Carbono Donna #04

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ALICE WEGMANN

no ar nos cinemas, na TV e no streaming, na vida real a atriz também brilha

NAS PÁGINAS arte, viagem, música, moda, saúde, literatura e tendências

NOVAS ONDAS do surfe à poesia, o que as mulheres de hoje têm consumido

POR AQUI Dira Paes, Isabelle Tuchband, Rita Batista, Lia de Itamaracá and more

Macan. Aventure-se.

REFERÊNCIA HOJE E AMANHÃ. A PARTIR DE R$ 490.000,00.

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APR ESENTA

VEU VE CLICQUOT OS NOVOS CHAMPAGNES RICH E RICH ROSÉ

Há mais de 250 anos, a Veuve Clicquot combina a expertise da vinificação com um estilo de vida solaire único. Um lifestyle elegante e otimista, inspirado pelo alegre amarelo do sol.

Neste verão, a Maison Veuve Clicquot revela suas mais novas cuvées, RICH e RICH Rosé, champagnes fáceis de beber, para consumo com gelo e para todo o dia. Lançados com a abertura dos Sun Clubs – uma coleção exclusiva de espaços pop-up

localizados em destinos de sonho em todo o mundo –, essas cuvées destacam a serena e extraordinária arte de viver da Veuve Clicquot. Seja em um terraço panorâmico da cidade, em um clube de praia com amigos ou ao som de músicas irresistíveis, você encontra os Sun Clubs nos locais mais festivos do planeta, banhados pelo sol e cheios de vida. Existe lugar melhor para aproveitar o calor e descobrir os novos Veuve Clicquot RICH e RICH Rosé?

DEGUSTE COM GELO, SOB O SOL

No fim do século 19, o termo “RICH” apareceu nos rótulos da Maison Veuve Clicquot para distinguir o champagne doce do seco, em embarques destinados ao mercado britânico. Hoje, os novos RICH e RICH Rosé se baseiam no estilo e na expertise de vinificação da Veuve Clicquot para apresentar uma nova forma de apreciar o champagne. Ambos são feitos para ser servidos com gelo (ou bem gelados), idealmente em esferas, para capturar “o sol em sua taça”.

A Veuve Clicquot é dedicada à fina arte do blending e, nestes lançamentos, a Maison apresenta um casamento perfeito de frescor e sabores frutados para ser apreciado todo o dia. RICH combina um buquê de frutas exóticas e do pomar – abacaxi, manga e ameixa mirabelle – com o frescor do capim-limão e da hortelã. RICH Rosé une frutas vermelhas – morango, framboesa e groselha –a notas exóticas e de hortelã. Compostas principalmente de pinot noir, ambas as cuvées são categorizadas como champagnes doces. As novas cuvées RICH e RICH Rosé são ideais para qualquer ocasião, em qualquer estação. À beira da piscina com amigos, na mágica atemporal de uma longa tarde ensolarada de verão, ou em uma festa ao pôr do sol. Não há maneira mais fácil de desfrutar o champagne sob o sol. A novidade chega em boa hora para a temporada de verão brasileira. “O nosso clima tropical combina perfeitamente com os novos champagnes RICH e RICH Rosé para serem consumidos com gelo. Eles vão fortalecer a temporada, que já é muito expressiva para o consumo de champagnes no Brasil.” diz Catherine Petit, diretora-geral da Moët Hennessy do Brasil.

VEUVE CLICQUOT

SUN CLUBS

A arte de viver da Veuve Clicquot encontra seu lugar ao sol, trazendo o espírito de luxo e elegância para os destinos mais badalados do mundo. Das praias às vistas alpinas espetaculares, os Sun Clubs capturam a essência do solaire art de vivre da Veuve Clicquot. Para traduzir o convite de RICH e RICH Rosé para viver o melhor da vida e relaxar ao sol, a Veuve Clicquot estiliza diversos terraços ensolarados, seus Sun Clubs, com bares, mesas e guarda-sóis que vibram com o icônico amarelo da marca. O lançamento aconteceu no verão europeu, indo de Ibiza, Paris e Mykonos a Capri e Saint-Tropez, e chega agora ao Brasil para o verão do hemisfério sul. É a nossa vez!

@veuveclicquot | #veuveclicquot BEBA COM MODERAÇÃO

RICH

MERGULHE

NO UNIVERSO DOS

DIAMANTES FRATTI NA

A elegância atemporal e a sofisticação incomparável das joias de diamantes da marca

A Frattina, sinônimo de excelência em alta joalheria há 80 anos, destaca sua deslumbrante coleção de joias clássicas de diamantes. São pedras selecionadas com base nos critérios internacionalmente reconhecidos dos 4 Cs — cor, pureza, lapidação e peso em quilates —, além da classificação entre cores G e H, garantindo um brilho excepcional. Também possuem pureza VS, que significa que dispõem de inclusões muito pequenas, quase invisíveis a olho nu. Essas características técnicas certificam que cada diamante tenha claridades fenomenais.

As joias da marca são criadas com meticuloso cuidado artesanal, a partir de técnicas utilizadas pelas melhores joalherias do mundo para garantir um acabamento perfeito, durabilidade excepcional e o brilho inigualável dos diamantes.

Outro diferencial da Frattina é a variedade de coleções, que incluem desde anéis de noivado e alianças de casamento até colares, brincos e braceletes.

No portfólio de anéis, solitários impressionantes e alianças primorosas. Com diamantes selecionados para garantir um brilho sem igual, as joias são projetadas para ser o centro das atenções, perfeitas para marcar um momento inesquecível.

Já os elegantes colares combinam diamantes com diversas lapidações e tamanhos, sendo verdadeiras obras de arte que adicionam um toque de esplendor a qualquer ocasião. Os designs variam dos mais delicados aos mais impactantes. Os brincos aparecem ora mais graciosos, ora mais imponentes. Cada modelo captura a luz de maneira a criar um efeito visual encantador, ideal para conferir uma pitada de sofisticação ao seu dia a dia ou para você brilhar em eventos especiais.

A Frattina segue se destacando no universo da alta joalheria com peças que combinam técnicas tradicionais e design contemporâneo. Cada joia é uma expressão de luxo e exclusividade, feita para criar momentos memoráveis e proporcionar uma experiência de beleza incomparável.

O mundo poderia ter sido maravilhoso

Eis que, em um belo dia, meu nostálgico Spotify decretou que eu visitasse - ao menos sonoramente - os anos 1960.

E me entregou uma, até então, inocente dobradinha. Escutei sem muito foco e, de repente, algo dentro de mim quis focar naquilo.

Voltei a playlist.

The Sounds of Silence seguida de What a Wonderful World.

Choque!

Seria Paul Simon um vidente? Estaria ele profetizando o futuro em seu folk, lançado, em 1964, pela dupla Simon & Garfunkel?

Estariam Bob Thiele e George David Weiss, compositores da canção gravada por Louis Armstrong em 1967, alucinando ao afirmar que “o mundo é maravilhoso?

Vamos aos fatos:

Em alguns trechos de The Sounds of Silence, o protagonista da música tem um pesadelo e, ao acordar, não consegue se esquecer das tenebrosas visões:

“In restless dreams I walked alone…

When my eyes were stabbed by the flash of a neon light

And in the naked light I saw

Ten thousand people, maybe more

People talking without speaking

People hearing without listening

People writing songs that voices never share

And no one dared

Disturb the sound of silence

‘Fools’, said I, ‘you do not know?’

‘Silence like a cancer grows’

‘Hear my words, that I might teach you’

‘Take my arms, that I might reach you’

But my words like silent raindrops fell

And echoed in the wells of silence

And the people bowed and prayed

To the neon God they made”

Paul Simon tivera uma premonição dos tempos atuais!

Onde mais de 10 mil pessoas (mesmo lado a lado) falam sem dizer (teclam), ouvem sem escutar (áudio velocidade 2x e afins)! E ninguém ousa perturbar o som do silêncio

(interações humanas frias, caladas, distantes, via telas), que cresce como um câncer, porque estamos todos curvados para o Deus de neon que nós criamos (aqui deu até um calafrio! Smartphones!).

“E AS PESSOAS SE CURVARAM E REZARAM PARA O DEUS DE NEON QUE ELAS CRIARAM”!

Por que (por que!) não cedemos aos apelos de Paul em “hear my words, that I might teach you”? Por que não demos ouvidos a Paul? Agora “it is too late, baby, now it’s too late”, meu Spotify me provoca, ao som de Carole King.

E então, entra, sinistramente, na caixa de som Louis Armstrong com What a Wonderful World, e percebo que não fora aleatória a tal dobradinha, até então inocente. Fora cruel, impiedosa!

“I see friends shaking hands, saying: ‘How do you do?’ They’re really saying: ‘I love you!’”

Senti o olhar desalmado de Armstrong me olhando como quem diz: “Por que (por que!) não cederam aos apelos de Paul? Now it’s too late”.

O mundo poderia ter sido maravilhoso. As pessoas poderiam ter apertado as mãos e dito “eu te amo”. Louis cantou esse mundo.

…“The colors of the rainbow, so pretty in the sky, are also on the faces, of people going by”…

Paul previu que estava nas mãos do bicho-homem ratificar o wonderful world de Louis.

Mas o bicho-homem se curvou. Para o Deus de neon. Que ele criou.

REDAÇÃO EDITORA CARBONO

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Nº 04 | 2024 • 2025

CONCEPÇÃO EDITORIAL

FOTOGRAFIA

Cassia Tabatini

DIREÇÃO CRIATIVA

Mona Conectada

EDIÇÃO DE MODA

Gi Macedo

BEAUTY

Silvio Giorgio

ALICE WEGMANN USA

Gucci e Casa Leão

AGRADECIMENTOS

Pulso Hotel

Carbono Donna é uma publicação da Editora Carbono. CNPJ 46.719.006/0001-14

A Editora Carbono não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam do expediente da revista não têm autorização para falar em nome da Carbono Donna ou retirar qualquer tipo de material para produção de editorial caso não tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por um integrante que conste do expediente.

Nº 04 | 2024 • 2025

A SEGUIR:

28. CURTAS

Novidades e tendências

42. MÚSICA

Marina Diniz

44. COLEÇÃO

Chantal Goldfinger

48. PRIMEIRA VEZ

Rita Batista

52. PERFIL

Alice Wegmann

74. ENTREVISTA I

Dira Paes

78. MEU ESTILO I

Dani Pizetta

80. MINDS I

Luciana Holtz

85. AMADOS ACHADOS

Julie Montgomery

88. ARQUITETURA

Isabelle Tuchband

94. ENTREVISTA II

Lia de Itamaracá

98. MEU ESTILO II

Kika Rivetti

100. MINDS II

Patsy Scarpa

104. ESPORTE Surfe

110. ENTREVISTA III

Esther Schattan

112. MINDS III

Fabiana Saad

114. TENDÊNCIA MUSICAL DJs

120. MAKERS

Camila Brennand

136. NEGÓCIOS

Livrarias de rua

140. LITERATURA

Poesia

VIAGENS
124. África do Sul — 130. Comporta
Fotos
André Passos, Cassia Tabatini e divulgação

Do voo às experiências, deixe a Costa Rica surpreender naturalmente.

Compre agora e embarque a partir de novembro.

*Voos saindo de Guarulhos, São Paulo. voegol.com.br

Laguna Botos

A obra da argentina LORENA VENTIMIGLIA explora os usos do esmalte sintético, movendo-se entre volumes de tinta pura que contrariam a gravidade. No Brasil, a artista é representada pela Galeria Lica Pedrosa, antiga Arteformatto, que ganha um novo acervo e maior espaço expositivo em uma charmosa casa no Jardim Europa. @galerialicapedrosa • Mujer Fuente, 2017 | Esmalte sintético sobre tela, 50 x 60 cm

CURTAS

Um pouco de tudo aquilo que a gente adora: moda, arte, gastronomia, dicas, livros, novidades, joias e... chocolates!

SEM AVESSO

Louis Vuitton inovou e lançou um modelo completamente reversível: a bolsa Neverfull Inside Out, inspirada na icônica Neverfull, must-have da marca há 17 anos. O lançamento estilo double-sided tem um lado elaborado no padrão Monograma LV e o outro, em duas versões: uma de couro granulado e a outra revestida de tecido em três cores vibrantes. @louisvuitton

GLAMOUR COLORIDO

A arte conceitual e o universo lúdico do artista francês Daniel Buren foram as inspirações da designer de joias Carla Amorim para a criação da coleção Colorée. São brincos, colares e anéis em modelos compostos por esmeraldas, turmalinas Paraíba, rubis e águas-marinhas. @carlaamorim_joias

CURTAS | Carbono Donna

pode

Assim como pessoas físicas, empresas também podem realizar doações financeiras em benefício de MSF, seja por meio de planos de doação regular ou ocasional. Esta é uma excelente forma de ajudar a organização a manter seu trabalho independente, e a agir rapidamente em situações de emergência pelo mundo. Toda ajuda é mais do que necessária. Colabore!

Outra forma possível de suporte ao trabalho de MSF é o Marketing

Relacionada à Causa , uma excelente oportunidade de mostrar aos clientes e demais públicos que a marca tem propósitos, é responsável, engajada, e está disposta a investir em um mundo melhor para todos!

Acesse empresas.msf.org.br, conheça os nossos programas de parceria e engaje clientes e colaboradores em iniciativas que salvam vidas.

Acredite na vida: juntos podemos fazer ainda mais.

TON SUR TON

A Maison Veuve Clicquot revelou o aguardado lançamento da champagne La Grande Dame Rosé 2015. Para comemorar, convidou a artista italiana Paola Paronetto, conhecida como “a mestre das cores”, para desenvolver o design da gift box do champagne rosé. O tom? “Pesca chiaro”, ou pêssego claro, um alegre rosa que expressa o frescor da cuvée. @veuveclicquot

MODA SUSTENTÁVEL

A Emporio Armani Eyewear deu um passo em direção ao compromisso com a sustentabilidade e anunciou uma collab com a Associação Ambientalista Copaíba. A partir dessa iniciativa, que une moda e responsabilidade ambiental, a marca apresenta uma coleção cápsula – exclusiva para o mercado brasileiro –, com quatro modelos de armação fabricados com materiais bio-based, como fibra de nylon bio-based e bioacetato. @emporioarmani

RAPUNZEL

Catarina Lopes, 12 anos, filha mais velha da joalheira Marina Vicintin, queria trabalhar com a mãe. “Conversamos, e expliquei que mexo com pedras de alto valor, e ela, por ainda ser muito nova, deveria começar com algo que as amigas da mesma faixa etária gostariam de usar”, explica Marina. Assim nasceu a Lopes Sisters, uma marca de presilhas e fivelas fundada por Catarina, ao lado da irmã Anna, de 8 anos. As peças são lindas, em formatos inusitados, como baleia, cisne, peixe e conchas, e feitas de uma resina super-resistente. Estamos ansiosas pela próxima coleção, que já está saindo do forno da duplinha! @lopessisters24

QUEREMOS!

O novo modelo da bolsa Voltaire, de Saint Laurent, com alça superior que dá para ser usada na mão ou no ombro. De couro preto ou couro vegetal no tom tijolo. @ysl

A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATES

A fim de uma guloseima deliciosa? Não pense duas vezes e se jogue na Le Chow. A marca de chocolates 100% belga, criada por Andressa Vasconcellos, é uma verdadeira fábrica de delícias. Formada na renomada École Hôtelière de Lausanne, Andressa confere alguns toques secretos às suas sofisticadas receitas. O carro-chefe são os crispies, pedacinhos ultracrocantes nas versões branco, ao leite e meio amargo. Há também bombons absurdamente bons com recheio de marshmallow, doce de leite, amêndoa e ganache. Divinos! @lechowchocolates

“EVERY TIME SOMEONE DOESN’T CARE, SOMEONE ELSE HAS TO DOUBLE CARE” @ m_d_n_f_/

É OURO!

Criada por Daniela Aslan Moreira Salles, a joalheria Daslan nasce como uma ode ao estilo de vida nômade – ancorado em uma rica bagagem de referências –adotado pela fundadora em suas andanças pelo globo. Da formação em engenharia mecânica, Daniela trouxe as linhas retas e o apreço por arquitetura. Das viagens, carregou as formas orgânicas da natureza e a paixão pela arte. Esse mix resulta em joias que parecem esculturas de vestir, sem pretensões e com muita elegância. E o minimalismo não se resume somente a referências estéticas, ele pode ser visto também no processo produtivo das peças, confeccionadas com ouro sustentável de reúso, mineração responsável e mão de obra local. @daslan___

ARTE E MODA

Chegou o terceiro livro da série Gucci Prospettive, publicado pela Gucci em parceria com a Editora Contrasto. Os volumes, concebidos pelo diretor criativo Sabato De Sarno, fazem parte de uma iniciativa da maison de sempre lançar um livro com as coleções. Nesta edição, uma homenagem à arte feminina italiana, com curadoria de Eva Fabbris, diretora do Museu Madre, em Nápoles, e Giovanna Manzotti. @gucci

DEU A LETRA

Vai até o fim do ano a exposição Rascunhos - Arnaldo Antunes, no Instituto de Arte Contemporânea, em São Paulo. Os escritos originais do cantor, poeta e multiartista se tornam o ponto de partida para diálogos visuais, processuais, materiais e temáticos. Um bonito conjunto composto por cadernos, anotações, desenhos, colagens, esboços e maquetes. @iacbrasil | @arnaldo_antunes

VEM AÍ!

A marca japonesa Comme des Garçons abre, em maio de 2025, a primeira loja na América do Sul! O lugar escolhido? O Shopping Iguatemi, em São Paulo! Sorte a nossa! @commedesgarcons

INCONFUNDÍVEL

O ano era 1948 e a Bvlgari revolucionava o mercado da alta joalheria ao implementar as primeiras experimentações da coleção Tubogas, nomeada a partir do cano usado para transportar gás pressurizado na década de 1920. A técnica, vista na pulseira maleável e envolvente do primeiro relógio-joia Serpenti, instantaneamente se destacou pela integração perfeita entre funcionalidade e estética, isso nos anos em que o design industrial prosperava na Europa. No entanto, foi na década de 1970 que o método inconfundível se tornou um verdadeiro marco da Bvlgari. Hoje, sua essência versátil pode ser encontrada em criações feitas predominantemente de ouro amarelo, em expressões criativas genuinamente italianas. Este ano, foram introduzidas 16 novas peças à coleção Tubogas: pulseiras, colares, gargantilhas e relógios feitos das icônicas tiras de ouro elaboradas com pedras coloridas e adornadas com motivos emblemáticos da maison. @bvlgari

PARA OUVIR

PerFIZZ Podcast, da Agência Fizz. A sócia fundadora da agência de criação de conteúdo, Beta Whately, traz histórias autênticas e inspiradoras de convidadas como Mônica Salgado e Lu Tranchesi. @perfizzpodcast

Zen Vergonha, da atriz Fernanda Lima. Na primeira temporada, convidadas como Angelica e Dira Paes conversaram de forma franca sobre menopausa. @zenvergonha.podcast

À PROVA DO TEMPO

A ótima Take Me, de Ana Piva e Melissa Moraes, ganha novo endereço em São Paulo! A marca de economia circular, que mantém vivas peças selecionadas com uma criteriosa curadoria, sempre reconhecendo o valor criativo do design de moda, abriu loja no Shops Jardins. Agora, a triagem da dupla de tesouros vintage pode ser vista por lá, além do Shopping Cidade Jardim. @takeme.online

ELAS MERECEM

Aos entusiastas da arte, uma boa notícia: o best-seller do jornal The New York Times, The Story of Art Without Men, ganhou uma versão em português. Escrito por Katy Hessel, criadora do perfil @thegreatwomenartists, o livro coloca as mulheres no foco da história da arte, respondendo perguntas como: “As mulheres já trabalhavam como artistas antes do século 20?” ou “Quantas mulheres artistas você conhece?”. Da costa da Cornualha a Manhattan, da Nigéria ao Japão, a obra faz jus à importância feminina nesse universo.

...A nova coleção cápsula de Vanda Jacintho, Natural Habitat, criada para o verão 2025. A designer, agora com loja no Shopping Iguatemi, repaginou seus clássicos caftans e panneaux e apresentou uma ótima novidade para as amantes da marca: uma linha sustentável de t-shirts de algodão orgânico estampadas com tinta biossolúvel e também acessórios statement, como colares e brincos, pintados à mão. Direto para a mala! @vandajacintho

EM MOVIMENTO

Marina Droghetti é bailarina profissional, fundadora do Studio BalletBuild, em São Paulo, e criadora do método de dança homônimo. Formada pelo EAT Contemporain (Ministère de la Culture), em Paris, diplomada pela Ópera de Paris, com diversos espetáculos estrelados no Masp, a professora desenvolveu uma metodologia de balé no chão –o Barre à Terre –, que, misturada ao seu vasto repertório de movimentos na dança, torna-se acessível a pessoas de todas as idades, tanto iniciantes como profissionais. “Meu método permite uma execução mais fácil e precisa dos movimentos, proporcionando, já nas primeiras aulas, o aumento da flexibilidade, a melhora na postura e o fortalecimento dos músculos de forma alongada”, garante a dançarina. E vale lembrar que Marina lecionou seu primeiro curso de BalletBuild de maneira muito especial: a brasileira foi convidada pela maior marca de balé do mundo, a Repetto, para ser a primeira professora a dar aulas dentro de sua boutique mais emblemática, a Repetto da Rue de la Paix, na capital francesa. @marinadroghetti | @balletbuild

AMAMOS...

OLHAR

Dentre Muitos, Um, a mostra do fotógrafo Ed Beltrão, apresentada na Galeria Silvana Tinelli até novembro, inicia sua turnê. A exposição sai de São Paulo e viaja, em dezembro, para o Fotofestival Solar, em Fortaleza; em janeiro, segue para a Paulo Darzé Galeria de Arte, em Salvador; e finaliza seu tour em Nova York. São 14 fotografias inéditas, com imagens em preto e branco, em cores e em infravermelho, técnicas características do trabalho de Beltrão. Os cliques também estão presentes no livro homônimo, lançado concomitante à mostra. @edbeltrao

CRAFT

Roberta Sá Faustini, arquiteta e artista, trabalha com design de móveis e objetos, sempre visando a sustentabilidade. Para tal, a designer dá prioridade ao uso de materiais recicláveis, reciclados ou reaproveitados. E foi pelas mãos dela que, pasmem, o papelão dos rolos de papel higiênico ganhou status de joia! Em seu portfólio de ecojoias – dignas de menção honrosa no Prêmio Objeto Brasileiro, do Museu A Casa, e de medalha de bronze no prêmio internacional A’ Design Award, um dos mais importantes do mundo –, há braceletes, colares e objetos como luminárias e enfeites decorativos. A produção é toda feita pela Oficina de Papel do Núcleo de Oficinas de Trabalho (NOT), do Armazém das Oficinas, projeto de inclusão social pelo trabalho que atende a população de baixa renda com quadros de dificuldade psíquica e vulnerabilidade. @robertasafaustini_design

REINVENTANDO A COZINHA VEGETAL

Um dos lugares mais diferentes que Donna visitou ano passado foi o Tau , um laboratório de cozinha criativa que funcionava em um casarão no Jardim Europa. Agora, os chefs Fabio Battistella e Gabriel Haddad levam sua culinária vegetal a um novo endereço, na Vila Madalena. Em um ambiente contemporâneo e industrial quem reina são os vegetais, insumos de toda e qualquer receita servida por lá. A dupla faz mágica! O Katsu Sando, para citar um prato, sanduíche preparado com shiitake, tarê de tâmaras, tucupi preto, alho confitado, gengibre e coleslaw verde, foi eleito por alguns carnívoros e veganos o melhor sanduba de São Paulo! O menu, elaborado seguindo o conceito de harmonização flavor pairing , que combina ingredientes com base em seus sabores e aromas essenciais, faz duo com uma carta de drinks para lá de divertida, a exemplo do negroni de jabuticaba. A carta de vinhos, 100% orgânica e biodinâmica, é assinada pela sommelière Lis Cereja, referência em vinhos naturais. “Queremos mostrar às pessoas que existem caminhos possíveis e interessantes para incorporar opções vegetais em sua rotina. Aqui você não vai encontrar moqueca de palmito ou estrogonofe de cogumelos”, explica a dupla, em uníssono. Por lá, criatividade é o que não falta! R. Harmonia, 797 | @taucozinha

LÍQUIDO PRECIOSO

Um projeto de uma família totalmente apaixonada por comer bem. Darci José Giovanella, o patriarca, e Lua, uma de suas filhas, compartilhavam o desejo de produzir o próprio azeite na fazenda da família, no Rio Grande do Sul. Estudaram a fundo e trouxeram da Europa a tecnologia e o domínio do processo, para que fosse possível realizar, em terras gaúchas, o cultivo das oliveiras, árvores milenares do velho mundo! E assim nasceu o Olivas da Lua, um verdadeiro azeite de oliva extravirgem que já recebeu mais de 30 premiações internacionais e está no ranking dos cem melhores do mundo. No Lagar Oro, fábrica onde o líquido precioso é gerado – procedimento liderado pela fundadora, Luana –, acontece a magia: “É no momento da extração do azeite que transferimos o amor que colocamos em cada pé de oliveira para dentro da garrafinha. Eu me sinto tão parte do azeite quanto a própria oliva, é uma conexão que nunca senti antes”, revela a expert. E é nesse cenário inspirador que a Olivas da Lua está abrindo as porteiras para receber quem quiser vivenciar o mundo das oliveiras, com hospedagem e experiências de turismo rural, piqueniques, degustações guiadas, colheita das olivas e outros atrativos que fazem parte do contexto natural das fazendas. O Borgo São Pedro – que contempla as casas de campo do Olivas da Lua – dispõe de cinco cabanas e uma capela cheias de charme e conforto em meio a uma vista inesquecível. “Não é só um azeite de oliva, nunca foi. Desde a primeira oliveira plantada, o objetivo sempre foi maior, algo grandioso como o tempo e a natureza são”, finaliza uma Lua realizada. @olivasdalua

RESPIRO VERDE

Existe uma sensação que só aumenta conforme o fim do ano se aproxima: a vontade de parar, respirar e recarregar as energias. E perto de São Paulo não conseguimos imaginar um cenário mais especial para isso do que o do Botanique Hotel Experience, um refúgio imerso no coração da Mantiqueira. Reconhecido por veículos de peso como Travel + Leisure e Condé Nast, o local é um oásis debruçado no verde do charmoso Vale dos Mellos e totalmente focado na experiência de bem-estar dos viajantes. E isso acontece não só nos momentos de sossego total aproveitando a estrutura da propriedade, com piscina, spa e aulas variadas – do tênis à ioga – como também nas vivências fora da rota mais óbvia. Que tal, por exemplo, aventurar-se em uma oficina de atividades sensoriais ou em um piquenique no alto da montanha? São apenas 20 acomodações, entre suítes e villas – todas com jardim privativo e jacuzzi externa. Outro destaque é a gastronomia, que combina o melhor das cozinhas internacional e regional, sempre utilizando ingredientes frescos, que vão do campo para a mesa. E quem tiver coragem de deixar o paraíso pode fazer passeios de bicicleta ou a cavalo, trilhas ecológicas e visitas às fazendas produtoras locais. Um sonho! @botaniquehotel

BELEZA NATURAL

A By Samia, marca de óleos essências que Donna adora, explora agora o universo de outros produtos naturais. Com o nascimento da linha Spa Basics, a empresa de bem-estar se estabelece também no campo da suplementação, com cápsulas de beleza, e da cosmética, com uma linha de esfoliantes, séruns, argilas, loções e hidratantes, para cuidados corporais, faciais e capilares. Outra novidade para 2025 são as infusões de ervas, para serem tomadas como chás, nas versões detox, com cúrcuma e pimenta-caiena; relaxante, com melissa e alfazema; e energizante, com chá preto e guaraná. Uma de cada, por favor! @bysamiaaromaterapia

DE MOLHO

Apaixonada por alimentação saudável, boa gastronomia e qualidade à mesa, Gabriela Kropp deixou de lado a carreira em marketing de moda para focar no que realmente a move: mostrar para o mundo que é simples comer bem. Criou, então, a Guppy, marca de molhos saudáveis para saladas, legumes e sanduíches. No portfólio já são três ótimos sabores – Honey Mustard, Tahine e Missô Ginger – e mais dois em fase de lançamento. Todos clean label, com uma tabela de ingredientes simples, sem adição de aditivos químicos, corantes ou conservantes. “Na era dos produtos alimentícios altamente industrializados, a Guppy se propõe a complementar refeições saindo do básico com praticidade, saúde e qualidade”, afirma Gabriela. @guppy.licious

ARTE À MESA

Tania Bulhões assinou, em parceria com o Instituto Inhotim, uma coleção limitada de louças inspirada na paisagem do museu ao anoitecer. Dentre as belas peças, criadas à mão pela própria Tania, sousplats, pratos, bowls e xícaras. @taniabulhoes

Desde a fundação da Bemglô, seu marketplace de consumo consciente – com direito à loja física nos Jardins –, a atriz Gloria Pires foi tocada pela questão da consciência socioambiental. E foi daí que surgiu o desejo de construir uma linha de cosméticos biodegradáveis aliando insumos amazônicos à mão de obra local. Produzidos em Cacoal, Rondônia, os produtos da Bemgloria são veganos, livres de substâncias nocivas e testes em animais. São shampoos, condicionadores, sabonetes e uma linha completa para cuidados faciais. A água micelar, com óleo de babaçu e manteiga de cupuaçu, promete – e entrega – milagres! @bemgloria

ORIGAMI

A Ryzí, marca brasileira de design com foco em acessórios handmade conceituais de couro, se juntou à curitibana Chaouiche, e as duas lançaram uma collab bem divertida. O DNA geométrico da Ryzí e o ousado da Chaouiche podem ser vistos nas bolsas em formato de flor e regador! @ryzibrand | @chaouiche

ALECRIM DOURADO

A Le Lis Casa lançou uma reedição da sua coleção de louças best-seller, a Alecrim. A linha é composta por xícara de café, prato raso e prato de sobremesa. Tudo produzido no Brasil, em cerâmica stoneware, que resulta em uma superfície irregular, conferindo às peças um charmoso ar artesanal. @leliscasa

BEM VIVER

Fundadora da bem estabelecia Book.u, empresa que transforma fotos de viagens e eventos especiais em livros de capa dura, JULICA WERTHEIM tem também outra paixão: desenhar estampas! A demanda, surgida pelo desejo das clientes de terem seus fotolivros personalizados com ilustrações exclusivas, virou profissão. No portfólio de Julica, há projetos feitos sob medida para marcas como Pingo Praia, Ava Intimates e Coisas da Doris. As estampas, traçadas digitalmente por Julica com design supercaracterístico, podem ser vistas por aí em peças de vestuário, beachwear, pijamas, malas, papéis de parede, enxoval e, agora, aqui, nas páginas de Carbono Donna. @book.u | @julica_estampasespeciais

“Deus é exatamente como as mães. Liberta Seus filhos e haverá de buscá-los eternamente. Passará todo o tempo de coração pequeno à espera, espiando todos os sinais que Lhe anunciem a presença, o regresso dos filhos.”

Trecho de Deus na Escuridão, de Valter Hugo Mãe

PICAPE Marina Diniz com

Retratos
Iude Richele e Marcelo Guarnieri

DJ e produtora musical, Marina Diniz conquistou as pistas mais fervidas do mundo com sets animados, que misturam house music, clássicos dos anos 1980, disco e ritmos brasileiros. Para Carbono Donna, ela revela os trechos de canções que estão sempre no seu imaginário

Love is a promise

Coisa que gosto é poder partir sem ter planos

Melhor ainda é poder voltar quando quero

Todos os dias é um vaivém

A vida se repete na estação

Tem gente que chega pra ficar

Tem gente que vai pra nunca mais

Encontros e Despedidas

MARIA RITA/MILTON NASCIMENTO (2003)

Vou mostrando como sou

E vou sendo como posso

Jogando meu corpo no mundo

Andando por todos os cantos

E pela lei natural dos encontros

Eu deixo e recebo um tanto

E essa aventura

Em carne e osso

Deixa marcas no pescoço

Faz a gente levitar

Love is a souvenir

Once given, never forgotten

Never let it disappear

Thunder only happens when it’s rainin’

Players only love you when they’re playin’

Say women, they will come and they will go

When the rain washes you clean, you’ll know

Eu queria querer-te amar o amor Encontrar a mais justa adequação Tudo métrica e rima e nunca dor Mas a vida é real e de viés Eu te quero e não queres como sou Não te quero e não queres como és

Quereres

If you wanna fly high

Like the stars in the sky

You gotta drop some weights

L’amour est un oiseau rebelle

Que nul ne peut apprivoiser

Et c’est bien en vain qu’on l’appelle

S’il lui convient de refuser

Rien n’y fait, menace ou prière

L’un parle bien, l’autre se tait

CEREMONY NEW ORDER – 3 DAYS RHYE – HEAD OVER HEELS DAVE BASCOMBE ONE OF US JOAN OSBORNE – YOU GET WHAT YOU GIVE NEW RADICALS BITTER SWEET SYMPHONY THE VERVE – LOUD PLACES JAMIE XX, ROMY THIS CHARMING MAN THE SMITHS – LOVESONG THE CURE SPRING 1 2012 MAX RICHTER, DANIEL HOPE, KONZERTHAUS, KAMMERORCHESTER BERLIN, ANDRÉ DE RIDDER

Advice for the Young at Heart TEARS FOR FEARS (1989)
O
CAETANO VELOSO (1984)
Mistério do Planeta NOVOS BAIANOS (1972)
Dreams FLEETWOOD MAC (1977)
Califórnia FERNANDOS (Marina Diniz remix)
Paixão KLEITON E KLEDIR (1981)
Habanera (ópera Carmen ) GEORGES BIZET (1875)

a louca

Chantal Kopenhagen Goldfinger

Do modelo de foguinho ao rendado gigante, passando pelo acetato com grama sintética inspirado na icônica fashionista Iris Apfel: a coleção de óculos de Chantal Kopenhagen Goldfinger é um verdadeiro parque de diversões para os olhos

Por Raquel Fortuna Fotos João Bertholini

(noun)

dos óculos

an obsessive enthusiast

“Só existem duas certezas na vida: de que a gente vai morrer e vai usar óculos um dia”

A paixão por óculos de Chantal Kopenhagen Goldfinger, cofundadora da marca de chocolates GoldKo, começou muito cedo, quando a criança tímida de 11 anos enxergou nas lentes uma possibilidade de ganhar superpoderes. “Eu estudava em um colégio rígido, tinha que usar uniforme e não podia mais nada. Mas tinha vontade de mostrar meu estilo e achava que com os óculos poderia fazer isso”, conta. Foram meses para convencimento da mãe e várias idas ao oftalmologista até que, “por sorte”, apareceu uma miopia de 0,25. “Fui toda feliz comprar a armação. Colocava os óculos e me sentia protegida. Tinha até mais vontade de falar na aula”, lembra ela. Mas o grande salto aconteceu mesmo em 2015, quando Chantal começou a colecionar de fato. Na época, ela trabalhava com produção e entretenimento na TV Globo e circulava por aí revezando seus dez óculos coloridos. “Descobri que a minha equipe fazia bolão para saber qual cor eu usaria no dia seguinte. Aí pensei:

se eles estão prestando atenção a isso, imagina quem precisa? Então, me acendeu uma luzinha”, conta. Por diversão, decidiu ir atrás de modelos ainda mais ousados, mas teve dificuldade de encontrar opções diferentes no mercado. “Vi que faltavam referências bacanas femininas, até mesmo no cinema. Marilyn Monroe tirou os óculos para se casar, Betty, a Feia, só ficava bonita sem… fui ficando frustrada”, diz. Então, decidiu começar a falar no Instagram sobre o tema. E o que era para ser a brincadeira dos “óculos do dia” se tornou coisa séria. De tanto fuçar na internet, Chantal descobriu designers internacionais independentes, começou a acompanha-los, comentar sobre o trabalho deles e recebia retornos positivos. Do universo virtual para o real, chegar às feiras especializadas foi um pulo: “Caí de paraquedas na Silmo, em Paris, a maior feira do setor no mundo. Fui atrás dos ‘meus amigos do Instagram’, queria saber quem eram e as histórias por trás das armações. Porque tem muita pesquisa nisso, e ninguém fala”. Entre lugares como França e Itália foram três anos de viagens, estudos, cafés e muitas sacolas com modelos que ela ganhava nos eventos. Além de compor a própria coleção, Chantal entendeu que tinha um material rico para trazer ao Brasil. Aproximou-se dos lojistas por aqui e passou a fazer colaborações em design com marcas e ministrar treinamentos para mudar a cultura do setor. “A ótica ainda é um lugar frio e quero que as pessoas entendam os óculos como acessório, não como um ‘aparelho fixo’”, diz.

Hoje o acervo dela tem três mil peças. E para cada versão de Chantal, há um modelo apropriado. “Se a gente tem três pares de sapato, no mínimo, por que precisa ter um par de óculos só? Meu intuito com tudo isso é vender a ideia de liberdade. Afinal, só existem duas certezas na vida: de que a gente vai morrer e vai usar óculos um dia”, brinca.

the last time i did something for the first time

RITA BATISTA

COMO ESQUECER?

A apresentadora Rita Batista, que comanda o Saia Justa, na GNT – ao lado de Bela Gil, Tati Machado e Eliana – e o É de Casa, na TV Globo, revela a emoção de viver pela primeira vez momentos inesquecíveis. @ritabatista

Retrato Iude Richele

Dizem que o Instagram é o novo Tinder. Recebo muitas cantadas bizarras – entretenimento puríssimo! –, e não é delas que eu falo. Mas, de uns tempos para cá, comecei a receber algumas mais contundentes. Não saí com ninguém, estou na categoria “conversante” – também soube que é uma coisa nova essa categoria. Mas é uma possibilidade de conhecer pessoas. Às vezes, o papo contempla assuntos profissionais e rolam trocas intelectuais que me interessam muito. Mesmo que não aconteça nada, é um contato para a vida!

Cuidei da minha saúde

Paquerei no Instagram Olhei o

Rio de Janeiro do alto

Recentemente fiz, pela primeira vez, os exames de endoscopia e colonoscopia. Acho que esse cuidado é algo muito importante. Apesar de ser entusiasta do Sistema Único de Saúde, a gente sabe, infelizmente, como é a agenda do SUS. Então, sempre que houver a possibilidade, e quando chegar a idade, é fundamental fazer um check-up e não se negligenciar.

Eu faço pelo menos quatro viagens de avião por semana. E sempre vi nas redes sociais as pessoas gravando vídeos quando chegam ao Rio de Janeiro pelo Santos Dumont. Parando e olhando a cidade pela janela, sabe? Uma proximidade com as belezas naturais do Rio de Janeiro, aquela vista de cima... Tem gente que até paga um extra por esse sobrevoo! E eu nunca tinha me posto a olhar, a viver esse olhar, porque estou sempre dormindo. Este ano eu fiz isso! E, de fato, é uma experiência única. Toda vez que me lembro, ou estou cansada, mas não estou exausta, e resta um pouquinho de energia, me dou esse direito de abrir a janela – e ver essa imagem do Rio.

Viajei em família com meu ex-marido

Viajar com o meu ex-marido e as crianças pela primeira vez depois do nosso divórcio foi uma experiência incrível. Temos uma ótima relação, mas algumas coisas a gente ainda não tinha feito, ou achava que não deveria fazer. E a gente fez, há pouco tempo, uma viagem de fim de semana. Eu, ele e os nossos filhos: os filhos dele – meus enteados – e o meu filho com ele. E foi excelente! As crianças se divertiram horrores! A gente se cansou um pouquinho, não tem como não se cansar com três meninos, né? Mas foi muito bom, mostrando mais uma vez que é possível casais que se separam serem ex-casais harmônicos, queridos e tranquilos – esse amor que se transforma e a família que é soberana.

A artista plástica PINKY WAINER , que iniciou a carreira explorando as potencialidades da aquarela, hoje se divide entre a experimentação artística, as artes aplicadas, seus projetos gráficos e o ensino. Em suas aulas de aquarela, colagem e métodos mistos, não se ensina técnica, e sim o processo de criar. “Aprendi o que sei na prática diária, na observação, e muito em conversas com os balconistas das lojas de materiais artísticos”, explica a autodidata, que completa: “Não há erro em aquarela, e cada mancha ou desvio pode dar margem a uma nova trama de relações”. @pinky.wainer

Apaixonada pela poetisa portuguesa Adília Lopes, Pinky selecionou um trecho do livro Irmã Barata, Irmã Batata lançado pela cronista no ano 2000.

“Posso morrer porque amei e porque fui amada. Gostei de homens, de mulheres, de velhas (de velhos não), de bebês, de bichos, de plantas, de casas, de flmes, de concertos, de quadros, de teorias, de jogos, de pastéis de nata, de jesuítas, de russos, de hambúrgueres, de Paris e de Londres. Nunca fui a Nova York e gostaria de ir, mas não me importo de morrer sem ter ido. Também nunca tive um orgasmo, mas posso morrer sem nunca ter tido um orgasmo. Não me arrependo de nada. É claro que Nova York não se compara com um orgasmo. Um orgasmo é muito mais importante.”

Sem Título Série Mulheres Armadas, 2023

Obra integrante da próxima exposição de Pinky Wainer para o Projeto Vênus, com curadoria de Ricardo Sardenberg

A personalidade marcante da atriz adiciona toques de ousadia aos clássicos do guardaroupa. Como resultado, uma moda fresh ,

autêntica e sofisticada

Direção criativa Mona Conectada

Edição de moda Gi Macedo

Beauty Silvio Giorgio

Agradecimentos Pulso Hotel

Fotos Cassia Tabatini
TRENCH COAT BURBERRY • PULSEIRA PANDORA
TRICOT COPERNI NA NK STORE
HOT PANTS CALZEDONIA
ANEL CASA LEÃO
MULE LA FEMME
NA PÁGINA AO LADO
ANEL E BRINCOS CASA LEÃO
CONJUNTO JONATHAN SIMKHAI
RELÓGIO MONTBLANC • BRINCOS PANDORA
VESTIDO STELLA MCCARTNEY
SAPATOS CRIS BARROS • JOIAS CASA LEÃO
CASACO LOUIS VUITTON
RELÓGIO ROLEX • PULSEIRA CARTIER
NA PÁGINA AO LADO
TRENCH COAT BURBERRY
BODY FORCA • CALÇA COPERNI NA NK STORE • ANEL FRATTINA
VESTIDO FENDI
ANEL FRATTINA
RELÓGIO OMEGA

DOCE FURACÃO

Com apenas 28 anos e uma carreira marcada por personagens profundos, Alice Wegmann encanta pelo talento, e também pela entrega e pelo comprometimento visceral com trabalhos que “falam com o seu coração”

Entrevista | ALICE WEGMANN
“Contar histórias de mulheres complexas, íntegras, com desejos e dificuldades. É disso que eu gosto”

A moça de cabelos castanhos curtinhos sentada de frente à cortina de renda branca mexida pelo vento, que apareceu em vídeo para esta entrevista, em nada se parecia com o furacão que se apresentou no dia seguinte para as lentes de Cassia Tabatini, durante o ensaio fotográfico que ilustra esta reportagem. Madura, entregue e preparada são adjetivos que parecem escorregar da boca de toda gente que já teve algum contato com Alice Wegmann, 28. Mesmo quando ela ainda nem tinha idade para isso. “Aos 11 anos, ela já era uma atriz dedicada, estudiosa, comprometida”, derrete-se a diretora Susana Garcia. Foi ela quem ofereceu o primeiro papel a Alice, no espetáculo infantil A Casa da Madrinha, adaptação do livro de Lygia Bojunga Nunes. Para escolher a menina que viveria a protagonista da peça, Susana foi assistir a aulas de teatro na escola O Tablado. Quando viu Alice atuando, no meio de outras 20 crianças, não conseguiu mais tirar os olhos dela. “Ela já se destacava pelo carisma, pelo entusiasmo, pela simpatia em cena”, diz a diretora. O que era para ser um teste virou um convite. “Não tinha dúvida de que aquela era a menina que eu procurava.” A intuição de Susana se comprovou nos dois anos em que a peça ficou em cartaz. “Ela brilhava em cena. Muito inteligente, concentrada, além de linda.” Grande parte desses adjetivos foram conquistados no ginásio do clube de Regatas do Flamengo, onde Alice treinou ginástica artística dos 3 aos 11 anos, ao lado de grandes nomes do esporte, como Jade Barbosa. “Minha fase como atleta fez com que eu me tornasse responsável e disciplinada”, diz a atriz.

Depois da longa temporada no teatro, Alice foi parar no elenco de Malhação. Em seguida, emendou uma novela das seis e voltou ao elenco da série de televisão adolescente como protagonista. Se nesse momento a

carreira explodiu, ela continuou com os pés bem fincados no chão.

Com as finanças organizadas desde cedo, aos 21, ela deixou a casa dos pais para cuidar da própria rotina. No ano seguinte, uma depressão engatilhada pelos primeiros seis meses da vida sem a agenda lotada e curada num divã de psicanálise, local que nunca mais deixou de frequentar, tornou-a ainda mais consistente. “Desde criança, eu saía de casa às 6h30 e voltava às 21h. Nesse período, tinha acabado a faculdade [de comunicação social, na PUC-Rio] e fiquei um tempo sem filmar. Foi quando percebi que não sabia como seria o meu dia se não estivesse trabalhando”, conta.

‘Consistente’ é outra boa palavra para definir Alice. Com uma carreira trilhada em cima de personagens profundos e produções de qualidade artística notória, a atriz tem a segurança dos grandes na hora de escolher os personagens aos quais empresta seu corpo, sua voz, seu gestual. “Como desde pequena venho fazendo trabalhos que façam sentido para mim, consigo apontar hoje para um lugar do qual me orgulho”, reflete. Ela lembra quando, aos 19 anos, foi convidada para viver uma personagem muito parecida com a que havia acabado de interpretar. Apesar de a oferta ser financeiramente tentadora, Alice achou que não tinha muito a acrescentar à sua trajetória. Recusou. Dois dias depois, foi chamada para integrar o elenco da série Ligações Perigosas, ao lado de gigantes como Selton Mello, Patrícia Pillar, Marjorie Estiano e Aracy Balabanian. “Foi a primeira vez que ouvi meu coração. Ali me firmei nessa profissão de um jeito mais maduro e entendi que tinha que bancar esses desejos de contar histórias com propósito, que de alguma forma iam mudar o meu mundo e o Brasil em que a gente vive”, diz.

Depois desse episódio, ela consegue identificar facilmente os personagens

que falam ao coração. “Contar histórias de mulheres complexas, íntegras, com desejos e dificuldades. É disso que eu gosto”, afirma. Essa capacidade de fazer escolhas certeiras é um dos motivos para, tão jovem, Alice já ter uma carreira tão sólida. “Se não me conecto com a personagem, é melhor que ela pertença a outra pessoa. Porque não tenho como estar inteira ali”, revela a atriz.

Pronta para o lançamento mundial de Senna, minissérie de Vicente Amorim sobre o piloto brasileiro de Fórmula 1 Ayrton Senna que chega à Netflix em 29 de novembro, em que vive a exmulher do atleta, Lilian Vasconcellos, a atriz mantém a empolgação do início da carreira. “Quando fiz o teste, nem sabia para qual personagem era. Mas brinco que se eu fosse uma roda de carro nessa série, já estaria feliz.”

O fato de Lilian ter conhecido Ayrton na infância e se apaixonado bem antes de ele se tornar a grande personalidade do automobilismo faz dela um daqueles papéis que falam ao coração de Alice. “É um amor genuíno e uma história muito verdadeira.” Além disso, narrar a trajetória de um herói nacional tem sentido especial para a ex-atleta. “A gente resgatou um pouco isso na Olimpíada, principalmente com as meninas da ginástica. Mas, durante muitos anos, sofremos a falta desse herói, essa pessoa que representasse o nosso país, que a gente olhasse para o caráter e não duvidasse.”

Enquanto não estreia, dá para assistir à atriz em Justiça 2, série de Manuela Dias disponível no Globoplay; no cinema em A Vila das 9, filme de Teo Poppovic, e em todas as temporadas de Rensga Hits!, de Carolina Alckmin e Denis Nielsen, que também consta no catálogo do streaming e em dezembro será veiculada pela TV Globo. Nesta última, Alice empresta seu talento à Raíssa, compositora traída à beira do altar, recém-chegada a Goiânia. Quem conviveu com ela no set de filmagem tem uma pista do que vem pela frente.

“Além de acessar a emoção da personagem de maneira tão intensa que parece fácil, ela consegue se distanciar e olhar o processo como um todo. A gente conversa sobre resultados, caminhos e objetivos. Talvez no futuro ela queira dirigir”, observa Carolina Durão, diretora de Rensga Hits! O amanhã é, de fato, um dos questionamentos que volta e meia ocupam os pensamentos da atriz. “Ao mesmo tempo que sinto que

consigo passar a vida inteira fazendo isso, poderia ser feliz abrindo uma livraria ou dirigindo.” Mas nada disso é para agora. Por ora, Alice acaba de rodar Rio Negro, longa de Gustavo Bonafé, ainda sem data de estreia, vai interpretar a jornalista Solange Duprat, papel que foi de Lídia Brondi, no remake da novela Vale Tudo ano que vem, e, em 2026, quer voltar aos palcos. Enquanto isso, vale acompanhar as incursões no universo

fashion e viagens mundo afora – no dia desta reportagem, ela tinha acabado de passar um mês no Japão, parte dele com seu melhor amigo, Francisco Gil –, que encantam seus quase 3 milhões de seguidores no Instagram, e também consumir Alice na TV e no cinema. Porque ela pode ir para atrás das câmeras, mergulhar no universo dos livros ou escolher o caminho que quiser, mas ninguém é bobo de perdê-la de vista.

Com primeira exposição individual no Masp, a intelectual LIA D CASTRO é uma artista fora da curva. Utilizando a prostituição como ferramenta de pesquisa, ela tem uma produção artística proveniente de encontros com seus clientes – homens cisgêneros, na maioria brancos, heterossexuais, de classe média e alta –, que culminam em perguntas do tipo “quando você se percebeu branco?”, em uma tentativa de Lia de provocar um posicionamento dentro do debate racial, sobre gênero e sexualidade. Temas como masculinidade e branquitude, e também afeto, cuidado e responsabilidade, são abordados nessas ocasiões e resultam em pinturas, gravuras, desenhos, fotografias e instalações criadas de modo colaborativo. Nas obras de Lia, enquanto os homens estão nus, ela, autorretratada, encontra-se vestida. Seu corpo é coberto por esparadrapos colados sobre a tela formando um longo vestido branco, na contramão da tradição histórica da pintura ocidental, em que a grande maioria dos nus é de corpos femininos. A artista também subverte ao pintar esses personagens em momentos de pausa, descanso, lazer, leitura e contemplação: “o caráter político da obra de Lia D Castro questiona o imaginário social que vincula violência e subalternidade a corpos não hegemônicos na arte ocidental”, afirma a cocuradora de sua mostra no Masp, Glaucea Helena de Britto.

Carlos/Davi, da série

Axs Nossxs Filhxs, 2021

Acrílica, óleo, assinatura em grafite e esparadrapo sobre tela, 30 × 42 cm. Coleção particular, São Paulo, Brasil

Davi, da série

Axs Nossxs Filhxs, 2019

Acrílica, óleo, esperma, assinatura em grafite e esparadrapo sobre tela, 30 × 40 cm. Coleção Lourenço Rebetez, São Paulo, Brasil

VOO PRÓPRIO

DiraPaes

Prestes a completar 40 anos de carreira, Dira Paes estreia como diretora de um longa premiado, que celebra sua conexão com a natureza

O pincel percorria a pálpebra de um dos olhos de Dira Paes sem muito descanso. Setembro caminhava para o fim, em São Paulo. A atriz cumpriu uma acirrada agenda de entrevistas e exibição das prévias de seu filme. Em Pasárgada, além de protagonista, a paraense de 55 anos estreia como diretora e assina o roteiro. O profissional encarregado de retocar a beleza natural de Dira seguiu o seu cronograma. O repórter, do outro lado da linha, idem. Não demorou, e a artista percebeu sua coluna clamando por trégua. Divertindo-se com a situação, Dira disse se sentir meio lobotomizada. “Às vezes, pareço a Alexa respondendo perguntas aos jornalistas.”

Ano que vem, Dira completará 40 anos de carreira. Sua estreia, veja só, aconteceu no Festival de Cannes, em 1985. Com 15 anos, havia atuado no filme A Floresta das Esmeraldas. Entre outros sucessos, ela esteve em longas como

Carbono Donna

Como nasceu a ideia do filme e o seu desejo de dirigi-lo?

Dira Paes

Pasárgada foi um desejo que brotou durante o meu encontro com o Pablo (Baião, marido de Dira). Ele é o diretor de fotografia do filme. E também acredito que é um desejo recôndito de todos os atores, de ir para trás das câmeras e viver a sua própria identidade criativa. E eu não conseguia mais me desconectar desse desejo. Todos os dias eu fui vivendo essa vontade de criar um projeto que fosse do nosso tamanho e realizável. Eu comecei me estruturando internamente e fui descobrindo um desafio para mim e Pablo.

Amarelo Manga, Dois Filhos de Francisco e recebeu um Prêmio APCA de melhor atriz no seriado A Diarista

Paraense que tem a cara do Brasil, como ela mesma já afirmou, Dira interpreta a bióloga Irene, uma especialista em ornitologia, ciência que estuda as aves. E contracena com o mateiro Manuel, personagem de Humberto Carrão, que tem o dom de “conversar” com pássaros. O dom de ambos na arte cênica fez Pasárgada ser premiado no Festival de Gramado na categoria Melhor Desenho de Som. “Muito cedo, eu percebi que a Amazônia precisava dos amazônidas. Eu já era uma pessoa consciente da importância do ativismo ambiental”, diz. Nesta entrevista, entre outras assuntos, a atriz diz: “A minha relação com a floresta é de respeito. Eu sou uma defensora do meio ambiente. E tento pautar a minha vida de acordo com a cidadã que eu sou também”.

Carbono Donna Qual seria o desafio?

Dira Paes

Teria de ser uma provocação na qual a gente se visse do avesso, em busca de posturas criativas em que as pessoas não nos veem normalmente. Eu como a personagem mais lunar, um lado mais Lilith do feminino. E o Pablo com uma câmera fixa, cuja cabeça pudesse ser a de um pássaro olhando a gente. E também percebi que eu queria estar presente em todas as etapas do filme. o que incluía a ideia original. Começamos daí. Carbono Donna E assim foi feito.

Por Rodrigo Grilo Retrato Renan Oliveira
“Eu sempre dei ouvidos à minha intuição, à minha autoestima e aos meus desejos”

Carbono Donna

E assim foi feito?

Dira Paes

Sim. Fui em busca dessa inspiração que veio com a profissão da Irene, bióloga e ornitóloga. E por causa da minha conexão com aquele sentimento pandêmico. Em que todos nós, de certa maneira, estávamos adoecidos e desejando um paraíso particular para o qual fugir. O filme não é sobre a pandemia, mas tem lá esse sentimento pandêmico, de encontrar a sua Pasárgada, o seu paraíso particular. E assim, pesquisando os pássaros, a gente cravou o ponto de partida.

Carbono Donna

O que as pesquisas revelaram?

Dira Paes

O Brasil é o terceiro país onde mais ocorre tráfico de animais silvestres. Eu vi que a gente tinha um chão muito alicerçado.

Carbono Donna

Gostaria de ouvi-la sobre as suas origens. Quem são seus pais? E o que você herdou de cada um?

Dira Paes

No filme eu faço uma dedicatória aos meus pais paraenses, que, como dois pássaros, ensinaram-me a voar. E também ao John Boorman e ao Walter Lima Jr., realizadores [com quem ela filmou, respectivamente, A Floresta das Esmeraldas, em 1985, e Ele, o Boto, lançado dois anos adiante, os dois primeiros filmes nos quais Dira atuou, ainda na adolescência, como atriz]. O meu pai, Edir, é autodidata. Entre algumas profissões, ele foi fiscal do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), e a minha mãe sempre esteve envolvida em movimentos em prol de ações sociais.

Carbono Donna

Você nasceu em Belém, no Pará, em meio à floresta amazônica. Como vivenciou suas origens?

Dira Paes

Eu nasci um pouquinho antes de os meus pais saírem de Abaetetuba, cidade com que tenho muita afinidade, e se mudarem para a capital, Belém. Assim ocorreu para que os meus irmãos, então adolescentes, pudessem seguir nos estudos para cursar a faculdade em Belém. Eu tinha dois meses quando houve essa mudança, mas a raiz amazônica segue comigo, tanto física como culturalmente. Eu percebi muito cedo o que era ser uma amazônida.

Carbono Donna Quando isso ocorreu?

Dira Paes

Aos 13 anos eu já tinha um olhar sobre a minha raiz. Nós vivemos na região com os maiores recursos naturais do planeta. E, ainda assim, convivemos com índices alarmantes de pobreza e exploração do meio ambiente e humana. Mais ainda: com a transformação da floresta em pasto e a exploração indevida de mineral. Antes de ser atriz, eu percebi que a Amazônia precisava dos amazônidas. Eu já tinha consciência sobre ativismo ambiental.

Carbono Donna A sua convivência com a natureza é contínua?

Dira Paes

Sim. E ininterrupta. Eu sempre fui uma mulher urbana que amou a natureza. As pessoas confundem a minha amazonidade como alguém que veio da floresta e não teve formação acadêmica. E que passou fome pelo simples fato de eu ser nortista. Mas a minha história é um pouco diversa. Eu sou uma mulher criada em Belém, estudei em um colégio que me estruturou para eu ter uma formação acadêmica pungente e ser capaz de ter uma opinião crítica, e não apenas social, como também política e culturalmente falando. Eu desenvolvi muito cedo o meu senso crítico. E logo entendi claramente o que era xenofobia também. A minha relação com a floresta é de respeito. Eu sou uma defensora do meio ambiente. E tento pautar a minha vida de acordo com a cidadã que eu sou.

Carbono Donna

Como você se relaciona com a natureza?

Dira Paes

É uma relação real, concreta e contínua. Eu não a trato como um local de férias. Natureza é um lugar de reabastecimento vital de conexão. Eu preciso

dela. Não a deixo longe de mim. Essa mentalidade tem de estar junto com as pessoas. A Amazônia não está lá! E, sim, do nosso lado. No Brasil. Queimando, ardendo. Se nos relacionarmos com a natureza como se ela estivesse distante, seremos ainda mais prejudicados.

Carbono Donna

Como você percebe o ativismo ambiental no Brasil?

Dira Paes

Todos somos ativistas, querendo ou não. Quando alguém omite uma opinião, não se coloca publicamente, está colaborando para silenciar causas e casos que dependem do terceiro setor, da sociedade. É importante a gente descriminalizar a palavra ativista e entender que quem não é ativista está contribuindo com a proximidade do fim do mundo.

Carbono Donna

Em 2020 você se isolou em Arraial do Sana, um santuário ecológico de Mata Atlântica em Macaé (RJ), região procurada por ornitólogos. Como se percebeu ali?

Dira Paes

Durante a pandemia, quando percebemos que duraria bastante, saímos do confinamento na cidade e fomos para o campo. Antes disso, já me chamavam a atenção os pássaros, os únicos seres vivos voadores urbanamente falando, fazendo barulho. Eles se destacavam em meio ao silêncio da cidade. Quando a gente foi para a fazenda, consolidei a ideia original do filme. A partir da observação das aves, comecei uma pesquisa. Aí descobri a profissão da Irene (ornitóloga), o fio da meada para o longa. E encontrei inspirações e fontes para formatar a ideia.

Carbono Donna

Qual é o grande barato de colocar o roteiro de pé?

Dira Paes

O roteiro foi uma grande conquista. O filme é feito de prazeres, dores e amores. A dor do roteiro é quando a gente encontra os nós. Foi um momento de conexão com o meu propósito. Eu me senti forte, preenchida daquilo que reverberava em mim.

Carbono Donna

Eu perguntei à escritora Martha Medeiros qual era a graça de escrever. Ela disse que é quase um milagre.

Dira Paes

Na verdade, dói cair no lugar-comum, quando a gente

se percebe trafegando pelo caminho mais fácil. Geralmente eu dispensava os meus primeiros impulsos e tentava vasculhar coisas que eu não tinha dito. Era uma vontade de não facilitar as minhas ideias. E concordo com a Martha: é quase um milagre escrever.

Carbono Donna E sobre quem atua, interpreta, o que poderia dizer?

Dira Paes

Dizem que o bom ator é o que tem o menor tempo entre a cabeça e as mãos, entre o que você pensa e o que faz. É um paralelo que serve também para quem escreve. Porque de certa maneira existe um impulso criativo, uma maneira de a gente deixar jorrar. E o que eu vou me explicar como atriz é saber onde colocar as mãos enquanto você está raciocinando. O público não pode ver o que a gente está raciocinando antes de fazer. E escrever é outro tipo de conexão. É algo entre a mão e a cabeça também, sabe? É uma conexão na qual você pode se deixar levar e, ao mesmo tempo, é dono da existência toda com uma simples canetada. É mágico nesse sentido.

Carbono Donna

Ano que vem você comemora 40 anos de carreira. O que almeja para o futuro?

Dira Paes

Estreei no Festival de Cannes, em 1985. Olhando para o futuro, acho que terei mais 40 anos (risos). Vejo uma máscara se transformando, pretendendo fazer ótimos personagens com as novas Diras. E vejo que a direção é uma porta aberta, vira uma obsessão. Eu me desafiei e me sinto com a tarefa cumprida. E, portanto, pronta para outro desafio. A minha caminhada como atriz, porém, também é pungente. Mas espero mais quarenta filmes (risos).

Carbono Donna

O que a maturidade tem trazido à sua vida?

Dira Paes

Eu sempre dei ouvidos à minha intuição, à minha autoestima e aos meus desejos. A maturidade me trouxe um amadurecimento rápido de revalidação de valores. E fiquei mais a par das minhas certezas. Como ir em busca do que nos alimenta e nos deixa potentes. E mais madura eu tenho mais segurança de quem eu sou. Mas também gosto de viver com as incertezas. Qual o nosso papel como povo? Quem entender as mensagens saberá o porquê de a gente não querer viver muitas coisas novamente.

1

VEM DE DENTRO

“‘Rezar, me alongar... e me vestir!’ É isso que faço todas as manhãs. Um ritual diário que me ajuda a sair da noite e entrar no dia sem a pressão (e a pretensão) de agradar a alguém. Gosto de peças básicas, clássicas e com alguns elementos do guardaroupa masculino, como camisas e jeans. Porque, a meu ver, a feminilidade (ou se sentir sexy) é uma questão de energia e independe da roupa.”

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GÊNIO

“Yves Saint Laurent sabia muito bem o que estava fazendo quando desenhou esta jaqueta: nem executiva, nem rock ‘n’ roll, e sim as duas coisas juntas!” (risos)

MEU ESTILO

DANI PIZETTA

CURADORA E FUNDADORA DA AGÊNCIA

CRIATIVA ZETTA OFF (@ZETTAOFF)

3

MOLDURA

“Os óculos são minha assinatura. Talvez o único acessório que eu tenha mais quantidade do que preciso. AMO bons óculos! Tenho vários, com tons ou shapes diferentes, mas todos enviam a mesma mensagem.”

4

VERDADEIRO VALOR

“Quando ganho algo de alguém, eu uso com o maior carinho do mundo. E no mesmo lugar que guardo uma conchinha do mar tem uma pulseira dourada de coração. Para mim, as duas valem a mesma coisa.”

PÁGINAS DA VIDA

“Livros impressos são pequenas obras de arte, e é esta a importância que dou a eles na minha casa. Leio muitos livros ao mesmo tempo, sem culpa e sem pressa. Eu os considero ‘janelas’ em que, quando despertam meu interesse para algo no mundo — mesmo antes do fim —, eu entro. E depois volto.”

ESPELHO

“Minha casa é um reflexo de como me sinto por dentro. Tem a energia do trabalho e da criatividade, e também o silêncio, que me faz tão bem. Meu quarto é como uma nuvem, minha sala de TV e leitura é um oásis, minha cozinha é de uma verdadeira mamma italiana, e da minha sala você poderá me ver cozinhando. Tudo o que tenho guarda uma função, mas precisa ser bonito, organizado e agradável ao olhar.”

MESSAGE

IN A BOTTLE

“A garrafa é antiga, mas o que tem dentro não cabe no tempo: é amor puro! São bilhetes e cartinhas de amor que chegaram de surpresa e me emocionaram ou me tocaram de alguma forma. E eu gosto de estocar amor.”

Luciana Holtz

Carbono Minds
LUCIANA HOLTZ
“Uma vez tocado pelo câncer, o paciente é sobrevivente para sempre”

Fundadora da plataforma Oncoguia e ativista dos direitos dos pacientes com câncer no Brasil, Luciana Holtz faz reflexões sobre a possibilidade de viver bem diante de um tratamento oncológico

Esta não é mais uma história que começa com a doença. Embora dedique a vida à oncologia, a médica Luciana Holtz prefere falar sobre recuperação, felicidade e qualidade de vida. ‘Sobreviver’ é a palavra-chave de um repertório amplo sobre o tema, que inclui medicina integrativa, cuidados personalizados, alimentação, atividade física, estabilidade emocional e uma vida sexualmente ativa, armas que auxiliam no tratamento de qualquer paciente que convive com câncer.

Fundadora do portal Oncoguia (@oncoguia), psico-oncologista com especialização em bioética e ativista, Luciana Holtz trabalha há mais de 20 anos lidando com as dores físicas e emocionais causadas pelo câncer. Desde cedo, ainda na faculdade de psicologia, ela percebeu como a falta de informação oferecida aos pacientes poderia trazer ainda mais efeitos colaterais à doença. Formada, Luciana se aprofundou no tema e hoje é referência como porta-voz de uma luta contra a desigualdade médica que começa nas filas dos exames e ultrapassa negligências que podem ser fatais.

No Oncoguia, mais do que encontrar informações sobre cada tipo de câncer, o paciente conecta a uma plataforma com acesso a especialistas. “Ele tem ajuda para entender sobre direitos, destravar algum desafio que está enfrentando, como a fila do SUS ou alguma negativa de plano de saúde, ou simplesmente para desabafar. Temos rodas de conversa às quintas-feiras, um momento específico para saúde emocional, além de muitos eventos educativos e o trabalho de atuação política”, Luciana conta. A seguir, confira outros destaques desta conversa.

SURVIVOR “Acreditamos no conceito do sobrevivente, apesar de o brasileiro não gostar desse termo. Vem do inglês survivor. É quem foi tocado pelo câncer. Uma vez tocado, é sobrevivente para sempre. Você é uma pessoa diferente, que precisa ser cuidada desse jeito para sempre. É bonito ver pacientes validando esse sentimento.”

PREVENIR É O MELHOR REMÉDIO “Tente fazer hoje com que o seu plano realmente pague psicólogo, nutricionista, preparador físico. Para pessoas que não estão doentes.

Já tentamos fazer com que os planos colaborassem com o tratamento para parar de fumar e não conseguimos, sabia?”

MEDICINA INTEGRATIVA “Quanto mais você estiver sendo olhado e cuidado com diferentes profissionais, incluindo desde espiritualidade até atividade física, maiores serão os benefícios para o tratamento.”

SAÚDE MENTAL “Altos e baixos emocionais acontecem o tempo todo. Trata-se de um tratamento longo, às vezes para o resto da vida. Um dos medos mais presentes entre quem tem câncer é ficar sem espaço, sem escuta. É um assunto desvalorizado, que traz muitos impactos.”

ATIVISMO “Eu me coloco muito mais como uma ativista da voz do paciente do que trabalhando para estimular mais ativismos médicos. Mas acho que a chave está virando aos pouquinhos, porque, pensando em causa, quanto mais temos uma sociedade envolvida, mais ganhamos.”

O PAPEL DO SUS “Batalhamos muito para melhorar os tratamentos oferecidos no SUS, tanto pensando em tecnologia para diagnosticar, como para tratar melhor. Hoje sabemos tratar melhor e oferecemos mais qualidade de vida. Só que isso está disponível para quem? Essa é a angústia, que nos faz entrar em falta de equidade e justiça. Se eu tenho dinheiro e plano, estou vivo. Se eu vou para o SUS, há diferença entre vida e morte, literalmente.”

ROTINA “Com esses inúmeros papéis que assumimos como mulher, não está sobrando espaço para priorizar a saúde. Estamos deixando de lado o compromisso anual de fazer exames e pagando caro com a saúde. Uma em cada oito mulheres corre o risco de ter câncer de mama.”

MÍDIA “A imprensa muitas vezes tem vieses negativos. Ainda recebo pedidos de jornalistas procurando pacientes que estão morrendo para escrever matérias. Não! Está cheio de paciente vivo, que pode contar a própria história.”

em 18 partes

Montagem
Alessandra Rehder

Natural de São Paulo e graduada em fotografia pelo Institute Speos, em Paris, a fotógrafa e artista visual contemporânea ALESSANDRA REHDER sempre se interessou por técnicas diferentes. E, assim, desenvolveu um estilo único e próprio: suas capturas, após ampliadas, ganham intervenções manuais que as deixam absolutamente exclusivas. Alessandra subtrai das imagens diversos recortes de elementos da natureza e os aplica sobre a tela, fixando-os com minúsculos alfinetes, conferindo um impressionante efeito 3D. Em suas pesquisas visuais, a artista visita comunidades remotas de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em países distintos. O foco é sempre a natureza e as questões ambientais que atingem o meio ambiente e o homem contemporâneo. Recentemente, inclusive, Alessandra inaugurou em Moçambique, na pequena vila litorânea de Murrébuè, o projeto social Espaço Ecológico-Cultural (EEC), que visa à construção de um espaço com oficinas de compostagem, permacultura e agrofloresta, com a intenção de incentivar a reeducação alimentar em um ambiente onde famílias locais possam produzir alimentos variados, movimentando a economia do lugar. @lele_rehder

Fundação Maria Luisa e Oscar Americano 2023

“No

meio do caminho tinha...”

Chefe de redação do portal de tendências e lifestyle Circolare (@circolare), a jornalista Julie Montgomery vive cercada de belezas por todos os lados. Ela circula entre os mais lindos produtos, lugares e projetos. Aqui, Julie nos empresta seu olhar para achados interessantes dos universos gastronômico, fashion e de bem-estar

Amados Achados

TOUR PELA VINÍCOLA GUASPARI

“A Vinícola Guaspari, a 200 km de São Paulo, é pioneira no enoturismo de Espírito Santo do Pinhal. Localizada em uma antiga fazenda de café, oferece passeios com direito à explicação da história e peculiaridades da região, além dos métodos de manejo e de produção utilizados. No final, uma degustação de vinhos com ótimos aperitivos.”

PILLOW TOP DA CHARADACONCEITO

@charadaconceito

“Há dez anos, o conceito de pillow top só existia nos Estados Unidos. Foi quando a Charada Conceito trouxe essa inovação para o Brasil. Trata-se de uma camada macia de 7 cm para ser colocada por cima do colchão, aumentando o conforto da superfície. O pillow top da Charada Conceito tem a tecnologia “toque de pluma”, sem ser oriunda do animal! Deixa a cama igualzinha à de hotel cinco estrelas!”

JELLY SHOES

@melissaoficial

“Uma tendência divertida dos anos 1990 e 2000 que está de volta é a sandália com aspecto de plástico e textura gelatinosa. No Brasil, a Melissa é uma ótima opção, com várias cores e modelos. Para acrescentar uma vibe nostálgica ao visual.”

PAILLARD DE FRANGO AO CURRY COM MOLHO CHUTNEY DO L’AVENUE @lavenueofficiel

“Quando eu era adolescente, ia todo fim de semana almoçar em um restaurante e pedia o mesmo prato: paillard de frango ao curry com molho chutney. Aquele restaurante fechou já faz um bom tempo e fiquei ‘órfã’ de uma das minhas receitas favoritas. Este ano, o francês L’ Avenue abriu no Shopping Cidade Jardim, e lá eu encontrei, adivinha? Meu prato! Paillard de frango ao curry com molho chutney! E melhor: é igualzinho ao que eu comia!”

CHÁ DE MARSHMALLOW DA TALCHÁ @atalcha

“Para quem gosta de chás o de marshmallow da Talchá é imperdível! Com pedaços de cranberry vermelho, marshmallows brancos e camomila-romana, essa mistura é deliciosa para qualquer hora do dia!”

“Life is what happens to you when you’re busy making other plans”
John Lennon

PADARIA TU ÉS PÃO

@tuespao

“Uma padaria especializada em pães artesanais, feitos com farinhas orgânicas, sem aditivos químicos, de moagem em pedra com água filtrada. O menu é caprichado e o lugar é um charme! Não deixe de provar o bolo de maçã verde com farofinha de nozes e especiarias.”

LIVRO AS AVENTURAS DE JOHNNY BOY E MADA

@juliem10

“Escrevi um livro, que lancei recentemente. Foi uma surpresa ver como a história do meu filho e da nossa cachorrinha paralítica adotada tocou e continua emocionando crianças e pais. É uma alegria eternizar e mostrar a todos essa relação inspiradora!”

AQUELE JE NE SAIS QUOI

Há uma história a ser contada em cada canto da casa-atelier de Isabelle Tuchband, um oásis em meio à cidade onde a morada se faz extensão da artista

Por Raquel Fortuna Fotos André Passos

Isabelle e seu cachorrinho, Hidu, no pátio externo da casa, canto preferido da artista

Não espere linhas retas, minimalismos ou coisas do tipo. “Preciso estar em lugares que tenham curva e poesia.” A frase da artista plástica Isabelle Tuchband resume bem o que é adentrar seu mundo particular: uma casa-atelier dos anos 1930 no bairro do Jardim Paulista, em São Paulo, em que você encontra de tudo, menos obviedades. Móveis garimpados e herdados de família, cores e mais cores, tecidos, texturas, símbolos de fé, composições inusitadas, uma cozinha que lembra fazenda, um quintal com espreguiçadeiras e jabuticabeira e arte, muita arte por todos os cantos. “Um dia, meu pai [o pintor francês

Émile Tuchband] me falou: ‘Decoração é mélange. Como tudo na vida, uma alquimia’. Eu acho que a pintura também é isso, um equilíbrio. E está tudo dentro de você.” Um mundo externo como espelho do mundo interno: a morada, ali, é puro reflexo da alma de artista.

Há pelo menos 20 anos, Isabelle vive na mesma rua. Há seis, quando precisou entregar para a proprietária a primeira residência em que morou, uma construção de 1927, “tipo casa de pescador”, soube de outra que estava para alugar próxima dali. Chegou até a avisar alguns amigos interessados na região, mas quis o destino que o

1 – A lareira, original da casa, ganhou uma intervenção colorida

2 – Isabelle entre flores e arranjos, um de seus hobbies preferidos

3 – Na sala de estar, destaque para as paredes inspiradas em uma pintura de Victor Vasarely

4 – Livros, vasos e orquídeas compõem o mise-en-scène da entrada principal da casa

endereço fosse dela mesmo. “Eu me lembro de um dia descer do carro com a minha sócia [a também artista plástica Verena Matzen, com quem divide o Atelier Cité], e o guarda da rua abriu a casa para a gente ver. Olhei pela janela, enxerguei uma lareira de pedra, perguntei se tinha árvore e me deparei com uma jabuticabeira no quintal! Aí eu enlouqueci”, lembra ela. A árvore, em especial, é um dos elementos que remete à infância de Isabelle em Taubaté, na região do Vale do Paraíba, interior de São Paulo, cidade da mãe, Marlene, e da artista. “Eu me recordo de passear pelos jardins de uma chácara em que moramos que tinha muitas árvores frutíferas e, também, de ficar intrigada com esculturas brancas de santos em tamanho natural que o meu pai comprou de um antigo colégio em que a minha mãe estudou. Lembro-me de perguntar por que aquelas esculturas não tinham cores… E curiosamente, hoje, eu pinto muitos santos. Acho que a gente sempre carrega essas referências de infância”, conta ela, que na mesma Taubaté morou, em outro momento, em uma casa assinada

pelo arquiteto Oscar Niemeyer com jardins de Burle Marx. “Na época, a gente vivia na região de Picinguaba, em Ubatuba, em umas terras que o meu avô português deixou. Quando meu pai soube desse imóvel, ficou doido. Vendeu tudo o que tinha e voltamos para ‘Toubatê’, como ele chamava a cidade (risos)”, conta.

CORES, FENG SHUI E HERANÇAS

Na residência atual, desde a mudança, em 2018, foram feitas algumas intervenções, como uma reforma no telhado e no piso, além da pintura, que tem como destaque as paredes rosa, cor adorada pela artista. “Para pintá-las, eu me inspirei em uma pintura do Vasarely

[Victor Vasarely, pintor francês de ascendência húngara]. Eu acredito que cor é cura. Um rosa abre o cérebro, os olhos... manda uma coisa boa para as células e o corpo”, diz ela. Adepta ao feng shui, Isabelle trouxe a amiga Mariângela Pagano, especialista no tema, para ajustar as energias dos ambientes. Há, por exemplo, cristais e espelhos distribuídos em pontos estratégicos. A religiosidade e o sincretismo também marcam presença: além da mezuzá [objeto religioso símbolo da identidade judaica, comumente instalado na entrada das casas de famílias judias, uma referência às raízes do pai de Isabelle], a artista mantém imagens de santos pelos cantos. “Estou num momento da vida em que tudo tem uma memória,

então respeito muito a história de cada objeto. Quando vim para esta casa, tinha um quadro da Santa Ceia pendurado na parede com a imagem da Maria Madalena, com quem tenho uma conexão. Eu pinto muito a Santa Ceia, meu pai também pintava. Olha que louco isso!

5 – Vista da antessala da morada

6 – A artista em seu atelier, instalado na antiga garagem da residência

7, 8 e 9 – Os quadros, os móveis garimpados e uma infinidade de cores marcam o décor repleto de personalidade

10 – A jabuticabeira do pátio, árvore que remete à infância da artista em Taubaté

“Eu acho que casa é isto: estar bem em um lugar onde você cria o seu mundo”

Nesse mesmo cômodo coloquei a sala de jantar Luís XIII, que foi do meu pai e veio da França de navio. Era um sonho antigo ter espaço para esses móveis porque tudo na minha vida aconteceu em volta daquela mesa. Sempre que tenho uma coisa importante para resolver, eu me sento ali”, explica.

Outra ocupação interessante foi na garagem da casa, habitada antes por um “carro velho, um secador grande de cabelos e imagens de santos”, um verdadeiro filme do Almodóvar, como define a sócia de

Isabelle, Verena. Transformada em espaço de trabalho, lá é onde a artista cumpre sua agenda, sempre que possível, diária: acorda, pega um café, reza e desce, “muitas vezes de pijama mesmo”, para pintar. Segundo ela, a rotina de produção é intensa. “Trabalho para mim é disciplina, igual a rezar e escovar os dentes. Quando o cliente marca alguma visita, nem começo porque não tenho hora para parar. Tem dias em que nem em comida penso, porque pintar realmente é uma conexão. Eu vou para outro plano”, diz.

Mas o ritmo frenético vem temperado também por pequenos rituais: montar arranjos de flores, cuidar do jardim, soprar canela e passar sálvia na casa para limpeza e prosperidade, dormir bem com o cheiro de uma lavanda vinda de Córdoba. “Eu acho que casa é isto: estar bem em um lugar onde você cria o seu mundo. De preferência com música, livros, um sofá gostoso, um cachorro, um tapete, velas perfumadas e porta-retratos de quem você ama. Não precisa de mais nada”, finaliza Isabelle.

14

11 e 12 – O atelier da artista é marcado por materiais de trabalho, flores e lambe-lambes

13 – Cabeça de onça de miçangas feita por indígenas e trazida do México. As porcelanas, pintadas por Isabelle, ganharam chifres de veado, presente de um amigo

14 – Na cozinha, detalhes que fazem referência ao clima de fazenda

15 – Até a parte externa tem quadros no décor

DECIDI DEIXAR A VIDA ME LEVAR

LiadeItamaracá

De merendeira em uma escola à cirandeira reconhecida como Patrimônio Vivo da Cultura de Pernambuco, Lia de Itamaracá atravessou muito mar de fogo. E segue, aos 80 anos, cada vez mais firme, forte e inspirada

Em uma manhã aprazível, Lia de Itamaracá topou encarar uma caminhada pela região central de São Paulo, onde aportou para alguns compromissos. Ela e seu fiel escudeiro e produtor artístico, Beto Hess, decidiram almoçar em um restaurante, deixando para trás o apartamento onde estavam. Os passos comedidos da cirandeira pernambucana nascida Maria Madalena Correia do Nascimento faziam jus ao tanto de vida já vivida. Lia nasceu 80 anos atrás, na agradável Praia do Sossego, em Itamaracá.

Filha da empregada doméstica Matilde Maria da Conceição e do agricultor Severino Nicolau Correia do Nascimento, ela teve de interromper suas passadas algumas vezes para posar para fotos e bater papo com fãs, em uma feira livre no bairro Higienópolis. Patrimônio Vivo da Cultura de Pernambuco e condecorada com a Medalha de Mérito Cultural,

Carbono Donna

Lia, a senhora está com 80 anos e a disposição parece não caducar. Por que ocorre assim?

Lia de Itamaracá

Nessas veias aqui corre muita fortaleza. Também me alimento direito e cuido bem de mim. Na minha família, somos em 18 irmãos. O meu pai já era casado e tinha 11 filhos com a mulher dele. E conseguiu mais sete com a minha mãe. Mas ele não tinha condições financeiras para sustentar as duas famílias.

Carbono Donna

E como ele se virou para dar conta de tanta gente?

entregue a ela pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Lia esteve em São Paulo para um show, no centro da cidade. Ex-merendeira de uma escola em Itamaracá que se apaixonou pela ciranda aos 12 anos, ela foi a única entre os 18 irmãos a optar pela carreira artística como forma de sustento e inspiração. “Atravessei o mar de fogo e fiz valer a minha vontade”, diz Lia. Este ano, foi enredo das escolas de samba Nenê de Vila Matilde, em São Paulo, Império da Tijuca, do Rio de Janeiro, e homenageada nos carnavais do Recife, Rio Grande do Norte, da Ilha de Itamaracá e de Natal. E não é só: a cirandeira, que conquistou o Prêmio da Música Brasileira na categoria Lançamento, está gravando cinco músicas com a cantora Daúde. A seguir, Lia relembra o passado, a importância da ciranda e sua missão de seguir fazendo o gênero existir no mundo.

Lia de Itamaracá

Era uma época de muita ignorância e pouco estudo. Meu pai trabalhava na roça e, toda vez que se encontrava com a minha mãe, fazia um filho. Assim foi levando a vida. Ele morava em um bairro chamado Sossego e se separou de minha mãe, que era de Jaguaribe e precisou pegar um barco para chegar a Itamaracá. Doida para trabalhar e arrastando os sete filhos, ela encontrou uma família que precisava de uma empregada doméstica. O tempo foi passando, e cada um dos filhos procurou o seu quadrado.

Carbono Donna

O que a senhora imaginava para o seu futuro?

Por Rodrigo Grilo Retratos Ytallo Barreto
“Eu coloquei na cabeça que não iria desistir. Para ser Lia eu atravessei o mar de fogo”

Lia de Itamaracá

Eu não tinha ainda noção do que gostaria de fazer. Eu só queria acompanhar a minha mãe no serviço para não deixá-la sozinha. Tudo o que eu achava que fosse bom eu colocava na minha cabeça. E repetia para mim: “Eu vou ser feliz! Eu vou ser feliz!”. Eu tinha a certeza de que a minha mãe iria se orgulhar da pessoa que eu seria no futuro. Ao mesmo tempo, os meus irmãos foram saindo daquela casa e procurando um canto para morar e trabalhar.

Carbono Donna

Quando a senhora cogitou viver da música?

Lia de Itamaracá

Comecei a me interessar pela música aos 12 anos. Eu ouvia muitas coisas diferentes pelo rádio, incluindo novelas como Irmãos Coragem. E me ligava nas trilhas musicais desses programas. O tempo foi passando, e a Teca Calazans [artista e pesquisadora musical, hoje com 83 anos] chegou em Itamaracá. Ela me ouviu cantando e pediu para eu cantar para ela. Fiz isso e, depois, caminhamos até a praia. Aí peguei um pedaço de pau e comecei a escrever na areia. E a Teca me disse: “Lia, essa música é um amor. Vou por letra nisso e transformar em uma ciranda em sua homenagem”. Eu tinha 17 anos. E assim nasceu a toada “esta ciranda quem me deu foi Lia”.

Carbono Donna

Como soube da música feita pela Teca?

Lia de Itamaracá

Uma vizinha ouviu a música no rádio e veio me avisar. Quando cheguei à casa dela para escutar, a transmissão tinha terminado. Naquela época, já estava na minha cabeça o que eu queria fazer na vida. Era cantar. Eu achava bonito quem sabia cantar. Muita gente

me dizia para eu deixar essa vontade para lá. Mas o dom que eu tenho quem me deu foi Deus. Eu tinha certeza de que um dia seria cantora. Decidi deixar a vida me levar. E aqueles que me diziam para eu esquecer essa história que cuidassem da vida deles.

Carbono Donna

Qual é a maneira certa de dançar ciranda?

Lia de Itamaracá

Os passos da ciranda imitam os movimentos das ondas do mar. A onda vem e embala a música. É a levada da onda do mar. Eu fui crescendo na música nessa levada. Só que chegou uma hora que a minha família não queria mais que eu fosse para canto algum. Achavam que uma pobre analfabeta não teria muita coisa no mundo a fazer. E diziam: “Você vai enfrentar essas pessoas todas olhando para a sua cara?”. E eu respondia: “Vou! Eu não estou roubando nada de ninguém”. Cantar era o que eu queria fazer. Aí os meus irmãos foram saindo de casa, e ficamos eu e a minha mãe em Itamaracá. E acabei fazendo o que eu sempre quis: cantar.

Carbono Donna Foi em 1977 que a senhora conseguiu gravar um disco, certo?

Lia de Itamaracá

Isso. O álbum se chama Lia de Itamaracá – A Rainha da Ciranda. E o primeiro CD é o Eu Sou Lia, que lancei no ano 2000. Muitos parentes já tinham até morrido. A minha mãe de criação foi a primeira. Em uma época que não existia banco. O dinheiro do meu pai de criação ficava dentro de um baú. No inverno, ele me chamava para tirar o dinheiro de lá para não mofar. Era um acontecimento. Ele pedia para a gente pegar as arupembas [peneiras] e espalhava nelas as notas depois de tirá-las das ligas. E mandava a gente colocar caco de telha em cima para elas não voarem. Todos nós fomos educados a não mexer naquilo que pertence a outra pessoa. Bom, ele deixava o dinheiro tomar sol. E depois chamava a gente para guardá-lo de novo.

Carbono Donna Você começou como cozinheira ou merendeira?

Lia de Itamaracá

Eu dizia para a minha mãe que queria aprender a cozinhar. Mas, com 56 anos, ela morreu de derrame. Aí, quando eu saí da casa onde fui criada,

passei a trabalhar na cozinha do Bar e Restaurante Sargaço, o mais popular da Ilha de Itamaracá. Ali fiquei por cinco anos. Cozinhava durante a semana e, aos sábados, fazia ciranda à noite. Depois, passei a trabalhar como merendeira em uma escola. Os meninos do colégio cantavam sempre “essa merenda quem me deu foi Lia”. Depois que a comida ficava pronta, eu ensinava os meninos a cantar e dançar enquanto a comida esfriava. Eu recebia um salário, mas não constava na minha carteira de trabalho.

Carbono Donna

Você tem uma relação forte com o mar e a ciranda.

Lia de Itamaracá

Quando eu comecei a cantar, percebi que muita gente não tinha ideia do que era a ciranda. A ciranda é o meu dom, e ninguém pode tomá-la de mim. Mas é bom dizer que até hoje é Iemanjá quem me protege. Eu sou filha dela, mas peço proteção primeiramente a Deus. Depois, subo no palco e faço o meu show.

Carbono Donna Como podemos definir a ciranda?

Lia de Itamaracá

É uma dança de roda sem preconceito. As pessoas

se unem. Uma dá a mão para a outra. Dança todo mundo: rico, pobre, branco, negro, homem, mulher.

Carbono Donna Houve uma época, entre os anos 1980 e 1990, em que a ciranda tinha pouco destaque...

Lia de Itamaracá

Os gestores não apareciam para nos ajudar. Eu ia ao Recife para fazer um show e retornava de lá sem a ajuda. Ainda assim, no Bar Sargaço, acontecia ciranda. E pagavam para a gente fazer o show. Mas não ganhávamos muita coisa. Faltava apoio, mas eu coloquei na cabeça que não iria desistir. Para ser Lia eu ralei e atravessei o mar de fogo.

Carbono Donna O músico Naná Vasconcelos afirmou que você resgatou algo que estava para desaparecer sem ser registrado, a ciranda. Como se sente nessa posição?

Lia de Itamaracá

A ciranda já estava no mundo, mas em baixa, e eu a segurei para não morrer. E a carrego até hoje. Tenho poder para sustentar essa cultura, essa raiz, até quando Deus quiser. E sou feliz por isso. No palco, peço licença a Deus e a minha mãe Iemanjá e sigo em frente. Muita gente diz que não sou eu quem estou no palco, que estou incorporada por outra pessoa.

1

RAÍZES

“Trabalho com moda desde meu primeiro emprego, com Yves Saint Laurent, em Londres. Depois, fui correspondente da revista Vogue, em Paris, e já passei por grandes marcas como Valentino, Longchamp e Roberta di Camerino.”

2 MENOS É MAIS

“Considero meu estilo clássico e renovado. Gosto de coisas modernas e as insiro no meu dia a dia sempre sendo fiel ao que acredito, sem seguir as loucuras das passarelas. Minha mãe, vinda da Europa, me passou esse senso do simples, sem muita ‘empetecação’. É de família.”

MEU ESTILO

KIKA RIVETTI

MESTRA DE EVENTOS PARA MARCAS DE LUXO

3

COR DO VERÃO

“Gosto de acessórios com pedras verdadeiras, como coral, quartzo, turquesa e malaquita. Perfeitos para usar no verão!”

4

DIA E NOITE

“Adoro sapatos! De dia posso estar de sapatilha, mas, à noite, sempre de salto. Prefiro os saltos bloco, porque já passei da época do salto 11! Hoje prezo pelo conforto e pela qualidade.”

5 THE BOOK IS ON THE TABLE

“Adoro livros e tenho vários. Atualmente estou destrinchando esse guia charmoso de Milão que acabou de ser lançado. Além das ótimas dicas, é um livro bonito para decoração.”

Retrato Leka Mendes

6

BONS TEMPOS

“Muitos móveis da minha casa vieram da residência da minha avó, no norte da Itália. Um deles é esta escrivaninha, que abriga minha coleção de caixinhas de prata. Ela começou com minha mãe, na época em que as lembrancinhas de casamento na Europa eram essas lindas caixinhas.”

7

COLEÇÃO

“Faço coleção de fotografias. Amo esta obra (foto ao lado) de Vik Muniz, com impressão de pigmento sobre papel: Metachrome (Flowers, After Odilon Redon I) E também sou fã dos cliques de natureza do fotógrafo brasileiro Araquém Alcântara (foto acima).”

“Tenho costume de fazer álbuns de fotografias de família. Comecei quando fui para o colégio na Inglaterra e nunca mais parei. Monto basicamente um por ano. Já estou no 43! Eu me divirto olhando para trás e vendo coisas de que eu nem me lembrava mais.”

NOSTALGIA

Patsy Scarpa

Carbono Minds
“Para criar uma conexão genuína, é preciso escutar querendo compreender, não responder”

Networker convicta, a relações-públicas Patsy Scarpa é expert em conexões e o nome à frente da List&Co., que controla as listas dos eventos mais disputados da vez

A responsabilidade de carregar o mesmo nome da avó nunca foi um peso para Patsy Scarpa. Ao contrário, serviu como força motriz para que, desde muito cedo, a neta da socialite, diversas vezes apontada entre as mais elegantes do Brasil, trilhasse o próprio caminho e história.

Do DNA dos Scarpa, Patsy também herdou o temperamento festeiro e, mesmo estudando psicologia, gostava de se envolver na organização de festas de amigos e listas para as finadas baladas da Vila Olímpia. Durante a faculdade, também trabalhou com abrigos de crianças, hospitais públicos e, finalmente, com psicologia organizacional.

Quando se formou, Patsy recebeu um convite inesperado para trabalhar na Daslu Homem, o que lhe soou como um desafio, já que, na época, era a linha feminina da marca que fazia sucesso. E foi a partir dessa experiência que surgiu o trabalho na Clube Chocolate, primeira concept store brasileira, considerado seu turning point para a carreira em marketing e relações públicas.

Hoje Patsy é referência na organização de eventos à frente de sua List&Co. (@listandco), empresa de marketing de relacionamento e networking responsável pelos projetos do shopping Cidade Jardim e da JHSF, além de clientes de moda e lifestyle. A seguir, ela conta mais sobre suas experiências.

HUB MENTAL “Eu sempre tive como exemplo os bons relacionamentos da minha família. Além disso, o fato de a minha avó receber muito bem fez com que eu sempre me relacionasse bem com as amigas dela, com as amigas da minha mãe e, assim, entendi que todos os nossos relacionamentos vão compondo nosso networking. Conseguimos nos valer disso para ajudar pessoas, para fazer conexões... é quase um hub mental. Comecei a fazer essas conexões meio que organicamente, paralelo à minha carreira.”

LUTO “A perda do meu irmão, em 2008, em um acidente, foi um momento de muita dor e quando minha vida deu uma grande volta. Eu morava com a minha mãe, e uma morte trágica assim bagunça completamente a vida, porque são meses que você não tem a quem recorrer. Seus

pais não têm nada para te dar, porque estão passando pela maior dor do mundo – entendi a importância de ter bons amigos. Foi uma grande lição de que coisas ruins acontecem com todos nós e de que todos temos escolhas. Eu fiz um comprometimento com o amor, a força e a fé. Eu ia transformar aquela dor – e o trabalho me ajudou muito.”

INQUIETA POR NATUREZA “Encerrei minha carreira corporativa em 2013, no Jack Vartanian. Meu plano era casar, morar em São José dos Campos e parar de trabalhar. Mas isso durou seis meses. Eu estava entediada e logo comecei a receber propostas para fazer pequenos eventos. Quando vi, eu estava grávida e organizando várias coisas. Quando meu filho nasceu, eu fui convidada para integrar a área de relacionamento do shopping Cidade Jardim. Pouco depois, fundei a List&Co., minha empresa de marketing de relacionamento e networking.”

SOMOS PONTES “Eu acho que eu sou uma RP nata e uma networker convicta. Gosto da parte estratégica, que envolve os pré-eventos. A gente precisa entender o evento, organizar do zero com a marca para conseguir fazer daquela a melhor recepção possível e com as conexões certas. Nós somos pontes que ligam marcas às pessoas, marcas a outras marcas e pessoas a pessoas.”

NÃO PIRA Há um ano, senti que estava fora do eixo e hoje faço mentoria com a Ana Alvarez. Ter uma rede de apoio e boas referências é muito importante: minha mãe, meu marido e meu filho são minha força propulsora. E ter fé. Não dá para fazer nada sem ter fé e sem acreditar que tudo o que a gente faz é para o bem-estar de todos.”

EGO “Para um RP é essencial ter o foco no outro, não em você mesmo. Tem que escutar querendo compreender, não responder. E despir o ego, entender do que o outro precisa e não o que a gente acha que ele precisa. As conexões só são bem-feitas quando sabemos ouvir. Parece simples, mas é onde as pessoas mais se perdem.”

Com ampla expertise nos mercados de moda e marketing, a carioca Betina De Luca é uma fiel representante do lifestyle solar made in Rio. Com um olhar cheio de personalidade, a designer inaugurou, aos 18 anos, a multimarcas Bebel, que abriu espaço para novos talentos brasileiros. Em 2012, lançou a Virzi + De Luca, marca de roupas e acessórios-ícones, lembrada pela originalidade. Hoje, está à frente da BDLN, ao lado do sócio Leo Neves, brand artesanal que exibe lindos vestidos, jaquetas, quimonos e acessórios. @bdln_studio

BetinaDeLuca

“Gosto muito do formato de pedra bruta deste brinco e também da interferência do mix de cristais. É uma peça versátil, que pode ser usada em um almoço, jantar ou festa”

BRINCO TARÔ

Resina de poliéster com pintura artística em tinta acrílica à base de água, com aplicação de strass

SURFER GIRLS

A NOVA ONDA DAS MULHERES

Em ascensão no Brasil, o surfe virou hobby requisitado por elas, que encontraram nas ondas – artificiais ou de águas salgadas – um novo estilo de vida

Helena Lunardelli em uma de suas sessões na piscina de ondas do Boa Vista Village. Para a influenciadora, o esporte é como uma meditação ativa

Se antes o surfe era restrito ao mar, hoje é possível surfar em águas doces. O boom das piscinas de onda é uma realidade no Brasil, com três espaços já em uso – em Itupeva, Porto Feliz e Garopaba – e mais três prestes a chegar. Apesar do acesso restrito, que em geral é reservado aos membros, as praias artificiais deram coro para o surfe, que só faz crescer desde sua estreia como modalidade olímpica.

O Sponsorlink, que mede o comportamento de fãs de esporte no Brasil, mostra alguns números: em 2013, 23% dos brasileiros se declaravam fãs de surfe. Em 2021, eram 41%. E o mercado acompanhou: um estudo da Expert Market Research apontou que os equipamentos de surfe movimentaram US$ 4,4 bilhões em 2022, ano em que as mulheres puderam competir em todo o circuito mundial. O surfe parece ser um caminho sem volta: quem experimenta não quer mais largar, principalmente as mulheres. No profissional, elas lutaram por espaço e não aceitaram não como resposta. E no amador, elas só crescem.

A modelo Isabella Fiorentino é uma das que mergulhou de cabeça: desde 2021, o surfe se tornou não só hobby como paixão, tanto é que ela criou um perfil no Instagram dedicado às ondas, o @belladosurf. E se no início ela colecionava roxos, quedas e caldos, recentemente celebrou três anos de prática, agora bem mais equilibrada na prancha. Em seu perfil, muito além das conquistas, Isabella costuma postar as dificuldades e reiterar que seu objetivo é se divertir e incentivar outras mulheres.

A fundadora do Me Poupe!, Nathalia Arcuri, também se apaixonou por esse universo sem nem ser fã do mar. Hoje, se vê planejando as próximas idas ao litoral, calculando os dias que faltam para poder deslizar nas ondas.

E a boa notícia é que, para elas, não faltam oportunidades. Escolas e instituições focadas em incentivar o surfe feminino por aqui têm se proliferado. Entre os exemplos, estão os projetos Surfistas Negras, Todas Para o Mar, Gaia e outros.

POR TRÁS

DA ONDA

O que a influenciadora usa para cuidar da pele e do cabelo na hora do surfe

NO ROSTO

Protetores da Pink Cheeks (com cor) e da Shiseido “O da Pink Cheeks funciona como base, tem cobertura e alta resistência. Às vezes, misturo com o da Shiseido (foto), que também é ótimo para a prática de esportes, por ser resistente ao suor. Gosto de fazer uma camada dupla para aguentar bastante tempo na água.”

NO CORPO

Protetor da Suntech “Gruda! Parece até uma cola. Não sai de jeito nenhum.”

NO CABELO

Spray Hidratei

“Já testei vários produtos em busca de um que realmente protegesse. Com esse, você sai da água ainda com ele no cabelo e a sensação de que os fios estão protegidos.”

PICADA SEM VOLTA

A influenciadora Helena Lunardelli é uma surfista recém-descoberta. Um ano atrás, pouco depois de ter se tornado sócia do Boa Vista Village, em Porto Feliz, ela experimentou pela primeira vez a praticidade e a perfeição das ondas artificiais. “Logo na primeira aula, já achei muito bacana. Foi desafiador e divertido. Fui gostando cada vez mais.”

Entusiasta dos mais diversos esportes, do tênis ao golfe, Helena ficou curiosa principalmente em consequência do snowboard, que pratica desde a adolescência. Sente, inclusive, que uma coisa puxou a outra, já que têm movimentos semelhantes. E acabou como uma maneira de trazer o snowboard para a rotina, com o plus de

“Fomos picados pelo bichinho e agora contamos os dias para a próxima prática”

estar debaixo do sol – algo que ela adora – e não mais sobre a neve. O que começou como um desafio, um estímulo diferente, uma curiosidade, virou programa em família: ela, o marido e o enteado surfam nas piscinas de onda pelo menos duas vezes no mês, apesar de que “gostaria que fosse toda semana”, admite. Lunardelli e eles planejam, em breve, brincar na água salgada: “Queremos ir à Costa Rica, aproveitar para convidar alguns amigos de que nos aproximamos por conta do surfe”.

Para a influenciadora, o esporte une muitos prazeres: tempo com a família, corpo em movimento, mente livre de preocupações e ficar focada apenas nas ondas. “É quase uma meditação ativa. Um momento para desestressar. As pessoas ao nosso redor brincam que nos perderam para o surfe, porque fomos picados pelo bichinho e agora contamos os dias para a próxima prática.”

Entusiasta dos mais diversos esportes, Helena Lunardelli encontrou no surfe uma forma de se movimentar e passar tempo de qualidade com a família e os amigos

QUEM MANDA É O MAR

“O surfe sempre brilhou meus olhos, desde pequena” é o que conta Nina Bottai, que trabalha com audiovisual e experimentou subir na prancha pela primeira vez em 2017, aos 19 anos. “Foi insano, mas acabei não voltando naquele ano e nos seguintes. A paixão ficou ali, latente.” Durante a pandemia, foi morar com uma amiga na praia de Santiago, no litoral norte de São Paulo. Juntas, fizeram do surfe uma rotina, iam pingando de praia em praia, buscando a onda e o cenário perfeitos. “Lembro da primeira vez que surfei de novo. Foi na Barra do Sahy, estava um pôr do sol cor-derosa, o mar esverdeado. Foi surreal.”

E o surfe a seguiu por onde quer que ela fosse. Em 2021, Bottai se mudou para a Califórnia e, apesar da água, do fundo do mar e da maré serem diferentes, o que influencia bastante no surfe, ela lista uma série de praias da costa sul que já experimentou: Santa Cruz, Port Beach, Huntington Beach, San Onofre. Entre muitos perrengues e conquistas, precisou quase reaprender a surfar, encontrou novas amigas para dividir as ondas e descobriu mais sobre a própria paixão.

“O que sempre busquei era uma conexão com a natureza. Para mim, não há outro esporte que te mostre tão escancaradamente como a gente não tem controle nenhum”, opina Nina Bottai, que diz sentir medo toda vez que vai entrar no mar. “Muita coisa pode acontecer, a corrente muda, vem uma série de ondas que você não estava esperando… Até por isso gosto de surfar acompanhada.” Mas mesmo com medo, ela segue, e a recompensa tem uma vista incrível: “Só de ficar sentada na prancha, esperando a onda, vendo o horizonte, já me sinto conectada, como se esquecesse o resto do mundo. É um respeito muito grande pelo mar”.

De Camburi (no alto e acima) ao Havaí (ao lado, com a amiga Marina Issler), Nina Bottai já experimentou o surfe nos mais diversos cenários. Para ela, o esporte traz uma conexão sem igual com a natureza

O gosto pela endorfina e a curiosidade levaram Sarah às ondas de Portugal e do Marrocos. Neste último destino, mais precisamente no vilarejo de Taghazout, ela se apaixonou pelo surfe

UM POUCO MAIS DE PACIÊNCIA

Sarah Oliveira fazia um trabalho como freelancer para uma startup de viagens de surfe, no início deste ano, e a oportunidade de participar de uma experiência imersiva em Portugal e Marrocos, oferecida pelo trabalho, pareceu uma boa ideia. Ela já tinha pegado algumas ondas no litoral de São Paulo e é uma esportista nata, daquelas que topa qualquer programa que envolva endorfina. Mas o surfe bateu diferente.

“Em São Paulo, o que eu gosto é de correr. Mas eu tenho uma relação muito boa com a água, e o surfe me proporcionou justamente o que eu estava procurando: me desafiar”, conta. Em Portugal, Sarah fez um curso para iniciantes no esporte na Costa da Caparica e seguiu para o Marrocos, onde se instalou numa vila que, segundo ela, respira o surfe: Taghazout. “Você conversava com os instrutores, e era perceptível: tudo que eles diziam vinha de vivências, muitos anos em cima da prancha. Voltei outra pessoa dessa viagem.”

Apesar de não praticar tanto quanto gostaria, Sarah não esquece a sensação que o surfe provocou – a vontade de estar perto do mar e levar o dia a dia com um pouco mais de calma. “Sou extremamente ansiosa, e a ideia de sentar e esperar a onda era inconcebível”, admite, depois de relatar sua primeira aula de surfe, que demorou muito mais do que o esperado em virtude da maré. “No mundo corporativo, não existe isso de esperar ou não dar conta. E o surfe ensina que as coisas funcionam no tempo da natureza, não no nosso, e que a gente não tem controle de nada.”

“IT’S A LIFESTYLE, BRIAN”

A fala de Stewie, personagem do sitcom Family Guy, define bem o surfe: é muito mais do que um exercício físico.

“É um estilo de vida. Você acorda mais cedo, quer se cuidar, fazer melhores escolhas, estar perto da natureza. O surfe estimula tudo isso”, afirma a fundadora da marca de joias sustentáveis Gaem, Luna Nigro.

Para acompanhar o intensivo de água salgada, areia, sol –às vezes, cloro –, ter boas dicas e referências é um imperativo. Por isso, já deixe anotado:

Um maiô: Rip Curl ou Khlun

Uma prancha: Aerofish

Um protetor: Adcos stick

Para os cabelos: linha da Sisley

FORA DA ROTA

Uma seleção de praias que desviam dos destinos mais badalados, mas são igualmente boas (ou até melhores) para surfar

Santa Teresa, Costa Rica

Embora se destaque por ser o refúgio de férias de Gisele Bündchen, são as praias preservadíssimas, os estúdios de ioga e pilates, as casas de suco e os restaurantes charmosos que fazem de Santa Teresa o destino ideal não só para quem quer surfar, como para quem procura um pouco de paz e relaxamento. O lugar proporciona e vibra um estilo de vida que preza pelo cuidado com a saúde – não é à toa que a supermodelo brasileira tenha escolhido essas areias para fincar os pés.

La Pedrera (foto) ou La Paloma, Uruguai

Localizadas a poucos quilômetros uma da outra, são as melhores praias para surfar no Uruguai, com areia clara, águas transparentes, pôr do sol inesquecível. E o melhor de tudo: o paraíso não fica tão longe de casa. A melhor época para o surfe é do outono até a primavera, o que significa encontrar praias mais vazias e ondas quase exclusivas.

Biarritz, França

Uma das responsáveis pela popularização do surfe na Europa, Biarritz foi de simples vilarejo portuário (que inclusive se dedicava à pesca de baleias) a destino requisitado pela nobreza do século 19. Hoje, depois de um renascimento turístico, não só brilha no cardápio de opções da culinária francesa, como cultiva uma cena vibrante de surfe, que oferece ondas consistentes durante o ano todo.

Algodões, Bahia, Brasil

A península de Maraú pode ficar bastante cheia na alta temporada, especialmente nas praias mais conhecidas, como Barra Grande e Taipú. Já Algodões, mesmo com longa extensão, é uma opção mais reservada e paradisíaca. Para surfar, o ideal é ir no inverno e aproveitar as luas cheia e nova. Para além das ondas, a praia tem uma pegada ecológica, com pousadas despretensiosas e passeios engajados, que propõem um contato íntimo com a natureza.

Bocas del Toro, Panamá Verdadeiro paraíso caribenho: escondido, com praias intocadas e rica vegetação, além de refúgios para se hospedar e boa infraestrutura para um destino ainda pouco explorado. O cenário é digno de cinema, com águas cristalinas e ondas mais brandas de abril a setembro, também a época de menor movimento.

Fotos
Guilherme Lapiccirella, Paulo Barcellos e divulgação

MAS, ANTES DE ENTRAR NA ÁGUA…

Precisa treinar e automatizar os movimentos em terra firme. O perfil @surfnelas publica algumas opções de exercícios para fazer dentro de casa, além de oferecer lives e cursos gratuitos para aprender o melhor jeito de praticar surfe antes de se molhar – e, assim, entrar na água mais preparada.

Outra ideia é adquirir um skate que simula os movimentos do surfe. Já existe uma comunidade extensa (e feminina) adepta à prática. O @grlswirl existe há seis anos e segue em rota de expansão, com grupos que vão da Cidade do México a Copenhague. No site e no perfil, há tutoriais para aprender, por meio do skate, as melhores técnicas que, mais tarde, serão reproduzidas nas ondas.

OUTROS @S PARA SURFAR

@marealta.trips – Projeto criado em 2017 e que segue a todo vapor organizando surf trips: viagens cujo objetivo central é unir mulheres em torno das ondas. Pelo perfil e pelo site do Maré Alta, é possível acompanhar os próximos destinos, inscrever-se e participar.

@theoceanisfemale – Histórias de mulheres que surfam para inspirar e incentivar quem quer começar, mas tem vergonha, medo ou só precisa de um empurrãozinho.

DICIONÁRIO DA SURFISTA

LEASH – Aquela cordinha presa à prancha e ao tornozelo que evita que a prancha saia voando numa eventual queda.

QUILHA – A barbatana de tubarão que fica na parte de baixo da prancha.

SOFTBOARD e HARDBOARD – Dois tipos de prancha. A soft é mais macia e ideal para iniciantes. A hard é mais rígida, reservada ao surfe mais avançado.

INSIDE e OUTSIDE – “Lado de dentro” e “lado de fora” da rebentação. Inside é mais perto da areia, onde as ondas quebram. Outside é a área onde as ondas ainda não se formaram.

MARAL e TERRAL – Vento que sopra do mar para a terra e da terra para o mar. O maral mexe e bagunça as ondas, já o terral controla a crista e deixa a parede da onda lisa e boa para o surfe.

Nina com as amigas, Luísa Levorin e Julia Abujamra, prontas para atravessar mais um mar em Camburi

DNA DESBRAVADOR

EstherSchattan

A empresária é uma das pioneiras do mobiliário de alto padrão no Brasil. Há 38 anos, ao lado do marido, Murillo, fundou a Ornare, marca que se tornou referência no mercado. Hoje, além de dividir sua experiência em grupos de mentoria com outras mulheres, ela trabalha na expansão internacional e na construção do futuro da empresa ao lado dos filhos

Manter uma empresa funcionando a pleno vapor há quase 40 anos é um desafio para qualquer empreendedor. Mas há quem encare a jornada com leveza. O segredo? Paixão pelo que faz, fé no propósito e muito trabalho. É o caso de Esther Schattan, sócia fundadora e diretora da marca de mobiliário Ornare. Formada em Engenharia Química na Poli-USP em

um tempo em que as exatas não eram uma escolha óbvia para mulheres, Esther abriu caminhos ao longo da carreira, especialmente dentro de sua empresa. No universo da decoração, encontrou uma forma de impactar a vida das pessoas, que pretende perpetuar com a participação dos filhos na Ornare. A seguir, ela reflete sobre este e outros temas.

ONDE TUDO COMEÇOU

“Cursei Engenharia Química na Poli-USP e queria seguir na área. Mas, no último ano da faculdade, conheci o Murillo [seu marido], que já trabalhava no universo da decoração, e ele me convidou para ser sócia em uma empresa voltada para decoração e mercado de luxo. Eu achava uma área muito curiosa e acabei topando. Rapidamente fomos conquistados por esse segmento, nunca pensamos em mudar e só evoluímos ao longo do tempo. Falo em dupla porque construímos tudo juntos, sempre foi assim na nossa trajetória.”

MUDAR PARA TRANSFORMAR

“Ver as pessoas concretizarem o sonho de fazer sua casa é uma realização. Na Ornare, a gente sempre comenta sobre a importância que é estar em um lugar onde tudo funciona. Morar em uma casa organizada e harmoniosa é algo que muda a vida. Você tem mais energia para colocar nas outras coisas. A paixão por esse universo veio da sensação de trazer impacto para a vida das pessoas.”

MULHER NO COMANDO

“Desafios a gente tem o tempo todo. Mas olhando a fotografia lá atrás, comecei escolhendo a área de exatas, em uma época que tinha menos mulheres. Na faculdade eu era a única menina da sala, e foi bem solitário. Já no trabalho não me sentia assim. A começar pela parceria com o Murillo. Nós dois quisemos fazer essa sociedade dar certo. Depois, sempre contratamos quem era mais adequado ao trabalho, nunca teve diferenciação. Nossa diretora financeira, um posto que por muito tempo foi ocupado mais por homens, é uma mulher. Temos as franqueadas, sócias em showrooms: a presença feminina é supernatural na Ornare. Hoje eu participo de alguns grupos de mentoria para mulheres e aprendi muito com cada uma das histórias.”

YIN & YANG

“A minha parceria com o Murillo tem 40 anos. O que eu costumo dizer é que precisa de muita vontade e resiliência para ficar junto. Claro que existem as diferenças, mas a gente tem os mesmos princípios e buscou alinhar nossos valores. Temos visões distintas, mas complementares, e nos apoiamos no sentido de fazer nossas ideias darem certo. Existe um jeito diferente de olhar no feminino, que é uma coisa mais do entorno, enquanto o masculino tem o foco. São forças intensas e que não existem sozinhas. Pude testemunhar isso em casa e no trabalho. Nem sempre foi fácil, mas deu certo.”

VALORES SÓLIDOS

“Nossas famílias nos ensinaram a fazer o bem ao próximo, cuidar da natureza, não desperdiçar energia. O que se chama hoje de ESG, a meu ver, é a recuperação do bom senso, da educação e do que está na Bíblia. São maneiras modernas de reescrever a norma. Ao longo do tempo, a gente aprendeu a cuidar dos nossos colaboradores. Temos vários exemplos, desde a prevenção de acidentes à implantação do Ensino a Distância (EAD). Além disso, somos parceiros de uma organização que abre espaço no mercado para a contratação de arquitetos negros. Na parte ambiental, fizemos muitas evoluções para evitar desperdício de energia e reaproveitar material, como o reúso de couro de revestimento para criação de acessórios e do thinner das tintas para limpeza.”

LUXO E EXPERIÊNCIA

“O que define o luxo hoje a gente faz há muito tempo. Estamos no caminho de usar a indústria a favor de um design original e com todo o detalhamento possível. No showroom , o cliente não fala só dos gostos, como também dos seus hábitos, então tudo é feito com aprofundamento e cuidado. Buscamos a perfeição no design, nos materiais, no acabamento, nas cores, no atendimento, na tecnologia. Acho que é isso o que nos torna únicos.”

EXPANSÃO

“A nossa expansão internacional começou a partir de uma provocação. Estávamos muito bem no Brasil e uma jornalista me perguntou se a gente pensava em ir para fora. Eu falei que sim, alguém leu essa matéria e uma empresa de consultoria nos procurou querendo levar a Ornare para o exterior. Em 2006, abrimos nosso primeiro showroom em Miami. Hoje são sete nos Estados Unidos e mais quatro em abertura. Também estamos em Milão, Dubai, e, em breve, chegaremos a Lisboa.”

DE OLHO NO FUTURO

“Queremos ser uma empresa que propague o design autoral, seja à frente do tempo e traga bem-estar para o cliente. Estamos trabalhando no processo de sucessão e esperamos que nossos filhos [Pitter e Stefan, atualmente diretor comercial e diretor de exportação da marca] levem a Ornare a outro patamar. Essa parte da expansão já vem com eles, que também são imbuídos de estabelecer novos relacionamentos e novas histórias, então a ideia é melhorar cada vez mais.”

Fabiana Saad
Carbono Minds
“Quero

melhorar a vida das mulheres, e isso me move”

Disposta a impactar cada vez mais mulheres, Fabi Saad comanda um programa de televisão que já virou app, curso, livro e está presente em diferentes países

Aos 40 anos, Fabi Saad é CEO, como sonhava desde pequena. Os olhares virados que ela recebeu quando mais nova ao revelar seus planos não a paralisaram, muito pelo contrário. Serviram como incentivo para buscar o que queria e, no melhor estilo rebeldia adolescente, Fabi chegou lá.

Sob seu comando, está todo um ecossistema chamado Mulheres Positivas, que começou do fascínio por ouvir histórias de figuras independentes, virou programa de entrevistas e, hoje, além de estar no ar em rede nacional, na Record, oferece aplicativo, cursos, livros, podcast, premiação e ações afirmativas. “Eu sempre quis que o foco do Mulheres Positivas fosse na carreira da mulher, me irritava ficar lendo perguntas sobre casamento, idade”, diz Fabi, que hoje sabe direitinho seu propósito: impactar mais e mais mulheres com suas próprias narrativas.

Entrevistando figuras que admira, Fabi já passou pela TV Estadão, do jornal O Estado de S. Paulo, e Jovem Pan. “Agora estou focada no programa, pois quero alcançar mais pessoas”, diz sobre a recente estreia na Record. Com um time de cem pessoas trabalhando indiretamente para o movimento, sua ideia virou global, com presença no México, na Colômbia, nos Estados Unidos, na Itália, na França e, a partir de dezembro, em Dubai.

Curiosa e genuinamente interessada por pessoas – a empreendedora é neta do fundador do Grupo Bandeirantes, João Jorge Saad –, Fabi foi considerada uma das 20 mulheres mais influentes do Brasil pela revista Forbes, em 2022. Feito que lhe deu ainda mais força para seguir sua missão em prol das mulheres. A seguir, os destaques do nosso papo.

INSPIRAÇÃO “Grande parte do meu trabalho é baseado na atuação da Melinda Gates. Quando li O Momento de Voar, sobre ações para empoderamento das mulheres, eu me apaixonei. Ali ficou claro o meu propósito. Estou longe de ter o dinheiro que ela tem para investir em filantropia, mas quero me posicionar como uma Melinda Gates brasileira por investir em mulheres pensando na família e, por consequência, nas gerações futuras. Quando a mulher tem dinheiro, investe nos filhos. Gosto de pensar que, ao escrever livros e gerar cursos gratuitos, eu

promovo a independência financeira daquela mulher, ajudando também seus descendentes.”

SÓ EU SOU EU “Eu me sinto privilegiada por ter construído bons relacionamentos ao longo da vida, mas ser empreendedora é uma jornada solitária. Você toma muitas decisões, e não adianta perguntar a opinião das pessoas. Tenho uma rede de boas amigas, com quem sei que posso contar, mas no fim, sou eu quem tenho que decidir. Eu me sinto sozinha nos processos de decisão, porém, ao mesmo tempo, acho maravilhoso trabalhar com o que amo. Quero melhorar a vida das mulheres, e isso me move.”

FEMINISTA “Eu me considero totalmente feminista. Infelizmente, o termo tem muita rejeição, porque é mal interpretado. Ser feminista é defender que a mulher possa ter oportunidades iguais, se ela quiser, não de forma imposta. Pelas minhas falas sempre me xingaram muito, mas eu não me incomodo. Quem gera impacto toma porrada, e vejo isso pelas mulheres interessantes que já entrevistei. Separo as críticas valiosas e nem ligo para as outras.”

POSITIVO E AGREGADOR “Ao longo de todo esse caminho, passei por percalços dos mais variados. A começar pelo nome do meu projeto. Tem quem ache que ‘Mulheres Positivas’ dá uma impressão de positividade tóxica. Mas a ideia é justamente o oposto: mostrar mulheres que têm negócios positivos, que transformam e geram impacto com seu trabalho.”

SETOR 2,5 “Meu maior foco é o aplicativo Mulheres Positivas, que atinge as classes C, D e E. Ele é meu grande agente de transformação, já que permite maior alcance. Nele, compartilho vagas de trabalho, cursos gratuitos de capacitação, consultoria com advogadas, entre outros serviços. Fomos reconhecidos como o aplicativo com o maior número de vagas de trabalho afirmativas para mulheres na América Latina. Assim entendo e posiciono o meu negócio como setor 2,5: gera dividendo para os acionistas, e também transformação na sociedade.”

HORA DA VIRADA

Uma nova leva de DJs brasileiras tem inovado por misturar sonoridades das mais diversas em suas apresentações. Carbono Donna caiu com elas nas pistas

Quem gosta da noite já deve ter percebido que as pistas estão diferentes. Se antes havia uma separação clara por gêneros musicais, com a turma que veste preto no techno de um lado e as camisas floridas do house do outro – e isso só para ficar no eletrônico –, hoje os destaques nas cabines de mixagem são de artistas que ultrapassam as barreiras e criam sets inusitados.

O movimento ganhou força mais ou menos há uma década, quando uma nova cena underground eletrônica despontou, capitaneada principalmente por coletivos femininos e LGBTQIA+, populações cansadas da falta de espaço nas cabines de DJs e também dos xavecos, assédios e preconceitos tão normalizados nas pistas. No Brasil, esses novos produtores de eventos e músicos souberam se unir rapidamente com quem já misturava todo tipo de brasilidade e latinidade sonora aos beats, e o resultado é que hoje as noites estão mais divertidas, criativas e tolerantes.

A paranaense Gabriella Clemente, a Clementaum, acompanhou essa mudança. Na época, a estudante de moda arranjou um trabalho como hostess em uma festa na casa noturna curitibana Paradis. Foi lá, vendo gente como Carlos do Complexo e BadSista, que ela notou vocação para tocar também. “A Isa, dona da boate, me ensinou o básico. Aprendi a mexer na CDJ, mas não fazia mixagens, só selecionava. Percebi que precisava estudar”, ela se lembra.

Em 2015, Clementaum começou a tocar em festas de R&B, hip-hop e pop. Fazia residência na balada Holt, o after de uma festa tribal no domingo de manhã, dedicada ao público LGBTQIA+. O desafio exigia que ela navegasse por diversos gêneros musicais: “Meu set era open format, música eletrônica com

vários ritmos dançantes. Já toquei funk, tecno melody, arrocha, reggaeton, afrobeat, vogue beat, tinha um pé no club & latin tribal, que é mais meu nicho agora”.

Quando passou a também produzir as próprias músicas, Clementaum conseguiu consolidar seu estilo. Com uma sonoridade mais direcionada ao tribal e sem perder os toques brasileiros e latinos, tornou-se um dos nomes mais requisitados da noite aqui e lá fora. No verão, fez turnê europeia e tocou no festival espanhol Primavera Sound, no qual gravou seu primeiro Boiler Room internacional. A série é uma das mais famosas dedicadas à música eletrônica na internet, uma chancela de qualidade e um cartão de visitas do seu som. “Era minha primeira vez na Europa. Nós vivemos em uma bolha, então foi legal chegar à Polônia, à França e aos Países Baixos e ver que as pessoas conheciam meu som.”

Sempre com uma bolsinha a tiracolo, Clementaum entrega looks ótimos e uma irreverência única nas pistas. Indicada como melhor produtora musical de 2023 no Women’s Music Event, ela se orgulha por incentivar outras DJs a dar um passo além e comporem os próprios sons. Depois de lançar 16 músicas em 2024, Clementaum planeja um EP para 2025, ano em que também deseja retornar à Europa, enquanto conquista mais espaço nos palcos brasileiros.

O BREGA GANHA O MUNDO

Gêneros da mais alta qualidade da música popular brasileira, o tecnobrega e o tecno melody também têm se aproveitado dessa renovação na cena eletrônica. Assim como o funk carioca, esses ritmos do

Norte deixaram de ser regionais e têm ditado tendências por sua originalidade sonora e bom humor.

Deixe de lado Joelma e Gaby Amarantos e vá além: uma mistura de ritmos latinos como a cumbia, a salsa, o reggae e o dub, tudo isso remixado e batido no liquidificador com o que há de mais chiclete no pop.

Incentivada pela amiga e também DJ Slina Soledad, a paraense Taka Furtado começou a pensar em tocar as músicas que faziam sua cabeça em Belém apenas quando veio morar em São Paulo. Era 2018, e as duas dividiam um apartamento, antes de Slina ir morar fora e se tornar referência por misturar funk com techno. “Ela me estimulou a fazer um DJ set porque ninguém tocava aquilo na cidade. Eu fiquei surpresa: era algo que fazia parte do meu cotidiano e nem tinha pensado que poderia ser uma possibilidade. Criei uma curadoria de tecnobregas, que estourou. E aí comecei a ser chamada para tocar em vários rolês de brasilidades”, conta.

Conhecida como Miss Tacacá, ela se destacou pelo frescor da curadoria. O toque pessoal foi trazer nuances mais eletrônicas para os sets. “Gosto de remixes de tecno melody que puxam para o eletrônico, principalmente para o trance.”

Assim como uma infinidade de gêneros brasileiros contemporâneos que objetificam a mulher, os ritmos da música periférica nortista também sofrem de sexismo em suas letras. Miss Tacacá não faz vista grossa: “Tenho cuidado com as letras, não coloco mensagens violentas, machistas, misóginas”.

Uma curiosidade sobre esses gêneros musicais surgidos nas aparelhagens – os soundsystems amazônicos – é que tecno brega e tecno melody são pensados para dançar juntinho. A tradição se origina da influência das músicas caribenhas e também do reggae que chegava do Maranhão nos anos 1980 –São Luís era conhecida como “a Jamaica brasileira”.

Talvez tenha sido essa história que cativou a organização do Boiler Room a começar seu tour mundial Global Soundsystem Culture em Belém. A nova série quer registrar expressões musicais periféricas construídas em cima dos paredões sonoros ao redor do planeta, e o primeiro episódio, gravado no Brasil, teve curadoria de Miss Tacacá. Exibido em outubro, o programa teve Miss Tacacá, além das DJs Meury e Tiana Ferreira, a cantora Leona Vingativa, o duo Crocodilo DJs, DJ Verdelho e Zek Picoteiro, um apanhado dos expoentes dos gêneros musicais

O duo Cremosa Vinil fervendo as pistas em dois momentos
Clementaum: nome requisitado aqui e lá fora

do brega amazônico. “Fiquei 100% focada. Era uma responsabilidade grande. Pelo fato de eu não morar na cidade e trabalhar com cultura paraense, já existe um estigma de artistas que só fazem sucesso ao sair de lá. Tudo precisava ser perfeito. E foi”, conclui.

DE VOLTA AO BRASIL

A história de Mílian Rúbia não começou muito diferente da Clementaum. Hostess em uma casa noturna em Goiânia, ela decidiu se aventurar nas picapes em 2014. Na época, Mílian já tinha um repertório musical vasto e gosto pelo garimpo, heranças da mãe, fã de eurodance e outros gêneros eletrônicos da virada para os anos 1990. “Consumo músicas diferentes daquelas que toco e, quando consumo o que toco, é muito mais em lugar de pesquisa, porque foi nesse ambiente clubber que me encontrei. E eu fazia playlists de tudo, dava para os amigos; eu conhecia coisas novas e queria apresentar para quem estava à minha volta”, conta.

Até então uma exímia selecta, ela se tornou Mílian Dolla para dedicar mais tempo às mixagens e, depois, à produção musical. E aprendeu também a tocar drum pad, uma bateria eletrônica, o que conquistou a atenção da cantora Jaloo, que a chamou para sua banda.

Além das três turnês europeias e dos shows que fazia em todo o Brasil, Mílian também atuou como residente na festa Mutantes, criada por KL Jay, dos Racionais, e dava expediente em eventos do circuito LGBTQIA+.

A artista também foi DJ da cantora Pabllo Vittar antes de se mudar para Portugal, em 2022. O que era uma residência de três meses em um clube lisboeta acabou se tornando uma estadia de dois anos, tempo em que ela pôde consolidar sua identidade para um público diferente. “Fiquei muito saudosa do Brasil e passei a incorporar mais músicas nossas nos meus DJs sets, trazendo, claro, outras referências. Se toco em um festival lá fora, quero que as pessoas saibam que sou do Brasil.”

De volta ao país natal, ela agora trilha o caminho inverso, com referências do que aprendeu e consumiu por lá, e pretende retomar seu live act, um show eletrônico mais performático com suas composições.

Mílian, que viveu no Brasil no momento mais combativo dos coletivos do underground eletrônico da última década, afirma que houve retrocessos na cena nos anos mais recentes. “As mulheres à minha volta estavam muito à frente em vários quesitos. Tanto que sempre falamos como é fácil ser um boy na música, não só como DJ, como também cantor. Nós temos que entregar muito mais, não podemos errar, porque todos já esperam isso de você. E precisa ter uma boa aparência, enfim, estar o tempo todo se provando.” Ainda assim, ela não acredita que as mulheres perderão seu protagonismo.

SEM ESQUECER DOS CLÁSSICOS

Em um espectro diferente da discotecagem, o duo Cremosa Vinil vem apresentando há quase uma década uma curadoria finíssima com o melhor da soul music, funk, R&B e disco, tudo isso diretamente dos bolachões garimpados por Julia Weck e Rafa Jazz. Originalmente um trio, a Cremosa Vinil nasceu de uma reunião entre amigas que queriam tocar “música cremosa, algo quase sinestésico e difícil de ser transcrito em palavras”, explica Julia. Na seleção, não faltam clássicos de Diana Ross, Herbie Hancock, Sade e Eumir Deodato, além de faixas modernas do hip-hop de MF Doom, Kali Uchis e Massive Attack.

A escolha de tocar apenas discos de vinil é o grande trunfo da dupla, que mantém uma busca ativa por novas joias para seus próximos sets. “Vinis não são baratos. Manter uma coleção com novidades, cópias em bom estado e títulos raros é um desafio”, diz Rafa.

Com as mudanças nas regras de importação, os álbuns que vêm de fora viram o preço dobrar a partir

Fotos
Caiano Midan, Sofia Romani, Willian Hartmann, Unsplash e divulgação
A paraense Miss Tacacá e, na página ao lado, Mílian Dolla

de 2023. Isso mobilizou Julia e Rafa a abrir mão dos toca-discos e ir além. “Lançamos o projeto Disco Creme para explorar o que gostamos no digital. Isso nos permitiu ampliar o repertório e circular mais, já que viajar com discos é difícil”, Julia diz.

Quando não tocam juntas, Rafa é beatmaker de artistas de hip-hop, enquanto Julia trabalha em um museu. As duas também discotecam separadas, uma dupla jornada somente na profissão de DJ. Seria mais fácil para eles? “Os tempos e oportunidades para homens e mulheres ainda são muito destoantes. Nós ficamos felizes de fazer parte dessa mudança, seja ocupando espaços inéditos, seja influenciando outras meninas”, reflete Julia. Rafa concorda: “Uma vez que somos mais vistas, convidadas e ‘chanceladas’, ganhamos um reconhecimento maior pelo nosso trabalho, não necessariamente ligado à uma bandeira de gênero. Isso serve para conquistar o público pelo que temos a oferecer enquanto DJs e artistas, e com isso engajar uma comunidade interessada na nossa proposta”. Quem mora em São Paulo pode ver Cremosa Vinil uma vez ao mês no Matiz Bar. E, neste Réveillon, a dupla retorna ao line-up do festival Mareh, que acontece no Maranhão.

As DJS desta reportagem indicam faixas que não podem ficar de fora da sua playlist. Som na caixa!

Cremosa Vinil | Another Taste

“Um exemplo atual de música ‘cremosa’ para ser descoberta e ouvida. Another Taste é um grupo de quatro músicos de Roterdã que conseguiu, em 2024, lançar um disco fora da curva, com faixas autênticas que passeiam pelo boogie, disco e funk, movem grandes públicos e nos confundem até se são dessa década ou não. Destaque para ‘Turn Up’ e ‘Time Is on Our Side’.”

Clementaum | John W - “Sarra Sarra” (Rafael Rosa Remix)

“Esta foi a track que mudou a minha vida em 2024. A cena tribal no Brasil ganha cada vez mais espaço. Tenho muita satisfação e respeito por John W e Rafael Rosa, e poder levar um pouco disso comigo tem sido incrível. Quando toco nos meus shows, é o ponto alto dos sets.”

Miss Tacacá | DJ Tiana Ferreira

“Com um som que passa pelo techno e house, Tiana Ferreira conquistou um papel importante na cena eletrônica de Belém, sendo muito difícil acessar lugares tendo o corpo que nós temos, trans e racializado. É uma grande amiga, alguém que incentivei demais para tocar. É muito lindo a ver brilhando.”

Mílian Dolla | Lhomme Statue (Loïc e Zopelar)

“Esse duo Loïc e Zopelar é de artistas e amigos maravilhosos de quem sou muito fã. Nesse último verão europeu, tive o prazer de fazer dois shows ao lado de Loïc, um na Polônia e outro, na Alemanha, foi muito incrível.”

NEM SÓ DE CHURRASCO

VIVE A CARNE

Fundadora da produtora de carne bovina Beef Passion, a brasiliense

Amália Sechis Farina é adepta da máxima ‘o boi de cabo a rabo’: “Não usamos somente os cortes tradicionais mais conhecidos. Aproveitamos o animal por inteiro! Quando o boi é bom, tudo pode ser utilizado de forma sustentável”, garante a CEO, integrante do programa Winning Women Brasil , movimento global de liderança feminina desenvolvido pela Ernst & Young. Em sua boutique de carnes, a primeira empresa brasileira do ramo a alcançar a certificação de agricultura 100% sustentável Rainforest Alliance e também detentora de títulos como A Melhor Marca de Carne do Brasil e A Melhor Empresa do Agronegócio, não há desperdício ou descartes. “Na Beef Passion temos mais de 50 tipos de cortes, pensados e desenvolvidos para ser consumidos em diferentes ocasiões”, conta Amália, que dá aqui dicas de como desfrutar da carne do começo ao fim. @beefpassion

“Comer é uma necessidade, mas comer inteligentemente é uma arte.”

François de La Rochefoucauld

BEEF PASSION

R. Barão de Tatuí, 229 - Vila Buarque | São Paulo

OS DESTAQUES

STEAK TARTARE

Para substituir o filé-mignon ao fazer um steak tartare, utilizamos o coxão mole ou o knuckle steak, o patinho. É um dos cortes mais magros do boi, com pouca gordura e muito sabor. Pode ser consumido de várias formas, mas é especialmente recomendado para preparos de carnes cruas, como sashimi, steak tartare e carpaccio. Os meus tartares favoritos são o da chef Talitha Barros, do Conceição Discos, e o do Thiago Bañares, do Kotori (foto). @conceicaodiscos | @kotori.sp

CECINA

Típica da culinária espanhola, a cecina é uma clássica maneira de salgar e secar a carne. O processo envolve secagem ao ar, exposição ao sol e defumação. A Cecina Beef Passion é feita em parceria com a charcutaria Pirineus, com coxão duro curado por seis meses antes de ser fatiado. A iguaria, produzida com a carne bovina de wagyu, tem sabor marcante e bastante distinto dos tradicionais embutidos suínos. Ideal para servir de lanche ou aperitivo. @pirineusbr

OSSOBUCO

O ossobuco, tradicional corte italiano extraído do músculo traseiro, é perfeito para acompanhar massas e risotos ou, simplesmente, ser feito na panela, daí sem o osso e o tutano, cozido lenta e longamente. É uma receita muito saborosa. Meus pratos preferidos são o Cappellacci di Ossobuco, do Shihoma Pasta Fresca, recheado com ossobuco braseado, e nosso Capelone de Ossobuco, produzido em collab com o pastifício Mesa III (foto). @pastashihoma | @mesa3_pastificio

Também produzimos nosso beef tallow – um alimento extremamente versátil, feito com gordura animal natural, sem hormônios. Na forma líquida é muito semelhante ao óleo de coco. Quando endurece, à temperatura ambiente, adquire uma consistência de manteiga cremosa – inclusive sendo indicado para substituí-la. Pode-se usar o tallow para assar bolos e tortas ou fritar e refogar alimentos em altas temperaturas.

O osso? Aproveitamos também! O caldo de ossos, ou bone broth, é um produto altamente nutritivo, indicado para ser consumido puro ou utilizado no preparo de alimentos. É obtido a partir da lenta extração dos nutrientes presentes no tutano e nos ossos bovinos, sendo considerado um superalimento milenar rico em colágeno natural e de alta densidade nutricional. O restaurante Borgo Mooca, na Santa Cecília, serve alguns pratos maravilhosos com ossos e caldos. @borgomooca

BONE BROTH
BEEF TALLOW

under construction

Fortes

Camila Brennand

Um problema de saúde e outros obstáculos fizeram com que a empreendedora mergulhasse no universo da alimentação saudável e lançasse negócios bem-sucedidos na área. Sempre com a missão de passar adiante o que aprendeu

que andava tomando, Camila topou seguir com um cardápio totalmente sem açúcar, sem nada de origem animal, nem cafeína, tampouco bebida alcoólica, uma verdadeira limpeza, em conjunto com um medicamento que vinha em um vidrinho cor de âmbar. “Nunca me esqueço desses vidrinhos. Como boa virginiana, tomei de acordo com a recomendação médica, mesmo sem saber o que tinha lá. Depois de um mês e uma melhora significativa, soube que os vidrinhos continham apenas água, placebo mesmo”, lembra Camila. Sua reação foi mergulhar nesse universo que ela desconhecia totalmente até então: “Na casa dos meus pais nunca teve hora para nada, comia-se de tudo, não existia consciência alimentar”, revela ela, que hoje faz diferente com as filhas, Olympia e Amora, 8 e 7 anos. Na época, Camila comprou livros, experimentou tudo nela mesma e viu resultados positivos. Assim, em setembro de 2008, aos 21 anos, depois de sentar com advogados da família e conseguir uma antecipação de herança, Camila lançou a Monama Orgânicos. “Foi a fase mais incrível da minha vida. Trabalhava de segunda a sábado na fábrica [em Itupeva, no interior de São Paulo] e montava uma barraca na Feira Orgânica

Por Isabel de Barros

Falar em alimentação saudável hoje é trivial, mas, há 15 anos, o tema causava certo estranhamento. Era “coisa de hippie, de quem não queria nada com a vida”, diz Camila Brennand Fortes, 37 anos, nascida em Brasília, mas vinda da família Brennand, do Recife. Mesmo não sendo levada a sério pelo círculo próximo, a empreendedora seguiu firme com a ideia de abrir uma fábrica de alimentos orgânicos, inicialmente vendendo barrinhas de cereais e granola na internet. Isso em 2008. “Não era sexy falar em zero açúcar, sem lactose, alimento limpo, para você ver como a coisa mudou ( risos )”, explica ela, que sentiu ser sua missão dividir as descobertas e benefícios de uma alimentação equilibrada e saudável. Afinal, a primeira beneficiária havia sido ela mesma.

Aos 14 anos, Camila começou a sofrer de uma bulimia severa, que durou por anos –muito pelo desconhecimento de uma época em que pouco se falava sobre transtornos alimentares. Foi só aos 20 anos que ela iniciou sua jornada de cura. Levada por um amigo ao espaço Ciymam, de Marcia De Luca, em São Paulo, ela se consultou com o doutor Ruguê, especializado em medicina ayurveda, tradicional da Índia. Descrente, mas impactada pelo tanto de remédio alopático

e

Camila e as filhas, Olympia e Amora; a kombucha, primeiro produto de sua marca oh! Mila; e a empresária em um de seus muitos momentos na cozinha

“Muitas doenças que vemos hoje, inclusive as mentais, passam pela alimentação. Sinto que a minha missão é ensinar”

com um câncer no cérebro. “Quando descobrimos, falei: ‘Quero que você e o Pedro fiquem na minha casa por três meses. Quero que tomem café da manhã, almocem e jantem todos os dias comigo. Ele é disciplinado, respeitou a dieta que propus e está hoje com marcadores zerados”, conta. E foi assim que surgiu um projeto de vida: as primas Brennand criaram a marca @oh.mila_, que é ao mesmo tempo um canal de alimentação saudável, um programa chamado Jornada Educacional e também produto. Por enquanto, há uma kombucha de maçã e vinagre da fruta, vendida online, e, em breve, serão lançados uma proteína em pó, sem conservantes e aditivos, e um mix de fibras. Já a Jornada é desenhada por Camila de acordo com o cliente. “Tem vários modelos, posso levar para conhecer mercados e feiras orgânicas, assim como dar aulas na cozinha da minha casa”, informa Camila, que só atende uma pessoa por semana e, desde que voltou à ativa, já recebeu 35 alunos. “Acredito que muitas doenças que vemos hoje, inclusive as mentais, passam pela alimentação. Então sinto que a minha missão é ensinar, passar tudo o que aprendi adiante.”

Ibirapuera aos domingos. Adorava essa parte do contato direto com os clientes”, afirma ela, que, em 2012, chegou a faturar R$ 4,2 milhões. A procura da sociedade pela vida saudável foi crescendo exponencialmente com a Monama, que nessa fase já tinha uma gama de produtos maior, enquanto Camila seguia sua rotina 24x7. Entre uma filha e outra, com uma separação no meio do caminho e uma carreira de mãe solo que se anunciou nos primeiros meses de vida de Olympia, Camila ainda teve fôlego para abrir o Daya & Ture, em 2015, misto de empório, restaurante e juice bar , no Itaim, que em pouco tempo ganhou público cativo e servia em média 120 refeições diárias. Dessa vez com uma sócia, a também empreendedora Marina Setubal, ela ainda conseguia se revezar. “Não tinha muitos limites, pelo contrário, achava legal me sobrecarregar.” No meio do caminho, porém, ficou claro que ela não conseguiria levar a Monama, o restaurante e duas crianças.

NOVA FASE

A venda da Monama, o fechamento do Daya, que encerrou as atividades no começo da pandemia, e as duas filhas mantiveram Camila em casa por um tempo. “Fiquei quase como em um casulo. Entendia que precisava desse tempo para dedicar ao meu maternar. Mas foi uma época difícil, de muita solidão, sendo mãe solo”, diz ela, que só renasceu com o fim do isolamento social. Olhando para o passado, a empreendedora entende que foi necessário passar pelos altos e baixos para chegar ao momento presente. Em 2023, ela voltou a estudar alimentação, com foco em doenças, em razão do marido da prima e hoje sócia, Maria Cecilia Brennand, diagnosticado

O nome dela é SARINE GOISHI . Já sua profissão, temos dificuldade em definir. Florista? Artista multidisciplinar? Chef? Historiadora? A verdade é que ela é um pouco de tudo isso. Fundadora da recém-lançada MUMUSHI , marca autodefinida de “loucurinhas florais e, sempre que possível, cerâmicas”, Sarine tem um currículo único, baseado em estudos e história pessoal: ela é formada em Gastronomia e em História da Arte e é filha de floricultores. “Crescer nesse ambiente das plantas me trouxe uma bagagem técnica e referências cheias de memória. Minha formação acadêmica me mostrou a beleza de produzir algo com as minhas mãos. A manualidade sempre foi o que me atraiu nessas áreas, e materializar algo a partir dos elementos disponíveis é minha paixão, que, na Mumushi, transforma-se em uma grande diversão.” Aliás, o que significa o nome da marca? “Mumushi é uma palavra inventada por mim! Gosto de pensar nela como um dialeto ou uma palavra sussurrada entre seres imaginários e fantásticos. Meus arranjos seguem essa mesma narrativa: são flores inventadas, que, manuseadas e encaixadas umas nas outras, transformam-se em novas espécies, desconhecidas pelos livros de botânica”, explica a expert. @mumushi___

AQUI E AGORA

Mais do que avistar animais impressionantes e degustar bons vinhos, a melhor parte de conhecer a África do Sul é ter o privilégio de passar alguns dias vivendo unicamente o presente. Visitamos duas propriedades de Richard Branson no país e mostramos o porquê

Se existisse fofoca em uma reserva no meio da África do Sul, é fato que ela começaria assim: “Há seis meses, um leão matou uma zebra naquela região”, ou “na semana passada, dois rinocerontes brigaram e um deles ficou muito machucado”. Não estou dizendo isso porque a vida na savana seja entediante, pelo contrário. É difícil pensar em algo mais eletrizante do que ficar cara a cara com uma família de leões – detalhe: dois machos que dividem a fêmea e os filhotes –, ou chegar pertinho de uma manada de elefantes se alimentando de árvores de amarula. Mas a verdade é que os dias na selva são sobre o que se passa na selva e ponto final. E, para mim, esse foi o maior ensinamento trazido de uma temporada no destino. Entendi que o safári, atualmente, é uma das poucas experiências que nos faz viver única e inteiramente no presente. Naquelas horas em busca da vida selvagem, sem sinal de celular ou qualquer vestígio mais urbano, minha única preocupação girava em torno de pensamentos como “vou ou não vou encontrar aquela girafa com que tanto sonhei?”.

Minha constatação veio depois de passar alguns dias em Ulusaba, a reserva privada de 14 mil hectares que Richard Branson, o empresário por trás da Virgin Records

e muitos outros negócios, mantém na reserva de Sabi Sand. As cercas entre as áreas foram removidas em 1993, justamente para que os animais circulem livremente, e é curioso pensar que eles podem seguir se movimentando até as montanhas Lebombo, na fronteira com o Moçambique.

Não à toa, Branson escolheu uma região privilegiada para espalhar seus dois lodges. Ulusaba significa “lugar de pouco medo” e, diz a lenda, que o terreno onde está um deles era considerado seguro pela tribo Shangaan exatamente por oferecer uma visão ampla do horizonte e seus supostos perigos.

Fiquei, claro, encantada pelo Safari Lodge, onde me hospedei: são pouquíssimos quartos, que mais parecem casas na árvore, conectados por passarelas suspensas em plena selva. Pela massagem que me transportou para um estado de relaxamento único; pelo cardápio, que sempre muda, mas sem perder o foco nos ingredientes regionais; e por muitos outros detalhes.

Acima, meu grande fascínio foi por essa “licença” que o safári te dá: a possibilidade de passar algumas horas longe de tudo e de todos, praticando a arte de estar presente. E perdoem o trocadilho, mas em tempos de conexão 24x7,

Cenas de Ulusaba, incluindo o emocionante safári a pé ao lado de guias que conhecem tudo sobre a fauna e a flora da região
“Todo mundo que chega aqui precisa se desconectar da vida lá fora para se conectar com a natureza”

isso é um verdadeiro presente. “Todo mundo que chega aqui vai precisar se desconectar da vida lá fora para se conectar com a natureza. E não importa se você é o dono da maior empresa de automóveis do mundo. Na selva, tudo se nivela”, complementa Karl Langdon, gerente-geral do Ulusaba e braços direito e esquerdo de Branson nos projetos africanos.

PÉ NA ESTRADA

Uma vez em campo, portanto, minha atenção era dedicada inteiramente aos burburinhos da savana. Em um dos dias, por exemplo, isso consistia em seguir as impalas que estavam emitindo um som de alerta: um leopardo estava

à espreita delas e o comportamento era uma espécie de proteção em grupo. No outro, a missão era ir atrás de um cão-selvagem-africano carinhosamente apelidado de Harold. Eu não conhecia a espécie, mas logo aprendi que é considerada um hit da savana pela habilidade na caça – sua taxa de sucesso é de 85%, contra os 30% dos leões – e, infelizmente, por estar em extinção. E, em todos os dias, os planos podiam mudar dependendo do que encontrássemos pelo caminho: um baby leopardo em cima de uma árvore, girafas se entendendo na dinâmica do acasalamento, elefantes fazendo cocô – são cerca de 16 vezes por dia! –, hipopótamos respirando após seis minutos submersos e mais.

É como disse meu guia, Bradley Sheldon, que, desde os 11 anos, sonhava com o ofício e hoje está “living the dream”, em suas próprias palavras: “Não existe nenhum dia igual ao outro por aqui”. Enquanto dirige nosso jipe, Bradley está a todo tempo nos provendo das mais curiosas histórias sobre a fauna, a flora e os costumes locais. “Quer sobreviver na floresta? Nunca coma o mesmo que os babuínos. O estômago deles digere qualquer coisa e, se fôssemos segui-los, morreríamos intoxicados.” Ou: você sabia, por exemplo, que são necessários uns 40 leões para abater um elefante? Os elefantes, aliás, fascinaram-me: comem tanto que podem causar um desequilíbrio no ecossistema.

Com paradas estratégicas para apreciar a savana, o safári rende avistamentos incríveis e muita conexão com a natureza local

Um dos momentos mais emocionantes entre tantos aprendizados foi certamente o safári a pé, que eu jurava ser impossível existir. No meu grupo nem todos toparam a caminhada, e confesso que as instruções em campo – andar em silêncio, em fila, não correr sob qualquer hipótese – deram um frio na barriga, mas a atividade valeu cada segundo.

Por mais clichê que possa parecer, caminhar na savana é uma mistura de filme de aventura – fico entre O Rei Leão, Jurassic Park e Indiana Jones – com o mundo dos sonhos. Entre um passo e outro, Bradley mostrava vestígios da vida que pulsa a todo instante na selva, agora de forma mais sutil e nem sempre visível nas rotas a bordo de um jipe.

O maxilar de um hipopótamo, o fruto indicado para tratamentos de câncer de pele, as florzinhas cujas sementes grudam nas patas dos animais e acabam se proliferando mata adentro. Foi mágico!

DO CORRE AO GOLE

Passada a temporada de imersão na natureza e na cultura sul-africanas, desembarquei na charmosa região vinícola de Franschhoek para conhecer o outro endereço que fez Sir Richard Branson se apaixonar pelo país. O empresário que não dá ponto sem nó – basta um breve entendimento de sua companhia Virgin Limited Edition para comprovar – logo entendeu que uma

fazenda em ritmo de slow travel seria o complemento perfeito para os dias de safári.

E basta colocar os pés na sua wine farm, comprada em 2014 e batizada de Mont Rochelle, para relembrar o quão afiado é o faro do britânico para encontrar lugares únicos no planeta. Debruçado sobre um vale verdejante, que alcança as imponentes montanhas da região, o terreno dele tem, provavelmente, a vista mais incrível de Franschhoek. E é nesse cenário mágico, cercado por um jardim bucólico – como são majestosas as proteas! –, que ficam um hotel intimista, uma villa de cinco quartos e uma vinícola boutique, com produção de 90 mil garrafas por ano. São variedades como sauvignon

No alto, o visual do Rock Lodge, que inspirou o nome da reserva. Acima, uma das suítes do refúgio e a piscina do Safari Lodge, outra propriedade de Richard Branson

blanc, chardonnay, syrah, cabernet sauvignon, cuidadas de maneira minuciosa por Michael Langenhoven nos 15 acres dos vinhedos locais. “Nossos vinhedos se beneficiam da geografia única da África do Sul, com microclimas variados em virtude das condições mediterrâneas. E nosso foco é sempre na qualidade”, explica o winemaker, enquanto mostra as instalações da vinícola, um antigo galpão de frutas, com alguns séculos de história.

Com um clima delicioso de casa de campo, a propriedade foi pensada para mergulhar no ritmo tranquilo da região, que tanto nos faz valorizar os momentos presentes. Piqueniques à beira de uma represa – mesmo quem não é hóspede pode comprar uma cesta repleta de guloseimas –, degustações, piscina, partidas de tênis em uma quadra de grama e jogos espalhados pelo jardim.

E, claro, impossível resistir à atração principal da cidade, que inclusive faz uma parada dentro de Mont Rochelle: passear no icônico Wine Tram, trem que passa pelas principais vinícolas locais. Em tempo: adorei o clima

Cenas de Mont Rochelle, uma das wine farms mais incríveis da região de Franschhoek, aos pés da cordilheira Klein Dassenberg

familiar da La Bri, fazenda pequenina e intimista de 1964 que começou a produzir vinhos excelentes em 2002 – e a vista é espetacular. Já a Rickety Bridge me pegou pela história: fundada em 1797, foi pioneira na produção de vinhos na região e ainda a primeira a ser comandada por uma mulher.

Entre uma parada e outra, achei incrível como a cultura do vinho faz parte da rotina de lazer das famílias do país. Prova disso é que a maioria das vinícolas tem parquinhos e outras boas sacadas – que tal uma degustação de sucos de uva? – para que as crianças também se divirtam.

De volta ao Mont Rochelle, minha dica é terminar o dia no Miko, restaurante que ganhou o nome dos vinhos mais especiais da propriedade de Sir Branson – os rótulos levam cerca de quatro anos para ser engarrafados. A vista é privilegiada e, no pôr do sol, com uma taça em mãos, fica ainda mais latente a sensação que parece ter me acompanhado durante toda a jornada sul-africana: se tivermos presença – e um tiquinho de calma –, o melhor lugar do mundo é aqui e agora.

ERA UMA VEZ

Em Ulusaba, quem quiser ir além da fauna e da flora e ainda contribuir com as populações locais pode fazer o passeio da Pride ‘n Purpose. A organização foi criada por Karl Langdon e Sir Branson, em 2003, para melhorar a qualidade de vida das comunidades que habitam o entorno da reserva. Lungelo Khosa, líder comunitário, me recebeu em uma das préescolas construídas pelo projeto, ao lado de dezenas de crianças cantarolando em busca de um abraço estrangeiro. “Eu fui uma dessas crianças que você vê aqui. Graças ao Pride ‘n Purpose, eu me formei em sociologia e psicologia e hoje trabalho para seguir com esse projeto.”

PARA CONHECER

A cidadezinha de Franschhoek é um charme e concentra endereços imperdíveis para os entusiastas das artes e do design. Listamos nossos favoritos:

1. EVERARD READ

Filial da galeria mais antiga da África do Sul. São dois endereços, e o que fica em Leeu Estates ainda tem um jardim de esculturas. @everardreadfranschhoek

2. HAND MADE LIFE

A curadoria mais incrível de móveis de madeira e mimos de lifestyle feitos à mão na África do Sul. Dos lenços às velas, tudo é apaixonante! @handmadelife.shop

3. ANNA AND GRACE

O tema é África, mas as roupas e artigos de decoração desta loja, muitas feitas com tecidos indianos, são incríveis. @annaandgracefranschhoek

4. HUGUENOT

FINE CHOCOLATES

O atelier de chocolates artesanais usa matéria-prima da Bélgica para criar guloseimas que valem cada mordida. Tem degustação e workshop também! @huguenotfinechocolates

1.
2.

Comporta

MUITO ALÉM DE UM BALNEÁRIO

Viajante apaixonado e autor da página Kissu Trips, Cristiano Biagi revela seu guia completo da praia mais desejada de Portugal

Por Kissu Trips

A praia (quase) deserta de Comporta: águas que mudam de cor todos os dias

Em uma coisa todos temos que concordar sobre Portugal: o país tem tido uma capacidade enorme de se renovar, valorizar seu passado e tudo aquilo que produz. Da culinária às cidades históricas, muitos aspectos vêm, já há um tempo, passando por um processo de renovação, fruto de um mix de políticas públicas com iniciativas acertadas de empresários portugueses e estrangeiros que está fazendo com que o destino atraia um público inédito até então. E não estou falando só da Madonna, talvez esteja falando de pessoas como eu mesmo.

Comporta é um bom exemplo disso. Uma cidade minúscula, com enormes áreas naturais preservadas, arrozais

a perder de vista, praias quase desertas e um mar lindo – e gelado! –, que, apesar dessa aparente tranquilidade, firmouse como o balneário mais bacana do país.

Comporta não se parece em nada com o que existia antes no litoral português. Não tem nada a ver com Algarve, por exemplo. E nem se parece com nada na Europa. Talvez a comparação mais justa seja a distante José Ignacio, o pedaço mais roots e descolado de Punta del Este.

Mas se o destino de muitos balneários começa hippie, cresce no hype e morre na praia, esse não parece ser o caso dessa região portuguesa banhada pelo Atlântico, com águas que mudam de cor todos os dias. Comporta segue se

“Comporta não se parece em nada com o que existia antes no litoral português”

desenvolvendo sem perder o charme e essa aura de “simples”, mas anote aí: de simples ela não tem nada.

A região foi descoberta em 2017, depois que Madonna pisou em suas areias, mas ainda conserva seu ar praiano-rural. Bem perto de Lisboa, a apenas uma hora de carro do aeroporto da capital e conectada pelas excelentes estradas do país, é um destino com aquela sensação de praia californiana: quente de dia e friozinho à noite, mesmo no verão.

E a parte “rural” sempre fará parte dos seus circuitos, já que há pouquíssimas construções em frente ao mar – esqueça a ideia de hotel pé na areia –, com exceção de alguns beach clubs, que, aliás, são ótimos.

A praia, a maior da Europa, é sempre a mesma, só muda de nome conforme a posição: Comporta, Carvalhal, Pego ou Melides.

Hoje, além da vila de Comporta, outros vilarejos a dez minutos de distância, como Carvalhal, desenvolveram-se. E o visual é similar: uma sequência de casinhas brancas, típicas das cidades do interior, mas que internamente vem sendo recheadas de lojas descoladas, bons restaurantes e bares bacanas. O gostoso na região é passear no fim do dia garimpando e, à noite, jantar.

Comporta é assim: praias lindas, dias longos, uma aparência rústica e despretensiosa, mas sofisticada e contemporânea. Uma boa pedida no velho mundo para quem se cansou dos mesmos balneários de sempre. Se for o seu caso, não deixe de levar o guia que divido a seguir.

Em sentido horário: Kissu e Philippe Takla na praia de Comporta; ninhos de cegonhas nas construções, um símbolo local; e o charme do vilarejo

ONDE FICAR

QUINTA DA COMPORTA

@quintadacomporta

Eu me hospedei lá e, mesmo visitando outros, achei o mais bacana. Fica em Carvalhal e foi implantado em um celeiro original, com enormes e antigas vigas de madeira que se abrem para o arrozal. Uma piscina incrível e um spa de respeito.

“Casinhas brancas vêm sendo recheadas de lojas, restaurantes e bares”

SUBLIME COMPORTA

@sublimecomporta

O mais famoso, tem bangalôs espalhados por um extenso bosque. São três restaurantes, incluindo o Canalha, novidade do chef João Rodrigues, que oferece um toque irreverente aos clássicos portugueses. Piscina calma, spa gostoso e uma bela academia.

ALMALUSA

@almalusacomporta

Uma proposta diferente, pois é uma pequena propriedade em pleno centrinho de Comporta. Para se hospedar por poucos dias e com diárias mais amigáveis, é uma ótima pedida.

SPATIA COMPORTA

@spatiacomporta

Também espalhado por uma extensa área rural, tem ótimos quartos. O único “defeito” é que, por ser grande, demoramos para nos deslocar internamente.

HOTEL VERMELHO

@hotelvermelho

O hotel de Christian Louboutin fica mais afastado, em Melides. Sinceramente, não curti muito, mas devo admitir que, à noite, à luz de velas, fica mágico.

Piscina, restaurante e lobby do Quinta da Comporta: o hotel tem vista para um arrozal

AS BOAS COMPRAS

1. THE LIFE JUICE

@thelifejuice

De peças de cerâmica a acessórios, reúne algumas das melhores marcas artesanais portuguesas.

2. FASHION CLINIC

@fashionclinic.world

Dos mesmos donos do JNcQUOI, é uma loja com boa curadoria de grifes como La DoubleJ, Pucci, Brunello Cucinelli, etc.

3. LAVANDA

@lavandacomporta

Tecidos leves e fluidos, típicos do estilo de vida à beira-mar.

4. CAJU COMPORTA

@caju_comporta

Fundada pelas brasileiras Helena Lunardelli e Stela Batochio, é uma loja conceito que une moda, cosméticos e decoração das principais marcas locais e brasileiras.

5. RICE

@rice.martamantero

Decoração boêmia para casa inspirada no espírito mediterrâneo.

6. CASA DA CULTURA

@casa_da_cultura_ comporta

Este galpão no centro da vila é uma vitrine para marcas handmade do país. Apesar do nome, é quase um minishopping com vários quiosques de designers descolados.

7. CÔTÉ SUD

@cotesudquintadolago

Concept store com uma linda coleção de roupas e objetos para casa.

8. TRACES OF ME

@tracesofmetm

Marca portuguesa que preza pela produção ética e exclusiva. Moda, decoração e acessórios.

“Uma boa pedida no velho mundo para quem se cansou dos balneários de sempre”

BEACH CLUBS

1. SUBLIME COMPORTA

PRAIA DO CARVALHAL

@sublimecomportabeachclub

A expansão do hotel Sublime à beira-mar. Serve frutos do mar em um ambiente despretensioso com toques étnicos e rústicos.

2. JNCQUOI BEACH CLUB

PRAIA DO PEGO

@jncquoi.beachclub

Do mesmo grupo dos restaurantes em Lisboa, é o mais “invocado” dos beach clubs. Arquitetura caprichada, com design em todos os detalhes. Seu restaurante tem um menu minimalista, ainda que de pratos autênticos portugueses.

3. SAL

PRAIA DO CARVALHAL @restaurante_sal_comporta

Já foi eleito o melhor bar de praia do mundo pela Condé Nast Traveller Hoje, é considerado um clássico. Seus peixes frescos são assados na brasa e acompanhados por diferentes sabores de arroz (o de coentro é imperdível).

Fotos
Kissu Trips, Manolo Yllera e divulgação

ONDE COMER

1. SADO

@sado.restaurante

Esta novidade tem ambiente rústico e chique com uma linda vista da rua dos arrozais da região.

2. CAVALARIÇA

@cavalaricagrupo

Menu contemporâneo e cosmopolita em pleno centrinho da vila, com releituras de clássicos portugueses. Tem uma ótima carta de drinks.

3. G OMES

@gomes.vinhos.petiscos

No centrinho de Comporta, tem mesinhas ao ar livre, vasta seleção de vinhos locais e deliciosos petiscos preparados com ingredientes da região.

4. MESA

@mesacomporta

Ingredientes regionais e frescos são a base da cozinha deste restaurante superaconchegante.

5. DA COMPORTA

@dacomportarestaurante

O brasileiro Jacaré atravessou o oceano de Trancoso trazendo seu estilo único de misturar tudo com maestria. Só abre à noite, com muita luz de vela e uma decoração incrível, repleta de peças de demolição e móveis vintage

6. JNCQUOI DELI COMPORTA

@jncquoi.delicomporta

Também do grupo que é sucesso em Lisboa. Moderno e cool, serve ótimos pratos no café da manhã, sanduíches, steaks e sobremesas deliciosas.

Se essa rua fosse minha

Com o aumento da presença de livrarias de rua em São Paulo, os bairros têm ganhado novas dinâmicas de passeios e atividades, além de fomentar o contato direto entre leitores, livros e escritores

É comum em grandes centros urbanos as livrarias de rua movimentarem o comércio local e o turismo. Caso das históricas Shakespeare and Company (@ shakespeareandcoparis), em Paris, e Lello (@livrarialello), em Portugal, que reúnem os aficionados em literatura em espaços pensados para o encontro (com os livros, as pessoas, a arquitetura e a cidade). Não à toa, eles inspiraram um movimento recente de novos endereços, com recortes curatoriais específicos, mas com o objetivo comum de aproximar leitores de suas obras e autores favoritos, como as descoladas Librairie Violette and Co (@violetteandco.librairie), também na capital francesa, e a Selexyz Dominicanen, em Maastricht, nos Países Baixos.

O ambiente generoso tem um café com cardápio para qualquer hora do dia e decoração aconchegante, que te convida a ficar – não só dar uma passadinha. O que casa com outro pilar da livraria: os projetos de leitura. “O encontro está no nosso DNA. Fazemos rodas de conversa, lançamentos e organizamos até um clube de leitura. Para nós, a livraria é um espaço para estar e descobrir novas narrativas.”

Não tão longe dali, a Casa Cosmos (@acasacosmos) também entrou para o percurso de livrarias de rua de São Paulo, com um recorte específico: a

No Brasil, São Paulo tem se destacado nesse cenário pela profusão de novas livrarias de rua, que agitam os bairros e proporcionam encontros inspiradores. Entre elas, está a Bibla (@bibla.bibla), no Alto de Pinheiros. Fundado pelas sócias Isadora Peruch, Alessandra Effori e Luciana Gil Borges, o espaço tem uma curadoria voltada para as literaturas brasileira e estrangeira, percorrendo clássicos e contemporâneos, e que permite destaque para as editoras menores. “A proposta do catálogo se integra em como as seções são organizadas. A ideia dessa divisão menos convencional é deixar a busca de descobertas literárias mais atrativa para o público”, contam.

Acima, fachada e interior da Gato Sem Rabo. Ao lado, a livraria Eiffel

LER E PASSEAR

Outras livrarias de rua para conhecer pelo Brasil

SÃO PAULO

Livraria Simples @livraria_simples

Livraria da Tarde @livrariadatarde

Livraria Sentimento do Mundo @sentimentodomundo_livraria

Livraria Ponta de Lança @livrariapontadelanca

Livraria Martins Fontes @livrariamartinsfontes

RIO DE JANEIRO

Livraria da Travessa @livrariadatravessa

Janela Livraria @janela_livraria

FORTALEZA

Livraria Substânsia @substansia

Livraria Arte & Ciência @arteeciencia

PORTO ALEGRE

Livraria Baleia @livrariabaleia

Livraria Clareira @livrariaclareira

FLORIANÓPOLIS

Letraria @letrarialivros

Par(ent)esis @plataformaparentesis

BELO HORIZONTE

Livraria da Rua @livrariadarua Jenipapo @livrariajenipapobh

literatura infantil. Organizada dentro de uma antiga casa na rua Natingui, ela propicia um passeio lúdico para os pequenos com programação musical, teatral e literária selecionada com precisão pela equipe. “Acho maravilhoso esse movimento de espaços mais nichados, porque é pela experiência que vamos construir a relação com as pessoas – não tem como competir com os preços da Amazon, por exemplo”, conta Jessica Nolte, fundadora do projeto. Ali, é possível participar de palestras e workshops, divididos em turnos para abraçar todas as idades, dos bebês às crianças mais velhas e também pais e cuidadores, tudo direcionado pela pedagoga Pollyanna Faria.

Nas prateleiras, os livros não são separados por idade, e as livreiras são treinadas para encontrar indicações personalizadas para cada criança. “Saímos um pouco do circuito comercial e apresentamos temáticas como luto, gênero e política.”

Recortes temáticos como o da Casa Cosmos já se

mostraram interessantes em outras regiões de São Paulo. No Centro, a Gato Sem Rabo (@gato.sem.rabo) é totalmente focada em publicações escritas por mulheres. Já a Aigo (@aigolivros) valoriza títulos de países de origem e diásporas das comunidades imigrantes.

Na Consolação, recentemente foi a vez de a Megafauna (@livrariamegafauna), famosa por seu ponto no Edifício Copan, abrir uma nova unidade, agora como parte do Cultura Artística. “Nossa ideia sempre foi ser um ponto para debates e encontros literários. Não temos a intenção de virar uma rede, mas o projeto com o Cultura Artística permite o uso do auditório, o que nos ajuda com os eventos maiores”, explica a diretora Irene de Hollanda. A agenda será distribuída de acordo com a necessidade de cada autor ou conversa. Inclusive, a ideia é se aproximar de festivais nacionais para cruzar programações e aproveitar a agenda dos escritores na cidade – como já acontece com a Flip.

Acima, Megafauna no térreo do Copan; ao lado, Casa Cosmos; e, abaixo, panoramas da Bibla
“As livrarias de rua têm ocupado esse espaço na forma de refúgios culturais, ampliando e cultivando diálogos”

Jaqueline Lessa

Nas fotos, detalhes da livraria Aigo

O catálogo também é complementar, apesar de partirem do mesmo eixo de pesquisa, valorizando a bibliodiversidade com uma vasta seleção de títulos independentes e de editoras menores. A ênfase em literatura e ficção segue, com adição de ensaios e humanidades, além do espaço específico para crianças. “Criamos uma sala anexa, com um projeto ideal para interagirem, e uma grade de eventos aos sábados focada nelas.”

DO PAPEL AO CORPO

São Paulo se tornou uma cidade em obras. Basta olhar para as esquinas e tentar procurar brechas entre os andaimes, construções em andamento, entulhos e caminhões. Se de um lado, temos uma proposta urbana, que não corrobora para uma convivência de bairro e cultura local, do outro, há uma crescente movimentação em regiões que permitem um passeio completo, incitado, principalmente, pelo sucesso das livrarias de rua. “A cidade é o lugar material das trocas e dos encontros, e o térreo é esse objeto de fronteira entre público e íntimo. Um térreo que se abre à rua potencializa essas interações, faz da cidade mais viva e plural”, explica a arquiteta Jaqueline Lessa, do Entre Terras. “As livrarias – embora ambientes comerciais por essência – têm ocupado esses espaços na forma de refúgios culturais, ampliando e cultivando diálogos.”

Para Irene de Hollanda, a falência do modelo de megalivrarias abriu espaço para chegarem projetos com personalidade. “Foi triste, deixou um vazio, mas isso, de certa maneira, trouxe possibilidades para pensarmos nesses recortes mais nichados e especializados, como a Eiffel (@livrariaeiffel), dedicada a arquitetura e design.” A repercussão positiva desses projetos, segundo ela, marca um espaço importante no Centro da cidade, que reverbera no entorno. “Com a nova unidade, estamos vivenciando outro movimento de bairro, com bares e teatros próximos, famílias voltando com as crianças da escola, coisas que não vivíamos ali no Copan.”

Experiência similar ao que as sócias da Bibla relatam. “Fomos recebidas com entusiasmo. São diversas faixas etárias da vizinhança que frequentam a livraria, seja para um almoço, buscar presentes, tomar um café ou descobrir a próxima leitura. Viemos ser o ponto de encontro dessa comunidade e também destino de outros moradores de São Paulo”, afirmam Isadora Peruch, Alessandra Effori e Luciana Gil Borges. Para elas, estar ali é um símbolo de resistência. “Parece clichê, mas acreditar na formação de novos leitores e no poder dos livros como ação civilizatória, é algo transformador.”

Jessica Nolte, da Casa Cosmos, cita uma experiência surpreendente da relação da livraria com o bairro. “Superou todas as nossas expectativas. A comunidade nos abraçou a tal ponto, que muitas pessoas aparecem aqui para oferecer ajuda e colaborar com possíveis projetos”, conta, animada.

Do outro lado dessa moeda, os ganhos também são reconhecidos com entusiasmo. Editoras independentes, pequenas ou de médio porte acabam se beneficiando com a proposta de bibliodiversidade, defendida por esses espaços. Rita Mattar, fundadora da editora Fósforo (@fosforoeditora), reconhece o trabalho atento dos livreiros desses espaços como um intermediário importante para as obras encontrarem novos leitores. “Além de facilitar a venda de livros, o que é fundamental para a saúde do mercado como um todo, as livrarias de rua são grandes promotoras da leitura e têm papel importante na formação de leitores, graças aos eventos e encontros que proporcionam”, comenta.

Amabile Barel, coordenadora de comunicação da editora Âyiné (@editora.ayine), concorda. “Os encontros presenciais são fundamentais para dar matéria às palavras e ideias contidas nos livros. Elas saem do papel, ocupam as ruas e ressoam no corpo das pessoas”, diz. Para ela, a possibilidade de democratizar certos temas faz parte da equação. “É essencial sair do nicho também. Sem o apoio das livrarias, essa conexão seria impossível”, finaliza.

APROVEITE O BAIRRO Reunimos dicas do que fazer na região das livrarias

PERTO DA GATO SEM RABO

Nos dias quentes, o iced coffee e o pão de banana na chapa do Takko Café são uma boa pedida para acompanhar a leitura pós-visita à livraria.

Caso vá à noite para algum dos encontros do circuito, a Divina Increnca, logo na esquina, oferece uma das melhores pizzas de São Paulo – a vegetariana e a pecora são deliciosas.

PERTO DA NOVA MEGAFAUNA

A poucos metros da Megafauna, o Museu Judaico tem uma programação cultural imperdível para todas as idades (vale avisar: não é preciso ser judeu para frequentar as atividades).

Reaberto depois de uma longa renovação, o Cultura Artística tem curadoria especial para quem gosta de música clássica.

PERTO DA EIFFEL E DA MEGAFAUNA (MATRIZ)

Vale passear por todo o complexo efervescente do térreo do Copan e da Galeria Metrópole, que concentra lojas de décor e lifestyle, como a Casa Jardim Secreto

PERTO DA AIGO

Aproveite o passeio para almoçar. São diversas opções no bairro: tem os gregos O Prato Grego (na mesma galeria da livraria) e Acrópolis, o judaico Shoshana Delishop, quitutes da Casa Búlgara e uma variedade de restaurantes de culinária coreana.

Com três complexos diferentes, a Pinacoteca de São Paulo sempre vale a visita.

Para fechar o passeio, o moderninho Bar Carmem serve ótimos coquetéis.

Tanto a Casa Cosmos como a Bibla ficam localizadas nas mediações entre os bairros de Alto de Pinheiros e Vila Madalena. Por ali, os restaurantes clássicos, como Astor e São Cristóvão, acomodam a família ou grupo de amigos sem dificuldade.

OLD STORY

Curiosidades sobre as livrarias de rua históricas ao redor do mundo

1. Bertrand | Lisboa, Portugal • É a livraria de rua mais antiga do mundo em funcionamento – reconhecimento marcado em 2011 pelo Guinness World Records. Aberta em 1732, pelo livreiro francês Pedro Faure, ela funciona desde então no tradicional bairro do Chiado. Além de uma seleção afiada de títulos de diversas temáticas, tem um selo editorial para publicar obras de não ficção assinadas, majoritariamente, por autores portugueses.

2. Shakespeare and Company | Paris, França • Esta icônica livraria tem uma história tão cativante que virou livro: A Livreira de Paris (Intrínseca). Sua história começa em 1919, sob o comando de Sylvia Beach, mas, após a invasão nazista, ela foi forçada a encerrar as atividades em 1941. Dez anos depois, George Whitman decide retomar a essência do projeto, uma espécie de refúgio para escritores e pensadores como Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald e James Joyce. Desde então, essa atmosfera reúne autores e visitantes, que podem folhear edições raras ou aproveitar eventos literários. Não deixe de conhecer a sala de leitura no andar de cima – pegue um café na própria livraria e aproveite a vista do Sena.

3. Livraria Lello | Porto, Portugal • Ela é comumente vista nas listas das livrarias mais lindas do mundo, e quem já passou por lá sabe

que é verdade. A arquitetura neogótica com escadas espiraladas em estrutura de madeira e vitrais no teto faz os olhos brilharem desde 1906. Uma ótima parada durante o passeio pelo centro histórico da cidade, com opções de livros portugueses, seleção esperta de obras infantis e edições internacionais de clássicos da literatura de tirar o fôlego. Vá com tempo para curtir cada detalhe!

4. The Strand | Nova York, EUA • Com um catálogo impressionante de 2,5 milhões de livros (entre novos, usados e raros), a famosa livraria no East Village, em Manhattan, é parada obrigatória para quem gosta de colecionar achados. O negócio foi inaugurado em 1927 e segue na família de Ben Bass até hoje – são três gerações, and counting. A dica é visitar com calma, principalmente a sala de raridades no terceiro piso.

5. Honesty Bookshop | Hay-on-Wye, País de Gales • Longe de ser uma livraria comum, ela foi idealizada a céu aberto, em meados de 1960, como um espaço para oferecer livros a preços mais acessíveis. Você pode deixar o valor em uma caixinha e escolher qual título levar para casa. O lugar, inclusive, é conhecido como “a cidade dos livros”, com festival de literatura anual e cerca de 25 livrarias de curadorias diversas para uma população com menos de 2 mil habitantes.

PERTO DA CASA COSMOS, DA BIBLA E DA LIVRARIA DA TARDE

A POESIA

É POP

A produção lírica nacional deu um salto. No mercado editorial, nos festivais, nos prêmios, na internet. Entenda os detalhes da cena e descubra como se aventurar nessa leitura tão rica quanto inspiradora

Por Manuela Stelzer

“Há dois ou três anos, quando criamos o Círculo de Poemas [selo de poesia da editora Fósforo em parceria com a Luna Parque], não imaginávamos que cresceria tanto. Hoje, nossa preocupação é dar conta da demanda.” A fala de Tarso de Melo, que, além de advogado, escritor e doutor em filosofia, é editor do selo, ilustra o que vem acontecendo no mercado editorial brasileiro – um boom poético. Ele, que escreve, edita e recebe muitas obras, diz estar sempre se surpreendendo. “Entro em livrarias e descubro um novo poeta, uma editora que não conhecia, alguém divulgando poesia na internet”, conta.

É difícil quantificar, mas a alta oferta e demanda é evidente quando olhamos para os principais acontecimentos literários nacionais. A penúltima Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), por exemplo, apresentou um número inédito e recorde de poetas na programação principal: 19, entre 44 autores. No Prêmio Jabuti, a categoria Melhor Livro do Ano condecorou um título de poesia: Engenheiro Fantasma , de Fabrício Corsaletti, publicado

pela Companhia das Letras. E quatro dos cinco finalistas da categoria Poesia no Prêmio Oceanos, dedicado às literaturas lusófonas, eram brasileiros. O troféu, inclusive, ficou com a suíço-brasileira Prisca Agustoni, autora de O Gosto Amargo dos Metais, publicado pela 7Letras.

A produção lírica está mesmo a todo vapor por aqui. Ainda assim, muitos leitores, dos mais assíduos aos eventuais curiosos, sentem certo distanciamento, quase medo, de se aventurar nos versos. Daí a necessidade de “aprender a conversar com quem não está acostumado a ler poesia”, como diz Melo. “Precisamos pensar em um diálogo que não seja nichado. E acho de verdade que o gênero tem esse potencial: alcançar muita gente, ser lido sem aquela reverência exagerada.”

UMA NOVA CENA CULTURAL

Para Tarso de Melo, o Brasil dos últimos vinte e poucos anos consolidou, profissionalizou e deu destaque a percursos que vinham crescendo desde a década de

1980. “Veja o caminho da turma do rap e do hip-hop, que começa naquela época, atravessa os anos 1990 cheios de dificuldades e cria uma projeção gigantesca nos anos 2000, o que coincide com a mudança nas universidades e outras camadas da sociedade entrando ali, com as cotas. As vozes se ampliaram.”

Bruna Mitrano concorda. Autora dos livros Não e Ninguém Quis Ver, a escritora e professora nasceu e vive na periferia do Rio de Janeiro e percebe uma produção lírica bem mais descentralizada. Antes, segundo ela, havia uma busca por legitimação por parte da crítica acadêmica especializada. Mas isso mudou: a periferia passou a produzir para si mesma, menos preocupada com esse aval, e criou centros poéticos – no plural, não mais singular. “Não temos mais uma literatura periférica, são várias literaturas.”

Nesse cenário, eventos e festivais não apenas se multiplicaram, como ajudaram a consolidar a popularidade da poesia. A cena dos saraus e do slam são um exemplo: por trabalhar com a oralização do poema, atingem pessoas que, pela palavra escrita,

QUERO COMEÇAR

Três dicas básicas para quem nunca leu poesia, mas quer se aventurar nesse universo

1. Leia de tudo

Não existe manual, autores mais importantes do que outros, leituras obrigatórias. A dica é ler o que aparecer pela frente e ir testando o que mexe mais com você.

2. O processo é formativo Ler poesia é um processo autoafirmativo e, em parte, formado pela comunidade que você integra. Ou seja, vale tanto experimentar livros por aí, como receber indicações de quem a gente gosta e confia. E, à medida que lemos, nosso repertório se enriquece e se complexifica.

3. Não bateu? Tente outro Para entrar no universo lírico, o ideal é experimentar e se permitir não se identificar. E a poesia ainda tem a vantagem de você poder abrir um livro em qualquer página e “testar” o primeiro poema que aparecer. Não gostou? Passe para outro. Só não vale desistir depois da primeira tentativa.

podem não ter se interessado até então. “Tem um jeito, um sotaque, uma manha do texto, e todos os poetas dominam isso, fazem o poema de fato chegar até você”, afirma Melo. E a história atesta a funcionalidade: não há nada mais clássico e tradicional do que declamar poemas. A linguagem escrita e os livros já são parte da modernidade.

Os focos poéticos, por isso, estão por aí, Brasil afora, ganhando corpo ao lado de movimentos sociais, leis de incentivo e instituições como o Sesc, que tem alcance nacional. Tudo, como resume Melo, vai acontecendo meio junto, tanto no nível macro, como no micro: poetas criam as próprias editoras e sistemas de publicação, o famoso “fazer como dá”, além de trocar ideias, versos e apoio pelas redes. Para Bruna Mitrano, inclusive, a internet foi um ponto de virada, justamente por apresentá-la a um mundo do qual ela até então não participava e não conhecia ninguém. “Em vez de achar que a internet vai destruir o lirismo e acabar com o livro, precisamos nos apropriar dela. É um caminho bem mais inteligente.”

EM TODO CANTO

Há um estigma em torno da poesia, de que ela não é viável do ponto de vista comercial. Quase um “acordo de fracasso” que paira pelos livros, como define Tarso de Melo. Ou seja, já se espera que os títulos não vendam, os eventos não se paguem e que as tiragens sejam exclusivas. “Considero isso elitista, porque passa a mensagem de que é para poucos.”

O ideal, segundo ele, seria aproveitar o que há de mais rico na lógica da autoedição, uma prática muito própria dos poetas, e juntar isso a um trabalho editorial profissional, com mais investimento e estrutura. “Queremos fazer com que os livros de poesia cheguem às mãos das pessoas. Colocá-los em lugares que a gente não costuma ver, aeroportos, mercados, onde for.” A disponibilidade se transforma, assim, em oportunidade de leitura: a pessoa bate o olho, fica curiosa, abre o livro, lê um poema. Tudo despretensiosamente. Vai que, ali, nasce um novo leitor e admirador.

Fora que o conceito de poesia é muito mais amplo do que os versos que lemos num livro – dá para, de fato, encontrar lirismo em todo canto. Aqui, vale a diferenciação: “Poesia está por aí. Na música, no audiovisual, em todas as linguagens artísticas. É uma pulsão, é indefinível. Já o poema é a coisa feita, construída, o objeto em si”, define Bruna Mitrano. Mas, apesar da separação entre um e outro, ela reitera: “Não faço distinção de linguagem. Tudo é criação”. Isto é, poema ou poesia, o importante é ler.

“Queremos fazer com que os livros de poesia cheguem às mãos das pessoas”
Tarso de Melo

É PARA TODO MUNDO, SIM

Ainda mais no Brasil. “Nós temos o luxo de, há sucessivas gerações, os poetas estarem no centro dos acontecimentos no país”, afirma Melo. Segundo ele, nos anos 1960 e 1970, a cultura brasileira foi essencial na reação à censura. Na década seguinte, durante a reabertura política, novamente os poetas eram protagonistas. E assim permanecem – é só pensar nas melodias brasileiras mais famosas e mais amadas por aqui e mundo afora. “Discutir se Caetano Veloso é poeta, se Gilberto Gil é poeta… Não me interessa. O debate se letra de música é poesia, no Brasil, só pode ser feito com o rádio desligado.”

E Mitrano complementa: “Em vez de questionar se música é ou não poesia, podemos nos perguntar onde está sendo feita, por quem, para quem. O que é de fato poesia, isso a gente nunca vai chegar a uma conclusão”. Porém, com ou sem limite claro, dá para dizer que o Brasil é diferenciado – o que não falta são grandes e respeitáveis poetas, na música, no rap, nas artes visuais, nos palcos e nas livrarias.

Ainda assim, seguimos com um distanciamento em relação à poesia. “Acho que os poetas, em grande parte, contribuem para essa ideia de que é uma leitura complicada, mais elevada, é a linguagem em sua máxima intensidade”, opina Tarso de Melo. Para ele, parece haver um senso velado de que só quem tem algo a dizer sobre o gênero pode lê-lo.

Para Bruna Mitrano, isso também se deve a um resquício dos tempos de escola, em que tudo precisava ser interpretado e avaliado – existia um “certo” e um “errado”. Mas com a poesia, e fora da escola, não é e não deveria ser assim. “A interpretação de textos é realmente necessária. A falta dela é responsável pelas grandes guerras mundiais. Mas a poesia não precisa ser interpretada.” Existem diálogo e troca sem a compreensão. Aliás, o não entendimento pode ser um grande gerador de conversas, análises, percepções que se constroem juntas. É esse o maior poder do gênero.

@S LÍRICOS

Se não dá para vencer as redes, junte-se a elas. Conheça alguns perfis relacionados à poesia que merecem seu clique

@caixadesaida

Poemas que ficam na caixa de saída do e-mail, mas que merecem ser lidos por todos.

@ondejazzmeucoracao

Entre selfies, pets, viagens e produtos, há belíssimos poemas sobre autocuidado, amor-próprio e ancestralidade.

@verenasmit

Artista visual que publica versos curtíssimos em inglês e português e aproveita para brincar com o significado das palavras.

@genipapos

Geni Núñez, ativista indígena guarani, escritora e psicóloga, destrincha pensamentos e sentimentos em escritas sucintas e impactantes. As legendas completam a ideia escrita na arte dos posts

@leiturasorg

Com design minimalista e poemas impactantes, faz uma ótima curadoria de nomes nacionais e internacionais.

@opoemaensinaacair

Já o perfil português remete ao analógico: publica fotos de páginas que dão um respiro no feed infinito.

@fabriciogvrcia

Faz jus à poesia pop e bastante contemporânea, transformando versos em bandeiras e plaquinhas e trocas de mensagens de WhatsApp em pequenos poemas.

@tomaaiumpoema (TikTok)

Em vez de dancinha, escute alguns versos selecionados pela editora curitibana.

A segunda edição do FESTIVAL DE FOTOGRAFIA MULHERES LUZ , idealizado pela curadora e produtora cultural Mônica Maia, teve, assim como a primeira edição, toda a produção feita exclusivamente por mulheres, reforçando a representatividade na cadeia produtiva da fotografia. Com o objetivo de promover a perspectiva feminina por trás das imagens, o festival, ocorrido no fim de outubro, em São Paulo, abriu espaço para 30 obras de fotógrafas brasileiras dentro da temática “Memórias Contadas, à Deriva e Sonhadas”. Pinçamos cinco trabalhos que tocaram fundo em nossa alma. | @mulheresluz_fotografia

Saudade (2024)

ERIKA ARAUJO

Rio de Janeiro

@imagensmanifesto

Imagem capturada no sertão da Ilha do Ferro, povoado de 500 habitantes – isolado até a década de 1980 e, hoje, conhecido por sua arte popular –, localizado às margens do Baixo São Francisco, em Alagoas.

Cura (2023)

ANA LEAL

São Paulo

@analealphoto

Registro composto por uma antiga fotografia rasgada, encontrada em um álbum de família, e, atrás, uma folha de papel de arquivo. Faz parte do projeto O Vazio Ocupa um Lugar Imenso

Composição da série Mulheres Oníricas , que criou retratos infantis, utilizando inteligência artificial, para mulheres que relataram a falta de registros pessoais da época da infância.

Memoria.tempo.nostalgia (2021)

PAULA GIORDANO

Belém | @paula_giordano

Montagem resultante de uma sensível investigação, na qual a autora buscou dialogar com os sentimentos advindos da ausência materna a partir de fotografias deixadas pela mãe.

Erupção (2023)

REISLA OLIVEIRA | Belo Horizonte |@reisla.oliveira

Uma mulher, um metro e cinquenta e cinco centímetros, 14 partos. Maria partiu jovem, deixando dez filhos. Alguns eram tão novos, que talvez não reconheçam hoje a mãe que carregam em si. Aqui, a autora tentou reconstruir pontes entre essas vidas.

Será Que Eu Era Tão Bonita Assim? (2024) NATALIA NOGUEIRA | Tiradentes

BRIGITTE BARDOT E OUTROS DIASTEMAS

POR

MarianaCardosoCarvalho

Alberto Isaacson é tão pequena que não cabe fora de si. Eu só sei que Alberto Isaacson existe porque Alberto Isaacson me fez existir. Só insisto na grafia do nome por carregar um compromisso antigo com os nacos de mundo ignorados pelos mapas. E também, confesso, por me afeiçoar a esses sons extravagantes, que arranham a garganta à moda alemã, desde que um homem que amei me ensinou a retesar a língua para chamar sua tia-avó –Tante Gerda matava porcos e presenteava com palavrões em bávaro os meninos da família. Da família dele. Os meninos da minha aprenderam o silêncio das vastidões. Antes de sair dos cueiros, já estudamos como despertar a manhã afogada em neblina, como assar o pão, como entranhar a bala no inimigo, como colher os tomates, como parir as filhas, como pressentir que uma delas morrerá queimada, aos poucos anos, no início das chuvas de São José – mas nada que nos comprometa a ternura, a capacidade de inclinar a cabeça desconsolada sobre um ombro e chorar todo o rio Pará, para desaguar soluços no São Francisco. Choro é o primeiro impulso quando as vistas dão com as bordadeiras reunidas à sombra dos ipês da praça, empunhando bastidores, fios de lã e fios de luz, e flocos de flores brancas caem por cima delas, coroando os coques construídos com grampos, sossegando a poeira que se agita na terra vermelha: natas de paz sobre o sangue derramado dos homens. Tudo o que é vivo aqui é vivo demais, por isso dói. Dói até o que já é meio morto. Mesmo com jeito de coisa moribunda, a casa em frente à praça e aos ipês continua respirando forte no fundo de mim. Intacta. Conserva, além do muro baixo e das janelas azul-desejo, o hálito familiar das fêmeas que emulhereceram entre uma dúzia de paredes caiadas. Voltar a Alberto Isaacson depois de uma vida citadina, toda fumaça e aço, é investigar o avesso do bordado: o nascimento de quem me fez nascer. Corro as mãos pelo dorso das vigas, encosto a testa na pele das portas, e as carícias são retribuídas. Quando me recolho e abandono ao catre estreito o peso do corpo, sinto que a casa me amacia a

noite. O chão faz a cama beijar cada nó dos meus músculos, a lâmpada apagada parece um pequeno sol adormecido. Não trago dedos bastantes para calcular quanta gente, ao longo do tempo, fixou os olhos no mesmo teto sem forro em que eu me demoro. Um gesto milenar. É importante ter céu próprio, especialmente durante as horas nubladas. Na ausência de vontade ou de faca na cabeceira, instruiu a avó, o melhor a ser feito quando um homem se remexe dentro da gente é torcer para que termine logo. Escolher um ponto no teto, cravar os olhos, pensar em uma coisa bonita – uma radionovela, um véu de renda, um bezerro brincando na fímbria do mato. Escolher outro ponto no teto, cravar os olhos com mais rancor, mais, está quase acabando, pensar em um problema para amanhã – a roupa suja acumulada, as telhas quebradas na cozinha, os armários cada vez mais desertos. Se arreganhar os lábios for preciso, esculpindo no rosto uma carranca, não esquecer a forma certa de puxar e soltar o ar por entre os dentes. Há muitos anos, dentro da mesma casa, eu me lembro de subir em um banco para alcançar o espelho do banheiro e dedicar uma tarde inteira ao exame do espaço engraçado na minha boca, idêntico ao da boca das primas, das tias, da mãe, da avó. Perguntei a ela por que nós nascemos com um vão no meio dos incisivos. “Pra ajudar a engolir desaforo. Às vezes tem que engolir.” Passou uma mulher em preto e branco na televisão, horas depois. Embora os dentes fossem separados, o vestido era indócil demais para Alberto Isaacson. Incompatível com qualquer sujeição. Expliquei minhas razões, comuniquei à avó: eu quero ser ela. A matriarca riu, satisfeita. “É que você já veio com os dentes mais juntinhos.” Aqui, no colo daquele anúncio, acabo de escolher um ponto no teto e cravar nele os olhos, enquanto celebro a ausência de um corpo ofegante sobre o meu. O muro baixo, as janelas azul-desejo, o catre estreito – tudo é alívio quando raia, no bojo da noite, um clarão súbito nas paredes. Conto em voz alta que fiz amizade com o breu. Estamos bem. A casa é banguela, mas sorri.

Natural de Belo Horizonte, MARIANA CARDOSO CARVALHO é formada em história e autora do livro de poesias Nos Teus Quadris de Parideira, da Editora Urutau. Já publicou inúmeros textos em antologias, revistas e jornais literários. Em 2022, foi vencedora do Prêmio Off Flip de Literatura com o conto O Cio da Terra. “Também tenho mania de arrumação e uma cachorra chamada Olga”, completa.

Até a próxima!

JULIANA DANTAS DE CARVALHO , 41 anos, sonha em ser cantora. Por enquanto, trabalha em outras áreas: já passou pelo restaurante A Figueira Rubaiyat, em São Paulo, foi garçonete, e, por oito anos, empacotadora no supermercado Pão de Açúcar – onde ganhou o prêmio de funcionária-modelo por, segundo ela, “ser uma das únicas que não se escondia quando chegava um cliente com o carrinho lotado de compras”! Mas, no mundo das artes, Juliana já está com um pé. A, por ora, artista plástica, que faz aulas de teatro e dança no Shopping Eldorado, desenvolveu uma técnica artística impressionante com o uso de canetinhas hidrográficas. Suas pinturas, sempre divididas em pequenas frações em formato de quadradinhos, bandeirolas ou triângulos, ganham uma combinação de cores inusual e multicolorida que são a cara da animada pintora. Ao ser perguntada sobre seu objetivo com as obras, ela responde: “Ser feliz”.

Rua Iguatemi, S/N– Itaim Bibi

Shopping Cidade Jardim – Av. Magalhães de Castro, 12.000 – 3º piso

Catarina Fashion Outlet – Rod. Castello Branco, km 60

RIO DE JANEIRO

Rua Aníbal de Mendonça, 157 – Ipanema

@fas ano #fas ano www.fas ano.com.br

SÃO PAULO

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