CARBONO UOMO #24

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CARBONO uomo

BRUNO REZENDE Da energia das quadras à vida além delas, Bruninho do Vôlei avalia sua trajetória dentro e fora do jogo

ENTREVISTAS Entre arte e ciência, Zé

Ibarra e Hugo Aguilaniu revelam visões inspiradoras sobre criação e futuro

F1 Velocidade, histórias e bastidores: um almanaque completo sobre o esporte

ECONOMIA VERDE Com ciclos naturais e colheitas conscientes, as fazendas biodinâmicas crescem no Brasil

VIAGENS Roteiros nada óbvios na região da Úmbria e na impressionante Namíbia

PÁGINAS AMARELAS De massas

artesanais a óperas da temporada lírica, um pouco de tudo que Carbono adora

TIMELESS COLLECTION

Vá para onde todos descobrem MAIS do que amam.

Descubra mais. Viva mais. Experimente mais. A bordo da Norwegian, sempre há mais para todos. Encante-se com os cenários deslumbrantes do Alasca, com a arte e a história da Europa, com as praias paradisíacas do Caribe e muito mais. De volta ao navio, relaxe em nosso spa premiado ou sinta a adrenalina com experiências emocionantes em alto-mar. Desfrute de uma gastronomia de classe mundial em nossos restaurantes de especialidades, onde cada prato é uma obra-prima criada por chefs renomados. Aqui, você não precisa escolher entre o que te encanta e o que te fascina, porque cada um vive as férias da vida do seu jeito. Embarque e experimente mais com a Norwegian.

Escaneie aqui e escolha seu próximo destino

St. Thomas, Ilhas Virgens Americanas
Reykjavík, Islândia
Glaciar Mendenhall, Alasca

A gente vive num mundo de muitas desigualdades. Isso começou a me fazer pensar que era bom eu fazer um testamento, e achei por bem deixar meu patrimônio para Médicos Sem Fronteiras. Me traria uma paz de espírito, sabendo que eu poderia ajudar de alguma maneira. Porque somos assim, uma gotinha no oceano.”

Márcia Villas-Bôas

Doadora de Heranças de MSF

Escreva um novo capítulo da sua história com MSF.

Nomeie MSF em seu testamento.

Com a doação em testamento, você se torna um doador de heranças de Médicos Sem Fronteiras e garante que nosso trabalho chegue a quem mais precisa, onde quer que esteja.

1. Decida qual parte do seu patrimônio deseja destinar a MSF; 2. Em um cartório de notas de sua preferência, realize uma escritura pública de testamento. Para isso, você precisará de algumas informações cadastrais de MSF; 3. Envie uma cópia digital do seu testamento para ser arquivada de forma sigilosa por MSF (esta é uma etapa opcional).

Quebra-Cabeça

A vida é um jogo de quebrar-as-cabeças.

Ela chega em estilhaços. Em um mar de fragmentos sem contorno.

Começamos pelos cantos –são as raras certezas que cedo encontramos.

A seguir nos perdemos em tantos caminhos possíveis.

Vielas sombrias, estradas fervilhantes, alamedas de terra e solidão.

Então, surgem paisagens, rostos, memórias. E aos poucos encontramos não apenas nós, mas tudo o que vimos em trilhas tortas, em pedaços que não se encaixavam, que se esconderam por anos e encontramos quando já não mais os procurávamos.

Quando, enfim, tudo parece no lugar, o destino sussurra sua verdade: não era sobre o quadro pronto, e sim sobre o tempo que dedicamos a montá-lo.

Pois então, em silêncio, a inimiga da vida desmonta tudo. As peças vão para a caixa, onde repousam sem retorno. E a tampa se fecha para sempre.

Mas, lá dentro, permanece a certeza de que, um dia, tudo se encaixou com plenitude.

REDAÇÃO EDITORA CARBONO

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Lili Carneiro lili@editoracarbono.com.br

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COLABORADORES

Aline Lourenço

Artur Tavares

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Kato

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Marcus Steinmeyer

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Nathalia Hein

Paulo Freitas

Nº 24

CONCEPÇÃO EDITORIAL

Raquel Davidowicz

Renee Suen

Ricardo D’Angelo

Rodolfo Giugliani

Rodrigo Bernardo

Rodrigo Guimarães

Rodrigo Mora

Rodrigo Oliveira

Rogério Felício

Rui Nagae

Thays Bittar

Tininha Pietrocola

Tomas Rangel Toty

EDITORA CARBONO

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CAPA

FOTOGRAFIA

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EDIÇÃO DE MODA

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GROOMING

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AGRADECIMENTOS

Kura e CIJY

ESCULTURA

Galileo Emendabili

BRUNO REZENDE USA

Alexandre Won e Aramis

Carbono Uomo é uma publicação da Editora Carbono | CNPJ 46.719.006/0001-14

A Editora Carbono não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam do expediente da revista não têm autorização para falar em nome de Carbono Uomo ou retirar qualquer tipo de material para produção de editorial caso não tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por um integrante que conste do expediente da redação.

Nº 24 •

A SEGUIR:

26. CURTAS

Dicas quentes Carbono

44. MEU BAIRRO

Rodrigo Oliveira

48. ENTREVISTA I Zé Ibarra

52. LIVROS

Fernando Luna

56. PERFIL

Bruno Rezende

76. MINDS I

José Cláudio Securato

78.

MEU ESTILO I Felipe Ventura

80. CREATIVES I Deco Adjiman

82. ENTREVISTA II

Hugo Aguilaniu

86. ALMANAQUE

Fórmula 1

94. MINDS II

Francisco Brant de Carvalho

96. CREATIVES II

Mula Preta

98. ECONOMIA Fazendas biodinâmicas

104. URBANISMO Edifícios tombados

108. MOTOR Customização

112. VINHOS Rogério Felício

124. PENSATA Consumo

126. CARBONO ZERO

Um panorama sustentável

131. PÁGINAS AMARELAS

Guia de tendências Carbono

114. VIAGEM Namíbia
120. VIAGEM Úmbria
Retrato
Bruno Rezende, por Marcus Steinmeyer; Defender, para Onçafari; e Namíbia, por Felipe Castellari

@fasano #fasano www.fasano.com.br

SÃO PAULO
Rua Iguatemi, S/N– Itaim Bibi
Shopping Cidade Jardim – Av. Magalhães de Castro, 12.000 – 3º piso
Catarina Fashion Outlet – Rod. Castello Branco, km 60

CURTAS | Carbono Uomo

CURTAS

Pitadas gastronômicas, hotéis mundo afora e o melhor da arte e do design, além de música e motor. Bem-vindo ao universo Carbono

MONTBLANC NO MUNDO DIGITAL

A Montblanc traduz sua tradição de escrita para o universo digital com o lançamento do Montblanc Digital Paper. O dispositivo combina tecnologia avançada e artesanato refinado, preservando a sensação tátil da escrita à mão em um visor de tinta eletrônica de alta resolução. Acompanhado de uma digital pen, inspirada na icônica Meisterstück, o conjunto oferece pontas intercambiáveis que simulam diferentes texturas de papel. Mais do que uma ferramenta de anotações, o device conta com recursos inteligentes para organização e leitura. Disponível em acabamentos personalizáveis, reafirma a vocação da maison de transformar escrita em arte – agora também no mundo digital. @montblanc

ECOLOGIA EM PAUTA

O MASP apresenta, até fevereiro de 2026, Histórias da Ecologia, uma coletiva internacional que ocupa todos os andares do museu com mais de 200 obras de artistas e movimentos sociais de 22 países. A mostra conecta visões indígenas, urbanas e globais sobre a relação entre humanidade e natureza, propondo reflexões estéticas e políticas sobre a crise climática e novas formas de habitar o planeta. @masp

Obra de Rosana Paulino (São Paulo, 1967). Tentativa de Criar Asas, do Caderno de Possibilidades de Voo (Reais ou Imaginárias) ou Caderno de Figuras Aladas, década de 2000.

UM MOSAICO DE AROMAS

GLENMORANGIE A TALE OF SPICES

Imagine-se atravessando um mercado de especiarias em Marrakech.

O ar é denso, vibrante, temperado com camadas de açafrão, gengibre e noz-moscada.

É essa viagem sensorial que a Glenmorangie captura na nova edição limitada de sua coleção “A Tale Of”: A Tale of Spices, agora disponível pela primeira vez no Brasil

“Uma combinação inédita, complexa e sedutora, que expande os limites do single malt clássico”

Premiada com ouro no International Spirits Competition 2025, a novidade reafirma a tradição ousada da destilaria escocesa em transformar lembranças e experiências em whiskies que narram histórias. Desde 2020, cada rótulo da série é um convite à imaginação líquida, como foi em “A Tale of Cake”, “A Tale of Winter” e “A Tale of Tokyo”. Agora, o sexto capítulo abre-se como um caleidoscópio aromático inspirado nos mercados mais exuberantes do mundo.

UM SINGLE MALT FORA DO COMUM

Sob a direção criativa do lendário Dr. Bill Lumsden, “A Tale of Spices” nasce de uma combinação inédita: whiskies finalizados em quatro tipos diferentes de barris – de vinho tinto marroquino, de vinho tinto torrado, de carvalho novo carbonizado e de xerez Pedro Ximénez. O resultado é uma experiência complexa e sedutora, que expande os limites do single malt clássico.

Cada gole revela especiarias incandescentes – cominho, pimenta, gengibre –, equilibradas por uma delicada doçura de amêndoas açucaradas e toques florais de rosa e jasmim. Há ainda um frescor surpreendente, quase mentolado, que prolonga a degustação com elegância. Um whisky para ser descoberto em camadas, como se o paladar percorresse as vielas de um bazar colorido.

O PODER DA IMAGINAÇÃO

“Alguns anos atrás, experimentamos pela primeira vez barris de vinho tinto marroquino e ficamos fascinados com as notas perfumadas que traziam”, relembra Lumsden. A partir dessa faísca, nasceu a receita incomum que hoje veste a sofisticação Glenmorangie com trajes de especiaria. Não é apenas um whisky, é uma narrativa engarrafada, que dialoga com a memória coletiva dos mercados e sua alquimia de cores e aromas. A embalagem, vibrante e detalhada, traduz esse espírito em mosaicos que parecem saídos de uma tapeçaria artesanal.

UM PRESENTE DE COLECIONADOR

Com 46% ABV, cor dourada e uma complexidade que dança entre o picante e o doce, A Tale of Spices já se posiciona como um dos lançamentos mais intrigantes da marca. Para os apreciadores de single malts que veem no whisky não apenas uma bebida, mas uma experiência cultural, esta edição limitada é um convite irresistível. Afinal, Glenmorangie há mais de 180 anos cultiva a arte de transformar simples perguntas – e se? – em criações que desafiam padrões e alimentam a imaginação.

E se o próximo gole fosse, de fato, uma viagem sensorial? @glenmorangie

Amaro Aviation inicia novo voo com João Mellão como CEO

A Amaro Aviation, referência em aviação executiva no Brasil, inicia um novo capítulo com a chegada de João Mellão como CEO. Presente na companhia desde sua fundação, Mellão assume o comando em um momento de transformações globais no setor, trazendo visão estratégica, foco em inovação e compromisso com a sustentabilidade. A transição, que posiciona o sócio-fundador Marcos Amaro como Chairman, reforça a continuidade de uma trajetória marcada por expansão e sofisticação, consolidando a Amaro como protagonista nos cenários nacional e internacional da aviação executiva. @amaroaviation

5 perguntas para João Mellão

Carbono Uomo

Você assumiu a liderança da Amaro Aviation em um momento de mudanças globais no setor. Qual será sua prioridade nos primeiros meses como CEO?

João Mellão

Minha prioridade será aprimorar a eficiência operacional, fortalecer a resiliência da empresa diante das mudanças globais no setor da aviação executiva e reforçar o foco na sustentabilidade e na inovação tecnológica, garantindo uma posição competitiva também no futuro.

Carbono Uomo

A Amaro é reconhecida por oferecer experiências personalizadas. Como pretende elevar ainda mais esse padrão de exclusividade e sofisticação?

João Mellão

A ideia é sempre evoluir para ir além das expectativas do cliente, elevando a exclusividade por meio de uma experiência de voo verdadeiramente única e adaptada a cada indivíduo. Temos um time de concierges que está sempre propondo melhorias a partir do feedback dos nossos clientes.

Carbono Uomo

De que forma a ampliação da frota e das operações dialoga com a visão de futuro da empresa no Brasil e internacionalmente?

João Mellão

A ampliação da frota e das operações, no Brasil e no exterior, fortalece a visão de futuro da empresa. Queremos expandir para novos mercados, otimizar a eficiência e proporcionar experiências superiores aos clientes com aeronaves e infraestruturas modernas, posicionando a

“Uma das minhas prioridades será reforçar nosso foco na sustentabilidade e na inovação tecnológica”

Amaro para um crescimento sustentável e preparada para responder às demandas de um mercado globalizado e em constante evolução.

Carbono Uomo

Como você e Marcos Amaro pretendem dividir as funções estratégicas e culturais dentro desse novo arranjo de liderança?

João Mellão

Eu e o Marcos temos uma visão alinhada e um processo de tomada de decisão bem estruturado. Entendemos que a colaboração e os valores compartilhados são a base da cultura organizacional, assegurando que cada um contribua com sua expertise e sua força para o sucesso da empresa.

Carbono Uomo

A inovação é uma marca registrada da Amaro. Quais tecnologias ou tendências você enxerga como essenciais para moldar o futuro da aviação executiva?

João Mellão

Para a Amaro Aviation, as tecnologias cruciais para o futuro da aviação executiva são a digitalização e a análise de dados, que otimizam operação e segurança; além da autonomia e da conectividade, que aprimoram tanto a experiência do cliente quanto a eficiência das operações.

DEFENDER + ONÇAFARI: QUANDO PERFORMANCE ENCONTRA PROPÓSITO

Mais do que um 4x4, o Defender é um aliado da preservação, da ciência e das comunidades. Um luxo que abre caminhos para o futuro da natureza

Explorar novos caminhos sempre foi a essência do Defender. Desde sua origem como ícone de expedições até o modelo 2025, o veículo traduz a filosofia da marca: EMBRACE THE IMPOSSIBLE. E, no Brasil, esse espírito vai além do asfalto e das trilhas off-road. Ele se manifesta também na preservação da natureza, por meio de uma parceria sólida e duradoura com o Onçafari, organização dedicada à conservação da biodiversidade e ao desenvolvimento sustentável das comunidades locais.

UMA ALIANÇA PELA NATUREZA

Fundado em 2011 por Mario Haberfeld, o Onçafari atua em quatro biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. Sua missão é proteger a fauna e a flora, promover o ecoturismo responsável, apoiar pesquisas científicas e gerar impacto positivo para as

populações que vivem nessas regiões. Entre seus símbolos está a onça-pintada, espécie-chave para o equilíbrio ecológico e ícone da nossa biodiversidade. Nessa jornada, a frota de Defenders é mais que meio de transporte, é ferramenta estratégica. Capaz de atravessar terrenos alagadiços, estradas de areia fofa e trilhas técnicas com segurança, o modelo oferece robustez e confiabilidade, ao mesmo tempo que garante conforto premium para pesquisadores, guias e equipamentos sensíveis.

PERFORMANCE A SERVIÇO DA CONSERVAÇÃO

No campo, cada deslocamento apoiado pelo Defender significa avanço para a ciência e para a preservação. Armadilhas fotográficas são instaladas, dados são coletados e expedições chegam a áreas de difícil acesso. A tecnologia de tração e a altura livre do solo permitem

“O veículo é mais do que transporte. É ferramenta estratégica

para proteger

nossa biodiversidade”

Mario Haberfeld, fundador do Onçafari

que o veículo supere barreiras naturais sem agredir o ambiente, viabilizando monitoramentos discretos da fauna – inclusive com versões híbridas plug-in, que proporcionam silêncio e baixo impacto. Esse suporte fortalece ações como educação ambiental, ecoturismo sustentável e programas de reintrodução de espécies. Resultado: mais conhecimento científico, mais visitantes conscientes e mais renda para comunidades locais.

UM EXEMPLO DE LUXO COM PROPÓSITO

No evento de lançamento do Defender 2025, a parceria ganhou destaque em um leilão silencioso da Jaguar Parade. A renda foi destinada para a recuperação do Pantanal após os incêndios de 2024, prova de que performance e propósito podem dividir a mesma trilha. A marca segue reafirmando seu compromisso global

com a sustentabilidade, que prevê emissões zero até 2039. No Brasil, esse compromisso se traduz em apoio contínuo ao Onçafari, ampliando o alcance de iniciativas que preservam biomas inteiros.

AVENTURAS QUE TRANSFORMAM

Mais do que um 4x4 de luxo, o Defender inspira pessoas a superarem limites e a cuidarem do mundo. Ao lado do Onçafari, mostra que aventura e responsabilidade podem, e devem, andar juntas. Porque, quando a estrada é movida por propósito, o impossível deixa de ser obstáculo e se transforma em roteiro de futuro.

Carbono Uomo

Tradição e inovação

Diretora de Marketing da JLR Brasil, Camila Mateus mostra os caminhos percorridos pela marca para manter sua essência enquanto se conecta aos valores contemporâneos

A Defender nasceu em 1948 como um veículo simples e robusto. Como a marca mantém essa essência ao mesmo tempo em que incorpora tecnologia e sustentabilidade?

Camila Mateus

A Defender nasceu como um símbolo de liberdade, robusto e confiável em qualquer terreno. Esse DNA permanece vivo, mas em uma versão atualizada. Incorporamos recursos como o sistema Terrain Response 2, a suspensão pneumática eletrônica e o Pivi Pro, que garantem versatilidade e conectividade em qualquer cenário, além da motorização híbrida (MHEV), que resulta no alto desempenho com menor impacto ambiental. Também ampliamos o uso de materiais sustentáveis, refletindo o compromisso global da marca de alcançar carbono zero até 2039.

Carbono Uomo

Como o modelo continua sendo referência em off-road?

Camila Mateus

A longevidade da Defender vem da capacidade de se reinventar sem perder a essência. Sempre foi a escolha de confiança dos exploradores em terrenos como trilhas, e, ao mesmo tempo, aprendeu a dialogar com novos contextos, como a vida urbana. Essa versatilidade, somada à evolução em design e tecnologia, mantém o modelo como referência. Entre os diferenciais, por fora, a Defender se destaca pelo design icônico

e resistente, aliado a tecnologias como o Cruise Control Adaptativo Off-Road, que facilita a condução em terrenos acidentados. Por dentro, reúne conforto, sofisticação de ponta e recursos de segurança, como a nova câmera do Monitor de Atenção do Motorista.

Carbono Uomo

De missões humanitárias à parceria com o Onçafari, a Defender tem um legado social.

Camila Mateus

O propósito é um pilar fundamental da Defender e a atuação em causas humanitárias e de conservação da natureza sempre fez parte dessa trajetória. Globalmente, a marca é parceira da Cruz Vermelha há mais de 70 anos e atua lado a lado com a Tusk, organização que protege a vida selvagem na África. Também criamos o Defender Service Awards, que reconhece e apoia projetos sociais e ambientais mundo afora. No Brasil, esse pilar é realidade desde 2019 em parceria com o Onçafari, organização que atua na conservação da fauna e da flora. A atuação conjunta já possibilitou a identificação de mais de 150 onças-pintadas, o registro de 3.800 avistamentos, além da coleta de 30 amostras biológicas e da instalação de 50 coleiras de rastreamento.

Carbono Uomo

Quais são os próximos passos da Defender?

Camila Mateus

A Defender seguirá reforçando seus pilares de propósito e de aventuras épicas. Globalmente, vamos continuar desafiando limites, seja no esporte, com exemplos como a participação na Women’s Rugby World Cup 2025, seja com nossas parcerias de impacto, com instituições como o Onçafari. No Brasil, o desafio é traduzir essa visão para a realidade local. Isso passa por fortalecer a conservação da fauna, além de ampliar a conexão entre o urbano e o natural com experiências ligadas à aventura, à música e a festivais. Anunciamos ainda a chegada da Defender 110 Trophy Edition ao Brasil. Trata-se de uma edição superexclusiva, que traz especificações únicas, acessórios preparados para expedições e duas cores icônicas: Deep Sandglow Yellow e Keswick Green.

A NOVA RIMOWA ORIGINAL BACKPACK

A elegância da engenharia alemã em movimento

A RIMOWA, sinônimo de excelência em malas de alumínio desde 1937, apresenta um novo ícone: a Original Backpack, agora em uma sofisticada versão prata. Produzida em Cologne, na Alemanha, a peça combina o rigor da engenharia alemã com o refinamento que define o estilo do homem contemporâneo.

Mais do que uma mochila, é um objeto de desejo feito para acompanhar a rotina urbana – do escritório a viagens internacionais – com a mesma imponência e a mesma precisão que tornaram a marca lendária. O alumínio, material que eternizou a RIMOWA, confere

resistência incomparável, enquanto os frisos característicos, os cantos arredondados e o novo sistema de trava com acabamento metálico traduzem uma estética industrial elevada ao status de luxo.

Por dentro, tudo foi pensado para o cotidiano moderno: um compartimento acolchoado para laptops de até 16”, as divisórias inteligentes e um estojo removível garantem funcionalidade sem abrir mão da elegância. O forro de nylon cinza e os detalhes de couro dialogam com os metais gravados com o monograma RIMOWA. Pequenos gestos de perfeição.

Carbono Uomo + RIMOWA

Confortável e intuitiva, a Original Backpack traz alças ajustáveis, acolchoamento respirável e um bolso traseiro oculto para celular. A fita com as coordenadas de Cologne permite acoplá-la às malas da marca, criando um sistema de viagem impecável.

Em resumo, a Original Backpack Prata reafirma a essência da maison alemã: tradição, inovação e estilo. Aliados perfeitos para o homem que carrega o mundo com elegância.

“SUA HISTÓRIA DÓI EM MIM,

A MINHA DOERÁ EM VOCÊ. E ENQUANTO ISSO

ACONTECER PODEMOS TER ESPERANÇA”

FRASE DO LIVRO A NATUREZA DA MORDIDA , DE CARLA MADEIRA

TRUFAS CERTIFICADAS

A Monte Carlo Selection, importadora criada pelos chefs Klaus Limoli Pahl e Diego Porto, traz ao Brasil trufas de regiões prestigiadas como Piemonte, Toscana, Umbria e Périgord. Cada lote chega com certificação oficial e selo adicional do Principado de Mônaco, garantindo sua autenticidade. Fornecedora de casas como Oteque, Fame Osteria e Beefbar, a marca alia sofisticação, curadoria rigorosa e frescor em cada nova safra. @montecarloselection

NATUREZA E INOVAÇÃO

A Fitó, marca de cosmética botânica zero plástico, celebra cinco anos com novidades. Além do redesign das embalagens, lança sua primeira linha capilar, composta de óleos, shampoos e condicionadores sólidos – produtos multifuncionais e concentrados, formulados com ingredientes vegetais que nutrem e fortalecem os fios. Sustentável e vegana, a marca reafirma seu pacto com o autocuidado ético e natural. @fito.cosmetica

ÍCONE DE DALLAS

No coração do Design District, em Dallas, o Hilton Anatole se destaca como um dos hotéis mais completos dos Estados Unidos. São mais de 600 mil m² de espaço para eventos, incluindo nove salões de baile e 79 salas de reunião, além de um parque de sete acres com trilhas e áreas de lazer. O resort conta ainda com o complexo aquático JadeWaters, spa, fitness center e sete opções de bares e restaurantes. A novidade fica por conta da renovação de seus quartos da ala Tower, que agora exibem design contemporâneo e amenities de alto luxo. @hiltonanatole

CURTAS | Carbono Uomo

PINHEIROS MAIS SAUDÁVEL

Depois do sucesso em Santana, o Salvi Café e Cozinha inaugura endereço no Baixo Pinheiros com sua proposta de comida saudável, sem frituras, refrigerantes ou leite animal. O cardápio, assinado pela chef funcional Lidiane Barbosa, traz opções veganas, vegetarianas e proteicas, todas elaboradas com insumos orgânicos. Do café da manhã ao jantar, entram em cena toasts, brunches, saladas, pratos autorais e sobremesas leves, em um ambiente com muito verde e luz natural. @salvi.cozinha

CORRER DO SEU JEITO

A Bad Running nasceu como um sopro contra a obsessão por posts na linha de chegada, pace e performance. Criada por Bruno Bocchese e suas sócias, Jana Borges, Luiza Campanelli e Maria Eduarda Di Pietro, a marca transforma a corrida em estilo de vida. Seu lema – Ordinary runners, extraordinary outfits – traduz roupas de alta performance com alma estética, peças que funcionam tanto nas ruas quanto fora delas. Em pouco tempo construiu comunidade, promoveu corridas que acabam em bares, lançou parcerias globais e desfilou atitude em coleções como a Silent Haze, que celebra o corredor invisível da madrugada. @bad.running

CHARME DOS MILAGRES

Dos mesmos donos da Pousada Haya, o Mahré Hotel abriu as portas recentemente também em São Miguel dos Milagres, nas Alagoas. Com 30 suítes de alto padrão – algumas com piscina e jardim privativos – o hotel pé na areia reúne projeto de João Armentano e do escritório Agra+Lemos, restaurante assinado pelo chef Rafa Gomes e bares com drinks de Isadora Fornari. Entre as experiências exclusivas: jangada que leva às piscinas naturais; piquenique no rio Tatuamunha (conhecido como o santuário do peixe-boi); e jantares românticos à beira-mar. @mahrehotel

CURTAS

MILÃO ARTESANAL

O Hotel Principe di Savoia apresenta Crafted in Milan, um tour a pé guiado por especialistas que revela o artesanato histórico da cidade. Durante três horas hóspedes exploram o bairro Cinque Vie, entre pátios escondidos e palácios renascentistas, visitando ateliers como o da escultora Osanna Visconti, o Laboratorio Paravicini e o Il Meneghello. A experiência inclui hospedagem em Mosaic Room, café da manhã e o passeio artsy. @principesavoia

ALTO ESTILO NO RAP

O DJ brasileiro Mizzy Miles une forças com o performer Teto e com o rapper Ryu, The Runner, na música High Life. Uma parceria que conecta Brasil e Portugal em um dos singles mais aguardados do Rap. A faixa, já disponível em todas as plataformas, marca uma nova fase internacional do produtor musical. @mizzymilesx

POESIA À MESA

O chef piemontês Simone Paratella reabre seu restaurante homônimo em endereço no Itaim. São apenas 19 lugares e menus degustação de sete a nove tempos que celebram massas frescas, risotos e proteínas nobres em interpretações sofisticadas. Cada etapa é harmonizada com vinhos de pequenos produtores selecionados pelo sommelier Caio Lutfe. Uma experiência intimista, moderna e delicada, que traz a essência do Piemonte ao coração de São Paulo. @ristorantesimone

CEVICHE EM PÁGINAS

O chef peruano Marco Espinoza lança seu primeiro livro, Manual do Ceviche: uma Viagem ao Peru Guiada por sua Receita Mais Famosa, pela Editora Senac Rio. A obra combina história, cultura e mais de 30 receitas, do clássico ao contemporâneo, celebrando o prato-símbolo do Peru. Radicado no Brasil desde 2013, Espinoza comanda casas premiadas – como Taypá, Chaco, Lima, Kinjo Nikkei e Cantón – e agora leva sua paixão pela culinária peruana também para as livrarias. @marcoespinozacocina

TRADIÇÃO REPAGINADA

O Pão de Queijo Haddock Lobo, referência paulistana desde 1968, reinaugurou sua loja no Shopping Iguatemi com projeto do Estúdio Tupi. No cardápio, os clássicos pães de queijo artesanais seguem firmes, agora acompanhados por novidades como a versão vegana, tortas salgadas, empadas e smoothies energéticos. @paodequeijohaddocklobo

20 ANOS À MESA

O Due Cuochi Cucina, restaurante italiano que Carbono adora, comemora duas décadas com novidades especiais. Nas quatro casas (Itaim, Cidade Jardim, Pinheiros e Morumbi), os clientes podem degustar um menu em quatro tempos que revisita clássicos como o raviolo de gema e o tagliolini com camarões, além de apresentar a picanha de cordeiro e a sobremesa de pera crocante. A celebração inclui ainda o lançamento do Chianti Due Cuochi 2023, vinho DOCG criado em parceria com a vinícola Angelo Rocca & Figli, pensado para harmonizar com os pratos icônicos do menu. @duecuochi

BELEZA CONSCIENTE

A recém-lançada We,All – marca de skincare positiva – aposta em cosméticos multifuncionais que unem natureza e ciência, com blends vegetais, biotecnologia e biodiversidade brasileira. Veganos, não tóxicos e sem testes em animais, os produtos propõem um ritual em três passos: limpeza suave com máximo resultado, hidratação profunda e nutrição intensiva. Garantindo uma pele mais saudável e luminosa. @weall_beauty

ENTRE CÉU E MAR

O hotel Niyama Private Islands Maldives renasce em grande estilo: após ampla renovação, suas vilas sobre a água ou à beira da praia foram redesenhadas para se fundirem à natureza, com piscinas privativas e vistas de tirar o fôlego. A experiência gastronômica também ganhou novos sabores, seja no Nest, suspenso nas copas das árvores, ou no Subsix, seis metros abaixo do mar, que estreia o primeiro menu Nikkei subaquático do mundo. Entre mosaicos turquesa e jardins de corais iluminados, o resort celebra o luxo descontraído, em duas ilhas gêmeas que traduzem o espírito paradisíaco das Maldivas. @niyamamaldives

CLUBE DA LONGEVIDADE

Um novo clube social com foco em saúde acaba de abrir as portas em São Paulo. Trata-se do Kontrast, um centro de bem-estar que une tecnologia, natureza e rituais coletivos. Instalado em um rooftop no Jardim Europa, o espaço de 500 m² oferece sauna, banhos de gelo, breathwork e sound healing em experiências multissensoriais. Com acesso restrito a 50 membros, o formato de membership combina práticas ancestrais e recursos inovadores para estimular saúde, conexão e longevidade em comunidade. @kontrast.club

DOÇURA E BEM-ESTAR

Depois de conquistar paladares em São Paulo e Porto Velho, a doceria Flakes dá um passo ousado com o lançamento de sua primeira linha Home & Wellness. Criada pelo médico Leo Borges, a coleção une ciência e sensorialidade em quatro produtos – difusor de ambiente, sabonete líquido, creme de mãos e esfoliante corporal – todos com delicioso aroma de pistache, assinatura da marca. A novidade expande a essência da confeitaria para o universo do autocuidado. @flakesbrazil

Fotos
João Bertholini (retrato João Mellão), Kato, Leo Feltran, Luiza Perea, Rui Nagae, Tomas Rangel e divulgação

QUIET LUXURY NOS JARDINS

A Yuny lança o Quaddra Lorena, projeto icônico em um terreno de 5.400 m² na Alameda Lorena. Com VGV de R$ 700 milhões, o empreendimento une design, natureza e high wellness em espaços como spa, piscinas, academia Technogym e quadra de tênis de saibro. Antes mesmo da inauguração, experiências de wellness, ativações esportivas e gastronomia movimentaram o estande, reforçando a exclusividade da incorporadora. @yunyincorporadora

RÉVEILLON PÉ NA AREIA EM CANCÚN

O Nizuc Resort & Spa, que acaba de ser agraciado com o EarthCheck Gold Certification – selo que reconhece o comprometimento com práticas turísticas sustentáveis –, prepara um fim de ano inesquecível à beira-mar no Caribe mexicano. Entre 23 e 31 de dezembro, a programação inclui jantares temáticos – de lagosta a churrasco, passando por um festival mexicano – além de uma charmosa pop-up de tacos. Um convite para celebrar a chegada do novo ano em grande estilo e com clima paradisíaco. @nizucresort

DO VINHO AO CINCO ESTRELAS

O Tivoli Kopke Porto Gaia resgata a história da mais antiga casa de vinho do Porto, fundada em 1638, e a transforma em um cinco estrelas de alma contemporânea. Com 149 suítes que celebram a tradição vínica, o hotel português oferece vistas inesquecíveis do Douro, experiências culturais e um spa com terapias exclusivas à base de uva. A alta gastronomia fica por conta do chef estrelado Nacho Manzano, que assina menus harmonizados com vinhos Kopke. História e sabor em perfeita sintonia às margens do rio. @tivolikopke

MEU

BAIRRO

Rodrigo Oliveira, chef
Retrato Ricardo D’Angelo

Em tempos marcados pelo excesso de grades entre vizinhos, o chef Rodrigo Oliveira fala sobre o grande – e raro – valor da Vila Medeiros, seu bairro do coração: o espírito de comunidade

Por Rodrigo Oliveira, em depoimento a Adriana Nazarian

Eu nasci na Vila Maria e, aos cinco anos, vim morar na Vila Medeiros. Meu pai alugou a casa que deu origem à Casa do Bode, o negócio que veio antes do nosso restaurante Mocotó.

Cheguei a morar em Guarulhos depois que me casei, mas, logo que a família cresceu, voltamos para esse que é meu bairro do coração. Uma das coisas que nós, moradores, mais ouvimos quando pessoas de outras regiões chegam aqui é: “Nossa, parece o interior”. É curioso porque, para mim, a vida em São Paulo sempre foi assim, nesse clima mais pacato, sem tantos arranha-céus. Mas hoje entendo que é diferente de outras áreas da cidade e pode parecer mesmo que estamos a longos quilômetros de distância da capital. É claro que acompanhamos de perto muitas mudanças, e aquela cara de roça mesmo se foi, mas de certa forma a essência da Vila Medeiros se mantém. A Nossa Senhora do Loreto, avenida principal, continua com os mesmos comércios e uma única agência bancária – uma segunda chegou a ser aberta, mas foi fechada.

Posso citar diversas coisas que não são especiais aqui, como a arquitetura, ou as belezas naturais. Ou até a falta de parques e praças. Ainda há muito espaço para evoluir e tenho fé de que

vamos chegar lá. Agora eu sei exatamente o que é especial na Vila Medeiros: as pessoas. Aqui, existe um forte senso de comunidade. Aquele termo “bairrismo” realmente é praticado entre os moradores. Todo mundo se conhece e se prestigia. O Mocotó, claro, acaba sendo um dos pontos de encontro dos moradores. Até porque eu acredito ser essa a grande vantagem de ter um negócio de hospitalidade. Nossa especialidade não é arroz ou feijão, mas juntar as pessoas. Um restaurante atende a essa função primordial de restaurar, inclusive uma comunidade como a nossa. Eu e minha irmã crescemos na Vila Medeiros, mas ouvindo nossos pais dizerem que, em algum momento, voltaríamos todos para o sertão, terra natal da nossa família. No fim, eles nunca se desprenderam e passaram a vida na vizinhança porque construíram uma história nela. E, hoje, eu sigo aqui com minha família vivendo as alegrias do bairro. Tomamos café da manhã juntos, eu levo meus filhos à escola em uma região vizinha, vou para o restaurante. Vez ou outra, ainda começo meu dia com uma volta de bicicleta em uma maravilha que fica logo à nossa porta, a Serra da Cantareira. Essa é a nossa São Paulo da Vila Medeiros.

vila medeiros

FATIMA LISBOA CONFEITOS

“A Fatima é um tesouro do nosso bairro. Culinarista, ela faz os melhores bolos da cidade, além de tortas salgadas. E aqui em casa não existe festa sem eles. Nosso favorito é o de frutas vermelhas!”

@fatimalisboa.confeitos

01 03 04 02

PASTEL DA SUELI

“Simplesmente o melhor pastel de todos – experimente o de carne. A Sueli está há muitos anos no bairro, primeiro com uma kombi e, depois, nesse ponto movimentado, com fila na porta todos os dias.”

Av. Nossa Sra. do Loreto, 927 @pasteldasueli

GALINHADA DO DEMA

“Um negócio que também passou de pai para filha. Em muitos finais de semana é o lugar de almoço da minha família.”

Av. Gustavo Adolfo, 2053 @galinhadadodema_

FEIRA DE DOMINGO

“Por muito tempo, eu e meu pai fazíamos as compras do Mocotó em várias feiras da região, incluindo essa. Passei a juventude lá, estacionando nossa kombi azul para buscar os mantimentos. E os produtos são incríveis.”

Rua Ataliba Vieira

sete acertos

06

OLMOS

FRANGOLÂNDIA

“Atualmente a Frangolândia seria definida como uma rotisserie, mas, para mim, ela é simplesmente a Frangolândia. Eles servem três coisas: frango assado na brasa, salada de cebola e maionese de legumes, ponto. Todos maravilhosos!”

Av. Jardim Japão, 1358

DICA EXTRA

“Superantigo, esse empório português é uma preciosidade. Foi gerido por uma mesma família por anos e, recentemente, outro português o comprou, mantendo sua essência. Queijos, vinhos, embutidos, azeitonas e outras conservas, tudo impecável.”

Av. Nossa Sra. do Loreto, 511 @olmoslaticinios

GEORGE ARIAS AÇOUGUE DO CHICÃO

“Campeão brasileiro inúmeras vezes, o George Arias é um boxeador que tem sua própria academia. As pessoas vêm de áreas diversas de São Paulo para ter aula com ele. E o espaço é muito bacana!”

Rua Ataliba Vieira, 680 | @georgearias_

“Não existe churrasco em casa sem as carnes desse açougue. O Chicão é o fundador e hoje ele toca o negócio com o filho, Alê. A habilidade com os cortes e a atenção com a qualidade são impressionantes.”

Av. Nossa Sra. do Loreto, 487

Depois do silêncio

Zé Ibarra, músico

Do peso da fama precoce ao vazio dos dias sem cor, Zé Ibarra atravessou abismos até reencontrar o desejo. Seu novo disco, AFIM, é o retrato desse retorno: um mergulho em afeto, medo e coragem, que se transforma em canção

“Vou deixar meu cabelo o mais desorganizado possível”, brinca Zé Ibarra ao saber que a videochamada para essa entrevista não seria publicada. Essa mistura de espontaneidade e leveza é justamente o que o cantor, compositor e multi-instrumentista de 28 anos quer imprimir em AFIM, seu segundo disco solo, lançado em junho pela Coala Records.

O álbum mistura composições próprias e de artistas contemporâneos, fala de amor em várias camadas e passeia entre MPB, rock progressivo, jazz e pop, numa linguagem autoral e ousada – como autêntico carioca que é. A faixa “Transe”, inspirada em um ghosting e com arranjos assinados por Jaques Morelenbaum, está indicada na categoria Melhor Canção em Língua Portuguesa no Grammy Latino 2025. A cerimônia será realizada no dia 13 de novembro, em Las Vegas.

Com cabelos repicados abaixo do ombro e uma bata branca de algodão à la Tropicália, Zé conversou com a Carbono de seu apartamento na Gávea, o mesmo onde cresceu, cercado de música e festas memoráveis. É também de lá que ele reflete sobre o peso e a expectativa após o fenômeno Bala Desejo – grupo que formou com Dora Morelenbaum, Julia Mestre e Lucas Nunes e que levou o Grammy Latino de Melhor Álbum Pop em Português em 2022.

“Eu sabia que ia precisar de coragem. Esse novo disco me colocou de frente com os meus maiores medos”, admite.

Carbono Uomo

Em seu Instagram (@zeibarra), você explica que esse novo disco é uma necessidade de revelar como você é em seu íntimo. O que você está tentando mostrar?

Zé Ibarra

Meus trabalhos com mais visibilidade, como o com Milton [Nascimento] e o primeiro disco, o Marquês 256 , me apresentaram ao mundo de forma muito séria. Muita gente não sabe, mas eu tive a Dônica, que era uma banda de rock progressivo. Ou seja, já tive essa energia rock and roll. Na minha vida, sou um cara totalmente sarcástico. Gosto de provocar, de falar coisas absurdas. Tenho um humor e uma acidez que eu não colocava porque não tinha espaço naquela

O nome do disco não é acaso. AFIM nasceu do reencontro do amor pela música, pelas pessoas e pela vida, depois de conviver cerca de dez anos com depressão, desencadeada ao ganhar visibilidade com a banda Dônica, aos 15 anos. “Tive uma incapacidade psíquica de responder à exposição, aquele novo mundo das ilusões e da falsificação de si mesmo. Tive um pico de arrogância absurdo”, lembra.

Zé toca piano, teclado, violão, bateria, baixo e flauta transversal e carrega em si uma mistura de raízes: baianas, holandesas, cariocas, chilenas e indígenas chilenas. A música o acompanha desde seus três anos, quando já mergulhava nos universos sonoros de cada parte da família. Com a avó materna escutava música clássica na rádio; com a paterna, cantigas de ninar do sertão baiano; com o pai, muito jazz, Chico Buarque e João Gilberto, que embalaram suas noites; e sua mãe, que temperava a casa com Madonna, Abba, Cyndi Lauper, Buena Vista Social Club e todo o pop das décadas de 1980, 1990 e início dos anos 2000. Na entrevista, Zé – que já sonhou em ser arquiteto e engenheiro naval – falou sobre o desafio de encontrar momentos de ócio criativo em tempos tão virtuais e sobre como o consumismo atravessa nossas relações: “Hoje em dia me vejo à deriva nos afetos. Já me peguei muito mais consumindo do que amando e muito mais sendo consumido do que amado”.

persona que cantava aquelas músicas. Agora eu consigo falar o que eu quiser.

Carbono Uomo

Como foi o processo de construção desse novo disco?

Zé Ibarra

Foi um disco difícil para mim porque eu tive a necessidade de fazer – para além da necessidade artística. Financeiramente, inclusive. E dentro de um contexto complexo, após o grande sucesso com a banda Bala Desejo. Ou seja, com medo de desaprovação, comparação, com o imperativo de ter que ser tão grande quanto antes. E todas essas questões influíram para uma desconexão com a transcendência criativa. Não foi fácil entrar em

“Os sentimentos estão morrendo porque não temos tempo para cultivá-los”

estado de amor com esse disco. Quase não lancei. Sabia que precisaria de coragem. Mas agora estou muito feliz porque eu me expus a mil outras felicidades. A única pessoa que pode me dar motivo para ser feliz sou eu mesmo. E o único jeito, para mim, é fazendo um disco. Porque me abre para o mundo, me abre para mim. AFIM porque eu precisava ficar a fim de novo. E agora o amor brotou novamente pela música, pelas pessoas, por mim, por tudo.

Carbono Uomo

A gente está sempre no celular. Você sente que a falta do ócio afeta o seu processo criativo na música e na vida?

Zé Ibarra

Com certeza. Eu seria uma pessoa muito melhor, mais feliz, teria feito mais discos, e discos melhores. Eu vi um documentário esses dias chamado Três Obás de Xangô e tem um momento em que o [Dorival] Caymmi fala que ele gostava de pintar aos domingos porque é um dia em que ele não fazia nada e podia ir esvaziando sua cabeça... e então surgiam ideias geniais. Eu pensei: “Meu Deus, cadê meus domingos?”. E não é só a criatividade que morre. É a possibilidade de sentir qualquer coisa. Os sentimentos estão morrendo porque não temos tempo para cultivá-los.

Carbono Uomo

E, ao mesmo tempo, as redes sociais são uma grande vitrine do seu trabalho. Foi fácil se convencer de que você tinha que se mostrar por lá?

Zé Ibarra

Não. Foi quase impossível. Eu tenho 28 anos, comecei na vida artística com 15, mas passei a divulgar vídeos com mais intensidade somente há dois meses. Pensei: “Por que eu não lanço? É por uma revolta ao sistema?”. Eu negava os mecanismos pelos quais as pessoas faziam as coisas irem para a frente. Agora que eu lancei o disco, percebi que não postar seria também privar as pessoas de me verem. Hoje as pessoas existem no mundo virtual muito mais que no real.

Carbono Uomo

Você tinha 15 anos quando foi lançado de forma muito grandiosa com a Dônica [formada por Zé, Tom Veloso, André Almeida, Miguel Guimarães e Lucas Nunes]. Como foi lidar com isso tão jovem?

Zé Ibarra

Entrei em depressão, né? Por conta de uma incapacidade psíquica de responder à exposição, ao novo mundo do Instagram, ao novo mundo das ilusões e da falsificação de si mesmo. Eu tive um pico de arrogância absurdo. Porque eu, com 16 anos, fiz um disco que ganhou o prêmio da música brasileira no ano seguinte, concorrendo com um bando de gente. Eu falei: “Ué, então eu sou foda”. Só que não. Eu só tinha feito um trabalho legal. Foi um devaneio de um adolescente despreparado. E, para falar a verdade, eu realmente só saí da depressão –de acabar todo o resquício – no ano passado.

Carbono Uomo

Você já disse que foi a música que lhe salvou. Como foi isso?

Zé Ibarra

Sempre me salvou. Na época, eu vivi uma dor inacreditável por dois anos e ninguém sabia. Nem eu. Só queria dormir, às vezes não queria acordar. Sair de casa era um problema, uma ansiedade inacreditável. Na virada de um aniversário, numa viagem que marquei sozinho para São Paulo, coloquei uma música da Dônica para tocar chamada “Praga”. Tem um solo do Lucas, meu grande parceiro e amor musical. Coloquei essa faixa por acaso e comecei a chorar compulsivamente. Percebi que não podia viver sozinho e que eu estava em depressão. É a primeira vez que eu estou contando para alguém que não seja um amigo... No dia seguinte liguei para uma terapeuta. Fiquei dez anos com ela. Eu me emociono com essa história porque a música já fez coisas místicas por mim. Antes de tudo são unções, sabe?

Carbono Uomo

Os relacionamentos amorosos têm espaço na terapia, assim como no disco? Já se questionou sobre a monogamia, por exemplo?

Zé Ibarra

Falo muito sobre. Sinto-me um rato de laboratório sendo um ser humano do século 21, tendo que lidar com todas as transformações tecnológicas e dos afetos. Eu era um cara que postulava muito pela não monogamia, pelas descobertas e liberdades sexuais. Aí vivi tudo isso e agora sou totalmente descrente. O pretexto da não monogamia é genial, liberta, principalmente as mulheres, da condição de posse. Mas se você não tem muito certo na cabeça o que quer, pode cair na “não monogamia neoliberal”, num mercado infinito de carne no qual você é um produto e as outras pessoas também. Hoje em dia me vejo à deriva nos afetos, já me peguei muito mais consumindo do que amando, e muito mais sendo consumido do que amado.

Carbono Uomo

Qual é a grande revolução que a música pode causar na vida das pessoas?

Zé Ibarra

A música é um lugar de transcendência. Vai apontando caminhos, questionando a sociedade. É a expressão mais fiel de um povo. A matéria-prima é a mesma – som –, mas os povos organizaram de formas diferentes. O baixo cubano é sempre antecipado. Isso diz muito sobre o ser cubano. A música alemã já tem muito mais chão. Na Bahia, os ritmos do candomblé, todos quebrados, também dizem muito. Olha a nossa cultura, olha a música que a gente criou! Nenhum outro lugar do mundo fez o que a gente fez. Se quiser entender um povo, ouça sua música.

Carbono Uomo

O que você tem escutado? E onde?

Zé Ibarra

Shintaro Sakamoto, Orlandivo, Count Basie, Tom

Michael Jackson, Sergei Rachmaninoff, Negro Leo, Dadá Joãozinho, Sophia Chablau e Dora Morelenbaum. Gosto de acordar, fazer meu café, regar minhas plantas e arrumar a casa. Esse é um momento em que eu escuto música. Aos domingos, faço faxina e adoro ouvir Gal Canta Caymmi . É meu disco de faxina. Também escuto andando de moto elétrica no Rio.

Carbono Uomo

Você é um dos artistas mais ativos quando se trata de assuntos que envolvam política, guerras, direitos humanos. Como é o ativismo no seu dia a dia?

Zé Ibarra

Acredito que em todo o mundo os artistas ainda estão muito comprometidos com a linha de frente da reflexão sobre a realidade. Faz parte da nossa responsabilidade, ainda mais se forem artistas bem conhecidos. Precisamos estar preparados sobre as causas que queremos defender e encontrar coragem para falar. Se considerarmos todas as mudanças no mundo, desde o colapso da União Soviética até as revoluções que ocorreram nos países asiáticos, o conselho que eu daria às pessoas é: ouçam poetas, escritores, músicos, mas também diretores e atores. São eles que se preocupam com a cultura de um povo. Os artistas são as pessoas em quem a população pode confiar, não os políticos.

Carbono Uomo

Você tem alguma religião?

Zé Ibarra

Sempre achei que eu fosse ateu, mas percebi que eu falo com alguém. Então acho que é Deus. Acabamos a conversa com a palavra ‘Deus’. Que interessante.

Jobim,

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO

Espirituoso como poucos, o jornalista e escritor Fernando Luna relembra as obras que marcaram sua trajetória com a ciência de que nunca haverá tempo suficiente para ler tudo o que deseja

Nasci atrasado. Chegar por aqui mais de 5 mil anos depois da invenção da escrita deixa qualquer leitor como o laboratório narrativo de Proust: em busca do tempo perdido. Começamos a ler tarde demais, impossível tirar o atraso.

Em 2010, o Google, querendo medir o tamanho da encrenca em que se metia com o Google Books e sua ambição de digitalizar as obras completas da humanidade, calculou a quantidade de livros circulando por aí. Somados os acervos das principais bibliotecas do mundo com os registros internacionais ISBN (International Standard Book Number) e descontadas as duplicações, chegou a 130 milhões de obras. Ou, para ser exato, 129.864.880.

Esse número inclui, por exemplo, duas edições de Hamlet com prefácios diferentes, mas conta como um único título uma coleção que se estende por vários volumes – como os 18 calhamaços do Tesouro da juventude (Meu primeiro Hamlet foi “Hamleto”, com o nome do príncipe da Dinamarca aportuguesado na capa vermelha da série Universidade de bolso. Por causa disso, até hoje acho essa tragédia meio cômica.)

Para aumentar a ansiedade na Galáxia de Gutenberg, as editoras insistem em lançar mais e mais livros, uma cornucópia de 500 mil a 1 milhão de títulos a cada ano, dependendo do cálculo. Com um olho nos clássicos reeditados, outro no novo do Itamar Vieira Junior, o leitorado fica vesgo na tentativa de acompanhar o ritmo frenético da indústria livreira.

Lá na Mesopotâmia do século 30 a.C. ainda se podia bater no peito e dizer ter lido tudo. Bastava passar os olhos por um punhado de tábuas de argila gravadas com a recém-criada escrita cuneiforme. O risco era o tédio. A letra estava atrelada ao controle e nada mais: cada sinal gráfico existia para registrar quantas sacas de grãos foram colhidas, o tamanho do rebanho de cabras ou a última lei que o Hamurábi da vez inventou. Levou uns séculos até a burocracia virar literatura.

Com Gilgamesh, Rei de Uruk , ficou claro o potencial dessa tecnologia, que enfileira significantes para criar

significados capazes de fazer a gente mergulhar em vidas tão diferentes da vidinha nossa de cada dia. Esse épico inaugural já trazia a dupla de elementos que movimentaria boa parte das narrativas dali em diante: amor e morte, os motores da civilização e da imaginação, de Homero a Ana Maria Gonçalves, de Safo a Manuel Bandeira. (Ainda tenho a Antologia poética do Manuel Bandeira que li no colégio, 35 anos atrás. Se o porquinho-da-índia foi a primeira namorada do poeta, como ele escreve na página 64, essa coletânea foi meu primeiro crush com a poesia, a mais antiga moradora da minha estante. Folhear um livro que está com você há anos é como reencontrar um velho amigo – com a vantagem de que continua igualzinho, enquanto alguns camaradas deram uma guinada à direita.)

Não me lembro exatamente de quando dobrei o cabo da cartilha de alfabetização, para me aventurar além do Ivo-viu-a-uva. Alguns dos primeiros companheiros de viagem foram Memórias de um cabo de vassoura, de Orígenes Lessa, e As aventuras de Tibicuera , de Érico Verissimo –leituras escolares que, mesmo obrigatórias e terminando em prova de português, não azedaram o gosto pela leitura. Mas também não empolgaram.

Fiquei mais animado quando descobri uma coleção de livrinhos de banca de jornal sobre guerra: HH, com suas emboscadas, explosões e capas do Benício na melhor tradição de pulp fiction , encorpava o roteiro dos combates dos meus soldadinhos de plástico. (Não tinha ideia do que significava HH, nem sabia do Benício. Só anos depois liguei a abreviação à Hora H, terminologia adotada por militares na Segunda Guerra para determinar o momento do ataque, e redescobri um dos maiores desenhistas do País nos pôsteres de pornochanchadas.)

Daí para Finnegans Wake foi um pulo. Mentira. Até hoje não li o livro mais impenetrável de Joyce, que era bom de livros impenetráveis. Molhei os pés, porém, no rio corrente Panorama do Finnegans Wake, tradução de trechos do romance feita pelos irmãos Campos. Quem sabe ainda encaro o original? Estou atrasado, eu sei.

Retrato Mariana Vieira
Fernando Luna, jornalista, colunista das revistas Gama e Quatro cinco um e co-fundador da Mina Bem-estar

ANTOLOGIA POÉTICA

Manuel Bandeira | Global

Do alto de meus 14 anos, pensei: era só o que me faltava, um livro de poesia. No meu colégio, a lista de leitura era desanimadora. E agora essa. Poesia. Meus hormônios buliçosos, porém, encontraram o caminho na página 59: “Libertinagem”. Fez muito sentido. Poesia era mesmo o que faltava.

A TEUS PÉS

O ANTICRÍTICO

Augusto de Campos | Companhia das Letras

O poeta concreto e tradutor completo reúne alguns poetas favoritos, de naipes tão diversos como Dante e João Cabral, John Donne e John Cage, Gertrude Stein e Gregório de Matos. Além das transcriações dos versos gringos para o português, cada autor ganha um ensaio curto e sempre brilhante em “prosa porosa”.

FUP

O ESTRANGEIRO

Albert Camus | Record

Foi Robert Smith, vocalista do pós-punk The Cure, quem me falou de O Estrangeiro – mas não entendi nada. Mesmo repetindo o refrão de “I’m alive/ I’m dead/ I’m the stranger/ Killing an Arab”, só na faculdade liguei Camus à música da banda. Quando, enfim, li o romance, caiu a ficha: The Stranger era O Estrangeiro

TINTIM E OS PÍCAROS

Jim Dodge | Record Ana Cristina Cesar | Companhia das Letras Hergé | Companhia das Letras

A poeta carioca é uma das principais nascentes da poesia brasileira deste século. Seus versos confessionais, irônicos e enigmáticos enchem o rio que deságua em Angélica Freitas, Marília Garcia, Bruna Beber, Alice Sant’Anna e Victor Heringer – entre muitos outros autores capazes de juntar as melhores palavras, na melhor ordem.

Talvez seja o melhor livro que você não conhece. Um brevíssimo romance com personagens estranhos e adoráveis, a começar pela pata – sim, uma pata ranzinza – que empresta seu nome ao título. Quem me indicou essa fábula sobre a amizade foi um amigo querido, Juva Batella, que faz uma falta danada, não só por essas dicas certeiras.

Você começa a ler um livro e nunca sabe onde parará: esse me levou até a pirâmide de Chichén Itzá, no México. Ainda leria Viagem à lua , Ilha negra e muitas outras aventuras do jovem repórter belga. No fim, ele sempre me leva de volta à casa dos meus avós, onde li Tintim e os pícaros pela primeira vez.

QUARTO DE DESPEJO

Carolina Maria de Jesus | Ática

Foi um daqueles best-sellers improváveis: o diário de uma favelada semianalfabeta virou um fenômeno editorial em 1960. Mas perdeu força nas conversas nas décadas seguintes, até a autora ser resgatada pelas discussões sobre desigualdade, racismo e fome. Um livro de ontem que fala alto hoje e, desgraça, deve seguir assim até esse país tomar jeito.

GRANDE SERTÃO: VEREDAS

A VEGETARIANA

Han Kang | Todavia

Quando certa manhã acordou de sonhos intranquilos, Yeonghye decidiu parar de comer carne. Essa decisão quase banal afeta toda a sua vida. A narrativa tem imagens que grudam no seu córtex, como a da protagonista diante da geladeira à noite ou de pé na chuva num bosque. Por essas e outras, Han Kang levou o Nobel ano passado, com apenas 54 anos.

NAVALHANALIGA

João Guimarães Rosa | Companhia das Letras Alice Ruiz | Editora do Autor

O sertão está em todo lugar, até mesmo dentro do quarto úmido em uma pousada à beira-mar no litoral norte de Alagoas. Se minhas férias foram frustradas por sete dias e sete noites de chuva incessante, o dilúvio ofereceu o tempo e a concentração necessários para a travessia do mais belo romance da língua portuguesa.

“Nada/ pode tudo/ na vida”. Esse poema mínimo, reflexivo como um koan zen-budista e viralizável como um post de gatinho, está nesse livro de estreia de Alice Ruiz. Originalmente em letras enormes e maiúsculas como um grito, mistura poesia visual com poesia marginal. Uma semiótica malemolente, entre os píncaros concretistas e a voz da rua.

VENTO VADIO

Antônio Maria | Todavia

Os anos 1950 foram generosos com a crônica brasileira. Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino iluminavam jornais e revistas. Antônio Maria era um nome de respeito, mas de certo modo coadjuvante. Quando essa coletânea recuperou 132 textos seus esquecidos em jornais regionais, ele foi catapultado a protagonista.

AS GRANDES ENTREVISTAS DO PASQUIM

Vários autores | Codecri

Recém-chegado a São Paulo, era meu presente favorito para os coleguinhas de profissão – como um embaixador em missão diplomática, queria oferecer aos nativos o melhor da minha terra. O Pasquim inventou uma nova linguagem, mudou a imprensa e inclusive ajudou a preservar até meu sotaque carioca na escrita.

FRESH

Renovada, a alfaiataria atualiza os looks usados por Bruno Mossa de Rezende e mostra que o estilo esportivo pode se reinventar

Fotos Marcus Steinmeyer

Direção de arte Mona Conectada

Edição de moda Cuca Elias

Grooming Rodrigo Bernardo (Capa MGT)

Agradecimentos Kura e Coleção Ivani e Jorge Yunes

Moda | BRUNO REZENDE
COSTUME ALEXANDRE WON
CAMISETA POLO ARAMIS
ESCULTURA GALILEO EMENDABILI
CAMISA E CALÇA BARTHELEMY
REGATA ARAMIS
TRICOT ZARA • TÊNIS VEJA OBRAS AO FUNDO CANDIDO PORTINARI
EMILIANO DI CAVALCANTI
BLUSA ZARA • CALCA BOSS • RELÓGIO OMEGA • SAPATOS CNS
OBRAS ISMAEL NERY , CLÓVIS GRACIANO, CÍCERO DIAS E JOSÉ PANCETTI
FULL LOOK
SAPATOS CNS
OBRAS VOLPI (PÁGINA AO LADO)
CAMISETA INTIMISSIMI UOMO • CALÇA EMPORIO ARMANI • RELÓGIO OMEGA • SAPATOS CNS
OBRA (NA PÁG. AO LADO) DANIEL BUREN • OBRAS (NESTA PÁG.) EDUARDO BALTAZAR CORTESIA ATHENA
Produção Executiva
Ana
Elisa Meyer; assistente de fotografia
Eric Albano; assistente de moda Tininha Pietrocola e camareira
Toty
FULL LOOK FERRAGAMO • TÊNIS VEJA • OBRAS AO FUNDO NATALIA IVANOV E ROBERT BERRY (INSCRIÇÃO)
OBRA AO LADO GUSTAVO SILVAMARAL • BOLSA RIMOWA (PÁGINA AO LADO)

NO NOVO TEMPO

Apesar das marcas trazidas pelo esporte, o levantador Bruno Mossa de Rezende está mais crescido, atento e vivo do que nunca

Por Por Mario Mele Fotos Marcus Steinmeyer

Quando conversei com Bruno Mossa de Rezende, o “Bruninho do vôlei”, faltavam poucos dias para o início do Mundial Masculino de Vôlei 2025, nas Filipinas, e pensei que deve ser estranho para um atleta que integrou a seleção brasileira por 18 anos acompanhar tudo de tão longe. Depois de seis temporadas jogando na Itália, meca do voleibol, ele voltou ao Brasil em 2024 e, pela primeira vez em quase duas décadas, iria assistir a um dos maiores eventos de seu esporte como torcedor. E do outro lado do planeta: aqui do Brasil, curiosamente, o ponto mais distante no globo do país do Sudeste asiático que sediaria o torneio. Foi nesse clima de “novo ciclo” que seguiu nossa conversa. “Sei que não estou mais no meu auge”, diz logo de cara. “Com uma geração tão diferente, eu tinha dúvida se ainda seria realmente importante à equipe.” Sem contar que seu pai, o técnico Bernardinho – com quem Bruno conquistou todos os

títulos vestindo a camisa da seleção brasileira – reassumiu o comando do time masculino no final de 2023, acrescentando aquela dose extra de responsabilidade que ele conhece bem. Ao longo de quase 20 anos defendendo o País, com três medalhas olímpicas e quatro mundiais conquistados, Bruno, que também foi capitão da seleção, certamente não seria vaiado ao entrar em quadra – como aconteceu logo em sua estreia, ao substituir o então incontestável levantador Ricardinho. Mesmo assim, aos 39 anos, ele precisaria mostrar novamente que não está ali por mero nepotismo e que ainda consegue jogar com a mesma agilidade e entrega de dez, 15 anos atrás.

O voleibol mudou. Apesar de seus 1,90m, Bruno explica que os levantadores estão mais altos, com saques superpotentes e bloqueios cada vez mais eficientes. Assim como os tempos evoluíram, seus desafios também são outros: em 2024, Bruno

retornou a Campinas (SP), cidade que remete tanto às suas raízes familiares quanto ao esporte. Desde então, joga pelo Vôlei Renata, time local que disputa a Superliga, a principal competição do País.

Pessoas próximas garantem que Bruno mantém a mesma garra que o tornou um dos maiores vencedores da história do voleibol, mas agora, longe da pressão direta da relação profissional com o pai, ele sente uma leveza no ar: “Hoje vivo uma relação com o Bernardinho que vai além de pai e filho – é de amizade mesmo. Finalmente estamos mais próximos”, diz. “Durante toda a minha carreira, nos momentos difíceis, eu não podia simplesmente bater na porta do quarto dele após um treino ou jogo e falar: ‘Pô, pai, não estou bem’.”

Por outro lado, sua mãe, a também jogadora de vôlei Vera Mossa, sempre foi esse porto seguro. Era quem dava afeto, carinho e mantinha a proximidade

“Fiz um mergulho interior que me fez investigar de onde vinha essa obsessão compulsiva pela perfeição”

familiar nos momentos em que a relação com o pai ficava, inevitavelmente, balançada pelo peso das metas e dos resultados. Vera manteve a casa como espaço de acolhimento, balanceando a intensidade das quadras com a suavidade de um lar saudável. Esse equilíbrio foi fundamental para que Bruno aprendesse a lidar não só com as vitórias e derrotas, mas também com a transição natural de cada fase da vida.

Agora, além da busca pelo título inédito da Superliga com sua atual equipe, ele tenta encontrar algo que o continue movendo, papel que o vôlei cumpre até hoje. “As pessoas dizem que o atleta morre duas vezes: uma quando para de jogar e outra depois que, de fato, morre.” Para quem vive essa adrenalina há mais da metade da vida, um reencontro consigo mesmo é essencial. “Quero começar a redescobrir o prazer que eu tenho com o esporte em uma nova função”, diz, sem medo de mirar na aposentadoria.

Casar, ter família, filhos… Tudo isso está nos planos. Recentemente, Bruno assumiu um relacionamento amoroso “leve e feliz” com a analista financeira Ana Magalhães. Quanto ao futuro profissional, virar comentarista só se for de todos os esportes. “Na televisão, prefiro falar de forma mais ampla, e não só comentar vôlei.”

Além de considerar os comentaristas duros demais em suas falas, Bruno é um cara que acompanha tudo em matéria de esporte e acredita em sua capacidade de falar com propriedade sobre qualquer modalidade.

Inclusive, antes de priorizar o vôlei, jogou futebol e badminton. Ou melhor, praticava sério os três, simultaneamente. Aos 15 anos, ouviu do pai que era hora

de focar em apenas um. Caso contrário, as chances de não se tornar profissional em nenhum seriam grandes. Mas nem como ídolo no vôlei, o interesse por outros esportes diminuiu. Por exemplo, se identificou com o espanhol Rafael Nadal ao descobrir as fraquezas e inseguranças de um dos maiores tenistas de todos os tempos. “O Nadal, que sempre pareceu um competidor inabalável, em sua biografia mostra que até os grandes atletas passam por altos e baixos — a diferença está em como cada um aprende a lidar com esses momentos”, diz.

AUTOBIOGRAFIA

Em 2023, Bruno também contou sua história no livro Dal Buio all’Oro (da escuridão ao ouro), em parceria com dois escritores italianos – Davide Romani e Gian Paolo Maini. Publicada originalmente na Itália, a obra ganhou versão em português neste ano. Com o título Entre Sombras e Vitórias, ela não revela apenas as sensações inimagináveis trazidas pelo esporte de elite, mas mostra principalmente como é difícil um atleta domar a mente fora das quadras. Um dos pontos altos é quando a seleção brasileira masculina deixa escapar a medalha olímpica de ouro em Londres, desperdiçando dois match points a favor. Os quatro anos seguintes – até Bruno finalmente pisar no lugar mais alto do pódio, na Rio 2016 – seriam os mais desafiadores de sua vida. “Passei por um longo processo de ressignificação”, lembra o levantador. É o que ele chama no livro de “luto”, e que é dividido em duas partes. “Uma é quando você está tão próximo de conquistar seu maior sonho

– ser campeão olímpico – e ele escapa. Perdi o chão naquele momento, cheguei a duvidar se eu teria outra oportunidade como aquela e até mesmo se eu queria voltar a jogar vôlei”, revela. A outra parte do luto foi ficar remoendo os erros cometidos enquanto a partida estava rolando. “Já tínhamos perdido o terceiro set e eu não conseguia parar de pensar naquilo: ‘Putz, tive a chance da vida e deixei escapar; e agora?’” Levou tempo até ele aprender que, quando se sai do momento presente, já se está pelo menos um segundo atrasado. No vôlei, esse detalhe pesa ainda mais – uma distração mínima normalmente já custa um ponto ao adversário. Bruno, que assiste à gravação de todos os seus jogos, só teve coragem de reviver a fatídica partida contra a Rússia, na final em Londres, quatro anos depois. Em Entre Sombras e Vitórias, ele conta como foi esse período. Resumindo, primeiro descobriu um método de ioga baseado em respiração e alongamento. “Em poucas sessões eu percebi que sempre cuidei muito pouco de uma parte fundamental do corpo e da alma: a respiração.” Depois, conheceu o especialista em performance esportiva Giuliano Milan, que apresentou seu método de meditação. “Fiz um mergulho interior que me fez investigar de onde vinha essa obsessão compulsiva pela perfeição, de eu não poder errar nunca.” Bruno encarou de frente suas fraquezas, curou traumas da infância e passou a aceitar que a vida não é perfeita. Não que ele tenha começado a comemorar as medalhas de prata, mas entendeu que a derrota faz parte da jornada e, acima de tudo, também ensina.

DAQUI PARA A FRENTE

Tempo ele, pelo visto, vai ter para aplicar esses ensinamentos. Além de a aposentadoria ainda não ter data oficial – mesmo com sua saída definitiva da seleção já declarada –Bruno pretende em breve retomar o curso de Administração que começou a fazer antes de se profissionalizar no vôlei. “Minha ideia não é cursar Educação Física porque, pelo menos por enquanto, não penso em ser treinador.”

Claro que esse não é o único caminho para comandar um time. No entanto, hoje ele prefere se dedicar à liderança nos negócios: Bruno é sócio dos restaurantes Delírio Tropical e Posì Mozza & Mare, ambos no Rio de Janeiro, e mira investimentos que incluem iniciativas no universo dos games por meio de startups. “Não entro em nada em que eu não esteja realmente 100%”, afirma, mostrando que a chama da excelência ainda segue acesa.

Pergunto se, fora do mundo corporativo, ele também pretende ingressar em projetos sociais ligados ao esporte e ele me lembra do Instituto Compartilhar – criado há 22 anos por Bernardinho, e que usa o esporte como desenvolvimento humano. Essa já é uma fiel retribuição da família “Mossa de Rezende” ao esporte. “Hoje sou um dos embaixadores do Compartilhar, que conta com mais de 30 núcleos, principalmente em comunidades do Rio de Janeiro e do Paraná”, explica. “E não é só vôlei.

Também atuamos em educação e outras atividades que colaboram com a formação desses jovens.

Meu envolvimento é justamente para aprender e ajudar a potencializar o impacto dos nossos projetos.” E se tem uma coisa que ele aprendeu com o pai é que não se faz nada sozinho. Estou terminando de escrever esta reportagem no momento exato em que o Brasil é eliminado precocemente do Mundial de Vôlei, nas Filipinas. Após vencer dois jogos – um contra a China e outro contra a República Tcheca –, a seleção de Bernardinho acabou sendo derrotada por 3 a 0 pela Sérvia, ficando dependente de uma vitória da China contra a República Tcheca, algo que não aconteceu e que

selou a eliminação da equipe na fase de grupos. Horas antes da partida, enquanto preparava seus atletas para o jogo decisivo, o treinador ainda recebera a notícia sobre a morte de sua mãe, Maria Ângela Rezende, a milhares de quilômetros de distância. No Brasil, o neto prestava suas últimas homenagens nas redes sociais: “Tive o privilégio de ter a maior riqueza que podemos ter na vida ao teu lado: o tempo”, escreveu Bruno. O bom e velho tempo, que não tem parada e que Bruno agora está aprendendo a valorizar de outras maneiras.

José Cláudio Securato

Carbono Minds
“A verdadeira vontade de realizar mantém o espírito vivo até alcançar o sucesso”

Visão estratégica, ousadia e valores inegociáveis são os segredos de sucesso do fundador da Saint Paul Escola de Negócios

Nem sempre a trajetória define o desfecho. Antes de se tornar um dos nomes mais importantes em educação de negócios no Brasil, o empresário e empreendedor José Cláudio Securato teve que lidar com as próprias frustrações.

Filho do educador José Roberto Securato, pioneiro na fundação de escolas de negócios e na criação dos programas de MBA no País, José Cláudio passou por desafios no ensino médio e chegou a questionar sua capacidade, mas encontrou nas dificuldades um estímulo para empreender. Nos anos 1990, criou um dos primeiros sites do Brasil e, aos 24 anos, montou uma escola de negócios. “Meu pai me influenciou muito. Com ele, tive a oportunidade de compreender o impacto positivo que a educação gera na sociedade”.

Para Carbono, o fundador da Saint Paul Escola de Negócios (@saintpaulescolanegocios), que já formou cerca de 500 mil alunos e acaba de firmar uma parceria com a Exame, fala sobre liderança, reviravoltas e princípios inegociáveis.

DESAFIOS “O momento mais complicado da minha vida ocorreu no segundo ano do ensino médio, quando repeti. Por estar dentro de uma família de educadores, foi extremamente difícil. No final da década de 1990, descobri minha veia empreendedora e tive a oportunidade de criar um dos primeiros sites do Brasil. Foram vários projetos pioneiros que me fizeram aprender a lidar com tecnologia, empreendedorismo, finanças e vendas.”

LIÇÕES “Na minha trajetória como empreendedor, sempre me pautei por alguns princípios que considero inegociáveis. Um deles é trabalhar com pessoas boas e boas pessoas. De um lado, estar cercado de profissionais competentes, capazes de entregar resultados e servir de referência. Do outro, significa estar ao lado de pessoas corretas, generosas, com quem eu tenha prazer em conviver e colaborar.”

NOVOS LÍDERES “O mundo tem passado por transformações que desafiam todos os níveis de liderança. A questão atual é abandonar o modelo verticalizado, marcado pela rigidez hierárquica, pela baixa inovação e pela colaboração limitada. O movimento necessário é em direção a modelos mais horizontais e humanos. Hoje, a motivação nasce da qualidade das relações: da quebra

de preconceitos, do respeito, da admiração e da confiança. O papel da liderança é transformar um elenco de indivíduos talentosos em um verdadeiro time.”

DNA EMPREENDEDOR “Para um empreendedor, é fundamental ter alta capacidade de aprendizado e vontade de fazer. Errar, ajustar e recalcular fazem parte do processo, mas é essencial transformar o erro em aprendizado. Já a vontade de fazer está ligada à perseverança e à resiliência. A verdadeira vontade de realizar mantém o espírito vivo até alcançar o sucesso.”

PRINCÍPIOS “Tenho a convicção de que o mercado o trata da mesma forma que você o faz, o que exige ética, humanidade e transparência. Também procuro enxergar o potencial de cada pessoa e trabalhar junto com ela para que isso seja colocado em prática.”

INCLUSÃO “A educação, em um país como o Brasil, precisa ser inclusiva. Há quase dez anos criamos a primeira plataforma de educação executiva por assinatura do Brasil, a um custo de apenas 99 reais por mês. Também investimos em bolsas de estudo – parciais e integrais. Só em 2024 concedemos mais de 4 milhões de reais em bolsas, contemplando desde estagiários até CEOs.”

LEGADO “A entrada da Saint Paul na Exame contribui de forma decisiva para ampliar e potencializar seu alcance. Formamos cerca de 500 mil alunos em 20 anos e, agora, a ideia é alcançar 5 milhões de pessoas. Levar educação de qualidade a uma parcela significativa da população brasileira permitirá deixar um legado único na história da educação. Informar e formar passam a ser a grande missão da Exame/Saint Paul, que une excelência editorial com qualidade educacional.”

NA BALANÇA “Acordo por volta das 4h45, leio entre três e quatro jornais e saio para praticar esportes – sou corredor maratonista. Volto e tomo café com meus filhos. Nos fins de semana, busco equilibrar esportes, tempo com a família, viagens e música. Toco guitarra, adoro música eletrônica e, eventualmente, assumo as pick-ups.”

1

Cantoria italiana

Música sempre fez parte da nossa família. Minha mãe e avó são muito musicais. Aprendi a tocar violão para acompanhar as canções italianas dos nossos almoços no sítio. O instrumento, comprado das mãos do Sr. Gianini, um querido cliente, guarda a lembrança de quando enviei minha primeira gravação tocando e recebi dele um áudio emocionante em resposta.

Olhar de Tradição

Sou a terceira geração de óticos à frente da @oticaventura. Cresci encantado com cada detalhe técnico de um óculos e hoje desenho coleções próprias com acetatos italianos. Nossa história foi sempre focada na moda, no design, na qualidade e no artesanal. Esse ano, levo essa herança familiar e criativa para Paris, onde exponho minha nova coleção.

MEU ESTILO

FELIPE VENTURA

DESIGNER E EMPRESÁRIO

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Som de Vitrola

Comprei essa vitrola retrô em Nova York e garimpei alguns discos na Amoeba de Los Angeles. Virou meu ritual: chegar em casa, preparar um negroni e colocar Sinatra ou Ray Conniff para rodar. Um elo entre gerações, já que muitos LPs foram presente da minha avó.

Fotos João Bertholini

O Menino do Cofrinho

Desde cedo aprendi com meus pais o valor da solidariedade. Aos 8 anos, levei meu primeiro cofrinho ao SBT, no Teleton, em apoio à AACD. A iniciativa cresceu e se transformou na “Corrente do Bem”, espalhando cofrinhos pelo Brasil e arrecadando milhões em moedas para a instituição. Durante 25 anos, fui recebido por Silvio Santos e Hebe Camargo, que me apelidaram de Menino do Cofrinho –símbolo de uma ação que uniu o Brasil em torno da inclusão. O projeto foi reconhecido com o Prêmio Marketing Best de Responsabilidade Social. Na época presidente, o Eduardo Carneiro, pai da querida Lili Carneiro, me deu esse troféu que guardo até hoje. E na biografia do Silvio, fui citado com muito carinho ao lembrarem de momentos históricos que vivemos juntos.

Livros que moldam

De Dom Casmurro a Game of Thrones, da biografia de Beethoven à Anna Karenina de Tolstói, os livros sempre foram um combustível para minha imaginação. Desde pequeno leio um atrás do outro. Encontro neles uma fonte de cultura, de aprimoração da escrita, de exercitar a criatividade. Os últimos que li foram da trilogia O Século, de Ken Follet, um romance histórico que narra os principais eventos do século 20, desde a primeira guerra mundial até o fim da Guerra Fria. Nota 10!

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Lenços pelo Mundo

Em cada viagem que vou volto com um lenço de bolso. Toscana, Marrakech, Paris... seda, linho, algodão. Mais que acessórios, eles são uma assinatura de estilo e um jeito discreto de carregar lembranças de um lugar ou de um momento.

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Brinde em família

Relaxar com um drink no meu loft tem um sabor especial. As taças que eu uso carregam muitas histórias: algumas foram herdadas do jogo de casamento da minha avó, outras do da minha mãe. Cada gole é um brinde à memória da família e às conversas que já passaram por essas taças. Família, para mim, é algo essencial.

5

Sol no loft

Conheci a luminária Sol, desenhada pelo MNMA Studio, na DW São Paulo, e foi amor à primeira vista. É o primeiro objeto que comprei para minha casa. Uma peça premiada pelo IF Design Award, que virou quase um reflexo do meu jeito de ser.

Visão geral da mais recente exposição de Deco (@decoadjiman), realizada na Galeria Luis Maluf
Pintura feita com elementos da Chapada Diamantina – a cor de cada fundo é extraída da respectiva pedra
Obra de investigação das diferentes colorações da terra

Ao caminhar em busca de objetos esquecidos, Deco Adjiman encontra a beleza e a sensibilidade que precisa para criar obras carregadas de significado

Deco Adjiman

Ao entrar na individual do artista Deco Adjiman na Galeria Luis Maluf, você se sente aterrado. A sensação de pés descalços amaciando e sendo amaciados pelo chão é latente e está relacionada a vários fatores: um pouco pelos tons terrosos no espaço, outro tanto pela natureza coletada ao longo de anos e exibida ali, mas também porque a vida se faz presente de maneira muito real na exposição. O nome da mostra, que saiu de cartaz no final de setembro, também contribuiu: “Chão é Outra Palavra Para Voo”. Mas a verdade é que o fato de Deco, 46 anos, ter virado artista já adulto, faz seu trabalho ter presença. Foi em 2013, já nos 30+, que ele chamou a atenção da galerista Maria Montero, na ocasião prestes a abrir a Sé Galeria. Deco tinha desenvolvido uma caixa de memórias com lembranças resgatadas em forma de poesia e objetos especiais para Isabel Pimenta, sua namorada, e hoje esposa. “Fiquei artista de repente e fiz minha primeira exposição logo na sequência do Dalton Paula, imagina. A Maria pegou minhas coisas, colocou na galeria e falou: ‘monta’”. Até então, Deco, formado em publicidade pela FAAP, trabalhava na confecção da família – mas já coletava coisas. “Não gosto da palavra ‘instinto’, mas faz sentido porque sempre me interessei pelos objetos simples: um galho, uma chave sem porta, uma moeda encontrada no fundo de uma gaveta. Pegava e guardava tudo nesse meu atelier”, conta. Hoje, seu trabalho é justamente transformar o ordinário em sagrado. A outra paixão, a literatura, também está presente, e é dela que vem o termo que ele usa para explicar esse seu gosto pelo que ninguém vê beleza. João Guimarães Rosa, seu escritor preferido, chamava isso de “quisquilhas da natureza”. “Ele usava para descrever essas coisinhas que tiramos do contexto de abandono e transformamos em sagrado”.

O movimento vem pautando o olhar de Deco desde sempre: nas brincadeiras no quintal quando criança, nas caminhadas mundo afora na juventude, nos passeios com os filhos [Deco é pai de Joana, 7 anos, e Francisco, 3] nas praças de São Paulo e atualmente nas jornadas de dias a pé como forma de pesquisa e inspiração. “Faço pelo menos uma viagem sozinho anualmente para andar e nelas tenho meu processo de coleta: escolho, imagino e recolho com base no impacto local e também no peso da mochila”, conta. Recentemente, visitou o Parque Nacional do Itatiaia, no Rio de Janeiro, e a Chapada da Diamantina, na Bahia. “Tem item que recolho e convivo por dez anos até virar algo. É um processo”. Suas andanças também já contemplaram o caminho do sertão, no Noroeste de Minas Gerais. “Mexeu muito comigo refazer os passos que Guimarães Rosa deu para escrever Grande Sertão: Veredas.” Desse caminhar Deco vai construindo o seu sagrado particular. Filho de família judaica, ele não é ligado a nenhuma religião, mas cultiva uma gama de crenças. Entre elas está o poder das invenções e até o fazer com as mãos. “Meu avô era escultor. Acho que herdei dele esse jeito mais imediato do fazer artístico.”

Para além da família e de suas obras, Deco cuida da parte da marcenaria do atelier da sogra, Lilian Pimenta, e procura fazer deslocamentos literários – troca cartas, trechos de livros e poesias e busca sempre aquela anotação esquecida com o tempo em obras garimpadas. “Algumas pessoas disseram ver um desenvolvimento no trabalho dessa exposição. Nunca sei se é um elogio ou uma crítica ao passado, mas entendo que fui ganhando recursos”, diz. Essa foi a primeira vez, por exemplo, que Deco trabalhou com tingimentos a partir de pedras coletadas na Bahia. Pode-se dizer que esse caminho de transformação é uma busca pelo silêncio, interno e externo. Entre seus sonhos está morar em um lugar com mais tranquilidade e contato com a natureza. Por enquanto o artista se contenta (e se contempla) com as tais andanças e seus momentos de meditação em movimento. “Tenho atingido mais isso nas caminhadas do que quando medito. É muito potente andar na ausência do pensamento.” Que Deco siga nessa estrada, nos mostrando sua forma poética de traduzir o mundo.

TUDO NOVO DE NOVO

Geneticista francês à frente do Instituto Serrapilheira, organização dedicada a fomentar a ciência no Brasil, Hugo Aguilaniu reflete sobre a necessidade de sair da zona de conforto para envelhecer bem

Por Nataly Cabanas

O cientista francês Hugo Aguilaniu tinha voltado há pouco de uma viagem ao Japão e ainda se recuperava do jet-lag quando topou conversar com a Carbono. Há quase dez anos, outra viagem foi responsável por fazê-lo trocar uma bem-sucedida carreira na França pelo Brasil, para comandar o Instituto Serrapilheira, instituição sem fins lucrativos da família Moreira Salles, dedicada a fomentar a ciência no País.

Geneticista, graduado em Biologia, Hugo é doutor pela Universidade de Gothenburg (Suécia), tem pós-doutorado pelo Instituto Salk de Estudos Biológicos (EUA) e é vinculado ao Conselho Nacional de Pesquisa Científica da França. À frente do Instituto, destaca-se pelo conselho que dá aos novos cientistas: arriscar-se em perguntas ousadas, capazes de torná-los agentes de transformação.

Do currículo robusto, faltou mencionar que, por 20 anos, dedicou-se ao estudo do envelhecimento. Contra delírios humanos que flertam com a imortalidade, gosta de nos provocar com argumentos que pega emprestados da biologia, nos alertando para o “sentido do todo”. Considera sorte ter vindo parar no Brasil e um privilégio ver o País mexendo em suas estruturas para redesenhar-se como uma nação menos desigual. Adora a palavra desapego, mas nem tanto brigadeiro (que considera “um absurdo alimentar”). Abusa de adjetivos como ‘fascinante’, que dão a medida da intensidade com a qual enxerga a vida. E se existe algum segredo para envelhecer bem, ele está em manter acesa a capacidade de descobrir coisas novas. A seguir, nosso bate-papo sobre biotecnologia, ciência e a descoberta de coisas bonitas.

Carbono Uomo

Antes de vir trabalhar no Brasil, qual era a sua expectativa? E o que encontrou?

Hugo Aguilaniu

Eu colaborava com grupos em São Paulo e passava um mês por ano na USP. Então conhecia um pouco a ciência feita aqui. Encontrei no Serrapilheira gente realmente séria, mas quando eu comecei a viajar pelo Brasil, percebi que a USP não me dava uma boa leitura, já que a ciência não se concentra só em São Paulo e no Rio. Tem gente muito incrível por aí, mas em condições precárias. E eu me perguntei se dar dinheiro aos cientistas poderia mudar as coisas. Hoje eu acho que estamos conseguindo graças a tudo o que fazemos além dos recursos: formar uma rede de contato, integrar cientistas para oferecer a eles um mundo maior. E confiança. Isso já faz muita diferença.

Carbono Uomo

E em que pé anda a ciência brasileira?

Hugo Aguilaniu

A ciência não é valorizada da forma como deveria. Temos cientistas excelentes, criativos, mas muitas vezes criativos por conta das condições difíceis. É uma pena porque o Brasil não é um país pobre, faz parte dos vinte mais ricos do mundo. São prioridades. Por aqui investe-se muito em coisas básicas, mas o Brasil é tão rico que conseguiria fazer isso e também investir na ciência de ponta. Eu estou adorando a experiência de conhecer cientistas brasileiros, mas sinto as consequências da desigualdade. Se estatisticamente queremos ter pessoas boas, é uma loucura desprezar metade da sua população porque ela é negra. Ignorar metade do seu potencial humano, a coisa mais preciosa que temos. Mas sinto que o País está evoluindo e sou privilegiado de viver essa transição. O Brasil está se autoanalisando, o que eu considero um processo impressionante. Isso não acontece na Europa. Eu espero que mude também a mentalidade brasileira de sempre se achar menos e querer ser outro. O Brasil está na frente em muitas coisas.

Carbono Uomo

E quais seriam elas?

Hugo Aguilaniu

Do lado científico, por exemplo, a capacidade de abraçar a questão da biodiversidade, de estudar os serviços ecossistêmicos em ambientes tropicais. Nesse manejo específico da ecologia tropical, no estudo

“Quando você faz uma pergunta científica e existem vários motivos para justificá-la, o motivo mais profundo é: porque você quer descobrir uma coisa bonita”

do recurso da água e da segurança alimentar, o Brasil está muito à frente. E são só alguns exemplos.

Carbono Uomo

Os editais do Instituto são famosos por serem muito concorridos. O que é preciso ter para encantá-los?

Hugo Aguilaniu

A gente procura certa ousadia. Pessoas que façam perguntas que não são fáceis. E que sejam um pouco fora da caixa mesmo. Porque o sistema de fomento à ciência no Brasil, baseado na produção de artigos, faz com que o cientista perca a capacidade de ousar – é muito arriscado para ele fazer uma pergunta cuja resposta vai levar dez anos para encontrar. O Serrapilheira é o lugar que lhe dá essa oportunidade. E, se der errado, não tem problema. Nosso papel é justamente dizer: “vai e ousa”. Tem uma palavra que eu adoro em português, o termo desapego. É preciso se desapegar das coisas que lhe dão segurança. E o que os outros vão pensar? Não importa. E se fracassar, tudo bem.

Carbono Uomo

Quais os desafios da divulgação científica hoje?

Hugo Aguilaniu

Furar a bolha. Todo mundo gosta de ciência, mas as pessoas não consomem o assunto, não faz parte da vida delas. Então é preciso encontrar maneiras de chegar até elas. A ciência sozinha não gera entusiasmo, mas, quando associada com outros temas, sim. Isso é o que temos feito. Agora, as pessoas gostam mesmo é do cientificamente comprovado. Compram uma cama só porque ela é cientificamente comprovada. Os brasileiros adoram comprar a tal cama da NASA, sendo que no espaço não se usa cama. A NASA é a empresa que menos precisa de cama.

Carbono Uomo

No seu TED, você traça um paralelo entre arte e ciência. Assim como o artista, você diz que o cientista tem a

“Viver mais é o resultado de um desejo nosso, mas é um fenômeno egoísta, no sentido de que é só para nós. Não é para o bem-estar do planeta, nem dos nossos filhos. Estamos controlando nossa própria evolução”

capacidade de capturar coisas bonitas. E que a ciência tem muito de intuição.

Hugo Aguilaniu

As pessoas pensam a ciência como algo matemático, da escola. Porém, a pesquisa científica é uma atividade que pretende descobrir coisas novas. E para isso não podemos contar com o conhecimento prévio. Você sabe o que existe, mas em algum momento, chega ao limite. E esse momento é parecido com uma produção artística porque você se joga e não tem ninguém lhe dizendo o caminho. As grandes descobertas científicas vêm de pessoas que mergulham em uma pergunta para a qual elas não têm resposta. Na criação artística é parecido: você não tem nada, só uma intuição. Ao fazer uma boa pergunta científica, você precisa da sua intuição e precisa chutar.

Carbono Uomo

E pode errar…

Hugo Aguilaniu

90% das vezes, você chuta e o experimento lhe diz não. O cientista precisa aguentar a frustração além do normal. Não é chutar na linha “o Flamengo vai ganhar, assim como nos últimos 11 jogos”. É um time que você nunca ouviu falar jogando contra alguém que você não conhece. A chance de fracasso do chute é grande. E tem outra coisa: quando você faz uma pergunta científica e existem vários motivos para justificá-la, o motivo mais profundo é: porque você quer descobrir uma coisa bonita. Posso estar errado, mas o que motiva um jovem pesquisador no laboratório, buscando a cura do câncer, é ver um negócio bonito acontecer. Na ciência, existe esse lado da estética do pensamento. No sentido de algo que provoca. Se não, por que tudo isso? Por que a arte é tão importante? Porque ela mexe com a gente. Com a ciência, não é nada diferente.

Carbono Uomo

Você trabalhou 20 anos com envelhecimento. O que lhe encantou nessa área?

Hugo Aguilaniu

O mistério. O envelhecimento biológico é diferente do físico, do estrago. Se você deixar uma máquina esquecida, ela vai estragar com o tempo. Isso é entropia, um fenômeno molecular que faz com que as coisas se deteriorem. Na biologia, o que acontece?

Existe um lugar que é quente e bagunçado, mas que consegue manter certa ordem. Porque funciona. O ser vivo funciona. Um ser biológico consegue lutar contra o crescimento da bagunça inevitável, então por que ele começa a envelhecer e a ficar desordenado de novo? O envelhecimento é só o momento em que essa ordem acaba. As pessoas o associam ao estrago: acham que é como um carro. Mas a vida tem isso de se ordenar e lutar contra a entropia. Ninguém sabe como, mas acontece. Eu acho fascinante pensar nos motivos para que isso acabe de repente.

Carbono Uomo

Sabemos fazer novos começos, mas não para nós...

Hugo Aguilaniu

Uma coisa é envelhecer, outra é reverter esse processo. A gente faz isso quando se reproduz. Ao fazer o seu filho, você guardou a sua velhice e deu a ele o potencial de juventude, isso molecularmente. As proteínas que estavam mais ou menos, ficaram com você. A célula sabe que não pode herdar o lixo acumulado ou vai nascer velha. A pergunta é: como nascer jovem? Se conseguimos entender o que reter em nós para ter um filho, sabemos quais fatores nos fazem envelhecer. Se eu entendo quais pontos geram o envelhecimento, eu posso pensar em diminuir o tamanho desses elementos. Aí pode ser que eu estenda a sua vida. Tudo é conectado, entende?

Carbono Uomo

Na gravidez os filhos já começam sequestrando o que temos de melhor (risos).

Hugo Aguilaniu

É um processo muito intenso. A transmissão na nossa espécie é por intermédio da mãe. Ela faz um

sacrifício biológico. Dá o que tem de melhor e retém o que não é bom. E na educação, de certa forma, também. Nós nos esforçamos ao máximo para que os filhos herdem todas as ideias que consideramos bonitas. E guardamos tudo o que não presta. É uma coisa que se passa molecularmente, mas que simboliza bem o que é ter filho.

Carbono Uomo

E nossa expectativa de vida aumentou muito, né?

Hugo Aguilaniu

É interessante ver que o que aconteceu na longevidade não ocorreu na reprodução. Biologicamente, o que mais importa não é o quanto você vai viver, mas quantos filhos vai ter. Gerou uma vida, cumpriu sua missão. Em algumas espécies, os indivíduos têm o filho e morrem. Nós contamos com peculiaridades como a educação. Mas considera-se que, aos oito anos, o ser humano se torna autônomo. É por isso que a nossa utilidade biológica vai até sete anos depois do nascimento de um filho. Depois é extra time. Estou falando biologicamente e sendo intencionalmente provocador, tá? Por que as pessoas querem viver mais? Tem alguma vantagem? Não. A reprodução é o que conta, o resto é irrelevante. Viver mais é o resultado de um desejo nosso, mas é um fenômeno egoísta, no sentido de que é só para nós. Não é para o bem-estar do planeta, nem dos nossos filhos. Estamos controlando nossa própria evolução.

Carbono Uomo

Recentemente, vazou uma conversa entre Putin, Xi Jinping e Kim Jong-un sobre transplante de órgãos e a normalidade de viver até os 150 anos.

Hugo Aguilaniu

Eu acho mórbido, mas existe essa vontade de querer estar aqui forever. É um sintoma de perder o sentido do todo. Nosso sentido é ter filhos, educá-los da melhor forma possível e dar a eles as melhores chances. É por isso que a gente existe. Quer viver mais para poder aproveitar os filhos? Legal. Mas isso já é querer perdurar de um jeito delirante. Voltando um pouco ao básico, é o medo da morte.

Carbono Uomo

Hoje, fala-se muito sobre as blue zones, as regiões onde as pessoas passam dos 100 anos. O que a ciência sabe sobre elas?

Hugo Aguilaniu

Não é nada de outro mundo. Exercício, comer pouco e bem. No Japão, por exemplo, come-se pouco e

a dieta é muito rica em peixe. E são pessoas ativas. Não tem obesidade. O Brasil está mal nesse sentido. Mas o que fez com que a gente dobrasse a nossa expectativa de vida foi o progresso da medicina. Só.

Carbono Uomo

Tem a ver com os tais genes protetores?

Hugo Aguilaniu

Tem, mas o que fará você viver 105 anos, ao invés de 93, são os hábitos. Quem tiver hábitos péssimos e genes protetores incríveis vai morrer cedo. E o contrário também. Os japoneses, por exemplo, nunca saem empanturrados de uma refeição. Eles têm uma boa percepção da saciedade. Sabem o que é suficiente, não precisam de mais. E nisso as pessoas se perdem. Ah, e exercício físico – mas sem ser excessivo. Correr 20 km por dia é ruim. Nenhuma loucura é boa. O equilíbrio é que é bom. Parece clichê, mas é verdade.

Carbono Uomo

O simples soa como pouco hoje, será?

Hugo Aguilaniu

Sim. Eu sempre falo sobre isso com a minha filha [Hugo é casado com uma brasileira e tem uma menina franco-brasileira]. No Brasil, existe um incentivo enorme para que comamos coisas superdoces. Então eu digo: “concentre-se no que você sente. Quando se come um brigadeiro, é um prazer enorme. Mas quando se come sete, não”. Pode comer seu brigadeiro – que, para mim, é um absurdo alimentar, mas eu entendo que é cultural. Podemos comer qualquer coisa se soubermos ler nosso corpo. Mas, se não houver essa clareza, você ficará na prisão a vida toda. As pessoas aqui contam proteína. É uma loucura. Não existe um segredo. É se desconectar da sensação de saciedade, isso sim é um problema.

Carbono Uomo

O que é envelhecer bem, para você, Hugo?

Hugo Aguilaniu

Manter a saúde física, ajudar o corpo a perder suas capacidades de uma maneira mais lenta; se cuidar para se sentir bem no próprio corpo. Mas o maior sinal de envelhecer bem é quando você consegue iniciar novas atividades, fazer amizades e ter a capacidade de se engajar em projetos novos. Ao envelhecermos, surge essa tendência de se fechar. O que é ruim. Envelhecer bem é conseguir manter um grande grau de abertura tanto no corpo quanto na mente.

ACELERA!

O interesse pela Fórmula 1 cresce no mundo todo, mas, por aqui, há um motivo especial para vibrar neste ano: Gabriel Bortoleto, que representa o País, após oito anos sem um brasileiro nas pistas. Inspirados na boa fase, elaboramos um almanaque com curiosidades, dicas e histórias sobre o esporte

Não importa a idade, todo mundo sabe a importância de Ayrton Senna. Já transcorreram 31 anos desde sua trágica morte e ele continua gigante. Como um dos maiores gênios do automobilismo, o piloto fez com que o brasileiro se interessasse mais pela Fórmula 1. Aliás, não só seus conterrâneos, mas o mundo todo, em um movimento que não parou de crescer.

Segundo dados oficiais da organização da Fórmula 1, as primeiras 14 corridas deste ano atraíram 3,9 milhões de pessoas aos Grandes Prêmios (GPs), um crescimento de 50% quando comparado a 2018. É um público que se encanta, entre outros pontos, pela velocidade acima dos 300 km/h, pelas ultrapassagens e pela engenharia dos carros. E pelos pilotos, que também se apaixonam pelo esporte. “A Fórmula 1 é um sonho. Guiar o carro mais incrível do

mundo, com a equipe mais fantástica e com as pessoas lhe acompanhando foi a realização desse sonho”, diz Felipe Massa, ex-piloto da F1, que viveu seu auge na Ferrari e hoje compete na Stock Car Pro Series pela equipe TMG Racing.

Por aqui, depois de pilotos como Senna, Rubens Barrichello e Felipe Massa, o nome da vez é o do osasquense Gabriel Bortoleto. Em novembro do ano passado, pouco depois de completar 20 anos, ele foi anunciado como novo membro titular da equipe Sauber, para correr ao lado do veterano Nico Hülkenberg. A posição não era ocupada por nenhum brasileiro desde 2017, quando Massa se despediu da F1.

A torcida brasileira já vibra, e, segundo seu preparador técnico, Sérgio Silva, não é para menos. “O Gabriel vai ser campeão do mundo, pode escrever”, afirma o profissional.

UM BRINDE!

Sabe aquela tradição entre os pilotos vencedores de sacudir a garrafa de champagne, molhando todos que estão em volta? O gesto foi eternizado por Dan Gurney por acaso, em 1967, quando ele comemorava o Grande Prêmio da França. Um ano antes, em Le Mans, o piloto Jo Siffert já tinha feito algo parecido porque o calor fez a rolha pular de sua mão. Tim-tim!

EM INTERLAGOS

O último GP de São Paulo, realizado em 2024, foi grandioso. Veja os números – dados retirados do Observatório de Turismo e Eventos da SPTuris com apoio da FGV

R$ 1,96 BILHÃO foi o impacto econômico do evento para a capital

291 MIL pessoas aproximadamente foram ao evento

203 MIL eram de fora da capital

107,3 MIL eram mulheres

20 MIL profissionais trabalharam no GP

GLOSSÁRIO

COCK O QUÊ?

Já ouviu falar em cockpit, pit lane e pit stop? Confira um miniglossário da Fórmula 1

COCKPIT

O local onde o piloto se acomoda no interior do veículo.

GAP

A diferença de tempo entre um carro e o que está em primeiro lugar.

GRID DE LARGADA

A fila organizada dos carros na hora da largada.

LIFT AND COAST

Técnica em que o piloto desacelera para poupar combustível e preservar os pneus.

PACE

O ritmo em que o veículo corre.

PIT LANE

Onde as equipes realizam a manutenção dos carros durante a corrida.

PIT STOP

A parada no box para trocar pneus e fazer ajustes necessários.

POLE POSITION

O primeiro colocado no grid de largada.

SAFETY CAR

Em português, carro de segurança; é o veículo que entra na pista para controlar a velocidade em caso de acidente.

OUTRAS FÓRMULAS

A F1 é a principal, mas sabia que existem também as Fórmulas 2, 3, 4 e E, todas credenciadas pela Federação Internacional do Automobilismo (FIA)? Conheça cada uma delas

FÓRMULA 2

Último passo para o piloto antes da F1, tem como objetivo formar os profissionais. É uma categoria monomarca. Ou seja, todos os pilotos utilizam carros da mesma montadora e motores com a mesma potência.

FÓRMULA 4

São carros mais simples, menores e de custos mais baixos, permitindo que a categoria seja o nível de entrada no automobilismo. É onde os pilotos aprendem as bases do esporte.

FÓRMULA 3

É a transição da 4 para a 2, com carros menores e mais lentos que os desta última. Recentemente, o brasileiro Rafael Câmara sagrou-se campeão mundial da categoria.

FÓRMULA E

Criada em 2014, é a única categoria do automobilismo 100% elétrica. Entre seus pilares estão a questão ecológica, minimizando o impacto ambiental, e a excelência, que mostra a inovação em sustentabilidade. A 1ª edição no Brasil foi em 2023 e, em dezembro, haverá uma nova corrida, no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo.

PREPARAR... VAI!

Sérgio Silva, preparador físico de Gabriel Bortoleto, brasileiro que se tornou membro titular da Sauber há pouco, fala sobre seu trabalho

Gabriel Bortoleto em ação: após oito anos, um brasileiro volta a representar o País na categoria

Carbono Uomo

Quais as principais diferenças do preparo físico de pilotos da F1 e atletas de esportes mais tradicionais, como futebol?

Sérgio Silva

O piloto da F1 tem seu trabalho no simulador. Depois que o Gabriel termina o treino muscular, é normal ele ficar até oito horas no simulador. E também no shifter, um kart rápido em que ele treina troca de marcha. Isso ajuda o piloto a condicionar seu corpo e o tempo de reação. E, no treino muscular, trabalhamos muito o pescoço, a lombar, o ombro. São exercícios para o corpo poder entender a posição exigida pelo cockpit

Carbono Uomo

Há quem não entenda por que os pilotos precisam de preparo físico, uma vez que ficam sentados durante as provas. Por que é importante?

Sérgio Silva

Em alguns meses, o piloto viaja toda semana, e fica em fusos horários diferentes. Existe o stress por não dormir o tempo necessário. Ele precisa se cuidar, se alimentar bem.

“É normal o Gabriel terminar o treino muscular e ficar até oito horas no simulador”

Tem que estar em uma pista e acelerar a mais de 300 km/h, disputar posição, fazer frenagens bruscas… Tudo isso sentado em uma posição anatomicamente não natural. Então, ele precisa estar preparado para suportar tudo.

Carbono Uomo

Como é uma semana típica de treinos do Gabriel durante os GPs?

Sérgio Silva

Há um trabalho forte de suplementação, hidratação e alimentação com a equipe da Sauber. E os treinos físicos são bem variados, mas com pouca carga. A gente foca muito no simulador e o trabalho de pescoço é constante. E tem a parte da liberação muscular. Pensamos em tudo para aliviar o stress e deixá-lo mais confortável.

O QUE FICA

Felipe Massa, um dos maiores corredores de F-1 do Brasil, que atualmente atua na Stock Car Pro Series pela equipe TMG Racing e é sócio dos restaurantes Beefbar e Song Qi, fala sobre as lições que o esporte lhe ensinou

1

“Trabalhar sob pressão. Da equipe, de você mesmo, de um país, de patrocinadores… É pressão de todos os lados. Se você não tiver uma cabeça boa, não consegue seguir o seu caminho na Fórmula 1.”

2

“Dar valor para muitas coisas. Para o trabalho, para patrocinadores que acreditam em você, por representar o Brasil. É uma realização você trabalhar para liderar seu país. Uma lição muito incrível do esporte.”

3

“Trabalhar em equipe. Saber que cada pessoa que está ali é diferente da outra. Estão todas buscando o mesmo resultado e é você quem conduz o trabalho. Então você tem que dar valor para toda a equipe.”

4

“Ter a chance de conhecer muitos países e culturas diferentes. Foi algo muito importante para mim.”

BANDEIRA BRANCA, AMOR?

A bandeirinha quadriculada a gente conhece bem, mas e as outras? Veja o que cada uma significa

BRANCA : Há um piloto mais lento à frente.

VERDE : A pista está liberada.

AMARELA : Há perigo na pista.

VERMELHA : Pare, provavelmente houve um acidente.

AZUL : Você que está mais lento, deixe o carro mais rápido lhe ultrapassar.

PRETA COM CÍRCULO LARANJA : Problema mecânico, volte ao pit CÓDIGO 60: Não ultrapasse o limite de 60 km/h.

PRETA E BRANCA NA DIAGONAL : Você infringiu as normas e está sendo advertido.

PRETA : Você está desclassificado.

QUADRICULADA PRETA E BRANCA : Sinaliza o fim da corrida, da qualificação ou do treino. 60

LISTRADA AMARELA E VERMELHA : Trecho com queda de aderência por conta de água ou óleo na pista.

ERA PARA SER

Um papo com Carlo Gancia, representante da Indy no Brasil, filho do casal pioneiro do automobilismo no País e autor de Lulla e Piero Gancia – no Grande Prêmio da vida

Carbono Uomo

Como surgiu a paixão pelo automobilismo?

Carlo Gancia

Eu vivia com uma família de loucos, graças a Deus. Meu pai começou a correr tarde, aos 39 anos, mas sempre foi um apaixonado pelo esporte e se tornou o primeiro campeão brasileiro de automobilismo. Minha mãe inicialmente não gostava, mas, depois de dar uma volta em Interlagos, se encantou.

Carbono Uomo

O senhor conheceu ou conhece todos os grandes pilotos. Como foi com Ayrton Senna?

Carlo Gancia

Ele corria no kartódromo de Interlagos, que ajudei a desenhar. Na primeira vez em que o vi, em 1972, ele tinha 12 anos e estava treinando

durante a semana, nas férias de julho. E deu para perceber na hora que era um gênio. Cronometrei uma curva, vi que ele corria muito rapidamente e fui lá conversar. Depois, o vi transformar-se em um gigante.

Carbono Uomo

Como era o ambiente das corridas nos anos 1970?

Carlo Gancia

As figuras eram variadas: do magnata ao estudante, passando por alguém que vendia tudo para correr com um fusca emprestado. A competição era intensa em todas as categorias, cada um buscando se destacar por um lugar em equipes de ponta. Na pista, que vença o melhor! Fora dela, lealdade e bom humor. Foi a geração de ouro do automobilismo nacional, a que conquistou o mundo.

PARA SE ESQUECER

Alguns dos piores acidentes fatais que, graças à ampliação da segurança, passaram a ser menos frequentes

1. AYRTON SENNA , NA ITÁLIA (1994)

Para nós, brasileiros, esse foi, de longe, o pior. Senna dirigia na pista de Imola, no GP de San Marino, quando bateu a uma velocidade de mais de 230 km/h na curva Tamburello. O que torna a situação mais trágica ainda é que Senna estava preocupado com a segurança da prova: dias antes, Rubinho Barrichello sofreu um grave acidente e o austríaco Roland Ratzenberger morreu durante os treinos. Tantos ocorridos na mesma competição serviram como um catalisador, forçando a Fórmula 1 a iniciar uma revolução na segurança. Entre as mudanças, pistas consideradas perigosas foram alteradas e as áreas de escape foram ampliadas. Com isso, o número de acidentes diminuiu consideravelmente.

2. GILLES VILLENEUVE , TREINO DO GP DA BÉLGICA (1982)

3. FRANÇOIS CEVERT , GP DE WATKINS GLEN, NOS ESTADOS UNIDOS (1973)

4. WOLFGANG VON TRIPS , MONZA, NA ITÁLIA (1961)

PIT STOP

Que tal se jogar no sofá e assistir a um filme ou ler um livro sobre Fórmula 1? Prepare o coração. As doses de adrenalina são altas

LEWIS HAMILTON: A BIOGRAFIA (2025)

Escrito por Frank Worrall, o livro conta a história do piloto que, com sete títulos mundiais, bateu todos os recordes. Lançado neste ano, inclui a polêmica troca do piloto da Mercedes para a Ferrari, onde está atualmente.

GENTE PEQUENA, GRANDES SONHOS:

LEWIS HAMILTON (2024)

Para o público infantil, o livro é uma biografia ilustrada do piloto inglês, que desde garoto assistia às corridas de F1 com o pai. Integra uma série de títulos sobre adultos de sucesso que um dia foram crianças sonhadoras.

AYRTON SENNA: UMA LENDA A TODA VELOCIDADE (2009)

Para os fãs de Senna, o livro inclui 13 envelopes com réplicas de cartas escritas à mão, agendas de corridas, adesivos de escuderia autografados, entre outros itens especiais. Organizado por Christopher Hilton.

GENTE PEQUENA, GRANDES SONHOS:

AYRTON SENNA (2021)

Da mesma série do livro de Hamilton, este é sobre um dos maiores ídolos do esporte brasileiro. Mostra Senna ainda pequeno, quando, mesmo sem saber que seria um campeão, era levado para andar de kart por seu pai.

LULLA & PIERO GANCIA – NO GRANDE PRÊMIO DA VIDA (2022)

Carlo Gancia conta a história de seus pais, Lulla e Piero. Apaixonados por automobilismo, eles foram fundamentais para transformar São Paulo em um dos principais destinos da Fórmula 1. Entre as curiosidades, o autor conta que Lulla viajou a Monza para aprender sobre a construção de uma pista em uma das reformas de Interlagos.

Rodrigo Guimarães, Unsplash
divulgação; ilustrações
Mona Conectada

F1: O FILME (2025)

Dirigido por Joseph Kosinski e estrelado por Brad Pitt, conta a história de um piloto que volta às pistas três décadas depois de abandoná-las por ter sofrido um grave acidente. O objetivo é salvar uma equipe que não está indo muito bem nos campeonatos.

GRAND PRIX (1966)

Vencedora do Oscar nas categorias de melhor montagem, melhor edição de som e melhor mixagem de som, foi uma obra inovadora ao utilizar câmeras acopladas aos carros. Dirigido por John Frankenheimer, o filme narra uma história fictícia de quatro pilotos de Fórmula 1, mas há aparições de atletas verdadeiros, como Phil Hill e Jim Clark.

SCHUMACHER (2021)

O documentário mergulha na vida de Michael Schumacher, um dos grandes pilotos da F1. Exibe entrevistas exclusivas e imagens de um dos grandes pilotos, que teve a carreira interrompida após um acidente na neve.

RUSH – NO LIMITE DA EMOÇÃO (2013)

Baseado em fatos reais, traz os atores Chris Hemsworth e Daniel Brühl mostrando a rivalidade entre os pilotos James Hunt, mais despojado, e Niki Lauda, metódico, nos anos 1970. Tem cenas eletrizantes de corridas e do acidente, na Alemanha, que deixou Lauda por 40 segundos preso em um carro em chamas.

FORD VS FERRARI (2019)

Também baseado em uma história real, o longa traz detalhes sobre o embate entre as duas escuderias nas 24 horas de Le Mans, uma das provas de automobilismo mais cobiçadas. Além de carros na pista, você vai ver inovação tecnológica, engenharia e estratégias usadas pelas empresas. Com Christian Bale e Matt Damon no elenco.

SENNA (2024)

Produzida pela Netflix, a série do gênero drama biográfico apresenta a vida de Ayrton Senna, interpretado por Gabriel Leone. Em seis episódios, a obra traz passagens sobre sua carreira e sua vida pessoal.

FERRARI (2023)

Adam Driver dá vida ao piloto Enzo Ferrari, que, além de tentar lidar com a morte do filho e um casamento em crise –Penélope Cruz interpreta sua mulher –, quer reerguer sua empresa. Para isso ele resolve participar da corrida Mille Miglia. Baseado em uma história real e ambientado em Modena, na Itália, tem o brasileiro Gabriel Leone no papel do piloto Alfonso de Portago.

SENNA: O BRASILEIRO. O HERÓI. O CAMPEÃO (2010)

Documentário sobre Senna, que mostra toda a trajetória do tricampeão mundial, desde o começo até sua morte, no GP de San Marino, em 1994.

Francisco Brant

Carbono Minds
“Deveria funcionar como médico: ser obrigatório ter alguém cuidando da nossa saúde financeira”

Pioneiro na área de family office no Brasil, Francisco Brant de Carvalho segue como referência no mercado há mais de 30 anos

Se hoje as consultorias financeiras são algo comum, no fim dos anos 1990 o cenário era diferente. Os poucos brasileiros que investiam seu dinheiro o faziam por meio dos grandes bancos. Em uma dessas instituições – o Unibanco –, o então diretor Francisco Brant de Carvalho não se conformava em precisar vender um produto apenas para bater meta, sabendo que havia soluções melhores. Até que, em 1997, após uma temporada trabalhando em Nova York, decidiu pedir demissão e abrir a consultoria financeira Refran (@refranconsultoria).

A empresa foi o primeiro multi family office do Brasil. Brant, que havia conhecido a atividade em uma palestra nos Estados Unidos, se apaixonou pela possibilidade de criar um negócio que administrasse o patrimônio de uma (single family office) ou várias famílias (multi). “O objetivo é preservar, aumentar e transferir a riqueza de geração para geração. E meu papel é proteger os clientes”, diz ele. Ao inaugurar a Refran, ele saiu atrás dos contatos conquistados nos 25 anos passados em bancos – além do Unibanco, o paulistano passou por instituições como Citibank e Lloyds. De pouco em pouco, foi montando sua carteira e, hoje, quase 30 anos depois, é uma referência no mercado. “Sou um facilitador. O gestor das contas é o meu cliente. Quero que ele sempre saiba onde está o dinheiro dele”, afirma Francisco. A seguir, outros trechos de sua conversa com a Carbono.

PONTO DE PARTIDA “Eu decidi montar a Refran depois de conhecer um family office em Nova York, de uma pessoa que tinha trabalhado no Merrill Lynch. Eu me apaixonei por aquela atividade. Era a chance de ajudar o cliente de verdade, assessorando-o de forma independente, sem conflitos de interesse. Porque no banco você tinha que vender o que a instituição queria, não necessariamente o que era melhor para a pessoa.”

RISCO “Não foi fácil sair de um emprego, com salário, seguro-saúde e etc. para empreender. Mas sou muito precavido e me preparei para se algo não acontecesse como desejado, deixei uma quantia separada. Foi um negócio de risco, mas um risco muito calculado.”

DESAFIOS VENCIDOS “No começo, uma grande dificuldade era convencer o cliente a fechar negócio. Ele não tinha, ou ainda não tem, a percepção de que pode estar sendo enganado pelo banco. Não entendia por que me pagar se já se comprometia com as taxas bancárias. Tive que explicar muitas vezes a questão do conflito de interesse das instituições, e que, no family office isso não existiria. O que me ajudou muito foram os meus 25 anos de experiência e relacionamentos.”

DIAGNÓSTIO E RECEITA “Todo mundo deveria contratar uma consultoria financeira. Deveria funcionar como médico: ser obrigatório ter alguém cuidando da nossa saúde financeira. Quando o médico diz que você precisa fazer tal procedimento e lhe indica três especialistas, você confia. Esse é o meu papel.”

PRESENÇA “Outro dia participei de um encontro com os presidentes de grandes bancos e o que mais ouvi foi que o maior investimento hoje é em digitalizar os serviços. A tendência vai ser apertar botões e não falar com ninguém. É aí que me diferencio. Sábado passado uma cliente que estava na Grécia me ligou com um problema no cartão. E eu pude ajudá-la pelo telefone. Nesse aspecto, acredito que empresas humanizadas como a Refran tendem a crescer.”

FUTURO “A atividade do family office tem que ir além de quem nos contrata. Desde o início, sempre me preocupei com as próximas gerações. Hoje o pai é meu cliente, amanhã pode ser o filho, depois o neto. Temos, inclusive, um programa de treinamento de iniciação ao mercado para as gerações futuras.”

CONSELHO DE OURO “O meu papel é proteger os clientes. Quando ele me pergunta o que deve fazer, eu avalio o mercado, digo o que acho que vai acontecer com juros, câmbio e outras informações e ele faz a escolha. Ele deixa de ter uma visão única e passa a ter um enquadramento global. Não gosto da palavra ‘dica’, mas, se fosse dar uma, seria: contrate um consultor.”

Em sentido horário, exemplos do olhar criativo da dupla: poltrona Duna, bancos Xaxado, poltrona Basquete, mesa de centro Falésia e caixa de som Apito. Na página ao lado, Felipe Bezerra e André Gurgel com a mesa Ping Pong

Comandado pelos designers Felipe Bezerra e André Gurgel, o estúdio Mula Preta propõe um novo olhar para a cultura nordestina ao misturar tradição e modernidade

Mula Preta

O Estúdio Mula Preta (@mulapreta) nasceu para celebrar a cultura nordestina, mas esqueça qualquer convencionalidade em relação ao tema. Para os potiguares Felipe Bezerra e André Gurgel, fundadores da marca, a ideia é mostrá-lo com uma criatividade contemporânea, misturando tradição e modernidade nas mesmas peças.

A trajetória da dupla começou em Natal, onde a paixão pelo design se entrelaçou ao desejo de criar algo único. O nome Mula Preta, uma homenagem a Luiz Gonzaga, reflete a ousadia que permeia suas criações. Essa essência é traduzida em mobiliários como oratórios, aparadores e banquetas, cada um contando uma história.

As poltronas remetem a peças de vestuário como quimonos e jaquetas puffer, enquanto a mesa de centro evoca uma balsa e a caixa de som ganha o formato de um apito. As mesas de jogos – xadrez, pebolim, sinuca e poker – merecem destaque pelas releituras inesperadas. O uso de madeira maciça, aço e pedras demonstra a

preocupação com a qualidade e a durabilidade.

Desde sua fundação, em 2012, o Mula Preta conquistou o mercado nacional e ganhou reconhecimento internacional, recebendo prêmios como o Good Design e o iF Design. Não à toa, a loja em São Paulo, inaugurada em 2020, se tornou um ponto de encontro, onde design e arte atraem um público em busca de originalidade.

Em um papo com Carbono, Felipe compartilhou: “Nossas fontes de inspirações são infinitas, desde a topografia da nossa cidade, com dunas e falésias, até as brincadeiras da infância”. André acrescenta: “Gostamos de fazer coisas que parecem simples, mas, na verdade, são sofisticadas”.

Com um olhar voltado para a expansão internacional e novas colaborações, o Mula Preta desafia convenções e inspira uma nova geração de criativos. A essência natal, o bom humor e a originalidade formam uma narrativa rica, levando o design brasileiro a novos horizontes.

SEMEAR O FUTURO

Inventada há um século, a biodinâmica será fundamental na transição para uma economia mais verde no campo. Segundo alguns de seus pioneiros, sua revolução vai além das teorias holísticas e dos microrganismos

Por Artur Tavares

Antes de o mundo ser o mundo, os homens, os animais, os vegetais e as outras formas de vida conviviam em harmonia na natureza. Tudo o que crescia vinha da terra, tudo o que morria voltava para ela, e todos desempenhavam seus papéis nesse ecossistema. Seja lá qual tenha sido o fruto proibido que nasceu, nós decidimos deixar essa convivência para trás, buscando, em vez disso, o progresso. Cerca de 12 mil anos atrás, o homem ficou cansado de vagar em busca de comida, percebendo que poderia cultivá-la depois de jogar algumas sementes no chão. Ninguém melhor do que

o historiador israelense Noah Yuval Harari para explicar, de forma resumida, o que veio a seguir, como descrito em seu best-seller, Sapiens - Uma Breve História da Humanidade: “Pense por um momento na Revolução Agrícola sob a perspectiva do trigo. Há dez mil anos, o trigo era apenas uma gramínea selvagem, uma entre muitas, confinada a uma pequena área no Oriente Médio. De repente, em apenas alguns milênios, ele crescia em todo o mundo. De acordo com os critérios evolutivos básicos de sobrevivência e reprodução, o trigo tornou-se uma das plantas mais bem-sucedidas da história da Terra.”

O progresso também chegou nessa terra de florestas, e hoje o Brasil concentra cerca de 97,3 milhões de hectares de área cultivada no campo, uma dimensão maior do que toda a região Sudeste brasileira, que tem uma área de 924.620 km², ocupada por cerca de 5 milhões de estabelecimentos rurais, incluindo fazendas, chácaras e sítios, de acordo com o Censo Agropecuário Brasileiro. Para se ter ideia, o trigo, que não era daqui, ocupa mais de 5 milhões desses hectares no País. A monocultura está presente em 58,7 milhões de hectares, 60,3% do campo brasileiro, com cana-de-açúcar, soja e Fotos divulgação

A fazenda Tamanduá, na Paraíba, uma das maiores produtoras e exploradoras de frutas biodinâmicas

outros grãos plantados na terra. Do outro lado desse espectro, há hoje algo em torno de 65 fazendas que se dedicam à biodinâmica no Brasil. Como pequenas ilhas preocupadas com a autossuficiência e a preservação da ecologia, elas produzem alimentos livres de agrotóxicos e quaisquer defensivos não naturais; reduzem ao máximo suas emissões de carbono e mantêm reservas ambientais. Mas, o pensamento biodinâmico vai além: é sobre nutrir a terra, manter padrões de processamento, cultivar a harmonia entre todas as formas de vida e atuar com responsabilidade social.

AGRICULTURA CONECTADA COM O ASTRAL

As teorias da biodinâmica surgiram pela primeira vez em um curso oferecido pelo filósofo, educador, artista e esotérico Rudolf Steiner a 300 agricultores da região da Silésia, na Alemanha, em 1924. Naquele momento, o pensador austríaco observava como a fertilidade do solo estava relacionada à adubação por meio do esterco transformado em húmus, combinado com preparos minerais e fermentados vegetais. Isso em um manejo que também se beneficia de movimentos holísticos, como o uso do calendário astrológico para diversas fases do cultivo, entre eles a semeadura, o plantio, a irrigação e a colheita, facilitando o que o fundador da escola Waldorf e da antroposofia denomina de canalizar as forças cósmicas no solo. “A natureza lhe ensina a fazer agricultura.

“A biodinâmica é para todos, para quem se interessa por fazer e conhecer”

Rachel Vaz Soraggi, consultora ambiental presidente da Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica e do Instituto Kairós e diretora do Instituto Brasil Orgânico da região Sudeste

No momento em que você entende seus fluxos, percebe como produzir trazendo vida, e não morte, para aquele sistema”, explica Rachel Vaz Soraggi, consultora ambiental há 40 anos, presidente da Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica e do Instituto Kairós, além de diretora da região Sudeste do Instituto Brasil Orgânico. Em contato direto com produtores de Norte a Sul, Soraggi explica que a biodinâmica é muito diversa, ainda que incipiente no País: “Hoje, as ideias de Steiner estão em propriedades grandes, médias e naquelas de agricultores familiares. A biodinâmica é para todo mundo, é para quem se interessa por fazer e conhecer.” São assentamentos da reforma agrária no Vale do Paraíba, no Vale do Ribeira em Rondônia, em quilombos no Espírito Santo e também em associações. Do outro lado, há grandes fazendas de café na região Sudeste, de frutas no Nordeste, e de arroz no Sul. Fundada na cidade paulista de Botucatu em 1982, a ABD é uma das principais instituições de difusão de conhecimento e pesquisa, desempenhando um trabalho importante de consultoria para novos produtores ou para quem deseja fazer a transição para a biodinâmica em suas fazendas. Além disso, tem um dos maiores bancos de sementes crioulas do Brasil, trabalhando com o resgate de sementes tradicionais, multiplicação e melhoramento. Para Soraggi, o desenvolvimento da biodinâmica enfrentou desafios estruturais quando suas teorias chegaram ao Brasil e esse é o principal motivo por não ser muito difundida: “As

primeiras tentativas traziam o modelo europeu, enquanto nós vivemos num país tropical, com outro clima, outra sociedade, outra cultura”, explica. E ela exemplifica o trabalho de tropicalizar os ensinamentos de Steiner. “Ele fala sobre a importância do animal dentro do organismo agrícola, enquanto aqui é um país de árvores. Em fazendas nas montanhas do Espírito Santo, não dá para colocar a vaca no sistema; já o passarinho, sim, e os insetos também. Então, entender isso e colocar em prática levou um tempo.”

dos

Alguns
processos geridos pela Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica: além de difundir o conhecimento, a organização auxilia fazendas que seguem o modelo
Rudolf Steiner

LEIA O RÓTULO

Além dos empórios e mercados de orgânicos, biodinâmicos e provenientes da agroecologia, hoje as principais redes do País têm setores dedicados a esses produtos. A seguir, uma lista de agricultores e seus cultivos que podem ser encontrados pelo Brasil

FAZENDA VERDE OLIVA

Na porção mineira da Serra da Mantiqueira, em Delfim Moreira, a Fazenda Verde Oliva é a primeira do Brasil a produzir azeites biodinâmicos. A plantação das oliveiras começou em 2010, com a safra inaugural tendo chegado ao mercado em 2017. Eles também vendem azeitonas, produzem frutas (e ótimas geleias), PANCs, chás, temperos, ervas medicinais e café.

COOPLANTAS

A Cooperativa de Produção de Plantas Medicinais atua desde 2009 na região de Piracicaba e em seu entorno, no interior paulista, empoderando principalmente mulheres agricultoras. Trabalhos em parceria com o Ministério da Saúde e com a Fundação Oswaldo Cruz têm colocado fitoterápicos produzidos com ervas como capim-limão, guaco, poejo, ora-pronóbis, calêndula, camomila e barbatimão em medicamentos no SUS.

COOPERATIVA CABUCRA

ECOCITRUS

Laranja, mandarina, limão-siciliano, lima-tahiti, tangerina. Tudo o que você pode pensar em cítricos, os cooperativados da Ecocitrus produzem. Na região do Vale do Caí, no Rio Grande do Sul, esses agricultores também trabalham com polpas e óleos essenciais, e exportam suas frutas para países da União Europeia e para os Estados Unidos há três décadas.

Fundada há 25 anos em Ilhéus, a sede da Cabucra reúne mais de 20 produtores de cacau do estado baiano, que seguem o sistema tradicional da “cabucra”. Trata-se de forma de agrofloresta que posiciona o cacau cultivado à sombra das árvores nativas no sistema, preservando a fauna e a flora da Mata Atlântica.

FAZENDA CAMOCIM

Localizada em Pedra Azul, no Espírito Santo, a Fazenda Camocim possui uma área de 300 hectares a 1.300 metros de altitude, com uma produção de cafés especiais orgânicos que começou nos anos 1990. É um dos primeiros cafezais brasileiros com certificação biodinâmica e o primeiro com o selo ROC, concedido pela Regenerative Organic Alliance para produtores que conseguem regenerar o solo, proteger recursos hídricos e valorizar o bem-estar animal, além de promover avanços sociais.

QUANDO EU CHEGUEI ERA TUDO MATO

Inspirado em ensinamentos antroposóficos, o agrônomo João Volkmann transformou sua produção em 100% biodinâmica e orgânica

Um dos mais reconhecidos produtores de arrozes biodinâmicos do país, João Batista Amadeo Volkmann conviveu com as filosofias antroposóficas de Steiner desde que era apenas uma fagulha cósmica, bem antes de nascer: “Em 1910, dois violinistas vieram da Alemanha e ficaram hospedados na casa do meu avô, em Porto Alegre. Na hora de ir embora, deixaram livros de Steiner de presente. A partir daí, meu avô formou grupos de estudo em antroposofia. E o interessante é que, para ele, florista de origem humilde, mas com bastante cultura, o tema não era uma coisa tão distante”, conta Volkmann. O legado passou de pai para filho, que tornou-se pianista e violinista e foi trabalhar no Banco do Brasil, viajando o País a trabalho, sempre implantando grupos para difundir a antroposofia: “Se me perguntassem, com seis anos já dizia que queria ser agrônomo, trabalhar na fazenda”.

O sonho demorou para se realizar. Aos 14 anos, a terra da família na cidade de Sentinela do Sul, próxima da capital Porto Alegre, foi arrendada, condição que durou até Volkmann formar-se em agronomia, nove anos depois, em 1983. Não que ele tenha se desconectado da terra nesse período: “Eu não podia ficar parado, então ajudei a fundar a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural

ainda na adolescência. Naquela época da Ditadura, era maravilhoso fazer algo proibido, que consistia em protestar para proteger a natureza”.

Então, Volkmann e sua esposa foram morar na Fazenda Capão Alto das Criúvas. Ou melhor, numa área de 500 hectares “sem cerca, nenhum animal, sem martelo, serrote, água encanada, energia elétrica, nada, nada, nada”, ressalta. Ele relembra que foram três anos de banho de açude. “Tratei de colocar bomba a gasolina para água encanada logo, mas a energia levou três anos; telefone, mais de 15.”

A Volkmann Alimentos cresceu devagar ao longo dos últimos 40 anos. Com os primeiros salários da esposa, o casal comprou cinco vacas. Das receitas iniciais com o arroz vieram um silo e um secador. Hoje, o rebanho, entre búfalos e outros bovinos, tem quase 500 animais, e 25 famílias trabalham na fazenda. Além disso, João Volkmann ainda arrenda a terra de terceiros “com a intenção de proteger um pouco a paisagem no entorno”.

Entre os momentos decisivos para esse crescimento, está a encomenda de 10 mil quilos de arroz. Na ocasião, xiita com a questão ecológica, Volkmann deixou de lado as embalagens de papel que limitavam a distribuição e aderiu aos pacotes a vácuo que viu em uma feira. Desde 2019,

João Volkmann em sua fazenda nos arredores de Porto Alegre, especializada em variedades de arroz e preparados biodinâmicos a partir de plantas medicinais

toda a sua produção é comercializada como biodinâmica e orgânica.

A Fazenda Capão Alto das Criúvas também se especializou na produção dos preparados biodinâmicos como o chifre-esterco, o chifre-sílica e outros, a partir das plantas medicinais, como os de mil-folhas, camomila, urtiga, casca-de-carvalho, dente-de-leão e valeriana, utilizados como defensivos, biofertilizantes e catalisadores de microvida no solo. “Eles trazem forças para renovar a fertilidade da terra. Nós os chamamos de adubos espirituais.” Para ele, “a antroposofia não nega a ciência atual, que trouxe grandes contribuições, mas acrescenta a ela esse conhecimento dos mundos espirituais, que tem sido deixado de lado”.

O arroz, para o fazendeiro, é um desses alimentos sagrados, “que coevoluem junto com a humanidade”. São mais de 70 mil variedades ao redor do mundo e, para melhorar a sua produção, recuperou o arroz cateto, consumido no estado muito mais comumente (há mais de meio século) que o agulhinha. “Houve uma mudança nos hábitos alimentares, e isso significa que entraram variedades modernas e mais produtivas”, ele explica. “Esses novos produtos mais eretos

produzem mais quilos de grãos por hectare, mas com uma quantidade de palha menor.” Isso é pior para a biodinâmica: “Se for pensar em um projeto que vislumbra os próximos 500 anos, as variedades melhores são as mais ancestrais, que deixam mais palhada no sistema, mais carbono no sistema, exportando menos carbono para fora da propriedade.”

Hoje, o suprassumo de sua produção é o arroz preto, um tipo desenvolvido pelo Instituto Agronômico de Campinas, além do arroz vermelho, espontâneo do Rio Grande do Sul, em um trabalho de recuperação de uma espécie endêmica e ancestral da região.

Para Volkmann, cada pessoa que come é um pouco agricultor, já que a boca está se ligando com a terra. “Presta atenção: uma cenoura é semeada, germina, começa a formar folha e vai enraizando para dentro da terra, onde fica durante 90 dias exposta ao cosmos, sempre olhando para o vento e a chuva. Tudo isso fica guardado na forma de um segredo. Quando nós comemos, é como se o nosso trato digestivo fosse um telescópio que conseguisse tocar as estrelas. E aí o nosso pensar vem, esse cérebro que tem aqui embaixo consegue trazer as forças necessárias para executar o que nós pensamos.”

UM PIONEIRO NO SEMIÁRIDO

Referência no tema, o francês Pierre Landolt driblou a seca e revolucionou uma área de monocultura na Paraíba

Pierre Landolt deve ter se sentido um aventureiro embarcando em um avião rumo ao Brasil. Jovem, herdeiro da farmacêutica e fabricante de defensivos agrícolas convencionais Sandoz, veio para conhecer as principais inovações no campo, dos vinhedos gaúchos às fazendas de cacau na Bahia. Acabou em um lugar bem mais complicado: plantar senna, utilizada em laxantes, na cidade de Santa Terezinha, no centro da Paraíba, uma região do semiárido com uma estiagem que pode durar entre oito e 12 meses – você não leu errado, pode ficar até um ano sem chover!

Landolt fez desse abacaxi uma grande limonada e, com a Fazenda Tamanduá, é hoje um dos produtores e exportadores mais reconhecidos de frutas biodinâmicas do país, especialmente mangas e melancias,

além de pioneiro no cultivo da spirulina, uma alga rica em proteínas, vitaminas, minerais e antioxidantes, utilizada como super alimento para homens e animais.

“Foi paixão, encontrei algo realmente diferente. Quando cheguei, a área era um cultivo de algodão”, conta o franco-suíço. Landolt adquiriu a terra, indicada a ele por outro francês, em 1977, e, um ano depois, começou a desfazer a monocultura. “Deixamos de lado o sistema de meeiro, permitindo que os moradores plantassem as agriculturas de subsistência, e não em consórcio. E, ao passar a assalariar o pessoal, fizemos uma revolução”, ele lembra. Em entrevista concedida no ano de 2021, afirmou ter aumentado a renda das famílias do entorno em 503% com a biodinâmica. “Até hoje, a Tamanduá é o único organismo agrícola da Paraíba”, ele diz.

A conversão da terra não foi rápida. Pelos primeiros dez anos, a fazenda trabalhou com culturas convencionais. “Tivemos ciclos de seca, de seca braba, de seca verde, um monte de problemas. Em termos humanos, foi uma experiência incrível. E me fez perceber que precisava quebrar o molde da agricultura convencional e partir para um sistema diferente.”

Landolt plantou aspargos e soja, e quando percebeu que tinha problemas de fertilidade no solo, entrou com gado pardo suíço e cabras alpinas para produzir esterco. Com as primeiras mangueiras e os meloeiros de pé, vieram as abelhas, polinizando ervas medicinais próprias para a produção dos compostos que adubam a terra. Em 2000, finalmente, conquistou a certificação biodinâmica.

Para escolher os pardos suíços e as alpinas, Landolt descobriu que raças de pelagem uniforme vivem melhor em climas quentes constantes como do semiárido brasileiro: “O animal preto e branco, ou vermelho e branco, vai procurar sombra nas horas mais quentes, e então não come.” Eles se alimentam de capim búfalo e de capim corrente, variedades de pasto que fazem com que produzam mais esterco: o suficiente para formular cerca de 600 quilos de composto para cada um dos 300 hectares da fazenda.

Alimentando-se lentamente e criados soltos no pasto, os bovinos e caprinos vivem com longevidade e muito bem na biodinâmica. Landolt conta, de maneira bem-humorada: “Os machos são bastante procurados em outras regiões do Nordeste para cruzamento por causa de sua rusticidade. Eles têm uma vida maravilhosa, não vão para o abate com sete meses. Em vez disso, passam a vida toda trepando no Maranhão [risos]”!

Com seu crescimento, a Fazenda Tamanduá adquiriu a Fazenda Cruz, propriedade de 300 hectares, no município de Patos, além de uma área de preservação ambiental de 20 hectares, na Serra Branca, onde são plantados sorgo forrageiro, palma forrageira e manga Keitt. Hoje, suas reservas ecológicas são casa para 197 espécies de aves, 23 de anfíbios, 38 de répteis e 19 de mamíferos, sendo nada menos que 27 tipos diferentes de morcegos em um território preservado de 350 hectares.

Pierre Landolt (no alto, à direita) e o dia a dia em sua fazenda na Paraíba: apesar da seca, o local é referência no cultivo de frutas e spirulina, além de servir como uma verdadeira reserva ecológica

CIDADE EM MOVIMENTO

Em tempos de verticalização desenfreada, São Paulo sofre com a falta de preservação da sua história e de sua memória. Relembramos endereços que seguem resistindo como sobreviventes de uma metrópole em constante transformação

Edifícios (altíssimos) brotam na cidade de São Paulo como jabuticabas no pé no mês de setembro. Essa verticalização que assusta e incomoda, com seus barulhos e intervenções na paisagem e no trânsito, está acabando não só com a paz dos moradores, mas também com a memória da cidade. “O que não se preserva é esquecido e substituído por memórias mais recentes”, diz Renato Cymbalista, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e organizador do Guia dos Lugares Difíceis de São Paulo, que nasceu como um projeto de sala junto de seus alunos e foi lançado pela Editora Annablume, em 2019. De acordo com o professor, São Paulo é uma cidade muito permissiva do ponto de vista do zoneamento, da legislação e da regulamentação, o que dificulta muito a sua proteção histórica. “São Paulo é e sempre foi um grande negócio. Não temos tradição de tombamento ou de proteção de bairros inteiros. Todo mundo está sempre especulando com a terra”, diz ele, que ainda destaca a relação construtora versus pessoa como muito desigual. “As vendas ou não de um imóvel passam pouco pelo lado cultural na cidade.”

Curiosamente essa quantidade de prédios não implica em maior população na cidade. Pelo contrário. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dados do Censo Demográfico de 2022 indicam que o ritmo de crescimento populacional diminuiu. Se entre 2000 e 2010 essa taxa era de 0,75%, entre 2010 e 2022 caiu para 0,15%. Por que precisamos então de mais e mais prédios? E por que nos deparamos com um trânsito cada vez pior? Estudos apontam razões como o aumento de pessoas vivendo sozinhas e o menor número de pessoas usando transporte coletivo. Mas são justamente as pessoas a chave de tudo. Segundo Renato, a população, ou parte dela, só dá valor aos imóveis quando estes estão ameaçados – e, na maioria das vezes, já é tarde demais. “É um fato inequívoco que,

quando pedaços da sociedade conseguem se organizar, há mais chances de fazer as suas pautas valerem.” Locais que não se mantiveram vivos recentemente, como o Cava Bar, que ocupava o subsolo de uma casa dos anos 1930, e a Casa Tody, loja de calçados de muitas gerações na Rua Augusta, ambos localizados nos Jardins, contavam um pouco da história de São Paulo. A seguir, reunimos uma lista dos sobreviventes da metrópole, torcendo para que eles sigam assim.

DROSOPHYLA BAR

O bar, que existe desde 1986 – primeiro em BH e depois em SP –, abriu as portas na pauliceia em um casarão dos anos 1940. Pouco mais de dez anos depois, teve que devolver o imóvel e, desde 2015, funciona na Rua Nestor Pestana. No Centro da metrópole, a empresária Lilian Malta Varela escolheu uma casa dos anos 1920 para abrigar seu negócio. Com projeto atribuído a Adelardo Soares Caiuby, o casarão tombado interna e externamente e entre muros estava abandonado e hoje mantém vivos traços arquitetônicos da cidade, que encantam os clientes mais moderninhos.

RITZ

Desde 1981 o restaurante funciona na Alameda Franca, 1088 –o endereço é o primeiro da casa do grupo, que também tem o Spot, irmão mais novo, mas não menos importante. São 44 anos de história e que lhe renderam o título de instituição paulistana. Mas nem isso é capaz de tirar as incorporadoras de perto do endereço, que recorrentemente recebe ofertas de compra do imóvel. Os proprietários da casa dizem que a chance de saírem de lá é pequena e que são fãs da casa. A gente se atém a isso.

BAR BALCÃO

Localizado na esquina da Rua Dr. Melo Alves com a Alameda Tietê, o bar, reduto de artistas, jornalistas e intelectuais, quase viu suas portas serem fechadas. Foi graças à mobilização de seus frequentadores e das 15 mil assinaturas a favor do seu tombamento que o bar conseguiu se manter vivo – pelo menos pelos próximos cinco anos, tempo de renovação do aluguel. O seu famoso balcão, de 25 metros quadrados, e mais dois quadros foram tombados pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp).

CARLOTA

Há 30 anos funcionando no mesmo endereço, na Rua Sergipe, 753, pode-se dizer que o restaurante da chef Carla Pernambuco é um sobrevivente da capital. Em uma cidade marcada pelo esquecimento, permanecer três décadas em um charmoso sobrado é para poucos. Como bem marca a cozinheira, que comemora 30 anos de seu estabelecimento este ano: “Ter um lugar não é físico. Ter um lugar é um sentimento”.

AMA.ZO

O restaurante peruano tem seu primeiro endereço situado nos jardins de um dos casarões mais antigos da cidade de São Paulo, no bairro Campos Elíseos. Dos tempos dos barões do café – e, desde 2013, tombado como patrimônio histórico –, a Casa da Don’Anna, como é conhecida, foi projetada em 1912 pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o mesmo do Theatro Municipal e da Pinacoteca do Estado, por exemplo.

É PROIBIDO MEXER

Você sabia que é possível tombar paredes, portas, janelas e não só uma casa ou um bairro todo? Previsto por lei, o tombamento é analisado no estado de São Paulo pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico) e, no município, pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo). Ao tombar um bem, você tomba uma cultura material. A cidade de São Paulo tem pouco mais de 4 mil itens tombados e, diferentemente do que se imagina, nem todos são monumentos ou edificações arquitetônicas. “O lugar nem sempre é marcado pela estética, mas sempre pela relevância social, histórica ou de memória”, diz Renato. É o caso, por exemplo, do DOI-Codi, centro do Exército que funcionou na Rua Tutoia, 921, na época da ditadura militar. Esse tombamento marca uma passagem que não pode ser esquecida.

O CÉU É O LIMITE

Cada vez mais aquecido, o mercado de customização tem feito marcas de carro importantes reinventarem seus designs

Por Rodrigo Mora

Você sabia que, a cada quatro carros produzidos pela Bentley, três seguem direto da fábrica de Crewe, na Inglaterra, para a de Mulliner, onde fica a divisão destinada aos produtos customizados? Sua mais recente arte é um Continental GT Speed pintado à mão durante 56 horas.

Batizado de Ombre by Mulliner, o processo consiste em tingir o cupê com um tom Windsor Blue, na traseira, e Topaz, na dianteira, combinação que se aplica também às rodas de 22

polegadas e ao interior. Não haverá nenhum outro exemplar como esse, mas a Bentley promete que os interessados contarão com uma curadoria da marca para ter seu próprio Continental GT Speed bicolor.

Já na Rolls-Royce, o mais novo devaneio sob medida foi criar um Spectre, o primeiro modelo elétrico da fabricante, inspirado na... Primavera! A série é composta pelas versões: Evanescent, Reverie e Blossom, que interpretam a estação de formas diferentes.

Apresentados em três cores, os carros contam com um motivo de flor de cerejeira, emblema evocativo da primavera, desenhados individualmente à mão. Interessados devem encomendar o modelo até o início do ano, e as entregas estão programadas, claro, para a primavera de 2026. “A primavera é um momento de celebração em culturas do mundo todo. É associada à juventude e ao romance, ao retorno da luz e do calor após a escuridão do inverno. O Spectre Inspired by Primavera reflete

Acima e ao lado, o Bentley Continental GT Speed: o modelo é pintado à mão durante 56 horas

a constante evolução do Rolls-Royce Bespoke, moldada pela imaginação em permanente mudança de nossos clientes”, explica Martina Starke, chefe de design do programa de customização da Rolls-Royce.

Assim como algumas concorrentes, a marca tem se especializado

nesse tipo de criação. Outro exemplo é o Phantom Dentelle, cuja inspiração veio das rendas usadas na alta-costura, com elementos florais tridimensionais e bordados de até 160 mil pontos permeando o interior do sedã. Detalhe: um cliente do Oriente Médio o encomendou de presente para o pai.

Na lista de personalizações nada comum da marca, estão o La Rose Noire Droptail, conversível inspirado na rosa Black Baccara – uma flor aveludada que se origina na França e é adorada pela mãe do cliente em questão – e um Spectre Lunaflair, diferenciado pela pintura holográfica.

Detalhes do Rolls-Royce Phantom Dentelle: bordados de até 160 mil pontos, inspirados na alta-costura, ganham destaque

Bespoke no Brasil

Aos poucos, programas tailor made também começam a aparecer no Brasil. Há três anos, a Porsche inaugurou o Sonderwunsch, ou, traduzindo, “pedido especial”. Enquanto o Exclusive Manufaktur permite a escolha de itens como aletas de ventilação revestidas de couro, por exemplo, no Sonderwunsch são recebidos pedidos que extrapolam uma customização convencional. Entre eles, o 911 GT3 inspirado no 956 vencedor da edição de 1985 das 24 Horas de Le Mans, pilotado por Paolo Barilla – o piloto e empresário do ramo alimentício foi o próprio autor do pedido.

Um dos itens oferecidos é a pintura Chromaflair, composta de grãos de um micrômetro – algo 50 vezes mais fino do que um fio de cabelo – e que pode chegar a R$ 450 mil.

Dos cerca de 600 exemplares Sonderwunsch produzidos por ano, quatro foram destinados ao Brasil. Um deles é a última unidade reservada ao mercado nacional do 911 GT3 RS 992 pré-reestilização. Ao preço de R$ 2 milhões do modelo, soma-se R$ 1,3 milhão de customizações.

Seguindo a tendência, a JLR reestreou seu programa de personalização de fábrica no Brasil há cerca de um mês. “O SV Bespoke está disponível por aqui desde 2023, mas agora vivemos uma nova fase. É um momento de curadoria ainda mais profunda, que amplia não só as possibilidades criativas, mas também a forma como atendemos cada cliente”, explica Henrique Rebello, Brand Manager das marcas Range Rover e Jaguar.

Dois modelos criados especificamente para o mercado brasileiro marcam a retomada do SV Bespoke: Range Rover SV Encontro das Águas, de R$ 2,7 milhões, e Range Rover SV Arpoador, de R$ 2,5 milhões. “Esses projetos nasceram da crença de que o verdadeiro luxo não é genérico, mas sim inspirado em uma base cultural vasta e profunda”, complementa o executivo.

No caso do Range Rover SV Encontro das Águas, a cor Golden Bronze da carroceria é exclusiva, desenvolvida especificamente para

esse exemplar. Trata-se de uma pintura ultrametálica com base dourada e partículas metálicas cintilantes que, sob luz direta, criam um efeito holográfico. Segundo a marca, o logotipo “Range Rover” foi “artesanalmente trabalhado pela quinta geração de uma tradicional família de joalheiros de Birmingham, no Reino Unido, elevando o artesanato britânico presente no modelo ao seu estado mais puro e refinado”.

No interior, os controles do câmbio, ajustes do apoio de braço e sistema de ar-condicionado da segunda fileira são de cerâmica preta. Há madeira natural de nogueira marrom no console central e no painel, enquanto os bancos apresentam costuras aplicadas à mão, “em padrões que evocam o movimento das águas dos rios”. Almofadas sob medida complementam a proposta.

O Range Rover SV Arpoador também leva pintura ultrametálica, mas aqui em azul brilhante, que “revela nuances cintilantes e complexas, inspiradas no azul do oceano que contorna a Pedra do Arpoador e no verde vibrante da vegetação das encostas”, detalha a Jaguar Land Rover, que também explica que “as cores evocam as

A flor francesa Black Baccara inspirou a personalização deste conversível da Rolls-Royce, o Spectre La Rose Noire Droptail
“Esses projetos nasceram da crença de que o verdadeiro luxo não é genérico”

águas rasas, a vegetação e a areia branca que cercam o Arpoador”. Os bancos são de couro semianilina nos tons Sequoia Green e Perlino Off-White. A customização começa com o intercâmbio de informações entre o cliente e a equipe do programa. A etapa seguinte consiste em desenvolver a cor externa, processo conduzido por especialistas em pigmentação.

Na sequência, há a seleção de materiais para o acabamento e demais customizações – como um bordado no encosto de cabeça ou uma decoração distinta para as rodas, por exemplo. A empresa evita estipular valores e prazos de entrega, que variam de acordo com o projeto. Para ficar de olho!

Jornalista automotivo há mais de duas décadas, Rodrigo Mora é especialista em carros antigos e fala sobre eles semanalmente na revista Exame e no podcast Garagem Volkswagen. Para a Carbono, ele compila as experiências mais sofisticadas do universo automotivo.

O SV Arpoador, da Land Rover, também pode ser customizado

Os caminhos que formam o vinho brasileiro

Especialista em vinho, Rogério Felício relembra os trajetos da bebida no Brasil, responsáveis por reinterpretar a viticultura em seus próprios termos

O vinho brasileiro não nasceu em caves centenárias, nem em terroirs reverenciados. Sua história tem início de maneira discreta, no século XVI, quando as primeiras videiras chegaram a São Vicente. Para alguns, o marco é 1532; para outros, 1551, época em que a produção ganha consistência. A diferença não é um mero detalhe histórico: revela a distância entre plantar mudas e transformar a vinha em cultura. No interior paulista, em São Roque e Jundiaí, imigrantes portugueses e italianos moldaram um primeiro capítulo singelo. Vinhos rústicos, quase domésticos, que sustentavam memórias afetivas mais do que buscavam sofisticação. Foi um início

modesto, mas suficiente para ensinar o Brasil a olhar para a vinha como horizonte de identidade.

O Sul, no entanto, conferiu densidade a essa história. Na Serra Gaúcha, os italianos transformaram encostas verdes em vinhedos que, com o tempo, ganharam ambição e qualidade. Hoje, espumantes de classe internacional e tintos de estrutura elegante narram uma trajetória de pertencimento. O Vale dos Vinhedos tornou-se símbolo: não apenas pelo vinho, mas pela afirmação de que o Brasil poderia ter uma assinatura própria no universo enológico. Esse mosaico expandiu-se. Em Santa Catarina, vinhos de altitude revelam frescor e mineralidade inesperados. No semiárido nordestino, o Vale do São Francisco surpreende ao colher duas vezes por ano – uma provocação às lógicas tradicionais da viticultura mundial. Na Campanha Gaúcha, horizontes abertos evocam a fronteira sul-americana e entregam tintos solares, generosos e expressivos. Cada região adiciona uma faceta, compondo uma identidade que não se encerra em uma fórmula única. Mais recentemente, o Sudeste retomou protagonismo. A técnica da dupla poda — que permite colher no inverno seco — deu voz a uma nova estética. Na Serra da Mantiqueira, rótulos paulistas e mineiros alcançaram reconhecimento internacional, demonstrando que a inovação Fotos divulgação; ilustração Mona Conectada

agronômica pode se transformar em estilo. Esses vinhos passaram a dialogar com um público cosmopolita, que enxerga no enoturismo parte do luxo contemporâneo, onde arquitetura, paisagem e taça se encontram em harmonia.

Agora, os olhos se voltam à Serra Fluminense. Em altitudes que ultrapassam 900 metros, novos projetos unem natureza, gastronomia e turismo a poucos quilômetros do Rio de Janeiro. Mais que vinhos, oferecem uma atmosfera: a promessa de que o Brasil pode alinhar terroir e lifestyle em uma mesma narrativa.

E, neste ano, uma notícia adicionou outra camada a esse percurso. Em julho, a Prefeitura de Maricá, na Região Metropolitana

“Consumir vinho brasileiro é participar de um processo histórico em construção”

Mais do que entusiasta e colecionador de vinho, Rogério Felício da Silva é um comunicador do universo da bebida. Formado no WSET 3, foi vice-presidente da Associação Brasileira de Sommeliers do Rio de Janeiro (2021–2024) e, atualmente, se dedica aos estudos para o diploma do WSET nível 4.

do Rio, anunciou a criação da Universidade do Vinho — um projeto ambicioso, com caves subterrâneas dedicadas ao enoturismo e um campus avançado em Paraíba do Sul voltado à pesquisa e à experimentação. Uma iniciativa visionária que sinaliza o futuro: o Brasil começa a pensar o vinho não apenas como produto agrícola, mas como patrimônio cultural e vetor de conhecimento. A trajetória brasileira é, assim, um mosaico de contrastes e possibilidades: São Paulo colonial, a Serra Gaúcha imigrante, os vinhos de altitude, o semiárido irrigado, a Mantiqueira inovadora, a Serra Fluminense emergente e, agora, Maricá como projeto institucional. Trata-se de uma constelação plural e sofisticada, que projeta a identidade do vinho brasileiro — uma identidade que não busca imitar, mas surpreender. Consumir um vinho brasileiro é, portanto, mais do que apreciar uma bebida. É participar de um processo histórico em construção, reconhecer a diversidade de um país que ousou reinterpretar a viticultura em seus próprios termos e contribuir para a consolidação de um patrimônio coletivo. Ao conhecer, consumir e valorizar os vinhos nacionais, o público não apenas descobre novos sabores, mas ajuda a afirmar a presença do Brasil no cenário enológico mundial. O futuro dessa identidade depende também de cada taça erguida com consciência e pertencimento.

Fotos e texto Felipe Castellari

O lugar mais impressionante

A bordo de um 4x4, o fotógrafo Felipe Castellari rodou mais de 5.000 km na Namíbia, descobrindo dunas, savanas e vilarejos singulares

De todos os lugares do mundo em que já estive, nenhum me encheu tanto os olhos como a Namíbia. No encontro das dunas gigantes do deserto mais antigo do mundo com o Atlântico Sul, que varre a costa africana com ventos e águas perigosas, me senti pequeno. Éramos só nós, dois viajantes, e o nosso carro entre milhares de quilômetros de dunas e de oceano que separam a África do Brasil.

A história começou um ano antes, em diversas noites dedicadas a pesquisar e planejar cada região e rota da viagem: uma expedição a bordo de um 4x4 percorrendo mais de 5.000 km. As distâncias de uma base para outra tinham de ser bem calculadas, pois quase tudo era estrada de terra – cerca de três mil quilômetros – e, em alguns locais, não havia paradas por muitos quilômetros. O nome Namíbia origina-se da palavra Namib, que significa lugar vasto. Não à toa, é um dos países menos populosos do mundo. @felcastellari

As impressionantes formações rochosas de Spitzkoppe e os esqueletos petrificados de árvores milenares, que marcam a paisagem de Deadvlei – elas permanecem conservadas pela falta de umidade e a rápida desertificação. Na página ao lado, a solitude do deserto mais antigo do mundo, que muda conforme a latitude

Os cenários são tudo, menos monótonos

Esse ensaio mostra algumas das paisagens que marcaram nossa rota. Como uma vila alemã, símbolo de riqueza e um dos principais polos de extração de diamantes nos anos 1920, abandonada no tempo, dominada pelas dunas até ser redescoberta por quem se aventura no desconhecido. Seguindo viagem, subimos até Sossusvlei, que abriga algumas das maiores dunas do mundo e, no meio delas, uma bacia de sal com árvores petrificadas que formam um dos cenários mais emblemáticos de toda a Namíbia – e também o local que inspirou essa viagem. Entre os diversos povos tradicionais que encontramos no caminho, os Himbas são um dos mais surpreendentes: dos últimos nômades, que ainda vivem isolados e de modo tradicional, com costumes e rituais únicos.

Conforme ganhávamos latitude rumo ao Norte, as árvores começavam a aparecer e os desertos, aos poucos, foram se transformando em savana. É o Norte da Namíbia que abriga o Etosha National Park, o melhor lugar para se fazer safári. Um parque com 340 km de estradas que rodeiam um grande salar.

A aventura no Etosha é buscar os waterholes, pequenos lagos que surgem em meio ao deserto e que atraem milhares de animais, formando um ecossistema completo. A sensação de ver uma manada de elefantes cruzando a poucos metros do carro nos lembrou quão pequenos e vulneráveis somos em meio à natureza. De novo, o lugar mais impressionante e inóspito em que já estive.

Cenas marcantes da jornada: a vila de Lüderitz; quilômetros e mais quilômetros rodados nas estradas do destino; a vida selvagem do Etosha National Park; e a união das dunas com o mar em Sandwich Harbour. Na página ao lado, as dunas gigantes de Sossusvlei; representantes dos Himba, um dos últimos povos seminômades da África; e o fenômeno único que acontece quando o sol nasce em Deadvlei, iluminando a duna Big Daddy e seus 325 metros de altura. Destaque também para o céu mais estrelado que já vi sob as icônicas árvores-aljava

VIAGEM

Umbria: a última fronteira da Itália

Sempre em busca de roteiros menos óbvios, Cristiano Biagi, viajante apaixonado e autor da página Kissutrips, divide suas impressões de um canto da Itália mais intocado

Às vezes temos a sensação (e não por acaso) de que o mundo está lotado de viajantes e que jamais iremos encontrar um pedacinho dele vazio – ainda que lindo e interessante. Mas esse lugar existe.

Bem no meio da Itália, a região da Umbria, que fica colada na disputada Toscana, combina paisagens deslumbrantes – montanhas, florestas preservadas e vales cultivados – com uma concentração impressionante de cidades medievais, todas elas com um ponto comum: a ausência de multidões.

De uns tempos para cá, no entanto, a Umbria começou a se destacar porque recebeu hotéis bacanas, incluindo alguns realmente impressionantes, que valorizam propriedades milenares de maneira minuciosa para oferecer um tipo de turismo que muito me atrai. O do luxo mais descontraído, da Itália ainda autêntica, onde nem todo mundo se dirige a você falando em inglês logo após um “buongiorno”, e também tem muita história para contar.

Nesse caso, impossível não citar o Il Reschio, responsável por trazer olhos mais recentes para esse pedaço menos explorado do país. Entre colinas e vinhedos próximos a Perugia, esconde-se esse castelo do século XI com arquitetura original preservada, todo decorado com peças vintage garimpadas, uma a uma, pelos proprietários. Uma cocheira repleta de cavalos andaluzes está disponível para quem quer descobrir a região cavalgando. O spa impressiona, com sua piscina interna no meio de uma torre medieval. Já a piscina externa é uma obra de arte com vista do castelo e tem feito até os mais experientes viajantes se encantarem.

DE BOTA EM BOTA

Um roteiro básico e de poucos dias na Umbria pode incluir algumas cidades bem diferentes entre si. Perugia, a capital, combina herança etrusca, construções medievais e vida cul-

tural intensa. Além de museus renomados e muitas lojas de chocolate – o destino é o berço da famosa Perugina –, o local reúne uma juventude animada em busca de seus diversos bares e restaurantes, já que há ali um centro estudantil e uma universidade histórica.

Conhecida por suas ruelas estreitas – a Viela do Beijo é considerada a mais estreita da Itália –, Città della Pieve é cercada por muralhas medievais e abriga importantes obras de Pietro Perugino, pintor do renascentismo italiano.

Afrescos do mestre italiano também podem ser vistos em Panicale, um vilarejo histórico com vista do gigante Lago Trasimeno. Somam-se a isso igrejas do século XV e o tradicional bordado em tule, técnica artesanal mantida há gerações, como só os italianos (ainda) sabem fazer.

E por falar em fatto a mano, é no pequeno vilarejo de Solomeo que começou a história da marca Brunello Cucinelli e, hoje, o destino mostra como uma marca de luxo pode fazer bem a uma comunidade. Todo o seu Centro Histórico foi restaurado pela grife, orgulhosa de ter ali suas origens. Apesar de minúscula, a cidade sedia a fábrica e os headquarters da maison e se transformou em um epicentro de cultura, arquitetura e tradição. Graças a isso, surgem novas gerações de artesãos italianos, que aprendem com os melhores a fazer roupas como ninguém.

Outro estilo de turismo que pode ser observado na Umbria, mais precisamente em Assis, é o religioso. Berço de São Francisco e Patrimônio Mundial pela Unesco, a cidade

Por conta de sua paisagem, a Umbria é considerada o “coração verde” da Itália. Acima e na página ao lado, Kissu nos arredores do Reschio e, abaixo, apreciando o visual com seu companheiro Philippe Takla

A Umbria oferece um turismo do luxo descontraído, da Itália ainda autêntica

reúne arte sacra, arquitetura medieval e paisagens bucólicas. A Basílica do Santo é um ícone da arte medieval, enquanto a Basílica de Santa Clara é outro ponto que merece a visita. É ali também que está o corpo do mais novo santo da igreja católica: o jovem Carlo Acutis, cujo primeiro milagre se deu no Brasil. A cidade guarda um mood único e especial que atrai inclusive os menos religiosos.

Umbria

Quando ir

Prefira as estações moderadas, como a primavera e o outono. Mas, mesmo no verão, é possível encontrar vários lugares tranquilos. No inverno, muitos hotéis estão fechados.

Como chegar

A Umbria é colada em Lazio e na Toscana. Portanto, é possível acessá-la rapidamente de carro por Roma ou Firenze.

Em sentido horário: a basílica onde está o corpo do santo Carlo Acutis; o pequeno vilarejo de Solomeo, sede da Brunello Cucinelli; e o visual do alto da cidade de Panicale, com vista do lago Trasimeno

Fotos
Cristiano Biagi

A região combina paisagens deslumbrantes e cidades medievais, com um ponto em comum: a ausência de multidões

Onde comer

Ristorante Il Giurista, em Perugia

Aconchegante, esse restaurante em pleno Centro Histórico tem um cardápio focado nas carnes.

Trattoria Bruno

Coppetta, na Città della Pieve

Desde 1965, essa trattoria é especializada em receitas da Umbria e da Toscana.

Valter a Solomeo, em Solomeo

A autêntica cozinha da Umbria, feita com maestria.

Onde ficar

Castello di Reschio

Minha recomendação número um na região. Novo, mas implantado em um castelo com mais de 1.000 anos, impressiona pelo bom gosto em cada detalhe.

Borgo Antichi Orti

Dica ideal para quem quer estar perto de Assis. Trata-se de um antigo monastério, que hoje tem 12 villas e um incrível jardim medicinal.

Os simpáticos vilarejos Città della Pieve, com muralhas medievais, e Panicale. Depois, uma seleção de imagens do Il Reschio, hotel que tem colocado a Umbria no radar dos viajantes mais exigentes

Entre Exclusividade e Comunidade

Especialista em varejo, Gustavo Gadotti traça o perfil do novo consumidor e analisa o movimento das marcas para, além de atraí-lo, conectá-lo

Por Gustavo Gadotti Duwe @gugadotti

A cultura digital transformou o consumo. Nunca foi tão fácil comprar e tão difícil se conectar. Plataformas como TikTok e Instagram encurtaram o tempo entre descobrir um desejo e querer satisfazê-lo. A informação deixou de ser escassa: é abundante, instantânea e viral. Mas o que parecia um caminho direto ao consumo se tornou mais complexo. Comprar, por si só, não basta. O novo consumidor quer interagir, personalizar e pertencer. Experiências imersivas, influenciadores e conteúdos gerados pelo público (UGC) passaram a ser parte essencial da decisão de marca – e poucas marcas entenderam isso tão bem quanto a Jacquemus.

“A pergunta especial para as marcas já não é mais: ‘quem pode pagar?’ Agora devemos considerar quem queremos que permaneça”

Com estética pop, campanhas virais e ativações, a label francesa construiu uma linguagem própria e, muitas vezes, apropriada das próprias trends. Suas flagships no SoHo, em Nova York e em Los Angeles, são prova disso. Em vez de celebridades tradicionais para as inaugurações, a Jacquemus aposta em tiktokers com narrativas originais, que engajam a comunidade digital antes mesmo da abertura. A loja em si vira destino: um espaço minimalista e sofisticado, projetado para ser visitado, mas, primordialmente, postado. Cada canto é um convite ao conteúdo que, aqui, não é consequência. É estratégia. E esta vai além da loja.

Em Ibiza, no badalado restaurante Jondal, a Jacquemus montou uma pop-up exclusiva e customizou

todo o local. Só ali é possível adquirir certos produtos, reforçando um modelo de escassez intencional. A ação une exclusividade e comunidade – e mais uma vez transformou o consumidor em canal de mídia. Ao fazer do ambiente um palco e do cliente um agente ativo, a marca amplia sua presença não com mídia paga, mas com desejo orgânico, distribuído por aqueles que vivem a marca. Não é mais sobre a pop-up – que muitos já fizeram –, mas sobre como ela será apropriada pelos clientes.

E ela não está sozinha. Loewe e AMI têm seguido caminhos semelhantes. Seus desfiles performáticos e campanhas narrativas transcendem a roupa e constroem universos estéticos onde o consumidor se vê representado e instigado. Em vez de apenas vestir, essas marcas provocam identificação. A cultura pop, o casting diverso e a forte presença digital ajudam a moldar um senso de comunidade que sustenta o vínculo com a grife.

Nesse novo cenário, a loja física deixa de ser ponto de venda e se torna palco de encontros, ativações e experiências. O digital não é apenas canal de e-commerce, mas espaço de exploração e criação de desejo. Ferramentas como WhatsApp não servem apenas para transacionar com o vendedor favorito, mas para construir laços contínuos e acesso às experiências da marca.

Com vasta experiência em varejo, Gustavo Gadotti Duwe ajudou na expansão de marcas como Kopenhagen, Adidas e Arezzo. Fundou a startup Zipper, dedicada a digitalizar o varejo, que acabou sendo adquirida pela CRMBonus, onde, hoje, atua como vice-presidente.

Essa transformação exige ambidestria: preservar a essência da marca, sua herança, sua narrativa, sua escassez, enquanto se exploram novas linguagens, formatos e canais. Estar acessível e digital não deve significar ser comum. As marcas que entenderam isso criam pontes entre aspiração e comunidade.

O novo consumidor se fortalece, portanto, com base em conexões, e não somente em transações. O produto segue importante, porém cada vez mais é apenas parte da equação. A forma como ele é apresentado, a experiência que o cerca, a comunidade que o reforça e o papel do consumidor como agente de conteúdo são os novos vetores de valor.

Por isso, a pergunta essencial para as marcas já não é mais: “quem pode pagar?” Agora, devemos considerar: quem queremos que permaneça e como vamos empoderar essas pessoas para que promovam, compartilhem e perpetuem essa história?

Jacquemus Nova York
Jacquemus Ibiza

CARBONO ZERO

AVANÇA, BRASIL!

Seis empresas brasileiras conquistaram em 2025 a certificação internacional

“Zero Waste Management” , adotando economia circular, reciclagem integral e gestão eficiente de resíduos para reduzir impactos ambientais. São elas: CJ Brasil, DOF, Big Box, Petronas, Windar Brasil e Globokraft.

VIDA NOVA

A Olindo é uma nova marca de joias, criadas a partir de metais reutilizados. Selecionada para a 60ª edição da SPFW, chama a atenção pelo DNA sustentável e pelo design arrojado, que dispensa estereótipos de gênero. @olindostudio CACAU

REFLORESTADO

A Nestlé se uniu à Barry Callebaut para restaurar 8 mil hectares degradados em regiões brasileiras produtoras de cacau e café a partir do plantio de 11 milhões de árvores nativas e da adoção de práticas agrícolas regenerativas. @nestle_br | @barrycallebaut.group

RECICLAGEM FASHION

Não foram só os shapes elegantes e os tecidos fluídos que chamaram a atenção no último desfile de Stella McCartney, em Paris. A apresentação da estilista foi marcada pelo Pure Tech, um tecido revolucionário que consegue neutralizar poluentes atmosféricos, como o CO2. Outro hit aconteceu em torno das Fevvers, penas veganas que conferem a mesma elegância das reais – e cruéis – aos looks! @stellamccartney

EM PÓ

Se, assim como nós, você está de olho nos produtos de beleza realmente clean, vale prestar atenção no shampoo em pó da Humà. Sem sulfato, parabeno ou derivados de petróleo, ele não só revitaliza os fios como promove relaxamento, bem-estar e sono – os óleos essenciais de menta e lavanda ajudam na missão. Entre os ingredientes-chave está a betaína, derivada da beterraba, que é superhidratante. @humacosmetica

METAS ESG ELEVADAS

AS GIGANTES DA MODA HERMÈS E LVMH REFORÇARAM EM 2025 COMPROMISSOS COM TRANSPARÊNCIA E RASTREABILIDADE, AMPLIANDO METAS CLIMÁTICAS E DE REDUÇÃO DE EMISSÕES. RELATÓRIOS DESTACAM INVESTIMENTOS EM INOVAÇÃO SUSTENTÁVEL E CADEIAS LIMPAS. @HERMES | @LVMH

SUSTENTABILIDADE EM ROTA

Localizado na Grande Belo Horizonte (MG), o BH Airport foi reconhecido pela quinta vez como “Aeroporto Verde” pela ACI-LAC – associação que representa os aeroportos da América Latina e do Caribe. O prêmio destaca o projeto Passagem de Fauna: um túnel ecológico que conecta áreas florestais e já reduziu em 83% os atropelamentos de animais silvestres, protegendo espécies nativas e reforçando o compromisso ESG do aeroporto.

DA TERRA

A busca por saboarias naturais nos levou até Visconde de Mauá. Que tal? É lá, entre os incríveis vales e vilarejos da região, que fica a Maí. Conduzida por uma estudiosa de ayurveda, saboaria e cosmetologia, a marca elabora produtos para o cabelo, a pele e os ambientes com óleos essenciais e manteigas vegetais. Adoramos os shampoos em barra! @maisaboarianatural

FEITO EM CASA

Quando for a Paraty, fique de olho nas cestas do Empório DAQUI. A loja-café do grupo Ocanto, o mesmo da Pousada Literária e da Fazenda Bananal, prepara modelos com delícias artesanais, perfeitos para quem vai passar o dia al mare. As cestas carregam produtos que refletem a história e o terroir da região. Os pães, por exemplo, são feitos com fermentação natural e insumos agroecológicos cultivados na Fazenda Bananal, enquanto os queijos são de pequenos fornecedores. Entre os destaques, a granola artesanal vem quentinha de tão fresca. @emporio.daqui

“VOCÊ

NÃO FOTOGRAFA COM SUA MÁQUINA. VOCÊ FOTOGRAFA COM TODA A SUA CULTURA.” SEBASTIÃO SALGADO

PARA VISITAR

De olho na COP 30, Belém acaba de inaugurar um novo museu. E o Museu das Amazônias chega em grande estilo, com uma grande exposição sobre Sebastião Salgado, um dos maiores defensores da floresta. Já queremos ir! @museudasamazonias

COR COM ALMA ARTESANAL

Criada pelos artistas Bruno Dunley e Rafael Carneiro, a brasileira Joules & Joules produz tintas a óleo artesanais – sem secantes e com o mínimo de estabilizantes – feitas com pigmentos puros e naturais em formulações monopigmentárias, que revelam cores intensas e fiéis. A marca aposta em soluções ecológicas e biodegradáveis, como a linha de solventes Eco Joules, extraída da resina de coníferas, que acelera a secagem da tinta. Uma alternativa moderna e menos tóxica para um respiro autoral no universo das artes plásticas. @joules_and_joules

CORRENTE DO BEM

Dica para fazer o bem por meio de uma peça linda, poética e cheia de significado. A nova obra da artista Shirley Paes Leme é um colar de ouro cuja renda será 100% destinada para o Oportunidade do Bem, projeto de second hand de Ana Eliza Setubal, focado em instituições sociais. A edição limitada traz 20 peças com a frase “Ninguém vai viver o seu sonho” e pode ser encontrada na Galeria Carbono @shirleypaesleme | @carbonogaleria | @oportunidadedobem

40 ANOS DE PIONEIRISMO

Quando resolveu transformar a fazenda de sua família no Pantanal em um refúgio ecológico dedicado à conservação do bioma, o ambientalista Roberto Klabin foi chamado de louco. Quatro décadas depois, a Caiman – Pantanal ganha um livro comemorativo para contar essa e outras histórias imperdíveis. Com curadoria de Thereza e Victor Collor, a obra traz lindos registros de fotógrafos que passaram pela fazenda ao longo desses 40 anos. @caimanpantanal

SABOR AZUL, PEGADA VERDE

O Standing Sushi Bar inaugura uma noite mensal dedicada ao atum Bluefin, em parceria com a Bluefiná – empresa mexicana referência mundial na criação sustentável da espécie. A iniciativa valoriza a gastronomia japonesa e destaca práticas responsáveis de aquacultura, oferecendo cortes nobres de um peixe criado com respeito ao meio ambiente e rastreabilidade exemplar. @standingsushibar_sp

SINAL DE FRESCOR

Criado pela espanhola Oscillum, o adesivo inteligente e biodegradável Addvibe muda de cor ao detectar a deterioração dos alimentos, avisando de forma simples e visual quando algo já não está próprio para o consumo. O toque de tecnologia e consciência ajuda a reduzir desperdícios no consumo de carnes, frutas e verduras. @oscillumb

DEBAIXO D’ÁGUA

Um estudo recente apontou as ilhas mais importantes do mundo para a preservação da biodiversidade marinha e Fernando de Noronha está entre elas. Mais de 7 mil peixes recifais e 87 ilhas foram analisados.

Fotos
Bruno
Erlinger, Filipe
Berdnt, Flávia
Faustino
divulgação

PÁGINAS AMARELAS

Tendências para ficar de olho: um guia inteligente por Carbono Uomo

PASTA & VINO

Os nomes por trás do Shihoma trazem dicas –dos filmes aos endereços – para os fãs de uma cozinha descomplicada

IMPRESSO, SIM

Fernando Pacheco, jornalista apaixonado pelo papel –assim como nós – indica títulos e endereços para folheá-los. Dá vontade de colecionar!

TODO DIA

A estilista Raquel Davidowicz indica bakeries tão deliciosas quanto a Komah, vizinha de sua loja paulistana

LINHA FINA

Dicas e segredos de maquiagem e cabelo para homens não só vaidosos como práticos. Por Muca Lucca

TIMBRE

Uma curadoria afiada de palcos e espetáculos ao redor do mundo pelo barítono Rodolfo Giugliani

NAS ALTURAS

Gabriel Pellegrini revela a arte de construir – e voar – aviões perfeitos, mas em escala reduzida: o aeromodelismo levantou voo!

Para se divertir, aliviar o stress, testar a mente: seja qual for o motivo, a onda dos games só faz crescer EU JOGO, TU JOGAS

POESIA A linha tênue entre memória, infância e imaginação marca a obra de Nazareno

SÃO PAULO

SHIHOMA DELI

Nossa deli de inspiração italiana, mas com uma pitada mais moderna. @shihomadeli

AK DELI

Comandada por Andrea Kaufmann, essa autêntica deli judaica tem delícias para todas as horas. @akdelii

Páginas amarelas

MAMMA MIA!

Dupla à frente do Shihoma Pasta Fresca, restaurante paulistano adorado pelas massas artesanais, Marcio Shihomatsu e Joey Lim indicam delis, livros e filmes para quem é fã dessa cozinha mais despretensiosa

Por Marcio Shihomatsu e Joey Lim

SÕZAI JAPANESE DELI

Receitas japonesas prontas ou congeladas nessa deli japonesa escondida e de ótima qualidade. @sozaideli

ALÉM DA ITÁLIA

PADARIA SÃO DOMINGOS

Vai além de uma padaria e funciona como uma deli mais tradicional: tem sanduíches, doces e outros pratos. Há uma mesinha fora para quem quiser comer no local. @padariasaodomingos

Cinco endereços brasileiros que vão além da culinária italiana e, segundo os chefs, são grandes achados onde se come bem

SÃO PAULO Izakayá Kaburá @izakaya_kabura – Kidoairaku @kidoairaku_japanesecuisine

Deigo @restaurantedeigo – Tenda do Nilo @tenda_do_nilo

RIO DE JANEIRO Trégua @tregua.cozinha

Fotos
Cassey Guiltner, Renee Suen, Thays Bittar

1. FAMIGLIA BALDASSARRE – TORONTO

Pastifício comandado por um chef talentoso e técnico, que respeita muito a tradição. Foi uma inspiração para o Shihoma. @famiglia_baldassarre

2.

TRATTORIA

DA AMERIGO 1934 – SAVIGNO

Eu (Marcelo) fiquei um dia inteiro lá e foi muito legal ver as “mamas” fazendo todas as massas no matterello pela manhã, exatamente como manda a tradição. À noite, quando chegam os cozinheiros, entra uma parte mais moderna. @amerigo1934

3. FLAVIO AL VELAVEVODETTO – ROMA

Um endereço bem tradicional de Roma, onde encontramos clássicos como cacio e pepe, alla gricia e outros. @alvelavevodetto

PARA VER

Pegando Fogo

O filme retrata muito bem a figura mais tradicional do chef que nós dois conhecemos –Bradley Cooper está ótimo no papel.

Ratatouille

Apesar de ser infantil, é um filme que agrada a todos porque evidencia essa parte de paixão pela hospitalidade que envolve nosso trabalho.

Estômago

O longa brasileiro mostra a jornada de um cozinheiro, envolvendo muitas aventuras.

A 100 Passos de um Sonho

A interessante história de uma família indiana que decide abrir um restaurante na França, bem em frente a um endereço gastronômico já superconceituado.

4. REZDÔRA – NOVA YORK

Entre os restaurantes italianos dos Estados Unidos, é o nosso favorito. O chef passou um bom tempo em Bolonha e faz uma releitura muito bacana da culinária da região. @rezdoranyc

5. ANTICA OSTERIA DEL MIRASOLE – BOLONHA

É muito simples, mas maravilhoso, o melhor italiano em que já comi (Marcelo). O tortellini alla panna é um prato icônico, feito com a parte de cima do leite, separada naturalmente. Muito especial. @osteriamirasole

6. TRATTORIA PENNESTRI – ROMA

Tem um pouco do nosso clima, mais casual. Faz receitas com pitadas diferentes, mas ainda tem a base da culinária italiana como tradição. @trattoriapennestri

PARA LER

Mastering Pasta – Marc Vietri

O livro de pasta mais técnico que já lemos. Da composição do glúten à secagem da massa, ele passa muitas informações importantes.

Sauces and Shapes – Oretta Zanini

Uma obra que resume muito nossa filosofia, baseada na simplicidade à mesa, poucos ingredientes e essência dos sabores.

Japanese Cooking – Simple Art – Shizuo Tsuji

No Shihoma usamos algumas técnicas e até ingredientes japoneses e esse livro acabou sendo uma referência.

American Sfoglino – Evan Funke

O chef americano foi aprender a fazer massa em Bolonha como um autêntico sfoglino.

SÃO PAULO

Páginas amarelas

O PÃO NOSSO DE CADA DIA

Fundadora e estilista da UMA, Raquel Davidowicz tem a sorte de dividir o espaço de sua loja paulistana com uma das melhores padarias da cidade. Para a Carbono ela indica este e outros endereços que vão muito além do pão francês

Por Raquel Davidowicz

Além do sabor diferenciado da culinária coreana, a preocupação com a estética dessa padaria ao lado da minha loja é inacreditável, principalmente nas montagens da parte de pâtisserie. @komahbakery

Extensão da marca de restaurantes, com pães, doces e viennoiseries executados com o mesmo padrão elegante e sofisticado. @lejazzboulangerie

Amanteigado e bem folhado, o croissant virou referência na cidade. Um espaço aconchegante e que traz a tradição francesa com excelência. @joyaboulangerie

BARCELONA

Tudo sempre fresco e ingredientes de muita qualidade. Suas fornadas valorizam sabores simples e muito bem executados. @padariabarcelonapaes

Uma padaria simples e acolhedora, que conquista pela honestidade do sabor e pelo frescor. Ideal para quem busca prazer sem frescura. @dengosapaes

KOMAH BAKERY
JOYA BOULANGERIE
DENGOSA
Fotos
Juliana Primon, Laís Acsa e divulgação
LE JAZZ BOULANGERIE

PÃO - PADARIA ARTESANAL ORGÂNICA

Adoro a diversidade de pães, que vai desde receitas tradicionais até criações inventivas, sempre com textura e preparo minuciosos. @padariaorganica

FABRIQUE

São diversas opções para levar ou comer no local nesta padaria que já tem três unidades. O meu favorito é o croissant de amêndoas, muito especial. @fabriquepaes

ARTISAN BOULANGERIE

Produz deliciosos pães artesanais com técnicas tradicionais francesas. Crocantes por fora e macios por dentro, superparisiense. @artisanboulangerie

Especializada em pães de fermentação longa, com cascas mais escuras e crocantes. Os sabores são intensos e muito refinados. @biencuit

Um clássico parisiense que vai além dos doces: oferece sanduíches frescos e pratos leves em um ambiente elegante. É uma ótima pedida para uma pausa no dia. @caretteofficiel

PARIS NOVA

Charmoso e aconchegante, o endereço mistura café e padaria em um ambiente perfeito. Além dos cafés ótimos, oferece doces, bolos e pães. @_mamannyc_

BIEN CUIT
CARETTE
MAMAN

Páginas amarelas

BRASIL

OS GRANDES PALCOS DO MUNDO

Barítono internacional, Rodolfo Giugliani indica os destaques da temporada lírica nas principais cidades

A ópera e a música clássica, que nasceram em cortes e salões aristocráticos, atravessaram centenas de anos e chegaram ao século XXI como formas de arte em permanente renovação. A cada geração surgem novos intérpretes que se tornam ídolos – cantores, maestros, pianistas e regentes de orquestras – capazes de atrair públicos diversos e formar plateias apaixonadas.

Ao mesmo tempo, as formas de apresentação também mudaram. Montagens multimídia, transmissões ao vivo para cinemas e plataformas digitais, concertos ao ar livre e experiências híbridas de música com teatro, dança ou artes visuais mostram que o gênero nunca esteve tão aberto a novas linguagens. Longe de se tornar um patrimônio estático, a ópera se reinventa continuamente, reafirmando sua vocação: unir tradição e modernidade em espetáculos de força universal, capazes de emocionar e dialogar com o espírito do tempo. A seguir, indico alguns deles. @rodolfobaritono

CONCERTO ORIGINE – SP

Embarque em uma experiência única, que une música e gastronomia. Uma viagem à Itália, conduzida por mim. É preciso reservar a partir do @rodolfobaritono.

UNIOPERA NO TEATRO BRADESCO – SP

Requiem, Mozart — De 27 a 30/12

Ciclo Tchaikovsky, Ciclo Richard Strauss, Panorama da Música Francesa. Convidados: Tom Borrow e Alondra de la Parra. | Datas a confirmar.

Há alguns anos, o hotel Toriba mantém uma programação semanal, sem interrupção, com um farto repertório de óperas, balé e concertos, firmando-se como um epicentro cultural. E eu tenho o prazer de participar como cantor residente semanal.

SALA SÃO PAULO – TEMPORADA DA OSESP
HOTEL TORIBA – CAMPOS DO JORDÃO, SP

THEATRO MUNICIPAL – RJ

NOVEMBRO

Ópera – Madama Butterfly

Grande montagem de Puccini. Promete trazer emoção e lirismo com a história da gueixa Cio-Cio-San.

DEZEMBRO

Balé – O Quebra-Nozes

O clássico natalino de Tchaikovsky retorna ao palco do Municipal, fechando a temporada com toda a magia do fim de ano.

EUROPA

MUSIKVEREIN – ÁUSTRIA

Christmas im Wiener Musikverein — 11/12

ESTADOS UNIDOS

SALA CECÍLIA MEIRELLES – RJ

NOVEMBRO

José Staneck (harmônica) & Ricardo Santoro (violoncelo) — 6/11

Orquestra Sinfônica Brasileira: Beethoven e Tchaikovsky — 28/11

Orquestra Rio Villarmônica: Delicadeza e Força, Espanha! — 30/11

DEZEMBRO

Orquestra Sinfônica da UFRJ — 2/12

Orquestra Sinfônica Brasileira — 15/12

Especial de Fim de Ano com Quinteto Villa-Lobos e convidados — 19/12

Continuação do Especial de Fim de Ano com Quinteto Villa-Lobos e convidados — 20/12

DE PARIS – FRANÇA

Rotterdam Philharmonic Orchestra | Lahav Shani — 30/11

Mahler “Resurrection” — 2/12

Chamber Orchestra of Europe | Yannick Nézet-Séguin — 6/12

Monkey King — De 14 a 30/11

and Bess

PHILHARMONIE

O PAPEL TEM A FORÇA

Revistas – e lugares para encontrá-las – com a curadoria de Fernando Augusto Pacheco, expert no assunto

Mais do que jornalista, o brasileiro Fernando Augusto Pacheco é, assim como nós, um entusiasta fervoroso do impresso. Radicado em Londres, ele trabalha na Monocle Radio, projeto do time da revista Monocle, que a gente, por sinal, adora. Fernando, que também assina artigos para a publicação, tem um podcast semanal, o The Stack, dedicado à mídia impressa, em que conversa com editores, publishers e designers das melhores revistas e jornais do mundo –a Carbono está nessa seleção, viva! Com o amor pelo impresso como interesse em comum, convidamos Fernando para indicar títulos internacionais que merecem o toque e lugares para quem ainda gosta de voltar para casa com o peso – e o perfume – de uma boa revista. @feapfeap

Você pode seguir o trabalho do Fernando no Instagram dele @feapfeap e pode ouvir o programa no monocle.com/radio/shows/the-stack/ e nas principais plataformas, como Spotify e Apple

PARA LER

1. POPEYE – JAPÃO

Revista icônica voltada ao público masculino, que se intitula como “magazine for city boys”. Vai celebrar 50 anos em 2026 e continua sendo fonte de inspiração para muitos. @popeye_magazine_official

2. BÂTARD – FRANÇA

Além dos títulos mais tradicionais, o que amo no Stack é descobrir revistas dos assuntos mais variados, como essa francesa sobre cachorros Bâtard. Com um design lindo, o título olha nosso fascínio por cães do ponto de vista cultural. Dois belos Dobermanns estão na capa da última edição. @batard__

3. M LE MAGAZINE DU MONDE – FRANÇA

Admiro muito o que está rolando no mundo editorial com revistas de jornais, desde o HTSI, do Financial Times, até Zeit magazine, do Die Zeit. E a M Le Magazine du Monde, revista que vem semanalmente junto com o diário Francês Le Monde, é um dos melhores exemplos. De política a uma entrevista exclusiva com Vanessa Paradis, sempre rende uma boa leitura. @m_magazine

4. NEW YORK – ESTADOS UNIDOS

A tradicional revista nova-iorquina ainda é publicada quinzenalmente e tem uma cobertura irreverente da cidade. E, apesar de focar em Nova York, cobre muito bem a cena política americana. Admiro também o The Cut, o nome da cobertura fashion deles, que antes era só on-line, e agora conta com duas edições especiais impressas todo ano. @nymag

5.

MANERA – ESPANHA

Publicação trimestral fundada pelo jornalista Enric Pastor. Sempre vibrante, cobre também o melhor design da América Latina. Em 2024, lançaram uma edição mexicana e, este ano, deve haver uma versão para os países do Benelux (Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo). @maneramagazine

Páginas amarelas

ONDE FOLHEAR (E COMPRAR)

DAIKANYAMA T-SITE – TÓQUIO, JAPÃO

A livraria é um paraíso, especialmente para fãs de revistas e do impresso. De edições antigas da Popeye até uma seleção das principais publicações de moda do mundo. E ainda dá para tomar um belo coquetel no bar dentro da livraria, o Anjin. @daikanyama.tsutaya

MAGCULTURE – LONDRES, INGLATERRA

O endereço, que está celebrando uma década em 2025, é de Jeremy Leslie, um grande amigo do meu podcast Stack Uma visita por lá é uma celebração do impresso e da cena independente. @magculture

A Monocle chegou a Paris este ano com tudo, trazendo também um novo café e loja na Rue Bachaumont. Oferece uma seleção variada de revistas internacionais, os jornais do dia e as últimas publicações da Monocle. @monocle

SHREEJI – LONDRES, INGLATERRA

Banca vizinha ao nosso escritório em Londres, é uma visita diária. O dono, Sandeep Garg, sabe de tudo e sempre tem recomendações maravilhosas. Aproveite para tomar um espresso nos banquinhos de fora enquanto lê seus títulos favoritos. @shreejinews

CASA MAGAZINES – NOVA YORK, ESTADOS UNIDOS

O melhor lugar para comprar revistas na cidade americana. Recentemente, ainda expandiram para o imóvel ao lado com a Casa Next Door vendendo livros, café e outros goodies @casamagazinesnyc

EXTRA! CARBONO INDICA

Em São Paulo, na Livraria Prince Books (@princebooks) o leitor encontra curadoria afiada e atualizada de publicações nacionais e importadas. O lugar certo para acompanhar as edições dos seus títulos favoritos e descobrir novos

THE MONOCLE CAFÉ & SHOP
PARIS, FRANÇA

Páginas amarelas

COBERTURA

Beauty artist da TV Globo há 23 anos, Muca Lucca indica maquiagens masculinas que fazem a diferença de maneira sutil

Maquiagem masculina? Sim. Estamos em 2025 e o mercado está atento a esse público que transita por diferentes cenários em um mesmo dia: academia, escritório, restaurante, clube.

Em tempos corridos, produtos de ponta cada vez mais naturais e imperceptíveis, incluindo hidratantes com cor e corretivos, podem ajudar quem deseja se sentir confortável com a aparência e cuidar da saúde. Confira minha seleção e invista sem medo. @mucalucca

VALE O TOQUE

A base hidratante Rare Beauty Positive Light Tinted Moisturizer SPF 20, premiada este ano pela aparência supernatural, dá um acabamento semelhante à pele e não se acumula em linhas. Na Sephora.

Outra opção, também consagrada este ano, é a Chanel Ultra Le Teint Compact: além de ser luminosa, tem mate com controle de brilho.

Quando o assunto é rotina masculina, a base Perfecting Skin Tint da Glossier é perfeita. Translúcida e sutil, adiciona uma camada imperceptível de cor que uniformiza a pele. Na Amazon.

SUTILEZAS

Para pequenas imperfeições, alguns corretivos atendem bem. O Concealer for Men da Horace esconde acne e olheiras e pode ser um bom aliado em ocasiões especiais. Também gosto do da NARS, o Soft Matte Complete Concealer, para coberturas mais pontuais.

TODO DIA

FIO A FIO

Para as sobrancelhas mais falhas recomendo o lápis da linha Boy, da Chanel. Ele as preenche de forma natural.

CONTORNO

Nos lábios, alguns notáveis são indispensáveis, como o Dior Rouge Lip Balm, que os hidrata com um tom supernatural.

DEU SOL

Alguns pós e bronzers apagam poros e dão aquele ar saudável que sempre cai bem. O Cloud Set Loose Powder, da Kosas, deixa a pele translúcida em tons Buttery e Peachy

VENTO, VENTANIA

Para cabelos, indico truques alternativos que não estão à venda no mercado. Depois do shampoo, com os fios ainda úmidos, aplique um spray fixador. Penteie e deixe secar. Depois, é só escovar. O resultado é um cabelo que não cai no rosto, arrumado, com ar natural. Outra dica? Se quiser substituir o gel e ainda assim ter aquele efeito molhado, dissolva uma gelatina em folha e aplique no cabelo.

Páginas amarelas

VOA, VOA

Mais do que um hobby, construir e fazer voar aviões em escala reduzida é uma arte que tem crescido mundo afora. Gabriel Pellegrini conta mais detalhes sobre o universo do aeromodelismo

Por Gabriel Pellegrini

ANTES E DEPOIS

Hoje, a maioria das pessoas começa a praticar o aeromodelismo com aviões elétricos, modelos de isopor pequenos, simples e acessíveis, mas nem sempre foi assim. Entre 1940 e 2005, era preciso comprar um kit de madeira e ficar até 300 horas montando o seu. Já imaginou?

PARA TODOS OS GOSTOS

Os aviões de isopor, indicados para iniciantes, compõem um amplo universo. Veja dois estilos recomendados.

São feitos para voar bem e tudo neles funciona melhor.

A JATO

Sua turbina em miniatura usa querosene, como os jatos, e funciona igualzinho às de um avião normal.

DE OLHO NELES!

Uma dica valiosa para quem quer se aventurar é comprar um simulador, algo que não existia há alguns anos. A caixa simula um controle remoto com sticks idênticos, que você pluga no computador e voa sem precisar quebrar nada antes de aprender. Ainda assim, recomendo contratar um instrutor para entender como fazer.

SPORT JETS

UM ESPETÁCULO!

DE ESCALA

Esses modelos seguem réplicas de aeronaves reais, respeitando ao máximo detalhes, proporções e características do original. São mais difíceis de se colocar no ar e, por isso, desafiadores.

Confira três campeonatos incríveis para quem gosta do assunto

O evento é uma nova versão de um campeonato lendário, o Top Gun RC, e acontece em abril do próximo ano. Promete reunir pilotos de ponta do mundo todo na Triple Tree, uma das pistas de pouso mais reverenciadas da aviação, localizada na Carolina do Sul.

TOP GUN – FLÓRIDA, EUA

Reúne pilotos de todo o planeta, com modelos que reproduzem aviões de diferentes épocas, desde exemplares da Primeira Guerra Mundial até jatos modernos.

DOIS LUGARES PARA APRENDER

ASSOCIAÇÃO ITUANA DE AEROMODELISMO – ITU, SP

Um espaço gramado e preservado, às margens do rio Tietê. @aiaaero

CLUBE ASAS DO TINGUA RIO DE JANEIRO, RJ

Reúne profissionais e iniciantes em uma ampla área verde. @clubeasasdotingua

JET WORLD MASTERS

É a Copa do Mundo do aeromodelismo de escala e acontece a cada dois anos em um país diferente. Os participantes investem muito tempo e dinheiro nesses aviões. E ver de perto os detalhes, como antenas e adesivos, é impressionante.

ACE OF ACES – CAROLINA DO SUL, EUA

JOGUE-SE NESSA

Seja para se divertir, seja para aliviar o stress, a onda dos games só faz crescer. Conheça alguns jogos que estão no nosso radar

Game é coisa de gente grande e a gente pode provar. Segundo a edição deste ano da Pesquisa Game Brasil (PGB), realizada anualmente desde 2013, 82,8% dos brasileiros jogam regularmente – aqui vale o adendo: esse número contempla jogos digitais para celular, PC e/ou console (Nintendo, Xbox e PlayStation). O País está entre os cinco maiores mercados mundiais em número de jogadores. Os dados mostram que esse é um ótimo negócio: a previsão de receita da indústria mundial de games em 2026 é de US$ 2,8 bilhões, sendo o Brasil o que mais movimenta o mercado na América Latina. Ah, e não podemos nos esquecer de que os 30+ estão cada vez mais fazendo do seu lazer esse tipo de jogo. A seguir, dicas para dar o start nesse universo:

Criado pela brasileira Wildlife Studios, uma das maiores empresas de games do mundo, esse jogo simula com perfeição uma partida de tênis. Nele é possível desafiar amigos em tempo real, personalizar a raquete dos sonhos e acompanhar gráficos profissionais. O Tennis Clash já fez parceria com o torneio francês Roland-Garros e com a agora bicampeã do US Open Aryna Sabalenka.

Espere por ação e aventura nesse jogo que se passa em 1911 durante o declínio do Velho Oeste americano e segue a história de John Marston, um antigo fora da lei que tem sua família feita de refém pelo governo para forçá-lo a trabalhar como seu caçador contratado. Com ótima resolução, é possível ver texturas de árvores e animais de forma bastante realista. Para jogar no computador ou no console.

RED DEAD REDEMPTION
TENNIS CLASH
Páginas amarelas

EURO TRUCK SIMULATOR 2

Neste game, o jogador dirige caminhões por um mapa que representa uma versão reduzida da Europa e suas estradas, transportando cargas e realizando entregas. Conforme você avança, é possível comprar caminhões, garagens, reboques e contratar motoristas para trabalhar na sua empresa. Disponível para jogar no celular, no computador e no videogame.

FOOTBALL MANAGER

Diferentemente do famoso FIFA, em que você está em campo, nesse jogo você gerencia e treina os times de futebol. O FM dá a chance de participar de contratações, pensar a parte tática para avançar nas temporadas e desenvolver talentos, além de fazer melhorias no estádio do seu time. Bom para realizar o desejo de muitos brasileiros. Disponível para PC e Xbox.

ÁRIDA

Vem da Aoca Game Lab, empresa desenvolvedora de games de Salvador, Bahia, que tem como premissa levar a cultura popular brasileira a gamers do mundo todo, os jogos ÁRIDA: Backland’s Awakening e ÁRIDA II: Rise of the Brave. Neles, Cícera, uma menina de 13 anos, enfrenta aventuras e desafios do sertão do século XIX. Puro suco de Nordeste para as telas do mundo todo. Disponível para PC e Android e iOS.

FLIGHT SIMULATOR

Criado pela Microsoft, o game nos faz nos sentirmos um aviador de verdade enquanto pilotamos aviões mundo afora. São mais de 65 aeronaves, que você pode escolher conforme avança no jogo, e 150 aeroportos para decolar e pousar. Realidade é o que não falta nesse jogo. Disponível para PC e console.

SEM EXCESSO

Nem tudo é diversão: os jogos on-line são também fontes de tensão em relacionamentos, principalmente os amorosos. É que, a depender de qual a frequência e quantas horas o cônjuge se dedica à jogatina, isso pode afetar o tempo das conversas e atividades feitas em casal. A maior queixa? Afastamento e abandono. Com o número de jogadores aumentando exponencialmente, sendo ainda a maioria homens, é preciso ficar atento às frustrações que podem aparecer no caminho.

A obra de Nazareno mergulha na delicada fronteira entre memória, infância e imaginação. Seus trabalhos – que transitam entre desenhos, esculturas, instalações, vídeos, gravuras e livros – evocam contos de fadas, narrativas íntimas e a vulnerabilidade do sujeito contemporâneo diante da impossibilidade de transcendência. Miniaturizações, deslocamentos e jogos visuais criam atmosferas que despertam no espectador um estado ambíguo: ora de ternura, ora de estranhamento, como se fosse convocado a revisitar sua própria infância a partir de uma condição adulta. Com carreira consolidada em exposições no Brasil e no exterior, além de prêmios e publicações em livros e catálogos de arte, Nazareno tem obras em importantes coleções públicas e privadas. @nazarenorodrigues

MOTIM | RELEVO, 2025 | Marcador permanente sobre resina, madeira, vidro | 107 x 78 cm

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