a atriz do momento posa para nossas lentes e fala sobre vida, amor e futuro
SÓ DÁ ELAS mulheres que marcam presença em mercados antes vistos como masculinos: das lutas marciais ao direito penal SAÚDE FEMININA abordamos assuntos como etarismo, sexo, gestação, medos, família e suplementação
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Porque quando o tempo passa o que fica é o que fizemos dele.
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Bicho-amor
A ela foi dada uma missão: Ser Deus.
Morrer.
E renascer.
Dia após dia.
Em vida eterna.
Serpentear as próprias vísceras
Para carregar, dentro de si, o divino.
E nutri-lo com sua seiva.
Como dois selvagens
Em sua primitividade indomável.
A ela foi dada uma missão: Amar.
Morrer.
E renascer.
Dia após dia.
Em vida eterna.
Enquanto um clama,
Ela ama.
Enquanto um mama
Reclama
Exclama
Inflama.
Ela ama.
Um chama. Ela ama.
De forma desumana.
Quem já carregou, dentro de si, o divino
Jamais será humana outra vez.
Se já carregou na trajetória
Aleatória
Na história
Inglória
Na vitória
Ilusória
Na memória
Obrigatória
Tampouco será humana outra vez.
Agora, é bicho.
É bicho-mãe.
Agora, É bicho-Deus.
LILI CARNEIRO PUBLISHER
REDAÇÃO EDITORA CARBONO
PUBLISHER
Lili Carneiro lili@editoracarbono.com.br
DIRETOR EXECUTIVO E DE LIFESTYLE
Fábio Justos fabio.justos@editoracarbono.com.br
DIRETORA DE ARTE
Mona Conectada
EDITORA CONVIDADA
Adriana Nazarian
PRODUÇÃO EXECUTIVA
Bianca Nunes revistas@editoracarbono.com.br
REVISÃO DE TEXTOS
Paulo Vinicio
TRATAMENTO DE IMAGENS
Cláudia Fidelis
COMERCIAL E BACK OFFICE
DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO E NEGÓCIOS publicidade@editoracarbono.com.br
EXECUTIVA DE CONTAS
Martina Lacava comercial@editoracarbono.com.br
FINANCEIRO
Valquiria Vilela financeiro@editoracarbono.com.br
ADMINISTRATIVO atendimento@editoracarbono.com.br
COLABORADORES
Ale Catan
Ali Karakas
Ana Joma
Augusto Carneiro
Caio Delcolli
Camilla Loreta
Casini
Cassius Meirelles
Christian Maldonado
Dani Hernandez
Filippo Fortis Studio
Flavia Pires
Frederico Crissiuma de Figueiredo
Gabriela Sabau
Gonçalo Santos
Helena Barbero
Isabel de Barros
Janaina Pereira
Jeff Porto
João Bertholini
João Kopv
Jon Johnson
Jorge Garcia
Julia Herman
Kanucha Barbosa
Leca Novo
Loris Cecchini
Luisa Alcantara e Silva
Luiza Setubal
Manuela Stelzer
Marcell Maia
Marcio Teixeira
Marcos Mesquita
Mari Brunni
Maria Klien
Nataly Cabanas
Nathalia Hein
Oliver Pilcher
Nº 05 | 2025
CONCEPÇÃO EDITORIAL
Paula Brandão
Paulo Lucena
Raquel Fortuna
Ricardo Dangelo
Ruben Branches
Samuel Kim
Tati Oliva
Tereza Sá
Theo Grahl
Valentina Herszage
Vivi Guimarães
Zimmermann
EDITORA CARBONO
Av. Rebouças, 3.575
Jardim Paulistano
05401-400, São Paulo, SP
CTP, IMPRESSÃO E ACABAMENTO Stilgraf
CIRCULAÇÃO Nacional
DISTRIBUIÇÃO, BANCAS E MAILING
Black and White, Dinap e Gables distribuicao@editoracarbono.com.br
CAPA
FOTOGRAFIA
Augusto Carneiro
DIREÇÃO CRIATIVA
Mona Conectada
EDIÇÃO DE MODA
Marcell Maia
BEAUTY Dani Hernandez
ISIS VALVERDE USA Intimissimi, Frattina, Omega e Pandora
AGRADECIMENTOS Hotel Emiliano
Carbono Donna é uma publicação da Editora Carbono. CNPJ 46.719.006/0001-14
A Editora Carbono não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam do expediente da revista não têm autorização para falar em nome da CarbonoDonna ou retirar qualquer tipo de material para produção de editorial caso não tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por um integrante que conste do expediente.
SÃO PAULO
Rua Iguatemi, S/N– Itaim Bibi
Shopping Cidade Jardim – Av. Magalhães de Castro, 12.000 – 3º piso
Catarina Fashion Outlet – Rod. Castello Branco, km 60
RIO DE JANEIRO
Rua Aníbal de Mendonça, 157 – Ipanema
@fasano #fasano www.fasano.com.br
VIAGEM 124. Groenlândia
05 | 2025
A SEGUIR:
26. CURTAS
Radar ligado
36. FOLLOW ME
@’s para ficar de olho
38. MÚSICA
Ana Joma
40. COLEÇÃO Luiza Setubal
44. PRIMEIRA VEZ Tati Oliva
48. PERFIL Isis Valverde
66. ENTREVISTA I Sigourney Weaver
70. MEU ESTILO I Barbara Migliori
72. MINDS I Mariane Wiederkehr
74. ESPORTE Lutas marciais
83. AMADOS ACHADOS
Valentina Herszage
86. ENTREVISTA II
Lygia da Veiga Pereira
90. MINDS II
Vanessa Gordilho
92. MATERNIDADE Tentantes
98. MEU ESTILO II Ucha Meirelles
100. MAKERS Helena Leopardi
102. MULHERES DA LEI Direito Penal
106. MINDS III Beatriz Della Costa e Mariana Ribeiro
110. MODA DE ORIGEM Marcas brasileiras
116. COMPORTAMENTO Etiqueta
120. AMIZADE Avós e netos
132. CULTURA Sexo na mídia
136. SAÚDE Suplementação alimentar
140. MENTE Medos e ansiedade
A brasileira SONIA DIAS SOUZA , residente em São Paulo, desenvolve seu trabalho artístico-fotográfico-escultórico e conceitual desde 2010. Com formação diversificada no mundo das artes – Filosofia da Imagem, Escultura e Fotografia –, tem obras em importantes acervos do País, como o do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e o da Pinacoteca de Piracicaba. Com um vasto rol de participações em exposições coletivas, tal qual a ITSLIQUID International Art Fair de Veneza e o Athens Photo Festival, em Atenas, coleciona também prêmios de alto gabarito – o Pierre Verger, o da FUNARTE e o do Instituto Moreira Salles, para citar alguns. Sua prática artística explora, por meio da fotografia, instalações e vídeos, o mistério da existência e as conexões entre memórias individuais e coletivas. São criações que tocam em lembranças ancestrais, ativando arquétipos no imaginário universal e oferecendo ao público lugares de reflexão sobre a condição humana. @sonia_dias_souza | Akaixa, impressão em pigmento natural
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CURTAS
Um caldeirão fervilhando de novidades que a gente adora. Moda, turismo, joalheria, gastronomia, arte, cultura and much more
Por Carbono Donna
ARCO-ÍRIS DA ESTAÇÃO
Impossível não cair de amores pelas novas cores da Montblanc, que são verdadeiros curingas de outono. Os tons smoky blue, cassis e pimenta caiena reformulam peças-ícones da marca – dos porta-cartões às malas de rodinha –, mantendo seu design funcional e elegante, mas adicionando à proposta um bem-vindo toque de ousadia. Na coleção Soft, o couro flexível e a multifuncionalidade marcam bolsas perfeitas para encarar a rotina corrida sem perder o estilo. Já na linha Sartorial, que homenageia a experiência da escrita, destaque para os modelos tipo mensageiro, com linhas geométricas e fechos práticos. E, para viajar, nada como as novas versões da trolley MY4810, hit da Montblanc, na cor cassis. @montblanc
TERROIR BIODINÂMICO
Somos fãs de viagens de experiência com propósito. Se você também é, fique de olho nesse roteiro. A belíssima vinícola Matetic, no Vale do Rosário, no Chile, conta com um hotel dentro de sua propriedade, localizada a 100 km de Santiago. O La Casona oferece dez acomodações superelegantes, com vista dos vinhedos. Por lá, pode-se participar de cavalgadas e passeios de bicicleta nos bucólicos cenários locais. Uma das principais atrações é o Tour Biodinâmico, com uma degustação dos rótulos das linhas Corralillo e Ultra Premium EQ. É possível experimentar os vinhos também no restaurante Equilibrio, optando pelo menu harmonizado de cinco tempos. Além disso, há a possibilidade de agendar visitas guiadas a destinos próximos, como a casa do poeta Pablo Neruda, em Isla Negra, e o estonteante pantanal do Rio Maipo. @mateticvineyards
FEITO À MÃO
Quando o assunto é seda, nada como a arte de manufatura da Gucci. Não à toa, a expertise da marca ganhou um projeto à altura. Recém-lançado, The Art of Silk contempla uma coleção cápsula de lenços e um livro-desejo em parceria com a editora Assouline. Os lenços, vale dizer, são releituras de temas que se repetem ao longo da história da marca, feitas por nove artistas contemporâneos. @gucci
SURREALISMO
Sob o tema Realidade Paralela, o aguardado inverno de Ricardo Almeida promete ser chic, leve e elegante. No guarda-roupa, grandes clássicos revisitados com modelagens mais modernas e fluidas. São camisas, calças, blazers e saias que oferecem composições sofisticadas e atemporais, sem abrir mão, é claro, da personalidade característica da marca. @ricardoalmeidaoficial
ÁLBUM DE MEMÓRIAS
A Loewe apresentou sua nova coleção – assinada por Jonathan Anderson – que revisita importantes códigos da marca, como o trompel’oeil e o uso de volumes distorcidos. A linha Scrapbook of Ideas faz uma divertida referência à junção aleatória de coisas novas e antigas. @loewe
INTIMIDADE SUSTENTÁVEL
A Intimissimi – marca que Donna adora – trouxe para 2025 um portfólio recheado de novidades exclusivas. Entre as boas-novas, estão a renda 97 – uma poliamida 100% reciclável que se degrada dez vezes mais rápido do que a tradicional – e a Família 99, nova coleção básica de corsetteria da Intimissimi, que traz os sutiãs e calcinhas best-sellers com corte a laser em modal sustentável. Para completar, uma linha luxuosa de peças de cashmere com toque macio e de alta durabilidade. @intimissimibrasiloficial
Conheça um pouco de cada novidade
Renda 97 – A evolução da elegância sustentável
São peças macias e confortáveis produzidas com 100% de poliamida reciclável, um material de alta tecnologia que mantém a qualidade e ainda contribui para um futuro mais sustentável. Os fios da poliamida reciclável se degradam até dez vezes mais rápido do que a poliamida tradicional quando descartados corretamente em aterros sanitários. Isso significa menos impacto ambiental sem abrir mão do conforto e da durabilidade.
Família 99 – Estilo para o dia a dia
Composta de sutiãs best-sellers e calcinhas com corte a laser, essa coleção foi desenvolvida em modal sustentável, um tecido leve e respirável que proporciona efeito segunda pele, tornando-se praticamente invisível sob outras peças. O compromisso da Intimissimi com a sustentabilidade também se reflete na escolha dos materiais. O modal utilizado na Família 99 é feito a partir da celulose da madeira de faia, uma árvore que cresce por processos naturais, sem emissão de gases tóxicos. Além disso, sua produção é certificada pela renomada empresa Lenzing, garantindo que toda a matéria-prima venha de florestas de reflorestamento.
Cashmere 100% – Sofisticação atemporal
A linha Cashmere 100% eleva a experiência do vestuário com peças luxuosas e de alta durabilidade. A fibra natural do cashmere, disponível em cores clássicas como vaniglia, nero e blu intenso, oferece um toque extremamente macio, além de ser hipoalergênica e altamente respirável. Comparada à versão ultralight com 9% de cashmere, essa nova coleção se destaca por sua espessura mais encorpada e por garantir ainda mais calor nos dias frios, sem comprometer a leveza e o conforto.
OLHAR DE MÃE
Para Carbono Donna, a página que reúne os retratos mais lindos do universo da maternidade é a Eye Mama Project. Criada pela cineasta indicada ao BAFTA, Karni Arieli, a plataforma, que compartilha um dos feeds mais emocionantes do Instagram, conta com a colaboração de mães fotógrafas do mundo todo e, recentemente, ganhou uma versão impressa da Editora teNeues. O já premiado livro EyeMama:PoeticTruthsof Home and Motherhood apresenta mais de 200 cliques (motivo de orgulho: a imagem de capa, no destaque, é da brasileira Paula Brandão, fotógrafa que a gente adora) que tornam visível o que muitas vezes é invisível: o cuidar, o ser mãe, a família e o “eu pós-maternidade”. Nas páginas é possível acompanhar a narrativa e o olhar dessas mulheres quando miram para dentro de casa. Para dentro de si. @eyemamaproject
MOVIMENTO IMPRESSIONISTA
O Masp exibe, até dia 3 de agosto, sua coleção completa de Renoir, exposta pela última vez há 23 anos. No conjunto de 13 obras, que abrange praticamente toda a carreira do artista francês, está a famosa pintura RosaeAzul (1881), que retrata as meninas Cahen d’Anvers. @masp
“São as mulheres as grandes protagonistas aqui. São elas que desempenham o trabalho artesanal, doméstico, de cuidado dos seus 昀lhos, da casa e, em muitas situações, o cultivo do roçado e a criação de animais, tudo ao mesmo tempo. O ofício dessas mães e avós, além de renda, gera pertencimento e potencial criativo, muito in昀uenciado pelos recursos e natureza locais= Helena Kussik, antropóloga e organizadora do projeto do livro Têxteis do Brasil: Rendas e Bordados, lançado pela Artesol
SALVAGUARDA
A Artesol, organização referência na valorização do artesanato tradicional brasileiro há mais de 25 anos, lançou o livro Têxteis do Brasil: Rendas e Bordados. A belíssima obra documenta e celebra a riqueza das técnicas têxteis clássicas do País, assim como as histórias de suas mestras e artesãs, e é fruto do trabalho colaborativo de uma equipe multidisciplinar que percorreu mais de 10 mil quilômetros em três meses para pesquisar e registrar os significados culturais dessas práticas manuais. Mais do que uma fonte de renda, elas representam um patrimônio cultural e um meio de expressão artística e afetiva. @artesol_oficial
GERAÇÕES
A coleção de rivieras da Frattina, feitas de ouro branco 18K com diamantes de excepcional qualidade, é uma das mais desejadas por quem preza pelo estilo clássico e atemporal. Donna ama a pulseira Tennis. Disponível em diferentes quilates – de 2 a 20. @frattina
PEQUENA NOTÁVEL
Clássicos ficam ainda mais charmosos quando revisitados e é esse o caso da Peekaboo Soft Small, um dos mais recentes lançamentos da Fendi. O modelo é inspirado na icônica bolsa da marca, mantendo assinaturas como o couro impecável e o design leve, mas ganhou a funcionalidade crossbody. Na paleta, tons mais sóbrios e um croco irresistível. @fendi
IMPACTO POSITIVO
Formadas em arquitetura e apaixonadas por arte e moda, Ju Fregonesi – que atua como estilista – e Mari Dias – que, além de arquiteta, é também cantora de primeiríssima linha – criaram a Fio Home. Uma marca de itens para casa com propósito sustentável que garante um ciclo positivo de ponta a ponta, desde a escolha dos materiais ecológicos, as práticas de mão de obra justa e social até a dinâmica resíduo zero. As almofadas, mantas e jogos americanos são feitos com tramas da EcoSimple – pioneira no Brasil no uso de tecidos reciclados e orgânicos – e produzidos pelo Movimento Eu Visto O Bem, empresa com múltiplas certificações que, por meio da utilização dos resíduos da indústria têxtil e de matérias-primas rejeitadas, ressocializa mulheres em situação de severa vulnerabilidade com dificuldade de se reposicionarem no mercado de trabalho. @fiohome_
ARTE EM CASA
Boa notícia para os entusiastas da arte. A região de Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo, está prestes a ganhar um condomínio focado no assunto. Batizado de Fazenda Vista Verde, o projeto terá obras no paisagismo, nas áreas de lazer, na sede recém-restaurada da fazenda e entre os lotes residenciais. Nomes como Paulo Climachauska, Livia Moura, Daniela Busarello,ArturLeschereFernandaNaman estão entre os confirmados. Em tempo: o local terá uma tecnológica piscina de ondas Wavegarden. @fazenda.vistaverde
“É NECESSÁRIO PRESERVAR O AVESSO. PRESERVAR AQUILO QUE NINGUÉM VÊ” Frase do livro O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório
JARDIM ENCANTADO
A gente ama perfumar a casa com diferentes aromas e, no nosso radar da vez, estão os perfumes de ambiente criados por Dani Fernandes. Mestre em cosméticos, ela cria cheiros inspirados na natureza para velas, sabonetes e home sprays, muitos deles feitos em collabs com outras marcas de peso. Em breve, Dani abre sua primeira loja em São Paulo. @danifernandesaromas
A ESSÊNCIA DOS BLENDS
Uma nova marca de chás está tomando conta dos nossos momentos wellness. A Amazing You nasceu da união de três profissionais da saúde – a médica nutróloga Renata Fialdini e as nutricionistas Rita Castro e Karina Al Assal – amantes e profundas conhecedoras das plantas medicinais, com o objetivo de difundir a cultura do chá e usufruir do poder dessas plantas no dia a dia. São blends com objetivos, como foco, sono, energia ou imunidade. O de bem-estar, feito com cascas de tangerina, folhas de capim-limão, frutos de erva-doce e funcho e canela-da-china é absolutamente delicioso. Vale dizer que o pack para presente, com os sachês divididos de acordo com os dias da semana, é um charme! @amazingyoutea
POESIA DE VESTIR
A nova linha noivas da estilista Eduarda Galvani está de cair o queixo. Com atendimentos em Porto Alegre e, mais recentemente, em São Paulo, o Atelier Eduarda Galvani – que desenvolve peças prontas ou sob medida –assina algumas das mais belas criações para casamentos, festas e debutantes. A coleção NOUS – prêt-à-porter Bridal apresenta, por meio de vestidos esculpidos em crepe e organza, a fusão perfeita entre técnica, emoção e narrativa. Para arrematar os modelos, elementos emblemáticos feitos com maestria artesanal, como laços e volumes balonê, evidenciam o savoir-faire do Atelier. @eduardagalvaniatelier
PAINEL DE INFORMAÇÃO
Fique de olho na agenda do Minq, a comunidade de troca de experiências capitaneada por Marina Auriemo e Laura Zelmanovits, com cursos e talks voltados para o público feminino. São palestras e imersões transformadoras com foco em wellness, inovação, impacto positivo e mais – no primeiro semestre o Minq Class contou com aulas semanais de geopolítica ministradas pelo jornalista Jaime Spitzcovsky. Outro produto que Donna adora é o Minq Grupos: você pode reunir algumas amigas, escolher o tema das rodas e o Minq faz toda a curadoria do workshop. Obrigatório! @m.inq
ESTILO ESPORTIVO
O novo sapato lançado pela Blue Bird é um tênis! O modelo Bossa tem design minimalista com detalhes estilosos, como acabamento metalizado e tiras de camurça. Nas versões couro e suede. @bluebirdshoes
FUSÃO ESTÉTICA
Uma das marcas de moda nacional mais cheias de estilo, a Francesca, sela parceria com a Roro Rewind – referência no upcycling, reimaginando roupas em desuso – para um experimento de responsabilidade social. A colaboração resgata peças-piloto desenhadas pela diretora criativa Francesca Monfrinatti e, sob um novo olhar, as reconstrói em criações inéditas, preservando sua essência, mas explorando novas proporções e interpretações. @francesca
BRILHOU!
Carolina Neves, a mente por trás da marca de joias que leva seu nome, está sempre pensando em como facilitar a vida da mulher moderna. Com foco em peças versáteis que migram com fluidez do dia a dia para uma noite especial, a designer apresenta joias lindas e coloridas, desenvolvidas com esmeraldas, turmalinas, safiras, apatitas e topázios – amamos os amuletos com frases e símbolos! Em parceria com a Mina Cruzeiro, mina brasileira sustentável, as criações de Carolina estão presentes em sete pontos de venda físicos, como o Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, e dois endereços no exterior, além de e-commerces como Farfetch e Moda Operandi. @carolinaneves_
“CADA MULHER SABE A FORÇA DA NATUREZA QUE ABRIGA NA TORRENTE QUE FLUI DE SUA VIDA” Frase do livro Torto Arado, de Itamar Vieira Junior
LÁ EM CASA
A Bontempo inaugurou um novo espaço, em São Paulo, dedicado à arquitetura, à arte e ao design. A Casa Bontempo promete ser um ponto de encontro para trocas culturais e experiências que valorizem a brasilidade. O projeto, na Avenida Rebouças, é assinado pelo escritório FGMF Arquitetos, com paisagismo de Luiz Carlos Orsini e curadoria artística de Ana Carolina Ralston. Por lá, pode ser apreciada, também, a primeira coleção de mobiliário solto da marca, a Casa 001/25, com peças de Roberta Rampazzo, Atelier BAM Design, FGMF Arquitetos, Bruno Faucz e Luan Del Savio. @casabontempo
DESEJO DA VEZ
Força e delicadeza. É esse o mix da nova coleção da Louis Vuitton, que explora o soft power da moda francesa. Em especial, estamos de olho na linha de bolsas LV Biker, inspirada nas clássicas jaquetas de motociclismo. São três tamanhos, diferentes cores com mood urbano e opções variadas de uso: clutch e transversal, entre outras. @louisvuitton
DESIGN REPAGINADO
Pinçamos da nova coleção de sapatos da Ferragamo uma bota icônica de 1939, criada por Salvatore Ferragamo, que ganha releitura contemporânea pelas mãos de Maximilian Davis. O modelo surge em três alturas e pode ser usado com a aba dobrada ou estendida. Atenção para o salto curvado – uma homenagem à plataforma desenvolvida por Ferragamo nos anos 1940. De couro nappa macio ou na combinação de nappa e camurça, em opções monocromáticas ou bicolores. @ferragamo
A Four Seasons Yachts está deixando o público ansioso, na expectativa de sua viagem inaugural, em janeiro de 2026, que promete redefinir os padrões de luxo em alto-mar. O navio Four Seasons I acaba de anunciar sua distinta coleção gastronômica, que conta com 11 bares e restaurantes, de casas especializadas a inusitados omakases, passando por cafés e lounges. Carbono Donna está animada no aguardo! @fourseasonsyachts
NAVEGANDO E DEGUSTANDO
Fotos Casini, Filippo Fortis Studio, Google Arts, Loris Cecchini, Oli ver Pilcher, Ricardo Dangelo, Zimmermann e divulgação
BANQUETE
Quem acompanha nossas páginas – e nosso perfil no Instagram – sabe que não é de hoje nosso amor pelo Emiliano. Localizado em um dos pontos mais charmosos da Rua Oscar Freire, o hotel é um refúgio tranquilo, acolhedor e sofisticado no coração dos Jardins. Mas um detalhe que tem chamado cada vez mais nossa atenção é a gastronomia primorosa oferecida no restaurante, no térreo do hotel. Sob o comando da chef Viviane Gonçalves, a cozinha contemporânea, com influências brasileiras, já se firmou como uma das melhores da cena paulistana. E o novo cardápio, repleto de pratos deliciosos, está aí para provar. “Neste menu, são os ingredientes os protagonistas: eu procuro o sabor, a textura e busco, assim, trabalhar nos pratos a essência de cada alimento. Desse modo, a delicadeza de cada elemento sobressai”, explica a chef Vivi, uma exímia pesquisadora das técnicas e sabores da nossa culinária. Entre os destaques estão os fios de palmito pupunha, com figo marcado no mel e molho de queijo tulha, para começar; o beefpassion, com abobrinha italiana, shallots, minicenouras e roti, como prato principal, e a ameixa assada no caramelo de missô com sorvete de cumaru com crumble, na hora do grand finale. Para acompanhar, o premiado sommelier Luís Otávio Álvares Cruz indica os melhores vinhos – dos clássicos aos rótulos de pequenos produtores –, garantindo uma experiência inesquecível do começo ao fim. @hotelemiliano
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Artistas em diferentes áreas, da educação à arquitetura, passando por turismo, moda e gastronomia, elencamos mulheres que fazem acontecer. Donna adora!
Os projetos do escritório Anexo Arquitetura, comandado pelo trio Francisca Reis, Carolina Busnelo Grinberg e Guta di Pietro. Da praia ao campo, passando pela cidade e por espaços comerciais, elas arrasam sempre! @anexo.arquitetura
Os eventos produzidos pela arquiteta Fernanda Kherlakian Rodrigues. A mestra da cenografia desenvolve desde as mais lindas festas infantis até os casamentos mais elegantes da cidade – da decoração à lista de fornecedores. @fe_kherlakian
As aquarelas da artista Camila Abreu. Executadas por meio de um processo totalmente manual e artesanal, trazem cores suaves e linhas fluidas em obras feitas sob medida para você comprar ou presentear alguém especial. @ca.aquarela
Os álbuns personalizados do Atelier Amoras. A idealizadora Stephanie Montone é expert em transformar bonitas lembranças em fotolivros eternos. Podem ser fotos do casamento, de uma viagem dos sonhos ou de momentos memoráveis. @amoras_atelierdeamor
Os retiros de integração organizados por Ana Raia. São jornadas formadas somente por mulheres com momentos de muita troca e inspiração. Pense em aulas, rituais, meditações e caminhadas entre amigas.
@anaraia
O conceito pioneiro Mordi a Língua, concebido por Stella Jacintho, Vivi Matone
Pires e Marina
Sirotsky. São encontros entre mães e profissionais, como advogadas, escritoras, juízas e psicólogas que auxiliam a desmistificar os desafios da maternidade.
@mordi_a_lingua
Os tratamentos aplicados na clínica
Vellini Cotrim. A ortodontista especialista em aparelhos estéticos Andreia Cotrim Ferreira, ao lado da filha, Julia Ferreira Tormin, focada em ortodontia e harmonização orofacial, primam pelo cuidado completo, que une saúde e estética. A dupla garante aquele sorriso perfeito. @vellinicotrim
As receitas preparadas pela chef de cozinha Greta Guedes. Da sua cozinha saem quiches, tortas, massas e sopas elogiadas por qualquer um que prove – o delivery atende a toda cidade de São Paulo.
@quichiki_quiches
As aulas de Kundalini Yoga conduzidas de modo on-line e presencial pela professora Camila Moura. A experiência promete uma transformação de vida, ativando a energia kundalini no corpo, por meio da respiração, do som e do movimento.
@camihmoura
As criações do PP Estúdio, o laboratório de estamparia mais charmoso do pedaço, capitaneado por Rafaela Dantas. São peças únicas e presentes personalizados para todas as idades e ocasiões, como roupas e acessórios customizados. @ppestudio
Os cursos de excelência no atendimento ministrados pela autoridade no assunto Flávia Davidovici. O método FD, criado por ela, consiste em um treinamento intensivo para transformar equipes de venda em verdadeiras potências.
@flaviadavidovici
Os vestidos de noiva desenhados pela estilista Lívia Colucci, da WhiteHall. Por lá, rendas, jacquards e tecidos lisos se convertem em obras de arte para o grande dia. Além disso, o ambiente do atelier é extremamente acolhedor.
@whitehall_atelier
PICAPE Ana Joma Fasano com
Retratos
Ali Karakas e Julia Herman
Uma das mulheres mais elegantes de que se tem notícia é a empresária Ana Joma Fasano. Porém, engana-se quem pensa que em sua playlist só toca jazz e blues. “Adoro músicas letradas da adolescência, para cantar junto no carro em alto e bom som”, revela. Quando criança, a criadora da linha Fasano Casa, ouvia em sua vitrola hits de Michael Jackson, Renato Russo e Roberto Carlos. Hoje, em seu Spotify tem de Frank Zappa a Mamonas Assassinas, passando por melodias coreográficas para suas tardes de bailarina.
O bem alheio é o seu desgosto
Queria um palácio suntuoso
Mas acabou no fundo desse poço
Invejoso
Take a dream on a Sunday
Take a life, take a holiday
Take a lie, take a dreamer Dream, dream, dream, dream, dream along
Dreamer
OhGod,IamtheAmericandream
But now I smell like Vaseline And I’m a miserable son of a bitch AmIaboyoralady,Idon’tknowwhich
Mina, seus cabelo é da hora Seu corpão violão Meu docinho de coco Tá me deixando louco
Tudo era apenas uma brincadeira E foi crescendo, crescendo, me absorvendo E de repente eu me vi assim Completamente seu
Sonhos PENINHA interpretado por CAETANO VELOSO
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido
IT’S A MAN’S WORLD, NATACHA ATLAS – WHAT IS JAZZ, CLUB DES BELUGAS VOULEZ-VOUS, ABBA – LA RUMBA D’EL JEFE, JESSE COOK – LA FEMME FANTASTIQUE, HONEY DIJON – TRANSFORMATION, MAX RICHTER DEUTSCHES
FILMORCHESTER – MAL NECESSÁRIO, JESUÍTA BARBOSA – BRING IT TO ME, RICK SMITH DIZZY, MAX SURLA – OLYMPUS, MAESTRO HARRELL – O DIA DE HELENA, FABIO CARDIA
PELADOS EM SANTOS MAMONAS ASSASSINAS (1995)
Construção CHICO BUARQUE (1971)
ARNALDO ANTUNES (2009)
SUPERTRAMP (1974)
(1982)
Bobby Brown FRANK ZAPPA (1979)
a louca
UMA OBSESSÃO DE
luiza setubal
Colecionadora de acessórios há muitos anos, Luiza Setubal inventa versões camaleônicas de si mesma e usa o olhar atento ao detalhe para imprimir personalidade nas criações de sua marca LOOL
Por Raquel Fortuna Fotos João Bertholini
dos acessórios ma.ni.ac
(noun)
an obsessive enthusiast
“Moda, para mim, tem muito a ver com estado de espírito e humor”
Entrar no closet de Luiza Setubal é como mergulhar em um universo paralelo que convida a uma viagem por épocas, estilos e lugares diversos. As roupas ali são quase um pano de fundo para uma coleção infinita de acessórios. Infinita mesmo, porque nem ela sabe quantificar exatamente o que tem. De bijouxs, bolsas e headpieces a cintos, luvas e sapatos, cada item ali carrega um significado, seja de algum momento da vida, de uma viagem ou que tenha a ver com gosto pessoal. <Adoro usar acessórios porque é uma forma de fazer aflorar um estilo, expressando quem você é=, define. O interesse por esse universo começou cedo, quando, ainda criança, Luiza acompanhava a mãe, Nadia Setubal, em feirinhas de antiguidade. <Eu ficava observando as coleções de botão, de brincos& A minha paixão vem muito do que é único, da beleza do inesperado. Quando olho para a fivela de um cinto, para a armação de uma bolsa ou para o fecho de uma gaveta, já fico imaginando que dá para fazer um colar. Adoro a ideia de trazer o novo, mas também de revisitar o antigo=, diz. Entre as primeiras peças que inauguraram a coleção de Luiza, ganham destaque uma pulseira prateada de filigrana e um bracelete e um broche Yves Saint Laurent assinados.
<Esse trabalho manual, do detalhe, é muito mais difícil de se encontrar hoje, quando tudo é feito em escala e volume=, conta.
Em suas andanças, na busca do que é especial, Luiza não abre mão de um bom garimpo, seja aqui ou mundo afora. Em São Paulo, ela frequenta feiras como as do bairro Bixiga e da praça Benedito Calixto. Quando viaja para o exterior, corre para os mercados vintage. <Uma das experiências mais legais que tive foi na China, quando fui a um mercado que acontece de madrugada, onde quem expõe também troca mercadoria. Quando possível, prefiro ir a essas feiras de lojistas a ir a brechós que já têm um olhar editado=, comenta.
A arte ancestral também está entre as suas obsessões. Luiza conta que no aniversário de 40 anos ela foi para a Amazônia com uma turma de amigas e voltou encantada pelo trabalho manual das comunidades ribeirinhas. Na mala, vieram itens como as icônicas bolsinhas de palha, um de seus modelos favoritos para o dia a dia. Recentemente ela fez uma imersão na arte primitiva de Salvador, na Bahia, de onde trouxe achados como um colar todo feito de búzios que custou a bagatela de R$15. É esse tipo de hi-lo que faz a cabeça da empresária 3 e, claro, rende produções pra lá de interessantes.
Étnico, Anos 1920 e Surrealismo são alguns dos <temas= que aparecem na coleção de Luiza e que também ajudam a organizar as peças, separadas em bandejas, caixas e prateleiras, algumas delas divididas por cor e material. Misturadas ao que ela compra e ganha, há criações da LOOL (@loolstore), sua marca de acessórios. <Quanto mais você se conhece, mais consegue imprimir seu estilo ao se vestir. Moda, para mim, tem a ver com estado de espírito e humor. Brinco que, se vou viajar para uma cidade, eu fico mais cosmopolita. Se vou para Paris, trago mais do vintage. A moda é uma brincadeira. Eu gosto e me divirto=, ensina.
Esse <olhar fun=, como ela própria define, não escapou nem ao momento do casamento. Poucos dias antes da cerimônia, Luiza resolveu mudar uma peça fundamental do visual que não tinha agradado muito. <Meu vestido era bem anos 1920 e eu disse para o Junior [Santaella, estilista que fez a peça] que queria usar uma mantilha antiga. Garimpamos as rendas em Paris, todo aquele trabalho. Na última semana, quando fui provar, não gostei da mantilha. E já não tinha mais tempo. Então, olhei para as cortinas do atelier dele e não tive dúvidas: 8Vamos mandar lavar, juntar essas cortinas e fazer o meu véu9. E assim foi. Casei-me com um manto feito de cortina (risos)=, diverte-se.
the last time i did something for the first time
TATI OLIVA
A vida pode – e deve – ser feita de primeiras vezes. Não importa a fase em que estamos. E a empresária Tati Oliva (@tatioliva) parece ser especialista no assunto. Para ler e se inspirar! DE PRIMEIRA!
Retrato Leca Novo
Deixei de lado diversas regras que seguia
A vida inteira eu segui coisas como “não comer muito carboidrato”, “não comer carne à noite”. Mas parei para pensar que essas regras nunca foram minhas, são imposições muito pessoais que não devem ser generalizadas. Hoje, por exemplo, entendo que, para mim, é mais indigesto comer alimentos crus no jantar do que carne. A verdade é que tenho me dado muito mais oportunidades de questionar por que eu não faço determinadas coisas: se é por mim ou porque alguém falou que não posso.
Pulei de paraquedas
EuestavaemDubaieaguiaquemeacompanhava contou que o salto de paraquedas era um dos programas mais imperdíveis do destino. Pensei: de jeito nenhum! Mas, conforme ela foi explicando sobre a atividade, me veio à cabeça a seguinte conclusão: se eu não fizer isso aqui, não faço mais! Nunca me imaginei saltando, ainda mais aos 49 anos. E foi indescritível. Estou em uma fase muito aberta a novas coisas.
Comecei a gostar de vinho
Eu sempre tive um lifestyle muito saudável e até por isso nunca gostei de beber. Mas uma amiga me arrastou para uma degustação de vinhos e eu adorei. Hoje gosto de abrir uma garrafa e tomar uma taça. O que faz mal na vida é acreditar, por preconceito, que algo faz mal. A base de tudo é o equilíbrio. Minhas filhas têm me ensinado muito nesse sentido, pois sabem curtir a vida.
Passei a me vestir diferente
Nessa busca toda, tenho pensado: por que eu, Tatianna, não ouso mais? Trabalho com o camarote N1 no carnaval há muitos anos e faz pouquíssimo tempo que comecei a fazer looks para o evento. A primeira vez já coloquei logo uma hot pants! Também tenho postado fotos minhas de biquíni e de roupa de ginástica para incentivar as pessoas a fazerem exercício. Somos moldadas por valores de uma sociedade que, hoje, aos 50 anos, não fazem mais sentido para mim.
Dancei dentro do quarto de UTI com meu pai
Eu e minhas filhas fomos visitar meu pai, que está internado. Levei uma caixa de som e dançamos felizes com ele. As pessoas podem estar doentes, mas não são doentes. E decidi que quero ter bons momentos com quem eu gosto. Quando você vê seu pai na situação em que o meu está, entende que pode fazer o que quiser. Somos podados a vida toda e não quero que minha zona de conforto me impeça de fazer nada novo.
Andei até Aparecida do Norte –com a ex-mulher do meu marido
Nem todo mundo sabe, mas eu e Hortência (ex-jogadora de basquete e ex-mulher de Victor Oliva, marido de Tati) nos tornamos muito amigas quando andamos de São Paulo até Aparecida do Norte. Fomos pagar uma promessa feita pelo Victor na época em que o Washington Olivetto, seu grande amigo, estava sequestrado. Ali começou nossa conexão, que dura até hoje e que acho essencial para todas as famílias com filhos de diferentes casamentos.
O que você vê nessas obras abaixo? A bacharel em Comunicação Social e mestranda em Fashion FERNANDA ZGOURIDI enxerga o acaso. Com largo histórico em cursos e residências artísticas, assim como inúmeras participações em exposições coletivas e indicações para prêmios, a artista apresentou, na mais recente edição da SP-Arte, sua série Contato Improvisação 2020-2024. São trabalhos espetacularmente idílicos que retratam uma dança quase sem limites, em um mundo cada vez mais programático e previsível. Gotas de tinta de caligrafia escorrem sobre o papel e se transformam em poéticos dançarinos em pleno movimento. Fernanda é representada pela Casa Rosa Amarela. @fernanda.zgouridi | @casarosaamarelaoficial
| Tinta caligráfica sobre papel | 29,7 x 21 cm
ISIS
Chic e cool, a atriz apresenta os looks que têm a cara da estação, com doses extras de frescor e delicadeza
Fotos Augusto Carneiro
Direção criativa Mona Conectada
Edição de moda Marcell Maia
Beauty Dani Hernandez
Agradecimentos Hotel Emiliano São Paulo
BLUSA
NESTA PÁGINA | VESTIDO LOUIS VUITTON
NA PÁGINA AO LADO | VESTIDO DOLCE & GABBANA • ANEL FRATTINA
BLUSA E SAIA FERRAGAMO
VESTIDO ISABEL MARANT • BRINCOS PANDORA
BLUSA BALMAIN • CALÇA ANIMALE BRACELETES E BRINCOS PANDORA ANEL E PULSEIRA DE CORRENTE FRATTINA
Entrevista | ISIS VALVERDE
DONA DE SI
Vivenciar, escrever e contar suas próprias histórias, na profissão e na vida. Essa é Isis Valverde hoje. 38 anos, 20 de carreira e sede por um futuro feito de boas escolhas
Por Raquel Fortuna
Tarde de março em São Paulo, chegamos ao hotel Emiliano para a entrevista com Isis Valverde. Depois de uns dias em Londres, a atriz desembarcou em São Paulo, foi para Recife fazer uma pré-estreia e voltou à capital paulista, onde, minutos antes do ensaio, aproveitou para almoçar com o marido, o empresário Marcus Buaiz, e o filho mais velho dele, José. Ufa. “Vida de ator, né? Cada hora em um lugar”, diz ela, com a tranquilidade de quem está acostumada com o trem em movimento.
Logo que entramos na suíte do 22o andar do hotel nos deparamos com Isis revendo no celular, entusiasmada, o trailer de Maria e o Cangaço, série na qual ela vive a protagonista Maria de Déa, mais conhecida como Maria Bonita. Prestes a estrear no Disney+, o assunto pulsava naquela semana. A produção, dirigida por Sérgio Machado, foi inspirada no livro Maria Bonita: Sexo, ViolênciaeMulheresnoCangaço, de Adriana Negreiros,
e mostra os últimos momentos do grupo de Lampião narrados sob a perspectiva de sua companheira. Uma imersão profunda para Isis que, somado ao peso do personagem e de sua história, sentiu efetivamente na pele a dureza da vivência no sertão durante os dias de gravação. “Logonaprimeiracena,euapareçocarregandoumamulher nas costas. Elas [as mulheres do Cangaço] carregavam as outras quando alguma era baleada. Sila [Ilda Ribeiro de Souza, uma das integrantes do grupo na vida real] conta que uma vez chegou a correr com o cérebro da amiga enrolado na saia. É algo de uma violência absurda, e a gente vivia essa violência energeticamente naquele lugar inóspito, sob muito calor, espinhos para tudo quanto é lado. Era difícil estar ali confortavelmente. Todo o elenco teve que entrar nesse universo para viver a história. Foi uma entrega muito grande”, conta Isis, que lidou com uma queda sobre um cacto logo no início da gravação.
“Eu vou com vocês, mas não é porque ninguém tá mandando não.” A fala de Maria Bonita na série, durante uma cena em que ela resolve se juntar ao grupo, define exatamente quem é essa personagem intrigante: “Uma transgressora em uma época de total desconhecimento em relação aos direitos da mulher”, nas palavras de Isis. “Ela é aquela que fala: ‘Não, não é assim. É do jeito que eu acho que tem que ser’. E, olha, eu fico arrepiada… Todas as mulheres que fizeram isso no passado e fazem no presente mudaram a nossa história. A sociedade foi construída para dizer que a gente não é capaz, que sozinha não conseguimos, que somos frágeis. Mulheres como Maria Bonita dão um passo à frente para que a gente acredite ser possível alcançar o que queremos”, diz.
A maternidade, a força feminina, a sororidade, o desejo de ser livre e de realizar as próprias conquistas são alguns dos valores, segundo ela, que a conectam com a personagem: “A gente se encontra muito no lugar do feminino, mas os detalhes dela são bem distantes da Isis. Falando abertamente, nunca fiz um personagem tão diferente da minha realidade. Mas a Fátima Toledo [preparadora de elenco] e toda a equipe me ajudaram a chegar lá”.
Nesse momento da conversa, lembramosdeumpontoemcomumda maior parte dos personagens que Isis viveu na ficção: mulheres fortes que, dealgumaforma,carregamconsigoa ideia da liberdade. “Nossa, sabe que eu nunca tinha pensado nisso? Tem algumas exceções, mas realmente é verdade”, diz ela, reflexiva. Além de Maria Bonita, inclui-se na lista Angela Diniz (Angela), Rakelly (BelezaPura), Suellen (Avenida Brasil), Sereia (O CantodaSereia) e por aí vai.
PONTO DE PARTIDA
Na vida real, a independência e a força feminina foram valores enraizados desde muito cedo na sua trajetória. Nascida na pequena cidadedeAiuruoca,emMinasGerais, filha única de Rosalba Nable e Rubens Valverde, que morreu em 2020 vítima de um infarto, Isis deixou sua terra natal aos 15 anos, começou a trabalhar como modelo aos 16 e, aos 18, foi estudar artes cênicas no Rio de Janeiro, onde tem morada fixa até hoje. “Comecei a carreira muito nova. Minha mãe, preocupada com a minha cabeça, fazia questão de mostrar ‘isso é certo, isso é errado. Cuidado, não deslumbra’. Já o meu pai sempre me empoderou nesse lugar de não ser uma mulher passiva e de não aceitar
coisas que não acho corretas”, conta ela. Some a isso seus outros exemplos da família, “mulheres transgressoras e irreverentes”. A avó foi a primeira prefeita de uma cidade dominada por homens,aprimeiramulheraseseparar e ainda escrevia poesia. A bisavó, ela define como tinhosa e a mãe de seu pai, uma mulher que criou cinco filhos sozinha. “Foi nesse ambiente que fui criada. Mas, sinceramente, acredito que muitas dessas mulheres devem ter sofrido burnout sem saber. A maturidade me fez aprender a delegar porque não tem essa de superheroína, não”, diz ela, sem romantizar a sobrecarga feminina.
Mãe de Rael, de 6 anos, fruto do relacionamento com o modelo André Resende, a atriz comenta sobre a complexidade de educar filhos nos dias de hoje em meio ao assunto da vez, a série Adolescência, da Netflix. “A gente tem essa preocupação de criar um homem para a sociedade dentro do que acha razoável. Só que existe um mecanismo que é antigo e ainda está aí, o que é bem cansativo. O tempo todo dizemos ‘essa piada não é legal. Olha, vocês estão sendo misóginos’. E parece que se paramos de falar, essa máquina retrocede. Eu vejo esse sistema, me assusta e ele vai atingindoascrianças.Comobloquear isso? Mas o Rael é muito fofo, um
“Quero ter uma velhice digna, de alguém que soube fazer escolhas, que construiu seu próprio
porto para se assegurar”
menino gentil, que não é agressivo. Acho que a gente está conseguindo caminhar bem”, diz ela, que tem dois enteados, José Marcus, de 13 anos, e João Francisco, de 10, filhos de Marcus Buaiz do relacionamento com a cantora Wanessa Camargo. Comoempresário,elaoficializaria a união em uma segunda cerimônia – a primeira foi em dezembro, só para a família, às vésperas do Natal – dias depois desta entrevista. Uma parceria que, segundo Isis, “deu match”. “Eu sempre quis ser mãe de menino, porque sou meio moleca, e minha mãe diz que agora tenho um harém. As crianças se dão superbem. Você não sabe o que é a minha sala (risos): meu marido, os três; e eu me encaixo lindamente no meio deles. Recentemente fomos para a Disney, só nós, sem babá, nem ninguém. Um lavava prato, o outro chegava molhado de suor, o outro dizendo que estava com fome. Aquela confusão. E deu tudo certo, um ajudando o outro. Tem sido bem legal”, conta.
NOS TRILHOS
Quando o assunto é bem-estar, Isis diz ser adepta da hot yoga, uma paixão que surgiu quando morou nos Estados Unidos aos 27 anos, além de gostar de fazer ginástica em grupo,
musculação e esteira. “É parte do meu tratamento mental”, revela a atriz, que também está na terapia há cinco anos. Escrever é outro hobby, em rituais noturnos, de preferência, ou quando surge a inspiração repentina. “Veio uma vontade louca de escrever um texto quando estava fazendo Maria [Bonita]. Às vezes, me sento e escrevo dois ou três, reviso, retrabalho. Mas eu não sou poetisa, não tenho nenhuma pretensão disso. Faço por gostar de dividir meus pensamentos e botar no papel”, diz. Neste ano, ela se prepara para publicar seu segundo livro de poesias – o primeiro, Camélias em Mim (Editora Agir), teve revisão do jornalista, amigo e incentivador Jorge Bastos Moreno, que morreu em 2017, e prefácio de Pedro Bial. “Para esse próximo, eu liguei para o Nelson Motta, [seu livro homônimo inspirou a série que ela protagonizou, OCanto daSereia] e pedi para ele escrever o prefácio. Sou ousada”, brinca a atriz. Livro, série, dois filmes recémrodados – a versão brasileira de O Quarto do Pânico, dirigida por Gabriela Amaral, e Corrida dos Bichos, em que trabalhou com Fernando Meirelles –, um novo casamento à porta. Isis é esse trem em movimento o tempo todo. E hoje vive uma fase de querer contar as próprias
histórias. No horizonte profissional, há dois projetos em produção sobre os quais não revela muitos detalhes. “São tramas que estou produzindo, criações autônomas, personagens que habitavam meu inconsciente e que eu sonhava em fazer. Mas ainda estamos em pré-produção”, comenta. Pessoalmente, direciona sua energia para a construção de um futuro sedimentado. “Eu estou numa felicidade tão grande de ter encontrado um parceiro e reconstruir essa família que é suporte, da forma como fui criada. Construir meu próprio porto, porque eu acho que nós somos passageiros aqui. Todos vamos partir um dia, essa é a grande verdade. E quando forem partindo os que estão mais à frente do trem, como vai ficar lá atrás? Minha maior preocupação é: ‘como vou estar no futuro?’ Vou ser sábia o suficiente para conquistar esse lugar da felicidade que não é plena, não é constante, mas um lugar de saber viver bem, com inteligência emocional, bagagem e estofo? A análise me ajudou a descobrir que queroterumavelhicedigna,dealguém que soube fazer boas escolhas, que conseguiu construir seu próprio porto para se assegurar e deixar esse trem da vida continuar seguindo. Como ser sábianesselugar?Estáaíapergunta”, finaliza, sorrindo.
PURÍSSIMA ARTE
Aclamado tanto pelo público quanto pela crítica, com 22 indicações e conquistas, como o prêmio Shell (melhor atriz, para VERA HOLTZ ) e o APTR (melhor atriz, para Vera Holtz, e melhor música, para Federico Puppi), o espetáculo FICÇÕES , em cartaz ininterruptamente desde sua estreia, em 2022, fez uma aplaudida turnê no Brasil no primeiro trimestre de 2025, passando por cidades como Salvador, Fortaleza, Recife e Brasília. A temporada ainda segue por diversas outras localidades, com apresentações previstas em Belo Horizonte, São José do Rio Preto e Nova Iguaçu, entre outras (de outubro a dezembro serão em São Paulo).
Criada pelo produtor Felipe Heráclito Lima e escrita e encenada por Rodrigo Portella, a peça tem como ponto de partida o livro Sapiens –Uma Breve História da Humanidade, do filósofo e professor Yuval Noah Harari, que já teve mais de 23 milhões de cópias vendidas no mundo. No papel de protagonista, nos palcos após um hiato de três anos, Vera Holtz se transforma em múltiplos personagens da obra literária e em outros criados por Portella. Ela canta, improvisa, “dialoga” com Harari, brinca e provoca a plateia, além de interagir com Federico Puppi – autor e intérprete da trilha sonora original, com quem divide a cena. Em alguns momentos, Vera assume o papel de narradora, enquanto, em outros, é a própria atriz se dirigindo ao espectador. “Adoro esse recorte que o Rodrigo fez, de poder criar e descriar, de explorar o imaginário do público”, destaca a atriz, que completa: “O desafio está nessa dança constante de personagens, que provoca e instiga o espectador. Não podemos deixar a peça cristalizada. Ela precisa estar sempre viva e em movimento”. Rodrigo concorda: “É um espetáculo íntimo. Quem estiver ali vai se conectar diretamente com Vera. Ela está muito próxima, criando uma relação direta com o público”. Como Companhia Aérea oficial do monólogo, a GOL reforça seu posicionamento no pilar da cultura, reverencia e expande a arte brasileira – os ingressos adquiridos com o cartão de crédito Gol Smiles têm 40% de desconto no valor da compra – transportando os profissionais e equipamentos que fazem esse show acontecer Brasil afora. @veraholtz | @ficcoesespetaculo | @voegoloficial
Sigourney Weaver
UMA ESTRELA SEM FRONTEIRAS
SigourneyWeaver
Aos 75 anos, Sigourney Weaver se prepara para entrar no universo de Star Wars, mostrando que sua carreira pioneira – ela foi a primeira mulher a protagonizar um filme de ficção científica – segue mais forte do que nunca
O rosto sem procedimentos estéticos, a voz firme, os olhos marejados em diversos momentos em que relembra sua trajetória: essa é Sigourney Weaver, 75 anos, a primeira atriz a protagonizar um filme de ficção científica (Alien – O 8º Passageiro, 1979, de Ridley Scott) e primeira a receber uma indicação ao Oscar por um filme de ficção científica (Aliens, OResgate, 1986, de James Cameron).
Nascida Susan Alexandra Weaver, em Nova York, é filha do produtor de TV Sylvester “Pat” L. Weaver e da atriz inglesa Elizabeth Inglis. Aos 14 anos, começou a usar o nome Sigourney por causa de um dos personagens do romance OGrandeGatsby, de F. Scott Fitzgerald.
Sua carreira começou em 1977, com um papel no premiado Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen. Dois anos depois, ela seria a protagonista de Alien – O 8º Passageiro, uma das maiores bilheterias do cinema mundial. Sua personagem, a Tenente Ellen Ripley, reapareceria nas continuações feitas em 1986, 1992 e 1997.
Carbono Donna
Você vem de uma família de artistas. Foi natural trabalhar nesse meio?
Sigourney Weaver
Meu pai foi uma grande inspiração. Ele passava os dias com diferentes personagens difíceis, mas se divertia e gostava de seu trabalho. Também por isso entrei no show business. Eu não tinha grandes expectativas, mas me senti muito livre. Em 1962, meu pai lançou a primeira TV a cabo. Ele teve muitos
Sigourney também coleciona uma série de outros papéis emblemáticos, como a austera Katherine Parker de Uma Secretária do Futuro, de Mike Nichols, e a primatologista Dian Fossey, morta em Ruanda por caçadores ilegais locais, de NaMontanhadosGorilas, de Michael Apted. Os dois filmes, de 1988, renderam a atriz uma dupla indicação ao Oscar – atriz coadjuvante e atriz principal, respectivamente. Não levou, ao contrário do Globo de Ouro, em que ela é uma das raras pessoas a ser duplamente premiada na mesma edição.
Uma das estrelas de Avatar, de James Cameron, ela acaba de filmar mais uma continuação do blockbuster e está no elenco de TheMandalorian&Grogu, da franquia StarWars (previsto para estrear em 2026). Premiada no mais recente Festival de Veneza com o Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra, Sigourney Weaver conversou com CarbonoDonna sobre sua carreira, a importância de suas personagens para as mulheres e o etarismo na sétima arte.
problemas, mas nunca foi amargo. Meus pais não achavam que eu teria sucesso. Eles acreditavam que o mundo artístico me comeria viva e ficaram chocados ao ver meu reconhecimento.
Carbono Donna E você sempre teve certeza de que desejava ser atriz?
Sigourney Weaver
Em um certo momento, eu estava muito desanimada.
Por Janaina Pereira
“Minha fonte de inspiração foram mulheres de verdade. Nunca fomos tratadas como deveríamos. As mulheres sempre foram capazes de fazer tudo.”
Fazia faculdade de artes dramáticas em Yale e eles achavam que eu queria fazer televisão. Às vezes eu respondia que queria trabalhar em uma confeitaria ou em um banco, para poder tocar em dinheiro mesmo sem ter nenhum. Meus amigos me ofereceram papéis em teatros, então eu consegui meu primeiro compromisso em um teatro sério e lá eu entendi que poderia fazer esse trabalho.
Carbono Donna Você fez diversos papéis, mas é muito lembrada especialmente pela Tenente Ellen Ripley, de Alien. É uma personagem icônica, por se tratar de uma mulher protagonista em um filme de ficção científica em 1979. Como reflete sobre a importância da personagem na história do cinema e na história de tantas mulheres que têm você como uma inspiração?
Sigourney Weaver
O importante na minha personagem é que ela era uma pessoa, não <uma mulher=. Não estava necessariamente especificado ser <feminina=. As mulheres precisam ser tudo o que querem, mas eu tive a oportunidade de interpretar o papel de <uma de nós= e o que nos tornamos quando temos que encontrar uma maneira de sobreviver, mesmo sem sobrar tempo para sermos corajosas. Mulheres em todo o mundo estão sempre na linha de frente de todos os desafios que nos preocupam, como as mudanças climáticas. Somos nós quem lidamos com isso, enquanto cuidamos de nossas famílias. Então minha fonte de inspiração foram mulheres de verdade. Nunca fomos tratadas como deveríamos. As mulheres sempre foram capazes de fazer tudo. E fico profundamente tocada quando elas me agradecem por ser uma inspiração ao longo dos anos.
Carbono Donna
Mas sua carreira é marcada por personagens femininas fortes.
Sigourney Weaver Fico surpresa quando dizem que interpreto mulheres fortes. Eu só interpreto mulheres. Elas não desistem porque não conseguem, não desistem porque precisam fazer. Mas pensar, mesmo por um momento, que meu trabalho pode ter um impacto na vida de uma mulher é incrível. Eu realmente apreciei que minha personagem em Alien tenha sido tratada, antes de tudo, como uma pessoa e não como uma mulher.
Carbono Donna
Em 1979, Ridley Scott já vislumbrava, então, a força das mulheres e o espaço que elas viriam a conquistar.
Sigourney Weaver
Ridley Scott é um dos poucos diretores e roteiristas que conseguem levar um roteiro como esse para o cinema. Nós mulheres podemos fazer tudo; e o cinema usou um pedacinho do bolo, mas nós somos o bolo inteiro!
Carbono Donna
Mas você percebeu a influência que Ripley poderia ter sobre as mulheres ao ler o roteiro, ou só se deu conta depois?
Sigourney Weaver
Desde o início. Quando fiz os testes para o figurino de Alien, me propuseram um uniforme azul-claro com detalhes em rosa. Então procurei no figurino todas as coisas de astronauta que poderiam ser do meu tamanho, experimentei e uma serviu perfeitamente. Fiquei grata por não me fazeram usar algo com o qual eu não me sentiria confortável, em vez de algo que me fizesse sentir real.
Carbono Donna
Com o passar dos anos, acha que ficou mais difícil conseguir bons papéis no cinema? Como encara o etarismo na sua profissão?
Sigourney Weaver
Ganhei o Leão de Ouro pelo Conjunto da Obra no Festival de Veneza. Acho que isso é um combustível de encorajamento para seguir em frente. Tive muita sorte de receber histórias das quais eu queria fazer parte. É um trabalho tão emocionante, por que eu deveria parar? Sempre respeitei e amei essa profissão. De repente, alguém descobriu que mulheres mais velhas poderiam realmente interpretar personagens interessantes, e começaram a escrever muitos roteiros com personagens femininas mais
velhas. Paramos de ser apenas caricaturas e sogras e começamos a ser pessoas reais, porque o público é feito de pessoas reais.
Carbono Donna
Sua primeira colaboração com o diretor James Cameron foi em 1986, com Aliens. Com esse filme você se tornou a primeira atriz a ser indicada ao Oscar por um longa de ficção científica. Hoje você e o James Cameron formam uma parceria na franquia Avatar, e você acaba de filmar Avatar 3. Como é esse longo relacionamento profissional?
Sigourney Weaver
Lembro-me que fiquei surpresa inicialmente com a quantidade de armas no roteiro de Aliens. Como defensora do controle de armas, fiquei relutante em usá-las no set, o que levou a uma discussão franca com o James. Ele me levou para um campo e me fez atirar com uma metralhadora, uma experiência que, infelizmente, foi muito envolvente. Esse episódio me ajudou a entender a transformação da personagem Ripley no filme, mesmo que usar armas não fosse minha primeira escolha. Então somos assim, francos, até hoje. [risos]
Carbono Donna
Você também se destacou ao longo dos anos por seu comprometimento com causas sociais, principalmente depois de interpretar Dian Fossey no filme Na Montanha dos Gorilas. Como essa questão está em sua vida hoje?
Sigourney Weaver
Ainda trabalho com a Fossey Foundation e estou
muito animada com as ações que eles fazem. A iniciativa entendeu que, ao monitorar a saúde da comunidade local em Ruanda, eles protegeriam os gorilas. A maioria dos cientistas é ruandesa. Acho que o longa ainda é exibido em escolas e, quando estávamos filmando, pensei que interferiria na vida dos gorilas, mas não interferiu.
Carbono Donna
Tem algum sonho, pessoal ou profissional, que ainda não realizou?
Sigourney Weaver
Sim! Quero filmar na Itália com um diretor italiano. Eu me apaixonei pelo cinema também graças ao cinema italiano, com Fellini, Antonioni, De Sica. Meu filho se casou recentemente e assistimos juntos à comédia dramática Divórcio à Italiana, de 1961, o que foi uma escolha curiosa, mas gostamos muito. Ainda não me canso do que o cinema italiano significa e nos dá. Então, comecem a trabalhar, diretores italianos, estou disponível. [risos]
Carbono Donna
E quais os seus próximos projetos?
Sigourney Weaver
Ainda tenho que filmar mais um filme Avatar! Antes, vou filmar The Mandalorian & Grogu. Não posso falar muito sobre isso agora, mas é divertido saltar entre todos esses universos diferentes. Adoro o meu trabalho. Às vezes gostaria de ter feito mais.
Da esquerda para a direita, Sigourney na personagem Ripley, em Aliens (1986); e no filme Nas Montanhas dos Gorilas (1988), no papel da antropóloga Dian Fossey
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PARECE SIMPLES
Descrevo meu estilo como ‘básico elevado’. Gosto de vestir peças bem resolvidas, que funcionam, que imprimam uma imagem clássica, mas sejam frutos de um raciocínio inteligente, que tenham um ‘pensamento’ por trás. Prezo a ideia do que parece simples, mas, na verdade, é de uma sofisticação extrema, seja por conta do tecido usado ou do raciocínio que existe nos bastidores.
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TIRAGEM LIMITADA
Conheci o trabalho da artista plástica Maria Klabin na SP-Arte, em uma colaboração feita entre ela e as cerâmicas portuguesas Bordallo. Ela desconstrói o clássico. Esse prato virou obra de arte em cima do residual da cerâmica.
MEU ESTILO
Retrato João Bertholini
BARBARA MIGLIORI
JORNALISTA DE MODA (@BARBARAMIGLIORI)
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PEDRA SOBRE PEDRA
Gosto muito desse colar com uma concha de acrílico com brilhantes incrustados. Encontrei na Beatriz Werebe. É de uma designer mexicana que tem essa abordagem interessante em cima das pedras preciosas. Curto essa combinação do precioso com materiais orgânicos e naturais, como búzios e conchas. Confere um olhar despojado em cima da joia.
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PRECIOSIDADES
Acho uma delícia garimpar clutches e carteiras. Essa de cetim pêssego Chanel foi um achado, para mim. Adoro usar bolsa pequena quase como uma joia, como um ponto-final no look. Então, quanto mais extravagante, mais escultural, mais especial! No caso, é um acessório zero função, total imagem. A cereja do bolo.
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BAÚ
Esse foi o primeiro casaqueto Chanel que eu comprei. É um vintage de tweed pink superbem conservado. Está perfeito. Tem corte reto e bolsos simétricos, um clássico. Uso com a parte de baixo mais descontraída, como jeans ou moletom. É uma peça que carrega uma história de moda tão forte que combina com tudo.
CONJUNTO
Minha coleção de cinzeiros e minipratos de prata começou quando eu tinha 10 anos e ganhei de uma senhora da família um com minhas iniciais. Desde então, garimpo em feiras de antiguidades e minhas amigas sempre me presenteiam com um. No batizado da minha filha, fiz um modelo personalizado para a data. Não sou muito de enfeitinhos soltos, por isso gosto deles assim, dispostos como um grupo, no coletivo.
Esse piano é de 1949 e foi comprado pelos meus avós para que minha tia aprendesse a tocar. Quando minha avó faleceu, há dois anos, minha mãe enviou o instrumento para uma reforma e me deu. É um piano inglês Bentley que produz um som maravilhoso, de um jeito que não se faz mais atualmente. Hoje em dia, são meus filhos que fazem aula com ele.
GIRL BREAK
Adoro a bancada do meu banheiro! É um espaço funcional, mas também muito bonito, com objetos dispostos de maneira prática e charmosa. Prefiro ter poucos produtos e que eu realmente use. Acho que consegui esse encontro entre a beleza e a simplicidade do fácil acesso.
CICLO
Mariane Wiederkehr
Carbono Minds
MARIANE WIEDERKEHR
“Todas nós, que nos tornamos líderes em empresas, carregamos uma grande responsabilidade: trazer outras mulheres conosco”
Mariane Wiederkehr, da Starbucks Brasil, fala sobre os prazeres e desafios de assumir a presidência de uma marca em reestruturação
Por
Caio Delcolli Retrato João Bertholini
O cheiro de café sendo preparado, para muitos de nós, remete a uma memória aconchegante, de uma bebida que serve como fiel companheira nos desafios do dia a dia. Para Mariane Wiederkehr, hoje o café tem um significado particularmente especial — há menos de um ano, ela é a presidente da Starbucks (@starbucksbrasil) no Brasil.
Café com certeza é o que não falta para ela pôr as mãos à obra. A célebre rede fundada em Seattle, cidade do estado de Washington (EUA), teve mais de 50 lojas fechadas no Brasil quando era controlada pela SouthRock, que entrou em recuperação judicial em 2023. Entretanto, em junho do ano seguinte, a Zamp — mesma gestora do Burger King, do Popeyes e da Subway — assumiu a Starbucks no Brasil, o que levou Wiederkehr a se tornar vice-presidente da controladora e presidente da marca da inconfundível sereia usando coroa, hoje em reestruturação.
Além da cafeína, Wiederkehr se beneficia também de uma longa carreira em posições de liderança. Hoje com 43 anos, a curitibana radicada em São Paulo atuou por mais de uma década na BRMalls, que administra dezenas de shopping centers no Brasil, foi CEO da Guarde Aqui, empresa especializada em armazéns urbanos, e passou pelo conselho administrativo de várias outras. Como você lerá a seguir, liderança é uma prática fundamentalmente humana para Wiederkehr — bem como para seu trabalho em geral. Ela fala à Carbono Donna também sobre a experiência de vestir o avental verde, os times dos Estados Unidos e do Brasil serem na verdade um só e o lugar da rede no pós-pandemia, entre outros assuntos.
BARISTA “Todos nós, quando entramos na companhia, fazemos uma formação de barista, independentemente da área em que vamos trabalhar. Serve para entendermos como é usar o avental verde na loja, quais são os desafios, como é a magia da interação com o cliente, a obsessão pela qualidade do café, os detalhes da operação. O café proporciona conexões humanas — todas as nossas reuniões importantes começam com uma degustação dele.”
PÁTRIA “O Brasil é o maior produtor mundial de café e a maior quantidade de café comprado pela Starbucks no mundo todo vem daqui — isso representa 40% do que servimos. Vamos abrir uma série de lojas nos próximos anos, é um plano
bastante ambicioso. A marca tem uma conexão enorme com o País e conta com um centro de apoio a produtores de café em Varginha, MG. Vamos explorar ao máximo esse potencial.”
CAFÉ OFFICE “Para o consumidor nós nos chamamos de ‘terceiro lugar’, onde nos sentimos em casa. Se você visitar as nossas lojas vai encontrar uma quantidade enorme de pessoas trabalhando em formato home office direto de uma Starbucks. A gente tem, por exemplo, uma unidade na [rua] Haddock Lobo [em São Paulo] com quatro andares — é um grande home office. Oferecemos wi-fi grátis e acolhemos as pessoas. O cliente tem a opção de passar, pegar um café rápido e ir ao trabalho, à escola ou qualquer outro lugar, mas, se quiser, pode trabalhar dentro de uma Starbucks o dia inteiro. A gente também se adaptou ao delivery. Então, hoje você pode pedir o seu café de casa.”
CONEXÃO DE SUCESSO “A Starbucks tem uma cultura forte de focar nas relações humanas. Então, a relação entre o Brasil e os Estados Unidos é muito construtiva. Eu trabalho com um só time. Não sinto como se fizesse um meio de campo. Eles estão sempre aqui e eu sempre lá.”
LIDERANÇA “Ser líder tem a ver com a escuta ativa, saber que a gente não tem todas as respostas, que deveria fazer mais perguntas e empoderar o time. Gosto de trabalhar com pessoas que têm senso de dono e um objetivo em comum. A liderança tem a ver com a capacidade de formação de time, ter uma grande visão estratégica e contar com valores em comum para fazer um projeto acontecer.”
MULHERES UNIDAS “Todas nós, que nos tornamos líderes em empresas, carregamos uma grande responsabilidade: trazer outras mulheres conosco. Ainda estamos em número muito menor em comparação aos homens, mas isso muda ao longo do tempo, não só por causa da abertura das empresas, mas também porque vejo cada vez mais mulheres querendo fazer carreira executiva. Quem já chegou lá tem a responsabilidade de ajudá-las nesse processo, seja por meio de mentoria ou do exemplo de que é possível ser uma excelente mãe e uma executiva de alta performance. A gente produz mais quando está feliz. O equilíbrio entre diversos papéis é fundamental.”
ARTES MARCIAIS
ELAS NO TATAME
Benefícios para o corpo e para a mente levam cada vez mais mulheres a praticar artes marciais, como judô, karatê e kung fu. Neste almanaque, dicas, curiosidades e lições para quem se interessa por essas e outras modalidades
Por Luisa Alcantara e Silva
Influenciada pelo filho, Claudia Lopes aderiu ao taekwondo e hoje é professora e faixa preta na modalidade
Asantista Silvia Bianchi cursava engenharia agrônoma no Mackenzie nos anos 1980 quando assistiu à série Kung Fu, estrelada por David Carradine, e ficou encantada com o esporte. Descobriu uma escola perto da faculdade e resolveu se matricular. Então com 25 anos, Silvia era uma das poucas mulheres no tatame. E a paixão pelo esporte foi tanta que extrapolou a sala: ela se casou com o professor.
No começo, as aulas de kung fu funcionavam como um respiro na rotina da administradora. Mas foi o amor pelo esporte que a levou a trocar de carreira e se tornar professora da arte
Carolina
conheceu as artes marciais por meio do filho e hoje é faixa preta no karatê e roxa no jiu-jitsu
e disciplina
marcial chinesa no início dos anos 2000. Hoje, Silvia também é sócia de uma academia e presidente da Federação Paulista de Kung Fu. <Muitas mulheres estão cansadas das academias que só oferecem o fitness e procuram as artes marciais porque vão muito além do físico=, diz Silvia, que viu o número de alunas passar de 20% para 60% ao longo destes anos.
Assim como Silvia, a belo-horizontina Claudia Lopes também mudou de vida por causa das artes marciais. O taekwondo apareceu para ajudar o filho a se livrar da timidez e, ao vê-lo ganhar autoconfiança, aderiu à ideia. Em cinco
Maria
Bolzan
Juliana Bourbonnais aprendeu por meio do kung fu a ter muito mais foco
anos, ela se tornou faixa preta e professora. Hoje, comanda a academia Martial Arts Moema, que tem 50% de mulheres no corpo de alunos.
A empresária paulistana Maria Carolina Bastos Bolzan também chegou a esse universo por intermédio do filho. <Ele fazia karatê no nosso clube quando o professor me chamou para conhecer=, conta. Ela, que sempre gostou de esportes 3 praticava musculação e corrida, na época 3, a princípio respondeu que não, mas acabou cedendo. E, hoje, além de ser faixa preta no karatê e roxa no jiu-jitsu, dá aula das duas modalidades. <Eu me tornei uma pessoa mais calma. As artes marciais lhe ensinam que você não pode sair brigando; primeiro, precisa refletir. E levo esse ensinamento para a vida=, diz Carol.
JáaeditoraJulianaBourbonnaissetornoumaisdisciplinada desde que começou o kung fu, também influenciada pelo filho. Ele, inclusive, é outro exemplo dos beneficiados pela prática:
“Muitas
mulheres estão cansadas das academias que só oferecem o fitness e procuram as artes marciais porque vão muito além do físico”
Silvia Bianchi, Presidente da Federação Paulista de Kung Fu
suas notas em matemática melhoraram bastante. Histórias como as que descrevemos acima só comprovam o crescimento das artes marciais entre as mulheres. Segundo Daniel Lucena, presidente da Confederação Brasileira de Artes Marciais (Cobram) e da Associação Shaolin Internacional de Artes Marciais (Asiam), só nos últimos três anos houve um crescimento de cerca de 30% na participação feminina no setor no País. <Elas vão por várias questões, seja pela saúde, para fortalecer o corpo e a cabeça, seja para defesa pessoal=, diz ele. Descubra, a seguir, mais detalhes sobre esse universo que vem tornando todas nós ainda mais fortes.
FAIXA PRETA
Conheça algumas das artes marciais mais praticadas no Brasil
JIU-JITSU
Surgido no Japão, é uma das artes marciais mais antigas. Nela se deve tentar controlar o adversário com golpes até imobilizá-lo. Por aqui, a família Gracie criou o jiujitsu brasileiro, que se diferencia, entre outros pontos, por ser uma luta mais no chão.
JUDÔ
Criado por Jigoro Kano, em 1882, no Japão, tem influência do jiu-jitsu. Seu objetivo é derrubar o oponente mantendo suas costas e ombros no tatame para imobilizá-lo no combate.
KARATÊ
A palavra significa mãos vazias. Usa de forma eficiente todas as partes do corpo com o objetivo de autodefesa e tem princípios filosóficos como um dos principais valores. Surgiu no Japão.
TAEKWONDO
De origem coreana – da Era dos Três Reinos, há 2000 anos (!) –, é uma arte marcial completa, que combina técnicas de defesa pessoal e golpes com as mãos e os pés.
KUNG FU
Arte marcial chinesa cuja origem remonta aos tempos antes de Cristo, o esporte se baseia na concentração. Pode ser praticado com ou sem armas (como bastões, lanças e espadas).
BOXE Polêmica à vista: há quem ache o esporte uma arte marcial e quem pense o contrário. O segundo grupo defende que o boxe só considera a parte técnica, ignorando a filosofia das artes marciais, como a crença de que você também deve evoluir pessoalmente.
Carbono Donna
Pioneira
Um bate-bola com Sarah Menezes, a primeira brasileira a se tornar campeã olímpica no judô e treinadora da modalidade
Como você vê sua trajetória no esporte?
Sarah Menezes
Como treinadora, além do ouro com a Beatriz Souza, conquistei o bronze com a Larissa Pimenta. Aconteceu no meu primeiro ciclo e foi tudo muito gratificante. Eu consegui feitos que ninguém esperava, sou feliz demais com a minha carreira.
Carbono Donna
Como o judô entrou na sua vida?
Sarah Menezes
Foi por meio de uma apresentação que aconteceu na minha escola. Comecei a praticar por brincadeira, aos nove anos de idade.
Carbono Donna
O que de melhor o judô lhe deu?
Sarah Menezes
Ele me deu muitas alegrias, grandes oportunidades. Foi por meio dele que, desde os meus 13 anos, minha mãe não precisou mais pagar minha escola particular, nem a faculdade, porque eu recebia bolsa. O judô me deu a chance de conhecer o mundo, outras culturas, além de ter me trazido disciplina. Resumindo, ele transformou totalmente a minha vida.
Carbono Donna
O que diria para quem está pensando em começar uma arte marcial?
Sarah Menezes
Para aproveitar, experimentar e se divertir. Não é para ficar se cobrando. Tente fazer em harmonia com você e, ao longo do percurso, organize-se para saber se quer continuar de forma amadora ou partir para o profissional. Se escolher a segunda opção, saiba que tem que se dedicar muito. É uma prática diária, que vai exigir que abdique de algumas coisas.
PARA SEMPRE
Convidamos lutadoras a compartilharem ensinamentos trazidos pelas artes marciais
<Com a prática você ganha concentração, tranquilidade e disciplina, o que ajuda no desenvolvimento pessoal. Algo que se leva para a vida toda.=
<Os reflexos ficam mais exacerbados, já que na luta você deve estar sempre alerta para não ser pega desprevenida pelo oponente.=
<Lutar faz muito bem para a cabeça também no sentido de que, quando estou no tatame, é quando coloco meus problemas para fora.=
<Quem faz uma arte marcial deve sim fazer musculação, mas a musculatura que vem com a luta é diferente.=
<A gente não estimula a mulher a reagir em um assalto, mas acho que toda mulher deveria aprender o básico de defesa pessoal.=
<A queima calórica é gigantesca. Claro que muda de uma mulher para outra, mas, em média, em um treino pesado de karatê pode-se perder cerca de 700 calorias em uma hora.=
SILVIA BIANCHI
CAROL BOLZAN
Caminho Colorido
Você sabia que antigamente havia só as faixas branca e preta? A classificação por cores, que surgiu no judô, mostra a evolução dos lutadores e varia de uma modalidade para a outra. Veja em detalhes como é o arco-íris do judô
BRANCA . CINZA . AZUL . AMARELA
E LARANJA — São as faixas básicas, para iniciantes. Você pode ir da branca para a laranja, mas há chances de o processo ser lento, começando pela branca para, depois, seguir para a branca e cinza e então passar para a faixa cinza e assim sucessivamente, até chegar à laranja.
LARANJA . VERDE . ROXA
E MARROM — Para os praticantes de nível intermediário. Quem chega à faixa marrom é considerado graduado no judô, um Yodansha, e agora está apto para treinar e tentar a faixa preta.
PRETA — Só pode ser usada a partir dos 16 anos. Chegar a essa faixa significa que você se graduou no judô.
VERMELHA E BRANCA — Graduação de nível superior. A vermelha é reservada para quem tem, ao menos, 25 anos de prática de judô.
TRAJE ESPORTE
Três curiosidades sobre o quimono, nas palavras de Flávio Canto
1. “Ele define como a gente aplica várias técnicas, usando a gola e a lapela, por exemplo. No judô, ele se chama judogi.”
2. “Tradicionalmente ele era da cor branca, que tem a ideia metafórica de simbolizar a pureza da alma do praticante. Mas hoje há também o azul e, no jiu-jitsu, são várias cores.”
3. “Vem crescendo muito, principalmente nos Estados Unidos, a modalidade nogui, que é o judô sem quimono. Mas mesmo para quem vai para essa luta é bom treinar com quimono, porque ele dá um refino técnico interessante.”
VERDADEIRO OU FALSO
Depois da faixa preta não há mais o que ser conquistado? Não é bem assim, como contam o judoca medalhista olímpico Flávio Canto e a presidente da Federação Paulista de Kung Fu, Silvia Bianchi
• A faixa preta é a última conquista.
Falso.
“Ela simboliza o domínio das técnicas e está longe de ser o fim”, diz Canto, que também é fundador do Instituto Reação e palestrante. Em sua ONG, por exemplo, você aprende que só é faixa preta se o for fora do tatame também. “Se a gente progredir só tecnicamente, a evolução não está acontecendo. Temos que melhorar como pessoa.” Além disso, depois da faixa preta há outras, como a vermelha e branca, no judô. “Dizemos que, normalmente, a história começa na faixa preta.”
• Quem luta uma arte marcial sabe se defender em qualquer situação.
Falso.
Embora algumas escolas de artes marciais ofereçam aulas de defesa pessoal, Silvia conta que o objetivo não é esse. De acordo com ela, as artes marciais deixam a pessoa mais alerta para evitar que algo aconteça e podem ajudar em uma situação de violência doméstica, mas não é ensinado que as mulheres reajam em casos como tentativas de assalto.
• Qualquer pessoa pode se tornar uma lutadora.
Verdadeiro.
“Na essência, todos são lutadores e podem procurar uma arte marcial para começar”, afirma Canto. Não tem restrição. O que pode ocorrer são adaptações, ligadas, por exemplo, a pontos como idade, biotipo e limitações físicas. “Meu amigo teve um aluno cadeirante. A gente adapta o que for preciso para que haja aprendizagem dentro da arte marcial”, finaliza.
ALÉM DE KARATÊ KID
As artes marciais são tema de diversas obras culturais, mas, como na vida real, as mulheres nem sempre são bem representadas. Confira a seguir uma seleção de filmes, séries e livros que têm a figura feminina como foco
1. MENINA DE OURO (2004)
Arte marcial ou não, o boxe aparece em diversos filmes, como este blockbuster. Conta a história de uma mulher decidida a lutar e um treinador que se recusa a prepará-la. Vencedor de quatro Oscars: melhor filme, melhor diretor (Clint Eastwood, que também está no elenco), melhor atriz (Hilary Swank) e melhor ator coadjuvante (Morgan Freeman).
2. O TIGRE E O DRAGÃO (2000)
Dirigido por Ang Lee e com roteiro baseado no livro de Du Lu Wang, é sobre duas guerreiras especialistas em artes marciais cujos destinos se cruzam durante a dinastia Qing. Levou quatro Oscars, incluindo o de melhor filme estrangeiro.
3. FÚRIA FEMININA (2019)
Uma mãe volta a Saigon para reaver sua filha, que foi sequestrada por traficantes. A vingança, neste filme, é recheada de cenas de luta. Em 2023, foi lançado Fúrias Femininas, que traz três mulheres lutando contra um grupo de criminosos.
4. CHOCOLATE (2008)
Uma garota autista com reflexos super-rápidos aprende a lutar muay thai assistindo a filmes e a um grupo de lutadores e usa os aprendizados para se vingar de quem maltratou sua mãe.
5. PEQUENA FLOR DE AMEIXA: UM FRAGMENTO (2020)
O curta-metragem, dirigido por Camila Guerra, acompanha uma lutadora de kung fu em Natal e seu processo de empoderamento pessoal.
6. MULAN (1998)
As crianças também têm vez. Esta animação da Disney é baseada na lenda chinesa de Hua Mulan, jovem que usa a armadura de seu pai e se disfarça de homem para lutar no exército chinês. O sucesso foi tanto que, em 2020, foi lançada a versão live-action da obra.
7. SAMURAI DE OLHOS AZUIS (2023)
Série de animação sobre a saga de uma jovem guerreira movida pela vingança contra as pessoas que a excluíram em sua infância no Japão.
8. KUNG FU (2021)
Esta série acompanha uma jovem sino-americana que se isola em um monastério na China e, ao voltar aos Estados Unidos, usa seus aprendizados em artes marciais para proteger sua comunidade, em San Francisco. É uma releitura da obra de 1972 estrelada por David Carradine.
9. MULHERES NO TATAME – O JUDÔ FEMININO NO BRASIL (2011) | Editora Mauad
As autoras Gabriela Conceição de Souza e Ludmila Mourão traçam um panorama da participação feminina nessa arte marcial. O leitor fica por dentro das dificuldades que elas tiveram e acompanha suas conquistas.
10. MEU MESTRE E EU – MEMÓRIAS DE UMA FAIXA PRETA (1993) | Editora do Escritor
Primeira judoca faixa preta do Brasil, Eco Suzuki reuniu neste livro crônicas publicadas em um jornal. Ela conta, por exemplo, como foi a experiência de querer lutar em uma época em que poucas mulheres escolhiam as artes marciais –seu início foi nos anos 1950.
11. O CORPO DAS MULHERES E AS ARTES MARCIAIS (2024) | Editora CRV
Neste livro a autora Tainá Farrielo aborda as barreiras sociais e culturais que impediram as mulheres de praticarem artes marciais durante muitos anos.
Fotos
Gabriela Sabau, Unsplash e divulgação; ilustrações Mona Con ectada
ENDEREÇOS
Já para o dojo
Ficou com vontade de praticar alguma arte marcial? Veja locais que oferecem aulas em São Paulo
Academia Nehan | @academianehan
Judô, taekwondo e aikido estão entre as atividades oferecidas no local, no bairro Cerqueira César.
Hung Sing Kung Fu Academy @hungsingkungfuacademy
Mais de nove mil pessoas já treinaram nas unidades do grupo, que oferece aulas de kung fu. Só na capital paulista há sete endereços.
Lung Fu Perdizes | @lungfuperdizes
Ensina o choy lay fut, um dos estilos de kung fu mais praticados no mundo.
Seimeikan Dojo | @seimeikandojo
Na Vila Brasílio Machado, oferece aulas de aikido para todos os níveis, do iniciante ao avançado. É
filiado à Associação Pesquisa de Aikido, entidade reconhecida pela Fundação Aikikai, responsável pelo desenvolvimento e pela popularização da modalidade. Opção também para quem quer fazer, além de uma arte marcial, yoga.
Instituto Takemussu | @institutotakemussu Centro de treinamento de aikido no bairro Saúde, criado em 1987 e também reconhecido pela Fundação Aikikai.
Academia Shoorikan | @academiashoorikan Judô, jiu-jitsu e muay thai, na Vila Mariana. Oferece treinos para crianças e adultos. Há também aula de yoga.
Martial Arts Moema | @martialarts.moema Escola de taekwondo com 15 anos de experiência. Para todas as idades a partir de dois anos e meio.
Academia Lai | @laikungfu.sp Espaço para treinamento de kung fu estilo louva-adeus e tai chi chuan estilo chen, na Vila Madalena.
Versus Fight Club | @versusfightclub De artes marciais, tem aulas de muay thai e jiu-jitsu, mas também oferece boxe, krav magá e sparring, prática de combate simulado. Fica na Santa Cecília.
Gracie Jiu-jitsu Morumbi | @graciejiujitsumorumbi
Dica certeira para quem quer conhecer o Gracie jiu-jitsu, ou jiu-jitsu brasileiro (diferente do tradicional, vindo do Japão).
ALTOS E BAIXOS
Descubra algumas curiosidades numéricas relacionadas ao universo das artes marciais
4 anos é a idade mínima recomendada para começar a maioria das artes marciais.
16 anos é a idade mínima que a pessoa deve ter para chegar à faixa preta.
700 calorias ou até mais podem ser eliminadas em uma hora de luta.
2.000 anos antes de Cristo foi mais ou menos quando surgiu o kung fu, na China.
3.700 pontos de ensino de artes marciais era o que havia no Brasil em 2019, segundo a Confederação Brasileira de Judô. É o dado mais recente divulgado pela instituição.
84 MIL atletas federados. Foi o número publicado no mesmo levantamento de 2019.
1 MILHÃO de pessoas praticam karatê no País, segundo a Confederação Brasileira de Karatê.
1992 foi o ano em que o judô feminino se tornou um esporte olímpico. Os homens disputaram pela primeira vez no evento de 1964.
3 medalhas de ouro já foram conquistadas por judocas brasileiras: Sarah Menezes (Londres 2012), Rafaela Silva (Rio 2016) e Beatriz Souza (Paris 2024). Os homens conquistaram duas: Aurélio Miguel (Seul 1988) e Rogério Sampaio (Barcelona 1992).
GLOSSÁRIO
FORÇA DAS PALAVRAS
Alguns termos usados nas artes marciais
ATEMI-WAZA
Técnicas de ataque
DAN
Grau para faixa preta, coral ou vermelha
DO Caminho
DOBOK
Uniforme usado no taekwondo
DOJO
Local de treinamento de artes marciais
IPPON
Pontuação máxima no judô, vitória completa
KEIKOGI
Roupa de treinamento
KEIKO
Treino
KIAI
Grito de combate
OBI
A faixa usada no judô
SEITO
Aluno
SENSEI
Professor, mestre
Vulva,Paraíso | 2012
C-prints sobre alumínio
PÁGINA AO LADO
AÚltimaVida,ParaísoPerdido | 2012
C-prints com aplicação de folhas de ouro sobre alumínio
Representada no Brasil pela Dan Galeria e no México e na Espanha pela Galeria Zielinsky, DENISE MILAN é uma das artistas brasileiras de maior renome internacional. Atuando em diferentes mídias – ela trabalha com especialistas em ciência e tecnologia, antropologia, filosofia, literatura e música –, a paulistana usa a pedra como principal pilar criativo. Seu repertório abrange esculturas, arte pública, performance urbana, artes cênicas, ópera, poesia, impressão, videoarte e arte multimídia. Com exposições em museus e instituições nacionais e internacionais, como o PS1 e o Institute for Arts and Urban Resources, em Nova York, o Adler Planetarium & Astronomy Museum, em Chicago, e a Fondazione Berengo, em Veneza, Denise é também ativista ecológica na área de arte-educação. Nessas páginas, apresentamos obras que se dividem em três eixos temáticos: Paraíso, Paraíso Perdido e Paraíso Reconquistado. Paraíso, o primeiro, transborda com colagens fotográficas que evocam divertidamente um mundo natural verdejante de exuberância e abundância. As cores e iconografias brasileiras proliferam alegremente aqui. Em ParaísoPerdido,asfotocolagensdescrevemumaTerrarasgadaedevastada. Nesse eixo, o tormento do povo é paralelo ao assolamento do planeta e à devastação desenfreada. Já Paraíso Reconquistado, o terceiro eixo, revela a possibilidade de se ter esperança em meio e depois da escuridão. Nesse ponto, Denise mostra otimismo para reverter perdas da natureza e da humanidade ao encontrar um novo entendimento entre pessoas, governos e interesses comerciais. Dispostos nesse eixo estão monocromos, colagens prateadas e esculturas de flores cristalinas imaginárias, sugerindo uma existência nova e mais harmoniosa. Um trabalho belíssimo, sensível e tocante. @denisemilan
EstrelaXVII,ParaísoReconquistado | 2012 C-prints sobre alumínio
“Nomeiodocaminhotinha...”
POR
VALENTINA HERSZAGE
Valentina Herszage tem apenas 27 anos e já soma dez filmes no currículo, incluindo o premiado AindaEstouAqui, novelas e outros trabalhos de peso. Entusiasta da moda e de outras artes repletas de sensibilidade, ela divide conosco os lugares, as palavras, os projetos e os programas que têm inspirado seu dia a dia e seu imaginário criativo
ANDRÉA DEL FUEGO
No ano passado, li A Pediatra, escrito por essa paulista que tem encantado o mundo com as suas palavras. O posfácio é assinado pela Fernanda Torres; estávamos filmando Ainda Estou Aqui quando eu li e ficamos horas sonhando com uma adaptação para o cinema. Em seguida, foi a vez de Os Malaquias e fiquei apaixonada. @andreadelfuego
ANA FRANGO ELÉTRICO
Conheci a Ana quando éramos pré-adolescentes em uma aula de teatro na Catsapá, a escola onde descobri meu amor pelas artes cênicas, e fizemos muitas peças juntas. Ela se tornou uma grande cantora de jazz e rock alternativo, tem uma banda alucinante e as letras são maravilhosas. Na estrada, eu e meu namorado sempre escutamos “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua”. @anafrangoeletrico
JANELA LIVRARIA
Um dos meus lugares favoritos do Rio de Janeiro. Fica na Rua Maria Angélica, no Jardim Botânico, e oferece uma curadoria maravilhosa de livros, com post-its das pessoas que já leram dando suas opiniões sobre as obras. Para completar, o cappuccino é incrível e os doces acompanham muito bem a leitura! @janela_livraria
A artista plástica tem um projeto chamado biquini.pdf: trata-se de um trabalho de arte em formato de PDF, em que ela ensina mulheres a fazerem um biquíni completo, sem costura, que pode ser arranjado de vários jeitos. Eu sempre amei arte têxtil e a Dani ainda faz o que chama de “pintura sólida”, com quadros que misturam texturas de tecidos muito fascinantes. @cavalierdani | @biquini.pdf
CALMA URGENTE
Essa série do canal do YouTube Estúdio Fluxo reúne os maravilhosos Gregório Duvivier, Alessandra Orofino e Bruno Torturra. Na definição do trio, “Eles discutem os assuntos que urgem ser tratados com muita calma”. Adoro me jogar no sofá para bordar enquanto os escuto levantando questões sempre muito pertinentes sobre cada momento do Brasil e suas políticas. @estudiofluxo
DANI CAVALIER
NEVER TOO SMALL
O canal no YouTube reúne apartamentos e casas de pouquíssimos metros quadrados do mundo todo e que se tornaram projetos 100% aproveitáveis e com boa sensação de espaço. Acompanho as alternativas usadas em lugares pequenos, mas sempre lindos e funcionais. Amo observar a criatividade dos arquitetos. Fico horas assistindo! @nevertoosmall
FERNANDA TORRES
Sei que essa não foi original porque todo mundo está vibrando Fernanda, mas não teria como deixar de fora o amor e a admiração que eu sinto por essa mulher, atriz, amiga, parceira incrível de trabalho. Eu acompanho os trabalhos dela desde sempre e tive a honra de fazer Fim, série escrita por ela, e ter interpretado sua filha em AindaEstou Aqui. Ela chega às entrevistas e arrebenta! Amo rever seus memes na internet. Ela é o momento! @oficialfernandatorres
A pergunta é: quem não está apaixonado pelo trabalho da Penha? Eu descobri o talento dessa estilista durante uma sessão de fotos e fiquei muito impressionada com o estilo performático e preciso com que ela faz seus modelos de roupa. Amo as cores, as texturas, o 3D. Espero poder trabalhar com ela logo! @penhamaia
VINHOS VIVENTE
Eu conheci a Vivente na padaria Slow Bakery e fiquei encantada. São vinhos feitos com nada além de uvas de agricultura biodinâmica, orgânica e sustentável, fermentadas espontaneamente por leveduras selvagens. E eles ainda têm as embalagens mais lindas do mundo. @viventevinhosvivos
CUCCO LASAGNERIA
Eu estou viciada nesse delivery de lasanha, que acabou de ser inaugurado no Rio. Os cozinheiros são os mesmos do antigo Osteria Dell’Angolo, restaurante italiano clássico em Ipanema, liderado pelo eterno chef Alessandro Cucco. São quatro sabores sensacionais e duas sobremesas de se comer babando; peço toda semana (risos). @cucco___
PENHA MAIA
GENTE QUE FAZ
Lygia daVeigaPereira
Com feitos grandiosos nas últimas décadas no campo da evolução genética, a cientista Lygia da Veiga Pereira ampliou os limites da academia para empreender: sua plataforma de dados genéticos irá contribuir com a saúde e o estilo de vida de milhares de brasileiros
Por Nataly Cabanas Retrato João Bertholini
Não é exagero dizer que Lygia da Veiga Pereira imprimiu seu DNA em cada passo da evolução genética que nos trouxe até aqui. Professora titular de Genética Humana da USP, e agora CEO da biotech Gen-T, ela sempre foi movida pela vontade de “fazer a diferença e trazer alguma contribuição”.
Em 1990, Lygia integrou o grandioso Projeto Genoma Humano, responsável por sequenciar os cerca de 20 mil genes do nosso DNA. Na década seguinte, ela se tornou pioneira nas pesquisas com células-tronco embrionárias, aquelas com enorme potencial terapêutico para curar diversas doenças. Sua atuação também foi fundamental na defesa da legalidade desses estudos, ao debater com congressistas em Brasília.
De volta às pesquisas, percebeu a falta de diversidade genética nos materiais com que trabalhava e lançou o Projeto DNA do Brasil. Financiado pelo Ministério da Saúde, tinha como objetivo sequenciar os genomas dos brasileiros,
focando na nossa riqueza étnica, para desenvolver medicina de precisão no País. Os bancos de DNA internacionais, predominantemente compostos de amostras de ancestralidade europeia e demasiado brancos, careciam de diversidade e Lygia viu aqui uma grande oportunidade.
Da fusão entre genética e tecnologia nasceu a Gen-T (@gen_t.science). Ao tentar pronunciar o nome da empresa corre-se o risco de inclinar-se para o inglês, mas Lygia corrige: “É ‘gente’ mesmo que fala”, em bom português, já que a empresa também é sobre a nossa gente. A biotech pretende ser uma grande plataforma de dados genéticos, de saúde e de estilo de vida de 200 mil brasileiros.
Apesar de sua atenção estar totalmente voltada para a nova empreitada, Lygia encontrou tempo para conversar com Donna sobre setor privado, espiritualidade, novos projetos e até mesmo genes “meia-boca”.
Carbono Donna
Um dos objetivos do nosso tempo tem sido buscar melhorar a nossa qualidade de vida e aumentar a nossa longevidade. O que a genética tem feito ou pode fazer por isso?
Lygia da Veiga Pereira
A genética já vem fazendo há muito tempo porque ela pretende entender o funcionamento do nosso corpo em detalhes. A gente já foi uma célula que depois se transformou nesses trilhões de células. Como é que essas células sabem como fazer isso e como elas desvendam o que fazer ao longo da vida? Porque ela segue as instruções escritas no nosso genoma. O nosso genoma, ou DNA, é uma grande receita que a natureza segue para a formação e o funcionamento de um ser vivo. Então, o que a genética quer fazer? Entender a função de cada instrução do nosso genoma, da nossa receita. À medida que compreendemos isso, passamos a desenvolver diagnósticos mais precisos. Conseguimos pegar o DNA de uma pessoa e saber dizer quais são as predisposições a doenças, quais remédios funcionam melhor nela. Essa é a primeira aplicação. E, depois, se eu descubro que o gene ABC está envolvido em uma questão de saúde, como o Alzheimer, por exemplo. A proteína que esse gene produz passa a ser um alvo para eu tentar desenvolver medicamentos que previnam ou regridam o Alzheimer.
Carbono Donna
Já é possível entender o que pode ou não levar a um envelhecimento saudável? Por que em algumas famílias é comum passar dos 100 anos?
Lygia da Veiga Pereira
É o que milhares de cientistas estão fazendo. Já conhecemos algumas causas, como a perda de função das mitocôndrias (nossas usinas de energia) e o encurtamento das pontas dos cromossomos (telômeros), mas ainda há muito a desvendar. Sabemos que a genética tem um papel importante na nossa longevidade, mas ainda não conhecemos quais genes específicos estão envolvidos. E precisamos considerar também nosso estilo de vida, que pode ter um papel tão importante quanto.
Carbono Donna
O congelamento de óvulos está permitindo que as mulheres adiem a maternidade. Mas será que a natureza não impõe certos limites à programação humana?
Lygia da Veiga Pereira
Eu imagino que sim. Por exemplo, por mais que você congele os seus óvulos com 30 anos, se você esperar até os 60 para tentar engravidar, a probabilidade de
isso acontecer vai ser muitíssimo baixa 3 não vou dizer que é impossível com as tecnologias e o conhecimento atuais. Mas o que acontece quando você está com 60 anos? Por mais que a gente tenha conseguido preservar <a juventude= desses óvulos, como fica o resto do corpo da mulher? Será que vamos conseguir manter a capacidade de seguir uma gestação? Não sei.
Carbono Donna
Há 20 anos, foi aprovada a lei nacional de biossegurança, da qual você foi uma das vozes atuantes que viabilizaram a pesquisa com as células-tronco embrionárias. Quais foram os principais avanços nessa área?
Lygia da Veiga Pereira
Foi um avanço brutal. Os resultados das pesquisas, principalmente sobre diabetes, Parkinson e doenças cardíacas, têm sido muito positivos. Eles saíram dos modelos animais porque começamos a testar em seres humanos. Em diabetes, eles pegam a célula-tronco no laboratório, a transformam em célula produtora de insulina e a colocam no paciente. Nos primeiros resultados já conseguiram livrar algumas pessoas das injeções de insulina. Essas células estão substituindo esse pâncreas que não está funcionando bem. Os primeiros resultados mostraram que é seguro e eficaz. Agora eles têm que tratar mais pessoas para se certificar disso. Com Parkinson, os primeiros resultados também mostraram que é seguro.
“A genética quer entender a função de cada instrução do nosso genoma para desenvolver diagnósticos mais precisos”
Carbono Donna
Então vamos ver a cura dessas doenças em breve?
Lygia da Veiga Pereira
Diabetes ainda na nossa geração. As coisas estão caminhando bem.
Carbono Donna
E você, Lygia, sonha em ver a cura para qual doença?
Lygia da Veiga Pereira
Todas aquelas que envolvam o sistema nervoso: paralisias, demências.
“Temos que fazer um trabalho cultural e mostrar mais mulheres brilhando e sendo felizes nas diferentes carreiras”
Carbono Donna
Dizem que as mulheres vivem mais e têm menos tendências a doenças neurodegenerativas. Encontramos alguma resposta para essas características em nosso genoma?
Lygia da Veiga Pereira
Iremos sim encontrar essas respostas 3 ou, boa parte delas 3 no nosso genoma, mas ainda estamos procurando. Um fator importante é que as mulheres têm dois cromossomos X, enquanto os homens possuem um. Somos XX e eles XY, lembra? Assim, se houver algum gene defeituoso em um dos cromossomos X, existe uma cópia boa do outro para compensar. Já os homens... ficam só com aquele meia-boca.
Carbono Donna
O que de mais interessante tem sido pesquisado hoje no seu campo de atuação?
Lygia da Veiga Pereira
O que acho mais fascinante atualmente é a nossa capacidade de reparar genomas, de elaborar modificações genéticas para corrigir doenças genéticas e fazer nosso sistema imunológico atacar o câncer 3 já temos alguns exemplos em andamento na clínica.
Carbono Donna
Sabemos que as áreas do campo dito STEM (sigla, em inglês, para ciência, tecnologia, engenharia e matemática) nem sempre são as mais procuradas por meninas. Você que viveu isso de dentro consegue imaginar medidas para furar esse cerco?
Lygia da Veiga Pereira
Eu acho que existe uma coisa cultural muito forte, esses estereótipos masculinos que ainda pairam, mas que já melhoraram bastante. Eu estava na faculdade nos Estados Unidos quando lançaram uma Barbie daquelas que falavam. Sou meio velha, né? E ela dizia: <I hate math!= Tiveram que recolher a boneca. Era um absurdo! Nas áreas biológicas, é melhor. Sempre vi muita mulher na biologia. Mas, hoje em dia, dentro de STEM, observo muita gente 3 independentemente do gênero 3 escolhendo o mercado financeiro. Eu acho isso tão triste. As
pessoas com uma cultura de só querer ganhar dinheiro rapidamente, em vez de pensar em fazer coisas que podem gerar algum valor para a sociedade 3 e que até por isso podem dar dinheiro, mas como consequência. Temos que fazer um trabalho cultural ainda na infância e, depois, mostrar mais mulheres nessas posições, brilhando e sendo felizes nas diferentes carreiras.
Carbono Donna
Dar mais visibilidade para as cientistas. Algo que seu podcast vai fazer, né? Conte um pouco sobre ele.
Lygia da Veiga Pereira
É uma parceria com a Taci Pereira, uma brasileira que foi fazer graduação nos Estados Unidos, ficou por lá e já começou a empreender. Ela não se conforma que o Brasil não tenha um prêmio Nobel. E me convidou para fazer esse podcast, que vai abordar a ciência em diversos aspectos, não só o da academia, mas também a ciência dos empreendedores, a ciência dentro da indústria. Já gravamos três episódios e, quando tivermos uma temporada inteira, vamos lançá-lo.
Carbono Donna
E você, que veio da academia, em um dado momento resolveu empreender e criou a Gen-T. O que lhe instigou a ir para a iniciativa privada?
Lygia da Veiga Pereira
Essa é uma história muito legal. Quando eu comecei, trabalhando com células-tronco embrionárias, fui analisar o DNA das células que a gente estabeleceu no Brasil e percebi que tinham um DNA praticamente todo de ancestralidade europeia. O que era engraçado porque a nossa população é mais miscigenada. O nosso DNA é uma mistura de africano, europeu e indígena, em diferentes proporções. Então, a gente teve um insight: essas células vêm de embriões que estão em clínicas privadas de fertilização in vitro e quem tem acesso a esses tratamentos é a população de nível socioeconômico mais alto, que tende a ser a mais branca. Nessa mesma época, surgiram artigos mostrando que a comunidade científica só estava estudando o DNA de populações brancas. Por quê? São as mais ricas. Então, nesse momento o mundo se deu conta de que estava desenvolvendo uma medicina de precisão que era precisa só para gente branca, que faltava diversidade. Foi quando eu pensei: se falta diversidade, o Brasil é o lugar certo para descobrir isso. Precisamos conhecer nossos genomas para desenvolvermos essa medicina de precisão para nossa população.
Carbono Donna
E como isso se deu na prática?
Lygia da Veiga Pereira
Na época, ainda com o meu chapéu da USP, eu criei o Projeto DNA do Brasil, que se propunha a conhecer os genomas de brasileiros para compor um banco de dados para a academia. A partir dele seria possível desenvolver medicina de precisão. A iniciativa foi aprovada pelo Ministério da Saúde e começamos a trabalhar. Foi bacana ver, nos primeiros três mil genomas, exatamente essa mistura de africanos, indígenas e europeus. Mas o ritmo de implantar isso através de um projeto financiado pelo governo é um pouco devagar 3 demoramos quatro anos para conseguir três mil genomas sequenciados, enquanto o Reino Unido tinha 500 mil. E eu sabia que a indústria farmacêutica usa esses dados para o desenvolvimento de medicamentos, então pensei que podia transformar a iniciativa em uma empresa porque existe demanda. Foi aí que, depois de quase 30 anos de USP, eu fui empreender e fundei a Gen-T, uma união do gene com a tecnologia, e também uma empresa sobre a nossa gente. Estamos criando uma grande plataforma de dados genéticos, de saúde e de estilo de vida de 200 mil brasileiros. Ela será usada para responder perguntas, acelerar os processos de inovação da indústria farmacêutica e de biotecnologia, e também vai disponibilizar esses dados para a academia e para o sistema público de saúde. Quanto mais grupos estudarem a nossa genética, melhor será para a população brasileira.
Carbono Donna
E qual foi o maior desafio que você enfrentou ao empreender?
Lygia da Veiga Pereira
Agora, em vez de pedir dinheiro para o Ministério da Ciência e o Ministério da Saúde, eu tenho que ir para a Faria Lima falar com os faria limers e com os investidores. A gente conseguiu investidores iniciais de uma qualidade muito especial, que são o Eduardo Mufarej e o Armínio Fraga, investidores de impacto. São aqueles que, claro, querem o múltiplo, desejam o IPO, mas com uma consciência muito grande da contribuição que aquela empresa está trazendo para a sociedade. Então, eles têm valores muito alinhados com os nossos. E aí, para você entender a agilidade disso, começamos a recrutar voluntários em 2023 e, até o fim deste ano, a nossa plataforma já vai ter 20 mil brasileiros com seus genomas sequenciados. Eu sou movida a fazer alguma diferença, a trazer uma contribuição, e eu vi nessa história uma enorme necessidade e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade. Percebi que eu não ia conseguir fazer diferença
nesse modelo academia-governo e resolvi sair da minha zona de conforto para tentar isso de outra forma.
Carbono Donna
Falamos sobre longevidade e me esqueci de mencionar que você canta! Será que tem alguma pesquisa que relacione as duas coisas?
Lygia da Veiga Pereira
Deve haver em psicologia, biologia, mas eu desconheço. Comigo é mais empírico mesmo, eu sinto um bem-estar enorme ao cantar. Eu faço parte de um grupo, o Cantores do Bem 3 são amigos que há mais de 20 anos fazem um show beneficente no contraturno de uma escola no Jaguaré. Então, no segundo semestre, durante três meses, a gente ensaia toda semana, e é uma delícia.
Carbono Donna
Seu avô editou os maiores nomes da literatura brasileira e sua família é composta de vários intelectuais do mundo das letras. Você chegou a considerar esse caminho?
Lygia da Veiga Pereira
Sim. Até eu entrar no ensino médio, achava que iria seguir carreira na literatura. Eu escrevia muito 3 ganhei um concurso literário nacional aos 12 anos 3 e lia os originais de escritoras infantojuvenis que meu pai queria publicar, como Ruth Rocha e Ana Maria Machado. Mas, depois, eu me voltei para as exatas e, no segundo ano do Ensino Médio, quando aprendi genética, me apaixonei.
Carbono Donna
Antes de encerrar, queremos saber se você tem alguma religião ou espiritualidade, já que, de certa forma, hoje há mais tentativas de diálogo entre a ciência e a religião.
Lygia da Veiga Pereira
Eu acho que ainda são formas muito diferentes de você tentar explicar o mundo. Mas a ciência também ainda não consegue explicar tudo. Eu vejo a religião como uma espécie de conforto; de querer acreditar que tem algo maior que olha por nós, como se fosse um grande paizão ou uma mãezona, um colo virtual. É uma maneira de acreditar que pessoas que já morreram e eram muito queridas ainda estão próximas. São ideias que trazem a sensação de que elas permanecem aqui de alguma forma. O meu pai, por exemplo, segue vivo em mim, metade dos meus genes são dele. E, além dos genes, herdei todos os exemplos que ele me deu em vida. Então, eu o sinto muito vivo. Pensar que, espiritualmente, ele está por perto também me traz muito conforto.
Vanessa Gordilho
Carbono Minds
“Atuar em um setor historicamente visto como masculino é uma oportunidade de reafirmar que talento e competência não têm gênero”
Uma das mais respeitadas executivas do Brasil, Vanessa Gordilho acaba de assumir o cargo de vice-presidente executiva de Comercial e Varejo da Vibra e encara com doçura e determinação a missão de gerir uma das maiores companhias do Brasil
Por Nathalia Hein
Postura, disciplina, precisão, foco, superação e resiliência. Foi na dança, durante seus anos dedicados à carreira de bailarina profissional, que Vanessa Gordilho aprendeu os ensinamentos que mais tarde serviriam como pilares fundamentais para que ela se tornasse uma das maiores executivas do Brasil. E, tanto na dança como na vida, foi preciso muita garra, autocrédito e perseverança para que ela conquistasse a posição de vice-presidente executiva de Comercial e Varejo da Vibra, maior distribuidora de combustíveis e lubrificantes do País, cargo que assumiu recentemente, após um brilhante processo como VP de Marketing da mesma empresa nos últimos dois anos.
Nascida em Salvador, Vanessa é a primeira mulher a ocupar a posição em mais de 50 anos de existência da empresa, mas está longe de ser uma executiva convencional. Depois de dançar profissionalmente, voltou para a capital baiana para estudar Comunicação Social e seguiu para os Estados Unidos para se especializar em Marketing. De volta ao Brasil, atuou anos no mercado financeiro. A seguir, Vanessa conta sobre sua trajetória, seus desafios, seus projetos e suas conquistas – sem perder a doçura jamais.
JORNADA “Ao estudar nos Estados Unidos e, depois, atuando no mercado financeiro, apaixonei-me pela transformação tecnológica. Decidi seguir esse caminho e, assim, fui construindo minha carreira em empresas inovadoras e de grande porte. Quando a oportunidade de integrar a Vibra apareceu, enxerguei uma chance valiosa de aplicar meu conhecimento em uma nova indústria. Fazer parte dessa transformação e contribuir para o futuro energético do Brasil foi uma proposta irrecusável.”
TALENTO NÃO TEM GÊNERO “Sou uma mulher determinada e movida por desafios. Ao longo da minha trajetória, sempre acreditei que competência, dedicação e visão estratégica são os pilares do sucesso – independentemente do gênero. Busquei me qualificar constantemente e, acima de tudo, sempre confiei no meu potencial. Atuar em um setor
historicamente visto como masculino é uma oportunidade de reafirmar que talento e competência não têm gênero.”
SEM MEDO DE ERRAR “Nunca permiti que os desafios me intimidassem. Pelo contrário. Cada obstáculo foi uma oportunidade para crescer e reafirmar meu espaço. Há algo que aprendi ao longo do caminho: o importante é ter coragem para tentar, humildade para corrigir a rota e persistência para continuar evoluindo.”
TOQUE FEMININO “As mulheres precisam ocupar mais espaços nas empresas. Nossa presença é essencial para promover ambientes de trabalho mais colaborativos, produtivos e capazes de impulsionar mudanças transformadoras. Nós trazemos uma perspectiva singular, unindo sensibilidade na gestão de pessoas a uma abordagem estratégica e inovadora na resolução de desafios.”
BASE “Um bom líder se constrói a partir de pilares fundamentais. O primeiro é o cuidado genuíno com as pessoas. É essencial ter sensibilidade para reconhecer o potencial de cada indivíduo e estimular seu desenvolvimento. Outro ponto crucial é a segurança psicológica. Criar um ambiente em que as pessoas se sintam seguras para compartilhar ideias e assumir riscos sem medo de punição ou julgamento. Também considero fundamental a busca incansável pela eficiência e pela disponibilidade. Liderar é estar presente, ouvir ativamente, trocar experiências e construir um espaço que favoreça a comunicação aberta e a colaboração.”
PAS DE DEUX “Nos meus momentos de lazer, gosto de correr, meditar e praticar atividades que me ajudem a manter o equilíbrio. Mas, principalmente, aproveito cada instante de folga ao lado da minha família e das minhas filhas, Anitta e Catharina, que são minha maior fonte de motivação. Sempre que preciso recarregar as energias e me reconectar, volto para a Bahia, o lugar onde encontro paz e renovação.”
EU, TENTANTE
Quando se é uma tentante, a busca pela realização da maternidade pode se assemelhar à travessia de um deserto: uma jornada muitas vezes solitária, cheia de dúvidas e sobressaltos, mas que também traz oportunidades e aprendizados. Apesar dos tabus que ainda envolvem o tema, dividir o processo pode ser uma ferramenta de apoio para quem vive a experiência, como as mulheres que compartilharam com Carbono Donna suas histórias tão particulares e emocionantes
Por Raquel Fortuna Fotos Paula Brandão e Vivi Guimarães
<Evocê, Mariana, não vai ter filho, não? Eu não consigo contarquantasvezesporsemanaescutoessapergunta.
O que as pessoas talvez não entendam é que existe um peso por trás de qualquer resposta dada, seja ela 8sim, vou9, ou 8não, não vou9. Porque dentro do 8sim9 pode existir um desejo profundo de ser mãe unido a um porém como 8estou tentando, mas sem sucesso9. Eu, Mariana, estou tentando engravidar e ser uma tentante é às vezes bem solitário. A mulher que está nesse ciclo de tentativas, seja de forma natural, com congelamento de óvulos, fertilização, ou adoção, passa por uma solidão que não é visível aos olhos das pessoas. E, nesse momento que também pode ser tão bonito, eu não quero me sentir sozinha. Quero ter a liberdade de dividir a minha história, de ouvir outros relatos, conversar, rir, chorar junto e acreditar que pode dar certo. Sou uma mulher de 30 anos, que já sofreu um aborto espontâneo e que tem um desejo enorme de ter um filho. E eu queria dizer que você não está sozinha.= Esses são trechos de um forte relato recente da atriz Mariana Rios, publicado em suas redes sociais. Assim como ela, inúmeras mulheres enfrentam uma jornada, muitas vezes longa e cheia de desafios, em busca da realização da maternidade. Como a advogada Nathália Ottoni Bastos, que passou sete anos em busca de seu positivo. Depois do nascimento da primeira filha, ela resolveu criar o perfil @n.tentativas no Instagram para trazer informações
sobre esse universo e ajudar outras tentantes. <Quando a gente compartilha, nossa dor diminui, a gente se cura e a informação salva=, diz Nathália (leia a história completa no box). Para a psicóloga especialista em reprodução assistida e coautora do livro Psicologia em Infertilidade e Reprodução Assistida: daTeoria à Prática, Luciana Leis, considerar possíveis redes de apoio é fundamental para quem vive o processo. <É uma experiência íntima, uma ferida sobre a qual, em geral, as pessoas têm dificuldade de falar, ainda mais no mundo de hoje, em que só se mostra o que dá certo. Então, conversar com a mãe, a irmã, uma amiga, alguém do convívio social, procurar ajuda psicológica, tudo isso ajuda. Os grupos de internet de tentantes favorecem muito a identificação. Procurar espaços de acolhimento é uma forma de se fortalecer emocionalmente, e isso vai facilitar a jornada=, explica. Foiembuscadeinformaçãonainternetsobreendometriose enquanto tentava engravidar, que a gestora de RH, Fabiane Possamai de Souza, deparou-se com o perfil criado por Nathália no Instagram. <Em 2012, quando começou a minha suspeita de endometriose, fui para a internet à procura de um médico especialista da minha cidade [Chapecó, em Santa Catarina]. Isso foi há mais de dez anos, em uma época em que não se falava muito sobre esse tema. Na busca, encontrei uma postagem da Nathália, comecei a seguir o perfil e logo
Foto mão Vivi Guimarães e mãe com filha Paula Brandão
“É uma ferida sobre a qual, em geral, as pessoas têm dificuldade de falar, ainda mais no mundo de hoje, em que só se mostra o que dá certo”
aconteceu uma identificação com a história dela=, conta. Portadora de endometriose profunda, que acometia diversos órgãos, Fabiane precisou passar por três cirurgias diferentes. Em um dos procedimentos, que durou dez horas, ela teve uma complicação médica que a levou a uma síndrome compartimental que quase tirou seus movimentos das pernas. <Esse talvez tenha sido o momento mais complicado. Meu relacionamento, minha fé, tudo ficou abalado. Precisei fazer um ano de fisioterapia intensa para recuperar os movimentos e a sensibilidade=, conta.
O sonho de engravidar teve que ser adiado. Mas ela não desistiu. Já reabilitada, resolveu consultar especialistas em fertilização, mas concluiu que os custos eram muito altos. Então, Fabiane e o marido entraram na fila da adoção. Em paralelo, ela ficou sabendo que a mesma Nathália do post do Instagram comandava um projeto social que custeava tratamentos de fertilização para casais de baixa renda. <Candidatei-me e fui selecionada. Consegui engravidar na primeira FIV. Tive descolamento de placenta, tirei o útero na cesárea, mas tudo isso já está muito bem resolvido. Samuel nasceu saudável e está hoje com quatro anos=, relata ela, aos 39 anos. Depois do nascimento do filho, o casal resolveu arquivar o processo de adoção. <Fisicamente não podemos mais gerar [um
filho], mas sabemos que existe muita gente na fila da adoção. Então decidimos dar chance a quem ainda não conseguiu realizar o sonho=, diz.
Maternidade tardia, a infertilidade e seus mistérios
Um estudo de Estatísticas de Gênero divulgado em 2024 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o número de filhos por mulher no Brasil caiu 13% entre 2018 e 2022, mas cresceu 16,8% entre aquelas com mais de 40 anos, mostrando a tendência de que as brasileiras estão mesmo postergando a maternidade. <É uma mudança social importante. Como se sabe, a reserva feminina vai caindo ao longo da vida, assim como a qualidade dos óvulos. A postergação aumenta também o risco do desenvolvimento de doenças, então tem que ter um olhar mais atento à programação. Até o papel do ginecologista muda, no sentido de ir cuidando disso ao longo dos anos para prevenções=, explica a ginecologista e obstetra especialista em reprodução assistida da clínica Célula Mater, Renata Mendes.
Segundo dados atualizados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 17,5% da população adulta é afetada pela infertilidade, o que significa que
uma em cada seis pessoas pode ser acometida pela condição. Olhando os números, parece uma matemática simples, mas não é. <Entende-se que a infertilidade é uma condição em que o casal tem dificuldade de concepção. Pode ser 30% da mulher, 30% do homem ou 30% dos dois. E até 15% dos casais podem não ter uma resposta, não apresentando causa aparente=, diz Renata. E as variáveis não param por aí: a infertilidade também pode ser considerada multifatorial. De acordo com a médica, uma paciente, por exemplo, que tem lúpus ou alguma outra doença autoimune tem chances de apresentar dificuldade de engravidar. <Por outro lado, há casais que engravidam por reprodução assistida e depois concebem naturalmente. Há casos em que é só organizar o período fértil=, observa ela.
Para Luciana Leis, existe uma construção social em que a fertilidade é tida como certeza. <A gente passa a vida inteira ouvindo: 8cuidado, não vai engravidar antes da hora9. Ou seja, a fertilidade é dada como certa=, comenta. Segundo ela, é normal que exista também uma busca pelo filho idealizado, concebido com o parceiro conjugal sonhado, transando no quarto arrumado com velas. <A primeira frustração é ter de se deparar com a ideia de que pode ser que não aconteça do jeito que se imaginou. Atendo casais que não aceitam que
“A primeira frustração é ter de se deparar com a ideia de que pode ser que não aconteça do jeito que se imaginou”
são inférteis, que chegam bravos ou sequer entendem que um tratamento pode não dar certo. Eu digo que quando existe a aceitação maior de que 8comigo vai ser diferente9, as pessoas podem se abrir a novas possibilidades, como a adoção. Há outros caminhos possíveis=, completa.
Mãe sim, mas não a qualquer custo
Giovanna* é uma tentante de 41 anos em processo. Conta que <nunca quis ser mãe a qualquer custo=. Por conta da dinâmica de trabalho, que já incluiu mudanças variadas de cidade, ela só decidiu começar a tentar engravidar em um momento de mais estabilidade e quando se convenceu de que estava preparada, aos 40 anos. Diferentemente das amigas da mesma faixa etária, optou por não congelar óvulos. Seus exames de rotina e os do marido, que já é pai de uma menina de nove anos, sempre estiveram dentro do normal. Depois de dez meses de tentativas por vias naturais, ela resolveu procurar a reprodução assistida. Passou por diferentes médicos e clínicas até que, em dezembro de 2024, chegou a realizar uma tentativa de FIV, que não deu certo. <Fiquei muito frustrada. E de repente me vi na situação
de querer controlar. Muitas vezes achamos que o médico vai dar a resposta que a gente quer. Mas é preciso entender que não é assim, que existe uma ciência por trás=, diz.
Nosúltimosexamesquerealizou,elaobteveodiagnóstico de endometriose e hidrossalpinge (acúmulo de líquido nas trompas). <Entendi que vou ter que lidar com isso=, diz. Para enfrentar os altos e baixos, Giovanna diz que costuma fazer trocas com amigas que estão passando pela mesma situação. <Faço parte de um grupo de tentantes e se eu puder dar um conselho é: 8procure espaços para desabafar9. A gente tende a acreditar que, ao verbalizar, ou as pessoas vão ficar com pena ou vão jogar energia nociva. Mas precisamos normalizar isso. A angústia é muito ruim. É uma solidão absurda.=
Por outro lado, o que tem vivido a fez despertar para o cuidado com a saúde e esse virou seu foco por enquanto: fazer atividade física, melhorar a alimentação e recuperar a disciplina. <Sigo tentando, no momento por vias naturais, apesar dos obstáculos, mas acreditando ser um processo que não tem muita explicação. A gente sabe que, quando tem que ser, vai ser, independentemente do problema, seja ele físico ou emocional=, finaliza.
Entender a importância de mudar o foco ou de realizar eventuais pausas também pode trazer mais leveza à travessia. Foi o caso da médica Marina Gonzales, 37 anos e mãe do recém-nascidoJoão.Elaque,porsinal,éginecologistaeobstetra e lida com o assunto diariamente, já tinha indicação médica para tratamento por FIV desde cedo. Aos 34 anos, começou a fazer a captação dos óvulos e depois de quatro processos de estimulação, que incluíram algumas respostas insatisfatórias, mudança de medicações e ciclos com intervalos espaçados, resolveu se dar um respiro. <Cuidei do meu psicológico, organizei a vida para receber meu filho e, um ano depois, me senti pronta para começar a transferência. Eu quis me entender melhor, tentar não fazer a vida girar em torno só disso. Quando a gente deseja muito ter um bebê, não conseguimos sair daquilo. E eu tentei fazer com que isso não me definisse. Às vezes, a pausa é necessária para você se organizar, estruturar a vida, o relacionamento e voltar para tentar de novo=, conta ela, que se prepara para retornar da licença-maternidade Marina revela que a experiência de estar do <outro lado= a ajudou a refletir sobre vários fatores, como as limitações da jornada e a empatia com as pacientes. <Eu tive que entender todos os processos, assim como suas limitações. Por mais que faça tudo certo, às vezes o resultado não vem, e não porque você fez algo errado, mas porque simplesmente não vem. E para mim, que sou médica, ainda surge o embate entre a teoria e a prática. Você passa a entender que nem tudo está sob seu controle. Sentir na pele me fez ver o quanto eu tentava ser empática com as pacientes e como eu posso ser muito mais=, diz.
Viver uma etapa de cada vez e contar com uma boa rede de apoio são as recomendações de Marina para quem segue na busca da realização da maternidade: <Esteja com profissionais com quem você se sinta segura e procure se cercar de pessoas que lhe amam, como família e amigos, que peguem na sua mão e andem com você no caminho, independentemente do que acontecer no final=, conclui.
Foi em 2016, depois de uma dura travessia no meio de um deserto em busca do positivo, que a advogada Nathália Ottoni Bastos decidiu criar o @n.tentativas, um Instagram para compartilhar sua história e trazer informações de qualidade sobre o mundo da infertilidade. Além de publicar um conteúdo que envolve temas como saúdes física e mental e entrevistas com médicos e especialistas, Nathália costuma receber no perfil relatos de pessoas que estão passando pelo processo de tentar engravidar, muitas vezes em busca de acolhimento ou de uma palavra de conforto. “Quando falo com essas mulheres eu revivo a minha história. Sinto de novo as dúvidas e incertezas porque sei como é estar no meio desse vendaval”, define Nathália.
Portadora de endometriose assintomática, ela começou a tentar engravidar aos 22 anos. Sua condição comprometia diversos órgãos, o que dificultava muito o processo. Ao longo de sete anos, foram idas e vindas a médicos, internações, exames dolorosos, cirurgia –incluindo uma intercorrência durante um procedimento quecolocousuavidaemrisco–,ummistodesentimentos, expectativas frustradas, solidão e quase perda da fé. “Tem os desgastes financeiro, emocional, físico, e tudo isso sem saber se vai dar certo. Aprendi que a vida é lidar com a incerteza. A infertilidade joga isso na sua cara o tempo todo”, reflete.
Apesar da resiliência, Nathália conta que o clássico “ser mãe não é para mim” passava pela sua cabeça. “Cheguei a pensar que não era uma boa pessoa. Por que comigo? Sou católica, mas, em determinado momento, com raiva, parei de rezar. E, além de sentir essa dor emocional, ainda tinha que ouvir as pessoas falando: ‘será que não é melhor parar?’”, lembra. Se tivesse dado ouvidos, Nathália não teria atingido seu objetivo e foi então que começou a questionar determinados “nãos”. “Ninguém conhecia meu corpo melhor do que eu. Comecei a anotar tudo o que acontecia com ele
“A vida é lidar com a incerteza. A infertilidade joga isso na sua cara o tempo todo”
CRUZANDO FRONTEIRAS
Conheça a história inspiradora da advogada Nathália Ottoni Bastos, que transformou sua extensa luta para ser mãe em um projeto social
numa folha. Entender que eu era dona da minha própria história fez muita diferença no processo”, conta. Em 2015, a advogada resolveu tentar seu tratamento em Valência, na Espanha, com a Dra. Juana Crespo, médica especialista indicada por uma amiga. “É importante dizer que cada paciente vai encontrar o seu médico. Costumo brincar que o meu ‘santo bateu’ com o da Dra. Juana”, diz. Enfim, em 2016, Nathália conseguiu seu positivo. “Quando peguei a minha filha nos braços, eu tive a certeza de que tinha de ser o embrião dela e de que os outros que não deram certo não eram para ser.” Em homenagem à cidade onde tudo aconteceu, Nathália decidiu dar à bebê o nome de Valência - hoje ela está com oito anos. Três anos depois do nascimento da filha, a advogada e o marido João Gaspar tiveram os gêmeos João Francisco e Carolina, concebidos a partir de um novo tratamento na Espanha. Contando as duas gestações, ao todo, foram seis fertilizações e nove transferências. “Quando relembro o que vivi, parece que foi em uma outra vida. Não consigo acreditar que um dia eu duvidei de que seria mãe”, diz.
Depois do nascimento de Valência, Nathália e João Gaspar tiveram vontade de ajudar casais de baixa renda com dificuldades para engravidar. Por intermédio de uma parceria com o Instituto Maragata, organização sem fins lucrativos fundada pela família de João Gaspar, voltada a trabalhos sociais, o projeto N Tentativas saiu do Instagram para a vida real. Virou um movimento que custeia 100% do tratamento de fertilização dessas famílias, viabilizado por meio de doações e parcerias com clínicas especializadas no Brasil inteiro. Já são cerca de 70 casais atendidos (mais 220 na fila), vários bebês que vieram ao mundo e, neste ano, já há cinco grávidas! “Quando me perguntam por que eu passei por tudo o que passei, respondo que acredito que tenha sido para fazer esse projeto acontecer. É o que dá sentido à minha história”, finaliza ela.
Candace Claire Brown, ou Candy, nasceu em Boston e, aos cinco anos, mudou-se para a Espanha. Enquanto viveu na Europa, frequentou salões de alta costura, como Oscar de La Renta, Balenciaga, Givenchy e Dior. Nesse período observou com atenção vestidos de baile sendo confeccionados para as festas da aristocracia da época. Assim nasceu sua fascinação pelo mundo da moda que, desde os anos 2000, pode ser notada nas criações de sua marca Candy Brown Habilèes. Uma década após a abertura, em 2012, Giulia Brown Alterio, filha de Candy, se juntou à mãe na empreitada, então já consolidada. Formada no Istituto Europeo di Design, o IED, como designer de moda, Giulia trouxe um frescor ao atelier de alta costura, lançando linhas de peças prontas sob a premissa de manter a mesma qualidade e os mesmos acabamentos dos vestidos únicos fabricados sob medida pela matriarca. @candybrown.oficial
“Vermelho é a cor do amor, uma cor chamativa que tem muitos signi昀cados. Ela é perfeita para celebrar momentos especiais. Nunca pode faltar na nossa cartela!=
PEÇAS FEITAS DE TAFETÁ, ORGANZA DE SEDA PURA E RENDA TEXTURIZADA IMPORTADA, DA COLEÇÃO TARSILA POR
CandyBrown
1
TWIST AND SHOUT
Gosto de usar peças originais, retas e amplas, de modelagens simples. Misturo muito as cores, acho que cresço no meu estilo – que considero básico com twist – quando produzo um mix de tons. Primo sempre pelo conforto e depois jogo algum acessório único, meio ‘esquisitão’, para complementar.
2 INCREMENTO
Adoro broches. Acho um acessório interessante, causa uma interferência única no look. Quando colocado em uma malha, por exemplo, muda completamente o visual. Mas gosto desses mais inusitados, e não tipo joia. Tenho dois desses da Prada, em diferentes cores, e brinco bastante com eles.
MEU ESTILO
UCHA MEIRELLES
CONSULTORA DE ESTILO (@UCHAMEIRELLES)
3
MARCA REGISTRADA
Assino diversas collabs para marcas, como uma linha de sapatos para a Manolita, uma coleção de joias para a Epiphanie e itens de malharia para a Anselmi. Procuro imprimir meu DNA nessas criações.
4
RED LIPS
Não uso muita maquiagem. CC cream, rímel, blush em bastão e, claro, um batom vermelho. Acredita que até hoje não achei a cor perfeita para mim? Costumo sobrepor dois ou três tons para chegar a um resultado que aprecio.
Retrato João Bertholini
5
MERCADO DE PULGAS
Amo modelos exclusivos, aqueles que você não vê mais ninguém usando. Esse vestido verde de toalha eu comprei na Manhattan Vintage, uma feira com mais de 100 expositores dos EUA focados somente em antiguidades. É sensacional!
6 BOSSA
Acessórios são minha paixão. Como uso roupas de estruturas mais fáceis, investir em um broche, um cinto ou uma pulseira valoriza muito o meu estilo. Traz um peso importante para o conjunto.
7
TÁ NA MÃO
Tenho uma coleção grande de clutches pequeninas. Essa de milho encontrei em uma loja vintage em Firenze. Não tem marca e só cabe um batom e um RG (risos). Mesmo assim me apaixonei por ela e arrematei.
ARTSY
Não uso parte de cima na cor preta. Desse tom tenho somente uma malha, da Comme des Garçons, que comprei em Milão. Acho que me pesa. Gosto de peças coloridas, como essa saia da coleção Prada - Fall 2012, a Prada Flames. Visto com camiseta e rasteira e estou pronta.
8 NATURAL
Sou prática e acelerada. Não consigo ficar horas no cabeleireiro. Curto uma cara mais natural, menos mexida. Nem secar o cabelo eu seco. Até os sapatos eu prefiro salto blocado a alto. Uso bastante camiseta gola careca, um cardigan de tricot... Itens confortáveis e básicos que, quando mesclados com um bom acessório, ganham vida.
Adoro arte e design – fui por quatro anos embaixadora da mostra americana Armory Show e pude visitar muitos acervos privados nos EUA. Consumo arte brasileira contemporânea. Amo essa escultura da Liuba Wolf contrastando com a tapeçaria de Madeleine Colaço (na foto de abertura). Uma das minhas telas favoritas é esse campo de algodão, de José Antonio da Silva (abaixo).
NA GELADEIRA NÃO
Eu adoro um garimpo, sair por aí descobrindo relíquias. Encontrei, na feira do Bixiga, em São Paulo, essa dupla de pinguins da Antarctica. Durante a década de 1950 eram usados como material de divulgação em pontos de venda da cerveja e hoje decoram a minha sala.
COLOR ME
under construction
Helena Leopardi
Em um processo tão lindo quanto artesanal, a artist a plástica Helena Leopardi cria desenhos que se tra nsformam em azulejos repletos de personalidade para casas e est abelecimentos Brasil afora
Neta e filha de portugueses, que chegaram ao Brasil na década de 1950, a escolha pelo meio foi natural, já que a azulejaria é uma expressão artíst ica e uma marca lusitanas. <Sempre gostei, achava bonito e tinha aprendido a fazer na faculdade.= O primeiro desenho logo chamou a atenção e saiu em uma revista de decoração. <Bombamos de mídia e pedidos. A gente produzia tudo manualmente na minha casa e não demorou para vendermos um desenho para a Incepa [fábrica de revestimentos]=, conta. Flávia esteve ao seu lado até 2018, quando parou por problemas de saúde, falecendo pouco tempo depois. Helena decidiu seguir com o ateliê. Sua mão precisava continuar. <Sempre fui manual, espontânea, rápida=, explica ela. Filha de psicólogos, ela cultiva essa vivacidade de quem faz, produz, mexe e, intuitivamente, cria algo desde sempre. Ainda na adolescência, já tinha sua máquina de costura. Atualmente, Helena divide um espaço de ateliê com a ceramista Roberta Saraiva. Em uma garagem térrea muito charmosa de um prédio baixo de Pinheiros, em São Paulo, elas compartilham o espaço físico e também ideias, opiniões, plantas e eventos. <A gente faz noites de vinho, traz artista s para bate-papos, cria oficinas. Até um casamento
Por Isabel de Barros
A história de Helena Leopardi passa por suas mãos. É como se delas saíssem afetos, cuidados, desejos. Por esse caminho orgânico passam a comida que cozinha diariamente para sua família, os livros que escolhe cuidadosamente para ler 3 atualmente, uma seleção de autoras brasileiras contemporâneas 3, as pinturas em aquarela que refrescam a sua mente e os desenhos desenvolvidos para seus azulejos. Aos 42 anos, Helena é a artista plástica por trás do Atelier Leopardi (@atelierleopardi) e produz desenhos autorais para uma azulejaria contemporânea brasileira, que se transformam em painéis exclusivos para CPFs e CNPJs Brasil afora. Formada em Artes Plásticas na FAAP com pós-graduação em Museologia na USP, ela trabalhou no Museu Lasar Segall, na Galeria Luisa Strina e no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB 3 São Paulo) antes de se aventurar como empreendedora. Foi em 2013, depois de mais de dez anos dedicados a conservação, restauração e curadoria de obras de arte 3 entre as atuações marcantes, está uma exposição com peças do Museu d9Orsay, em Paris 3, que Helena chamou uma amiga da pós, Flávia Esperante, para juntas aplicarem seu primeiro desenho no azulejo.
“O branco é respiro. Eu uso muito nos painéis que imagino. Ele tem seu lugarpropositadamente”
já rolou=, conta Helena. A Garagem, como elas chamam, deve receber cada vez mais eventos, como uma oficina infantil que Helena organizou ao lado da psicóloga Vivian Teixeira. <Vou repetir todo mês essa atividade. Foi lindo ver as crianças se expressando de verdade.= A ideia se expandiu a ponto de os moradores do prédio que abriga a Garagem aceitarem que Helena crie um painel com os azulejos desenvolvidos pelos pequenos ao longo de 2025 para ser colocado na entrada do edifício.
serigrafia sobre decalques, aplicados manualmente sobre as peças. Seu trabalho se debruça sobre quatro cores, resultantes de misturas feitas com guache, e os azulejos têm sempre branco de fundo e vermelho, preto, verde ou azul. <O branco é respiro, eu uso muito nos painéis que imagino. Eles têm seu lugar propositadamente.= Quando o material fica pronto, o fornecedor manda para Helena, que enumera azulejo por azulejo pensando na montagem do painel. A embalagem também merece destaque, já que é ela mesma quem embala blocos de suas peças em revistas Piauí antigas. Uma mulher de muitas mãos, Helena sonha em criar uma intervenção pública para São Paulo. <Faço para lugares por onde transitam pessoas, como agências de bancos, mas essa coisa de tomar a cidade, eu gosto e acredito muito=. Habitar a cidade, para ela, é preciso. Ao lado do marido, o arquiteto Ivo Magaldi, e dos filhos, Valentim e Manuel, ela anda São Paulo inteira a pé. <Caminhar é meu outro respiro: quando eu estou triste, ando; quando preciso criar, eu ando. Parece bobagem, mas a gente se conecta com as raízes.= Uma exposição solo também está nos planos. Enquanto isso, a artista segue se abastecendo de arte em mostras. Afinal, as mãos de Helena, sempre carregadas de afeto, não podem parar.
Entrada mágica Chegar ao Atelier Leopardi é se deixar encantar. Na entrada, uma via verde com as mais variadas plantas convida os clientes, amigos e visitantes a embarcarem em um universo lúdico. Dentro, mesas, prateleiras, bancadas, forno de cerâmica, azulejos, amostras, copos, pratos, aventais, experimentos, cadernos, canetas, pincéis montam o cenário perfeito. <Minha rotina é, de manhã, com meus filhos e, à tarde, no ateliê. Daí estendo à noite. Eu faço tudo. Então tem dias que percebo que só bolei orçamentos e postei conteúdos no Instagram. Aí fico deprimida.= Quando entram projetos, Helena enfrenta o que acontece com muitos artistas: a angústia da criação. <Fico dias sem conseguir fazer nada. Para aliviar a pressão, crio uns desenhos simples e repetitivos de canetinha nos meus cadernos. Isso me ajuda a pensar=, conta. O processo segue 100% manual, mas nem tudo hoje em dia é feito por Helena, que conta com um parceiro para poder se dedicar à criação e ao aumento da produção. Depois de desenhar à mão, ela passa para o on-line , que em seguida vira tela de serigrafia. Sua azulejaria é estampada por meio de
Helena cuida de todos os detalhes de sua azulejaria 100% manual, estampada por meio de serigrafia sobre decalques
Apesar de menos procurado pelas mulheres, o Direito Penal guarda profissionais com experiências marcantes, garra e muita sensibilidade. Nestas páginas, quatro delas compartilham suas histórias e mostram que não têm medo de desafios para fazer do mundo um lugar melhor
Por Luisa Alcantara e Silva
Uma mulher procura a Justiça para denunciar um nutrólogo que teria abusado sexualmente dela e, a partir daí, outras aparecem com histórias semelhantes. O caso cresce e vai parar no Ministério Público. O desfecho, em 2022, foi a condenação do homem a mais de 26 anos de prisão.
Esse foi um dos casos que mais marcou a carreira da promotora Maria Fernanda de Castro Marques, 52. Na época, ela afirmou à imprensa que ficou surpresa com a disposição das envolvidas de irem às audiências e falar sobre o ocorrido, algo difícil para vítimas de violência. Hoje, olhando para trás, Maria Fernanda acha que o fato de ela também ser mulher pode ter ajudado na condenação do réu. <Claro que um promotor conseguiria o mesmo que eu, mas acho que as mulheres têm mais sensibilidade. Era mais fácil para as vítimas se abrirem comigo nesse caso=, diz a atual promotora da Primeira Vara Criminal da Barra Funda, em São Paulo. Mas as promotoras, assim como delegadas e juízas, ainda são poucas no País. Das mulheres formadas em Direito, Maria Fernanda faz parte do grupo de 6% que atuam no Direito Penal, segundo o <Perfil ADV - 1º Estudo Demográfico da Advocacia Brasileira=, realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil e publicado no ano passado.
Aliás, o Direito Penal não é dos preferidos. Aparece em quinto lugar na lista, atrás do Direito Civil, de Família e Sucessão, Trabalhista e Previdenciário. Apenas 8% dos advogados 3 mulheres e homens 3 no Brasil escolheram essa área. Por isso decidimos olhar para ela a partir da história de quatro mulheres com um objetivo em comum: tornar o mundo um lugar mais justo.
Mulheres da Lei | DIREITO PENAL
ESTAVA ESCRITO
Naadolescência,apaulistanaFernandadeAlmeidaCarneiro era daquelas jovens que costumavam ficar vidradas em livros e filmes de tribunal. As Duas Faces de um Crime, com os atores RichardGereeEdwardNorton,foiumdosquelhemarcaram.
Ela ainda não sabia, mas o gosto por obras que falavam de Justiça a levaria a escolher a graduação em Direito e, mais do que isso, no polêmico Direito Penal.
Ainda na faculdade pensou em ser delegada, mas foi desestimulada pelos pais, que achavam a opção espinhosa. Fernanda bem que tentou fugir do Direito Penal e fez estágios nas áreas tributária e de família, mas seu interesse pelo tema era crescente e ela não estava disposta a abrir mão.
Já formada e pós-graduada, recebeu uma proposta para ser uma espécie de estagiária em um escritório de casos criminais. <Parecia loucura, mas aceitei=, conta a advogada, hoje com 42 anos e sócia do tal escritório, o Castelo Branco Advogados Associados. <O que eu mais amo na minha profissão é que, ao contrário de outras áreas em que estagiei, o criminal é muito dinâmico. Atendemos de crimes tributários e ambientais a outros de violência doméstica, por exemplo=, conta. Ou seja, há dias em que Fernanda está mergulhada
em documentos sobre preservação de florestas e, em outros, imersa na Lei Maria da Penha.
De modo geral, o trabalho costuma trazer bastante satisfação, mas há casos especiais. Ela destaca uma vez em que ajudou a soltar da prisão um homem inocente. <Não tem recompensa maior do que essa=, diz Fernanda, autora de diversos artigos jurídicos e criadora do canal @castelo_ branco_advogados, onde comenta casos da atualidade. Para pensar na melhor forma de atender os clientes do escritório, que tem mais de 60 anos e é referência na área penal, ela e os outros três sócios (homens) costumam se reunir semanalmente. <Contar com uma mulher na equipe é uma vantagem muito grande em qualquer profissão. A gente parte de um olhar diferente, aquela coisa do feminino mesmo, do cuidar. Uma sensibilidade que, muitas vezes, eles não têm.=
A questão sobre ser mulher e ter que eventualmente ir a um presídio ou lidar com criminosos, por exemplo, já foi superada por seus pais, orgulhosos de Fernanda. Assim como seus filhos, um casal de gêmeos de 8 anos, que, apesar de não entenderem em detalhes a profissão da mãe, demonstram uma imensa admiração por sua força.
Fernanda de Almeida Carneiro
Margarete Barreto, 57 anos, acabou no Direito Penal influenciada por um professor da faculdade, mas foi sorte da Sociedade Paulistana que ela decidiu ser delegada. Quase uma ativista dos direitos humanos, Margarete não nega haver policiais corruptos, mas diz que, como em todas as profissões, existem pessoas boas e más. E as boas, como ela, são maioria.
A delegada começou a carreira em 1994 e, em poucos anos, foi convidada para integrar o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, onde se tornou titular da equipe de investigação de crimes contra crianças e adolescentes. Entre as histórias que a arrepiam até hoje, está o caso de uma jovem que morreu após diversos espancamentos.
Tempos depois, ajudou a fundar a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), importante marco em sua carreira. <Estamos falando da primeira delegacia do tipo no Brasil=, lembra. Como chefe do órgão, foi pioneira ao instituir o policiamento da Parada Gay pela Polícia Civil e trouxe movimentos sociais para conversar com a área da segurança pública. Lidando com crimes de intolerância, enfrentou também casos de violência no futebol. <Eu escolhi a polícia e o futebol, cenários ligados aos homens. Foram momentos de rompimento de paradigmas=, diz Margarete. Trinta anos depois, ela segue rompendo o que for necessário. <Sinto que enfrento um machismo velado. A carreira na polícia é muito masculina. Então, o preconceito existe. Estamos quebrando muralhas.=
Desistir, portanto, não é com ela e sua garra a levou a assumir, recentemente, o cargo de delegada seccional de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo. O desafio é grande, mas Margarete não titubeia. <Os humanos precisam evoluir, e acredito que eu possa contribuir para a melhoria do mundo, sabe?=
MASSA
Aos 52 anos, Maria Fernanda de Castro Marques não mede esforços para lutar por Justiça. <Sou promotora. Prestei concurso para defender a sociedade e sou intransigente em relação a isso.= Já entrou, por exemplo, com uma ação contra a Prefeitura do Estado de São Paulo disposta a conseguir uma cadeira de rodas para uma jovem que não podia sair de casa com a mãe sem o equipamento.
Entre tantos casos, há outros que despertam as mais dolorosas memórias. <Já recebi mãe querendo entregar o filho porque dava muito trabalho cuidar. Ou, pior, pensando em prostituir a criança=, lembra. Nessas situações, ela sempre agiu para defender o direito da criança e do adolescente, o que, às vezes, significava fazer com que eles fossem encaminhados para um abrigo. <Nessas ocasiões, quando um jovem era adotado, sentia que meu trabalho valia a pena.=
Com uma carreira diversa, Maria Fernanda também atuou em outras áreas dentro do Direito Criminal. Já visitou penitenciárias para ver se a situação dos detentos seguia as regras e, agora, como promotora da Primeira Vara Criminal da Barra Funda, em São Paulo, tem atuado em casos de golpes envolvendo PIX e aplicativos como o Tinder. <Sou curiosa, gosto de investigar=, conclui.
Margarete Barreto
Maria Fernanda de Castro Marques
LINHA DE FRENTE MÃO NA
DE OLHOS BEM ABERTOS
Nossa seleção de séries para quem é fã do mundo criminalista
O DESAPARECIMENTO DE MADELEINE MCCANN
Estilo documentário, tenta responder a angustiante pergunta: o que aconteceu com Madeleine McCann, a menina inglesa de três anos que sumiu em Portugal nas férias com a família?
(Netflix)
TED BUNDY: APAIXONADA
POR UM ASSASSINO
Um mergulho na história do assassino em série que marcou os anos 1970, do ponto de vista de sua namorada na época, Elizabeth Kendall, sua filha Molly e outras sobreviventes.
(Amazon Prime Video)
ELIZE MATSUNAGA:
ERA UMA VEZ UM CRIME
A série é resultado da primeira entrevista de Elize Matsunaga, que chocou o Brasil ao matar – e esquartejar – o marido.
(Netflix)
AMERICAN CRIME STORY
A cada temporada um icônico crime americano entra em cena. Os casos envolvendo O.J. Simpson e Gianni Versace merecem destaque. (Amazon Prime Video)
A ESCADA
Os detalhes por trás do julgamento do escritor Michael Peterson, acusado de ter assassinado sua esposa. Arrepiante do início ao fim!
(Prime Video)
MONSTROS: IRMÃOS MENENDEZ:
ASSASSINOS DOS PAIS
O que se passou na cabeça de Lyle e Erik Menendez, que mataram os próprios pais em 1989? Javier Bardem dá um show de interpretação.
(Netflix)
SENTENÇA FELIZ
Uma das carreiras mais valorizadas do judiciário brasileiro foi a escolhida pela paulistana Luciana Piovesan, 49 anos. Juíza da 27ª Vara Criminal de São Paulo, ela foi parar no Direito Penal por conta da irmã mais velha, a jurista e advogada Flávia Piovesan.
Mas não foi de cara que ela escolheu a área criminal. No início da carreira, enquanto atuava em cidades do interior paulista, trabalhou em casos em áreas como civil e tributária, mas não se conectou tanto com elas. Foi ao começar sua jornada criminal que sentiu ter encontrado seu lugar. <Não desmereço nenhum mercado, mas sempre quis fazer algo de impacto, e me encontrei na área criminal=, explica Luciana. Só na semana em que conversou com Donna, Luciana participou de 17 audiências 3 e, destas, julgou 14 casos. <A gente se pauta pelo que entende ser justo, e tenho minha consciência tranquila. Se surge a menor dúvida sobre um caso, não posso condenar o réu=, diz. Luciana, que sempre trabalhou com outras mulheres, acha que equipes femininas trazem um olhar diferenciado, por exemplo, em casos de violência doméstica. Ela consegue se ver no lugar da vítima, o que para um homem talvez seja mais complexo.
Para Luciana, o desafio diário é não levar trabalho para casa, algo que tem aprendido de uns anos para cá. <Meu marido dizia que viajávamos eu, ele e o judiciário. Agora consigo me desconectar. Preciso disso=, finaliza.
Luciana Piovesan
Mariana Ribeiro
Carbono Minds
Beatriz Della Costa Pedreira
BEATRIZ DELLA COSTA PEDREIRA
“O poder é uma ferramenta de transformação. E na mão das mulheres é generoso, tem potência e capacidade de realização”
Em busca de um futuro melhor, Beatriz Della Costa Pedreira e Mariana Ribeiro fundaram uma organizacão dedicada a estudar a presença das mulheres em posições de poder
Por Isabel de Barros Retrato Mari Brunni
Transmitir ao leitor a potência dessas duas mulheres é falar da Clarice. Não a Lispector, apesar de a escritora ser a influência do nome, mas da Clarice versão estúdio de inteligência e imaginação sobre mulheres e poder (@estudio.clarice). “Precisamos criar um imaginário feminino para impulsionar, incentivar, estruturar e, principalmente, manter ativamente mulheres em cargos de poder”, diz Beatriz Della Costa Pedreira, uma das fundadoras do negócio. Foi no começo de 2024 que a cientista social e empreendedora, recém-saída do Instituto Update, o qual fundou e dirigiu por quase dez anos, dividiu com a comunicadora Mariana Ribeiro a ideia da Clarice – e fez o convite oficial para ela se juntar nessa empreitada. “Senti uma descarga elétrica no corpo, a proposta era irresistível: poder pensar em mulheres a partir de uma lente que não a da violência de gênero ou do assédio”, conta Mariana, que vinha de uma trajetória feminina, com a coidealização do movimento Imagina na Copa, atuação na liderança da Purpose e dedicação aos direitos das mulheres. “Quando minhas filhas nasceram eu voltei a olhar para a pauta de gênero quase como um chamado.” Mariana é mãe de Mathias, 8 anos, e das gêmeas Antônia e Beatriz, 3, enquanto Beatriz tem Sebastian, 3. Juntas, elas querem fazer história: “Desejo que a Clarice seja um divisor de águas, verdadeiramente um antes e depois. Falo isso com humildade, mas também com ambição”, diz Mariana. E elas sabem que podem sonhar alto. Clarice vem sendo comemorada por pessoas importantes, caso da filantropa Rose Setubal. Depois de conhecer a iniciativa, ela decidiu organizar um evento no Itaú Cultural para apresentá-la a mais 160 mulheres. A seguir, os destaques do nosso papo com essa dupla superpoderosa.
MODELO DE NEGÓCIO “Clarice nasce como uma organização da sociedade civil (OSC) e inicialmente está sendo viabilizada a partir de doações de pessoas físicas e também aportes institucionais, tanto do Brasil quanto do exterior. Pareceu-nos estratégico começar assim porque temos experiência e credibilidade no setor e ganhamos com isso uma atuação mais imediata.” – Mariana
LINHA DE LARGADA “O nosso projeto inaugural é uma pesquisa inédita sobre o imaginário de poder das mulheres brasileiras. Com o resultado, pretendemos revelar os mecanismos, as dinâmicas e as estruturas que
estão colocadas hoje para as mulheres nas suas múltiplas formas de lideranças e o que as impede de exercer de maneira plena o poder. Entendemos que precisamos medir primeiro para mudar depois. A pesquisa vai correr ao longo deste ano e será de domínio público. A partir dela, desejamos provocar uma conversa pública, criar um vocabulário novo e, mais em longo prazo, usar essa nova narrativa em produções culturais para gerar essa imaginação social do poder da mulher.” – Mariana
NOVAS SOLUÇÕES “Muita gente já fala da importância de mulheres chegarem ao poder, mas não tem quase ninguém pensando sobre como mantê-las nessa posição de fato, exercendo o poder na sua forma mais plena. Precisamos fazer emergir novos imaginários e paradigmas para abrir espaço para novas soluções.” – Beatriz
SEM FRONTEIRAS “Recentemente, estive em Harvard estudando e pensando modelos de negócio para Clarice. Queremos usar tecnologia para que a ideia chegue a mais e mais lugares. Pensamos globalmente. O desafio é chegar a esse modelo que visa criar produtos culturais e influenciar o setor criativo.” – Beatriz
VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? “Amo ler biografias femininas, assim como assistir a filmes e documentários. Consumir produtos culturais feitos por mulheres me transforma de maneira molecular. Conversar e ouvir também é importante. Ganhei e sigo ganhando conhecimento a partir da generosidade das mulheres que contam suas histórias, que se abrem para serem vulneráveis.” – Beatriz
O FUTURO É DELAS “Sonho que Clarice possa iluminar a sociedade. Uma mulher no poder não necessariamente exerce o poder e é preciso que elas o tenham de fato para provocar transformações profundas.” – Mariana
TUDO SE TRANSFORMA “Desejo ver todas as mulheres participando da construção do futuro. Sonho com a regeneração das relações, com a possibilidade de oferecer para o mundo novas construções sociais. O poder é uma ferramenta de transformação. E na mão das mulheres é generoso, tem potência e capacidade de realização” – Beatriz
, PORTUGAL
O currículo dela é poderoso. Com formação em Gastronomia na Anhembi Morumbi e no Le Cordon Bleu de Londres, a paulistana JULIANA
PENTEADO fez carreira no Grupo Fasano. Então, há 7 anos, mudou-se para Lisboa, onde decidiu focar na doce arte da confeitaria. Não sem antes se aprofundar nas receitas tipicamente portuguesas: Juliana se lançou em uma imersão solo de 30 dias, na qual percorreu Portugal de Norte a Sul, cruzando 4 mil quilômetros visitando aldeias – foram mais de 70 –, onde provou 80 (!) sobremesas diferentes. Essa viagem ela batizou de Rota Amarela. E foi nessa jornada que a chef viajou também por algumas lembranças e decidiu trazer para sua confeitaria os óleos essenciais que sua mãe usava em casa para fins terapêuticos. São eles o ponto de partida para a criação de cada uma de suas receitas, que ganham ainda um toque característico: cores e combinações inusitadas, como o quindim de
LISBOA
EM ORDEM DE APARIÇÃO
CHOUX DE CRANBERRY , IOGURTE E ROSAS – QUINDIM DE MARACUJÁ E LEMONGRASS –TORRE DE CHOCOLATE COM JASMIM – ENTREMET DE FRAMBOESA , VERBENA E PISTACHE
maracujá com lemongrass e o mil-folhas de figo com flor de laranjeira. Há 2 anos, Juliana abriu sua primeira loja em Lisboa, que já figura no guia de viagens da Louis Vuitton! Este ano, inaugurou seu segundo endereço, onde também assina doces para eventosdemarcascomoDioreNike.Ecomo se já não fossem novidades suficientes, a confeiteira acaba de anunciar que é a nova jurada do MasterChef Portugal, ao lado de dois chefs portugueses detentores de estrelas Michelin. Para poucos! @juliana_penteado
MODA DE
A palha, obtida a partir das fibras de carnaúba e de caroá, é a principal matéria-prima da Pale Brasilis
ORIGEM
Um luxo que reside no tempo e na ancestralidade. Mergulhamos no trabalho de marcas que criam em conjunto com comunidades mantenedoras de técnicas e segredos do artesanato brasileiro
Por Kanucha Barbosa
Amoda brasileira possui um DNA único, marcado pela riqueza cultural, pela diversidade de técnicas ancestrais e por uma profunda conexão com o território e suas comunidades. Nos últimos anos, o artesanato tradicional ganhou destaque não como uma tendência passageira, mas como um movimento que redefine a sofisticação. O luxo contemporâneo não se resume ao preço ou à exclusividade; está ligado ao cuidado, ao tempo e à história que cada peça carrega. Nesse contexto, marcas como Pale Brasilis, Maurício Duarte, Foz, Flavia Aranha e a pioneira Osklen se destacam unindo design contemporâneo, técnicas manuais brasileiras, compromisso com a sustentabilidade e a valorização de saberes locais.
O luxo contemporâneo é feito de significado. Como define Antonio Castro, diretor-criativo da Foz, em entrevista à Carbono Donna: “O maior luxo é o tempo. E o artesanato é a materialização do tempo. Ele é a ilustração tangível do tempo investido em algo.” Essa ideia ressoa em marcas que não apenas criam produtos, mas também
preservam lições ancestrais e geram impactos positivos nas comunidades onde atuam.
A Pale Brasilis, criada por Ana Voss, nasceu da inspiração no estilo de vida carioca e na conexão com a natureza. A marca aposta em um material natural, universal e muito comum nos trópicos há séculos: a palha. Utilizando fibras da carnaúba, conhecida como a árvore da vida no Maranhão, e a fibra de caroá, nativa do semiárido do Nordeste, a Pale Brasilis trabalha próxima de comunidades locais. “Buscamos sempre reconhecer e respeitar a diversidade cultural do nosso País atuando com artesãos de diversas regiões e aproveitando suas habilidades e conhecimentos”, afirma Ana.
Já o manauara Maurício Duarte, indígena do povo Kaixana, traz em suas coleções uma forte conexão com suas raízes amazônicas. Ele trabalha diretamente com associações de mulheres indígenas e ribeirinhas, utilizando técnicas como o trançado de tucum e o bordado com escamas de pirarucu. “Os materiais escolhidos possuem uma
Moda | BRASIL
ligação muito forte com a minha ancestralidade e meu local de origem, o Amazonas. Não há como não pensar em uma moda que não seja regenerativa”, diz Maurício.
Nascida em Campinas, interior de São Paulo, a designer Flavia Aranha cresceu em um ambiente conectado à natureza e à arte. Sua marca, fundada em 2009, tem como cerne o tingimento natural e a valorização do trabalho manual. “Já surgimos com o propósito de nos conectarmos com as técnicas artesanais e os saberes locais,” explica Beatriz Farias, coordenadora de marketing da etiqueta. “Ao longo de 16 anos, essa missão cresceu e se expandiu, aproximando uma diversidade de conhecimentos e pessoas, sempre com o foco no empoderamento desses grupos.”
Flavia trabalha diretamente com comunidades como a rede Turiarte, em Santarém, e a Cooperafis, no Vale do Jequitinhonha, que utiliza a fibra de caroá. “Temos uma teia com grupos artesãos espalhada em vários cantos do País. Esse é o coração do nosso trabalho,” diz Beatriz. A marca também investe em pesquisas de materiais como o látex vegetal sobre linho, criando alternativas sustentáveis para substituir o couro e os tecidos sintéticos. “Nosso processo criativo está profundamente ligado ao que a terra nos oferece. Dizemos que nossa roupa é ‘viva’, pois ela é feita de plantas.”
PIONEIRISMO
A Osklen, fundada por Oskar Metsavaht, é uma das precursoras do movimento que valoriza insumos brasileiros,
“O maior luxo é o tempo. E o artesanato é a materialização do tempo. Ele é a ilustração tangível do tempo investido em algo”
contribuindo para a sustentabilidade e a disseminação da moda nacional no mundo. “Eu sempre trouxe para a Osklen a expressão de um lifestyle que equilibra a vida urbana com a natureza, o local e o global, onde o artesanal e o tecnológico se complementam,” afirma Oskar. A marca integra práticas artesanais desde o final dos anos 1990, elevando a percepção de valor e a importância cultural e econômica desse conhecimento.
Com 95% da cadeia produtiva nacional, a Osklen gera mais de 11 mil empregos indiretos, fortalecendo a economia e estruturando um modelo de produção que valoriza a identidade brasileira. “Acredito que ajudamos a redefinir o entendimento global sobre o luxo sustentável”, diz Oskar.
TRADIÇÃO E INOVAÇÃO
O desafio de equilibrar o antigo e o novo é central para esses criadores. Para Ana Voss, da Pale Brasilis, o processo criativo é guiado pela própria materialidade das fibras naturais. “Quando recebo a carapuça do chapéu, ainda na sua forma mais pura e sem estrutura definida, começo a moldar a ideia do design e do seu formato.
A Osklen foi uma das marcas pioneiras em valorizar a cultura e os insumos nacionais
As criações de Maurício Duarte refletem suas raízes amazônicas e são feitas em parceria com mulheres indígenas e ribeirinhas
Antonio Castro, diretor criativo da Foz
“O verdadeiro luxo não reside na exclusividade, mas na autenticidade, na história e na conexão cultural que uma peça carrega”
Sonia Quintella, diretora da ONG Artesol
A flexibilidade da palha, juntamente com o trançado, me inspiram a criar formas únicas, além de permitir a aplicação de elementos naturais, como madeira e couro, que trazem sofisticação ao produto,” explica. A coleção Moreré reflete essa abordagem com chapéus que combinam aplicações tradicionais e design contemporâneo.
Já Antonio Castro, da Foz, destaca a importância da colaboração com os artesãos. “O trabalho deles é sempre o nosso ponto de partida. É a partir do que dominam, do que produzem e do que sabem que encontramos desdobramentos para que a nossa produção aconteça e seja complementar ao portfólio deles”, diz. A marca é conhecida por seus bordados
DE VERDADE
CarbonoDonna também conversou com Sonia Quintella, diretora da ONG Artesol, organização fundada em 1998 por Ruth Cardoso, que apoia artesãos de todo o território nacional e atua como um centro de pesquisa, reflexão e formação para políticas públicas. “O verdadeiro luxo não reside apenas na exclusividade, mas também na autenticidade, na história e na conexão cultural que uma peça carrega”, afirma. Para ela, há uma demanda crescente por itens que vão além da estética e reflitam valores culturais e práticas sustentáveis. “Essa moda, que incorpora técnicas artesanais tradicionais, atende a esse desejo ao proporcionar criações que conectam o consumidor às raízes do nosso país e às narrativas das comunidades que as produzem.”
A moda de origem brasileira mostra que o luxo pode ser um agente de transformação, unindo beleza, propósito e impacto social. Cada vez mais marcas provam que é possível criar produtos sofisticados sem abrir mão da ética, da sustentabilidade e da valorização do que é nosso. Como resume Ana Voss: “Essa combinação entre o artesanal e o luxo não só enriquece a experiência do consumidor, mas também fortalece a identidade das marcas que optam por essa abordagem.”
No futuro da moda o artesanato brasileiro não será apenas uma referência estética, mas um pilar essencial para uma indústria mais consciente. E, como bem diz Maurício Duarte, “Essa união entre o artesanal e o luxo será cada vez mais essencial, atendendo a uma demanda crescente por produtos que sejam únicos, sustentáveis e significativos.”
Criada em 2009, a marca de Flavia Aranha sempre valorizou os saberes manuais e os tingimentos naturais
Nas coleções da Foz, o trabalho dos artesãos serve como ponto de partida
desenvolvidos em parceria com povoados de Alagoas. Como o bordado de peixinhos da coleção Peixaria Santo.
O legado dessas marcas, portanto, vai além da criação de peças de luxo. Ele gera um impacto duradouro na vida das pessoas com as quais colabora. Maurício Duarte compartilha uma experiência marcante: “Recentemente, entreguei para a modelo Naomi Campbell uma faixa produzida com um trançado de fibra de arumã em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.”
Para ele, as realizações são sempre coletivas. “Quando um trabalho alcança um mercado, ele leva inúmeros
nomes de pessoas que o constroem.”
Para Antonio Castro, a solução está em renovar o artesanato, tornando-o relevante para o consumidor contemporâneo. Recentemente, a Foz desenvolveu uma peça de cenografia para um desfile, uma cama inteira esculpida em madeira na Ilha do Ferro. “Era algo que até hoje não tinha sido produzido por eles. Agora estão cheios de encomendas de camas por aí, de pessoas que querem ter em pousadas ou até mesmo em suas casas. Então, acho que o que fica de mais rico nessas parcerias é justamente como elas se propagam depois.”
DO OUTRO LADO
Conheça dois estilistas que unem sua brasilidade a suas origens familiares, uma asiática e outra africana
HERANÇA FAMILIAR
A Gahee, lançada em 2022 pela designer Gabriela Song, é um reflexo da dualidade cultural que define sua criadora. Filha de imigrantes coreanos, Gabriela cresceu entre duas realidades: a rigidez urbana de São Paulo e o imaginário romântico de uma Coreia antiga, trazida pelas memórias e tradições de sua família. “Gahee é o meu nome em coreano, Song Ga-Hee, e a marca é a junção das minhas vivências e experiências como brasilo-coreana,” explica. Entre roupas e, mais recentemente, acessórios, Gabriela trabalha com cetim, algodão e couro envernizado.
Ela busca inspiração tanto na Coreia contemporânea quanto nas raízes familiares. “Apesar de Seoul ser a cidade mais agitada e trendy do momento, gosto de viajar para o interior e ver a passagem do tempo, a vida por lá. Isso me traz tranquilidade e me ajuda a organizar minhas ideias criativas”, compartilha. Das lembranças e vivências, nasceram peças como a bolsa Melão, inspirada na fruta coreana jamoe, que sua mãe descascava sistematicamente; ou os sapatos A Bailarina Moonjar, que têm como fonte os icônicos vasos brilhantes em forma de lua cheia.
A conexão com suas origens é o que dá à marca um caráter autêntico, refletindo a jornada de uma brasilo-coreana que encontra na moda um meio de unir dois mundos.
Fotos
Camilla Loreta, Jeff Porto, Jon Johnson, Jorge Garcia, Paulo Luce na, Ruben Branches, Samuel
Kim, Theo Grahl e divulgação
RESISTÊNCIA E ANCESTRALIDADE
Na cena da moda brasileira, onde a diversidade e a identidade cultural ganham cada vez mais espaço, Dih Morais emerge como um nome que transcende tendências. Baiano de Jequié, quilombola do Quilombo do Barro Preto, candomblecista e integrante da comunidade LGBTQIAPN+, Dih transforma suas vivências e heranças familiares em peças que contam histórias de resistência, fé e empoderamento. Sua marca, que carrega a força das religiões de matriz africana, é um manifesto de ancestralidade e arte.
Desde 2022 Dih trabalha com bolsas de cabaça, um fruto de origem africana carregado de simbolismo histórico. As cabaças, trazidas ao Brasil durante o período escravocrata, são transformadas por ele em modelos únicos, feitos manualmente, cada um com sua própria narrativa cultural.
Além das bolsas, Dih expandiu seu trabalho para figurinos que exaltam a beleza das raízes africanas, utilizando técnicas como upcycling e crochê. Suas coleções são uma ode à sua família e às memórias de infância, como o vestido que homenageia sua avó, com franjas de algodão
que remetem às ondas de um rio, e ao crochê que imita os balaios usados por ela para pescar e sustentar a família.
A paleta de cores de Dih é predominantemente terrosa, com tons crus e marrons, pontuados por explosões de vermelho e preto, cores que carregam significados profundos nas religiões de matriz africana.
Para ele, a moda não se resume a produtos, mas é uma ferramenta de conscientização e troca de vivências. “Trazer a marca para esse lugar de arte de terreiro é simplesmente mostrar que, ainda que demonizem, continuaremos sendo resistência e nunca negaremos nossa fé”, declara.
Com uma estética que une arte, história e espiritualidade, Dih Morais reafirma a importância de olhar para o passado para construir um futuro mais consciente e representativo. Sua moda é, acima de tudo, um ato de resistência e celebração da cultura negra e quilombola. Axé, fé e ancestralidade são os pilares que sustentam sua obra, tornando-a um farol de inspiração para a nova geração de criadores brasileiros.
AS DONAS DA ELEGÂNCIA
Por Nathalia Hein
Reconhecidas como anfitriãs impecáveis, grandes damas da sociedade e referências em etiqueta, Ana Maria Velloso, Cristiane Lotaif e Fatima Scarpa já se sentaram à mesa com os principais nomes da nobreza mundial, ofereceram jantares que entraram para a história do high society paulistano e viveram o auge do glamour, sempre tendo em mente que os protocolos de elegância e educação eram guias essenciais para receber e frequentar. Em tempos de uso de celular à mesa, papos rasos no WhatsApp, relações descartáveis e outros <novos modos=, elas debatem a falta que os bons e velhos acordos da etiqueta clássica fazem entre a nova geração.
FatimaScarpa
<A educação não mudou e sempre existiu gente educada e gente sem educação. E digo mais: não importa o ambiente. Outro dia eu estava com um grupo de amigos no (restaurante) Caviar Kaspia e na mesa ao lado tinha um senhor com o filho. Para começar, os dois estavam de bermuda jeans rasgada e tênis, totalmente inadequados ao ambiente. Depois, passaram o tempo inteiro no celular, cada um no seu, sem trocar uma palavra, o que me choca demais e é muito comum. Um horror! Bom, eles pediram uma baita lata de caviar. Foi aí que um deles colocou o caviar, o blini, o creme azedo e, em seguida, lambeu a faca! Dá para acreditar? Ou seja, não adianta pedir o prato mais caro e não ter educação. E para os educados, é muito desagradável estar com quem não seja. Outra coisa que me deixa indignada são essas meninas que ficam de óculos escuros num restaurante, sem olhar nos olhos umas das outras. Isso não faz o menor sentido. Certa vez, uma menina veio fazer aulas de etiqueta comigo e pediu: 8Por favor, meu marido não pode saber porque ele acha que etiqueta não importa, mas sim dinheiro, e não educação9. Passado um tempo, ela veio me dizer que eles tinham ido a um jantar em Londres com o Tony Blair e ela precisou ensinar tudo ao marido para ele não passar vergonha. Eu sempre digo que dinheiro vai, dinheiro volta, mas a maior herança de alguém é a educação. A minha, com certeza, é.= @fatimascarpa
Fotos
João
Bertholini e Tereza
Sá
CristianeLotaif
<Sou paulistana de origem sírio-libanesa e tive uma educação clássica. Sempre me interessei muito por livros, estudei arte, literatura, fiz balé e tive uma boa formação acadêmica 3 sou formada arquiteta no Mackenzie 3, mas, acima de tudo, sempre fui incentivada pelos meus pais de forma natural, no dia a dia mesmo, a me comportar, a ser delicada e saber me portar nos lugares. Também sempre fui muito religiosa, o que me ajudou a lidar com momentos difíceis, principalmente o câncer de mama que enfrentei. O que sempre soube, mesmo tendo trabalhado nos ambientes mais elegantes, como a Maison Dior, por tantos anos, é que a etiqueta não vem de nenhum manual, mas do que vivenciamos em casa, aprendemos com os nossos pais e nos ambientes sociais. Etiqueta não é uma regra, é uma necessidade de conviver e oferecer ao outro o bem-estar: eu não posso ser uma pessoa incômoda para quem está ao meu lado. Ter empatia faz com que você se comporte, se dedique e até se vista de uma forma respeitosa. Hoje acho que essa nova geração deixa a desejar nos conceitos de etiqueta em diversos momentos, desde abrir a porta do carro para uma mulher ou levantar quando chega alguém mais velho, até vestir-se adequadamente em algumas ocasiões. Mas isso é mais uma questão de gentileza. O que eu acho que falta, mesmo, são relacionamentos mais profundos, doçura e silêncio. Tudo o que se fala atualmente é mal interpretado, julgado, cancelado... Eu não compreendo essa polarização e tanta agressividade.= @crislotaif
AnaMariaVelloso
<Meus conceitos de educação e etiqueta são frutos de observação e convívio com os meus pais e seus amigos. Desde muito cedo entendi que regras como pontualidade, boa apresentação,saberportar-seemocasiõeseramimprescindíveis e, principalmente, tratar com educação, ser gentil e respeitar a todos, não importa a posição ou a classe social. Quando tive meus filhos, tentei passar os mesmos exemplos e cheguei a pensar que jamais conseguiria. Era jovem, com dois meninos e meus pais já tinham falecido. Lembro-me que uma vez, ao chegar à minha casa para jantar, depois de um dia exaustivo, de ditar mil regras, do tipo 8Senta direito9, 8Não fale de boca cheia9, senti-me frustrada e comentei que achava que eles jamaismeescutariam.Foientãoqueouvideumaamiga:8Olhe, não pare de falar. Educar é sempre estar atenta e falando. E um dia você vai perceber que tudo o que você disse teve efeito9. E realmente aconteceu. Quando eles cresceram e começaram a passar finais de semana nos amigos, por exemplo, eram muito elogiados pela educação. E foi uma grande alegria saber que todo o meu esforço de falar, falar, e falar deu certo. Até hoje eu sou cumprimentada pelos modos e pela simpatia dos meus filhos. E isso vale até no modo de se vestir.= @anavelloso
Comportamento
RODA DE PERGUNTAS
Amigas entre si, Ana Maria Velloso, Cristiane Lotaif e Fatima Scarpa compartilham impressões e sensações sobre a etiqueta contemporânea. Para a Donna, elas se entrevistam e revelam mais detalhes sobre como enxergam a temática
FATIMA RESPONDE CRIS
Cris Lotaif
Como você se sente ajudando as pessoas a terem mais etiqueta e serem mais educadas?
Fatima Scarpa
A minha satisfação hoje é poder ajudar os outros e ver que não tenho nenhum hater no meu Instagram. Todo mundo elogia e troca palavras carinhosas comigo. É algo que eu estou dando para as pessoas. E, se elas quiserem, absorvem. Se não, basta deixarem de me seguir. Mas sinto uma enorme satisfação em ensinar. E sempre fui assim, desde pequena: adoro dividir o que eu aprendo.
Cris Lotaif
Como você lida com suas dores e possíveis perdas da forma mais elegante possível?
Fatima Scarpa
Meu pai, o homem mais bem educado que conheci na vida, foi quem me confortou na época da perda do meu filho. Ele me disse: “Com quem melhor do que com Deus o teu filho poderia estar? E ele vai continuar com você, ser seu anjo da guarda. E você não é a única pessoa que passa por essa dor.” Então, sempre que penso no meu luto, eu me lembro de que não é uma coisa exclusivamente minha. E guardo isso muito dentro de mim. A dor continua muito forte todos os dias, porém é particular, não preciso mostrar para os outros.•
FATIMA RESPONDE ANA MARIA
Ana Maria Velloso
Você tem ideia de como o seu trabalho está fazendo o bem e tornando as pessoas mais confiantes?
Fatima Scarpa
Eu estou numa felicidade que não cabe em mim. Eu adoro unir as pessoas e compartilhar. E isso me faz realizada, principalmente quando vejo os comentários nos meus posts ou quando estou em algum lugar público e as pessoas me abordam, querendo tirar fotos... Passar esse conhecimento é uma grande realização.
Ana Maria Velloso
Tenho muito orgulho de tudo o que você faz e de como faz. Quero te dar parabéns e mandar aqui pela revista um beijo muito carinhoso.
Fatima Scarpa
O maior motivo de ser feliz e alegre são as grandes amigas maravilhosas que tenho, assim como você. Um dia faremos uma dupla no Instagram e vamos compartilhar grandes histórias de uma vida passada juntas. (Um beijo, meu amor.)•
CRIS RESPONDE FATIMA
Fatima Scarpa
Em quem você se espelhou para ser tão meiga, doce e delicada?
Cris Lotaif
Amiga querida, inspirei-me na mamãe, doce e silenciosa, que sempre me ensinou que a bondade e a calma estão em primeiro lugar. De tanto admirá-la, aprendi algumas coisinhas…
Fatima Scarpa
Qual foi a maior emoção da sua vida?
Cris Lotaif
O nascimento dos meus filhos e netos! Em todos os quatro momentos, um banho de amor infinito, uma invasão de gratidão no meu coração!•
ANA MARIA RESPONDE CRIS
Cris Lotaif
Na sua opinião, como seria se o mundo fosse mais silencioso, mais compreensivo e menos agressivo?
Ana Maria Velloso
Estamos em um mundo muito estressante. Todo mundo reclama da memória, do cansaço. As pessoas não têm mais tempo, é muita informação e tudo é estafante. Eu adoraria que o mundo fosse mais tranquilo, menos violento, as pessoas pudessem estar mais juntas para conversar, dar risadas… Além disso, estamos muito acalorados com discussões políticas. Eu sinto falta do silêncio e da calma. As pessoas estão adoecendo, ninguém mais lê um livro, todos se informam pelas redes sociais e considero isso muito ruim.
Cris Lotaif
Você gostaria de ensinar suas noções de elegância às pessoas?
Ana Maria Velloso
Eu não gostaria de ensinar. Mas gosto de compartilhar com quem se interessa em aprender pequenas coisas. Por exemplo: tem uma manicure que vem há anos à minha casa. E ela me observa em algumas situações, como comer uma fruta que ela conhece pouco. Nesse caso, eu a ensino. Também oriento sobre roupas, educação dos filhos… Quem me pede, eu adoro. Mas fazer como a Fatima não. Ela ensina com facilidade e eu sou mais envergonhada.•
Ana Maria Velloso
CRIS RESPONDE ANA MARIA ANA MARIA RESPONDE FATIMA
Quando você se casou com Philippe (Nicolay de Rothschild) – francês e muito tradicional – ele lhe ensinou algo novo? Poderia nos contar o que ele lhe trouxe?
Cris Lotaif
Muitas coisas! Como o gosto pela ópera, pelos perfumes, pelo golfe, pela tecnologia, pelos vinhos, pelos jardins, além de sua adaptação fácil em qualquer lugar. Aprendi que consigo viver falando três idiomas misturados. Aprendi o prazer de comer comida muito bem preparada. Aprendo tanto com o seu conhecimento profundo de história, de geopolítica, de cinema e de cultura geral. Uma lição que posso passar é a sobriedade dos europeus em relação ao luxo: nada de ostentação. A maneira low-key com a qual ele encara tudo
Fatima Scarpa
Em quem você se inspirou para ser uma dona de casa tão perfeita, sendo que você perdeu seus pais tão precocemente?
Ana Maria Velloso
Eu fiquei muito encantada quando conheci a sua mãe, Patsy Scarpa, e a forma impecável como ela recebia. E ela me ensinou muito. Como perdi minha mãe cedo, antes de me casar, eu percebi que tinha muito a aprender. A Patsy foi para mim uma grande referência.
Fatima Scarpa
Para você que tem filhos jovens, o que considera inaceitável no que diz respeito à etiqueta?
Ana Maria Velloso
Vejo que os meninos de hoje andam muito desleixados, noto que os homens vão mal arrumados a almoços, principalmente, nos grupos jovens. Eles são mais descuidados, enquanto as meninas se produzem, se arrumam mais. Estar arrumado é uma gentileza também, uma forma de agradecer ao convite, mostrar que você está feliz de estar ali, prestigiar o anfitrião. Informalidade é ótimo, mas tem limite.•
o que conheceu, os lugares a que foi e todos que frequentavam a casa dele na França: artistas, políticos, intelectuais, fosse quem fosse.
Ana Maria Velloso
Você passou pelo período da doença como um exemplo. Preciso lhe dar os parabéns e dizer que a acho extraordinária e mandar um beijo muito carinhoso.
Cris Lotaif
Muito obrigada! Eu tinha acabado de me separar do meu primeiro marido quando descobri e, naquele momento, a dor da separação estava superando a da doença. Fui levando como deu, sempre com muita fé. E eu também lhe admiro muito. Ter amigas incríveis é muito importante. Com fé a gente vence qualquer batalha.•
“Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade.” – Rachel de Queiroz
WhenaChild IsBorn,SoIsa Grandmother
Avó, sim.
Melhor amiga também
Idosas só no documento – de alma, essas avós esbanjam jovialidade e alegria. Seus netos contam à Donna os motivos para gostarem tanto de estar perto delas
Quem disse que ser amigo, trocar experiências e se dar bem dependia da data de nascimento estava enganado. Amizade não tem idade. Aliás,um gap geracionalpodeserextremamente positivo: uma pesquisa da AARP (American Association of Retired Persons) revelou que amigos de diferentes gerações se ajudam mutuamente – os mais novos recebem inspiração e referências, enquanto os mais velhos ganham valorização e conexão com o mundo atual. Além disso, um estudo da Universidade de Harvard mostrou que pessoas com mais de 70 anos que mantêm relações com jovens têm três vezes mais satisfação com a vida do que
aquelas que convivem apenas com pessoas da mesma geração.
No final, todo mundo sai ganhando. Os idososficammenossozinhosemaisconectados, enquanto os jovens ganham perspectiva, senso de propósito e, claro, conselhos valiosos. A convivência entre eles é voluntária, justamente porque, apesar da diferença de idade, ambas as partes encontram conforto nessa relação.
E há os sortudos que já nasceram rodeados de potenciais melhores amigas – avós que hoje ocupam esse papel. Conversamos com alguns netos para entender o que os faz gostar tanto de estar perto das avós.
Por Manuela Stelzer Ilustração Mona Conectada
Manuela Stelzer
VóVanda
DIA SIM, DIA TAMBÉM
Stella Jacintho, neta de Vanda, 91 anos
Ainda bem que avó e neta moram perto. Assim elas não só ligam uma para a outra (pelo menos duas vezes ao dia) como se visitam dia sim, dia também. Vanda sai para jantar, às vezes, com Stella e sua turma. “Ela curte muito, tem papo com todas as minhas amigas. Dá supercerto”, conta a neta. As duas colecionam carimbos no passaporte. “Índia, China, Dubai, Portugal, Marrocos, Estados Unidos... Em breve vamos para o Peru juntas.” Nas viagens, uma respeita o limite da outra. “Tem dias em que ela dorme até um pouco mais tarde para descansar e eu saio para bater perna. Depois nos encontramos para almoçar. Ela é uma mulher de fibra, sabe? Casou-se com 17 anos, fez faculdade de Direito depois dos 40, já com quatro filhos grandes. Virou um exemplo para a família”, diz Stella. Para a neta, a alegria de viver que a avó esbanja é uma das características mais marcantes: “Ela vibra, é interessada, vai atrás do que gosta. E faz questão de receber os amigos e a família! Sempre abre a casa, faz almoços, festas e proporciona encontros. O que ela mais quer é estar com quem ama.”
VóCarminha
SORRIA PARA A VIDA
Leonardo Darcadia, neto da Maria do Carmo, 96 anos
“O que me encanta é a autenticidade dela. Ela é única”, conta Leonardo, sobre sua avó, Maria do Carmo, mais conhecida como Carminha – ela é a grande estrela da conta do neto no Instagram (@leonardodarcadia), com mais de 1 milhão de seguidores. Ele conta que a matriarca era professora e, ao perceber a dificuldade de alguns alunos em sala, organizava aulas particulares de graça. “É uma pessoa amorosa e gosta de ver todo mundo ao redor se sentindo confortável.”
Isso foi o que guiou o neto a acolhê-la e ter tanta paciência em relação à perda de memória de Carminha, o que exigiu bastante maturidade e zelo por parte da família. “Ela acaba perguntando a mesma coisa cinco, seis vezes numa conversa. E a gente precisa responder igual em todos os momentos, tratar com muito mais cuidado. Não é fácil, mas nosso papel é esse.”
Mesmo com a falha na memória, conversar é o programa que os dois mais gostam de fazer. “Ela gosta de saber como foi minha semana, minhas matérias preferidas na faculdade, porque eu escolhi o curso em que me formei... Faz questão de entrar no meu mundo e entendê-lo.”
Para ele, o maior conselho da avó é a positividade. “Claro que vamos passar por altos e baixos, mas, se focarmos no lado bom, a gente consegue uma vida mais plena, mais rica em momentos especiais ao lado de quem a gente ama”, afirma. “Minha avó me ensinou a sorrir para a vida.”
Neto e avó, um dueto!
Ele tem vídeos falando em italiano, português, inglês, espanhol, alemão...
Em todas as línguas o austríaco Nathan Trent divulga a versão da música de Lucio Battisti, E Penso a Te, que cantou em um dueto com a avó. Os vídeos ganharam as redes, viajaram por continentes, e os dois até se apresentaram ao vivo no programa italiano IFattiVostri. A paixão pela melodia é o que une os dois, que também já interpretaram uma música escrita pelo neto, chamada Parole. “Muita emoção”, publicou ele em seu perfil no Instagram. @nathantrentmusic
VóTequinha
COLEGAS DE FACULDADE
Laura Balthazar, neta de Adma, 89 anos
“Para os seus 90 anos ela não quer saber de festa, de viagem, de nada. Só quer todos os netos juntos, é o que diz”, conta Laura Balthazar, sobre o aniversário da avó, Adma. “É uma chantagista”, ri. E complementa: “E ainda rouba no buraco!”
Apelidada carinhosamente de “Tequinha”, a neta, ao mesmo tempo que se identifica com a avó, vê nela um exemplo do que quer se tornar. “Tem um jeitinho meio intenso de ser, como eu. Mas também vê tudo com humor, não se leva tão a sério. Se um dia eu conseguir ser um pouquinho como ela, já estarei feliz.”
A sintonia vai além do pessoal – as duas são advogadas
ANTENADA, DIVERTIDA, CARISMÁTICA
Laura Vaccari, neta de Ester, 86 anos
Elas amam ir ao shopping, escolher looks juntas, tomar um cafezinho por volta das quatro da tarde. “Se você quer encontrar minha avó, o primeiro lugar para procurar é o shopping”, brinca Laura, que passou a postar vídeos nas redes ao lado de Ester. As duas se arrumam, tricotam, fazem compras. Tudo juntas. “Já éramos próximas, mas agora estamos ainda mais.”
Entre tantas amigas que Laura poderia escolher para acompanhá-la nos programas, ela opta pela mais moderna: Ester. “Ela é divertida, cabeça jovem, hiperatualizada. Minha avó sabe de tudo o que está acontecendo, me conta as fofocas e as novidades do mundo”, explica. “É muito gostoso estar perto dela. Está sempre feliz, é carismática... É uma relação muito pura e genuína.”
formadas na São Francisco, faculdade de Direito da USP. “Quando passei no vestibular, ela começou a me chamar de coleguinha. Visitou o campus comigo e me contou onde se escondia para dar uns beijos no meu avô.”
Durante a pandemia – e com Adma com a vista comprometida –, avó e neta instauraram um novo hábito: ligavam uma para a outra, e Laura lia alguns trechos de A MáquinadeFazerEspanhóis, de Valter Hugo Mãe. “A história tem muitos personagens ‘velhos-jovens’, como ela, que, apesar da idade, são animadíssimos, até meio doidos. Ela foi vendo beleza naquilo e nos aproximamos mais ainda.”
VóEster
| GROENLÂNDIA
EXTREMO POLAR
por Flavia Pires
Difícil pensar em um destino exótico que a produtora de conteúdo Flavia Pires (@flaviapiresexplora) não faça questão de conhecer. Desta vez, ela embarcou para a Groenlândia a bordo de um navio de expedição. Confira a seguir um relato tão gélido quanto inspirador
Viagem
No alto, o povoado de Aappilattoq, onde vivem 80 pessoas, e Flavia aproveitando o visual. Acima, a vista de Aappilattoq e dois momentos de Ilulissat
Há quem diga que sou uma apaixonada por extremos. Seguindo essa filosofia e já tendo visitado tanto a Antártica quanto a região de Svalbard, no Ártico, a Islândia e o Alasca, é claro que precisei dar um check também na Groenlândia, destino que estava na minha wishlist há anos. Eu queria, ao mesmo tempo, a conquista de ter conhecido todos os polos e o prazer de visitar a maior ilha do mundo, um território autônomo que faz parte do Reino da Dinamarca.
O primeiro passo, então, foi planejar cuidadosamente a forma como eu realizaria essa viagem. Ver de perto aquelas cidadezinhas pitorescas coloridas e perdidas <no meio do nada=, além dos imponentes icebergs, e ainda ter a chance de avistar a Aurora Boreal parecia o combo perfeito. Eu sabia que queria embarcar nessa aventura a bordo de um cruzeiro e que teria alguns empecilhos por causa do
clima ártico. São longos invernos e verões muito curtos, uma série de ventos fortes, temperaturas que variam entre as estações 3 e chegam a frios de 30ºC negativos 3 e a ausência de sol por várias semanas durante o inverno. Por causa disso as viagens só ocorrem no verão, entre julho e começo de setembro. Tentando aumentar as minhas chances de ver a Aurora (geralmente entre setembro e março), optei pela última saída da estação, no fim de agosto.
Escolhi o navio de expedição da Swan Hellenic (@swanhelleniccruises), companhia especializada em viagens para destinos remotos, já que essa é a forma mais confortável de visitar a ilha. Por terra, os deslocamentos são mais complicados devido ao clima polar. Afinal, a ilha é predominantemente coberta por uma camada de gelo 3 80% de sua superfície 3, uma das maiores do mundo, com
“No meio do nada, o céu começa a brilhar em tons de verde, roxo e até vermelho!”
até três quilômetros de espessura. Minha aventura começou em Reykjavik, capital da Islândia, onde embarquei em uma jornada de dez noites chamada Greenland in Depth a bordo do SH Vega, navio com apenas 76 cabines. Em todos os momentos, a paisagem é deslumbrante, com muitas montanhas e tundras.
DESERTO DE GELO
Devido ao clima frio, não existem árvores nativas na Groenlândia. Além disso, a ilha enfrenta muitos desafios ambientais, como o derretimento das geleiras em decorrência das mudanças climáticas, o que impacta tanto o ecossistema local quanto o nível
do mar. Cientistas e estudiosos estão sempre muito atentos e preocupados com a situação.
A Groenlândia tem uma população pequena e diversificada, composta principalmente de descendentes dinamarqueses e de Inuítes, conhecidos popularmente como esquimós, que foram seus primeiros habitantes, há cerca de 4.500 anos. A capital, Nuuk, é também a maior cidade do território. Cercada de montanhas nevadas, fiordes e vistas deslumbrantes do Oceano Ártico, Nuuk tem uma história profundamente ligada à cultura Inuit, com muitas tradições ainda praticadas por locais. Vale uma visita ao charmoso Museu Nacional da Groenlândia, com artefatos que retratam a
história da região, incluindo vestígios de civilizações antigas. São apenas 18 mil habitantes na capital, representando a maior parte da população local. A economia é baseada na pesca, no turismo e em serviços públicos.
Em Nuuk, também podemos ver os famosos cachorros que puxam trenós em viagens e caçadas, essenciais para a sobrevivência no local. Além disso, atuam como cães de guarda para proteger as comunidades e os rebanhos. Eles têm uma pelagem espessa e dupla que oferece proteção contra o frio, orelhas bem em pé e cauda enrolada nas costas. São inteligentes e independentes, mas também leais e afetuosos com suas famílias. E estão por todos os lados!
Dois momentos da Aurora Boreal presenciada na região de Prince Christian Sound: mil cores e muita magia no céu
Ao lado, o visual de Nuuk e Flavia com os Inuítes, o povo local. Abaixo, um simpático sleddog, Ilulissat Museum e degustação de carne de baleia
A caça na Groenlândia é uma parte importante da cultura e da subsistência, especialmente do povo Inuit. Eles caçam focas, baleias e caribus, utilizando técnicas tradicionais que foram transmitidas por gerações. As focas são caçadas durante o inverno, quando seu movimento pode ser mais facilmente monitorado. A busca pelas baleias acontece em águas abertas e geralmente requer embarcações adequadas e equipamentos específicos. Além da prática de caça para a alimentação, muitos habitantes de lá veem essa atividade como uma conexão vital com suas raízes e sua identidade. O uso sustentável dos recursos naturais é fundamental, já que a caça é realizada de
maneira a respeitar o meio ambiente e garantir a sobrevivência das espécies. Nos últimos anos, a atividade tem enfrentado também muitos desafios, como as mudanças climáticas que afetam os habitats e as migrações dos animais.
DO BRANCO AO AZUL
Nosso roteiro também passou pela cidade de Ilulissat, palavra em groenlandês que significa 8caindo9, e que é famosa por sua proximidade com a geleira Sermeq Kujalleq, uma das mais ativas do mundo e a fonte de uma enorme quantidade de icebergs que flutuam em Disko Bay. Eles são formados quando grandes blocos de
gelo se quebram e se desprendem da geleira, criando estruturas imensas e variadas. A área é um Patrimônio Mundial da UNESCO, reconhecida por sua importância ecológica e cultural. A beleza serena e o silêncio majestoso em torno dos icebergs são indescritíveis, um dos pontos altos da Groenlândia!
Disko Bay é, inclusive, uma das áreas mais impressionantes e visitadas dopaís.Abaíaéfamosaporsuabeleza natural,comenormesgeleirassobreas águas azuis-turquesa em cores que podem variar do azul profundo ao branco brilhante, devido à pressão e à luz solar, que criam diferentes efeitos. A vista é incrível, especialmente quando os glaciares refletem a luz do sol.
Eqip Sermia, um dos maiores glaciares do destino, e Disko Bay. Abaixo, outro visual da mesma baía e um detalhe do azul no gelo, proveniente da forma como a luz interage com as moléculas de água. Ao lado, a região de Sisimiut
Ali fizemos passeios em barcos menores para admirar icebergs, caminhadas nas geleiras e passeamos de caiaque nas águas tranquilas da baía. A vida selvagem é rica, sendo possível avistar baleias, focas e diversas aves marinhas. Não dá para deixar de incluir a visita ao Museu de Ilulissat, centro imersivo que oferece uma visão fascinante da vida e da história das redondezas. Há uma ênfase especial na cultura Inuit, incluindo suas práticas de caça, seu vestuário e seu artesanato, que ajudam a entender a fundo a vida dos povos indígenas. O museu também recebe exposições temporárias, que exploram diferentes aspectos da cultura groenlandesa e questões ambientais atuais.
Outro destino visitado ao longo da expedição foi Sisimiut, a segunda maior cidade da Groenlândia, com cerca de 5.500 habitantes, localizada na costa Oeste do país, ao Norte da capital, Nuuk. A área é rodeada de montanhas, fiordes e tem uma costa bem bonita. Nós fizemos uma trilha margeando a água com paisagens idílicas, em um cenário lindíssimo, que não foi estragado nem pela garoa que insistia em nos acompanhar. Vale dar um giro no centrinho, com lojinhas, uma igreja, um pequeno museu e cafés charmosos.
O ponto alto da viagem foi, sem dúvidas, as noites de Aurora Boreal, quando pudemos observar esse fenômeno tão espetacular do conforto de
nossas cabines ou do deque do navio. No meio do nada, o céu começa a brilhar em tons de verde, roxo e até vermelho! É como se a natureza estivesse fazendo uma festa de luzes. Tudo isso acontece porque o Sol manda partículas carregadas que colidem com a atmosfera da Terra, criando esse show incrível e iluminado. As cores variam de acordo com os gases presentes na atmosfera e a altitude em que essas reações acontecem.
Demos sorte no nosso roteiro e fomos presenteados várias noites com este fenômeno ao alcance dos nossos olhos! Momentos únicos que ficaram guardados na memória e no coração, fazendo da viagem à Groenlândia uma experiência inesquecível.
UM CORAÇÃO ESTETA
A fashionista HELENA BARBERO é conhecida por seu estilo único e seu extremo bom gosto no vestir, no morar e no viver. Por 15 anos ficou à frente da curadoria de moda da NK Store e hoje atua como influenciadora, na gestão de marcas e com mentoria para brands emergentes do mercado nacional. Com vasta experiência executiva e de liderança no mercado de luxo, Helena tem especialidade nas áreas comercial, de marketing e de desenvolvimento de produto. Casada com o arquiteto e designer Felipe Protti, idealizador do estúdio Prototype (@prototype_sp), Helena vive imersa no universo das artes e do design de mobiliário. No Prototype ela faz parte do conselho, onde aplica seus conhecimentos estratégicos e seu olhar apurado. Para a Carbono Donna, ela selecionou alguns acessórios de décor e peças de mobiliário que ocupam seu coração esteta. @helenabarbero
DOMINO TABLE | FORD BOSTWICK STUDIO
Inspirada no Dom-Ino House – sistema construtivo desenvolvido por Le Corbusier –, a mesa de canto é feita de aço inoxidável.
CHUBBY COFFEE TABLE | ARTHUR VALLIN
Feita à mão por artesãos franceses, a mesa de centro de carvalho tingido pode ser encomendada também em laca, lava stone ou travertino.
CHIARA TABLE LAM | FLOS
Construída a partir de uma folha de alumínio ao redor de um cilindro, a luminária de mesa foi desenhada em 1969 pelo designer Mario Bellini.
CAIXA DE SOM | PROTOTYPE
Novidade da marca de homedesign, o soundsystem conta com uma corneta superestilosa em fibra de vidro. A base faz as vezes de uma mesinha pra lá de descolada.
CADEIRA CHROMA | PROTOTYPE
Na foto ao lado, a peça em que Helena descansa é assinada por Felipe Protti e tem design inspirado nos anos 1980. Existe em três versões: latão, aço cromado e argila.
Depois de um período de “seca”, o sexo voltou a marcar presença na cultura — mas de forma diferente. Agora com mais diversidade, prazer (delas) e novas problemáticas
Por Manuela Stelzer
Desejo, erotismo e tesão eram, até pouco anos, artigos em falta na cultura e no entretenimento. Estávamos não só transando menos, como lendo e assistindo a menos sexo. Mas, agora, o celibato terminou, e eu posso provar. Nicole Kidman suscitou todo tipo de reação extrema 3 do ódio ao prazer 3 ao interpretar uma CEO que tem o fetiche de ser dominada, e realiza a fantasia com um estagiário em Babygirl. Entre as descobertas da personagem de Emma Stone em Pobres Criaturas, talvez a sexualidade seja a maior. Rivais pode até ter o tênis como cenário, mas foi o trisal interpretado por Zendaya, Mike Faist e Josh O9Connor que roubou a cena do longa. Nos streamings, apesar de certos entraves relacionados à classificação indicativa, Bridgerton, Shameless e outras séries são quase uma resistência nas plataformas, com cenas de sexo abertas e refrescantes. Nos livros, De Quatro, de Miranda July, chacoalhou o mercado editorial ao falar sobre o prazer de uma mulher 45+, assim como o título Desejo, da atriz Gillian Anderson (que talvez você tenha visto em Sex Education, outra ótima produção cujo cerne é o sexo), que convidou mulheres do mundo todo a compartilharem fantasias sexuais.
Com esse retorno triunfal, o prazer feminino até pode estar melhor representado, e as redes, inundadas de valiosas discussões sobre o papel do erotismo na cultura 3 mas ainda tem chão para a plena representatividade.
SEXO, POR ONDE ANDAVAS?
As produções audiovisuais tinham perdido a sensualidade 3 dos anos 2010 a 2020, foi registrada a menor taxa de lançamentos com cenas de sexo claras. Apenas 1,2% nessa década, segundo uma pesquisa da Playboy. O pico, claro, foi 1990. Entre os motivos, vemos comédias românticas que apenas beliscavam cenas mais quentes, depois de uma longa construção da paixão entre o casal (<transar sem amar? Que horror!=), para logo cortarem o barato do leitor e do espectador. A era de ouro dos super-heróis, assexuais confessos, jogou qualquer possibilidade de transa para longe do cinema dos últimos anos. E até o lançamento, em 2015, de 50 Tons de Cinza, de E. L. James (Intrínseca, trad. Adalgisa Campos da Silva), a literatura erótica mainstream engatinhava. <É difícil
“Precisamos de mais e mais narrativas falando dessa mulher desejante, e com diversidade de vontades”
entender o porquê, mas me parece que o sexo virou, sim, um assunto tabu=, afirma o jornalista e crítico de cinema Thiago Stivaletti, um dos criadores do podcast Plano Geral, sobre cinema, TV e streaming. O tema é espinhoso e dá margem para problematizações que nem todos querem enfrentar: <O fortalecimento das pautas identitárias deu uma amedrontada no mercado do audiovisual=, nas palavras de Thiago.
Ainda que o sexo sempre tenha aparecido de uma maneira ou outra, foram poucos os que ressoaram no público mais amplo, como aponta a educadora sexual, psicanalista e coapresentadora do Preliminares Podcast, Nathalia Ziemkiewicz. É o caso do lançamento de 50 Tons de Cinza, que passou a ser lido, sem pudores, em espaços públicos (mesmo que quem visse a capa, soubesse do que se tratava); da cena do De Pernas Para o Ar, em que Ingrid Guimarães usa um vibrador (modelo que muitas mulheres foram atrás após assistirem ao filme); e da masturbação que vai ao ar em horário nobre da televisão na novela Um Lugar ao Sol, com Andrea Beltrão. <Vão ter pessoas escandalizadas, e outras que vão se permitir fazer o mesmo=, diz Nathalia.
MULHERES, DESEJEMOS!
Consequência direta do retorno do sexo à cultura, as mulheres tomaram as rédeas dos roteiros, direções e todos os bastidores de livros, filmes, séries. E colocaram a sexualidade feminina como protagonista: <São produções que mostram que a mulher não só transa, como gosta de sexo, quer gozar. Por mais que para essa geração pareça óbvio, nem sempre foi=, afirma Ziemkiewicz. <Temos agora a construção de uma mulher desejante, e não mais de objeto do desejo do outro.=
Babygirl, embora dirigido e roteirizado pela holandesa Halina Reijn, suscitou críticas e reações adversas, mas a jornalista, crítica de cinema e doutoranda em filosofia Bianca Zasso vê valor na personificação do tesão. <A proposta do filme é mostrar que o desejo existe. O sexo ali não é motivado pelo amor romântico, para formar uma família. Nada parecido. É uma personagem que quer transar e esse é o objetivo principal: o sexo para satisfazer fantasias.=
Isso não significa que estejamos bem representadas. Um dos debates que correu pelas redes e na imprensa, ainda sobre Babygirl, é sobre a ausência de outros fetiches
Ao descobrir o prazer em torno de sua sexualidade, Bella Baxter, de Pobres Criaturas, o coloca como elemento essencial da rotina
Amigos da adolescência formam o trisal de Rivais e esse, sim, vira o assunto principal do longa
O filme Babygirl causou reações extremas ao colocar Nicole Kidman como uma CEO que quer ser dominada
que não o clássico da mulher poderosa que quer ser submissa na cama. <Precisamos de mais e mais narrativas falando dessa mulher desejante, e com diversidade de vontades: não-monogamia, masoquismo, vibradores, o que for=, afirma a sexóloga Nathalia. <O prazer mora na fantasia, na nossa capacidade de elaborar cenários, criar expectativas. E as produções ajudam a criar repertório para isso.=
Em nome da diversidade do desejo, entretanto, sempre podem surgir filmes, séries, livros que não só sub-representam a libido feminina, como também se equivocam no retrato do prazer. Para Bianca Zasso, o importante é usá-los como exemplos do que não fazer: <Claro que haverá violências, problemas, deslizes. Mas é saber olhar para isso e se abrir para a discussão. Precisamos ver para saber que não nos representa fielmente=. No fim, o que une essa nova onda do sexo na cultura é, segundo Zasso, <uma preocupação em deixar claro que o desejo feminino existe=. Para ela, estamos caminhando para uma cultura mais representativa 3 mas ainda não chegamos lá.
SEMPRE CONSENTIDO, POR FAVOR
Nenhuma produção está isenta de responsabilidades. Mas na hora de retratar uma cena íntima, o consenso é o X da questão 4 se ele existe e foi estabelecido de forma clara e sã, tanto entre os atores quanto entre os personagens dentro da história, o que vem depois é passível de discussão. <Filmes e livros eróticos, se estabelecem consenso entre os envolvidos, não podem ter a obrigação de serem didáticos, ou podamos muito da criatividade=, argumenta Ziemkiewicz.
Tratar fetiches que nem sempre seguem uma lógica politicamente correta se tornou um desafio. A dominação no sexo, por exemplo, passou a levantar polêmicas depois de movimentos como o Me Too 3 e com razão. Mas, apesar do discurso pertinente, <o masoquismo é parte essencial da psique humana. Então, como conjugar esses dois lados num só filme?=, questiona Stivaletti. É uma pergunta que o cinema e a cultura ainda tentam responder.
O filme Elle, dirigido pelo holandês Paul Verhoeven e
lançado em 2016 no Brasil, é um que se lança ao desafio. No enredo, uma mulher tem o fetiche de ser estuprada 3 com consentimento. <É uma personagem muito complexa, justamente porque entende que tem essa fantasia. O filme já é aberto com uma cena violenta, mas é uma violência que ela buscou=, explica Thiago Stivaletti, que vê em Elle um roteiro bastante aprofundado, uma protagonista multidimensional e interessante, mesmo que a produção tenha sido considerada polêmica por ir contra certa cartilha feminista atual. <É muito compreensível que a violência no sexo seja um tema tabu e delicado. Mas a chave de tudo é o consentimento=, completa.
SEXO PELO SEXO?
Para Stivaletti, os filmes que abordam sexo, hoje, são envolventes, seduzem o espectador, mas <não chegam a realmente tocar nas grandes questões sexuais=. Para que isso aconteça e a sedução ganhe profundidade é necessário avaliar o propósito do sexo ali: <Pode ter uma função meramente estética, querer tirar o espectador de uma zona de conforto, ou mesmo agregar à história das personagens=, explica Bianca Zasso. Para ela, Rivais é um bom exemplo. <Entendemos melhor a protagonista, Tashi, depois de vê-la transando. Diz muito sobre ela.=
Thiago Stivaletti concorda e fala que, apesar do tom erótico leve, o filme se beneficia do sexo para trabalhar a relação das personagens e a dominação que a protagonista exerce sobre os outros dois coadjuvantes. <Acaba tornando as poucas cenas íntimas muito mais interessantes.=
Sendo sexo pelo sexo, talvez seja mais simples recorrer a sites de conteúdo adulto. Na cultura, há toda uma elaboração por trás do erotismo, que pode elevar o nível da produção. Bom lembrar que o erótico nem sempre é sexual: <A diretora Kathryn Bigelow faz retratos do desejo a partir do terror, da ação. Não envolve sexo explícito, mas é extremamente erótico=, diz Zasso. No fim do dia, por mais que não exista o <bom= ou o <mau= sexo na cultura, quem sai ganhando é aquele que faz a ponte entre o tesão e as relações 3 um ajuda a potencializar o outro. <Isso é um bom roteiro construído=, finaliza Stivaletti.
Dois livros que sacudiram o mercado literário ao trazerem o sexo e a fantasia para o centro da discussão
O vibrador usado por Ingrid Guimarães em De Pernas Para o Ar virou hit após aparecer nas telonas
Mais filmes e séries para aumentar o repertório erótico
VALÉRIA série de 2020, na Netflix
NEWNESS filme de 2017, na Prime Video
SEX LIFE série de 2021, na Netflix
ELA QUER TUDO série de 2017, na Netflix
EU, TU E ELA série de 2016, na Netflix
RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS
filme de 2020, na Prime Video
Jáouviufalar?
Coordenador de intimidade é o novo ofício de Hollywood. Responsável por supervisionar as cenas de sexo de um filme ou série, para que sigam o roteiro ao pé da letra. É quem impede que assédios e outras violações aconteçam, efetivamente, nas entrelinhas, assegurando que o consentimento esteja presente em todas as etapas do processo.
Cultura | SEXO
Ser a sua melhor versão nada tem a ver com consumir comida em pó, falar sobre alimentos como se fala sobre uma tabela nutricional ou tomar vitaminas de manhã e à noite. Especialistas relembram o segredo básico para balancear a rotina e alcançar o bem-estar
Por Isabel de Barros
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“O
que se vê são pacientes cheios de sintomas buscando doenças, quando na verdade podem ser apenas estados de carência no organismo”
As conversas sobre saúde são hoje como o arroz e feijão da nossa alimentação: sempre presentes e consumidas pela maioria das pessoas. Falar do tema é corriqueiro. Palavras que antes pareciam exclusivas de médicos atualmente fazem parte do vocabulário de nove entre dez pessoas e circulam em mesas de restaurante, portas de escola e pistas de shows. Creatina, vitamina, proteína, enzima.
A verdade é que tudo isso junto parece mais uma rima, mas não, são suplementos que boa parte da população, colocando aqui o recorte do privilégio, ingere diariamente. As perguntas são muitas: precisamos de tudo isso mesmo? Qualquer corpo exige suplementação? Qual é o limite desse consumo? Para responder a esses e a outros questionamentos, fomos atrás de especialistas que explicam o que, de fato, é importante e o que está só virando o tal do <xixi caro=.
Saindo da caverna
Hoje é comum abrir a despensa de uma pessoa jovem e encontrar potes e embalagens com proteína em barra ou em pó, creatina
em pó e cápsulas de vitaminas e magnésio. Pesquisar sobre suplementação e reposição é fazer um mergulho nesse universo que parece tão banalizado. A endocrinologista e metabologista Keila Paranaiba gosta de uma frase de sua autoria que, ela avisa, causa polêmica: <Não somos o que comemos, somos o que conseguimos absorver=. Ela explica que é preciso entender o que cada organismo absorve ou desabsorve e isso é feito de forma individual, com uma boa anamnese 3 a entrevista realizada pelo profissional de saúde 3, aliada a exames laboratoriais e avaliação de antecedentes genéticos. Entre as queixas que mais recebe em seu consultório estão fadiga, queda de cabelo, hipotonia, dificuldade de cognição e esquecimentos. O que se vê, Keila conta, são pacientescheiosdesintomasbuscandodoenças, quando, na verdade, podem ser apenas estados de carência no organismo. <Quando existe um nível de desabsorção, é preciso atacar aquela absorção. E isso é feito por meio de hormônios, vitaminas e minerais para trazer ao paciente a suplementação ou a reposição correta.=
A nutricionista especializada em nutrição funcional e terapia ayurvédica Lisnia de Paula Marinelli concorda que o que vale
para uma pessoa, não vale para outra. <Acredito na individualidade bioquímica de cada um. É preciso olhar o todo, desde os antepassados do paciente até a condição do ambiente em que vive. Mas o que nos difere é a resiliência ao stress. Quem está triste e mal, adoece. Quem está bem e em estado de contentamento, muito menos. E o alimento contribui demais para o equilíbrio emocional.= Segundo ela, a alimentação ajuda na clareza e no estado de agir. <Uma vez bem nutrido, o corpo lhe coloca em lugar de ação, e não de procrastinação.=
Keila alerta para a necessidade do acompanhamento constante, já que nenhuma suplementação é feita eternamente. Segundo a médica, cerca de dois a três meses depois, é preciso uma nova avaliação. Lisnia também adverte que não se pode tomar a mesma vitamina o tempo todo. <Após certo período, a absorção do corpo muda, podendo até saturar o organismo. Quando tomadas em excesso, algumas vitaminas se perdem na urina=, conta ela, lembrando-se do debochado termo <xixi caro=, uma vez que esses suplementos envolvem valores altos. Até mesmo a proteína, ela avisa, se ingerida em excesso, deixará de ser absorvida pelo corpo.
Para a nutricionista, a questão do consumo irracional de suplementos diz muito sobre a vida do homem moderno. <As pessoas só pensam em praticidade. É uma loucura, pois elas escolhem ingerir uma cápsula de vitamina C em vez de comer uma laranja=, diz. <O brasileiro consome, emmédia,dezeroaumafrutapordiaporquetem preguiça: de comprar, sentir o cheiro, ver se está madura, descascá-la.=
O caminho do bem
Keila fala do perigo da suplementação sem orientação médica e conta que isso adoece as pessoas. <Há estudos clínicos que associam a ingestão de altas doses de algumas vitaminas com doenças graves, como câncer de pulmão, AVC hemorrágico e cálculo renal, por exemplo.= Lisnia admite que um suplemento mal digerido pode causar artrite e embotamento mental, entre outras coisas. <Aquilo que é remédio também vira toxina, também se transforma em veneno. As pessoas entram e mergulham nas fórmulas como se fosse para sempre, sem se reavaliar.=
“As pessoas só pensam em praticidade. O brasileiro consome muita pouca fruta porque tem preguiça: de comprar, sentir o cheiro, ver se está madura, descascá-la”
Outra questão importante, segundo Keila, é o indivíduo não perceber que aquilo pode ser perigoso. <Alguns pacientes compram caixas de multivitamínicos, tomam a versão dia, a versão noite e acreditam que estão saudáveis. Isso intoxica. Intoxica porque não é objetivamente do que ele precisa.= De acordo com a endocrinologista, o melhor caminho para ser 3 e se manter 3 saudável é básico: dormir bem, beber bastante água, fazer atividade física e ingerir comida de verdade. <Não é pó. É arroz, feijão, verdura, carne, pão, ovos... Comida de avó, sabe? Nosso corpo está preparado para fazer a absorção dessa comida, e não da suplementação. Esse mecanismo [do organismo] é milenar. Quando se coloca um multivitamínico no meio, coloca-se uma sobrecarga no sistema.= Lisnia faz dois últimos alertas: um sobre as mudanças climáticas, que alteram a qualidade do solo e, por consequência, dos alimentos, cada vez mais empobrecidos nutricionalmente, e outro sobreasempresasquefabricamessessuplementos. <É preciso ter cuidado. Ano passado, mais de 20 marcas de creatina foram reprovadas pela Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri) por conterem impurezas=. Ficar atento ao que estamos colocando em nosso corpo, esse sim é o papo que deveria circular em todas as rodas de conversa.
GLOSSÁRIO
PROTEÍNA
É produzida pelo corpo humano e importante para a imunidade, para transportar nutrientes e para os ossos e músculos. A carência desse aminoácido causa fadiga, queda de cabelo e redução da massa muscular.
CREATINA
É produzida de forma natural pelo corpo humano. Um organismo jovem produz creatina suficiente. À medida que vamos envelhecendo e nossos músculos diminuem, a creatina também. Tomar creatina funciona como forma de manutenção da massa magra e tem efeito no sistema nervoso central.
MAGNÉSIO
Um mineral que participa da contração e do relaxamento do músculo. Está associado ao aumento da força e da resistência dele e, por isso, a mais nova onda da saúde é suplementar magnésio.
VITAMINAS
Nutrientes orgânicos do corpo humano necessários para fazê-lo funcionar e se desenvolver. Essenciais para uma boa saúde de todo o organismo, principalmente do sistema imunológico. Enquanto o corpo produz as vitaminas D e B12, por exemplo, as demais vêm da alimentação diária.
MITOS E VERDADES
• Quanto mais ingestão de proteínas, em forma de barras ou pó, melhor para o corpo?
Mito. De acordo com a nutricionista Lisnia de Paula Marinelli, a ingestão demasiada satura o organismo e para de fazer o efeito desejado.
• Todo corpo precisa de alguma suplementação?
Verdade. Lisnia e Keila afirmam que, em algum momento, todos podem precisar de suplementação. Pensando numa pessoa saudável, que não faz uso de medicação diária e sem intolerância a alimentos, o motivo tem a ver com a necessidade de mais massa muscular ou mesmo, no caso de uma mulher, ajustar os efeitos da perimenopausa. Lisnia avalia que toda pessoa que mora em São Paulo e tem o estilo de vida tipicamente paulistano – ficar muito em lugares fechados, tomar pouco sol, consumir alimentos comprados e não vindos diretamente da terra – precisa de certas vitaminas e enzimas.
• Todas as suplementações vêm em ondas e modas que viram xixi caro?
Mito e verdade. Muitas das ondas da saúde são mesmo furadas, além de custar caro. Outras podem ajudar nos objetivos de cada um, caso da creatina consumida por pessoas 40+ que pratiquem exercícios físicos. “Essa coisa de meninos de 18 anos tomando creatina para ficar mais forte não funciona. Vai comer arroz e feijão. Isso sim é bom”, diz Keila. Lisnia lembra que vitaminas em excesso, além de fazerem mal, são, sim, perdidas na urina.
Especialista em transtornos de medo e ansiedade, a psicóloga Maria Klien fala sobre a importância de uma medicina mais integrativa – e humana – para levar uma vida com menos angústias
Por Adriana Nazarian
Écurioso pensar que Maria Klien, mestra em distúrbios ligados ao medo e à ansiedade, sofreu por mais de 20 anos com transtorno do pânico. A ansiedade era tamanha que ela costuma dizer que não vivia. Sobrevivia! <Quem passa por isso sabe. É como se houvesse um leão na sala o tempo todo. E não nos sobra energia para nada além dos processos internos=, conta.
Altamente medicada, mas sem qualquer autonomia, ela nunca desistiu de buscar um lugar que trouxesse de volta sua memória de paz: xamãs, médiuns, a própria escolha pela faculdade de Psicologia e inúmeras viagens de conhecimento fizeram parte do processo. Até que, há cerca de três anos, em um momento em que estudava Neurologia, Maria descobriu a cannabis medicinal e, aos poucos, sentiu na pele seus efeitos benéficos. Com o auxílio de sua psiquiatra e um mergulho profundo em torno do tema, o Rivotril de todos os dias e outras medicações foram sendo deixados de lado e seu sistema se regulou com gotinhas diárias do tratamento. <Não é porque dedico minha vida a isso que não sou humana. Precisamos desmistificar o tema. Vejo o pânico como um mestre que me impulsionou porque minha pulsão de vida sempre foi maior do que a de morte=, afirma.
Hoje, além de atender pacientes que desejam um olhar mais integrativo, Maria atua como empreendedora na área de saúde com o objetivo de levar terapias do gênero para mais pessoas. Nestas páginas, ela compartilha ideias que nos ajudam a entenderosgatilhosportrásdamenteetrazreflexões para viver melhor em tempos tão conturbados.
ADEUS, ADOLESCÊNCIA
“Sinto que a sociedade ocidental está começando a amadurecer. Nesse sentido, a pandemia foi um despertar para que as pessoas percebessem que não dava mais para lidar com a vida de forma adolescente: é preciso amadurecer para se manter vivo. O turismo wellness, o aumento do número de coaches, as experiências promovidas pelas medicinas ancestrais são reflexos desse processo. Precisamos trabalhar o conhecimento e a educação como um todo. Uma sociedade mais madura sai do lugar de vítima e se torna protagonista da sua escolha. Ela chega ao médico consciente. Sabe que precisa melhorar.”
MEDIDA CERTA
“Todo ser humano, hoje, vivo, no planeta Terra, tem uma ancestralidade ansiosa. Quem não era assim, lá no tempo das cavernas, morreu. Só sobreviveu quem estava em alerta. Então, a ansiedade funcional é nossa aliada, é o que nos faz levantar, ter propósito, preparar-se para uma palestra, por exemplo. Mas ela pode passar a ser disfuncional e patológica, quando, em vez de nos impulsionar, nos paralisa.”
AUTOCONHECIMENTO
“A cannabis, como qualquer outra ferramenta, não é para todos. A única ferramenta universal é o autoconhecimento – só há essa alternativa sem contraindicação. E nesse caminho, ao contrário do que uma sociedade adolescente imagina, não há pílula mágica. Dá trabalho! Mas, quanto melhor a gente se conhece, mais conseguimos ser amigos da gente. Se fôssemos amigos de nós mesmos como somos dos nossos amigos, seria muito legal!”
DEFESA PESSOAL
“O encontro profundo com a verdade acontece em um lugar onde colocamos o ego para dormir. Assim, durante as consultas, o psicólogo consegue entrar em um espaço sem defesas. As defesas fazem parte da nossa constituição e são muito bem-vindas porque nos permitem sobreviver aos desafios. É como uma rede de proteção em apartamentos com crianças. Mas é preciso dosar. Alguns pacientes me procuram quando estão passando por uma batalha no trabalho, por exemplo, e acham que estão com crise de ansiedade. Eu explico que é normal. O corpo está se protegendo.”
CADA CASO, UM CASO
“Cannabis, psicodélicos, medicação, nada disso cura. Quem cura é o corpo. O que a cannabis faz é ativar o sistema endocanabinoide, responsável pelo equilíbrio. Na natureza, equilíbrio é sinônimo de saúde. Ao usá-la, conseguimos entrar em contato com a nossa natureza mais profunda. Quem busca o meu suporte precisa assinar um contrato. Não comigo, mas com ela mesma. E entender que não vai ser um caminho fácil, mas nem por isso ruim.”
TERMÔMETRO
“Quando alguém com ansiedade procura um médico e toma remédio, este remédio vai acalmar o quadro, mas o paciente pode não saber que também vai acalmar a libido, o tesão pela vida. Você amortiza as emoções e sente tudo mais protegido, tanto a dor quanto os amores. Tem pessoas que preferem vestir armaduras e elas também falam desse lugar da anestesia. São escolhas, e está tudo bem. O importante é que sejam feitas de forma consciente. O paciente precisa conhecer tudo o que existe.”
DOS PÉS À CABEÇA
“Essa medicina muito distante, de um profissional sentado ditando regras, não existe mais. O médico não é o único detentor do conhecimento. A sabedoria existe, mas a gente precisa de um filtro, de um tradutor. E o meu trabalho é muito esse. Já temos uma medicina muito mais integrativa e essa transformação abriu um espaço para tratamentos mais ancestrais. Existem dados históricos de pessoas com alguma questão oncológica, enterradas há 2 mil anos, com a flor da cannabis – ela era usada para tratar a dor. Nada vai fazer com que os desafios desapareçam, mas podemos estar bem equipados para enfrentá-los.”
EU DENTRO DE MIM
“Quando analisamos uma pessoa em sofrimento psíquico, com crises de ansiedade, quem está ali é a criança dentro dela – não importa se estamos diante de uma senhora. Todas as idades convivem dentro de nós o tempo inteiro! Tanto é que conseguimos acalmar um adulto com a nossa voz porque a criança trabalha em um espaço de fantasia e essa voz nos leva para esse lugar.”
MEU CORPO, MEU ESCUDO
“Nosso corpo é uma máquina muito obediente e
nosso maior aliado. Se digo a ele: ‘vamos correr porque tem um leão na minha sala’, o cérebro vai obedecer. O coração acelera porque precisa bombear mais sangue para lutar ou fugir. Ele cria a situação para lhe proteger. E são tantos leões, né? Um prazo, um boleto...”
DE 0 A 10!
“Na crise de ansiedade, o sistema nervoso simpático entra em ação e traz uma série de reações fisiológicas automáticas. Você está dirigindo seu carro, escuta uma freada: a pupila dilata, o coração acelera! Seu organismo entende aquilo como um sinal de perigo e se desorganiza. Demora até dez minutos para que o nosso sistema parassimpático retorne, nos trazendo de volta ao estado pré-crise. Com as ferramentas certas – veja o box – conseguimos acelerar essa ativação e, assim, não precisamos sofrer por esses dez minutos.”
CORPO E MENTE SÃOS
“A sanidade é um espaço entre o desafio que a vida coloca e a nossa reação. E quem é o responsável por ele? O sistema canabinoide, algo natural do nosso corpo. A nossa produção de canabinoides cai no decorrer da vida. Então isso pode ser uma das causas de nosso sistema se desorganizar. Tenho casos emocionantes de mudanças de comportamento. Parece milagre – e de certa forma é – porque trata-se da organização de um milagre da nossa natureza. Na medicina, sempre houve espaço para o milagre. De algum tempo para cá que começamos essa separação.”
PROTEÇÃO DEMAIS
“Asdoençastêmumpapelinteressante.Muitasvezes elas se tornam desculpa para não experimentarmos um crescimento nessa experiência que chamamos de vida. Um exemplo básico: ‘tenho dificuldade para dormir, então não devo dormir com ninguém porque posso atrapalhar o sono da outra pessoa. Logo, não namoro ninguém. Sem perceber, alimento minha insônia – tomo café, faço exercício à noite, etc. Por quê? Porque inconscientemente a insônia me protege de uma relação que, na verdade, eu tenho medo de entrar por falta de autoestima!’”
ELES TAMBÉM SENTEM
“Hoje existe mais espaço para o homem sentir suas angústias, e isso é importante. Só vamos sair dessa sociedade adolescente quando todos caminharmos para um lugar de autoconhecimento.”
“A
única ferramenta que serve para todos é o autoconhecimento – só há essa alternativa sem contraindicação”
VOCÊ, CONDUTOR
Maria Klien ensina passos práticos e eficazes para retomarmos o controle em uma situação de ansiedade (@psimariaklien)
ÁGUA GELADA Um método simples para combater a ansiedade e reduzir a frequência cardíaca é a aplicação de água fria. Experimente borrifá-la no rosto ou tomar um banho frio rápido. Para ter esse recurso à mão, congele uma garrafa de água durante a noite e a carregue consigo para usar quando necessário.
INSPIRA, RESPIRA Respire lentamente, inspirando pelo nariz e expirando pela boca. Esse exercício regula o ritmo cardíaco e reduz a sensação de falta de ar.
RELAXE OS MÚSCULOS Uma técnica útil para controlar os sintomas de um ataque de pânico é o relaxamento muscular progressivo. Ela auxilia o corpo a sair do estado de alerta, aliviando sintomas como a taquicardia. O método consiste em tensionar um grupo muscular específico por cerca de cinco segundos. Em seguida, enquanto relaxa o músculo, mentalize a palavra “relaxe”. Aguarde dez segundos antes de prosseguir para o próximo grupo muscular.
PULA, PULA Quando tiver uma crise em um local público, você pode ir para um ambiente reservado, como um banheiro, fechar a porta e começar a pular. Assim você dá uma função para a adrenalina que está sendo criada em seu corpo.
A MORTE
POR
KanuchaBarbosa
É ela, sem dúvida, minha maior inimiga. Eu a odeio com todas as forças, porque realmente gosto da vida e abomino o fato de que todos vamos perdê-la. Que desperdício! Por que existe vida se todos vamos morrer? Qual é o ponto disso tudo?
Quando descobri a morte, ainda criança, chorava no escuro até adormecer, sempre aterrorizada. Hoje não choro mais, pelo menos não com tanta frequência. Só que a morte está sempre me visitando, me relembrando de sua existência. Sorrateira, ela faz isso em momentos aleatórios: ao abrir a geladeira e me lembrar de que um dia não abrirei mais uma geladeira, pois não existirei mais. Ou ao passar um creme no rosto e ver minha pele tão corada e bonita e pensar que ela vai apodrecer debaixo da terra, ser tomada por uma textura fina e grudenta, até que buracos serão feitos pelos vermes que habitam os corpos. Cenas coloridas do cotidiano perdem o brilho e se tornam imagens pálidas e sombrias.
Toda vez que recebo esses lampejos, meu coração aperta e meu corpo se retrai por inteiro. Me deparo com uma fera faminta e não tenho pernas para correr. Antes, o medo conseguia me controlar, e essa reação durava mais tempo, às vezes horas. Hoje em dia, sou eu quem consegue desviar da fera rapidamente e seguir em frente, vivendo um dia após o outro. Não sei dizer se ficou mais fácil, mas acredito que a vida nos apresenta jeitos de lutar contra a melancolia que é conviver com a morte o tempo todo. Precisamos disso.
Antes da minha avó morrer, até oscilava entre acreditar em algumas religiões. O espiritismo era a minha preferida, pois toda vez que ia a um centro espírita, me sentia um pouco aliviada. Ao tomar um passe, tinha sensações que eu julgava sobrenaturais, como uma inexplicável vontade de rir e chorar ao mesmo tempo ou cócegas no topo da cabeça. Às vezes, quando alguém estava me dando o passe, meus olhos se fechavam, bem apertados, sem que
eu pensasse em fazê-lo. Era como se existisse uma energia externa e invisível pairando no ar, à qual eu queria muito me apegar.
Só que, depois da morte dela, tudo se foi. Eu pedia, não sei a quem, para vê-la em meus sonhos, para falar com ela. Implorava que minha avó me desse sinais do suposto mundo dos espíritos, mas nada aconteceu. Foi um choque de realidade. Hoje estamos aqui, respirando, sorrindo, sofrendo. Amanhã as luzes vão se apagar e a nossa consciência vai deixar de funcionar... E o que vem depois?
Nunca fui de comparecer a enterros. Sinto um incômodo que julgo maior do que as outras pessoas sentem. São eventos feitos para os vivos, já que acredito que os mortos realmente não se importam. Nas poucas vezes em que fui, senti raiva, tédio e fui tomada por um turbilhão de pensamentos sobre o pouco propósito daquilo. Por que não fazer uma reunião em casa, sem um corpo, para acolher aqueles que ficaram? Tão menos mórbido e muito mais realista.
Uma vez, vi o corpo de uma amiga da minha idade sendo velado. Foi tão triste vê-la ali, tão jovem, sem vida, sem cor. Tão estranho pensar que horas antes ela estava respirando, e depois, simplesmente, não estava mais. Que cruel é ter de existir, não? Qual é o propósito de nascer para viver uma vida inteira com medo da morte?
Na minha família, muitas vezes em que minha bisavó materna é mencionada, repetimos uma curiosa história sobre sua morte.
Ela viveu até os 96 anos e sempre foi saudável, na medida do possível. No fim, adoeceu e morreu muito rápido, em poucas semanas. Ficou um curto tempo no hospital, enquanto a fraqueza tomava conta de seu corpo. No dia em que finalmente se foi, algumas horas antes, ela disse à minha tia:
— Filha, hoje vou morrer. Compre um sorvete de creme para mim, por favor.
Ela disse que sabia que ia morrer porque viu um sobrinho no quarto durante a noite e ele havia ido buscá-la.
Minha tia atendeu ao pedido, como qualquer pessoa faria, e depois do sorvete, vovó pediu para descansar um pouco.
Mais tarde, do nada, abriu os olhos e gritou: — Me levanta que eu vou morrer!
A pessoa que fazia companhia a ela levantou-a da cama e minha bisa morreu sentada, o pote de sorvete meio derretido ao lado.
Não sei se estar consciente no momento da morte é melhor ou pior. Não entendo por que minha bisa não quis morrer deitada. Será que estava tentando fugir de algo? Ou talvez tentando se preparar mais dignamente para aquele momento? Será que alguém havia mesmo ido buscá-la?
No fundo, eu gostaria de acreditar que existe algo depois da morte. E essa história me traz um pouco de esperança à qual me agarrar. Uma esperança que acabo reprimindo como quem reprime algo bom demais para ser verdade.
Quando entro nesses pensamentos, seguindo a lógica de que não estamos mais conscientes na morte, o que mais me assusta são os segundos que a antecedem. Em todas as minhas divagações sobre a morte, penso sempre no medo que a pessoa deve ter sentido antes de morrer. Independentemente de quem seja, sinto uma tristeza tamanha. Mas nada se compara com o que sinto quando penso pelo que a minha avó materna passou...
Meninaajoelhada (1945) | Candido Portinari Óleo sobre tela. Paulo Darzé Galeria. Obra em exposição até maio na Arte Subdesenvolvida, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro. Após a temporada carioca, a exposição segue para o CCBB Brasília. @ccbbrj
Durante a pandemia, todos falavam na perda da oxigenação do pulmão, mesmo que nós, a população geral, não soubéssemos direito o que isso significava. Quando a minha avó pegou covid, chegou para ser examinada no hospital com o pulmão 70% comprometido. Eu não estava lá, mas mamãe me contou que, quando vovó ouviu isso, desmaiou na sala do médico. Desmaiou de medo, de um medo estrondoso, maior que a força dos sentidos.
Então, como viver assim? Como não sair correndo pelas ruas em desespero, avisando as pessoas que um dia elas vão morrer, sacudindo seus ombros e fazendo-as se sentirem por fora como eu me sinto por dentro?
Isso adiantaria? Se soubéssemos quando vamos morrer (ou o que acontece depois da morte), será que realmente teríamos a força ou a vontade ou a oportunidade de fazer algo diferente?
Estou fadada a viver, penso. Fadada a procurar o colorido quando tudo fica preto e branco.
Texto extraído do livro QUANDO EU OLHO PARA TRÁS , de Kanucha Barbosa, 2024, Editora Labrador. À venda na Amazon e em livrarias selecionadas Brasil afora. @kanuchabarbosa
Ela brilhou na SP-Arte 2025 – com a série Traduções, a Beleza do Terreno Invisível –, assim como em sua estreia, na edição de 2022, quando teve seu trabalho destacado pelos principais veículos do ramo. DUDA LIBMAN , aliás, brilha desde a infância. Autodidata, apresentou desde sempre uma profunda vocação artística para escrever, desenhar e pintar. Inspirada em retratos e pessoas do cotidiano que a sensibilizam, fraciona o processo criativo em etapas extenuantes que findam com a fixação de parafusos dourados com fragmentos de pinturas sobre uma base de madeira. Atualmente, cursa Artes Plásticas na UAL, em Londres, e é representada pela Casa Rosa Amarela. @dudalibman | @dudalibmanstudio | @casarosaamarelaoficial