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O que necessita saber sobre Glaucoma

O que necessita saber sobre Glaucoma na idade adulta

Médica Oftalmologista. Clinivis e Centro Hospitalar Universitário do Porto Maria João Menéres

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O Glaucoma é uma doença ocular considerada, a nível mundial, a primeira causa de cegueira irreversível. É, por isso, rotulada de o “ladrão silencioso da visão”. Na verdade, esta patologia pode estar presente desde o nascimento e pode ou não estar associado a outras doenças oculares ou sistémicas.

Neste artigo debruçarmo-nos sobre os tipos de Glaucoma mais frequentes na idade adulta, tendo em conta que o mais frequente de todos é o Glaucoma primário de ângulo aberto.

O que é o Glaucoma? O Glaucoma é uma doença caracterizada por uma deterioração progressiva e lenta do campo visual, podendo culminar em cegueira. No caso de estarmos perante um Glaucoma, o nervo ótico responsável por levar a informação visual ao cérebro, local onde é processada, encontra-se lesado. Assim, à medida que a doença evolui, as células deste nervo vão morrendo e não têm capacidade para se regenerarem. Muitas vezes este processo de deterioração é tão lento que quando as pessoas se apercebem que estão a ver mal, as lesões são irreversíveis.

O que é o campo visual? Considera-se o campo visual aquilo que o nosso olho pode ver quando fixamos o olhar num ponto fixo, vemos o ponto onde fixamos a visão e tudo o que está à sua volta (perifericamente ao ponto fixo). Por exemplo, quando conduzimos, temos de fixar o olhar em frente e, ao mesmo tempo, temos que estar a ver o que se passa na berma da estrada, não vá um peão começar a atravessar, ou surgir uma bola, ou um animal... o simples ato de descer um degrau, num indivíduo com uma alteração marcada no seu campo visual, pode ter consequências nefastas, como uma queda, com todas as consequências que daí podem advir.

Na prática, o leitor se quiser testar uma alteração grave no seu campo visual deve colocar as suas mãos em “binóculo” em frente aos seus olhos e vai perceber quão limitado fica o seu ângulo de visão.

Por último, importa salientar que a evolução natural da doença sem tratamento ou com diagnóstico tardio, se converte em cegueira.

Como evitar ou minimizar todos estes problemas? A consulta de Oftalmologia, com vigilância regular, é absolutamente necessária, pois no que se refere especificamente ao Glaucoma, a observação da visão em cada um dos olhos, a medição da pressão intraocular, a observação do nervo ótico, bem como a determinação da espessura da córnea são absolutamente essenciais.

Uma grande maioria dos vários tipos de Glaucoma cursa com elevação da pressão intraocular. No entanto, há Glaucoma de pressão normal, em que os valores medidos se encontram dentro dos parâmetros de normalidade (entre 10 mmHg a 21 mmHg), mas o nervo ótico encontra-se alterado. Neste caso, só a observação do nervo ótico por um(a) oftalmologista, em conjugação com exames auxiliares de diagnóstico, pode fazer o correto diagnóstico, que levará ao seu posterior tratamento.

A partir dos 40 anos, ainda que não apresente outras doenças oculares, é aconselhá

vel ir a uma consulta de Oftalmologia uma vez por ano. É ainda necessário ter particular atenção a fatores de risco para Glaucoma, sendo que os de maior relevo são: a existência de familiares com diagnóstico de Glaucoma, ter miopia elevada, ser de raça negra, ser diabético e tomar regularmente medicação como os corticoides. Para além disto, há também que ter alguma atenção com certo tipo de medicação, como os antidepressivos, os anti-histamínicos usados de forma crónica, os broncodilatadores usados em doenças como a asma e alguns medicamentos usados na prevenção e tratamento da enxaqueca. Isto porque em pessoas com predisposição anatómica para ângulo estreito, estes são fatores que podem precipitar este tipo de Glaucoma, que pode apresentar-se de uma forma crónica ou aguda. Daí a necessidade de uma observação regular pela especialidade de oftalmologia.

Uma vez estabelecido o diagnóstico de Glaucoma, o que esperar e o que fazer? Antes de responder a esta questão, gostaria de diferenciar hipertensão ocular de Glaucoma. Na grande maioria das vezes, o Glaucoma encontra-se associado a um aumento da pressão intraocular num ou em ambos os olhos. Muitas vezes, o Glaucoma é assimétrico entre os dois olhos, ou seja, está mais evoluído num dos olhos. Para o diagnóstico de Glaucoma, e como já foi referido, é necessário que se verifiquem alterações do nervo ótico, com diminuição das suas células que não voltam a regenerar-se e, consequente, alteração mais ou menos grave do campo visual. Na hipertensão ocular, como o próprio nome indica, a pressão intraocular encontra-se elevada, mas o nervo ótico, bem como o campo visual não apresentam alterações. No entanto, nesta situação, é muito importante o controlo da pressão intraocular e a vigilância em consulta de Oftalmologia, uma vez que alguns casos podem evoluir para Glaucoma, daí a necessidade de monitorização e uso de medicação antiglaucomatosa.

Uma vez estabelecido o diagnóstico de Glaucoma, é muito importante a consciencialização de que é uma doença para a vida, que exige vigilância regular por a especialidade de oftalmologia, medicação e eventual cirurgia. Para o controlo da pressão intraocular usam-se medicamentos, sob a forma de colírios, vulgarmente chamadas de “gotas”. Existem vários tipos de colírios, cada um com as suas características, cuja meta é baixar a pressão intraocular e tentar evi

Figura 1. Fiável com alterações.

tar a progressão da doença. O doente tem de colocar diariamente as “gotas”, mesmo que não sinta nenhuma dificuldade visual. Algumas devem ser aplicadas duas vezes por dia, outras devem ser aplicadas só à noite ou só de manhã. É frequente o doente com Glaucoma necessitar de colocar mais do que um tipo de “gotas”, mais do que um frasco ou monodose. Como outros medicamentos, estes também podem apresentar efeitos secundários, alguns dos quais são visíveis para o doente e, por isso, devem estar alertados para este facto. Algumas vezes, os doentes, na fase inicial da sua doença, não se queixam da doença, mas sim dos efeitos locais da medicação. Exemplificando, entre outros sintomas e sinais podem sentir os olhos mais secos, lacrimejo, olhos vermelhos, crescimento das pestanas e hiperpigmentação da pele ao redor do olho. No entanto, o doente deve cumprir a medicação e, em estreita parceria com o seu médico(a), deve ser encontrada a medicação mais adequada para si, minimizando os efeitos secundários. Cada doente deve ter a pressão intraocular mais adequada para o seu caso, ou seja, uns necessitarão de pressões intraoculares mais baixas do que outros, para evitar a progressão da sua doença. No caso da medicação em “gotas” não ser suficiente para o controlo da doença, ou se esta continuar a progredir ou, ainda, se o doente for intolerante à medicação, pode haver necessidade de ponderar proceder-se à cirurgia de Glaucoma.

A cirurgia de Glaucoma tem como objetivo o controle da pressão intraocular e não a melhoria das alterações visuais que já ocorreram, pois, as lesões que já existem

Figura 2. Fiável sem alterações.

não são passíveis de ser corrigidas. Com a cirurgia, pretende-se controlar a pressão intraocular e evitar a progressão da doença. Mesmo com cirurgia, pode ser necessário o uso concomitante de colírios para o controle da pressão intraocular.

Existem várias técnicas cirúrgicas que o(a) oftalmologista tem ao seu dispor, e irá propor a que mais se adequar a cada caso e a cada tipo de Glaucoma que lhe seja apresentado. É de salientar que pode haver a necessidade de ser feita mais do que uma intervenção cirúrgica para controlo da doença.

Para além da observação oftalmológica, do tratamento médico e/ou cirúrgico, o doente deve fazer, com regularidade, exames complementares de diagnóstico para seguimento e monitorização do seu Glaucoma. É necessário saber a espessura da sua córnea e realizar regularmente os exames de campos visuais, bem como a medição da camada de fibras nervosas. Estes exames não são dolorosos e permitem determinar se a doença se encontra estável e controlada ou se, por outro lado, são necessárias medidas adicionais para o controle da mesma. Gostaria de terminar deixando a mensagem de que o Glaucoma pode ser uma doença devastadora e incapacitante, uma vez que conduz à perda de visão. No entanto, um diagnóstico atempado e um tratamento adequado podem fazer toda a diferença. Com os procedimentos corretos, um doente com Glaucoma pode ter uma visão sem ou com poucas consequências nas suas atividades diárias. Por isso, valorize a sua saúde ocular, mantendo regularidade na sua observação pelo Oftalmologista.

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