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Eu não sou exatamente um entusiasta da fotografia. A quantidade de fotografias presentes numa bienal não me interessa especialmente.

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JOÃO CASTILHO

JOÃO CASTILHO

Você pode dar alguns exemplos de trabalhos ou características que representem essa produção contemporânea da fotografia?

Se há um traço que compõe hoje a fotografia contemporânea é a perda de um contorno nítido. A fotografia, para o seu próprio bem, tornou-se dilatada, movediça e nômade. Pensar a fotografia hoje é pensar em vídeo, em performance, em instalação, em intervenção, em repetição, em land art, em deslocamento, em esquecimento, em apropriação, em literatura…

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Vemos artistas visuais que se utilizam da fotografia como suporte sem questionar seu valor artístico. Ela serve, para eles, como ferramenta para o tipo de trabalho que querem desenvolver. Em contrapartida, os fotógrafos nem sempre conseguem identificar a arte como o “território” de suas produções. A que você credita essa diferença? A fotografia é muito ampla e é praticada pela maioria da população. A maior parte dos que fotografam, mesmo os profissionais, não tem pretensões artísticas. É o fotografo de publicidade, o de eventos, o de celebridades, o de espetáculos, o de jornal, o de casamento, o de retrato, o de celular, o de fim de semana e por aí vai. Isso, a priori, não é arte. Agora, qualquer uma dessas imagens pode, potencialmente, ser arte. Acho que tudo passa pela intencionalidade, pela circulação, pelo destino que se dá a essas imagens. O artista pode pegar qualquer uma das imagens produzidas pelos fotógrafos acima e transformar em arte. E o artista pode ser o próprio autor dessas fotos ou pode ser outra pessoa.

É comum encontrar editais específicos para fotografia, enquanto existem editais para artes visuais. Essa separação é necessária ou delimita ainda mais as fronteiras entre arte e fotografia?

Acho que é uma separação que faz sentido. As fronteiras existem, continuarão existindo, mas é preciso que se tornem mais fluidas, mais permeáveis. É um pouco o que eu dizia na questão anterior. Nem tudo o que se produz em fotografia no campo da cultura é arte. Apesar de continuar estando no campo da cultura. Por isso esses produtores também precisam ser contemplados. Gosto do formato atual do Prêmio Marc Ferrez, por exemplo, que contempla a artistas, documentaristas, pesquisadores, entre outros. Mas é preciso que tenha deslocamentos e trânsitos entre esses campos, já que as coisas são muito híbridas hoje e não são de forma alguma estáticas. ver bons trabalhos. Em geral, as bienais são impactantes pra mim. Sempre saio transformado delas. Não pela presença ou ausência do fotográfico, mas pela massa de trabalhos, atos e conceitos ali contidos.

A 30ª Bienal de São Paulo foi uma grande experiência para os entusiastas da fotografia. Foram apresentados trabalhos plurais, com produção em épocas bem diferentes. Houve uma dedicação do curador Luis Péres Oramas com o suporte e seus desdobramentos. Para você, o que uma Bienal como essa representa? É uma chancela histórica / institucional para esse debate entre arte e fotografia?

Eu não sou exatamente um entusiasta da fotografia. A quantidade de fotografias presentes numa bienal não me interessa especialmente. Não será isso que vai me fazer gostar ou não gostar, o que gosto é de

Eu gosto de arte, eu gosto de imagem, pouco importa se é uma performance, uma instalação, um penetrável, um filme, uma fotografia. A fotografia não precisa desse tipo de chancela porque já está totalmente incorporada e aceita na arte contemporânea.

Todas as bienais de que me lembro tiveram fotografia de várias tendências e abordagens, umas mais outras menos, e assim vai continuar.

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