Realidade e ficção na fotografia latino-americana

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Presença da ausência1

“Presos-desaparecidos”, “desaparecimento forçado” e “desaparecedores” são termos que começam a circular no Cone Sul da América Latina depois da instauração de regimes militares no Uruguai e no Chile, em 1973, e na Argentina, três anos mais tarde. Embora no Brasil a prática do desaparecimento de presos políticos tenha sido inaugurada em 29 de setembro de 1969 com o sequestro e assassinato de Virgílio Gomes da Silva (“Jonas”), o conceito de “desaparecido” ganha o mundo sobretudo a partir da Argentina. Nesse país, a prática do desaparecimento como forma de repressão política é instaurada depois do golpe de 28 de junho de 1966, liderado pelo general Juan Carlos Onganía, que depõe o presidente Arturo Illia, da União Cívica Radical.2 Nesse momento, a prática teve um caráter esporádico e foi executada por grupos ligados ao poder, embora não necessariamente aos organismos destinados à repressão institucional. A partir de 1974, pouco depois da morte do presidente Juan Domingo Perón, a modalidade torna-se habitual. Grupos parapoliciais ou paramilitares como a Aliança Anticomunista Argentina e o Comando Libertadores da América encarregam-se dos desaparecimentos dos “inimigos” políticos. Se bem que integrados por membros das forças de repressão, que contavam com o apoio de instâncias governamentais como o Ministério do Bem-estar Social, as operações de tais grupos tinham independência em relação a essas instituições.

1 Publicado originalmente em: Anais do XXIII Encontro Regional de História da ANPUH-SP, 2016 (online). 2 Conhecido como “Revolução Argentina”, o regime militar termina em 1973 com as eleições que levam ao poder Héctor J. Cámpora, o qual assume a presidência em 25 de maio. Durante o período, a presidência é exercida por Onganía (1966-1970), pelo general Roberto Marcelo Levingstone (1970-1971) e pelo comandante-chefe Alejandro Agustín Lanusse (1971-1973). 85


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