Infância (des)conectada

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OUTUBRO • 2016

CIDADANIA COMPORTAMENTO

@JORNALESQUINA

CUIDADOS

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Infância (des)conectada Os perigos do uso da tecnologia na primeira infância, numa era em que as crianças já nascem com os olhos vidrados em telas Luísa Bastos

luisabastos111@hotmail.com

Riscos

A restrição pode parecer radical, mas o perigo é real. A preocupação é com o desenvolvimento cognitivo e social das crianças, como a dra. Liubiana alerta: “Vários aplicativos e jogos ditos como infantis podem ser prejudiciais, por incentivarem as crianças a terem contato com violência ou comportamentos e vocabulários inadequados.” Além disso, quando as crianças ultrapassam os limites, elas podem “demonstrar postura de irritabilidade exacerbada ao encerrar o período combinado para o uso, excesso de ansiedade, falta de criatividade para brincar com brinquedos ou para criar brincadeiras interessantes e distúrbios do sono, dentre outros”, diz a doutora. Os resultados disso já aparecem em algumas crianças mais velhas e adolescentes. Os “filhos” da tecnologia são pessoas extremamente individualistas, que possuem dificuldade para se relacionar, e WWW.UNICEUB.BR/JORNALESQUINA

Foto: Luísa Bastos

U

ma cena muito comum: uma criança chora um público, em um shopping ou restaurante, os pais lhe entregam seu smartphone e quase instantaneamente o filho se acalma. Famílias utilizam os dispositivos como forma de ‘silenciar’ os filhos, e, assim, cada vez mais cedo as crianças são inseridas no mundo tecnológico. Foi-se o tempo em que a diversão costumeira das crianças era brincar na rua, correndo, jogando bola, andando de bicicleta. Muitas delas agora passam horas e horas com os olhos vidrados nas televisões, celulares e outros eletrônicos. Uma geração de infância diferente da que conhecemos, com meninos e meninas trocando seus brinquedos por telas brilhantes e exacerbadamente estimulantes. Mas até que ponto isso é saudável para elas? A doutora Liubiana Regazzoni, presidente do Departamento de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), já avisa: “A recomendação é que até a idade de dois anos as crianças não tenham contato de tela, portanto, sem celular ou tablet.” Segundo a SBP, a partir dos dois anos de idade a exposição às telas é permitida, mas com restrições. O uso não pode ultrapassar 2 horas por dia, e o conteúdo acessado deve ser monitorado até, pelo menos, os 13 anos de idade. “Cada família deve avaliar de forma individualizada a necessidade real do aparelho ou tablet, levando-se em conta que as crianças menores de 13 anos não possuem maturidade suficiente para discernir os conteúdos adequados, podendo ser expostas às situações de risco”, afirma a doutora.

Os filhos da tecnologia já crescem ligados em TVs, tablets e celulares não conseguem se concentrar em uma mesma coisa por muito tempo. Na primeira infância os danos são infinitamente maiores, pois as crianças ainda estão em desenvolvimento. A postura inadequada no uso de dispositivos eletrônicos pode causar problemas na postura, além de dores nos ombros e dores de cabeça. O Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), publicou, em fevereiro de 2015, uma pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil. Essa pesquisa aponta que, naquela época, 81% das crianças e adolescentes brasileiros possuíam acesso à internet diariamente. Hoje em dia, esse número é ainda maior. Outro cuidado que as famílias devem ter, é com os crimes cometidos online, ou “cibercrimes”. Crianças e adolescentes que passam muito tempo na rede estão, muitas vezes, desprotegidas quanto a esses riscos. O perigo maior para elas está na pedofilia, prática que aparece cada vez mais na web. “O acesso livre à internet levanta perigos que vão desde o contato com pessoas que exploram crianças até o acesso inesperado à pornografia sem censura.

Quantas vezes um título inofensivo abre janelas de conteúdo adulto, de violência e sexo. Por isso, os pais devem ter cuidado redobrado”, afirma a SBP.

Vantagens

Apesar dos problemas, o uso de eletrônicos por crianças pode, sim, trazer benefícios. Quando usados de forma saudável e com a supervisão dos pais, o desenvolvimento de habilidades motoras e intelectuais podem ser estimuladas. “Existem vários jogos que trabalham conceitos pedagógicos importantes para nível de desenvolvimento cognitivo. Como a criança tem atração pelas tecnologias portáteis, o aprendizado torna-se mais fácil, rápido e prazeroso”, conta a doutora Liubiana Escolas já utilizam a tecnologia em sala de aula, tornando as atividades mais lúdicas e divertidas para as crianças. O sucesso é certo, pois de acordo com a pediatra, “Associando o aprendizado ao prazer, as conexões cerebrais tornam-se mais fortes e duradouras.” Famílias não podem abandonar o cuidado diário com o uso da tecnologia pelas crianças, especialmente as mais novas. Os riscos são reais, e as

consequências podem durar a vida inteira. A recomendação da especialista é clara, e séria: não faça do seu celular uma chupeta para o seu filho. Recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria • Até os dois anos de idade, nenhum contato com telas; • A partir dos 2 anos, permitir o contato saudável, apenas duas horas por dia, no máximo; • Monitorar o que a criança acessa. principalmente até os 13 anos, quando a mesma ainda não tem maturidade para discernis os conteúdos adequados. • Manter um diálogo aberto com os filhos, sempre explicando os perigos Veja a versão on-line desta matéria através do QR Code ao lado


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