42 | Especialidades Médicas
Alterações de comportamento na demência
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Desafios para quem cuida Medicina Geral e Familiar
O
Elisa Serôdio, Cristiana Pinto, Inês Varejão Sousa
envelhecimento populacional acarreta um aumento da prevalência das síndromes demenciais, das quais 80% têm causa degenerativa, como, por exemplo, a Doença de Alzheimer. A demência é uma síndrome caracterizada por deterioração progressiva das funções cognitivas (memória, linguagem, coordenação dos movimentos, perceção visual, função executiva). Embora os sintomas cognitivos sejam necessários para o diagnóstico, os Sintomas Psiquiátricos e Comportamentais de Demência (SPCD) podem dominar tanto a apresentação como a manifesta“Cerca de 90% dos doentes ção clínica da síndrome demencial. Cerca de desenvolvem Sintomas 90% dos doentes desenvolvem SPCD duranPsiquiátricos e Comportamentais te o curso da doença. São exemplos a agitade Demência (SPCD) durante o ção, agressividade, alucinações, desinibição curso da doença.” sexual ou distúrbios alimentares. Estes sintomas estão associados a aumento do uso de recursos de saúde, institucionalização precoce e aumento de morbimortalidade, além de diminuição de qualidade de vida do doente e do seu cuidador. Está já documentado que os cuidadores que lidam com estes sintomas apresentam mais frequentemente depressão e níveis elevados de stress.
Tradicionalmente, o tratamento deste conjunto de doenças centra-se na diminuição da deterioração cognitiva, sendo fulcral a intervenção também ao nível dos SPCD. A avaliação das alterações de comportamento deve ser realizada tendo em conta três eixos de avaliação: o doente, a interação com o cuidador e o meio envolvente. A procura de fatores desencadeantes, nomeadamente de causa orgânica, não deve ser negligenciada. Na abordagem dos SPCD e cuidados de doentes com síndrome demencial podem ser úteis terapias farmacológicas e não farmacológicas. As recomendações da Sociedade Americana de Geriatria e da Associação Americana de Psiquiatria Geriátrica sobre demência recomendam medidas não farmacológicas como tratamento de primeira linha, exceto em casos de psicose