRRS, PED e FLU por meio de aerossóis. o Os vírus da PRRS, da PED e da gripe (FLU, na sigla em inglês) são isolados no ar dos alojamentos de suínos infectados. Estes vírus deslocamse associados a partículas. o A distância para que o vírus deposite-se e penetre no trato respiratório depende do seu grau de infectividade e sobrevivência (dinâmica de transmissão). o Os sistemas de filtração de ar reduzem o risco de introdução de patógenos, e as tecnologias de higienização do ar têm potencial para reduzir o risco de transmissão de agentes patogênicos por via aérea. Os sistemas de ionização de partículas atuam com base na emissão de íons negativos, que interagem com as partículas de ar e são altamente eficazes na renovação de partículas grandes (> 1 micron). Alguns bioensaios mostraram que estes sistemas são eficazes contra certos vírus, embora seja necessário ainda mais estudos de campo que se correlacionem – em nível prático – com os anteriores. A maior eficácia dessa tecnologia ocorre frente ao FLUv, em seguida contra o PEDv e, finalmente, contra o PRRSv.

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• MONTSE TORREMORELL – Padrões para teste

Vista do jardim na avenida Suínos&Cia | nº 54/2015

de filtros e os filtros de ensaio utilizados frente ao PRRSv. o Os métodos com foco na eficácia dos sistemas de filtragem de ar, baseados no tamanho de partículas, não são padronizados. Não há uma orientação clara sobre a duração do período em que eles funcionam e o tempo para substituílos (12 ou 36 meses?). Testes realizados com a utilização dos filtros MERV14 e MERV16 dão resultados muito semelhantes em termos de eficácia na renovação de partículas. Há maior variação e discrepância com relação às partículas muito pequenas (< 2 µm). • DARWIN REICKS – Filtração: 10 anos e 100 granjas depois… o que aprendemos. o Foi realizado um estudo com filtração de ar em centrais de inseminação, de tal forma que no período de 2000 a 2004 foram detectados nove surtos de PRRS, enquanto que no inverno de 2005/2006, após a instalação do sistema, não houve nenhum. o Outro estudo, em 12 granjas onde durante os cinco anos anteriores à instalação dos filtros houve 12 surtos da doença, também não ocorreu nem mais um caso, no inverno de 2006/2007. o A instalação de filtros de ar em 102 granjas, desde 2005, não eliminou os surtos da doença. A partir do referido ano até 2014 foram diagnosticados, por ano, 8, 4, 10, 12, 2, 15, 18, 16, 8 e 15 surtos, respectivamente (mais de 10% das granjas estão infectadas, apesar de terem o sistema de filtragem de ar instalado). • OUTROS o Há dúvidas razoáveis sobre qual teria de ser o tamanho da amostra para analisar, por PCR, após o fechamento de uma granja considerada estável ou negativa, em seguida de um programa de controle e/ou erradicação. o Um número de abortos semanais foi definido em um trabalho como indicador de infecções pelo SRRPv em uma granja (sensibilidade de 81%). Não houve diferenças estatísticas entre as granjas que utilizam programas de controle com vacinação, sejam elas vivas ou atenuadas. As marrãs de reposição não devem ser retiradas da instalação de adaptação antes de 120 dias após a exposição ao vírus residente, numa tentativa de se estabilizar o desafio na granja. o A proximidade entre granjas está identificada como um fator de risco para o mesmo genótipo, mas não para outros genótipos do PRRSv. O transporte tem um papel ainda desconhecido na relação entre a transmissão aérea por partículas e o vírus vivo, nos bioaerossóis. o As infecções pelo PRRSv reduzem significativamente a deposição dos tecidos (cerca de 15%,


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em média), afetando principalmente, de modo negativo, a digestibilidade da matéria seca, do nitrogênio e da energia bruta. Este custo energético corresponde à resposta do sistema imunológico frente à depuração de proteínas, devido a alterações nas taxas metabólicas. Alguns aminoácidos são necessários para a síntese de células imunitárias (gliconeogênese). o Estima-se em US$ 2,84/leitão o prejuízo de um surto de PRRS na maternidade ou na creche. INFLUENZA SUÍNA • ANDREW BOWMAN – Influenza e as feiras de animais: atualização da pesquisa. o Foi feita uma revisão nas feiras e exposições de animais, entre 2009 e 2013, para tentar identificar fatores de risco. Os vírus da gripe suína identificados em humanos foram o H3N2 e o H1N1 pdm09, durante 2011, com transmissão entre espécies. Suínos desempenham um papel fundamental na ecologia e na epidemiologia do vírus influenza A, que infecta os humanos. A transmissão requer um contato estreito entre suínos e pessoas. Nos EUA estão definidas três áreas de disseminação: granjas comerciais, abatedouros, feiras/exposições agrícolas e de animais. o Foram tomadas amostras de suínos em 53 feiras/exposições, no Estado de Ohio, e uma análise mostrou que 22,6% delas estavam infectadas com o vírus da influenza. Entre os animais testados, 83,3% estavam aparentemente saudáveis, e 14,4% eram positivos para o vírus da influenza do tipo A, tendo sido detectado pela primeira vez em um evento desse tipo em 2011, o gene pdm09. As feiras/exposições agropecuárias oferecem maior risco potencial de contaminação para o público do que as granjas comerciais. Mais de 50% dos vírus da influenza A isolados correspondem ao H1N1.

O vírus da Influenza mantém-se nos suínos por muito tempo de forma endêmica, manifestando-se clinicamente e sendo disseminado rapidamente na população do vírus da influenza variou de US$ 3,23 até US$ 10,41/suíno, no caso de infecções combinadas com o PRRSv. O vírus Flu mantém-se nos suínos por muito tempo, de forma endêmica e se manifestando clinicamente, disseminandose, assim, rapidamente na população (estudo realizado em 52 granjas produtoras de leitões desmamados, com histórico de sinais clínicos). O uso de vacinas ajuda a reduzir a transmissão e os sinais clínicos e deve ser associada a outras medidas de manejo.

• MONTSE TORREMORELL – Influenza nos mercados de animais vivos. o Nos EUA, durante o ano de 2012 os casos de influenza viral afetaram 306 pessoas, em dez Estados, havendo 16 hospitalizações e um óbito (um humano exposto a suínos em uma feira local). Em 24 de agosto de 2012 foram identificados, em Minnesota, dois casos de H3N2, também oriundos de exposição a animais vivos em mercados, e um terceiro caso em 10 de dezembro.

• ANDRÉS DIAZ – Cocirculação das viroses do tipo influenza A nas populações de suínos. o Os fatores que afetam a diversidade do vírus da gripe são a evolução natural, a movimentação de animais, a introdução de novos vírus e o uso de vacinas. A infecção pelo vírus da gripe é diferente, com base nas subpopulações. Sua cocirculação foi identificada em marrãs de reposição (selecionadas da própria granja e/ ou compradas) e em leitões. Vários subtipos e diferentes cepas virais foram encontrados recircuando entre as diversas subpopulações de suínos. Os leitões, no desmame, podem ser uma fonte ou reservatório do vírus da gripe e base para a recirculação de dois ou mais vírus posteriormente. Uma alta proporção de suínos pode se reinfectar novamente após o desmame. Muitas cepas virais podem persistir ao longo do tempo, tanto no nível individual como populacional.

• MATT ALLERSON – Estratégias vacinais e fatores de risco associados à influenza em leitões no desmame. o Em diferentes estudos, o impacto econômico

• MONTSE TORREMORELL – Dinâmica da influenza por meio dos aerossóis em suínos com infecção aguda. o A transmissão do vírus influenza entre suínos

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é direta, por contato entre indivíduos, e indireta, por meio do ar e de utensílios. A proximidade de granjas de suínos com granjas de perus pode representar um risco elevado, em um raio de 2,1 km. Todos os subtipos do FLUv foram isolados no ar, estimando-se que o vírus persista nesse substrato por até 21 dias. O vírus da gripe associa-se a partículas suspensas no ar, de vários tamanhos (0,3 a 10 microns).

de vida. Quando se utiliza vacinas no processo, a prevalência pode aumentar. A mesma situação repete-se em granjas com fluxo contínuo, comparando com as que adotam o esquema ‘’tudo dentro/tudo fora’’. o Os fluidos orais, no final da adaptação, são o melhor substrato para o diagnóstico e a monitoria da pneumonia enzoótica. Nos EUA a vacinação é praticada em cerca de 93% das granjas de suínos.

CIRCOVÍRUS SUÍNO

MYCOPLASMOSES

• LAURA SCHULZ-DALQUIS – Superando desafios no campo, na adaptação frente ao Mycoplasma hyopneumoniae. o O objetivo principal de uma adaptação correta das porcas nulíparas é a estabilidade do plantel de reprodutoras. Essa situação é ainda mais importante em granjas de grande porte positivas para o PRRSv. É essencial identificar as porcas positivas no momento da entrada em um novo setor de produção.

• EDUARDO FANO – Avaliando a dinâmica do Mycoplasma hyopneumoniae na aclimatação de marrãs. o A aclimatação/adaptação de nulíparas é um fator determinante de risco à estabilidade nas granjas, pois o M. hyopneumoniae pode persistir por até 214 dias após a infecção. o Em um estudo realizado em 963.750 porcas, de granjas positivas, a prevalência foi maior naquelas que adotavam uma taxa de renovação acima de 55%, em comparação com as que renovavam abaixo de 45%. o A idade das nulíparas, para se fazer uma adaptação correta, deve ser acima de 25 semanas

• OUTROS o As variações nos níveis de detecção de anticorpos dos padrões sorológicos frente ao M. hyopneumoniae, no processo de adaptação de nulíparas, costuma ser frequente entre os 100 e os 150 dias de idade. Aos cinco meses as leitoas são excretoras ativas dessa bactéria, durante o primeiro mês de estadia após a sua chegada na granja, nesta idade. A variabilidade na soroprevalência entre partos sugere uma exposição irregular ao M. hyo, resultando em subpopulações, que por sua vez dão origem a uma transmissão irregular de imunidade passiva aos leitões nascidos dessas marrãs.

• Baixos níveis de viremia são frequentes nas granjas de suínos, devido, fundamentalmente, à adaptação massiva aos programas de vacinação. Com quatro semanas de idade, os níveis de IgG são atribuídos à imunidade maternal, derivada da ingestão do colostro.

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MANEJO GERAL – BEM-ESTAR

Com 4 semanas de idade, os níveis de IgG são atribuídos à imunidade maternal, derivada da ingestão do colostro Suínos&Cia | nº 54/2015

• ANNETTE O´CONNOR – Como lidar com a dor nos leitões durante os procedimentos de manejo. o Os principais procedimentos de manejo em leitões, que envolvem estresse e dor, são castração cirúrgica, corte da cauda, corte dos dentes e procedimentos de identificação nas orelhas. Em busca de soluções para esses tipos de situação estão envolvidas mais de 60 organizações, conhecidas como um grupo de trabalho responsável por classificar, organizar, avaliar, revisar e publicar (GRADE, da sigla em inglês) uma série de diretrizes, com base em práticas responsáveis e de qualidade evidente (efeito estimado de confiança), que representem um equilíbrio entre danos e benefícios, valores e preferências e a utilização dos recursos disponíveis. o As recomendações feitas pelos painéis desses



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peritos concentram-se na utilização de uma mistura de CO2/O2 como anestesia geral para atenuar a dor da castração em leitões de um a 28 dias de idade. Além disso, ainda com o intuito de aliviar a dor durante esse tipo de procedimento, recomendam o uso de corticoides não hormonais, assim como a utilização de lidocaína. • ANGELA GREEN – Ambiente de transporte de suínos em temperaturas externas extremas. o Realizou um estudo sobre as consequências do transporte de suínos em temperaturas extremamente quentes ou frias. Quando a temperatura externa é de 27°C, no interior do caminhão pode chegar a 35°C. E quando, no lado de fora a temperatura é de -7°C, o interior do veículo pode chegar a -15°C. As paradas proporcionam um aumento rápido da temperatura no interior do caminhão. Os sistemas de refrigeração conseguem homogeneizar a temperatura para todos os suínos embarcados, sendo recomendado o uso de ventiladores para misturar o ar em fluxo constante. Esse procedimento melhora a uniformidade do clima interno do caminhão. • SHERRIE WEBB – Auditoria do bem-estar animal – sistema Pork check-off™. o O primeiro sistema de controle de qualidade homologado pelo Conselho Norte-americano dos Produtores de Suínos (APCC, da sigla em inglês) foi desenvolvido em 1959. o Na sequência veio o programa de Garantia da Qualidade no Transporte (TQA, da sigla em inglês), em 1989, que além de normatizar o car-

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regamento e o transporte de suínos, versava também sobre segurança alimentar, qualidade da carne e resíduos de sulfamidas. Revisto em 2001, o TAQ teve publicada a sua versão mais atual em 2007. o Em 2003 o programa de Garantia de Bem-estar dos Suínos (SWAP, da sigla em inglês) introduziu conceitos de cuidados com os animais dentro das granjas, e em 2005 foi complementado com um programa de cuidados (Take Care Program). Em 2008 foi publicado um programa sobre Cuidados com os Suínos (We Care), por iniciativa da indústria. o O programa PQA Plus concentra-se em melhorar os parâmetros para atender às expectativas dos canais comerciais, com programas de educação voluntários. 75,84% dos produtores de suínos norte-americanos fizeram este curso de formação, que emitiu 59.300 certificados ao auditar suas granjas. Os EUA exportaram 26% da sua produção de carne suína em 2013 (suínos vivos e carne) e o referido programa inclui a avaliação de sistemas de manejo e a observação dos animais e dos sistemas de produção (ar, alimentos, ventilação, biosseguridade). o Os objetivos finais de todos esses programas são a produção de alimentos seguros, a promoção do bem-estar dos suínos, a proteção da saúde pública e dos recursos naturais, a manutenção de um ambiente de trabalho seguro para os colaboradores e a contribuição com o bem-estar da comunidade. Todos os trabalhadores relacionados com o setor são treinados com relação aos cuidados com os animais e o manejo correto deles. NUTRIÇÃO

O bem-estar animal tem como objetivos principais a produção de alimentos seguros, a produção do bem-estar dos suínos e a manutenção de um ambiente de trabalho seguro para os colaboradores Suínos&Cia | nº 54/2015

• MARK KNAUER – Avaliando condição corporal e desempenho reprodutivo. o Uma redução correta do consumo de ração na fase de gestação, sem comprometer a condição corporal, favorece o consumo de ração na fase de lactação, sendo essencial avaliar as quantidades adequadas entre rações de gestação e de lactação, tendendo a maximizar a segunda. o A avaliação visual da condição corporal é altamente variável, por e entre as granjas, o que leva a uma redução nos rendimentos produtivos, uma vez que ela é subjetiva e imprecisa, com grandes desvios em sua avaliação. É preciso um treinamento contínuo das pessoas envolvidas, e a consequência principal é o consumo de alimentos muito baixo ou muito alto, o que faz com que a fertilidade seja reduzida e aumentem os problemas nos partos. As mudanças na condição corporal afetam negativamente os parâmetros reprodutivos, muito mais em marrãs (1º e 2º partos) do que em multíparas.


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O ganho de peso excessivo durante a gestação é mais negativo também nas marrãs. o Uma condição corporal adequada está ligada a um número maior de nascidos vivos, consequentemente uma menor taxa de natimortos, maior sobrevivência dos leitões na primeira semana de vida e maior número e peso dos leitões no desmame. Já uma condição inadequada implica em maior taxa de leitões nascidos mortos. • MATT CULBERTSON – Alimentando as porcas para uma vida produtiva máxima. o Boas nulíparas = boas porcas em produção. A longevidade das porcas é decidida no primeiro parto. Um leitão de diferença nesse parto equivale a + 0,4 leitões por leitegada nos próximos cinco ciclos. A longevidade é importante por ter um impacto sobre a rentabilidade, influenciando o custo dos leitões desmamados e dos suínos de engorda, com implicações sobre o bem-estar e a saúde do plantel. o As principais causas de renovação das porcas são as falhas reprodutivas, a baixa produção, a idade, os problemas de aprumo, os traumas e as mortes. o A infertilidade do verão aumenta os dias entre partos, os dias não produtivos e o intervalo desmame-cio. Aumenta também a taxa de repetições − regulares e irregulares – e o número de anestros, reduzindo as taxas de fertilidade e parição. o A nutrição para o desenvolvimento adequado de nulíparas deve ser ad libitum (sem restrições), pelo menos nos 18 dias que antecedem a cobertura fecundante. Além disso, sua faixa de ganho médio de peso diário deve ficar entre 650 g e 680 g, o que influenciará positivamente o tamanho da leitegada do primeiro parto. As unidades de adaptação delas devem ter densidades corretas, além de piso e comedouros adequados, bebedouros suficientes e com bom fluxo de água, boa ventilação, manejo bem conduzido e plano de seleção realizado por pessoal treinado. A relação nutricional lisina/ calorias deve ser semelhante à dos animais da engorda, sendo necessário o uso de dietas específicas a partir dos 65 kg de peso vivo. É essencial também que os níveis de cálcio, fósforo, oligoelementos e vitaminas sejam elevados, de modo distinto aos das fases de crescimento e terminação. o O manejo adequado das nulíparas na fase de adaptação às estações eletrônicas de alimentação, durante as duas semanas prévias à entrada em cio e à inseminação aos 140/145 kg de peso vivo, é um procedimento de manejo chave para a produtividade delas. o O intervalo do parto à inseminação (não ape-

Escultura da colher e cereja, uma das mais fotografadas nas do desmame à inseminação) tem influência sobre a entrada em cio das porcas, de modo que, se o consumo de ração ao longo deste período é maximizado, as porcas podem ser agrupadas para entrarem em cio dentro de 4 a 7 dias após o desmame. O consumo de lisina tem influência linear na produção leiteira, havendo um consumo mínimo recomendado de 62g/ lisina digestível. Quando fazemos um manejo preciso nas porcas desmamadas, elas tendem a comer mais ração do que a priori acreditávamos. Por isso, a partir do desmame deve-se fornecer vários tratos, além de água suficiente e suplementar a porcas, as quais são capazes de comer mais do que o estabelecido, na prática, do que o padrão da granja.

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• TIM JOHNSON – Modulando a microbiota intestinal do suíno com o fornecimento direto de microrganismos benéficos? o As publicações científicas sobre a microbiota na produção animal vêm aumentando desde 2005, devido, fundamentalmente, à proibição do uso de promotores de crescimento na Europa em 2006, ao surgimento de novos produtos para a saúde digestiva e às conclusões de estudos norte-americanos sobre a síndrome do peru magro (LTS, na sigla em inglês). o A flora microbiana digestiva é diferente entre espécies animais e entre si (perus e galinhas). Do mesmo modo, o ambiente do íleo e do ceco também são distintos. A microbiota muda com a idade e o peso dos animais. O microbioma pode ser modulado por meio da utilização de microrganismos vivos. • TOM BURKEY – Interações entre a flora hospedeira. Efeitos na nutrição e na fisiologia. nº 54/2015 | Suínos&Cia


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o Há uma interação entre nutrição, microbiota e saúde digestiva. Os cinco critérios-base para avaliar a saúde digestiva concentram-se nos mecanismos efetivos de digestão/absorção, na ausência de patologias no trato gastrintestinal, na estabilidade da microbiota intestinal, no estado imunológico efetivo e no bem- estar dos animais.

Igreja Central Presbiteriana o O trato gastrintestinal em indivíduos adultos contém bactérias e eucariotas de populações diversas. Essa referida flora é hospedeiro específica, variando entre as espécies (a dos suínos é mais variada que a dos humanos). Esta flora é dinâmica, porém estável, mas muda em função da nutrição, da sanidade e das doenças, nos suínos. Certos componentes não digeridos da dieta, como as proteínas, estão disponíveis por meio de processos de fermentação para a microbiota digestiva. Os principais produtos derivados da fermentação dos hidratos de carbono são os gases, os ácidos graxos de cadeia curta, o butirato, o propionato e o acetato. Não há provas de que os lipídeos ingeridos sejam degradados pela microbiota. Portanto, sua composição é afetada pela dieta (em humanos são óbvias as diferenças da microbiota digestiva entre as crianças europeias e as populações rurais da África). Assim, as dietas ricas em proteínas estão associadas a um maior número de bacteroides, e as ricas em carboidratos, a um número maior de prevotella. o Estão descritas, inclusive, diferenças na microbiota de porcas de primeiro a terceiro partos e em seus próprios leitões. o O consumo de proteína derivada de plasma tem efeitos benéficos sobre a microbiota em leitões desmamados, multiplicando as bactérias que degradam a celulose, aumentando a degradação do ácido butírico e promovendo uma redução na presença de bactérias patogênicas.

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• RICHARD FARIS – Nutrientes funcionais e a imunomodulação. o O desmame é um momento crítico na vida dos leitões, que têm suas implicações na susceptibilidade a patologias em função de: • Redução do peso das vilosidades intestinais, com redução na capacidade de absorção e de substrato livre, para alimentar a flora patogénica;  Degradação da mucosa intestinal;  Impacto negativo sobre o desenvolvimento das funções de barreira;  Incremento da permeabilidade intestinal à E. Coli;  Redução da capacidade de ingestão, a qual influi na digestão e nas defesas entéricas. o Farinha de proteína de plasma: aumenta o consumo dos alimentos, sendo seu papel oréxico atribuído principalmente à fração de imunoglobulinas (IgG – fração rica), que inibe o ataque de patógenos à mucosa intestinal, reduzindo, assim, a excreção de Escherichia coli em ensaios experimentais. Provoca também uma redução no pH gástrico e um aumento no peso das vilosidades do jejuno, reduzindo a sobrevivência da E. coli e aumentando a digestibilidade das proteínas. Ao mesmo tempo reduz a permeabilidade do cólon e do íleo, diminuindo a contagem de células da lâmina própria, mas não a massa de enterócitos ou a contagem de neutrófilos. o Em uma meta-análise realizada por meio de 36 ensaios, pela empresa Cargill, ensaios esses internos e externos, a inclusão de óxido de zinco entre 2.000 e 3.000 ppm na ração de leitões resultou em um maior peso (0,45 kg/ leitão), 21 dias após o desmame. O ZnO estimula a secreção de grelina e aumenta o IGF-1 e a CCK, atuando sobre a síntese de proteínas e aumentando a secreção da bile e das enzimas pancreáticas. Sua presença na ração também aumenta a concentração de histamina na mucosa intestinal, a qual está envolvida na inibição da degradação da massa celular. Contribui para reduzir o número de bactérias produtoras de ácido láctico e de lactobacilos, aumentando coliformes e enterococos no estômago, íleo, ceco e cólon (efeito negativo ao esperado, benéfico para a saúde digestiva posterior).


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o Os nutrientes não digeridos, procedentes do metabolismo proteico e de carboidratos, podem influir no equilíbrio da microflora intestinal; e seu impacto potencial, no estado de saúde dos suínos. As espécies proteolíticas, como os Clostridium, produzem amoníaco, aminas, indóis, fenóis e componentes azufrados, os quais favorecem a aderência dos patógenos na mucosa intestinal, aumentando o fluxo de nitrogênio e de amoníaco sanguíneo. • JEFFREY ESCOBAR – A ativação da imunidade altera o potencial de crescimento e a digestibilidade dos nutrientes? o Durante os processos infecciosos, o metabolismo e a digestão dos aminoácidos alteram-se. Os lipopolissacarídeos induzem uma resposta inflamatória, ao mesmo tempo que produzem citocinas inflamatórias e levam a episódios de febre e anorexia, causando também proteólise e redução da síntese proteica. o Estima-se que as proteínas de fase aguda, produzidas na fase inicial da doença, mobilizem 200 g de proteína muscular mais 13 g de nitrogênio (para cada animal de 100 kg de peso vivo), os quais são excretados como excesso. Observase um incremento nos níveis de fenilalanina e alanina no plasma, com redução nos níveis de isoleucina e metionina (esta logo se recupera). Assim, estima-se um balanço de aminoácidos no plasma, positivo para taurina, alanina e fenilalanina e negativo para lisina e tirosina. o A ativação do sistema imunológico reduz a digestão e a absorção de nutrientes da dieta, ao mesmo tempo que aumenta o catabolismo dos aminoácidos. Isso provoca uma alteração no balanço plasmático dos aminoácidos, penalizando muito a lisina e favorecendo a alanina.

ovários, dos hormônios esteroidais e incrementa o número de receptores de insulina, no nível ovariano (altera os ovários in vivo e os ovócitos in vitro). o A temperatura retal, tomada em nulíparas submetidas a estresse por calor no momento da inseminação, não tem nenhuma correlação com a fertilidade, nem com a sobrevivência embrionária e sim com o crescimento fetal médio. o A resposta das porcas expostas de forma precoce ao estresse por calor permite predizer sua reação ao referido estímulo nas etapas seguintes da sua vida. • LH BAUMGARD – Reduzindo o impacto da perda de produtividade sazonal. Qual é o problema? o Febre e hipertermia são dois conceitos totalmente diferentes em biologia. As genéticas atuais, mais conformadas com maior percentual de músculos, implicam em um aumento na produção de calor basal. O impacto do estresse térmico nos suínos de engorda varia de acordo com a genética e o peso de abate, que podem alterar a qualidade da carne. O estresse térmico e a saúde digestiva estão relacionados, de modo que provocam uma difusão massiva de sangue na pele e nas extremidades do animal para fazer com que o calor dissipe-se. Esta ação reduz a disponibilidade de nutrientes e oxigênio no nível dos enterócitos. A constrição e a isquemia dos órgãos digestivos leva a um aumento da permeabilidade intestinal e a um risco maior de enterotoxemias.

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REPRODUÇÃO • JASON ROSS – Entendendo a biologia da infertilidade sazonal. o Porcas nulíparas e multíparas expostas a estresse por calor, no momento da inseminação ou durante a primeira semana de gestação, geram leitegadas de menor tamanho numérico. A infertilidade do verão caracteriza-se por aumento nos dias entre o desmame e a inseminação e redução no grau de concepção e da taxa de fertilidade. o A maturação dos oócitos e seu consequente desenvolvimento posterior alteram-se pela expressão do RNA, havendo um impacto maior do estresse pelo calor quando ele ocorre na 21ª hora de maturação deles, o que leva à redução no desenvolvimento dos estados de blastocistos. O estresse térmico altera a produção, nos

A ativação do sistema imunológico reduz a digestão e a absorção de nutrientes da dieta, ao mesmo tempo que aumenta o catabolismo dos aminoácidos nº 54/2015 | Suínos&Cia


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o O estresse por calor incrementa a deposição de lipídios e reduz o teor de carne magra das carcaças dos suínos de engorda alimentados ad-libitum. Quando se restringe o consumo, o animal prioriza a deposição de proteína. Os efeitos indiretos do estresse térmico são modulados pela redução no consumo de ração. Porcas em gestação nos meses de verão têm uma propensão aumentada para a deposição de tecido adiposo. Podemos, então, concluir que o estresse térmico altera o metabolismo basal do suíno. o O estresse térmico produz, nos EUA, perdas econômicas anuais estimadas entre 350 a 450 milhões de dólares. • TIM SAFRANSKI – Impacto do estresse por calor “in útero” na composição subsequente do crescimento e da reprodução. o Existem ligeiras diferenças em relação aos dados de qualidade das carcaças de suínos submetidos a estresse térmico, sobretudo no nível da musculatura. Analisando as fibras musculares observam-se algumas variações na cor, as quais são raramente percebidas pelos consumidores. • JUAN LUIS ÚBEDA – Toxicidade plástica: implicações no desempenho reprodutivo.

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o Estudou a reprotoxicidade da lactona e de outros elementos plásticos, quando do contato direto entre os recipientes de envase e as doses de esperma. Esse efeito tóxico ocorre, inclusive, em concentrações dos referidos elementos muito abaixo dos valores de referência mínimos permitidos para embalagens de alimentos. A sinergia entre eles determina a toxicidade (Bis-

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fenol A ou BPA, um tipo de resina utilizada na produção de policarbonatos, em blisters plásticos para preservar doses de sêmen). • OUTROS o A melatonina a 5 mg, por via intramuscular na indução do cio de nulíparas, em ambientes muito quentes não tem efeito benéfico adicional sobre o PG 600. o O ácido linoleico fornecido a mais de 100 g/ dia tem um impacto positivo no tamanho futuro da leitegada, quando aplicado nas dietas de porcas lactantes. É essencial também que se propicie o máximo consumo de ração, desde o desmame até o momento da inseminação. MISCELÂNEA • PETER DAVIES – Antimicrobianos e o ambiente – MRSA (S. aureus metil-penicilina resistente) na suinocultura. o Muitos são os trabalhos indicando um risco mínimo do Staphylococcus aureus para a saúde humana, incluindo as resistências contra a metil-penicilina frente a ele, em suínos, os quais atuam como reservatórios dessa bactéria. As publicações na Europa, que falam sobre o incremento da referida resistência, contemplam mudanças nas práticas de amostragem, além da combinação de casos clínicos e subclínicos. As infecções clássicas em humanos correspondem a exposições ocupacionais (veterinários que lidam com suínos e funcionários de granjas). • TIM SINDER – Prevalência e epidemiologia molecular do Clostridium difficile em alimentos e animais de companhia, carnes no varejo e humanos, em Minnesota. o O Clostridium difficile produz colite pseudomembranosa em humanos desde 1978. Sua transmissão é oro-fecal, combinada com fatores ambientais e contágio por meio das mãos. A exposição a antimicrobianos é o maior fator de risco para a doença (fluoroquinolonas, clindamicina, penicilinas, cefalosporinas), já que essas drogas suprimem a flora saprófita do cólon. Uma nova cepa de C. difficile produz uma quantidade maior de toxinas A e B, sendo mais patogênica para pessoas acima de 65 anos, indivíduos entubados por via nasogástrica medicados com antiulcerativos e pessoas internadas em hospitais por longos períodos. Tais bactérias não foram identificadas em alimentos de origem suína, no Estado de Minnesota, e a cepa altamente patogênica NAP1/27 sequer chegou a ser identificada em animais.



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Vista geral em St. Paul • MIKE APLEY – Mudanças regulatórias nos antimicrobianos: AMDUCA and new regulations o O Ato de Esclarecimento sobre o Uso de Drogas Medicinais em Animais (AMDUCA, na sigla em inglês) definiu, em 1996, o registro federal de antimicrobianos hoje vigente nos EUA. Neste momento estão tratando de limitar o uso das cefalosporinas sem prescrição. A orientação para a indústria foi aprovada em abril de 2013 (GFI 209) e faz uma diferenciação entre promotores de crescimento, prevenção, controle e tratamento com o uso criterioso delas, como bases para a sua ação, segundo o Centro de Avaliação e Pesquisa sobre Drogas (CDERS, na sigla em inglês). O CDERS é um órgão do setor de Administração de Alimentos e Drogas (FDA, na sigla em inglês), que por sua vez é um departamento do Ministério da Agricultura norteamericano (USDA, também na sigla em inglês). o A AMDUCA, em seu segundo princípio, enfatiza que o uso de antimicrobianos para tratamentos terapêuticos por meio dos alimentos será limitado. Na suinocultura, os mais utilizados hoje, por essa via e por meio da água de bebida, são a clortetraciclina, a oxitetraciclina e a tilosina. As cefalosporinas são proibidas para uso via alimentos ou água, no setor de produção animal. Em dezembro de 2016 o FDA tem a intenção de publicar novas regras para o uso de drogas em animais. Em abril de 2013 ele já legislou, com base na prevenção da resistência aos antibióticos, priorizando a preservação de algumas drogas para uso exclusivo em tratamentos de humanos.

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• CRIS LEWIS – A estratégia do FDA com relação à resistência antimicrobiana. O papel de veterinários e produtores. Estratégia de uso criterioso. o O objetivo do FDA é fazer com que os veterinários façam o uso de drogas − em alimentos e na água para animais de produção − de forma Suínos&Cia | nº 54/2015

terapêutica e somente quando necessário. O órgão pretende também limitar o seu uso no prazo de dois anos (12 de dezembro de 2016 é a data prevista para que se estabeleça a regra definitiva). Isso afetará sete classes de antibióticos: aminoglicosídeos, lincosaminas, macrolídeos, penicilinas, estreptograminas (virginiamicina), sulfonamidas e tetraciclinas. o Dois dos princípios-chave descritos na normativa 209 (GFI 209) correspondem à limitação da utilização de medicamentos antimicrobianos que não sejam para uso exclusivamente terapêutico e ao aumento na assessoria e consultas aos veterinários correspondentes. http://www.fda.gov/antimicrobialjudicioususe http://fda.gov/NARMS http://fda.gov/animalantimicrobialsales • JOEL NEREM – A perspectiva do clínico veterinário com relação à resposta imune nos suínos. o Descreve um caso de TGE (gastrenterite transmissível) em uma instalação para adaptação de futuras reprodutoras, de uma granja de 3.000 matrizes na Dakota do Sul. Diferenciado dos quadros de diarreia epidêmica gerais em outras granjas, o caso em questão ressalta a importância do diagnóstico diferencial. • REGG NEIGER – Impacto da resposta imune nas interações entre patógenos suínos: TGE e o SIv (vírus da influenza suína). o A diarreia viral bovina (BVD, na sigla em inglês) teve grande impacto nos EUA em 1970, na sua apresentação subaguda, que causava febre alta, diarreia, alta morbidade e mortalidade significativa depois de várias semanas ou meses do início do surto, com complicações devidas a infecções secundárias (podo-dermatites e mastites). Como atenuante, se aplicada nos animais uma vacina intranasal, produzida a


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partir do vírus da rino-traqueíte infecciosa bovina (IBR, na sigla em inglês), vivo-modificado. Deste procedimento está sendo transferido o conhecimento para a PED (diarreia epidêmica suína). Por exemplo, até que ponto influenciam os quadros clínicos de gripe ou da disenteria na expressão dos da PED, com base na “tempestade” de citocinas, que também ocorre em casos de influenza humana? O importante, na veterinária, é saber que não sabemos ainda. • CHRIS CHASE – Doenças infeciosas. Inflamação e a “tempestade” de citocinas. o As células epiteliais e a primeira linha de defesa orgânica estão localizadas no trato digestivo, no trato respiratório, no aparelho reprodutivo e na pele. As funções fisiológicas das células epiteliais são de absorção, digestão, secreção e de barreira imunitária. A atividade imunológica das células epiteliais corresponde a um processo anti-inflamatório de peptídeos anti-bacterianos, à produção de citocinas e à apresentação de antígenos. A resposta anti-inflamatória inata mantém o equilíbrio entre a imunidade e a doença, com o recrutamento de células de defesa, a migração de neutrófilos e a inflamação aguda. O objetivo final é o de responder à manutenção da homeostase digestiva e à prevenção da inflamação aguda. o A microflora gastrintestinal tem uma ampla interação com a mucosa e com a ingesta. Os suínos têm mais de 500 × 1014 espécies diferentes de microrganismos comensais no trato digestivo, que são essenciais para o desenvolvimento da imunidade (interação entre o sistema digestivo, o cérebro e o sistema imunitário). • OUTROS o O Pulmotil™ (tilmicosina) mostrou-se efetivo no controle do Complexo Respiratório Suíno, associado à Pasteurella multocida e ao Haemophilus parasuis, na dose de 200 mg/l na água de bebida, durante cinco dias. o O Aivlosin™ (tilvalosina), no tratamento de leitões desmamados infectados pelo Mycoplasma hyosinoviae, pode ser detectado nos fluidos sinoviais. o A previsão do valor genético, quanto ao tamanho da leitegada, deve ser considerado tanto na linha fêmea como na linha macho. o Actinobacillus suis: responsável por quadros agudos respiratórios com ligeira tosse e mortes inesperadas em suínos de engorda. Causa também lesões de bronco-pneumonia púrpuras e áreas firmes de consolidação pulmonar, além de hemorragias e congestão pulmonar. o Ileíte: a presença de IgA e IgG em fluidos orais de leitões infectados experimentalmente com a Lawsonia intracellularis é detectada três se-

Edifício Coffman Memorial Union – Universidade de Minnesota manas após a inoculação pelo método da imuno-peroxidase em monocapa (IPMA, na sigla em inglês). Esta técnica é mais específica em amostras de soro, havendo uma correlação entre soro e fluidos orais aos 28 dias pós-infecção, da ordem de 90,38%. O produto Enterisol™ IIeíte, utilizado na vacinação de leitões permite que as bactérias não sejam eliminadas nas fezes no prazo de 21 dias após a imunização. Ensaios realizados por meio da prova de ELISA confirmam que essa soroconversão, aos 28 dias pós-vacinação, é baixa. o Brachispira hyodisenteriae: no Brasil foram identificadas seis cepas do referido agente, com padrões distintos (3 e 5 vs 1 e 4). Foi conduzido um ensaio com uma vacina inativada, aplicada em porcas reprodutoras tanto de granjas de seleção como de produção, com um intervalo de aplicação entre doses da ordem de três semanas. Houve redução dos sinais clínicos e das lesões, assim como uma melhora no ganho de peso médio diário. A B. rahampsonii foi identificada nos EUA, sendo o grupo I menos heterogêneo que o grupo II e − mais frequentemente − isolado mais o primeiro que o segundo. o Colibacilose: a vacina Porcilis™ Coliclos produz títulos mais elevados do que os títulos de anticorpos em leitões, em comparação com outras vacinas, em um ensaio levado a cabo pelos colegas da companhia CEFUSA, na Espanha . o Salmonela: há uma vacina viva, avirulenta, que inclui antígenos de Salmonella cholerasuis e Salmonella typhimurium, a qual se administra na água de bebida, antes que os leitões passem para o setor de engorda. O seu uso promove uma redução nas lesões e nos sinais clínicos, assim como melhora o ganho médio diário. A coadministração com o produto Enterisol™ Ileítie mostrou-se eficaz nas provas experimentais realizadas.

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Sumários de Pesquisa

Diagnóstico clínico de doenças pulmonares em suínos via termografia infravermelha

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Actinobacillus pleuropneumoniae (A.pp) é um agente causal de doença do trato respiratório suíno e tem provocado grandes perdas econômicas em todo o mundo. Novas pesquisas sobre a doença em si são necessárias, mas também novas abordagens profiláticas e terapêuticas merecem atenção. O objetivo do estudo realizado por Menzel, A. e colaboradores (University of Veterinary Medicine, Hannover, Germany – 23° IPVS Congress, Cancun, México, 2014) foi testar um novo método (termografia infravermelha de tórax) de alta especificidade, barato e não invasivo, para selecionar suínos com alterações básicas de pulmão para um diagnóstico conclusivo.

Método Exames clínicos, tomografia computadorizada (CT) e termografia infravermelha foram realizados em 50 suínos infectados por App e mais 10 suínos-controle, antes da infecção e também 4 e 21 dias após a infecção. Os escores de resultados clínicos (ClS, em inglês) foram registrados diariamente, de acordo com a classificação de Hoeltig et al (2008). Os escores de termografia computadorizada foram calculados conforme descrito por Brauer et al. (2012). Ambos permitiram a avaliação da severidade da doença durante o exame e foram comparadas com as conclusões da termografia infravermelha (IRT, em inglês).

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As imagens de IRT foram tomadas sob condição controlada de ambos os lados do tórax depois um período de arrefecimento de 15 minutos. A temperatura absoluta da superfície do pulmão e as diferenças de temperatura entre o pulmão e o abdômen foram comparadas entre os três dias de exames. Durante as necropsias no final do experimento, os escores de lesão pulmonar experimental (LLS, em inglês)) foram determinados de acordo com Hannan et al (1982).

Resultados Nos dias 4 e 21 após a infecção, foram encontradas correlações significativas entre escores clínicos, de tomografia e de lesões pulmonares; e também no dia 21, após a infecção, entre escores clínicos e de tomografia. Os fatores com influência sobre a temperatura da superfície da pele do tórax foram as temperaturas ambiente, da superfície abdominal e corporal. No dia 4, mas não no dia 21 depois da infecção, a temperatura torácica direita foi significativamente maior, e a diferença entre a região torácica na altura da 10ª vértebra esquerda e a região abdominal foi significativamente menor nos suínos infectados do que nos animais-controle.

Conclusão Um aumento da temperatura corporal acima do normal é um componente físico fundamental da inflamação, além do inchaço, dor e vermelhidão. A temperatura da pele é influenciada por diversos fatores, tais como suor, evaporação, perfusão vascular, metabolismo do tecido local e temperatura ambiente. De qualquer forma, imagens de termografia infravermelha capturadas sob condições controladas podem ser uma ferramenta de diagnóstico útil para monitorar a reação da fisiologia do paciente frente a diferentes tipos de estresse, tais como inflamatório ou térmico. Os resultados demonstraram que a termografia infravermelha pode ajudar na detecção de alterações inflamatórias pulmonares em suínos. O estágio agudo da infecção pode ser melhor detectado pelo padrão de temperatura via IRT do que os estágios crônicos. A questão da temperatura ambiente é o fator que mais interfere durante o diagnóstico da temperatura superficial. Entretanto, o exame por termografia não fornece informação sobre a etiologia da doença respiratória. Figura 1. Temperaturas de superfície de pele absoluta da esquerda e da direita do tórax em diferentes fases da infecção. Asteriscos indicam diferenças significativas entre os grupos (p≤ 0.05). Os suínos foram examinados em uma faixa de temperatura ambiente entre 7°C e 14°C durante a IRT

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Sumários de Pesquisa

Efeito da suplementação com selênio orgânico e vitamina E sobre o desempenho de crescimento e a qualidade da carne de suínos

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m dos aspectos da qualidade da carne que pode gerar alguns defeitos durante a sua transformação (cozimento doméstico, panificação industrial, secagem) diz respeito à estabilidade dos ácidos graxos (AG). De fato, alguns métodos de processamento promovem a peroxidação de ácidos graxos poli-insaturados. Quando se trata de enriquecimento em AG ômega 3 (ω3), a manutenção do produto processado com o nível destes AG na carne é uma prioridade para os processadores, baseado numa alegação nutricional. Nesse contexto, das soluções existentes para evitar a peroxidação, a mais estudada baseiase na suplementação da ração distribuída aos suínos no final da engorda com antioxidantes sintéticos, tais como a vitamina E. No entanto, esta prática dá origem a custos alimentares importantes e se prevê o uso de outros antioxidantes, menos caros. O selênio (Se) é um oligoelemento conhecido por suas propriedades antioxidantes. Ele está geralmente presente em forma mineral na dieta de suínos (i.e., selenito de sódio), mas suas formas orgânicas parecem ser melhor absorvidas especialmente em nível muscular, podendo ter efeitos benéficos sobre a qualidade da carne.

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Este estudo conduzido por Monziols, M. e colaboradores (Effect of an organic selenium supplementation on growth performance and meat quality in pigs. 47e Journées de la Recherche Porcine. Paris 3 e 4 de fevereiro, 2015) teve como objetivo comparar o crescimento e a qualidade da carne de suínos de terminação, alimentados com dietas que continham uma fonte de ácidos graxos ômega 3, suplementadas com compostos antioxidantes.

Método Dois grupos de 120 suínos, com idade média de 70 dias, foram separados por sexo (fêmea e castrados) e alocados em um estudo na estação de IFIP de Villefranche de Rouergue, França, segundo um delineamento fatorial 2x3. Foram comparados Suínos&Cia | nº 54/2015

o crescimento e a qualidade da carne de suínos nas fases de crescimento e terminação, alimentados com dietas que continham uma fonte de ácidos graxos, ômega 3 (linhaça extrusada) ou não (controle), e suplementadas com um dos seguintes diferentes compostos antioxidantes: selênio orgânico, selênio inorgânico ou selênio inorgânico mais vitamina E. O consumo de ração (à vontade) foi medido em cada baia, e os animais, pesados regularmente para o cálculo do índice de consumo e ganho de peso diário.

Resultados A suplementação com ômega 3 (ω3) aumentou o consumo de ração e o crescimento médio, porém não afetou o índice de conversão nem o índice de carne magra dos animais. O composto antioxidante não afetou o crescimento dos suínos ou as características da carne suína processada. Não se observou nenhum efeito significativo sobre a qualidade da carne (pH, cor, perda por gotejamento). Como era de se esperar, a incorporação de linhaça extrusada na dieta influenciou na composição dos ácidos graxos da gordura dorsal, mediante o aumento da proporção de ácidos graxos ω3. A peroxidação lipídica foi limitada nos grupos-controle suplementados com qualquer um dos compostos antioxidantes. A vitamina E reduziu bastante o nível de peroxidação lipídica nos grupos suplementados com ω3 em comparação com os suplementados somente com selênio inorgânico, apesar de que o nível de peroxidação permaneceu mais alto com a vitamina E em grupos suplementados com ω3 do que nos grupos-controle. Finalmente, a suplementação com ω3 ou compostos antioxidantes não teve efeito no processamento do pernil cozido.


Sumários de Pesquisa

Efeitos dos parâmetros seminais nos resultados da parição em matrizes suínas

Q

uando o número de espermatozoides por dose inseminante é reduzido para aumentar o número de doses por ejaculado, defeitos morfológicos, que costumam ser compensáveis, adquirem importância, pois podem levar à redução do tamanho da leitegada. Assim, falhas na monitoria da qualidade do sêmen podem resultar em significativas perdas econômicas, especialmente quando um cachaço subfértil é utilizado para inseminar um grande número de matrizes. Embora a correlação inseminante não esteja ainda bem esclarecida, já está claro que uma competente avaliação do ejaculado pode reduzir a variabilidade dos resultados reprodutivos. A esse respeito, a morfologia espermática, motilidade, pH, integridade de membrana e condensação da cromatina estão associados com o tamanho da leitegada, nascidos vivos e natimortos, assim como com retornos ao estro pós-inseminação. Avanços na avaliação da morfologia e motilidade espermática de cachaços entre as variáveis espermáticas e a fertilidade dos cachaços utilizados na produção de doses ocorreram com a utilização de tecnologias, como o microscópio de contraste de interferência diferencial de alta potência (DIC) e a análise espermática assistida por computador (CASA). A avaliação de motilidade do sêmen de cachaço realizada por meio do sistema CASA demonstrou correlações com a fertilidade, embora este procedimento esteja ainda por assumir um papel definitivo entre os parâmetros laboratoriais de predição da fertilidade.

O objetivo deste estudo (McPherson, F.J, Nielsen, S.G., Chenoweth, P.J. Semen effects on insemination outcomes in sows, Animal Reproduction Science 151, p. 28–33, 2014.) foi investigar a hipótese de que o ejaculado de qualidade seminal inferior, identificado pelo uso de técnicas convencionais e avançadas, poderia influenciar os resultados da inseminação, como o tamanho da leitegada, nascidos vivos e natimortos.

Método 1.205 porcas foram inseminadas artificialmente com doses monospérmicas de 166 cachaços. O sêmen foi analisado previamente quanto à concentração espermática, motilidade, velocidade, morfologia (usando microscópio DIC) e integridade de membrana, contagem de espermatozoides aglutinados, pH e temperatura de entrada no laboratório. O local de coleta era distante do laboratório de análise e, por isso, alíquotas refrigeradas (n°284) a 17°C foram transportadas no dia da coleta para o laboratório de andrologia para serem analisadas. À chegada ao laboratório, a temperatura do sêmen dentro da sua embalagem foi medida usando um termômetro a laser antes de ser aquecido a 37°C em banho de água.

Resultados

59

A percentagem de espermatozoides normais influenciou o n° de leitões nascidos vivos (P≤ 0,01) e o n° de nascidos totais (P ≤0,05) que, por sua vez, também foi influenciado pela percentagem de morfologia de cabeça anormal de espermatozoides (P≤ 0,05) e a presença de gotas citoplasmáticas distais (P≤ 0,01). A percentagem de natimortos foi influenciada pela frequência de espermatozoides com batida de cauda cruzada (P < 0.05) e a temperatura de chegada do sêmen ao laboratório (P < 0.05).

Conclusão O presente estudo forneceu evidências sobre as relações importantes que ocorrem entre variáveis de sêmen de cachaço e o tamanho da leitegada, bem como das variáveis relacionadas com o número de leitões nascidos vivos e natimortos. Vale ressaltar que a morfologia do esperma, particularmente percentagens de esperma normal, cabeças de esperma anormal e retenção das gotas distais, influenciou significativamente os resultados da IA. Interessante notar que a influência da morfologia espermática estendeu-se ao período pós fertilização para afetar aspectos da gestação e da viabilidade de recém-nascidos. A melhoria na capacidade de avaliar a morfologia do esperma do cachaço ou biomarcadores deles, de forma rápida, precisa e econômica, irá, sem dúvida, provar benefícios à reprodução de suínos e à produção em geral. nº 54/2015 | Suínos&Cia


Recursos Humanos

O Abacaxi: uma lição de gestão diferenciada

J

oão trabalhava em uma empresa há muitos anos. Funcionário sério, dedicado, cumpridor de suas obrigações e, por isso mesmo, já com seus 20 anos de casa. Um belo dia, ele procura o dono da empresa para fazer uma reclamação: — Patrão, tenho trabalhado durante estes 20 anos em sua empresa com toda a dedicação, só que me sinto um tanto injustiçado. O Juca, que está conosco há somente três anos, está ganhando mais do que eu. O patrão escutou atentamente e disse: — João, foi muito bom você vir aqui. Antes de tocarmos nesse assunto, tenho um problema para resolver e gostaria da sua ajuda. Estou querendo dar frutas como sobremesa ao nosso pessoal após o almoço. Aqui na esquina tem uma quitanda. Por favor, vá até lá e verifique se eles têm abacaxi. João, meio sem jeito, saiu da sala e foi cumprir a missão. Em cinco minutos estava de volta. — E aí, João? — Verifiquei como o senhor mandou. O moço tem abacaxi. — E quanto custa? — Isso eu não perguntei, não. — Eles têm quantidade suficiente para atender a todos os funcionários? — Também não perguntei isso, não. — Há alguma outra fruta que possa substituir o abacaxi? — Não sei, não… — Muito bem, João. Sente-se ali naquela cadeira e me aguarde um pouco. O patrão pegou o telefone e mandou chamar o Juca. Deu a ele a mesma orientação que dera a João: — Juca, estou querendo dar frutas como sobremesa ao nosso pessoal após o almoço. Aqui na esquina tem uma quitanda. Vá até lá e verifique se eles têm abacaxi, por favor. Em oito minutos o Juca voltou. — E então? – indagou o patrão. — Eles têm abacaxi, sim, e em quantidade suficiente para todo o nosso pessoal; e se o senhor preferir, tem também laranja, banana e mamão. O abacaxi é vendido a R$1,50 cada; a banana e o mamão a R$1,00 o quilo; o melão R$ 1,20 a unidade e a laranja a R$ 20,00 o cento, já descascado. Mas como eu disse que a compra seria em grande quantidade, eles darão um desconto de 15%. Aí aproveitei e já deixei reservado. Conforme o senhor decidir, volto lá e confirmo – explicou Juca. Agradecendo as informações, o patrão dispensou-o. Voltou-se para o João, que permanecia sentado ao lado, e perguntou-lhe: — João, o que foi mesmo que você estava me dizendo? Reflitam sobre seu C.H.A., isto é, Conhecimentos, Habilidades e Atitudes. Faça a diferença! Só depende de você! Acredite em você!

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(Autor desconhecido) Suínos&Cia | nº 54/2015


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Dicas de Manejo

Na suinocultura, alta fertilidade e prolificidade a cada dia estão mais presentes, viabilizando o sistema de produção. Vamos conhecer quais os pontos mais importantes que garantem a melhora dos índices reprodutivos.

M

aximizar os resultados reprodutivos, sem dúvida, é um constante desafio da suinocultura para obter excelência nos resultados de produtividade. Atualmente, a genética indica que se pode obter mais de 12 leitões desmamados por parto, com índice de fertilidade acima de 90%. A nutrição garante que com a atual genética pode-se desmamar mais de 200 kg de leitões por ano a um custo de 1.060 kg de ração por fêmea por ano. Confira abaixo as principais dicas que, quando realizadas adequadamente, podem ajudar a melhorar o desempenho reprodutivo, proporcionando eficiência e resultados positivos.

1. Adote um programa de genética idôneo. As fêmeas híbridas, principalmente F1, produzem de 0,6 a 0,7 leitões nascidos totais a mais quando comparadas a linhas puras. A genética é determinante no tamanho da leitegada. Com um incremento de 0,4 óvulos serão produzidos 0,07 leitões a mais nascidos vivos.

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2. Fluxo de produção: dependendo do programa de cobertura, a cada semana deve-se formar o lote de fêmeas inseminadas sempre padronizado, independentemente do programa de lotes ou bandas, que pode ser vinte ou vinte e um lotes (manejo semanal), dez lotes quando praticado o manejo de cobertura a cada duas semanas, sete lotes ou bandas quando se maneja os lotes a cada três semanas, e cinco lotes quando se pratica o manejo de formação do grupo por cobertura a cada quatro semanas. O importante é que cada lote seja formado com fêmeas de excelência: desmamadas com intervalo desmame/cio entre 3 e 6 dias e marrãs devidamente preparadas. As fêmeas, retorno de cio e/ou outra categoria serão adicionadas ao lote sempre como coberturas extras. Jamais considerar as inseminações de fêmeas extras como parte integradora do lote. É muito importante que todos os lotes estejam padronizados (sendo uma semana o espelho da outra) tanto em quantidade como em qualidade.

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Dicas de Manejo

3. Preparação de marrãs: “Uma marrã bem manejada é a fêmea mais produtiva da granja”. Manejá-las adequadamente nas diferentes fases de produção (Crescimento, Puberdade, Reprodução, Gestação e Lactação) para que ocorra desde o primeiro parto mais de 90% de taxa de parto, nascer mais de 13 leitões vivos e desmamar 12 ou mais leitões desde a primeira lactação. Obter no terceiro parto taxa de retenção superior a 75% com mais de trinta e seis leitões produzidos. Apenas com esta estratégia se pode garantir melhor produtividade nos partos seguintes e, consequentemente, melhores resultados de produtividade do plantel.

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4. Alimentação à vontade (Flushing) é muito importante para nuliparas duas semanas antes do desmame e para fêmeas recém desmamada durante a semana pós desmame.

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Dicas de Manejo

5. Qualidade do sêmen: produzir as doses de sêmen com certificação de controle de qualidade. Manter o mesmo padrão de controle durante a conservação, transporte e momento de inseminação. Pontos importantes: qualidade do sêmen, processo de preparação da dose, qualidade da água e diluente, temperatura ambiente em que se manipula o sêmen e prepara as doses, temperaturas durante o processo, condição de conservação e transporte das doses seguindo até a inseminação propriamente dita (aplicação adequada da dose de sêmen na fêmea durante o período de estro).

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Dicas de Manejo

6. Macho Rufião para estímulo e diagnóstico de cio: colaborador fundamental para a atividade de estímulo e diagnóstico de cio. Deve-se selecionar machos para atingir índice de reposição de 50% ao ano. Que sejam machos saudáveis, apresentem libido sexual, ativos, salivem nos primeiros cinco minutos quando entra em contato com as fêmeas e se apresentem sexualmente maduros.

7. Diagnóstico de cio Com referência à ovulação:

• Capacitação espermática: entre 4h a 6h.

Quanto à duração: • 70% das porcas apresentam cio de 48-72h; • 15% das porcas apresentam cio menor que 40h; • 15% das porcas apresentam cio com mais de 72h.

• Vida média do sêmen dentro da fêmea: 24h.

Quanto ao reflexo de imobilidade frente ao cachaço: • A qualquer momento entre 2 a 25h desde o primeiro sinal externo de cio. • Máxima ovulação: entre 36 a 44h depois do início de imobilização. • Pouca ovulação antes das 24h. Quanto à duração do óvulo: • Vida media de um óvulo: 10h a 20h. • Óvulo envelhecido: a partir 8h a 10h de vida. • Contato óvulo-espermatozoide: antes de 8h de vida do óvulo.

• Melhor momento de inseminar: entre 12h a 16h depois de iniciado o reflexo de imobilidade. • Inseminação antes das 6 primeiras horas: menor tamanho da leitegada.

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• Inseminação tardia considera-se depois de 24h do início do reflexo de imobilidade. Pode ocorrer: a) Dificuldade de inseminar a porca; b) Perda de viabilidade dos primeiros óvulos. c) Possibilidade de produzir descargas vaginais. Quando inseminar: • No momento em que a fêmea apresenta-se receptiva à monta, demonstra interesse ao macho e se deixa montar facilmente.

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Dicas de Manejo

8. Evitar situações de estresse durante a gestação: principalmente nas primeiras cinco semanas depois da cobertura. Recomenda-se oferecer conforto durante toda a gestação: espaço, água e alimento adequados em quantidade e qualidade.

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9. Manejo de vacinação: a saúde dos animais de reprodução é fundamental para obter êxito na expressão de seu potencial genético. Ser rigoroso e disciplinado com os programas e procedimentos de vacinação. Incluir, da mesma forma, o programa de vacinação nos machos Rufiões.

10. Capacitação de pessoal: a educação contínua, de forma prática e teórica, faz-se necessária para se obter excelência de resultados reprodutivos. Cursos teóricos e práticos para todos os envolvidos nos diferentes segmentos da reprodução.

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Divirta-se

Encontre as palavras O Conselho de Bem-estar dos Animais de Produção (FAWC, em inglês) propôs que algumas condições devam ser consideradas para que sejam cumpridas as exigências de bem-estar animal: nutrição e sanidade adequadas, ausência de incômodos físico e térmico, ausência de medo, dor e estresse e capacidade de demonstrar a maioria das condutas próprias da espécie. Vamos encontrar no diagrama abaixo as palavras que rotineiramente são utilizadas quando se faz referência à bem-estar animal. Divirta-se e aprenda.

Alojamento Temperatura Estereótipos Atitude Articulações Cascos Comedouros Bebedouros Umidade Ventilação Nutrição

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Saúde

Jogo dos 7 erros

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Divirta-se

Teste seus conhecimentos Com a aproximação do inverno, faz-se necessário revisar os protocolos de como deve-se enfrentar as baixas temperaturas sem que elas prejudiquem o desempenho dos leitões de maternidade. Assinalar V (verdadeiro) ou F (falso) nas alternativas abaixo: (

) Ao nascer, os leitões necessitam de uma temperatura ambiente entre 30°C e 32°C.

(

) Oferecer aos recém-nascidos ambiente com tapetes, cama, campânulas e lâmpadas ajudam a proteger os leitões que acabam de nascer, promovendo, dessa forma, uma condição de conforto e, consequentemente, garantia de sobrevivência. ( ) Controlar adequadamente as cortinas da sala de maternidade para evitar entrada de ar e ambiente frio previne problemas de diarreia nas primeiras horas de vida dos leitões, além de proporcionar à fêmea ambiente agradável para a produção de leite. ( ) Indicar aos leitões, por meio de treinamentos, a área de aquecimento os ajudam a diferenciar e procurar seu ambiente de conforto, o que evitará mortes por esmagamento. ( ) Em caso de frio, os leitões podem buscar o calor materno, e a consequência é que podem ocorrer acidentes e mortes por esmagamento.

Tratando-se de coleta de material para exames laboratoriais, enumere corretamente as sentenças abaixo: 1. Sangue 2. Leite

( ) Não se fazem necessários cuidados especiais, pois o leitão resiste a qualquer condição de frio. 69

Labirinto

3. Secreção Nasal 4. Swab 5. Secreção vaginal 6. Urina 7. Fezes 8. Raspado de pele ( (

( ( ( ( ( (

) Limpar previamente e obter amostras depois da injeção de ocitocina. ) Limpar previamente e obter amostras por meio de inoculação de placa no local aumenta a possibilidade de recuperação de patógenos respiratórios. ) Pode ser colhida no olho, na orelha, jugular e cava anterior. ) Utiliza-se espéculo para obter a amostra. ) Coleta-se em tubos estéreis para identificar casos de cistite. ) Material usado para colher secreções. ) Indicado na detecção de ectoparasitos. ) Dilui-se em solução fisiológica para exames em microscopia eletrônica nº 54/2015 | Suínos&Cia


Divirta-se

Encontre as palavras

Teste seus conhecimentos Com a aproximação do inverno, faz-se necessário revisar os protocolos (...): ( V ) Ao nascer, os leitões necessitam (...). ( V ) Oferecer aos recém-nascidos ambiente (...). ( V ) Controlar adequadamente as cortinas (...). ( V ) Indicar aos leitões, por meio de (...). ( V ) Em caso de frio, os leitões podem (...). ( F ) Não se fazem necessários cuidados (...).

Tratando-se de coleta de material para exames laboratoriais, enumere (...):

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Jogo dos 7 erros

( ( ( ( ( ( ( (

2 3 1 5 6 4 8 7

) Limpar previamente e obter amostras (...). ) Limpar previamente e obter amostras (...). ) Pode ser colhida no olho, na orelha, (...). ) Utiliza-se espéculo para obter a amostra. ) Coleta-se em tubos estéreis para (...). ) Material usado para colher secreções. ) Indicado na detecção de ectoparasitos. ) Dilui-se em solução fisiológica para (...).

Labirinto

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