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Fissuras por Ágata
A multiplicidade do processo e a limitação do suporte em “Moscouzinho” - parte II
Toda nação tem a sua bandeira e com Moscouzinho, obra que começamos a comentar na última coluna, não podia ser diferente. Para fortalecer a ideia de criação de um território, mesmo este sendo imaginário ou afetivo, Gilvan Barreto contou com a ajuda do artista plástico Lourival Cuquinha, idealizador do projeto Financial Art Project, em que o artista confecciona bandeiras com cédulas de dinheiro. A partir delas e do vermelho da União Soviética como referência, os amigos entenderam que a identidade nacional de Moscouzinho deveria ser construída com notas de 3 pesos cubanos. Gilvan foi a Cuba e trouxe na bagagem mais de 400 cédulas com rosto de Che Guevara estampado. Este episódio é apenas um entre tantos que envolvem os bastidores de Moscouzinho e que revelam uma de suas principais características: o intercâmbio entre as artes. O flerte com as artes plásticas, com a poesia e, principalmente, com o cinema criam a narrativa fantástica presente na obra, que nos convida a embarcar nas lembranças de Gilvan. Diante dessa multiplicidade do trabalho, o formato de livro de fotografia, neste caso, pode aprisionar sua potência dentro de um único rótulo. O que queremos dizer é que Moscouzinho é tão plural que talvez não mereça ser reduzido a qualquer definição. São imagens férteis, que contém não apenas o universo fotográfico, senão o referencial artístico do fotógrafo, que o processo criativonos ajuda a evidenciar. O deslimite entre as linguagens e a dificuldade em categorizar é uma realidade da arte contemporânea que não exclui a fotografia. Valendo-se desta chancela, Gilvan libertouse para ficcionar de diferentes maneiras, sacrificando até a perfeição técnica e recorrendo ao ruído para criar o ambiente nebuloso do imaginário. Durante o processo o artista pode experimentar representações variadas. No entanto, o trabalho tem que ganhar forma, sair da iminência da criação para se tornar material, ou seja, ter um suporte.Tudo o que acontece entre um estágio e outro são as fissuras formadas pelo processo de criação e que nos levam a descortinar o que as imagens podem conter, assim como aconteceu com a fotografia da bandeira de Mouscouzinho.
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Ágata é um coletivo multidisciplinar em construção. Um encontro de afinidades que tem na fotografia um campo fértil para o exercício crítico e da expressão artística.
