
6 minute read
O envelhecimento numa visão transfronteiriça
from DIGNUS nº3
by cie
texto e fotos por André Manuel Mendes
Foi em pleno Alto Minho, em Vila Nova de Cerveira, que se discutiram recentemente os desafios do envelhecimento em Portugal e em Espanha, num encontro em que se procurou abordar esta temática numa visão transfronteiriça.
Advertisement
Foi no dia 8 de novembro que o Hotel Minho recebeu cerca de meia centena de participantes oriundos de toda a Península Ibérica para a I Conferência Internacional de Gerontologia e Geriatria, uma iniciativa da ANIES - Associação Nacional Interdisciplinar da Economia Social. Durante este dia debateram-se diversas temáticas transversais a todo o processo de envelhecimento, desde as necessidades da pessoa idosa, o papel dos cuidadores, das instituições, das associações, políticas públicas, entre outros.
Josué Morais da IXUS Formação & Consultadoria, Narciso Moura da ADNP - Associação de Desenvolvimento do Noroeste Peninsular, e Lígia Monterroso, docente do ISAVE - Instituto Superior de Saúde receberam os participantes alertando inicialmente para o envelhecimento da população. Com este alerta sublinharam a importância de apostar em respostas efetivas para as necessidades recorrentes neste setor, nomeadamente a falta de qualificação dos profissionais e a recorrente questão das necessidades dos cuidadores informais.

As primeiras intervenções do dia foram dedicadas a políticas públicas, políticas nacionais na área do envelhecimento, a visão da Geriatria e Gerontologia na enfermagem, esta última com uma visão mais reflexiva, mas também com o conteúdo teórico tradicional, e também a realidade do envelhecimento em Espanha. A participar neste painel estiveram Assunção Nogueira, docente na CESPU, Diogo Batalha, gerontólogo e Presidente da ANIES, Miguel Angel Vasquez Vasquez, médico especialista em Geriatria e Presidente da Sociedad Galega de Xerontologia e Xeriatria, e Miguel Cardoso, Diretor do Centro Distrital do Porto do Instituto de Segurança Social. Assunção Nogueira identificou as alterações demográficas e do perfil epidemológico como as principais responsáveis por esta nova realidade que assistimos no envelhecimento. A docente explicou ainda as alterações que ocorrem durante o processo de envelhecimento e os conceitos centrais para cuidar de idosos por parte dos cuidadores formais.
Diogo Batalha, gerontólogo e Presidente da ANIES apresentou a associação e toda a metodologia de trabalho e de investigação pelas quais se regem. De acordo com o mesmo, a organização do evento optou por abordar as temáticas da gerontologia e geriatria pelo facto de a população idosa ser aquela que apresenta mais dificuldades e representa os maiores desafios para a sociedade e para a ciência. “Estamos a assistir à maior transformação demográfica da história da humanidade”, afirmou, abordando posteriormente na sua “O envelhecimento não é uma doença”
intervenção a respetiva da sociedade sobre o envelhecimento e o conceito do que é uma pessoa idosa que, de acordo com o gerontólogo “deve ser desconstruído e reconstruído”. A visão e a realidade espanholas foram clarificadas por Miguel Angel Vasquez Vasquez, este que salientou que em Espanha têm uma visão multidisciplinar ao abordar a temática do envelhecimento. De acordo com o médico a realidade é que, em 2050, a população idosa em Espanha vai duplicar, uma previsão que alerta para a necessidade de uma tomada urgente de medidas preventivas no que respeita aos cuidados do idoso. No que respeita concretamente à Gerontologia, Miguel Angel Vasquez Vasquez admitiu que esta serve para cuidar, apoiar e supervisionar, sendo que os profissionais são os que têm diariamente a responsabilidade de tomar decisões pela pessoa doente. “O envelhecimento não é uma doença”, sublinhou. A parte da tarde iniciou-se comum painel que incidiu a sua visão no ensino superior, nas pessoas que estão no terreno e em como perceber que este misto de contribuição interdisciplinar pode trazer alguns resultados. Para discutir estes temas juntaram-se Lurdes Teixeira da CESPU, Carla Faria do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) e José Carreira do Centro de Apoio Alzheimer Viseu. Lurdes Teixeira afirmou que a “sociedade não está preparada para os velhos” e que cada vez mais se tentam encontrar respostas para “envelhecer sem ficar velho”. E o perfil da pessoa idosa é diferente nos dias de hoje, segundo Carla Faria. A docente focou-se nos desafios do envelhecimento e nos ganhos sociais em apostar nos idosos. “Através da aprendizagem e educação podemos fazer com que as pessoas tenham um envelhecimento saudável e ativo”, afirmou a docente o IPVC. Para terminar José Carreira falou dos desafios da nova longevidade, centrando-se na preocupação com a tripla sustentabilidade - social, económica e financeira.
Por fim falou-se da necessidade de perceber como formar profissionais preparados e sensibilizados para trabalhar estas temáticas, não só no contexto profissional como também no dia a dia, ou seja, como podemos ser uns bons influenciadores destas temáticas no quotidiano, para com quem
lida diariamente com estas populações envelhecidas.
Durante o evento a revista Dignus falou com Diogo Batalha, gerontólogo e Presidente da ANIES - Associação Nacional Interdisciplinar da Economia Social, por forma a conhecer o trabalho desenvolvido pela ANIES e também para perceber qual o objetivo da organização da I Conferência Internacional de Gerontologia e Geriatria.
Dignus: Que associação é a ANIES e que trabalho desenvolve? Diogo Batalha (DB): A ANIES foi fundada por um conjunto de pessoas e profissionais no sentido de se criar uma associação destinada à produção científica na área da economia social. Esse é o ponto principal de uma associação com uma visão inovadora do que é a produção científica. O que queremos implementar é uma metodologia de investigação interdisciplinar onde haja convergência de todo o tipo de competências, experiências e vivências, não só sobre o ciclo de vida, mas sobre a produção de conhecimento científico.
O que queremos é transportar o conhecimento científico para a prática, pois o conhecimento científico de nada vale se não for aplicado. O objetivo final é fazer chegar o resultado deste conhecimento aos centros de decisão para que seja claro e objetivo para todos que existem várias lacunas no setor que têm que ser colmatas.
Dignus: Qual o intuito da realização da I Conferência Internacional de Gerontologia e Geriatria? DB: O percurso de vida tem várias etapas e decidimos começar pela faixa etária que

hoje nos trás mais desafios naquilo que é a resposta da economia social. Pensamos na Gerontologia e Geriatria por diversos fatores, sendo um deles o reconhecimento destes profissionais, que não existe.
Foi uma primeira abertura para um espaço de reflexão, não só pela necessidade desta faixa etária, mas também abrir o diálogo a associações do nosso país que têm desenvolvido trabalhos excelentes no que respeita ao reconhecimento dos profissionais da área, nomeadamente a Associação Nacional de Gerontólogos e outras associações homologas que têm feito um bom percurso.
Temos que levar estes eventos a comunidades que estejam descentralizadas, temos que conseguir perceber que estas comunidades também têm que ter eventos, mesmo para chamar os técnicos das IPSS mais pequenas que enfrentam tantas dificuldades como os outros.
Dignus: Como foram selecionadas as temáticas para este evento? DB: Houve uma necessidade estratégica de perceber qual era o trabalho da Sociedad Galega de Xerontologia e Xeriatria, não só pela figura do seu Presidente, um médico geriatra reconhecido, mas também para ouvir quem não está em Portugal. Este é o nosso primeiro passo a nível internacional, principalmente porque é necessário perceber aquilo que já existe. Temos que perceber o que já se faz e de que forma se pode traduzir e validar isso para o nosso país.
Trouxemos oradores que estão diretamente ligados ao desenvolvimento de políticas sociais ou ligados à investigação e ensino superior.