Boletim salesiano

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Moรงambique - Ano XVII - Nยบ 67 - Abr/Mai/Jun/2017

'Ela estรก aqui e passeia no meio de vรณs!'

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Expediente Boletim Salesiano Moçambique Propriedade da Visitadoria Maria Auxiliadora Depósito legal: 01530/INLD/98 ANO XVII nº 67 Home page: boletimsalesiano.org.mz Directora Elvira Freitas – MTb 2939 csvisitadoriamoz@gmail.com Equipa de Redação Elvira Freitas Jaqueline O. Calderón Langa Ir. Ofélia Ramos Macuaia, FHIC Pe. Rogélio Arenal, SDB Pe. Benedito João Simone, SDB Augusto Rodrigues de Sousa, SDB Revisão Ir. Joaquim Gomes

SUMÁRIO Editorial.................................................................3 O Sucessor de Dom Bosco ................................4/5 Aqui nasceu o carisma .......................................6/7 Missionários no Mundo ...............................8/9/10 Olhar Panorâmico ..............................................11 FMA ..............................................................12/13 110 Anos dos Salesianos em Moçambique .....14/15

Agências de notícias InfoANS Rádio Vaticano Ecclesia

Especial - Festa de Auxiliadora .........................16/17

Projecto gráfico e maquetação Begildo José

Família que educa .........................................20/21

Redacção Rua 5.011, nº 189 – Bairro Luís Cabral Maputo - Moçambique +258-21404074 +258-821716573 +258-849283597 www.boletimsalesiano.org.mz O Boletim Salesiano reserva-se o direito de condensar/editar as matérias enviadas como colaboração. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista, sendo de total responsabilidade de seus autores.

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Vocações .......................................................18/19

ISDB ............................................................22/23 Voluntariado ad gentes ..................................24/25 Repórter salesiano ........................................26/27 Vidas que marcam .........................................28/29 Testemunho de vida ............................................30


Editorial

Temos mãe!

A confiança ilimitada em Nossa Senhora fará de vós jovens vitoriosos”. A frase é de São João Bosco e foi uma de suas muitas motivações não só para os jovens, mas para todos os cristãos, de quem Maria tem sido auxílio desde que, aos pés da cruz, seu Filho nô-la deu numa belíssima maternidade espiritual: “Filho, eis aí a tua Mãe!”. Como é confortante e nos dá segurança saber que temos mãe que se preocupa connosco e cuida de nós. “Queridos peregrinos, temos Mãe. Agarrados a Ela como filhos, vivamos da esperança que assenta em Jesus (…)”. Foi a exortação que o Papa Francisco nos fez, em sua homilia em Fátima (Portugal), por ocasião da celebração dos 100 anos das aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos – celebração que teve o apogeu na canonização de São Francisco Marto e Santa Jacinta. O Papa exortou-nos a fundar a nossa esperança na humanidade que Jesus assumiu no ventre da Mãe e exprimiu o desejo de que essa esperança seja a alavanca da vida de todos nós! “Uma esperança que nos sustente sempre, até ao último respiro”. Neste Maio que chega ao fim, e que foi todo dedicado à nossa mãe, o Boletim Salesiano também homenageia Nossa Senhora, Auxiliadora dos Cristãos, a começar pela mensagem do Reitor-mor, em seu belo artigo “Sob o manto de Maria” (páginas 4 e 5): “…Quantas vezes pude contemplar a

simples e calorosa devoção de milhares e milhares de pessoas com os olhos do coração voltados para Maria, a Mãe do Senhor, em vários santuários marianos do mundo. A isto não posso ficar indiferente e sinto-me interiormente comovido”. E disse mais “Ver o que significa Maria Auxiliadora neste nosso ‘mundo salesiano’, na Basílica de Valdocco, toca profundamente o coração. Imagino Dom Bosco a caminhar neste mesmo espaço, a pisar este pátio, embora com outro revestimento, ‘a apaixonar’ diariamente os seus rapazes, os seus jovens e os primeiros salesianos com este vivo e forte afeto pela Mãe do Céu”. Daqui das terras moçambicanas podemos sentir também a calorosa devoção mariana em tantos momentos dedicados a Nossa Senhora, como na celebração em sua homenagem, dia 27, em São José de Lhanguene, em cuja celebração novas promessas foram feitas para ela na ADMA. Como é confortante ver crianças, ainda na idade da inocência, dançando para ela. Sim, querido Papa Francisco, estamos agarrados a Ela como filhos, e vivendo da esperança que assenta em Jesus. E ai de nós se não fosse essa encorajadora esperança! Elvira Freitas Directora do Boletim Salesiano

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O Sucessor de Dom Bosco

Sob o manto de Maria Pe. Ángel Fernández Artime, SDB

Somos família e Maria Auxiliadora é a nossa Mãe solícita e carinhosa. Tomou pela mão João Bosco e toma-nos também a nós, guiando-nos pelos caminhos deste mundo

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recisamente ontem, uma jovem esposa que atravessa um momento difícil me dizia num momento em que se falava de fé: «Claro que tenho fé, padre. Quero viver com fé e na fé, posso dizer-lhe com absoluta certeza que, todas as manhãs, a primeira coisa que faço ao levantar-me é a minha oração a Maria Auxiliadora». O meu pensamento voou logo para Dom Bosco e para a confiança absoluta que tinha em Maria Auxiliadora. Ele mesmo disse tantas vezes: «É impossível chegar a Jesus sem passar através

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do amor de Maria» e ainda: «Maria foi sempre a minha guia. Quem n’Ela põe a sua confiança não será desiludido». Quase a brincar, uma vez disse: «Se eu vier a saber que algum de vós rezou bem e não foi atendido, escreverei uma carta a S. Bernardo a dizer-lhe que se enganou ao afirmar: “Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tem recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado”. Mas ficai


descansados que não terei de escrever uma carta a S. Bernardo». Imagino que, para esta jovem esposa e para muitíssimas outras pessoas que têm uma confiança absoluta na Mãe do Céu, o sentimento é o mesmo. A confiança em Maria Auxiliadora é uma certeza que não será defraudada. Tudo isto me diz muito mais do que um piedoso pensamento retirado de Dom Bosco. Quantas vezes pude contemplar a simples e calorosa devoção de milhares e milhares de pessoas com os olhos do coração voltados para Maria, a Mãe do Senhor, em vários santuários marianos do mundo. A isto não posso ficar indiferente e sinto-me interiormente comovido. E ver o que significa Maria Auxiliadora neste nosso “mundo salesiano”, na Basílica de Valdocco, toca profundamente o coração. Imagino Dom Bosco a caminhar neste mesmo espaço, a pisar este pátio, embora com outro revestimento, “a apaixonar” diariamente os seus rapazes, os seus jovens e os primeiros salesianos com este vivo e forte afeto pela Mãe do Céu. Ouço a sua voz a recomendar que, se queremos traçar um caminho de sucesso como educadores salesianos, temos de fazer vibrar com intensidade o coração dos nossos rapazes e das nossas raparigas pela Mãe de todos. Sem este forte sentimento, falta algo de essencial ao nosso princípio educativo dos “bons cristãos”. Posso assegurar-vos que, nas minhas viagens pelo mundo, continuo a deparar-me diariamente com autênticos milagres fruto da educação salesiana, resultado de um sistema preventivo que é entrega a uma presença que torna racional a exigência de colocar Deus como sentido da vida e que faz sentir o autêntico afeto dos educadores que buscam somente o bem destas crianças, adolescentes e jovens, preparando-os para a vida e ajudando-os a crescer. A Virgem de Dom Bosco é sempre representada com um amplo manto acolhedor, refúgio protetor em muitos dos seus sonhos. No primeiro sonho, Maria “tomou-me com bondade pela mão”. Dom Bosco nunca largará aquela mão. Assim, o extraordinário florescerá no ordinário, porque esta é a verdadeira fé. Poderemos dizer “Onde está Dom Bosco está Maria”. Uma presença concreta. Como Dom Bosco tentou explicar às irmãs reunidas em Nizza

«Quero só dizer-vos que Nossa Senhora vos ama muito, muito. E, sabeis, Ela encontra-se aqui no meio de vós!». Então o padre Bonetti, vendo-o comovido, interrompeu-o, e começou a dizer, só para o distrair: «Sim, assim, assim! Dom Bosco quer dizer que Nossa Senhora é vossa mãe e que Ela vos guarda e protege». «Não, não, replicou Dom Bosco, quero dizer que Nossa Senhora está mesmo aqui, nesta casa e que está contente convosco e que, se continuardes com o mesmo espírito, tal como Nossa Senhora deseja…». O bom Pai comoveu-se ainda mais do que antes e o padre Bonetti retomou a palavra: «Sim, assim, assim! Dom Bosco quer dizer-vos que, se fordes sempre boas, Nossa Senhora ficará contente convosco». «Não, não, tentava explicar Dom Bosco, esforçando-se por dominar a própria comoção. Quero dizer que Nossa Senhora está mesmo aqui, aqui no meio de vós! Nossa Senhora passeia nesta casa e cobre-a com o seu manto» (Memorie Biografiche XVII, 557). Quando esta é a realidade, quando se vê tanta vida nas casas salesianas do mundo e todo o bem que nelas se faz, pode verdadeiramente dizer-se: «Foi Ela que tudo fez e… confiai em Maria Auxiliadora e vereis o que são milagres». Continue a abençoar-vos esta nossa Mãe, com todo o amor que só as mães sabem dar.

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Aqui Nasceu o Carisma

Lugares históricos de Dom Bosco: lugares de ‘família’ (2) Por Pe. Rogélio Arenal, SDB

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Cúpula da Basílica de Auxiliadora

Família Salesiana pode-se considerar privilegiada por conservar um rico património dos lugares históricos de Dom Bosco, que abrangem desde o seu nascimento até à sua morte. Devemos agradecer a muitos salesianos e leigos que tiveram a curiosidade em conhecer esses lugares; tiveram o cuidado de os preservar da passagem do tempo. E, sobretudo, devemos agradecer a inteligência e a dedicação de estudiosos desses lugares para os enriquecer com dados históricos que são os que dão, hoje, o valor de património histórico da Família Salesiana. Poderíamos seguir estes lugares históricos de Dom Bosco, o nosso Pai, de forma cronológica. Porém, nestes artigos que iniciamos, vou procurar seguir uma ordem temática dos lugares bosquianos.

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Como a Estreia do Reitor-mor para este ano nos convida a olhar para a família como ‘casa’ onde se realiza uma ‘escola de vida e amor’, em sintonia com ela, vou intentar, ‘visitar’ alguns lugares de Dom Bosco que foram lugares de ‘experiência familiar’ e que marcaram a sua vida e, na maioria dos casos, a vida dos seus filhos e filhas espirituais. Os textos das Memórias de Dom Bosco nos guiarão (editadas pela Editora Salesiana Dom Bosco, São Paulo 1982). 1- A casa dos santos O primeiro lugar de experiência familiar que apresento, talvez não muito conhecido, mas que foi muito importante para o rapaz João Bosco é a casa do Pe. Calosso, em Murialdo. Esta casa não está muito longe da casa de Mamãe Margarida e a sua família, e será o lugar onde o adolescente João terá a primeira experiência de acompanhamento espiritual e vocacional, rodeado dum ambiente paternal. Foi o tempo da esperança para João. O tempo do encontro com um coração paterno que o nosso Pai nunca teve, ao ficar órfão de pequeno. As palavras de Dom Bosco são muito expressivas: «Coloquei-me logo nas mãos do Pe. Calosso, que havia poucos meses chegara àquela capelania. Abri-me inteiramente com ele. Manifestava-lhe prontamente qualquer palavra, pensamento e acção. Isso muito lhe agradou, porque dessa maneira podia orientar-me com segurança no espiritual e no temporal. Fiquei sabendo assim quanto vale um guia estável, um fiel amigo da alma, que até então não tivera». Ao falar do conflito com o seu irmão António, que queria a João no trabalho do campo e não no estudo, escreve Dom Bosco: «Mamãe estava muito aflita. Eu chorava. O capelão sentia pena. Informado das complicações de minha família, o digno ministro de Deus chamou-me um dia e disse-me: ‘Joãozinho, puseste em mim tua confiança e não quero que isso seja inútil. Deixa, pois, esse irmão malvado, vem comigo e terás um pai amoroso’». «O Pe. Calosso tornou-se um ídolo para mim. Era um prazer imenso trabalhar para ele e até dar


Pia baptismal

a vida por algo que fosse do seu agrado. Fazia mais progresso num dia com o capelão, que numa semana em casa». Na porta da capela de Murialdo, que faz parte da estrutura desta casa, será também o lugar onde o adolescente João, já falecido o Pe. Calosso, se encontrará por primeira vez com um seminarista, que será depois o seu grande benfeitor e director espiritual, São José Cafasso: Assim narra Dom Bosco o primeiro encontro: «Só vi uma pessoa longe de qualquer espectáculo. Era um clérigo, de pequena estatura, olhos cintilantes, aparência afável, rosto angélico. Apoiava-se à porta da igreja. Fiquei como fascinado pela sua figura, e movido pelo desejo de falar-lhe, aproximei-me e dirigi-lhe estas palavras: -’Senhor cura, quer ver algum espectáculo da nossa festa? Eu o levo com muito gosto aonde desejar’… Muito impressionado, quis saber o nome do clérigo, cujas palavras e porte manifestavam em elevado grau o espírito do Senhor. Soube que era o clérigo José Cafasso». Nesta mesma Capela, de manhã cedo, no meio do frio, anos mais tarde, uma criança ia rezar na Eucaristia, e enquanto não abriam a porta ficava de joelhos à espera de ser aberta. Será o nosso São Domingos Sávio.

Interior da igreja paroquial

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Missionários no Mundo

O primeiro anúncio e os

Povos Indígenas da América

Campanha Missionária 2017 anima a ação missionária dos Salesianos Por Setor da Missões

Comunidade Indígena São José de Anchieta, no rio Papurí, Amazónia (BR)

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esde o ano de 1988 o Setor das Missões da Congregação Salesiana promove uma campanha de animação acerca de alguma realidade missionária atendida pelos Salesianos no Mundo. É uma oportunidade de dar a conhecer o nosso trabalho missionário no mundo em realidades bastante concretas, em primeiro lugar aos próprios irmãos e também junto aos leigos que trabalham connosco. Nesse ano, o tema do “Dia Missionário Salesiano” é o da evangelização entre os povos indígenas da América, continente no qual a congregação atende diversas populações indígenas, de modo especial, na América do Sul. Uma realidade concreta que começamos a ter contacto este ano é justamente o trabalho dos salesianos junto aos povos indígenas da Amazônia, por conta da acolhida de dois missionários das inspectorias salesianas daquela região – o seminarista Augusto, SDB – e a irmã Mônica, FMA.

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Celebração de Baptismo em comunidades indígenas do Amazonas

Naquele imenso espaço que abrange a maior floresta tropical do mundo, a Família Salesiana atende povos tradicionais, tais como os Tukano na missão de Yauarete e os Yanomami nas missões de Maturacá e Marauiá, dentre outros. Para chegar a essas áreas missionárias o meio de transporte mais eficiente são pequenos barcos motorizados, chamados de voadeiras naquela região. Transporte que se torna um “peso” a mais nos pontos em que é preciso carregá-lo com a força de oito a dez homens, nos pontos em que as quedas d’água impedem a livre circulação. Para chegar à missão de Marauiá é preciso fazer esse trabalho de carregar o próprio barco pelo menos cinco vezes,

numa viagem de mais ou menos 18 horas. No atendimento pastoral, além das missões centrais, os salesianos atendem a mais de cem comunidades indígenas que moram às margens dos imensos rios amazônicos, numa extensão territorial que de muito supera muitas arquidioceses do mundo (basta pensar que a área territorial da Amazônia abriga pelo menos três vezes o nosso pais de Moçambique). As populações indígenas vivem com extrema simplicidade, a maioria das vezes em casas de palha, nas quais possuem apenas a rede para dormir, uma panela com o lume para a comida (peixe e mandioca), e alguma roupa. Sem perspectivas de

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futuro, a maioria dos jovens migra para a cidade em busca de uma vida melhor. Os que ficam sofrem com a falta de emprego, investimentos na agricultura e, o maior mal, o alcoolismo. Guardiões de culturas imensamente ricas de símbolos e de uma natureza quase original, esses diferentes povos acolhem com muita alegria a novidade do Evangelho (os Yanomami do Marauiá chegaram a escrever uma carta ao Papa Francisco solicitando o Baptismo). Conhecer um pouco dessas realidades específicas da nossa missão nos ajuda a reconhecer que o Evangelho caminha longe, nas asas do sonho de João Bosco, que agora é sonhado nas redes amazônicas dos “curumins” (meninos) e nas esteiras de nossos meninos em Moçambique.

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Olhar Panorâmico

Pré-Noviciado: a importância dos primeiros passos Por Augusto Rodrigues de Sousa, SDB Toda pessoa que pretende assumir um compromisso importante na vida dá especial importância aos primeiros passos do itinerário que precisa percorrer. Assim, os atletas cuidam dos pequenos detalhes do início de sua rotina de exercícios, para não serem vítimas de vícios de postura e execução que poderiam atrapalhar sua qualificação nos campeonatos; os engenheiros calculam com exatidão milimétrica antes que uma construção se inicie, para que a obra não venha a ter rachas no futuro. Também na vida religiosa a pessoa é convidada a realizar um período de experiência profunda de confronto consigo mesma, com os irmãos de comunidade e com Deus, num ambiente propício para o conhecimento da sua vocação e do seu amadurecimento humano e cristão. Poderíamos dizer, a grosso modo, que a etapa formativa do Pré-noviciado é o tempo de assentar as bases humanas sobre as quais se pode construir um belo edifício de vida religiosa e consagrada, que, de alguma maneira, exige boa disposição e saúde física, psicológica e espiritual. Neste ano, a comunidade do Pré-noviciado conta com três jovens que, nessa fase, aprofundam o conhecimento de si mesmos e da Congregação Salesiana, no belo processo de discernir a vontade do Senhor em seu coração e na vida dos jovens com os quais se encontram.

Leonel Evaristo Chongola “Para mim é importante, nesse momento, viver o discernimento imitando a figura de São José: na escuta de Deus, no silêncio interior e na alegria. Acho que meu sorriso expressa bem tudo isso”.

Wilde Augusto Foi “Mesmo estando no início do processo formativo, sinto que o Senhor me chama para a vida salesiana e tenho muita vontade de continuar a caminhada. Gosto muito da Congregação Salesiana, do seu modo de viver em comunidade e de trabalhar. Às vezes, sinto um pouco de receio, mas aprendi que devemos saber confiar em Deus e seguir em frente”.

Acácio Raimundo Arnança Sou um jovem que gosta de estar alegremente junto dos colegas, principalmente com os meninos do Oratório. Me identifico com os Salesianos e com o estilo de vida de Dom Bosco, de modo especial porque oferecem a possibilidade de uma boa educação e formação para os jovens mais pobres”.

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FMA

As Filhas de Maria Auxiliadora radicadas na família Moçambicana Por Ir. Agnesse João Caetano, FMA

Ir. Carla Baietta e Ir. Petra Esteban comemoram Jubileu

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omo Filhas de Maria Auxiliadora, uma das nossas identidades e características é o espírito de família. E para reforçar este modo ou estilo de vida, temos um artigo inteiro nas nossas constituições que diz como deve ser manifestado e vivido o espírito de família. Temos como modelo e guia a Sagrada Família de Nazaré, e uma das formas de testemunhá-la é entregar-se ao anúncio dos valores humanos, morais e cristãos no estilo de vida que o próprio Jesus nos deixou como ensinamento: o amor; essa

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regra de ouro é a base de todo o percurso formativo de todas as famílias. É de admirar ver várias Filhas de Maria Auxiliadora animadas na formação e no acompanhamento contínuo das famílias moçambicanas. Este acompanhamento não é uniforme em todo o Moçambique, visto que os hábitos e costumes dos diversos pontos do país são diferentes, ou seja, a maneira de viver o modo de percepção varia de tribo para tribo. Por isso, as Filhas de Maria Auxiliadora, com grande desejo de formar famílias cristãs, estudam o modo concreto de como conciliar os valores cristãos e o estilo de vida de cada zona. Muitos, e cada vez mais, os desafios têm sido maiores, o trabalho cansativo, mas a confiança em Deus, na proteção e auxílio de Maria, têm-nos dado força e coragem para seguir sempre em frente com fé, esperança e amor. Concretamente, uma das maneiras de fazer chegar o anúncio de Jesus é a formação dos grupos de Fé, como a Associação de Maria Auxiliadora (ADMA), a Associaçao dos Antigos e Antigas Alunas, e a Catequese que é a base de toda fé cristã. Nestes grupos se transmitem os valores humanos e cristãos, com o objectivo de formar famílias cristãs e humanas, radicadas na própria cultura, e capazes de colaborar com dignidade, firmeza e empenho na costrução de uma sociedade moçambicana melhor. Isto porque acreditamos que a família bem formada e educada é o futuro de uma nação saudável, radicada nos valores humanos, morais e cristãos. Nos nossos dias, sentimos com muita força a necessidade de pessoas de Deus, pessoas que, com a própria vida dão testemunho daquilo e d’Aquele em quem acreditam, pessoas capazes de escutar, e, juntamente com as famílias, procurar soluções para os vários problemas e inquietações que o povo tem. Vários documentos do nosso Instituto orientam ao acompanhamento das famílias; vários escritos do


Ir. Petra e Ir. Carla na celebração do jubileu de 60 anos e 75 anos de vida religiosa, respectivamente

Santo Padre (exemplo Amoris Laetitia) tambem tocam no aspecto do acompanhamento das famílias, oferecendo propostas práticas para a Pastoral Familiar. As Filhas de Maria Auxiliadora, escutando estas inquietações do povo, procuram encontrar e dar respostas às várias preocupacões da vida familiar, testemunhando Cristo, principalmente nas

famílias mais pobres. Nós não nos limitamos apenas ao acompanhamento espiritual das famílias, mas também, com a ajuda da Divina Providência, que nos chega através dos nossos benfeitores, oferecemos bens materiais, que nos permitem uma aproximação maior e mais eficaz. Isso tem fortificado cada vez mais os laços familiares entre a nossa família religiosa e a nossa família moçambicana.

Filhas de Maria Auxiliadora da Inspectoria São João Bosco de Moçambique

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110 Anos dos Salesianos em Moçambique

Uma viagem pela história, por onde tudo começou Por Elvira Freitas, SSCC

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isitar a Ilha de Moçambique é empreender uma aventura indescritível. Pura emoção, principalmente quando entramos na história dos Salesianos, pois foi ali mesmo, em 1907, que eles aportaram em Moçambique e iniciaram uma trajectória de trabalho e dedicação ao país. Trajectória interrompida sete anos depois, quando a maioria dos religiosos foi expulsa devido à mudança do regime político. Cento e dez anos depois, nossa pequena equipa foi tentar sentir o que aqueles quatro primeiros Salesianos – Pe. João Barilari e Ir. Salvador Pascale (italianos) e Pe. Alfredo Queiroz e Ir. António Machado (portugueses) – sentiram. Também éramos quatro: Ir. Zvonka Mikec, Inspectora das FMA em Moçambique, Pe. Marco Biaggi, actual Provincial dos SDB, Ir. Eulália Sitoe, Directora da Missão das FMA em Chiúre (Cabo Delgado), e eu, brasileira ávida por conhecer a ilha do degredo de muitos compatriotas do período da Inconfidência Mineira. A aventura começa já na travessia dos três quilómetros da ponte que liga a ilha-cidade (declarada pela Unesco património cultural da humanidade em 1991) ao continente. Ela é estreita e só pode passar

Igreja de São Francisco Xavier

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um veículo de cada vez, num único sentido. Quando aparece outro, um dos dois tem que se desviar nos pequenos nichos construídos ao longo da ponte. Ao final, todos passam. Já na ilha a emoção é imensa, pois damos de cara com a pequenina capela construída por São Francisco Xavier, quando em África chegou, no longíssimo 1541. Por fora ela ganhou um bonito pórtico e um alpendre. Por dentro carece muito de uma boa reforma e conservação. É parada obrigatória para uma oração, ainda que do lado de fora. Caminhando mais aparecem os sobrados, os jardins, igrejas e junto com tudo isso vem também um cheiro de maresia e de coisas antigas, guardadas por séculos e séculos. Mas, nem tudo é velho na ilha. Há andaimes e operários por toda parte. Percebe-se que a cidade está a ser restaurada. Dizem os especialistas em turismo que o de lá cresceu muito. O mundo redescobre a Ilha de Moçambique. O Museu, por exemplo, está novinho em folha, apesar da também multicentenária construção. Pena que dele pouca coisa pode-se registrar. O guia é rigoroso no fiscalizar para impedir que camaras ou telemóveis distraídos disparem flashes

Interior da Igreja de São Francisco Xavier

Pátio da Escola de Artes e Ofícios


Sobrado, reformado, onde os Salesianos criaram a Escola de Artes e Ofícios

pelos muitos cómodos artisticamente decorados. O preço do ingresso é salgado: 100 meticais por pessoa. Entramos apenas eu e o Provincial, já que as outras duas já lá tinham estado antes. Do lado de fora do museu está Vasco da Gama, num enorme pedestal, mais do que a contemplar, está a vigiar a ilha toda, exactamente em frente ao local em que antes havia o cais por onde partiam os navios carregados de escravos. Mas visão majestosa mesmo proporciona a enorme fortaleza de pedra, entreposto da permuta de panos e missangas da Índia por ouro, escravos, marfim e pau-preto de África. Por isso, os árabes não queriam perder os privilégios comerciais adquiridos ao longo dos séculos. Nossa exploração ganha ares de euforia quando, de repente, nos encontramos frente a frente com o enorme edifício da antiga Escola de Artes e Ofícios, marca registradas daqueles primeiros Salesianos em África desembarcados. Entramos. O prédio, todo restaurado, ainda está em reformas. Pinta-se daqui, tira vazamentos dali, substitui corrimão e tantas benfeitorias mais. Não é de se admirar: 248 alunos internos vivem

naquele esplêndido sobrado-monumento. Os cursos continuam com o viés profissionalizante, só que agora nas áreas de Construção Civil, Serralharia, Hotelaria e Administração, com três anos de duração cada curso e uma média de 25 alunos em cada classe. A Escola de Artes e Ofícios está sob a gestão do próprio Governo. A nossa emoção foi grande ao chegarmos à Ilha de Moçambique e diante da antiga Escola de Artes e Ofícios. Qual terá sido a dos Salesianos à saída de lá, em 1913? Só Deus sabe.

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Especial

Auxiliadora fecha com chave de ouro celebrações Salesianas de Maio Por Elvira Freitas, SSCC

“De muitos e diversos cantos de Maputo convergimos esta manhã a este espaço religioso e ambiente de família com Maria, a Mãe de Jesus e Auxiliadora do povo Cristão. O Senhor que nos iluminou com a Sua Palavra veio a nós no Pão eucarístico”, disse a comentarista na missa da Festa de Maria Auxiliadora, dia 27 de Maio, na Paróquia São José de Lhanguene, sob a presidência de Pe. Marco Biaggi, Provincial Salesiano em Moçambique. Concelebraram Pe. Manuel Leal, Pároco, e um grande número de sacerdotes Salesianos. De facto, a igreja estava lotada de representantes dos diversos ramos da Família Salesiana, vindos da Namaacha, Moamba, Matola e das casas dos SDB e FMA de Maputo, além de religiosas de outras congregações e um grande número de fiéis. “Viemos todos celebrar em família, na casa da Mãe”, destacou Pe. Marco. E a festa foi intensa, a começar pela procissão de fiéis com o andor de Nossa Senhora a percorrer o campo de futebol em frente da igreja e retornando logo em seguida, para dar início à Eucaristia. Liturgia rica e bem preparada, entre cantos e danças – como é típico nas missas em África – houve até espaço para que 11 membros seniores fizessem o compromisso na ADMA. “A festa de hoje enche nosso coração de alegria. Mas as festas não podem acontecer simplesmente; elas têm que ser o resultado de uma vivência real,

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concreta e compromissada, como nos chamam a atenção as leitura de hoje, com destaque para o Evangelho [Bodas de Caná], para Maria, como aquela que está atenta e que vem trazer o vinho novo, a novidade para que a festa nunca mais termine”. Ao final da missa a festa prosseguiu com o almoço partilhado entre os diversos grupos, como convém a todas as famílias. Depois foi o momento cultural, com números de danças e músicas. Festa animada para homenagear a Mãe, que é o rosto de Deus. Ela que nos leva a Jesus, para que possamos ser filhos e filhas no Filho. Festa de Auxiliadora na Matola No dia 26 de Maio realizou-se a festa de Nossa Senhora Auxiliadora no Centro de Formação Profissional com todos os aprendizes e trabalhadores,


num total de 150 pessoas. Foi um dia de muitas actividades dedicadas à Mãe e que começou com a Eucaristia, presidida pelo Pe. Francisco Pescador. Em seguida teve jogos (final de futebol 11, baralho, dama, estafeta, entre outros). Após os jogos foi servido o almoço, seguido pelo sarau, na parte da tarde, com entrega das premiações às equipas vencedoras. A festa terminou com a bênção dada pelo Pe. Pescador. Colaborou Machava Borges

Festa de Auxiliadora na Comunidade da Matola

Festa de Auxiliadora em S. José de Lhanguene, com procissão, missa, compromissos de ADMA e momento cultural

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Vocações

A vontade de Deus é Por Ir Ofélia Ramos Macuaia, FHIC

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az e bem meu caríssimo leitor! “Arrependa-te e acredite no Evangelho!” ou “ lembras-te que és pó, e ao pó voltarás”. São estas as palavras que escutamos na Quarta-feira de Cinzas, que marca o início do Tempo Quaresmal. A importância deste tempo reside sobretudo na dedicação que cada um de nós dá a Deus, por meio da oração, no esforço de viver como discípulos do Senhor Jesus. Nós os católicos, reconhecemos as limitações da condição humana, assim como a esperança da vida eterna. Entendemos que é preciso viver com responsabilidade, pois somos peregrinos nesta Terra. Quero recordar-te jovem cristão, que o que colhemos implica o que semeamos! No dia 26 do mês de Fevereiro, houve abertura do

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ano vocacional no Seminário São Pio X, para toda nossa Arquidiocese. Realmente era um número considerável de uma parcela arquidiocesana de Maputo que esteve presente. A Paróquia de São José fez-se presente também. Contudo é lamentável! Até hoje não consigo perceber porquê a Paróquia de São José é muito fraca na Pastoral Vocacional! No entanto quer padres, irmãs e irmãos! A dificuldade provém de um dilema: quero padres ou religiosos, mas não na minha casa, na casa do vizinho sim! Gostaria com isso, despertar o coração de todos aqueles que se sentem chamados, a não terem medo, e dizer às famílias que é uma grande alegria ter um filho consagrado ou uma filha consagrada. Sem com isso rebaixar a vocação do Matrimónio.


a nossa salvação Falando da vocação matrimonial, é um sacramento muito importante e fundamental para a vida da Igreja e da própria família, porque é lá na Igreja doméstica onde semeia-se nasce e cresce a nossa fé! Sem a família não há padres e nem a vida religiosa! Portanto, é inerente que a vida familiar seja aquela primeira unidade que defende e ampara os valores cristãos. Hoje, infelizmente muitos cenários que deixam a desejar! Muitos contraindo este sacramento, com festas exuberantes, carros do último grito, quase tudo de luxo e até a própria veste do casamento! Mas no meio de tudo isso esquecem que este é um sacramento e não só, de colocar Deus como o primeiro promotor nas suas vidas! O mais triste ainda, os nubentes entram pelas portas da Igreja como anjos, acompanhados de músicas, cantos mais belos! Tudo maravilhoso! E até experimentam o paraíso no mesmo dia! Mas na sua maioria estes casamentos não são duradouros! Os recéns casados passam meses e meses dando-se culpa um ao outro. As mulheres dizem, o meu gatinho já não se interessa e nem me olha, dáme pouca atenção. E quando falam assim, dizem tudo e menos nada! Os homens também não ficam atrás! Cada um procura arrolar as suas desculpas até encher o seu saco. E quando o saco fica cheio, adeus ao casamento, muito obrigado por tudo, daqui vou para minha vida! Vou procurar a felicidade noutro lado! E nunca dizem: vou rezar para ter uma orientação de Deus! E sendo assim esquecem que naquele dia que entraram na porta da Igreja como anjos, prometeram a Deus dizendo que a morte é que iria separar. Também prometeram-se um ao outro a fidelidade em todos os momentos e etapas de vida! E agora, onde está a vossa fé? Onde está a confiança de um pelo outro? E onde está o teu compromisso? Desta feita pode-se dizer que às vezes os casamentos modernos são feitos sem compromisso e sem nenhum fundamento doutrinal. Estes casais modernos esquecem de colocar Deus nas suas vidas matri-

moniais! Quando estão nos seus momentos, nunca pensam em colocar Deus na sua relação! E o resultado de tudo isto é o triste cenário que assistimos hoje! Casamentos de um dia, um mês e se tiver sorte de um ano! Desta feita a pergunta que se segue é esta: se tal lar dos recém-casados vive-se uma desarmonia fatal, o que se espera dos filhos e da própria educação? Hoje vivemos num tempo em que tudo é descartável, tudo é banalizado! O sagrado hoje não tem espaço! Tudo está na montra entregue à sua sorte! E a partir desta banalização as pessoas começam a dizer que tudo é relativo ou é igual! Ir a missa e não ir tudo é igual, ou então o que é que eu ganho com isso? Através dessas ideias pré-concebidas, os pais começam já a proibir os seus filhos quando escolhem a vida religiosa e sacerdotal, alegando salvaguardar-se a herança paterna. Será que isto na verdade basta? Pais! Vós que sois amantes da santa Igreja, pensai antes no futuro da Igreja! É fundamental procurar sempre a vontade de Deus Pai, porque Ele tem muito a dizer aos seus servos. Portanto pais, deixai de aspirar as riquezas deste mundo! O mundo vai terminar! Mas Deus é para sempre! Quando Deus provoca um jovem a discernir a sua vontade, é preciso que as famílias ajudem e não compliquem. O nosso amor a Deus deve estar acima de todas outras necessidades da vida. É inevitável que os vocacionados da Igreja venham das famílias. Aliás, a família é uma igreja doméstica. Estimado jovem, é importante que venças o medo que te assola, os desejos carnais, materiais, os bens deste mundo, para escolheres um bem maior. Os bens da terra passam num instante e quando morreres nada levarás contigo. Portanto, a tua fortuna não irá acompanhar-te. Tudo será apenas vaidade como nos diz Coelet! Por isso, mais uma vez, encarecidamente apelo às famílias, apoiai os vossos filhos nos momentos importantes de escolhas.

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Família que educa

Filhos pedem uma educação Por Pe. Benedito João Simone, SDB

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credito que às coisas importantes da vida é imperioso que se lhes dedique, no memento oportuno, tempo necessário, sob o risco de no futuro, quando não o fizemos, perder a vida toda em inúteis remendos. Neste espaço que me foi concedido, pese embora o valor e a peculiaridade da educação familiar, não vou apresentar uma análise exaustiva de uma realidade que se apresenta cada vez mais complexa e em permanentes mudanças. Não lhe convido a entrarmos na floresta porque ela é densa e, neste espaço, não convém desbravá-la e também não lhe convido a cruzarmos os braços. Existe, pois, um meio termo: sobrevoar e trazer à

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baseada nos valores tona alguns aspectos perceptíveis, mesmo a partir duma longa altitude, na esperança de que isto possa provocar posteriores reflexões e cada vez mais maduras. Resolvida a questão da racionalização do espaço à nossa disposição e adotada uma suposta metodologia de trabalho, passemos ao essencial: a) Os pais não têm tempo Não temos tempo para amar porque a vida não no-lo dá e nós não a exigimos o suficiente. Existem pais que passam todo dia fora de casa, pois, caso contrário, não poderiam prover aos seus filhos, o mínimo necessário para viver. No entanto, quando extinguimos o papel imprescendível dos pais – o de estar próximo dos filhos – estes crescem com enormes lacunas. É preciso desdobrar esforços para que não se perca o hábito de estar com os filhos, a fim de poder escutá-los e ajudá-los a crescer. b) Dificuldade de comunicação A distância entre mentalidades e linguagem pode causar certo “ruído” na comunicação. O mais importante é buscar mecanismos, para que em nenhum momento a comunicação se bloqueie. Que os pais nunca digam: ‘eles não nos escutam’; e também os filhos não digam: ‘eles não nos compreendem’ ou ‘eles estão ultrapassados’. Os pais e encarregados de educação também comunicam através das suas próprias vidas, por isso, além de dizer palavras apropriadas, devem estar cientes de que eles dizem muito com o seu agir. É preciso, sim, cuidar da comunicação verbal, mas também é preciso não descuidar daquilo que se comunica, consciente ou incoscientemente, através da vida. c) Os aparelhos electrónicos e tecnológicos (televisão, computadores, telemóveis, tablets, etc) Os aparelhos electrónicos e tecnológicos são bons,

mas precisam ser bem aproveitados para que não obstruam os nossos esforços de educar e não pervertam os nossos filhos. Comprámo-los para que, aos nossos filhos, não lhes falte, dentro de casa, o divertimento necessário, mas porque estamos ausentes, esses aparelhos podem ser usados para fins que não ajudam a crescer dentro de um mosaico de valores humanos e espirituais. Mais do que nunca, as profundas mudanças do estilo de vida e outras vêm-nos provar que os nossos filhos precisam de um bom acompanhamento. d) A amizade e a autoridade É um esforço titânico que se deve empreender para que a bicicleta não caia porque se parou de pedalar. Em nenhum momento os pais e encarregados de educação devem perder a falta de equilíbrio entre a amizade e a autoridade. Este equilíbrio, deveras complicado de alcançar, faz da educação uma verdadeira arte – a arte de educar. Concluindo: os diferentes problemas familiares e sociais entre os mais novos e os mais velhos mostram claramente que os nossos filhos nos pedem algo muito importante, às vezes, num tom reivindicativo. Eles pedem-nos uma educação baseada nos valores. “Qual de vós, se o seu filho lhe pedir pão lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente?” (Mt 7,9-10), interpela-nos o Evangelho. O desafio foi e sempre será enorme, mas nunca se deve desistir pelo caminho; pelo contrário, temos de continuar a dar-lhes “coisas boas”. Nesta arte, a virtude mãe, aquela que nos dá o equilíbrio necessário, é a paciência: “a educação é coisa do coração”, dizia Dom Bosco.

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ISDB

Sistema Preventivo como elemento dinamizador na formação académica dos jovens Por Jaqueline O. Calderón Langa

Miguel Luís Rafael, professor há cerca de oito anos no Instituto Superior Dom Bosco

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uitas instituições de ensino moçambicanas enfrentam actualmente uma decadência de valores sociais e comportamentais. Para se perceber melhor qual a relação do Sistema Preventivo com o futuro dos jovens, trazemos ao tema a intervenção do professor Miguel

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Luís Rafael, moçambicano, mestre em Psicologia das Organizações, Social e do Trabalho pela Faculdade de Psicologia e das Ciências de Educação da Universidade do Porto, Portugal. O professor já actua há mais de dez anos na área da educação, e há cerca de oito anos no Instituto Superior Dom


Bosco (ISDB). Boletim Salesiano: Qual sua percepção sobre “a ética” nas instituições de ensino superior? Miguel Luís Rafael: As instituições do ensino superior moçambicanas têm-se mostrado de uma forma genérica, como um calcanhar de “Aquiles”. Há muitos professores que denigrem esta nobre função porque estão na docência ao acaso e comportam-se sem observância às regras de conduta. Outros, mesmo que tenham vocação, se perdem ao longo do processo, esquecendo-se ou ignorando as boas práticas. Em consequência, várias são as queixas das instituições de ensino e da sociedade sobre a conduta de alguns professores. Também é preocupante a falta ou perda total da dimensão ética por parte dos estudantes nas instituições de ensino superior. Pode-se dizer “muitos estudantes não sabem ser estudantes”, não observam os instrumentos que regem o seu comportamento dentro do local de ensino. BS: Quais compromissos éticos são semeados no ambiente académico do ISDB? MLR: O ISDB tem em manga algo a mais quando comparado com outras instituições de ensino superior, uma vez que possui no seu exercício um modelo educativo que traz consigo uma dimensão do saber ser/estar e conviver adicional: o Sistema Preventivo, que nos remete a uma pedagogia de amor, entre a teoria e práticas educativas. Outro elemento muito forte que alinha neste sistema é a existência da dimensão pastoral no Instituto, que busca apoiar os estudantes na sua autopercepção e autoconstrução, como pessoas socialmente válidas, aceites e úteis à sociedade. BS: Os jovens do ISDB possuem alguma resistência em ter boas práticas de conduta nas diferentes áreas sociais? MLR: A resistência é notória para o recém-ingressado, porque numa primeira fase traz consigo uma forma de ser/estar e conviver que muitas vezes deixa a desejar. Mas, depois de socializado e integrado na cultura do Instituto, esta resistência é superada. O Sistema Preventivo constitui-se num forte instrumento de orientação para as boas práticas, desde o relacionamento com o outro no contexto de formação, o que se estende para os seus futuros locais de actuação profissional. Muitos estudantes acabam se envolvendo no contributo para as actividades de voluntariado relacionado com apoio às pessoas carenciadas e apoio educativo nalgumas

escolas primárias circunvizinhas. BS: Como professor, o que tem feito para multiplicar os ensinamentos do Sistema Preventivo? MLR: Dentre várias práticas desenvolvem-se não apenas a missão de instruir, mas também a de educar, não apostar apenas na mediação dos conhecimentos técnicos, mas também na dimensão do saber ser/estar e conviver. Outra prática é a perspectiva transaccional de intervenção educativa na qual o professor é criança, metaforicamente, e comportar-se como uma criança entre eles; ser pai, significa ser protector e adulto, é actuar como conselheiro. Estes ensinamentos também são partilhados através de palestras em algumas sessões na Pastoral para melhorar o desempenho educacional. BS: De que forma o Sistema Preventivo ajuda a consolidar os valores da cidadania em cada um dos jovens que frequenta o ISDB? MLR: Através da valorização dos princípios do humanismo optimista, da religiosidade integradora, da promoção integral, de projectos sociais e da metodologia do amor educativo. O Sistema Preventivo ajuda quando cria nos jovens uma visão positiva da pessoa humana. O jovem possui um potencial inesgotável de desenvolvimento apesar das suas fraquezas. Assume-se que ele deve ser ajudado a promover-se integralmente, em todas as suas dimensões (física, psíquica, espiritual), no seu relacionamento com os outros, com a natureza e com Deus. Lembramos constantemente aos estudantes a expressão de Dom Bosco: “bons cristãos e honestos cidadãos”. BS: E os jovens estão abertos a aceitar os valores transmitidos pelo Sistema Preventivo? MLR: Os jovens são honestos, e por serem provenientes de diferentes famílias, culturas, hábitos, usos e costumes, são constantemente bombardeados por uma gama de informações através da globalização. Por isso, não devemos condená-los; devemos compreendê-los e aceitá-los como são para depois lapidá-los ao modelo de Dom Bosco, que se configura por ser um modelo educativo que forma e promove um cidadão com espaço na sociedade. Os jovens aceitam e estão abertos à mudança, mesmo os ditos mais difíceis o aceitam, necessitando porém de uma paciência e melhores estratégias de intervenção para se abrirem e aceitarem a mudança.

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Voluntariado ad gentes

Voluntária brasileira diz que volta de Maputo lapidada como ser humano Por Elvira Freitas, SSCC

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osana Maria de Carvalho Paes, brasileira de Piracicaba (SP), desembarcou em Moçambique no dia 3 de Maio para uma experiência missionária há longo tempo sonhada. Rosana Maria tem 50 anos e é psicóloga especializada em terapia de família e de casal. Tem um casal de filhos. Sua sede de voluntariado foi a Missão de São José de Lhanguene, onde ela trabalhou com adolescentes da Escola Comercial e do Lar de São José questões de sexualidade, sexo com responsabilidade e doenças sexualmente transmissíveis. Actuou também com mulheres nas relações mãe/ bebê, a importância do relacionamento nos primeiros meses de vida da criança. Outro grupo também atendido pela psicóloga foi o das alunas do curso de costura, com quem ela enfatizou a importância

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da mãe na relação afectiva para a estrutura psíquica do ser humano. No dia 28 ela regressou ao Brasil. Antes, conversou com o Boletim Salesiano. Boletim Salesiano: O que a trouxe à África? Rosana Maria de Carvalho Paes: Bom, é algo lá de dentro e eu sabia que um dia aconteceria. Sempre fiz trabalhos na minha comunidade e queria fazer algo num outro país. Sentia que precisava aprender mais, conhecer mais e também levar um pouco de minha vivência a outras pessoas. Em 2015, procurei os Salesianos de Piracicaba e coloquei meu desejo de vir. Cheguei a participar de algumas reuniões e no início foi um pouco complicado, porque no primeiro momento eu não tinha a disponibilidade de tempo que eles haviam solicitado, que era de nove meses. Então, fiz um projecto de trabalho para um mês, eles aprovaram e cá estou, de corpo e alma. BS: Aqui você trabalha mais com adolescentes ou também com casais? RMCP: Participei de um encontro de jovens que se preparam para o matrimónio e até com alguns casais que já convivem juntos e pudemos dividir as experiências sobre matrimónio, tendo como motivação a fala do Papa Francisco [Encíclica Amoris Laetitia]. Trabalhamos também a dinâmica do autoconhecimento e do conhecer o outro. Depois desse encontro, houve uma procura por atendimento individual por parte de um homem. Senti muita abertura deles, e muita carência também. BS: Como foi o trabalho com os adolescentes? RMCP: Na minha relação com eles eu me coloquei muito como mãe, porque eles são muito carentes. Foi interessante, porque cheguei no mês de Maio, sendo a única figura feminina aqui na Missão. Pude perceber que todos eles têm situações de desafios pessoais muito fortes; existe uma expectativa muito grande sobre eles, pois muitos são o único na família que pode dar certo. O facto de estarem aqui representa muito para eles. Estar dentro de uma instituição reconhecida na formação de pessoas, de profissionais já é um grande trunfo para eles. Para as famílias também, apesar de elas terceirizarem um pouco a responsabilidade dessa


Voluntária Rosana, com mulheres da comunidade paroquial

educação. Existem as mais variadas formas de formação familiar, mas o modelo pai, mãe e filho é algo raro aqui. Vemos adolescentes que já tiveram histórico de infância muito complicado do ponto de vista psíquico. Vemos jovens muito alegres, mas que não sabem como conduzir a vida e a questão dos estudos. É uma situação bastante complicada e não há como fazer um diagnóstico muito positivo. BS: Nesse tempo, você sentiu que há muita diferença entre os atendimentos que você faz no Brasil e os realizados aqui? Diferença que exigisse um tempo maior de acompanhamento? RMCP: Sim. Tive que buscar um pouco da história do país e da cultura do povo para me contextualizar. Conversei com os padres para melhor entender as diferenças. O ser humano é o mesmo em qualquer lugar do mundo, mas ele precisa, dentro de sua constituição enquanto ser, se organizar, se buscar, tanto do ponto de vista espiritual como social. O povo aqui tem uma forma muito particular de se organizar. Existem marcas dessa tradição negro-africana muito fortes. Questões culturais que estão enraizadas e que traduzem formas de

convivência, de estruturar a família muito particulares. E dentro disso tudo, dimensões do ponto de vista psíquico que não tem nem como a gente imaginar. É um povo muito forte, muito resiliente, mas existem pessoas, do ponto de vista psíquico, com uma estrutura muito frágil; pessoas que se deixam seduzir facilmente. Vejo que falta direccionamento. BS: Você volta para o Brasil tendo realizado um grande trabalho. O que leva como experiência daqui? RMCP: É difícil mensurar, porque é uma experiência muito intensa e transformadora. Aqui cheguei com algumas técnicas de trabalho,

Com alunas da Escola Comercial

algumas orientações, mas a troca humana que nós vivemos nestes dias foi algo muito rico. Emociona-me pensar em cada história, cada abraço, cada entrega que houve, sobretudo da parte deles. Estou recebendo muito mais do que aquilo que pude deixar aqui. Volto para o Brasil mais lapidada de dentro para fora.

Com adolescentes internos no Lar de São José

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Repórter salesiano

Norte de Moçambique acolhe primeiros Salesianos Cooperadores Da redacção Massina Maria André assina acta após professar compromisso de Salesiana Cooperadora

Eis-me aqui, Senhor”, respondiam emocionados a cada vez que seus nomes eram chamados. Somente quatro a fazer a promessa como Salesianos Cooperadores, mas o número nem foi percebido, devido a importância do ato: eles foram os primeiros a fazer a promessa como novos membros da Congregação Salesiana no Norte do país, junto às FMA. A celebração também foi simples, mas carregada de significados e emoção. Isso aconteceu no dia 12 de Maio, em Chiúre, província de Cabo Delgado, durante Eucaristia presidida pelo Provincial dos Salesianos em Moçambique, Pe. Marco Biaggi, tendo por testemunha a Superiora geral das Filhas de Maria Auxiliadora no país, Ir. Zvonka Mikec. Os novos SSCC são: Dinis Lopes Hissumail, Massina Maria André, Luís Tinoruna e Mateus Manuel. Daniel Mendes Massaca, que fizera o compromisso em Maputo há mais tempo, aproveitou a solenidade para renovar as promessas. Na homilia da missa, Pe. Marco recordou brevemente a história dos Salesianos Cooperadores e o contexto no qual eles foram criados por Dom Bosco

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como o primeiro grupo de leigos na Família Salesiana. “Fazer o compromisso de Salesiano Cooperador é fazer também o caminho de santidade”, disse. Após a homilia, Ir. Erondina Pereira de Souza, Delegada dos SSCC em Cabo Delgado e quem preparou os neo-professos para esse momento, leu a ata da celebração. Antes de assiná-la, cada novo membro recebeu de Ir. Zvonka a medalha comemorativa como mais novos integrantes da Família Salesiana.

Primeiros SSCC do norte de Moçambique


Diocese de Pemba celebra 60 anos

com peregrinação a Montepuez Da redacção

Celebração eucarística, dia 14 de Maio, presidida pelo Núncio Apostólico no país, Dom Edgar Peña Parra

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Diocese de Pemba, província de Cabo Delgado, celebrou este ano seu 60º aniversário de criação com uma festa especial: sintonizada ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima (Portugal), onde o Papa Francisco celebrou, no dia 13 de Maio, os 100 anos das aparições de Nossa Senhora aos pastorinhos e a canonização de

Chegada dos peregrinos ao Santuário de N. S. Fátima

dois deles: Francisco e Jacinta Marto. As celebrações aconteceram em Montepuez, na Paróquia de São Paulo, também sábado, dia 13 de Maio, e se prolongaram até a manhã do domingo. Começaram com palestras sobre Profetismo, com público desde infantil, adolescentes e adultos. Após as palestras teve início a procissão com o andor de N. Senhora guiando os peregrinos num percurso de 4,5 quilómetros que separam a Paróquia do Santuário de Fátima. Aproximadamente três mil fiéis participaram da festa, conduzidos pelo Núncio Apostólico em Moçambique, Dom Edgar Peña Parra, pelo Bispo da Diocese de Pemba, Dom Luiz Fernando Lisboa e muitos sacerdotes – inclusive o secretário da Nunciatura, Pe. Cristiano Antonietti, e o Provincial dos Salesianos no país, Pe. Marco Biaggi. À chegada ao Santuário houve um tempo de adoração ao Santíssimo e a projecção de um filme sobre a vida de São Paulo. No domingo, Dom Edgar presidiu a Missa campal, com um belíssimo cenário celebrativo, tendo a montanha ao fundo e o céu límpido e azul. E muita música e dança, como é típico nas celebrações em África, de liturgia completamente conversiva.

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Vidas que marcam

Irmã Gertrudes, um exemplo de alegria pela missão Por Ir. Zvonka Mikec, FMA

Servir o Senhor com alegria, com a disponibilidade de Maria” foi o lema que acompanhou a vida de Ir. Maria Gertrudes da Rocha, falecida no dia 12 de Abril de 2017, em Maputo – Moçambique, tendo dedicado 53 anos de seus 84 ao país. O lema faz compreender a sua grande devoção a Maria Auxliadora. Ser Filha de Maria Auxiliadora era toda a sua alegria. Ir. Maria Gertrudes nasceu em Luzim – Pena Fiel, Portugal, no dia 21 de Março de 1933, numa família de sólidas raízes cristãs. Ela própria escreveu na sua autobiografia: “O Senhor chamou-me à vida numa família profundamente cristã, onde recebi o dom da fé. Ainda pequena pedi ao Pároco que me desse a Sagrada Comunhão, permitindo-me recebê-la à idade de 5 anos e meio, e embora com tão pouca idade aproximava-me com frequência aos sacramentos de Confissão e da Comunhão”. Aos 22 anos começava a sentir uma certa inquietação em relação à escolha da sua vida: casar ou abraçar

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a vida religiosa? Finalmente, após um longo discernimento, auxiliada pela sua guia espiritual, decidiu ser religiosa, e sabendo que existia uma Congregação que se dedicava à juventude entrou no Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. Iniciou a sua formação aos 25 anos no Instituto do Monte Estoril e no dia 31 de Janeiro de 1958 iniciou o Postulantado. No mesmo ano entrou no Noviciado e fez a sua primeira Profissão no dia 05 de Agosto de 1960. De 1960 a 1964 viveu no Lar da Ajuda, Lisboa, como catequista e assistente das pensionistas. Ainda em 1964 veio para as missões de Moçambique, enviada para Porto Amélia, actual Pemba, na casa Maria Auxiliadora, como Ecónoma, catequista e responsável da Pastoral da Igreja de Maria Auxiliadora. Em 1966 fez a Profissão Perpétua na Namaacha – “João de Deus” – e em seguida passou a viver no Colégio Maria Auxiliadora da Namaacha. Em 1977 passou para a casa S. João Bosco, sempre na Namaacha, trabalhando na Malharia e ensinando muitas jovens. Em 1984 foi transferida para Maputo – Jardim – com a responsabilidade de ecónoma e catequista. Entre 1990 e 1992 foi Ecónoma da Visitadoria em Maputo. Em 1992 foi transferida para a casa Madre Mazzarello do Chiúre. Em 1995 foi para Pemba, Casa Maria Auxiliadora, e em 1998 para o Centro de Acolhimento D. Bosco, no Infulene, Maputo, onde permaneceu durante dez anos. Em 2008 seguiu para a comunidade Laura Vicunha de Inharrime, onde continuou com o serviço de Ecónoma. No ano de 2010 foi enviada a abrir uma nova presença em Nacala – S. Francisco de Sales –, onde desenvolveu o serviço de Ecónoma e animadora da Pastoral no Oratório e na Paróquia. Durante os anos 2014 e 2015 viveu na Casa Madre Rosetta Marchese do Jardim. Com o declinar da saúde e o progressivo revelar-se de uma Fibrose Pulmunar, teve que ir deixando este serviço, dedicando-se às jovens em formação, ensinandolhes a arte do bordado. No ano de 2016 foi para a Casa S. João Bosco do Noviciado.


Padre Júlio Rosa, grande educador da fé em Moçambique Da redacção

O Pe. Júlio Rosa, com sua animação, foi quem iniciou a Associação de Maria Auxiliadora (ADMA) na Paróquia São Pedro e São Paulo, do Choupal, em 1987. No dia 24 de Maio do ano seguinte, fizemos as primeiras promessas na Paróquia São José de Lhanguene e nunca mais o movimento parou de crescer em nossa paróquia”. Este foi o depoimento de Beatriz Langa, na Missa de 7º dia de falecimento do Pe. Júlio Rosa, em 17 de Março, na Paróquia do Choupal. Natural de Leiria – Fátima, Pe. Júlio dos Santos Rosa nasceu no dia 09 de Abril de 1929 e faleceu no dia 11 de Março de 2017, no Hospital Cascais. Faleceu sem ver os tios pastorinhos, São Francisco e Santa Jacinta Marto, serem canonizados pelo Papa Francisco no dia 13 de Maio deste ano. Teve uma trajectória vocacional rica, iniciando e prosseguindo o acompanhamento vocacional como aspirante salesiano em Poiares e Mogofores, entre os anos de 1943 e 1947; realizou a sua experiência formativa como noviço de 1947 a 1948, e fez a primeira profissão religiosa como salesiano em 16 de Agosto de 1948. A profissão perpétua Pe. Júlio Rosa fez em Hong Kong, Macau (então colónia portuguesa), a 16 de Agosto de 1954. Fez a sua preparação nas ciências humano-filosóficas em Estoril, Portugal, e em Hong Kong e depois o período do estágio apostólico entre os

anos de 1949 a 1955. Completou a sua formação específica sacerdotal no Teologado de Mel Chet Court, na Inglaterra, nos anos de 1955 a 1959. Foi ordenado sacerdote em 05 de Julho de 1959, em sua terra natal, na Paróquia de N. S. de Fátima. De 1960 a 1966 foi professor, administrador – ecónomo e vice-pároco – respectivamente, em Estoril, Mogofores e Lisboa. Ainda em 1966, partiu como capelão militar para Angola, regressando a Portugal no dia 30 de Novembro de 1968, quando vem para Moçambique, inserindo-se na comunidade salesiana do Instituto Técnico Mouzinho de Albuquerque, na Namaacha, com a função de ecónomo, onde também foi director da escola pública concessionada aos Salesianos. Foi pároco na Paróquia São Pedro e São Paulo do Choupal de 1979 e 1983. Também foi Pároco na Paróquia de Nossa Senhora do Livramento do Bairro T3, entre 1983 e 1986. Foi Vigário paroquial na Paróquia da Missão de São José de Lhanguene, no período de 1987 a 1988. Padre Júlio Rosa foi presidente da Comissão da Pastoral Vocacional Arquidiocesana nos anos 1982 e 1983 e Professor dos Seminários Maior e Propedêutico de Maputo, nos anos 1982 e 1989. De 1988 a 1991 foi Delegado do Provincial da Presença Salesiana de Moçambique. Entre os anos de 1993 e 1997 foi pároco e professor na Paróquia da Missão São João Baptista de Moatize. De 2003 a 2006 foi também Superior da Comunidade Salesiana. Nos anos de 1997 a 2003, trabalhou em S. José de Lhanguene como vigário, ecónomo e professor, e na Moamba, como ecónomo. De 2007 até a ida para Portugal esteve na Casa do Noviciado de Namaacha como Confessor. No dia 18 de Setembro de 2012 regressou a Portugal (Manique) por motivos de saúde.

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Testemunho de vida

Como um sacerdote pode ser mais radical em sua fé? Por Pe. José López, SDB

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uero partilhar convosco alguns flashes de dois providenciais anos que passei junto a uma família de Namaacha, no Bairro Germantine, com José Singo e sua esposa Carlota, e suas pérolas Atália, Manuel, Lina, Elias, Samuel e Pedrito. José Singo, pai paciente, sempre a conduzir uma família que muitas vezes é gratificante para si mas outras tantas vezes é um grande (e até doloroso) desafio. Carlota, sua fiel esposa, sempre disponível para as coisas de Deus, com principal destaque para as tarefas da evangelização. Normalmente, Carlota participa sempre em todas as iniciativas que a comunidade programa: visita às casas dos mais afastados, visita aos lares onde há problemas urgentes para intervir, visitas para levar alimento a alguma família pobre e muitas outras actividades. Nada impede Carlota de bem o fazer: nem o calor, nem o frio, nem a chuva. Não duvidamos que Carlota recebeu de Deus o dom justo e necessário para animar a Comunidade de Cristo Rei, de Germantine, com seus altos e baixos. José Singo, apesar da sua preocupação com o ganha-pão e com um horário de trabalho que muitas vezes o impede de participar nas actividades, sempre deixou claro seu testemunho de cristão comprometido. Lembro-me de um facto que me impressionou de maneira especial: foi num domingo, depois de ter trabalhado até de madrugada, cansado e com uma grande carga de sono de quem apenas dormiu menos de duas horas, participou da missa pela manhã. O detalhe é que nessa missa houve um convite para visitar uma família necessitada de aconselhamento. O José prontificou-se logo para participar nesta actividade, apesar de eu o aconselhar a ir para casa descansar. A sua resposta foi: “O Padre tem razão, mas não quero perder esta oportunidade de fazer esta obra de missionação, tão importante para a nossa comunidade”.

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Os seus filhos, adolescentes, e cada um com sua situação particular própria da idade, põem à prova a grande paciência de José e Carlota. Nestas ocasiões, eles mais se agarram aos meios que a Igreja oferece para os momentos difíceis da vida: o Sacramento da Reconciliação, a Eucaristia e a oração intensa, são a rocha firme para eles. “Que bom poder comungar também nas quintas-feiras” dizia Carlota, cheia de alegria, depois de termos iniciado na comunidade a adoração eucarística e comunhão ao final do dia. Enquanto o marido estava no trabalho, ela, junto com os seus filhos estava “nas coisas do Pai”. A filha mais velha, Atália, alegre e generosa, se alimentou tão bem da fé deste lar, que após longo caminho de formação, será a primeira consagrada da Comunidade de Cristo Rei de Germantine. Este ano, ela se encontra no discernimento para, se for a vontade de Deus, realizar seus primeiros votos como Filha de Maria Auxiliadora, animada pela sua mãe Carlota. Quero terminar mostrando um postal que vai ficar sempre gravado na minha memória. Trata-se duma vez que visitei a casa de José e Carlota e levei propositadamente a hóstia numa teca. Depois de termos conversado bastante sobre a vida deles e sobre a grande tarefa de educar seus filhos, lhes comentei que trazia comigo a eucaristia. De imediato pediram para fazer adoração ali mesmo onde estávamos. Nessa casa pequenina, mas feita com bom gosto, coloquei a Hóstia Consagrada em cima de uma mesinha, e todos em roda, ajoelhados e em silêncio durante um tempo prolongado, adoraram Jesus ali presente sacramentalmente. O que impede que tantas famílias tenham esta rocha firme: Jesus Eucaristia, Maria, e o Terço? É preciso fazer ainda muito mais pelas famílias que a Providência coloca no nosso caminho, pelas famílias cheias de problemas, e pelas famílias que, embora com problemas, ficam firmes na rocha que é Cristo Jesus e sua Mãe Maria Santíssima.


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SDB: 110 anos em Moçambique

32 Sobrado onde funcionou a Escola de Artes e Ofícios dos Salesianos


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