Informe Comigo Anuário de Pesquisa de Agricultura 2023-2024
Centro Tecnológico COMIGO
ANUÁRIO DE PESQUISAS
AGRICULTURA - RESULTADOS 2024
EDITORES TÉCNICOS
Amanda Magalhães Bueno
Diego Tolentino de Lima
Eduardo Hara
Guilherme Braga Pereira Braz
Hemython Luis Bandeira do Nascimento
Leonardo Fernandes Sarkis
Rafael Henrique Fernandes
Ubirajara Oliveira Bilego
Centro Tecnológico COMIGO
Geração e Difusão de Tecnologias
Rio Verde, GO 2025
Centro Tecnológico COMIGO
Rod Go 174, Km 252.5 - Zona Rural - Rio Verde - GO
CEP 75913-899
Fone: (64) 3611-1573 ou (64) 3611-1684 www.comigo.coop.br ctc@comigo.com.br
Comitê de publicação
Amanda Magalhães Bueno
Diego Tolentino de Lima
Eduardo Hara
Guilherme Braga Pereira Braz
Hemython Luis Bandeira do Nascimento
Leonardo Fernandes Sarkis
Rafael Henrique Fernandes
Ubirajara Oliveira Bilego
Periodicidade: anual
Volume 7 n. 1, 2025 Publicação online
Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP
Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Centro Tecnológico COMIGO
Anuário de Pesquisa Agricultura - Resultados 2024
Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Centro Tecnológico COMIGO
Av. Presidente Vargas, 1878, Jardim Goiás, Rio Verde - GO
CEP 75901-901 - CP 195
Editores Técnicos: Amanda Magalhães Bueno; Diego Tolentino de Lima; Eduardo Hara; Guilherme Braga Pereira Braz; Hemython Luis Bandeira do Nascimento; Leonardo Fernandes Sarkis; Rafael Henrique Fernandes; Ubirajara Oliveira Bilego; Rio Verde, GO: Centro Tecnológico COMIGO, 2025. 218 p.: il. (algumas color.).
1. Workshop - Resultados. I. Bueno, Amanda Magalhães, II. Lima, Diego Tolentino de, III. Almeida, III. Hara, Eduardo, IV. Braz, Guilherme Braga Pereira, V. Bandeira do Nascimento, Hemython Luis, VI. Sarkis, Leonardo Fernandes, VII. Fernandes, Rafael Henrique. VIII. Bilego, Ubirajara Oliveira.
APRESENTAÇÃO
O Centro Tecnológico COMIGO – CTC é parte integrante da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano – COMIGO.
Sua principal missão é desenvolver e difundir tecnologias agropecuárias que possam apoiar os produtores no manejo de suas culturas visando maior rentabilidade e sustentabilidade ambiental. Com uma área física de aproximadamente 200 hectares, incluindo a área da feira anual da cooperativa, a Tecnoshow COMIGO, o CTC está localizado em local estratégico na região CentroOeste do Brasil, em Rio Verde (Goiás).
O Centro Tecnológico COMIGO tem se consolidado cada vez mais como uma referência em pesquisa agropecuária no âmbito nacional, em função da capacitação do seu corpo técnico, da qualidade das suas pesquisas e da imparcialidade dos seus resultados. Anualmente os resultados obtidos são divulgados nos Workshops de
Agricultura e Pecuária, que em 2024 completam sua 23ª e 14ª edições, respectivamente. O Centro Tecnológico COMIGO mantém sua atuação na pesquisa em diferentes temas, tais como: Manejo e Controle de Doenças, Pragas e Plantas Daninhas, Solos e Nutrição de Plantas, Fisiologia Vegetal, Fitotecnia, Produção Animal, Forragicultura e Pastagem, e os artigos técnicos apresentados no presente Anuário contemplam os trabalhos realizados na safra 2023/2024.
O Centro Tecnológico COMIGO continua contando com o imprescindível apoio da administração da Cooperativa COMIGO, dos nossos consultores técnicos, dos parceiros e da equipe de suporte de campo, no sentido de apoiar os cooperados e a sociedade na melhoria da qualidade de vida e na perpetuação do pujante setor agropecuário brasileiro.
EDITORIAL
Ao realizar uma retrospectiva do que foi na safra 2023/2024, visualiza-se que a mesma foi marcada por uma série de desafios para os produtores e profissionais vinculados à atividade agrícola, fato que trouxe dificuldades tanto do ponto de vista de manejo das culturas inseridas nos sistemas de produção, bem como aspectos relacionados a comercialização dos grãos. De maneira mais objetiva, ao aglomerar estes desafios em eixos específicos quando a sua similaridade, destaca-se que as dificuldades estiveram relacionadas ao cenário político nacional e internacional, aspectos intrínsecos a economia e eventos climáticos adversos.
Ao analisar o cenário geopolítico, visualiza-se que a existência de conflitos bélicos entre países vem influenciando a variação de preços de uma série de insumos que são empregados na agricultura, além de criar dificuldades na projeção de produção de determinados produtos agrícolas, fato que acaba por afetar o preço de determinadas commodities. Além dos aspectos políticos no âmbito global, decisões tomadas na esfera nacional também influenciam na cadeia produtiva, fato que traz uma variação nos preços tanto dos insumos empregados na produção agrícola, como na comercialização dos produtos produzidos. De maneira análoga, o cenário econômico também influencia de maneira direta nas variações comerciais das relações que são estabelecidas no setor agrícola, trazendo uma imprevisibilidade do que poderá se tornar concreto. Neste âmbito, situações como estas faz com que aquele produtor que não esteja atento ao ambiente fora da porteira enfrente dificuldades na hora de tomar decisões sobre em que e o quanto investir, bem como da melhor forma de escoar sua produção.
Somada a estas dificuldades, a última safra foi marcada por adversidades climáticas, especialmente no que diz respeito a ocorrência de precipitações, uma vez que em determinadas regiões houve uma menor disponibilidade hídrica em comparação com anos anteriores, além de visualizar uma distribuição pluviométrica mais esparsa. Nestas regiões, a limitação hídrica acabou repercutindo em atrasos na semeadura da soja, dificultando a obtenção de boas janelas para a introdução da cultura de safrinha, além
de se visualizar uma redução no potencial produtivo da cultura principal (soja).
Ao considerar todos os desafios anteriormente apresentados, fica evidenciada a necessidade da adoção de boas práticas de manejo para que dentro da porteira a produção agrícola seja realizada de forma a explorar o máximo potencial produtivo das culturas. Neste contexto, o Centro Tecnológico COMIGO – CTC, que desde sua criação pela Cooperativa COMIGO, tem como principal missão o desenvolvimento de pesquisas aplicadas para atender as demandas dos cooperados, realizou ao decorrer desta última safra mais de 80 experimentos nas áreas de fertilidade do solo e fertilizantes, fisiologia e nutrição de plantas, manejo integrado de plantas daninhas, pragas e doenças. Por meio destas pesquisas torna-se possível identificar as melhores práticas de manejo para o enfrentamento dos principais desafios enfrentados com as culturas de interesse na região, mais especificamente soja, milho e sorgo.
Para a safra 2024/2025, parte destes desafios irão persistir, visualizando forte influência nos preços dos grãos por fatores políticos e econômicos, além da ocorrência de desafios climáticos afetando o desenvolvimento das culturas. Contudo, ao se municiar de informações técnicas geradas pela equipe de pesquisa do CTC no presente anuário, o produtor poderá compreender sobre as práticas de manejo mais assertivas que poderão ser empregadas em suas propriedades. Aliado a busca pelas informações, por meio da assistência prestada pelo Departamento de Assistência Técnica (DAT) da Cooperativa COMIGO, torna-se possível delinear junto ao cooperado sistemas de manejo que sejam personalizados para a realidade de cada produtor, uma vez que estes profissionais conhecem a fundo a realidade de cada propriedade.
Neste sentido, desejamos que a leitura do presente anuário seja útil que possa auxiliar nas melhores tomadas de decisão visando à busca do êxito na produção agrícola. Desejamos que todos possam ter sucesso nesta nova safra e que tenham uma boa leitura!
AGRADECIMENTOS
À Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano – COMIGO, pelas condições operacionais e financeiras de trabalho.
À equipe de apoio do Centro Tecnológico COMIGO, pelo esforço e dedicação, imprescindíveis na realização dos trabalhos a campo.
Aos autores que contribuíram com a produção dos textos.
Aos parceiros de pesquisa do Centro Tecnológico COMIGO.
À equipe da Assessoria de Comunicação (ASCOM) da COMIGO.
Às equipes do Departamento de Assistência Técnica da COMIGO.
À todos que de alguma maneira contribuíram para a realização destes trabalhos.
PRECIPITAÇÃO
por estação meteorológica da marca Plugfield®, localizada na área experimental do Centro Tecnológico COMIGO. ** Dados não compilados devido a data em que o Anuário foi publicado
experimental do
Figura 1. Balanço Hídrico (A) e deficiência, excedente, retirada e reposição hídrica (B) da área
Centro Tecnológico Comigo (CTC), Rio Verde (GO), 2023/24. CAD 100 mm.
Entomologia
INSETICIDAS NO CONTROLE DE NINFAS DE MOSCA-BRANCA (Bemisia tabaci) NA CULTURA DA SOJA
LIMA1, Diego Tolentino; SILVA2, Maria Eduarda Machado; FREITAS3, Andréia Victor
1Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: diegotolentino@comigo.com.br
2Discente de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias – Agronomia do Instituto Federal Goiano (IF-Goiano), campus Rio Verde. E-mail: mariaeduardamachadosilva@outlook.com
3Discente de graduação da Faculdade de Agronomia do Instituto Federal Goiano (IF-Goiano), campus Rio Verde. Estagiário no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: andreiavictor781@gmail.com
INTRODUÇÃO
A cultura da soja apresenta importância econômica pelo potencial de utilização, em que apresenta diversidade em toda cadeia agroindustrial nacional e internacional. Contudo, sua produtividade pode ser comprometida pelos problemas fitossanitários. Dentre os organismos que prejudicam a cultura, os insetos-praga podem se diferir entre espécies, responsáveis por atacar diferentes partes das plantas (HOFFMANN-CAMPO et al., 2012). Referente ao ataque das folhas de soja, destaca-se a mosca-branca, Bemisia tabaci (Hemiptera: Aleyrodidae), esta é considerada uma das
principais pragas agrícolas de regiões tropicais, e que tem impactado as lavouras de forma crescente (SOSAGÓMEZ et al., 2010).
A mosca-branca é um inseto sugador polífago, o dano direto causado por esta praga é através de sua alimentação, que consiste na sucção de açucares das células do floema, em que frequentemente são na face abaxial das folhas, como também a inserção de toxinas nas plantas. No caso dos danos indiretos, este inseto é o vetor de diversos vírus, além disso, a mosca-branca através da sucção da seiva, excreta uma substância açucarada na folha, denominada de “honeydew”, que favorece o desenvolvimento do fungo Capnodium sp. em que este ocasiona a fumagina (MOSCARDI et al., 2012).
Para distinguir as diferenças das populações de mosca-branca, os taxonomistas agruparam em “biótipos” ou “raças”, em que é conferido mediante sua biologia e comportamento. O “biótipo A” foi substituído pelo “biótipo B”, na qual este último apresenta maior agressividade e seu potencial reprodutivo é 30% maior. Além disso, apresenta maior resistência ao frio, como também maior resistência aos inseticidas e capacidade de transmitir vírus. Vale destacar que o “biótipo B” apresenta maior consumo de alimentação, e com isso, ocorre maior excreção de “honeydew”, possibilitando maior desenvolvimento de fumagina (MOSCARDI et al., 2012).
O “biótipo Q” da mosca-branca, foi identificado em 2013 no Rio Grande do Sul. Contudo, há ocorrência da disseminação deste “biótipo” na região Sul e CentroOeste do Brasil. No que adverte à grande preocupação aos produtores e pesquisadores, pois este “biótipo Q” apresenta resistência a diversos produtos, além de demonstrar maior capacidade de sobrevivência a diferentes temperaturas. Sendo assim, comparado ao “biótipo B”, o “biótipo Q” confere a maior competitividade (PITTA et al., 2019).
Além de diferentes “biótipos”, mudanças comportamentais na mosca-branca também podem ser observadas devido à disponibilidade de hospedeiros. Por exemplo, no sistema agrícola do Brasil Central, onde o cultivo sucessivo de soja/milho proporcionou ao “biótipo B” a capacidade de colonizar, desenvolver e completar seu ciclo na cultura do milho, planta reportada em trabalhos anteriores como não hospedeira desta espécie (QUINTELA et al., 2016).
Dentre os métodos de controle, o químico é mais utilizado. Todavia o uso contínuo dos mesmos princípios ativos pode ocasionar o surgimento de populações resistentes à inseticidas. Dessa forma, é preciso adotar as técnicas presentes nos pilares do Manejo Integrado de Pragas (MIP), em que estas associam com outros tipos de controle, como por exemplo, o biológico, cultural, comportamental, além dos métodos legislativos e resistência de plantas. A utilização das ferramentas do MIP visa reduzir o uso de inseticidas químicos, utilizando-os somente quando necessário, além de possibilitar a diminuição de custos (GALLO, et al, 2002).
O objetivo do trabalho foi avaliar a eficiência de controle de diferentes inseticidas, sobre ninfas de mosca-branca (B. tabaci), em uma aplicação, e determinar a produtividade em função dos tratamentos inseticidas na cultura da soja.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na área experimental do Centro Tecnológico COMIGO (CTC), da Cooperativa COMIGO, no município de Rio Verde – GO (S 17°45’57” e W 51°02’07”; 839 metros de altitude). Em agosto de 2023 foi realizada a calagem (1500 kg.ha-1 de calcário) e gessagem (1500 kg.ha-1 de gesso) na área do experimento. Foi aplicado a lanço 220 kg ha-1 05-25-25 (NPK) antes da semeadura. A cultivar de soja Olimpo IPRO foi semeada no dia 25 de outubro de 2023, com a densidade de semeadura de 12,5 sementes por metro (população final de 234,9 mil plantas ha-1). A adubação de semeadura foi realizada com 120 kg ha-1 de 05-25-25 (NPK) no sulco. Duas semanas após a semeadura foi realizada uma adubação de cobertura com 75 kg ha-1 de KCl a lanço.
As sementes receberam tratamento industrial (Fortenza Duo, Cruiser, Maxim Advanced e Power CoMo). No momento da semeadura foram aplicados no sulco 1,2 L ha-1 do inoculante Cell Tech (Bradyrhizobium japonicum Estirpe SEMIA 5079 e SEMIA 5080, concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL-1), 0,2 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum (Azospirillum brasilense, concentração mínima 3,0 x 108 UFC mL-1), 0,5 L ha-1 do inseticida biológico Meta-Turbo SC (Metarhizium anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1,0 x 108 propágulos viáveis mL-1), 0,1 L ha-1 de Tricho-Turbo (Trichoderma asperellum BV10, concentração mínima de 1,0 x 1010 conídios viáveis mL-1), 0,1 L ha-1 de NoNema (Bacillus amyloliquefaciens BV03, concentração mínima de 3,0 x 109 UFC mL-1) e 0,3 L ha-1 de BioZyme. O volume de aplicação utilizado no sulco foi de 60 L ha-1.
A área passou uma dessecação antecipada, cerca de um mês antes da semeadura, com Crucial (3,0 L ha-1) + Select One Pack (0,3 L ha-1), uma aplicação em sistema plante-aplique logo após a semeadura com Xeque Mate (2,0 L ha-1) + Select 240 (0,5 L ha-1) + Aurora
(0,07 L ha-1) + Dual Gold (1,2 L ha-1), mais uma aplicação em pós, 30 dias após a semeadura, com Xeque Mate (2,5 L ha-1) + Select 240 (0,5 L ha-1), para o controle de plantas daninhas. O manejo de doenças foi realizado com cinco aplicações de fungicidas, iniciando no estádio vegetativo com Aproach Power (0,6 L ha-1), a segunda com Alade (0,45 L ha-1) + Unizeb Gold (1,5 kg ha-1), a terceira com Blavity (0,25 L ha-1) + Previnil (1,0 L ha-1), a quarta com Fusão (0,58 ha-1) + Bravonil 720 (1,0 L ha-1) e a quinta com Cypress (0,3 L ha-1) + Bravonil 720 (1,0 L ha-1).
As únicas aplicações de inseticidas realizadas no experimento foram referentes aos tratamentos.
Foi realizada apenas uma aplicação dos tratamentos descritos na Tabela 1, no início do enchimento de grãos (R5.1). As aplicações foram realizadas com pulverizador pressurizado por CO2 (Número de patente: BR102016007565-3) montando em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75 cv). O pulverizador é dotado com barra de 5,0 metros com 10 bicos de pulverização espaçados em 0,5 m. As pontas utilizadas para pulverização foram modelo ADIA 11001.D, da marca Magnojet®. A calibração do equipamento foi ajustada com a pressão de trabalho na ponta de pulverização de 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação de 150 L ha-1
2023/2024.
p. c. = produto comercial. 1Adicionado o adjuvante Ochima (Alquil Ester Fosfatado, 752 g L-1) na dose de 0,25 L ha-1. 2Adicionado o adjuvante Naft (adjuvante e espalhante adesivo) na dose de 0,05 L ha-1
# Beauveria bassiana IBCB66, concentração mínima de 1 x 109 UFC g-1 de produto comercial (25 g.kg-1).
* Isaria javanica BV14, concentração mínima de 1 x 109 UFC mL-1 de produto comercial (100 g.L-1).
Os tratamentos foram dispostos no delineamento em blocos ao acaso (DBC), com quatro repetições. As parcelas experimentais foram constituídas por 10 linhas de cultivo, espaçadas de 0,5 metros, com 10 metros de comprimento. A parcela útil desconsiderou 1,0 m inicial
e final de cada linha da parcela e as duas linhas das extremidades.
As avaliações do número de insetos foram realizadas previamente à aplicação, em seguida aos sete e 14 dias após a aplicação. Para a amostragem
de ninfas de mosca-branca foram coletados três trifólios, no terço médio ou inferior de plantas distintas e distribuídas aleatoriamente por parcela, dentro da parcela útil. Os trifólios foram levados para laboratório e as ninfas de mosca-branca foram contabilizadas com auxílio de microscópio estereoscópio com aumento fixo de 20 vezes. A produtividade de grãos foi obtida em três linhas centrais de semeadura com 3,0 metros de comprimento dentro de cada parcela útil. Os grãos foram colhidos, trilhados e secos. Foi calculada a produtividade para um hectare, considerando-se a umidade padrão de 13% para comercialização do grão, tomado como medida a saca de 60 kg de grãos.
Os dados do número de ninfas de mosca-branca por trifólio e de produtividade foram submetidos à análise de variância (ANAVA) pelo teste F. No caso de efeito significativo dos tratamentos, as médias foram comparadas pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). O número de insetos nos tratamentos e na testemunha foram utilizados para o cálculo da eficiência de controle dos inseticidas por meio da fórmula de Abbott (1925).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A avaliação prévia apresentou o número de ninfas de mosca-branca por trifólio em média (inseticidas + testemunha) de 3,7. Nota-se que a infestação de mosca-branca na estação experimental do Centro Tecnológico COMIGO foi considerada baixa em relação a safras anteriores, com número máximo de nove ninfas por trifólio na testemunha sem aplicação de inseticidas aos 14 dias após a primeira aplicação dos tratamentos, visto que foi necessário apenas uma aplicação para serem obtidas eficiências de controle adequadas. Diferente do que foi observado de forma geral na região do Sudoeste goiano, que teve a safra 2023/2024 marcada por grandes infestações de mosca-branca nas lavouras comerciais, muitas vezes acometidas até pelo dano indireto, ou seja, formação de fumagina. Independentemente, houve variações na eficiência de controle entre os tratamentos tanto aos sete quanto aos 14 dias após a aplicação (Tabela 2).
Tabela 2. Número médio de ninfas de mosca-branca (Bemisia tabaci) por trifólio e eficiência de controle (%), 7 e 14 dias após a aplicação (7DAP e 14 DAP), na soja cultivar OLIMPO IPRO. Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde - GO, safra 2023/2024.
Tratamento
*Médias seguidas por mesma letra na coluna não se diferem pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05). Eficiência de controle maior que 90% ( ); entre 80 e 89% ( ); entre 60 e 79% ( ); entre 40 e 59% ( ); inferior a 40% ( ).
No que se refere à avaliação aos sete dias após a aplicação (7DAP), o tratamento que apresentou eficiência superior a 80% foi Abamectina + Ciantraniliprole (83,9%). Em seguida, aos que apresentaram acima de 70% foram Isaria + Acetamiprido + Piriproxifem (74,7%) e Espiropidiona + Acetamiprido (72,4%). Ambos os tratamentos supracitados, exibem a associação de diferentes princípios ativos, em que são adicionados adjuvantes, estes que proporcionam alterações nas propriedades físico-químicas das misturas, em que ocorre a redução da tensão superficial da água, possibilitando aumentar o espalhamento do produto na área foliar podendo melhorar a performance dos inseticidas (CONTIERO et al., 2018).
Aos 14 dias após a aplicação (14DAP) os tratamentos Abamectina + Ciantraniliprole, Espiropidiona + Acetamiprido, apresentam eficiência acima de 90%. Já os tratamentos que apresentaram
eficiência acerca de 80% foram Isaria + Acetamiprido + Piriproxifem, Isaria e Buprofezina. Verificou-se que todos os tratamentos com inseticidas, apresentaram redução da densidade populacional de ninfas de mosca-branca, comparado ao tratamento testemunha, em que exibiu maior número de indivíduos por trifólio, em ambas avaliações realizadas após a aplicação, sendo que o mínimo de eficiência de controle observada 14 dias após a aplicação foi 69,4% (Tabela 2).
De acordo com Lima et al., 2021, é demonstrado resultados de eficiência superior a 80% de controle para ninfas de mosca-branca em tratamentos compostos por Piriproxifem e Ciantraniliprole com duas aplicações, sequenciais. Para o presente trabalho, o produto inseticida que apresenta Piriproxifem em sua composição, com apenas uma aplicação, apresentou eficiência de controle similar (acima de 80%) apenas quando estava associado com o produto
biológico (Isaria). Assim como o Ciantraniliprole, de forma isolada com apenas uma aplicação. Entretanto a mistura de Ciantraniliprole com Abamectina nas avaliações apresentaram eficiência acima de 90%, com uma aplicação. Ressaltando que ainda opções são interessantes, além de Espiropidiona e Afidopiropeno que são princípios ativos mais recentemente registrados no Brasil (LIMA et al., 2023).
É importante ressaltar que os resultados são relativos a cada safra, em que neste experimento (safra 2023/24), foi necessário realizar somente uma aplicação. Já na safra anterior (2022/23), foi preciso realizar três aplicações sequenciais, em que foram executadas somente de forma experimental, para obter dados sobre a eficiência de controle (LIMA, et al. 2023).
É recomendado adotar as táticas de controle através Manejo Integrado de Pragas (MIP) na lavoura, sendo necessário realizar a rotação de mecanismos de ação dos inseticidas.
Além da utilização de inseticidas químicos, verifica-se o uso do controle biológico com o fungo
P r o du ti v i d a d e ( s a c a s . h a1 )
Beauveria, que este produto apresenta a função importante para o manejo de resistência, são diversos produtos comerciais que contam com este microrganismo e são registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Neste experimento foi utilizado o produto de forma isolada, na qual demonstrou eficiência de 77,8%, com apenas uma aplicação. Já no caso da utilização da Isaria, em que de forma isolada apresentou controle de 82,4%, e quando associada aos inseticidas químicos (Isaria + Acetamiprido + Piriproxifem), exibiu maior eficiência de controle, correspondendo a 87,0%.
Embora as avaliações de eficiência de controle de ninfas de mosca-branca por trifólio demonstram variação nos tratamentos que foram aplicados os inseticidas, os mesmos não demonstraram diferença significativa entre si, em relação ao número de ninfas por trifólio. Para a produtividade, o mesmo critério é apontado, em que não foram demonstrados diferença, nem em relação à testemunha (Figura 1).
Figura 2. Produtividade da cultivar de soja OLIMPO IPRO com diferentes tratamentos para o controle de ninfas de mosca-branca (Bemisia tabaci). Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde - GO, safra 2023/2024. *As médias não se diferiram pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05).
Para obter o sucesso no controle da moscabranca é fundamental adotar técnicas de manejo, e compreender que não se resume apenas na eficiência de controle, mas também de diversos fatores envolvidos. Destaca-se a importância da tecnologia de aplicação, independentemente se for inseticida químico ou biológico, é preciso considerar as condições adequadas para realizar a aplicação, além de ser primordial proporcionar boa cobertura e penetração no dossel da planta, favorecendo o contato do inseticida com o alvo biológico. Neste caso os adultos de mosca-branca se concentram no terço superior das plantas, contudo realizam a oviposição nos terços médio e inferior, e são nestes locais que as ninfas ficam localizadas (POZEBON et al., 2019).
CONCLUSÃO
Os tratamentos Abamectina + Ciantraniliprole, Espiropidiona + Acetamiprido, Isaria + Acetamiprido + Piriproxifem, Isaria isolado e Buprofezina apresentaram eficiência de controle acima de 80% e todos tratamentos aplicados apresentaram menor número médio de ninfas por trifólio que a testemunha após a aplicação. Entretanto, não foi observado diferença em relação à produtividade de grãos de soja.
AGRADECIMENTOS
À equipe de campo, pesquisadores e estagiários do CTC pelo apoio na implantação e condução do experimento.
REFERÊNCIAS
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INSETICIDAS NO CONTROLE DE PERCEVEJO-MARROM (Euschistus heros) NA CULTURA DA SOJA
LIMA1, Diego Tolentino; SILVA2, Maria Eduarda Machado; FREITAS3, Andréia Victor
1Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: diegotolentino@comigo.com.br
2Discente de mestrado do Programa de Pósgraduação em Ciências Agrárias – Agronomia do Instituto Federal Goiano (IF-Goiano), campus Rio Verde. E-mail: mariaeduardamachadosilva@outlook. com
3Discente de graduação da Faculdade de Agronomia do Instituto Federal Goiano (IF-Goiano), campus Rio Verde. Estagiário no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: andreiavictor781@gmail.com
INTRODUÇÃO
O cultivo da soja (Glycine max L.) é expressivo ao contexto global, em que esta cultura apresenta importância econômica pela diversidade na cadeia agroindustrial. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento, referente a safra 2023/2024, a estimativa da produção de soja no Brasil corresponde a cerca de 147,3 milhões de toneladas, onde 63% são destinadas à exportação. Importante salientar que o país é referência, ocupando o primeiro lugar da produção mundial (CONAB, 2024).
Sendo assim, cultura da soja apresenta
destaque pela produção extensiva em todo território brasileiro. Entretanto, existem diversos desafios que possam limitar a produtividade, como por exemplo, os problemas fitossanitários como o ataque de insetospraga, na qual apresentam impacto negativo e afetam o potencial produtivo da cultura. Dentre as principais pragas que acometem a cultura da soja, destaca-se o percevejomarrom Euschistus heros (Hemiptera: Pentatomidae) que compromete tanto a qualidade quanto a produtividade dos grãos (PANIZZI, 2015).
O percevejo-marrom é uma praga de importância econômica para a soja por apresentar ampla distribuição geográfica, capacidade migratória a curtas distâncias e alto potencial reprodutivo. Seu ciclo de vida é constituído por três fases: ovo, 5 ínstares de ninfa e adulto, em que no último estágio a longevidade pode ser de aproximadamente 116 dias podendo chegar a cerca de 250 dias através da capacidade de reservas de lipídeos e se abrigar em palhadas, propiciando a entrada em diapausa no período que não há alimentação disponível da entressafra, para que ao início da safra seguinte ocorra a infestação de percevejos e a ocorrência de danos. Além disso, pode passar por três gerações durante o ciclo da cultura podendo haver uma quarta geração após a colheita, com o inseto se alimentando de hospedeiros alternativos (HOFFMANN-CAMPO et al., 2000; GRIGOLLI e GRIGOLLI, 2019).
A maior incidência dessa praga ocorre principalmente no período reprodutivo, desde o início a formação de vagens até o enchimento dos grãos. Através do seu aparelho bucal em formato de estilete, ocorre a inserção nas vagens succionando o conteúdo celular (PANIZZI et al., 2012; CZEPAK et al., 2017). Os danos são causados por adultos e ninfas a partir do 2° ínstar, que são responsáveis por afetar a qualidade e produtividade dos grãos, além de comprometer o potencial germinativo e vigor das sementes (TESSMER, et al., 2022; HOFFMANN-CAMPO et al., 2000; SILVA et al., 2014).
Considerando as estratégias de controle para o percevejo-marrom, o mais aplicado é o químico, em que este apresenta ser uma prática rápida e eficiente. Vale ressaltar a especificidade de cada produto comercial e princípio ativo que será utilizado (CASTELLANOS et al., 2019; GALLO et al., 2002). Diante do uso contínuo de ingredientes ativos com os mesmos mecanismos de ação, é preocupante o surgimento de populações resistentes de percevejos, resultando na ineficiência da aplicação e elevando o custo da produção (BOFF et al., 2022).
A adoção de práticas eficientes para o controle do percevejo-marrom é necessária. Neste sentido, o sucesso do manejo depende de diversos fatores, como é o caso da rotação dos princípios ativos e diferentes mecanismos de ação. Além da utilização da tecnologia de aplicação, que proporciona obter a eficiência do produto através da execução correta da pulverização, viabilizando boa cobertura e penetração no dossel da planta (ROGGIA et al., 2018; Santos-Junior et al., 2022).
O objetivo do trabalho foi avaliar a eficiência de controle de diferentes inseticidas, sobre o percevejomarrom (E. heros), em três aplicações sequenciais, e determinar a produtividade em função dos tratamentos inseticidas na cultura da soja.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na área experimental do Centro Tecnológico COMIGO (CTC), da Cooperativa COMIGO, no município de Rio Verde –GO (S 17°45’57” e W 51°02’07”; 839 metros de altitude).
Em agosto de 2023 foi realizada a calagem (1500 kg.ha-1 de calcário) e gessagem (1500 kg.ha-1 de gesso) na área do experimento. Foi aplicado a lanço 220 kg ha-1 0525-25 (NPK) e 75 kg ha-1 de KCl antes da semeadura. A cultivar de soja Olimpo IPRO foi semeada no dia 05 de dezembro de 2023, com a densidade de semeadura de 12,5 sementes por metro (população final de 199,4 mil plantas ha-1). A adubação de semeadura foi realizada com 165 kg ha-1 de 12-15-15 (NPK) no sulco.
As sementes receberam tratamento on farm (Standak Top, dose de 0,2 L p.c. + Tricho-Turbo, dose de 0,2 L p.c. + No-Nema, dose de 0,3 L p.c. para 100 kg de sementes). No momento da semeadura foram aplicados no sulco 1,2 L ha-1 do inoculante Cell Tech (Bradyrhizobium japonicum Estirpe SEMIA 5079 e SEMIA 5080, concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL-1), 0,2 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum (Azospirillum brasilense, concentração mínima 3,0 x 108 UFC mL1), 0,5 L ha-1 do inseticida biológico Meta-Turbo SC (Metarhizium anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1,0 x 108 propágulos viáveis mL-1), 0,1 L ha-1 de Nodulus Gold (13,9 g L-1 de Cobalto, 139 g L-1 de Molibdênio) e 0,4 L ha-1 de Verango Prime (500 g L-1 Fluopiram). O volume de aplicação utilizado no sulco foi de 60 L ha-1.
A área passou a entressafra semeada com Urochloa ruziziensis, sendo realizada dessecação sequencial com Xeque Mate (2,5 L ha-1) + Select 240 (0,6 L ha-1) + Heat (0,07 kg ha-1) 35 dias antes da semeadura e Trunfo (2,0 L ha-1) + Select 240 (0,8 L ha-1) + Kyojin (0,3 L ha-1) 7 dias antes da semeadura. Já com
cerca de 30 dias após a semeadura, aplicou-se Crucial (2,0 L ha-1) + Select 240 (0,6 L ha-1) para o controle de plantas daninhas.
O manejo de doenças foi realizado com cinco aplicações de fungicidas, iniciando no estádio vegetativo com Prisma plus (0,2 L ha-1) + Previnil (1,0 L ha-1), a segunda com Fox Xpro (0,5 L ha-1) + Unizeb Gold (1,5 kg ha-1), a terceira com Evolution (2,0 L ha-1), a quarta com Aproach Power (0,6 L ha-1) + Versatilis (0,3 L ha-1) + Bravonil 720 (1,0 L ha-1), e a quinta com Fusão (0,58 L ha-1) + Versatilis (0,3 L ha-1) + Unizeb Gold (1,5 kg ha-1).
As únicas aplicações de inseticidas realizadas no experimento foram referentes aos tratamentos. Foram
realizadas três aplicações sequenciais dos tratamentos descritos na Tabela 1, com intervalo de 7 dias entre as aplicações, sendo a primeira realizada no enchimento de grãos (R5.2). As aplicações foram realizadas com pulverizador pressurizado por CO2 (Número de patente: BR102016007565-3) montando em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75 cv). O pulverizador é dotado com barra de 5,0 metros com 10 bicos de pulverização espaçados em 0,5 m. As pontas utilizadas para pulverização foram modelo ADIA 11001.D, da marca Magnojet®. A calibração do equipamento foi ajustada com a pressão de trabalho na ponta de pulverização de 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação de 150 L ha-1
IPRO. Centro Tecnológico COMIGO – CTC, Rio Verde - GO, safra 2023/2024.
* p. c. = produto comercial.
Os tratamentos foram dispostos no delineamento em blocos ao acaso (DBC), com quatro repetições. As parcelas experimentais foram constituídas por 10 linhas de cultivo, espaçadas de 0,5 metros, com 10 metros de comprimento. A parcela útil desconsiderou 1,0 m inicial e final de cada linha da parcela e as duas linhas das extremidades. As avaliações do número de insetos foram realizadas previamente à primeira aplicação, um
e sete dias após a primeira aplicação (1DA1 e 7DA1), dois e sete dias após a segunda (2DA2 e 7DA2) e terceira aplicação (2DA3 e 7DA3).
Foi avaliado o número de percevejos adultos e ninfas a partir do segundo instar (tamanho médio de 2,5 mm). Para esta amostragem foi utilizado o método do pano-de-batida, com pelo menos três pontos de 1,0 m de linha ao acaso na parcela útil em cada uma
Tabela 1. Tratamentos inseticidas para controle de percevejo-marrom, Euschistus heros, na soja cultivar OLIMPO
das avaliações. A produtividade de grãos foi obtida em três linhas centrais de semeadura com 3,0 metros de comprimento dentro de cada parcela útil. Os grãos foram colhidos, trilhados e secos. Foi calculada a produtividade para um hectare, considerando-se a umidade padrão de 13% para comercialização do grão, tomado como medida a saca de 60 kg de grãos. Os dados do número de percevejos adultos e ninfas foram analisados separadamente. E juntamente com os dados de produtividade foram submetidos à análise de variância (ANAVA) pelo teste F. No caso de efeito significativo dos tratamentos, as médias foram comparadas pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). O número de insetos nos tratamentos e na testemunha foram utilizados para o cálculo da eficiência de controle
dos inseticidas por meio da fórmula de Abbott (1925).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Referente aos dados da avaliação prévia, a média geral do número de percevejos adultos por metro foi de 0,44, considerando os respectivos tratamentos + testemunha, em que não foi observada diferença significativa entre os tratamentos (Tabela 2). Sendo assim, apresenta uniformidade de distribuição de E. heros adultos na área. Esta homogeneidade de insetos é importante para garantir que não ocorra a interferência nos resultados subsequentes.
Tabela 2. Número médio de adultos de percevejo-marrom (Euschistus heros) por metro e eficiência de controle (%), um e sete dias após a primeira aplicação (1DA1 e 7DA1), dois e sete dias após a segunda e terceira aplicação (2DA2, 7DA2, 2DA3, 7DA3) na soja cultivar OLIMPO IPRO. Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde - GO, safra 2023/2024.
*Médias seguidas por mesma letra na coluna não se diferem pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05). Eficiência de controle maior que 90% ( ); entre 80 e 89% ( ); entre 60 e 79% ( ); entre 40 e 59% ( ); inferior a 40% ( ).
Em todas as avaliações realizadas diante às aplicações, verifica-se a diferença significativa em relação à testemunha comparado aos demais tratamentos. O número médio de percevejo-marrom adultos presentes na testemunha atingiram a média de aproximadamente 0,73 percevejos por metro, sendo o valor superior comparado aos demais neste experimento. Ademais, houve variação de eficiência dos inseticidas, em que para o 1DA1, somente o tratamento Acefato + Bifentrina apresentou maior eficiência (92,5%), como também nas demais avaliações, sendo acima de 90%, exceto 7DA2 (70%).
Considerando os dados da safra anterior (2022/23), é demonstrado que o número médio de E. heros foi superior comparado à presente safra (2023/24), correspondendo acerca de 2,08 percevejos por metro. Além disso, é observado que apesar do número médio de percevejos ser maior, o tratamento com Acefato + Bifentrina também apresentou alta eficiência (92,9%), no que correlaciona com a boa eficiência do produto nas duas safras (LIMA, et al. 2023).
Os tratamentos que demostraram eficiência de controle superior a 80% na média das seis avaliações após as aplicações, no controle de adultos foram Acetamiprido + Bifentrina (82,2%), Etiprole (81,3%).
Ademais, os outros tratamentos que apresentaram eficiência acerca de 70% foram Isocicloseram + Lambda-cialotrina (75,9%) e Tiametoxam + Lambdacialotrina (71,9%). Para os demais tratamentos, é observado as classes variadas de eficiência de controle, sendo independente tanto das aplicações realizadas, quanto os dias de avaliação.
Mediante os resultados obtidos, verifica-se que os tratamentos constituídos por Acefato + Bifentrina, e, Acetamiprido + Bifetrina, tiveram maior eficiência comparado aos demais tratamentos. Dessa forma, pode ser correlacionado com o que Betinelli et al. (2023) relata sobre o sinergismo na combinação dos
princípios ativos (acefato + bifentrina + acetamiprido), ou seja, através da associação desses componentes, potencializa o efeito de choque para o controle de E. heros, exibindo maior eficiência.
Somavilla et al. (2020) apresenta as evidências da susceptibilidade do percevejo-marrom ao Acefato, Bifentrina e Tiametoxam, podendo demonstrar maior eficiência de controle, comparado ao Lambda-cialotrina que exibe menor susceptibilidade. Correlacionando com os dados do presente trabalho, os tratamentos que consistiram na associação de Lambda-cialotrina com ingredientes ativos de Sulfoxaflor, Acetamiprido e Dinotefuram, apresentaram baixa eficiência em comparação aos tratamentos supracitados.
Sobre a presença de ninfas de percevejomarrom no experimento, foi observado que houve menor pressão populacional comparada à safra anterior. Contudo, em todas as avaliações o tratamento testemunha apresentou o número maior de indivíduos, entretanto nas avaliações 1DA1 e 7DA1, não diferiram significativamente aos demais tratamentos (Tabela 3). Destacando os tratamentos que apresentaram eficiência acima de 80% na média das seis avaliações após as aplicações, no controle de ninfas: Acetamiprido + Bifentrina (97,3%); Etiprole (88,9%); Isocicloseram + Lambda-cialotrina (86,9%); Acefato + Bifentrina (82,9%); Tiametoxam + Lambda-cialotrina (80,7%).
Tabela 3. Número médio de ninfas de percevejo-marrom (Euschistus heros) por metro e eficiência de controle (%), um e sete dias após a primeira aplicação (1DA1 e 7DA1), dois e sete dias após a segunda e terceira aplicação (2DA2, 7DA2, 2DA3, 7DA3) na soja cultivar OLIMPO IPRO. Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde - GO, safra 2023/2024.
*Médias seguidas por mesma letra na coluna não se diferem pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05). Eficiência de controle maior que 90% ( ); entre 80 e 89% ( ); entre 60 e 79% ( ); entre 40 e 59% ( ); inferior a 40% ( ).
Vale ressaltar a importância da tecnologia de aplicação, no que reflete diretamente na eficiência de controle do percevejo-marrom. Em relação ao controle das ninfas, foi exibido maior eficiência comparado aos adultos, em estas que possuem baixa mobilidade em relação a distribuição vertical e estão presentes no terço médio das plantas (ROGGIA et al., 2018). Tendo em vista que o volume de aplicação utilizada no presente trabalho foi de 150 L ha-1, que confere a um volume adequado propiciando boa cobertura na área foliar e dependendo do ingrediente ativo, boa penetração a fim de obter o controle eficiente desta praga. Para o percevejo-marrom adulto já difere a dinâmica de controle, em que estes possuem capacidade de voo e migração em áreas adjacentes, que propiciam a reinfestação na lavoura, diminuindo o efeito residual das aplicações e como demonstrado, apresentam grande variação a eficiência de controle nos diferentes produtos.
A média geral de eficiência de controle dos tratamentos no presente trabalho, considerando adultos e ninfas nas seis avaliações no decorrer das três aplicações sequencias foi, em ordem decrescente: Acefato + Bifentrina (89,5%), Acetamiprido + Bifentrina (86,4%), Etiprole (84,2%), Isocicloseram + Lambdacialotrina (79,0%), Tiametoxam + Lambda-cialotrina (75,1%), Sulfoxaflor + Lambda-cialotrina (67,4%), ZetaCipermetrina + Bifentrina (58,8%), Acetamiprido + Lambda-cialotrina (57,4%), Dinotefuram + Lambdacialotrina (52,9%).
Embora as avaliações apresentem variação sobre a eficiência dos diferentes inseticidas para o controle de percevejo-marrom, é possível observar que não houve diferenças significativas quanto a produtividade (Figura 1).
Prévia
Figura 1. Produtividade da cultivar de soja OLIMPO IPRO com diferentes tratamentos para o controle de percevejomarrom (Euschistus heros). Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde - GO, safra 2023/2024. *As médias não se diferiram pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05).
É importante destacar que, a condução do presente trabalho em que foi realizado três aplicações sequenciais, tem por objetivo ser de forma experimental, com intuito de avaliar a eficiência de controle. A recomendação é que seja utilizado como critério de controle o Manejo Integrado de Pragas na lavoura, considerando táticas de rotacionar os mecanismos de ação dos inseticidas.
CONCLUSÃO
Os inseticidas que apresentaram eficiência superior a 80% foram Acefato + Bifentrina (89,5%), Acetamiprido + Bifentrina (86,4%), Etiprole (84,2%), considerando a média de seis avaliações, correspondendo a três aplicações sequenciais. Contudo, não foi observado diferença em relação à produtividade de grãos de soja.
AGRADECIMENTOS
À equipe de campo, pesquisadores e estagiários do CTC pelo apoio na implantação e condução do experimento.
REFERÊNCIAS
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INSETICIDAS NO CONTROLE DO PULGÃO Melanaphis sorghi NA CULTURA DO SORGO
LIMA1, Diego Tolentino; SILVA2, Maria Eduarda Machado; FERREIRA3, Leandro Henrique Borges; FREITAS3, Andréia Victor
1Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: diegotolentino@comigo.com.br
2Discente de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias – Agronomia do Instituto Federal Goiano (IF-Goiano), campus Rio Verde. E-mail: mariaeduardamachadosilva@outlook.com
3Discente de graduação da Faculdade de Agronomia do Instituto Federal Goiano (IF-Goiano), campus Rio Verde. Estagiário no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: andreiavictor781@gmail.com; leandrohenriqueborges2930@gmail.com;
INTRODUÇÃO
A cultura do sorgo tem apresentado destaque em sua produção, por apresentar maior rusticidade em seu manejo, sendo tolerante à seca e temperaturas elevadas. Além disso, seu potencial produtivo é evidenciado com a implementação desta cultura na segunda safra, geralmente após a soja, semeada em novembro e colhida até o final de fevereiro. O sorgo tem sido o principal substituto do milho, nesse sistema agrícola de sucessão após a oleaginosa (SOUZA, et al., 2020). A produção do sorgo tem aumentado significativamente, conforme a
CONAB (2024) apresenta na safra 2023/24 estimativa de produção de aproximadamente 4,4 milhões de toneladas, no Brasil. Além disso, demonstra relevância no CentroOeste que detém a metade da produção nacional e o estado de Goiás como maior produtor apresentando produtividade em 3.466 kg/ha-1
Dentre os fatores que podem limitar a produtividade do sorgo, o ataque de insetos-pragas tem ganhado atenção. O pulgão do sorgo (Melanaphis sorghi), é da ordem Hemiptera, na qual possui aparelho bucal picador sugador. Sua alimentação consiste na sucção de seiva, as colônias são localizadas na parte abaxial das folhas. De acordo com Nibouche et al. (2021), o que era apresentado como um biótipo do pulgão da cana-deaçúcar (Melanaphis sacchari) foi constatado diferenças das características morfológicas e moleculares que revelaram a distinção das espécies. Sendo assim, foi designado o pulgão do sorgo como Melanaphis sorghi. A infestação é iniciada nos baixeiros das plantas e podem avançar para folhas jovens. Os sintomas são evidenciados pelas aparências das folhas, apresentando o amarelecimento, manchas vermelhas e necróticas. Além disso, os danos causados pelo pulgão em altas infestações podem acarretar o comprometimento do enchimento de grãos, ou ainda inibir a emissão da panícula mediante a seca total da planta (SINGH et al., 2004).
Vale ressaltar que dentre os danos, mediante a altas infestações, apresentadas em grandes colônias, há grandes quantidades de substâncias açucaradas excretadas pelos insetos. Sendo assim, propicia o desenvolvimento do fungo do gênero Capnodium spp., conhecido popularmente como fumagina, que compromete a assimilação de fotossíntese, e consequentemente prejudica a produção (FERNANDES et al., 2021; NIBOUCHE et al., 2021; HARRIS-SHULTZ et al. 2022).
Considerando o potencial de dano associado à reprodução exponencial da população do pulgão M. sorghi, o monitoramento é fundamental para a tomada de decisão sobre o controle desta praga. Sendo assim, o manejo consiste nas técnicas de controle adotadas no início a infestação, correspondendo ao chamado “timing” de aplicação (hora certa de fazer a aplicação), como são demonstrados por Fernandes et al., (2021) e Lima et al., (2021). O uso dos inseticidas no momento adequado apresenta redução da infestação da população de pulgão para híbridos sensíveis ao pulgão (LAHIRI et al., 2019). Sendo assim, o objetivo do trabalho foi avaliar a infestação de M. sorghi e a produtividade do sorgo, em função de diferentes manejos (pela densidade de infestação e número de aplicações) aos diferentes inseticidas.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na área experimental do Centro Tecnológico COMIGO (CTC), da Cooperativa COMIGO, no município de Rio Verde –GO (S 17°45’57” e W 51°02’07”; 839 metros de altitude). Em área colhida anteriormente com soja foi realizada a semeadura do híbrido de sorgo granífero 1G 100 no dia 02 de março de 2024, com a densidade de semeadura de 9,5 sementes por metro (população final de 132,7 mil plantas ha-1). A adubação de semeadura
foi realizada com 400 kg ha-1 de 12-15-15. No momento da semeadura foram aplicados no sulco 0,2 L ha-1 de Biomax Azum (Azospirillum brasilense, concentração mínima 3,0 x 108 UFC mL-1), 0,5 L ha-1 do inseticida biológico Meta-Turbo SC (Metarhizium anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1,0 x 108 propágulos viáveis mL-1), 0,1 L ha-1 de Tricho-Turbo (Trichoderma asperellum BV10, concentração mínima de 1,0 x 1010 conídios viáveis mL-1), 0,1 L ha-1 de No-Nema (Bacillus amyloliquefaciens BV03, concentração mínima de 3,0 x 109 UFC mL-1) e 0,3 L ha-1 de RayNitro Zn News (83,3 g L-1 de Nitrogênio, 83,3 g L-1 de Fósforo - P2O5 e 47,6 g L-1 de Zinco). A adubação de cobertura foi realizada com 300 kg ha-1 de 20-00-20, aos 27 dias após a semeadura. O controle de plantas daninhas foi realizado através de uma aplicação em sistema plante-aplique dois dias após a semeadura com Proof (2,5 L ha-1) + Dual Gold (1,0 L ha-1, semente tratada com protetor Benefic) + Crucial (2,5 L ha-1) + Triomax (0,3 L ha-1) e outra aplicação 18 dias após a semeadura com Proof (2,5 L ha-1) + Dufol (0,2 L ha-1). Aos 30 dias após a semeadura foi aplicado o fertilizante foliar Biomergy (0,25 L ha-1). Para o controle de manchas foliares foi realizada uma aplicação com o fungicida Score Flexi (0,2 L ha-1) 32 dias após a semeadura e uma segunda aplicação de Tamiz (0,6 L ha-1) + Aureo (0,5 L ha-1) 46 dias após a semeadura.
As únicas aplicações de inseticidas realizadas no experimento foram referentes aos tratamentos descritos na Tabela 1, o que totalizou cinco aplicações no experimento. Nos tratamentos com baixa e média infestação foram realizadas duas aplicações para o controle de Melanaphis sorghi, sendo que a primeira aplicação do experimento foi realizada nos tratamentos com baixa infestação (33 dias após a semeadura), já a segunda aplicação do experimento foi realizada nos tratamentos com média infestação (13 dias após a primeira). Aos seis dias depois houve o período de
uma semana muito chuvosa e a infestação do pulgão M. sorghi no experimento ficou praticamente zerada, até que novamente aos 20 dias depois (da segunda aplicação do experimento) a infestação voltou nos níveis de realizar a segunda aplicação nos tratamentos com baixa infestação (a terceira aplicação do experimento, 65 dias após a semeadura), assim a segunda aplicação
para os tratamentos com média infestação foi realizada logo oito dias após (sendo a quarta aplicação do experimento). Apenas nos tratamentos com alta infestação foi realizada uma única aplicação (a quinta aplicação do experimento, 86 dias após a semeadura), já na testemunha não houve aplicação de inseticidas.
Tabela 1. Tratamentos inseticidas para controle de pulgão, Melanaphis sorghi, no sorgo 1G100. Centro Tecnológico COMIGO – CTC, Rio Verde-GO, safra 2023/2024.
Testemunha
infestação Wild + Sperto
infestação Wild + Sperto
* p. c. = produto comercial.
Os 13 tratamentos (inseticidas + testemunha sem aplicação) foram dispostos no delineamento em blocos ao acaso (DBC), com quatro repetições. As parcelas experimentais foram constituídas por 10 linhas de cultivo, espaçadas de 0,5 metros, com 10 metros de comprimento. A parcela útil desconsiderou 1,0 m inicial e final de cada linha da parcela e as duas linhas das extremidades.
As aplicações foram realizadas com pulverizador pressurizado por CO2 (Número de patente: BR102016007565-3) montando em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75 cv). O pulverizador é dotado com barra de 5,0 metros com 10 bicos de pulverização
espaçados em 0,5 m. As pontas utilizadas para pulverização foram modelo ADIA 11001.D, da marca Magnojet. A calibração do equipamento foi ajustada com a pressão de trabalho na ponta de pulverização de 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação de 150 L ha-1 Foi realizada uma avaliação prévia da infestação por pulgão M. sorghi na área experimental antes da determinação das parcelas, em 20 pontos aleatórios. Já nas parcelas no decorrer das aplicações as avaliações iniciaram aos oito dias após a primeira aplicação (3440% de infestação), 8DA1. Aos dois, seis e 16 dias após a segunda aplicação (53-80% de infestação), 2DA2, 6DA2 e 16DA2. Em um e 17 dias após a terceira
aplicação (34-40% de infestação), 1DA3 e 17DA3. Em um, seis e 10 dias após a quarta aplicação (53-80% de infestação), 1DA4, 6DA4 e 10DA4. Aos dois, nove e 16 dias após a quinta aplicação (80-100% de infestação), 2DA5, 9DA5 e 16DA5.
A infestação do pulgão M. sorghi no sorgo, avaliada em três pontos por parcela, foi classificada de acordo com a escala de notas proposta por Fernandes et al. (2021), onde:
• Nota 1 (20% de infestação), a planta de sorgo apresenta poucos pulgões e não há presença de exúvia (colônia pequena, menos de 50 pulgões folha-1);
• Nota 2 (40% de infestação), a planta de sorgo apresenta poucos pulgões e há presença de exúvias;
• Nota 3 (60% de infestação), a planta de sorgo apresenta uma quantidade moderada de pulgões, muitas exúvias e há o surgimento de alguns sintomas, como amarelecimento ou avermelhamento na folha (colônias grandes, mais de 50 pulgões folha-1);
• Nota 4 (80% de infestação), a planta de sorgo apresenta grande quantidade de pulgões, muitas exúvias e há sintomas na planta tanto na nervura central como na borda da folha.
• Nota 5 (100% de infestação), a planta de sorgo fica tomada de pulgões, muitas exúvias e há sintomas em toda a planta com o início de morte das folhas.
A produtividade de grãos foi obtida em três linhas centrais de semeadura com 3,0 metros de comprimento, realizando dois pontos de amostragem dentro de cada parcela útil. Os grãos foram colhidos, trilhados e secos. Foi calculada a produtividade para um hectare, considerando-se a umidade padrão de 13% para comercialização do grão, tomado como medida a
saca de 60 kg de grãos.
Os dados de notas de infestação por M. sorghi no sorgo e produtividade foram submetidos à análise de variância (ANOVA) pelo teste F e no caso de efeito significativo dos tratamentos, as médias foram comparadas pelo teste de Scott-Knott (P<0,05). Foi calculada a porcentagem de redução das notas de infestação dos tratamentos em relação à testemunha.
Esta porcentagem de redução foi apresentada juntamente com as próprias médias das notas de infestação através de diferentes cores com as seguintes classificações: maior que 90% ( ); entre 80 e 89% ( ); entre 60 e 79% ( ); entre 40 e 59% ( ); inferior a 40% ( ).
Para facilitar a interpretação do texto em resultados e discussão, foram utilizados os termos “baixa infestação” para todos tratamentos descritos na Tabela 1 com 34-40% de infestação. Já o termo “média infestação” para todos tratamentos descritos na Tabela 1 com 53-80% de infestação. E “alta infestação todos tratamentos descritos na Tabela 1 com 80-100% de infestação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A avaliação prévia realizada de forma geral na área do experimento, antes das aplicações, apresentou uma nota média de infestação de 1,7, ou seja, 34% de infestação quando começaram as aplicações (Tabela 2).
Tabela 2. Notas de infestação para o pulgão Melanaphis sorghi no híbrido de sorgo 1G100, em função dos tratamentos inseticidas. Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-GO, safra 2023/2024.
infestação
infestação
infestação
*Médias seguidas por mesma letra na coluna não se diferem pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05). Porcentagem de redução da nota de infestação em relação à testemunha, maior que 90% ( ); entre 80 e 89% ( ); entre 60 e 79% ( ); entre 40 e 59% ( ); inferior a 40% ( ).
Sobre a avaliação após a primeira aplicação (8DA1), foram realizadas as aplicações nos tratamentos denominados como baixa infestação, apresentando diferença significativa comparado aos demais tratamentos, sendo estes de média, alta infestação e a testemunha. Constata-se que houve a diminuição da população de pulgão nos tratamentos aplicados, em que a porcentagem de redução da nota de infestação foi acima de 90% para os tratamentos Acetamiprido + Bifentrina (Sperto), Clorpirifós (Wild) e Clorpirifós + Acetamiprido + Bifentrina (Wild + Sperto). Para o
tratamento Sulfoxaflor + Lambda-cialotrina (Expedition) entre 60 a 79%.
Aos tratamentos que foram submetidos à segunda aplicação, foram identificados como média infestação, em que não diferiram significativamente entre os tratamentos de baixa e média infestação (2DA2). Tais resultados apresentados foram independentes dos princípios ativos dos inseticidas, em que apresentaram redução da população de pulgão. Além disso, verificase que por mais que os tratamentos de média e baixa infestação não apresentaram diferença, ainda
demonstraram variação sobre a redução da nota de infestação.
Ao 2DA2, os tratamentos Clorpirifós (Wild média infestação) e Clorpirifós + Acetamiprido + Bifentrina (Wild+Sperto baixa infestação) exibiram redução da nota em 80 a 89%. Já aos tratamentos que apresentaram acerca de 60 a 79% foram Sulfoxaflor + Lambdacialotrina (Expedition média infestação), Clorpirifós (Wild baixa infestação) e Clorpirifós + Acetamiprido + Bifentrina (Wild + Sperto média infestação). Ademais, os tratamentos que apresentaram baixa eficiência sendo entre 40 a 59% foram Sulfoxaflor + Lambdacialotrina (Expedition baixa infestação), tratamentos Acetamiprido + Bifentrina (Sperto baixa infestação) e tratamentos Acetamiprido + Bifentrina (Sperto média infestação).
Para o 6DA2, diante dos tratamentos que foram aplicados os inseticidas, verifica-se que o Sulfoxaflor + Lambda-cialotrina (Expedition baixa infestação) apresenta a menor eficiência, sendo inferior a redução de 40%. Ao 16DA2, os tratamentos não diferiram significativamente entre si, em que exibiu o aumento da infestação em todos os tratamentos, apresentando uniformidade a população de M. sorghi.
Adiante, foi observado que no 1DA3, através da terceira aplicação dos tratamentos de baixa infestação que exibiram eficiência acima de 90% foram Clorpirifós (Wild) e Clorpirifós + Acetamiprido + Bifentrina (Wild+Sperto), em que diferiram do Sulfoxaflor + Lambda-cialotrina (Expedition) e Acetamiprido + Bifentrina (Sperto). Em relação ao 17DA3, os tratamentos que foram aplicados os inseticidas não apresentaram diferença significativa.
A quarta aplicação correspondeu aos tratamentos denominados de média infestação. Aos 1DA4, os tratamentos apresentaram redução na população de pulgão, não diferindo significativamente, exceto o Sulfoxaflor + Lambda-cialotrina (Expedition
média infestação) exibindo acerca de 60 a 79% e Clorpirifós (Wild média infestação) de 80 a 89%.
As avalições do 6DA4 e 10DA4, aos tratamentos Sulfoxaflor + Lambda-cialotrina (Expedition baixa infestação) e Clorpirifós (Wild baixa infestação) entre 80 a 89% que diferiram aos demais tratamentos que foram submetidos a aplicação.
Aos tratamentos que consistiam em alta infestação, em que foi realizado a quinta aplicação, foi demonstrado a variação quanto a porcentagem de redução da nota de infestação. Em que Expedition, Wild e Wild + Sperto apresentaram redução acima de 90%, exceto o Sperto, que demonstrou baixa porcentagem sendo 60 a 79%.
Os resultados de produtividade apresentadas na Figura 1, demonstram que houve a redução de produtividade nos tratamentos que exibiam alta densidade populacional de M. sorghi como também na testemunha, em que estes diferiram significativamente aos demais tratamentos. De acordo com Fernandes et al. (2021), as avaliações através de notas são essenciais para a tomada de decisão para o controle do pulgão, em que é recomendado manter as notas sendo inferiores a 1,0 e que pode ocorrer perdas de até 100% da produtividade da cultura do sorgo.
Figura 1. Produtividade do híbrido de sorgo 1G100 com diferentes tratamentos para o controle do pulgão
Melanaphis sorghi. Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-GO, safra 2023/2024. *Médias seguidas por mesma letra não se diferem pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05).
Resultados do trabalho de Lima et al. (2021) apresenta que o maior rendimento de produção consiste no controle do pulgão M. sorghi com níveis de infestação de no máximo 20%, correspondendo a nota 1,0. Vale ressaltar a importância de seguir as recomendações de manejo, seguindo-o de forma adequada, em que é apresentado no presente trabalho que a produtividade reduziu em aproximadamente 58% sem aplicação de inseticidas ou até mesmo quando aplicado em altas infestações.
A aplicação dos inseticidas realizada quando estava em baixa infestação proporcionou uma tendencia de maior produtividade independentemente dos inseticidas. Contudo, verifica-se que a associação de Wild + Sperto (Clorpirifós + Acetamiprido + Bifentrina) pode apresentar sinergismo, ou seja, potencializa o efeito inseticida dos princípios ativos. Além disso, a ação sistêmica do Acetamiprido expressa maior efeito residual e consequentemente com efeito de controle
com maior persistência (LIMA et al., 2023).
A adoção da tecnologia de aplicação proporciona maior efetividade no controle de pragas. Considerando o manejo do pulgão do sorgo Melanaphis sorghi, é necessário compreender seu comportamento, considerando que esta praga é alocada no baixeiro, além de ficar na parte abaxial das folhas, o que dificulta atingir o produto nas colônias do pulgão. Sendo assim, é recomendado que se utiliza o volume de calda adequado para obter maior deposição de calda no terço inferior da planta, e, boa cobertura foliar (FERNANDES et al., 2021).
Destaca-se que a finalidade do presente trabalho é experimental, referida como pesquisa, as cinco aplicações realizadas têm como objetivo avaliar a eficiência de controle do pulgão com os diferentes inseticidas. Recomenda-se que seja utilizado os pilares do Manejo Integrados de Pragas na lavoura, obtidas através da orientação de um profissional.
CONCLUSÃO
Os tratamentos, com aplicações de baixas ou médias intensidade, o controle do pulgão M. sorghi na cultura do sorgo proporcionou maior produtividade que os tratamentos com altas infestações e com a entrada tardia da aplicação diferentes épocas de aplicação interferem na produtividade.
A mistura do Clorpirifós + Acetamiprido + Bifentrina, apresentou maior eficiência no controle do pulgão M. sorghi na cultura do sorgo, além de apresentar efeito residual nas plantas, apresentando uma tendência de maior produtividade ao final do ciclo.
AGRADECIMENTOS
À equipe de campo, pesquisadores e estagiários do CTC pelo apoio na implantação e condução do experimento.
REFERÊNCIAS
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LIMA, D. T.; FERNANDES, R. H.; ALMEIDA, D. P. Timing de aplicação para o pulgão da cana-de-açúcar na cultura do sorgo. In: FURTINI NETO, A. E.; LIMA, D. T.; ALMEIDA, D. P.; NASCIMENTO, H. L. B.; FERNANDES, R. H.; BILEGO, U. O. (Eds.). Anuário de Pesquisas Agricultura – 2ª Safra 2020/2021. Rio Verde: Instituto de Ciência e Tecnologia COMIGO, 2021. p. 34-41.
LIMA, D. T.; FERNANDES, R. H.; BRAZ, G. B. P.; BUENO, A. M.; SARKIS, L. F. Inseticidas no controle do pulgão Melanaphis sorghi na cultura do sorgo. In: BUENO, A. M.; LIMA, D. T.; HARA, E.; BRAZ, G. B. P.; NASCIMENTO, H. L. B.; SARKIS, L. F.; FERNANDES, R. H.; BILEGO, U. O. (Eds.). Anuário de Pesquisas Agricultura - Resultados 2023. Rio Verde: Centro Tecnológico COMIGO, 2023. p. 30-37.
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Fertilidade do Solo e Fertilizantes
ESTRATÉGIAS PARA USO EFICIENTE DE POTÁSSIO EM SOLOS ARENOSOS
1 Eng. Agrônomo. Mestre e Doutor em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas. Pesquisador em Fertilidade do Solo/Fertilizantes do Centro Tecnológico COMIGO - CTC, COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br
2 Eng. Agrônomo. Pesquisador do Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano – GAPES, Rio Verde-GO. E-mail: horacio.neto@gapescna.agr.br
3 Eng. Agrônoma. Mestre em produção vegetal. Analista de Dados do Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano - GAPES, Rio Verde-GO. E-mail: laudos@gapescna.agr.br;
4 Eng. Agrônomo. Analista de Dados do Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano - GAPES, Rio Verde-GO. E-mail: autielis@gapescna.agr.br
5 Eng. Agrônomo. Doutor em Fitotecnia. Pesquisador em Fitopatologia do Centro Tecnológico COMIGOCTC, COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: rafaelhenrique@ comigo.com.br
6 Eng. Agrônomo. Doutor em Entomologia. Pesquisador em Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO-CTC, COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: diegotolentino@comigo.com.br
7 Engenheira Agrônoma, Dr. em Agronomia. Pesquisadora Agronômica no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: amandamagalhães@comigo. com.br
8 Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia. Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br
9 Engenheiro agrônomo, Gerente de pesquisa do Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano - GAPES. E-mail: gustavo.busato@gapescna.agr.br
10 Engenheiro agrônomo, Gerente de Geração e Difusão de Tecnologia do Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: eduardohara@comigo.com.br
INTRODUÇÃO
O cultivo de grãos em solos arenosos tem crescido exponencialmente frente ao seguinte cenário: a maior parte das áreas de textura média e argilosa já foram ocupadas, restando áreas de textura leve (arenosa) para a expansão da atividade. Esses solos ocupam 8% do território nacional e 15% do bioma Cerrado do Brasil (DONAGEMMA et al., 2016). Dois principais desafios podem representar maior risco potencial para produção nesses ambientes: baixa fertilidade natural e menor capacidade de retenção de água e nutrientes.
Dentre os desafios e peculiaridades da dinâmica de potássio (K) no solo que reduzem a eficiência das adubações, destacamos as perdas por lixiviação, que são intensas nessas áreas com baixa porcentagem de argila (SARKIS et al., 2021). A definição de fonte, dose, forma e momento de aplicação são fatores decisivos para aumento da eficiência no uso de fertilizantes. O sucesso da estratégia a ser adotada depende ainda de outros
fatores que são dinâmicos e interdependentes, como o uso de plantas de cobertura e microclima da região.
Diversos locais do Brasil com histórico de cultivo da grãos em solos arenosos comprovam que é possível alcançar altas produtividades nessas áreas de baixa porcentagem de argila, porém é evidente que as estratégias de manejo são específicas para este tipo de solo que apresenta maior risco potencial.
O parcelamento da adubação potássica e uso de plantas de cobertura são opções que podem aumentar a eficiência de uso de potássio pelas culturas, uma vez que aplicações únicas podem não incrementar produtividade devido à intensa lixiviação (VOLF et al., 2022; CHERUBIN, M.R., 2022).
As perdas de K são influenciadas pela textura do solo e dose de fertilizante aplicado (ROSOLEM & STEINER, 2017). Portanto, as taxas de aplicação de fertilizantes em áreas arenosas devem considerar a demanda da cultura, o risco de perda e as interações entre os nutrientes. A aplicação insuficiente de adubo ou erros na estratégia adotada podem acarretar em deficiências nutricionais e perdas de produtividade, mesmo em solos com média e alta capacidade de troca catiônica (ERNANI et al., 2007).
O desenvolvimento e execução de pesquisas locais são essenciais para otimizar o uso de fertilizantes, minimizar os riscos potenciais e aumentar a produtividade de grãos. Assim, o objetivo desse trabalho em parceria entre o Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano - GAPES e a Cooperativa COMIGO foi avaliar o efeito de doses e estratégias de aplicação de potássio em área arenosa em dois anos de soja-braquiária.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado a campo nas safras 2022/2023 e 2023/2024 em um Neossolo
Quartzarênico (SANTOS et al., 2018), com 100 g kg-1 (10%) de argila nas camadas de 0-20 cm e 20-40 cm, localizado na Fazenda Santa Bárbara, município de Chapadão do Céu– GO (18°17’55.1”S 52°32’02.9”W, altitude de 800 m). De acordo com classificação de Köppen, o clima de Chapadão do Céu é do tipo Aw, que recebe denominação de “tropical com estação seca”. Anteriormente a instalação do experimento, a área era cultivada com Brachiaria Brizantha cv. Marandu destinada à pastagem. Foi realizada a análise de amostra de solo coletada na profundidade de 0 a 20 cm, a qual apresentou as seguintes propriedades químicas e textura: pH em H2O de 5,0; 2,6 cmolc dm-3 de H+ + Al+3; 1,09 cmolc dm-3 de Ca+2; 0,38 cmolc dm-3 de Mg+2; 32 mg dm-3 de K; 4,4 mg dm-3 de P; 0,23 mg dm-3 de B; 0,4 mg dm-3 de Zn; 0,2 mg dm-3 de Cu; 4,8 mg dm-3 de Mn; 12,8 g dm-3 de M.O.; 85% de areia; 5% de silte e 10% de argila.
Realizou-se a abertura de área para cultivo da soja em outubro de 2022, sendo aplicado 8 toneladas ha-1 de calcário PRNT 85%, 35%CaO e 7%MgO, 343 kg ha-1 do formulado 5-35-00 + 10% Ca e 10% S e 50 kg ha-1 de Gran MSG 2.1.7.7 (3,20% “S”; 2,30% B; 1,20% Cu; 7,0% Mn; 7,20% Zn), 12 dias antes da semeadura (DAS) e incorporados com grade 46’’, 24” e niveladora, nesta sequência, para garantir a homogeneidade de contato com o solo.
Na safra 2022/2023, a semeadura mecanizada da soja foi realizada no dia 22/10/2022, adotandose espaçamento entrelinhas de 0,45 m, utilizando a cultivar Brasmax Olimpo IPRO, com densidade de semeadura de 11,2 sementes m-1 (250.000 sementes ha-1). As sementes utilizadas no experimento foram tratadas industrialmente com fungicidas e inseticidas.
Na adubação de semeadura, foi utilizado o formulado 5-35-00 (mistura de grânulos) aplicado no sulco de semeadura na dose de 300 kg ha-1. Após a colheita da soja, foi semeada a Brachiaria brizantha cv Marandu
Fertilidade do solo e Fertilizantes para formação de palhada para a safra seguinte.
Na safra 2023/2024, a semeadura da soja foi realizada de forma mecanizada no dia 02/11/2022, adotando-se espaçamento entrelinhas de 0,45 m, utilizando a variedade Brasmax Olimpo IPRO, com densidade de semeadura de 10,5 sementes m-1. As sementes utilizadas no experimento foram tratadas industrialmente com fungicidas e inseticidas. Foi realizada a adubação fosfatada à lanço com SS (0023-00) na dose de 250 kg ha-1. Após a colheita da soja, foi semeada a Brachiaria brizantha cv Marandu para formação de palhada para a safra seguinte.
No momento da semeadura, foram aplicados no sulco 20 doses ha-1 de Bradyrhizobium japonicum Estirpe SEMIA 5079 e SEMIA 5080, concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL-1) e 1 dose ha-1 do coinoculante Biomax Azum (Azospirillum brasilense, concentração mínima 3,0 x 103 UFC mL-1), 200 ml ha-1 Trichoderma asperellum BV-10 e 3 l ha-1 Bacillus subtilis. Durante o desenvolvimento da soja, todos os tratos culturais foram realizados de acordo com as recomendações técnicas, procedendo ao controle de plantas daninhas, pragas e doenças sem deixar que estes influenciassem negativamente o desenvolvimento da cultura.
As unidades experimentais foram compostas por nove linhas de semeadura, com comprimento de 10,0 m (40,0 m2). Considerou-se como área útil para as avaliações apenas as cinco linhas centrais de cada unidade experimental, excluindo-se as bordaduras. O delineamento experimental do primeiro ensaio foi em blocos ao acaso, com 9 tratamentos (Controle; KCl VO antes plantio (AP); KCl VO depois do plantio (DP); KCl 20 dias após semeadura (DAS); KCl 40 DAS; KCl VO DP + 20 DAS; KCl 20 DAS + 40 DAS; KCl VO DP + 40 DAS e KCl VO DP + 20 DAS + 40 DAS) e 4 repetições, sendo utilizado a dose de 180 kg K2O ha-1. Todos os resultados obtidos foram submetidos ao teste de Shapiro Wilk (normalidade), análise gráfica utilizando o diagrama de
caixa (Box Plot) e análise gráfica dos resíduos (Q-Q Plot). Os dados que não possuíam uma distribuição normal foram transformados pela fórmula [(x + 0,5)0,5] e à análise de variância com auxílio do programa R (R Core Team, 2018). As médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Scott-Knott, com significância de 10%.
O segundo experimento foi delineado em blocos ao acaso, com 4 doses anuais de potássio: 0, 60, 120 e 180 kg ha-1 de K2O via KCl aplicadas sem parcelamento no estágio V0 (DP) sendo 4 repetições. Todos os resultados obtidos foram submetidos ao teste de Shapiro Wilk (normalidade), análise gráfica utilizando o diagrama de caixa (Box Plot) e análise gráfica dos resíduos (Q-Q Plot). Os dados que não possuíam uma distribuição normal foram transformados pela fórmula [(x + 0,5)0,5] e à análise de variância com auxílio do programa R (R Core Team, 2018). As médias dos tratamentos comparadas pela análise de regressão, com significância de 10%.
Foram avaliados altura de plantas; peso de mil grãos (PMG); teores foliares de K, Ca e Mg; teor de K no solo e produtividade de grãos de soja. A amostragem de folhas foi realizada quando as plantas estavam no estágio R1/R2. Para determinação da produtividade de grãos, foi realizada a colheita de 10m lineares com colhedora de parcela e, posteriormente, os grãos foram embalados, identificados, pesados e aferido umidade para correção à 13%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de produtividade de grãos de soja submetidas à dose de 180 kg ha-1 de K2O via KCl, aplicado em diferentes estratégias, estão apresentados na Tabela 1. Foi observado diferença significativa de produtividade nas duas safras, destacando-se os tratamentos parcelados em duas aplicações e aplicação única aos 40 DAS. Observou-se também que
os resultados de K no solo (Tabela 2) não ultrapassaram 21% da elevação esperada (75 mg kg-1) para a dose aplicada em cada safra, sendo os maiores teores observados nos tratamentos parcelados ou aplicados aos 20 e 40 DAS.
Ao observarmos os resultados de produtividade das duas safras (Tabela 1) e os resultados de solo (Tabela 2), fica evidente que o parcelamento de K é imprescindível para aumentar a eficiência de uso deste nutriente em áreas arenosas.
Nota-se ainda que parcelar em três aplicações nem sempre é melhor que duas, conforme indicado
nos resultados da safra 22-23 (Tabela 1), quando estas estratégias não diferiram estatisticamente. Além disso, na safra 23-24, as estratégias de dois parcelamentos se destacaram em relação a aplicação dividida em três momentos, indicando que, sendo baixa a eficiência de K em solo arenosos, deve-se atentar para não faltar no início, principalmente quando não há ciclagem suficiente através da palhada e, ao mesmo tempo, é importante fazer aplicações tardias, por exemplo aos 40 DAS, pois não se faz estoque de K em solo arenoso (Tabela 3).
Tabela 1. Produtividade de grãos de soja em resposta às doses anuais de 180 kg ha-1 de K2O via KCl, aplicado em diferentes estratégias de aplicação. Chapadão do Céu (GO), 2022/2023 e 2023/2024.
Fontes Estratégia de aplicação Dose de K2O (kg/ha)
Produtividade (sacas ha
ns e * Não significativo e significativo, respectivamente. Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 10% de probabilidade.
Os resultados de altura de plantas, PMG e teores foliares de K, Ca e Mg e teor de K no solo após dois anos de aplicação anual de 180 kg ha-1 de K2O via KCl, em diferentes estratégias de aplicação, estão apresentados na Tabela 2. Foi observado diferença na altura de plantas, destacando-se as estratégias que tiveram aplicação aos 40 DAS, independente de parcelamento. As aplicações de K2O incrementaram,
em geral, os teores foliares de K em relação ao controle, exceto para uma das aplicações em V0. Os teores de K no solo foram superiores ao controle para todas as aplicações, porém as aplicações em V0 (AP e DP) foram inferiores aos resultados observados para as demais estratégias de aplicação.
Tabela 2. Altura de plantas, peso de mil grãos (PMG) e teores foliares de K, Ca e Mg e teor de K no solo após dois anos de aplicação anual de 180 kg ha-1 de K2O via KCl, em diferentes estratégias de aplicação. Chapadão do Céu (GO), 2023/2024.
Fontes
ns e * Não significativo e significativo, respectivamente. Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 10% de probabilidade.
Os resultados de produtividade de grão de soja submetidas às aplicações anuais de 0, 60, 120 e 180 kg ha-1 de K2O via KCl, aplicadas sem parcelamento no estágio V0 (DP), demonstram que doses crescentes de K2O não incrementaram a produtividade de soja nessa aplicação única imediatamente após a semeadura,
indicando a baixa eficiência de potássio devido às intensas perdas por lixiviação quando não se parcela este nutriente em área arenosa. Isso fica evidente com os resultados de K no solo (0-20 cm) (Tabela 3), os quais não diferiram em função das doses.
Tabela 3. Produtividade de grãos de soja em resposta às doses anuais 0, 60, 120 e 180 kg ha-1 de K2O via KCl, aplicadas sem parcelamento no estágio V0 (DP). Chapadão do Céu (GO), 2022/2023 e 2023/2024.
Fontes Modo de aplicação Dose de K2O (kg/ha) Produtividade (sacas ha-1) Teor de K foliar (mg
Safra 22-23 Safra 23-24 Média
Significância ns ns* ns
ns e * Não significativo e significativo, respectivamente. As médias dos tratamentos comparadas pela análise de regressão, com significância de 10%.
CONCLUSÃO
O parcelamento é imprescindível para aumentar a eficiência de uso de potássio em áreas arenosas, uma vez que as perdas por lixiviação são intensas e resultam em baixa eficiência das aplicações, não havendo acúmulo de potássio na camada superficial do solo (0-20 cm).
REFERÊNCIAS
CHERUBIN, M.R. Guia prático de plantas de cobertura: aspectos fitotécnicos e impactos sobre a saúde do solo.
Caracterização, potencial agrícola e perspectivas de manejo de solos leves no Brasil. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.51, n.9, p.1003-1020, set. 2016.
ERNANI, P.R.; ALMEIDA, J.A. & SANTOS, F.C. Potássio.
In: NOVAIS, R.F.; ALVAREZ V.,V.H.; BARROS, N.F.; FONTES, R.L.F.; CANTARUTTI, R.B. & NEVES, J.C.L. eds. Fertilidade do Solo. Viçosa, MG, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007b. p.551-594.
ROSOLEM, C.A., STEINER, F. Effects of soil texture and rates of K input on potassium balance in tropical soil. European Journal of Soil Science, v.68, p.658-666, 2017.
SANTOS, H. G.; JACOMINE, P. K. T.; ANJOS, L. H. C.; OLIVEIRA, V. A.; LUMBRERAS, J. F.; COELHO, M. R.; ALMEIDA, J. A.; CUNHA, T. J. F.; OLIVEIRA, J. B. Sistema brasileiro de classificação de solos. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. 5 ed. Brasília: Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 588 p, 2018.
SARKIS, L.F.; ALMEIDA, D.P.; GONÇALO, T.;
FERNANDES, R.H.; FERREIRA, A.; LIMA, DT. 2022. Solos arenosos: estratégias para uso eficiente de corretivos e fertilizantes e aumento do potencial produtivo de grãos desde a abertura de área. Anuário de Pesquisa CTC Agricultura 2021/2022
ESTRATÉGIAS PARA FORNECIMENTO DE ENXOFRE EM SOLOS ARENOSOS
1 Eng. Agrônomo. Mestre e Doutor em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas. Pesquisador em Fertilidade do Solo/Fertilizantes do Centro Tecnológico COMIGO - CTC, COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br
2 Eng. Agrônomo. Pesquisador do Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano – GAPES, Rio Verde-GO. E-mail: horacio.neto@gapescna.agr.br
3 Eng. Agrônoma. Mestre em produção vegetal. Analista de Dados do Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano - GAPES, Rio Verde-GO. E-mail: laudos@gapescna.agr.br;
4 Eng. Agrônomo. Analista de Dados do Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano - GAPES, Rio Verde-GO. E-mail: autielis@gapescna.agr.br
5 Eng. Agrônomo. Doutor em Fitotecnia. Pesquisador em Fitopatologia do Centro Tecnológico COMIGOCTC, COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: rafaelhenrique@ comigo.com.br
6 Eng. Agrônomo. Doutor em Entomologia. Pesquisador em Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO-CTC, COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: diegotolentino@comigo.com.br
7 Engenheira Agrônoma, Dr. em Agronomia. Pesquisadora Agronômica no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: amandamagalhães@comigo. com.br
8 Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia. Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico
COMIGO (CTC). E-mail: guilhermebraga@comigo.com.
br
9 Engenheiro agrônomo, Gerente de pesquisa do Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano - GAPES.
E-mail: gustavo.busato@gapescna.agr.br
10 Engenheiro agrônomo, Gerente de Geração e Difusão de Tecnologia do Centro Tecnológico COMIGO (CTC).
E-mail: eduardohara@comigo.com.br
INTRODUÇÃO
O enxofre (S) é encontrado predominantemente na forma orgânica no solo, e a capacidade de fornecimento está diretamente ligado ao teor de matéria orgânica e sua mineralização, que, gradualmente, disponibilizará o S na forma de sulfato para a solução do solo (SHARMA et al, 2024). Devido a fraca energia de ligação do sulfato ao solo, quando comparada, por exemplo, à do íon fosfato, esse processo potencializa sua percolação no perfil do solo, especialmente em solos de textura arenosa (OSÓRIO FILHO et al., 2007).
A capacidade do solo em fornecer S é baseada em fatores biológicos, químicos e físicos. Dentre os desafios e peculiaridades da dinâmica de S no solo que reduzem a eficiência das adubações, destacamos a tendência de acúmulo do nutriente nas camadas subsuperficiais, principalmente quando se aplica enxofre na forma de sulfato, que está sujeito a rápida movimentação no solo (PIAS et al, 2019). A definição de
fonte, dose, forma e momento de aplicação são fatores decisivos para aumento da eficiência das adubações. O sucesso da estratégia a ser adotada depende ainda de outros fatores que são dinâmicos e interdependentes, como o uso de plantas de cobertura e microclima da região.
As adubações em áreas arenosas apresentam peculiaridades devido à baixa capacidade de retenção de água e nutrientes (SARKIS et al, 2022), e sabe-se que o principal fator responsável pela resposta as adubações com S para as culturas é a disponibilidade de S-SO42- na camada de 0-20 cm (PIAS et al, 2019). O uso do gesso apenas como fonte nutricional de enxofre pode trazer desbalanços nutricionais e contribuir no carreamento de alguns nutrientes para a subsuperfície, como potássio e magnésio (TIECHER et al., 2018), o que pode ser intensificado em áreas de textura arenosa. Neste contexto, fornecer S via adubação fosfatada ou através do enxofre elementar pastilhado são opções que servem como ferramentas para evitar aplicações calendarizadas de gesso ou o uso deste condicionador de solo apenas como fonte nutricional de S. Assim, o objetivo desse trabalho em parceria entre o Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste GoianoGAPES e a Cooperativa COMIGO foi avaliar estratégias para fornecimento de enxofre em solo arenoso em dois anos de soja-braquiária.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado a campo nas safras 2022/2023 e 2023/2024 em um Neossolo Quartzarênico (SANTOS et al., 2018), com 100 g kg-1 (10%) de argila nas camadas de 0-20 cm e 20-40 cm, localizado na Fazenda Santa Bárbara, município de Chapadão do Céu – GO (18°17’55.1”S 52°32’02.9”W, altitude de 800 m). De acordo com classificação de Köppen, o clima de Chapadão do Céu é do tipo Aw, que
recebe denominação de “tropical com estação seca”. Anteriormente a instalação do experimento, a área era cultivada com Brachiaria Brizantha cv. Marandu destinada a pastagem. Foi realizada a análise de amostra de solo coletada em profundidade de 0 a 20 cm, a qual apresentou as seguintes propriedades químicas e textura: pH em H2O de 5,0; 2,6 cmolc dm-3 de H+ + Al+3; 1,09 cmolc dm-3 de Ca+2; 0,38 cmolc dm-3 de Mg+2; 32 mg dm-3 de K; 4,4 mg dm-3 de P; 0,23 mg dm-3 de B; 0,4 mg dm-3 de Zn; 0,2 mg dm-3 de Cu; 4,8 mg dm-3 de Mn; 12,8 g dm-3 de M.O.; 85% de areia; 5% de silte e 10% de argila.
Realizou-se a abertura de área para cultivo da soja em outubro de 2022, sendo aplicado 8 toneladas ha-1 de calcário PRNT 85%, 35%CaO e 7%MgO, 343 kg ha-1 do formulado 5-35-00 + 10% Ca e 10% S e 50 kg
ha-1 de Gran MSG 2.1.7.7 (3,20% “S”; 2,30% B; 1,20% Cu; 7,0% Mn; 7,20% Zn), 12 dias antes da semeadura (DAS) e incorporados com grade 46’’, 24” e niveladora, nesta sequência, para garantir a homogeneidade de contato com o solo.
Na safra 2022/2023, a semeadura mecanizada da soja foi realizada no dia 22/10/2022, adotandose espaçamento entrelinhas de 0,45 m, utilizando a cultivar Brasmax Olimpo IPRO, com densidade de semeadura de 11,2 sementes m-1 (250.000 sementes ha-1). As sementes utilizadas no experimento foram tratadas industrialmente com fungicidas e inseticidas.
Na adubação de semeadura, foi utilizado o formulado 5-35-00 (mistura de grânulos) aplicado no sulco de semeadura na dose de 300 kg ha-1. Após a colheita da soja, foi semeado Brachiaria brizantha cv Marandu para formação de palhada para a safra seguinte.
Na safra 2023/2024, a semeadura da soja foi realizada de forma mecanizada no dia 02/11/2022, adotando-se espaçamento entrelinhas de 0,45 m, utilizando a variedade Brasmax Olimpo IPRO, com densidade de semeadura de 10,5 sementes m-1. As
sementes utilizadas no experimento foram tratadas industrialmente com fungicidas e inseticidas. Foi realizada a adubação fosfatada à lanço com SS (0023-00) na dose de 250 kg ha-1. Após a colheita da soja, foi semeado Brachiaria brizantha cv Marandu para formação de palhada para a safra seguinte.
No momento da semeadura, foram aplicados no sulco 20 doses ha-1 de Bradyrhizobium japonicum
Estirpe SEMIA 5079 e SEMIA 5080, concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL-1) e 1 dose ha-1 do coinoculante Biomax Azum (Azospirillum brasilense, concentração mínima 3,0 x 103 UFC mL-1), 200 ml ha-1 Trichoderma asperellum BV-10 e 3 l ha-1 Bacillus subtilis. Durante o desenvolvimento da soja, todos os tratos culturais foram realizados de acordo com as recomendações técnicas, procedendo ao controle de plantas daninhas, pragas e doenças sem deixar que estes influenciassem negativamente no desenvolvimento da cultura.
As unidades experimentais foram compostas por nove linhas de semeadura, com comprimento de 10,0 m (40,0 m2). Considerou-se como área útil para as avaliações apenas as cinco linhas centrais de cada unidade experimental, excluindo-se as bordaduras.
O delineamento experimental do primeiro ensaio foi em blocos ao acaso, com 6 tratamentos (Controle; 37,5 kg ha-1 S0; 37,5 ha-1S0 + 1t ha-1gesso; 75 kg ha-1 S0; 75 kg ha-1 S0 + 1t ha-1gesso; 1t ha-1 gesso) e 4 repetições. Todos os resultados obtidos foram submetidos ao teste de Shapiro Wilk (normalidade), análise gráfica utilizando o diagrama de caixa (Box Plot) e análise gráfica dos resíduos (Q-Q Plot). Os dados que não possuíam uma distribuição normal foram transformados pela fórmula [(x + 0,5)0,5] e à análise de variância com auxílio do programa R (R Core Team, 2018). As médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Scott-Knott, com significância de 10%.
O segundo experimento foi delineado em blocos ao acaso, com 7 doses de gesso: 0; 0,25; 0,5; 1; 1,25;
1,5 e 2,25 t ha-1 tratamentos sendo 4 repetições. Todos os resultados obtidos foram submetidos ao teste de Shapiro Wilk (normalidade), análise gráfica utilizando o diagrama de caixa (Box Plot) e análise gráfica dos resíduos (Q-Q Plot). Os dados que não possuíam uma distribuição normal foram transformados pela fórmula [(x + 0,5)0,5] e à análise de variância com auxílio do programa R (R Core Team, 2018). As médias dos tratamentos comparadas pela análise de regressão, com significância de 10%.
Foram avaliados os teores de S no solo nas camadas 0-20 e 20-40 cm e produtividade de grãos de soja. A amostragem de folhas foi realizada quando as plantas estavam no estágio R1/R2. Para determinação da produtividade de grãos, foi realizada a colheita de 10 m lineares com colhedora de parcela e, posteriormente os grãos foram embalados, identificados, pesados e aferido umidade para correção à 13%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de produtividade de grãos de soja em resposta às estratégias de aplicação de enxofre (37,5 kg ha-1 S0; 37,5 kg ha-1 S0 + 1 t ha-1 de gesso; 75 kg ha-1 S0; 75 kg ha-1 S0 + 1 t ha-1 de gesso; 1 t ha-1 de gesso) estão apresentados na Figura 1. Houve diferença significativa para os tratamentos na safra 2223, destacando-se as estratégias de fornecimento de enxofre através da fonte elementar pastilhada. Quando essa aplicação foi associada ao gesso, houve redução de produtividade, uma vez que o gesso induziu a deficiência de potássio que não havia sido parcelado (Figura. 2; Tabela 1). Já na safra 23-24, ano mais seco que resultou em menores médias de produtividade, não houve diferença significativa de produtividade entre os tratamentos, destacando-se que, nesta última safra, não houve reaplicação de gesso e o potássio foi aplicado aos 40 DAS.
Figura 1. Produtividade de grãos de soja em resposta às estratégias de aplicação de enxofre (37,5 kg ha-1 S0; 37,5 kg ha-1 S0 + 1 t ha-1 de gesso; 75 kg ha-1 S0; 75 kg ha-1 S0 + 1 t ha-1 de gesso; 1 t ha-1 de gesso)" Chapadão do Céu (GO), 2022/2023 e 2023/2024. ns - Não significativo. Letras minúsculas indicam diferença significativa entre os tratamentos em cada safra a 10% de probabilidade pelo teste F. Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 10% de probabilidade.
Figura 2. Comparação visual entre as estratégias de fornecimento de enxofre (37,5 kg ha-1 S0; 37,5 kg ha-1 S0 + 1 t ha-1 de gesso; 75 kg ha-1 S0; 75 kg ha-1 S0 + 1 t ha-1 de gesso; 1 t ha-1 de gesso) em área arenosa sem parcelamento de potássio na safra 2022-2023.
Observou-se também que as aplicações de gesso reduziram o teor de magnésio na camada da 20-40 cm, indicando também o carreamento deste nutriente (Tabela 1).
Tabela 1. Resultados das análises de solo nas camadas 0-20 e 20-40 cm para as estratégias de aplicação de enxofre (37,5 kg S0; 37,5 kg S0 + 1t gesso; 75 kg S0; 75 kg S0 + 1t gesso; 1 gesso). Chapadão do Céu (GO), 2023/2024.
Letras minúsculas nas colunas indicam a diferença significativa entre os tratamentos para as camadas 0-20 e 20-40cm pelo teste F. Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 10% de probabilidade.
Os resultados de produtividade de grãos de soja submetida às doses de gesso: 0; 0,25; 0,5; 1; 1,25; 1,5 e 2,25 t ha-1 não resultaram em incremento significativo de produtividade em nenhuma das duas safras avaliadas. Essa ausência de resposta pode ser explicada pela abertura de área com dose mais elevada de calcário e incorporação em profundidade, não havendo problema com alumínio na camada de 20-40 cm. Além disso, o principal fator responsável pela resposta as adubações com S para as culturas é a disponibilidade de S-SO42- na camada de 0-20 cm (PIAS et al, 2019), porém, em solos arenosos, a movimentação do S-SO42- é rápida, não havendo acúmulo nas camadas superficiais (Tabela 1).
CONCLUSÃO
Em áreas bem corrigidas com calcário, o uso do gesso apenas como fonte nutricional de enxofre pode trazer desbalanços nutricionais e contribuir no carreamento de nutrientes como K e Mg para a subsuperfície, podendo resultar em perdas de produtividade quando não se parcela potássio. O enxofre elementar é uma estratégia interessante para fornecimento e manutenção do nutriente na camada de 0-20 em solos arenosos.
REFERÊNCIAS
OSÓRIO FILHO, B.D.; RHEINHEIMER, D.S.; SILVA, L.S.; KAMINSKI, J.; DIAS, G.F. Deposição do enxofre Estratégia de adubação
atmosférico no solo pelas precipitações pluviais e respostas de culturas à adubação sulfatada em sistema plantio direto. Ciência Rural, v.37, p.712-719, 2007.
PIAS, O.H.C; TIECHER, T.; CHERUBIN, M.R.; MAZURANA, M.; BAYER, C. Crop yield responses to sulfur fertilization in Brazilian no-till soils: a systematic review. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 43: 0180078, 2018.
SANTOS, H. G.; JACOMINE, P. K. T.; ANJOS, L. H. C.; OLIVEIRA, V. A.; LUMBRERAS, J. F.; COELHO, M. R.; ALMEIDA, J. A.; CUNHA, T. J. F.; OLIVEIRA, J. B. Sistema brasileiro de classificação de solos. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. 5 ed. Brasília: Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 588 p, 2018.
SARKIS, L.F.; ALMEIDA, D.P.; GONÇALO, T.;
FERNANDES, R.H.; FERREIRA, A.; LIMA, DT. 2022. Solos arenosos: estratégias para uso eficiente de corretivos e fertilizantes e aumento do potencial produtivo de grãos desde a abertura de área. Anuário de Pesquisa CTC Agricultura 2021/2022
SHARMA, R. K.; COX, M. S., JAGMANDEEP, C. O.; DHILLON, S.; Revisiting the role of sulfur in crop production: A narrative review. Journal of Agriculture and Food Research, v. 15, 2024.
TIECHER T, PIAS OHC, BAYER C, MARTINS AP, DENARDIN LGO, ANGHINONI I. Crop response to gypsum application to subtropical soils under no-till in Brazil: a systematic review. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.42: e0170025, 2018.
Fisiologia e Nutrição de Plantas
BIOESTIMULANTES NA ESTRUTURAÇÃO DE PLANTAS DE SOJA: ANÁLISE DE PARÂMETROS
1Enga. Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br;
2Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Fitopatologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: rafaelhenrique@comigo.com.br;
3Eng. Agrônomo, MS. em Fertilidade do Solo, Pesquisador Agronômico em Fertilidade do Solo e Fertilizantes do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: leonardofernandes@ comigo.com.br
4Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Plantas Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br;
5Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: diegotolentino@comigo.com.br;
INTRODUÇÃO
O manejo de estruturação de plantas é uma prática agrícola que visa direcionar o desenvolvimento fisiológico e morfológico das culturas, com foco na formação ideal da arquitetura vegetal para otimizar os processos produtivos. Esse manejo envolve
técnicas que promovem uma distribuição eficiente de biomassa, buscando maximizar a interceptação de luz e, consequentemente, a fotossíntese. Na cultura da soja, a estruturação de plantas é trabalhada com estratégias que influenciem positivamente o número de ramos, nós, vagens e, finalmente, o número e o peso dos grãos, refletindo na produtividade.
O manejo da cultura da soja, por meio da estruturação de plantas, se destaca pelo seu potencial em otimizar a interceptação de luz e aumentar a eficiência da fotossíntese (RIZWAN et al., 2015). Esses fatores são críticos, pois, em culturas de dossel fechado como a soja, a capacidade de captar a luz solar de forma uniforme em todos os extratos de crescimento da planta pode fazer a diferença entre uma lavoura de alta ou baixa produtividade (SOUSA et al., 2021). A estruturação das plantas também facilita uma maior absorção de nutrientes, resultando em plantas mais robustas e capazes de manter um crescimento vegetativo equilibrado (SFREDO, 2004). Dessa forma, essa prática visa não apenas modular os componentes produtivos da soja, mas também tornar a cultura mais resiliente e responsiva às mudanças ambientais, essenciais para a estabilidade da produção. Diversos manejos podem ser adotados, com a finalidade na produção de estímulos para a estruturação das lavouras de soja, que iniciam no manejo químico, físico e biológico do solo, escolha da cultivar, espaçamento entre
plantas, população de plantas, utilização de substâncias bioestimulantes, dentre outros. Os bioestimulantes de plantas, têm sido empregados para auxiliar no manejo de estruturação, devido à sua capacidade de interagir diretamente com processos fisiológicos que modulam o desenvolvimento da planta (BARBOSA DA SILVA et al., 2023).
Bioestimulantes à base de hormônios vegetais, como auxinas, citocininas e giberelinas, têm sido amplamente utilizados na agricultura, com o objetivo de promover divisão celular, elongação e diferenciação de tecidos, elementos-chave na formação de uma planta estruturada (SHEHZAD et al., 2024). Além disso, bioestimulantes que contêm aminoácidos, ácidos húmicos e extratos de algas fornecem compostos que facilitam a absorção de nutrientes e aumentam a resistência da planta a estresses (EL BOUKHARI et al., 2020; KOCIRA, 2019). Esses componentes não apenas estimulam o desenvolvimento, mas também aumentam a capacidade da planta de se adaptar às condições de campo.
Embora o manejo de estruturação esteja intimamente relacionado à regulação de crescimento, esses conceitos não são sinônimos. A regulação de crescimento tende a focar no controle do tamanho e vigor das plantas, prevenindo um crescimento vegetativo excessivo que possa prejudicar o rendimento reprodutivo (ZHOU et al., 2018). Já a estruturação de plantas, embora integre aspectos da regulação, vai além ao buscar um equilíbrio entre o desenvolvimento vegetativo e a formação de componentes reprodutivos, como flores, frutos e grãos. Assim, enquanto a regulação de crescimento é frequentemente usada para reduzir o porte e melhorar a estabilidade, a estruturação visa maximizar a produtividade e adaptabilidade, construindo uma planta que responda eficientemente ao ambiente e aos insumos fornecidos (HALPERN et al., 2015).
O uso de bioestimulantes para a estruturação das
plantas pode, entretanto, apresentar efeitos colaterais se não for bem manejado. Doses excessivas ou aplicações em estádios de crescimento inadequados podem provocar um crescimento vegetativo exacerbado em detrimento do desenvolvimento reprodutivo, o que impactaria negativamente a formação de vagens e grãos (SHEHZAD et al., 2024). Além disso, a interferência de bioestimulantes na fisiologia da planta pode resultar em interações complexas que exigem um acompanhamento criterioso para assegurar que a produtividade não seja comprometida. Dessa forma, é fundamental que o uso de bioestimulantes seja realizado com precisão, considerando as fases fenológicas da cultura e o equilíbrio adequado entre estímulo ao crescimento e direcionamento para a produção (BROWN; SAA, 2015).
Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo avaliar os efeitos do uso de bioestimulantes na estruturação de plantas de soja, buscando definir práticas que maximizem o potencial produtivo e minimizem os possíveis impactos negativos. Para tanto, serão analisados os diferentes tipos de bioestimulantes, suas doses e épocas de aplicação, visando otimizar o desenvolvimento fisiológico e morfológico da cultura em condições de campo.
MATERAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na área experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC), no município de Rio Verde, Goiás, nas coordenadas geográficas de latitude 17°45’59,21”S e longitude 51°2’3.,00”O e 843 m de altitude. O clima da região é classificado como Aw (Savana Tropical), conforme classificação Köppen (ALVARES et al., 2013), com estação seca no inverno (maio a setembro) e chuvosa no verão (outubro a abril).
Ao longo do ciclo da cultura, os índices de precipitação pluvial e temperatura, foram monitorados, por meio da
estação agrometeorológica Plugfield® modelo WS22, instalada nas proximidades da área experimental
(Figuras 1 e 2).
O solo da área experimental foi classificado como
171 mm –
Dias do ciclo da soja
514,2 mm – estádios
684,9 mm – volume de chuva total acumulado no período
Figura 1. Precipitação pluvial diária e acumulada ao longo dos estádios vegetativos e reprodutivos da cultura da soja, temperaturas máxima, média e mínima na área experimental do Centro Tecnológico Comigo no intervalo dos dias 24/10/2023 a 26/02/2024, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24.
Decêndios da safra 23/24 – da semeadura a colheita
Figura 2. Balanço hídrico (mm) (DEF – Déficits e EXC – Excedentes hídricos), com base nos dados da estação agrometeorológica Plugfield localizada na área experimental do Centro Tecnológico Comigo no intervalo dos dias 24/10/2023 a 26/02/2024, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24.
LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico, de textura argilosa (>35% de argila). Antes da instalação dos experimentos, foram realizadas amostragens nas
camadas de 0-20 cm e 20-40 cm de profundidade, para análise dos atributos químicos e granulometria do solo (Quadro 1).
Quadro 1. Análise química do solo antes da implantação dos experimentos com aplicação foliar de bioestimulantes, reguladores de crescimento e fertilizantes foliares, na cultura da soja em diferentes estádios de desenvolvimento, visando a estruturação de plantas, em área de cultivo experimental localizada no Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24.
20 a 40 cm
As necessidades de correção e adubação, foram calculadas, com base nas exigências nutricionais da cultura (SOUSA, Djalma Martinhão Gomes; LOBATO, 2004). Em pré-semeadura, foi realizada a aplicação de 1,5 t ha-1 de gesso agrícola e calcário em área total, sem revolvimento do solo e 220 kg ha-1 do fertilizante formulado 05-25-25 à lanço. Na ocasião da semeadura, via suco de plantio, foram aplicados 120 kg ha-1 do fertilizante formulado 05-25-25. Ainda no sulco de plantio com auxílio de jato dirigido, com volume de aplicação de 60 L ha-1, foram aplicados 1,2 L ha-1 do inoculante Cell Tech® contendo duas cepas de Bradyrhizobium japonicum (Semias 5079 e 5080, com 3x109 UFC/mL); 0,2 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum® (Azospirillum brasilense, 3x108 UFC/ mL); inseticida biológico Meta-Turbo® na dose de 0,5 L ha-1 (Metarhizium anisopliae IBCB425 mínimo de 1x108 propágulos viáveis/mL); fungicida biológico Trico-turbo® 0,1 L ha-1 (Trichoderma asperellum BV10 mínimo de 1x1010 conídios viáveis/mL) e 0,2 L ha-1 do nematicida Verango® Prime. Aproximadamente 10 dias após a semeadura, foram aplicados à lanço, 76 kg ha-1 de cloreto de potássio (KCl).
A semeadura ocorreu no dia 24/10/2023 e a cultivar de soja utilizada no experimento foi a Brasmax Olimpo IPRO, grupo de maturação 8.0, com hábito de crescimento indeterminado, com população final de 220.000 planta ha-1. Os manejos de plantas daninhas, insetos praga e doenças, foram realizados conforme o levantamento das necessidades por meio de avaliações periódicas da área e as boas práticas agrícolas. Foram levados em conta os preceitos do manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas (MIP, MID e MIPD) para a tomada de decisão quanto ao método de controle utilizado. Estes tratos culturais foram adotados em toda a área experimental.
O estudo foi realizado em delineamento em blocos casualizados com quatro repetições, tendo como objetivo a aplicação foliar de bioestimulantes, com a proposta de manejo da estruturação de plantas de soja (Quadro 2), com um total de 7 tratamentos.
Quadro 2. Descrição dos tratamentos contendo bioestimulantes, reguladores de crescimento e fertilizantes foliares, aplicados na cultura da soja em diferentes estádios de desenvolvimento, visando a estruturação de plantas, em área de cultivo experimental localizada no Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24.
Cada unidade experimental foi composta por 10 linhas espaçadas em 0,50 m, contendo 10 m de comprimento (50 m2 por parcela). As avaliações foram realizadas nas seis fileiras centrais, excluindo-se 0,50 m das extremidades. As pulverizações foliares foram realizadas de acordo com o estádio de desenvolvimento da cultura, com a aplicação das doses comerciais dos tratamentos propostos utilizados. Para pulverização das unidades experimentais, utilizou-se um pulverizador de parcelas pressurizado por CO2 (Patente: BR102016007565-3) montado em trator. O pulverizador possui barra de 5,0 metros com 10 bicos de pulverização espaçados em 0,5 m. Utilizou-se pontas modelo ADIA 015.D da marca Magnojet. A calibração do equipamento foi ajustada com pressão de trabalho em 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação de 100 L ha-1.
A colheita ocorreu em 26/02/2024, completando um ciclo de 126 dias, desde a data da semeadura. Para a colheita das unidades amostrais, utilizou-se uma colhedora de parcelas da marca Zürn Harvesting (modelo Zürn 110). Durante o processamento, o material colhido foi trilhado, identificado e pesado, com correção da umidade dos grãos para 13%, e posteriormente realizada a conversão da produtividade para a unidade de sc ha⁻¹. Na data da colheita foram selecionadas aleatoriamente, cinco plantas por parcela, nas quais foram avaliados os componentes de produção: altura final de plantas (cm), diâmetro da haste principal (mm), número de nós na haste principal, número de hastes laterais, distância entre nós (cm), nó de inserção da primeira vagem, número de vagens com um, dois, três e quatro grãos, número total de vagens, vagens por nó e grãos por vagem.
A partir da metodologia estatística, foram avaliadas as significâncias dos fatores e suas interações, por meio da análise de variância (ANOVA) pelo teste F a 5% de probabilidade. Para as variáveis qualitativas, as médias foram comparadas a partir do teste Scott-Knott a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As aplicações foliares de bioestimulantes com o objetivo de estruturar as plantas, não influenciaram em parâmetros como o diâmetro da haste principal, que apresentou uma média de 8,06 mm nas plantas de soja avaliadas, número de hastes laterais, com média de 4,3 hastes por planta. Além disso, a inserção da primeira vagem ocorreu, em média, no 5° nó. No entanto, as aplicações dos bioestimulantes não influenciaram significativamente o número de vagens com dois grãos, que foi de 24,77 por planta em média, nem o número de vagens por nó, cuja média foi de 3,43.
Tabela 1. Valores médios, F calculado e coeficiente de variação (CV) dos parâmetros de plantas e vagens dos experimentos bioestimulantes, reguladores de crescimento e fertilizantes foliares, aplicados na cultura da soja em diferentes estádios de desenvolvimento, visando a estruturação de plantas, em área de cultivo experimental localizada no Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24.
Parâmetros de plantas
Tratamentos
Parâmetros de vagens
** significativo a 1% e ns não significativo a 5% de probabilidade pelo teste F. Letras iguais nas linhas não diferem entre si, pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade.
A altura das plantas foi diretamente influenciada pela aplicação dos produtos Biozyme® e Stimulate®, resultando em uma redução média de 8 cm na altura.
Já as aplicações foliares do bioestimulante Stopping Go® aumentaram o número de nós na haste principal, adicionando em média 3,25 nós produtivos em comparação com a testemunha. Os tratamentos com aplicações foliares de Maxcel® V4 + Pro-Gibb® (R1 e R1+15), Maxcel® + Pro-Gibb® (V4), Shift® e Stopping Go® estimularam o desenvolvimento de um maior número de nós nas hastes laterais, adicionando, em média, 7 nós em comparação com a testemunha.
A distância entre os nós também foi reduzida pela aplicação de Stopping Go®, diminuindo em 1 cm essa variável (Tabela 1).
Os componentes de produção relacionados ao rendimento de grãos também apresentaram respostas significativas aos tratamentos aplicados. Todas as aplicações aumentaram o número de vagens com 1 grão. Em particular, os tratamentos com Stopping
Go®, Biozyme®, Shift® e Maxcel® + Pro-Gibb® (V4) aumentaram, em média, 10 vagens com 3 grãos em relação à testemunha, o que resultou em um acréscimo no número total de vagens; as plantas tratadas produziram, em média, 14,5 vagens a mais (Tabela 1).
Os resultados apresentados na Figura 3 indicam que a produtividade de grãos de soja foi significativamente influenciada pela aplicação foliar dos diferentes bioestimulantes avaliados. A aplicação do produto comercial Stimulate®, com a dose de 0,5 L ha-1 no estádio V4 e 0,25 L ha-1 proporcionou 3,87% de incremento em produtividade em relação à testemunha, atingindo 75,44 sc ha-1. O produto Stimulate® é composto por citocinina, ácido giberélico e ácido indolbutírico. As citocininas estimulam a divisão celular e o desenvolvimento de brotos laterais, favorecendo a formação de hastes laterais e, consequentemente, aumentando a área foliar e o número de pontos potenciais para a formação de vagens (KERBAUY, 2004).
Figura 3. Produtividade de grãos em função da aplicação foliar de bioestimulantes e fertilizantes foliares, na cultura da soja em diferentes estádios de desenvolvimento, visando a estruturação de plantas, em área de cultivo experimental localizada no Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24. Média: 72,63 – CV: 4% - F: 12,21**.
** significativo a 1% de probabilidade pelo teste F. Letras iguais não diferem entre si, pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade.
As giberelinas promovem o alongamento celular, influenciando diretamente o crescimento em altura das plantas e o aumento do tamanho das hastes, além de contribuírem para a diferenciação floral, o que pode afetar o número e o posicionamento de vagens. Já as auxinas, como o ácido indolbutírico, desempenham um papel crucial na formação de raízes e no alongamento das células, contribuindo para um sistema radicular mais eficiente e o estabelecimento da planta (TAIZ et al., 2017). A interação entre esses hormônios é fundamental para o equilíbrio entre crescimento vegetativo e reprodutivo, proporcionando uma estrutura robusta e bem desenvolvida, capaz de suportar uma maior carga produtiva. A utilização do produto comercial com a combinação dos hormônios pode ter contribuído para um crescimento mais equilibrado entre a parte vegetativa e produtiva da planta, favorecendo a alocação de recursos para a formação de vagens e grãos.
O tratamento com Stopping GO® apresentou a maior produtividade do experimento, alcançando 79,64 sc ha1, com incremento de 9,65% em relação a testemunha.
O Stopping GO®, contendo 5% de nitrogênio, foi o tratamento que apresentou os melhores resultados em termos de estruturação e produtividade. Embora tenha ureia e nitrato de amônio em sua composição, esses efeitos não podem ser atribuídos na dose aplicada.
No Brasil, a legislação para o registro de fertilizantes foliares é regulamentada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e inclui normas específicas que estabelecem os requisitos para a composição, rotulagem e comercialização desses produtos. De acordo com a Instrução Normativa nº 39 de 2010 e outras legislações complementares, os fabricantes de fertilizantes foliares precisam registrar seus produtos e apresentar a composição dos nutrientes essenciais.
No entanto, alguns bioestimulantes podem ter registros diferentes, como fertilizantes especiais ou estimulantes
biológicos, e nem sempre são obrigados a detalhar todos os componentes no rótulo, especialmente quando se trata de compostos orgânicos ou bioativos em concentrações pequenas, que podem ser considerados como segredos industriais. Isso pode dificultar a compreensão sobre os ingredientes exatos e seus efeitos no desenvolvimento das plantas, como é o caso do Stopping GO®, onde não se tem informações claras sobre todos os componentes da fórmula. A ausência dessas informações pode tornar desafiador o entendimento de como cada composto específico atua no crescimento e estruturação das culturas.
CONCLUSÕES
As aplicações de bioestimulantes foliares contribuíram para reduzir a altura das plantas, aumentar o número de nós na haste principal e estimular o desenvolvimento de nós nas hastes laterais e em alguns casos, também foram observados incrementos em números de vagens e produtividade de grãos. Isso sugere que o uso dos bioestimulantes, pode promover uma estrutura mais equilibrada das plantas, favorecendo o rendimento produtivo. A eficácia dos bioestimulantes observada está associada à composição específica de cada produto, bem como ao manejo adequado das doses e dos estádios fenológicos de aplicação.
AGRADECIMENTOS
Sinceros agradecimentos à Comigo e ao Centro Tecnológico Comigo (CTC), bem como a todos os técnicos de campo e estagiários, pelo apoio fundamental na condução deste trabalho de pesquisa. A infraestrutura disponibilizada e o suporte técnico prestado foram essenciais para o desenvolvimento e realização deste estudo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SOUSA, Djalma Martinhão Gomes; LOBATO, Edson.
Cerrado: correção do solo e adubação. 2. ed. Brasília: Embrapa Informações Tecnológicas, 2004.
SOUSA, Silveira; HURTADO, Alexander Calero; DE, Renato. Nutritional and Structural Role of Silicon in Attenuating Aluminum Toxicity in Sugarcane Plants. 2021.
TAIZ, Lincon et al. Fisiologia e desenvolvimento vegetal. Diversidade vegetal. 2017. v. 6 ed.
ZHOU, Lina et al. Exogenous hydrogen peroxide inhibits primary root gravitropism by regulating auxin distribution during Arabidopsis seed germination. Plant Physiology and Biochemistry, v. 128, n. May, p. 126–133, 2018. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j. plaphy.2018.05.014>.
DEFINIÇÃO DE FAIXAS DE SUFICIÊNCIA NUTRICIONAIS
POR MEIO DO BANCO DE DADOS
DRIS: FERRAMENTAS PARA INTERPRETAÇÃO DE ANÁLISES FOLIARES EM SOJA
BUENO, Amanda Magalhães
Enga. Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br
A análise foliar é uma ferramenta essencial no manejo da cultura da soja, pois permite o monitoramento do estado nutricional das plantas, enquanto elas ainda estão sendo cultivadas (DE SOUZA et al., 2020). De modo que, tendo como base a cultura como extratora dos nutrientes, a análise foliar fornece informações detalhadas sobre sua disponibilidade, refletindo a real capacidade da planta em absorver os elementos do solo (SESAYF; SHIBLES, 1980). Além disso, a análise foliar pode ser utilizada como ferramenta estratégica, auxiliando na tomada de decisões sobre a necessidade de se realizar adubações foliares, visando a correção de possíveis deficiências ao longo do ciclo da cultura (DE ALMEIDA et al., 2017a). No entanto, para a efetividade da utilização da análise, o método escolhido para realizar sua interpretação, é de extrema importância, pois se utilizado de forma correta, permite o manejo nutricional assertivo para a cultura.
A interpretação das análises foliares pode
ser realizada por diferentes métodos, sendo estes classificados como tradicionais ou convencionais, como os níveis críticos (NC) e as faixas de suficiência (FS) (DE SOUZA et al., 2020; SANTOS et al., 2013), além de métodos alternativos como o Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação (DRIS - Diagnosis and Recommendation Integrated System) e Diagnose da Composição Nutricional (CND - Compositional Nutrient Diagnosis) (BEVERLY et al., 1986; FERREIRA et al., 2024). Os métodos tradicionais, têm como base, as concentrações absolutas de cada nutriente no tecido da planta. Eles estabelecem limites específicos (níveis críticos) ou intervalos (faixas de suficiência) para definir se um nutriente está em quantidade suficiente, em deficiência, ou em excesso, (MALAVOLTA, 2006; SOUSA; LOBATO, 2004). Essas faixas são determinadas a partir de experimentos de calibração onde o nutriente é isoladamente testado em diferentes doses para identificar sua concentração ideal no tecido vegetal.
Em contrapartida, os métodos alternativos como o DRIS e CND, adotam uma abordagem integrativa. O DRIS trabalha com relações binárias entre nutrientes (como N/P, Ca/Mg) e utiliza populações de alta produtividade como referência para identificar desequilíbrios entre pares de nutrientes, possibilitando um diagnóstico
mais equilibrado e uma hierarquização dos nutrientes limitantes (BANGROO et al., 2020). O CND, por sua vez, aplica uma análise multivariada que considera todos os nutrientes simultaneamente, calculando um índice de balanço nutricional com base na composição nutricional completa da planta (SANTOS et al., 2013). Diferente dos métodos tradicionais, DRIS e CND oferecem uma visão mais precisa das interações nutricionais, permitindo uma recomendação mais direcionada e eficiente na correção do estado nutricional das plantas (FERREIRA et al., 2024).
Os métodos tradicionais de interpretação de análises foliares, apresentam vantagens, pois são de fácil interpretação, oferecem valores de referência tabelados que propiciam diagnósticos rápidos de deficiências ou excessos nutricionais ao avaliar cada nutriente isoladamente (PARTELLI et al., 2014). No entanto, esses métodos possuem limitações significativas, pois não consideram as interações entre nutrientes e tendem a ignorar especificidades de cultivos regionais e fatores como tipo de solo e potencial produtivo, o que pode levar a diagnósticos imprecisos. Em contraste, os métodos alternativos, como DRIS e CND, ao avaliar o balanço nutricional completo e as relações entre nutrientes, ajustamse melhor às condições específicas de cada cultivo e região (BEVERLY, 1987; MORRIS, 1994). Por outro lado, esses métodos são mais complexos, demandam bases de dados regionais extensas e podem exigir maior habilidade para interpretação, além de serem menos aplicáveis em locais sem dados históricos de produtividade e nutrição adequados (CALHEIROS et al., 2018b)
Por meio do banco de dados formado para o DRIS, é possível desenvolver uma tabela com faixas de suficiência para interpretação de análises foliares ao estabelecer normas específicas que indicam os níveis ótimos de nutrientes (MELO et al., 2018;
PARTELLI et al., 2014; SANTOS et al., 2013). O sistema DRIS utiliza uma base de dados de amostras foliares, coletadas em diferentes condições de cultivo e fases de desenvolvimento da planta, para calcular índices que refletem o balanço nutricional e identificar nutrientes limitantes (DE SOUZA et al., 2020). A partir desses índices, determinam-se as concentrações adequadas de nutrientes para culturas específicas, considerando fatores regionais e o potencial produtivo da planta. Essa abordagem permite a criação de faixas de suficiência mais precisas e contextualizadas, pois leva em conta a interação entre os nutrientes, diferente de métodos tradicionais que analisam cada elemento isoladamente Para definir as faixas de suficiência de nutrientes utilizando o Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação (DRIS), é necessário primeiro estabelecer uma “população de referência” composta por plantas de alto rendimento e com equilíbrio nutricional adequado (ALVAREZ; LEITE, 1992). A partir dessa população, coletam-se e analisam-se amostras foliares para determinar os teores de macro e micronutrientes (BEVERLY et al., 1986). Utilizando o DRIS, calculam-se normas baseadas nas relações entre os nutrientes (e não em valores absolutos), criandose índices específicos para o contexto da cultura e condições locais. Os índices DRIS permitem identificar desequilíbrios nutricionais, onde valores negativos indicam deficiência relativa e positivos indicam excesso. Assim, define-se uma faixa de suficiência, que representa concentrações ideais de nutrientes para o desenvolvimento equilibrado das plantas (LETZSCH; SUMNER, 1983). Essa abordagem fornece diagnósticos precisos e ajustados às condições reais, sendo menos afetada por variáveis como idade foliar e posição na planta, o que permite intervenções nutricionais mais eficazes e um melhor aproveitamento do potencial produtivo da cultura.
Embora cada método apresente suas
especificidades, eles ainda podem ser complementares, de modo que, com base nos bancos de dados gerados para elaboração dos índices DRIS, é possível realizar a delimitação das faixas de suficiência de nutrientes. As faixas de suficiência geradas pelo DRIS, podem ser regionalizadas, baseadas em dados locais, o que permite considerar variações de solo, clima e práticas agrícolas específicas (LEANDRO, 2016; MORRIS, 1994). Garantindo que as interpretações do estado nutricional da cultura, em face das condições reais do cultivo. Com o uso dessas faixas, os produtores podem identificar com maior precisão deficiências ou excessos nutricionais e ajustar as práticas de adubação para promover o equilíbrio ideal de nutrientes. Dessa forma, o objetivo do presente estudo é estabelecer faixas de suficiência nutricional para a cultura da soja com base na análise foliar (excluindo o pecíolo) realizada nos estádios reprodutivos R2R3, especificamente para a região sudoeste de Goiás. A pesquisa tem como foco áreas agrícolas comerciais, cultivadas em altitude superior a 800 m, nos municípios de Santa Helena de Goiás, Rio Verde, Mineiros, Jataí, Paraúna e Santa Helena de Goiás, visando criar um referencial regional de diagnóstico que permita monitorar e otimizar o manejo nutricional para a maximização da produtividade da soja nessas condições edafoclimáticas locais. Os municípios em questão, compõem o banco de dados DRIS COMIGO Região 1.
MATERAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada em áreas de cultivo comercial de soja, nos municípios de Serranópolis, Rio Verde, Mineiros, Jataí, Montividiu e Paraúna, no estado de Goiás. Esses municípios foram determinados, com base na área de atuação da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (COMIGO),
tendo como critérios:
1. Área de cultivo comercial ou experimental de soja;
2. Com altitude superior a 700 m;
3. Áreas homogêneas, semeadas com a mesma cultivar de soja;
4. Proprietários cooperados e atendidos pela COMIGO.
Durante a safra de soja do ano agrícola de 2022/23, foram selecionadas 243 áreas, e 240 áreas no ano agrícola 2023/24, totalizando 483 unidades amostrais. Em cada uma das áreas foram coletadas cerca de 40 amostras de folhas diagnósticas de soja (terceira folha completamente expandida a partir do ápice) (MALAVOLTA et al., 1997), sem o pecíolo, com a lavoura no estádio de desenvolvimento R2 – R3. As amostras foram analisadas conforme metodologia proposta por SILVA (2009), a fim de determinar os terrores foliares de nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn) e zinco (Zn).
Os resultados das análises foliares foram correlacionados com as respectivas produtividades de grãos (sc ha-1) atingidas nos talhões. O banco de dados foi organizado conforme o grupo de maturação da cultivar em questão, e dentro dos grupos de cultivares, foram determinadas as populações de referência (grupos de alta produtividade) e as populações com produtividade abaixo do desejado (grupos de baixa produtividade) (BANGROO et al., 2020; BEVERLY, 1987) sendo:
• Ciclo Precoce: até 105 dias. Alta produtividade ≥70 sc ha-1 e baixa produtividade <70 sc ha-1;
• Ciclo Médio: de 106 a 120 dias. Alta produtividade ≥75 sc ha-1 e baixa produtividade <75 sc ha-1;
• Ciclo Tardio: acima de 120 dias Alta produtividade ≥80 sc ha-1 e baixa produtividade <75 sc ha-1.
A partir da metodologia estatística, foram avaliadas, por meio da análise de variância pelo teste F a 5% de probabilidade (p-valor <0,05), a significância dos teores de nutrientes foliares, entre as cultivares de ciclo precoce, médio e tardio, bem como, se dentro dos grupos de maturação, existiam diferenças significativas para teores nutricionais em função das populações de alta e baixa produtividade. A partir da significância dos resultados, foram estabelecidas as faixas de suficiência de nutrientes para as cultivares de ciclo precoce, médio e tardio, em função dos grupos de alta produtividade (BEVERLY, 1987; CALHEIROS et al., 2018a; JONES; BOWEN, 1981).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No banco de dados DRIS COMIGO Região 1, com um total de 483 amostras de diferentes cultivares de soja, 220 foram classificadas como de cultivares de ciclo precoce. Dessas, 86% apresentaram produtividade
CICLO PRECOCE
Referência > 70 sc ha-1
igual ou superior a 70 sc ha⁻¹, sendo 189 amostras de alta produtividade e 31 de baixa produtividade (Figura 1).
Nas áreas estudadas, os produtores optam por realizar duas safras anuais em sequeiro: a soja é a cultura principal na primeira safra, ou safra de verão (outubro a março), enquanto o milho é preferencialmente cultivado na segunda safra, ou safrinha (fevereiro a junho). Para otimizar essa estratégia, os produtores escolhem cultivares de soja de ciclo rápido, que aliam alto potencial produtivo e permitem a semeadura do milho dentro de uma janela climática favorável. Esse manejo está diretamente relacionado ao clima da região, que apresenta estações bem definidas, com um período seco no inverno (maio a setembro) e chuvoso no verão (outubro a abril), sendo classificado como Aw (Savana Tropical), conforme a classificação de Köppen (ALVARES et al., 2013).
CICLO MÉDIO
CICLO TARDIO
Referência > 80 sc ha-1 ≥ ≥ ≥
Referência > 75 sc ha-1
Figura 1. Percentual de amostras de produtividade de soja, por ciclo, extraídas do banco de dados DRIS COMIGO Região 1, referentes às safras 22/23 e 23/24, que atingiram ou superaram os limites estabelecidos para as populações de referência.
Entre as 162 cultivares de ciclo médio, 32% alcançaram produtividades iguais ou superiores a 75 sc ha⁻¹ (52 amostras), enquanto aproximadamente 110 talhões avaliados apresentaram produtividades abaixo do nível desejado pelos produtores. Um comportamento semelhante foi observado nas cultivares de ciclo tardio: das 101 amostras presentes no banco de dados, mais da metade (53%), ou 53 talhões comerciais, registraram produtividades de soja inferiores ao limite estabelecido para a população de referência (Figura 1).
Neste cenário, assim como ocorreu para as cultivares de ciclo precoce, observa-se uma maior quantidade de amostras de soja de ciclo médio em comparação às de ciclo tardio devido à preferência dos produtores por cultivares que equilibrem produtividade e viabilidade de plantio de uma segunda safra, como o milho, dentro de uma janela climática adequada. As cultivares de ciclo médio permitem uma colheita antecipada em relação às de ciclo tardio, proporcionando melhor aproveitamento do período chuvoso e reduzindo o risco de estresse hídrico no final do ciclo (EMBRAPA, 2005; OLIVEIRA et al., 2016).
Neste contexto, a maior quantidade de amostras de soja de ciclo médio em relação às de ciclo tardio reflete não apenas a preferência dos produtores por cultivares que conciliem alta produtividade com a
possibilidade de uma segunda safra, mas também as diferenças nos patamares de produtividade estabelecidos como referência para cada ciclo. Para cultivares de ciclo precoce, o patamar de produtividade de referência foi de 70 sc ha-1, enquanto para as de ciclo médio e tardio foram de 75 sc ha-1 e 80 sc ha-1, respectivamente. Esse aumento gradual no patamar de produtividade acompanha o potencial produtivo esperado para cada tipo de cultivar, mas também impõe desafios adicionais (NETO, 2022).
Cultivares de ciclo médio e tardio demandam maior investimento em manejo e insumos, visando atender ao seu maior potencial de produtividade, especialmente aquelas de ciclo tardio. Contudo, essas cultivares estão expostas por mais tempo às variações climáticas e a estresses abióticos, o que por um lado, permite com que elas possuam maior possibilidade de recuperação desses estresses ao longo no ciclo, no entanto, também aumenta o risco de que o retorno não atinja o patamar desejado (ALVES et al., 2024). Em comparação, as cultivares de ciclo precoce, que por possuírem ciclo mais curto e um patamar de produtividade de referência menor, exigem menor aporte de investimento e possuem maior probabilidade de atingir o rendimento esperado dentro do período favorável de chuvas.
Tabela 1. Resultados das análises de solo nas camadas 0-20 e 20-40 cm para as estratégias de aplicação de enxofre (37,5 kg S0; 37,5 kg S0 + 1t gesso; 75 kg S0; 75 kg S0 + 1t gesso; 1 gesso). Chapadão do Céu (GO), 2023/2024.
Variáveis
** significativo a 1% e ns não significativo a 5% de probabilidade pelo teste F. Letras iguais não diferem entre si nas colunas, pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade.
Embora que as cultivares de ciclo precoce tenham apresentado mais estabilidade produtiva (Figura 1), a produtividade média das cultivares de ciclo tardio (78,86 sc ha⁻¹) foi a mais alta entre os grupos, seguida pelas de ciclo precoce (76,85 sc ha⁻¹) e, por último, as de ciclo médio (68,64 sc ha⁻¹). Estes resultados refletem a adaptação das cultivares de ciclo tardio a maiores investimentos e potencial produtivo. No entanto, vale considerar que essas cultivares também possuem maiores exigências nutricionais, como evidenciado nos teores médios de nutriente foliares (Tabela 1). A variabilidade (CV) na produtividade foi menor nas cultivares de ciclo precoce (8,83%) e maior nas de ciclo médio (12,98%), sugerindo que cultivares de ciclo médio apresentam uma instabilidade produtiva maior sob as condições do banco de dados analisado (Tabela 1).
O teor de nitrogênio foi significativamente maior nas cultivares de ciclo médio (51,30 g kg⁻¹) e ciclo tardio (49,53 g kg⁻¹) em comparação às de ciclo precoce (45,73 g kg⁻¹). Essas cultivares permanecem por mais tempo no campo, o que permite uma maior interação com as bactérias fixadoras de nitrogênio, especialmente em ambientes onde o manejo do solo favorece a nodulação e a fixação biológica. Embora as análises tenham sido realizadas em amostras foliares coletadas em estádios de desenvolvimento similares, independentemente do ciclo da cultivar, é comum que cultivares de ciclo médio e tardio apresentem um desenvolvimento vegetativo mais robusto em comparação às de ciclo precoce. Esse maior crescimento em altura, número de ramificações, número de folhas e espessamento da haste, por exemplo, reflete em uma maior acumulação de biomassa e, consequentemente, em um teor
mais elevado de matéria seca (DE BRITO et al., 2015; VERMA et al., 2002). Esses fatores aumentam a demanda por nitrogênio, uma vez que, na planta, esse nutriente é essencial para a síntese de proteínas, enzimas e clorofila, todos componentes fundamentais para o desenvolvimento vegetativo. O nitrogênio participa diretamente dos processos de fotossíntese e crescimento celular, sendo crucial para sustentar a expansão das estruturas vegetativas, como folhas e hastes, que permitem uma maior captação de luz e, por consequência, uma capacidade fotossintética ampliada (DE ALMEIDA et al., 2017b). Assim, cultivares de ciclo médio e tardio, apresentam um período vegetativo prolongado, necessitam de um aporte mais elevado de nitrogênio para manter o vigor vegetativo ao longo de seu ciclo, suportando o acúmulo de biomassa que é necessário para atingir altos níveis de produtividade durante o enchimento de grãos (EPSTEIN, 2004).
O teor foliar médio de fósforo, embora numericamente similar entre as cultivares, foi estatisticamente superior nas cultivares de ciclo tardio (3,75 g kg⁻¹), seguido pelo ciclo médio (3,54 g kg⁻¹) e ciclo precoce (3,43 g kg⁻¹) (Tabela 1). Esse aumento no teor de P nas cultivares de ciclo tardio reflete a importância do fósforo em processos metabólicos essenciais, especialmente em cultivares com ciclos mais longos. O fósforo é fundamental para o desenvolvimento radicular, o que facilita a absorção de água e nutrientes durante todo o ciclo da planta (MALAVOLTA, 2006). Além disso, ele desempenha importantes funções na transferência de energia dentro das células, através de compostos como o ATP, que são essenciais para o crescimento e a manutenção de um alto potencial fotossintético (TAIZ et al., 2014).
Nas cultivares de ciclo tardio, com ciclo vegetativo mais prolongado e maior acúmulo de biomassa, o fósforo é particularmente importante para suportar o metabolismo energético elevado necessário para a
expansão de tecidos e o enchimento de grãos. Assim, maiores exigências em P observadas nas cultivares de ciclo tardio e médio, não apenas sustentam o crescimento vegetativo, mas também preparam a planta para um enchimento de grãos eficiente, garantindo que a demanda energética durante essa fase seja atendida. As cultivares de ciclo médio apresentaram os maiores teores foliares médios de potássio (19,69 g kg⁻¹), seguidas pelas de ciclo precoce (17,73 g kg⁻¹) e ciclo tardio (14,83 g kg⁻¹). Esse resultado reflete a maior demanda de potássio por essas cultivares nos estádios R2 - R3, momento em que as amostras foliares foram coletadas. Nessa fase, o potássio é essencial para o transporte de açúcares dos órgãos fonte (folhas completamente expandidas), para os órgãos dreno (folhas novas, flores e vagens no início da formação) e também atua na regulação osmótica, funções que nessa fase, dão suporte ao crescimento vegetativo (TAIZ et al., 2014). As cultivares de ciclo tardio, no entanto, atingem o pico de absorção de potássio durante o enchimento de grãos, quando o nutriente é crucial para a translocação de fotoassimilados, dando suporte ao enchimento e maior peso dos grãos. Esse comportamento diferenciado explica o teor mais baixo de potássio nas folhas das cultivares tardias durante os estádios iniciais (R2 - R3), pois o pico de demanda ocorre em uma fase posterior (PRADO, 2021).
As cultivares de ciclo precoce apresentaram os maiores teores de cálcio (10,65 g kg⁻¹), com o ciclo médio e tardio apresentando teores decrescentes (8,14 e 7,18 g kg⁻¹, respectivamente). O teor mais alto de Ca nas cultivares precoces pode estar relacionado a um maior desenvolvimento radicular inicial, essencial para um ciclo curto e rápido aproveitamento de nutrientes (FAQUIN, 2005). Esta característica pode também favorecer uma maior tolerância a estresses abióticos em condições limitantes, justificando, em parte, a menor variabilidade produtiva nas cultivares de ciclo
precoce.
Os teores de Mg e S foram mais elevados nas cultivares de ciclo precoce (3,74 e 3,37 g kg⁻¹, respectivamente), enquanto as cultivares de ciclo tardio apresentaram os menores teores. Esses elementos são cruciais para processos metabólicos, e seu maior teor nas cultivares precoces pode contribuir para a rápida formação de compostos necessários ao desenvolvimento vegetativo (KINGSTON, 2013). Essa alta concentração inicial pode ser estratégica, considerando o ciclo curto dessas cultivares, e se reflete na sua capacidade de atingir produtividades adequadas com menor variabilidade.
Os teores de micronutrientes apresentaram variabilidade entre os ciclos, com destaque para o Fe e o Zn, que foram significativamente maiores nas cultivares de ciclo precoce e médio. O ferro teve o valor mais
alto nas cultivares de ciclo precoce (196,76 mg kg⁻¹), que contribui para processos de síntese de clorofila e é especialmente necessário em cultivares de rápido crescimento (DECHEN et al., 2018). Já o teor foliar de zinco foi mais alto nas cultivares de ciclo precoce (48,09 mg kg⁻¹), o que pode favorecer o desenvolvimento inicial das plantas. Esses teores elevados em cultivares precoces indicam que a absorção de micronutrientes é mais eficiente nesses ciclos para suportar o rápido desenvolvimento, enquanto as cultivares de ciclo tardio, com crescimento mais prolongado, podem atender a essas demandas ao longo do tempo, o que justifica os teores mais baixos.
Tabela 2. Comparação entre os valores médios de produtividade e teores nutricionais de nutrientes em folhas de soja sem o pecíolo, coletadas nos estádios R2 –R3, das populações de alta e baixa produtividade, em cultivares de diferentes ciclos, extraídos do banco de dados DRIS COMIGO
Região 1, safras 22/23 e 23/24.
A Tabela 2 apresenta uma comparação detalhada entre os teores foliares médios de nutrientes e a produtividade média de soja para cultivares de ciclo precoce, médio e tardio, divididas em populações de alta e baixa produtividade. Com base nesses resultados, é possível observar algumas tendências e diferenças significativas em relação à nutrição foliar em cada ciclo, além de identificar padrões de demanda nutricional entre as populações de diferentes produtividades.
A produtividade média foi significativamente maior para as populações de alta produtividade em todos os ciclos (precoce, médio e tardio), confirmando que existem diferenças na capacidade de rendimento das cultivares dentro de cada grupo. A produtividade foi mais elevada para as cultivares de ciclo tardio na população de alta produtividade (86,41 sc ha⁻¹) e menor para a população de baixa produtividade de ciclo médio (64,56 sc ha⁻¹). Esse comportamento reflete a adaptação das cultivares de ciclo tardio a um maior acúmulo de biomassa e a uma fase de enchimento de grãos mais prolongada, o que favorece o ganho de produtividade quando as condições nutricionais e de manejo são adequadas.
O teor de fósforo foi significativamente maior nas populações de alta produtividade em todos os ciclos, refletindo a importância desse nutriente para o desenvolvimento das cultivares de soja, especialmente para o processo de enchimento de grãos e para a transferência de energia. Como o fósforo é essencial para a formação de ATP e outros compostos de energia, seu aumento nas populações de alta produtividade está associado a um metabolismo energético mais eficiente, favorecendo o crescimento e o enchimento dos grãos. Essa diferença nos teores de P destaca sua importância como um nutriente crítico para alcançar produtividades mais elevadas (SESAYF; SHIBLES, 1980).
Os teores de potássio também foram significativamente mais altos nas populações de
alta produtividade em todos os ciclos. O potássio desempenha funções essenciais na regulação osmótica, transporte de açúcares e ativação enzimática, todos processos críticos durante o desenvolvimento e o enchimento de grãos. A maior presença de K nas populações de alta produtividade reforça o papel desse nutriente na sustentação de um crescimento equilibrado e na resposta da planta a estresses abióticos(MEURER; TIECHER; MATTIELLO, 2018). Em particular, para as cultivares de ciclo médio, o potássio mostrou a menor variação (CV de 14,08%) (Tabela 1), o que indica uma absorção mais uniforme e eficiente entre as populações de diferentes produtividades.
O cálcio e o magnésio apresentaram pouca variação entre as populações de alta e baixa produtividade nas cultivares de ciclo precoce e tardio, sugerindo que esses nutrientes não são fatores limitantes para a produtividade nesses ciclos (ZHARARE; ASHER; BLAMEY, 2011). Para as cultivares de ciclo médio, houve uma diferença significativa no teor de Mg entre as populações de alta e baixa produtividade, indicando que o Mg pode ter uma função mais determinante nesse ciclo. O magnésio é um componente central da molécula de clorofila e essencial para a fotossíntese, o que pode contribuir para o maior rendimento nas cultivares de ciclo médio, que têm um crescimento vegetativo mais acentuado (RODRIGUES et al., 2021).
Para os micronutrientes, algumas tendências específicas foram observadas. Em geral, boro e cobre não apresentaram diferenças significativas entre as populações de alta e baixa produtividade na maioria dos ciclos, sugerindo uma menor demanda desses nutrientes ou uma menor sensibilidade ao seu nível foliar. No entanto, o ferro (Fe) e o manganês (Mn) foram significativamente mais elevados nas populações de alta produtividade para o ciclo médio, sugerindo que esses micronutrientes podem ter uma influência
maior no potencial produtivo das cultivares com esse ciclo. O ferro é essencial para a síntese de clorofila e o transporte de elétrons na fotossíntese, enquanto o manganês atua na fotossíntese e na síntese de proteínas, sendo importantes para sustentar o vigor das plantas e contribuir para maior produtividade (MARSCHNER, 2012).
Com base nos dados observados nas Tabelas 1 e 2, é possível elaborar uma tabela de interpretação da análise foliar específica para a Região 1, utilizando o método das faixas de suficiência. A construção das Faixas de Suficiência para os teores foliares de nutrientes em soja na Região 1, é fundamentada nas diferenças de produtividade e teores nutricionais observadas entre as cultivares de ciclos precoce, médio e tardio, assim como entre os grupos de alta e baixa produtividade. Os resultados encontrados no presente estudo, indicam que as populações de alta produtividade possuem teores nutricionais mais equilibrados e específicos para determinados nutrientes, o que sugere que essas plantas atingiram um estado nutricional ideal para maximizar o rendimento. Ao utilizar os teores de
nutrientes dessas populações de alta produtividade como referência, é possível estabelecer faixas de suficiência que orientam o manejo nutricional com maior precisão.
Desse modo, a Tabela 3 apresenta as faixas de suficiência para os teores de nutrientes foliares em cultivares de soja de ciclos precoce, médio e tardio, desenvolvidas com base no banco de dados DRIS COMIGO da Região 1, para as safras 22/23 e 23/24. Esses valores foram comparados com os padrões estabelecidos no Boletim Cerrado (SOUZA; LOBATO, 2004), que representa uma referência geral para as condições de cultivo de soja nos municípios da Região 1. Observa-se que as faixas de suficiência variam entre os ciclos, refletindo as necessidades nutricionais específicas de cada tipo de cultivar. Em muitos casos, as faixas estabelecidas diferem dos valores do Boletim Cerrado, sugerindo que uma abordagem mais específica para as condições regionais e os ciclos de cultivo pode oferecer uma interpretação mais precisa dos teores foliares.
Tabela 3. Faixas de suficiência para os teores de nutrientes foliares, em amostras sem o pecíolo, para a cultura da soja, com base no banco de dados DRIS COMIGO Região 1, safras 22/23 e 23/24.
Teor Foliar de Nutrientes
Por exemplo, os teores de nitrogênio (N) variam de 35,14 a 74,42 g kg⁻¹ entre os ciclos, enquanto o Boletim Cerrado recomenda uma faixa mais estreita de 45 a 55 g kg⁻¹. As faixas mais amplas indicam que a exigência de N pode variar substancialmente conforme o ciclo da cultivar, com as cultivares de ciclo tardio, por exemplo, apresentando um limite superior de suficiência mais elevado. Da mesma forma, o potássio (K) também apresenta faixas distintas por ciclo, com valores mais elevados para o ciclo médio, refletindo a maior necessidade desse nutriente em cultivares de desenvolvimento intermediário. Comparado ao Boletim Cerrado, que recomenda um intervalo de 17 a 25 g kg⁻¹ para o K, as faixas definidas na Tabela 3 capturam variações que podem estar associadas ao potencial produtivo e ao manejo específico das cultivares.
As faixas apresentadas na Tabela 3 são mais específicas, levando em conta o comportamento nutricional das populações de alta produtividade da Região 1. Assim, esses valores podem ser considerados um padrão de interpretação mais adequado para a análise foliar na soja cultivada nesta região. No entanto, para que essas faixas sejam eficientes, é essencial que a coleta das folhas ocorra nos estádios de desenvolvimento R2 – R3, pois essas faixas foram estabelecidas com base em amostras coletadas nesses estágios. Coletas realizadas fora desse período podem não refletir corretamente as necessidades e a absorção de nutrientes da planta, o que poderia comprometer a interpretação dos resultados e, consequentemente, as recomendações de manejo.
CONCLUSÕES
O Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação (DRIS) é uma ferramenta eficaz para a interpretação da análise foliar em soja, seu banco de dados regionalizado, é capaz de gerar padrões para interpretação de análises foliares, por meio
de métodos convencionais, como o das faixas de suficiência. Essas faixas regionais são uma referência mais ajustada e atualizada ao contexto edafoclimático, mas devem ser aplicadas em amostras coletadas no mesmo estádio fenológico em que o banco de dados foi gerado (R2-R3) para garantir a precisão das interpretações e recomendações de manejo. O DRIS, portanto, se consolida como um método complementar e potencialmente superior às faixas de suficiência tradicionais, permitindo um manejo nutricional mais eficiente e maximizando a produtividade da soja na região.
AGRADECIMENTOS
Sinceros agradecimentos à equipe da Cooperativa Comigo, aos agrônomos do departamento assistência técnica, e aos técnicos e estagiários do CTC, pelo apoio fundamental na elaboração realização deste trabalho. A cooperação e o empenho de todos foram indispensáveis para a construção deste trabalho.
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MITIGAÇÃO DE ESTRESSE CLIMÁTICO NA SOJA: EFICÁCIA
DO USO DE BIOESTIMULANTES E FERTILIZANTES FOLIARES
BUENO, Amanda Magalhães1; LIMA, Diego Tolentino de2; FERNANDES, Rafael Henrique3; BRAZ, Guilherme Braga Pereira4; SARKIS, Leonardo Fernandes5
1Enga. Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br;
2Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: diegotolentino@comigo.com.br;
3Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Fitopatologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: rafaelhenrique@comigo.com.br;
4Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Plantas Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br;
5Eng. Agrônomo, MS. em Fertilidade do Solo, Pesquisador Agronômico em Fertilidade do Solo e Fertilizantes do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: leonardofernandes@ comigo.com.br.
INTRODUÇÃO
Estresses ambientais representam um conjunto de condições adversas que comprometem
o desenvolvimento das plantas, impactando diretamente seu metabolismo e, consequentemente, a produtividade agrícola. Entre os principais estresses enfrentados por culturas agrícolas estão o déficit hídrico, as temperaturas extremas, a salinidade do solo e a deficiência de nutrientes, que afetam o crescimento e a saúde das plantas ao longo de seu ciclo (TAIZ et al., 2017). Esses fatores são ainda mais críticos no contexto de mudanças climáticas, que intensificam a frequência e severidade desses eventos, exigindo o desenvolvimento de estratégias eficientes de manejo para mitigá-los (Aydinalp et al., 2008).
A cultura da soja (Glycine max (L.) Merrill), amplamente cultivada no Brasil, é particularmente sensível a estresses abióticos, que influenciam diretamente a fisiologia e a nutrição das plantas (SHAFFIQUE et al., 2023). Sob condições adversas, as plantas de soja apresentam redução na taxa fotossintética, menor absorção de nutrientes e alterações no metabolismo celular, levando a uma diminuição na formação de componentes de produção, como o número de vagens e grãos por planta (DIMKPA et al., 2017). Esse comprometimento fisiológico é refletido na produtividade final e na qualidade dos grãos, o que faz necessária, a busca por práticas de manejo que promovam a resiliência da planta frente a esses estresses (REIS et al., 2017).
Os Bioestimulantes e fertilizantes foliares surgem como alternativas promissoras para atenuar os efeitos negativos dos estresses ambientais em plantas de soja (NACHTIQAÜ; NAVA, 2010). Os bioestimulantes, compostos por substâncias naturais, atuam na melhora da tolerância das plantas ao estresse, auxiliando na recuperação fisiológica e na otimização do metabolismo (SOUZA et al., 2023). Diferente dos fertilizantes, que fornecem nutrientes específicos, os bioestimulantes atuam diretamente em processos fisiológicos das plantas, aumentando sua eficiência na absorção de nutrientes, resistência ao estresse e desenvolvimento de estruturas essenciais para a produtividade.
Entre os compostos comumente presentes em bioestimulantes, estão hormônios vegetais, como auxinas, giberelinas e citocininas, além de aminoácidos, ácidos húmicos e fúlvicos, e extratos de algas (EL BOUKHARI et al., 2020; KOCIRA, 2019; SHEHZAD et al., 2024). Esses produtos são cada vez mais utilizados para melhorar a adaptação das plantas a condições adversas, como seca e salinidade, e para otimizar a resposta a manejos agronômicos, aumentando a eficiência do cultivo e contribuindo para uma agricultura mais sustentável e resiliente (Singh et al., 2016).
Os fertilizantes foliares, principalmente aqueles contendo micronutrientes com cobre, zinco, ferro e manganês, e macronutrientes como nitrogênio, fósforo e magnésio, também podem ter função fisiológica na atenuação e mitigação de estresses, pois proporcionam nutrição rápida e eficiente, permitindo a correção de deficiências nutricionais e estímulos fisiológicos em momentos críticos do ciclo da soja, melhorando a resistência ao estresse e favorecendo o crescimento (Almendros et al., 2019; Flores et al., 2018).
Diante desse contexto, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a eficiência de diferentes bioestimulantes e fertilizantes foliares aplicados na cultura da soja, visando identificar a melhor estratégia
para a mitigação dos efeitos dos estresses ambientais e promover o incremento da produtividade em condições climáticas adversas de cultivo.
MATERAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em área experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC), no município de Rio Verde, Goiás, nas coordenadas geográficas de latitude 17°45’59,62”S e longitude 51°2’2,74”O e 844 m de altitude. O clima da região é classificado como Aw (Savana Tropical), conforme classificação Köppen (ALVARES et al., 2013), com estação seca no inverno (maio a setembro) e chuvosa no verão (outubro a abril). Ao longo do ciclo da cultura, os índices de precipitação pluvial e temperatura, foram monitorados, por meio da estação agrometeorológica Plugfield® modelo WS22, instalada nas proximidades da área experimental (Figuras 1 e 2).
Dias do ciclo da soja
Figura 1. Precipitação pluvial diária e acumulada ao longo dos estádios vegetativos e reprodutivos da cultura da soja, temperaturas máxima, média e mínima na área experimental do Centro Tecnológico Comigo no intervalo dos dias 24/10/2023 a 26/02/2024, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24.
Decêndios da safra 23/24 – da semeadura a colheita
Figura 2. Balanço hídrico (mm) (DEF – Déficits e EXC – Excedentes hídricos), com base nos dados da estação agrometeorológica Plugfield localizada na área experimental do Centro Tecnológico Comigo no intervalo dos dias 24/10/2023 a 26/02/2024, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24.
O solo da área experimental foi classificado como LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico, de textura argilosa (>35% de argila). Antes da instalação dos experimentos, foram realizadas amostragens nas camadas de 0-20 cm e 20-40 cm de profundidade, para análise dos atributos químicos e granulometria do solo (Quadro 1).
Quadro 1. Análise química do solo antes da implantação dos experimentos com aplicação foliar de bioestimulantes, reguladores de crescimento e fertilizantes foliares, na cultura da soja em diferentes estádios de desenvolvimento, visando a mitigação de estresses ambientais e estruturação de plantas, em área de cultivo experimental localizada no Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24.
As necessidades de correção e adubação, foram calculadas, com base nas exigências nutricionais da cultura (SOUSA; LOBATO, 2004). Em pré-semeadura, foi realizada a aplicação de 1,5 t ha-1 de gesso agrícola e calcário em área total, sem revolvimento do solo e 220 kg ha-1 do fertilizante formulado 05-25-25 à lanço. Na ocasião da semeadura, via suco de plantio, foram aplicados 120 kg ha-1 do fertilizante formulado 05-25-25.
Ainda no sulco de plantio com auxílio de jato dirigido, com volume de aplicação de 60 L ha-1, foram aplicados 1,2 L ha-1 do inoculante Cell Tech® contendo duas cepas de Bradyrhizobium japonicum (Semias 5079 e 5080, com 3x109 UFC/mL); 0,2 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum® (Azospirillum brasilienses, 3x108 UFC/ mL); inseticida biológico Meta-Turbo® na dose de 0,5 L ha-1 (Metarhizium anisopliae IBCB425 mínimo de 1x108 propágulos viáveis/mL); fungicida biológico Trico-turbo® 0,1 L ha-1 (Trichoderma asperellum BV10 mínimo de 1x1010 conídios viáveis/mL) e 0,2 L ha-1 do nematicida Verango® Prime. Aproximadamente 10 dias após a semeadura, foram aplicados à lanço, 76 kg ha-1
de cloreto de potássio (KCl).
A semeadura ocorreu no dia 24/10/2023 e a cultivar de soja utilizada no experimento foi a Brasmax Olimpo IPRO, grupo de maturação 8.0, com hábito de crescimento indeterminado, com população final de 220.000 planta ha-1. Os manejos de plantas daninhas, insetos praga e doenças, foram realizados conforme o levantamento das necessidades por meio de avaliações periódicas da área e as boas práticas agrícolas. Foram levados em conta os preceitos do manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas (MIP, MID e MIPD) para a tomada de decisão quanto ao método de controle utilizado. Estes tratos culturais foram adotados em toda a área experimental.
O experimento foi realizado, em delineamento em blocos casualizados com quatro repetições, com foco em avaliar a eficiência do uso de bioestimulantes, reguladores de crescimento e fertilizantes foliares com a proposta de mitigação de estresses ambientais, em aplicações foliares na cultura da soja, totalizando 16 tratamentos (Quadro 2).
Quadro 2. Descrição dos tratamentos contendo bioestimulantes, reguladores de crescimento e fertilizantes foliares, aplicados na cultura da soja em diferentes estádios de desenvolvimento, visando a mitigação de estresses ambientais, em área de cultivo experimental localizada no Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24.
Cada unidade experimental foi composta por 10 linhas espaçadas em 0,50 m, contendo 10 m de comprimento (50 m2 por parcela). As avaliações foram realizadas nas seis fileiras centrais, excluindose 0,50 m das extremidades. As pulverizações foliares foram realizadas de acordo com o estádio de desenvolvimento da cultura, com a aplicação das doses comerciais dos tratamentos propostos utilizados. Para pulverização das unidades experimentais, utilizouse um pulverizador de parcelas pressurizado por CO2 (Patente: BR102016007565-3) montado em trator. O pulverizador possui barra de 5,0 metros com 10 bicos de pulverização espaçados em 0,5 m. Utilizou-se pontas modelo ADIA 015.D da marca Magnojet. A calibração do equipamento foi ajustada com pressão de trabalho em 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação de 100 L ha-1
A colheita ocorreu em 26/02/2024, completando um ciclo de 126 dias, desde a data da semeadura. Para a coleta das unidades amostrais, utilizou-se uma colhedora de parcelas da marca Zürn Harvesting (modelo Zürn 110). Durante o processamento, o material colhido foi trilhado, identificado e pesado, com correção da umidade dos grãos para 13%, e posteriormente realizada a conversão da produtividade para a unidade de sc ha⁻¹. Na data da colheita foram selecionadas aleatoriamente, cinco plantas por parcela, nas quais foram avaliados os componentes de produção: altura final de plantas (cm), diâmetro da haste principal (mm), número de nós na haste principal, número de hastes laterais, distância entre nós (cm), nó de inserção da primeira vagem, número de vagens com um, dois, três e quatro grãos, número total de vagens, vagens por nó e grãos por vagem.
A partir da metodologia estatística, foram avaliadas as significâncias dos fatores e suas interações, por meio da análise de variância (ANOVA) pelo teste F a 5% de probabilidade. Para as variáveis qualitativas, as
médias foram comparadas a partir do teste Scott-Knott a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base nas Figuras 1 e 2, que apresentam as informações agrometeorológicas nas condições de cultivo do presente estudo, foi possível avaliar que na safra em questão, os fatores climáticos como volumes de chuva e temperatura, apresentaram comportamento adverso, o que influenciou o cultivo de soja na região. Na safra 2023/24, as temperaturas máximas no início da semeadura da cultura preocuparam os produtores do sudoeste goiano. As altas temperaturas associadas a irregularidades e baixo volume de chuvas, intensificou os processos de evapotranspiração, o que causou inicialmente, um déficit hídrico, que também ocasionou mais um fator de estresse para a safra em questão (Figura 2).
Os valores médios observados dos componentes de produção da cultura da soja submetida a aplicações foliares visando a atenuação de estresses ambientais, podem ser observados na Tabela 1. A altura média das plantas de soja foi de 98,97 cm, enquanto o diâmetro da haste principal ficou em 7,94 mm, e o número médio de nós na haste principal foi de 18,57. Em relação aos parâmetros de vagens, observou-se uma média de 65,56 vagens por planta, com uma distribuição média de 2,57 grãos por vagem. Esses parâmetros não apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos, sugerindo que as aplicações testadas não impactaram substancialmente nessas características avaliadas. Apenas os fatores referentes ao número total de vagens (F = 2,7*) e o número de vagens por nó (F = 2,47**), indicarem significância estatística, para a aplicação dos bioestimulantes via folha. Os coeficientes de variação (CV) variaram consideravelmente, especialmente para o número de hastes laterais (43,27%) e vagens com
quatro grãos (40,57%), indicando variabilidade nesses parâmetros.
Tabela 1. Valores médios, F calculado e coeficiente de variação (CV) dos parâmetros de plantas e vagens dos experimentos bioestimulantes e fertilizantes foliares, aplicados na cultura da soja em diferentes estádios de desenvolvimento, visando a mitigação de estresses ambientais, em área de cultivo experimental localizada no Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24.
Parâmetros de plantas
Descrição
Descrição
Parâmetros de vagens
** significativo a 1% e ns não significativo a 5% de probabilidade pelo teste F.
A Tabela 2 destaca os tratamentos que apresentaram significância, em termos de número total de vagens e número de vagens por nó em plantas de soja. O tratamento com MAP purificado apresentou o maior número total de vagens, com 82,08 vagens por planta, e também o maior valor de vagens por nó, com 4,28. Outro tratamento com destaque foi o Quantis®, com 77,58 vagens por planta e 3,88 vagens por nó, seguido pelo tratamento com Crop Evo®, que obteve 74,75 vagens por planta e 3,42 vagens por nó. Esses resultados indicam que os tratamentos com MAP purificado, Quantis®, e Crop Evo® foram os mais eficazes
em incrementar esses componentes de produção. Os resultados de produtividade (Figura 3), evidenciam os efeitos positivos de bioestimulantes e fertilizantes foliares na produção de soja, com destaque para o Nipokam® (84,96 sc ha-1) e o MAP purificado (82,13 sc ha-1), que apresentaram as maiores produtividades entre os tratamentos testados. Esses resultados corroboram os dados da Tabela 2, onde o MAP purificado obteve o maior número total de vagens e vagens por nó, sugerindo uma relação direta entre o incremento estrutural da planta e o aumento da produtividade.
Tabela 2. Número total de vagens e número de vagens por nó de plantas de soja, em função da aplicação foliar de bioestimulantes e fertilizantes foliares, visando a mitigação de estresses ambientais, em área de cultivo experimental localizada no Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24. Tratamentos
** significativo a 1% e ns não significativo a 5% de probabilidade pelo teste F. Letras iguais nas linhas não diferem entre si, pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade.
Outros tratamentos, como Sulfato de Mg (79,73 sc ha-1) e Bioamino® Extra (80,72 sc ha-1), Bioenergy® (80,18 sc ha-1), Foltron® Plus + Biozyme® (78,39 sc ha1), Stimulate® (78,33 sc ha-1) e Crop Evo® (80,01 sc ha1) também demonstraram produtividades elevadas, embora com menor expressão nos componentes de produção avaliados. A associação entre o aumento
da estrutura produtiva (vagens e vagens por nó) e a produtividade final indica que a utilização dessas tecnologias, pode ser uma estratégia eficaz para maximizar o rendimento da soja, especialmente sob condições ambientais adversas, favorecendo a mitigação de estresses.
Figura 3. Produtividade de grãos em função da aplicação foliar de bioestimulantes e fertilizantes foliares, na cultura da soja em diferentes estádios de desenvolvimento, visando a mitigação de estresses ambientais, em área de cultivo experimental localizada no Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde, Goiás, safra 2023/24. Média: 78,00 sc ha-1 – CV: 4,41 – F: 5,64** ** significativo a 1% de probabilidade pelo teste F. Letras iguais nas linhas não diferem entre si, pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade.
CONCLUSÕES
Com base nos resultados apresentados, observa-se que a aplicação de bioestimulantes, e fertilizantes foliares pode ser uma estratégia promissora para mitigar os efeitos dos estresses ambientais no cultivo de soja. As variações climáticas, especialmente o déficit hídrico no início do ciclo e o excesso de chuvas durante os estádios reprodutivos, destacaram a necessidade de um manejo eficiente para minimizar os impactos negativos na produtividade. Os tratamentos com maior número de vagens e produtividade indicaram que algumas dessas intervenções são eficazes em promover a resiliência das plantas, favorecendo seu desempenho mesmo sob condições adversas. Assim, a utilização dessas tecnologias na cultura da soja pode ser recomendada como uma prática de manejo que contribui para a estabilidade da produção em face das incertezas climáticas.
AGRADECIMENTOS
Sinceros agradecimentos à Comigo e ao Centro Tecnológico Comigo (CTC), bem como a todos os técnicos de campo e estagiários, pelo apoio fundamental na condução deste trabalho de pesquisa. A infraestrutura disponibilizada e o suporte técnico prestado foram essenciais para o desenvolvimento e realização deste estudo.
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Fitopatologia
DIFERENTES FUNGICIDAS NO
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FOLIAR DE CERCOSPORA, SAFRA
2023/2024 EM RIO VERDE-GO
FERNANDES1, Rafael Henrique; LIMA2, Diego Tolentino de; BRAZ3, Guilherme Braga Pereira; BUENO4, Amanda Magalhães; SARKIS5 , Leonardo Fernandes
1 Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador Agronômico em Fitopatologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: rafaelhenrique@comigo.com.br
2 Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: diegotolentino@comigo.com.br
3 Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Manejo e Controle de PlantasDaninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br
4 Eng. Agrônoma, Dra. Em Agronomia, Pesquisadora Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do Centro Tecnológico Comigo. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br
5 Eng. Agrônomo, Dr. em Ciência do Solo, Pesquisador Fertilidade e Fertilizantes do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br
INTRODUÇÃO
A ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é considerada uma das principais doenças que afetam a cultura. Em 2001, os
primeiros casos da doença no Brasil foram identificados no Paraná (JACCOUD FILHO et al., 2001; YORINORI et al., 2002). Duas safras depois, a doença já havia se espalhado pela maioria do território brasileiro (YORINORI et al., 2005).
Desde então, a ferrugem asiática da soja vem sendo monitorada por centros de pesquisa, públicos e privados, espalhados pelo Brasil. Esta doença causa grande preocupação entre os produtores, pois além de apresentar elevada severidade, é facilmente disseminada. As estruturas responsáveis pela disseminação da doença são chamadas uredósporos, que são carregados pelo vento e podem percorrer longas distâncias, infectando novas plantas e iniciando novos ciclos da doença (YORINORI e WILFRIDO, 2002). O controle químico é considerado oneroso e pouco eficiente após o aparecimento dos sintomas na cultura.
Um método eficaz para o manejo da ferrugem asiática da soja é o uso de cultivares precoces, que passam menos tempo no campo, o que permite o cultivo com menores chances de exposição ao fungo. Além disso, é importante realizar o plantio antecipado, respeitando o vazio sanitário e o calendário de semeadura de cada estado. O monitoramento constante da lavoura também é fundamental, pois, temperaturas entre 16 e 28°C e elevada
umidade relativa do ar favorecem o desenvolvimento do fungo (YORINORI & WILFRIDO, 2002).
Devido a pouca diversidade de cultivares resistentes à ferrugem, o uso de defensivos agrícolas tem aumentado para combater a doença. Este é o meio mais utilizado, mas deve ser realizado de forma racional para não inviabilizar a cultura (GODOY e CANTERI, 2004).
A adoção de cultivares de soja resistentes à ferrugem asiática e o uso de produtos fitossanitários, como os fungicidas, são fundamentais para a prevenção e controle da doença no campo. É importante que todas as decisões sejam tomadas com critérios técnicos, considerando todos os fatores para a escolha de produtos com alta performance. O controle químico é adotado de forma preventiva ou no início do aparecimento dos sintomas da doença, buscando controlar os esporos de P. pachyrhizi por meio de fungicidas.
A maioria dos fungicidas comerciais é composta por moléculas de diferentes grupos químicos, que devem ser utilizadas preferencialmente em combinação. É fundamental avaliar a eficiência desses produtos e monitorar a sensibilidade do fungo às moléculas, para garantir que os fungicidas utilizados sejam eficazes.
Diante disso, foi realizado um estudo para avaliar a eficiência de diferentes fungicidas no controle da ferrugem asiática da soja durante o ano agrícola 2023/2024 em Rio Verde, Goiás.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado em condições de campo, na área experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC), em Rio Verde - GO, com a cultivar de soja CZ 37B43 IPRO. Essa cultivar possui hábito de crescimento indeterminado, grupo de maturação 7.4 e ciclo médio de 115 dias. É um material estável, com alto
potencial. A cultivar CZ 37B43 IPRO possui resistência ao acamamento, tolerância à podridão cinzenta (Macrophomina sp.) e sistema radicular vigoroso. A semeadura foi realizada tardiamente para que houvessem maiores chances de exposição da área experimental à Ferrugem Asiática da Soja (FAS). Por isso foi realizada no dia 05/12/2023 com densidade de 15,5 sementes por metro. As sementes foram tratadas com 5 g de Piraclostrobina + 45g de Tiofanato Metílico + 50g de Fipronil + Bacillus amyloloquefaciens, Isolado BV03 + Trichoderma asperellum, Isolado BV-10 (Standak Top, 200mL + No-Nema, 300 mL + Tricho-Turbo, 200 mL / 100kg sementes). Na semeadura também foram aplicados em jato dirigido (Micron): o inoculante Nitrogin Cell Tech HC (Bradyrhizobium japonicum Semia 5079 e Semia 5080, com 3 x 109 células viáveis mL-1, Monsanto BioAg) na dose de 1,2 L ha-1, o co-inoculante Biomax Azum (Azospirillum brasiliense, 3 x 108 células mL-1) na dose de 0,2 L ha-1, o inseticida biológico Meta-Turbo SC (Metarhizium anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1 x 108 propágulos viáveis mL-¹) na dose de 0,5 L ha-¹, fertilizante Nodulus Gold (1 % de Co, 10% de Mo) na dose de 0,1 L ha-¹ e o nematicida Verango Prime (Fluopiram) na dose de 0,4 L ha-1, com volume de aplicação de 60 L ha-¹. Para a correção do solo foram aplicados 1,5 t de calcário em 24/07/2023 e 1,5 t de gesso agrícola em 25/07/2023. Para adubação em pré-semeadura foram aplicados a lanço: 220 kg ha-1 do formulado 05:25:25 em 03/10/2023 e 76 kg ha-1 de KCl (cloreto de potássio, 60% de K2O), no dia 08/11/2023. Além de 165 kg ha-1 do formulado 12:15:15 aplicados na semeadura (na linha de plantio) em 05/12/2023. O experimento foi conduzido em delineamento experimental em blocos casualizados (DBC), com 18 tratamentos e quatro repetições/blocos, totalizando 72 parcelas. Cada parcela foi composta por 10 linhas de plantio, com espaçamento de 0,5 m, e 10 metros de comprimento, totalizando 50 m2. A parcela útil, utilizada
para as avaliações, foi considerada, descartando-se dois metros das extremidades e duas linhas laterais de bordadura, totalizando 18 m2
Foram realizadas quatro aplicações sequenciais de diferentes fungicidas, iniciando aproximadamente 30 dias após a emergência das plântulas, com a
cultura entre os estádios V5 e V6, e intervalos entre as aplicações de aproximadamente quinze (15) dias (1ª 12/01/2024; 2a 25/01/2024; 3a 08/02/2024; 4a 22/02/2024). Os tratamentos que compuseram o experimento foram diferentes fungicidas aplicados para o controle da ferrugem asiática da soja (Tabela 1).
Tabela 1. Descrição dos tratamentos, produtos comerciais, ingredientes ativos e doses dos fungicidas utilizados para o controle da ferrugem asiática da soja. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde- GO, safra 2023/2024.
As aplicações foram realizadas com pulverizador pressurizado por CO2 (Patente: BR1020160075653) montado em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75 cv). Pulverizador dotado com barra de cinco metros com 10 bicos de pulverização espaçados a 0,50 m. A calda preparada foi acondicionada em tanques tipo post mix com capacidade de 10 L. As pontas utilizadas para pulverização foram modelo AD-IA/D 110.015, da marca
Magnojet. O equipamento foi calibrado com pressão de trabalho na ponta de 3,8 bar (55,11 Psi) e volume de aplicação constante de 150 L ha-1. Durante as aplicações, as condições meteorológicas, temperatura (°C), umidade relativa do ar (%) e velocidade do vento (km h-1) foram registradas a partir das leituras de estação meteorológica automática, Plug Field® modelo Plugstation WS22, que fica nas proximidades da área experimental (Tabela 2).
Tabela 2. Datas das aplicações e dados meteorológicos registrados durante as aplicações dos fungicidas. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2023/2024.
A eficiência dos tratamentos para o controle da ferrugem foi estimada seguindo a escala diagramática sugerida por Godoy et al. (2006). Ademais, houve grande incidência e severidade de crestamento foliar de cercospora e por isso, foram feitas também avaliações com base na escala diagramática proposta por Martins et al. (2004), que trata do complexo de doenças de final de ciclo da soja (Septoria glycines e Cercospora kickuchii). Foram realizadas cinco avaliações, sempre em cinco plantas aleatórias dentro da parcela útil, no terço médio e no inferior da planta. A média de cada parcela foi composta pela média da severidade nas diferentes porções das plantas. As avalições foram realizadas um dia antes das aplicações, e aos 10 e 23 dias após a última aplicação.
Os dados de severidades, de ferrugem asiática e crestamento foliar de cercospora, obtidos ao longo do o ciclo da cultura, foram utilizados para determinar a Área Abaixo da Curva do Progresso da Doença (AACPD), aqui consideradas AACP-Ferrugem e AACP-Crestamento
foliar (CAMPBELL e MADDEN, 1990). Enquanto que, os dados mensurados na última avaliação, com as plantas em estádio fenológico R7 (iniciando a maturação fisiológica das vagens), representaram a severidade final das doenças.
A produtividade de grãos foi avaliada realizando a colheita de três metros de três linhas centrais de cada parcela, totalizando 9 metros de colheita. As amostras foram submetidas a trilharem, medição de umidade (três vezes) e pesagem da massa fresca (kg). Os dados foram ajustados para 13% de umidade dos grãos e a estimativa de produtividade apresentada em sacas de 60 kg por hectare (sacas ha-¹).
Os dados de severidade final das doenças, AACP-Ferrugem, AACP-Crestamento foliar e de produtividade foram submetidos à análise de variância e quando verificado diferença significativa entre as médias, as comparações foram realizadas através do teste de Scott-Knott (p≤0,05) pelo software SISVAR (FERREIRA, 2014).
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
No Centro Tecnológico Comigo (CTC), o primeiro foco da ferrugem asiática da soja na safra 2023/2024 foi observado no dia 05/03/2024, embora o primeiro foco da doença no munícipio de Rio Verde tenha sido relatado em 15/02/2024.
Os valores de severidade final e AACPferrugem foram maiores no tratamento testemunha, significativamente superior aos demais, com severidade final de 21,9% de tecido afetado e AACP-ferrugem de 372,8 (Tabela 3). Ainda que, estes valores tenham sido relativamente menores do que os observados em outros anos com alta pressão da doença, houve redução significativa na produtividade, com 45,6 sacas ha-1 (Figura 1). Resultados que reiteram o potencial de prejuízo causado pela doença.
De forma geral, os tratamentos aplicados tiveram um nível de controle aceitável da ferrugem asiática da soja, reduzindo os níveis de severidade e a quantidade de ferrugem em diferentes níveis. As aplicações dos produtos comerciais Fox Xpro, Fox Supra, Blavity, Versatilis, Excalia Max, Mitrion, Viovan, Armero, Fusão e Miravis Pro, reduziram significativamente a severidade e AACP-ferrugem em relação à testemunha (Tabela 3). Contudo, em valores intermediários quando comparados aos observados com as aplicações de Belyan, Evolution, Blindado, Sugoy, Fezan Gold, Proteus e o Programa de aplicações com diferentes fungicidas (Tabela 3).
Em relação a eficiência de controle, os valores obtidos ficaram entre 48 e 75%, o que reforça a necessidade de conhecer a performance dos diversos produtos disponíveis no mercado para posicionálos adequadamente. Ainda sobre esta variável, vale destacar aqueles com valores acima de 60%, que foram: Belyan (67%), Evolution (71%), Viovan (63%),
Armero (60%), Blindado (66%), Sugoy (75%), Fezan Gold (71%), Proteus (67%), além do programa de aplicações (71%). Observa-se que, na composição da maioria dos produtos destacados existem misturas com fungicidas multissítios, seja clorotalonil ou mancozebe, e também os triazóis tebuconazol, protioconazol ou mefentrifluconazol. Contudo, há também aqueles que apresentaram desempenho intermediário e que continham tais ingredientes ativos, o que demonstra que não somente isto pode garantir elevado controle, pois, além disso os demais ingredientes ativos (carboxamidas, estrobilurinas e outros triazóis) têm sua contribuição no controle.
As variáveis relacionadas ao crestamento foliar de cercospora apresentaram resultados que possibilitaram diferenciar o desempenho dos tratamentos analisados. Primeiramente, destaca-se que, no tratamento testemunha, sem a aplicação de fungicidas, os valores de severidade e AACP-crestamento foliar foram superiores aos demais tratamentos, com 16,8% e 322,5, respectivamente (Tabela 3). Os produtos que mais reduziram os índices de crestamento foliar de cercospora foram: Evolution, Viovan, Blindado, Sugoy, Fezan Gold, Proteus e o Programa de aplicações. Com exceção do produto Viovan, os demais apresentam misturas contendo moléculas de fungicidas multissítios em sua composição, seja Mancozebe ou Clorotalonil, o que reforça o fato de que esta associação melhora consideravelmente o controle da doença. Além disso, é valido citar que os demais produtos apresentaram reduções intermediárias nos níveis de crestamento de cercospora, e que certamente podem contribuir quando bem posicionados dentro de um programa de aplicações.
Tabela 3. Médias da Severidade final, Área abaixo da curva do progresso das doenças (AACPD) e eficiência de controle (%), de Ferrugem Asiática da Soja e Crestamento Foliar de Cercospora após a aplicação dos fungicidas. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde- GO, safra 2023/2024.
C.V. = Coeficiente de Variação Médias com letras iguais nas colunas não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05)
O produto Versatilis não é recomendado para aplicações visando o controle de manchas foliares causadas por fungos necrotróficos, como é o caso do crestamento foliar de cercospora, e sim para aplicações com foco no controle da ferrugem asiática da soja e oídio. Desta forma, é justificável os valores obtidos para esta doença. No entanto, há de se levar em consideração que, principalmente em plantios mais tardios, ou em anos com maiores pressões de ferrugem ou oídio, a utilização de Fenpropimorfe é altamente recomendada, pois as doenças ocorrem de forma simultânea na cultura, sobretudo em fases mais avançadas do cultivo.
A produtividade da soja está diretamente relacionada ao controle da ferrugem asiática, visto que, ela causa a queda prematura de folhas e prejudica
consideravelmente a fotossíntese. De maneira similar, o crestamento foliar de cercospora tem impactado na produtividade, com menor intensidade do que a ferrugem asiática. Ainda assim, há de se destacar que, considerando o Sistema Agrícola do Sudoeste Goiano, com predomínio do cultivo em sucessão de milho ou sorgo, após a soja, os produtores tem direcionado esforços para realizar a semeadura da soja de forma
antecipada e melhorado consideravelmente o manejo da ferrugem asiática. Este cenário, faz com que as doenças foliares, causadas por fungos necrotróficos, a exemplo do crestamento foliar de cercospora, venham aumentando sua importância. E, embora, com menor capacidade destrutiva que a ferrugem, tem sido comum em todas as lavouras da região.
= 6,58. Médias
Figura 1. Produtividade média após a aplicação dos diferentes fungicidas para o controle da ferrugem asiática na soja e crestamento foliar de cercospora. Centro Tecnologia COMIGO – CTC, Rio Verde-GO, safra 2023/2024.
Na área experimental, houve a predominância das doenças aqui avaliadas, ferrugem asiática da soja e crestamento foliar de cercospora, com ocorrência simultânea nas folhas. É válido ressaltar que, houve uma queda acentuada das folhas dos terços inferior e médio, certamente devido ao ataque da ferrugem asiática. No entanto, nas fases mais avançadas da cultura, as folhas do terço superior se mantiveram aderidas as plantas e com elevada severidade das doenças. Em alguns casos com severidade de crestamento foliar de cercospora superior à de ferrugem. Portanto, as variáveis aqui
apresentadas se relacionam a este cenário de doenças. Todos os tratamentos avaliados foram capazes de reduzir a quantidade de doenças e assegurar melhores produtividades do que a testemunha sem aplicações (45,6 sacas ha-1). No entanto, foi possível identificar tratamentos em que a produtividade foi superior. Os tratamentos com Blavity (64,1 sacas ha1), Belyan (65,6 sacas ha-1), Blindado (61,5 sacas ha-1), Sugoy (70,6 sacas ha-1), Fezan Gold (66,4 sacas ha-1), Proteus (67,4 sacas ha-1), Miravis Pro (67,4 sacas ha-1) e o Programa de aplicações multimarcas (64,4 sacas
C.V.
com letras iguais nas colunas não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05)
ha-1) apresentaram similaridade estatística entre si e superioridade aos demais (Figura 1). É necessário destacar que os tratamentos com Belyan, Blindado, Sugoy, Fezan Gold, Proteus e Programa multimarcas, também se destacaram quanto as reduções dos níveis de ferrugem asiática e crestamento foliar de cercospora. Ao passo que, mesmo não tendo apresentado os melhores níveis de controle destas doenças, os produtos Blavity e Miravis Pro obtiveram produtividade semelhante (Figura 1).
O uso de fungicidas sítio-específicos, como os triazóis (IDM), estrobilurinas (IQe) e carboxamidas (ISDH), aplicados de forma isolada representam médio a alto risco de indução de resistência do agente patogênico P. pachyrhizi (BALARDIN et al., 2017).
Assim, é importante ressaltar que os programas de aplicações avaliados com aplicações sequenciais do mesmo produto, sendo alguns deles misturas de ingredientes ativos sítio-específicos e sem multissítio em sua composição, não são recomendações técnicas para o manejo de doenças na soja. São exclusivamente realizados para fins científicos e avaliações de desempenho de produtos comerciais. Deve-se priorizar a realização de aplicações associadas de fungicidas sítio-específicos e multissítios, pois, além de aumentar a eficiência de controle das doenças, são aliados no manejo da resistência do fungo aos fungicidas (GARCÉS-FIALLOS e FORCELINI, 2013).
Diante disso, é necessário pontuar que, o grande número de fungicidas comerciais disponíveis no mercado, bem como as possíveis combinações de ingredientes ativos, têm apresentado desempenho variável frente a ferrugem asiática da soja. Os resultados aqui obtidos, devem ser analisados para auxiliar nas decisões para a formação do programa de aplicações que será adotado para cada realidade. Levando em conta, principalmente, o risco de exposição da lavoura à ferrugem.
CONCLUSÃO
Os fungicidas apresentaram diferentes níveis de desempenho sobre o controle das doenças avaliadas e manutenção do potencial produtivo da soja. Mas, de maneira geral, aqueles que obtiveram os melhores resultados de controle sobre as duas doenças, foram também os que atingiram maiores produtividades.
No tratamento testemunha, as doenças atingiram elevados patamares de infecção e comprometeram significativamente a produtividade. O que reforça a dependência da adoção do controle químico para o manejo das doenças e a viabilidade do cultivo em condições com alta pressão destas doenças, sobretudo da ferrugem asiática da soja.
As misturas de ingredientes ativos, principalmente tebuconazol e protioconazol, associados às moléculas multissítios obtiveram bom desempenho de controle, embora não tenha sido exclusividade. Isto demonstra que tais misturas devem estar presentes na elaboração de um programa de aplicações de fungicidas visando o controle destas doenças.
AGRADECIMENTOS
À equipe de campo, estagiários e aos pesquisadores do CTC pelo apoio na execução do experimento.
REFERÊNCIAS
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YORINORI, J. T; PAIVA, W. M.; FREDERICK, R. D.; COSTAMILAN, L. M.; BERTAGNOLLI, P. F.; GODOY, C. V.; NUNES JUNIOR, J. Epidemics of soybean rust (Phakopsora pachyrhizi) in Brazil and Paraguay from 2001 to 2003. Plant Disease, v. 89, p. 675-677, 2005.
ASSOCIAÇÃO ENTRE FUNGICIDAS SÍTIO-ESPECÍFICOS, MULTISSÍTIOS E PRODUTO BIOLÓGICO NO CONTROLE DE MANCHAS FOLIARES DA SOJA
FERNANDES1, Rafael Henrique; LIMA2, Diego Tolentino de; BRAZ3, Guilherme Braga Pereira; BUENO4, Amanda Magalhães; SARKIS5 , Leonardo Fernandes
1 Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador Agronômico em Fitopatologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: rafaelhenrique@comigo.com.br
2 Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: diegotolentino@comigo.com.br
3 Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Manejo e Controle de PlantasDaninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br
4 Eng. Agrônoma, Dra. Em Agronomia, Pesquisadora Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do Centro Tecnológico Comigo. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br
5 Eng. Agrônomo, Dr. em Ciência do Solo, Pesquisador Fertilidade e Fertilizantes do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br
INTRODUÇÃO
A intensificação dos cultivos tem possibilitado aumentos significativos da produção agropecuária,
com aumentos na quantidade de produtos e renda para o setor. Acompanhado desta intensificação, os problemas fitossanitários nas lavouras têm criado desafios para execução de manejos cada vez mais eficientes e sustentáveis. Além disso, muitas das vezes, estratégias essenciais para o bom desempenho de Sistemas Agrícolas, como, por exemplo, a rotação de culturas e de mecanismos de ação de defensivos agrícolas, não são empregados em função de entraves técnicos e econômicos.
Na cultura da soja (Glycine max (L.) Merril) são diversos os patógenos causadores doenças que geram prejuízos econômicos consideráveis. Em todo o mundo, já foram identificados mais de 100 patógenos capazes de causar alguma injúria na planta, dos quais, fungos, vírus, bactérias e fitonematoides podem ser considerados mais relevantes. Deste montante, aproximadamente 40 deles são causadores de doenças na soja em território brasileiro (GODOY et al., 2016; YORINORI et al., 2005; SINCLAIR e HARTMAN, 1999). Estes patógenos podem causar problemas em todos os tecidos da planta, contudo, as doenças foliares são as mais comuns, com frequência e intensidade bastante variáveis ao longo das regiões produtoras (JULIATTI et al., 2004).
Estão entre as principais doenças foliares que
acometem a soja no Sistema Agrícola do Sudoeste Goiano: a mancha-alvo (Corynespora cassiicola), antracnose (Colletotrichum truncatum), mancha olho de rã (Cercospora sojina), ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), septoriose ou mancha parda (Septoria glycines) e o crestamento foliar de cercospora (Cercospora kikuchii). Boa parte destes fungos tem a capacidade de sobreviver em restos culturais durante a entressafra, ou até mesmo por períodos maiores exercendo atividade saprofítica, com exceção do fungo causador da ferrugem que é biotrófico e se multiplica somente em hospedeiros vivos. Após este período, eles podem causar doenças novamente e causar prejuízos de acima de 30%, quando encontram condições adequadas ao seu desenvolvimento e hospedeiros suscetíveis (KLINGELFUSS e YORINORI, 2001; JULIATTI et al., 2004; GODOY et al., 2016).
A utilização do controle químico no manejo de doenças da soja é unanimidade entre os produtores, contudo, representa apenas mais uma ferramenta disponível. Fato é que, existe grande facilidade de acesso a produtos comerciais com diferentes combinações de ingredientes ativos que proporcionam elevados níveis de controle, e que se adequam facilmente aos tratos culturais já executados diariamente na propriedade. Por outro lado, a diversidade de fungicidas comerciais e combinações possíveis, acabam gerando dúvidas quanto ao posicionamento correto, número de aplicações ao longo do ciclo, associações entre fungicidas, desempenho sobre determinadas doenças, períodos de proteção residual, etc.
Nos últimos anos, outro aliado no controle de doenças foliares na soja que tem ganhado notoriedade é a utilização de agentes de biocontrole. O controle biológico de pragas e fitonematoides na cultura da soja é uma realidade, e tem sido utilizada extensivamente. Por outro lado, o controle de manchas foliares, sejam elas causadas por fungos necrotróficos ou biotróficos,
com produtos biológicos é prática recente e ainda em progressão. Por este motivo, aliado a pequena oferta de produtos desta natureza, as recomendações de posicionamento ao longo do ciclo não estão bem elucidadas. Fato é, que nas últimas safras foi possível observar uma movimentação de empresas sugerindo a associação dos biológicos junto aos fungicidas sistêmicos (sítio-específicos), e até mesmo, sua adoção em substituição aos fungicidas multissítios (principalmente clorotalonil, mancozebe e oxicloreto de cobre).
Assim, o objetivo do trabalho é avaliar a eficiência de programas de aplicações com fungicidas sítioespecíficos e diferentes combinações de multissítios e produto biológico, no controle de manchas foliares na cultura da soja.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em condições de campo, na área experimental do Centro Tecnológico Comigo, localizado em Rio Verde-GO (S 17°45’44” O 51°02’03” e altitude média de 835 metros), com predominância de áreas com latossolo Vermelho Distrófico (SANTOS et al., 2018).
A semeadura da área experimental foi realizada no dia 11 de outubro de 2023, com a cultivar Aporé IPRO (75HO711 CI IPRO). As sementes foram tratadas industrialmente com 36 g de Ciantraniliprole + 70 g de Tiametoxam + 2 g de Metalaxil + 2,5 g de Fludioxonil + 1,5 g de Tiabendazol (60 mL de Fortenza + 200 mL de Cruiser 350 FS + 100 mL de Maxim Advanced/ 100 kg sementes). E também com o inoculante Optimize, Novozymes (Bradyrhizobium elkanii estirpes 587 e 5019, concentração mínima de 2,5 x 109 UFC g-1) na dose de 150 g/100 kg de sementes. A densidade de semeadura foi de 15,5 sementes por metro. No sulco de plantio foram aplicados: o inoculante Biomax Premium,
Vittia (Bradyrhizobium japonicum, SEMIA 5079 e SEMIA 5080, concentração mínima de 7 x 109 UFC mL-1) na dose de 0,36 L ha-1 + o co-inoculante Biomax
Azum, Vittia (Azospirillum brasilense, 3 x 108 células mL1) na dose de 0,2 L ha-1 + o inseticida biológico MetaTurbo SC, Vittia (Metarhizium anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1 x 108 propágulos viáveis mL1) na dose de 0,5 L ha-1 + o bioestibulante e enraizador
Biozyme, UPL, na dose de 0,2 L ha-1 + o biofungicida
Tricho-Turbo, Vittia (Trichoderma asperellum BV10, mínimo de 1,0 x 1010 conídios viáveis/mL) na dose de 0,1 L ha-1 + o bionematicida No-Nema, Vittia (Bacillus amyloliquefaciens isolado BV03, mínimo de 3,0 x 109
UFC mL-1) na dose de 0,2 L ha-1. Todos aplicados com Micron e volume de aplicação de 60 L ha-1.
Na correção do solo foram aplicados 1,5 t ha-1 de calcário, no dia 24/07/2023, e 1,5 t ha-1 de gesso agrícola, em 25/07/2023, ambos à lanço. A adubação em pré-semeadura foi realizada com 220 kg ha-1 de KCl (60% de K2O) à lanço em 03/10/2023. E na semeadura, com 120 kg ha-1 do fertilizante formulado 05:25:25 (N:P:K), aplicado no sulco de plantio, em 11/10/2023.
O delineamento experimental utilizado foi o
de Blocos Casualizados (DBC), com 11 tratamentos e quatro repetições, totalizando 44 parcelas. As parcelas foram compostas por 10 linhas de plantio, espaçadas a 0,5 metros, e 10 metros de comprimento, totalizando 50 m2 (10 x 5 m). Como parcela útil foram considerados os seis metros centrais das seis linhas centrais (6 x 3 m, 18 m2).
Na composição dos tratamentos foi utilizado um programa padrão de aplicações sem a associação com fungicidas multissítios ou biológico, apenas ingredientes ativos sítio-específicos (Tratamento 11, Tabela 1). As variações de utilização dos fungicidas multissítios, clorotalonil ou mancozebe, e o produto biológico foram posicionadas nas segunda (2ª) e terceira (3ª) aplicações (Tabela 1), onde há predominância de utilização dos multissítios no Sudoeste Goiano, de forma que fosse possível avaliar o efeito da substituição destes fungicidas na segunda aplicação e também se há interferência das combinações na terceira aplicação. Além disso, foi conduzido também um tratamento testemunha, sem a aplicação de fungicidas, para comparativo da efetividade com os demais tratamentos (Tabela 1).
Tabela 1. Descrição dos tratamentos com as diferentes combinações dos produtos sítio-específicos associados aos multissítios e biológico. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde- GO, safra 2023/2024.
Tratamentos
1ª Aplicação 2ª Aplicação 3ª Aplicação 4ª Aplicação 1 (Test.) - - - -
2 Score Flexi Fox Xpro Bacillus sp. Blavity Bacillus sp. Aproach Power
3 Score Flexi Fox Xpro Bacillus sp. Blavity Mancozebe Aproach Power
4 Score Flexi Fox Xpro Bacillus sp. Blavity Clorotalonil Aproach Power
5 Score Flexi Fox Xpro Mancozebe Blavity Bacillus sp. Aproach Power
6 Score Flexi Fox Xpro Mancozebe Blavity Mancozebe Aproach Power
7 Score Flexi Fox Xpro Mancozebe Blavity Clorotalonil Aproach Power
8 Score Flexi Fox Xpro Clorotalonil
9
Power
Aproach Power
Power
11 Score Flexi Fox Xpro - Blavity - Aproach Power
Bacillus sp.: Bio-Imune, Bacillus velezensis BV02 (0,5 L ha-1) Mancozebe: Unizeb Gold (1,5 kg ha-1), Clorotalonil: Bravonil 720 (1,0 L ha-1). Doses: Score Flexi (0,15 L ha-1), Fox Xpro (0,5 L ha-1), Blavity (0,25 L ha-1), Aproach Power (0,6 L ha-1). 2ª aplicação: adicionado Auero (0,25% v/v); 3ª aplicação: adicionado Mees (0, 25% v/v).
Todas as aplicações foram realizadas com pulverizador pressurizado por CO2 (Patente: BR102016007565-3) montado em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75 cv). O pulverizador possui barra de pulverização com 5,0 m de largura e 10 bicos de pulverização espaçados a 0,50 m. A calda de pulverização foi acondicionada em tanques tipo post mix com capacidade de 10 L. As pontas utilizadas para pulverização foram modelo AD-IA/D 110.015,
da marca Magnojet. O equipamento foi calibrado com pressão de trabalho na ponta de 3,8 bar (55,11 PSI) e volume de aplicação de 150 L ha-1. Durante as aplicações, as condições meteorológicas, temperatura (°C), umidade relativa do ar (%) e velocidade do vento (km h-1) foram registradas a partir das leituras de estação meteorológica automática, Plug Field® modelo Plugstation WS22, que fica nas proximidades da área experimental (Tabela 2).
Tabela 2. Datas das aplicações e dados meteorológicos registrados durante as aplicações dos programas fungicidas com multissítios e biológico. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2023/2024.
Foram realizadas cinco avaliações de severidade, nos dias anteriores às aplicações de fungicidas, e outra aos 30 dias após a última aplicação. As escalas diagramáticas utilizadas para a quantificação das doenças no campo foram as propostas por Martins et al. (2004), para o complexo de doenças de final de ciclo da soja (Septoria glycines e Cercospora kickuchii) e Soares et al. (2009) para mancha-alvo (Corynespora cassiicola).
As avaliações foram feitas nos terços inferior e médio de cinco plantas selecionadas aleatoriamente na parcela útil. Os dados de severidade obtidos ao longo do o ciclo da cultura, foram utilizados para determinar a Área Abaixo da Curva do Progresso da Doença (AACPD de manchas foliares) (CAMPBELL e MADDEN, 1990). Enquanto que, os dados mensurados na última avaliação, com as plantas em estádio fenológico R7 (iniciando a maturação fisiológica das vagens), representam a severidade final das doenças.
A colheita foi realizada no dia 02/02/2024, totalizando um ciclo de 114 dias. Para determinação da produtividade foram colhidos três metros de três linhas da parcela útil. As amostras foram identificadas e trilhadas, em seguida a massa (kg) e umidade mensuradas. Os dados foram ajustados para 13%
de umidade dos grãos, a estimativa de produtividade corrigida e apresentados em sacas de 60 kg por hectare (sc ha-1).
Os dados foram submetidos à análise de variância e quando verificada diferença significativa entre as médias, as comparações foram realizadas através do teste de Scott-Knott (p≤0,05) pelo software SISVAR (FERREIRA, 2014).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na área experimental houve predomínio de crestamento foliar de cercóspora e mancha parda. A severidade destas doenças se manteve em baixos níveis durante boa parte do ciclo da cultura, apenas durante o enchimento dos grãos é que começaram a se manifestar com maior intensidade, com os maiores valores observados no estádio fenológico R7.1. Após esta fase, houve queda acentuada das folhas e apenas aquelas do terço superior ficaram aderidas às plantas. Por tanto, os valores apresentados a seguir, representam a associação destas doenças ocorrendo de forma simultânea na planta.
Primeiramente é importante destacar os
valores de severidade final e AACP-manchas foliares obtidos no tratamento testemunha, com 34,4 % de tecido foliar afetado e 758,0, respectivamente (Tabela 3). Estes valores foram preponderantes para causar desfolha precoce nas plantas deste tratamento. E, por consequência, a produtividade foi afetada, com 76,6 sacas por hectare (Figura 1). Todas estas variáveis se diferiram estatisticamente dos demais tratamentos, o que reforça a importância da utilização do controle químico de doenças na cultura da soja. Afinal, sua utilização é capaz de reduzir significativamente a infecção das plantas por patógenos e preservar o potencial produtivo da lavoura.
A severidade de manchas foliares não diferiu entre os tratamentos com aplicação de fungicidas. Até mesmo quando aplicados somente os fungicidas sítio-
específicos (tratamento 11) a severidade foi de 10,0 % de tecido foliar afetado (Tabela 3). No entanto, quando aplicados os tratamentos com o fungicida biológico na segunda aplicação (fase de pré-fechamento de linhas) a AACP-manchas foi maior, independentemente de qual a associação foi utilizada na terceira aplicação. Comportamento semelhante foi observado, quando utilizado o multissítio clorotalonil por duas vezes seguidas dentro do programa de aplicações. Ao passo que, os programas com mancozebe na segunda aplicação, e qualquer associação na terceira (tratamentos 5, 6 e 7), ou aqueles com clorotalonil na segunda, seguido de mancozebe ou produto biológico em associação ao sítio-específico (tratamentos 8 e 9) apresentaram os menores valores de AACP-manchas foliares.
Tabela 3. Médias da Severidade final, Área abaixo da curva do progresso das doenças (AACP-manchas foliares) e eficiência de controle (%) de manchas foliares na cultura da soja após a aplicação dos programas fungicidas com diferentes multissítios e biológico. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde- GO, safra 2023/2024.
C.V. (%) = Coeficiente de Variação Médias seguidas com letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05)
A Área Abaixo da Curva de Progresso da Doenças (AACPD), aqui chamada de AACP-manchas foliares, remete a progressão das doenças ao longo do ciclo da cultura. O comportamento desta variável é dependente dos processos epidemiológicos que ocorrem devido as interações climáticas, desenvolvimento da cultura, capacidade do fungo em causar a doença ao longo do tempo, e as ações de controle executadas. Ou seja, os resultados obtidos indicam que nos tratamentos com maiores valores de AACP-manchas foliares os sintomas de doenças podem ter iniciado anteriormente aos demais. Desta forma, a utilização do produto biológico em substituição aos multissítios, nesta fase, pode não ser uma estratégia interessante na redução de doenças no campo. Da mesma forma, a associação apenas do ingrediente ativo clorotalonil.
A eficiência de controle dos diferentes programas de aplicação variou entre 62 e 72%, tratamentos 2 e
7, respectivamente. Observa-se que nos tratamentos em que foram utilizados o multissítio mancozebe e clorotalonil na segunda aplicação a eficiência de controle foi superior a 68%, sem diferenças evidentes em relação as associações da terceira aplicação (Tabela 3). Com exceção do tratamento com duas aplicações de clorotalonil, que apresentou 65% de controle.
A produtividade não variou em razão das diferentes associações de fungicidas multissítios e produto biológico. No entanto, quando eles não foram adicionados ao programa de aplicações, a produtividade foi inferior, com 81,7 sacas ha-1 (Figura 1). Estes resultados reforçam a importância da diversificação de ingrediente ativos na elaboração de um programa de aplicações de fungicidas, bem como a necessidade de associação de sítio-específicos com fungicidas multissítio, e também a possibilidade de utilização de produtos biológicos.
Figura 1. Produtividade média de soja em razão da aplicação dos programas de fungicidas contendo multissítios e/ ou biológico na segunda e terceira aplicações. Test = Testemunha sem aplicação, BI = Bio-Imune, MZ = Mancozebe, Unizeb Gold, CLT = Clorotalonil, Bravonil 720 e Sit. Esp. = Apenas sítio-específicos.
C.V. = 3,83. Médias com letras iguais acima das barras não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05).
Os mecanismos de ação dos produtos biológicos sobre os patógenos ainda não estão totalmente descritos. Acredita-se que existam incontáveis formas de ação, visto a diversidade de microrganismos que podem apresentar benefícios ao cultivo. Muitas das vezes, estes microrganismos atuam diretamente sobre rotas metabólicas das plantas que estão relacionadas a mecanismo de defesa, produção de substâncias reguladoras e que promovem o desenvolvimento e crescimento vegetal. Portanto, sua ação parece estar ligada à planta, e não diretamente sobre o patógeno. Enquanto que, os fungicidas multissítios atuam diretamente sobre rotas metabólicas dos fungos, isto é, impedem o seu crescimento e/ou desenvolvimento encerrando a continuidade do seu ciclo de vida.
Assim sendo, a diversificação de frentes de combate aos processos epidemiológicos que governam a capacidade de fungos patogênicos causarem doenças nas plantas de interesse econômico, devem ser adotadas sempre que possível. Pois irão atenuar os problemas de pressão de seleção de indivíduos resistentes, causada pela utilização intensiva de ingredientes ativos sítio-específicos. Desta forma, a substituição de fungicidas multissítios por outros mecanismos de ação deve ser melhor analisada.
CONCLUSÃO
Os diferentes programas de aplicações avaliados proporcionaram eficiência de controle sobre o crestamento foliar de cercospora e mancha parda. A associação do fungicida biológico aplicado na segunda aplicação, no pré-fechamento das linhas, resultou em valores intermediários de AACP-manchas foliares e de eficiência de controle, bem como, quando utilizado apenas o clorotalonil. Assim, a substituição pelo produto biológico nesta fase pode impactar no manejo efetivo destas doenças no campo.
Quando não foram utilizados fungicidas multissítios ou produto biológico no programa de aplicações de fungicidas a produtividade foi afetada. Enquanto que, os demais programas de aplicações, que apresentaram pequenas diferenças em relação ao controle de doenças, a produtividade foi semelhante. É importante realizar programas de aplicações de fungicida com diversificação de ingredientes ativos, não somente em relação aos sitio-específicos.
A diversificação de fungicidas multissítios deve ser adotada sempre que possível. Embora não tenha comprometido a produtividade, a substituição de fungicidas multissítios por biológicos pode afetar a quantidade de doenças no campo, sobretudo quando adotada na fase de pré-fechamento de linhas. Ainda assim, a utilização dos produtos biológicos poderá brevemente compor o manejo de doenças na cultura da soja, principalmente após estudos que permitam o melhor entendimento do seu posicionamento ao longo do ciclo da cultura.
AGRADECIMENTOS
À equipe de campo, estagiários e aos pesquisadores do CTC pelo apoio na execução do experimento.
REFERÊNCIAS
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PROGRAMAS DE APLICAÇÕES DE FUNGICIDAS NO CONTROLE DE DOENÇAS FOLIARES NO MILHO EM SEGUNDA SAFRA
FERNANDES1, Rafael Henrique; LIMA2, Diego Tolentino de; BRAZ3, Guilherme Braga Pereira; BUENO4, Amanda Magalhães; SARKIS5, Leonardo Fernandes
1 Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador Agronômico em Fitopatologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: rafaelhenrique@comigo.com.br
2 Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: diegotolentino@comigo.com.br
3 Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Manejo e Controle de PlantasDaninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br
4 Eng. Agrônoma, Dra. Em Agronomia, Pesquisadora Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do Centro Tecnológico Comigo. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br
5 Eng. Agrônomo, Dr. em Ciência do Solo, Pesquisador Fertilidade e Fertilizantes do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br
INTRODUÇÃO
O milho (Zea mays) está entre as culturas de maior consumo no mundo. Além de ser utilizado na alimentação humana, apresenta papel importante na
produção de proteína animal, com crescente consumo devido suas qualidades relacionadas ao valor calórico, amiloses e pigmentação (SANTOS et al., 2002).
A distribuição regular de chuvas ao longo da safra, e principalmente em condições de segunda safra, é um fator preponderante para se atingir produtividades satisfatórias. Em contrapartida, a incidência e severidade das doenças foliares no milho são favorecidas nestas condições, com umidade relativa do ar acima de 60% e temperaturas elevadas (COTA et al., 2017).
Diversas doenças e patógenos podem desempenhar papel limitante para o desenvolvimento da cultura e causar perdas significativas. A região, época de cultivo, genótipo cultivado, condições edafoclimáticas, altitude e as estratégias de manejo utilizadas, são variáveis que refletem diretamente na severidade dos sintomas (FERNANDES et al., 2022).
A mancha de Bipolaris é considerada uma das doenças de grande relevância na cultura do milho. O agente etiológico é o fungo Bipolaris maydis, que tem diferentes raças causadoras de sintomas na cultura do milho. A mais comum é a raça O, que causa lesões foliares de cor palha, retangulares que são limitadas pelas nervuras (em média 2,5 x 0,5 cm de largura). Essas lesões podem ocorrer também nas bainhas das folhas e na
palha das espigas. Outras raças descritas são a raça T e raça C, que são mais conhecidas causando problemas em plantas de milho com citoplasma macho estéril. As condições climáticas favoráveis ao aparecimento da doença são temperaturas entre 20 e 32°C e presença de orvalho das folhas. O fungo sobrevive em restos culturais e é disseminado pelo vento e chuva. Assim, áreas em que a rotação de culturas não é utilizada, são vulneráveis a maior pressão de inóculo e, consequentemente, maiores severidades de mancha de Bipolaris (SABATO et al., 2013).
A aplicação de fungicidas para o controle de doenças foliares no milho tem crescido substancialmente nos últimos anos, assim como todo o manejo empregado na cultura. Entretanto, além de conhecer o material cultivado, é necessário realizar o monitoramento da lavoura constantemente para decidir sobre a aplicação adequada de fungicidas, buscando que o custo/benefício da aplicação seja positivo (COTA et al., 2017).
Considerando o potencial destrutivo das doenças que acometem a cultura do milho é importante adotar as estratégias disponíveis para minimizar seus impactos na produtividade. Como o controle químico tem sido cada vez mais utilizado, torna-se fundamental conhecer as moléculas fungicidas, produtos comerciais e programas de aplicação que apresentem maior eficiência de controle.
Diante disso, o objetivo foi avaliar a eficiência de diferentes programas de aplicações de fungicidas no controle de doenças do milho cultivado em segunda safra, bem como seus impactos na produtividade.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em condições de campo na área experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC), no município de Rio Verde-GO (S
17°45’45” e 51°01’03” W), com 837 metros de altitude e predominância de áreas com Latossolo Vermelho Distrófico (SANTOS et al., 2018).
O material de milho utilizado foi o híbrido B2782 PWU (Brevant®). Semeadura e colheita foram realizadas nos dias 11/02/2024 e 19/06/2024, respectivamente, totalizando um ciclo de 129 dias. Na semeadura foram aplicados 400 kg ha-1 do fertilizante formulado 12:15:15 (N:P:K) no sulco de plantio. A densidade de semeadura foi de 3,0 sementes por metro e o estande final de plantas foi de 58.000 plantas por hectare (estande avaliado com a cultura em estádio V3). Foram realizadas duas aplicações de adubação em cobertura com fertilizante formulado 20:00:20 a lanço, na dose de 150 kg ha-1 (300 kg ha-1, no total), em 26/02/2024 e em 12/03/2024.
O controle de plantas daninhas foi realizado com uma aplicação de S-Metolacloro (Dual Gold, 960 g L-1, EC, Syngenta), na dose de 1,152 kg de i. a. ha-1 + Glufosinato-Sal de Amônio (Off Road, 200 g L-1, SL, Ourofino) na dose de 0,4 kg de i. a. ha-1 + Glifosato (Crucial, 540 g L-1, SL, Sumitomo Chemical) na dose de 1.620 g e. a. ha-1 + Carfentrazona-Etílica (Aurora, 400 g L-1, EC, FMC) na dose 12 g i. a. ha-1, realizada no dia da semeadura da área experimental. Posteriormente, em pós-emergência da cultura (em estádio fenológico V3) foram aplicados Atrazina (Proof, 500 g L-1, SC, Syngenta) na dose de 1,5 kg de i. a. ha-1 + Glufosinato-Sal de Amônio (Off Road, 200 g L-1, SL, Ourofino) na dose de 0,4 kg de i. a. ha-1 + Tembotriona (Soberan, 420 g L-1, SC, Bayer) na dose de 84 g ha-1. Também foram realizadas aplicações de inseticidas visando principalmente o controle da cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) com Engeo Pleno (0,3 L ha-1), e Zeus (0,5 L ha-1).
Os tratamentos consistiram na execução de programas de aplicações de fungicidas, com duas aplicações (Tabela 1).
Tabela 1. Descrição dos tratamentos contendo a relação dos programas de aplicações de fungicidas, doses e ingredientes ativos (I. A.) aplicados no híbrido B2782 PWU. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2023/2024.
/1 Adicionado Mees (0,25 % v/v); /2Adicionado Aureo (0,25% v/v); /3Adicionado Ochima (0,25 L ha-1); /4Adicionado Agris (0,5 L ha-1); /5 Adicionado Iharol Gold (0,25% v/v)
A primeira aplicação, realizada em 15/03/2024, foi com a cultura em estágio vegetativo (entre V5 e V6) e a segunda, em 30/03/2024, no pré-pendoamento
da cultura. Durante as aplicações, as condições meteorológicas, temperatura (°C), umidade relativa do ar (%) e velocidade do vento (km h-1) foram registradas a
partir das leituras de estação meteorológica automática, Plug Field® modelo Plugstation WS22, que fica nas proximidades da área experimental (Tabela 2).
Tabela 2. Datas das aplicações e dados meteorológicos mensurados nas aplicações de fungicidas no milho em segunda safra, híbrido B2782 PWU. Centro Tecnológico Comigo-CTC, Rio Verde-GO, safra 2023/2024.
Data Horário (h) T (°C) UR (%) Velocidade do vento (km h-1) 1ª
O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados com quatorze (14) tratamentos e quatro (4) repetições, totalizando 56 parcelas. Cada parcela foi composta por 10 linhas de plantio, com espaçamento entre linhas de 0,5 m, e 10 metros de comprimento. A parcela útil foi composta pelas seis linhas centrais excluindo dois (2) metro das extremidades, totalizando a área útil de 18 m2
As aplicações foram feitas com pulverizador pressurizado por CO2 (Número de patente: BR102016007565-3) dotado com barra de pulverização com 10 bicos, espaçados a 0,5 m e com pontas de pulverização ADIA 110.015/D, montado em um trator (MF 275, Massey Ferguson, 75 cv). Antes do início das aplicações foi feita a calibragem do equipamento e os ajustes de pressão de trabalho para 4,0 bar (58,01 Psi) e volume de aplicação constante de 150 L ha-1
Foram realizadas quatro (4) avaliações de severidade para estimar a área foliar diretamente afetada por doenças. Para avaliar a severidade de mancha foliar causada por Bipolaris maydis, foi utilizada a escala diagramática de avaliação de proposta por Martinez (2006), modificada por Fernandes et al. (2011), e para Exserohilum turcicum a escala proposta por Lazaroto et al. (2012). As duas primeiras avaliações
foram realizadas na véspera das aplicações, a terceira e quarta, foram realizadas aos 30 e 45 dias após a última aplicação. As avaliações foram feitas em duas folhas do terço médio (folha da espiga e a folha oposta à espiga) de três (3) plantas aleatórias dentro da parcela útil, sendo a média destas utilizadas para representar a média da parcela.
Os dados de severidade foram expressos em porcentagem (%) de tecido foliar afetado e a partir deles foi calculada a área abaixo da curva de progresso da doença – AACPD (Campbell e Madden, 1990), eficiência de controle das aplicações (% de controle). A produtividade de grãos foi estimada através da colheita de três (3) metros de três (3) linhas da parcela útil. Os resultados obtidos foram corrigidos para 14% de umidade e expressos em sacas de 60 kg ha-1. Os dados de severidade, AACP-Bipolaris e produtividade foram submetidos à análise de variância e aplicado o teste de Scott-Knott (p≤0,05) para separação das médias, através software SISVAR (FERREIRA, 2014).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As doenças que se manifestaram com maior intensidade foram a mancha de Bipolaris e mancha
de Turcicum (mancha de HT ou helmintosporiose). No entanto, a partir da fase de enchimento dos grãos, houve predominância da mancha de Bipolaris. Assim, os resultados apresentados a seguir estão relacionados a esta doença.
O comportamento das variáveis analisadas foi semelhante ao longo das avaliações. Com os maiores valores de severidade final e AACP-Bipolaris no tratamento testemunha, atingindo 12,5 % de tecido foliar afetado e 176,0 de AACP-Bipolaris (Figura 1 e Figura 2).
Os programas de aplicações de fungicida
avaliados reduziram a severidade da doença no campo em níveis semelhantes (Figura 1). A severidade média entre os tratamentos foi de 6,2% de tecido foliar afetado, isto é, reduziram a severidade praticamente pela metade, quando comparados à testemunha. Por outro lado, ao analisar a variável AACP-Bipolaris, os tratamentos 1 (1ª Piraclostrobina + Epoxiconazol / 2ª Fluxapiroxade + Piraclostrobina + Mancozebe) e 3 (1ª Azoxistrobina + Difenoconazol / 2ª Pidiflumetofem + Difenoconazol + Mancozebe) se destacaram com menos valores (Figura 2).
Tratamentos
Médias com letras iguais acima das barras não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05)
Figura 1. Severidade final de mancha de Bipolaris no híbrido B2782 PWU com diferentes programas de aplicações de fungicidas. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2023/2024. A eficiência de controle de mancha de Bipolaris atingida pelos diferentes programas de aplicações de fungicidas variou entre 51 e 70%, nos tratamentos 10 e 1, respectivamente. Ainda assim, vale destacar aqueles que obtiveram valores acima de 60%: tratamento 1 (1ª Piraclostrobina + Epoxiconazol / 2ª Fluxapiroxade + Piraclostrobina + Mancozebe) com 70%, tratamento 3 (1ª Azoxistrobina + Difenoconazol / 2ª Pidiflumetofem + Difenoconazol + Mancozebe) com 64% e o tratamento 9 (1ª Piraclostrobina + Epoxiconazol / 2ª Bixafem + Trifloxistrobina + Protioconazol + Mancozebe) com 61% (Figura 2).
Médias com letras iguais nas barras não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05)
Figura 2. Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACP-Bipolaris) no milho e eficiência de controle estimada com diferentes programas de aplicações de fungicidas, híbrido B2782 PWU. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2023/2024.
Não houve diferença significativa na produtividade obtida por todos os programas de aplicações de fungicida avaliados (Figura 3). Contudo,
todos eles se diferiram estatisticamente do tratamento testemunha, que obteve média produtiva de 124,0 sacas ha-1.
Tratamentos
AACPD Med Co ntrole
Tratamentos
Médias com letras iguais acima das barras não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05).
C.V. = 11,14
Figura 3. Produtividade média do híbrido B2782 PWU após a execução de diferentes programas de aplicações de fungicidas. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2023/2024.
A segunda safra do ano agrícola 2023/2024 foi marcada por volumes expressivos de pluviometria nos meses de fevereiro, março e meados de abril com interrupção repentina das chuvas. Na área experimental, foram registrados 201,6 mm no mês de fevereiro, 338,0 mm em março e 308,1 mm em abril. No enanto, a última precipitação ocorreu no dia 15/04. Desta maneira, durante boa parte do período de enchimento dos grãos não houve boas condições para o desenvolvimento vegetal, bem como, foi fator limitante para que as doenças não atingissem patamares ainda mais elevados de severidade.
A incidência de mancha de Bipolaris iniciou com a planta ainda em estádio vegetativo, e se estendeu por todo o restante do ciclo da cultura. Todavia, a manifestação dos sintomas foi mais evidente entre a fase de pré-pendão até o início do enchimento de grãos. Neste período, foi possível observar suaves diferenças quanto a severidade em relação aos tratamentos
aplicados. Após a intensificação do período de estiagem com temperaturas elevadas, as plantas apresentaram gradual senescência dos tecidos foliares. Assim, o desenvolvimento dos sintomas infectivos foi suprimido pela seca das folhas. De maneira que, nas avaliações finais a percepção de diferenças de sintomas entre os tratamentos foi prejudicada. Exceto para o tratamento testemunha, que apresentou sintomas de infecções fúngicas desde as fases vegetativas.
CONCLUSÃO
A mancha de Bipolaris pode comprometer significativamente a produtividade do milho. O controle químico com a execução de programas de aplicações de fungicidas é fundamental para reduzir os níveis da doença no campo. Afinal, mesmo com a aplicação de fungicidas, é possível que a doença se manifeste. Especialmente em áreas com histórico de ocorrência
e alta pressão de inóculo, e que não adotam a rotação de culturas.
Assim, para o manejo da mancha de Bipolaris o controle químico é um aliado importante, porém, constitui apenas uma das ferramentas que devem ser adotadas para se atingir níveis elevados de controle. O emprego de diferentes métodos de controle deve ser implantado sempre que possível, pois, além de potencializar a produtividade e rentabilidade do cultivo, reduz a dependência climática no que tange a ocorrência de epidemias, ou mesmo, na redução do seu impacto na lavoura.
AGRADECIMENTOS
Á equipe de campo, estagiários e demais pesquisadores do CTC pelo apoio na execução deste experimento.
REFERÊNCIAS
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Plantas Daninhas
ASSOCIAÇÕES E APLICAÇÕES
SEQUENCIAIS DE HERBICIDAS
NO CONTROLE DE BUVA NA DESSECAÇÃO PRÉ-SEMEADURA DA SOJA
BRAZ1, Guilherme Braga Pereira; LIMA1, Diego Tolentino de; FERNANDES1, Rafael Henrique; BUENO1, Amanda Magalhães; SARKIS1, Leonardo Fernandes; SOUZA2, Matheus de Freitas; SILVA3 , Jaqueline Oliveira da
1 Pesquisador(a) no Centro Tecnológico COMIGO, Cooperativa COMIGO, Rio Verde, Goiás, Brasil.
2 Docente no Programa de Pós-graduação em Produção Vegetal da Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil.
3 Discente no Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias do Instituto Federal Goiano, Rio Verde, Goiás, Brasil.
INTRODUÇÃO
Historicamente a buva sempre se constituiu em planta daninha de ampla ocorrência nos diferentes cultivos agrícolas do Brasil (SOARES et al., 2015), em especial na região Sul do país. Devido a elevada similaridade morfológica, a diferenciação das espécies de buva que ocorrem no Brasil é muito complexa, fato que fez com que se convencionasse para fins de identificação da mesma a adoção do termo Conyza spp. A buva é uma espécie pertencente à família Asteraceae, apresentando ciclo anual, reprodução exclusiva por sementes, as quais são
fotoblásticas positivas e se caracteriza por possuir metabolismo fotossintético C3 (BRAZ et al., 2017). Na atualidade, já foram identificados biótipos resistentes de buva no Brasil para seis mecanismos de ação distintos (inibidores do FSI, FSII, EPSPs, ALS, PROTOX e mimetizadores da auxina) e o caso mais complexo de resistência múltipla relatado envolve uma população localizada no Sul do país (Paraná) com insensibilidade a cinco ingredientes ativos (diuron, paraquat, glifosato, 2,4D e saflufenacil) (HEAP, 2024).
Ao considerar o grande entrave desafio que as plantas de buva tem trazido no que tange ao controle destas espécies, fica evidenciada a necessidade de se adotar práticas de manejo integrado com o intuito de reduzir a ocorrência desta planta daninha. A utilização de forma integrada dos diferentes métodos de controle poderá à médio prazo, contribuir para uma redução dos propágulos de buva no banco de sementes ativo no solo, e por consequência diminuir os fluxos de emergência desta planta daninha dentro dos sistemas de produção. Em contraponto, devido ao alto potencial de danos que as plantas de buva podem ocasionar quando em convivência com a soja (AGOSTINETTO et al., 2017), o controle químico, por meio da aplicação de herbicidas ainda continua sendo a principal ferramenta capaz de
atenuar a problemática desta planta daninha em um curto espaço de tempo.
Nos últimos anos, trabalhos de pesquisa vêm demonstrando que a associação de glifosato com mimetizadores da auxina consiste em uma ferramenta importante para o controle de buva, onde a adição de herbicidas com outros mecanismos de ação na mistura supracitada tende a ser sinérgica para o manejo químico desta espécie (BRAZ et al., 2017). Contudo, para plantas de buva em estádios mais avançados de desenvolvimento (florescidas), os trabalhos vêm comprovando que alcançar eficácia total no controle desta espécie com uma única aplicação é praticamente impossível, tornando imprescindível a adoção de aplicações sequenciais com herbicidas de ação de contato (OLIVEIRA NETO et al., 2017; ALBRECHT et al., 2020).
Diante deste contexto, o objetivo do presente trabalho foi determinar a performance de controle de buva imposta por herbicidas em associações e aplicações sequenciais na dessecação pré-semeadura da soja, bem como avaliar o desempenho agronômico da cultura após a adoção destes sistemas de controle.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado na área experimental do Centro Tecnológico COMIGO sediada no município de Rio Verde (GO) (S 17°45’42” O 51°02’09”, altitude de 827 m). O período de condução do experimento foi de 19/09/2023 a 20/02/2024. Segundo Thornthwaite (1948) o clima de Rio Verde é classificado em B4 rB’4a’, caracterizando-se como clima úmido, com pequena deficiência hídrica, mesotérmico e evapotranspiração no verão menor que 48% da evapotranspiração anual. Os dados climatológicos relacionados à precipitação acumulada, temperatura e umidade relativa do ar média durante o período de condução do experimento
encontram-se apresentados na Figura 1. Antes da instalação do experimento, foi realizada a análise de amostras do solo na profundidade de 0 a 20 cm, a qual revelou as seguintes propriedades físico-químicas: pH em CaCl2 de 5,3; 2,81 cmolc dm-3 de H+ + Al+3; 3,44 cmolc dm-3 de Ca+2; 0,62 cmolc dm-3 de Mg+2; 115,6 mg dm-3 de K+; 12,12 mg dm-3 de P; 22,10 g dm-3 de M.O.; 37,8% de areia; 18,2% de silte e 44,1% de argila (textura argilosa).
Ressalta-se que a população de buva presente na área é comprovadamente resistente ao glifosato, uma vez que apresenta histórico de sobrevivência após a aplicação deste herbicida.
Fonte: Estação meteorológica automática situada no Centro Tecnológico COMIGO em Rio Verde, Goiás (S 17°45’45” O 51°02’16”).
Figura 1. Dados de precipitação acumulada, temperatura e umidade relativa do ar média durante o período de condução do experimento. Rio Verde (GO), 2023/2024.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, adotando-se quatro repetições, estando os tratamentos dispostos em arranjo fatorial (6x2)+1 (Tabela 1). O Fator A foi composto pela aplicação de associações contendo herbicidas hormonais (auxínicos); ao passo que o Fator B foi composto pela aplicação sequencial de herbicidas de contato. O tratamento adicional foi constituído de testemunha sem a aplicação de herbicidas. Os referidos produtos comerciais para cada um dos herbicidas utilizados foram: glifosato (Zapp QI®, Syngenta), [halauxifen + diclosulam] (Paxeo®, Corteva), 2,4-D amina (DMA 806 BR®, Corteva), saflufenacil (Heat®, BASF), triclopyr (Triclon®, UPL), [fluroxipyr + cletodim] (Araddo®, ADAMA), [atrazina + mesotriona] (Calaris®, Syngenta), [glufosinato + carfentrazona] (Inédito®, Ourofino Agrociência) e [diquat + flumioxazin] (Burner®, Iharabras). As unidades experimentais
apresentaram dimensões de 5 m de comprimento e 4 m de largura, perfazendo área total equivalente a 20m2 Para composição da bordadura, foi desconsiderado nas avaliações 0,5m de cada extremidade das unidades experimentais, totalizando área útil equivalente a 12 m2
A primeira aplicação tratamentos (aplicação A) foi realizada no dia 19/09/2023 (13:40 às 14:30 h), em pós-emergência das plantas de buva na operação de dessecação pré-semeadura. No momento da aplicação o solo encontrava-se úmido, a temperatura do ar variou de 32,1 a 32,7oC, a umidade relativa do ar em variou de 43,9 a 45,5%, céu com a presença de poucas nuvens e a velocidade dos ventos variou de 3,9 a 7,9 km h-1. Na ocasião desta aplicação, as plantas de buva (Conyza spp.) possuíam densidade média de 15 plantas por m2 e estavam em estádios avançados de desenvolvimento (florescimento), possuindo alturas variando de 40 a 50 cm.
Tabela 1. Relação de tratamentos avaliados no experimento de controle de buva na dessecação pré-semeadura da soja. Rio Verde (GO), 2023/2024.
[ ] = indica mistura formulada comercialmente; * Aplicação sequencial (B) foi realizada 15 dias após a primeira aplicação (A); 1/ Adicionado óleo vegetal Mees® (0,5 L p.c. ha-1) à calda de aplicação; 2/ Adicionado óleo mineral Iharol Gold® (0,5 L p.c. ha-1) à calda de aplicação.
A segunda aplicação (aplicação B) foi realizada no dia 04/10/2023 (08:40 às 09:30 h), período o qual equivaleu a 15 dias após a aplicação A. No momento desta aplicação o solo encontrava-se com úmido, a temperatura do ar variou de 27,1 a 28,9oC, a umidade relativa do ar variou de 63,0 a 72,0%, céu com a presença de poucas nuvens e a velocidade do vento variou de 3,0 a 4,0 km h-1. Todas as aplicações dos tratamentos foram realizadas mediante utilização de pulverizador costal de pressão constante à base de CO2, equipado com barra com seis pontas tipo leque XR-110.02, faixa de aplicação de 3 m, sob pressão de 2,0 kgf cm-2. Estas condições de aplicação proporcionaram o equivalente a 150 L ha-1 de calda.
Para aferir o desempenho agronômico da soja em
função da performance de controle dos tratamentos, foi realizada a semeadura mecanizada no dia 16/10/2023 (27 dias após a aplicação A), em sistema de semeadura direta, adotando-se espaçamento entrelinhas de 0,5 m. Foram distribuídas 16 sementes por metro linear da cultivar de soja CZ 37B43 IPRO®, pertencente à Credenz. A referida cultivar se caracteriza por apresentar hábito de crescimento indeterminado e grupo de maturação 7.4. As sementes receberam tratamento industrial com fungicida e inseticida, visando conferir proteção contra o ataque de patógenos e pragas inicias. Além disso, foi realizada inoculação para assegurar o êxito do processo de fixação biológica de nitrogênio. A adubação da cultura foi realizada por meio da aplicação antecipada à lanço de 220 kg ha-1 do formulado 5-25-25
e no momento da semeadura foi aplicado via sulco 120 kg ha-1 de 05-25-25. A emergência das plântulas de soja ocorreu no dia 21/10/2023. Em cobertura da cultura da soja, foi realizada a aplicação de 76 kg ha-1 de cloreto de potássio.
Durante o desenvolvimento da soja, todos os tratos culturais foram realizados de acordo com os recomendados, procedendo ao controle de pragas e doenças sem deixar que estes influenciassem no desenvolvimento da cultura (SEIXAS et al., 2020).
Além disso, o controle de plantas daninhas em pósemergência da soja foi realizado apenas com a aplicação de glifosato + cletodim (1240 + 120 g i.a. ha1) + óleo mineral Iharol Gold® (0,5 L p.c. ha-1). Todas as aplicações de manutenção foram realizadas por meio de pulverizador de arrasto, adotando-se volume de calda aplicada equivalente a 150 L ha-1
Para as avaliações de controle de buva, utilizou-se como referência as plantas presentes na testemunha sem herbicida (no mato). Foram realizadas avaliações de controle aos 3, 7, 14, 22, 29 e 36 dias após a aplicação A (DAA-A), o que correspondeu a 7, 14 e 21 dias após a aplicação B (DAA-B), com base em escala visual de notas, onde 0% significou nenhum controle e 100% representou controle total das plantas de buva (SBCPD, 1995).
Na ocasião da colheita foram realizadas avaliações de estande, altura de plantas e produtividade de grãos. Na avaliação do estande da cultura, foi realizada a contagem do número de plantas presentes em 4 m lineares da área útil de cada unidade experimental. Para a avaliação de altura de plantas, foi realizada a medição da distância do nível do solo até a altura do meristema apical, amostrando cinco plantas por unidade experimental. A produtividade foi aferida por meio da colheita mecanizada, utilizando colhedora de parcelas da marca Zürn Harvesting (modelo Zürn 110) e durante o processamento da amostra colhida, o
material foi trilhado, identificado, pesado e realizada a correção da umidade dos grãos para 13%.
A análise dos dados foi realizada com a utilização do software estatístico Assistat (SILVA; AZEVEDO, 2016). Os dados foram submetidos a análise de variância pelo teste F (p≤0,05) e quando constatado efeito significativo dos fatores ou da interação entre estes foi realizada a comparação entre os tratamentos pelo teste de Tukey (p≤0,05). Além disso, a comparação dos tratamentos herbicidas com o tratamento adicional (testemunha sem herbicida) foi realizada por meio do teste de Dunnett (p≤0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 2 estão apresentados os resultados de controle das plantas de buva resultantes apenas da primeira aplicação de herbicidas (aplicação A).
Aos 3 DAA-A, os maiores níveis de controle de buva foram registrados nos tratamentos que continham na composição da associação o herbicida saflufenacil, os quais apresentaram valores variando de 38,75 a 45,00%.
Ainda no tocante a estes tratamentos, verifica-se que àqueles em que foram utilizados como herbicidas hormonais triclopyr e fluroxipyr, tiveram performance ligeiramente superior em relação ao 2,4-D.
Tabela 2. Porcentagem de controle de buva na dessecação pré-semeadura da soja sem aplicação sequencial de herbicidas. Rio Verde (GO), 2023/2024.
* Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05).
Em termos de performance, na sequência destes tratamentos, ranqueou-se a associação entre glifosato + 2,4-D + [atrazina + mesotriona], seguido por glifosato + [halauxifen + diclosulam]. É oportuno destacar que no tratamento composto pela associação entre glifosato + [halauxifen + diclosulam], optou-se por não adicionar o saflufenacil, uma vez que pelo perfil de ação mais lento que este herbicida hormonal apresenta (halauxifen) (EPP et al., 2016), a adição do inibidor da PROTOX poderia comprometer a eficácia de controle sobre as plantas de buva (BRAZ et al., 2017).
Aos 7 DAA-A, verificou-se melhoria na performance de controle de buva em todos os tratamentos avaliados, sem, contudo, nenhum ser capaz de alcançar patamar superior à 80,00%. Nesta ocasião, novamente se destacaram as associações contendo em sua composição o saflufenacil associado ao glifosato + herbicida hormonal, visualizando-se superioridade naqueles com a aplicação de fluroxipyr ou triclopyr, seguido por 2,4-D. A eficácia exercida pelos diferentes herbicidas hormonais em associação ao glifosato e saflufenacil sobre a buva se constitui em importante alternativa para o controle desta planta daninha, assegurando a possibilidade de rotação entre os ingredientes ativos que compõem o mecanismo de ação dos mimetizadores da auxina. Ademais, para regiões em que já foi relatada a existência de biótipos de buva com resistência ao 2,4-D pelo mecanismo
c
b
a
de rápida necrose, os herbicidas fluroxipyr e triclopyr podem se constituir em ferramentas para serem utilizadas no controle, uma vez que não se trata de resistência cruzada para estes ingredientes ativos (QUEIROZ et al., 2020).
Na última avaliação de controle realizada previamente a aplicação sequencial dos herbicidas (14 DAA-A), verifica-se que os três tratamentos contendo saflufenacil em sua composição alcançaram patamares que os credenciam como eficazes no controle de buva. Possivelmente, para buva em estádios iniciais ou àquelas que apresentam porte reduzido (< 10 cm), alguns dos tratamentos acima poderiam ser eficazes com apenas uma única aplicação, dispensando a necessidade da adoção de uma sequencial, uma vez que na literatura já foi comprovado que para buva a dificuldade de controle aumenta em função do maior porte (altura) das plantas (OLIVEIRA NETO et al., 2010; BRAZ et al., 2017).
As associações compostas por glifosato + [halauxifen + diclosulam] e glifosato + 2,4-D + [atrazina + mesotriona] não foram capazes de impor níveis de controle nas plantas de buva acima do patamar considerado satisfatório. Apesar de haver a perspectiva de incrementos nos níveis de controle em função da adoção destes dois tratamentos supracitados, objetivando alcançar eficácia no controle de buva em um intervalo de tempo menor, a realização de uma
aplicação sequencial com herbicidas de ação de contato se faz fundamental.
A partir da avaliação realizada aos 22 DAA-A (7 DAA-B), o desempenho proporcionado pelos tratamentos já apresentava efeito da aplicação sequencial das associações herbicidas (Tabela 3). Nesta primeira avaliação após a aplicação sequencial dos herbicidas, excluindo-se os tratamentos que não receberam herbicidas na aplicação A, bem como naquele em que foi realizada aplicação da associação entre glifosato + [halauxifen + diclosulam], com sequencial de [glufosinato + carfentrazona], em todos os demais foram observados níveis de controle de buva superiores ao patamar de 80,00%. Nesta avaliação, comparando a performance entre as associações utilizadas na aplicação sequencial, verifica-se uma superioridade de controle de buva da mistura formulada comercialmente entre [diquat + flumioxazin] em detrimento de [glufosinato + carfentrazona].
Aos 29 DAA-A (14 DAA-B), excluindo-se os tratamentos com apenas uma única aplicação, todos os demais foram capazes de impor níveis de controle
satisfatórios sobre as plantas de buva (Tabela 3). Nesta ocasião, verifica-se que os tratamentos contendo como herbicidas auxínicos 2,4-D, triclopyr e fluroxipyr, os percentuais de controle das plantas de buva foram ligeiramente superiores em comparação com àquele contendo halauxifen.
Comparando a performance entre as associações herbicidas utilizadas na aplicação sequencial, diferentemente da avalição anterior, nesta ocasião as melhores performances foram obtidas com a utilização da mistura formulada comercialmente entre [glufosinato + carfentrazona]. Este comportamento pode ser explicado pela velocidade de ação que cada um dos ingredientes ativos que compõem as associações herbicidas com os inibidores da PROTOX na aplicação sequencial apresenta, uma vez que o diquat possui ação rápida na imposição de injúrias às plantas, sendo possível observar sintomas de necrose no tecido tratado em poucos dias após a aplicação (1 a 3 DAA), ao passo que para glufosinato, a ação do mesmo se apresenta mais lenta (5 a 7 DAA) (ALBRECHT et al., 2022).
Tabela 3. Porcentagem de controle de buva na dessecação pré-semeadura da soja com aplicação sequencial de herbicidas. Rio Verde (GO), 2023/2024.
Médias seguidas por letras distintas maiúsculas na linha e minúsculas na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05). * Difere da testemunha sem herbicida pelo teste de Dunnett (p≤0,05).
A partir da avaliação realizada aos 29 DAA-A (14 DAA-B), a performance de controle imposta pelos tratamentos herbicidas permaneceu semelhante até a última avaliação de controle (36 DAA-A/21 DAA-B) (Tabela 3). Neste sentido, fica evidenciado pelos resultados obtidos no presente trabalho que sob a ótica de controle das plantas de buva na dessecação présemeadura da soja, a adoção de associações, bem como aplicações sequenciais de herbicidas é de fundamental importância visando alcançar êxito no controle químico
desta espécie daninha. Destaca-se também que o uso exclusivo de herbicidas com ação de contato em uma única aplicação não assegura a eficácia de controle de buva em estádios de desenvolvimento avançado (plantas florescidas), sendo necessário incluir nas estratégias de controle químico associações contendo herbicidas sistêmicos na primeira aplicação.
Uma outra consideração que deve ser feita em relação aos tratamentos utilizados na primeira aplicação é que determinados ingredientes ativos, como halauxifen, 2,4-D, triclopyr, saflufenacil, atrazina e mesotriona criam a necessidade de esperar um intervalo para a semeadura segura da soja devido à atividade residual destes herbicidas no solo (CANTU et al., 2021). Neste sentido, a seleção destes tratamentos para uso na dessecação pré-semeadura da soja deve considerar às características edafoclimáticas da área a ser manejada previamente a aplicação, visando evitar problemas de injúrias dos herbicidas para a cultura. Por fim, um outro ponto que merece destaque refere-se ao fato de que aquelas plantas de buva que não receberam aplicação de herbicidas na dessecação (testemunha), terem perdurado até o final do ciclo da soja, apresentando-se vivas na ocasião da colheita do experimento. Este destaque se faz importante devido ao ciclo que a referida espécie apresenta, uma vez que por se apresentar como planta anual (STRECK et al., 2020), muitos profissionais apontam que não há necessidade de se adotar estratégias de controle de buva em pós-emergência da soja, visto que a mesma entrará em processo de senescência. Neste sentido, por estarem fisiologicamente ativas, as plantas de buva permanecem com alto potencial de interferência perante a soja, sendo necessária a realização de práticas de controle contra a espécie.
Nenhum dos tratamentos avaliados proporcionou alterações no estande ou altura de plantas da soja, incluindo a comparação entre aqueles
em que foi realizada a aplicação de herbicidas na dessecação pré-semeadura da cultura e a testemunha sem adoção de controle químico (dados não apresentados). Em contrapartida, quando se analisa o efeito dos tratamentos sob a produtividade da soja, fica evidenciada a importância da adoção de sistemas de controle químico das plantas de buva contemplando aplicações sequenciais na dessecação pré-semeadura da cultura (Tabela 4). Excluindo-se os tratamentos com apenas uma única aplicação de herbicidas com ação de contato, em todos os demais em que foram realizadas duas aplicações antecedendo a semeadura da soja, as produtividades da cultura foram superiores aos valores obtidos na testemunha sem herbicida. A média de produtividade da soja nos tratamentos com adoção de associações herbicidas e aplicações sequenciais na dessecação pré-semeadura foi superior a 18,92 sacas ha-1 (≈ 32,6%) em comparação com a testemunha sem herbicida.
Tabela 4. Produtividade da soja após a aplicação de diferentes tratamentos na dessecação pré-semeadura da cultura. Rio Verde (GO), 2023/2024.
Médias seguidas por letras distintas maiúsculas na linha e minúsculas na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05). * Difere da testemunha sem herbicida pelo teste de Dunnett (p≤0,05).
Em relação à comparação de produtividade da soja entre as associações herbicidas utilizadas na primeira aplicação, verifica-se que quando se utilizou a mistura formulada entre [glufosinato + carfentrazona] na segunda aplicação, os tratamentos compostos pelas misturas glifosato + 2,4-D + saflufenacil e glifosato + [fluroxipyr + cletodim] + saflufenacil apresentaram maior produtividade em relação àquele que não foi aplicado herbicidas na primeira aplicação (Tabela 4). No grupo de tratamentos em que se utilizou a mistura formulada entre [diquat + flumioxazin], além das associações supracitadas, o tratamento composto por glifosato + triclopyr + saflufenacil também proporcionou produtividade superior àquele em que não foi utilizado herbicidas na primeira aplicação. Em relação à comparação da produtividade da soja entre as misturas formuladas utilizadas na segunda aplicação, não foram verificadas diferenças em nenhum dos tratamentos. Sumarizando os resultados obtidos para a produtividade de soja, fica evidenciado o que já fora afirmado para os dados de controle de buva na dessecação pré-semeadura da soja: a adoção de associações herbicidas com complementação de aplicações sequenciais é fundamental para assegurar que perdas de produção de grãos de soja sejam observados.
CONCLUSÃO
Para o controle de buva na dessecação présemeadura, a adoção de associações herbicidas bem como aplicações sequenciais é fundamental. A utilização do saflufenacil na primeira aplicação proporciona melhorias no desempenho dos herbicidas no controle de buva. O uso exclusivo de herbicidas com ação de contato em uma única aplicação não assegura a eficácia de controle de buva. Para assegurar que a produtividade da soja não seja afetada pela interferência das plantas de buva, faz-se necessário a adoção de associações herbicidas com complementação de aplicações sequenciais na dessecação pré-semeadura.
AGRADECIMENTOS
À equipe de campo, pesquisadores e estagiários do CTC pelo apoio na implantação e condução do experimento.
REFERÊNCIAS
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DESEMPENHO DE HERBICIDAS APLICADOS EM PRÉ-EMERGÊNCIA
DA SOJA NO CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS
BRAZ1, Guilherme Braga Pereira; SILVA2, Jaqueline Oliveira da; FERNANDES1, Rafael Henrique; LIMA1 , Diego Tolentino de; BUENO1, Amanda Magalhães; SARKIS1, Leonardo Fernandes
1 Pesquisador(a) Agronômico(a) no Centro Tecnológico COMIGO, Cooperativa COMIGO, Rio Verde (GO).
2 Engenheira Agrônoma, Mestranda no Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias, Instituto Federal Goiano, Rio Verde (GO).
INTRODUÇÃO
A utilização de herbicidas com ação residual no controle de plantas daninhas, historicamente, sempre se constituiu em uma prática bastante difundida na soja, mediante a aplicação destes ingredientes ativos em pré-emergência da cultura. Na época, parte dos ingredientes ativos que eram posicionados para esta modalidade de aplicação criavam a necessidade de se realizar a incorporação do herbicida no solo, visto que algumas destas moléculas sofriam com processos que acabavam por retirá-las do ambiente (fotodegradação, volatilização, entre outros), reduzindo então a efetividade no controle da comunidade infestante (MONQUERO et al., 2008).
Contudo, com o advento do plantio direto (SPD), conjuntamente com a introdução das cultivares transgênicas que apresentam tolerância ao glifosato (Roundup Ready - RR®), visualizou-se uma acentuada redução da utilização dos herbicidas em pré-emergência, visto que a palhada remanescente do não revolvimento do solo (SPD), além da boa eficácia do glifosato, foram capazes de proporcionar um bom controle da comunidade infestante na maioria das áreas. A ampla adoção das cultivares de soja tolerantes ao glifosato fez com que seu uso no controle da comunidade infestante nesta cultura fosse intensivo, criando uma grande pressão de seleção sob as plantas daninhas para biótipos resistentes ao herbicida (SOUZA et al., 2024). Neste cenário, desde a introdução destas cultivares transgênicas de soja no Brasil até o ano de 2024, 20 casos de plantas daninhas apresentando resistência ao glifosato foram relatados, havendo nestes relatos 12 espécies envolvidas, sendo 11 casos de resistência simples e 9 de resistência múltipla que envolvem outros mecanismos de ação (HEAP, 2024).
Diante da problemática das plantas daninhas resistentes ao glifosato, visualizou-se em várias regiões de cultivo de soja a volta do uso dos herbicidas em préemergência da cultura, uma vez que nesta modalidade de
aplicação, os mesmos apresentam eficácia no controle de várias espécies que compõem a comunidade infestante. A retomada na utilização dos herbicidas em pré-emergência da soja ocorreu, inicialmente, com a utilização de ingredientes ativos que apresentavam maior estabilidade quando aplicados em condições de SPD, além de apresentarem boa translocação via palhada no solo, haja visto que estas características das moléculas são fundamentais para o bom funcionamento destes produtos (ROSSI et al., 2013). Contudo, em função do crescimento do mercado de herbicidas posicionados em pré-emergência da soja, houve um investimento das empresas na fabricação de produtos que apresentam avanços do ponto de vista de formulação, os quais se relacionam à não necessidade de incorporação no solo, liberação gradativa (aumento no residual de controle), ou ainda, pela presença de mais de um ingrediente ativo na composição com o intuito de se ampliar o espectro de controle de plantas daninhas (MARCHESAN et al., 2013).
Apesar dos benefícios destas novas formulações de herbicidas, ainda são escassos os trabalhos na literatura que mensuram a eficácia no controle da comunidade infestante, bem como a seletividade dos produtos para a cultura da soja. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a eficácia dos herbicidas aplicados em pré-emergência da soja no controle de plantas daninhas, bem como mensurar o desempenho agronômico da cultura.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado na área experimental do Centro Tecnológico COMIGO sediada no município de Rio Verde (GO) (S 17°45’42” O 51°02’09”, altitude de 827 m). O período de condução do experimento foi de 27/10/2023 a 16/02/2024.
Segundo Thornthwaite (1948) o clima de Rio
Verde é classificado em B4 rB’4a’, caracterizando-se como clima úmido, com pequena deficiência hídrica, mesotérmico e evapotranspiração no verão menor que 48% da evapotranspiração anual. Os dados climatológicos relacionados à precipitação acumulada, temperatura e umidade relativa do ar média durante o período de condução do experimento encontram-se apresentados na Figura 1. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho Distrófico. Antes da instalação dos experimentos, foi realizada a análise de amostras do solo coletadas na profundidade de 0 a 20 cm, a qual revelou as seguintes propriedades físico-químicas: pH em CaCl2 de 5,31; 0,14 cmolc dm-3 de H+ + Al+3; 3,51 cmolc dm-3 de Ca+2; 0,75 cmolc dm-3 de Mg+2; 145,40 mg dm-3 de K; 20,70 mg dm-3 de P; 52,03% de areia; 9,00% de silte e 38,97% de argila (textura argilo-arenosa).
Fonte: Estação meteorológica automática situada no Centro Tecnológico COMIGO em Rio Verde, Goiás (S 17°45’45” O 51°02’16”).
Figura 1. Dados de precipitação acumulada, temperatura e umidade relativa do ar média durante o período de condução do experimento. Rio Verde (GO), 2023/2024.
A área em que o experimento foi realizado havia sido cultivada anteriormente (segunda safra de 2023) com o consórcio entre sorgo e BRS Piatã (Brachiaria brizantha cv. Piatã). O controle das plantas daninhas (dessecação de pré-semeadura) presentes na área experimental foi realizado com duas aplicações de herbicidas, sendo a primeira realizada vinte cinco dias antes da semeadura com a aplicação de glifosato (1.500 g e.a. ha-1) + cletodim (120 g i.a. ha-1) e a segunda realizada no dia da semeadura, com a aplicação de diquat (500 g i.a. ha-1) + Agral® (200 mL p.c. ha-1).
Nos dias 04/08/2023 e 05/08/2023, foram realizadas, respectivamente, às práticas de calagem e gessagem, mediante aplicação à lanço em área total de 1.500 kg ha-1 de calcário e gesso. A semeadura foi realizada de forma mecanizada no dia 27/10/2023, adotando-se espaçamento entrelinhas de 0,5 m. A cultivar de soja utilizada foi a HO Paraguaçu I2X, que possui grupo de maturidade relativa de 6.4, hábito de
crescimento indeterminado, sendo adotada a densidade de semeadura de 18 sementes m-1. As sementes utilizadas nos experimentos receberam tratamento industrial com fungicidas e inseticidas. Foi aplicado via micron os produtos Cell Tech Max, Biomax Azum, MetaTurbo SC, Tricho-Turbo, No-Nema e Biozyme. Visando realizar a prática de adubação da cultura, foi aplicado à lanço em área total o equivalente a 220 kg ha-1 de 05-25-25. No momento da semeadura, a adubação foi realizada com aplicação no sulco do equivalente à 120 kg ha-1 de 05-25-25. A emergência das plântulas de soja ocorreu no dia 01/11/2023. Ademais, foi realizada adubação de cobertura à lanço com aplicação de 76 kg ha-1 de cloreto de potássio.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso (DBC), avaliando-se quatorze tratamentos com quatro repetições (Tabela 1). Os tratamentos foram compostos pela aplicação de herbicidas em pré-emergência da soja, acrescido de
uma testemunha sem aplicação. Todos os herbicidas avaliados possuem registro para uso na soja, sendo avaliado para cada produto a dose indicada em bula pelas fabricantes para às características de solo em que o experimento foi realizado. As unidades experimentais
foram compostas por dez linhas de semeadura, com comprimento de 10,0 m (50,0 m2). Considerou-se como área útil para as avaliações apenas as seis linhas centrais de cada unidade experimental, excluindo-se 1,0 m das extremidades inicial e final.
Tabela 1. Relação de tratamentos avaliados no experimento de desempenho de herbicidas aplicados em préemergência da soja. Rio Verde (GO), 2023/2024.
A aplicação dos tratamentos foi realizada em pré-emergência da soja, na modalidade plante e aplique (28/10/2023). No momento da aplicação o solo apresentava-se com boa umidade e o céu estava com a presença de poucas nuvens, estando a temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento, mínima e máxima, em valores equivalentes a 26,3 e 28,1oC, 59,4 e 65,3% e 0,9 e 1,2 km h-1, respectivamente. As aplicações foram realizadas utilizando-se um pulverizador de pesquisa pressurizado por CO2 com patente junto ao INPI (BR 102016007565-3), montado em um trator (LS 60, 60 cv, Landini). A barra de aplicação foi equipada com dez pontas espaçadas 0,5 m entre si, mantida a
+ ALS + PROTOX Arkeiro (Nortox)
uma altura de 0,5 m da cobertura vegetal. A pressão de trabalho nas pontas de pulverização de jato duplo plano com indução de ar (ADIA/D 110015; Magnojet) foi de 300 kPa (43,5 psi) e o volume de aplicação 150 L ha-1
Para avaliar o benefício da utilização dos herbicidas em pré-emergência, bem como mensurar o impacto da interferência inicial das plantas daninhas sob a cultura, aos 25 dias após a emergência (DAE) foi realizada, em todos os experimentos, uma aplicação em pós-emergência da soja da associação entre glifosato (1.250 g e.a. ha-1) + cletodim (120 g i.a. ha-1) + Iharol Gold® (400 mL p.c. ha-1). Além disso, durante o desenvolvimento da soja foram realizados tratos
culturais de acordo com as recomendações técnicas, procedendo ao controle de pragas e doenças sem deixar que estes influenciassem negativamente no desenvolvimento da cultura. Todas as aplicações de manutenção foram realizadas com pulverizador de arrasto acoplado ao trator, utilizando-se taxa de aplicação de 150 L ha-1.
Para avaliar o desempenho dos herbicidas foi avaliado o controle de plantas daninhas e a intoxicação da cultura, utilizando para ambas as avaliações escala que apresenta notas variando de 0% a 100%, onde 0% significa ausência de controle/sintomas e 100% representa o controle total/morte da soja (SBCPD, 1995). A base comparativa para estas avaliações foi a testemunha sem herbicida e as mesmas foram realizadas aos 7, 14 e 25 DAE. Na ocasião da colheita da soja, foi realizada avaliação do estande e altura de plantas. O estande da cultura foi determinado por meio da contagem do número de plantas presentes em 4 m, sendo os dados desta variável expressos na forma de número de plantas por hectare. A altura de plantas foi mensurada por meio da medição da distância da superfície do solo até o ápice da planta, amostrandose cinco plantas por unidade experimental. Para determinação da produtividade de grãos, foi realizada a colheita mecanizada (16/02/2024) de todas as plantas presentes na área útil de cada unidade experimental. A colhedora de parcelas utilizada foi da marca Zürn Harvesting (modelo Zürn 110) e durante o processamento da amostra colhida, o material foi trilhado, identificado, pesado e realizada a correção da umidade dos grãos para 13%.
As análises estatísticas foram realizadas com o programa computacional SISVAR (FERREIRA, 2019).
Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F (p≤0,05) e, quando houve efeito significativo, aplicou-se o critério de agrupamento de médias de Scott-Knott (p≤0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Previamente a discussão sobre o desempenho de controle dos herbicidas em pré-emergência, é importante destacar que os resultados de eficácia dos ingredientes ativos aplicados nesta modalidade podem apresentar variações em função de aspectos relacionados às condições edafoclimáticas da área, doses utilizadas do herbicida, bem como composição florística e histórico de infestação. Neste sentido, pode haver divergências entre resultados de pesquisas realizadas em áreas distintas por variações em alguns destes fatores mencionados, sendo fundamental a realização dos estudos em mais de uma área ou ano agrícola para a real compreensão do desempenho de cada herbicida sobre determinada planta daninha.
Na primeira avaliação de controle (7 DAE), os melhores tratamentos em termos de desempenho no controle em pré-emergência do sorgo voluntário foram constituídos da aplicação dos herbicidas chlorimuron e diclosulam isolados, bem como das associações entre [sulfentrazone + clomazone], [sulfentrazone + diuron], [imazethapyr + flumioxazin] e [imazethapyr + chlorimuron + flumioxazin] (Tabela 2). Todos estes tratamentos apresentaram eficácia no controle em pré-emergência do sorgo voluntário até os 25 DAE, demonstrando se constituir nas melhores alternativas para serem utilizadas em áreas que a soja é semeada em sucessão à cultura do sorgo.
Tabela 2. Porcentagem de controle de sorgo voluntário e capim-colchão após a aplicação de herbicidas em préemergência da soja. Rio Verde (GO), 2023/2024.
Tratamentos
+ flumioxazin]
+ chlorimuron + flumioxazin]
* Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05).
Os tratamentos contendo imazethapyr, trifluralin e clomazone isolados, bem como nas associações entre [S-metolachlor + fomesafen] e [pyroxasulfone + flumioxazin] apresentaram baixa eficácia no controle de plantas voluntárias de sorgo, não se visualizando níveis superiores a 50,0% em nenhuma das avaliações. Acerca do desempenho dos tratamentos supracitados, é importante destacar que apesar do trifluralin não ter apresentando eficácia no controle do sorgo voluntário, os sintomas de injúrias nas plantas foram consideravelmente altos. Neste contexto, há produtos formulados à base deste ingrediente ativo que apresenta registro para uso na cultura do sorgo. Contudo, há um aspecto agronômico que explica o fato de ter sido visualizado sintomas de injúrias nas plantas de sorgo em decorrência da utilização de trifluralin, o qual se relaciona a profundidade das sementes do
sorgo, uma vez que boa parte destes propágulos ficam depositados na superfície do solo. No caso da aplicação de trifluralin de forma seletiva para a cultura do sorgo, a indicação em bula é de que as sementes devem ser posicionadas em uma profundidade de no mínimo 3 cm (MAPA, 2024).
Para capim-colchão, todos os tratamentos que continham associações herbicidas apresentaram eficácia no controle em pré-emergência desta planta daninha até os 25 DAE da soja (Tabela 2). Ademais, diclosulam, imazethapyr, S-metolachlor e clomazone, aplicados isoladamente, também proporcionaram níveis de controle eficaz de capim-colchão, com destaque para os três últimos ingredientes ativos citados, que alcançaram valores iguais ou próximos de 100,0% (controle total das plantas). Para esta planta daninha, os únicos herbicidas a não alcançar
Plantas Daninhas
patamar de controle considerado satisfatório foram chlorimuron e trifluralin aplicados de forma isolada, os quais apresentam níveis variando de 70,8 a 75,8%.
O chlorimuron, apesar de proporcionar supressão em algumas espécies de poáceas, tradicionalmente não apresenta desempenho de controle elevado quando posicionado para plantas daninhas desta família, fato que justifica o comportamento visualizado no presente trabalho. Em contraponto, trifluralin é um herbicida reconhecidamente eficaz no controle de poáceas, havendo relato inclusive da eficácia sob capim-colchão (FRANCISCHINI et al., 2012). Contudo, o presente trabalho foi conduzido em área com elevada quantidade de palhada, uma vez que a cultura antecessora a soja foi composta pelo consórcio entre sorgo e capim-piatã.
Nestas condições, devido às propriedades físicoquímicas da trifluralin, especialmente a solubilidade e Kow, é esperado que haja uma redução na eficácia do herbicida em função da dificuldade que esta molécula apresenta para passar pela palhada (ARALDI et al., 2015).
Todos os tratamentos contendo associações entre herbicidas apresentaram eficácia no controle em pré-emergência de picão-preto, sendo este resultado
observado até a última avaliação (25 DAE) (Tabela 3). Ademais, chlorimuron, diclosulam e clomazone, todos aplicados de forma isolada, também apresentaram eficácia no controle em pré-emergência de picão-preto, visualizando níveis de controle mais elevados quando se utilizou diclosulam ou clomazone em comparação com chlorimuron. Imazethapyr, apesar de ter proporcionado níveis de controle próximo do patamar considerado satisfatório (80,0%), em nenhuma das três avaliações realizadas, foi capaz de proporcionar eficácia no controle residual de picão-preto. Apesar do bom desempenho visualizado com a aplicação dos inibidores da ALS (chlorimuron, diclosulam e imazethapyr), por haver relatos no Brasil de populações resistentes à herbicidas que possuem este mecanismo de ação (MENDES et al., 2019; HEAP, 2024), a utilização destes ingredientes ativos deve ser analisada de forma criteriosa no sentido de evitar falhas no controle devido à resistência. Por fim, S-metolachlor e trifluralin proporcionaram baixos níveis de controle sob esta planta daninha, fato que é explicado pelo espectro de controle similar que estes herbicidas possuem, os quais são mais posicionados no controle de espécies monocotiledôneas (folhas estreitas) (SANTOS et al., 2012).
Tabela 3. Porcentagem de controle de picão-preto e erva-de-santa-luzia após a aplicação de herbicidas em préemergência da soja. Rio Verde (GO), 2023/2024.
Tratamentos
+ clomazone]
+ diuron]
+ flumioxazin]
[Imazethapyr + flumioxazin]
[Imazethapyr + chlorimuron + flumioxazin]
* Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05).
Nos últimos anos a erva-de-santa-luzia tem apresentando um aumento na sua importância como planta daninha em várias regiões agrícolas do país, especialmente pela elevada tolerância ao glifosato (FREITAS et al., 2023). Para esta planta daninha, observou-se ao longo das três avaliações de controle que, excluindo-se trifluralin, todos os demais herbicidas aplicados em pré-emergência apresentaram eficácia sob esta espécie (Tabela 3). Os resultados do presente trabalho se assemelham aos obtidos por Freitas et al. (2022), os quais também visualizaram que em termos de controle químico desta espécie, há várias alternativas eficazes para serem utilizadas em préemergência da soja. Ademais, os autores do trabalho supracitado também constataram um desempenho ligeiramente inferior de trifluralin quando comparados a outros herbicidas aplicados em pré-emergência da
erva-de-santa-luzia.
Para leiteiro, excluindo-se o S-metolachlor aplicado de forma isolada, todos os demais herbicidas apresentaram eficácia no controle em pré-emergência desta planta daninha ao longo das três avaliações (Tabela 4). A baixa eficácia do S-metolachlor sob leiteiro pode ser justificada pelo espectro de controle que este herbicida possui, uma vez que o mesmo apresenta melhor desempenho em plantas daninhas monocotiledôneas, além de controlar algumas espécies de dicotiledôneas que possuem sementes pequenas (SANTOS et al., 2002). No caso específico do leiteiro, esta planta daninha se caracteriza por apresentar sementes de maior tamanho (ARALDI et al., 2013), fato que faz com que o desempenho do S-metolachlor seja limitado para o controle em pré-emergência desta espécie.
Tabela 4. Porcentagem de controle de leiteiro e intoxicação da soja após a aplicação de herbicidas em préemergência da cultura. Rio Verde (GO), 2023/2024.
Tratamentos
+ flumioxazin]
+ chlorimuron + flumioxazin]
* Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05).
Ao longo das três avaliações de intoxicação, os herbicidas que promoveram maiores níveis de injúrias às plantas de soja foram compostos pela aplicação em pré-emergência das associações entre [pyroxasulfone + flumioxazin] e [imazethapyr + chlorimuron + flumioxazin] (Tabela 4). Nenhum dos tratamentos herbicidas aplicados em pré-emergência da soja afetou o estande e a altura de plantas (dados não apresentados). Este fato demonstra que mesmo havendo diferenças quanto à visualização de injúrias na soja, todos os herbicidas apresentaram-se seletivos no sentido de não causar mortalidade de plantas (estande), bem como de não afetar o crescimento da cultura (altura de plantas).
Para produtividade da soja, visualizou-se que onde foi adotado herbicidas em pré-emergência da soja, independentemente do ingrediente ativo, a produtividade
de grãos foi superior em relação à testemunha sem aplicação (Tabela 5). Em média, os tratamentos em que foi realizada a aplicação de herbicidas em préemergência, apresentaram produtividade superior em relação à testemunha na ordem de ≈ 10,8 sacas ha-1 (16,9%). Apesar de a produtividade na testemunha sem aplicação de herbicidas em pré-emergência em uma primeira análise aparentar ser um patamar satisfatório (64 sacas ha-1), quando se compara com os demais tratamentos em que foi adotado o controle químico em pré-emergência da cultura, fica evidenciado o quanto a aplicação destes ingredientes ativos nesta modalidade contribuiu para uma redução da matointerferência inicial. Trabalhos disponíveis na literatura demonstram que a não utilização de herbicidas em pré-emergência da soja, realizando o controle das plantas daninhas
exclusivamente por meio da aplicação de herbicidas em pós-emergência da cultura, contribui para perdas de produtividade de ≈ 32,0% (MAROCHI et al., 2018; BRAZ et al., 2021).
Tabela 5. Produtividade da soja após a aplicação de herbicidas em pré-emergência da cultura. Rio Verde (GO), 2023/2024.
Tratamentos
+ fomesafen]
(sacas ha-1) % em relação à testemunha
+ flumioxazin]
* Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05).
Os resultados do presente trabalho demonstram de forma clara o benefício da adoção de herbicidas em pré-emergência da soja, uma vez que independentemente se estes foram compostos de ingredientes ativos isolados ou em associações, todos possibilitaram a obtenção de produtividades mais elevadas em relação à testemunha em que estes produtos não foram adotados nesta modalidade. Por fim, ficou evidenciado que há diferenças no espectro de controle das plantas daninhas entre os herbicidas, sendo fundamental realizar um levantamento da composição florística da comunidade infestante de uma área a ser manejada antes de se proceder com a recomendação de qual produto utilizar.
CONCLUSÃO
Herbicidas com mais de um ingrediente ativo em sua composição apresentam maior espectro de controle de plantas daninhas quando comparados com àqueles de formulação com moléculas isoladas. Entre os herbicidas com apenas um ingrediente ativo na composição, diclosulam apresentou melhor desempenho no controle das plantas daninhas, enquanto que para os herbicidas contendo associações, aqueles que apresentavam sulfentrazone ou flumioxazin tiveram eficácia superior. Nenhum dos tratamentos herbicidas afetou negativamente o estande ou a altura de plantas final da
soja. Todos os tratamentos apresentaram produtividade da soja superior a testemunha sem aplicação.
AGRADECIMENTOS
À equipe de campo, pesquisadores e estagiários do CTC pelo apoio na implantação e condução do experimento.
REFERÊNCIAS
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SBCPD - SOCIEDADE
BRASILEIRA DA CIÊNCIA
DAS PLANTAS DANINHAS. Procedimentos para instalação, avaliação e análise de experimentos com herbicidas. Londrina: 1995. 42p.
1 Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico COMIGO, Cooperativa COMIGO, Rio Verde (GO).
2 Docente do Departamento de Agronomia na Universidade Estadual de Maringá (NAPD/UEM).
3 Pesquisador na CONPEA Pesquisa Agropecuária e Docente no Programa de Pós-graduação em Agronomia na Universidade Estadual de Maringá (NAPD/UEM).
INTRODUÇÃO
Atualmente o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), juntamente com o capim-amargoso (Digitaria insularis) e a buva (Conyza spp.), está ranqueado entre as três principais plantas daninhas do Brasil em termos de amplitude geográfica de ocorrência, uma vez que esta espécie vem causando prejuízos para agricultores situados em todas as regiões do país (SANTOS et al., 2018; LUCIO et al., 2019). Historicamente, o capim-pé-de-galinha sempre se constituiu em uma espécie com elevada importância relativa nas áreas de produção, sendo listado inclusive como uma das piores plantas daninhas do mundo (HOLM, 1977). Contudo, nos últimos anos,
devido à seleção de populações de capim-pé-de-galinha com resistência simples ao glifosato (inibidor da EPSPs), cruzada aos inibidores da ACCase, bem como múltipla a ambos os mecanismos (HEAP, 2024), o controle químico desta planta daninha se tornou um desafio em boa parte do Brasil. Além da problemática da resistência, aplicações de herbicidas em pós-emergência do capimpé-de-galinha em plantas fora do estádio recomendado tem contribuído para o insucesso no controle químico desta planta daninha.
Os prejuízos provocados pela interferência do capim-pé-de-galinha sobre a produtividade das culturas variam em função da densidade da planta daninha, além de fatores relacionados à espécie cultivada, mas trabalhos disponíveis na literatura relatam que para a soja, a produtividade pode ser afetada entre 35 e 100% (RUDELL et al., 2021; CALDAS et al., 2023), enquanto que para o milho, esta redução no rendimento chega a até 45% (SOUZA et al., 2024). Os prejuízos provocados pelo capim-pé-de-galinha nestas culturas agrícolas são oriundos do processo de competição por elementos vitais às plantas (água, luz, nutrientes, entre outros), bem como pela liberação de compostos alelopáticos que a espécie pode liberar, os quais atuam de forma inibitória no desenvolvimento das espécies de interesse econômico
(SOUZA, 2021). Além das problemáticas atreladas ao elevado potencial competitivo e à alelopatia, o capimpé-de-galinha ainda pode exercer danos indiretos sobre as culturas de interesse, como por meio da capacidade de hospedar nematoides, possibilitando a multiplicação destes fitoparasitas nas áreas de produção (PINHEIRO et al., 2019).
Diante do grande avanço que o capim-péde-galinha apresentou nas últimas safras no Brasil, passando a causar enormes prejuízos para toda a cadeia de produção agrícola, objetivou-se na elaboração da presente revisão de literatura compilar informações que podem auxiliar o entendimento da biologia desta planta daninha, no sentido de viabilizar a elaboração de estratégias mais eficientes para serem implementadas no manejo integrado desta espécie.
BIOLOGIA DO CAPIM-PÉ-DE-GALINHA E RESISTÊNCIA A HERBICIDAS: IMPACTOS NAS ESTRATÉGIAS DE MANEJO
O capim-pé-de-galinha é uma espécie classificada como monocotiledônea (folha estreita) que pertence à família Poaceae (antigamente denominada Gramineae). Esta planta daninha se caracteriza por apresentar metabolismo fotossintético tipo C4, o qual confere elevada habilidade competitiva perante outras culturas quando em convivência, especialmente em localidades de clima tropical. Esta espécie é classificada como autógama e apresenta como único mecanismo de reprodução a via sexuada, mediante produção de sementes, as quais podem alcançar valores de 120 mil sementes produzidas por uma única planta (TAKANO et al., 2016). Apesar de não apresentar mecanismos de propagação vegetativa, as plantas de capim-pé-de-galinha em estádios mais avançados de
desenvolvimento podem apresentar desenvolvimento de raízes adventícias emitidas a partir dos nós do colmo quando esta estrutura está em contato com o solo (KISSMANN, 1997).
O capim-pé-de-galinha apresenta ciclo anual, indicando que a espécie requer menos de um ano da germinação até a produção de suas sementes (LORENZI, 2011). Contudo, em nível de campo, em áreas altamente infestadas com esta planta daninha, tem sido observada a sobrevivência de uma baixa frequência de plantas de capim-pé-de-galinha em intervalos de tempo maiores que o habitual para a espécie, ou mesmo no período de entressafra, o qual é caracterizado por um veranico intenso. Este fator também tem contribuído para o aumento da dificuldade de se controlar o capim-pé-de-galinha, uma vez que quando chega a ocasião de se realizar a dessecação pré-semeadura para implantação da cultura de verão, as plantas desta espécie encontram-se em estádios avançados de desenvolvimento (perfilhadas e florescidas), fato que restringe a boa performance de controle dos herbicidas.
Na literatura já foi relatado que há um acréscimo na germinação de capim-pé-de-galinha quando na presença de luz. Em relação aos mecanismos de germinação, verifica-se que o principal fator que regula este processo no capim-pé-de-galinha é a disponibilidade hídrica, onde havendo umidade no solo, visualiza-se um elevado percentual de germinação/ emergência das plântulas desta espécie (TAKANO et al., 2016). Ademais, o capim-pé-de-galinha se caracteriza por apresentar um crescimento inicial rápido, onde após os 35 dias após a emergência, passa a apresentar um perfilhamento intenso, aumento na proporção de colmos/inflorescências em relação às folhas e elevado acúmulo de massa seca.
Outro ponto importante a ser destacado da morfologia do capim-pé-de-galinha refere-se
à deposição de ceras nas folhas, especialmente quando as plantas se encontram em estádios mais avançados (MALPASSI, 2006). Adicionalmente, por ser uma planta da família Poaceae, o capim-pé-degalinha apresenta meristema intercalar em tecidos já formados (ex.: entrenós dos colmos), além da ausência de sistema vascular organizado (KISSMANN, 1997). Tais características morfológicas dificultam a absorção e translocação dos herbicidas, o que pode afetar negativamente a eficácia destes produtos no controle de capim-pé-de-galinha. Quanto à adaptabilidade do capim-pé-de-galinha em relação ao tipo de solo, verifica-se que esta espécie não apresenta exigências específicas quanto à fertilidade do solo, ocorrendo em ambientes férteis, como também naqueles de menor disponibilidade de nutrientes. Contudo, uma característica marcante da biologia desta planta daninha refere-se a sua capacidade de adaptação em solos mais adensados (compactados) (CORREIA et al., 2022), o que faz com que sua ocorrência seja maior nas zonas de maior tráfego de maquinários, tais como as beiras das estradas e rastros dos pulverizadores. Além dos aspectos relacionados à biologia do capim-pé-de-galinha, a resistência desta espécie a herbicidas também tem contribuído para as falhas no controle, sendo importante a apresentação de um panorama dos casos de resistência já relatados para esta planta daninha. A nível mundial, biótipos de capim-pé-de-galinha com resistência a herbicidas já foram identificados em 13 países distintos, sendo o primeiro relato ocorrido no ano de 1973. Os relatos envolvem resistência a oito mecanismos de ação distintos (inibidores da EPSPs, ACCase, GS, FSI, FSII, PROTOX, ALS e formação de microtúbulos), sendo que a maioria dos casos estão relacionados a populações apresentando resistência simples, ou seja, a um único herbicida de um único mecanismo de ação. Contudo, quatro casos de resistência múltipla a herbicidas já
foram identificados, os quais envolvem a insensibilidade a inibidores da EPSPs, ACCase, GS e FSI.
Especificamente no Brasil, o primeiro caso de resistência envolvendo o capim-pé-de-galinha foi registrado em 2003, no qual foram identificadas populações que não eram mais controladas com os inibidores da ACCase, tanto de herbicidas do grupo químico dos DIMs (sethoxydim) como dos FOPs (cyhalofop e fenoxaprop) (resistência cruzada).
Posteriormente, em 2016 houve o primeiro relato de biótipo com resistência ao glifosato, no Estado do Paraná. Por fim, em 2017, no Mato Grosso, foi relatado o primeiro caso de resistência múltipla a herbicidas para capim-pé-de-galinha no Brasil, caracterizado por uma população que apresentava resistência aos inibidores da EPSPs (glifosato) e da ACCase (haloxyfop e fenoxaprop) (HEAP, 2024). Recentemente, em trabalho disponível na literatura, também foi identificada uma população de capim-pé-de-galinha com resistência múltipla ao glifosato e aos inibidores da ACCase, mas neste caso envolvia os graminicidas haloxyfop e cletodim (NUNES et al., 2022).
Ao considerar tudo que foi abordado nesta seção (biologia do capim-pé-de-galinha e resistência a herbicidas), parte das respostas para o questionamento de por que o capim-pé-de-galinha não está sendo mais devidamente controlado com herbicidas são apresentadas. Contudo, há fatores adicionais que também trazem dificuldades adicionais para o controle químico desta planta daninha. Por exemplo, as condições climatológicas na aplicação influenciam no desempenho dos herbicidas sistêmicos, uma vez que plantas sob estresse hídrico/térmico, cenário comumente encontrado na época de se realizar a dessecação pré-semeadura, tendem a oferecer maiores dificuldades para o controle. Outro exemplo é a utilização de doses baixas de herbicidas nas aplicações, em especial do glifosato, uma vez que para o capim-pé-
de-galinha, as doses deste ingrediente ativo indicadas em bula são mais elevadas quando comparadas para outras espécies de plantas daninhas. Um terceiro exemplo se refere ao estádio avançado das plantas por ocasião das dessecações, fato que gera por vezes a necessidade de aplicações sequenciais, uma vez que a efetividade de uma única aplicação é reduzida.
PRÁTICAS DE MANEJO INTEGRADO
DO CAPIM-PÉ-DE-GALINHA
Diante de toda a problemática relacionada ao capim-pé-de-galinha, fica evidente que em áreas que apresentem infestações desta planta daninha, as estratégias de controle devem ser empregadas de forma integrada, uma vez que a utilização exclusiva de herbicidas não tem assegurado bons níveis de controle. A utilização exclusiva do método de controle químico, além de não garantir eficácia no controle desta planta daninha, intensifica a pressão de seleção de novas populações com resistência aos herbicidas.
Entre as estratégias visando prevenir que o capim-pé-de-galinha se estabeleça em áreas em que esta planta daninha ainda não se apresenta como infestante principal, destaca-se a importância da aquisição de sementes isentas da presença de propágulos desta planta daninha, incluindo as sementes das plantas de cobertura, realizar a limpeza de máquinas e implementos na hora de mudar de talhão, deixar as práticas de manejo nos talhões mais infestados por último, realizar o controle da planta daninha em áreas vizinhas sem culturas e atentar para o trânsito de colhedoras entre diferentes regiões. No âmbito do controle cultural, há uma série de práticas que podem ser realizadas para conferir vantagem competitiva para a cultura. Neste sentido, práticas como a adoção de programas de adubação com base nas recomendações técnicas para a cultura, escolha
de cultivares/híbridos adaptados a região de cultivo e que apresentem maior velocidade de desenvolvimento inicial, bem como realizar a semeadura dentro do período recomendado para a cultura poderão assegurar um melhor desenvolvimento inicial da espécie cultivada, conferindo vantagem competitiva perante o capim-péde-galinha.
Ainda em relação ao controle cultural, práticas de rotação e consorciação de culturas podem auxiliar no manejo de capim-pé-de-galinha dentro dos sistemas de produção (MAROCHI et al., 2018).
A supressão da planta daninha por meio destas práticas de diversificação de culturas ocorre por meio da ocupação do espaço disponível para emergência da comunidade infestante em áreas que estariam em pousio ou durante o desenvolvimento vegetativo das culturas consorciadas, pela liberação de compostos produzidos por algumas espécies (alelopatia) que poderão inibir o desenvolvimento da planta daninha, além da produção de palhada, a qual consistirá em barreira física para a emergência de plantas daninhas. Somado a isso, ao se rotacionar as espécies cultivadas dentro de um ambiente de produção, naturalmente haverá uma diversificação de herbicidas utilizados na área, constituindo-se então de uma estratégia de controle importante contra o capim-pé-de-galinha. Outro método de controle que tem sido amplamente discutido em áreas contendo infestações de capim-pé-de-galinha é o mecânico, no qual duas vertentes principais têm sido analisadas: o revolvimento do solo e a roçada das plantas. Em relação ao revolvimento do solo, pelo fato de o capimpé-de-galinha não possuir estruturas de propagação vegetativa, a realização de tal prática no início do período de estiagem pode se constituir em uma ferramenta eficaz de controle de plantas adultas desta espécie, uma vez que o tecido exposto será desidratado pela insolação direta. Contudo, ao se realizar o revolvimento,
há perdas de matéria orgânica, comprometimento da qualidade física do solo e aumento da suscetibilidade à erosão, além da disseminação de sementes de plantas daninhas por toda área. Portanto, o capim-péde-galinha não pode ser o fator de tomada de decisão para a adoção do revolvimento, mas sim fatores ligados ao ambiente edáfico, como indícios de compactação e problemas relacionados à fertilidade do solo (ex.: presença de alumínio trocável, baixa saturação por bases, entre outros).
Em relação à roçada das plantas de capim-péde-galinha, esta prática de manejo traz como vantagens uma melhor plantabilidade em áreas altamente infestadas e a garantia de remoção de toda parte aérea da planta, fato que possibilita o aumento na eficácia dos herbicidas aplicados após a realização desta operação. Como desvantagens, podem ser elencados o baixo rendimento, uma vez que os implementos utilizados para realizar esta prática são de escala operacional reduzida, o custo elevado para realização, especialmente com combustível, além do estímulo para o crescimento radicular do capim-pé-de-galinha após a rebrota, fato que demonstra o quão imprescindível é realizar a aplicação de herbicidas após a roçada destas plantas. Neste sentido, uma das práticas de manejo do capim-pé-de-galinha tem sido a aplicação de herbicidas em áreas após a colheita da soja, uma vez que o corte das plantas desta espécie proporcionado pela colhedora proporciona uma boa performance do controle químico nas aplicações sequenciais a esta operação.
ESTRATÉGIAS
daninhas são importantes para o manejo integrado de capim-pé-de-galinha, mas pensando em um curto espaço de tempo, é por meio da utilização de herbicidas que será possível a adoção de sistemas de controle capazes de reduzir as infestações desta espécie de forma rápida. Neste sentido, antes de abordar o desempenho dos herbicidas no capim-péde-galinha, é importante destacar que muitas das falhas no controle desta planta daninha estão relacionadas à falta de critérios na hora de se realizar as aplicações. Cuidados com a tecnologia de aplicação em áreas infestadas com capim-pé-galinha se constituem em um passo prioritário para o controle químico desta planta daninha. Neste sentido, trabalhar com taxas de aplicação mais elevadas, especialmente na dessecação pré-semeadura, aumentar a dose de óleo (independentemente da fonte), analisar a qualidade da água para pulverização, atentar para o horário e as condições climáticas no momento da aplicação, bem como evitar o uso de associações antagônicas de herbicidas têm se constituído em passos fundamentais para melhorar a performance do controle químico. Nas áreas que estão com problemas de infestação de capim-pé-de-galinha, o uso de herbicidas em pré-emergência é praticamente mandatório, especialmente se estas populações apresentarem resistência aos ingredientes ativos comumente utilizados para o controle em pós-emergência. Neste sentido, na Tabela 1 estão apresentadas informações oriundas de resultados de pesquisa e observações empíricas à campo, as quais demonstram o desempenho esperado dos herbicidas aplicados em pré-emergência na soja e no milho que podem ser utilizados para o controle de capim-pé-de-galinha.
Todos os métodos de controle de plantas
Tabela 1. Herbicidas com potencial de uso em aplicações em pré-emergência das culturas visando ao controle de capim-pé-de-galinha. Rio Verde (GO), 2024.
Ingrediente ativo
Chlorimuron
Diclosulam
Flumetsulam
Imazethapyr
Flumioxazin
Sulfentrazone
Pyroxasulfone
S-metolachlor
Trifluralin
Clomazone
[Isoxaflutole + tiencarbazone*]
Metribuzin
Cultura da soja
Inibidores da ALS
Seletivo
Seletivo
Seletivo
Cultura do milho
Não seletivo
Não seletivo
Não seletivo
Seletivo Não seletivo
Inibidores da PROTOX
Seletivo
Seletivo
Seletivo Não seletivo
Inibidores da divisão celular
Seletivo
Seletivo
Inibidores da formação de microtúbulos
Seletivo
Inibidores da DOXP sintase
Seletivo
Inibidores da HPPD
Não seletivo
Inibidores do FSII
Seletivo
Atrazine Não seletivo
Terbutilazine Não seletivo
Seletivo
Seletivo
Seletivo
Não seletivo
Seletivo
Não seletivo
Seletivo
Seletivo
* Tiencarbazone pertence ao mecanismo de ação dos inibidores da ALS. Seletivo = apresenta registro para uso na cultura junto ao MAPA (2024). Não seletivo = não apresenta registro para uso na cultura junto ao MAPA (2024). Verde = Controle > 90%; Azul = Controle variando entre 80 e 90%; Amarelo = Controle variando entre 50 e 80%; Vermelho = Controle < 50%.
É oportuno destacar que o desempenho dos herbicidas no controle da planta daninha pode sofrer variações em função de diversos fatores, tais como a dose aplicada, condições edafoclimáticas em que será realizada a aplicação (umidade do solo, textura do solo, presença de massa verde, teor de matéria orgânica, entre outros) e densidade de infestação. Neste sentido, não é recomendável o posicionamento de uma aplicação de qualquer herbicida com base exclusivamente nas informações contidas na presente revisão.
No âmbito do desempenho de herbicidas em pós-emergência do capim-pé-de-galinha, é importante entender que o panorama das populações desta planta daninha espalhadas pelo Brasil, na atualidade, pode apresentar quatro cenários distintos em relação à resistência: 1) populações suscetíveis a herbicidas; 2) populações com resistência aos inibidores da ACCase; 3) populações com resistência aos inibidores da EPSPs; e 4) populações com resistência múltipla aos inibidores da ACCase e EPSPs. Neste sentido, a performance dos herbicidas poderá variar entre as populações,
caso estas apresentem resistência para algum desses mecanismos de ação. De maneira semelhante ao que foi apresentado anteriormente para os pré-emergentes, na Tabela 2 foi compilado o desempenho esperado dos herbicidas aplicados isoladamente em pós-emergência para o controle de capim-pé-de-galinha. Neste sentido, é válido destacar que o desempenho destes herbicidas pode sofrer variações devido a fatores como a dose aplicada, o estádio da planta daninha, as condições climáticas na ocasião da aplicação.
Para o desempenho dos herbicidas inibidores da ACCase em populações resistentes a este mecanismo de ação, é importante pontuar que apesar de no Brasil já haver biótipos de capim-pé-degalinha com resistência aos principais graminicidas utilizados nos sistemas de produção, nem sempre a resistência se caracteriza como cruzada. Neste sentido, é importante se realizar uma análise in loco, uma vez que a possibilidade de um determinado graminicida não controlar mais aquela população de capim-péde-galinha, mas outro ainda apresentar eficácia em aplicações realizadas em estádios iniciais da planta daninha. Em relação à utilização de glifosato junto aos graminicidas, visando ao controle de populações reconhecidamente resistentes ao inibidor da EPSPs,
sugere-se que a aplicação desta associação seja evitada. Trabalhos de pesquisa vêm demonstrando que para populações com resistência simples aos inibidores da EPSPs, adicionar o glifosato junto aos graminicidas acaba reduzindo a eficácia de controle quando comparados com os graminicidas isolados (TAKANO et al., 2018; ALMEIDA et al., 2022).
O desempenho de vários herbicidas sobre o capim-pé-de-galinha pode ser maximizado mediante a utilização de associações que apresentem caráter sinérgico, uma vez que neste tipo de interação, um ingrediente ativo acaba potencializando o efeito de controle do outro. Neste contexto, associações contendo glufosinato com inibidores da EPSPs, ACCase ou PROTOX tendem a apresentar sinergismo no controle desta planta daninha (TAKANO et al., 2018; TAKANO et al., 2020a), desde que respeitado o balanço de doses entre os ingredientes ativos utilizados na mistura. Apesar do glufosinato apresentar ação de contato (TAKANO et al., 2020b), este ingrediente ativo apresenta ação mais lenta quando comparado, por exemplo, com o diquat, fato que possibilita a sua utilização em associação com herbicidas de ação sistêmica.
Tabela 2. Herbicidas com potencial de uso, isoladamente, em aplicações em pós-emergência visando ao controle de capim-pé-de-galinha. Rio Verde (GO), 2024.
Suscetível
Ingrediente ativo
Cletodim
Haloxyfop
Quizalofop
Glifosato
Nicosulfuron
[Imazapic + imazapyr]
Glufosinato
Diquat
Atrazine
Diuron
Metribuzin
Terbutilazine
Clomazone
Mesotriona
Tembotriona
Tolpyralate
Carfentrazona
Flumioxazin
Saflufenacil
Tiafenacil
MSMA
Resistência a ACCase
Inibidores da ACCase
Inibidores da EPSPs
Inibidores da ALS
Resistência a EPSPs
Resistência múltipla (ACCase + EPSPs)
Inibidores da GS
Inibidores do FSI
Inibidores do FSII
Inibidores da DOXP sintase
Inibidores da HPPD
Inibidores da PROTOX
Mecanismo desconhecido
* INI = Pós-emergência inicial em plantas com até 1 perfilho; TAR = Pós-emergência tardia em plantas de 1 a 4 perfilhos; ADU = Pós-emergência em plantas em estádio reprodutivo (florescidas). Verde = Controle > 90%; Azul = Controle variando entre 80 e 90%; Amarelo = Controle variando entre 50 e 80%; Vermelho = Controle < 50%.
Os herbicidas inibidores da PROTOX, em se tratando de áreas com populações de capim-pé-degalinha com resistência múltipla, constituem-se de alternativas interessantes para serem empregadas no controle desta planta daninha, especialmente em misturas com glufosinato ou diquat, uma vez que como já mencionado, tendem a apresentar efeito sinérgico. Dos ingredientes ativos deste mecanismo de ação atualmente comercializados no Brasil, produtos à base de tiafenacil, flumioxazin, saflufenacil e carfentrazona tendem a apresentar melhores desempenhos no controle de capim-pé-de-galinha. Ademais, novos ingredientes ativos à base de inibidores da PROTOX estão em fase final de desenvolvimento no Brasil, como por exemplo o epyrifenacil, o qual poderá contribuir principalmente nos sistemas de dessecação que antecedem a semeadura direta das culturas.
Os inibidores da ALS, da DOXP sintase e da HPPD constituem-se em ferramentas herbicidas para compor as estratégias de controle do capim-pé-degalinha em pós-emergência, uma vez que quando utilizados em associações com outros ingredientes ativos (ex.: glifosato, glufosinato ou graminicidas), podem aumentar a eficácia das aplicações posicionadas no manejo desta planta daninha. O diquat utilizado de forma isolada, especialmente em plantas que não receberam nenhuma medida de controle prévio, não se constitui de uma opção interessante para o manejo de plantas adultas de capim-pé-de-galinha, uma vez que apesar de proporcionar uma rápida necrose do tecido foliar, a velocidade de rebrota da planta daninha é elevada. Neste sentido, aplicações com produtos à base de diquat devem ser posicionadas para o controle de capim-pé-de-galinha em plantas nos estádios iniciais de desenvolvimento, ou em aplicações sequenciais. Para utilização dos inibidores do FSII, especificamente metribuzin e diuron, a eficácia no controle em pós-emergência de capim-pé-de-galinha
é elevada, a depender de alguns fatores na ocasião da aplicação, tais como umidade do solo, dose aplicada e se estes foram utilizados de forma isolada em associação. Os primeiros trabalhos realizados com metribuzin para o controle de plantas adultas (florescidas) de capim-péde-galinha foram desenvolvidos no Núcleo de Estudos Avançados em Ciência das Plantas Daninhas (NAPD/ UEM) em 2018, e hoje já há uma unanimidade na utilização deste ingrediente ativo para o controle desta espécie. A adoção do diuron no controle de capimpé-de-galinha teve início em estudos realizados no Centro Tecnológico COMIGO, nos quais foi atestada a elevada eficácia deste ingrediente ativo, não sendo necessárias aplicações sequenciais (ALMEIDA et al., 2022). Contudo, para que estes ingredientes ativos sejam utilizados de forma eficiente, ainda é necessária a realização de mais estudos visando determinar a seletividade do metribuzin para cultivares de soja, bem como aferir o intervalo de segurança (plant back) entre a aplicação do diuron e a semeadura da soja (BRAZ et al., 2023).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao considerar as perdas de produção que o capim-pé-de-galinha têm causado nos sistemas de produção agrícola, fica evidente que as práticas de controle devem ser utilizadas de forma integrada, adotando-se todas as medidas possíveis para o enfrentamento desta planta daninha. As estratégias de controle devem ser desenhadas considerando os aspectos da biologia do capim-pé-de-galinha, bem como se a população da área a ser manejada apresenta resistência a herbicidas.
Na atualidade, ainda não há opções de herbicidas no mercado que sejam capazes, isoladamente, de proporcionar o controle total de plantas adultas do capim-pé-de-galinha com uma única
aplicação. Neste sentido, o controle químico desta planta daninha deve ser realizado com a adoção de herbicidas em pré-emergência em todas as culturas no sistema de produção, bem como por meio da utilização de herbicidas de diferentes mecanismos de ação em pós-emergência prevendo aplicações sequenciais. Ao adotar sistemas de manejo integrado de plantas daninhas, será possível reverter este cenário de perdas ocasionadas pelo capim-pé-de-galinha.
REFERÊNCIAS
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BRAZ, G.B.P.; ALMEIDA, D.P.; FERNANDES, R.H.; LIMA, D.T.; SILVA, L.L.; DELGADO, V.A.D. Período residual entre a aplicação da mistura MSMA + diuron e semeadura de cultivares de soja. Anuário de Pesquisas Agricultura: 2022/2023, Centro Tecnológico COMIGO, v.6, n.1, p.204-212, 2023.
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TAKANO, H.K.; OLIVEIRA JR., R.S.; CONSTANTIN, J.; BRAZ, G.B.P.; PADOVESE, J.C. Growth, development and seed production of goosegrass. Planta Daninha, v.34, n.2, p.249-257, 2016.
TAKANO, H.K.; OLIVEIRA JR., R.S.; CONSTANTIN, J.; SILVA, V.F.V.; MENDES, R.R. Chemical control of glyphosate-resistant goosegrass. Planta Daninha, v.36, e018176124, 2018.
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE MILHO CONSORCIADO COM ESPÉCIES FORRAGEIRAS EM CULTIVO DE SAFRINHA
NASCIMENTO1, Hemython Luis Bandeira do; BRAZ1, Guilherme Braga Pereira; FERNANDES1 , Rafael Henrique; LIMA1, Diego Tolentino de; BUENO1, Amanda Magalhães; SARKIS1, Leonardo Fernandes
1 Pesquisador(a) Agronômico(a) no Centro Tecnológico COMIGO, Cooperativa COMIGO, Rio Verde (GO).
INTRODUÇÃO
No cenário agrícola atual, a prática de diversificação de culturas se faz fundamental para assegurar o bom desempenho agronômico das espécies cultivadas, uma vez que possibilita melhorias das condições físicas, químicas e biológicas do solo, além de proporcionar controle de plantas daninhas e outros agentes que causam redução na produtividade (VERNETTI JÚNIOR et al., 2009). Neste sentido, a rotação de culturas possibilita a melhor exploração desta prática, pois neste contexto há realmente uma mudança profunda e contínua nas espécies que são exploradas no ambiente de produção, possibilitando uma alteração significativa nos manejos empregados nas culturas inseridas, além de aspectos benéficos relacionados a morfologia de cada espécie cultivada
em rotação (VOLSI et al., 2020).
Contudo, em grande parte das vezes, realizar a rotação de culturas implica em abrir mão de uma cultura de interesse econômico que poderia trazer renda por meio de sua comercialização, em detrimento de uma espécie de interesse agronômico, a qual trará benefícios para o ambiente de produção, mas que não possibilitará obter um retorno financeiro direto por meio da venda de seus grãos. Diante da resistência em abrir mão de uma cultura que proporcione retorno econômico, muitos produtores tem optado pela prática de consorciação de culturas, que se caracteriza pelo cultivo de forma consorciada de duas espécies vegetais distintas dentro do mesmo ambiente de produção (SILVA et al., 2014). Na atualidade, o principal consórcio que vem sendo empregado no Centro-Oeste do Brasil consiste no cultivo de milho consorciado com gramíneas forrageiras dos gêneros Brachiaria ou Panicum
Entre as espécies do gênero Brachiaria, a B. ruziziensis (capim-ruziziensis) tem sido a forrageira mais amplamente utilizada nos cultivos consorciado com milho, uma vez que apresenta grande disponibilidade de sementes no mercado (fácil aquisição), rápida velocidade de estabelecimento (característica importante por se tratar de cultivo de safrinha), além de requerer menores
doses de herbicidas (glifosato) para sua dessecação. Contudo, nos últimos anos alguns produtores tem buscado forrageiras alternativas à B. ruziziensis para consorciar com o milho, citando a necessidade de espécies que apresentem maior produção de massa seca, bem como que possam apresentar uma menor interferência sobre a produtividade da cultura principal (milho). Neste sentido, algumas das espécies que vem ganhando espaço em substituição à B. ruziziensis são: B. brizantha cv. BRS Piatã, P. maximum cv. Tamani e P. maximum cv. Zuri.
Apesar da ampla gama de trabalhos sobre a utilização de milho em consórcio com estas gramíneas forrageiras disponíveis na literatura, por vezes dúvidas acerca de qual espécie tem mais aptidão, ou ainda se as subdoses de herbicidas são suficientes para suprimir o crescimento destas espécies consorciadas ainda persistem. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o desempenho agronômico do milho cultivado solteiro e consorciado com espécies forrageiras, avaliando também o uso de herbicidas na supressão destas espécies.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado na área experimental do Centro Tecnológico COMIGO sediada no município de Rio Verde (GO) (S 17°45’42” O 51°02’10”, altitude de 826 m). O período de condução do experimento foi de 11/02/2024 a 10/07/2024.
Segundo classificação de Thornthwaite (1948), o clima de Rio Verde é classificado em B4 rB’4ª’, que se caracteriza como clima úmido, com pequena deficiência hídrica, mesotérmico e evapotranspiração no verão menor que 48% da evapotranspiração anual. Na Figura 1 estão apresentados os dados climatológicos relacionados à precipitação acumulada, temperatura e umidade relativa do ar média durante o período de
condução do experimento. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho Distrófico (SANTOS et al., 2018). A área em que o experimento foi realizado havia sido cultivada anteriormente com soja, sendo o experimento instalado imediatamente após a colheita da cultura. Antes da semeadura da cultura antecessora na área experimental, foi realizada a análise de amostras do solo coletadas na profundidade de 0 a 20 cm, a qual revelou as seguintes propriedades físico-químicas: pH em CaCl2 de 5,23; 0,14 cmolc dm-3 de H+ + Al+3; 4,55 cmolc dm-3 de Ca+2; 1,22 cmolc dm-3 de Mg+2; 142,14 mg dm-3 de K; 38,82 mg dm-3 de P; 52,60% de areia; 7,40% de silte e 40,00% de argila (textura argilo-arenosa).
Fonte: Estação meteorológica automática situada no Centro Tecnológico COMIGO em Rio Verde, Goiás (S 17°45’45” O 51°02’16”).
Figura 1. Dados de precipitação acumulada, temperatura e umidade relativa do ar média durante o período de condução do experimento. Rio Verde (GO), 2024.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso (DBC), estando os tratamentos dispostos em arranjo fatorial 5x2, adotando-se três repetições. O primeiro fator se constituiu de 5 sistemas de cultivo de milho, solteiro ou consorciado com diferentes espécies forrageiras, sendo estas: B. ruziziensis, B. brizantha cv. BRS Piatã, P. maximum cv. BRS Tamani e P. maximum cv. BRS Zuri (Tabela 1). O segundo fator foi composto pela adoção de herbicidas para a supressão ou não das forrageiras consorciadas
com o milho. Os produtos comerciais utilizados para a aplicação dos tratamentos atrazina, marca comercial Proof® (500 g L-1, SC, Syngenta) e mesotriona, marca comercial Callisto® (480 g L-1, SC, Syngenta). As unidades experimentais foram compostas por dez linhas de semeadura, com comprimento de 5,0 m (25,0 m2). Considerou-se como área útil para as avaliações apenas as seis linhas centrais de cada unidade experimental, excluindo-se 0,5 m das extremidades inicial e final (12,0 m2).
Tabela 1. Relação de tratamentos avaliados no experimento de supressão de espécies forrageiras em cultivo consorciado com milho. Rio Verde (GO), 2024.
Sistema de Cultivo
Milho
Milho + B. ruziziensis
Milho + B. brizantha cv. BRS Piatã
Milho + P. maximum cv. Tamani
Milho + P. maximum cv. Zuri
Milho
Milho + B. ruziziensis
Milho + B. brizantha cv. BRS Piatã
Milho + P. maximum cv. Tamani
Milho + P. maximum cv. Zuri
Supressão da forrageira: herbicida (g i.a. ha-1)*
Com supressão: atrazina + mesotriona (1.000 + 96 g i.a. ha-1)
Sem supressão: atrazina (1.000 g i.a. ha-1)
* Adicionado óleo mineral Dufol® (0,2 L p.c. ha-1) à calda de aplicação.
A semeadura das forrageiras foi realizada de acordo com a densidade prevista em cada tratamento, realizando a distribuição à lanço das sementes previamente a semeadura do milho (Tabela 2). O objetivo de se realizar a implantação do experimento desta forma, foi aproveitar que a movimentação do solo realizada no processo de semeadura do milho possibilitasse a incorporação das sementes das forrageiras. A semeadura do milho foi realizada de forma mecanizada no dia 11/02/2024, adotando-se espaçamento entrelinhas de 0,5 m. O híbrido de milho utilizado foi o B2782PWU®, que possui ciclo precoce, ampla adaptabilidade e boa tolerância ao complexo
de enfezamentos (BREVANT, 2024), sendo adotada a densidade de semeadura de com densidade de 3 sementes m-1, visando obter população de 60.000 plantas ha-1. As sementes utilizadas nos experimentos receberam tratamento industrial com fungicidas e inseticidas. No momento da semeadura, a adubação foi realizada com aplicação no sulco do equivalente à 400 kg ha-1 de 12-15-15, no sulco de plantio foram aplicados 500 mL p.c. ha-1 de Meta Turbo, 100 mL p.c. ha-1 de Tricho turbo, 200 mL p.c. ha-1 de Biomax Azum, 200 mL p.c. ha-1 de No-Nema e 300 mL p.c. ha-1 de Biozyme. A emergência das plântulas de milho ocorreu no dia 16/02/2024.
* Cálculos realizado considerando o peso de mil sementes informados pelas empresas detentoras de cada material.
Tabela 2. Densidades de semeadura adotadas para as espécies forrageiras em cultivo consorciado com milho. Rio Verde (GO), 2024.
A aplicação dos tratamentos herbicidas foi realizada em pós-emergência do milho (estádio V3/V4) e das forrageiras (2 a 3 perfilhos) no dia 13/03/2024. No momento da aplicação o solo apresentava-se com boa umidade e o céu estava com a presença de poucas nuvens, estando a temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento, mínima e máxima, em valores equivalentes a 26,3 e 29,1oC, 57,4 e 66,3% e 1,0 e 1,2 km h-1, respectivamente. As aplicações foram realizadas utilizando-se um pulverizador de pesquisa pressurizado por CO2 com patente junto ao INPI (BR 102016007565-3), montado em um trator (LS 60, 60 cv, Landini). A barra de aplicação foi equipada com dez pontas espaçadas 0,5 m entre si, mantida a uma altura de 0,5 m da cobertura vegetal. A pressão de trabalho nas pontas de pulverização de jato duplo plano com indução de ar (ADIA/D 110015; Magnojet) foi de 300 kPa (43,5 psi) e o volume de aplicação 150 L ha-1
Durante o desenvolvimento do milho foram realizados tratos culturais de acordo com as recomendações técnicas, procedendo ao controle de pragas e doenças sem deixar que estes influenciassem negativamente no desenvolvimento da cultura. Todas as aplicações de manutenção foram realizadas com pulverizador de arrasto acoplado ao trator, utilizando-se taxa de aplicação de 150 L ha-1. Além do controle fitossanitário, também foram realizadas duas adubações de manutenção em cobertura, em 20/02/2024 e 12/03/2024, para fornecimento de nitrogênio e potássio, nas quais foi utilizado o formulado 20-00-20, adotando 148 e 150 kg ha-1, respectivamente em cada adubação.
Para aferir o efeito dos tratamentos no desenvolvimento das culturas consorciadas, foram realizadas as seguintes avaliações: fitointoxicação, densidade de perfilhos e massa seca de parte aérea das forrageiras. Para a avaliação visual de fitointoxicação, foi utilizada escala percentual em que 0,0% representava
plantas com ausência de injúrias e 100,0% plantas mortas, conforme proposição apresentada pela SBCPD (1995). Estas avaliações foram realizadas ao 10 e 20 dias após a aplicação dos herbicidas. Tanto a avaliação de densidade de perfilhos, como a de massa seca de parte aérea das forrageiras foram realizadas após a colheita do milho.
Para a avaliação da densidade de perfilhos das forrageiras, foi lançado um quadrado metálico de 0,25 m2 duas vezes de forma aleatória nas unidades experimentais, e posteriormente se procedeu à contagem de perfilhos presentes na área amostrada, sendo os resultados convertidos e expressos para densidade de perfilhos m-2. Em relação à massa seca das forrageiras, foi coletada a parte aérea das plantas presentes no mesmo quadrado metálico utilizado na avaliação de densidade de perfilhos. Após a coleta do material vegetal, ele foi acondicionado em sacos de papel Kraft colocado em estufa de circulação forçada de ar à temperatura de 65oC pelo período de 72 horas, e após atingirem massa constante, o material foi pesado em balança de precisão, sendo os resultados convertidos e expressos para kg ha-1
Na ocasião da colheita do milho (10/07/2024), foi determinada a produtividade de grãos por meio da colheita de todas as plantas presentes na área útil de cada unidade experimental. Durante o processamento da amostra colhida, o material foi trilhado, identificado, pesado e realizada a correção da umidade dos grãos para 13%.
As análises estatísticas foram realizadas com o programa computacional SISVAR (FERREIRA, 2019). Os dados foram submetidos a análise de variância pelo teste F (p≤0,05) e quando constatado efeito significativo dos fatores ou da interação entre estes foi realizada a comparação entre os tratamentos pelo teste de Tukey (p≤0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A adoção da prática de supressão das gramíneas forrageiras consorciadas com o milho proporcionou redução no crescimento e produção das gramíneas forrageiras após a utilização da mistura herbicida (atrazina + mesotriona na dose de 1.000 + 96 g i.a. ha-1), visualizando-se um percentual médio de diminuição de porte, nas primeiras semanas após a aplicação, em valores variando de 30,0 a 35,0%, a depender da espécie forrageira avaliada (dados não apresentados). Ao analisar o aspecto de intoxicação das plantas das forrageiras, constatou-se como principal sintoma o branqueamento das folhas novas, observando que as espécies pertencentes ao gênero Brachiaria apresentavam injúrias ligeiramente mais pronunciadas em comparação com àquelas do gênero Panicum. Destaca-se ainda que, no tratamento em que foi realizada a aplicação de atrazina (1.000 g i.a. ha-1) de forma isolada, não foram observadas injúrias nas plantas forrageiras, demonstrando a seletividade deste herbicida quando aplicado nesta dose e estádio das plantas. Os dados obtidos no presente trabalho corroboram com os visualizados por Gheno et al. (2021), os quais visualizaram o bom potencial de uso da mistura entre atrazina + mesotriona na supressão de crescimento de B. ruziziensis, além da boa seletividade que a atrazina isolada apresenta quando aplicada em plantas em estádio mais avançados.
Conforme apresentado na Tabela 3, não foi observado efeito significativo de interação entre os fatores sistema de cultivo e adoção de medidas para supressão da forrageira para a produtividade de grão de milho. De maneira semelhante, também não foi constatado efeito significativo na produtividade de grãos de milho entre os sistemas de cultivo. Dessa forma, só foram observadas diferenças significativas na produtividade do milho para o fator supressão da
forrageira, visualizando-se que aonde foi realizada a aplicação de herbicidas para a supressão de crescimento das espécies forrageiras, a produtividade da cultura foi maior em comparação com os tratamentos em que não houve a adoção desta prática.
Nos tratamentos em que foi realizada a supressão da forrageira consorciada com o milho, a produtividade de grãos da cultura foi 8,2% (11,9 sacos por ha-1) superior em relação àqueles em que não foram adotadas herbicidas para suprimir o desenvolvimento da espécie consorciada. Trabalhos disponíveis na literatura apresentam uma variabilidade de resultados no que diz respeito ao efeito que a não adoção de medidas para supressão da forrageira pode apresentar sobre a produtividade do milho, visualizando-se resultados em que não há redução no rendimento (CECCON et al., 2010), como também outros que demonstram diminuição da produção de grãos em valores próximos de 30,0% (JAKELAITIS et al., 2005). Neste contexto, fica evidenciada a importância de se proceder com a aplicação de herbicidas em subdoses para a supressão da forrageira, como prática para prevenir reduções na produtividade do milho. Entre os herbicidas com maior potencial para uso neste propósito, destacam-se mesotriona e nicosulfuron (GHENO et al., 2021).
Tabela 3. Produtividade de grãos de milho em função da supressão de espécies forrageiras em cultivo consorciado. Rio Verde (GO), 2024.
Sistema de Cultivo
Milho
Produtividade de grãos (kg ha-1)
9012,0 7644,0
8328,0 a Milho + B. ruziziensis
8346,0 7746,0 8046,0 a Milho + B. brizantha cv. BRS Piatã
8904,0 7746,0 8325,0 a Milho + P. maximum cv. Tamani
8718,0 8664,0
8691,0 a Milho + P. maximum cv. Zuri
8160,0 7782,0 7971,0 a Média
8628,0 A 7916,4 B
FCalculado (Cultivo) 1,46ns
FCalculado (Supressão) 11,49*
FCalculado (Cultivo versus Supressão) 1,34ns
CV (%) 6,95
ns e * Não significativo e significativo, respectivamente, pelo teste F (p≤0,05). Médias seguidas de letras distintas minúsculas na coluna e maiúsculas na linha diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05).
Os dados de densidade de perfilhos e massa seca de parte aérea das espécies forrageiras consorciadas com milho, mensurados após a colheita da cultura estão apresentados na Tabela 4. Para densidade de perfilhos, não foi observado efeito da interação entre os fatores, nem tampouco da adoção da supressão do capim. Para esta variável-resposta, observa-se apenas diferenças para o fator sistema de cultivo, na qual os resultados demonstram uma maior quantidade de perfilhos nas plantas de P. maximum cv. Tamani em comparação com as forrageiras B. ruziziensis e B. brizantha BRS Piatã. Ademais, P. maximum cv. Zuri também apresentou maior densidade de perfilhos quando comparado com B. ruziziensis. Esses resultados podem estar atrelados as características morfológicas de cada espécie, sendo reportado na literatura a maior capacidade de perfilhamento de forrageiras do gênero Panicum em comparação com às pertencentes ao gênero Brachiaria (GERDES et al., 2000; EUCLIDES et al., 2014).
Além disso, para esta variável é importante considerar também a taxa de semeadura adotada no experimento, uma vez que para as forrageiras do gênero Panicum foi adotada uma quantidade maior de sementes m-2 em
relação às espécies do gênero Brachiaria, o que pode também ter influenciado nessa maior densidade de perfilhos apresentada por essa forrageiras.
Para a massa seca de parte aérea das forrageiras, foi constatado efeito significativo tanto de sistema de cultivo, quanto da imposição da supressão, não sendo observada interação entre estes fatores influenciando as respostas desta variável (Tabela 4). Ao comparar o acúmulo de massa seca de parte aérea das plantas, verifica-se que P. maximum cv. Zuri constituiu-se na espécie com maior quantidade de massa residual após a colheita do milho safrinha, apresentando, em média, 49,2% a mais de massa seca em relação à B. ruziziensis, B. brizantha cv. BRS Piatã e P. maximum cv. Tamani, forrageiras as quais não apresentaram diferenças entre si para esta variável-resposta. Para a comparação do acúmulo de massa seca de parte aérea entre os tratamentos com e sem supressão das forrageiras consorciadas com milho, constatou-se que quando realizada a supressão das espécies com aplicação de atrazina + mesotriona (1.000 + 96 g i.a. ha-1), o acúmulo de massa foi 30,9% menor.
Tabela 4. Densidade de perfilhos e massa seca de parte aérea da forrageira após a colheita do milho em função da supressão com herbicidas e cultivo em consórcio. Rio Verde (GO), 2024.
Cultivo
+ B. ruziziensis
ns e * Não significativo e significativo, respectivamente, pelo teste F (p≤0,05). Médias seguidas de letras distintas minúsculas na coluna e maiúsculas na linha diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05).
Analisando pela ótica do sistema de plantio direto, reduções na produção de massa seca por parte das forrageiras consorciadas com o milho não são desejáveis, uma vez que há uma correlação direta entre a maior quantidade de resíduos e a visualização de benefícios agronômicos para o ambiente de produção (MEDEIROS et al., 2024). Contudo, quando se consorcia duas espécies, sendo uma delas de interesse econômico (milho), a não adoção de medidas para a supressão da forrageira poderá implicar em decréscimos de produtividade da cultura principal, fato que afetará negativamente a lucratividade do produtor. Neste sentido, a utilização de herbicidas em subdoses poderá se constituir em uma prática de manejo eficaz para assegurar que o potencial produtivo do milho não
seja impactado pela competição com as gramíneas forrageiras.
CONCLUSÃO
A utilização da mistura entre atrazina + mesotriona (1.000 + 96 g i.a. ha-1) proporciona supressão das espécies forrageiras consorciadas com o milho, evitando reduções na produtividade da cultura pelo processo de competição. A mistura de atrazina + mesotriona (1.000 + 96 g i.a. ha-1) proporciona redução na massa seca de parte aérea das espécies forrageiras em valores variando de 16,3 a 47,3%, a depender da espécie consorciada.
Os resultados do presente trabalho demonstram
que se não adotadas práticas para a supressão da forrageira em consórcio com o milho, a produtividade de grãos da cultura pode ser afetada. Quando cultivadas em consórcio, P. maximum cv. Zuri, seguido por P. maximum cv. Tamani e B. brizantha cv. BRS Piatã, e posteriormente de B. ruziziensis, constituíram-se das espécies que produziram maior massa seca de parte aérea após a colheita do milho.
AGRADECIMENTOS
À equipe de campo, pesquisadores e estagiários do CTC pelo apoio na implantação e condução do experimento.
CECCON, G.; MATOSO, A.O.; NETO NETO, A.L.; PALOMBO, L. Uso de herbicidas no consórcio de milho safrinha com Brachiaria ruziziensis Planta Daninha, v.28, n.2, p.359-364, 2010.
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JAKELAITIS, A.; SILVA, A.A.; FERREIRA, L.R.; SILVA, A.F.; PEREIRA, J.L.; VIANA, R.G. Efeitos de herbicidas no consórcio de milho com Brachiaria brizantha. Planta Daninha, v.23, n.1, p.69-78, 2005.
MEDEIROS, S.F.; TAVARES, R.L.M.; FERREIRA, C.J.B.; ROSA, M.; SOUZA, G.S.; BOLDRIN, P.F.; SILVA JÚNIOR, J.F. Straw use to reducing soil compaction and its effect on the biometric and physiological characteristics of soybean and maize plants. Communications in Soil Science and Plant Analysis, v.55, n.13, p.1956-1966, 2024.
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