Realidade e ficção na fotografia latino-americana

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pos de exposição. Louis Jacques Mandé Daguerre, William Henry Fox Talbot e Hippolyte Bayard destacam-se nesse primeiro intercâmbio entre fotografia e escultura, atraídos não apenas pela imobilidade do referente, mas igualmente pela brancura, pelos efeitos da matéria e pela evocação do passado, da morte e de uma memória coletiva (Frizot, 1993, p. 12). Em pouco tempo, o próprio corpo humano começa a receber um tratamento escultórico por parte da fotografia. A fotocomposição Os dois caminhos da vida (1856), de Oscar Gustav Rejlander, estrutura-se a partir de um grupo de atores especializados em tableaux vivants, que assumem poses de estátuas greco-romanas para dar vida à concepção alegórica do autor.2 Na década de 1890, o fotógrafo inglês Paul Martin toma instantâneos de trabalhadores nas ruas de Londres, conseguindo um efeito escultórico graças às atitudes naturais exibidas pelos modelos involuntários, ao uso de um pedestal, ao isolamento das figuras por meio do enquadramento e à ausência de qualquer contexto que ajudasse a definir o local e as circunstâncias das tomadas (Frizot, 1993, p. 70). Enquanto as imagens de Martin são exibidas em projeções luminosas populares, os estúdios fotográficos tomam a si a tarefa de encenar histórias com atores profissionais em que cada episódio era narrado num cartão-postal. Cartões-postais são também usados para difundir as poses de um fisiculturista como Eugene Sandow (c. 1890), que havia modelado o próprio corpo a partir do paradigma clássico, e as “imagens vivas” de Olga Desmond, que se destaca em 1907-1908 pelas “representações plásticas”, inspiradas na beleza antiga, a começar pela nudez. 2 A tradição da estátua viva tem raízes no teatro grego, alcançando a dimensão do tableau vivant a partir da Renascença. No século XVIII, destacam-se as “atitudes” de Emma Lyon (que se tornará famosa como Lady Hamilton), inspiradas em temas clássicos. Usando xales e alguns objetos, a jovem ia criando uma rápida sequência de expressões faciais até transformar-se numa estátua viva. Após manter a pose para que o personagem encarnado fosse adivinhado pelo público, ia assumindo outros papéis, dez ou doze por noite, quase sem interrupção. Admirada pelos aristocratas que visitavam Nápoles em 1787, Emma Lyon desperta o interesse de literatos como Johann Wolfgang von Goethe e de artistas como Bertel Thorvaldsen, George Romney e Élisabeth Vigée Lebrun. Os dois últimos imortalizam algumas de suas “atitudes” mais famosas: Circe, Cassandra, Ariadne, bacante. Sobre Emma Lyon, ver Sontag, 1993, p. 149154, 171-172. 138


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