

CARBONO uomo

SEU JORGE Um dos maiores propagadores da nossa cultura, dentro e fora do País, o cantor, ator, multi-instrumentista e compositor é a voz do Brasil
XAMÃ Conversamos com o rapper que, no auge da carreira, usa sua fama para amplifcar a luta dos povos originários
JAZZ A nova geração de músicos brasileiros
CENA EQUESTRE Um panorama dos esportes a cavalo que têm crescido por aqui
BEBIDAS & CELEBS Saiba quem são os astros por trás do que você tem bebido
PÁGINAS AMARELAS Comida do sertão, jogos de tabuleiro, HQ para adultos, música tecnológica, livros raros e outras tendências para deixar no radar

Macan. Aventure-se.
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O NOVO EAU DE PARFUM
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Oceanwalk
Speedway
Indulge Outdoor Lounge
The Haven Sundeck
Infinity Beach
The Rush

Arte como parte do cotidiano.
Ornare, reconhecida marca internacional de mobiliário sob medida de alto padrão, aprofunda sua conexão com o mundo das artes com um projeto ousado: "Art All Around". Em parceria com a especialista em arte Marina Conde, as fagships da marca em Milão e São Paulo, foram transformadas em vibrantes galerias, onde a arte e o design caminham juntos e proporcionam uma experiência única para clientes e visitantes.
Ornare sempre teve uma história intimamente ligada ao mundo da arte. Ao longo dos seus 37 anos, a marca tem participado e organizado diversas iniciativas, mas com "Art All Around" essa relação alcança um novo patamar. O projeto reúne diversas obras de artistas brasileiros e internacionais, transformando os showrooms não apenas em um espaço de exibição de mobiliário, mas palco para a diversidade e a criatividade artística contemporânea.


Lançamento internacional e expansão. "Art All Around" fez sua estreia na fagship store da Ornare em Milão, na Itália, inaugurada em abril deste ano durante a Semana de Design. O evento marcou o início de uma jornada que levará o projeto a outros showrooms da marca no Brasil, Estados Unidos e Dubai. Esther Schatan, sócia-fundadora da Ornare, destaca: “Art All Around" não é apenas uma exposição; é um convite à imersão, um convite para explorar a interseção entre o nosso design e a arte contemporânea. Através dessa iniciativa, a Ornare transforma seus espaços em experiências vivas e pulsantes, onde cada visitante é convidado a apreciar, refetir e se inspirar”.
Visite os showrooms e conheça as obras de arte que estarão em exposição na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1101, e em Milão, na Via Manzoni, 30.

Eletrifque sua rotina.
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QUANTOS ANOS LEVAM PARA CONSTRUIR SUA RIMOWA?

Poderíamos dizer que são necessários todos os nossos 126 anos de história.
Além, dos muitos anos de experiência da nossa equipe de engenharia alemã, concretizada pelos nossos artesãos sob a filosofia do Ingenieurskunst: a arte da engenharia.
Na verdade, isso é apenas o começo da jornada.
Porque quando uma mala deixa a nossa fábrica, ela continua em transformação – por você. Sendo construída por suas viagens juntas, através de cada arranhão, colisão, adesivo e até mesmo reparo, graças à nossa Garantia Vitalícia.
O único limite de quanto tempo leva para construir sua mala é até onde você deseja ir.
PROJETADA PARA A VIDA.

Primeiras Palavras
Não dá mais
Ele passou por mim.
Eu o vi.
Eu ouvi.
Na verdade, Não vi. Nem ouvi.
Mas ele passou.
Tentei perguntar. Mas ele voou.
Então se esgotou. E me perguntou:
O que queres saber?
Não dá mais, tempo.
Não dá mais tempo.
Lili Carneiro Publisher






REDAÇÃO EDITORA CARBONO
PUBLISHER
Lili Carneiro lili@editoracarbono.com.br
DIRETOR EXECUTIVO E DE LIFESTYLE
Fábio Justos fabio.justos@editoracarbono.com.br
DIRETORA DE ARTE
Mona Conectada
EDITORA CONVIDADA
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PRODUÇÃO EXECUTIVA
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REVISÃO
Paulo Vinicio de Brito
TRATAMENTO DE IMAGENS
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COMERCIAL E BACK OFFICE
DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO E NEGÓCIOS publicidade@editoracarbono.com.br
EXECUTIVA DE CONTAS
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FINANCEIRO
Valquiria Vilela financeiro@editoracarbono.com.br
ADMINISTRATIVO atendimento@editoracarbono.com.br
COLABORADORES
Alexandre Bizinoto Macedo
Alisdair McLellan
André Passos
Andrea Sottana
Angelo Dal Bó
Ania Shrimpton
Antonio Milena
Antonio Tur
Artur Tavares
Beatriz Alves
Bel Mota
Bruna Guerra
Bruno Colella
Cacá Bratke
Camila Svenson
Clarisse Granadeiro
Doppio Click
Emiliano Beyruthe
Fernanda Assis
Fernando Pedroso
Flavia Pires
Guilherme Peterson
Guta Alonso
Ike Levy
Isabel de Barros
Jairo Malta
Jef Delgado
Joana França
João Bertholini
Juliana Primon
Koslowski
Laila Razzo
Laís Acsa
Léo Bronks
Leo Feltran
Lucas Nogueira
Luisa Alcantara e Silva
Mabatha Ndiaye
Nº 21
CONCEPÇÃO EDITORIAL

FOTOGRAFIA
André Passos
EDIÇÃO DE MODA
Léo Bronks
GROOMING
Beatriz Alves e
Mabatha Ndiaye
SEU JORGE USA
Full look
Louis Vuitton
Óculos DITA
Manuela Stelzer
Marcos Vilas Boas
Marilia Levy
Mario Mele
Mitty Yashima
Moyra & Luan
Nadja Kouchi
Nani Rodrigues
Nico Ferri
Noa Grayevsky
Oswaldo Neto
Pedro Shuter
Renan Oliveira
Ricardo D’Angelo
Ricardo Lombardi
Rodolfo Regini
Rodrigo Grilo
Rodrigo Monteiro
Rodrigo Mora
Rodrigo Oliveira
Samuel Hideki
Thomaz Saavedra
Tipi Criativo
Tito Paolone
Vitor Neves
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Relógio Montblanc @CARBONOEDITORA

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SÃO PAULO


A SEGUIR:
24. CURTAS Radar ligado
40. MEU BAIRRO Tito Paolone
44. ENTREVISTA I Xamã
48. LIVROS Ricardo Lombardi
52. MEU ESTILO I Jeff Ares
54. MINDS I Monge Satyanatha
56. PERFIL Seu Jorge
74. MINDS II J. Borges
76. MEU ESTILO II Pedro Corulla
78. ESPORTE Cena equestre
86. ENTREVISTA II Pedro Veniss
88. MOTOR Carros compartilhados
90. MINDS III Sarkis Semerdjian • Nº 21 •

92. MÚSICA Jazz
96. NEGÓCIO Bebidas & Celebs
102. CARRO Mercedes – 70 anos
104. ENTREVISTA III Rachel Soeiro
108. LITERATURA Luto
120. PENSATA I Corrida
122. PENSATA II Comportamento
124. CARBONO ZERO Um panorama sustentável
131. PÁGINAS AMARELAS
Guia de tendências Carbono VIAGENS
Socotra — 116. Atacama

CURTAS
Confira as boas-novas da estação: moda, música, arte, gastronomia, turismo, tendências e opções de compras inteligentes
Por Carbono Uomo


ELE CANTA, ELE DANÇA E...
A mais recente coleção cápsula de Pharrell Williams para o masculino da Louis Vuitton só comprova o multitalento do músico também como diretor criativo da maison. Na nossa lista de favoritos, está a edição limitada da bolsa Keepall 50 Toolbox, as botas em colaboração com a Timberland e outras peças que misturam o estilo western com o savoir-faire da marca. @louisvuitton











































LABORATÓRIO DAS ARTES

São Paulo ganhou um novo espaço cultural! A Casa Bradesco, localizada na Cidade Matarazzo – complexo de luxo que abriga o hotel Rosewood –, tem como objetivo a democratização e a potencialização das expressões artísticas. Com infraestrutura tecnológica e integrada à natureza, o centro de criatividade abriu as portas em setembro com uma exposição retrospectiva do artista plástico Anish Kapoor. @casabradesco
O QUE CHEGA DE INTERESSANTE (E HORRIPILANTE) NA NETFLIX BRASIL:

O Retorno de Simone Biles
A segunda parte do documentário acompanha a participação nas seletivas de ginástica, quando a atleta se qualifica oficialmente para a equipe olímpica dos EUA, até suas performances incríveis nas Olimpíadas de Paris, compartilhando pensamentos e momentos pessoais de sua jornada para se tornar a ginasta mais vencedora da história.
O Grito
Documentário que analisa como o tratamento aos detentos no sistema penitenciário brasileiro afeta o dia a dia de suas famílias.


O Futuro de Bill Gates
Série documental reveladora, na qual o filantropo e visionário da tecnologia explora os desafios fundamentais e as soluções inovadoras que vão influenciar o mundo nos próximos anos.
Monstros –Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais
Série sobre um crime real e que examina as vidas dos irmãos Menendez, condenados por assassinarem os pais de forma violenta, em 1989, em Beverly Hills.




CASA DOS ARTISTAS
O cantor, compositor, instrumentista e ator Seu Jorge é agora empreendedor! A Black Service, fundada pelo multiartista, é um novo espaço de produção cultural em São Paulo. A casa de criação, dedicada a projetos de audiovisual, parcerias com artistas independentes e inovações, oferece estúdios equipados com alta tecnologia e um time formado por profissionais especializados em cinema, música, moda e publicidade. A produtora de cultura, que promove novas experiências e relacionamentos também com o mercado publicitário, é responsável pela gravação de inúmeros clipes, músicas, shootings e cases como o podcast Sem Glamour, das artistas Roberta Rodrigues e Shirley Cruz. “Um sonho que não foi embora pelos ponteiros do tempo”, como diz o CEO Seu Jorge, hoje Embaixador da Cultura Brasileira pelo Ministério da Cultura. @blackservicechanel


Sua empresa pode fazer a diferença, e ajudar Médicos Sem Fronteiras a salvar vidas
Assim como pessoas físicas, empresas também podem realizar doações financeiras em benefício de MSF, seja por meio de planos de doação regular ou ocasional. Esta é uma excelente forma de ajudar a organização a manter seu trabalho independente, e a agir rapidamente em situações de emergência pelo mundo. Toda ajuda é mais do que necessária. Colabore!
Outra forma possível de suporte ao trabalho de MSF é o Marketing
Relacionada à Causa , uma excelente oportunidade de mostrar aos clientes e demais públicos que a marca tem propósitos, é responsável, engajada, e está disposta a investir em um mundo melhor para todos!
Acesse empresas.msf.org.br, conheça os nossos programas de parceria e engaje clientes e colaboradores em iniciativas que salvam vidas.
Acredite na vida: juntos podemos fazer ainda mais.



DOBRADINHA GASTRONÔMICA
Duas novas casas têm dado o que falar no bairro Jardins. O Grotta Cucina, com base na alta gastronomia artesanal italiana, tem cozinha comandada pelo chef Daniel Ricciardi, que inova com a fusão de outras culinárias em pratos autorais pensados para surpreender. Um bom exemplo é o risoto com robalo, que ganha nova interpretação: sai o peixe de água salgada e entra o pirarucu com crosta de castanhas brasileiras e espuma de dill. O espaço tem três andares – o rooftop é aberto apenas no verão – com inspirações nas Grutas de Castellana, em Puglia. Já o Mamma San, fundado pelas sócias Érica Maiera e Fernanda Prado Sampaio, apresenta uma mistura do Mediterrâneo e da Ásia, com inspirações japonesas, portuguesas, espanholas e italianas. A seção que destaca a fusão MediterrAsian é o ponto alto do menu. O Okonomiyaki Transmontano, uma panqueca de massa de cará e cenoura recheada com alheira ao tarê e temperada com katsuobushi e alga aonori, é uma das boas pedidas. Em breve o restaurante dará início ao Omakase, localizado no mezanino do espaço. Lá os clientes poderão desfrutar de uma degustação que homenageia a culinária tradicional japonesa com um toque especial.
@grottacucina | R. José Maria Lisboa, 257 @mammasan.sp | Al. Min. Rocha Azevedo, 1101



Mamma San
Grotta Cucina

TODOS A BORDO
Saudade dos tempos de ouro da Pan Am ? Pois a companhia aérea que marcou a década de 1970 fará um voo revival em 2025 com um Boeing 757 particular. A jornada de 12 dias partirá de Nova York e passará por destinos como Lisboa e Marselha, com direito ao serviço premium que marcou a golden age dos voos.
OLHO NO TEU OLHAR A FESTA DE ESTAR DE BEM COM A VIDA
CANÇÃO COISAS DA VIDA , MILTON NASCIMENTO

PARA OUVIR
O álbum Milton + Esperanza , que junta o mestre Milton Nascimento e Esperanza
Spalding, cantora, compositora e contrabaixista estadunidense de jazz, não sai do repeat no nosso Spotify. Lindo e tocante!

TERROIR BRASILEIRO
Uma bebida made in Brazil tem feito sucesso em território italiano. A Cachaça Blu, produzida pela brasileira radicada na Itália Malu Timoni, nasceu no Sudeste de Minas Gerais, em uma propriedade agraciada pelo ambiente perfeito, cuja combinação entre o clima úmido e quente e chuvas e estações secas bem definidas permite que seus canaviais floresçam em abundância. São três opções feitas com prensado de caldo de cana – a garapa – fermentado e destilado até um teor alcoólico de 39%: Pura, com notas florais; Carvalho, com toque de baunilha, coco e caramelo; e Amburana, com aroma de canela e mel. Toda a cadeia de produção da Blu, da colheita ao envase, é feita à mão de maneira artesanal. @cachacablu
VOCÊ SABIA...
Que a cachaça só pode ser produzida no Brasil? Para ser chamada de cachaça a bebida destilada de cana-deaçúcar precisa ser fabricada em solo brasileiro e seguir certos critérios. Desde 2001 a cachaça é um produto com indicação geográfica controlada como “Cachaça do Brasil”. Uma série de leis e portarias regulamentam a produção, proporcionando a manutenção da exclusividade do País para produzir a bebida.
CURTAS | Carbono Uomo

ESTILO INGLÊS
A Casa de Antonia, restaurante localizado no antigo café da Livraria Cultura, no icônico Conjunto Nacional, em São Paulo, dá início a um novo serviço de Chá da Tarde. Receitas gostosas da chef Andrea Vieira, como o trio de gougères, preparados com mignon curado com aioli de raiz forte e baby rúcula, caranguejo com guacamole e camarão com maionese de beterraba ou o bolo de azeite de oliva com laranja e mirtilo, tudo em tamanho mini! Todas as quartas, das 15h às 18h30. @acasadeantonia
SAFRA RARA

Para aprimorar a experiência com os aclamados vinhos oferecidos a bordo pela Emirates, a companhia aérea lançou os cursos L’art du vin personalizados para a tripulação de cabine. Até 2026 os 22 mil tripulantes da empresa saberão tudo sobre regiões vinícolas e suas produções e poderão ajudar os passageiros na harmonização perfeita entre os rótulos e as refeições servidas em voo. @emirates


QUARENTONA
O modelo FXST Softail da Harley-Davidson comemora 40 anos! Chegou em 1984 apresentando um novo chassi – que se consolidou como um sucesso e tornou-se a base de motocicletas consagradas, como a Fat Boy – e inaugurando uma das mais icônicas famílias de motocicletas do planeta. Vida longa! @harleydavidson
CURTAS

MAIS UMA, POR FAVOR
Os viajantes que têm uma mala clássica da Rimowa, como as da coleção Essential, devem concordar conosco: que delícia seria colecionar uma de cada cor. Pois a boa notícia é que a marca acaba de lançar um novo tom para entrar na sua lista de desejos: um vermelho ousado e vibrante. Disponível em três tamanhos diferentes – Cabin, Check-In L e Trunk Plus –, a novidade é fabricada em policarbonato premium e segue os hits da marca, como a alça telescópica e o sistema Multi Wheel. Tem tudo para virar sua companheira nas próximas aventuras mundo afora! @rimowa


BEBA QUEM PUDER
O premiado uísque japonês Hibiki 21, da The House of Suntory, acaba de chegar ao Brasil e já virou item de colecionador. Afinal, são apenas 70 garrafas – cada uma custa em torno de R$ 7.500 – disponíveis para o nosso mercado. Detalhe: a bebida passa por uma maturação de cerca de 21 anos em barris de carvalho. @suntorywhisky_hibiki

Atenção, corredores. O Soho House, espécie de clube internacional que abriu uma unidade em São Paulo, lançou uma bateria de corridas em parceria com a marca de tênis On. Os eventos, só para sócios, acontecerão todos os meses e irão percorrer pontos estratégicos da Pauliceia. @sohohousesaopaulo
R. S. V. P.

COMO UMA ONDA
A Vilebrequin se uniu à Maison Kitsuné para cocriar uma coleção cápsula descomplicada para o verão. De origem franco-japonesa, a Maison Kitsuné é reconhecida por seu design característico, que combina influências culturais e estéticas de Paris e Tóquio. Já a Vilebrequin preza pelo conforto e pela versatilidade. A collab conta com chapéus, camisas, shorts e peças de beachwear. @vilebrequin

HELLO, MIAMI
Mais motivos para se hospedar no EAST na próxima ida a Miami. Localizado no Brickell City Centre, o hotel que a gente adora passou por um rebranding incrível e traz entre as novidades cabanas cheias de bossa ao redor da piscina. São daquelas feitas para passar os dias no melhor estilo american dream. @eastmia


A DesertX, um dos modelos mais adorados da Ducati , ganhou uma nova cor que já está na nossa wishlist . O lançamento é perfeito para quem adora boas aventuras e não tem medo de terrenos mais desafiadores: a moto é equipada com uma roda dianteira de 21 polegadas e uma roda traseira de 18 polegadas. Um projeto off-road combinado com a experiência em estrada da Ducati para que a DesertX fosse responsiva e de fácil maneabilidade. @ducatibrasil
PALETA



UM DRINK, UM MERGULHO E MAIS
São vários os motivos que tornam o Parador um dos nossos restaurantes favoritos da vez. Primeiro, a localização: fica no Edifício Renata Sampaio Ferreira, no Centro, projeto de Oswaldo Bratke, que passou por um retrofit bacana – ganhou até prêmio da Monocle. O cardápio é enxuto, mas saboroso, e o clima é totalmente despretensioso. Por fim, nada mais, nada menos do que uma piscina aberta para day use inclusive. @parador.renata

SAL, SOL E COBERTURA
Verão à vista e nós já elegemos o protetor da temporada: o Transparent Spray Wet Skin. Com FPS 30 ou 50, a novidade da Isdin é leve, refrescante e conta com ótimos diferenciais: pode ser usado na pele molhada e tem aquele jato 360 o que facilita muito na hora de se proteger. @isdin.brasil
ALGUNS SE DESVIAM, MAS TUDO É CAMINHO
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

O HOTEL DO REI
Projetado pelo rei marroquino Mohammed VI, o Royal Mansour Marrakech é o vencedor do Art of Hospitality Award 2024 pelo World’s 50 Best Hotels. O icônico hotel, construído por 1.500 artesãos marroquinos, não tem quartos, sim uma coleção de riads (palacetes típicos) privativos. Além de um dos mais belos spas do mundo e restaurantes com estrelas Michelin. @royalmansourmarrakech

A LENDA
Chegou o novo item de colecionador entre os fãs do Federer. Uma biografia em imagens, editada pela Assouline, que traz registros inéditos da infância, da vida particular e, claro, da carreira da lenda nas quadras. @assouline


PRENSADO
Boas-novas da L’Occitane au Brésil: a linha Café Espresso, com ótimos produtos masculinos. Entre eles, o perfume que mistura quatro notas diferentes do grão, bergamota, sálvia e limão-siciliano, e a loção corporal de hidratação intensa. @loccitane_br


CURTAS

EMARANHADOS
Em sua segunda exibição na Paris Design Week, em setembro, Tiago Braga, idealizador do ateliê Oiamo, divulgou o lançamento internacional de sua coleção Rizomas, que destaca a importância da preservação do Bioma Pampa Brasileiro. Composta de esculturas luminosas e bancos que transcendem a funcionalidade, a série incorpora responsabilidades socioambientais. Todas as obras foram feitas em parceria com as artesãs rurais da Associação Ladrilã, que aplicam o manejo sustentável da lã de ovelha, promovendo a saúde dos rebanhos e a economia circular. @oiamodesign

MODA URBANA
A coleção de outono 2024 da Tommy Hilfiger é inspirada em Nova York, considerada o lar do estilo americano clássico. A nova campanha, que tem como pano de fundo o skyline da metrópole, exibe os integrantes da boyband coreana Stray Kids, estrelas do K-pop, em uma estética preppy (moda que mistura o tradicional e o contemporâneo). São roupas esportivas casuais que apresentam interpretações modernas de silhuetas clássicas, como chinos de corte impecável, tricôs refinados e as famosas polos listradas. @tommyhilfiger


MAS PODE ISSO?
Hoje em dia uma das celebridades bem-sucedidas no mercado de produtos relacionados à cannabis é ninguém menos que Seth Rogen, o astro das comédias Superbad e Ligeiramente Grávidos. Mas esqueça itens como flores, óleos, comestíveis e outros derivados da planta em si. Por meio da marca Houseplant, o ator encontrou na cerâmica uma maneira bem-humorada de trazer à tona a pauta da erva. São cinzeiros, xícaras de café, porta-velas, incensos e roupões - itens essenciais na vida dos entusiastas da planta. O diferencial de Rogen? Um design de peças criativas e atemporais totalmente distante da cafonice psicodélica tão comum que se vê por aí nesse mercado. @houseplant - Por Artur Tavares

É isso mesmo! O Grupo hoteleiro anunciou a construção de uma filial, em parceria com a JHSF, na ilha italiana da Sardenha, famosa por sua rica herança cultural e sua beleza paradisíaca. O empreendimento será implantado em uma área de 500 mil m², de frente para o mar – com vista da Ilha de Tavolara (foto). Serão 60 quartos e suítes, 30 terrenos com vilas exclusivas – que poderão ser compradas – com operação e serviços hoteleiros Fasano, centro esportivo de tênis, padel e squash, além de beach club, marina e um charmoso centrinho comercial, sem se esquecer, é claro, dos deliciosos restaurantes. A inauguração está prevista para 2028. @fasano Fotos Alisdair McLellan, Andrea Sottana, Angelo Dal Bó, Antonio Tur, Jef Delgado, Joana França, Juliana Primon, Pedro Shuter, Rodolfo Regini, Samuel Hideki
DIA DE LUZ, FESTA DE SOL E O BARQUINHO A DESLIZAR NO MACIO AZUL DO MAR CANÇÃO O BARQUINHO, ELIS REGINA
FASANO NO MEDITERRÂNEO
MEU
BAIRRO

Tito Paolone, chef e restaurateur
Mais do que residência, o bairro Itaim é uma espécie de laboratório gastronômico para o chef Tito Paolone
Por Tito Paolone, em depoimento a Adriana Nazarian
“Minha história com a região do Itaim Bibi é antiga. Minha escola era nas redondezas, sempre circulei muito no bairro, mas nunca me aprofundei. Nasci e morei durante 25 anos no Jardim Paulista, até me mudar para o Itaim, logo antes de abrir o meu restaurante, o Mila (@mila_sp). Era meu primeiro projeto, um piloto de tudo. Estava sozinho, fazendo algo do zero. E, como ia ser meu laboratório, precisava ficar perto da minha casa e das pessoas próximas. Então, apesar de não considerar o Itaim o melhor ponto para empreender, sempre soube que meu negócio seria aqui ou nos Jardins.
Hoje, além de me sentir perto dos meus compromissos, gosto da facilidade de sempre encontrar o que preciso. Há pelo bairro uma filial da maioria dos serviços e lojas de São Paulo! Também adoro a proximidade dos parques e a facilidade de acesso à Marginal.
E, claro, é impossível eu não mencionar a vida gastronômica do bairro que, apesar de espalhada, é bem gostosa. Nada melhor do que passar na A Fornada e ver o movimento no café da manhã, provar o menu executivo do De Segunda e jantar no Mila, obviamente! Comer uma pizza do Paul’s Boutique, mas também um sushi no Kitchin ou no Naga. O Santa Maria sempre me salva na hora das compras e quando vou receber amigos: é um centro de serviços onde você encontra solução para tudo. A Rua Carla guarda algumas alegrias etílicas e gastronômicas escondidas, além da Pais de Araújo, com o Just a Bite, o Hon Maguro, o Santo Grão e o sorvetinho da Davvero.
Diria que minha vida no Itaim se resume basicamente a comida! Por isso decidi elencar meus endereços favoritos desse universo nas próximas páginas.”
itaim bibi

02
PAUL’S BOUTIQUE
“Pizzaria inspirada nas slice shops de Nova York – as pizzas têm 45 cm de diâmetro, são maiores que as tradicionais do Brasil. O pizzaiolo Paul Cho apresenta receitas como a de Milho e a de Stracciatella, vendidas em fatias ou inteiras.”
R. Dr. Renato Paes de Barros, 167 | @paulsboutiquepizza

01
“A padaria artesanal é a pedida ideal para um bom café da manhã ou um brunch Todos os pães são produzidos com farinha orgânica, sem conservantes.”
R. Dr. Renato Paes de Barros, 365 @afornadapadaria



03 A FORNADA KITCHIN
“O restaurante japonês tem atmosfera contemporânea e ambiente moderno. Entre os ingredientes, peixes frescos e iguarias, como o sashimi de pargo, o nigiri de carapau, o uramaki de centolla e o tartare de wagyu em folha crocante.”
R. Iaiá, 83 | @restaurantekitchin
Fotos
Juliana Primon, Leo Feltran, Vitor Neves e divulgação
sete acertos




EXIMIA BAR
“O novo bar tem receitas de drinques do premiado bartender Marcio Silva e comidas feitas pela incrível chef Manu Buffara, tudo com toque de brasilidade. Destaque para o Ameríndio, drink gaseificado e extremamente refrescante, com whiskey Bourbon Maker’s Mark, rum com masala brasileiro, amburana, mix de bitters, limão, gengibre e demerara.”
R. Dr. Mário Ferraz, 507 | @eximiabar

07 05
EMPÓRIO SANTA MARIA MANISH
06 04
“Além dos pratos, o tradicional restaurante árabe oferece esfihas e beirutes. Às vezes bate uma vontade de passar lá e pedir uma Torre de kibe. Para adoçar, o chocolamour, criação da família fundadora, é a pedida perfeita.”
R. Horácio Lafer, 491 | @manishrestaurante

“Sempre me salva na hora das compras, principalmente para receber amigos em casa. A curadoria é incrível, desde os produtos importados, passando por queijos, vinhos, azeites e chocolates. E no segundo andar fica um dos segredos do bairro: um restaurante japonês para chegar a qualquer momento e provar uma das delícias produzidas pela equipe.”
Av. Cidade Jardim, 790 | @stamariaemporio
DE*SEGUNDA
“Julia Tricate e Gabriel Coelho são os chefs e proprietários do restaurante De*Segunda. No menu sazonal, cozinha brasileira criativa para compartilhar. Tem ostra com sorbet de abacaxi, coração de pato com creme de milho e frango árabe. O executivo vale super a pena!”
R. Professor Tamandaré Toledo, 160 @desegunda.restaurante




Ele é xamânico
Xamã, rapper e ator
Em uma conversa franca e espirituosa, o rapper e ator Xamã passa sua visão sobre ancestralidade, presente e futuro de uma carreira com ares de sobrenatural
Por Mario Mele Retrato Lucas Nogueira
Há menos de quatro anos, sites de música e de fofoca ainda disputavam a audiência para revelar quem era o tal rapper que aparecia em um vídeo dando um tapinha no bumbum de Anitta. Xamã não era mais um mero anônimo. Havia quatro que estava na estrada, com três álbuns lançados, além de ter feito sucesso com as músicas Luxúria e A Bela e a Fera, responsáveis por atrair mais de 4 milhões de ouvintes mensais à sua página do Spotify naquela época. Mesmo assim muita gente não fazia ideia de quem era aquele moço sem camisa que parecia estar à vontade contracenando com a maior estrela pop do Brasil.
Hoje, a maioria dos fãs provavelmente ainda não sabe quem é Geizon Carlos da Cruz Fernandes, seu nome de batismo, mas é praticamente impossível alguém que não tenha pelo menos ouvido falar em Xamã, apelido que ele ganhou nas rodas de rap do Rio de Janeiro devido à semelhança com Nightwolf, o personagem “místico” do jogo Mortal Kombat.
Nos últimos dez anos, Xamã foi de competidor das
Carbono Uomo
Suas músicas não soam apenas como rap. Quais estilos musicais você costuma ouvir?
Xamã
Na adolescência, eu ouvia muito rock, música de protesto e rap - o meu primeiro contato foi a partir do álbum Quebra-Cabeça, de Gabriel O Pensador -, mas nunca imaginei trabalhar com isso. Também gosto bastante de samba e pagode, que influenciaram esse meu lado mais romântico.
Carbono Uomo
Dá para definir o estilo de rap que você faz?
Xamã
Gosto de misturar influências. Comecei no underground, mas a minha música foi ganhando características mais populares, tanto que chegou ao mainstream. Minhas primeiras influências vieram tanto do Brasil quanto de fora. Gosto muito de ouvir Gilberto Gil, por exemplo, além de rock dos anos 1980, samba e pagode.
batalhas de rimas de Campo Grande, bairro carioca, a destaque da novela das nove, Renascer. E segue na música e na dramaturgia com índices em plena ascensão: Malvadão 3, composta por ele, foi uma das faixas mais tocadas no Brasil em 2021; como ator, dobrou o número de seguidores no Instagram, que hoje passa de 8 milhões. E, como fã de Tarantino e Scorsese, também sonha em um dia trabalhar atrás das câmeras. “Quero ir sempre além, explorar novas possibilidades”, diz, sem medo de parecer simplista.
Apesar de profissionalmente ter entrado tarde na cena artística — como ele próprio considera —, hoje, aos 34 anos e no auge da fama, crê em um futuro ainda mais brilhante. Recentemente, a vida real imitou a ficção: esqueceu o lado reservado e assumiu namoro com a atriz Sophie Charlotte, com quem já vivia um caso de amor em Renascer No bate-papo a seguir, Xamã revela quem é seu ídolo no rap, com quem gostaria de fazer novas parcerias musicais e como tem usado sua voz para amplificar as lutas dos povos originários, que também representam suas raízes.
Carbono Uomo
Com qual artista você ainda sonha em fazer um feat?
Xamã
Eu sempre quis gravar com o [rapper brasileiro] Black Alien, meu ídolo. Já internacional, Travis Scott e Kendrick Lamar.
Carbono Uomo
E qual parceria você mais gostou de fazer até hoje?
Xamã
Com certeza, com o Major RD. Somos amigos desde os tempos das batalhas de rimas. Sempre acreditamos um no outro. Acho que ele é o artista com quem mais eu tenho feat. O trabalho com a Marília [Mendonça] também foi muito importante. Era uma artista incrível, que potencializou uma letra minha, Leão, e por isso ela também é muito especial para mim.
Carbono Uomo
Com esse sucesso na música e na novela, já deu tempo de sentir saudade de quando você era anônimo?
Xamã
Eu não sou muito saudosista. Virei músico tarde. Antes disso, tive vários trabalhos – na rua, como vendedor de loja, etc. E a música foi a última coisa que eu encontrei. Se soubesse, eu a teria encontrado muito antes. A música me levou ao cinema, à TV, me deu tudo o que tenho, seja educação política, seja uma vida melhor para minha família. Se não fosse por ela, nem sei onde estaria hoje. Mas, claro, apesar de valorizar muito meu caminho percorrido e minhas conquistas, sinto certa saudade da simplicidade e da liberdade que eu tinha antes da fama.
Carbono Uomo
Marcelo D2 é uma referência no rap e a história dele, de certa forma, se parece com a sua: ambos cresceram na periferia do Rio e tiveram trabalhos informais antes de fazerem sucesso. Ele é uma inspiração para você?
Xamã
Sem dúvida! O Marcelo D2 é referência máxima desde a época do Planet Hemp. Ele fomentou a minha ideologia de fazer música de rua.
Carbono Uomo
Você concorda que São Paulo e Rio de Janeiro têm diferenças consideráveis no hip-hop?
Xamã
Já rolou até uma rixa entre Rio e São Paulo em diversas áreas, como funk e rap. Muitas vezes o rap do Rio era visto como mais descontraído, como o som da galera do Quinto Andar, enquanto em São Paulo os rappers estavam voltados às questões sociais, a exemplo dos Racionais. Esse diálogo era difícil e acabava criando uma rivalidade. Hoje em dia isso quase não existe mais, porque os ritmos urbanos se uniram. Há artistas de São Paulo cantando sobre estar relaxado e gente do Rio cantando sobre compromissos. Isso mostra a extensão do rap. Todos têm algo a dizer sobre as ruas, seja para protesto, curtição ou maneiras de ser feliz
Carbono Uomo
Você sempre gostou de cinema. Mas quando você descobriu, realmente, que poderia ser ator? No futuro, pretende passar para trás das câmeras também?
Xamã
Na verdade, estou me descobrindo aos poucos. Sempre fui amante do cinema. Já flertava com ele nos meus clipes. Atuar sempre foi um sonho.
Sou muito fã do [Quentin] Tarantino e do [Martin] Scorsese, portanto tenho essa vontade de trabalhar atrás das câmeras também. Já codirigi clipes meus, mas quero ir além da música.
Carbono Uomo
Como foi a sua preparação como ator para estrelar uma novela de grande audiência? Foi desafiador decorar textos, atuar, ou foi mais fácil do que pensava?
Xamã
A preparação para viver o [personagem] Damião [na novela Renascer] foi intensa. Fiz aulas de atuação, prosódia e expressão corporal. Meu corpo é de um cara da cidade, da rua, e o Damião era um cara da fazenda, é bem diferente. Foi um desafio decorar textos e me adaptar ao ritmo das gravações, mas a experiência foi ótima, e eu espero viver isso novamente. Só não emendaria um novo projeto tão grande assim. Mas quando eu for fazer um novo personagem, vou encarar com o mesmo empenho.
Carbono Uomo
Você sentiu receio de ficar mais conhecido pelo personagem?
Xamã
Não tenho esse medo. Vejo como uma expansão da minha carreira artística. Da mesma maneira, se eu ficar mais famoso como ator do que como músico, tudo bem também. O mais importante é eu me expressar e tocar as pessoas, seja pela música, seja pela atuação.
Carbono Uomo
Como você se renova artisticamente? Não acha que ser famoso e frequentar outros ambientes pode lhe afastar do rap considerado “raiz”?
Xamã
Renovo-me de várias maneiras. É essencial estar sempre em contato com diferentes formas de arte, culturas e experiências. Viajar, conhecer pessoas e viver outras realidades são ações fundamentais para manter minha criatividade fluindo. Assim, trago novas perspectivas e influências para a minha música. Ser famoso e viver em outros mundos pode, sim, nos afastar do rap raiz, mas eu faço questão de manter essa conexão viva. Vim do underground, me tornei mainstream e o mercado acaba afetando o que você cria. Hoje, estou em busca de um formato de trabalho em que uso minhas raízes como
referência, e não influências externas. No momento, estou bastante focado em um projeto de boom bap [vertente do hip-hip em que se destacam os sons do bumbo e da caixa] com amigos, artistas antigos e pessoas das quais eu sou fã, não só do rap, mas tudo voltado para o lado underground e mais visceral.
Carbono Uomo
Como você lida com as críticas e, principalmente, com as fofocas?
Xamã
Procuro não ler muito as coisas que saem sobre mim. Tento me afastar das fofocas e dos haters. Antes, eu me aproximava disso e me sentia mal. Hoje em dia, não me importo muito porque eu acho que viver a opinião dos outros, seja ela boa ou ruim, não é legal.
Carbono Uomo
O Mano Brown já admitiu que não canta mais certas músicas por elas serem machistas. Você tem esse cuidado hoje na hora de escrever suas letras ou o seu estilo lhe dá essa “licença poética”?
Xamã
Tenho esse cuidado, sim. Acho importante evoluir e refletir sobre as mensagens que passamos. Procuro escrever letras que respeitem e elevem as pessoas. Essa “licença poética” não justifica perpetuar estereótipos ou preconceitos. É uma responsabilidade que levo a sério.
Carbono Uomo
Você se considera feminista?
Xamã
Prefiro acreditar que sou um “machista em desconstrução” e solidário à causa feminista. Na verdade, acho que todo mundo está se desconstruindo. Fui criado por mulheres fortes (minha avó e minha mãe) e sou pai de duas meninas. Portanto, para mim, é importante aprender e apoiar a luta das mulheres por igualdade e respeito.
Carbono Uomo
Como alguém com ancestralidade indígena, você tem planos para dar mais visibilidade às causas desses povos? Que conselho você daria a jovens indígenas que querem ingressar na carreira artística?

Xamã
Sim, na verdade eu já venho fazendo isso. Sinto essa responsabilidade de usar minha voz e minha plataforma para amplificar as lutas e histórias dos povos originários. Meu objetivo é trazer mais conscientização sobre a importância de proteger e respeitar a cultura e os direitos deles. Outros artistas, como Txepo Surui, Jason Tupi, Brisa Flow e Wescritor, também vêm fazendo um trabalho importante. Para os jovens indígenas que querem ingressar na carreira artística meu conselho é: “jamais deixem de acreditar em si mesmos e em suas raízes”. Sigam o exemplo desses artistas que eu citei. Eles têm mostrado ao mundo a riqueza e a diversidade das culturas originárias.
Carbono Uomo
O que você ainda pretende realizar com a música?
Xamã
Quero explorar novos sons e continuar colaborando com artistas de diferentes gêneros, levar minha música para mais lugares e continuar impactando as pessoas de forma positiva.
Carbono Uomo
Acha que a sua história já daria um filme? Qual ator viveria bem o Xamã nas telas?
Xamã
Gostei dessa ideia. Vou pensar melhor sobre isso (risos)
DOCE OBSESSÃO
De jornalista a livreiro, Ricardo Lombardi conheceu os livros quase que por acidente, mas foi por meio deles que encontrou sua vocacão. Em seu sebo paulistano Desculpe a Poeira (@desculpeapoeira), ele ajuda entusiastas do assunto a encontrarem seus lugares no que chama de labirinto da leitura. “Meu papel é conectar a pessoa do presente com um livro do passado que ela não sabia que desejava”
“Foi assim, de forma violenta, que comecei a minha relação com os livros. Estava no ateliê onde meu pai restaurava antiguidades, chutei uma bola na direção errada e acabei quebrando a imagem de um santo. O meu castigo, no início dos anos 1980: ler e resumir História Universal da Arte, de Gina Pischel. Não cheguei perto de terminar, mas acabei me refugiando naquele canto e comecei a passar muito tempo descobrindo os inúmeros caminhos da leitura.
Depois desse episódio, as descobertas foram se multiplicando. Lembro-me que comecei a colecionar livros policiais da série Ellery Queen vendidos nas bancas de jornal. Essas foram as primeiras narrativas que me chamaram a atenção: histórias de detetives solitários, personagens sempre muito marginais, crimes imperfeitos, adultérios. Eram livros baratos, feitos com papel-jornal, com capas incríveis. Colecionei de forma obsessiva, assim como fiz com as obras de Agatha Christie. Literatura policial é a melhor forma de entrar nos labirintos da leitura.
Trabalhei mais de 25 anos como jornalista, antes de abrir uma livraria de publicações usadas. Os mundos dos jornalistas e dos livreiros dialogam: ambos lidam com histórias, relatos, vidas de desconhecidos que acabam ganhando peso nas páginas (dos jornais e dos livros). Escolhi o jornalismo porque me sentia atraído pelos segredos escondidos na cidade. Eu ia atrás deles. No sebo, eles chegam até mim – dentro dos livros e nas conversas. Nas livrarias de edições novas noto que são os lançamentos que chamam mais a atenção. Nos sebos, os clientes estão mais abertos a encontrarem algo inusitado. Meu papel é conectar a pessoa do presente com um livro do passado que ela não sabia que desejava. Nos anos 1980, os sebos de livros eram os melhores lugares para se descobrirem novos autores já que as informações circulavam no bate-papo entre os frequentadores. Eram nesses espaços que desenhávamos um mapa men-
tal das nossas futuras leituras, conectando autores e afins, descobrindo joias perdidas. A cultura da troca de ideias era análogica, assim como a formação do gosto pessoal. Hoje é possível aproveitar os dois mundos: desenterrar livros nas conversas e aprofundar as pesquisas nas redes. Nesses ambientes, era comum a figura do colecionador. Depois dos policiais, passei a comprar tudo do escritor Stephen King. Mais tarde, já como jornalista, acumulei dezenas de traduções do Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger, um dos meus autores favoritos. Anos mais tarde, comecei a formar uma coleção de dicionários: de idiomas, de peixes, de palavrões; uma pequena obsessão interrompida pela falta de espaço.
As pessoas têm uma visão romantizada dos livreiros. Acham que passamos o tempo todo lendo. Gostaria que fosse assim. Brinco que é como tentar enxugar uma pedra de gelo: o processo nunca acaba. Por isso levanto cedo para fazer minhas leituras. Com a cabeça fresca e uma xícara de café, a leitura flui muito mais. Além disso, criei uma playlist de músicas tranquilas, sem letras, que ajudam a compor o ambiente ideal. Por outro lado, quando quero pegar no sono, leio antes de dormir.
Uma das vantagens dos livros usados é que eles contêm duas histórias: a do texto e a da pessoa que leu antes de você, por causa das anotações encontradas. Adoro ler livros com marcas: de lápis, de vinho e até de batom. O livro usado tem essa vantagem: dependendo de quem foi o leitor anterior, abre caminhos diferentes para quem está lendo no presente. Foi por isso que passei a colecionar os objetos que encontro nos livros: fotos, cartões-postais, bilhetes, passagens de trem. Cada um também conta uma história, às vezes conectada com o enredo do livro. Tenho vontade de editar um livro com esse material. Uma enciclopédia do esquecimento (ou das lembranças) de centenas de leitores. Ou, também, um baú de memórias anônimas (ou nem tão anônimas assim).”

Retrato
João Bertholini
Ricardo Lombardi, livreiro












OS DETETIVES SELVAGENS
Roberto Bolaño | Companhia das Letras
Um dos meus favoritos da vida – e o meu preferido do escritor chileno. Dois jovens poetas mexicanos tentam criar uma vanguarda literária em 1975 e se aventuram em busca das pistas de uma poeta perdida. Uma viagem pelo México (e mundo) afora narrada por diferentes vozes. O tipo de livro que recomendo para quem tem vontade de começar a escrever.
OS DIÁRIOS DE EMILIO RENZI [TRILOGIA]
Ricardo Piglia | Editora Todavia
Três volumes de diários escritos por Piglia em 327 cadernos, mas assinados por Emilio Renzi, seu alter ego. Não sabemos o que é verdade, o que é invenção do autor. Um livro que mostra a importância de se manter um diário atualizado com comentários sobre o cotidiano. Nós mudamos, mas as estradas antigas revelam como éramos no passado. Inspiração para a vida toda.
A VIDA COMO PERFORMANCE
Kenneth Tynan | Companhia das Letras
“O que um homem vê bêbado nas outras mulheres, vê sóbrio em Greta Garbo.” A frase é apenas um exemplo do que traz esse livro com 25 perfis de celebridades do cinema, do teatro (e das touradas). Lançado há 20 anos no Brasil, ficou meio esquecido, mas é uma joia para quem gosta de perfis jornalísticos escritos com categoria. Um pouco ácido, como se deve.
OBRA COMPLETA ESSENCIAL
SALINGER
de Assis | Nova Aguilar Franz Kafka | Companhia das Letras
Machado de Assis foi o escritor brasileiro que conseguiu usar sempre a palavra mais precisa em todas as frases. Quando necessito aumentar meu vocabulário ou desejo me inspirar para escrever uma carta ou um e-mail, recorro à sua obra. Você abre numa página aleatória e encontra uma palavra que você não conhecia usada da maneira mais elegante.
ANTOLOGIA PESSOAL
Jorge Luis Borges | Companhia das Letras
Borges selecionou, entre todos os seus escritos, o que mais lhe pareceu digno de formar um único volume. O autor, que amava bibliotecas e enciclopédias, trouxe seus universos fantásticos para esse livro, que funcionou para mim como uma espécie de iniciação às fabulações do autor.
David Shields e Shane Salerno | Intrínseca
O escritor J.D. Salinger não dava entrevistas e viveu recluso em sua casa, saindo apenas para ir ao correio e para curtos passeios. Nesse livro, os autores montam um quebra-cabeça e mostram, no estilo de um documentário, como a vida de Salinger entra em seus personagens – e como a experiência dele na Segunda Guerra Mundial afetou seu estilo e sua visão de mundo.
MENDEL DOS LIVROS
Stefan Zweig | Assírio & Alvim
A história de um judeu ortodoxo que trabalha como vendedor de livros usados, em Viena, e cujo único interesse eram as obras que comprava e vendia aos universitários. Mendel acaba sendo vítima da barbárie nacional-socialista e desaparece, revelando o seu valor de figura única.
Um dos três gigantes da literatura do século 20, ao lado de James Joyce e Marcel Proust. Linguagem sóbria, direta e inúmeras imagens de angústia atravessam toda a obra desse autor capaz de transformar a maneira como nos colocamos no mundo. Os 15 textos presentes nessa edição descortinam a ideia de que o grotesco pode, sim, parecer trivial. Para ler e reler sempre.
LIVRARIAS
Jorge Carrión | Bazar do Tempo
Talvez o melhor livro sobre livrarias. Numa mistura de literatura de viagens com ensaio, o autor traça um mapa sentimental desse tipo de comércio, desvendando seu papel na história das ideias e da literatura. As principais livrarias do mundo aparecem nesse volume, bem como as vidas e as obras dos livreiro que o autor conheceu.
AS COISAS QUE PERDEMOS NO FOGO
POETA CHILENO
Mariana Enriquez | Intrínseca Alejandro Zambra | Companhia das Letras
Mariana Enriquez é uma das narradoras mais surpreendentes da nova literatura argentina. Capaz de transformar gêneros literários em recursos narrativos, ela mostra nos 12 contos desse livro como é possível aproximar a literatura de horror da vida cotidiana dos leitores. O macabro, afinal, pode estar logo ali na esquina – basta olharmos com mais atenção.
Daqueles livros que indico para todas as pessoas, e de todas as idades. A poesia desempenha um papel importante nesse romance de Zambra, traçando o futuro dos personagens Gonzalo e Vicente, padrasto e enteado, permeando as decisões que os levarão para perto e para longe um do outro. Uma obra que nos relembra que a poesia está em todos os lugares, em todas as relações humanas.
ESCREVER FICÇÃO
Luiz Antonio de Assis Brasil Companhia das Letras
Um livro que surgiu a partir das famosas oficinas de escrita literária ministradas por Assis Brasil, na PUC do Rio Grande do Sul. Se você deseja escrever textos de ficção algum dia, ler esse livro é o primeiro passo, pois é nele que encontraremos muitas ferramentas importantes para destravar a escrita – sem fórmulas prontas.
Machado
1
Água mole
“A moda pode ser uma grande aliada na construção de pensamentos sociais e ambientais mais responsáveis. Procuro por tecidos menos danosos ao meio ambiente e me interesso por marcas que ofereçam soluções tecnológicas para mitigar os efeitos da indústria - esse é propósito da minha empresa.”
2
Sem firulas
“Sou clássico, gosto de um bom corte, de alfaiataria e linhos. De um terno bem cortado e uma boa camisa branca. Uma surrada camisa jeans, sempre! Não gosto de estampas. Tudo meu é mais liso e monocromático.”
3
Parceria
“Linho é meu tecido preferido. Uma fibra natural e muito funcional – fresca, mas nunca te deixa com frio quando bate um ventinho. Vai bem em muitos momentos do dia; não tem erro!”
MEU ESTILO

PUBLICITÁRIO E FUNDADOR DO ESCRITÓRIO DE COMUNICAÇÃO E RESPONSABILIDADE SOCIAL PEDRA (@PEDRA___)


4
Até o fim
“Gosto de ter um bom tênis de caminhada para dar meu rolê com os cachorros. Um bom sapato, uma boa bota... E vou usando até cansar. Assim faço com minhas roupas também.”
5
De baixo para cima
“Passei a buscar mais cores para minhas roupas. Trazem uma sensação de alegria, de chegar aos lugares com uma vontade otimista para a vida. Tudo começou com as meias e essa cordinha de óculos laranja que comprei numa feira em Cape Town.”

JEFF ARES
Retrato João Bertholini
6
Patuás
“Sempre uso uns acessórios étnicos. São amuletos para mim e penso que contam a história do mundo por meio das manualidades que atravessam os tempos.”
7
Lembranças
“Já fui mais consumista. Hoje em dia me interessa o que vai durar mais. Em viagens gosto de comprar coisas únicas, de garimpar nas feiras, nos mercados, nas lojas locais… Adoro acessórios de artesanato, como essa pulseira que comprei de uma mulher Masai no Quênia, esse colar que ganhei de presente da comunicadora
Samela Sateré Mawé e essas pulseiras que os monges budistas amarraram no meu pulso em Siem Reap.”
8
A força está com você
“Adoro meu anel de prata de caveira, que eu comprei em um antiquário em Cape Town – de um designer dos anos 1960. Ele me traz força. Caveira, para mim, é um símbolo de vida.”






Mais que amigos
“Meus cachorros Tanga e Chico são os meus companheiros de vida. Aprendo muito com eles e trocamos energia de um jeito bonito. Eles me trazem para mais perto da pureza das coisas.”
9
Tá na cara
“Gosto dos óculos da Moscot, da Oliver Peoples, da Persol. E conheci agora a marca Motebang, de Botsuana. Comprei um de madeira, azul e espelhado… Bem tiozão jovem style.”

Satyanatha
Carbono Minds
“Felicidade é borboleta. Não adianta espetá-la. Precisa, sim, plantar flores”
Davi Murbach, que hoje responde por monge Satyanatha, trocou uma rotina padrão para viver com mais sentido e menos angústias. “As angústias indicam a falta de algo que, na verdade, somos nós”
Por Rodrigo Grilo Retrato Camila Svenson
Não há exagero ao afirmar que Davi Murbach viveu duas vidas em uma única existência. A primeira ele experimentou em Campinas até os 22 anos. Descobriu o amor e a liberdade, viajou bastante. Dinheiro não era problema e a caminhada era gostosa demais. Havia amigos, um emprego bem remunerado em uma empresa de consultoria e a proximidade com o irmão caçula, com quem dividia um apartamento.
Desde os 17, porém, ele vivia uma crise por não se saciar com o que a vida lhe oferecia. E foi durante o curso de engenharia da computação na Unicamp que a mudança aconteceu. Ao ler o livro O Sermão da Montanha Segundo Vedanta, escrito por um sacerdote hindu, chorava sem parar. Havia, finalmente, encontrado o sentido que buscava. Decidiu abandonar tudo e ir atrás de uma jornada de significados.
Davi foi para o templo Kauai Aadheenam, no Havaí, onde se dedicou por sete anos à meditação, sempre com o nome de Satyanatha – palavra que vem do sânscrito e significa aquele que busca a verdade. Mais ainda: morou em uma cabana na floresta, sem eletricidade e água, e percebeu que, mesmo sem o suposto padrão de conforto, se tornava uma pessoa melhor. De lá para cá, Sat, como gosta de ser chamado, passou três anos sem uma residência fixa e com duas malas: uma de livros e outra de roupas. Viveu um ano em Palo Alto, como visitante em Stanford, até fixar moradia em São Paulo. Hoje, aos 45 anos, ele dá aulas e palestras, além de gravar meditações para o aplicativo Conexão Atma. Apesar de não ter se formado em engenharia, Sat gosta de dizer que se tornou um “engenheiro da alma”.
BURACO NA ALMA “Lembro-me de viver no monastério com uma energia de medo em uma parte do meu corpo. E tentando entender qual era a âncora que me prendia ali. Eu visitava a minha alegria, a capital do meu entusiasmo, a vilazinha da minha serenidade. As angústias indicam a falta profunda de algo que, na verdade, somos nós. Toda angústia é a falta de um pedaço que a gente tem, mas não está encontrando.”
MONASTÉRIO “Pela primeira vez eu estava sentindo. Eu tenho uma cabeça muito possante. Bastou eu meditar e pensei: ‘O engenheiro que eu fui era um louco!’ Ali, eu buscava sentir. A gente fica tão viciado em pensar na vida.
Pensar, porém, é somente uma das maneiras de viver. Perceber, refletir, estudar são outras. O que me tocou no monastério foi como eu estava feliz. Eu enxergava os meus pedaços. As falhas, tristezas, alegrias, esperanças, o meu potencial. E pela primeira vez eu me senti acolhido.”
FLORES EM VOCÊ “Não tenho ideia de como buscar felicidade diretamente. Não sei se é possível. Sei que, de maneira indireta ela chega com a delicadeza de uma borboleta. A gente tenta pegar de modo direto, mas ela é uma borboleta. Dá para ir atrás de serviço ao próximo, contemplação, melhorias, boas aventuras, parcerias, assim como buscar compaixão. Mas felicidade é borboleta. Não adianta espetá-la. Precisa, sim, plantar flores.”
RAIO-X “Há duas maneiras de a meditação contribuir com a energia monetária. Primeiramente, revelando que necessidades nunca foram realmente necessidades. Elas se tornaram apreciações. Por exemplo: apreciar o tapete do outro. A meditação potencializa a autoconfiança, harmoniza o nosso interior para trabalhar de uma maneira mais inteligente. Ela nos faz observar a diferença entre precisar e apreciar.”
OS MONGES SOFREM? “É um paradoxo. O paradoxo de uma bailarina. Ela se preparou tanto para que os movimentos aparentem acontecer sem esforço. Quanto suor deve ser o dela para parecer que nem sua enquanto baila? O monge não tenta esconder nada. O sofrimento nunca está no nosso palco central. Quando eu sofro, eu digo ao sofrimento para ficar em um cantinho ao invés de pilotar, porque vou expressar amor e humanidade a outras pessoas. Quando começo a ser dominado pela tristeza, convoco a esperança. Mas não significa que eu não caia. O retorno, porém, é rápido.”
FAKE NEWS “A meditação tem benefícios comprovados e uma história antiquíssima, mas já chegaram modismos. Para mim, a potência da meditação não vem a partir do professor, mas por meio dos efeitos! Ela deixou a pessoa mais leve? Com uma sensação de liberdade? Essa é a meditação que funciona e um dos seus sinais é uma sensação inexplicável de verdade: a vida interior parece mais real; e o mundo fora de nós fica tolo. Uma ilusão que se desmascara a cada nova meditação.”
MUITOS EM
UM
Homem de muitas artes, Seu Jorge mostra sua versatilidade em um ensaio que esbanja estilo e personalidade

Fotos André Passos
Direção de arte Mona Conectada
Edição de moda Léo Bronks
Grooming Beatriz Alves e Mabatha Ndiaye
Perfil | SEU JORGE



COSTUME
SAPATOS
ÓCULOS
RELÓGIO MONTBLANC
NESTA DUPLA
E CAMISA FENDI
CHRISTIAN LOUBOUTIN
POLO RALPH LAUREN
ANEL SKULL




NESTA DUPLA
COSTUME FCKT • GOLA ALTA DOD ALFAIATARIA • BOTAS ARAMIS BY CAUÃ REYMOND • PASTA
MONTBLANC • COLAR SWAROVSKI • ANEL SKULL • ÓCULOS POLO RALPH LAUREN • RELÓGIO CARTIER

NESTA DUPLA
COSTUME FCKT • GOLA ALTA DOD ALFAIATARIA • BOTAS ARAMIS BY CAUÃ REYMOND
ÓCULOS GUCCI
• COLAR SWAROVSKI • ANEL SKULL • RELÓGIO ROLEX




Produção Executiva Bianca Nunes; produção de moda
Mitty Yashima; catering Pérola Negra

Entrevista | SEU JORGE
A VOZ DA CULTURA BRASILEIRA
Com o nascimento de Samba e uma história marcada por reinvenções, Seu Jorge entrelaça música, cinema e paternidade em um legado sonhador
Por Jairo Malta Fotos André Passos
Samba chega à sessão de fotos com a mesma energia que carrega em seu nome: contagiando todos ao redor. Seu rosto, uma mistura encantadora de inocência e teimosia, revela a busca incessante pelo pai. Com gestos determinados, ele pede a Seu Jorge que ligue o som. Com um sorriso cúmplice, Jorge atende ao pedido do filho, mostrando a conexão entre os dois. Na JBL, os acordes de A Voz do Morro preenchem o ambiente, e o verso “Eu sou o samba” ecoa com uma força ancestral. Naquele momento, parece que o pequeno Samba, único filho homem do cantor, de apenas um ano e seis meses, começa a se reconhecer nas notas da música que o batizou. “Este é o príncipe”, afirma Jorge, enquanto observa o pequeno sob os olhares atentos de Karina Barbieri, sua companheira e mãe de Samba.
Assim como os primeiros passos de seu filho, a história de Seu Jorge não segue caminhos previsíveis. Enquanto a maioria dos artistas brasileiros busca
reconhecimento internacional após consolidarem suas carreiras no Brasil, ele traçou uma rota inversa. “Eu não era um cara estourado no Brasil. Eu fui direto me apresentar na Europa”, relembra, voltando a 1998, quando o álbum Farofa Carioca o levou a Portugal. Foi lá fora que Jorge começou a desenhar uma trajetória singular. Seu talento multifacetado logo capturou a atenção de nomes do cinema mundial, como o cineasta Wes Anderson e o ator Bill Murray, com quem trabalhou em filmes que já se tornaram clássicos, como A Vida Marinha com Steve Zissou, de 2004.
O jeito sedutor e a voz grave – sua marca registrada – ajudaram Jorge a cativar esses medalhões do cinema. Ele compartilha como, mesmo após 19 anos, Wes Anderson não esqueceu sua promessa de incluí-lo em um novo projeto, culminando em sua participação em Asteroid City, filme de 2023. “Foi uma pequena aparição, mas estar lá me deu ainda mais confiança no
que eu faço, uma chancela, sabe?”, conta ele. Essas colaborações o consolidaram como um dos artistas brasileiros mais reconhecidos no mundo.
EU VIM DE LÁ
Essa determinação tem raízes, plantadas na infância e juventude em Belford Roxo, um dos bairros mais violentos do Rio de Janeiro nos anos 1990. Foi nessa época que Jorge percebeu que sua trajetória seria diferente da maioria. “Eu rompi com a ideia da normativa de buscar uma carteira assinada, uma profissão, para fazer arte”. Na opinião dos seus pais, para um jovem negro nessas condições, “fazer arte” não era uma “profissão”.
A ruptura obrigou o artista a enfrentar um tratamento que quase o levou a um caminho sem volta. “Eu saí da instituição [Exército] sem a minha reservista, um documento para provar minha idoneidade, e foi tenebroso”, comenta, ao relembrar que foi expulso

“Eu rompi com a ideia da normativa de buscar uma carteira assinada para fazer arte”
do Exército aos 19 anos, onde cumpria o serviço militar obrigatório de um ano. “Isso foi como uma sentença de morte para um jovem negro de Belford Roxo.”
O teatro e a música foram fundamentais para que Seu Jorge superasse complexos de inferioridade e se tornasse o artista que é hoje. “O teatro destruiu todos os meus complexos. Fez com que eu me achasse bonito”, confessa, destacando o papel transformador que as artes desempenharam em sua vida. Ele fala com carinho sobre suas influências musicais e como a MPB foi uma fonte de inspiração. “Eu sempre cantei músicas do Djavan, do Caetano, do Gil. Era na MPB que eu me fascinava.”
Esse fascínio pela música e pela interpretação resultou em 13 discos gravados, entre eles Músicas para Churrasco Vol. 1 (2011), sua obra mais tocada, e Ana e Jorge (2005), em parceria com Ana Carolina. Suas diversas colaborações, que vão de Planet Hemp a Racionais MCs, reafirmam a versatilidade de Seu Jorge, capaz de se adaptar do rock carioca ao rap paulista sem muito trabalho.
Na seara cinematográfica, enganase quem pensa que Mané Galinha, seu personagem em Cidade de Deus, de 2002, tenha sido o mais desafiador. Interpretar o político Carlos Marighella foi, nas palavras do ator, “definitivamente o papel mais difícil” de sua carreira. E ele admite que, antes de ser convidado para o posto no filme homônimo dirigido pelo amigo Wagner Moura, “não sabia nada sobre Marighella” e
que seu primeiro contato com o líder revolucionário foi por meio de uma música dos Racionais MCs. O convite para o trabalho veio de surpresa, após o rapper Mano Brown, inicialmente escalado, não poder continuar. “Foi um projeto muito intenso, tanto física quanto emocionalmente”, afirma Jorge.
Na vida real, a política de Seu Jorge se manifesta na militância racial, tema central em tudo o que ele faz, e suas experiências como negro no Brasil o moldaram. A escolha do nome Samba para seu filho, por exemplo, reflete essa conexão com suas raízes. “Samba é um nome autêntico africano. Por meio dele eu me entendo mais como um afrobrasileiro.” A busca pelas origens o levou a descobrir que sua linhagem é de Camarões. Além de Samba, Seu Jorge é pai de três filhas: Luz, Flor e Aimée, que moram nos Estados Unidos.
NO MUNDO TODO
Seu Jorge é inquieto. Além dos filmes e discos, seu lado empreendedor se manifesta em diversos projetos, como a Black Service, uma plataforma voltada para a criação e a comunicação direta com seu público. “Eu preciso ficar fazendo coisa, inventando história. A Black Service nasce de um grito meu de me comunicar”, explica ele. Esse espaço é, segundo o empresário, um centro de criação onde ele pode se conectar com outros artistas.
Em sua principal vitrine com os fãs, seu perfil no instagram (@seujorge), Jorge esbanja fotos com artistas
PÁGINA AO LADO
globais, como Bruno Mars e Denzel Washington. Esse glamour alinhado à sua história colaborou para ele ser o primeiro embaixador da Cultura Brasileira, entregue pelo Ministério da Cultura (MinC), em 2023. “A nossa voz precisa ser ouvida. Eu tenho muito orgulho de ser um cidadão deste país e de promover nossa cultura onde quer que eu vá”, diz.
No auge dos 54 anos, Seu Jorge exibe uma energia renovada, fruto de uma nova paixão: a corrida. “O meu esporte, desde criança, sempre foi o atletismo”. Nos últimos anos, a corrida se tornou uma atividade essencial para manter o equilíbrio em sua vida agitada. Ele recorda que foi durante uma estadia no Rio de Janeiro, ao observar pessoas correndo na praia de Copacabana, que decidiu calçar os tênis e aderir ao esporte. “Comecei com um pouco de vergonha, mas depois embalei e não parei mais.”
Olhar para o futuro é algo natural para alguém tão intenso. Seu Jorge continua a expandir seus horizontes, no Brasil ou no exterior, com projetos que refletem sua paixão. “Eu sou um sonhador. Eu sonhava com pertencimento, fazer parte, ser incluso”, diz ele, repetidas vezes, afirmando que imaginar sempre foi seu diferencial. Seja no cinema, na música ou nos negócios, seu legado carrega a mesma intensidade que dedica a cada acorde e a cada cena. Após se reinventar tantas vezes, ele encontra na paternidade uma forma de expressar sua herança, guiando o pequeno Samba para que ele, assim como o ritmo, ecoe no mundo.


J. Borges
Carbono Minds
“Eu não escrevo sobre o País nem sobre outros países em que andei no estrangeiro. São coisas de lá. E eu gosto é de divulgar e manter viva a cultura do nosso povo nordestino”
Em uma de suas últimas entrevistas, o pernambucano J. Borges relembra a importância de mostrar ao mundo o valor do Nordeste. A seguir, nossa homenagem ao mestre dos mestres
Por Adriana Nazarian Retrato Moyra & Luan
No início deste ano, J. Borges (1935-2024), então com 88 anos, deixou sua casa, no interior de Pernambuco, para vir a São Paulo celebrar sua coleção em parceria com a marca de mobiliário +55 Design. Na ocasião, a equipe Carbono teve a chance de entrevistar o maior cordelista e xilogravurista do Brasil, sem saber que aquelas seriam algumas de suas últimas palavras ditas para a imprensa. José Francisco Borges se foi recentemente, mas eternizou seu maior legado: retratar e ressignificar o imaginário nordestino por meio da arte. Escreveu e desenhou – sem estudos ou rascunhos prévios – sobre amor, cangaço, mistério, milagres, crimes, religiosidade e, acima de tudo, resiliência ao longo dos últimos 60 anos. Hoje, o menino que vendia colheres de pau na feira é considerado um verdadeiro patrimônio de Pernambuco. E referência entre colecionadores e intelectuais. A seguir, relembramos os principais trechos da conversa para homenagear o mestre.
IMAGINÁRIO “Nos anos 1940, não tinha rádio, não. Também não tinha televisão, não. Nós morávamos no sítio. Não tinha cinema, não tinha nada. A única diversão antes de dormir, para não deitar cedo, era a leitura do cordel. Meu pai lia duas, três histórias. Havia histórias de amor, de cangaço, de Reino Encantado. Com o tempo, me apaixonei pela literatura de cordel. Quando eu cheguei aos 20 anos, comecei a escrever cordel. Já tenho 300 originais publicados.”
PATRIMÔNIO “Desde pequeno eu era fã de Luiz Gonzaga, que a vida toda cantou o Nordeste. Quando entrei na arte, eu entrei na intenção de contar e também registrar esse universo, tanto que minhas gravuras trazem todos esses assuntos. Eu não escrevo sobre o País nem sobre outros países em que andei no estrangeiro – e são dez países, vi muita coisa boa lá. Mas são coisas de lá. E eu gosto é de divulgar e manter viva a cultura do nosso povo nordestino.”
DO NORDESTE PARA O MUNDO “Eu já ilustrei livro de americano, de pessoas da França, três livros de poetas da Suíça, de autor da Alemanha e de outros países. Chega encomenda, eu faço. Então estou levando a
cultura do Nordeste para todo o mundo. Até mesmo na Suíça, criei para um evento uma ilustração inspirada na asa-branca e coloquei alguns detalhes do Nordeste. Lá me perguntaram: “Mas o que é isso?” Bem, eu tinha de trazer a cultura nordestina para os suíços, que não entendem nem conhecem o Nordeste do Brasil – que, na minha opinião, é a região mais rica do mundo em cultura popular.”
SEM ENSAIO “A gente se acostuma a desenhar direto na matriz de madeira, sem esboços. Tem artista que usa a mesma técnica, mas primeiro desenha no papel e depois passa para a madeira. Quer dizer, já é outra coisa, outro desenho. Eu desenho direto na madeira para criar minhas gravuras, que podem ter alguns centímetros ou muito mais. Essas grandes que eu faço, com até um metro de comprimento, são todas desenhadas direto na madeira, de figura em figura, procurando botar ali todos os detalhes nordestinos.”
PORTA-VOZ “Fui considerado patrimônio vivo de Pernambuco, título concedido pelo Estado aos Mestres da cultura popular pernambucana reconhecida como patrimônio imaterial. Isso significa um grande reconhecimento. A ideia do patrimônio imaterial teve início em 2002, com o intuito de selecionar a cada ano dez referências pernambucanas em atividade para serem homenageadas em vida. Eu e mais um pessoal fomos contemplados. E o que nos deu maior prazer foi poder aproveitar esse projeto para divulgar Pernambuco e o Nordeste, o que sempre valorizei muito no meu trabalho.”
NOVOS TEMPOS “O projeto com a +55 Design foi bom porque me ajudou financeiramente e me permitiu fazer uma coisa que eu não pensava em fazer: nele, as matrizes de madeira compõem a superfície das peças de mobiliário. Verdade que o processo se distorce um pouco na tecnologia. Minhas gravuras são sempre feitas no mesmo estilo e nisso eles pediram para fazermos do mesmo jeito. Mas entender que a gravação iria para outro lugar, aquilo me deu inspiração também, me deu mais gosto de criar. E agora quero ver se meu trabalho influenciou alguma coisa lá na firma em São Paulo (risos).”
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Moda cíclica
“Meu despertar para a moda aconteceu cedo. Quando tinha 16 anos, gostava de buscar tecidos diferentes e fazer roupas para vender para meus amigos. É algo que me traz muita satisfação e me renova todos os dias porque faz com que você aceite o novo, as mudanças, sem rigidez.”
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Estilo próprio
“‘Quando você tem estilo você não copia, é copiado’. Adoro essa frase e sinto que sempre tive um gosto muito próprio para me vestir. O homem não tem tanta variedade dentro da moda quanto a mulher. Então nos cabe concentrar nas combinações de cores, nos acessórios e no caimento das peças.”
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O guarda-tesouros
“Os itens que não podem faltar no meu guardaroupas são jaquetas de couro; jeans denim black; blazers – que gosto de desconstruir combinando com tênis –; óculos modernos e antigos; anéis, correntes e botas – cresci em uma família espanhola e tenho bastante dessa influência flamenca.”
MEU ESTILO

PEDRO CORULLA CONSULTOR, ESTILISTA E FUNDADOR DA PEDRO CORULLA ALFAIATARIA (@PEDROCORULLAALFAIATARIA)


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Carinho
“Sempre fui cabeludo e, desde que cortei os cabelos, sinto frio no pescoço. Resolvi o problema colecionando cachecóis! Além de aquecer, dá um charme extra ao visual.”
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Bem-estar
“Tenho um estilo de vida bastante saudável. Sou adepto da alimentação macrobiótica desde os 16 anos e pratico muitos esportes. Fui campeão de moto na categoria enduro; já tive academia de taekwondo – sou faixa preta; e hoje em dia estou me aperfeiçoando na ioga.”
Retrato João Bertholini
MISSONI

Novos ares

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Conexão
“Buscando uma moda elegante, porém descontraída, que não encontro no mercado, lancei uma linha prêt-à-porter dentro da Pedro Corulla, minha alfaitaria sob medida. Já atingi o aprimoramento absoluto na construção de um blazer ou de um smoking. Agora sinto necessidade de oferecer também uma moda mais casual.“

“Cresci no mar e sempre tive o surfe presente na minha vida. É algo pelo que sou apaixonado até hoje e um esporte que me renova e me conecta muito com meus filhos. Mesmo eles morando no Uruguai e em Nova York, todos os anos nos encontramos em nossas viagens de surfe mundo afora.”
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Vivendo o presente
“Faço cursos de formação de ioga e viagens para a Índia e me encontrei nessa prática. Atualmente já passei pela parte física e estou focado na mental, mas é um aprendizado constante. Ela me dá equilíbrio e lucidez e me ajuda a focar no presente, me tornando um homem melhor e ainda mais espiritualizado.”
Voando sem asas
Traçamos um panorama da cena equestre do Brasil e do mundo. O esporte, que tem crescido exponencialmente por aqui, é quase um estilo de vida. “Nenhuma hora passada numa sela é perdida”, já dizia
Winston Churchill
Por Lili Carneiro

Salto, doma, triatlo, polo, enduro, atrelagem... essas são apenas algumas das modalidades equestres praticadas no Brasil. Tido como um estilo de vida, além de um esporte que une tradição, arte e conexão com a natureza, o hábito de montar a cavalo vem desde a época do Brasil Colônia, quando a equitação era meio de transporte para nobres e integrantes da elite portuguesa e também método de carregamento de carga e mercadorias. A prática, que tem conquistado cada vez mais adeptos em haras, hípicas e fazendas no País, conta com um calendário intenso de eventos e campeonatos que atraem multidões apaixonadas. Com mais de 100 associações e
clubes dedicados a esportes realizados com cavalos, concentrados principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais, o Brasil tem como entidade máxima na regulamentação e na organização a Confederação Brasileira de Hipismo (CBH), fundada em 1926 e filiada à Federação Equestre Internacional (FEI), órgão global com 138 federações associadas. E os números só crescem. Atualmente, são 20 mil atletas registrados pela CBH. A Federação Paulista de Hipismo (FPH), que congrega 120 entidades, incluindo federações de outros estados e até a Federação Equestre Argentina, encabeça a lista, com 1.800 animais e 935 esportistas. Mundo afora os
números também se multiplicam, e impressionam: estima-se que existam nos dias de hoje, mais de 10 milhões de praticantes de esportes equestres, com destaque para países como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. No quesito economia, o mercado global de equipamentos e acessórios para equinos também é quente e movimenta mais de US$ 7 bilhões por ano.
CAVALO SELADO, CORAÇÃO APAIXONADO
“Pegar o animal no piquete, escovar, encilhar, colocar as ligas, preparar para a montaria... é a minha válvula de escape! Quando me
Um dos obstáculos do Defender Kentucky Three Day Event, nos EUA



concentro nos cascos do cavalo, em seus dentes, na embocadura, eu me esqueço de todo o resto”, conta o atleta José Montanaro Júnior, que não abre mão do melhor tratamento para seus “ pets gigantes”, como chama seus amigos de crina e quatro patas. Detentor das mais gabaritadas medalhas no vôlei – campeão paulista, brasileiro, latino-americano, mundial e vice-campeão olímpico –, atualmente tem como paixão os equinos, e não mais o esporte de alto rendimento. “Desenvolvi uma relação muito próxima com os cavalos desde criança, quando meu pai alugava um na represa de Guarapiranga em nossos passeios nos finais de semana”, diz ele que, hoje, é dono da sua própria manada de exemplares Puro-Sangue Lusitano. A raça, muito utilizada para equitação clássica, tem como principais características “o porte físico alto e forte, a bela cabeça levemente acarneirada e o gênio dócil”, explica Montanaro. E é uma das principais comercializadas no Brasil, ao lado de Andaluz, Árabe, Campolina, Crioulo, Mangalarga e
Quarto de Milha. Ao final de 2024, mais de 70 eventos de hipismo, chancelados pela FPH, que englobam as mais diferentes espécies para as modalidades Salto, Salto Iniciante, Adestramento, Paradestramento, Volteio, Enduro, Hipismo Completo e Atrelagem, terão acontecido no estado de São Paulo. O calendário internacional também é entusiasmado e repleto de competições em locações históricas, como o Castelo de Windsor e a residência do Duque de Beaufort, ambos na Inglaterra. Alguns dos principais eventos que estão por vir são: o Defender Kentucky Three Day Event, em abril de 2025, em Kentucky, nos EUA; o Badminton Horse Trials, em maio de 2025, em Gloucester, na Inglaterra; o Royal Windsor Horse Show, também em maio de 2025, em Berkshire, na Inglaterra; o Hickstead Derby, em junho de 2025, em Haywards Heath, ainda na Inglaterra; o World Equestrian Games, em agosto de 2026, em Aachen, na Alemanha; e, é claro, as Olimpíadas, em julho de 2028, na Califórnia.
Em sentido horário, a pista olímpica de pentatlo e hipismo montada no Palácio de Versalhes; o evento Hickstead Derby; e o atleta olímpico do vôlei José Montanaro com seu filho, também José
A BELA E A SELA
A mais jovem atleta olímpica de hipismo do mundo, Luiza Tavares de Almeida Milan fala sobre passado, presente e futuro. “Poder viver essa relação com os cavalos é um privilégio”

Outra amante do mundo equestre, assim como o campeão José Montanaro Júnior, também é atleta olímpica, mas aqui ainda existe futuro na carreira. A jovem Luiza Tavares de Almeida Milan, amazona de adestramento, carrega no currículo três participações em Olimpíadas. A primeira, em Pequim 2008, lhe rendeu registro no Livro dos Recordes como a mais jovem atleta da história do hipismo a competir nos Jogos Olímpicos, com apenas 16 anos. Em Londres 2012, outro feito: “fui pelo individual, representando toda a América Latina. Uma honra! O adestramento não tem enorme cultura no Brasil e conseguir índice olímpico foi por si só uma grande medalha”, diz Luiza, que emenda, “Rio 2016 foi muito especial. Competi em casa, com meus irmãos Pedro e Manuel no mesmo time”. Além dos irmãos e da irmã Thaisa, os equinos parecem povoar também o coração de grande parte da família. O avô materno criava Mangalarga, o pai, Manuel, cria Puro-Sangue Lusitano e a mãe, Thereza, é amazona de salto e adestramento. “O cavalo é nosso maior elo”, revela a atleta. O pai de Luiza, além de criar, é um grande investidor e incentivador do esporte, “o hipismo vem crescendo muito no
“É o ciclo do bem: com mais investimento, melhores cavalos, melhores resultados, mais competições, mais visibilidade, mais patrocínio”
Brasil, principalmente o adestramento, devido ao significativo investimento feito pelos criadores, entre eles os de Puro-Sangue Lusitano. É o ciclo do bem: com mais investimento, melhores cavalos, melhores resultados, mais competições, mais visibilidade, mais patrocínio. Isso inspira novos atletas e mostra que é possível!”
A IMPORTÂNCIA DA JORNADA
A amazona, que é adepta da máxima de que o esporte imita a vida – “para prosperar é preciso disciplina, respeito e responsabilidade” –, descreve um dos momentos de maior emoção que já viveu ao lado de um cavalo. “Eu tinha 15 anos e estava tentando uma classificação para os Jogos Panamericanos 2017. O time titular já estava escolhido. Eu e outro cavaleiro disputávamos uma vaga na reserva. O técnico escolheu o outro cavaleiro, alegando minha pouca idade. Foi um momento muito difícil, após anos de preparo, dedicação e expectativas. E então escutei do meu pai algo que jamais esqueci: ‘Você deu tudo de si. Deu seu sangue, seu suor. Essa é a vitória.’ Foi ali que eu entendi a importância da jornada. Eis que então um cavalo da equipe do Pan se machucou e eu fui convocada para a reserva. No outro dia, um cavaleiro, infelizmente, passou mal e lá fui eu como titular! Trouxe o bronze para casa! Naquele dia começou a minha trajetória, ciente de que o caminho importa tanto quanto a chegada.”
Agora, Luiza, por que não foi para Paris 2024? “Dessa vez escolhi outro tipo de Olimpíadas.” Luiza está grávida de 9 meses da primeira filha, Helena, que chega para realizar seu sonho de ser mãe. “Quem sabe não vem por aí uma nova amazona para a família?”, brinca, com um olho na barriga e o outro em Los Angeles 2028.
Conheça as principais modalidades de esportes equestres, suas regras, habilidades e características
ATRELAGEM ( DRIVING )
Modalidade em que o animal é guiado pelo condutor em uma charrete em diferentes tipos de provas, como adestramento, obstáculos e maratona.
DOMA CLÁSSICA
( DRESSAGE )
Espécie de dança equestre onde se realizam séries adestradas de movimentos marcados e elegantes. É muitas vezes descrita como um balé.
DOMA WESTERN ( REINING )
DOMA ÍNDIA
Método que consiste em amansar o cavalo sem qualquer tipo de força física. Utilizando-se somente da relação de confiança e respeito entre domador e animal.
Adestramento em que se executam manobras rápidas e precisas, como paradas e giros. É fundamental ter controle e fluidez de movimentos.

SALTO ( SHOW JUMPING )
Percurso com obstáculos variados, como barras, cercas e trincheiras. O objetivo é completar rapidamente o trajeto sem derrubar nenhuma barreira.
ENDURO EQUESTRE ( ENDURANCE RIDING )
Corrida de longa distância em rotas de 40 a 160 km. Um teste de resistência tanto para o cavalo quanto para o cavaleiro.
TRÊS TAMBORES
Prova de velocidade em que é preciso concluir no menor tempo possível um percurso triangular contornando três tambores de 200 litros.
POLO
Esporte de equipe jogado em campo, em que os jogadores montados tentam marcar gols acertando a bola com um taco. É conhecido por sua velocidade e estratégia.
TRIATLO EQUESTRE ( EVENTING )
Combinação complexa de três disciplinas: salto, doma clássica e cross-country (um percurso de obstáculos naturais em terreno aberto).
VAQUEJADA
Atividade cultural forte no Nordeste, considerada Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, que se resume a cavaleiros em dupla tentando derrubar um boi puxando-o pelo rabo. Em 2016 a prática – repudiada pelos defensores dos animais (Carbono incluída) – , assim como o laço e o rodeio, foi regulamentada pelo STF.
VOLTEIO ( VAULTING )
Bateria de acrobacias realizadas em cima do cavalo enquanto ele galopa. É como uma ginástica de equilíbrio em movimento.

“Não deem dinheiro aos seus flhos. Se puderem, deem-lhes cavalos. A equitação nunca arrastou ninguém à desonra. Nenhuma hora de vida passada numa sela é perdida.”
Winston Churchill, político britânico
“Carregando um príncipe ou um camponês, um cavalo é sempre o mesmo.”
Provérbio grego

“Deus impeça que eu vá para algum Céu onde não haja cavalos.”
R.B Cunninghame-Graham, político inglês


TESKEY’S
Um paraíso para quem está buscando ótimas comprinhas. Como toda boa loja americana, ela é enorme e dispõe das melhores marcas de roupas, botas e chapéus para cowboys e cowgirls, além de acessórios para montaria, como selas, mantas, caneleiras, peiteiras e cabeçadas. @teskeys_weatherfordtx

Não é somente a equitação clássica ou o salto que tocam o coração do brasileiro. Roberta Morbach Pacheco é um exemplo disso. Competidora de três tambores, a paulistana foi para o Texas, um dos mais importantes redutos equinos dos EUA, e trouxe dicas quentes para os cavaleiros e amazonas adeptos da cultura country

THE SALT LICK
Aclamado por suas carnes, que ficam assando por horas, é um dos BBQs mais concorridos de Austin. O lugar é muito gostoso e descontraído e o molhinho da casa que acompanha os pratos é absolutamente delicioso!
@saltlickbbq

BILLY BOBS
Uma mistura de restaurante, bar e balada em Fort Worth. É o maior honky tonk (um tipo de “botecão” country) do mundo, com as famosas line dancing e muita música ao vivo. Dentro tem uma arena que é palco para algumas competições. Superdivertido! @billybobstexas
NATIONAL FINALS RODEO (NFR)
São as disputas finais de várias modalidades do meio western, com os melhores atletas do mundo, incluindo, claro, as meninas de três tambores – modalidade com alta presença feminina. Apesar de ser em Las Vegas, é quando a cidade americana se transforma no próprio estado do Texas, com milhares de pessoas de chapéu caminhando nas ruas. É incrível! Um megaevento que acontece todos os anos em dezembro. +nfrexperience.com
ROBERTA INDICA
SUA MAJESTADE, O CAVALO
Considerados um dos animais mais bonitos do planeta, os equinos são, desde sempre, escolhidos como mote para filmes, livros, pinturas e músicas. Veja alguns exemplos de quando um cavalo foi protagonista no mundo das artes

BLACK BEAUTY
Anna Sewell
Publicada em 1877, a obra literária, que teve enorme repercussão mundo afora, conta a história de um cavalo que, por meio de suas próprias experiências e perspectivas, mostra suas interações com os humanos e as adversidades que enfrenta.

A HORSE FRIGHTENED BY A LION
George Stubb s
O pintor britânico, especializado em retratar cavalos com grande detalhe e precisão, estudou profundamente a anatomia dos equinos e seus quadros estão entre os mais precisos já pintados até hoje.


WILD HORSES , The Rolling Stones
Lançada em 1971, no álbum Sticky Fingers , é uma música melancólica sobre amor e liberdade, que usa os cavalos selvagens como uma poderosa metáfora.
A HORSE WITH NO NAME , America
A famosa canção fala sobre uma travessia de um deserto a bordo de um cavalo sem nome, simbolizando uma experiência de autodescoberta.
NAPOLEON CROSSING THE ALPS
Jacques-Louis
David
Uma famosa tela pintada a óleo que retrata o imperador em sua passagem pelo Great St. Bernard Pass, na Suíça, em 1800.


WAR HORSE (2011)
Dirigido por Steven Spielberg, o filme é inspirado na peça de teatro e no filme homônimos e acompanha a jornada de um cavalo chamado Joey no período da Primeira Guerra Mundial.
SEABISCUIT (2003)
Um drama, com o ator Tobey Maguire, baseado na verdadeira história de um cavalo de corrida que se tornou ícone nacional durante a Grande Depressão.


THE BLACK STALLION
Walter Farley
Uma série com quatro livros que relata a vida de um jovem ao lado de um cavalo selvagem. Ficou conhecida por sua emocionante representação da relação de afeto entre o menino e o animal.
CAVALO DADO SE OLHA OS DENTES, SIM!
O professor de equitação Antônio Carlos Pereira de Almeida, que reside e leciona no interior de São Paulo, ensina os primeiros passos rumo ao galope
OUÇA A VOZ DA EXPERIÊNCIA
“Escolha uma escola ou centro de treinamento sérios para ter aulas. Um professor capacitado é fundamental para se atingir uma equitação de qualidade.”

CAVALO VELHO É QUE CONHECE O CAMINHO
“Monte, nos primeiros treinos, um cavalo mais maduro –a partir de 5 anos de idade. Os potros tendem a ser mais agitados e irrequietos. A expectativa de vida de um equino gira em torno de 25 a 30 anos – os pôneis vivem aproximadamente 15 anos mais.”
QUANTO MAIS CONHEÇO AS PESSOAS, MAIS GOSTO
DOS ANIMAIS
“Desenvolva um conjunto harmonioso entre cavaleiro e cavalo. Ou seja, crie uma amizade, um vínculo afetuoso com o animal. Somente assim ele dará tudo de si para que a parceria com o montador seja prazerosa.”
PODE TIRAR
SAÚDE EM PRIMEIRO LUGAR
“A qualidade de vida do bicho se dará de acordo com a nutrição, a atividade física e os cuidados dentários e veterinários dispensados a ele. Respeite seu amigo!”
O CAVALINHO DA CHUVA
“Embora muitos cavalos vivam ao ar livre, é fundamental que tenham acesso a um espaço coberto e protegido em caso de condições climáticas severas, como geadas, enchentes e deslizamentos.”
GALOPEEEIRA!
Endereços e serviços para despertar o cavaleiro que existe em você
Com mais de 50 anos de história, a equiloja Spur começou sua atuação perante um cenário em que a escassez de equipamentos e acessórios adequados para a prática do hipismo era uma realidade no Brasil. A fundadora, Sonia Machado, decidiu então criar um espaço que não apenas atendesse às suas necessidades pessoais como também oferecesse soluções para toda a comunidade equestre. Em suas prateleiras há produtos para simpatizantes e profissionais. Desde materiais de selaria até roupas e acessórios para ferragem. Um dos pontos altos? O atendimento feito por Sonia em pessoa, dona de uma boa prosa e de um profundo conhecimento das necessidades dos cavaleiros e dos cavalos.
@equispur


O ano era 1977 e um cavalheiro entrava em uma fábrica de calçados em Campinas. Lá dentro avistou um trabalhador e lhe entregou um pedaço de papel onde constava um desenho rabiscado de uma bota de montaria. “Vocês têm modelos assim?”, perguntou o cavaleiro, a quem o artesão respondeu que não, mas se prontificou a fabricar um sob medida para o jovem. Alguns dias depois, o cavalheiro cavaleiro, radiante com a perfeição dos novos sapatos, levou o boteiro para a Hípica Paulista, em São Paulo, e o apresentou para ninguém menos que o campeão panamericano de hipismo, Alfinete. “Ele custou a acreditar que não eram peças importadas da Argentina, e sim confeccionadas em Campinas!” Foi assim que o baiano, natural de Amargosa, Edvaldo dos Santos Pereira tornou-se o mais requisitado fabricante de botas artesanais de todo o País. Com exemplares de cromo alemão e nacional, su misura , feitos à mão em diversas tonalidades, como vinho e havana, Diva desenha os mais belos calçados para hipismo, polo e adestramento.
+ 19 99792 6653
Há 50 anos Ricardo Alonso montou sua fazenda de criação de Mangalarga em Piracaia, no interior de São Paulo. Quando faleceu, em 2015, sua filha Guta, pesquisadora junto à USP e veterinária especializada em reprodução equina, herdou o negócio e o transformou em uma bem estabelecida central reprodutiva. Visando acompanhar os animais em todo o seu ciclo de vida, inaugurou um serviço de pensionato para potros, éguas e cavalos, o Raama. Atualmente são 250 equinos, entre eles idosos aposentados, que vivem sua terceira idade com conforto e tranquilidade. Guta, que é também pecuarista em outra propriedade no Mato Grosso do Sul, em seu tempo livre ataca de fotógrafa. Os cliques rurais fazem sucesso em seu perfil.
@gutalonso | @raamareproducaoequina


Diferentemente de muitos amantes dos esportes equestres, a paixão de Daniela Ometto Ribeiro pelos cavalos nasceu já em sua vida adulta. “Tudo aconteceu quando compramos uma casa de campo e minha filha começou a fazer aulas de equitação, incentivada pela avó, que montava na infância. Com o tempo a família toda pegou gosto pelo esporte e eu, em especial, acabei me apaixonando pela adrenalina das provas de hipismo”, revela a empresária. O hobby virou negócio e Daniela fundou, no ano passado, um haras em Bragança Paulista. “O Haras DOM surgiu da iniciativa da minha mãe de criar e difundir a raça Friesian no Brasil, cavalos utilizados na atrelagem, modalidade que ela pratica até hoje. Entusiasmei-me com a ideia e resolvemos criar também BH (Brasileiro de Hipismo), raça utilizada nos campeonatos de salto.” O espaço, que reúne toda a infraestrutura necessária para a criação de potros, assim como para a prática do esporte em alto nível, ganhou um lindo projeto pelas mãos das arquitetas do Per Cavalli, escritório especializado em haras, fazendas, sítios e pavilhões.
@harasdom
1. SPUR
3. DIVA BOTAS
4. HARAS DOM
2. FAZENDA SANTA RITA II - RAAMA
Sobre salto e cavalo

Após se envolver em um episódio que culminou na eliminação do Brasil no hipismo por equipes das Olimpíadas de Paris, o cavaleiro Pedro Veniss diz que não vai desistir da medalha
Depoimento a Mario Mele
Nos Jogos Olímpicos de Paris, Pedro Veniss, 41, recebeu com indignação a notícia de que o Brasil havia sido desclassificado no hipismo no salto por equipes, logo depois de sua primeira volta. Ao terminar o percurso sem penalidades, o cavaleiro, natural de São Paulo, praticamente colocava o País na final de mais uma disputa por medalhas, o que acabou não acontecendo. Após sua apresentação, membros da inspeção veterinária encontraram um ferimento com sangue na barriga de seu cavalo, o Nimrod de Muze. E alinhada com os princípios de bem-estar animal, a organização decidiu então eliminar o conjunto (cavalo e cavaleiro) e o País da disputa. “Foi um acidente. Faltou bom senso às pessoas que estavam ali julgando”, diz Pedro. “Nossos cavalos são tratados como atletas e passamos mais tempo com eles do que com nossas famílias.” Na entrevista a seguir, Pedro garante que não é de abaixar a cabeça e seguirá firme na missão de trazer a próxima medalha olímpica para o hipismo brasileiro – apesar de o Brasil nunca ter ficado fora de um campeonato, o último pódio foi em 2004, em Atenas, com o ouro de Rodrigo Pessoa. Desafios à parte, o mais importante para ele é que seu esporte siga sendo aplaudido de pé, com a casa cheia, como foi em Paris.
Primeiros saltos
Por meu avô ser comerciante de cavalos – um dos primeiros do Brasil –, eu cresci no meio desses animais. Aos 4 anos comecei a montar e, aos 14, nas férias escolares, passei a viajar para a Europa para conviver com o alto nível do esporte. Minha família sempre me apoiou em tudo. Em 2007, meu avô assistiu à minha prova e me viu ganhar a medalha de ouro nos Jogos Pan-americanos do Rio. Vi que ele ficou muito emocionado.
Hipismo nas Olimpíadas
Nosso esporte deu um show em Paris, sempre com lotação máxima nas arquibancadas. Mais uma vez, o hipismo foi mostrado de uma maneira muito bonita. Havia oito equipes com chances reais de medalhas e qualquer uma poderia facilmente estar no pódio, e o Brasil estava entre elas. Acredito que eu estava tão bem preparado quanto estive no Rio em 2016, quando ficamos em 5° no hipismo por equipe, perto de conquistar uma medalha, e terminei em 9° no individual.
Nimrod de Muze
O Nimrod é um cavalo de caráter muito dócil, “boa gente” mesmo e que sempre tenta fazer o seu melhor. Nossa relação é muito boa. Ele tem 13 anos e chegou para mim aos 8. Antes ele saltava na França com um cavaleiro francês.
Time Brasil
Nossa equipe estava unida, passamos o tempo inteiro juntos na vila. [Além de Pedro, o time brasileiro era formado por Stephan de Freitas Barcha, Rodrigo Pessoa e Yuri Mansur]. Pouco antes dos Jogos nos concentramos em Deauville, na Normandia, e todos os dias íamos andar com os cavalos na praia. Eles adoravam! Tem até um vídeo no meu Instagram (@pedroveniss).
Incidente em Paris
Quem viu a prova sabe que alguns conjuntos estavam com muita dificuldade para saltar. E o Nimrod fez o melhor percurso do dia, mas infelizmente aconteceu esse incidente, que, na verdade, não foi causado pela minha espora. Provavelmente, em algum momento do salto, o estribo e a barrigueira beliscaram [a pele do cavalo], fazendo um pequeno corte. Ainda é tudo muito novo, fiquei mal e estou digerindo o ocorrido. Mas acho que a desclassificação foi injusta. Espero que no futuro a Federação Equestre Internacional (FEI) mude essa regra. Comparo com a atleta da ginástica olímpica, a Flávia Saraiva, que caiu, machucou o supercílio, fez um curativo e seguiu competindo. Vivi um dos momentos mais duros da minha carreira, ainda mais porque o Brasil foi eliminado. Depois do meu percurso e do percurso do Stephan, o Rodrigo ainda poderia fazer quatro faltas que seguiríamos classificados para a final por equipe. Mas a comunidade hípica me apoiou, inclusive os brasileiros e outros cavaleiros que são meus ídolos.
Desafio para o esporte
Hoje a gente “luta” contra essas pessoas que acham que os cavalos do hipismo sofrem. Mas elas não sabem como a gente cuida dos animais. Eles são tratados como reis. Ou melhor, como um jogador de futebol da Champions League. Os cavalos têm massagista, osteopata, veterinário e um trabalho diário. Passo até mais tempo com eles do que com meus filhos. A gente chega à coxia, o cavalo escuta a nossa voz e já começa a relinchar. No dia a dia, quando montamos, já sentimos se o animal está bem ou não. Eles também sentem como você está. É uma cumplicidade bonita, é a beleza do esporte, porque é quando você consegue os melhores resultados.
Cavalos adoram competir
Garanto que os cavalos adoram montar e competir. Seria muito legal as pessoas saberem disso. Em 2020, nas Olimpíadas de Tóquio, competi com meu cavalo Quabri De L’Isle e decidi aposentá-lo logo em seguida. Quatro meses depois, o organizador de um evento que vencemos na Suíça, em 2016, me ligou dizendo que gostaria de fazer uma homenagem ao Quabri naquele ano. Quando o Quabri percebeu que ia entrar no caminhão para viajar, ficou na maior felicidade. Parecia que ele estava até sentindo falta de competição. Claro, tem alguns cavalos que realmente não gostam, e nós, como profissionais, identificamos e acabamos não competindo com eles; mesmo porque não teríamos bons resultados.
Experiência
Sinto que estou melhorando com a idade. Até comentei isso com os alunos do meu centro de treinamento, na Espanha, o Veniss Academy. No nosso esporte, trabalhamos com seres vivos. Assim como no surfe, quando é a natureza que decide sobre o mar e as ondas, no hipismo todo dia também vivemos uma experiência nova porque estamos sempre aprendendo com os cavalos. O atleta que há três anos é o número um do mundo [o sueco Henrik von Eckermann], por exemplo, caiu na prova olímpica. Ele já estava preocupado porque sentiu que o cavalo não estava bem naquele dia. E isso é uma coisa que acontece mesmo e tira a confiança, levando o cavaleiro a cometer erros.
Próximos saltos
Dois dias depois [de ter sido eliminado das Olimpíadas de Paris], eu já estava pensando na próxima. Vou continuar trabalhando duro porque o Brasil merece muito uma medalha no hipismo. E acredito que ela virá. Já tenho projetos para Los Angeles 2028, só que dessa vez com outros cavalos. Até lá o Nimrod de Muze estará em uma idade já avançada. Meu objetivo com ele é o Campeonato Mundial em 2026, que será sua despedida das competições.
É TUDO NOSSO
O compartilhamento de carro, tendência que ganha cada vez mais espaço, é uma forma de ter um esportivo sem pagar a conta toda
Por Fernando Pedroso

Ter um carro esportivo e não usá-lo pode ser um desperdício de dinheiro, tempo e certeza de muita dor de cabeça. Mas a verdade é que dá para adquirir um modelo do gênero e ainda dividir a conta.
Assim como na aviação executiva, a propriedade compartilhada de carros de luxo e esportivos já é uma realidade. É possível comprar uma cota de um Porsche 911, por exemplo, ficar com ele parte do tempo e pagar apenas pelo período de uso.
Uma das empresas com esse tipo de serviço é a Auto Fraction, que oferece cotas para que um carro seja dividido entre três ou quatro pessoas.
“Quando fechamos um grupo, vamos atrás do carro. Escolhemos o melhor custo-benefício para aqueles clientes
e cuidamos de tudo. Aquisição, documentação, seguro e IPVA”, explica Rafael Moscardi, fundador da marca. “Também nos responsabilizamos pelas revisões e manutenções, além de peças, multas e pedágios. Os cotistas só retiram e devolvem o carro.”
O revezamento é semanal. Seguro e IPVA são divididos pelo número de cotas. Já as despesas de rodagem, são rateadas por quilômetro rodado. “Ao invés de pagar 100% por um bem que irá usar, quando muito, apenas 30% do ano, você economiza. E o transforma em algo com inteligência financeira e mais eficiente do ponto de vista de uso”, diz Moscardi.
Foi essa facilidade que atraiu Gerson Campos, apresentador do canal Acelerados. “Eu comecei a usar o
serviço por conta do meu trabalho. Viajo muito e tenho a chance de estar sempre com carros diferentes. Não fazia sentido mobilizar tanto dinheiro em um único bem. Eu queria ter a experiência, mas o valor elevado me inibia e a ideia veio pelo custo”, conta. Outra vantagem da propriedade compartilhada é que, com o valor de um carro, é possível ter quatro cotas de 25% e intercalar modelos a cada semana. “Com o preço de um veículo você poderá ter quatro e variá-los. Sem ocupar o espaço de muitos carros na garagem e nem no bolso”, diz Moscardi.
O céu é o limite
Moscardi conta que montou a Auto Fraction inspirado em duas paixões: Fotos
Com o preço de um veículo você poderá ter três e ainda variá-los semanalmente
carros e finanças. “Comecei a observar o segmento de altíssimo luxo, como jatos, iates, helicópteros. Os consumidores desses mercados dão muito valor à eficiência de recursos em bens de pouco uso. E percebi que existiam empresas de propriedade compartilhada desses segmentos, mas não de carros”, explica.
A Auto Fraction hoje conta com cerca de 50 clientes nas cidades de São Paulo, São José dos Campos, Ribeirão Preto, Curitiba e Florianópolis – os proprietários dos carros devem morar em um raio de até 80 km de cada unidade.
A logística é feita pelos próprios donos dos veículos, que precisam pegá-los e devolvê-los nas sedes. Quem preferir pode pagar à parte para ter esse serviço em casa. “É necessário o carro passar por nossas unidades, pois é lá que cuidamos dos checklists : lavagens, quilômetros rodados na semana, avarias. Dessa forma mantemos o histórico do carro e temos o controle na hora do rateio das despesas”, diz.
A aviação também foi o ponto de partida para que Marcus Matta investisse na tendência. Depois da Prime You, que oferece serviço de
UNIDUNITÊ
compartilhamento de aviões, helicópteros, barcos e casas de luxo, ele criou o serviço Prime Cars. Nele, quatro pessoas dividem dois carros por cinco anos – ao final, é possível renovar por mais dois ou fazer um upgrade
Segundo Matta, que já tem 65 clientes no Prime Cars, o segmento cresce 50% a cada ano. “Esse mercado está vivendo uma expansão e o serviço veio para ficar. Vamos fazer investimentos massivos para receber esses novos interessados”, conta ele, que já tem entre os modelos disponíveis o Porsche 718 e a BMW Z4 M40.
Conheça alguns modelos de carros que já permitem o uso compartilhado



PORSCHE 911 CARRERA 2021
POTÊNCIA
PORSCHE 718 BOXSTER 2018
VALOR
POTÊNCIA
POTÊNCIA
VELOCIDADE MÁXIMA
KM/H

Sarkis Semerdjian
Domingos Pascali
“Minha avó dizia: ‘É mais forte a raposa que anda do que o leão que deita’. Isso vale para tudo na minha vida”
Autor do projeto de interiores de um novo terminal exclusivo no Aeroporto de Guarulhos, o arquiteto Sarkis Semerdjian fala sobre heranças, inspirações e novos trabalhos
Por Artur Tavares Retrato Marcos Vilas Boas
Neste final de ano, o Aeroporto de Guarulhos ganha um novo terminal, exclusivo para clientes do banco BTG Pactual. Com mais de 5 mil metros quadrados e uma série de serviços personalizados, o espaço desenhado pelo escritório P|S Arquitetos terá nada menos que 15 ambientes diferentes para receber quem chega para viajar.
Fundado há 15 anos, o P|S Arquitetos é resultado da união dos sócios Domingos Pascali e Sarkis Semerdjian. E foi de Sarkis boa parte do desenvolvimento dos interiores do terminal. Aos 43 anos, ele é um dos nomes muito requisitados no País quando o assunto são imóveis de luxo.
Com raízes armênias, Semerdjian é nascido e formado em São Paulo – cursou arquitetura na Universidade Mackenzie – e fã de design europeu do século 20, uma estética que carrega tanto nos seus trabalhos quanto no próprio lar. Em 2022, o trabalho da P|S rendeu um prêmio na categoria large apartments no Best of Year Awards da revista Interior Design. No ano seguinte, receberam outra indicação na premiação, dessa vez na categoria large city house
Foram principalmente esses grandes projetos que credenciaram a P|S Arquitetos à concorrência de Guarulhos: “Quando nos ligaram eu achei que era para fazer uma sala VIP, um trabalho de interiores. Depois entendi que era um terminal todo. É uma área muito exclusiva. Não quisemos usar mobiliário corporativo, aquela coisa fast food, de um lugar de passagem rápida. É aconchegante, tem uma escala menor e mais amigável de desenho, mobiliário e acabamento.”
SABEDORIA ARMÊNIA “Sempre tive uma ligação com a Armênia por conta dos meus avós. Cresci ouvindo coisas do país. Minha avó, cheia de provérbios, dizia algo que me marcou: ‘É mais forte a raposa que anda do que o leão que deita’. Isso vale para tudo na minha vida.”
PASSADO E FUTURO “Em 2016, visitei Karabakh, uma região da Armênia que agora se chama Artsakh. Essa parte do país estava em guerra com o Azerbaijão, que acabou tomando o território para si. A ideia era fazer projetos como praças, habitação popular, creches e escolas, para adensar a população e melhorar a vida das pessoas. Um dos filantropos que procurei era um bilionário russo, banqueiro. Ele foi para essa região porque achava que estando lá atrairia
os olhos do mundo. Mas invadiram do mesmo jeito e ele foi preso. Está preso até hoje, nem sabem se sobreviveu. Falei com outras instituições, mas não deu em nada. Eles são fechados neles mesmos.”
QUATRO CANTOS “Conheço pessoas que adoram ir para Nova York todo ano para fazer compras, conhecer restaurantes, mas eu acho chato. Não é meu tipo de viagem. Fui uma vez e já está bom. Gosto de rotacionar os lugares, conhecer novas culturas. Preciso alternar os temas porque preciso dessa oxigenação. O mundo é grande, vasto e rico. Então é pegar o máximo que tiver de tudo. No final, na vida só não usamos o que não sabemos ou não vimos.”
LUTA “Meu sócio Domingos fez um mestrado em estruturas de madeira, porque a tendência agora é a construção com madeira de reflorestamento, algo muito mais sustentável do que o concreto em termos de emissão de carbono. Mas, muitas vezes, o mesmo cliente quer um banheiro inteiro de mármore que vem do Paquistão. E aí já acabou o conceito de sustentabilidade. Tentamos buscar a autossuficiência energética, com placas solares e recolhimento de água, em nossos projetos, mas nem todo cliente quer investir nisso.”
RÉGUA “Se as arquiteturas pública e urbanística fossem mais sustentáveis, os clientes seriam mais influenciados. Digo isso pela minha experiência com a linguagem estética, um campo em que a maioria das pessoas é muito influenciada pelo que vê. Tenho um cliente que diz: ‘Conseguimos ver o nível de desenvolvimento de um país de acordo com a sofisticação das arquiteturas privada e pública. Quanto mais sofisticada é a privada, menos desenvolvido é o país; a riqueza é menos dividida. E quanto mais desenvolvida é a arquitetura pública, mais desenvolvido é o país.”
COLEÇÃO “Estamos lançando a nossa marca de design. Hoje desenhamos mais para retail, mas resolvemos criar uma linha própria. São poltronas, cadeiras, mesas e mesinhas. Estamos construindo o portfólio com outras duas sócias. Porque agora também precisamos pensar em coisas como marketing e comércio, que não são a nossa praia. Gostamos mesmo é de desenhar!”
Música | BRASIL
País que nunca viveu dos standards, o Brasil tem uma nova geração de músicos virtuosos que vão além dos rótulos tradicionais do gênero
Por Artur Tavares
Há cerca de um século o jazz vivia sua primeira era de ouro. No processo de urbanização e florescimento econômico das cidades norte-americanas, a noite era terreno fértil para músicos com altíssimo domínio técnico e criatividade pulsante. Foi naquele momento que surgiram as formações iniciais das orquestras e os primeiros mestres do improviso. Um tempo em que parecia não haver limites para aquele novo gênero musical.
Desde os anos 1920, período que o escritor F. Scott Fitzgerald chamou de Jazz Era, o jazz nunca deixou de ser popular. Foi um dos poucos gêneros que não entraram verdadeiramente em uma crise de criatividade. Pelo contrário. Das big bands vieram os grupos menores, como trios ou quartetos; solistas habilidosos, como Nina Simone e Ray Charles; Kind of Blue, o fusion de Miles Davis e o spiritual de John e Alice Coltrane; o encontro da percussão de Naná Vasconcelos com os sopros de Don Cherry; e Sun Ra, que chegou diretamente do espaço sideral.
O jazz chegou rápido ao Brasil, primeiro com a proximidade de estrelas como Carmen Miranda com os musicais da Broadway e com o cinema norte-americano, e depois com as inspirações claras que o gênero impôs à elite carioca fundadora da bossa nova, cujo amálgama foi tão grande a ponto de músicos como João Gilberto e Baden Powell serem elevados ao estrelato internacional por críticos e apreciadores em geral. As raízes
foram embranquecendo. E com elas, a própria forma musical.“Eu sempre me pergunto o que é o jazz brasileiro. Acho que é uma mistura de um monte de coisas”, afirma Amanda Souza, curadora do Blue Note paulistano.
Com vasta experiência em produção musical e uma carreira bem-sucedida como manager do músico Otto, ela diz que chegou ao tradicional templo do jazz para dar novos ares à programação. “O Blue Note estava sendo visto como uma casa de tributos, o que, em absoluto, não é um problema, mas não pode ser apenas isso. Em uma casa que está aberta de terça a domingo, com dois shows por noite, fazer curadoria já não é fácil per se. Meu foco foi trazer artistas que nunca subiram antes no nosso palco. E descobri que havia ausências surpreendentes.” Entre elas estão o grande expoente do soul funk brasileiro Di Melo, a cantora Claudete Soares e o baterista Carlos Bala, que se apresenta pela primeira vez com seu quarteto, em outubro.
Dado que o jazz é feito de grandes clássicos que habitam o imaginário dos fãs e curiosos da música, “ainda há, por uma parte do público, um desejo pelo bebop, pela década de 1940, por essas sonoridades”, diz Amanda. “Esse desejo privilegia o jazz clássico, os quintetos, os quartetos, que acabam fazendo, em sua grande maioria, música instrumental. Mas há espaço para o novo jazz.”
ALÉM DO SILÊNCIO
No dia seguinte à minha conversa com Amanda, o pianista fluminense Jonathan Ferr subiria no palco do Blue Note. Nossa entrevista já estava agendada para a próxima semana, mas assistir ao seu show foi uma coincidência, um alinhamento de astros. Nascido na cidade de Madureira, ele fez mágica no palco com versões próprias para músicas de Djavan.
Pianista habilidoso, arranjador e cantor, Jonathan propõe imersões profundas nas suas apresentações. Enquanto toca, faz questão de conversar com o público. “Acho que não faço arte para entreter, mas para conectar. Essa atração me dá combustível”, diz. “O que me move é saber que as coisas que venho propondo fazem sentido no coração de outras pessoas.” Com a lua cheia em Capricórnio no céu, Jonathan conta que jogou tarô para si mesmo antes do show. “Quando vejo coisas que me tocam, compartilho essas ideias com o público. Amor e conhecimento só valem quando compartilhados.”
A postura é um tanto distante da que se espera de músicos de jazz, que normalmente seguem um rito protocolar de silêncio. “Acho tão ultrapassado esse lugar, e uma falta de empatia com quem está ali. É preciso criar uma narrativa que faça com que o público consiga adentrar o mundo do artista.”
Filha mais nova do sambista

Martinho da Vila, a pianista Maíra Freitas também quebra o protocolo nos seus shows solo ou com o grupo Jazz das Minas, composto de um arranjo itinerante de musicistas. Com uma formação clássica, estudou música erudita e chegou a tocar concertos para orquestra antes de cair de vez no jazz. “Acho que o jazz é muito mais próximo da roda de samba. É uma roda de improviso, a galera tocando, ouvindo e dançando. Essa formalidade vem de outro lugar, é um grande embranquecimento. Está totalmente errado.”
Quase todas as musicistas da Jazz das Minas dividem vocais com Maíra Freitas. “Conversamos muito sobre como foi difícil chegar aonde estamos. Lembro-me de ser adolescente e já tocar concertos de Mozart no piano! Enquanto isso meus colegas homens faziam sucesso tocando dois acordes”, conta. Nos shows da Jazz das Minas, a
sinergia entre as integrantes é contagiante. “Quando estamos em ambientes com músicos homens, percebemos uma competição. Isso é uma coisa muito masculina. Na Jazz das Minas, o mais legal é que é muito no sentido de ‘caraca, mana, tu toca muito, hein?’” E nessa deferência o repertório vai se construindo.
A pianista gosta de tocar olhando nos olhos do público e usa a ligação com a plateia para ir além das próprias canções: “Aproveito para falar as coisas que penso. Acho que a pessoa que consome jazz precisa ficar cada vez mais consciente racialmente. Quando sinto que o público ficou à vontade, eu mando aquela real, né? E as pessoas se emocionam”.
“A arte passa por momentos terríveis, mas sempre sobrevive. No fim, acaba achando um jeito de voltar mais forte”
Luís Gustavo Petri
NO PAÍS DAS CANTORAS
Desde a já citada Carmen Miranda, passando por Nara Leão e Elis Regina, as mulheres da Tropicália, Marisa Monte e tudo o que veio depois, a
Jonathan Ferr considera que essa conexão com o público é essencial para renovar o jazz: “Quanto mais genuíno o artista for com a sua história, com o som que o comoveu, maior a chance de trazer ineditismo e coisas frescas para a música brasileira.”
grande maioria das intérpretes brasileiras de bastante projeção flertou com o jazz em suas carreiras. Hoje, artistas como Céu, Liniker, Luedji Luna e Xênia França representam bem como o gênero musical evoluiu e buscou novos paradigmas estéticos junto à MPB.
Nascida na Bahia, Xênia França fez parte da banda Aláfia antes de se lançar em carreira solo, em 2017. Seu primeiro álbum previa toda a onda afrofuturista que tomaria a estética da música brasileira. Misturando R&B, beats eletrônicos e um vocal pouco comum entre as cantoras nacionais, Xênia ganhou rapidamente projeção dentro e fora do País. Em 2023 venceu um Grammy Latino de melhor disco de música pop contemporânea em português. “Eu olho para os lugares, as escolhas que tomei, os caminhos artísticos... Desde quando quero gravar um som que não é meu até quando recebo algo de artistas de fora. A dificuldade é escolher aquela que fale direto com esse lugar, que traga uma conexão espiritual para mim.”
Antes de ser cantora, Xênia era modelo. Foi ouvindo as grandes damas do jazz, como Billie Holiday e Nina Simone, e artistas contemporâneas, como Grace Jones, que ela descobriu que também poderia subir nos palcos. “Eu não sabia que, ao ouvir, também estava estudando. Eu tenho uma voz mais médio-aguda e venho de um estado com cantoras de vozes mezzo mais graves. Desde Margareth Menezes até Ivete Sangalo, todo mundo tem vozeirão. Eu sofria e não achava um lugar para que minha voz brilhasse. Então, quando descobri essas cantoras, além de Esperanza Spalding e Erykah Badu, que são mais modernas, tudo fez sentido.”
Xênia soube combinar as noções vocais que tinha aprendido com o universo de onde havia vindo antes, a moda, criando para si uma figura mitológica em cima dos palcos: “Adoro me pintar, me montar, eu acho que tem tudo a ver. Figurino faz parte do show, assim como a projeção e a luz.




Pensar em tudo para oferecer ao público o máximo de sensações. Arte é brincar com os sentidos.”
Sobre sua música ser vista como pop, Xênia afirma: “Hoje em dia, não se tem mais vergonha de dizer que a música tem origem africana, ou que é uma música de diáspora. É um orgulho e dá-se mais valor. E trazer isso para a música pop... O popular é diferente do pop vendável. Até as cantoras do mainstream já estão com uma linguagem mais afropop, por assim dizer, porque se tornou mais hypado.
É mais uma chance dessa coisa que era tão marginalizada, assim como o samba foi, encontrar seu lugar.”
UMA ORQUESTRA ÚNICA NO MUNDO
Com tantas nuances musicais entre todos os que fazem ou podem ser considerados artistas de jazz, o que os une são os detalhes, as blue notes, as levadas e os arranjos, fundamentados naquela era de ouro. Aqui no Brasil ninguém carrega melhor essa história do que
Amanda Souza Maíra Freitas
Xênia França



a Brasil Jazz Sinfônica. Fundada em 1989 como um equipamento cultural do estado de São Paulo e gerida pela Fundação Padre Anchieta, é um conjunto formado por 70 músicos, que compõem uma mistura de orquestra erudita com big band de jazz.
Sua criação acontece de um encontro de mentes brilhantes da cultura brasileira. Arrigo Barnabé, na época assessor do secretário de Estado da Cultura, fez a sugestão ao jornalista e escritor Fernando Morais. E os dois convidaram o maestro Cyro Pereira, notável desde os festivais da Record nos anos 1960, para reger a orquestra.
Hoje a Brasil Jazz Sinfônica talvez seja o grupo mais inovador da nossa música. Desde sua fundação, mais de 2 mil arranjos foram criados
para adaptar diversos ritmos, incluindo até trilhas sonoras de videogame. Seu principal atrativo ainda são as apresentações com outros músicos nacionais, entre eles a própria Xênia França, regidas pelo maestro Luís Gustavo Petri, hoje seu diretor.
Músico que tocava rock‘n’roll e jazz na noite antes de se dedicar à música erudita, Petri exalta a importância da orquestra para o cenário nacional: “A formação da Jazz Sinfônica é muito rara. Há poucas orquestras similares no mundo”.
Para ele, o que garante o sucesso do grupo são seus músicos: “As grandes estrelas da Jazz Sinfônica são os arranjadores, pessoas versáteis, que têm dois mundos e conseguem juntá-los. O grupo responde facilmente a essas diferenças”.
Sobre a longevidade da orquestra, o maestro ressalta a importância de ter seus concertos transmitidos ao vivo pela Rádio Cultura e pela internet, com eventuais gravações exibidas na TV Cultura, bem como a possibilidade que o conjunto tem de encontrar os maiores artistas brasileiros em suas apresentações. “Temos que nos apresentar, convidar, produzir. E também estou pensando em coisas para falar sobre a memória da Jazz Sinfônica. Às vezes, as pessoas ficam restritas a rótulos e acham que certas coisas estão morrendo, quando não estão. A arte tem essa propriedade, ela passa por momentos terríveis, mas sempre sobrevive. No fim, acaba achando um jeito de voltar mais forte. E a Jazz Sinfônica é um patrimônio do Brasil.”
Brasil Jazz Sinfônica
Jonathan Ferr
OS FAMOSOS SE DIVERTEM

De rappers a vencedores do Oscar, apresentamos as celebridades que expandiram seus negócios para o universo das bebidas. Para deixar o brinde ainda mais irresistível, elencamos os diferenciais das marcas comandadas por estrelas mundo afora
Por Artur Tavares
O que o cineasta Francis Ford Coppola, o ator Brad Pitt e o narrador esportivo brasileiro Galvão Bueno têm em comum? E quais outras semelhanças dividem as talentosas, loiras e lindas Sarah Jessica Parker, Cameron Diaz e Gwyneth Paltrow? Que Matthew McConaughey e George Clooney são charmosos ninguém duvida. Mas e o carismático Danny DeVito?
Em algum momento de suas vidas, essas e muitas outras personalidades decidiram diversificar seus negócios além de suas carreiras como figuras públicas, investindo dinheiro em empresas que produzem bebidas. São astros que têm vinícolas, produzem tequila, uísque, vodca, coquetéis enlatados e até soft drinks com cannabis. As opções são tantas que é possível montar um bar do zero somente com rótulos assinados por famosos.
Para quem é fã de carteirinha ou não perde uma oportunidade de acrescentar algo novo na coleção, preparamos uma lista de marcas e produtos comandados por alguns dos nomes mais célebres do showbizz





ADENTRO
Na região mexicana de Oaxaca, mais precisamente em San Luis del Rio, a dupla Bryan Cranston e Aaron Paul, do seriado Breaking Bad, se juntou ao maestro mezcalero Gregorio Velasco para lançar a marca Dos Hombres Mezcal, dedicada ao agave espadin. São apenas duas variedades: a tradicional, com notas de maçã e manga, e a superlimitada Tobala Mezcal. Para além do rótulo lindíssimo feito de cerâmica, a bebida passa por envelhecimento em madeira de copal, uma árvore nativa do continente e considerada sagrada pelas populações tradicionais, como os Maias, que produz uma resina que pode ser queimada como um incenso. @doshombres

MAIS UM REFRESCO
Brad Pitt, conhecido fora das telas por sua vinícola Château Miraval, é outro que decidiu investir em uma marca de gin feita na França. O ator se uniu a Tom Nichol, lendário mestre destilador de Tanqueray e criador da versão premium Tanqueray 10, para lançar The Gardener, produzido apenas com botânicos encontrados na Riviera Francesa.
A lista de ingredientes tem zimbro da Provence, amoras silvestres, laranja bigaradea (também conhecida como laranja azeda), laranja doce, grapefruit, alecrim, mimosa e lavanda, garantindo ao gin um perfil complexo e, ao mesmo tempo, versátil.
Há também uma grande leva de roqueiros e bandas que têm seus próprios rótulos de gin, entre eles Ozzy Osbourne, Kiss, Def Leppard, Ghost e In Flames, além dos rappers Wiz Khalifa e Snoop Dogg. @thegardener_gin
A NOVA SENSAÇÃO
NA TERRA DO TIO SAM
Assim como o Brasil percebeu um aumento no consumo de gin há alguns anos, os Estados Unidos passam por uma mudança no perfil dos consumidores de bebidas alcoólicas. Desde 2023 a tequila ocupa o primeiro lugar do ranking, superando a vodca e o american whiskey em número de garrafas comercializadas no país. Por lá, mais de 70% do mercado é dominado por marcas de tequila premium, feitas somente do açúcar de agave azul, planta que é parente da babosa. As melhores delas vêm de cultivos orgânicos que se espalharam desde o México até a Califórnia e o Texas, despertando o interesse de celebridades.
Lançada em 2023 pelo casal Matthew McConaughey e Camila Alves, a Tequila Pantalones Orgánico é um exemplo dessa nova onda. Seus produtores fazem parte da quarta geração de uma família de agricultores tradicionais de agave azul, que aderiram a práticas sustentáveis para reduzir seu impacto ambiental. Hoje o restante das fibras e outros resíduos orgânicos da produção são processados junto com madeira de reflorestamento e tornam-se Biopall, um produto similar ao pallet.
Entre os rótulos da Pantalones, destaque para a Tequila Añejo, que passa por 15 meses de maturação. O casal, que tirou até as calças para promover sua marca em comerciais bem-humorados, recomenda degustar Pantalones puro ou em coquetéis como a Pickle Margarita. @pantalonestequila




ELE SEMPRE SOUBE
De jeitão mais sedutor, George Clooney foi pioneiro no mercado de tequilas, tendo lançado ainda em 2013 a marca Casamigos junto com os empresários Rande Gerber e Mike Meldman. A produção fica em Jalisco, no México, e, além das variedades Blanco, Reposado e Añejo, a Casamigos oferece mais rótulos interessantes. Na Casamigos Cristalino, a tequila é bidestilada e envelhecida em barris de carvalho americano branco. Então, passa por um processo de filtragem em carvão ativado, que retira toda a coloração amadeirada da bebida, devolvendo a parcela potente do sabor do agave às notas de frutas secas, coco e caramelo adquiridas durante seu repouso. @casamigos






PERFEITAMENTE DESTILADOS
Um dos principais nomes quando os roteiros pedem uma boa mistura de ação com comédia, o ator Channing Tatum, da trilogia Magic Mike, juntou-se ao empresário Jack Maloney ao investir em uma destilaria familiar fundada em 2011 no estado de Idaho, chamada Grand Teton Distillery. Cinco anos depois chegava ao mercado a Born and Bred Vodka, que apresenta álcool de batatas destilado 20 vezes junto com águas cristalinas das montanhas Grand Teton, cujo pico alcança impressionantes 4.199 metros de altitude.
Jeremy Renner, mundialmente famoso pelo papel do Gavião Arqueiro na série de filmes do universo Marvel, é outro que investiu na vodca feita de batatas. Com um paladar bastante suave, a Sweet Grass Vodka é produzida em uma microdestilaria orgânica na Carolina do Sul, recomendada principalmente para a preparação de coquetéis.
Conhecido por seu engajamento em prol da preservação do meio ambiente, o ator havaiano Jason Momoa decidiu dar um passo além. Lançada em 2023, a vodca Meili é produzida em Montana e o grande diferencial é que todas as suas garrafas são feitas de vidro reciclado proveniente de bebidas da própria indústria – o que garante que cada uma delas tenha detalhes diferentes em seu acabamento e, assim, design único. @tetondistillery @sweetgrassvodka @meilivodka





A ARTE DE ENVELHECER

São poucas as celebridades que se envolvem diretamente com o universo dos uísques. E talvez a mais notável delas seja o lendário cantor Bob Dylan. Sua parceria com a Heaven’s Door, uma destilaria no Kentucky, rendeu uma vasta linha de bourbons.
De entrada, a marca produz Kentucky, Tennessee e Rye Straights. Acima na linha da Heaven’s Door está o Double Barrel, que mistura cada um dos três uísques já envelhecidos por pelo menos cinco anos em tonéis de carvalho Tonnellerie Radoux, onde o blend repousa por um prazo entre seis meses e um ano. O resultado é uma bebida bastante potente, com 50% de graduação alcoólica, com notas amadeiradas e também de maple, caramelo, baunilha, além de damasco, cereja preta e limão meyer.
A Heaven’s Door ainda oferece opções com dez anos de envelhecimento e um bourbon finalizado em barris de Calvados, mas sua verdadeira joia é a Bootleg Series. Desde 2019, a destilaria lança anualmente um rótulo absolutamente especial, em garrafas de cerâmica que exibem pinturas feitas por Bob Dylan, tudo isso embalado em estojos de couro luxuosos.
A história é tão premium que merece destaque. A edição inaugural da Bootleg Series é um uísque
envelhecido por 26 anos e finalizado em barris japoneses de carvalho Mizunara, uma das espécies mais raras do planeta. Em 2020 foi a vez de um Straight Bourbon Whiskey de 15 anos finalizado em barris jamaicanos Pot Still, utilizados na produção de rum. No terceiro volume, o Kentucky Bourbon de 13 anos passa por uma finalização em barris de Vino de Naranja – uma prática típica da região da Andaluzia, que adiciona cascas de laranja maceradas aos barris de envelhecimento de vinho branco, em um processo do tipo solera.
Para a quarta edição, a Heaven’s Door reservou um bourbon maltado por 11 anos e então o finalizou em barris de uísque da ilha escocesa de Islay. Em 2023 nascia a mais recente edição: um Straight Bourbon envelhecido por 18 anos e então finalizado em barris espanhóis de vermute tinto.
Quem também foi além dos palcos para investir nesse mercado é a Beyoncé. Na onda de seu disco Cowboy Carter, a cantora lançou um uísque em homenagem ao bisavô paterno, fazendeiro e produtor clandestino do destilado em tempos de lei seca nos Estados Unidos. SirDavis é feito no Texas, terra natal da artista. @heavensdoorwhiskey @sirdavis


OS ALQUIMISTAS
Antes mesmo de estrelar a saga Harry Potter, Emma Watson já era herdeira da Domaine Watson, a única vinícola britânica na região francesa de Chablis. Hoje ela produz, com seu irmão Alex, o gin Renais, feito das mesmas uvas grand cru das terras de seu pai.
Entre os botânicos da composição do Renais estão zimbro, pimenta-da-guiné, flor de tília, raiz de angélica e mel de acácia. E o lado ativista ambiental de Emma garante que a produção tenha certificação de emissões zero de carbono. @domainewatson

É SÓ GELAR E PRONTO!
Outra onda quente no mundo das bebidas são os coquetéis enlatados. Segundo a National Alcohol Beverage Control Association, o consumo das bebidas RTD (ready to drink) aumentou 15% entre os estadunidenses e o público é principalmente jovem e feminino. Quem aderiu à ideia foi a artista e cantora RuPaul com a House of Love, linha com cinco coquetéis alcoólicos e dois mocktails – feitos sem álcool.
E que tal um Cosmopolitan enlatado? Ele existe e tem o aval de Sarah Jessica Parker, a atriz de Sex and the City, responsável pelo revival da bebida no início dos anos 2000. O The Perfect Cosmo by SJP é uma das opções da marca Thomas Ashbourne Craft Spirits assinadas por celebridades. A outra, The Margalicious Margarita, é fruto da amizade das atrizes Ashley Benson, Rosario Dawson e Vanessa Hudgens.
A própria Dawson é investidora da Cann, marca que tem as atrizes Gwyneth Paltrow e Rebel Wilson entre as diretoras. Detalhe: a empresa é focada nos social drinks, as tais bebidas sem álcool, mas com adição de derivados da cannabis. Com a liberação do uso recreativo da maconha em quase todos os estados norte-americanos, a Cann já virou sucesso – as vendas alcançam 750 mil dólares por mês.
Com apenas 35 calorias, as bebidas nos sabores Blood Orange Cardamom, Lemon Lavender, Grapefruit Rosemary, Ginger Lemongrass e Pineapple Jalapeño vêm em três opções com dosagens diferentes de THC e CBD: 2mg de THC e 4mg de CBD; 5mg de THC e 10mg de CBD; e 1mg de THC e 15mg de CBD.
Os drinks da Cann são recomendados principalmente para os curiosos e aqueles com poucas experiências com a cannabis, já que os teores de canabinoides em suas fórmulas podem ser considerados microdoses. Em comparação, produtos comestíveis, como cookies ou gummies feitos com maconha podem chegar a ter até 10mg de THC em suas fórmulas, o máximo permitido pela FDA estadunidense. @houseoflovecocktails @thomasashbourne @drinkcann
É PIQUE!
Primeiro superesportivo do planeta, o Mercedes-Benz SL estabeleceu novos parâmetros de engenharia e design há sete décadas. A seguir, relembramos a importância do carro mais caro do mundo
Por Rodrigo Mora
1954 foi um ano importante para a Alemanha. Nos esportes, a seleção de futebol conquistou a primeira Copa do Mundo, após uma vitória de 3x2 sobre a Hungria, no Estádio Wankdorf, em Berna, no dia 4 de julho. Duas semanas depois, nascia Angela Merkel, futura chanceler do país. O mundo das artes se agitava com a quarta edição do Berlin International Film Festival, enquanto novos rumos políticos eram traçados com as eleições gerais da Alemanha Oriental. Mas nenhum desses fatos pareceu ofuscar a estreia do Mercedes-Benz 300 SL Coupé, provavelmente o principal lançamento automotivo daquele ano.
Em 6 de fevereiro de 1954, na abertura do Salão Internacional de Automóveis de Nova York, a marca da estrela inaugurou a categoria dos superesportivos. Com suas portas com aberturas verticais, instantaneamente ganhou o apelido de Gullwing Era a versão para as ruas do SL de corrida lançado dois anos antes.
As tais portas “asas de gaivota” surgiram de uma necessidade da engenharia: a construção de vanguarda do modelo exigia que uma peça-chave do chassi passasse pelo espaço que a parte de baixo de qualquer porta normal precisaria ocupar. A solução foi instalar dobradiças no topo das portas.

No museu da marca, em Stuttgart, essa espécie de esqueleto metálico ganha ares de obra de arte.
Outra consequência das portas foi o design do volante, que podia ser girado para baixo para permitir um acesso mais fácil das pernas ao compartimento para os pés. Uma alavanca no cubo liberava e travava o volante.
Seu motor foi o primeiro a ter
injeção direta de gasolina, com o combustível esguichando direto para dentro de cada cilindro. Trata-se de um 3.0 de seis cilindros, herdado dos pacatos sedãs da série 300, mas sob o longo capô do SL – sigla para Sport Leicht, que vem do alemão e significa esportivo e leve – dobrava de potência, chegando a 215 cv. Parece pouco em comparação aos modelos de hoje, Fotos divulgação
A estreia do Mercedes SL aconteceu em 1954, em Nova York


Parece pouco, mas fez do 300 SL o carro de produção em série mais rápido do planeta há 70 anos

MAIS É MAIS
mas fez do 300 SL o carro de produção em série mais rápido do planeta há 70 anos.
A Mercedes foi encorajada a projetar o 300 SL por Max Hoffman, um austríaco que era o importador estadunidense de inúmeras marcas europeias para os EUA. Com frequência, aconselhava as marcas sobre o tipo de carro que aquele público gostaria. E com o 300 SL acertou em cheio: mais de três quartos do total de unidades produzidas foram vendidas naquele mercado, o que ajudou a fabricante a se consolidar em solo americano.
Logo em seguida Hoffman convenceu a marca a produzir um modelo mais barato. Nascia então o 190 SL, em 1955. Com um motor de 1.9 de 103 cv e uma carroceria, embora conversível, mais fácil de produzir, seguiu até 1963 e somou mais de 26 mil exemplares, ante pouco mais de 3.200 do SL Gullwing. O preço também ajudava: enquanto o mais sofisticado e potente saía por US$ 7.460, o 190 SL custava US$ 3.998. Em 1957 foi a vez do 300 SL Roadster – e assim se completava a gama de um dos clássicos mais icônicos de toda a história automobilística.
Em maio de 2022, um dos dois 300 SLR Uhlenhaut Coupé 1955 existentes foi vendido por € 135 milhões, assumindo o posto de automóvel mais caro do mundo, antes ocupado por uma Ferrari 250 GTO arrematada em 2018 por US$ 70 milhões.
O que torna o 300 SL tão especial é o nome de Rudolf Uhlenhaut, o engenheiro que criou essa versão de corrida do carro – a unidade comercializada era a de uso pessoal. Equipado com um motor 3.0 que o levava aos 290 km/h, foi um dos mais rápidos de sua geração.
Detalhes do modelo revolucionário, que tinha portas com aberturas verticais

Era uma vez um sonho
Rachel Soeiro, Diretora Interina na unidade médica brasileira da ONG Médicos Sem Fronteiras
Na linha de frente
da ONG
Médicos Sem Fronteiras, Rachel Soeiro se mantém firme em sua missão de transformar o mundo onde quer que esteja
Por Marilia Levy
Usar seu entusiasmo pela medicina para mudar o mundo sempre foi um sonho para Rachel Esteves Soeiro. Nascida em São Paulo, a médica começou sua carreira na residência de Medicina de Família e, por meio do contato com realidades muito diferentes da sua, descobriu que o caminho para realizar esse sonho seria oferecer serviços humanitários.
Inspirada em uma palestra da organização Médicos Sem Fronteiras, Rachel decidiu se especializar nessa área. Fundada na França em 1971, a iniciativa é uma das mais respeitadas do mundo, prestando assistência em áreas de conflito, guerras, catástrofes socioambientais e epidemias. Na linha de frente da ONG, Rachel iniciou sua trajetória
no Níger em 2011 e, desde então, trabalhou no Sudão do Sul e em Serra Leoa durante a epidemia do Ebola, entre outros países. Recentemente, como diretora interina da Unidade Médica Brasileira da organização, teve a oportunidade de atuar no Rio Grande do Sul ajudando os desabrigados vítimas da tragédia climática ocorrida na região.
Passar por uma situação como essa dentro de seu próprio país foi desafiador, mas para Rachel não importa o lugar ou o contexto na hora de seguir sua missão: “Acredito que é essencial manter o propósito de querer mudar o mundo”. Na entrevista a seguir a médica fala sobre os desafios de sua profissão.
Carbono Uomo
Como foi optar por atuar na linha de frente de uma organização humanitária? Você sempre soube?
Rachel Soeiro
Desde pequena, sempre quis ser médica e tinha um desejo especial de atuar em uma área mais humanitária. Na faculdade comecei a me interessar por essa vertente e tive a oportunidade de assistir a uma palestra dos Médicos Sem Fronteiras na Unicamp. Foi nesse momento que pensei: É com eles que eu quero trabalhar. Porém, eu ainda era muito nova. Quando comecei a dar plantão tive contato com a medicina de família e adorei. Assim entendi que essa seria uma linha de atuação para mim.
Carbono Uomo
E como entrou nos Médicos Sem Fronteiras?
Rachel Soeiro
Como já sabia que queria trabalhar com os Médicos Sem Fronteiras, comecei a estudar francês, principalmente porque desejava muito atuar em países africanos. Terminei a residência, enviei meu currículo e fui recrutada rapidamente.
Carbono Uomo
Como foi a sua primeira missão?
Rachel Soeiro
Comecei no Níger, em 2011, e foi um verdadeiro choque de realidade. O projeto era voltado para crianças desnutridas. Eu era bastante jovem, tinha acabado de terminar a residência e achava que sabia tudo.
Carbono Uomo
Qual foi o maior aprendizado dessa experiência?
Rachel Soeiro
Quando cheguei lá conheci algumas assistentes nutricionais, senhoras que preparavam o leite para as crianças seguindo um protocolo específico. Fui aprendendo muito com elas. É claro que a parte clínica eu dominava, mas houve uma troca de conhecimentos muito rica. Até hoje mantenho contato com elas.
Carbono Uomo
Como é a convivência com médicos e profissionais de muitos locais distintos, com formações e conhecimentos tão diferentes?
Rachel Soeiro
A convivência é muito enriquecedora, pois não envolve apenas médicos, mas toda uma equipe necessária para o sucesso do projeto. No Níger, por exemplo, trabalhávamos com uma pediatra alemã com vasta experiência em UTI, enquanto eu trazia minha experiência na comunidade. Essa fusão de expertises foi extremamente interessante. Além dos médicos, havia enfermeiros, funcionários administrativos e a equipe de logística, que é fundamental para o nosso trabalho. Também temos contato com a cultura e culinária de outros países, o que torna a vivência ainda mais completa.
Carbono Uomo
Por conta dos filmes, a atuação de profissionais da sua área pode ser um pouco romantizada. Mas sabemos que são situações limite. Como você se prepara para uma missão e quais são os desafios?
Rachel Soeiro
Sempre recebemos um relatório detalhado sobre o contexto de cada país. Mesmo assim, há um grau de desconhecimento e a questão da segurança em cada local é uma preocupação constante. Por exemplo, no Níger, não era um território com guerra deflagrada, mas havia um contexto de violência, com a presença de grupos armados. Eu não podia sequer caminhar até o hospital, a duas quadras de casa. Já no Sudão do Sul, cheguei alguns anos após a independência e encontrei uma equipe local composta de muitas pessoas que tinham perdido parentes na Guerra Civil ou que haviam crescido em campos de refugiados. Isso é muito diferente da nossa realidade, é muito duro, mas é um processo de grande crescimento.
Carbono Uomo
Tem alguma história que lhe marcou mais?
Rachel Soeiro
Uma das situações mais comoventes aconteceu no Sudão do Sul, durante a epidemia de Ebola. A mãe e o tio de um menininho foram contaminados. Dois ou três dias depois da internação deles, a criança também apresentou sintomas e foi trazida, com febre, por uma prima. Nós o colocamos na área de suspeitos e realizamos os
testes para malária e Ebola, mas o resultado deste último demora alguns dias. Enquanto isso, a psicóloga foi conversar com a mãe para explicar o que estava acontecendo. Infelizmente, o diagnóstico de Ebola foi confirmado. A criança tinha apenas dois anos, era pequenina, e eu mesma a levei até a mãe. Quando ela o viu, ficou desesperada. Ele ficou entre a vida e a morte por vários dias. Em determinado momento a febre começou a ceder, embora o teste ainda indicasse positivo para o vírus. Até que, finalmente, o negativo veio e pudemos comemorar. Foi um momento de muita felicidade, pois a mãe e o tio também se recuperaram. Esse foi um dos casos que nos trouxe muita alegria e alívio.
Carbono Uomo
No papel de médica nesses locais e situações extremas, como você diagnostica os grandes problemas que enfrentamos como sociedade?
Rachel Soeiro
Sempre digo que o ideal seria que não precisássemos dos Médicos Sem Fronteiras. Atuamos para levar cuidados em situações de emergência. Hoje, por exemplo, existem 55 conflitos armados ativos no mundo. Além disso, há questões climáticas severas, como as enchentes no Rio Grande do Sul. Infelizmente, atualmente ninguém pode afirmar “estamos a salvo” ou “estamos num contexto tranquilo”, o que é uma pena. Acredito que ainda enfrentaremos muitas emergências no futuro.
Carbono Uomo
Você teve a oportunidade de ir para o Rio Grande do Sul no início do ano. Como foi atuar no seu próprio país?
Rachel Soeiro
Fui para fazer o diagnóstico da situação e iniciar o projeto das nossas atividades por lá. Foi impressionante. Chegamos de helicóptero, pois não havia voos disponíveis, e a visão da extensão de água era avassaladora. Só conseguia pensar se aquelas pessoas tinham conseguido sair de suas casas. Nos abrigos, ouvimos muitas histórias emocionantes. Nunca imaginei estar nessa situação no meu próprio país. Fiquei e ainda fico muito emocionada.
“É essencial manter o propósito de querer mudar o mundo. Precisamos ter cautela, mas também é crucial manter esse compromisso”
Carbono Uomo
Como é ser mulher em contextos de situações extremas, em zonas de conflito e vulnerabilidade social?
Rachel Soeiro
Com o tempo, fui amadurecendo. Quando cheguei ao Níger, como uma mulher jovem e branca, houve um primeiro estranhamento. O que faço é conquistar a confiança das pessoas com quem trabalho, abordando as situações com um espírito colaborativo, reconhecendo que não sei tudo e que todos podemos aprender juntos.
Carbono Uomo
Você notou alguma mudança nesse aspecto nos últimos anos em campo?
Rachel Soeiro
É uma questão global. Ainda existem poucas mulheres em posições de liderança, coordenando atividades. Minha experiência mostra que é possível abrir portas para essas oportunidades. Precisamos continuar lutando para conquistar esses espaços. Embora sejamos maioria em muitos contextos, ainda estamos sub-representadas nos cargos de decisão.
Carbono Uomo
Qual seria a sua mensagem para jovens médicos e outros profissionais que desejam se engajar em profissões na linha de frente humanitária?
Rachel Soeiro
Acredito que é essencial manter o propósito de querer mudar o mundo. Pelo menos é importante que plantemos a semente para o futuro.
Quem sabe, em algumas décadas, possamos realmente ver uma mudança significativa. Isso ajuda a superar as adversidades. Não falo isso de forma ingênua. Quem trabalha nessa área enfrenta contextos muito mais complexos do que podemos imaginar. Por isso é necessário ter cautela, mas também é crucial manter o propósito e o compromisso com essa missão.
REDE
Se, assim como nós, você também achou as histórias de Rachel Soeiro à frente da Médicos Sem Fronteiras inspiradoras, vale lembrar que há muitas formas de ajudar a organização a seguir salvando vidas. Há diversos modelos e valores de doações financeiras. Com R$ 45 por mês, por exemplo, eles conseguem comprar 26 sachês de alimento terapêutico à base de pasta de amendoim para tratar a desnutrição. Com R$ 174 já são 172 crianças vacinadas contra o tétano todos os meses. Há também quem aproveite uma ocasião especial, como uma festa de aniversário, para sugerir doações no lugar dos presentes, indicando a iniciativa. Por fim, diversas cidades brasileiras precisam de captadores de recursos, que conversam com as pessoas nas ruas sobre tudo o que a Médico Sem Fronteiras faz e é capaz de fazer se mais e mais pessoas aderirem à causa.
VEJA MAIS EM : msf.org.br/como-ajudar
O LUTO LITERÁRIO
Cada vez mais presentes no mercado editorial, livros sobre perdas são aliados para quem precisou lidar com a morte – ou outras faltas. Entenda esse movimento e confira uma lista de títulos que versam sobre as muitas ausências que aparecem no caminho
Por Manuela Stelzer
Não faz muito tempo que experimentei o luto de forma inédita: em 2022, esta jornalista que vos fala perdeu o avô. Foi um semissusto. Semi porque ele ficou internado antes de nos deixar e susto porque era, ainda que aos oitenta e poucos anos, um dos mais ativos avôs que eu conhecia.
Passados dois anos, eu ainda sinto necessidade de repassar o que aconteceu, dos primeiros sintomas aos últimos dias, passando pela angústia da falta de um diagnóstico e pelo terror que não se arrefeceu nos olhos da minha avó, sua companheira por seis décadas. Relembrar a linha do tempo quase me acalma, estranhamente. Mas o sentimento, esse é difícil de acessar. E ouso dizer que vai doer para sempre.
Mas foi esse vazio, essa dificuldade de desvendar a dor, que me levou aos livros como uma forma maior de entendimento. Nesse caminho, pareço não estar sozinha. “Comecei a fazer as primeiras anotações em 2016, durante a última hospitalização dele”, conta a poeta e tradutora Julia de Souza, autora de John. Nele, Julia elabora a experiência de ter testemunhado o adoecimento e a morte do pai. “Não sei muito bem para quê [comecei a escrever], acho que era uma tentativa de lidar com aquela perda iminente.”
Ela passou a organizar relatos escritos do final da vida do pai. “Escrevi passagens chocantes, muito difíceis para uma filha que vê o pai partir.” Mas nem só dor emanava daquelas passagens: “Também puxei fios que levavam para a época em que ele estava bem, recuperei episódios da minha infância”, conta. “Observar essa morte despertou uma escrita perplexa, mas também abriu portas para que eu rememorasse um passado com ele. Tempos que, quando a gente está vivendo, não presta tanta atenção.”
Julia de Souza é apenas uma das muitas autoras e autores cujo cerne de um dos livros é a perda. Cada vez mais o mercado recebe publicações sobre luto. A escritora e crítica literária Noemi Jaffe acredita que há um número crescente de obras que não só retratam a morte como a descrevem a partir de experiências pessoais. “Os escritores vão envelhecendo, perdendo pessoas. É inevitável”, ela diz.
Segundo Jaffe, desde os anos 1990, a autoficção – gênero que transforma passagens da vida do autor em literatura – só ganhou força. Annie Ernaux, Karl Ove Knausgård
e Philip Roth são alguns dos clássicos no caminho. Ernaux venceu o Prêmio Nobel de Literatura em 2022, depois de uma série de títulos que exploravam desde sua família até o aborto clandestino que realizou aos 23 anos. “Parece haver uma aceitação maior do ensaio pessoal. E essas histórias passam por perdas”, opina Julia de Souza.
Para Jaffe, a elaboração do luto não necessariamente está vinculada à morte. “É a perda não só de pessoas que morrem, mas com quem você rompe. Enfim, esses desaparecimentos.” A verdade é que a morte, nos livros, é descrita de muitas maneiras. E mesmo nos títulos de autoficção, em que os personagens e os conflitos são particulares da vida do autor, a morte ganha uma conotação coletiva. “Eu não imaginava que meu livro fosse provocar esse tipo de ressonância”, afirma Julia de Souza. Mas, hoje, ela entende: “Os detalhes da minha história e do meu pai foram aspectos que sublinharam a vida que havia ali. Quanto mais particular a gente é nessas descrições, mais potente é o efeito”.
Noemi Jaffe está escrevendo um livro autobiográfico e chegou a se perguntar se a narrativa interessaria a alguém. “Aí penso que minha vivência repercute na história de muitas mulheres. Que têm a mesma idade, que protestaram contra a ditadura, que ficaram divididas entre ser judia ou não. Quando eu falo de mim, eu falo de muita gente também.”
Ao ler Annie Ernaux e Karl Ove Knausgård, ainda que as experiências de perda sejam diversas, Noemi Jaffe se enxerga – “sinto que eles também estão falando de mim” – e destaca a importância da originalidade (e da responsabilidade) na hora de escrever sobre o tema, já que permite outro tipo de elaboração do luto, sem clichês. “A originalidade dá novas perspectivas à perda, diferentemente do senso comum.” Senso esse que, às vezes, não acolhe o enlutado. Quando meu avô morreu, muitos disseram que o tempo curaria e que pelo menos ele tinha aproveitado a vida. De fato aproveitou. E de fato o tempo amenizou a dor. Mas foi a partir do livro de Rosa Montero, A Ridícula Ideia de Nunca Mais Te Ver, que algo diferente ressoou em mim. Ela escreve sobre viver a morte. Eu vivo a morte do meu avô. E, por isso, tenho lido obras que me permitiram elaborá-la. Para quem está passando por algo assim, divido, a seguir, a minha lista.
Uma lista de obras com relatos emocionantes sobre as mais diversas formas de perdas

AS PEQUENAS CHANCES
Natalia Timerman
Enquanto aguarda um voo, Natalia (sim, o mesmo nome da autora) encontra o médico de cuidados paliativos que atendeu seu pai e inicia uma conversa que desperta memórias. Cheio de conexões com a vida da autora, que também perdeu o pai, o romance reconstrói o declínio da saúde da figura paterna, os efeitos na vida da família, a ternura ao relembrar um passado conjunto e a dor de pensar um futuro de saudade.

NOTAS SOBRE O LUTO
Chimamanda Ngozi Adichie
A nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie não foi a única a perder um ente querido durante a pandemia de Coronavírus. O luto, naquele momento, era, em todos os sentidos, coletivo. Consciente disso, a autora se debruça não só sobre as dimensões familiares e culturais da morte, mas também sobre a solidão e a raiva inerentes à perda. Poucas páginas, mas um relato gigantesco de uma das maiores vozes da literatura hoje.

AOS PRANTOS NO MERCADO
Michelle Zauner
Kimchi, banchan e jjamppong são apenas alguns dos pratos e acompanhamentos coreanos que Michelle Zauner enumera ao evocar a memória da mãe, morta muito jovem. O carinho materno aparecia por meio da comida, fazendo contraste com a rigidez e as expectativas impossíveis que depositava na filha. Ao percorrer o mercado coreano H Mart, em Nova York, a protagonista chora e elege a culinária afetiva como norte para não se perder no processo do luto.

O QUE É MEU
José Henrique Bortoluci
Este livro foi escrito antes da perda, enquanto Didi, pai do autor, enfrentava um câncer. José Henrique Bortoluci narra 50 anos de histórias de seu pai, um motorista de caminhão que trabalhou, entre outros projetos, na construção da Rodovia Transamazônica e viu as marcas da ditadura militar e do suposto progresso. Entre anedotas de Didi, morto meses depois da publicação, o autor tece uma reflexão do Brasil, enquanto tenta manter viva a trajetória do pai.

A RIDÍCULA IDEIA DE NUNCA MAIS TE VER
Rosa Montero
Rosa Montero é uma escritora espanhola. E Marie Curie foi uma cientista polonesa. À primeira vista, elas têm pouco em comum. Mas foi ao escrever o prólogo do diário de Marie que Rosa descobriu uma triste sintonia: ambas precisaram lidar com a perda de seus companheiros. Decidiu, então, contar a história de Marie e costurar suas próprias memórias ao lado de Pablo Lizcano, fazendo uma reflexão vertiginosa sobre o luto.

O AMIGO
Sigrid Nunez
Após o suicídio do melhor amigo, uma escritora passa a elaborar um diário direcionado a ele para processar a perda. O que ela não esperava era receber uma herança inusitada: Apolo, um dogue alemão gigantesco. Enquanto reflete sobre literatura e escrita, ao mesmo tempo que medita sobre amor, perda e amizade, ela constrói uma conexão com o cachorro. É nesse vínculo tão obsessivo quanto emocionante que a protagonista se apoia e vê uma chance de redenção.

SOCOTRA VIAGEM
DE OUTRO PLANETA
Viajante das mais experientes, a produtora de conteúdo Flavia Pires realizou o sonho de conhecer Socotra, ilha no Iêmen tão fantástica quanto isolada
Por Flavia Pires
Na primeira vez que vi uma foto da Ilha de Socotra, com suas famosas árvores Sangue-de-Dragão, há cerca de seis anos, o destino entrou automaticamente não apenas na minha wishlist, mas na minha must list. Minha vontade de conhecê-lo era tanta que se tornou quase uma obsessão. Minha primeira intenção era viajar até a ilha em 2020, mas a pandemia acabou colocando uma pausa nesse planejamento. Aos poucos o mundo foi normalizando, mas a guerra que há dez anos assola o Iêmen, país onde Socotra fica, não cessou.
O conflito começou em 2014, quando rebeldes Hutis, com apoio do Irã, tomaram a capital do país, Sanaa.
1 – Diksam: o verdadeiro lar das árvores que servem como cartão-postal de Socotra
Eles contestavam o governo do então presidente Hadi, acusando-o de corrupção e de não representar os interesses do povo. Em março de 2015, uma coalizão liderada pela Arábia Saudita interveio para apoiar o governo reconhecido internacionalmente. A guerra resultou em uma grave crise humanitária, com milhares de mortes, deslocamentos, escassez de alimentos e serviços básicos. O país foi assolado por ataques aéreos, confrontos terrestres e bloqueios que contribuíram para uma grande devastação. Diversas organizações humanitárias têm lutado para prestar assistência em meio à insegurança e à destruição. Grandes esforços de mediação e negociações têm sido feitos em busca de uma solução pacífica, mas os desafios persistem. A presença de grupos extremistas como a Al-Qaeda na Península Arábica complicou
2 – A floresta de Fermhin, com mais de 80 mil árvores
3 – A piscina de borda infinita que surpreende os viajantes na trilha de Homhill
4 – Flavia inserida na cena local, durante a cerimônia do Ramadã


Socotra

ainda mais a situação. Várias tentativas de negociações de paz foram feitas, inclusive com mediação da ONU, mas são poucos os avanços significativos. As partes envolvidas têm demonstrado relutância em ceder e as condições atuais dificultam a busca por um resultado pacífico. Pelo conjunto de tantos fatores complicados, a guerra no Iêmen é considerada uma das piores crises humanitárias do mundo. Naturalmente, a pergunta que mais recebi, vinda de todos os lados, foi: “mas por que insistir em conhecer um lugar tão perigoso?” Quando comecei a anunciar minha ida a Socotra, em abril deste ano, havia também um fator seríssimo a mais a considerar: todo o problema que também está afetando o Oriente Médio. E eu sabia, desde o início, que não era mesmo a época mais apropriada para planejar uma
viagem ao Iêmen, mas estava decidida que deste ano não passaria. Coisa de viajante exploradora e destemida! Como de costume, um dos meus primeiros movimentos foi pesquisar extensivamente sobre o destino, considerado um dos mais isolados do mundo. Fiquei impressionada com as informações que encontrei. A ilha tem 3,7 mil km² e está localizada no Oceano Índico, mais precisamente na costa do Mar Arábico, ao Sul da Península Arábica. Conhecida por sua paisagem única e exótica, com fauna e flora ricas e diversificadas, Socotra abriga cerca de 700 espécies endêmicas; ou seja, que não são encontradas em nenhuma parte do mundo, somente lá! Além disso, a paisagem ostenta lindas praias de areia branca, formações rochosas impressionantes e montanhas belíssimas, o que possibilita uma oferta de

Socotra

várias atividades ao ar livre, como mergulhos em barreiras de corais, escaladas e muitas opções de trilhas.
Chegar até Socotra é um desafio à parte. Por ser um destino remoto e de difícil acesso devido à guerra no continente, a única maneira de voar para lá é a bordo dos aviões de ajuda humanitária operados pela Air Arabia, companhia saudita que financia esse apoio junto ao Emirado de Abu Dhabi. Os voos saem somente às terças-feiras, partindo do Emirado, e levam cerca de duzentos turistas para Hadibo, capital da ilha. Na semana seguinte, retornam para buscar os turistas e levar um novo grupo. A temporada do turismo vai nesse ritmo de outubro a maio. Para entrar no País, é necessário adquirir



um visto. E a compra desse bilhete aéreo precisa ser feita por um operador local. São cerca de dez empresas administrando os grupos de turismo e, em conjunto com a comunidade, elas cuidam dos acampamentos na ilha.
Apenas 50 mil pessoas habitam Socotra, preservando tradições inigualáveis. A população local tem a pesca e a ajuda humanitária como os únicos modos de sobrevivência, já que o solo é muito seco e impossibilita a agricultura. A condição de região autônoma do Iêmen influencia diretamente a política local, com um governo que administra
5 – As praias – paradisíacas – da região em diversos momentos. Na de Shoab, os golfinhos aparecem!
questões internas relacionadas a infraestrutura, educação e saúde. Ainda assim, a sustentação do destino e a administração de fato vêm da Arábia Saudita. Essa influência fica visível com a adoção do islamismo como religião e as práticas diárias das tradições, especialmente no mês do Ramadã. Visitei a ilha exatamente nesse período e presenciei as rezas acontecendo seis vezes ao dia. Nossa programação da viagem, inclusive, foi organizada ao redor dos horários delas e era necessário estarmos de volta ao acampamento ao pôr do sol para respeitar a primeira refeição do dia.
A eletricidade, o gás e o combustível da ilha são fornecidos por Abu Dhabi e há rumores do interesse do Emirado, e também da Arábia Saudita, em financiar

estrategicamente a região. Só o futuro pode dizer quais são os reais interesses desses governos com relação a Socotra. Atualmente, não há hotéis e o saneamento básico é precário, o que faz com que a única forma de se hospedar na região seja acampando. Por lá os acampamentos são montados de maneira simples, com banheiros (geralmente em péssimas condições) compartilhados entre os visitantes, a comunidade local, guias e os motoristas. A regra é simples: incorporar o espírito viajante aventureiro, “sem frescura”, ou sofrer com a falta de estrutura. As cozinhas são improvisadas e a falta de higiene é total. É um exercício diário abstrair os detalhes e fazer a viagem fluir, mas basta sempre se lembrar de como a paisagem natural intocada e todas
“É emocionante imaginar que essas árvores estão ali há pelo menos cinco séculos, intactas”

6 – Um oásis secreto em volta da piscina natural
7 – Mirante cênico em Qalansiyah, com vista da praia de mesmo nome
as experiências envolvidas fazem valer qualquer perrengue.
Em 2008, Socotra foi declarada oficialmente Patrimônio da Humanidade pela Unesco, movimento que contribui com a sua valorização e sua preservação. Os habitantes da ilha também estimam com afinco a cultura única e a identidade presentes entre eles e enfrentam os desafios que surgem nesse sentido graças à pressão que o turismo tem feito. Vale destacar que a sustentabilidade ambiental e a proteção da biodiversidade da ilha são temas importantíssimos na agenda política local – ainda bem –, com esforços para equilibrar o desenvolvimento econômico e a preservação de um meio ambiente tão único, especial e peculiar.
Minha ida até Socotra contou com a companhia da minha filha, Victoria, que completou 23 anos na viagem. Em geral, os grupos que vão até lá são pequenos, com no máximo 12 pessoas. Os viajantes se acomodam em uma caminhonete 4x4 com malas, colchões e um motorista. Durante as sete noites de estada, é ele quem monta os acampamentos. Entre os passeios e os deslocamentos até cada acampamento, os dias são preenchidos por longos percursos, permeados por uma paisagem mais surpreendente do que a outra. A natureza é incrivelmente exuberante e a riqueza do visual é extraordinária. Durante nossos sete dias na ilha, estivemos em lugares remotos e únicos, sobre os quais eu conto mais detalhes a seguir.
ESCONDERIJO Os lugares e experiências mais marcantes desta jornada por uma ilha remota e paradisíaca
Diksam Plateau
Homhill é uma trilha de aproximadamente duas horas, com um visual estonteante. Foi nela que tivemos nosso primeiro contato com as Bottle Trees, uma espécie endêmica de árvores da mesma família da famosa Rosa do Deserto, mas com dimensões muito maiores. Seu formato pouco comum é decisivo para a sobrevivência da espécie, que perde toda a folhagem durante a estação seca. Os caules são capazes de armazenar o equivalente a 100 mil litros de água, o que permite que elas sobrevivam às áridas condições de onde vivem. As flores são de uma beleza ímpar e o tronco dourado cria um contraste belíssimo com a árida paisagem. Fica claro porque Socotra é conhecida como o lugar mais alienígena da Terra: a natureza nos faz sentir parte de um filme de ficção científica, passado em outro planeta! Seguindo na trilha, chegamos a uma impressionante piscina de água natural e borda infinita, com uma vista deslumbrante. Passamos uma hora nos refrescando em deliciosos mergulhos, tentando computar tamanha beleza que nos recebeu.
Wadi Kalissan
Cânion de beleza ímpar e incomparável, Kalissan fica no caminho para Dihamri e pode ser acessado por uma trilha bem irregular, mas que recompensa os visitantes com a imensidão do vale e com piscinas naturais em tons de um verde deslumbrante. A água contrasta lindamente com o calcário das pedras ao redor, efeito que nos deixou extasiados. Aproveitamos o trajeto e passamos um bom tempo contemplando, escalando as pedras entre um mergulho e outro e aproveitando a sensação de estar completamente embriagados pela beleza natural.
É em Diksam que se encontra o cartão-postal de Socotra, as árvores que são símbolo da ilha, conhecidas como Sangue-de-Dragão. O famoso planalto é o verdadeiro lar das Dracaenas Cinnabari, nome científico dessa espécie que tanto marca o destino. Reza a lenda que a primeira delas nasceu da briga entre dois dragões. Eles teriam lutado até a morte e a primeira árvore seria resultado da união desse sangue. A aparência delas é surreal. Prosperam em ambientes áridos e são uma parte importante do ecossistema local. Conhecidas por terem seiva vermelho-sangue, troncos grossos e forma única de guarda-chuva, funcionam ao contrário de outras árvores: elas recolhem a água da neblina, e não do solo, e por isso só nascem na altitude e com essas condições climáticas de Socotra.
Dihamri
Sem dúvidas nosso acampamento mais bonito foi em Dihamri. A região é rodeada por conchas naturais gigantes e uma baía belíssima, na qual pudemos mergulhar com uso de snorkel, alugado ali mesmo, para observar um recife de corais repleto de espécies marinhas. A estimativa é de que Socotra tenha cerca de 700 espécies de peixes, 300 de caranguejos, lagostas e camarões. O mergulho durou cerca de duas horas e voltei à terra firme encantada com a beleza indescritível que pude presenciar.
Zahek
Poucos momentos me marcaram tanto na vida quanto poder assistir ao pôr do sol dessa região de dunas. Um lugar que impressiona pela dimensão e pela altura. Inesquecível!
Caverna de Dagub
Já tive a oportunidade de visitar muitas cavernas no mundo, mas Dagub certamente bateu todas elas. Com formações únicas nas rochas, plantas bioluminescentes e tesouros escondidos, a caverna é uma verdadeira joia na ilha.
“A natureza nos faz sentir parte de um filme de ficção científica, passado em outro planeta!”
Fermhin
Mais de 80 mil árvores Sangue-de-Dragão, todas com cerca de 500 anos, se espalham na floresta de Fermhin. Durante a caminhada, vamos nos perdendo nos caminhos da floresta, atentos ao formato de cada árvore. É emocionante e mágico imaginar que estão ali há pelo menos cinco séculos, intactas. No entanto, a enorme e crescente quantidade de cabras na ilha se apresenta como um grave problema na preservação dessa espécie endêmica. Esses animais comem as árvores ainda pequenas, o que tem se mostrado um empecilho para sua perpetuação. Medidas estão sendo tomadas por meio do cerco dos berçários das espécies, um trabalho lento, que exige investimento e tempo
Homhill
Qalansiyah
Entre todos os lugares no mundo que já tive o prazer de visitar, posso afirmar sem sombra de dúvidas que encontrei a praia mais bonita em que já estive na vida em Qalansiyah. A transparência da água, o contraste com a areia branca virgem e as falésias no entorno fazem desse lugar único o significado real de paraíso na Terra.
Detwah
Próxima à praia de Qalansiyah se encontra Detwah, uma lagoa deslumbrante. Montamos acampamento perto dela e, pertinho do fim da tarde, subimos uma montanha para apreciarmos o pôr do sol mais lindo da ilha e tirarmos muitas fotos das Bottle Trees do alto da montanha.
Wadi Dirhur

Um verdadeiro oásis em volta de uma piscina de água doce, Wadi Dirhur tem até mesmo um toboágua natural em meio às rochas avermelhadas. A cor forte das rochas contrasta de maneira lindíssima com o verde da vegetação, criando um cenário digno de filme.
Caveman
O personagem mais famoso da ilha é o Abdullah, conhecido como Caveman (homem da caverna), um exímio pescador que vive em uma caverna com uma vista deslumbrante da lagoa de Detwah. Geralmente, o Abdullah oferece um almoço aos seus visitantes, mas, como era época do Ramadã, participamos de uma pescaria com ele na lagoa em frente à caverna. Lá pudemos acompanhá-lo na pesca de vieiras, ostras e ouriços, e, em seguida, degustar os mariscos recém-retirados do mar. Uma experiência ímpar para quem, assim como eu, é amante de frutos do mar.
Shuab
Outro grande destaque da viagem foi um delicioso passeio de barco nas falésias da Costa Oeste da ilha, em direção à praia paradisíaca de Shuab. A água cristalina e o contraste com as rochas gigantescas, além dos raios de sol de um dia perfeito tocando a água e as pedras, pintaram um cenário memorável e ajudaram a construir um momento inesquecível. Era o aniversário de 23 anos da minha filha Victoria e foi um momento lindo, para guardar para sempre do lado esquerdo do peito.
Nossa viagem só foi possível graças à Mundus Travel (@mundustravel), agência brasileira que, em conjunto com uma operadora local de total confiança, organizou cada detalhe e nos passou toda a segurança necessária para visitarmos um destino de acesso complicado. Foram eles que organizaram os voos, providenciaram os vistos e nos proporcionaram uma das experiências mais valiosas das nossas vidas. Voltei de Socotra não apenas com um sonho realizado, mas com mais bagagem emocional e cultural do que jamais poderia ter imaginado – e olha que imaginei bastante! 8
8 – Flavia e Victoria no alto da floresta de Fermhin
Por Bel Mota Fotos Ike Levy
Janela da alma
Para além das paisagens cênicas, a jornalista Bel Mota encontrou no Atacama uma oportunidade de olhar para o seu próprio deserto interior


O deserto, com sua imensidão silenciosa, é um lugar onde o tempo parece parar e a natureza se revela em sua forma mais crua. A força do deserto não está apenas em sua paisagem árida, mas também na maneira como ele nos força a confrontar nós mesmos, nos convidando a uma linda viagem interior para reconhecer o nosso próprio deserto. Ao pousar no aeroporto de Calama, no Chile, a primeira impressão é de espanto: uma extensão infinita de areia, rochas e o azul profundo do céu contrastando com os tons dourados e ocres da terra. Dá a sensação de estar desembarcando em um planeta desconhecido.


A viagem para dentro já começa na estrada que leva ao coração desse mundo inóspito. Uma linha fina, cortando paisagens que se alternam entre montanhas e planícies extensas. O momento lhe convida a parar, descer do carro e sentir o silêncio avassalador. Não há ruído de civilização, apenas o som suave do vento soprando em seu rosto. A parada é obrigatória para encontrar a calma e começar a se desconectar do mundo frenético, para vivenciar os próximos dias.
Depois de uma hora e meia na estrada, sem avistar uma folha verde sequer, surge um oásis repleto de árvores no meio do nada, chamado San Pedro de Atacama. Um povoado localizado a 2.400m de altitude que foi eleito pela World
1 – Bel Mota no Vale da Lua
2 – A paisagem do Vallecito
3 – Vale da Lua: um cenário mágico para cavalgadas
4 – A majestosa Cordilheira do Sal
5 – Momento de pausa





Travel Awards (WTA) como o destino mais romântico da América do Sul.
Caminhar nas ruelas dessa cidadezinha é uma experiência deliciosa e curiosa. Vale a pena conhecer os detalhes da arquitetura da igreja local, uma construção feita com madeira de cacto. Separe uma manhã ou uma tarde para se perder nas ruas que têm em seu cenário os vulcões da Cordilheira dos Andes.
Na hora de escolher onde se hospedar, recomendo o Awasi Atacama. Tudo impecável!
Atacama

O comprometimento com a excelência aparece nos pequenos gestos que refletem a atenção minuciosa dada às suas necessidades e aos seus desejos. Entre os bons exemplos estão o drink feito com a erva local “rica rica” para ajudar na adaptação com a altitude e o menu às cegas, criado por chefs renomados e inspirado no formulário
6 – O charme da cidadezinha de São Pedro de Atacama
7 – Awasi Atacama: uma experiência sob medida

que preenchi antes de chegar ao hotel com minhas preferências gastronômicas.
O itinerário de experiências é sob medida, garantindo que cada momento seja inesquecível. As expedições no deserto, por exemplo, são realizadas com guias experientes, que conhecem como ninguém as tradições locais.
E, uma vez em campo, todos os detalhes são orquestrados para que você se concentre no que realmente importa: vivenciar o deserto em sua forma mais autêntica, mas sem abrir mão do conforto e da segurança.
Quando a noite chega, sem a interferência das luzes da cidade, o céu se ilumina com uma infinidade de estrelas, tão brilhantes e próximas que parecem ao alcance das mãos. É um momento de contemplação, em que o universo se torna tangível, trazendo uma sensação de pequenez diante da grandiosidade da natureza
Aprendi com essa viagem que a força do deserto não está apenas em sua capacidade de testar nossa resistência física, mas também em sua habilidade de nos forçar a olhar para dentro e buscar respostas que talvez tenhamos evitado por muito tempo. Conhecer o deserto do Atacama é uma experiência transformadora, que segue ecoando mesmo depois de deixarmos suas areias para trás.
8 e 9 – A paisagem fantástica do

“A força do deserto não está apenas em sua paisagem árida, mas na maneira como ele nos
convida a uma linda viagem interior”
Eu corro, eles correm, nós..
Se não é você, então é alguém que você conhece. Nas redes e no mundo off-line, a corrida parece ser daqueles esportes sempre presentes e que, de tempos em tempos, experimentam um revival ainda mais forte como o de agora. Aqui, a gente investiga essa tendência
Texto Manuela Stelzer Ilustração Mona Conectada
De uns tempos para cá, uma coisa é certa ao abrir o Instagram num domingo de manhã: não faltam selfies de aspirantes a maratonistas, fotos do pace do treino, do circuito concluído no Strava e a legenda – “o de hoje tá pago”.
Tem gente correndo para largar o sedentarismo, gente que já praticava e agora quer tentar uma maratona, gente que entrou na onda por curiosidade e pegou gosto, gente que estava cansada do Tinder e resolveu apostar numa nova tática para encontrar um parceiro – veja mais no box. Seja qual for o caso, a turma da corrida só faz crescer e o esporte, que sempre demandou preparação e cuidados, ganhou novos pontos de atenção.
Mas o que há por trás dessa prática que parece ter voltado com tudo e como ela transformou tantas pessoas?
GERAÇÃO SAÚDE
Muita coisa mudou depois do Coronavírus. Saúde se tornou um tema urgente e, mais do que isso, artigo em falta. “Essa geração saúde veio muito junto do pós-pandemia. Vi muita gente se importando mais com alimentação, exercício, hábitos e rotina. Cada vez mais cresce esse interesse”, acredita a nutricionista focada em esportes, comportamento e transtornos alimentares, Rebeca Gandolfo.
Durante e depois da quarentena, esportes práticos e individuais ganharam força: eram o jeito de manter o corpo ativo, a mente quieta e o isolamento em dia. “A corrida é algo que você pode fazer sozinho, cabe numa rotina mais apertada. E também dá para praticar com amigos. Funciona

para muitas pessoas e agendas”, complementa Rebeca. Foi o que aconteceu com a designer Mariana Simonetti. A corrida nunca esteve nos seus planos, apesar do gosto por esportes mais solitários. “Quando muita gente ao meu redor começou a correr, eu até julgava”, conta ela. “Mas eu sabia que precisava de um exercício físico prático.” Mariana resolveu dar uma chance para a modalidade e descobriu que ela não era exatamente solitária. “Tem um treinador ali comigo, amigas no grupo de corrida, voltei a viver uma relação muito legal e próxima com o meu pai a partir do esporte.”
Sozinha ou acompanhada, é na corrida que a designer encontra um espaço para se superar constantemente e ver, pouco a pouco, a própria evolução. “No começo, eu não gostei. Mas resolvi insistir para ganhar mais fôlego, que era meu objetivo.” Isso sempre com orientação, correndo perto de casa e aprendendo táticas para tornar a atividade mais prazerosa. “Depois de um tempo treinando – e me frustrando –, percebi um silêncio na minha mente enquanto corria. É quase meditativo.”
Muitas vezes atrelada a um esporte democrático, a corrida ganhou o coração tanto dos apaixonados por atividade física quanto de quem nunca foi muito fã de se movimentar. Cada um faz no seu tempo, corre o quanto consegue, escolhe se quer ouvir música estalando no fone ou correr no absoluto silêncio. Para começar, só é preciso um tênis e um sonho. Será?
CORRIDA É PAPO SÉRIO
Correr não pede bola, quadra, raquete ou cesta. Mas isso não significa que colocar um tênis e sair correndo seja o suficiente. “A preparação é muito importante. Alimentação, fortalecimento, orientação durante treinos e provas”, afirma Rebeca Gandolfo. E mais: a técnica, que precisa ser incorporada à prática desde o início, ainda que nem todos notem sua falta: “Se você jogar futevôlei sem nunca ter treinado, as pessoas vão reparar, porque a bola vai cair. Mas pouquíssimas pessoas vão perceber que sua passada na corrida está errada, poucas vão conseguir dizer
se você treina há anos ou se é sua primeira vez correndo”. Mesmo quem sabe a técnica, usa o tênis adequado, tem acesso à orientação e segue à risca os cuidados para correr está sujeito a lesões. Então imagine quem corre sem qualquer preparo. “Não teve um ortopedista que não me alertasse sobre os riscos da corrida”, conta Paula Nazarian, autora da newsletter NewZ, da NAZA, um hub de inteligência estratégica. “Quer correr maratona? Beleza. Mas saiba que você vai se machucar. Foi o que me disseram.”
Nazarian não planejou começar a correr – quando percebeu, corria para ir aos lugares e tinha pegado gosto. Em 2021, resolveu procurar uma assessoria para ajudá-la nos treinos e nas prudências para tornar a atividade parte da rotina. E mesmo se definindo como uma CDF da modalidade, por seguir com rigor e minúcia a planilha proposta, acabou com uma fratura por stress no colo do fêmur, lesão que a levou a uma cirurgia no início deste ano.
Ainda que o caso de Nazarian seja atípico – segundo ela e seus médicos, é difícil que uma mulher na casa dos 30, que cumpre todas as exigências para uma “corrida segura”, tenha esse tipo de lesão –, ele ilustra bem como correr é papo sério. “Principalmente quando você resolve correr uma maratona. Existe uma logística na qual a sua vida precisa se centrar. Não é qualquer coisa.”
Tudo o que a corrida tem de democrático, tem de exigente. Mariana Simonetti também relembra da importância dos exames em dia. “Muita gente descobre um problema de coração no meio de uma prova.” E complementa: “Todos os esportes devem ser praticados, mas sabendo os limites do nosso corpo e sempre diferenciando atleta e amador, quem só pratica por prazer ou saúde e quem vive o esporte”.
Correr para emagrecer, para manter o corpo ativo ou por prazer. Não importa, desde que seja feito em longo prazo e de maneira sustentável. Para Gandolfo, o movimento em direção à prática de esportes é positivo, mas vale ponderar. “Precisamos avaliar dois pontos: como está sendo feito e com qual objetivo. Nosso olhar viciado atesta que a receita ideal para uma vida saudável é praticar exercício e comer salada. Mas se você corre para poder comer doce sem culpa e leva sua salada para um encontro de amigos comendo pizza, isso é saudável?” É preciso, portanto, ter atenção com os extremos para que uma tendência em prol do corpo ativo não caia numa lógica compensatória ou até num discurso motivacional descabido. “É o tal discurso do você consegue! Sim, a gente consegue, mas à custa de quê?”
CORRER OU POSTAR? EIS A QUESTÃO
As redes sociais entregam apenas o recorte da vida de alguém. E, claro, só os melhores e mais bem angulados recortes. Com a corrida não é diferente: on e off-line,
corredores falam de boca cheia sobre superar limites, mas pouco discutem o árduo processo para chegar lá. O que acaba gerando uma comparação frustrante. Para a professora de educação física Fabíola Othero, que corre há 25 anos e hoje treina interessados na modalidade pelo Instituto Branca Esportes (IBE), vivemos tempos de muita ansiedade e imediatismo. “Tudo tem que acontecer de uma hora para a outra, o que leva pessoas a acharem normal concluir grandes objetivos sem preparo.” Quem alcança o marco dos 5 km já logo quer passar para o de 21km, etc. “Isso pode ocasionar lesões e forçar-lhe a parar o esporte. E o mais importante da corrida é justamente a continuidade.”
“Nosso olhar viciado atesta que a receita ideal para uma vida saudável é praticar exercício e comer salada”
Rebeca
Gandolfo, nutricionista
Paula Nazarian já correu duas maratonas e queria mais, mas depois da lesão e de sete meses longe da corrida, reflete: “Hoje olho os percursos que eu fazia e acho estranho um dia voltar a correr tudo aquilo”. Um tanto receosa, mas serena, ela consegue ver um lado bom: “Pode ser que eu volte mais tranquila, que a corrida fique apenas num lugar de prazer, como deveria ser, já que não sou atleta profissional. Como pode ser que eu perceba que não faça mais sentido. E tudo bem, é um capítulo novo. Quero sentir como meu corpo e minha mente vão responder depois dos limites que a lesão impôs. Vou respeitá-los”.
PACE A PACE
Sim, agora os clubes de corrida estão unindo mais pares românticos do que o Tinder. Uma matéria do The Independent, do Reino Unido, explora como correr tem sido uma maneira de se conectar com possíveis pretendentes. Menos centrados em aparência, os clubes de corrida unem por um hobby em comum: a paixão por correr. “É um lugar seguro para se conectar, sem tanta pressão e expectativa”, disse Matt Horrocks, um dos entrevistados da reportagem, que é fundador do grupo Your Friendly Runners. Além da endorfina liberada no date, que cria um cenário propício para a conexão.
Linha de chegada
Você também tem a sensação de que nos desafiamos diariamente a viver uma corrida?
Fomos atrás de respostas para entender por que estamos nessa maratona com o tempo, quais seus efeitos e, o mais importante, formas para sair dela

Há tempos o tempo vem me perseguindo. Em qualquer roda de conversa que entro ele é tema, assim como em todo podcast que ouço, livro que leio ou meme que vejo. A sensação de que estamos vivendo uma maratona eterna não é de hoje, mas começou a incomodar mais e mais porque o ritmo da corrida está aumentando insanamente. Meus amigos só fazem comprovar tal fato: são poucos os que ouvem mensagens de voz em velocidade normal, a maioria aperta logo o 2x e nem sabe bem o porquê. Recentemente um deles me perguntou se eu, assim como ele, também escutava podcasts na velocidade dobrada. Desconhecia tal possibilidade, confesso. E quando perguntei, atônita, o que o levava a fazer isso, escutei: “Não tenho tempo a perder”. O que me fez pensar: o que faz a gente viver correndo contra o tempo?
Numa primeira busca na internet, encontro chamadas que confirmam minha preocupação. “Não está com tempo para encarar dezenas de temporadas com episódios de quase uma hora de duração? Calma, você não está sozinho”! Ou, “20 livros curtos e bons que você pode ler em apenas um dia (ou menos)”. E ainda: “Sem tempo para maratonar? Confira dez filmes com
até 90 minutos de duração para curtir no streaming ”. Sem saber para onde correr, ou melhor, caminhar, recorro a uma especialista para me ajudar a entender esse cenário. No papo com a psicanalista Helena Cunha Di Ciero, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, ela logo diz uma frase que me marca: “A gente quer que as coisas caibam na nossa urgência. Nem para gozar as pessoas estão com muito tempo. Não há mais espaço para fantasia, para reflexão... O sugador de clítoris taí para acabar logo com isso. O que importa mesmo é o prazer imediato”.
Penso então na geração que cresceu achando que qualquer notícia ou informação cabe em 140 caracteres, tamanho original dos textos do finado Twitter, hoje X. Lembro-me das séries televisivas que tinham dez temporadas, coisa inimaginável hoje em dia. Afinal, ninguém consegue esperar tanto pelo fim de qualquer coisa. Quem viu Friends sabe (contém spoiler ): Ross e Rachel só ficaram juntos no penúltimo episódio. Foram anos aguardando o desfecho tão ansiado. “Há uma ilusão hoje em dia de que vamos conseguir anular o tempo de espera. Mas isso não é anulável”, diz Helena.
Texto Isabel de Barros Ilustração Mona Conectada
Hmmm... Pronto! Agora estão maduras
“Tem etapas que não podem ser puladas, como uma gravidez que dura nove meses, ou ainda a infância, necessária para a criança amadurecer e se tornar adulta.”
Pensando em como antes das redes sociais e da internet existia mais tempo para a espera e para pausas, eu me vejo querendo fugir de um texto saudosista, nostálgico... Afinal não é sobre comparar o ontem e o hoje, muito menos julgar o que é certo ou errado. A ideia é entender o modo de viver atual e, com isso, seus efeitos. Uma sociedade que caminha rápido demais, que só pensa em termos de ganhos e perdas, que não entende o longo prazo nem o valor de perder para depois ganhar, está ficando doente.
Converso, então, com a psicóloga e psicanalista Georgia Franco, que faz um trocadilho pertinente: “Hoje se nega o ócio, se vive de negócio”. Fez muito sentido porque o que mais ouço e vejo das pessoas ao meu redor é uma busca ininterrupta por tentar preencher espaços. Já reparou que ninguém mais lava a louça “só” pensando em nada ou pega a estrada “só” ouvindo música? Para todos esses momentos, há ligações telefônicas, audiobooks , podcasts , aulas on-line … Eles funcionam como preenchedores de espaços, os ditos tempos “perdidos”, com a intenção de transformá-los em úteis. “Precisar estar sempre fazendo alguma coisa é o imperativo do nosso tempo. A pausa é vista como algo menor, mas ela é necessária”, comenta Georgia. “Sabe a sensação de descanso ao sair da correria da cidade, mesmo que seja apenas por um fim de semana? Esse é o efeito da pausa, de recarregar, de se dar um espaço necessário.”
TIC-TAC TIC-TAC
“A pausa não é opcional.” “O tempo sempre impera.” “A vida nada mais é do que a espera pela morte.” Essas frases caíram pesadas nos meus ouvidos, provocando um “silêncio ensurdecedor”. Quem estamos tentando enganar? Aonde queremos chegar? E com quem estamos apostando essa corrida? “Nossa cultura favorece a experiência de tentar tapear a frustração ininterruptamente. Mas ela é da vida, só existe porque estamos vivos”, diz Helena, me mostrando que a espera é como um presente da existência. Um presente que não estamos sabendo aproveitar. “As pessoas estão pavimentando todos os intervalos possíveis porque a vida não pode faltar. Tudo tem que ser rápido, agora. Não existe espaço para acontecer o novo”, reflete Georgia.
“Pausa e ação estão articuladas, como se fossem freio e acelerador.
Um precisa do outro para funcionar”
Georgia Franco, psicanalista
Esperar não é gostoso, nem fácil. Mas é preciso. O que acontece, então, quando o tempo impera? Uma frustração com a qual muitos não sabem lidar. “Quando tem espera a gente se sente injustiçado”, diz Helena. E rápido demais entramos em crise. “A pressa tem um preço a ser pago e os efeitos do modus operandi atual são solidão, burnout, falta de memória, insônia, ansiedade”, lista Georgia. “Uma vida em curto-circuito não tem reflexão, não tem pensar de forma criativa, não tem espaço para o diferente, nem para o outro.”
Volto às mensagens de WhatsApp aceleradas e penso em como as pausas estão, muitas vezes, na presença com o outro, no tempo que vamos dedicar à escuta, à troca, ao questionar, ao ceder. “Há uma perda quando se faz um laço social porque requer disponibilidade. Mas temos que nos perguntar: o que estamos dispostos a perder para ganhar?”, diz Georgia. “É importante lembrar que pausa e ação estão articuladas, como se fossem freio e acelerador. Um precisa do outro para funcionar”, sentencia Georgia. Consigo visualizar um dueto perfeito, afinado, como Tom e Vinicius, como yin e yang, como brigadeiro e festa infantil. Um precisa do outro para existir. Entendo, então, que acelerar não é um problema, desde que saibamos frear. Para depois acelerar de novo.
CARBONO ZERO

NO LIMITE
Não basta ser capaz de chegar ao topo das montanhas mais desafiadoras do mundo. É preciso fazer isso com estilo, certo? Pois a novidade da Montblanc consegue proporcionar essa combinação como nenhuma outra. Em edição limitada, o 1858 Geosphere 0 Oxygen CARBO 2 foi pensado para os praticantes de montanhismo, que invariavelmente se preocupam com a sustentabilidade. A caixa do relógio é feita a partir de um processo que captura CO 2 da produção de biogás e resíduos minerais produzidos por fábricas de reciclagem, graças a um processo de dissolução e carbonatação de cálcio. O planeta agradece e os esportistas também, uma vez que a técnica elimina o efeito embaçado que pode ocorrer com mudanças drásticas de temperatura em altitude e evita a oxidação. @montblanc


APERTA O ENTER
A Ford promoveu a formatura da terceira turma do Ford <Enter>, seu programa de responsabilidade social que capacita pessoas de baixa renda para trabalhar na área de tecnologia da informação. O Ford <Enter> é uma iniciativa social da Ford e da Ford Philanthropy – braço filantrópico da empresa que atua principalmente nas frentes de educação para o futuro do trabalho, serviços essenciais e empreendedorismo –, em parceria com o SENAI-SP. Lançado no ano passado, ele já beneficiou 200 alunos, sendo que, das duas primeiras turmas, 50% estão empregados, alguns na própria Ford. @fordbrasil


UPCYCLING
MAIS LEGAL DO QUE USAR UM PRODUTO SUSTENTÁVEL, É SABER QUE ELE PODE SER TRANSFORMADO MESMO DEPOIS DE SEU SUPOSTO FIM. FEITAS DE MATERIAL RECICLADO, AS SANDÁLIAS DA LINUS SE TRANSFORMAM EM PISOS DE ÁREAS EXTERNAS DEPOIS DE (MUITO) GASTAS. EM PARCERIA COM A PLAYPISO, A MARCA TRITURA O CALÇADO E O MISTURA COM PNEUS USADOS PARA CHEGAR A ESSA NOVA FINALIDADE. INCRÍVEL! @USE.LINUS
FUTURO NOTA 10
Natural de Vitória, ES, Bartira Almeida tem currículo forte na construção civil. Presidente do Conselho Administrativo da Construtora Morar, fundada por seus pais em 1981, sentia-se extremamente privilegiada dentro de um país com tanta desigualdade. Visando viver em uma sociedade mais justa e bem desenvolvida, criou o Instituto Ponte , ao qual dedica 70% do seu tempo de modo voluntário e feliz. A ideia é ser a “ponte” entre potenciais doadores e bons programas sociais na área da educação, gerando assim um elo entre jovens de baixa renda e o mercado de trabalho. “Identificamos estudantes talentosos de escolas públicas e lhes concedemos oportunidades educacionais e acesso a atividades de desenvolvimento nos aspectos acadêmicos e socioemocionais”, explica Bartira.

Atualmente são 365 alunos de 13 estados do Brasil, sendo 129 bolsistas em 32 escolas parceiras com os melhores resultados do ENEM em seus estados. “Quem tem privilégio no Brasil é quem pode modificar o País. Essa transformação começa ao mudarmos a vida de um jovem que só precisa de uma oportunidade”, finaliza a fundadora. @institutoponte

CASA VERDE
O Estúdio RatoRói tem como foco principal desenvolver materiais sustentáveis com plástico 100% reciclado, coletados com o auxílio de cooperativas e recicladoras. Em seu portfólio, aviamentos, enfeites, luminárias, estojos, vasos, móveis e óculos, entre outros itens, feitos com os mais inusitados tipos de matérias-primas: embalagens vazias de pasta de dente, sacolas plásticas, tampas de garrafas e afins, que seriam destinados a aterros sanitários ou até mesmo dispersos no meio ambiente. Carbono Uomo adorou seu mais recente lançamento em parceria com a Dedim: o Cobogó Vilarejo, feito de plástico reciclado e inspirado na arquitetura popular brasileira. @ratoroi

UMA NOVA HISTÓRIA
O que acontece depois que os grandes festivais de música acabam e o público se vai? Para Airys Kury o material usado em eventos como Tomorrowland, The Town e Rock in Rio pode virar obra de arte. Em seu ateliê em Caieiras, São Paulo, madeira, metais, acrílicos, tintas, tecidos e máquinas viram obras repletas de personalidade. “Na arte visual tudo o que é criado vira eterno, ela nunca é desintegrada. É para isso que estou me empenhando”, conta ele. Vale conferir! @airyskury
RESILIÊNCIA
É hora de ajudar o Pantanal! O bioma passou por incêndios severos e lugares fundamentais, como o refúgio ecológico Caiman , Pantanal, estão aceitando contribuições para realizar uma série de iniciativas em prol da fauna e da flora. Entre elas, a construção de açudes e um projeto de tratamento que espalha alimentos em pontos estratégicos, enquanto as fontes de nutrientes dos animais estão prejudicadas. Saiba mais em @caimanpantanal.

SEGUE O SOL
Vale ficar de olho no Vinhedo Solar, projeto da Viña Don Melchor . A novidade da vinícola chilena trará uma série de informações importantes para seguir sua abordagem à agricultura agroecológica e cuidadosa com a biodiversidade. Com elas será possível conquistar feitos como a utilização mais eficiente da água e potencializar a biodiversidade que rodeia as videiras, entre outras ações. @donmelchorwine

VEM QUE VEM
O laboratório carioca de soluções materiais Vaique transforma lixo em possibilidades. Eles coletam resíduos plásticos e usam de matéria-prima para a produção de mochilas, bolsas e acessórios. A mochila transparente feita de plástico industrial descartado e a sacola feita de plástico-bolha de descarte são nossas peças favoritas. @vaique.vaique

PASSOS VERDES
Mais uma boa prova de que a moda verde fica cada vez mais charmosa e consciente. A Undo for Tomorrow é uma marca de tênis 100% vegana. Elaborados a partir de fibras reutilizadas, recicladas e naturais, os modelos não contêm couro ou lã de origem animal. Detalhe: as solas de borracha são feitas com balões de festa descartados e sobras de pneus. @undofortomorrow

PORSCHE NA TOMADA
Com alta procura e grande aceitação do mercado, a Porsche resolveu dobrar o tamanho da linha de modelos do seu primeiro SUV totalmente elétrico. O Macan elétrico da marca alemã ganha, assim, uma nova versão. A primeira delas é o modelo de entrada, com tração traseira, que oferece grande eficiência e autonomia. Já o novo Macan 4S, que preencherá a lacuna entre o Macan 4 e o Macan Turbo, apresenta até 380 kW (516 cv) e está posicionado no segmento de maior potência da linha. Um novo pacote de design off-road também está disponível, além da interface de uso dos sistemas de comando ter sido amplamente atualizada. @porsche

TUDO SE TRANSFORMA
Depois de atingir a meta de usar apenas ouro e prata reciclados em suas criações – são 58.000 toneladas de CO2 a menos por ano –, a Pandora lançou uma coleção feita com diamantes de laboratório. Com uma pegada de carbono menor, eles são cultivados, lapidados e polidos com energia 100% renovável. E mais, o Brasil é um dos únicos cinco países a receber a linha, batizada de Diamantes para Todos. @theofficialpandora
PRESENTE DO BEM
Que tal deixar o mundo mais cor-de-rosa para a mulher da sua vida? Seja mãe, esposa, filha, amiga... A marca italiana de lingerie Intimissimi está fazendo sua parte ao apoiar o Outubro Rosa em parceria com a Américas Amigas. A missão da Organização é atuar em todo o território nacional em prol da queda da mortalidade por câncer de mama entre a população em situação de vulnerabilidade social, promovendo informação precisa, sensibilização e acesso à prevenção, à detecção e ao diagnóstico precoce da doença. Desde 2019, 10% das vendas de produtos cor-de-rosa, desde sutiãs e calcinhas até camisolas, das lojas Intimissimi do Brasil são destinadas a procedimentos de mamografias e outros exames que auxiliam na detecção precoce e no tratamento do câncer de mama. @intimissimibrasiloficial


EDITORA CARBONO APOIA MÉDICOS SEM FRONTEIRAS
A Editora Carbono tornou-se, em 2024, Parceira Corporativa Ouro de Médicos Sem Fronteiras
A ONG, que oferece ajuda médica e humanitária para populações em situação de emergência – sejam conflitos armados, epidemias, desastres naturais, desnutrição ou exclusão do acesso à saúde –, atua em mais de 70 países. São 68 mil profissionais envolvidos em mais de 500 projetos, quase todos (97,2%) financiados por doações. Atualmente no Brasil estão agindo em três frentes emergenciais: no Rio Grande do Sul; na Terra Indígena Yanomami, em Roraima; e em Portel, na Ilha do Marajó, no Pará. Há inúmeras formas de ajudar! Confira em @msf_brasil | +msf.org.br



Da série chás para colecionar. Os da Infusiva são superartesanais, feitos sem aromatizantes e sempre com ingredientes da natureza. Vale provar todas as variações do Abelha Purificação, que usa um blend de chá preto e cupuaçu premiado. E as embalagens são apaixonantes! @infusiva

MERGULHO ROSA
O colombiano Fernando Trujillo, biólogo marinho e especialista de renome mundial em golfinhos fluviais, foi eleito o Rolex National Geographic Explorer do Ano de 2024. Escolhido por sua dedicação à proteção dos botos, Trujillo combina pesquisas científicas com ações para salvar a icônica espécie e cuidar das comunidades ribeirinhas da Amazônia. A Rolex apoia o prêmio, ao lado da National Geographic Society, como parte de sua Iniciativa Perpetual Planet, que chancela aqueles que estão na vanguarda na busca de soluções para os desafios ambientais do mundo. @rolex

HORA DO CHÁ

COMPROMISSO
A Volkswagen do Brasil tem novidades verdinhas! A primeira é que duas fábricas da empresa alemã, localizadas em Anchieta e Taubaté, serão as pioneiras no setor automotivo a ter biometano em sua matriz energética, que permite reduzir em até 99% as emissões de CO2 em parte do processo produtivo, se comparado à alternativa fóssil. A segunda é que a marca concedeu, em regime de comodato, 65 carros para treinamento de resgate do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo. Além disso, a fabricante se comprometeu a lançar, nos próximos quatro anos, 16 novos veículos com destaque para modelos híbridos, 100% elétricos e Total Flex. @vwbrasil

FESTIVAL DE ORGÂNICOS TRANCOSO
Que tal agendar um desembarque em Trancoso, mas dessa vez com um propósito diferente? A quarta edição do Organic Festival acontece entre os dias 16 e 20 de outubro para fomentar a alimentação consciente e a sustentabilidade. Na agenda, chefs como Roberta Sudbrack e Morena Leite conduzem aulas, refeições e experiências incríveis. @organic.festival

S.O.S AMAZÔNIA
A Highstil , marca de roupas masculinas, lançou uma linha de camisetas em prol da Amazônia. As peças foram ilustradas por Maurício Duarte, estilista indígena conhecido pelos desenhos inspirados na floresta, e feitas a partir de resíduos de café que seriam descartados. Parte da renda será destinada para um projeto hídrico na região. @highstil_oficial
CALCE OS MEUS SAPATOS
A Turma do Jiló, organização sem fins lucrativos fundada por Carola Videira, que luta pela inclusão e pela diversidade nos ambientes escolares e corporativos, desenvolveu uma novidade que promete movimentar o setor. Trata-se de um workshop imersivo chamado On My Shoes. Nele os usuários participam de uma espécie de jogo de realidade virtual, em que, por meio do uso de óculos inteligentes, vivenciam episódios sob a perspectiva de quem sofre racismo, homofobia, discriminação de gênero, incapacidade e etarismo. A ideia é sentir os ataques na pele, promovendo assim mais empatia e compreensão, culminando em mudanças reais de atitude. Um exemplo da experiência imersiva? Ao colocar os óculos você se transfere para a vida de um personagem cadeirante que não consegue se locomover na cidade por conta da dificuldade de acessos. Para refletir. @turmadojilo
Fotos
Alexandre Bizinoto
Macedo, Antonio Milena, Doppio Click, Koslowski, Nico
Ferri, Tipi
Criativo, Wetouch
Imagework
divulgação
PÁGINAS AMARELAS
Tendências para ficar de olho: um guia inteligente por Carbono Uomo
Ilustração Mona Conectada

RAIZ
Rodrigo Oliveira, do Mocotó, divide conosco seu roteiro de comida sertaneja Brasil adentro. Uma explosão de sabor!
PASSARELA
Do corte ao tecido da vez, passando pela influência do esporte: Bruno Colella mostra caminhos para aderir à alfaiataria com estilo.
SÓ MAIS UMA
Abertas, fechadas, folhadas e muitas outras variações. Não é de hoje que as esfihas viraram um verdadeiro clássico paulistano.
MUNDO OFF
Cada vez mais presentes, os jogos de tabuleiro versão 2.0 são ótimas fontes de diversão. Existe vida além das telas. Ufa!
PARA OUVIR
DJ e pesquisador, Emiliano Beyruthe aponta as próximas tendências musicais. Tem festa, ritmos, blockchain e mais
DEZOITO MAIS
A entusiasmante arte de fazer quadrinhos para adultos. Reunimos livros inspiradores, seja pela história, seja pelos desenhos.
Especialista em raridades, o colecionador Thomaz Saavedra indica suas livrarias favoritas mundo afora para encontrarmos obras absolutamente únicas. FORA DA ROTA
Frases e reflexões sobre o bem mais valioso do planeta

GRANDE – E DELICIOSO–SERTÃO
Rodrigo Oliveira, filho de pai e mãe do sertão pernambucano, levou a gastronomia nordestina a outro nível com seu Mocotó e, depois, com o Balaio (@mocotorestaurante e @balaioims), em São Paulo. Das suas criações, ele coloca o mocofava, cozido de favas com mocotó, em um lugar especial e, a seguir, indica outros pratos de restaurantes de comida sertaneja no Brasil que valem a visita
Depoimento a Luisa Alcantara e Silva

BARNABÉ – SP
“Como vivo em São Paulo, é onde tenho mais referência. E não poderia deixar de indicar o Barnabé, na Zona Norte. É do meu primo Janse Almeida, que trabalhou com a gente no Mocotó. A chef Juceli faz pratos de assinatura própria maravilhosos, como o baião de dois.” @barnabeoficial



CANTINA DO ZELÃO – SP
“Embora tenha ‘cantina’ no nome, a casa do Norte, em São Bernardo do Campo, faz maravilhas, como o mocotó à moda do rei, com grão-de-bico, costelinha defumada e linguiça. Outra pedida é o bolinho do Zelão, de carne. Vale pegar o carro e ir até lá.” @cantina_do_zelao


ACONCHEGO CARIOCA – RJ
“A chef Kátia Barbosa é uma cozinheira como poucas, com seu restaurante de comida nordestina, com receitas não só do sertão, mas também do mar. Ela faz ótimos pratos com carne seca e carne de sol.” @aconchegocariocarj
Fotos
Nani Rodrigues, Ricardo D’Angelo e divulgação
Páginas

RESTAURANTE DO SEU LUNA – PE
“Comandado por Claudia Luna, esse restaurante em Recife é uma pedida fundamental. O chambaril, nome dado ao ossobuco em algumas partes do Nordeste, é carregado no cominho e no coentro e é leve. Aliás, não pesa nem no estômago nem no bolso.” @seulunarestaurante

O OSMAR – CE
“Visitei essa tapiocaria em Fortaleza e fiquei impressionado. É um local enorme e o produto é excepcional. Tem vários tipos e sabores, como queijo de coalho e carne seca. Sugiro ir para um brunch porque você vai ter vontade de comer várias.” @tapiocasoosmar



ENTRE AMIGOS - O BODE – PE
“A carne de sol do Entre Amigos - O Bode, também em Recife, é extraordinária. E o lugar é muito legal. Eles fizeram um baita serviço ao mostrar que rabada pode ser servida em um restaurante elegante, com ar-condicionado.” @entreamigosobode

NOTIÊ – SP
“Um restaurante que não se coloca como nordestino, e sim como brasileiro, mas que, por ter um chef paraibano, tem esse sotaque. O Notiê não poderia ficar fora dessa lista. O que o Onildo Rocha faz é surreal. E indico aqui o menu degustação, que varia conforme a temporada.” @notieporpriceless

CANTO DO PICUÍ – AL | SP
“O Wanderson Medeiros fez fama em Alagoas e trouxe seu restaurante Picuí, de Maceió para São Paulo, sob o nome de Canto do Picuí. Comece com os pasteizinhos, uma receita da mãe dele. Podem ser de carne de sol, que aparece também nos pratos principais.” @cantodopicui
PEQUENA MARAVILHA
Nosso guia de endereços paulistanos para quem é louco por esfihas
Aberta, fechada, enrolada e até folhada. De carne, de queijo, com verduras e, quiçá, bottarga. São inúmeros os formatos e sabores de esfiha, essa maravilha surgida no Oriente Médio e tão adorada por aqui, especialmente entre os paulistanos.
Sua origem é controversa, já que pães chatos são consumidos na região há milhares de anos – o

Iraque teria sido o primeiro país a fazê-lo – e, desde então, diferentes povos criaram suas próprias receitas. Fato é que somos apaixonados por sua versatilidade e seu sabor. Então reunimos a seguir alguns dos nossos endereços favoritos para quem também é fã. Vale como entrada, mas também como protagonista de refeições.


ART ESFIHA – SP
A tradicional casa libanesa fundada há 23 anos pelas irmãs Márcia, Maria Angela e Rosa Abbud realiza pratos típicos que traduzem o cuidado e o capricho à mesa da emm (mãe) Myriam. Aqui as esfihas se apresentam em recheios caprichosamente envoltos em massa fina e aerada, com as extremidades douradas ao forno. As mais pedidas são as clássicas carne, queijo e verduras, e a criação incrivelmente delicada de calabresa com catupiry. @artesfiha

SHUK ESFIHAS – SP
As Bidés, esfiha turca em formato de barca, são as estrelas do cardápio dessa casa especializada na comida de rua do Oriente Médio. A de cordeiro, com molho de tomate, carne de cordeiro e cebola roxa com sumac, é maravilhosa, mas prove também as vegetarianas, em especial a de beringela defumada com nozes e especiarias. Outra vertente de esfiha do Shuk é a Lahmajun. Pense em uma massa aberta e bem fininha, que pode ser enrolada. Água na boca! @shuk.sp

Inaugurada há mais de 50 anos, a casa ainda é comandada por herdeiros dos armênios Deyrmendjian – os mesmos do Casa Garabed. Entre as esfihas, há sabores clássicos, mas a dica é provar uma versão mais autêntica, como a de queijo com bastermá, a tradicional carne seca da Armênia. @esfihariaeffendi
ESFIHARIA EFFENDI – SP
Páginas

Receitas familiares do Líbano e da Síria, mas com um toque contemporâneo, dão o tom do cardápio do Saj. São diversas variedades de esfiha, todas feitas no dia e de maneira artesanal. Além das abertas, das fechadas e das folhadas – crocante e finíssima, a massa é muito deliciosa! –, o restaurante tem uma versão batizada de Esticadinha, nos sabores carne ou zaatar. @sajrestaurante

As esfihas criadas por Dona Victória são sucesso desde que ela era apenas uma imigrante vinda do Líbano e que vendia seus quitutes para amigos. Hoje, a casa localizada na Avenida Juscelino Kubitschek tem 14 variedades no cardápio, incluindo a famosa – e substanciosa – receita folhada e recheada de carne. @brasserie_victoria


Um clássico obrigatório em São Paulo: visitar a unidade mais antiga do Almanara, um imóvel art déco na Rua Basílio da Gama, e devorar sem culpa todos os sabores de esfiha. Servidas no esquema de rodízio, elas chegam fervendo à mesa e fazem jus à receita artesanal de uma mesma família há sete gerações. A aberta de carne é hit, mas impossível resistir à de espinafre, escarola e sementes de snoobar. @almanara

Uma dica com mais cara de lanchonete – são diversas unidades espalhadas em shoppings paulistanos – para quem deseja conhecer as esfihas criadas por jovens descendentes de árabes. As receitas são inspiradas na versão street food dessa gastronomia, mas não abrem mão da qualidade e da autenticidade. Adoramos a de carne! @falafullbr

No restaurante que começou como rotisserie , a dica é provar os sabores mais clássicos da casa, como a fechada de ricota, levinha e saborosa. Assada na hora, a de massa folhada recheada com verdura e passas também vale a pedida. @miskirestaurante
PARA VIAGEM É provável que você já tenha visto os produtos da Dozza em empórios e supermercados. Então vale saber mais sobre sua história. Dozza era o apelido de um imigrante armênio, Sr. Boos Oxoolania, que fundou um armazém na Rua Armênia, em 1956, para vender suas esfihas artesanais, entre outros quitutes. Nos anos 1980, o endereço evoluiu para uma pequena esfiharia e, hoje, além de seis restaurantes, tem uma linha de congelados que é sucesso Brasil adentro. Sempre com receitas que seguem à risca os ensinamentos do vovô Dozza. Finíssimas e folhadas, as esfihas abertas de carne são daqueles itens obrigatórios para serem mantidos em estoque no freezer. @esfihasdozza
FALAFULL – SP
ALMANARA – SP
SAJ – SP
BRASSERIE VICTORIA – SP
MISKI – SP
MÚSICA PARA OS NOSSOS OUVIDOS
Não é exagero dizer que Emiliano Beyruthe (@emilianobeyruthe) respira música. DJ e pesquisador, ele está sempre em busca dos novos sons e caminhos desse universo, seja para as pistas que faz ferver, seja para os eventos de suas agências, a Multicase e a VIV. Aqui, ele conta quais as tendências da vez na hora de ouvir ou criar um som – do blockchain à festa que todos deveriam conhecer


FESTIVAIS
MAIS VERDES

Sustentabilidade é item obrigatório em todas as áreas e não poderia ser diferente com eventos e festivais de música. Em Paris, por exemplo, o We Love Green promove uma série de iniciativas, incluindo o uso de bioconstruções nas estruturas temporárias, todas com materiais naturais e reciclados. Já o Shambala, que acontece na Inglaterra, é reconhecido por suas práticas ambientais inovadoras. O festival tem uma política de zero resíduo, oferece apenas alimentos vegetarianos e veganos e tem um projeto batizado de pee-powered lighting, que utiliza o xixi dos participantes para gerar eletricidade.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Com o avanço da tecnologia, a chamada IA também está sendo utilizada para criar músicas e videoclipes. Algoritmos conseguem compor melodias, escrever letras e gerar imagens em movimento, resultando em obras únicas e inovadoras, com mais liberdade nas ideias e nos caminhos criativos. Veja alguns aplicativos em que é possível produzir música com IA:

AMPER MUSIC
A plataforma, que utiliza algoritmos de inteligência artificial para produzir músicas, pode criar composições em vários estilos, como jazz e pop, entre outros ritmos.

AIVA
Os usuários podem selecionar o estilo, além de outros parâmetros, e a IA gera uma composição musical única com base nas preferências escolhidas.


NFTS e BLOCKCHAIN
Duas tecnologias que estão transformando a maneira como a música é distribuída e monetizada. Artistas podem vender seus sons, álbuns e itens colecionáveis digitais diretamente aos fãs, garantindo mais controle e receita direta. O Audius, por exemplo, é uma espécie de Spotify descentralizado, que oferece aos músicos controle total dos seus direitos autorais. São eles que fazem o upload, compartilham e monetizam suas músicas, sem a necessidade de intermediários tradicionais como gravadoras ou distribuidores digitais. A tecnologia blockchain, juntamente com os NFTs, estão revolucionando a indústria ao empoderar os artistas e oferecer novas formas de monetização e engajamento.
Shambala
We Love Green


A FESTA QUE TODOS DEVERIAM CONHECER
Anote esse nome: Despacio. A festa itinerante oferece um conceito inovador de som e experiência auditiva, focada na qualidade sonora e na imersão musical. Foi criada por James Murphy (LCD Soundsystem) em colaboração com a dupla de DJs belgas 2ManyDJs (Soulwax) e desenvolvida por engenheiros da McIntosh, autoridade em sistema de som. Os estilos musicais são muitos e frequentemente tocados em velocidades mais baixas para fazer jus ao nome Despacio – devagar, em espanhol. Por fim, a cabine do DJ é propositadamente colocada em um canto para que as pessoas esqueçam sua figura e se envolvam em uma experiência musical completa.

GOLD LINE – LOS ANGELES
O endereço de L.A aposta em um sistema de som vintage, com alto-falantes Klipschorn e toca-discos Technics, que proporcionam uma experiência excepcional. @goldlinebar
LISTENING BARS
Os listening bars ganharam o mundo com sua experiência auditiva de alta qualidade. Equipados com sistemas de som excelentes e acústica cuidadosamente planejada, proporcionam um ambiente onde os amantes da música podem apreciar cada detalhe das gravações. Aqui dois exemplos que me agradam:

SPIRITLAND – LONDRES
Localizado em Londres, é equipado com um sistema de som customizado de alto nível, incluindo amplificadores valvulados e alto-falantes feitos sob medida. Tudo para que a vivência sonora seja imersiva. @spiritland
MÚSICA AMBIENTAL E BINAURAL
Você já ouviu falar em música binaural? Focada no relaxamento, a tendência ajuda a diminuir os níveis de cortisol (hormônio do stress) no corpo, promovendo um estado de calma. Isso é particularmente útil para pessoas que sofrem de ansiedade crônica. Sons binaurais ainda podem contribuir para o regulamento dos padrões de sono, promovendo uma noite mais reparadora. A seguir, indico duas empresas que oferecem o caminho:

A plataforma utiliza inteligência artificial para criar músicas dedicadas a melhorar o foco, o relaxamento e o sono, todas baseadas em pesquisas científicas. @brainfmapp

CALM
Dedicada ao bem-estar mental, a plataforma oferece uma ampla variedade de músicas ambientais e sons binaurais. Destaque para as trilhas sonoras criadas por compositores renomados. @calm



ESTILO
Referência na alfaiataria contemporânea, Bruno Colella está sempre de olho nas tendências desse universo para a sua marca, a BRNC (@brncalfaiataria). Para a Carbono Uomo ele conta os principais caminhos desse nicho atualmente, um mix único de tradição e modernidade. “São movimentos que refletem uma busca por conforto, sustentabilidade e inovação, sem abrir mão da elegância clássica e utilizando a alfaiataria como ferramenta”, conta ele. Para anotar e colocar em prática!

DETALHES ARTESANAIS
Acabamentos feitos à mão, como costuras aparentes e bordados discretos, ganham destaque, conferindo um toque de exclusividade e qualidade às roupas.
CORTES LARGOS
Os cortes mais soltos e confortáveis continuam em alta, permitindo maior liberdade de movimento e um visual mais descontraído.
TECIDOS SUSTENTÁVEIS
A sustentabilidade ganha ainda mais força com a utilização de tecidos ecológicos, como linho orgânico, algodão reciclado e misturas de fibras naturais.



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INFLUÊNCIA DO ESPORTE
Elementos do universo esportivo, caso dos tecidos tecnológicos e dos acabamentos mais confortáveis – o cós de elástico entre eles –, estão sendo incorporados nas peças de alfaiataria, oferecendo funcionalidade e estilo.


CASUAL + FORMAL
A tendência de misturar peças casuais com elementos mais formais segue presente. Entre os bons exemplos está a calça de alfaiataria com sapatos descontraídos.

BLAZERS DESESTRUTURADOS
Peças com menos rigidez e ombros levemente marcados proporcionam um look mais casual, que vai bem tanto no trabalho quanto nos eventos sociais.

TONS NEUTROS E TERROSOS
Cores como bege, cinza e marrom, além dos tons terrosos, dominam a paleta deste ano, proporcionando versatilidade e elegância.
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HORA DO RECREIO
Os jogos de tabuleiro estão em alta e são um excelente passatempo para quem anda precisando dar uma pausa nas telas – e tem alguém que não?
Por Adriana Nazarian
Que atire a primeira pedra – ou seria o primeiro dado? – quem nunca jogou, ou ao menos ouviu falar, de jogos de tabuleiro, como War, Jogo da Vida e Monopoly. Pode parecer impossível, mas nos anos oitenta, quando os celulares não existiam, muitas famílias e grupos de amigos se reuniam em uma mesa e passavam divertidas horas em torno dessa atividade.
Mas engana-se quem pensa que esse passado está obsoleto. Os jogos de tabuleiro nunca saíram de cena e, desde a pandemia, estão cada vez mais em alta, atingindo números impressionantes. De acordo com a Grand View Research, a indústria, que lança mais de 5 mil títulos por ano, deve atingir o valor de US$ 21,5 bilhões em 2025.
Não são poucos os estudos que comprovam: brincar faz bem, mesmo que na vida adulta. Em Play: How It Shapes the Brain, Opens the Imagination, and Invigorates the Soul, o médico Stuart Brown mostra que o hábito pode trazer diversos benefícios para a saúde e a mente. Então, vamos jogar? Para inspirar, selecionamos alguns dos nossos tabuleiros contemporâneos favoritos. Afinal, o Netflix cansa e não são apenas as crianças que estão precisando resgatar a diversão off-line


Um convite para expandir os limites da sua criatividade e sua imaginação. O narrador da vez escolhe uma carta e, sem revelar aos outros jogadores, diz uma palavra, ideia ou frase que a represente. Os outros participantes devem então selecionar uma carta (também secretamente), de suas próprias mãos, que mais combina com a mensagem. As cartas são embaralhadas e, ao revelá-las, o desafio é tentar acertar qual era a imagem do narrador.

PERGUNTADOS
O jogo, que foi criado para o universo on-line, fez tanto sucesso que acabou ganhando um tabuleiro para chamar de seu. A dinâmica é de perguntas e respostas com assuntos que entretêm a família toda: história, geografia, ciências, esportes, artes e cultura.
AZUL
Criado por Michael Kiesling, figura conhecida no mundo dos game designers, Azul transforma os jogadores em artesãos de azulejos, que competem para decorar as paredes do Palácio Real de Évora. Chique! É preciso escolher a quantidade e o estilo corretos das pecinhas, valorizando a beleza de suas construções, mas sem perder nenhum recurso no processo.
DIXIT

SINTONIA
Um party game, como são chamados os jogos rápidos, para testar sua habilidade de entrar na mente das pessoas. Para entendê-lo, só jogando, mas damos uma ideia. A dinâmica é de equipes e, a cada rodada, um participante é escolhido como psíquico. O time seleciona uma ficha com extremos – quente e frio, por exemplo – e o psíquico precisa dar dicas, mas sem revelar por completo.



TULIP BUBBLE
Boa dica para quem gosta de jogos que envolvem habilidades financeiras. O mercado de tulipas está prestes a colapsar e os jogadores são investidores que precisam se organizar para ganhar dinheiro por meio de um leilão. De quebra, ainda dá para apreciar as ilustrações floridas – e lindas – de cada carta.

TICKET TO RIDE
A dinâmica segue a linha do WAR, mas o desafio aqui é construir a maior ferrovia possível. O tabuleiro é um mapa de alguma região – a versão original se passa nos Estados Unidos, mas há outras possibilidades – e os jogadores montam suas rotas usando as informações do baralho. É fácil de aprender e costuma fazer sucesso entre diferentes faixas etárias.
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PARA JOGAR E PARA OLHAR
Outro movimento em torno desse universo são as versões mais estilosas para jogos tradicionais, como o gamão. De tão lindos, servem também para decorar a casa. Saiba onde encontrar

KAZAXEYA
O nome da marca é um trocadilho com a expressão “casa cheia”. A fundadora Luciana Camará faz produtos artesanais incríveis para aderir à proposta: tem xadrez, dominó e muito mais. @kazaxeya


LE LIS BLANC
Do bom e velho baralho ao gamão, a marca tem jogos cheios de bossa, feitos dos mais diferentes materiais. Na nossa wishlist, o gamão de acrílico colorido e o jogo da velha de madeira. @lelisblanc
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PERMITIDO PARA MAIORES
Nem só de títulos infantis (sobre)vivem os quadrinhos. A arte que combina desenho e texto é coisa séria e apaixonante. Basta um bom livro para qualquer adulto se render ao estilo. Vem saber mais…
Por Isabel de Barros
Quadrinho é coisa de adulto! O estilo literário que conta histórias a partir de desenhos e textos em sequência, normalmente na horizontal, é mais conhecido do público infantil e adolescente, principalmente com as HQs da Turma da Mônica aqui no Brasil. Mas a verdade é que há toda uma produção das também chamadas graphic novels destinada ao público adulto, podendo ser romance, autobiografia, drama, ficção científica… “Dizer que quadrinhos é coisa de criança é algo comum, pois as pessoas têm um olhar da própria infância, mas isso não limita a HQ ao público infantil. Existem diversas obras, cada uma com seu universo único, que abraçam todos os leitores”, diz Luiz, livreiro da recém-aberta livraria de rua Bibla, no Alto de Pinheiros, em




ANGOLA JANGA
Do brasileiro Marcelo D’Salete, trata da história do Quilombo dos Palmares e levou mais de dez anos de pesquisa do autor. Ganhador do Prêmio Jabuti na categoria História em Quadrinhos. Os outros títulos do artista também se debruçam sobre a cultura afro-brasileira, abordando questões raciais e sociais.
São Paulo. Apesar de um número de leitores ainda pequeno – para comprovar basta entrar numa livraria e constatar que, na maioria delas, há apenas uma estante dedicada à arte –, o estilo tem espaço para crescer e aumentar o número de fãs. “Quadrinhos são uma forma peculiar de arte. A leitura de HQs pode ser tocante, impactante e surpreendente”, fala Luiz, que cita seu livro preferido: Suzette ou o Grande Amor, de Fabien Toulmé. “Uma senhora viúva revela para a neta que o avô era um péssimo marido e que, antes dele, ela teve uma grande paixão. As duas partem, então, em busca desse amor antigo.”
A seguir, o que você deve ler para despertar o entusiasmo por esse mundo.


Aqui, a holandesa Barbara Stok retrata os últimos anos da vida de Vincent van Gogh, no Sul da França. Com traços pop combinados ao colorido das obras do artista, o livro mostra um Vincent humano, com fraquezas e delicadezas. Ganhou prêmios e foi traduzido para mais de 15 línguas. Leve e de fácil leitura.

VINCENT


DAYTRIPPER
Dos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá, esse drama foi parar na lista de mais vendidos do New York Times, além de ter ganhado prêmios no Reino Unido e na França. Bonito, sensível e com toques de brasilidade, o livro ganha o leitor com as possibilidades de uma vida que caminha sempre rumo a um (re)começo.
MAUS
A graphic novel alemã de Art Spiegelman foi a primeira a ganhar um prêmio Pulitzer de literatura e segue como um sucesso estrondoso. Vivido em Auschwitz, o relato mostra toda a brutalidade do Holocausto de forma crua e inteligente.




PERSÉPOLIS
A autobiografia da iraniana Marjane Satrapi retrata desde sua infância até a vida adulta em um Irã de regime xiita. Foi traduzida para muitos idiomas, vendeu mais de 2 milhões de cópias no mundo todo e segue sendo um dos títulos mais procurados.



PALESTINA
Relançado recentemente, do maltês radicado nos EUA Joe Sacco, é fruto de mais de 100 entrevistas com palestinos e judeus realizadas pelo autor nos anos 1990. Vencedor do American Book Award, um dos mais importantes do mundo literário, relata de forma histórica e humana esse conflito que faz vítimas até hoje.
METAMORFOSE
Vem crescendo a adaptação de clássicos da literatura para os quadrinhos – e isso é algo que se deve comemorar. Encontramos versões de Marcel Proust, com seu Em Busca do Tempo Perdido, a best-sellers, caso de O Diário de Anne Frank, O Corcunda de NotreDame e, mais recentemente, O Mundo de Sofia. Em solo brasileiro, os já mencionados Fábio Moon e Gabriel Bá transformaram O Alienista, de Machado de Assis, em HQ e, por esse trabalho, receberam o Prêmio Jabuti.


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PARA COLECIONAR
Entusiasta de raridades, o curador e colecionador Thomaz Saavedra mostra seu guia de livrarias – e livreiros – especializado em obras tão únicas quanto especiais
Encontrar raridades e artigos originais é a especialidade de Thomaz Saavedra. Quando representou a Sotheby’s e a Bonhams, por exemplo, o curador e colecionador participou de um crash course (curso intensivo) em métodos de falsificação que enganam o olho dos investidores e dos apreciadores de arte. Há 19 anos trabalhando com peças de design e mobiliário de época, ele costuma dizer: “não deixe seu desejo enevoar sua capacidade de discernimento e seu bom senso”. E o mesmo vale para os livros raros que coleciona com afinco. Saavedra é, declaradamente, um não frequentador de livrarias virtuais. “Um dos grandes prazeres de buscarmos obras raras é justamente o manuseio, a possibilidade de encontrar o inusitado, o papo com o livreiro.” A seguir, ele dá o caminho para quem deseja encontrar preciosidades da escrita em cidades como São Paulo, Nova York e Buenos Aires.

SEBO DO MESSIAS – SP
São centenas de milhares de livros espalhados por dois ou três prédios no Centro da cidade. Encontra-se de tudo, desde números antigos da Contigo até primeiras edições de literatura. @sebodomessias | Pça. Dr. João Mendes, 140
O BELO ARTÍSTICO – SP
Velho conhecido, Seu Aristóteles é o administrador e um grande colecionador. Por isso é um dos primeiros a serem chamados quando uma família deseja se desfazer da sua biblioteca. Isso me faz lembrar a máxima entre bibliófilos: “O maior inimigo do bibliófilo não é a traça, mas sim o cônjuge”. obeloartisticoleiloes.com.br | R. Estados Unidos, 1426

Para colecionadores em busca de acervos de Brasilianas (que falam sobre o Brasil) e primeiras edições. O acervo é gigante e eles também fazem leilões.
@letravivalivros | R. Luís de Camões, 10
LIVRARIA BETA DE AQUARIUS – RJ
Um acervo de livros raros bastante eclético, que sempre me trouxe gratas surpresas.
@sebobetadeaquarius | R. Buarque de Macedo, 72
LETRA VIVA MATRIZ – RJ
Fotos
Clarisse Granadeiro, Guilherme Peterson e divulgação

FRANÇA
Em Paris, a Rue de Tournon concentra boas livrarias – a de Bernard Clavreuil, um dos maiores livreiros da cidade, ficava lá. Na região, há o espaço de Nicolas Kugel (@galeriekugel), grande antiquário, marchand e colecionador. Também cito a Librairie Camille Sourget (@librairiecamillesourget) e a Librairie Amelie Sourget (@librairieameliesourget). As donas são filhas de Patrick e Elizabeth Sourget, casal de livreiros à frente da Librairie Sourget, em Chartres, que funcionava em uma casa do século 18.
RICHARD RAMER – NEW YORK
Um livreiro especializado em livros raros portugueses e brasileiros. Comprei dele um exemplar de O que Vi e o que Nós Veremos, autografado por Santos Dumont saudando Sacadura Cabral e Gago Coutinho. Richard Ramer recebe em seu apartamento no Upper East, onde guarda uma biblioteca de brasiliana invejável. livroraro.com | 225 East 70th Street
GRAHAM ARADER – NEW YORK
Ele é um vendedor muito simpático e divertidamente esnobe, que deu uma chacoalhada no mercado. Começou vendendo antiguidades para os pais dos amigos quando estudava em Harvard e, depois, foi para o mercado financeiro. Então trouxe para o negócio a agressividade de um broker de Wall Street. É especializado em escritores viajantes e cartografia. aradernyc.com | 1016, Madison Avenue


ARGOSY – NEW YORK
Um lugar que costumava precificar muito mal. Havia coisas “meh” com preços elevadíssimos e peças maravilhosas a valores relativamente baixos. Hoje, está com os herdeiros e a internet deu fim à disparidade de preços. O acervo é colossal! @argosybookstore | 116 E 59th St



INGLATERRA
Hay on Wye, a cidade dos livros, costumava concentrar muitas livrarias de raridades. Hoje, há um festival literário interessante, mas os bons endereços se dispersaram. Em Londres, das grandes e veneráveis, a Maggs Bros (@maggsbros), em Mayfair, é quase bicentenária. Também gosto das especializadas em viajantes e cartografia: Jonathan Potter (@jpantiquemaps), em um sobrado na Bond Street, e a Map House (@themaphouse), em Knightsbridge.
BUENOS AIRES
Alfredo Breitfeld, que morreu há poucos anos, foi um dos grandes livreiros da cidade – recebia no próprio apartamento. Hoje, o filho dele, Gustavo, comanda a The Antique Book Shop (@theantiquebookshoparg), na Recoleta. Também gosto da Alberto Casares (@casareslibros) e dos sebos espalhados na cidade – da Recoleta ao Barrio Norte e San Telmo. Empoeirados, modestos e deliciosamente desorganizados.

MAIS... NEW YORK
Também indico a Bauman Books, na Madison e super high end, a Ursus, na mesma avenida, e, claro, a Strand Books, perto da Union Square.

PORTUGAL
A quantidade de sebos e livrarias especializadas em antigos e raros que perduram em Lisboa (Chiado) e no Porto é impressionante. Algumas centenárias. Destacaria a Bertrand (@livrariabertrandchiado) e a Castro e Silva (castroesilva.com), em Lisboa e, no Porto, a Lello (livraria.lello) e a Alfarrabista Manuel Ferreira (@alfarrabistamanuelferreira).
Galerie Kugel
The Map House
Hay on Wye
The Antique Book Shop
Strand Books
Livraria Lello
Páginas
O TEMPO
Citações poderosas sobre aquele que todos buscam, almejam, perseguem. E que, mesmo assim, todos dizem nunca ter. Um dia estarão todos certos
“O tempo é o melhor professor; infelizmente, mata todos os seus alunos”
Louis-Hector Berlioz
“O tempo é como um rio: você nunca pode tocar a mesma água duas vezes”
Heráclito
“Entre o casulo e o voo ele se esconde”
Lili Carneiro

ALEXANDRE MALVESTIO é jornalista, ilustrador e artista plástico. Natural de Ribeirão Preto, vivendo em Brasília, realiza trabalhos para diferentes marcas e clientes, especialmente do mercado editorial. @alexandremalvestio
Ciclo Completo, de Alexandre Malvestio
Ilustração digital que resume em quatro fases a vida de um girassol.
“Girassóis e tridimensionalidade são duas ideias recorrentes no meu trabalho. Para essa obra usei técnicas com efeito de recorte e colagem. A frase escolhida (Les temps détruit tout), em francês, é do filme Irreversível, de 2002, do diretor Gaspar Noé”
“O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela”
Fernando Pessoa
“We keep on waiting, waiting... Waiting on the world to change”
John Mayer
“Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente”
Mário Quintana

