Mediunidade e Incorporação - Nível 1 - Marília Giraudon

Page 1

1

CEDEM MARÍLIA DUTRA GIRAUDON

INCORPORAÇÃO E MEDIUNIDADE: A COMPLEXIDADE DE PROCESSOS ESPIRITUAIS DENTRO DO TERREIRO

SÃO PAULO 2019


2

CEDEM MARÍLIA DUTRA GIRAUDON

INCORPORAÇÃO E MEDIUNIDADE: A COMPLEXIDADE DE PROCESSOS ESPIRITUAIS DENTRO DO TERREIRO

Trabalho apresentado ao CEDEM para contemplação do nível 1 como requisito parcial.

SÃO PAULO 2019


3


4

1 INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho é explorar a mediunidade e seu desenvolvimento e papel em processos espirituais, principalmente quando observamos o desenvolvimento de médiuns dentro do terreiro ou até em outras religiões. Pela definição do dicionário, mediunidade é a qualidade, faculdade ou dom de médium, ou medianimidade. Na etimologia da palavra, medianimidade vem do latim: medius+animus+dade, significando estado ou propriedade de medianímico. Ao observarmos a obra de Allan Kardec, por exemplo, muitas vezes vamos notar o termo “medianímico”, significando possuir faculdade de médium. Dentro do conceito de Espiritismo, a mediunidade não é sagrada e muito menos sobrenatural. Sua prática acontece de forma racional, transparente, equilibrada

e

consentida,

e

seu

exercício

necessita

estruturação

e

responsabilidade. A mediunidade é inerente a uma condição orgânica, de que todos podem ser dotados, como a de ver, ouvir e falar. Não há nenhuma de que o homem, em consequência do seu livre-arbítrio, não possa abusar. Deus outorgou as faculdades ao homem, dando-lhes a liberdade de usá-las como quiser, mas pune sempre aqueles que delas abusam. (O Evangelho Segundo Espiritismo, cap. 14, item 12).

A mediunidade é uma faculdade inerente ao ser humano, inata, e pertencente ao campo da comunicação. Embora muitos considerem a mediunidade um fenômeno particular dos tempos atuais, não há justificativa para tal. Existem registros de manifestações mediúnicas entre diversos povos antigos. Desenvolvendo-se naturalmente em pessoas com maior sensibilidade de captação mental ou sensorial, seu desenvolvimento é cíclico e segue as fases da vida. Ainda sobre a essência orgânica da mediunidade, ela é colocada como a manifestação do espírito através do corpo. No ato mediúnico, manifestam-se o espírito do médium e o espírito ao qual ele atende e serve e sua evolução dáse da disciplina da relação espírito-corpo.


5

A mediunidade se revela como o fundamento de toda realidade, desde o momento da criação à estruturação da matéria, por onde os espíritos se manifestam no plano sensível e material, seja no Universo, nas formas da Natureza ou na criatura Homem. Quando trazemos a mediunidade para Umbanda, a principal característica é trazer o espírito para a pratica da caridade através da manifestação mediúnica conhecida como incorporação, manifestação mediúnica de efeitos físicos, porém há um debate entre a literatura Kardecista e os processos que acontecem dentro do terreiro.


6

2 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO

2.1 Tipos de Mediunidade Todo aquele que sente, em qualquer grau, a influência dos espíritos é um médium. Ser médium é possuir uma faculdade que permite o intercâmbio entre os planos, ainda que seja uma característica inata, qualificam-se aqueles que demonstram faculdades mediúnicas bem caracterizadas. Visto

isso,

a

mediunidade

manifesta-se

de

formas

diferentes,

dependendo da aptidão do médium para tal. São alguns deles: físicos, sensitivos, audientes, videntes, sonambúlicos, curadores, pneumatógrafos e escreventes. A mediunidade se apresenta de diversas formas e são classificadas de acordo a maneira como os médiuns estabelecem sua ligação com outro plano, porém precisa ser educada e direcionada, assim como qualquer outra faculdade. Os médiuns devem exercitar sua humildade e seu desprendimento ao serem intermediários entre os planos, porém jamais devem ter-se como missionários, pois o que lhes foi concedido é apenas uma ferramenta, não algo para seu próprio benefício (EMMANUEL, 1981). "Os médiuns, em sua generalidade, não são missionários na acepção comum do termo; são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram, sobremaneira, o curso das leis divinas, e que resgatam, sob o peso de severos compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso. O seu pretérito, muitas vezes, se encontra enodoado de graves deslizes e de erros clamorosos. Quase sempre são Espíritos que tombaram dos cumes sociais, pelos abusos do poder, da autoridade, da fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe terráqueo para se sacrificarem em favor do grande número de almas que desviaram das sendas luminosas da fé, da caridade e da virtude. São almas arrependidas que procuram arrebanhar todas as felicidades que perderam, reorganizando, com sacrifícios, tudo quanto esfacelaram nos seus instantes de criminosas arbitrariedades e de condenável insânia". (Xavier, 1981, p. 66 e 67)

Encarada em seus diversos aspectos, Kardec divide a mediunidade, para efeito de metodologia, em duas grandes áreas: mediunidade de efeitos


7

inteligentes e mediunidade de efeitos físicos, não devendo esta última ser confundida com os médiuns de efeito físico colocados também pelo autor. Mediunidade é instrumento que auxilia cada pessoa na construção do novo, através do rompimento de seus limites, ampliando a visão de si mesmo, dos outros, da natureza, de Deus. Mediunidade é expressão de identidade, é sintonia e troca de experiência. Mediunidade é interação entre o material e o espiritual. Dentre

as

mediunidades

descritas

por

Kardec,

este

ressalta

principalmente dez tipos. 2.1.1 Médiuns de efeito físico Os efeitos físicos são manifestados em médiuns que possuem habilidade de produzir fenômenos materiais, ou seja, interferindo fisicamente na matéria. Podem ser observados tanto em médiuns facultativos, que possuem consciência dos fenômenos que produzem, ou involuntários, também chamados de naturais, que são utilizados pelos espíritos, porém inconscientes de suas capacidades. Dentre os médiuns físicos, existem três tipos de classificação: -motores, que interferem com objetos, causando seu movimento e deslocamento; -tiptólogos, que provocam vibrações ou ruídos; -aparição, que, assim como o nome, provocam aparições. 2.1.2 Médiuns sensitivos Esse perfil de médiuns é composto por pessoas sensíveis à presença de outros espíritos, podendo senti-la como uma vaga impressão, uma leve presença na pele ou de maneiras que não conseguem explicar. A categoria de médiuns sensitivos também é conhecida como médiuns impressionáveis, porém Kardec defende que todos os médiuns são necessariamente impressionáveis, colocando a impressionabilidade como uma qualidade geral do que é essencial a qualquer médium.


8

Acredita-se que alguns médiuns sensitivos são capazes de sentir as individualidades de cada espírito, assim como suas faixas vibracionais e índoles. 2.1.3 Médiuns audientes Esse tipo de médium, também conhecido como clariaurdiente, ouve as vozes dos espíritos que tentam estabelecer comunicação. Podem senti-los na forma de vozes internas ou externas. Os médiuns audientes podem estabelecer conversação com os espíritos e reconhece a natureza dos mesmos diretamente pela voz, mas também podem comunicar-se apenas intimamente. quem não seja dotado desta faculdade pode, 2.1.4 Médiuns videntes Diferente da crença popular, os médiuns videntes, ou clarividentes, não tem relação com a adivinhação do futuro, mas são habilitados com a capacidade de enxergar os espíritos que transitam pelo plano onde estão. Vale sempre lembrar que os médiuns videntes não enxergam os espíritos com os olhos, mas sim com sua alma. Tanto que conseguem enxergar os espíritos transitantes com olhos fechados. Médiuns dotados da clarividência podem tanto enxergar os espíritos em estado de alerta ou em estado sonambúlico. No primeiro, conseguem preservar o que viram, já no segundo, a mediunidade se manifesta em estado próximo ao sonambulismo, sendo rara a lembrança 2.1.5 Médiuns sonambúlicos Quando falamos de sonambulismo, podemos considera-lo uma faz faculdades mediúnicas. O sonâmbulo age sob influência de seu próprio espírito quando sua alma, em um momento de emancipação, expande suas percepções para além dos sentidos.


9

2.1.6 Médiuns curadores Este gênero de mediunidade consiste no dom de curar através do toque, olhar ou gesto. Existem autores que defendem que a cura nada mais é do que magnetismo, dada a influência do fluido magnético, que desempenha o principal papel em ações de cura. A intervenção de uma força oculta, dado as ações e vibrações que constituem a mediunidade, manifestam-se apenas sob certas circunstâncias, ao passo que nos médiuns curadores a faculdade é espontânea e alguns até a possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo. 2.1.7 Médiuns psicofônicos O perfil de médium mais conhecido é o psicofônico. Estes são conhecidos pela sua mediunidade com faculdade vocal. Dão voz aos espíritos na comunicação entre os planos. 2.1.8 Médiuns intuitivos O espírito André Luiz afirma que a intuição foi o sistema inicial de intercâmbio entre os planos e que a produção do pensamento contínuo é o que habilita o perispírito a desprender-se parcialmente do corpo físico (XAVIER, 1959). A intuição foi, por esse motivo, o sistema inicial de intercâmbio, facilitando a comunhão das criaturas, mesmo a distância, para transfundi-las no trabalho sutil da telementação, nesse ou naquele domínio do sentimento e da ideia, por intermédio de remoinhos mensuráveis de força mental, assim como na atualidade o remoinho eletrônico infunde em aparelhos especiais a voz ou a fi gura de pessoas ausentes, em comunicação recíproca na radiotelefonia e na televisão. (XAVIER, 2013, p. 133)

os inspirados são os tipos de médiuns mais espontâneos e que mais têm a dificuldade em discernir pensamentos próprios de sugestões dadas por espíritos. Neste tipo de mediunidade, os seres desencarnados atuam como anjos da guarda, guardando, guiando, aconselhando e fazendo com que o


10

corpo encarnado sinta sua presença e tenha pressentimentos quando algo está errado. Outros tipos de mediunidade também já foram descritos e relatados por Allan Kardec e demais seguidores da doutrina; entretanto, são tipos raros com poucas comprovações. 2.1.9 Médiuns pneumatógrafo Diz-se de médiuns pneumatógrafos os que possuem aptidão da escrita direta, esta não se aplica a todos os médiuns escreventes necessariamente. Essa habilida é citada como rara pela literatura, mas dado que a mediunidade, apesar de inata, precisa de estudo e prática, desenvolve-se pelo exercício. 2.1.10 Médiuns Escreventes Dentro da qualidade de médiuns escreventes, ou psicógrafos, temos subtipos, de acordo com a natureza de sua manifestação mediúnica. São eles: -médiuns mecâmicos, que tem pulsos involuntários sobre suas mãos, não fazendo ideia do que o espírito está comunicando, movendo-se sem interrupção; -médiuns intuitivos, onde o espirito não atua sobre a mão para escrever, mas sim através do pensamento do médium. Neste caso, o espírito guia o médium para escrever suas palavras, usando o médium como um aparelho intermediário entre ele e a mensagem a ser passada; -médiuns semimecânicos, um pouco diferente dos médiuns mecânicos, onde o movimento da mão independe da vontade do médium, e dos médiuns intuitivos, onde o movimento é vonluntário e facultativo, os semimecânicos englobam as duas atividades, sente o impulso de sua mão, porém compreende e tem consciência do que está sendo escrito; - médiuns inspirados ou involuntários, que agem por meio da transmissão de pensamento com o espírito, agindo como uma variedade de médiuns intuitivos.


11

2.2 Incorporação A incorporação é colocada como o principal ato dentro de um ritual, onde o médium empresta seu corpo para a entidade realizar seu trabalho. Durante a cerimônia, no caso s Gira, o espírito toma o corpo do médium, de modo a colocá-lo em transe enquanto atua. Sua ação direta no corpo é percebida pela alteração da postura, jeito de falar, a transformação da fisionomia, entre muitos outros. Na umbanda que se consolidará a partir de então, a presença da entidade no transe ritual volta-se mais para a cura, limpeza, aconselhamento dos fiéis e clientes, afastando-se de outro ideal kardecista: o de comunicação com os mortos com o fim de estender ao mundo dos espíritos atrasados e sofredores a doutrinação evangélica caridosa; e receber dos espíritos de luz orientação para o desenvolvimento de virtudes na terra, curas do corpo e da alma, evolução espiritual dos vivos e dos mortos. (PRANDI, 1990, p.4).

De forma ampla, a incorporação vem pela definição de um espírito desencarnado utilizando o corpo do médium para se manifestar. Dentro da definição do espiritismo colocada por Kardec, não há como um corpo físico ser ocupado por um espírito que não do próprio ser, mesmo que temporariamente desalojando seu verdadeiro dono. Segundo a definição de Kardec, apenas a psicofonia seria possível. Porém, Kardec não estudou fenômenos de incorporação, apenas linhas gerais de manifestações mediúnicas. Além disso, ao estudarmos incorporação, ela ultrapassa o limite estabelecido pela psicofonia e não pode ser caracterizada apenas como essa manifestação mediúnica. Já no meio umbandista, em linhas gerais, a definição simples de incorporação é um espírito tomar ou entrar no corpo do médium, após este se afastar. Essa definição foi dada principalmente por experiências vividas e observadas do que pelo fenômeno em si, porém os mecanismos envolvidos na


12

incorporação seriam muito mais complexos, principalmente dado o intervalo corporal entre o afastamento do médium e a tomada de seu corpo físico pelo espírito. O fenômeno físico-espiritual da incorporação é produzido pela capacidade receptiva do médium em seu desenvolvimento, as energias do ambiente e a capacidade do espírito de controlar as variáveis energéticas em sua aproximação e em sua manifestação física. Nesta abordagem, podemos ver que a incorporação conta com pelo menos três influenciadores diretos: médium, ambiente e espírito. 2.2.1 O Médium O médium é o ponto inicial de qualquer processo de incorporação, sendo ele o agente encarnado da Comunicação com outros planos. Através de seu corpo, tanto astral quanto físico. -corpo astral (ou perispírito), é formado pelo material espiritual e pelo estágio evolutivo do espírito. Sua forma e consistência são criadas e mantidas pelo padrão vibracional mental do indivíduo; -corpo físico, são as faculdades do corpo utilizadas pelos espíritos tais quais seu aparelho fonético, no caso da comunicação, e seu aparelho físico, no caso de suas manifestações de movimento; Ainda sobre a incorporação e seus médiuns, existem diferentes modelos de incorporação que serão estudados ao decorrer do tema, apenas como hipóteses.


13

3 CONCLUSÃO

A principal doutrina sobre mediunidade é colocada por Kardec e reforçada em diversos livros espíritas, porém, uma vez que Kardec jamais estudou fenômenos de incorporação e os considerava, de acordo com sua literatura, impossíveis, é difícil estabelecer uma ligação direta ao exato tipo de mediunidade destes médiuns. Pode-se, assim então, colocar que existe um tipo de mediunidade não estudado na doutrina: a mediunidade de incorporação, ou os médiuns de incorporação. Nesta mediunidade, há uma interação entre o perisírito da entidade e do médium para a atuação no plano. Analisando o processo de incorporação, seria a mesma coisa que a sintonia fina de uma televisão ou até mesmo a sintonia de um rádio. Para ela acontecer, é necessária que a vibração da entidade seja, de certa forma, captada pelo médium para serem processadas. Além disso, há também, dentro da incorporação, assim como na mediunidade estudada por Kardec, graus de consciência mediúnica e o desenvolvimento do médium e sua mediunidade. Podemos concluir que apesar de todo mundo ter um certo grau de mediunidade, caracteriza-se como médium aquele que produz de forma presente e efetiva os fenômenos de natureza espiritual. A mediunidade não é um dom que torna quem a detém alguém mais poderoso e necessita sempre de treino e reponsabilidade.


14

Estabelecer o compromisso de atuar na mediunidade traz muitos outros fatores como evolução espiritual ou moral, aspectos orgânicos do indivíduo entre outros. Esta pesquisa seguirá em andamento, mas podemos perceber que em primeira análise, permite a realização de uma observação de elementos presentes dentro do espiritismo, da Umbanda e de outras religiões mediúnicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Dicionário de Ciências Sociais Rio de Janeiro, FGV, 1986. DOYLE, A. C. História do Espiritismo. São Paulo, Pensamento, s.d.p. EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro, FEB, 1995. KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. 81. ed., Brasília, FEB, 2013. PIRES, J. H. Mediunidade (Vida e Comunicação): Conceituação, da Mediunidade e Análise Geral dos seus Problemas Atuais . 5. ed., São Paulo, Edicel, 1984. PIRES, J. H. O Espírito e o Tempo: Introdução Antropológica do Espiritismo. 3. Ed., São Paulo, Edicel, 1979. SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965. XAVIER, F. C. Emmanuel (Dissertações Mediúnicas), pelo Espírito Emmanuel. 9. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1981.XAVIER, Francisco Cândido; Evolução em Dois Mundos. 10 ed. São Paulo: FEB, 2008. XAVIER, Francisco Cândido; Evolução em Dois Mundos. 10 ed. São Paulo: FEB, 2008.

Documentos eletrônicos IMA – Instituto de Medicina do Além. Artigos. Disponível em: < https://www.espiritismodralonso.com.br/ima-franca/9-tipos-de-mediunidade/>. Acesso em: 15 mai. 2019.


15


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.