Carbono Donna #01

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Nº 01 |

fernanda lima A atriz e apresentadora, na reta final da gravidez da primeira filha, abre para nós seu coração e sua casa paulistana bruna linzmeyer E a seleção das músicas da sua vida nathalie moellhausen A campeã mundial de esgrima feminina fala dos preparativos para a Olimpíada de Tóquio e mais

Anna Fasano, Luisa Mell, Maria Prata, Silvia Braz, Suzana Pires e Vanessa Rozan

Nº 01R$ 20,00 CARBONO Nº 01 | 2019
2019

#DontCrackUnderPressure

“Lions to me symbolize bravery”. Cara Delevingne

Shot in real conditions by David Yarrow

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Linhas que se combinam para criar significados. Novas formas e funções. LINA JARDINS é a síntese do bem-estar residencial lapidado através dos tempos. Uma homenagem ao estilo de viver nos Jardins, com olhos para o conforto definido em cada detalhe.

102
Central de Atendimento Bossa Nova Sotheby’s International Realty: Al. Gabriel Monteiro da Silva, 2.027. CRECI 27212-J. Tel.: (11) 3061-0000. Central de Atendimento Fernandez Mera: Avenida Brigadeiro Luis Antonio, 4.910 - Jardim Paulista, São Paulo/SP. CRECI 22.061-J. Tel.: (11) 3066-1005. Projeto aprovado pela Prefeitura de São Paulo sob Alvará nº 2019-03580-00. Registro de Incorporação R.2., Matrícula 70.510 do 4º Registro de Imóveis de São Paulo, em 30/07/2019.
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Realização:

Apoio:

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PAULO | RIO DE JANEIRO | SALVADOR
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EM BRASÍLIA | BRETON CORPORATIVO @BRETONOFICIAL WWW.BRETON.COM.BR
SÃO
CAMPINAS
BREVE

OUTUBRO 2019

INAUGURAÇÃO BRETON BRASÍLIA
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REDAÇÃO

PUBLISHER

Lili Carneiro lili@editoracarbono.com.br

DIRETORA DE ARTE

Mona Sung mona@editoracarbono.com.br

EDITORES CONVIDADOS

Artur Tavares artur@editoracarbono.com.br

Bruno Porto

PRODUÇÃO EXECUTIVA

Bianca Nunes bianca@editoracarbono.com.br

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GERENTE ADMINISTRATIVO Marcello Ferreira financeiro@editoracarbono.com.br

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Claudia Fidelis

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GESTOR DIGITAL Matheus Evangelista digital@editoracarbono.com.br

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DIRETOR DE COMUNICAÇÃO E NEGÓCIOS Fábio Justos publicidade@editoracarbono.com.br

COLABORADORES

Alexandre Makhlouf

Alice Sant’Anna

Anna Fasano

Arthur Nobre

Bart Michiels

Bruna Bertolacini

Bruna Linzmeyer

Daniel Tavares

Fernando Kraljevic

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Gustavo Nogueira

Jean-François Jaussaud

João Bertholini

Julia Rodrigues

Juliana Matos

Juliana A. Saad

Leka Mendes

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Marcus Steinmeyer

Mari Caldas

Maria Carolina Kraljevic

Maria Luiza Jobim

Maria Prata

Paola de Orleans e Bragança

Raphael Briest

Renata Vanzetto

Rodrigo Grilo

Rosane Queiroz

Silvia Poch

Suada Rrahmani

Suzana Pires

Vanessa Rozan

Nº 01 • 2019

CTP, IMPRESSÃO E ACABAMENTO Stilgraf

CIRCULAÇÃO Nacional DISTRIBUIÇÃO

Black and White, Dinap e Porte a Porte

Editora Carbono

Av. Brigadeiro Faria Lima, 1.572, 16ºandar Jardim Paulistano, 01451-001, São Paulo, SP

T. (11) 3812-8813

Carbono Donna é uma publicação da Editora Carbono. CNPJ 21.361.291/0001-13

A Editora Carbono não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam do expediente da revista não têm autorização para falar em nome da Carbono Donna ou retirar qualquer tipo de material para produção de editorial caso não tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por um integrante que conste do expediente.

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CAPA FOTOGRAFIA

Antonio Evaristo

EDIÇÃO DE MODA

Rodrigo Grünfeld

BEAUTY

Ale de Souza

FERNANDA LIMA USA

Vestido NK Store

CONCEPÇÃO EDITORIAL
Expediente
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PARA SERES QUE BUSCAM RESPIRAR

Como um respiro que precisamos dar após um período de apneia. Um respiro sereno.

Paz...

Um respiro doce, silencioso e macio. Confortavelmente morno.

Carbono Donna:

Solar sem deixar de ser estrela.

Poesia sem deixar de ser teor.

Leão sem deixar de ser Aquário.

Um pé no chão.

Outro na nuvem.

Voar.

Pousar.

Voar.

Ser.

Uma revista para todos os seres.

Que buscam respirar.

Seres sem distinção.

Afinal, seres são seres.

Mesmo de trás para a frente.

Bem-vindos à Carbono Donna

LILI CARNEIRO PUBLISHER

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Par de brincos de Ouro branco 18k com Turmalinas Paraíba e Brilhantes.

Foto: Casa Leão Arte: LINA Arte & Design ( f o t o a m pliada para melhor visualização). © Casa Leão JoalheriaT odos os Direi t os R ese r v adosP r oibida a rep r odução t o tal ou pa r cial.

Um século de Credibilidade

11 3031 3200

casaleao.com.br

thunderbolt (2018), foto por Mari Caldas
no 01

PELA RAIZ

O vegetarianismo se tornou mainstream?

Carbono Donna conversou sobre o assunto com duas chefs de restaurantes muito elogiados, um de São Paulo e outro do Rio, onde a carne passa longe do cardápio

Por Bruno Porto

Nathalie Passos

Carbono Donna

A gastronomia vegetariana/vegana veio para ficar?

O que vocês acham que mudou nos últimos tempos?

Nathalie Passos

As pessoas começaram a se interessar pelo que comem. Passaram a ser mais exigentes em termos de qualidade dos alimentos e mais conscientes na questão da importância de não comer tanta carne.

Mari Sciotti

Acho que existe uma nova consciência coletiva, também, em relação ao trato dado aos animais pela indústria alimentícia em geral. E isso não retrocede mais, pelo contrário, evolui. E mesmo que alguém não se torne 100% vegetariano, o consumo de carne já está em franca mudança.

Carbono Donna

Por que muitas pessoas ainda resistem? A crença de que ela não tem sabor tem fundamento?

“O diferencial do Quincho é que buscamos ir além dos rótulos. Fazemos comida boa, que, por acaso, não tem carne. De resto, é a vontade de servir bem, com qualidade”

Mari Sciotti

Nathalie Passos

A comida vegetariana sempre foi associada à “comida para manter a saúde”, natural, macrobiótica, ayurvédica e vista como um tipo de remédio. Nesse sentido, não era necessário que fosse saborosa. Com esse novo olhar, no qual é possível comer com sabor, chamamos a atenção das pessoas. E temos a oportunidade de acabar com esse preconceito.

Mari Sciotti

Acho que precisamos ter claro que o sabor da carne não se replica. Carne é carne. Sangue tem gosto. Então, se a expectativa de alguém é comer carne, não acho que vá encontrar essa mesma experiência comendo brócolis. O mito talvez seja mais na frustração de procurar carne no legume do que o sabor em si. No fim, a expectativa tem que caminhar com a realidade. E aí, aceitando o alimento pelo que ele é, usa-se de técnicas e temperos para que ele atinja seu auge de sabor. Comida vegetariana é extremamente saborosa.

NEWS
Retratos: Alexander Landau; Lucas Terribili sócia e chef do Naturalie @onaturalie
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sócia e chef do Quincho @quincho.sp
Only

LÁ, O SOL JÁ NASCEU

A Montblanc realizou um grande evento em Xangai, na China, para mostrar sua coleção feminina 2019. São duas grandes novidades: os relógios Bohème Lady e Star Legacy Moonphase & Date, além de toda uma família Bohème, que inclui também os relógios Bohème Day/Night; o Bohème Full Calendar; o requintado Bohème Manufacture Perpetual Calendar; além do Bohème Exo Tourbillon Slim Limited Edition, com o mecanismo Exo Tourbillon, patenteado pela maison. @montblanc

ESTILO CARY GRANT

Um dos maiores ícones da moda masculina de todos os tempos deu origem a uma linha de óculos. Numa parceria com os herdeiros do ator - que já contracenou com Grace Kelly e Sophia Loren -, a marca Oliver Peoples está lançando a linha unissex Cary Grant. Com modelos de sol e de grau. @luxottica

100% MODA

No semestre passado, a dupla Marilia e Fernanda Carillo, mãe e filha, criaram a brand Aimer. A marca, longíssima de ser mais uma, trabalha apenas com fibras naturais, como seda pura, algodão 100% e lã premium. As peças, de acabamento impecável e modelagens que parecem feitas no corpo, são impressionantemente confortáveis. Para quem preza pela tão buscada elegância natural. @aimer.brand

32 Fotos divulgação

FULL KITCHEN

Uma das marcas mais importantes quando o assunto são eletrodomésticos, a Gaggenau foi fundada em 1683, na Alemanha, e é até hoje referência em tecnologia e design para produtos de casa. Seu forno EB 333, o primeiro do mundo a ter 90 centímetros de comprimento, faz parte do acervo do MoMA, em Nova York. A marca também foi responsável, em 1961, por lançar o conceito de cooktop, desmembrando forno e fogão, e até hoje é a única que comercializa refrigeradores de aço escovado, vidro e alumínio, que evitam a proliferação de bactérias e aumentam a vida útil do equipamento. No Brasil, Marly e Stephanie Skok, mãe e filha, trabalham com a Gaggenau há quase 30 anos, sendo distribuidoras exclusivas desde o início de 2000. Elas refletem sobre essa jornada de três décadas de pioneirismo por aqui.

Carbono Donna

O perfil de clientes gourmet mudou nas últimas décadas?

Stephanie Skok

Na década de 1990, quem gostava de Gaggenau era o homem acima dos 45 anos, o cara que adorava cozinhar, que queria uma cozinha gourmet. Mais ou menos em 2005, o público se tornou mais abrangente. Começamos a trabalhar com escritórios de arquitetura e passamos a fazer também a cozinha principal, não só a gourmet.

Carbono Donna

A Gaggenau tem tecnologias sempre à frente. Quais são as mais modernas hoje?

Stephanie Skok

As adegas com cinco modos de iluminação e controle via aplicativo no celular. Além disso, estamos há três anos com um fogão a gás com 12 ajustes de chama, que ninguém consegue copiar. A marca tem patente em autolimpeza. O esmalte azul, que muitos tentam fazer igual e não conseguem, é um segredo de fábrica. Ele fica dentro dos fornos, ajuda na cocção e incinera a gordura que não costuma sair por nada.

Marly e Stephanie Skok

DIOR AND FRIENDS

A Dior preparou uma série de colaborações para sua coleção Cruise 2020, criada por Maria Grazia Chiuri, com tema Marrakech. A primeira delas foi com a marca africana Uniwax, uma das últimas produtoras de tecidos Wax com técnicas mecânicas artesanais. A maison recorreu ao estilista Pathé Ouédraogo, que homenagou Nelson Mandela na collab. Já Grace Wales Bonner e Mickalene Thomas prepararam peças de alfaiataria e estampas com colagens coloridas. A designer de chapéus da Dior, Stephen Jones, junto de Martine Henry, pensou nos motivos multicoloridos que dão acabamento às criações de Maria Grazia Chiuri. @dior

34 Fotos divulgação NEWS
@gaggenaubrasil Fotos divulgação; Luciana Prézia; Dior: ©Ines Manai

O lugar perfeito para celebrar a vida!

Nossos bares e restaurantes, em volta da piscina mais badalada do Rio, te convidam para um brinde. Saúde!

@BelmondCopacabanaPalace

#TheArtofBelmond

RESERVAS E INFORMAÇÕES

(21) 2545 8878

RESERVATIONS.BRAZIL@BELMOND.COM

BELMOND.COM

FRISSON

Recém-lançado pela Companhia das Letras, A Vida de Vernon Subutex, de Virginie Despentes, não para de chamar a atenção: foi best-seller na França, finalista do Man Booker International e vai virar série de TV. Primeiro de uma trilogia, o livro é um retrato de uma geração que se entregou à contracultura e uma crítica à sociedade contemporânea.

@companhiadasletras

LINHA FINA

Para itens de cama, mesa e banho, adoramos a Linho 1, das empresárias Chris Guimarães e Ana Joma Fasano. Como o nome diz, todas as peças são feitas exclusivamente de linho natural. Há também uma coleção especial de moda, com camisas, calças, broches e bolsas.

Tutti tailor-made @linho1

Mestra

Na esteira de Frank Ocean, o R&B norte-americano não para de produzir prodígios. O último deles atende pelo nome Mariah The Scientist, que, aos 21 anos, acaba de lançar um dos discos do ano, Master. São faixas atmosféricas e extremamente melódicas que não vão sair da sua cabeça. @ mariahthescientist

LISTEN.

I WISH I COULD TELL YOU IT GETS BETTER. BUT, IT DOESN’T GET BETTER. YOU GET BETTER.

LOTE NACIONAL

Ligue o radar: o casal Isadora Bello Fornari e Mauricio Maia lançam no mercado o Virgulino Ferreira, um vermute nacional feito de jabuticaba e 11 botânicos e madeiras 100% brasileiros. Tinto e seco, é perfeito para releituras de clássicos como negroni. @vfvermute

26 Fotos divulgação; ilustração Mona Sung NEWS

hotel rj mgallery santa teresa mama shelter

URGENT CALLS ONLY

Dois novos hotéis da rede Accor vêm agitando o bairro boêmio de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Comprometido com a sustentabilidade, o Santa Teresa Hotel RJ MGallery foi erguido no terreno onde ficava uma fazenda de café de 1850. O piso é feito de madeira reciclada e os (belíssimos) móveis de madeira de demolição, muitos dos quais comprados de artistas do bairro. A água da chuva é reutilizada nos jardins e na piscina. As plantas dos mesmos jardins são de espécies que não precisam ser regadas. Resíduos são separados e reciclados.

Perto dali, o Mama Shelter tem foco nos viajantes mais jovens e descolados. Trata-se de uma bandeira que vem crescendo no mundo todo, com unidades em Belgrado, Bordeaux, Los Angeles e Praga, e que chega em breve a São Paulo. Com cara de albergue e conforto de hotel, tem detalhes únicos e curiosos, como uma sex shop ao lado da recepção, um bar com DJ antenado no melhor da música brasileira e um delicioso restaurante aberto o dia todo ao público em geral.

@santateresamgallery | @mamashelterrio

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STATUS Fotos divulgação

O cenário mais exclusivo para se casar no Brasil!

Torne este momento ainda mais inesquecível em frente a uma das Sete Maravilhas da Natureza.

@BelmondHoteldasCataratas #TheArtofBelmond #BelmondWeddings

RESERVAS E INFORMAÇÕES

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RESERVATIONS.BRAZIL@BELMOND.COM

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uma pessoa olhando para um celular que não toca .

não há cena mais idiota os celulares foram justamente inventados para que ninguém precise mais ficar aguardando uma ligação ao lado do telefone

PORTA-VOZ MILLENNIAL

Chamada de fenômeno literário da década pelo jornal The Guardian, a escritora irlandesa Sally Rooney começou a capturar o zeitgeist millennial com Conversas Entre Amigos, de 2017. Ela volta à cena agora com Pessoas Normais (Companhia das Letras), sobre a descoberta do amor por dois jovens. @companhiadasletras

TEMÁTICO

A escola paulistana dedicada a vinhos Eno Cultura acaba de inaugurar uma nova empreitada. Na loja Coletânea Vinhos, a seleção de produtos muda a cada dois meses, sempre com temáticas criativas, que visam apresentar produtos singulares para o público brasileiro. A estreia foi com a coleção Terra, que passeou por terroirs de solos graníticos, calcários, vulcânicos e argilosos. Já a coleção Escala, que começou a ser vendida em setembro, é dedicada a vinhos de diferentes idades. A Coletânea Vinhos fica na alameda Lorena, nos Jardins. @coletaneavinhos

SOTTO IL SOLE

A Bvlgari lança sua nova coleção de joias, Cinerama, com inspiração na dolce vita italiana e na era dourada do cinema. São brincos, colares e pulseiras de ouro rosé, decorados com pedras opacas e pedras preciosas, como esmeralda, rubi, safira, malaquita e cornalina, e madrepérola, além de pavês de diamantes, tudo lembrando os mosaicos das antigas Termas de Caracalla, em Roma. Todas as peças já estão disponíveis nas butiques brasileiras da marca. @bulgariofficial

Fotos divulgação; ilustração Mona Sung

LEIA TAMBÉM

DISPONÍVEL NAS PLATAFORMAS DIGITAIS

0110
Bennu
GoRead

Estampa desenvolvida por Alessandra Affonso Ferreira, da marca Sissa

“Esta estampa nasceu da vontade de criar um floral novo, que saísse do óbvio. Lembro de juntar embalagens de chá com várias flores e começar a dançar com o pincel, trazendo um movimento único para o desenho”, explica a designer.

“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.”

CORA CORALINA

FERNANDA LIMA

CAMISETA JOHN JOHN • SAIA MADREPÉROLA • ANEL COM PEDRA AMSTERDAM SAUER • PIERCING E BRINCO ARON & HIRSCH • ANEL DOURADO TIFFANY & CO.
UMA DAS MAIS RELUZENTES ESTRELAS BRASILEIRAS, A APRESENTADORA NOS RECEBE EM SUA CASA PAULISTANA NO MELHOR ESTILO CHIC & COOL Perfil
Fotos Antonio Evaristo Edição de moda Rodrigo Grünfeld Beauty Ale de Souza
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VESTIDO DOLCE & GABBANA • PIERCING, BRINCO E COLAR ARON & HIRSCH
47 CAMISA TIG • CALÇA NK STORE • COLAR ARON & HIRSCH • ANEL TIFFANY & CO.
CAMISA CELINE PARA NK STORE • BRINCOS ARON & HIRSCH
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CAMISA GILDA MIDANI • SHORTS NK STORE
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CAMISA SAINT LAURENT • CALÇA CHLOÉ PARA NK STORE
VESTIDO NK STORE • ANEL AMSTERDAM
SAUER
BRINCO ARON & HIRSCH
Produção executiva Bianca Nunes; assistente de moda Marco Frige; assistente de fotografia Igor Almeida; retoque de capa Tarcila Colle
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VERDADES E VERDADES

ESTRELA DE CAPA DA NOSSA PRIMEIRA EDIÇÃO, FERNANDA LIMA ATENDE SEUS FÃS E SELECIONA

AS PERGUNTAS MAIS RECORRENTES DE SEUS SEGUIDORES. DE MATERNIDADE E FAMÍLIA A

CARREIRA E FUTURO EM UM PAPO ÍNTIMO E PESSOAL

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CAMISA DOLCE & GABBANA

Carbono Donna

“Metemos a mão na massa e pisamos no ego todo santo dia”

Você é uma das artistas mais lindas do Brasil. Se sente bonita o tempo todo?

Fernanda Lima

Eu me sinto bonita quando consigo realizar meus rituais de alimentação e ioga, quando tomo sol e estou próxima da natureza, ou seja, quando sinto que estou equilibrada e no meu eixo. Se as coisas saem do controle e fico emocional ou espiritualmente mais frágil, não me sinto bonita.

Carbono Donna

Como você imagina que será o seu segundo parto?

Fernanda Lima

Vai depender de como a bebê estiver. Se estiver tudo sob controle com ela, batimentos normais e eu estiver me sentindo apta, o parto será normal e no hospital.

Carbono Donna

Como foi a sua gravidez?

Fernanda Lima

Engravidei de forma natural, quatro meses depois de ter tirado o DIU. Eu me dei um prazo de uns seis meses para engravidar e, caso não desse certo, eu colocaria o DIU novamente. Deu certo!

Carbono Donna

Muito diferente da gestação de gêmeos?

Fernanda Lima

A gestação de gêmeos é um acontecimento que demanda muita ajuda. Após o parto, fiquei quase dois anos sem pensar em mim, no meu corpo, no meu descanso e bem-estar. É impossível dar conta de tudo o que representa ter dois recémnascidos para cuidar. Eu me dediquei muito! Os primeiros seis meses dão a sensação de que a mãe vai enlouquecer, sem dormir, sem comer, sem tempo para ir ao banheiro, lavar o cabelo, olhar para o lado ou falar ao telefone. Aos poucos, os bebês vão crescendo, interagindo entre eles, e o sentimento de que se bastam começa a tomar conta. Quando eles desenvolvem certa autonomia, tudo começa a ficar muito legal, pois basta colocá-los juntos para que eles brinquem, rolem e deem risada. Eles se divertem sozinhos como se

não houvesse mais ninguém no mundo. Essa é a melhor parte. Até hoje, vivenciamos o benefício de um ter ao outro.

Carbono Donna

Que mensagem você escreveria para a sua filha ainda na barriga?

Fernanda Lima

“Estamos te esperando com muito amor, sabendo que você já vem preparada para essa grande aventura. Então, venha! Venha com tudo e traga para o mundo o seu sorriso, sua alegria e suas motivações! Venha fazer a roda girar!”

Carbono Donna

Qual o seu programa preferido em família?

Fernanda Lima

Gosto de estar com eles. Não importa se é em casa, numa rotina bem tranquila de café da manhã, almoço e jantar, com cada um fazendo suas coisinhas ou juntos compartilhando um filme ou um pôr do sol. Gosto tanto de casa cheia, com música alta, nossos amigos ou com os amiguinhos deles, como de casa vazia, silenciosa e tranquila. Também gosto quando viajamos e descobrimos o mundo juntos. Mas, como uma boa canceriana, a melhor parte é sempre voltar para casa.

Carbono Donna

Como educar os filhos na era digital?

Fernanda Lima

É um grande desafio porque existem muitas informações que, nem sempre, são confiáveis. Temos controle parental nos eletrônicos e ficamos sempre atentos às preferências das crianças. Eles ainda têm uma pureza impressionante, e tentamos manter esse estado o máximo possível. Gostam de ver Chiquititas, gols sensacionais e jogos eletrônicos. Estes últimos, sim, ao meu ver, bastante viciantes e nocivos, já que sinto os meninos mais agressivos após jogarem por mais de uma hora. A minha última decisão, e que tem dado muito certo, foi permitir eletrônicos apenas aos sábados e domingos, caso eles cumpram também com outras atividades durante a semana, como a leitura no banheiro, antes

SOBRE SEU CASAMENTO COM O ATOR RODRIGO HILBERT

de dormir, redações que eles escrevam e corrigimos juntos. Também temos um quadro de responsabilidades básicas, como arrumar cama, pendurar a toalha, tirar o prato da mesa e não deixar mochilas, casacos e tênis espalhados pela casa.

Carbono Donna

Quais seus planos de carreira após o nascimento da sua filha?

Fernanda Lima

No momento, meu único plano concreto é cuidar da bebê integralmente por, pelo menos, seis meses. Depois disso, poderei me preparar para o que a Globo quiser que eu faça. Quando entro num projeto, entro com muita paixão. Não dá para saber exatamente o que será do futuro, mas estou de coração aberto para o que quer que seja.

Carbono Donna

Num casal com duas pessoas influentes e famosas, como não deixar o ego e a competição invadirem o relacionamento?

Fernanda Lima

Talvez esse seja o nosso maior ponto de conexão. Competição é algo que corrói qualquer relacionamento, não só o casamento. Nós somos o oposto disso. Torcemos, admiramos e temos muito orgulho um do outro. Também sofremos juntos e seguramos a onda quando a agenda fica muito intensa. Dividimos, de igual para igual, as tarefas em casa, metemos a mão na massa e pisamos no ego todo santo dia. Mas é um exercício que não tem fim, principalmente nessa profissão com tanta exposição e pouca chance de privacidade.

Carbono Donna

Você morou um tempo na Califórnia e agora está de volta ao Brasil. Como foi sua experiência no exterior?

Fernanda Lima

A experiência no exterior foi muito bonita. Vivemos com a dignidade que qualquer cidadão, em qualquer lugar do mundo, merece viver, ou seja, com segurança, liberdade de ir e vir e qualidade de vida. Uma pena que um país tão rico como o nosso, com pessoas tão sensacionais, criativas e produtivas, tenha que sofrer com o descaso do Estado. Não há lugar nem pessoas melhores do que nós, brasileiros.

Carbono Donna

Você enxergou uma mudança de comportamento das pessoas enquanto fazia Amor e Sexo?

Fernanda Lima

A ideia de falar de sexo e comportamento na TV não deveria ser uma novidade, e sim um hábito. Educação sexual é fundamental. Em muitos países, é possível ver como eles lidam com isso de maneira muito mais nua e crua e sem questionar o fato de ter um programa sobre sexualidade que vai ao ar às 10 da manhã. Mesmo que mostrem genitálias em close, eles não enxergam isso como certo ou errado, e sim como necessário. Com o programa, criamos um formato que, além de informar e divertir, tem música, luz, emoção, figurino, dança. Eu me orgulho muito da trajetória do programa e da resposta que recebo nas ruas. É indescritível! São respostas de todas as idades, gêneros e orientações sexuais.

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A VIDA DE VERNON SUBUTEX por Virginie Despentes

As janelas do prédio em frente já estão com as luzes acesas. As silhuetas das faxineiras se movimentam no amplo loft do que deve ser uma agência de comunicação. Elas entram às seis da manhã. Em geral, Vernon se levanta um pouco antes. Ele tem vontade de um expresso e de um cigarro de verdade e adoraria uma torrada para acompanhar a leitura das principais manchetes do Parisien na tela do computador.

Faz algumas semanas que ele não compra café. Os cigarros que enrola de manhã aproveitando as bitucas da véspera são tão finos que é como tragar papel. Na despensa não tem nada pra comer. Pelo menos ele não cortou a assinatura da internet. A cobrança automática cai no mesmo dia do auxílio-moradia. De uns meses para cá, o auxílio é depositado diretamente na conta do proprietário do imóvel, e até agora tem dado certo. Tomara que continue assim.

A linha do celular foi suspensa, e ele não se preocupa em comprar créditos. Diante da falência, Vernon mantém uma estratégia: faz o tipo que não liga pra nada. Assistiu à ruína em câmera lenta, depois o colapso se acelerou. Mas ele não perdeu nem a fleuma nem a elegância.

Pra começar, seu seguro-desemprego foi cortado. Recebeu pelo correio a cópia do relatório, redigido por sua própria conselheira. Os dois se davam bem. Ao longo de quase três anos, eles se encontraram repetidas vezes num cubículo apertado onde ela deixava as plantas morrerem. Já perto dos trinta, graciosa, ruiva tingida, rechonchuda, os seios fartos, a sra. Bodard gostava de falar dos dois filhos, que lhe davam muita dor de cabeça; ela os levava

NASCIDA EM NANCY, NA FRANÇA, A ESCRITORA E CINEASTA VIRGINIE DESPENTES TRABALHOU COMO PROSTITUTA, EMPREGADA DOMÉSTICA E JORNALISTA FREELANCER ESPECIALIZADA EM ROCK ANTES DE SE TORNAR UMA DAS ENFANTS TERRIBLES DAS LETRAS

FRANCESAS. ELA FEZ SUA ESTREIA AOS 23 ANOS, COM O CONTROVERSO BAISE-MOI (1993). AGORA, CHEGA AO BRASIL SEU ÚLTIMO LIVRO, A VIDA DE VERNON SUBUTEX (2019). LEIA AQUI O TRECHO DE ABERTURA.

com frequência ao pediatra, na esperança de que ele diagnosticasse uma hiperatividade que justificasse um tratamento com calmantes. Mas o médico os considerava em plena forma e a enquadrava em seu devido lugar. A sra. Bodard lhe contou que, quando pequena, foi ao show do AC/DC e dos Guns N’ Roses com os pais. Mas hoje em dia ela preferia Camille e Benjamin Biolay, e Vernon se policiou para não fazer um comentário desagradável. Conversaram durante um bom tempo sobre o caso dele: fora vendedor de discos entre os vinte e os quarenta e cinco anos. As ofertas de emprego nesse ramo eram mais escassas do que se ele tivesse trabalhado em minas de carvão. A sra. Bodard recomendou uma recolocação. Juntos, consultaram os estágios disponíveis nos centros de formação profissional de adultos e se despediram em bons termos, combinando se ver mais tarde para um balanço. Três anos depois, seu nome no processo seletivo para uma especialização em serviços administrativos foi recusado. Ele, por seu lado, considerava ter feito o possível, tornando-se especialista em dossiês, que preparava com uma eficácia extraordinária. Com o passar do tempo, ficou com a sensação de que seu trabalho consistia em primeiro zanzar pela internet à procura de vagas que correspondessem a seu perfil, para, em seguida, enviar currículos e então receber as negativas. Quem se habilitaria a treinar um sujeito beirando os cinquenta? Até conseguiu estágio numa casa de shows na periferia, outro num cinema independente — porém, embora pelo menos saísse um pouco, se inteirasse dos problemas do metrô e visse pessoas, isso só lhe provocava uma sensação desagradável de perda de tempo.

59

PICAPE

Retratos Julia Rodrigues

60 Música
Bruna Linzmeyer com

Uma das atrizes mais fortes da nova geração, Bruna Linzmeyer busca incentivo e paz em seus momentos de “musicoterapia”. Da sua pasta de mais tocados, ela pinçou alguns trechos preferidos

as letras

para fluir

Deixa florescer que o sentir faz você crescer

Obinrin Trio SILÊNCIO (2019)

E esse jeito de deixar sempre de lado a certeza • e arriscar tudo de novo com paixão • andar caminho errado pela simples alegria de ser

Coração Selvagem BELCHIOR (1977)

peito novo , grito velho

Quero morrer num dia breve • quero morrer num dia azul • quero morrer na América do Sul

Velho Amarelo JUÇARA MARÇAL (2014)

Mas no calor da manhã quem me fez delirar foi uma mulher

Amor Verdade MARIA BERALDO (2018)

sou mulher • sou dona do meu corpo e da minha vontade • fui eu que descobri poder e liberdade • sou tudo que um dia eu sonhei pra mim

Mulheres DORALYCE E SILVIA DUFFRAYER (2018)

playlist para dar coragem

Território Ancestral kaê guajajara – Fique Viva brisa flow – Ekena todxs putxs – Maria da Vila Matilde elza soares – Todo Dia pabllo vittar –Não Sou Obrigada pocah – Não Me Defina ga 31 – Céu Azul jaloo ft mc tha – Carta de Amor maria bethânia – Sabali amadou e mariam

61 BRUNA LINZMEYER
Intro TINTAPRETA (2017)

A de Ásia

Conhecer a Ásia sempre foi um sonho meu e do meu marido. Foram oito destinos diferentes em 20 dias de viagem.

Cada um com seu charme, sua cultura e particularidade

62
Viagem | ÁSIA
Acima, em sentido horário: eu e um dos elefantes do hotel da região do Golden Triangle. O templo Wat Arun, em Bangcoc. Nós com um monge perto do Four Seasons do Golden Triangle. A cachoeira Kuang Si em Luang Prabang, no Laos.
“O melhor da experiência foi o contato com os tailandeses e a alegria que eles transmitem.”

Começamos por Bangcoc, capital da Tailândia, onde ficamos hospedados no Mandarin Oriental. O hotel fica na beira do rio Chao Phraya e tem uma vista linda. Algo extremamente impactante na viagem para mim foi ver os arranjos que os tailandeses fazem, praticamente esculturas. No hall do Mandarin a cada mês criam um arranjo surreal de lindo.

Bangcoc ficou na minha memória como a Nova York da Ásia. Tem muito trânsito, um caos de tanta gente, mas é um lugar muito especial. Com certeza o ápice dessa parte da viagem foram os templos, com os detalhes mais ricos que eu já vi. Um colorido único e muita história envolvida.

Depois, embarcamos para o nosso segundo destino, Chiang Mai, também na Tailândia, que conseguiu nos surpreender ainda mais. Lá ficamos hospedados no Four Seasons. Ele fica no meio da floresta e traz uma paz única. Os quartos são bangalôs espalhados pelo verde da mata e com vista para plantações. Ficamos tão encantados com o hotel, e estávamos tão cansados da correria de Bangcoc, que optamos por curtir cada minuto no Four Seasons e descansar.

Em Chiang Mai participamos de um dia de plantação de arroz. O melhor da experiência foi o contato com os tailandeses e a alegria que eles transmitem. Cada segundo é cheio de sorrisos e eles explicam tudo com o maior amor e carinho do mundo.

Nosso terceiro destino foi muito diferente de qualquer outro que eu já havia vivenciado. Fomos para o Gol-

1 – Embarcamos em um tuk-tuk para chegar à cidade antiga, em Chiang Saen

2 – Nahm: delicioso, o restaurante possui estrela Michelin

3 – Uma barraca de frutas típicas em Bangcoc

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den Triangle, que é a fronteira entre Laos, Mianmar e Tailândia. Os três se encontram na margem do rio Mekong. Ficamos em outro Four Seasons no meio da floresta, onde os quartos são tendas enormes de lona. A decoração maravilhosa é toda inspirada no mood da selva. Melhor: o hotel tem elefantes! E tem uma razão de ser: o Four Seasons tem um projeto incrível em associação com a Golden Triangle Asian Elephant Foundation, para cuidar de elefantes resgatados do mundo inteiro. Eles ficam soltos por uma área enorme do hotel, livres. Os hóspedes podem interagir com eles, dando comida, banho e muito amor.

Next stop? Laos. Estava muito animada para conhecer esse país e sempre escutei que a cidade de Luang Prabang era um charme. Agora posso afirmar: realmente é incrível! Ela fica às margens do rio Mekong e tem um astral espiritualizado de tirar o fôlego. Escolhemos ficar em um hotel boutique na rua principal da cidade, o 3 Nagas MGallery

O ponto alto do Laos para mim foi a cachoeira Kuang Si, onde a água é turquesa. Não dá para explicar com palavras. Parece que você está em um filme. O centrinho de Luang tem lojas lindas de artesanatos, e dá vontade de comprar tudo. Outra atração é o despertar dos monges. Todos os moradores locais se organizam na rua principal às 5h30 da manhã, levando arroz e sentando em tapetes e banquinhos. Você espera os monges passarem e os alimenta.

Na sequência, chegamos ao Cam-

“Eu via as fotos de lá e sempre pensava: ‘Nossa, deve ser maravilhoso’. Mas aquele mar ao vivo é coisa de outro mundo!”

4 – Nossa estadia no Four Seasons em Golden Triangle: de tirar o fôlego, o spa é todo aberto para a floresta. O quarto dispõe de duas camas e uma banheira que fica praticamente em cima da àrvore.

5 – Visita ao maior templo religioso do mundo: Angkor Wat, em Camboja

boja para conhecer o templo mais famoso do país, o Angkor Wat. Todos os nossos amigos que conheceram o país falavam dele. O Angkor Wat é considerado a maior construção religiosa do mundo. Nós saímos do hotel – escolhemos ficar no Heritage Suits – por volta de 5h da manhã para ir para lá. Uma das atrações principais é ver o espelho d’água que reflete perfeitamente o templo no nascer do sol.

Existem muitos templos no Camboja, e eles são um pouco distantes uns dos outros. Alguns são bem grandes, por isso é necessário um guia para fa-

lar de toda a história e os detalhes que jamais perceberíamos sozinhos.

Finalmente chegou a parte das praias do nosso roteiro. Com o calor que passávamos, estávamos ansiosos por esse momento. Não sei como começar a descrever nosso hotel na ilha de Koh Yao Noi, o Six Senses. Ele fica isolado, com um visual incrível. Os quartos têm uma decoração rústica e superchique, com uma piscina privativa de cair o queixo.

Nosso passeio favorito foi conhecer as ilhas próximas de barco, com tudo organizado pelo Six Senses. Op-

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8 – Detalhes do hotel

Six Senses, e a vista do barco no percurso para conhecer as ilhas próximas a Koh Yao Noi

tamos por um barco local em vez de lancha e fomos só nós dois, eu e meu marido (mais o marinheiro). Eu via as fotos de lá e sempre pensava: “Nossa, deve ser maravilhoso”. Mas aquele mar ao vivo é coisa de outro mundo! Nosso passeio foi mágico. Tivemos até a sorte de ver macaquinhos, que vieram comer no barco. Dá saudade só de lembrar.

Phuket, uma ilha da Tailândia, foi nosso próximo destino, e lá ficamos hospedados no Anantara Mai Khao, que fica afastado do centro da cidade, mas tem uma praia maravilhosa e um pôr do sol ideal. O hotel era tão gostoso que demoramos para sair dele. Estávamos tão cansados de acordar às 6h para turistar que nesse destino resolvemos relaxar. Nosso quarto era praticamente uma casa particular: o terraço tinha uma piscina maravilhosa interligada com a banheira e com um deque delicioso para curtir a vista. Nosso último destino foi a famosa Ilha de Krabi, onde nos hospedamos no Rayavadee Hotel, que é um sonho. Ficamos em um dos quartos instalados em um jardim, que são como casinhas no meio do mato. Ele tinha dois andares, com um terraço enorme no andar de baixo. O hotel oferece guias próprios e frota de lanchas rápidas, com passeios para experimentar o que de melhor Rayavadee e arredores têm a oferecer.

Fomos conhecer algumas ilhas, e a cor da água era absurdamente cristalina. O visual parecia uma pintura. Pudemos sentir uma prova da noite, pois a cinco minutos do hotel havia um centrinho superanimado. Para quem quiser ficar mais tranquilo, o Rayavadee oferece quatro restaurantes diferentes. O Grotto é pé na areia e dentro de uma gruta que está aninhada sob um antigo penhasco de calcário à beira da praia Phra Nang. Mais um ponto alto desse sonho de viagem pela Ásia.

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6 – Uma das vendinhas do comércio local de Krabi 7 – Monges no ritual matutino de Luang Prabang
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the last time i did something for the first time

MARIA PRATA

A apresentadora e jornalista Maria Prata revela a emoção das suas recentes “primeiras vezes” COMO ESQUECER?

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Retrato Fabio Rocha/Ed Globo; ilustração Mona Sung

Dei à luz

É a primeira vez mais marcante na vida de uma mulher. Mais do que “a” primeira vez, aquela.

Laura nasceu depois de 17 horas de trabalho de parto. “Ela é grande!”, foi o primeiro comentário que ouvi sobre minha filha. Quem disse foi nossa obstetra, doutora Cecilia, tirando minha filha da minha barriga. Laura é grande, mesmo. Ser mãe dela é grandioso demais. E lá vem Dora – e nem ousem chamar de segunda vez, porque, para filhos, toda vez é a primeira.

Fui ao SXSW

Tipo da viagem que todo ano eu pensava: “Ano que vem eu vou”.

Fui ao festival South by Southwest, em Austin, no Texas. E já quero voltar. Vale cada centavo, cada minuto.

Porta-retratos

Decidi imprimir as fotos do celular. Coisa mais fácil do mundo, que a gente nunca faz. Recomendo fortemente. Dá para colocar em porta-retratos, colar no mural, dar de presente... Lembra?

Dirigi um documentário

Esta primeira vez eu ainda não concluí. Mas o processo de fazer um filme é intenso e, para mim, extremamente prazeroso. Depois da primeira vez de lançar um produto desse tamanho, já vou querer começar outro. E mais outro, mais outro.

Facebook

Voltei a entrar no Facebook depois de quase dois anos. Entrei, olhei, saí correndo. Espero que seja a primeira vez que eu faça isso pela última vez. Meu Deus, tinha esquecido como as pessoas se levam a sério.

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E NEM OUSEM CHAMAR DE SEGUNDA VEZ ... First time | MARIA PRATA

XXXXXX GiuliaBianchi

Os trabalhos de Giulia Bianchi não oferecem uma identificação imediata de seu objeto. Apesar de figurativos, eles nos chamam a atenção pela sua plasticidade antes da representação. A fartura aparente específica da tinta a óleo, as pinceladas que remetem a uma gestualidade dinâmica, a paleta cromática caracterizada por tons rosados e avermelhados e tudo aquilo que permeia o campo pictórico enquanto matéria são algumas características que de pronto guiam nosso olhar.

Em Sigmund Freud, o desenvolvimento psicossexual do sujeito se inicia na fase oral, uma vez que o primeiro gesto de satisfação vem por meio da sucção do seio materno. O bebê não tarda a começar a levar à boca tudo que está ao seu redor, numa tentativa de identificação e, concomitantemente, prazer. Essa busca pela excitação e pelo deleite oral se mantém na vida adulta, intrinsecamente ligada à mucosa dos lábios e à cavidade bucal. Comer, beijar, chupar, lamber, morder, bocejar, sugar, falar e salivar são algumas das possibilidades oferecidas pela boca para satisfação – de si e/ou do outro.

Com esse repertório, a série XXXXXX, assim como produções anteriores da artista, diz respeito a esse erotismo conectado com a boca e seu universo simbólico. Não por acaso, essa parte do corpo é marcada por uma pele rosada e formato análogo ao órgão sexual feminino. Lábios estão presentes em duas partes de um mesmo corpo; ambas usadas para o prazer. É uma especificidade morfológica feminina esse “duplo negativo” que muito se assemelha, tanto para o gozo como para a dor. A formação da vulva é definida pela dupla combinação do cromossomo X. O título identificado por seis “X” aparece agora nas camadas metafóricas da pintura.

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Costa e Paula Borghi Curadoras e mestrandas em história e crítica de arte pelo PPGAV/UFRJ
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XXXXXX , 2019. Óleo sobre tela. Tamanhos variados

a louca

UMA OBSESSÃO DE

silvia braz

Acessórios que saíram da praia e invadiram o figurino urbano, as bolsas de palha são motivo de coleção para a empresária e influenciadora

Coleção | SILVIA BRAZ
Fotos João Bertholini

das bolsas de palha

(noun)
ma.ni.ac
an obsessive enthusiast

Influenciadora digital e um dos nomes mais badalados do universo das tendências, Silvia Braz transita em semanas de moda, festivais de cinema e nos principais eventos ao redor do mundo. Para todos os momentos, algo em comum: suas bolsas de palha! “Comecei a comprar durante as minhas viagens, mas nunca foi pensando em colecionar. Tem uns 20 anos, e hoje há mais de 150 bolsas de palha no meu closet”, ela conta.

De todas as cores, tamanhos, formatos – fotografamos uma maravilhosa que lembra um elefante –, e tramas, elas são companheiras cotidianas de Silvia: “É um elemento bonito, natural, uma coisa descompromissada, mais simples. Dá para misturar tanto com looks urbanos, do dia a dia, quanto com looks mais elaborados, como nas semanas de moda. É uma maneira de fazer um contraponto ao que estou usando, um jeito bacana de fazer um high-low.”

Silvia tem três filhas: Maria Vitória, Maria Antônia e Maria Isabel, com 5, 13 e 18 anos, respectivamente, e conta que elas nem gostam tanto das bolsas de palha, o que não impede a mãe coruja de presenteá-las com o artigo sempre que pode: “Acho lindo, vai que elas pegam gosto um

dia. E, quando quero uma pequenina, roubo delas”, diz sorrindo.

Entre peças do momento, como Jacquemus, e clássicos como Glorinha Paranaguá, Silvia guarda no coração aquelas que servem como lembranças de suas viagens pelo mundo. Com uma vida tão cosmopolita, ela confessa que às vezes comete alguns deslizes: “Já fui para o Marrocos três vezes e, da última vez, me dei conta que trouxe a mesma bolsa da viagem anterior. Em situações assim, levo para reciclagem: coloco em um dos meus bazares, ou dou para alguém”.

SILVIA GUARDA NO CORAÇÃO AQUELAS QUE SERVEM COMO

LEMBRANÇAS DE SUAS VIAGENS PELO MUNDO

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Coleção | SILVIA BRAZ

O MUNDO AQUÁTICO DE

SylviaEarle

Aos 84 anos, e com meio século mergulhando ao redor do planeta, a oceanógrafa reflete sobre sua carreira e a preservação dos mares

Desde os tempos mais remotos, o oceano vive no imaginário dos seres humanos como local de maravilhas e mistérios desconhecidos. Dos monstros mitológicos enfrentados por Ulisses em sua Odisseia, enquanto voltava para Ítaca para reencontrar sua amada, Penélope, ao Mar Português de Camões e às Vinte Mil Léguas Submarinas de Júlio Verne, a superfície e o fundo do mar são fascinantes por sua beleza e pelo que escondem. Quando tinha 4 anos e foi derrubada por uma onda na costa de Nova Jersey, onde nasceu, Sylvia Earle decidiu que havia chegado sua vez de desvendar os segredos daquele infinito universo azul. Oitenta anos depois, hoje a americana é uma das oceanógrafas mais importantes do planeta, detentora de recordes de profundidade, tempo embaixo d’água, além de ser inventora de veículos im-

pressionantes e uma das vozes mais conscientes do ativismo ambiental.

Nascida em 1935, Sylvia Earle mergulhou pela primeira vez aos 18 anos, quando ainda era uma estudante de ciências na Duke University. Naquela época, foi inspirada por outro grande nome da oceanografia mundial, o francês Jacques Cousteau, que no mesmo ano lançava sua obra O Mundo Silencioso: “Li sobre aparatos autocontidos de respiração submarina e queria fazer o mesmo que Cousteau, ir às partes mais profundas do oceano, onde as cores vermelhas e amarelas são absorvidas, ver as criaturas que ele descreveu”. Desde então, ela diz: “Minha paixão é chegar aonde nunca se esteve antes. Nunca parei de fazer perguntas. Acho que a maioria dos cientistas é assim, está na essência”.

Perfil | SYLVIA EARLE
Por Artur Tavares Retrato Bart Michiels (Rolex)
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Aos 84 anos, Sylvia Earle desbravou os oceanos, trabalhou em avanços tecnológicos e hoje pratica ativismo ambiental
Foto KEYSTONE/AP Photo
Em 1970, Sylvia Earle liderou a equipe do Tektite II, um ambiente subaquático projetado pela Nasa, em Saint John, nas Ilhas Virgens
“É impressionante que, até hoje, 90% do oceano ainda seja desconhecido e inexplorado. Locais como a Lua, Marte ou Júpiter são mais precisamente mapeados que o fundo do mar”

Uma década depois, em 1964, partiu para sua primeira expedição marítima como botânica. Ela passou seis semanas como a única mulher em uma equipe composta por 12 cientistas, e uma das únicas em uma tripulação de quase 70 homens: “Vimos coisas que nenhum humano havia observado antes. E é impressionante que, até hoje, 90% do oceano ainda seja desconhecido e inexplorado. Locais como a Lua, Marte ou Júpiter são mais precisamente mapeados que o fundo do mar”.

Em um universo azul dominado predominantemente por homens, de navegadores, marujos, piratas e exploradores, Sylvia Earle foi precursora e abriu portas para que as mulheres também ganhassem protagonismo. Em 1970, conduziu uma equipe completamente feminina a viver por 14 dias debaixo d’água dentro de um ambiente Tektite: “O que me impressionou com a experiência de Tektite II foram as descobertas minuciosas que fiz após uma vida de mais de mil horas de pesquisa embaixo d’água. Conheci peixes como indivíduos, observei a face deles. Descobri que dois peixes não são iguais. Nós temos impressões digitais e DNAs únicos, e com os peixes não é diferente”. Da experiência, veio algo que a marcou para sempre: “A partir daí, nunca mais comi peixe algum!”. Nove anos depois, Earle bateu o recorde mundial de descida a um ponto de profundeza – na época 381 metros abaixo do nível do mar – sem estar presa por um cabo a um lugar na superfície.

Determinada a chegar mais longe, a americana ajudou um time de engenheiros a desenvolver os primeiros Deep Rover, veículos subaquáticos capazes de alcançar até um quilômetro de profundidade, locais de escuridão completa no oceano, onde vivem criaturas minúsculas e luminosas, diferentes de tudo aquilo que conhecíamos como humanos até então: “Hoje, temos tecnologias que nos permitem ir fundo nos oceanos, explorar o lugar em que a maioria da vida da Terra está, analisar as características do planeta. Afinal, foi a vida na água que moldou a Terra por bilhões de anos”. A curiosidade, para ela, era apenas uma maneira de deixar seu legado para as próximas gerações: “Comecei a trabalhar com engenheiros para desenvolver o Deep

Rover para que eu, qualquer cientista ou criança sonhadora, pudesse ter acesso ao fundo do oceano”. Se mergulhar é um ato interior, de estar sozinha e isolada do resto do mundo, cercada de uma imensidão de água, Earle percebeu que tudo que havia alcançado dava a ela espaço para atuar acima da superfície: “Ao longo dos anos, eu me tornei imensamente focada não apenas em explorar sozinha, como em levar outros a essas explorações. As pessoas passaram a me perguntar quais os principais problemas que o mar enfrenta. A resposta mais clara é aquilo que jogamos nele, e o que tiramos dele também. Mas acredito que o principal problema é a ignorância. As pessoas nem sabem por que devemos nos preocupar com os oceanos”, ela diz. Foi assim que passou a dedicar cada vez mais de seu tempo ao ativismo ambiental, que resultou na fundação do projeto Mission Blue, em 2010. Com o apoio da gigante de tecnologia Google e da National Geographic, a ONG dá lugar ao conceito de Hope Spots, uma rede de áreas de proteção marítima que são de importância vital para a saúde do oceano: “Um Hope Spot pode ser um lugar em boas condições ou aquele que foi danificado com o tempo, mas que, com cuidado, pode ser recuperado. Galápagos, é um exemplo de conservação, enquanto a Baía de Chesapeake, na costa de Washington, mostra como um local danificado ainda tem esperança”. Em 2014, a Rolex se tornou apoiadora do projeto, ajudando nas expedições e também na comunicação com o público, amplificando sua atuação: “Hoje há 112 Hope Spots espalhados pelo planeta, 50 a mais do que nos últimos quatro anos, enquanto a Mission Blue tem 230 parceiros ao redor do mundo”.

Sem dar sinais de que abandonará seu projeto tão cedo, Earle planeja proteger 30% do oceano até 2030, um aumento de 22% nos números atuais. À Carbono Donna, ela deixa um aviso: “Nenhuma espécie mudou mais os oceanos do que os humanos. Alteramos a natureza da natureza, pescamos em escala industrial, enchemos o mar de plástico. Está melhorando, mas o assunto é cada vez mais urgente porque estamos enfrentando mudanças potencialmente irreversíveis, com diversas espécies ameaçadas de extinção”.

77 Perfil | SYLVIA EARLE
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Sylvia Earle mergulha no Golfo da Califórnia, em 2017, aos 82 anos, quando já acumulava mais de 7 mil horas debaixo d’água
“Após uma vida de mais de mil horas de pesquisa embaixo d’água, conheci peixes como indivíduos, observei a face deles. Descobri que dois peixes não são iguais. A partir daí, nunca mais comi peixe algum!”
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Nas fotos, Sylvia Earle por Kip Evans (Rolex)

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Kaftan – Jo de Mer

“Uso roupas que fazem parte do meu cotidiano de trabalho. A Jo de Mer está completando 15 anos, e o beachwear virou parte do meu lifestyle. Seja no fim de semana, nos períodos de dolce far niente ou no dia a dia. Quando faço um statement de quem eu sou, meu trabalho me acompanha de maneira muito forte.”

All day long

“Com um kaftan, você sai da praia e vai para um almoço. Com um cinto de corda e uma rasteirinha, você cria um look confortável e leve.”

3 Vintage

“Este kaftan e outras roupas da Jo de Mer têm tecidos vintage, resultado de garimpos que faço. Este é de algodão suíço, algo que nem existe mais. Tenho paixão por moda desde pequena e, quando era criança, pegava minha mesada e ia a armarinhos comprar botões. Era a coisa com que eu mais pirava. Depois, comecei a comprar tecidos e levar para uma costureira conhecida da família, a dona Lúcia, que fazia as roupas para mim.”

MEU ESTILO

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Sapato –Manolo Blahnik

“Também tem a ver com conforto. Manolo: ele é o cara. Quem também segue a mesma linha é o Alexandre Birman, eu adoro. De resto, só rasteirinhas e mules, porque eu amo dançar.”

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Para dançar

“Lança Perfume”, da Rita Lee. New Order, que escutei muito na adolescência e agora voltei a ouvir porque meu filho ouve. Sou very eighties, adoro disco music. Donna Summer, Diana Ross, Cher. De coisas novas, gosto da Dua Lipa, da Duda Beat e do Monobloco.”

5

Cuidados pessoais

“Adoro. Tenho obsessão por cuidar da minha pele. Todas as noites, limpo o rosto direito e perco um tempão passando cremes. Aos sábados, faço meu spa em casa. Tomo um banho, coloco uma máscara, pego um livro e fico de pernas para o ar. E uso sempre um bom shampoo.”

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AMALIA SPINARDI EMPRESÁRIA, FUNDADORA DA JO DE MER Retrato João Bertholini BRINCOS ANA KHOURI

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Bolsa – a.Mo Acessórios

“De fios de seda e pérolas, toda feita à mão. Descobri no Instagram, quando a marca começou a me seguir, e adorei. Eles estão começando, têm um capricho enorme, vale conhecer.”

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Um livro

“Minha tia Ledusha Spinardi é uma grande poeta, foi uma das melhores amigas do Cazuza. No começo desse ano, lançou Lua na Jaula , que eu recomendo muito.”

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Básico chic

“No dia a dia gosto de usar brincos e pulseiras confortáveis, para poder me concentrar no trabalho. Relógios e peças mais importantes só uso mesmo para sair. Faço maquiagem só para ocasiões especiais, uma foto, ir a um casamento. Batom é raro.”

Amante das artes

“Há quatro anos, eu e meu marido, Roberto, nos tornamos patronos do Masp (Museu de Arte de São Paulo). Se eu pudesse fazer estampas com obras de arte, escolheria Picasso, que é uma paixão minha, porque as cartelas de cores dele não existem! Ou a Beatriz Milhazes, que tem uma arte muito colorida. Morro de vontade de vestir as telas dela.”

81 Fotos divulgação
SAPATOS MANOLO BLAHNIK CLUTCH OLYMPIA LE-TAN BRINCO BIA DAIDONE SANDÁLIA ALEXANDRE BIRMAN SHAMPOO ORIBE

Danielle Bibas

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Carbono Minds
“As pessoas acham que você vai trabalhar em Paris. Não: você vai trabalhar em uma sala de reunião em Paris, é bem diferente”

Vice-presidente de marcas, comunicação e cultura corporativa da Avon, Danielle Bibas diz que as características de liderança mais valorizadas hoje são femininas

Texto Alexandre Makhlouf Retrato Arthur Nobre/MM

Ser executiva esteve sempre no radar de Danielle Bibas. Desde cedo, ela olhava para o tio, que trabalhou a vida toda em uma multinacional e fez carreira nela, como inspiração. “Nunca tive uma veia muito empreendedora, e a ideia de trabalhar em uma grande empresa me deixava animada”, lembra ela, hoje com 46 anos e na vice-presidência de marcas, comunicação e cultura corporativa da Avon.

A história dela com o mercado de beleza começou cedo, quando ainda era estagiária, mas em outra grande corporação. Danielle entrou na P&G durante o curso de administração. Logo que chegou, no fim dos anos 1990, participou do lançamento de um novo sabão em pó e, em seguida, entrou no time de marketing de uma marca de absorventes da gigante do varejo. “Só estudei cases de empresas multinacionais quando estava na faculdade, e isso me deu a certeza de que queria morar fora em algum momento da minha vida.”

Dito e feito: em 2000, a P&G a convidou para ser gerente da categoria de detergentes no mercado europeu. Daí, foram oito anos no continente europeu, duas promoções, liderança de um time grande e uma responsabilidade maior ainda, viajando três dias por semana, semanalmente, para ter uma visão do todo. Mas, depois de um tempo, a conta chegou. “Esse tipo de coisa é uma bomba relógio, e eu me esgotei. As pessoas acham que você vai trabalhar em Paris. Não: você vai trabalhar em uma sala de reunião em Paris, é bem diferente. Fiquei com a minha mala, daquelas que levamos no avião, arrumada durante dois anos. O trabalho ia bem, mas a vida pessoal deu um passo para trás.”

Sete anos depois, outra proposta de mudança e outro turning point – na vida e na carreira: assumir a direção das categorias de saúde e beleza no Canadá, por onde ficou por dois anos e meio até voltar para o Brasil, já na Avon. Aqui Danielle se dedicou à comunicação, ao marketing e, mais recentemente, a olhar também para a cultura da empresa e como o discurso para o público deve ser também o discurso para os colaboradores. A seguir, ela divide lições e inspirações que adquiriu ao longo da carreira.

EM XEQUE “Nos últimos cinco anos aqui no Brasil, os padrões de beleza deixaram de ser idealizados. Essa história das modelos tamanho 34, o Photoshop extremo das revistas de moda. As marcas que souberam entender que

os consumidores estavam pedindo para ser incluídos são as que estão crescendo hoje. Outro ponto importante é que as empresas entenderam que precisam ser mais realistas e transparentes – a transparência é um dos valores mais importantes hoje para corporações, políticos e celebridades. Você precisa falar do que é real, do que existe, precisa mostrar a essência. Também existe o fator responsabilidade. Falamos com milhares de pessoas e nossa comunicação não pode ser prejudicial a elas. Beleza é incluir.”

OLHO VIVO “Eu me mantenho atualizada consumindo informação do mundo inteiro. As grandes tendências acontecem primeiro lá fora – não só nos Estados Unidos e na Europa, como também no Japão, na Coreia, na China – nossa cultura aqui é muito ocidentalizada, totalmente diferente de lá. Também vou para festivais de inovação, leio muito, gosto de ir ao cinema. Tudo antes era baseado no guia da marca, muito estático, e o mundo hoje não permite isso. A velocidade de mudança pegou também as marcas, e as que não entenderam estão envelhecendo rapidamente.”

PARA FRENTE “A barreira da inovação dentro das grandes empresas é entender onde está a linha tênue entre o que é a essência do negócio e onde você vai ter a humildade de encarar que o mundo está mudando e que quase tudo vai ter que ser adaptado. Você pode manter os princípios e valores, mas a execução das coisas tem que ser adaptada. Sempre uso o exemplo da Kodak: se a missão da marca fosse preservar memórias, a empresa teria como adaptar o produto ao propósito. Mas ela se definiu como produtora de filmes fotográficos. O desafio maior é olhar pra trás, entender se o objetivo foi bem traçado e ver sempre como se ajustar às novas realidades.”

A VEZ DELAS “Hoje, as características de liderança mais valorizadas no mundo corporativo são femininas. Estou falando de empatia, transparência, poder de escuta, de achar o meio-termo, de abrir mão e colaborar. Nos anos 1980 e 1990, os grandes executivos eram descritos como pessoas assertivas, de espírito agressivo, determinadas. Atualmente, está muito claro que todo grande líder de pessoas precisa ser objetivo, claro e ágil, mas também tem que entender as pessoas, saber que está à frente de um time.

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BIBAS
DANIELLE
“Era nos campos da Finlândia onde eu passava meus dias pensativa, colhendo flores. É por isso que gostaria de dividir com vocês as cinco das que mais amo, porque tudo começou com elas”

A florista e modelo Suada Rrahmani é apaixonada por flores. Nascida no Kosovo e refugiada na Finlândia, onde cresceu, ela conta que foi no país europeu que se apaixonou pelas cores, formas e aromas de algumas delas

Não-me-esqueças (Myosotis)

A cativante cor azul das pétalas delicadas rouba a atenção no campo. O nome é inesquecível e torna a flor um presente perfeito de casais apaixonados.

Oxalis acetosella

Parece que alguém as desenhou sobre as listras. É uma flor muito sensível e comestível, cheia de vitamina C, com sabor de um doce azedinho.

Trevo vermelho

(Trifolium pratense)

Se você cortar essa flor pela manhã, pode sugar sua doce seiva pelo caule. É uma planta muito importante para abelhas produtoras de mel, que pode ser encontrada em qualquer lugar da Europa.

Cicuta

(Anthriscus sylvestris)

Quando você vê um campo cheio dessas, quer pular em cima, porque a aparência é de uma nuvem bem macia! Funciona em qualquer buquê, e, quando elas estão para morrer, derrubam pequenas pétalas no chão, deixando uma linda aparência de confete.

Campanula rotundifolia

(Campanula rotundifolia)

Desde criança sou fascinada pela forma dessa flor, como ela se parece com um sino. Existe um mito curioso na Finlândia, que diz que, se você conseguir colocar esta flor no bolso direito da pessoa que ama, ela será sua para sempre!

Um

pouco de perfume sempre fica

nas mãos de quem oferece flores

Suada Rrahmani

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provérbio chinês
suada por dimitri mussard
Sina Murphy Chan e Flavia Kämpf Spahr

sem sinal

(GRAÇAS A DEUS!)

Off Grid Hideaways reúne propriedades estilosas – e remotas – ao redor do mundo

“Vamos fugir/Pra outro lugar, baby.” O site da Off Grid Hideaways não tem trilha sonora, mas a música de Gilberto Gil pode começar a tocar dentro da sua cabeça depois de acessá-lo.

Criada por duas amigas, a inglesa Flavia Kämpf Spahr e Sina Murphy Chan, descendente de suíços, chineses e argentinos, a empresa aluga propriedades especialíssimas, que têm em comum o estilo e a localidade remota. Vão da Grécia aos Estados Unidos, passando por Portugal, Chile e Brasil. No caso, Catuçaba, no

interior de São Paulo, onde está uma casa de campo modernista desenhada pelos arquitetos Marcio Kogan e Lair Reis. Sina conta que elas descobriram a casa por indicação de um amigo e destaca duas qualidade que fazem dela um lugar tão singular: “A arquitetura premiada é uma mistura de design ecológico pioneiro com tradições brasileiras. E o estilo de vida simples e remoto faz parte da cultura de Catuçaba por muito tempo“, explica ela. “Além disso,

Diz que fui por aí | OFF GRID HIDEAWAYS 87
“ALGUNS DOS NOSSOS ESCONDERIJOS NÃO TÊM INTERNET OU O SINAL É MUITO FRACO”

salta aos olhos a relação humilde entre arquitetura e paisagem. O volume discreto de construções parece pairar acima do solo, meramente o tocando, quase como uma nave visitando um território desconhecido. Nada nos distrai da vista espetacular.”

No momento, ela diz que a casa (que o site chama de “eco-vila”) atrai mais brasileiros do que estrangeiros, mas isso deve mudar. “Nós esperamos que viajantes do mundo todo descubram essa região de tirar o fôlego. Nossos hóspedes são pessoas sofisticadas com um olhar atento para o design,

que riscaram todos os itens da lista, foram a todos os lugares e agora procuram apreciar esse modo sustentável e autêntico de tirar férias.”

Atualmente, a Off Grid dispõe no site de dez propriedades ao redor do mundo. Sina revela, no entanto, que a empresa possui uma rede maior de lugares que podem ser divididos com os clientes a pedido. Ela e Flavia pretendem manter a lista de casas pequena e exclusiva. “Mas estamos sempre atentas a gemas especiais para adicionar à nossa coleção e certamente existem outros países onde gostaríamos de estar”, afirma.

O propósito principal da empresa é ajudar as pessoas a se desconectar da rotina estressante. Mas como fazer isso? “Essa é uma pergunta muito boa e um tópico sobre o qual pensamos com bastante frequência. Hoje, há digital demais em nossas vidas e momentos de solidão se tornaram tão raros que nós quase os tememos. Alguns dos nossos esconderijos não têm internet ou o sinal é muito fraco. Então você pode dizer que a desconexão do mundo digital e a ligação com o mundo real vem com o pacote de férias”, brinca ela.

Diz que fui por aí 88
89 OFF GRID HIDEAWAYS
90 Para saber mais offgridhideaways.com Diz que fui por aí
91 OFF GRID HIDEAWAYS
era meio dia em fortaleza (2018), foto por Mari Caldas

mari caldas está prestes a comemorar dez anos de fotografia.

seu trabalho autoral reflete sobre o poder essencial do feminino, e sua maior inspiração é a natureza selvagem que vem de dentro por MARI CALDAS que a minha vulnerabilidade sempre foi a minha maior potência, e que essa é a minha história. com todos os sins, todos os nãos, todos os desesperos, decepções, amores, encontros e revoluções. e às vezes parece que tudo o que eu fiz, escolhi e vivi foi sim para, de repente, estar aqui e agora. afinal, ela é o meu sonho mais profundo, mais verdadeiro, mais sereno. é incrível como a gente esquece o que importa. o que a gente ultrapassou. o que a gente conquistou. a gente vai se diminuindo sem perceber. tentando ser pequena para caber. na média, na máscara, no hype, no like. nesse processo de nascer borboleta, eu também descobri que eu tenho muito orgulho do meu caminho. porque eu já fiz, realizei e construí muita coisa nessa vida, e a verdade mais verdadeira de todas é que ser mulher e fotógrafa no brasil não é simples. estou prestes a completar dez anos de carreira, sou autodidata, aprendi a fotografar em 35mm, passei cinco anos fotografando só com filme quando a #35mm ainda não era moda, não fui para nova york fazer aquele curso, nunca fui assistente de ninguém. nessa quase década eu remei contra a maré, desconstruí os protocolos, sofri muito, mas sei também que eu inspirei e abri caminho para muitas mulheres se descobrirem fotógrafas. e, para mim, só isso já é muito. sei também que o poeme-se emocionou, acolheu e tocou a alma de muitos corações. partidos, felizes, aflitos, apaixonados, perdidos. e, para mim, só isso já é muito. sei também

essa coisa de ser duas almas no mesmo tempo-espaço é mesmo impressionante. e nessa aventura bonita que é estar duas, parece que eu descobri a “desimportância”. porque diante da vida, do arrepio, do mistério, tudo me parece um pouco menor, um pouco menos, um pouco mais desimportante. não consigo lembrar exatamente como era antes e, ao mesmo tempo, me sinto exatamente eu. todo dia um pouquinho mais eu. quem eu era, quem eu fui, quem eu sou, quem eu vou ser, quem eu ainda não descobri. minha filha ainda está aqui dentro de mim, mas já me mostra, me ensina e me transforma. às vezes eu fico pensando que a gente tem filho mais para aprender do que para ensinar. e que nessa dança que é ser duas, a minha mestra é ela. porque eu sinto a sua força, a sua potência, a sua luz. e todo dia ela me diz, mãe, lembra de não esquecer. dos seus sonhos. do que é essencial. agora eu tô aqui. com você. serena chegou e me fez lembrar de tudo o que veio antes. e, principalmente, de tudo o que me trouxe até aqui. eu posso ter essa presença de espírito que diz ao contrário, mas a verdade é que a minha vida foi também, muitas vezes, uma tempestade sentida de dentro. eu cheguei a são paulo com 17 anos, atenta e forte, com um coração ingênuo e todos os sonhos do mundo. e, desde então, parece que eu matei um leão por dia. nada nunca foi exatamente fácil, mas agora, com ela aqui comigo, parece que tudo ficou um pouco mais cristalino. hoje eu consigo perceber

que eu trabalhei muito para mostrar para o mundo o poder e a força essencial do feminino. e, para mim, só isso já é muito. eu sei que eu fiz tudo isso, mas sei também que eu me perdi de mim mesma muitas vezes nesse caminho. e tudo bem. faz parte. a gente se perde também para se encontrar, para descobrir o nosso valor, para lembrar quem a gente é, um pouquinho mais ali, na frente. serena chegou e eu lembrei de tantas coisas. eu lembrei da minha força. e mais do que tudo. eu lembrei que tudo o que eu já fiz nessa vida foi também para que ela não tenha que passar pelo que eu passei. do mesmo jeito que minha mãe fez, e a minha avó, a minha bisavó e todas as minhas ancestrais. lembrei da mariana jovenzinha que descobriu na fotografia a sua forma de ver, de ser, de se expressar, de sentir e estar no mundo. lembrei que, antes de ser uma retratista, uma ensaísta, uma profissional da fotografia, eu sou uma artista. uma fotógrafa da natureza selvagem que vem de dentro de mim. que eu sinto e me comunico com as cores, com a água, com o vento e o movimento. foi assim que a fotografia nasceu em mim, nove anos atrás. e foi assim que eu decidi, agora com minha filhota comigo, me jogar em mais uma viagem, atravessar minhas fronteiras interiores, realizar minhas paisagens oníricas mais preciosas.

Fine art print: era meio dia em fortaleza é uma das fotografias disponíveis em tiragem limitada de 10 cópias: @maricaldas.co

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“No meio do caminho tinha...”

POR

MONA SUNG

No mundo real e no cada vez mais presente mundo virtual, todos temos nossos espaços pessoais, coisas que fazem nossa cabeça nos momentos em que podemos respirar. Nesta primeira edição de Carbono Donna , Mona Sung, nossa diretora de arte, conta quais são seus achados pessoais

No meio do caminho
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BEEN THERE

@lianafinck

Gênia. Em sucintos rabiscos, a ilustradora Liana sempre acerta em cheio.

Críticas, questionamentos, verdades/mentiras cotidianas. É facílimo de o espectador se identicar ou reconhecer a situação vendo os posts.

Mil e uma noites

Schehrasade

De fabricação própria, é onde encontro pão sírio e rosca de gergelim fresquíssimos. Vira e mexe é possível levar os pacotes com os pães morninhos, recém-embalados, dando para perceber as gotículas formadas pelo calor retido no saquinho.

Fora isso, aqui você prova esfihas e outras delícias árabes, como as muitas opções de doces folhados da vitrine do empório.

R. Baronesa de Itu, 340 Santa Cecília

Canal direto @pulpbrother

Acesso restrito. A conta de Javier Mayoral é trancada, mas vale solicitar seguir.

Utilizando tinta sobre painel de madeira, as obras dele são diretas, de humor sagaz e refinado. Com nonsense e sem papas na língua, é divertido tê-lo no feed.

“Não sou pintora, mas gosto de pintar”
Clarice Lispector

THE GIRL

NEXT DOOR

Bala de coco

Na mesma rua da Schehrasade, na calçada oposta, você vai encontrar uma das balas de coco mais queridas da vizinhança: imaculadas, felpudas, de textura amanteigada e aeradas por dentro. A apresentação é simples: como rótulo, a etiqueta com o nome da família – Taka, que se dedica há décadas unicamente à produção desse doce, em Diadema –, tabela nutricional e validade.

R. Baronesa de Itu, 301 Santa Cecília

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No meio do caminho | MONA SUNG

J’ai soif

Beverino

Coesão é o que rege Beverino – na cena dos bares há um ano e pouquinho, e já muito querido.

Clareza, delicadeza e charme genuínos compõem a personalidade do ambiente e revelam a proposta da casa. Aqui, sem complicação, de taça em taça você consegue provar a apurada seleção de vinhos naturais e biodinâmicos – são rótulos impressionantes, do mundo todo.

Com o atendimento atencioso de Bruno Bertoli – proprietário da casa e nome por trás da carta de vinhos – e sua equipe, você estará em ótimas mãos: entendimento às provas e dissolução das dúvidas.

O menu de comes, encabeçado pelo chef Pedro Pineda, é igualmente imperdível: sazonal, ele pode mudar completamente a cada dia. Muito saborosos, com valorização da origem dos ingredientes, os pratos parecem contar histórias.

R. General Jardim, 702 | Vila Buarque @beverino.vinhos

“Provava a toda hora e pedia que provassem. Um pouco de sal, pimenta síria. Chamava várias pessoas para dar palpite no sal e na pimenta, até que houvesse um consenso.”

Nina Horta (O Frango Ensopado da Minha Mãe)

CEREJA DO BOLO

Doceria Burikita

Para um passeio no Bom Retiro, fala-se muito dos icônicos Delishop e sua comida judaica; Casa Búlgara e seus folhados; Acrópoles e seus pratos gregos. Mas percebo que a igualmente “ícone”, Burikita não aparece tanto. Este espaço, então, dedico a ela.

Estabelecida, em 1970, pelo casal iugoslavo Avraham e Matilda Ben Avram. Hoje, quem você encontra atrás do balcão é o simpático sr. David, filho deles.

Lá, a bomba de chocolate é bem requisitada. Os bolos de massa fofa e úmida, coroados com cerejas marrasquino são, hoje, nostálgicos, em recheios clássicos como floresta negra, nozes, ameixa, abacaxi e morango. E, para levar para casa, opções fáceis são os docinhos à la avó –folhados ou biscoitos amanteigados.

Rua Três Rios, 138 | Bom Retiro @doceriaburikita

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Fotos divulgação; Mona Sung Nathalie Moellhausen

ALÉM DO OURO

Nathalie Moellhausen

Campeã mundial de esgrima feminina, a brasileira Nathalie Moellhausen fala sobre sua vida e carreira dentro e fora da arena

Ser fluente em cinco idiomas (italiano, francês, inglês, espanhol e português), ter estudado durante três anos na Universidade de Sorbonne, na França, atuar como modelo e, no papel de diretora de arte, montar espetáculos Europa afora são informações suficientemente capazes de baixar a guarda de muita gente que duvide da capacidade de Nathalie Moellhausen. Acontece que essa italiana nascida em Milão, moradora de Paris e com cidadania brasileira não sossegou enquanto não fizesse constar em sua biografia um triunfo que ela persegue desde que deu os primeiros passos, aos 5 anos, na esgrima.

Pois foi em julho passado que, aos 34, Nathalie experimentou a glória ao se tornar campeã mundial na categoria espada feminina individual no torneio disputado em Budapeste, na Hungria. Na final, venceu uma atleta chinesa no golden score. Assim, deu ao Brasil, pátria da sua avó materna, Marcela, de 84 anos, a primeira medalha de ouro da história da modalidade. Foi atendendo a um pedido da avó nascida em São Paulo que a neta resolveu trocar o país onde nasceu – e pelo qual foi campeã europeia individual e mundial por equipes – para representar a bandeira verde-amarela, a partir de 2014.

Dois anos antes, na Olimpíada de Londres, em 2012, Nathalie amargou a reserva da equipe italiana e, sentindo que havia concluído uma etapa representando a Itália, resolveu abraçar a esgrima com as cores da bandeira brasileira. Atual número 4 do ranking mundial e primeira do olímpico, nem de longe lembra a desolada atleta que, depois de ser escanteada pela Itália nos Jogos londrinos, afastou-se da modalidade por um ano e despencou para a 250ª posição na classificação mundial. Menos de um mês depois do sucesso no mundial, conquistou o bronze nos Jogos Pan-Americanos disputados em Lima, no Peru. “Foi incrível ganhar o título no último mundial da minha carreira”, diz ela, que, com a conquista, classificou-se automaticamente para a Olimpíada de Tóquio, ano que vem, também programada para ser a derradeira de sua trajetória.

Na entrevista a seguir, além de contar que cresceu ouvindo a avó cantar bossa nova ao violão, Nathalie fala do pai, seu maior incentivador, que faleceu após um infarto fulminante, em viagem à Tailândia no ano passado. E revela que, seis dias depois de se tornar campeã mundial, a irmã encontrou a carta que, dez anos atrás, a esgrimista havia escrito para o pai – e guardado em uma garrafa secreta – na qual dizia que um dia seria campeã mundial.

Entrevista | NATHALIE MOELLHAUSEN
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Carbono Donna

Depois de extravasar a emoção ao vencer a adversária na final e se tornar campeã mundial de esgrima, o que passou pela sua cabeça?

Nathalie Moellhausen

Lembrei de uma coisa. Ao lado da minha cama há uma foto minha com meu pai [falecido há cerca de um ano]. Na ocasião, eu havia conquistado o ouro no Pan-Americano de esgrima e ele corria para me abraçar. Muito mais do que a medalha de ouro em Budapeste, eu queria viver aquele momento, aquele abraço, novamente. Tanto que, durante a preparação para o mundial, eu mentalizava essa imagem. Então, quando eu tirei a máscara ao fim do último ponto, imaginei o meu pai correndo para me abraçar.

Carbono Donna

Qual a importância do seu pai, para além da questão afetiva, na sua carreira?

Nathalie Moellhausen

O meu pai me ensinou a importância de ser livre para fazer minhas escolhas. E falava para eu não me pautar pelo que a sociedade espera da gente. E isso não é fácil quando se é jovem e dá de frente com regras sociais, informações, que dificultam a escolha do nosso caminho sem ser influenciado. Meu pai construiu a vida da forma como quis, viveu do seu jeito, com suas regras. E sempre me dizia, quando eu era criança, que eu poderia transformar a esgrima no meu trabalho e viver dela. É muito arriscado um pai dizer isso para uma filha em se tratando de um esporte do qual dificilmente poderá se manter caso não se destaque. Por isso, ele também me incentivou a ter paralelamente à esgrima outro projeto profissional. Ele me permitiu que eu lutasse pelo meu sonho. Na última conversa que tivemos, ele me falou: “Você voltará a vencer e esse dia será ainda melhor, por que entenderá porque ganhou”.

Carbono Donna

E por que você triunfou?

Nathalie Moellhausen

Porque encontrei a minha paz interior, a confiança, e finalmente acreditei em mim. Na Itália, dizemos que os pais nos transmitem o último ensinamento quando morrem. E a maneira como o meu pai morreu me libertou de todos os medos. Entendi que a gente passa

o tempo todo tentando controlar os medos, o futuro e especulando quando vamos vencer. É importante a gente acreditar, sempre, na vitória, mas ela só chega no dia marcado pelo destino. Muitas vezes, quando eu perdia na pista por apenas um toque, ficava desanimada, buscando explicações que não existem. Fazemos o mesmo quando uma pessoa falece de um dia para o outro. Como o meu pai era a minha referência, eu queria a ajuda dele para todas as coisas. E quando essa ajuda partiu, eu entendi que eu poderia contar comigo mesma, que eu tinha a força dentro de mim. Acreditar em mim foi o que me libertou nesse sentido.

Carbono Donna

Nesse processo de aprendizado você recorreu a terapias?

Nathalie Moellhausen

Faz um tempo, percorri um longo percurso interior. A esgrima é um esporte muito rápido, com pouco tempo para pensar. Encontrei pessoas que me ajudaram a enfrentar, espantar os medos, os bloqueios. Um professor que trabalha com energias interiores me ensinou a meditar. Isso me ajudou a superar a dor da morte do meu pai. A coisa mais difícil é aceitar o que acontece com a gente, as dificuldades, a derrota.

Carbono Donna

E como foi a comemoração da conquista do mundial?

Nathalie Moellhausen

Comemorei com o meu treinador, o preparador físico e o meu marido. E, depois, com a minha família. Eu tinha programado de viajar para Ibiza com a minha família depois do mundial, e foi muito bacana chegar ao aeroporto de lá e ver a minha irmã, os meus amigos, com bandeiras e óculos do Brasil.

Carbono Donna

O que você tem de brasileira?

Nathalie Moellhausen

A fé. Espiritualmente, acredito que há forças maiores que nos ajudam no mundo. Isso me dá serenidade. Na Europa, as pessoas não têm muito disso e são mais bravas, preocupadas, ansiosas. No Brasil, há muito mais amor pela vida. Eu cresci ouvindo a minha avó, Marcela, falar “se Deus quiser” toda hora (risos). Ela cantava e tocava no violão músicas brasileiras, tocava Caetano Veloso, bossa nova, e eu cresci dançando, fazendo festa. Fiz um post, no dia anterior à abertura

Entrevista 100

do Mundial, no qual escrevi ‘se Deus estiver do meu lado...’. E, no fim, ele torceu para mim (risos)! Foi a minha avó quem pediu que eu representasse o Brasil, dizendo que eu ajudaria no desenvolvimento da esgrima aqui. E, de fato, foi uma boa escolha. Sinto muito orgulho de representar o Brasil.

Carbono Donna

É verdade a história que você sempre sorri quando acorda?

Nathalie Moellhausen

Minha avó dizia que era importante ter energia positiva ao acordar. Cresci com isso na cabeça. É meio que tradição familiar, também, escrever as coisas boas que acontecem conosco e o que desejamos para o futuro. Se eu pesquisar em cadernos antigos, irei achar algo que escrevi falando de medalhas que ganharia em algumas competições. Inclusive descobri, recentemente, uma carta que havia escrito para o meu pai, dez anos atrás, prometendo a ele que ganharia a medalha de ouro como campeã mundial.

Carbono Donna

Como foi isso?

Nathalie Moellhausen

A minha irmã descobriu essa carta dia 24 de julho, seis dias depois que me tornei campeã mundial, em Budapeste. Eu tinha 20 anos quando escrevi essa carta para o meu pai, prometendo a ele que eu ganharia um mundial ou uma olimpíada e a coloquei dentro de uma garrafa. Nela, eu dizia que a garrafa conservaria a carta e o destino revelaria ao meu pai a hora de abrir a carta. Os anos foram passando e, quando fui campeã mundial, lembrei da garrafa. Passada quase uma semana do meu título no mundial, a minha irmã, que estava no México, ligou dizendo que havia encontrado a carta dentro de uma carteira do meu pai – e que estava desaparecida desde a morte dele. Ou seja, sem contar para mim, o meu pai havia aberto a garrafa, lido a carta e a guardado dentro da carteira. E, por sorte, a minha irmã, que desde a morte do nosso pai procurava a carteira, encontrou-a em uma caixa no dia em que o falecimento dele completou um ano. A minha irmã mandou as fotos da carta e chorei muito.

Carbono Donna

Como foi a experiência de defender as cores do Brasil na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016?

“Quando eu tirei a máscara ao fim do último ponto, imaginei o meu pai correndo para me abraçar”

Nathalie Moellhausen

Eu me arrepiava com a torcida brasileira. Parecia aquelas que ficam na arquibancada em jogo de futebol. Era uma festa, um barulho! As minhas adversárias me disseram que não era legal competir contra mim (risos). Fiquei na sexta colocação nos Jogos e, mesmo assim, quando eu entrava em um restaurante, era aplaudida. Nas ruas, eu era parada pelas pessoas, que pediam autógrafos a toda hora. Fiquei pensando, então, como seria o dia em que eu fosse campeã pelo Brasil. Hoje, depois de vencer o mundial, fico muito feliz pelo tanto de jovens que me escrevem animados com a esgrima. Esse título foi positivo para motivar as pessoas a praticar o esporte. E eu sei que, a partir de agora, é um compromisso que eu tenho.

Carbono Donna

Quatro anos antes, nos Jogos de Londres, você havia sido reserva da equipe italiana de esgrima. Desmotivada, ficou quase um ano sem competir e despencou para a posição 250 do ranking mundial. Como lidou com o fato?

Nathalie Moellhausen

A minha mãe sempre fala que a vida é cíclica, dá muitas voltas, e as coisas boas retornam se a gente acredita nisso, tem fé, não fica com raiva de outras pessoas que por algum motivo nos prejudicam. E no meu site eu estampei a seguinte frase: “O primeiro toque não é o que conta, mas o último. E tudo o que acontece no meio é experiência”. De fato, é melhor começar mal e finalizar bem um ciclo.

NATHALIE MOELLHAUSEN 101
“É importante a gente acreditar, sempre, na vitória, mas ela só chega no dia marcado pelo destino”
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103 Entrevista | NATHALIE MOELLHAUSEN

Carbono Donna

O que a esgrima proporciona ao praticante e que não é possível experimentar em outras modalidades?

Nathalie Moellhausen

Quando colocamos a máscara, um universo interno se abre. A esgrima tem o poder de nos fazer trabalhar um mundo interior escondido atrás da máscara, para poder ser o que somos para além dela. É uma modalidade capaz de nos fazer encontrar o equilíbrio entre o plano mental e físico. No fim das contas, a vida é um combate, e somos os nossos maiores adversários. Comecei a praticar esgrima aos 5 anos. Mas a primeira imagem de que me lembro é aos 8, em um campeonato de esgrima da escola, em Milão, quando venci o torneio em ação contra um menino. Foi a primeira competição que ganhei na carreira e, quando tirei a máscara, vi a felicidade no rosto dos meus pais. Também joguei tênis, vôlei, esquiei quando pequena e fiz algumas aulas de boxe. Hoje, também pratico caratê.

Carbono Donna

Como é sua vida em Paris?

Nathalie Moellhausen

Moro na cidade há 13 anos. Fui para Paris aos 21, para me dedicar totalmente à esgrima e ser orientada por um dos melhores mestres do mundo. Costumo treinar de manhã até as 13h. Retorno para casa, onde cozinho – o meu marido, quando está lá, também. Nós vamos ao cinema, a exposições e saímos para dançar. Nove anos atrás, criei um projeto para divulgar a esgrima a partir de uma história que envolve dança, fotografia e música. Em 2010, fiz o primeiro evento: a abertura do Campeonato Mundial de Esgrima em Paris. Fui evoluindo e criei espetáculos em 2013 e 2018, o último, um evento grande para mil pessoas com um conceito que criei e dirigi. Os meus espetáculos estão cada vez mais conhecidos, e venho pesquisando e desenvolvendo projetos como diretora de arte que pretendo colocar de pé depois de Tóquio-2020. Mas nos últimos seis meses, eu me dediquei quase totalmente à esgrima.

“No fim das contas, a vida é um combate, e somos os nossos maiores adversários”

Carbono Donna

Como se sente com a vaga para a disputa da Olimpíada de Tóquio garantida a um ano do início dos Jogos?

Nathalie Moellhausen

Primeiramente, foi incrível ser campeã do mundo no último mundial da minha carreira. O meu treinador dizia durante a competição: “Este é o seu último mundial. É agora ou nunca mais, entendeu? É a hora de ousar”. A gente costuma relaxar quando sabe que haverá outras oportunidades semelhantes. Quando se trata da última chance da vida, algo acontece dentro da gente. É como saber que irá morrer daqui a três meses: tentaremos viver da melhor forma possível, os medos desaparecem, as besteiras já não nos preocupam. Realmente, somos estranhos (risos). Eu me aposentei das disputas de campeonatos mundiais depois do torneio de Budapeste. E em Tóquio será, também, a minha última participação em Jogos Olímpicos. Hoje, estou na quarta colocação do ranking mundial e na primeira do ranking olímpico. E será um bom momento para me retirar.

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Paola deOrleans eBragança

Paola por Tinko Czetwertynski

“A cerâmica me dá a possibilidade de materializar muitas poesias. Também me fez entender que excelência vem apenas da repetição. O trabalho manual te cobra paciência, resiliência e total dedicação, que, na verdade, são as mesmas chaves que me fazem alcançar o que eu quiser na minha vida.”

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BRINCO DIADORA, POR PAOLA DE ORLEANS E BRAGANÇA Modelado à mão de porcelana, prata com banho de ouro e pedras naturais.

melhor do que o silêncio

Na estrada com o disco Salvavidas de Hielo, o cantor uruguaio Jorge Drexler reflete vida e arte no mundo contemporâneo

Por Rosane Queiroz Fotos Silvia Poch

Música | JORGE DREXLER

São nove segundos de silêncio antes que Jorge Drexler responda a primeira pergunta: “O que você anda se questionando?”. Na tela do laptop, em uma chamada de vídeo, ele fala: “Minha preocupação é não entrar no piloto automático. Tentar escutar e ter a esperança

“Gosto da integração como conceito. Da antiga ideia de que você sou eu e eu sou você de algum jeito”

de ser escutado. Quero estar presente, e vejo que a primeira pergunta é meta jornalística”.

“Que viva la telefonía.” A frase da canção que celebra a comunicação em “cada onda, cada cabo”, faz ainda mais sentido no contexto da entrevista, direto de Montevidéu,

em uma manhã de sábado, em São Paulo. Assim como na faixa “Telefonía”, em seu mais recente álbum, Salvavidas de Hielo, o cantor uruguaio poetiza temas contemporâneos. O consumo ganha tom de crítica, com “todo mundo tentando vender-te algo, todo mundo querendo comprar-te”, na canção “Silêncio”, entre outras, que traduzem a necessidade de tempo, presença, empatia. “Gosto da integração como conceito. Da antiga ideia de que você sou eu e eu sou você de algum jeito. O mundo hoje se divide entre empáticos e não empáticos. Temos dois tipos de pessoas, políticos, seres humanos. Aqueles que consideram que o outro é um igual, e os que consideram que o outro é um inimigo”, diz.

Não por acaso, em sua turnê Silente, que passou por cinco cidades brasileiras, com ingressos esgotados, Drexler apresenta um show intimista. Entra em cena apenas com violões, sob um jogo de luzes impecável e um roteiro que não deixa uma ponta solta. “Vejo a limitação como um desafio criativo”, diz ele.

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“Em uma época em que temos acesso a tantas coisas, o ato mais revolucionário, terapêutico e difícil é ficar em silêncio. Quando você tem de tudo, é preciso fazer uma curadoria.”

E não é que ele consegue? Dias depois, podia-se ouvir cair um alfinete na plateia de 700 pessoas em um teatro lotado. O público, aos poucos, entrega-se à profundidade da proposta. “Vivemos num momento em que a gente surfa na realidade. Sabemos muito pouco de muitas coisas. Isso não é mal. Mas eu proponho o paradigma do escafandrista: mergulhar fundo em uma só coisa.”

Com 14 discos e reconhecimentos importantes, como cinco prêmios Grammy Latino, Drexler ficou mundialmente conhecido por ganhar o Oscar de canção original, com “Al Otro Lado del Río”, em 2005. Feita para o filme Diários de Motocicleta, dirigido por Walter Salles, a primeira música em espanhol a levar o prêmio colocou o autor no centro de uma polêmica, quando a organização escalou o ator Antonio Banderas para interpretá-la. A decisão teria ocorrido pelo fato de Drexler não ser “conhecido o suficiente” nos Estados Unidos.

Ao receber o prêmio, ele cantou um trecho da música e se despediu de forma abrupta – o que foi encarado como um gesto de protesto. Relembrando o episódio, ele diz que jamais imaginou que ganharia e revela o que pensou durante os poucos passos que o levaram ao palco. “Não gosto de fazer discurso ou protesto explícito. Se a polêmica era aquela, eu usaria os 30 segundos para cantar. Foi um protesto sem queixa. Subscrevo as palavras de Leonard Cohen, ao receber o prêmio Asturias: ‘Enfrentar a adversidade sempre com as ferramentas da beleza e da elegância’. Gosto dessa maneira de ver o mundo. Não é a única, mas é a minha.”

Para completar o susto, recebeu a estatueta das mãos do popstar Prince. “Quando saímos do palco, disse a ele: ‘Isso aqui é uma honra, mas conhecer você foi melhor ainda!’ Não sei se ele se ligou”, diverte-se.

Aos 54 anos, casado com a atriz espanhola Leonor Watling, Drexler vive em Madri. Pai de três filhos, Pablo, de 21 anos (do primeiro

“A música brasileira não tem complexo de inferioridade, e isso é algo raro de encontrar”

casamento), e o casal Luca e Lea, de 10 e 8, ele reflete sobre os mundos masculino e feminino.

“A masculinidade está em crise”, diz. E segue citando a letra da canção “Homem”, de Caetano Veloso: “Sou homem, pelo grosso no nariz. Mas tenho inveja da longevidade e dos orgasmos múltiplos”. (risos). Ao educar um menino e uma menina, conta que evita classificar valores por gênero. “Não sei o que são valores masculinos e femininos. Mulher e homem têm sistemas operativos maravilhosamente diferentes.”

A grande revolução dessa época, reconhece, é feminista. “O mundo está mais rico, com uma visão mais ampla, que vai além da visão masculina, que até então imperou. Mas a entrada da feminilidade na sociedade não precisa ser feita diminuindo a masculinidade. A masculinidade bem entendida, assim como a feminilidade bem entendida, tem seu lugar. Não se trata de uma guerra. Se você faz crescer o lado feminino, o lado masculino também se beneficia. São conceitos complementares, nunca contrapostos. Olha aí a necessidade de empatia de novo”, provoca.

O português fluente, quase sem sotaque, em 40 minutos de conversa, chama a atenção. “Meu professor foi o João Gilberto”, brinca. Apaixonado por música brasileira, foi depois de ouvir “Chega de Saudade” que decidiu

Música | JORGE DREXLER
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Foto Jesus Cornejo

deixar a medicina para escrever canções. “Eu vinha do mundo erudito. Ao ouvir João Gilberto, percebi que a canção podia atingir um nível de excelência que não conhecia. Que o limite entre Villa-Lobos, Egberto Gismonti e João Bosco não é claro, como entre Tom Jobim e Pixinguinha também. A música brasileira não tem complexo de inferioridade, e isso é algo raro de encontrar”, diz.

Um sonho ainda não realizado é gravar um disco inteiro no Brasil, em que se sente em casa. Quando vem a São Paulo, gosta de dançar forró. “Cresci numa família onde não se dançava. Tive de aprender a dançar depois

de velho e foi uma experiência maravilhosa de abertura, humildade, de sair da vergonha e entrar no corpo”, diz. É assim, entre partidas de futebol e posições de ioga em quartos de hotel, que revela seu segredo da boa forma. “Procuro estar contente, desfrutar a vida. Tenho uma ideia epicurista de felicidade, que é realizar uma coisa que me faça bem hoje, e não me deixe mal no dia seguinte. Dançar me faz sentir vivo”, diz, entre a pausa e a despedida. No show, o adeus vem em espanhol, na letra de “Silêncio”: “No encuentro nada más valioso que darte, nada más elegante, que este instante… de silêncio”.

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um dia Vanessa Rozan com

Carbono Donna acompanhou a makeup artist em algumas das atividades e prazeres que fazem parte de seu cotidiano, como os momentos de leitura com a filha, Pina, os trabalhos em sua escola de maquiagem, reuniões de novos projetos e seus deslocamentos

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Não ter uma rotina muito fixa de segunda a sexta é o cotidiano da expert em beleza Vanessa Rozan. Com exceção de algumas atividades – como a prática de meditação, os momentos com sua filha, Pina, 7, as aulas que dá em seu Liceu de Maquiagem, salão e escola de formação profissional que ajudou a criar há dez anos, e as gravações (todas as quartas) do Esquadrão da Moda, programa do SBT que está no ar há 11 anos – tudo varia muito de semana para semana. Sábados e domingos? São reservados principalmente para

“Ver e colocar amor em tudo e rir de si mesmo – não tem erro quando se acha graça na simplicidade.”
VANESSA SOBRE SEU PONTO DE VISTA SOBRE A VIDA

ficar em família. No início do ano, Vanessa voltou a namorar o empresário Facundo Guerra, pai de Pina, e o casal, que optou por não morar mais junto, reúne-se sempre aos fins de semana – na casa dele ou dela. “Aí, vamos ao teatro ou cinema, parques, museus, sempre programamos algo gostoso para fazer com a nossa filha”, diz Vanessa. A seguir, você vai ter um “gostinho” de como é a vida da maquiadora, acompanhando um dia dela.

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TODO DIA ELA NÃO FAZ TUDO SEMPRE IGUAL

“Quando Pina dorme na minha casa, como hoje, acordo por volta das 7 horas. Minha primeira atividade do dia é preparar o nosso café da manhã, com direito a pão com manteiga, ovos mexidos e suco. Em dia de feira na rua de casa, desço e compro morangos para a Pina comer. Ela ama.”

TÁ NA AGENDA

O SILÊNCIO E EU

“Depois, gosto de tirar um momento para mim, com a meditação. Essa prática entrou em minha vida graças ao budismo e me faz muito bem.“

Working mom

“Costumo frequentar muitos eventos ligados à minha profissão. Hoje, meu almoço é no Hotel Tivoli para prestigiar o lançamento de um novo laser para a pele. Em seguida, vou para o Liceu de Maquiagem fazer uma reunião com uma equipe de uma marca de cosméticos e uma cliente agendou hora para ser maquiada por mim.”

PAUSA COM AÇÚCAR

“Cumpri boa parte das missões do dia! Estou merecendo uma pausa para tomar um café coado e comer um cookie com gotas de chocolate no restaurante vegano Plant Made, do qual sou frequentadora assídua. Ele fica a poucos metros da escola, na Praça Villaboim, e vale tanto para uma parada à tarde, como é o caso agora, quanto para almoçar.”

Breakfast club

ENTRE LETRAS E ABRAÇOS

“Costumamos jantar cedo quando estamos juntas e, após a refeição, ajudo a Pina com os estudos, assistimos a desenhos e leio para ela antes de dormir. Ela adora livros, e sempre seleciono alguma história legal para esse momento.”

“O último que lemos juntas

LEITURA MINHA

“Não tenho um livro de cabeceira específico. No momento estou lendo Amada, da Toni Morrison.”

GOLDEN HOUR

“Por volta das 17h45, já começo a me preparar para sair do trabalho para buscar minha filha no colégio, que também fica no mesmo bairro do Liceu e do meu apartamento. Como meio de transporte, uso há quatro anos minha bike elétrica da Vela. Vou a quase todos os meus compromissos com a minha magrela. Ela é elétrica, mas só funciona se eu pedalar.”

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foi O Dia Que Minha Vida Mudou por Causa de um Chocolate Comprado nas Ilhas Maldivas, da Keka Reis.”

Sabores mitológicos

A Grécia é linda, sua história, inigualável, e o povo chama a atenção por ser muito acolhedor. E a comida... A Itália que me perdoe, mas a gastronomia grega consegue ser ainda mais saborosa, na minha opinião. Os queijos deliciosos, os tomates suculentos, os azeites maravilhosos, os frutos do mar frescos. Impossível de esquecer

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Viagem | GRÉCIA
Fotos Fernando Kraljevic Ilustração Mona Sung Amoudi Bay, em Oia (Santorini)

Atenas

Em Atenas, o histórico e o contemporâneo se encontram em cada esquina. Se você tiver disposição, vale fazer a cidade toda a pé – especialmente se estiver hospedado dentro do triângulo formado pela Praça Syntagma, o Parthenon e a estação Monastiraki de metrô.

Que a Acrópole e a Ágora são imperdíveis, todos já sabem. Mas não deixe de passear também pelo bagunçado Mercado Central, com suas infinitas espécies de frutas secas e crocantes oleaginosas.

Ali, ao lado, está o típico restaurante Ta Karamanlidika tou Fani. Com queijos e frios expostos no centro do salão, mais parece um armazém. Mas não se engane: a comida é divina! As porções não são grandes. O

ideal é pedir vários pratos e experimentar um pouco de cada.

Mais turístico, mas igualmente indispensável, é jantar em um restaurante com vista para a Acrópole. As opções são várias: Kuzina, Dionysos Zonar’s e GB Roof Garden, no luxuoso hotel Grande Bretagne. Para garantir a vista de tirar o fôlego, reserve com antecedência.

“I felt once more how simple and frugal a thing is happiness: a glass of wine, a roast chestnut, a wretched little brazier, the sound of the sea. Nothing else.”
– Nikos Kazantzakis
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Restaurante Lefkes, em Finikia (Santorini)
“See one promontory, one mountain, one sea, one river and see all.”

Praia Fokos, em Mykonos

Mykonos

Mykonos é vibrante! O dia começa nos beach clubs e não tem hora para acabar.

No Scorpios, uma fogueira é acesa e, ao som de boa música, o sol se põe atrás da mística ilha de Delos. Vá para um late lunch ou early dinner, assista a esse espetáculo único da natureza e fique para a balada que começa em seguida.

O Principote, na praia de Panormos, é uma boa opção para passar o dia e almoçar com muita animação. Para se recuperar de tanto agito (mas não fuja dele!), nada como o café da manhã do hotel Cavo Tagoo, com inúmeras opções de iogurtes gregos, frutas frescas, cereais e (por que não?) drinks.

Se a ideia é fugir do óbvio, não deixe de almoçar no Kiki’s Tavern. Localizado em uma linda praia deserta, vizinha da praia Agios Sostis, o pequeno restaurante não aceita reservas, mas a comida e a vista fazem valer a espera.

À noite, perca-se pelas estreitas ruas de Mykonos Town, tome um sorvete na Da Vinci ou faça compras na multimarcas Simple, que vende roupas da badaladíssima Frescobol Carioca, grife britânica que tem o Rio de Janeiro como inspiração.

Loja Simple em Mykonos Town

Santorini

Santorini é linda e romântica. Mas fuja dos turistas! Diariamente, milhares deles desembarcam nos portos da ilha, tornando as ruas da pequena vila de Oia intransitáveis.

Uma boa opção é se hospedar na mínima Finikia. A vila, que tem cheiro de Grécia raiz, está a poucos minutos a pé de Oia. A sensação é de que você irá encontrar o Niko Petrakis (personagem do Tony Ramos na novela Belíssima) na próxima esquina.

Para comer bem, não precisa ir longe: no labirinto de ruas estreitas de Finikia está o Lefkes. Vale ir para almoçar, jantar ou só para a sobremesa. Vale até voltar todos os dias! Do pão feito em casa com geleia de azeitonas ao suflê de chocolate, passando pela salada com queijo de cabra ou pelo risoto de funghi com creme de trufas: tudo é divino!

Para ver as belezas naturais da ilha, não deixe de fazer um passeio de barco pela Caldera De longe, as cidades branquinhas no topo de Santorini mais parecem neve em cima da montanha.

Na medida em que o barco se aproxima da encosta, é possível observar, pelas cores e texturas, a diversidade de materiais que formam a ilha.

De volta a Oia, para compartilhar pequenas porções de comida grega tradicional, vá ao Melitini. Para escolher a sua lagosta ainda viva no aquário, vá ao Sunset Ammoudi, localizado no pitoresco Amoudi Bay. Mas se prepare para os 300 degraus que separam a cidade do porto (ou vá de carro).

Como nem só de comida vivem os gregos, entre uma refeição e outra, aproveite para conhecer Akrotiri, um dos principais sítios arqueológicos da Grécia, cuja conservação se deve à erupção do vulcão Tera, entre 1620 e 1530 a. C., e que teria inspirado a lenda platônica de Atlântida. Para finalizar, na volta, vale parar no nada óbvio Metaxí Mas, para, mais uma vez, comer a típica e saborosa comida grega. O restaurante, fora da rota turística, fica escondido atrás da igreja, na pequena vila de Exo Gonia

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Vista de Oia (Santorini)

O Homem fora do centro

O ator Rodrigo Lopéz diz por que seus cursos sobre Grécia estão atraindo tanta gente em pleno 2019

Por Bruno Porto Ilustração Mona Sung

Se as paisagens instagramáveis são o que levam muitas pessoas até a Grécia, há quem ainda se fascine mais pela sabedoria desse país fundamental para a concepção do ocidente como o conhecemos. É o caso do ator paulistano Rodrigo Lopéz, que, na TV, trabalhou em novelas como Beleza Pura e Tititi. Formado pela Escola de Arte Dramática da USP, com especialização na cadeira de teatro grego, ele vem dando cursos concorridos sobre Grécia Antiga, em que se encontram na plateia colegas como Marisa Orth e Vera Holtz.

Carbono Donna

Seus cursos têm lotado. O que na Grécia Antiga tem atraído as pessoas em 2019?

Rodrigo López

Eu acho que, de certa forma, a Grécia Antiga é um guia de sobrevivência ao Brasil moderno. Isso porque a Grécia tem um caráter de provocação que nos obriga a olhar mais longe. A expansão do pensar, a filosofia, tudo que foge do dogma é muito grego. O dogma é, por essência, algo que não pode ser contestado: “É porque é, a realidade é essa porque eu disse”. Já a Grécia ensina que a verdade é um caminho. É um espaço que se forma. Por isso eles criaram a filosofia, a retórica, a oratória, o teatro. A Grécia coloca o Homem diante do Homem. E isso ajuda muito a gente hoje em dia. Acho que o sucesso do curso se deve a esse fator. Tenho alunos que fizeram quatro, cinco vezes o mesmo curso. As pessoas querem pensar sobre

isso. Além disso, a Grécia tem uma força imagética imensa, é uma provocação estética. É bonito, assusta. De novo, ela nos obriga a olhar mais longe, a dar um salto sobre o senso comum. E o senso comum é algo que emburrece, não importa se o seu pensamento é mais à esquerda ou direita.

Carbono Donna

Um dos seus cursos fala da cura na Grécia Antiga. Essa palavra, cura, tinha uma conotação diferente para eles?

Rodrigo López

Sim. Os gregos ensinam que a cura não está ligada apenas à questão médica. A cura também está associada à arte, à catarse, à atividade física, como você vê a vida, à filosofia, ao sagrado, ao poder da palavra. Ou seja, a cura está o tempo inteiro nos acompanhando. A gente pode se curar o tempo inteiro. Uma

Imersão
a heart that loves
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you can discover more about a person in an hour of play than in a year of conversation Platão

palavra bem colocada, algo dito com a intenção certa para alguém de quem você gosta, é uma experiência de cura. Rir, chorar, chamar as coisas pelo seu verdadeiro nome, isso tudo é um processo de cura para eles. Hoje teatro é entretenimento. Hospital é cura. Livraria é intelecto. Lá era tudo junto ao mesmo tempo. São os que primeiro no Ocidente pensaram na cura como algo integrado.

Carbono Donna

O que os gregos antigos podem nos ensinar hoje sobre amor?

Rodrigo López

Tudo sobre a intensidade humana está na poética grega. Na lírica, na épica, na tragédia e na comédia. A gente surge disso. É o pano de fundo sobre o qual nasce o Ocidente. Mas tudo isso passou por transformações e foi muito moralizado. A herança judaicocristã impõe um mito rígido e final àquilo que sabemos ser variado e estranho, a beleza da cultura grega, a celebração daquilo que é vivo. A Grécia não cultua a morte, como os egípcios e os cristãos. A Grécia é o aqui e o agora, o que está acontecendo em você e em torno de você, a pulsão erótica e como a gente se relaciona com isso, inclusive dentro de uma perspectiva filosófica. Só temos a ganhar se nos aproximarmos dos antigos gregos.

Carbono Donna

Você acha que a visão que as pessoas têm dos gregos antigos é estereotipada?

Rodrigo López

Sim, passamos a enxergar a Grécia como uma coisa de museu, um desfile de excentricidades. Mas não, é algo muito útil para o agora. O pior é terem tirado da Grécia o elemento mitológico. O espanto, o respeito

ao mistério, esse lugar que não cabe na mão, que nos atravessa, que é a poética, que é a filosofia. O mito grego chega para a gente hoje de forma muito infantilizada, sem a perplexidade que ele contém.

Carbono Donna

Você diz nas aulas que a psicanálise de alguma forma atrapalhou o entendimento da Grécia Antiga. Por quê?

Rodrigo López

A psicanálise coloca a gente no centro da questão, o que por um lado é bom. Só que na Grécia o homem não é o centro. Então tem uma coisa aí que não conversa. Eu não posso falar de Grécia Antiga sendo eu o centro de tudo. É preciso entender que a mitologia mostra que a gente tem um tamanho diante do todo, que é mínimo. Ela mostra que a gente é efêmero, a gente é mortal, humano. Não somos divinos. E a psicanálise quase coloca a gente no lugar divino, numa tentativa importante, quero frisar, de tentar nos compreender. É algo que precisa ser respeitado, e não estou indo contra a psicanálise. Mas há um deslocamento entre a análise e o mito antigo. As pessoas pensam em Édipo e lembram primeiro de Freud, e não Sófocles.

Carbono Donna

De onde veio a sua paixão pela Grécia Antiga? E a inspiração para os cursos?

Rodrigo López

Eu sou formado na Escola de Arte Dramática da USP. Lá eu tive um ano e meio de uma matéria chamada introdução ao teatro, que nada mais era do que Grécia. Naquela época, o entendimento da Grécia para mim era bem difícil. Mas uma tampa abriu na minha cabeça. Virou uma chave de beleza, de poesia, de expansão. De lá para cá, o assunto seguiu me acompanhando. Eu comprava um livro aqui, visitava um museu ali, quando estava fora do Brasil, sempre priorizava o que tinha de Grécia. Chegou um momento em que decidi: eu quero falar sobre isso. Há uma dificuldade muito grande em como comunicar esse assunto. Existem pessoas estudiosas da academia, importantes, e dependemos delas para ter acesso a esse assunto, mas é uma gaiola de ouro. Nós, seres humanos normais, que temos que acordar e trabalhar, não temos acesso a isso. O que faltava era tocar o coração, porque o cérebro, o intelecto, já estava pronto, mas estava preso numa biblioteca lá na USP. Estudando para tornar o assunto acessível, percebi que ele estava ou na academia ou na internet. E a internet é a 25 de Março. Mas a verdade não está comigo. Eu sou um cultor da Grécia Antiga e quero compartilhar isso. O bonito é passar.

GRÉCIA ANTIGA
is always young 121

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Provocação

“O look branco – camiseta e saia Shop2gether – é uma provocação que eu gosto de fazer no Brasil. Por ser uma mulher negra, gosto de me vestir de branco, justamente para desconstruir aquele apartheid, aquela segregação silenciosa e cordial que paira sobre o uniforme branco. Gosto de chegar vestida de branco e ver como o pessoal vai reagir. Adoro a forma geométrica do corte da saia, é muito hype.”

2

Futuro rapper

“Eu estou apaixonada pela música Felizes Eram os Golfinhos , do rapper Edgar Pereira. Ele é totalmente provocador e criativo na forma de se expressar. Meio afro-punk. Ele é o futuro.”

MEU ESTILO

ALEXANDRA LORAS PALESTRANTE

3

Mais do que moda

“De geração a geração, fomos condicionados a pensar que a moda era algo superficial, um pouco fútil. Só que hoje a neurociência demonstra que 80% do que vai ficar no cérebro na interação entre seres humanos é ligado à aparência. Então eu encaro a moda e o estilo como ferramentas de empoderamento. Eu uso a forma como me visto para comunicar algo para as pessoas.“

Clássica e punk

“O anel do cachorro do Jeff Koons é uma lembrança de uma viagem à Tailândia, uma referência da arte como uma força múltipla capaz de comunicar. Gosto sempre de ter alguma coisa clássica e, depois, de quebrar isso com um acessório um pouco punk.”

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Retrato João Bertholini ANEL JEFF KOONS E PULSEIRA M.O.O.C

4

Novo na cabeceira

“O livro do ano, que acabei de ler, é Racismo e Eugenia no Pensamento Conservador Brasileiro, de Weber Lopes Góes. Ele vai explicando de uma forma verificada historicamente como foi implantada a nomenclatura racial no Brasil.”

Cinco estrelas

“O hotel Maui, em Maresias, é um lugar para voltar sempre. O restaurante deles, Guató, é o melhor do Brasil, na minha opinião. Refinado, com pratos com apresentações incríveis. Fiquei uma semana e comi bem em todas as refeições. E o hotel é pé na areia, com muita privacidade.”

5

Make?

“Os óculos azuis, da Ana Hickmann, são mais do que óculos escuros. Você pode usar dentro de um prédio, por exemplo, e também quando não tem tempo para se maquiar. Coloco os óculos e estou pronta para arrasar.”

6 Mama África

“O brinco com motivo africano é da Ana Paula Xongani, uma mulher negra dona de uma grife maravilhosa.”

123 Fotos divulgação
BRINCO ANA PAULA XONGANI BRINCO VINNITEX E ANEL SUYANE YNAYA ÓCULOS ANA HICKMANN

RENATA VANZETTO

Eu amo sorvete de pistache, avelã e chocolate amargo.

Gosto muito de chocolate, mas daqueles bem amargos – nada ao leite ou muito doce. Sou fã de castanhas também – acho que elas vão bem com o sabor do cacau.

E, para mim, nada de sorvete de frutas

Renata sobre sua casquinha perfeita

“ICE-CREAM IS EXQUISITE –WHAT A PITY IT ISN’T ILLEGAL”VOLTAIRE
Retrato Juliana Matos

A chef Renata Vanzetto gosta de sorvete desde pequena. Menina que cresceu em Ilhabela, no litoral paulista, ela sempre teve a sobremesa gelada por perto.

É dona dos restaurantes Marakuthai, Ema, MeGusta e Muquifo e da rede de lanchonetes Matilda

Aqui, Carbono Donna selecionou quatro sorveterias no eixo Rio-São Paulo, onde os gelatos e sorbets são levados a sério, com sabores inusitados, produções artesanais, veganas e agroecológicas

PINE&CO.

Os irmãos Daniel e Raphael Lee sempre foram apaixonados por sorvete. Após uma temporada na Califórnia, onde começou a produzir os gelatos de maneira artesanal, Daniel decidiu transformar o hobby em negócio. Foi para a Itália se especializar na sobremesa e, quando voltou, abriu a charmosa loja no bairro de Pinheiros, em São Paulo. As opções mudam quinzenalmente, e as clássicas como chocolate, pistache e flocos são fixas no cardápio.

@gelatopine.co | R. Mateus Grou, 140 - Pinheiros, SP

ALFREDDO VEGGANI

Com a proposta de servir gelatos 100% veganos, a Alfreddo Veggani substitui o leite de origem animal pela opção feita com castanhas, de produção própria da casa. A sorveteria está localizada no bairro paulistano da Vila Mariana, e os sabores são criativos e inusitados como o sorvete de matchá, cana e capim-santo, figo, graviola e abacate. Faz casquinhas de chocolate e ainda oferece bolos, panetones e waffles, tudo natural e bem gostoso.

@alfreddoveggani | R. Dona Inácia Uchoa, 271 - Vila Mariana, SP

ALBERO DEI GELATI

Fundada em 1985, em Milão, a rede Albero dei Gelati abriu recentemente em São Paulo sua segunda filial fora da Itália – a outra fica em Nova York. Completamente sustentável, o local usa copinhos biodegradáveis e comestíveis. A sorveteria oferece 18 deliciosos sabores: 12 fixos e seis rotativos. Além de opções como queijo da Serra da Canastra com mel de abelha jataí e queijo stracciatella, há uma salgada, de castanha-de-caju.

@albero_br | R. Joaquim Antunes, 391 - Pinheiros, SP

VERO

Aclamada internacionalmente, a sorveteria carioca Vero é a única do Brasil certificada pela Accademia della Gelateria Italiana. Com o lema de que “tudo que é comestível pode virar sorvete”, serve de opções clássicas a sabores diferentões, como ervilha, pimentões, melão com presunto de Parma, batata-doce com alho-poró, gorgonzola e arroz-doce com cravo e canela. A Vero muda diariamente sua vitrine e fica aberta até 0h30.

@verogelateria | R. Visc. de Pirajá, 229 - Ipanema, RJ

125

under construction

Gonçalves pratos principais, mas a vaga era na área da confeitaria. “Gostei muito e decidi que era isso que queria”, ela conta. De lá, foi para o mundialmente reconhecido DOM. Começou como ajudante e saiu dois anos depois como chef. De malas prontas, foi estudar sobre chocolates na Bélgica e, quando voltou, assumiu toda a pâtisserie dos restaurantes de Rodolfo de Santis: Nino Cucina, Peppino, Da Marino e a Salumeria. Lá estreitou laços com seu sócio e companheiro, Tuca Mezzomo, e, juntos, eles decidiram se enveredar em negócio próprio. Encontraram a simpática casinha na rua Peixoto Gomide e montaram o Charco. “Hoje quase não cozinho comida quente. Fica tudo para o Tuca. Não tenho mais afinidade”, afirma Por Artur Tavares Fotos Raphael Briest

gaúcha Nathalia Gonçalves e seus deliciosos doces estão na boca de todo mundo. Chef pâtissière do restaurante paulistano Charco, aberto há nove meses, ela conquistou rapidamente o coração da crítica especializada e do público, que faz fila para experimentar a cozinha com toques gaúchos. Nascida na pequena Rosário do Sul e criada em Santa Maria, Nath ganhou recentemente o prêmio de melhores sobremesas da cidade em eleição do jornal Folha de S.Paulo . O segredo? “Faço doces com o coração.” Aos 28 anos, ela não é nova em São Paulo. Chegou por aqui no fim da faculdade de gastronomia, que fez em Santa Maria, para estagiar no extinto Clos de Tapas. Na época, trabalhava com cozinha quente, os Makers

Nathalia

Chef pâtissière do restaurante paulistano Charco, a gaúcha fala sobre afetos e tradições na hora de adocicar o paladar dos clientes

ANa sequência, a montagem da sobremesa Butiá, laranja e iogurte, composto por sorbet de butiá, casca de laranja caramelizada, caramelo de maracujá e creme de iogurte

| NATHALIA GONÇALVES

com afeto

Nathalia. “Os doces, faço com emoção. Vou experimentando [ela suspira, ‘hmmm’], como até ficar feliz, e só então sirvo.” Ela se diz perfeccionista e sempre pede a opinião dos colegas antes de servir uma nova sobremesa. “Eu digo que a pessoa come doce por opção. A comida, ela tem que comer, porque precisa se alimentar. Com o doce, ela quer ser feliz.” A felicidade que a chef traz para seus clientes é uma mistura de referências e cozinha afetiva. O cardápio do Charco é enxuto como um todo, e só quatro sobremesas encerram o menu. “Eu tento viajar muito para comer o que outras pessoas estão fazendo, entender o que faz sentido e melhorar meu paladar. Essas coisas ficam na minha memória, mas muito mais na hora de montar a apresentação”, ela explica. “Para o sabor, é uma coisa da infância. Minha mãe me fazia comer muito butiá, por exemplo. Eu cresci em uma chácara, tinha muito dessa fruta por lá. No ano passado, fui até Ilhéus conhecer nove fazendas de produção de cacau e, quando criei o sorvete, quando como a sobremesa, parece que estou na Bahia.” A fruta típica do Sul, por exemplo, virou um sorvete, que vai acompanhado de uma casca de laranja em calda. Já o fruto da mata atlântica se tornou a base para uma sobremesa que apresenta o cacau em diversas variações. Mesmo com filas de espera respeitosas, ainda é cedo para expandir o Charco ou abrir um novo restaurante, ela diz. O intuito, pelo menos até o primeiro ano de funcionamento se encerrar, é de apresentar uma cozinha cada vez melhor: “As pessoas saem felizes. Com certeza é porque fazemos com coração. Os clientes sentem que tem algo mais. O resultado está aí”, ela conclui. E, sorridente, volta para a cozinha para exercitar seu coração.

“Eu digo que a pessoa come doce por opção. A comida, ela tem que comer, porque precisa se alimentar. Com o doce, ela quer ser feliz.”

FELIZ SÉCULO

Mulheres à frente de empresas centenárias

mostram o poder – e a necessidade atual – de liderar de

um jeito mais feminino

Por Alexandre Makhlouf

Quem faz parte do mercado de trabalho – seja como empresário ou executivo, no mundo corporativo ou do lado mais criativo – sabe que as transformações são constantes e, mais do que isso, velozes. E uma das principais mudanças quando o assunto é liderança é a substituição de um estilo mais autoritário e agressivo para uma forma mais empática, transparente e humana de comandar uma equipe.

“Todas essas questões, que normalmente são atribuídas ao feminino, fazem muita diferença na gestão. Saber se colocar no lugar dos outros e ter esse olhar não é uma questão de romantizar a liderança, e sim de pensar no melhor para a empresa”, esclarece Luciana Salton, diretora executiva da Vinícola Salton e uma das primeiras mulheres da família a ocupar um cargo tão alto na empresa centenária.

Há 13 anos trabalhando no negócio da família, Luciana passou por corporações de grande porte, como o finado Unibanco e a farmacêutica Roche, antes

Luciana Salton

de mergulhar no universo dos vinhos. “Quando estava na Roche, era o início dos anos 2000 e 60% do quadro de funcionários da minha área era de mulheres”, lembra. As diretoras que Luciana teve no começo da carreira foram de extrema importância não só para ensiná-la, como também para servir de exemplo e mostrar, na prática, que uma mulher forte no comando era possível. O que, hoje, chamamos de representatividade.

“Elas me mostraram um lado humano. Sempre muito práticas, objetivas, dando resultado. No tempo que a gente vive hoje, como executiva, mãe ou qualquer coisa, precisamos escolher alguns caminhos e acreditar que algumas concessões precisam ser feitas. Tenho 37 anos, ainda estou em formação e sempre fui muito aberta a conhecer, ouvir as opiniões e formar as minhas próprias. Aqui na Salton, tive a vantagem do sobrenome, por isso, nunca percebi esse preconceito. Quando eu decidi sair da Roche, foi natural. E ainda é natural para mim frequentar um

ambiente profissional com maioria de homens, porque eles já me conheciam e me respeitavam porque eu era filha do presidente da empresa. Mas, quando eu comecei a trazer minhas ideias, percebi que começaram a me respeitar por mim. A competência sempre fala mais alto”, pontua Luciana.

Ainda que a maioria seja masculina, o quadro de funcionários da Salton está caminhando para um cenário de equidade. Hoje, cerca de 40% dos quase 500 colaboradores da empresa são mulheres – o número só não é mais equilibrado, segundo ela, porque a empresa tem sua área de fábrica e, nela, é inevitável uma maioria masculina.

100 anos | NACIONAL 128
A vinícola Salton e a garrafa Talento – o primeiro vinho fino de alta qualidade produzido pela casa Fotos divulgação; Fabiano Mazzotti

Luciana faz parte de um grupo de mulheres que, ainda que pequeno, está em franco crescimento no nosso país. É o que diz a 15ª edição da “International Business Report (IBR) – Women in Business 2019”, pesquisa liderada pela consultoria Grant Thornton que ouviu mais de 4.500 executivos, em 35 países. De acordo com o estudo, 93% das empresas brasileiras têm pelo menos uma mulher em posição de poder, o que coloca o país no top 10 de nações com lideranças femininas, ao lado de Estados Unidos, Inglaterra e Índia. “Isso é um sinal de que esse assunto está sendo levado mais a sério por aqui, o que torna o cenário atual bastante promissor”, explica Carolina de Oliveira, diretora de marketing e novos negócios da Grant Thornton. “Mas é preciso olhar os números com cautela para entender bem a realidade”, pondera.

Isso porque, ainda que o número absoluto seja alto por aqui, as mulheres ocupam apenas 25% dos cargos de lideranças em empresas – quatro pontos percentuais abaixo da média global. Se olharmos os cargos de alta diretoria, então, o resultado é ainda mais baixo: apenas 15% das empresas brasileiras têm mulheres em posições de diretoria executiva ou presidência. “Para atingir

Anel azul, de ouro branco 18 k com uma raríssima turmalina-paraíba central e diamantes. Anel verde, de ouro branco 18 k com esmeralda e diamantes. No detalhe da foto antiga, os avós de Lydia: o fundador da Casa Leão Joalheria, Leão Sayeg, e a esposa, Genny

Lydia Sayeg

a equidade de gênero de que tanto falamos, é necessário que existam políticas afirmativas dentro das empresas que mostrem um esforço real pela inclusão e formação de mais mulheres líderes, como adequações no processo de recrutamento”, reforça Carolina.

Quando a lógica de equidade já estiver instalada na cabeça dos gestores, tais políticas talvez possam ficar em segundo plano. É o que pensa a empresária Lydia Sayeg, 52, à frente da joalheria Casa Leão, em São Paulo. Ela diz que o grande segredo da vida é saber se colocar no lugar do outro e acredita que, além do pagamento mensal, existe outro tipo de salário que a liderança proporciona.

“Gosto do conceito de salário emocional. É claro que pagar bem é importante. Hoje, tenho cerca de 30 funcioná-

rios e sei que isso significa que, de forma indireta, sou responsável pela saúde financeira de mais de cem pessoas. Remunerar bem quem trabalha comigo ajuda que esses pais e mães ofereçam uma vida melhor para seus filhos e suas famílias. Mas não é só isso. Faço questão de reservar um tempo para conversar com meus colaboradores, almoçar com eles, ouvi-los quando eles precisam falar”, diz. Ainda que seu estilo de liderança seja totalmente contemporâneo e alinhado ao que se coloca hoje como liderança feminina, Lydia faz questão de reforçar que, na Casa Leão, todos são iguais. “Eu não enxergo diferenças, por isso, não vejo necessidade de termos políticas de inclusão. O que tem aqui é meritocracia. Independentemente de ser homem ou mulher, quem fala mais alto é o trabalho.”

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Fotos divulgação
Hof, Islândia (2013), foto por Leka Mendes
“OS ZOOLÓGICOS SERVEM PARA EDUCAR AS CRIANÇAS? MENTIRA! A CRIANÇA VAI LÁ VER O REI DA SELVA E ENCONTRA UM LEÃO DEPRIMIDO. É UMA DESEDUCAÇÃO”

Luisa Mell

42 Minha Luta | LUISA MELL

A BATALHA CONTINUA

A ativista diz que a luta pelos animais tem avanços, mas há muito o que fazer pela frente

Estamos perto do fim de 2019 e, do lado dos defensores da causa contra os maus-tratos aos animais, há o que comemorar. A justiça social avançou, com o apoio da internet. Diante de barbaridades cometidas contra os animais, famosos e anônimos se mobilizam. Os culpados por crimes perdem seus empregos, pressionados por esse movimento. Entre as empresas também. O caso do Carrefour foi emblemático.

Mas, infelizmente, ainda há muito a ser feito. Cachorros e gatos estão mais protegidos. Mas e quanto aos outros animais? Para começo de conversa, a legislação não está acompanhando as mudanças da sociedade. O que é compreensível se pensarmos no poder que a bancada ruralista detém no Congresso. São pessoas que pensam em lucro, lucro e lucro.

Então, precisamos seguir fazendo pressão. Na vida real e na internet. A rede é um instrumento importante, como vimos em episódios recentes. Mas ela sozinha não resolve. Sobretudo porque temos um governo atípico, que faz uso de contrainformação na internet.

Um dos sinais que mais me dão certeza de que estamos na direção certa é o crescimento do veganismo. Se fosse diferente, eu me espantaria. Afinal, como as pessoas podem ter pena do cachorro e do gato e não da vaca? Isso se deve, acredito, à falta de opções do passado. Você crescia achando que o único caminho era comer carne. Hoje as crianças sabem que existem outras opções.

Outro ponto no qual a humanidade está atrasada como um todo é a questão dos zoológicos. Afinal, eles e os aquários públicos são modelos de entretenimento, que têm como objetivo servir o ser humano. “Ah, mas eles servem para educar as crianças.” Mentira! A criança

vai ao zoológico ver o rei da selva e encontra um leão deprimido. Aí começam a atirar coisas nele para ver se ele desperta. Ou seja, é uma deseducação.

Existem zoológicos no exterior que cruzam os animais pensando na atração que os filhotes são para as crianças. Depois que viram adultos, muitos deles são abatidos. Em São Paulo tem um lugar com um urso-polar. Dizem que é para ensinar as crianças sobre aquecimento global. Você tira um urso do habitat dele para ensinar sobre isso? Sério? Ele vive no ar-condicionado!

Mas há saídas. Na Espanha um zoológico teve a gestão repassada para ambientalistas.

“Como as pessoas podem ter pena do cachorro e do gato e não da vaca?”

Têm de virar lugares, por exemplo, para cuidar de animais machucados ou atropelados. A ciência vem provando a cada ano que os animais são inteligentes e têm consciência. Ou seja, estamos fazendo sofrer seres conscientes.

Numa das minhas palestras eu conto o caso de um zoológico humano na Bélgica de 1958. Crianças negras estavam entre as atrações. Infelizmente não é fake. Acredito que daqui a alguns anos vamos lembrar dos zoológicos e ter uma reação parecida diante desse zoo humano. É algo que simplesmente não tem justificativa.

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âmbar

no metrô um homem pergunta que horas são você se curva para o relógio de pulso responde oito ele então te encara oito da manhã ou oito da noite? você desconcertada olha pelo vidro que reflete seu rosto de chapéu o nariz vermelho descascado pelo frio e as luzes da cidade que acabamos de deixar na mão uma flor com o cabo quebrado ainda não sabíamos que em poucos dias não nos veríamos nunca mais ao entrar no banho notei de frente para o espelho uma veia azul que corta o tórax na diagonal ligando uma pinta à outra dali a um ano

estaria num carro sendo levada ao aeroporto por uma mulher não exatamente bonita mas com uns olhos azuis tão expressivos impossíveis de se confrontar ela mora ao lado do aeroporto e custou a se acostumar com o barulho dos aviões indo e vindo namorava um rapaz que fazia curso para virar piloto teve uma vez que ele me levou para o simulador, ela conta decolar é muito simples o difícil é aterrissar minha família nunca deixaria eu morar com o namorado

sem me casar antes diz a ruiva no banco de trás ela ficou ruiva quando o pai morreu uma tristeza tão profunda que o cabelo de um dia para o outro acordou ruivo até hoje quando ouve a palavra família fica com os olhos marejados mas se esforça para manter a discrição em seus gestos exageradamente polidos você me perguntou uma vez se chovia dentro do poema disse que podia decidir e decidiu que não chovia a mulher à minha direita explica que o âmbar não é um mineral diferentemente do que muita gente pensa o âmbar vem da seiva da árvore que quando entra em contato com a água solidifica e fica parecendo uma pedra quando cheguei na cidade ontem era fim do dia faltava menos de uma hora para anoitecer o bairro velho vestido de laranja há alguns prédios que só deveriam ser vistos nessa hora específica pouco antes de escurecer e tudo virar breu, ou seja, desaparecer totalmente não chovia nem dentro nem fora do poema corri para ver o máximo que podia aquela igreja de telhado pontudo a construção de 1221 no dia seguinte ainda teria muitas horas de sol antes de ser levada de volta ao aeroporto mas o sol assim tão abundante e direto essa certeza de luz que não se apaga tão cedo nada disso chegaria perto da beleza de ver a cidade longe de casa cortada por uma veia âmbar na diagonal de ponta a ponta pouco antes de se extinguir por completo de noite na janela do avião

Convite ao Mergulho (2018), foto por Clara Mazzini

não é mais sobre

A atriz Suzana Pires fala sobre a fundação do seu Instituto Dona de Si meu brilho
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Suzana Pires Retrato Gustavo Nogueira

Quando comecei a escrever a coluna Dona de Si, na versão brasileira da revista Marie Claire, tudo o que meu coração queria era colocar para fora indignações acumuladas sobre a maneira como nós mulheres somos tratadas no mercado de trabalho e sobre nossos limites históricos na nossa relação com “ganhar dinheiro”. Pois bem, com um espaço público on-line para isso, mandei ver semana após semana e fui desafogando indignações ancestrais em muitas letras.

Passado o primeiro momento, consegui estruturar a etapa de sugestões e pequenos conselhos para mulheres que estivessem empreendendo na própria vida e cheguei ao conceito do que é ser uma mulher dona de si. Chegar a essa sinopse de mulher me fez enxergar além do que simplesmente nossas agruras: como poderíamos nos livrar delas.

Uma mulher dona de si é aquela que se entende como seu próprio negócio, é segura das suas escolhas e da sua própria reflexão. Ela está no mundo como empreendedora de si mesma, reconhecendo suas forças e vulnerabilidades, sendo o mais humana possível consigo mesma e atingindo a satisfação pessoal e a independência humana, sempre alinhada aos seus sonhos de menina.

Após desenvolver uma caminhada para essa mulher, consegui tirar várias crenças limitantes da frente dos meus olhos e passei a enxergar em números a realidade das mulheres trabalhadoras e criadoras do audiovisual (que é o meu meio de vida). Deparei-me com uma realidade aterradora, em que nossos filmes, séries e produtos audiovisuais não são criados nem em sua metade por mulheres! Somos criadas na ficção por olhares masculinos e, sendo assim, continuamos ficção para o público.

Ora, se desde Homero o mundo é “educado”, “disciplinado” e “formado em crenças” a partir da dramaturgia, agora não seria diferente, por isso, a retratação das mulheres está num lugar pantanoso da idealização, da sexualização e da baixa estima intelectual em quase todos os personagens apresentados. Não contente em entrar em contato com números tão doloridos no audiovisual, fui atrás de pesquisas que me dessem um raio X das mulheres brasileiras na economia criativa e, para organizar, escolhi cinco segmentos: audiovisual, moda, literatura, games e gastronomia.

Diante do resultado, entendi que eu precisava fazer alguma coisa para mudar o cenário e que só escrever e ter uma hashtag não causaria a mudança necessária. Então, acordei um belíssimo dia e decretei o começo do Instituto Dona de Si. Para um primeiro investimento financeiro para fazer estatuto, CNPJ, etc., empenhei recursos próprios e, para começar a agir,

fui vendendo minha coleção de bolsas – uma antiga medida de sucesso para mim e que agora somaria ao sucesso de diversas mulheres.

De bolsa em bolsa fui agindo e, depois de acelerar dois projetos ainda no “peito e na raça”, entendi do que eu precisava para que o instituto se tornasse profissional, organizado, com métodos e projetos efetivos. A partir de então, uma equipe incrível se juntou a mim e, neste ano, começamos a nova etapa: colocar de pé nossos projetos, assim como ações que ao longo do tempo farão o instituto ser autossustentável.

Uma coleção de bodies Dona de Si, em parceria com Amir Slama, foi lançada na São Paulo Fashion

“Somos criadas na ficção por olhares masculinos e, sendo assim, continuamos ficção para o público”

Week. O dinheiro arrecadado serviu para contribuir com outras criações do instituto, como o lançamento de uma coleção de agendas, a venda de bolsas da marca, palestras, mentorias, enquanto também captávamos patrocínio por meio de doações, leis de incentivo e verba de marketing. Um novo cotidiano começou para mim, e hoje posso dizer que sou uma profissional do terceiro setor, da responsabilidade social, além de artista.

Agora, o Instituto Dona de Si lança, em parceria com a Arezzo, seu primeiro Concurso de Cinema Feminino, enquanto se prepara para estrear, em 2020, sua formação em empreendedorismo criativo feminino. Ela tem como objetivo dar instrumentação necessária para mulheres que já são trabalhadoras das suas áreas, permitindo que acelerem seus negócios, produzam ações culturais a partir do curso e depois retornem para o instituto como mentoras das turmas seguintes. Assim, teremos, ao longo dos anos, a formação de um ecossistema de mulheres que se ajudam, mentoram-se, inspiram-se e que têm suas empresas e marcas pessoais como líderes nos mercados em que atuam.

Na raça | SUZANA PIRES
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Sardenha Hidden

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No Hotel Su Gologone, a tradição familiar dá tons de experiência contemporânea por entre as paisagens de Oliena

Em Oliena, uma região da Sardenha de beleza áspera e instigante, encontro um hotel que pode ser resumido em uma palavra: surpreendente. Com vilas e vistas espetaculares da natureza local próximo ao Supramonte –cadeia montanhosa que vai do mar ao interior da ilha – o Hotel Su Gologone tem três gerações de mulheres sardas no comando: Giovanna Palimodde, com a filha Camila, e a mãe, Pasqua. E ali elas criaram um hotel recheado de experiências e um destino em si.

Porque hospedar-se lá vai muito além do simples ficar – embora o conforto dos quartos e suítes decorados com motivos e objetos sardos convide ao dolce far niente. Para quem

O HOTEL SE ESPALHA POR

VILAS

E TERRAÇOS DIVERSOS,

CRIANDO AMBIENTES AO AR LIVRE

QUE

SE MESCLAM AO CENÁRIO INCRÍVEL CERCADO POR MONTANHAS

deseja, há aulas de ioga, piscina delícia, spa, cursos de culinária, percursos e oficinas de arte, degustações diversas, como a de azeite de oliva local. O hotel se espalha por vilas e terraços diversos, criando ambientes ao ar livre que se mesclam ao cenário incrível cercado por montanhas. O espírito boho-chic permeia cada detalhe.

Aliás, cada quarto tem um tema ligado a um artista local e décor recheado de conforto, peças de arte e muito espaço ao

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ar livre. E o melhor, pode-se get the look (peças com design local) na incrível Botteghe d’Arte Su Gologone Style – que de tão bacana ganhou lugar na última edição do Salão de Milão, com peças feitas à mão por artesãs locais que mesclam tradição e inovação – fruto da paixão de Giovanna pela arte e artesanato da Sardenha. Não por acaso, das oficinas do hotel saem móveis, tecidos, almofadas, cerâmicas, bijoux, roupas, objetos feitos de madeira, vidro e ferro forjado.

Outro ponto alto são as excursões a várias atrações naturais. A Sardenha, ilha mergulhada no Mediterrâneo, tem paisagens deslumbrantes (que se estendem muito além da costa famosa), uma cultura molto particolare e outro ritmo. E o melhor: fica a menos de uma hora de voo de Roma.

Então, esqueça as multidões da Costa Smeralda. Em Oliena, você estará em uma área intocada, cercada por vinhedos, pontes romanas e nuraghes etruscas, além de cadeias de montanhas perfeitas para trekkings e lagos

para canoagem e rafting – como o surpreendente Cedrino. E a menos de meia hora das praias de Cala Luna ou Cala Gonone – perfeitas para mergulhos, surfe e piqueniques deliciosos. O hotel leva até elas.

ALLORA, ANDIAMO MANGIARE

A culinária é quase razão da viagem: do café da manhã com dezenas de delícias locais fresquinhas com queijos e iogurtes de ovelha e cabra, doces e pães a embutidos italianos aos almoços e jantares regados a carnes, peixes, massas e vinos . Fiquei viciada no ravióli com pecorino e no sformatino, uma massa fresca recheada com ricota – ambas com molho pomodoro denso e saboroso. Na taça, o encorpado vino del paese , o carigano. Pani: carasau (crocante e fininho) e panedda (macio e fofo). Para completar, os delicados doces de amêndoas, ícones da pasticceria sarda e perfeitos com café e grappa.

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Pasqua, Camila e Giovanna Palimodde

Situazione

Junte uma paisagem incrível, bom gosto artsy e ingredientes locais. Misture bem com gente criativa, mentes divertidas e sirva em um fim de tarde em um dos terraços do Hotel Su Gologone, na Sardenha. Essa ilha é de-mais! Eu não imaginava que a paisagem sarda fosse tão além do clichê “ilha mediterrânea” e se estendesse por cadeias de montanhas, cânions, vinhedos, sítios arqueológicos e grandes lagos... como o incrível lago Cedrino, que perpassa a Sardenha Oriental e é playground para esportes aquáticos. Sentiu a delícia?

Ciao!

O SU GOLOGONE É TÃO

BACANA QUE FOI NELE QUE MADONNA FINCOU

RAÍZES NOS TRÊS MESES QUE PASSOU FILMANDO

NA ILHA. É OU NÃO UM DESTINO SINGULAR?

@hotelsugologone | sugologone.it

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“A CONSTRUÇÃO DO NOSSO SER É UM ETERNO PROCESSO DE RESSIGNIFICAR, ACEITAR, ABRAÇAR A NOSSA HISTÓRIA.

A MATERNIDADE NOS RECONECTA COM AS VIVÊNCIAS ANTIGAS E TAMBÉM IMPULSIONA PRO FUTURO. ELA NOS DÁ CORAGEM.

“CASA BRANCA” É UM POUCO DE ONDE EU VIM E PARA ONDE QUERO IR.”
Retratos Guilherme Nabhan

MARIA LUIZA JOBIM

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Ao lado, a artista Luiza Jobim sobre seu novo single, “Casa Branca”, lançado em julho
Pôster por Bruna Bertolacini 146 Até a próxima!

PLANTAMOS, TORRAMOS, SELECIONAMOS E EMBALAMOS NAS NOSSAS FAZENDAS. É COMO DIZEM: SE QUER BEM FEITO, FAÇA VOCÊ MESMO.

biodegradáveis compatíveis com máquinas Nespresso®
de um terceiro, sem vínculo com a Orfeu.
Cápsulas
Marca
São Paulo: Flagship Iguatemi São Paulo 11 3032 4230 · Cidade Jardim 11 3552 8000 · Higienópolis 11 3662 2525 Ibirapuera 11 5096 1714 · JK Iguatemi 11 3152 6180 · Morumbi 11 5184 0775 · Campinas: 19 3255 8922 Rio de Janeiro: Rio Sul 21 2542 6541 · VillageMall 21 3252 2744 · Belo Horizonte: 31 3505 5155 · Cuiabá: 65 3623 4658 Curitiba: Barigui 41 3373 4797 · Patio Batel 41 3088 1147 39° 35’ 0.478” S 71° 32’ 23.564” W Montblanc 1858 Geosphere montblanc.com Reconnect.

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