Carbono Uomo #18

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CARBONO uomo

Nº 18

ROMULO ESTRELA O ator fala de suas conquistas pessoais, sua imersão na sétima arte e como se realiza no papel de pai

ECONOMIA Apostas artísticas, jovens restaurateurs, o mercado da aviação executiva e uma nova tendência literária

POR AQUI Olivier Anquier, Stephen Kanitz, Gabriela Prioli, Guto Requena

POR ALI Do Afeganistão à Amazônia, passando por Cáucaso, Amapá e Ceará

CARBONO ZERO A estreia de uma editoria que conta fatos e atos que as empresas têm feito pelo bem do planeta

PÁGINAS AMARELAS Culinária tailandesa, a febre das piscinas de onda, o ovo como estrela do prato, o retorno da t-shirt e mais

Nº 18R$ 35,00 CARBONO Nº 18

Praticidade, economia e vantagens mil

Não é de hoje que a eletrificação vem movimentando o setor automobilístico e a Volvo, líder na área, é prova disso – somente no primeiro semestre deste ano foram mais de 4.300 veículos plug-in, recarregáveis na tomada, vendidos pela marca.

Aos poucos os carros elétricos ganham cada vez mais a confiança do público. E não poderia ser diferente, já que as vantagens são inúmeras, com destaque especial para a facilidade que eles trazem para a rotina. Imagine o seguinte: da mesma forma e com a mesma praticidade que nos programamos para carregar celulares, laptops e outros aparelhos essenciais para a rotina, podemos carregar um carro elétrico. Isso pode ser feito na sua própria casa, claro, mas também em pontos distribuídos.

A Volvo, por exemplo, já instalou mais de mil eletropostos de carga normal (AC) no Brasil e está prestes a instalar novos pontos de recarga rápida (DC) nas principais estradas do País. Hoje já são dez eletropostos rápidos, mas o plano é chegar a 28, cobrindo cerca de 10.000 km de rodovias – confira o hotsite da Volvo para encontrá-los, além de saber como usá-los. Nesses eletropostos é possível recarregar um Volvo XC40 elétrico de zero a 80% em uma média de 45 minutos. Ou seja, ideal 2

para paradas estratégicas durante uma viagem mais longa. “É um dos maiores investimentos que uma marca faz em infraestrutura de eletrificação no Brasil. O que antes era um grande limitador para os proprietários de carros elétricos, a Volvo está transformando em solução”, garante Marcelo Godoy, diretor de Finanças Volvo Cars América Latina e de Operação de Infraestrutura de Carregamento Brasil.

Também é impossível não comentar sobre outro ponto marcante do setor: a vantagem financeira. Segundo um estudo da ANP e da ANEEL, o quilômetro rodado por um carro elétrico custa, em média, quatro vezes menos que o custo do quilômetro rodado com gasolina. Soma-se a isso uma bateria com garantia de oito anos, que permite a troca de componentes únicos ao invés de toda a peça.

Além disso, a primeira manutenção de um Volvo elétrico só acontece com 30.000 quilômetros, ou dois anos (o que ocorrer primeiro), e inclui apenas troca de filtro de ar, checagem de fluido de freio e limpeza dos para-brisas. O número reduzido de serviços influencia no preço e deixa o valor da manutenção quase 50% mais barata se comparado ao serviço dos carros a combustão. Um caminho, literalmente, sem volta!

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Os Gatunos da Esperança

No livro O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini [leitura que inspirou Raul Frare a viajar três vezes para o Afeganistão (pág. 94)], o personagem Baba fala para seu filho Amir: “Existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simplesmente a variação do roubo. Quando você mata um homem, está roubando uma vida. Está roubando da esposa o direito de ter um marido, roubando dos filhos um pai. Quando mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça.”

Não estaríamos todos nós sendo vítimas desse pecado cometido por parte de um todo?

Quanto já não nos fora roubado de alegrias com guerras injustificadas?

E de tempo com compulsivos vícios tecnológicos?

E nossa saúde sequestrada com o uso obsessivo e indevido de fármacos?

Tantos amores desviados...

Tantas chances furtadas...

A felicidade raptada.

Sem direito a resgate.

Carbono Uomo se propõe a tentar devolver, entregar.

Mesmo que um tiquinho do que nos fora sequestrado.

Aqui, nestas páginas, nosso imenso empenho em te oferecer um pouco de contentamento e confiança no futuro.

O restaurateur Olivier Anquier conta da movimentação em prol do resgate do Centro de São Paulo, por causa de sua degradação. (pág. 26)

A escritora Gabriela Prioli fala como encontrou na leitura (alô, existência off-line!) respostas para as inquietudes da vida. (pág. 34)

O ator Romulo Estrela explica como busca desconstruir a cultura do machismo dentro de casa com seu filho Theo, assim como a turma por trás do Movimento Homem,

que se reúne para discutir a masculinidade tóxica, e também, por aqui, um panorama mundial sobre a licença paternidade. (págs. 38, 50 e 120, respectivamente)

O empresário Bruno Sindicic elucida como todos os ingredientes do seu delivery de saladas Olga Ri são escolhidos seguindo os pilares da sustentabilidade e do desperdício zero. (pág. 56)

O fundador da Bueno Netto, Adalberto Bueno Netto, revela detalhes e algumas das imagens de um livro que está lançando sobre a costa Norte do litoral brasileiro, com o objetivo de criar uma conscientização antes de a região se deteriorar por conta da ocupação desordenada. (pág. 60)

A fisioterapeuta Carolina Videira relata como fundou e como vive a ONG Turma do Jiló, cuja missão é promover escolas verdadeiramente inclusivas. (pág. 78)

Fomos para a Amazônia e nossa narrativa da floresta também está aqui. Mas, para quem não foi até lá, o arquiteto Guto Requena diz como desenvolveu a ideia de biofilia radical, que ensina como conceber uma floresta urbana dentro de casa, equalizando a temperatura e melhorando a qualidade do ar. (págs. 82 e 88, respectivamente)

Eric Klug, ex-presidente da Japan House, disserta sobre os conceitos japoneses que requerem de seu povo tempo, dedicação e reflexão, contrapondo as definições curtas e rápidas da vida digital. (pág. 100)

Além de tudo isso e muito mais a conferir nas próximas páginas, inauguramos a editoria Carbono Zero (gostaram do trocadilho?), onde contamos o que as marcas e empresas têm feito a favor do meio ambiente, da vida e das pessoas. (pág. 124)

Queremos que você, após esta leitura, sinta sua esperança reembolsada.

Primeiras Palavras
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REDAÇÃO EDITORA CARBONO

PUBLISHER

Lili Carneiro lili@editoracarbono.com.br

DIRETORA DE ARTE

Mona Sung

EDITORA CONVIDADA

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PRODUÇÃO

Bianca Nunes revistas@editoracarbono.com.br

REVISÃO

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TRATAMENTO DE IMAGENS

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EXECUTIVO DE CONTAS comercial@editoracarbono.com.br

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Adalberto Bueno Netto

Adriana Nazarian

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Atílio Maranzano

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Iriade

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FOTOGRAFIA

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EDIÇÃO DE MODA

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GROOMING

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AGRADECIMENTO

Carbono Uomo é uma publicação da Editora Carbono.

CNPJ 46.719.006/0001-14

A Editora Carbono não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam do expediente da revista não têm autorização para falar em nome da Carbono Uomo ou retirar qualquer tipo de material para produção de editorial caso não tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por um integrante que conste do expediente.

EDITORIAL
Nº 18 •
CAPA
Hotel Emiliano São Paulo
look Prada brinco Nart Studio
ROMULO ESTRELA USA Full
@CARBONOEDITORA
Expediente

VIAGENS

• Nº 18 •

A SEGUIR:

18. CURTAS

De radar ligado

26.

MEU BAIRRO

Olivier Anquier

30. ENTREVISTA

Stephen Kanitz

32.

MEU ESTILO I Vic Meirelles

34. LIVROS Gabriela Prioli

38. PERFIL

Romulo Estrela

50. HOBBY Confrarias

56. MINDS I Bruno Sindicic

58.

CARBONO PERFIL I

Jonathas de Andrade

60. FOTOGRAFIA Brasil

66.

NEGÓCIOS

Aviação executiva

72.

MEU ESTILO II

Rodrigo Rosset

74.

ECONOMIA

Restaurateurs

78. MINDS II Carolina Videira

80.

CARBONO PERFIL II Zé Tepedino

88.

ARQUITETURA Guto Requena

100.

CULTURA

Conceitos japoneses

110.

LITERATURA Gênero fantasia

120.

COMPORTAMENTO Licença paternidade

124.

CARBONO ZERO

Um panorama sustentável

131.

PÁGINAS AMARELAS

Um guia Carbono Uomo

021
82. Amazônia — 94. Afeganistão 102. Kitesurf 114. Cáucaso

CURTAS

No nosso radar da vez, caminhos, novidades, tendências, projetos, reflexões, e dicas. Para se inspirar, sempre!

O TEMPO PASSA

Estamos de olho no novo modelo da Breitling em parceria com a Deus Ex Machina – esta é a terceira colaboração das marcas. O visual monocromático já impressiona: pense em um mostrador preto, três contadores brancos e um ponteiro de cronógrafo na forma de um relâmpago. Depois tem o motor por trás da novidade, o Calibre manufaturado Breitling 01. Com fundo de caixa de cristal de safira transparente, já se tornou uma referência na relojoaria. @breitling | @deusmansion

ANDANDO NA MODA

Com um toque sofisticado, a nova coleção de acessórios da Fendi já tem lugar garantido no guarda-roupa da estação. Dos tênis às mochilas, passando por cintos e joias, as peças ganham uma proposta ousada, com detalhes metalizados e versões nada óbvias do icônico monograma da marca. @fendi

DE OUVIDO

Novidade que surfa na onda dos listening bars, tendência forte lá fora, o Matiz fica em uma cobertura no Centro de São Paulo. Destaque para a sala dedicada a quem quer ouvir boa música apenas. @matizbarsp

Fotos divulgação
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CURTAS | Carbono Uomo

PIPOCA

O filme O Besouro Azul, com participação de Bruna Marquezine, chega à plataforma de mainstreaming Prime Video. Também por lá, a estreia do documentário The Tour 23, com desfiles da Victoria’s Secret em novo formato. Na Netflix, nova temporada da série Elite, sucesso de público. @primevideo | @netflix

SMART EYE

A Meta Platforms, empresa de Mark Zuckerberg, apresentou uma coleção de óculos inteligentes com transmissão ao vivo para Facebook. A assinatura dos modelos é Ray-Ban. @raybanmeta

TAP WINE

Aos enófilos que já eram fãs da sommelière Gabriela Monteleone, boa notícia. O Tão Longe, Tão Perto, seu projeto de curadoria de vinhos de pequenos produtores brasileiros, agora tem um espaço físico. De quinta a domingo é possível provar rótulos artesanais servidos nas torneiras de seu endereço na Barra Funda. Para acompanhar, delícias da queijaria Rima. @casatltpbarrafunda

REDONDINHAS

Três pizzarias brasileiras, mais precisamente paulistanas, estão entre as 100 melhores do mundo! Segundo o ranking do guia italiano 50 Top Pizza, as casas QT Pizza Bar, A Pizza da Mooca e Leggera Pizza Napoletana ocupam os lugares 51º, 85º e 100º, respectivamente. A número 1 é a Diego Vitagliano Pizzerie, em Nápoles, na Itália. @qtpizzabar @apizzadamooca | @leggerapizzanapoletana @diegovitagliano_pizzerie

NADA MAL

A arena de shows Sphere, uma cúpula gigantesca que comporta 20 mil assentos, foi inaugurada em Las Vegas com show da banda U2. Trata-se do maior painel de LED do planeta! @spherevegas

LÊ PARA MIM?

A Amazon acaba de lançar no Brasil sua plataforma de audiolivros, a Audible . São 5 mil títulos em português – e mais de 600 mil em idiomas variados –, que podem ser ouvidos em celulares e dispositivos com Alexa. @amazon

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ENCICLOPÉDIA

Bartleby & Me , novo livro de Gay Talese, papa do jornalismo, já está na nossa cabeceira. Aos 91 anos, ele revisitou alguns personagens nova-iorquinos que ganharam fama com suas palavras

PARTIU LONDRES!

Encaixe na agenda uma passagem por Londres até janeiro. Afinal, não é todo dia que se tem a chance de ver uma retrospectiva da carreira de Marina Abramovic na Royal Academy – se der sorte, ainda poderá assistir ao vivo a uma de suas performances.

DE OUTROS TEMPOS

Já visitou o Instituto Artium de Cultura? Para além das boas exposições, o palacete histórico em Higienópolis, todo restaurado, oferece uma verdadeira viagem no tempo. @institutoartium

SE A VIDA É UM SOPRO, ASSOBIE

Detentor de mais de 20 importantes prêmios literários, com mais de 50 livros publicados, Carpinejar é uma unanimidade. Não há quem não se emocione e aprenda com suas palavras. No tocante Manual do Luto o autor traça uma conversa direta com o enlutado na tentativa de ajudá-lo a compreender a dor em suas diversas instâncias. Com seu olhar de raio-x poético, o escritor enxerga a invisibilidade social de quem atravessa esse período marcado por confusão e privação. Cada capítulo é uma carta, e cada carta uma lição de empatia. Segundo o autor, a ideia é que o livro também sirva de alerta para que não se adie mais nenhum afeto. @bertrandeditora

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Fotos Atílio Maranzano; Paula Hampshire e divulgação

EM NOME DA ARTE

Nascida em Santos, a BR Arte Galeria subiu a serra e fincou raízes na capital. Em um charmoso endereço em Pinheiros, a galeria de Bernardo Virtuoso conta com 30 artistas de diferentes lugares do Brasil. O foco é a street art, representada em múltiplas abordagens estéticas em séries exclusivas de gravuras e esculturas. Obras de Alex Hornest, Carol Murayama, Gen Duarte e Sang Won Sung, entre outros nomes poderosos da cena urbana, podem ser vistas por lá. @brartegaleria

ENTRELINHAS

Robert Louis Stevenson, autor do clássico A Ilha do Tesouro, é o tema da vez na linha de canetas da Montblanc batizada de Escritores. Como já virou tradição, a marca homenageia gênios da literatura com edições limitadas e muito especiais. Feitos de metal e laca preciosa, os modelos tinteiro e rollerball já estão na nossa wishlist. @montblanc

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CURTAS | Carbono Uomo

VIAJAR É PRECIOSO

Rimowa e Tiffany selam parceria e desenvolvem uma coleção-cápsula limitada de malas que apresenta uma nova tecnologia em que os acabamentos de alumínio e policarbonato brilham como um diamante. @rimowa | @tiffanyandco

RANKING

Na lista dos 100 melhores bares do mundo em 2023, a World’s 50 Best Bars (mas são 100 colocados mesmo!), dois paulistanos. Na 56ª posição, o Tan Tan, e em 58º, o SubAstor. @tantannb | @subastor

SÓ DÁ ELAS

Hong Kong foi eleita pelo 10º ano consecutivo a cidade mais visitada do mundo . No Brasil, o pódio ficou para o Rio

O QUE ESTÃO TRAMANDO?

Pense em lindos chapéus, espadrilles, luminárias e cestos feitos à mão por artesãos brasileiros com palhas como buriti, carnaúba e Madagascar. Detalhes de couro e latão complementam. A carioca Pale Brasilis, dos designers Ana Voss e Brunno Jahara, já tomou conta das praias do Rio de Janeiro e tem tudo para conquistar outras orlas mundo afora. @palebrasilis

Fotos divulgação 22
CURTAS | Carbono Uomo

PODEROSA!

A obra Senhora do Leque , de Gustav Klimt , é leiloada por R$ 453 milhões e bate recorde da mais cara da história.

MALA COM ALÇA

Nosso objeto de desejo da vez é a nova Duffle Bag GG Crystal, da Gucci. Leve, é daqueles curingas que carregam tudo o que precisamos com estilo, nas mais variadas tarefas do dia – da academia ao trabalho. A nova linha tem uma textura charmosa e várias cores. Para colecionar! @gucci

AUMENTA O VOLUME

A loja de mobiliário-desejo Micasa inaugura um novo espaço –o quarto do chamado Hub Micasa. O volD possui três andares e aposta na montagem de instalações que unem arte, design e arquitetura. Por lá, marcas com representação exclusiva, como Ligne Roset, Tacchini e BD Barcelona. “Ao misturar designers e conceitos como vanguarda e contemporaneidade, a Micasa se propõe a trazer para o cliente muito mais do que uma loja de móveis. O volD é um novo passo na direção do enriquecimento dessa experiência”, diz Houssein Jarouche, fundador da marca. @micasavolb

“The children are always ours, every single one of them, all over the globe; and I am beginning to suspect that whoever is incapable of recognizing this may be incapable of morality” James Baldwin

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HOTEL EMILIANO

BANQUETE

Sob comando de Vivi Gonçalves, o restaurante do Emiliano usa ingredientes frescos para sabores surpreendentes

O restaurante Emiliano, que ocupa o andar térreo do hotel homônimo, ícone paulistano da Rua Oscar Freire, está cheio de boas-novas. Em seu ambiente elegante e acolhedor, surge um novo cardápio, vivo, instigante e em constante evolução. O recém-lançado menu à la carte, agora sob comando da chef Viviane Gonçalves, apresenta o melhor da cozinha de produto, aquela em que os ingredientes são as maiores estrelas. Sabores frescos e originais podem ser encontrados em todas as etapas das refeições. Desde entradas, como o consommé de tomate, acompanhado de ostras escaldadas e brunoise de tomate concassé ou as vieiras seladas com creme de couve-flor, manteiga de sálvia e alho-poró, até sobremesas –assinadas pela chef pâtissière Luisa Jungblut –, como o delicioso bolo de tâmaras com calda de caramelo salgado e chantilly de mascarpone Emiliano. Para o prato principal, Carbono sugere a cauda de lagosta selada com bisque de camarões ou o cordeiro assado com purê de cará, caldo de cordeiro e folha de beterraba. E, para garantir uma experiência completa de enogastronomia, o premiado sommelier Luís Otávio Álvares Cruz montou uma carta composta de grandes clássicos mesclada com opções de vinhos produzidos por pequenos produtores. O Bar do Emiliano também acaba de lançar uma carta exclusiva de coquetéis com a curadoria de Luís Otávio. Para comer, beber – e também dormir – em grande estilo.

@gastronomiaemiliano | @hotelemiliano

A chef Viviane Gonçalves durante o preparo dos pratos repletos de sabor e frescor que marcam o restaurante do hotel Emiliano, em São Paulo

24 CURTAS | Carbono Uomo

Se você acha que a internet pode ser sim um lugar para se aprofundar em detalhes e informações relevantes, a dica é seguir o Instagram da Editora Carbono. No @carbonoeditora, contamos as novidades sobre artes, gastronomia, cultura, viagens e lifestyle de modo consistente, sem deixar a leveza de lado.

NO TOPO

Mais uma novidade da Volvo que já está na nossa wishlist. O Volvo C40 Recharge é o primeiro Crossover 100% elétrico da marca, com interior sem couro e o Google integrado. O design arrojado e as diversas funcionalidades, como a potência de 408 hp, fazem do carro uma aposta certeira. Isso tudo sem contar com a praticidade dos elétricos – imagine carregar seu carro em 28 minutos? @volvocarbr

25 Fotos divulgação
Urbanismo | OLIVIER ANQUIER
Olivier Anquier, chef e restaurateur
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MEU BAIRRO

Apaixonado pelo Centro desde os anos 1980, o chef e restaurateur

Olivier Anquier fala sobre a importância de viver a pluralidade do meio urbano

Por Olivier Anquier em depoimento a Adriana Nazarian

Para entender minha relação com o Centro de São Paulo – faz 16 anos que moro na região – é preciso conhecer minha origem na cidade.

Sou parisiense e um entusiasta da vida urbana. Então o que o Centro representa para mim? É poder trombar com centenas de pessoas com horizontes completamente diferentes. Esse privilégio de poder estar no meio da sociedade é a magia daqui. Quem mora em condomínio não aproveita a escola de vida que é o meio urbano.

Quando cheguei ao Brasil, em 1980, vi o edifício São Luiz e pensei: “Se ficar por aqui, um dia vou morar nesse prédio, o verdadeiro neoclássico de São Paulo, inspirado nos prédios parisienses”.

Mas primeiro morei de aluguel em outros bairros, como Higienópolis e Pinheiros. Quando chegou a hora de comprar meu apartamento, tinha certeza de que não me fecharia em uma bolha. Estar sempre nos mesmos arredores, com as mesmas pessoas, é um adoecimento de vida.

Pesquisei e conheci a Claudine, uma senhora que carregava em uma bolsinha, literalmente, as chaves de praticamente metade dos apartamentos à venda no Centro. Visitamos lugares incríveis e entendi ainda mais a riqueza daquele perímetro.

Foi durante uma dessas andanças que me deparei com o edifício Esther. Modernista, com alma. Pedi para Claudine me apresentar algum apartamento ali e ela disse: “De jeito nenhum, esse prédio não é para você. Lá dentro é um caos”. Sua frase soou como melodia para os meus ouvidos. Fiquei ainda mais curioso e só sosseguei meses depois, quando a Claudine finalmente me levou à cobertura.

A entrada do Esther já era linda com as características da época, mas de fato o edifício tinha um ar mais abandonado. A cobertura 1101

era um escritório de contabilidade decadente, mas, quando cheguei à varanda e vi a Praça da República, não tive dúvida. Avisei a Adriana, minha mulher e também admiradora do Centro, depois que fechei o negócio.

À primeira vista, ela se assustou, mas eu disse que iria transformar aquela história toda e iniciei uma super-reforma. Dois meses depois vejo, no Diário Oficial, a notícia de que o Esther seria desapropriado pela Prefeitura. Não podia deixar aquilo acontecer! Peguei um megafone e fui, literalmente, gritar na varanda, aproveitando minha posição de pessoa pública. Aquilo virou notícia e eu comecei meu movimento pelo Centro. A Prefeitura desistiu. Não poderiam ignorar uma construção que marca o início da arquitetura modernista brasileira. Começava, aos poucos, um novo capítulo do Esther – tanto é que, tempos depois, a Claudine começou a ser solicitada para mostrar outras unidades.

Moramos três anos maravilhosos lá, mas saímos porque ocorreu uma infiltração complexa na laje. E, obviamente, nós fomos para um apartamento na mesma região. Quando o problema acabou, pensei: o que faço aqui agora? Meu restaurante, o Esther!

Foi preciso lutar por seis anos para mudar a convenção do prédio – os imóveis comerciais já existiam, mas sem legalidade – e fazer tudo certo. Em 2016, depois de muito defender os benefícios dessa decisão, consegui. Aos poucos o prédio se transformou e seu valor triplicou.

A cobertura ao lado da minha era a casa de Di Cavalcanti nos anos 1950, só para entenderem a magnitude desse lugar. O Centro merece que a gente compreenda e viva isso. A alma e a história de São Paulo também.

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Urbanismo | CENTRO DE SÃO PAULO Retrato Jaime Leme

centro de são paulo

01

02

EDIFÍCIO TRIÂNGULO PONTO CHIC

“Esse prédio, que fica no Largo da Misericórdia, tem um mosaico lindo de Di Cavalcanti.”

R. José Bonifácio, 24

“Na época de Di Cavalcanti, era um boteco chique onde todos os artistas se encontravam. É supertradicional e vale conhecer.”

Largo do Paissandu, 27

03

EDIFÍCIO OURO PARA O BEM DE SÃO PAULO

“Um prédio importantíssimo, que marcou a Revolução de 1932. Foi construído com o dinheiro que sobrou das doações de ouro feitas pelas famílias paulistas para pagar o conflito.”

R. Álvares Penteado, 23

28 Urbanismo | OLIVIER ANQUIER

sete acertos

04

“Transformei meu antigo apartamento em um restaurante. A varanda com vista da Praça da República sempre me marcou.”

R. Basílio da Gama, 29 | @estherrooftop

“Um lugar que se transformou em uma galeria de arquitetura e decoração. Gosto da loja de produtos indígenas da Amazônia. Tem artigos muito interessantes.”

Av. São Luís, 187

05

“O que foi feito no antigo Banespa precisa ser conhecido. Por todas as atividades culturais, pelo passeio em si, pela vista…”

R. João Brícola, 24 | @farolsantander

07

“O Toninho foi responsável por abrir um novo capítulo nesse prédio, que também estava em decadência e hoje é um ícone incontornável do Centro.”

Av. São João, 439 | @galeriadorockoficial

06 FAROL SANTANDER GALERIA DO ROCK ESTHER ROOFTOP
29 Fotos divulgação Urbanismo | CENTRO DE SÃO PAULO
GALERIA METRÓPOLE

visão de raio-x

Por que o Brasil não é um país filantrópico?

Existe alguma saída para a crise econômica? O que esperar do nosso futuro?

Em busca de reflexões sobre perguntas como essas, conversamos com Stephen Kanitz, criador do projeto Thinkers Brasil

Depoimento a Ana Oliveira

Um dos principais consultores empresariais do País, Stephen Kanitz é especialista em áreas como contabilidade, economia e administração. Considerado um dos precursores do movimento benchmark, foi criador do ranking “Melhores & Maiores”, que avalia o desempenho global das empresas, e também do termômetro de Kanitz, ferramenta utilizada para medir os riscos de falência dos negócios. Atua no campo acadêmico e também na filantropia – foi fundador do prêmio Bem Eficiente, que consagra as 50 entidades beneficentes mais bem administradas do Brasil. Seu projeto mais recente une esses dois universos: uma plataforma de apoio sem fins lucrativos aos Think Tanks brasileiros (thinkers-brasil.org). Autor do livro O Brasil que Dá Certo, Kanitz fez “previsões” como o sucesso do plano Real – hoje, acredita que em algum momento viveremos um retorno à lógica da Idade Média. Confira os principais destaques do bate-papo.

Entrevista
Foto divulgação

Cultura de doação

“O Brasil não é um país muito filantrópico. Não é essa a nossa cultura. Empresários não doam porque têm medo de serem enganados, por incrível que pareça. Além disso, existe, em filantropia, um ditado que diz que a razão principal pela qual as pessoas não doam é porque ninguém pede, especialmente em um país que não tem essa tradição. Então, muitas vezes, precisa ir lá, bater na porta, pedir, apresentar o que faz. Depois de um tempo você volta, mostra os resultados do trabalho. Isso é garimpar. Pode até demorar cinco, seis anos, mas, uma vez que você o engaja [o potencial doador], ele pode permanecer por mais dez anos no projeto.”

Polarização política

“O problema da polarização é que ela está sendo discutida em níveis muito baixos, como nas redes sociais. Acho que cada um tem o direito de dar o seu pitaco, mas a discussão deveria estar acontecendo em esfera superior. Ou seja, dentro das universidades. Só que hoje, na minha opinião, as universidades não estão muito independentes cientificamente.”

Think Tanks

“A figura das Think Tanks [instituições que desenvolvem estudos com objetivo de contribuir para um ambiente de conhecimento e embasar a criação de políticas públicas] é muito forte no mundo inteiro. São formadas basicamente por professores universitários qualificados e multidisciplinares, mas que não são bons em dar aula. As Think Tanks são (ou deveriam ser) ideologicamente independentes. Em uma Think Tank sempre vai ter alguém de direita e de esquerda no board. Então qualquer política pública que saia vai ter sido ouvida pelos dois lados. Isso é muito bom.”

Thinkers Brasil e o incentivo às Think Tanks

“Percebi que as nossas Think Tanks são muito fracas, pequenas, desconhecidas, ninguém sabe que existem. No projeto Thinkers Brasil eu divulgo as pesquisas e recomendações das Think Tanks brasileiras à medida que elas ocorrem. O que eu fiz foi catalogar as maiores organizações do País junto com uma seleção de governança e transparência. Não significa que são as melhores do Brasil, mas são as que estão mostrando quanto ganham, o que estão recebendo, quem está no conselho; é auditado, eles têm missão, site e prestam contas. Isso dá um conforto para quem nunca doou para uma Think Tank ou ONG. Por isso que esse projeto é uma forma de aumentar a filantropia por aqui. É o que eu costumo dizer para os empresários: ‘quer um maior retorno sobre o seu investimento [palavra que eles entendem rápido]? Em uma política pública fabulosa você vai investir x, e o país pode te devolver 100 x’.”

Ser empresário no Brasil

“Há mais de dez anos as empresas já não são rentáveis neste país, no sentido empresarial. Ganham dinheiro,

têm retorno sobre o investimento, mas não o suficiente para cobrir o risco. Por isso, tem muita gente fechando negócios, com medo de perder tudo. Percebo que esse é um sentimento muito forte [no empresariado]. Se eu fosse investir em uma área hoje seria na agricultura, que tem menos amarras ao governo. A agricultura é pouco taxada e está certo, porque se você tem 100 mil alqueires, não precisa ter polícia, guarda de trânsito, asfalto, rua. Então tem que pagar pouco mesmo.”

Crise econômica

“Eu acho que o Brasil vai colapsar. Nós estamos superendividados e ainda tem a dívida previdenciária que ninguém calcula, não sei por quê. Fiz um cálculo outro dia de R$ 43 trilhões. Agora estou fazendo de novo, cheguei a R$ 93 trilhões, e olha que ainda não peguei os municípios. Isso é impagável. Não vai afetar a economia? Claro que vai. Eu estou falando de previdência há 30 anos. O que entra na receita o governo gasta e zera o caixa. Entra R$ 1 trilhão, gasta R$ 1 trilhão. No segundo ano, mais R$ 1 trilhão, e agora a dívida passa a ser de R$ 2 trilhões a pagar daqui 30 anos. Terceiro ano, mais R$ 1 trilhão e vai a R$ 3 trilhões. E nenhum economista viu por que estamos numa contabilidade errada. E caixa zero. Se esse dinheiro tivesse virado investimento o número seria outro porque investimentos dão frutos. Estamos nessa situação por um erro contábil.”

A nova Idade Média

“De forma geral o mundo ocidental está em colapso. E o que aconteceu com o Império Romano quando colapsou? Surgiu a Idade Média. E assim as pessoas migraram e nasceram as cidades muradas. Eu acho que é algo parecido com isso que vai acontecer. Sou um comunitarista. A ideologia do comunitarismo remete à ideia de uma comunidade pequena, em que todo mundo se conhece, se ajuda, há uma troca recíproca. A nova geração já está dizendo: ‘eu vou para o interior ficar numa cidadezinha murada, plantar minha horta, vou ter minha TV e internet’. Estamos caminhando para uma Idade Média, só que com uma tecnologia muito superior ao que eles tinham naquela época. Mas é um processo lento.”

Há um robô no fim do túnel

“Estamos entrando numa crise, em um afunilamento, que funciona como uma ampola: tudo converge para depois se espalhar. A analogia é simples: estamos numa crise social, mas a tecnologia pode nos salvar. O ChatGPT, o robô, vão resolver parte disso. Daqui a 40 anos o Estado vai dar um robô para cada um, e aí você vai dizer para ele lhe substituir no trabalho: o robô vai te entregar o dinheiro, você vai dar o óleo que ele precisa e o seu problema será ‘como gastar o dinheiro’. As pessoas serão mais presentes com a família e terão mais filhos, porque a população já está caindo. Neste momento não estamos enxergando nem a luz nem o túnel, mas eu entendo que o túnel é tecnologia.”

STEPHEN KANITZ 31

1 Drip

“Eu gosto de praticidade e conforto. Odeio roupa apertada. Acordo supercedo, coloco um look de ginástica e, muitas vezes, passo o dia assim. Adoro uma camiseta Hering e as roupas da À La Garçonne, porque são confortáveis. Mas também amo Gucci e os lenços da Hermès. Eu sou hi-lo o tempo todo.”

2

Nas alturas

“Minha nova mania é um tênis da Balenciaga verdeescuro, que eu não tiro do pé. Ele é altíssimo, estilo trator mesmo. Pareço uma criança com ele.”

MEU ESTILO

Flores orientais

“Minha terapia hoje são as aulas de Ikebana (arte japonesa de arranjos florais) que faço na Liberdade. Estou adorando!

Também gosto bastante de assistir a filmes de mistério, com Dráculas e Frankensteins, para me desconectar um pouco.”

3 Herança fina

“Meu senso estético com certeza vem dos meus avós. Eles eram muito chiques. Os paternos eram bem tradicionais, elegantes. E minha avó materna, Dulce, tinha um estilo muito divertido. Era tão criativa que chegou a pegar todas as gravatas do vovô para fazer um vestido para ela!”

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VIC MEIRELLES FLORISTA E CRIATIVO Fotos João Bertholini e divulgação Por Bianca Nunes Retrato João Bertholini

4 Miau

“Hoje minha paixão é a minha gata Chloé, uma Scottish Fold, que eu ganhei da Carola Diniz. Ela é minha grande companheira. Adoro acordar às 5 da manhã com ela em cima de mim, miando, me pedindo comida, querendo carinho.”

Ócio criativo

“O grande florista do mundo hoje é o japonês Azuma Makoto. Ele me inspira muito. Também gosto bastante do belga Daniël Ost e do holandês Marcel Wolterinck. Na decoração, estou adorando o trabalho do francês Pierre Yovanovitch – amo suas poltronas gordas e peludas.”

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Eu só quero um xodó

Pólen

“Amsterdam é a cidade que mais me influencia. Tem as floriculturas e o grande Aalsmeer, que é o Ceasa deles. É de onde sai tudo de flores que você possa imaginar. Assim como as ideias. É lá que o Brasil, a Rússia e Portugal compram os bulbos.”

“Eu estava em Paris, triste porque queria uma bota da Bally e meu cartão não passou. Foi quando encontrei uma amiga na rua e ela me disse: “Vamos lá resolver esse problema”. Ela comprou a bota e me deu de presente! É a minha peça favorita, pelo seu carinho comigo. Até dormi com a bota no pé.”

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LEIO, PORTANTO EXISTO

Gabriela Prioli buscou – e achou – na literatura respostas para as inquietudes da vida. Encontrou acolhimento, beleza e substância para o que pensa sobre o mundo. Hoje segue acreditando no poder de transformação dos livros e mostra a seguir obras marcantes, capazes de melhorar a sua vida

Venho de uma família que sempre leu. Meu pai era o maior entusiasta dos livros, mas ele morreu quando eu tinha seis anos. Na infância, minha mãe lia muitas fábulas e histórias infantis para nós – fui uma menina dos gibis e almanaques da Turma da Mônica. Flicts, do Ziraldo, marcou minha infância. Para não associarmos a leitura a uma obrigação não prazerosa, minha mãe criava estratégias para os livros obrigatórios da escola.

Mas foi na adolescência que minha relação com a leitura mudou: eu me sentia inadequada e fui procurar nos livros deixados pelo meu pai elementos que pudessem me mostrar melhor quem ele era. O Príncipe, de Maquiavel, foi a primeira obra que peguei em sua biblioteca e realmente me marcou. No fim, acabei me encontrando nos livros, que me mostravam quem eu era. As histórias que a gente lê tem o poder de nos fazer sentir compreendidos e acabar com a solidão.

No começo, ao procurar um livro, buscava acolhimento. Quando nós começamos a perceber quem somos, é comum nos sentirmos faltantes, sozinhos, descolados dos outros. E a literatura nos conforta: há mais de nós por aí. Gosto da sua beleza. Das palavras usadas para criar bonitezas. E, claro, gosto de estudar. De aprender com gente que, além de saber muito, tem o cuidado de compartilhar o que sabe.

Ler é bom demais e sigo tendo uma relação individual maravilhosa com esse universo. Hoje leio para me sentir bem: a inteligência e a sensibilidade alheias me encantam. Para aprender, para dar substância ao que penso sobre o mundo. Anoto tudo. Karnal diz que eu confundo livros com cadernos. Não discordo.

Eu gosto das anotações e, para isso, eles precisam ser meus. Gosto de reler livros marcantes em fases diferentes da vida, para me lembrar do meu eu antigo, de quem eu era.

Na minha carreira, a literatura foi certamente um diferencial. Infelizmente é comum as pessoas pensarem que, para construir uma trajetória relevante, basta consumir textos técnicos. Eu discordo. Me destaquei sempre que mostrei uma cultura mais ampla. E essa amplitude de repertório sempre me ajudou a construir estratégias mais criativas.

Escrever meu próprio livro foi difícil. Venho da formalidade do direito e não é tão simples ser mais acessível no texto escrito do que no falado. E eu sou uma admiradora dos grandes escritores. Pensar em mim como autora, ainda que consciente da distância dos meus ídolos, é incrível e um pouco assustador. Dizer que o livro está terminado é sempre desafiador: me parece uma ousadia porque sempre há algo mais a dizer. Mas é preciso deixar as ideias fluírem. E eu deixo. Meus livros são realizações grandiosas da minha vida.

Eu fui para a comunicação com um propósito muito claro: usar a ferramenta das redes sociais para difundir ideias e hábitos que considerava relevantes para melhorar a vida das pessoas – porque ideias e hábitos melhoraram a minha vida. Sigo fazendo isso. Também dedico muita atenção ao meu clube do livro, levando além aquilo que eu considero ter sido relevante para transformar a minha história. E depois de quatro anos apresentando os livros para milhares de alunos desse grupo, hoje apresento a literatura para minha filha.

34 Livros | GABRIELA PRIOLI
Iude Richele
Retrato Gabriela Prioli, escritora
36 Fotos divulgação Livros | GABRIELA PRIOLI

LIVRO DO DESASSOSSEGO

Bernardo Soares (Fernando Pessoa) | Companhia das Letras

Porque eu me considero uma desassossegada. Ele me acompanha há anos. É daqueles livros que você deixa na cabeceira para ler o que encontra numa página aberta de forma aleatória.

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS

Gosto de tudo que li dele – e foram várias obras. Orwell é brilhante e muito atual. Começaria por este título.

GERMINAL

Emile Zola | Estação Liberdade

Adoro livros do final dos anos 1800. Neste que li numa edição que era do meu pai, Zola conta a história dos trabalhadores da região das minas de carvão, de suas famílias e das horríveis condições de vida e de trabalho. Ele fala da tomada de consciência deles em um texto lindíssimo.

FLICTS FÁBULAS DE ESOPO OS MISERÁVEIS

Ziraldo | Melhoramentos Esopo | Companhia das Letras Victor Hugo | Seguinte

Fui educada com elas. São uma lembrança muito viva da minha infância. Há algumas edições que têm a moral da história, mas não acho que devamos impor uma moral. Cada um que construa a sua. Faço assim com a minha filha.

RESSURREIÇÃO

Liev Tolstói | Companhia das Letras

Último clássico do autor com descrições de insensibilidade, imoralidade e injustiça que poderíamos transpor para o presente. Quando visitei a Rússia, comprei uma edição local que guardo na minha biblioteca.

PECAR E PERDOAR

Flicts é uma cor que não consegue encontrar o seu lugar. Ele é diferente, não se reconhece. É bom para a gente se sentir bem se percebendo diferente.

UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES

Clarice Lispector | Rocco

Meu favorito da autora. Clarice descreve o que a gente sente. Mas seu livro que mais me marcou foi A Paixão Segundo G.H., me deu um empurrão mental para a transição de carreira.

“O pecado acontece no meio da escuridão que envolve as almas. O culpado não é o que peca, mas que produziu a sombra”. Outro romance do final de 1800, de um autor genial. Os franceses o chamam de homem do século. Ele fazia política na literatura. Belíssima estratégia.

JUSTIÇA: O QUE É FAZER

A COISA CERTA

Michael J. Sandel | Civilização Brasileira

O livro que mais fez sucesso na primeira edição do meu Clube do Livro. É filosofia política em linguagem simples. Muito bom.

POLÍTICA É PARA TODOS e IDEOLOGIAS

Leandro Karnal | Harper Collins Gabriela Prioli | Companhia das Letras

O melhor dele. Karnal fala das religiões como só um grande historiador e especialista no tema poderia fazer: com o distanciamento necessário para que o livro interesse a todos, e não só aos que creem. Porque são meus e, sem falsa modéstia, são muito bons. Não havia no mercado o que eles entregam e fiquei muito feliz de ocupar esse espaço e trazer algumas respostas para quem sentia esse vazio.

AFORISMOS

PARA A SABEDORIA DE VIDA

Arthur Schopenhauer | Edipro

Esse foi o autor da minha adolescência. Eu era uma jovem e encantada por Schopenhauer. Continuo gostando, mas não tanto.

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Livros | GABRIELA PRIOLI

VIDA REAL

A elegância cool e despretensiosa do ator Romulo Estrela é a inspiração deste ensaio cheio de bossa onde peças de perfume vintage encontram detalhes vanguardistas

Fotos

Marcus Steinmeyer Edição de moda Thiago Ferraz Grooming Saulo Fonseca Agradecimento Hotel Emiliano São Paulo
| ROMULO ESTRELA
Perfil
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Jaqueta POLO RALPH LAUREN — calça CALVIN KLEIN pulseira GUERREIRO — anéis GUERREIRO e NART STUDIO relógio ROLEX — colar VIVARA
Perfil | ROMULO ESTRELA
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Full look PRADA brinco NART STUDIO anel GUERREIRO relógio MONTBLANC
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Tricot LACOSTE calça DOD ALFAIATARIA cinto e loafers FERRAGAMO anéis e pulseiras LIBERTY ART BROTHERS
Perfil | ROMULO ESTRELA
Relógio ROLEX — anéis GUERREIRO e NART STUDIO pulseira GUERREIRO — colar curto VIVARA — colar longo QUO PÁGINA AO LADO
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Full look LOUIS VUITTON — relógio MONTBLANC — anel GUERREIRO

CRÉDITOS –Produção executiva: Bianca Nunes; produção de moda: Luan Gabriel; assistentes de fotografia: Bruno Conrado e Cristiano Rolemberg; tratamento de imagens: Sandro Iung; agradecimento: Hotel Emiliano São Paulo

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Perfil | ROMULO ESTRELA
Full look GUCCI relógio MONTBLANC — brinco NART STUDIO PÁGINA ANTERIOR
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Camisa COTTON PROJECT — calça MISCI — cinto FERRAGAMO — sapatos PRADA — bolsa MONTBLANC colares HECTOR ALBERTAZZI — anéis e pulseiras LIBERTY ART BROTHERS — óculos SAINT LAURENT

CICLO SEM FIM

Romulo Estrela pode até ser um sonhador, mas nunca deixa de realizar. Depois de viver destaques na TV, ele conquista mais espaço no cinema, idealiza projetos importantes na dramaturgia e celebra conquistas em sua vida pessoal

Nas semanas em que Romulo Estrela posou para este ensaio, sua rotina era de ponte aérea. Não porque interpreta algum protagonista na TV, onde chegou a estar no ar em duas produções simultâneas na Rede Globo no último ano. Mas pelas viagens que vinha trilhando entre o Rio de Janeiro, onde mora, e São Paulo, onde se dedica a algo que tem sido sua prioridade no âmbito profissional: fazer cinema. “Acaba que fico longe do filhote e da esposa. Minhas vindas têm sido para matar essa saudade”, conta o ator, que gravava o filme Escola de Gênios, produção feita a partir da série homônima da Globo.

De todos os papéis que já encenou, os de pai (de Theo, 7 anos) e de marido (da empresária Nilma Quariguasi) parecem lhe cair muito bem. Quando não está no set, Romulo aproveita o cotidiano com o filho entre momentos de Lego, sessões da saga Star Wars e corridas de kart. A estreia do longa-metragem, inclusive, será a oportunidade de Theo ver

o pai em ação, já que se trata de um filme infantojuvenil, e entender um pouco melhor o ofício do pai.

Para além das questões relacionadas ao trabalho, Romulo é atento e pretende passar ao filho valores que considera essenciais aos homens do século 21, como iniciativas sustentáveis e assuntos ligados à masculinidade. “O homem precisa estar alerta e sempre consciente de que precisamos buscar essa desconstrução. Socialmente, fomos colocados em um lugar, e não porque a gente quis. Às vezes, você é machista sem querer ser. Este é o ponto. Não podemos nos limitar ao estereótipo. Porque, no fundo, o que temos para discutir mesmo é muito maior do que se eu posso ou não usar rosa, se posso chorar ou abraçar e beijar um amigo meu”, resume o ator. Romulo ainda faz questão de destacar que tem consciência da sua posição de privilégio nesse debate, já que sua mãe sempre foi a chefe da família e viu seus pais darem os mesmos direitos para ele e a irmã, a arquiteta Milena Estrela.

ROMULO ESTRELA USA

Camisa COTTON PROJECT colares HECTOR ALBERTAZZI anéis e pulseiras LIBERTY ART BROTHERS

Entrevista | ROMULO ESTRELA
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“Penso, sonho, desejo, e o que eu entendo que vale a pena a dedicação vou lá e realizo”

Ao tratar de estereótipos o ator procura, principalmente, não se prender a eles. É um apaixonado por motores (de motos, carros, aviões), algo que historicamente foi ligado ao universo masculino, mas não enxerga o assunto dessa maneira. “Eu e minha irmã temos um ano e meio de diferença. Começamos a dirigir praticamente juntos e dividimos um carro na adolescência. Apresento isso ao meu filho com naturalidade, porque é algo que gosto. Da mesma maneira que ele curte muito dançar e não é tão fã de futebol – eu também não era. E está tudo bem”, resume o artista. “Essas separações estão mais na gente do que na própria criança. Uma criança é um papel em branco.”

ESCRITO NAS ESTRELAS

As páginas em branco de Romulo vêm sendo preenchidas com mais força desde que ele saiu do Maranhão, aos 17 anos, para trabalhar com interpretação no Rio de Janeiro. Não foi algo totalmente planejado, já que, na adolescência, lutava jiu-jítsu e pensava que seguiria a carreira de atleta ou algo do gênero – Romulo chegou a cursar a faculdade de Fisioterapia por um tempo. Mas, ao fazer alguns trabalhos como modelo ainda em São Luís, o interesse pela arte veio e foi um caminho sem volta.

A intensidade, para quem acredita, pode estar nas estrelas. Renato Russo mesmo avisou nos versos de Faroeste Caboclo: “Nunca brinque com um Peixes com ascendente em Escorpião” –

e é justamente essa a configuração do mapa astral do ator. “Tem uma coisa do meu signo que é uma característica minha marcante. O fato de eu ser um cara sonhador. Por conta dessa maturidade, me tornei realizador dos meus sonhos. Lido com isso dessa forma. Penso, sonho, desejo... E o que eu entendo que vale a pena a dedicação vou lá e realizo.”

Força astral ou não, fato é que Romulo vem colecionando feitos importantes ao longo de sua trajetória. Já faz tempo que, na carreira, passou de astro em ascensão para ator disputado – no horário nobre e no streaming –, com trabalhos reconhecidos como o de Cristiano, em Verdades Secretas 2. “As oportunidades aparecem e temos que estar prontos para elas. Nas que me foram dadas eu também podia errar, e isso me ajudou a crescer. Fui chamado para fazer muitos trabalhos na televisão nos últimos anos. E, como operário da arte que sou, eu fui. Agora tomo um pouco as rédeas disso, para direcionar para um lugar que eu quero”, destaca ele, sobre o desejo de estar mais presente nas produções do cinema. Assim como já aconteceu no teatro, Romulo tem vontade de ultrapassar os limites da tela para produzir e dirigir algum trabalho na sétima arte.

Na trilha do sucesso pessoal, impossível não citar o casamento de 16 anos, longevidade que ele atribui ao respeito, à consideração, à admiração, mas especialmente à maneira como sabem atualizar a própria relação ao

longo dos anos. “Primeiro, é nossa vontade de estar ali presente, e também na tranquilidade para mudar e evoluir, algo essencial no mundo hoje, em que as coisas são tão fugazes e efêmeras, cada vez mais”, reflete.

Mais recentemente o casal realizou o sonho de se mudar com a família para uma casa, em uma área verde nas proximidades do bairro Barra da Tijuca, no Rio. Sair de um apartamento era um desejo da dupla, que buscava mais espaço para trabalho e lazer. Em alguns momentos a reforma do imóvel foi compartilhada por Romulo em suas redes sociais, que refletem a busca constante pelo equilíbrio entre dividir momentos com o público e manter o mínimo de privacidade. Impasses de uma pessoa pública, claro, e, coincidência ou não, de alguém cujo signo simboliza a dualidade do universo.

Na nova morada, Romulo tenta colocar em prática algumas ideias sustentáveis que há tempos povoam seu consciente, como o uso das placas fotovoltaicas e da água de reúso. “Meu próximo passo será fazer uma horta alimentada pelo nosso próprio lixo orgânico, como é na agrofloresta.” Tal qual o jardim que curte agora, Romulo Estrela também vai se realimentando nos seus ciclos, na certeza de que ainda há muito por vir. Se o céu é o limite, ele segue sonhando com projetos como montar algo do dramaturgo Nelson Rodrigues, além do clássico Macbeth, de William Shakespeare. “Os patamares mudam e as vontades também”, finaliza.

Entrevista | ROMULO ESTRELA
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Entrevista | ROMULO ESTRELA
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Terno FENDI — regata CALVIN KLEIN colar e pingentes VIVARA — brinco NART STUDIO

DIGA-ME

COM QUEM ANDAS

Uma seleção de pequenas confrarias que acontecem pelos mais diversos assuntos, da pescaria à cachaça, passando pelas reflexões sobre a masculinidade tóxica

Por Aline Vessoni

Agendas lotadas. Compromissos familiares, trabalho, networking, manter a saúde, a cabeça, a cultura, tudo em dia. Com o avançar da idade – e uma vida vivida, muitas vezes, on-line –, encontrar os amigos torna-se algo mais difícil de acontecer. Mais raro ainda é reunir turmas que cultivam os mesmos hobbies ou interesses, ainda que temporários.

Mas a Carbono adora um bom encontro, real, físico e presente, e foi atrás de personagens que ainda se dão ao luxo de ter tempo com companheiros que apreciam as mesmas coisas. Então vai: desligue o celular, acompanhe essas histórias e aproveite para já marcar um momento dedicado ao seu passatempo favorito.

DE DOIS PARA 50

Tudo começou no início da pandemia. Dois paulistanos, amigos de longa data, foram se abrigar em seus refúgios de fim de semana em Bragança Paulista. Por lá viram-se proibidos de transitar e só se permitiam ver um ao outro, garantindo assim a segurança das famílias. Um levava uma cachaça e um copinho à casa do outro e lá passavam algumas tardes bebericando uma branquinha e divagando sobre passado e futuro. Na semana seguinte, invertiam a casa da reunião. Com o fortalecimento do vírus, mais amigos se mudaram para o mesmo condomínio, no interior de São Paulo e, após muitos testes do cotonete, juntavam-se à dupla, sempre empunhando uma garrafa do destilado – e seu copinho particular.

Com o fim da pandemia, a brincadeira virou coisa de gente grande. Hoje, são mais de 50 membros no Clube da Cachaça, entre eles os maiores empresários, gestores e CEOs do Brasil, que largam a caneta pontualmente às 15h todas as sextas-feiras para cair na estrada rumo ao clube principal do condomínio. Lá eles têm uma mesa reservada, sempre farta de comidinhas, charutos e, claro, cachaça. E os encontros têm hora para começar, 17h30, e acabar, 19h30. “Quando as famílias chegam de São Paulo, corremos para recebê-las”, conta um dos membros. São duas horas em que falam de tudo. Negócios, viagens e ideias, “com direito a algumas piadas impublicáveis”, diz outro associado, deixando para trás uma mesa abarrotada de garrafas vazias das cachaças mais premiadas do País.

Hobby | CONFRARIAS

CAMINHAR E RECONECTAR

O gerente de marketing e eventos Fafá Flores, de Florianópolis, sempre foi um bom conselheiro, chamado pelos amigos na hora de resolver um problema. Budista e adepto de caminhadas em montanhas, ele costumava acolhê-los com um convite para andar na natureza, acender uma fogueira e cozinhar. “De maneira geral, homens não sabem se comunicar, tampouco lidar com as emoções”, diz. E foi assim que surgiu a ideia do projeto de retiros Caminhos que Reconectam. “A ideia é provocar debates para que um colabore com a reflexão do outro. Todos estão com energia propícia a criar elos e não é o mesmo elo que se faz no bar, ou no campo, jogando golfe”, explica. Os temas das discussões são variados e vêm de vivências que Flores tem em outras rodas de reflexão. Em comum, o olhar para o homem na sociedade contemporânea.

43 Hobby | CONFRARIAS
“Nós nos juntamos com o desafio de despertar o interesse de pessoas mais jovens no tema”

PONTO DE PARTIDA

Manoel Cintra tem 38 anos e, desde que se entende por gente, é fascinado por carros antigos, gosto que herdou do avô materno e do pai. “Minha vida sempre esteve ligada a esse universo. Para ter uma ideia, meu pai comprou um Escort conversível para comemorar meu nascimento”, revela. Aos sábados, um programa é certo: ir ao MG Club, que fica no bairro paulistano da Lapa, com sua caranga trocar ideia com outros associados sobre motores e afins. Como a turma do MG Club é predominantemente 50 mais, Cintra se uniu ao presidente do Alfa Romeo Clube do Brasil, Marco Pigossi, para criar uma confraria batizada de Jovem Guarda. “Nós nos juntamos com o desafio de despertar o interesse de pessoas mais jovens no tema”, explica.

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Hobby | CONFRARIAS
Manoel Cintra, frequentador do MG Club e fundador da confraria Jovem Guarda, em parceria com Marco Pigossi, presidente do Alfa Romeo Clube do Brasil

ENTRE RODAS E MANOBRAS

Em 2015, cinco amigos skatistas costumavam se reunir aos fins de semana para testar suas manobras na prancha, mas também se dedicar a outro hobbie: customizar motos estilo chopper anos 1970. “Por ser um nicho muito específico, as estampas marcantes que criamos começaram a fazer sucesso, e assim nasceu a marca Forever Six Wheels”, explica Guilherme Veloso, fotógrafo da Harley-Davidson e um dos integrantes da turma. Six Wheels, ou seis rodas, em português, seriam as rodas da moto somadas com as do skate. Hoje a marca também produz roupas e peças customizadas para motos.

“Não adianta levar um vinho que não seja português. Nem vai ser aberto”

Alessandro Augusto Petto, sobre a confraria Grêmio luso-brasileiro, criada por seu avô

Além dos encontros em São Paulo, que acontecem às terças na pista do Parque do Chuvisco, eles também se juntam em grupos de cinco ou seis amigos para viajar. As viagens envolvem trechos longos, como o rolê até Florianópolis, e outros mais curtos, para o litoral paulista, por exemplo.

SAUDADE DA TERRINHA

“Não adianta levar um vinho que não seja português. Nem vai ser aberto.” A fala de Alessandro Augusto Petto diz muito sobre a confraria fundada por seu avô, o português Manuel Augusto Garcia, e alguns colegas em São Paulo.

Manuel chegou ao Brasil ainda na adolescência e, para não sentir falta de seu país, começou a se reunir com outros conterrâneos. Criaram, assim, o Grêmio luso-brasileiro, um clube para beber, discutir política, mas, sobretudo, desfrutar dos sabores da terrinha. “Nos almoços às sextas, só é permitido sócios, que são todos homens”, conta Alessandro. Para ele, o grêmio é uma ode à memória, em que é possível desfrutar da culinária portuguesa e reencontrar amigos, ora pois.

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Hobby | CONFRARIAS
Fotos Felipe Carneiro; Guilherme Veloso; Pedro Cândido e divulgação

DO MAR À MESA

Baja California, no México; Las Perlas, no Panamá; Nosy Be, em Madagascar; Inhaca, em Moçambique, e Raivavae, na Polinésia Francesa, são apenas alguns dos lugares onde esse grupo de sete amigos paulistanos já foi praticar seu esporte favorito: a caça submarina de peixes gigantes. As viagens anuais – feitas até para ilhas que hoje são fechadas pelo exército local – requerem muito treino e dedicação e, por isso, Christopher Ananiadis, Fernando Serena, Guilherme Azevedo, Humberto Vallone, Rafael Vicintin, Renato Ometto e Ricardo Souza se encontram mensalmente para testar suas habilidades al mare. “Pegamos um barco e vamos para alguma ilha onde seja permitido fazer o mergulho. Lá, passamos o fim de semana a bordo, almoçando e jantando peixe fresco. Também doamos para as famílias carentes, sem aptidão técnica para conquistar tais espécies”, conta Fernando. E faz um adendo: “em todas as

nossas expedições a destinos remotos, respeitamos as cotas legais de pesca e sempre dividimos com os locais em agregadoras refeições”. Os pescados remanescentes conquistados no Brasil rumam de volta a São Paulo e vão direto para a cozinha dos melhores restaurantes japoneses da cidade, onde a turma se junta toda semana para comer sushi fresquíssimo, cortado na ponta da faca por aclamados chefs nipônicos. “Vamos aos nossos locais preferidos, onde já somos conhecidos. Quando chegamos com peixe novo é uma festa. Escolhemos um balcão acolhedor e degustamos noite adentro diferentes receitas feitas a partir do nosso próprio insumo!”, diz Humberto. Este ano a viagem foi para os Açores, território autônomo de Portugal. Por lá viveram histórias repletas de boas memórias – e sabores.

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Hobby | CONFRARIAS
“Mais do que poder degustar bons vinhos, é sobre poder se sentar e conversar”

Fábio Cruz, integrante da Confraria do Golfe, que também tem em comum com o demais jogadores a paixão pelos vinhos

PAIXÕES COMUNS

Não bastassem dividir o entusiasmo pelo golfe, o empresário Adriano Barcelos e alguns conhecidos, que se reuniam para praticar o esporte em São Paulo, descobriram que dividiam também o gosto pelo vinho e pela gastronomia. Foi assim que 30 integrantes da Confraria do Golfe passaram a marcar encontros em torno da boa mesa – a cada edição, um deles cozinhava. Hoje a história ganhou força e acontece religiosamente na primeira quarta-feira de cada mês na Casa Comitê, lab gastronômico comandado pelo chef Raphael Arrigucci. Uma dupla fica responsável pela escolha dos vinhos, enquanto Raphael pensa nas harmonizações, surpreendendo os mais exigentes paladares. “A ideia é que a confraria seja uma extensão da nossa casa. Esse encontro é para a gente se provocar a encontrar brecha na agenda. Mais do que poder degustar bons vinhos, é sobre poder se sentar e conversar”, explica Fábio Cruz, outro participante. E cabe mais um? Adriano responde, em tom de brincadeira: “A única exigência é ser golfista”.

MOVIMENTAR É PRECISO

Aos 30 anos o consultor de tecnologia

Carlos Eduardo Gmeiner começou a questionar suas relações amorosas. “Elas eram baseadas no ciúme e na desconfiança”, diz. O incômodo gerou uma pesquisa nas redes sociais, até que ele encontrou o palestrante e criador de conteúdo sobre masculinidade Fábio Manzoli.

Gmeiner embarcou em um retiro promovido por Manzoli e acabou conhecendo o engenheiro de produção Guilherme Rinzler, que também buscava meios de acessar suas emoções. As reflexões provocadas nesse encontro foram tão impactantes que alguns participantes decidiram criar o Movimento Homem, a fim de discutir a masculinidade tóxica. “A ideia é chamar a atenção para padrões do tipo ‘homem não chora’ e promover um espaço seguro de reflexão para questionar velhas práticas da masculinidade”, explica Rinzler. Os encontros acontecem mensalmente no espaço Alternativa Eywa, na Lapa, em São Paulo, e são conduzidos por Gmeiner.

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Hobby | CONFRARIAS

Bruno Sindicic

Carbono Minds
“Tínhamos a convicção de que a conveniência e a praticidade seriam cada vez mais valorizadas ”

Bruno Sindicic, fundador da Olga Ri, mostra como uma marca baseada em saladas surpreendeu a todos e segue como excelente modelo de negócios

Por Humberto Maruchel Retrato Helena Mazza

Na infância, o paulista Bruno Sindicic, 32, tinha o hábito de brincar com a irmã de realizar entregas imaginárias de alimentos. Transformavam uma janela da casa em ponto de retirada das refeições, colocavam seus patins e saiam, apressados, para o “delivery”. Passadas duas décadas, Bruno, graduado em Administração, e Cristina Sindicic, arquiteta, fizeram da tal brincadeira uma realidade. Bem, quase isso.

São eles os fundadores do Olga Ri, delivery de saladas que recebeu um aporte de R$ 30 milhões da empresa de venture capital Kaszek há pouco tempo. A história começou a ganhar força em 2016, quando Bruno, na época em uma empresa de private equity, decidiu criar um modelo de negócio inspirado em uma de suas mais antigas – e peculiares – paixões: as saladas. “Eu gostava do que fazia, mas sentia falta de criar algo que tivesse os meus valores”, compartilha.

Bruno convidou sua irmã, que trouxe a amiga, Beatriz, para formar uma parceria. Primeiro, fundaram a Casa Buon Gusto, serviço de preparo e entrega de saladas, e, depois, veio o Olga Ri. A ideia do nome era transmitir algo poderoso e feminino, mas também divertido – ri vem do verbo rir.

Com R$ 30 mil, alugaram um espaço na Vila Olímpia, adotando o formato de cozinha oculta (dark kitchen), contrataram um auxiliar e começaram a realizar as entregas. E a reação do mercado os surpreendeu: “As pessoas começaram a consumir e não pararam mais. O negócio foi crescendo no boca a boca.”

Seis anos depois, o empreendimento superou as expectativas dos fundadores – e de quem torcia o nariz para um negócio inspirado em salads –, atingindo um faturamento superior a R$ 20 milhões. Hoje, são mais de 200 funcionários entre São Paulo e Rio de Janeiro.

A seguir, Bruno, que foi reconhecido pelo prêmio Forbes Under 30 como um dos jovens mais promissores do país, revela curiosidades e lições aprendidas nessa trajetória.

APOSTA Quando começamos, sem sequer conhecer as dark kitchens, o Rappi e o Uber Eats estavam chegando no Brasil, e o iFood era apenas uma fração do que é hoje. Mas, ao observar o mercado internacional, tínhamos a convicção de que a conveniência e a praticidade seriam cada vez mais valorizadas, inclusive na área da alimentação saudável. Como consumidores, também sentíamos essa necessidade.

ENTRE RISADAS E SALADAS Minha família materna é de origem árabe, uma cultura que valoriza mesas fartas e a abundância. Sempre gostamos de nos reunir para compartilhar refeições. Meu pai, de ascendência croata, vinha de uma tradição culinária mediterrânea, a mãe dele era grega. Ambas as culturas tinham o costume de consumir muitas saladas e peixes, e absorvemos esses hábitos desde a infância. Lembro com carinho de ajudar meu pai a preparar os pratos. Na minha casa, era comum termos uma generosa tigela de salada, e muitas vezes ela servia como refeição, ou lanche da tarde.

SUSTENTABILIDADE Buscamos produtores locais – do cogumelo ao tomate – e estabelecemos com eles relações duradouras. Para proteínas de origem animal, selecionamos fornecedores que incorporam a sustentabilidade em suas operações. Nossos ovos são orgânicos e nosso frango é produzido sem antibióticos, com selo de bem-estar animal. Mantemos parceria com uma empresa de gestão de resíduos para que nosso lixo orgânico não termine em aterros sanitários. Também colaboramos com o selo ‘eureciclo’ e reciclemos o dobro do plástico que utilizamos.

LIXO ZERO Temos uma grande preocupação com o desperdício de alimentos. Diariamente, doamos ingredientes excedentes para organizações de assistência social. Há alguns anos, lançamos uma marca de sopas chamada Até o Talo, que utiliza restos de alimentos que seriam normalmente descartados para produzir caldos de legumes.

PARA TODOS O mercado financeiro é amplamente dominado por homens, com uma presença majoritária de indivíduos brancos e heterossexuais. Sentia uma carência de ambientes que pudessem ser mais inclusivos. Sou gay e desejava estabelecer um ambiente mais acolhedor para pessoas de diversas orientações sexuais e identidades de gênero.

IGUALMENTE IGUAIS Um dos princípios que buscamos era a equidade de gênero. Examinamos várias instâncias para garantir a igualdade salarial em todos os níveis. Temos conseguido alcançar esse objetivo e, hoje, mais da metade dos nossos colaboradores são mulheres.

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SINDICIC
BRUNO
Carbono Perfil | ARTE
Sou um homem do Nordeste, o museu é meu, da série Posicionamentos (2014) Batalha de Tejucupapo (2020)

BONNE CHANCE

Um dos jovens mais promissores da cena artsy, Jonathas de Andrade ganha o mundo com sua interpretação sensível da realidade brasileira

Jonathas de Andrade

Quem estiver nos Jogos Olímpicos da França, no ano que vem, deve se surpreender com um brasileiro. E, não, nós não estamos falando dos atletas que prometem agitar os campos e quadras da competição. Isso porque o artista Jonathas de Andrade prepara um projeto – ainda secreto – para o evento.

Com apenas 41 anos, Jonathas é um dos jovens artistas mais promissores de sua geração, com feitos como o prêmio Marcantonio Vilaça, uma das honrarias mais prestigiosas do País. Nascido em Maceió, Jonathas fez do Recife (PE) sua base há mais de 20 anos e, não à toa, foi bastante influenciado pelo movimento Mangue Beat, de Chico Science. Depois de iniciar a faculdade de Direito, cursou Comunicação Social e aproximou-se do cinema. “A arte contemporânea foi este lugar que abrigou meus vários eus”, conclui o artista.

Entre setembro de 2022 e fevereiro deste ano, ganhou da Pinacoteca de São Paulo uma panorâmica de sua produção de 15 anos e foi definido como “um intérprete da realidade brasileira” por Ana Maria Maia, curadora da mostra. Para Carbono Uomo, Andrade assente, mas pondera que é um “artista do presente”, cujos “documentos se inserem no campo da

arte, que tocam o sensível, a subjetividade”. Nada mais representativo das obras criadas ao longo dos últimos 15 anos.

Seus vídeos, fotografias e instalações, que misturam ficção e documentário, já estiveram em mais de 15 individuais e quase quatro dezenas de coletivas, em instituições e mostras de peso no exterior, como a 12ª Bienal de Istambul (Turquia, 2011), no New Museum (2017), em Nova York, e a Global Resistance, no Centre George Pompidou, Paris (2020).

Em 2016, em sua participação na 32ª Bienal de São Paulo, apresentou uma de suas criações mais conhecidas, O Peixe, em que aborda nossa relação conflituosa com a natureza. E, no ano passado, Jonathas foi convidado para representar o Brasil na 59ª Bienal de Veneza. Desde então, Jonathas segue viajando o mundo para apresentar seu trabalho e buscar inspirações. “Desde que meu trabalho começou a tomar fôlego, passo praticamente metade do tempo fora, viajando com meus projetos, em grande parte no exterior”, conta ele, que em São Paulo é representado pela galeria Nara Roesler.

Em janeiro de 2024, ele aterrissa em Salvador, onde exibirá seu filme Olho da Rua, como finissage de sua exposição na Galeria Lugar Comum, de Vik Muniz. A trilha sonora, ele explica, é feita ao vivo pelos músicos Homero Basilio, Antonio Barreto e Emerson Rodrigues. “É bem hipnotizante e forte. Fizemos uma exibição no Porto, em abril, depois em Recife, São Paulo e no Inhotim. Em novembro, estaremos em Oslo, no Astrup Fearnley Museum”, conclui Andrade, com projetos à mancheia.

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UM PAÍS FEITO DE

ÁGUAS

O empresário Adalberto Bueno Netto conta como foi embarcar com o amigo e fotógrafo João Farkas em uma viagem para documentar as transformações do litoral brasileiro entre o Amapá e o Rio Grande do Norte, projeto que, em breve, será transformado em livro

Depoimento a Raquel Fortuna Fotos João Farkas

Fotografia | BRASIL

Dunas do Maranhão e, na página ao lado, Adalberto em uma raiz de sumaúma, uma das maiores árvores da Amazônia, em Afuá, Marajó

“Conheço o João Farkas há muitos anos. Ele é um grande fotógrafo, daqueles paulistanos que na década de 1970 iam muito para Trancoso, na Bahia. Também circulei por lá um pouco e tenho casa na Praia do Espelho até hoje.

Sempre gostei muito do Farkas e voltamos a ter contato mais próximo há um ano e meio, quando fizemos um projeto junto com o irmão dele, Kiko Farkas, de um livro sobre o resgate do rio Pinheiros. O João me contou que tinha a ideia de documentar a costa norte do litoral brasileiro, algo parecido com o que ele já tinha feito em Trancoso no passado, quando o turismo começou a chegar forte por lá, com o objetivo de criar uma conscientização antes de a região se deteriorar pela ocupação desordenada.

Sou engenheiro, empresário do ramo da construção e um apaixonado pelo mar. Meu esporte predileto sempre foi o mergulho. Fiz caça submarina

e cheguei a disputar dois mundiais pela Seleção Brasileira. Adoro andar, fazer trilhas, então a aventura é algo que carrego no meu DNA. Além disso, gosto de pensar em fazer coisas em prol da coletividade, me envolvo em vários projetos do tipo. Esses foram alguns dos motivos que me levaram a apoiar a história do João e a embarcar nessa expedição junto com ele.

Foram seis viagens para mapear a costa toda, fazendo fotos por terra e por mar do Ceará, dos Lençóis Maranhenses e do Amapá. Isso resultou em um acervo fotográfico gigantesco, que vai virar livro. Destaco o último trecho que fizemos, que foi muito interessante, pois pegou toda a discussão do petróleo [há uma corrente desenvolvimentista que defende a exploração do petróleo na região em que se localiza a foz do Amazonas e outra que entende que a riqueza advinda nunca chegará à população local]. Existe muita

consciência sobre o tema por lá, há quem seja a favor, há quem seja contra, mas, sobretudo, as pessoas querem conversar e serem ouvidas. Isso foi algo inesperado para mim.

Começamos por Macapá e de lá cruzamos até a Ilha de Marajó. Visitamos aldeias indígenas, ribeirinhos e ficamos impressionados com o sucesso crescente da economia do açaí. É o que injeta dinheiro nas comunidades locais. Para se ter uma ideia, um saco de 30 kg de açaí hoje vale R$ 280. Então é algo com um grande valor agregado. Você sente o progresso acontecendo.

Na página de abertura, ranchos de pesca no litoral maranhense, erguidos sobre palafitas – a alteração da maré faz com que o recurso seja necessário

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“O que me motivou a fazer esse projeto foi a percepção quase intuitiva de que era uma região brasileira bem relevante do ponto de vista ambiental. Eu sempre procuro retratar a natureza antes que ela seja degradada, porque acredito que temos a obrigação de cuidar do nosso patrimônio natural. Ao expor isso por meio de fotos, posso ajudar na preservação e combater o uso predatório imediatista” João Farkas

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João Farkas pronto para mais um sobrevoo. Remover a porta traseira da aeronave ajuda a captar imagens aéreas Adalberto Bueno Netto

Pescador, em Bitupitá, no Ceará: na região, ainda são usadas embarcações similares às do século 16; na página ao lado, o surpreendente efeito visual criado nas reentrâncias maranhenses, em que praias, dunas, manguezais e florestas se alternam

“Para mim, conforto é ver coisas interessantes. Experiências assim são de um enriquecimento absurdo”
Adalberto Bueno Netto

Navegando pelo rio, a gente só vê isso: o açaí é um ‘coqueiro que não nasce como coqueiro’, mas de uma moita com cinco ou seis palmeiras.

Das belezas que encontramos, vale falar sobre Afuá, uma cidadezinha flutuante, inteiramente feita de palafitas. Um charme, muito caprichada, e lá não há veículo a motor, só bicicleta-táxi. Tem aqueles comércios organizados, lojas de roupas com manequins, café na rua, um lugar cheio de gentilezas urbanas. No fim da tarde, as pessoas se reúnem no ginásio da cidade para fazer ginástica. É de uma espontaneidade muito bonita de se ver. Ficamos amigos do radialista, que nos levou até para falar na rádio. Vivemos coisas como acordar no dia seguinte e sermos abordados pelas pessoas da cidade dizendo que tinham nos escutado (risos).

A logística de uma viagem como essa não é tão simples. Chegamos a Macapá com praticamente apenas um contato do João e de lá fomos vasculhando. Aí você aluga avião (daqueles que mais parecem uma bomba voadora – risos), barco, encontra um piloto disposto a lhe levar... E alguém para lhe buscar de bicicleta no aeroporto. No nosso caso, foi um libanês que mora na região e nos levou até a casa dele para almoçar.

Para chegar até essa cidadezinha, Afuá, por exemplo, foram três horas em um barco de alumínio, sob temporal. Uma passagem que rendeu fotos impressionantes. E no meio do caminho você encontra curiosidades como a junção de quatro ou cinco casas. Aí para, começa a conversar com as pessoas e descobre que ali vive um cara que fabrica barcos de um tipo que eu só tinha visto na Tailândia!

Para mim, conforto é ver coisas interessantes. Não que eu não goste de comodidade, mas acho tão legal quanto sair para mergulhar em um barquinho Nordeste afora. Já estive em lugares como Tibet, Nepal, Índia e, na minha própria lua de mel, fiz uma volta ao mundo pelas ilhas dos Mares do Sul.

Tenho 73 anos e, quando meus filhos estavam crescendo, comecei a tentar despertar neles esse interesse por viagens e aventuras (já até descemos juntos o Nilo de barco!). Agora quero fazer o mesmo com meus netos. Experiências assim são de um enriquecimento absurdo. E, como eterno curioso e aventureiro que sou, já me preparo para a minha próxima viagem: refazer o trajeto entre as Ilhas Geórgia do Sul e a Antártica traçado pelo navio Endurance, em 1914. Nessa expedição o explorador Ernest Shackleton e outros 27 marinheiros tiveram que voltar de botes e baleeiros até terra firme após a embarcação ficar presa em uma banquisa de gelo. Nenhum homem foi perdido! Uma daquelas histórias inacreditáveis que eu adoro!”

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Fotografia | BRASIL

Negócios | AVIAÇÃO EXECUTIVA

DE OLHO

A aviação executiva comemora mercado aquecido e vê combustíveis sustentáveis como uma aposta possível

FUTURO Jatos da Amaro Aviation: a aviação executiva ganha cada vez mais espaço
NO

O cuidado com o passageiro é uma das vantagens da aviação executiva

Assim como acontece com os carros, os aviões também estão evoluindo rapidamente, principalmente quando se trata da aviação executiva, que ganhou um boom ainda maior pós-pandemia. A conveniência, a praticidade e também a segurança que esse tipo de transporte proporciona são apontadas como fatores para o movimento. “A aviação comercial acabou se tornando muito caótica em relação aos atendimentos e ao cuidado com o passageiro. Como a versão executiva preza muito pela qualidade, acaba encontrando mais espaço para aumentar sua presença. De forma geral, o mercado cresce porque as pessoas buscam cada vez mais por essa conveniência”, opina Marcos Amaro, CEO da Amaro Aviation. João Mellão, COO da companhia, complementa: “Outro ponto muito buscado por quem se compromete com a aviação executiva é a privacidade”.

Heron Nobre, diretor de serviços aéreos da TAM Aviação Executiva, comprova a tendência: os voos fretados da empresa cresceram 15% em 2022 e, este ano, a alta deve ser de 10%.

“Como o Brasil possui dimensões continentais e os voos comerciais não alcançam todo o País, a procura por voos fretados aumenta a cada dia. O serviço de fretamento é diferenciado, exclusivo, privado e ainda segue altos padrões de segurança”, justifica Nobre. Mas a indústria também se prepara para mudanças que prometem acontecer em breve, como a taxação do IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores)

em aeronaves, já anunciada pelo governo federal.

Assim como a demanda aumenta, é preciso que aumente também o olhar para a sustentabilidade e os combustíveis alternativos aparecem como uma importante solução para o futuro desse segmento. Marcos Amaro acredita que a eletrificação das aeronaves é uma mudança e tanto, mas que deve ocorrer mais para o final desta década.

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Fotos divulgação Negócios | AVIAÇÃO EXECUTIVA
Jato da Amaro Aviation
O bimotor
“Veremos cada vez mais a automação dos sistemas de voo. Também crescerá a utilização dos combustíveis sustentáveis”
Heron Nobre, diretor de serviços aéreos da TAM

VOO VERDE

Aviões elétricos estão ainda engatinhando, mas, entre os projetos em andamento, vale citar o do bimotor Alice, da startup Eviation. Depois de um voo inaugural no ano passado, a empresa tem recebido pedidos, incluindo um feito pela companhia aérea regional mexicana Aerus.

O Alice é capaz de transportar até nove passageiros ou 2.600 libras (1.180 kg) em distâncias de até 250 milhas náuticas (463 km) a uma velocidade de 260 nós (482 km/h).

A Eviation tem como meta concluir o processo de certificação da aeronave elétrica até 2025 e iniciar as entregas em 2027. “Com certeza, veremos cada vez mais a automação dos sistemas de voo nas aeronaves e nos controles dos espaços aéreos. Também crescerá a utilização dos combustíveis sustentáveis e outras formas de energia, como a solar”, aposta Nobre, da Tam Executiva.

Outra revolução esperada é sobre os tipos de serviços. Um deles é o

oferecido pela Revo, uma espécie de “Uber de helicóptero”, que já começou a operar em São Paulo. As primeiras rotas com voos regulares, feitas por modelos bimotores Airbus, ligam a avenida Brigadeiro Faria Lima ao aeroporto de Guarulhos e o Complexo Cidade Jardim à Fazenda Boa Vista, empreendimento de luxo localizado em Porto Feliz, a 100 km da capital paulista. Compartilhados ou particulares, os voos podem ser contratados por aplicativo por valores que variam entre R$ 3.500 e R$ 5.000 por pessoa.

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Alice é uma das promessas da startup Eviation
Negócios | AVIAÇÃO EXECUTIVA

EVTOL, JÁ OUVIU FALAR?

Outra promessa recente, que tem tudo para revolucionar o mundo da aviação, gira em torno dos eVTOLs. A sigla, em inglês, significa Veículos de Pouso e Decolagem Vertical. O “e” é de elétrico. Em outras palavras, são veículos movidos a bateria, para poucos passageiros e de alcances mais curtos. A vantagem desse meio de transporte seria o menor custo de uso e a facilidade de pousos e decolagens que não necessitam de tanto espaço quanto um helicóptero.

A Embraer está envolvida na criação de um eVTOL em parceria com a empresa Eve. Juntas, as companhias anunciaram, inclusive, uma fábrica em Taubaté, interior de São Paulo, para produzir suas aeronaves – a ideia é que elas tenham capacidade para quatro

ou seis passageiros e um alcance de cerca de 100 km.

Marcos Amaro, no entanto, ainda vê a questão com ceticismo. Segundo o executivo, a tecnologia não avançou o suficiente para tornar esse projeto uma realidade. Muito por conta do peso das baterias e dos custos de aquisição altos, além da questão da regulamentação. “Nós entendemos que os helicópteros ainda são a forma mais segura e eficiente para poder atender nossos clientes, pelo menos no curto-médio prazo, e isso também faz sentido no nosso plano de negócios”, explica o CEO da Amaro Aviation.

Em voos mais baixos ou com o máximo de altura, seguimos de olho nesse e em outros capítulos desse universo.

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A vantagem seria o menor custo de uso e a facilidade de pousos e decolagens que não necessitam de tanto espaço quanto um helicóptero
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Negócios | AVIAÇÃO EXECUTIVA
a bateria, os eVTOLs devem transportar poucos passageiros e em distâncias mais curtas
Movidos

1

Autoral

“Minha família tem um histórico na indústria têxtil e isso influenciou meu apreço por roupas de qualidade. Além disso, valorizo simplicidade e conforto, o que acabou moldando meu senso estético. Meu estilo é uma mistura de casualidade e bem-estar.”

2 Curadoria

“Para peças básicas e informais, costumo ir às lojas da Osklen e da Handred. Em ocasiões especiais, Loro Piana é minha primeira opção. Essas marcas me oferecem tudo o que preciso.”

3 Curinga

“Uma boa camiseta básica de algodão orgânico é indispensável no meu guarda-roupa. Elas são práticas e versáteis.”

MEU ESTILO

4

The king of cool “Gosto muito do olhar estético do Steve McQueen. Ele tinha um estilo atemporal, que equilibrava naturalidade e elegância, o que ressoa em mim.”

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RODRIGO ROSSET EMPRESÁRIO À FRENTE DA SCARF ME, DA NERD SMART LIVING E DA CAJU MARINHO Fotos Bianca Nunes; João Bertholini e divulgação Por Bianca Nunes Retrato João Bertholini

5

Off-line

“Adoro pegar minha moto e viajar sem destino. O vento e a estrada me ajudam a me desconectar e a encontrar um espaço mental mais sereno.”

Amuleto secreto

“Eu tenho uma medalha de cobre que já pertenceu a diversas gerações. Recebi das mãos de Rafael Dahan, um amigo marroquino. É quase como um talismã de proteção e que tem um efeito calmante sobre mim.”

6

Faro fino

“Eu viajo para lugares como Índia, Nepal e Peru para buscar inspiração e materiais únicos. Não estou apenas atrás de estampas, mas também da essência de fios, lãs e alpacas que só podem ser encontrados em comunidades remotas. Esses elementos trazem uma autenticidade e um valor que são inestimáveis.”

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MEU NEGÓCIO É ABRIR RESTAURANTE

A “cara” de um restaurante é normalmente a de seu chef, mas o papel do restaurateur, responsável por abrir e gerenciar as casas, é muito importante para o negócio deslanchar. A seguir, conheça alguns especialistas que estão movimentando

a gastronomia nacional

Por Luisa Alcantara e Silva

De janeiro a junho de 2023 foram abertos 138.367 restaurantes e bares no Brasil, de acordo com a Receita Federal. Para se ter uma ideia, são quase 380 casas por dia. Outro dado que impressiona: o setor de alimentação fora de casa movimenta, no País, mais de R$ 200 bilhões por ano, segundo pesquisa do Instituto Foodservice Brasil. Mas há o outro lado, o dos negócios que se fecham – muitas vezes por má gestão. Porque não basta ter um bom chef, uma equipe afiada no salão e um ambiente agradável. É preciso, acima de tudo, um bom restaurateur. Aquele profissional que olha atentamente para cada ponto do estabelecimento. Se as vendas diminuem, ele vai buscar saber o que ocorreu. A casa pode estar cheia,

mas e se não der lucro? Detalhes mil, por vezes de bastidor, mas... sem os quais um bom restaurante não anda. São especialistas que devem entender de dados e planilhas, mas também ter habilidades gerais, como ser sociável e gostar de viajar, para saber quais são as tendências do momento.

E, o mais importante, destaca o restaurateur Luiz Felipe Bordon, dono do Dhomus, é montar um bom time. “Ninguém administra nada sozinho e cada um entende melhor de uma determinada área. Prefiro trabalhar em conjunto, com cabeças que se complementam”, afirma. Conheça as histórias de alguns restaurateurs – e aproveite a inspiração para conhecer ou revisitar os estabelecimentos tocados por eles.

ANOS DE EXPERIÊNCIA

Um dos nomes mais conhecidos da noite paulistana – à frente de casas como Lótus , Provocateur e Kiss&Fly –, Gutti Camargo (na foto com Vinny Speed, seu sócio no novíssimo 300 Sky) passou a atuar há alguns anos também na gastronomia. Em 2015, com outros sócios, fez ressurgir um gastrobar clássico dos anos 1990, o Banana Café, no Itaim Bibi. Mais recentemente, em 2021, inaugurou o Papaya Café, que segue a mesma pegada, com boas comidas e drinks, mas inspirado na Costa Amalfitana. Os anos de experiência trouxeram algumas lições, que Gutti divide aqui: “Gestão é algo em que sempre estamos errando e aprendendo e, nesse sentido, a tecnologia vem para nos ajudar, com ferramentas para controle de estoque, fichas técnicas e sistema operacional, entre outros”. Com mais acertos do que erros, seu grupo faturou R$ 35 milhões no ano passado.

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Retratos Iago Oliveira; Iara Morselli e divulgação
Economia | RESTAURATEURS

MULTITAREFA

Bruna Martins cursava faculdade de música quando decidiu abrir um espaço em Belo Horizonte que unisse suas duas paixões: música e gastronomia. A ideia era ter um lugar para jantares especiais ao som de piano, mas, quando ela viu o negócio tomando forma – e a necessidade de ter uma receita diária –, mudou os planos. Em 2013 nasceu seu primeiro restaurante, o Birosca S2, além de sua primeira experiência como dona e chef de um estabelecimento. O sucesso foi tanto que, de lá para cá, seu lado restauratrice a fez abrir outros dois endereços na capital mineira: o Florestal, que aposta nos vegetais como protagonistas, e o bar de vinhos Gira. “Sempre fui muito criativa e penso em ações que repercutem na mídia de forma positiva para criar um público.” Vale anotar a receita!

EM EXPANSÃO

Gabriel Abrão tem apenas 28 anos e um currículo como restaurateur de espantar. Em 2016 abriu a primeira unidade do japonês Kitchin e, atualmente, seu Attivo Group já soma outras quatro marcas de restaurantes: Su, Aima, Gioia e La Serena. Este último, de comida italiana, foi inaugurado recentemente no Shopping JK, em São Paulo, e deve vir mais por aí – Gabriel planeja abrir um espanhol no ano que vem e levar seu grupo para a Flórida. “Temos expertise em criar conceitos diferentes e complementares na jornada de um cliente de luxo e em operar esses restaurantes, independentemente de sua culinária”, afirma.

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Economia | RESTAURATEURS

DE OUTRO MUNDO

Ruly Viera já era sócio do Banana Café, mas queria algo totalmente focado na gastronomia quando se aliou ao amigo Dudu Massa e seu irmão, o piloto Felipe Massa, em 2020. Juntos trouxeram para São Paulo o restaurante Beefbar, fundado por Riccardo Giraudi em Mônaco. “O brasileiro é um grande consumidor de marcas e, no mercado de luxo, sempre olha para as internacionais”, diz Ruly. A casa, que aposta em carnes nobres e em um ambiente mais informal, vive cheia. Resultado de anos de trabalho e alguns ensinamentos. “Delegar era algo que eu fazia pouco, mas aprendi que ter um time em que você confia e executa muitas vezes melhor que você é a melhor coisa, pois assim dá para crescer como negócio.” Tanto dá que ele está trazendo uma nova marca de Mônaco para a capital paulista. Vale ficar de olho!

BAGAGEM EXTRA

Rodrigo Testa sabe bem o que é abrir restaurante. Vindo de outras áreas, tocou do zero o projeto do Cortés, iniciado em 2014 pelo Grupo Ráscal. Hoje são três unidades da marca, mas as casas sob seu comando pularam para 20, já que em 2018 ele se tornou CEO e sócio do grupo. E se Rodrigo sabe o que é abrir, infelizmente também entende o que é fechar casas. Viveu o momento mais desafiador da empresa na pandemia, quando duas lojas encerraram suas atividades no mesmo dia. E aprendeu que seguir fiel aos valores de qualidade, acolhimento e excelência é superimportante para trazer clientes, mesmo em momentos difíceis. Outra lição nos quase dez anos de Ráscal: “O maior desafio do gestor é equilibrar uma gestão competente de custos e liberdade para criação artística. Afinal, gastronomia é arte”.

76 Economia | RESTAURATEURS
Retratos Iriade e divulgação

ALGO A MAIS

Oguru Sushi Bar, Locale Caffè, Locale Trattoria, Locale Ristorante são as marcas do grupo Locale, cujo faturamento cresceu 65% de 2021 para 2022. “Para este ano deve ser algo em torno de 40%”, diz Gabriel Fullen, sócio e CEO do grupo. No total, ele comanda dez operações – sete criadas de 2020 para cá –, onde trabalham 350 pessoas e por onde passam cerca de 30 mil clientes por mês. Para o trabalho de restaurateur Gabriel ressalta a importância daquilo que não é ensinado na sala de aula. “Todas as decisões do grupo são baseadas em dados, mas sem deixar de lado nosso conhecimento e aquele feeling que conseguimos adquirir com a experiência no mercado em que atuamos.”

COISA DE GREGO

Não é exagero afirmar que Luiz Felipe Bordon começou no mundo dos negócios cedo. Com 15 anos lançou uma marca de camisetas com dois amigos. Já mais velho, atuou em outras áreas, como mercado imobiliário, esporte – abriu uma academia de ciclismo indoor – e entretenimento, mas sempre foi apaixonado pela gastronomia. Em busca desse sonho, inaugurou, no ano passado, em uma cobertura na Rua Amauri, o Dhomus, restaurante nascido na ilha grega de Mykonos. “Amo aquele lugar, aquela atmosfera, e foi isso que tentei trazer para nossa cidade de pedra: uma escapada para o Mediterrâneo”, conta Luiz Felipe. O investimento inicial foi de R$ 6 milhões e, no primeiro ano, o faturamento da casa chegou perto dos R$ 10 milhões – com projeção de crescimento de 20% para este ano.

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Carbono Minds
Carolina Videira
“Sou uma mulher à frente de uma ONG tentando fazer captação de recursos no Brasil. O desafio é enorme”

Ao saber do diagnóstico de uma síndrome rara de seu filho, a fisioterapeuta Carolina Videira fundou uma ONG cuja missão é promover escolas verdadeiramente inclusivas

Por Humberto Maruchel Retrato Luciana Gebara

Carola, como a belo-horizontina Carolina Videira prefere ser chamada, sempre quis ser mãe. E a aspiração vinha acompanhada de uma intuição: a de que teria um filho com deficiência. Em três momentos diferentes de sua vida, ela expressou essa convicção.

O primeiro ocorreu durante a faculdade de Fisioterapia, quando fazia um estágio na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente). A segunda se deu aos 28 anos, após concluir um mestrado em Neurociência e começar a trabalhar na indústria farmacêutica. Ao ser pedida em casamento por Felipe, hoje seu marido, respondeu com outra pergunta: “O que ele faria se tivesse um filho com deficiência?” A terceira ocasião foi aos 29 anos, na maternidade, ainda sem saber do quadro do recém-nascido João. “Escrevi uma carta dizendo que algo estava errado e que não sabia se era comigo ou com meu filho. Caso eu não sobrevivesse, pedi a alguém que cuidasse dele.”

O diagnóstico de uma deficiência veio no final de sua licença-maternidade, mas foi somente quando o filho completou cinco anos que Carol soube da raridade do caso – eram apenas 28 no mundo. E foi em 2015, ao ouvir de algumas escolas que João seria incapaz de aprender, que ela decidiu fundar a Turma do Jiló, um empreendimento social de educação inclusiva. “As instituições achavam que inclusão era simplesmente aceitar pessoas com deficiência, mas era preciso pensar a diversidade em todos os aspectos”, explica ela, que se baseia no desenho universal de aprendizagem.

A primeira conquista dessa parceria foi uma redução significativa da evasão escolar. Apenas no município de Santana de Parnaíba (SP), nos colégios onde o projeto foi implementado, essa taxa caiu 37%. E, tempos depois, a Turma do Jiló passou a transformar o cenário também nas empresas. Não à toa, Carola foi finalista do Prêmio Empreendedor Social 2022 e, no mesmo ano, venceu o Prêmio Rise and Raise Others, da ONU Mulheres.

Para Carbono Uomo Carola conta como vem ajudando a mudar a maneira como enxergamos a inclusão. João, que já não está mais neste plano, certamente aprovaria.

BARREIRAS Eu precisava cuidar de uma criança que dependia 100% de um adulto para fazer 100% das atividades. Mas eu tinha certeza de que o João entendia tudo

porque ele ria quando era para rir, chorava quando era para chorar. Ele só não conseguia se comunicar comigo. Entendi que o problema não era dele, eu que não estava conseguindo acessar essa comunicação.

LIDERANÇA Eu sou uma mulher à frente de uma ONG tentando fazer captação de recursos no Brasil. É um desafio enorme. Não sou levada a sério muitas vezes. Eu capto muito menos recursos do que as organizações dirigidas por homens. Mulheres empreendedoras sociais ainda são minoria.

SEM FILTRO Por muito tempo achavam que a educação inclusiva era deixar a criança na escola fazendo uma atividade diferente. A ferramenta do desenho universal de aprendizagem ensina o educador a pensar em atividades baseadas nas habilidades de cada aluno.

LUNETA Encontrei um médico que estava fazendo uma pesquisa nova em Boston e João teve a oportunidade de usar um equipamento que rastreava o movimento dos seus olhos. A partir dele era possível clicar no mouse do computador e ele passou a se comunicar conosco. Conseguimos colocá-lo em um processo de desenvolvimento pedagógico, não só social, e ali eu descobri o que queria fazer da minha vida.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA Quando falamos de educação inclusiva no Brasil, associam a pessoas com deficiência, mas essa é uma modalidade de ensino muito maior porque não existe meia inclusão. A educação inclusiva é anticapacitista? É, mas ela é antirracista, ela é antissexista? Ela trabalha todas as questões da diversidade? Pois são muitas: sociais, religiosas, culturais, de padrões de corpos diferentes. Somos todos muito diferentes e diversos.

ESCALADA Em 2020, com as escolas fechadas, a Turma do Jiló teve que parar suas atividades e nos vimos em um dilema: aquilo não ia acabar tão cedo e talvez tivéssemos que fechar. Naquele momento brotou em mim a veia empreendedora e demos uma virada de chave: passamos do status de ONG para o de negócio social. Começamos a atender empresas com todas as questões de exclusão. Não fechamos e ainda crescemos: eram dez funcionários, hoje são 40.

43 CAROLINA VIDEIRA
Carbono Perfil | ARTE
Obra Juntos Venceremos Obra Cordilheira e Gaivota

A RIQUEZA

NUMA ARTE POVERA

Um dos artistas mais bem-sucedidos da mais recente edição da ArtRio, o carioca Zé Tepedino cria intervenções públicas que emprestam poesia aos materiais descartados

Zé Tepedino

O carioca Zé Tepedino tem poucos anos de carreira, mas, merecidamente, foi um dos artistas mais incensados na mais recente edição da ArtRio. Ali, chamou a atenção com duas obras que se apropriam de materiais descartados. “Eles estão nesse lugar de margem, em que deixam de cumprir uma função prática para ganhar funções poéticas”, explica o artista.

Nascido no Rio em 1990, Tepedino começou sua trajetória entre 2015 e 2016, quando fundou com amigos a chamada Igreja do Reino da Arte, dedicada a intervenções artísticas em espaços públicos, sem relação com o circuito profissional da arte no Rio, nem qualquer tipo de incentivo ou patrocínio. “Foi algo que determinou consideravelmente a minha prática”. Em 2021, por exemplo, ele chegou a realizar 12 trabalhos do gênero na capital fluminense.

O caminho para o reconhecimento como artista profissional foi sendo trilhado aos poucos e acompanhado

de perto por fãs como Oskar Metsavaht – Tepedino chegou a trabalhar na área criativa da Osklen. “Há mais de dez anos acompanho com intimidade o percurso do Zé e, desde o começo, seu trabalho revelava um olhar potente e generoso sobre tudo que o cerca. Uma consistência despretensiosa em termos de conceito e na construção de uma linguagem própria”, conta o estilista. Recentemente, inclusive, Tepedino realizou sua primeira individual carioca no studio OM.art, atelier de Metsavaht.

E foi em 2022, durante uma residência artística em Bruxelas, que o jovem criativo conquistou sua primeira exposição solo internacional. “Essa experiência começou a desenhar a minha posição como um artista profissional”. De lá para cá, passou a ser representado pela Casa Triângulo, de São Paulo, e muita coisa aconteceu, como suas participações em duas edições da ArtRio (2022 e 2023) e em uma da SP-Arte (2023). Para Kiki Mazzucchelli, curadora de sua primeira individual em solo paulistano, a produção de Tepedino pode ser associada a vanguardas artísticas diversas, como Dadaísmo, Surrealismo, Pop e Arte Povera.

Entre tantos feitos, Tepedino também comemora sua estreia em uma coletiva num espaço institucional de renome: até agosto do próximo ano seu trabalho pode ser visto na mostra FUNK: Um Grito de Ousadia e Liberdade, no Museu de Arte do Rio (MAR).

43 Carbono Perfil | ARTE

AMAZÔNIA VIAGEM

A majestade, a Floresta

Uma imersão na maior floresta tropical do planeta, onde nem tudo – mas também sim – é jacaré e tucupi

Como podemos nos atrever a entrar em um avião para passar uma temporada de férias em qualquer local do Brasil ou do mundo antes de o nosso destino ser a Floresta Amazônica? Simplesmente o lugar mais necessário, lindo e transformador de qualquer listagem turística ao redor do globo. Ademais, como escutar a vida toda histórias da floresta, aulas inteiras voltadas a ela, livros, rimas, filmes e cantigas sem nunca ter fincado os pés em seu solo sagrado? Sagrado, porém considerado pobre em nutrientes, o que o torna pouco propício para a agricultura – um lampejo de sorte da floresta talvez...

Cobrindo parte de alguns estados brasileiros, como

Acre, Amapá e Rondônia, além de países vizinhos do Brasil, é no Amazonas que ela se faz ponto turístico. Turismo ecológico, turismo de aventura, turismo de natureza... chamem como quiser, mas o certo seria: turismo obrigatório!

PARIS DOS TRÓPICOS

Uma estadia na floresta pede uma paradinha estratégica na capital do estado. Manaus oferece algumas possibilidades que não podem ser encontradas na mata. Histórica, fundada em 1669, a cidade viveu seu auge durante o ciclo da borracha, graças a sua profusão de seringueiras, e chegou a ser

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Imagem aérea do Rio Negro clicada a partir de um hidroavião
“Manaus oferece possibilidades que não podem ser encontradas na mata. Histórica, chegou a ser conhecida como Paris dos Trópicos”

conhecida como Paris dos Trópicos, por conta dos edifícios luxuosos de arquitetura com inspiração europeia. Em meados de 1910 o ciclo acabou e os anos dourados da capital também, mas por lá ainda resistem algumas pérolas da cultura brasileira, como o principal cartão-postal dos manauaras o Teatro Amazonas (@teatroamazonas), e sua belíssima cúpula escamada composta de 36 mil telhas cerâmicas esmaltadas trazidas da Alsácia, na França. Acordar e dormir com esse patrimônio histórico praticamente dentro do seu quarto, somente no Juma Ópera (@jumaopera). Charmosíssimo hotel boutique que ocupa o casarão onde funcionou a escola de música Ivete Ibiapina. A dica é se hospedar nas suítes Ivete – acessada por uma bucólica escada caracol original do século 19 –e Ibiapina. A presidencial, Ópera, dispensa descrições. Não deixe de curtir um fim de tarde na piscina no rooftop com vista, é claro, do Teatro. O restô do hotel vale um ótimo jantar. Localizado sob uma impressionante cúpula

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Vista do Teatro Amazonas a partir da piscina do Juma Ópera, em Manaus; e o restaurante do hotel, que fica sob uma cúpula de vidro

Amazônia

de vidro, com aprazível terraço para drinks regionais, oferece pratos com pitadas da culinária indígena sob a tutela da chef Sofia Bendelak. O risoto de tacacá com tucupi, jambu e camarão é delicioso. Falando em delícias do Norte, outro lugar imprescindível em uma visita a Manaus é o Caxiri Amazônia (@caxiri_amazonia). Em um casarão restaurado com janelões voltados para a famosa cúpula, o restaurante felicita, desde 2016, os paladares com uma abundância incrível de sabores amazônicos. Tudo no menu sazonal é absolutamente esplêndido. Até a salada – de PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) –, arrisco dizer, foi a minha favorita da década. Por lá acontece o que é chamado de “cozinha de produto”, que respeita as leis da natureza e por ela se deixa conduzir. No

“O trajeto de hidroavião é um deleite. Serpentes negras cortando a abundante mata verdejante configuram cenários aéreos inesquecíveis”

comando, Débora Shornik, ex-Spot São Paulo. Paulistana de nascimento, amazonense de coração, a chef levou ao Caxiri a gastronomia de afeto e de ancestralidade. “Desenvolvo uma cozinha regional, porém não típica. Gosto de dizer que o que ofereço em meus pratos é a ‘Amazônia em mim’, um

romance, uma inspiração”, diz.

Ainda em Manaus, as atividades para família são voltadas à cultura local. Interação com eles, os botos-cor-de-rosa, em uma doca flutuante no Rio Negro; visita à tribo indígena Dessana, onde é possível conhecer suas ocas e assistir a shows de danças típicas; passeio no Mercado Municipal, projetado pelo mesmo engenheiro que idealizou a Torre Eiffel; e visita guiada ao Palácio Rio Negro, cheio de histórias e detalhes pitorescos, são os highlights.

PARTIU FLORESTA!

Aqui começa o recorte mais selvagem da viagem. Destino: Parque Nacional de Anavilhanas – o segundo maior arquipélago fluvial do mundo –, onde reina o Mirante do Gavião Amazon

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Algumas das delícias servidas no Caxiri Amazônia, em Manaus: banda de matrinxã com creme de banana; xibé com linguiça curada e camarões na churrasqueira; salada panc com hummus de beterraba; e caldo de cogumelo Yanomani

Lodge (@mirantedogaviao). Aquele que todos já ouviram falar e sonham visitar. O local é realmente mágico! Saindo de Manaus até Novo Airão, município onde está o hotel, há a opção de rodar 180 km, aproximadamente 2h30 de carro, ou ir de hidroavião, em um voo de 45 minutos. Sugestão: podendo, vá de hidroavião. O trajeto é um deleite. Serpentes negras cortando a abundante mata verdejante configuram cenários aéreos inesquecíveis. Além do icônico voo sobre o Encontro

das Águas, fenômeno que acontece na confluência entre os rios Negro, de água preta, e Solimões, de água barrenta, onde as águas correm lado a lado sem se misturarem. O pouso suave nas águas escuras do Rio Negro anuncia: você chegou ao paraíso. O Mirante, aberto em 2014, é a descrição perfeita de exclusividade – são apenas 13 bangalôs; elegância – tudo feito de madeira de lei em forma de barcos invertidos; e rusticidade, com design de interiores com materiais da floresta, como fibras

CHEIA OU SECA?

naturais, cestas, marchetaria e artesanato regional – a maioria criada por profissionais da Fundação Almerinda Malaquias, ONG da qual o hotel é patrono. Aliás, muitas outras ações sustentáveis podem ser vistas ali. O premiado projeto, assinado pelo Atelier O’Reilly Sustainable Strategies, teve como prioridade a total adequação ao seu entorno: as construções têm pisos elevados, de modo a preservar a permeabilidade do solo; a iluminação e a ventilação são naturais; a energia solar

O cenário da Amazônia muda drasticamente dos períodos de seca para os de cheia. As águas dos rios chegam a subir 30 metros! Diria que esse é o principal ponto a ser observado em um planejamento de viagem para a região. A seca, que vai de outubro a fevereiro, é mais propícia para entender a imensidão da floresta. Prainhas e ilhotas secas se formam, revelando terrenos e árvores que ficam submersos durante a cheia. Assim é possível notar a altura de suas copas e fazer caminhadas em terra firme. A cheia, por sua vez, vai de março a setembro e é quando os igapós (matas inundadas) e igarapés (cursos d’água constituídos por braços de rios) se formam. A floresta vira uma “Veneza tropical”, proporcionando experiências de navegação quase na altura das copas das árvores. É também a época de maior atividade dos animais e das imensas vitórias-régias.

E aí? Qual a sua Amazônia? A nossa são todas!

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Píer de chegada fluvial do Mirante do Gavião Amazon Lodge

é usada para abastecer o sistema elétrico e o aquecimento de água; e todos os resíduos orgânicos são direcionados para compostagem.

Os divinos bangalôs ficam espalhados na parte alta do terreno de 30 mil metros quadrados em meio à floresta nativa. E são conectados à piscina, à sala de jogos, ao redário, à sala de massagem e ao restaurante por meio de uma passarela que circunda toda a região. Falando em restaurante, esse merece um destaque especial: CamuCamu é surrealmente maravilhoso. O menu à la carte destaca ingredientes amazônicos e seus peixes raros, em criações originais assinadas por Debora Shornik. Lembram dela? Não coincidentemente é a mesma e excelente chef do Caxiri de Manaus. Todos os dias, antes de partir para os passeios, o hóspede escolhe o que vai querer de almoço e jantar e, ao sentar-se à mesa, é sempre uma gratíssima surpresa. Além dos sabores explosivos, a apresentação dos pratos é tão bela que faz uma perfeita composição com a vista do píer que se apoia sobre o rio Negro.

BIOMA: AMAZÔNIA

As atividade no Mirante funcionam em um formato sob medida. Dependendo de quantos dias for a hospedagem, é criada uma programação especial para cada hóspede. São possibilidades de roteiros de quatro a oito dias com viagens fluviais da Expedição Katerre

(@expedicaokaterre), empresa de ecoturismo que atende ao hotel e proporciona vivências profundas e genuínas de contato com o entorno. Trata-se de incursões na floresta, em sua maioria, partindo de lancha do píer do hotel para pontos de trilha dentro da mata, seja para visita a comunidades, seja para locais como as grutas do Madadá e seus salões de pedra, ou até para um trekking até a maior espécie arbórea da Amazônia, a Samaúma. No caminho, muito aprendizado, passeios de canoa, histórias e lendas da floresta na companhia de guias treinadíssimos. As visitações às comunidades ribeirinhas, com direito a almoços nas tradicionais casas dos caboclos às margens do rio –pense em um gostoso peixe amazônico recém-pescado assado na brasa –, são encantadoras e é possível descobrir seu

peculiar modo de vida bonito e singelo. A focagem noturna de jacarés, bichos-preguiça e serpentes é uma opção divertida e eletrizante. Quando os olhos dos animais refletem na luz da lanterna... que emoção! Há ainda o programa de birdwatching para observação de pássaros em florestas de terra firme, insulares e de vale, além das campinas; e pesca de piranha a bordo de lanchas rápidas. A preferida de todas? Pegar um stand up e sair singrando sem lenço nem documento as águas escuras e refrescantes do rio Negro, até, quem sabe, um boto cruzar seu caminho, enquanto o Sol se põe no horizonte. É ou não é historinha de escola?

Pontos especiais do hotel: mirante, área da piscina e uma das suítes. Na página ao lado, vista aérea do Mirante do Gavião, uma de suas Casas na Árvore e pôr do sol no Rio Negro

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Viagem | AMAZÔNIA

tem uma selva no meu apê!

Batizada de Apartamento Terraço, a morada do arquiteto Guto Requena mistura flexibilidade, tecnologia e biofilia para criar um ambiente repleto de afeto e vida

Por Adriana Nazarian Fotos Maira Acayaba

“Quem desenha sala, cozinha e quarto está fadado a desenhar o passado. E eu quero desenhar o presente e o futuro.” A frase, dita por Guto Requena, revela muito sobre o apartamento que o arquiteto divide com o marido, Hugo Caetano, no bairro Santa Cecília.

No lugar de espaços compartimentados, Guto pensou nas atividades que faria na morada: trabalhar, receber amigos, descansar, entreter. Assim, desenhou um projeto que permite reconfigurar os ambientes de acordo com as necessidades de seus moradores. Gira a mesa, esconde um armário, sobe a cortina, desce a caixa de som. Sala de reunião, canto de leitura, cinema e pista. “Estamos o tempo inteiro brincando com a casa. Cada hora ela está de um jeito e isso é o mais legal”, conta.

A flexibilidade é apenas um dos conceitos que regem o tripé pensado por Guto na hora de tirar esse projeto da prancheta. Afinal, nada melhor do que sua própria morada para criar uma espécie de laboratório arquitetônico, que testa cada detalhe de sua extensa pesquisa em torno do futuro do morar – Guto é professor da Sorbonne e autor do livro Habitar Híbrido: Subjetividades e Arquitetura do Lar na Era Digital

JOANINHA, BORBOLETA E LAGARTIXA

A segunda ponta do tripé é chamada por Guto de biofilia radical e basta olhar as fotos para entender: trata-se do desejo de criar uma floresta urbana. O conceito é um marco dos projetos do arquiteto, inclusive para clientes como Google e XP, mas foi a primeira vez que ele usou essa quantidade enorme de plantas em um imóvel residencial. Comandado por Juliana Freitas, o paisagismo tem como destaque uma longa floreira suspensa, que, junto com os vasos de chão e pendentes, forma um microambiente todo particular.

Pode parecer exagero, mas a selva urbana de Guto ajuda a diminuir as altas temperaturas e melhorar a qualidade do ar, por exemplo. 1

Casa | GUTO REQUENA
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1 – Hugo e Guto no Apartamento Terraço: o verde invade a morada por todos os lados

“Já que não conseguimos mais morar na natureza, precisamos trazê-la para perto. A sensação aqui é de estar em uma casa. Tem borboleta, joaninha, lagartixa.”

A ideia da floresta ganhou ainda mais força quando Guto e Hugo, em busca de um apartamento para morarem juntos pela primeira vez, visitaram esse imóvel no edifício Albina, desenhado por Botti e Rubin em 1962. Apesar de terem decidido que precisavam de um lugar com varanda, a ideia de morar em um ícone da arquitetura moderna paulistana justificava a falta de uma. “A solução foi transformar o apartamento todo em uma grande varanda”, explica Guto, que batizou a morada de Apartamento Terraço.

Se dá trabalho? Praticamente tudo é automatizado, mas ter um jardim composto de plantas nativas, horta e até árvores frutíferas requer cuidado – em qualquer endereço do mundo, e não só

na pauliceia. “É orgânico, é vida. E a vida dá trabalho”, complementa Guto.

CONTROLE E DIVERSÃO

A tecnologia é o ponto final do tripé do projeto – e do trabalho de Guto, há longa data. E não estamos falando apenas da manutenção usada para cultivar essa infinidade de plantas. Mais do que facilitar a vida, Guto acredita que o recurso tem a função de deixar a rotina mais divertida. “Posso pedir para a Alexa fazer da casa uma sala de cinema, abaixando as luzes, equalizando o som. Ou quem sabe uma festa com outras adaptações?” O lar hiperconectado pode ser controlado virtualmente por meio de dispositivos móveis ou no próprio local. Acesso, iluminação, áudio, vídeo, cortinas e mobiliários são automatizados.

Na curadoria afiada de móveis,

inclusive, há peças desenhadas por Guto por meio do design paramétrico, conhecido por utilizar algoritmos para criar formas inovadoras. A instalação Heart Wall é um bom exemplo: seus sete orifícios piscam no ritmo do batimento cardíaco de sete pessoas importantes na vida de Guto. Dá para acreditar? Já na luminária Vida, impressa em 3D, são os layers formados pelos batimentos cardíacos de um bebê, de um idoso e de um homem na faixa dos 35 anos que fazem sua luz acender.

São maneiras nada óbvias de usar a tecnologia de modo mais afetivo, marca registrada dos projetos de Requena. “A casa do futuro não tem que ser branca, fria, minimalista. Para mim, ela é quente, humana e aconchegante. Tem memórias, imperfeições e rachaduras.” Para nós, acima de tudo, tem vida.

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“Já que não conseguimos mais morar na natureza, precisamos trazêla para perto”
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2, 3, 4 e – As diferentes configurações do apartamento, que se transforma em sala de estar, mas também em cinema
Casa | GUTO REQUENA
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92 Casa | GUTO REQUENA 6 7
“A casa do futuro é quente, humana e aconchegante. Tem imperfeições e rachaduras”

6 e 7 – Quarto, canto de leitura e também escritório

8 – Na biofilia radical de Guto, até o banheiro ganha ares de selva

9 e 10 – Detalhes de um apartamento todo automatizado: praticidade e diversão

11 – Ambientes integrados ajudam a transformar o apartamento em um espaço multifuncional

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Casa | GUTO REQUENA
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AFEGANISTÃO VIAGEM

Afeganistão, uma degustação

Raul Frare visitou o Afeganistão, não só uma, mas três vezes. Apaixonado por história e geografia, ele encontrou no país paisagens fascinantes, histórias milenares e um povo acolhedor. A seguir, Raul dá o beabá para quem deseja embarcar em uma jornada fora do convencional

Não sou daquelas pessoas que desejam conhecer todos os lugares do mundo. Curto degustar um país por inteiro, suas regiões, povos e culturas. E também adoro poder retornar aos lugares de que mais gostei.

Desde criança, quando minha mãe me mostrava as revistas National Geographic, eu sonhava em conhecer o Afeganistão. Ficava fascinado com as imagens das incríveis partidas de Buzkashi, dos Budas gigantes de Bamyan e das caravanas nômades no Corredor do Wakhan.

Cresci apaixonado por história e geografia e tudo que estava relacionado ao Afeganistão me despertava a atenção: a ocupação soviética; a trilha hippie dos anos 1970 da Europa à Índia; os Hindu Kush; Alexandre o Grande; o Budismo na Ásia Central; O Caçador de Pipas; 11 de setembro; Bin Laden; as atrocidades do Talibã; as mulheres de burca; as partidas de Buzkashi, e por aí vai. Tanto é que estive três vezes no país.

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Texto e fotos Raul Frare
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Afeganistão

A SEGUNDA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE

Na primeira vez que visitei o destino, há dez anos, percorri mais de 8.000 km por terra ao lado de um amigo. Partimos de Teerã, no Irã, e fomos até Delhi, na Índia, cruzando a Ásia Central pelas estradas mais altas do mundo, atravessando as épicas Pamir Highway e a Karakoram Highway, que ligam o Oeste da China ao Paquistão.

Para entrar no Afeganistão começamos por

“O Afeganistão é um dos países mais puros, exóticos e apaixonantes em que já estive”

Khorog, no Tajiquistão, e percorremos alguns quilômetros pela estrada que divide os dois países, conhecida como Heroin Highway – é ali que a heroína afegã é escoada. Cruzamos a fronteira em Ishkashim rumo ao Corredor do Wakhan, uma das regiões mais incríveis, remotas e isoladas do nosso planeta. De um lado, a cadeia de montanhas Pamirs; do outro, os majestosos Karakoram e, por fim, as montanhas Hindu Kush, um lugar surreal.

Minha segunda aventura no Afeganistão aconteceu em março de 2021, seis meses antes da

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1 – A grande Mesquita Azul, um refúgio calmo entre as ruas e bazares de Mazar-e-Sharif 2 – Vale de Bamyan, terra dos Budas 3 – O lindo Vale de Panjshir 4 – Raul blending in nas viagens por terra
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Viagem | AFEGANISTÃO
5 e 6 – As incríveis estátuas de Budas gigantes, destruídas pelo Talibã em 2001, foram projetadas em Bamyan 20 anos depois 7 – Os lagos de Band-e-Amir, congelados – no verão, sua cor azul-turquesa é incrível
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tomada de Cabul pelos talibãs e do fim dos 20 anos de ocupação americana. Nunca vou me esquecer do frio na barriga antes do pouso: o avião desviava dos picos das montanhas ao se aproximar do aeroporto de Cabul.

Passei dez dias viajando no país acompanhado de um motorista e de um guia, chamado de fixer (facilitador). Conheci a incrível e vibrante capital e o lindo vale de Bamyan com suas montanhas nevadas, onde ficavam as estátuas colossais de Buda, construídas há mais de 1.500 anos, quando a região era predominantemente budista – em março de 2001, o Talibã dinamitou essas esculturas. E aqui conto uma “coincidência”, daquelas que só as viagens oferecem: sem saber, cheguei a Bamyan no aniversário de 20 anos da destruição e assisti a uma cerimônia muito especial.

Também visitei os maravilhosos lagos de Band-e-Amir; a imponente mesquita azul de Mazar-e-Sharif; a cidade de Herat e sua histórica cidadela construída por Alexandre, o Grande, e também terra do melhor e mais raro açafrão do mundo. Por fim, o Vale de Panjshir, com seus rios de águas cristalinas, desfiladeiros e corredeiras.

Naquela ocasião, mais da metade do país já estava dominado pelos talibãs e a viagem, apesar de fantástica, foi um verdadeiro esconde-esconde. Optamos por fazer de carro o trecho entre Cabul e Mazar-e Saharif, no Norte, e passamos por alguns checkpoints talibãs. Na nossa frente, um carro vazio, uma espécie de “abre-alas”, fornecia as informações pelo celular e nos dava sinal verde de passagem. Uma regra era clara: evitar qualquer contato com os olhos com os

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Viagem | AFEGANISTÃO 8 11 9 12 10 13
8 – Ruas de Herat 9 – Loja de pães em Cabul 10 – Artesão em Herat 11 – Cenas de Cabul 12 – Motoristas de tuk tuk em Herat 13 – Raul e o fotógrafo Haji Mirzaman, que fez seu portrait com uma câmera de madeira em Cabul

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talibãs – com suas AK-47 a tiracolo. E fiquei impressionado com a quantidade de esqueletos de carros e caminhões queimados no trajeto!

Cruzamos as incríveis montanhas Hindu Kush e atravessamos alguns quilômetros de túneis deteriorados, da era soviética, sinistros e sem qualquer ventilação ou iluminação. Parecia não haver, literalmente, luz no fim do túnel.

Mas chegamos a Mazar-e-Sharif a tempo de assistir à última partida de Buzkashi da temporada. Era a minha única chance e foi, sem dúvida, umas das experiências mais incríveis da minha vida. O Buzkashi é o esporte nacional do Afeganistão, uma espécie de polo, porém mais violento. No lugar da bola, a carcaça de crânio de uma cabra. E vence o cavaleiro que conseguir arrancá-la dos adversários e arrastá-la até o gol.

UMA VELHA NOVA ERA

A minha terceira visita foi em março deste ano, já com os talibãs totalmente no controle. Voltei porque queria conhecer Kandahar e os incríveis minaretes de Ghazni, além de desbravar melhor Cabul, cidade que me fascinou muito.

É curioso, mas me senti mais seguro agora do que há dois anos, durante a ocupação americana. Os atentados de

autoria talibã já não acontecem, mas há o ISIS-K, um braço do Estado Islâmico, responsável pela maioria dos conflitos. Inclusive o atentado bárbaro durante a operação de evacuação, em agosto de 2021, quando um homem-bomba explodiu no aeroporto de Cabul.

Era o fim de duas décadas de ocupação americana e todos tentavam fugir em busca de um futuro melhor. Meu guia estava lá com a família e, após algumas tentativas frustradas, conseguiu ir para a Austrália. É lá que ele vive atualmente, gerenciando sua agência de viagens Let´s Be Friends Afghanistan. Muitos de seus amigos que não tiveram a mesma sorte agora trabalham em sua empresa, atendendo guias e motoristas que se aventuram no Afeganistão.

Com a retomada do poder pelo Talibã, as mulheres foram novamente excluídas da sociedade e perderam os direitos conquistados. São banidas das escolas, das universidades e do mercado de trabalho. Encontrei muitas senhoras de burca pedindo esmolas. A pobreza se tornou um problema ainda maior, assim como a incerteza de um futuro melhor.

Por tudo o que vi e vivi, posso dizer: desbravar o Afeganistão requer uma boa logística, disciplina, discrição, estratégia e cuidados. Em outras palavras, não recomendo para marinheiros de primeira viagem. Ainda assim, é um dos países mais puros, exóticos e apaixonantes em que já estive.

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Viagem | AFEGANISTÃO 14
14 – Herat, também conhecida como a cidade de Alexandre O Grande 15 – Soldado talibã armado após sua reza na mesquita de Ghazni

Afeganistão

ENTRELINHAS

Dicas importantes para embarcar em uma jornada no Afeganistão

Como chegar

A maneira mais fácil de chegar lá é pelo Paquistão, com voos diários operados pela cia. afegã Kam Air entre Islamabad e Cabul. O visto afegão pode ser tirado facilmente em Islamabad e no consulado, em Peshawar – fica pronto em um dia. A agência Let´s Be Friends auxilia na obtenção de uma Carta Convite, que facilita ainda mais a obtenção do visto.

Como agir

Duas regras são importantes para viajar no Afeganistão: ser low profile e blend in. Chame a menor atenção possível, vista-se com roupas locais para se misturar à multidão e sempre esconda sua câmera fotográfica.

Como circular

É indispensável ter um bom guia, que esteja ciente da situação de segurança, que facilite sua viagem na obtenção das permissões e autorizações junto ao governo talibã.

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16 – Criança hazara, na entrada de Bamyan 17 – Checkpoint, na Mesquita Azuk 18 – Jogadores de Buzkashi, em Mazar-e-Sharif 19 – Crianças, no centro de Cabul, pedindo dinheiro

Faça como eles

Um passeio por conceitos japoneses que servem de lição para todos nós, vivendo sempre com urgência, sob a ótica de Eric Klug, um grande entusiasta do assunto

Retrato Ale Virgilio Ilustração Mona Conectada

Estamos de olho no Japão e, principalmente, nos ensinamentos adotados pelo seu povo nas mais diversas áreas do dia a dia – da hospitalidade à gastronomia. Para aprender mais sobre alguns conceitos intrínsecos à cultura japonesa, convidamos Eric Klug, ex-presidente da Japan House São Paulo e um profundo admirador de tais ideias. “A cultura e os conceitos japoneses são geralmente bastante profundos e complexos. Isto se contrapõe ao desejo muito comum no mundo atual, de definições curtas e respostas rápidas. Há necessidade de tempo, dedicação e reflexão para se compreender um pouco mais desses valores”, aponta ele. A seguir, Eric revela seu olhar para lições que descobriu a partir de viagens e do convívio com pessoas e instituições incríveis ao longo dos últimos anos. Para inspirar o dia a dia – e as futuras imersões no Japão!

Omiyage

É muito comum serem ofereceridos pequenos presentes quando se volta de viagem ou se visita alguém em casa ou no escritório. Isso se chama omiyage e é essencial no relacionamento interpessoal. Não importa o tamanho, mas um mimo ou uma lembrancinha em cada encontro é vital. Em São Paulo, no bairro Liberdade, você encontra caixas de doces embaladas individualmente para essa finalidade.

Omotenashi

Comumente traduzido como hospitalidade, o omotenashi implica não somente em atender, mas antever os desejos e necessidades de um hóspede ou visitante. E isso vale não só para a casa das pessoas, mas também para os ambientes comerciais. Palavras gentis, adornos pensados para a ocasião, cumprimentos curvando-se muito, mas sem tocar na pessoa, são alguns exemplos. A Japan House São Paulo tem o omotenashi em seu DNA e é um ótimo lugar para experimentar esse tratamento muito cuidadoso.

Japão | CULTURA
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Mottainai

A ideia da sustentabilidade e de se evitar qualquer desperdício pode ser vista em muitos âmbitos da sociedade japonesa, mas fica especialmente visível na gastronomia. Por aqui, quem observa chefs como Telma Shiraishi entende que técnicas e preparos sofisticados são pensados para que cada insumo seja aproveitado ao máximo. Mottainai também se refere a habilidades ou oportunidades perdidas, o que deve ser sempre evitado.

Tsutsumu

O ideograma da palavra embrulhar – tsutsumu –representa uma mulher carregando um bebê em seu ventre. A ideia é mostrar que, no Japão, qualquer presente, produto comercial ou item artesanal merece uma embalagem que transmita cuidado e carinho. Uma das maneiras mais tradicionais de se embalar é o Furoshiki, um pano quadrado, dobrado e torcido de maneiras específicas, para embalar lindamente um objeto. A loja Furoshiki, na Japan House, oferece as mais lindas estampas, tradicionais ou contemporâneas.

Senpai e Kohai

A organização da sociedade japonesa se baseia em uma hierarquia que envolve senioridade, situação profissional ou social. Por isso as relações entre as pessoas precisam ser imediatamente estabelecidas e têm um senpai, quem fica na posição mais elevada, e um kohai, aquele que mostrará reverência.

Ichi-go ichi-e

Cada encontro é único e deve ser valorizado como tal: é algo que não ocorreu no passado e não ocorrerá novamente no futuro. Um chamado a viver o momento e usar toda a nossa atenção, valorizando aquela pessoa e aquela interação humana. O conceito, que está no cerne da cerimônia do chá, nos pede foco e concentração para aproveitar o presente sem nos preocuparmos com o antes e o depois. O Pavilhão Japonês, no Ibirapuera, tem uma sala de chá e eventualmente organiza cerimônias e visitas guiadas.

Wabi Sabi

O conceito zen budista enxerga o belo no imperfeito, no que se degrada e no que está incompleto. É uma das bases estéticas do Japão e encontra muitas vertentes, sendo o kintsugi – costura de ouro – uma das que mais me agradam. A técnica consiste em remendar peças de porcelana usando ouro. Ele aparece de maneira visível, mas bastante elegante, para ajudar a contar a história por trás daquele item. O estudioso Victor Kebbe explica esse e outros conceitos em seus cursos.

No Japão, antes de um projeto ser aprovado ou lançado, o trabalho e os acordos em torno dele envolvem muita negociação, discussão de todos os pormenores e aceitação e convergência de muitos participantes. Apresentar uma ideia de maneira surpreendente será, quase sempre, vista com temor e barreiras. Na cultura corporativa japonesa, é melhor que o interlocutor seja uma espécie de professor que estimula seus alunos a plantarem feijão, explicando a eles cada passo, do que um mágico que impressiona com a cartola repleta de coelhos.

Japão | CULTURA
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ROTA DO KITESURF VIAGEM

Muito além dos bons ventos

Que o Rio Grande do Norte e o Ceará reservam as melhores condições para praticar kitesurf você provavelmente já sabe. Mas a região também concentra endereços – da gastronomia à hotelaria – que prometem surpreender os viajantes antes ou depois das manobras na prancha. A seguir, dicas imperdíveis para quem pretende desembarcar por lá

SÃO MIGUEL DO GOSTOSO

Um favorito entre os estrangeiros, esse vilarejo despretensioso a poucos quilômetros de Natal reúne bons restaurantes e serve de base para desbravar paisagens naturais incríveis da região

Onde ficar

Mi Secreto

Localizada na praia de Ponta de Santo Cristo, ocupa, há anos, o posto de melhor pousada da região. Muito por seu clima de casa, com direito a piscina e um jardim delicioso a poucos passos do mar, mas também por conta de seu restaurante pé na areia, o Mar y Brasa.

@pousadamisecreto

Jangada Lodge

Também em Santo Cristo, é uma opção tão rústica quanto aconchegante, com um jardim e uma cozinha comunitária. No comando, Rémy Denis, francês que estacionou “onde o vento faz a curva”, como os locais costumam chamar o destino, para criar a escola Gostoso Kitesurf.

@jangadalodge

Onde comer

Borogodo

Entre as opções da disputada rua da Xepa, a gente adorou o Borogodo. O nome faz jus ao cenário, cheio de bossa e ziriguidum, mas também ao cardápio, que aposta em uma cozinha brasileira criativa, com pitadas do mundo todo.

@restauranteborogodo

Positano

A rua da Xepa pode até ser o lugar mais badalado na hora de jantar, mas a pizzaria mais deliciosa de Gostoso fica em um cantinho aconchegante da avenida principal. Cercada de árvores com luzinhas bucólicas, a Positano serve pizzas quadradas e artesanais, feitas no forno a lenha por um italiano, craque na fermentação natural.

@positanogostoso

O Pitomba

O novo empreendimento de Rémy Denis tem poke (há opção vegana), mas também porções e pratos sazonais, além de cerveja geladinha, claro.

@jangadalodge

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Fotos Adriana Nazarian; Natália Albertoni e divulgação

Onde passear

Tao Paradise

A 45 minutos de São Miguel do Gostoso (50 km), o Tao Paradise é um day use instalado no meio de um bananal. Com inspiração indonésia, tem como protagonistas as águas cristalinas (e morninhas) da nascente do rio Catolé. Idealizado pelo italiano Davide Zannoni, que acumula 20 anos de experiência em hotelaria, o Tao também oferece uma ótima experiência gastronômica. Reserve. @taoparadise_brasil

Hamsá Ateliê

Quando for passear na rua da Xepa, não deixe de visitar a marcenaria artesanal Hamsá. A loja abriga pranchas em versões mini, todas feitas à mão pelo surfista e artesão Flavio Gianella, e outros objetos de decoração e mobiliário. Além da madeira de demolição, são usados elementos naturais, como a palha. @hamsaatelie

São Miguel do Gostoso

Maracajaú

Numa pequena vila de pescadores no município de Maxaranguape, a 60 km da capital potiguar, a maravilhosa Maracajaú ainda é pouco explorada. Considerada o Caribe Brasileiro em Natal, serve de base para os passeios aos parrachos, arrecifes que acabam formando piscinas naturais.

Dunas de Galinhos Céu azul-claro, areia fina, claríssima, pontuada por pequenas lagoas. Cataventos brancos gigantes delimitam o espaço e uma longa subida nos leva até um (pequeno) abismo que desemboca no rio Aratuá. Esse é o cenário para o passeio de buggy nas dunas de Galinhos. Aqui a ordem é sossegar, assistir ao pôr do sol e passear de barco. Importante: só se chega à cidade de 4x4, buggy ou barco.

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PREÁ

A praia do Preá (a 12 km de Jeri) ocupa rapidamente a parada número #1 dos velejadores de kitesurf. O seu ponto geográfico é privilegiado, com vento potente e contínuo – o cúmplice do downwind perfeito, deslizante e sem rupturas até Guriú, Tatajuba, ou ainda mais longe na Rota das Emoções.

Como um canto da sereia, reúne kitesurfistas do globo todo em um parque temático orquestrado pela natureza: temporadas de alta por nove meses ao ano, sol, águas salinas, lagoas cristalinas e vento, muito vento.

Por Mona Conectada e Stéphane Méheux

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Fotos Alexis (@alexis.overlanding)
e Samuel Furtado (@clicksam_) CEARÁ

Casa Siará

Inaugurada este ano, com projeto do renomado arquiteto Miguel Pinto Guimarães, é uma casa deliciosa à beira-mar, que pode ser fechada por pequenos grupos ou ter suas suítes reservadas individualmente.

São oito suítes com varanda, adega com a curadoria da Cellar, guarderia de kitesurf com assinatura Duotone, piscina aquecida, quadras de tênis e beach tennis, brinquedoteca, academia e spa com sauna e ofurô. Um hub que vai além da alta temporada. @casasiara.prea

Onde ficar

Preabeach Boutique Hotel & Spa by Preabeach Experience

Em meio à relva tranquilizante, pé na areia e coroado por palha dourada, o hotel boutique se encontra em frente à Pedra da Sereia, um privilegiado ponto da orla. Fundado por Cécile e Raynald Delannoy, casal de franceses e kitesurfistas, o local oferece toda a estrutura para os praticantes do esporte, como a área gramada com centro de kite by North. A estadia é privilegiada com atendimento de excelência. Para a acomodação, quatro villas, um bangalô com piscina e duas suítes de luxo com piscina privativa. E, para completar a experiência, que tal uma imersão sensorial no Preabeach Spa by L’Occitane? @preabeach_experience

Morada Ikigai Kitehouse

A 600m da praia, o espaço idealizado pela kitesurfista Anna Paula Cazarin é ideal para os que desejam viver uma temporada em estilo mais autônomo e assim entrar no ritmo da vila. Ali, kitesurfistas se integram nas áreas comuns: fogo de chão para confraternizações pós-kite, gramado para limpeza e secagem dos equipamentos, rooftop para admirar o pôr do sol. Há também a possibilidade de reservar a casa toda. @morada_ikigai_prea

Viagem | ROTA DO KITESURF
Fotos Stéphane Méheux e divulgação

Ponto de encontro

Rancho do Peixe

Um hub completo, com mais de 67 mil m2, onde se reúnem os praticantes do esporte. Aqui você encontra agenda para aulas de kitesurf e wingfoil, coaching, lounges relaxantes com bar e piscina, spa e bangalôs para estadia também. O cardápio do restaurante é requisitado a qualquer hora do dia. Com eventos animados, o local também se torna hotspot à noite.

@ranchodopeixe

Playkite School

O ponto de encontro dos nativos e residentes do Preá para tirar onda perto da Pedra da Sereia e sair de downwind até a placa que antecede a entrada de Jeri. Quem não é do vento pode esperar os esportistas em um espaço aconchegante, com açaí na tigela e cerveja gelada.

@playkite

Compras

Greenish Fundada na década de 1990 por dois irmãos cearenses, a marca oferece ótimas coleções para se vestir na onda.

@greenishbr

Santa Flor Home Decor

Idealizado pela preaense Denisa – responsável pela curadoria da loja e também pela criação de peças autorais –, o local reúne o melhor do artesanato brasileiro, em objetos de decoração refinados e repletos de histórias regionais. Para decorar a casa toda! @santa_flor_home_decor_

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Bougainville Café

Para um café da manhã demorado depois da caminhada à beira-mar. Tudo feito na casa: cestinha de pães sortidos, panquecas americanas, salada de frutas picadinhas e ovos mexidos ao ponto. Escolha uma mesa na sacada repleta de buganvílias e aproveite. @bougainville.cafe

Onde comer

Casa da Lu

Um dos restaurantes mais antigos da cidade, é perfeito para o dia a dia. Comece com as entradas compartilhadas, como o vinagrete de polvo macio e o camarão empanado, e siga com o robalo ao ponto com alcaparras e arroz com castanha-de-caju. @dalu_restaurante

El Balcón

Pôr do sol

Fenômeno

No Preá, os dias terminam com uma vista surpreendente do Sol poente: uma imensa esfera douradaalaranjada, bem pertinho da Terra. Um presente para contemplar na praia ou do alto de um rooftop Preá

O restaurante, capitaneado pelo casal Lu e Paz, serve caipirinhas caprichadas e refeições leves à beira-mar. Atmosfera slow para relaxar feliz assistindo aos kites em velejo. @balcon.restaurante

Cuzco

Nesse peruano de origem, a refeição começa com drinks à base de piscos inéditos, feitos na casa. Do menu, todos os pratos encantam pelo sabor e pela autenticidade. Localizado no rooftop, é ideal para assistir ao pôr-do-sol. @cuzcocozinhaperuana

Quintal do Denis

Fora do conglomerado de restaurantes, oferece um excelente menu marítimo, com polvo, lagosta e robalo preparados ao ponto e acompanhados de uma mandioca macia e frita. À noite, ganha uma iluminação cheia de charme! @quintaldodenis

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Fotos Mona Conectada; Stéphane Méheux e divulgação

PIPA

RIO GRANDE DO NORTE

Os fãs dos bons ventos de Cunhaú não resistem aos passeios e endereços da Pipa, a cerca de 20 minutos de distância. Para coroar, a estradinha é perfeita para contemplar o visual, marcado por falésias, dunas e mar

Por Adriana Nazarian e Natália Albertoni

Onde ficar

Filha da Lua

Ao lado de uma reserva em Minas, uma praia incrivelmente deserta na Pipa, o Filha da Lua é um ecolodge fundado por uma polonesa e um belga, apaixonados pelo Brasil. Cercado por um jardim tropical, seus bangalôs são como casas (estilossíssimas) na árvore, com camas de dossel balinesas, e uma varanda deliciosa. Tem yoga pela manhã, um café da manhã dos deuses – tudo gluten free –, piscina à beira-mar, e, ao cair da noite, sessões de cinema privê.

@filhadalua_pipa

Sempre Vivo

Dos mesmos donos do Filha da Lua, o Sempre Vivo tem nove bangalôs inspirados na arquitetura balinesa, piscina semiolímpica, e o restaurante italiano Cicchetti.

@semprevivo_pipa

*Os fãs absolutos do kite vão gostar da novidade: os donos do Sempre Vivo e do Filha da Lua acabam de abrir o Filho do Vento Kite Lodge, na Barra do Cunhaú – terra do surfista Ítalo Ferreira. @filhodoventokitelodge

| ROTA DO KITESURF
Viagem
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Onde comer

Cicchetti

Para quem não abre mão do tempero italiano, vale conhecer o Cicchetti, na animada rua principal do vilarejo. Mas esqueça aquela ideia de cantinas ou tratorias típicas. Aqui, a culinária do país europeu ganha leituras contemporâneas em pratos servidos em porções pequenas, para que todo mundo tenha a chance de provar diversas delícias do cardápio. @cicchettipipa

Aprecíe

Escondido em uma ruela charmosa, é uma ótima pedida para um jantar despretensioso, mas muito saboroso. A comida de um chef potiguar, Ricardo Medeiros, ganha pitadas contemporâneas e reina absoluta. O camarão teriaki é de deixar saudades e os drinks também merecem bom destaque. @aprecierestaurante

Camurim

É difícil acreditar que exista um refúgio tão tranquilo e silencioso como o Camurim a poucos passos da rua principal. Dentro de um hotel boutique e com vista para o mar, o restaurante aposta na culinária contemporânea com toques regionais. @camurimpipa

Pipa

Onde passear

Dunas de Malemba Impossível ir a Pipa sem reservar ao menos um dia para o passeio de buggy pelas Dunas de Malemba. Escolha “com emoção” e deixe-se levar pelas paisagens fantásticas que aparecem entre uma subida e outra na areia. No caminho, pausas para embarcar em uma balsa old school, mergulho em uma piscina natural e sessões de sandboard. Não deixe de ir com o Junior, melhor bugueiro da região. Tel.: (84) 999187266.

Rio Cunhaú

Um dos passeios mais incríveis da região é navegar pelo rio Cunhaú –o hotel Filha da Lua tem sua própria lancha. Depois de subir o rio contemplando o visual – um jetski pode acompanhar o trajeto para puxar os navegantes em um wakeboard –, você estaciona em um pontão de madeira, literalmente no meio do nada. Ali, o simpático Zé da Ostra serve o molusco fresquíssimo que cultiva de maneira artesanal, enquanto conta histórias dignas de livro.

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Viagem | ROTA DO KITESURF Fotos divulgação

DE OUTRO MUNDO

Há tempos identificada como literatura de segunda classe, a fantasia cresce como gênero, principalmente entre os jovens e os adultos. Saiba mais sobre o fenômeno e conheça os autores que estão movimentando a cena no

Brasil

Há quem diga que é um refúgio em meio à policrise em que estamos imersos. Outros classificam como telescópio para examinar questões profundas por meio de metáforas. Fato é que a fantasia vive um momento empolgante na literatura – inclusive no Brasil. De acordo com o Instituto de Pesquisas Nielsen, o gênero destinado aos jovens e adultos experimentou uma alta de 61% por aqui, em 2020. O crescimento resultou na venda de mais de 1,5 milhão de exemplares nesse segmento.

Entre os fatores que justificam a tendência, mesmo num país com menos tradição para o gênero, está o interesse em títulos internacionais, que abre os olhos do mercado local. Em 2017, por exemplo, a Companhia das Letras lançou o selo Suma, dedicado ao fantástico. É também relevante a presença em eventos como o Prêmio Jabuti que, em 2020, criou a categoria Entretenimento, na qual o gênero aparece com mais propriedade. Além do fenômeno dos booktokers, que elevou a leitura ao status de experiência coletiva. “A fantasia é um gênero que está muito calcado no pertencimento. Se lembrarmos dos fãs de Senhor dos Anéis, por exemplo, que se reuniam para ver filmes, ler os livros, se vestir com as roupas dos personagens, não é algo de agora. Participar de um grupo com os mesmos interesses (os chamados fandoms) nos captura porque entrega algumas necessidades essenciais que temos, como pertencimento e sociabilidade. Sentir que

eu sou parte de algo, que eu tenho a minha turma no mundo, é algo que buscamos desde sempre”, explica Mônica Levandoski, coordenadora de conteúdo e inovação da Consumoteca.

Bruno Anselmi Matangrano, autor de Fantástico Brasileiro: o Insólito Literário do Romantismo ao Fantasismo, em parceria com Enéias Tavares, acrescenta ainda outros aspectos que podem ser localizados no início do século 21, quando houve um aumento exponencial de produções audiovisuais de fantasia e ficção científica, como as sagas Harry Potter, Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia. “O cinema sempre foi um divulgador eficaz da literatura. Com o desenvolvimento de melhores efeitos especiais, obras consideradas de difícil adaptação finalmente puderam ganhar espaço nesse meio”, explica. Tal momento foi acompanhado pelo crescimento de um público leitor consumidor e do próprio desenvolvimento de um mercado especializado. “Sempre houve literatura fantástica no Brasil, mas até então ela era relegada a nichos específicos ou a públicos infantis e juvenis, cenário que muda progressivamente entre 2010 e 2020. Não por acaso, nessa época surgem diversas pequenas editoras voltadas especificamente para a publicação de obras fantásticas e grandes grupos editoriais começam também a investir nesse setor, criando selos especializados nesse universo”, finaliza.

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Literatura
FANTASIA

Para ler e se fantasiar

Conheça a nova safra de autores que está enriquecendo a fantasia brasileira e o que eles pensam sobre este cenário em expansão

PAOLA SIVIERO

A autora de O Auto da Maga Josefa, uma travessia encantada no Nordeste brasileiro, desafiou a tendência eurocêntrica do gênero ao trazer referências à comédia típica nacional. Na trama, Josefa é a filha do diabo. Ou seja, nasceu condenada ao inferno. Enquanto ela carrega essa questão, outros personagens precisam desconstruir os próprios preconceitos. O livro ganhou o Le Blanc e o prêmio Odisséia de Literatura Fantástica. “Fazer uma fantasia que se passa num ambiente mais conhecido para nós parece estranho porque estamos acostumados a associá-la com cenários de montanha, bosques e elfos. Mas me abri e trouxe inspirações de nossos relacionamentos e coisas a que assistimos.”

CAROL CHIOVATTO

Doutora em Letras pela USP, Carol usa sua pesquisa acadêmica a serviço da escrita de ficção para trabalhar temas relevantes como a questão ambiental. Em Árvore Inexplicável, que tem como pano de fundo a pandemia, acompanhamos a universitária Diana presenciar estranhos fenômenos. O mistério, que se passa em São Paulo, cresce com o aparecimento de uma espécie desconhecida de primatas e de jogos de interesse. Além de abordar questões próximas aos brasileiros, como a corrupção, a autora traz a representatividade de um jeito natural. “Tratar esses assuntos numa narrativa coerente, divertida e não panfletária é um desafio e uma experiência maravilhosa”, diz.

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FERNANDA CASTRO

Leitora assídua do gênero desde a infância, a autora acredita que a fantasia é capaz de destrinchar uma situação sob as lentes de um telescópio. Afinal, abre portas para discutir temas profundos e até tabus, como a sexualidade. Em seu Mariposa Vermelha, uma jovem que vive sob um governo totalitário embarca em uma jornada para enfrentar o passado, descobrir a própria força e assumir sua verdadeira essência – tudo isso com a ajuda de um demônio e de cenas românticas bastante explícitas. “Quando exploramos uma situação por meio de simbolismos ou extrapolando os conflitos, fica mais fácil criar essa conexão com o leitor e acessar emoções que se escondem no inconsciente”, reflete.

ALE SANTOS

Com um trabalho marcado pela fusão entre a ficção científica e a cultura afro-brasileira, Ale Santos gosta de transportar o leitor para outros mundos. Para escrever O Último Ancestral ele usou elementos do afrofuturismo — movimento cultural, estético e político que cria narrativas de protagonismo negro. O livro foi finalista do 1º CCXP Awards na categoria ficção e do Jabuti 2022 como romance de entretenimento. Para Ale, a leitura como experiência coletiva tem a ver com a formação de leitores e escritores. “Sempre participo dos clubes de leitura e outros eventos. Sei que essa dinâmica me constituiu como escritor. Uso dela para existir também e estar junto de todo mundo”, conta.

ARTHUR MALVAVISCO

O autor da duologia Lebre da Madrugada e Príncipe Partido acredita que a literatura fantástica vive, hoje, o que aconteceu com a cultura nerd nos anos 2000. “Embora escritores como Úrsula Le Guin e Neil Gaiman existam há décadas, havia a ideia de que a fantasia era uma literatura para uma parcela bem específica da população: homens jovens, normalmente cis e héteros. Ela era uma projeção, uma fantasia de poder”, explica. Vozes mais diversas ganham atenção e esse monopólio perde espaço. As obras do autor mostram o lento desabrochar de um amor entre o protagonista Andras, médico e cientista, e Aeselir Hrád, um guerreiro de outro mundo.

Literatura | FANTASIA

GLOSSÁRIO

O escritor Bruno Anselmi Matangrano ensina os termos mais comuns nesse universo

FANTASIA

Gênero literário que começa a se estruturar no fim do século 19 e se estabelece no início do século 20, originalmente na Inglaterra, tendo como principal característica a preocupação com a construção de outros mundos e/ou sociedades, alternativos ou paralelos ao nosso, a partir de uma quebra de paradigma da realidade.

FANTÁSTICO

Pode ser entendido de duas formas: uma categoria literária, que pode abarcar qualquer história com elementos sobrenaturais ou mágicos. Ou um gênero de histórias em que há um confronto entre real e sobrenatural, causador de hesitação nas personagens e nos leitores.

INSÓLITO

Categoria “guarda-chuva”, que engloba qualquer gênero não realista, como a fantasia e o realismo maravilhoso. No Brasil tem sido usado para evitar as ambiguidades relativas ao termo Fantástico e também para dar conta de obras híbridas, mas que em algum aspecto se afastam da noção de real.

EU LEIO, TODOS LEEM

Booktok – comunidade literária dentro do aplicativo TikTok – reúne milhões de usuários com indicações de livros, resenhas e os mais variados conteúdos sobre literatura. Com mais de 170 bilhões de visualizações, a hashtag #Booktok é um fenômeno que, inclusive, ajuda a impulsionar vendas. Na Amazon, ou mesmo em livrarias físicas, há livros identificados com o selo “Sucesso do TikTok”, justamente para incentivar a compra.

113 Literatura | FANTASIA
Fotos Renato Parada e divulgação

CÁUCASO VIAGEM

De volta às origens

O desejo antigo de conhecer a Armênia, terra dos seus antepassados, fez com que Paula Nazarian embarcasse em uma viagem poética no Cáucaso. No caminho, a CEO do hub estratégico NAZA e autora da News da Naza – vale assinar! – viu paisagens cênicas e ícones arquitetônicos, além de ter provado sabores surpreendentes

Desde que me conheço por gente, queria conhecer a Armênia. Por mais que meus ancestrais tenham vindo de lá há mais de um século, sempre senti uma ligação com o país. Não sei se é por conta do meu nariz grande, da minha paixão por queijos, castanhas, vinhos e romã, ou mesmo pela minha veia criativa.

Este ano, decidi que era a hora. Aproveitei que ando fascinada por vinhos laranjas e pela comida da Geórgia para unir os dois destinos. Até porque, os países são separados por um voo de 25 minutos, ou uma viagem de carro de poucas horas. Foram dias em que a minha cabeça explodiu com tantas novas referências na Geórgia e meu coração se sentiu em casa na Armênia.

GEÓRGIA

ON MY MIND Tbilisi é a capital pulsante do país e foi lá que comecei minha jornada, ao lado de uma amiga. Não estive na Berlim Oriental de 20 anos atrás, mas sinto que devia ser parecido. Considerada a capital do techno hoje, Tbilisi está borbulhando. As ruas estão tomadas por jovens criativos e pessoas interessantes, os restaurantes bacanas são inúmeros e a cena musical é espetacular. Visitar a Geórgia nesse momento foi muito interessante: a aversão à Rússia está presente em todos os lados, inclusive nos recibos dos restaurantes – um deles, trazia a seguinte mensagem: “você sabia que 20% do território da Geórgia é ocupado pela Rússia?”

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1 – Catedral de Svetitskhoveli, em Mtskheta
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No primeiro dia, exploramos a cidade antiga e suas igrejas, como Metekhi e a belíssima basílica Anchiskhati. Além de serem atrações turísticas, gostei de ver como essas instituições continuam ativas e frequentadas por georgianos religiosos de todas as idades. À tarde fomos desbravar a parte mais nova da cidade. É lá que ficam lugares como a Fabrika, um espaço cultural multifuncional que tem hostel, bar de vinho natural, lojas de vinil e de fotografia. Também visitamos o Mutant Radio, plataforma de mídia que tem um espaço dentro de uma van, na antiga estação de energia de Tbilisi. Não acreditei quando vi que o line-up do dia seguinte era inteiro dedicado à música brasileira!

De Tbilisi dirigimos até Kazbegi, uma região montanhosa no Norte do país. No caminho paramos para conhecer Mtskheta, a antiga capital da Geórgia, que, desde 1994, é um Patrimônio Mundial pela UNESCO. A catedral Svetitskhoveli, o monastério de Jvari e a igreja de Antioch valem a visita. Esta última foi a nossa melhor descoberta. Estava fechada, mas decidimos tentar abrir um portão para entrar. Encontramos um jardim maravilhoso cuidado pelas freiras e uma igreja minúscula e muito bem preservada. Seguimos caminho passando pelo maravilhoso complexo de Ananuri e pela estrada militar, que oferece vistas lindíssimas, até chegar ao hotel Rooms, onde ficamos três noites.

A região de Kazbegi é conhecida por suas trilhas

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2 Há livros em toda parte na Geórgia
4
2
3 “Foi muito especial fazer essa viagem com a minha irmã Letícia” 4
A
minúscula (e linda) igreja de Antioch, em Mtskheta
3
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e
7 –
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6 –
Paisagens da trilha que vai até o Chauki Pass Vista do complexo de Ananuri
8
Entrada do restaurante Pheasant Tears, parada obrigatória na Geórgia

e paisagens. Fizemos desde uma pequena caminhada até a Igreja da Trindade Gergeti a uma rota mais longa, partindo do vilarejo de Juta, rumo ao Chauki Pass. A beleza natural, com as montanhas e lagos de diferentes cores, é estonteante. Senti-me na Suíça em alguns momentos, mas com turistas indianos, árabes e russos e comida georgiana.

E não poderia deixar a Geórgia sem passar por Kakheti, a região dos vinhos. O país produz vinhos há mais de 8.000 anos. Ou seja, é o mais antigo dedicado à vinicultura. É algo tão importante na cultura e na identidade locais que até os dois monastérios nos quais paramos no caminho, Alaverdi e Ikalto, têm a sua história entrelaçada com esse universo (o primeiro ainda conta com uma vinícola e o segundo possui um jardim com milhares de qvevris, os vasos usados para armazenar a bebida).

Gostei de conhecer Sighnaghi, uma charmosa vila conhecida como a “cidade do amor”, e de almoçar na vinícola Pheasant Tears, responsável por colocar o vinho laranja no mundo hoje. A verdade é que dá vontade de escrever uma reportagem inteira sobre os vinhos e a comida da Geórgia, um dos países onde melhor comi em toda a minha vida!

ARMÊNIA, UMA VELHA CONHECIDA

Segui viagem até a Armênia, onde me encontrei com a minha irmã. Começamos pela capital, Yerevan, um lugar que me trouxe a impressão de ter estacionado no tempo. Mais especificamente na época em que vivia sob o regime da União Soviética. Construções daquele tempo, como a Ópera e o Memorial do Genocídio, estão em todo lugar.

Mas não foi só a arquitetura que me trouxe essa sensação. Logo que cheguei, às dez horas da noite de uma terça-feira, uma multidão andava nas ruas. Tinham milhares de crianças passeando de mãos dadas com os avós, famílias com pessoas de todas as idades. Parecia feriado, mas era um dia normal. O que acontece é que, na Armênia, a família é a base de tudo. Então o modus operandi é outro.

O passeio começou com a subida ao complexo Cascade, de onde avistamos o Monte Ararat pela primeira vez (aqui faço um parêntese. passamos por paisagens surreais ao longo da viagem, mas nada bate as vistas do Ararat. A forma como ele surge no cenário é algo mágico e indescritível!)

Seguimos caminhando até o Parque da Vitória – a vista é linda – e depois fomos para o Matenadaran. Esse instituto de pesquisa e museu de manuscritos antigos guarda alguns dos livros mais importantes do mundo e minha vontade era passar o dia ali! Nosso roteiro ainda incluiu a última mesquita ativa da cidade, a igreja mais antiga de Yerevan e o Moscow Cinema, uma construção soviética de 1936, ainda em funcionamento.

A 15 minutos do centro de Yerevan está a casa de Lusik Aguletsi, uma espécie de Frida Kahlo da Armênia, que hoje

funciona como um museu. Visitar sua morada foi um dos pontos altos da viagem, além de uma ótima forma de conhecer algumas tradições locais.

De Yerevan dirigimos até Goris, uma cidade no extremo Sul do país que serve como ponto de partida para ver o famoso monastério de Tatev. Também gostei de outros monastérios que marcam o caminho: Garni, Geghard, Khor Virap e Noravank; todos com suas particularidades e em plena atividade.

A escolha de dormir no Mirhav, um B&B rústico e muito charmoso, foi certeira. Saímos com gosto de quero mais. O dono, um cirurgião aposentado e poliglota, tinha ótimas histórias, assim como dicas de experiências locais – imagine aprender a fazer lavash (pão-folha).

De Goris partimos em direção ao Norte pela estrada onde um dia passaram as caravanas da rota da seda até chegarmos ao Lago Sevan. Eu já tinha ouvido falar de sua beleza, mas não imaginava que seria tão incrível. Ao vê-lo entendi porque foi erguida ali a Sevan Writer’s House, uma obra de arte modernista que era o ponto de encontro de criativos no século passado (incluindo Simone de Beauvoir!).

“Às dez horas da noite de uma terça-feira, uma multidão andava nas ruas. Na Armênia, a família é a base de tudo. Então o modus operandi é outro”

Próximo dali paramos para conhecer a fazenda de queijos da família Mikayelyan, na vila de Noratus. Eu fiquei embasbacada com o trabalho dessas mulheres que deixaram a capital para produzir queijos sofisticadíssimos. Provei cinco variedades e fui embora querendo levar todas!

O último trecho da viagem foi em Dilijan, considerada a “Suíça” da Armênia por conta de suas montanhas, lagos e florestas. Conhecemos o pequeno Centro Histórico, todo restaurado, e os monastérios de Goshavank e de Haghartsin, um dos mais importantes do país, mas fiquei com vontade de voltar para fazer algumas trilhas.

Algumas pessoas me perguntaram se me senti segura nessa viagem, por conta da proximidade de ambos os países com zonas de guerra (a Armênia também está em conflito com o Azerbaijão). Respondi que sim, e digo mais: achei uma experiência muito rica visitá-los em um momento tão significativo. Posto isso, não podemos nos esquecer de que a região vive uma fase delicada. Tenho buscado me informar para entender qual é a forma mais eficiente de ajudar. Espero inspirar todos a fazerem o mesmo, pois é uma região fascinante!

117 Viagem | CÁUCASO

9 – Um templo mais lindo que o outro 10 – Nos dois países, o frescor das frutas e verduras é impressionante 11 – Um cômodo na casa de Lusik Aguletsi 12 – Uma das ruas mais charmosas do Centro Histórico de Tbilisi

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Onde ficar

TBILISI

Stamba – Um encontro entre o Grand Budapest Hotel de Wes Anderson e o Soho House de Berlim, o lugar tem tudo: bom gosto, excentricidade, e agito. E ainda fica em um bairro cheio de restaurantes e bares legais.

Rooms – Do mesmo grupo do Stamba e no mesmo quarteirão, uma opção boa e mais barata.

Communal – Tem um restaurante libanês incrível.

Geórgia Armênia

KAZBEGI

Rooms – Um antigo resort soviético todo repaginado. Vista das montanhas e uma comida tão incrível que jantamos todos os dias lá.

KAKHETI

Vazisubani Estate –Vinícola e casarão de 1891 com estilo inglês, reformado para atender os clientes russos.

Comer e beber

TBILISI

Sitio – Bar de vinhos pequeno e delicioso.

Keto and Kote –Com um jardim escondido e uma vista linda da cidade, é uma boa dica para jantar.

Café Leila –Além do ambiente supercharmoso, a comida é divina.

Café Daphna –Os dumplings são super famosos!

Shavi Lomi –Cozinha local e cervejas artesanais.

Ninia’s Garden –Clima aconchegante e ótimo para um jantar ao ar livre!

Otsy –Não cheguei a ir, mas foi superbem recomendado por um amigo local.

Barbarestan –Receitas tradicionais, elaboradas a partir de um livro do século 19.

SIGHNAGHI

Pheasant Tears –Tradicional, histórico e imperdível!

Onde ficar

Grand Hotel

Yerevan – O mais tradicional da cidade, foi projetado no início do século passado por um renomado arquiteto armênio. Gosto muito de hotéis do século passado que têm grandes foyers com elevadores aparentes, jardins internos e um pé-direito altíssimo. E esse é assim.

Tufenkian – Boa opção para quem deseja ficar pertinho da Vernissage. Se tiver lugar na mala, a loja homônima e vizinha tem tapetes incríveis.

Comer e beber

YEREVAN

Lumen Coffee 1936 –O café, que já foi uma livraria, guarda até hoje a marcenaria e as paredes originais feitas nos anos 1940 pelo artesão Hovhannes Naghashyan.

Dolmama – Cozinha focada nas delícias da Armênia oriental, mas com toques bastante criativos.

Mirzoyan Library –Com um pátio interno bastante charmoso, é um lugar gostoso para bons drinks.

Lavash – Culinária local inspirada no conceito farm to table

In Vino – Boa dica se quiser provar uma taça dos vinhos produzidos no país.

DILIJAN

Cafe #2 –Para um café da manhã despretensioso à beira de um bonito lago.

Kchuch –A chef mistura técnicas da culinária local com toques contemporâneos.

Viagem | CÁUCASO

PAI PRESENTE

Nos últimos anos o número de empresas que apoiam a licença remunerada para genitores no Brasil cresceu, aumentando também a esperança de que há uma nova paternidade prestes a despontar no horizonte

Por Maria Oliveira Ilustrações Mona Conectada

Quando João Pires era pequeno, a presença do seu pai em casa era comemorada como um grande evento. “Ele viajava muito a trabalho. Não que fosse ruim, eu fazia muita festa, mas hoje, ao refletir, vejo que acabei ficando muito apegado à minha mãe”, lembra. Publicitário e roteirista, João se tornou pai no início de 2023 e teve seis meses de licença remunerada na AKQA São Paulo, hub criativo onde trabalha.

No Brasil há uma regra transitória, prevista na Constituição de 1988, que garante cinco dias de licença-paternidade. Porém, até hoje não houve a regulamentação de uma lei sobre o tema. O programa Empresa Cidadã estendeu o afastamento para 20 dias em 2016. E, desde 2020, há uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que julga uma eventual omissão

do Congresso sobre o assunto. No último dia 7 de agosto, a ministra Rosa Weber interrompeu o julgamento já com a maioria de seis votos favoráveis. E não há data para a retomada da votação. Mas, pelo entendimento da maioria, passou da hora de articular essa mudança. “A partir da minha experiência, entendo o quão absurda é essa definição de cinco dias. Nesse tempo, nada acontece na vida de um bebê”, lembra João, que retornou ao escritório no fim de agosto.

A proporção de países que oferecem licença remunerada aos pais após o nascimento de um filho por um dia ou mais aumentou significativamente nas últimas três décadas, de 25% (1995) para 63% (2022). E, embora a licença parental seja mais curta – nove dias é a média global, com muitas variações entre os países – no setor privado, em especial em áreas em que a retenção de talentos é importante, as empresas têm tido a oportunidade de fazer mudanças

mais rapidamente. Assim, para além dos governos, o mercado corporativo tem se mobilizado, em especial desde a pandemia, e criado as próprias regras. É o que aponta o relatório State of the Worlds Fathers 2023 –Centering Care in a World in Crisis, coordenado e liderado pelo Equimundo (Centro para Masculinidades e Justiça Social) em 17 países.

O equilíbrio entre os prazos das licenças-maternidade e paternidade pode produzir impactos positivos sobre a igualdade de gênero, e a reconfiguração de masculinidades, mas também sobre os direitos das crianças. Em relatórios anteriores do mesmo State of the World Fathers, foi apontado que os homens, suas parceiras, parceiros e respectivos filhos se beneficiam do vínculo emocional criado durante o tempo de cuidado.

Para entender o cenário local e inspirar quem está pensando no assunto neste momento, conversamos com pais que tiveram as mais variadas pausas.

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Paternidade | LICENÇA

PAI DO JOCA

LEANDRO VENDRAMINI

coordenador de jornalismo e fotógrafo

No meu trabalho, na Globo, o diálogo foi aberto tanto com a liderança quanto com o RH. A empresa segue uma política de licença que inicialmente oferece cinco dias e permite o acréscimo de outros 15, após a realização de um curso on-line. Fiz os módulos e ganhei um diploma que liberou esse período extra. Como a política de férias também é flexível, permitindo que a gente faça um planejamento anual, consegui emendar mais 30 dias, assim como a minha esposa, Bárbara, que também trabalha lá. Então, no total, tive 50 dias. Foi muito bom para nós dois estarmos presentes nesse período. Claro que eu queria mais [tempo]. A gente sabe de casos em outros países onde isso é possível, por exemplo. Uma abordagem semelhante no Brasil com certeza beneficiaria o equilíbrio familiar. Enquanto ela ainda estava na licença, ajustei meu horário e isso foi fundamental para dividirmos os cuidados com nosso filho, o Joca.

PAI DO MATIAS

JOÃO PIRES

publicitário e roteirista

Logo que entrei na AKQA, um funcionário estava saindo para a licença-parental e isso foi muito celebrado. Então fiquei tranquilo quando chegou a minha vez. Eu e minha esposa, a Luana, que também trabalha lá, saímos na mesma época. É claro que você fica meio ansioso. Vou largar tudo de um dia para o outro? Demora para cair a ficha. Mas acompanhar um nascimento é algo tão maluco que, honestamente, você desliga essa chave. Em cinco dias, não acontece nada na vida de um bebê. Nem em um mês. Ele começa a dar trabalho quando passa a ficar mais tempo acordado. Pelo menos no caso do Matias foi assim. Agora, no retorno, a nova dinâmica ainda está se organizando e é claro que a minha volta impacta bastante a rotina. A Luana emendou um mês de férias e, pela primeira vez, se viu completamente sozinha com o Matias. É preciso entreter um neném durante o tempo em que ele está acordado, o que por si só é um baita trabalho. Fora todas as tarefas: dar frutinha, trocar fralda. Esse tempo que tive com o Matias me trouxe esse entendimento.

PAI DO FELIPE

RAFAEL ANDREATTA

diretor de dados

O meu chefe, na Unilever, teve uma filha oito meses antes de mim e me deu diversas dicas. E alinhamos juntos: eu teria 30 dias após o nascimento e outros dez quando a minha esposa retornasse ao trabalho. Foi tudo completamente diferente do que imaginava. Sofremos muito nos primeiros 15 dias, em especial por não ter uma rede de apoio. Dormíamos bem pouco e, para piorar, nosso filho não estava ganhando peso, o que nos trazia preocupações. Voltei após o período combinado e, no segundo dia, minha esposa teve mastite, passou realmente muito mal. Vendo aquela sobrecarga e os problemas que a minha ausência poderia acarretar, mudei o planejamento. Terminei os 40 dias de licença de forma direta. Meu chefe me apoiou imediatamente, assim como meu time direto. Atualmente o Felipe está no berçário que fica dentro da Unilever, outro excelente benefício: eles cobrem boa parte do custo e eu posso vê-lo quando quero. Ficar 30 dias fora, quando bem planejado, tem o mesmo impacto das férias.

121 Paternidade | LICENÇA

PAULO ROGÉRIO

cofundador da Vale do Dendê

Eu e minha companheira planejamos desde o início esse momento. Quando soube da gravidez, me organizei para formar e treinar a minha equipe, deixandoos cientes de que, a partir do oitavo mês, eu deixaria de viajar, por exemplo. Como empreendedor tive o

controle da minha própria agenda e planejei uma pausa de 45 dias. Uma coisa interessante é que a gente se programa muito para a gravidez, mas os primeiros dias do bebê são tão importantes quanto. No fim, aprendemos na prática – em meio a muitas noites sem dormir. Agora, já de volta, estou me organizando para ir ao escritório apenas dois dias na semana. E está sendo tranquilo. O mundo não acabou. Tive a sorte de contar com uma equipe muito parceira, que entendeu esse momento. Os cinco dias previstos na Constituição não fazem qualquer sentido. Até porque, nos primeiros dias, o bebê fica na maternidade. Estou no segundo mês e sigo aprendendo todos os dias. E espero ser o melhor pai possível, dentro das minhas limitações.

JOÃO HENRIQUE COSTA

client consulting manager da Visa

Eu e o meu marido, Rafael, optamos pela fertilização in vitro, permitida pelo Conselho Federal de Medicina. Iniciamos o processo em 2021 e, em junho de 2022, a Laura chegou. Como não havia uma política específica na empresa para o nosso caso, eu estava me preparando para ter os cinco dias previstos. Mas a minha gestora ficou impactada com a história e mobilizou executivos para mudar a conduta interna. Hoje todos os funcionários da Visa têm quatro meses de licença, podendo emendar com as férias, em vários lugares do mundo. Quando voltamos da maternidade veio a pergunta: e agora? O instinto maternal da mulher vai sendo desenvolvido durante a gestação, o nosso começa quando a criança chega a nossa casa. Lidamos também com a invalidação das pessoas, questionando se os homens são capazes de cuidar de uma criança. Ficou mais compreensível para nós o medo que as mulheres sentem ao revelar a gravidez e postergar avanços na carreira. Quando entendi que eu ia ter a licença e as férias, a primeira reação foi falar: não

preciso disso tudo. Eu não tinha nem dois anos de empresa. Mas os meus gestores e o RH foram muito humanos. O Rafa tinha direito a cinco dias, mas pegou férias e então ficou 20 dias em casa. E criamos alguns rituais dele com a Laura para construir uma ligação mais forte.

122
Paternidade | LICENÇA

VALE SABER

Apenas 42 países têm licençapaternidade para pais adotivos e apenas 20 nações fornecem direitos iguais de licença-paternidade para pais do mesmo sexo.

Em média, as mães recebem 192,3 dias de licença, enquanto os pais recebem apenas 22,5 dias .

De acordo com o Women, Business and the Law 2023 , do Banco Mundial, apenas três economias (China, Malta e Holanda) introduziram a licença-parental remunerada no ano passado e outras três introduziram licençapaternidade remunerada (Costa Rica, Malawi e Mongólia)

A distribuição do cuidado é importante para a construção da paternidade.

9 dias é a média global da licença-paternidade.

Apenas 30 países oferecem licença-paternidade para homens autônomos.

Na Espanha, desde 2021, mães e pais têm direito a 16 semanas de licença remunerada após o nascimento de um filho. No entanto, apenas 45 países do mundo fornecem 14 semanas ou mais de licença remunerada para ambos os pais.

Homens ao redor do mundo estão cada vez mais envolvidos com o cuidado. Hoje, 88% dos pais acreditam que tirar a licença remunerada beneficiará suas parceiras, seus parceiros e respectivos filhos.

Homens que dizem cuidar de seus “eus” emocionais têm de duas a oito vezes mais chances de zelar por um membro da família. Isso tem um efeito agravado, pois aqueles que cuidam de outras pessoas podem experimentar maior bemestar: os entrevistados que disseram estar satisfeitos com o envolvimento que tiveram na criação de seus filhos tiveram 1,5 vez mais chance de concordar.

123 Paternidade | LICENÇA
*Relatório State of the Worlds Fathers 2023 • Centering Care in a World in Crisis , coordenado e liderado pelo Equimundo (Centro para Masculinidades e Justiça Social).

CARBONO ZERO

Carbono Uomo inaugura uma nova editoria para contar o que as marcas têm feito no sentido de práticas ambientas, sociais e de governança corporativa, a tão falada – e importante – sigla ESG. De tapete de garrafa PET a acampamento de sobrevivência em equipe, saiba o que anda movimentando os mercados brasileiro e global

CARBONO ZERO | SUSTENTABILIDADE
POR

DEU MANGUE

Que a Amazônia está em alta é regra saber, mas você já ouviu falar nos manguezais amazônicos? A maior e mais preservada faixa contínua de manguezais do mundo –cerca de 7.500 quilômetros quadrados de manguezais – é fundamental para o planeta, embora nem sempre lembrada. Entre os motivos para estar em evidência, ela serve como berçário para a vida marinha, contribui para a segurança climática e sustenta a vida de famílias ao longo da costa. Saiba mais no perfil da Associação @rare_brasil

CARBONO NEUTRO NÃO, CARBONO NEGATIVO!

Primeira empresa brasileira no setor de mobiliário a atingir a marca Carbono Negativo é a Breton. Com seu programa de sustentabilidade Eco Breton, iniciado em 2016, bateram, este ano, a meta de retirar da atmosfera um volume de carbono maior do que aquele emitido pela empresa. A compensação consiste em plantar uma árvore para cada pedido emitido. @bretonoficial

UMA LATINHA, POR FAVOR

Cosmético em lata? Sim. Os produtos da Niul vêm assim. Para além das formulações limpas, veganas e cruelty free, a nova marca aposta nas embalagens mais amigas do planeta. E 1% do lucro é destinado para coletores e cooperativas de reciclagem. @niuls

VOO LIVRE

A lista de iniciativas da Guerlain só faz crescer, mas duas delas conquistaram um lugar especial no nosso radar. Primeiro, a reinvenção da coleção de perfumes Aqua Allegoria, que agora usa mais de 90% de ingredientes naturais e álcool extraído de beterrabas orgânicas cultivadas na França. Depois, estão os projetos em prol da preservação das abelhas – e da biodiversidade como um todo –, que incluem aulas para crianças e treinamento de mulheres em situação de vulnerabilidade para que possam trabalhar nessa área. @guerlain

125 CARBONO ZERO | SUSTENTABILIDADE

CASA NA ÁRVORE

O que promete ser o mais alto edifício de madeira do mundo, e o primeiro carbono zero da Austrália, recebeu luz verde para sair do papel. O edifício C6, cujo projeto apresenta 50 andares e 200 apartamentos, está previsto para 2026.

RG E CPF

A designer brasileira de joias Carolina Neves se une à Mina do Cruzeiro para uma collab sustentável. Na coleção Cruzeiro Mine, com gemas da Mina do Cruzeiro, uma das maiores produtoras de turmalina do mundo, sediada em Governador Valadares, somente pedras e minérios extraídos seguindo o Fair Mining. A iniciativa certifica a origem desses materiais, acompanha sua extração e rastreia seu destino. @carolinaneves_

ENERGIA SOBRE RODAS

Novidade no mundo das e-bikes, uma das mais limpas alternativas de mobilidade urbana, que tem habitado o sonho de muitos. A turma por trás da oficina especializada na customização de motocicletas Bendita Macchina, Rodrigo Marcondes, Cristiano Almeida, Fernando Simioni e os irmãos André e Marcelo Ribeiro, lança a Bendita Elettrica. A linha de bicicletas elétricas tem modelos totalmente customizáveis, com aquele estilo vintage de motoneta que a gente adora. “Vivemos uma fase de transformação na forma que nos locomovemos. Queremos ser a solução mais desejada, divertida e eficiente do Brasil”, conta Almeida. @benditamacchina

RECICLANDO E ANDANDO

A Maiori Casa, marca de soluções têxteis para alta decoração, lança sete linhas de tapetes produzidos com fios de polietileno provindos de garrafas PET recicladas. Para cada metro quadrado de tapete, 500 garrafas PET são retiradas dos oceanos e aterros sanitários. @maioricasa

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Fotos Eric Tourneret; André Dib; Pablo Albarenga e divulgação

ÁGUAS PROFUNDAS

Mais uma expedição inspiradora da Rolex e da National Geographic, parte do projeto Perpetual Planet em busca da conservação. A iniciativa da vez estuda a bacia do rio Amazonas e seus tributários para entender suas particularidades e, assim, preservar diversas espécies. Entre os feitos estão a soltura de quase 200.000 tartarugas gigantes e a identificação dos primeiros manguezais de água doce conhecidos do mundo. @rolex

SOBE O SOM, BAIXA O RESÍDUO

UM DOS MAIORES FESTIVAIS DE MÚSICA DO MUNDO, O LOLLAPALOOZA SELOU PARCERIA COM A CONSULTORIA CASA CAUSA PARA COORDENAR TODA A OPERAÇÃO DE COLETA E DESCARTE DAS TONELADAS DE RESÍDUOS GERADAS NO EVENTO. A IDEIA É SE TORNAR UM FESTIVAL ATERRO ZERO, EM QUE NENHUM LIXO GERADO VAI PARA ATERROS SANITÁRIOS: OS RECICLÁVEIS VÃO PARA COOPERATIVAS E OS ORGÂNICOS, PARA COMPOSTAGEM. @LOLLAPALOOZABR

BELEZA DO CERRADO

A Palma não é só mais uma marca de clean beauty – felizes em saber que não param de surgir ideias criativas nesse setor. Estamos falando de um projeto concebido por Giovanna Nader, comunicadora que faz a diferença no universo da moda sustentável. Seus cosméticos naturais, que vêm em embalagens compostáveis, são feitos com ingredientes do Cerrado e têm parte de sua renda destinada a projetos que lutam pelo bioma. @palma.pra.vc

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CARBONO ZERO | SUSTENTABILIDADE

AVENTURANDO

Conhecido como o sétimo emirado, ou Emirado da Natureza, o Ras al Khaimah é o mais diferente de todos. O destino está em uma jornada para se tornar, até 2025, um líder regional em turismo de sustentabilidade e experiências. Por lá, o Bear Grylls Explorers Camp oferece cursos de sobrevivência selvagem de team building para membros de empresas corporativas. E, em breve, um hotel da rede Anantara será inaugurado na região. @beargryllssurvivalacademy

COM PROPÓSITO

As camisas de linho e as t-shirts da Balsa têm chamado a atenção e não é só pelo estilo effortless chic. A marca de moda consciente propõe refletir sobre a maneira como enxergamos o universo fashion, assim como seus meios de produção. E o mais legal é a parceria com o Instituto Terra: 1% do lucro é destinado a ações ambientais e de educação realizadas pela organização no Vale do Rio Doce. @bal__sa

TUDO JOIA

Tiffany & Co. se torna a primeira joalheria de luxo do mundo a receber aprovação SBTi (Science Based Targets initiative) para emissão zero de carbono. O objetivo da maison é de zero emissão até 2024 e redução de 70% de gases com efeito estufa até 2030. @tiffanyandco

CICLO VERDE

UM DOS MAIORES INTEGRANTES DO GRUPO VARANDA, A INTERMEZZO, ESPECIALISTA EM CORTES SELECIONADOS DE CARNES, PROMOVE UM PROJETO DE ECONOMIA CIRCULAR. EM BUSCA DA REDUÇÃO DO SEU IMPACTO AMBIENTAL, A MARCA TEM UTILIZADO MEDIDAS COMO O REAPROVEITAMENTO DE ÁGUAS DA PISCICULTURA NO PROCESSO DE IRRIGAÇÃO E O USO DE BIODIGESTORES PARA APROVEITAR OS DEJETOS DO REBANHO. @INTERMEZZOCARNES

128 Fotos divulgação
CARBONO ZERO | SUSTENTABILIDADE

Os sócios mexicanos Adrián López e Marte Cázarez desenvolveram uma alternativa ao couro animal para os mercados de moda, acessórios, mobiliário, náutico e automobilístico. O Desserto é um couro vegetal feito com cactos orgânicos. O material é um absorvedor natural de carbono. @desserto.pelle

TIM-TIM!

A maison Moët & Chandon, pertencente ao grupo LVMH, apresenta o Programa Natura Nostra, uma iniciativa da companhia que visa desenvolver a biodiversidade e o equilíbrio ecológico na região de Champagne. Como proprietária da maior parte das terras de lá, a empresa assume a responsabilidade de proteger a flora e fauna locais criando, até 2027, 100 quilômetros de corredores ecológicos para conectar naturalmente os ecossistemas locais, permitindo que espécies vegetais e animais possam se movimentar livremente. @moetchandon

MAIS DO QUE NÚMEROS

Carol Volcov e Marcela Kasparian são os nomes por trás do promissor Semeare, o primeiro escritório de assessoria de investimentos de impacto. Ou seja, focado em boas práticas de ESG. Com vasta experiência no mercado financeiro, ambas decidiram rever a rota de suas carreiras por acreditarem que essa área também pode ser um instrumento poderoso de mudança. @semeareinvestimentos

ALÉM DA EMBALAGEM

Mais um bom motivo para aderir ao hábito de tomar Água na Caixa. A primeira água mineral carbono neutro do País, cuja embalagem reutilizável é feita quase toda de planta, virou patrocinadora exclusiva da Liga de Esportes Escolares de São Paulo. Fundado em 2004 para promover o esporte entre as escolas, o projeto já conta com a participação de mais de 70 instituições e 5.500 alunos. @aguanacaixa

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COURO VERDE
CARBONO ZERO | SUSTENTABILIDADE

FLY ME TO THE MOON

Parte de uma família do ramo aéreo, Marcos Amaro, filho do comandante Rolim, fundador da TAM Linhas Aéreas, também gosta de viver nas alturas. Ele fundou a empresa de aviação executiva Amaro Aviation – ao lado da esposa Ksenia e do sócio João Mellão – e implementou na companhia um departamento de ESG. “Desenvolvemos conexões voltadas a ações de alto impacto, em busca do crescimento sustentável”, diz Adriano Santos, responsável pela área. A aviação com propósito, aliás, é o objetivo da Amaro Aviation desde que surgiu, em 2020. De olho na descarbonização, que tem como meta dos países da ICAO (Organização de Aviação Civil Internacional) o Carbono Zero até 2050, Marcos afirma: “Nosso compromisso é com a segurança, a excelência e a sustentabilidade”. amaroaviation.com

Acima, missão de transporte de órgãos; abaixo, no detalhe, projeto Black Jaguar Foundation

Conheça algumas ações criadas pela Amaro Aviation em busca de um futuro melhor

• Parceria com o Governo do Estado de SP que, por meio de doação de voos mensais, auxilia no transporte rápido de órgãos para transplante

• Compensação de 25% das emissões de carbono em voos da Amaro Aviation. Os créditos de carbono são compensados pela Black Jaguar Foundation em ações de reflorestamento no Corredor do Araguaia, que cruza o Tocantins

• A frota, composta de aeronaves da marca suíça Pilatus, tem seus motores otimizados para operar com SAF (Sustainable Aviation Fuel), combustíveis que poluem até 50% menos do que os convencionais

• Operação Paperless, que já resulta na economia de mais de cem mil folhas de papel, assim como na redução de consumo de mais de um milhão de litros de água

• A empresa é patrona do curso de Especialização de Cuidado em Saúde e Transporte de Órgãos Aeroespacial das escolas Paulista de Medicina e Paulista de Enfermagem, da Unifesp.

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CARBONO ZERO | SUSTENTABILIDADE Fotos divulgação

PÁGINAS AMARELAS

Endereços e serviços que estão em alta: um guia inteligente por Carbono Uomo

Ilustração Mona Conectada

“The way you make an omelet reveals your character.”

OVO, TE AMO

Apaixonada por ovo, a chef Talitha Barros indica lugares certeiros para provar pratos em que o ingrediente é destaque

EM ETAPAS SABOR THAI

A autêntica cozinha thai servida no Ping Yang e endereços obrigatórios para quem é fã dessa culinária. Dicas quentes do chef Maurício Santi

De Nova York ao Rio de Janeiro, passando por Paris e Bogotá, os menus degustação que não saem do nosso imaginário

T-SHIRT MANIA HOMEMADE

Fórmulas prontas, mas artesanais, pirulitos de especiarias, garnishes em saquinhos e outras invencionices movimentam a onda de fazer drinks em casa

MAROLA

As piscinas de onda que colocaram São Paulo na rota do surf e têm feito muitos peixes fora d’água aderirem ao esporte

Lisa, listrada, estampada... Nada supera uma boa camiseta quando o assunto é estilo e conforto. Antonio Trigo revela suas favoritas. Queremos uma de cada!

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TESTADO E APROVADO Já já é Natal e a gente testou um refúgio delicioso em Gramado para entrar no clima

Ovo perfeito da Talitha, coroando os pratos do Conceição Discos

DE RESPEITO

A chef Talitha Barros, que prepara um dos ovos mais respeitados de São Paulo em seu Conceição Discos (@conceicaodiscos), no bairro Santa Cecília, dá dicas de locais na capital paulista para comer ovos de diferentes jeitos

Depoimento a Luisa Alcantara e Silva

LE JAZZ BOULANGERIE

“Gosto dos eggs benedict do Le Jazz Boulangerie. Além de o ponto do ovo ser fantástico, o molho holandês, que eu chamo brincando de maionese de manteiga, feito por eles é muito gostoso. Tem uma acidez impecável.” @lejazzboulangerie

FUTURO REFEITÓRIO

“As pessoas têm muito preconceito com ovo cozido, que eu adoro. O do Futuro Refeitório me faz ir até lá, em Pinheiros. Eles servem de acompanhamento. Outra dica é que também funciona muito bem no delivery.” @futurorefeitorio

Páginas amarelas
132 Fotos Laís Acsa e divulgação
OVO

JOJO RAMEN

“A gente tem que lembrar também do ovo do ramen, que é uma peça importantíssima do prato. Gosto muito do que é feito no JoJo Ramen. Cozido em um molho à base de shoyu, ele fica levemente escuro por fora e muito cremoso por dentro.” @jojo_ramen

CHINA LAKE

“Destaco o ovo milenar chinês do China Lake, em Santo Amaro. É claro que eles já modernizaram a técnica, mas, segundo a tradição, o ovo milenar é enterrado por vários dias, na terra mesmo, e fica uma gelatina escura com a gema. O do China Lake é bem gostoso.” @restaurantechinalake

FABRIQUE PÃO E CAFÉ

“Para mim, tudo o que é feito no Fabrique Pão e Café com ovo é impecável. Do omelete ao ovo frito e mexido, eles conseguem atingir um ponto fenomenal. É o meu lugar favorito para comer ovo fora do Conceição.” @fabriquepaes

“O onsen tamago do restaurante By Koji, no Estádio do Morumbi, é muito bom. A expressão japonesa onsen tamago significa algo como ovo em fontes termais, e ele é o que o brasileiro chama de ovo perfeito, com a clara gelatinosa e a gema cremosa, servido com molho Dashi.” @bykoji

BOCA DE OURO | BAGACEIRA

“Sobre bolovo, vou dar duas indicações. O meu favorito é o do Boca de Ouro, que faz o scotch egg, sem a massa do bolovo tradicional. O de morcilla do Bagaceira também é muito bom.” @barbocadeouro | @barbagaceira

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amarelas
Páginas

TAILÂNDIA

O gastrobar Ping Yang é parada obrigatória em São Paulo. Conversamos com seu chef, Maurício Santi, para saber mais sobre sua obsessão pela culinária thai e revelamos outros endereços para os fãs dessa cozinha

Por Adriana Nazarian

Se você perguntar a Maurício Santi onde provar a autêntica gastronomia tailandesa aqui no Brasil vai ouvir, de maneira taxativa e absolutamente confiante:

“Só aqui, no Ping Yang”. Fato é que, desde que abriu as portas há pouco menos de um ano nos Jardins, seu bar de comida thai não passa um dia sequer sem filas na porta. Afinal, ao longo dos últimos 20 anos, o chef se dedicou a pesquisas obstinadas em torno dessa culinária que é sua grande

paixão. Trabalhou em casas renomadas em cidades como Bangkok e Singapura, mas também em cozinhas praticamente secretas no interior da Tailândia; fez eventos exclusivos na casa de gourmets interessados no assunto e passou a pandemia elaborando curries artesanais que se esgotavam rapidamente. Hoje, realiza o sonho de “cozinhar o que passou anos pesquisando”, sem modismos, nem tampouco

adaptações desnecessárias no cardápio. Para manter o sabor mais próximo do que é oferecido no país asiático, até mudas tailandesas ele conserva em casa e em parceria com um pequeno produtor. Reserve, portanto, um tempo para ver Maurício – não importa o dia e o horário, ele está sempre lá – comandando o fogareiro (trazido da Tailândia, claro), de onde saem as deliciosas porções do Ping Yang. @pingyangsp

134 Páginas amarelas
UM PULINHO NA
Fotos Laís Acsa e divulgação

VALE A VIAGEM

Maurício Santi elege lugares inspiradores e mandatórios na Tailândia

TOR TOR KOR MARKET – BANGKOK

“Mercado de ingredientes em que muitos restaurantes e chefs compram suas matérias-primas. Há frutos do mar e especiarias, mas também lojas de comidas prontas para consumo, como doces, curries e molhos, além de inúmeras barraquinhas de comida.”

AKSORN

– BANGKOK

“O restaurante do meu mestre, o chef David Thompson, é imperdível. Com uma estrela Michelin, ele se inspira em receitas thai dos anos quarenta e cinquenta. Reserve com antecedência.”

CHARMGANG – BANGKOK

“O imperdível restaurante do chef Jai fica em uma viela escura e improvável de Talat Noi, um bairro antigo de Bangkok, que vem sofrendo grande intervenção artística nos últimos anos. Tivemos o prazer de cozinhar juntos em inúmeras oportunidades.”

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Páginas amarelas

DECIFRA-ME

Muito já se ouviu falar sobre o fim dos menus degustação, mas a verdade é que não há nada como se esquecer da vida enquanto alguém decide o que vamos comer. Expert no assunto, Thaís Wrobleski Gagliardi indica seus preferidos

Por Thaís Wrobleski Gagliardi

O menu degustação se tornou um formato muito importante em restaurantes premiados. Chefs ao redor do mundo recorrem a esse modelo para contar uma história a partir da comida e mostrar o que há de melhor e mais criativo em seus países e regiões. Um dos principais termômetros de um bom menu é a sua capacidade de emocionar, trazer novas referências e gerar reflexões. É especial acompanhar um chef criativo em plena atividade, criando pratos que aguçam todos os sentidos por meio dos sabores, mas também do ambiente, das louças e do contexto como um todo. É o caso dos menus que indico aqui, em uma lista sem ordem de preferência. Lembre-se de reservar e boa viagem!

METZI – SÃO PAULO

O melhor lugar para conhecer a autêntica comida mexicana, mas com pitadas de ingredientes brasileiros. Eduardo Ortiz, mexicano, e Luana Sabino, brasileira, se conheceram em Nova York, no renomado restaurante Cosme, e o Metzi é resultado desse mix apaixonante. Com sete etapas, o menu degustação é sazonal, vibrante, e repleto de pratos criativos, harmonizados com coquetéis autorais de inspiração mexicana. Destaque para o Mole branco, que aqui recebeu castanhas brasileiras, cachaça de Amburana com couve-flor e chamoy, pimenta seca, tucupi e jambu. Ah, e não deixe de pedir uma das muitas variedades de Mezcal.

R. João Moura, 861 - Pinheiros | @metzirestaurant

NOTIÊ – SÃO PAULO

Quer sair de São Paulo sem sair de São Paulo? Reserve uma mesa no Notiê. Para construir sua “cozinha de pesquisa”, o chef paraibano Onildo Rocha faz expedições semestrais Brasil adentro. Como resultado, menus que mudam de acordo com a temporada e instalações artísticas sempre hipnotizantes. Mata Atlântica – Matas e Mares é o destaque atual, resultado de suas andanças por cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Bahia. São quatro, sete ou dez etapas marcadas pela sua extensa pesquisa de ingredientes – do arroz plantado por pequenos produtores de Pindamonhangaba às ostras do Paraná. R. Formosa, 157 (cobertura, com entrada pelo subsolo do Shopping Light) - Centro | @notieporpriceless

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Stéphane Riss; Tadeu Brunelli; Tati Frison; Mariana Amaral; Nani Rodrigues e divulgação

CASA DO PORCO – SÃO PAULO

A aclamada Casa do Porco promoveu uma verdadeira revolução na categoria menus degustação quando lançou, em 2015, uma sequência de pratos acessível para esse formato. De lá para cá foram incontáveis prêmios nacionais e internacionais – trata-se do único brasileiro entre os 50 melhores do mundo. Mas nada disso tirou os chefs Jefferson Rueda e Janaína Torres Rueda do foco: mostrar que a cozinha caipira, preparada com os melhores ingredientes, pode ter, sim, status de iguaria. Prova disso é o menu atual de oito tempos, Somos Todos de Carne e Osso, que exalta os embutidos do açougue próprio, o Porco Real, e os orgânicos vindos do Sítio Rueda.

R. Araújo, 127 - Centro | @acasadoporcobar

EVVAI – SÃO PAULO

O chef Luiz Filipe Sousa é tão criativo que seu trabalho extrapola os limites do paladar, em formato de postais e outros detalhes visuais criados pelo cozinheiro. Visitar o Evvai, portanto, é abrir-se para uma sequência de provocações gustativas e estéticas. O menu atual, Oriundi 2023, tem 13 tempos, pensados para conduzir o cliente a uma viagem nada óbvia por sabores que unem a Itália e o Brasil. Do pão de mandioca perfeito, servido quentinho, às maravilhosas sobremesas da chef Bianca Mirabili, tudo é um convite para provar novas sensações.

R. Joaquim Antunes, 108 - Pinheiros | @evvai_sp

NELITA – SÃO PAULO

Com uma equipe exclusivamente feminina, Tássia Magalhães criou o espaço que sempre quis para servir seus pratos autorais. Seu menu degustação, que constantemente ganha novos sabores, reflete sua história e sua personalidade em 11 etapas. A nova versão, harmonizada por Danyel Steinle, traz preciosidades como a vieira ao beurre blanc, guanciale e mel de abelha mirim-saiqui, resultado da pesquisa de ingredientes da inquieta chef, e o ravióli doppio de pato ao creme de milho e flocos de katsuobushi, que lembra a boa mão de Tássia para pratos com acento italiano. R. Ferreira de Araújo, 330 - Pinheiros @nelita.restaurant

Fotos
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Páginas amarelas

CIPRIANI – RIO DE JANEIRO

O chef italiano Nello Cassese tem como palco para suas criações o histórico e refinado ambiente do Cipriani, dentro do hotel Copacabana Palace. É um lugar para visitar mil vezes, com vista da lindíssima piscina da Pérgula e uma estrela Michelin na parede. A casa só oferece menu degustação – são duas opções –, além da mesa do chef, na qual apenas seis convidados se sentam na cozinha e acompanham Cassese criar, in loco, sua aclamada cozinha italiana. Av. Atlântica, 1702 - Copacabana | @cipriani

Há pouco mais de um ano, o Lasai, premiada casa do chef Rafa Costa e Silva, mudou de endereço, no bairro Botafogo, e passou a atender apenas dez clientes por noite, exclusivamente no sistema de menu degustação. Prepare-se para uma noite memorável num confortável balcão: são cerca de 15 passos, dos aperitivos às sobremesas, com o que há de mais fresco e autoral. Para coroar, a sommelière Maíra Freire faz sua acertadíssima harmonização. Largo dos Leões, 35, Humaitá | @restaurantelasai

O menu degustação mostra os diferentes biomas e ingredientes ancestrais do país, fruto de uma parceria com a FUNLEO, fundação criada pela chef Leonor Espinosa para valorizar a biodiversidade colombiana. Espere por ingredientes nativos de vários ecossistemas, como a montanha, o mar, o deserto e a floresta tropical, além do rico patrimônio cultural da Colômbia e de seus povos indígenas. A harmonização, com vinhos, drinks e destilados criados na casa, é feita por Laura Spinosa, filha do cozinheiro que dá nome à casa. Calle 65 - Bis - Bogotá, Colômbia | @leorestaurantcol

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LEO – BOGOTÁ LASAI – RIO DE JANEIRO
Páginas amarelas

ARAMBURU – BUENOS AIRES

No elegante e aristocrático bairro Recoleta, o chef Gonzalo Aramburu recebe os comensais num salão moderno e sofisticado, de apenas oito mesas e luz baixa. Da cozinha aberta saem pratos que buscam extrair o melhor de ingredientes sazonais, numa sequência harmonizada em 12 tempos. O perfeito equilíbrio entre sabor, textura e apresentação aparece em pratos como o lagostim da Patagônia e o tartar com shissô. O restaurante é membro Relais & Châteaux e está na colocação número 28 na lista The World ‘s 50 Best. Vicente López, 1661 - Buenos Aires, Argentina | @arambururesto

É impossível indicar uma lista de menus no mundo sem pensar no Eleven Madison Park, restaurante chefiado por Daniel Humm. Com três estrelas Michelin e diversas passagens pelo topo da lista The World’s 50 Best Restaurants, a casa foi reaberta após 15 meses fechada na pandemia. O menu é exclusivamente vegano, reflexo de um movimento mundial que busca a alimentação plant based para menos impacto no meio ambiente. Vale cada dia de espera (reserve com pelo menos um mês de antecedência) e o investimento! 11, Madison Avenue - Nova York, EUA | @elevenmadisonpark

Bruno Verjus convida os comensais a viajarem pelo terroir francês, levando em conta a sazonalidade dos ingredientes. Lagosta da Île d’Ye do Loire, aspargos brancos da Alsácia e salmão selvagem do rio Adour são algumas das estrelas no menu poeticamente chamado de Colour of the day – a sequência é alterada diariamente, de acordo com as entregas dos produtores. São cerca de 20 etapas, que ganham simpáticas explicações sobre a origem dos insumos, os métodos de preparo e o que mais atiçar a curiosidade dos visitantes.

3, Rue de Prague - Paris, França | @bruno_verjus

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ELEVEN MADISON PARK – NOVA YORK TABLE, BRUNO VERJUS – PARIS Páginas amarelas

O DRINK É SEU

Impulsionado pela pandemia, o delivery de drinks e de produtos para montar seu coquetel em casa ganhou força. Conheça algumas marcas que oferecem o serviço e prepare-se para brincar de barman

Até pouco tempo atrás, se você quisesse fazer um negroni em casa e pesquisasse o que precisaria comprar, a lista certamente seria grande. Uma garrafa de gin, uma de vermute tinto e uma de bitter estariam entre os ingredientes. Na próxima ocasião, se o desejo fosse por outro drink, as garrafas seriam outras. A boa notícia é que a gente não precisa mais comprar litros e litros para encher um copo porque os serviços de delivery de drink ou de produtos para facilitar a vida de quem quer ser barman por um dia só fazem crescer. Com apenas alguns cliques no celular você recebe em casa, por exemplo, kits com uma garrafinha e uma casca de laranja. Tem um que vem até com gelo especial. E há marcas que apostaram nos pirulitos de especiarias para você dar um sabor extra à bebida sem ter trabalho. Veja a seguir alguns serviços:

Desde a pandemia, o bar Caledonia Whisky & Co., em São Paulo, oferece drinks no sistema delivery para o cliente finalizar em casa. Um dos carros-chefe é o Old Fashioned, que vai com gelo a vácuo e duas garnishes em saquinhos. No total, são 15 coquetéis engarrafados, como o Gold Rush, que chega com limão-siciliano, xarope de mel e bitter de cacau, além, claro, do Evan Williams Bourbon. Por mês, o bar vende cerca de 30 coquetéis por entrega. “Temos clientes muito fiéis ao modelo”, afirma Maurício Porto, um dos sócios do Caledonia. @caledoniabar

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CALEDONIA WHISKY & CO.

APTK

Ale D’Agostino foi precursor por aqui no mundo dos drinks engarrafados, ainda em 2017, com sua primeira marca, a Apothek. Agora o premiado bartender tem a APTK, com loja on-line e pontos físicos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Além do clássico Negroni, ele vende na garrafa drinks como o Cosmopolitan, o Moscow Mule e, mais recentemente, a caipirinha e o Caju Amigo. E, entre as vantagens, Ale cita: “Esse tipo de drink vai evoluindo na garrafa”. @aptkspirits

TROPICAL ESPECIARIAS

A Tropical Especiarias começou vendendo temperos e artigos para drinks. Ao perceber a necessidade de oferecer produtos especiais, criou os pirulitos artesanais de especiarias e frutas desidratadas para bebidas. Basta mergulhá-los no copo para sentir, lentamente, os aromas e sabores serem liberados. “Os pirulitos podem ser usados em bebidas alcoólicas e não alcoólicas. Servem, por exemplo, como saborizante para água e chás”, diz Carolina Marchesini, sócia da Tropical. Entre as novidades está o pirulito para cerveja, com flor de sal, raspas de limão e essência cítrica. @tropicalespeciarias

O laboratório GABA LABS está trabalhando em um álcool sintético que não dá ressaca. Já imaginou?

DRINK DIBOLSO

Foi a experiência de ir a festivais que fez com que Maíra Lobato criasse, em junho deste ano, a empresa Drink diBolso, de gin em sachê e pirulito de especiarias. “Pensei na praticidade. Quem não toma cerveja nem sempre encontra outras possibilidades de bebida em eventos. E, quando isso acontece, é muito caro”, diz ela. Em cada sachê vai uma dose de gin da marca Hav. @drinkdibolso

MANO DO CÉU

Uma garrafinha e um saquinho com casca de laranja. Assim você recebe o negroni do paulistano Boteco Mano do Céu. O serviço foi lançado em agosto de 2019, pouco antes da pandemia, mas quase não havia procura, conta um dos donos, Gian Wis. “Fomos um dos pioneiros a oferecer drinks no delivery, mas a ideia ficou mais conhecida mesmo em 2020, quando as pessoas passaram a beber mais em casa”, diz ele. Para quem gosta do bar, mas está com preguiça de sair, outra boa pedida é o Dirty Martini, que vem com azeitona. Aproveite e peça um dos deliciosos burgers criados por Gian, especialidade da casa. @botecomanodoceu

NEGRONI REPOUSADO

Há quatro anos, o premiado barman Henrique Medeiros, que trabalhava no Ilha das Flores, em São Paulo, decidiu atender ao desejo de quem pedia para tomar em casa o negroni feito por ele. Nascia, assim, o Negroni Repousado, que ganhou o Brasil no boca a boca. “Ele tem esse nome porque é um processo lento. Não misturo tudo na garrafa. Leva 40 dias para ficar pronto”, diz ele, que recentemente criou uma versão com uísque. @negronirepousado

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BIG RIDER

A febre das piscinas de ondas artificiais incendiou São Paulo e tem tudo para ser a nova pedida esportiva do estado

Por Carbono Uomo

O ano era 2021 e o assunto piscina de ondas ainda soava como uma utopia no Brasil. Hoje, apenas dois anos depois, o tema é recorrente em conversas não só de praticantes profissionais do esporte, mas de crianças, famílias e amadores. Estima-se que até 2025 já serão dez unidades espalhadas no País. Mas, será que há tanto público para tal? Eduardo Grinberg, sócio das piscinas de ondas do condomínio Boa Vista Village, em Porto Feliz, e do São Paulo Surf Club, no Real Parque, que será aberto ano que vem, pensa que sim. “Acho natural que exista bastante especulação. Afinal trata-se de um projeto que mexe com o imaginário de várias pessoas. No long run, no entanto, vão em frente apenas aqueles que têm estrutura de planejamento, lucidez e capacidade de execução.” Contamos um pouco dessa onda que um dia foi marola e promete virar tsunami.

Única piscina fora do estado de São Paulo, abre as portas ainda este ano. Assim como alguns clubes paulistanos, também oferece academia, espaço kids, quadras poliesportivas, spa e restaurantes. A novidade fica por conta do sistema multipropriedade, onde é possível comprar frações de imóveis e garantir cotas para uma casa de praia ouvindo o barulho das ondas, mesmo que artificiais. @surflandbrasil

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SURFLAND BRASIL – GAROPABA . SC

A sensação é idêntica à de se surfar no mar, e comparável às melhores ondas. Permite uma evolução constante, já que é possível repetir muitas vezes a mesma onda. Além de eliminar fatores como variação, correnteza e arrebentação

“SÃO ADULTOS E CRIANÇAS LEVANDO SUPER A SÉRIO A DIVERSÃO.

VIDAS QUE SE TRANSFORMAM POR EXPOSIÇÃO AO ESPORTE”

Eduardo Grinberg

A piscina apresenta uma tecnologia inédita no País, que possibilita 240 variações, como tubos, aéreos e outras manobras radicais, em ondas de até 22 segundos e 2,75 metros de altura. Quem pode usar? Proprietários de imóveis no Boa Vista Village e na vizinha Fazenda Boa Vista. “Viramos uma figura central na vida de muitas pessoas. Vidas que se transformam por exposição ao esporte em um ambiente de convivência”, conta Eduardo Grinberg, sócio da JHSF nas piscinas, que completa, orgulhoso: “Atletas frequentam nossas ondas e deixam claro que usá-las para treinar pode mudar o jogo deles.” @boavistavillage

SÃO PAULO SURF CLUB – SÃO PAULO . SP

Do mesmo grupo da piscina do condomínio Boa Vista Village, em Porto Feliz, o São Paulo Surf Club, no Real Parque, será inaugurado em 2024 com cerca de 25 mil metros quadrados. Em frente à Ponte Estaiada da Marginal Pinheiros, é um clube members-only que pretende ser o mais novo polo esportivo da capital. Também terá restaurantes, spa, academia, quadras de tênis e beach tennis. A tecnologia é a mesma do Boa Vista Village e o ambiente, assinado por Sig Bergamin e Murilo Lomas, recria com precisão a deliciosa atmosfera praiana. @saopaulosurfclub

FAZENDA DA GRAMA – ITUPEVA . SP

A primeira do Brasil, inaugurada em 2021, foi responsável por trazer esse assunto para as rodas brasileiras. Com projeto de Gui Mattos, arquiteto e surfista apaixonado, não se trata apenas de uma piscina, mas sim de uma praia toda. São 1000 metros de extensão de areia branquíssima – com recurso que não esquenta os pés –, vegetação nativa da Mata Atlântica e uma orla repleta de restaurantes, lojinhas e atividades litorâneas. A tecnologia espanhola provê 1000 ondas de até dois metros de altura por hora! Porém, por lá, só é permitida a entrada de proprietários de imóveis do loteamento. @fazendadagrama

Próximo à Ponte Transamérica, o empreendimento do banco BTG Pactual, da KSM Realty – sócia da Fazenda da Grama –, e da Realty Properties, abre seu mar particular em 2025, mas já tem grande parte de seus 3 mil títulos familiares vendida. O High Experience Club conta com pista de skate, quadras, ginásios, arenas, spa e até peculiaridades como jazz bar, charutaria, pet club e um circo para apresentações. Quem assina o projeto de 100 mil metros quadrados é o escritório Aflalo Gasperini. @beyondtheclubsp

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BEYOND THE CLUB – SÃO PAULO . SP BOA VISTA VILLAGE – PORTO FELIZ . SP

TOO SEXY FOR MY SHIRT

Autointitulado “um paulistano no Rio”, o jornalista Antonio Trigo sabe melhor do que ninguém as agruras de viver na ponte aérea. Criador da agência de comunicação Trigo Casa de Comunicação – que tem no seu rol de clientes nomes como o da nossa mais recente capa de Carbono Donna, Paolla Oliveira, e também dos artistas Taís Araújo e Lázaro Ramos –, o relações-públicas está sempre com um pé em cada estado do Brasil. “Por isso preciso ser prático no vestir. Gosto de tons neutros, fáceis de combinar entre si”, explica. Sempre chic, sem perder o estilo, aqui ele dá dicas de onde encontrar ótimas camisetas. Sejam elas lisas, listradas ou estampadas.

DOLCE & GABBANA

Por Antonio Trigo BASICO

Quando quero usar algo mais divertido, vou de camiseta Dolce & Gabbana. Coleciono alguns modelos raros. Adoro as estampadas e coloridas. Visto com um conjunto de linho de calça e blazer lisos e não preciso de mais nada. @dolcegabbana

Uso bastante. Uma marca nacional que oferece muita qualidade. A Everyday T-shirt, com acabamento de manteiga de cupuaçu, é ecologicamente sustentável e tem um toque macio e delicioso. Minha favorita da loja. @soubasico

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LACOSTE

Amo as lisas de algodão Pima, com somente o jacarezinho no peito. Tenho, literalmente, de todas as cores. Moda fácil e infalível. @lacostebrasil

ORIBA

Para o dia a dia são ideais. Leves, de algodão orgânico, e o melhor: nacionais! @oriba

INSIDER STORE

Também tenho uma vasta gama de cores da Tech T-shirt, feita com fibras que se adaptam ao corpo, acompanhando os movimentos sem esquentar. Não precisam ser passadas porque o tecido não amassa. Uma mão na roda! @insiderstore

BURBERRY

Gosto de camisetas com listrinhas. As da Burberry são simples e maravilhosas. Decote careca e barra bem reta. A modelagem é perfeita. @burberry

ZARA

Adoro a composição de regata com uma camisa ou um blazer por cima. Aí, nada melhor que Zara. @zara

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A CRIANÇA DENTRO DE NÓS

A programação do Natal Luz de Gramado promete encantar todas as idades. Em meio a tantos shows, desfiles, paradas e orquestras, Carbono indica um lugar para se hospedar e viver essa fantasia em grande estilo

Se tem uma data que tinge com cores especiais o imaginário de adultos e crianças ao redor do globo, essa data é, certamente, o Natal. É nessa ocasião que os americanos decoram biscoitos de gengibre, os noruegueses escondem suas vassouras atrás da porta e os franceses degustam seus troncos de chocolate, chamados bûches de Noël. Mas é em uma cidade brasileira, mais precisamente no Rio Grande do Sul, que o Natal não se resume a uma única data, mas a três meses! Quem nunca ouviu falar do Natal Luz de Gramado? Época em que as ruas se vestem de luzinhas e laços vermelhos e uma série de eventos com temática natalina toma conta do município. Considerado o maior espetáculo natalino do Brasil. É no Hotel Casa da Montanha (@casadamontanha) que Papai Noel se hospeda, com

seus ajudantes durante esse período – este ano a celebração vai de 26 de outubro a 21 de janeiro de 2024. Dentro dessa deliciosa fantasia, o hotel, um dos mais tradicionais da Serra Gaúcha, transformase em um verdadeiro recanto natalino para receber as famílias que vêm de todas as partes do planeta para conhecer essa magia. Tomar café da manhã com o Bom Velhinho, levar cartinhas ao seu escritório oficial, participar da Academia de Ajudantes do Noel ou dormir embalado por contos lidos pelo próprio personagem, são algumas das atrações que o Casa da Montanha oferece para os pequenos. Para os grandes, noites de jazz, spa L’Occitane, piscina térmica e um premiado restaurante, especializado em caças e cortes de carnes nobres. Para uma temporada inesquecível em família!

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Fotos divulgação
@casadamontanha

TIMELESS COLLECTION

Brasil: S ão P aulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Cuiabá, Ribeirão P reto, Curitiba, Jaú, Goiânia, B elo H orizonte, Florianópolis, B alneário Camboriú, M anaus, M aceió. Emirados: Dubai. USA: Miami, Dallas, New York, Brooklyn, Houston, Los Angeles, Hamptons, Greenwich.
HORIZONTE INFINITO

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