Diário dos Açores @18Fev2024

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ENTREVISTA

18 de Fevereiro 2024 . www.diariodosacores.pt

“Considero-me embaixadora da coragem que com resiliência podemos

Carolina Ferreira é psicóloga há 10 anos e através do a sua profissão de modo a ajudar por Nicole Bulhões

Carolina Ferreira é psicóloga clínica há 10 anos. No início do seu percurso profissional, deparou-se com um cenário em que a sua profissão não era devidamente valorizada. Após encontrar algumas adversidades, Carolina deixa de trabalhar na função pública e decide juntar as áreas da Psicologia e coaching, criando a sua marca Carolina Ferreira - Psicologia e Coaching, cuja missão é transformar fragilidades em potencialidades. O Diário dos Açores esteve à conversa com Carolina Ferreira para saber mais do seu percurso profissional e dos seus novos projectos. Fale-nos um pouco sobre si. Nasci e cresci na ilha de São Miguel. Actualmente vivo em Lisboa e acredito que viver pelo mundo pode ser muito aliciante, por isso transformei o meu projecto num formato digital para que possa trabalhar pelo mundo e transformar também a jornada das pessoas em algo que lhes dê liberdade, que é um valor que eu acredito e para mim é primordial. A minha missão considero ser transformar fragilidades em potencialidades e acredito mesmo de olhos fechados que qualquer pessoa pode atingir os seus sonhos, desde que os faça mesmo acontecer. Nós não podemos esperar que as coisas aconteçam se não fizermos por elas. Considero-me embaixadora da coragem, porque o meu próprio percurso tem me demonstrado que com coragem e resiliência nós podemos enfrentar diversos obstáculos e podemos, sem dúvida, ir rompendo com paradigmas que sempre nos disseram que seria impossível e podemos acre-

“A minha missão considero ser transformar fragilidades em potencialidades e acredito que qualquer pessoa pode atingir os seus sonhos, desde que os faça mesmo acontecer.”

ditar num mundo em que nós somos co-responsáveis pela sua construção. Desta forma vamos nos tornando mais confiantes, corajosos, e vamos buscando dentro de nós mais compaixão, alegria, e vamos sendo buscadores de soluções. E assim, a minha jornada vai-me ensinando que tudo é possível se nós acreditarmos e trabalharmos por isso. Como começou a sua jornada na área da Psicologia? A minha jornada em Psicologia iniciou-se como a de qualquer adolescente com 17 anos, que escolheu entrar para a universidade. Entrei na Universidade dos Açores e de uma forma bastante ingénua escolhi a Psicologia, porque na altura as pessoas à minha volta e os meus amigos diziam “olha, acho que tens jeito para escutar os outros”. Não teria sido a minha primeira opção. Se fosse pelas minhas convicções, teria escolhido Direito, pela justiça e por um mundo mais equilibrado do ponto de vista social, mas a verdade é que concorri e coloquei em primeiro lugar a Psicologia. Quais foram as dificuldades que encontrou quando iniciou o seu percurso profissional? Saí da Universidade em 2009, ano

em que Portugal atravessava uma crise profunda que fazia com que jovens recém licenciados como eu não conseguissem integrar de maneira nenhuma o mercado de trabalho e, então, tanto eu como os meus colegas fomos nos deparando com o desemprego, com trabalhos precários, com contextos em que a Psicologia não era devidamente valorizada. Em equipas multidisciplinares havia vários profissionais de outras áreas, mas não havia o Psicólogo, e isto aguçou a minha perspectiva e o meu mindset empreendedor e fui percebendo que ia ter de conseguir outras formas de arranjar o meu local e de me reposicionar. Para além disto, vários contextos onde eu passava não tinham acessibilidade para pessoas com deficiência e eu tinha também essa dificuldade, porque não havia acessibilidade nas entidades. Em 2014, fundou o Gabinete de Psicologia e Intervenção Comunitária (GPIC) da Junta de Freguesia do Livramento. O que a impulsionou na criação deste projecto? Em 2014, tive a oportunidade de fundar o GPIC. Houve esta oportunidade através de um programa de emprego, em que a Junta de Freguesia contactou-me no sentido de fazer um programa de emprego para serviços

administrativos. Não seria especificamente para fazer serviço de Psicologia, entretanto, como houve esta oportunidade, e já vinha de outras oportunidades de trabalho em que vinha insatisfeita com a posição da Psicologia, propôs à Junta de Freguesia a possibilidade de criarmos esse gabinete. Nós estávamos numa época de crise e os problemas de saúde mental haviam agravado. Havia a necessidade de nós afirmarmos o papel do psicólogo. A comunidade do Livramento tinha várias vulnerabilidades que precisavam de ser cuidadas e que precisavam de ser auscultadas, e assim surge a necessidade deste gabinete. O gabinete foi crescendo e em 6 meses nós já estávamos a atender 130 utentes, o que foi um número bastante significativo de pessoas que já procuravam autonomamente um Gabinete de Psicologia Comunitário e na altura de acesso livre, porque o serviço de saúde local não tinha serviço de Psicologia acessível para todos. Actualmente, já não faz parte do projecto GPIC. Que impacto teve este projecto na sua vida a nível pessoal e profissional? O GPIC teve um impacto fundamental na minha vida pessoal e profissional, porque trouxe-me a


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