Carbono Uomo #17

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CARBONO uomo

Nº 17 | 2023

TONY RAMOS Clicamos um dos maiores atores da nossa história, em meio a uma conversa sincera sobre carreira, vida e amor

ALMANAQUE Um especial sobre sustentabilidade e green tips para a saúde, arquitetura, consumo e gastronomia

MOTOR Os novos SUVs das marcas esportivas e um giro de elétrico pelo Brasil

TRIPS Arábia Saudita, Aspen, Salvador, turismo do sono, veleiros, jatos executivos e muito mais sobre a arte de viajar

POR AQUI Os escritores Geraldo Carneiro e Marcelo Vicintin, o atleta Rafael Bridi, o arquiteto Guil Blanche, e mais

PÁGINAS AMARELAS Bikes, pães, livros, moussakas... Só lendo para entender

CARBONO Nº 17 | 2023
Nº 17R$ 35,00
Incorporadora responsável: Lavvi Abu Dhabi Empreendimentos Imobiliários Ltda. Av. Angélica, 2.346 – 8o andar – cj. 84 – São Paulo/SP. Registro do Memorial de Incorporação realizado em 02/03/2023, serão entregues conforme Memorial Descritvo do empreendimento. As perspectvas ilustram a vegetação com porte adulto, que poderá ser atngido após a entrega do empreendimento e de acordo 493 m2 5 OU 4 SUÍTES – 5 VAGAS 360 m2 4 SUÍTES – 4 VAGAS SAFFIRE.LAVVI.COM.BR | (11) 5198 -1272 AV. INDIANÓPOLIS, 394

A Lavvi traz para o Brasil o primeiro empreendimento com a assinatura da marca Elie Saab.

Perspectiva ilustrada do lounge piano bar

Safre Elie Saab, um projeto de luxo com quadra de tênis, quadra de beach tennis, piscina coberta, private pool house e um lazer incomparável.

INCORPORAÇÃO E CONSTRUÇÃO:

sob o R.01 da Matrícula 246.192. Este material publicitário corresponde às torres 1 e 2 do empreendimento “Condomínio Safre”. O acabamento, a quantdade de mobiliário e os equipamentos com o Projeto Paisagístco. Imagens meramente ilustratvas. O setor Apartamentos (Torres 1 e 2) terá acesso ao empreendimento pela Av. Indianópolis, 394. Intermediação: Lior – Creci: 30.906 J.

LANÇAMENTO - MOEMA
Boutique Oscar Freire, 848 Boutique Shopping Iguatemi www.FRATTINA.com.br Tel.: 11 3062-3244 @frattina

Brightening your holidays since 1971

SHOPPING

JK IGUATEMI E SHOPPING IGUATEMI SÃO PAULO

REDAÇÃO EDITORA CARBONO

PUBLISHER

Lili Carneiro lili@editoracarbono.com.br

DIRETORA DE ARTE

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PRODUÇÃO

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TRATAMENTO DE IMAGENS

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Alberto Pinto

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Guil Blanche

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Stilgraf

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Carbono Uomo é uma publicação da Editora Carbono.

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CAPA

Tony Ramos FOTOGRAFIA

Victor Pollak

EDITORIAL
17 • 2023
CONCEPÇÃO
Expediente

A SEGUIR:

16. CURTAS

De radar ligado

24.

MEU BAIRRO

Guil Blanche

28. ENTREVISTA

Geraldo Carneiro

32.

MEU ESTILO 1

Rodrigo Trussardi

34. LIVROS

Marcelo Vicintin

38. PERFIL

Tony Ramos

48. SAÚDE

Healthtechs brasileiras

58.

ARQUITETURA

Casa Borboleta Bio

66.

MEU ESTILO 2

Tom Vouga

68. ECONOMIA Jatos executivos

74.

CONSUMO

Fazendas verticais

78.

ALMANAQUE

Especial Sustentabilidade

90. MOTOR

Novos SUVs Nº 17 • 2023

ESPECIAL SUSTENTABILIDADE

92. PENSATA Nomofobia

94. RELÓGIOS Watches & Wonders

131. PÁGINAS AMARELAS Um guia Carbono Uomo

021
VIAGENS 102. Turismo do Sono — 106. Aspen 112. Veleiros 116. Arábia Saudita 122. Salvador 124. Rafael Bridi 128. Foz

Entre o casulo e o voo

Ele é aquele que ninguém vê.

Há quem o tema.

E quem alie-se a ele.

Entre sermos origens e vultos.

Palmas e almas.

É ele tudo o que temos.

Transformou o menino que imitava Oscarito em Tony Ramos.

Converteu a semente em floresta.

E fez do aluno um professor.

Alterou os rumos do saber.

Elevou o dó a canção.

E de nascente virou oceano.

Entre o casulo e o voo ele se esconde.

É ele.

É existência, é a chance, é a brecha.

É pulsação, é respirar.

É o tijolo.

E a ruína.

É aquele.

Que ninguém vê.

É o tempo.

Palavras
Primeiras
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CURTAS

No nosso radar da vez, caminhos, novidades, tendências, projetos, reflexões, e até saudades. Para se inspirar, sempre!

ONLY FIVE

Chega ao Brasil a primeira edição do superesportivo F-PACE SVR Edition 1988 de alta eficiência da Jaguar, criada pelos especialistas em personalização da unidade SV Bespoke, na Inglaterra. Extremamente limitada, a linha conta com apenas 394 SUVs no mundo todo. Destas, cinco são para o mercado brasileiro! @jaguar

EM BOA HORA

O novo Tank Française, que acaba de ser lançado no Brasil, combina simplicidade e sofisticação com aquele je ne sais quoi típico de Cartier. A peça, integrante da família Tank, tem pulseira de aço ou ouro, com opção de adornos de diamante. A nova proposta estética conta com mais ergonomia e ganha vida nas linhas ultraperfiladas do relógio. @cartier

STATUS DE ARTE

A arquiteta e designer Ana Weege lançou, em parceria com a La Lampe, uma linha composta por dois desenhos de luminárias inspiradas na art déco –apresentadas na mais recente edição da SP-Arte. Linhas arredondadas, elementos naturais e um impressionante trabalho de mestres especialistas em lapidar madeiras nobres resultaram no abajur Âmago e na luminária de piso Essência. O mix perfeito do vintage com o pop. @anaweege | @la_lampe

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CURTAS | Carbono Uomo

PERTO DO CAMPUS

Já ouviu falar em housing estudantil? Pedro Tormin é o criador da plataforma pioneira no assunto no País, presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco. A 4Student funciona como uma ponte entre proprietários de imóveis para locação e estudantes do mundo todo – já são mais de 20 nacionalidades usuárias da plataforma – que vêm para o Brasil para frequentar as nossas universidades. Além do aluguel, auxilia os alunos em toda a sua experiência, das compras no supermercado às dicas de passeios e restaurantes, passando por serviços como lavanderia e consertos. @4student_brasil

FACHADA

Os lançamentos da Luxottica têm o frescor da estação. No nosso radar, o Davri (foto), modelo icônico da Oliver Peoples, repaginado com lentes de carbono e corte quadrado bastante moderno. Outro modelito que já virou objeto de desejo é a novidade da Persol inspirada nas comédias românticas mais emblemáticas do cinema desde os anos 1990. @luxottica

QUEM QUER PÃO?

Os irmãos Barros – Luiz, produtor de cinema, e Antonio, designer, – são amantes da boa gastronomia e largaram suas carreiras para mergulhar fundo na panificação artesanal. Fundaram a Artezan Bakehouse, padaria orgânica paulistana que começou na cozinha de casa e já tem endereço para abertura em breve, na R. Saint Hilaire, 226, Jardim Paulista. Por lá, somente pães de fermentação natural, feitos à mão com farinhas orgânicas. Pense em pães rústicos recheados, focaccias, tortanos e deliciosos croissants. Toda quinta tem fornada fresquinha e sexta é o dia de entrega na casa da clientela. @artezan_bakehouse

Fotos divulgação 18

HAPPY HOUR

A Rolex revoluciona com a nova linha Celebration, do modelo Oyster Perpetual (com cases nos tamanhos 31mm, 36mm e 41mm). O relógio brinca com os sentidos exibindo uma estética pop e cores fervilhantes. Em seu mostrador laqueado, um criativo padrão de balões coloridos nos tons rosa candy, azul-turquesa, amarelo, vermelho-coral e verde. @rolex

EM TEMPO:

Carbono relembra o estilo tom sobre tom de Andy Garcia em O Poderoso Chefão 3 (1990)

ESTAMOS DE OLHO

Em maio tem Tina Turner no MIS , em São Paulo. Uma mostra com fotografias e outros conteúdos inéditos que contam a história da cantora.

You are simply the best! @mis_sp

CAMINHO LIVRE

Encontrar amigos na madrugada, a bordo de sua moto, e seguir às cegas para um destino secreto. Este é o I’m Free, de Ike Levy e Fábio Maca, um clube de experiências motociclísticas que provoca seus membros com surpresas emocionantes. Em seu encontro mais recente, o grupo embarcou às 3h da manhã em um voo de balão. Apesar das experiências surpreendentes, o propósito da dupla não é somente esse: Ike e Maca conduzem conversas levemente filosóficas sobre inspiração, protagonismo e outros temas da vida. A confraria sobre rodas, mais que uma turma à procura de aventura, reúne homens e mulheres em busca também de caminhos que levem para dentro de si. @imfreeride

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PALCO ARTSY

A SP-Arte abre as portas de seu novo e permanente espaço de exposições e eventos ligados à arte contemporânea. Uma icônica casa na Vila Modernista, nos Jardins – um dos poucos projetos do artista e arquiteto Flávio de Carvalho realmente construído. A propriedade é a única entre as 17 moradas da vila inteiramente restaurada na versão original. A Casa SP–Arte é uma iniciativa conjunta da feira paulistana com a galeria Gomide&Co. @sp_arte

QUEREMOS!

Chegaram à Frattina as novas linhas da Hublot e da IWC Schaffhausen. Carbono amou os modelos Big Bang Unico Golf Sky Blue Carbon, com pulseira de borracha com fibras de carbono e linhas de couro azul, da Hublot, e o Ingenieur Automatic 40 (foto), destaque da IWC lançado na mais recente Watches & Wonders. @frattina

ÍCONE PARA ELES

Acaba de chegar ao Brasil a nova coleção de bolsas masculinas Peekaboo ISeeU XCross, da Fendi . De tamanho compacto e silhueta slim , oferecem compartimentos internos perfeitos para o dia a dia do homem moderno: um para celular, outro para carteira e um porta-cartões. Há versões clássicas, em preto e cinza, e também as mais divertidas, em couro verde, azul ou laranja. Nas lojas Fendi dos shoppings Iguatemi e Cidade Jardim. @fendi

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CURTAS | Carbono Uomo

UNIÃO DAS ARTES

A marca alemã de gin ultrapremium da Pernod Ricard, Monkey 47, se une à japonesa Bathing Ape para lançar uma collab de street wear. A coleção cápsula, composta de moletom, camisa, t-shirt, skate e uma edição limitada do Monkey 47 Schwarzwald Dry Gin, combina a estampa de selva de Monkey 47 (composto de 47 botânicos) ao visual de camuflagem da BAPE® e vem nas cores verde, rosa e azul. No Brasil, com exclusividade nas lojas Guadalupe. @monkey47

BOOST DE ENERGIA

O autêntico matchá de Kyoto é o ingrediente dos picolés da Motch . A marca é a nova empreitada da família Murakami e pode ser encontrada na Motchimu , sua loja de chás e mochas.

@motchimu

ESTAMOS DE OLHO

Sabor , obra do chef israelense Yotam Ottolenghi e da também cozinheira Ixta Belfrage, chegou por aqui. No cardápio, novas ideias para cozinhar vegetais com muito… sabor, é claro.

@companhiadasletras

MADE IN BRAZIL

CARBONO INDICA O SOM DE DOIS NOMES

Korsain (@korsain_dubs), produtor, DJ e músico instrumentista, que segue a linha estética do Bass Music –grime, deep & dark dubstep. E Peroli (@peroli), DJ conhecida por exercer uma importante conexão entre os músicos britânicos e brasileiros: sua mixagem é refinada e rica em repertório.

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KORSAIN PEROLI
Fotos divulgação; Olivia Yokouchi

SOUND TO GO

Com design assinado e à prova d’água, a caixa de som em clip Mino T, da francesa Lexon , pode ser encontrada na Casa Cipó @lexon | @casa_cipo_

UNIVERSOS SOB MEDIDA

Caminho sem volta, vivemos a era progressiva que busca desafiar os limites da realidade. Limites estes que se tornam transponíveis por meio da Venturion VR, estúdio que possibilita desenvolver do zero universos e experiências imersivas sob medida. São sofisticadas possibilidades multissensoriais, de passeios virtuais, showrooms e treinamentos a simuladores. Cada vez mais presente, a realidade virtual é ferramenta de ponta para acessar e compartilhar visões particulares. Da ativação corporativa à festa entre amigos. Já vislumbrou? venturionvr.com | @venturionvr

“REALIDADE”

(UMA DAS POUCAS PALAVRAS QUE NADA QUEREM DIZER SEM ASPAS)

VLADIMIR NABOKOV

COOL KIDS

Quem se lembra do uniforme de alta performance espacial do agente 007, em Moonraker (1979) ? Missão cumprida, com estilo, de All-Star.

22 CURTAS | Carbono Uomo
Fotos divulgação

ESTAMOS DE OLHO nas roupas dos astronautas que pisarão na Lua em 2025.

A Nasa mostrou recentemente um protótipo feito pela Axiom Space para enfrentar temperaturas de menos 200ºC, e a gente gostou. @nasa

“NENHUMA ATERRISSAGEM É ISENTA DE ATRITOS. NENHUMA.”

NAZARENO

CORDA FINA

Rimowa se une à marca alemã de instrumentos musicais Gewa e lança uma maleta de violino sonho de consumo de qualquer músico. O Rimowa x Gewa Violin Case Silver tem o exterior de alumínio frisado característico da – também alemã – expert em malas e interior de microfibra com sistema adaptativo para diferentes tamanhos de instrumentos. Lá dentro um higrômetro, um umidificador, compartimento para armazenar os acessórios e uma manta protetora. Para celebrar a parceria, o renomado solista francês Renaud Capuçon se apresentou mundo afora, carregando o seu respeitado violino Panette Stern dentro da mala prateada. @rimowa

MASTERCHEF

Distribuidora de equipamentos e utensílios de alta performance para cozinhas, a ToppTable conta com um portfólio de mais de 5.000 itens de 70 marcas nacionais e internacionais. A pedida da vez é o Forno iCombi Pro XS, da Rational, pioneira na tecnologia de fornos combinados. O equipamento conta com um painel de touch screen no qual é possível definir programações como grelhar carnes, cozinhar legumes, assar um bolo ou o que seu apetite mandar. Tudo de maneira automatizada, uma vez que o forno fica conectado à internet. Para fazer um test drive das delícias, vá ao Cooklab, centro de experiências gastronômicas da ToppTable, na Vila Olímpia. O sonho de qualquer cozinheiro. @topptable

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CURTAS | Carbono Uomo
RODRIGUES @nazarenorodrigues

MEU BAIRRO

Urbanismo | GUIL BLANCHE
Guil Blanche, arquiteto
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O Centro acolheu o arquiteto Guil Blanche em sua chegada a São Paulo e, passados mais de 15 anos, é o fio condutor de sua empresa dedicada a revitalizar prédios abandonados na região

Por Guil Blanche, em depoimento a Adriana Nazarian

Em 2008, me mudei de Goiânia para São Paulo para estudar arquitetura na Escola da Cidade, que tinha sido aberta há poucos anos em um prédio antigo, meio detonado, no Centro. Decidi morar no bairro, do outro lado do Minhocão, para poder fazer tudo a pé, e logo aquela região ganhou meu coração.

Todos os dias a gente almoçava em um restaurante chamado Xangô, onde também rolavam festas divertidas. O local reunia pessoas que acabaram se tornando de grande importância para a cena cultural da cidade. A livraria embaixo do prédio do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), onde hoje funciona o Z Deli, e o teatro da Aliança Francesa também marcaram muito essa fase da minha história com o Centro.

A sensação era de descoberta e de pertencimento ao bairro. E a Escola da Cidade escolheu sua sede ali justamente com esse propósito: antes dela, a vida local era muito mais noturna, underground. Depois veio esse outro tipo de cena, do estudante, do arquiteto.

Desde o início eu imaginava que um dia trabalharia na região. Comecei fazendo os jardins verticais do Minhocão, mas o projeto que

considero mais importante é o da Marquise do Minhocão. Assinei o paisagismo e minha amiga Carol Bueno, do Tryptique, a parte de urbanismo. A ideia era transformar a parte de baixo do viaduto, esquecida por muitos, em um parque e, assim, ressignificar esse olhar.

Ao pensar nesses projetos, acabei identificando muitos prédios que estavam abandonados ou subutilizados na vizinhança e, em 2018, dei início à Planta.Inc, uma gestora imobiliária dedicada a fazer retrofits na Vila Buarque. O primeiro prédio que compramos foi o FSMJ, de 1971. Era da Santa Casa e estava há pelo menos dez anos sem ninguém. Hoje ele abriga três dos meus endereços favoritos na região.

Minha maior expectativa para o Centro é que a gente consiga ocupar esses imóveis, mas sem abrir mão da diversidade da rua, que é a coisa mais incrível de lá. O curioso é que, antes de morar em São Paulo, passei por uma fase totalmente dedicada ao ioga e ao veganismo, quando achava a cidade perturbadora. Aos poucos, fui entendendo a metrópole e hoje não tem a menor condição de ficar muito tempo longe daqui. Quero envelhecer no Centro.

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Urbanismo | CENTRO
Retrato João Bertholini

centro de são paulo

TAKKO

“Um ponto de encontro do bairro, onde vou tomar um café coado de excelente qualidade e rever amigos da faculdade e arquitetos colaboradores. E, pelo menos duas ou três vezes por semana, gosto de tomar meu café da manhã lá – a torrada com ovos é deliciosa.”

R. Major Sertório, 553 | @takkocafesp

“Para mim, é o prédio mais bonito da cidade. O arquiteto Oswaldo Bratke aplicou os pilares da arquitetura moderna de uma maneira brasileira e tropical. Junto com outros dois edifícios, ele faz parte de um tombamento do Copan.”

R. Major Sertório, 244

“Meu restaurante favorito na cidade. O chef Pablo Inca é um criativo incansável, uma espécie de filósofo cozinheiro. E como fica na cobertura do prédio FSMJ, tem uma supervista da cidade. Adoro almoçar lá para recarregar o meu dia.”

R. Amaral Gurgel, 344 - 6º andar | @cora.sp

“Um restaurante que tem uma importância muito grande para o bairro. Além de empurrar as fronteiras da gastronomia brasileira, fez muita gente enxergar que era possível ter uma loja naquela cena mais underground da cidade. Quando estava na faculdade, o lugar abrigava um supermercado caído, onde comprávamos nossos lanches.”

R. Araújo, 124 | @acasadoporcobar

03 01
04 A CASA DO PORCO BAR CORA
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EDIFÍCIO RENATA SAMPAIO FERREIRA
Urbanismo | GUIL BLANCHE
Fotos Israel Gollino, João Bertholini, Leonardo Akihiro, Pedro Ferrarezi, Roberto Sebá 02

sete acertos

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“A livraria da minha esposa é dedicada a autoras mulheres e realiza um trabalho de pesquisa incrível. Fica no térreo do prédio FSMJ: um lugar distópico, mas silencioso e dedicado ao conhecimento.”

R. Amaral Gurgel, 352 | @gato.sem.rabo

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EDIFÍCIO ITÁLIA

“Para mim, não há prédio comercial em São Paulo mais agradável e prazeroso de entrar – e olha que o Edifício Itália foi construído há mais de 70 anos. Meu escritório fica lá e adoro sua programação diversa, além da vista, claro.”

Av. Ipiranga, 344 | @terracoitalia

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GATCHA

“Adoro levar minhas enteadas a esse misto de café e instituição que acolhe gatos – o andar de cima é um parque de diversão para eles! Especializado em matcha, fica na Galeria Metropole.”

Av. São Luís, 187 - Piso 02 - Loja 02 | @gatchasp

27 Urbanismo | CENTRO
GATO SEM RABO

O poeta não é um caçador solitário

Entrevista
Retrato Leo Aversa
Geraldo Carneiro

O escritor Santiago Nazarian conversa com o também escritor – além de letrista, roteirista e tradutor – Geraldo Carneiro sobre os desafios e obsessões do ofício, principalmente diante de questões centrais do nosso tempo

Por Santiago Nazarian

A escrita é uma atividade solitária. O fluxo do pensamento para a página só se dá individualmente. Isso cria a imagem (muitas vezes verdadeira) do escritor como um recluso, o poeta como um exilado, numa eterna busca pela palavra perfeita. Não para Geraldo Carneiro. Geraldo Carneiro é um cara da galera.

Poeta, letrista, roteirista, tradutor, Carneiro explorou na escrita todas as possibilidades de parceria. “Outro dia enumerei meus parceiros de música: são quase quarenta”, diz ele, que encontrou nas letras possibilidades de conexão, mais do que de isolamento. “Eu queria mesmo era ser músico. Mas meus parceiros de música começaram a me encomendar letras.”

Nascido em 1952, em Belo Horizonte, filho de intelectuais, Carneiro sempre teve acesso aos livros, o que lhe rendeu suas bases profissionais. Começou na música ainda na adolescência e, só com Egberto Gismonti, compôs mais de 60

canções. Também escreveu diversas séries e especiais para a Globo, incluindo o remake da novela O Astro, com Alcides Nogueira, em 2011. Fez cinema, teatro, até ópera, mas diz nunca ter tempo para ter orgulho de suas criações. Cada obra leva à próxima.

Sua sociabilidade natural certamente lhe facilitou a entrada na Academia Brasileira de Letras, que descreve como “um local de convívio muito agradável”. Desde 2016 é um Imortal, ocupando a cadeira de número 24.

Em pleno Carnaval, Carneiro topou um papo com a Carbono sobre escrita, parceria e os tempos que correm – em que um poeta, homem, hétero, branco, pode estar em descompasso com as pautas mais quentes. “Sempre me considerei inatual. Não me identificava com minha geração, rotulada de poesia marginal. Não me identifico com as gerações atuais ou anteriores.”

Carbono Uomo

Conte um pouco do começo, de como a escrita foi despertada e entrou na sua vida.

Geraldo Carneiro

Eu era um menino arteiro. Quando havia algum convidado importante na minha infância, eu era mandado para o exílio na casa de um amigo mais velho de meu pai. Ele era encantado por Augusto dos Anjos e Cruz e Souza. Creio que o primeiro poema que aprendi se chamava Caveira, e diz:

“Boca de dentes límpidos e finos, De curva leve, original, ligeira. Que é feito de teus risos cristalinos? Caveira…”

Em suma, já comecei dark. Na infância éramos todos fascinados pelas letras de Vinicius. Já na adolescência,

como muitos da minha idade, li Drummond e Pessoa. Mas eu queria mesmo era ser músico. Estudei piano e violão, depois teoria musical e até rudimentos de orquestração. Mas meus parceiros de música começaram a me encomendar letras. Aos 18 anos entrei na universidade e descobri que era escritor. O poeta Affonso Romano de Sant’Anna me pediu poemas para uma antologia. E o poeta Cacaso me convidou para participar de uma coleção de livros de poesia, que chamei de Coleção Frenesi. Nunca mais parei de escrever.

Carbono Uomo

Durante sua carreira você formou parcerias célebres, com Francis Hime, Astor Piazzolla, John Neschling, Egberto Gismonti, Wagner Tiso e Fernanda Montenegro. Como conciliar esse trabalho de parceria – mais típico dos músicos – com a prática tão solitária da escrita? O segredo

GERALDO CARNEIRO 29

de sucesso de um escritor estaria em conseguir equilibrar bem esses dois momentos?

Geraldo Carneiro

Faltou mencionar na sua lista muitos parceiros, para mim, imprescindíveis. Com Fernanda só escrevi em parceria os textos para uma série sobre Nelson Rodrigues, além de uma letra para um espetáculo dela, no início dos anos 1970: Seria Cômico se Não Fosse Sério, de Dürrenmatt. Outro dia enumerei meus parceiros de música: são quase 40. Adoro escrever por encomenda. Muitas vezes é a encomenda que suscita paralelamente em mim a escrita de poemas. Meu primeiro livro, por acaso ou não, foi escrito por encomenda. O último, aliás, também. Foi também por encomenda que me tornei tradutor de uma dúzia de peças, das quais o autor mais constante é William Shakespeare.

Carbono Uomo

Então você diria que sua vocação natural é para a parceria, a criação coletiva, e o trabalho solitário é algo imposto que você tem de conciliar? A imagem do poeta como solitário não cabe em você?

Geraldo Carneiro

A criação é sempre solitária. Mas, quando parte de um aceno do outro (para fazer a letra de uma canção ou para escrever ou traduzir uma peça ou libreto), me sinto mais animado para dialogar com as palavras.

Carbono Uomo

Sempre, na escrita, você transitou por diversas áreas, poesia, teatro, ópera, letra de música... O que lhe dá mais prazer? São atividades diferentes ou tudo vem do mesmo lugar?

Geraldo Carneiro

É uma pergunta difícil. Seria uma tentação dizer que existe alguma coisa em comum, certa imanência em todas essas atividades diversas. Mas acho que o que elas têm mesmo em comum é o estabelecimento de pontes que vão de mim para o outro, como diria o poeta [português] Mário de Sá-Carneiro, que, infelizmente, não é meu parente.

Carbono Uomo

Quais são os trabalhos que lhe deram mais orgulho?

Geraldo Carneiro

Nunca tive tempo de sentir orgulho de um trabalho. Quando, por exemplo, um poema surge, acabado, provoca uma felicidade que dura um dia, no máximo dois. Já os projetos mais longos provocam, mais que tudo, alívio quando chegam ao fim. E confesso que nunca me dou ao trabalho de relê-los – quando tento, tenho uma sensação esquisita de strip-tease, não consigo ir adiante.

Carbono Uomo

Em que ponto você se sente em descompasso com o momento atual? Qual é seu desafio específico como escritor no mundo de hoje?

Geraldo Carneiro

Sempre me considerei inatual. Não me identificava com minha geração, rotulada de poesia marginal. Não me identifico com as gerações atuais ou anteriores. Claro que admiro muita gente, mas não a ponto de me tornar fanático. Mesmo quando aprecio gigantes, como Machado de Assis e Guimarães Rosa, tenho cá pequenas restrições. Meu desafio

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Entrevista | GERALDO CARNEIRO
“Sempre me considerei inatual. Não me identificava com minha geração, rotulada de poesia marginal. Não me identifico com as gerações atuais ou anteriores”

é escrever o que for necessário e não escrever o que for desnecessário. (Agora dei uma de Ludwig Wittgenstein).

Carbono Uomo

As pautas identitárias têm ganhado cada vez mais proeminência na literatura brasileira. Nesse cenário, como é o desafio do escritor, do poeta, de se manter relevante, acompanhar as discussões do momento e ainda tratar de temas mais perenes, atemporais/universais?

Geraldo Carneiro

As pautas identitárias são importantíssimas. Acabo de ler, por exemplo, O Acontecimento, de Annie Ernaux. Seria um livro impensável se não fosse a pauta feminista que, embora tivesse emergido em outras épocas, se tornou protagonista. A despeito dessa urgência indiscutível, creio que os verdadeiros escritores – cada qual com sua obsessão – continuarão escrevendo sobre sua singularidade, mesmo quando se supõem tratando de outros temas.

Carbono Uomo

E quais são suas obsessões pessoais como escritor?

Geraldo Carneiro

Como dizia o João Cabral, “Falo somente com o que falo: /com as mesmas vinte palavras/ girando ao redor do sol/ que as limpa do que não é faca”. Meu repertório é o mesmo de sempre: o tempo, o amor, a linguagem. Mas gosto de misturar gêneros: o lírico com o épico e o burlesco.

Carbono Uomo

No momento atual, a Academia Brasileira de Letras é

criticada por parte do meio literário por se manter ainda muito elitista e afastada das questões centrais de nosso tempo. A presença reduzida de mulheres, negros, a ausência de uma mulher negra em toda a história da ABL é algo a ser examinado e reparado?

Geraldo Carneiro

Luiz Vaz de Camões, que não entrou para a Academia, já dizia que “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. O elitismo da ABL talvez seja inevitável, porque só há 40 vagas. A composição dessa turma, no entanto, certamente mudará com os novos tempos. Por acaso ou não, o primeiro presidente da Academia, era um afro-brasileiro [Machado de Assis], semelhante a quase todos nós. Certamente haverá mulheres negras entre os acadêmicos do futuro próximo.

Carbono Uomo

Para você, o que significa estar na ABL?

Geraldo Carneiro

A ABL é um local de convívio muito agradável. Claro que há diferenças entre seus membros. Essa talvez seja a maior graça.

Carbono Uomo

Como você enxerga a atual produção cultural do Brasil?

Geraldo Carneiro

Tem uma variedade notável. Há muitos escritores excelentes, tanto de poesia como de prosa. Entre minhas favoritas, menciono Ana Maria Gonçalves, autora de Um Defeito de Cor, e as poetas Ana Martins Marques e Marilia Garcia.

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Entrevista | GERALDO CARNEIRO

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Zona neutra

“Uso muitas roupas pretas, moletons e conjuntos esportivos. Gosto de estar sempre confortável e de me vestir de maneira prática.”

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Mania de você

“Não sou de usar acessórios, como relógio e pulseiras, mas tenho um ponto fraco que são óculos e sneakers. Sem muita ostentação e sem exageros, mas com personalidade.”

MEU ESTILO

RODRIGO TRUSSARDI ESTILISTA E EMPRESÁRIO

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Toda hora, todo dia

“Sou viciado em música e uso diferentes playlists para distintos momentos. Crazy, do Seal, é uma das minhas canções favoritas.”

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Obsessão

“Os tênis são realmente meu ponto fraco… Este da Lanvin uso muito e sempre recebo elogios pela sua originalidade!”

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Referências

“Sou uma pessoa bastante visual e, até por isso, assisto a muitos filmes. O Diabo Veste Prada é um que sempre retomo por achar engraçado, além de ter a ver com o meu dia a dia. Recentemente, adorei ver a biografia da cantora Whitney Houston. Sou fã dela como artista.”

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Fotos João Bertholini e divulgação Texto Bianca Nunes Retrato João Bertholini LOUIS VUITTON

No pain, no gain

“Como viajo muito, a mala que ganhei da minha mãe virou uma peça repleta de boas recordações.” 6

“Meu hobby é jogar tênis. Pratico o esporte desde adolescente. Competi durante mais de dez anos, mas tive um problema no joelho que me afastou das quadras. Além disso, vou à academia cinco vezes por semana. Procuro manter uma rotina saudável.”

Memória afetiva

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OLIVER PEOPLES

BEM MELHOR QUE MONTANHA-RUSSA

De leitor voraz a autor elogiado, Marcelo Vicintin transformou sua paixão pela literatura em ofício. Aqui ele abre mão de seu fascínio por clássicos para indicar obras fora do óbvio que dizem muito sobre o mundo contemporâneo

“‘Não me preocuparia se a literatura acabasse amanhã. Há hoje no mundo muitas coisas mais importantes que a literatura. Cinema, por exemplo. Seria bom se tivéssemos menos livros sendo escritos, e menos editoras também’. Ouvi o escritor chileno Benjamín Labatut dizer essa frase na mais recente edição da Flip e fiquei muito impactado.

Claro, tem um lado dessa ideia que é facilmente criticável, insano até, mas há também uma provocação importante. Na minha opinião, Labatut está fazendo um chamado de volta aos clássicos. Sei que advogo contra mim mesmo – autor contemporâneo e ainda estreante – ao concordar com esse pensamento, mas me parece essencial ressaltar sempre o valor dos clássicos, do cânone.

Quando a Carbono me pediu para selecionar 12 livros, minha ideia inicial era falar sobre Machado de Assis, Dostoiévski e Proust, mas decidi evitar a maioria dos nomes canônicos por presumir que estes já são do conhecimento do leitor e que ficar falando deles não adicionaria nada de novo à conversa. Mesmo assim, acho importante abrir essa lista com a ressalva de que, para mim, acima de tudo estão os clássicos. Incontornáveis e melhores a cada releitura.”

Formado em Administração, com histórico em gestão de negócios e consultoria estratégica e cofundador de uma empresa de energia solar, foi aos poucos que Marcelo Vicintin notou o hábito da leitura transbordando de seu tempo livre para algo que ocupava seu dia todo. “Percebi a leitura como um prazer de outra ordem, muito melhor que qualquer montanha-russa”. Daí para a vontade de escrever foi um pulo. “Lembro-me do estalo que tive em 2016, quando li a tradução de Elogio ao Tédio, de Joseph Brodsky, na revista Piauí. Comecei a escrever e não parei mais, a ponto de marcar reuniões fantasmas comigo mesmo no trabalho para poder voltar às minhas resenhas”, conta.

Com o tempo, o hoje escritor foi ganhando segurança para encontrar sua voz e, enfim, chegou ao seu primeiro livro, As Sobras de Ontem , lançado em 2020 pela Companhia das Letras. “Agora estou escrevendo um romance sobre uma saga familiar que passa por algumas gerações”, revela.

“A minha paixão pelos livros se deu ‘gradualmente e, então, de repente’, assim como disse um empresário em O Sol Também se Levanta , de Ernest Hemingway, quando questionado sobre como ele foi levado à falência”, brinca Marcelo.

44 Livros | MARCELO VICINTIN
Retrato João Bertholini Marcelo Vicintin, escritor
46 Fotos divulgação Livros | MARCELO VICINTIN

ECLESIASTES

Tradução de Haroldo de Campos | Perspectiva

Um poema lindo. Uma voz antiga. Algo que ecoa há mais de dois milênios, que passou por incontáveis mãos e vozes anônimas até chegar a Haroldo de Campos. Ele fez um trabalho fantástico de tradução desse trecho absolutamente destoante do corpus bíblico.

NOTURNO DO CHILE

Roberto Bolaño | Companhia das Letras

Um padre chileno é convocado por agentes da ditadura para dar aulas sobre marxismo para ninguém menos que Augusto Pinochet. Bolaño trabalha as ambiguidades humanas como ninguém e aqui elas surgem com toda a sua força sinistra.

OS BUDDENBROOK O REINO

Emmanuel Carrère | Companhia das Letras

Essa mistura de autoficção e romance nos apresenta uma investigação humana e rigorosa da fé cristã nos tempos de Jesus e na atualidade. São temas difíceis de serem trabalhados sem soar piegas, mas Carrère o faz com excelência.

Thomas Mann | Companhia das Letras

Um livro delicioso, com cenas lindas que lembram Tolstói, mas em um contexto que me parece absolutamente contemporâneo.

ÀS AVESSAS

Joris-Karl Huysmans | Companhia das Letras

O mundo está mesmo acabando e a humanidade perdeu seu rumo, e isso não é de hoje, como Huysmans nos mostra tão bem. Às Avessas foi escrito em 1884, mas poderia se passar nos dias de hoje em qualquer condomínio de luxo no interior paulista.

OS BELOS E MALDITOS

F. Scott Fitzgerald | L&PM Pocket

Uma obra fantástica sobre tédio e futilidade. Em dado momento a própria entidade “Beleza” assume a narrativa para nos explicar melhor quem é e o que quer. Meu Fitzgerald favorito – no momento.

A MARCA HUMANA O JARDIM DOS FINZI-CONTINI MACBETH

Giorgio Bassani | Record Shakespeare | Companhia das Letras

Uma pequena metáfora do jardim do Éden. O livro conta, com delicadeza e beleza, a decadência da família judia Finzi-Contini e de sua enorme mansão, em meio à ascensão nazifascista.

Philip Roth | Companhia das Letras

Sou um grande admirador de Roth e tenho dificuldade em indicar apenas um de seus livros. Este me parece um poderosíssimo argumento contra a hipocrisia que se esconde em todos nós.

SOLUÇÃO DE DOIS ESTADOS O SERMÃO SOBRE A QUEDA DE ROMA

Michel Laub | Companhia das Letras Jérôme Ferrari | Editora 34

Explora a radicalização política de hoje sem clichês. A primeira camada traz dois irmãos que rompem por discordâncias ideológicas. À medida que progride, a narrativa política se revela oca e os instintos humanos se mostram em toda a sua força.

Gosto muito do estilo do autor e dos paralelismos que ele consegue construir entre textos clássicos e a vida cotidiana atual. Sabemos que estamos em decadência, mas não entendemos o porquê. Ferrari nos ajuda com essa angústia pós-moderna tão peculiar.

Fiz um esforço para evitar o cânone, mas achei importante manter Shakespeare porque tenho a impressão de que, entre os grandes, ele é injustiçado no Brasil. Não me parece que o lemos com suficiente atenção e está tudo lá.

QUANDO DEIXAMOS DE ENTENDER O MUNDO

Benjamín Labatut | Todavia Livros

A obra inclassificável, que mistura fatos históricos reais com invenções literárias, me impactou por sua capacidade – quase paranoica – de traçar paralelos entre conceitos tão díspares quanto a loucura da guerra e a agricultura hippie.

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Livros | MARCELO VICINTIN

SIMPLES ASSIM

Com a simpatia e a naturalidade que lhe são características, Tony Ramos fala sobre seus 58 anos de carreira, seus próximos projetos, sua gratidão ao público e sua (não) relação com as redes sociais

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Fotos Victor Pollak Entrevista Renata
Perfil | TONY RAMOS
“Sou fruto dessa chamada educação de propósito, social e efetivamente humanística. Mas não me considero uma unanimidade”

Foi imitando o Oscarito que a mãe e a avó de um menino de 10 anos, amante do cinema, perceberam que ele tinha talento. Para seguir a carreira, no entanto, um conselho imprescindível: jamais abandonar os estudos e muita, mas muita leitura. Já são quase 60 anos de trajetória artística com atuações de destaque no teatro, no cinema e na televisão. De Riobaldo (Grande Sertão: Veredas), ao indiano Opash (Caminho das Índias), passando pelo grego Nikos (Belíssima), a história de Tony Ramos, 74 anos, é marcada por sucessos. Mas não apenas isso. Ele é ícone de simpatia, educação e profissionalismo. Arrisco dizer que é uma unanimidade na classe artística. “Como você quer que esse menino cresça com essas duas valentes mulheres? Respeitando o próximo do jeito que ele é. Assim eu fui, assim eu serei. Sou fruto dessa chamada educação de propósito, social e efetivamente humanística. Mas não me considero unanimidade mesmo”, afirma o ator.

Com “58 anos seguidos de televisão”, Tony tem os mais variados tipos em sua carreira. Muito procurado pelos mais diversos autores do País, está no elenco da próxima novela de Walcyr Carrasco – que estreia este

ano na TV Globo. “Estou num momento delicado da transição para a personagem. A única coisa que a dramaturgia da Globo me pediu é que não corte o cabelo. Porque é mais fácil eu cortar se a personagem pedir”, explicou ele sobre seu visual na ocasião das fotos desta reportagem. Também tem em mãos dois roteiros “muito bons” para o cinema, mas o trabalho para as telas vai depender da TV: “Se puderem esperar o final da próxima novela aí nós conversaremos. Se não, agradeço, mas não farei as coisas ao mesmo tempo”.

A verdade é que Tony conquistou, há anos, um lugar que lhe permite escolher não embarcar em projetos simultâneos e seguir apenas com ideias que o inquietem. “Realmente é uma posição que eu conquistei e, consequentemente, ao ocupar esse lugar, hoje eu diminuo o ritmo. Não quer dizer que eu não poderei amanhã ser tentado a estar em uma peça junto com uma novela. Digo tentado, mas se eu irei fazer não sei. Acho que não”, comenta o ator.

Mas nem sempre foi assim. Quando estava em cartaz no teatro com Novas Diretrizes em Tempos de Paz, que estreou em 2001, recebeu um convite

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Perfil | TONY RAMOS
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de Manoel Carlos. “Eu já estava na peça quando a TV Globo falou que o Maneco vinha com uma novela muito boa. Maneco é meu irmão. Eu adoro os trabalhos dele. Eu disse ‘é claro que sim, mas como eu faço com o teatro?’” A TV Globo deu um jeito e o artista conseguiu conciliar os palcos com Téo, de Mulheres Apaixonadas. E foi assim que Manoel Carlos conheceu Dan Stulbach. Ao assistir a Tony nos palcos, perguntou sobre o ator com quem ele contracenava. Tony deu a maior força e Dan também entrou para o elenco da novela.

Com tantos trabalhos memoráveis, ele elege Riobaldo, da minissérie Grande Sertão: Veredas, como sua grande virada no caminho. Não somente pela importância do papel baseado em obra literária nacional de tamanha relevância, mas porque aprendeu a não “pré-julgar um convite porque acha que está fora do que é a estética da personagem”, conta. O papel surgiu para ele enquanto ainda gravava os capítulos finais de Livre para Voar “Eu estava na fila (do banco) e ouvi uma voz atrás de mim chamando Tonico. Olhei e era o Walter Avancini.” O diretor estava preparando a minissérie em comemoração aos 20 anos da TV Globo e disse que Tony era o seu Riobaldo. “Eu falei: você ficou doido. Olha o meu tipo, sou filho e neto de espanhóis, portugueses e italianos”, recorda.

Tony pediu um tempo para pensar e, depois de uma rápida conversa com sua companheira, Lidiane, decidiu que poderia aceitar o desafio.

A década de 1980 trouxe ainda outros momentos emblemáticos na carreira de Tony. Interpretou Tonico Ladeira em Bebê a Bordo, novela que teve mais de 200 capítulos exibidos. “Foi um sucesso retumbante. E era um papel totalmente diferente, anárquico, cômico. Mais do que isso, politicamente incorreto naquela época”, define. Ele parecia já ter feito de tudo um pouco quando topou participar de Meu Refrão Olê Olá, espetáculo em homenagem a Chico Buarque. “O público já tinha visto algumas facetas minhas quando chega essa história em que eu fazia várias personagens. O espectador entrou em êxtase. Eu dançava e cantava em falsete com todo o elenco aquela parte da Ópera do Malandro que fala da Geni”, detalha. “Quando eu virava travestido a plateia fazia ‘ahhh’ e batia palmas. Eu me arrepio até hoje”, afirma.

E Tony não para. No ano passado, esteve em lançamentos no cinema e no streaming. Protagonizou o longa 45 do Segundo Tempo, de Luiz Villaça, ao lado de Cassio Gabus Mendes e Ary França. “O filme é um primor, um pequeno poema sobre amizade, sobre o valor da vida e com humor. É daqueles trabalhos raros na vida de um ator”,

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“Uma jornalista uma vez perguntou quem eu seguia. Eu falei que não era detetive e não seguia ninguém”
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“Tenho consciência da minha popularidade, mas isso não me autoriza a ser melhor do que ninguém, como não sou”

comemora Tony, que é torcedor do São Paulo, mas interpretou um palmeirense roxo no longa. No Globoplay, fez uma participação na minissérie Encantado’s como o bicheiro Madurão. “É uma comédia adorável”, elogia ele a obra de Renata Andrade e Thais Pontes, com direção artística de Henrique Sauer.

Na vida pessoal, Tony é discreto, mas quem o acompanha sabe que ele tem um casamento feliz e longevo que completou 54 anos. Só que o ator não quer ser visto como exemplo. “Tem muitos anônimos que se casam e são felizes”, comenta. “Eu causo espanto há 54 anos por dizer que eu tenho um profundo e definitivo amor por essa mulher. Mas não há como eu não olhar nos teus olhos e dizer do meu amor pela Lidiane. É amor, vem lá de dentro do coração, da tripa, do afeto, do calor carnal, da vontade de abraçar, de dormir colado, de dar as mãos”, se declara. Os dois se conheceram ainda na juventude, quando ela tinha 16 e ele, 18, e estudavam na mesma escola pública em São Paulo. “Formamos um time de afeto. Mas eu não quero ser exemplo. Esse é o resultado de um casamento que deu certo”, afirma Tony,

que tem com Lidiane dois filhos, Andrea e Rodrigo, e dois netos, Henrique e Gabriela.

Esse amor, no entanto, não é visto nas redes sociais. Afinal, Tony não está presente em nenhuma delas. “Uma jornalista uma vez perguntou quem eu seguia. Eu falei que não era detetive e não seguia ninguém. E houve uma risada geral”, conta, sobre a pergunta respondida em clima de brincadeira durante uma coletiva de imprensa. “Eu não tenho redes, nunca tive. De vez em quando a Globo derruba umas falsas. Eu não sou contra, mas não é a minha”, afirma. O carinho do público que ele recebe é presencial por onde quer que passe. “Essas pessoas dedicam alguns minutos da sua vida vendo minha obra, o mínimo que eu tenho que ser é receptivo. Eu preciso entender essa manifestação. Afinal eu lutei para ser um artista popular. Apesar da idade, apesar dos anos todos de carreira, eu tenho consciência da minha popularidade, mas isso não me autoriza a ser melhor do que ninguém, como não sou”, finaliza Tony, com toda sua sabedoria e humildade, depois de quase 60 anos vivendo dos palcos, do cinema e da TV.

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Perfil | TONY RAMOS
de imagens
Iung
Tratamento
Claudia Fidelis e Sandro

SAÚDE 4.0

Jovens executivos apostam em healthtechs de vanguarda no Brasil para criar novos modelos de negócios que tratam pacientes com base em dados. Para entender mais sobre o cenário da saúde –cada vez mais aquecido – por aqui e no mundo, conversamos com empreendedores que estão à frente dessa revolução

Saúde | HEALTHTECH
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Saúde | HEALTHTECH

O setor da saúde está passando por mudanças e caminha para um futuro orientado por dados e baseado em valor. Ou seja, no lugar de focar em serviços (exames, consultas e procedimentos sem fim), a ideia é direcionar esforços para trazer soluções que tenham como foco o bem-estar dos pacientes e, de preferência, com o menor custo. Os mercados emergentes não são exceção. Em 2023, as barreiras de acesso à inteligência artificial (IA) devem diminuir e o impacto dessa tecnologia irá abranger ainda mais campos, incluindo a detecção precoce e o monitoramento de doenças, o diagnóstico e a adesão a tratamentos. “A gente está vivendo uma revolução, mas em uma velocidade mais lenta do que em outros setores, como o financeiro. Porque a saúde é uma área muito complexa, diferente em cada país. São operações muito locais. E o tamanho das populações muda bastante também”, explica Guilherme Azevedo, Chief Health Officer da Alice. A gestora de saúde ficou conhecida por oferecer especialistas preparados para ajudar os usuários nos respectivos objetivos de saúde (como dormir melhor ou correr uma maratona), em queixas do dia a dia ou em emergências. E, desde que foi lançada, em 2020, já atraiu US$ 174,8 milhões.

A verdade é que investimentos dos setores públicos e privados seguem impulsionando o mercado. Segundo dados do hub de inovação Distrito, no ano de 2021, US$ 44 bilhões foram usados em financiamentos voltados à inovação em saúde – quase 16 vezes mais do que ocorreu em 2013, primeiro ano do levantamento.

A pandemia, claro, foi determinante nesse processo, facilitando avanços regulatórios para a validação de alguns serviços. Vimos a ascensão da

telemedicina, que até 2020 não era permitida por lei. E a regulamentação das assinaturas médicas eletrônicas, o que possibilitou a emissão de prescrições para a compra de medicamentos controlados.

Todas essas mudanças trouxeram à tona um novo olhar para a área da saúde e demandas específicas ajudaram a tornar o ambiente de negócios mais promissor, impulsionando a criação de empresas. É o caso da AfroSaúde, healthtech de impacto social que desenvolve soluções tecnológicas para a comunidade negra. Igor Leo Rocha, CEO da companhia, identifica outros movimentos desse mercado já bastante aquecido: “Grandes grupos da área estão comprando espaços e soluções para centralizar suas operações e, assim, escalar de forma mais rápida. São hospitais, clínicas, redes de laboratórios e outros negócios sendo adquiridos ou incorporados. O efeito positivo ou negativo desse caminho só poderemos perceber no futuro”, pondera.

Desafios não faltam em um país com as dimensões do Brasil. O custo de logística encarece o preço dos produtos. Outro gargalo para o sistema empreendedor é a questão tributária. Fora isso, o sistema de saúde ainda funciona em uma lógica baseada em pagamento por serviços. Isso incentiva a execução de procedimentos, como exames caríssimos, que não necessariamente estão ligados ao melhor desfecho para o paciente.

Mas o momento é promissor. Para entender o cenário local e antecipar os próximos passos do setor, conversamos com jovens executivos que empreendem na área. Eles contam para a Carbono Uomo os motivos que os levaram a apostar nesse setor e onde estamos em relação ao mundo quando o assunto é inovação em saúde.

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Direto ao ponto

“As pessoas podem ter a falta de sorte de carregar um problema de saúde geneticamente, mas muito do que acontece na sociedade nas últimas décadas em termos de doenças crônicas – e que mais onera o sistema de saúde – é consequência de maus hábitos. Como a gente se alimenta, lida com atividade física, stress, sono. Isso me incomoda profundamente”, conta Guilherme Azevedo, Chief Health Officer da Alice, fundada em 2020. A startup quer tornar o mundo mais saudável

“Estamos vivendo uma revolução. Mas ainda vai demorar para a gente olhar para trás e dizer: ‘ela aconteceu’!
Até lá, é importante identificar qual processo dá o

melhor desfecho com o menor custo” trabalhando com tecnologia, prevenção e manutenção da saúde, baseando a remuneração dos serviços de acordo com a qualidade deles. Para isso, acompanha cada um dos seus 11 mil membros — como chamam os pacientes — de forma personalizada. Guilherme Azevedo tem conhecimento de causa. Viu o pai, jovem e saudável, se autodestruir por conta da dependência química durante décadas. “Esse é um dos motivos pelo qual eu persigo a saúde. O episódio me marcou”, conta.

Em pouco menos de três anos, a Alice já captou US$ 174,8 milhões. A operação inclui 60 médicos e 120 enfermeiros, além de preparadores físicos, nutricionistas, psicólogos, somando cerca de 200 profissionais — para além de uma comunidade de especialistas, quase todos formados e treinados no SUS. São eles os responsáveis pelo atendimento direto dos usuários, tanto no ambiente digital como no físico, que acontece em espaços batizados como Casas Alice. Se a conta fecha? “É um investimento que se paga em longo prazo se você é saudável. Já para quem tem uma doença crônica, é muito mais rápido. Mas a principal alavanca da Alice consiste em outro retorno, de curtíssimo prazo, que é evitar desperdícios”, explica Guilherme.

Quando o projeto foi lançado, um plano custava cerca de R$ 800 para clientes com uma média de idade de 30 anos. Hoje já há opções em torno de R$ 500. “A tendência é continuarmos criando produtos mais acessíveis com uma rede de prestadores coerente com a precificação”, antecipa. Segundo ele, alguns dos principais entraves do setor podem ser resolvidos com tecnologia. O primeiro é o de incentivos, ligado à forma como o sistema de saúde é compensado. Incentiva a execução de procedimentos, mas não necessariamente no melhor retorno para o paciente. O segundo é o acesso a dados. “Estamos vivendo uma revolução. Mas ainda vai demorar para a gente olhar para trás e dizer: ‘ela aconteceu’! Até lá, é importante identificar qual processo dá o melhor desfecho com o menor custo. É isso o que a gente chama de medicina baseada em valor.” Ao que tudo indica, é nessa direção que o mundo está indo.

• alice.com.br

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Bruno
Retrato
Fujii
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Azevedo | ALICE
Guilherme

Com saúde, sem tabus

Morgan Autret lembra, aos risos, que durante a fase de implementação da Omens, passou por todos os problemas para os quais a empresa oferece tratamento: disfunção erétil, ejaculação precoce e perda de libido. “Eu consumi os serviços e eles funcionaram muito bem. Fico feliz de ter enfrentado essas questões durante o desenvolvimento da plataforma, porque me coloquei na pele de um paciente”, conta.

Especializada em bem-estar masculino, principalmente em saúde sexual, a healthtech já soma 30 mil pacientes em todo o Brasil desde a sua fundação, em 2020 – além de um aporte de R$ 10 milhões. “Ninguém fala sobre esses assuntos [relacionados à saúde sexual]. E quando você chega a um médico generalista, talvez não queira conversar com ele porque, de repente, é alguém que atende outras pessoas da sua região ou da sua família. Gera um certo constrangimento”, explica.

A Omens decidiu, portanto, organizar sua operação por patologias e oferecer consultas por mensagem, videochamadas ou por telefone, garantindo discrição. O caminho parece ter funcionado e a healthtech lançou recentemente serviços de dermatologia, com foco em acne dermatite e queda de cabelo, além de tratamento PrEP (profilaxia pré-exposição), 99% eficaz na prevenção de HIV quando usada corretamente entre parceiros que podem ter uma relação sexual de risco.

O desafio da vez leva em conta acompanhar homens trans no processo de mudança de sexo e, até o fim de 2023, há planos de lançar uma vertente sobre perda de peso. “O mercado brasileiro avançou em relação à healthtech e à saúde. Tem agentes muito fortes, como laboratórios e farmácias, que estão levando o setor para frente com muita inovação. Mas, em relação às startups, ainda é mais fraco. Nos EUA, por exemplo, você já encontra grandes players que cresceram absurdamente, abriram capital e estão consolidando o

mercado. Nós ainda não chegamos nesse momento”, esclarece. O executivo analisa o cenário com cautela. “Teve muito investimento em novos planos de saúde, que são na verdade um pouco mais digitais… eu não acho que isso vá revolucionar a saúde no Brasil”, diz. Para ele, uma das maiores barreiras para o avanço do setor é o custo da logística e a regulamentação, ainda muito focada nos meios tradicionais. Para o futuro Morgan aposta na reinvenção da jornada do paciente: sua expectativa é que um único portal ofereça uma experiência personalizada, acompanhada por especialistas, a partir da coleta e do acompanhamento de dados.

“O mercado brasileiro avançou em relação à healthtech e à saúde. Tem agentes muito fortes, como laboratórios e farmácias, que estão levando o setor para frente com muita inovação”

E, em termos de investimento, ele acredita que haverá um número maior de startups especializadas em algumas patologias. “Espero que a Omens tenha tamanho suficiente para poder comprar essas empresas, juntar as ofertas e ser um barco único para todos os homens no Brasil, com os melhores e mais avançados protocolos do mundo. E por um preço superjusto, que possa atender às classes A,B,C, D e E no mesmo lugar. É isso que a gente quer fazer”, antecipa.

• omens.com.br

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Retrato divulgação
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Morgan Autret | OMENS

Prevenção data driven

“É evidente que a medicina passa por uma revolução, com novos procedimentos e tratamentos trazendo longevidade e qualidade de vida. O Brasil não fica atrás em termos de acesso a essas tecnologias. No entanto, a distribuição da inovação é completamente desigual”, argumenta Ricardo Vasserman, CEO da Mar. A healthtech usa dados para avaliar riscos de adoecimento, recomendar os exames adequados para cada pessoa e mapear as características de saúde de uma população.

“Sabemos que a maioria dos brasileiros interage com o sistema de saúde só depois que um problema aparece. Essa estrutura reativa traz consequências graves para o bem-estar dos indivíduos e para as finanças dos convênios”

A iniciativa ajuda empresas a reduzirem custos, evitando o pedido de exames desnecessários, por exemplo. “Hoje nosso produto é direcionado para operadoras de planos de saúde. Sabemos que a maioria dos brasileiros interage com o sistema de saúde só depois que um problema aparece. Essa estrutura reativa traz consequências graves para o bem-estar dos indivíduos e para as finanças dos convênios”, explica.

O médico empreendedor começou a vida profissional no Hospital das Clínicas durante a

pandemia. Na ocasião, ele idealizou a campanha #VemPraGuerra, junto de colegas, arrecadando mais de R$ 6 milhões para o HC em meio à crise. Avesso às redes sociais, até então, ele ficou surpreso com o poder das ferramentas digitais em termos de praticidade, velocidade de mobilização e alcance. E entendeu que, para escalar um projeto com impacto nacional, era essencial construir uma plataforma tecnológica de alta performance.

Para Ricardo, o desafio no momento é mudar a percepção dos gestores: “O processo de controle de gastos em saúde precisa levar em consideração o médio-longo prazo, a partir da prevenção de doenças. Dado o sufoco financeiro, o que se busca hoje são medidas milagrosas imediatas que possam controlar o uso do sistema. Algo que sabemos ser irrealista e ineficiente”, diz. Como meta, a Mar gostaria de ver todos os brasileiros com a oportunidade de realizar exames que possam identificar doenças previníveis. “Para isso, é imperativo estarmos no SUS [Sistema Único de Saúde]”, complementa Ricardo.

Como a contratação de um serviço de saúde pelo Ministério da Saúde, ou mesmo Secretarias Estaduais e Municipais, requer um longo processo de avaliação, diligência, comparação e licitação, ele e os sócios decidiram focar o início de sua empreitada na iniciativa privada, onde há maior dinamismo comercial. Em paralelo, estão em contato com a Anvisa para a validação da plataforma, visando justamente esse momento vindouro para o setor público. “O futuro desse mercado envolve a coleta e a estruturação de dados para gerar melhores desfechos e controle de gastos. Considerando um setor tão grande e com tantas ineficiências, abre-se o caminho para o surgimento de múltiplas iniciativas com grande volume de investimento nos próximos anos”, finaliza Ricardo.

• marsaude.net

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Retrato divulgação
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Ricardo Vasserman | MAR

Diversidade em foco

Mesmo morando em Salvador (BA), cidade que concentra a maior comunidade afrodescendente fora da África, Igor Leo Rocha nunca tinha sido atendido por um médico negro até 2019, quando começou a formatar a AfroSaúde com o sócio Arthur Lima. Outro motivo que o impulsionou a criar uma plataforma que conecta pacientes a profissionais negros de saúde e bem-estar foi a falta de tratamento adequado para suas próprias demandas, como uma infecção bacteriana mais comum em homens negros, comumente tratada como acne. “A população negra possui diversas especificidades quando se trata da saúde. Estudos sugerem que algumas condições têm maior prevalência nesse grupo, incluindo hipertensão arterial, diabetes, obesidade e certas formas de câncer”, lista o CEO.

A pandemia veio enquanto Igor e o sócio se organizavam para estrear a startup. Num pequeno desvio de rota, a dupla lançou o TeleCorona para orientar a população mais vulnerável em relação à Covid-19: atenderam mais de 400 famílias com cerca de 40 profissionais voluntários.

Hoje a AfroSaúde tem uma rede com mais de 1.400 especialistas. Já no ambiente corporativo, a startup lançou um programa de saúde mental. Entre os clientes estão Nubank, Google, Amil, BASF e 99jobs. “Entendemos que não bastava apenas oferecer o atendimento individualizado, mas também trabalhar demandas específicas que envolvem nichos de diversidade dessas organizações”, explica Igor. Desenvolveram, então, uma metodologia de encontros periódicos em grupo, além de atendimento individualizado por meio da

terapia. “Todo o processo é mapeado para medir o nível de ansiedade e produtividade, por exemplo, oferecendo às empresas um relatório geral, sem identificação. Mas com subsídios que auxiliem na tomada de decisões para gestão de pessoas e outras questões envolvendo a companhia”, conta. Para o executivo, o grande gargalo para o sistema empreendedor é a questão tributária. “Temos uma alta carga de impostos e complexa

“Entendemos que não bastava apenas oferecer o atendimento individualizado, mas também trabalhar demandas específicas que envolvem nichos de diversidade dessas organizações”

de entender. Isso torna o ambiente de negócios mais suscetível a erros e leva à descontinuidade de empresas que teriam a possibilidade de prosperar”, diz. Ainda assim, acredita que o futuro é favorável e já percebe o aumento no investimento em negócios que desenvolvem soluções que possam ser escaláveis de forma exponencial.

• afrosaude.com.br

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Retrato João Bertholini
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Arthur Lima e Igor Leo Rocha | AFROSAÚDE

Um refúgio sustentável

Pensada para preservar a memória de tempos felizes no interior, a casa Borboleta Bio, da publicitária Mariangela Nicolellis, é feita a partir da inovadora técnica da bioconstrução e desperta a curiosidade de quem a vê

Texto Raquel Fortuna

Fotos

“A casa fala com você.” A publicitária Mariangela Nicolellis precisou ouvir esta frase para entender, na prática, do que se tratava o projeto que ela acabara de colocar de pé: a morada Borboleta Bio, feita a partir da técnica de bioconstrução, que, numa definição simples, utiliza materiais biodegradáveis, que não prejudicam a natureza. “As paredes são feitas de esterco, areia, terra e água, então não é raro aparecer uma trinca, por exemplo. É uma casa viva, que dá sinais do que precisa, vai conversando com você ao longo do tempo”, conta Mariangela.

A residência fica na cidade de Sarapuí, no interior de São Paulo, a 170 km da capital, e é resultado de muitos desejos da dona, entre eles o resgate de uma infância feliz na roça e a preocupação com a preservação do planeta. Depois de ter rodado o mundo – ela morou no Chile, em Porto Rico, onde nasceu a filha Luiza, hoje com 34 anos, e em Portugal, onde nasceu o filho Martim,

1 – A planta em formato de borboleta é algo típico da bioconstrução – daí o nome da casa

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“É uma casa viva, que dá sinais do que precisa ao longo do tempo”
Mariangela Nicolellis, proprietária

30 anos –, Mariangela voltou ao Brasil e começou a se envolver com iniciativas sociais até mergulhar no tema do meio ambiente. “Sempre fui muito ligada à natureza, gosto de andar em trilhas, percorri o Caminho de Santiago, Machu Picchu, Caminho da Luz… Quando voltei a morar no Brasil, fiz um curso em que aprendi a construir minhocários urbanos e aquilo me fascinou, pois foi a primeira vez que vi algo que fecha o ciclo. Comecei, então, a entender sobre esses caminhos alternativos e não agressivos à natureza. Foi quando me apaixonei pela bioconstrução”, conta ela.

Moradora do bairro Itaim Bibi, na capital paulista, Mariangela já pensava há algum tempo em ter um espaço seu, num lugar mais tranquilo. A chegada da pandemia só acelerou os planos. Em meio à crise sanitária, resolveu construir seu refúgio, aos 63 anos, no mesmo terreno do sítio dos pais, de onde guardava boas memórias. “Em meio a tanta destruição, quis fazer algo que trouxesse esperança para o futuro, então essa casa também foi um símbolo de resistência e de fé.” O processo veio acompanhado de vários desafios, como a dificuldade de encontrar mão de obra especializada e a gestão da

2 – Esterco, areia, terra e água são os materiais que compõem as paredes

3 – A ambientação sem excessos segue a proposta da casa

4 – A entrada de luz e a ventilação natural foram um pedido da proprietária, como se vê na sala de estar

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Casa | BORBOLETA BIO
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61 Casa | BORBOLETA BIO 3 4

obra: “Era para ser algo mais coletivo, que contasse com a ajuda da família. Mas aconteceram mudanças no caminho: minha filha foi morar em Portugal, meu filho casou e teve um bebê e meu pai adoeceu. Então eu acabei tocando praticamente sozinha. Foi bem desafiador”. O arquiteto e o empreiteiro vieram por indicação: o primeiro, por meio de um amigo do filho de Mariangela, e o segundo, por um vizinho, dono de um espaço focado em bioconstrução localizado próximo à Borboleta Bio, e que inclusive a ajudou na administração da obra.

CASA DOS FLINTSTONES

A casa, segundo a proprietária, tem uma estrutura simples. Cozinha com pé-direito alto e paredes caiadas –

5 – Formas arredondadas trazem a sensação de fluidez entre os ambientes

6 – Pelo visual inusitado, a morada ganhou o apelido de “A casa dos Flintstones”

espaço que ela fez questão de privilegiar, pois cresceu vendo a mãe à beira do fogão –, dois quartos, um banheiro, sala, terraço e telhado verde. “80% da massa construída da Borboleta Bio foi retirada do próprio terreno. Utilizamos a técnica COB, que consiste em amassar barro com palha, um pouco de areia e esterco para ter resistência. É um método que faz paredes estruturais, então a gente não precisa de colunas. Tem uma pegada de escultura mesmo. Até as tintas que utilizamos são naturais, à base de terra e cola branca, material que é saudável tanto no manejar como na interação com o usuário”, explica Cesar Mendes, arquiteto urbanista responsável pelo projeto.

Há tecnologias como energia solar para aquecer a água e esgoto tratado

com círculo de bananeiras, que transforma as águas cinzas provenientes da cozinha, lavagem de roupa e do banho em alimento para bananeiras. Já o nome do projeto faz referência à sua estrutura. “Quando começamos a discutir a ideia, eu disse que queria um espaço em que entrasse muita luz e ar, que fosse leve. Aí veio a ideia da planta no formato de borboleta (na bioconstrução é comum que se utilizem formas e geometrias que remetam à natureza)”, explica Mariangela. Motivo suficiente para despertar a curiosidade de quem passa por lá. “A gente ouve de tudo, até que a casa parece a dos Flintstones. Uma coisa curiosa é a percepção dos prestadores de serviço da região. Eles veem que é possível construir com terra, técnica que seus avós usavam, e que melhorou muito com o tempo.”

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63 Casa | BORBOLETA BIO
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O processo de construção foi feito a várias mãos, incluindo as da dona

8 – A cozinha é um dos cantos mais especiais para Mariangela, que herdou da mãe o gosto pelas panelas

9 – Vista da varanda e o verde em abundância que marca o terreno

10 e 11 – Telhado verde, energia solar e esgoto tratado com círculo de bananeiras são algumas das escolhas estruturais e sustentáveis da Casa Borboleta Bio

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“80% da massa construída da Borboleta Bio foi retirada do próprio terreno”

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Segundo o arquiteto, os recursos são mesmo ancestrais, a maioria de origem africana, e foram aprimorados ao longo dos anos. “Um dado interessante é que hoje existem praticamente três bilhões de pessoas que utilizam edificações feitas de terra”, diz ele.

Tudo parece simbólico e até meio cósmico na casa Borboleta Bio. Mariangela conta que a construção aconteceu exatamente no momento em que seu pai começou

a ficar doente e a perder a força – ele que, segundo a publicitária, sempre teve um espírito aventureiro e empreendedor. A casa, nas palavras dela, é também uma forma de preservar essa força que sempre foi sua marca registrada e deixar o legado para as futuras gerações da família. “Meu filho sempre fala: ‘a gente não pode vender nunca’. Até penso em morar um dia aqui, mas acho que esse canto vai ficar mesmo para o meu neto”, finaliza.

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Cesar Mendes, arquiteto

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Layers

“Gosto de criar camadas, contrastes. Brincar com meu guarda-roupa, mas dentro dos estilos com que me identifico. São essas colisões inesperadas que dizem se o look vai ser divertido e, acima de tudo, expressar quem eu sou. No final, meu estilo é sobre minha individualidade.”

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Onipresentes

“No meu guarda-roupa não podem faltar camisas básicas, jeans, chinos, calças sociais, jaqueta de couro e roupas vintage.”

MEU ESTILO

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Espelho

“O estilo de Dennis Hopper nos anos 1960 e 1970, assim como o de Miles Davis e Marvin Gaye na mesma época, é uma referência. E, atualmente, aprecio a maneira como o diretor criativo Alessandro Squarzi se veste. Em comum, esses personagens têm a autenticidade e a apreciação por uma estética que sabe ser divertida e silenciosa, mas também falar alto quando é necessário.”

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Fatto a mano

“O couro dessa carteira feita na Itália só é utilizado depois que o gado morre de velhice. Acho incrível como podemos ter algo estético, fantástico, mas que respeite o planeta. A faca também é produzida à mão, mas na França, na cidadezinha de Laguiole. Era usada pelos pastores de ovelhas e tem o seu design inspirado na navalha espanhola. Outra característica bacana é que Napoleão presenteou a cidade com esse brasão de abelha, que adorna todas as facas, por conta de sua importância em uma das batalhas vividas pelo imperador francês.”

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TOM VOUGA CONTADOR DE HISTÓRIAS PROFISSIONAL Fotos João Bertholini e divulgação Texto Bianca Nunes Retrato João Bertholini SALVATORE FERRAGAMO

Menos é mais

“Quando era novinho, gostava de colecionar tênis, mas passei dessa fase. Hoje prefiro “coleções de um”. Gosto de encontrar o anel, os óculos, o colar, e assim sucessivamente.”

5 Cotidiano

“Costumo comprar on-line Tenho todas as minhas medidas. Então nunca rola uma surpresa, e é tão simples. Mas tem uma loja em São Paulo que gosto bastante de ir, a V-Unit, principalmente por suas peças militares vintage.”

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Old School

“Adoro vinis. E, acima de tudo, gosto de criar rituais e desacelerar as coisas.”

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Biblioteca

“Meu hábito de leitura envolve, em sua maioria, assuntos que me inspiram e que eu possa somar ao meu trabalho. Cinema, filosofia, design, arte, biografias, história, arquitetura, ilustradores etc.”

7 Admirável Novo Mundo

“Minha fonte de inspiração é diversa: dos personagens do cinema e animes aos músicos dos anos 1960, passando por pessoas que vejo na rua. Scott Walker, Tom Jobim, Câmara Cascudo, Millôr, Kobe Bryant, Elia Kazan e Paolo Sorrentino são algumas das pessoas que admiro.”

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Negócios | AVIAÇÃO EXECUTIVA

O CÉU É

O setor da aviação executiva cresce exponencialmente e prevê alta mesmo com estrutura deficitária

Texto Fernando Pedroso

OLIMITE

O jato executivo Honda HA-420 HondaJet

Empresários em visita às filiais, executivos rumo a reuniões, fazendeiros que precisam monitorar suas terras, artistas cumprindo agendas de shows. O que eles têm em comum?

Em um país de dimensões continentais como o Brasil, todos precisam voar eventualmente – ainda mais com a economia dando sinais de melhora – e, não raro, recorrem aos serviços de táxi aéreo, locações ou até mesmo frota própria.

Não à toa, o setor de aviação executiva está em amplo

crescimento no País e já comemora números superiores ao da crise mundial ocasionada pela Covid-19. Segundo a Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral), 2022 fechou com 374 mil movimentações de aeronaves, contra 350,2 mil no ano anterior. Em 2020, no ápice da pandemia, foram apenas 281,3 mil e, um ano antes, 337,9 mil. “O mercado de fretamentos e uso compartilhado de aeronaves (aviões e helicópteros) vem passando por um crescimento

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Fotos divulgação
O Falcon10X, da Dassault, é sinônimo de conforto e sofisticação
“O mercado de fretamentos e uso compartilhado de aeronaves vem passando por um crescimento exponencial”

exponencial e segue em ascensão”, diz Mike Alexander, consultor de aviação da Futura Assessoria Técnica. Segundo ele, mercados como Estados Unidos, Canadá, alguns Emirados, Ásia e Oriente Médio também vivem em franca expansão. “Já na Europa, devido aos conflitos, o crescimento é mais tímido”, explica.

As empresas de fretamento comemoram a boa fase. “Em 2022, a TAM Aviação Executiva registrou alta de 15% em voos fretados e 12% de faturamento a mais que no ano anterior. Para 2023 a expectativa é crescer pelo menos 10%”, explica Heron Nobre, diretor de Serviços Aéreos e FBO da TAM Aviação Executiva.

Com os resultados, surgem também os investimentos. A Líder Aviação, por exemplo, adicionou mais quatro aeronaves à sua frota recentemente. “São dois HondaJets, que se juntam ao outro da empresa, um turboélice e um helicóptero Airbus H145, conhecido por sua eficiência operacional e sua segurança, que, nessa versão, oferece

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Negócios |AVIAÇÃO EXECUTIVA
Interior do jato executivo da Boeing

A elegância do avião G800, da Gulfstream

mais conforto em voo”, complementa Bruna Assumpção, diretorasuperintendente da empresa.

SOBE, SOBE

Apesar de o serviço de aviação executiva brasileiro ser comparável ao de países do primeiro mundo, existem algumas particularidades. “Aqui não conseguimos reproduzir serviços como os da NetJets, do empresário Warren Buffet, porque o Brasil é mais centralizado. Nos Estados Unidos e na Europa, as grandes cidades estão mais espalhadas”, explica o consultor Mike Alexander.

O serviço permite que executivos comprem frações de aviões e paguem taxas mensais que contemplam traslados de duas horas. Como quase todos os aeroportos lá são movimentados, a

aeronave não fica ociosa e consegue transportar outro usuário em pouco tempo. “No Brasil, a distribuição é mais heterogênea. A grande cobertura é para as principais capitais no Sul, no Centro-Oeste, no Norte, no Nordeste e para o Distrito Federal. Os voos para a região amazônica e todas as fronteiras agrícolas do País

também são cada vez mais frequentes”, diz Mike. Ainda segundo ele, o agro brasileiro não estaria onde está se não fosse a aviação executiva. A falta de infraestrutura é um impeditivo para um avanço ainda maior. “O que mais precisamos é de aeródromos. Temos lugares com potencial para abrigar aviões, mas que não o

“Temos lugares com potencial para abrigar aviões, mas que não o fazem por falta de aeroportos”
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Negócios | AVIAÇÃO EXECUTIVA
Mike Alexander

NAS NUVENS

Segundo o consultor

Mike Alexander, a aposta da vez entre montadoras e fabricantes de aeronaves são os aperfeiçoamentos tecnológicos.

Veja os principais:

fazem por falta de aeroportos. Além da economia local, a aviação comercial regional poderia se desenvolver mais com aeroportos onde hoje não existem”, diz Mike. Em tempo: a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) tem atualmente 2.223 aeródromos particulares registrados e 533 públicos. Dessas pistas, somente cerca de 100 atendem à aviação comercial, enquanto a maior parte é destinada à executiva.

Aos poucos, o mercado tenta acompanhar novas demandas e se desenvolver, principalmente para atender usuários que viajam de olho no relógio. “Cada vez mais, os empresários usam aviões e helicópteros executivos como ferramenta de trabalho, levando profissionais, técnicos e gestores com mais rapidez a destinos que não são atendidos localmente por aeroportos comerciais”, diz Bruna, da Líder. Entre as melhorias da empresa estão a criação de um aplicativo próprio, em que o cliente pode fazer a cotação e realizar todo o processo de fretamento – da reserva ao pagamento. Já na Tam AE o usuário consegue realizar a cotação por telefone ou pelo site e viajar duas horas depois de concluir essa etapa.

A expectativa para os próximos anos, apesar dos desafios, é alta. “Acreditamos que o setor deve se manter aquecido, sobretudo no Brasil, em que as malhas comercial e regional não conseguem atender a toda a demanda”, confirma Nobre, da Tam. A ver…

• Aumento de eficiência operacional das aeronaves com o uso de motores mais econômicos, com combustíveis alternativos (SAF), menos poluentes, devido à menor emissão de CO2. Como resultado, economia de escala e redução na dependência de querosene derivado de petróleo.

• Uso de compostos carbônicos, grafite e novas ligas metálicas nas estruturas das aeronaves para torná-las mais resistentes, eficazes e duradouras.

• Aeronaves executivas de ultralongo curso, capazes de atingir um raio de ação equivalente a 7.500 milhas náuticas ((15 a 17h ininterruptas de voo). Podem circunavegar o mundo em qualquer direção com, no máximo, uma escala. Dassault, Gulfstream, Bombardier, Boeing, Embraer e Airbus já oferecem essa opção, e os passageiros agradecem: ganham mais conforto e agilidade na interligação dos continentes.

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Negócios | AVIAÇÃO EXECUTIVA
Fotos Alberto Pinto e Luc Boegly/Jet Aviation e divulgação
O helicóptero Airbus H145, novidade do portfólio da Líder

Negócios | FAZENDAS VERTICAIS

Verduras nas Alturas

Apesar de existirem há pouco tempo no Brasil, as fazendas verticais mostram por que podem ser o futuro da agricultura por aqui, onde teoricamente não faltam terras para o plantio

Você entra em uma fazenda vertical e a sensação é de estar em um laboratório de ciências, só que sem microscópios. O ar-condicionado deixa o clima frio. Os funcionários vestem aventais e luvas e, se você for um visitante, também terá que usar avental e protetores descartáveis de calçados. Você ainda será orientado a não tocar nas plantas, em hipótese alguma.

O cuidado excessivo não é à toa: uma fazenda vertical é um ambiente isolado, onde não são utilizados agrotóxicos para combater possíveis plantas invasoras, insetos, fungos ou bactérias. E, mesmo sem saber, qualquer pessoa pode carregar algum pulgão que se prendeu à roupa enquanto ela regava as plantas de casa ou atravessava a praça do bairro. “Se esse

inseto cair sobre a alface o dano será irreversível”, explica Diego Gomes, fundador da fazenda vertical 100% Livre. “Teríamos que eliminar toda a produção daquele ambiente.” Diego passou por isso em 2021, quando estava prestes a realizar a primeira colheita da 100% Livre. “Um colaborador trouxe um bichinho desses e perdemos toda a plantação”, lembra. A regeneração deu certo. A 100% Livre, que ganhou esse nome em referência à isenção de agrotóxicos, é hoje uma das fazendas verticais pioneiras do País. Suas 33 torres funcionam 24 horas por dia para abastecer com alface hidropônica e temperos alguns dos principais supermercados de São Paulo. Diego teve a ideia de empreender na área após o Fotos

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Dan Magatti, Rodrigo Paiva e divulgação

nascimento de seu primeiro filho. “Minha esposa queria que ele comesse orgânicos, mas eu achava esses vegetais caros e com uma aparência esquisita”, conta. Foi quando ele assistiu a uma reportagem de um canal de televisão japonês sobre os benefícios das fazendas verticais. Entendeu que o negócio também poderia ser promissor no Brasil e juntou o útil ao agradável: achou um espaço em sua agenda de executivo para virar “produtor rural” no coração da maior metrópole brasileira. “Foram três anos de testes em laboratórios até colocarmos em prática a nossa produção”, recorda.

Localizada em um galpão no Ipiranga, a 100% Livre é uma empresa que, de fato, promove o futuro da agricultura no Brasil. Em um espaço de 300 metros quadrados por 14 metros de altura, as hortaliças crescem em um ambiente controlado: temperatura, umidade, nutrição e iluminação são monitoradas de forma automática. O cultivo desses alimentos é feito em largas bandejas, empilhadas em mais de dez andares e costuradas por canos de irrigação que levam água e uma solução com os nutrientes essenciais para o desenvolvimento dos vegetais. Espumas fenólicas biodegradáveis são os substratos utilizados para fixar e dar suporte mecânico para o crescimento dessas plantas.

QUANTO MAIS PARA CIMA, MELHOR

Hoje, as fazendas verticais representam um conceito moderno de agricultura, que utiliza os bolsões de grandes cidades para cultivar alimentos que serão consumidos a poucos quilômetros dali. Embora o sistema tenha ganhado evidência há alguns anos, sua invenção aconteceu na década de 1990. Os agricultores queriam ampliar a produção utilizando o menor espaço possível, uma busca secular do trabalho no campo.

Negócios | FAZENDAS VERTICAIS 103
2 1-2-3 – O “laboratório”e alguns dos vegetais cultivados pela 100% Livre, fazenda vertical pioneira em São Paulo

No entanto, a retomada da agricultura vertical chega em um momento crucial para a humanidade: garantir a segurança alimentar de 8 bilhões de pessoas que habitam o planeta.

Esse recorde só reforça a necessidade de recorrermos a novas tecnologias para ampliar a produção de folhas e grãos, que são a base da alimentação em muitos países e, em razão das mudanças climáticas, tiveram seu abastecimento comprometido. Além disso, o próprio agronegócio precisa rever seus processos para diminuir as emissões de gases de efeito estufa.

A Pink Farms é outro exemplo de que as mudanças de comportamento já fincaram suas raízes no Brasil. Curiosamente, a fazenda fica em São Paulo, ao lado do CEAGESP, o maior posto de abastecimento de alimentos do País. Uma fazenda vertical deve estar estrategicamente localizada para reduzir gastos e emissões com transportes, além do desperdício. “Mais de 40% das hortaliças são perdidas entre a colheita e o consumo”, diz Rafael Pereira, sócio da Pink Farms.

Rafael, que é engenheiro elétrico com ênfase em automação e controle, escolheu esse nome por conta das luz usada migrar para uma agricultura livre da terra?” Nos Estados Unidos, onde empresas do ramo recebem investimentos multimilionários, essas fazendas já permitem a produção de alimentos em regiões em que eles jamais sobreviveriam sendo cultivados no solo. “No Brasil, as fazendas verticais poderiam contornar problemas como a dificuldade de produção de alguns vegetais em lugares quentes, aumentando a diversidade alimentar no País e reduzindo os desertos alimentares”, aposta Rafael.

A retomada da agricultura vertical chega em um momento crucial para a humanidade: garantir a segurança alimentar de 8 bilhões de pessoas

nas plantações. Formada pela mistura dos LEDs vermelhos e azuis, ela vira um tom de roxo ou rosa-choque aos nossos olhos. “São essas cores que as plantas absorvem para a fotossíntese”, explica ele. A Pink Farms distribui seus diversos tipos de alface para supermercados (75%) e restaurantes (25%). Eles também investem nos microverdes, que são plantas jovens de vegetais comuns, como coentro e alho-poró – tendência cada vez mais incorporada por chefs. “A energia da semente está toda ali”, explica Rafael. Dependendo do vegetal, um microverde tem 40% a mais de sabor do que a mesma planta adulta.

Inevitavelmente, os consumidores das fazendas verticais são conquistados pelo paladar. As verduras chegam fresquinhas para o consumo. Em nenhum momento elas tiveram contato direto com o ser humano (a colheita é feita com luvas), são crocantes e seus prazos de validade são estendidos.

Em países da Europa e da Ásia já se discute quais os limites da agricultura vertical. “Será que algum dia poderemos

E se o fator energia era um problema nas produções indoor até pouco tempo, hoje a economia trazida pelas lâmpadas de LED e a possibilidade de compra de energia limpa (a partir do mercado livre) já são alternativas para baratear a produção e deixar esses sistemas ainda mais sustentáveis. Sem contar que, em um ambiente controlado, é possível programar o fotoperíodo: nos horários em que a energia é mais cara, as luzes podem ser apagadas para simular a noite. Em novembro, a 100% Livre começou a produzir lúpulo dessa forma, algo que poderá resultar em uma parceria com uma grande cervejaria. Neste ano eles também deverão inaugurar um galpão em Osasco e ampliar o portfólio com o cultivo de couve-manteiga e morango. “Outra prioridade é entrarmos cada vez mais em supermercados populares a preços competitivos para mostrar que a alimentação saudável não deve ser uma exclusividade das classes A e B”, diz Diego.

A Pink Farms também trabalha na construção de uma nova unidade, na cidade paulista de Jundiaí. Com isso aumentarão seus números de produção e expandirão o catálogo com beterraba e acelga. A nova instalação também vai inaugurar um novo capítulo tecnológico no Brasil ao automatizar a colheita. Mais alguns indícios de que, apesar do pouco tempo no País, as fazendas verticais têm um caminho consistente pela frente.

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O FUTURO É VERDE – E VERTICAL

Conheça números, curiosidades e ideias de algumas fazendas do gênero mundo afora

Aerofarms AgX e Bustanica (Dubai e Abu Dhabi) Conhecida por seus arranhacéus reluzentes, Dubai começa a quebrar novos recordes com suas fazendas verticais. A Aerofarms AgX (aerofarms.com) tem mais de 15 mil metros quadrados onde planta e desenvolve pesquisas para enfrentar problemas de cultivo em climas áridos. Já a Bustanica (bustanica.ae), a maior fazenda vertical do mundo, tem instalações capazes de produzir mais de 1.000 toneladas de folhas verdes por ano.

UpWard Farms (Pensilvânia, EUA)

Em busca de um modelo de negócio mais coerente, a UPWard Farms, uma das gigantes desse universo, introduziu no mercado uma embalagem resselável como uma opção mais sustentável. Além de garantir vida útil mais prolongada aos seus produtos, elas são feitas de materiais reciclados, gerando uma redução de 38% de plástico. upwardfarms.com

Planet Farms (Milão, Itália)

Os irmãos Cerea, chefs do Da Vittorio, na comuna de Brusaporto, se encantaram com o manjericão oferecido pela Planet Farms a ponto de abrir uma pequena filial da fazenda em seu próprio restaurante. Seis diferentes tipos da erva são cultivados para dar mais sabor aos pratos. planetfarms.ag

Spread (Kyoto, Japão)

5 – O dia a dia

A agricultura vertical no Japão não é novidade há tempos. A Spread, uma das muitas fazendas existentes no país, já distribui alimentos frescos, como alface e morango, para mais de 4.500 supermercados locais. Além disso, eles garantem que utilizam apenas 1% da água que é gasta na agricultura convencional. spread.co.jp

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4 – Detalhes das plantações da Pink Farms: o nome foi inspirado na cor da luz usada no cultivo
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na Bustanica, em Dubai, a maior fazenda vertical do mundo

ERRANTE NAVEGANTE: ...CHAMANDO... TERRA

O aquecimento global já produziu efeitos irreversíveis e está diretamente relacionado ao aumento da frequência de eventos climáticos extremos. Enquanto a indústria tenta mudar o cenário em larga escala, selecionamos iniciativas, personagens, produtos, serviços e dicas de como fazer nossa parte

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ESPECIAL | SUSTENTABILIDADE

Toda parte importa

Unindo filantropia e tecnologia, a Infineat é uma filantech que gerencia o desperdício de alimentos a partir de um modelo escalável e eficiente

Nem todo mundo sabe o que é uma filantech, muito menos sua relevância no mundo hoje. Quem explica, portanto, é Alexandre Vasserman, fundador da Infineat, empresa do setor que está prestes a gerar uma mudança social sem precedentes por aqui. “O conceito nasceu para mostrar que a filantropia, aliada à tecnologia, pode escalar soluções e resolver problemas – e, portanto, deve ser remunerada por isso”, diz ele. Para quem ainda não conhece, a Infineat é uma gestora de desperdício de alimento que facilita a logística de itens bons para consumo, mas que acabam descartados – hoje, são doados para instituições em comunidades desassistidas.

A Infineat, que já oferece suas soluções para redes como Unilever, Coop e Grupo St. Marche, está no caminho para se tornar a principal plataforma de redirecionamento de alimentos. Atualmente, são duas formas de financiamento: capital social privado filantrópico, envolvendo pessoas físicas e jurídicas, e investimento de empresas parceiras, que pagam pelo serviço. Assim como as operações, as precificações são personalizadas de acordo com o tamanho e a dimensão de cada cliente.

Fundada em 2021, a startup cria resoluções que contemplam a jornada da comida a partir do momento em que ela foi considerada imprópria para a venda e iria para o lixo. A base do sistema é uma plataforma desenvolvida com a empresa de assinatura digital Clicksign. Funciona como um aplicativo, que permite o controle das operações diárias entre as marcas parceiras e as instituições que coletam os produtos.

E, para entender o impacto social gerado pelas doações, o monitoramento é diário. “Coletamos dados detalhados, como categoria e tipo de produto, referentes aos alimentos redirecionados”, explica o CEO. A Infineat também analisa o valor de mercado dos insumos salvos do descarte: a ideia é fazer uma média do custo que as instituições teriam se não tivessem recebido os alimentos.

Em estágio “pré-revenue”, a startup enfrenta desafios de escala como qualquer negócio. Mas Alexandre garante que o modelo de operação foi validado, assim como sua necessidade para resolver o desperdício em todo o setor alimentício. E ele traz novidades: “Estamos expandindo nossa operação no Brasil e, em breve, iremos dobrá-la”, promete.

A Infineat ainda permite que as parceiras acessem informações sobre quais e quantos itens estão sendo redirecionados, e para onde. “Rastreamos a cadeia toda, incluindo o destino do que não pode ser utilizado. Antes as empresas só sabiam o valor bruto do que estava sendo jogado nos lixões e aterros.

A startup cria resoluções que contemplam a jornada do alimento a partir do momento em que ele foi considerado impróprio para a venda e iria para o lixo

São dados valiosos, que ajudarão os responsáveis a tomarem melhores decisões de compra, estoque e afins”, explica. Com a importância cada vez maior do ESG para o mercado corporativo, os clientes entenderão os impactos das doações nos espectros social e ambiental.

O futuro é animador. Depois do fechamento anual, Alexandre comprovou que não houve nenhuma incidência de doenças, contaminações ou outros problemas relacionados aos itens direcionados. “Isso demonstra o quanto batalhamos para entregar mais e melhor. Fazer com que os alimentos cheguem a quem precisa com toda dignidade possível”, finaliza.

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Retrato divulgação
ESPECIAL | SUSTENTABILIDADE 81
Alexandre Vasserman e o time da Infineat | @infineatbrasil

Todo cuidado é pouco

Conheça ideias sustentáveis de clean beauty , viagens e negócios que estão no nosso radar

VALE SABER

Grande parte do desperdício de alimentos acaba em aterros, gerando 8 a 10% das emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo. Globalmente, quase 2,5 bilhões de toneladas de comida são desperdiçadas anualmente, o que representa 40% dos itens cultivados em todo o mundo. Dá para acreditar? Os dados são de um estudo de 2021 da WWF e da Tesco.

DE ACORDO COM UM ESTUDO RECENTE DA HILTON E DA AMERICAN EXPRESS BUSINESS TRAVEL, HÁ UMA FORTE DEMANDA POR REUNIÕES NEUTRAS EM CARBONO E RELATÓRIOS ESG GLOBAIS, MAS A MAIORIA DOS ENTREVISTADOS (86%) TINHA POUCO OU NENHUM CONHECIMENTO SOBRE OS PROGRAMAS DE SUSTENTABILIDADE DOS HOTÉIS.

(TRAVELLER TRENDS 2023 - HILTON)

ESQUEÇA A CASCA

Mais de 30% dos alimentos orgânicos são descartados desde produção até a gôndola do mercado. O principal motivo? Estão “fora do padrão”. Sabe aquela cenoura com duas perninhas? Então, a Diferente resgata produtos como esses em parceria com produtores de orgânicos certificados e consegue preços acessíveis – até 40% mais baratos – para entregar na sua casa. E não é xepa, são apenas vegetais rejeitados por questões estéticas. Você escolhe o tamanho da cesta, a frequência com que quer recebê-la e as porções de frutas, legumes, verduras e temperos que deseja. Os itens são selecionados de acordo com a sazonalidade e a colheita da semana. @mercado.diferente

METAMORFOSE

Estamos de olho na HumiBox , empresa que permite a compostagem de até 600 quilos de resíduos por dia. Feitos de materiais reciclados, os cubos usam um sistema de drenagem e captação do adubo líquido. No lugar das minhocas entram bactérias que conseguem transformar uma maior variedade de resíduos – com a temperatura acima de 60o C, elas processam restos de carne, cítricos e alimentos cozidos. E como o líquido não vai para o solo, não há necessidade de licenciamento ambiental para a instalação. O composto, além de reduzir as emissões de carbono, é reutilizado em jardins ou hortas. Com clientes como a Natura, além de escolas e hospitais, a HumiBox ficou entre os finalistas do Brasil Design Award 2022. @humibox

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OÁSIS

O Jardim do Vento está abrigado em meio à vegetação nativa em uma das pontas da lindíssima praia de Icaraizinho, point de kitesurfe no Ceará. Mas, para além do cenário, o cuidado com os detalhes (sustentáveis) chama a atenção: da água oferecida em garrafas de vidro reutilizadas à composteira, passando pelo aquecimento solar, tudo tem um porquê. Ah, o cardápio, vegetariano, é servido em mesinhas – literalmente – pé na areia. E o grande destaque é a adoção de biodigestores, que aceleram o processo de decomposição de matéria orgânica. @jardimdovento

LABORATÓRIO DA NATUREZA

Quem se hospeda na Caiman, no Pantanal, hoje, tem 99% de chance de ficar cara a cara com uma onça-pintada. Isso porque o refúgio ecológico foi pioneiro em acreditar no turismo ecológico como ferramenta em prol da biodiversidade em uma região, até então, voltada exclusivamente para o gado. Há mais de dez anos, a fazenda serve de base para a ONG Onçafari, criada por um ex-piloto que se apaixonou por projetos de conservação na África e dedicou seus dias a estudar o maior felino das Américas em seu habitat. De tão séria e admirável, o Onçafari se expandiu e hoje tem frentes no Cerrado e na Amazônia que, inclusive, já lutam pela preservação de outras espécies. @oncafari @caimanpantanal

TOP 5 MAIS BUSCADOS EM VIAGENS SUSTENTÁVEIS

1. Estações de carregamento de carros elétricos

2. Energia solar

3. Reciclagem

4. Eliminação do uso do plástico

5. Iluminação de LED (2023 Traveler Value Index, do Expedia Group)

COMO SER UM VIAJANTE MAIS ECOFRIENDLY

• Informe-se sobre como se livrar de resíduos recicláveis e orgânicos e respeite as regras de descarte

• Economize água e energia elétrica, mesmo sabendo que não é você quem paga a conta

• Viaje leve. Quanto menos bagagem, menor o rastro de carbono e o gasto de combustível

• Alugue acessórios e trajes especiais ao invés de comprar itens que vai usar uma única vez

• Quando for comer ou fazer compras, privilegie a cultura local, sazonal e artesanal

• Sempre que possível, troque o carro por uma caminhada ou uma volta de bike. Ah, o vento no rosto...

• Deixe as conchinhas na praia. Elas ajudam a manter a saúde dos oceanos

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O que torna um produto “limpo”? Ainda não há consenso ou padrão, mas a clean beauty se baseia na ideia de usar apenas o que é seguro para nós e para o meio ambiente. Isso significa priorizar ingredientes naturais e orgânicos. Na prática, pense em produtos livres de sulfatos, silicone, parabenos e corantes — e sem testes em animais, embora nem sempre veganos. Também são frequentes as embalagens biodegradáveis, recicláveis, reutilizáveis ou zero plástico.

MANIA DE VOCÊ

A beautytech Simple Organic usa óleo de copaíba e rosa mosqueta, entre outros ingredientes, para criar produtos que atrelam tecnologia e alta performance. O Sérum Facial, um dos favoritos, tem alto poder de nutrição.

HIGH-END

Referência em clean beauty no mundo, a Drunk Elephant se concentra em fórmulas que a pele reconhece. Experimente o kit para cabelos, com spray térmico antifrizz. A marca foi incorporada pela gigante Shiseido e está à venda no Brasil na Sephora.

LIVRE E LEVE

Para além da multifuncionalidade, as fórmulas da Hendriks utilizam ingredientes 100% naturais e botânicos –adoramos os produtos para barba. Para homens que se importam!

SEM FRONTEIRAS

A Care Natural Beauty desenvolve suas linhas com biotecnologia e suas criações podem ser, inclusive, usadas por pacientes com câncer, que têm uma série de restrições. O Eye Care, um dos best-sellers , reduz bolsas e olheiras.

XÔ, PLÁSTICO!

A B.O.B, sigla para Bars Over Bottles, aposta em fórmulas sólidas.Vale testar o desodorante em barra intensivo, com uma proteção maior.

IMERSÃO

Pré e probióticos compõem os produtos da Quintal , caso da goma esfoliante. O prébiótico restaura a microbiota, enquanto o extrato de Abeto protege a pele contra microrganismos nocivos.

VOCÊ LÊ O RÓTULO?

Muitos não têm esse hábito, mas conferir as letras miúdas é um grande passo para uma vida mais saudável – e sustentável. Algumas substâncias podem até ser seguras para o ser humano, mas prejudicam a natureza quando eliminadas no esgoto ou utilizadas em mares e rios. A Limpp é a primeira plataforma independente para pesquisa de ingredientes presentes em cosméticos no Brasil. Por meio dela você consegue entender mais sobre a função, o potencial alergênico, os efeitos na saúde e no meio ambiente de cada item utilizado na fórmula. limpp.com.vc

Muitas camadas

Os insights de Fernanda Albertoni, curadora de tecidos sustentáveis e biodegradáveis, que morou 20 anos entre Estados Unidos e Europa

Carbono Uomo

É mais fácil pensar em roupas sustentáveis para o dia a dia, mas e para esporte e underwear?

Fernanda Albertoni

Eu destacaria dois tecidos de alta durabilidade. A poliamida biodegradável foi desenvolvida para se decompor na natureza em três anos. Bactérias do solo e do ambiente se alimentam da fibra. É confortável, fácil de lavar e tem ótima absorção de umidade. Já o modal, grande aposta do futuro, é fabricado a partir da casca de madeira, de origem renovável e livre de solventes nocivos. A Frutoze e a Insider oferecem produtos com esses materiais.

Carbono Uomo

Qual o custo-benefício em adquirir peças sustentáveis. O que comprar para durar mais?

Fernanda Albertoni

É importante olhar a composição das roupas. Procure escolher peças de algodão, linho, cânhamo, modal e tencel, que são fibras mais resistentes e de boa durabilidade. Atente-se à forma de lavagem. Pergunte-se: consigo manter essa peça? E, claro, verifique se o tecido é macio e confortável.

Carbono Uomo

Como cuidar das peças de maneira sustentável?

Fernanda Albertoni

Para começar, a água fria diminui o desgaste dos tecidos. E, além do sabão de coco, hoje temos muitas marcas sustentáveis – a Positiva, a Biowash e a YVY são exemplos. É possível também usar vinagre de álcool no lugar do amaciante, já que não é poluente e não tem fragrâncias artificiais. Além disso, é antibactericida e ajuda a prevenir que as roupas desbotem. Coloque 50 ml para roupas e 100 ml para itens de cama, mesa e banho na máquina de lavar.

Carbono Uomo

E as notícias de lixões clandestinos com montanhas de roupas e resíduos têxteis?

Fernanda Albertoni

O descarte adequado é essencial se a doação não for uma opção: os resíduos têxteis representam 5,6% de tudo o que é descartado por ano no Brasil – quase 5 milhões de toneladas. O projeto Recicla Jeans, da ONG Florescer, aproveita o material para criar desde novas roupas a brinquedos. A Renner EcoEstilo tem pontos de coleta para peças que você não utiliza mais. E o C&A Movimento ReCiclo recebe roupas rasgadas ou em bom estado.

85 Retrato Leo Eloy
ESPECIAL | SUSTENTABILIDADE

O dever é nosso

Conversamos com Isabela Chusid, fundadora da Linus, a sandália de PVC ecológico 100% nacional e ultraconfortável que virou hit

Carbono Uomo

Quando falamos de moda sustentável, em especial de calçados, ainda pensamos em produtos veganos. Qual o próximo passo?

Isabela Chusid

É importante começar ressaltando que um produto vegano não é, necessariamente, sustentável. Um exemplo: um item feito 100% de petróleo é vegano, mas não sustentável, dada a origem da sua matéria-prima. Por essa razão, ao invés de um primeiro passo, enxergo a necessidade de alguns passos a serem dados juntos. O consumidor precisa mudar seu comportamento e começar a entender o caminho que um produto faz para chegar até suas mãos e, ainda, para onde vai depois. Já a cadeia produtiva tem a obrigação de ser mais transparente, explicando detalhadamente o porquê daquela escolha ser sustentável. Também é importante que os calçados e outros itens sejam pensados para serem circulares. Não existe jogar fora. Um sapato deve ser concebido levando em conta o seu pós-consumo. A própria Linus, para manter sua reciclabilidade em 100%, não tem fivela e nenhum outro componente – é totalmente monomaterial. Há também as evoluções tecnológicas que já estão sendo empregadas no universo calçadista, como a impressão 3D, que, cada vez mais, será feita com matérias-primas com alto percentual de fontes renováveis ou reaproveitadas.

Carbono Uomo

Segundo o mais recente relatório de tendências do Instagram, a Gen Z pretende fazer moda com as próprias mãos em 2023. Ao mesmo tempo, a

chinesa Shein chegou ao Brasil causando filas. Como você vê esses movimentos antagônicos?

Isabela Chusid

Apesar de a Gen Z ter uma consciência ambiental maior que as outras gerações, existem dois aspectos dela que levam a fenômenos como a fila da Shein. A primeira é a questão financeira. Infelizmente, produtos sustentáveis são mais custosos e, apesar de uma parcela da Gen Z estar disposta a pagar, ela não tem poder aquisitivo para isso, dificultando a priorização dessas peças. O outro ponto está relacionado com a questão estética, inspiracional e de lifestyle dessa geração: ela se sente mais representada pelas empresas de fast fashion, que estão sempre em linha com a influência das redes sociais.

Carbono Uomo

O que vislumbra para um futuro próximo?

Isabela Chusid

A maior conquista que podemos ter como sociedade é a consciência ambiental em massa, superando barreiras sociais e econômicas. Precisamos internalizar o conceito de corresponsabilidade, no qual cada um entende a sua parcela de responsabilidade e atua de acordo. Governos dando incentivos e suporte a empresas ambientalmente mais amigáveis; indústrias se esforçando para, de fato, diminuir o impacto ambiental; e, claro, as pessoas fazendo o seu papel de cobrar iniciativas desses dois e de se questionar na hora de consumir. Com tudo isso instaurado, teremos hábitos sustentáveis. Será algo tão rotineiro quanto escovar os dentes.

ESPECIAL | SUSTENTABILIDADE
Fotos
Leo Martins e divulgação
“A maior conquista que podemos ter é a consciência ambiental em massa. Precisamos internalizar o conceito de corresponsabilidade, no qual cada um entende a sua parcela de responsabilidade e atua de acordo”
Isabela Chusid | @use.linus
ESPECIAL | SUSTENTABILIDADE

DEU ÁGUA

Fáceis de cultivar, versáteis e pró-clima, as algas marinhas estarão presentes no futuro de várias indústrias. Elas precisam apenas de luz, CO2 e água para crescerem e são cada vez mais usadas na criação de fibras e materiais de baixo impacto. A seguir, mostramos ideias inspiradas nelas, além de outros caminhos em torno da toda poderosa água

PROTEÇÃO SOLAR

Cria de Maya Gabeira, recordista mundial da maior onda já surfada por uma mulher, a Blue Aya é uma linha de protetores solares à base de algas marinhas. Os produtos também levam ativos brasileiros, como água de coco, açaí, urucum e extrato de café verde. Como era de se esperar, a marca tem opções para quem vai ficar no mar ou na piscina por bastante tempo. Com FPS 50, o Alta Performance é feito com cera de abelha, que ajuda a mantê-lo na pele por mais tempo. @blueaya.co

REÚSO DE SARGAÇO

FIQUE DE OLHO

A WGSN aponta o “musgo-do-mar” como uma das principais tendências para 2023. A hashtag #SeaMoss já alcançou mais de 600 milhões de visualizações no TikTok. O termo é generalista, mas descreve as milhares de espécies de algas vermelhas que crescem ao redor do globo. O interesse é impulsionado pela multiplicidade de benefícios de beleza e bem-estar holísticos que elas podem oferecer.

A infestação de sargaço, um problema para os habitantes da costa de Quintana Roo, no México, passou a ter utilidade no setor da construção civil. A empresa Blue-Green, de Puerto Morelos, usa as algas típicas de regiões tropicais como biomaterial para a construção de blocos de adobe. A mistura foi submetida a testes de resistência e provou ser capaz de aguentar fortes terremotos e ventos de furacões. O material está se tornando popular porque os custos são até 40% menores do que o padrão. blue-green.com.mx

ALGA IS THE NEW BLACK

Você sabia que, provavelmente, as peças pretas do seu guarda-roupa contêm carbon black — um pigmento derivado do petróleo? Para chegar ao tom de um jeito menos prejudicial ao planeta, a Vollebak reinventou a forma como a cor é feita usando algas negras. Elas crescem em lagoas com luz solar e dióxido de carbono. E vão além de gerar oxigênio: ao se tornar parte de um moletom, por exemplo, capturam e armazenam o carbono usado como combustível pelos próximos 100 anos. @vollebak

88 ESPECIAL | SUSTENTABILIDADE Fotos divulgação

SOLADOS ALTERNATIVOS

O ator Jason Momoa (aka Aquaman) levou sua luta contra a poluição para a indústria de calçados. Em parceria com a marca de escalada So iLL, ele criou uma linha exclusiva de produtos sustentáveis para atividades ao ar livre. Os tênis têm uma palmilha feita com 30% de resina Bloom, alternativa às espumas de EVA sintéticas. A tecnologia remove a proliferação de algas para reduzir a poluição da água, criar materiais ecológicos, gerar água limpa e manter os ecossistemas saudáveis. @soill

CURIOSIDADE: ORGANISMOS AQUÁTICOS

FOTOSSINTETIZANTES PRODUZEM CERCA DE 70%

DO OXIGÊNIO EM NOSSA ATMOSFERA, MAIS DO QUE

TODAS AS FLORESTAS JUNTAS. ISSO SIGNIFICA QUE

AS ALGAS NÃO SÃO APENAS MENOS PREJUDICIAIS

PARA O CLIMA, MAS TAMBÉM POTENCIALMENTE POSITIVAS. (BLOOMBERG)

FIQUE DE OLHO

O Pinterest Predicts mandou avisar: em 2023, as pessoas levarão a conservação da água a novos patamares. E isso não se aplica apenas a ambientes atingidos pela seca: Boomers e Gen X em todo o mundo investirão na captação de água da chuva, em barris de chuva e no paisagismo tolerante à seca para formas naturais de tornar suas casas mais sustentáveis.

PLANTAS PARA (NÃO) REGAR

PATA-DE-ELEFANTE

ESPADA-DE-SÃO-JORGE FICUS ELÁSTICA ZAMIOCULCA

QUE ONDA!

Se o mar – e todo o lifestyle que gira em torno dele – é a inspiração da Vilebrequin desde a sua fundação, é hora de voltar as atenções para a natureza e tudo o que envolve uma cadeia de produção com responsabilidades social e ambiental. Entre os objetivos deste ano, está a meta de ter 80% das coleções feitas com materiais reciclados ou recicláveis. Outra iniciativa que merece destaque é a Te Mana O Te Moana, campanha que destina parte das vendas para uma ONG na Polinésia Francesa em prol do mundo marinho, especialmente das tartarugas. Cheias de bossa, as peças que fazem parte dessa ação levam uma estampa fofa de... Tartaruga, claro. vilebrequin.com

89 ESPECIAL | SUSTENTABILIDADE

À PROVA DO TEMPO

Os SUVs viram regra no mercado de luxo e mudam, inclusive, a estratégia das marcas esportivas

Se você ainda não tem um SUV na garagem, há uma grande chance de este cenário mudar. Este tipo de carroceria virou regra entre as marcas de luxo e até mesmo aquelas focadas nos esportivos vêm alterando a estratégia para aderir ao que é dito pela moda automotiva.

A mudança não é recente. Em 2002, a Porsche lançou o Cayenne, um utilitário esportivo de porte grande, responsável por gerar certa estranheza

nos fãs da marca, que, até então, era focada em cupês e conversíveis esportivos. “A Porsche vinha fazendo ajustes para melhorar seus números há alguns anos. Em 2002, ainda com problemas de caixa – mesmo vendendo 23 mil veículos por ano –, percebeu-se que um portfólio composto de apenas dois veículos esportivos não seria o suficiente para trazer um futuro seguro”, conta Leandro Rodrigues Sabes, head de RP & Comunicação da

marca no Brasil. Foi daí que veio a necessidade de encomendar um terceiro Porsche, e um SUV foi o escolhido.

Puristas da montadora torceram o nariz na época, mas os números são relevantes: entre 2002 e 2022, mais de 1,2 milhão de Cayennes foram vendidos. “A expectativa inicial era comercializar 25 mil exemplares a cada ano, mas nos oito anos-modelo da primeira geração esse número foi superado e chegamos a quase 35 mil veículos”,

Motor | SUV
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Ferrari Purosangue
Fotos divulgação

diz o executivo. Ao que tudo indica, o Cayenne criou a base econômica para o sucesso sustentável da Porsche sem comprometer a esportividade, valor fundamental para a marca. E isso não é tudo. “O Cayenne abriu as portas para muitos novos mercados e deu uma contribuição significativa para a internacionalização da nossa rede comercial”, complementa Sabes.

No Brasil, o Macan, outro SUV da companhia, lançado em 2014, e o Cayenne representaram 63% das vendas em 2022. No acumulado global, esses modelos somaram 59%. Os planos agora são de projetar um terceiro utilitário esportivo, que deve ficar acima do Cayenne. Com estreia prevista para 2027, o carro de motor elétrico promete ter autonomia superior a 700 km e um estilo mais esportivo do que os outros exemplos do gênero.

A ORIGEM

O pioneirismo na aposta em SUVs não pode ser creditado à Porsche. Em 1997, a Mercedes-Benz foi a primeira marca de luxo a lançar um carro dessa categoria: o atual GLE – antigo Classe M. “O foco inicial era o mercado estadunidense, até hoje o maior

consumidor desse tipo de produto. Ao longo dos anos, os SUVs evoluíram e se adaptaram a diferentes segmentos e novos clientes passaram a considerá-los, principalmente por causa do espaço interno, um veículo de uso versátil e com posição de dirigir mais elevada”, diz Evandro Bastos, head de Produto Automóveis da Mercedes-Benz Cars & Vans Brasil.

Nessa época, o grande obstáculo das montadoras era mudar a ideia de que SUVs eram desconfortáveis. A própria Mercedes tem o Classe G, um jipão off-road, desde os anos 1970. A Land Rover, nessa mesma fase, lançou o Range Rover, uma versão topo de linha dos seus fora de estrada, mas que ainda guardava mais apelo robusto do que de luxo. “Essas mudanças trouxeram novos consumidores, como as mulheres, que se sentem seguras ao conduzir veículos mais ‘elevados’ com o conforto de um sedan e fácil de rodar nas cidades”, diz Bastos, da Mercedes, sobre a opção que se tornou uma espécie de “carro de família”, pronto para diferentes papéis. Até representantes tradicionais de sedãs e cupês luxuosos, como a Rolls Royce, com seu Cullinan, e a Bentley, com o Bentayga, são exemplos.

A tendência fisgou, inclusive, marcas de esportivos. A Lamborghini puxou a fila com o LM002 nos anos 1980, que, assim como o Mercedes Classe G, era um veículo para o uso off-road e militar, não de luxo ou esportivo.

O mercado cobrou e a italiana resolveu lançar o Urus, com tudo o que se espera de um SUV: quatro portas, espaço para quatro ocupantes e um porta-malas de respeito com 616 litros de capacidade. E, claro, o resto do pacote que um cliente Lamborghini espera: motor V8 de 666 cavalos de potência, com uma aceleração de 0 a 100 km/h em 3,3 segundos – a velocidade máxima é de 306 km/h.

Um caso curioso é o da Ferrari. A tradicionalíssima empresa italiana lançou o Purosangue, que é, claramente, um SUV, porém não ouse dizer isso em voz alta nas ruas de Maranello. A marca nega que seu utilitário esportivo seja um… utilitário esportivo. Mas, vamos aos fatos. O Purosangue tem espaço e proporções de um SUV, tração nas quatro rodas, mas vem com um V12 de 725 cv de potência sob o capô. Faz de 0 a 100 km/h nos mesmos 3,3 segundos do Urus e chega a 310 km/h. Uma legítima Ferrari, de fato, mas é um SUV.

Motor | SUV 91
Porsche Cayenne Mercedes GLE

Ficção ou realidade?

O hábito de passar horas grudado nas telas pode se transformar em um vício, com direito a transtornos emocionais e físicos. Conheça mais sobre a nomofobia

Texto Humberto Tozze Ilustração Mona

Pescoço inclinado, cabeça em direção ao chão e olhos colados no smartphone. Os dedos já são tão ágeis que conhecem o caminho do teclado sem sequer precisar de atenção para ver o que está sendo digitado. Esses gestos já se tornaram habituais desde o momento em que acordamos até a hora em que vamos dormir.

Faz pouco mais de uma década desde que os celulares com recursos semelhantes aos de um computador se popularizaram mundo afora e transformaram definitivamente a maneira como nos comunicamos e vivemos. Um levantamento da empresa NordVPN mostrou que, ao longo de uma semana, o brasileiro passa 91 horas conectado.

O hábito digital foi se tornando tão forte que perdemos a noção de quando deixar o aparelho de lado. A mesma pesquisa revelou que, em média, um indivíduo começa as atividades on-line às 8h30 e desliga apenas às 22h30. Dos sete dias da semana, quatro seriam inteiramente dedicados ao mundo virtual. Se levado a cabo, isso quer dizer que passamos mais da metade de nossas vidas do lado de lá das telinhas.

Não seria exagerado afirmar, com base nesses dados, que os brasileiros vivem uma relação de dependência com seus smartphones. Para alguns, inclusive, esse vínculo se torna ainda mais tóxico quando estão distantes ou sem acesso aos aparelhos. Há quem tenha reações que podem provocar estados de stress, ansiedade e até mesmo agravar uma depressão já existente. Nesses casos, há um termo criado em 2008 na Inglaterra: a nomofobia. Ou seja, o medo desproporcional de ficar sem o celular ou meios de se conectar à internet. “Nomofobia é a dependência patológica das tecnologias. Nem todos que usam por muitas horas e se dizem viciados são nomofóbicos. Algumas pessoas podem pensar que têm a doença porque usam demais o celular, mas para reconhecê-la é necessária uma avaliação psicológica e psiquiátrica”, explica Anna Lucia Spear King, psicóloga-doutora em saúde mental e fundadora do Instituto Delete, núcleo de saúde incubado na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Há um limiar para reconhecer um comportamento patológico de uma necessidade cotidiana. “Todos nós sentimos medo, mas nem todos temos pânico e medo em alto grau. Nesse caso, sim, é necessário um tratamento”, afirma a profissional.

S.O.S

Não é de hoje que a compulsão pelo mundo on-line alarma os especialistas. Ainda em 2013, Anna viu a necessidade de criar o Instituto Delete com foco no detox digital e na educação para um uso consciente das tecnologias. Naquela época, a psicóloga notou que muitos pacientes se queixavam do vício em tecnologias.

Isso significa que passamos mais da metade de nossas vidas do lado de lá das telinhas

“A pessoa que tem nomofobia e, por algum motivo, se vê impossibilitada de usar seus gadgets, sente uma angústia muito forte. Esse é o dependente patológico. Por exemplo, se você sai e esquece seu celular em casa, pode ficar chateado, mas provavelmente não voltará para buscar. Quando isso acontece com o nomofóbico, ele passa mal,

Pensata
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tem sintomas físicos”, conclui Anna. A reação exagerada pode, inclusive, expressar outros problemas já existentes. “A pessoa com a dependência patológica geralmente tem um transtorno associado, uma compulsão, depressão, que potencializa esse problema. Nesses casos, o uso da tecnologia funciona como uma catarse das características do seu transtorno de origem. Se eu sou compulsiva, vou usar a tecnologia de uma maneira compulsiva: ficarei dependente de compras de jogos, de sites pornográficos.”

Não à toa, pesquisadores do Brasil e do mundo têm levantado preocupações de que essa doença se assemelha à dependência em drogas. A adicção em tecnologias é considerada uma dependência sem substâncias, mas que produz um processo semelhante no cérebro quando ocorre vício em aditivos químicos, explica Natália Mota, psiquiatra, neurocientista e professora na UFRJ. “A compulsão aciona um mecanismo chamado de sistema de recompensa. Nosso cérebro reconhece situações que nos dão prazer e sinaliza isso com disparos de neurônios que elevam a quantidade de dopamina (popularmente conhecida como hormônio da felicidade) nessas áreas. É algo muito acoplado à resposta do ambiente. O ambiente apresenta uma situação tida como positiva e, assim, aciona-se um mecanismo que entende esse comportamento como algo a ser repetido. Você tende a antecipar a busca desse pico de dopamina”, ela conta.

Não é difícil imaginar como isso ocorre quando aplicado às tecnologias. Sabe aquele hábito de pegar o celular assim que acordamos? “O cérebro entende que esse comportamento irá antecipar o prazer de abrir o Instagram e ver uma foto postada com vários likes. Se isso é algo que aciona o sistema [de recompensa] de um determinado sujeito, vai ser reforçado sempre que ele buscar essa ação.”

DETOX

Basta olhar em volta para constatar que não faltam exemplos na realidade atual. O fotógrafo Pedro Paixão, 21 anos, é um deles: recentemente, durante suas férias, chegou a utilizar o celular por 20 horas em um único dia. “Eu só fico sem no momento em que eu durmo”, diz. Pedro sabe que tal comportamento tem prejudicado sua vida social. “Eu me desligo do mundo a todo momento e fico naquele mundinho do celular, das redes”, acrescenta.

O economista Wilker Santos, 27, passou por algo parecido e hoje vive um processo de desmame tecnológico. “Fiquei realmente viciado nas redes sociais por um período.

Mesmo nos momentos em que eu não estava com o celular, sentia ele vibrar ou escutava notificações que não existiam. E eu entrava em desespero”, revela. Wilker chegou a passar uma média de oito a nove horas por dia em aplicativos como Instagram, o que acabou acendendo seu alerta. “Era bem perceptível como isso influenciava nas minhas relações. Quando você acompanha 24 horas a vida de seus amigos, não há muito mais o que saber ao encontrá-los ao vivo. Então você se senta com uma pessoa em um barzinho, mas continua no celular. Você vive mais da sua presença on-line.”

E então, como foi de férias?

Acompanhei pelos posts

E me conta, como foi a sua semana?

Mesmo diante de tantas histórias, a nomofobia ainda não foi incluída no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e é tida como uma “fobia específica” (transtornos de ansiedade comuns, como medo de altura ou de animais).

Nomenclaturas à parte, é urgente levar o assunto a sério e pensar em maneiras de combatê-lo. “Nós ensinamos noções de uso consciente de tecnologias no dia a dia, sem excesso, e orientamos sobre os danos emocionais que podem ocorrer”, comenta Anna Lucia Spear King. Entre as medidas básicas: não usar gadgets na hora da alimentação ou antes de dormir, prestar atenção na postura para não ter comprometimento físico e, acima de tudo, lembrar que há muito além das telas. “O fundamental é sempre privilegiar a vida real”, finaliza a psicóloga.

43 COMPORTAMENTO

SALÃO DE BELEZAS

Watches and Wonders, maior vitrine da relojoaria de luxo do mundo, consolida tendência de modelos multicoloridos e reforça apelo a colecionadores com edições limitadas

Caixas e mostradores coloridos, pulseiras intercambiáveis, referências à cultura pop. Nos últimos anos, a relojoaria de luxo tem lançado mão desses elementos em seus produtos, antes inimagináveis num mercado cujas mudanças acontecem num ritmo bem mais lento, em termos estéticos, do que na indústria da moda, por exemplo. Tudo isso sem abrir mão, claro, de sua expertise artesanal e de seu contínuo esforço para avançar as fronteiras do design e da inovação.

A tendência se consolidou na segunda edição do Watches and Wonders, que aconteceu entre os dias 26/3 e 2/4, em Genebra, na Suíça. Maior vitrine do segmento no mundo, o salão foi até pego de surpresa por lançamentos da Rolex – talvez a mais parcimoniosa das marcas quando o assunto é design – que são uma festa de cores.

Em sua nova coleção para a família Oyster Perpetual, a Rolex apresentou um modelo com caixa e pulseira de

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Estande da Rolex no Watches and Wonders 2023
Estilo | RELÓGIOS
A Hublot deu destaque, em seu estande, à sua collab com o artista plástico japonês Takashi Murakami

aço Oystersteel com um mostrador de latão coberto por laca colorida, sobre o qual vemos 50 bolhas de tamanhos distintos, em rosa-candy, turquesa, amarelo, coral e verde, com bordas em preto e revestidas por verniz transparente, tudo delicadamente polido. Vale ressaltar que as tintas são aplicadas gota a gota, à mão.

No Day-Date 36, de ouro amarelo, branco e Evergold, a Rolex foi ainda além em seu arroubo pop e criou um quebra-cabeça multicolorido com vermelho, fúcsia, laranja, verde, amarelo e turquesa. O modelo não tem uma, mas duas “cerejas do bolo”: em vez dos dias da semana, o mostrador traz sete palavras motivacionais, em inglês, como peace, love e gratitude (paz, amor, gratidão). E, last but not least, no lugar das datas a Rolex colocou 31 emojis lúdicos, exclusivos.

A tendência policromática apareceu em outras marcas, como Hermès, que lançou pulseiras de borracha em laranja, azul, amarelo e verde para seu modelo HO8. Já a Hublot deu destaque, em seu estande, à sua collab com o artista plástico japonês Takashi Murakami, conhecido por suas criações para maisons de moda, como a Louis Vuitton e a Comme des Garçons.

49 Estilo | RELÓGIOS
Rolex Oyster Perpetual Day-Date 36 com mostrador divertido e colorido Classic Fusion, collab entre Hublot e Takashi Murakami

As cores também estiveram em alta nos mostradores dos lançamentos, e aqui vale destacar a consolidação de uma tendência dos últimos anos: o verde, presente nos dials do Ingenieur, da IWC; no Carrera Date, da TAG Heuer; no Radiomir California, da Panerai; no Santos-Dumont, da Cartier; e no Iced Sea Automatic Date, da Montblanc.

O verde, a propósito, é uma das cores preferidas do mercado latino-americano, Brasil inclusive, segundo algumas das marcas presentes no País. Em tempo: ainda em abril, a IWC e a Panerai, que em 2019 haviam fechado suas lojas no JK Iguatemi, voltaram a ter boutiques próprias em São Paulo, na Frattina do Shopping Iguatemi.

Tons de salmão marcaram presença ainda nos modelos Alpine Eagle XPS e L.U.C 1860, da Chopard, e no Royal, da Tudor – que em breve abre loja própria no País. A Rolex também explorou a cor nos dials, mas por meio de pedras ornamentais, novamente num Day-Date da família Oyster Perpetual, com mostradores de aventurina verde, turquesa e cornalina. Esta última pedra, vale ressaltar, é original do Brasil. A Montblanc lançou mão da tendência colorida também num modo mais sutil. No Geosphere Chronograph 0 Oxygen The 8000, edição limitada em 290 peças, a marca alemã fez um tributo aos picos mais altos do planeta e aos alpinistas que alcançaram seus cumes. Eles estão

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Estilo | RELÓGIOS
Iced Sea Automatic Date, da Montblanc, com mostrador cinza Santos-Dumont Skeleton Micro-Rotor, da Cartier
“O mercado de fretamentos e uso compartilhado de aeronaves vem passando por um crescimento exponencial”
Mike Alexander, consultor de aviação
No Geosphere Chronograph 0 Oxygen The 8000, a Montblanc fez um tributo aos picos mais altos do planeta

representados num relevo 3D, feito a laser colorido, no verso da caixa. A Montblanc apresentou ainda neste ano um tom cinza para os mostradores do Iced Sea, família criada em 2022 e cujas vendas excederam as expectativas no Brasil.

A segunda edição da Watches and Wonders recebeu ainda modelos comemorativos de algumas marcas: na Rolex, para os aniversários de criação do Daytona (60 anos) e do Explorer (70); na TAG Heuer, para o Carrera, que completou seis décadas de seu lançamento. Para celebrar, a marca pertencente ao grupo LVMH também estreou um curta-metragem com o ator Ryan Gosling, seu novo embaixador, e apresentou um amplo leque de modelos – em seus

Carrera Plasma, por exemplo, aplicou diamantes feitos em laboratório, inclusive num tom rosa.

Algumas edições limitadas foram marcadas não somente pelo uso de materiais nobres, mas também pelas inovações tecnológicas. Na Cartier, é o caso do Santos-Dumont Skeleton Micro-Rotor, lançado com apenas 150 peças, numeradas, e do Tank Normale, cuja versão mais luxuosa traz diamantes na caixa e na coroa e pulseiras de crocodilo, em dois tons de azul, numa edição com somente 20 peças. Em ambos é possível admirar a beleza de seus movimentos.

Já na manufatura suíça de alta relojoaria Minerva, desde 2007 incorporada à Montblanc, o destaque foi o

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Estilo | RELÓGIOS
O Geosphere Chronograph 0 Oxygen The 8000, da Montblanc

Unveiled Timekeeper Minerva, em que o bisel aciona o cronógrafo, uma tecnologia patenteada pela maison alemã. Com caixa de lime gold, pulseira verde de couro de crocodilo, e mostrador na mesma cor, tem edição limitada em 28 peças. O modelo já é tido como pièce de résistance da Minerva para colecionadores que também miram a oportunidade de investimento.

A segunda edição da Watches and Wonders trouxe ainda duas novidades que buscam atrair, sobretudo, o grupo não iniciado no universo dos relógios: pela

primeira vez, o salão abriu as portas ao público, por dois dias (sábado e domingo) – antes, era reservado a jornalistas e parceiros das marcas. E mais: foi criado o In the City, programa que promoveu visitas guiadas às lojas em Genebra, apresentações de artistas de rua, exposições e até mesmo shows com DJs. Um festival cultural, por assim dizer. Formato que já acontece em Milão, durante a semana do Salão do Móvel, e em Miami, quando a cidade recebe a feira ArtBasel. Talvez seja o momento de você já programá-lo em seu calendário para 2024.

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Estilo | RELÓGIOS
O TAG Heuer Carrera Chronograph Tourbillon, com mostrador azul intenso e detalhes em laranja

A NATUREZA E SEUS TONS

Uma das cinco maiores marcas suíças em volume de exportações, a Omega não participou da feira Watches and Wonders, mas lançou seus modelos para 2023, em março, em Londres. Na capital inglesa, a marca apresentou a coleção Aqua Terra Shades, que confirma a tendência multicolorida em seus mostradores. Segundo a Omega, eles trazem o espectro cromático do oceano à terra, em tons únicos batizados como Atlantic Blue, Lagoon Green e Terracota. A campanha traz o ator inglês Eddie Redmayne, vencedor do Oscar de melhor ator em A Teoria de Tudo

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Panerai Radiomir California, com mostrador no tom do momento: o verde, visto em outros lançamentos do salão Ingenieur Automatic 40, lançamento da IWC Schaffhausen que revisita design do suíço Gérald Genta, criado nos anos 1970

FRATTINA FAZ 80 ANOS

E INAUGURA FLAGSHIP NO SHOPPING IGUATEMI, EM SÃO PAULO

A magnificência e a habilidade artesanal da Frattina, referência em alta joalheria desde 1943, são destaques na nova loja conceito da marca, que resgata a brasilidade em seu projeto arquitetônico, o feminino em suas joias autorais e a exclusividade em suas boutiques conjugadas IWC Schaffhausen e Panerai, as únicas na América do Sul

Em comemoração aos 80 anos da marca, uma das maiores referências em alta joalheria do Brasil, a Frattina inaugura uma nova loja conceito para fazer par com a boutique dos Jardins, na Rua Oscar Freire. O local escolhido foi o Shopping Iguatemi, em São Paulo, o disputado polo de compras e entretenimento da capital paulista. A nova flagship simboliza a evolução de posicionamento da Frattina, que investe na contemporaneidade sem deixar de lado seus valores e tradições.

Fundada em 1943 por Nelson Waisman, a Frattina é hoje uma das maiores representantes de marcas de alta relojoaria suíça no Brasil e oferece um atendimento personalizado único. A empresa, atualmente conduzida pela terceira geração

da família Waisman, é guiada visando a uma constante e imprescindível renovação.

A nova casa, localizada no 3º piso do Shopping Iguatemi Faria Lima, impressiona pelas extensas vitrines de mais de sete metros de largura, que traduzem a grandiosidade da história da maison. Pelos imensos vidros é possível apreciar as criações autorais de designs únicos, totalmente distantes dos desenhos massificados das cadeias globais.

Projetada pelo escritório LoebCapote, a boutique foi inspirada nas raízes e na natureza brasileiras. Muitos elementos orgânicos, como a madeira natural e os tecidos em tons de verde, remetem ao paisagismo tropical. A artista plástica

Carbono Uomo + FRATTINA
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“A Frattina nasceu há 80 anos e nossa missão é continuar proporcionando aos nossos clientes momentos especiais em um ambiente ainda mais sofisticado, oferecendo coleções de joias autorais e peças exclusivas das boutiques IWC e Panerai. Para nós, essa é a verdadeira experiência do luxo”

Lúcia Loeb, conhecida por explorar possibilidades únicas de sobreposições artísticas, foi a responsável por desenvolver a porta de entrada principal, uma obra de arte que tem atraído olhares admirados de quem passeia no Shopping Iguatemi. Outra supernovidade, apresentada como parte das comemorações do octagésimo aniversário da joalheria, fica por conta da reabertura das únicas boutiques IWC Schaffhausen e Panerai da América do Sul, integradas à flagship da Frattina. Ambas as relojoarias trarão novidades exclusivas para a maison tripla, além de coleções de Vacheron Constantin, Hublot e Tag Heuer, que certamente irão encantar clientes locais e internacionais.

FRATTINA SHOPPING IGUATEMI

Av. Brig. Faria Lima, 2232 – Piso 3

Tel. 11 3062 3244

Horário de funcionamento:

Segunda a sábado – 10h às 22h

Domingos – 14h às 20h

FRATTINA OSCAR FREIRE

R. Oscar Freire, 848

Tel. 11 3062 3244

Horário de funcionamento:

Segunda a sábado – 10h às 19h

frattina.com.br | @frattina

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VIAGEM

TURISMO DO SONO

VIAJAR PARA DORMIR. JÁ OUVIU FALAR?

Dormir bem é fundamental para o bem-estar e a saúde, até mesmo quando estamos fora de casa.

Juliana Saad, viajante profissional, conta tudo sobre as viagens restauradoras, que vão muito além de camas maravilhosas

Quem viaja para dormir? Foi o que pensei quando ouvi os primeiros roncos da tendência de viagem do momento: o turismo do sono. Mas o meu rolo de câmera me relembrou o valor de uma boa noite de sono em terra, mar e ar.

O hype do sleep travel, que começou com o fim da pandemia, juntamente com as questões de saúde mental, vai muito além de dormir. Inclui as funções imunológica e metabólica, a redução do stress, a melhora dos níveis de concentração e

Relaxamento total em algumas das muitas jornadas oferecidas pelo grupo Six Senses

energia para você ter uma vida mais saudável e feliz.

Por onde começar? Além de spas, centros de wellness e retiros, o movimento se estende às acomodações, aos programas e às experiências que vão desde tratamentos de ponta aliados a protocolos de sono revolucionários até imersões relaxantes e atividades destinadas a todos os viajantes. Nas pílulas abaixo, destaco algumas dessas vivências. Leia e durma sem moderação.

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Fotos divulgação

Sleeping Pills

Pioneira no assunto, a rede Six Senses oferece programas e retiros com a ajuda de um “médico do sono” e tratamentos holísticos. Tudo começa com o Six Senses Wellness Board, em que especialistas de diversas áreas desenvolvem protocolos qualificados. O inovador “Sleep with Six Senses”, em parceria com o Dr. Michael J. Breus, autoridade no assunto, garante a restauração completa por meio de programações feitas sob medida. Você pode reservar jornadas de três, cinco ou dez dias em seus resorts, que incluem uma revisão mais profunda (via gadgets de rastreamento do sono) aliada a tratamentos de spa e sessões personalizadas de nutrição, ioga nidra e meditação. As vilas são o cenário perfeito para uma noite reparadora em colchões sustentáveis, que regulam a temperatura do corpo, complementados por edredons orgânicos Hanse, lençóis de algodão da Beaumont & Brown, menu de travesseiros, iluminação e aromaterapia, além de neurocosméticos que ajudam no relaxamento. @sixsenses

“O hype do sleep travel vai muito além de dormir. Inclui as funções imunológica e metabólica, a redução do stress e a melhora da concentração e da energia”

Melatonina

A Aman vem expandindo cada vez mais o wellness em seus espetaculares hotéis, seja com indulgentes spas, onde terapeutas conduzem tratamentos fora de série, seja com a brand de skincare Aman, uma linha de produtos em frascos-esculturas com design de Kengo Kuma. As imersões de bem-estar oferecem programas calibrados para cada indivíduo. No Amangiri, no deserto de Utah, o Restorative Sleep Retreat usa o cronotipo (sincronização dos ritmos circadianos) como base de um retiro que começa com ioga matinal e segue com tratamentos no spa, mergulhos em água fria e experiências restauradoras. Em Java, o Amanjiwo oferece o Spiritual Wellness com práticas ancestrais, como rituais de bênção e terapias holísticas. Para que os hóspedes se desconectem, encontrem o equilíbrio e, por fim, se reconectem. @aman

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Do spa às suítes, os programas restauradores do grupo Aman são repletos de detalhes especiais
Viagem | TURISMO DO SONO

Raio-x

O Anantara Kihavah , um resort dos sonhos nas Maldivas, oferece aos hóspedes o Programa de Enriquecimento do Sono, que começa com uma consulta com um “guru” do tema e um teste epigenético para saber o nível de nutrientes, vitaminas, minerais, aminoácidos, ácidos graxos e antioxidantes nas células. A experiência continua com terapias naturais, ioga, infusão de vitaminas e plano de nutrição individualizado. O destaque é a Terapia de Suporte ao Sono, da Suble Energies, tratamento focado no nível hormonal. Nas vilas, o Anantara Milky Bath inclui uma banheira com leite de coco e aromas exóticos para relaxar e dormir muito bem. @anantarakihavah

OHM...

Em Londres, o requintado Brown’s Hotel criou uma experiência restauradora de duas noites, a Forte Winks. Os participantes recebem um kit de sono com pijama de luxo, máscara de seda com infusão de lavanda, spray perfumado para relaxamento e creme Hibiscus Night, da Irene Forte Skincare. E, além de realizarem o tratamento facial Buona Notte no spa, os hóspedes ganham chás de ervas servidos com cartas que trazem mantras relaxantes no turndown service @browns_hotel

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Acima, a vila do Anantara, nas Maldivas, que ajuda os viajantes a mergulharem no clima de relaxamento. Abaixo, duas suítes do hotel londrino Brown’s, onde acontecem as jornadas dedicadas ao sono
Fotos divulgação

Módulo REM

A sueca Hästens , especializada em camas, travesseiros e afins, escolheu a cidade portuguesa de Coimbra para inaugurar o Sleep Spa – CBR Boutique Hotel, o primeiro hotel de sono inspirado na cultura da Biblioteca Joanina. São 15 quartos com salas de banho decoradas com lombadas de livros de mármore esculpidas à mão. Lençóis, travesseiros e edredons de algodão e penas de ganso cobrem suas famosas camas, todas feitas por artesãos com materiais sustentáveis — em que cinco camadas de lã, algodão e crina de cavalo são combinados para proporcionar um nível de descanso superior. Os hóspedes têm também acesso ao uso do app Restore com bandas sonoras para cada momento do dia e vídeos sobre como dormir melhor da especialista em sono Edie Perry. Detalhe: na ativa desde 1852, a Hästens é fornecedora oficial da realeza do país, além de ser a favorita de celebs mundiais.

@hastenssleepspa_coimbra

Balancinho bom

Ligada nas tendências, a linha de cruzeiros de ultraluxo Regent Seven Seas Cruises investiu na criação de um santuário perfeito para você dormir bem em alto mar. A Suíte Regent, com quase 400 m2, inclui uma cama da Hästens, a Vividus king size continental (de 200 mil dólares), feita sob medida, e tem ainda seu próprio spa. Não à toa, é considerada a mais restauradora dos sete mares.

@regentcruises

E NO BRASIL?

As estadas totalmente focadas no sono ainda estão começando por aqui, mas alguns hotéis já oferecem opções que seguem a tendência

A máquina de ruído branco e o menu de travesseiros fazem parte da proposta do Rosewood, em São Paulo, para melhorar o sono

No Atiaia Spa & Fitness, do Grand Hyatt Rio de Janeiro , a Massagem do Sono harmoniza o campo energético enquanto relaxa o corpo e estimula o sono, ao som de mantras. Ao final, o chá com blend de ervas e a aromaterapia com óleo essencial de lavanda usada no quarto complementam a proposta. @grandhyatt_rio

Já no Botanique Hotel & Spa , em Campos do Jordão, a Caixa de Sono combina propriedades calmantes dos óleos essenciais de lavanda e laranja-doce para propiciar uma noite bastante reparadora na Serra da Mantiqueira. @botaniquehotel

O Rosewood São Paulo (foto) aposta no programa Sleep Well, com uma gama de amenidades que proporcionam conforto ao sono. Entre elas, meditações on-demand , velas e almofadas, lâmpada terapêutica, máquina de ruído branco, umidificador de ar, tapa-olhos de seda, pijamas de algodão e menu de travesseiros. Vale lembrar que, em 2022, o grupo lançou a Alchemy of Sleep, coleção de retiros imersivos para promover o descanso, a renovação e a longevidade em hotéis do grupo mundo afora. @rosewoodsaopaulo @rosewoodhotels

EU SONHO, TU SONHAS...

Carla Palermo e Chris Biagioni, sócias na produtora de viagens Omm Journeys, especializada em jornadas e retiros de autoconhecimento, dão o seu parecer sobre o turismo de sono no mercado nacional. “A tendência ainda está para chegar, mas estamos atentas e estudando as novidades e melhores práticas para já já produzir uma jornada de sono no Brasil.” @be.omm

CIFRAS ASTRONÔMICAS

Segundo o Global Wellness Institute, o mercado mundial de turismo de bem-estar foi avaliado em US$ 814,6 bilhões em 2022 e espera-se que cresça 12,42% por ano de 2023 a 2030. Dentro desse universo, um estudo da consultoria Frost & Sullivan projeta que a “economia global do sono” deverá atingir US$ 585 bilhões até 2024, incluindo produtos, serviços, tecnologias, suplementos e hospedagens.

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ASPEN VIAGEM

CLÁSSICO E ETERNO

Um verdadeiro oásis para os amantes da boa neve, Aspen oferece estrutura completa para os mais diferentes níveis de esqui, além de ótimas experiências de arte, música, gastronomia e entretenimento

Texto e fotos Paulo L. B. Serena

Localizado no coração das Rocky Mountains, Aspen Snowmass é um destino dos sonhos para qualquer aventureiro. Fundado em 1870 por exploradores em busca de prata, é hoje um dos principais pontos de esqui do mundo: a região tem um histórico de grandes quantidades de neve - uma média de quase oito metros por temporada. Administrado pela Aspen Ski Co., contempla quatro montanhas de esqui (Aspen Mountain, Snowmass, Aspen Highlands e Buttermilk ), oferecendo uma ampla variedade de pistas para esquiadores de todos os níveis, além de uma atmosfera vibrante e cosmopolita, que combina o charme do Velho Oeste com a sofisticação da cultura urbana. Conheça a seguir as montanhas (o deslocamento entre elas pode ser feito com as SUVs dos hotéis ou com ônibus municipais que passam de 20 em 20 minutos) e os melhores spots para a temporada 2024.

Aspen oferece pistas para esquiadores de todos os níveis, além de uma atmosfera vibrante e cosmopolita

Aspen

Aspen Mountain é uma montanha clássica de esqui, com pistas íngremes e desafiadoras. A icônica Silver Queen Gondola conecta a base (995 metros) ao topo (3,413 metros) da montanha, em seu glamoroso trajeto de 14 minutos e 3,5 quilômetros. Do alto saem 76 opções de pistas, em sua grande parte classificadas como

Céu azul para aproveitar a variedade de pistas que Aspen oferece; ao lado, o charme da cidadezinha de Snowmass e, acima, Paulo desce uma das montanhas da região

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Viagem | ASPEN

double black (expert). Um dos destaques imperdíveis desta montanha é o First Track, onde hóspedes dos hotéis The Little Nell e Limelight (reservas com o ski concierge) podem subir 30 minutos antes da abertura oficial das pistas e estampar as primeiras marcas no solo – um verdadeiro sonho para esquiadores. Para os amantes do “fora de pista” mais radicais, o Aspen Powder Tours os levará de snow cat a lugares impensáveis, onde esquiadores poderão aproveitar mais de 3.000 metros de descidas exclusivas em neve virgem. É necessário o agendamento prévio (powdertours@aspensnowmass.com). Almoçar na parte externa do Ajax Tavern, no The Little Nell, com vista da montanha, é imperdível. Ao final do dia, o concorrido aprés-ski (pós-esqui)

fica por conta do The Wine Bar, ao lado da base da gôndola.

Snowmass é a maior das quatro montanhas e oferece uma grande variedade de terrenos: são 1.352 hectares de área esquiável e 98 pistas. Há também uma série de parques para snowboarders e esquiadores que buscam obstáculos, rampas, corrimões e half pipe. Para quem acorda cedo, a cafeteria First Chair, em Snowmass Village, abre as portas às 6h da manhã e oferece delícias como o croissant de queijo e presunto e os cookies. No esqui, duas áreas chamam a atenção: do lado direito do mapa da montanha, pistas milimetricamente groomed (ranhuras deixadas por máquinas que trabalham à noite), perfeitas para cravar as lâminas nas laterais dos esquis e alcançar curvas rente

ao chão nas primeiras horas da manhã. Do lado oposto – à esquerda no mapa – um pico acessado por uma rápida caminhada montanha acima oferece pistas double black extreme no meio das árvores. Para os adultos e crianças iniciantes, o Elk Camp Meadows possui uma estrutura fantástica: pistas verdes, restaurante, boião e bob sled. Já para os pequeninos, entre um e quatro anos de idade, há o Tree House Kids Adventure Center, com brincadeiras na neve e atividades indoor, como aquário, cavernas e escalada. A programação gastronômica é distribuída em restaurantes na montanha: Sams, para quem busca uma vista única e cardápio à la carte mais elaborado; Ullrhof, se a ideia é comer um delicioso cheeseburger com batatas fritas ao bom e velho estilo

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Aspen

Nesta página dupla: pista de Aspen Highlands; vista e interior do restaurante Sams, e visual da montanha em Snowmass

americano; Venga Venga, para o mais animado aprés-ski, onde a seleção de margheritas é a especialidade da casa; e Lynn Britt Cabin, com visual incrível, ao redor do fogo e variado cardápio de vinhos.

Aspen Highlands é considerada a mais selvagem das montanhas de Aspen. As trilhas que seguem pela floresta são lindas e inóspitas. Com inúmeros obstáculos naturais e mudanças rápidas de terreno, a área não sinalizada é um desafio para os esquiadores mais experientes. É nessa montanha que se encontra o tão procurado Aspen Highlands Bowl: um lugar mágico, a 3.777 metros de altitude, para atletas extremos. Localizado no topo da montanha, após uma caminhada de aproximadamente 45 minutos, o bowl oferece uma vista panorâmica espetacular dos Marron Bells, dois picos em forma

de sino. Mas a verdadeira emoção começa ao descer suas encostas íngremes e desafiadoras. A parada obrigatória para o almoço é o restaurante Cloud Nine Alpine Bistro, com ótimas opções de comes e bebes, músicas e energia contagiante a 3.000 metros de altitude. Ao final do dia de esqui, não deixe de parar no Highlands Alehouse, localizado na base da montanha. Uma ampla variedade de cervejas e uma pizza aperitivo feita na hora esperam por você.

Buttermilk é um verdadeiro parque de diversões para crianças e iniciantes no esqui, uma vez que a montanha tem perfil mais arredondado e progressivo. Mas nem tudo é o que parece: o local também é

altamente requisitado por esquiadores e snowboarders freestyle, por conta de seus parques, como o incrível Terrain Park, com pulos, obstáculos e um gigantesco half pipe. Não à toa, a montanha abriga a maior competição de manobras do mundo, o X-Games. A única e deliciosa opção de restaurante na montanha é o Cliff House, com vista cinematográfica do Pyramid Peak e de todo o Maroon Creek Valley. Para quem busca algo diferente, é possível subir até lá ao final do dia (18h) para jantar, mas são necessários esquis com bindings (travas) específicos e lanternas na cabeça, uma vez que o retorno é esquiando e no escuro! Para crianças de dois a seis anos, recomenda-se o The Hide Out, espaço com uma estrutura fantástica para atender os pequenos, na base da montanha.

Onde ficar

The Little Nell

Único cinco estrelas ski in/out de Aspen, situado na base da montanha. A hospedagem é de tirar o fôlego. Quartos com lareira, piscinas aquecidas, spa e um centro de compras dentro do hotel nos fazem pensar que estamos sonhando. Vale também conhecer o seu premiado restaurante Element 47. thelittlenell.com

Limelight

Com modernas unidades em Aspen e Snowmass, conta com piscinas aquecidas, pista de patinação no gelo e parede de escalada indoor limelighthotels.com

Hotel Jerome

Um edifício histórico que remonta aos anos 1880 e oferece atmosfera clássica com quartos e suítes elegantes. hoteljerome.com

St. Regis

Possui um dos mais completos e luxuosos spas de Aspen –The Spa –, além do restaurante The Snow Lodge, que serve delícias típicas da culinária italiana. marriot.com

Viagem | ASPEN

RADAR

Da hospedagem às compras, um guia completo para quem deseja aproveitar uma temporada no destino

Por Paulo L. B. Serena

Onde comer

EM ASPEN

Catch Steak

Uma das boas novidades gastronômicas de Aspen, é uma opção certeira para os amantes de carne e frutos do mar. Ah, peça a sobremesa Cookies & Cream Baked Alaska, um brownie quente com chocolate derretido e calda inflamável de vodca e baunilha! catchrestaurants.com

Madame Ushi

Outra novidade é o point de culinária japonesa sofisticada, com conexão com o Gala, clube noturno frequentado por celebridades do mundo todo. madameushiaspen.com galaaspen.com

Casa Tua

Para aqueles que buscam um ambiente mais rústico e aconchegante. Pratos tipicamente italianos e serviço fantástico. As entradas e os drinks são deliciosos. casatualife.com

Felix Roasting

Parada obrigatória para um café no final da tarde. Ambiente clássico e exclusivo. Oferece uma grande variedade de bebidas quentes e doces. felixroastingco.com

*Para quem prefere algo mais independente e privativo, alguns dos condomínios de aluguel mais procurados da região são o Hayden Lodge , o Shadowbrook Condominiums , o Tamarack , o Top of the Village e o Viceroy, que oferecem unidades espaçosas e confortáveis com vista deslumbrante da montanha.

Paradise Bakery

Por falar em doces, um ícone da cidade, famoso por seus cookies e sorvetes deliciosos. Faz jus ao nome.

paradisebakeryaspen.com

Onde comer

EM SNOWMASS

Kenichi

O premiado restaurante japonês conta com menu muitíssimo bem elaborado e variado. É realmente uma experiência única para os mais diversos paladares. kenichiaspen.com

Slice of Italy

Os pratos da culinária italiana são servidos pelo próprio dono. Boa pedida para quem deseja algo mais descontraído. slicesnowmass.com

Onde comprar

Cooper Avenue

A rua principal da cidade abriga desde butiques independentes até lojas de marcas internacionais, como Gucci, Prada, Dior, Louis Vuitton e Moncler.

Village Mall

Localizado no complexo do hotel The Little Nell. Os visitantes podem encontrar lojas sofisticadas, como a Gorsuch, com roupas de esqui e artigos de luxo para a casa, além de joalherias e lojas de presentes.

Arte e Cultura

Baldwin Gallery

Fundada em 1944, é uma das mais reconhecidas galerias entre as mais de 80 presentes na região. Sim, Aspen também é um importante centro americano de arte e cultura. baldwingallery.com

Aspen Art Museum

Inaugurado em 1979, foi originalmente instalado em um prédio histórico na Main Street. Em 2014 se mudou para um novo edifício (foto), projetado pelo renomado arquiteto japonês Shigeru Ban e construído com materiais sustentáveis. Composto de três andares recheados de obras de arte contemporânea, conta com galerias, biblioteca e um teatro que abriga performances ao vivo e eventos educativos. aspenartmuseum.org

Aspen Institute

Apresenta a história de Herbert Bayer, renomado designer, artista e tipógrafo austríaco, que teve papel fundamental no desenvolvimento da escola de design Bauhaus. Não deixe de almoçar no restaurante Platos, da chef Rachel Koppelman, que apresenta um cardápio elaborado somente com ingredientes locais e sustentáveis. aspeninstitute.org platosaspen.com

Eventos

X-Games

Televisionado para o mundo inteiro, está em sua 22ª edição na montanha de Buttermilk. Considerado o maior evento de esporte de neve do ano, recebe mais de 100 mil pessoas e atletas do mundo inteiro em busca do lugar mais alto do pódio. xgames.com

FIS Ski World Cup

Não menos importante, a competição retorna a Aspen Mountain, com a presença dos melhores esquiadores da modalidade Downhill Super-G atingindo velocidades superiores a 150 km/h.

Power of Four

Considerada uma das mais duras provas de endurance do calendário, percorre as quatro montanhas (Aspen, Snowmass, Buttermilk e Highlands), sem uso de teleféricos, em uma distância total de 38 km e 3.000 metros de ganho altimétrico.

Como chegar

A forma mais conveniente é pelo aeroporto Aspen Pitkin County Airport (ASE), onde as companhias aéreas American, Delta e United oferecem voos diários ou locações de jatos executivos (netjets.com).

A segunda opção é de carro, via Denver (320 km e aproximadamente 4 horas de viagem).

*Vale lembrar que o aeroporto de Aspen fecha com certa frequência devido ao mau tempo. Os aeroportos de Eagle (115 km de distância) e Grand Junction (205 km) têm condições de clima e relevo mais favoráveis.

Comunidade

Desde a década de 1970, a cidade de Aspen tem implementado políticas ambientais que visam à conservação dos recursos naturais da região, que conta com 526 hectares de área verde e 25 parques. Uma dessas iniciativas é o programa de energia renovável da cidade – REMP (Renewable Energy Mitigation Program) – que busca incentivar o uso de fontes de energia limpa. A cidade também promove a bicicleta como meio de locomoção e oferece incentivos para quem utiliza transporte público ou compartilhado. Há também redução de impostos para aqueles que optam por construir prédios sustentáveis.

Dicas gerais

Lift Ticket

Compre on-line (aspensnowmass. com) e retire na base da montanha (Ticket Office), nos totens digitais ao lado dos lifts ou nas lojas Four Mountain.

Locação de Equipamentos

Four Mountain Sports ou Incline Ski Shop.

Aulas de Ski aspensnowmass.com +1 970 923 1227.

Ski Locker

Você pode deixar os esquis nos armários que ficam na base das montanhas.

Supermercados

Clarks Market (Snowmass) e City Market (Aspen).

Farmácias

Carl’s Pharmacy ou City Market Pharmacy, ambas em Aspen.

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Viagem | ASPEN

VIAGEM

DE VELEIRO

ENTREI DE GAIATO EM UM NAVIO

A psicóloga Ana Claudia Borghi cruzou as águas do Pará em um veleiro em busca do sonho do marido: velejar do Brasil ao Caribe. Aqui, ela conta as emoções e desafios de suas aventuras a bordo

Tudo começou com um sonho de juventude que não era o meu, mas entrei nele com entusiasmo. Como dizia minha sogra, Zuca, meu marido, “é um bom menino, mas inventa moda”. Pois bem, a última delas foi comprar um barco para chegar até o Caribe.

O primeiro passo foi encontrar o catamarã a vela ideal: com quatro cabines, nosso ZBoat foi achado em Recife, mas precisava de ajustes. Seguimos outro slogan da família – “uma viagem começa com um passo”– e levamos o barco até o Guarujá para realizá-los. Um banheiro virou sala de mergulho, torneiras

passaram a captar a água do mar, e por aí vai. Começava, assim, a nossa aventura.

Aos poucos, amigos e parentes souberam da ideia e foram chegando. Éramos seis: Flavia, sobrinha do coração e chef sem igual; Lu e Doug, casal de amigos fotógrafos e apaixonados pelo mar; Lucas, meu filho, historiador e instrutor de mergulho.

Zuca, em suas pesquisas, soube de um Rally de veleiros nos rios do Pará e do Amazonas. Todos adoraram a ideia e a meta passou a ser chegar a Belém na data certa para o evento, faltavam cinco meses!

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Texto Ana Claudia Borghi Fotos Doug Monteiro e Luisa Sampaio

Nesta página, as travessias em rios mais estreitos em paisagem amazônica, em que o barco com maior conhecimento do trajeto vai na frente; uma criança em busca de doações; almoço a bordo; e casa ribeirinha vista no percurso. Na página ao lado, o visual de Alter do Chão

Sobre as águas

“Crianças pequenas, com irmãos ainda menores, enfrentam o rio sem medo e com uma destreza inimaginável”

Trabalho como psicóloga em São Paulo e decidi que iria acompanhá-los apenas em alguns trechos da jornada, além de fazer a travessia completa no Pará. Eles partiram de Paraty e, ao longo do caminho até Belém, encontrei-os no Rio de Janeiro, em Salvador e em Maceió. Quando deixaram o oceano e entraram em Soure, a primeira cidade na Baía do Marajó, recebi uma ligação de vídeo que me fez chorar. Bateu a saudade e, principalmente, a emoção de imaginar que Zuca estava realizando parte de seu sonho.

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Velejando...

“Essa viagem me fez perceber o quão minúsculos somos diante da imensidão e da força da natureza”

Mais importante do que a chegada

Eu e meu amigo querido Fernando fomos os últimos a nos juntar ao grupo em Belém, para a travessia rumo a Alter do Chão. Eu estava animada, mas ciente dos desafios. Viver a bordo requer disciplina e organização. Tudo o que se tira de um lugar tem que voltar para o mesmo espaço. Falar baixo e respeitar a privacidade de cada um faz parte do aprendizado. Ser proativo também: muitas tarefas cotidianas pedem colaboração. Isso sem falar em viver com pouco: pouca água, pouca energia, pouca roupa...

Antes de começar a navegar, aprendemos algo que marcou a viagem – e nossas vidas. Os ribeirinhos, que vivem em comunidades debruçadas sobre o rio, ficam em suas canoas esperando a passagem dos veleiros, na esperança de receberem doações. Pedimos contribuições para nossa rede e compramos roupas, brinquedos e itens de higiene ainda em Belém. Como nossa passagem por esses povoados aconteceria em movimento, organizamos tudo

em sacos para que os itens não molhassem.

E por todos os lugares que navegamos lá estavam eles, com seus olhos brilhando, na expectativa de receber algo diferente. Crianças pequenas, às vezes com irmãos ainda menores, enfrentam o rio sem medo, com uma destreza inimaginável. Um garotinho sozinho, nos fez chorar: remou com uma força absurda para tentar nos alcançar. Canoas conduzidas por mulheres e suas grandes famílias. Cada sacola entregue era um bálsamo para o coração. Será que sabiam nadar? Quais perigos enfrentavam diariamente? Como essas mães se sentiam? Muitas perguntas e uma única certeza: que Brasil lindo e diverso, mas com tanto há ser protegido e ajudado. Percorremos diversas cidades pitorescas, como Gurupá, Almeirim, Prainha. Algumas casas têm hortas e jardins construídos em palafitas para que as enchentes – ou as grandiosas formigas da Amazônia – não as destruam. A criatividade e o instinto de sobrevivência do brasileiro são incríveis!

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Floresta encantada

Nesta página dupla: visão aérea do velejo; piracaia pé na areia de despedida; Ana e o marido, Zuca; confraternização na praia; pôr do sol mágico e a tripulação do ZBoat

No último pernoite em Monte Alegre, outros dois grandes momentos. Depois de visitar cavernas e pinturas rupestres de aproximadamente 11.200 anos, ancoramos à espera de mais um lindo pôr do sol. Um cenário mágico no horizonte, Bolero de Ravel na caixa de som e – surpresa: botos-cor-de-rosa apareceram em volta do barco. Eles pareciam responder à melodia com seus sons. Foi de arrepiar! Curiosa, fui saber que eles nascem cinzas e mudam de cor ao longo da vida.

Também fiquei tocada quando passamos por Santarém e vimos o encontro dos rios Tapajós e Amazonas. Lembrei dos livros de escola, que explicavam porque aquelas águas não se misturam e tudo pareceu fazer tanto sentido. Várias perguntas vieram à cabeça antes de chegar ao Amazonas: suas águas são tão profundas como dizem? Seria como um oceano de água doce? Senti-me sortuda de poder passear nele, assim como na floresta que o margeia.

Essa viagem me fez perceber o quão minúsculos somos diante da imensidão e da força da natureza. Da comida à medicina, as possibilidades da floresta são infinitas. Passear por ela é ouvir curiosidades fantásticas, como a da árvore usada em um duelo entre tribos indígenas. Seu veneno é tão poderoso que os vencedores amarravam os rivais de costas no tronco e faziam cortes no caule para que seu leite gerasse queimaduras.

Entre essas e outras boas histórias, chegamos a Alter do Chão, apelidado de “Caribe brasileiro”. Sua água é doce e cristalina e as praias têm areias branquinhas, finas. Depois de conhecer seus encantos, nossa última noite foi pé na areia, com dança típica, piracaia (a peixada deles) e as tripulações de todos os barcos. Por fim, estava na hora de voltar para casa e deixar todos para trás, principalmente o Zuca. Apertou meu coração. Se o ZBoat chegou ao Caribe? Aguardem as cenas dos próximos capítulos…

ARÁBIA SAUDITA

VELHO MUNDO NOVO

A Arábia Saudita abre suas fronteiras, flexibiliza as regras sociais e torna-se opção imperdível por misturar paisagens surreais com muita história e projetos de ponta. Cristiano Biagi, autor da página @kissutrips, conta os detalhes do que viu ali

É provável que você saiba pouco ou tenha informações equivocadas sobre a Arábia Saudita, exatamente como eu há poucos meses, antes de embarcar para esse país enorme e fascinante, que ocupa 80% da Península Arábica.

Esqueça qualquer semelhança com Dubai ou o Qatar, pequenos, moderníssimos, mas com pouca história. A Arábia Saudita é o berço do Islã e abriga duas das cidades sagradas, visitadas por 70 milhões de peregrinos ao ano. Além disso, o destino ainda guarda um legado arquitetônico deixado pelo Império Otomano. Também não vale compará-la ao Irã, cuja polícia religiosa segue perseguindo as liberdades individuais.

A Arábia Saudita tem paisagens inesquecíveis –do mar ao deserto, passando por ruínas de civilizações antigas – e um povo afetuoso, mas, acima de tudo, reserva um futuro grandioso e, nas próximas linhas, eu faço questão de lhe explicar o porquê.

Era uma vez

Em 2018, a polícia religiosa foi extinta, abriram cinemas, teatros e museus e as regras sociais começaram a se flexibilizar. Mulheres passaram a dirigir e viajar sozinhas, além de poderem frequentar lugares públicos ao lado dos homens. O hijab (véu) e o abaya (manto que cobre o corpo, generalizado por aqui como burka) deixaram de ser obrigatórios – embora muitas ainda gostem de usá-los. Detalhe: os homens vestem com orgulho a candura (túnica) e a guhtra (lenço na cabeça) e fiquei impressionado ao ver como são vaidosos – existem lojas de perfumes árabes para cabelo, pele e roupa.

Até 2019, portanto, era proibido que viajantes como eu visitassem o país: apenas mulçumanos em busca do turismo religioso e visitantes a negócios podiam entrar. Mas eles já eram muitos e o país formou uma infraestrutura excelente: aeroportos modernos, trens velozes, estradas impecáveis, 5G por todos os cantos e bons hotéis. A Arábia Saudita se abriu, fechou na pandemia e foi reaberta no final de 2021. Ou seja, é tudo recentíssimo.

E para atrair o turismo de luxo de altíssimo nível, muita coisa vem sendo feita. A começar pelo Visão

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VIAGEM
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1 – Detalhe da cidade de Ushaiqer

2 – O trailer-hotel do Caravan Habitas, em AlUla

3 – Cristiano e Philippe, em frente à Rainbow Rock

4 – As típicas construções de barro que marcam as ruas de Ushaiqer

Arábia Saudita

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5 – Philippe em um dos muitos mercados da viagem

6 – Cristiano em Hegra: o túmulo foi construído pelos Nabateus em uma única rocha

2030, projeto ambicioso do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman (MBS) [veja mais detalhes no box]. A ideia é fazer o turismo crescer para corresponder a 10% do PIB do país e assim não depender somente do petróleo – a Arábia Saudita é o maior produtor do mundo.

Sonho de uma noite de verão

Foi em busca dessas mudanças que eu e Philippe, meu companheiro, embarcamos numa imersão no país em janeiro deste ano: foram cerca de 2 mil km em dez dias!

Não posso dizer que foi uma aventura, já que o país é supercivilizado, seguro e calmo. Além disso, optamos por ter sempre o suporte de guias, algo que recomendo – as placas de trânsito ainda não são todas bilíngues e muitas vezes os guias precisam de tradutor.

Nossa viagem começou em Jeddah, a segunda maior

cidade do país. Cosmopolita, tem um Centro Histórico bacana e rende uma visita interessante de um ou dois dias. Uma vez lá, recomendo pegar o trem e passar o dia em Medina, a única cidade sagrada aberta para os turistas comuns. Foi importante para que eu começasse a entender melhor a religião islâmica e sua história e me livrasse de meus preconceitos.

Depois partimos para o deserto de AlUla, ponto que mais me impressionou, pela natureza única, pelas ruínas e pelos projetos ousados que tem recebido. É lá que estão hotéis incríveis como o Habitas, onde nos hospedamos, e o Banyan Tree, além da sala de concertos Maraya Concert Hall, toda espelhada. Surreal!

A qualidade do turismo feito lá também me chamou a atenção: imagine embarcar em um Land Rover vintage, todo restaurado, para visitar pontos como Hegra, que tem túmulos esculpidos em rochas gigantescas pelo mesmo povo que viveu na Jordânia, os Nabateus. Ou conhecer vestígios de uma

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Viagem | ARÁBIA SAUDITA
“O país tem paisagens inesquecíveis –do mar ao deserto, passando por ruínas – e um povo afetuoso, mas, acima de tudo, reserva um futuro grandioso”

civilização ainda mais antiga, os Dadans. Você ainda pode tomar café no meio do deserto, com direito à música e vista da Elephant Rock, sobrevoar suas formações rochosas de balão e muito mais.

Sempre em frente

Seguimos nossa viagem passando por outros cenários mágicos como o deserto de Jubbah, a enorme cratera do vulcão de Hutaymah e a cidade histórica de Ushaiqer. Esta última, que me lembrou uma cena de Star Wars, é um bom exemplo do que vem sendo feito ao redor do país. Os investimentos têm restaurado centros históricos com as construções típicas da região, de estilo Najdi, mas, ao invés de lojas com uma infinidade de souvenires comuns, há produtos e endereços autênticos.

Por fim, visitamos Riad, a capital. Apesar de grande,

bastam dois dias para conferir seus atrativos, como a Sky Bridge Kingdom Tower, maior torre do país, com 99 andares; o centro financeiro; o incrível distrito de At Turaif, a maior cidade de barro do mundo e patrimônio da UNESCO; além do antigo palácio da família real Al Saud, rodeado de restaurantes bacanas.

Vale dizer que, por todos os lugares por onde passamos, encontramos um povo simpaticíssimo e ávido por receber estrangeiros. Alguns guias, inclusive, estavam tão felizes que queriam pagar nosso almoço! E eles nos levavam a seus restaurantes preferidos sem ganhar qualquer comissão por isso –imagino que essa prática logo acabe.

A Arábia Saudita me emocionou pelo povo, pela cultura, pelo arrojado projeto de futuro e, principalmente, por eu ter tido o privilégio de ver tudo isso. Afinal, é um país recém-aberto para o mundo e há muitas mudanças por vir.

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7 – A dupla no deserto de AlUla
Viagem | ARÁBIA SAUDITA
8 – Pausa para consultar o mapa com o guia e tradutor

Arábia Saudita

– De cima

O que vem por aí

Mais de um trilhão de dólares estão sendo investidos em projetos que fazem parte da Visão 2030. Veja os destaques

Sharaan by Jean Nouvel

O premiado arquiteto francês é o autor do hotel com villas e pavilhões esculpidos dentro das rochas nos cânions de AlUla. Será aberto este ano!

Red Sea Project

Bancos de areia e ilhas artificiais estão se transformando em resorts (Ritz Carlton e Aman incluídos) no deslumbrante Mar Vermelho, de águas azuis-claras – a ideia é desbancar as Maldivas.

The Line

Uma cidade vertical que está sendo construída no deserto: serão 200 metros de largura e 170 quilômetros de comprimento para acomodar sete milhões de pessoas de maneira sustentável. Um trem de alta velocidade irá de um canto a outro em 20 minutos.

Trojena

Sede dos Jogos de Inverno de 2029, a área terá a única estação de esqui inteiramente com neve artificial ao ar livre.

Qiddya

Complexo perto de Riad que abrigará diversas megaestruturas esportivas e de lazer, entre elas o novo autódromo de F1, estádios de futebol, uma paixão nacional, e parques temáticos como o Six Flags.

Sindalah

A ilha terá três hotéis de luxo, campos de golfe, residências, marinas e um shopping com lojas internacionais.

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9 para baixo: The Line, Red Sea Project e Trojena

Voos

Não há voos diretos saindo do Brasil. As melhores opções são via Dubai, Doha e Istambul, com conexões rápidas.

Visto

São emitidos rapidamente pela embaixada da Arábia Saudita em Brasília, por meio de um despachante. Brasileiros com visto americano válido ou passaporte europeu podem pedir o visto na chegada.

Melhor época

Sugiro visitar apenas no inverno deles, entre novembro e abril, quando as temperaturas são mais amenas.

Hábitos

Mulheres locais e estrangeiras não precisam cobrir a cabeça, mas usar roupas “discretas” é o recomendado. Mesma coisa para os homens. Recomendo vestir calças. O álcool continua proibido. É uma questão religiosa.

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10 e 11 – O hotel Habitas AlUla e seu cenário que mais parece saído de um filme. Esse projeto saiu do papel em 2021 e hospedou a dupla em sua visita

O MAIS PURO AXÉ

Meio carioca, muito baiana, Preta Gil declara seu amor a Salvador e elenca motivos que convidam todos os brasileiros a visitarem essa cidade tão pulsante

“Toda vez que fecho os olhos e tenho alguma recordação saudosa, é Salvador que vem à minha mente. Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, a cidade é meu chão, minha raiz. Mudei-me para Salvador com poucos meses de vida e por isso me considero meio baiana, meio carioca. Foi na Bahia que dei meus primeiros passos e falei minhas primeiras palavras.

Minha conexão com Salvador é realmente de pertencimento, de ancestralidade! Um lugar que me moldou em diversas formas: eu cresci no berço da cultura afro-brasileira e isso foi crucial na construção da minha identidade – e da minha música, claro. A África diaspórica da Bahia segue como uma das minhas principais referências artísticas e tento passar isso ao público a cada nova apresentação.

Salvador é uma cidade que produz e leva cultura para outros lugares do País e do mundo. É um lugar de energia latente, rico em diversidade cultural, gastronomia e turismo. Costumo dizer que é onde o coração do brasileiro pulsa e vibra de verdade. Porque, além de tudo que falei, Salvador é Carnaval, a festa mais linda e popular do planeta.

BAHIA VIAGEM

1 – Preta Gil no seu próprio bloco, durante o Carnaval de Salvador em 2020

2 – A cantora com sua neta, Sol de Maria

3 – Preta, ainda na infância, em Salvador

4 – A Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, um dos pontos preferidos de Preta

5 e 6 – Cenas do Centro Histórico da cidade baiana

7 – Sorveteria da Ribeira, um clássico local

“Salvador é um lugar de energia latente, rico em diversidade cultural, gastronomia e turismo”
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Fotos Preta Gil, Saulo Brandão, Rita Barreto/Setur, Tatiana Azeviche/Setur e divulgação Preta Gil

Existem vários lugares que considero especiais na cidade. O primeiro, sem dúvida nenhuma, é a Igreja do Bonfim Quando eu coloco os meus pés ali sinto algo mágico. É difícil explicar. O Centro Histórico, com toda a sua grandeza, o Museu da Música, que ressalta e registra a importância da Bahia na arte brasileira, são outros favoritos. Na sequência, a Sorveteria da Ribeira com os melhores sorvetes artesanais do mundo. Outro lugar marcante é a Ponta do Humaitá, com uma vista impagável. O Porto da Barra também é maravilhoso, principalmente em fevereiro.

Acho que quem está lendo este depoimento certamente pode sentir um pouco do meu amor por essa cidade. Posso dizer, com toda certeza, que Salvador é um lugar que todo brasileiro deveria ter a oportunidade de conhecer.”

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Salvador

E NO MEIO DAS NUVENS TINHA UM...

...Rafael Bridi, que, com determinação, ousadia e imaginação fértil, colocou o Brasil no topo do mundo no highline, um esporte outdoor desafiador e cheio de possibilidades. E ele quer ir além

A última década tem sido incrível para o catarinense Rafael Bridi. Nesse tempo, ele sonhou alto: mudou o estilo de vida, encarou um mundo novo e, com dedicação, se tornou referência mundial como atleta do highline.

O highline é a vertente “nas alturas” do slackline, aquela atividade praticada, normalmente por diversão, em parques e praças. Nele o atleta se equilibra sobre a mesma fita de nylon, de cerca de 2,5 cm de largura – só que a dezenas ou centenas de metros do chão –, e por isso utiliza um leash que o mantém ligado à fita em caso de queda. “Eu já praticava slackline e outros esportes, como surfe e snowboard, quando conheci o highline”, lembra Rafael. “Na mesma hora, fiquei curioso em

1 – Rafael se equilibra sobre as nuvens na Praia Grande (SC)

2 – Seu primeiro highline na neve: uma travessia de 180 metros de comprimento sobre um lago congelado em Alberta, no Canadá

3 – O atleta monta o equipamento sobre o Cânion Espraiado em Urubici (SC)

saber como o meu corpo reagiria e comecei a estudar as técnicas para que eu pudesse praticar esse esporte em segurança.”

Com o highline cada vez mais presente em sua rotina, Rafael decidiu rever a rota: trancou o curso de Engenharia Civil já na fase final e se comprometeu a subir cada vez mais o nível do esporte pelo qual tinha se apaixonado.

Hoje, aos 35 anos, o atleta já coleciona recordes mundiais e grandes apresentações. Dois dos grandes acontecimentos do Guinness World Records, inclusive, levam a sua assinatura. No primeiro, conquistado em 2020, ele atravessou os 261 metros de diâmetro da cratera do Monte Yasur, em Vanuatu, país insular da Oceania, para cravar a “mais longa travessia

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Fotos divulgação
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“No highline é impossível disfarçar a exposição e a vulnerabilidade. Você é obrigado a ir fundo nos pontos fracos”

de highline sobre um vulcão ativo” – sim, existe esse recorde. Rafael e sua equipe tiveram que superar umidade extrema, chuva ácida, jatos de lava incandescente e fumaça tóxica para bater essa marca. Sem contar as dificuldades em razão da pandemia, que estava só começando. Mas, em vez de se lembrar dos perrengues, ele prefere falar sobre os aprendizados do esporte. “No highline é impossível disfarçar a exposição e a vulnerabilidade. Você é obrigado a ir fundo nos pontos fracos, algo a que não costumamos dar tanta importância.”

Seu nome também está impresso no Guinness como o dono da mais alta travessia de highline da história. Em dezembro de 2021, ele se equilibrou em uma fita de 18 metros de extensão esticada entre dois balões, a 1.901 metros do solo. O feito inédito aconteceu na cidade de Praia Grande (SC), região dos cânions, e rendeu o documentário Walking on Clouds, que rodou os maiores festivais de cinema de montanha do planeta e foi destaque no Banff Mountain

Film Festival, a maior mostra mundial de filmes sobre montanhismo e outros esportes radicais.

Depois de incontáveis quilômetros se equilibrando nas grandes alturas, rodeado de montanhas e prédios, Rafael se sente confortável sobre a fita. “Hoje a travessia em si não me dá mais tanta adrenalina”, diz. “Minha busca é pelo flow, por conseguir entrar em uma espécie de meditação ativa, um transe.”

O EQUILIBRISTA

Em janeiro, no dia do aniversário de 469 anos de São Paulo, Rafael colocou uma fita entre dois edifícios com vista privilegiada do Vale do Anhangabaú, no Centro Histórico da cidade. Usando um chapéu de pescador sobre os longos cabelos encaracolados e uma camiseta verde fluorescente, o catarinense era observado atentamente por uma multidão lá embaixo.

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Ele levou cerca de 25 minutos para percorrer uma distância de 510 metros a mais de 100 metros de altura, um feito que foi televisionado ao vivo e que agora aguarda a homologação da International Slackline Association (ISA) para ser promovido ao “maior highline urbano da América Latina”.

O que nenhum espectador imaginava era que, no dia anterior, Rafael estava reunido com o alto escalão do governo de São Paulo para acertar as obrigações legais e poder estar ali, performando como um atleta recordista. “O highline envolve tanta complexidade que a caminhada sobre a fita se torna apenas um pequeno percentual de todo o projeto”, minimiza.

Para ser um dos maiores nomes do esporte no mundo, Rafael aprendeu a ser executivo, produtor – e até modelo e influencer. Para ele, o mais difícil é ter que lidar com a burocracia necessária para aprovar suas exibições. Mesmo possuindo e apresentando certificados internacionais de escalada e outros documentos que comprovam o seu conhecimento técnico – além de se considerar um “engenheiro honoris causa” (já que

nunca concluiu o curso de Engenharia) e trabalhar com uma equipe de profissionais capacitados –, Rafael tem sempre que explicar porque suas montagens são 100% viáveis e seguras.

Foi só depois de muita persistência que ele conseguiu, em 2020, esticar a fita sobre a ponte Hercílio Luz, que liga Florianópolis ao continente. Esse é o highline do qual ele mais se orgulha. É também por ser obstinado que Rafael, em breve, deverá se equilibrar sobre as Cataratas do Iguaçu. “Estou há sete anos batendo cabeça nesse projeto, mas acredito que finalmente vou realizá-lo este ano”, diz.

Na sua lista de “planos mirabolantes”, há um highline acima dos sete mil metros nos Himalaias e outro estratosférico, em que ele deve se equilibrar a 50 km de altitude para ver a circunferência da Terra por um novo ângulo. “Tenho mais de 30 ideias para serem tiradas do papel”, revela. “Algumas são projetos multimilionários que eu quebro em pedacinhos até que sejam concretizados.” Para ele, mais importante do que realizar um sonho é nunca parar de sonhar.

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“Minha busca é pelo flow, por conseguir entrar em uma espécie de meditação ativa”

4 – Travessia realizada em Floripa, o “quintal de casa”, segundo Rafael

5 – O highline feito em comemoração ao aniversário de São Paulo: 510 metros de distância a 114 metros de altura

COM EMOÇÃO

Rafael Bridi indica documentários para se saber mais sobre o esporte

Dialética do Equilíbrio, 2015

O atleta é um dos destaques do filme produzido por ele e Rodrigo Ferrari, que conta como a modalidade virou uma espécie de religião. Mostra a evolução do highline desde o primeiro de que se tem notícia, feito por Scott Balcom, no Yosemite (EUA).

O Equilibrista, 2008

Em 1974, antes de existir o highline, o equilibrista francês Philippe Petit teve a brilhante ideia de esticar um cabo de aço entre as Torres Gêmeas, em Nova York, para ser o protagonista de uma verdadeira obra de arte – não autorizada. A produção levou Oscar de Melhor Documentário.

Walking on Clouds, 2022

O filme mostra como foi concebido o projeto e a execução do highline mais alto do mundo, reconhecido pela instituição Guinness World Records. Em uma corda esticada entre dois balões, Rafael caminhou nas nuvens, a mais de 1.900 metros de altura. Em breve, a produção chegará às plataformas de streaming

The Dreamcatcher Project, 2022 Nas profundezas das montanhas de San Juan, no Colorado (EUA), um grupo de amigos se reuniu em uma aventura épica em torno do esporte. Pense em uma travessia de 1.111 metros de extensão a quase quatro mil metros de altitude.

Untethered, 2015

Para entender como o canadense Spencer Seabrooke quebrou um recorde mundial ao caminhar 64 metros em um highline freesolo (ou seja, sem usar equipamento de proteção para o caso de uma queda). O feito, que aconteceu em 2015, nas Montanhas Rochosas Canadenses, é mostrado ao lado de imagens de highlines sobre lagos e outras atrações na natureza.

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VIAGEM

A BORDO DE UM SUV

MEU CARRO É VERMELHO

Contrariando previsões pessimistas, Rebeca Martinez percorre o trajeto São Paulo - Foz do Iguaçu – são 2 mil km! – a bordo de um veículo 100% elétrico e revela aqui como cair nessa estrada sem volta

Os veículos elétricos vieram para ficar, não há dúvidas. Mas muita gente ainda diz ser impossível atravessar grandes quilometragens com eles. Quando comentei com amigos que faria o trecho São Paulo-Foz do Iguaçu a bordo de um E-Tron S Sportback, da Audi, não faltaram frases do tipo: “Com essa distância, é capaz de você voltar de guincho”. Mas, como uma aficionada ao assunto, eu estava decidida a provar o contrário. E é sobre isso que falo no relato a seguir. E aqui vale um parêntese: minha família trabalha nessa área, e crescer em meio a carros e assistindo a Fórmula 1 me permitiu conhecer diversos modelos, o que tornou fácil essa paixão.

Voltando à aventura, em poucos minutos estava totalmente confortável no banco, graças às possibilidades de ajustes da “fera” que iria conduzir. Saímos antes do sol raiar rumo a Curitiba para evitar o trânsito da capital paulista. Pai e filha; um com receio da empreitada, outro querendo mostrar que era possível.

A rota tinha marcações com os postos de abastecimento e as distâncias. O trecho até Curitiba conta com o maior número de endereços para recarga – nossa primeira parada foi depois de 190 km,

Foz do Iguaçu

No alto, o Belmond Hotel das Cataratas; acima, o SUV da Audi usado para ir até o destino com 65% de carga restante. Ali, no posto Graal Buenos Aires, o carregador é ultrarrápido e conseguimos voltar para os 100% antes mesmo de terminarmos o café. Detalhe: na volta, o mesmo local levou o marcador a registrar autonomia de 507 km, acima dos 446 km (de acordo com a nova margem de segurança 380 km) declarados anteriormente, prova de que a maneira de conduzir faz diferença.

Meu pé seguiu leve no acelerador, apesar da vontade de testar os 503 cavalos de potência. Afinal, depois de tanto ouvir que não seria possível, uma voz ficou, ali, pedindo cautela. Menos de uma hora depois e outra parada para carregar, chegamos a Curitiba.

Antes de experimentar a eletrovia mais completa até então, a da BR 277, almoçamos com amigos, que comprovaram:

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“De Curitiba até Foz do Iguaçu, nada menos que 11 pontos de recarga”

dirigir um elétrico como esse é colecionar viradas e mais viradas de pescoço.

De Curitiba até Foz do Iguaçu, nada menos que 11 pontos de recarga. No sobe e desce da serra, a autonomia oscilou bastante e reduzir a velocidade usando paddle shift aumentou muito sua capacidade. As curvas pareciam suaves, mas, ao ouvir o cantar dos pneus do SUV logo à frente, arrisco dizer que até a estrada percebeu a diferença entre a estabilidade do E-Tron, que gruda no chão, sem balanço de traseira ou ruídos. Incrível! Ao longo do trajeto, entoamos canções sertanejas da minha infância – e muitas risadas – para deixar a experiência ainda mais especial.

A noite chega e guiar no escuro e com neblina está longe de ser o ideal. Mas o que ninguém vê é o quão

Alguns dos muitos pássaros vistos na região e a potência do E-Tron nas curvas

assistidos estamos. A visão noturna revela qualquer indício de calor, mudando de cor ao identificar a presença de animais e pessoas próximos à pista. Assim, meu olhar segue longe, sem preocupação com o farol alto, que recorta de acordo com o tráfego contrário e abaixa quando há carros à frente, sem ofuscar ninguém. Nas curvas, o E-Tron se mostra presente, quase como se fizesse o balanço por mim. Reparo que a pista está molhada e o carro parece ter nascido para esse tipo de solo. Acelero um pouco e nada muda. Com carga total e melhor noção do consumo, me sinto pronta para ultrapassar duas carretas e um caminhão baú e, para meu espanto, faço isso em menos de cinco segundos e sem encostar no fundo do pedal. Finalmente, pude

colocar em uso a força impressionante dos três motores e o torque avassalador de 973 Nm. A sensação é apaixonante e, ao meu lado, os olhos bem abertos do meu pai estão ali para provar! Verdade seja dita, sabendo da precisão com a qual as manobras são feitas com ele, o desejo por uma via como “Autobahn” é latente. Vou acalmando a vontade de acelerar. Ao passarmos por uma casa elevada de madeira, meu pai se lembra da primeira vez que veio a Foz com meu avô, que era madeireiro e fazia o trajeto com frequência. Os olhos saudosos parecem ver novamente as Cataratas e a estrada, enfim. E assim, entre lembranças e aceleradas, concluímos parte de uma viagem que, desde o início, trouxe momentos para serem guardados na memória.

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Viagem | FOZ DO IGUAÇU

Viagem | FOZ DO IGUAÇU

UM DIA NAS CATARATAS

Depois de uma longa estrada a bordo de um SUV, nada como descansar no clássico dos clássicos quando se trata de Foz do Iguaçu: o Belmond Hotel das Cataratas

Basta entrar nos amplos salões do Belmond para entender a grandiosidade desse hotel, que há tempos se consagrou como objeto de desejo para quem visita as Cataratas. E, depois de horas na estrada, mergulhar em sua piscina ou tomar um drink no bar parecia uma recompensa necessária.

Opto pelo bar e, enquanto aprecio um dos coquetéis inspirados nos pássaros da região, entendo um dos grandes trunfos do Belmond: sua localização, em pleno Parque Nacional das Cataratas. Isso significa que os hóspedes podem visitar a atração principal antes da abertura para o público em geral, e posso dizer que isso fez a diferença nos meus dias por lá.

Além de apreciar o espetáculo das águas, adorei a trilha do Macuco Safári, o mundo mágico e colorido do Parque das Aves e o sobrevoo de helicóptero – só assim para entender a força da natureza.

De volta ao hotel, não poderia terminar minha aventura sem uma passada no restaurante do Belmond. Afinal, era preciso me preparar para cair na estrada no dia seguinte. Então melhor fazer isso em grande estilo, mais precisamente com um jantar harmonizado com vinhos do Paraná – destaque para o fondant de milho, apelidado de Petit gateau brasileiro.

Fui dormir pronta para os mais de 1000 km que viriam no dia seguinte e com a certeza de que quero voltar. De preferência, seguindo os conselhos locais: em uma semana de lua cheia, quando as Cataratas ganham um tom único de prateado.

“Depois da estrada, mergulhar na piscina do Belmond ou tomar um drink no bar parecia uma recompensa necessária”
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O visual noturno das Cataratas e detalhes do Belmond, um dos hotéis mais especiais do destino

PÁGINAS AMARELAS

Endereços e serviços que estão em alta: um guia inteligente por Carbono Uomo

Ilustração Mona

“At Athens, wise men propose, and fools dispose” (Alcuin)

RIO-SÃO PAULO

Clássicos cariocas – da cena boêmia ao circuito fashion – que pegaram a ponte aérea e agora são sucesso também em solo paulistano

LIVRARIAS

Arquitetura, LGBTQIA+, universo infantil, temática. Crescem as livrarias especializadas em um determinado assunto.

É ler para crer!

AMOR GREGO PADARIAS

A boulangerie do Le Jazz abre as portas e nós relembramos outros restaurantes que ganharam suas próprias padarias. Tá quentinho, tá favorável!

PRESENCIAL

Conheça nossas indicações de negócios que nasceram on-line na pandemia, mas que agora tem seu próprio CEP

ELÉTRICAS

Aos fãs da moussaka: São Paulo, Rio, Florianópolis e Salvador têm bons restaurantes gregos para chamarem de seus

GLUTEN FREE

Um manual rápido para ajudar os portadores de doença celíaca a encontrar um caminho leve e saboroso longe do glúten e daquele pãozinho insosso

Para andar por cenários inóspitos ou competir, as mountain bikes elétricas conquistam cada vez mais espaço entre os aventureiros de plantão

TESTADO E APROVADO Nem só galeria, nem só restaurante: um projeto gastro-artsy inovador e saboroso

EMBARQUE ABERTO

A cultura carioca ganhou de vez os corações – e os bairros –paulistanos. Vem saber quais marcas do Rio chegaram em São Paulo e o motivo de tanto sucesso

Por Isabel de Barros

O Rio de Janeiro continua lindo, já dizia Gilberto Gil. E o carioca segue apaixonado por sua cidade e sua identidade. Não à toa, a cultura do Rio virou um negócio e tanto. Ela é desejo de consumo do paulistano workaholic, sempre no escritório ou no home office, que só quer mesmo é consumir um lifestyle mais descontraído nos finais de semana. “Em São Paulo, o que a gente tem é o trabalho. O Rio de Janeiro oferece o melhor da vida logo ali. Tem uma praia todo dia gritando: viver não é só pagar boleto”’, comenta Marcela Ceribelli, CEO da Obvious, que morou no RJ por 17 anos.

As marcas nativas entenderam isso e alguns de seus clássicos pegaram a ponte aérea para aterrissar

em solo paulistano. “De uns anos para cá o jeito descontraído do carioca ganhou adeptos em São Paulo. E isso ficou ainda mais evidente na pandemia, quando as pessoas reavaliaram seus estilos de vida. O paulistano, que está sempre tenso e arrumado, passou a se inspirar na leveza simples e descolada do carioca”, diz a autora da newsletter de tendências Amo News Alessandra Garattoni, nascida no Rio, mas moradora de SP há quase 20 anos. Fato é que o paulistano quer mesmo ter um pezinho em solo carioca sempre que pode. E, quando não dá tempo de uma ponte aérea, o jeito é descobrir os endereços mais legais para se sentir o(a) próprio(a) menino(a) do Rio.

Os paulistanos têm a sorte de contar com dois botecos cariocas, verdadeiras instituições locais, para chamar de seus. O Braca Bar é uma filial não oficial do Bracarense, trazida à cidade pelo neto do fundador. O Bracarense surgiu em 1961 como reduto de publicitários que gostavam de se sentar em caixas de cerveja na calçada para beber “só na louça” – ou copo de vidro. A versão paulistana mantém a tradição com o chope gelado. Já o Boteco Rainha, inaugurado no Rio em 2020, conquistou São Paulo recentemente com as delícias criadas pelo chef Pedro Artagão. @bracabar @boteco_rainha

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BRACA BAR E BOTECO RAINHA
BZ9,
Fotos
Wagner Méier e divulgação

LIVRARIA DA TRAVESSA

Não há dúvidas de que ser uma livraria significa ser resistência e é exatamente assim que, desde 1970, a Livraria da Travessa tem ganhado espaço – e, nos últimos anos, ultrapassado fronteiras. A instituição carioca, que abriu sua primeira loja no Centro do Rio, conquistou os leitores paulistanos em pouco tempo. Além das três lojas na Pauliceia – a maior delas contempla um projeto incrível inaugurado no ano passado no Shopping Iguatemi –, há planos de se abrir uma nova unidade no Shopping Villa-Lobos, no lugar da livraria Cultura, que fechou as portas recentemente. @livrariadatravessa

MOMO GELATERIA

Do Leblon para a Oscar Freire veio a sorveteria fenômeno da Zona Sul carioca, a Momo Gelateria. Não é raro ouvir de seus conterrâneos que não há sorvete melhor – e quem prova versões como chocolate belga, brigadeiro e fior de latte e caramelo salgado tende a concordar. Com seis lojas por lá, a rede chegou no fim do ano passado a uma das ruas mais icônicas de São Paulo e já tem planos de expansão. Os 30 sabores da casa caíram nas graças dos paulistanos, que andam se aglomerando em filas para conhecer o famoso e saboroso gelato carioca. @momogelateria

THE DRY CLUB

Renata Merquior, carioca radicada em São Paulo, é “O” nome para se conhecer nessa ponte aérea de marcas, afirma Alê Garatoni. Mãe de quatro, Renata aterrissou em terras paulistanas vinda dos EUA e decidiu fundar o The Dry Club, espaço dedicado aos serviços rápidos de beleza. Na pandemia, com o salão parado, ela e a sócia resolveram inventar moda, literalmente. E o que parecia um movimento provisório vingou: o The Club Shop é uma multimarcas on-line com mais de 45 endereços, incluindo cariocas como ID Bags e Andrea Marques. @thedryclub | @theclub_eshop

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QUENTINHO E GOSTOSINHO VERSÃO 2.0

Um bom pão é um caminho sem volta, tanto para quem faz quanto para quem consome. E foi nesse processo que surgiu a ideia da recém-inaugurada padaria Le Jazz. Conheça essa e outras boulangeries que nasceram de restaurantes já bem estabelecidos

Por Isabel de Barros

Prepare-se para conhecer a Le Jazz Boulangerie. A primeira padaria do Le Jazz fica pertinho da casa número um do grupo, também em Pinheiros, só que desta vez em um edifício residencial. Bem a cara do trio Chico Ferreira, Paulo Bitelman e Gil Carvalhosa Leite, que desde 2009 aposta suas fichas em projetos inovadores. Afinal, quando o primeiro Le Jazz abriu as portas, a Rua dos Pinheiros era mato e nem de longe o polo gastronômico de hoje – tanto que no imóvel escolhido funcionava uma oficina.

Voltando à padaria, a ideia nasceu na pandemia, quando o chef Chico teve tempo para explorar e pesquisar mais a fundo os pães. “Apaixonei-me pelo processo, pela fermentação, por ser algo tão simples e ancestral. Feito somente com farinha, água e sal e, mesmo assim, tão complexo, intuitivo, temperamental”, descreve ele, como se falasse de uma pessoa. Com o encantamento veio

também o paladar mais atento: “A digestibilidade de um pão que fermenta 12, 24, 48 horas é completamente diferente de um pãozinho cheio de fermento e açúcar, fermentado por duas horas. Não dá para comparar. E falo isso sem desmerecer um pão francês bem feito.” Nascia, assim, a vontade de abrir uma padaria artesanal com a cara do Le Jazz. Franco-brasileira que mistura delícias como o pain au chocolat ao dinamismo de uma padoca nacional, que vai muito além dos pães fresquinhos. Projetado por Fabio Bruschini, o mesmo arquiteto dos outros endereços, o local funciona das 7h às 22h e, no almoço, oferece um buffet de saladas e pratos quentes. Há ainda um minimercado com coisas para levar, como tarte tatin, frios e muito mais. Ah, e, a partir de agora, as demais casas do grupo – quatro restaurantes e um bar, o Petit – passam a ser abastecidas com pães próprios. @lejazzboulangerie

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Fotos Laís Acsa e divulgação

PÃO PRA TODA HORA

Além do Le Jazz, outras casas já trilharam esse mesmo caminho. Veja aqui:

Z DELI

Em 2011, o restaurante de cozinha judaica emprestou seu nome (e também seu banheiro) para o Z Deli Sandwiches, nos Jardins, São Paulo. De lá para cá, a casa dos netos das fundadoras do tradicional Z Deli expandiu seus negócios. Junto à unidade de Pinheiros veio a padaria, uma portinha lateral com a produção de pães de hambúrguer, bagel e chalá, o pão trançado tradicional da cultura judaica. @zdelisandwiches

PADOCA DAS MENINAS

No distrito de Maringá, em Visconde de Mauá, Noemi Delpasso e Renata Nesti comandam desde 2003 o Bistrô das Meninas. Com uma pequena livraria, o charmoso restaurante sempre fez seus próprios pães, mas, com a demanda das pousadas da região, a história cresceu. Há cinco anos, abriram a Padoca, na lateral, com pães de fermentação natural à base de farinha francesa. Não perca os croissants! @bistrodasmeninas2003

PADOCA DO CHEF

O chef em questão é Eudes Assis, do premiado restaurante de cozinha caiçara Taioba, que fica no sertão de Camburi, litoral Norte de São Paulo. Há um ano, ele abriu, em Boiçucanga, uma padoca com pães de fermentação natural, doces e pratos. Diariamente o perfil no Instagram anuncia o que sai do forno, incluindo o famoso pão de taioba, mais uma homenagem de Eudes às suas raízes e seu povo. @padocadochef_

Fotos
divulgação; Amanda Francelino; Mona
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ODISSEIA

Inaugurado recentemente, o Petros Greek Taverna é mais uma boa adição à lista dos restaurantes gregos que se espalham pelo Brasil. Inspirados na novidade, listamos outros endereços que estão no nosso radar quando bate o desejo de temperos do Mediterrâneo

MYK – SP

Desde que foi inaugurado, em 2013, o restaurante no bairro Jardins, em São Paulo, se tornou um dos melhores gregos da capital paulista. Tanto é que, anos depois, ganhou um irmão mais informal batizado de Kouzina. Com inspiração em Mykonos, o Myk tem frutos do mar fresquíssimos, saladas saborosas e entradas caprichadas. Nossa dica é pedir diversos pratos para compartilhar e, assim, provar um pouco de todas as delícias. Bons drinks acompanham!

@mykrestaurante | R. Peixoto Gomide, 1972, Jardins - São Paulo

Com tradição não se brinca. Então como falar desta culinária sem considerar o Acropolis? Aberto em 1959, o mais antigo restaurante grego de São Paulo segue impecável nos clássicos – do cardápio ao estilo de servir. Os fãs só lamentam a falta que Thrassyvoulos Petrakis, garçom que assumiu o comando da casa nos anos 1970, faz no salão – ele faleceu em 2016. Escolha entre as variedades do dia e vá até a janela da cozinha espiar os preparativos. @restauranteacropolis R. da Graça, 364, Bom Retiro - São Paulo

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ACROPOLIS – SP
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Fotos divulgação

PETROS GREEK TAVERNA – SP

Embalada por música grega, esta taverna em Pinheiros transmite a sensação de se estar, literalmente, em uma pequena vila no Mediterrâneo. Como diferencial, as receitas de família de um dos sócios e os preços mais moderados para o padrão paulistano. Não perca a moussaka, que em pouco tempo já entrou para a lista das melhores da cidade – tem uma boa versão vegetariana. Para acompanhar, vinho grego, ou algum drink com ouzo, destilado típico do país. @petrosgreektaverna

R. Virgílio de Carvalho Pinto, 137, Pinheiros - São Paulo

OIA COZINHA MEDITERRÂNEA – RJ

Curioso pensar que o primeiro restaurante grego em solo carioca é este, inaugurado em 2017 em Ipanema. Receitas gregas e mediterrâneas se misturam e ainda ganham um delicioso toque contemporâneo. Os pratos principais são deliciosos, mas é difícil resistir à tentação de pedir várias entradinhas para compartilhar – prove o Feta Popcorn, cubos de queijo com mel e flor de sal, e os chips incrivelmente sequinhos e crocantes de abobrinha e berinjela. @oiacozinhamediterranea

R. Barão da Torre, 340 A, Ipanema - Rio de Janeiro

PARGUS SEASIDE – SC

Misto de restaurante e beach club, o Pargus, em Florianópolis, é inspirado em Mykonos e, assim como muitos endereços da famosa ilha grega, costuma ficar lotado em almoços tardios aos finais de semana – garanta uma mesa no pôr do sol, considerado o mais bonito do destino. Entre as boas opções gastronômicas estão as entradinhas perfeitas para serem compartilhadas – não deixe de provar pastinhas como o homus, o ragu de polvo e as ostras fresquinhas de Santa Catarina. @pargusfloripa

Rod. Gilson da Costa Xavier, 41, Santo Antonio de Lisboa - Florianópolis

FIRA – BA

A capital de Santorini, com suas charmosas casinhas em tons de azul e branco, inspira esse simpático restaurante, sucesso em Salvador. Espere por pratos clássicos, como a salada grega e a moussaka, além de opções feitas com frutos do mar recém-capturados. Outra boa pedida são os pães fresquinhos, todos feitos na casa, que ficam uma delícia com pastinhas como o homus e a coalhada. Para acompanhar, cervejas artesanais e alguns bons drinks. @firarestaurante

Al. dos Sombreiros, 1110, Pituba - Salvador

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QUAL É A TUA?

Livrarias se especializam para atender ao interesse do público, cada vez mais diverso

Por Luisa Alcantara e Silva

Você vai a uma livraria e, com sorte, encontra uma seção dedicada especialmente para um universo, como o LGBTQIA+. São, no máximo, algumas prateleiras dentro de uma grande loja cujos vendedores devem poder falar sobre todos os títulos. De olho nessa questão, alguns empreendedores criaram livrarias especializadas em determinadas temáticas. Quem visita essas lojas encontra uma curadoria focada, como a feita por Ketty Valencio em seu espaço batizado de Africanidades, voltado às narrativas escritas por mulheres pretas. Ou títulos brasileiros e internacionais de arquitetura, escolhidos sob o crivo do dono da Eiffel, Leo Wojdyslawski. Quer conhecer algumas delas? Confira nossa seleção de livrarias especializadas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

EIFFEL

Leo Wojdyslawski largou uma longa carreira na advocacia para se dedicar a um sonho. Sua livraria Eiffel foi aberta em dezembro passado, no edifício de mesmo nome, assinado por Oscar Niemeyer e Carlos Lemos no Centro de São Paulo. Mas não é qualquer livraria: são 3.000 títulos especializados em arquitetura e urbanismo. E Leo, entusiasta assumido do tema e antigo morador do prédio, está sempre por lá, cuidando de tudo. “Escolhi esse endereço porque é um polo de arquitetos”, finaliza ele, referindo-se a pontos como o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e escolas de arquitetura da região. @livraria_eiffel

“Tem muita gente que, ao entrar aqui, diz que nunca havia imaginado estar em um lugar em que fosse maioria”, conta, orgulhosa, Caroline Fernandes, sócia da livraria Pulsa, dedicada exclusivamente à temática e autorias LGBTQIA+. O espaço, aberto em abril de 2022 dentro do Bar Das, em Santa Cecília (São Paulo), acaba de se mudar para o Rio de Janeiro. Inaugurou a unidade carioca em fevereiro, no bar Mãe Joana, no bairro Botafogo. Natalia Borges Polesso, que ganhou o Prêmio Jabuti por Amora, e Brigitte Vasallo, autora de O Desafio Poliamoroso, estão entre as mais buscadas. @livrariapulsa

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PULSA

AFRICANIDADES

Incomodada com a falta de representação das negras na sociedade, Ketty Valencio escolheu um plano de negócio de uma livraria especializada em autoras pretas como trabalho final de seu MBA em Bens Culturais. Terminou o curso e decidiu implementar a ideia. Em 2014, sua livraria Africanidades foi aberta, ainda de forma virtual – hoje, a loja tem um espaço na Vila Pita, em São Paulo. “Cada conquista é a peça de um quebra-cabeça que se encaixa na minha história, que também é a história de um movimento. E é a validação de um sonho sonhado coletivamente com as minhas ancestrais”, diz Ketty. @livrariafricanidades

PANAPANÁ

A engenheira Fernanda Martins é um exemplo de como a maternidade pode moldar a vida de uma mulher. Cliente da livraria de títulos infantis Panapaná desde que sua primeira filha nasceu, ela se viu em uma missão quando soube que a loja corria o risco de fechar na pandemia e, em janeiro de 2021, assumiu a gestão do espaço na Vila Clementino. “Com todas as instabilidades que apareceram no mundo, conseguimos dar continuidade a esse lindo legado que é acolher e formar novos leitores”, afirma Fernanda. São cerca de 3.000 títulos destinados aos bebês, às crianças e aos jovens. @panapana_livraria_infantil

Fotos Arthur Duarte e divulgação 139

HERDEIROS DA PANDEMIA

Conheça a história de empresas paulistanas que nasceram on-line, quando sair de casa era uma utopia, e acabaram ganhando um ponto físico devido ao sucesso

É comum ouvir histórias sobre “aquele restaurante de bairro”, que funcionava há décadas, e acabou na pandemia. Ou a pequena livraria que também não reabriu. Só nos primeiros dois anos da covid-19, cerca de 600 mil empresas fecharam as portas, segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua. Mas, em um movimento contrário a esse, houve quem conseguisse usar o momento em que todos estavam trancados em casa para ter novas ideias e lançar negócios virtuais. Alguns, inclusive, fizeram tanto sucesso com ferramentas como delivery e lives, que acabaram migrando para o mundo real. A seguir, selecionamos locais que nasceram on-line, mas conquistaram um endereço físico em São Paulo.

QUINCHITO

Um fast-food vegetariano. Assim o Quinchito, filhote do restaurante Quincho, se autodenomina. Tudo começou na pandemia, quando a chef Mari Sciotti criou a Mercearia do Quincho, com entrega de itens do menu embalados a vácuo. O tempo passou e ela percebeu que poderia crescer apostando na comida prática, com pratos prontos e sanduíches. Começou on-line e, em 2022, foi inaugurado o Quinchito, no térreo do imóvel em que funcionam o escritório e a cozinha de produção do Quincho, em Pinheiros. @oquinchito

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Por Luisa Alcantara e Silva

CONFEITARIA DAMA

Assim como outros endereços gastronômicos, as entregas foram a salvação da confeitaria Dama na pandemia. E, com as portas fechadas, as irmãs Mariana e Daniela Gorski decidiram vender, além dos doces prontos, a experiência. “As famílias queriam fazer atividades juntas, em casa, mas chegou um momento em que não podiam mais passar horas cozinhando”, conta Mariana. O Empório Dama, portanto, surgiu para oferecer soluções práticas, como a base e o recheio de um bolo. Fica em Pinheiros. @confeitariadama

WASHOUT

“Tem quem precise lavar roupa e também quem esteja com a máquina ociosa em casa”, afirma Vittor Straus Jardim, que criou a Washout em 2020, justamente para conectar essas pessoas. Hoje, já são 30 washers, como são chamados os colaboradores. E, em 2022, mais uma ideia inovadora: de olho no mercado corporativo, a Washout abriu seu primeiro ponto físico na sede da fabricante de eletrodomésticos Whirlpool, em São Paulo. “O plano é levar a ideia para outras dez empresas “, finaliza Vittor. @oficialwashout

ZÉ YOGA

O instrutor de ioga José Luiz Corradi, conhecido como Zé Yoga, era contra aulas on-line. Mas, com a pandemia, se viu fazendo lives diárias e pulou de 2 mil seguidores para quase 22 mil, que o ajudaram com contribuições voluntárias. No fim de 2021, já de olho na volta da vida presencial, Zé chamou uma amiga para abrir o Estúdio Zé Yoga, no Alto de Pinheiros. “Eu digo que é um centro cultural”, conta ele, sobre o espaço em que, além de aulas, atualmente promove eventos, bazares, encontros e afins. @ze.yoga

MAKE HOMMUS. NOT WAR

Fred Caffarena buscava um ponto para abrir uma casa especializada em homus, aquela pasta de grão-de-bico, quando veio a pandemia. Guardou o projeto para cuidar do delivery de seu outro restaurante, o Firin. Mas, ao perceber que a crise demoraria, migrou a ideia da “homuseria” para o sistema de entregas. Deu tão certo que Fred fechou o restaurante principal e, em 2022, inaugurou o espaço da Make Hommus. Not War na Rua Oscar Freire – são 50 quilos de grão-de-bico processados diariamente. @makehommus

Fotos
Mazza e divulgação 141
Helena

PÃO? NÃO... PÃO? SIM!

Celíacos já somam 1% da população mundial. Aqui, doces, lanches, sorvetes, massas e até medicamentos para quem não pode - ou simplesmente não quer - se glutenizar

De cada 100 pessoas que passam por você uma delas tem doença celíaca. Trata-se de uma reação autoimune causada pelo consumo de glúten, fazendo com que o sistema imunológico do portador ataque seu intestino delgado – impedindo o organismo de absorver nutrientes importantes – toda vez que ele morder aquele pãozinho. O não tratamento adequado da doença (que não é intolerância ou alergia!) pode resultar em desnutrição, dano intestinal e outras complicações mais graves. A boa notícia é que o cuidado não se resume a remédios, injeções ou exames mil. É um só: não ingerir glúten. E onde mesmo tem glúten? “Sin TACC”, a sigla espanhola para “sem glúten”, explica bem: trigo, aveia, cevada e centeio. Confira algumas dicas para manter a saúde – e o humor – em dia passando longe daquele italiano do seu bairro.

CONFEITARIA MAYNART

Dica doce para os baianos. Pioneira no ramo da confeitaria inclusiva, esta casa em Salvador só pensa nas formiguinhas celíacas, veganas e portadoras de alergias. Bolos, ganaches, pizzas e empadas sem glúten, leite, ovos, nuts, soja and contaminação cruzada! @maynartjanaina

Bateu aquela vontade de uma comidinha mais comfy? Deli Burger e Deli Esfiha são responsáveis por proporcionar aos celíacos aquele gostinho de comida tradicional com suas excelentes esfihas e seus ótimos hambúrgueres off glúten. No sistema delivery na sua gluten free zone @deliesfihasemgluten @deliburgersemgluten

DELI BURGER E DELI ESFIHA
Fotos divulgação Páginas amarelas

CANTINA SEU GINO

Com uma linha de produtos 100% apta para celíacos, foi classificada como a primeira cantina gluten free do Brasil. Pense em deliciosos rondellis, canelones e capelettis com uma boa variedade de molhos preparados em uma cozinha toda estruturada para atender quem tem que passar longe das trattorias tradicionais. @seugino

NIMA SENSOR

Esse sensorzinho promete salvar os gulosos em dúvida se o que estão prestes a devorar tem ou não tem alguma partícula temida pelos celíacos. Basta inserir um pedaço do alimento no aparelho e voilà! Se ele sorrir, manda bala. Se não, joga longe! @nimasensor

FARMÁCIA HMSNATURAL

A primeira farmácia do País focada em fórmulas para veganos, alérgicos e celíacos. São especializados em manipulados sem derivados de leite, soja, ovo ou glúten. @hmsnatural

EMPÓRIO CASA SANTA LUZIA

Seu segundo andar é tido como o paraíso dos celíacos. Uma seção imensa de produtos e alimentos nacionais e importados para não-celíaco nenhum botar defeito. @casasantaluzia

Gluten Free

SORVETERIA DIO MIO GELATO

Sorvetes de massa e picolés com sabores sofisticados, tipo baunilha de madagascar e red velvet. Todos são livres de glúten, com opção de sem açúcar, sem gordura e sem culpa. Mas com sabor! @diomiogelato

VAI VIAJAR?

Elisa Pequini, viajante e celíaca dá dicas de onde comer gluten free mundo afora. @glutenfreetrips #glutenfreenãoémimimi

FICA A DICA

Uma expressão que todo celíaco conhece de cor: contaminação cruzada. Acreditam que, mesmo quando um produto é totalmente sem glúten, ele pode ter se deparado com um farelinho de aveia no ar lá nos campos de colheita, dentro do caminhão, na fábrica de embalagem ou até mesmo se alguém encostar uma pinça em um pão francês e depois usá-la para pegar um pãozinho sem glúten? Para garantir que a comida esteja limpa de “TACC”, além de usar eletrodomésticos exclusivos para os celíacos e sempre higienizar os utensílios de cozinha, os portadores costumam enrolar o prato que colocarão no microondas em saquinhos transparentes do estilo freezer roll. Vai que ele não está livre de partículas...

ALERTA VERMELHO

Até ração para pets, remédios, suplementos, cosméticos, balões de festa, massinha de modelar, giz de lousa e cola podem conter glúten em suas fórmulas. Alô, celíaco, pelo menos não vai mais sobrar para você a tarefa de encher todas as bexigas da próxima festinha. Vá direto para a mesa de docinhos – sem glúten, é claro!

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ENERGIA NAS TRILHAS

Depois de ganharem as ruas, as mountain bikes elétricas conquistam as trilhas nos vales do Brasil

Já faz algum tempo que as mountain bikes elétricas, ou simplesmente e-MTBs, conquistaram os Estados Unidos e a Europa como meio de lazer, mas também como parte de uma modalidade esportiva competitiva. Neste ano, o Circuito Mundial de e-MTB, chancelado pela União Ciclística Internacional (UCI), terá cinco etapas em países como Espanha, Itália e França. Aos adeptos apenas do for fun, o motor elétrico nas bicicletas de montanha deixou o pedal mais inclusivo do que nunca. Ciclistas iniciantes, fora de forma ou veteranos, por exemplo, agora têm a chance de acompanhar o ritmo de atletas mais experientes, mais fortes ou mais novos.

E é por isso que a popularidade das e-MTBs também cresceu no Brasil. Segundo dados da Associação

Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), a produção de bicicletas elétricas no País teve um aumento de 5,4% em 2022 se comparada com o ano anterior. E os modelos de mountain bikes do gênero, que já estão no catálogo das principais marcas nacionais, ajudaram a engrossar o caldo. É verdade que os preços dessas magrelas não são tão atraentes – algumas chegam a custar o mesmo que um carro de luxo. Ainda assim, já existem e-MTBs com boa tecnologia, capazes de oferecer uma experiência marcante a qualquer um que queira começar no esporte, por valores atraentes. Lugares para pedalar também não faltam – com bom senso e respeito, chega-se longe.

Um dos melhores modelos desde a invenção dessa categoria, a Turbo Levo é uma full suspension que entrega performance e conforto, com os melhores componentes e tecnologias, incluindo o motor Turbo Full Power 2.2. A autonomia da bateria pode ser administrada por meio do app Mission Control, para que a experiência elétrica dure durante todo o pedal. Pesa 22,4 kg. A partir de R$ 53.000. specialized.com/br

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SPECIALIZED TURBO LEVO

SCOTT LUMEN ERIDE 900

Uma versão levíssima, com as tecnologias necessárias para a melhor experiência off-road. Vem de fábrica com o motor alemão TQ HPR 50, de 1,8 kg, e bateria interna de 360 Wh, que pode ser complementada por uma extra de 160 Wh. A suspensão com tecnologia TwinLoc permite controlar a eficiência da pedalada e a geometria da bicicleta, conforme o terreno e o ciclista. Pesa 15,5 kg e custa R$ 90.000. scott-sports.com

OGGI BIG WHEEL 8.3

Equipada com motor central Shimano E7000 250W, suspensão Rock Shox e relação Shimano Deore de 11 velocidades, o modelo nacional oferece um excelente custo-benefício. Com autonomia que pode variar entre 40 e 81 km, a Big Wheel tem garantia de quadro, bateria e pintura. O tempo médio de recarga da bateria é de 6 horas e meia, mas com metade desse tempo chega-se a 80%. Com 20 kg, custa R$ 16.000. oggibikes.com.br

SENSE IMPACT E-TRAIL

O modelo de entrada da marca nacional Sense tem geometria moderna, bateria de 504W integrada ao quadro, motor Shimano Steps E-7000 e três níveis de potência no pedal assistido. A mountain bike, que está em sua terceira edição, tornou-se realidade depois de um trabalho de 15 meses de desenvolvimento. Pesa 21,7 kg e custa R$ 23.990 sensebike.com.br

ROTEIROS

Três roteiros para você começar a pedalar uma e-MTB e se apaixonar

MANTIQUEIRA

Monte Verde é um distrito mineiro na Serra da Mantiqueira, na divisa com o estado de São Paulo, que oferece diversão para quem curte explorar trilhas sobre duas rodas. Você pode tanto seguir pelas singletracks locais e secretas quanto encarar um circuito de 50 km de extensão, passando por São Francisco Xavier (SP), com direito a subidas, descidas e cachoeiras no caminho. mtbmonteverde.com.br

JAPI

A Serra do Japi, uma pequena cadeia de montanhas com Mata Atlântica preservada no Sudeste do estado de São Paulo, entre as cidades de Jundiaí e Cabreúva, tem as condições perfeitas para o mountain bike, além de lindas paisagens. O cenário inclui trilhas desafiadoras, montanhas exuberantes e um excelente ponto de apoio, com vestiário, restaurante e espaço para lavar as bikes @bikehotelserradojapi

TEST DRIVE NO INTERIOR

Você não precisa ter a sua própria mountain bike elétrica para experimentar a sensação do “pedal assistido”. Em Jaguariúna, no interior de São Paulo, é possível alugar uma moderna e-MTB para percorrer duas trilhas, uma de nível iniciante e outra, avançado. Há ainda a opção de se hospedar num dos confortáveis e aconchegantes chalés com vista da natureza, ou reservar o day use @a.casa.do.alto

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Onde o tucupi tem vez

Pense em um restaurante que não é bem um restaurante com uma galeria de arte que não é só uma galeria de arte e mais dois chefs – estes sim, chefs pra valer! Ou seja, um experimento diferente de quase tudo o que você já viveu em São Paulo. Fabio Battistella, ex-grupo Meza Bar, que operava o Doiz, o Barzinho e o Oztel, e ex-grupo BHG, do Hotel Marina, e Gabriel Haddad, um psicólogo apaixonado pelas caçarolas, são os nomes por trás do Tau Cozinha. Formado na Le Cordon Bleu, o duo, que se conheceu na escola de culinária francesa, é o responsável pelo lab gastronômico que está roubando a cena gulosa da cidade. Trata-se de um laboratório de cozinha vegetal – sim, tudo ali é 100% tubérculos, plantas, raízes e deliciosos afins –, que oferece um menu degustação sazonal em sete etapas de implorar por mais. São receitas exclusivas, criadas a quatro mãos, que exploram os sabores da terra de maneiras jamais pensadas. O sistema open lab brinca com a interação comilões X chefs,

uma vez que é possível entrar na cozinha da casa e ficar papeando com os cozinheiros enquanto preparam a paçoca com semente de puxuri, o linguini de ervas com missô de grão-de-bico e levedura (foto) ou o katsu (lanche japônes) com shitake marinado 24 horas em tucupi preto e teriyaki de tâmaras (foto). Os jantares intimistas, para grupos de até dez pessoas (and pets!), rolam na copa original de uma mansão de época no Jardim América (por ora, já que a ideia é ser itinerante, ou não... No Tau, é tudo sempre uma surpresa), cheia de histórias e mistérios. No térreo do casarão modernista, uma biblioteca dos anos 1950 e um espaço expositivo de arte contemporânea do núcleo Gema Gema Gema. Para finalizar, pasmem, os jantares (que, vale lembrar, podem ser pequenos eventos no formato chefs em casa) são harmonizados com aromas de velas artesanais da Sooví. Uma experiência sensorial impossível de se esquecer. Tau Cozinha | R. Venezuela, 365 - Jardim América | @taucozinha

146 TESTADO E APROVADO
Fotos Rodolfo Regini
@emporiofasano www.fasanoemporio.com.br
Celebre o dia a dia. Rua Bela Cintra, 2.245 – Jardins

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