Boletim salesiano

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MOÇAMBIQUE - JAN/FEV/MAR/2017

FAMÍLIA: ESCOLA DE VIDA E DE AMOR

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Expediente

SUMÁRIO

Boletim Salesiano Moçambique Propriedade da Visitadoria Maria Auxiliadora Depósito legal: 01530/INLD/98 ANO XVII nº 66 Directora Elvira Freitas – MTb 2939 csvisitadoriamoz@gmail.com

Editorial.................................................................3

Equipa de Redação Elvira Freitas Jaqueline O. Calderón Langa Ir. Ofélia Ramos Macuaia, FHIC Pe. Rogélio Arenal, SDB Pe. Benedito João Simone, SDB Pe. Miguel Ángel Delgado

O Sucessor de Dom Bosco ................................4/5

Revisão Ir. Joaquim Gomes

FMA .............................................................10/11

Agências de notícias InfoANS Rádio Vaticano Ecclesia Projecto gráfico e maquetação Begildo José Redacção Rua 5.011, nº 189 – Bairro Luís Cabral Maputo - Moçambique +258-21404074 +258-821716573 +258-849283597 www.boletimsalesiano.org.mz

Aqui nasceu o carisma ..........................................6 Histórias sobre Dom Bosco ..................................7 Somos Igreja .....................................................8/9

Missionários no Mundo ................................12/13 Olhar Panorâmico .........................................14/15 Primeiras Profissões ......................................16/17 Ordenação Sacerdotal ...................................18/19 Vocações .......................................................20/21 Família que educa .........................................22/23 ISDB ............................................................24/25 Repórter Salesiano .......................................26/27 Formação Humana .............................................28 Palavras de Sabedoria ........................................29

O Boletim Salesiano reserva-se o direito de condensar/editar as matérias enviadas como colaboração. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista, sendo de total responsabilidade de seus autores.

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Testemunho de vida ............................................30 Familia Salesiana ...............................................31


110 Anos de um Projecto de Deus

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s nossas Constituições Salesianas, no seu primeiro artigo, fala da ação de Deus na fundação e na vida da nossa Sociedade. Podemos também dizer que com sentido de humilde gratidão acreditamos que a presença salesiana em Moçambique não nasceu de simples projecto humano, mas por iniciativa de Deus. A fim de contribuir para a salvação da juventude, “a porção mais delicada e preciosa da sociedade humana” (MB II,45), o Espírito Santo, com a intervenção materna de Maria, suscitou S. João Bosco e seus sucessores, que enviaram os Salesianos para trabalhar em todo o mundo. No dia 01 de Fevereiro de 1907, saíram de Lisboa os primeiros Salesianos com destino a Moçambique. Eram eles: Pe. João Barilari e Ir. Salvador Pascale, italianos; e Pe. Alfredo Queiroz e Ir. António Machado, portugueses. “A 07 de Março chegavam para instalar-se na Escola de Artes e Ofícios da Ilha de Moçambique. Aos quatro pioneiros só em Março de 1908 veio juntar-se um novo elemento (italiano), por sinal de grande valor: o Pe. Martinho Recalcati. Em 1909 chegaria o Salesiano leigo Gaspar Marques (português) e só em 1912 chegariam um outro Salesiano leigo, José Casanova Ribas (espanhol), e o Pe. Pio Nelin (italiano). O prelado pensou em confiar-lhes também uma missão em território continental... a missão da Mochélia afigurava-se-lhes como o embrião de uma grande obra evangelizadora que a Providência proporcionava aos filhos de Dom Bosco no território vastíssimo da África. O contentamento bem depressa deu lugar à desolação: não tardou que uma cheia, provocada pelo rio Monapo, e logo a seguir um violentíssimo ciclone viessem a destruir quase tudo o que tinha sido feito. A violência das águas varreu as plantações e a do ciclone arrasou as palhotas. Os missionários apressaram-se a refazer as bases da missão, mas desta vez com maior segurança. Escolheram, para isso, um outro lugar – Lunga –, não muito distante de Mochélia, mas menos exposto às surpresas do rio Monapo. Eis, porém, que os ventos da revolução republicana (Outubro de 1910), que assolaram a metrópole, chegaram também aos territórios ultramarinos e, por conseguinte, a Moçambique, ferindo sem piedade as instituições

da Igreja. Em Agosto de 1913, o novo superior da casa, Martinho Recalcati, informava ao Pe. Filipe Rinaldi que os Salesianos acabavam de ser oficialmente destituídos da direcção e administração da Escola de Artes e Ofícios. A ordem de expulsão não se fez esperar. Efetivamente, a 01 de Setembro, o mesmo Recalcati fazia nova comunicação para Turim, anunciando que ‘a bomba tinha rebentado’ e enviando cópia do ‘decreto de expulsão’”. (Amador Anjos e J. Adolfo Vieira – Os Salesianos em Moçambique – Província Portuguesa da Sociedade Salesiana, 2008 – pp. 28-51). O retorno dos Salesianos a Moçambique vai se dar no dia 07 de Setembro de 1952, quando foram acolhidos pelas irmãs Franciscanas Hospitaleiras, Missão de S. José de Lhanguene, até o dia 17 de Setembro, quando davam entrada no Instituto Mouzinho de Albuquerque, na Namaacha. Os Salesianos, em número de sete, vieram para tomar a seu cargo a direcção e administração deste estabelecimento educativo. Depois de um longo período como Delegação da Província Salesiana de Portugal, no ano 2006 foi criada a Visitadoria Maria Auxiliadora. Hoje é composta por 54 salesianos e está presente em três províncias moçambicanas com oito comunidades religiosas. Ao celebrar estes 110 anos, pedimos a Deus que recompense todos os que trabalharam neste Seu projecto e nos conceda as graças necessárias para que possamos continuar a servir nesta missão. Pe. Marco Biaggi

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O Sucessor de Dom Bosco

A família nunca passa de moda Pe. Ángel Fernández Artime

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este campo, todos temos uma “bússola do coração” que não falha: a nossa experiência pessoal. A família foi o ninho em que nos sentimos amados, acolhidos, protegidos e sustentados enquanto não tínhamos condições de voar com as nossas asas. Meus caros leitores do Boletim Salesiano, amigos e amigas de Dom Bosco e das suas obras em todo o mundo e caríssima Família Salesiana, saúdo-vos com todo o afeto do meu coração e ainda com votos de que 2017 que o Senhor nos concede seja repleto de graça e de bênçãos. Fiel à tradição de Dom Bosco, uma vez mais vos ofereço um belo Lema para todo este ano recentemente iniciado. É proposto antes de tudo às

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Filhas de Maria Auxiliadora e com elas a toda a Família Salesiana do mundo. Este ano, em sintonia com a Exortação Apostólica Amoris Laetitia do Papa Francisco, tem como tema a família, todas as famílias do mundo, com o título: «Somos Família! Cada casa é uma escola de Vida e de Amor». Precisamente este título e tudo o que escrevi como comentário ao Lema permite-me saudar-vos com esta reflexão em que, com toda a sinceridade, insisto em que as famílias nunca passam de moda: são sempre atuais, sempre vitais e essenciais para a vida das pessoas. Mudam os tempos e as culturas, mas, como todos os estudos e investigações evidenciam, esta verdade permanece incontestável.


O Sucessor de Dom Bosco Neste campo, todos temos uma “bússola do coração” que não falha: a nossa experiência pessoal. Cada um de nós deve reconhecer que, para além das limitações e dos possíveis defeitos, a nossa família de “carne e osso”, não obstante as inevitáveis imperfeições, é a realidade mais importante e mais bela da nossa vida. A vocação laical de muitos de vós nasceu do calor e da satisfação da própria experiência familiar. Foi o verdadeiro berço da vida, o ninho em que nos sentimos amados, acolhidos, protegidos e sustentados enquanto não tínhamos condições de voar com as nossas asas. Na nossa família aprendemos o alfabeto do amor, a força prodigiosa dos laços e dos afetos. É este o oásis em que podemos reencontrar serenidade, satisfação e harmonia pessoal. Ao escrever a carta à Família Salesiana do mundo, senti uma alegria encantadora e emocionante ao meditar que também o Filho de Deus, Jesus de Nazaré, teve uma mãe escolhida por Deus e uma família que O amou e acolheu, uma família na qual viveu fazendo experiência, precisamente como nós. Nos trinta anos de Nazaré, Jesus aprendeu a ser homem. E pensei em Dom Bosco. Ele mesmo nos contou o que significa perder o pai aos dois anos e ser órfão de pai, mas que grande dom pode ser o ter uma família com uma mãe excecional, como Mãe Margarida. Pensei em Maria Domingas Mazzarello (Main), menina feliz e adolescente num contexto religioso e rural tão semelhante ao de Dom Bosco, mas com a alegria de crescer serenamente sempre na sua aldeia natal, Mornese, e numa família numerosa e com a proteção preciosa de um pai e de uma mãe. E quantas histórias de vida e de famílias poderia contar-vos! As viagens pelo mundo ajudaram-me a compreender como é importante a família, embora na sua diferença cultural e étnica, mas sempre fundamento indispensável de toda a sociedade, como primeira e normal escola de humanidade. Com tudo isto, convido-vos, amigos leitores, como fez o Papa Francisco, a tomar a sério o valor e o contacto com as famílias, que são lar, refúgio e ninho para todas as crianças do mundo. É no coração da família, no ramerrame quotidiano, entre acordos e desacordos, perdões e recconcili-

ações como é típico de toda a existência, que podem aprender a arte do diálogo, da comunicação, da compreensão, do perdão. Em família, podem sentir-se as limitações, mas também os valores mais preciosos e essenciais como o amor, a fé, a liberdade, o respeito, a justiça, o trabalho, a honestidade, que assim lançam raízes na vida de cada pessoa. Outros ingredientes, que hoje já não estão de moda, encontram sentido na família: a educação à sobriedade e ao autocontrole, à fidelidade, ao compromisso pela dignidade das pessoas. E sobretudo a transmissão da fé. Que resposta podemos então dar ao forte apelo do Papa? Que podemos fazer pelas famílias que todos os dias encontramos sobretudo nas nossas Presenças Educativas? Ocorrem-me algumas “sugestões”: Acompanhar na medida do possível as famílias que conhecemos, com cordialidade e empatia. Ajudar os pais a educar com coração “salesiano”. Declarar-nos “casa aberta”, sempre prontos a acolher os amigos e as famílias dos filhos. Favorecer os projetos dos jovens que sonham uma vida matrimonial. Não ter medo de propor valores humanos, morais e espirituais aos nossos jovens e às suas famílias, como certamente eles mesmos desejam (mesmo que não ousem dizê-lo). Encorajar as famílias dos nossos destinatários a viver a “alegria” do amor. Banir qualquer forma de discriminação contra as meninas e as senhoras. Manter sempre uma atitude de compreensão e simpatia, para melhor compreender as situações que, tantas vezes difíceis, muitas famílias que nos são próximas vivem. Criar com todas as nossas forças aquele autêntico clima de família tão amado por Dom Bosco em Valdocco. Certamente poderíamos realizar algumas destas práticas. Que para isso nos dê força e proteção a Sagrada Família de Nazaré, como reza o Papa Francisco: «Sagrada Família de Nazaré, faz com que todos nos tornemos conscientes do caráter sagrado e inviolável da família, da sua beleza no projeto de Deus».

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A M E N S A G E M D O R E I T O R M O R


Aqui Nasceu o Carisma

Lugares históricos de Dom Bosco: lugares de ‘família’ (1) Por Rogélio Arenal

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Histórias sobre Dom Bosco

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Família Salesiana pode-se considerar privilegiada por conservar um rico património dos lugares históricos de Dom Bosco, que abrangem desde o seu nascimento até à sua morte. Devemos agradecer a muitos salesianos e leigos que tiveram a curiosidade em conhecer esses lugares; tiveram o cuidado de os preservar da passagem do tempo. E, sobretudo, devemos agradecer a inteligência e a dedicação de estudiosos desses lugares para os enriquecer com dados históricos que são os que dão, hoje, o valor de património histórico da Família Salesiana. Poderíamos seguir estes lugares históricos de Dom Bosco, o nosso Pai, de forma cronológica. Porém, nestes artigos que iniciamos, vou procurar seguir uma ordem temática dos lugares bosquianos. Como a Estreia do Reitor-mor para este ano nos convida a olhar para a família como ‘casa’ onde se realiza uma ‘escola de vida e amor’, em sintonia com ela, vou intentar, ‘visitar’ alguns lugares de Dom Bosco que foram lugares de ‘experiência familiar’ e que marcaram a sua vida e, na maioria dos casos, a vida dos seus filhos e filhas espirituais. Os textos das Memórias de Dom Bosco nos guiarão (editadas pela Editora Salesiana Dom Bosco, São Paulo 1982). 1- A casa dos santos O primeiro lugar de experiência familiar que apresento, talvez não muito conhecido, mas que foi muito importante para o rapaz João Bosco é a casa do Pe. Calosso, em Murialdo. Esta casa não está muito longe da casa de Mamãe Margarida e a sua família, e será o lugar onde o adolescente João terá a primeira experiência de acompanhamento espiritual e vocacional, rodeado dum ambiente paternal. Foi o tempo da esperança para João. O tempo do encontro com um coração paterno que o nosso Pai nunca teve, ao ficar órfão de pequeno. As palavras de Dom Bosco são muito expressivas: «Coloquei-me logo nas mãos do Pe. Calosso, que havia poucos meses chegara àquela capelania. Abri-me inteiramente com ele. Manifestavalhe prontamente qualquer palavra, pensamento e acção. Isso muito lhe agradou, porque dessa maneira podia orientar-me com segurança no espiritual e no temporal. Fiquei sabendo assim quanto vale um guia estável, um fiel amigo da alma, que até então não tivera». Ao falar do conflito com o seu irmão António,

que queria a João no trabalho do campo e não no estudo, escreve Dom Bosco: «Mamãe estava muito aflita. Eu chorava. O capelão sentia pena. Informado das complicações de minha família, o digno ministro de Deus chamou-me um dia e disse-me: ‘Joãozinho, puseste em mim tua confiança e não quero que isso seja inútil. Deixa, pois, esse irmão malvado, vem comigo e terás um pai amoroso’». «O Pe. Calosso tornou-se um ídolo para mim. Era um prazer imenso trabalhar para ele e até dar a vida por algo que fosse do seu agrado. Fazia mais progresso num dia com o capelão, que numa semana em casa». Na porta da capela de Murialdo, que faz parte da estrutura desta casa, será também o lugar onde o adolescente João, já falecido o Pe. Calosso, se encontrará por primeira vez com um seminarista, que será depois o seu grande benfeitor e director espiritual, São José Cafasso: Assim narra Dom Bosco o primeiro encontro: «Só vi uma pessoa longe de qualquer espectáculo. Era um clérigo, de pequena estatura, olhos cintilantes, aparência afável, rosto angélico. Apoiava-se à porta da igreja. Fiquei como fascinado pela sua figura, e movido pelo desejo de falar-lhe, aproximei-me e dirigi-lhe estas palavras: -’Senhor cura, quer ver algum espectáculo da nossa festa? Eu o levo com muito gosto aonde desejar’… Muito impressionado, quis saber o nome do clérigo, cujas palavras e porte manifestavam em elevado grau o espírito do Senhor. Soube que era o clérigo José Cafasso». Nesta mesma Capela, de manhã cedo, no meio do frio, anos mais tarde, uma criança ia rezar na Eucaristia, e enquanto não abriam a porta ficava de joelhos à espera de ser aberta. Será o nosso São Domingos Sávio.

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Somos Igreja

SOMOS FAMÍLIA! CADA CASA, UMA ESCOLA DE VIDA E DE AMOR

Por Augusto Rodrigues de Sousa

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odos os anos, desde Dom Bosco, o Reitor-mor dos Salesianos escreve uma mensagem à Família Salesiana, com o objetivo de favorecer a comunhão e a unidade, ao redor de um tema comum. Essa mensagem

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é chamada de ESTREIA. Nesse ano, na trilha da caminhada eclesial dos últimos Sínodos dos Bispos e da recente Exortação Apostólica do Papa Francisco “A alegria do amor”, recebemos novamente o tema da família como proposta de reflexão.


Somos Igreja

Dom Bosco, no início de sua missão, tomou a família como paradigma de sua atividade pastoral; criando ao redor de si uma comunidade educativa baseada no amor exigente dos educadores e no protagonismo dos jovens de modo que todos se sentissem em casa. Dessa experiência nasceu a Congregação e a Família Salesiana. Ser família faz parte da herança que recebemos de Dom Bosco! Esse ano, o Reitor-mor convida a uma leitura atenta e salesiana de “A alegria do amor”, para redescobrir as potencialidades da família, em sua riqueza humana e como sinal do Deus-Comunidade; e para ajudar a superar os desafios e fragilidades com que se depara. Em Moçambique, as famílias também enfrentam desafios que nos questionam: “famílias estruturadas e crentes, que passam a ser exceções e precisam de apoio para perseverar no seu testemunho; e famílias fragmentadas, com feridas profundas e divisões, nas quais os filhos, muitas vezes, são reféns da discórdia”. Com a ESTREIA, o Reitor-Mor convida toda a Família Salesiana a, seguindo a Igreja, caminhar com as famílias. Essa é e nossa humilde e especifica contribuição educativo-pastoral na pastoral familiar, que se baseia na nossa postura típica: o acompanhamento que faz de nossas comunidades espaços de acolhida e escuta e nos impele a ajudar cada família a redescobrir-se em seus valores.

A ALEGRIA DO AMOR Após os dois últimos sínodos sobre a Família (2014 e 2015), o Papa Francisco escreveu a Exortação Apostólica “A Alegria do Amor” (Amoris Laetitia), baseado nas reflexões sinodais e nos ensinamentos dos papas anteriores (São João Paulo II e Bento XVI). Na ESTREIA 2017, o Padre Ángel Fernandez Artime comenta que “mesmo apresentando a reflexão eclesial de muitos anos, o Papa introduz uma mudança de tonalidade e perspectiva. O texto tem as características já conhecidas do magistério do Papa Francisco: é um texto realista, próximo, direto e atraente (...) não é um documento que fala da vida em abstrato. Quem buscasse normas claras e duras ficará frustrado. O Papa convida ao discernimento (...) e coloca no centro a lógica da misericórdia”. Para recordar A ESTREIA 2006 também tratava do tema Família, berço da vida e do amor e lugar primeiro de humanização.

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FMA

Ir. Carla Baietta:

100 anos de

história e amor a Deus!

Elvira Freitas “Sou feliz!”. Foi tudo que Ir. Carla Baietta conseguiu falar na celebração eucarística, dia 09 de Fevereiro, em acção de graças por seus 100 anos de vida. De facto, durante toda a missa, ela sorriu com os lábios e com os olhos, a não deixar dúvidas acerca da felicidade declarada. Foi essa alegria transparente que o presidente da celebração, Dom Edgar Peña Parra – Núncio apostólico em Moçambique – destacou na homilia. “Há momentos especiais em nossa vida que consideramos especiais, porque podem conter ou exprimir os sentimentos e os significados mais profundos daquilo que somos e fazemos. Talvez por esse motivo sentimos o desejo de os fotografar e filmar. Todos temos experiência de que a vida passa como um sopro e desejamos, de certo modo, conservar esses gestos, pessoas, palavras, lugares que nos dizem muito mais do que aparenta porque falam ao coração”. E prosseguiu: “Se calhar, essa experiência pode indicar-nos o caminho para ler e compreender um pouco melhor a página do Evangelho que acabamos de ouvir [Bodas de Caná]. […]. As Bodas de Caná recomeçam a cada geração, em cada família em cada um de nós. Em nós e nos nossos esforços para que nosso coração consiga encontrar

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essa habilidade em amores duradouros, em amores mais fecundos, em amores que causam alegria. Podemos dizer que assim é o amor de uma consagrada como Ir. Carla pelo Senhor”. De facto, Ir. Carla já havia declarado essa alegria e felicidade quatro anos atrás, numa entrevista para a revista Vida Nova, dada à também FMA Ir. Alice Albertina. Perguntada se se sentia feliz, Ir. Carla respondeu: “Sinto-me feliz na minha vocação missionária. O Senhor deu-me muito! Tive a possibilidade de viver entre o povo de Moçambique e sinto que me querem bem. Se penso no que já vivi, posso dizer que sou realmente feliz”. A missa foi na Paróquia Santo António da Polana, concelebrada pelo Bispo recém-nomeado para Chimoio, Dom João Carlos Hatoa Nunes, e o emérito de Pemba, Dom Januário Nhamcumbe, com a presença de diversos padres Salesianos e de outras congregações, das FMA, além de um


FMA

grande número de fiéis, representantes da Família Salesiana, bem como do sobrinho da aniversariante, Alfredo Baietta, que veio de Milão, Itália, juntamente com a esposa, Cristina, especialmente para as comemorações. Descrever a trajetória de vida de Ir. Carla seria impossível. Além de longa, é uma vida repleta de acontecimentos, atitudes, trabalhos, decisões, serviço e, principalmente, muita doação de si mesma aos outros. Por isso, aqui serão colocadas algumas datas, pois elas contam a história de Ir. Carla Baietta. No dia 09 de Fevereiro de 1917 nesceu em Mediglia di Milano. Fez a sua profissão religiosa no ano de 1940 e em 1946 foi enviada a Portugal, lá permanecendo seis anos. Em 1952 chegou a Moçambique juntamente com outras três irmãs: Ir. Dolorinda Ferreira, Ir. Palmira Aires (já falecida), Ir. Francelina Bastos e uma leiga voluntária, Adriana. Para as FMA de Moçambique, celebrar os 100 anos de Ir. Carla em 2017 não poderia ser mais apropriado e especial, pois precisamente neste ano as religiosas comemoram também os 25 anos da Inspectoria São João Bosco. Como se vê muitos são os motivos para dar graças a Deus, o Deus da vida!

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Missionários no Mundo

A experiência de Deus Por Luís Antônio Amiranda

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asci numa linda e pequena cidade do interior do estado de São Paulo no Brasil. A vida me fez um pouco “cigano”. Desde muito cedo, minha família andava em busca de algo melhor e por isso, de tempos em tempos mudava de cidade. Isso foi muito bom. Acabei conhecendo os Salesianos e me fiz um deles. Sou um religioso consagrado e muito feliz com esta escolha vocacional. Também, como Salesiano tenho que realizar a cada passo alguns trabalhos em um lugar diferente. Para mim nunca foi difícil mudar de lugar e também sempre estive muito aberto para ouvir e buscar discernir a vontade de Deus em cada chamamento, em cada obediência que recebi. No meio do ano de 2014 o Padre Marco Biaggi foi nomeado Inspetor da Visitadoria Maria Auxiliadora de Moçambique e, numa conversa de pátio ele fez uma proposta aberta a um grupo de Salesianos. Alguns disseram que estavam dispostos a acompanhá-lo, e na brincadeira eu também aceitei o desafio. Algum tempo depois recebi um e-mail dele perguntando se eu estava disposto a fazer uma experiência missionária na África, em Moçambique. Creio que era a voz de Deus mais uma vez me falando. Foram alguns meses de preparação e acordos com o superior que me libertou por dois anos para fazer esta experiência missionária. Gostaria de registar uma conversa que tive com minha mãe, quando lhe contei que estava sendo convidado para a África. Depois de me olhar muito carinhosamente, ela disse: “Você sabe que estou doente e que gostaria de tê-lo por perto, mas vejo que você sempre foi o filho que me pareceu mais

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Missionários no Mundo

na Missão feliz, embora tenha sido o que sempre ficou mais distante fisicamente. Sinto que é a vontade de Deus que você faça esta missão... Eu te abençoo”. Depois disso tive a certeza de que era mais uma vez Deus interferindo na minha vida. Quando se pensa em ir para uma missão, logo vem à cabeça que devemos ensinar, catequizar, levar algo de novo, nos doar... e estas ideias também tentaram entrar na minha cabeça, mas não atingiram meu coração, porque não deu tempo. Ao chegar em Moçambique, percebi o quanto eu teria de aprender. O quanto teria de me despir de mim mesmo e estar aberto para o novo que Deus me queria ensinar. Fui recebido com muita alegria e muita generosidade por todos. Era uma experiência nova a cada dia. Dois anos passaram muito rápido. Os primeiros trabalhos foram na Administração da Casa Provincial e do ISDB. Seria uma questão de lidar com as finanças, com compras, com o administrativo, mas também tinha tempo para lidar com o humano, o espiritual. Pude travar conhecimento com muitas pessoas, desde professores universitários, colaboradores leigos, comerciantes, alunos... Era uma troca de experiência e de vida. Troca de amizade, de respeito. Eu percebia a cada dia que recebia muito mais do que poderia dar. Era um ambiente alegre, criativo, educativo, claramente. Um ambiente onde verdadeiramente o sistema preventivo existia e era enriquecido com o estilo moçambicano de ser. O final de semana era o tempo rico de contacto com a Comunidade da Beata Anuarite e com o Oratório. Não sei de onde saíam tantos sorrisos, tanta alegria naquelas crianças e adolescentes. Também não consigo explicar de onde vinha a força e o entusiasmo dos dirigentes do Oratório. Era um grupo de jovens muito animados. No segundo ano a experiência foi na Comunidade de São José de Lhanguéne. Uma Paróquia cheia de vida, uma Escola Comercial, um Centro

de Formação Profissional e também um internato. Outra injecção de entusiasmo e de modo especial outra experiência rica de contacto com Deus, através das pessoas. O final de semana era ocupado com a Catequese e com o Oratório Festivo. Quando olho para trás na história e também na minha experiência de África consigo ver o Oratório de Valdocco sendo novamente reerguido em São José de Lhanguéne: são meninos chegando e saindo; oficinas trabalhando a todo o vapor, dando possibilidade de formar bons profissionais; são alunos preparando-se intelectualmente para servir melhor a sociedade; é um internato vibrante, com teatro, música, banda, machamba, criação de animais, celebrações litúrgicas, mês mariano, queima de cartinhas a Maria. É Valdocco revivendo novamente, inclusive com o entusiasmo e alegria esfuziante do Oratório aos domingos. Ter vivido em Moçambique foi um revigorar forças, foi um receber muito, espiritualmente, aprender a ter mais paciência e alegria com pouco. Foi uma experiência com o gosto de “quero mais”. Não posso dizer que tudo foram flores, mas que as dificuldades foram superadas, e à medida que as superava sentia-me mais forte e com mais coragem e entusiasmo de ser Salesiano, filho de Dom Bosco. Ele que sempre quis uma Congregação Missionária. Muitas pessoas colaboraram muito nesta lindíssima experiência. Agradeço a todos e a cada um que souberam dar-me forças, dar-me o ombro (quando precisei chorar), ânimo e entusiasmo para ter vivenciado este momento ímpar de minha vida. Sei que foi a vontade de Deus que eu fizesse esta experiência e quero estar sempre aberto ao que Ele me vai falando e mostrando durante a minha existência. Um obrigado profundo a todos os moçambicanos que compartilharam comigo este tempo feliz da minha vida.

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Olhar Panorâmico

Aspirantado: portas Por Augusto Rodrigues de Sousa e Machava Borges Domingos

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primeiro contato do jovem com a vida Salesiana pode realizar-se através de muitas experiências (participação na paroquia, no oratório, nas escolas profissionais). Caso o jovem se interesse por viver esse estilo de vida cristã, é convidado a aprofundar seu “primeiro olhar” numa experiência comunitária chamada de estágio vocacional, atividade que orienta os jovens para a possível entrada no aspirantado, ou seja, a casa daqueles que aspiram (desejam) conhecer melhor a vida Salesiana. O aspirantado oferece ao jovem a oportunidade de uma experiência concreta da vida e missão Salesiana e de a partilhar por algum tempo, aprofundando sistematicamente a vocação com o acompanhamento adequado e imediato de uma comunidade Salesiana aberta e acolhedora. Utilizamos a expressão “portas e coração abertos” numa via de dupla direção, de um lado, a abertura dos jovens que desejam acolher a proposta vocacional Salesiana, por outro é a própria Congregação que os acolhe, de portas e coração abertos, no desejo de caminhar juntos na descoberta do futuro. No ano de 2017, sete jovens iniciaram a experiência do aspirantado. Conheça-os e saiba o que pensam:

Nazareno Martinho Sozinho Sou da Comunidade de N´topa-Briganha, Província de Nampula, Moma, Npago, Paróquia de São Miguel Arcanjo de Micane. Tenho 19 anos. Na minha família somos dez filhos e eu ocupo o 5º lugar. O meu desejo vocacional começou quando um padre brasileiro de nome Maurício veio à minha comunidade celebrar um Batismo. No mesmo dia apresentei ao meu pai e a minha mãe o meu desejo, dizendo que queria ser padre. Sonho em ser um bom padre, alegre, amoroso, compassivo e trabalhar com jovens e crianças.

Francelino Fernando Ventura Sou da comunidade de São Pedro de Culemué, Paróquia São Miguel Arcanjo de Micane, Província de Nampula, Distrito de Moma, localidade de Jagoma. Somos sete irmãos na família e eu ocupo o 4º lugar. Tenho 20 anos. O meu desejo vocacional surgiu no dia da minha confirmação e foi alimentado na minha paróquia num retiro vocacional dirigido pelo Pe. João Carlos. Sonho em viver nesta casa do aspirantado para me formar e para ser padre.

Isaquiel Tavares Sou da Província de Nampula, Distrito de Nacala Porto, localidade de Mutina. Na família ocupo o 3º lugar e tenho um irmão mais novo; dois já faleceram. Tenho 18 anos e o nível básico de escolaridade. A minha vocação surgiu na Paróquia Santo Agostinho de Nacala Porto, graças às Irmãs Salesianas que me iluminaram. Fui catequista por um ano e acólito por quatro. Sonho em ser padre para educar as pessoas que não percebem a palavra de Deus quando a leem.

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Olhar Panorâmico

e coração abertos Isac Joaquim João Vim da Província de Sofala, Distrito de Marromeu. Somos três irmãos e eu sou o segundo. Tenho 19 anos. Deste ano espero que Deus me ajude para que eu continue com a minha caminhada para estudar, rezar e trabalhar. O meu desejo vocacional surgiu ao ouvir as homilias do padre na missa; eu gostava do seu modo de falar e queria ser como ele.

Joel Queniasse Calombo Vim de Tete, Distrito de Cahora-Bassa, localidade de Thaca. Somos oito irmãos na família e eu ocupo o 6º lugar. Tenho 18 anos. O desejo vocacional surgiu quando um dia assisti a um filme sobre a vida de Cristo. Ali percebi que a nossa vocação vem de mais longe que apenas dos nossos pais, é um dom de Deus e temos que cultivar essa vida. Sonho ser um padre fiel e santo.

Belarmino José Felisberto Foias Sou da Província de Tete, Distrito de Moatize, localidade de Zobué. Somos sete irmãos e eu sou o 1º entre eles. Tenho 17 anos. O meu desejo vocacional começou quando aprendia e preparava-me para ser acólito.

Silvério José Contardo Pereira Vim da Paróquia Santos Anjos de Coalane-Comunidade de São José-Temane, Província da Zambézia, Distrito de Quelimane. Somos oito irmãos. Eu ocupo o 3º lugar. Tenho 20 anos. O meu desejo vocacional começou aos 12 anos de idade; surgiu com a vontade de ser e fazer diferente a face dos outros, sobretudo os da minha idade. Comovi-me com a vida dos meninos de rua que moravam em condições desumanas no bairro da Ponta-Gea no famoso Prédio ”Grande Hotel”. Senti que eu tinha de ajudar aqueles meninos, mas não sabia como. Em conversa com uma noviça da Congregação das Irmãs Hospitaleiras, de Maputo, ela contou-me como nasceu a sua vocação e era semelhante ao que eu sentia. “O desejo de ser e fazer diferente na vida das pessoas”. Logo comecei a fazer o acompanhamento vocacional com a Irmã Joana (Amor de Deus), Irmã Juleca (Dominicana) e mais tarde Pe. Abel como director Espiritual. Sonho em ser pai de todos, um padre para a comunidade e dedicado à sua actividade.

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Especial

Catorze jovens professam primeiros votos Salesianos em Moçambique Redacção

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om o lema “De graças recebestes de graça dai”, catorze jovens – seis moçambicanos e oito angolanos – do Noviciado Salesiano Sagrado Coração de Jesus, na Namaacha, professaram os primeiros votos na Congregação. A celebração aconteceu no Santuário N. Sra. de Fátima, presidida pelo Provincial, Pe. Marco Biaggi, e concelebrada pelo Vigário provincial, Pe. Francisco Pescador, e o Vigário do Santuário, Pe. Roberto Costa, além de um grande número de padres Salesianos. Celebração foi rica em significados, pois, além de ser parte das comemorações de Dom Bosco e das profissões dos Noviços, nela Pe. Adolfo Sarmento, Mestre dos Noviços, fez questão de renovar seus 25 anos de vida religiosa, cujos votos foram proferidos no dia 13 de Junho de 1992. Ainda na missa, os seis Pós-noviços de Moçambique reafirmaram seu compromisso religioso e, ao final da celebração, todos os Salesianos presentes – padres, irmãos coadjutores, tirocinantes e teólogos – também renovaram seus votos. “Essa consagração lembra-me a aliança que o povo de Israel fez com Deus. Entrego-me neste momento como minha aliança com Deus, pedindo que Ele e N. Sra. Auxiliadora me ajudem nessa caminhada vocacional” Jaime Ferreira Kambali (angolano) “Celebrar este momento é colocar-me nas mãos do Senhor, reconhecer as Suas maravilhas e dar aquilo que está no profundo do meu coração, conforme nosso lema. É dar o que temos no coração aos pobres e aos jovens”. Osvaldo Adriano Quilembequeta (angolano) “Fiz hoje a minha entrega ao Senhor e, apesar de os votos serem temporários, a entrega é para sempre. É uma consagração em função dos jovens, principalmente os mais pobres”. Valentino Cesáreo Vale (moçambicano) “Este momento é muito significativo e importante para mim; significa entrega e encontro com Cristo. Espero dar meu máximo


Especial

Noviços posam para foto com seu mestre, ao final da missa

ao autor da minha chamada e da minha existência”. Daniel Kahilo Quintas (angolano) “Considero esse momento como de entrega e envio para a missão em prol dos jovens, especialmente os mais pobres e necessitados do meu auxílio”. José Domingos Albino (moçambicano) “Hoje para mim é um dia de muita alegria e responsabilidade com relação ao que abraçamos. É um momento de transformação em nossa vida”. Armando Soares Dama (moçambicano) “Essa minha primeira profissão na Congregação Salesiana, no dia de hoje, significa a minha entrega de corpo e alma a Deus, em favor dos jovens”. Orlando Francisco Cufa (angolano) “Este é para mim um momento de aliança, de envio, e me faz sentir que Deus me quer como sinal e portador de Seu amor no meio dos jovens”. Adriano Geraldo Sitongua (angolano) “Para mim, a profissão é uma grande alegria, pois é responder ao chamamento de Deus de uma forma generosa. Sinto-me alegre e feliz por ser um dos chamados de Deus”. Mário Alberto Pedro (angolano) “A profissão para mim é uma grande alegria, mas é um momento também para refletir onde e como começar a missão que Deus me destina”. Charles Alberto A. Charles (moçambicano) “Este foi um momento de muita alegria, pois a

primeira profissão representa para mim a aceitação e a configuração de Cristo em minha vida”. Nelson Carlos A. Ganga (angolano) “A primeira profissão religiosa significa para mim um momento de graça, a graça que recebo de Deus para comprir uma missão”. Custósio João Maneira (moçambicano) “Hoje é um dia de muita felicidade em minha vida, pois com essa primeira profissão sinto-me chamado por Deus para ser Seu sinal no meio dos jovens”. Celso António Francisco (angolano) “Neste momento sinto inteiramente o amor de Deus por mim. Por isso, a primeira profissão tem um sentido muito especial em minha vida e espero corresponder”. Castelo Faustino (moçambicano)

Após a profissão dos Noviços, Salesianos também renovam votos

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Ordenações

Pe. Benedito, ordenado em

Dezembro, já reforça clero em Tete Redacção

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gora ele mesmo dá de comer a quem tem fome de Deus. Assim tem sido a experiência sacerdotal de Pe. Benedito João Simone, ordenado presbítero no dia 03 de Dezembro. Não por acaso ele escolheu como lema “Dai-lhe vós mesmos de comer”. Foi para estar entre o povo, caminhar com o povo e servir ao povo, principalmente os jovens. Atualmente, Pe. Benedito integra a Presença Salesiana de Matundo, na Província de Tete, onde exerce as seguintes funções: Coordenador da Pastoral, Animador Missionário e do Oratório, responsável pela Comunicação Social da Comunidade, além de integrar o Conselho da Comunidade local. Dá para perceber que o recém ordenado já pesca

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em águas profundas a quantidade necessária de alimento para saciar a fome dos fiéis da Missão Salesiana e os de Tete. Na essência de seu lema sacerdotal está a explicação: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Lc 9,13). “Acompanho minhas palavras com esta linda frase de Dom Bosco: ‘Basta que sejais jovens para que eu vos ame’. Como todos nós sabemos, o Pão de Jesus não se limita ao pão material, ou seja, à intervenção social da Igreja, levanos para uma realidade muita rica e comprometedora, muito substancial e profunda, que é o Pão da Vida, recebido na mesa da Palavra e na Eucaristia. O Pão que sacia a nossa fome espiritual, o Pão que preenche o nosso vazio existencial, o Pão que nos conduz à Vida Eterna”. Ele explicou também que “da mesma maneira que os Doze Apóstolos não compreenderam essas palavras de Jesus eu também sou pequeno e incapaz de compreendê-las, mas escolhi-as para apontar a direcção pela qual devo ir, e para inspirar-me na missão à qual Deus me chama a realizar: ser ministro do Pão da Vida. E, como Salesiano, de modo particular, ministro para aqueles que Dom Bosco amava e continua a amar lá do Céu, os seus queridos jovens”. Pe. Benedito terminou sua explicação pedindo que “como já tendes feito, e com muita coragem e muito carinho, peço que intensifiqueis as vossas orações, para que o Senhor que começou tão boa obra em mim, possa completá-la (cfr. Fil1,6). Ele é fiel e nunca abandona a sua obra”. A celebração da Eucaristia aconteceu no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, pela imposição do então Bispo Auxiliar de Maputo (actual Bispo da Diocese de Chimoio), Dom João Carlos Hatoa Nunes, concelebrada pelo Provincial Salesiano em Moçambique, Pe. Marco Biaggi, pelo Pároco do Santuário, Pe. Agostinho Raúl, e vários sacerdotes Salesianos e de outras congregações.


Ordenações

O chamamento de

Deus na minha vida Por Benedito João Simone

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eus chama-nos sempre porque Ele conta connosco para a construção do Seu Reino. Quando temos esta certeza, não existe coisa tão linda como descobrir o projecto que Ele tem para cada um de nós e a ele responder positivamente. O nosso “sim” generoso, não só nos alegra a nós mesmos, mas também alegra Àquele que nos chamou, Deus. Deus serve-se de mediações humanas e acontecimentos para nos chamar. Conheci os Salesianos no Oratório da Namaacha. A maneira pela qual eles se aproximavam de nós, embora eu ainda fosse criança, não deixou de me chamar a atenção. Sentia-me bem acolhido e amado por eles. Eles me atraíam, mas também as actividades por eles organizadas, sobretudo o desporto e a música. Passados alguns anos de convívio com eles, envolvi-me como animador do oratório e comecei a participar num grupo de vocacionados onde, es-

sencialmente, aprendíamos a aprofundar e a viver a nossa vocação à vida cristã. Aprendíamos a ser fermento no meio dos nossos companheiros. Quando terminei a 10ª Classe, já tinha tomado a firme decisão de ser Salesiano e padre. Foi por isso que pedi aos Salesianos e aos meus familiares para entrar no Aspirantado da Matola. Na Matola foi o início duma longa caminhada, onde aprendi a amar a Jesus, seguindo os passos do nosso fundador, São João Bosco. Uma caminhada que sempre continua, e agora, como “ministro consagrado”. Escolhi como lema para o meu sacerdócio: «Dailhes vós mesmos de comer» (Lc 9,13), porque o que mais peço ao Senhor é que Ele me ajude a ser dispensador do Pão da Vida, recebido na mesa da Palavra e na mesa Eucarística. Como Salesiano de Dom Bosco, sinto o forte desejo de levar Jesus aos jovens de hoje, aos jovens que mais precisam de conhecer e amar a Deus. Se alguém me perguntasse como me sinto hoje, eu daria uma única resposta, mas dividida em duas partes: alegre por ter dito sim ao Senhor e muito pequeno em relação àquilo que Ele me pede. Alegria e pequenez são os dois sentimentos que me acompanham ao longo destes dias. Tenho a certeza de que Deus é a causa da minha alegria e Ele vai continuar a preencher a minha existência com essa alegria. Por outro lado, para nada serve a nossa grandeza se aos olhos d’Ele somos pequenos. O mais importante é contar com a Sua graça. Ele nos chama e Ele vai nos mostrando o caminho certo por onde devemos caminhar. A Eucaristia, a oração, a escuta da Palavra, a meditação, são os melhores remédios para segui-Lo pelo caminho assim como fizeram Maria, os Apóstolos e os Santos. A todos aqueles que sentem o chamamento do Senhor, não permitam que o egoísmo possa ofuscar esta linda iniciativa de Deus. É preciso ter coragem de dizer sim e estar sempre disponível a renovar infinitamente esse compromisso. Deus conta com a nossa generosidade!

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Vocações

Como

Deus

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Vocações

Deus é bom;

seja Bendito!

Oração Vocacional de

São João Paulo II

Por Ir. Ofélia Ramos Macuaia, FHIC

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ltíssimo, omnipotente, bom Senhor, a Ti o louvor, a glória, a honra e toda a bênção. A Ti só Altíssimo, se hão-de prestar e nenhum homem é digno de pronunciar teu nome. Depois de um tempo de repouso, eis-me de novo neste Boletim Salesiano para caminharmos juntos neste ano de graça. Caro leitor, este ano é um ano de graça, porque Deus com a sua bondade e misericórdia, amou-nos com o seu amor eterno. E nós todos somos convidados a nutrirmos do seu magnífico amor. A nossa vida sem o amor misericordioso de Deus Pai, nada teria sentido! Desta feita, a vida encontra um sentido valioso na graça de Deus, que nos acolhe com a sua ternura filial. E assim, o ser humano pode cantar a sua vitória por ter sido redimido com o amor eterno, dizendo como São Francisco de Assis: “louvado sejas, ó meu Senhor, pela nossa irmã morte corporal, à qual nenhum homem vivente pode escapar”.

Convido-te a caminhar comigo, nesta barca com muita alegria e serenidade em busca de um Bem maior. Este Bem maior é Deus. Todos caminhamos para um único objectivo. E como cristãos, a nossa felicidade está centrada em Deus. Deus é o único que pode saciar a fome e sede de todo o cristão e de todo ser humano. Não só, todo o nosso trabalho cá na terra começa em Deus e termina com Deus. Ademais, jovem, qual é a resposta que dás a Deus que sempre te chama constantemente? Qual é o presente precioso que queres oferecer a Deus que tanto te ama e procura por ti? Hoje termino dizendo: “Louvai e bendizei o Senhor, e dai-lhe graças e servi-o com grande humildade e alegria”. Um abraço fraterno.

“Deus nosso Pai, a Ti confiamos os jovens e as jovens do mundo com seus problemas, aspirações e esperanças. Guarda-os com teu olhar de amor e faça-os transformadores da paz e construtores de uma sociedade de amor. Chame-os a seguir Jesus, teu Filho. Que eles compreendam que vale a pena doar inteiramente a vida por Ti e pela humanidade. Concede-lhes generosidade e prontidão na resposta. Acolhe, Senhor, o nosso louvor e a nossa oração também pelos jovens que a exemplo de Maria, Mãe da Igreja, acreditaram na tua Palavra e se preparam para o Sacramento da Ordem, à profissão dos conselhos evangélicos, ao empenho missionário. Ajude-os a compreenderem que o chamado que Tu deste a eles é sempre actual e urgente. Amém!”

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Família que educa

Os imensos desafios da gravidez Por Benedito João Simome

«Quando uma rapariga fica grávida, o seu presente e futuro mudam radicalmente. A probabilidade de abandono escolar aumenta, as oportunidades de emprego diminuem, a sua saúde fica em risco e agrava-se a sua vulnerabilidade à pobreza, exclusão e dependência» (UNFPA 2013).

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ão pretendo, nestas simples linhas, apresentar um estudo sobre a gravidez na adolescência em Moçambique, nem mesmo fazer uma análise baseada nos resultados dos estudos que já foram feitos e tornados públicos. Aliás, pessoas singulares e organizações mais indicadas para falar do assunto, já apresentaram estudos e relatórios bem documentados e que espelham nitidamente a situação muito preocupante do nosso país. Quero sim, manifestar uma certa sensibilidade e, é exatamente neste mesmíssimo momento que me vêm à mente palavras também sobre a sensibilidade, dum escritor brasileiro, Marques Rebelo, que passo a citar: «se a fada dos maus destinos o dotou de inteligência, sensibilidade e bom gosto, não o demonstre nunca, porquanto poderá passar por louco e ninguém tem conficança nos loucos». De facto, o campo da sensibilidade pode criar diferentes posições entre as pessoas mas, como para muitos de nós, talvez as fadas só tenham povoado a infância do nosso ser. Então, talvez isto me dê uma certa tranquilidade para exprimir esta indesejada realidade. Escolhi iniciar estas breves linhas citando a UNFPA (Fundo das Nações Unidas para a População): “quando uma rapariga fica grávida, o seu presente e futuro mudam radicalmente...” Detenho-me nestas palavras porque acredito que são muito importantes. Quando a adolescente fica grávida, a vida dela muda inesperadamente e sem que tenha havido um plano. Uma mundança que para ela não traz benefícios, mas quase sempre sofrimento, humilhações, maus 22


Família que educa

na adolescência tratos, desprezo e outras desgraças. A vida, mesmo aquela que é mais tranquila e bem sucessida que se possa imaginar, é uma história de autossuperação. Ela é uma luta, mas nem todos conseguem lutar. Existem experiências, carregadas de dor e tristeza, onde é quase impossível conter as lágrimas, porque nem todos tiveram força e coragem para reerguer-se. Porém, existem experiências, daquelas pessoas que conseguiram rerguer-se. Elas são verdadeiras heroínas do nosso dia a dia e, para elas, a palavra de ordem é: ‘não gostaria que a minha filha, as outras meninas... passassem pelo mesmo sofrimento...’ Ao concluir estas breves linhas, quero convidá-lo, caro leitor, a duas atitudes a respeito da problemática da gravidez na adolescência. Em primeiro lugar, ter um olhar cheio de optimismo porque acredito que o optismo faz viver. Faz com que alimentemos sonhos e fantasias, faz com que sejamos capazes de nos envolver com e por aqueles que sofrem porque estamos cheios de esperança. O optimismo faz-nos olhar para este problema com esperança de que dias melhores virão. Em segundo lugar, convido-lhe ao envolvimento. Um envolvimento que talvez não faça diferença aos olhos de muitos, mas pode fazer uma grande diferença na vida daquela pessoa que prevenimo-la ou ajudamo-la. Temos à nossa frente um grande desafio que essencialmente passa pela educação e formação para os valores humanos e espirituais. Às vezes temos tendência de exagerar no outro aquilo que não se vê e propositadamente nos tornamos cegos naquilo que sem nenhum esforço se vê claramente. Talvez a indiferença tem sido a nossa maior cumplicidade! 23


ISDB

Sistema Educativo faz a diferença entre jovens em Moçambique Por Jaqueline O. Calderón Langa

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identidade do Instituto Superior Dom Bosco (ISDB) demonstra a capacidade de inserir-se no mercado moçambicano como uma instituição de ensino que preza pela qualidade de seu processo educativo. Isto permite crescimento e dar respostas aos desafios do desenvolvimento socioeconómico e cultural de Moçambique. Um dos objectivos do

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ISDB consiste em contribuir para o desenvolvimento de competências pessoais, educativas e comunicacionais relevantes na área da educação técnicoprofissional. O projecto educativo do ISDB centra-se no modelo do Sistema Preventivo de Dom Bosco que coloca o estudante no centro e enfatiza a personalização das relações educativas. Os educadores estão sempre


ISDB

no meio dos educandos, constituindo assim uma família educativa, na qual se sentem acolhidos e em sua casa. Entretanto, o facto de o ISDB usar um modelo não quer dizer que este servirá para moldar somente, mas, sim, para ajudar a caminhar em unidade. Implementar a proposta do modelo educativo orienta os professores na elaboração do programa de suas aulas e actividades de ensino-aprendizagem construtivas. Trabalham desta forma as actividades académicas com exercícios de resolução de problemas, cooperativismo, acções sociais, dentre tantas outras possibilidades que possam fa-

cilitar e motivar competências do saber, do saber ser e do saber fazer dos estudantes, durante o curso escolhido. Cada professor procura contextualizar os conteúdos ministrados em sala de aula para que os estudantes desenvolvam e ganhem autonomia nas actividades a serem realizadas já no mercado de trabalho. O estudante muitas vezes pode se perguntar: este conteúdo ou esta actividade servirá para quê? Para responder a esta inquietação cada professor busca relacionar os conteúdos com a prática que será vivida nas funções laborais. No modelo tradicional de ensino o estudante recebia os conteúdos e conhecimentos e não tinha muito espaço para reflectir e analisar se aquela aula lhe ajudaria futuramente. O modelo educativo de Dom Bosco desenvolve a aprendizagem centrada no estudante; desta forma possibilita que os mesmos tornem-se protagonistas e envolvidos directamente num processo formativo significativo. O ISDB, através da formação integral, que respeita as características e particularidades de cada indivíduo, tem alcançado níveis de desenvolvimento gradual e uniforme de seus estudantes. Ao tomar como base os elementos constitutivos pelos três pilares do sistema preventivo de Dom Bosco: razão, religião e amor, o ISDB incentiva seus professores a trabalhar na centralidade e protagonismo de seus estudantes. Orienta que os jovens evitem o mal e que possam praticar e ter a cultura do bem, em comunidade, em família e em sociedade. Desenvolve desta forma a experiência comunitária que implica acompanhar cada estudante, ter afecto e construir confiança mútua. O projecto Educativo Integral que Dom Bosco direccionava para os jovens mais necessitados aplica-se também nas salas de aula actuais. Pois, a reflexão sobre a visão da pessoa e da vida nos leva a reconhecer que cada indivíduo possui um traço de experiência que é traduzida como sua identidade. Tendo na experiência religiosa a fonte de motivação para ser um dom que servirá na ajuda ao próximo. Ter como referência a ética e atitudes positivas em relação a vida, reflectindo desta forma em uma proposta integral de formação. Os estudantes ao se integrarem com este modelo educativo poderão desenvolver com mais competência as tarefas que o mercado de trabalho exige. Para o professor o grande momento não está na sala de aula, mas sim, na preparação de cada uma das aulas. Ele tem como uma das principais funções escolher o melhor método a ser utilizado nas aulas para que os estudantes, ao final, possam demonstrar que conseguiram aprender. Demonstrar ter desenvolvido competências académicas, sociais e comportamentais. O que proporciona desta forma que o mercado de trabalho moçambicano absorva profissionais cada vez mais preparados para os desafios actuais.

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Repórter Salesiano

Construção da igreja da Comunidade Beata Anuarite depende de ti! Família Salesiana programa ano pastoral de conjunto

Após montagem da estrutura, falta telhado, paredes e acabamento

“O zelo da tua casa me consome” (Jo 2:17). É esse o sentimento que tem impusionado a Comunidade Beata Anuarite e a Paroquia São José de Lhanguene a procurar concluir o mais rápido possível a nova igreja no bairro Luís Cabral. De facto, o novo templo é necessário devido ao grande número de fiéis que acorrem à actual capela, sendo que grande parte deles fica do lado de fora. É uma bela capela com um artístico painel pintado atrás do altar. Mas pequenina como local de evangelização e catequese. Já a nova igreja terá capacidade para acomodar aproximadamente 500 pessoas sentadas. Além disso, no piso superior estão previstas seis salas para encontros e catequese. Esse é mais um dos projectos que a Visitadoria Maria Auxiliadora tem. Há muitos outros, ligados às escolas, à formação dos jovens, ao combate à pobreza e os de evangelização. Por isso, o zelo pelos projectos, como o da casa de Deus, consome esforços e recursos que nem sempre estão disponíveis. Por isso é tão importante que todos se unam não apenas para levantar a casa de Deus, mas também no apoio aos outros projectos. Quem se sentir tocado e quiser colaborar, o Departamento de Projectos disponibiliza uma conta no Banco Millennium Bim, em nome da Sociedade Salesiana de Moçambique. O número da conta é: 50268602; a agência é a Prestígio – 24 de Julho.

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P

ropostas comuns aos diversos grupos da Família Salesiana: crescer como família e o estudo da Carta Carismática da FS. Entre outras, por certo, que foram apresentadas na abertura do Ano Pastoral da Família Salesiana, realizada em 29 de Janeiro, no salão da Escola Comercial, e que contou com expressiva participação. A abertura começou com a celebração eucarística, depois teve a reflexão sobre a Estreia-2017 do Reitormor e da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, algumas considerações dos presentes e terminou com a apresentação das propostas dos grupos da FS. As principais propostas dos SDB: crescer em espírito de família dentro da própria comunidade; crescer dentro da comunidade educativo-pastoral, para ser animadores convictos e para os destinatários das suas obras e

da sociedade; trabalhar de maneira renovada e incisiva na Pastoral Familiar, estreitamente ligada à Pastoral Juvenil. As das FMA: preparação para a visita da Ir. Runita Galve Borja (responsável pela PJ da Congregação); preparação para o encontro dos directores das escolas dos SDB e FMA; introdução da disciplina de Ensino da Religião nas escolas das FMA. As propostas da ADMA são: estudo da Carta de Identidade da FS; tornar a associação conhecida no âmbito de toda a Arquidiocese; dar atenção especial à ADMA Juvenil. Já as propostas dos SSCC são: revitalizar os centros locais, com a reestruturação do órgão; apoiar e motivar as lideranças locais; promover formação permanente e iniciativas de formação inicial.


Repórter Salesiano

‘Nossa formação deve ser mais agressiva’ , diz Pe. Américo

Conselheiro do Reitor-mor para a região África-Madagascar, Pe. Américo Chaquisse visita sua terra natal - Moçambique - e fala sobre desafios a serem superados nas casas Salesianas do continente

Por Elvira Freitas

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ma presença de animação em Moçambique, com passagem por Tete, onde visitou as comunidades nunca visitadas desde que foi nomeado Conselheiro do Reitor-mor para a região África-Madagascar, Pe. Américo Chaquisse avaliou positivamente sua viagem. “Tive a impressão de que houve um crescimento nas escolas e a dinamização da rádio [Dom Bosco]. Percebe-se que aos poucos as coisas vão melhorando. Em Matundo, por exemplo, a escola está a passar de um nível a outro, mesmo as comunidades cristãs da Vila de Moatize estão a crescer. Há uma grande mudança de como era antes”, explicou, sobre sua vinda ao país de origem, entre os dias 02 e 09 de Fevereiro. Pe. Américo disse que veio mais para se encontrar com o Conselho da Visitadoria e acompanhar a animação e direcção que se está a implementar nas presenças da Congregação. Ele regrassa a Roma com notícias boas e outras que não são negati-

vas mas preocupam, como as saídas massivas de jovens na fase da formação. “Isso preocupa-nos e o crescimento das obras sem controlo também. É por essa razão que cada inspectoria do mundo deve apresentar até Maio o seu projecto de redimensionamento, ou seja, a reorganização de cada uma delas”. Quanto à formação, o Conselheiro do Reitor-mor disse que ela deve ser mais agressiva. “Acredito que devemos ter um quadro agressivo na formação, com preparação de qualidade. Estamos em Moçambique, mas devemos preparar os irmãos para estar ao serviço da Igreja, não só da Congregação. Todo Salesiano deve estar nessa disponibilidade. Nós recebemos o Baptismo não de uma congregação, e sim da Igreja, para estar ao serviço da Igreja. Mas a preparação tem que ser de qualidade, apesar de que, se formos olhar para a Igreja Católica e a presença Salesiana em Moçambique, ainda estamos na fase do pioneirismo”, analisou.

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Formação Humana

A vida está nas suas mãos! Por Miguel Angel D. Herrera

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á vimos muitas pessoas que justificam a sua atual situação por coisas, pessoas ou factos já acontecidos? Nós devemos mudar a nossa frase, a invés de falarmos: “Eu sou infeliz por causa de…”, nós devereiamos dizer: “Eu sou feliz apesar de…” Eis uma história de um autor desconhecido que pode nos ilustrar: O Sábio e o Passarinho. Existia, próximo a uma pequena cidade, uma casinha bem simples, no alto da serra, onde morava um velho sábio contador de histórias, uma pessoa querida e respeitada por todos que viviam naquela região. Certo dia, um grupo de rapazes travessos e com energia transbordando, teve uma brilhante ideia: - “Hoje, nós vamos desbancar aquele velho! Vamos mostrar que ele é capaz de errar. A gente pega um passarinho, bem pequenininho, coloca entre as mãos, vai até ele e pergunta o que é que a gente tem na mão. Como ele é sábio, facilmente vai responder. Aí é que a gente o engana: vamos perguntar depois que ele acertar que é um pássaro, se o passarinho está vivo ou morto. Se ele responder que está vivo, a gente aperta a mão e esmaga o passarinho, mostrando para ele que está morto; se ele responder que está morto a gente abre a mão e o bichinho sai voando. De todo o jeito, ele vai sair perdendo”. E assim fizeram. Pegaram o passarinho e dirigiram-se, euforicamente, até a casa do sábio. Aproximaram-se, todos contentes e foram logo perguntando, já acreditando na vitória: - “Com as mãos voltadas para as costas, o que é que tenho entre as mãos? Ele olhou…pensou…, observou bastante e respondeu: - “Um passarinho”. - “Muito bem! Acertou. Agora , diga-me: esse passarinho está vivo ou morto?” Olhando bem nos olhos de cada um dos rapazes, com voz serena e cheia de autoridade, respondeu: Depende de você! A vida ou a morte desse pas-

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sarinho está nas suas mãos”. Vamos parar de culpar as pessoas, as coisas e os acontecimentos pela nossa tristeza. Vamos assumir nas nossas mãos a nossa vida como o passarinho nas mãos dum dos rapazes. Você é feliz ou triste? Você é vitorioso ou derrotado? Você é uma pessoa que tem esperança ou um desesperado? Você tem uma mente limitante ou possibilitadora? Depende de você, a vida está nas suas mãos! Se você apertar e segurar a sua vida na palma de suas mãos e soufocar a sua vida com ressentimento, com ódio, com raiva, com rancor, com inveja, com maldade, você vai matar a sua vida, mas se você abrir as mãos e aceitar que a vida seja o que deve ser, Deus mandará do alto do céu uma luz que acertará o seu coração e o fará muito feliz. Não esqueça tudo na vida depende de você. Tudo é questão de matar ou libertar. A escolha foi dada, agora é com você. Desejo muita alegria, muita persistência, muito optimismo. Que você realize os seus sonhos e os seus projetos e como dizem: “Fé em Deus e Pé na Tábua!” “A Dios rogando y con el mazo dando” ... A Deus rogando e com o malho dando.


Palavras de Sabedoria

‘Mestre Ezequiel, nossa gratidão e saudade!’ Por Elvira Freitas

O

que leva uma pessoa a deslocar-se por grandes distâncias com algumas folhas de papel nas mãos, contendo a história de alguém, a procura de quem as publique? Só pode ser amizade, admiração, carinho e o reconhecimento inconteste por aquela pessoa que está ali naquelas folhas, como uma últimas recordação, uma homenagem urgente a ser prestada. Foi o que me pareceu ao receber na redação do Boletim Salesiano o senhor Cabral Zulu Magaia, paraquiano de São João Batista do Fomento (palco e parte dos acontecimentos), autor da homenagem ao Pe. Ezequiel Pedro Gwembe, sacerdote Jesuíta falecido no dia 05 de Novembro de 2016. A caligrafia é trêmula, talvez devido a idade do autor, mas o conteúdo é fiel naquilo que o homenageado foi. E quem foi, afinal, Pe. Ezequiel Pedro Gwembe? Foi o fundador, junto com Pe. Odilo Cougil, dos Retiros de Iniciação na mencionada Paróquia em Moçambique. “Desde a sua criação até a morte do nosso insquecível mestre Ezequiel, os Retiros de Iniciação tiveram como pilares a Sagrada Escritura

e os nossos antepassados africanos; foi sempre a nossa fonte, luz e guia o Mestre dos Mestres, Nosso Senhor Jesus Cristo”, escreveu o senhor Magaia. “Por isso, prosseguiu, esses retiros feitos na Igreja Católica tiveram as portas abertas para qualquer pessoa que desejasse participar. Já passaram por essa Escola de Tradição, além dos católicos, presbiterianos, metodistas, muçulmanos, wilisianos, congregacionais, nazarenos, anglicanos e de algumas seitas religiosas. Os retiros não são tribais, razão pela qual se utiliza a Língua Portuguesa”, escreveu. A narrativa ganha tons dramáticos, quando o autor se despede do homenageado; o discípulo, do mestre: “Mestre Ezequiel, torna-nos mais dura a sua partida dada a distância que nos separa. Tendo nos nossos corações que aquela voz que ouvíamos debaixo da árvore sagrada da Iniciação, o seu olhar e aquele sorriso alegre com que sempre terminava, bem como as palavras de encorajamento jamais poderemos ouvir. Por isso será muito difícil esquecer o nosso grande mestre Ezequiel”.

Pe. Ezequiel (dir.) com um grupo de participantes dos Retiros de Iniciação

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H O M E N A G E M


Testemunho de vida

Quando a violência

é a vizinha ao lado Por Elvira Freitas

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s experiências do dia a dia, a transmissão de conhecimentos orais ou escritos formam a memória viva das pessoas. Experiências com as que viveram o irmão coadjutor António Pedrosa – um senhor de certa idade, um senhor de quem as pessoas gostam de ter por companhia, pois tem a doçura e o olhar dos avós, a fala mansa e baixa dos pais. E a exemplo dos avós, ele tem muitas histórias retidas na memória e na retina. Histórias dos longínquos tempos da guerra que quando se pensava fazerem parte do passado voltam a ser actuais. Ir. António Pedrosa nasceu no Distrito de Leiria, em Portugal, no dia 01 de Setembro de 1932. Chegou a Moçambique em Outubro de 1968 para aqui viver a vida e experiências surpreendentes nas Missões Salesianas do país. Ele foi catequista, ecónomo, administrador, participou na formação de tantos jovens, quantos lhe foram confiados, e na evangelização do povo moçambicano. Ele conta que uma das experiências mais gratificantes foi a Catequese. Ao chegar a Moçambique, este Salesiano foi direto para a Namaacha, onde trabalhou por 18 anos, sendo transferido depois para a sede da Delegação (àquela altura a Missão Salesiana de Moçambique estava vinculada à Inspectoria de Portugal), para fazer trabalhos administrativos. E num vai e vem de casas, e idas a Portugal, para cuidar da saúde, deixou a sua marca também na Moamba, mais precisamente na Escola de Artes e Ofícios. Outra casa onde o Ir. Pedrosa trabalhou foi na Missão de São José de Lhanguene, por mais de 12 anos. Hoje ele vive novamente na Namaacha. Passando por tantos lugares e com o país vivendo

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um tempo de instabilidade, antes e depois da Independência, o Ir. Pedrosa só poderia ter acumulado experiências enriquecedoras, e outras talvez nem tanto, embora elas façam parte de sua história de vida. Ele nem dá muita importância a alguns factos. Já de outros, ele fala com dificuldades, baixando ainda mais a voz, como se alguém pudesse ouvir, e aquilo voltar a ser real. Nada pior, porém, do que ser abordado por homens armados obrigando cidadãos civis a caminharem com armas apontadas às suas cabeças, sob a ameaça de que a qualquer reacção disparariam. “Eu tinha ido ver o gado no mato, perto de onde é o cemitério novo da Namaacha. Chegaram doze soldados armados, que patrulhavam a região para não deixar as pessoas atravessarem a fronteira. Lá havia um pastor a quem eu chamei pelo nome. Foi o que os acalmou, pois, ao verem que eu chamava o pastor pelo nome, perceberam que eu não era um estranho. Mas foi uma situação de grande medo. Eles eram muito violentos”. Por várias vezes o Ir. Pedrosa sentiu muito medo, ao ser assaltado à mão armada. No primeiro assalto levaram o carro que ele conduzia, próximo à antiga sede da Visitadoria. Posteriormente o carro foi encontrado na fronteira da Namíbia com Angola. “De outra vez, estava abrindo o portão ao Pe. Adolfo [Vieira], pois íamos saír para celebrar missa nas Salesianas do Jardim, quando três rapazes entraram num rompante no portão, com armas e paus. Fizeram-me sair e seguiram com Pe. Adolfo até ao bairro de Chamanculo. Lá, mandaram-no embora, mas o carro, nunca mais. Graças a Deus não nos fizeram mal algum. O terceiro carro não chegou a ser roubado, apesar de os assaltantes também estarem armados, porque o alarme disparou quando ligaram o motor, e eles não sabiam como desactivá-lo”. No final da conversa perguntei ao Ir. Pedrosa se ele não pensava em escrever sobre aqueles factos, para que a memória não os apagasse. “Não”. Foi a resposta. “O melhor mesmo é que os apague”.


Familia Salesiana

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