Carbono Uomo #22

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CARBONO uomo

RODRIGO LOMBARDI Um dos atores mais carismáticos do Brasil refete sobre sua profssão e relembra momentos relevantes de antes da fama

SELTON MELLO Com mais de 40 anos de carreira, o ator, produtor e diretor volta ao cinema em duas marcantes atuações

VIAGENS DA VEZ De Kyoto a Rapa Nui

TESTAMOS Novos SUVs superesportivos com mais de 700 cavalos de potência

ELES Literatura com o flósofo Chico Bosco, urbanismo com o galerista Mario Cohen e um apelo do ambientalista Roberto Klabin pela proteção do planeta

PÁGINAS AMARELAS Discos, queijos, vinhos, sorvetes e outras dicas preciosas

Paz no trânsito começa por você.
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MUDE SEU VISUAL, NÃO SEU ESTILO.

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Uma estrutura de praia excepcional, SPA e parque particular com vista mar, suítes com design artesanal luxuoso, gastronomia e serviços de excelência. Combinando o luxo, conforto e silêncio em perfeita harmonia com a natureza.

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É o hotspot de excelência em hospitalidade e gastronomia no litoral entre São Paulo e Rio de Janeiro, e uma estrutura única pé na areia.

Jornal The Guardian, Inglaterra - 2024

Eleito entre os 15 melhores hotéis do Brasil em 2024, sendo o único hotel do litoral paulista e de todo o litoral sul do país. Além disso, selecionado entre o 1% dos Melhores Hotéis do Mundo.

Sempre inovando para proporcionar sensações de bem-estar, a nova academia DPNY possui uma localização privilegiada vista mar, equipamentos Technogym e aparelhos de pilates garantindo um treino de alta performance. Seguiremos investindo em novos projetos para oferecer experiências únicas aos nossos clientes.

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A gente sempre acreditou

Extra, extra!

Está pipocando por aí – que bom, adoramos pipoca – que as revistas estão voltando com tudo – que bom, adoramos revistas.

Parece que se alojou uma estafa digital. Estafa geral. Federal. Sideral.

Esgotados com telinhas brilhantes, minhoquinhas azuis, 1%, 5%...

Enter, enter, enter Backspace!

Estamos exaustos de ser amestrados pelo algoritmo:

Clique.

Leia.

Role.

Deite.

Finja de morto.

Morreu.

Bateria acabou.

No impresso a problemática é tão mais elegante: “a tinta está secando”.

Um é preto no branco. É baixo impacto. É toque, contato. É afetivo.

O outro é toc, mau contato. Inativo.

O outro é letra que pula, que brilha, dá tchauzinho.

Som, link, excitação.

O um é paz...

De um lado, poltrona, cafezinho, raio de sol entrando. Cena de filme.

Do outro, corcunda, dedinhos nervosos, raio de luz saindo.

Cena de filme. De terror.

Pois diz a ciência que ler no papel é experiência. E diz a cultura que ler na tela não fica à altura.

Então, aqui te apresento – ou reapresento:

Leitor, papel. Papel, leitor. Prazer.

Consumam-se.

Sem se devorarem.

REDAÇÃO EDITORA CARBONO

PUBLISHER

Lili Carneiro lili@editoracarbono.com.br

DIRETOR EXECUTIVO E DE LIFESTYLE

Fábio Justos fabio.justos@editoracarbono.com.br

DIRETORA DE ARTE

Mona Conectada

EDITORA CONVIDADA

Adriana Nazarian

PRODUÇÃO EXECUTIVA

Bianca Nunes revistas@editoracarbono.com.br

REVISÃO

Paulo Vinicio de Brito

TRATAMENTO DE IMAGENS

Cláudia Fidelis

COMERCIAL E BACK OFFICE

DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO E NEGÓCIOS publicidade@editoracarbono.com.br

EXECUTIVA DE CONTAS

Martina Lacava comercial@editoracarbono.com.br

FINANCEIRO

Valquiria Vilela financeiro@editoracarbono.com.br

ADMINISTRATIVO atendimento@editoracarbono.com.br

COLABORADORES

Ana Andrade

Ana Paola Pollini

André Klotz

Anne Claire Heraud

Artur Tavares

Bruno Geraldi

Camiê Souza

Daniel Nunes Gonçalves

Débora Ferrari

Evandro Manchini

Felipe Castellari

Fernando Pedroso

Fran Parente

Francio de Holanda

Francisco Bosco

Gabriel Salvia

Gabriela Botasso

Gabriela Figueiredo

Gabriella Portilho

Guilherme Vaz

Herbert Worthington

Ike Levy

Isabel de Barros

J. M. Starck

Janaina Pereira

Jeff Ferrari

Jô Portalupi

João Bertholini

João Viegas

Jose Risso

Juliana Gueiros

Kimberly Souza

Laís Acsa

Leka Mendes

Leo Feltran

Luciano Calçolari

Luisa Alcantara e Silva

Malgosia Minta

Nº 22

CONCEPÇÃO EDITORIAL

FOTOGRAFIA

João Viegas

EDIÇÃO DE MODA

Jeff Ferrari

GROOMING

Jô Portalupi

AGRADECIMENTO

Loja +55 Design

Márcio Franco

Mario Cohen

Mario Mele

Massimo Failutti

Mauro Restiffe

Nathalia Hein

Ricardo Carvalheiro

Ricardo Lage

Roberta Malta

Roberto Klabin

Rodrigo Mora

Rogério Voltan

Romulo Fialdini

Rubens Kato

Studio des Fleurs

Suelen Ferrari

Tadeu Brunelli

Tricia Vieira

Uanderson Brittes

Victor Collor

EDITORA CARBONO

ENDEREÇO

Av. Rebouças, 3575

Jardim Paulistano

05401-400, São Paulo, SP

CTP, IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Stilgraf

CIRCULAÇÃO

Nacional

BANCAS, DISTRIBUIÇÃO E MAILING

Black and White, Dinap, Gables, SMLog e Correios distribuicao@editoracarbono.com.br

Carbono Uomo é uma publicação da Editora Carbono | CNPJ 46.719.006/0001-14

A Editora Carbono não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam do expediente da revista não têm autorização para falar em nome de Carbono Uomo ou retirar qualquer tipo de material para produção de editorial caso não tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por um integrante que conste do expediente da redação.

RODRIGO LOMBARDI USA Camisa Vilebrequin @CARBONOEDITORA

CAPA

TIMELESS COLLECTION

A SEGUIR:

28. CURTAS

Dicas quentes Carbono

44. MEU BAIRRO

Mario Cohen

48. ENTREVISTA

Selton Mello

52. LIVROS

Chico Bosco

56. PERFIL

Rodrigo Lombardi

74. MINDS I

Jairo Malta

76.

MEU ESTILO I

Luiz Mazzilli

78. DESIGN

Pulso Hotel

80. GASTRONOMIA

Rafa Costa e Silva

82. ENOGASTRONOMIA

Vale da Grama

86. MINDS II

Antônio Maurício

88. PENSATA I Conexão

92. URBANISMO

Greg Bousquet • Nº 22 •

94. MOTOR SUVs superesportivos

96. MEU ESTILO II Tico Sahyoun

98. MINDS III Alessandra Montagne

100. MANIFESTO Roberto Klabin

104. TURISMO Experiências

124. PENSATA II Pronoia

126. CARBONO ZERO Um panorama sustentável

Guia de tendências Carbono VIAGENS

131. PÁGINAS AMARELAS

108. Kyoto — 112. Rapa Nui
Bike — 120. Chile
Retrato
Rodrigo Lombardi, por João Viegas; fachada Pulso Hotel, por Fran Parente; Pousada Literária, em Paraty; e templo de Ryoanji, em Kyoto, por Gabriela Figueiredo

Curtir e descansar em um só lugar:

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CURTAS

Dicas gastronômicas, compras inteligentes, muita arte, design e literatura, além de música, motor e aviação. Bem-vindo ao universo Carbono

EM COMUNIDADE

Dog Lvers é a nova coleção Men’s Pre-collection Spring-Summer 2025 de Louis Vuitton, assinada por Pharrell Williams. A ideia é propor roupas e acessórios para a prática da atividade de: levar seu cãozinho para passear! Pense em casacos, óculos e pochetes com motivos caninos desenvolvidos com a qualidade da maison e toques divertidos, como a bolsa em formato de cachorro! @louisvuitton

SABERES ANCESTRAIS

A Pinacoteca de São Paulo apresenta, até fevereiro, uma exposição sobre a produção têxtil africana, exibindo tecidos inéditos no Brasil. Entre a Cabeça e a Terra: Arte Têxtil Tradicional Africana reúne tesouros que exploram os saberes e as tradições artísticas do continente. Desenvolvida em colaboração com a Maison Gacha, espaço cultural com sede em Paris, e com a Fundação Jean-Félicien Gacha, de Frederic e Ly Dumas, com sede em Bangoulap, Camarões, a mostra é dividida em sete seções com 129 objetos, como tapetes, máscaras, véus de veludo e esculturas com miçangas. Com curadoria de Renato Menezes e Danilo Lovisi, a exibição oferece uma visão artística diversificada e multifacetada do continente africano. @pinacotecasp

Em seu novo projeto, Fabrício Carpinejar, detentor de mais de 20 prêmios – entre eles o Jabuti, o da Associação Paulista dos Críticos de Arte e o Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras –, fala de saudade, mas está longe de ser saudosista. Se Eu Soubesse: Para Maiores de 40 Anos (Editora Bertrand Brasil) é uma reflexão sobre o amadurecimento a partir de passagens de sua vida. Entre as lições o autor destaca a urgência de não adiarmos afetos. Entender que não vivemos para sempre é a chave para nos conectarmos com nós mesmos e com aqueles que amamos – e é essa finitude libertadora que norteia a obra. Como um alerta, o poeta ressalta que se tem muito mais a ganhar do que a perder com os ensinamentos trazidos pela brevidade da existência humana. @carpinejar

ÍCONE

O ouro amarelo, metal precioso particularmente apreciado pela Bvlgari desde os anos 1950 –época em que a platina tomava conta do cenário da alta joalheria –, pode ser visto em versão radiante na nova coleção Bvlgari Tubogas. Peças trabalhadas a partir da icônica técnica artesanal, que resulta em tiras de ouro perfeitamente interligadas e sem solda – agora reinterpretada em uma nova coleção –, se mantém como um tributo à essência pioneira da maison. Elencamos a pulseira de ouro amarelo de 18 quilates para transformar o look básico em um visual ultramoderno e exuberante. As joias Bvlgari Tubogas são criações de flexibilidade excepcional que podem ser usadas em todas as ocasiões, renovando o espírito de vanguarda da joalheria italiana. @bvlgari

A VOZ É DELA

Nossa sugestão de leitura tem um valor especial: trata-se do primeiro livro da jornalista Kanucha Barbosa, cujos textos sensíveis já enriqueceram nossas páginas algumas vezes. Quando Eu Olho Para Trás, da editora Labrador, traz crônicas autobiográficas que tocam em temas como um quadro de ansiedade identificado tardiamente, a pressão estética e o medo da vida. Histórias até então secretas e muito reais, que nos convidam a refletir de coração aberto. @kanuchabarbosa

NÃO DEIXE PARA AMANHÃ

m a r i n a v i c i n t i n

A +55design, marca de design brasileiro fundada por Ticiana Villas Boas e Tatiana Amorim, é especializada na criação de peças de mobiliário e acessórios de decoração, como luminárias, banquetas e almofadas. São produtos exclusivos para ambientes indoor e outdoor, desenvolvidos por um time de 15 designers brasileiros – como Arthur Casas e Bruno de Carvalho –, sob a curadoria de Clarissa Schneider e das sócias-fundadoras. A loja conceito, na alameda Gabriel Monteiro da Silva, inaugurada há quatro anos, é um show à parte. Com projeto do Studio Arthur Casas, conta com três andares que oferecem uma verdadeira experiência imersiva de design. Em 2024, a marca inaugurou sua fábrica, em Campinas, com o objetivo de concentrar todo o processo produtivo. E agora lança a primeira coleção com 100% da produção desenvolvida na fábrica própria, trazendo 15 lançamentos que harmonizam cores e texturas na belíssima linha Design Afetivo – Um Convite Para Ser Feliz Nos Detalhes. @mais55design

BACK TO THE 70’S

Entre tantos relógios bacanas trazidos nesta seção, impossível não citar o retorno da Amida, marca histórica que voltou à ativa este ano. Nomeada no Grand Prix d’Horlogerie de Genebra, na categoria Petite Aiguille, a marca revelou duas novas versões do icônico Digitrend. Uma, inteiramente revestida de preto, a Digitrend Classic Black Edition, e outra, de ouro ou prata, ultralimitada, com visual ainda mais vintage, a Digitrend Gold and Silver Edition. @amida_watches

SOM NA CAIXA

Tyler, The Creator lança o álbum Chromakopia , pela Sony Music. A notícia ocorre concomitante ao anúncio de uma turnê mundial, a partir de fevereiro de 2025, com convidados especiais, como Lil Yachty e Paris Texas. @feliciathegoat

DNA BRASILEIRO

A VIDA COMO ELA É

Retratando momentos familiares e da intimidade cotidiana nos lares japoneses, a exposição A Vida Que se Revela reúne quatro séries produzidas pelas fotógrafas Rinko Kawauchi e Tokuko Ushioda, no segundo andar da Japan House São Paulo. Com mais de 30 anos de diferença, as artistas estabelecem, a partir de imagens profundamente íntimas, um diálogo intergeracional sobre a típica vida dentro de casa. São cliques domésticos, de cenas corriqueiras que, independentemente da situação social, cultural ou econômica, se mantêm semelhantes, geração após geração. Os registros destacam a criação dos filhos e o cotidiano japonês, tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão similares ao dia a dia do brasileiro e de muitos cidadãos do mundo. Até 13 de abril. @japanhousesp

HERÓIS DO BIGODE

A Barbearia Corleone selou uma parceria com ninguém menos que a Disney! O resultado? A primeira Marvel Barbershop da América Latina. Muito mais que uma simples barbearia, o espaço temático, na esquina das avenidas Faria Lima e Cidade Jardim, oferece aos clientes experiências exclusivas, como fliperamas, decoração com itens raros e colecionáveis, além de uma loja oficial da Marvel. Para comemorar, uma linha de cosméticos, chamada Marvel Barbershop by Corleone, também foi desenvolvida para ser vendida no local. São produtos focados em limpeza, hidratação, proteção e modelagem. @marvelbarbershopbycorleone

Sua empresa pode ajudar Médicos Sem Fronteiras a salvar vidas.

Mais de 1 milhão de crianças morrem por ano em todo o mundo por causa da desnutrição. Segundo dados da Organização das Unidas (ONU), a forma mais grave da doença é responsável por uma em cada cinco mortes de crianças menores de cinco anos de idade.

Apenas fornecer alimentos não basta para tratar a desnutrição; é preciso também oferecer cuidados médicos especializados. Médicos Sem Fronteiras (MSF) mantém centros de

nutrição terapêutica em diversos países, onde crianças com desnutrição recebem os cuidados de que necessitam.

Assim como pessoas físicas, empresas também podem realizar doações fnanceiras em benefício de MSF, por meio de planos de doação regular ou ocasional. Esta é uma excelente forma de ajudar a organização a oferecer cuidados que salvam vidas onde eles são mais necessários. Colabore!

Acesse empresas.msf.org.br, conh eça os nossos programas de doações e parcerias, e engaje clientes e colaboradores em iniciativas q u e salvam vidas Acredite na vida: juntos, podemos fazer ainda mais.

MINIMALISMO COM SABOR MÁXIMO

A culinária japonesa é quase uma unanimidade. Suas receitas sempre figuram nas listas de preferidas. Agora, e as sobremesas? Muitas vezes deixadas de lado, são também ícones da gastronomia nipônica! Você sabia que existe um endereço nos Jardins dedicado a elas? Na Motchimu, há chocolates de Matcha de Kyoto, sorvetes com compota de dekopon (espécie de tangerina do Japão), e motchis artesanais – o carro-chefe da casa – em sabores clássicos, como chocolate e caramelo, e locais, caso do Houji Chá e do Azuki (feijão de gosto adocicado). Tudo acompanhado de uma xícara de chá verde. Por lá você também encontra as lindas cerâmicas de Suzana Murakami. @motchimu

A FRANÇA É AQUI

“Uma viagem para Paris sem pegar o avião”. É assim que o chef francês Olivier Anquier define a nova unidade do seu L’Entrecôte D’Olivier Rooftop, recém-aberta no Centro Histórico de São Paulo. Localizado no 11º andar do Edifício Esther, o primeiro prédio modernista do Brasil – construído em 1937 –, o restaurante mantém o mesmo conceito de menu único da matriz no Itaim Bibi e une o famoso corte de carne bovina com batata frita ao visual marcante da vista da Praça da República. @lentrecotedolivier

“NUNCA MAIS VOLTAREI A CERTOS LUGARES. É POSSÍVEL VIVER SEM

VOLTAR JAMAIS A ELES”

FABRÍCIO CORSALETTI [CITADO EM LÍVIA E O CEMITÉRIO AFRICANO , DE ALBERTO MARTINS] @DESCULPEAPOEIRA

DOU-LHE DUAS

Uma nova casa de leilões para artigos de luxo, a Casa Sodré Santoro, acaba de abrir as portas em São Paulo. O projeto, das irmãs Mariana e Carolina Sodré Santoro – conhecidas como As Leiloeiras –, chega ao mercado como pioneiro no modelo omnichannel (presencial, híbrido e on-line). Antes de cada leilão, o imóvel no Jardim Paulista, repleto de achados second hand, é aberto para visitação e apreciação do acervo da dupla, que conta ainda com a expertise de um time de especialistas – como Manoel Beato, na curadoria de vinhos e Liana Prado, na de design. O time apresenta um ótimo mix de acessórios de moda, joias, arte e mobiliário. @asleiloeiras

CURTAS

ELES MERECEM

Os fãs da Fleetwood Mac devem comemorar: a lendária banda ganhará um documentário dirigido pelo premiado cineasta Frank Marshall. Ainda não há uma data certa para o lançamento da Apple Films, mas a ideia é explorar a história do grupo formado em Londres em 1967. Entrevistas com os principais integrantes e imagens de arquivo inéditas prometem emocionar todos.

DELEITE

Oriol Balaguer, renomado chef pâtissier e chocolatier ex-El Bulli, assina uma collab com a Chocolat du Jour. Comemorando os 37 anos da marca, a coleção Vivir es Compartir rende uma deliciosa viagem sensorial por sabores como trufa de pistache, bombom de manga com maracujá e barra de chocolate branco com biscoito de gengibre. @chocolatdujour

ADENTRO

Envelhecida por pelo menos três anos em barris de carvalhos americano e francês e finalizada em barris de conhaque, a 1800 Milenio foi eleita a melhor tequila do mundo pela International Wine & Spirits Competition (IWSC) 2024. De sabor complexo e elegante, com notas amadeiradas, toques de baunilha e caramelo, nuances de frutas vermelhas e um final intenso de canela, a bebida, que faz parte do portfólio de luxo da Casa Cuervo, é produzida aos pés de um vulcão, na região de Jalisco, no México, conhecida por suas bucólicas plantações de agave azul. @1800tequila

“A VIDA É UMA DANÇA DAS CADEIRAS. NUM DIA SENTADO; NOUTRO, DE PÉ” CARPINEJAR

PRONTOS PARA O VERÃO?

Em sua nova coleção de óculos de sol, a Cartier apresenta sua já conhecida elegância atemporal, em modelos como o Santos de Cartier, com acabamento de rutênio escuro escovado, e o C de Cartier, com aro dourado e lentes gradientes verdes. @cartier

ESTÉTICA IMPECÁVEL

Lançada em 2009, a badalada coleção Great Characters de Montblanc já homenageou nomes como Leonardo da Vinci, Walt Disney e Elvis Presley. Agora, pela primeira vez na história, um personagem de ficção figura nessa lista. The Great Gatsby, protagonista do livro de F. Scott Fitzgerald, foi imortalizado em uma série de canetas que acaba de chegar ao Brasil. São cinco edições, cada uma apresentando elementos de design que evocam um aspecto diferente da vida do personagem. Seja um brasão com as iniciais de Jay Gatsby, um clipe inspirado em um porta-notas – fazendo referência ao significado de riqueza e sucesso como medida do sonho americano, ou até mesmo o padrão do topo, que lembra um clássico terno risca de giz, traje considerado, à época, um símbolo de status. A linha é limitada a 1925 peças, número que homenageia o ano de publicação do romance e seu grande astro que, mesmo 100 anos depois, continua tão fascinante e influente. @montblanc

HORAS NA PISTA

Se você acompanha corridas esportivas já deve ter notado um item em comum nos pulsos dos integrantes da Mercedes-AMG Petronas, a equipe oficial da Mercedes-Benz no Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA. É porque todos os membros responsáveis pelos carros dirigidos pelo heptacampeão mundial Lewis Hamilton e pelo vencedor do Grand Prix George Russell – incluindo designers, aerodinamicistas, engenheiros de corrida, estrategistas e mecânicos – exibem em seus braços o relógio oficial da equipe, o IWC Pilot’s Watch Chronograph 41 Edition “Mercedes-AMG Petronas Formula One™ Team”. A peça-desejo apresenta mostrador com acabamento brilhante Super-LumiNova® e caixa feita de Ceratanium®, material inovador desenvolvido pela IWC, que combina a leveza e a integridade estrutural do titânio com a solidez e a resistência a riscos da cerâmica. O relógio está à venda na Boutique IWC Schaffhausen no Shopping Iguatemi, em São Paulo. @iwcwatches | @frattina

CURADORIA

A loja Bégê, inaugurada recentemente em São Paulo, rende uma divertida visita. Com ferramentas, bebidas vintage, roupas, presentes e utilidades mil – tudo com perfume retrô –, é o endereço perfeito para um garimpo. Lá você encontra desde de bola de botcha dos anos 1950 a peças de tapeçaria andina. No andar de cima, um simpático espaço de encontros com 21 lugares. Um minibar que serve petiscos, drinks autorais e ótimos vinhos naturais. @begeloja | @bardabege

VIBE ESPORTIVA

L001 Set é o novo tênis da Lacoste. Um modelo casual sofisticado que une inspiração esportiva e design atemporal. São três variações – do clássico ao premium, feito de couro nappa –, todas com detalhes simples e o inconfundível estilo francês característico da marca. @lacostebrasil

AMARO AVIATION: VOOS CADA VEZ MAIS ALTOS

A empresa nacional de aviação executiva, comandada por Marcos Amaro e João Mellão, duplica sua frota e atende às necessidades dos mais exigentes clientes

“Estudos do mercado indicam um crescimento em torno de 100% do nosso setor nos próximos cinco anos”

2025 começa com voos ainda mais promissores para a Amaro Aviation, referência nacional em aviação executiva. Há pouco tempo, a empresa duplicou sua frota, que já operava as asas fixas PC-12 NGX (turbo-hélice) e PC-24 (jato) – aeronaves da fabricante suíça Pilatus. Agora, a chegada do helicóptero bimotor Bell 429 marca sua primeira asa rotativa para o serviço de táxi aéreo, oferecendo fretamentos pontuais para diversos destinos. Com uma frota composta de helicóptero, turbo-hélice e jatos, a Amaro Aviation oferece serviços de Fretamento, Flight Pass, Propriedade Compartilhada e Gerenciamento de Aeronaves. “O ano de 2024 foi muito positivo: dobramos a frota e tivemos um aumento significativo de clientes. Ao oferecer mais disponibilidade e opções de aeronaves, os clientes podem voar ainda mais conosco”, celebra João Mellão, fundador da Amaro ao lado de Marcos Amaro.

Por meio do Flight Pass, os clientes compram um pacote de horas antecipadas – entre 50 e 100 horas anuais – para voar em sua aeronave de preferência. Já a Propriedade Compartilhada proporciona a oportunidade de adquirirem uma aeronave por uma fração do custo total, ao dividirem os custos fixos mensais com outros coproprietários. E o novo serviço de Gerenciamento de Aeronaves agrega mais duas aeronaves à frota da

Amaro Aviation, sendo um jato Citation Excel e um jato Phenom 300E. O serviço possibilita que os proprietários de aeronaves terceirizem os cuidados necessários para a Amaro Aviation, garantindo melhores condições de seguro, hangaragem, combustível, manutenção, gestão da tripulação e treinamentos.

E os planos de crescimento não param: ainda em 2025, a empresa receberá novas aeronaves, seu segundo Bell 429, por meio do Gerenciamento, e o Leonardo AW09, o mais novo helicóptero monoturbina do mercado, que será lançado no Brasil pela Amaro Aviation. Projetado na Suíça, o helicóptero utiliza novas tecnologias, como amplo uso de materiais compostos, oferece uma cabine maior, com capacidade para até oito ocupantes, e mais larga que a de seus rivais, com espaço e capacidade similares aos biturbinas médios. A empresa ainda pretende adquirir uma aeronave de longo alcance, para oferecer mais destinos aos seus clientes, de alcance intercontinental. O entusiasmo com os novos projetos tem razão de existir: “Estudos do mercado indicam um crescimento em torno de 100% do nosso setor nos próximos cinco anos, não só no Brasil, mas na América Latina também”, conta Marcos Amaro. Para a Amaro Aviation, o céu é, literalmente, o limite. @amaroaviation

João Bertholini

OPERAÇÃO NAVAL

POESIA

Em celebração aos seus 10 anos, o Centro Cultural Instituto Ling, em Porto Alegre, recebe, em parceria com o Instituto Tunga, a exposição A Poética de Tunga - Uma Introdução. Com curadoria de Paulo Sergio Duarte, a mostra apresenta uma seleção de 60 obras bidimensionais – grande parte delas inédita – de diferentes fases do artista pernambucano. As pinturas, gravuras e instalações do desenhista, que faleceu em 2016, podem ser apreciadas nessa primeira individual de Tunga na cidade de Porto Alegre até março de 2025. @instituto.ling | @institutotunga

Batizado de Pelagos FXD GMT, o novo relógio da Tudor alia precisão e inovação – atendendo até mesmo às necessidades da Aviação Naval Francesa, permitindo monitorar três fusos horários simultaneamente, incluindo a hora Zulu, que é o tempo de referência militar para missões globais. Com certificação Master Chronometer METAS, o modelo traz desempenho inigualável, mesmo nas condições mais adversas, nas quais trabalham as equipes da Aéronautique Navale. @tudorwatch Fotos Fran Parente, Gabriella Portilho, Herbert Worthington, Leo Feltran, Ling, Ricardo Carvalheiro, Ricardo Lage, Studio des Fleurs e divulgação

INVESTIMENTO ELÉTRICO

Presidente da Porsche, Peter Vogel, fala sobre eletrificação, combustíveis sintéticos e a opção de escolha de seus consumidores

Como vai ser o futuro? Para a Porsche, ele virá com muitas opções de escolha. Essa é a ideia do presidente da empresa no Brasil, Peter Vogel, ao falar sobre a mobilidade dos próximos anos, em meio a eletrificação, motores a combustão mais eficientes e alternativas para os combustíveis fósseis.

A Porsche, por exemplo, é uma das líderes no desenvolvimento dos combustíveis sintéticos, feitos a partir do hidrogênio e do gás carbônico, capazes de substituir a

gasolina em qualquer motor. Trata-se de uma tecnologia ainda engatinhando, mas viável para um futuro mais limpo e sustentável.

Enquanto essa realidade não chega, a marca tem trabalhado com a eletrificação de sua linha com modelos híbridos e elétricos, como a nova geração do Macan, SUV compacto que chega à sua segunda geração movida a bateria, mantendo a primeira a combustão. Sobre esses e outros assuntos, Vogel conta mais a seguir. @porschebrasil

Retrato
Leka Mendes

Carbono Uomo

“É importante ter uma gama flexível de produtos, porque as condições de mercado mudam”

Como a Porsche enxerga o futuro da mobilidade no segmento de luxo?

Peter Vogel • A mobilidade elétrica está em pleno crescimento. Durante essa fase de transição, é importante ter uma gama flexível de produtos, porque as condições de mercado mudam e as diferentes regiões do mundo se desenvolvem em ritmos diferentes. Nossos clientes poderão escolher entre motores a combustão eficientes, potentes híbridos plug-in e modelos totalmente elétricos durante a década de 2030. Nos últimos anos, a estratégia foi configurada para garantir que as três variantes de motorização estejam disponíveis em cada um dos nossos segmentos (esportivos de duas portas, sedãs esportivos, SUVs esportivos).

Carbono Uomo

Como está o desenvolvimento de combustíveis sintéticos?

Peter Vogel • Nós vemos os eFuels como uma grande solução tecnológica e uma estratégia complementar à mobilidade elétrica. Tecnicamente, são combustíveis sintéticos, produzidos a partir de hidrogênio e CO2 extraídos da atmosfera. Eles oferecem as mesmas especificações que a gasolina padrão e podem ser usados em qualquer motor existente, sem modificações. Levará muitos anos para que toda a frota global faça a transição para os veículos elétricos. Enquanto isso, os eFuels podem ser utilizados sem restrições técnicas nos carros com motores a combustão, reduzindo a pegada total de CO2

Carbono Uomo

Os clientes da Porsche têm alguma resistência em relação à eletrificação, especialmente os entusiastas dos carros esportivos da série 911?

Peter Vogel • O Porsche 911 é a prova de que tradição e inovação podem avançar juntas. Os novos modelos Porsche 911 GTS trazem uma surpreendente revolução técnica. Pela primeira vez, a hibridização de desempenho — conhecida como T-Hybrid — está sendo usada nos modelos 911 GTS. Sempre trouxemos novos desenvolvimentos pioneiros da pista de corrida para as ruas. No novo 911 GTS, o conceito T-Hybrid é muito semelhante às soluções desenvolvidas com o Porsche 919 Hybrid, três vezes vencedor das 24h de Le Mans.

Carbono Uomo

A Porsche também vende carros híbridos plug-in. Esse tipo de tecnologia é uma fase de transição ou terá um lugar permanente na linha?

Peter Vogel • A combinação de motores a combustão de ponta e pequenas e leves baterias traz vários benefícios. A chave está na capacidade de cobrir grandes distâncias totalmente elétricas e, simultaneamente, viagens ocasionais de longa duração com o motor a combustão. Quando usados em combinação com combustíveis regenerativos, isso abre a perspectiva de uma mobilidade quase neutra em carbono. No momento, os PHEVs estão facilitando o acesso dos clientes à mobilidade elétrica, contribuindo para o rápido aumento de sua adoção.

Carbono Uomo

Como foi o desenvolvimento do novo Macan?

Peter Vogel • Nosso foco com o Macan totalmente elétrico foi em uma dinâmica de condução excepcional. Oferecemos o modelo mais esportivo do segmento com o desempenho típico da marca: valores de performance superlativos e estáveis, carregamento ultrarrápido e grande autonomia. O DNA de design da Porsche está naturalmente presente e a tecnologia conta com muitas inovações.

Carbono Uomo

Como você vê o Macan elétrico em comparação aos modelos a combustão?

Peter Vogel • Com o novo Macan oferecemos um ecossistema completo de soluções para tornar a migração de um carro a combustão para um elétrico o mais conveniente. Entre os exemplos, cito o serviço de instalação doméstica: visitamos sua casa e verificamos se você tem o carregador funcionando antes da chegada do carro. Também é possível ter um segundo carregador. Ideal para quem tem casas em diferentes destinos. O Macan que será oferecido no Brasil tem quatro anos de garantia e a bateria, oito anos.

Carbono Uomo

A infraestrutura ainda é um problema nos elétricos?

Peter Vogel • Durante essa transição, nós, fabricantes, devemos participar e incentivar a construção dessa infraestrutura. Temos alguns projetos importantes com esse objetivo, incluindo um que promete instalar 18 carregadores rápidos até o final de 2024 e outro que prevê mais 20 estações até o final de 2024. Nossos Porsche Centers também estão preparados com carregadores rápidos. Como exemplo, os três carregadores ultrarrápidos de 350 kW disponíveis em São Paulo estão dentro das instalações da Porsche.

MEU BAIRRO

Mario Cohen, empresário e galerista

Para o empresário e galerista Mario Cohen, a região de Punta del Este tem ritmo de slow travel e muita conexão com as delícias da vida no campo

Por Mario Cohen, em depoimento a Adriana Nazarian

Eu nasci em Roma e passei muito tempo na Toscana. Depois da Segunda Guerra Mundial, muitos europeus migraram para a Argentina, caso da minha mãe, e era comum eu visitá-la em Buenos Aires. Os argentinos tinham costume de passar as férias em Punta del Este e foi assim que eu conheci esse destino do Uruguai.

De cara eu me identifiquei com as montanhas da região porque tem certa semelhança com a Toscana. De alguma maneira, estava querendo reencontrar minhas origens. E assim que pude comprei uma terra e construí minha casa em um lugar bem especial e, na época, totalmente fora de circuito. Estou entre La Barra, um antigo vilarejo de pescadores que cresceu muito nos últimos anos, e San Carlos, onde moram os fazendeiros da região.

Ainda em 2005 tentei produzir azeites aqui na minha propriedade. Trouxe oliveiras da Itália e da Espanha, mas, na época, o mercado ainda não tinha espaço para esses produtos mais artesanais. Há dois anos, com toda essa expansão do

universo gastronômico, me animei e retomei minha produção, em um terreno em San Carlos – a primeira colheita será em março de 2025.

Hoje, apesar de morar no Rio de Janeiro, passo cerca de seis meses por ano no Uruguai. E é nessas vizinhanças que circulo e faço a minha vida local: me abasteço em La Barra e trabalho em San Carlos. O tempo passa e fico cada vez mais à vontade aqui. Posso dizer que é onde me sinto em casa. É uma vida mais perto do chão, mais real, algo que gosto muito.

Para mim, o grande desafio da tecnologia é a sua relação com o tempo real das coisas, e nessa região isso parece ser mais verdadeiro. Aqui, eu vou pessoalmente atrás de coisas que um motoboy me traria, o que acho muito mais autêntico e especial. Principalmente em San Carlos, que tem um turismo mais tranquilo. Compro veneno de formiga na cooperativa dos fazendeiros, frequento uma feirinha de orgânicos ao lado dos cozinheiros dos restaurantes, participo de sessões de cinema e outros eventos culturais. Sem tanta pressa.

punta del este

01

SALÓN NÚMERO 3

“Pelo menos uma vez por semana bato ponto nesse restaurante de La Barra. Fica dentro da Zink, loja de meu querido amigo Aaron.”

@salonnumero3comedor

02

BARRACA RURAL DEL ESTE

“Há 50 anos servindo a vida no campo. Aqui encontro de tudo. Desde uma cela até ração para os animais.”

@barraca.rural.del.este

03

DON JULIO CARNICERÍA

“Descoberta recente e fora do circuito, frequentada por locais. Sempre com fila na porta, atendem um cliente por vez, sem nenhuma pressa. A melhor carne para o pessoal que entende do riscado.”

32XW+7CG, 20000

sete acertos

“Com sua austera arquitetura colonial portuguesa, essa linda catedral fica ao lado da antiga estação de rádio e do cinema de San Carlos.”

Sarandi, 20400

05

06 07 04 LA LINDA

LAS LANDAS CAFÉ BORNEO CATEDRAL DE SAN CARLOS

“Esse viveiro é a minha Disney. Posso passar uma tarde toda lá dentro tranquilamente.”

@laslandasvivero

“Padaria e café de uma amiga minha das antigas, Marie Thereze. Além dos pães, cafés e doces deliciosos, meu prato preferido é a Torta Vasco, espécie de cheesecake com uma ‘escala’ na Espanha.”

@lalindabakery

“Meu lugar à tarde para um cappuccino e uma chipa –sem glúten –, ou uma kombucha. É o ponto de encontro dos surfistas de La Barra e fica aberto o ano inteiro.”

@borneocoffee.uy

De corpo e alma

Selton Mello, ator

Com mais de 40 anos de carreira, Selton Mello volta ao cinema em duas atuações marcantes. Direto de Veneza, ele fala sobre o momento especial de sua trajetória e as emoções vividas no premiado filme de Walter Salles

Por Janaina Pereira, de Veneza

Selton Mello chega para conversar comigo com a naturalidade de quem já concedeu centenas de entrevistas. O ator, dublador, produtor e diretor estava no início da jornada de sucesso do filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, apresentado ao mundo pela primeira vez menos de 24 horas antes, na 82ª edição do Festival de Veneza.

Aos 51 anos e com mais de 40 de carreira, ele tem muitas histórias para contar – e algumas delas estão no livro Eu Me Lembro, sua biografia lançada no final de 2023. Mas o atual momento é especial: no longa de Salles, Selton interpreta o ex-deputado Rubens Paiva, pai do escritor Marcelo Rubens Paiva (autor do livro homônimo que deu origem ao filme), que desapareceu durante a ditadura militar. Para o papel, engordou 20 quilos, e a entrega física e emocional ao personagem surpreendeu até quem o conhecia, como o próprio Marcelo. “Eu não tinha pensado nele para fazer o meu pai. Mas quando foi escalado e começou a se transformar,

deixou o bigode... foi um choque. A gente vê as fotos e pensa ‘não é possível, é igual’”, conta Marcelo Rubens Paiva. O trabalho minucioso de Selton e da equipe deu ao filme uma projeção mundial que o cinema brasileiro não tinha há algum tempo. Vencedor do prêmio de melhor roteiro em Veneza, é o representante nacional a uma vaga na categoria de melhor filme internacional do Oscar 2025. O objetivo, no entanto, é mais ambicioso: fazer o longa ser indicado em outras áreas, repetindo o feito de Central do Brasil, também de Walter Salles – indicado a melhor filme estrangeiro e melhor atriz em 1999 – e Cidade de Deus, de Fernando Meirelles – sugerido em quatro categorias em 2004, incluindo melhor diretor e melhor roteiro adaptado.

Nesta entrevista exclusiva, Selton Mello – que ainda este ano estreia outro longa nos cinemas, o aguardado O Auto da Compadecida 2 – comenta sobre o trabalho e o momento especial da carreira.

Carbono Uomo

Você nunca tinha trabalhado com o Walter Salles. Como foi essa experiência?

Selton Mello

É muito emocionante observar o Waltinho trabalhando do jeito que ele faz. É muito peculiar e bonito mesmo ver um artista dessa grandeza em ação.

Carbono Uomo

Uma das coisas que mais chamam a atenção em Ainda Estou Aqui é a reconstituição de época. Como isso funcionava para os atores no set?

Selton Mello

Era assim: a vitrola que você vê no filme, não era apenas uma vitrola. Era uma vitrola que alguém da família [Paiva] emprestou. E que veio lá de Presidente Prudente... Tudo era real. Os objetos tinham vida. Era tudo com vida. Como o Waltinho vem do documentário, ele tem um olhar muito apurado e sensível para o que é fake , para o que está fazendo e não sendo.

Carbono Uomo

Walter Salles era amigo de infância de Nalu, uma das irmãs de Marcelo Rubens Paiva, então esse filme envolvia algo pessoal para ele. Isso era perceptível nas filmagens?

Selton Mello

Sim, porque ele esteve naquela casa. Ele corria por aquela porta e ia com aquelas crianças para a praia. O desaparecimento do Rubens fechou aquela casa também para quem estava em volta, inclusive para o Waltinho. A música, o cinema... Foi aquela família e aquela casa que abriram para ele esse mundo.

Carbono Uomo

Embora Rubens Paiva seja o centro da trama, o filme e o livro são sobre Eunice Paiva, esposa dele, e a forma como ela lidou com a perda do marido. A atuação de Fernanda Torres está sendo muito elogiada. Como isso chegou até você?

Selton Mello

Não é nenhuma loucura dizer que a performance

“Estou em constante movimento, melhorando, crescendo, aprendendo”

da Nanda é uma das maiores femininas do mundo neste ano. E estão lá cotadas Nicole no filme dela [Kidman, pelo filme Babygirl ], Angelina [Jolie, pelo longa Maria ]... e a Nanda ali também. Eu fico feliz porque eu admiro e torço por ela.

Carbono Uomo

E como foi a parceria entre vocês?

Selton Mello

Meu papel era, de alguma forma, iluminar o caminho que ela precisava para seguir adiante... E parte do meu trabalho era ser, literalmente, o ator coadjuvante. Isso está lá, de uma forma muito delicada e linda como tudo o que o Walter faz.

Carbono Uomo

Embora o Rubens desapareça, de certa forma a presença dele permanece até o fim do filme. Como foi construir um personagem com esse olhar da presença e da ausência o tempo todo?

Selton Mello

Foi um desafio. Eu não podia atuar sabendo o que aconteceria depois. Parece razoável, mas é superdifícil. O dia em que fui fazer a cena [do desaparecimento de Rubens Paiva] e a polícia vem... eu sabia o que ia acontecer. Mas eu não podia transparecer.

Carbono Uomo

Exatamente como o Rubens não pôde transparecer para a família.

Selton Mello

Exato! Eu tinha que ter aquele jeito de “vou resolver, o pessoal do Pasquim foi solto, vou voltar à noite ou no máximo amanhã”. Precisava passar tranquilidade para a família. Eu não podia... O Selton não podia estar comovido. É um exercício

de concentração, ou desconcentração, muito rico e interessante.

Carbono Uomo

Fernanda disse que seu papel é o melhor porque você trabalhou poucos meses [Walter Salles levou sete anos para realizar o longa, sendo um deles dedicado às filmagens].

Selton Mello

E foi isso mesmo (risos). Enquanto ela ainda estava fazendo o filme, interpretando a parte difícil do sofrimento de Eunice, eu já estava lá com o Guel [Arraes, com quem Selton trabalhou em O Auto da Compadecida 2 , que estreia em breve].

Carbono Uomo

Como foi sair desse personagem para voltar a ser o Chicó em O Auto da Compadecida 2 ?

Selton Mello

Foi difícil perder o peso que ganhei para o Rubens (risos). Vinte quilos. Muita coisa, mas deu certo. São universos diferentes em que pude explorar lados distintos. Tive um mês e meio entre os projetos, um tempo intenso para mergulhar na linguagem sensível do primeiro filme e depois focar em uma linguagem mais lírica e hilária do Auto 2 . Na verdade, Chicó nunca saiu de mim. Entre todos os personagens da minha carreira, foi o mais marcante, o que mais me acompanhou durante os anos. Era como se eu só precisasse colocar a roupa para me tornar ele novamente.

Carbono Uomo

E como foi reencontrar o Matheus Nachtergaele e o universo de Ariano Suassuna mais de 20 anos depois do primeiro filme?

Selton Mello

Foi um reencontro maravilhoso porque nesse tempo todo não trabalhamos juntos, mas continuamos uma dupla no imaginário brasileiro. Quando a gente se junta é para fazer João Grilo e Chicó. Então a gente aproveita para trocar e botar o papo em dia. Temos muitos assuntos nesses 20 anos! Sobre o universo do Ariano, ele é um verdadeiro mestre. Quando eu o conheci, ele me disse ter ficado muito fã do Chicó que eu fiz, tanto que tinha um sonho de fazer uma nova peça para o Chicó. É uma relação de muita gratidão por toda a genialidade dele.

Carbono Uomo

Sua carreira é feita de grandes momentos, mas podemos dizer que o atual é um dos mais especiais?

Selton Mello

Sem dúvida é um momento único. Eu tinha esse sonho de trabalhar com o Walter Salles e com a Fernanda Torres juntos desde que assisti a Terra Estrangeira , em 1996. Foi uma surpresa maravilhosa, um trabalho superdelicado, filmado em película, na ordem cronológica, tudo muito raro. Em seguida, Guel Arraes e Flávia Lacerda mexeram com a minha memória afetiva e retomei o comando de dar vida ao Chicó, personagem que foi abraçado pelo Brasil inteiro. As duas produções foram especiais porque me tocaram e me comoveram. Estou em constante movimento, melhorando, crescendo, aprendendo. Espero ver as salas de cinema cheias em Ainda Estou Aqui e O Auto da Compadecida 2

Chicó e João Grilo, em uma das cenas de O Auto da Compadecida 2
Em Ainda Estou Aqui, Selton dá vida a Rubens Paiva

FEITO DE LINGUAGEM

Sartre, em sua biografia sobre Jean Genet, escreveu algo que nunca esqueci: “A genialidade não é um dom, é a saída que se inventa para situações desesperadas”.

Genialidade à parte, essa frase diz algo sobre a origem de minha história como leitor. Comecei a ler por desejo – fora dos deveres escolares –, um pouco por oportunidade e um tanto por desespero. A oportunidade: diferentemente da canção biográfica de Caetano Veloso (“quase não tínhamos livros em casa”), cresci num lar com bons livros. O desespero: aos 14 anos, estava numa fase muito ruim e os livros se apresentaram como uma possibilidade de refundar minha identidade por meio do conhecimento. Nós somos feitos de linguagem e, pelos livros, eu construí um outro eu-linguagem.

Mais do que um simples entusiasta da leitura, o filósofo, letrista e compositor Francisco Bosco encontrou nos livros uma maneira de se reinventar e redefinir sua identidade que seguiria uma carreira acadêmica. Entrei no mestrado em Teoria da Literatura, na UFRJ, ao qual se seguiu um doutorado. Fui professor universitário por um breve período. Quando defendi minha tese de doutoramento, tomei a decisão de não prestar concurso, e tenho vivido como intelectual público freelancer desde então.

Na infância, eu lia com avidez os gibis da Turma da Mônica. Mas foi por volta dos 15 anos que comecei a ler bons livros adultos, que eram parte central do “cânone ocidental” (hoje tanto cânone quanto Ocidente são dois termos que foram profundamente desconstruídos). Comecei a me tornar leitor por meio de romances, sobretudo do século 19 (Balzac, Stendhal, Machado de Assis, Dostoiévski...) e poesia lírica pré-modernista. Lembro-me de vagar por aí com Crime e Castigo debaixo do braço.

Aos 17 anos, sofri um acidente grave, que me deixou convalescendo por quase um semestre. É um marco na minha vida. O isolamento forçado propiciou que eu renunciasse a pessoas e situações que me enfraqueciam e me dedicasse a um processo de “reinvenção do eu” por meio dos livros, da escrita, de uma nova linguagem. Saí desse processo com uma identidade nova, de leitor e escritor, que desde então só se aprofundou. Narrei esse episódio em alguns textos. Um deles está no meu livro E Livre Seja Este Infortúnio, de 2010.

Cursei jornalismo porque me pareceu a melhor forma de conciliar o meu desejo com uma profissão viável (isso era antes da internet). No meio do curso, entendi que deveria bancar meu desejo a fundo, e já ali decidi

Se estou pesquisando para escrever, busco argumentos que me ajudem a compor meu trabalho. Se estou em períodos de intermezzo, com o desejo mais flutuante, desengajado de uma pesquisa específica, geralmente leio livros teóricos ou ensaísticos dos campos com que costumo dialogar: a filosofia, as ciências sociais, a psicanálise. Fiquei muitos anos sem ler ficção e poesia. Recentemente, voltei a ler romances, sobretudo antes de dormir. Mas, seja em que gênero for, não suporto livros ruins. Só leio livros bons. Eu gosto de canções “ruins” (frívolas, para entretenimento), de séries ruins (idem), de programas de TV ruins (ibidem) – mas só leio livros bons, inteligentes, densos, complexos, que me enriquecem.

A maior parte da minha vida é dedicada a livros argumentativos. Eles me proporcionam um estado de concentração e de desafio cognitivo, com momentos de euforia diante de argumentos novos. Mas também de tédio ou de dissabor, quando discordo da argumentação. E ainda, momentos de epifania diante de perspectivas amplas e originais sobre o mundo. Isso só ocorre se estou lendo um pensador novo. Um pensador é um escritor que reinaugura o mundo. Ele te oferece lentes com as quais você enxerga muitos fenômenos de uma forma diferente.

Para os ensaístas, como eu, a leitura e a escrita são faces da mesma moeda. Só posso escrever sobre determinado assunto depois de ter lido argumentos sobre o problema que me proponho a abordar. É preciso conhecer o estado da arte de uma questão para tentar oferecer a ela uma perspectiva diferente. Do contrário, você certamente estará condenado a uma repetição irrelevante.

Francisco Bosco, filósofo

NO CAMINHO DE SWANN

Marcel Proust | RBS

Proust é desses autores de que podemos não gostar de primeira, mas vale insistir. Sua frase é árdua, porque costuma ser longa e com diversas mudanças de direção. Mas, passada a arrebentação, descortina-se um universo de inteligência sofisticadíssima, no espaço híbrido entre a narrativa e o pensamento.

O PRAZER DO TEXTO

Roland Barthes | Perspectiva

Barthes foi meu maior guia, sobre ele escrevi minha dissertação de mestrado e minha tese de doutorado. É um dos poucos autores de que li (quase) todos os livros e o que mais formou meu modo de pensar, de escrever e até de ler. Esse é um livro oposto ao espírito do nosso tempo – e por isso mesmo merece ser relido.

A PAIXÃO SEGUNDO G.H.

Clarice Lispector | Rocco

Os livros de Clarice costumam se mover simultaneamente num plano narrativo e, em outro, metanarrativo. A consciência da escritora é um personagem tanto quanto os demais. É uma literatura moderníssima, mas que se lê com grande prazer. A Paixão Segundo G.H. é um de seus livros de que mais gosto.

Filósofo do direito e da política, o italiano Bobbio tem obras vultosas, mas esse opúsculo segue sendo a mais concisa e mais clara definição das duas grandes orientações ideológicas que definem a experiência política desde o século 18. Bobbio é um dos autores que melhor representam minha orientação política.

Um escritor fronteiriço entre o realismo do século 19 e o modernismo do 20. Seus maiores romances contêm experiências formais típicas do modernismo, mas são ainda ancorados numa realidade social que ele descreve com uma ironia e uma perspicácia incomparáveis. Dom Casmurro entrelaça críticas de classe e de gênero, de um modo à frente de seu tempo.

Esta lista precisava abordar um assunto central na minha vida: a experiência parental. E ninguém me ensinou tanto quanto a psicanalista Françoise Dolto. Mistura de Lacan com Clarice Lispector, ela deu dignidade de sujeito às crianças e defendia uma pedagogia baseada em linguagem e esclarecimento. O livro responde a dúvidas de mães e pais sobre a formação de seus filhos.

A INCONSTÂNCIA DA ALMA SELVAGEM CASA-GRANDE & SENZALA ILUMINAÇÕES

Eduardo Viveiros de Castro | Ubu Editora Gilberto Freyre | Global Arthur Rimbaud | Todavia

Um monumento sobre nossa formação social, escrito com erudição e uma prosa rítmica e imagética. É possível argumentar, entretanto, que, mesmo sem esconder as violências constitutivas do processo, seu tom condescende com elas em nome do elogio à miscigenação. Um clássico indisputável, mas sob fortíssima disputa.

Viveiros é talvez o intelectual mais original do Brasil no século 21. Inscreve-se na vertente da antropologia que estuda os indígenas enquanto indígenas, não como brasileiros. No ensaio O Mármore e a Murta revela a razão do desconcerto dos jesuítas com a inconstância ambígua dos indígenas.

O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO O GENOCÍDIO DO NEGRO BRASILEIRO

Sigmund Freud | Penguin-Companhia Abdias do Nascimento | Perspectiva

Para mim, Freud é o maior pensador do século 20. Esse grande ensaio faz parte de seus textos que, para além do desenvolvimento da teoria psicanalítica e de sua clínica, pensaram de modo mais abrangente temas culturais fundamentais, como a religião e a origem da civilização.

Fui formado num tempo em que o cânone literário e teórico era dominado por homens, brancos e europeus. Revi essa formação nos últimos anos. Abdias é central para entendermos a questão do negro no Brasil. Seu livro é a nêmesis de Freyre: tudo o que este une Abdias separa, revelando o outro lado da miscigenação e da mestiçagem no nosso processo social.

Quando comecei a escrever poemas, lia pré-modernistas que usavam formas fixas, tom solene e sombrio. Sob o sol carioca, eu soava como um poeta tísico do século 19. Qual não foi meu choque quando li Rimbaud. Era aventureiro, mas marcou a literatura por fundar uma tradição de linguagem verbal abstrata, pura superfície e materialidade.

PELES NEGRAS, MÁSCARAS BRANCAS

Frantz Fanon | Ubu Editora

Psiquiatra e ativista, o escritor deixou uma marca no pensamento e na luta anticoloniais, mesmo tendo morrido aos 36 anos. Diante das questões raciais e descoloniais, é uma figura incontornável e ambivalente. Nessa obra ele se revela um universalista, enquanto em Os Condenados da Terra se aproxima mais do modo como a questão racial tende a ser pensada hoje.

O GRANDE ATOR

Em um cenário meio artsy, meio arquitetônico, Rodrigo Lombardi adiciona estilo e personalidade aos clássicos do guarda-roupa masculino

Fotos João Viegas

Direção de arte Mona Conectada

Edição de moda Jeff Ferrari

Grooming Jô Portalupi

Agradecimento Loja +55 Design

Perfil | RODRIGO LOMBARDI
TRICOT E CALÇA ARAMIS • PULSEIRA LIBERTY ART BROTHERS ÓCULOS ZEREZES • CINTO ACERVO
POLO E CALÇA FENDI
CORRENTE E PULSEIRA LIBERTY ART BROTHERS
RELÓGIO IWC PARA FRATTINA • LOAFERS LOUIE

NESTA PÁGINA FULL LOOK BURBERRY CINTO 7 FOR ALL MANKIND RELÓGIO CARTIER

NA PÁGINA ANTERIOR CAMISA FERRAGAMO

NESTA PÁGINA

TRICOT E CALÇA ARAMIS

PULSEIRA LIBERTY ART BROTHERS

RELÓGIO OMEGA

CINTO ACERVO

NA PÁGINA AO LADO CAMISA VILEBREQUIN

BLAZER E CALÇA HANDRED

ÓCULOS MONTBLANC BY PROTUS GROUP

PULSEIRA LIBERTY ART BROTHERS

LOAFERS BOUJI

NESTA PÁGINA

POLO E CALÇA LOUIS VUITTON

ÓCULOS ZEREZES • RELÓGIO OMEGA

PULSEIRA GUERREIRO JOIAS • TÊNIS VEJA

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CAMISA POLO RALPH LAUREN

CALÇA 7 FOR ALL MANKIND

PULSEIRA GUERREIRO JOIAS

RELÓGIO PANERAI PARA FRATTINA

NESTA PÁGINA
CAMISETA ARAMIS • CALÇA OSKLEN
CINTO 7 FOR ALL MANKIND
RELÓGIO MONTBLANC • BOTAS LOUIE
NA PÁGINA AO LADO
POLO E CALÇA LOUIS VUITTON
TÊNIS VEJA

NESTA PÁGINA

CAMISA VILEBREQUIN

NA PÁGINA ANTERIOR

BLAZER BOSS

CAMISETA INTIMISSIMI UOMO

PULSEIRA LIBERTY ART BROTHERS

RELÓGIO ROLEX

FORMA E CONTEÚDO

A beleza e o carisma de alguém que está há mais de 20 anos na TV carregando o título de galã podem esconder boas histórias fora da ficção. Nesta entrevista, o ator Rodrigo Lombardi reflete sobre sua profissão e rememora momentos marcantes de antes da fama

Rodrigo Lombardi é o tipo de pessoa que não passa despercebido. Com sua estatura de 1,83 m, desce as escadas em ritmo acelerado: os ombros largos e a roupa folgada que ele veste ditam o ritmo de um modelo na passarela – um andar até um pouco forçado, mas preciso. E quem disse que não pode haver elegância em movimentos ensaiados?

Afinal, ele está no meio da sessão de fotos que ilustram esta edição da Carbono Uomo, trocando de look a todo instante e, provavelmente, também atuando em certos momentos. Enquanto faz o seu melhor, entona árias para manter as cordas vocais aquecidas, como se fosse subir no palco dali a pouco. Ao perceber que ele notou a minha presença, dou um “Oi!” rapidamente. Então Rodrigo

pausa a cantoria, retorna e oferece um aperto de mão amigável. “É você quem vai fazer a entrevista?”, pergunta, quase adivinhando.

Fazia pouco mais de um mês que Molina, o vilão da novela Mania de Você, seu papel mais recente na TV, havia sido assassinado na trama. Rodrigo começava a se sentir mais próximo de si mesmo, livre para realizar projetos que idealiza desde o início de sua carreira. “Meu contrato com a Globo está acabando e eu vou voltar para o mercado”, revela. Isso não impede, no entanto, que ele protagonize outra novela da emissora daqui a algum tempo. E para quem gosta de “saídas triunfais”, em Mania de Você Rodrigo contracenou pela primeira vez com Adriana Esteves, o que ele considera um presente. “O [autor] João Emanuel

[Carneiro] disse: ‘Sintam-se à vontade para deixar [o texto] na boca de vocês’. Portanto, a gente foi criando”, relembra. “Até na hora do jantar elaborávamos ideias para a cena. E assim nasceu essa parceria. Foi uma experiência muito boa. Espero que o público também tenha gostado.”

Apesar de Molina ter morrido na primeira fase da novela, Rodrigo teve tempo de fazer a cabeça em mais uma atuação como vilão. Para ele, interpretar alguém inescrupuloso é praticamente como percorrer uma estrada mais larga, sem limites. Mas, enquanto as possibilidades aumentam, é essencial traçar um plano de voo para evitar o risco de decolar sem destino. “Eu sigo uma linha mais junguiana, em que trabalho com arquétipos”, explica.

POLO LOUIS VUITTON • ÓCULOS ZEREZES • RELÓGIO OMEGA

“Já recorri a pessoas públicas e atores [como referência e inspiração], mas prefiro não revelar nomes porque parece que fica menor. Mesmo assim, tem quem adivinhe”, garante.

Com convicção, também afirma que em nada se parece com os galãs que já interpretou, especialmente os que viveu aos seus trinta e poucos anos. Tanto o protagonista Raj, de Caminho das Índias, quanto o antagonista Alex, de Verdades Secretas, são figuras distantes do verdadeiro Rodrigo Lombardi. “É tanto tempo emendando uma coisa na outra que você se afasta até de você mesmo”, explica. “Já vi grandes gênios e pensadores se desdizendo. Então por

sou essa pessoa, porque não trabalho com imagem.” E acrescentou: “Antes eu via esse senso comum até como um demérito. Questionava se ninguém estava realmente prestando atenção no meu trabalho. Depois, percebi que, na cabeça das pessoas, muitas vezes não há espaço para dois. Tem sempre que existir aquela competição, em que um precisa ser melhor ou mais bonito do que o outro. Mas isso não é real, as coisas são cumulativas.”

Antes da rodada seguinte de fotos, Rodrigo sugere à produção que deixe o tricot manga longa que ele vestia mais acinturado. “A calça já está larga”, justificou. Seu desejo é prontamente atendido com o uso de

“Por que eu tenho que dizer ‘Eu sou assim’ se amanhã posso criar uma síntese que é a antítese da minha última síntese. A vida é fluida. Vamos nos permitir ser fluidos”

que eu tenho que dizer ‘Eu sou assim’, se amanhã posso criar uma síntese que é a antítese da minha última síntese?”, filosofa. “A vida é fluida, vamos nos permitir ser fluidos.”

O sorriso largo, o bom humor e a simpatia de quem não se leva tão a sério, isso sim são marcas que ele mantém 100% naturais. Rodrigo olha um retrato fechado recém-tirado de seu rosto e, sem constrangimento, solta: “Eu gosto dessa cara de Shar-pei”, comparando as marcas de expressão à pele enrugada dos exóticos cães chineses. Por outro lado, a boa forma física e a barba grisalha de um homem de 48 anos talvez lhe concedam uma permanência longeva entre os rostos mais marcantes da televisão. “Vejo que a bajulação faz parte do meu universo, mas, definitivamente, eu não

um prendedor de papel nas costas, diminuindo a largura da roupa. De volta à cena, diz que “agora sim está à la Gene Kelly” e se solta. Varia as posições do corpo e das mãos, muda as expressões corporais e os olhares em poucos segundos, fica parado, anda, sorri, faz cara de sério, coloca a mão na frente do rosto. Também põe os óculos escuros, sugere novos ângulos para a foto e passa a dirigir a cena sem impor nada. O fotógrafo aprova toda essa proatividade, já que a espontaneidade joga a favor de seu modelo. E logo declara que chegou a mais um resultado satisfatório.

CASO DO ACASO

Em vez de traçar planos, Rodrigo ingressou no meio artístico por acaso.

Perto de completar 18 anos, ele só pensava em fazer uma grana para se divertir. Não que se achasse bonito ou atraente – até hoje ele descarta esses títulos – e tampouco atuava. Mas como um amigo já fazia figuração para comerciais, ele resolveu tentar o mesmo. Sem saber como funcionava a seleção de modelos, montou o primeiro book reunindo basicamente seus melhores retratos de família: tinha foto com o cachorro, com o pai, no churrasco com os amigos… Apesar do amadorismo, foi escolhido. Em pouco tempo, conheceu uma empresária que o colocou em uma agência de atores. “Só então eu finalmente decidi estudar teatro”, lembra.

Existe a lenda de que Rodrigo foi descoberto por um olheiro da Globo em 2005, durante um jogo da Libertadores entre São Paulo e Palmeiras. Naquela ocasião, o São Paulo, seu time de coração, venceu o rival por 2 x 0 em casa, se classificando para a próxima fase do principal campeonato de futebol das Américas. De fato, ele estava no estádio, e, após o jogo, ao ser flagrado pela câmera da TV, ainda na arquibancada, aproveitou para gritar mais uma vez o nome do seu time. Mas só acreditou mesmo que estava em uma transmissão ao vivo depois que seu celular começou a ser bombardeado de ligações e mensagens de amigos. “Nenhuma delas foi de um diretor da Globo”, ele garante. Naquele ano, Rodrigo tinha passado no teste para viver o mágico Constantino Zoltar na novela Bang Bang e o contrato já estava assinado. Sem contar que, em anos anteriores, ele já tinha atuado em novelas da Band, do SBT e da Record. “Naquele jogo do São Paulo foi apenas a primeira vez que eu apareci na Globo”, brinca. Longe da equipe, mas ainda diante da câmera, Rodrigo fecha os olhos em um momento de introspecção e se coloca na solidão urbana dos quadros de Edward Hopper. “Eu ainda

vou gravar nesse lugar (na locação do ensaio)”, diz depois de ver uma foto sua que ficou parecida com um cartaz de filme. “Aqui vai ser um bar onde estarei sozinho no último dia de funcionamento, refletindo sobre a vida”, viaja. E assim acabaria a história, com os pensamentos ocultos de seu personagem aguçando a imaginação da audiência. Nas artes plásticas, na música, na literatura e no cinema, ele recorre às suas referências sempre que necessário. Às vezes revê uma atuação de Humphrey Bogart ou de Jean Rochefort, até encontrar respostas para uma única cena que está construindo. “Quando você não entende o seu trabalho como artista, talvez seja hora de cavar mais fundo”, acredita. Ele vê profundidade na música de Tony Bennett, que não saía do toca-discos de seu pai, e não se importa em beber na fonte da MetroGoldwyn-Mayer (MGM), a famosa produtora de clássicos como E o Vento Levou (1939), A Pantera Cor-deRosa (1963) e Rocky (1976). “Sou um ator old school tentando se adaptar aos novos tempos”, resume.

ESTAVA ESCRITO

De volta ao passado, ele agora está com 11 anos, lendo o romance russo que retrata a luta de classes da Rússia da segunda metade do século 19, Humilhados e Ofendidos. “Eu tenho até um pouco de dó de mim, que, com aquela idade, já estava envolvido com [Fiódor] Dostoievski”, diz, de um jeito espirituoso. “É que me impressionou a descrição que ele faz de um homem descendo a rua, detalhada ao longo de 12 páginas. Hoje eu agradeço por ter passado por isso.” E foi bem na hora em que estava mergulhado na obra de Dostoievski que um amigo da família, que era figurinista de peças teatrais, testemunhou a cena cinematográfica daquele garoto devorando um livro que a maioria dos adultos nem se atreve a

chegar perto e perguntou se ele já tinha pensado em ser ator. Obviamente que a resposta foi: “Não”. Mas o destino estava escrito.

Descobrir a solitude ainda na infância foi a chave para se tornar a pessoa de hoje. Nos períodos em que morou no sítio da família em Juquitiba, no interior de São Paulo, seus grandes companheiros de aventura não eram seus quatro irmãos, mas as obras de Anton Tchekhov e Máximo Gorki. “Recordo-me dessa época com saudosismo e carinho, porque, depois que virei ator, foi aquela coisa de ‘vamos em frente’, de você ver as coisas acontecendo rapidamente e ter

que ‘ir abrindo a mata com o facão’”, diz, gesticulando. “Você até aprende no meio do caminho, mas não em uma sala de aula. É na vida mesmo.”

Dá para entender perfeitamente esse sentimento. Quando a presença na tela e nos palcos mexe com o público e você se torna uma celebridade, é normal sentir falta do anonimato, daquele silêncio que nos permite ver as nuances da natureza humana em detalhes. De poder absorver simplesmente observando ao redor. E, o principal: sem ser observado. Que riqueza isso deve ser para um ator. Mas é impossível passar batido sendo famoso e com mais de 1,80 m de altura.

NESTA DUPLA CAMISA VILEBREQUIN • RELÓGIO MONTBLANC

Jairo Malta

Carbono Minds
“As pessoas periféricas estão sempre em carne viva, com dor. Quero mudar isso”

Nascido no Grajaú e movido por um senso de justiça afiado, Jairo Malta fundou uma consultoria de impacto social para levar todo o mundo com ele em busca de uma vida melhor

Por

Entrevistar Jairo Malta é ouvir poucas vezes “eu” e muitas vezes “nós”. Porque o paulistano, nascido no Grajaú, bairro com um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de São Paulo, pensa sempre no coletivo. Com o sonho de mudar a realidade das pessoas periféricas, como ele, Jairo fundou, em 2021, a Corre, uma consultoria de impacto social que “conecta territórios e torna organizações mais sustentáveis”, para usar suas próprias palavras. Em pouco tempo a empresa já desenvolveu trabalhos para marcas como Ambev e Lollapalooza e esteve presente em eventos como a 28ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP28), realizada em 2023 nos Emirados Árabes Unidos.

A ideia da Corre veio após uma viagem para a Amazônia, com o projeto Creators Academy, plataforma que leva influenciadores a biomas brasileiros. Lá, Jairo percebeu que periferia é periferia em qualquer lugar, com todos os problemas que isso inclui, como violência e desemprego.

Aos 36 anos, ele também escreve sobre música no blog Sons da Perifa, do jornal Folha de S.Paulo. E o interesse pela área o levou a trabalhar no Festival Psica, de Belém, após conhecer um dos fundadores. Jairo logo chegou com a ideia de convidar diretores de grandes empresas para conhecer a capital do Pará e investir no festival. Foi assim que ajudou a transformar a atração, que acumulava dívidas, em um evento que captou R$ 10 milhões só via Lei Rouanet em 2023. A seguir, você descobre mais sobre a importância do trabalho do jornalista e articulador social.

O INÍCIO “A Corre começou a partir da insatisfação que carregamos como pessoa da periferia. Não só negra, mas periférica. Como jornalista e designer, trabalhei em empresas de luxo, onde vi o contraste com o que eu conhecia, e isso me ajudou a criar essa indignação. Porque, na periferia, a gente sente que a vida é só trabalho, não pensa em ócio.”

COLETIVO “Eu sou muito cético. Gosto de uma frase do filósofo Mario Sergio Cortella que diz: “evoluir nem sempre é bom, porque câncer também evolui”. As pessoas e empresas olham para o que é pop. Com a morte de George Floyd e de Marielle, passou-se a falar mais da

importância das pessoas pretas, mas cabe às organizações continuar contratando e olhando para essa questão. E se elas não o fazem, que a gente se organize. A Corre é sobre isso: nos organizarmos como grupo e conseguir que a periferia ganhe dinheiro também.”

DIRETRIZ “A Corre tem como objetivo mapear organizações periféricas, criar uma grande rede e ajudar com informação e apoio para captar recursos. Ensinamos a captar. Não queremos deixar as pessoas como reféns, dependendo de nós, como fizeram conosco o tempo todo. Ensinamos a periferia a criar conceito para projetos e criar relacionamentos que tragam impacto social. Agora, por exemplo, estamos em um projeto com a Ambev que vai impactar 18 mil pessoas só no Paraná.”

ABISMOS “Estamos trabalhando agora no Pequeno Manual da Justiça Climática, feito a partir de uma parceria com o Consulado dos Estados Unidos e voltado para a periferia. Como jornalista, eu falo para a periferia entender, porque o que faço é para todo mundo. O bairro Paraisópolis, em São Paulo, fica 9°C mais quente do que o Morumbi quando faz muito calor. Todo o mundo deveria olhar para isso, mas não. Estão querendo fazer um evento de milhares de reais para revitalizar a Barra Funda.”

DIREITO “O Grajaú é um monstro. São 400 mil pessoas vivendo lá. Vitória, capital do ES, tem quase isso. São moradores pensando em trabalho, em pagar contas, que não estão motivados. As pessoas periféricas estão sempre em carne viva, com dor. Quero mudar isso. Tenho uma visão de que posso ajudar meus conterrâneos, abrir caminhos. Todos têm direito ao ócio. Quero comunicar isso, mas sei que essa mudança de comportamento leva tempo.”

DESDE SEMPRE “Sempre fui articulador social. Quando era menor, ajudava na organização da minha mãe – além das milhares de coisas que fazia, ela trabalhava com crianças em situação de vulnerabilidade. Mas sempre penso que o que estou fazendo ainda é muito pouco. E não quero ser visto como um líder. Prefiro fazer parte dessa mobilização junto com os outros.”

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Equilíbrio

Adoro coisas vintage, com história. Seja uma peça de roupa, um objeto de decoração ou um mobiliário. Tenho, por exemplo, uma grande coleção de porcelanas antigas. Mas sempre busco balancear com itens mais modernos, como uma obra de arte contemporânea. Para trazer jovialidade!

Adoro garimpar durante minhas viagens. Quando estive na Coreia recentemente, encontrei esses desenhos em um antiquário e também um carimbo antigo, no qual foi esculpido meu sobrenome em coreano. Eu o tenho usado ao lado da minha assinatura e gostado desse detalhe divertido.

MEU ESTILO

EMPRESÁRIO E INFLUENCER DE MODA E LIFESTYLE (@LUIZ_MAZZILLI)

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Assino embaixo

Como me visto bastante de preto, procuro usar sapatos mais coloridos, com alguma informação de moda. Adoro sleepers e tênis estilo Vans. Muitas vezes, um sapato estampado ou texturizado faz o contraponto necessário entre uma camiseta branca e uma calça básica.

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De olho

Óculos escuros, para mim, são um acessório para todo momento. Desde o auge do verão ao dia mais cinzento do outono. Para qualquer hora! Estão sempre comigo.

LUIZ MAZZILLI
Mala cheia

Caldeirão cultural

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Releitura

Gosto de usar peças clássicas mescladas a itens mais atuais. Por exemplo, um look all-black com uma jaqueta de tweed, meio Chanel – que está bastante em alta no closet masculino –, ou uma calça chino básica, porém com silhueta bem ampliada.

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Para todos

Hoje em dia pode-se tudo dentro da moda. Não existe mais essa ideia de que algumas coisas são somente para mulheres ou para homens. Eu gosto de bolsas, e elas vieram para ficar. Vejo que, atualmente, o homem tem esse espaço. Não precisamos mais andar por aí com os bolsos cheios e o corpo todo disforme!

Memórias

Guardo alguns isqueiros que foram do meu pai, que não está mais aqui. Esse trio é o meu preferido. Um de laca preta e outro de prata, da Cartier, e o terceiro, da Dupont. Estão incorporados à decoração, já que não fumo mais!

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Leio bastante. E, atualmente, estou lendo Uma Vida Pequena, de Hanya Yanagihara. Gosto também de livros decorativos. Acho que uma casa só é viva se recheada de livros. Na minha, tudo se mistura: arte, moda, literatura e decoração. Por exemplo: tenho a edição da obra Decameron, da Cosac Naify (assinada por Giovanni Boccaccio), toda ilustrada pelo brasileiro Alex Cerveny. E em uma das minhas paredes está um dos desenhos originais, adquirido na Galeria Millan.

Bálsamo

Uso o perfume Coromandel, da linha exclusiva da Chanel. Suas notas vão se abrindo ao longo do dia e se transformando em diferentes fragrâncias. Aliás, os elementos asiáticos dos painéis de Coromandel, nome dado aos desenhos que revestem as paredes do apartamento de Coco Chanel, têm tudo a ver com a minha casa: uma mistura do novo com o antigo.

UM HOTEL PARA SE CONTEMPLAR

No coração de Pinheiros e bem próximo da Faria Lima, o hotel Pulso reúne mais de 300 peças de arte e de mobiliário assinado. Guilherme Wisnik, curador do projeto, revela detalhes dessa galeria viva em São Paulo múltipla e a questão poderia ser interpretada de diversas maneiras.”

Cidade com uma oferta única de hotelaria em todo o Brasil, São Paulo conseguiu ganhar uma opção nada óbvia com o Pulso Hotel. Praticamente um oásis cercado de prédios nada convidativos para quem caminha nas calçadas da região da Faria Lima, o empreendimento boutique, que abusa dos conceitos de fachada ativa e térreo de uso misto e aberto ao público, conta com restaurante e boulangerie assinados pela grife Charlô, um bar criado pelo World Class Gabriel Santana e nada menos do que 300 obras de arte distribuídas entre suas áreas comuns e privativas, fruto de uma pesquisa do renomado curador Guilherme Wisnik.

As obras de arte e o mobiliário, assinados por nomes como Geraldo de Barros, Marco Buti, Jorge Zalszupin e Percival Lafer, estão distribuídos entre os 52 apartamentos e outras cinco suítes do Pulso, cuja arquitetura é de Arthur Casas. Um site-specific (obra criada de acordo com o espaço) de 30 metros de comprimento, assinado por Nuno Ramos, adaptado de sua obra “Mácula”, abrilhanta o jardim do hotel, enquanto Carla Caffé criou um mural para a padaria Charlô. “A curadoria diversa do Pulso se baseia em uma visão cultural atrativa de São Paulo”, afirma Wisnik. “Esse, aliás, foi o maior desafio, porque a cidade é

Para tal, o curador decidiu se balizar por dois aspectos essenciais: o fato de São Paulo ter se constituído por uma maioria de imigrantes, e pelo Concretismo, linguagem artística que ganhou força nas décadas de 1950 e 1960. “A escolha não passa exatamente por artistas concretistas, há um ou outro daquele período, mas poucos. São, em geral, artistas contemporâneos, relativamente jovens, mas que trabalham tendo o movimento como uma espécie de base”, Wisnik explica. A seguir, ele conta mais sobre o fio condutor do projeto e curiosidades sobre algumas obras.

Design | BRASIL
Por Artur Tavares Fotos Fran Parente
“Uma calçada larga, um térreo aberto para o passeio. E uma vontade de transformar o quarteirão”

O CONVITE Eu nunca tinha feito esse tipo de trabalho para o mercado imobiliário. Ao visitar o imóvel, ainda em obra, gostei da concepção urbanística. Uma calçada larga, um térreo aberto para o passeio. E uma vontade de transformar o quarteirão num lugar com comércio, árvores e bancos, ao contrário do que acontece em empreendimentos desse tipo, que fecham e têm uma relação antipática com a cidade.

INSPIRAÇÕES Em 2013, quando fui curador da X Bienal de Arquitetura, recebi muitos estrangeiros. Eu quase pedia desculpas por estarmos em uma cidade feia, mas essa não era a impressão deles. Foi uma surpresa. E o sentimento do fundador do Pulso era um pouco esse também. São Paulo é cosmopolita. Como comunicar isso e, ao mesmo tempo, mostrar as singularidades de um lugar que não é Nova York nem Paris? E assim cheguei à imigração, que ajudou a povoar a cidade no final do século 19, combinado com o racionalismo dos movimentos construtivos, do chamado Concretismo da virada dos

anos 1950. Foi nessa década que os grandes museus paulistanos surgiram: o MASP, em 1947, o MAM, em 1948. A indústria bombou, São Paulo assumiu o protagonismo econômico do País e o centro cultural do Rio se deslocou.

MAPA O projeto de interiores da boulangerie do Pulso previa uma pintura de lousa e o cardápio escrito como se fosse a giz. Achei a ideia convencional e sugeri que não fosse realizada. Propus a Carla Caffé pintar um mural com a topografia de São Paulo, com os nomes dos bairros, trazendo um registro da cidade dentro da linguagem do desenho e do mapa. Ela é a artista com o desenho mais livre, é quem mais escapa do paradigma concretista.

REGISTRO Nas gravuras de Alberto Martins dá para perceber mais claramente uma linha que remonta às obras de Amílcar de Castro ou Fernando Villela, outro artista que selecionei. Ele faz uma mistura interessante de fotos com gravuras e pinturas sobre fotos.

MISTURA Andrés Sandoval, talvez o artista mais “novo” da curadoria, mistura desenhos com carimbos, formando impurezas muito bem-vindas.

LINHAS RETAS No campo da fotografia, escolhi artistas como Nelson Kon e Bebete Viégas, que são fotógrafos de arquitetura. A arquitetura é vista pelos seus recortes geométricos, então seria um concretismo do mundo real, não um concretismo da pintura, mas encontrado pela fotografia nas próprias construções.

GALERIA VIVA Existe uma ideia de fazer exposições nas áreas comuns do Pulso. Inicialmente, o jardim atrás do lobby seria apenas contemplativo. Achei que era um desperdício o espaço não ser acessível ao público do térreo. E quando o jardim se tornou frequentável, passou a ser um lugar possível de intervenção artística. Foi aí que me lembrei de um trabalho do Nuno Ramos, feito para a Bienal de 1994. Trata-se de um texto em braille feito com bolas de isopor. Um sitespecific superdescolado e o resultado é meio concretista.

Detalhes do Pulso Hotel, com sua fachada ativa e seu térreo aberto ao público

COZINHEIRO POR ACASO

Chef de um dos endereços mais aclamados do Brasil, Rafa Costa e Silva pensava em abrir um restaurante como empresário quando decidiu estudar gastronomia

Nada de avós que amassavam farinha e água até virar macarrão nem cheiro de bolo saindo do forno. O que marcou a infância do chef Rafa Costa e Silva, do festejado Lasai, restaurante carioca com duas estrelas Michelin, foram os esportes, não a paixão pela culinária ancestral de seus antepassados. Garoto de praia, ele nasceu em uma família de advogados, sem nenhuma ligação com o comércio de alimentos, e cresceu entre partidas de futebol e tênis, esportes que acompanha até hoje com o espírito competitivo que nunca levou para a cozinha. Formado em Administração, Rafa trabalhava havia pouco tempo no mercado financeiro, quando decidiu estudar gastronomia. A ideia era aprender

o básico para abrir um bar ou um restaurante, só que do lado de cá do balcão, como empresário. Depois de um semestre em uma escola de culinária no Rio, no entanto, tomou gosto pelas panelas. E, ainda que não tivesse certeza de que um dia estaria à frente de uma cozinha profissional, resolveu se matricular no curso do Culinary Institute of America (CIA), em Nova York. “Não sei dizer em que momento decidi ser cozinheiro. As coisas meio que aconteceram naturalmente”, conta o chef. Entre um e outro estágio, que acabavam se estendendo e virando empregos, sua história foi forjada na prática. No asiático Vong Kitchen, de Jean Georges, e no francês René Pujol, ambos em Nova York, pegou a batida da

cozinha. “Nesses lugares, ganhei velocidade e adquiri senso de urgência”, diz o chef. A grande virada, no entanto, aconteceu quando foi estagiar no Mugaritz, em Errenteria, no País Basco. Era a primeira década dos anos 2000, período em que a gastronomia molecular, movimento espanhol que mudou a cara da culinária mundial, vivia seu auge. E o restaurante de Andoni Luis Aduriz, expoente da nova cozinha espanhola, era um dos mais concorridos do momento. Rafa combinou que ficaria seis meses por lá. Ficou cinco anos, chegou a ser braço direito do chef.

Andoni se lembra com admiração e respeito do período em que o brasileiro estava à frente de sua

“Rafa é um líder discreto e cozinheiro brilhante, que não busca notoriedade”
Andoni Luis Aduriz

cozinha e teve um problema no joelho. A recomendação médica era ficar de repouso. Mesmo assim ele foi para o restaurante. “Rafa é muito comprometido, um líder discreto e cozinheiro brilhante, que não busca notoriedade”, diz o chef. “Trabalhar com ele foi extraordinário”, completa. Foi justamente durante a temporada basca que surgiu o nome da casa que ele abriria quando retornasse ao Rio de Janeiro. Acostumado com o ritmo que havia adquirido nas experiências anteriores, Rafa chegou ao Mugaritz muito mais acelerado do que pedia a delicada gastronomia de Andoni e a frase que mais ouvia de seus colegas era: “Rafa, lasai [que vem do euskera, idioma do País Basco, e significa tranquilo]”.

De volta à Cidade Maravilhosa, já casado com Malena Cardiel, segunda maître no Mugaritz, começou a desenhar o que seria um dos mais respeitados restaurantes do Brasil. Demorou dois anos para o projeto ganhar corpo e o casal abrir, em um casarão antigo em Botafogo, onde hoje funciona seu

espaço de eventos, o Lasai, na época com 40 lugares. Naquele endereço ganhou a primeira estrela Michelin, diversos prêmios, o respeito dos colegas e a admiração do público.

Quando o mundo parou, durante a pandemia, recebeu um convite que parecia improvável: substituir o português José Avillez no reality show Mestre do Sabor, da TV Globo. A indicação para a vaga veio do chef francês radicado no Brasil, Claude Troisgros, que comandava o time de jurados do qual Rafa passou a fazer parte. “Quando apareceu essa oportunidade, a primeira pessoa que me veio à cabeça foi ele”, diz Claude, que é enfático em colocar o Lasai no seu ranking pessoal de melhores restaurantes do mundo. “Rafa é realmente um mestre. Chegou muito preocupado, nervoso nas primeiras gravações. Mas depois se soltou e agregou demais ao elenco”, emenda. E ele, que até então torcia o nariz para atrações desse tipo, deu o braço a torcer. “Para mim, cozinheiro tinha que ficar na cozinha, não na

televisão”, dizia. Ainda que não cogite sair de seu ambiente principal de trabalho, hoje ele até considera ter um programa só dele. “A maturidade e a experiência que vivi me fizeram mudar de opinião.”

Há pouco mais de dois anos, Rafa levou o Lasai para um espaço menor e ganhou a segunda estrela Michelin. Na semana desta entrevista, o Lasai foi eleito o melhor restaurante do Brasil, e 7o da América Latina, pelo prêmio Latin America’s 50 Best. De terça a sábado, ele e sua equipe fazem a mágica acontecer em um balcão com apenas dez lugares montado em torno da cozinha de tons sóbrios, colorida pelos pratos que preparam com vegetais cultivados na própria horta, as bebidas escolhidas pela talentosa Maíra Freire e os sorrisos que brotam no rosto dos comensais a cada mordida. Para quem ainda não conseguiu uma vaga em uma dessas noites para lá de concorridas, a sugestão é esperar, com a garantia de uma grande refeição e a palavra que mudou a vida do chef como mantra: lasai.

Rafa Costa e Silva com a mão na massa e algumas das suas mais saborosas criações

Enogastronomia | BRASIL

TERROIR ROÇA

Com solos vulcânicos muito férteis, o Vale da Grama entrou para a rota gastronômica e, entre os bons achados, reserva uma vinícola tão revolucionária quanto sustentável

Por Ana Paola Pollini

Abençoado pela capela de Santa Clara, projeto de Oscar Niemeyer, o Vale da Grama, situado na região entre Poços de Caldas e São Sebastião da Grama, possui solos vulcânicos extremamente férteis — herança de um vulcão extinto há 80 milhões de anos.

Ao longo de sua história, imigrantes e empreendedores foram atraídos pelas grandes altitudes e pelo clima propícios para a cafeicultura. Entre os produtores mais famosos da região está o Café Orfeu, produzido na Fazenda Sertãozinho, guardiã de um jequitibá-rosa de 1.500 anos – veja outros endereços imperdíveis na próxima página. Foi ali também, entre tradições de bem receber e de boa prosa, que o casal Pedro Testa e Tessa Vieira descobriu, em meados de 2015, que era possível cultivar boas vinhas. E como nada que é fácil agrada ao empresário, ele e sua família lançaram-se nessa jornada totalmente desconhecida. Quatro anos mais tarde nascia a Casa Tés, resultado do sonho de transformar a Fazenda Santa Maria em uma das melhores produtoras de vinhos do Brasil. “Desde o início, nosso desejo foi criar uma experiência extraordinária, na qual vinho, arte e inúmeras histórias se entrelaçam. É um projeto real, um sonho que construí ao lado da minha família e que agora será compartilhado”, explica ele.

Casa Tés

Vinhedos da
“A Casa Tés tem um terroir muito particular no Brasil”
Pierre Lurton, enólogo

Os sete hectares de videiras se dividem entre Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Sauvignon Blanc e Sémillon, cuidadosamente selecionadas e plantadas após estudos para conhecer o “terroir roça”, apelido carinhoso que esse pedaço de São Paulo recebeu de seus proprietários. E por falar em hectares, há um manifesto interno que sela o compromisso de nunca plantar mais do que em nove deles, para que não se perca o cuidado artesanal e a conexão com a natureza e a comunidade. “Encontrei na Casa Tés um projeto magnífico. Um terroir muito peculiar no Brasil, com um solo especial e uma grande variação de temperatura, o que me surpreendeu pela qualidade e pelo potencial do Cabernet Franc e do Merlot”, afirma o prestigiado enólogo Pierre Lurton, comandante do Cheval Blanc e Président du Château d’Yquem.

Os vinhos são o resultado do dia a dia no campo, do constante desafio de entender a natureza, e isso só é

possível graças ao trabalho de quem vive na Fazenda Santa Maria, uma comunidade engajada, que se conecta de forma genuína com a mata nativa, com o rio limpo e com a horta coletiva. Entre as iniciativas que visam minimizar os impactos na natureza estão o saneamento com biodigestores, a compostagem de esterco e a energia solar.

Por ser uma produção artesanal e muito limitada, a vinícola oferece ao consumidor apenas o modelo cult wine, a venda por alocação, sendo necessária a inscrição prévia no site para receber uma oferta e adquirir seus rótulos quando houver safra disponível.

Entre tantas realizações, quais serão os planos para o futuro da Casa Tés? “Desejo que seja uma jornada duradoura, que coloque o Vale da Grama no mapa dos vinhos incríveis do mundo e que se perenize como um legado para as próximas gerações. Se conseguirmos metade disso, já terá sido espetacular”, afirma Pedro Testa.

Fotos Massimo Failutti, Mauro Restiffe, Tricia Vieira e divulgação
Alguns dos rótulos da Casa Tés, oferecidos no sistema cult wine , e detalhes da produção artesanal

SUBA A SERRA

Reunimos outros bons motivos para incluir o Vale da Grama em um roteiro gastronômico

• Bar do Carlão

Com mais de 50 anos de história, serve um dos melhores e mais famosos torresmos do Brasil, atingindo o impressionante marco de 500 kg vendidos em um fim de semana! @bardocarlaotorresmodocarlao

• Queijos Roni

Fundado em 1889 por imigrantes italianos, atualmente é administrado pela quarta geração e produz excelentes provolones frescos. Por lá, há também uma charmosa seção de louças artesanais, com xícaras, bowls e petisqueiras. @emporioqueijosroni

• Fazenda Irarema

Fazenda centenária que migrou da produção de cafés gourmet para produção de azeite. Em 2018, já na primeira safra, recebeu o prêmio Best in Class. @fazendairarema

• Fazenda Baobá

Oferece visita guiada que inclui passeio nos cafezais, em meio à vegetação nativa da Mata Atlântica, e no quase centenário terreiro de secagem, e também nos setores de beneficiamento do café e torrefação. Além de cafés premiados, possuem produção de mel, que também pode ser adquirido no local. @fazendabaoba

Queijos Roni: desde 1889 na região
Do café ao azeite, a Fazenda Irarema se mantém na ativa
A Fazenda Baobá e um de seus premiados cafés

Antônio Maurício

Carbono Minds
“O processo criativo de fazer uma cadeira ou uma cidade é o mesmo. As ferramentas mudam, mas o jeito de pensar é igual”

O arquiteto carioca Antônio Maurício trabalhou com o melhor do design dinamarquês e, de volta ao Brasil, criou uma marca de móveis que acredita na importância do trabalho artesanal

Quando criança, Antônio Maurício queria ser inventor. Gostava de pensar por que e como as coisas eram feitas. E, quando chegou a hora de escolher uma faculdade, enxergou na arquitetura a combinação perfeita das invenções misturada a um lado artístico que também pulsava nele desde cedo.

Seu pai, Cláudio Maurício, empreendeu e fez sucesso na moda com a multimarcas Clube Chocolate, no início dos anos 2000. E a irmã, Mariana, dez anos mais velha, é artista plástica. “Sabe irmão mais novo? Achava tudo o que ela fazia o máximo.”

Antes mesmo de entrar na faculdade, Antônio já devorava livros de arquitetura e decidiu que seria um grande arquiteto. “Queria virar um nome internacional, fazer museus, aeroportos. Coisas grandiosas mesmo.” Mas foi durante uma temporada na Dinamarca, ao lado da esposa, a influenciadora de gastronomia Juliana Gueiros, que o sonho caiu por terra. “Estagiei no BIG, grupo do dinamarquês Bjarke Ingels, uma inspiração, mas pude ver o tamanho da burocracia que envolvia projetos enormes”, diz Antônio, que vivenciou em terras estrangeiras o melhor do design e voltou para o Brasil com ideias na cabeça. Em 2021 ele lançou a marca de móveis Cabiúna. “Minha ideia é criar belas peças, feitas no Brasil e a preços justos. Vender sem intermediários, respeitando os valores de toda a cadeia produtiva. Não quero mais ser um ícone. Meu maior projeto é a empresa, são os produtos.” A seguir, o melhor do papo com esse promissor jovem carioca.

PONTO DE VIRADA “Em 2018 fui morar na Dinamarca para estagiar com o arquiteto que eu sonhava ser, o Bjarke Ingels. Lá, me envolvi em dois projetos, ambos para a Suécia: um arranha-céu e um bairro no subúrbio de Estocolmo. Percebi o quão burocrático é o trabalho de um arquiteto famoso. Um projeto desse porte é resultado de muitos profissionais, a maioria, inclusive, não arquitetos. Fora os muitos interesses. Entendi que não existe mais o arquiteto artista. Gosto de uma fala do arquiteto português Álvaro Siza: ‘Os engenheiros fazem os elevadores e a estrutura. Os bombeiros, a escada. O cliente decide a área social. Para mim sobra desenhar a fachada’.”

ESSÊNCIA “Copenhague é um lugar que respira arquitetura. Nunca tinha morado fora do Rio. Então foi uma

experiência única vivenciar outra cultura, e ainda mais voltada para a minha área. Todo lugar que você olha em Copenhague foi pensado para estar ali. E isso me motivou a trabalhar com design. Lá, o desenho da rua em si já é lindo. Não existe diferença com grandes obras. O caminho na grande obra é uma obra por si só.”

CURVAS NO CAMINHO “Desenhei a primeira cadeira da Cabiúna ainda na Dinamarca e, quando voltei, percebi que estava pensando nos meios de produção europeus. As máquinas são diferentes, as madeiras, idem. Lá é tudo robotizado, enquanto aqui é tudo artesanal. Esse primeiro produto foi lançado dois anos depois, com várias modificações. Percebi a beleza da produção artesanal – e como isso é muito mais interessante. Nossos lançamentos mais recentes vêm de um ponto de mais respeito com o modo como as coisas são produzidas no Brasil, o que pode ou não ser feito, com desenhos que valorizam a fabricação artesanal.”

CONSCIÊNCIA ESPACIAL “Penso muito em como maximizar a vida útil de um móvel. Na Cabiúna, qualquer peça pode ser trocada. O sofá, por exemplo, pode ser desmontado. Aliás, todo sofá pode ser separado nas suas matérias-primas: madeira, ferragens, estofamento e capa. Tudo isso está no manual, que indica onde e como reciclar, mas poucas pessoas o fazem. Outra ideia sustentável que não deu certo: nossas peças seriam entregues desmontadas, para ocupar menos espaço no caminhão, mas o brasileiro prefere recebê-las prontas.”

PONTE AÉREA “Nosso escritório fica no Leblon, mas as marcenarias/fábricas com quem trabalhamos são de São Paulo. Nesse vaivém, já fizemos parceria com o designer paulistano André Grippi e com a Mariana, minha irmã. Desejo realizar mais parcerias bacanas.”

LENTE “Quando lancei a Cabiúna não tinha dinheiro para contratar um fotógrafo, então decidi aprender e fazer eu mesmo os cliques. Depois, acabei fotografando as receitas da Juliana para o livro que ela lançou este ano: Na Cozinha com Juliana Gueiros. É um hobby que virou trabalho, e vice-versa.”

A rede social dos 280 caracteres ficou fora do ar no País e reforçou uma tendência mundial: os brasileiros também estão buscando por conexões que têm a ver com seus hobbies e afinidades. Talvez você já faça parte de alguma delas

Conversando com um amigo na época em que o X (antigo Twitter) tinha saído do ar no Brasil devido a uma decisão judicial, ele refletiu, ainda meio surpreso, sobre como o “mercado de rede social” já está bem ocupado. Além do X, ele se referia a outros famosos apps que a maioria de nós já utiliza há mais de uma década – WhatsApp, Instagram e Facebook – e ao “novato” TikTok. Esses são os campeões de audiência no País, aderidos por cerca de 80% da população. Mas será que ainda há espaço para outras redes? É o que iríamos descobrir dali a alguns dias.

Se por um lado a saída do X do Brasil (que durou 39 dias) dificultou o acesso à informação (e, convenhamos,

à desinformação), impactando estratégias de marketing de diversas empresas, por outro, o incidente abriu espaço para que plataformas como Bluesky e Threads, entre outras, crescessem exponencialmente.

Só o Bluesky (rede que se assemelha ao X em termos de design e experiência), por exemplo, ganhou 1 milhão de usuários brasileiros em um único dia, além de bater recordes de interações na mesma semana em que o X foi bloqueado. “A suspensão do X pode ter sido ainda mais positiva para marcas que conseguem alcançar um público engajado e interessado em tópicos específicos”, acredita o programador e especialista em TI Rafael Franco.

Por Mario Mele
“Em vez de consumir conteúdo de forma indistinta, as pessoas agora buscam espaços para trocar ideias sobre experiências específicas”
Rafael Franco, programador

Ele cita o Strava: o famoso aplicativo de treinamento, capaz de registrar mais de 40 modalidades esportivas, reúne atualmente mais de 18 milhões de usuários no Brasil, entre atletas profissionais e amadores de todos os níveis. Desse número, mais de cinco milhões aderiram à plataforma só em 2024. E isso até agosto, antes de o X sair do ar. Por si só, o dado já é uma resposta à pergunta feita no primeiro parágrafo deste texto: “Sim, apesar da ‘alta densidade demográfica’, ainda há espaço para novas redes sociais”. O Strava tem o esporte a seu favor, e, segundo Rafael Franco, a prática esportiva é um dos interesses de maior destaque nessas buscas por interações cada vez mais significativas. Com a corrida no topo das modalidades mais procuradas, seguida pelo ciclismo, o Strava já está consolidado, impulsionado pelo compartilhamento de atividades e pelas possibilidades de trocas de informações. Nele é possível organizar competições entre amigos, enviar mensagens, postar fotos, estabelecer metas, marcar pessoas e acompanhar sua evolução. Na versão paga, o usuário ainda tem acesso a exercícios físicos personalizados e a uma ferramenta de análise de desempenho, entre outros benefícios. O estímulo aos seus atletas, a partir de premiações como KOM (uma abreviação para King of the Mountain),

dada aos mais rápidos, e Local Legend, que reconhece os super persistentes, gera ainda mais engajamento.

Esse tipo de consumo, consciente e segmentado, revela a mudança de mentalidade das pessoas. É algo que vai além de você abrir o Facebook ou o Threads e simplesmente se deparar com perguntas como “No que você está pensando?”, ou “Quais são as novidades?” para publicar a sua próxima postagem, que pode ser sobre qualquer assunto. Ou então descer a barra de rolagem da timeline do X e assistir a jornalistas, celebridades, políticos e haters se digladiando em razão de opiniões diferentes, além de fake news disseminadas sob a justificativa de liberdade de expressão. “Em vez de consumir conteúdo de forma ampla e indistinta, as pessoas agora buscam por espaços onde possam trocar ideias sobre experiências específicas, um movimento que revela o interesse na qualidade das interações, e não mais na quantidade”, conclui Franco. Em outras palavras, aos poucos, estamos percebendo que é mais gratificante aprender uma dica valiosa para melhorar nossa capacidade aeróbica

do que liberar a dopamina com centenas ou milhares de curtidas recebidas em uma postagem sobre política, no Instagram ou no Facebook.

O “apagão” do X no Brasil fez o pesquisador de Tecnologia da Informação Rafael Lamardo se lembrar das comunidades do extinto Orkut, umas das redes sociais pioneiras e que, em 2024, completaria 20 anos. Em suas salas virtuais, pessoas com as mesmas afinidades até se encontravam, mas, na maioria das vezes, a partir de interesses completamente fúteis, que poderiam ser o ódio pela segunda-feira, o medo da música do Plantão da Globo, ou o amor em comum por bife à milanesa. Integrar uma dessas comunidades servia mais para atestar a criatividade de seus fundadores do que para interagir com seus membros.

Também havia os Fóruns de Discussão, que até hoje promovem debates on-line sobre os mais variados assuntos, que vão desde colecionismo de munições de espingarda até finanças pessoais e jardinagem. No entanto, mesmo essas conversas muitas vezes carecem de comen-

Por terem conteúdos mais pontuais e finitos, essas novas redes chegam com a promessa de reduzir nosso tempo de uso dos dispositivos digitais

tários mais aprofundados. Isso quando não se transformam na típica batalha de egos da internet, em que cada um quer apenas exibir sua erudição sobre determinado tema. Atualmente, o mundo dos fóruns está preenchido pelas comunidades do Reddit, divididas em tópicos como ciência, religião e notícias, e pelo site Quora, que garante ter “a melhor resposta para qualquer pergunta”, obrigando os inscritos a utilizarem seus nomes reais como forma de credibilizar o conteúdo. “Na seção cultura, ambientes que prometem senso de pertencimento estão sendo atualizados pelo Goodreads (uma rede social para leitores e amantes da literatura) e pelo Letterboxd (voltado aos cinéfilos)”, acredita Lamardo. Em ambos, você adiciona títulos, recebe e manda recomendações e descobre o que outras pessoas estão lendo ou assistindo. Quem é da música não está órfão. Nesse caso, o poder da inclusão vem de plataformas como o Rate Your Music, que cumpre a mesma função. Segundo analistas do comportamento, quando o tema é arte, parece que os usuários buscam algo que vai além do entretenimento,

estão sempre querendo ampliar seus conhecimentos por meio de novos estilos e se orgulham da curadoria apresentada em suas páginas.

A mais nova plataforma a povoar o mundo das mídias sociais é a Maven, The Serendipity Network. Lançada para valer em maio de 2024, ela promete aos usuários a exploração de conteúdo centrado em suas paixões, promovendo interações orgânicas por meio de ideias e interesses compartilhados. Serendipidade (Serendipity) é um termo que se refere a descobertas, ou eventos inesperados, que acontecem por acaso. E, ao contrário da mídia social tradicional, o Maven minimiza o poder de influenciadores e clickbait justamente para promover interações autênticas entre “pessoas comuns”. Indiretamente, por terem conteúdos mais pontuais e de certa forma finitos, essas novas redes sociais chegam com a promessa de reduzir o nosso tempo de uso de dispositivos digitais. Caso isso se concretize, elas estarão nos dando também a oportunidade de vivermos as experiências mais autênticas que existem: as presenciais.

Era uma vez uma cidade

Com um olhar sempre à frente do seu tempo quando se pensa em urbanismo, o arquiteto francês Greg Bousquet tem chamando a atenção mundo afora com projetos residenciais que pensam os espaços sem ignorar o entorno

Arquiteto francês radicado no Brasil, Greg Bousquet tem um trabalho marcado pela criatividade e pela inovação. À frente do Architects Office, venceu neste ano o Urban Design Architecture Awards com o projeto residencial Monolyt, na praia do Estaleiro, em Santa Catarina. Prestes a embarcar para Cingapura para participar da cerimônia do World Architecture Festival, no qual concorreu com o mesmo trabalho, ele conversou com a Carbono Uomo sobre a integração da arquitetura e das cidades com o meio ambiente e aproveitou para apresentar o WTC Biotic, uma superquadra inteligente desenvolvida como polo tecnológico em Brasília. Confira detalhes sobre esses e outros projetos na entrevista a seguir.

Fotos divulgação

Carbono Uomo

Monolyt é uma obra feita para um cliente privado e o WTC Biotic, em Brasília, é algo muito maior. Embora diferentes, ambos têm uma preocupação ambiental.

Greg Bousquet

O principal desafio é que são obras feitas para clientes, não para o governo ou o público. Claro que é bom a iniciativa privada capitanear, porque ainda não temos condições de um grande planejamento urbano. Há um vazio a ser preenchido e os arquitetos precisam aceitar. Ou não vamos a lugar algum, aumentando o caos urbano e a falta de planejamento.

Carbono Uomo

Curioso serem projetos em Santa Catarina e Brasília.

Greg Bousquet

São dois projetos um pouquinho opostos. Um em Brasília, uma planície sem contexto social, histórico, vegetal. Foi legal trabalhar essa contextualização a partir de uma ideia de masterplano porque o espaço é gigantesco. São 180 mil metros quadrados, onde aplicamos o uso misto. Estamos construindo um minibairro e, com isso, uma identidade quase urbana. Já no Sul era uma floresta linda, perto da praia, então trabalhamos com a lógica dos rios voadores, da vegetação local e o conceito de erosão, que se chama weathering, uma intempérie natural. Arquitetura é mineralizar um espaço para construir. Tocamos em um lugar natural, então temos uma responsabilidade imensa. Começamos a esculpir esse monolito com fluidos, com o vento, com a água e o próprio fluxo das pessoas, criando cânions internos. Chamamos o projeto de Rock as a Monument. Existe pela mineralização, mas se acomoda na vegetalização do entorno.

Carbono Uomo

Essas construções do futuro lembram mais o passado e a integração que tínhamos com a natureza do que com naves espaciais colonizando o universo.

Greg Bousquet

Sim. Eu comentei sobre a mineralização. Na França passou uma lei que diz: a partir de 2050, não será mais possível construir em terrenos “virgens”. É a não mineralização do solo. E todos precisam seguir essa meta. Ou vai ter retrofit, ou demolição e reconstrução, mas tirar bioma de uma parcela vegetal

que está lá há séculos, não. É um divisor de águas e vai implicar muitas coisas, como a verticalização.

Carbono Uomo

Tenho lido debates sobre reduzir o tamanho de cidades muito extensas como São Paulo e Moscou. É possível?

Greg Bousquet

É muito simples. Mas há o peso de voto de alguns bairros pouco adensados, como Jardins, em São Paulo, que empurram os pobres para a periferia. Então, é político. A mudança de Plano Diretor em 2023 favorece a verticalização. Quanto mais perto do metrô, maior a chance de verticalizar e menor a obrigação de ter vagas de carros. O subsolo é um vilão da construção, porque precisa de muros de contenção e isso afeta o preço. A segregação social começa na vaga de carro. Em Paris, todos os municípios precisam ter 20% de habitação social em terrenos do Estado. No final, a funcionária fica feliz porque não passa mais horas no transporte. Surgem comércios acessíveis para essas pessoas. Inicia-se uma consciência social, um bairro mais ativo e menos violento.

Carbono Uomo

Sobre a distopia de cidades futuristas cercadas por pobreza, como evitar isso com o planejamento urbano?

Greg Bousquet

O grande vilão da política urbana é o espaço público e São Paulo demonstra isso. Por exemplo, essa lei bizarra de que você é responsável pela sua calçada. Ninguém cuida, não tem o recurso, a vontade. O espaço público vira o inimigo e, assim, vem o medo, o racismo, a falta de integração. Agora, o Plano Diretor dá incentivo para os incorporadores colocarem lojas nos térreos, a fachada ativa. Quando saiu, ninguém acreditava. Mas você não foi a Nova York? Não viu que funciona? Dessa forma, começamos a ativar a calçada. O comerciante vai cuidar dela porque a loja atrai pessoas. Vem um mix de comércio, vida, trabalho. A violência diminui porque há pessoas no espaço público. Espero que não haja distopias de mundos fechados, de gated communities . Na pandemia, condomínios como o Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz, explodiram. As segundas moradias tornaram-se as primeiras. Mas isso não venceu.

CLUBE DOS 700

Experimentamos os SUVs superesportivos que ousaram ultrapassar a marca dos 700 cavalos de potência –insanidade ou um novo patamar de desempenho?

Há muitos clubes exclusivos no universo automotivo. E um dos que mais cresce é o de SUVs superesportivos, inaugurado pelo Porsche Cayenne em 2002. Desde então, marcas de luxo disputam clientes que buscam espaço e versatilidade para a família sem abrir mão de desempenho. Um clichê, mas é verdade.

Mas até no mundo automobilístico tudo tem limite e SUVs com mais de 700 cavalos são algo sério. Salvo engano, a primeira a elevar o nível de insanidade foi a Dodge com o Durango Hellcat, um mastodonte de seis lugares e nada menos do que 720 cv. Como a marca sabe ser polêmica, decidiu montar um compressor mecânico no já poderoso 6.2 V8 Hemi. E deu nisso: um modelo que cava seu espaço no trânsito

urrando para os outros. Truculento, a cada toque no acelerador soa como dogue alemão latindo de mau humor, conquistando seu lugar entre carros, motos, ônibus e caminhões indóceis –mas inofensivos para o Durango. Convocar todos os 720 cv de potência e 65 kgfm de torque significa transformar um pacato, obeso, espaçoso e confortável veículo familiar instantaneamente em um feroz superesportivo, uma espécie de ônibus escolar satânico que vai de 0 a 100 km/h em menos de quatro segundos. Parabéns também à transmissão TorqueFlite de oito marchas.

O Durango SRT Hellcat é, no fundo, um SUV das antigas. Traços do casamento entre Daimler (dona da

Mercedes) e Chrysler (dona da Dodge) se espalham por toda a arquitetura interna desse veículo, antes de tudo familiar. Com direito ao famigerado freio de estacionamento por pedal. Mas é indiscutivelmente confortável e espaçoso, com um porta-malas capaz de carregar 1.226 litros.

Pois a Porsche, inventora do segmento, afinal de contas, superou a marca norte-americana com o novo Cayenne Turbo E-Hybrid, que, diz ela, vai de 0 a 100 km/h em 3,7 segundos. Não poderia ficar omisso diante de uma intimada dessas, então entrei no jogo para testar o modelo.

Pé esquerdo no freio, direito pressionando o pedal do acelerador contra o assoalho. O que se sucede depois

Cayenne Turbo E-Hybrid, o mais potente da história

Até no mundo automobilístico

tudo tem limite e SUVs com mais de 700 cavalos são algo sério

que o condutor libera o pé do freio parece não caber em tão pouco tempo. É preciso segurar os olhos no globo e continuar respirando, mesmo com o estômago e o peito comprimidos, enquanto o cérebro ferve para compreender como esse animal de 4,93 metros de comprimento, 1,98 de largura, 1,70 de altura e mais de 2,5 toneladas sai da inércia com tanta violência.

Destacado no centro do painel, como em todo Porsche, o conta-giros hipnotiza o motorista com seu ponteiro escalando as rotações, enquanto o ronco grave que exala do escapamento escancara que não é mais possível conter o desespero dos 739 cavalos do Cayenne Turbo E-Hybrid, o Cayenne mais potente da história. Como lidar com 96,9 kgfm de torque?

Mas, se você não estiver precisando dos 96,9 kgfm de torque, dá para rodar mansinho no modo puramente elétrico por 55 km – e pegar no sono.

IMPÉRIO BRITÂNICO

A Aston Martin, mesmo menos rica e poderosa do que as rivais, também encarou o desafio do “Clube dos 700” entre os SUVs superesportivos. O DBX707 AMR24 ainda leva o pedigree da marca na Fórmula 1 ao carregar as cores do carro da montadora britânica na principal categoria do automobilismo, que também compartilha com o Medical Car oficial.

A edição AMR24 oferece conteúdos exclusivos para o interior e o exterior do DBX707. A começar pelas

pinturas Podium Green, Onyx Black e Neutron White, complementadas por pinças de freio Aston Martin Racing Green ou AMR Lime e combinadas com a roda Fortis, de 23 polegadas e em preto acetinado ou brilhante. Há também uma plaqueta exclusiva no motor do AMR24.

O passaporte para o restrito clube? Um V8 biturbo de 4,0 litros, de 707 cv e 92 kgfm de torque, acoplado a uma caixa automática de embreagem úmida de nove velocidades. Integrado a um sofisticado sistema de tração integral capaz de enviar até 100% do torque para o eixo traseiro, o DBX707 AMR24 pode acelerar de 0 a 100 km/h em 3,1 segundos e atingir uma velocidade máxima de 310 km/h. Acelera!

Durango Hellcat, modelo pioneiro da Dodge; abaixo, o modelo da Aston Martin em detalhes

1

Bem-estar

Gosto de usar peças confortáveis. Sempre tive uma relação forte com o mundo da moda, mas nunca foi sobre “tendência”, e sim sobre conforto.”

2

Cereja do bolo

Adoro acessórios! Tenho vários, de todos os tipos, e uso bastante. Acho que eles completam muito bem os looks mais básicos e confortáveis que eu costumo usar.

3

Registro

Amo fotos e tento imprimir álbuns a cada viagem. Se não faço isso essas imagens ficam perdidas no celular. Esse foto-livro do Atacama é um dos que eu mais gosto.

MEU ESTILO

SÓCIO-FUNDADOR DA AGÊNCIA

TURN ON THE LIGHT (@TURNONTHELIGHT_TT)

4

Coleção

Como não uso sapato, o tênis é o meu acessório do dia a dia. Meus filhos também adoram. Já divido com Theo (filho mais velho, de 14 anos. Tico também é pai de Filippo, 9). É uma delícia!

5

Duas rodas

Não tenho carro faz tempo. Fugi do trânsito de São Paulo. Andar na minha moto elétrica é uma paz. Não troco por nada!

TICO SAHYOUN

6

On/Off

Acho que o esporte de que eu mais gosto hoje em dia é o tênis. É muito mental. Você consigo mesmo. Desligo-me totalmente em quadra!

7

Amuleto

Uso sempre uma cruz. Seguro forte nela quando preciso. Tenho até uma tatuada na mão. Acredito demais nessa conexão.

Minha casa é futebol! Dois moleques apaixonados, igual ao pai. E a mãe vive junto. Compra chuteiras para os três e se diverte como se fossem os sapatos dela.

Família em campo
Alessandra Montagne
Carbono Minds
“Não roubei o lugar de ninguém, mas preciso estar sempre provando que mereço estar nele”

Nascida no Vidigal e criada em uma pequena cidade mineira, a chef Alessandra Montagne fez carreira em Paris e agora vai comandar um restaurante no Louvre

Quem visita o Nosso, restaurante parisiense da chef carioca Alessandra Montagne, inicia a refeição com uma mistura bastante curiosa: pão de queijo com caviar. A iguaria mineira, acompanhada das ovas, é um exemplo do trabalho da chef, selecionada para comandar um dos restaurantes do Louvre pelos próximos dez anos. “Eu precisava dar um up no caviar”, brinca Alessandra, que gosta de misturar influências brasileiras e francesas. Nascida na comunidade do Vidigal, no Rio de Janeiro, e criada pelos avós em Poté, cidade mineira de cerca de 15 mil habitantes, ela sempre gostou de cozinhar. Aos 22 anos, mudou-se para Paris com o sonho de se tornar chef. Foi preparando jantares para amigos que Alessadra viu o projeto começar a se tornar realidade. Decidiu estudar gastronomia e não parou mais. Abriu o restaurante Tempero, em Paris, e, tempos depois, o Nosso, recomendado pelo guia Michelin. Suas casas viviam cheias e passaram a ser ainda mais disputadas depois que o chef francês Alain Ducasse provou sua comida e se tornou uma espécie de padrinho – veio dele o convite para a empreitada no Louvre. A seguir, Alessandra, que também apresenta um programa culinário na TV francesa, conta mais sobre sua trajetória.

TEMPO “Eu tive que deixar meu filho mais velho por quase quatro anos com outra pessoa, quando vim para a França, e foi a pior época da minha vida. Mas, depois que consegui trazê-lo, eu priorizei muito a questão do tempo que eu passaria com ele e minha filha. Agora que os dois cresceram, essa relação mudou. Não consigo mais separar a vida pessoal da profissional. Eu amo tanto o que faço que pego o computador na cama, quando acordo, para fazer um menu. E, para mim, isso não é mais um trabalho. É a minha vida.”

MEU LUGAR “Eu sou uma brasileira negra, que veio de muito longe, e fiquei em choque quando o Alain Ducasse me convidou para fazer parte dos chefs do Louvre. As pessoas perguntam: “Como ela conseguiu?” E eu não sei. O sol brilha para todo mundo. O lugar estava ali e qualquer um poderia pegar. Não roubei o espaço de ninguém, mas preciso sempre provar que mereço estar nele. O racismo acontece. Quando a gente é negra, quando é estrangeira, precisa se provar. Isso é uma realidade.”

COMPROMISSO “Minha missão é mostrar que a culinária brasileira é maravilhosa. Houve um trabalho para revelar como a cozinha italiana é boa, e hoje você não pode mudar um macarrão à bolonhesa, é uma comida familiar. Também não tem como inventar uma feijoada. A cozinha francesa é mais intelectual, você pode colocar um negocinho ali, outro aqui. Então, no menu do Nosso, eu tento trazer algo do Brasil. Como estou na França, uso ingredientes locais, exceto a farinha do pão de queijo, mas dou um toque nas receitas para mostrar a culinária brasileira.”

INSPIRAÇÕES “Eu saí de Poté e vim para Paris. Não fiz escola de cozinha, nem tinha conversado com chefs no Brasil até pouco tempo. Neste ano, estive em São Paulo e fui conhecer o novo menu do D.O.M., do Alex Atala, que conta a história do Brasil. Foi emocionante, experiências como essas me inspiram. Também conheci o Mocotó e senti que eu estava no Nordeste. Os livros são outra fonte de inspiração. Tenho lido muito os da Ana Luiza Trajano.”

DESPERDÍCIO ZERO “Sustentabilidade é algo muito importante. Não consigo jogar nada fora. A gente tenta usar tudo. A compostagem passou a ser obrigatória na França no começo deste ano, mas eu tenho composteira na cozinha desde 2012. Uso nos pratos o que ninguém usava, como urtiga. E nos salões de gastronomia, onde sempre sobra muita comida, eu converso com os chefs e depois saio distribuindo o que sobrou em associações.”

LOTADO NA NEVE “O restaurante é um negócio. Então meu desafio é manter as casas cheias, inclusive quando neva ou faz muito calor e ninguém quer sair. Preciso dos clientes para que todo mundo seja bem pago. E a gente tem conseguido isso. A maior felicidade é o retorno do público: quando alguém volta várias vezes ou envia uma mensagem nos parabenizando.”

RETORNO ÀS ORIGENS “Depois de algumas experiências cozinhando no Brasil, dá uma balançada pensar em ter um restaurante no meu país. Não sabia se o público iria gostar e, nesta última vez, teve gente que se encantou com o que fiz. Fiquei tão feliz que aceitaria um projeto.”

VIAGEM

EXPERIÊNCIA

Muito além do carimbo

Trocar um simples roteiro por imersões literárias, culturais, de wellness, aventura e outros temas ganha cada vez mais força entre os viajantes

Viajar é sempre uma forma de aprender. Mas é possível escolher fazer isso de forma empírica, saindo por aí com um roteiro na mão e alguns conceitos na cabeça. Ou, quem sabe, embarcar em uma experiência mais profunda, amparada por um programa temático embasado por especialistas, tendência que conquista cada vez mais espaço entre viajantes experientes.

Já faz algum tempo que a turma que está sempre com as malas prontas dispensa jornadas repletas de pontos turísticos para se aprofundar em conceitos específicos, seguindo uma curadoria apurada e cuidadosa. Embora não seja exatamente uma novidade no mercado de turismo de luxo, o movimento ganhou novos adeptos nos anos pós-pandemia, quando fugir de aglomerações passou a fazer ainda mais sentido. “As pessoas estão buscando mais conteúdo para vivenciar o que vai além. E quem tem interesses em comum se junta a esses grupos de viagens focadas. Ainda mais em um mundo cada dia mais pasteurizado, com tudo tão igual, ter uma pessoa trazendo conteúdo, dialogando, deixa a viagem

mais relevante”, acredita Alexandre Cymbalista, CEO da operadora Latitudes.

Em tempos de overtourism, trata-se de um caminho sem volta no universo do turismo, principalmente pela capacidade de agregar gregos e troianos. “Eu vejo um espaço para um crescimento muito grande nesse segmento já que existe uma enorme quantidade de temas e possibilidades que podem ser combinados ao ato de viajar”, explica Guilherme Padilha, sócio-fundador da Auroraeco, agência pioneira em viagens de aventura e experiências.

Os roteiros podem ser customizados e abranger diferentes nichos, com grupos de exploração literária, cultural, de ioga, de escalada e até de uma imersão no Alto Xingu. A ideia, claro, é unir as propostas relevantes de cada uma das experiências ao inexorável savoir-vivre da arte de viajar e, assim, tirar o melhor proveito das duas.

Para inspirar, Carbono Uomo selecionou algumas jornadas que estão na nossa wishlist de 2025.

ROTA DA SEDA RADICAL

A reconhecida aventureira, escaladora, mergulhadora e kitesurfista Karina Oliani é idealizadora da Epic Trips, empresa que realiza expedições de aventuras e viagens solidárias. Quem quiser vivenciar um pouco de adrenalina tendo Karina como companhia e guia pode embarcar numa viagem na Rota da Seda, cujo roteiro ultraexótico começa em Bishkek, capital do Quirguistão, e desbrava vales e trekkings Para coroar, as três noites de acampamento na região de Yurts ainda contemplam um rafting no rio Chon-Chemin, vistas épicas e cavalgadas em lugares pouco acessíveis, como o Pico Karakol. Com duração de 14 dias, a viagem deve acontecer no dia 24 de julho. | +karinaoliani.com

ÍNTIMO E MUSICAL

A exuberância verde da Patagônia chilena, onde o silêncio dá lugar apenas ao som do vento, dos pássaros e dos rios, servirá de palco para o aclamado violonista Yamandu Costa pela segunda vez. Como cenário, o Pata Lodge, espécie de vila sustentável e lodge às margens do rio Futaleufu, que sediará a terceira edição do Sessões do Fim do Mundo, batizado de Yamandu Costa ÍNTIMO. Com espaço para apenas 20 pessoas, o programa contempla pequenos shows e momentos de convívio com o gênio do violão de sete cordas, além da chance de viver experiências como rafting , caiaque, fly fishing , trekking e mountain bike . E, claro, se hospedar em um refúgio em que a natureza é a grande protagonista. Vale destacar também a gastronomia, baseada em ingredientes colhidos localmente. De 8 a 14 de fevereiro. | +sessoesdofimdomundo.com.br

INSPIRA, RESPIRA

Aficionados por ioga têm a Índia como Meca para a prática, já que a disciplina teve sua origem no país asiático, há mais de 5 mil anos. Imagine, então, poder viajar até lá para uma imersão na cultura indiana, com visita às principais cidades. O programa Reconexão e Equilíbrio, idealizado pela operadora Latitudes, propõe uma viagem para a alma, na companhia de Marlei Caroli, que há 25 anos se dedica ao estudo da ioga e desde 2003 viaja à Índia para se aperfeiçoar. Durante 16 dias, o grupo passará por Delhi, Jaipur, Agra, Varanasi, entre outras cidades ícones, e suas principais atrações. O gran finale acontece em Rishikesh, conhecida como capital da ioga e da meditação e por seus diversos ashrams (retiros) para a prática. | +latitudes.com.br

A FLORESTA ENSINA

No lugar onde o Brasil pulsa mais intensamente, histórias, contos, personagens e alegorias parecem ganhar vida além das páginas dos livros. Não à toa, o cenário meio encantado da floresta amazônica foi escolhido para dar vida ao projeto Navegar é Preciso, que em 2025 zarpa para sua 14a expedição criada pela operadora Auroraeco. A experiência ultrapassa a proposta de um “cruzeiro literário”, já que há uma vivência intensa com a presença de autores brasileiros a bordo, participando, diariamente, de encontros intimistas com os hóspedes para leituras, discussões literárias e outras descobertas. Na próxima edição, entre 23 de abril e 2 de maio de 2025, os autores Mariana Salomão Carrara e Jeferson Tenório, além da cantora e compositora Zélia Duncan, embarcam no Ibero Star Grand Amazon. A rotina cultural será intercalada com passeios na selva, caminhadas na mata, canoagem nos igarapés, focagem de jacarés e observação de botos-cor-de-rosa. | +navegarepreciso.org

DE CORPO E ALMA

O fotógrafo e indigenista Renato Soares é o anfitrião de uma imersão no Território Indígena do Xingu, que propõe uma vivência transformadora em uma comunidade originária do povo Kuikuro. Duas vezes por ano o especialista conduz grupos de até 15 pessoas para essa jornada na floresta com a proposta de exaltar os povos originários, apresentar seu modo de vida e também ajudar em sua manutenção, já que parte da renda do programa é destinada para a aldeia. Durante sete dias, os hóspedes seguirão a rotina dos locais, o que inclui dormir em ocas, tomar banho no rio, descobrir os segredos dos elementos da natureza e participar de rituais. Uma cozinheira viaja com o grupo para garantir o conforto gastronômico a quem não quiser ficar restrito à alimentação da tribo. O próximo encontro deve acontecer em julho de 2025. | @renato_soares_foto

SOS PLANETA TERRA

O empresário e ambientalista Roberto Klabin, idealizador de organizações como SOS Mata Atlântica e SOS Pantanal, não mede esforços para viver “em um mundo mais belo, mais natural e menos desigual”. Há dois meses, ele reabriu as portas de sua fazenda Caiman, refúgio ecológico

pioneiro no ecoturismo no Pantanal, depois de vêla sofrer os efeitos de uma das mais devastadoras queimadas da região. Agora, Roberto escreve uma carta aberta para os leitores de Carbono Uomo: um mix de manifesto, desabafo e pedido de ajuda importantíssimo para salvar o planeta

“Caros leitores e leitoras, Aceitei, muito feliz, o convite desta importante revista para tecer alguns comentários sobre o que entendo como riscos ambientais decorrentes das mudanças climáticas e suas consequências.

Primeiramente, quero enfatizar que não sou técnico, pesquisador ou cientista. Sou apenas um ativista ambiental envolvido com a causa há quase 50 anos. Naqueles tempos, ser ambientalista era o mesmo que ser um chato. Ninguém

entendia o que defendíamos e, se ao menos poucos entendiam, consideravam tudo isso uma perda de tempo. Lembro-me que, naquela época, o pessoal da direita considerava-nos esquerdistas e os de esquerda achavam que éramos burgueses desocupados. Nas passeatas que fazíamos durante a ditadura para chamar a atenção para o meio ambiente, o assunto era tão periférico e irrelevante que nem apanhávamos das autoridades, como era o caso em outras passeatas estudantis.

Na década de 1970, no entanto, a degradação ambiental do planeta passou a chamar a atenção, forçando governos e empresas a se adequarem às novas legislações que buscavam proteger o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida das pessoas nos destinos urbanos. A sociedade começava a reclamar dos altos índices de poluição do ar das cidades, do descarte impróprio, dos resíduos gerados pelo consumo e da poluição das águas dos rios que atravessavam as cidades. Quem aqui se lembra de Cubatão, tão

Sustentabilidade | BRASIL
Por Roberto Klabin

perto de São Paulo e das praias. Passar por lá na década de 1970 quase requeria o uso de máscaras para não respirar os gases lançados pelas empresas instaladas naquela região, que ficou conhecida como o Vale da Morte, pois a cidade era considerada a mais poluída do planeta. As coisas iam tão mal que, no começo dos anos 1980, uma tragédia se abateu sobre o lugar com resultados dramáticos, acarretando a morte de muitas pessoas por problemas respiratórios e o nascimento de fetos sem cérebro. A partir daí os governos se mobilizaram e a sociedade passou a dar mais atenção ao tema. Hoje, Cubatão não lembra mais o que houve naquela época. É importante relatar isso a vocês, pois muita gente desconhece que esse foi um dos momentos mais importantes para o “despertar ambiental” do nosso país e da nossa sociedade.

Por volta dos anos 1990, as pessoas ainda consideravam os ambientalistas chatos. No entanto iam

perdendo essa característica e ganhando um papel ainda mais frustrante – pelo menos para os ambientalistas –, que era o de tentar explicar o impacto de todas as coisas ruins que a humanidade fazia com o planeta, e perceber que as pessoas simplesmente não acreditavam em nada que fosse falado, mesmo com o amparo de cientistas. De chatos passamos a Cassandras, aquela sacerdotisa de Apolo que tinha recebido do deus um dom de prever o futuro e uma maldição: a de não conseguir convencer ninguém das suas previsões.

Como ativista, participei da fundação de inúmeras ONGs, entre elas destaco a Fundação SOS Mata Atlântica, da qual fui presidente por mais de 20 anos. Lembro-me que, por volta de 1985, apoiei o lançamento do livro da pesquisadora Magda Lombardo sobre as “ilhas de calor nas metrópoles”. Esse estudo mostrava que havia um aumento exacerbado de temperatura nas zonas centrais das cidades em razão

“Melhor

do que remediar, é prevenir. E a prevenção começa com nossa conscientização de que temos que agir, e agora!”

da aglomeração das construções e que a variação entre o centro e a periferia chegava a 10 graus. Ou seja, toda essa comoção hoje em dia sobre o despreparo das cidades para enfrentar as ondas de calor muito nos surpreende, pois as causas já eram conhecidas e debatidas no Brasil há quase 40 anos!

É a mesma sensação de surpresa e angústia atual, com o desaparecimento gradual da floresta amazônica e todas as suas consequências climáticas. Isso também não é novidade!

As florestas tropicais no mundo vão desaparecendo a olhos vistos. Entre as nossas de maior destaque, a Mata Atlântica agoniza, com aproximadamente apenas 24% da sua cobertura original em diversos estados de conservação e proteção. E a maior floresta tropical brasileira, a Amazônica, sucumbe a passos rápidos para o crime. Além disso, temos as mudanças climáticas e a falta de empenho do governo brasileiro em conhecer, atuar, incorporar, investir e reconhecer realmente esse patrimônio natural como a maior riqueza do País. Seja pelos serviços ambientais que presta, como os rios voadores que levam as chuvas a caírem nas regiões onde o agronegócio está instalado (e do qual o Brasil depende), seja pelo

papel de absorver parte dos gases de efeito estufa da atmosfera. Da Amazônia brasileira hoje já desapareceram aproximadamente 17% da sua cobertura original e outros 38% da floresta estão degradados. Os cientistas indicam que, quando o desmatamento atingir entre 20 e 25% do bioma, poderemos chegar a um ponto sem volta da floresta, num estágio de degradação que impede a sua regeneração, levando a consequências catastróficas para o Brasil e o mundo, entre elas o desequilíbrio do ciclo de chuvas e do clima.

Não menos importante é mencionar que a destruição da floresta leva consigo toda a vida que nela habita. A biodiversidade empobrece, acarretando a extinção de

espécies e o desequilíbrio ecossistêmico, prejudicando a resiliência dos meio ambientes. Isso acaba por acentuar ainda mais os efeitos das mudanças climáticas. Quando se menciona a questão da biodiversidade, há um estudo recente que aponta: de toda a biomassa terrestre ocupada por mamíferos existentes no planeta atualmente, 32% é composta de pessoas. Os animais domésticos somam 65% e só 3% (você não leu errado!) são representados por todos os mamíferos terrestres, desde os elefantes até os micos que andam soltos por São Paulo.

Sobrou só isso. Resultado da ação e da pressão humana que transformaram o planeta e o afastaram do mundo natural, como se não fizesse mais parte dele. Mas faz.

O que fazer para modificar esse estado de alienação da humanidade em relação a essas ameaças que podem modificar para sempre a maneira que vivemos neste planeta? Independentemente do que a tecnologia promete, não acredito ser possível a restauração de ambientes naturais. Quem vai conseguir reerguer uma floresta tropical com toda a interdependência entre a sua biodiversidade para a prestação dos serviços ecossistêmicos que hoje recebemos desses ambientes (mas que ainda estamos longe de entendê-los)? Quem vai pagar por isso? E por quê? Algum Elon Musk do futuro? Não, esses futuros bilionários (serão trilionários) já optaram por colonizar o espaço, preferindo morar numa pedra sem vida como

Marte a investir seus esforços, seu dinheiro e sua criatividade na solução dos problemas do nosso planeta.

Melhor do que remediar, é prevenir. E a prevenção começa com nossa conscientização de que temos que agir, e agora! Sair da nossa zona de conforto. Vamos parar de delegar a solução dos problemas para outros. Ah! Escutaremos das pessoas que o problema é muito grande para elas, individualmente, fazerem a diferença. Infelizmente não dá mais para delegar essa ação para ONGs, governos ou ativistas em geral. Onde começar? O que fazer? Basta se informar, identificar causas que sejam mais próximas da sua vontade de agir e pensar em como fazer uso do seu tempo na dedicação às mesmas. Buscar propósito!

Fala-se tanto nisso, mas pergunto se existe maior propósito do que viver em um mundo mais belo, menos desigual socialmente e mais natural? Recentemente tive a oportunidade de ler dois ditados, um da cultura africana e outro da cultura árabe. O primeiro diz: “Se você se acha muito pequeno para fazer a diferença é porque nunca dormiu com um pernilongo em seu quarto”. O segundo, árabe, fala: “Não devemos cavar um poço quando estamos com sede. Mãos à obra!”

Vamos que vamos! Agradeço a oportunidade de escrever. Quem sabe um dia convenço mais pessoas de que o que vem por aí é muito ruim.”

Fotos
Roberto Klabin

VIAGEM

KYOTO

Minha casa japonesa

Gabriela Figueiredo alugou uma antiga machiya em Kyoto para mostrar à filha um Japão autêntico e em ritmo de slow pace. Aqui, essa viajante nata e uma das sócias da Matueté, produtora de viagens sob medida, compartilha conosco esse relato emocionante e repleto de achados

Amo o Japão e, desde que visitei o país pela primeira vez, em 2015, pensei que gostaria de voltar ano sim, ano não. Fiquei encantada e entendi que precisaria de mais tempo para explorar os becos, as portinhas fechadas, os bairros e os templos aos quais ninguém vai.

Retornei em 2017, fiquei grávida logo depois e decidi esperar um pouco para a terceira visita, que estava programada para 2020. Por causa da pandemia posterguei esse plano, que acabou acontecendo no Réveillon de 2024. Era minha terceira ida ao Japão e, dessa vez, com um motivo muito especial: apresentar o destino para a minha filha, Antonia, de 6 anos. A ideia era mostrar para ela um Japão do imaginário, do tradicional, dos templos e castelos, mas que também tivesse uma alma urbana vibrante.

Na minha primeira vez em Kyoto, aluguei um apartamentinho com vista de um canal do rio Kamo e me apaixonei pelas machiyas – as antigas casas de madeira, que se multiplicam em bairros históricos como Gion.

Quando soube que havia várias dessas moradas para alugar, não tive dúvidas de que essa seria a nossa hospedagem. Nossa casa tinha um nome, Seifu-an, que significa algo como árvore de pura brisa. E, claro, tinha o vaso sanitário toto que não falta em nenhuma morada japonesa! Vale dizer que o processo de reserva foi fácil, já a dificuldade foi a mesma que se encontra em qualquer viagem para o Japão: a comunicação. O proprietário nos recebeu e explicou o funcionamento da casa – em japonês e com muita mímica! A única surpresa que tivemos foi o banheiro do lado de fora, o que no inverno pode ser um desafio. Mas isso era compensado por um banho delicioso e fumegante em uma banheira funda, bem ao estilo japonês.

ARIGATÔ, SEIFU-AN

Quando decidi conhecer Kyoto dessa forma foi porque queria entender a cidade com profundidade, explorar os

Texto e fotos Gabriela Figueiredo

templos com calma, revisitar lugares marcantes para mostrar à Antonia. E, principalmente, poder fazer tudo isso num slow pace. Sem ter que me preocupar com o horário do café da manhã, com o turndown, além de ter uma salinha gostosa para brincar e uma geladeira para encher das maiores gostosuras e estranhezas típicas.

Pode parecer tolo, mas essa foi outra grande motivação para escolha da casinha: as compras de comidas. Afinal, os food halls das depachikas (lojas de departamento) do Japão são sensacionais e nos despertam a vontade de levar tudo – o que não é possível em hotéis. Fazer compras para abastecer a casa é um prazer. Tudo é lindo, perfeitamente embalado, bem apresentado, limpo.

Algo especial em ter a casinha foi a possibilidade de fazer viagens curtas e day trips, deixando nossa base lá, arrumadinha, nos esperando. É impressionante quão rápido nos apegamos ao nosso lar! Apesar de termos ido para lugares muito legais, como Nagoya, para conhecer o novíssimo parque do Studio Ghibli, no final do dia a sensação de “voltar para casa” era ótima, com aquele aconchego único.

A VIDA COMO ELA É

Criamos uma rotina bem própria na casinha: acordar nos nossos futons quentinhos, descer para ligar o aquecedor da sala antes de preparar o café da manhã. Planejar o dia, nos

1 – Pés de caqui no templo de Ryoanji, famoso por seu jardim

2 – Gabriela, Otávio e Antonia, no templo Kinkaku-ji

3 – Final de tarde iluminado no Kiyomizu-dera

4 – As meninas em “seu bairro”, Higashiyama

5 e 6 – Seifu-An, a machiya alugada pela família

“Esse tipo de viagem é ideal para quem gosta de ver a vida local a partir de um microscópio, observando as pequenas coisas”

vestirmos sem pressa. Caminhar nos canais que cortam o bairro até o metrô. Uma vez na estação, comprar uma garrafa de chá verde quente em uma vending machine – as de lá têm bebidas aquecidas! Visitar um templo ou um museu. Rodar nas redondezas descobrindo suas curiosidades e parando em alguma lojinha para comprar um brinquedo ou souvenir para Antonia, que voltou com a mala cheia de cacarecos. Pausa para almoço ou chá se tivéssemos dado aquela esticada na manhã – que começava tarde. Mais passeio e, antes de voltar para casa, parada obrigatória em uma depachika para comprar itens fresquinhos para o café da manhã do dia seguinte – manteiga e leite de Hokkaido, mandarinas que brilhavam, morangos perfeitos e croissants crocantes. Que delícia! Aproveitávamos para jantar em um dos restaurantes das áreas de alimentação desses centros, que são fantásticas, não precisa de reserva e eles servem toda a miríade de variedades da culinária japonesa, cada um com sua especialidade. A loja da Takashimaya foi nossa escolhida na maioria das vezes, pois ficava no caminho para nossa casinha.

O legal de ficar um tempão e já ter visitado o destino é se permitir o luxo de não ter que sair cedo para o passeio. Ir aos templos que não estão lotados de turistas – e nem por isso deixam de ser especiais. É o caso do Daitoku-ji,

Kyoto

o maior complexo budista do Norte de Kyoto: passamos uma manhã entre os 20 subtemplos de lá e encontramos um total de outros seis visitantes. É também poder deixar para depois voltar a um lugar que estava muito cheio. Andar no Philosopher’s Path inteiro, parando em todos os templos ou casas de chá, simplesmente porque temos tempo. Ou ainda passar quase uma hora numa loja de gravuras antigas, como a Tessaido de Gion, olhando cada um dos Ukiyo-e e ainda a bela coleção de lacas e cerâmicas. Depois, tomar uma das incríveis taças de sorvete – o de chá verde e o de morango são os melhores – do Salon de Muge, a casa de chá do Kikunoi, restaurante lendário e centenário da cidade.

Nessas incursões por centros comerciais no final do dia também descobrimos as enlouquecedoras lojas de Gacha machines. São espaços com centenas e centenas de vending machines de minibrinquedos, separados por temas, que

vêm em cápsulas e de forma aleatória. Custam centavos e, quando você percebe, comprou 17 bolas para ver o que tinha dentro! Dá para imaginar a quantidade de cacarecos que a Antonia carregou na mala, né?

UM NOVO MUNDO

Entre tantas descobertas incríveis, um dos highlights da viagem foi o ritual de ano novo. Fizemos todo o passo a passo da cultura local: na tarde do dia 31, passamos em uma depachika e compramos as preparações especiais.

7 – Antonia feliz na vida local de Kyoto: canais e ruas de Gion; a ponte de todo dia; chamando atenção dos monges com sinos; detalhe de Pontocho, a ruela gastronômica da cidade; “seu bairro” com direito a sorvete

8 – Entre as muitas delícias, sorvetes da Salon de Muge; panquecas no Smart Coffee; a refeição especial de ano novo e matchá

Sobá e osechi-ryori, uma colorida refeição para a manhã do dia primeiro que simboliza sorte, saúde e prosperidade. Instalados, comemos um bowl de sobá antes da meia-noite para trazer longevidade e fomos andando até o Santuário de Yasaka. No caminho, ao lado da nossa casa, o templo de Chio-in soava o seu sino em 108 badaladas, orquestradas por 17 monges – a maior tradição do Ano Novo kyotoita.

Em Yasaka, encontramos uma verdadeira festa xintoísta: inúmeras barraquinhas de comidas, com castanhas, leites, doces e takoyakis, o bolinho redondo deles. Dentro, todos os pequenos rituais de boa passagem: queimar uma corda para afastar os maus espíritos, comprar amuletos de acordo com os objetivos para o próximo ano, acender incensos, fazer oferendas de moedas nos minialtares. Uma apresentação de teatro Nô e muitos docinhos depois, voltamos para casa, ansiosos pela manhã seguinte e por nosso café da manhã típico, conhecido como Osechi Ryori.

O Osechi Ryori é uma atração à parte. São 22 preparações, servidas em caixinhas de laca, cada uma com um significado, passando de feijões doces até ovas de salmão. Depois desse banquete, ainda vimos outra grande tradição japonesa em datas importantes: a preparação do mochi, as bolas de massa de arroz feitas como um pedido de prosperidade.

E ainda tivemos uma surpresa bem local nesse primeiro dia do ano: um terremoto chacoalhou a estrutura da nossa machiya, que se mostrou perfeita para esse tipo de evento. Foi rápido e sem danos em Tóquio, mas deu tempo de entender que se tratava de um tremor, sair para a rua e encontrar demais moradores, já acostumados com os abalos.

Esse tipo de viagem é ideal para quem gosta de ver a vida local a partir de um microscópio. Observando as pequenas coisas, que vão desde perceber como o caminhão de lixo entra nas ruelas de um bairro histórico (são em miniatura!) e também saber os dias de feira para comprar

frutas frescas. Ver onde fica a lavanderia mais próxima –mesmo que não precise usar –, comprar flores na banca para enfeitar a casa. Ficar em um bairro sem hotéis – portanto, sem turistas. Curtir o melhor da rotina local, sem deixar de ver tudo de legal que a cidade oferece.

PEQUENOS

GRANDES ACHADOS

Três endereços superlocais testados e aprovados por Gabi

CHICAGO

A região de Teramachi-Dori tem várias lojas de segunda mão e essa era a mais legal! São perfeitas para kimonos, Levi’s vintage ou mesmo jaquetas Patagonia, tudo bem anos 1980.

SMART COFFEE

Também na Teramachi-Dori fica esse que é um dos melhores Kissatens de Kyoto, aqueles cafés em estilo europeu retrô, que têm fila na porta – e valem a espera! Para comer panquecas e sanduíches de miga com ovo mexido – os melhores da vida – nesse ambiente tão tipicamente japonês, que copia a ideia que se faz de outra época, em outro continente.

GRILL CAPITAL TOUYOUTEI

Nessa linha do simulacro do que é ocidental, um programa muito legal para quem vai com crianças é experimentar um restaurante de Yoshoku. Eles são especializados em pratos ocidentais, da maneira que foram adaptados e incorporados nas aberturas do Japão para o mundo, desde a era Meiji. O hambagu (hambúrguer), o karê (curry) e o omurice (omelete com arroz) são algumas pérolas dessa gastronomia. O Touyoutei, que existe desde 1897, foi o nosso preferido da temporada.

VIAGEM

NUI

A reconquista de Rapa Nui

Antes conhecida como Ilha de Páscoa, a remota terra dos moais no Oceano Pacífico quase teve sua população dizimada. Contudo, o povo rapa nui inovou e tem feito de seu lar um destino inspirador de turismo liderado pela comunidade indígena local

“Iorana!” É recebendo um colar de flores no pescoço e ouvindo a tradicional saudação de boas-vindas na língua local que desembarco no pequeno aeroporto de Rapa Nui. Vou enfim realizar o sonho de conhecer os moais misteriosos daquela que ficou conhecida como Ilha de Páscoa. No carro, rumo ao hotel, depois de longas cinco horas de voo desde Santiago, no Chile, a música do rádio mais parece o hula-hula do Havaí. Meu estranhamento logo é explicado: mesmo tendo sido incorporada como território do Chile em 1888, Rapa Nui tem outra cultura ancestral, mais parecida com a dos outros dois países com os quais compõe o chamado triângulo polinésio: a Nova Zelândia, do povo maori,

e o Havaí. Patrimônio Mundial da Unesco, a ilha pertence à Oceania. E é nesse pedaço da Polinésia que o resiliente povo rapa nui se tornou referência mundial em turismo liderado pela população indígena.

Percebo esse orgulho da cultura local ao fazer o check-in no hotel Nayara Hangaroa, minha base ao longo de cinco dias: o hall central, projetado em forma de canoa, reproduz as chamadas casas-bote, onde os antigos rapa nui dormiam, tendo o barco como teto móvel. Na lista de atividades sugeridas, há desde visitas aos moais e às praias de mar azul-turquesa, caminhadas em cavernas e cavalgadas até crateras de vulcões, além de várias possibilidades de imersão na

RAPA

gastronomia e na arte dos anfitriões. À noite, depois de conhecer o spa, a piscina em frente ao mar e os restaurantes (com deliciosos ceviches de atum de chefs rapa nui), vivo a primeira dessas conexões: no show do grupo Haka ‘Ara Tupuna, um dos três balés culturais da cidade, sou convidado a ter o rosto pintado com os grafismos rapa nui.

Vivências de turismo indígena têm crescido mundo afora, permitindo que viajantes e nativos aprendam com suas diferenças culturais. Mas, a partir dos meus primeiros passeios para desbravar a ilha, entendo que as conquistas dos rapa nui vão além. Depois de penar nas mãos de colonizadores — como os chilenos, os peruanos e os britânicos — tendo quase se extinguido e chegado a apenas 111 indivíduos no século 19, os povos originários hoje comandam mais de 90% dos negócios locais. Em 2019, convenceram o governo chileno a aposentar o nome Ilha de Páscoa, dado por invasores holandeses em 1722, e passaram a chamá-la de ilha Rapa Nui. Outra conquista recente é que apenas guias dessa etnia — ou parentes deles — podem conduzir turistas nas atrações do Parque Nacional Rapa Nui, que abriga todos os 1041 moais catalogados. São eles que dão as cartas

Depois de penar nas mãos de colonizadores, tendo quase se extinguido no século 19, os rapa nui hoje comandam mais de 90% dos negócios locais

em uma economia dependente do turismo, em que metade dos 8.000 habitantes atuais se assume rapa nui — ou seja, descende dos primeiros polinésios que ali teriam chegado há mais de 1000 anos.

BERÇO DOS MOAIS

Na página anterior, diferentes visões dos emblemáticos moais

Ver um moai pela primeira vez é de arrepiar. E contemplar o raiar do sol no Oceano Pacífico, atrás da fileira dos 15 moais alinhados em Tongariki, eleva o simples prazer de observar o dia amanhecer a níveis de êxtase. Como os guias explicam, essas estátuas esculpidas em rochas vulcânicas, dentro da cratera do vulcão Rano Raraku, teriam sido erguidas entre os anos 1200 e 1600 sobre pedestais de pedras, os ahus, que abrigam os ossos de seus ancestrais. Com alturas que chegam a 20 metros e pesos de até 27 toneladas, os moais

Cenas do Nayara Hangaroa, hotel que carrega a cultura local em todos os detalhes.

Rapa Nui

carregam, segundo a tradição, os espíritos de reis, sacerdotes e líderes ali enterrados. E estão quase sempre voltados para o interior porque protegem os locais dos inimigos.

Uma das teorias para explicar a misteriosa interrupção na construção dos moais no século 17 seria a sucessão de conflitos entre os clãs dos próprios rapa nui, que teriam dizimado os anciãos sabedores das técnicas de feitura das estátuas. Na maior parte da história da ilha, no entanto, os rivais sempre foram os brancos invasores. Como parte da reparação histórica, em 2018 a ex-presidente Michelle Bachelet autorizou uma concessão de 50 anos para que a Associação da Comunidade Indígena Mau Henua passasse a cuidar da gestão do Parque Nacional. “Nos inspiramos em Machu Picchu e tornamos obrigatório os passeios com guias. Isso fez crescer o número de guarda-parques de 14 para os 187 atuais, aumentou a receita e permitiu renda extra para melhorar a vida das pessoas”, conta Sebastián Paoa, vice-presidente da câmara de turismo da ilha.

Nune Hucke, Vai Tea, Nicolas Yankovic… Sempre com ótimos guias, passo minha temporada explorando a ilha. Um dia, caminho ao topo do vulcão Terevaka. Em outro, ao andar do hotel ao pequeno Centro Turístico de Hanga Roa, observo a rotina simples, pacífica e autêntica da cidade. Há moais até na beira do píer de onde saem barcos de pesca, remadores em canoas polinésias e surfistas nadando para pegar ondas entre os corais.

Tartarugas nadam ali, avistáveis a partir da calçada em frente ao campo de futebol inaugurado por ninguém menos que Pelé. No cais, conheço Henry Loti, mergulhador, filho de Henri Garcia, lenda da ilha e ex-expedicionário das viagens de Jacques Cousteau (1910-1997), outro apaixonado

As praias de mar turquesa, como Anakena e Ovahe, também fazem parte das belezas de Rapa Nui. No destaque, Daniel, em uma das caminhadas no destino, à boca do vulcão Rano Kau. Na página ao lado, paisagens, sabores e tradições nativas – destaque para o atleta Tumaheke, com colar de penas, na canoa, vencedor multicampeão do triatlo local

pela ilha. Dali parto para mergulhar com cilindro e ver um moai não original mas lindo. Quando entro na igreja católica de Santa Cruz, me surpreendo com os fiéis indígenas, com chapéus ornados com flores e penas, cantando na língua rapa nui. Depois, subo até o vulcão Rano Kau para observar um milhão de estrelas de um céu distante da poluição das grandes cidades do continente, a 3.700 quilômetros. “Trago grupos de astroturismo há 15 anos para cá para ver um dos céus mais escuros do Hemisfério Sul”, conta o astrônomo Yuri Beletsky, da Bielorússia.

GUERRA E PAZ

Se há algo que ainda tira a paz dos rapa nui e dos chilenos habitantes da ilha é a luta pela posse das terras. O Museo Rapa Nui MAPSE, inclusive, estava fechado devido a protestos dos proprietários originários do terreno, uma família rapa nui. Isso já havia acontecido com o aeroporto e o próprio hotel Nayara Hangaroa. As disputas ocorrem porque o Estado chileno privatizou, nos anos 1980, terras antes reconhecidas como indígenas (mas que, na época, foram transformadas em sedes de serviços públicos, como o hotel, que nasceu estatal). No caso do Nayara Hangaroa, um acordo foi alcançado após dez anos de negociação.

Há quem diga que os rapa nui começaram a se seduzir pelo dinheiro do turismo depois da realização do filme Rapa Nui, há 30 anos. Hollywood de fato impulsionou o setor e a coisa escalou até que, na véspera da pandemia, a ilha chegou aos 120 mil visitantes por ano. Por causa da Covid-19, Rapa Nui permaneceu dois anos fechada. “A comunidade parou e se preparou para recomeçar com um novo turismo, agora sustentável”, diz Sebastián Paoa. Com um ritmo mais saudável, os nativos entenderam serem essenciais as experiências que valorizam a cultura indígena. Os rapa nui estão reaprendendo a olhar para dentro – e a proteger o povo, como fazem os espíritos ancestrais que habitam os moais.

ANCESTRALIDADE

A fama de que os rapa nui são uma etnia destemida e resiliente ajudou a popularizar o maior evento da ilha: o Tapati Rapa Nui. Todos os anos, em fevereiro, uma série de competições físicas e apresentações culturais, como corridas de cavalo e danças polinésias, transforma a ilha em um grande festival. É quando acontece também o Tau’a Rapa Nui, uma espécie de insólito triatlo indígena. A prova é inspirada nas competições dos Homens-Pássaros (ou Tangata-Manu ), que definiam os líderes locais por volta do século 18: os guerreiros tinham que nadar até uma ilhota, encontrar um ovo do pássaro manutara e voltar escalando o penhasco do vulcão Rano Kau.

Atualmente, a competição confronta esportistas em uma prova que inclui nadar sobre uma espécie de tronco de palha, correr com 20 quilos de banana pendurados nos ombros e remar em canoas feitas de junco. “Precisamos preservar essa celebração das nossas raízes ancestrais”, conta Tumaheke Duran Veri Veri, campeão da prova mais de 15 vezes e treinador da nova geração de canoa polinésia. Tumaheke se preocupa com as contradições trazidas pelo turismo. “Quando o festival se aproxima, temos mais jovens interessados em ganhar dinheiro como guias turísticos do que apresentando sua cultura”, lamenta. “Mas vamos resistir. A cultura rapa nui não vai morrer.”

CHILE

Alma francesa em terroir chileno

Visitamos um refúgio imerso em uma colina verdejante no Vale de Colchagua, que, além de receber os viajantes com autenticidade e aconchego, produz vinhos premiados

Depois de uma viagem ao Deserto do Atacama, no Chile, aproveitei para desacelerar em uma vinícola muito bem recomendada: Clos Apalta Residence. Fundada por Alexandra Marnier Lapostolle, bisneta do criador do licor Grand Marnier, e hoje sob o comando da sétima geração da família, a propriedade fica na região de Santa Cruz, Vale de Colchagua, a duas horas e meia de carro ao Sul de Santiago, e hospeda com a excelência de um Relais & Châteaux.

Minha base por três noites foi uma casita – são apenas dez – incrivelmente aconchegante e imersa em uma colina verdejante, com direito a uma piscina particular. As amplas janelas de vidro em todos os lados proporcionam vistas dos vinhedos, do vale e até da Cordilheira dos Andes em dias de céu limpo, criando uma sensação de paz e conexão com a natureza. Na construção principal, onde ficam o restaurante e uma sala com lareira acesa o tempo todo, me senti, de fato, entrando

O vidro em todos os lados proporciona vistas dos vinhedos, do vale e até da Cordilheira dos Andes em dias de céu limpo

na residência particular da família, cercado de fotos antigas de Alexandra Marnier Lapostolle e de seu marido, Cyril de Bournet. Foi na década de 1990 que o casal descobriu a região e partiu para produzir grandes vinhos no Novo Mundo. E o restaurante local é o melhor cenário para provar parte deles, incluindo os rótulos batizados de Petit Clos, uma safra especial e limitada, que não está à venda. Os menus são elaborados com ingredientes frescos, pensados de acordo com as preferências de cada hóspede e, claro, harmonizados com vinhos. Aos gourmets como eu, é possível marcar uma aula de cozinha com o chef Leonel Díaz, ou aprender a fazer o seu próprio pisco sour com o sommelier.

A casita imersa na paisagem bucólica da região e a cavalgada em torno das plantações, um dos passeios mais bonitos da propriedade. Na página ao lado, Ike em sua visita ao vinhedo biodinâmico de 160 hectares

Detalhes da produção de vinhos da Clos Apalta: barricas de carvalho trazidas da França e cave familiar secreta, com acesso exclusivo para os hóspedes. Na página ao lado, rótulos raros e o cenário imerso em uma colina

Fotos

Vale de Colchagua

Mergulhar nas delícias enogastronômicas do Clos Apalta é tentador, mas recomendo embarcar na cavalgada entre os vinhedos e no gostoso passeio de bicicleta pela propriedade.

Outro ponto alto é o Tour do Vinho com o sommelier Dragan Celic, que conta a história de Alexandra, leva às primeiras plantações e fala da filosofia do vinhedo biodinâmico, que lá abrange 160 hectares. Depois, hora de conhecer a adega de sete andares subterrâneos e a cave particular da família, um tesouro secreto e acessível apenas para hóspedes. Também nesse passeio, Celic conta que os vinhos são produzidos a partir do processo de vinificação francês, com barricas de carvalho trazidas do país europeu. Detalhe: a trilha sonora da casa principal reúne o melhor da música francesa, o que rendeu um upgrade e tanto na minha playlist

Para finalizar, minha casita ganhava, todas as noites, um mimo e um texto referente a algo que vivi ou conversei naquele dia nos vinhedos chilenos, que tanto têm a ensinar. Um brinde a Clos Apalta!

Quatro dias entre o céu e o mar

Pode chamar de turismo sustentável, ou ainda de slow travel; o fato é que, para conhecer uma das regiões mais preservadas do Brasil, localizada entre os estados de SP e PR, o melhor meio de transporte é a bicicleta

Provavelmente você também já pisou em uma praia com uma extensa faixa de areia que parece não ter fim e se perguntou: “Onde será que isso vai dar?” O melhor jeito de descobrir é pedalando. Cheguei a essa conclusão no último verão, quando alinhei uma semana de férias com a minha namorada, Mariana Malta, para explorarmos os litorais Sul de São Paulo e Norte do Paraná.

A região de arquipélago, com mangues, mares e restingas, conhecida como Lagamar, reúne unidades de preservação ambiental e áreas de Patrimônio Histórico. Você até poderia considerar um pedal romântico, com paradas em vilarejos que ainda mantêm aquele charme rústico. Mas a grande surpresa está na dose certa de aventura e no contato com a natureza exuberante. São lugares que se conectam por meio de longas praias desertas de areia batida (na maré baixa), revelando paisagens em suas formas brutas. No caminho, paradas em vilas de pescadores que, ainda hoje, sobrevivem tirando do mar seu principal sustento. Atualmente, as comunidades também estão preparadas para receber turistas, oferecendo hospedagem, alimentação e transporte – pegar barcos para cruzar rios, baías e canais é imprescindível.

O roteiro pode ser feito em ambos os sentidos, começando em Ilha Comprida (SP) ou na Ilha do Mel (PR). Uma semana é tempo suficiente para você viajar até o local de partida escolhido, pedalar no trajeto inteiro, curtindo as paradas e o destino final. Fizemos no sentido Norte-Sul (na maior parte do ano, você provavelmente terá o vento a favor pedalando nessa orientação), iniciando na turística Ilha Comprida, onde chegamos de ônibus com as bikes no bagageiro. Retornamos a São Paulo pela rodoviária de Paranaguá, cidade histórica do litoral paranaense, fundada na metade do século 17, e que já foi um dos portos mais importantes do Brasil. Mas a joia está mesmo entre esses dois pontos: são 140 quilômetros de pedal na praia, que podem ser divididos em quatro dias.

Mais do que a facilidade de chegar e partir, esse roteiro é a garantia de curtição no melhor estilo slow travel, em que se abandona a correria da metrópole para sentir a brisa do Atlântico batendo no rosto e o tempo passando em ritmo lento. É um itinerário gentil, plano e acessível a ciclistas de todos os níveis. Ou, mais do que isso, um modo de se reconectar com o mundo de uma forma segura e sustentável. Partiu?

Texto

DIA 01

Ilha Comprida – Cananeia | 60 km

Quem já pisou no litoral Sul de São Paulo conhece suas particularidades: praias extensas de areias mais escuras e duras. Ilha Comprida não é exceção. Ao Norte, a Avenida Beira-Mar tem ciclovia pavimentada nos primeiros 10 km, mas nada que impeça de começar o pedal na praia, que vai ficando cada vez mais deserta nos balneários mais ao Sul. A Beira-Mar segue como uma estrada asfaltada e pouco movimentada até se transformar na Estrada de Pedrinhas, pavimentada com blocos de concreto que também são amistosos ao pedal. Na Praia de Pedrinhas (a 40 km do Centro de Ilha Comprida), você pode seguir o percurso direto pela praia ou virar à direita para esticar até o Povoado Pedrinhas (4 km) – lembrando-se de que será preciso voltar pelo mesmo caminho para continuar o trajeto até Cananeia a partir da praia. Pedrinhas é um charmoso bairro banhado pelo Mar Pequeno (o canal que divide Ilha Comprida do continente), onde você pode almoçar e recarregar as energias antes de subir na bike novamente. O trecho seguinte (18 km entre a Praia de Pedrinhas e a Avenida Intermares) deve ser feito durante a maré baixa, caso contrário o mar deixará apenas um estreito trecho de areia fofa para você se locomover (lê-se “empurrar a bicicleta”). Um ponto de parada que vale a pena são as intocadas Dunas de Juruvaúva, que chegam a 10 metros de altura. No extremo Sul de Ilha Comprida, saia da praia em direção à Intermares, uma via de terra batida com 3,5 km de extensão que te levará ao embarque do ferry boat para cruzar o Mar Pequeno, entre Ilha Comprida e Cananeia.

Ao lado, cenas do trecho entre Ilha Comprida e Cananeia. Na página anterior, Mariana na Ilha das Peças

Cananeia – Ilha do Cardoso – Superagui | 50 km

“São lugares que se conectam por meio de longas praias desertas de areia batida, revelando paisagens em suas formas brutas”

Cananeia é o município mais ao Sul do estado de SP e um dos mais antigos do Brasil. Seu Centro Histórico, às margens do Mar Pequeno, ainda preserva construções do período colonial e ruas de paralelepípedos que lembram Paraty (RJ). Mas para começar o segundo dia de pedal – 50 km de praias desertas, tendo apenas a vista do Parque Nacional do Superagui, à direita, e o Oceano Atlântico, à esquerda – é preciso encarar uma pequena viagem de barco de aproximadamente uma hora entre Cananeia e um trecho do extremo Sul do litoral paulista conhecido como Pontal. Há uns dez anos, era possível sair pedalando da comunidade de Marujá, um pouco mais ao Norte da Ilha do Cardoso. Mas a natureza também se modificou por lá: o mar cobriu a praia, que já era estreita, deixando essa passagem intransponível para as bikes. Nesse dia, principalmente, é preciso ficar atento à tábua de marés, já que a distância até o próximo povoado, Superagui, é longa e você não vai querer ficar “enroscado” na areia fofa. É provável que não encontre nenhum rastro humano durante a travessia dessa que é a praia mais extensa de todo o trajeto. Mas se o dia estiver aberto, além da vegetação costeira, com manguezais, Mata Atlântica e a Serra do Mar, é possível avistar, ao longe, o Pico Paraná, uma enorme formação rochosa que é o ponto mais alto da região Sul do Brasil, com 1.142 metros de altura. Em linha reta, essa montanha está a aproximadamente 150 km de distância. A chegada ao povoado é reconfortante, com uma trilha de 3 km de terra batida.

DIA 02

Diário fotográfico do casal de ciclistas: belas praias e paisagens históricas

Que tal passar a tarde na praia vendo o mar mudar de cor e os golfinhos nadarem como se estivessem agradecendo por mais uma manhã no paraíso?

DIA 03

Superagui – Ilha das Peças | 15 km

Superagui, povoado localizado ao Sul da ilha de mesmo nome, é tranquilo e acolhedor. Tivemos a sorte de conhecer, logo que chegamos, o Seu Oromar, morador e melhor anfitrião local. Ele nos ofereceu hospedagem a preço justo e com café da manhã em um de seus chalés, que são simples e confortáveis. É tudo o que você precisa para passar a noite. Também reservou uma mesa para o jantar em um restaurante à beira da praia, e, na manhã seguinte, fez a nossa travessia de barco até a Ilha das Peças, onde começa o pedal da terceira etapa. E se os dois primeiros dias são puxados, com longas distâncias e lugares inóspitos, esse trecho é uma espécie de recompensa: 15 km até o povoado da Ilha das Peças. Mas melhor que o destino é a jornada: um litoral deserto e recortado, perfeito para ser curtido sem pressa. Praias paradisíacas dentro da Baía dos Golfinhos – uma entrada de mar protegida pela Ilha do Mel, logo à frente – que são um convite à calmaria. Desacelere. Que tal passar a tarde na praia, vendo o mar mudar de cor conforme o sol cai e os golfinhos nadarem como se estivessem agradecendo por mais uma manhã no paraíso? Uma dica é deixar a estadia e o almoço/jantar já reservados para o dia em que for chegar à Ilha das Peças. Por receber muitos turistas, que desembarcam e lotam os restaurantes, o pequeno vilarejo costuma encerrar o expediente lá pelas três horas da tarde. Mas eles abrem uma exceção se a sua chegada for previamente organizada.

DIA 04

Ilha das Peças – Ilha do Mel | 15 km

A rápida travessia de barco entre o canal que separa a Ilha das Peças da Ilha do Mel também será na companhia dos golfinhos. Ao desembarcar no Farol, em uma praia praticamente deserta da Ilha do Mel, siga rumo ao Sul, passando pela Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, construída em 1770, e pela Praia da Fortaleza, onde a presença humana começa a dar sinais. Depois de Ilha Comprida, a Ilha do Mel é o lugar mais estruturado para o turismo desse roteiro, com diversas opções de pousadas e restaurantes. Mesmo assim, durante a alta temporada, é bom reservar hospedagem com antecedência. Na parte central da Ilha do Mel, Nova Brasília é uma vila e um ponto turístico de alto padrão. Mais ao sul, a famosa Vila de Encantadas tem mais opções de pousadas, campings e restaurantes. De lá também saem diariamente (em dois horários) os barcos para Paranaguá. Se você tiver alguns dias livres a mais, há boas razões para esticar a estadia. Apesar de muito procurada por turistas, a Ilha do Mel tem praias e paisagens intactas, com opções de esportes outdoor como surfe, trekking e mergulho. Mesmo no verão, ela ainda mantém os ares tranquilos e longe da agitação, já que é proibida a circulação de veículos motorizados por ali.

BIKE

O verão está aí, e uma ótima pedida é explorar o litoral pedalando. Mas, para o passeio render e a sua bicicleta voltar inteira para casa, siga essas dicas:

• Oriente-se (também) pela maré

Saber quando a maré está baixa (ou seca) é fundamental para o pedal render e você não ser pego de surpresa. O app Marés é fácil e intuitivo, com indicação gráfica e escrita.

• Lubrifique a corrente

Na praia, a oxidação é maior. Portanto, opte por levar um lubrificante à base de cera biodegradável, que protege as engrenagens da bike contra a corrosão e mantém a relação macia. Ao fim de cada dia, tire o excesso de sujeira antes de fazer uma nova aplicação sobre os elos da corrente.

• Opte por pneus mais largos

Você não vai precisar de uma fat bike para fazer um roteiro na praia, mas mountain bikes com pneus mais largos (a partir de 2.25’’) e com baixa calibragem vão girar com mais facilidade, principalmente quando a areia estiver mais fofa.

• Gire em uma marcha leve

Isso reduzirá as chances de a roda traseira afundar na areia devido ao torque intenso. Mantenha o ritmo constante e só acione os freios e troque de marcha quando for mesmo fundamental.

Mario e sua inseparável magrela em algumas das travessias

ESTÁ TUDO BEM, TAMBÉM

Levanta a mão quem tem mania de olhar para aquilo que não conseguiu realizar, em vez de valorizar as conquistas, mesmo que pequenas? Mostramos a importância da virada de chave para o pensamento positivo

Fim de ano chegando e uma preocupação me ronda: não perdi os quilos que me propus a emagrecer, não viajei o tanto que tinha programado nem quitei mais uma boa parte do financiamento de um imóvel que tenho. E tantos outros “nãos” me vêm na esteira desses, reforçados por uma onda de posts dizendo que “2025 já está aí, você fez tudo o que prometeu para 2024”?

Mas e se, em vez de olhar para o que eu não cumpri, e me entristecer com isso, eu focar no que dei conta de fazer neste ano? Em primeiro lugar, cuidei da minha filha. Ela vai completar três anos, está saudável e pude acompanhar seu crescimento de perto. Também voltei a me exercitar com mais frequência, algo que tinha diminuído desde que ela nasceu. Doei mais dinheiro. Voltei a fazer terapia. Explorei novas áreas do meu trabalho. Li mais.

Podem parecer bobeiras, mas, para mim, em meio ao caos que estamos vivendo, sendo bombardeados por notícias ruins e vidas perfeitas no Instagram, são motivos para comemorar. Não que eu vá deixar de perseguir

meus outros objetivos, mas olhar o lado bom pode nos ajudar em meio a essa loucura toda.

Ser positiva, afinal, é bom e isso não é só um achismo meu. “A positividade é essencial para termos uma boa saúde mental”, me disse a psicóloga Juliana Duarte Suplicy. “Ela nos permite ter uma relação mais saudável com a vida e com as pessoas, proporcionando mais resiliência para lidarmos com as adversidades.”

Há, inclusive, pessoas que acreditam tanto nisso que levam a positividade como uma filosofia de vida. A empresária Lorena Couto Motta Barbarioli, por exemplo, sabe que a vida é desafiadora, mas quando acontece algo que ela não esperava, logo pensa: “Tinha que acontecer e tudo vem para o meu bem”. Para alguns estudiosos do comportamento contemporâneo, tal positividade tem a ver com o termo “pronoia”. A palavra se refere ao estado contrário ao da paranoia. Se esta última ocorre quando a pessoa acha que tudo está contra ela, a pronoia representa quem tem certeza de que tudo conspira a seu favor.

Pensata | PRONOIA
“Assim como o stress nos torna mais vulneráveis a uma série de doenças, emoções positivas possuem um impacto direto na nossa saúde”
Ana Carolina Souza, neurocientista

A expressão foi inventada em 1982 pelo americano Fred H. Goldner e, nas redes sociais, tem sido usada a partir do viés da positividade. Quando Lorena leu pela primeira vez sobre a pronoia, percebeu que aquela “crença delirante de que tudo está sempre funcionando a nosso favor” tinha a ver com ela. “Eu levo muito a sério o poder da energia e acho que, quando a gente emana a energia certa e tem a certeza de que tudo o que a gente emana é bom, essa positividade retorna para nós”, diz a empresária.

Penso que pode fazer sentido. Afinal, quem nunca ouviu falar que o otimismo, esse sentimento abstrato, chega a curar, ou mesmo evitar doenças? “Assim como o stress nos torna mais vulneráveis a uma série de doenças, emoções positivas possuem um impacto direto na nossa saúde”, diz a neurocientista Ana Carolina Souza, sócia da Nêmesis, empresa que oferece assessoria na área de neurociência organizacional. É aquela história: precisamos obviamente da ajuda de profissionais, mas ter uma visão de futuro, que pode ser acreditar na cura, também contribui para a convivência com as doenças.

Mas se é importante ser positivo, também precisamos ter cuidado. Sabe aquele ditado que diz que tudo em excesso faz mal? “Quando a positividade é exagerada, isso

pode indicar dificuldade para lidar com a realidade e pouca habilidade para enfrentar desafios”, pontua Juliana. A psicóloga Marisa Volcian acrescenta que não entrar em contato com pensamentos negativos é uma forma de repressão. “A pessoa se distancia do que ela verdadeiramente sente, vai sufocando tudo e isso cria o que chamamos na psicologia analítica de sombra.”

Juliana relembra o caso de uma paciente extremamente positiva, que preferia colocar seus “monstros” embaixo do tapete, em vez de enfrentá-los. Só foi buscar ajuda porque o marido a incentivou – na cabeça dela, afinal, estava tudo ótimo. “Foi um processo de descobertas e ressignificação até ela se permitir sentir emoções negativas e aprender a lidar com elas”, conta a profissional. Lembro das minhas “não conquistas” e percebo que tudo bem eu pensar nelas, desde que eu não pense só nelas. Não sou uma fracassada porque não vou passar férias naquele cenário cinematográfico que tanto aparece no meu Instagram. Vou curtir meus dias de folga em uma praia perto de São Paulo, tomando uma cerveja à beira-mar, e isso, para mim, é ótimo. Como pontua Marisa, “optar por terminar o dia olhando para aquilo que deu certo é uma maneira de cuidar da nossa autoestima e dormir com mais tranquilidade”.

CARBONO ZERO

RETRÔ POSITIVO

A Veja , marca franco-brasileira de tênis (a antiga Vert), lançou um modelo em homenagem ao Piauí. Batizado de Paulistana, cidade no Nordeste, o lançamento vem com formato clássico dos tênis de corrida antigos – a tendência retrorunning . São cinco cores de camurça – curtida em curtumes com certificação Leather Working Group, que promove a gestão ambiental nas cadeias de produção do couro – e materiais como Alveomesh e Ripstop, tecidos resistentes fabricados com poliéster 100% reciclado. Os cadarços são feitos de algodão orgânico agroecológico. @veja.br

VOCÊ SABIA?

SEGUNDO DADOS DA ONU, O BRASIL OCUPA O DÉCIMO LUGAR ENTRE OS PAÍSES QUE MAIS DESPERDIÇAM COMIDA NO MUNDO...

...POR OUTRO LADO, DE ACORDO COM OS RELATÓRIOS DO SEEG (SISTEMA DE ESTIMATIVAS DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA DO OBSERVATÓRIO DO CLIMA), O PAÍS TEVE A MAIOR QUEDA DOS ÚLTIMOS 15 ANOS NAS EMISSÕES DE GASES POLUENTES.

CREME DE CASCA DE LARANJA

Que o Botanique tem como cenário uma paisagem única e imersa no verde da Serra da Mantiqueira os viajantes mais atentos já sabem. Mas foram as experiências com um viés de sustentabilidade que chamaram nossa atenção na mais recente visita, em especial o The Lab. O espaço, uma espécie de laboratório dedicado a confecções de amenities naturais – sais de banho, cremes, incensos e até desodorantes –, prioriza insumos plantados ou descartados in loco. @botanique

FAZER O BEM PELA RAIZ

A Saboaria Brasil comemora uma década de história com a abertura de sua primeira loja física, na Vila Madalena. Fundada por Paulina Arena, a perfumaria botânica holística é especializada em produtos com óleos essenciais e ingredientes naturais, coletados de forma responsável, livres de parabenos e petroquímicos. A marca é parceira da Origens Brasil, uma rede que promove a preservação da Amazônia, colaborando com comunidades tradicionais e indígenas. Com o apoio do IDESAM (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), a Saboaria tem acesso a ervas, sementes e óleos da floresta, obtidos de forma sustentável e artesanal. @saboariabrasil

A ASICS traçou uma meta de reduzir a emissão de CO ² em 63% em todas as operações diretas e de sua cadeia de suprimentos até 2030. Entre as iniciativas com as quais a empresa se comprometeu – além de utilizar materiais reciclados e de baixa emissão de CO ² – estão a RE 100, que prevê o uso exclusivo de energia renovável em suas atividades, e o The Fashion Pact, que visa mitigar a mudança climática, restaurar a biodiversidade e proteger os oceanos. Carbono gostou da nova coleção de tênis em parceria com a marca dinamarquesa HAY. @asicsbrasil

ESTILO ESCANDINAVO

SOFÁ DO BEM

Seguindo firme em seu compromisso com a sustentabilidade, a Ornare anunciou uma iniciativa em prol de um futuro mais verde. Junto com a 1645 Leather Store, divisão do Curtume Minuano, a parceria visa impulsionar o reaproveitamento de resíduos de couro e a utilização de couro certificado com o selo OEKO-TEX® Standard Leather, que atesta que o material usado é livre de mais de 300 substâncias nocivas aos seres humanos, garantindo bem-estar aos usuários. “A sustentabilidade vai além do reaproveitamento, envolve a segurança em todas as etapas da produção”, afirma Murillo Schattan, sócio-fundador da Ornare. Já o Curtume Minuano, detentor da certificação LWG (Leather Working Group), que se destaca por seus processos sustentáveis e inovadores, destina 99% de suas sobras para reciclagem. Entre esses resíduos há outros subprodutos que se transformam em itens como colágeno, chicletes e até adubos orgânicos. @ornare_official

HISTÓRIA BOA A GENTE CONTA!

CORRENDO E PLANTANDO

A Sporty & Rich, marca nova-iorquina de moda esportiva, chega a São Paulo. Em parceria com o Asaya SPA – espaço de bem-estar do hotel Rosewood, eleito o melhor spa de hotel da América Latina pelo ranking World Spa Awards 2024 –, a coleção-cápsula conta com itens atemporais, como moletons unissex e camisetas genderless. Alinhada às políticas de sustentabilidade, a Sporty & Rich selou uma parceria com o Projeto de Reflorestamento Eden em Madagascar, que planta uma árvore a cada peça vendida pela marca. @sportyandrich | @rosewoodsaopaulo

Essa é para acalmar o coração dos pet lovers: a Holanda é o primeiro país no mundo a zerar o número de cachorros de rua! Há mais de 100 anos o governo, alinhado com instituições de proteção animal, tentava atingir esse feito. Por lá, um dos países mais pet friendly do planeta, as leis em relação aos animais são rígidas. Quem abandonar um bichinho na rua, por exemplo, pode pegar até cinco anos de prisão e ter que arcar com uma multa de R$ 500 mil. Parece muito, mas é até pouco. Ponto para a Holanda!

ECONOMIA CIRCULAR

Em uma parceria inédita, a Natura e a Nespresso se juntaram em prol do meio ambiente. Desde o mês de dezembro de 2024, todas as bisnagas do hidratante Ekos Castanha têm parte de suas embalagens feita com cápsulas de café descartadas. O creme de mãos é um best-seller da gigante dos cosméticos, e esse acordo resultará no reaproveitamento de duas toneladas de cápsulas por ano. A collab de mão dupla ainda conta com a instalação de postos de coleta em 34 boutiques Nespresso, no Brasil, para o descarte correto das embalagens de alumínio da Natura. @naturabroficial | @nespresso

SALVE, SALVADOR!

A marca baiana de design autoral Santo B, criada pela estilista Márcia Carvalho, assina uma linha de bolsas, sacolas, porta-vinhos, chaveiros e nécessaires feitos com materiais reciclados e reutilizados, reduzindo assim o desperdício na indústria da moda. @santob_sb

PULSO FIRME

“WE DON’T INHERIT THE EARTH FROM OUR ANCESTORS, WE BORROW IT FROM OUR CHILDREN”

PROVÉRBIO NATIVO-AMERICANO

É provável que você já tenha ouvido falar na Bottletop, uma ação lançada por Cameron e Roger Saul, fundadores da Mulberry, para fomentar uma produção de moda que gerasse impacto positivo nas pessoas e no planeta. Tudo começou com uma bolsa de tampas de garrafas recicladas feita por artesãs africanas de Uganda e vendida na Mulberry – tornando-se campeã de vendas! A partir daí foram desenvolvidos diversos produtos, materiais, obras de arte, músicas e lojas. Em 2022 abriram um atelier na Amazônia, com a comunidade indígena Yawanawá. Agora, a Bottletop apresenta uma linha de pulseiras com renda 100% destinada ao Fundo Alma Brasileira. As peças são feitas com plástico oceânico reciclado e metal de armas ilegais. Mais importante ainda, são montadas e embaladas por mães brasileiras em situação de vulnerabilidade. A garota-propaganda? Ninguém menos que Alessandra Ambrósio. @togetherbandofficial

MINHA ÁRVORE

Que tal adotar uma oliveira e contribuir com a sustentabilidade? Na Fazenda Serra dos Tapes essa é uma forma de manter mais árvores de azeite saudáveis e, assim, tirar gás carbônico da atmosfera. Quem aderir à ideia receberá em casa azeites produzidos a partir de sua própria oliveira. @fazendaserradostapes

VOO LIMPO!

Quem voar pela Turkish Airlines em sua próxima viagem vai se deparar com amenities pra lá de bacanas. Em parceria com a Lanvin, a companhia aérea desenvolveu um kit com nécessaire reutilizável, máscara de dormir feita de materiais reciclados e escova de dentes de bambu, tudo em embalagens de papel, reduzindo assim o descarte de plástico. @turkishairlines

MATEMÁTICA BOA

8 É O NÚMERO DE ESCOLAS COMUNITÁRIAS ENTREGUES PELO PROJETO EDUCAÇÃO RIBEIRINHA, SOB A GESTÃO DA FUNDAÇÃO ALMERINDA MALAQUIAS, NA REGIÃO AMAZÔNICA DE NOVO AIRÃO.

BELEZA ATEMPORAL

Um conceito que tem ganhado adeptos na arquitetura é o da biofilia, que visa conectar os usuários à natureza por meio de iluminação natural, ventilação e uso de plantas. Na Neobambu, a biofilia pode ser vista na implementação de matérias-primas sustentáveis, como a Lunawood, uma madeira finlandesa de alta durabilidade. Termotratado sem químicos, o material, que pode ser aplicado em decks, revestimentos e fachadas, envelhece de forma bela e autêntica, revelando veios e sinais do tempo, assim como acontece na natureza. @neobambu

VESTINDO A CAMISA

O Grupo Malwee, em parceria com a startup de Singapura Xinterra, desenvolveu a primeira malha brasileira capaz de capturar CO2 do ambiente e eliminá-lo quando ele entra em contato com sabão durante a lavagem. A t-shirt Ar.voree consegue absorver, em um dia, 12,6g de CO2 da atmosfera. Sendo assim, se você e mais 24 amigos usarem uma dessas camisetas irão capturar, em 24 horas, a mesma quantidade de gás carbônico que uma árvore. @grupomalwee

PÁGINAS AMARELAS

Tendências para ficar de olho: um guia inteligente por Carbono Uomo

SABOR DO MAR

Restaurantes paulistanos com inspiração na praia, tanto no cardápio, como no décor.

Dá vontade de ir já!

Marcio Franco, morador de Paraty há longa data, revela sua lista de achados na cidade carioca. Dos restaurantes às livrarias, são dicas para anotar e testar.

Sabores, texturas e aromas mil em um guia com o melhor dos queijos franceses. Ainda tem dicas de como conservá-los e cortá-los.

FIO A FIO

Luciano Calçolari, mestre na arte de cuidar dos cabelos, revela produtos, truques e tratamentos para manter os fios saudáveis no verão.

As fundadoras da Davvero Gelato Felice contam quais os melhores sorvetes da Itália.

Dolce vita!

Esqueça a rigidez em torno do vinho. Em São Paulo, há cada vez mais wine bars despretensiosos que oferecem momentos sem tantas firulas em torno da bebida.

Aos fãs do vinil, uma seleção de lugares onde o som analógico faz mais sentido. Tem até um espaço que reúne 30 lojas do gênero.

Páginas amarelas

SÃO PAULO COM GOSTO DE MAR

Neste verão é possível curtir um clima de praia mesmo sem deixar a capital paulista. Confira nossa seleção de restaurantes com essa pegada e esse tempero – o que inclui, claro, cardápios focados em peixes e frutos do mar

Sururu, sororoca… Nunca ouviu falar? O molusco e o peixe de água salgada, respectivamente, estão nesse cardápio, ao lado de nomes mais conhecidos como lambreta e carapau, preparados pelo chef Giovanni Renê. Podem ser degustados com vinhos – há brancos, tintos, rosés e espumantes –, cervejas ou um dos drinks da casa. Experimente o curioso bloody mermaid, que, além de suco de tomate, leva molho de ostra. Dica: a casa tem uma cozinha de marcenaria para crianças, o que permite almoços em família mais tranquilos. @muli_restaurante

BARÚ MARISQUERÍA

“No mar a vida é mais saborosa.” Esta é a frase que inspira o restaurante, localizado em uma charmosa vila na Rua Augusta, no bairro Cerqueira César. Ostras, camarões na manteiga com alho e vinho e barriga de atum na chapa estão entre as opções pensadas pelo chef Dagoberto Torres. Há poucos meses, quando comemorou seis anos, a casa ganhou o Bib Gourmand, selo de restaurantes com bom custo-benefício do guia Michelin @barumarisqueria

BARBATANA AMARELA

O chef Diogo Wada, ex-grupo Mocotó e Balaio IMS, sempre foi um cara da praia. Gosta de surfe e pratica pesca submarina. Foi essa paixão pelo mar que o levou a abrir, em 2022, em Perdizes, o bar-restaurante focado em peixes e frutos do mar. “Montei o cardápio inspirado no que eu gosto”, diz ele. Bom, Diogo gosta de polvo e ele aparece em versões na brasa, em sanduíche e até em tostada (veja a receita no box). Decorando o ambiente, itens de sua casa de praia em Ubatuba. @barbatana_amarela

MULI
Fotos
André Klotz, Bruno Geraldi, J. M. Starck, Kimberly Souza, Laís Acsa, Rubens Kato, Victor Collor e divulgação

ATLÂNTICO 212

A 100 metros do Cozinha 212, restaurante que já tinha com o empresário Victor Collor, o chef Stefan Weitbrecht abriu o Atlântico 212. Como o nome indica, a influência vem do oceano. A casa, que ele define como bar, trabalha com produtos frescos e, por isso, as opções costumam mudar de um dia para o outro. Você pode ter a sorte de provar o molusco lingueirão, servido na concha com ovas de truta. No verão, conta o chef, costumam aparecer no menu o panaguaiú, ou peixe-agulha, a bicuda e as lulas. E, faça chuva ou faça sol, as ostras estão sempre lá. @atlantico212_

CAIS

Sob o comando do chef Adriano de Laurentiis, que trabalhou no três estrelas Maaemo, na Noruega, e nos paulistanos Corrutela, Maní e Tuju, o restaurante foi recomendado pelo guia Michelin neste ano. Também foi eleito o melhor estabelecimento de peixes e frutos do mar pelo júri do guia O Melhor de São Paulo, da Folha de S.Paulo, e pelo Prêmio SP Gastronomia. Quem vai ao sobrado na Vila Madalena faz um tour gastronômico internacional: ali, há influências das cozinhas francesa, espanhola, portuguesa, árabe e asiática. Esta última aparece, por exemplo, no guioza de porco e camarão. @restaurantecais

Uma cozinha itinerante de peixes e frutos do mar é o negócio do chef Juan Pilotto, filho de pescador. “A pesca sempre foi uma forma de me conectar com meu pai [já falecido] e com minhas raízes”, afirma o cozinheiro, que criou seu negócio em 2016. Com um food truck, ele mostra que o carrinho não é só para fast food. Na rua ou em eventos, Juan oferece pratos como croquete de siri, conserva de sardinhas e ostras, tudo preparado com ingredientes frescos e de pequenos produtores. É só seguir o perfil no Instagram para ver onde ele estará servindo suas delícias. @_pilotto

VERÃO EM CASA

Aprenda a receita de tostada de polvo do chef Diogo Wada

Ingredientes

• 100g de polvo fatiado

• 1 fatia de pão

• 1 colher de sopa de guacamole

• 50g de kimchi

• Coentro a gosto

• Raspas de limão a gosto

• Flor de sal a gosto

Modo de preparo

• Aqueça a frigideira com um fio de azeite e doure a fatia de pão

• Reserve o pão e, na mesma frigideira, coloque mais um fio de azeite. Acrescente o polvo em pedaços pequenos já cozidos

• Espalhe sobre a fatia de pão a guacamole, o kimchi, as raspas de limão, o coentro e a flor de sal para finalizar.

PILOTTO

COM A FACA NA MÃO E O QUEIJO NO CORAÇÃO

Ilustrações Mona Conectada

Um dos países europeus de maior tradição culinária, a França é reconhecida mundialmente por sua rica história queijeira. De lá vêm algumas das mais renomadas variedades de queijos do mundo. Com uma herança secular, os queijos franceses cativam os paladares de amantes da gastronomia ao redor do globo, oferecendo uma ampla gama de sabores, texturas e aromas. Conheça as características distintas dos principais queijos franceses importados para o Brasil, integrantes da campanha Prazeres da Europa. @prazeresdaeuropa

Uma variedade conhecida por sua textura cremosa e sabor forte e característico. Sua coloração é branca ou amarelada, com veias azuladas, causadas pelo fungo Penicillium roqueforti. Durante o processo de fabricação, esse mofo é introduzido por meio de agulhas finas, que perfuram o queijo.

Também conhecidos como queijos de massa mole e casca florida, são aqueles cujas massas não foram cozidas nem prensadas e que podem ser identificadas por sua textura, que vai de macia a líquida, dependendo do tempo de maturação (geralmente apenas algumas semanas). Suas cascas são recobertas por uma penugem branca, formada pela ação de um fungo que foi semeado em sua superfície para permitir o desenvolvimento de mofo durante a fase de maturação, conferindo aos queijos um sabor suave e levemente ácido.

QUEIJOS DE MASSA PRENSADA E COZIDA

Nesses queijos, as coalhadas são aquecidas a mais de 50°C no soro de leite antes de serem moldadas e prensadas. Elas são prensadas no momento da moldagem, para obter a roda de queijo e eliminar o máximo possível de soro de leite. Depois, seguem para a maturação, que pode levar de três meses a dois anos!

É produzido no coração da região de Massif Central, onde a paisagem é selvagem, generosa e de vegetação rasteira, e as vacas pastam pacificamente, o que confere ao leite aromas delicados de cogumelos e um sabor forte e salgado com notas sutis de ervas e flores silvestres. O Bleu d’Auvergne possui veias azul-esverdeadas que lhe conferem um toque picante, apreciado por entusiastas de queijos fortes. Desde 1975, o Bleu d’Auvergne possui o selo de Denominação de Origem Protegida (DOP), que garante que todas as etapas da produção são realizadas em uma área geográfica específica –correspondente ao terroir de origem do produto – e de acordo com um savoir-faire reconhecido e especificações predeterminadas, controladas por autoridades públicas e órgãos independentes.

Variação única e intrigante do clássico Brie, esse queijo combina sua cremosidade com o sabor picante dos queijos azuis. O Brie au Bleu oferece uma experiência gustativa surpreendente e sofisticada.

QUEIJOS AZUIS
UM HIT! – BLEU D’AUVERGNE (QUEIJO AZUL)
QUEIJOS DE MASSA MOLE E MOFO BRANCO
PRIMO DO REI – BRIE AU BLEU (QUEIJO AZUL)
Fotos
Rogério Voltan

O PRINCIPAL – EMMENTAL (MASSA PRENSADA)

O REI – BRIE (MASSA MOLE)

Um dos ícones franceses mais reconhecidos, o Brie é famoso por seu sabor suave e sua textura aveludada e cremosa. Sua casca branca comestível e seu aroma delicado são características marcantes. Os Brie de Meaux e de Melun, produzidos na região de mesmo nome, a Leste de Paris, também possuem o selo de Denominação de Origem Protegida (DOP).

Originário da região de Emmental, na Suíça, hoje é produzido praticamente em toda a França. Seus característicos buracos (na imagem, um pedaço sem eles), ou olhaduras, são provenientes do processo de fermentação que libera gás carbônico no interior da massa. O Emmental é considerado um queijo duro e de sabor suave. Com uma textura levemente amanteigada, é frequentemente usado para ser derretido em pratos quentes ou apreciado em fatias finas como acompanhamento. Hoje, é o principal queijo produzido na França.

UM QUEIJO, UM BEIJO

Confira abaixo algumas dicas para conservar esse alimento milenar

• É importante armazená-los na gaveta de legumes da geladeira, um local mais úmido, com temperaturas entre 4°C e 6°C.

• Evite deixá-los abertos dentro do refrigerador, e aconselha-se armazenar em um recipiente de vidro ou mantê-los no papel original para que eles não ressequem e possam respirar, garantindo uma vida útil mais longa.

• Para a degustação, recomenda-se retirar da geladeira entre 30 minutos e uma hora antes do consumo.

• Não é recomendado congelar queijos, pois isso altera as propriedades que interferem na textura e no sabor.

QUERIDINHO – CAMEMBERT (MASSA MOLE)

Em 1791, a mestre queijeira Marie Harel criou, na Normandia, o queijo Camembert original a partir de leite de vaca cru. Hoje, no entanto, apenas uma pequena porcentagem de produtores elabora esse queijo a partir do mesmo processo que ela teria usado. Aqueles que fazem assim levam o selo DOP. Os demais são produzidos com leite pasteurizado e não possuem a certificação. O Camembert é um queijo macio e de mofo branco, com sabor mais intenso e levemente salgado. Sua textura é sedosa, tornando-o uma iguaria perfeita para harmonizar com pães frescos.

AMOR À PRIMEIRA FATIA

O sabor de um queijo varia da casca ao seu centro, ele não é uniforme. De modo geral, quanto mais próximo à casca, mais acentuado será o sabor. Já no centro, ele se torna mais cremoso. Para lidar com a variedade de formas e texturas dos queijos, foram definidas regras de corte com o intuito de aproveitar ao máximo todo o seu potencial.

• Queijos redondos e planos, tais como o Camembert, são cortados como um bolo, a partir do centro, puxando a faca para fora, formando fatias triangulares e regulares.

• Queijos redondos e grandes, como o Brie, podem ser cortados, primeiramente, pela ponta, em apenas algumas porções ao longo do queijo. Em seguida, cortados no sentido do comprimento em porções perpendiculares à borda.

• Queijos em formato de pirâmide ou cilindro, tipo o Emmental, devem ser fatiados como os queijos redondos ou quadrados, em porções finas e alongadas em toda a altura do queijo. É melhor cortar pelo menos oito porções.

TOME NOTA É importante usar facas apropriadas à massa de cada queijo, para que os sabores não se misturem. Cada faca é projetada para fazer cortes precisos, em função da textura da massa e do formato do queijo.

ELE DERRETE CORAÇÕES

Apaixonadas por gelatos italianos desde a infância, as irmãs Débora e Suelen Ferrari embarcaram para a Itália, em 2013, a fim de explorar a fundo o universo da sobremesa mais amada do planeta. Lá, estudaram na Universidade Carpegiani, especializada em cursos focados na arte sorveteira. No retorno ao Brasil, fundaram a gelateria artesanal Davvero Gelato Felice (@davverogelato), que serve o autêntico gelato italiano – Davvero significa verdadeiro. A dupla de gelataias sabe, mais do que ninguém, onde encontrar as melhores receitas mundo afora. Aqui, embarcamos em uma viagem pela Itália, a terra do gelato, para desbravar os mais deliciosos sabores já provados por elas.

Para quem busca um gelato artesanal, sem aditivos, com sabores originais. O preço é justo e tem opções veganas, sem leite, que fazem a alegria dos intolerantes ou alérgicos. Não deixe de experimentar o de Gianduia com calda crocante de pistache. E as casquinhas são as melhores que já provamos! @gelatodinatura

“Non puoi rendere tutti felici, non sei una vaschetta di gelato”

“Você não pode fazer todo mundo feliz, você não é um pote de sorvete”

Páginas amarelas
GELATO DI NATURA – VENEZA

SORBETTERIA CASTIGLIONE – BOLOGNA

Um verdadeiro laboratório, onde você pode acompanhar todos os processos de produção – da pasteurização à cremosidade dos gelatos. No preparo de cada um, pistaches sicilianos e avelãs do Piemonte. O de Pistache é uma obra-prima! Também produzem bolos de gelatos e sorvetes de palito. Aberta há 25 anos, funciona do café da manhã ao finalzinho da noite. @la_sorbetteria_castiglione

Localizada no coração da Toscana, na central Piazza della Cisterna, tem sabores incomuns, como Crema di Santa Fina® (com açafrão e pignoli), Champelmo® (com toranja rosa e vinho espumante) e Dolceamaro® (com ervas aromáticas e café). O mestre gelataio Sergio utiliza nas composições apenas ingredientes típicos locais, como leite orgânico, frutas biológicas e vinho Vernaccia di San Gimignano DOCG. Peça o gelato de coco, é inesquecível! @gelateriadondoli_official

“Life is like ice cream: enjoy it before it melts”

Está no Centro Histórico de Florença, ao lado dos principais monumentos da cidade. Desde 1930 é a mesma família que cria e produz os gelatos artesanais, com ingredientes de elevada qualidade e muita paixão transmitida de geração para geração – já está na quarta. Além da loja histórica, há duas sorveterias nos Estados Unidos, uma em Nova York e outra em Orlando. Escolha o gelato de Crema, que é obrigatório, mas não vá embora sem provar o Affogato, sorvete de creme espalhado em uma xícara de cappuccino pré-resfriada. @vivoli_il_gelato

GELATERIA DONDOLI – SAN GIMIGNANO
LA
VIVOLI GELATERIA – FIRENZE

Páginas amarelas

PARA NÓS

Um dos maiores ícones de Paraty, o artista plástico Marcio Franco é fascinado pela cidade desde que se mudou para lá, vindo de Lagoa Santa, Minas Gerais, há 42 anos. Seu atelier é um dos locais mais visitados do destino histórico e suas obras, sempre recheadas de flores das nossas matas e frutas coloridas, podem ser vistas nos mais disputados spots do município carioca. “Sou um apaixonado por Paraty, pelos paratienses e pela vida cultural da cidade, com seus ateliers e lojas diversas. A variedade gastronômica também está cada vez maior e melhor!”, afirma Marcinho. Impossível pensar em alguém mais certeiro para sugerir um roteiro na região! Aqui ele elenca os lugares que devem figurar na sua lista. @marcinho_franco | @ateliermarciofranco

PUPUS

Restaurante do chef Bernardo Arthuzo, que tem uma culinária bastante autoral. Uma experiência muito saborosa. @pupuspancparty

QUIOSQUES

Adoro os charmosos “pé na areia” de Paraty, como os quiosques Cheiro de Camarão (foto) e São Francisco, com comida caiçara da melhor qualidade. @quiosque_cheirodecamarao @quisaofrancisco

POUSADA LITERÁRIA

Paraty tem uma grande variedade de pousadas gostosas e sofisticadas, dentre elas destaco a Pousada Literária, com suas suítes e vilas muito agradáveis. A pousada é certificada pelo Conselho Global de Turismo Sustentável (GSTC). Um detalhe que eu adoro: o café da manhã é servido a qualquer hora do dia, numa charmosa varanda com vista do jardim! @pousadaliteraria

Excelente restaurante da chef Ana Bueno, em um casarão histórico, com culinária autoral e sofisticada. @restaurantebananadaterra

BANANA DA TERRA
Fotos
Ana Andrade, Romulo Fialdini e divulgação

GASTROMAR

O restaurante da chef Gisela Schmitt, na Marina Porto Imperial, tem foco em peixes e frutos do mar frescos. Gosto também da sua traineira Sem Pressa, onde Gisela serve suas receitas a bordo, para grupos privados, enquanto navegam na Baía de Paraty. Uma incrível experiência. @gastromar

EMPÓRIO DAQUI

É no recém-inaugurado Empório Daqui que a chef

Fernanda Valdívia mostra todo o seu talento por meio de produtos variados, como geleias, patês, pães e chocolates. O bolo de chocolate com castanha-de-caju e páprica é imperdível! @emporio.daqui

LIVRARIA DAS MARÉS

No mesmo quarteirão do Empório Daqui – que sugiro nesta lista –, fica a Livraria das Marés, com curadoria impecável da Kiki Machado. É um ponto de encontro e cultura no Centro Histórico. @livrariadasmares

ATELIER MARCIO FRANCO @ateliermarciofranco

THAI BRASIL

Restaurante icônico da chef Marina Schlaghaufer, uma delícia! Serve o melhor da culinária tailandesa clássica, em um ambiente boêmio e colorido. @thaibrasilrestaurante

FUGU

Japonês do chef Edu Diniz, que prioriza os peixes e frutos do mar do dia. Um dos mais procurados quando se fala de gastronomia japonesa. @fuguparaty

QUINTAL DAS LETRAS

Uma visita deliciosa, com insumos orgânicos provindos da parceria com a Fazenda Bananal e com pequenos produtores locais. @quintaldasletrasparaty

A Fazenda Bananal, do grupo OCanto, oferece uma imersão na Mata Atlântica com foco na cultura, na história e na gastronomia de Paraty. O restaurante, com conceito farm to table , faz uso de matérias-primas colhidas diariamente na própria fazenda, que chegam fresquíssimas à mesa. @fazendabananal

FAZENDA BANANAL

CABELO, CABELEIRA

Cuidar bem do cabelo vai muito além de uma questão de estética e pode ajudar a evitar problemas desnecessários. Neste manual de dicas, Luciano Calçolari (@lucalcolari), mestre no assunto e sócio do salão US3 Hair, explica mais sobre o tema e oferece uma série de ideias para dar um up nos fios

PARA COMEÇAR

Descobrir o seu tipo de cabelo – oleoso, ressecado, normal – é essencial para evitar problemas como caspa, calvície precoce e dermatite. A falta de cuidado pode acelerar, por exemplo, um processo de queda, especialmente se houver predisposição genética. Por isso é importante conversar com um cabeleireiro e, assim, usar o shampoo e o condicionador mais adequados ao seu perfil.

SAI, CERA!

Os homens costumam gostar muito de cera, mas, com o passar do tempo, o cabelo pode ficar carregado e até meio sem brilho. O truque é passar o shampoo a seco antes de molhar os fios, esfregá-los normalmente, e só depois molhar e lavar o cabelo como sempre. Se fizer isso diariamente, a cera vai sair.

GEL VERSUS POMADA

É importante entender a diferença entre gel e pomada – ou cera. O primeiro tem álcool, então tem uma forte fixação, mas vai deixar o cabelo mais duro. Já a pomada, apesar da fixação média, oferece brilho e um toque mais maleável.

FÓRMULA CERTA

Outra dica é usar um gel sem álcool, porque o produto resseca muito os fios. Quem tem cabelo cacheado pode usar um leave-in: ele retém a umidade do ar e não deixa o cabelo tão duro.

TENHA EM CASA

Produtos indicados por Luciano para ajudar a manter os fios em dia

NO SALÃO

OZÔNIO TERAPIA

Essa hidratação com ozônio feita no salão tem muitos benefícios, como aumentar a oxigenação dos fios e fornecer nutrientes para os folículos pilosos. Ao estimular a circulação sanguínea, também diminui a queda e a calvície. E seu efeito anti-inflamatório ajuda a reduzir a caspa e o frizz. De quebra, desenvolve o brilho e a maciez do cabelo.

BYE, BYE SOL

No verão, é muito comum que os cabelos fiquem com resíduos. Indico fazer um tratamento com fluido micelar: além de remover o cloro e o ferro, o produto melhora a absorção de nutrientes, preparando os fios para procedimentos químicos. E descarrega aquele tom esverdeado. Ufa!

VEM, VERÃO

A exposição ao sol requer atenção. Gosto de um produto chamado Hit 10x1, da Lof Professional, porque, além dos raios solares, protege o cabelo do suor e do calor do secador, hidratando os fios com vários nutrientes. Pode ser usado diariamente com o cabelo molhado ou seco, sem nem precisar de lavagem no dia seguinte.

NEM SEMPRE TUDO IGUAL

Acostumar o cabelo sempre com o mesmo shampoo pode deixá-lo com menos vida. Eu, por exemplo, uso três diferentes durante a semana. Essa alternância é muito importante para ter fios mais saudáveis.

DEU BRANCO, DEU BOM

Cabelos brancos também pedem atenção. E é possível prevenir aquele efeito amarelado causado pela poluição e pelos radicais livres com os produtos certos. Existem shampoos que neutralizam esse visual por meio do uso dos pigmentos roxos.

7 ACERTOS

Quer manter os fios mais saudáveis?

Dê um check nessas dicas principais

1. Acerte na escolha do shampoo

2. Cabelos ressecados? Não esqueça do condicionador

3. Hidrate os fios

4. Evite banhos muito quentes

5. Cuidado com a caspa

6. Mantenha o corte de cabelo em dia

7. Alimente-se bem

Páginas

SEM FIRULA

Wine bars informais ganham cada vez mais espaço em São Paulo, conheça alguns que estão no nosso radar a grande história”, explica ela, que desenvolve o projeto Casa Tão Longe Tão Perto – veja mais a seguir –, um dos primeiros a apostar nesses novos modelos de consumo na cena paulistana.

Quem gosta de vinho, mas não compra o pacote completo que vem com entendedores profundos do assunto, pode respirar aliviado em São Paulo. Isso porque a cidade reúne cada vez mais wine bars despretensiosos, que acreditam na importância de oferecer momentos menos “rígidos” em torno da bebida. Para Gabriela Monteleone, uma das sommelières mais respeitadas do País, o movimento tem a ver com a informalidade. “Ainda é muito difícil falar de vinho no Brasil e atingir o lugar da democratização e da acessibilidade, uma vez que ele segue como um produto de elite. Mas o vinho pode ter esse viés informal e essa é

CASA TÃO LONGE TÃO PERTO

A proposta da casa, na Barra Funda, comandada por Gabriela Monteleone vai muito além de apresentar uma forma mais à vontade de beber vinho. O projeto – que hoje também é um wine bar – pretende divulgar o trabalho de pequenos produtores exclusivamente nacionais, estreitando a relação entre agricultores e consumidores. Vale para os vinhos, que vêm de diferentes torneiras e quase não têm intervenções químicas, e também para o enxuto cardápio de comidinhas – os queijos são da Queijaria Rima, por exemplo. Outro ponto bacana é que você pode levar seu growler (garrafão) para abastecer. Deu tão certo que já existem unidades no Rio e em Portugal. @casatltpbarrafunda

O que não quer dizer, claro, que espaços como esses não levem a bebida a sério, ou não atendam aos mais exigentes bebedores de vinho. Pelo contrário. A verdade é que até eles se encantaram com o clima sem tantas firulas que pode acontecer em torno do tema. Taça na mão, mesa na rua, vamos brindar? Conheça alguns lugares para encher a taça sem pretensão.

VINHO NO BOTECO

“Democratizar o consumo do vinho é o que nos move. Então nada melhor do que trazer a linguagem que o brasileiro mais conhece para enfatizar essa ideia: o boteco.” Foi com essa ideia que a restauratrice Daniela Ferigato abriu o seu Vinho no Boteco há poucos meses na Rua dos Pinheiros. Com cerca de 80 rótulos, a carta é dividida entre brancos, champanhes, espumantes e cava, rosés e os chamados “diferentões”. Quem prefere as taças pode optar entre sete variedades, que mudam diariamente. Para acompanhar, um cardápio enxuto, mas recheado de delícias como burrata ao pesto e homus com caponata de berinjela. @vinho.no.boteco

Laís
Acsa, Tadeu

PALOMA

Do almoço na segunda ao final de tarde de um domingo preguiçoso, os (muitos) fãs do Paloma vão atrás de um abraço gostoso em forma de vinho. Com foco em rótulos orgânicos, rosés e laranjas, o mix de bar e restaurante tem algumas vantagens raras no setor: está aberto todos os dias e não é fechado no intervalo entre o almoço e o jantar. E ainda conta com a vantagem de ficar aos pés do Copan. Um charme! @paloma_sp

PLOU

Os órfãos do Jardim dos Vinhos Vivos, espécie de loja, bar e escola de vinhos naturais, comemoram o novo projeto de Analu Torres. Em seu simpático espaço na Vila Madalena, ela segue fazendo o mix priorizando o que chama de vinhos verdadeiros. São mais de 500 rótulos para serem provados in loco ou levados para casa. @plou.vinhos

SEDE 261

Daniela Bravin e Cássia Campos, duas das sommelières mais conhecidas do País, foram algumas das precursoras da tendência por aqui, ou, ao menos, o fizeram de uma maneira nada óbvia: adaptando uma mínima garagem de Pinheiros. Em seu já premiado Sede 261, servem rótulos garimpados em viagens, enquanto contam curiosidades e fatos sobre cada um deles de maneira nada distante. Vale a qualquer hora, mas a graça é aproveitar um sábado ensolarado e apreciar sua taça nas cadeiras de praia que elas deixam por ali. @sede261

ELEVADO BAR

Wine bar ou wine bistrô? Localizado na Santa Cecília, o endereço do sommelier Leandro Mattiuz mistura os dois, sempre com um clima intimista e de zero ostentação. Dá para desfrutar de uma refeição completa – o cardápio privilegia receitas feitas no forno a carvão – ou só bebericar. Com cerca de 120 rótulos, a carta tem sempre 30 opções oferecidas também em taças. Aos sábados, o evento Asado y Vino oferece carnes especiais preparadas na brasa e vinhos a preços promocionais. @elevado_bar

NA LATA

Com mais gente consumindo vinho – inclusive entre o público mais jovem –, democratizar a bebida ganhou novos patamares. O vinho em lata, que conquistou espaço na Europa há alguns verões, também cava cada vez mais seu lugar ao sol por aqui. Para as novas gerações de apreciadores, existem vantagens: são mais fáceis de gelar, de carregar e têm embalagens mais sustentáveis. De quebra, comportam a medida perfeita para um brinde: duas taças! @lovin.wine

Páginas amarelas

O FUTURO É VINTAGE

Discos de vinil já mostraram que não são uma tendência passageira. Relembramos endereços especializados no som analógico, incluindo um espaço em São Paulo que reúne mais de 30 lojas do tipo

Texto e fotos Mario Mele

Pasme! Lojas de discos de vinil são lugares de grandes descobertas musicais — inclusive de lançamentos. Muitas vezes o cliente não busca uma banda ou um artista específico e tudo o que sabe é o gênero musical de uma fileira sobre a qual passa os dedos para revelar disco por disco. Até encontrar um que julgue interessante e pare a busca, mas só por alguns instantes. Essa é a famosa “garimpagem”, e os audiófilos do vinil juram que se trata de uma prática viciante. Talvez seja por isso que o vinil tenha se tornado um mercado ainda em ascensão: só no último ano as vendas no Brasil cresceram mais de 130%, superando pela primeira vez a receita de CDs e DVDs. A Galeria Nova Barão, no Centro de São Paulo, é a prova dessa preferência. Ela é hoje o maior point de discos de vinil do País – talvez do mundo – com mais de 30 lojas dos mais variados estilos (MBP, jazz, funk, soul, rap, eletrônico). É por ali que os donos desses estabelecimentos, clientes fiéis, vendedores e amantes de música em geral costumam se encontrar para celebrar o bom e velho som analógico, trocando ideias e dividindo uma cerveja. Visitamos seis desses espaços na Nova Barão — e também listamos uma loja em Curitiba e outra no Rio de Janeiro —, que são perfeitos para você aumentar sua coleção de discos e o seu conhecimento musical.

SONZERA RECORDS

A loja, hoje espaçosa e bem iluminada, começou como um ponto de venda itinerante: até 2019, uma van lotada de vinis perseguia as feiras de discos de São Paulo. A Sonzera ainda mantém edições antigas e originais no acervo, mas conta com lançamentos e relançamentos em 180 gramas, a versão “moderna” dos vinis. Também promove eventos esporádicos com DJs e lançamentos de álbuns, como o de pop eletrônico Her Mind, da cantora mineira Urias. @sonzera_records

ÁFRICA BRASIL

Música brasileira é o forte deles, mas, como o próprio nome também sugere, ritmos originados no continente africano têm seu espaço garantido. “Rare grooves, jazz, rock, afrobeat, soul e funk”, enumera George Ferreira, que costuma receber músicos famosos do mundo inteiro em sua loja. Na estante, uma variedade de vinis novos (180 gramas) e álbuns raros da bossa nova, além dos regionais e da não menos importante “música instrumental brasileira”, o nosso jazz. @africabrasildiscos

Fotos
Mario Mele

GORDU’S DISCOS

O carismático DJ Duílio Goldini compra e vende discos há mais de 40 anos, apesar de estar na Nova Barão há somente seis meses. “Sente o astral desse lugar”, diz abrindo os braços para o amplo espaço ao ar livre em frente à sua loja. Lá dentro, fileiras e mais fileiras de vinis de um único estilo que ele define como black music, ou “Baile Paulistano”: funk, soul, blues, jazz, reggae… “Se tocou e o público dançou, vira black”, tenta explicar. Dando nome aos bois, tem do “rei do groove”, Rodney Franklin, ao “rei do brega”, Reginaldo Rossi. @gordusdiscos

LADO C

Na loja de João Carlos Nunes, DJ “das antigas” e referência para nomes como o DJ Marky, você encontra raridades da black music: Aretha Franklin, Marvin Gaye e Roy Ayers, entre outros. Mas também há joias de estilos como MPB, jazz, rock e hip-hop. “Sábado é dia de receber meus amigos e clientes do meio artístico”, diz João, que em 2024 soltou seu set no Coala Festival. @ladocdiscosjc

SONIC DISCOS – CURITIBA

Inaugurada em 2015, a Sonic conta com LPs novos e usados de todos os gêneros musicais (pop, rock, heavy metal, samba). A curadoria do acervo é de Horácio Tomizawa, que está nesse ramo há mais de 30 anos. @sonic_discos

TROPICÁLIA DISCOS – RIO DE JANEIRO

Depois de funcionar por 21 anos em uma sala de um prédio do Centro Histórico do Rio, a Tropicália se juntou à Rocinante Três Selos e, em 2024, se mudou para uma loja com ares modernos no bairro Botafogo. O excelente atendimento e o acervo gigantesco continuam o mesmo. @tropicaliadiscos

MEDUSA RECORDS

Há sete anos na Nova Barão, a Medusa é uma loja de raridades. “Trabalho com edições japonesas com o famoso OBI (uma filipeta com informações técnicas que vêm do lado esquerdo de diversos produtos japoneses, incluindo os discos de vinil), de bandas abstratas (aquelas que gravaram um ou dois discos e sumiram) dos anos 1970 e preciosidades da música brasileira”, diz Flávio “Cigano”, proprietário e colecionador de discos desde os dez anos. O raríssimo Paêbirú, trabalho psicodélico de Zé Ramalho e Lula Côrtes, é um dos discos que você pode encontrar por lá. @medusa_records

VETERANOS DISCOS

Ao se aposentar, João Ferreira decidiu transformar sua paixão pela música em uma nova profissão. E faz quatro anos que ele toca a loja Veteranos Discos com a família, celebrando a MPB, a música africana, o jazz e o funk com maestria. À venda, álbuns raros da MPB – Caetano Veloso, Jorge Ben Jor e João Gilberto – e do rock, incluindo Into The Wild, de Eddie Vedder, e o precioso No Quarter, da “dupla zeppeliana” Jimmy Page e Robert Plant. Além dos vinis, a vitrine é “decorada” com equipamentos vintages: toca-discos, receivers, caixas acústicas e tape-decks Tudo à venda, revisado e na garantia. @veteranosdiscos

A CASA DOS TOCA DISCOS

Seja nos anos 1990, durante a época áurea do CD, quando as gravadoras pararam de prensar vinis, seja hoje em dia, no auge da procura pelo formato antigo, a “mídia analógica” nunca parou de girar graças à Casa dos Toca Discos, que existe em São Paulo há 67 anos. A tradicional loja de componentes sonoros se mudou há pouco mais de um ano para a Galeria Nova Barão, mas continua sob o comando de Luiz Perez, verdadeira enciclopédia de marcas e modelos de vitrolas, toca-discos e peças de reposição. O estoque está sempre abastecido com diversas opções de agulhas, cápsulas e correias. @casadostocadiscos

Páginas amarelas

A VIDA É UMA FESTA!

Se ele está nas carrapetas é garantia de festa boa! Figurinha carimbada nos eventos e casamentos mais apoteóticos do País, Gabriel Salvia é um dos DJs mais requisitados do Brasil. Além da música, ele é apaixonado por esportes e gastronomia! Sim, ele é sócio de vários restaurantes do circuito, como o Selvagem, no Ibirapuera; o Vista, nos Jardins; o Mirante Congonhas, um rooftop recém-inaugurado com vista do Aeroporto; além do The Strogonoff, um delivery focado na receita. Voltando à música, que Ga entende como ninguém, revelamos aqui uma seleção de suas playlists preferidas para diferentes momentos do dia: do romance à pedalada. @gasalvia

PLAYLISTS

• MAR, CAIPIRINHA E VOCÊ • @GASALVIA

Por Gabriel Salvia | 92 músicas | 5h30min

“Uma playlist para você aproveitar o final de tarde a dois. Sit down, relax and enjoy. Don’t forget to kiss kiss!”

• SUMMER COCKTAILS • @SPOTIFYBRASIL

Por Spotify | 90 músicas | 4h30min

“Uma mistura de bossa nova com chill out, trazendo diversas regravações interessantes e ótimas músicas para relaxar”

• GLOBAL RUNNING DAY • @FILABR

Por Fila Br | 18 músicas | 1h

“Um toque extra de energia para quem gosta de fazer esportes e se sentir livre. Pensada para atletas amadores que curtem realizar seus treinos ouvindo uma boa música”

@EDITORA CARBONO

• PUNTA VERANO 2024 • @LUKEBORCHARDT

Por Lucas Borchardt | 62 músicas | 4h45min

“Playlist de um querido amigo, com vibe de festa na praia, pôr do sol e começo dos agitos de final de ano”

• 90’S POP ROCK • @SPOTIFYBRASIL

Por Spotify | 100 músicas | 6h30min

“O essencial do Rock dos anos 1990 para quem não curte ficar parado”

• MYKONOS BEACH CLUB • @BODEGASMUSIC

Por Bo Degas | 117 músicas | 6h35min

“Uma seleção cheia de ótimos hits do verão europeu. Para quem curtiu por lá ou quiser entrar nos embalos do verão 2025”

A Editora Carbono lançou um perfil no Spotify!

A playlist Carbono Songs conta com músicas perfeitas para você entrar no espírito Carbono de ser. Segue lá!

Rua Iguatemi, S/N– Itaim Bibi

Shopping Cidade Jardim – Av. Magalhães de Castro, 12.000 – 3º piso

Catarina Fashion Outlet – Rod. Castello Branco, km 60

RIO DE JANEIRO

Rua Aníbal de Mendonça, 157 – Ipanema

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SÃO PAULO

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