Açoriano Oriental - 25-Dez-2020

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AÇORIANO ORIENTAL SEXTA-FEIRA, 25 DE DEZEMBRO DE 2020

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Psicóloga clínica Carolina Ferreira diz ser essencial manter uma atitude resiliente e aconselha as pessoas a promoverem o auto cuidado

Psicóloga alerta para a saúde mental no Natal Pedidos de ajuda psicológica aumentam durante a quadra natalícia, principalmente em ano de pandemia. Reflexões anuais, conflitos familiares, perdas e solidão estão na origem desse aumento CAROLINA MOREIRA carolinamoreira@acorianooriental.pt

A psicóloga clínica Carolina Ferreira alerta para o “mito” de que o Natal é “obrigatoriamente uma época feliz”, salientando que é quando se verifica um aumento dos pedidos de ajuda psicológica, principalmente em ano de pandemia. “Obviamente que o Natal, como qualquer outra época do ano, acarreta emoções que por vezes são bastante desagradáveis”, constata a profissional de saúde, realçando que muitos optam por “adiar” esses sentimentos. “Nesta época, pesam as questões familiares, sejam elas relações conjugais que estão neste momento penduradas numa árvore de Natal e que, de certa forma, são mantidas para não estragar a quadra natalícia, sejam as dificuldades entre pais e filhos e a quase obrigatoriedade de sermos famílias felizes e

estarmos completamente unidos no Natal”, afirma Carolina Ferreira. A psicóloga fala também no ressurgimento de sentimentos de perda e de luto que causam muita tristeza e angústia nesta altura, assim como a solidão que origina um aumento da afluência a serviços de urgência e a linhas de apoio telefónico. “Efetivamente, o sofrimento psicológico numa noite em que seria suposto estar acompanhado, feliz, amado e quando não se sente nada disso, estas pessoas tendem a procurar alguém com quem falar e com quem partilhar e que cuide delas. E o que acontece na noite de Natal é apenas um exemplo das dores diárias que acontecem durante todo o ano”, frisa. Segundo Carolina Ferreira, “acabam por ser pedidos de afeto que não podem ser descurados, porque poderá ser tão ou mais prejudicial para a pessoa

do que uma fratura num braço, por exemplo”, alerta. A psicóloga salienta ainda que o Natal e o fim de ano acabam por ser também uma altura de balanços e reflexões anuais, algo que, em ano de pandemia, “contribui para que

as pessoas estejam um pouco mais cansadas e tristes”. “Dezembro é habitualmente um mês em que as pessoas começam a ponderar realizar um processo de desenvolvimento pessoal, devido a alguma dificuldade que tenham sentido DIREITOS RESERVADOS

Nesta altura do ano verifica-se um aumento dos pedidos de ajuda

durante o ano e começam a perceber que precisam de trabalhar competências. Isto não tem só a ver com psicopatologias, mas também com competências psicossociais e a necessidade de construírem uma melhor versão de si próprios”, constata. Nesse sentido, Carolina Ferreira destaca que se verifica nesta altura um maior pedido de sessões de psicologia clínica e de coaching. “Este ano, particularmente, foi pautado pelo ‘burnout’ parental, em que os pais tiveram de multiplicar as suas tarefas e adaptar-se a uma nova realidade no trabalho, e os empresários estiveram bastante ansiosos com as questões do ‘lay-off ’ e da manutenção das suas empresas, por isso verificam-se muitos mais pedidos de ajuda”, explica. A psicóloga clínica frisa que, nesta altura do ano, se torna essencial procurar manter uma atitude resiliente, estabelecer objetivos alcançáveis e quantificáveis e ainda fazer espaço para as emoções. “Tudo o que foi mau em 2020 pode ser transformado e colocado de forma positiva em 2021, não esquecendo o que nos magoou, alterou ou transformou. Temos de perceber de que forma é que vamos conseguir construir uma metamorfose interna e aplicarmos essa resiliência, que é uma competência extremamente importante”, realça. Por outro lado, Carolina Ferreira afirma que uma das estratégias para lidar com a nossa saúde mental no Natal passa por promover o auto cuidado. “Isto pode significar não estar com certas pessoas, mesmo que isso seja desagradável ou inconveniente. Temos que nos lembrar que não é a nossa função agradar toda a gente e temos de oferecer a nós próprios momentos de gratidão”, destaca. A profissional de saúde realça ainda que esta pode ser a altura ideal para “encontros familiares”. “Com isto quero dizer que existem famílias que, apesar de viverem juntas, estão sempre desencontradas. A correria do dia-a-dia não permite que façam uma refeição juntas, que joguem um jogo de tabuleiro ou vejam um filme ou uma série de televisão. Esta é uma boa altura para parar e encontrarmo-nos uns aos outros”, aconselha a psicóloga. Ƈ


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